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Motrivivência v. 28, n. 48, p.

188-206, setembro/2016

http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2016v28n48p188

A Educação Física na BNCC:


procedimentos, concepções e efeitos

Marcos Garcia Neira1


Marcílio Souza Júnior2

RESUMO

Na tentativa de atender às demandas sociais surgem políticas públicas que vislumbram


orientar a construção de propostas curriculares para os sistemas e unidades educacionais.
Dentre elas, destaca-se a construção de uma Base Nacional Curricular Comum, condu-
zida pelo Ministério de Educação em parceria com o Conselho Nacional de Secretários
de Educação e a União dos Dirigentes Municipais de Educação. Como participantes
do processo de elaboração das duas versões preliminares que vieram à baia do debate
público, pretendemos contribuir com a reflexão acerca do componente Educação Física
e registrar um olhar sobre os bastidores do processo. Assim, procuramos dar visibilidade
aos procedimentos para elaboração do documento, às concepções que nortearam os
trabalhos e aos efeitos que se espera causar.

Palavras-chave: Currículo; Educação Física; Política Educacional

1 Livre-Docente em Metodologia do Ensino de Educação Física. Professor Titular da Faculdade de Educação da


Universidade de São Paulo (USP). São Paulo/ São Paulo, Brasil. E-mail: mgneira@usp.br
2 Pós Doutor em Educação. Livre-docente pela Universidade de Pernambuco (UPE). Professor da Graduação
e Pós-Graduação em Educação Física na Escola Superior de Educação Física - Universidade de Pernambuco
(ESEF-UPE). Recife/Pernambuco, Brasil. E-mail: marciliosouzajr@hotmail.com
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INTRODUÇÃO dos envolvidos. Os procedimentos adotados


permitem afirmar que a redação final de
Em maio de 2015, 116 pessoas cada parágrafo é produto de consensos no
foram convidadas para trabalhar na cons- interior do grupo.
trução da primeira e segunda versões da O breve relato acima, parte de
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). sujeitos que participaram ativamente da
O grupo foi composto por professores da elaboração das versões preliminares da
Educação Básica indicados pelo Conse- BNCC, portanto precisa ser perspectivado.
lho Nacional de Secretários de Educação O mesmo acontece em relação a todas as
(CONSED) e pela União dos Dirigentes posições adotadas no restante do artigo, es-
Municipais de Educação (UNDIME), repre- crito com a intenção de apresentar os pontos
sentando todos os estados da Federação, de vista de pessoas que compuseram o gru-
e pesquisadores vinculados a 35 universi- po3 responsável pela redação do documento
dades. Constituíram a equipe da Educação de Educação Física. Com a dupla intenção
Física seis professores da Educação Básica de contribuir com o debate curricular e
e seis professores universitários, sob a coor- registrar um olhar sobre os bastidores do
denação de um assessor, também professor processo, neste artigo demos publicidade
do Ensino Superior. aos procedimentos adotados, às concepções
Todos os componentes curriculares que nortearam os trabalhos e aos efeitos que
e, consequentemente, as áreas e etapas da se espera causar. Por essa razão, assumimos
Educação Básica seguiram a mesma organi- um tom descritivo para apresentar as justi-
zação. Em junho daquele ano esse coletivo ficativas conceituais devida ilustradas com
fez a sua reunião inicial, quando foi aceita fragmentos do documento.
a tarefa de construir um documento que
pudesse ser tomado como texto orientador
para a elaboração de propostas curriculares O debate curricular
municipais ou estaduais, das redes priva-
das, bem como os projetos pedagógicos Desde as primeiras décadas do sécu-
das escolas. Seguiram-se, então, inúmeros lo passado, quando as questões curriculares
encontros para discussão, produção, aná- passaram a chamar a atenção de estudiosos
lise e reescrita do texto. Desde o primeiro das ciências humanas, o currículo tem sido
momento, todas as decisões foram tomadas adjetivado de várias maneiras: real, escrito,
de maneira conjunta (quer seja na área, no prescrito, oculto, em ação etc. O termo
segmento ou no componente, a depender currículo já foi sinônimo de programa de
do caso), e permeadas de debates, intercâm- curso, ou seja, aquilo que estava prescrito e
bio de argumentos e escrutínios por parte que a escola deveria ensinar. Contribuíram

3 É uma boa ocasião para agradecer às/aos colegas que compartilharam dessa tarefa os meses de trabalho
intelectual intenso e instigante, um período em que o exercício democrático do diálogo argumentativo colocou
à prova e fez-nos revisar concepções políticas e pedagógicas, bem como a oportunidade criada pela Revista
Motrivivência ao propor uma seção temática convidando a comunidade acadêmica e profissional a debater a
política curricular em curso.
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decisivamente para essa concepção, o olhar crescimento de investigações sobre o tema.


progressivista de Dewey (1902/20024) e o Mas, o que poderia justificar essa explosão?
eficientista de Bobbitt (1918/2004) e Tyler Entre hipóteses possíveis, sintetiza-
(1949/1974), cujas propostas levaram a mos duas, extraídas do campo das políticas
conceber o currículo como seleção e orga- e produções científicas dos estudos curricu-
nização de conhecimentos. lares. Num viés crítico, elucidam-se, diante
Mais adiante, currículo passou a ser de um processo de disputas políticas pela
reconhecido, mesmo sem registros, como redemocratização brasileira, outras possibi-
aquilo que a escola ensina. Fazem parte lidades de compreensão do papel do Estado.
desse momento, as obras de Young (1971) Ainda que de forma contraditória, aparatos
e Apple (1979/1982), quando, a partir das normativos, tais como a Lei de Diretrizes e
análises crítico-reprodutivistas de Baudelot Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394-
e Establet (1971/1980) Bourdieu e Passeron 96 e as Diretrizes Curriculares Nacionais
(1970/1975), Bowles e Gintis (1976/1981) da Educação Básica (DCN), terminaram
e Althusser (1971/1998), denunciaram permitindo/desencadeando espaços para
o papel de controle social exercido pelo elaborações e debates curriculares, indo
currículo da escola capitalista. além do que, prescritivamente, tem sido
Na última década do século passa- produzido por especialistas ou mesmo
do, a publicação das obras de Moreira e Sil- governos mais autocráticos na tradição
va (1994), Silva (1994) e Veiga-Neto (1995) brasileira, dando aos sujeitos e unidades
alinhadas ao pensamento pós-estruturalista escolares chances de construírem propos-
de Jacques Derrida e Michel Foucault, tor- tas curriculares (LOPES, 2004 e SOUZA
naram possível compreender o currículo JÚNIOR, 2007).
como texto. Visto dessa forma, o currículo Por outro lado, as análises apoia-
passa a ser toda a experiência proposta pela das nas chamadas teorias pós-críticas vêm
escola ou a partir dela e que, de múltiplas mostrando que os currículos, de alguma ma-
maneiras, subjetiva discentes e docentes. neira, interferem na constituição das identi-
É interessante notar que o debate dades dos sujeitos da educação, não só das
curricular ganhou relevância nas últimas crianças, jovens e adultos que frequentam a
décadas, mobilizando grupos, interesses e escola, mas também dos profissionais que
paixões. Na esfera das políticas públicas, nela atuam. Assim, admite-se que percorrer
estados e municípios têm elaborado orien- a trajetória escolar deixa marcas profundas
tações e propostas para os vários segmentos, nas pessoas. Por meio desse conjunto de
modalidades e componentes; os veículos conhecimentos e práticas são veiculadas
de comunicação têm aberto espaços para visões de mundo, cidadão, aprendizagem,
debater o assunto e, no âmbito da pesqui- homem, mulher, justiça, igualdade, etc.
sa educacional, Paraíso (2010) sinaliza o (SILVA, 2011). Vistos por esse prisma, os

4 Como forma de facilitar o acesso à cronologia das análises, quando necessário, o ano da publicação da obra
foi mencionado ao lado da edição em língua portuguesa acessada.
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sujeitos da educação, em alguma medida, nas mãos de poucos especialistas, opinião


produzem e são produzidos também pelos compartilhada por Caparroz (2003) na sua
currículos que vivenciam, são subjetivados análise do ponto de vista da Educação Física.
por tudo aquilo que lhes é ensinado, pelos Os indicadores disponíveis até o
modos como é ensinado, mas também presente momento sinalizam que o proces-
pela ausência de determinadas experiên- so de construção da BNCC deu-se de outra
cias formativas. Qualquer um que tenha maneira5. Desde o início dos trabalhos, o
atravessado essa jornada, ficou impregna- assunto faz parte da agência de debates de
do, marcado para sempre. As frases ditas, inúmeras reuniões, seminários e eventos
atividades realizadas, relações travadas em em que professores da Educação Básica,
momentos com maior ou menor supervisão, pesquisadores e profissionais ligados aos
não importa, essas situações encadearam mais variados setores da educação têm
ideias por meio de discursos e ações, po- apresentado críticas e sugestões. A primeira
sicionando os sujeitos da educação diante versão do documento ficou disponível para
de representações, saberes e conhecimentos consulta pública, recebendo uma grande
que influem decisivamente em quem eles quantidade de contribuições. Para além
se tornam. das pessoas que individualmente se cadas-
Logo, analisar, discutir, debater, traram, na plataforma on-line6, escolas7 e
decidir, definir, escolher e selecionar o que outras entidades inseriram seus comentários
fará parte da trajetória curricular é uma obri- e sugestões, elaboraram pareceres e docu-
gação, uma atitude da maior importância mentos a respeito. A Associação Nacional
a ser encarada com muita seriedade pelo de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
poder público, docentes, comunidade es- (ANPed), a Associação Nacional de Política
colar, famílias e, por isso mesmo, realizada e Administração da Educação (ANPAE), a
coletiva e constantemente dentro e fora das Confederação Nacional dos Trabalhadores
unidades escolares. Pensar sobre o assunto, em Educação (CNTE), Sociedade Brasileira
partilhar opiniões, torná-las públicas, rever de Física, Associação Brasileira de Currículo
conceitos e vencer preconceitos, são pos- (ABdC) e a Associação Nacional de
turas que fazem parte do debate curricular. História (ANPUH) estão entre as
Infelizmente, contam-se nos dedos as vezes muitas entidades que elaboraram
em que esse espaço foi garantido aos edu- resenhas críticas do documento.
cadores, alunos e às famílias, quanto mais O Colégio Brasileiro de Ciências
à população como um todo. Basta recordar do Esporte (CBCE) também não ficou atrás:
como se deu elaboração dos Parâmetros redigiu e encaminhou ao MEC um posicio-
Curriculares Nacionais (PCN). Zanlorenzi namento sobre o texto de Educação Física
e Lima (2009) apontaram a centralização e participou de uma reunião8 com o diretor

5 http://movimentopelabase.org.br/o-movimento/
6 http://basenacionalcomum.mec.gov.br
7 Muitas escolas aceitaram o convite do MEC e reservaram o dia 02/12/2015 para discutir a BNCC e inserir suas
contribuições no portal.
8 http://www.cbce.org.br/noticias-detalhe.php?id=1130
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da Secretaria de Educação Básica do MEC. A questões seguem sem resposta. Dentre elas,
prestigiosa revista e-Curriculum da PUC-SP parece ser fundamental elucidar o processo
dedicou um número especial ao assunto e de construção, os argumentos que funda-
o autodenominado Movimento pela Base mentam a concepção de Educação Física e
Nacional Comum reuniu uma experiente os efeitos que o documento pode suscitar.
equipe de pesquisadores9 que analisaram
profundamente a primeira versão da BNCC
e externaram suas impressões em eventos O processo de construção
organizados especialmente para debater
o texto. A imprensa não fez por menos. Uma política pública que pudesse
Os jornais de grande circulação dedica- definir o processo de elaboração dos cur-
ram matérias e editoriais10, foram criados rículos da Educação Básica estava prevista
grupos nas redes sociais e transmitiram-se na Constituição de 1988 e foi reafirmada
entrevistas com especialistas pela televisão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
aberta e fechada. Na esfera política, algumas Nacional nº 9.394 de 1996. Na primeira
secretarias estaduais e municipais organiza- década do atual século, o governo federal
ram debates e a Comissão de Educação da fez publicar documentos orientadores
Câmara dos Deputados realizou um semi- para a Educação Infantil, Ensino Médio e
nário11 com a participação de representantes Ensino Fundamental de Nove Anos. Mais
de variados segmentos da sociedade. tarde, as Diretrizes Curriculares Nacionais
Mesmo após tantas discussões, descreveram direitos de aprendizagem
ainda há muito o que dizer. Se o que está para diferentes segmentos e modalidades
em pauta é um documento oficial que do ensino e sinalizaram a necessidade de
orientará os currículos pelo Brasil afora nos uma base nacional. Finalmente, em 2014,
próximos anos, quiçá nas próximas décadas, o Plano Nacional de Educação fez menção
é fundamental que seja esmiuçado ao má- à importância de um documento com esse
ximo, receba novas contribuições e possa teor. Diante disso, o Ministério da Educação
consolidar um projeto educacional verda- reuniu professores e professoras indicados
deiramente democrático. A leitura de tudo pelo CONSED e pela UNDIME ou perten-
o que foi possível acessar revela que muitas centes a 35 universidades, representando

9 Subscrevem o documento 70 personalidades da educação e as seguintes organizações: Abave, Cenpec,


Comunidade Educativa Cedac, Consed, Fundação Lemann, Fundação Roberto Marinho, Instituto Ayrton Senna,
Instituto Inspirar, Instituto Natura, Instituto Unibanco, Todos Pela Educação e Undime.
10 Somente a Folha de São Paulo dedicou dois editorias ao assunto: Além da adição (29/01/2016), Uma base
mais firme (03/06/2016), além de inúmeras matérias: Base frágil (29/11/2015), Nova versão da base curricular
ainda tem problemas (14/05/2016), Apesar do avanço, nova base de português exige pouco (31/05/2016),
Análise: erros saíram, mas desequilíbrio continua em nova base curricular (12/06/2016), Nova proposta de
história corrige falhas, mas ainda é linear demais (26/06/2016), Secretário do MEC evita falar em prazo para
conclusão do currículo nacional (28/06/2016). O Diário Catarinense prestigiou o assunto nas seguintes repor-
tagens: SC discute adoção da base comum curricular em todas as escolas (09/09/2015), Governo de SC lança
comissão para discutir integração de currículos da Educação Básica (04/09/2015), Entidades reclamam de falta
de tempo para discutir currículo nacional de educação (29/11/2015). A revista Veja publicou em suas páginas
amarelas uma entrevista com uma representante do Movimento pela Base Nacional Comum (21/02/216).
11 Transmitido pela TV Câmara no dia 31/05/2016. http://www.camara.leg.br/internet/ordemdodia/inte-
gras/1457112.htm
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todos os Estados da Federação. A equipe O material coletado foi organizado e


final foi constituída por 2 coordenadoras, categorizado por pesquisadores da Uni-
14 assessores e 108 especialistas. versidade de Brasília (UnB) e da PUC-RJ.
A partir da leitura e discussão das A compilação de mais de doze milhões de
Diretrizes Curriculares Nacionais da Edu- contribuições tanto aos textos introdutórios
cação Básica (DCN), das pesquisas sobre quanto aos objetivos foi encaminhada aos
os currículos estaduais e da realização de especialistas.
seminários em que foram apresentadas e Coube aos assessores e especialistas
discutidas experiências curriculares inter- (por segmento, área e componente) analisar
nacionais, chegou-se a um termo do texto as sugestões depuradas. As ferramentas
que deveria ser produzido. Algo, até então, disponíveis no sistema permitiram à pessoa
inexistente no país: um material abrangente ou instituição que se cadastrou no portal
o suficiente para propiciar a identificação opinar, classificando-os segundo seu grau
de diferentes grupos e realidades e que de concordância, levando em consideração
pudesse orientar a elaboração de propostas clareza e relevância dos objetivos; propon-
curriculares. do, ou não, o refraseamento, a exclusão ou
Os profissionais que trabalharam o deslocamento de ciclo ou ano, podendo
na construção da BNCC organizaram- filtrar por etapa/segmento, prática corporal
-se em segmentos, áreas e componentes, ou dimensão do conhecimento. Além de
compondo duplas, quartetos ou coletivos reservar espaços para registros escritos, os
maiores, a depender da agenda: elaborar os recursos do portal propiciaram uma avalia-
textos de concepção de área ou do compo- ção quantitativa. A média alcançada pelos
nente, redigir objetivos de aprendizagem, objetivos da Educação Física aproximou-se
alinhamento transversal (com as demais da nota 8,0, em termos de aprovação, fican-
disciplinas da mesma etapa da Educação do um pouco acima da conferida à BNCC
Básica) ou longitudinal (com as demais eta- como um todo.
pas de uma mesma disciplina). O resultado Os documentos de cada componen-
foi disponibilizado para consulta pública te também receberam análises provindas
no portal do MEC em setembro de 2015. de leitores críticos convidados (professores
Mesmo que preliminar, a primeira versão universitários indicados para a função), en-
já contemplava o sujeito que se queria tidades científicas, órgãos variados ligados à
formar, as concepções de cada etapa, área, educação e escolas. Realizaram-se reuniões
componente e, aquilo que se transformou com membros pertencentes a diversas
em alvo de críticas de todos os lados: um entidades que decidiram encaminhar suas
rol de objetivos distribuídos em ciclos ou análises ao MEC. No caso da Educação
anos da escolarização. Física, membros do CBCE manifestaram-se
A partir da plataforma, que dispunha formalmente sobre o documento, apon-
de ferramentas para envio de sugestões após tando sugestões. Enquanto isso acontecia,
o cadastro pessoal ou institucional, o texto muitos dos envolvidos na produção do
recebeu contribuições de vários tipos, oriun- documento participaram de seminários, en-
das de pessoas, escolas ou organizações contros, colóquios e reuniões para debater
distribuídas por todo o território nacional. a política curricular em si ou o conteúdo do
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documento. Simultaneamente, acompanha- Em função do volume de sugestões


vam as discussões travadas na imprensa, recebidas, assessor e especialistas se dividi-
no meio acadêmico ou promovidas pelos ram em pequenos grupos a fim de abarcar
setores da administração educacional. e escrutinar toda e qualquer proposta. A
A orientação oficial era justamente distribuição de tarefas não impediu que as
para que assessores e especialistas não se mudanças na primeira versão fossem sub-
furtassem aos debates, vistos como opor- metidas ao crivo do coletivo. O processo
tunidades preciosas para coletar opiniões, permitiu a produção de um texto mais
constatar as avaliações positivas oriundas robusto e epistemologicamente alicerça-
tanto dos professores da Educação Básica do. A próxima etapa inclui a discussão do
quanto dos atuantes nos cursos de licen- documento em seminários estaduais nos
ciatura, assim como captar as críticas. Al- meses de junho e julho de 2016, dos quais
gumas delas, direcionadas ao processo de participarão representantes do CONSED e
construção, ora devido à escassez de tempo
professores da Educação Básica, momento
para produzir uma política de tamanha im-
em que o texto será analisado, discutido e
portância, ora pela ausência da participação
novas contribuições serão incorporadas. So-
de determinados setores na produção da
mente então, o documento será encaminha-
primeira versão.
do ao Conselho Nacional de Educação para
Entre setembro de 2015 e abril
discussão, debate, mais recomendações de
de 2016, as contribuições encaminhadas
através do portal da BNCC ou por meio de mudanças ou aprovação.
relatórios e pareceres, nutriram intensos
debates no interior das áreas, segmentos
A Educação Física na BNCC
e componentes. Assessor e especialistas
de Educação Física analisaram todas as
Na seção destinada a apresentar os
sugestões inseridas na plataforma, des-
fundamentos do componente consta que a
considerando aquelas que, por ventura,
BNCC atende ao exposto nas DCN, quando
se afastavam dos propósitos da política
curricular. O conteúdo dos pareceres foi se configura como um dos componentes da
analisado, categorizado e grande parte das área de Linguagens. Para além da determi-
recomendações incorporadas à segunda nação legal, o texto sintetiza uma parcela
versão do documento. Uma das demandas da história do componente, menciona a
recaiu justamente sobre a necessidade de mudança paradigmática dos anos 1980
explicitação de conceitos e fundamentos e a eleição, nos Parâmetros Curriculares
que permitiram alocar a Educação Física Nacionais, da cultura corporal de movi-
na área das Linguagens. Os leitores críticos mento como objeto de estudo. Está claro
afirmaram, por exemplo, que o espaço que a restrição de espaço não possibilitou
diminuto reservado à concepção do com- maiores explicações, sendo necessário
ponente deixava muitas lacunas. Uma vez retomar alguns passos dessa caminhada e
que a sugestão se repetiu em outros com- argumentar a respeito.
ponentes, após negociações envolvendo No início dos anos 1990, as propos-
os assessores e a coordenação, tal fato foi tas de Educação Física existentes sofreram
sanado na segunda versão. um forte abalo quando suas intenções de
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adequação dos sujeitos à sociedade desen- A investigação realizada por Gramorelli


volvimentista foram questionadas. Seguindo (2014) constatou sua hegemonia nos do-
o rastro das teorias críticas, pesquisadores cumentos estaduais e o trabalho de Rocha
do campo buscaram subsídios em Saviani et al. (2015) evidenciou sua presença na
(1991) e Libâneo (1985) para conceber a maioria dos trabalhos que se debruçam so-
proposta que se tornou conhecida como bre o debate curricular da Educação Física.
crítico-superadora (SOARES et al., 1992). Os dois estudos apontam uma confluência
Seus autores defenderam que um ensino das teorias críticas na produção curricular,
da Educação Física apoiado no materia- mas também a demarcação inspirada nas
lismo histórico subsidiaria as camadas teorias pós-críticas.
populares na sua luta pela transformação
da sociedade. Mais recentemente, o ensino da Educa-
Os dados coletados por Souza Jú- ção Física passou a tematizar as práti-
cas corporais na escola, concebendo-as
nior et al. (2011a), junto ao coletivo que
como um conjunto de práticas sociais
participou da elaboração da obra citada, centradas no movimento, realizadas
demonstram os argumentos acerca da “des- fora das obrigações laborais, domés-
natunalização biológica” do conhecimento ticas, higiênicas, religiosas, nas quais
os sujeitos se envolvem, em função de
específico da Educação Física escolar. Para
propósitos específicos, sem caráter ins-
eles, o grande mérito da obra foi a elucida- trumental. (BRASIL, 2016, p. 100)
ção da dialeticidade da dimensão cultural
do corpo e do corpo na cultura e mais, Retomados os passos e argumentos
particularmente, no reconhecimento da desse debate e a recente produção desse
atividade humana que produz tal dimensão componente curricular, a BNCC aponta as
e, ao mesmo tempo em que produz a si mes- práticas corporais como referência central
mo, é produzido por ela. Em meio a apro- para a configuração dos conhecimentos
ximações, distanciamentos ou mestiçagens em Educação Física: brincadeiras e jogos,
entre as reflexões dos seis participantes, o danças, esportes, ginásticas (demonstração,
objeto cultura corporal ainda prescinde de condicionamento físico e conscientização
discussão e debate e, em especial, de sua corporal), lutas e práticas corporais de
configuração como campo da linguagem. aventura.
Apesar disso, suas contribuições fo- Os novos aportes configuraram as
ram decisivas para a transformação da base práticas corporais como produtos da gestua-
teórica do componente (da psicobiologia lidade, formas de expressão e comunicação
para as ciências humanas) e redefinição do passíveis de significação, ou seja, artefatos12
seu objeto de estudo (do exercício físico da cultura produzidos por meio da lin-
e movimento para a cultura corporal). A guagem corporal. Nesse sentido, quando
influência dessa concepção nas propostas brincam, dançam, lutam, fazem ginástica
curriculares não pode ser desprezada. ou praticam esportes, as pessoas manifestam

12 Artefato cultural é qualquer objeto que possui um conjunto de significados construídos sobre si. Ao associarmos
o objeto aos seus significados, estamos em relação com um artefato cultural (FABRIS, 2000).
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sentimentos, emoções, saberes e formas de Na escola, a área de Linguagens


ver e entender o mundo (SOARES, 2004), pauta-se no estudo dos significados atribuí-
passíveis de leitura, interpretação e produ- dos aos códigos linguísticos, corporais e ar-
ção. Dado seu teor expressivo, as práticas tísticos das diferentes culturas, com o intuito
corporais materializam formas de interação de permitir à criança, jovem ou adulto a
dos diversos grupos que compartilham a ampliação do seu potencial de compreen-
paisagem social, intimamente relacionadas são e produção textual e discursiva, da sua
ao contexto histórico em que foram ou são sensibilidade estética e dos conhecimentos
criadas e recriadas. referentes à cultura corporal. Na BNCC, os
componentes curriculares da área (Arte,
Nos jogos, esportes, lutas, ginásticas, Língua Portuguesa, Língua Estrangeira Mo-
danças... o homem também se constitui derna e Educação Física) contribuem para
homem e constrói sua realidade pessoal
o aprimoramento da interação crítica com
e social. O homem que joga se torna
sujeito jogador e objeto jogado. Ainda a produção linguística no formato de textos,
que no ato da vivência o homem não imagens e práticas corporais, bem como
tenha a intenção de externalizar a com- para sua produção, entendida como meio
preensão humana, ele, por ser sujeito
de comunicar ideias, valores e sentimentos.
de ações condicionadas e/ou determi-
nadas socialmente, termina por expres-
sar algo pela linguagem. No entanto, a Entre as convergências com os demais
linguagem não é só forma/conteúdo de componentes dessa área, destacam-
externalização, ela também é de inter- -se os seguintes objetivos comuns: a)
nalização. A linguagem não é apenas ampliar as possibilidades de uso das
comunicação, também é denotação práticas de linguagens; b) conhecer a
e conotação. A linguagem é ainda es- organização interna dessas manifesta-
truturação e interação de sujeitos, pois ções; c) compreender o enraizamento
constitui o pensamento humano e esta- sociocultural das práticas de linguagens
belece relações entre os homens (SOU- e o modo como elas estruturam as rela-
ZA JÚNIOR et al, 2011a, p. 408-409). ções humanas. (BRASIL, 2016, p. 101)

Na sua relação com o mundo, as Nesse sentido, fazem parte da cultu-


pessoas interpretam o que está à sua volta, ra corporal de movimento todos os saberes
produzem sentidos e se manifestam em di- e discursos que envolvem as práticas cor-
ferentes linguagens, articulando significados porais, desde as regras da amarelinha até o
construídos coletivamente em sistemas de desenho tático do futebol, passando pelas
representação. As linguagens nada mais são técnicas do balé, a história do judô e os efei-
do que práticas sociais, ou seja, formas de tos gerados pelos exercícios de musculação.
interação culturalmente influenciadas. Den- Entender a Educação Física enquanto com-
tre elas, o conhecimento das línguas oral e ponente da área de Linguagens significa pro-
escrita, das artes e das práticas corporais mover atividades didáticas que auxiliem os
faz com que os seres humanos se insiram estudantes a ler e produzir as manifestações
na sociedade e interajam, seja por meio de culturais corporais, concebidas como textos
um simples diálogo, de um poema, de uma e contextos constituídos pela linguagem
pintura ou de uma dança. (NEIRA, 2016) corporal. A cultura corporal de movimento
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é o próprio conteúdo das aulas, pois se trata Compreender e valorizar os diferentes


do conhecimento específico que qualificará sentidos e significados das brincadeiras
e jogos populares do contexto comuni-
a leitura que as crianças, jovens e adultos
tário e regional, da cultura indígena e da
fazem das práticas corporais disponíveis na afro-brasileira (BRASIL, 2016, p. 248)
sociedade, bem como a sua reconstrução
crítica na escola. Participar das ginásticas, reconhecen-
Na perspectiva adotada pela BNCC, do e respeitando diferenças de várias
cultura é toda e qualquer ação social que ordens, com ênfase naquelas relacio-
expressa ou comunica um significado, tanto nadas à aparência e/ou ao desempenho
para quem dela participa e constrói quanto corporal. (BRASIL, 2016, p. 252)
para quem observa, aprecia e usufrui. Ou
seja, o ato de significação é pura produção Contribuir no enfrentamento de situa-
ções de injustiça e preconceito, geradas
cultural. Cada atividade social cria ao seu
e/ou presentes no contexto da prática
redor um universo próprio de significados esportiva, com ênfase nas problemáti-
e práticas, isto é, sua própria cultura. Assim cas de gênero e na produção de alterna-
entendida, a cultura constitui-se em meio às tivas democráticas para sua superação.
relações sociais nas quais grupos e pessoas (BRASIL, 2016, p. 392)
disputam o significado que será conferido
a um determinado artefato. Logo, a cultura Enfrentar, com autonomia, situações
de injustiça e preconceito geradas e/
é um campo de lutas pela significação.
ou presentes no contexto da prática
(HALL, 1997). esportiva e produzir alternativas para
Nessa acepção, a cultura corporal de sua superação, com especial atenção
movimento é um território de conflitos entre nas questões étnico-raciais e indígenas.
os grupos que coabitam a sociedade. Cada (BRASIL, 2016, p. 398)
qual procura afirmar o seu modo de fazer
e entender as práticas corporais, podendo Reconhecer a variedade de exercícios
inclusive rever posicionamentos ou mesmo físicos como uma possibilidade de va-
lorização das diferenças de hábitos e
rejeitar os demais. Os problemas gerados
modos de vida, com especial atenção
na convivência social podem ser identifica- às problemáticas relacionadas ao nível
dos, também, nas manifestações da cultura socioeconômico. (BRASIL, 2016, p. 570)
corporal de movimento. Cada grupo social
lhes atribui significados diferentes em con- Inferir e questionar a relação entre con-
formidade com o contexto social e histórico dições de vida e o envolvimento de gru-
no qual se criam e recriam. (NEIRA, 2010) pos sociais específicos com as práticas
corporais. (BRASIL, 2016, p. 571)
Para enfrentamento dessas questões,
foram elaborados diversos objetivos de
Compreender criticamente as marcas
aprendizagem que pretendem favorecer
sociais, a emergência e as transforma-
os estudantes do Ensino Fundamental e ções históricas dos sentidos, signifi-
Médio no reconhecimento e atuação com cados e interesses constitutivos das
as diferenças. Em caráter ilustrativo, seguem danças tematizadas, bem como as pos-
objetivos presentes nos vários ciclos. sibilidades de recriá-las. (BRASIL, 2016,
p. 576)
198

Partindo do pressuposto de que conhecimentos e de experiências à qual


todos os grupos produzem cultura e que o ele não teria de outro modo. A vivência
não é um meio para se aprender outros
comportamento humano, por mais próximo conteúdos, mas, sim, uma forma de
às necessidades fisiológicas que seja, é gerar um tipo de conhecimento muito
culturalmente influenciado, social e histo- particular, insubstituível. Além disso,
ricamente situado, conclui-se que o corpo para que a vivência seja significativa,
é preciso problematizar, desnaturalizar
é, antes de tudo, uma construção cultural. e evidenciar a multiplicidade de senti-
Sendo assim, não há uma forma universal dos e significados que os grupos sociais
e natural de dançar, lutar, brincar, fazer conferem às manifestações da cultura
ginástica ou praticar esporte. Cada gesto corporal de movimento. As práticas
corporais são textos culturais passíveis
que constitui essas práticas é elaborado e de leitura e produção, não devendo,
apropriado pelo grupo social interessado portanto, ser limitadas apenas à repro-
no seu cultivo, principalmente como forma dução. (BRASIL, 2016, p. 101)
de distinguir-se dos demais, tanto no que
se refere à técnica utilizada, quanto pelo Nesse prisma, não existem técnicas
significado recebido. melhores ou piores, a não ser que se deter-
Caso se atente à expressividade mine um único modelo a ser seguido, atitude
que caracteriza uma determinada prática que não condiz com a atual sociedade mul-
corporal, será fácil constatar que é o meio ticultural e democrática. Em termos peda-
cultural que disponibiliza as condições para gógicos, a BNCC sugere objetivos de apren-
a sua gênese, incorporação, ressignificação dizagem que possibilitem a compreensão
e disseminação. Parece claro, portanto, sócio-histórica e política das manifestações
que as práticas corporais se reinventam da cultura corporal de movimento, visando o
com frequência e seus significados são alcance de uma participação crítica, intensa e
oscilantes. Vistas a distância, é difícil di- digna na esfera pública por todos os grupos
zer que espécie de relação os envolvidos que compõem a sociedade.
estabelecem com elas. As pessoas podem
correr, nadar, praticar yoga, judô, balé ou Compreender criticamente a emergên-
skate com objetivos distintos, mesmo que cia e as transformações históricas do
estejam lado a lado. Em meio à ocorrência, fenômeno esportivo e alguns de seus
problemas (ex. “doping”, corrupção,
as intenções são transformadas em gestos violência etc.), bem como levantar hi-
cujos sentidos também variam. É o que torna póteses para sua modificação. (BRASIL,
impossível adjetivar, mensurar ou compa- 2016, p. 395)
rar qualquer forma de executar as práticas
corporais. Enquanto produtos culturais de Compreender criticamente as trans-
um determinado grupo, elas se configuram, formações históricas e os significados
atribuídos aos programas de exercícios
antes de qualquer coisa, como um fator de físicos, estabelecendo relações com o
identidade cultural, situadas num tempo e contexto de ocorrência e sujeitos envol-
espaço social. vidos. (BRASIL, 2016, p. 571)

Cada prática corporal propicia ao su- Compreender criticamente as marcas so-


jeito o acesso a uma dimensão de ciais, a emergência e as transformações
V. 28, n° 48, setembro/2016 199

históricas dos sentidos, significados e Uma base comum curricular, docu-


interesses constitutivos das danças te- mento de caráter normativo, é referên-
matizadas, bem como as possibilidades cia para que as escolas e os sistemas de
de recriá-las. (BRASIL, 2016, p. 576) ensino elaborem seus currículos, cons-
tituindo-se instrumento de gestão peda-
gógica das redes. (BRASIL, 2016, p. 26)
Se as aulas de Educação Física forem
compreendidas como lócus de análise,
No leque de funções que o do-
discussão e vivência/ressignificação dos
cumento pretende abarcar, destaca-se a
saberes da cultura corporal, serão incoeren-
calibragem das propostas existentes ou
tes quaisquer ações didáticas direcionadas
inspiração para as futuras. No caso da
à fixação de padrões visando o alcance de
Educação Física, qualquer leitor percebe
níveis elevados de desenvolvimento motor,
facilmente que não se trata de uma relação
homogeneização dos corpos ou a utilização
de conteúdos mínimos a serem ensinados
das atividades visando a aprendizagem de
obrigatoriamente em todas as escolas, uma
aspectos cognitivos, afetivos ou sociais.
vez que o caráter aberto dos objetivos de
Dizendo de outra maneira, a perspectiva aprendizagem simplesmente impossibi-
defendida pela BNCC não tem como lita que deles se abstraia um só conheci-
objetivo melhorar a coordenação motora, mento. É importante ressaltar que a não
desenvolver comportamentos cognitivos discriminação de conteúdos foi proposital,
ou promover a adoção de um estilo de vida o que implica na responsabilização dos
fisicamente ativo. Pretende-se, tão somente, coletivos docentes com aquilo que será
contribuir para a formação de cidadãos que efetivamente ensinado, tendo em vista as
compreendam e produzam uma parcela singularidades de cada escola. Vale a pena
da cultura mais ampla, a cultura corporal analisar alguns exemplos:
de movimento, e isso implica no reco-
nhecimento e valorização do repertório Experimentar e recriar brincadeiras e
de todos os grupos, sem nenhum tipo de jogos populares e tradicionais de dife-
rentes grupos e povos do Brasil e do
discriminação.
mundo. (BRASIL, 2016, p. 249)

Reconhecer a diversidade de modali-


O que se pode esperar da BNCC
dades esportivas e as formas de prática
presentes no contexto comunitário e re-
Na direção contrária ao que apre- gional. (BRASIL, 2016, p. 250)
goam alguns analistas (ALVES, 2014; MA-
CEDO, 2014; MACHADO; LOCKMAN, Formular e utilizar estratégias para a
2014) atribuindo ao documento a pecha de execução dos elementos básicos das gi-
násticas. (BRASIL, 2016, p. 252)
um currículo mínimo com vistas à padroni-
zação, a BNCC é tão somente o ponto de
Compreender as transformações históri-
partida para elaboração ou revisão de orien-
cas das lutas da cultura brasileira, bem
tações curriculares estaduais, municipais ou como as possibilidades de recriá-las.
da iniciativa privada. (BRASIL, 2016, p. 400)
200

Realizar, de forma proficiente, as dan- cidadão, que permitam a participação


ças escolhidas pelo coletivo da escola dos/as estudantes de forma confiante
com potencial de uso no lazer. (BRA- e autoral na sociedade (BRASIL, 2016,
SIL, 2016, p. 576) p. 99)

Exemplificando o argumento ante- Sem desqualificar as propostas das


rior, na amplitude do primeiro objetivo de mais variadas redes de ensino, não deixa de
aprendizagem mencionado, são incontáveis ser interessante que os professores possam
as brincadeiras e jogos populares e tradicio- confrontá-las, a fim de identificarem apro-
nais. No segundo, os esportes abordados ximações e distanciamentos e realizar os
dependerão do contexto; no terceiro, cada ajustes que forem necessários. O já mencio-
grupo de crianças, diante do desafio propos- nado estudo de Gramorelli (2014) detectou
to, formulará suas próprias estratégias; no que, em alguns currículos estaduais recente-
quarto, não são definidas quais lutas, nem mente elaborados, a concepção anunciada
tampouco quais transformações históricas e as orientações metodológicas sugeridas
e, no quinto, as danças serão selecionadas são destoantes. Neira (2015), por sua vez,
pelo coletivo da escola. Portanto, não há constatou que muitos currículos estaduais
qualquer definição a priori das práticas cor- mesclam indevidamente conceitos e teorias
porais, nem tampouco dos conhecimentos de ensino, o que colabora para disseminar
que as constituem. Ou seja, os conteúdos a noções confusas e distorcidas tanto da
serem trabalhados dependerão dos projetos função social do componente, quanto dos
pedagógicos de cada instituição, ao que se objetivos, metodologia e avaliação. Enquan-
espera, sejam construídos coletivamente e to isso, Souza Júnior, Santiago e Tavares
ainda das interações e inter-relações esta- (2011) destacam o dinamismo da prática
belecidas entre estudantes e professores. curricular, compreendendo o documento
No âmbito dos sistemas de ensino, como importante fonte epistemológica para
o papel da BNCC é subsidiar a avaliação e a seleção, organização e sistematização dos
reconstrução (se for o caso) das orientações saberes escolar, oferecendo os fundamentos
curriculares a partir da função da Educação à ação docente.
Física explicitada, qual seja: Se no campo da Educação Física,
tais análises possam soar como novidade,
[...] tratar das práticas corporais em suas o mesmo não pode ser dito das políticas
diversas formas de codificação e signi-
curriculares como um todo. Afinal, para
ficação social, entendidas como mani-
festações das possibilidades expressivas Lopes e Macedo (2002), o hibridismo tem
dos sujeitos, por meio da gestualidade e sido a tônica das políticas curriculares con-
do patrimônio cultural da humanidade, temporâneas. A BNCC evita esse deslize
produzidas por diversos grupos sociais
no decorrer da história. Nas aulas, tais
quando atenta à coerência entre função so-
práticas devem ser abordadas como um cial da escola, papel do componente, base
fenômeno cultural dinâmico, diversifi- epistemológica que o subsidia e objetivos
cado, pluridimensional, singular e con- de aprendizagem. Fiel às DCN (BRASIL,
traditório, assegurando a construção e
a reconstrução de um conjunto de co-
2013, p. 131), que buscam “assegurar a
nhecimentos necessários à formação do todas as pessoas uma formação comum
V. 28, n° 48, setembro/2016 201

indispensável para o exercício da cidadania professores debatendo, pensando e ela-


e fornecer-lhes os meios para progredir no borando projetos didáticos a serviço da
trabalho e em estudos posteriores”, esta- formação de um cidadão que possa, na
beleceram-se direitos de aprendizagem e sua passagem pela escola, isto é, através do
desenvolvimento relacionados a princípios currículo, aprofundar os conhecimentos que
éticos, políticos e estéticos que subsidia- adquiriu nas experiências da cultura, intera-
ram a proposição de objetivos gerais do gir com os saberes sistematizados e aqueles
componente para o Ensino Fundamental pertencentes a outros grupos sociais. Esse
e Médio, deles decorrendo objetivos de entrecruzamento cultural lhe proporcionará
aprendizagem vinculados às brincadeiras uma participação mais qualificada na esfera
e jogos, danças, lutas, esportes, ginásticas pública, o que, no âmbito da Educação
e práticas corporais de aventura. Física corresponde a acessar
No contexto da unidade educa-
cional, a BNCC pode inspirar docentes a [...] saberes corporais, experiências
selecionarem, dentre os objetivos arrolados, estéticas, emotivas, lúdicas que se ins-
crevem, mas não se restringem, à racio-
aqueles que se coadunam com as intenções
nalidade típica dos saberes científicos
educativas da escola, definidas coletivamen- a qual, comumente, orienta as práticas
te e com a participação da comunidade. pedagógicas na escola. Experimentar
É notória a inexistência de indicações de e analisar as formas de expressão que
não se alicerçam apenas nessa raciona-
atividades a serem realizadas, métodos ade-
lidade é uma das potencialidades desse
quados ou instrumentos de avaliação ideais. componente e um dos motivos centrais
Isso significa que a BNCC, inversamente a da sua condição de direito dos/as estu-
tantas propostas curriculares estaduais e dantes de todo o Brasil. (BRASIL, 2016,
p. 102)
municipais, posiciona o coletivo docente
como sujeito do processo, cabendo-lhe
criar, inventar, recorrer à experiência A BNCC vislumbra uma sociedade
própria e ao conhecimento dos alunos em que sejam reconhecidas e satisfeitas as
para organizar e desenvolver o trabalho necessidades vitais e sociais de seus mem-
pedagógico. Isso implica em reconstruir bros. Comprometida com esse projeto, a
criticamente o patrimônio cultural corporal concepção de Educação Física adotada
disponível na comunidade, ampliando-o promove uma política da diferença por meio
por meio de experiências elaboradas com do reconhecimento da cultura corporal de
essa finalidade. Em termos práticos, quais movimento dos grupos espalhados pelo
temas serão abordados, de que maneira e território nacional. O que se depreende
o que será feito para verificar se o processo dos objetivos do componente para o Ensino
ocorreu de forma satisfatória, é fruto de uma Fundamental e Ensino Médio, é que se trata
decisão coletiva no interior de cada unidade de uma proposta engajada na luta por mu-
educacional. danças sociais, ao priorizar procedimentos
É evidente que se está falando de democráticos, reconhecer os sujeitos parti-
uma escola que tenha como princípio a cipantes, valorizar experiências de reflexão
gestão democrática que também alcança crítica sobre as práticas corporais, além de
a sala de aula, ou seja, equipe gestora e aprofundar e ampliar os conhecimentos dos
202

alunos mediante o confronto com outras podem mais continuar a mercê da mídia,
representações e manifestações. das empresas, das editoras, dos grupos que
constantemente pressionam as escolas e
Experimentar, fruir e apreciar a pluralida- professores para que determinadas concep-
de das práticas corporais, valorizando o ções do componente ou apenas determina-
trabalho coletivo e o protagonismo.
dos conteúdos sejam ensinados. O Estado
Identificar, interpretar e recriar os va-
lores, os sentidos, os significados e os não pode se eximir da responsabilidade
interesses atribuídos às práticas corpo- de sinalizar aquilo que todas as crianças,
rais, bem como aos sujeitos que delas jovens e adultos, independentemente do
participam.
lugar onde vivem e do setor da sociedade
Desconstruir e combater os preconcei-
tos com relação às práticas corporais e a que pertencem têm o direito de acessar.
aos seus participantes, compreendendo As secretarias de educação e as
suas formas de produção e efeitos. escolas podem olhar para esse documento
Reconhecer as práticas corporais como
e planejar as suas propostas. A BNCC não
elementos constitutivos da identidade
cultural dos grupos e povos, identifi- diz qual brincadeira, dança, luta, esporte,
cando nelas os marcadores sociais de ginástica ou prática corporal de aventura
classe social, gênero, geração, padrões devem ser tematizados, nem tampouco
corporais, raça/etnia, religião. (BRASIL,
como fazê-lo ou avaliá-lo. Isso cabe à escola
2016, p. 544-545)
decidir. As escolas têm que olhar para essa
proposta como o início de uma discussão
Como se observa, nessa perspectiva
mais ampla. A BNCC não pode ser todo o
a experiência escolar é um campo aberto
currículo, pois é simplesmente o começo.
ao debate, ao encontro de culturas e à con-
Qualquer projeto pedagógico ficará a dever
fluência de práticas corporais pertencentes caso se restrinja somente ao que consta no
aos vários setores sociais. Uma proposta documento.
assim delineada pode ser vista como uma Abstraindo situações didáticas a
arena de disseminação de sentidos, de partir dos objetivos de aprendizagem, é
polissemia, de produção de identidades possível visualizar atividades em que os
voltadas para a análise, interpretação, ques- estudantes serão postos frente a frente com
tionamento e diálogo entre e as culturas e as diferenças para que possam interagir e
a partir delas. dialogar. Também analisarão as mazelas
que afligem a sociedade brasileira, sen-
do convidados a olhá-las criticamente e
CONSIDERAÇÕES FINAIS posicionar-se. A BNCC convida a combater
o preconceito, o tratamento desigual de
Dentre as contribuições que a BNCC gênero, de etnia, religião, classe social,
de Educação Física oferece, a participação condições de vida e cultura, pois está
do Estado na definição do que possa ser comprometida com a democracia, a susten-
um ponto de partida para as propostas tabilidade, a segurança e a saúde coletiva.
curriculares públicas, privadas e das uni- Todas as temáticas que têm impactado a
dades educacionais deve ser ressaltada. sociedade brasileira encontram-se presentes
Os currículos das escolas brasileiras não no documento.
V. 28, n° 48, setembro/2016 203

Um detalhe que não pode passar é que o documento se transforme em um


despercebido é que a BNCC não sucumbe, conjunto de conhecimentos obrigatórios a
ela não se deixou, até o presente momento, serem trabalhados. Outro, é que ele seja
subjugar pela força dos grupos conservado- visto como currículo mínimo, algo que os
res que intencionam moldar, através dos professores percorrerão de forma aligeirada
currículos escolares, sujeitos submissos, e sem uma reflexão mais profunda sobre o
calados, quietos, bem ao gosto do neolibe- seu conteúdo, sem pensar a partir dele e
ralismo e dos ditadores de plantão. Homens sobre o que ele propõe. É necessário dar a
e mulheres fadados a adquirirem somente esse texto outras dimensões para recriá-lo
conhecimentos comercializáveis a baixo todos os dias em sala de aula. Em vez de
custo, visando a uma rápida inserção no um instrumento aplicável, deve ser objeto
mercado de trabalho. O projeto formativo de estudo.
da BNCC é um sujeito que saiba ler a rea- Quando o educador for assediado
lidade que o cerca e atuar fundamentado pelos sistemas apostilados, aviltado pe-
em conhecimentos variados, que reconhe- las entidades que desejam pautar o que
ça sua própria identidade cultural e que deve ensinar e encurralado pelos agentes
lute para transformar da sociedade atual. estranhos que se intrometem na escola e
A explicação é simples. Esta sociedade nos currículos de Educação Física todos
não satisfaz a maioria dos brasileiros. Ela os dias, poderá remeter-se ao documento,
é profundamente desigual e injusta. Um confrontar discursos que atacam seus ideais
sujeito desprovido de determinados co- e repelir os invasores.
nhecimentos, um sujeito que na escola não Todavia, é importante alertar que
aprendeu a enxergar os direitos, os valores e não é a existência de uma Base Nacional
os saberes de todos os outros grupos como Comum Curricular que permitirá alcançar
equivalentes não conseguirá unir-se aos a qualidade da educação que todos dese-
demais para desestabilizar a força daqueles jamos e necessitamos. Se não apostarmos
que detêm o poder. Um sujeito que tenha na democratização das relações dentro
sido instrumentalizado pela escola, como da escola, numa maior participação da
querem alguns, talvez possua, ao final do comunidade, nomeadamente nas famílias
Ensino Médio, as competências necessárias que vivem ao redor da escola e nas pessoas
para inserção no mercado de trabalho, mas que lá trabalham; se não ousarmos relações
dificilmente terá se apropriado criticamente didáticas mais horizontais; se não valori-
daquilo que é necessário para construir zarmos os conhecimentos que as crianças,
uma sociedade digna para todos. A BNCC jovens e adultos possuem; se os professores
tem esse papel. Ela projeta uma educação não se tornarem sujeitos do processo; se não
mais ousada quando propõe objetivos de forem bem remunerados; se políticas de
aprendizagem que, se forem alcançados, formação contínua não forem rapidamente
permitirão à escola organizar-se em direção implementadas; se as condições de trabalho
a uma sociedade menos assimétrica. e vida na escola não melhorarem; se o olhar
Entretanto, sempre que uma política que uma parcela da sociedade destina à
dessa monta é pensada, planejada e colo- escola pública não se modificar... todo esse
cada em prática, surgem riscos. Um risco esforço irá por água abaixo. O documento
204

só atingirá os seus objetivos se a sociedade DEWEY, J. A escola e a sociedade e


confiar na escola, nos seus profissionais a criança e o currículo. Relógio D’Água,
e se as administrações substituírem tantas 2002. 
políticas que segregam e discriminam os FABRIS, E. H. Holywood e a produção
docentes por uma pauta baseada no diálogo de sentidos sobre o estudante. In:
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206

Physical Education in BNCC: procedures, concepts and effects

ABSTRACT
In an attempt to meet the social demands arise public policies that envision guide the
construction of curriculum proposals for systems and educational units. Among them,
there is the construction of a National Base Curriculum Common, conducted by the
Ministry of Education in partnership with the National Council of Education Secretaries
and the Union of Municipal Education Managers. As participants in the drafting process
of the two drafts that came to the stall of the public debate, we intend to contribute to
the discussion about the Physical Education component and register a look behind the
scenes of the process. So we try to give visibility to the procedures for preparing the
document, the concepts that guided the work and the effects that are expected to cause.

Keywords: Curriculum; Physical Education; Educational Policy

Educación Física en BNCC: procedimientos, conceptos y efectos

RESUMEN
En un intento de responder a las demandas sociales surgen las políticas públicas
que vislumbran guiar la construcción de las propuestas del plan de estudios para los
sistemas y unidades educativas. Entre ellos, se encuentra la construcción de una Base
Nacional Común, llevada a cabo por el Ministerio de Educación en colaboración con
el Consejo Nacional de Secretarios de Educación y la Unión de Dirigentes Municipales
de Educación. Como participantes en el proceso de redacción de los dos proyectos que
llegaron a la caseta del debate público, tenemos la intención de contribuir a la discusión
sobre el componente de educación física y registrar una mirada detrás de las escenas
del proceso. Así que tratamos de dar visibilidad a los procedimientos para preparar el
documento, los conceptos que guiaron el trabajo y los efectos que se espera que causen.

Palavras clave: Curriculo; Educación Física; Política Educativa

Recebido em: junho/2016


Aprovado em: agosto/2016

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