Vous êtes sur la page 1sur 5

RACIONALISMO EDUCACIONAL NO FILME "PRO DIA NASCER FELIZ", DE

JOÃO JARDIM

- Contexto Histórico

A palavra racionalismo, tendo como etimologia a raiz latina ratio, rationis,


apresenta vários significados, dentre os quais destacaremos dois, i.e., "razão,
medida". (REZENDE; BIANCHET, 2005, p. 329). O conhecimento, que desde o
século XII, na Idade Média, se dava através da interpretação dos ensinamentos
religiosos na figura de padres, bispos e autoridades eclesiásticas, sofre um revés no
século XVII com o movimento chamado Renascimento. Neste específico momento
histórico, há um grande questionamento da Igreja Católica e da sua leitura do mundo
por fenômenos teológicos. Figuras como Martinho Lutero e Ítalo Calvino surgem
para questionar os dogmas e crenças transmitidos pelo Vaticano por meio da bíblia
e a desenfreada corrupção no centro de seu poder.

Porém, duas figuras se destacam neste questionamento: Galileu Galilei e


René Descartes. Até então, a teoria do geocentrismo pregava que a Terra girava em
torno do Sol e que esta era o centro do universo. Galileu demonstra, usando
métodos matemáticos e astrológicos, que tudo não passava de uma perspectiva de
referência e ponto de vista e que era, na verdade, o Sol que girava em torno da
Terra, na famosa teoria heliocêntrica. Julgado e para não ser morto pela Inquisição,
Galileu renuncia ao seu entendimento, mas alguns dizem que teria afirmado
baixinho: "Mas que gira, gira."

René Descartes talvez tenha representado com maior veemência o


deslocamento do poder religioso para o poder na figura do homem. Com o seu livro
filosófico "O Discurso do Método", que trata sobre uma metodologia e forma de se
traçar um caminho na investigação filosófica e pesquisas específicas de objetos, na
sua famosa frase na quarta parte deste mesmo livro:

E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e
tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos
não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem
escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava."
(DESCARTES, 1987, p. 46)

o homem, ser humano, sujeito racional, intelectual e iluminista, constrói o


conhecimento e o mundo sem inspiração divina, mas sim dele mesmo e da
pressuposição de que como pensa, este ser existe e está inserido no plano terreno e
cósmico e que é capaz, de maneira racionalista, compreender e interpretar
intelectualmente todos os fenômenos que presencia e vê. Dessa forma, o
conhecimento se dá a priori e critica o empirismo, visto que neste, através de
experiências e dos sentidos, aquele se dá a posteriori, também se opondo ao
interacionismo, já que a figura do mestre ou educador não é necessária para a
aprendizagem, pois o sujeito é dono de seu próprio saber.
- RACIONALISMO EDUCACIONAL

Na concepção racionalista de educação, que tem suas raízes no racionalismo


filosófico e precursores como M. Wertheimer, Kohler e Koffka, o sujeito já apresenta
uma condição inata, biológica e maturativa para a construção do conhecimento. A
biologia (a composição do sistema nervoso, genético e hereditário do indivíduo)
basta para explicar seu desenvolvimento intelectual, ou seja, a aprendizagem já se
encontra dentro dele que, através da maturação de suas estruturas orgânicas,
alcança o conhecimento sozinho e por conta própria.

Princípio do racionalismo, a teoria da Gestalt, palavra em alemão que quer


dizer forma, padrão, mostra que diferentes formas e imagens podem ser vistas de
vários ângulos e maneiras e tudo dependerá de como será feita a leitura pelo
observador de determinada cor, traçado, linhas etc. No geral, esta teoria prega que
cada elemento tem uma correspondência e ligação com a totalidade das formas, e
não com cada parte. A mesma associação deve ser feita com o conhecimento, que é
visto como a reunião de todas as aprendizagens de um sujeito dentro dele. Cada ser
humano enxerga um determinado fenômeno de maneira diferente e tudo depende
do conhecimento agregado dentro de cada um.

O insight, ou a chamada descoberta, é outro termo bastante usado na teoria


racionalista da educação. O sujeito, através de pistas sugeridas pelo professor,
facilitador do processo ensino-aprendizagem, é capaz de alcançar o pleno
conhecimento, que depende somente dele e de mais ninguém. Na famosa frase em
grego Eureka, Eureka (Eu descobri), dita pelo filósofo Arquimedes quando
solucionou como descobrir se a coroa de ouro do rei Histrião era verdadeira ou falsa
pela diferença no volume e densidade da água, ele teve um flash de perspicácia e
inteligência enquanto estava tomando banho. O insight pode ocorrer a qualquer
momento e a qualquer hora.

Na área educacional, o racionalismo se aplica, por exemplo, nas divisões


existentes das classes quando da separação entre os alunos mais inteligentes e os
menos inteligentes ou entre os mais bem comportados e os chamados “levados”
(turmas homogêneas); nas listas de notas afixadas nas salas para mostrar quem se
sobressaiu e quem obteve uma pontuação abaixo da média ou mesmo nos boletins
e retenção, quando através de um conceito quantitativo, a escola afere e atesta que
determinado aluno não está pronto para aprender e avançar de série.

As principais características do racionalismo educacional e da teoria da


Gestalt podem ser elencadas abaixo, de acordo com Oliveira, Costa e Moreira
(2001):
•o conhecimento depende da prontidão do sujeito. Apela-se neste
caso para o determinismo e o fatalismo orgânicos como únicas
explicações para as possibilidades de conhecimento do aluno. A
aprendizagem caminha então sempre a reboque do desenvolvimento,
numa relação de total dependência;
• a motivação e o erro são também explicados no plano da
maturação, já que é a maturação que define as possibilidades de
significação e reconhecimento das experiências. Nesse caso, a
objetividade dos estímulos pretendida pelos behavioristas cede lugar
à subjetividade do sujeito;
• já que no plano maturacional existe uma seqüência de
desenvolvimento prevista, o planejamento do ensino deve levar em
conta essa seqüência de modo que o processo pedagógico possa ser
ajustado à fase em que o aluno se encontra. Resulta daí a
importância de classes homogêneas para o ensino;
• como não é possível alterar a natureza orgânica do
desenvolvimento e como o aluno só aprende movido por seus
processos internos, cabe ao professor apenas a facilitação da
aprendizagem, sendo esta explicada pela presença de insight. Fica
então evidente a razão pela qual nesta abordagem se classifica do
professor como um mero facilitador da aprendizagem que cria
oportunidades para que o aluno, em função de seus processos
maturacionais, possa chegar às suas próprias descobertas;
• a relação entre os pares não é reconhecida como favorecedora da
aprendizagem, uma vez que, de acordo com a concepção
racionalista, cada estudante tem o seu próprio ritmo de
desenvolvimento e por conseguinte de aprendizagem;
• redução da inteligência à capacidade de percepção e assim à
maturação do sistema nervoso. Fatores ambientais em nada
contribuem para o desenvolvimento do indivíduo;
• embora os conhecimentos prévios não sejam negados, eles não
influenciam o insight, porquanto este último exprime uma atividade
cognitiva movida pela prontidão atual do aluno;
• restrição do conhecimento à organização e reorganização do campo
perceptual, já o insight, como foi comentado anteriormente, não é
entendido como sendo influenciado pela experiência anterior do
sujeito. Na ótica destes autores esta concepção de insight aplicada ao
homem se constitui em um grande equívoco pois o processo de
cognição humana é inegavelmente favorecido e influenciado pelas
experiências internalizadas ao longo da vida. Basta comparar a título
de exemplo as possíveis avaliações feitas por um corretor da bolsa de
valores de uma grande metrópole, como a de São Paulo, relativas à
compra ou venda de ações com o desempenho de um matuto que por
ventura fosse convidado a opinar sobre esta transação comercial.
Será que a provável diferença de percepção entre estes dois tipos de
indivíduos poderia ser atribuída simplesmente a uma maior
maturação do sistema nervoso? Ou o corretor por sua vivência
naquele contexto teria mais chances de apresentar insights mais
estruturados? (p. 20-21).
- CONCEPÇÃO RACIONALISTA NO FILME “PRO DIA NASCER FELIZ”

O filme “Pro dia nascer feliz”, produzido e dirigido, em 2006, pelo cineasta e
diretor João Jardim, mostra a dura realidade e contradições de nosso sistema
educacional entre as chamadas escolas de elite e de periferia, escutando as vozes
de alunos, diretores, pais e professores no processo de aprendizagem dentro das
salas de aula. A menina Vanessa, por exemplo, apesar de todas as adversidades
em freqüentar a escola e de ter poucas aulas, é uma poetisa que nasceu com o dom
de declamar e escrever poemas baseados na sua história de vida no sertão
pernambucano, superando por conta própria todos os obstáculos de sua difícil rotina
escolar para pegar ônibus e o constante absenteísmo de seus professores.

Outro momento do documentário e que é cercado por uma certa tensão e


conflito entre as professoras se dá quando o conselho de classe acontece e o
assunto discutido é se o jovem Deividson deve ser retido ou aprovado por causa de
uma média ruim na disciplina de história. Aqui, mais uma vez, vemos uma
dificuldade em classificar os alunos por série e se determinado indivíduo está
preparado para avançar em seu conhecimento ou se deve repetir a mesma série e
passar pelo mesmo processo de aprendizagem durante um ano inteiro. Na escola de
elite, localizada em São Paulo, da jovem Clara, a história não é diferente.
Alcançando notas insatisfatórias para progredir e avançar para o segundo ano do
ensino médio, ela é submetida a uma verdadeira maratona de provas de
recuperação, o que causa uma forte pressão e desânimo na menina. Mais uma vez,
esses dois exemplos mostram claramente o fracasso escolar na transmissão de
conhecimento e a incapacidade de se avaliar o que seus alunos aprenderam.

O jovem Paulo, estudante de uma escola do Rio de Janeiro, toca em um


assunto delicadíssimo quando questiona o sistema de cotas implementado para o
acesso ao ensino superior em universidades públicas federais. Novamente, vemos
uma grande dificuldade na classificação desses estudantes chamados cotistas e
representando as minorias. “Ora”, questiona o aluno, “se todos são iguais e
merecem as mesmas oportunidades na vida, por que existir uma separação na lista
de aprovados ao vestibular?” Tema polêmico que é tratado muito bem no filme. Até
hoje, temos discussões e batalhas jurídicas sobre o sistema de cotas feito nas
universidades e concursos públicos, com denúncias de fraudes na autodeclaração
de pessoas negras e pardas. Inclusive, o presidente Michel Temer, através de um
decreto, instituiu uma comissão formada por três membros para verificar
pessoalmente se uma pessoa é negra/parda para tentar coibir os abusos cometidos
por pessoas que se aproveitam da situação. A classificação das pessoas tem base
racionalista e uma tremenda dificuldade de implementação no mundo prático.
- BIBLIOGRAFIA:

CARDOSO, Romi Leffa; CHERUTI, Luciana Josélia Côrrea; PONTE, Márcia


Kleemann de. Pro dia nascer feliz: Análise do documentário. Revista de Educação,
Ciência e Cultura | v. 17 | n. 2 | jul./dez. 2012. Disponível em:
<https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Educacao/article/view/629/706>. Acesso:
25 mar. 2018.

DESCARTES, René, 1596-1650. Discurso do método; As paixões da alma / René


Descartes; introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gérard Lebrun;
tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. - 4. ed. - São Paulo: Nova Cultural,
1987 - (Os pensadores).

OLIVEIRA, Celina Couto de; COSTA, José Wilson da; MOREIRA, Mércia. Ambientes
informatizados de aprendizagem: produção e avaliação de software
educativo. Campinas: Papirus, 2001. 144p.

REZENDE, Antonio Martinez de; BIANCHET, Sandra M. G. Braga. Dicionário do


Latim Essencial, Belo Horizonte: Crisálida / Tessitura, 2005.

Vous aimerez peut-être aussi