ANÁLISE DA ATIVIDADE PRÁTICA NA DISCIPLINA DE

SEMIOLOGIA COMO FERRAMENTA NO PROCESSO DE

ENSINO E APRENDIZAGEM
Luiz Caio Benevides Alves1
Kédma Suelen Braga Barros 2
Marcus Domingos Oliveira de Souza Junior3
Raul Rodrigues Barros4
Sandra Barreto Fernandes5

Resumo: A avaliação das ferramentas que compõem o processo de ensino é necessária

para que seja possível a análise de sua eficiência referente à aprendizagem acadêmica de
forma adequada. O objetivo deste trabalho é identificar, através de um questionário, a
aquisição dos conhecimentos e habilidades contidos nas metas da disciplina de
Semiologia, durante as aulas práticas do quarto semestre, da Faculdade de Medicina de
Barbalha, bem como avaliar sugestões dos alunos que já concluíram a mesma, com
intuito de aprimorar a metodologia aplicada.

Palavras-chave: ensino; prática; semiologia

INTRODUÇÃO:

A disciplina de Semiologia da Faculdade de Medicina de Barbalha, da

Universidade Federal do Cariri, é ofertada no quarto semestre da grade curricular. Trata-
se de uma disciplina que pertence ao Módulo de Abordagem do Paciente, na qual os
alunos, pela primeira vez durante o curso, entram em contato com pacientes em
ambiente hospitalar, especificamente os que se encontram internados nas enfermarias,
para aprenderem técnicas e habilidades no que diz respeito à coleta e interpretação dos
principais achados clínicos.

O plano de Ensino da Disciplina contempla objetivos divididos em 3grupos:

“Aquisição de Conhecimentos”, “Aspectos Atitudinais” e “Habilidades Desenvolvidas/
Aperfeiçoadas”, que representam aspectos que deverão ser adquiridos pelos alunos ao
final do semestre. Nesse contexto, a aula prática, sob supervisão de professores e

___________________________________________
1
Acadêmico, Faculdade de Medicina do Cariri da Universidade Federal do Cariri, Barbalha, Ceará,
lcaiobenevides@gmail.com.
2
Acadêmica, Faculdade de Medicina do Cariri da Universidade Federal do Cariri, Barbalha, Ceará,
kedmasuelen@hotmail.com
3
Acadêmico, Faculdade de Medicina do Cariri da Universidade Federal do Cariri, Barbalha, Ceará,
marcusdomingosoliveira@gmail.com
4
Acadêmico, Faculdade de Medicina do Cariri da Universidade Federal do Cariri, Barbalha, Ceará,
raulbarros4@gmail.com
5
Professora orientadora, Faculdade de Medicina do Cariri da Universidade Federal do Cariri, Barbalha,
Ceará, sandrabfernandes@ig.com.br
 monitores, apresenta-se como uma ferramenta que auxilia os alunos nesse
aprendizado.

As aulas práticas servem de estratégia e podem auxiliar o professor a retomar um

assunto já abordado, construindo com seus alunos uma nova visão sobre um mesmo
tema. Quando compreende um assunto já trabalhado em sala de aula o aluno amplia sua
reflexão sobre os fenômenos que acontecem a sua volta e isso pode gerar,
consequentemente, discussões durante as aulas. (LEITE; SILVA; VAZ, 2005)

Enquanto ferramenta de ensino faz-se necessária a avaliação de forma periódica

da qualidade e da eficiência da aula prática sob o ponto de vista tanto por parte dos
docentes, como dos discentes, a cada semestre, para que haja um aprimoramento desse
instrumento de forma a aumentar sua eficiência e melhorar a qualidade do processo de
ensino e aprendizagem da disciplina de Semiologia. O ensino médico tem sido alvo de
críticas nas últimas décadas em relação da sua capacidade de desenvolver o potencial
intelectual, a capacidade de análise, julgamento e avaliação crítica, habilidade para
resolver problemas, raciocínio crítico e abordagem criativa (COSTA, 2007)

Identificar, através de um questionário elaborado pelo monitor, a eficiência da

aula prática enquanto instrumento que viabiliza a aquisição dos conhecimentos e
habilidades contidos nos objetivos do Plano de Ensino da disciplina, bem como avaliar
sugestões dos alunos que já concluíram a mesma para aprimorar a metodologia aplicada
e analisar os dados obtidos através do questionário, são os objetivos deste trabalho.

MATERIAIS E MÉTODOS:

Trata-se de um estudo quali-quantitativo, observacional e transversal, utilizando-

se como instrumento um questionário elaborado pelo monitor com 14 perguntas,
aplicado de forma voluntária e anônima, durante o mês de Setembro de 2013, aos
alunos matriculados na Faculdade de Medicina de Barbalha, da Universidade Federal do
Cariri que concluíram o quarto semestre. Além de perguntas diretas sobre os objetivos
da disciplina, o questionário conta ainda com itens que procuram avaliar a importância
de instrumentos usados durante as aulas práticas, tais como os roteiros de anamnese e
do exame físico, elaborados pela coordenação da disciplina, que servem como um guia
para o aluno. Participou da pesquisa um total de 115 alunos que foram estratificados nas
seguintes categorias: semestre 5: 29 (25,21%), semestre 6: 30 (26,08%), semestre 7: 26
(22,60%), semestre 8: 14 (12,17%) e internato: 16 (13,91%).

RESULTADOS E DISCUSSÕES:

As primeiras perguntas do questionário avaliaram o desenvolvimento de

capacidades e aptidões que são esperadas pelos alunos ao final da disciplina de
semiologia organizadas em 3 grupos. O primeiro, avaliava a “Aquisição de
Conhecimentos” que apresentavam 5categorias A, B, C, D e E. A categoria A retrata o
“Interagir com o paciente para obter histórica clínica completa”. Dos entrevistados 28%
responderam ter boa interação ao entrevistar o paciente. A categoria B refere-se a
“Manipular e Conhecer o Prontuário Médico”; neste, apenas 15% referiram saber
manuseá-lo. A categoria C trata sobre “Elaborar diagnósticos com Integração Anátomo-
clínica” com 20% dos entrevistados assinalando essa opção. A categoria D diz respeito
a “Conhecer a Terapêutica Clínica Envolvida nos Principais Sinais e Sintomas” e
apenas 12% dos entrevistados relataram esse tipo de conhecimento. “Conhecer os
Principais Sinais e Sintomas” refere-se à categoria E com 24% dos alunos que optaram
por esse item (Figura 1).

30
25
Item A
20
Item B
15
Item C
10
Item D
5
Item E
0
% Respostas

Figura 1- Aquisição de Conhecimentos

O segundo grupo contemplava os “Aspectos Atitudinais” apresentando 3 itens.

O item A referia-se a “Desenvolver a Capacidade de Trabalho em Equipe” e 34% dos
alunos afirmaram ter adquirido esta atitude. O item B tratava sobre “Apresentar
Atitudes de Discernimento na Avaliação das Diferentes Situações, Elaborando
Situações Adequadas”, com e 39% das respostas. Por fim, o item C referia-se a
“Compromisso de Atualização, Assumindo Posturas Críticas e Estimulando o
Desenvolvimento do Grupo”, com e 27% dos alunos entrevistados (Figura 2).

50

40

30 Item A
Item B
20
Item C
10

0
% Respostas

Figura 2- Aspectos Atitudinais

O terceiro grupo abordava “Habilidades Desenvolvidas/ Aperfeiçoadas” também

apresentando 3 itens, respectivamente item A, B e C. O item A se referia sobre a
“Capacidade de Abordar Eticamente o Paciente para Obtenção de História Clínica” e
uma grande porcentagem dos alunos afirmaram ter desenvolvido essa habilidade (58%).
Em relação ao “Poder Integrativo Anátomo-clínico” abordado no item B, 33% dos
estudantes o assinalaram. Uma pequena minoria, 8%, assinalou o item C que tratava
sobre “Identificação em Peças Anatômicas de Alterações Patológicas e sua Respectiva
Patogenia” (Figura 3).
 70
60
50
40 Item A

30 Item B

20 Item C

10
0
% Respostas

Figura 3- Habilidades Desenvolvidas/ Aperfeiçoadas

Temas pertinentes às patologias vistas durante as aulas práticas foram também

abordados de forma a avaliar a sua variedade (Figura 4) e quais patologias
apresentavam maior prevalência (Figura 5).

Ampla (24%)
Restrita (76%)

Figura 4- Variedade de Patologias Abordadas Durante Aulas Práticas

Cardiopatias
(86%)
Pneumopatias
(7%)
Endocrinopatias
(3%)
Outros(3%)

Figura 5- Tipos de Patologias mais Abordadas Durante Aulas Práticas

 Foi avaliado também o nível de importância sob a visão dos alunos no tocante às
ferramentas, roteiro de anamnese e exame físico, utilizados durante as aulas práticas
(Figura 6).

Essencial (80%)

Dispensável
(4%)
Incompleto
(16%)

Figura 6- Classificação da Importância dos Roteiros de Anamnese e Exame Físico

Apesar da falta de literatura sobre a temática para que pudesse ser realizada uma
análise comparativa,as figuras 1, 2 e 3 permitem inferir que há considerável crescimento
e amadurecimento dos alunos ao final da disciplina. Contudo, algumas capacidades e
aptidões apresentam baixos percentuais como a habilidade de manusear o prontuário
médico, conhecer a terapêutica envolvida nas doenças estudadas durante as práticas e a
capacidade de correlacionar anatomicamente os achados das doenças em estudo.

No sentido de tentar melhorar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos

que consigam atingir os objetivos aos quais a disciplina se destina, deduz-se que é
necessária uma reavaliação da metodologia utilizada durante o exercício prático das
aulas. É possível sugerir mudanças que, uma vez adotadas, possam impactar de forma
positiva nessa realidade de forma a mudar estes resultados. Como sugestão, se poderia
incluir na programação das 3 disciplinas (Semiologia, Farmacologia e
Anatomopatologia) do Módulo de Abordagem do Paciente temas proferidos que as
correlacionem entre si , viabilizando a oportunidade dos alunos também o fazerem com
os achados vistos durante as aulas práticas, tanto nas discussões dos casos clínicos em
enfermarias, como com as peças anatômicas e lâminas histopatológicas e,
consequentemente, aumentar o entendimento fisiopatológico e terapêutico das doenças
estudadas. Outra sugestão seria propiciar condições para que haja um maior
engajamento por parte dos monitores e docentes após a apresentação da história clínica
do paciente selecionado nas aulas práticas no sentido de utilizar parte do tempo
destinado à discussão do caso clínico para o manuseio do prontuário do mesmo junto
aos alunos, a fim de fomentá-los para uma adequada correlação com a farmacoterapia e
condutas realizadas da patologia em questão, e, consequentemente no raciocínio clínico
para tomada de decisões consistentes.

Os alunos consideram limitada a diversidade das doenças abordadas durante as

aulas práticas e, além disso, centralizadas em um pequeno grupo de patologias, como as
cardiopatias. O fato pode ser considerado como um fator de limitação do processo de
aprendizado uma vez que patologias de outros sistemas orgânicos não são
contempladas. Nesse sentido, faz-se necessário o estabelecimento de parcerias com
hospitais que atendam um maior número de especialidades médicas de forma a
diversificar o leque de patologias a serem abordadas.

Por fim, a análise da última figura revela a grande importância dos roteiros de
anamnese e exame físico como elementos norteadores do processo de aprendizado
semiológico durante as aulas práticas. Contudo, existe um percentual considerável de
estudantes que julgam tais ferramentas como incompletas. Objetivando atender essa
demanda, vê-se necessário que o grupo de discentes-monitores e o grupo de docentes
reavaliem a estrutura das ferramentas citadas de modo a melhorar sua qualidade no
tocante às áreas menos contempladas, tais como: reumatologia, otorrinolaringologia e
ginecologia.

CONCLUSÕES:

Os resultados deste trabalho não deixam dúvidas quanto ao papel fundamental

que a aula prática tem no contexto do estudo da Semiologia. Contudo, na condição de
ferramenta, é necessário que esta esteja em constante análise para que seja possível a
identificação de aspectos negativos que precisem ser adequados às necessidades
acadêmicas, assim como o aprimoramento na qualidade de ensino da disciplina.

REFERÊNCIAS:

LEITE, A.C.S; SILVA; P.A.B; VAZ, A.C.R. A importância das aulas práticas para
alunos jovens e adultos: uma abordagem investigativa sobre a percepção dos alunos do
PROEF II. Ensaio pesquisa em Educação em Ciências. Vol 7, n 3, 2005. Disponível em:
<http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ensaio/article/viewFile/98/147>. Acesso
em: 15 de setembro de 2012

COSTA, Nilce Maria da Silva. Docência no Ensino Médico: por que é tão difícil
mudar? Revista Brasileira de Educação Médica 31(1) : 21-30; 2007