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Sugestões de leitura

Mito
Bhabha, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Ed. ufmg, 2003.
Del Priore, Mary. Mulheres no Brasil colonial. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003.
Freyre, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o
regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1995.
Gruzinski, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Funari, Pedro Paulo; Noelli, Francisco Silva. Pré-história do Brasil. São Paulo:
Contexto, 2002.
Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994.
Maestri, Mário. Uma história do Brasil colônia. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
Mesgravis, Laima; Pinsky, Carla Bassanezi. 2. ed. O Brasil que os europeus
encontraram. São Paulo: Contexto, 2002.
Paiva, Eduardo França. Escravidão e universo cultural na colônia: Minas Gerais,
1716-1789. Belo Horizonte: Ed. ufmg, 2001.
Pinsky, Jaime. A escravidão no Brasil. São Paulo: Contexto, 1993.

Mito
Os mitos de civilizações antigas exercem grande fascínio sobre o imaginário dos
historiadores e do público leigo, o que leva a mitologia a ser uma temática bastante
popular dentro e fora da academia, como demonstram as variadas publicações de
coletâneas de mitos cujo alvo é o grande público. Coleções mais tradicionais de
mitos egípcios, mesopotâmicos e em especial gregos são facilmente encontradas no
mercado editorial brasileiro, ao lado hoje de coleções menos comuns como os mitos
iorubás, vikings e mesmo maias. Um conjunto de mitos de determinada cultura é
uma mitologia: assim podemos falar em mitologia grega, mitologia asteca etc. Mas,
no entanto, mitologia também significa a disciplina específica que tem como objeto de
estudo os mitos, sua natureza e significado. Nessa disciplina, encontramos nomes de
grande importância para as ciências humanas, como Mircéa Eliade e Joseph Campbell.
Mas apesar de pertencer a um campo tão prezado por historiadores e amantes da
História, o conceito de mito é pouco conhecido e, na verdade, menos fácil de definir. O
antropólogo Everardo Rocha chega mesmo a afirmar que não é possível definir mito.
Alguns historiadores tradicionais, como é o caso do estudioso da cultura clássica
P. Commelin, afirmam que o mito é uma mentira. Outros, mais moderados, como

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Page, medievalista estudioso da mitologia viking, afirmam que os mitos são
Mito

fábulas, narrativas puramente fictícias, em cuja base encontramos o sobrenatural,


os fenômenos da natureza ou os acontecimentos históricos alterados. Nesse caso,
a mitologia é não mais do que uma compilação de contos, muito aproximada da
literatura e da ficção. Mas os mitos são abordados de forma diferente por outras
ciências humanas, como a Antropologia e a Psicanálise. Os historiadores que têm se
preocupado em estudar os mitos de forma mais profunda que a simples coletânea de
contos têm se voltado para essas disciplinas, assim como para o trabalho de mitólogos
como Eliade. Um desses casos é o do medievalista Jeffrey Russel.
Em seu trabalho O diabo: as percepções do mal da Antiguidade ao cristianismo
primitivo, Russel construiu uma interpretação do diabo como figura mitológica do
Cristianismo. Baseado na Psicanálise, o autor defende que os mitos são produtos
do inconsciente alterados pelo consciente, que raramente sabe o que se passa no
inconsciente. A mitologia, assim, não é racional, é mais do que isso. Nessa abordagem,
influenciada pelo antropólogo Lévi-Strauss, mito se diferencia totalmente de lenda
e de fábula, não sendo considerado nem fantasia, nem ficção, mas um “disfarce” para
o pensamento abstrato e a expressão de uma consciência humana mais profunda.
O grande impulso na pesquisa sobre o valor dos mitos foi dado pela obra de
Freud, no início do século xx, e pela descoberta do inconsciente coletivo. A Psicanálise
utilizou o mito como base para o estudo da mente humana. Já a Antropologia se
voltou para o mito como fonte do conhecimento social. Para os antropólogos, o mito
é uma narrativa, uma reflexão alegórica sobre a existência, e carrega uma mensagem
implícita capaz de revelar o pensamento de uma sociedade.
Ao longo do tempo, várias linhas de interpretação dos mitos foram sendo
esboçadas a partir da sua riqueza e multiplicidade de significados. Entre elas, as
principais são: a naturalista, que considera os mitos uma tradução das forças da
natureza; a historicista, que considera que o mito é uma representação de episódios
verdadeiros do passado; a funcionalista, criada por Malinowski nos anos 1920, que
afirma que o mito tem uma função social específica, religiosa, moral, ou de busca
de conhecimento; a psicanalítica, que usa o mito como fonte de conhecimento da
mente humana; e a estruturalista, de Lévi-Strauss, que busca no mito dados sobre
as estruturas sociais. As linhas interpretativas psicanalíticas são tão influentes no
estudo dos mitos quanto as antropológicas. Mas enquanto os antropólogos querem
entender as estruturas sociais por trás dos mitos, os psicanalistas usam os mitos para
estudar o inconsciente humano.
Os dois grandes nomes na interpretação psicanalítica dos mitos são Freud e Jung,
não por coincidência também dois dos maiores pensadores da Psicanálise. Tanto os
estudos dos sonhos de Freud quanto a teoria dos arquétipos de Jung admitem a natureza

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imutável e constante do inconsciente, o que permite a continuidade dos mitos.

Mito
Os mitos, como os sonhos, seriam expressos pelo inconsciente: para Freud, pelo
inconsciente individual, e para Jung, pelo inconsciente coletivo. Para Freud, o mito
ajuda a exprimir as vivências humanas e a representar a influência do inconsciente na
formação do consciente em cada indivíduo. Os mitos, como o clássico mito de Édipo,
foram utilizados por Freud para compreender o desenvolvimento de cada indivíduo.
Para ele, o mito exprime fases da vida pelas quais cada pessoa passa. Enquanto Freud
estudava o inconsciente pessoal, Jung estudava o inconsciente coletivo, região da mente
onde estão guardadas todas as experiências comuns da humanidade, o repositório de
experiências humanas compartilhadas, segundo ele, por todos. Os mitos, para Jung, são
uma das provas de que o inconsciente coletivo existe, pois muitos mitos e símbolos se
repetem em diversas culturas sem nenhuma ligação. Um dos grandes exemplos de uma
figura que se repete na mente humana ao longo do tempo, em diferentes sociedades
sem influência mútua, é o culto ao Sol: presente no Egito e no Império Inca, entre
outras antigas civilizações, ele continua existindo hoje, por exemplo, na frequência
dos brasileiros às praias em busca de diversão e socialização. Para antropólogos como
Everardo Rocha, essa frequência é quase um “culto”, com significados sociais profundos.
Adentrando a Antropologia, deparamos com Malinowski e Lévi-Strauss. O
primeiro via o mito de forma funcionalista, ou seja, afirmando que todo mito tem
uma função na sociedade, uma finalidade. Assim, por exemplo, o mito poderia
funcionar como forma de repassar os valores morais da sociedade. Já para o
estruturalista Lévi-Strauss, o mito tem estreita relação com a linguagem e não
pode ser lido como um texto comum, pois não mostra seu significado básico por
meio de uma sequência de acontecimentos. Pelo contrário, muitas vezes a série de
acontecimentos ao qual está vinculado o significado do mito está afastada de seu
enredo. E para seu entendimento é preciso compreender a sociedade que o gerou
assim como os outros mitos da mesma sociedade.
Na Antropologia, o campo clássico de estudo dos mitos são as chamadas
“sociedades primitivas”, ou seja, sociedades tribais contemporâneas da nossa
sociedade industrial/pós-industrial. Normalmente sociedades indígenas na Oceania,
África ou América. Já para a Psicanálise, os mitos mais estudados são os greco-latinos,
os mitos clássicos como Édipo e Electra. Na História, por sua vez, a mitologia como
compilação de mitos religiosos é encontrada no estudo das mais diferentes culturas,
dos vikings aos astecas.
A universalidade do mito e sua grande importância para o pensamento
humano é algo palpável no fato de que todas as sociedades elaboram mitos, quer
sejam representações do inconsciente coletivo, das estruturas sociais, quer tenham
função prática na sociedade. Intelectuais do fim do século xx, de ciências que

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tradicionalmente não se interessavam por tal tema, têm dado especial atenção aos
Mito

chamados mitos contemporâneos. Um dos mais importantes desses pensadores


é Umberto Eco, que estuda os mitos da sociedade ocidental na propaganda e no
cinema, em personagens como James Bond.
Não podemos esquecer a importância dos mitos para a Filosofia. Segundo
Auguste Comte, a Filosofia inclusive teria substituído a mitologia na explicação do
mundo e do universo. A visão evolucionista de Comte acreditava que a mitologia
era a forma mais primitiva de explicar o mundo, depois evoluindo para a Filosofia
e para a ciência à medida que a própria civilização fosse evoluindo. Também os
filósofos críticos da modernidade, como os frankfurtianos Adorno e Horkheimer, em
meados do século xx, comentaram a relação entre mito e Filosofia. Esses pensadores
acreditavam que o Iluminismo pretendeu livrar o homem da superstição e do
medo, dissolvendo o mito, mas que, ao desenfeitiçar o mundo, teria incinerado sua
própria consciência. Para eles, a explicação científica do Iluminismo teria dado fim
à explicação mitológica, perdendo-se muito da natureza humana nesse processo.
O grande fascínio que a mitologia exerce sobre nossas mentes talvez seja uma
prova de que a humanidade realmente precisa deles. O professor de História pode
explorar esse fascínio em sala de aula, trabalhando com as mais diversas mitologias
como forma de refletir sobre a diversidade cultural da humanidade. É bastante fácil
encontrar coletâneas de mitos de diferentes povos no mercado editorial brasileiro.
Um bom exercício talvez seja justamente trabalhar mitos de diferentes culturas de
forma comparada. Mas lembrando que muitas dessas coletâneas encaram os mitos
como fábulas. Além disso, já estamos constantemente trabalhando com mitos em sala
de aula: Tiradentes, Zumbi etc. Esses “heróis históricos”, relacionados com a própria
construção da identidade brasileira, podem também ser interpretados como mitos.
Essa situação é uma razão a mais para que o educador se aprofunde nas muitas formas
de interpretação dos mitos antes de passá-los para os alunos.

Ver também
Discurso; Folclore; História; Historiografia; Identidade; Imaginário; Mentalidades;
Religião; Tradição.

Sugestões de leitura
Edgar, Andrew; Sedgwick, Peter. Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para
entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003.
Eliade, Mircéa. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 2002.
Funari, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2001.
McCall, Henrietta. Os mitos da Mesopotâmia. São Paulo: Moraes, 1994.

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