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Coordenação Editorial:
Vicky Safra
caixa em prata para
etrog, decorada com
Assistentes de Coordenação:
cenas da festa de sucot. Clairy Dayan
londres, 1867 Fortuna Djmal
Assessora Internacional:
Muriel Sutt Seligson
Supervisão Religiosa:
Rabino Y. David Weitman
Rabino Efraim Laniado
Rabino Avraham Cohen
Jornalista Responsável:
Desirée Nacson Suslick
MTb 13603
Colaboradores especiais:
Esther Chaya Levenstein
Jaime Spitzcovsky
Reuven Faingold
Tev Djmal
Zevi Ghivelder
Revisão e tradução de texto:
Lilia Wachsmann
Consultor:
Marcello Augusto Pinto
Coordenação de Marketing:
Hillel de Picciotto
Produção Gráfica:
Joel Rechtman
JR Graphiks - Tel: 3873 0300
Projeto Gráfico:
LEN - Tel: 3815 7393
Serviços Gráficos:
C&D Editora e Gráfica - Tel: 3862 8417
Tiragem: 28.750 exemplares
12 22
42 53
56 68
03 carta ao leitor 22 nossas grandes festas
Sucot: As Nuvens de Glória
06 nossas grandes festas e as Quatro Espécies
Por que tocamos o Shofar em 27 israel
Rosh Hashaná Segredos guardados da Guerra
12
Dez Ensinamentos para os do Yom Kipur
Dez Dias de Teshuvá por zevi ghivelder
20
nossas LEIS 36
antissemitismo
Algumas leis relacionadas Judeus na “Guerra de Malvinas” - 1982
a Yom Kipur por reuven faingold
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REVISTA MORASHÁ i101
06
27
42 comunidades 64
shoá
Judeus na Argélia Francesa
Biblioteca Wiener, um dos
maiores acervos da Shoá
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destaque
O antissemitismo no
Partido Trabalhista britânico 68
HISTÓRIA
por JAIME SPITZCOVSKy
Os heróis esquecidos
da Operação Tocha
56
shoá
O segredo de 74 cartas
Jacob Sztejnhauer
5 setembro 2018
nossas grandes festas
A
Torá não nos explica por que devemos ouvir É em Rosh Hashaná que D’us decide se os seres
o Shofar em Rosh Hashaná, primeiro dia do humanos estão cumprindo seu propósito neste mundo
mês de Tishrei. Todos os mandamentos da e se Ele ainda está interessado em ser seu Rei. Se D’us
Torá estão acima da razão humana. Têm decidisse ter perdido o interesse em ser Melech HaOlam
origem Divina, são produto da vontade – Rei do Mundo –, o universo e tudo o que nele há
e sabedoria Divinas e, assim como D’us é infinito e reverteria ao nada – como tudo era, antes da Criação.
insondável, também o são Suas Leis. Cumprimos os
mandamentos da Torá, como ouvir o Shofar em Rosh A decisão Divina depende de nós. É o homem,
Hashaná, pela simples razão de que D’us nos ordenou e principalmente o Povo Judeu, quem deve tentar
fazê-lo. Contudo, a Torá nos estimula a investigar convencer a D’us que é válido que Ele continue a
o significado de seus mandamentos. Nossos Sábios manter o mundo. Vale lembrar que nosso
revelaram algumas das razões pelas quais a Torá nos relacionamento com D’us é unilateral: somos totalmente
ordena ouvir os toques do Shofar em Rosh Hashaná. dependentes d’Ele, ao passo que Ele não depende de
ninguém nem de nada. Em Rosh Hashaná, o Povo Judeu
A Coroação do Rei se aproxima de D’us, pedindo-Lhe que continue sendo
nosso Rei e Rei de todo o universo. E o destino do
Rosh Hashaná é o aniversário da humanidade. Celebra mundo depende de Sua concordância.
o sexto dia da Criação, Yom HaShishi – dia em que D’us
criou Adão e Eva. Em nossas orações, nos referimos Quando um rei é coroado, soam as trombetas. Em Rosh
a Rosh Hashaná como o início da Criação porque o Hashaná, tocamos o Shofar para anunciar o ininterrupto
mundo apenas se tornou relevante no dia em que reino de D’us. Seus toques indicam que estamos
o homem nasceu. O ser humano é o ponto alto da coroando D’us como nosso Rei.
Criação; e, para ele, D’us criou o mundo. Se o homem
parasse de cumprir o propósito para o qual foi criado, o Já deve estar claro por que razão ouvir o toque do Shofar
mundo deixaria de existir. é o principal mandamento de Rosh Hashaná.
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7 SETEMBRO 2018
nossas grandes festas
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Profecia
9 SETEMBRO 2018
nossas grandes festas
paralelo e do autossacrifício dos Em Rosh Hashaná, quando D’us está Que assim possa a Tua compaixão
dois primeiros Patriarcas do Povo no Trono Celestial do Julgamento, reprimir Tua ira contra nós, e
Judeu, Avraham e Yitzhak. tocamos o Shofar para recordar o em Tua infinita bondade, deixes
Sacrifício de Yitzhak e, dessa forma, tua severa ira contra Teu povo se
O Sacrifício de Yitzhak é relevante fazer chegar ao Juiz Supremo que: desfazer…”.
para Rosh Hashaná por outra razão. “Se Avraham, simples ser humano
Avraham, segundo nossos Sábios, mortal, pôde reprimir sua emoção A Infinitude Divina
era o paradigma da bondade e para cumprir a Tua Vontade, Tu,
compaixão. De acordo com a também, o Onipotente, podes O som do Shofar tem poder
Cabalá, ele personifica a Sefirá de reprimir Tuas emoções, caso sejam indescritível. Em Rosh Hashaná, seus
Chessed – bondade, generosidade e de ira”. Recitamos durante o Mussaf sons nos preenchem de reverência
amor. Pedir a um pai que sacrifique de Rosh Hashaná: “Lembra-te, em e humildade ao contemplar a
seu próprio filho, mesmo se o nosso benefício, ó D’us Eterno, infinitude do Rei que neste dia tem
pedido vem do Todo Poderoso, é o pacto, a bondade e a promessa Sua coroação.
o mais difícil dos pedidos – para que fizeste a Avraham, nosso
qualquer pai, mas especialmente Patriarca, no Monte Moriá; deixa Infinitude é um conceito que nós,
para Avraham, personificação da aparecer diante de Ti a Akedá, seres humanos, não conseguimos
entender, totalmente – pois somos
criaturas finitas, em um mundo
finito. Empregamos o conceito
de infinito em Matemática, mas
raramente paramos para pensar em
suas implicações.
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REVISTA MORASHÁ i 101
Conhece o que está acima de ti: os residentes da Terra: quando em que nascia o homem, ele
um Olho que tudo vê e um Ouvido nas montanhas for erguido um transgrediu a Vontade Divina e
que tudo escuta, e todas as tuas estandarte (da reunião de Israel), D’us o baniu do Jardim do Éden.
ações estão gravadas em um livro” todos o vereis; e quando soar o toque Seu pecado trouxe morte e toda
(Avot 2:1). do Shofar, o ouvireis. E nesse dia forma de sofrimento ao mundo.
será tocado um grande Shofar, que
Anunciando a chegadA atrairá os que se perderam na terra O propósito da humanidade,
do Mashiach da Assíria e os que foram dispersos especialmente do Povo Judeu,
pela terra do Egito, e virão adorar é retificar o pecado de Adão e
O som do Shofar transmite muitas o Eterno no sagrado monte de Eva, para que o mundo volte a
mensagens, uma das quais é a Jerusalém” (Isaías 18-3; 27:13). ser o Jardim do Éden. É esse o
liberdade. significado da Era Messiânica.
Rosh Hashaná celebra o nascimento Em Rosh Hashaná, tocamos o
Quando chegar o Mashiach, ensinam da humanidade. No mesmo dia Shofar não apenas para compelir
nossos Sábios, o Shofar anunciará D’us a renovar o mundo por
sua chegada. A Era Messiânica será mais um ano, mas para lhe trazer
um tempo de paz e liberdade para redenção e salvação.
todos os seres humanos. Quando
o Mashiach estiver entre nós, a
humanidade estará livre de qualquer BIBLIOGRAFIA
forma de escravidão e opressão – Lightstone, Mordechai - 11 Reasons Why
We Blow the Shofar on Rosh Hashanah
livre de sofrimento, guerras, pobreza,
https://www.chabad.org/library/article_
doenças e, até mesmo, da morte. cdo/aid/2311995/jewish/11-Reasons-
Why-We-Blow-the-Shofar-on-Rosh-
Durante o Mussaf de Rosh Hashaná, Hashanah.htm
Simmons, Rabbi Shraga. Symbolism of the
recitamos as seguintes palavras Shofar
do profeta Isaías: “Ó vós, todos http://www.aish.com/h/hh/rh/shofar/
os habitantes do mundo, todos Shofar_Symbolism.html
11 SETEMBRO 2018
nossas grandes festas
1o Dia: Rosh Hashaná: o destino Portanto, erra quem pensa em Rosh Hashaná como o
do mundo está em nossas mãos dia 1o de janeiro judaico. Nosso ano novo não é um
momento de se estourar champanha e festejar. Pelo
Contrariamente ao que muitos pensam, Rosh Hashaná não contrário, os dois dias de Rosh Hashaná são os mais
é o aniversário da Criação do mundo, mas sim, de Adão e cruciais do ano. Rosh Hashaná é, por certo, um Yom Tov,
Eva. Em nossas preces, muitas vezes nos referimos a Rosh e, como em todos os dias sagrados, devemos nos alegrar,
Hashaná como o dia que marca a gênese do universo, mas vestir nossas melhores roupas e realizar refeições festivas.
apenas por que o homem é seu ponto alto e propósito No entanto, devemos nos comportar em Rosh Hashaná
de sua criação. Rosh Hashaná – Ano Novo Judaico – é o com a seriedade que a data requer. Nesses dois dias, o
aniversário da humanidade. É, também, Yom HaDin: Dia destino do mundo está em jogo. Nosso comportamento
do Julgamento. É em Rosh Hashaná que D’us decide se nessa festividade – nossas preces, nossa atenção plena e
renovará Seu contrato com o mundo para mais um ano: nossas resoluções – influenciarão o curso do ano inteiro,
se manterá sua existência ou não. D’us decreta o destino para nós mesmos e para o mundo.
de todo o universo – e de todos aqueles que nele habitam
– em Rosh Hashaná. 2o Dia: uma oportunidade de se ter um
julgamento Divino mais favorável
Quando nós, Povo Judeu, vamos à sinagoga em Rosh
Hashaná, e oramos e ouvimos o toque do Shofar, estamos Rosh Hashaná é celebrado durante dois dias, mesmo
compelindo D’us a continuar sustentando o mundo em Israel. Há razões técnicas para a festa ser observada
durante mais um ano. A Humanidade pode não perceber durante dois dias mesmo na Terra Santa. Estas são,
isto, mas os Céus decidem seu destino em Rosh Hashaná. também, profundas e místicas. A Cabalá ensina que
D’us confiou ao Povo Judeu a missão de sermos os agentes o primeiro dia de Rosh Hashaná está associado com a
de toda a Criação. Nenhum de nós pode descuidar-se Sefirá de Guevurá – o Divino atributo de força, justiça e
dessa responsabilidade. Nos ombros de cada um de nós, severidade. Se D’us apenas julgasse o mundo no primeiro
judeus, repousa o destino do mundo no ano por vir. dia de Rosh Hashaná, Ele o faria de acordo com Seu
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adão e eva expulsos do paraíso, 1954-1967. óleo sobre tela. marc chagall
atributo de Guevurá – a justiça guardarmos o segundo dia de Rosh recitar todo o Livro dos Salmos
rígida. Se assim fosse, é possível que Hashaná com igual respeito como no duas vezes durante esses dois dias.
muitos de nós – e talvez o mundo primeiro. Como os dois dias de Rosh Hashaná
todo – não fôssemos atendidos. influenciam todos os outros dias
D’us, portanto, deu-nos um São muitos os judeus que passam do ano, cada um de seus minutos é
segundo dia de Rosh Hashaná – um os dois dias da festividade imersos precioso. Assim sendo, reduzimos
dia adicional de julgamento – para em oração. Há um costume de se as horas de sono e evitamos
atenuar qualquer Decreto Celestial conversas triviais. Rosh Hashaná
severo que porventura tenha sido são os dois dias no ano em que
emitido no primeiro dia da festa. precisamos dar o melhor de nós,
O segundo dia de Rosh Hashaná é espiritualmente.
uma dádiva da misericórdia Divina,
que todos nós tanto necessitamos, 3o Dia: O Jejum de
quer estejamos em Israel ou na Guedália: o propósito
Diáspora. de um jejum segundo o
Judaísmo
Muitos judeus observam apenas
o primeiro dia de Rosh Hashaná. O dia após Rosh Hashaná é o
Costumam ir à sinagoga apenas no Jejum de Guedália. Trata-se de
primeiro dia porque creem já ser um meio-jejum: diferentemente
suficiente. Grave erro. O segundo de Yom Kipur e Tisha b’Av, inicia
dia da festa é uma oportunidade antes do sol nascer e termina após
de se conseguir um Julgamento o pôr-do-sol. As razões para nossos
Divino mais favorável, para nós e toque dO shofar, na sinagoga. óleo Sábios terem instituído o Jejum de
para o mundo todo. É aconselhável sobre tela, 1860. edouard moyse Guedália vão além do escopo deste
13 setembro 2018
nossas grandes festas
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Shabat. Nossos Sábios ensinam 5o Dia: Os Dez Dias de preguiçosos, estamos desperdiçando
que quem guarda o Shabat tem Teshuvá correspondem nossos poderes de Netzach.
os pecados cometidos contra às Dez Sefirot
D’us perdoados. Sendo assim, o Um dos propósitos da Teshuvá é
cumprimento do Shabat é um meio Um dos ensinamentos fundamentais o reequilíbrio e realinhamento das
de Shuvá – de retorno a D’us e ao da Cabalá é a noção de que D’us Sefirot de nossa alma. A Torá e seus
Judaísmo – e, portanto, à Teshuvá. criou e mantém o mundo por meio mandamentos nos ajudam a melhor
das Sefirot, que são canais de energia utilizar as Dez Sefirot para que
Muitos podem surpreender-se Divina. Tudo o que existe e acontece tenhamos uma vida mais produtiva,
ao saber que é mais importante no universo são manifestações das proativa e espiritualmente mais
guardar o Shabat do que Yom Kipur. Sefirot. saudável. Os Dez Dias de Teshuvá
É inegável o fato de que o Dia da são um período de reflexão sobre
Expiação é o mais sagrado do ano – Ensina a Cabalá que D’us criou o quão bem estamos usando as
e, para muitos judeus, a única ocasião o mundo com dez Sefirot. Três Dez Sefirot de nossa alma, para
em que vão à sinagoga. No entanto, delas são intelectuais: Chochmá que possamos refinar nossos
no que concerne a Lei Judaica, o (Sabedoria), Biná (Compreensão) pensamentos, palavras e atos.
Shabat é até mais importante do que e Da’at (Conhecimento). As
Yom Kipur. E o Shabat Shuvá, que cai outras sete são emocionais: 6o Dia: O Shofar nos
durante os Dez Dias de Teshuvá, é Chessed (Bondade, Generosidade ensina que o progresso
um Shabat particularmente especial, e Expansividade), Guevurá (Poder, espiritual requer
que os judeus devem se esforçar Contenção e Severidade), Tiferet sacrifícios
para guardar da melhor maneira que (Compaixão, Harmonia e Beleza),
puderem. Netzach (Vitória, Ambição e O mandamento mais importante
Eternidade), Hod (Humildade, da festa de Rosh Hashaná é ouvir
Submissão e Glória), os toques do Shofar. Uma das várias
Yessod (Carisma) e Malchut razões para esse mandamento
(Liderança e Autoridade). é que o Shofar é o chifre de um
A alma de todo ser humano carneiro – o animal que nosso
é formada por essas dez Patriarca Avraham sacrificou
Sefirot, e cada um de em lugar de seu filho, Yitzhak,
nossos pensamentos, no famoso episódio da Torá
palavras e atos são uma conhecido como Akedat Yitzhak.
manifestação de uma ou Os sopros com o chifre de
mais dentre elas. carneiro “relembram” a D’us
da extraordinária devoção dos
Os Dez Dias de Teshuvá primeiros dois Patriarcas do Povo
correspondem às Dez Judeu. Para atender o mandamento
Sefirot porque os erros, Divino, Avraham estava pronto
pecados e transgressões, a sacrificar seu filho e, de igual
seja por comissão ou por maneira, Yitzhak estava pronto
omissão, são resultado de a ser sacrificado por seu pai.
uso indevido que fazemos A extraordinária devoção de
dessas dez faculdades da Avraham e de Yitzhak a D’us é
alma. Por exemplo, quando fonte de eterno mérito para seus
perseguimos algo que a descendentes – o Povo Judeu. Em
Torá nos proíbe, estamos Rosh Hashaná, quando os Céus
fazendo mau uso de Chessed; nos julgam, invocamos o mérito
quando somos cruéis e da Akedat Yitzhak como fonte
mesquinhos, estamos de bênção e proteção, seja por
usando inadequadamente mencioná-la em nossas preces, seja
Guevurá; quando somos por ouvir os toques do Shofar.
15 setembro 2018
nossas grandes festas
O sacrifício tem sido tema comum fogueiras da Inquisição, campos 7o Dia: Yom Kipur:
ao longo de toda a História Judaica. de extermínio nazistas e nem um jejum festivo no
Desde o nascimento de nosso povo, gulags soviéticos. Para a maioria “Shabat Shabaton”
inúmeros judeus se sacrificaram dos judeus de hoje, o sacrifício
para santificar o Nome de D’us pelo Judaísmo talvez signifique Para a grande maioria das pessoas,
e salvar o Judaísmo daqueles que acordar mais cedo do que de jejuar é uma experiência muito
queriam extirpá-lo. Muitos judeus costume para ir à sinagoga e rezar desagradável. É por isso que a Torá
personificaram Avraham e Yitzhak, em companhia de um Minyan ou nos proíbe jejuar no Shabat – dia
especialmente durante a Inquisição dar um pouco mais de Tzedacá a sagrado de deleite espiritual e físico.
e o Holocausto. Ainda hoje, no cada mês; pode significar passar Não jejuamos nem mesmo em
Estado de Israel, milhões de judeus menos tempo assistindo à televisão Tisha b’Av se a data cair em um
estão dispostos a se sacrificar em e mais tempo estudando a Torá. Shabat: adiamos o jejum para o dia
defesa do Povo Judeu e da Pátria Em nossa geração, a maioria de seguinte. Há apenas um cenário
Judaica. No entanto, para muitos nós não é chamada para morrer possível no qual a Torá não só
judeus que vivem confortavelmente pelo Judaísmo; mas, se quisermos permite como nos ordena jejuar
na Diáspora, particularmente avançar espiritualmente, temos que no Shabat – e é quando Yom Kipur
em países como o Brasil e os estar prontos a viver pelo Judaísmo cai nesse dia sagrado. Isto porque
Estados Unidos, a ideia de – e isso requer certos sacrifícios. a Torá chama Yom Kipur de Shabat
sacrificar sua própria vida em
prol do Judaísmo é, graças a D’us,
um conceito estranho. Em nossa
geração pós-Holocausto,
pós-êxodo dos países
árabes, pós-União
Soviética, grande parte do
Povo Judeu vive em relativa
paz e segurança. Mesmo as
ameaças enfrentadas pelos
judeus em Israel e em certos
países europeus são leves se
comparadas com o que nosso povo
enfrentou quando não tinha seu
país nem seu exército.
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REVISTA MORASHÁ i 101
17 setembro 2018
nossas grandes festas
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19 setembro 2018
NOSSAS LEIS
Algumas leis
relacionadas a Yom Kipur
Neste ano, Yom Kipur se inicia na TERÇA-feira,
18 de setembro, e termina na noite de QUARTA-FEIRA,
19 de setembro .
C
ostuma-se fazer Veshel Yom HaKipurim”. Se a mulher
caparot – abate de um quiser locomover-se de automóvel
galo, para um homem, ou usar o elevador antes do início de
e uma galinha, para Yom Kipur, deverá, antes de acender
uma mulher, no dia as velas, fazer uma ressalva dizendo
9 de Tishrei de madrugada, dia que não está recebendo Yom Kipur
18 de setembro, por um shochet com o ato de acendimento das velas.
qualificado. Também é possível É, porém, necessário antecipar o
cumprir este costume com dinheiro, recebimento de Yom Kipur para
doando-o para Tzedacá. antes do pôr-do-sol.
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REVISTA MORASHÁ i 101
21 SETEMBRO 2018
nossas grandes festas
o
nome dessa festividade, Sucot, ainda que as Nuvens da Glória tenham acompanhado
literalmente significa “cabanas”. o Povo Judeu na saída do Egito, elas desapareceram
Alguns comentaristas explicam que após o pecado do Bezerro de Ouro. Somente quando
a Torá nos ordena habitar nas Sucot D’us concordou em novamente residir em meio ao
durante a festividade para relembrar Povo Judeu e se iniciou o trabalho da construção do
as tendas nas quais o Povo Judeu habitou durante Mishkan, o Tabernáculo, as Nuvens voltaram.
os longos 40 anos em que viveram no deserto, e que
lhes deu abrigo e proteção. Outros afirmam que as A cronologia dos eventos é a seguinte: em Yom Kipur,
cabanas nas quais habitamos durante a festa de Sucot dia 10 de Tishrei, D’us perdoou nosso povo pelo
simbolizam as milagrosas Ananei HaKavod, as Nuvens pecado do Bezerro de Ouro e concordou em voltar
de Glória, que conduziram, abrigaram e protegeram Sua Presença ao nosso meio, no deserto. Naquele
os Filhos de Israel durante aqueles anos. Quer o nome mesmo dia, Moshé desceu do Monte Sinai trazendo
Sucot se refira às tendas, quer às Nuvens de Glória as Segundas Tábuas e informou ao povo sobre a ordem
ou a ambas, trata-se de uma festa que recorda a de construir o Mishkan. No dia seguinte, dia 11 de
proteção e o abrigo provido por D’us ao Povo Judeu no Tishrei, Moshé ordenou ao Povo Judeu que trouxesse
Deserto de Sinai. os materiais para a construção do Tabernáculo.
Eles o fizeram durante os dois dias seguintes
O Gaon de Vilna pergunta: se o tema de Sucot é a (v. Êxodo 36:3). No 14o dia de Tishrei, Moshé disse ao
celebração da proteção de D’us aos judeus após o povo que não mais trouxesse material para o Mishkan.
Êxodo do Egito, por que razão essa festa cai no mês E finalmente, em 15 de Tishrei, começaram a construir
de Tishrei e não em Nissan – mês em que celebramos o Tabernáculo. Foi então que as Nuvens de Glória
Pessach? E ele responde que se Sucot comemora as retornaram. Como Sucot também celebra as Nuvens
Nuvens de Glória – uma visão aceita por Rashi em de Glória que abrigaram nosso povo no Deserto
seu comentário no Chumash –, a data de 15 de Tishrei do Sinai, faz todo o sentido que essa festa se inicie
para o início da festividade está correta. E explica: em 15 de Tishrei – data em que esse abrigo Divino
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REVISTA MORASHÁ i 101
23 SETEMBRO 2018
nossas grandes festas
e viver uma vida com moralidade e Muitas pessoas de boa índole podem
propósito, sua mente deve comandar ser dominadas por sentimentos de
seu corpo. A racionalidade deve ciúmes, inveja e ressentimento ou
prevalecer sobre nossos instintos e mágoa. O Ayin HaRá, infelizmente,
impulsos. A sabedoria deve ditar é um fenômeno comum entre os
nosso comportamento. seres humanos. Além do mais, temos
a tendência de julgar erroneamente
Hadass aqueles de quem não gostamos. É
comum não darmos aos outros o
As folhas do Hadass, a murta, se benefício da dúvida.
parecem com o olho humano.
Essa espécie nos ensina o quão Quem não combate a inveja e o
importante é ver os outros com um ciúme e é rápido em julgar os demais
olhar bondoso e generoso. As obras deve ter em mente que a energia
sagradas do Judaísmo usam o olho espiritual negativa se volta contra
como metáfora para descrever as quem a carrega. O Talmud ensina
percepções humanas, os sentimentos que os Céus julgam as pessoas da
e desejos em relação aos demais. mesma forma como esta pessoa julga
Por exemplo, o Ayin HaRá, o “olho os demais. Quem julga os outros
A Horá do chá na Sucá.
Tela em tinta, grafite e guache,1906. gordo”, é um famoso conceito que favoravelmente é julgado também
SOLOMON J. SOLOMON denota inveja e ciúme, e que, como favoravelmente pelos Céus; e o
ensina o Talmud, é um fenômeno oposto também é verdadeiro. De
real – veículo de poder espiritual forma semelhante, o Baal Shem
que pode afetar a vida de outras Tov, mestre da Cabalá e fundador
pessoas. Por outro lado, ter um “olhar do Movimento Chassídico, ensinava
bondoso” significa desejar o bem dos que “um suspiro emitido em virtude
demais e julgá-los favoravelmente. da dor de um outro rompe todas
as barreiras impenetráveis dos
acusadores celestiais. E quando a
examinando o LULAV. óleo sobre tela. LEOPOLD PILICHOWSKI
pessoa se alegra com o júbilo de seu
amigo e o abençoa, ela é tão querida
a D’us e por Ele aceita como as
preces de Rabi Yishmael, o Sumo
Sacerdote, no Kodesh HaKodashim”.
Em outras palavras: o Altíssimo está
mais aberto às preces daqueles que
sentem a dor de outras pessoas e se
alegram com a felicidade e o sucesso
delas.
Aravá
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REVISTA MORASHÁ i 101
Nossos Sábios ensinam que uma das e realizar grandes feitos; pode
razões para a Torá usar a metáfora restaurar relacionamentos rompidos
da fala para descrever a Criação e construir novos. Não surpreende
Divina do Universo é mostrar que as o fato de que alguns dos principais
palavras podem construir mundos. mandamentos do Judaísmo sejam
No entanto, podem também os cumpridos com palavras: a leitura
destruir. Uma ou outra palavra e o estudo da Torá e a recitação de
errada, mesmo se dita, por vezes, orações e bênçãos, para citar apenas
de forma descuidada, pode destruir alguns.
um casamento, uma antiga amizade,
o bom nome de uma pessoa e a
reputação e solidez de uma empresa.
Palavras maldosas já destruíram
muitas esperanças, sonhos e vidas.
Palavras maldosas já resultaram em
guerras e genocídios.
25 SETEMBRO 2018
nossas grandes festas
BIBLIOGRAFIA
Interlinear Chumash – The Schottenstein
Edition – Vayikra – Artscroll Mesorah
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ISRAEL
SEGREDOS GUARDADOS
DA GUERRA DO YOM KIPUR
POR ZEVI GHIVELDER
h
á cinco anos, 40 anos depois da Guerra Na manhã do dia 2 outubro, portanto quatro dias antes
do Yom Kipur, o governo de Israel tornou do início do conflito, Golda Meir teve que fazer uma
público um de seus mais importantes viagem a Estrasburgo, França, para participar de um
documentos confidenciais. Trata-se do encontro com o Conselho da União Europeia. No
depoimento prestado por Golda Meir, à aeroporto, antes de embarcar, foi informada de que a
época chefe do governo, perante a Comissão Agranat, Síria tinha reunido grande quantidade de tropas junto
a comissão presidida por Shimon Agranat, então juiz à sua fronteira com o Golã e o Egito tinha feito o
da Suprema Corte de Israel. Competia a essa comissão mesmo na margem do canal de Suez. Entretanto, ao
apurar as responsabilidades individuais e coletivas mesmo tempo, um relatório do serviço de inteligência
referentes aos antecedentes e desdobramentos daquela dizia que a movimentação síria se devia ao temor
guerra que custou as vidas de 2.500 militares da ativa e de um ataque por parte de Israel e que o Egito não
da reserva das Forças Armadas de Israel. poderia empreender qualquer agressão antes de duas
semanas.
Golda declarou que tinha uma intuição no sentido
de que, em outubro de 1973, uma guerra com o Golda regressou a Israel pouco depois da meia-noite
Egito era iminente, mas se absteve de ordenar e convocou uma reunião para a manhã seguinte com
um ataque preventivo. No seu entender, conforme Dayan, Ministro da Defesa, os generais Elazar e Shalev,
testemunhou, se Israel disparasse o primeiro tiro, do Estado-Maior, e Benny Peled, comandante da Força
decerto seria reprovado pelos Estados Unidos que Aérea. Todos concordaram que não havia um perigo
não se envolveriam para ajudar Israel caso uma guerra imediato de guerra. Golda, então, convocou
se concretizasse. Mas, de fato, no posterior decorrer Eli Zaira, chefe do serviço de inteligência militar, para
do conflito, Israel recebeu dos Estados Unidos 6 mil uma reunião na manhã seguinte à da celebração do
toneladas de armamentos e equipamentos, além de Yom Kipur. Nesse meio tempo, enfatizou, era preciso
40 aviões do tipo Phantom e 35 caças Skyhawk de concluir a lista de pedidos a ser encaminhada ao
combate. presidente Nixon e acentuar que a remessa era urgente.
27 SETEMBRO 2018
ISRAEL
Porém, antes do dia acertado, Na véspera da eclosão do conflito, insistindo nisso”. Às quatro horas da
Zaira foi ao encontro de Golda houve uma reunião do gabinete manhã de sábado, Golda ordenou a
e lhe disse ter recebido uma israelense. Golda informou que convocação dos reservistas, por causa
notícia preocupante: as famílias estava pensando em convocar os do relatório assinado por Zamir, que
dos consultores e assessores reservistas, que constituíam 80 lhe havia sido entregue pelo chefe de
soviéticos estavam partindo às por cento das forças armadas, mas gabinete do Mossad. Às duas horas
pressas do Cairo e de Damasco. nenhum ministro concordou. da tarde os sírios e egípcios partiram
para o ataque contra Israel.
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REVISTA MORASHÁ i 101
29 SETEMBRO 2018
ISRAEL
Líderes do Congresso dos Estados Unidos em reunião para debater a Guerra de Yom Kipur, Washington, 10 de outubro de 1973
30
REVISTA MORASHÁ i 101
31 SETEMBRO 2018
ISRAEL
dizendo que estivera no Cairo na Israel. Ao final do encontro, Zamir também julgava que a eclosão de um
semana anterior, que frequentara os tinha a cabeça feita: de fato, Síria e conflito era uma questão de horas.
corredores do poder, e que sentiu que Egito estavam prestes a atacar Israel. Zamir, então, mandou a seguinte
ali havia uma atmosfera diferente do mensagem criptografada para seu
habitual. Zamir insistiu: “Mas você Zamir e Dubi se dirigiram para chefe de gabinete: ”Parece que a
tem certeza que havia preparativos o escritório do Mossad, a dez empresa pretende assinar o contrato,
para uma guerra?” Marwan irritou- minutos a pé. O chefe do Mossad nas condições que já conhecemos,
se e elevou o tom de voz: “O Sadat fervilhava: e se nada viesse a antes do anoitecer. A empresa sabe
não bate bem. Tem horas que ele acontecer? Será que ele deveria que amanhã é feriado. Falei com
diz que vai avançar, manda todo o mesmo relatar tudo para Golda? o gerente; ele ainda depende da
mundo avançar, e depois volta atrás”. No escritório encontrou-se com decisão de outros gerentes, mas está
Enfim, o chefe do Mossad concluiu Zvi Malhin, agente encarregado disposto a manter o trato.
que não tinha alternativa a não ser da segurança de sua entrevista A empresa quer evitar que o contrato
acreditar em Marwan. O que o com Marwan. Experiente, Malhin se torne público antes da assinatura
afligia é que estava há muitas horas
longe de Israel e não sabia se àquela
altura o gabinete já tinha decidido
convocar os reservistas. Ele mesmo,
na condição de ex-general, estava
certo de que a convocação já deveria
ter sido ordenada. Marwan não
trouxera nenhum documento, mas
passou a reconstituir de memória
os telefonemas que havia feito para
o Cairo. Disse que a infantaria
egípcia atravessaria o canal de Suez
numa extensão de dez quilômetros
no rumo Norte; que a Força Aérea
faria incursões no Sinai de modo a
dificultar a aproximação de tropas
israelenses até o canal de Suez;
que aviões do tipo Tupolev iriam
bombardear, em Tel Aviv, o quartel-
general das Forças de Defesa de Golda Meir , Moshe Dayan e Israel Galili no Sinai
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ISRAEL
fez valer sua influência junto ao sitiado e conversar com alguns de ocorridos durante a Guerra do Yom
presidente Nixon para que fosse seus oficiais. Foram todos cordatos e Kipur, sobre os quais já escrevi aqui
atendido o pedido da lista. Um nenhum deles manifestou qualquer na Revista, outros dois me foram
dos segredos da Guerra do Yom sintoma de ódio, nem mesmo de marcantes durante a cobertura
Kipur, até hoje não desvendado, raiva, com relação a Israel. do conflito. O fotógrafo Paulo
dá conta de que no dia 12 de Scheunstuhl, meu companheiro
outubro Kissinger teria recebido Estavam conformados com aquela de jornada, chegara a Israel um
uma informação segundo a qual situação e pressentiam que alguma dia antes do que eu. Rumou para
Golda havia mandado armar solução seria encontrada em seu a batalha no Golã e lá viu um
artefatos atômicos para enfrentar benefício. De fato, havia mais gente cinegrafista americano sendo
uma situação que caminhava para preocupada com eles, a começar por atingido por um estilhaço de
ser desesperadora. Verdade ou Leonid Brejnev, o poderoso chefão granada. O rapaz sangrava e dizia
que estava sentindo muito frio.
O Paulo tirou sua jaqueta de couro
e cobriu o jovem, logo levado por
uma ambulância. Só mais tarde
se deu conta de que no bolso da
jaqueta estava seu passaporte. No dia
seguinte, já na minha companhia,
quando descemos do Golã fomos
para o hospital Rambam, em Haifa,
onde nos disseram que deveria estar
internado o americano ferido. Fomos
recebidos pelo administrador, muito
gentil, que prometeu fazer o possível
para localizar o passaporte.
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primeira reunião em jerusalém da comissão de inquérito (Comissão Agranat) que investigou a conduta na guerra de
yom kipur. da esq. à dir.: Ygal YADIN, MOSHE LANDO, SHIMON AGRANAT, Itzhak Nebenzahl e Chaim LASKOV
35 SETEMBRO 2018
ANTISSEMITISMO
Judeus na
“Guerra de Malvinas” - 1982
POR REUVEN FAINGOLD
PANO DE FUNDO soberania”, razão pela qual o tema não era discutido.
A visita às ilhas era permitida apenas a veteranos de
As Malvinas, ou Ilhas Falklands, em inglês, eram guerra e seus parentes, que podiam chorar seus mortos
desabitadas quando foram descobertas pelos nos cemitérios militares. Viu-se esta situação no filme
holandeses, no século 18. As potências colonialistas “Iluminados por el fuego” (Argentina-Espanha 2005):
que travaram lutas pelas mesmas foram Espanha O jornalista Esteban Leguizamón recebe a informação
e, depois, Argentina. Em 1833 essas terras foram de que seu amigo Alberto tentou matar-se. Esteban
invadidas pelo Império Britânico, com o objetivo de vai até o hospital e encontra Alberto em coma. Em
servir de apoio para a abertura de rotas de navegação flashbacks, o espectador vê que os dois soldados haviam
no Atlântico Sul. lutado juntos, 20 anos antes, na Guerra das Malvinas.
Ambos voltaram do front com suas cicatrizes, como
No entanto, os governos argentinos nunca lembrança do horror e do inferno. Alberto nunca se
abandonaram a ideia de manter sua soberania sobre recuperou. A depressão que o levou à tentativa de
as ilhas, no que sempre contaram com o apoio da suicídio é mais um crime da ditadura militar argentina.
diplomacia brasileira. Tratava-se de uma luta pelo Em 1982, a ditadura tentou perpetuar-se no poder
nacionalismo e a integridade do território, fortalecida apelando ao patriotismo dos argentinos: enviaram
a partir de 1930-1940, quando a aliança com os milhares de jovens para lutar contra o poderio militar
britânicos começou a ser questionada na Argentina. britânico nas Malvinas.
Durante a 2ª Guerra, a principal atividade econômica
local era a criação de carneiros. A ascensão dos Kirchner, na década de 2000, trouxe
em seu bojo o retorno do forte nacionalismo argentino,
Na década de 1980, Argentina e Inglaterra cortam encontrando expressão em conflitos territoriais e
relações diplomáticas, que foram retomadas durante na exploração de recursos naturais. Isso levou ao
a presidência de Carlos Menem. Sua política para recrudescimento das disputas pela soberania argentina
as Malvinas foi denominada de “Guarda-chuva da em Malvinas.
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memorial aos soldados argentinos da guerra das malvinas, PLAZA MALVINAS, USHUAIA
A importância dessas ilhas para a se podia abandonar o direito de em suas fileiras. Porém, desde sempre
exploração da Antártida crescia em autodeterminação dos kelpers (como foi hostil o comportamento das
relevância. E a descoberta local de eram chamados os habitantes das Forças Armadas com os judeus. E
reservas de petróleo e gás e a alta no Falklands) e o primeiro-ministro durante a Guerra das Malvinas não
preço dos hidrocarbonetos aguçaram David Cameron chegou a afirmar: foi diferente.
os embates com os britânicos. “Colonialistas são os argentinos”.
Estes reagiram pela mídia: para lá Em 11 de abril de 1982, o jovem
enviaram o príncipe William (2º na Dito isso, analisemos a repercussão judeu argentino Silvio Katz
sucessão do trono), despertando a que esse conflito teve na vida dos chega às Malvinas junto com seus
atenção da imprensa. Despacharam, judeus argentinos. companheiros do 3º Regimento de
também, um navio de guerra e um Infantaria Mecanizada (RIMec 3),
submarino armados com mísseis Judeus argentinos localizado na localidade de Tablada.
nucleares. Eram gestos simbólicos lutaM na Guerra Silvio, de apenas 19 anos, havia
para demonstrar a capacidade de das Malvinas poucos dias tomara conhecimento
poder que, dificilmente, a combalida de que a Argentina retomara as ilhas,
economia britânica teria como Vale ressaltar um dado importante: mas nunca poderia imaginar ser
sustentar. na Argentina é obrigatório o transportado até lá num avião sem
alistamento militar. Todos os assentos, partindo da Base Aérea de
A estratégia argentina foi denunciar cidadãos devem servir o exército. Palomar apenas com roupa de verão
na ONU a permanência dos Há um sorteio para isentar os e um fuzil que não funcionava.
britânicos nas Malvinas como uma chamados “número baixos”, mas em
situação colonial, criticando o que geral judeus e não-judeus devem Ainda sem se acostumar ao frio,
chamaram de “militarização dos servir indistintamente. Assim, os Silvio foi trazido por seu subtenente
recursos naturais do Atlântico Sul”. contingentes militares sempre Eduardo Flores Ardoino à dura
Já o Reino Unido afirmava que não contaram com judeus e não judeus realidade militar. Mais de 30 anos
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ANTISSEMITISMO
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comunidades
N
ão se pode negar que houve melhoras diplomáticos que resultaram na tomada de Argel
substanciais na vida da população judaica por forças francesas. O incidente diplomático
durante o período colonial. Para eles, chamado de “pá mata-moscas”, ocorreu em 1827
a derrota otomana significara o fim do quando Hussein Dey, então governador da Regência de
sofrimento, humilhações e arbitrariedades Argel, convocou o cônsul francês, Pierre Deval, exigindo
impostas pelos Deys, como eram chamados os um posicionamento em relação à dívida francesa em
governantes da Regência de Argel, parte do Império aberto.
Otomano após 1671. Contudo, não se tornou um “mar
de rosas”, já que na Argélia francesa era profundo e Na década de 1790, o governo francês costumava
declarado o antissemitismo dos colonizadores franceses comprar à crédito trigo argelino, quase sempre através
e europeus, os colons, popularmente chamados de de duas famílias judias dedicadas ao comércio, os
“pieds-noirs”, principalmente antes e durante a 2a Busnach e os Baqri. Na virada do século, a França
Guerra Mundial. No entanto, os judeus argelinos devia aos dois fornecedores vários milhões de francos.
sempre mantiveram a imagem da França em suas Estes, por sua vez, não tinham como pagar os impostos
dimensões ideais: sua cultura, seu espírito de tolerância exigidos pelo governantes. As dívidas continuavam em
e de respeito pela liberdade pessoal. Acreditavam aberto quando, em 1818, Hussein sobe ao poder.
em sua “pátria”, embora nem sempre essas virtudes
estivessem presentes na conduta dos assuntos de Convocado, então, pelo Dey, o cônsul Deval
interesse nacional. desconversou altivamente sobre as exigências de
pagamento. Não contendo sua fúria, Hussein o golpeia
Invasão e colonização francesa no rosto com uma pá mata-moscas que tinha em mãos.
A França considerou o incidente “uma ofensa à honra
Dívidas contraídas por Napoleão na Argélia, durante francesa” e, em represália, declarou um bloqueio ao
a campanha no Egito, e não pagas pelos sucessivos porto de Argel. A resposta de Hussein foi destruir os
governos, provocaram o primeiro dos incidentes entrepostos comerciais franceses em seu território.
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A tensão chegou ao ponto de não consegue, no entanto, Forças francesas ampliam as áreas
ruptura, três anos mais tarde, salvar a monarquia. Na França, de ocupação. A forte resistência
quando os argelinos atacam o manifestações e levantes culminam por parte da população muçulmana
navio francês que levava a bordo na Revolução de 1830. Após as leva a França a enviar forças
um embaixador portador de uma chamadas “jornadas gloriosas de adicionais. A retirada dos franceses
proposta de negociação para o Dey. julho”, Carlos X abdica e seu primo, da Argélia provaria ser bem mais
Carlos X, rei da França, decide Louis Philippe, é proclamado rei da difícil do que sua conquista, pois,
então adotar uma ação militar França pela Assembleia Nacional. apesar das divergências políticas
contra a Regência de Argel. Entre os membros do novo governo, dos governos sucessivos, todos
Os ataques à honra francesa não muitos eram contrários à invasão mantiveram a ocupação, que durou
eram, porém, a principal razão por da Argélia, mas uma comissão 130 anos.
trás dessa decisão. O Rei queria parlamentar concluiu que a
desviar a atenção dos franceses da ocupação deveria seguir em frente, Durante a conquista, inclusive no
impopularidade de seu governo. para manter o “prestígio nacional”. decorrer da chamada “penetração
pacífica” – quando a França expandiu
Em 12 de junho de 1830, os sua presença do litoral até as
franceses iniciam a ação áreas rurais, ao sul – os franceses
militar contra a Regência. saqueiam e massacram aldeias
Após intenso bombardeio inteiras, destruindo mesquitas e
naval, 34 mil soldados franceses profanando cemitérios.
desembarcam a oeste de Argel,
em Sidi Ferruch, e, três semanas Em 1834, a França anexa as áreas
mais tarde, em 5 de julho, conquistadas como colônia, e
tomam a cidade. determina que será administrada
O êxito da ação militar por um governo militar – o
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comunidades
Régime du Sabre. Nos anos que francês para disponibilizar mais Os judeus sob
se seguem, a Argélia se torna o propriedades. As autoridades, domínio francês
destino preferido para milhares de então, passam a confiscar terras e
imigrantes franceses e europeus, propriedades muçulmanas. Quando os franceses desembarcaram
conhecidos como colons. na Argélia, viviam no país entre
O assentamento colonial é Em 12 de novembro de 1848, a 15 mil a 17 mil judeus – estima-
realizado através de expropriação Argélia é oficialmente declarada se que 6.500 em Argel, 3.000 em
ou compra de terras a preços baixos “território francês” e, até a Constantina, 2.000 em Orã e 1.500
dos argelinos muçulmanos. independência argelina em 1962, em Tlemcen. Havia, também,
A maioria dos colons visava toda a região mediterrânea do pequenas comunidades nos oásis, ao
enriquecer através da “obtenção” país será administrada como parte Sul – os judeus de M’zab e Laghouat.
ou compra de todo tipo de integrante da França.
propriedades, principalmente terras Três “territórios civis” – Argel, Orã A conquista francesa foi bem
cultiváveis, a preços irrisórios. e Constantina – são organizados recebida pela população judaica, já
Nas décadas de 1840 e 1850, como unidades administrativas, sob que sob domínio dos Deys viviam sob
o estatuto de dhimmis. Considerados
súditos de 2ª classe, sua vida fora
marcada por muito sofrimento
e humilhação. De imediato, os
franceses abolem esse estatuto, e
eles passam a ter direitos iguais aos
muçulmanos.
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Com a anexação da Argélia a França, Como era de se esperar, a medida argelinos ficam sob o comando do
em 1848, alguns cargos foram provocou grandes atritos com as Consistório Central dos Judeus da
abolidos, como, por exemplo, o de autoridades rabínicas locais. Entre França, alçando o seu Rabino Chefe
muqadam, encarregado de chefiar as atribuições dos rabinos-chefes da França a Rabino Chefe da França
as comunidades judaicas, que foi franceses estava a implementação e Argélia.
substituído por um vice-prefeito. do “ponto de vista consistorial” entre
Nos conselhos administrativos os judeus argelinos. Isso significava Educação secular
municipais e nas câmaras de seu afastamento das ricas tradições francesa
comércios um ou dois de seus judaicas norte-africanas.
membros eram judeus. Em países muçulmanos, o objetivo
A influência do judaísmo francês da Alliance Israélite Universelle
A influência dos cresce ainda mais após 1867, quando (AIU), criada na França em 1860,
judeus franceses a França determina a extinção do era a alfabetização em francês
Consistório Central de Argel. Após das crianças judias. Mas não foi o
Após a conquista da Argélia, a essa data, todos os consistórios caso da Argélia, onde a educação
comunidade judaica francesa procura
avaliar as “necessidades” dos judeus
argelinos. Em 1842, dois judeus
franceses, Jacques Isaac Altaras e
Joseph Cohen, são incumbidos pelo
governo de ir à Argélia para estudar
o procedimento a ser adotado na
“reforma” das comunidades judaicas.
Os relatórios desses enviados
apontavam a “vontade dos judeus
argelinos de se aproximar da
civilização francesa” e continham
propostas radicais. Entre outras, a
extinção dos tribunais rabínicos,
a obrigatoriedade de frequentar
escolas sob controle do Estado,
e a proibição dos trajes tradicionais.
FALTA
A principal, e que iria modificar SINAGOGA DE MILIANA, ARGÉLIA, ÉDOUARD-MOYSE
o judaísmo argelino, era a criação
do“ sistema conciliar”, à exemplo
do que vigorava na França, com a
criação de consistórios – conselhos de crianças judias sempre ficou a
de rabinos e leigos responsáveis cargo das escolas públicas francesas.
pela administração dos assuntos Nesse país, a AIU se encarregava
comunitários. unicamente da educação religiosa.
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para se referir à Brit Milá, e Ademais, na própria França, no À medida que antissemitas
“comunhão”, para o Bar Mitzvá. final do século 19, o “nascimento” contumazes assumem seus cargos,
do antissemitismo político e o Caso eles passam a tomar “atitudes”
Embora mais pronunciada do que Dreyfus desestabilizaram a posição contra a população judaica. Em
na Tunísia ou no Marrocos, essa dos judeus. O antissemitismo Constantina, por exemplo, por
assimilação não chega aos níveis da político era um “mix ideológico” do decisão do vice-prefeito Émile
observada entre os judeus na França. anti-judaísmo “tradicional”, a judeu- Morinaud, pacientes judeus não
São raros os casamentos mistos; eles fobia anticapitalista da esquerda e a eram admitidos em hospitais. A
continuam sendo um grupo distinto. pseudociência das teorias raciais, que ilegalidade das medidas, juntamente
Não há uma integração com os colons afirmava ser a “raça ariana” superior à com o fato de que não tiveram
e tampouco com os muçulmanos. “raça judaica”. o apoio dos muçulmanos, levou
Essa identidade separada judaica foi à extinção, em 1902, do partido
mantida por duas fortes razões: o O Affaire Dreyfus, que teve início antissemita.
antissemitismo dos “pieds-noirs” e o na França em 1894, é um fator
sistema inerente à sociedade islâmica, incandescente na campanha anti- No entanto, conforme piora a
no qual religião e família eram os judaica na Argélia. É criado um situação econômica dos muçulmanos,
fatores determinantes de seu status notadamente na agricultura, eles
social – e não a nacionalidade formal passam a acusar os judeus de
e o comportamento cultural. Na contribuir para seu fracasso. Ademais,
Argélia, um judeu continuava sendo, a política colonial fomentava a
apenas, um judeu, e não um “francês”. oposição entre árabes e judeus.
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Período do Holocausto
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o The New York Times, passaram a organizações judaicas. Entre elas, a para descrever os raids realizados
pedir a abolição das leis raciais e a Federação das Comunidades Israelitas pelo exército, como “um pente
dispensa de Robert Murphy. da Argélia, reunindo 60 diferentes fino” ou um rastelo passado em
grupos comunitários. cidades e vilarejos, não poupando
Em março de 1943, Henri Giraud, nada. Durante oito anos, até a
um general do regime de Vichy A Escola Rabínica da Argélia inicia independência da Argélia em
que ocupava o posto de Comissário suas atividades em 1948; o Comitê 1962, o exército francês e os
Superior para a África Francesa, Judaico-Argelino de Estudos Sociais, colonos lutaram contra grupos pró-
afirma repudiar oficialmente o criado após a 1ª Guerra Mundial, independência. Não se sabe quantos
governo de Vichy e abole as leis retoma suas atividades nesse mesmo morreram. As estimativas vão de 300
racistas e discriminatórias. Porém ano. mil a mais de um milhão de pessoas.
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Em maio de 1956, o Mossad executa sinagoga da rua dijon, em ruínas sinagoga de médéa, em ruínas.
uma ação de represália contra os
muçulmanos de Constantina. Era
um aviso aos muçulmanos argelinos mais temem que o ódio muçulmano Na França, a Guerra da Argélia
para não envolver os judeus em sua contra o colonialismo francês seja provocou uma verdadeira guerra
luta com os franceses. direcionado contra eles, não apenas civil entre grupos a favor e contra a
como europeus, mas como judeus presença francesa na colônia. Causou
Os temores judaicos aumentam e sionistas. Consequentemente, estragos suficientes para provocar
quando, em 18 de fevereiro de apesar da comunidade não ter o colapso da Quarta República e
1958, dois emissários da Agência adotado uma posição oficial a instalação da Quinta República,
Judaica são assassinados pela FLN. contra a independência, em chefiada por Charles de Gaulle.
Em dezembro de 1960, a grande março de 1961 uma delegação Em 1962, de Gaulle promove um
sinagoga de Argel e o cemitério do Comitê Judaico-Argelino referendo sobre a autodeterminação
judaico de Orã são, mais uma insiste que as negociações entre a argelina, que é aprovada pela
vez, profanados. E uma granada França e os grupos nacionalistas maioria da população, na França e
é lançada em uma sinagoga de incluam o reconhecimento oficial na Argélia. Finalmente, em 18 de
Boghari. O filho de William Levy, sobre a natureza francesa de sua março de 1962, são assinados os
líder judeu, é morto pela FLN. comunidade. Acordos de Évian, trazendo consigo
Em seguida, o próprio Levy é uma nova Argélia independente e
assassinado pela OAS (Organisation pondo fim a oito anos de guerra.
Armée Secrète).
Após a independência do país, todos
O reinado de terror e os judeus com cidadania francesa
contraterrorismo da FLN e decidem mantê-la. No fim de julho
OAS, em 1961 e 1962, tiveram de 1962, 70 mil judeus já haviam
consequências catastróficas. deixado a Argélia para a França e
Atentados são realizados nos bairros outros 5 mil para Israel. A França
judeus em 1957, 1961 e 1962, em tratou os judeus argelinos em pé de
Orã e Constantina. E, em junho igualdade com os repatriados não-
de 1961, Cheikh Raymond Leyris, judeus.
cantor do estilo maalouf e sogro de
Enrico Macias, é assassinado em O regime de Mohamed
Constantina por um muçulmano. Ahmed Ben-Bella, no poder
Os eventos abalaram os judeus de 1962 até 1965, manteve um
argelinos. Cada vez mais a lealdade relacionamento amigável com os
emocional e as predisposições judeus, apesar de ter aprovado
culturais são francesas. Cada vez sinagoga e mercado randon o Código de Nacionalidade de
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comunidades
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DESTAQUE
O antissemitismo no Partido
Trabalhista britânico
POR JAIME SPITZCOVSKY
E
m abril, Rabi Lord Jonathan Sacks, que próximo ao antissemitismo, sob o manto do chamado
foi rabino-chefe do Reino Unido de 1991 antissionismo”. Os intelectuais prosseguiram: “Embora
a 2013, falou sobre o ressurgimento do os antissionistas busquem se dizer livres de intenções
antissemitismo em solo europeu. “Ocorre antissemitas, o antissionismo frequentemente recorre às
devido à ascensão de extremismo político à calúnias do clássico ódio ao judeu”.
direita e à esquerda e devido a políticas populistas, que
manipulam os temores das pessoas, buscando bodes Na missiva, Montefiore, Schama e Jacobson apontaram:
expiatórios a serem responsabilizados pelos problemas “Acusações da conspiração judaica internacional e
sociais”, comentou Sacks em um programa de rádio da de controle da mídia ressurgiram para alicerçar as
BBC. “Ao longo de mil anos, os judeus foram atingidos falsas comparações de sionismo com colonialismo e
por serem uma minoria e porque eram diferentes, mas imperialismo”. A observação corresponde a uma precisa
é a diferença que nos faz humanos. Uma sociedade que radiografia de posições disseminadas por integrantes
não oferece espaço à diferença, não oferece espaço à de grupos esquerdistas, como a liderança de Jeremy
humanidade”. Corbyn no Partido Trabalhista.
O discurso do rabino Sacks se somou a uma Corbyn, embora se defina como um “socialista
avalanche de críticas à liderança e militantes do democrático”, não vê problemas em se aproximar
Partido Trabalhista. Em novembro do ano passado, do regime teocrático iraniano ou em elogiar os
três dos mais prestigiosos escritores britânicos fundamentalistas do Hamas ou do Hezbolá. Em 2012,
publicaram uma carta no The Times, condenando apoiou Raed Salah, líder islâmico em Israel, conhecido
atitudes racistas de integrantes da oposição britânica. por seus discursos antissemitas.
Escreveram Simon Sebag Montefiore, Simon Schama
e Howard Jacobson: “Estamos alarmados pelo fato Quatro anos atrás, Corbyn esteve numa cerimônia
de, nos últimos anos, críticas construtivas a governos na Tunísia para homenagear, com coroa de flores,
israelenses se terem transformado em algo mais terroristas responsáveis pelo assassinato de atletas
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DESTAQUE
israelenses na Olimpíada de Trabalhista não vai desaparecer? ” de diferenciar, quando a ouve, uma
Munique, em 1972. “Imagine se e argumentou: “A acusação contra crítica legítima a Israel do discurso
um político israelense colocasse Corbyn é que ele permaneceu tanto de ódio contra judeus britânicos.
flores no túmulo de assassinos que tempo nos extremos do movimento Adicione-se ao problema o fato de
mataram pessoas em Londres ou na pró-palestino que se tornou incapaz alguns dos mais vocais apoiadores
Inglaterra – como o povo britânico de Corbyn em redes sociais (...)
aceitaria isso?”, declarou Ankie frequentemente repetirem falas
Spitzer, cujo marido foi morto no antissemitas”.
atentado ocorrido na Alemanha.
Um dos maiores escândalos foi
Recentemente, um blogueiro protagonizado por Ken Livingstone,
britânico postou vídeo de uma prefeito de Londres entre 2000 e
entrevista de Jeremy Corbyn ao 2008. O político, conhecido por suas
canal iraniano PressTV, realizada posições extremadas à esquerda,
em 2011, quando o político chegou a disparar, numa entrevista
britânico afirmou que a BBC inaceitável e estapafúrdia, que Adolf
demonstra um viés “ao dizer que Hitler havia apoiado o sionismo. Em
Israel tem o direito de existir”. 2016, foi suspenso por dois anos do
Partido Trabalhista e, em maio deste
Especialista em assuntos ligados ao ano, pediu desligamento do vínculo
trabalhismo, o jornalista britânico partidário.
Stephen Bush escreveu, em agosto,
texto no The New York Times, No trabalhismo britânico, vozes
sob o título “Por que o escândalo pedem agora a saída de Corbyn da
de antissemitismo no Partido Jeremy Corbyn liderança. A deputada Margaret
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shoá
O segredo de
Jacob Sztejnhauer
S. Paulo, setembro de 1995 Sem entender o que a mãe queria, Joy perguntou:
“Eu não sei de ninguém que tenha conhecido esse
No andar superior do número 648 da Rua José Paulino, cônsul. E a senhora? ”. Ao que a mãe respondeu: “Sei,
no Bom Retiro, o interfone toca, interrompendo o sim. Seu pai”. Mal sabia Joy, então com 37 anos, que ele
trabalho de Joy Sztejnhauer, que conferia a produção da e sua irmã, Michaela, estavam prestes a ouvir o relato de
fábrica de roupas femininas, que seus pais, Jacob e Básia, um segredo de família, guardado durante tantos anos...
haviam fundado anos antes. Do outro lado da linha, sua
mãe pedia que ele a encontrasse na loja, no térreo da Pano de Fundo: Vilna, 1940
fábrica. Ela tinha algo para lhe mostrar.
Após o fim da 1a Guerra Mundial, em 1918, vitoriosos,
Joy foi ver a mãe, que lhe exibiu o anúncio publicado França e Reino Unido decidiram restabelecer dois
em um jornal em iídiche, voltado para a comunidade Estados nacionais: Polônia e Lituânia. As duas nações
judaica do Leste Europeu que vivia no Brasil. Nele, um passaram a disputar um território que compreendia a
pedido para que pessoas que tivessem conhecido Chiune cidade de Vilna, ou Vilnius. Em 1920, durante a Guerra
Sugihara, cônsul do Japão na Lituânia, no início da polaco-lituana, as forças polonesas ocuparam a cidade.
2a Guerra Mundial, comparecessem a uma homenagem Quando um cessar-fogo foi assinado, Vilna estava em
a ele no clube A Hebraica, na qual estaria presente sua mãos polonesas e foi incorporada à Polônia.
viúva, Yukiko Sugihara. Chiune Sugihara havia sido
responsável por salvar 4,5 mil judeus da Lituânia1. Em 1o de setembro de 1939 estoura a 2ª Guerra
Mundial. No final do mês, de acordo com o Pacto
1
De acordo com a fundação Sugihara House, com sede em Kovno,
Nazi-soviético, pacto secreto de não-agressão assinado
Lituânia, o cônsul salvou a vida de 6 mil judeus. Entretanto, numa nove dias antes entre a Alemanha e a URSS, Vilna,
entrevista dada pelo próprio Sugihara, em 1977, e recuperada pelo juntamente com a região leste da Polônia, é ocupada
Yad Vashem, ele afirma que concedeu cerca de 4,5 mil vistos. De
acordo com a Jewish Virtual Library, ele foi o segundo na lista de pelos soviéticos. O restante da Polônia fica em mãos
não-judeus a salvar judeus na Shoá. alemãs. Em 28 de setembro, após serem estabelecidas
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as linhas divisórias entre Alemanha e No verão de 1940, durante uma as estradas estavam bloqueadas
URSS, Stalin cede Vilna à Lituânia viagem à datcha da família (em russo, pelo exército soviético. Em 21
após concluir um pacto com este casa de campo), Básia Sztejnhauer de julho todo o território lituano,
país, assim como com a Letônia entendeu que a Guerra estava inclusive Vilna, foi incorporado à
(Latvia) e a Estônia, obtendo desses prestes a chegar à Lituânia. União Soviética, tornando-se uma
países direito a estabelecer bases das Repúblicas da URSS. Forças
militares em seus territórios. O retorno a Vilna já prenunciava os soviéticas são então enviadas à
tempos difíceis: foi feito a pé, pois Lituânia, e um governo pró-
O número de judeus que viviam em soviético é instalado.
Vilna ao eclodir a Guerra girava
em torno de uns 60 mil2. A eles De volta a Vilna, Básia soube
se juntaram milhares de judeus que o novo governo determinara
poloneses – estimados entre 12 e 20 que cada família teria sua casa ou
mil – que haviam fugido da Polônia apartamento dividido em quatro
sob domínio alemão. Os judeus partes, tendo direito a ocupar apenas
de Vilna mal podiam acreditar uma delas.
nos relatos desses refugiados sobre
o tratamento que os alemães Os Sztejnhauer, Básia, Jacob e seus
reservavam para os judeus – os maus dois irmãos, Lova e Lipman, porém,
tratos, os confiscos, os trabalhos ficaram em situação um tanto
forçados, as mortes sumárias.... melhor. O Dr. Lova era renomado
médico e diretor do hospital local,
e, por isso, a família teria direito
2
A população judaica de Vilna, em 1939,
varia entre 55 mil e 70 mil, dependendo a duas partes, sendo uma delas
da fonte. Michaela e Joy Sztejnhauer transformada em consultório.
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2.
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Voltando no tempo:
Um cônsul com alma
de samurai
S. Paulo, Brasil,
Com a família, Shiune Sempo Sugihara (sentado, à dir.) e a esposa Yukiko (à esq.)
20 de setembro de 1995
4
De 1994 a 2002, Spielberg coletou
depoimentos de sobreviventes do
Holocausto e os disponibilizou na USC
Shoah Foundation - Institute for Visual
History and Education, inaugurada por
ele na Universidade do Sul da Califórnia,
em 1994, com o intuito de manter viva a
memória da Shoá.
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Assim denominada em homenagem ao seu fundador, o de itens incluindo artigos de jornais, análises inéditas,
alemão Alfred Wiener, herói da 1ª Guerra Mundial – estudos acadêmicos, fotografias e depoimentos de
condecorado com a Cruz de Ferro, a Biblioteca é fruto pessoas que testemunharam um dos períodos mais
da determinação de um homem em coletar informações sombrios da história da Humanidade. Como parte de sua
sobre o crescimento do antissemitismo no Partido agenda de atividades desenvolve uma série de projetos
Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães1, o para incentivar a pesquisa, o ensino e a divulgação de
Partido Nazista, em outros grupos alemães e no seio da fatos e dados ligados à Shoá, suas causas e consequências.
sociedade entre os anos 1910 e 1930. Foi um homem
que conseguiu antever o trágico futuro das comunidades Atualmente é, também, um elemento fundamental
judaicas sob domínio nazista e deixou seu país em 1925, no combate ao antissemitismo e a outras formas de
instalando-se primeiro na Holanda e, mais tarde, em preconceito e intolerância. Sua reputação baseia-
Londres. se principalmente na independência e objetividade
acadêmica. Tendo como público alvo pesquisadores, a
Nada no estilo arquitetônico do local revela o peso mídia e o público de modo geral, tornou-se um memorial
da história que suas paredes encerram. vivo da história da Shoá para as gerações futuras.
É internacionalmente reconhecida por estudiosos
como uma fonte singular de informação sobre Como começou
os primeiros passos do nacional-socialismo, no
continente europeu, e o seu desenvolvimento até o As origens da biblioteca, antes mesmo de ser assim
final da 2ª Guerra Mundial. Possui mais de um milhão considerada, remontam à Alemanha da década de
1920, quando Wiener retornou ao seu país ao término
da 1ª Guerra Mundial. Ele nasceu em Potsdam, em
1
Em Alemão: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei 1885, em uma próspera família judaica. Ao término de
(abreviado NSDAP). O termo Nazi é alemão e decorre seu doutorado em Literatura Árabe na Universidade
do Nationalsozialist. de Heidelberg, trabalhou por um curto período como
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jornalista antes de se alistar em uma continuidade de uma vida judaica Após anos tentando alertar a
unidade de artilharia. Lutou nas em território alemão. Conseguiu comunidade e, vislumbrando
frentes oriental e ocidental sendo convencer membros da comunidade o trágico futuro cada vez mais
condecorado com a Cruz de Ferro. da importância de organizar um próximo, Wiener e sua família
arquivo sobre a situação e sobre deixaram a Alemanha em 1933,
Ao retornar, em 1920, assumiu os nazistas, procurando, com instalando-se inicialmente em
a função de secretário do Grupo estas informações, combater o Amsterdã, Holanda. Levou consigo
Judaico de Direitos Civis, quando antissemitismo. Uma tarefa árdua e seus arquivos. Após a Noite dos
pôde acompanhar, horrorizado, o sem muitos resultados. Cristais, em 9 de novembro
crescimento do antissemitismo no de 1938, Wiener começou os
país baseado na perigosa alegação de preparativos para transferir sua
que os judeus eram os responsáveis coleção para a Grã-Bretanha, onde
pela derrota alemã no conflito. chegou logo após a invasão da
Passou a escrever artigos, proferir Polônia pelas tropas de Hitler, em
palestras e alertar a opinião pública, 1 de setembro de 1939. Ao longo
principalmente a judaica, sobre o da 2ª Guerra Mundial, o Escritório
que ocorria na Alemanha antes atuou como centro de informação
mesmo que o Partido Nazista para o governo britânico, que a
assumisse o poder. ele se referia como “Biblioteca do
Dr. Wiener”, nome que acabou
A partir de 1925, data em que Hitler sendo adotado posteriormente.
publicou sua famigerada “obra” Mein Wiener tinha um acordo com
Kampf, percebeu no discurso dos departamentos do governo inglês
partidários do nazismo e de outros para mantê-lo informado sobre os
Dr. AlFred Wiener em seu gabinete,
grupos a ameaça cada vez maior à na Biblioteca, 1953 acontecimentos na Alemanha.
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No entanto, a biblioteca
permaneceu anos esquecida em
um espaço alugado, mantida
graças ao apoio de patronos
judeus e um grupo dedicado
de voluntários empenhados em
conservar o acervo e atualizá-
lo constantemente. Até que,
em 2011, foi transferida
para o número 29 na Praça
Russel, uma casa restaurada
em estilo georgiano, dentro da
Universidade de Londres, dando
início a um programa patrocinado
pelo Heritage Lottery Fund cujo
Alfred Wiener, no centro, com colegas da Biblioteca, em Londres objetivo é tornar mais fácil o
acesso.
Com o fim da Guerra e a divulgação por crianças, traduções oficiais Desde a mudança, são realizadas
dos horrores cometidos por Hitler do Julgamento de Nuremberg e visitas guiadas para professores,
e seus asseclas, o Escritório assumiu depoimentos de vítimas da Noite educadores e estudantes.
mais um papel importante: ser fonte dos Cristais também fazem parte de Importante destacar que seu
de informação para o Julgamento sua coleção. Entre os acadêmicos, há acervo inclui temas ligados ao
de Nuremberg. Em seu acervo o consenso de que o acervo Wiener currículo nacional de História,
foram encontrados documentos ajudou a delinear os primeiros incluindo a ascensão do nazismo
inéditos da propaganda nazista, fundamentos para os estudos da na Alemanha, propaganda,
depoimento de sobreviventes, Shoá. Seu acervo continua a crescer antissemitismo e crimes de guerra.
artigos e livros sobre a filosofia desde então, levando à necessidade Há, também, vasto material sobre
nazista, fotos e outros documentos. de um local mais adequado à sua religião, política, estudos alemães,
Panfletos antinazistas, livros escritos importância. cidadania e artes. Propaganda
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história
OS HERÓIS ESQUECIDOS DA
OPERAÇÃO TOCHA
argel, manhã de 8 de novembro de 1942. Liderados por
Bernard Karsenty e José Aboulker, 377 combatentes da
Resistência anti-Vichy, praticamente desarmados, tomam pontos
estratégicos e paralisam as forças de Vichy. O levante facilita
a entrada na cidade de tropas norte-americanas da Operação
Tocha. A grande maioria dos combatentes e seus líderes eram
judeus. Esses jovens destemidos jamais receberam crédito por
sua bravura. Simplesmente foram esquecidos pela História.
O
peração Tocha é o nome da manobra Em Argel, graças à atuação dos combatentes da
militar aliada que visava o desembarque Resistência local, os Aliados tomaram a cidade com
de forças estadunidenses e britânicas facilidade, mas, por algum motivo, o episódio foi
na costa norte-africana, entre 8 e 11 de relegado a um mero rodapé na história da 2ª Guerra
novembro de 1942, e a tomada de três Mundial.
alvos-chave: Argel, Orã e Casablanca. Havendo sucesso,
os Aliados avançariam até a Tunísia. No comando da Quando textos históricos que descrevem a Operação
Operação estava o general Eisenhower, futuro presidente Tocha mencionam o “Episódio de Argel”, fazem-no
dos Estados Unidos1. As complexas preparações e os de forma sucinta como sendo um dos atos de heroísmo
detalhes da execução dessa Operação, considerada entre dos partisans franceses. O relato oficial do exército dos
as mais brilhantes da 2ª Guerra Mundial, vão além de Estados Unidos sobre o envolvimento militar de seu
nosso intuito. Mas, em linhas gerais, os objetivos Aliados país na África do Norte apenas registra que “A Argélia
eram abrir mais uma frente de luta contra a Alemanha, caiu sob controle dos combatentes clandestinos da
aliviando, assim, a pressão que os soviéticos estavam Resistência francesa à época em que se iniciaram os
sofrendo; expulsar as tropas do Eixo do continente desembarques”.
norte-africano e consequentemente controlar o Mar
Mediterrâneo, preparando o terreno para uma invasão Mas esses relatos e praticamente todos os demais deixam
no sul da Europa, em 1943. de fora um aspecto crucial sobre o Coup d’Argel. Não
apenas 315 dos 377 combatentes da Resistência eram
judeus, entre quais os seus líderes, mas eles estavam
motivados a lutar precisamente porque, sendo judeus,
Dwight David “Ike” Eisenhower - Comandante Supremo
1
das Forças Aliadas na Europa, comandou e supervisionou a estavam sendo perseguidos e discriminados e lhes
invasão do Norte da África durante a Operação Tocha, entre haviam sido retirados todos os seus direitos.
1942 e 1943. Logo depois, assumiu o planejamento da invasão
da França e da Alemanha entre 1944 e 1945, no Fronte O movimento de Resistência a Vichy na Argélia era,
Ocidental. portanto, em seu cerne, um movimento de resistência
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Convés de pouso do USS Santee, com bombardeiros SBD-3 e aviões de caça F4F Wildcat destacados para a Operação Tocha,
no Norte da África, nov. 1942. No piso do deck, informações de alvo escritas a giz
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história
Aliados traçam
os planos
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história
supremacia durante mais cinco horas da França na região, ele garantiria a aprisionados por aqueles a quem,
cruciais, facilitando às tropas aliadas cessação das hostilidades e o acesso horas antes, tinham imobilizado para
a entrada na cidade, algo que não irrestrito dos Aliados ao Marrocos e ajudar as forças invasoras...
acontecera em Casablanca e Orã. Argélia. Os Aliados teriam assim o
caminho livre para atacar os alemães Um desses combatentes judeus,
Os insurgentes tiveram que fazer na Tunísia. Murphy e o general o Dr. Paul Molkhou, que, à época,
de tudo para manter as posições por Mark Clark, aceitam a proposta e os tinha apenas 19 anos, recorda o
mais tempo, pois houve atraso das combatentes da Resistência depõem momento quando, após a situação
forças aliadas na chegada a Argel. as armas. Quinze horas após o início ter virado e os homens de Vichy
O tenente-coronel Jousse e o general da invasão, a cidade de Argel estava estarem de novo no comando, um
Mast tiveram que ir ao encontro da em mãos dos Aliados, e, três dias dos altos oficiais que ele mantivera
34a Divisão de Infantaria, instando- depois, o Marrocos e toda a Argélia. sob custódia prometeu vingança.
os a apressar a entrada na cidade, Molkhou nunca iria esquecer-se “do
onde as forças de Vichy estavam E o que significou para os judeus rosto enfurecido do Secretário Geral
recuperando o controle. o acordo fechado pelos norte- do Governo de Vichy, ao lhe dizer:
americanos com Darlan, que ‘Você é um terrorista gaullista; você
No início da tarde, as forças Roosevelt chamou de “recurso será julgado e fuzilado’”. Poupado do
de Vichy haviam conseguido temporário”? Com o explícito pior, Molkhou foi preso na infame
reconquistar os pontos neutralizados endosso norte-americano, os prisão Barbarossa de Argel, junto
durante a noite. Tentam, então, fascistas de Vichy reteriam o poder com uma dezena de camaradas.
impedir o avanço dos soldados na região. Argel continuaria em
norte-americanos despachando mãos de Vichy. Os americanos As autoridades militares norte-
as tropas para o Leste. Não tampouco protegeram os corajosos americanas, já em controle de Argel,
conseguiram. O capitão Guy partidários judeus e não judeus defrontavam-se com perguntas
Pillafort e seus 47 companheiros, da Resistência argelina contra cruciais: o que fazer com as centenas
após se terem apoderado de as ameaças de retaliação feitas de conspiradores judeus que haviam
inúmeros pontos vitais na pelos oficiais de Vichy. Uma vez arriscado a vida para apoiar a invasão
cidade, haviam erguido barreiras, concretizado o acerto com Darlan, aliada e a quem os homens de Vichy
impossibilitando qualquer circulação. muitos dos combatentes foram viam como traidores? O que fazer
Mas, perderam seu capitão, que foi com os milhares de judeus – e outros
abatido mortalmente. antifascistas – que definhavam nos
campos de concentração de Vichy
Nesse ínterim, Robert Murphy e com as dezenas de milhares
se dirigira à residência do general de outros judeus que se tinham
Juin, levando uma mensagem do tornado apátridas devido às leis
Presidente Roosevelt que lhe dizia discriminatórias do marechal Pétain?
que ordenasse a rendição e se
juntasse aos Aliados. Juin respondeu A resposta dos oficiais norte-
dizendo que a mensagem devia ser americanos na Argélia, endossada
entregue ao Almte. Darlan. por seus superiores em Washington,
Apesar de ser colaborador dos era curvar-se à conveniência
alemães, Darlan era, sobretudo, da situação. Manter o status-
um oportunista que rapidamente quo facilitava a vida dos aliados
reconhecera que a invasão poderia interessados em prosseguir a luta
mudar a balança de poder na África contra os alemães, mais do que em
do Norte. Assim sendo, propôs um resolver “questões locais”, apesar
trato: em troca do reconhecimento de seu comprometimento com
de seu status como Alto Comissário a liberdade dos povos. Contudo,
francês para a África Ocidental e seria um erro alegar que não havia
do Norte, e comandante de todas as pessoas contrárias a essa visão
forças terrestres, marítimas e aéreas COLLETE ABOULKER no Departamento de Estado
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prendê-los, entre eles José Aboulker mostrando sua inquietação com o Artigo de Jacques Karoubi “L’opération
Torch et l’action de la résistance juive à
e seu pai, enviando-os para um fato de que organizações fascistas Alger” publicado no site
local remoto no deserto onde continuassem ativas na Argélia, www.judaicalgeria.com
seriam executados. Mas, à última enquanto simpatizantes dos Aliados Artigo de Sidney Chouraqui
“L’Opération “Torch” – Alger 8 nov 1942”
hora, a intervenção de agentes do eram presos. Finalmente, em vista Artigo de Robert Satloff “The Jews Will
Gabinete de Serviços Estratégicos da preocupação internacional com a Have to Wait” publicado no site www.
questão e a substituição do regime mosaicmagazine.com . Robert Satloff
é o diretor executivo do Washington
2
Operação clandestina de inteligência de Giraud pela França Livre de De Institute for Near East Policy e o autor
americana além-mar. Gaulle, os campos foram fechados e de diversos livros no Médio Oriente
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cartas REVISTA MORASHÁ i 93
Minha coleção da revista Morashá, Recebemos a edição dos 25 anos da Parabenizo os envolvidos na
após a encadernação, ficará na Morashá. Está maravilhosa, rica em publicação da revista Morashá,
Biblioteca da Sinagoga de Passo matérias do interesse judaico e sionista. pelo esforço, carinho e elegância
Fundo, para estudo e pesquisa. Parabéns pelo único e fantástico nas publicações. Talvez vocês não
Jaime Freitag
trabalho em prol do nosso povo e mensurem o impacto e mudanças
Passo Fundo - RS tradições. Um grande Yeshar Koach. na vida das pessoas que folheiam
Suzy e Osias Wurman a publicação.Lembro-me que vi a
Sempre recebo a Morashá em minha Cônsul Honorário de Israel revista pela primeira vez na Biblioteca
casa, e é com muito prazer que leio e Rio de Janeiro - RJ do Centro Cultural de São Paulo.
aprecio cada edição. Tenho uma coleção Chamou-me atenção, de imediato, a
bem vasta desta excelente revista e as Sinto-me muito privilegiado e extraordinária capa, mas quando vi o
reportagens me são muito caras. abençoado por D’us por ser um dos conteúdo tornou-se amor à primeira
28.750 recebedores desta revista que vista. Por incrível que pareça, ontem,
Maria de Fátima Falcão completa sua 100ª edição. Com
Tocantins - to no Centro Cultural, deparei-me com
certeza, devem ser mais de 100 mil a edição nº 100 de 25 anos. Fiquei
leitores, pois quem a recebe, assim emocionado.
Conheci o site www.morasha.com.br
como eu, compartilha seus artigos com
após pesquisar sobre costumes judaicos João Antonio dos Santos
um círculo de amigos e admiradores
antigos. Gostei bastante de um artigo São Paulo - SP
do judaísmo, da cultura e sabedoria do
sobre a Sinagoga Judaica. Quero
povo do livro. Parabéns a toda a equipe Em 1960, ano do meu barmitzvá,
parabenizá-los pelo conteúdo muito
Morashá, que brinda seus leitores com assisti ao filme “O julgamento
enriquecedor.
este primor de revista. Que D’us possa do Capitão Dreyfus”. Foi um dos
Sávio Freitas multiplicar mil vezes mais edições e
Acre - ac meus primeiros contatos com
leitores. filmes abordando o antissemitismo,
Recebo a edição 100 da Morashá Tiago S Bithencourt e que me marcou. Cumprimento a
e, emocionada, envio nossas
Por e-mail revista Morashá pela matéria
congratulações à Equipe. Nós também Com grande gratidão escrevo para sobre o Capitão Dreyfus. Se a França
somos muito gratos pelo trabalho tão agradecer o envio das revistas. Fiquei da época de Dreyfus estava dividida
elucidativo e histórico, riquíssimo em muito feliz ao receber esta 100ª entre forças reacionárias contra os
informações, de textos bem elaborados edição… seu conteúdo está precioso, judeus e os republicanos liberais a
por profissionais capacitados e fotos. aliás, como sempre tem sido com a favor, atualmente, lamentavelmente,
Temas diversos e pesquisas que nos Morashá nestes 25 anos. Todá rabá. verifica-se que naquele país o
enriquecem e ensinam muitas coisas antissemitismo perdura, fazendo
Marcelo Martins
que ignoraríamos não fosse pelos envios Por e-mail com que muitos judeus franceses
destes 25 anos da revista. Morashá é abandonem a França e rumem para
uma revista que não se descarta nunca. Recebi e agradeço a Morashá 100, Israel. Espero que esta
Precioso patrimônio da nossa Herança excelente documento histórico e matéria abra os olhos de muitos
Espiritual, é orgulho de nossa colônia! cultural, do judaísmo e da vida. antijudeus.
Shelly Rasel Salfatis Ilson Enk Isaac Menda
São Paulo - SP Porto Alegre - RS Porto Alegre - RS
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REVISTA MORASHÁ i 101
Quero lhes felicitar por chegarem Parabéns, mil parabéns pela edição 100, Informamos o recebimento de doação
aos 25 anos. De vossa revista podemos e pelos 25 anos de dedicação e trabalho. de exemplares da revista Morashá
ler artigos que podem nos interessar Achei interessante e bem bolada a linha 25 anos (edição 100, jun. 2018).
mais ou quem sabe menos, mas todos do tempo, e todos os artigos excelentes: Reconheço a importância dessa doação
têm um nível fantástico. Na edição “A Torá e os Profetas”, “Os 25 anos para a atualização e enriquecimento
nº 100 da Morashá li com atenção o da Lista de Schindler” e “Kissinger: do acervo da biblioteca Pública do
artigo sobre “A Lista de Schindler”, a libertação de Ahlem”. Esse, em Espírito Santo.
um filme que moveu o piso embaixo particular, me deixou de queixo caído, Ana Maria da Silva
de nossas existências. Sou da primeira não podia imaginar. Meus sinceros Gerente do Sistema Estadual de Bibliotecas
geração pós-guerra, meus pais se votos que vosso empenho e dedicação Públicas do Espírito Santo
Diretora da Biblioteca Pública Estadual do
conheceram já na América do Sul. durem por muitos e muitos anos. Sem Espírito Santo
Minha mãe saiu de Viena depois do a Morashá o judaísmo do Brasil ficaria Vitória - ES
Anschluss, e como meu avô não tinha bem mais pobre.
se naturalizado austríaco por ter Rafael Cohen
A Morashá permite que eu continue
documentos poloneses foi enviado a Rio de Janeiro - RJ aprendendo e ensinando a cultura do
um campo de trânsito na fronteira nosso povo.
com a Polônia, de onde pôde sair para Parabenizo toda a equipe e comunidade Audrei Pina
a América do Sul, pois um cunhado pelos 25 anos e 100ª edição de Recife - PE
havia conseguido 16 vistos. Morashá.
A família completa pôde chegar aqui. Parabenizo a todos os Diretores,
Victor Leon Ades
Minha mãe foi entrevistada pela São Paulo - SP· funcionários e colaboradores da
Fundação de Steven Spielberg por Morashá pela expressiva marca
ter sobrevivido à guerra... Eu levo Tenho a alegria de ser assinante da atingida com a edição nº 100! É um
em mim cicatrizes que meus pais Morashá. Esta 100ª edição está orgulho ser leitor da revista e desfrutar
me transmitiram e sinto a 2ª Guerra absolutamente perfeita. Parabéns. do conteúdo sempre muito interessante.
Mundial como uma página aberta. A qualidade é outro predicado, com sua
Marcelo Kalfelz Martins
Há cinco anos me armei de coragem e São Paulo - SP apresentação sempre ao melhor nível.
viajei para a Alemanha, ir a Dachau foi Gilberto Guelmann
uma ferida que se abriu... A esposa de Nosso agradecimento pelo recebimento Curitiba - PR
Schindler, Helen, vivia na Argentina regular da revista Morashá, de
e a B’nai B’rit e outras instituições Nós, da Biblioteca Pública Municipal
relevantes temas históricos do povo
judaicas a ajudavam financeira e de Salto, agradecemos a gentileza de
judeu e textos de grande importância
psicologicamente. Ela tampouco foi nos enviarem a revista Morashá.
para pesquisa e consulta na nossa
abandonada por seus Schindlerjuden e Biblioteca. Carlos Eduardo Chagas Lima
por aqueles que já sabiam, de antes do Biblioteca Pública Municipal
Aruza de Holanda Salto - SP
filme, quem ela era. Ela também tinha Coordenadora
ajudado judeus a escapar. Obrigada por Biblioteca Instituto Ricardo Brenand A revista Morashá é maravilhosa,
este artigo. Recife - PE
acho que não tem igual. Muito, muito
Eva Sondermann obrigada.
Montevidéu, Uruguai Morashá é uma linda revista cujos
temas judaicos me permitem seguir a Ivette Kabani
Jerusalém - Israel
Parabéns pela edição Morashá 100. tradição. Parabéns.
Excelentes matérias e artigos. Ricardo Teruchkin Não posso lhes contar a quantidade
Semy Glanz
Curitiba - PR infinita de conhecimento que a revista
Rio de Janeiro - RJ Morashá me ofertou durante os anos
Parabéns à bela revista Morashá que
em que a recebi, um tesouro que eu
completa um quarto de século. Kol Tuv.
Meus sinceros parabéns pelos 25 anos e devorava com muita atenção.
100 edições de Morashá. Ivo Koschland Com profunda gratidão, enviei-lhes um
Jerusalém - Israel
Cada exemplar desta revista é uma obra exemplar do meu romance, “Marrana!
de arte que enriquece nossa cultura. Essa revista é tão boa, que merece ser Amor e Intolerância em Tempos de
Maravilhosa. lida e guardada para a posteridade. Inquisição .
Hans Freudenthal Fernando G. Oliveira Kátia Pessanha
Por e-mail Belo Horizonte, MG Paulínia - SP
75 SETEMBRO 2018