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Os princípios penais

constitucionais - análise
descomplicada
luanadavico.jusbrasil.com.br

Luana Vaz Davico1

RESUMO

O presente artigo discute os princípios penais constitucionais e seus


reflexos na construção de um Direito Penal, enfocando suas
perspectivas e aplicabilidades traçadas pelo Direito Penal Mínimo.

Palavras-chave: Direito Penal, Direito Constitucional, Princípios,


Penal Constitucional;

1 INTRODUÇÃO

A Constituição Federal, é a Carta Magna brasileira, estatuto máximo


de uma sociedade que viva de forma politicamente organizada. Todos
os ramos do direito positivo só adquiri a plena eficácia quando
compatível com os Princípios e Normas descritos na Constituição
Federal abstraindo-a como um todo.

Nesta senda, não haveria razão para permitir que o direito penal
tivesse tratamento diferenciado. À luz de uma Constituição que não é
essencialmente liberal, pois não somente regulou os princípios
básicos tangentes a formação do Estado Democrático de Direito, o
Direito Penal teve que se subsidiar nas demandas de matérias que
poderiam estar reguladas em leis infra-constitucionais mas que foram
por ela abraçadas.

No presente artigo, serão abordados os valores constitucionais penais,


que devem direcionar a aplicação do Direito Penal como solução
eficaz de apenamento ressocializador, sem, contudo, deixar de
observar as garantias e direitos fundamentais do cidadão.

Cumpre-nos assinalar que o direito é uno, indivisível e


indecomponível, estando dividido em segmentos, mas com finalidade
meramente didática, pois o Direito Penal está interligado a todos os
ramos do Direito, especialmente Direito Constitucional.

2 PRINCÍPIOS

Para se poder tratar de um tema onde estejam presentes assuntos


como Princípios Constitucionais e Princípios do Direito Penal, torna-
se importante os breves, porém imprescindíveis, esclarecimentos do
quer venha a ser um princípio.

As primeiras dúvidas que surgem dizem respeito ao que realmente


significa princípio: o que são os princípios? Qual seu conceito? Regras
ou Normas? Qual sua influência como instrumento jurídico? Para que
servem?

Para José Afonso da Silva2 "os princípios são ordenações que irradiam
e imantam os sistemas de normas". Complementando, Celso Antônio
Bandeira de Melo3 diz que "o princípio exprime a noção de
mandamento nuclear de um sistema".

A Constituição Federal Brasileira, em seu art. 1º, caput, definiu o


perfil político- constitucional do Brasil como o de um Estado
Democrático de Direito. Trata-se do mais importante dispositivo da
Carta de 1988, pois dele decorrem todos os princípios fundamentais
de nosso Estado4.

Neste ínterim nasce a mais profunda essência que irão subsidiar toda
a construção legal de nossa República, abraçada pela máxima trazida
pelo próprio princípio da interpretação conforme a constituição5, de
onde o caráter humanista de nossa Carta Magna refletirá nos anseios
do Direito Penal atual.

2.1 Os Princípios Constitucionais Penais

De acordo com GOMES6, os princípios constitucionais penais:


“Acham-se ancorados no princípio-síntese do Estado Constitucional e
Democrático de Direito, que é o da dignidade humana. A força
imperativa do princípio da dignidade humana (CF, art. 1.º, III)é
incontestável. Nenhuma ordem jurídica pode contrariá-lo. A
dignidade humana, sem sombra de dúvida, é a base ou o alicerce de
todos os demais princípios constitucionais penais. Qualquer violação
a outro princípio afeta igualmente o da dignidade da pessoa humana.
O homem (o ser humano) não é coisa, não é só cidadão, é antes de
tudo, pessoa (dotada de direitos, sobretudo perante o poder punitivo
do Estado)”.

De forma análoga PRADO7 afirma em seus estudos que:

“Tais princípios são considerados como diretivas básicas ou cardeais


que regulam a matéria penal, sendo verdadeiros “pressupostos
técnico-jurídicos que configuram a natureza, as características, os
fundamentos, a aplicação e a execução do Direito Penal. Constituem,
portanto, os pilares sobre os quais assentam as instituições jurídico-
penais: os delitos, as contravenções, as penas e as medidas de
segurança, assim como os critérios que inspiram as exigências
político-criminais”.

Em suma, os princípios constitucionais são normas genéricas contidas


na Constituição Federal, que servem de base para todo o Sistema
Jurídico Brasileiro. Com o Direito Penal não foi diferente.

Apesar de ter sido editado como Decreto-Lei o Código Penal foi


completamente recepcionado pela Constituição Federal, e está em
pleno vigor, existem artigos que foram revogados, mas não por força
da recepção constitucional, contudo a aplicação atual do direito penal
é amplamente supervisionada à luz dos princípios constitucionais
trazidos em 1988.

Cumpre diferenciar, antes de iniciarmos a análise dessa


constitucionalização do direito penal, que os princípios
constitucionais representam os princípios ou valores constitucionais
que repercutem na esfera penal, porquanto as normas de direito
penal constitucional, são a tradução da constitucionalização de
normas de conteúdo tipicamente penal (geralmente estatuídas pela
legislação ordinária), visando a uma maior estabilidade de seu
conteúdo.

Assim, os princípios constitucionais penais, devem necessariamente


serem observados pelo Direito Penal, sob pena de carecer de
fundamentação constitucional, uma vez que "... a não fundamentação
de uma norma penal em qualquer interesse constitucional, implícito ou
explícito, ou o choque mesmo dela com o espírito que perambula pela
Lei Maior, deveria implicar, necessariamente, na descriminalização ou
não aplicação da norma penal8”.

Ao analisar os princípios propriamente ditos, é necessário que se fale


de um princípio em especial, a saber, o do Estado Democrático de
Direito, que vem a proporcionar a existência dos demais princípios.

Nossa Constituição Federal em seu artigo 1º assim prescreve:

Artigo 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado


democrático de

Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

Parágrafo único: Todo poder emana do povo, que o exerce por meio
de

representantes eleitos ou indiretamente, nos termos desta


Constituição.

O Estado Democrático de Direito é muito mais amplo, pois neste não


existe somente a proclamação formal de direito entre os homens,
mais também metas e deveres quanto à construção de uma sociedade
livre, justa e solidária, buscando o bem comum, a cidadania e
principalmente o respeito à dignidade humana. Do princípio da
dignidade da pessoa humana, é que principalmente decorrem os
demais princípios penais constitucionais.

Acerca dos mesmos, resume-se tratarem-se dos princípios: da


Legalidade, da extra-atividade da lei mais favorável, da
individualização da pena, da responsabilidade pessoal ou
personalidade da pena, da limitação das penas, do respeito ao preso,
da presunção da inocência e da proporcionalidade. Os primeiros estão
explícitos na Constituição Federal, enquanto o último é um princípio
implícito.

A seguir, analisaremos um a um.

2.1.1 Princípio da Legalidade

O princípio da legalidade é base do ordenamento do nosso Direito


Penal. É vislumbrado como um verdadeiro amparo às liberdades
individuais. A lei penal deve ser clara, exata e precisa, deve poder-se
interpretá-la desde um executivo em São Paulo à um morador dos
ribeirinhos do Amazonas, não podendo ser influenciada por
diferenças sociais ou cultura\is, só existindo crime se houver um fato
lesivo a um bem jurídico.

A propósito, o mestre Nelson Hungria9 depreende a seguinte lição:

"O princípio da legalidade no direito penal é a premissa da teoria


dogmático-jurídica da tipicidade, de Ernest Beling: antes de ser anti-
jurídica e imputável a título de culpa ‘sensu lato’, uma ação
reconhecível como punível deve ser típica, isto é, corresponder a um
dos ‘esquemas’ ou ‘delitos-tipos’ objetivamente descritos pela lei
penal".

O princípio da legalidade, segundo a doutrina mais contemporânea, se


desdobra em três postulados. Um quanto as fontes das normas penais
incriminadoras. Outro concernente a enunciação dessas normas. E um
terceiro relativo a validade das disposições penais no tempo. O
primeiro dos postulados é o da reserva legal. O segundo é o da
determinação taxativa. E o último é o da irretroatividade.
a) O subprincípio da Reserva Legal

O Princípio da Reserva Legal manifesta-se no artigo 5º, XXXIX da


Constituição Federal vigente, in verbis: “não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

Segundo o princípio da reserva legal somente a lei em sentido estrito


pode definir crimes e suas respectivas penalidades.

A norma penal deve ser precisa, deve guardar perfeita


correspondência entre ela e a norma que descreve. Somente será
aceita a lei que delimitar a conduta lesiva, apta a pôr em perigo um
bem jurídico de relevância, prescrevendo uma consequência punitiva,
sendo vedado a extensão a uma conduta que se mostre aproximada ou
semelhante.

Existe uma divergência doutrinária acerca daquilo que seria o liame


diferencial entre o princípio da reserva legal e o da legalidade.

Neste diapasão, repousamos no entendimento que a diferença reside


no fato de que, quando se fala tão somente no princípio da legalidade
estaria se permitindo a adoção de todos os diplomas elencados pelo
artigo 59 da Constituição Federal, quando na verdade a reserva da lei
esta prevê tão somente a criação de normas penais por atos do Poder
Legislativo.

b) O subprincipio da Taxatividade

O segundo corolário lógico do princípio da legalidade é o postulado da


taxatividade.

O postulado in óbice, expressa a exigência de que as leis penais,


especialmente as de natureza incriminadora, sejam claras e precisas.

Alguns doutrinadores têm bifurcado o fundamento do princípio da


taxatividade na própria estrutura da norma penal, enquanto ordena
ou proíbe determinado comportamento, posto que a obediência ao
comando nela vetado ou determinado tem como inarredável
pressuposto que o destinatário possa compreender o seu conteúdo.

Maurício Antônio Ribeiro Lopes10 assinala:


É mister que a lei defina o fato criminoso, ou melhor, enuncie com
clareza os atributos essenciais da conduta humana de forma a torna-
la inconfundível com outra, e lhe comine pena balizada dentro de
limites não exagerados.

A lei penal que comina pena e descreve conduta punível não deve ser
generalista, mas sim, precisa, taxativa e determinada, sem qualquer
indeterminação com a pré-fixação a respeito dos dados que permitem
a qualificação e assimilação das figuras típicas.

Luiz Regis Prado11 aponta as peculiaridades e funções da


taxatividade:

Procura-se evitar o arbitrium judicis através da certeza da lei, com a


proibição da utilização excessiva e incorreta de elementos
normativos, de casuísmos, cláusulas gerais e de conceitos
indeterminados ou vagos. O princípio da taxatividade significa que o
legislador deve redigir a disposição legal de modo legal de modo
suficientemente determinado para uma mais perfeita descrição do
fato típico (lex certa). Tem ele, assim, uma função garantista, pois o
vínculo do juiz a uma lei taxativa o bastante constitui autolimitação
do poder punitivo-judiciário e uma garantia de igualdade.

Em suma, o princípio supra mencionado, tem por maior finalidade


evitar que o direito penal se transforme em uma arma infalível nas
mãos de um Estado arbitrário.

c) O subprincípio da Irretroatividade

O inciso XL do art. 5º. da Constituição Federal, diz que a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu. A regra constitucional,
portanto, é a da irretroatividade da lei penal; a exceção é a
retroatividade, desde que seja para beneficiar o agente.

Francisco de Assis Toledo12 sobre o tema, aborda:

A norma de direito material mais severa só se aplica, enquanto


vigente, aos fatos ocorridos durante sua vigência, vedada em caráter
absoluto a sua retroatividade. Tal princípio aplica-se a todas as
normas de direito material, pertençam elas à Parte Geral ou à
Especial, sejam normas incriminadoras (tipos legais de crime), sejam
normas reguladoras da imputabilidade, da dosimetria da pena, das
causas de justificação ou de outros institutos de direito penal.

Com esse corolário do princípio da legalidade tem-se a convicção de


que ninguém será punido por um fato que, ao tempo da ação ou da
omissão, era tido como atípico, haja vista a inexistência de qualquer
lei penal incriminando-o (nullum crimen nulla poena sine lege
praevia).

d) O Princípio da Reserva Legal e a Execução da Pena

É cediço que os apenados não podem sofrer privações ou restrições


além dos limites necessários à execução de sua pena, com vistas ao
caráter ressocializador da pena.

O art. 5º inc. XXXIX e XLVIII da Constituição Federal, é taxativa


quando estabelece que nullum crimes, nulla pena, sine lege.

Esta garantia constitucional, à luz da própria execução penal


brasileira, tem o cunho de limitar o Estado na forma de executar a
sanção penal.

Para Ela Wiecko Volkemer de Castilho13:

O princípio da legalidade na execução penal importa na reserva legal


das regras sobre as modalidades de execução das penas e medidas de
segurança, de modo que o poder discricionário seja restrito e se
exerça dentro dos limites definidos.

Nesta senda, observa-se por exemplo, que a aplicação de sanção


disciplinar por uma falta grave, não pode extrapolar os limites
trazidos pela própria Lei de Execução Penal, no que tange a
discricionariedade de punição por tal irregularidade.

Insta ressaltar que o processo disciplinar previsto na LEP é regido,


pelo princípio da reserva legal, preceituado na LEP, no seu art. 45:
“Não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior
previsão legal ou regulamentar”.

A discricionariedade nos casos em tela, é restrita, no momento em


que reflete os óbices do princípio da reserva legal e da necessidade de
motivação da decisão que impõe sanção disciplinar, decisão essa,
plenamente passível de controle judicial.

2.1.2 Princípios Complementares do Princípio da Legalidade

Existem alguns princípios, que merecem maior atenção desta autora,


quando observamos com clareza a aplicação e as vertentes do
Princípio da Legalidade.

Tais princípios, por tantas vezes não tão atribuídos ao estudo


aprofundado do Princípio da Legalidade, são constantemente
observados e invocados por todos os aplicadores do direito.

a) Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional

O princípio da inafastabilidade do Controle Jurisdicional, conhecido


popularmente como “o direito de ação”, encontra-se previsto no
artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal de 1988:"a lei não excluirá
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito".

O incluso princípio, nada mais é que a asseguração, garantida pela


Constituição Federal, para que todos possam ter acesso ao Judiciário,
doravante, se por algum motivo o cidadão não consiga alcançar tal
acesso, poderá indubitavelmente valer-se do Poder Judiciário para
satisfação da pretensão.

Nas palavras de José Roberto Bedaque14:

"Representa a possibilidade, conferida a todos, de provocar a


atividade jurisdicional do Estado e instaurar o devido processo
constitucional, com as garantias a ele inerentes, como contraditório,
ampla defesa, juiz natural, motivação das decisões, publicidade dos
atos etc."

Por ser garantia restrita ao cidadão, o Estado tem o dever da


prestação jurisdicional sempre que houver uma lesão ou ameaça a
direito, incutindo à ele a competência para a decisão final.

b) Princípio do Devido Processo Legal

Atualmente, o princípio do devido processo legal, pode ser


vislumbrado na maioria das constituições dos países democráticos.
Com a Constituição Federal Brasileira de 1988 não foi diferente,
houve sua incorporação positivada no artigo 5º, inc. LIV, garantindo
que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
Processo legal”.

A invocação do princípio do devido processo legal pela Constituição


Federal Brasileira de 1988 entre os direitos fundamentais demonstra
a constituição de um controle jurisdicional, que só foi possível através
de um processo voltado essencialmente aos basilares dos princípios
democráticos e igualitários.

Para Cândido Rangel Dinamarco15, o princípio do devido processo


legal:

[...] importa ainda reafirmação da garantia de igualdade entre as


partes e necessidade de manter a imparcialidade do juiz, inclusive
pela preservação do juiz natural. Ela tem também o significado de
mandar que a igualdade em oportunidades processuais se projete na
participação efetivamente franqueada aos litigantes e praticada pelo
juiz (garantia do contraditório, art. 5, inc.LV) [...]. Absorve
igualmente a regra de que as decisões judiciárias não motivadas ou
insuficientemente imotivadas serão nulas e, portanto incapazes de
prevalecer (a exigência de motivação: Const., art. 93, inc. IX [...]) e a
de que, com as naturais ressalvas destinadas à preservação da ordem
pública e da intimidade pessoal, os atos processuais deverão ser
dotados de publicidade […].

Neste ínterim, chega-se à ilação que o cumprimento deste princípio


reside na observância inócua das determinações previamente
preceituadas em nossa Carta Magna.

A garantia de sua aplicação, dependerá ainda, do respeito aos


princípios do contraditório, da ampla defesa, da publicidade e da livre
persuasão racional do juiz, não se exaurindo na mera tramitação
formalmente legal, do processo em juízo.

c) Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa

Também chamado de “audiência bilateral”, o princípio do


Contraditório e da Ampla Defesa, estão positivados também no art.
5º, no inc. LV da Constituição Federal de 1988, determinando em seu
texto que: “Aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes".

O contraditório é orientado pelo caráter de igualdade entre as partes,


acusação e defesa disporão de prazos e oportunidades muito
semelhantes.

A ampla defesa garante ao acusado condições propícias para


apresentar os subsídios necessários para apresentar a verdade real
dos fatos.

Júlio Fabrini Mirabete16 esclarece que do princípio do contraditório


decorrem duas importantes regras: a da igualdade processual e a da
liberdade processual. Pela primeira, as partes acusadora e acusada
estão num mesmo plano e, por conseguinte, têm os mesmos direitos;
pela segunda, o acusado tem a faculdade, entre outras, de nomear o
advogado que bem entender, de apresentar provas lícitas que julgar
as mais convenientes e de formular ou não reperguntas ás
testemunhas.

Vicente Grego Filho17 afirma que a ampla defesa é constituída a


partir dos seguintes fundamentos:

"a) ter conhecimento claro da imputação; b) poder apresentar


alegações contra a acusação; c) poder acompanhar a prova produzida
e fazer contraprova; d) ter defesa técnica por advogado, cuja função,
aliás, agora, é essencial á Administração da Justiça (art. 133 [CF/88]);
e e) poder recorrer da decisão desfavorável".

Neste ínterim os dois princípios abordados, inferem na completa


construção do devido processo legal aos litigantes, da garantia da
imparcialidade do juiz e da igualdade entre as partes.

d) Princípio da Razoável Duração do Processo

Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, a


celeridade e duração razoável do processo passaram a ser direitos e
garantias constitucionais expressas (art. 5º, inciso LXXVIII), in verbis:
A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação. (Inciso acrescentado pela Emenda Constitucional
nº 45, de 08.12.2004, DOU 31.12.2004).

Dessome-se contudo, que esta razoabilidade, objetivamente não foi


positivada. Esta omissão do legislador acerca do que seria um lapso
temporal razoável para manutenção de um processo, permitiu ao
aplicador do direito, a utilização de interpretação que unido ao bom
senso, permite garantir tal princípio.

Acerca dos corolários do princípio em referência, o mestre


Delmanto18 escreve:

Sobreleva ressaltar que o denominado critério da razoabilidade é um


método de interpretação, inerente ao devido processo legal, e também
ao direito a um julgamento sem dilações indevidas, não se
confundindo com a exigência de que a lei deve ser razoável e
proporcional.

Insta ressaltar, que o princípio não trabalha com prazos fixados, mas
sim com proporcionalidade e sensatez.

Devemos ainda nos acatar, que o art. 37, § 6º da CF permite ainda,


dando maior impulsão ao referido princípio, que se o processo estiver
encerrado, e houver um dano decorrente da má administração da
atividade jurisdicional, o Estado poderá ser demandado através de
ação indenizatória, em razão de sua responsabilidade objetiva e dever
de ressarcir qualquer dano causado por desídia dos seus agentes.

Chega-se portanto à ilação, de que o Princípio da Duração Razoável do


Processo permite o alcance de duas vertentes judiciais, uma que visa
o restabelecimento do andamento normal do processo, e outra que
permite a indenização.

2.1.3 Princípio da Intervenção Mínima

Essa garantia fundamental, trazida no caput do art. 5º da nossa


Constituição Federal, preconiza que a intervenção do Direito Penal, no
âmbito jurídico da nossa sociedade, só se mostra aplicável, como
imperativo de necessidade, ou seja, quando a pena se apresentar
como o único e último recurso para a proteção do bem jurídico.

Em suma, este princípio traz a pretensão de que o Direito Penal deve


ser encarado como ultima ratio. Pondera-se portanto, que o Direito
Penal somente deve ser aplicado, quando os outros meios de garantia
de paz social disponíveis, se mostrarem ineficazes ou insuficientes
para alcançar a pretensão.

Sobre o tema, Luiz Luisi19 ensina:

Por meio do princípio da intervenção mínima, a criminalização de um


fato somente se justifica quando constitui meio necessário para a
proteção de um determinado bem jurídico. Portanto, quando outras
formas de sanção se mostram suficientes para a tutela desse bem, a
criminalização torna-se inválida, injustificável. Somente se a sanção
penal for instrumento indispensável de proteção jurídica é que a
mesma se legitima. Do princípio em análise decorre o caráter
fragmentário do direito penal, bem como sua natureza subsidiária.

De tal observância, é que o princípio da intervenção mínima, é


conhecido também como ultima ratio, isto é, deve ser invocado
somente quando os demais ramos do Direito falharem ou forem
insuficientes, como já abordado, chamado de caráter subsidiário do
direito penal.

Em síntese, antes de se buscar o direito penal deve-se esgotar todos


os outros meios possíveis par alcançar a pretensão.

Afirma-se então, que o princípio da intervenção mínima, além do


caráter subsidiário do Direito Penal, apresenta também seu caráter
fragmentário (discricionariedade quando de determinados bens sobre
os quais o Estado foca a tutela penal).

2.1.4 Princípio da Humanidade

Exposto no art. 5º , incs. XLVII e XLIX da Constituição Federal,


assegura o tratamento humanitário ao apenado em todos seus efeitos.

O Princípio da Humanidade, ecoa o Direito Penal por um olhar


essencialmente humano, buscando analisar e compreender que a pena
possui função ressocializadora e não castigadora como visto por
alguns.

Neste olhar humanitarista não se pode permitir que o Direito Penal


assuma um caráter de carrasco em relação ao apenado, pretende-se,
em razão deste princípio, a aplicação de uma penalidade justa e capaz
de dar possibilitar ao apenado sua ressocialização.

Segundo Luis Flávio Gomes:

“O valor normativo do princípio da dignidade humana


(CF, art. 1.º, III)é incontestável. Nenhuma ordem
jurídica pode contrariá-lo. A dignidade humana, sem
sombra de dúvida, é a base ou o alicerce de todos os
demais princípios constitucionais penais. Qualquer
violação a outro princípio afeta igualmente o da
dignidade da pessoa humana. O Homem não é coisa, é,
antes de tudo, pessoa dotada de direitos, sobretudo
perante o poder punitivo do Estado”.

Nesta senda, deflui-se do entendimento que o princípio acima


abordado, o da intervenção mínima, tem em sua substancialidade um
caráter verdadeiramente humanitário.

Em outras linhas, este princípio subsidia a tese de que o poder


punitivo estatal não pode apenar de forma a ferir a dignidade da
pessoa humana ou no intuito de lesionar a condição físico psíquica
dos apenados.

Desta feita, ficou devidamente positivado em nossa Constituição


Federal a consagração do princípio da humanidade. Remete-se a ele
no já dito inciso XLIX do art. 5º que dispõe que é “assegurado aos
presos o respeito., à integridade física e moral”; Acentua-se ainda
mais sua determinação no inciso XLVII do mesmo artigo 5º, onde se
elenca a impossibilidade de aplicação de penas: a) de morte salvo em
caso de guerra declarada nos termos do artigo 84, XIX; b) de caráter
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.

2.1.5 Princípio da Pessoalidade e Individualização da Pena

Positivado na nossa Constituição Federal, no seu art. 5º, nos incisos


XLV e XLVI, proíbe a punição por fato alheio, uma vez que somente o
próprio agente do ilícito penal é passível de pena.

Em qualquer circunstância que sobrevenha, não pode a pena ser


estendida a nenhum outro cidadão, seja por condição de parentesco
ou afinidade, ou qualquer outra condição, a pena é instituto
personalíssimo do autor do fato.

Em suma, nos dizeres da própria legislação nenhuma pena passará da


pessoa do condenado e que ninguém será responsabilizado
criminalmente por ato de outrem.

a) Subprincípio da Presunção da Inocência

O princípio da presunção de inocência, desdobramento do princípio


da individualização da pena, está previsto no art. 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal, que assim dispõe: "ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória".
Consagrando-se como um dos princípios de maior importância dentro
do Estado Democrático de Direito, revelando-se como garantia
processual penal, visando à tutela da liberdade pessoal.

Este principado constitucional é entendido conceituado por


MIRABETE20, segundo a concepção de que:

“Existe apenas uma tendência à presunção de inocência, ou, mais


precisamente, um estado de inocência, um estado jurídico no qual o
acusado é inocente até que seja declarado culpado por uma sentença
transitada em julgado. Por isso, a nossa Constituição Federal não
‘presume’ a inocência, mas declara que ‘ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória
(art. 5º, LVII), ou seja, que o acusado é inocente durante o
desenvolvimento do processo e seu estado só se modifica por uma
sentença final que o declare culpado. "

Não pode-se contudo, confundir o incluso princípio, com o princípio


do "in dubio pro reo", uma vez que este parte da constatação de que,
após o devido processo legal, tendo a prova colhida durante a
instrução criminal se apresentado insuficiente para firmar a
culpabilidade do acusado, deve este ser declarado inocente, por meio
de sentença absolutória, fixando-se a premissa do estado de
inocência.

Desta feita, denota-se que essa presunção legal possui caráter


absoluto, de forma que somente ao Estado, por meio do devido
processo legal, poderá desconstituí-lo, fazendo-o, por meio do
trânsito em julgado de sentença condenatória.

3 CONCLUSÃO

O presente artigo teve por desígnio tão somente, delinear


suntuosamente a temática dos princípios constitucionais no Processo
Penal, sem ter, contudo, qualquer pretensão em esgotar o assunto.

Frise-se que o rol dos princípios constitucionais não se restringe ao


analisado, pelo contrário, modifica-se e amplia-se constantemente,
dado o caráter aberto e abstrato que qualifica a sua textura.

1Graduada em Direito pela Universidade Federal de Goiás em 2010,


aluna da Especialização em Direito Penal e em Direito Processual
Penal na Universidade Federal de Goiás. E-mail:
luanadavico@hotmail.com

2SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 35a.


edição - São Paulo: Malheiros, 2012

3MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo.


25. ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

4 CAPEZ. Fernando. Curso de Direito Penal. V. 1. São Paulo: Saraiva.


2009. p. 04.
5 Segundo o princípio da interpretação
conforme à Constituição, diante de
normas infraconstitucionais polissêmicas
ou plurissignificativas, deve-se optar pelo
sentido que seja compatível com a
Constituição.
6 GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal. 3ª ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.

7 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 4ª ed., São


Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010.

8CARVALHO, Márcia D. L. Fundamentação constitucional do direito


penal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1992

9HUNGRIA, Nelson Hoffbauer. Comentários ao código penal: decreto-


lei n.º 2.848, de 07 de dezembro de 1940, Rio de Janeiro, Forense,
S.D.Bv.

10LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípios Penais Constitucionais:


O Sistema das Constantes Constitucionais. RT, Fascículos Penais, Ano
89, v. 779. RT: São Paulo. 2000.

11PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 6ª Ed. RT: São
Paulo. 2006.

12TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª


Ed. Saraiva: São Paulo. 1994. p.21.

13CASTILHO, Ela Wiecko Volkemer. Controle de Legalidade na


Execução Penal. 1ª Ed. Sérgio Antônio Fabris Editor: Porto Alegre.
1988. p.18.

14BEDAQUE, José Roberto dos Santos." Os elementos objetivos da


demanda examinados à luz do contraditório ". In: TUCCI, José Rogério
Cruz e; BEDAQUE, José Roberto dos Santos (coordenadores)."Causa
de pedir e pedido no processo civil: questões polêmicas". São Paulo:
RT, 2002, p. 14.

15DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 7.


ed. São Paulo Malheiros, 1999.

16MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo penal. São Paulo: Atlas, 22ª


ed., 2012.

17GRECO FILHO, Vicente. Op. Cit. Apud: PAGLIUCA, José Carlos


Gobbis. Op. Cit. In: MARQUES DA SILVA, Marco Antônio
(coordenador). Tratado temático de processo penal. São Paulo:
Juarez de Oliveira, 2002.

18DELMANTO JUNIOR, Roberto. As Modalidades de Prisão Provisória


e seu Prazo de Duração. – Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

19LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. Porto


Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2003

20MIRABETE, Julio Fabbrini. Curso de Processo Penal. 18. ed e


atual. São Paulo: Atlas, 2006.

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