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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Profa. Dra. Amélia de Farias Panet Barros (orientadora)
_____________________________________
Profa. Dra. Sheila Azevêdo Freire
_____________________________________
Prof. Msc. Pedro Freire de Oliveira Rossi
“Todos concordam que há muito por se fazer, por nós, pelos outros, pelo mun-
Foto: Yuri Ferraz, 2017. do. Desde alguém faça.” – Ronaud Pereira
RESUMO ABSTRACT
No Brasil, um dos principais elementos a influenciar a estrutura das cidades é In Brazil, one of the main elements to influence the structure of cities
o modelo de mobilidade centrado no transporte motorizado individual, o qual is the model of mobility centered on individual motorized transport,
se materializa no modelo de planejamento urbano. Como forma de embate aos which materializes in the urban planning model. As a way to encounter
paradigmas urbanos contemporâneos, práticas urbanas criativas que chegam a the contemporary urban paradigms, creative urban practices that come
partir de iniciativas populares (bottom-up) para abordar problemas do cotidiano from popular initiatives (bottom-up) to address everyday problems are
são uma crescente tendência mundial, e que tem grande potencial de trans- a growing global trend, which has great potential for transformation of
formação dos espaços públicos e estilo de vida da população. Diante de uma public spaces and population life style. Faced with a personal concern
inquietação pessoal quanto às condições de mobilidade ciclísticas em João about the cycling mobility conditions in João Pessoa, the work aimed
Pessoa, o trabalho teve como objetivo principal propor o uso do urbanismo tá- to propose the use of tactical urbanism as a participatory tool in cycle
tico como ferramenta participativa no planejamento cicloviário para promover planning to promote actions to encourage the use of bicycles. The
ações de incentivo ao uso da bicicleta. A concepção da metodologia teve como conception of the methodology was based on the use of some tools
princípio a utilização de algumas ferramentas já testadas, mas que juntas, already tested, but together, they promoted the opportunity to create
promoveram a oportunidade de criação de um processo metodológico colabo- a collaborative methodological process, which sought to examine the
rativo, que buscou examinar o contexto dos deslocamentos ciclísticos através context of cyclical displacements through parameters established in
de parâmetros estabelecidos na metodologia “Plano Cicloviário Participativo the methodology “Participatory Local Cycle Plan”, developed by the Dut-
Local”, desenvolvido pela ONG Holandesa I-CE (Interface for Cycling Expertise) ch ONG I-CE (Interface for Cycling Expertise) in partnership with the Bi-
em parceria com o Programa de Parcerias pela Bicicleta (Bicycle Partner- cycle Partnership Program (BPP), along with contributions from society
ship Program - BPP), juntamente com contribuições da sociedade através da through the use of digital communication technologies, which provided
utilização das tecnologias digitais de comunicação, o qual deu suporte para support for the choice and application of interventions in the city and
escolha e aplicação das intervenções na cidade e contemplou o envolvimento contemplated the involvement of the municipality (Superintendência
do órgão municipal competente (Superintendência de Mobilidade de João de Mobilidade de João Pessoa - SEMOB-JP - SEMOB-JP) in the imple-
Pessoa - SEMOB-JP) na realização de intervenções de urbanismo táticos na mentation of tactical urban interventions in the city. Among the results,
cidade. Dentre os resultados encontrados, a pesquisa revelou que a análise dos the research revealed that the analysis of the factors, the interaction
condicionantes, a interação via redes sociais e a articulação com a SEMOB-JP, through social networks and the articulation with the SEMOB-JP, during
durante o processo de análise e criação das intervenções, foi fundamental the process of analysis and creation of the interventions, was essential
para a concretização e legitimidade das mesmas. A participação e adesão da to the achievement and legitimacy. The participation and involvement
população se fez de forma positiva, no entanto, notou-se que a efetiva transfor- of the population is made in a positive way, however, it has been noted
mação e quebra de paradigmas quanto ao planejamento urbano da cidade faz that the effective transformation and breakdown of paradigms in urban
parte de um processo contínuo de multiplicação e de aperfeiçoamento que não planning of the city is part of a continuous process of multiplication
ocorre “da noite para o dia” e que seriam necessárias diversas ações seme- and improvement that does not occur “from night to day” and that a
lhantes para que essas estratégias ganhassem mais força e visibilidade, bem number of similar actions would be required for these strategies to gain
como a introdução de novos arranjos institucionais com à incorporação efetiva strength and visibility as well as the introduction of new institutional
de ferramentas colaborativa. Diante do exposto, ressalta-se que a inserção arrangements with the effective incorporation of collaborative tools.
do urbanismo tático como ferramenta formal no planejamento urbano pode Thus, the insertion of tactical urbanism as a formal tool in urban plan-
fomentar um novo olhar sobre as estratégias de planejamento e, consequen- ning can awaken a new look at planning strategies and, consequently,
temente, impulsionar a participação da população na construção da cidade e boost the participation of the population in the construction of the city
apropriação dos espaços públicos, buscando um processo verdadeiramente and appropriation of public spaces, seeking a process truly participa-
participativo que norteiam a produção do espaço urbano. tory that guide the production of urban space.
SUMÁRIO
01
INTRODUÇÃO
E, o Estatuto da Metrópole, por sua vez, traz diretrizes gerais para o planeja-
mento, a gestão e a execução de políticas públicas em regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas instituídas pelos estados, colocando a problemática da
mobilidade urbana, habitação, saneamento e entre outras.
Questões regulamentadas nessas leis foram reivindicadas no ano de 2013,
momento que sucedeu uma importante reação à carência de mobilidade nas
cidades brasileiras, denominada Jornadas de Junho de 2013 (Figura 1), que
trouxe à tona uma série de problemas relacionados ao planejamento e gestão
de cidades, mas que se destacou pela forte crítica às condições e custos do
transporte público, estendendo-se ainda para questões da crise da mobilidade e
diversas questões urbanas. Essas manifestações foram encabeçadas por uma
nova geração de movimentos urbanos que se articularam a partir de ocupações
e manifestos nas principais capitais e se estenderam às redes virtuais, toman-
do proporções nacionais.
1 O Ministério das Cidades, conceitua mobilida-
A urgência pela mobilidade urbana sustentável1 no Brasil, já foi vociferada pela
de urbana sustentável como “o resultado de um
população e postas no âmbito legislativo, entendendo-se que políticas em conjunto de políticas de transporte e circulação que
prol do automóvel não tem mais espaço no cotidiano das cidades. Segundo visam proporcionar o acesso amplo e democrático
Xavier (2007, p. 124), a reversão da hegemonia automobilística só será possí- ao espaço urbano, através da priorização dos modos
vel através de um longo processo de envolvimento social e de transformação de transporte coletivo e não motorizados, de forma
efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente
política. Nesse contexto, destaca-se que a pressão estabelecida por coletivos, sustentável” (BRASIL, 2004, p. 14).
movimentos sociais e bicicletadas2 ligados ao uso da bicicleta é um elemento
2 A Bicicletada é a versão nacional do movimento
fundamental de transformação em várias cidades do mundo. Expõe-se, por-
tanto, o desafio de abordar o planejamento urbano de forma a não se restringir conhecido mundialmente como Massa Crítica Figura 1: Compilação de imagens das manifestações em
(Critical Mass), que nasceu em 1992 na cidade nor- várias cidades do Brasil, Jornadas de Julho de 2013.
apenas às suas características físicas e estratégicas, mas também incorporar a te-americana de São Francisco e hoje está presente Fonte: globo.com
mobilidade urbana junto a uma discussão social, envolvendo vários grupos da em mais de 300 cidades de todos os continentes Disponível em: http://glo.bo/19UQBA9
sociedade civil e possibilitando uma análise sob diversos pontos de vista. (CASTRO 2005 apud XAVIER 2007, p. 132). Acesso em outubro de 2017.
16 INTRODUÇÃO 17
Nesse campo, coloca-se o planejamento cicloviário junto ao planejamento urba- as pessoas, entidades e setores econômicos pensam das condições de
no para criação de uma cidade com uma mobilidade urbana sustentável, onde mobilidade no município e da receptividade e aprovação das medidas
a localização de funções individuais geradoras de tráfego é fundamental para que venham a ser definidas; esta abordagem também pode produzir in-
garantir a viabilidade do deslocamento diário pedonal e ciclístico. Conceitual- dicadores qualitativos e quantitativos que expressem algumas variáveis
importantes à análise (BRASIL, 2007, p.44).
mente, o planejamento cicloviário é um instrumento para facilitar a mobilidade
nos ambientes urbanos, proporcionar maior integração entre todos os sistemas É crucial na implementação da bicicleta como modal de transporte que os plane-
de transporte, especialmente os transportes coletivos (BOARETO, 2012, p.44). jadores locais incluam a comunidade e se apropriem das decisões para priorizar o
Sendo assim, para a inserção da bicicleta no meio urbano, o plano cicloviário modal cicloviário. O Brasil (2007, p.44) explica que “é importante que as reuniões,
precisa está integrado com o planejamento urbano e com o plano de mobilida- audiências e outros eventos de discussão pública ocorram com base em informa-
de urbana da cidade. ções sistematizadas sobre a infraestrutura, demanda e oferta de serviços, obtidas
O planejamento urbano de uma cidade ou região envolve todos os aspectos pela aplicação das metodologias técnicas”. Portanto, o projeto tem uma chance
pertinentes ao tema, como as formas desejáveis de uso e ocupação do solo, a muito maior de sucesso quando os cidadãos estão envolvidos. João Pessoa
oferta e a disposição física de equipamentos públicos de educação, saúde, jus- possui uma proposta de Plano Cicloviário que consiste no mapeamento das rotas
tiça e lazer, os sistemas de abastecimento de energia e de água, o sistema de propostas, as rotas existentes e as rotas a requalificar, porém, não se têm evidên-
esgotos, a coleta de lixo e outros e por último, e o sistema viário e de transpor- cias de como foi construída e que tipo de abordagem foi utilizada.
tes públicos. Estes últimos itens de mobilidade, ganham um plano específico, Sabe-se também que os movimentos em prol do uso da bicicleta estão cada vez
denominado, Plano de Mobilidade Urbana sendo responsável pela implantação mais fortes: a Cidade possui aproximadamente 50 grupos que se diversificam
e o gerenciamento dos diferentes sistemas, meios e infraestruturas inerentes entre ativistas, esportistas e pessoas que utilizam o modal para o transporte e
ao sistema viário como por exemplo passeios, diferentes vias para os diversos lazer. Porém, o crescente número de pessoas interessadas no modal cicloviário se
modais, equipamentos, mobiliário, pela oferta de modos públicos e privados contrapõe com a oferta de infraestrutura cicloviária e às politicas de mobilidade
de transporte, motorizados e não motorizados (BRASIL, 2005, p.104). O plane- em prol do ciclista. Apesar do Plano Cicloviário de João Pessoa, no ano de 2013, a
jamento cicloviário por sua vez, está inserido no Plano de Mobilidade Urbana, Prefeitura de João Pessoa (PMJP) propôs alargar a Av. Beira Rio através da retira-
podendo está separado ou não. da das árvores e descartar o projeto da ciclovia, para dar lugar a mais duas pistas
Boareto (2010, p.53) ressalta que “os motivos que levam uma cidade a imple- para veículos motorizados. Diante desta proposta, os cidadãos reunidos através do
mentar um planejamento cicloviário são diversos, mas as consequências são movimento João Pessoa que Queremos (JPqQ) reivindicaram intervenções verda-
as mesmas: maior facilidade de locomoção, redução dos níveis de poluição deiramente ligadas à mobilidade urbana sustentável (Figura 2). Hoje, a malha está
sonora e atmosférica, melhoria da saúde pública e diminuição do custo e tempo sendo ampliada com a construção de uma ciclovia no canteiro central da Avenida,
dos deslocamentos urbanos”. Segundo Brasil, (2007, p.44) a elaboração do a qual possuirá 8 km de extensão, conectando o Centro à Orla, como previsto no
plano cicloviário deve partir da premissa que há duas abordagens e elas, devem Plano Cicloviário de João Pessoa.
coexistir e se combinar, a abordagem técnica e a abordagem social. Foi através da reivindicação popular que a pauta de mobilidade urbana de João
Pessoa conseguiu evoluir rumo ao favorecimento do transporte não motorizado.
A abordagem técnica utiliza as metodologias clássicas de plane- Ações que se concretizam a partir da iniciativa popular são uma crescente tendên-
jamento de transporte, fundamentadas no levantamento de dados cia mundial que tem grande potencial de transformação dos espaços públicos e
quantitativos, no emprego de meios de representação dos atributos e
estilo de vida da população, através da participação em audiências públicas, de au-
relações espaciais (mapas, desenhos, esquemas ilustrativos), no uso
de métodos de previsão de demanda (modelos de transporte) e no
to-organizações, de programas participativos e ambientais, etc. Essas abordagens
uso de instrumentos de simulação do desempenho de redes de trans- são lideradas por grupos comunitários e especialistas que através do engajamento
porte com base em indicadores de desempenho econômico e social. fornecem ações imediatas e simplificadas para o local onde vivem no intuito de
Na abordagem social cabe a utilização de métodos que permitam, inspirar ações comunitárias, chamar atenção para problemas da cidade, encorajar
a partir da discussão com a sociedade, uma compreensão do que pessoas à trabalhar em prol da cidade, colher dados e fazer teste de nos projetos.
18 INTRODUÇÃO 19
Dessa forma, esses movimentos surgem da necessidade real da população
na sua vivência de cidade se contrapondo assim, ao tradicional “fazer-cidade”
baseado no planejamento urbano estratégico iniciado nos Estados Unidos e
difundido em Barcelona a partir da década de 1980. Modelo este, que está cada
vez mais insustentável por ter como objetivo final transformar a cidade a partir
da lógica capitalista, com base em análises estatísticas, com horizontes de
planejamento de longo prazo e oportunidades limitadas para o envolvimento
dos cidadãos. Por consequência, essas estratégias não são suficientes para
acomodar nossas estruturas sociais que sofrem com mudanças econômicas
rápidas, variações tecnológicas e inserção da globalização no dia-a-dia.
Com isso, o desafio das cidades não se trata de eliminar o modelo de planeja-
mento urbano estratégico, pois este ainda é relevante para os grandes serviços
urbanos. Mas, na forma de planejar e envolver os cidadãos na construção da
cidade, dando a estes a chance de cultivar o sentimento de pertencimento ao
local onde habitam. As intervenções táticas e temporárias podem permitir que
os planejadores façam melhorias nas cidades rapidamente e colocam especia-
listas e cidadãos trabalhando juntos em projetos de planejamento. Assim, o “ur-
banismo tático”3 pode ser entendido como uma alternativa para as ferramentas
formais de planejamento, através da implementação em curto prazo, do mínimo
de gasto de recursos financeiros e da participação dos cidadãos.
Nesse sentido, o urbanismo tático permite que uma série de atores locais
testem novas ferramentas de melhoria do espaço público com a participação
da população em conjunto (ou não) com órgãos públicos. Segundo o manual
do Urbanismo Tático 2 (LYDON, et al. 2012 p.1), a conceituação apresenta cinco
características:
• Uma abordagem voluntária e gradual para instigar a mudança;
• Um processo de criação de ideias para os desafios do planejamento à escala
local;
3 O termo urbanismo tático surge inspirado por um • Um compromisso de curto prazo e de expetativas realistas;
post do blogue faslanyc de Junho de 2010 onde se
discutia a pedonalização da Praça Times Square em • Uma atividade de baixo risco com a possibilidade de gerar recompensas
NY. Na introdução, o autor descreve os esforços do elevadas;
Departamento de Transportes (DOT) da autarquia
para promover “intervenções táticas”. Foi a minha • E o desenvolvimento de capital social entre cidadãos e a construção de capa-
primeira aproximação a esse termo aplicado ao
Figura 2: Manifestações na Beira Rio contra a retira- cidade institucional entre as organizações públicas, privadas, não lucrativas e
ambiente urbano e parecia descrever de forma clara
da do canteiro central para intserção de mais duas ONG’s e os seus membros.
não apenas o projeto Greenlight for Broadway, mas
faixas para carros.
uma tipologia de outras intervenções de baixo custo
Fotos: Thercles Silva, 2013. e parcial ou totalmente não formalizadas. (LYDON,
et al. 2012, p.1)
20 INTRODUÇÃO 21
Dessa forma, seus principais efeitos são impulsionar a economia local, melho-
UTILIZAÇÃO
OBJETO DE ESTUDO rar a qualidade do espaço público e criar situações que promovam a sociabi-
lidade e o senso de pertencimento. Ademais, demonstra ser uma ferramenta
dinâmica de planejamento para ser utilizada na implantação de transformações
urbanas que quebram paradigmas e precisam ser testadas e vivenciadas antes
de soluções definitivas, que efetivamente, podem não funcionar.
Diante do exposto, esse trabalho se apresenta como uma aposta de que o
DA BICICLETA
urbanismo tático e o seu viés participativo pode fomentar um novo olhar sobre
o planejamento cicloviário e, consequentemente, impulsionar a apropriação dos
espaços públicos da cidade de João Pessoa através de novas soluções para a
mobilidade de bicicletas. Ele surge num momento oportuno, anterior à fase de
implantação do Plano Cicloviário, o qual poderá auxiliar como ferramenta de in-
vestigação e ação no espaço urbano, onde se utiliza de um conceito de Urbanis-
mo Tático, que trabalha com melhora sócio-espacial, consciente e participativa.
COMO MODAL
Objetivo Geral:
Propor o uso do urbanismo tático como ferramenta participativa no planeja-
mento cicloviário para promover ações de incentivo ao uso da bicicleta.
Objetivos Específicos:
DE TRANSPORTE
Analisar o Plano Cicloviário de João Pessoa;
NA CIDADE DE
22
JOÃO PESSOA
INTRODUÇÃO 23
02
O URBANISMO E A CIDADE CONTEMPORÂNEA
38 METODOLOGIA 39
O método holandês de planejamento urbano chamado de OTAE foi desenvolvi- O método de planejamento cicloinclusivo (Design for the bicycle6), segundo
do para conseguir os objetivos em áreas com pouca infraestrutura cicloviária, Silva, Vonk e Hullerman (2001 apud CROW, 1996), parte do princípio que o
a qual inexiste dados adequados da situação da mobilidade e possui pouca planejador de uma infraestrutura cicloviária deve ser familiarizado com as
cultura ciclística local, como é o caso da maioria das cidades brasileiras (Info- possibilidades e limitações técnicas do ciclista e da bicicleta. Tendo em vista
gráfico 1). Silva, Vonk e Hullerman (2009) explicam que cada etapa do processo que as condições mínimas para o desenho cicloviário são consequência do
conduz a um resultado intermediário que necessita de aprovação pela maioria sistema usuário-veículo, o método elenca as exigências para um bom plano
dos participantes e que deve ser apresentado aos tomadores de decisões. cicloviário em quatro níveis de planejamento: Rede, Rota, Facilidade e Como-
Desta maneira, os responsáveis pelas decisões estão sendo envolvidos com o didade que devem corresponder a quatro critérios: Integralidade, Linearidade,
processo podendo consentir ou sugerir mudanças de acordo com as macro- Atratividade e Segurança e Adequação (Infográfico 2). Dessa forma, a criação
-diretrizes urbanas sem afetar o processo de planejamento e participação em desse método foi alicerçado nas “ 7 características básicas da bicicleta e do
curso. ciclista” (Infográfico 3), o qual deve ser colocado em constante observação no
momento de planejar uma cidade cicloinclusiva.
Algumas características específicas deste método são o aproveitamento de
dados concretos (contagens de tráfego, etc.) e dados tácitos, como o conheci-
mento de peritos, de planejadores urbanos locais e de usuários. Outra caracte-
rística é o reconhecimento dos problemas com desenvolvimento de diferentes
alternativas, utilizando técnicas de avaliação rápidas (rapid assessments),
levantamento de problemas, coleta da informação e o desenvolvimento de
soluções para um curto prazo a um custo relativamente barato.
Infográfico 1: Otimização do Trânsito em uma Área 6 Método baaseado em informações dos dois
Específica (Area Specific Optimization - OTAE). Infográfico 2: Planejamento cicloinclusivo Infográfico 3: 7 características básicas da
Tradução da autora. principais livros holandeses a respeito do planeja-
(Design for the bicycle). Tradução da autora. bicicleta e do ciclista. Tradução da autora.
mento urbano e do desenho de infraestrutura para
Fonte: Elaborado pela autora com base no CROW, bicicletas: “Sing up for the bike” e “Design manual for Fonte: Elaborado pela autora com base no Fonte: Elaborado pela autora com base no
e2001). bicycle traffic”. CROW, e2001). CROW, e2001).
40 METODOLOGIA 41
É necessário entender que o processo de planejamento para o uso
da bicicleta, necessita balancear cada uma das exigências expostas
acima, tendo em vista uma abordagem de forma integral que avalia
a infraestrutura cicloviária em diferentes níveis do desenho. Xavier
[et al.] (2009) ressalta que o desenho compreensivo começa com o
planejamento no nível da rede. Explica também que para melhorar a
qualidade dos elementos da rede, diversos tipos de facilidades devem
ser também introduzidos com moderação de tráfego, construção
de passagens em nível, redução do tráfego motorizado, adaptação
das interseções, inclusão de rotatórias, melhorias dos cruzamentos,
construção de estacionamento para bicicletas, entre outros. E por
fim, todo o processo tem que procurar equilibrar estes elementos de
transporte com características de uso do solo, como qualidade am-
biental/paisagística, conexões com atividades atratoras e geradoras
de viagens e considerações quanto a vias de caráter comercial.
A combinação dos dois métodos com a participação da população
é o diferencial da metodologia, pois em todas as fases existe a
presença de diversos atores da sociedade. A metodologia é coloca-
da em prática através de workshops, que iniciam com a qualificação
dos planejadores municipais da cidade e da sociedade civil organi-
zada para a construção do plano cicloviário da cidade. A duração do
workshop é definida de acordo com realidade e com o objetivo final
que se deseja alcançar, ou seja, é um exemplo que não pode ser repli-
cado, e que precisa de um estudo prévio e adequação dependendo da
complexidade da rede.
Dessa forma, foi feito a comparação de experiências de workshop
realizadas em diferentes cidades e com objetivos distintos. A primeira
experiência exemplificada é a utilização do método para a capacita-
ção de técnicos das cidades parceiras no Programa de Parcerias pela
Bicicleta (BPP) e para aplicação em uma cidade específica, resultou
em uma série de 3 workshops (Xavier et al 2009, p.8). A segunda
experiência é o método aplicado na cidade de Resende (117.391 ha-
bitantes,) no estado do Rio de Janeiro desenvolvido em 3 workshops
(Silva, Vonk e Hullerman 2009, p. 7). E a terceira experiência foi o
caso do Bairro da Tijuca (163 mil habitantes), localizado na zona
norte do Rio de Janeiro, o qual teve duração de dois dias, após a mo-
bilização e capacitação de pessoas para a participação do workshop
Infográfico 4: Comparação das três experiências realizadas no
Brasil. (ABCP, 2017 p. 4). A seguir, um relato resumido das três experiências
Fonte: Elaborado pela autora. (Infográfico 4):
42 METODOLOGIA 43
44 METODOLOGIA 45
A partir da síntese apresentada na tabela, percebe-se que a metodologia é re- agregado o método de avaliação pós-ocupação walkthrough.
sultado da combinação dos dois métodos holandeses de planejamento urbano
O método de avaliação pós-ocupação walkthrough foi determinante para as eta-
e que dependendo das peculiaridades do local sofre adaptações. O tempo de
pas de análise e para as escolhas das intervenções, pois proporcionou a ava-
duração e o número de workshop podem variar, porém as etapas criadas em
liação in loco, possibilitou a identificação detalhada dos aspectos negativos e
cada workshop são inspiradas no método Otimização do Trânsito em uma Área
positivos das mesmas. Segundo Rheingantz [et al.] (2009, p. 23), a “sua realiza-
Específica e a concepção do plano cicloviário desenvolvido no workshop segue
ção permite identificar, descrever e hierarquizar quais aspectos deste ambiente
os níveis e critérios do método Planejamento Cicloinclusivo.
ou de seu uso merecem estudos mais aprofundados e quais técnicas e instru-
Assim como a metodologia “Plano Cicloviário Participativo Local”, este tra- mentos devem ser utilizados”. Dessa forma, as rotas cicloviárias da proposta
balho procurou utilizar-se dos métodos Otimização do Trânsito em uma Área foram registradas através de vídeos e fotografias e destacadas as descobertas
Específica (Area Specific Optimization - OTAE) e o Planejamento Cicloinclusi- mais relevantes a serem trabalhadas. A quarta etapa consiste em sugestões
vo (Design for the bicycle) para o desenvolvimento da proposta metodológica. de melhoria a respeito das análises feitas sobre o PCJP e a produção de um
Dessa forma, buscou-se construir uma metodologia simplificada transformada mapa síntese mostrando as melhorias pós-avaliação baseada nos Critérios e
em etapas, as quais encorporaram também ferramentas de investigação como Níveis de planejamento cicloviário. Essas têm o subproduto às recomendações
os questionários, mapas colaborativos, walkthrough. Apesar das limitações de melhoria do Plano Cicloviário de João Pessoa.
que não seriam possíveis por em prática em um trabalho final de graduação
A terceira fase diz respeito aos cenários de intervenções nas rotas do Plano
em Arquitetura e Urbanismo, as etapas adentraram em alguns instrumentos
Cicloviário de João Pessoa. A quinta etapa consiste na triagem dos locais e
técnicos específicos e buscaram envolver a maior participação da sociedade
proposição dos cenários para as intervenções táticas. Para tanto, foram con-
possível.
siderados principalmente os pontos críticos do PCJP e das sugestões junta-
Este trabalho tem como produto final ensaios de intervenções táticas em mente com o mapa colaborativo, onde se observou áreas com alto volume de
pontos estratégicos da futura rede cicloviária da cidade de João Pessoa. Os tráfego, com alta velocidade de veículos motorizados, cruzamentos de grandes
objetivos dessas intervenções são estimular e incentivar a população e as avenidas, bem como as marcações de acidentes, de locais perigosos/ hostil
comunidades locais ao uso da bicicleta como modal de transporte e ao uso e de locais com difíceis travessias. E, por sua vez, a criação de cenários de
espaço público, bem como testar possíveis elementos da rede cicloviária. Para intervenções táticas, que vem acompanhado de indicações de como executá-lo.
tanto, o entendimento do Plano Cicloviário de João Pessoa (PCJP - PMJP) se A sexta etapa constitui-se da fase de viabilidade, onde foram contados órgãos
fez fundamental nesse contexto de transformações, com isso, foi incorporado municipais e sociedade civil para execução das intervenções e foi posto em
à metodologia a avaliação do mesmo, seguida de sugestões de melhoria para prática algumas intervenções, juntamente com o recolhimento de dados indi-
que posteriormente, fosse proposto os locais de intervenção. cadores dos resultados. E a sétima e última etapa é a discursão dos aspectos
conclusivos das análises e intervenções. A seguir, a metodologia resumida em
Na primeira fase é feito o reconhecimento da problemática de planejamento
etapas (Infográfico 5):
cicloviário na cidade de João Pessoa tendo como subproduto o diagnóstico.
A primeira etapa busca descrever a respeito da evolução do planejamento
cicloviário de João Pessoa através da exploração referências bibliográficas. A
segunda etapa procura reconhecer o objeto de estudo segundo fatores físicos,
ambientais e urbanos a partir de dados disponíveis e também com o envolvi-
mento com atores da sociedade civil a partir de reuniões, aplicação de questio-
nários e construção de um mapa colaborativo online.
Na segunda fase adentrou-se nas particularidades do Plano Cicloviário de João
Pessoa atual, considerando-o um documento importante no âmbito de material
Infográfico 5: Metodologia resumida em etapas.
existente. A terceira etapa é composta pela análise do plano aplicando os méto-
Fonte: Elaborado pela autora.
dos de planejamento “Plano Cicloviário Participativo Local”, na qual foi também
46 METODOLOGIA 47
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05
PLANEJAMENTO CICLOVIÁRIO EM JOÃO PESSOA
Figura 16: Projeto Básico Tipo dos Corredores do Sistema BRT (Esc. Original:
1:45.000).
Fonte: PMJP, 2013.
Figura 20: Plano cicloviário de João Pessoa, prancha datada em abril de 2013.
Fonte: Mobilidade Urbana João Pessoa, 2013
Figura 28: Contagem de ciclistas na Av. Beira Rio promovido pelo Cidade Bike.
Fonte: Acervo Pessoal, 2017.
Figura 30: Estrutura elevada para facilitar o deslocamento dos ciclistas construída
na Holanda.
Figura 31: Ciclovia Hovenring, Eindhvoen, Holanda.
Fonte: hovenring.com
Disponível em: https://hovenring.com
Acesso em outubro de 2017.
Figura 32: Nelson Street Cycleway, ciclovia elevada próximo a rodovia.
Figura 33: Nelson Street Cycleway, Nova Zelândia.
Fonte: at.govt.nz
Disponível em: https://at.govt.nz/cycling-walking/auckland-cycle-run-walkway-
-maps/lightpath-the-nelson-street-cycleway/
Acesso em outubro de 2017.
CRITÉRIOS NÃO
ou trechos específicos. Pois, entende-se que para se fazer uma proposta de
um novo plano cicloviário, necessitaria de estudos ainda mais aprofundados,
entrando em áreas como de engenharia de trânsito, levantamentos de larguras
de vias, detalhes projetuais de desenho de infraestrutura cicloviária e uma fase
de participação da população bem mais ampla. Portanto, o objetivo é apresen-
tar recomendações com base nas referências pesquisadas e sugestões de
PUDEREM SER
potenciais rotas que possam ser incorporadas numa futura rede cicloviária.
Ainda, com base nas análises e sugestões, indica-se locais propícios para as
intervenções táticas, objeto desse trabalho.
Dessa forma, ressalta-se que uma infraestrutura cicloviária completa, cria
condições em termos de eficiência no deslocamento, otimizando a capacida-
ATENDIDOS, A INFRA-
de física e psíquica e proporcionando a sensação de conforto e segurança do
ciclista. Qualquer proposta de rede cicloviária deve prever a intervenção de
certo número de vias de forma prioritária para garantir a mobilidade básica, no
entanto, uma política efetiva deve prever a incorporação da bicicleta em todas
as vias da cidade, partindo da premissa de que a rua é um espaço compartilha-
do por todos, é um espaço democrático. Com isso, a avaliação do PCJP - PMJP
90 ANÁLISE
(CROW, 2001, pag. 58. Tradução da autora. MODIFICADA”
91
92 ANÁLISE 93
5.1 A rede Mapa 15: Análise - Rede
Fonte: Elaborado pela autora.
A análise do PCJP - PMJP iniciou-se por meio da verificação da rede, tendo em ** Para leitura completa consultar apêndice -
Caderno de Mapas: Mapa 15.
vista que em termos de infraestrutura cicloviária segregada, é o primeiro mape-
amento necessário a se fazer. A rede cicloviária se define por ser uma malha
que cobre toda a área urbana da cidade, na qual aponta o caminho sujeito à
intervenção prioritária para incorporar critérios de mobilidade ciclística, no
entanto, não significa que as vias restantes não fazem parte do sistema (Ma-
nual Ciclociudades, Tomo III, p. 66). Dessa forma, a rede deve dar às pessoas
a oportunidade de ir/vir de bicicleta, podendo ser combinado com a integração
com outros meios de transporte, caracterizando a sua integralidade. A integrali-
dade da rede é definida/por uma rede única, contínua e coerente com conexões
em todos os pontos de origem e destino dos ciclistas (CROW, e.2001, pag. 59).
Portanto, deve garantir que a demanda de origem-destino seja comprida de
forma integrada com uma configuração uniforme e facilmente identificável.
É fundamental para uma Rede resolver links faltantes, evitar conflitos com
veículos motorizados em travessias, minimizar o esforço físico e garantir que
os usuários se sintam seguros de riscos de acidente. Com isso, elaborou-se um
mapa que identifica as principais problemáticas relacionadas à integralidade da
rede (Mapa 15 - Tamanho ampliado) e um mapa de sugestão de Integralidade
da Rede (Mapa 16 - Tamanho ampliado):
• Problema percebido: No quesito de Rede Completa, nota-se que a Área
Central (1); a Av. Epitácio Pessoa (2), Av. Rui Carneiro (3), a Av. Empresário João
Rodrigues Alves (Principal dos Bancários) (4), a Av. Josefa Taveira (5) e Centro
Universitário - Unipê (6) não possuem conexão com a rede proposta, e se tra-
tando de áreas de interesses e de vias de caráter estruturador para mobilidade
de bicicleta, deveriam ter prioridade na rede.
• Sugestão: Para a Área Central (1), sugere-se a inserção e a conexão com as
rotas existentes. Uma indicação seria a ligação da Av. Cruz das Armas, que
termina na Estação Central de João Pessoa, com a rota da Av. Beira Rio, onde
passaria pela Av. Barão do Triunfo, passando pela Lagoa seguindo pela Getúlio
Vargas. Essa rota passaria também pela Av. Visconde de Pelotas, a qual utili-
zaria do conceito de ruas abertas para pedestres e ciclistas, sendo, portanto,
livres dos carros, ligando-se com a infraestrutura na Rua Dep. Odon Bezerra
chegando ao fim Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica) (1*). Se tratando de ** As numerações referentes ao mapa
ligação e criação da rede completa também se sugere a extensão da infraes- de análise estão identificadas no texto da
trutura cicloviária em toda extensão da Av. Rui Carneiro (2*), fazendo a ligação seguinte forma (0) e as numerações refe-
com a BR 230 e chegando até a Orla de Tambaú. rentes ao mapa de sugestão estão identifi-
cadas no texto da seguinte forma (0*).
94 ANÁLISE 95
Mapa 16: Sugestão - Rede • A última sugestão se faz em relação a inserção da infraestrutura cicloviária em
Fonte: Elaborado pela autora. um dos principais corredores da cidade que tem inicio no centro da cidade e é
** Para leitura completa consultar apêndice - denominado pelo projeto do BRT de Corredor Pedro II, a sugestão de Rede Com-
Caderno de Mapas: Mapa 16. pleta se inicia no Bairro dos Bancários e se encerra em no Bairro de Mangabeira
IV (3*). Essa proposta se embasa principalmente nas análises dos mapas de aci-
dentes e de locais considerados hostis e perigosos pelos ciclistas. Sabe-se das
limitações de largura das Avenidas em questão, no entanto, elas fazem partes
das principais áreas de interesse da cidade e necessitam de um esforço em prol
do modal cicloviário. É sabido que soluções de desenho precisam ser estudadas
com maior precisão, mas modelos de compartilhamento de calçadas com modal
cicloviário seria um ponto a se considerar (Figura 37).
• Problema percebido: Em relação à Continuidade das Rotas, é possível perceber
rotas descontinuadas e com diversas interrupções. No caso de João Pessoa, é
possível notar grandes quantidades de interrupções próximas às vias de grandes
fluxos de veículos motorizados e próximos a reserva ou rodovias. A ligação des-
sas rotas, principalmente quando se trata de interseções em grandes avenidas
é fundamental, pois são os pontos em que os ciclistas ficam mais vulneráveis e
sujeitos a acidentes. O tratamento de cruzamentos com a marcação de continui-
dade das ciclovias e ciclofaixas são fundamentais para que o motorista note a
presença do ciclista e fique atento nesses locais (Figura 38).
• Sugestão: Para que não se perca a continuidade e que se crie uma rede inte-
grada seria a criação de ciclovias na BR 230 e na BR 101 (1*). Este tipo de im-
plantação necessita de um desenho de infraestrutura cicloviária bem segregada
e protegida e, também precisa proporcionar segurança na travessia dos ciclistas
nas rodovias, através de pontes ou túneis subterrâneos.
• Percebeu-se também interrupções na rota da Beira Rio, onde se encerra antes
de encontrar com à ciclovia da Orla de Cabo Branco, bem como a ciclovia do Al-
tiplano, que também se encerra antes de chegar na rota da Beira Rio (2*). Essas
conexões são fundamentais para a segurança do ciclista, principalmente pelo
fato desse trecho ter alto fluxo de carros e ser um local onde estes desenvolvem
alta velocidade.
• Da mesma forma, sugere-se a ligação dos bairros Ernani Sátyro e Costa e
Figura 37: Calçada compartilhada, Bruxelas. Silva com o bairro das Indústrias (3*), pelo fato do Bairro das Indústrias ser um
Fonte: Acervo pessoal, 2017. polo atrator de viagem e também se configurar como uma macrozona isolada
do restante da cidade. Também nas macrozonas ao Sul da cidade, sugere-se
Figura 38: Marcação de continuidade das ciclofaixas a ligação dos bairros Valentina e Gramame, pela Rua Radialista Newton Junior
e ciclovias nos cruzamentos, Barcelona. (4*), conectando essas à PB 008 (5*) que ligará a macrozona perifericamente até
Fonte: Acervo pessoal, 2017. a Orla de Cabo Branco.
96 ANÁLISE 97
• Problema percebido: No quesito Vínculo com Linhas de Desejo, no-
ta-se que o PCJP não cumpre com diversos trajetos de origem/destino.
Foram destacados a Área Central e alguns bairros adjacentes: Centro,
Varadouro, Tambiá, Roger, Alto do Céu, Padre Zé e Treze de Maio, Parque
da Lagoa - Solon de Lucena e o Parque Zoobotânico Arruda Câmara
(Bica) (1), o bairro Cristo Redentor (2), e os bairros localizados na ma-
crozona Oeste: Distrito Industrial, Bairro das Indústrias, Jardim Veneza,
Jardim Planalto e Bairro dos Novais (3). Também, nota-se quebra víncu-
lo com avenidas que fazem ligação de um bairro para outro da cidade:
Av. Pedro II (4), Via Expressa Padre Zé na altura da Av. Empresário João
Rodrigues Alves (5), Rua Manoel Lopes de Carvalho (6) e Rua Adão Via-
na Rosa (7). Dessa forma, sugere-se a inclusão de rotas nesses trechos.
• Sugestão: Na Av. Mandacaru (1*), a qual se configura como uma
avenida de ligação com as macrozonas Centro, Norte e Nordeste,
apontados como zonas atratoras de viagem e que, portanto, necessitam
de rotas cicloviárias para suprir sua demanda. Esse trecho também foi
bastante apontado pelos ciclistas como local inseguro e com ladeira
íngreme.
• As Avenidas Pedro II e Av. Padre Zé são vias que conectam pontos
atratores na cidade, onde a Pedro II faz a ligação das macrozonas ao
sul e a Av. Padre Zé possui a duas entradas para Universidade Federal
da Paraíba. Trata-se de avenidas com 6 vias de trânsito, onde os car-
ros ganham grande velocidade e os ciclistas ficam vulneráveis. Dessa
forma, se sugere a implantação de infraestrutura segregada nesses
trechos (2*), a solução de desenho de infraestrutura cicloviária que se
sugere duas ciclovias unidirecionais posicionadas na faixa direita nas
mesmas direções do fluxo de veículo motorizado, com no mínimo 1,2 m
de largura.
• Sugere-se uma rota para a macrozona Oeste. Esta rota se conecta
com a rota sugerida da BR 230 e BR 101, ligando os bairros Distrito
Industrial, Bairro das Indústrias, Jardim Veneza com os das macrozonas
Centro-oeste e Sudoeste (3*).
• A rota passando pela Av. Ranieri Mazilli (4*) foi colocada para atender
a demanda do Cristo Redentor, o qual conecta-se com os bairros Cuiá,
Geisel e José Américo. Foi sugerida também a rota na Rua Adão Viana
Rosa para ligação de Origem destino no do bairro Colinas do Sul ao
bairro João Paulo II.
98 ANÁLISE 99
Portanto, percebe-se que proposta negligencia diversas vias com caráter es- 5.2 A Rota
truturador para a mobilidade por bicicletas. No geral, recomenda-se considerar
os eixos viários estruturais ou propor rotas alternativas próximas a eles, princi- Fornecer rotas diretas significa priorizar rotas curtas, em termos de distância, e
palmente quando dotados de declividade mais favorável. A resolução da malha rápidas, em termos de velocidade. A qualidade das rotas se dá pela conexão da
em uma rede completa deve abranger toda a área urbana e permitir o acesso de infraestrutura cicloviária, pela distribuição das rotas na cidade e pelos aces-
qualquer pessoa a até 500 ou 1.000 metros de distância (Manual Ciclociudades sos que ela proporciona aos ciclistas. Portanto, evitar curvas desnecessárias e
Tomo III, p. 52). É essencial que a rede não possua interrupções que deixem o caminhos sinuosos, separar os ciclistas de outros veículos em caso de vias de
ciclista desamparado em locais inseguros, em especial em barreiras urbanas grande fluxo e altas velocidades e escolher rotas que evitam muito barulho e/ou
(pontes, túneis, viadutos, passarelas etc.) fumaça e fornecer atalhos (quando útil e possível), é essencial no planejamento
Vias com topografia muito desfavorável fazem parte das linhas de desejo e cicloviário.
necessitam de atenção especial, nesses casos, é recomendável que exista uma O Manual de Diseño para el Tráfico de Bicicletas reforça que se o tempo de viagem
infraestrutura totalmente segregada (ciclovia) ou calçadas compartilhadas, de bicicleta torna-se mais longo do que de carro, as pessoas tendem a usar o
pois no caso da subida, na maioria das vezes os ciclistas optam por empurrar a carro, por outro lado, muitos motoristas estão dispostos a usar a bicicleta para
bicicleta e acabam compartilhando o espaço da calçada com pedestre, no caso viagens curtas, pois passam a ser mais convenientes (Manual Ciclociudades,
de descida, recomenda-se uma ciclovia unidirecional com largura considerável Tomo III, p. 61). Dessa forma, para que os ciclistas optem pela bicicleta, o trajeto
para a maior confiança do ciclista. de um ciclista deve ser mais rápido que de um pedestre e mais prático que de
É essencial que os centros de bairros e polos geradores/atratores de via- um motorista de veículo motorizado evitando esperas, atrasos e desvios. Assim,
gens estejam diretamente ligados aos itinerários de ciclistas. Uma boa meta preparou-se um mapa que destaca as dificuldades das rotas do plano em seguir o
é que ao menos 70% das viagens de bicicleta possam ser feitas dentro da quesito de Trajetos eficientes em distância e tempo (Mapa 17 - Tamanho amplia-
rede cicloviária, que deve estar implantada em vias que beneficiem o uso de do) e um para com as sugestões de melhoria (Mapa 16- Tamanho ampliado):
bicicletas. Desta forma, a rede deve conectar pontos de utilidade (centralidades • Problema percebido: A rota da Av. Gal. Aurélio de Silva Tavares (1) sofreu um
de bairro, terminais de transporte coletivo, centros de compras, equipamentos desvio para a Rua Ivanilde Picoreli de Lima, porém, a rota tem como destino final
culturais, de educação e outros), possuir topografia favorável, travessias de a Av. Sanhauá (Estação de Trem de João Pessoa) e o desvio aumenta em média 1
barreiras urbanas (pontes, viadutos, passarelas etc.) e conversões à esquerda. minuto no tempo de viagem. Sugestão: Dá continuidade dessa rota na Av. Gal. Au-
Figura 39: Ciclovia unidirecional posicionada
A rede deve também utilizar elementos que desempenham o papel de orientar na faixa direita na mesmas direção do fluxo de rélio de Silva Tavares até a Estação de Trem de João Pessoa (1*). Uma opção de
e facilitar o trajeto do ciclista até a rede cicloviária bem como proporcionar no veículo motorizado, Lisboa. desenho da estrutura cicloviária seria duas ciclovias unidirecionais posicionadas
final de cada viagem, um lugar para estacionar com segurança. Fonte: Acervo pessoal, 2017. na faixa direita nas mesmas direções do fluxo de veículo motorizado (Figura 39).
Figura 40: Duas ciclovias unidirecionais nas • Problema percebido: A rota que passa na Av. Saturnino de Brito (2) possui ca-
mesmas direções do fluxo de veículo motorizado racterísticas que dificilmente estariam na escolha do ciclista, por se tratar de uma
junto ao canteiro central, João Pessoa - Av. Beira
Rio.
via local, com baixa densidade populacional para a demanda de linhas de desejo
Fonte: Acervo pessoal, 2017.
prioritária. A rota que tem início na Av. Saturnino de Brito, não tem conexão com
outras rotas e o seu destino final é a Av. Epitácio Pessoa, onde passa pela Av. Pri-
** As numerações referentes ao mapa meiro de Maio, caracterizando-se por um percurso longo e sinuoso, com muitas
de análise estão identificadas no texto paradas e desvio. Sugestão: Uma alternativa seria conectar a rota da Av. Gal. Au-
da seguinte forma (1) e as numerações rélio de Silva Tavares com a Av. João Machado através da Rua Ivanilde Picoreli de
referentes ao mapa de sugestão estão Lima, com o fim na Av. Epitácio Pessoa (2*). Uma sugestão de desenho cicloviário
identificadas no texto da seguinte forma seria a criação de calçada compartilhada ou a inserção de duas ciclovias unidi-
(1*). recionais nas mesmas direções do fluxo de veículo moto rizado junto ao canteiro
central (Figura 40).
100 ANÁLISE 101
Mapa 17: Análise - Rota Mapa 18: Sugestão - Rota
Fonte: Elaborado pela autora. Fonte: Elaborado pela autora.
** Para leitura completa consultar apêndice - ** Para leitura completa consultar apêndice -
Caderno de Mapas: Mapa 17. Caderno de Mapas: Mapa 18.
Acredita-se fortemente que o sucesso de ações em prol da bicicleta pode ser Como produto final dessa fase, foi feito o mapa que reúne as recomendações
medido em termos da extensão de uma rede de ciclovia, no entanto, esta abor- dos níveis de Rota e Rede (Mapa 19 - Tamanho ampliado) e um mapa síntese
dagem não leva em conta o valor da política de incentivo ao uso e da reeduca- que reúne as recomendações e as propostas que foram consideradas pertinen-
ção cultural da população, medidas estas que motivam as pessoas a começa- tes do PCJP (Mapa 20 - Tamanho ampliado). Esse mapa mostra a complexi-
rem a usar a bicicleta e na medida em que a infraestrutura cicloviária acolhe dade da criação de rotas cicloviárias e não tem a pretenção de ser visto como
esses novos ciclistas, eles se sentem seguro e com segurança de permanecer uma proposta definitiva, mas sim, despertar um novo olhar para o planejamento
utilizando a bicicleta. Dessa forma, a redução de veículos e da velocidade nas cicloviário na cidade de João Pessoa feito em conjunto com a população e de
vias, o tratamento de cruzamentos, e a relocação do espaço viário são medi- acordo com as reais necessidades do ciclista. É importante ressaltar que as
das a serem tomadas antes da implantação da rede cicloviária segregada. rotas sugeridas são fruto de uma observação no qual o modal cicloviário está
colocado como prioridade na política de mobilidade urbana, onde o planeja-
Tais exemplos, se adequadamente implantados, podem reduzir o volume de mento da mobilidade urbana que prioriza a circulação do veículo motorizado
veículos motorizados em vias locais, proibindo a passagem de veículos em individual foi desconstruído.
pontos estratégicos de bairros, pedestrianizando ruas comerciais ou de serviço.
É possível fazer a redução da velocidade, implementado a velocidade máxima
de 40 km/h nas vias coletoras e de 30 km/h nas vias locais, a implantação de
medidas de traffic calming, também é essencial para moderação do tráfego
112 ANÁLISE 113
Mapa 19: Sugestão - Níveis de Rede e Rota. Mapa 20: Sugestão - Síntese
Fonte: Elaborado pela autora. Fonte: Elaborado pela autora.
** Para leitura completa consultar apêndice - ** Para leitura completa consultar apêndice -
Caderno de Mapas: Mapa 19. Caderno de Mapas: Mapa 20.
TÁTICA PROJETUAL:
TÁTICA PROJETUAL:
6.3. A divulgação
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