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racionalismo cartesiano, a idéia da racionalidade do real, da coincidência da res cogitans com a res
extensa (...). (p. 26)
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Como todos os seres, o homem também está em processo de contínua transformação.
A capacidade de compreensão e interferência que os seres possuem sobre seu próprio
processo de desenvolvimento distingue-os entre si. Só o homem é capaz de
compreender o processo por que passa e nele interferir. Tal capacidade, inerente ao
homem, advém do uso da razão de que está dotado, assim como da liberdade que está
pressuposta por e pressupõe essa condição racional.
Se o homem está em processo de contínua transformação, o mesmo se - aplica
ao conhecimento por ele produzido. O conhecimento é um processo contínuo que não
pode ser desvinculado das condições históricas que o determinaram. E também
progressivo, não existindo verdades eternas. A verdade está submetida à razão
humana, e a razão humana, está submetida à sua história.
Na história, encontram-se os critérios para definir o que é racional, e apenas o
que é racional, para Hegel, pode ser verdadeiro.
que tem sua essência no outro e que só atinge sua verdade pelo outro" (Marcuse,
1978, p. 118).
O senhor obriga o escravo ao trabalho, ao passo que ele próprio goza os prazeres da vida. O
senhor não cultiva seu jardim, não faz cozer seus alimentos, não acende seu fogo: ele tem o
escravo para isso. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que
interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê o reconhecimento de sua
superioridade no olhar submisso de seu escravo, é livre, ao passo que este último se vê
despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta. Entretanto, essa
situação vai se transformar dialeticamente porque a posição do senhor obriga uma contradição
interna: o senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também
porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, ele é uma espécie de escravo de seu
escravo. De fato, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu
senhor (foi por medo de morrer que se submeteu), vai encontrar uma nova forma de liberdade.
Colocado numa situação infeliz em que só conhece provações, aprende a se afastar de todos
os eventos exteriores, a libertar-se de tudo o que o oprime, desenvolvendo uma consciência
pessoal. Mas, sobretudo, o escravo incessantemente ocupado com o trabalho, aprende a
vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade (o
domínio da natureza) por intermédio de seu trabalho. Por uma conversão dialética exemplar, o
trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações
e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o dominio de si
mesmo. (Vergez e Huisman, 1988, p. 278)
Hegel dizia que quem estuda história sabe muito bem que a humanidade caminha
rumo a um autoconhecimento e um autodesenvolvimento cada vez maiores. A história,
segundo ele, demonstra de forma inequívoca a evolução rumo a uma racionalidade e
liberdade, maiores. É claro que às vezes ela dá umas cabriolas, mas o todo revela uma
marcha inexorável para frente. Para Hegel, portanto, a história persegue um objetivo
definido. (Gaarder, 1995, p. 388)
O homem só atinge a autoconsciência quando conhece suas potencialidades e é
livre para realizá-las, processo que só se realiza pelo confronto entre indivíduos em sua
relação de trabalho.
O trabalho desempenha importante papel na medida em que funciona como
elemento integrador entre indivíduos oriundos de diferentes posições e com diferentes
necessidades numa dada sociedade. Essa relação entre indivíduos "opostos" é
intermediada pelos objetos produzidos pelo trabalhador, que, por terem sido produzidos
pelo homem, passam a fazer parte desse homem, que neles se reconhece. "Os objetos
de seu trabalho não mais serão coisas mortas que o acorrentam a outros homens, mas
produtos de seu trabalho e, como tal, parte integrante do seu próprio ser" (Marcuse,
1978, p. 117).
Hegel assinala que o processo de trabalho envolve dois domínios opostos: o
trabalhador (ou "escravo") e o senhor", que não produz diretamente, mas apropria-se
dos produtos do trabalho do outro. Também para o senhor, o trabalho é o processo de
criação da autoconsciência: ao lidar com os objetos produzidos pelo trabalhador, está
lidando com a autoconsciência daquele, que está objetificada nos objetos por ele
produzidos. Nessa relação, o senhor percebe que não é independente do escravo. Por
meio das relações mediatizadas pelo trabalho, "cada um dos termos (envolvidos na
relação) reconhece
A relação senhor-escravo permite a superação da oposição sujeito e objeto,
assim como, pela autoconsciência, supera-se a oposição entre pensamento e mundo
exterior. O espírito humano autoconsciente é capaz de apreender o mundo em sua
totalidade, não mais como algo dicotomicamente separado do pensamento. Isto porque
a razão, para Hegel,
não é apenas, como em Kant, o entendimento humano, o conjunto dos principios e das
regras segundo as quais pensamos o mundo. Ela é igualmente a realidade profunda
das coisas, a essência do próprio Ser. Ela não é só um modo de pensar as coisas, mas
o próprio modo de ser das coisas. (Vergez e Huisman, 1988, p. 276)
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difusão não significou sempre busca de fidelidade às idéias originais do autor e, por
vezes, gerou críticas exacerbadas que levaram o hegelianismo a um certo abandono.
No nosso século, a doutrina filosófica de Hegel é retomada para ganhar novo e
significativo espaço, graças ao existencialismo, que buscou nas obras do jovem Hegel
aspectos que emprestassem apoio à sua doutrina; graças a correntes teológicas que
se dedicam ao estudo e à difusão das idéias hegelianas; finalmente, graças ao
reconhecimento da dimensão precisa da influência do pensamento dialético de Hegel
sobre o pensamento de Marx.
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• Olhar para a história Caminho para a compreensão da ciência hoje
Este livro resulta de uma experiência de mais de dez anos com material didático
elaborado para um curso de Metodologia Científica da PUC-SP. Pretende mostrar que o
método científico é histórico; que não se resume a técnicas; que está fundado em concepções
amplas de mundo, devendo ser avaliado tam
bém a partir delas; e que os problemas enfrentados pela filosofia, pela ciência, pelo
conhecimento são também históricos. Pretende, enfim, levar o leitor a refletir sobre a
ciência de modo mais abrangente, de forma não dogmática.
Para compreender a ciência contribui também para um repensar da ciência nas
suas várias áreas, explorando a relação entre aspectos sociais, políticos e econômicos
de um dado momento histórico e o pensamento filosófico que o marcou, e
apresentando, em cada grande período - Grécia Antiga, Europa Medieval, a Ciência
Moderna, séculos XXVIII e XIX - pensadores escolhidos por representarem os
confrontos do seu tempo e pela influência que exerceram ou exercem no pensamento
contemporâneo.
Maria do Carmo Guedes
• A descoberta da racionalidade no mundo e no homem Grécia Antiga:
Homero, Hesíodo, Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, Heráclito,
Parmenides, Demócrito, Sócrates, Platão, Aristóteles
• A fé como limite da razão Europa Medieval: Santo Agostinho, São Tomás de
Aquino
• A ciência moderna se institui A transição para o capitalismo: Galileu, Bacon, Descartes,
Hobbes, Locke, Newton
• A história e a crítica redimensionam o conhecimento O capitalismo nos séculos
XVIII e XIX: Berkeley. Hume, os iluministas franceses, Kant, Hegel, Comte, Marx
ISBN 858643598-8
178 8 5 8 6 4 3 5 9 8011