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Recebido: 20.01.2016
Aceito: 10.04.2016
Resumo: O propósito deste artigo é delinear um modelo analítico para a explicação dos
motivos, baseados em uma teoria sociológica da linguagem e em uma sociologia psicológi-
ca. Palavras-chave: análise sociológica, motivos, linguagem, comportamento social
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para o ator ou para o observador como mesmo, ele pode adotar um motivo a-
um terreno adequado para as suas con- cessório. Isso não significa que o se-
dutas7. O aspecto da motivação que essa gundo motivo de desculpas seja inefi-
concepção empunha é a do seu caráter caz. A expectativa vocalizada de um
intrinsecamente social. Um motivo sa- ato, a sua ‘razão’, não é apenas uma
tisfatório ou adequado é aquele que sa- condição mediadora da ação, mas é uma
tisfaz os questionadores de um ato ou condição próxima e de controle para o
programa, seja ele de outro qualquer ou qual o termo ‘causa’ não é apropriado.
do próprio ator. Como uma palavra, um Ela pode fortalecer a ação do ator. Pode,
motivo tende a ser, para um ator e para também, ganhar novos aliados para o
os outros membros de uma situação, seu ato.
uma resposta inquestionável às per- Quando apelam para outros en-
guntas relacionadas às condutas social volvidos na ação de alguém, os motivos
e linguística. Um motivo estável é um são estratégias de ação. Em muitas a-
ultimato em uma conversação justifica- ções sociais, os outros devem concor-
dora. As palavras que em uma situação dar, tácita ou explicitamente. Destarte,
deste tipo cumprirão esta função se cir- os atos muitas vezes serão abandonados
cunscrevem no vocabulário de motivos se não for possível encontrar uma razão
aceitos neste tipo de situação. Os moti- aceitável que os justifiquem perante os
vos são aceitos como justificativas de outros relacionais. A diplomacia na es-
programas ou ações passados, presentes colha de um motivo, muitas vezes, con-
ou futuros. trola o diplomata. A escolha diplomá-
Denominá-los justificação não é tica de motivos faz parte do esforço de
negar a sua eficácia. Muitas vezes ante- motivar os atos de outros membros pre-
cipações de justificativas aceitáveis irão sentes na situação. Tais motivos pro-
controlar conduta. ("Se eu fizesse isso, o nunciados podem desfazer confusões e
que eu poderia dizer? O que eles di- integrar uma situação social. Esta di-
riam?") As decisões podem ser, no todo plomacia não implica necessariamente
ou em parte, delimitadas pelas respostas em mentiras intencionais. Ela simples-
a tais pedidos. mente indica que um vocabulário apro-
Um homem pode começar uma priado de motivos será utilizado - que
ação por um motivo. No decurso do existem condições para determinadas
linhas de conduta8.
7 Quando um agente vocaliza ou
“‘Motiv‘ heisst ein Sinnzusammenhang,
welcher dem Handelnden selbst dem imputa motivos, ele não está tentando
Beobachtenden als sinnhafter Grund‘ eines descrever a sua experiência de ação so-
Verhaltens in dem Grade heissen, als die cial. Ele não está apenas afirmando ‘ra-
Beziehung seiner Bestandteile von uns nach den zões’. Ele está influenciando outros, e a
durchschnittlichen Denk- und si mesmo. Muitas vezes, ele está encon-
Gefühlsgewohnheiten als typischer (wir pflegen
zu sagen: ‘richtigeer‘) Sinzusammenhang bejaht trando nova ‘razões’ que ajudem a me-
wird“. [“Chamamos 'Motivo' a uma conexão de diar a ação. Assim, não precisamos tra-
sentidos que aparece ao próprio ator ou obser- tar uma ação como discrepante de ‘sua’
vador como o 'fundamento' com significado de
uma conduta. Dizemos para uma conduta que se
desenvolva como um todo coerente que ela é
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‘adequada pelo sentido’, na medida em que Certamente, desde que os motivos são comuni-
afirmamos que a relação entre os seus elementos cados, eles podem ser mentiras; mas, estes de-
constitui uma ‘conexão de sentidos típica’ (ou, vem ser provados. As verbalizações não são
como podemos dizer, ‘correta’) sob a base de mentiras apenas porque são socialmente efica-
hábitos mentais e emocionais médios”]. – Em zes. Eu estou aqui interessado mais com a fun-
alemão no original, versão para o português do ção social dos motivos pronunciados, do que
tradutor. com a sinceridade daqueles que o pronunciam.
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hedonismo como uma doutrina psicoló- nas de elementos subjetivos e mais pro-
gica e ética ganhou impulso no mundo fundos que se encontram nos indiví-
moderno mais ou menos na época em duos, a tarefa de pesquisa é a localiza-
que os motivos ético-religiosos mais ção de determinados tipos de ação no
antigos estavam sendo desmascarados e âmbito dos quadros típicos de ações
simplesmente descartados por pensado- normativas e aglomerados de motivos
res da ‘classe média’. Por trás da termi- situados socialmente. Não há nenhum
nologia hedonista se encontra um pa- valor explicativo em subsumir vários
drão social emergente e um novo voca- vocabulários de motivos sob qualquer
bulário de motivos. A mudança de mo- terminologia ou lista. Tal procedimento
tivos incontestados que prendiam as apenas confunde a tarefa de explicar os
comunidades europeias chegou ao clí- casos específicos. As linguagens de si-
max quando, na reconciliação, foram tuações como dadas devem ser conside-
identificadas as terminologias de antigas radas como uma porção valiosa dos da-
religiões e hedonistas: o ‘bom’ é o ‘a- dos a serem interpretados e relacionados
gradável’. A situação condicionada foi às suas condições. Por fim, simplificar
similar no mundo helênico com o hedo- os vocabulários de motivo por uma abs-
nismo dos cirenaicos17 e epicuristas18. trata terminologia social é destruir o uso
É necessário mapear todas essas legítimo dos motivos na explicação das
terminologias de motivo e localizá-las ações sociais.
como vocabulários de motivação em
Referências
cada época histórica e em situações es-
pecíficas. Os motivos não têm nenhum BURKE, Kenneth. Permanence and
valor para além das situações sociais change: an anatomy of purpose. No-
delimitadas para os quais são vocabulá- va York: New Republic, 1936.
rios adequados. Eles devem ser situa- DANIELIAN, N. R.. A.T. & T.: The
dos. Na melhor das hipóteses, as termi- Story of Industrial Conquest. New
nologias socialmente não atribuídas de York: Radiobroadcasting Research Pro-
motivos representam tentativas inaca- ject, 1940.
badas para bloquear áreas sociais da
imputação de motivo e revelação. Os DeLAGUNA, G.A. Speech: its function
motivos variam em conteúdo e caráter and development. New Haven: Yale
em épocas históricas e estruturas soci- University Press, 1927.
ais. DEWEY, John. All psychology is either
Ao invés de interpretar a lingua- biological and social psychology. Psy-
gem como ações e manifestações exter- chological Review, n. 24, p. 266-277,
1917.
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A Escola Cirenaica de Filosofia é assim deno- DEWEY, John. Theory of valuation. In:
minada por ter sido fundada cidade de Cirene. A Otto Neurath ed. International encyclo-
escola floresceu entre os anos 400 e 300 a.C., e pedia of unified science. Chicago: Uni-
tinha como sua principal característica distintiva
o hedonismo, isto é, a doutrina de que o prazer é
versity of Chicago Press, 1939.
o bem supremo. [Nota do tradutor]. MacIVER, Robert Morrison. The im-
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Os epicuristas se dedicavam à idéia do prazer
putation of motives. American journal
sensual, na busca da paz espiritual. O termo
epicurismo tem a sua origem no nome do filó- of sociology, v. XLVI, p. 1-12, 1940a.
sofo Epicuro, que viveu entre os anos de 341 a MacIVER, Robert Morrison. The mode
270 a.C.. Apesar dos epicuristas estarem mais
interessados no prazer da alma, os prazeres físi- of the question why. Journal of social
cos eram vistos de forma favorável, pois liber- phylosophy, v. V, p. 197-205, 1940.
tavam a alma de ser afligida pela negação. [Nota
do tradutor].
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