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Unidade II
5 SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS
HUMANOS
Os três sistemas apresentam traços distintivos que também possibilitam maior facilidade de proteção
dos direitos humanos. Há o consenso dos avanços obtidos pelos órgãos de monitoramento das convenções
dos direitos humanos, mas ainda há problemas no cumprimento das decisões, principalmente as das
cortes de direitos humanos.
O Sistema de Direitos do Homem da África tem como organização matriz a União Africana (UA);
nas Américas, o órgão que exerce a mesma função é a Organização dos Estados Americanos (OEA); e na
Europa, é o Conselho da Europa (CE).
O Sistema Europeu de Proteção aos Direitos Humanos adotou, em 4 de novembro de 1950, a Convenção
para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais. Essa ação teve como objetivo
assegurar que os direitos descritos na Declaração Universal dos Direitos dos Homens fossem atendidos.
A Convenção entrou em vigor em setembro de 1953 e defendia direitos e liberdades civis ao mesmo
tempo em que garantia as obrigações assumidas pelos Estados contratantes. Era composta por três
instituições: Comissão Europeia dos Direitos do Homem, de 1954, Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem, de 1959, e Comitê de Ministro do Conselho da Europa. Inicialmente, as três instituições
aceitavam o direito de recurso individual e podiam apresentar queixas contra os Estados por violação
dos direitos garantidos pela Convenção. As queixas podiam ou não ser admitidas e depois havia uma
tentativa de conciliação. Finalizando o processo, era elaborado um relatório dirigido ao Comitê de
Ministros, caso não fossem aceitos os termos da conciliação. O Comitê enviava a queixa ao Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem.
Tribunal o poder de emitir pareceres consultivos. O 9 abriu aos requerentes individuais a possibilidade de
transmitir o caso ao tribunal, sob reserva da ratificação do referido protocolo pelo estado requerido e da
aceitação da transmissão por um comitê de filtragem. O 11 reestruturou o mecanismo de controle. Os
outros protocolos eram relativos à organização das instituições criadas pela Convenção e aos respectivos
aspectos processuais (GABINETE DE DOCUMENTAÇÃO E DIREITO COMPARADO, [s.d.]).
O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos foi desenvolvido pela Organização das
Nações Unidas e desenvolve os trabalhos na Comissão Interamericana de Direitos Humanos e na Corte
Interamericana de Direitos Humanos. Apesar das diferentes funções da comissão e da corte, ambas
supervisionam o cumprimento dos tratados interamericanos de direitos humanos e têm competência
para receber denúncias individuais de violação desses tratados de cada Estado membro.
Observação
• elaborar disposições legislativas ou de outro caráter necessárias para tornar efetivos os direitos e
liberdades protegidos por tratados;
• prevenir as violações, bem como investigar, processar e sancionar os responsáveis, por meio de
medidas necessárias;
• reparar as consequências dos atos nos quais direitos tenham sido lesionados.
Observação
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DIREITOS HUMANOS
O Sistema Africano de Proteção dos Direitos Humanos e dos Povos se desenvolveu na Organização
da Unidade Africana (OUA), atualmente União Africana. Os órgãos principais que tratam dos direitos
humanos são uma Comissão e um Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos. O documento
estabelecido foi a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (também conhecido como Carta
de Banjul), de 1981, e apresentou um caráter generalista.
Os principais documentos relacionados à luta pelos direitos humanos no continente africano são:
A criminalização e a proibição da tortura na Constituição de 1988 estão apontadas no artigo 5º, III,
por tratamento desumano ou degradante. A Lei n° 9.455, de 7 de abril de 1997, definiu e tipificou os
crimes de tortura que podem ser cometidos por agentes públicos ou particulares. Os crimes de tortura
são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia. Também podem ser considerados hediondos pela
Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990. As penas privativas podem chegar a 16 anos e a condenação
acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a impossibilidade para o exercício pelo dobro
do prazo da pena aplicada (SARMENTO, 2013).
• ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual sem as formalidades legais ou com
abuso de poder;
• submeter a pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não
autorizado em lei; deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou
detenção de qualquer pessoa.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em 1994, editou a Resolução 14/94, que fixa
as regras mínimas para o tratamento do preso nos estabelecimentos carcerários brasileiros, proibindo o
uso de correntes, algemas e camisas de força como forma de punição (exceto, conforme artigo 29, em
casos de precaução contra a fuga, recomendação médica etc.). A Constituição de 1988 prevê essa nova
postura de tratamento dispensado à pessoa privada de liberdade e também obriga o Estado a adotar
políticas públicas no setor penitenciário para assegurar aos presos condições dignas de cumprimento de
pena ou de medida cautelar (SARMENTO, 2013).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que toda pessoa tem direito à segurança
social e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis
à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Além disso, garante que toda pessoa
tem direito ao trabalho, a um nível de vida suficiente para assegurar a si e a sua família saúde e bem‑estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e aos serviços
sociais necessários. Além disso, determina que toda pessoa tem direito à educação.
Saiba mais
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DIREITOS HUMANOS
Para tratar das dimensões da pobreza, analisa-se o fenômeno da pobreza, que é entendido e
articulado de acordo com os contextos nos quais ocorre, nos quais se analisam as questões econômicas,
sociais, culturais e políticas. As categorias analisadas são: necessidades básicas, subsistência, justiça,
organização, participação e dignidade humana. São considerados grupos de vulnerabilidade as crianças,
as mulheres e as pessoas com deficiências.
Há também uma diferenciação entre pobreza absoluta e pobreza relativa. É considerada pobreza
relativa aquela que indica que uma pessoa ou um grupo de pessoas é pobre em relação a outros
ou em relação ao que é considerado ser um padrão justo de vida ou de consumo numa sociedade
específica. Já a pobreza absoluta indica que as pessoas são pobres em relação ao valor do dinheiro
numa dada sociedade.
Nessa discussão está a incansável e contínua luta pela igualdade, ou seja, a não discriminação. A
segurança humana e a discriminação são os principais objetivos pelos quais se pode proporcionar as
condições para que as pessoas possam expandir e exercer suas oportunidades, escolhas, capacidades.
A discriminação impede que as pessoas exerçam suas escolhas e seus direitos de forma igual e resulta
também em insegurança social e econômica, além de falta de respeito próprio, autodeterminação e
dignidade humana da pessoa afetada.
O racismo também faz parte das violações de direitos que pertencem a grupos vulneráveis, minorias
ou imigrantes, que podem resultar em sérios conflitos e em um perigo para a estabilidade e paz
internacionais. É necessário ultrapassar as práticas de desigualdade que têm como base as categorias
como raça, gênero, deficiência, identidade étnica, religião, identidade sexual, língua ou qualquer outra
condição social, com o reconhecimento da inerente dignidade dos direitos iguais de todos os membros
da família humana. Esses grupos se caracterizam como o fundamento da liberdade, da justiça e da paz
no mundo.
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• 1926 – Convenção da Sociedade das Nações para a Abolição da Escravatura e do Tráfico de Escravos.
• 1950 – Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais
(CEDH – artigo 14).
• 1960 – Declaração das Nações Unidas sobre a Concessão da Independência aos Países e Povos
Coloniais.
• 1966 – Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP – artigo 2º, nº 1).
• 1966 – Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pidesc – artigo 2º, nº 2).
• 1978 – Primeira Conferência Mundial em Genebra para Combater o Racismo e a Discriminação Racial.
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DIREITOS HUMANOS
• 1981 – Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (artigo 2º).
• 1983 – Segunda Conferência Mundial em Genebra para Combater o Racismo e a Discriminação Racial.
• 1990 – Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes
e dos Membros das Suas Famílias (CIPTM).
• 1992 – Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas Pertencentes a Minorias
Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas.
• 1993 – Relator Especial das Nações Unidas sobre Formas Contemporâneas de Racismo,
Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância relacionada.
• 2001 – Relatório Especial das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
• 2007 – Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.
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Unidade II
Exercício de aplicação
Escolha, na cronologia anterior, um tratado e conheça sua história, seu contexto, sua importância e
quando foi consentido pelos países signatários.
O artigo 196 da Constituição dispõe que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”
(BRASIL, 1988).
O direito à saúde é parte de um conjunto de direitos chamados “direitos sociais” e tem como base
o valor de igualdade entre as pessoas. Trata-se de um direito muito complexo e amplo, que depende
do equilíbrio entre liberdade e igualdade e reconhecimento do Estado da necessidade de garantir
efetivamente o acesso à saúde.
Contudo, é um grande desafio assegurar a cada pessoa o seu direito, e por isso é necessário adotar
estratégias para consegui-lo. Uma das formas de fazê-lo é a municipalização – compreendida como
organização estatal e social –, ou seja, uma comunidade responsável pela garantia do atendimento
ao direito à saúde. A comunidade é capaz de definir a extensão do conceito de saúde e possibilitar o
alcance da liberdade e igualdade do direito à saúde dos seus munícipes.
Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para atender às necessidades locais da
população e cuidar de questões como a verificação da saúde, do meio ambiente, da vigilância sanitária
e da fiscalização dos alimentos.
A Lei Orgânica da Saúde, Lei n° 8.080/90, regulamenta os artigos 196 e seguintes da Constituição
Federal e dispõe, nos artigos 6º, inciso I, alínea “d”, e artigo 7º, incisos I e II:
I – a execução de ações:
[...]
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DIREITOS HUMANOS
[...]
CAPÍTULO II
Observação
Foi com a internacionalização dos direitos humanos que o direito da mulher passou a ser discutido
com o objetivo de garantir-lhe o amplo direito à cidadania plena, que pode ser resumida em participar
ativamente da vida e do governo e da superação das desigualdades de gênero.
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do
Pará – 1994), mas o marco histórico do reconhecimento do direito das mulheres foi a Convenção
de Viena, de 1993, decorrente de um levante feminino que levantou a bandeira “os direitos das
mulheres também são direitos humanos”.
Saiba mais
5.8.1 Origem
Maria da Penha Maia Fernandes, farmacêutica e brasileira, sofreu agressões de seu próprio marido,
o professor universitário colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, em 1983. Maria da Penha sofreu
tentativa de assassinato por parte dele duas vezes: na primeira, com um tiro de espingarda, deixou-a
paraplégica. Depois de passar quatro meses no hospital e realizar inúmeras cirurgias, Maria voltou para
casa, ocasião em que Heredia tentou eletrocutá-la durante seu banho.
Maria saiu de casa por ordem judicial e iniciou uma batalha para defender sua integridade física. Em
1991, a resposta do processo iniciado foi arquivado por alegação de irregularidades no procedimento do
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DIREITOS HUMANOS
júri. Em 1996, com nova condenação, a defesa fez alegações de irregularidades e o processo continuou
em aberto por mais alguns anos. No meio do processo, em 1994, Maria da Penha lançou um livro, no
qual relata as agressões que ela e suas filhas sofreram do marido.
Foi somente no ano de 1998, ao apelar para o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil)
e para Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), que seu
caso foi para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos
(OEA). Graças a isso, no ano de 2001, o Estado brasileiro foi condenado pela Comissão por negligência,
omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres.
Contudo, somente em 2006 o governo brasileiro criaria um novo dispositivo legal que trouxesse
maior eficácia na prevenção e punição da violência doméstica no Brasil, aprovando por unanimidade
a Lei Maria da Penha, que já foi considerada pela ONU a terceira melhor lei contra violência doméstica
do mundo.
Os casos de violência doméstica, antes da Lei Maria da Penha, eram julgados em juizados especiais
criminais, pois eram considerados crimes de menor potencial ofensivo, acarretando o arquivamento dos
processos. Três fatores colaboravam para o grande número de arquivamentos:
• a vulnerabilidade de muitas vítimas, que não têm para onde ir e preferem não denunciar seus
agressores por medo das represálias que podem advir da denúncia;
• a conivência das autoridades policiais, que muitas vezes eram coniventes com esse tipo de crime.
A Lei n° 11.340 foi inovadora em muitos sentidos. Ela criou mecanismos para coibir e prevenir a
violência doméstica e familiar contra a mulher, algo que ainda não existia no ordenamento jurídico
brasileiro (embora fosse prevista a criação de uma lei desse tipo no parágrafo 8° do artigo 226 da
Constituição). Falaremos, a seguir, mais detidamente sobre as principais mudanças promovidas pela lei.
cuidando de questões cíveis (divórcio, pensão, guarda dos filhos etc.). Antes da Lei Maria da Penha, essas
questões deveriam ser tratadas separadamente na Vara da Família.
Com a alteração do parágrafo 9° do artigo 129 do Código Penal, passou a existir essa possibilidade
de detenção, de acordo com os riscos que a mulher corra.
Agravante de pena
Desistência da denúncia
Penas
As penas para o crime não podem ser mais cestas básicas e trabalho comunitário.
Medidas de urgência
O juiz pode obrigar o suspeito de agressão a se afastar da casa da vítima, além de proibi-lo de manter
contato com a vítima e seus familiares, se julgar que isso seja necessário.
Medidas de assistência
• a vítima deve ser informada do andamento do processo e do ingresso e saída da prisão do agressor;
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DIREITOS HUMANOS
Crítica
A lei fere a garantia do artigo 5° da Constituição (de que todos são iguais perante a lei), uma vez que
se assume a mulher como a vítima e o homem como agressor. Desse modo, como a lei não contempla
a violência doméstica sofrida por homens – que é mais rara, mas existe –, ainda falta um instrumento
jurídico adequado para esse tipo de situação, em que o homem sofre grande constrangimento para
realizar sua denúncia perante as autoridades policiais.
Saiba mais
Como vimos, a Lei Maria da Penha trouxe muitos avanços para a luta
pela igualdade de gênero em nosso País. Procure ler o texto na íntegra:
O primado do Direito é mais do que o uso formal dos instrumentos jurídicos, é também o primado da
Justiça e da Proteção para todos os membros da sociedade contra um poder governamental excessivo
(COMISSÃO INTERNACIONAL DE JURISTAS apud PRIMADO..., [s.d.], p. 223).
O primado do Direito abrange várias áreas e engloba aspetos políticos, constitucionais e jurídicos,
bem como de direitos humanos. Toda sociedade democrática deve garanti-lo, pois é ele que garante a
proteção efetiva dos direitos humanos.
Observação
O primado do Direito se constitui num dos pilares da democracia. Embora não haja consenso
sobre quais são os elementos que o integram, é unanimidade o pensamento de que os cidadãos
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Unidade II
Lembrete
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê liberdade religiosa e dever de neutralidade estatal,
como disposto no artigo 5º, VI: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a
suas liturgias” (BRASIL, 1988). Além disso, nossa Carta Magna assegura, conforme artigo 5º, VIII, que
“ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa fixada em lei” (ibidem).
religiosa e ideológica do Estado, assim como um processo político livre e como base no Estado
democrático de direito.
6 DIREITO À EDUCAÇÃO
Na Constituição Federal de 1988, a educação é parte integrante dos direitos sociais e está
contemplada nos artigos de 205 a 214. O artigo 205 prevê que “A educação, direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (BRASIL, 1988).
A educação é um direito do cidadão brasileiro e dever tanto do Estado-nação como das famílias. O
desenvolvimento da tarefa de educar é também dever da sociedade, das famílias e do Estado.
Os recursos para a educação escolar estão presentes no artigo 212 de nossa Constituição: “A União
aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte
e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”.
Está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), a
definição de educação, em seu artigo 1º:
A Constituição Federal de 1988 e a Lei n° 9.394/96 (LDB) apontam que a educação acontece ao
longo da vida em todos os lugares e com todas as pessoas com as quais convivemos. O texto da LDB a
diferencia de educação escolar, que é o ensino e ocorre em instituições próprias que estão submetidas
à legislação própria.
No artigo 2º, a Lei n° 9.394 (BRASIL, 1996b): “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento
do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
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Unidade II
Esse artigo define os princípios da educação escolar, que são a solidariedade humana, o desenvolvimento
do educando e o preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
No artigo 3º estão explicitados os princípios da educação escolar, completando o artigo 2º, que
aponta somente o resumo dos princípios e fins da educação escolar.
No artigo 5º, encontramos que a educação básica é obrigatória, de 4 a 17 anos, e que é direito
público subjetivo o acesso da criança, do adolescente e do adulto à educação escolar. O texto também
assevera que a educação é direito pessoal e intransferível do cidadão e qualquer cidadão e organização
pode exigir a matrícula na escola, independentemente de seus pais ou responsáveis:
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DIREITOS HUMANOS
Mais adiante na LDB, o artigo 21 indica que “A educação escolar compõe-se de: I – educação
básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II – educação
superior” (BRASIL, 1996b).
A partir da Constituição de 1988 e da LDB, a educação escolar e o ensino passaram a ser ministrados
em duas grandes etapas: educação básica e educação superior.
A organização do Sistema Nacional de Educação se dá por meio de sistemas de ensino, que são
coordenados pelo regime de colaboração, em que a União é responsável pelo Sistema de Ensino Federal,
no qual desempenha as funções distributiva e redistributiva junto aos sistemas de ensino estaduais e
municipais. Os Estados são responsáveis pelos sistemas de ensino estaduais e atuam prioritariamente
nos Ensino Médio e Ensino Fundamental. Os municípios são responsáveis pelos Sistemas de Ensino
Municipais, que atuam no Ensino Fundamental e na Educação Infantil.
I – erradicação do analfabetismo;
Há mais de 20 anos, o Conanda foi instituído como o principal órgão do sistema de garantia
de direitos. Previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Conselho tem composição
paritária entre governo e sociedade civil. Sua atribuição é definir as diretrizes para a Política Nacional
de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. O Conanda também
tem como função fiscalizar as ações executadas pelo poder público no que diz respeito ao atendimento
da população infanto-juvenil e a gestão do Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente (FNCA). Cabe
ao conselho a regulamentação da utilização desses recursos, garantindo que sejam destinados às ações
de promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, conforme estabelece o ECA.
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DIREITOS HUMANOS
b) A tomada de reféns;
Algumas das mais graves consequências desses conflitos são grande orfandade, sobreviventes
mutilados ou problemas de ordem psicológica e estresse que, muitas vezes, necessitam de atendimento,
baixa qualidade de vida da população dos países que participam da guerra e dos que sofrem as
consequências e a destruição das cidades.
As sete principais regras básicas das Convenções de Genebra e dos Protocolos Adicionais
2 – É proibido matar ou ferir um inimigo que tenha se rendido ou que esteja fora
de combate.
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Unidade II
3 – Os feridos e os doentes devem ser recolhidos e tratados pela parte do conflito que
os tem em seu poder. A proteção também abrange a equipe médica e os estabelecimentos,
o transporte e os equipamentos médicos. O símbolo da Cruz Vermelha e o do Crescente
Vermelho são o sinal desta proteção e devem ser respeitados.
6 – As partes do conflito e os membros de suas forças armadas não têm opções ilimitadas
de métodos e meios de guerra. É proibido utilizar armas ou métodos de guerra que causem
perdas desnecessárias ou sofrimento excessivo.
Observação
• 1864: Convenção de Genebra para melhorar a situação dos militares feridos nas forças armadas
em campanha.
• 1868: Declaração de São Petersburgo (proibição do uso de certos projéteis em tempo de guerra).
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DIREITOS HUMANOS
• 1925: Protocolo de Genebra relativo à proibição de utilizar gazes asfixiantes, tóxicos ou similares
na guerra.
— I Convenção de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos e Doentes das Forças Armadas
em Campanha.
— II Convenção para Melhorar a Situação dos Feridos, Doentes e Náufragos das Forças Armadas
no Mar.
• 1954: Convenção de Haia para a Proteção dos Bens Culturais em caso de Conflito Armado.
• 1977: dois Protocolos Adicionais às quatro Convenções de Genebra de 1949, que fortalecem
a proteção das vítimas de conflitos armados internacionais (Protocolo I) e não internacionais
(Protocolo II).
• 1980: Convenção sobre a Proibição ou Limitação do Uso de Certas Armas Convencionais que Podem
ser Consideradas como Produzindo Efeitos Traumáticos Excessivos ou Ferindo Indiscriminadamente
(CCW), que inclui:
— Protocolo (II) sobre a Proibição ou Limitação do Uso de Minas, Armadilhas e Outros Dispositivos;
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Unidade II
• 1995: Protocolo sobre Armas Laser que Causam a Cegueira (Protocolo IV [novo] da Convenção
de 1980).
• 1996: Protocolo Revisto sobre a Proibição ou Limitação do Uso de Minas, Armadilhas e Outros
Dispositivos (Protocolo II [revisto] da Convenção de 1980).
• 2002: entrada em vigor do Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança, relativo
à participação de crianças em conflitos armados.
No Brasil, foi a partir do governo do presidente Getúlio Vargas que o direito do trabalho
passou a ser regulamentado e implementado no cotidiano do trabalhador. Isso ocorreu através
do Decreto-lei n° 5.452, de 1º de maio de 1943, chamado de Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), que estatui as normas que regulam as relações individuais ou coletivas de trabalho entre o
empregador e o empregado.
A CLT trata dos direitos e deveres de ambos, abordando os itens que determinam a identificação
do trabalhador por meio da carteira de trabalho, responsável por registrar a vida profissional do
trabalhador, com a contratação, o salário, os benefícios recebidos e a rescisão do contrato. Por
meio dela, o trabalhador garante que os benefícios a que tem direito, como a aposentadoria,
sejam pagos.
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DIREITOS HUMANOS
Saiba mais
Consulte o texto original da CLT e verifique as transformações que ele
foi sofrendo ao longo dos anos:
___. Decreto-lei n° 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das
Leis do Trabalho. Rio de Janeiro: 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 22 jul. 2016.
O direito à privacidade pode ser estudado em diferentes documentos legais. A seguir, apontaremos
os direitos presentes em cinco textos legais, a Constituição Federal de 1988, a Lei nº 9.296/96, a Lei nº
8.078 (Código do Consumidor), a Lei nº 9.507 (habeas data) e a Lei nº 10.406 (Código Civil).
Na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), o artigo 5º, nos incisos IV, X e XII, garante que
todos são iguais perante a lei e assegura a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança, à propriedade, à manifestação do pensamento, da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material e legal. Da mesma forma,
é inviolável o direito ao sigilo de correspondência e das comunicações, e é por isso que, para que haja
esse tipo de violação, é necessária ordem judicial. Veja o texto original da Constituição:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
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Unidade II
[...]
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DIREITOS HUMANOS
Outra lei importante com relação ao tema do acesso a informações é a Lei nº 9.507, que trata
do habeas data e prevê a possibilidade de direito ao acesso a informações sobre dados de registros
ou de bancos:
No Código Civil (Lei n° 10.406), também estão previstos o direito à personalidade, a sua
inviolabilidade e a proibição da limitação de seu exercício, além da preservação da honra, da
imagem e da respeitabilidade:
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade
são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
limitação voluntária.
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Unidade II
Alguns elementos do direito de expressão estão também relacionados com outros direitos humanos,
tais como o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, definido no artigo 18 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, [s.d.]);
O direito dos autores de se beneficiarem da proteção dos interesses morais e materiais resultantes de
uma produção científica, literária ou artística, isto é, os direitos de autor, estão descritos no artigo 15, nº
2, do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (BRASIL, 1992a);
A cronologia das legislações que tratam liberdade de expressão e liberdade dos meios de informação
é a seguinte:
• 1983 – Comentário Geral do Comitê dos Direitos Humanos da ONU sobre o artigo 19º do Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos;
• 1993 – Relatoria Especial das Nações Unidas para a Proteção e a Promoção do Direito à Liberdade
de Opinião e de Expressão;
• 1997 – Relatoria Especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) para a Liberdade de Expressão;
• 2001 – Convenção sobre o Cibercrime (Conselho da Europa – CdE) e Protocolo Adicional de 2003;
• 2003 – Cimeira Mundial sobre a Informação, primeira parte, em Genebra: Declaração de Princípios
e Plano de Ação;
• 2005 – Cimeira Mundial sobre a Sociedade da Informação, segunda parte, em Túnis: Compromisso
de Túnis e Agenda de Túnis para a Sociedade da Informação;
• 2011 – Comentário Geral nº 34 do Comitê dos Direitos Humanos sobre o artigo 19 do Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.
O CDDPH, com base nas determinações do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), tem
incentivado a criação dos conselhos estaduais e municipais de direitos humanos como forma de ampliar
a rede de defesa e promoção desses direitos. Em 2013, será realizado encontro nacional dos Conselhos
Estaduais de Direitos Humanos.
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Unidade II
• 1934 – Sanção do Código Florestal, que impõe limites ao exercício do direito de propriedade, e o
Código de Águas;
• 1969 – Assinação, em São José da Costa Rica, da Convenção Americana de Direitos Humanos
(à qual o Brasil só aderiu, parcialmente, em 25 de setembro de 1992 e, na íntegra, apenas em
novembro de 1998);
• 1992 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO 92;
• 1993 – Instituição, pelo Congresso Internacional sobre Educação em Prol dos Direitos Humanos e
da Democracia, do Plano Mundial de Ação para a Educação em Direitos Humanos;
• 1993 – Aprovação, pela Segunda Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena,
da declaração que define os direitos humanos como interdependentes, indivisíveis e irremovíveis;
consagrando, assim, a democracia como o regime político que melhor protege e promove os
direitos humanos;
• 1994 – Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
adotada em Belém do Pará, Brasil, em 9 de junho de 1994, a ter vigência a partir de março de 1995;
65
Unidade II
• 2009 – Décima Primeira Conferência Nacional de Direitos Humanos e regulamentação do PNDH III;
66
DIREITOS HUMANOS
Embora haja consenso nacional e internacional do avanço que as leis brasileiras apresentam, é
necessário reconhecer a precariedade de muitos setores e o não cumprimento de todas as legislações
em sua totalidade, o que aponta a fragilidade interna em setores básicos da sociedade.
O direto das minorias, aliás, está diretamente ligado ao Estado democrático de direito, pois não se
limita ao governo da maioria, preocupando-se, em vez disso, também em abrir espaço para comportar
as diversas visões existentes em uma comunidade política na qual prevalece uma. O referencial comum
deve ser o pressuposto da diversidade.
É nesse sentido que a democracia não é um valor absoluto e consolidado e sim um processo que
precisa de constante promoção, desenvolvimento e aprendizagem. Assim, minoria aparece como categoria
jurídica, e é um conceito aberto, que necessita da determinação de parâmetros para seu emprego na
análise das relações estabelecidas contextualmente entre os pertencentes ao grupo minoritário e ao
grupo majoritário.
Tratar de minorias é falar da multiplicidade de existências possíveis, é permitir que a diferença seja
reconhecida e possa ser manifesta no espaço público, como um princípio da igualdade, no qual os
membros dos grupos minoritários sejam respeitados.
67
Unidade II
O direito a requerer asilo, a proteção em relação à perseguição e o princípio da não repulsão são os
temas que são tratados no direito ao asilo.
O direito a requerer asilo é um direito humano e encontra-se disciplinado pelo direito internacional
e em obrigações mútuas. Assim, quando uma pessoa é forçada a fugir de seu país e requer o asilo em
outro Estado, é protegida pelo direito internacional, pactuado pelos países membros e consentido, o que
torna esse direito parte de obrigações do pais.
Dessa maneira, o asilo está relacionado à segurança humana, vez que a perseguição leva a pessoa
a viver com medo e com privações de diferentes ordens, ferindo o gozo dos direitos humanos, como o
direito à vida, a não tortura, e outras penas, ausência de perseguição, liberdade e segurança, tratamentos
cruéis e desumanos.
• alternativa de fuga interna: refere-se, com solicitação bem fundamentada, à perseguição em sua
zona de residência;
• apátridas: pessoas que não conseguem obter cidadania num país específico por diferentes motivos;
Há a preocupação com o que se chama de “boas práticas” no caso de pessoas que recorrem ao asilo.
São elas:
Observação
• 1950 – Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais
(Conselho da Europa);
• 1966 – Princípios de Bangkok sobre o Estatuto e Tratamento de Refugiados (adotado pelo Comité
Jurídico Consultivo Afro-Asiático – Asian-African Legal Consultative Committee);
• 1969 – Convenção da Organização de Unidade Africana que Rege os Aspetos Específicos dos
Problemas dos Refugiados na África;
• 1984 – Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (CCT);
• 1984 – Declaração de Cartagena sobre Refugiados (adotada pelo Colóquio sobre a Proteção
Internacional dos Refugiados na América Central, México e Panamá);
• 1985 – Declaração da Assembleia-Geral das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos dos
Indivíduos que não são Nacionais do País onde Vivem;
• 2000 – Protocolo Contra o Contrabando de Migrantes por Terra, Mar e Ar, a suplementar a
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional;
• 2003 – Agenda para a Proteção, adotada pelo Agência da ONU para Refugiados;
• 2006 – Convenção das Nações Unidas para a Proteção de Todas as Pessoas contra
Desaparecimentos Forçados.
Atualmente a cidadania é o predicado atribuído à pessoa humana e que expressa toda sua existência
no mundo contemporâneo. É por ela que nos tornamos pessoas, reafirmamos nossa individualidade e
nos reconhecemos como sujeitos coletivos pertencentes a determinado lugar no mundo.
69
Unidade II
Compreender essa dimensão ontológica do ser humano sobre a realidade como ser cultural é
reconhecer a cultura como fenômeno sujeito à ação transformadora do homem. Novos sentidos e visões
possibilitam a transformação das práticas que vão se desenvolver dentro da cultura.
Lembrete
Desse modo, é no interior da cultura, esse hábitat artificial, que novas práticas promovidas pela
consciência e intencionalidade específica da pessoa podem construir novos mundos possíveis. No
interior da cultura o homem produz a si mesmo e a própria cultura; essa ambiência espaço-temporal dá
concreticidade à nossa existência enquanto ser histórico-cultural.
Essa consciência humana e de sua natureza enquanto ser histórico-cultural concretiza a compreensão
do direito do ser humano em toda sua complexidade e de sua construção histórico-social e local, onde
se produz a luta pela cidadania, democracia e dignidade humana.
É um sonho presente na construção sócio-histórica da cultura humana a luta em defesa dos direitos
humanos e da construção de uma sociedade socialmente justa, equitativa e democrática.
Essa luta significa a possibilidade de viver uma nova realidade para a humanidade, fruto da
esperança. A palavra utopia, usada pelo escritor inglês Thomas Morus (1480-1535), vem sendo o termo
que representa o papel histórico dos que lutam em defesa dos direitos humanos. Essa luta, contudo,
deve ser realizada pisando o chão do presente e projetando socialmente possíveis mundos futuros,
sendo a realidade o indicador da discussão.
Observação
Na luta por um mundo melhor, estão envolvidos o bem–estar das pessoas, o compromisso
ético‑político com o enfrentamento de velhos problemas da realidade e a esperança de um novo caminho.
70
DIREITOS HUMANOS
Observação
Atualmente, as políticas públicas e órgãos de proteção e defesa de direitos humanos no Brasil são
representados pelos seguintes órgãos e programas:
71
Unidade II
Saiba mais
72
DIREITOS HUMANOS
Resumo
Exercícios
“Existem muitas provas de que são usadas diversas formas de coerção e de tortura para obter confissões
nos interrogatórios nos primeiros dias de apreensão. É uma prática recorrente”, afirma à BBC Brasil.
Ele esteve no Brasil entre 3 e 14 de agosto e visitou 12 penitenciárias em São Paulo, Sergipe, Alagoas,
Maranhão e Distrito Federal.
O relatório final sobre a visita ficará pronto apenas em março de 2016, mas uma das principais
observações do relator é que a tortura não é um fenômeno isolado no Brasil, especialmente nos dias
iniciais que os detentos ingressam no sistema carcerário.
“Seja em prisões provisórias ou definitivas, vimos condições caóticas. Há grande superpopulação, facilmente
200% ou 300% acima da capacidade. E, quando há superpopulação, todos os outros aspectos pioram”, descreve.
[...]
Ele opina que a prática da tortura no país poderia ser coibida com o fim das figuras da prisão
preventiva ou provisória. “Ainda são muito comuns no Brasil e terminam sendo uma pena antecipada. É
um círculo vicioso que, em lugar de resolver o problema da criminalidade, o exacerba.”
73
Unidade II
Méndez sugere também rever as normas penais para quem comete delitos relativamente menos
violentos e que não necessitaria cumprir pena numa carceragem.
“É muito pouco o que se faz para investigar, processar e castigar os delitos de tortura. Existe um
falso espírito corporativista que protege policiais e agentes, além da falta de capacidade para detectar
a tortura por parte de médicos especializados”, critica.
I – A pena de prisão deve ser aplicada a todas as modalidades de crime porque está provado que é a
melhor forma de se conseguir uma confissão do réu.
II – A prática de tortura no Brasil integra a cultura de investigação criminal segundo a qual os fins
justificam os meios e, com isso, desestimula a investigação desse tipo de violência.
III – Todos os documentos jurídicos de proteção de direitos humanos vedam a prática de tortura e
o Brasil é signatário de muitos desses documentos, no entanto, a prática da tortura no país tem apoio
implícito da população, que se sente mais segura com as prisões preventivas e provisórias.
IV – A punição mais severa para crimes de menor potencial ofensivo, segundo o autor, será uma
solução para diminuir a criminalidade no país.
V – A confissão mediante tortura é um problema social menor se ficar confirmado que aquele que
confessou era efetivamente o culpado pelo crime praticado.
A) I, II e III.
B) II e III.
C) IV e V.
D) I, III e V.
E) III e V.
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DIREITOS HUMANOS
I – Afirmativa incorreta
Justificativa: é exatamente a aplicação da pena de prisão preventiva ou provisória que está sendo
criticada no texto, por criar uma cultura de “prender primeiro para provar depois”, o que é incompatível
com a proteção dos direitos humanos.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: no Brasil, segundo o texto, há a cultura de que a prisão e a tortura encurtam o caminho
para a identificação dos culpados pelos crimes e que o espírito corporativo protege os policiais que
praticam tortura, que trabalham com a certeza da impunidade.
Justificativa: as prisões, mesmo quando preventivas ou provisórias, acabam sendo uma resposta para
a sociedade que se sente mais segura ao saber que elas ocorreram, ainda que mais tarde se comprove
que foram injustas ou que o suspeito confessou a autoria de um crime sob tortura. Com as prisões,
justas ou injustas, diminui a pressão sobre as autoridades policiais e, por isso, funcionam como estímulo
vicioso de violência e injustiça.
IV – Afirmativa incorreta.
Justificativa: o texto afirma que delitos relativamente menos violentos não deveriam ser punidos
com encarceramento.
V – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a tortura não se justifica em nenhuma hipótese, ou seja, nem quando o suspeito é
culpado e nem quando é inocente.
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Unidade II
Questão 2.
No caso da Saúde Pública brasileira, as charges se dirigem, em especial, à situação de desamparo que
o usuário dos serviços públicos de saúde experimenta por conta da demora de atendimento ou da falta
de condições para prestar bons serviços. Demora que nem sempre acontece, mas que parece ocorrer
com frequência.” (GEREMIAS, 2015).
A Constituição Brasileira de 1988 determina em seu artigo 6° que a saúde é um dos direitos
sociais do cidadão e, no artigo 196 (BRASIL, 1988), que “A saúde é um direito de todos e um dever
do Estado [...]”.
A realidade é que apesar da previsão constitucional, a saúde pública no Brasil continua sendo um
direito precariamente prestado e, em algumas situações, até negado para muitos cidadãos em flagrante
desrespeito aos direitos humanos.
76
DIREITOS HUMANOS
A situação de atendimento precário da saúde pública em boa parte do Brasil na atualidade decorre:
B) da utilização dos recursos econômicos para custear equipamentos de alto custo que não atendem
a toda a população.
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REFERÊNCIAS
Textuais
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Terra, 1992.
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