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BANCA EXAMINADORA:
PROFESSOR ORIENTADOR:
PROFESSOR EXAMINADOR:
GENILDO SANTANA
AFOGADOS DA INGAZEIRA – PE
2018
DEDICATÓRIA
A minha Família que deu-me as mãos e
que sempre esteve pronta para me
ajudar no enfrentamento deste desafio,
incentivando-me para que superasse
todos os obstáculos enfrentados nesta
jornada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado força e saúde durante mas esse percurso de
minha vida.
Aos meus familiares que me apoiaram durante toda trajetória.
Ao meu grande amigo Ednaldo Gomes Queiroz, que me incentivou muito durante a
minha trajetória.
Aos professores e colegas do curso, pelo companheirismo nessa jornada, em
especial ao coordenador do curso: José Rogério de Oliveira e o meu arguidor:
Genildo Santana Firmino.
A Professora orientadora Juliana Ferreira da Silva e Edmundo Cunha Monte
Bezerra, pelas orientações metodológicas para a realização da pesquisa e na
elaboração deste trabalho de conclusão do curso.
E a todos os funcionários da FASP que contribuíram e incentivaram-me na
realização de mais uma etapa.
"Só engrandeceremos nosso direito à vida,
cumprindo o nosso dever de cidadão do
mundo."
Mahatma Gandhi
RESUMO
A mulher desde muito tempo não fora criada para lutar e nem para participar da
política e sim fora educada para servir ao lar, ao marido, aos filhos. O patriarca
detém o controle sobre escravos, familiares, os filhos e seus descendentes, seu
cônjuge, entre outros elementos que se abrigam em sua propriedade agrária. A
casa-grande atua como um símbolo que agrega a todos, pois manifesta o potencial
de acolher os membros que compõem esta comunidade o que facilitou o convívio
com o outro, com o diferente, com o indígena, branco e negro na época do Brasil
colônia e eis os motivos da permanência do português europeu no Brasil. Mas o fato
é que muitas mulheres fizeram parte de organizações e guerrilhas que batalhavam
em busca de seus ideais, apesar de sua educação ser a favor delas ficarem em seu
lares cuidando de suas famílias.
Segundo a socióloga Heleieth Saffioti 1, o Estado brasileiro e seus aparelhos de
repressão viam as mulheres como tolas, bobas, incapazes de se incorporar à luta
política naquele momento. Isso serviu para que elas atuassem na cena política com
mais facilidade e com certeza não foi fazendo café ou varrendo chão.
Mas se essas mulheres foram tão atuantes nesse cenário tão quase que
exclusivamente masculino qual o motivo de quase não encontrarmos material
historiográfico que exalte sua grandiosa participação nesse período tenebroso que
foi o do Regime Militar no Brasil?
Nesse sentido, buscamos com esse trabalho lidar com alguns temas
instigantes e importantes para a construção da memória social, como geração e
gênero, refletindo sobre um conjunto de fatores que se revelaram muito significativos
para a avaliação das motivações que levaram à participação política e seus reflexos
na vida conjugal, na maternidade e na participação política e social dessas
grandiosas e corajosas mulheres.
I CAPITULO
1
A autora retrata esta discussão no documentário “Um X na questão”, produzido pela socióloga Heleieth Saffioti
Como ponto de partida pretende-se contextualizar brevemente os anos 1970
no Brasil, O Regime Militar, instaurado em 1964, estendeu-se por vinte e uns anos,
nos quais a presidência da República foi ocupada, sucessivamente, por cinco
generais-presidentes do Exército que governaram sobre as prerrogativas jurídicas
estabelecidas pelos Atos Institucionais (AI’s).
A sucessão de governo foi marcada por Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco², que permanece no poder de 1964 até março de 1967. O Supremo
Comando Revolucionário, decretou através do ato Institucional nº 1 a escolha de um
novo presidente para o Congresso Nacional, que deveria governar até 31 de janeiro
de 1966. Chefe do Estado-Maior do Exército, teve seu mandato prorrogado até 15
de março de 1967. O Ato Institucional nº 1 permitia também a suspensão dos direitos
políticos de qualquer cidadão durante dez anos e a cassação de mandatos
parlamentares.
Castelo Branco pregava o respeito à Constituição de 1964. No entanto, durante
o seu governo, foram criados vários instrumentos de controle, como o Serviço
Nacional de Informações (SNI) -- órgão de inteligência ligado às Forças Armadas -- e
uma lei de greve que, na prática, impedia a realização de greves de qualquer
natureza.
Outros atos institucionais estabeleceram eleições indiretas para o governo
estadual, que por seu turno nomeava os prefeitos das capitais. Milhares de pessoas
ligadas ao governo deposto foram punidas, centenas de sindicatos sofreram
intervenções. Todos os partidos políticos existentes foram extintos; em seu lugar, o
governo criou dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que reunia os
partidários do novo regime; e o Movimento Democrático Brasileiro (MBD), única
oposição permitida pelos militares.
Em seguida, assume o Marechal Arthur da Costa e Silva, de março de 1967 até
agosto de 1967. General Emílio Garrastazu Médici², nasceu em 4 de dezembro de
1905, na cidade de Bagé, Rio Grande do Sul estudou no Colégio Militar de Porto
Alegre. Formou-se oficial na Escola Militar de Realengo (1924-1927). Seu pai era um
rico fazendeiro descendente de italianos e sua mãe era uruguaia de origem basca.
Foi a favor da Revolução de 30 e contra a posse de João Goulart em 1961.
Posteriormente foi nomeado adido militar nos Estados Unidos e, em 1967, sucedeu
a Golbery do Couto e Silva na chefia do Serviço Nacional de Informações (SNI). No
SNI, permaneceu por dois anos e apoiou o AI-5 em 1968. Em 1969 foi nomeado
comandante do III Exército, com sede em Porto Alegre.
Com o afastamento definitivo do presidente Costa e Silva, assumiu a
presidência da república uma junta militar por um período de um mês, a qual fez
uma consulta a todos os generais do exército brasileiro, que escolheram Médici
como novo presidente da república. Novembro de 1969 a março de 1974, general
Ernesto Geisel², de março de 1974 a março de 1979; nasceu em Bento Gonçalves,
no Rio Grande do Sul, em 3 de agosto de 1907. Filho de alemães, estudou no
Colégio Militar de Porto Alegre, onde se formou em 1924 como primeiro aluno da
turma. Seguiu a carreira militar e participou de movimentos políticos, como a
Revolução de 1930, a qual apoiava. Em 1932, lutou contra a Revolução
Constitucionalista de São Paulo.
Teve que enfrentar dificuldades econômicas e políticas que anunciavam o fim
do "Milagre Econômico" e ameaçavam o Regime Militar, além dos problemas
herdados de outras gestões, já no final de 1973, a dívida externa contraída para
financiar as obras faraônicas do governo ultrapassava os 10 bilhões de dólares. O
governo começou sua ação democratizante diminuindo a severa ação de censura
sobre os meios de comunicação. Depois garantiu a realização de eleições livres
para senadores, deputados e vereadores em 1974.
O Governo de Ernesto Geisel foi marcado pela necessidade de se administrar
o avanço das oposições legais frente os sinais de crise da ditadura, buscava
conciliar a retomada do crescimento econômico com a contenção da onda
inflacionária. Dando prioridade ao desenvolvimento de bens de capital.
Por último, João Baptista de Oliveira Figueiredo², de março de 1979 a março de
1985. O governo de João Batista Figueiredo marcou a posse do cargo de presidente
brasileiro como de um militar pela última vez. Em seu mandato a abertura política se
intensificou e as manifestações populares conseguiram pressionar o governo em
sentido ao fim da ditadura. Além disso, uma grave crise econômica marcou os anos
de João Figueiredo no poder.
O Regime Militar controlou a expressão artística e cultura, o regime militar foi
instaurado pelo golpe de Estado em 31 de março de 1964. Durou até a abertura
política em 1985, junto com o regime também termina o governo de Figueiredo, foi
nesse governo que os militares perderam sua força e sofreram um grande desgaste
político, e mesmo estando em baixa, os militares ainda tentaram desestabilizar o
governo e amedrontar a sociedade. Foi um tempo caracterizado pela falta de
democracia, anulação dos direitos constitucionais, perseguição policial e militar,
prisão e tortura de quem era contra o sistema e uma censura prévia aos meios de
comunicação.
Como não é muito difícil de imaginar, a grande maioria da população acreditava
que tudo estava ocorrendo de maneira adequada, que não havia problemas
maiores, pois mesmo com todas as adversidades, o período do regime militar
também nos trouxe progresso, principalmente ao que tange à industrialização, e
aproveitando-se disso os governos autoritários passavam a ideia de que só havia
um inimigo a ser combatido, e esse inimigo era o comunismo e todos aqueles que
iam contra o regime vigente.
Naquela época, as pessoas que estavam lutando por seus direitos, pela sua
liberdade, eram vistas como “foras da lei”, como delinquentes. Segundo Foucault
(1977, p.153), Cabe destacar que é um período que a população em sua maioria
permaneceu adestrada, obediente, vigiada e por que não dizer, disciplinada por
mecanismos hierarquizados do Estado. O exercício da disciplina supõe um
dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar: um aparelho onde as técnicas que
permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção
tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam.
Após a tomada de poder pelos militares em 1964, houve uma necessidade de
criar órgãos de informações a fim de se obter total controle sobre a sociedade.
Desse modo, a censura estava a cargo do Departamento de Censura e Diversões
Públicas do Departamento de Polícia Federal, órgão ligado ao ministério da Justiça².
Além disso, estabeleceu-se a necessidade de uma licença emitida pelo chefe de
polícia com base nas informações de empresário ou diretor do espetáculo. Na
dúvida proibia ou “solicitava” ao autor, cortes considerados subversivos e
comprometedores à ação do Estado. Um aspecto importante que caracteriza esse
período é a repressão política aos dirigentes e lideranças legalizadas, tais como,
políticos, sindicalistas, professores, estudantes, padres que foram cassados,
torturados, submetidos a processos jurídicos, exilados e até mesmo mortos.
Fora isso, regularizou-se a função do censor, nomeado pelo ministro da Justiça
e Negócios Interiores após proposta do chefe de Polícia na condição de cargo de
confiança.
Já no período do governo de Getúlio Vargas, a censura foi organizada de
maneira uniforme e federativa através do Decreto n° 21.240 de 4 de abril de 1932.
Em 1934, com o novo regulamento da Polícia Civil do Distrito Federal, foi criada a
Censura Federal, subordinada à Diretoria Geral de Publicidade, Comunicações e
Transporte. Porém, à Inspetoria Geral da Polícia (IGP) ficava a responsabilidade da
censura policial, enquanto para a Censura Federal ficava a censura política e moral.
O Serviço Nacional de Informação (SNI) e os diversos centros de inteligência das
Forças Armadas interferiam nas ações e decisões da censura. O SNI ainda contava
com o auxílio das Divisões de segurança internas (DSIs), as Assessorias de
Segurança e Informações (ASIs), Centro de Informação do Exército (CIE), Centro de
Informações de Defesa Interna (CODIs), Destacamentos de Operações e
Informações (DOIs).
O método de tortura, as prisões e os numerosos exílios não foram inaugurados
com o regime instaurado em 1964. Para tanto, cabe ressaltar que tais métodos já se
faziam presentes durante o governo de Getúlio Vargas, sobretudo, em 1937, período
conhecido por Estado Novo. Em 1969, é criada a Operação Bandeirantes (OBAN),
formada inicialmente por um grupo de aproximadamente oitenta pessoas
pertencentes ao Exército, Marinha e Aeronáutica, sendo, portanto, ligadas ao
governo oficial. A OBAN² consistia numa equipe especializada em tortura para
liquidar os grupos guerrilheiros e para atuar contra qualquer um que fosse
considerado suspeito.
Em 1965, foram realizadas eleições para os governos estaduais. As oposições
ao Regime Militar conseguiram significativas vitórias. O governo federal decidiu
tomar novas medidas repressoras. Decretou o Ato Institucional n° 2 (AI2) que
conferia mais poderes para o presidente cassar mandatos e direitos políticos,
extinguia todos os partidos políticos existentes e criava apenas dois: A Aliança
Libertadora Nacional (ARENA) partido de apoio, e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB). É desse Ato, que também fora criada a Lei de Segurança Nacional,
que enquadrava como inimigos da pátria aqueles que se opunham ao Regime.
Após o AI-2 foi decretado o AI-3, que estabelecia o fim das eleições diretas
para governadores e prefeitos das capitais. Ainda em 1967 foi colocado em ação do
Ato Institucional n°4 (AI-4) permitindo o governo gozar de poderes para elaborar
uma nova Constituição.
Durante o governo do Marechal Arthur da Costa e Silva², foi um militar e político
brasileiro, o segundo presidente do regime militar instaurado pelo Golpe Militar de
1964. Tomou posse no dia 15 de março de 1967. O período de seu governo foi
marcado por forte agitação política, com importantes movimentos populares e
políticos de oposição, como a Frente Ampla, liderada por Carlos Lacerda e apoiada
por Juscelino Kubitschek e João Goulart. Este movimento tinha como proposta a
redemocratização, anistia, eleições diretas para presidente e uma nova constituinte.
Cresceram no país manifestações contra o Regime Militar. Apesar da repressão
policial, estudantes saíram às ruas em passeatas, operárias organizaram greves
contra o arrocho salarial, políticos discursavam atacando a violência do regime
político instaurado, padres progressistas pregavam contra a fome do povo e a
tortura, que passou a ser praticada pelos órgãos de segurança contra os adversários
da ditadura.
Diante das pressões da sociedade em favor da democracia, o governo militar
presidido por Costa e Silva² reagiu e decretou em 1968 o Ato Institucional n° 5 (AI-5).
A partir desse momento, era conferido ao presidente da República poderes totais
para reprimir e perseguir as oposições. Ele podia fechar o Congresso Nacional, as
assembleias legislativas e as câmaras de vereadores, legislar em todas as
instâncias, intervir nos estados e municípios, suspender direitos políticos de
qualquer cidadão num prazo de dez dias e cassar mandatos federais, estaduais e
municipais, restringir as liberdades individuais e suspender a garantia do habeas-
corpus.
Suspendendo o habeas corpus, foi decretado o Código Penal Criminal Militar,
Código de processo Penal Militar, Lei da Organização Judiciária Militar, redefinindo
nessa ordem, os crimes contra a segurança nacional e atribuindo à Justiça Militar, o
julgamento de todos os crimes a ela relacionados, entre os quais, o assalto a banco,
prática realizada pelos opositores, que, segundo eles mesmos, tinha a finalidade de
financiar a luta contra o regime. Com o governo de Castelo Branco iniciou-se um
período de intensa repressão aos líderes políticos considerados, pelos militares,
inimigos da nova ordem imposta ao país.
O governo general Emílio Garrastazu Médici exerceu forte repressão contra a
sociedade. Os direitos fundamentais do cidadão estavam suspensos, e qualquer um
podia ser preso se fosse de vontade do governo. Nas escolas, nas fábricas, na
imprensa, nos teatros, a sociedade brasileira sentia os efeitos do sistema.
Durante esse período o Brasil recebeu apoio dos Estados Unidos da América e
das empresas multinacionais. Nesse contexto, vale destacar o período conhecido
como “milagre brasileiro”2, a qual fez crescer a economia e o aumento industrial
juntamente com o aumento das exportações. No final dos anos de 1980, o Regime e
toda a propaganda idealizada por ele entrará em colapso, mas nossa intenção não
será detalhar as causas estruturais dessa conjuntura, cabe-nos lembrar, somente,
que o regime adotado sofrerá abalo diante da desestabilização da economia, crise
da sociedade civil e as contribuições que diversas pessoas darão para o fim do
mesmo, dando ênfase para a participação feminina que foi muito importante para o
fim do mesmo.
O discurso da ditadura militar, que se apresenta como discurso oficial tenta
“moralizar” o país através de suas regras, não apenas econômicas e políticas, mas
também a do comportamento do cidadão brasileiro, já dizia Ana Maria Colling
(2010).
Como resistência a esse poder aparece às organizações de esquerda, que irão
conviver dramaticamente com a ditadura militar. Os grupos em separado, com sua
história, formação, período de vivência e dissidência. Grupos esses que irão batalhar
ferozmente contra o regime imposto pelos militares, compostos por homens em sua
maioria, mas também por fortes mulheres que colaboraram para um país mais justo
e livre.
Segundo ABREL (1997), a juventude revolucionária era formada por um
conjunto de pessoas com idades que variavam entre 14 e 24 anos (final dos anos 60
e início dos anos 70), que compartilharam e viveram a mesma conjuntura histórica e
o mesmo projeto: através da luta armada, derrubar o regime militar. O que fica claro,
conforme aponta Abreu, é que junto com o projeto de derrubar o regime também
estava o de revolucionar os costumes, os valores e as relações sociais e afetivas,
2
“O milagre brasileiro foi
que deveriam ser mais igualitárias. Tais propostas eram partilhadas também com
militantes que não participaram da luta armada.
A participação feminina nas organizações de militância política pode ser
tomada como um indicador das rupturas iniciais que estavam ocorrendo nos papéis
tradicionais de gênero. Abreu (1997) aponta que a condição inicial da ruptura dos
modelos tradicionais de gênero não se dava em função da participação minoritária
das mulheres, mas principalmente pela indicação de uma participação diferenciada:
elas raramente ocuparam lugares de comandos nas organizações.
Ana Maria Colling (2010) nos provoca, que a história é feita por homens e
mulheres a cada instante, no cotidiano de suas vidas e no palco político por eles
montado. Muitas dessas vivências ou atuações políticas perdem-se para sempre
acumulando-se aos silêncios, historicamente constituídos, porque a história tem sido
parcial, silenciando ou escondendo sujeitos.
Como não podia ser diferente, mais uma vez o fato de ser do sexo feminino,
propiciou às mulheres uma gama de torturas mais constrangedoras ainda do que as
infringidas aos militantes do sexo masculino. A autora Susel de Oliveira da Rosa
(2012) relata que as mulheres que participaram na militância contra o regime militar
continuaram lutando nas décadas da pós-ditadura. Essas militantes coordenam
projetos sociais, fazem parte de comissões que lutam pela abertura dos arquivos da
repressão. Isso mais uma vez vem demonstrar a força e a coragem da mulher.
Mas essas mesmas mulheres que ainda hoje lutam pela revelação da verdade
foram alvos de severas torturas. Essas militantes foram mulheres que romperam
com os códigos e estereótipos de sua época, pagando um preço muito alto por isso.
Quando falamos de mulheres militantes estamos falando de mulheres exiladas,
perseguidas, presas, torturadas, assassinadas.
II CAPITULO
Perceber que a mulher desde sempre fora vista como ser inferior, submissa à
vontade do homem. Sevcenko (2010) continua relatando que com a publicação da
Revista Feminina, o autor Claudio de Souza, que usava o pseudônimo de Ana Rita
Malheiros, responsabilizou o homem moderno pelo avanço do feminismo, pois ele
era incapaz de prover o sustento do lar e em virtude disso a mulher tinha de
trabalhar fora, quando na verdade, ela preferia, segundo ele, continuar tranquila no
seu canto de sombra.
Descrevia a mulher como uma pessoa que estava se afirmando concretamente
sua independência. Pois a mulher desde sempre fora criada para o casamento. Seu
destino era a subordinação ao homem. Como já dizia Beauvoir (2012): “Ninguém
nasce mulher, torna-se mulher, e é através dos olhos, das mãos e não das partes
sexuais que aprendem o universo.” Expõe que tanto o menino quanto a menina são
iguais e tem as mesmas sensações específicas da fase denominada infância que vai
até três ou quatro anos.
III CAPITULO
A instituição da família foi usada como um dos carros chefes do período. Junto
com a igreja, elas foram mobilizadas com o intuito de se criar um ambiente propício
a Ditadura Civil-Militar. Apenas a família poderia salvar o Brasil do comunismo. Vê-
se a importância disso nas marchas da família que ocorreram pouco tempo antes do
golpe.
O avanço comunista era alardeado como o destruidor desta instituição e por
isso deveria ser combatido. Mas que família era está? Uma família claramente
determinada, ligada à religião e com predominância do homem na relação. Esta
família deveria trazer papéis consolidados de homem e mulher. Papéis estes há
muito presentes em nossa sociedade e que iriam ser cada vez mais estimulados.
Mesmo com as mudanças ocorridas nas últimas décadas daquele período, com a
incursão cada vez mais ativa da mulher no mercado de trabalho e a sexualidade
mais explorada, a moral familiar continuava rígida. Sarti (1998) fala um pouco
dessas mudanças:
Entretanto, até hoje se luta por uma igualdade efetiva de direitos entre os
sexos. Podemos ver sequelas desta moral familiar em nossa sociedade, no que se
refere as diferentes formas de tratamento de gêneros. A questão da sexualidade, por
exemplo, continua sendo tratada de forma diferente para homens e mulheres. Em
1971, data das publicações analisadas, essas diferenças de tratamento eram vistas
e defendidas como comuns: É você a mulher com que ele sonha? Para ser a mulher
com a qual ele sonha, é preciso entender-se alguma coisa sobre a alma do homem.
A mulher era vista como a principal mantenedora da instituição familiar, seja
pela sua condição de mãe, seja pelo seu “espírito doador”, que faria de tudo para
manter o casamento a salvo. Características como “generosidade” e “sacrifício”
eram entendidas por muitos como naturais do sexo feminino.
A mídia reforçava esta visão, impondo a ela uma série de regras e passos a
serem seguidos para que ela cumprisse efetivamente com este papel, conforme
exemplificado abaixo. Esses comportamentos que discutem papéis ideais vão ao
encontro das ideias de Torres (2010):
O estereótipo de uma mulher liberada, piranha, galinha, em detrimento da
mulher direita, estabelece-se na mesma contraposição entre bem e mal,
estabelecido entre o capitalismo, cristão e ocidental e o comunismo, ateu e oriental.
Com comportamentos certos, direitos, para as mulheres, em detrimento de posturas
erradas, liberadas. Para os comportamentos certos, o respeito da sociedade. A
mulher que saísse dessa moral, que fosse liberal e apresentasse desejos contrários
a ela receberia o preconceito e a exclusão social. No período, essas características
progressistas no que diz respeito ao comportamento da mulher eram intimamente
associadas com as ideias comunistas.
A seção “Amor e Casamento” da revista “Rainha” periódico religioso da cidade
de Santa Maria no período da Ditadura Civil-militar servia como legitimador desta,
através da consolidação do modelo de família e indivíduo padrão para a época, com
foco nas mulheres. Discutia temas ligados à família e aos relacionamentos
amorosos. Nela, vemos claramente esses modelos de mulher e marido ideais. A
reportagem publicada na no mês de março, intitulada “As ilusões que vêm e vão”,
discute justamente esses ideais. Analisaremos mais a fundo como se dá essa
construção. Usando uma história com três personagens como pano de fundo, tenta-
se mostrar de que forma a mulher se tornaria a parceira desejada para o homem.
Nela, critica-se a “mulher lamuriante”, que fala demasiadamente sobre seus
problemas para o parceiro.
A mulher ideal é aquela que esquece seus problemas e se importa em alegrar
o homem, deixando de lado seus próprios sentimentos. Mesmo advertindo que não
deve haver subjugação na relação, a moral da pequena história inicial ensina que a
mulher que não sabe deixar seus problemas no trabalho não conseguirá ter um bom
relacionamento. Mais uma vez se reforça a visão da mulher como uma criatura dócil,
pacífica e que deve se esmerar unicamente para ajudar o homem e esquecer aquilo
que lhe aflige.
Os casais são advertidos que esses problemas podem vir de ambos os sexos,
entretanto, para alguns deles há uma parcela bem maior de culpa imposta ao sexo
feminino, principalmente o relacionado ao dinheiro, por elas serem muito
esbanjadoras, segundo a publicação, e as “más línguas”. Usando o discurso de uma
“criminalista belga” não nomeada pela revista explica-se o porquê do mal das “más
línguas” ser mais desastroso nas mulheres:
Para a reportagem, fica claro o papel que deve ser assumido pela mulher na
relação, a de conselheira do marido sem, no entanto, tirar a supremacia do mesmo
acerca das decisões dentro da família. A importância de se analisar essas relações
de poder entre homens e mulheres é muito bem sintetizado por Colling (2010):
3.2 Trabalho
A História Sindical no Brasil teve sua origem no século XIX, com o trabalho livre
e assalariado e o fim da escravidão no País e está diretamente relacionado às
mudanças na economia da época, passando de agrário-exportadora para uma
economia industrializante, e a redução de postos de trabalho e excesso de mão-de-
obra, gerando, portanto o desemprego.
No início do século XX, a grande maioria dos trabalhadores era explorada sem
qualquer direito ou proteção legal, surgindo daí a necessidade de uma
representação legítima contra tantos abusos. Eram comuns as jornadas de trabalho
de 14, 16 horas, baixos salários e exploração de crianças e mulheres. A sociedade
brasileira estava atrasada em relação aos seus direitos trabalhistas, o que fez com
que os trabalhadores se organizassem, formando o que viriam a serem os primeiros
sindicatos brasileiros.
As primeiras normas trabalhistas surgem no País a partir da última década do
século XX, com a regulamentação do trabalho de menores dos 12 aos 18 anos.
Logo após, em 1912, foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT), que
tinha por finalidade reunir as reivindicações operárias, como: jornada de trabalho de
oito horas, fixação do salário mínimo, indenização para acidentes de trabalho, dentre
outros.
A política trabalhista brasileira começa a tomar forma após a Revolução de 30,
quando Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A
Constituição de 1934, a primeira a tratar dos Direitos do Trabalho no Brasil,
assegurou a liberdade sindical, salário mínimo, repouso semanal, jornada de oito
horas, proteção do trabalho feminino e infantil, isonomia salarial e férias anuais
remuneradas.
A criação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em 1943, surgiu da
necessidade de reunir as normas trabalhistas em um único código.
Durante o golpe militar de 64, a classe operária sofreu duros golpes entre proibições,
cassações, prisões, torturas e assassinatos, o que se estendeu durante anos. Em
1970, há o surgimento de um novo sindicalismo que luta contra o regime militar.
Após o fim da ditadura, em 1985, os trabalhadores tiveram suas conquistas
restabelecidas. Na Constituição de 1988, através da Lei n° 7.783/89, é restabelecido
o direito a greve e a livre associação sindical e profissional. Em 1984, foi realizado,
em São Bernardo do Campo o 1° Congresso Nacional da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), com a participação de vários representantes de entidades
sindicais. Nesse congresso foram lançados princípios de uma nova proposta
sindical, que vem mudando o país e se estende até os dias de hoje.
3.3 Política
No Brasil, quando se fala em ditadura, pode-se dizer que ainda é visto como
tabu. Vivemos a memória do esquecimento e esse esquecer toca em especial a
trajetória das mulheres, já que dos relatos dos quais dispomos, o homem tem o
papel principal.
Para a ditadura, as mulheres militantes possuíam um caráter duplamente
transgressor: transgrediam enquanto agentes políticos indo na contramão do
Regime Militar e também transgrediam ao romper com os padrões tradicionais de
gênero. Ou seja, as mulheres não eram acusadas apenas de serem terroristas, mas
de serem terroristas e mulheres, pois estavam ocupando um espaço público que era
destinado exclusivamente aos homens.
Diversas mulheres se engajaram na luta contra a ditadura, direta ou
indiretamente, em busca de um ideal, acompanhando seus pais, maridos,
companheiros e filhos, como no caso mais famoso e conhecido pela historiografia
que foi o de Zuzu Angel.
A história é algo que vai se construindo dia a dia, e é bem provável que as
mulheres, que pouco a pouco vêm conquistando seu espaço na historiografia e no
setor público, saindo da privacidade de seus lares, do papel de mãe e “mulher do
marido”, acabem tendo seu reconhecimento merecido e uma visibilidade
historiográfica maior.
Ao se livrar da cultura machista onde a mulher tem o papel de submissão ela
acaba mostrando a capacidade que tem, quebrando o preconceito cultural que a
tempos se instalou na construção da identidade das mulheres. Prova disso é o caso
da Presidenta do Brasil Dilma Roussef, um expoente na política. Mulher essa que
também foi engajada na militância política no período do Regime Militar.
Por fim assinala-se que muito ainda está por vir na história das mulheres, um sujeito
oculto que gradativamente está construindo sua identidade na historiografia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACOM, Ana Carolina. Quem é essa mulher? Zuzu Angel: Moda e Ditadura Militar.
ALVES, Taiara Souto, 2009. Dos quartéis aos tribunais: a atuação das auditorias
militares de Porto Alegre e Santa Maria no julgamento de civis em
processos políticos referentes às leis de segurança nacional (1964-1978).
Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, Rio Grande do Sul. Brasil.
FARIA, Lia Ciomar Macedo de; CUNHA, Washington Dener dos Santos ; SILVA,
Rosemaria J. V. Memórias e Representações Femininas: Ideologias e
Utopias dos anos 60. Revista Vozes do Vale, v. 01, p. 01-14, 2012.