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Já vimos que há quatro grandes gêneros no NT: Evangelho, Atos, Carta e Apocalipse.
Agora vamos ver os pequenos gêneros, ou formas (maneira que os manuais de
exegese denominam esse fenômeno). O Novo Testamento apresenta as seguintes,
diferenciados dentro dos grande gêneros 1:
DICA: Acompanhe a lista com uma bíblia para que você possa ler os textos e
verificar por si mesmo como os pequenos gêneros se caracterizam. Assim você terá
mais facilidade para aplicar essa etapa ao seu texto designado para exegese.
A) Evangelhos e Atos
Tradição doutrinal: refere-se a todos os textos que contém ensinos e ditos de
Jesus ou dos apóstolos:
Ditos proféticos e apocalípticos: textos onde Jesus assume um papel
profético similar à tradição dos profetas do Antigo Testamento. Podem
ter um conteúdo de Salvação (Lc 14.15), Ameaça (Mt 7.21/Lc 6.46),
Advertência (Mc 1.15) ou mais propriamente Apocalíptico, quando
trata da vinda do reino de Deus (Mc 13.2; Lc 17.20s).
Ditos sapienciais: ensinamentos de Jesus que se originam tanto na
tradição sapiencial do Antigo Testamento quanto dos sábios da época
dele. Neste caso podem ter estilo de Provérbios, que são afirmativos
(Mt 24.28); Exortações, que são imperativas (Mt 8.22b); e Perguntas
provocativas (Mc 6.27).
Ditos jurídicos ou legais: ditos em que Jesus assume uma posição a
respeito da lei ou dos ensinos judaicos (Mt 7.1-2; Mt 19.8-9).
Parábolas e similares: todas as palavras em que Jesus fez uso de
recurso comparativos com o objetivo de facilitar a comunicação com
sua audiência, tais como:
Imagem, que é uma comparação direta (Mt 5.14; Mt 7.17);
1
Classificação adaptada a partir do estudo de Uwe Wegner em Manual de Exegese, pp.225-267.
2
B) Cartas (e Apocalipse)
Tradição litúrgica: elementos inseridos nas cartas, bem como no Apocalipse,
que colocam seus ouvintes num ambiente de devoção e preparo espiritual para
ouvir as orientações. Desse modo, os autores reforçavam o conteúdo que
queriam passar para a comunidade. São eles:
Relatos sobre a ceia: textos onde o centro da mensagem do texto está
na memória sobre a instituição da ceia do Senhor pensando na sua
morte. Podem ser de forma direta (Mc 14.22-25; Mt 26.26-29; Lc
22.15-20; 1Co 11.23-25) ou indireta (1Co 10.16-17; Rm 3.25-26).
A fórmula “maranatá”: fórmula que aparece duas vezes no NT (1Co
16.22 e Ap22.20. De acordo com a Didaqué, o uso dela ocorria no culto
e no preparo da ceia. Sua origem é de uma expressão aramaica, que
pode ser entendida como maran ata (Nosso Senhor veio/está conosco)
ou marana ta (Vem, senhor nosso).
CURIOSIDADE: A DIDAQUÉ
A didaqué (ou didaquê) é um pequeno texto de orientação para ingresso de novos
convertidos da comunidade que trata da ceia e do batismo. Alguns datam do séc. 1
d.C., mas é mais provável que seja do séc. 2. Mesmo assim, pode-se dizer que o
material é contemporâneo dos escritos do Novo Testamento e era utilizado na
preparação dos novos convertidos.
DICA: Lembre que ao indicar o pequeno gênero você deve também indicar o
subgênero ou tipo em que seu texto realmente se encaixa. Apenas um exemplo para
ficar claro; no caso de 1Co 8.1-8 (veja acima) devemos indicar o pequeno gênero
da seguinte forma:
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Paralelismo antitético2
Quando duas linhas ou membros apresentam equivalente em formulação antitética (cf Lc
6.43):
Não há árvore boa que dê mau fruto
E nem árvore má que dê bom fruto.
Paralelismo sinonímico
Apresenta a mesma ideia repetida com outras palavras (cf. Mc 4.22):
Nada há encoberto, que não será manifestado;
E nada em segredo, que não seja descoberto.
Paralelismo sintético
Apresenta, na segunda linha ou membro, uma continuação da ideia da primeira,
acrescentando novos aspectos ou explicações (cf. Mt 10.37):
Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim;
E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim.
Paralelismo climático
Quando um paralelismo sintético apresenta uma ideia de forma gradual, em linhas
sucessivas, até chegar ao clímax (cf. Mc 9.37). Perceba a repetição do verbo, mas que
indica uma continuidade na ideia:
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Ver lista completa em JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica; Paulus,
2004, pp.45-52.
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Além dos paralelismos, os autores do NT utilizavam muitos recursos estilísticos para que
o próprio texto indicasse seu centro ou eixo. Dessa forma, os leitores poderiam identificar
o que era mais importante no texto. Temos dois tipos no NT:
Quiasmo
Ocorre quando elementos de uma frase ou partes de uma perícope se correspondem de
maneira cruzada. É possível diagramar o texto para melhor visualização (cf. Mt 20.16):
E os últimos serão os primeiros
Essa estrutura pode perpassar por várias narrativas, agrupadas de tal modo que o centro
delas seja a chave de interpretação das demais. Em Mc 11.12-26, a narrativa de Jesus
purificando o templo está entre a maldição da figueira e os discípulos testemunhando que
ela secou. Nesse caso temos uma indicação do evangelista de que o templo e o culto
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sacrificial é como a figueira: por não dar mais frutos e estar ligada aos poderes que
oprimem o povo, está secando e vai acabar, como de fato o judaísmo sacerdotal acabou:
A 11.12-14 – Jesus amaldiçoa a figueira
x 11.15-19 – Jesus purifica o templo
A’ 11.20-26 – Os discípulos testemunham a figueira seca