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MANIFESTO

Ato 02

CENA 01
RANI, PENHA, TAYNARIA - (repetidas vezes, conduzindo o público para subir as
escadas) Venham agora, vamos pensar juntos. Pisem o chão onde caminha a sabedoria.
Abracem mentiras lindas.

JOELMA - (Grade de entrada) Abandonem a bagagem da sabedoria, pois aqui a sua


sabedoria é ridícula e insignificante. Só artistas enfadonhos e impotentes estragam a
própria obra com a sinceridade. Arte requer verdade, não sinceridade. (abre a grade e
volta texto “venham agora, vamos pensar juntos...”).

CENA 02 (Cena na sala 14)


JÚLIA - O amor e a imaginação. O que eu mais gosto em você é a sua qualidade
implacável. A simples palavra “liberdade” é a única que ainda me excita. Entre todos os
infortúnios que herdamos, é-nos pelo menos permitido o maior grau de liberdade de
pensamento. A imaginação sozinha me oferece alguma indicação do possível. E isso é
suficiente para que me devote a ela sem medo de errar. Ainda estamos vivendo sob o
reino da lógica. O racionalismo absoluto que ainda está em voga nos permite considerar
apenas fatos relacionados diretamente à nossa experiência. Sob a suposição de
civilização e progresso, conseguimos banir da mente qualquer tipo de busca pela
verdade que não esteja em conformidade com práticas aceitas. Desde o nascimento do
Homem até a sua morte, o pensamento não oferece a solução de continuidade. Ainda
assim, uma parte do nosso mundo mental foi finalmente trazida de volta à luz: o sonho.
Um observador comum atribui muito mais importância aos eventos da vigília do que
àqueles que ocorrem nos sonhos. Ainda, o sonho encontra-se reduzido a um mero
parêntese, como a noite. Eu gostaria de dormir para poder me render aos sonhadores, a
fim de poder parar de impor, neste reino, o ritmo consciente do meu pensamento. Não
pode o sonho também ser usado para resolver as questões fundamentais da vida? É o
sonho o menos restritivo ou punitivo que o resto? A mente do homem que sonha
satisfaz-se plenamente com o que acontece a ele. Vejam as crianças. Elas começam
cada dia sem preocupação alguma. Tudo está ao alcance delas. As piores condições
materiais são boas. As florestas são brancas ou negras. Jamais se dormirá.
PENHA – (das janelas) O artista lembra a todos de suas verdades. Marginal, ele revela
a medíocre realidade dos tempos. Arte é a ação. Um espaço entre a desrazão e a
verdade. Discurso em si mesmo. A existência é o nada. Eventos que expõem o ridículo
do ser. A vida é feita de palavras inúteis, um crânio vazio. A loucura esquiva-se da vida
e a reconfigura. Quem aqui escreve a sua própria história? Linguagem muda de
verdades. Linguagem de revelação. Preso ao Fora. Soterramento trágico de tudo que
ousou romper. Legítima expressão da ruína. Onde está a fala dos excluídos?

RANI – (conduzindo público para outra sala) Venham agora, vamos pensar juntos.
Pisem o chão onde caminha a sabedoria. Abracem mentiras lindas.

CENA 03 (sala de aula x)


JOELMA E TAYNARIA – Coloquem a máscara da verdade.
TAYNARIA – (professora) “Ideias podem ser obras de arte”. Na arte conceitual, a
ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. Quando um artista usa uma
forma conceitual de arte significa que o planejamento e as decisões são feitas de
antemão, e a execução é um caso superficial. A ideia se torna uma máquina que faz a
arte. Esse tipo de arte não é teórico ou ilustração de teorias. É intuitivo e sem propósito.
Não importa a forma que a obra de arte possa assumir, ela deve começar com uma ideia.
A aparência não é tão importante. É com o processo de concepção e realização que o
artista deve se preocupar. Uma vez dada, pelo artista, a realidade física, a obra fica
aberta à percepção de todos, inclusive do artista.
JOELMA – (professora) Toda arte atual é falsa. Não por ser cópia, apropriação,
simulacro ou imitação, mas porque falta o empurrão crucial de poder, essência e paixão.
Todos os homens são falsos. Tudo no homem é falso. Não apenas porque ele trai e
mente com facilidade, e odeia e mata com muita rapidez nas também porque a nova
forma virtual do homem é o homem como deus.
TAYNARIA E JOELMA – Conjuguem conosco: EU SOU FALSO/FALSA; TU ÉS
FALSO/FALSA; ELE/ELA É FALSO/FALSA; NÓS SOMOS FALSOS/FALSAS;
VÓS SOIS FALSOS/FALSAS; ELES/ELAS SÃO FALSOS/FALSAS.
TAYNARIA - E a arte conceitual? É o objetivo do artista conceitual fazer sua obra
mentalmente interessante para o espectador. E, assim, normalmente ele iria querer que
se tornasse emocionalmente seco. Não há razão para supor, contudo, que o artista
conceitual tem o objetivo de entediar seu espectador. Uma vez que saia de suas mãos, o
artista não tem controle sobre o que o espectador vai compreender da obra. Pessoas
diferentes entenderão a mesma coisa de formas diferentes.
JOELMA - Então, a arte conceitual é uma forma de fazer arte. Outros artistas
combinam com outas formas. Arte conceitual só é boa quando a ideia é boa. Ideia,
forma, contexto. Ideia, a existência de uma ideia é necessária e suficiente para a
existência da arte. A existência da forma é necessária, mas não suficiente para realizar
uma ideia.

RANI – (corredor fora) Chamamos todos os intelectuais honestos, todos os escritores e


artistas para que abandonem a dimensão da traiçoeira noção de que a arte pode existir
apenas pela arte. Arte. De que o artista pode permanecer remoto dos conflitos históricos
em que todos os homens devem tomar partido. Nós os chamamos para que rompam com
os ideais burgueses que buscam ocultar a violência e a fraude, a corrupção e a
decadência da sociedade capitalista. Nós apelamos para que criem uma nova arte que
seja uma arma e uma porta para um mundo novo e superior.

TODXS – (subindo as escadas para o terceiro andar) Não ao espetáculo! Não ao


virtuosismo! Não à ilusão e ao faz-de-conta. Não ao glamour e ao estrelismo. Não ao
heroico. Não ao anti-heroico. Não às imagens de mau gosto. Não ao envolvimento do
artista ou do espectador. Não ao estilo. Não ao acampamento. Não à sedução do
espectador pelos estratagemas do artista. Não à excentricidade. Não a se mudar ou a ser
movido.

CENA 04 (terceiro andar)


(Vozes ecoando um ahhhhh, ritual, penduram figurinos em cabides)
JÚLIA - O teatro verdadeiro apareceu-me sempre como o exercício dum ato perigoso e
terrível, onde se eliminam tanto a ideia de teatro e de espetáculo como a de toda a
ciência, de toda a religião e de toda a arte. O ato que falo visa à verdadeira
transformação orgânica e física do corpo humano. Porquê? Porque o teatro não é essa
parada cênica onde se desenvolver virtualmente e simbolicamente um mito, mas o
cadinho de fogo e de carne verdadeira onde anatomicamente, por espezinhamento de
ossos, de membros e de sílabas, se refazem os corpos.
RANI - Ora o corpo tornou-se sujo e mau porque vivemos num mundo sujo e mau que
não quer que o corpo humano seja mudado.
JOELMA - Onde outros propõem obras eu não pretendo senão mostrar o meu espírito.
A vida é queimar perguntas. TODXS - Não concebo uma obra isolada da vida.
JOELMA - Esta peça, suspendo-a na vida, quero que seja mordida pelas coisas
exteriores, e em primeiro lugar, por todos os sobressaltos cortantes, todas as cintilações
do meu eu por vir.
TODXS - NADA é original. PENHA - Roube de qualquer lugar que inspiram ou
alimentam sua imaginação. Devore filmes antigos, novos filmes, música, livros,
quadros, fotografias, poesias, sonhos, conversas aleatórias, arquitetura, pontes, sinais de
rua, árvores, nuvens, massas de água, luzes e sombras. Selecione apenas coisas que
falam diretamente com sua alma. Se você faz isso, seu trabalho (e roubo) será autêntico.
TAYNARIA - Autenticidade não tem preço; originalidade não existe. E não se precupe
com o roubo - celebre-o se você se sentir bem com isso. “Não importa de onde você
pega coisas, mas sim para onde você as leva”.
TODXS - Última numa longa linha de cleptomaníacos da arte. (uma tradição honrada
pelo tempo). Roubo é o ato sagrado no caminho distorcido para a expressão. Uma única
inspiração na mente e lá está o teatro. Eu crio pelos mortos, os não-nascidos. (vestem os
figurinos)

(Descem as escadas conversando informalmente)


JÚLIA – O Homem já foi o original. Ele tinha e mantinha certa autenticidade. Mas
agora tudo isso está morto e enterrado. Então o Homem é descartável e dispensável.
JOELMA – E a arte? Ela pode sobreviver a esses duros golpes?
JÚLIA – Certamente não. Por que a arte é o que cerca você.
RANI – A arte não vem de lugar nenhum, ou para constar de qualquer lugar.
TAYNARIA - Então a criatividade não surge na cabeça... Há razões – forças, poderes –
que criam e fazem da arte uma jornada perigosa de saltos e fendas, erros, audácia e
coragem.
PENHA – (de volta à sala da mesa) Como podemos seguir adiante quando a ação é ver
a ação? Quando o olhar está fixo? Quando o conhecimento se torna informação?
Quando as palavras são blocos de obstáculos e perderam sua representação? Quando o
discurso é opinião? Quando você não precisa saber nada e pensa saber tudo? Quando
refletir é encarar o espelho? Quando contemplar é pensar sobre si mesmo?

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