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Anoitecer

Um pouco de transcendência, é tudo o que eu preciso. Cansei das regras acadêmicas, dos
formatos rígidos, das normas da ABNT. 12 anos de minha vida resumidos a uma mesma fórmula de
produção de textos: artigos com introdução, metodologia, resultados e considerações finais. Durante
todo esse tempo, eu era obrigado a evitar ambiguidades, dúvidas e hesitações em minha escrita.
Tudo tinha que ser muito didático e reiterativo porque “o leitor tem de entender o que você está
dizendo”. Dane-se o leitor. Agora quero flertar com o nonsense, o obscuro e o impreciso. Não me
entendam mal. Não quero ser hermético. Acalento apenas me utilizar de outros formatos, deixar a
minha criatividade fluir sem ser constrangido pela ordem dos discursos. Os trajes acadêmicos são
vestes que já não me cabem mais.
Muito dessa minha rebeldia tem a ver com o meu incômodo relativo a atual produção da
área em que escolhi atuar, a antropologia. Lembro-me de ter escolhido essa disciplina, dentre as
outras ciências sociais, por causa de seu casamento, espúrio para alguns, com a literatura. Ocidental,
como a grande maioria das ciências, a antropologia bebeu da fonte dos relatos de viagem para criar
a sua própria metodologia, a observação participante, e o seu itinerário de escrita, no qual passagens
autobiográficas se confundem com dados “objetivos” de pesquisa. Recordo-me muito bem do
fascínio com o qual devorava os livros de Malinowski, Evans-Pritchard, Boas, tidos como os pais
fundadores dessa “nova” ciência.
Mas no decorrer do século XX, a antropologia, no afã de ser reconhecida como uma ciência,
adotou para si o estilo monográfico peculiar às demais ciências humanas. O terreno estava sendo
aplainado para o cultivo de uma velha oposição: a existente entre o fazer artístico e o trabalho
científico. Parecia que o texto não deveria despertar o prazer do leitor, se quisesse ser considerado
um artefato da ciência. Autores como Ruth Landes tiveram as suas pesquisas questionadas porque
tiveram a audácia de escrever em um estilo mais pessoal, sem os maneirismos convenientes ao
registro acadêmico.
Por isso, agora em minha segunda graduação, estou aproveitando o estilo mais “aberto” do
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades para me testar e me permitir a utilização de outros
formatos de escrita. Parece que quero ir ao encontro de novas técnicas de escrever que se
aproximem mais da mirada artística. Ou testar o meu estilo sem o compromisso de ser acadêmico.
Só o futuro dirá se serei bem sucedido ou não nessa nova empreitada!

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