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BREVES ARGUMENTOS ACERCA DO CASAMENTO E DAS RELAÇÕES

PESSOAIS ENTRE OS CONJUGUES: DO SÉCULO X AO CÓDIGO CIVIL DE 2002

Maria do Carmo Silva de Amorim1

RESUMO: Trata-se de artigo científico apresentado como requisito de avaliação da


disciplina Aspectos Históricos do Direito de Família no Brasil, ministrada pelo professor
Humberto João Carneiro Filho, intitulado de Breves Argumentos Acerca do Casamento e das
Relações Pessoais Entre os Conjugues: do Século X ao Código Civil de 2002. O presente
estudo tem como objetivo apresentar as principais características do matrimônio no período
compreendido da Idade Média até os dias atuais com o Código Civil de 2002. Inicialmente, se
propôs a demonstrar os traços do casamento romano, germânico e canônico durante os
séculos V a IX na Europa Ocidental. Em seguida, as concepções do casamento durante a
idade Média a partir do Século X e, por fim, a evolução das relações pessoas entre os
cônjuges no casamento perante o direito brasileiro, quando serão apresentados aspectos
relacionados ao casamento anteriores à Constituição Federal de 1988 e ao Código Civil de
2002.

Palavras-chave: Casamento, História, Constituição de 1988, Código Civil de 2002.

INTRODUÇÃO

O casamento é uma das instituições mais antigas do mundo e diversas


mudanças e adaptações ao longo da história, de acordo com aspectos pessoais e culturais, vem
ocorrendo.

Durante a idade média restaram evidentes algumas características do


casamento no que se refere ao direito romano, germânico e canônico, prevalecendo este
último no final da idade média.

A evolução das relações pessoas entre os cônjuges no casamento perante o


direito brasileiro se inicia com o Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, criado pela

1
Advogada. Graduada pela Universidade Católica de Pernambuco no curso de Bacharelado em Direito. Pós-Graduanda pela
Universidade Federal de Pernambuco no Curso de Direito de Famílias e Sucessões.

1
igreja católica em reação ao “descontrole” aos requisitos estabelecidos previamente acerca do
matrimônio.

Em seguida, serão trazidos argumentos sobre o Código Civil Brasileiro de


1916, como, por exemplo, acerca da separação das espécies de casamento: civil e religioso; e
da característica patriarcal que dominava a legislação.

Importantes Constituições Federais versaram sobre o tema, tais quais: 1934,


1937, 1946 e a de 1988.

Por fim, traz-se à baila importantes comentários acerca do Código Civil


Brasileiro de 2002, lei nº 10.406, dentre os quais destaca-se o argumento sobre rompimento
do patriarcalismo estabelecido pelo Código Civil de 1916.

1 CONCEPÇÕES DO CASAMENTO DURANTE OS SÉCULOS V A IX NA


EUROPA OCIDENTAL

a) Direito romano

Consoante os ensinamentos de John Gilissen 2 , no direito romano do baixo


império o casamento possuía características de um ato essencialmente privado e contratual,
que existiu no momento em que os esposos estavam de acordo em serem, daí para o futuro,
marido e mulher. Trata-se, portanto, de uma convenção puramente consensual, despida de
qualquer formalismo, não sendo exigida a coabitação.

Nesse período, a forma adotada pelo direito romano é a do casamento sine


manu (a mulher fica juridicamente no seu grupo familiar).

Destaca-se que o matrimônio romano foi sempre monogâmico. O casamento


era considerado pelos romanos como a união entre o homem e a mulher com o fim de
estabelecer uma comunhão de vida íntima e douradora.

Para que o casamento fosse válido eram necessário alguns requisitos, sendo o
primeiro deles referente à idade e a aptidão física. No direito romano, a puberdade iniciava-se
aproximadamente aos quatorze anos para homens e aos doze anos para as mulheres. Quanto à

2
GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2001. p. 565.

2
idade máxima, as leis antigas aconselhavam a idade de sessenta e cinquenta anos
respectivamente para homens e mulheres.

O segundo requisito versava acerca da aptidão legal, a qual desaparece absoluta


ou relativamente por questões provenientes de parentesco, da afinidade (sogro e nora, p. ex.),
ou da diferença de condição social (patrícios e plebeus, p.ex.).

Já o terceiro requisito baseava-se no consentimento do pater ou de quem lhe


vazia as vezes.

Quanto ao divórcio, era representado sob forma de repúdio que poderia ser
feito pela mulher ou pelo marido, contanto que um dos esposos manifestasse claramente a
vontade de se divorciar.

b) Direito germano

Assim como os Romanos, o casamento entre os germânicos caracterizou-se por


ser monogâmico, embora alguns nobres tomassem várias esposas. O casamento era, em
diversas ocasiões, utilizado como meio para selar alianças entre clãs 3. Cabe, aqui, apenas à
guisa de registro, lembrar que os muçulmanos, ao contrário, mantiveram-se poligâmicos, o
direito religioso permite ao homem ter várias mulheres.
Conforme a lição de GILISSEN 4 , há notícias, entre os germânicos, do
casamento por rapto (o homem rapta a mulher a um grupo familiar); e do casamento por
compra (a mulher é vendida pelo seu mundoaldus ao marido ou ao mundoaldus deste). Este
tipo pressupunha: a) os esponsais, ou seja, o acordo entre os chefes de família, mediante o
pagamento do preço. O consentimento da moça era dispensado – se o noivo recusasse ficava
obrigado ao pagamento de uma quantia e a fazer declaração de que a moça não tinha defeito,
mas que ele estava apaixonado por outra; e, b) a cerimônia nupcial, que consistia na entrega
material da noiva ao marido, entrega seguida da cópula. Era geralmente acompanhada de
festas e da realização de certos ritos e gestos simbólicos, nomeadamente um cortejo nupcial,
introduzindo publicamente a mulher na cabana conjugal, seguido da recolha dos noivos ao
leito, na presença de testemunhas.
Após o período das invasões, houve uma evolução no casamento por compra.
O homem, em alguns casos, entregava as arras dos sponsais à mulher, em outros, essa entrega

3
GILISSEN, John. Op. Cit. p. 566
4
Idem.

3
consistia na oferta de um anel. Ainda, segundo esse autor, o preço da compra decompunha-se
em duas partes: um soldo simbólico em dinheiro (13 dinheiros – pago ao mundoaldus da
noiva) e a outra parte consistente numa doação que o marido prometia à mulher, o dote, que
era variável segundo a condição social e a fortuna dos futuros esposos.
O divórcio no direito germânico ocorria apenas por um meio: pelo repúdio da
mulher pelo marido.
A mulher que fora repudiada pelo seu esposo poderia procura a sua família
para vingar a ofensa feita à honra de um dos seus antigos membros, o que poderia ocasionar
uma guerra privada. Contudo, o repúdio poderia se basear em motivos legítimos como o
adultério da mulher, atentado da mulher à vida do marido, esterilidade, feitiçaria, etc.
A mulher jamais poderia repudiar o seu esposo; caso o abandonasse, poderia
ser até condenada à pena de morte.

c) Direito canônico

Destaca-se, pelas características, que o cristianismo exerceu uma forte


influência sobre a evolução do casamento e do divórcio, o que se verifica ainda na atualidade.

Nos primeiros séculos cristãos, o matrimônio era considerado um bem,


inclusive porque pressupõe a concupiscência que, apesar de cognominada de luxúria carnal e
desejo libidinoso na doutrina de Agostinho, leva à preservação da espécie, através da
procriação. Prevalece a fórmula: crescei e multiplicai-vos, ainda hoje tão cara aos povos
cristãos.

O aspecto consensual do matrimônio romano e germânico é mantido pela


Igreja dos primeiros séculos. Afirmam os doutrinadores que, no período, continua o esforço
para conferir publicidade ao matrimônio. Nesse sentido, o rito religioso é considerado um
meio.

Segundo GAUDEMET5 foi dado grande importância pela igreja aos sponsais,
por impor respeito a palavra prometida.

O anel, mesmo sendo antiga tradição pagã, foi mantido pela igreja como forma
de simbolizar o compromisso.

5
GAUDEMET, Jean. Il matrimonio in occidente. Torino: Societá Editrice Internazionale, 1976. In: GILISSEN, John.
Introdução histórica ao direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1986. p. 81

4
O noivado nos séculos IV e V servia como marco para a entregar à noiva de
uma soma em dinheiro ou um objeto de valor como sinal de afeto. Contudo, caso o noivo
rompesse o noivado, perdia a importância e o objeto entregue. Se o rompimento fosse
ocasionado pela noiva, esta deveria devolver o valor correspondente à quatro vezes o
recebido, além de sofrer a pena de excomunhão durante um período de três anos, pelo
rompimento não justificado do noivado.

Inicialmente a Igreja não se intrometia nas formalidades do casamento, porém,


com o tempo, a partir do Baixo Império passou a recomendar formalidades como a dotatio
(entrega do dote à noiva); o benedictio (elemento religioso que consistia na intervenção do
padre consagrando o casamento); e a traditio puellae, que consistia na entrega da noiva.

A história marca que, em 866, o papa Nicolau I enumera alguns usos


simbólicos a serem adotados no casamento, entre os quais figuram o anel, o dote, a benção e o
véu posto sobre os ombros dos dois esposos. Afirma, entretanto, que a ausência dessas
formalidades não anula o casamento, que continua sendo consensual.

Começa, nesse período, a surgir os impedimentos para a realização do


casamento.

Entre esses é possível citar: a) a existência de casamento anterior não


dissolvido (sob pena de bigamia); b) a endogamia (que ser caracterizava como incesto); e, c) o
casamento entre parentes próximos (o direito romano proibia até o 4º grau. Em 732, o papa
Gregório III ampliou tal proibição até o 7º grau).

É mantido o dote, que tem como função principal, estabelecer a distinção do


concubinato. Sem dote não há casamento, conforme reconhece a doutrina. Tudo em nome da
publicidade.

Quanto ao divórcio, desde o início a igreja se posiciona contra, apesar de


existir uma corrente de religiosos que apoiava o divórcio tendo como justificativa o adultério,
o que não prevaleceu.

2 CONCEPÇÕES DO CASAMENTO DURANTE A IDADE MÉDIA A PARTIR


DO SÉCULO X

5
No período em questão, o casamento e o divórcio passam a ser regulados
exclusivamente pelo direito canônico. O casamento passou a ser considerado como um
sacramento, regido por regras de direito divino, sem qualquer possibilidade de dispensa, e por
regras de direito eclesiástico, por existir a possibilidade de dispensa por autoridade
eclesiástica.
Durante os séculos X a XII foram desenvolvidas duas concepções, a
materialista e a consensual. A primeira foi criada pelo arcebispo Hincmar de Reims ao afirmar
que um casamento não consumado não é plenamente um casamento 6 . Em virtude disto,
afirma-se que para concepção materialista o casamento válido não depende apenas do
consentimento dos nubentes, mas como também da cópula, da consumação carnal. Era apenas
o casamento consumado que se configurava como um sacramento, e, por isto era indissolúvel.
Já a concepção consensual partia do princípio segundo o qual “o que Deus quer
unir é as almas e não os corpos”, ou seja, o consentimento deve se mostrar evidente,
independente da conjunção carnal.
Na ótica materialista, o divórcio apenas seria possível se o casamento foi
objeto de consenso, mas não de consumação, enquanto que na ótica da concepção consensual,
não era permitido o divórcio após a troca dos consentimentos.
Como forma de solucionar esse impasse acerca do divórcio, foi imposto pelo
papa Alexandre III as Decretais de Gregório IX (1234), as quais impuseram um meio termo
às duas concepções. O casamento passa a ser considerado um sacramento pela simples troca
de consentimentos. Contudo, o casamento pode ser dissolvido pelo papa quando não houvesse
a consumação pela cópula, tendo em vista que o casamento não consumado era realizado
apenas perante a igreja, enquanto que o consumado se realizada também perante Deus.
Referida concepção prevalecerá até o século XVI, com o Concílio de Trento.

Entretanto, pelo fato do matrimônio não requerer formalidades, apenas o


consentimento, foram favorecidos o concubinato, a bigamia e os casamentos clandestinos,
que, segundo GILISSEN7, se revelaram como um verdadeiro flagelo na Idade Média.

Ensina GILISSEN8, numa tentativa de por fim aos casamentos clandestinos “o


Concílio de Latrão (de 1215) editou certas regras: comete pecado aquele que se casar sem a
benção nupcial; ou, ainda, sem ter mandado previamente proceder às denuntiationes, isto é, à
6
GILISSEN, John. Op. Cit. p. 570.
7
Idem. p. 571.
8
Idem. p. 571.

6
publicação dos banhos anunciando o casamento”. Entretanto, afirma o mesmo autor, como o
descumprimento de tais regras não invalidava o casamento, os casamentos clandestinos
continuaram a existir até o séc. XVI.

3 EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES PESSOAS ENTRE OS CÔNJUGES NO


CASAMENTO PERANTE O DIREITO BRASILEIRO.

a) Concílio de Trento
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi uma reação da Igreja à
Reforma.
Visando reagir à Reforma, a Igreja toma, neste Concílio, importantes medidas
no sentido de transformar a sua concepção do casamento que, a partir de então, torna-se um
contrato solene, exigindo-se, ainda, o respeito a certas formalidades para a sua validade.
Como consequência, os casamentos clandestinos passam a ser considerados nulos.
Em razão disto, foi prescrito por essa Assembleia religiosa os seguintes termos:
1º, que o casamento fosse precedido por três enunciações feitas pelo pároco do domicílio de
cada um dos contraentes; 2º, que fosse feita, de modo inequívoco, diante do pároco
celebrante, a manifestação livre do mútuo consentimento; 3º, que a celebração fosse feita pelo
pároco de um dos contraentes ou por um sacerdote devidamente autorizado, na presença de
duas testemunhas, pelo menos; 4º, finalmente, que o ato se concluísse pela solenidade da
benção nupcial. O livre consentimento dos contraentes, a presença do pároco e das
testemunhas é que são essenciais para que haja casamento católico 9.
Nota-se, todavia, que, apesar de serem instituídas formalidades para a
celebração do casamento, não é exigido o consentimento dos pais.
Foi esta, por longo tempo, a forma de matrimônio. Exclusivamente, recebida
pelo direito pátrio.

b) A República e o Código Civil de 1916

9
BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de família. Rio de Janeiro: Sociedade Cultural, 1976. p. 55.

7
Em 1890, com a chegada do Governo Republicano editou-se o Decreto-Lei nº
10
181 , o qual criou o casamento civil, separando o casamento puramente religioso daquele
regulado pelos princípios estabelecidos na Constituição Republicana.

A Constituição de 1891 foi explícita nesse ponto, declarando no § 7º do Art. 72


que “nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência
ou aliança com o Governo da União, ou o dos Estados”11.

A sociedade, todavia, insistia em desconhecer ou resistir à celebração do


casamento exclusivamente civil, persistindo em contraí-lo apenas na religião, permanecendo,
desta forma, inúmeros casais à margem da lei, na situação de mero concubinato.

Com a chegada do Código Civil de 1916 o modelo de família restou


consagrado como aquele fundado no matrimônio. A espécie de família eleita pelo
ordenamento jurídico era baseada no casamento e denominada legítima. As formas de uniões
entre pessoas as quais não passassem pela formalidade disposta no Código não eram
reputadas família, sendo excluídas deste sistema.

Nesse passo, cumpre trazer à baila os ensinamentos da ilustre jurista Maria


Berenice Dias:

Quando da edição do Código Civil de 1916, havia um único modo de


constituição da família: pelo casamento. A família tinha viés
patriarcal, e as regras legais refletiam esta realidade. A influência
religiosa persistiu. Somente era reconhecida a família ungida pelos
sagrados laços do matrimônio, por ser considerado um sacramento,
ou seja, sagrado em sua origem. Não havia outra modalidade de
convívio aceitável. O casamento era indissolúvel. A resistência do
Estado em admitir outros relacionamentos era de tal ordem, que a
única possibilidade de romper com o casamento era o desquite, que
não dissolvia o vínculo matrimonial e, com isso, impedia novo
casamento12.

O Código Civil de 16 teve como base os valores patriarcais, trazendo diversas


formas de diminuição da condição feminina. A mulher, perante o referido códex, era vista

10
BRASIL. Decreto nº 181, de 24 de Janeiro de 1890. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-
1899/decreto-181-24-janeiro-1890-507282-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 30 jul. 2017
11
REALE, Miguel. O Código Civil e as Igrejas. Disponível em: http://www.miguelreale.com.br/artigos/cvigr.htm.
Acesso em: 30 jul. 2017.
12
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias (livro digital). 4ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016. p. 19 %.

8
como relativamente incapaz, necessitando do consentimento do esposo para exercer certas
atividades.

O marido era considerado como o chefe da sociedade conjugal (art. 233), tendo
o poder exclusivo de fixação e alteração do domicílio da família (art. 233, III), representando-
a legalmente (art. 233, I).

O primeiro grande marco para romper a hegemonia masculina foi em 1962,


quando da edição da Lei 6.121. O chamado Estatuto da Mulher Casada, devolveu a plena
capacidade à mulher, que passou à condição de colaboradora na administração da sociedade
conjugal. Mesmo tendo sido deixado para a mulher a guarda dos filhos menores, sua posição
ainda era subalterna. Foi dispensada a necessidade da autorização marital para o trabalho e
instituído o que se chamou de bens reservados, que se constituía do patrimônio adquirido pela
esposa com o produto de seu trabalho. Esses bens não respondiam pelas dívidas do marido,
ainda que presumivelmente contraídas em benefício da família.

As características legislativas concedidas ao varão, como atributos da chefia


familiar, estavam perdendo o sentido. O pátrio poder passou a ser exercido em conjunto,
assim como a escolha pelo domicílio conjugal. A mulher passou a ter a livre administração
dos seus próprios bens. Marido e mulher passaram a ser obrigados a concorrer para a despesa
familiar na proporção de suas posses e recursos.

c) Regulamentação do casamento nas Constituições posteriores ao Código


Civil de 1916

A Constituição de 1934, em seu art. 146, dispunha inicialmente ser civil o


casamento e gratuita a sua celebração, contudo, em seguida admitiu que o casamento civil
poderia produzir os mesmos efeitos que aquele realizado perante qualquer ministro de
qualquer ordem religiosa, cujo o rito não contrariasse a ordem pública ou os bens costumes,
desde que, perante autoridade civil, na habilitação dos nubentes, na verificação dos
impedimentos e no processo da oposição sejam observadas as disposições da lei civil e seja
ele inscrito no Registro Civil.

Já a Constituição de 1937, se limitou a dispor em seu artigo 124 que se


encontrava a família constituída pelo casamento indissolúvel, sob a proteção do Estado.

9
A Constituição de 1946, em seu art. 163 §§ 1º e 2º, admitiu efeitos civis ao
casamento religioso, dispondo, no último dos parágrafos, sobre sua inscrição no Registro
Público, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente.

Acerca da Constituição de 46, ensina o professor Orlando Gomes que “A


equivalência foi estabelecida na Constituição de 1946 e mantida nas subsequentes. Exigiu a
lei ordinária a habilitação civil para que o casamento religioso venha a ter eficácia
admitida”13.

A Carta Magna de 1988 se limitou a prescrever em seu caput do art. 226, que a
família, base da sociedade, tem proteção especial do Estado. No § 1º reiterou ser civil o
casamento e gratuita a celebração. No § 2º, concedeu efeito civil pelo divórcio, após prévia
separação judicial de mais um ano ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.

Reconheceu no seu § 7º o planejamento familiar como livre decisão do casal;


estabeleceu o princípio da igualdade entre homem e mulher nos direitos e deveres referentes à
sociedade conjugal (§4º, art. 226); reconheceu a união estável como entidade familiar,
garantindo a proteção do Estado, e facilitando a sua conversão em casamento; reconheceu a
família monoparental.

d) O casamento no Código Civil de 2002

O novo Código Civil brasileiro, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, cuida do


Direito de Família no Livro IV, artigos 1.511 a 1.783, incorporando em seu texto as diversas
modificações ditadas pelas normas principiológicas da Constituição Federal de 1988 e por leis
especiais atinentes ao organismo familiar.

Abandona-se a visão patriarcal que inspirou a elaboração do Código de 1916,


quando o casamento era a única forma de constituição da família e nesta imperava a figura do
marido, ficando a mulher em situação submissa e inferiorizada.

A visão atual é bem outra, com ampliação das formas de constituição do ente
familiar e a consagração do princípio da igualdade de tratamento entre marido e mulher, assim
como iguais são todos os filhos, hoje respeitados em sua dignidade de pessoa humana,
independente de sua origem familiar.

13
GOMES, Orlando. Direito de Família. 12ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 63

10
Como demonstrado anteriormente, a grande virada no direito de família, no
que se refere ao casamente, se deu com a Constituição Federal de 1988, que introduziu
relevantes mudanças no conceito de família e no tratamento dispensado a essa instituição
considerada a base da sociedade.

O casamento passa a ser conceituado como comunhão plena de vida, com base
na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (artigo 1.511), princípios estes que serão
repisados no capítulo da eficácia do casamento (art. 1.565). Disposições sobre o casamento
religioso, em alteração a normas da Lei registrária (6.015/73), facilitam o registro civil desta
espécie de união legal.

Em capítulo sobre a eficácia do casamento, o novo Código Civil dispõe que


homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e
responsáveis pelos encargos da família (artigo 1.565).

O princípio igualitário não se compadece com essa visão discriminatória dos


membros da entidade familiar. Por isso é que se enfatiza, no artigo 1.567 do novo Código, que
a direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela mulher,
sempre no interesse do casal e dos filhos.

Portanto na atualidade, o casamento tanto significa o ato de celebração como a


relação jurídica que dele se origina: a relação matrimonial.

Nos ensinamentos do professor Paulo Lôbo14:

O termo casamento abrange, para muitos, o ato constitutivo e


também, a entidade ou instituição que dele se constitui.
O sentido da relação matrimonial melhor se expressa pela noção de comunhão
de vidas, ou comunhão de afetos. O ato do casamento cria um vínculo entre os noivos, que
passam a desfrutar do estado de casados. A plena comunhão de vida é o efeito por excelência
do casamento.

CONSIDERÇÃOES FINAIS

De unidade proposta para fins econômicos, políticos, culturais e religiosos, a


família passou a grupo de companheirismo e lugar de afetividade.

14
LÔBO, Paulo. Direito Civil – famílias. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 99.

11
O casamento passou a ser uma instituição autossuficiente, perde sua destinação
transpessoal em favor da realização íntima dos cônjuges, o que significa uma ampliação dos
espaços deixados à livre determinação do casal.

Verificou-se uma ampliação da capacidade civil da mulher casada. Houve uma


substituição de uma ordem conjugal autoritária e predeterminada, por outra inspirada na
atenção recíproca e nos imponderáveis movimentos da afirmação pessoal.

Por fim, observa-se um maior bem-estar aos nubentes pelos princípios da


igualdade e o da afetividade, possibilitando a eles, principalmente às mulheres, uma maior
liberdade nas suas escolhas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de família. Rio de Janeiro: Sociedade Cultural, 1976.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília/DF: Senado


Federal, 1988.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias (livro digital). 4ª Ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016. p. 19 %.

GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1986.

LÔBO, Paulo. Direito Civil – famílias. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

BRASIL. Decreto nº 181, de 24 de Janeiro de 1890. Disponível em:


http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-181-24-janeiro-1890-507282-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 30 jul. 2017.

VÍCOLA, Nivaldo Sebastião. Casamento – Habilitação e Celebração. Disponível em:


www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/FMUD/article/download/32/28. Acesso em: 17 jul.
2017.

REALE, Miguel. O Código Civil e as Igrejas. Disponível em:


http://www.miguelreale.com.br/artigos/cvigr.htm. Acesso em: 30 jul. 2017.

WIKIPEDIA. Concílio de Trento. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Conc%C3%ADlio_de_Trento> . Acesso em: 30 jul. 2017.

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