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INTRODUÇÃO
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Advogada. Graduada pela Universidade Católica de Pernambuco no curso de Bacharelado em Direito. Pós-Graduanda pela
Universidade Federal de Pernambuco no Curso de Direito de Famílias e Sucessões.
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igreja católica em reação ao “descontrole” aos requisitos estabelecidos previamente acerca do
matrimônio.
a) Direito romano
Para que o casamento fosse válido eram necessário alguns requisitos, sendo o
primeiro deles referente à idade e a aptidão física. No direito romano, a puberdade iniciava-se
aproximadamente aos quatorze anos para homens e aos doze anos para as mulheres. Quanto à
2
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2001. p. 565.
2
idade máxima, as leis antigas aconselhavam a idade de sessenta e cinquenta anos
respectivamente para homens e mulheres.
Quanto ao divórcio, era representado sob forma de repúdio que poderia ser
feito pela mulher ou pelo marido, contanto que um dos esposos manifestasse claramente a
vontade de se divorciar.
b) Direito germano
3
GILISSEN, John. Op. Cit. p. 566
4
Idem.
3
consistia na oferta de um anel. Ainda, segundo esse autor, o preço da compra decompunha-se
em duas partes: um soldo simbólico em dinheiro (13 dinheiros – pago ao mundoaldus da
noiva) e a outra parte consistente numa doação que o marido prometia à mulher, o dote, que
era variável segundo a condição social e a fortuna dos futuros esposos.
O divórcio no direito germânico ocorria apenas por um meio: pelo repúdio da
mulher pelo marido.
A mulher que fora repudiada pelo seu esposo poderia procura a sua família
para vingar a ofensa feita à honra de um dos seus antigos membros, o que poderia ocasionar
uma guerra privada. Contudo, o repúdio poderia se basear em motivos legítimos como o
adultério da mulher, atentado da mulher à vida do marido, esterilidade, feitiçaria, etc.
A mulher jamais poderia repudiar o seu esposo; caso o abandonasse, poderia
ser até condenada à pena de morte.
c) Direito canônico
Segundo GAUDEMET5 foi dado grande importância pela igreja aos sponsais,
por impor respeito a palavra prometida.
O anel, mesmo sendo antiga tradição pagã, foi mantido pela igreja como forma
de simbolizar o compromisso.
5
GAUDEMET, Jean. Il matrimonio in occidente. Torino: Societá Editrice Internazionale, 1976. In: GILISSEN, John.
Introdução histórica ao direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1986. p. 81
4
O noivado nos séculos IV e V servia como marco para a entregar à noiva de
uma soma em dinheiro ou um objeto de valor como sinal de afeto. Contudo, caso o noivo
rompesse o noivado, perdia a importância e o objeto entregue. Se o rompimento fosse
ocasionado pela noiva, esta deveria devolver o valor correspondente à quatro vezes o
recebido, além de sofrer a pena de excomunhão durante um período de três anos, pelo
rompimento não justificado do noivado.
5
No período em questão, o casamento e o divórcio passam a ser regulados
exclusivamente pelo direito canônico. O casamento passou a ser considerado como um
sacramento, regido por regras de direito divino, sem qualquer possibilidade de dispensa, e por
regras de direito eclesiástico, por existir a possibilidade de dispensa por autoridade
eclesiástica.
Durante os séculos X a XII foram desenvolvidas duas concepções, a
materialista e a consensual. A primeira foi criada pelo arcebispo Hincmar de Reims ao afirmar
que um casamento não consumado não é plenamente um casamento 6 . Em virtude disto,
afirma-se que para concepção materialista o casamento válido não depende apenas do
consentimento dos nubentes, mas como também da cópula, da consumação carnal. Era apenas
o casamento consumado que se configurava como um sacramento, e, por isto era indissolúvel.
Já a concepção consensual partia do princípio segundo o qual “o que Deus quer
unir é as almas e não os corpos”, ou seja, o consentimento deve se mostrar evidente,
independente da conjunção carnal.
Na ótica materialista, o divórcio apenas seria possível se o casamento foi
objeto de consenso, mas não de consumação, enquanto que na ótica da concepção consensual,
não era permitido o divórcio após a troca dos consentimentos.
Como forma de solucionar esse impasse acerca do divórcio, foi imposto pelo
papa Alexandre III as Decretais de Gregório IX (1234), as quais impuseram um meio termo
às duas concepções. O casamento passa a ser considerado um sacramento pela simples troca
de consentimentos. Contudo, o casamento pode ser dissolvido pelo papa quando não houvesse
a consumação pela cópula, tendo em vista que o casamento não consumado era realizado
apenas perante a igreja, enquanto que o consumado se realizada também perante Deus.
Referida concepção prevalecerá até o século XVI, com o Concílio de Trento.
6
publicação dos banhos anunciando o casamento”. Entretanto, afirma o mesmo autor, como o
descumprimento de tais regras não invalidava o casamento, os casamentos clandestinos
continuaram a existir até o séc. XVI.
a) Concílio de Trento
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi uma reação da Igreja à
Reforma.
Visando reagir à Reforma, a Igreja toma, neste Concílio, importantes medidas
no sentido de transformar a sua concepção do casamento que, a partir de então, torna-se um
contrato solene, exigindo-se, ainda, o respeito a certas formalidades para a sua validade.
Como consequência, os casamentos clandestinos passam a ser considerados nulos.
Em razão disto, foi prescrito por essa Assembleia religiosa os seguintes termos:
1º, que o casamento fosse precedido por três enunciações feitas pelo pároco do domicílio de
cada um dos contraentes; 2º, que fosse feita, de modo inequívoco, diante do pároco
celebrante, a manifestação livre do mútuo consentimento; 3º, que a celebração fosse feita pelo
pároco de um dos contraentes ou por um sacerdote devidamente autorizado, na presença de
duas testemunhas, pelo menos; 4º, finalmente, que o ato se concluísse pela solenidade da
benção nupcial. O livre consentimento dos contraentes, a presença do pároco e das
testemunhas é que são essenciais para que haja casamento católico 9.
Nota-se, todavia, que, apesar de serem instituídas formalidades para a
celebração do casamento, não é exigido o consentimento dos pais.
Foi esta, por longo tempo, a forma de matrimônio. Exclusivamente, recebida
pelo direito pátrio.
9
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de família. Rio de Janeiro: Sociedade Cultural, 1976. p. 55.
7
Em 1890, com a chegada do Governo Republicano editou-se o Decreto-Lei nº
10
181 , o qual criou o casamento civil, separando o casamento puramente religioso daquele
regulado pelos princípios estabelecidos na Constituição Republicana.
10
BRASIL. Decreto nº 181, de 24 de Janeiro de 1890. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-
1899/decreto-181-24-janeiro-1890-507282-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 30 jul. 2017
11
REALE, Miguel. O Código Civil e as Igrejas. Disponível em: http://www.miguelreale.com.br/artigos/cvigr.htm.
Acesso em: 30 jul. 2017.
12
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias (livro digital). 4ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016. p. 19 %.
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como relativamente incapaz, necessitando do consentimento do esposo para exercer certas
atividades.
O marido era considerado como o chefe da sociedade conjugal (art. 233), tendo
o poder exclusivo de fixação e alteração do domicílio da família (art. 233, III), representando-
a legalmente (art. 233, I).
9
A Constituição de 1946, em seu art. 163 §§ 1º e 2º, admitiu efeitos civis ao
casamento religioso, dispondo, no último dos parágrafos, sobre sua inscrição no Registro
Público, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente.
A Carta Magna de 1988 se limitou a prescrever em seu caput do art. 226, que a
família, base da sociedade, tem proteção especial do Estado. No § 1º reiterou ser civil o
casamento e gratuita a celebração. No § 2º, concedeu efeito civil pelo divórcio, após prévia
separação judicial de mais um ano ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.
A visão atual é bem outra, com ampliação das formas de constituição do ente
familiar e a consagração do princípio da igualdade de tratamento entre marido e mulher, assim
como iguais são todos os filhos, hoje respeitados em sua dignidade de pessoa humana,
independente de sua origem familiar.
13
GOMES, Orlando. Direito de Família. 12ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 63
10
Como demonstrado anteriormente, a grande virada no direito de família, no
que se refere ao casamente, se deu com a Constituição Federal de 1988, que introduziu
relevantes mudanças no conceito de família e no tratamento dispensado a essa instituição
considerada a base da sociedade.
O casamento passa a ser conceituado como comunhão plena de vida, com base
na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (artigo 1.511), princípios estes que serão
repisados no capítulo da eficácia do casamento (art. 1.565). Disposições sobre o casamento
religioso, em alteração a normas da Lei registrária (6.015/73), facilitam o registro civil desta
espécie de união legal.
CONSIDERÇÃOES FINAIS
14
LÔBO, Paulo. Direito Civil – famílias. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 99.
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O casamento passou a ser uma instituição autossuficiente, perde sua destinação
transpessoal em favor da realização íntima dos cônjuges, o que significa uma ampliação dos
espaços deixados à livre determinação do casal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias (livro digital). 4ª Ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 19 %.
LÔBO, Paulo. Direito Civil – famílias. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
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