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CSAP

Formação Social Brasileira

Florestan Fernandes

Prof. Eduardo Batitucci


(1) Florestan Fernandes
(2) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Florestan Fernandes nasce em São Paulo em 1920, filho de mãe solteira,


pobre, que ganhava a vida como doméstica. Na infância, recebeu a proteção e
o amparo de sua madrinha, patroa de sua mãe, para adquirir a alfabetização.
Aos nove anos, entretanto, abandona a escola para trabalhar. No final da
adolescência, é indicado por um cliente no bar onde trabalhava como garçom,
para representar um laboratório. Este emprego lhe facilita descontos em um
curso de “madureza ginasial” (supletivo), através do qual termina os seus
estudos médios. Em virtude da necessidade de continuar trabalhando, faz
vestibular para uma carreira que lhe oferece curso de meio período (excluindo-
se, portanto, medicina, direito e engenharia), entrando para o curso de Ciências
Sociais na recém-criada USP, forando-se em 1944. Torna-se assistente da
cátedra de Sociologia através de indicação de seu professor, Roger Bastide,
tornando-se titular desta cátedra em 1964. Defende sua dissertação de
mestrado em 1947, doutorado em 1951 e livre-docência em 1955. Com o golpe
militar e o AI-5 é aposentado compulsoriamente. Leciona nas universidades de
Columbia, Toronto, Yale e em outras universidades. Foi um dos fundadores do
PT e eleito deputado federal pelo partido em 1986 e em 1990. Morre em São
Paulo em 1995.
(3) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• É autor, dentre outros, de A Função Social da Guerra na Sociedade


Tupinambá (1951), A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1964 –
que é a obra de referência nas Ciências Sociais sobre os estudos sobre o
racismo no Brasil), Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológica (1967 –
que é a obra de referência sobre os estudos de Metodologia Científica nas
Ciências Sociais brasileiras) e de A Revolução Burguesa no Brasil (1975).

• Florestan notabilizou-se pela atuação inovadora e pelas propostas avançadas


no entendimento das formas de atuação pública dos cientistas sociais,
defendendo o caráter social do conhecimento tendo por fundamento a
responsabilidade dos cientistas sociais para com a análise e o entendimento
dos problemas sociais do país. Neste sentido a pesquisa empírica não deveria
ser um fim em si mesmo, mas o caminho para a formulação teórica (189).

• Florestan transformou-se no principal autor da moderna Sociologia brasileira,


detentor de um saber comprometido com a sociedade e a agenda coletiva, mas
de recusa a “orientações estritamente políticas” e defensor ferrenho do uso de
rigorosa metodologia científica nas Ciências Sociais.
(4) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• A realização profissional, intelectual e científica de Florestan pressupôs o lugar


institucional representado pela Universidade, como lócus da produção do
conhecimento, da realização da pesquisa e da transmissão do conhecimento. A
carreira de Florestan é o paradigma da moderna profissão acadêmica no Brasil,
tendo formado em torno de si um grande conjunto de alunos e orientandos, da
importância de Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni, entre muitos outros
(313).

• A Revolução Burguesa no Brasil

• Partindo de categorias tipológicas como “burguês”, “burguesia” e “revolução


burguesa” Florestan busca as mesmas referências na história do país, para
discutir as modalidades de formação da sociedade de classes e da revoluçã
burguesa no Brasil. O livro caminha no sentido de configurar os dilemas e
impasses de uma “revolução burguesa brasileira”, em sua opinião impotente, de
uma burguesia que não foi capaz de cumprir a sua missão de construir uma
nação, de uma classe que não tornou as suas orientações normativas
dominantes, pois se combinou às formas estamentais tradicionais brasileiras
(321).
(5) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Neste sentido, teria resultado daí o domínio de um “regime de classes sociais”


que excluiu os componentes políticos e sócio-culturais característicos (que
estariam presentes em uma democracia liberal, por exemplo), abrindo espaço
para uma dominação autocrática, para um imperialismo, e para um capitalismo
carente de realizações civilizadas.

• A redação de A Revolução Burguesa o Brasil é motivada pelo golpe militar de


1964, na intenção de “isolar a sublevação militar, de uma dominação de classes
arraigada”, isto é, entender o mecanismo social que levava à impossibilidade da
realização da dominação burguesa no Brasil, através do regime democrático
(188).

• A primeira parte do livro se concentra na análise da desagregação da ordem


escravocrata e imperial, impulsionada pela independência política, e no
estabelecimento de uma sociedade de classes no Brasil. A segunda parte
procura refletir sobre a construção de uma “ordem social competitiva”, que
funcionaria como marco da estruturação de uma revolução burguesa brasileira,
enquanto que a terceira parte analisa o que seria a concretização da nossa
revolução burguesa.
(6) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• O golpe de 1964 e a onda golpista e conservadora que atingiu a América


Latina no final da década de 1960 e início da década de 1970, indicaria que, em
países capitalistas dependentes e subdesenvolvidos haveria, de maneira geral,
uma “forte dissociação entre o desenvolvimento capitalista e a democracia”
(189).

• Florestan utiliza o conceito de “polarização” ou “polarização dinâmica” para


indicar a presença, em um mesmo objeto, de orientações opostas, que
conviveriam em constante tensão – a estrutura e a história. A estrutura criaria as
possibilidades que os agentes econômicos, sociais ou políticos, poderiam ou
não, aproveitar.

• Neste sentido, para Florestan a revolução burguesa não seria um episódio


histórico específico (tendo um modelo definido – no caso, a revolução liberal
inglesa), mas um fenômeno estrutural que não segue um caminho único, sendo
considerada como um processo dinâmico, que ocorreria de acordo com as
diferentes escolhas realizadas pelos agentes humanos no âmbito econômico,
social e político (190).
(7) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Assim, diversos fatores, que variariam de acordo com as condições históricas,


determinariam como seria o padrão de dominação burguesa em uma
determinada sociedade, como se daria a transformação capitalista e qual seria a
relação entre eles. Neste sentido, a periferia do capitalismo possuiria traços
estruturais e dinâmicos que caracterizariam a existência de uma economia
mercantil, mas com diferenças do modelo “clássico”, que superporiam às
uniformidades fundamentais deste modelo (feudalismo, economia mercantil,
revolução de baixo para cima, oposição entre a aristocracia e a burguesia),
tornando o capitalismo dependente, subdesenvolvido e imperializado. Neste
caso, não haveria “ruptura com o passado”, que reapareceria, “cobrando o seu
preço”, com uma revolução burguesa “autoritária”, vinculada às mudanças
decorrentes da expansão do mercado capitalista mundial e aos dinamismos das
economias centrais (191).

• A primeira “revolução” brasileira se daria com a independência, através da


qual estaria delimitado o fim da era colonial e o início da formação da sociedade
nacional, o poder deixando de ser imposto de fora, para ser organizado de
dentro, as camadas senhoriais impondo o seu domínio para além do ambiente
doméstico (192).
(8) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Entretanto, a ruptura do estatuto colonial teria sido motivada, em grande parte,


pelo desejo de manutenção da estrutura da sociedade colonial. Se
estabeleceria, desta forma, uma polarização dinâmica entre o estabelecimento
de uma organização jurídico política autônoma, de aparência liberal, com a
conservação da ordem social da colônia, com grande intimidade entre os dois
aspectos pretensamente inconciliáveis.

• Assim, o movimento da independência, ao não entrar em conflito com a


estrutura da sociedade colonial, levaria à superposição dos planos de poder – a
dominação senhorial, bem como as estruturas sociais que a sustentariam, teria
se mantido ao nível da economia escravista. Ao mesmo tempo, onde o
liberalismo teria sido influente (na organização do aparelho estatal), se criaria
uma situação de quase autonomia, em que a dominação senhorial só interviria
indiretamente. Portanto, a ordem legal conviveria com a dominação tradicional,
estabelecendo uma dualidade estrutural (192-193).
(9) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Com a concretização da independência, ideologia e utopia liberais passariam


por uma reelaboração, na qual, depois de estabelecida a representação política
e a democratização (apenas no âmbito da classe senhorial, evidentemente), a
ideologia liberal fazendo as vezes do processo de integração nacional,
transformaria o “senhor” em “cidadão”, as recém-criadas ordem legal e
sociedade civil passando a conviver juntas, numa “democracia de classe”.

• A utopia liberal, por outro lado, se reconstituiria num sentido negativo,


pressionando pela transformação da realidade. Seria difícil, entretanto, distinguir
entre os elementos ideológicos e utópicos na inconsistência e ambigüidade de
uma sociedade liberal pela metade (193).

• Neste caso, a ordem legal favoreceria a concentração do poder político por


parte das camadas senhoriais a tal ponto que a “sociedade civil” e os
“estamentos sociais dominantes” passam a significar a mesma coisa. Logo, em
torno do Estado nacional haveria uma socialização de privilégios sociais
comuns, que retiraria os senhores do isolamento colonial, através de um
processo de ampliação e burocratização da dominação senhorial, com a
“estamentalização” da sociedade civil, o liberalismo como privilégio.
(10) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• O Estado, transformado em instrumento da dominação estamental viveria em


constante tensão, entretanto, com o componente utópico da ideologia liberal, a
integração jurídica-política da sociedade nacional passando a se dar apenas
onde o estado fosse capaz de acumular poder suficiente para enfrentar, ou em
sentido oposto, não desafiar a dominação senhorial. Assim, no processo de
integração nacional, os interesses da “sociedade civil” tendo mais peso do que a
ação estatal (através, por exemplo, do predomínio da produção voltada para o
mercado externo) (194).

• Do conflito entre a dimensão utópica e a dominação estamental surgiria a


busca pelo progresso, que representaria uma mudança em relação à
dominação tradicional, baseada no “eterno ontem”, já que se passaria a
valorizar o “futuro como medida de valor dos processos históricos”.

• Entretanto, mesmo que os padrões capitalistas de periferia não tivessem


criado uma economia capitalista integrada (sociedade civil e mercado interno
competitivo), a situação de mercado dependente da economia brasileira,
também exigia social e politicamente, o “espírito burguês” e a “concepção
burguesa do mundo”, uma renovação importante no cenário nacional (195).
(11) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Da desagregação da ordem social escravocrata e senhorial emergiria a ordem


social competitiva, o que teria ocorrido na fase do capitalismo competitivo e do
imperialismo restrito. Em países periféricos como o Brasil, o capitalismo teria
sido introduzido antes do desenvolvimento e da constituição de uma ordem
social competitiva. Assim, os dinamismos provenientes do mercado externo
(através da produção e exportação do café e da riqueza por ela oferecida, por
exemplo) encontrariam pela frente estruturas econômicas, sociais e políticas
remanescentes do período colonial, que selecionariam e limitariam os impulsos
renovadores, as estruturas coloniais se revelando plásticas ao mercado externo,
mas extremamente conservadoras e rígidas com relação ao mercado interno
(196).

• Logo, a competição, típica do ambiente social capitalista, encontraria grande


dificuldade de se impor na ordem social escravocrata e senhorial. Em termos
estamentais, ela seria incorporada ao privilégio, sendo deformada e
transformada em privatismo, no qual as regras funcionam para prover
vantagens e apoio aos agentes econômicos e não a sua regulação.
(12) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• No Brasil, então, não teria havido o descolamento dos velhos grupos


senhoriais dominantes, por novos grupos da burguesia capitalista produtiva. As
oligarquias não perderiam a sua base de poder, bastando para tanto, se
modernizar (197).

• Haveria neste caso uma unificação das classes possuidoras, que acabariam
por se identificar com uma visão de mundo e um estilo de vida burguês. Não
seriam, entretanto, apenas os seus interesses materiais que a oligarquia
garantiria, sendo ela também quem determinaria a repressão ao escravo e ao
proletariado, como eixos principais da revolução burguesa no Brasil. Neste
caso, a associação com a oligarquia faria da burguesia brasileira uma classe
ultra-conservadora, o que abriria caminho para um sistema autocrático de
dominação.

• Os requisitos legais e ideiais da ordem competitiva (cidadania, educação, etc.)


chegariam a ser reproduzidos, mas válidos apenas para as classes dominantes,
se esgotando em um circuito fechado. A “democracia burguesa” brasileira,
limitada, funcionado apenas entre os iguais, ou seja, os que exercem a
dominação (197-198).
(13) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Em resumo, se criaria, desde a independência, uma situação de fusão entre o


velho e o novo, funcional para o tipo de capitalismo praticado na periferia do
sistema, que se aproveitaria das “condições extremamente favoráveis de
acumulação original, herdadas da colônia e do período neo-colonial”. O
excedente econômico para o financiamento da modernização extraído de
formas econômicas extra-capitalistas, tais como a “escravização” da mão-de-
obra, a economia de subsistência, a ausência de serviços públicos, o
financiamento ilimitado da produção, etc (198).

• Apareceria aí, um padrão típico de desenvolvimento do capitalismo


dependente: uma dupla articulação, manifestada externamente pela dominação
imperialista e, internamente, pelo desenvolvimento regional desigual, o
subdesenvolvimento daí resultante, dando origem a uma extrema concentração
social e regional da riqueza.

• A impotência burguesa se dirigindo ao Estado que convergiria a sua ação,


contribuindo para que o elemento político ganhasse relevância, a transformação
capitalista obedecendo a um “eixo especificamente político” (199).
(14) Florestan Fernandes. Ref: Arruda M.Ar. Vocação Científica e Compromisso
de Vida. In: Schwarcz, op.Cit., pp 310-323; Ricupero, B. Sete Lições sobre as
Interpretações do Brasil, pp.181-207;

• Essa orientação política se intensificaria na fase do capitalismo monopolista,


que começaria a partir da década de 1950 e ganharia caráter estrutural com o
golpe de 1964.

• Este momento determinaria a crise do poder burguês, devido aos riscos


enfrentados em virtude da percepção, pela própria burguesia, da necessidade
de se adaptar às novas condições advindas da transição do capitalismo
competitivo para o capitalismo internacional monopolista, a partir da virada do
século XX.

• A dominação burguesa no Brasil se revelando o que ela seria de fato: uma


autocracia burguesa, entendida como “a concentração exclusivista e privatista
do poder” (200-201).

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