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O

ÓBICES AO PROGRAMA NACIONAL DE


ATIVIDADES ESPACIAIS (PNAE)
CONTAGEM REGRESSIVA PARA A DECOLAGEM OU
PARA O RÉQUIEM DO PNAE?

FERNANDO CARLOS WANDERLEY ROCHA


Consultor Legislativo da Área XVII
Segurança Pública e Defesa Nacional
fernando.wanderley@camara.gov.br
ESTUDO
JULHO/2012
Câmara dos Deputados
Praça dos Três Poderes
Consultoria Legislativa
Anexo III - Térreo
Brasília - DF

© 2008 Câmara dos Deputados.


Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que
citados o autor e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a reprodução
parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados.
Este trabalho é de inteira responsabilidade de seu autor, não representando necessariamente a opinião da
Câmara dos Deputados.

2
3
BRANCO, Arnaldo; MOR, Claudio. Agente Zero Treze. O Globo, Rio de Janeiro, 2 jan, 2012. Segundo Caderno/HQs, p. 9.

4
Os povos sem ciência, sem tecnologia não passam de
cortadores de lenha e carregadores de água para os povos mais
esclarecidos.
Ernest Rutherford, físico neozelandês (1871-1937).

A defesa do projeto espacial é simples. Atualmente, o Brasil


é escravo da tecnologia espacial de outros países. Eu
não quero deixar um país escravo para os meus filhos. Por isso
defendo a manutenção do Programa Espacial Brasileiro. No
passado, a escravidão era negra. Hoje, é tecnológica.
Os países que dominam tecnologia escravizam os que
não têm. A gente só vai se livrar da escravidão quando tiver
conhecimento e domínio de tecnologia espacial.
Entrevista com MARCOS CÉSAR PONTES, primeiro
astronauta brasileiro.
CAMPBELL, Ullisses. Brasil é escravo da tecnologia espacial.
Correio Braziliense, Brasília, 21 set. 2003. Brasil, p. 16.

As declarações sobre a continuidade do programa antártico são


tão sem esperanças quanto às declarações quando o acidente
em Alcântara, em 2003, acabou com a vida de 21 pessoas e com
o nosso programa espacial. Formamos poucos pesquisadores
e, destes, por absoluta falta de condições, poucos ficam no
Brasil. Estamos cada vez mais distantes da linha de frente do
conhecimento. O Brasil é, hoje, a sexta economia do
mundo, mas será que estamos à altura de tamanha
relevância internacional?
FUKUMOTO, Lucio Eiji (Leitor da Folha de S. Paulo em
Manaus/AM). Acidente na Antártida. Folha de S. Paulo, São
Paulo, 27 jan. 2012. Opinião/Painel do Leitor, p. 2.

5
SUMÁRIO
SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................ 07
PREFÁCIO ........................................................................................................................ 13
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 15
2. ÓBICES INTERNOS AO PROGRAMA AEROESPACIAL .................................. 28
2.1. Lentidão nas decisões e subsequentes execuções pelo Governo federal ... 29
2.2. Recursos orçamentários insuficientes e descontínuos ................................. 40
2.3. Morosidade e dificuldade nas aquisições de bens e serviços ....................... 51
2.4. Exiguidade e baixa capacitação tecnológica da indústria brasileira ............. 56
2.5. Insuficiência e dificuldade de captação de recursos humanos
especializados ..................................................................................................... 59
3. ÓBICES EXTERNOS AO PNAE .......................................................................... 69
3.1. O que está por trás dos óbices externos?........................................................ 71
3.2. Embargos no campo da aeronáutica civil e militar ......................................... 83
3.3. Embargos no campo da missilística ................................................................. 90
3.4. Embargos no campo espacial ........................................................................... 95
3.5. O Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR) .............................. 104
3.6. A política externa dita o atraso do PNAE ......................................................... 112
3.6.1. O elevado preço da autonomia pela integração .............................................. 112
3.6.2. O Acordo com os EUA sobre Alcântara ........................................................... 119
3.6.3. O Acordo com a Ucrânia – Alcântara Cyclone Space ..................................... 120
3.6.4. A adesão do Brasil ao MTCR ............................................................................. 126
3.6.5. O rebaixamento da importância das atividade espaciais ............................... 129
3.6.6. O PNAE sob investimentos quase zero ............................................................ 130
3.6.7. FHC e o PNDH ..................................................................................................... 130
3.6.8. Um jogo de hipocrisias ...................................................................................... 134
3.6.9. Fechando as conexões ...................................................................................... 136
4. QUILOMBOLAS EM ALCÂNTARA? UMA FARSA ANTROPOLÓGICA E
JURÍDICA ............................................................................................................. 138
4.1. Compreensão da “questão quilombola” .......................................................... 140
4.2. Auscultando o Centro e a cidade ...................................................................... 145
4.3. Pelos caminhos rurais de Alcântara ................................................................. 164
4.4. “Quilombolas” no Brasil – uma criação da Fundação Ford ........................... 185
4.5. O art. 68 do ADCT – terras dos remanescentes dos quilombos .................... 192
4.6. O COHRE contra o Brasil na OIT ....................................................................... 201
4.7. Outras ONGs e ativistas contra o Complexo Espacial de Alcântara ............. 208
4.8. O papel do Ministério Público Federal .............................................................. 225
5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 239
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 243

6
SIGLAS E ABREVIATURAS
ABDIB: Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base
ABONG: Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
ABPN: Associação Brasileira de Pesquisadores (as) Negros(as)
ABRA: Associação Brasileira de Reforma Agrária
ABRABI: Associação Brasileira das Empresas de Biotecnologia
ACONERUQ: Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do
Maranhão
ACS: Alcântara Cyclone Space
ADCT: Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
AEB: Agência Espacial Brasileira
AGU: Advocacia-Geral da União
AIAB: Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil
AMA: Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise (do Programa Piloto para a
Proteção das Florestas Tropicais do Brasil)
AMPEAFRO: Associação Maranhense de Pesquisas Afro Brasileiras
ANEEL: Agência Nacional de Energia Elétrica
APA: Área de Preservação Ambiental
ATECH: Fundação Aplicações de Tecnologias Críticas
BIRD: Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Banco Mundial)
C&T: Ciência e Tecnologia
CAEAT: Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica (da Câmara dos
Deputados)
CBERS: China-Brazil Earth Resources Satellite (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres)
CCJC: Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (da Câmara dos Deputados)
CCN-MA: Centro de Cultura Negra do Maranhão
CCTCI: Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (da Câmara
dos Deputados)
CEA: Complexo Espacial de Alcântara
CEBDS: Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEBRAP: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
7
CEDI: Centro de Documentação e Informação (da Câmara dos Deputados)
CEDENPA: Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
CEF: Caixa Econômica Federal
CESE: Coordenadoria Ecumênica de Serviço
CFS: Civil Society Facility (Fundo da Sociedade Civil do Irish Aid, governo da Irlanda)
CGEN: Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
CGU: Controladoria-Geral da União
CIA: Central Intelligence Agency (Agência Central de Inteligência)
CIDH: Comissão Interamericana de Direitos Humanos
CIMI: Conselho Indigenista Missionário
CLA: Centro de Lançamento de Alcântara
CLBI: Centro de Lançamento da Barreira do Inferno
CNA: Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil
CNEN: Comissão Nacional de Energia Nuclear
CNES: Centre National d´Etudes Spatiales (Centro Nacional de Estudos Espaciais)
CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNS: Conselho Nacional dos Seringueiros
COBAE: Comissão Brasileira de Atividades Espaciais
COCTA: Comissão de Organização do Centro Técnico de Aeronáutica
COHRE: Centre On Housing Rights and Evictions (Centro pelo Direito à Moradia e
contra Despejos)
COIAB: Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
CONAQ: Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas
CONTAG: Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPT: Comissão Pastoral da Terra
CREDN: Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (da Câmara dos
Deputados)
CT&I: Ciência, Tecnologia e Inovação.
CTA: Centro Técnico Aeroespacial (na sequência: Centro Técnico de Aeronáutica,
Centro Tecnológico da Aeronáutica e Centro Técnico Aeroespacial; hoje,
DCTA)
CTBT: Comprehensive Nuclear-Test- Ban Treaty (Tratado de Proscrição Completa
8
de Testes Nucleares)
DANC: Diário da Assembleia Nacional Constituinte
DCTA: Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (do Comando da
Aeronáutica)
EED: Evangelischer Entwicklungsdienst (Serviço das Igrejas Evangélicas na
Alemanha para o Desenvolvimento
EGIR: Embedded GPS/INS/Radar Altimeter [(Equipamento eletrônico que integra as
informações do GPS, do INS (Sistema de Navegação Inercial – Inertial
Navigation System) e do Radar Altímetro]
EMBRAER: Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.
EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMFA: Estado-Maior das Forças Armadas
FAPEAM: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
FAPESP: Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo
FBOMS: Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
FCP: Fundação Cultural Palmares
FEBRAFARMA: Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica
FETAEMA: Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão
FIOCRUZ: Fundação Osvaldo Cruz
FUNAI: Fundação Nacional do Índio
g.n.: grifo(s) nosso(s)
GAJOP: Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares
GEI: Grupo Executivo Interministerial Alcântara
GIZ: Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (Agência Alemã de
Cooperação Internacional)
GPS: Global Position System (Sistema Global de Posicionamento)
GTZ: Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência Alemã de
Cooperação Técnica)
HELIBRAS: Helicópteros do Brasil S.A.
IAE: Instituto de Aeronáutica e Espaço
IAF: Inter-American Foundation (Fundação Inter-Americana)
IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
9
IDESP: Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano
IFET: Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
ILANUD: Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e
Tratamento do Delinquente
IME: Instituto Militar de Engenharia
INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INPI: Instituto Nacional de Propriedade Intelectual
IPT: Instituto de Pesquisas Tecnológicas
IPUERJ: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro
ISA: Instituto Socioambiental
ISRO: Indian Space Research Organization (Organização Indiana de Pesquisas
Espaciais)
ISS: International Space Station (Estação Espacial Internacional)
ITA: Instituto Tecnológico de Aeronáutica
ITAR: International Traffic in Arms Regulation (Regulamentação sobre o Comércio
Internacional de Armas)
MABE: Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara
MAer: Ministério da Aeronáutica
MAPA: Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento
MCT: Ministério da Ciência e Tecnologia (hoje, MCTI)
MCTI: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (antes, MCT)
MD: Ministério da Defesa
MERCOSUL: Mercado Comum do Sul
MIDIC: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MINC: Ministério da Cultura
MJ: Ministério da Justiça
MMA: Ministério do Meio Ambiente
MPF: Ministério Público Federal
MPOG: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
MRE: Ministério das Relações Exteriores
MS: Ministério da Saúde
10
MST: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MTCR: Missile Technology Control Regime (Regime de Controle de Tecnologia de
Mísseis)
NAJ: Núcleo de Assuntos Jurídicos
NASA: National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional da
Aeronáutica e do Espaço)
NIL: Newly Independent States (Novos Estados Independentes)
nm/h: nautical mile per hour (milha náutica por hora)
NSG: Nuclear Suppliers Group (Grupo de Supridores Nucleares)
OEA: Organização dos Estados Americanos
OIT: Organização Internacional do Trabalho
ONG: Organização Não-Governamental
ONU: Organização das Nações Unidas
OUA: Organização para a Unidade Africana
P&D: Pesquisa e Desenvolvimento
P.O.: purchase order (ordem compra)
PETROBRAS: Petróleo Brasileiro S/A
PNAE: Programa Nacional de Atividades Espaciais (comumente chamado Programa
Espacial Brasileiro)
PNBL: Programa Nacional de Banda Larga
PNCSA: Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
PPGSCA: Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia
PPTAL: Programa Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais do Brasil
PT: Partido dos Trabalhadores
PVN: Projeto Vida de Negro
RETAERO: Regime Especial para a Indústria Aeroespacial Brasileira
RTID: Relatório Técnico de Identificação e Delimitação
SBPC: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SBPCHum: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – Área de Humanas
SCA: Secretaria de Coordenação da Amazônia (do Ministério do Meio Ambiente)
SDDH: Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos
SENAES: Secretaria Nacional de Economia Solidária
SEPPIR: Secretaria Especial de Políticas para Promoção da Igualdade Racial
11
SGB: Satélite Geoestacionário Brasileiro
SINDAE: Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais
SindCT: Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Ciência e Tecnologia do
Vale do Paraíba
SISNAMA: Sistema Nacional do Meio Ambiente
SJC: São José dos Campos
SMDH: Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos
SNCASE: Société Nationale des Constructions Aéronautiques du Sud-Est
SOF: Serviço de Orientação da Família (atual Sempreviva Organização Feminista)
STRNA: Sindicato de Trabalhadores Rurais de Novo Airão
STTR: Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
TAL Ambiental: Projeto de Assistência Técnica para a Agenda da Sustentabilidade
Ambiental
TCU: Tribunal de Contas da União
TELEBRAS: Telecomunicações Brasileiras S.A.
TNP: Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (Nuclear Non-Proliferation
Treaty)
UFAM: Universidade Federal do Amazonas
UFG: Universidade Federal de Goiás
UFMA: Universidade Federal do Maranhão
UFPA: Universidade Federal do Pará
UFRR: Universidade Federal de Roraima
UnB: Universidade de Brasília
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
USIP: United States Institute of Peace
USML: United States Munitions List (Lista de Munições dos Estados Unidos)
USP: Universidade de São Paulo
VANT: veículo aéreo não-tripulado
VLS: Veículo Lançador de Satélites
VTOL: vertical takeoff and landing (decolagem e aterrissagem verticais)

12
PREFÁCIO
No primeiro semestre de 2009, o Conselho de Altos Estudos e
Avaliação Tecnológica (CAEAT), órgão técnico-consultivo vinculado diretamente à
Mesa da Câmara dos Deputados, tendo à frente o então Deputado federal, hoje,
Senador, Rodrigo Rollemberg, e reunindo consultores das áreas de Orçamento e
Fiscalização Financeira, Administração Pública, Ciência e Tecnologia, Defesa Nacio-
nal, Direito Constitucional, Meio Ambiente e Direito Ambiental, Educação, Relações
Internacionais e Política e Planejamento Econômico, deu início a um estudo multidis-
ciplinar com o objetivo repensar questões que pudessem fortalecer e priorizar o
programa de exploração espacial pelo Brasil, contemplando centros de lançamento,
veículos lançadores e satélites, alçando-o, de fato, à condição de “programa de
Estado”, uma vez que, até então, toda a ação governamental nesse sentido não
passava de mera retórica política; o que parece não ter mudado até o momento.

No curso desses trabalhos, houve troca de informações com


autoridades da Agência Espacial Brasileira (AEB); viagens ao Maranhão, visando a
contatos com o Governo daquele estado e com vereadores de Alcântara e a visitas
ao Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) e às áreas rurais destinadas ao
Complexo Espacial de Alcântara (CEA); e viagens a São José dos Campos, São
Paulo, para visita ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA -
Força Aérea Brasileira) e ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e para
reunião com a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB).

Durante as visitas, foram percorridas as mais diversas


instalações e laboratórios, proferidas palestras por pesquisadores e especialistas,
realizadas entrevistas e conduzidos debates.

Além disso, houve a promoção, na Câmara dos Deputados, do


seminário “Por uma Nova Política Espacial Brasileira”, reunindo autoridades e
especialistas no assunto, a realização de um conjunto de reportagens por equipe da

13
TV Câmara, além de inúmeras outras atividades que não serão detalhadas aqui.

A publicação, em novembro de 2010, da obra “A Política


Espacial Brasileira”, consolidou, em dois volumes, todo esse trabalho, reunindo
artigos de consultores da Câmara dos Deputados, de ministros de Estado e de
outras autoridades dos mais elevados escalões do Governo, de empresários,
pesquisadores e especialistas do setor, civis e militares.

O estudo que se segue, por razões várias, todas creditadas


exclusivamente a seu autor, não foi incluído na publicação.

Agora, porque o Deputado Cláudio Cajado, Presidente do


Grupo Parlamentar Brasil-Ucrânia, solicitou estudo sobre o mesmo tema, veio a
oportunidade de trazê-lo de volta, com várias atualizações e inserções a partir das
informações prestadas a esse Parlamentar pelos Ofícios nº 386/MCTI, e nº 6320-
GM-Aspar-MD, ambos de 14 de junho de 2012, do Ministro da Ciência, Tecnologia e
Inovação, Marco Antonio Raupp, e do Ministro da Defesa, Celso Amorim,
respondendo aos Requerimentos de Informações nº 2.013 e nº 2.014,
respectivamente, ambos de 17 de abril de 2012.

Também significa honrar o compromisso de a área da Defesa


Nacional da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados produzir um texto
relativo ao tema, trazendo uma abordagem que, se em muitos aspectos se superpõe
ao que foi escrito na publicação citada antes por autores de nomeada competência,
em outros, em uma visão bastante crítica, inova, revelando os bastidores de uma
guerra travada contra o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), na qual
atores estrangeiros, estatais e não-estatais, frequentemente aliados a inocentes úteis
e a quintas-colunas no plano interno e a uma Administração caótica em todos os
níveis, impedem o desenvolvimento do Brasil no setor espacial.

Eis o desafio que se coloca para os nossos leitores.

O AUTOR
14
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Disponível em: SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). <www.jornaldaciencia.org.br> (Jornal
da Ciência nº 689, 13 mai. 2011). Através de: <http://aprenderquimica.blogspot.com.br/2011/08/charge.html>
(blog Aprender Química). Acesso em: 4 jul. 2012.

... abrigar uma Copa traz benefícios econômicos para o país-


sede? (...) o Brasil já tem o seu relatório de impacto econômico
(...) investirá R$ 33 bilhões em infraestrutura.
BASTOS, Mariana. Sempre custa mais. Folha de S. Paulo,
São Paulo, 12 jul. 2010. Caderno especial “e agora?”, p. 2.

(...)

Extrato do Plano Plurianual de Investimentos PPA 2012-2015.


R$ 2,192 bilhões - Investimentos Previstos na Política Espacial de 2012 a 2015.
15
Nas últimas 3 décadas, os investimentos governamentais no
programa espacial brasileiro atingiram um montante global da
ordem de R$ 6,152 bilhões (valor corrigido para 2011).
Resposta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ao
Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado
Cláudio Cajado.

... como se fôssemos um bando de idiotas que não


soubéssemos fazer as coisas e definir as nossas prioridades.
O então Presidente da República (LULA DA SILVA), em 13 jul. 2010,
rebatendo críticas da FIFA e da CBF sobre atrasos nas obras para a Copa
de 2014.
Lula, presidente. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 14 jul.
2010. Capa, p. A1.

... uma das coisas que notei em minhas recentes viagens à


China e à Índia é que os dois países emergentes têm algo em
comum: a certeza de que estão atrás das demais potências
mundiais em praticamente tudo.
Em quase todas as entrevistas que fiz com funcionários dos
governos chinês e indiano, fiquei impressionado com a
preocupação de que o país não esteja expandindo de maneira
suficiente seus setores de educação, ciência e tecnologia,
possivelmente ficando para trás. Não vi essa mesma humildade
nas entrevistas com funcionários do governo brasileiro.
Chineses e indianos gozam de uma dose saudável de paranoia
construtiva, o que os leva a buscar sempre o aprimoramento. Se
o Brasil não adotar uma atitude parecida e evitar a
complacência, que pode resultar de tantas profecias
estrangeiras sobre a sua inevitável ascensão, o país nunca se
tornará uma verdadeira potência mundial emergente.
OPPENHEIMER, Andres. Brasil precisa de uma paranoia
construtiva. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 27 set. 2010.
Internacional, p. A18. Artigo publicado originalmente no Miami
Herald. Tradução de Augusto Calil. O autor é ganhador do
Prêmio Pulitzer e comentarista político.
16
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O título e as citações que antecedem este trabalho já dão o tom


de como ele será desenvolvido: amargo, azedo, ferino, ferozmente crítico.

Não há razões para falsos ufanismos em relação ao Programa


Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), comumente chamado Programa Espacial
Brasileiro.

O PNAE, se é que existe realmente como um programa,


padece de males terríveis. A cura, se possível, não virá com diagnósticos brandos e
remedinhos doces.

A comparação entre os valores estimados para aplicação, em


quatro anos, nos preparativos do Brasil para a Copa do Mundo – R$33 bilhões (isso
apenas em infraestrutura) – e aqueles previstos para serem despendidos em igual
período com toda a Política Espacial – R$2,192 bilhões –, já valem por este
trabalho inteiro e dão a perfeita dimensão da importância reduzida que é atribuída,
em nosso País, a uma atividade estratégica e vital para a inserção e sobrevivência
de qualquer Estado que se pretenda protagonista no cenário internacional.

Se apenas as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo


deverão ultrapassar mais de 15 (quinze) vezes a previsão orçamentária para a
Política Espacial, no programa norte-americano de exploração do planeta Marte,
somente o robô Curiosity, lançado no final de novembro de 2011, custou R$2,5
bilhões, mais que toda previsão do PPA para a Política Espacial brasileira.

Ainda que as previsões quanto a obras de infraestrutura para a


Copa do Mundo corram o risco de não serem completamente concretizadas, mesmo
assim, como sói acontecer em nosso País, não se deve desconsiderar a
possibilidade de esses valores serem extrapolados, e de muito. De outro lado,
também como sói acontecer em nosso País, carregamos nossas dúvidas se o PNAE
poderá dispor, efetivamente, dos R$2,192 bilhões previstos no PPA.
17
Colocando-se em um quadro a soma dos dispêndios com o
PNAE durante 32 anos, de 1980 a 2011: R$ 6,152 bilhões, junto com a previsão dos
gastos apenas com infraestrutura para a Copa do Mundo, obtém-se:

Copa do Mundo R$ 33 bilhões 4 anos


(só em infraestrutura)
PNAE R$ 6,152 bilhões 32 anos

Em outros termos, só em infraestrutura, em apenas 4 anos, o


Brasil poderá gastar com a Copa do Mundo pelo menos 5,4 vezes mais do que o
PNAE gastou em 32 anos.

Outra comparação gritante a ser feita parte dos valores


aventados para a compra de novo avião presidencial, que poderão alcançar a casa
dos R$ 570 milhões (g.n.):

O governo federal reabriu a compra de um novo avião presidencial,


(...)
O custo é o problema: tanto o avião-tanque quanto o VIP novos
podem sair por quase US$ 300 milhões (R$ 570 milhões) cada;
modelos usados, um terço do preço.1

Em seguida, tomando-se o gasto médio anual com o PNAE nos


32 anos de existência: R$ 192 milhões (R$ 6,152 bilhões / 32 anos), chega-se à
conclusão que há a possibilidade de se gastar com um avião VIP quase 3 vezes
mais do que se gastou, em média, por ano, com a atividade espacial no Brasil.

É o que revela o gráfico a seguir (Fig. 01), com todos os seus


altos e baixos; mais baixos do que altos e altos sempre abaixo dos níveis mínimos
de um programa espacial que se pretenda decente, uma vez "que os recursos são
inadequados e insuficientes para o desenvolvimento de importantes projetos

1
GIELOW, Igor. Planalto recomeça processo de compra de avião presidencial. Folha de S. Paulo, São Paulo, 1º
mai. 2012. Poder, p. A7.
18
estratégicos”, como diz, de uma forma mais elegante, o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI).2

Fig. 01 – Evolução dos Investimentos no Programa Espacial Brasileiro – Período


1980 a 2011.
Fonte: Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.

Por tudo isso, poderemos, afinal, concluir que o então


Presidente da República, querendo negar, disse corretamente: somos um bando de
idiotas, não sabemos fazer as coisas nem definir as nossas prioridades. E mais,
somos um País de oportunidades perdidas, do que poderíamos ter sido – e não
somos – se as nossas chamadas elites fossem de melhor cepa.

Não fosse isso verdade, os cinquenta anos de atividades


espaciais no Brasil já nos teriam assegurado a completa implantação de um centro

2
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
19
de lançamento espacial e foguetes brasileiros, lançando ao espaço satélites
genuinamente nacionais. Nada disso aconteceu.

Mais de meio século depois dos lançamentos dos primeiros


satélites pelos soviéticos e pelos norte-americanos, tudo indica que estamos
condenados a permanecer “escravos”, "cortadores de lenha" e "carregadores de
água". Não temos nenhum satélite genuinamente nacional. Veículo lançador? Uma
longínqua fantasia.

E o pior de tudo é que essa condenação não resulta apenas da


atuação adversa de governos e entidades dos "povos mais esclarecidos". Torna
maior a dor do nosso insucesso a omissão de agentes políticos e de outras
autoridades, da apatia do segmento empresarial com poder para reverter esse
estado de coisas e, mesmo, da própria sociedade brasileira, todos como que
anestesiados e amorfos.

Diante do confronto das quantias, resta a pergunta: o que é


mais importante para o povo brasileiro, para o Estado, para a Nação? Um mês de
Copa do Mundo ou o domínio perene da tecnologia aeroespacial?

Os valores apresentados revelam flagrante descompasso entre


as ações e recursos empenhados pelo Governo federal e os Objetivos Nacionais,
que deveriam balizar a atuação governamental na construção de um projeto de
Estado. É verdade que as obras de infraestrutura ficarão incorporadas ao patrimônio
nacional, mas não é menos verdade que elas se darão apenas por conta da Copa do
Mundo e em detrimento de outras obras de infraestrutura muito mais urgentes,
prioritárias e realmente estratégicas para o Brasil. Aliás, até o estrutura do Poder
Executivo foi mudada em função da Copa do Mundo. Ou alguém vai dizer que a
criação da Secretaria de Aviação Civil, pela Medida Provisória nº 527, de 18 de
março de 2011 (convertida na Lei nº 12.462/11), diretamente subordinada à
Presidência da República, não foi em função, principalmente, do grande evento

20
futebolístico privado.

Enquanto isso, o nosso programa espacial segue capengando,


esvaziado, sem prestígio. Uma ou outra atividade que tem sido desenvolvida no
setor aeroespacial, algumas até com bastante sucesso, não são suficientes para
absolver aqueles que têm o poder-dever de conduzir os destinos do povo brasileiro
do pecado de não atribuírem ao PNAE a importância correspondente às
necessidades do Brasil e à sua estatura no concerto das nações.

A crítica não alcança apenas o governo Lula da Silva – um


pouco mais generoso com o PNAE do que as administrações Collor e FHC –, mas
faz saltar aos olhos o ostracismo a que foram condenadas, no Brasil, as atividades
espaciais.

E o mais grave é quando se detecta, no interior da própria


Nação, ações francamente conduzidas contra o seu desenvolvimento, inclusive do
segmento espacial. Autênticos "quinta-colunas" que optaram por serem "cortadores
de lenha e carregadores de água" dos "povos mais esclarecidos", desejosos de fazer
todos os brasileiros companheiros de sua submissa e servil jornada de “escravos”. É
impressionante o vigor como abraçam “causas nobres” gestadas e propagadas a
partir de influências externas, trabalhando agressivamente contra todos os projetos
de desenvolvimento e soberania do Brasil, entre os quais se encontra, naturalmente,
o PNAE.

Não se pretende, na gritante comparação entre os recursos a


serem aplicados em atividades tão distintas, depreciar a importância de o País sediar
uma Copa do Mundo, mas diante dos parcos recursos de que dispõe o Estado
brasileiro, na hora de sopesar "pão e circo", de um lado, e ciência e tecnologia, do
outro, a prioridade dos governantes parece ter sido pelo "pão e circo" – futebol,
carnaval e bolsa-família.

Mas é justamente a faceta da ciência e tecnologia que sustenta


21
a vertente do "pão e circo". O que seria do combate à fome e qual seria o custo dos
alimentos sem a ciência e a tecnologia da EMBRAPA? O que seria da novela, do
futebol e do carnaval sem os satélites para transmitir esses espetáculos para os
olhos do mundo? O que será da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016 sem a televisão
e a Internet, ou seja, sem os satélites? Para que servirão os satélites sem os
foguetes para lançá-los?

Quer parecer que Governo, povo e empresariado só


despertarão quando faltar a TV, o rádio, a Internet, a telefonia fixa e móvel, o GPS, o
serviço bancário, o monitoramento de veículos, a previsão do clima, o monitoramento
ambiental, o controle do tráfego aéreo e marítimo e inúmeras outras atividades e
serviços que dependem diretamente dos satélites, como as que possibilitam
comunicações com lugares mais longínquos do território nacional, vigilância da
Amazônia, patrulhamento das fronteiras e da costa marítima, segurança nacional,
defesa civil, aplicações em educação, lazer e ciência e tecnologia, monitoramento
dos recursos naturais, planejamento e fiscalização do uso do solo, prospecções
sobre safras agrícolas e muitas outras. Praticamente tudo dependendo de satélites
estrangeiros, serviços pelos quais pagamos uma fortuna para tê-los.

O pouco que se faz em termos de satélites nacionais, não é


feito de forma autônoma. Sempre tem o braço estrangeiro, como no caso dos
CBERS (China-Brasil Earth Resource Satellite – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos
Terrestres), mas sob o controle da China e sem transferência de tecnologia. E todos
os satélites nossos – recheados de componentes importados – dependendo de
lançadores estrangeiros.

Porque o Brasil não tem seus satélites, as posições orbitais


brasileiras para satélites de telecomunicações estão sendo leiloadas pela Anatel em
certames vencidos por empresas estrangeiras, que irão explorá-las comercialmente.

Resta a sensação que sucessivos governos têm trabalhado

22
contra o Programa Espacial Brasileiro, cedendo a pressões estrangeiras e só não
decretando definitivamente o seu fim, de modo semelhante ao que aconteceu com a
construção da bomba atômica, porque, neste caso, não encontraria respaldo junto à
comunidade científica e ao povo brasileiros. Então, mantenha-se o PNAE na UTI,
com suficiente oxigênio para que não morra, mas não o tanto que seria necessário
para sair do estado letárgico em que se encontra.

Enquanto isso, o discurso da importância estratégica do


programa espacial para o desenvolvimento e segurança nacionais não sai do plano
da retórica. O proselitismo não se faz ação.

Uma caminhada pela história – e esta é sábia em ensinamentos


– permitirá concluir que, nos séculos XX e XXI, navegar pelo espaço sideral assume
igual importância à das grandes navegações nos séculos XV e XVI. Àquele tempo,
as nações que navegavam e controlavam os mares tinham o domínio do comércio e
do mundo. Hoje, ainda que o controle dos mares não tenha perdido seu valor geo-
político-estratégico e econômico, o mesmo paradigma é aplicável ao controle do
espaço que cerca o nosso planeta. E mais: o domínio do espaço sideral e da
tecnologia nuclear aumenta o status de quem senta a uma mesa de negociação na
arena internacional.

Há, portanto, um sentido estratégico e econômico na


dominação – é esse mesmo o termo que deve ser usado, sem escrúpulos pueris –
do espaço em nossa volta. É questão de soberania, de segurança nacional,
econômica, comercial, de orgulho nacional e prestígio internacional.

A Estratégia Nacional de Defesa chega, mesmo, a dizer (g.n.):

4. Projeto forte de defesa favorece projeto forte de desenvolvimento.


Forte é o projeto de desenvolvimento que, sejam quais forem suas
demais orientações, se guie pelos seguintes princípios:
(...)
b) Independência nacional, alcançada pela capacitação tecnológica

23
autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, cibernético
e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das
tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o
desenvolvimento; (...)
(...)
O desenvolvimento da tecnologia de veículos lançadores servirá
como instrumento amplo, não só para apoiar os programas
espaciais, mas também para desenvolver tecnologia nacional de
projeto e de fabricação de mísseis.
(...)
3. No setor espacial, as prioridades são as seguintes:
a. Projetar e fabricar veículos lançadores de satélites e desenvolver
tecnologias de guiamento remoto, sobretudo sistemas inerciais e
tecnologias de propulsão líquida.
b. Projetar e fabricar satélites, sobretudo os geoestacionários, para
telecomunicações e os destinados ao sensoriamento remoto de alta
resolução, multiespectral e desenvolver tecnologias de controle de
atitude dos satélites.
c. Desenvolver tecnologias de comunicações, comando e controle a
partir de satélites, com as forças terrestres, aéreas e marítimas,
inclusive submarinas, para que elas se capacitem a operar em rede e
a se orientar por informações deles recebidas;
d. Desenvolver tecnologia de determinação de coordenadas
geográficas a partir de satélites.3

Perceba-se o especial destaque para os lançadores, cada vez


mais potentes e capazes de colocar mais cargas no espaço. E que tenhamos
capacidade independente para isso. De pouco adiantará o domínio completo da
tecnologia satelital – que ainda não temos – se a colocação do satélite em órbita
estiver condicionada à vontade e ao foguete da potência de plantão.

Trata-se, portanto, de um jogo pesado, no qual, ao mesmo


tempo em que buscamos a nossa inserção no time dos grandes navegadores, ações
adversas, as mais várias, se contrapõem a um desígnio que deveria ser percebido
por todos como um Objetivo Nacional.
3
MD (Ministério da Defesa). Estratégia Nacional de Defesa. Ministério da Defesa. 2ª ed., 2009. p. 9, 32 e 33.
24
Contra a busca e manutenção desse Objetivo Nacional há
ações adversas nitidamente brotadas do exterior, a que identificamos como óbices
externos. Paradoxalmente, há ainda aquelas desencadeadas no interior de nossas
próprias fronteiras, aqui identificadas como óbices internos (Fig. 02).

Fig. 02 – Representação gráfica simplificada das ações adversas (óbices) que têm afetado o
Programa Nacional de Atividades Espaciais.

É evidente que o quadro se trata de uma redução bastante


simplificada, mas o seu objetivo é destacar, graficamente, alguns dos óbices mais
relevantes, aos quais devem ser acrescidos dezenas de outros. Em que pese
construído no contexto das considerações sobre o programa espacial, é aplicável a
todo o conjunto de programas e projetos de desenvolvimento do Brasil que são,
frequentemente, alvo de ações adversas com origens externa e interna.

De forma minudente, os óbices externos representados no


gráfico anterior podem ser assim explicados:

- qovernos estranqeiros, exercendo pressões diretas e indiretas

25
e ações ostensivas e subterrâneas contra os esforços do Brasil, materializadas por
embargos, boicotes, sabotagens e por outras ações, em articulação frequente com
os seus conglomerados de indústrias aeroespacial e de defesa;

- orqanismos internacionais (ONU, FMI, Banco Mundial,


AIEA,...) a que o Brasil se filiou, celebrando acordos, tratados e outros instrumentos
internacionais que restringem a nossa soberania e a nossa capacidade de executar
determinadas atividades e de produzir determinados itens; todos esses organismos,
via de regra, tutelados pela vontade das potências mundiais;

- ONGs e fundações internacionalistas (Greenpeace, WWF,


Open Society Institute, Fundação Ford,...) que, por serem instituições privadas, têm
uma desenvoltura e liberdade de ação que nem mesmo os brasileiros encontram
aqui; não poucas vezes, seguindo a cartilha dos governos dos países em que estão
sediadas.

No conjunto dos óbices internos, há aqueles que são


germinados e desenvolvidos exclusivamente dentro das nossas fronteiras, mas
também há aqueles óbices internos que, por ação de agentes externos, são aqui
introduzidos ou agravados. Em outros termos, existem ações contrárias ao
desenvolvimento do nosso programa aeroespacial – e também contrárias ao
desenvolvimento do Brasil em outros campos – que, apesar da aparência de meras
questões internas, têm, como pano de fundo, patrocínios e comandos externos, com
brasileiros, de boa ou má fé, trabalhando contra o País e em favor das potências e
organizações estrangeiras.

Por mais paradoxal que possa parecer, não é despropositado


colocar o próprio Governo brasileiro como óbice à consecução de um Objetivo
Nacional. Coisas assim são patentes quando se verificam adversidades brotadas da
omissão, da leniência, do burocratismo, das políticas e ações desencontradas, da
legislação inadequada, da crônica insuficiência orçamentária e, até mesmo, quando

26
desígnios externos promovem a submissão e o colaboracionismo de certos setores
do Estado.

As ONGs “Cavalos de Troia” se explicam pela própria


expressão que as denomina. Formalmente nacionais, atuam no Brasil a soldo de
recursos e outras benesses recebidos de governos estrangeiros, de organismos
internacionais e de ONGs e fundações internacionalistas, com os quais têm seu
compromisso primeiro, em detrimentos dos interesses nacionais.

Por último, há óbices que brotam do próprio contexto em que o


País está mergulhado, representados por adversidades nos campos da saúde, da
educação, da economia, da ciência e tecnologia e assim por diante. Problemas
nossos, gerados pelos próprios brasileiros, sem qualquer contribuição adversa
externa.

Nisso tudo, deixando de lado ufanismos estéreis, reconhecer a


dependência do nosso País em relação às potências do chamado Primeiro Mundo é
uma atitude de pragmatismo. Daí a fazer da dependência uma atitude de submissão,
como pretendem alguns, há um enorme fosso. Reconhecer a dependência não
significa aceitá-la e aplaudi-la à luz de teorias da dependência e outras ações vis
contra o povo e o Estado brasileiros, mas é o primeiro passo para se identificar e
superar as nossas limitações em busca da posição do Brasil, no concerto das
nações, em consonância com os anseios do seu povo e da sua pretendida
importância nesse cenário.

27
2. ÓBICES INTERNOS AO PROGRAMA AEROESPACIAL

GaeA (Grupo de Apoio em Eventos Astronômicos). Disponível em: <http://gaea-


araujo.blogspot.com.br/2011/05/sem-investimento-em-equipe-tecnica-nao.html>. Acesso em: 4 jul. 2012.

Os pesquisadores brasileiros, em todos os setores, sobrevivem da


vocação pela teimosia, pela privação e pela renúncia. Eles jamais
conseguiram ultrapassar em suas carreiras o mata-burro de meia
dúzia de burocratas descartáveis sentados nos orçamentos
públicos – ultimamente monitorados de fora para dentro.
BETING, Joelmir. Tragédia da Omissão. O Globo, Rio de Janeiro, 26
ago. 2003. Colunas, p. 27.

É lastimável a falta de recursos e de força política que o programa


espacial brasileiro enfrenta nos últimos anos, acho que nas
últimas décadas. Houve um esvaziamento quase criminoso.
Não tenho medo de dizer que boa parte da culpa pelas falhas e
acidentes pode ser creditada nesta falta de recursos, de força
política do governo, para olhar uma atividade que é essencial ao
país. Não podemos tapar o sol com a peneira. E este desprestígio
se refletiu também no quadro de técnicos. Infelizmente, houve uma
queda de excelência nos últimos tempos. E não por culpa dos
técnicos. O Estado tem um papel essencial nessa
atividade. Sem recursos oficiais não se chega a lugar
algum em termos espaciais.
Entrevista com o brigadeiro da reserva HUGO DE OLIVEIRA
PIVA, considerado o pai do programa espacial brasileiro.
ARARIPE, Sônia. O programa precisa ser fortalecido. Jornal
do Brasil, Rio de Janeiro, 23 ago. 2003. País, p. A4.
28
2. ÓBICES INTERNOS AO PROGRAMA AEROESPACIAL

Ainda que não seja possível abordar aqui todos os óbices


gerados internamente contra PNAE, serão tratados, neste estudo, aqueles que
detectamos como os principais, apontando algumas sugestões julgadas pertinentes.

Os óbices são de tal grandeza, que o espírito daqueles que


fazem o PNAE foi introjetado pela pouca ambição de alcançar apenas metas
niveladas por baixo, com foguetes maiores e satélites mais complexos e pesados
ficando no mundo dos sonhos.

Sem muito melindre: quantos satélites genuinamente brasileiros


com lançadores construídos no Brasil já foram colocados em órbita? Nenhum.

Ou seja, toda a estrutura do PNAE está voltada para “correr


atrás do prejuízo”, de buscar “o que deveria ter sido e ainda não foi”, de alcançar
metas que deveriam ter sido atingidas há mais de cinquenta anos.

Temos um PNAE apequenado, nanico e, mantidas as atuais


condições de financiamento e execução, é evidente que não teremos, nem em médio
prazo, condições de redesenhá-lo para um porte ajustado às dimensões geográfica,
estratégica, populacional e econômica do Brasil.

Sem meias palavras, a capacidade dos órgãos e entidades


voltadas para a atividade espacial no Brasil só fez diminuir nos últimos quinze a vinte
anos, com parcela considerável dos fatores que levaram a isso – que não serão
elencados de forma exaustiva – sendo abordados a seguir.

2.1. Lentidão nas decisões e subsequentes execuções pelo Governo federal

- CAUSAS:

Sucessivos governos não têm priorizado o Programa Espacial Brasileiro como um


programa de Estado. Rigorosamente, a prioridade tem sido tão ínfima – se é que

29
existe alguma –, que nem mesmo se pode dizer que se trata de um programa de
governo, quanto mais de Estado.

Em relação aos órgãos de controle estatais (TCU, AGU, MPU, CGU), em todos
os segmentos (militar e civil), é lugar comum o elenco de queixas em relação aos
agentes de fiscalização e controle, quanto:

- à falta de qualificação técnica para acompanhamento de projetos complexos, como


os espaciais;

- ao excessivo legalismo em detrimento da eficiência, de forma que a aplicação


obstinada do princípio da legalidade termina por se tornar absolutamente irrazoável
diante dos casos concretos que estão a pedir uma solução rápida e efetiva;

- ao alheamento de alguns agentes desses órgãos em relação aos problemas


efetivamente enfrentados.

Há pouco interesse dos órgãos e entidades estatais que são usuários de


tecnologias espaciais para incrementar o desenvolvimento autóctone,
frequentemente optando pela importação de dados e imagens de outros países.
Como exemplos, a EMBRAPA, a PETROBRÁS e o próprio INPE adquirem
imagens produzidas por satélites estrangeiros.

A diminuição do status da entidade central do PNAE, a AEB, que, criada em


1994, perdeu sua vinculação direta com a Presidência da República, de onde
nunca deveria ter saído, passou para a Secretaria de Assuntos Estratégicos
(SAE) e, depois, terminou como uma autarquia do MCTI.

A Agência Espacial Brasileira (AEB), entidade autárquica, tem sua autonomia


administrativa, financeira e patrimonial extremamente reduzida para
coordenar/regular o Sistema Nacional de Desenvolvimento das Atividades
Espaciais (SINDAE). O organograma (Fig. 03) dos órgãos e entidades envolvidas
no SINDAE revela a pulverização, a falta de unidade de comando e de integração

30
de uma estrutura flagrantemente criada para não funcionar, até porque a AEB
não subordina nenhuma das instituições executoras do PNAE: INPE e IAE,
estando no mesmo nível do INPE, com menor orçamento e menos recursos
humanos.

Fig. 03 – Organograma dos órgãos e entidades que compõem o Programa Nacional de Atividades Espaciais.

Inoperância do Conselho Superior da AEB (única instância decisória formal) e


surgimento de instâncias decisórias informais, de difícil acesso a todos os
demandantes de tecnologia espacial. Se em um colegiado, via de regra, há
longas discussões, dificuldade para decisões e pulverização de
responsabilidades, pode-se muito bem imaginar a quanto isso vai em um
Conselho de vinte integrantes.

Limitada ambição do INPE, com as suas metas espaciais não indo além das
atividades de imageamento, meio-ambiente e climatologia.

31
Falta de estratégia e de foco nas decisões do que o setor espacial deve
desenvolver.

Incompatibilidade entre objetivos/metas e disponibilidade efetiva de recursos.

O PNAE não passa de um conjunto desintegrado de projetos sem conexão,


desde a concepção deles. A título de exemplo, o Instituto de Aeronáutica e
Espaço (IAE) constrói um lançador (o VLS-1) que não tem capacidade para
lançar o satélite que o INPE desenvolve.

O PNAE carece de flexibilidade frente à dinâmica dos negócios e das tecnologias


espaciais.

Pseudas questões antropólogicas, exploradas como “causas nobres” por ativistas


sociais (onguistas) e por segmentos do Estado brasileiro, impedindo a expansão
do Complexo Espacial de Alcântara (CEA), que, se implementado conforme
originalmente planejado, será a melhor posição de lançamentos do mundo. Esta
questão será alvo de abordagem em capítulo específico.

- SUGESTÕES:

Fazer do domínio do espaço sideral um Objetivo Nacional Permanente de fato – e


não apenas objeto de discursos e documentos – dentro de um projeto estratégico
de Estado.

Criar uma Secretaria ou outro órgão equivalente diretamente subordinado à


Presidência da República e encarregado da condução estratégica da política
espacial brasileira.

Instituir um marco regulatório amplo e apropriado para um setor que desenvolve


projetos complexos, como o espacial (leis, decretos, normas e regulamentos), a
exemplo da Estratégia Nacional de Defesa, que nela embute a vertente
aeroespacial.

32
Estabelecer a coexistência de dois programas espaciais: um civil e outro militar
com orçamentos e órgãos/entidades de direção distintos. O programa civil deve
visar a "negócios" espaciais, enquanto o militar deve visar à Segurança Nacional.
Todavia, não se deve perder de vista que haverá interconexão de pessoal e
tecnologias entre os dois programas, pois a diferença reside na mesma
tecnologia ter a aplicação civil ou militar.

Adotar estrutura unificada de gestão, desenvolvimento de satélites e lançadores


civis, com a coordenação da política espacial civil sendo única e de
responsabilidade da AEB.

Tomar a NASA (National Aeronautics and Space Administration) e o CNES


(Centre National d'Études Spatiales) como paradigmas para o estabelecimento de
um modelo para tomadas de decisões no setor aeroespacial, na medida em que
essas entidades lograram sucesso com o estabelecimento de várias instâncias
decisórias, envolvendo diversos atores nas etapas de definição da visão
estratégica, planejamento e execução.

Fazer do INPE uma instituição voltada para todas as atividades espaciais, e não
apenas para imageamento e climatologia.

- COMENTÁRIOS:

Sobre a estruturação dos órgãos e entidades do PNAE, o


MCTI, ainda que menos incisivo e abrangente, corrobora o ponto de vista aqui
esposado:

A organização sistêmica das atividades espaciais, tendo a AEB como


órgão central e o INPE e o DCTA como órgãos setoriais mostrou-se
ineficiente, principalmente, pela superposição de responsabilidades e
inexistência de uma clara linha de governança no que se refere à
tomada de decisões e sua implementação.4

4
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
33
O Ministério da Defesa (MD), de forma mais genérica, ratifica
nossa colocação sobre o despreparo e a falta de espírito colaborativo dos órgãos de
fiscalização e controle quando trata:

... da falta de recursos humanos que possam preparar


adequadamente e efetuar o acompanhamento dos processos nos
órgãos administrativos e jurídicos relacionados.
(...)
Esta dificuldade é agravada pela ausência de uma visão de ciência e
tecnologia nos órgãos de fiscalização, que não reconhecem a
especificidade da área, buscando referências em seus pareceres em
casos envolvendo média ou baixa tecnologia (p. ex. softwares
embarcados espaciais com softwares para o comércio).5

Em relação ao INPE estar voltado apenas para imageamento e


climatologia, chama a atenção que só essa vertente, de todo o Programa Espacial
Brasileiro, foi a que realmente decolou: a de satélites que permitem o controle
ambiental, deixando a impressão que ser a única que nos foi permitida porque aos
olhos de mundo interessa o monitoramento da deflorestação que ocorre no Brasil,
particularmente na Amazônia, e das condições climáticas para a produção de
commodities agrícolas.

O governo Dilma adotou um discurso que aponta para o


desenvolvimento de vários satélites, de múltiplas aplicações, no período entre 2011 e
2020 (Fig. 04), destacando o “de um satélite geoestacionário de comunicações para
atender a demanda por comunicações estratégicas de governo (civis e militares) e
apoiar o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL)”6.

5
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
6
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
34
SATÉLITE VALOR (R$ MILHÕES)

Satélites da série Amazônia 545,70


Satélite Radar (SAR) 461,80

Satélites Científicos 381,00

Satélite Geo de Comunicação 716,00


Satélite Geo de Meteorologia 700,00

Satélite de Coleta de Dados 13,00


TOTAL 2.817,5
Fig. 04 – Satélites nacionais previstos para o período de 2011 a 2020 e custos estimados em
um total R$ 2,81 bilhões só para o desenvolvimento deles.
Fonte: Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.

Na verdade, o satélite geoestacionário de comunicação não


será desenvolvido pelo Brasil. Abrindo espaço para uma nova formatação de
entidades envolvidas com o PNAE, em maio de 2012, a EMBRAER e a TELEBRAS
constituíram a Visiona Tecnologia Espacial S.A, empresa que irá coordenar a
aquisição do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB) que, inicialmente, será
comprado no exterior, buscando atender às necessidades de comunicação satelital
do Governo federal, incluindo o PNBL e a área de comunicações estratégicas da
defesa.7

A cisão do Programa Espacial Brasileiro em dois: um civil e


outro militar, em que pese aspectos tidos como positivos, deve ser tratada com
bastante cautela, pois haverá a pulverização de meios, pessoal, recursos financeiros.
Além disso, outros países que desenvolvem programas espaciais civis nunca o
fizeram abdicando da presença militar; o que torna despropositado o discurso
veiculado no plano interno de afastar os militares brasileiros do programa espacial,
uma vez que no mundo inteiro esses programas só decolaram com a participação do
7
SILVEIRA, Virgínia. Visiona abre espaço para produção de satélite brasileiro. Valor Econômico, São Paulo, 30
mai. 2012. Empresas & Tecnologia, p. B3.
35
segmento militar. Não custa lembrar que a EMBRAER nasceu como uma indústria
voltada para a produção de aviões militares.

Sobre isso, Linda Weiss, especialista em desenvolvimento e


professora do Departamento de Governo e Relações Internacionais da Universidade
de Sydney (Austrália), em recente entrevista a periódico de circulação nacional,
declarou:

A área que explica de onde vieram as inovações nos EUA, país que é
líder em alta tecnologia, é a máquina de encomendas ligada ao setor
militar. Os EUA construíram um sistema formidável de inovação
baseado no fato de responderem por 50% dos gastos militares
mundiais.
(...)
Não há uma cerca entre a Defesa e o setor civil. A CIA (Agência
Central de Inteligência dos EUA), por exemplo, tem seu próprio fundo
de investimento e assume participações em empresas privadas.
Financia tecnologia que é usada para objetivos militares, mas
também tem que ser viável comercialmente.8

Na Estação da Força Aérea de Cabo Canaveral, do


Departamento de Defesa norte-americano, que fica junto ao Centro Espacial
Kennedy, são realizados os principais lançamentos da NASA, agência civil. Na Base
da Força Aérea de Vandenberg, na Califórnia, são lançados satélites militares,
científicos e de organizações comerciais e realizados testes com mísseis balísticos
intercontinentais. Os ônibus espaciais norte-americanos, do programa da NASA,
cumpriram missões civis e militares. No Centro Espacial de Kourou, na Guiana
Francesa, foguetes Ariane lançam satélites tanto para aplicações civis como para
aplicações militares. Indústrias que produzem foguetes são as que aplicam a mesma
tecnologia na fabricação de mísseis.

8
ANTUNES, Cláudia. Redução do papel do estado na economia sempre foi mito. Entrevista com Linda Weiss.
Folha de S. Paulo, São Paulo, 14 set. 2009. Entrevista da 2ª, p. A18.
36
E é verdade que todos os programas espaciais conhecidos
começaram pela vertente militar, desde as célebres bombas voadoras V-2, semente
comum dos foguetes norte-americanos e russos, passando pelo míssil modificado R-
7 Semyorka, que lançou o Sputinik, em 1957, pelo míssil Júpiter também modificado
que lançou o Explorer I, em 1958, chegando ao míssil SS-9, que deu origem à
família de foguetes que agora chega ao Cyclone-4.

Evidenciando que aquilo que os norte-americanos pregam para


o restante do mundo não é o que aplicam lá, o extrato a seguir revela a intensa
presença de militares em um programa espacial que dizem ser civil (g.n.):

Contando apenas os civis, na Nasa, a agência espacial norte-


americana, trabalham 18.800 pessoas. O número de militares é
ainda maior, mas não é divulgado por questões de segurança.9

Formalmente, o Programa Espacial Brasileiro é de natureza


exclusivamente civil por pressão dos norte-americanos, que foi aceita num jogo de
barganha pelo qual fomos levados a pensar que, em troca, teríamos a colaboração
internacional com o Programa Espacial Brasileiro. Ledo engano!

Diante disso, deixamos aqui algumas perguntas: seria justo


“tirar de cena” os cientistas e técnicos da Aeronáutica depois de terem levado o
desenvolvimento do VLS até o atual patamar? Seria correto com o Brasil sepultar o
único projeto que temos porque nasceu do esforço militar? A quem efetivamente
interessa afastar os militares brasileiros das atividades espaciais? Quem, fora das
instituições militares, detém proficiência na pesquisa, desenvolvimento e produção
de foguetes do porte do VLS ou maior?

Em síntese, nas atividades espaciais não há como dissociar


ciência, tecnologia, economia, produção industrial e defesa nacional. Tudo se funde
em um só amálgama.

9
KLINGL, Erika. Falta de gente e de dinheiro. Correio Braziliense, Brasília, 27 ago. 2003. Brasil, p. A13.
37
Vê-se muita propaganda, mas pouca ação concreta, quase
nenhuma vontade política, poucas decisões efetivas.

No caso do foguete ucraniano Cyclone-4, de uma proposta


feita, em meados de 1997, pela empresa italiana Fiat Avio para o estabelecimento de
um consórcio com o Brasil e a Ucrânia visando a promover lançamentos comerciais
utilizando esse foguete a partir do CLA, passando pelo acordo celebrado, em outubro
de 2003, entre o Brasil e a Ucrânia, criando a Empresa Binacional Alcântara Cyclone
Space10, com previsão do voo de qualificação em 200711, até agora nem foguete
nem plataforma de lançamento. Quando irá aos céus o primeiro Cyclone-4 partindo
de Alcântara?

E note-se que, nesse acordo, os brasileiros entram apenas com


o “quintal”. O foguete é deles, com tecnologia deles, não se falando em
transferência. Grande acordo!!!!! Aos brasileiros restou arrumar o salão para os
ucranianos fazerem a festa. Há que se ponderar se recursos que deveriam ser
canalizados para a busca de nossa autonomia espacial não estão sendo desviados
para um programa alienígena. Mesmo assim, sempre resta a expectativa de
dividendos mais significativos serem auferidos do acordo entre o Brasil e a Ucrânia.

E não se pode perder de vista que acordos representam a


conciliação de interesses comuns, restando, sempre, os interesses que são próprios
de cada país. Não se deve enxergá-los como o nosso Programa Nacional de
Atividades Espaciais, pelo qual devemos buscar capacitação própria, independente,
em consonância com os nossos interesses e aspirações nacionais. Há acordos no
setor espacial entre países diversos, mas nenhum deles abdica de suas próprias
agências e de seus programas específicos.

10
ACS (Alcântara Cyclone Space). Disponível em: <www.alcantaracyclonespace.com> (opção Empresa >
Legislação). Acesso em: 22 set. 2010.
11
EBC (Empresa Brasil de Comunicação). Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/arquivo/node/495413>.
Acesso em: 22 set. 2010.
38
Por isso não se pode descartar o projeto de VLS-1, como
alguns incautos estão a sugerir, pois, com todas as suas limitações – emprega
tecnologia obsoleta, incapaz de lançar satélites com mais de 150 kg –, ainda
representa um passo no desenvolvimento tecnológico do Brasil no campo espacial.
Mas até ele vem desandando. Em 28 de agosto de 2003, exatamente cinco dias
depois do acidente com o seu terceiro protótipo, a imprensa publicava declarações
dos ministros da Defesa e da Ciência e Tecnologia, reproduzindo compromisso do
presidente da República de lançar o VLS-1 até 2006:

O Brasil vai tentar pela quarta vez colocar em órbita um satélite


lançado por um veículo construído com tecnologia nacional a partir
da Base de Alcântara, no Maranhão. O prazo para a realização do
projeto é de dois anos e meio. Os ministros da Defesa, José Viegas,
e da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, anunciaram ontem, em
reunião que discutia as parcerias entre os dois ministérios, que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu esse compromisso. "Até
2006, o VLS-1 {Veículo Lançador de Satélites} será lançado",
garantiu Viegas. "Se o presidente se impôs esse desafio é porque
haverá dinheiro", referendou Amaral.12

O ano de 2013 já se avizinha e nenhum lançamento de veículo


lançador de satélite (VLS). A nova torre, depois de vencer uma infernal burocracia e
pendengas judiciais, só terminou de ser construída, sob novas especificações, oito
anos depois do acidente de 2003. E o novo protótipo do VLS-1, quando estará sendo
lançado? 2015? Agora temos a torre, mas não temos o foguete.

Sobre o inferno burocrático que as atividades espaciais


enfrentam no Brasil, as seguintes colocações feitas pelo MCTI e pelo MD, entre
outras que poderão ser trazidas à baila, permitem bem aquilatar isso (g.n.):

No contexto dos óbices legais, há também os longos prazos de


análise requeridos pelo Núcleo de Assuntos Jurídicos de S José
dos Campos (NAJ/SJC/CGU/AGU), relacionados ao INPE e ao

12
KLINGL, Erika. Governo promete VLS até 2006. Correio Braziliense, Brasília, 28 ago. 2003. Brasil, p. 24.
39
DCTA, acarretando atrasos na celebração de novos contratos e
prejudicando a sua boa execução, causada, principalmente, quando
esses contratos são assinados apenas no final dos exercícios
fiscais.13

Como todos os processos de aquisições são, obrigatoriamente,


encaminhados para a avaliação da Consultoria Jurídica da União
em São José dos Campos (CJU-SJ), o tempo requerido entre a
emissão do pedido e a emissão da nota de empenho é extremamente
longo, somado ao fato de que os grandes contratos de produtos ou
de serviços de elevada complexidade disputam prioridade com uma
miríade de pequenos processos de material de expediente. Na
maioria dos casos, em função das modificações técnicas e
administrativas solicitadas pela CJU-SJ, não é possível executar os
recursos no mesmo exercício financeiro.14

2.2. Recursos orçamentários insuficientes e descontínuos

- CAUSAS:

Crônicos cortes no orçamento.

O quadro a seguir (Fig. 05), que diz respeito apenas aos


recursos necessários ao desenvolvimento do VLS-1, dá uma dimensão exata dos
cortes brutais que o PNAE sofre.

13
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
14
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
40
Fig. 05 – Quadro dos recursos necessários (previstos) para o Veículo Lançador de Satélites
VLS-1 e os efetivamente recebidos, ano a ano, entre 2008 e 2012. O déficit acumulado no
projeto VLS-1 chega a mais de R$ 173 miIhões de reais somente nesse período.
Fonte: Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
(Gráfico reconstruído a partir da fotocópia entregue ao gabinete do Parlamentar)
.

Montante de recursos insuficiente (investimentos irrisórios) para implementar um


programa espacial completo em um país de dimensões continentais como o
Brasil.

O próximo quadro (Fig. 06) é forte indicador do nível do


comprometimento de diversos países com seus respectivos programas espaciais,
não considerando o tamanho de cada economia, mas o percentual do PIB investido.
O Brasil está nas últimas posições.

41
Fig. 06 – Percentual do PIB de vários países que é aplicado em programas espaciais, com o
Brasil estando abaixo até mesmo de Portugal.
Fonte: Palestra do Dr. Roberto Amaral, então presidente da Alcântara Cyclone Space (ACS), em 06 out.
2009, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos
Deputados (CREDN).

O MD deixa isso muito evidente quando registra que:

Para o setor espacial, os recursos financeiros recebidos nos últimos


anos não são adequados para execução dos projetos em andamento,
quiçá para futuros projetos. Como exemplo disso, sob o ponto de
vista orçamentário, o projeto VLS-1 recebeu, em 2009, cerca de um
terço do que seria necessário para implementação de uma política
industrial compatível com o programa. Também como referência, aos
cerca de R$ 30 milhões recebidos pelo IAE, em 2010, contrapõem-se
42
aos cerca de R$ 770 milhões do programa de lançadores indiano, em
2002, ou seja, a Índia investe em seu programa cerca de 25 vezes
mais.
(...)
Na LOA 2012, foram destinados ao VLS recursos no valor de
R$15.557.530,00, o que corresponde a menos de 25% da real
necessidade.15

A instabilidade e a descontinuidade do fluxo de recursos, que variam conforme o


humor do Chefe do Poder Executivo Federal que, a partir de 1988, foram
sensivelmente diminuídos (Fig. 07).

1995 2003

Fig. 07 – Dispêndios com o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Os recur-


sos aplicados revelam como diferentes governos se posicionaram quanto ao PNAE. Os
níveis mais baixos se deram durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Por quê? O de
Lula foi o que mais investiu, ainda que bem aquém das necessidades reais do Brasil.
Fonte: Palestra do Dr. Roberto Amaral, então presidente da Alcântara Cyclone Space (ACS), em 06 out.
2009, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos De-
putados (CREDN). Sobre o gráfico original, houve a inserção dos destaques para os anos de 1995 e 2003.

15
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
43
Outro gráfico, que acompanha a variação acima, é o que diz
respeito aos recursos que foram investidos especificamente em foguetes de
sondagem e em veículos lançadores de satélites desde 1990 (Fig. 08).

Fig. 08 – Quadro de recursos disponibilizados para foguetes de sondagem e veículos


lançadores de satélites desde 1990.
Fonte: Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
(Gráfico reconstruído a partir da fotocópia entregue ao gabinete do Parlamentar)

O sistema de anualidade do orçamento não é adequado para o desenvolvimento


de projetos complexos e na fronteira da tecnologia como o setor espacial.

O Fundo Setorial Espacial (Lei nº 9.994/2000 e Decreto nº 3.915/2001) é, hoje,


praticamente uma ficção, bastando verificar suas fontes de financiamento: 25%
das receitas de utilização de posições orbitais; 25% das receitas auferidas pela
União relativas a lançamentos; 25% das receitas auferidas pela União relativas à
comercialização dos dados e imagens obtidos por meio de rastreamento,
telemedidas e controle de foguetes e satélites; e o total da receita auferida pela
AEB, decorrente da concessão de licenças e autorizações. O País teria que estar

44
pleno em suas atividades espaciais para que as receitas destinadas a esse
Fundo fossem significativas.

Gestão hipercentralizada de recursos financeiros, típica da Administração Pública


na qual se inserem as três principais organizações do PNAE (AEB, INPE e DCTA
[antigo Centro Tecnológico da Aeronáutica – CTA]), com reduzida autonomia
administrativa, enquanto a NASA e o CNES, aqui citados como paradigmas,
possuem bastante autonomia para gerir recursos.

- SUGESTÕES:

Adequar o orçamento da AEB para, no mínimo, um bilhão de reais e mantê-Io


corrigido anualmente. Isso objetivando alcançar as metas correntes do PNAE,
que estão subdimensionadas frente a países de até menor expressão que o
Brasil.

Prover o Fundo Setorial Espacial com fontes de receitas efetivas. Há quem


aponte o Projeto de Lei nº 3.151/2004, que altera a Lei nº 9.994, de 4 de julho de
2000, com o intuito de ampliar as fontes de recursos do Programa de
Desenvolvimento Científico do Setor Espacial, pronto para pauta no Plenário da
Câmara dos Deputados, como uma solução viável para atender ao setor espacial.

Instituir processos de elaboração orçamentária (execução, controle e avaliação)


específicas para o setor espacial.

- COMENTÁRIOS:

Gilberto Câmara, então diretor do INPE, em entrevista à TV


Câmara exibida em reportagem no dia 23 de fevereiro de 2010, declarou que o
programa de lançadores compete com as bolsas do CNPq, com investimento de
pesquisas em universidades, com os programas de pesquisas de biodiversidade e
mudanças climáticas e meteorologia. De modo que, competindo com esses
programas, se o MD não se envolver oficialmente e não colocar recursos

45
compatíveis, nunca haverá recursos necessários para desenvolver o VLS.16

Outras falas, logo após o acidente com o VLS-1, em 2003, dão


a dimensão exata do nosso atraso e da indigência que cerca o nosso programa
espacial, superado, de há muito, por países que se lançaram nessa empreitada
depois do Brasil e em um tempo em que tinham menos expressão.

Em agosto de 2003, o brigadeiro Hugo Piva já assinalava o


imenso atraso decorrente dos parcos recursos:

A escassez de recursos, segundo o brigadeiro da Reserva Hugo de


Oliveira Piva, provocou atraso de 10 anos no projeto do VLS. “O
primeiro protótipo de foguete, lançado em 1997, deveria ter sido
lançado em 1984. Devemos levar mais três a sete anos para formar
uma nova equipe capaz de levar o projeto adiante.”17

Essa penúria crônica transparece também em outra


reportagem:

Os problemas com O VLS vêm de longo tempo. O primeiro a ser


disparado, que foi destruído depois do lançamento, usava
computadores de bordo inadequados, comprados na ex-União
Soviética em 1988. Por motivo de economia, em lugar do modelo
indicado pelos técnicos espaciais soviéticos, que custavam US$ 100
mil, os brasileiros optaram por um sistema empregado em mísseis de
US$ 20 mil.18

O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, então diretor


do Museu de Astronomia do Rio de Janeiro, foi mais enfático:

Na preparação deste terceiro protótipo do VLS, os cortes de custeio


começaram em maio de 2002. Eles forçaram o CTA a reduzir a

16
TV CÂMARA. Reportagem disponível em:
<www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=PROGRAMA-ESPACIAL-BRASILEIRO-2PROBLEMAS-
FINANCEIROS&selecao=MAT&materia=100356&programa=2&velocidade=100K>. Acesso em: 23 fev. 2010.
17
SILVEIRA, Virgínia. Lula promete prosseguir com o programa espacial. Gazeta Mercantil, São Paulo. 28 ago.
2003. Telecomunicações & Informática, p. A18.
18
REZENDE, Pedro Paulo. Reduzido a cinzas. Correio Braziliense, Brasília, 26 ago. 2003. Brasil, p. 15.
46
jornada de trabalho para encurtar gastos com alimentação e energia
elétrica. Ao longo de meses, às terças e quintas, os técnicos só
podiam trabalhar a partir das 13 h. Nas sextas, o expediente acaba
ao meio-dia. Poupava-se o bandejão. Tudo isso para a viabilizar o
projeto...19

A continuar assim, as comemorações da Copa de 2014 servirão


para marcar os trinta anos do fracasso de um foguete brasileiro cujo projeto começou
pelos anos 80 e prosperou bastante durante o regime militar, mas que não decolou e
ficou praticamente estagnado a partir do restabelecimento dos governos civis.

O MD, de certo modo, corrobora as considerações aqui feitas


quando informa o seguinte (g.n.):

Um grande problema enfrentado pelo Programa Espacial Brasileiro é


a ausência de recursos financeiros suficientes para o financiamento
do Programa. Nos últimos 20 anos, a previsão orçamentária
baseada no plano de metas, para os projetos do IAE20, não tem
sido atendida pela Lei Orçamentária Anual (LOA). Por outro lado, o
constante reajustamento das atividades aos recursos disponibilizados
acarreta um aumento dos prazos, tornando o cronograma físico não
condizente com as expectativas de Governo.21

Depois, a pasta da Defesa ainda acresce (g.n.):

Também a descentralização tardia do orçamento (no ano de 2010 –


ocorreu em junho, no ano de 2011 – ocorreu em abril, no ano de 20
12 – ainda não ocorreu) reduz o tempo hábil para superar a barreira
jurídica. Na prática, os recursos só são disponibilizados após
haver transcorrido um terço do ano fiscal.22

O MCTI também vem em reforço às nossas colocações,


mostrando, em um primeiro momento, a necessidade do fluxo regular anual de

19
BETING, Joelmir. Tragédia da Omissão. O Globo, Rio de Janeiro, 26 ago. 2003. Colunas, p. 27.
20
IAE – Instituto de Aeronáutica e Espaço do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
Unidade do Comando da Aeronáutica responsável pelo projeto e desenvolvimento do VLS-1.
21
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
22
Ibid.
47
R$914 milhões, de 2011 e 2020 para o desenvolvimento do PNAE e, depois, dos
grandes prejuízos que têm sido causados pelo fluxo descontínuo e irregular dos
recursos ao longo dos anos (g.n.):

A elevação do volume dos investimentos a patamares, no mínimo,


próximos daqueles previstos na revisão do Programa Nacional de
Atividades Espaciais (PNAE), realizada em 2011, para o período
decenal de 2011 a 2020, ou seja, da ordem de R$ 914 milhões por
ano, associada à garantia de uma estabilidade no fluxo desses
recursos, constitui um dos principais desafios do programa espacial,
na dimensão dos investimentos.
A abrupta ruptura e a elevada instabilidade dos investimentos
verificados desde o início da década de 90 até o início dos anos
2000 provocaram grandes atrasos nos projetos,
descontinuidades nas contratações com a indústria,
desmantelamento de equipes e, principalmente, um grande
descompasso entre os programas associados aos satélites,
veículos lançadores e centros de lançamento, definidos como
eixos estratégicos centrais no processo de domínio do ciclo completo
da tecnologia espacial.23

Referindo-se especificamente ao CEA, o MCTI ainda acresce


(g.n.):

Os principais óbices para o maior avanço da implantação do CEA nas


condições atualmente propostas estão na inadequação dos
recursos financeiros em relação aos custos dos projetos
planejados para o CEA e na falta de pessoal capacitado para a
realização dos projetos e obras e para a manutenção dos sistemas
instalados.24

A revisão do PNAE, realizada em 2011, para o período decenal


de 2011 a 2020, dividiu-o em duas grandes fases: uma de consolidação (de 2011 a
2014) e a de expansão (de 2015 a 2020).

23
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
24
Ibid.
48
Considerando-se apenas a primeira, em que “acordos de
cooperação internacional serão essenciais”, deverão ser concluídos, até 2014, os
seguintes projetos de caráter mobilizador e que estabelecerão as condições de
viabilidade para a fase posterior: satélite geoestacionário de comunicações,
lançamento do Cyclone-4, lançamentos dos Veículos Lançadores de Satélite (VLS-1)
e do microssatélite (VLM-1), lançamento do satélite Amazônia-1 (com a conclusão da
Plataforma Multimissão), lançamento dos satélites CBERS-3 e 4, estabelecimento de
um programa de satélites científicos e tecnológicos e estabelecimento de um
programa de domínio de tecnologias críticas.25

Tendo em vista o claudicante histórico do PNAE, a sua


dependência da “boa vontade” estrangeira para a cooperação internacional, a sua
crônica falta de recursos e as projeções orçamentárias para esse período, é de se
duvidar da completude desses projetos, pelo menos da maior parte deles. O quadro
das necessidades estimadas para a conclusão desses projetos em face dos recursos
previstos no PPA (Fig. 09) só faz ratificar as dúvidas aqui colocadas, uma vez que os
valores previstos para o programa espacial no Plano Plurianual 2012-2015 estão em
patamares inferiores àqueles estimados como necessários.

25
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
49
Fig. 09 – Necessidade Estimada versus PPA 2012-2015.
Fonte: Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.

E uma coisa deve ficar patente: Nenhum país consegue


sustentar um programa espacial apenas sob a ótica da exploração comercial, sendo
absolutamente necessárias as encomendas governamentais, de natureza civil e
militar, para financiar os satélites e seus veículos lançadores. É atividade estratégica
a exigir a presença do Estado, mesmo sob a vertente comercial. Tanto é assim que
notícia recente diz da concessão, pelo governo americano, de US$ 50 milhões para
cinco empresas privadas desenvolverem novas tecnologias que levarão astronautas
ao espaço a partir de meados desta década; algo que seria absolutamente inviável
para o Brasil, não só pelo valor, mas, principalmente, porque a nossa legislação não
permitiria tal mecanismo de repasse de recursos diretamente para empresas
privadas.26

De um modo geral, no Brasil, tanto no setor público como no

26
Nasa põe em prática as propostas do governo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 03 fev. 2010. Internacional, p.
A22.
50
privado, os investimentos em ciência, tecnologia e inovação são extremamente
baixos e a infraestrutura física de pesquisa, além de reduzida, está defasada; tudo
contribuindo para manter ou aumentar o “gap” tecnológico.

As indústrias aeroespaciais e de material de defesa do Brasil só


prosperarão efetivamente a partir do instante em que o Estado se fizer, nessa seara,
cliente seguro, com forte poder de compra, do seu próprio parque industrial e
parceiro nos investimentos, no desenvolvimento e nos grandes negócios
internacionais, bastando ver como procedem os governos dos países que estão em
nossa dianteira e a agressividade com que vêm ao Brasil vender os produtos de
suas indústrias.

2.3. Morosidade e dificuldade nas aquisições de bens e serviços

- CAUSAS:

Legislação geral de compras e contratações (Lei 8.666/93) completamente


inadequada para contratações de sistemas de alto conteúdo tecnológico, feitos
sob encomenda e em pequena escala (um ou dois protótipos), como é a
característica do setor espacial.

Legislação geral de compras e contratações (Lei 8.666/93) engessada e distante


da flexibilidade, velocidade e eficiência imprescindíveis às atividades espaciais. A
título de exemplo, a reconstrução da plataforma e da torre de lançamento do VLS,
porque a empresa que perdeu a licitação ingressou na justiça, atrasaria em pelo
menos dois anos o projeto, não fosse o VLS ainda mais atrasado, com a perda de
precioso tempo e a um custo altíssimo para o erário devido ao encarecimento da
obra.

O poder de compra do Estado não é exercido como ocorre nos EUA e na Europa.
Sobre isso, não é demais recorrer, outra vez, à professora Linda Weiss,
continuando a abordagem iniciada na página 36 (g.n.):
51
Foi interessante ouvir outro dia que a política industrial brasileira tem
dois pontos problemáticos: a falta de uma política agressiva para a
exportação de manufaturados e a política de compras
governamentais, que não teria decolado.
Sugiro trazer o caso americano para debate no Brasil. As compras
governamentais são um instrumento poderoso de
desenvolvimento. O importante é separar as compras ordinárias,
como papel e mobília, das encomendas de tecnologia, (...).
Nisso você estabelece uma competição entre quem pode produzir tal
coisa e como o Estado pode ajudar. Não é só o governo dizendo
como deve ser, mas há uma interação.
De um só programa americano, o Small Business Innovation
Research Program, de onde vieram nomes como a Microsoft,
centenas de firmas receberam financiamento. Não são somas
grandes, poderiam ser US$ 750 mil, por exemplo, para levar a
tecnologia da fase da ideia na cabeça ao protótipo.
O programa foi lançado em 1982, quando nos EUA temia-se perder a
corrida tecnológica para Japão e Alemanha, e envolve muitas
agências governamentais, incluindo o Instituto Nacional de Saúde –
que faz encomendas ao setor farmacêutico e de biotecnologia –, a
Nasa e a Defesa.27

A criação dos Núcleos de Assessoramento Jurídico (NAJs) da Controladoria-


Geral da União (CGU), à vista de alguns, representou medida de racionalização e
economia para a CGU, porque, centralizando regionalmente as análises dos
processos regionais de aquisição, evitou a dispersão dos seus
procuradores/advogados por diversas unidades administrativas. Todavia, mais
uma vez, significou a eficiência da fiscalização e controle vencendo a eficiência
da atividade-fim porque aumentou o trâmite burocrático das aquisições, afastou
os integrantes da CGU de onde os problemas efetivamente acontecem,
particularmente porque não são especializados em bens e serviços espaciais.

27
ANTUNES, Cláudia. Redução do papel do estado na economia sempre foi mito. Entrevista com Linda Weiss.
Folha de S. Paulo, São Paulo, 14 set. 2009. Entrevista da 2ª, p. A18.
52
- SUGESTÕES:

Editar legislação específica para compras e contratações no setor espacial. A


NASA e o CNES seguem normas diferenciadas para compras e contratações na
área espacial. No Brasil, as flexibilidades trazidas pela Lei Geral da Copa bem
poderiam servir de inspiração de algo semelhante para os setores estratégicos,
inclusive o aeroespacial.

Descentralizar a análise jurídica dos processos de aquisições para os


órgãos/entidades do setor espacial.

Estabelecer o acompanhamento dos projetos do PNAE, desde o seu início, pelos


órgãos de fiscalização e controle, de modo a não haver paralisações por
eventuais irregularidades que venham a ser invocadas por alguma parte
interessada.

- COMENTÁRIOS:

A legislação divorciada da realidade cria situações


absolutamente anômalas em que, mesmo sendo parcos os recursos, eles terminam
não sendo integralmente gastos, tal a dificuldade para geri-los. É o que o MD
consigna quando diz (g.n.):

Paradoxalmente, apesar dos recursos disponibilizados estarem


sempre abaixo dos solicitados, uma porcentagem dos recursos
orçamentários disponibilizados para os projetos é devolvida no
final do exercício fiscal, resultado da execução financeira
incompleta proveniente das dificuldades interpostas pela
legislação (Lei nº 8.666), para a aquisição de componentes e para a
contratação de serviços, além da falta de recursos humanos que
possam preparar adequadamente e efetuar o acompanhamento dos
processos nos órgãos administrativos e jurídicos relacionados.28

Ratificando as colocações acima, em outro ponto, o MD

28
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
53
acrescenta (g.n.):

Um ponto constantemente debatido na condução dos projetos


espaciais é a dificuldade de trabalho sob o regime da Lei 8.666. Esta
lei foi sabidamente elaborada para controlar licitações públicas de
produtos e serviços de baixa e média tecnologia. Produtos de alta
tecnologia demandam um tipo de legislação especifica que
distinga as empresas com a capacidade técnica adequada. As
dificuldades para se justificar as contratações, sem ferir a lei, têm-se
transformado em pesadelo para os gestores públicos, e o tempo
gasto para isso é incompatível com os cronogramas de projeto.
(...) E fato conhecido que a atual Lei de Licitações não foi concebida
para atender a área de alta tecnologia, criando obstáculos
operacionais que dificultam a execução do orçamento. (...)29

O MCTI não deixa por menos no que tange às críticas ao


engessamento provocado pela Lei nº 8.666/93:

A principal restrição de natureza legal está na atual legislação de


compras governamentais (Lei 8.666/93) que dispõe de uma
concepção voltada estritamente para a contratação de obras
civis e compras ordinárias, com imposição de preços e prazos fixos
nos produtos finais a serem fornecidos. Para os casos de projetos de
desenvolvimento tecnológico, que envolvem riscos e incertezas nos
custos de desenvolvimento da tecnologia, há necessidade de
mecanismos de contratação mais flexíveis30 do tipo “cost plus” ou
“cost less”.31

Depois, relata os problemas causados pela legislação em vigor


para que empresas que participaram da concepção e elaboração de um projeto
possam, em seguida, participar da etapa de produção ou desenvolvimento.

29
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
30
Mecanismos de contratação mais flexíveis do tipo “cost plus” ou “cost less” são aqueles adotados para fazer
face à imprevisibilidade que rege a fase de pesquisa e desenvolvimento de um projeto, que poderá, no seu curso,
exigir, para o seu prosseguimento, mais recursos e, eventualmente, menos recursos, em relação àqueles
inicialmente previstos.
31
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
54
A legislação atual traz também, como exemplo, restrições para que
uma ou mais empresas, além de participar da fase de concepção e
elaboração do projeto, como estímulo à melhoria da qualidade,
possam também participar da fase de produção ou
desenvolvimento.32

E finaliza sugerindo formas de incentivo ao setor espacial (g.n.):

Além da necessidade de aprovação de legislação específica para


flexibilizar as regras de compras e encomendas governamentais
junto às empresas da cadeia produtiva espacial brasileira, é
desejável também a redução da carga tributária dos produtos e
serviços do setor espacial e a criação de incentivos fiscais para
empresas que produzam no país bens e serviços da área espacial.33

Há que se reconhecer que, no âmbito da Câmara dos


Deputados, alguns passos têm sido dados no sentido de produzir e aperfeiçoar
normas em prol das atividades espaciais no Brasil.

Da Medida Provisória nº 544/2011, com as modificações


sugeridas pelo seu Relator, o Deputado Carlinhos Almeida, resultou a Lei nº 12.598,
de 22 de março de 2012, que “estabelece normas especiais para as compras, as
contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa; dispõe
sobre regras de incentivo à área estratégica de defesa; altera a Lei n o 12.249, de 11
de junho de 2010; e dá outras providências”.

O senso de oportunidade do Relator permitiu que o Capítulo V


da Lei nº 12.249/2010, que na sua redação original só enxergava a “Indústria
Aeronáutica Brasileira”, passasse a tratar “Do Regime Especial para a Indústria
Aeroespacial Brasileira – RETAERO”.

Mesmo assim, o alcance dessa modificação legislativa é curto,


haja vista alcançar apenas o segmento produção.

32
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
33
Ibid.
55
Mais robusto é o Projeto de Lei nº 7.526, de 2010, de autoria
dos Deputados integrantes do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica,
tendo como primeiro proponente o então Deputado, hoje Senador, Rodrigo
Rollemberg, que “dispõe sobre os incentivos às indústrias espaciais, instituindo o
Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Espacial (PADIE),
altera a Lei nº 10.168, de 29 de dezembro de 2000, e estabelece medidas de
incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no setor espacial.”

Essa proposição, além alcançar produtos, partes e insumos da


indústria espacial, inclui programas de formação de pessoal e toda infraestrutura de
solo (centros de lançamento, estações de rastreio e controle, etc.), veículos lançado-
res e satélites, desde a fase da pesquisa e desenvolvimento, além de priorizar o
desenvolvimento de tecnologias críticas para o programa espacial e de prever a
isenção de impostos nos serviços de desenvolvimento e nos fornecimentos finais.

Fruto do estudo sobre o Programa Espacial Brasileiro, iniciado


pelo Conselho no primeiro de semestre de 2009, o Projeto de Lei nº 7.526/2010, que
ainda pode ser aperfeiçoado, foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores e
de Defesa Nacional, aguardando sua apreciação pela Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática para seguir, depois, para a Comissão de
Finanças e Tributação e para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

2.4. Exiguidade e baixa capacitação tecnológica da indústria brasileira

- CAUSAS:

Carência de indústrias capacitadas para atender à demanda de alta tecnologia


como a exigida pelo setor espacial.

Falta de estímulo governamental para indústrias do setor espacial. No mundo


inteiro, não há indústria espacial que prescinda dos projetos e encomendas
governamentais.
56
O Governo federal, na execução do PNAE, não garante a perenidade de recursos
nem a continuidade de fluxo das encomendas às indústrias, de modo que o
próprio Estado não promove e garante as indústrias de que necessita.

A implantação e a manutenção de uma indústria espacial são muito caras.

Pequena participação de indústrias e universidades no PNAE.

Normas de compras e contratações (Lei nº 8.666/93) são inadequadas à


produção de bens e serviços espaciais, prejudicando a participação da indústria
aeroespacial brasileira no programa espacial.

- SUGESTÕES:

Criar empresa pública para atuar como prime contractor (contratante principal)
em projetos espaciais de grande porte e alto risco tecnológico, produzindo
satélites e foguetes, entre outros itens.

Exigir a participação mínima da indústria nacional na contratação, pelos órgãos e


entidades estatais, de serviços e dados de satélite (comunicação, meteorologia,
imagens etc.).

Instituir regimes jurídico, regulatório e tributário especiais de modo a proteger as


empresas privadas nacionais do setor espacial contra os riscos do imediatismo
mercantil.

Assegurar a continuidade nas compras públicas, com a contrapartida se dando


pelo controle estratégico a ser exercido pelo Estado sobre essas empresas,
assegurado por instrumentos de direito público e de direito privado;

Adotar o mecanismo de golden share (ação especial) em empresas de interesse


do setor espacial. A golden share permite que Estado, apesar de acionista
minoritário em uma empresa privada, detenha prerrogativas especiais em nome
do relevante interesse nacional, podendo influir em decisões estratégicas tais

57
como transferência do controle acionário da empresa, aquisições, fusões, criação
ou alteração de programas militares, alterações estatutárias etc. Isso evitará que
indústrias que desenvolveram ou receberam dos institutos de pesquisa
tecnologias críticas sejam alienadas, levando consigo o know-how adquirido ou
descontinuando no Brasil a produção de bens que incorporam essas tecnologias.

- COMENTÁRIOS:

Em relação a este último tópico, há de se trazer à lembrança


que existe uma extensa lista de indústrias nacionais que, depois de se
desenvolverem sob o guarda-chuva de incentivos estatais, foram vendidas para
empresas estrangeiras, sendo simplesmente fechadas ou desnacionalizadas, e sem
qualquer compensação ao erário. São empresas nos mais vários ramos: eletrônica,
telecomunicações, automação, microeletrônica, química fina, biotecnologia e por aí
vai. Muitas eram anteriores ao sucesso de congêneres que nasceram, depois, nos
“tigres asiáticos” e na Índia e que, hoje, são exemplos de sucesso empresarial e
tecnológico.

Isso tem acontecido, inclusive, com indústrias brasileiras de


material de defesa e de material destinado ao setor aeroespacial, estando a exigir
urgente tomada de posição do Governo brasileiro.

Mais recentemente, no dia 13 de julho de 2012, em Paris, na


Eurosatory, uma das maiores feiras de Defesa e Segurança da Europa, a empresa
francesa Sagem anunciou a aquisição da Optovac, indústria brasileira especializada
no desenvolvimento e fabricação de sistemas optrônicos e de visão noturna, que já
teve alguma participação no setor espacial brasileiro.34

34
PANORAMA ESPACIAL (blog). Eurosatory: Sagem leva a Optovac.
<http://panoramaespacial.blogspot.com.br/2012/06/eurosatory-sagem-leva-optovac.html>. Acesso em 17 jul.
2012.
58
2.5. Insuficiência e dificuldade de captação de recursos humanos
especializados

- CAUSAS:

Pouca autonomia e agilidade para contratação/nomeação de pessoal, com a Lei


nº 8.112/90 revelando-se inadequada para o estabelecimento de uma política de
pessoal que responda às reais necessidades do PNAE.

Política de remuneração de pessoal centralizada.

Carência de especialistas no campo das ciências exatas como resultado, dentre


outros fatores, de uma política educacional que privilegia as ciências humanas e
sociais, em que, mais facilmente e com baixo investimento, é inflado o percentual
de brasileiros com formação superior, ainda que em detrimento da formação
científico-tecnológica, que permite a produção de bens de maior valor agregado.
Na década de 80, a Coreia do Sul e o Brasil formavam cerca de dez mil
engenheiros/ano; hoje, o país asiático forma oitenta mil e o Brasil não passa de
vinte mil.

Baixa captação e elevada evasão de cientistas e técnicos do setor aeroespacial,


que migram para a iniciativa privada ou para outros cargos ou empregos públicos
por duas razões básicas: a busca de melhor remuneração (que é baixa em face
de sua elevada qualificação) e a frustração pela precariedade dos meios
colocados à disposição para seu trabalho. Como exemplo pontual, muitos ex-
alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) são, hoje, operadores do
mercado financeiro e de bolsas de valores. Há, ainda, a evasão de pessoal
especializado para trabalhar na indústria aeroespacial de outros países.

Gestão hipercentralizada de recursos humanos, típica da Administração Pública,


na qual se inserem a AEB, o INPE e o DCTA, resultando em reduzida autonomia
administrativa.

59
Baixa velocidade na renovação do quadro de recursos humanos e insuficiência
de capacitação, estimando-se um tempo mínimo de cinco anos, após o ingresso
em atividades ligadas ao setor aeroespacial, para que um cientista ou técnico
adquira bom nível de proficiência. Faz-se aqui uma provocação: se o
preenchimento de um cargo só pode se dar a partir da vacância, como conciliar a
passagem da cultura de um especialista que se aposenta para outro recém-
admitido? A nossa política de pessoal não considera que o conhecimento tem um
preço.

Em todos os órgãos/entidades do setor espacial há previsão, para breve, de alto


índice de aposentadorias, pelo natural envelhecimento dos quadros, levando o
conhecimento acumulado para a inatividade, sem que tenham sido tomadas
providências para a oportuna reposição desse capital humano e em quantidade
suficiente para atender a demanda, que cresce em sentido inversamente
proporcional ao da diminuição do pessoal.

O MD, ao tratar da questão etária, referindo-se ao IAE, mas


com uma observação que alcança todos os segmentos da atividade espacial no
Brasil, informa da:

... desproporção da pirâmide etária, com um maior número de


servidores acima de 45 anos. Uma combinação etária mais
adequada, com um número maior de servidores abaixo de 30 anos,
permitiria uma maior eficiência na condução dos serviços.35

A AEB, a “cabeça” do PNAE, com a responsabilidade de formular e coordenar a


execução da política espacial brasileira, até hoje não tem servidores próprios,
sendo constituída por servidores colocados à disposição por outros órgãos e
entidades.

- SUGESTÕES:

35
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
60
Criar carreira específica para o setor espacial, com salários à altura de
órgãos/entidades como a Receita Federal, BNDES e Banco Central, a título de
exemplos.

Adequar a remuneração ao custo da formação, não se justificando a perda de


capital intelectual formado nas instituições de ensino público, a um custo
elevadíssimo para o erário, simplesmente por não haver equação entre custo de
formação versus remuneração.

Editar legislação de pessoal específica para o setor aeroespacial, de modo a


obter maior autonomia, agilidade e flexibilidade na contratação/remuneração/re-
compensa de pessoal e na concessão de outros benefícios, com a NASA e o
CNES podendo ser tomados como paradigmas, inclusive com a primeira sendo
regulada, nesse campo, pelo NASA Flexibility Act of 2004, que trata de
recrutamento, de recompensas, prazos de nomeações para diversos tipos de
cargos, remuneração de cargos especialmente críticos, atribuições do pessoal
intergovernamental e assim por diante.

Mobiliar a AEB com servidores da própria entidade e com ela identificados; o que
lhes daria um espírito de corpo, refletindo positivamente em todos os
desdobramentos da atividade espacial em nosso País.

- COMENTÁRIOS:

Sobre a formação de pessoal para a área espacial, o MCTI


informa que a “necessidade de formação de novos engenheiros, em quantidade e
qualidade, para suprir as demandas dos setores espacial, aeronáutico e defesa,
constitui outro ponto de atenção”.36

Em seguida, destaca “o esforço do ITA de dobrar a oferta de


vagas no período de cinco a seis anos, passando para 240 vagas”; o que tornará

36
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
61
“necessária a contratação de 150 professores e cobrir cerca de 50 aposentadorias
que deverão acontecer nesse período”.

Ressalve-se que a graduação é a primeira etapa da formação


para os segmentos de alta tecnologia, que exigem mais uns cinco anos, em média,
de experiência para se considerar o profissional pronto.

Além da formação em termos de quantidade e qualidade, há de


serem criados mecanismos que atraiam e retenham engenheiros, técnicos e outros
profissionais no segmento aeroespacial, evitando o esvaziamento sobre o qual o
MCTI se manifesta, inicialmente, em uma abordagem que alcança todo o PNAE
(g.n.):

Apesar do PNAE, ao longo da sua história, ter formado uma


comunidade de pesquisadores e técnicos com excelência
internacionalmente reconhecida, verificou-se ao longo das ultimas
duas décadas um processo de perda sistemática de pessoal, sem
que houvesse uma política e ação mais efetiva de se buscar a
recomposição do quadro de profissionais para o programa
espacial brasileiro. A falta de maior dinamismo do mercado
espacial brasileiro faz também com que as empresas pouco
invistam na contratação de novos técnicos ou engenheiros para o
maior avanço do programa.37

Ao tratar da proporção de servidores de nível superior e de


nível médio, o MD, referindo-se ao IAE, registrou a seguinte importante observação:

Para o desenvolvimento de futuros veículos, são necessários mais


servidores de nível superior, com diversos níveis de qualificação
(especialização, mestrado e doutorado,...), mas, a distribuição atual
apresenta um quadro em que apenas 40% dos servidores são de
nível superior, quando esta percentagem deveria ser de, no mínimo,
70% de nível superior, para a condução dos projetos e das

37
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
62
pesquisas.38

Sobre o pessoal envolvido nas atividades do PNAE, em


entrevista na mesma reportagem exibida pela TV Câmara que foi citada antes39,
Fernando Moraes, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Federais em
Ciência e Tecnologia do Vale do Paraíba (SindCT), em 2010, disse que o INPE, há
cerca de dezoito anos atrás, tinha mais de 1.600 funcionários, tendo, quando da
entrevista, pouco mais de mil, em que pese, ao longo do tempo, terem aumentado as
atribuições, as linhas de pesquisas e os programas de interesse nacional, cabendo o
mesmo tipo de observação para o Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA), do Comando da Aeronáutica, que, sendo bem mais antigo que
o INPE, tinha um número mais significativo de servidores prestes a se aposentar,
levando consigo todo o conhecimento que adquiriram e desenvolveram.

Em 2009, reportagem em periódico nacional40 registrou que,


nos últimos anos, o INPE e o DCTA tinham perdido muitos funcionários e que, com
aposentadoria e extinção de carreiras, muitas vagas ficaram abertas,
comprometendo seriamente o PNAE.

Em seguida, acrescentou que o DCTA, que chegou a ter quase


5 mil servidores, tinha, quando da reportagem, menos de 4 mil e, nos últimos dez
anos, perdera cerca de 700 servidores (18% do quadro), embora o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) só reconhecesse a existência de 300
vagas em função da extinção de algumas carreiras ao longo da década de 90.

No INPE, em 2010, o déficit total era de 400 servidores e 20%


dos que estavam ativos teriam condições se aposentar até o fim daquele ano;
38
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
39
TV CÂMARA. Reportagem disponível em:
<www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=PROGRAMA-ESPACIAL-BRASILEIRO-2PROBLEMAS-
FINANCEIROS&selecao=MAT&materia=100356&programa=2&velocidade=100K>. Acesso em: 23 fev. 2010.
40
SILVEIRA, Virgínia. Falta de pessoal pode afetar pesquisas de clima e aeroespaciais. Valor Econômico, São
Paulo, 4 dez. 2009. Brasil, p. A4.
63
enquanto na área de engenharia espacial, mais de 50% dos servidores poderiam se
aposentar num prazo de dois a cinco anos.

Mais recentemente, o MCTI relatou uma situação ainda mais


grave para o INPE, que é voltado essencialmente para satélites:

O Plano Diretor do INPE, para os anos de 2011 a 2015, mostra que,


em 1989, a instituição tinha 1.600 servidores, sendo apenas 50 com
mais de 20 anos de serviço. Passados 20 anos, o número de
funcionários é de 1.131, dos quais 831 (73%) têm mais de 20 anos
de casa. Na área de gestão, se perdurar a atual situação, o INPE
deve em dez anos perder 70% do pessoal que trabalha no apoio às
atividades fins do instituto, devido às aposentadorias.41

E não menos grave é a situação desenhada pelo MCTI para a


área dos lançadores:

Pelo lado do DCTA, suas projeções indicam que, em 2020, estará


próximo de uma situação de colapso, reduzido a 1/4 do efetivo que
possuía em 1994. A média de idade dos pesquisadores do Instituto
de Aeronáutica e Espaço (IAE), responsável pelos principais projetos
espaciais do país na área de veículos lançadores, é superior a 50
anos. O último concurso público autorizado foi feito em 2010, mas
apenas 93 funcionários foram contratados para atender a todo o
órgão, que inclui 11 institutos de ensino e pesquisa e dois centros de
lançamento de foguetes. O déficit de pessoal atual é de mais de mil
funcionários, sendo que, em 2011, mais de 70 servidores deixaram o
DCTA.42

Sobre isso, o MD ainda acresce:

A situação é agravada pelo acelerado processo de aposentadorias


que, nos últimos cinco anos, reduziu o efetivo do IAE em cerca de
30%. Estas aposentadorias e a ausência de contratações em número
suficiente para um processo de transmissão de conhecimento têm
causado a perda de competências tecnológicas antes dominadas

41
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
42
Ibid.
64
pelo país.43

Independentemente das perdas por evasão ou aposentadoria, é


fato que a quantidade de pessoal especializado é irrisória em face da dimensão das
atividades espaciais, com o MD tendo deixado isso bem evidente:

O primeiro óbice envolve o número insuficiente de profissionais


dedicados ao desenvolvimento nas organizações do DCTA. O IAE
conta com apenas 460 colaboradores na área de espaço, o que
representa cerca de um terço do número considerado como mínimo
para a condução adequada do programa. Apenas para efeitos de
comparação, a organização indiana correspondente, a ISRO (Indian
Space Research Organization), conta com 16.000 colaboradores, ou
seja, cerca de 20 vezes mais do que as duas organizações
brasileiras somadas, INPE e IAE.44

Depois, corroborando colocações feitas aqui, o MD aponta


como as principais razões que acarretaram a diminuição do quadro de pessoal na
área espacial:

i. Evasão causada pelo Plano de Demissão Voluntária (ocorrido em


1989) visando à redução do quadro de funcionários públicos;
ii. Evasão para o mercado de trabalho, nas décadas de 80 e 90,
devido à estagnação dos salários dos funcionários do IAE numa
época de alta inflação no país; em especial em direção à Embraer,
resultando na perda de servidores com competência e
amadurecimento para enfrentar os desafios dos projetos;
iii. Perdas por falecimentos e aposentadorias, não compensadas
pelos últimos concursos públicos, pois, além de poucas vagas
disponibilizadas, há alto atrito nos primeiros anos, ou seja, aqueles
que obtiveram sucesso no ingresso permaneceram pouco tempo,
preferindo seguir para outros setores no serviço público que
oferecem melhores perspectivas profissionais e salariais na carreira,

43
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
44
Ibid.
65
como por exemplo, para a estatal Petrobrás.45

Em face desses problemas com pessoal, o MD ainda se


manifesta dizendo que:

Como não há outra possibilidade de contratação, há grande


dificuldade para a formação de corpos técnicos (especialistas) e
administrativos estruturados e competentes para o desenvolvimento
dos projetos, ou até mesmo para acompanhamento da execução dos
serviços de engenharia, contratados na indústria do País. Essa
questão é agravada pelo acentuado envelhecimento do quadro de
pessoal do IAE, cuja idade média supera os 45 anos.46

Aliás, sobre a perda e recomposição de pessoal para o setor


espacial, o MD é incisivo quanto à política do Governo federal (g.n.):

Carência de Pessoal: a recomposição do quadro de profissionais


para o programa espacial brasileiro é uma promessa antiga do
governo, mas a falta de uma ação mais efetiva tem provocado uma
perda sistemática de recursos humanos no setor, situação que vem
piorando com a elevação da faixa etária dos pesquisadores. A perda
de "notáveis" no programa espacial é crescente e, com a demora em
abrir um novo concurso, a situação só tende a piorar. O último
concurso público autorizado pelo governo, para o DCTA, foi feito em
2010, para apenas 93 funcionários, visando atender a 11 institutos
de ensino e pesquisa e dois centros de lançamento de foguetes.
Inclusive, alguns desses servidores permaneceram pouco tempo na
função, preferindo seguir para outros setores no serviço público que
oferecem melhores perspectivas profissionais e salariais na carreira,
como por exemplo, a estatal Petrobrás.47

Especificamente quanto aos oficiais e sargentos que servem no


CLA, o MD ainda aponta o óbice da alta rotatividade anual (em torno de 25%); o que
compromete a qualidade do Centro, que requer especialistas com vasta experiência

45
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
46
Ibid.
47
Ibid.
66
na maioria nos postos operacionais.48

Isso se dá pela falta de atrativos do local em virtude da precária


infraestrutura de Alcântara, das dificuldades do traslado entre São Luís e Alcântara,
a impossibilidade de manter o expediente de forma integral no CLA e a
disponibilidade de vagas em outras organizações militares mais atraentes.

O transporte entre São Luís, onde mora a maioria do pessoal


do CLA, e Alcântara se dá em uma lancha do Centro que, por sua vez, depende do
regime de maré, fazendo com que o expediente do CLA fique, igualmente,
condicionado às marés na região que, em determinadas ocasiões chega mesmo a
impedir a navegação.

Recuperando transcrição feita anteriormente, nela o MCTI


ainda observa a falta de capacitação do pessoal que mobilia as instalações espaciais
do CEA (g.n.):

Os principais óbices para o maior avanço da implantação do CEA nas


condições atualmente propostas estão na inadequação dos recursos
financeiros em relação aos custos dos projetos planejados para o
CEA e na falta de pessoal capacitado para a realização dos
projetos e obras e para a manutenção dos sistemas instalados.49

Nessa seara, o Brasil precisa aprender a vencer o


burocratismo, que causa mais problemas do que resolve, e determinados pruridos,
buscando conhecimentos, inteligências e tecnologias de que necessita em todas as
partes do mundo, ainda que adotando soluções não convencionais.

Quando do desmoronamento da antiga União Soviética, assim


como inúmeros músicos brilhantes migraram para cá, perdemos a oportunidade de
atrair cientistas de alto quilate nos mais diversos campos, inclusive aeroespacial.

48
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
49
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
67
Os projetos aeroespaciais norte-americano e russo tiveram
início com o butim de material e pessoal capturado ao fim da Segunda Guerra
Mundial. Os norte-americanos, secretamente, pela Operação Paperclip, não tiveram
o menor pudor de apagar o passado nazista de milhares de cientistas e técnicos
alemães, empregando-os em projetos governamentais e em empresas privadas que
desenvolviam atividades do seu interesse. Cientistas que conduziram experiências
em câmaras de gás de campos de concentração foram empregados em indústrias
químicas. Wernher von Braun, oficial das temidas “SS”, tornou-se o pai do projeto
espacial norte-americano.

Oportunidade semelhante em nosso País, certamente, levaria a


discussões intermináveis, a proselitismos que a nada chegariam. Aspectos legais e
éticos mais vários seriam invocados para impedir algo parecido. E perderíamos
milhares de cientistas e técnicos, ficando, mais uma vez, para trás.

Falando nos russos – os indianos e chineses contaram com a


ajuda deles nos seus programas espaciais –, perdemos outra grande chance quando
propuseram parceria com o Brasil e o governo Collor pôs tudo a perder.50

50
Reduzido a cinzas. Correio Braziliense, Brasília, 26 ago. 2003. Brasil, p. 15.
68
3. ÓBICES EXTERNOS AO PNAE

A “mão ínvísivel”
que ameaça a
pesquisa brasileira...

SindCT (Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Vale do
Paraíba). Jornal do SindCT, Ano 2, nº 13, abril de 2012. Disponível em:
<http://jornaldosindct.sindct.org.br/index.php?q=node/173>. Acesso em 29, jun. 2012.

Nenhum país que aspira ser alguma coisa no mundo pode abrir
mão de programas avançados na área aeroespacial, de
armamento, de eletrônica e química fina.
Entrevista com o brigadeiro da reserva HUGO DE OLIVEIRA
PIVA, considerado o pai do programa espacial brasileiro.
ARARIPE, Sônia. O programa precisa ser fortalecido. Jornal
do Brasil, Rio de Janeiro, 23 ago. 2003. País, p. A4.

A Europa não é o vertedouro dos produtos agrícolas da América


do Sul. (...) Não podemos trocar carne bovina por Rafales.
BRUNO LE MAIRE, ministro da Agricultura da França (governo
Sarkozy), em 16 set. 2010.
NETTO, Andrei. França ataca acordo com o Mercosul. O
Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 set. 2010. Economia, p. B9.
69
Os mísseis Sonda foram a base para a construção do VLS. No
começo importávamos dos USA quase todos os insumos; então por
ordem do Pentágono foi cortada a venda. Primeiro, a borracha líquida
para a fabricação do combustível sólido. Depois o perclorato da
amônia, para a queima do combustível sólido na ausência do oxigênio
atmosférico, o aço para os vasos dos motores, computadores,
plataformas inerciais, e por último a prestação de serviços.
Na década de 90 chegaram a confiscar quatro vasos dos motores do
VLS enviados aos EUA para serem lá temperados. Nossos cientistas
passaram a produzi-los aqui mesmo, exceto das plataformas inerciais
e carbono-carbono que foram adquiridas dos russos e dos computado
res de bordo, verdadeiros “cavalos de troia”, comprados dos ingleses.
Os EUA passaram a agir indiretamente usando a quinta-coluna
cooptada nas fileiras dos governos Collor e FHC. Com a conivência
desses governantes criou-se a Agencia Espacial Brasileira (AEB),
através da qual a NASA passou a controlar e esterilizar os já parcos
recursos destinados ao nosso programa espacial próprio.
Em 1997, usando a AEB e o INPE, nos enfiaram goela abaixo a
“compra” de uma cota do consorcio da Estação Espacial Internacional
e ainda nos convenceram a pagar o treinamento de um piloto militar,
escolhido entre aqueles simpáticos a Washington, para transformá-lo
em um “astronauta” visando nos fazer desperdiçar esforços e
recursos em atividades estéreis.
Para treinar o tenente-coronel aviador Marcos Pontes em “gerente de
carga”, pagamos três milhões e novecentos mil euros, (o custo de um
VLS completo).
Nada disso se compara as suspeitas explosões em Alcântara,
inclusive a última, que nos ceifou a nata dos cientistas e atrasou por
dez anos nosso desenvolvimento.
FREGAPANI, Gélio. Veículos Lançadores de Satélites (extrato
de Soberania e outros tópicos importantes para o Brasil). Dispo-
nível em: <www.tribunadaimprensa.com.br/?p=25081; acesso
em: 14 jan. 2012. O autor é coronel da reserva do Exército Bra-
sileiro, ex-comandante do Centro de Instrução de Guerra na Sel
va, com diversos livros publicados, destacando-se A Amazônia
no Grande Jogo Geopolítico: Um Desafio Internacional.
70
3. ÓBICES EXTERNOS AO PNAE

3.1. O que está por trás dos óbices externos

A história recente é recheada de exemplos de todo tipo de


obstáculos no que diz respeito à aquisição e desenvolvimento, pelo Brasil, de
tecnologias militar, aeroespacial e nuclear, mesmo quando caracterizado que as
duas últimas terão destinação exclusivamente civil.

O setor aeroespacial, por sua vez, pode ser visto desdobrado


em três áreas: aeronáutica, espacial e missilística; a última, de aplicação
exclusivamente militar; as duas primeiras, com ramificações civis e militares.

Excelente síntese dos óbices com que o Brasil se defronta para


o desenvolvimento e aquisição de tecnologias aeroespaciais, tanto para aplicações
civis quanto militares, está contida em projeções que fazem parte de palestra do
Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), intitulada "CTA:
Ciência e Tecnologia para a Defesa Nacional", aqui tomada como principal
referência para a elaboração deste capítulo, embora complementada por muitas
outras fontes, que serão indicadas à medida que a elas se recorra.51

As razões para os embargos e boicotes giram sempre em torno


das causas nobres do desarmamento, da não-proliferação de armas de destruição
em massa, da não-disseminação de tecnologias sensíveis ou de uso dual e de
outras assertivas do gênero, trazendo, de forma expressa ou tácita, a ideia de que
determinados países não são suficientemente responsáveis para serem detentores
dessas armas e tecnologias.

É patente a falácia desses argumentos. O país que mais fez

51
DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). CTA: Ciência e Tecnologia para a Defesa
Nacional. Palestra institucional proferida pelo Brigadeiro Engenheiro Venâncio Alvarenga Gomes, então
Subdiretor de Empreendimentos daquela organização, no 62º Fórum de Debates Projeto Brasil. São José dos
Campos (SP), 17 dez. 2008. Disponível em: <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-
gomes-presentation>. Acesso em: 1º abr. 2010. CTA, sigla que designava o Centro Tecnológico da Aeronáutica,
hoje DCTA.
71
uso irresponsável de tecnologias e armas desse quilate, causando extensos,
duradouros e irreparáveis danos materiais, sem contar as mortes e sequelas
deixadas em seres humanos – os Estados Unidos –, é exatamente o que mais
fortemente se alinha entre aqueles que se opõem a qualquer aquisição e
desenvolvimento de tecnologias que possam ter aplicação militar por outros países.
Estão aí as bombas atômicas lançadas sobre os civis japoneses na 2ª Guerra
Mundial e o agente laranja, empregado no Vietnã.

Os reais motivos que levam à criação de sucessivos obstáculos


à aquisição e desenvolvimento dessas tecnologias pelos países excluídos do círculo
virtuoso daqueles que detém poder militar e econômico e, em consequência, são
detentores dessas tecnologias, estão precisamente nessas duas vertentes – militar e
econômica – vez que as potências se portam de modo a não permitir que outros
países com elas concorram nessas expressões do poder nacional.

A econômica é compreendida a partir do momento em que os


valores agregados a essas tecnologias são muito altos e o custo dos produtos e dos
serviços que as utilizam é, na mesma medida, bastante elevado, representando
lucros fabulosos; o que termina por retroalimentar o mecanismo de poder, haja vista
que dinheiro é poder. Por isso que as comemorações pelo aumento das exportações
brasileiras devem ser recebidas com cautela, haja vista que se faz,
fundamentalmente, pelo incremento das vendas de commodities agrícolas e
minerais, na mesma medida em que diminuem as dos produtos industrializados ou
semi-industrializados, onde há maior valor agregado.52

Nesse contexto, mesmo passados treze anos, exemplos dados,


em junho de 1999, pelo Major Brigadeiro do Ar Aluízio Weber (Diretor do CTA de 09
abr. 1999 a 22 mar. 2000), bem retratam, a valores daquele tempo, como recursos

52
FRAGA, Érica. Matérias-primas são 43% da exportação. Peso de bens industrializados cai de 74% para 54%
em dez anos; ferro e soja representam 25% das vendas externas. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 jul. 2010.
Mercado, p. B4.
72
aplicados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) resultam em produtos que
incorporam intensa tecnologia e como esta corresponde a alto valor agregado:

É consagrado, no mundo inteiro, que, cada valor, cada dólar


investido em desenvolvimentos aeroespaciais, retorna aumentado
de 7 a 15 vezes em benefícios para toda a economia nacional.
Podemos exemplificar, como agregação de valor:
- 1 Kg de minério de ferro custa alguns centavos;
- 1 Kg de ERJ-145 custa mil dólares; e
- 150 mil dólares por quilo foi quanto o Brasil pagou aos norte-
americanos para colocarem em órbita dois satélites do
MCT/INPE. 53

Segundo Carlos Henrique de Brito Cruz, em 1999, então


presidente da FAPESPE, comprovando o alto valor agregado nos produtos
industriais com intensa tecnologia:

O faturamento já contratado pela EMBRAER equivale a 900 anos


– nove séculos – de funcionamento do ITA.54

Dados de 2010 mostram os efeitos quando se aplica em P&D:

Para importar uma tonelada de circuitos integrados


(US$ 848.871,43), o Brasil precisa exportar...
21.445 toneladas de minério de ferro (US$39,58/ton)
ou
1.742 toneladas de soja (US$ 487,36/ton)55

53
DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). CTA: Ciência e Tecnologia para a Defesa
Nacional. Palestra institucional proferida pelo Brigadeiro Engenheiro Venâncio Alvarenga Gomes, então
Subdiretor de Empreendimentos daquela organização, no 62º Fórum de Debates Projeto Brasil. São José dos
Campos (SP), 17 dez. 2008. Disponível em: <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-
gomes-presentation>. Acesso em: 1º abr. 2010. CTA, sigla que designava o Centro Tecnológico da Aeronáutica,
hoje DCTA.
54
CRUZ, Carlos Henrique de Brito. Da educação ao avião. Folha de S. Paulo, São Paulo, 5 jul. 1999. Opinião-
Tendências/Debates, p. A2. Em 1999, Professor Titular do Instituto de Física da Unicamp, Presidente da
Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP) e Diretor do Instituto de Física da Unicamp.
55
Fonte: Palestra de Aloizio Mercadante, então Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, em 13 dez. 2011, em
audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos
Deputados.
73
É a reprodução, em pleno século XXI, sob uma nova roupagem,
da relação metrópole-colônia: países consumidores versus países produtores de
matérias-primas; países dotados de capacidade manufatureira versus países
consumidores de manufaturados produzidos pela metrópole; povos senhores do
poder bélico e do poder econômico versus povos colonizados e sem expressão
militar e econômica. Agora, muito pior, na medida em que a independência política –
se é que pode ser dita assim – das colônias desobrigou as metrópoles das despesas
com a ocupação física e com a prestação de serviços e realização de outras
atividades para as quais, antes, carreavam recursos.

Tudo isso explica porque os projetos do DCTA têm sofrido


seguidos reveses. Nesse sentido, embora os Estados Unidos desempenhem o papel
do principal antagonista, outros atores mundiais também colocam obstáculos ao
nosso desenvolvimento nos setores que aplicam tecnologias sensíveis e tecnologias
de ponta.

Isso explica, também, o interesse internacional pelo que


acontece no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), como se conclui de
informações colhidas, ao longo de 2009 e 2010, de autoridades ligadas ao setor
espacial e de habitantes daquele município maranhense, e, ainda, da atuação
adversa, que ali acontece, de atores estatais e não-estatais estrangeiros, ao lado de
subservientes ONGs “Cavalos de Troia”56 e ativistas fantoches, embora “brasileiros”.

À guisa de exemplo, sempre que há lançamento de foguetes


em Alcântara, aumenta consideravelmente a presença de estrangeiros no município
e nos hotéis de São Luís. Logo após o acidente com o Veículo Lançador de Satélites
VLS-1, em 2003, quando 21 especialistas brasileiros morreram, periódico brasileiro
56
A expressão “Cavalo de Troia” é aqui empregada para qualificar aquelas organizações ditas não-
governamentais que, instaladas no Brasil e dirigidas por brasileiros patrocinados por atores estatais e não-
estatais estrangeiros, influenciam fortemente a opinião pública e os campos político e acadêmico, entre outros,
contra todo o projeto de desenvolvimento que seja estratégico para o Brasil: energia (hidrelétrica de Belo Monte);
transporte (hidrovia na bacia do Rio Paraná); aeroespacial (Complexo Espacial de Alcântara) e muitos outros que
podem ser trazidos à baila.
74
registrou que:

Militares envolvidos nas investigações vasculharam os hotéis de São


Luís, a capital maranhense, e ficaram surpresos com o elevado
número de estrangeiros – muitos americanos – hospedados na
cidade, na semana da catástrofe. A Aeronáutica investiga pelo menos
oito deles. No Vale do Paraíba, em São Paulo, as investigações
seguem sob absoluto sigilo. A região concentra boa parte das
indústrias fabricantes das peças do VLS e representa para o Projeto
Espacial Brasileiro o mesmo que o ABC paulista para a indústria
automobilística.57

Apesar de ser amplamente reconhecida a falta de recursos


como o verdadeiro pano de fundo dos problemas que afligem o Programa Espacial
Brasileiro, não se afasta a ação estrangeira da hipótese de sabotagem como causa
imediata do acidente. Até onde se conseguiu saber durante uma conversa em off
com autoridade ligada ao PNAE, um francês foi encontrado em um hotel, logo após a
destruição do foguete, fazendo malas para, às pressas, deixar o Brasil,

À equipe de reportagem da TV Câmara, em janeiro de 2010, o


diretor do CLA narrou episódio de um parapentista motorizado que desceu na área
residencial do Centro, informando ter saído de Recife e estar perdido, ainda que
portasse sofisticados equipamentos fotográficos e de comunicação via satélite e de
navegação. Descobriu-se, depois, que era um militar francês. O diretor narrou, ainda,
tentativas de invasão da área Centro, nos últimos anos, por indivíduos de
nacionalidade francesa e americana, e a instalação de antenas de comunicação, por
norte-americanos, na cidade de São Luís.

Não bastasse, habitantes de Alcântara registram a passagem


de “estudantes” estrangeiros em visita àquele município.

Ainda sobre sabotagens ao nosso programa espacial,

57
HOLLANDA, Eduardo; CONTREIRAS, Hélio; SIMAS FILHO, Mário. Inferno em Alcântara. Revista IstoÉ, São
Paulo, 3 set. 2003, ed. 1.170, p. 82-86.
75
encontramos os seguintes registros em diversos periódicos, com o primeiro fazendo
remissão, inicialmente, a sucessivos lançamentos suspensos e à suspeita de
sabotagem do VLS incendiado em 2003:

Entre os técnicos, porém, a versão era de que os superiores


suspeitavam de sabotagem.
Cabos - Um dos participantes da missão suspensa, que também
pediu anonimato, lembrou que em 1999, quando o VLS teve de ser
derrubado em pleno voo depois de apresentar problemas técnicos,
constatou-se que havia cabos elétricos cortados intencionalmente.
De acordo com o técnico, em abril suspeitou-se de situação
semelhante. A decisão foi a de prorrogar o prazo da missão.58
-------------------------------------------------------------------------------------
Não é de hoje que a suspeita de sabotagem ronda o programa
espacial brasileiro. Às 9h25 do dia 2 de dezembro de 1997, o País
tentava, pela primeira vez, fazer o seu VLS subir. Como o quarto
motor não funcionou, a operação foi abortada 65 segundos após a
decolagem. Acionado o dispositivo de destruição automática, o VLS
caiu no mar, a 1.920 metros de distância de Alcântara. A investigação
formal concluiu que houve uma falha no sistema de ignição, pois não
houve corrente suficiente para provocar a explosão que acionaria o
motor. Os fornecedores dos componentes do sistema de ignição
descartam essa versão. “Se isso ocorreu, é porque alguém sabotou e
montou errado o sistema, pois todos os componentes foram
entregues dentro do previsto”, disse um dos fabricantes à ISTOÉ. Ele
explicou que, antes das peças serem montadas no VLS, outras 498
do mesmo lote foram testadas e aprovadas. O empresário disse que
continua fornecendo os mesmos itens ao programa espacial e que
depois do incidente de 1997 nenhuma modificação nos componentes
foi solicitada. “Isso prova que o problema não estava na fabricação
da peça”, conclui. No comando da Aeronáutica, muitos acreditam que
o VLS foi sabotado.
O fantasma da sabotagem voltou a assombrar em 1999, quando uma
falha ainda não explicada provocou o acionamento do sistema de
autodestruição do segundo VLS. A assombração voltou a rondar
Alcântara em abril deste ano, quando se planejava o terceiro
58
MENOCCHI, Simone. Projeto tinha falhas e lançamento deveria ser adiado, afirma técnico. O Estado de S.
Paulo, São Paulo, 26 ago. 2003. Geral, p. A10.
76
lançamento do foguete brasileiro. Dessa vez, quem abortou a
operação foi o comandante Bueno, que recebeu a informação de que
um funcionário havia sabotado um componente do VLS. Bueno
interrompeu o processo, reteve os crachás que davam acesso à base
e trocou as catracas eletrônicas.59
-------------------------------------------------------------------------------------
O primeiro problema surgiu com a oposição do governo dos Estados
Unidos ao programa batizado como Missão Espacial Completa
Brasileira (MECB). Em 1988, o Departamento de Estado norte-
americano apreendeu um lote de tubos de aço especial sem costura
em Fort Worth (Texas). O material foi enviado aos EUA para receber
tratamento térmico e ser submetido a testes. Foram seis anos de
disputa judicial. Quando o governo brasileiro recebeu a carga de
volta, usada para a fabricação de motores de foguete, o material fora
sabotado.
“Alguém fragilizou a parede dos tubos”, contou Gylvan Meira, ex-
presidente da Agência Espacial Brasileira, ao Correio. “Eles
explodiriam se fossem usados em um motor de foguete. Mas o
pessoal do CTA conseguiu descobrir o problema a tempo”. O
incidente teve o seu lado bom: o país desenvolveu tecnologia própria
de tratamento térmico.60

Embora graduada autoridade da Aeronáutica ligada ao setor


aeroespacial tenha negado a sabotagem dos tubos, confirmou sua retenção pelos
norte-americanos.

De qualquer modo, pairam sombras sobre o acidente ocorrido,


em 2003, com o nosso VLS em Alcântara, particularmente quando, mais
recentemente, no Irã, acontecem acidentes tão suspeitos e semelhantes quanto o
que se deu em nosso Centro de Lançamento, como o ocorrido em uma base militar,
no dia 12 de novembro de 2011, que matou 17 membros da Guarda Revolucionária,
entre o arquiteto-chefe do programa de mísseis balísticos iranianos, o major-general

59
HOLLANDA, Eduardo; SIMAS FILHO, Mário. Novos Aliados. Revista IstoÉ, São Paulo, 10 set. 2003, ed. 1.171,
p. 96-98.
60
REZENDE, Pedro Paulo. Muitos problemas em terra. Correio Braziliense, Brasília, 23 ago. 2003. Brasil, p. 18.
77
Hassam Moghaddam, e outros especialistas de alto nível desse programa; a
explosão, no dia 28 de novembro de 2011, nas instalações de conversão de urânio,
em Isfahan; e outros atentados de morte contra importantes cientistas iranianos que
desenvolvem tecnologias sensíveis ou de ponta.61

Nisso tudo, a nossa fala não é xenófoba, pois há que se


reconhecer que no terreno da C&T muito devemos à contribuição de países
estrangeiros, em especial, dos Estados Unidos. O próprio DCTA, nas suas origens,
recebeu importante contribuição norte-americana. Também, muitos de nossos
cientistas e técnicos vão aprimorar seus conhecimentos em países mais
desenvolvidos tecnologicamente.

Em contrapartida, parcela ponderável desse capital intelectual,


construído no Brasil e com recursos do povo brasileiro, termina, depois, "roubado"
por esses mesmos países. A sedução por melhores condições remuneratórias e de
trabalho faz com cientistas e técnicos brasileiros passem, em detrimento do seu País
natal, a contribuir para a C&T de lá.

Também não é possível ignorar que os Estados Unidos são o


maior mercado aeroespacial do mundo e continuarão a sê-lo por muito tempo. Desse
modo, representam potencial cliente – o mais rico de todos – de serviços nessa
seara, desde que o Brasil consiga alcançar a necessária proficiência para prestá-los.
E mais, em todo o mundo, qualquer que seja o engenho – foguetes, satélites,... – ou
instalação aeroespacial, neles, certamente, será encontrado algum dispositivo ou
componente de origem norte-americana, até porque, segundo o presidente da
Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho:

No Brasil não se fabrica nenhum componente eletrônico com


qualidade espacial, todos são importados. Para que possamos
dominar todos os níveis de tecnologia, temos que ser capazes de

61
CRAVEIRO, Rodrigo. Mistério cerca explosão em Isfahan. Correio Braziliense, Brasília, 1º dez.. 2003. Mundo,
p. 20.
78
ultrapassar essas dificuldades.62

Portanto, embora haja antagonismos entre os interesses norte-


americanos e brasileiros no setor aeroespacial, temos de ser realistas. Os Estados
Unidos não podem ser tomados por inimigo, seja por uma história que traz pontos
comuns que nos irmanam, seja porque o mundo inteiro, em maior ou menor grau,
guarda alguma dependência daquele país, sobretudo no campo científico e
tecnológico (são os principais fabricantes de componentes para aplicação em
produtos aeroespaciais), seja porque são o maior mercado para a venda de serviços
de satélites comerciais (80% do mercado espacial do mundo). Não podemos brigar
com um potencial cliente, o maior deles, desde que consigamos estabelecer acordos
vantajosos para ambas as partes.

Em contrapartida, essa forma de enxergar a realidade não pode


significar a dócil submissão aos desígnios que emanam do grande irmão do Norte,
pois, ainda que, por vezes, se possa contar com a colaboração de estrangeiros, ela
só vai na exata medida dos seus interesses. Nada de transferir conhecimentos e
tecnologias e de fornecer componentes e equipamentos que possibilitem aos países
de menor envergadura um salto além do limite traçado pela metrópole.

Embora este trabalho não seja uma declaração de amor ao


estrangeiro, também não é uma xenófoba declaração de ódio, mas apenas uma
abordagem da realidade adversa que nos cerca. Até porque nenhum país tem o
dever de repassar a outro aquilo que é fruto do seu investimento e trabalho. Quando
o faz, pode ser por algum interesse ou por mera liberalidade, mas não por obrigação.
Isto significa que os brasileiros devem fazer a sua parte no esforço para alcançar
patamares mais elevados da C&T, e não ficar a esperar por migalhas vindas de
outros países, ainda que não se deva descartar a colaboração destes.

62
SILVEIRA, Virgínia. Visiona abre espaço para produção de satélite brasileiro. Valor Econômico, São Paulo, 30
mai. 2012. Empresas & Tecnologia, p. B3
79
Todavia, os embargos, boicotes e outros obstáculos ao
desenvolvimento aeroespacial do Brasil, particularmente pelos Estados Unidos, não
podem ser desconhecidos.

Provavelmente, o primeiro embargo científico-tecnológico


sofrido pelo Brasil tenha se dado no campo da energia nuclear. Pesquisadora do
Museu de Astronomia e Ciências (Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT), ao
dizer da criação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) – para fomentar as
atividades científicas e tecnológicas e regulamentar, fiscalizar e produzir energia
nuclear no Brasil – e do papel do almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva no
“processo de organização e financiamento da pesquisa científica e tecnológica, ao
aglutinar setores das Forças Armadas, da ciência, da indústria e técnicos do Estado,
e concentrar os esforços na produção de energia nuclear”, registrou (g.n.):

Para isso, além da necessidade de superar enormes obstáculos


internos (insuficiência de recursos financeiros; falta de
especialistas e imensas lacunas na formação de pessoal de nível
superior e técnico; necessidade de montagem de toda a
infraestrutura da pesquisa; dificuldades múltiplas na prospecção
mineral, etc.), Álvaro Alberto comprou secretamente três
ultracentrífugas para enriquecer urânio da empresa Sertorious
Werk AG, em Göttingen (RFA). Na época da transação, 1953-54,
aquele país estava sob forte controle de tropas de ocupação dos
Aliados (Estados Unidos, Reino Unido e França), e o então
presidente do CNPq teria tentado concretizar a negociação por meio
de um convênio com a Universidade de Göttingen. Projetos
grandiosos estimulavam Álvaro Alberto, para quem não havia
obstáculos intransponíveis, mas, antes que as centrífugas fossem
embarcadas no porto de Hamburgo com destino ao Rio de
Janeiro, o Military Board of Security, dos Estados Unidos,
apreendeu o carregamento. A ordem partiu do professor James
Conant, seguindo orientação da US Atomic Energy Commission,
devido a uma denúncia que teria partido de membro do próprio
Conselho Deliberativo do CNPq. As ultracentrífugas foram
liberadas no governo Juscelino Kubitschek, por volta de 1956, depois

80
que a República Federal da Alemanha obteve a autonomia política de
seu território. Foram levadas para o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), em São Paulo.63

Registros históricos, conforme transcrição a seguir, indicam o


embaixador Edmundo Pena Barbosa da Silva, membro do Conselheiro Deliberativo
do CNPq, em um momento de um Itamarati americanófilo, agindo em favor dos
Estados Unidos, inclusive como autor da denúncia que levou à apreensão das
centrífugas compradas da Alemanha pelo Brasil (g.n.):

1954
- O CNPq, por ordem de Vargas, tenta importar ultracentrífugas da
Alemanha sob sigilo. O embaixador Barbosa da Silva avisa aos
EUA. Vinte e quatro horas depois, as ultracentrífugas são
apreendidas pelas forças de ocupação da Alemanha, sob ordem dos
EUA.
(...)
1956
- Maio - Os deputados Renato Archer, Vieira de MeIo e General
Nelson de Mello (chefe da Casa Militar) expõem a Kubitschek a
existência dos documentos secretos que regeram o acordo Brasil-
Estados Unidos. Edmundo Barbosa da Silva, em telefonema dado
do próprio no próprio Palácio do Catete, avisa os EUA.64

Desses textos, fica patente que, mais de cinquenta anos


depois, em todos os setores da C&T brasileira, os obstáculos se repetem –
insuficiência de recursos financeiros; falta de especialistas e imensas lacunas na
formação de pessoal de nível superior e técnico; infraestrutura da pesquisa
63
ANDRADE, Ana Maria Ribeiro de. O programa da autonomia da tecnologia do ciclo do combustível nuclear no
Brasil. Trabalho apresentado na VII Esocite – VII Jornadas Latino-Americanas de Estudos Sociais das Ciências e
das Tecnologias - Rio de Janeiro, 28 a 30 mai. 2008. Disponível em:
<www.necso.ufrj.br/esocite2008/trabalhos/35970.doc>. Acesso em: 26 mai. 2010.
64
CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Programa Nuclear Brasileiro: Passado, Presente e Futuro.
Palestra institucional proferida pelo doutor em Física Odair Dias Gonçalves, então presidente da CNEN, no VII
Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, de 06 a 08 de novembro de 2007, promovido pelo Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da República. Disponível em:
<https://sistema.planalto.gov.br/siseventos/viienee/exec/arquivos/ANAISVIIENEE_INTERNET/03CIENCIAETECN
OLOGIA/MESA35PROGRAMASNACIONAIS/MESA35APRESENTACOES/OdairNuclear.pdf>. Acesso em: 16
jun. 2012.
81
deficiente,... – e os embargos impostos pelas potências do chamado Primeiro Mundo
continuam e, por mais paradoxal que seja, também a ação de “quintas-colunas” a
serviço dessas potências prossegue, como se percebe aqui e ali.

No resumo do seu trabalho, a mesma pesquisadora ainda


acrescentou mais alguns ingredientes, apontando para a década de 70 (g.n.):

A questão da energia nuclear despontou no Brasil, logo após o fim da


Segunda Guerra Mundial, como essencial à segurança nacional, ao
desenvolvimento econômico e ao bem-estar social dos
cidadãos. (...) Em plena Guerra Fria, os Estados Unidos não
deixaram embarcar o equipamento e, em 1975, atuaram para
impedir a transferência da tecnologia de ultracentrifugação
prevista no acordo nuclear Brasil-Alemanha. A vinculação entre
desenvolvimento econômico e segurança nacional, e a política
exterior voltada para diminuir a dependência dos Estados Unidos que
caracterizou os governos da ditadura militar após 1968,
impulsionaram os convênios de cooperação técnico-científica
firmados com a França e Alemanha. No final da década de 1970,
militares envolvidos em pesquisas na área nuclear asseveraram que
o acordo com a Alemanha não garantiria a transferência da
tecnologia do enriquecimento de urânio, portanto, o domínio de
uma etapa vital do ciclo do combustível. Concluíram que também os
acordos tripartites de salvaguardas firmados entre
65
Brasil/RFA/AIEA limitavam a autonomia brasileira.

Casos mais recentes de embargos passam pelos norte-


americanos fazendo uso, entre outros instrumentos, da International Traffic in Arms
Regulation (ITAR – Regulamentação sobre o Comércio Internacional de Armas), um
conjunto de normas do governo dos Estados Unidos para controlar a importação e a
exportação de artigos e serviços relacionados à defesa e que constam da United
States Munitions List (USML – Lista de Munições dos Estados Unidos). Essas

65
ANDRADE, Ana Maria Ribeiro de. O programa da autonomia da tecnologia do ciclo do combustível nuclear no
Brasil. Trabalho apresentado na VII Esocite – VII Jornadas Latino-Americanas de Estudos Sociais das Ciências e
das Tecnologias - Rio de Janeiro, 28 a 30 mai. 2008. Disponível em:
<www.necso.ufrj.br/esocite2008/trabalhos/35970.doc>. Acesso em: 26 mai. 2010.
82
regulamentações implementam as disposições do Arms Export Control Act (Lei de
Controle de Exportação de Armamentos), com o Departamento de Estado fazendo a
interpretação e a aplicação do ITAR de modo a salvaguardar a segurança nacional
dos Estados Unidos e também seus objetivos de política externa.66

Outro instrumento utilizado contra o desenvolvimento espacial


de países de menor musculatura é o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis
(MTCR), sobre o qual será dedicado um tópico específico.

Por causa desses frequentes obstáculos impostos pelos


Estados Unidos, não há, no que tange à indústria aeroespacial brasileira, qualquer
segurança jurídica nos acordos celebrados com aquele o país, deixando em total
instabilidade os fabricantes que dependem de equipamentos e dispositivos
importados.

3.2. Embargos no campo da aeronáutica civil e militar

Artigo de Joseph Kovacs67 e a palestra aqui tomada como


referência trazem notícias sobre o que, talvez, tenha sido o primeiro embargo à
indústria aeroespacial brasileira, especificamente no campo da aeronáutica,
justamente por ser sido o projeto inaugural do então recém-criado Centro Técnico de
Aeronáutica (CTA).

Embora a Comissão de Organização do CTA (COCTA)


contasse com a intensa colaboração de professores norte-americanos, ela foi buscar
na Alemanha, em 1952, o professor Prof. Hendrich Focke, que, desde antes da 2ª
Guerra Mundial, pesquisava e produzia aviões na empresa Focke-Wulf, e os
primeiros modelos de helicópteros na Focke-Achgelis (Fig. 10).
66
Fonte sobre o ITAR: U.S. DEPARTMENT STATE. DIRECTORATE OF DEFENSE TRADE
CONTROLS. <www.pmddtc.state.gov/regulations_laws/itar.html>. Acesso em: 11 abr. 2010.
67
KOVACS, Joseph. Uma Breve História das Atividades do Prof. Focke no Brasil. ln Revista ABCM Engenharia.
Edição especial comemorativa sobre a história da contribuição brasileira à aviação. Associação Brasileira de
Engenharia e Ciências Mecânicas, Campinas, São Paulo, vol.9, n. 2, abr.-set. 2003, p.17-22.
83
Fig. 10 – À esquerda: Focke-Wulf Fw 61, considerado o primeiro helicóptero para uso efetivo e que voou
em 1936, na Alemanha. À direita: Focke-Achgelis Fa 223 "Drache" (“Dragão”), que fez seu primeiro voo
em 1941. Projetos o professor Hendrich Focke que, depois da 2a Guerra Mundial, foi trabalhar no Centro
Técnico da Aeronáutica, em São José dos Campos.
Disponíveis em: AVIASTAR (Ulyanovsk Aviation Industrial Complex). <www.aviastar.org/foto/fw-61.jpg>. Acesso
em: 10 abr. 2010; e Jeff's Helicopter Philes. <www.jeffsheliphiles.com/index.php/helicopter-profiles-mainmenu-
2/56-focke-achgelis/260-fa-223-drache>. Acesso em: 21 mai. 2010.

Contando com cientistas e técnicos oriundos, principalmente,


de suas duas fábricas da Alemanha nazista, além de outros europeus, Focke reuniu,
no CTA, uma equipe com cerca de quinze nacionalidades, para construir, no Brasil, o
Convertiplano (Heliconair HC-1), que seria o primeiro avião no mundo de pouso e
decolagem vertical e voo convencional (Figs. 11 e 12).

Todavia, os ingleses embargaram o fornecimento do motor


Rolls-Royce Double Mamba, de 3.260 hp e peso aproximado de 200 kg, bastante
leve e potente para atender o projeto, que prosseguiu, sendo revisado para adotar
motores Wright de 2200 hp, muito mais pesado e de menor potência. O considerável
aumento de peso, volume e vibração dos novos motores terminou por inviabilizar o
projeto, que já sofria duras críticas, com suas partes sendo sucateadas e a
documentação destruída.

84
Fig. 11 – Concepção do sistema propulsivo do Convertiplano e sua estrutura.
Disponível em: DCTA. <www.cta.br/historico/convert.htm>. Acesso em: 22 mai. 2010.

Fig. 12 – Concepção do Convertiplano do Prof. Focke,


que deveria ter sido desenvolvido no CTA.
Fontes: KOVACS, Joseph. “Uma Breve História das Atividades
do Prof. Focke no Brasil” (acima, esq.); Palestra institucional do
DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial),
em 19 ago. 2009, em São José dos Campos (SP), para
consultores da Câmara dos Deputados (acima, dir.); e DCTA.
<www.cta.br/historico/convert.htm>. Acesso em: 22 mai. 2010
(à esq.)

85
Nesse meio tempo, provavelmente para apresentar à opinião
pública e ao então Ministério da Aeronáutica (MAer) uma aeronave que de fato
voasse em um prazo menor de execução, o professor Focke e sua equipe iniciaram,
em 1954, o projeto do Beija-Flor (BF-1), um helicóptero simples, barato, contendo
algumas inovações para época: rotor rígido e dois rotores de cauda e que voou, pela
primeira vez, em fevereiro de 1960 (Fig. 13). Havia, mesmo, a ideia de a sua
produção ser repassada para alguma indústria brasileira que viesse ainda a surgir; o
que não aconteceu pela falta de estímulo governamental e de interesse do
empresariado, levando o projeto ao fracasso.

Fig. 13 – O Beija-Flor (BF-1), primeiro helicóptero produzido no Brasil.


Disponíveis em: AVIASTAR. <www.aviastar.org/helicopters_eng/beija-flor_bf-1.php>. Acesso em: 21 mai. 2010; e
DCTA. <www.cta.br/hist_ipd.php>. Acesso em: 10 abr. 2010.

Com isso, o Brasil perdeu o lugar entre os grandes fabricantes


mundiais de helicópteros e o papel pioneiro na fabricação de aeronaves de pouso e
decolagem vertical (vertical takeoff and landing – VTOL), particularmente de
convertiplanos (ou tilrotores), deixado que foi para outros países. Os Estados Unidos
levaram décadas para desenvolver o Osprey-22 e o BA609 (Fig. 14), seguindo a
concepção projetada no CTA na década de 1950. Hoje, quando o Brasil, na
HELIBRAS, em Itajubá, não passa de mero montador de helicópteros, utilizando

86
peças importadas da França, não custa lembrar que foi o mesmo professor Hendrich
Focke que, em 1945, assinou contrato com a companhia francesa Société Nationale
des Constructions Aéronautiques du Sud-Est - SNCASE - para dar assistência no
desenvolvimento do helicóptero de passageiros SE-3000, versão francesa do Focke-
Achgelis Fa 223 "Drache", e do SE3001, baseado no Focke-Wulf Fw 61.68

Fig. 14 – Convertiplanos (tilrotores) voando no modo helicóptero: à esquerda, um V-22 Osprey (Bell
Helicopter e Boeing Rotorcraft Systems); à direita, um BA609 (Bell/Agusta Aerospace Company
(BAAC), joint venture formada pela Bell Helicopter Textron e pela Agusta Westland).
Disponíveis em: ENEMYFORCES. <www.enemyforces.net/helicopters/v22_osprey.htm>; e
AGUSTAWESTLAND. <www.bellagusta.com/img/gallery/ba_3.jpg>. Ambos os acessos em: 10 abr. 2010.

É emblemática a restrição imposta ao fornecimento do


equipamento conhecido pela sigla EGIR (Embedded GPS, Inertial and Radar
Altimeter), sistema inercial adotado nas aeronaves ALX Super Tucano, F-5M (versão
do F-5 modernizada pelo Brasil) e AMX (A-1M) modernizado. (Fig. 15). Depois de
mais de 60 ALX produzidos pela EMBRAER, a Honeywell teve problemas para
fornecer mais 33 EGIR ao Brasil. Coincidentemente, isso só aconteceu depois que
ficou caracterizado o quanto esse equipamento fora determinante para a precisão
dos ALX Super Tucano colombianos, voando à noite e a 25 mil pés de altitude, no
ataque efetuado à base de guerrilheiros das FARC em janeiro de 2007.

68
HARTMANN, Gérard. Les réalisations de la SNCASE. Disponível em:
<www.hydroretro.net/etudegh/sncase.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2010.
87
Fig. 15 – ALX Super Tucano, AMX (A-1M) e F-5M (versão do F-5E modernizada pelo Brasil).
Aeronaves equipadas com o sistema inercial EGIR (Embedded GPS, Inertial and Radar Altimeter),
que sofreu restrição norte-americana para continuar a ser fornecido ao Brasil.
Disponíveis em: MD. <www.laguna.mil.br/index.php?option=com_morfeoshow&task=view&gallery=1&Itemid=55>; e
FAB. www.fab.mil.br/portaI/fotos/index.php?parametro=OperaçãoAérea&id_fotos=29. Ambos os acessos em: 22
mai. 2010; FAB. <www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?page=fotos>. Acesso em: 06 jul. 2012.

Graças à atuação do nosso Ministério das Relações Exteriores


(MRE), essa restrição foi, depois, afastada, mas não é demais lembrar que o
governo dos Estados Unidos proibiu a EMBRAER de vender 36 ALX Super Tucano
para a Venezuela, em 2006, num negócio de 470 milhões de dólares, devido aos
componentes norte-americanos empregados nesse modelo de aeronave.

Episódio similar aconteceu durante a modernização dos aviões


P-3 Orion e EADS-CASA C-295 da Força Aérea Brasileira (Fig. 16). Os P-3, versão
militar do Lockheed Electra 11, foram recentemente adquiridos dos Estados Unidos

88
para emprego em guerra anti-submarina, patrulhamento marítimo, proteção da Zona
Econômica Exclusiva, controle de fronteiras e em missões de busca e salvamento.
Os EADS-CASA C-295, batizados no Brasil como C-105 Amazonas, como avião
militar de transporte de tropa e cargas em geral.

Buscando melhorar o desempenho dessas aeronaves, foi


contratada a aquisição do Sistema Inercial/GPS LN100 G da Northrop Grumman,
com precisão de 0,8 milhas náuticas por hora (nm/h). Todavia, em julho de 2008,
foram impostas restrições pelo governo norte-americano de modo a só permitir o
fornecimento de sistemas inerciais com a precisão de 2 nm/h.

Fig. 16 – P-3AM BR e Casa C-295 (C-105 Amazonas), aeronaves que, em sua modernização, têm a
previsão de serem equipadas com o Sistema Inercial/GPS LN100 G da Northrop Grumman, com a
precisão de 0,8 milhas, que passou a sofrer restrições norte-americanas para continuar a ser
fornecido ao Brasil com essa precisão.
Disponíveis em: FL410. <http://fl410.wordpress.com/2011/10/01/imagens-p-3-orion-da-fab/#jp-carousel-13802>; e
AIRLINERS.NET. <http://cdn-www.airliners.net/aviation-photos/photos/0/9/2/1657290.jpg>. Ambos os acessos em:
24 jun. 2012.

Ainda no campo da aeronáutica militar, o cientista político Luiz


Alberto Moniz Bandeira, registra, por parte dos norte-americanos, bloqueios e outras
ações para impedir a aquisição de equipamentos e componentes para o projeto ítalo-

89
brasileiro do avião AMX, atrasando consideravelmente o seu desenvolvimento.69

3.3. Embargos no campo da missilística

Em 1998, a Força Aérea Brasileira iniciou, em São José dos


Campos, o desenvolvimento do MAR-1 (Fig. 17), projeto conjunto do CTA com a
empresa Mectron. Buscava-se produzir um míssil tático do tipo ar-superfície,
antirradiação de médio alcance, com guiamento passivo por radar para ataque e
destruição de sistemas de defesa antiaérea baseadas em terra ou em embarcações.
Quando o Brasil, em 1999, tentou adquirir antenas e outros dispositivos para a
cabeça de guiamento (seeker) do míssil, o governo americano vetou expressamente
a venda (Fig. 18).

Fig. 17 – O míssil MAR-1 ar-superfície antirradiação, que sofreu embargo dos EUA.
Disponíveis em: DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). CTA: Ciência e Tecnologia para a
Defesa Nacional. <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>. Acesso
em: 1º abr. 2010. PLANOBRASIL. <http://planobrasil.com/2010/10/mecton-mar-1>. Acesso em: 6 jul. 2012.

69
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004).
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. p. 145-146.
90
The attached application has
been denied and is being retur-
ned in accordance with 22 CFR
126.7(a) for the reasons indica-
ted below. Any questions you may
have regarding this decision may
be directed to patty Dudley of this
office at (703) 8122286.
O pedido anexo foi negado e está
sendo devolvido em conformidade
com 22 CFR 126,7 (a) pelas
razões indicadas abaixo.
Qualquer dúvida sobre esta
decisão deve ser dirigida a Patty
Dudley deste escritório no (703)
812-2286.
Anti-radar technology is not
releaseable for national security
reasons. This technology exceeds
the leveI of capability approved for
Brazil.
A tecnologia antirradar não pode
ser liberada por razões de segu-
rança nacional. Esta tecnologia
excede o nível de capacidade
aprovado para o Brasil.
Fig. 18 – Documento emitido pelo Departamento de Estado norte-americano, embargando o
fornecimento de componentes que seriam aplicados no míssil MAR-1.
Disponível em: DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). CTA: Ciência e Tecnologia para a
Defesa Nacional. <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>. Acesso
em: 1º abr. 2010.

A Mectron terminou por desenvolver a antena, melhor do que a


norte-americana e, hoje, o míssil MAR-1 é item da pauta de exportação brasileira.

Outro episódio envolveu o desenvolvimento do míssil MAA-1


Piranha, iniciado em 1976, que detecta a radiação infravermelha produzida pelos
motores de um avião-alvo70. Após muitas marchas e contramarchas e sucessivas
indústrias envolvidas no projeto, terminou reprojetado pelo CTA e pela Mectron com
70
ORDEM DE BATALHA. MAA-1 Piranha - O Primeiro Míssil Brasileiro. Disponível em:
<http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/missil_piranha.htm>. Acesso em: 03 abr. 2010.
91
base no míssil AIM-9L Sidewinder norte-americano. Por volta de 1985, foram
comprados sensores infravermelhos da Judson, indústria norte-americana, para
instalação na cabeça de busca do míssil em desenvolvimento (Fig.19, esq.).71

Terminado o desenvolvimento e iniciada a construção em série,


quando comprados os sensores Judson, em 1999, ainda que viessem com o mesmo
part-number, foram fornecidos outros sensores, que não se encaixavam na cabeça
de busca do míssil, porque mais curtos e de maior diâmetro (Fig. 19, dir.).

Reprojetado o míssil para o novo sensor, outro surpresa: o


componente fornecido era "míope", porque enxergava imenso borrão infravermelho,
e "estrábico", porque enxergava dois borrões, conforme a fala do brigadeiro
Venâncio em sua palestra. Terminou sendo adotado um sensor fornecido por uma
indústria da África do Sul, país com o qual o Brasil passou a ter parceria no
desenvolvimento de mísseis.

Fig. 19 – À esq.: Cabeça de busca (seeker) do míssil MAA-1 Ar-Ar. À dir.: o sensor encomendado –
Judson 85 (embaixo); o sensor fornecido – Judson 99 (ao centro); e, em montagem (acima), o
sensor que terminou adotado, fornecido pela África do Sul.
Disponíveis em: ORDEM DE BATALHA. MAA-1 Piranha - O Primeiro Míssil Brasileiro.
<http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/missil_piranha.htm>; e DCTA.
<www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>. Ambos os acessos em: 03
abr. 2010.
71
DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). CTA: Ciência e Tecnologia para a Defesa
Nacional. Palestra institucional proferida pelo Brigadeiro Engenheiro Venâncio Alvarenga Gomes, então
Subdiretor de Empreendimentos daquela organização, no 62º Fórum de Debates Projeto Brasil. São José dos
Campos (SP), 17 dez. 2008. Disponível em: <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-
gomes-presentation>. Acesso em: 1º abr. 2010. CTA, sigla que designava o Centro Tecnológico da Aeronáutica,
hoje DCTA.
92
Depois, ao ser buscada a qualificação desse míssil MAA-1 para
os caças F5-E, foi notada excessiva vibração estrutural nas ponta das asas dessas
aeronaves, lugar em que os mísseis seriam instalados. Solicitadas informações
técnicas à Northrop, a fabricante do avião, sobre os testes de flutter (vibração) dos
ensaios do míssil Sidewinder no F-5, não houve resposta pelos norte-americanos,
atrasando ainda mais o desenvolvimento do míssil brasileiro.72

Debruçados sobre um F-5, os especialistas do CTA superaram


o óbice e hoje conhecem o avião melhor que os próprios norte-americanos (Fig. 20).

Fig. 20 – Testes realizados pelo CTA com o F-5 da FAB para obtenção de dados técnicos quanto
ao modelamento aeroelástico da aeronave em virtude de os Estados Unidos não terem atendido
à solicitação para fornecê-los. Míssil Piranha MAA-1 instalado na ponta da asa de um F-5.
Disponíveis em: DCTA. <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>
(acima). Acesso em: 1º abr. 2010. PODER AÉREO <www.aereo.jor.br/wp-content/uploads/2010/01/F-5EM-fab-
1024x687.jpg> (abaixo, dir.); e TROPAS DE ELITE <www.tropasdeelite.xpg.com.br/CSAR_BRASIL.htm> (abaixo,
esq.). Ambos os acessos em: 6 jul. 2012.
72
ORDEM DE BATALHA. MAA-1 Piranha - O Primeiro Míssil Brasileiro. Disponível em:
<http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/missil_piranha.htm>. Acesso em: 03 abr. 2010.
93
Em abril de 2008, ao ser necessário um sensor para um míssil
anti-radiação versão 2, capaz de detectar duas faixas de infravermelho: alta e baixa,
dando-lhe capacidade para distinguir o calor dos motores do avião-alvo dos despista-
dores por ele lançados, o fornecimento foi negado pelos EUA (Figs. 21 e 22).

Export of two-color infrared detector


technology specifically designed for
integration into the Sidewinder missile
is not recommended at this time. The
use of two-color infrared detector
arrays could potencially result in a
significant upgrade of the Sidewinder
missile seeker capability against
decoys and countermeasures.
A exportação de tecnologia de detec-
tores infravermelho de duas cores es-
pecialmente projetada para ser inte-
grada no míssil Sidewinder não é re-
comendável neste momento. A utiliza-
ção de detectores infravermelho de
duas cores pode resultar potencial-
mente em significativo aumento da ca-
pacidade da cabeça de guiamento dos
mísseis Sidewinder de não ser iludido
pelas medidas de autoproteção lança-
das pelo avião alvo: "decoys" (despis-
tadores) e outras contramedidas.
Fig. 21 – Documento emitido pela Defense Technology Security Administration, embargando o
fornecimento de detectores de duas faixas infravermelho que seriam aplicados no míssil MAA-1B.
Disponível em: DCTA. <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>.
Acesso em: 1º abr. 2010.

Fig. 22 – Míssil MAA-1 B Ar-Ar e a sua cabeça de guiamento (seeker).


Disponíveis em: UOL. <http://sistemadearmas.sites.uol.com.br/aam/maa1maa1b.jpg>; e DEFESANET.
<www.defesanet.com.br/laad07/imagens/ab/mectron_maa-1b_2.jpg>. Ambos os acessos em: 28 mai. 2010.
94
Os embargos exemplificados até este ponto, restritos a
tecnologias no terreno da aeronáutica militar e da missilística, já caracterizam muito
bem o modus operandi dos norte-americanos para obstaculizar o desenvolvimento
no Brasil nesses campos.

3.4. Embargos no campo espacial

Os embargos norte-americanos são ainda mais fortes no


campo espacial, com proibições expressas de todo e qualquer apoio, como acontece
com as restrições estabelecidas ao desenvolvimento dos foguetes de sondagem pelo
Brasil, mesmo sabendo-se que são de utilização exclusivamente científica (Fig. 23).

The attached application/request


has been denied and is being
returned in accordance with Title
22, Code of Federal Regulations,
Section indicated below. Any
questions regarding this decision
may be directed to Calvin Chin at
(703) 875-6622.
O pedido/solicitação anexo foi ne-
gado e está sendo devolvido em
conformidade com o Título 22, do
Código Federal de Regulações,
Seção 126,7 (a) pelas razões indi-
cadas abaixo. Qualquer dúvida so
bre esta decisão deve ser dirigida
a Calvin Chin no (703) 875-6622.
.Current US Nonproliferation Poli-
cy prohibits support to the Brazil-
ian Sounding Rocket Programs.
A atual política de não-prolifera-
ção dos Estados Unidos proíbe
apoiar os programas brasileiros
de foguetes de sondagem.
Fig. 23 – Documento emitido pelo Departamento de Estado norte-americano, embargando o
fornecimento de tecnologia que seria aplicada em foguetes de sondagem brasileiros .
Disponível em: DCTA. <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>.
Acesso em: 1º abr. 2010.
95
A sistemática negativa, pelos Estados Unidos, de qualquer
colaboração com o Programa Espacial Brasileiro tem obrigado ao desenvolvimento
próprio e à busca de alternativas; o que, em certo sentido, é positivo, como
aconteceu a partir de 1990, quando o Departamento de Estado dos EUA embargou o
tratamento térmico dos turbo-motores do VLS (em aço 300M), iniciado em 1982.

Diante disso, um forno adquirido da Alemanha foi instalado na


Aço Vilares (Fig. 24), com o tratamento térmico do aço 300M, a partir de 1995,
passando ser feito no Brasil, embora, em 2006, a Vilares tenha desistido desse
encargo, desmontado as instalações e devolvido o forno ao DCTA, onde ficou
encaixotado.

Fig. 24 – Tubos-motores do VLS em aço especial 300M durante tratamento térmico


Disponíveis em: FUNDAJ. <www.fundaj.gov.br/rtec/not/not-038b.gif>. Acesso em: 23 mai. 2010; e DCTA.
<www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>. Acesso em: 1º abr. 2010.

A força dos embargos norte-americanos também pode ser


percebida em relação aos sistemas inerciais para aplicações espaciais, uma vez que
proíbem o fornecimento de sistema de navegação inercial para lançadores de
satélites e de blocos girométricos para controle de altitude e órbita de satélites (Fig.
25).

Na verdade, os embargos alcançam tudo aquilo que diz a


96
tecnologias inerciais, haja vista, além do controle de altitude e órbita de satélites, o
seu emprego em foguetes, mísseis, torpedos, aeronaves, submarinos, navios de
guerra e em inúmeras aplicações de natureza civil.

Fig. 25 – Os Estados Unidos embargaram o fornecimento, ao Brasil, de blocos girométricos para o controle
de altitude de satélites em órbita.
Fonte: Palestra institucional do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), em 19 ago. 2009, em
São José dos Campos (SP), para consultores da Câmara dos Deputados.

Como alternativa, o Brasil optou por desenvolver um sistema


inercial. O primeiro passo para isso foi a fabricação de girômetros. Dois deles foram
instalados no nariz de um foguete de sondagem VSB-30, lançado, em julho de 2007,
na Operação Cumã-II.

O sucesso foi de tal ordem que o pesquisador, empolgado,


publicou um trabalho. Depois disso, os circuitos integrados – chips comuns –
utilizados, que tinham sido empregados nos girômetros e eram vendidos sem
restrições ao Brasil, passaram a sofrer embargo (Fig. 26).

97
Fig. 26 – Os Estados Unidos embargaram o fornecimento,
ao Brasil, de circuitos integrados depois que estes
passaram a ser aplicados no foguete de sondagem VSB-30. Giroscópio a fibra ótica.

Fontes: Palestra institucional do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), em 19 ago. 2009, em
São José dos Campos (SP), para consultores da Câmara dos Deputados. Também disponível em: DCTA.
<www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>. Acesso em: 1º abr. 2010.

Outro óbice, entre os inúmeros que são impostos pelos norte-


americanos ao nosso desenvolvimento espacial, passa pela compreensão de que o
aumento de carga estática de um corpo pode ser causado pela fricção entre duas
superfícies (triboeletrificação) ou pela sua aproximação de um campo eletrostático
(indução) e, a partir daí, da percepção de que a carga eletrostática pode ignizar
combustíveis e danificar equipamentos eletrônicos sensíveis.

Um foguete em voo fica particularmente sensível a esses


efeitos, seja pela seu próprio deslocamento (atrito gerando a triboeletrificação), seja
pelas descargas atmosféricas (gerando a indução). Por isso, os equipamentos que
um foguete transporta necessitam de proteção contra a eletricidade estática, que
pode, ainda, impedir a transmissão de dados de um foguete para os centros de
controle e vice-versa, bloqueando, inclusive, a ativação do seu sistema de

98
autodestruição a partir dos comandos em terra, se isso se tornar necessário.

Essa proteção vem por um processo chamado metalização,


que torna a estrutura do foguete eletricamente condutora e impede o acúmulo de
cargas elétricas nela. No caso específico do Veículo Lançador de Satélites VLS-1, foi
buscada a celebração de um contrato com a empresa Lightning Technologies, norte-
americana, detentora da tecnologia de metalização. Todavia, por pressões do
governo dos Estados Unidos, amparado pelo ITAR, em 14 de novembro de 2008, já
na fase na fase final da contratação, a empresa americana voltou atrás, ainda que a
ordem de compra (purchase order – P.O.) já tivesse sido emitida.

Uma consultora do ITAR fez exigências de tal ordem, como a


imposição de uma licença para a prestação dos serviços de metalização, que os
custos e o trabalho para obtê-la inviabilizaram a execução do contrato (Fig. 27).

I discussed the program with out ITAR consultant and she says we
need to apply for a license before we can continue with any work.
Unfortunately, the costs in services and labor for the license
application means there is not sufficient funding on the contract to
support your project. Therefore, we must regrettably decline the
work at this time. Please proceed with cancelling our contract. Best
regards, Kenneth Wiles.
Eu discuti o programa com a consultora do ITAR e ela disse que
necessitamos de pedir licença antes que possamos continuar com
qualquer trabalho. Infelizmente, os custos de serviços e de
trabalho para o pedido de licença significa que não há recursos
suficientes no contrato para suportar o seu projeto. Portanto,
devemos lamentar a recusa do trabalho no momento. Por favor,
proceda o cancelamento de nosso contrato. Atenciosamente,
Kenneth Wiles.

Fig. 27 – Esquema do VLS-1 e transcrição do expediente enviado pelo presidente da Lightning


Technologies, cancelando o contrato.
Disponível em: DCTA. <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>.
Acesso em: 1º abr. 2010.

99
Por vezes, a atuação externa se combina com problemas
gerados internamente, como no caso do polibutadieno líquido hidroxilado – PBLH
(Fig. 28), matéria-prima para o combustível sólido para foguetes desenvolvido e
patenteado pelo CTA e PETROBRÁS no início dos anos 80, com a produção sendo
assumida pela PETROFLEX, o maior fabricante de borracha sintética da América
Latina. Em 1992, a PETROFLEX foi privatizada e, em abril de 2008, foi adquirida
pelo grupo alemão LANXESS, que, logo depois, interrompeu a fabricação do PBLH.

Fig. 28 – O polibutadieno líquido hidroxilado –


PBLH, matéria-prima para o combustível sólido
para foguetes desenvolvido e patenteado pelo
CTA e PETROBRÁS no início dos anos 80, teve
a produção interrompida depois que a PETRO-
FLEX foi adquirida pelo grupo alemão
LANXESS.
Fonte: Palestra institucional do DCTA (Departamento de
Ciência e Tecnologia Aeroespacial), em 19 ago. 2009,
em São José dos Campos (SP), para consultores da
Câmara dos Deputados.

100
Novamente recorrendo ao cientista político Luiz Alberto Moniz
Bandeira, ele registra, ao lado das crônicas dificuldades financeiras, boicotes dos
Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, acarretando problemas para o Brasil
dominar o sistema de guiagem do VLS-1, de modo a impedir o acesso do País ao
mercado de lançamento de satélites de pequeno porte, que só foram superados
depois da aquisição da Rússia dos mecanismos de guiagem dos foguetes.73

Um dos mais recentes óbices imposto pelos EUA, entre os


muitos que têm atrasado o nosso programa espacial, aconteceu com o término da
vida útil do satélite sino-brasileiro CBERS-2B, anunciada em maio de 2010 – e que
deveria ter sido substituído pelo CBERS-3, com lançamento previsto para 2009,
postergado para 2011 e, depois, para 2012.

Naquela ocasião, os EUA embargaram a venda para o Brasil de


componentes que poderiam ter aplicação em projetos chineses, que foram
substituídos por outros adquiridos na Europa, acarretando modificações e atrasos no
projeto. Por isso, a lacuna do CBERS-2B foi preenchida pelos satélites Terra/Modis e
Landsat-5, americanos, e Resourcesat, indiano, e a Opto, encarregada da câmera
fotográfica do satélite, depois do projeto pronto e de ter pago pelos componentes
embargados pouco antes de serem embarcados, foi obrigada a trocá-los por outros,
de maior tamanho, e a usar sua tecnologia para reduzir o tamanho das lentes.74

Queremos crer que, se não fosse a China, outras razões seriam


levantadas pelos norte-americanos para criar obstáculos ao desenvolvimento do
CBERS-3 ou de qualquer outro satélite, com esse episódio servindo para demonstrar
também, além da forte dependência externa, a imprevidência e o improviso que
cercam as atividades espaciais em nosso País.

73
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (de Collor a Lula, 1990-2004).
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. p. 145-146.
74
SILVEIRA, Virgínia. Embargo a componentes atrasa lançamento de satélite. Valor Econômico, São Paulo, 18
mai. 2010. Empresas & Tecnologia, p. B3; LEO, Sergio. Brasil quer parceria maior com a China para construir
satélites. Valor Econômico, São Paulo, 05 abri. 2011. Brasil, p. A6.
101
Em uma reunião bilateral sobre defesa entre representantes do
Brasil e dos Estados Unidos, que teria sido realizada no ano de 2009, em Brasília, a
delegação americana entregou um non-paper (Figs. 29a e 29b) aos membros da
delegação brasileira, consubstanciando, mais uma vez, a posição adversa do
governo dos EUA em relação ao desenvolvimento de foguetes pelo Brasil.75
Como nós discutimos com o seu Governo em diversas ocasiões anteriores, a política
nacional dos EUA é não encorajar novos programas de veículo de lançamento espacial
(VLS) pelos países membros do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR),
independentemente do propósito desses programas.

Com relação aos pedidos de licença para


satélites brasileiros serem lançados, fora do
Brasil, pelos Estados Unidos ou por países que
apoiamos com capacidade VLS, vamos
continuar a rever esses pedidos, caso a caso,
de acordo com as leis, regulamentos e políticas
dos EUA.

Fig. 29a – Extrato do non-paper entregue pela delegação dos EUA à delegação brasileira em
reunião bilateral sobre defesa entre o Brasil e os Estados Unidos, realizada, em 2009, no Ministério
da Defesa, em Brasília. (continua na próxima página)

No entanto, em 1999, após minuciosa análise dos aspectos relevantes de natureza


política, econômica, de política espacial e de não-proliferação, o governo dos EUA
concordou em permitir lançamentos de satélites dos EUA a partir de Alcântara em VLSs
dos EUA e no VLS Tsyklon ucraniano, sob amplas salvaguardas técnicas e legais.
75
Non-paper fornecido diretamente ao autor deste estudo, em 2010, quando de visita de equipe de consultores
da Câmara dos Deputados ao DCTA, por integrante desse órgão, que disse ter estado nessa reunião bilateral.
Dela nada se conseguiu saber em contato informal com pessoal do Ministério da Defesa.
102
Assim, em 2000, nossos governos negociaram um Acordo de Salvaguarda Técnica (TSA)
para colocar em prática as garantias legais e técnicas necessárias para permitir que os
Estados Unidos autorizassem lançamentos de satélites dos EUA a partir de Alcântara, sem
que, inadvertidamente, contribuíssem para a proliferação ou favorecessem o programa
VLS do próprio Brasil.

Além disso, como já explica-


mos anteriormente, a nossa
política básica não mudou e o
governo dos EUA continuará
Fig. 29b – Continuação do a não prestar qualquer apoio
non-paper da página anterior. direto aos esforços do Brasil
para desenvolver uma capa-
cidade VLS.
Com relação aos pedidos de licença para satélites brasileiros serem lançados, fora do Brasil,
pelos Estados Unidos ou por países que apoiamos com capacidade VLS, vamos continuar a
rever esses pedidos, caso a caso, de acordo com as leis, regulamentos e políticas dos EUA.

Como vocês sabem, o TSA ainda não foi ratificado pelo seu Governo. Na ausência de um
TSA, não estamos, neste momento, em condições de aprovar lançamentos, a partir de
3.5. O Regime
Alcântara, de Controle
de VLSs dos EUA,dedeTecnologia de EUA
satélites dos Mísseis
ou (MTCR)
de satélites estrangeiros com
componentes licenciados pelos EUA.
103
3.5. Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR)

O Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR –


Missile Technology Control Regime) foi criado, em 1987, pelo G-7 – Canadá, França,
Alemanha, Itália, Japão, Grã-Bretanha e os Estados Unidos –, sob estímulo deste,
com a finalidade de restringir a exportação e o repasse da tecnologia de mísseis
capazes de levar carregar carga útil de pelo menos 500 quilos a mais de 300
quilômetros, assim como de qualquer sistema apto a lançar armas de destruição em
massa. Em resumo, foi concebido com a finalidade de conter a disseminação de
mísseis capazes de transportar armas nucleares, alcançando, hoje, também, armas
biológicas e químicas.

Outros países, depois, foram aderindo ao MTCR, que passa


longe de ser um acordo juridicamente elaborado, segundo as regras do direito
internacional, em que há uma presumida igualdade das partes. É um autêntico
consórcio controlado pelas potências detentoras de tecnologia missilística, dele
fazendo instrumento para evitar que outros países venham a competir com os seus
controladores, que impõem decisões sem regras bem definidas. Tanto é assim que
não é acolhido pela ONU.

Não será feita, aqui, uma análise do MTCR, mas uma


caminhada, graças à Rede Mundial de Computadores (Internet), pelos seus
caminhos subterrâneos, percebendo as intenções e agentes ocultos que estão nele
embutidos.

Inicialmente, encontramos o seguinte registro, que aponta para


Richard Speier como sendo o autor do texto do MTCR (g.n.):

O Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (MTCR), redigido


pelo Dr. Richard H. Speier, é uma parceria informal e voluntária

104
entre 34 países para impedir a proliferação da tecnologia de
mísseis.76

Em seguida, em artigo de um coronel da Força Aérea


Americana, encontramos Richard Speier como consultor do Projeto Carnegie de
Não-Proliferação, da Corporação Carnegie, entidade privada norte-americana (g.n.):

Como observa Richard Speir, consultor do Carnegie Non-


Proliferation Project, "na Guerra do Golfo os Estados Unidos
usaram 3 vezes mais mísseis de cruzeiro do que os iraquianos
usaram mísseis balísticos, e nossos mísseis de cruzeiro tiveram um
efeito militar bastante evidente.”77

Ainda vinculado à Corporação Carnegie de Nova York


(http://carnegie.org), Richard Speier é encontrado como o principal co-autor do
capítulo 12 – Iran-Russian Missile Cooperation – da coletânea Repairing the Regime:
Preventing the Spread of Weapons of Mass Destruction (Restaurando o Regime:
Prevenção da Proliferação de Armas de Destruição em Massa), editada pelo The
Carnegie Endowment for International Peace – CEIP (Fundação Carnegie para a Paz
Internacional, com sede em Washington, D.C. – www.ceip.org), no ano 2000. Nos
agradecimentos, percebe-se o envolvimento de inúmeras fundações norte-
americanas atuando pela causa (g.n.):

Em janeiro de 1999, mais de 450 especialistas, servidores públicos,


acadêmicos e jornalistas reuniram-se em Washington, D.C., para a
Conferência Internacional Carnegie de Não-proliferação. As
inteligentes e estimulantes discussões dos participantes da
conferência foram as catalisadoras para a redação deste projeto. (...).

76
Disponível em: WORLDLINGO MULTILINGUAL ARCHIVE.
<www.worldlingo.com/ma/enwiki/en/Missile_Technology_Control_Regime/1>. Acesso em: 05 jun. 2010; tradução
nossa.
77
KIZIAH, Rex R. A Ameaça Emergente dos Mísseis de Cruzeiro Biológicos. Air & Space Power Journal, 3º
semestre de 2003 (edição em português). o autor é coronel da Força Aérea dos Estados Unidos, mestre em
estudos estratégicos pelo Air War College; doutor pela University of Texas at Austin e vice-diretor do Gabinete do
Programa de Sistemas de Superioridade Espacial do Centro de Sistemas de Mísseis e Espaciais, El Segundo,
Califórnia, entre outras qualificações. Disponível em: <www.airpower.maxwell.af.mil/apjinternational/apj-
p/2003/3tri03/kiziah.html>. Acesso em: 05 jun. 2010.
105
Repairing the Regime foi elaborado sob os auspícios do Carnegie
Endowment for International Peace e apoiado financeiramente e
pelas generosas doações da Non-Proliferation Project from de
Carnegie Corporation of New York, da W. Alton Jones Foundation, da
Ford Foundation, da John Merck Fund, da Ploughshares Fund e da
Prospect Hill Foundation. Sou especialmente grato a Jessica
Mathews e a Tom Carothers, presidente e vice-presidente do
Carnegie Endowment pelo apoio, inspiração e valiosas sugestões
durante o planejamento da conferência e o processo de edição.78

No site do CEIP também são perceptíveis outras vinculações


da Fundação Carnegie com a sua congênere Fundação Ford:

Em 31 de maio de 2007, o Carnegie Endowment for International


Peace patrocinou um evento intitulado "As flutuações econômicas da
China e suas implicações para a economia rural". Albert Keide,
associado sênior da Fundação Carnegie, apresentou sua pesquisa
patrocinada pela Fundação Ford; Fred Gale (Departamento de
Agricultura dos EUA) e Stephen Voth discutiram a pesquisa e Vikram
Nehru (Banco Mundial) moderou o debate.79

A publicação Nuclear Status Report: Nuclear Weapons, Fissile


Materials and Export Controls in The Former Soviet Union (Relatório de Status
Nuclear: Armas Nucleares, Materiais Físseis e Controles de Exportação na Antiga
União Soviética), editado, em junho de 2001, pela Fundação Carnegie para a Paz
Internacional e pelo Instituto Monterey de Estudos Internacionais
(http://www.miis.edu), revela como diversas fundações americanas estão irmanadas
no controle de armas dos outros países, inclusive as duas destacadas
imediatamente antes (g.n.):

Os autores também agradecem à Carnegie Corporation of New


York, Ford Foundation, John D. and Catherine T. MacArthur

78
CIRINCIONE, Joseph (editor). Repairing the regime: preventing the spread of weapons of mass destruction.
New York: Routledge/ The Carnegie Endowment For International Peace, 2000; tradução nossa.
79
Disponível em: CARNEGIE ENDOWMENT FOR INTERNATIONAL PEACE.
<www.carnegieendowment.org/events/?fa=eventDetail&id=996>. Acesso em: 05 jun. 2010; tradução nossa.
106
Foundation, John Merck Fund, Ploughshares Fund, Prospect Hill
Foundation, Scherman Foundation, Smith Richardson Foundation e
W. Alton Jones Foundation pelo apoio financeiro às atividades de
nossas respectivas organizações de não-proliferação nos NIL (Newly
Independent States – Novos Estados Independentes – da antiga
União Soviética). 80

Pesquisando na Internet a combinação das expressões


“Carnegie”, “Ford Foundation”, “Weapons” e “nonproliferation” foram obtidas 11.700
ocorrências (Fig. 30); o que bem demonstra os vínculos entre essas fundações e
dessas fundações com ações que visam à não-proliferação de armas.

Fig. 30 – Pesquisa com as expressões que estão indicadas nas janelas, resultando em 11.700
ocorrências; o que o que bem demonstra os vínculos entre essas fundações e dessas
fundações com as ações que visam à não-proliferação de armas.
Fonte: Pesquisa na Internet, em 05 jun. 2010, no site do Google (<www.google.com.br>).

Mas voltando ao rastro de Richard Speier, o redator do MTCR,


vamos encontrá-lo ligado ao United States Institute of Peace (USIP – www.usip.org),
criado e mantido pelo Congresso dos Estados Unidos, embora se diga uma
instituição independente e apartidária. Com sede em Washington, o USIP diz ter
como objetivo aumentar a capacidade dos Estados Unidos para gerir, sem violência,
conflitos internacionais.

No seu site encontramos a coletânea Controlling Weapons of


Mass Destruction, editada pelo USIP, em 2001, na qual Richard Speier publicou o
artigo Technology and the Development of New Regimes: Lessons from the Missile

80
WOLFSTHAL, Jon Brook; CHUEN, Cristina-Astrid; DAUGHTRY, Emily Ewell. Nuclear Status Re-
port: nuclear weapons, fissile material, and export controls in the former Soviet Union, n. 6, jun. 2001.
Washington, D.C.: Monterey Institute/ Carnegie Endowment for International Peace, 2001. Disponível
em: <http://cns.miis.edu/archive/status_report/pdfs/nsr/status.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2010.
107
Technology Control Regime. Na introdução da coletânea, fica revelada a vinculação
do autor intelectual do MTCR com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos
(g.n.):

A negação de tecnologia para países que poderão se tornar


proliferadores é uma conduta que tem sido amplamente utilizada,
mas coloca um dilema permanente para todos as partes tendo em
vista o "uso dual" (civil e/ou militares) das tecnologias avançadas.
Richard Speier, ex-integrante do Gabinete do Subsecretário de
Defesa para a Política no Departamento de Defesa dos Estados
Unidos, esteve diretamente envolvido nas diversas fases das
negociações multilaterais que levaram ao Regime de Controle de
Tecnologia de Mísseis (MTCR).81

Indo mais além e perscrutando o site do USIP, encontramos


várias ocorrências de eventos que ligam essa instituição à ITVS International, uma
divisão do Independent Television Service (ITVS) que recebe suporte financeiro das
seguintes entidades norte-americanas: The William and Flora Hewlett Foundation,
Ford Foundation e The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation82. Tanto no
site do USIP como no do ITVS ainda são encontradas muitas outras ocorrências
apontando para a Ford Foundation, usando essa expressão como chave de
pesquisa.

Mas os vínculos de Richard Speier com o USIP vêm de mais


tempo, como se vê na seguinte referência bibliográfica:

Richard Speier, The Missile Technology Control Regime: Case Study


of a Multilateral Negotiation, manuscript funded by the United States
Institute of Peace, Washington, DC, November 1995. 83

81
Disponível em: USIP (United States Institute of Peace). <www.usip.org/resources/controlling-weapons-mass-
destruction-findings-usip-sponsored-projects>. Acesso em: 05 jun. 2010; tradução nossa.
82
Disponível em: ITVS (Independent Television Service). <www.itvs.org/about/faq>. Acesso em: 17 jun. 2012.
83
Disponível em: UNITED STATES ARMY WAR COLLEGE. SSI (Strategic Studies Institute).
<www.strategicstudiesinstitute.army.mil/pdffiles/pub755.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2010.
108
Finalmente, o Dr. Gary K. Bertsch, em depoimento perante a
Comissão Revisora Econômica e de Segurança Estados Unidos-China
(www.uscc.gov) sobre a proliferação (de armas de destruição em massa) da China e
o impacto da política comercial em indústrias de defesa dos Estados Unidos e da
China, em 12 de julho de 2007, registrou o seguinte, comprovando como governo,
universidades e fundações privadas norte-americanas mantêm estreita relação
simbiótica (g.n.):

O Centro de Comércio Internacional e Segurança da Universidade da


Geórgia começou a trabalhar na China há pouco mais de dez anos.
Nosso foco inicial de estudo foi o sistema de controle do comércio
estratégico em desenvolvimento pela China, que avaliamos,
inicialmente, em 1996. Desde então, mantivemos a avaliação
atualizada de dois em dois anos e temos expandido nossas
atividades de pesquisa em extensão e treinamento. Contamos
principalmente com o apoio financeiro de fundações privadas, como a
Carnegie Corporation de Nova York, a Fundação Ford, Fundação
MacArthur e a Fundação Japan Center for Global Partnership
(CGP).84

Enquanto isso, nesse jogo que compõe interesses


governamentais, acadêmicos e privados, os Estados Unidos fazem do MTCR
poderoso instrumento da sua política externa, buscando o controle de outros países,
ainda que sejam seus parceiros no tratado.

Em setembro de 1993, comunicado do Gabinete do Secretário


de Imprensa da Casa Branca anunciou a política norte-americana para a não-
proliferação e controle de exportação, apresentando os seguintes elementos-chave
como objeto dessa política: material físsil, controle da exportação, proliferação
nuclear, proliferação de mísseis, armas químicas e biológicas, e iniciativas regionais
de não-proliferação. Em relação à tecnologia espacial e de mísseis, esse

84
Disponível em: USCC (U.S.-China Economic and Security Review Commission).
<www.uscc.gov/hearings/2007hearings/transcripts/july_12_13/bertsch.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2010; tradução
nossa.
109
comunicado dizia (g.n.):

Manteremos nosso forte apoio ao Regime de Controle de Tecnologia


de Mísseis. Promoveremos os princípios das Diretrizes do MTCR
como uma norma global de não-proliferação de mísseis e
procuraremos usar o MTCR como um mecanismo de tomada de
medidas conjuntas para combater a proliferação de mísseis.
Apoiaremos uma prudente expansão dos membros do MTCR pela
adesão de outros países que subscrevam as normas internacionais
de não-proliferação, o efetivo esforço de controle das exportações e o
abandono de programas de mísseis balísticos ofensivos. Os Estados
Unidos também promoverão esforços regionais para reduzir a
demanda por capacidade missilística.
Os Estados Unidos continuarão a opor-se aos programas de prolife-
ração de mísseis e exercerão particular restrição quanto à coopera-
ção relacionada a mísseis. Continuaremos a manter uma forte
posição contra as exportações, por qualquer país, de veículos
lançadores espaciais completos ou de componentes principais.
Os Estados Unidos não apoiarão o desenvolvimento ou aquisição de
veículos lançadores espaciais por países fora do MTCR.
Para os países membros do MTCR, não incentivaremos novos
programas de veículo de lançamento espacial, seja pela questão
da não-proliferação seja por motivos de viabilidade econômica.
Os Estados Unidos, no entanto, considerarão, caso a caso, a
exportação de itens controlados MTCR para os programas pacíficos
de lançamentos espaciais de países membros do tratado.
Analisaremos restrições adicionais e salvaguardas para reduzir o
risco de desvio de tecnologia de lançamentos espaciais. Buscaremos
a adoção, por todos os parceiros do MTCR, de políticas tão eficientes
quanto a nossa.

Desse modo, ao mesmo tempo em que as potências


preservaram seus mísseis balísticos, os novos aderentes ao MTCR, inclusive o
Brasil, embora pudessem manter seus programas espaciais destinados a fins
pacíficos, se viram obrigados a destruir os seus mísseis e toda tecnologia a eles
relacionada, assim como a condicionar seus programas espaciais às reservas

110
estabelecidas unilateralmente pelo governo dos Estados Unidos.

Assim, deixando fora do nosso escopo uma abordagem


minudente do conteúdo do MTCR e partindo do nome de quem o redigiu, fica
evidenciada a rede que se articula em torno desse instrumento e que envolve o
governo dos Estados Unidos, as universidades daquele país e inúmeras outras
organizações norte-americanas, entre fundações privadas, que se dizem
filantrópicas, e outras entidades vinculadas àquele governo.

Os sucessivos destaques dados à Fundação Ford se explicam


porque há um ciclo que se inicia nos Estados Unidos, do qual ela é importante prota-
gonista, inclusive do MTCR, e se fecha no Brasil, com inúmeras organizações não-
governamentais, movimentos e ativistas sociais, acadêmicos, pesquisadores e auto-
ridades brasileiras, entre outros atores, atuando em diversos segmentos da socieda-
de brasileira em obediência às diretrizes emanadas da sua sede em Nova York.

Não é demais levar em conta os registros que revelam a


Fundação Ford servindo, em determinados momentos, como organização de
fachada da CIA.85

Nesse contexto, os chamados “quilombolas” de Alcântara não


passam de uma farsa antropológica e jurídica, a atrasar a implantação do Complexo
Espacial de Alcântara (CEA), que encontra fundamento em dispositivos que foram
inseridos na Carta de 88 a partir da ação de onguistas comprometidos com aquela

85
Há diversas publicações indicando a Fundação Ford a serviço da CIA:
1 - WEINER, Tim. Legado de Cinzas: Uma História da CIA. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 304;
2 - SAUNDERS, Frances Stonor. Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura. Rio de Janeiro: Record,
2008. p. 152, 153, 157 e 443;
3 - WIKIPÉDIA. Fundação Ford. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_Ford>.
Acesso em: 24 jan. 2010; e
4 - CHAVAUX, Bertrand. As ciências sociais francesas e as injecções de dinheiro da CIA. Tradução disponível
em: <www.grupos.com.br/group/socefilapeoesp/Messages.html?action=message&id=2398195
89303829&year=09&month=4&next=1>. Original disponível em: <www.voltairenet.org/article14465.html#article
14465>. Ambos os acessos em: 23 jan. 2010.
111
Fundação e que passaram a operar naquele município maranhense após a instala-
ção do Centro de Lançamento – ressalte-se: só após a instalação do CLA –, a gerar
reivindicações e conflitos; o que merecerá abordagem específica em outro capítulo.

3.6. A política externa dita o atraso do PNAE

3.6.1. O elevado preço da autonomia pela integração

Embora a primazia das concessões do Brasil às pressões e


diretrizes externas caiba ao governo Collor, bastando rememorar o teatro do
fechamento dos buracos de provas nucleares da Serra do Cachimbo e os decretos
demarcando mais de cem áreas indígenas, foi no governo Fernando Henrique
Cardoso (FHC), caracterizado pelo discurso da autonomia [do Brasil] pela integração
[à nova ordem mundial, aos Estados Unidos], que a política internacional do País
cede mais intensamente às diretrizes de organismos internacionais e de outros
centros de poder.

O discurso da autonomia pela integração se fez a um custo


muito alto para o País, reduzindo bastante nossa autonomia em áreas sensíveis.

Após Collor, no governo Itamar Franco, já era notável a influên-


cia de FHC nas decisões do Estado brasileiro, não só como ministro das Relações
Exteriores e da Fazenda, mas também em outras ocasiões, como na Cúpula das
Américas, realizada em Miami, de 9 a 11 de dezembro de 1994, em que o Brasil foi
representado pelo Presidente Itamar Franco, mas sempre acompanhado do Senador
Fernando Henrique86. Luiz Filipe Palmeira Lampreia, depois chanceler do governo
FHC, a ele se referia como primeiro-ministro de Itamar, tamanho o seu poder.87

Depois, no governo FHC, houve rígida política fiscal, contração

86
MAGALHÃES, Fernando Simas. Cúpula das Américas de 1994: papel negociador do Brasil, em busca de uma
agenda hemisférica. Brasília: Instituto Rio Branco, Fundação Alexandre de Gusmão, Centro de Estudos
Estratégicos, 1999. p. 9.
87
LAMPREIA, Luiz Filipe Palmeira. O Brasil e os Ventos do Mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 128.
112
de salários, afastamento do Estado de atividades produtivas e de setores
estratégicos, diminuição do Estado-providência, intensa privatização de empresas
estatais, muitas adquiridas por empresas estrangeiras, ainda que estratégicas para o
Estado brasileiro, concessão de facilidades (negadas às empresas brasileiras) para
atrair investimentos estrangeiros e expansão de empresas privadas transnacionais.

No campo da segurança nacional e no domínio de tecnologias


sensíveis não foi diferente. A criação do Ministério da Defesa (MD), sob o viés oficial
de integrar as Forças Armadas, teve como real pano de fundo o afastamento dos
militares do centro do poder, enquanto as instituições castrenses foram deprimidas
em seu papel e sucateadas, a indústria brasileira de material de defesa prosseguiu
em sua trajetória descendente, sem qualquer esforço para a reversão do quadro, o
SIVAM foi entregue (sem licitação) à norte-americana Raytheon, e o Brasil aderiu,
incondicionalmente, a uma série de atos internacionais que significaram a sua
renúncia à condição de potência militar; o que se refletiu no Programa Nacional de
Atividades Espaciais, que pagou – e continua pagando – um preço extremamente
alto pela condução da diplomacia brasileira a esse tempo.

A “Mensagem ao Congresso Nacional”, enviada por Fernando


Henrique Cardoso, em 22 de fevereiro de 1999, na Abertura da 1ª Sessão Legislativa
Ordinária da 51ª Legislatura, dá a dimensão exata das concessões do País aos
desígnios internacionais e da sua renúncia de dispor de capacidade militar, como se
a diplomacia fosse capaz de proporcionar suficiente poder e correspondente
projeção do Brasil no cenário mundial:

Na área de desarmamento e não-proliferação, o Brasil participou


ativamente das negociações sobre o tema e aderiu ao Regime de
Controle e Tecnologia de Mísseis (MTCR — 1995), ao Grupo de
Supridores Nucleares (NSG — 1996) e ao Tratado de Não-
Proliferação de Armas Nucleares (TNP — 1998), ratificou a
Convenção sobre Proibição de Armas Químicas (1997) e o Tratado
de Proscrição de Testes Nucleares (CTBT — 1998) e assinou a

113
Convenção sobre Proscrição de Minas Anti-Pessoal (1997).88

O nível de concessões aos desígnios externos foi de tal monta,


que o Acordo de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o
Governo dos Estados Unidos da América sobre os Usos Pacíficos da Energia
Nuclear, celebrado em Brasília, em 14 de outubro de 1997, e promulgado pelo
Decreto no 3.208, de 13 de outubro de 1999, consignava:

Artigo VIII
Aplicação Não Explosiva ou Militar
1. A cooperação de conformidade com este Acordo será baseada nas
seguintes obrigações:
a) no caso do Brasil, não detonar um artefato nuclear explosivo; e
b) no caso dos Estados Unidos, não detonar um artefato nuclear
explosivo usando material, equipamento ou componentes sujeitos a
este Acordo.

O que está acima transcrito pode ser lido da seguinte maneira:


o Brasil se proíbe de detonar qualquer artefato nuclear explosivo, enquanto os
Estado Unidos se reservam ao direito de detonar qualquer artefato nuclear explosivo,
exceto quando usar material, equipamento ou componentes sujeitos ao Acordo
celebrado com o Brasil. Fica evidente que este e outros acordos foram celebrados
estabelecendo condições assimétricas entre as duas Partes, de modo que a
execução deles seja assimetricamente favorável à potência militar e econômica.

Uma desigualdade de direitos e obrigações. Assinamos uma


série de tratados nos quais quem detém tecnologia e poder conserva seus
privilégios, ao mesmo tempo em que nega aos demais a possibilidade de atingir igual
patamar; descumpre as poucas obrigações que lhes restaram, mas cobra
ferozmente o cumprimento dos demais; continua de posse de armas de destruição

88
BRASIL. PRESIDENTE (F. H. CARDOSO). Mensagem ao Congresso Nacional: Na Abertura da 1ª Sessão
Legislativa Ordinária da 51ª Legislatura. Brasília: Presidência da República, Secretaria de Comunicação de
Governo, 1999. (Documentos da Presidência da República). Disponível em:
<www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/99MENS9.HTM>. Acesso em: 30 jul. 2010.
114
em massa e prossegue na modernização delas, evitando que outros venham a
desenvolvê-las.

Sob o título “Wikileaks: Revela gravíssima sabotagem dos EUA


contra Brasil com aval de FHC e morte de um Brasileiro”89, a Agência Espacial
Brasileira transcreveu em seu clipping conteúdo mais incisivo sobre ações deletérias
contra o Programa Espacial Brasileiro:

Telegramas revelam intenções de veto e ações dos EUA contra o


desenvolvimento tecnológico brasileiro com interesses de
diversos agentes que ocupam ou ocuparam o poder em ambos
os países
Os telegramas da diplomacia dos EUA revelados pelo Wikileaks
revelaram que a Casa Branca toma ações concretas para impedir,
dificultar e sabotar o desenvolvimento tecnológico brasileiro em
duas áreas estratégicas: energia nuclear e tecnologia espacial.
Em ambos os casos, observa-se o papel anti-nacional da grande
mídia brasileira, bem como escancara-se, também sem surpresa,
a função desempenhada pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, colhido em uma exuberante sintonia com os interesses
estratégicos do Departamento de Estado dos EUA, ao tempo em
que exibe problemática posição em relação à independência
tecnológica brasileira.

Adiante, o artigo prossegue, individualizando vários atores que


teriam trabalhado contra o PNAE (g.n.):

Os telegramas diplomáticos divulgados pelo Wikileaks falam do


veto norte-americano ao desenvolvimento de tecnologia brasileira
para foguetes, bem como indicam a cândida esperança mantida
ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja, finalmente,
implementado como pretendia o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. Mas, não apenas a Casa Branca e o antigo

89
ALMEIDA, Beto. Wikileaks revelam sabotagem contra Brasil tecnológico. Carta Maior, 30 nov. 2011. Disponível
em: <http://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17337>. Acesso em: 6 jul. 2012 (apud
Wikileaks: Revela gravíssima sabotagem dos EUA contra Brasil com aval de FHC e morte de um Brasileiro.
CLIPPING@eb, 13 jul. 2012, Agência Espacial Brasileira).
115
mandatário esforçaram-se pela grave limitação do Programa
Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs,
normalmente financiadas por programas internacionais
dirigidos por mentalidade colonizadora, atuaram para travar o
indispensável salto tecnológico brasileiro para entrar no seleto e
fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração
econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites.
Junte-se a eles, a mídia nacional que não destacou a
gravíssima confissão de sabotagem norte-americana contra o
Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua linha
editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a
conquista de independência tecnológica, em qualquer área que
seja. Especialmente naquelas em que mais desagradam as
metrópoles.

Portanto, vãs foram as esperanças de, ao aderirmos aos


tratados, obtermos acesso a recursos que seriam aplicados no desenvolvimento de
atividades pacíficas. As desconfianças não foram afastadas e continuamos sendo
tratados como párias internacionais.

Parece que a geração de diplomatas brasileiros da era FHC


não aprendeu com a história. No campo das relações internacionais não se galgam
posições fazendo papel de “bom moço”. Nas relações entre países, boas intenções
não contam. Diplomacia sem respaldo em poder bélico é mero exercício de retórica,
é um leão que ruge desprovido de presas e garras.

Dos BRICS, o único não-nuclear é o Brasil, que devia mirar-se


na Índia, que nunca aderiu ao TNP e já detonou artefato atômico. Depois disso,
passou a ser cortejada pelos Estados Unidos, que com ela celebraram acordo,
incluindo a transferência de tecnologia de energia nuclear e o compartilhamento de
reatores nucleares, com a contrapartida de aquela aceitar inspeção internacional
sobre quatorze das suas vinte e duas instalações nucleares, vez que as outras oito,
de natureza militar, ficaram fora das inspeções. Não bastasse, já recebeu indicação

116
favorável dos Estados Unidos para se tornar membro permanente do Conselho de
Segurança da ONU.90

Não estamos a propugnar pelo emprego de armas de


destruição em massa, mas é fato que a posse delas, no lugar do pacifismo
diplomático, assegura status privilegiado a seus detentores. Afora isso, o discurso de
que a nossa Carta Magna proíbe a produção de armas nucleares deve ser visto com
olhar diverso daqueles que têm regido as interpretações até este momento.

Primeiro, porque estamos firmemente convencidos que a


mesma rede, sob inspiração externa, que levou à redação dos dispositivos da Carta
que dizem respeito aos índios e aos negros, foi a que conduziu a inclusão do
dispositivo que estabeleceu que “toda atividade nuclear em território nacional
somente será admitida para fins pacíficos” (art. 21, XXIII, “a”); o que coloca em
cheque a legitimidade desse e de alguns outros dispositivos constitucionais.

Depois, o fato de desenvolver armas de destruição em massa e


os vetores para o seu transporte, como mísseis e VANTs, não implica em se afastar
de fins pacíficos, pois, recuperando o velho bordão latino “Si vis pacem para bellum”
(“Se queres a paz, prepara-te para a guerra.”), fica evidente que a posse de armas
potentes é capaz de assegurar a paz.

Enquanto só os norte-americanos dispunham de armas


atômicas, não hesitaram em detoná-las sobre populações civis, mas quando se
viram confrontados por oponentes de igual poder, a postura foi de respeitoso receio.
No Iraque e no Afeganistão, invasão. Na Coreia do Norte e no Irã, nada muito além
de alaridos e vazias demonstrações de força.

Que se ouça a opinião de Robert John Aumann, matemático e


economista israelo-estadunidense, Nobel de economia, professor da Universidade
90
EUA e Índia fecham acordo nuclear. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 3 mar. 2006, Internacional, p. A10;
Prêmio à bomba. Folha de S. Paulo, São Paulo, 3 mar. 2006. Opinião/Editoriais, p. A2; e EUA pedem Índia no
Conselho de Segurança. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 nov. 2010. Mundo, p. A12.
117
Hebraica de Jerusalém, membro da Academia Nacional Norte-Americana das
Ciências, partícipe do desenvolvimento de estratégias de defesa para os EUA
durante a Guerra Fria e consultor da Agência de Desarmamento e Controle de
Armas dos Estados Unidos, vinculada do Departamento de Estado. Ele, que
desenvolveu teorias com aplicação prática na economia, diplomacia, política e
religião, mesmo tendo perdido um filho, em 1982, servindo ao Exército de Israel na
primeira guerra do Líbano, é taxativo:

Fazer concessões é o pior caminho para conseguir a paz.91

Depois, Aumann prossegue:

(...) não basta querer a paz para consegui-la. É preciso entender


como esse desejo afeta outras pessoas. Dizer "eu quero paz" pode
não trazer paz, mas guerra. Para minimizar as surpresas é preciso
calcular com muito cuidado como uma ação leva a outras.
(...)
(...) Há quem pense que atender às demandas do adversário pode
trazer a paz. Basta usar raciocínio lógico e analisar a história para ver
que isso não é verdade. O senso comum diz que a II Guerra Mundial
foi causada por Adolf Hitler. Há alguma verdade nisso, porque foi ele
quem ordenou a invasão da Polônia em setembro de 1939. Mas o
papel desempenhado pelo primeiro-ministro inglês Neville
Chamberlain é frequentemente negligenciado. É impressionante ler
os jornais daquele tempo e perceber quanto a retórica de
Chamberlain era similar ao que ouvimos hoje em dia na diplomacia:
"Nós temos de conseguir a paz, temos de entender o outro lado,
temos de fazer concessões...".

Em outra ocasião, o Nobel de economia, diante da pergunta


sobre qual “O incentivo ideal para que os países adotem uma estratégia pacífica?”,
respondeu:

Exércitos.92

91
SCHELP, Diogo. O Irã não nos atacaria. Entrevista com Robert Aumann. Revista Veja, São Paulo, 4 nov. 2009,
ed. 2.137, p. 17.
118
Em seguida, acrescentou:

A paz não é feita com concessões, mas se mostrando pronto para


guerrear. Os romanos foram campeões da paz. A "Paz Romana"
durou 200 anos. Qual o lema? Se quer paz, prepare-se para a
guerra. É teoria dos jogos. Não é legal, mas é verdade.

Muitas potências relutam a atacar outros países quando há


notícias de que estes são detentores de armas de destruição em massa, as mais
eficientes de que se pode dispor para inibir nas fronteiras, os preparativos de uma
invasão e a concentração de tropas e de outros meios.

Autonomia pela integração tem significado dependência dos


humores das potências, inclusive no campo espacial, como aconteceu durante a
Guerra das Malvinas, quando os Estados Unidos, apoiando os ingleses, desligaram
todas as informações satelitais no âmbito da América do Sul, inclusive as que diziam
respeito à previsão do tempo. Significa aceitar que as potências descumpram, sem
sanções, sua parte nos tratados, como acontece quando não eliminam suas armas
de destruição em massa ou quando transferem, porque assim lhes parece
conveniente, tecnologias sensíveis para países não-signatários do TNP.

3.6.2. O Acordo com os EUA sobre Alcântara

Indo além das considerações imediatamente anteriores, não é


demais trazer à baila o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e
o Governo dos Estados Unidos da América sobre salvaguardas tecnológicas
relacionadas à participação dos EUA nos lançamentos a partir do CLA, assinado em
18 de abril de 2000, por Ronaldo Mota Sardenberg, então Ministro da Ciência e
Tecnologia, e por Anthony S. Harrington, então Embaixador dos Estados Unidos da
América.

92
MIOTO, Ricardo. Para cientista israelense, armas trazem paz. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 ago. 2010.
Ciência, p. A17.
119
Esse ato do governo FHC não foi, até o momento, ratificado
pelo Congresso Nacional porque, na opinião de muitos, fere a soberania brasileira
em mais de uma dezena de cláusulas, particularmente pela criação, no Centro de
Lançamento brasileiro, de áreas restritas e sob o controle exclusivo do governo dos
EUA, além do veto norte-americano de os recursos auferidos com a cessão das
áreas serem utilizados no Programa Espacial Brasileiro.

A rigor, um acordo completamente assimétrico e tão leonino


que traz obrigações quase que exclusivamente para o Brasil. E, estranhamente, um
acordo para lançamentos comerciais, mas controlado pelo governo estadunidense.

Mesmo assim, o então Ministro de Ciência e Tecnologia de


FHC surge como ardoroso defensor desse Acordo.

Na Câmara dos Deputados, o Projeto de Decreto Legislativo nº


1.446/2001, que trata desse Acordo, dormita na Comissão de Constituição e Justiça
e Cidadania (CCJC) desde novembro de 2001. O seu melhor desfecho, atendendo à
soberania e aos interesses nacionais, seria a retirada, pelo Poder Executivo, da
Mensagem nº 296, de 2 de abril de 2001, que o enviou à apreciação do Congresso
Nacional.

3.6.3. O Acordo com a Ucrânia – Alcântara Cyclone Space

Em capítulo anterior deste estudo, foi feita veemente crítica ao


tratado com a Ucrânia, dizendo que os brasileiros estão entrando apenas com o
“quintal”, enquanto o foguete e a tecnologia correspondente são dos ucranianos.

A bem da verdade, se os ucranianos detêm a tecnologia dos


veículos lançadores, em contrapartida, eles precisam, e muito, de uma área para o
lançamento desses veículos, com o Brasil tendo-lhes parecido ser a melhor opção,
embora sem transferirem a tecnologia de construção.

120
O MD também dá manifestação nesse sentido ao negar a
possibilidade da transferência de tecnologia e da capacitação de pessoal no âmbito
do acordo Brasil-Ucrânia (g.n.):

O acordo não prevê e não permite transferência de


tecnologia em relação ao empreendimento Alcântara Cyclone
Space.
Uma missão à Ucrânia, enviada em março de 2012, objetivou
prospectar possíveis áreas de cooperação científicas e tecnológicas.
Infelizmente, apesar da longa lista de áreas propostas, não foi
identificada nenhuma oportunidade real de parceria em projetos, a
não ser aquelas que digam respeito à contratação de serviços a
empresas ucranianas sem a participação de técnicos ou de
empresas brasileiras. Os acordos de cooperação com os
ucranianos não trouxeram, até o momento, e
provavelmente, não trarão vantagens no que tange à
transferência de tecnologia aeroespacial.
(...)
Até o momento, não existe qualquer capacitação de recursos
humanos ocorrendo no âmbito do acordo Brasil-Ucrânia, com pessoal
da Defesa. A missão (comentada no item anterior) levantou uma
possibilidade de realização de cursos acadêmicos na Universidade
de Kiev.93

O MCTI, igualmente, acompanha o posicionamento da pasta da


Defesa (g.n.):

O Tratado entre o Brasil e Ucrânia estabelece apenas as condições


para a cooperação de longo prazo entre os dois países sobre o
desenvolvimento do Sítio de Lançamento do Cyclone-4
no Centro de Lançamento de Alcântara e a prestação de serviços
de lançamento em bases comerciais, não havendo qualquer
previsão ou cláusula que trate sobre transferência de

93
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
121
tecnologia.94

Depois, ratificando que o tratado com a Ucrânia também não


alcança a capacitação de pessoal, informa do mestrado de alguns alunos brasileiros
em universidade daquele país:

O Tratado Brasil-Ucrânia não prevê, tampouco, ações


específicas de capacitação de pessoal. Não obstante este
fato, a AEB, juntamente com a empresa binacional ACS,
reconhecendo a necessidade de formar e capacitar engenheiros na
área aeroespacial para posteriormente serem absorvidos no mercado
de serviços de lançamento comercial, buscou na UnB o
necessário apoio. Como decorrência, a UnB estabeleceu acordo de
projetos cooperativos com a Universidade Nacional de
Dnipropetrovsk (DNU) da Ucrânia para promover a formação de
alunos brasileiros, em nível de mestrado, com duração de 18 meses,
dos quais doze são no Brasil e seis na Ucrânia. Com o apoio do
CNPq e AEB, o curso começou no início de 2011 e atualmente a fase
de estudos na Ucrânia está em processo, com a participação de 10
alunos de mestrado da UnB.95

O que se depreende dessa fala é que se está tratando de uma


formação meramente acadêmica, voltada exclusivamente para a operação dos
serviços de lançamento, sem qualquer aproximação com as instalações onde os
veículos lançadores são projetados e construídos. É de se crer que se está formando
gente para exercer funções operativas secundárias quando o foguete ucraniano
estiver sendo lançado.

A despeito das muitas críticas que possam ser feitas em


relação ao acordo do Brasil com a Ucrânia, há que se reconhecer que algum ganho,
mínimo que seja, advirá da capacitação dos nossos engenheiros naquele país.
Também, há de se reconhecer que os especialistas brasileiros, durante o

94
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
95
Ibid.
122
desenvolvimento das tarefas para o lançamento do Cyclone-4, estarão sendo
adestrados nas operações logísticas e nas mais diversas operações que se
processam em solo para o lançamento do foguete.

De qualquer modo, a gravura a seguir (Fig. 31) indica muito


bem o papel subalterno da ACS no Acordo Brasil-Ucrânia.

Fig. 31 – A Alcântara Cyclone Space (ACS) aparece em posição central apenas construindo o sítio
de lançamento do Cyclone-4 e prestando o serviço de lançamento.
Fonte: Palestra de Aloizio Mercadante, então Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, em 07 dez. 2011, em
audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados.

Não é colocado de forma expressa, mas a Ucrânia não tem o


menor interesse em repassar tecnologia, mas apenas fazer uso das instalações do
CEA para os lançamentos dos seus foguetes.

Essa postura deriva diretamente das pressões norte-


americanas. Como os Estados Unidos são, potencialmente, o principal cliente para
os foguetes ucranianos, estes estão sob a chantagem norte-americana de perderem

123
aquele mercado no caso de repasse de tecnologia para o Brasil.

Periódico de grande circulação nacional confirma a colocação


aqui feita, dizendo do apoio norte-americano à parceria da Ucrânia com o Brasil,
para não deixar que os russos ocupassem esse espaço, mas condicionado à não-
transferência de tecnologia (g.n.):

A Ucrânia recorreu aos EUA para tentar fortalecer a sua parceria com
o Brasil para lançar satélites da base de Alcântara (MA), mostram
documentos do WikiLeaks.
Segundo um telegrama escrito pelo diplomata americano no Brasil
Clifford Sobel, em fevereiro de 2009, o país europeu teria pedido
ajuda aos americanos por meio de seu embaixador no Brasil,
Volodymyr Lakomov.
Isso porque os EUA são o grande mercado mundial de satélites –
40% dos satélites do mundo são americanos.
(...)
Os americanos, então, disseram até ter interesse em apoiar os
foguetes de Alcântara. Nos telegramas, deixam claro gostar da
parceria entre o Brasil e a Ucrânia, "desde que ela não resultasse
em transferência de tecnologia de foguetes [que a Ucrânia tem]
para o Brasil" – o país entraria apenas com o sítio de
lançamentos.
Justamente para evitar que os brasileiros tivessem tecnologia de
lançamento de satélites, os diplomatas americanos escreveram que
os EUA "têm uma antiga política de não ‘encorajar’” as
tentativas do Brasil de desenvolver um foguete sozinho (o VLS)”.
Os diplomatas americanos disseram, porém, que só poderiam apoiar
o foguete ucraniano caso o Brasil assinasse um acordo de
salvaguardas tecnológicas com eles. Um acordo assim foi vetado em
2003 pelo Congresso Nacional, que acreditava que ele violaria a
soberania do Brasil. As salvaguardas incluíam concessão de áreas

124
sob controle direto e exclusivo dos EUA e licença para inspeções
americanas sem prévio aviso ao Brasil.96

Em síntese, o acordo com a Ucrânia foi somente para a criação


de uma empresa, a Alcântara Cyclone Space (ACS), destinada, por pressão norte-
americana, apenas a construir o sítio de lançamento e a gerenciar a sua operação,
sendo evidente balela a assertiva que o lançamento do Cyclone-4 proverá o País
com real capacidade de acesso autônomo ao espaço, pois o foguete não tem o
mínimo de participação brasileira.97

Nisso tudo, há se de ponderar se o acordo com a Ucrânia não


“rouba” vultosos recursos que deveriam ser canalizados para o desenvolvimento de
satélites e lançadores construídos pelo Brasil.

Matérias jornalísticas recentes98 só fazem aumentar o ceticismo


quanto ao Acordo Brasil-Ucrânia, indo do litígio com rurícolas de localidades onde o
sítio de lançamento do Cyclone-4 seria inicialmente instalado, passando por
problemas com licenciamento ambiental, pela falta da injeção de recursos por ambos
os participantes do Acordo, chegando à falta de transparência tanto da parte
ucraniana como do então presidente da ACS, ao negar acesso ao plano de negócios
da empresa, agravada pelo impedimento de o Tribunal de Contas da União (TCU)
auditar a empresa binacional.

Em junho de 2012, a dívida da ACS, que tinha R$ 40 milhões


em caixa e um apreciável saldo devedor de R$ 50 milhões com o consórcio
responsável pelas obras do sítio de lançamento do Cyclone-4, provocou o corte da

96
MIOTO, Ricardo. Ucrânia recorreu aos EUA por foguete com o Brasil. Folha de S. Paulo, São Paulo, 25 jan.
2011. Ciência, p. C15.
97
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
98
GARCIA, Rafael. Despedida em Kiev. Sítio eletrônico da Folha de S. Paulo, 15 jun. 2012. Disponível em:
<http://teoriadetudo.blogfolha.uol.com.br/2012/06/15/despedida-em-kiev/>. Acesso em: 25 jun. 2012; e ANGELO,
Claudio. Projeto para lançar satélite de base no Maranhão trava. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 jun. 2012.
Ciência, p. C11.
125
metade dos operários e ameaçou a completa paralização das obras caso não fosse
retomado de imediato o pagamento mensal de R$ 30 milhões.

Além disso, o plano de negócios da ACS, ainda não aprovado


pelo seu conselho de administração, traz a previsão de ela ficar deficitária por 20
anos. E mais, dependendo de um acordo de proteção tecnológica que venha a lhe
permitir o lançamento de satélites privados norte-americanos – o maior mercado
espacial do mundo.

Para o primeiro lançamento, que não mais será possível em


2013, a ACS pede mais R$ 802 milhões, metade do Governo brasileiro, além dos R$
135 milhões que o Brasil depositaria este ano e que foram cortados no ajuste fiscal
feito pelo Governo federal. Isso porque, originalmente, a previsão de capital era de
US$ 105 milhões para o lançamento que estava previsto para 2010.

Esse contexto todo põe sob duvidosa expectativa os lucros que


deverão ser obtidos com os lançamentos do Cyclone-4.

Acresça-se aqui mais um componente no campo das relações


internacionais a ser ponderado: a Ucrânia, conforme o governo, ora pende em
direção à Rússia, ora dela de afasta. O governo que se afasta tem interesse em
adquirir tecnologia espacial própria, enquanto o governo pró-Rússia põe o projeto
espacial ucraniano em compasso de espera, refletindo-se no desenvolvimento do
Cyclone-4.

3.6.4. A adesão do Brasil ao MTCR

Em 11 de fevereiro de 1994, durante o governo Itamar Franco,


foi formalizada a adesão do Brasil ao MTCR, com um comunicado à imprensa sobre
"Aplicação pelo Brasil das Diretrizes do Regime de Controle de Tecnologia de
Mísseis (MTCR)”.

126
Artigo de José Geraldo Telles Ribeiro, engenheiro pelo Instituto
Militar de Engenharia (IME) e doutor em engenharia mecânica, citando Darly
Henriques da Silva, Analista de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do CNPq,
mestra em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e doutora em
Economia pela Universidade de Paris, sintetiza o processo de adesão do Brasil ao
MTCR, iniciado no governo Itamar e concluído durante o governo FHC (g.n):

Silva (2005) também relata os passos tomados pelo Brasil para ser
aceito pelos EUA no MTCR, dizendo que para superar as barreiras
políticas, em fevereiro de 1994 o Brasil se impôs as diretrizes do
MTCR: atualizou sua legislação doméstica acerca da exportação de
bens sensíveis e de uso dual em 1995, e então submeteu sua
candidatura como membro do regime, com o apoio dos Estados
Unidos, durante a Reunião do MTCR em Bonn em 10 de outubro de
1995. A submissão foi rapidamente aceita, em 27 de outubro. Em
1994, também como parte das negociações que culminaram na
aderência brasileira ao MTCR, o governo estabeleceu que a
Agência Espacial Brasileira (AEB) seria a autoridade civil para
coordenar atividades espaciais nacionais.99

No curso desses acontecimentos, mais precisamente em abril


de 1995, FHC, já na condição de Presidente da República, foi em visita aos Estados
Unidos e, dois meses depois, em 3 de julho de 1995, foi apresentado na Câmara dos
Deputados, pelo Poder Executivo, o Projeto de Lei nº 719/1995, dispondo sobre a
exportação de bens sensíveis e serviços diretamente vinculados, em consonância
com os ditames do MTCR, aprovado, depois, como a Lei nº 9.112, de 10 de outubro
de 1995, seguindo-se o correspondente decreto de execução, Decreto nº 1.861, de
12 de abril de 1996, regulamentando a lei.

99
SILVA, Darly Henriques da. Brazilian participation in the International Space Station (ISS) program:
commitment or bargain struck? Space Policy, Holanda, v. 21, 2005, p. 55-63 (apud RIBEIRO, José Geraldo
Telles. Uma Análise das Consequências do Controle Exercido pelo MTCR para a Modernização da Força
Terrestre. Rio de Janeiro: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2006. p. 11). Disponível em:
<www.eceme.ensino.eb.br/portalcee/index.php?option=com_content&task=view&id=88&Itemid=65&lang=pt>.
Acesso em: 30 jul. 2010.
127
Em outros termos, durante o governo FHC, submetendo-se a
diretrizes norte-americanas, o Brasil renunciou à capacidade de desenvolver e dispor
de mísseis balísticos e criou a AEB, com natureza exclusivamente civil, para,
cumprindo as mesmas diretrizes, afastar os militares do Programa Nacional de
Atividades Espaciais, como se fosse possível destes prescindir. Nenhum país do
mundo – só o Brasil – incorreu no absurdo de afastar os militares de trabalhar, junto
com cientistas e técnicos civis, nos seus programas espaciais.

E, mesmo com todas as adesões e concessões, as restrições


norte-americanas não foram removidas e os embargos prosseguiram, como fica bem
evidenciado a partir da seguinte manifestação do MD (g.n.):

Um óbice adicional diz respeito aos embargos comerciais à


importação de materiais, componentes e equipamentos conduzidos
por alguns países. Essa restrição refere-se, principalmente, aos
itens sujeitos ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis –
"MISSILE TECHNOLOGY CONTROL REGIME – MTCR"; a maioria
deles afetou diretamente e de forma significativa o desenvolvimento
de veículos lançadores no IAE. Para futuros veículos lançadores,
existem várias propostas de revisão do texto desse acordo que
dificultarão ainda mais a importação de componentes e subsistemas
para veículos espaciais, restringindo o acesso à tecnologia de
motores-foguete a propelente líquido e aquisição de materiais, como
por exemplo, alguns tipos de alumínio. E sabido que este material é
utilizado na fabricação de tanques de propelentes com função
estrutural, reduzindo a massa inerte do veículo e favorecendo, de
forma significativa, o seu desempenho.
Assim, o programa brasileiro de desenvolvimento de veículos
espaciais somente poderá ter êxito se for privilegiado,
imediatamente, o desenvolvimento de componentes e
subsistemas que atualmente são importados e que estão
sujeitos a controle por parte do MTCR.100

100
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
128
3.6.5. O rebaixamento da importância das atividades espaciais

Ainda durante o governo Itamar Franco, em 10 de fevereiro de


1994, cedendo às pressões internacionais, foi criada, com natureza civil, a AEB,
autarquia federal [então] vinculada à Presidência da República, com a finalidade de
promover o desenvolvimento das atividades espaciais de interesse nacional,
respondendo diretamente ao Presidente da República (art. 1° da Lei nº 8.854/94).
Destinava-se a substituir a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE),
órgão vinculado ao Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).

Depois, uma sucessão de 38 medidas provisórias, dispondo


sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, foi
paulatinamente esvaziando a importância da AEB.

A Medida Provisória nº 1.795, de 1º de janeiro de 1999, dizia


ser ainda da competência do então MAer a contribuição para a formulação e
condução da Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais; o
planejamento, estabelecimento, equipamento, operação e exploração, diretamente
ou mediante concessão ou autorização, conforme o caso, da infraestrutura espacial,
de sua competência; o incentivo e realização de pesquisa e desenvolvimento
relacionados com as atividades aeroespaciais; o estímulo à indústria aeroespacial
(art. 14, I, “a”, “f”, “g” e “h”). Rezava, também, que o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) integrava a estrutura básica do MCT (art. 16, II), como permanece
até hoje.

Quase seis meses depois, pela Medida Provisória no 1.799-6,


de 10 de junho de 1999, com a criação do MD, este passou a dispor da competência
para atuação na política nacional de desenvolvimento das atividades aeroespaciais e
para ser o responsável pela infraestrutura aeroespacial (art. 14, V, “x” e “z”),
desaparecendo todas aquelas atribuições que eram do MAer.

Com a Medida Provisória no 1.911-8, de 29 de julho de 1999,


129
foram mantidas as atribuições do MD nessa seara, mas a política espacial passou
para a competência do MCT (art. 14, II, “e”); coincidentemente, pasta que uma
semana antes (em 21 de julho) passara a ser ocupada por Ronaldo Mota
Sardenberg, o ardente defensor do Acordo de Alcântara com os Estados Unidos.

Um ano depois, pelos Decretos nº 3.566 e nº 3.568, de 17 de


agosto de 2000, a AEB foi rebaixada a autarquia vinculada ao MCT (Anexo I, art. 1º
e Anexo I, art. 2º, V, “a”, 1, respectivamente de cada decreto).

Hoje, como revela o atual organograma dos órgãos e entidades


que compõem PNAE (Fig. 03 na pág. 31), percebe-se que foi montada uma estrutura
que não funciona a contento. Por quê? Para quê?

3.6.6. O PNAE sob investimentos quase zero

O gráfico contendo os dispêndios, ao longo dos anos, com o


Programa Nacional de Atividades Espaciais (Fig. 07 na pág. 43) revela que, a partir
de 1995, início do governo FHC, houve abruptos cortes nos investimentos voltados
para o Programa Espacial Brasileiro, não sendo exagero dizer que chegou a quase
“zero”. Coincide com as inúmeras concessões às pressões internacionais,
materializadas pelos inúmeros acordos a que o Brasil aderiu ou ratificou no mesmo
período: MTCR – Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis (1995), NSG –
Grupo de Supridores Nucleares (1996), TNP – Tratado de Não-Proliferação de
Armas Nucleares (1998), Convenção sobre Proibição de Armas Químicas (1997),
CTBT – Tratado de Proscrição Completa de Testes Nucleares (1998) e a Convenção
sobre Proscrição de Minas Anti-Pessoal (1997). Por quê?

3.6.7. FHC e o PNDH

Em 1996, a Diretriz 142 do Primeiro Programa Nacional de


Direitos Humanos – PNDH I – aumentou, por decreto (Dec. nº 1.904, de 13 de maio

130
de 1996), o percentual da população negra do Brasil de 5,4% para 45,4%, ao
determinar que o IBGE classificasse como negros os mulatos, os pardos e os pretos

O quadro a seguir materializa a manipulação estatística


realizada.

Antes do Depois do
PNDH I PNDH I
Brancos 54 54
Pretos 5,4 45,3
Negros
Pardos 39,9 -
Amarelos e indígenas 0,6 0,6

Essa ardilosa manobra resultou no discurso de o Brasil ser o


segundo maior país de população negra do mundo, só superado pela Nigéria, ou de
ser o país de maior população negra fora da África; e deu respaldo a uma série de
políticas racialistas de inspiração externa, inclusive a de cotas e a da implantação de
territórios quilombolas, mesmo onde não há exclusivamente habitantes negros, da
forma como sempre foram social e historicamente percebidos, inclusive em
Alcântara.

Tão absurda era essa diretriz, que ela ressurgiu, em 2002, sob
nova roupagem, no Segundo Plano Nacional de Direitos Humanos (Diretriz 213), em
que os mulatos desapareceram e os pardos e os os pretos passaram a integrar a
população afrodescendente.

Surgirá a inevitável pergunta: o que isso tem a ver com o


Programa Nacional de Atividades Espaciais?

Ora, são atos do governo FHC, o discípulo mais notável de um


geração de jovens intelectuais do Brasil formados pela Fundação Ford, que
implementaram no País uma política racialista inspirada no modelo norte-americano,
aqui iniciada pela Carta Magna de 88, a partir de alguns dispositivos apresentados

131
por títeres sob os auspícios desse ator não-estatal de atuação transnacional (ver
tópicos 4.4 e 4.5).

Esse mesmo ator não-estatal está entre as entidades


estrangeiras que patrocinam os movimentos sociais que, com fundamento nesses
dispositivos, se contrapõem a produtores rurais pelo Brasil inteiro, ocupam áreas
estratégicas, tentam usurpar as instalações da Marinha na restinga da Marambaia e
atrapalham a implantanção do CEA, tendo por pano de fundo uma questão racial
artificialmente criada por sociólogos e antropólogos intelectualmente formatados sob
a égide dessa mesma Fundação e a serviço dela.

Sobre FHC ser o mais notável discípulo da Fundação Ford, ela


própria diz isso em obra comemorativa dos seus quarenta anos no Brasil (g.n.):

Na verdade, essas doações fundamentais ofereceram um abrigo


institucional aos futuros líderes dos setores acadêmicos, do governo
e das ONGs. Através do Iuperj e do Cebrap, a agência incentivou os
esforços de formação e de pesquisa de uma geração de jovens
intelectuais que mais tarde alcançariam projeção nacional, como
Francisco Weffort, Elza Berquó, Bolívar Lamounier, Vilmar Faria,
Hélio Jaguaribe, José Serra e, entre os mais notáveis, Fernando
Henrique Cardoso.
(...)
“De muitas maneiras, a trajetória de Fernando Henrique Cardoso
espelha a própria história da Fundação de envolvimento na
consolidação dos valores democráticos no Brasil”, cita um documento
de programa em 1995:
Com a volta completa à democracia nos anos de 1990 e a elei-
ção de um presidente como Fernando Henrique Cardoso, a
ideia que se tinha é que as três décadas de investimentos da
Fundação nos melhores cientistas sociais do Brasil haviam
dado fruto. Na verdade, quatro membros do Ministério e
quase toda a equipe econômica foram beneficiários de
doações da Fundação, do mesmo modo que um grande
número de pessoas indicadas para o primeiro escalão do

132
Executivo que está se formando.101

Não bastasse, uma biógrafa de FHC ratifica sua vinculação


com a Fundação Ford (g.n.):

Os fundadores do Cebrap têm de saída um primeiro problema a


resolver: como obter recursos para abrir o centro? Já que não podem
contar com recursos públicos, têm que encontrar uma organizada
privada que possa financiá-los. A personalidade de Fernando
Henrique Cardoso vai ser um fator determinante no momento de
sair em busca de financiamento.
“Ele era o único que tinha contatos com organizações internacionais
e que desfrutava de certo prestígio no exterior”, assegura Giannotti.
“Não foi muito difícil para ele convencer a Fundação Ford, que já
financiava um centro de estudos demográficos ligado à Universidade
de São Paulo”.
(...)
O Cebrap nasce numa noite de inverno do ano de 1969, nos
escritórios da Fundação Ford, no Rio. Naquela noite, Fernando
Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da
Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e oferece uma
ajuda financeira de 145 mil dólares.102

E sua autobiografia – apresentada quando do anúncio dele


como o vencedor 2012 do Prêmio John W. Kluge, no valor de US$ 1 milhão,
concedido pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos a intelectuais nas áreas
de Ciências Humanas – confirma essa última informação (g.n.):

É quando, expulso pelo regime autoritário da Universidade de São


Paulo, cuja cadeira de Ciência Política que eu tinha ganho em um
concurso público em 1968, tomei a decisão – não isenta de riscos –
de permanecer no Brasil e construir uma centro não-governamental

101
STATION, Elizabeth; WELNA, Christopher J. ”Da Administração Pública à Participação Democrática”, in Nigel
Brooke e Mary Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança
Social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002. p. 172-173 e
187.
102
LEONI, Brigitte Hersant. Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do Possível. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1997. p. 154.
133
de pesquisas sociais (CEBRAP). Para a surpresa de muitos, este
centro independente foi apoiado pela Fundação Ford e tornou-se,
gradualmente, o ponto de referência para o surgimento de vários
outros núcleos de resistência intelectual ao autoritarismo na América
Latina.103

3.6.8. Um jogo de hipocrisias

Salta aos olhos que a natureza exclusivamente civil do


Programa Espacial Brasileiro obedeceu a pressões e diretrizes externas,
notadamente norte-americanas, às quais, docilmente, nos submetemos, seja pela
perspectiva de se obter acesso a determinadas tecnologias, equipamentos e
dispositivos que, de outro modo, normalmente, nos seriam negados ou teriam de ser
obtidos por caminhos tortuosos ou mais difíceis, seja porque autoridades brasileiras
com poder decisório acreditaram – ou fingiram acreditar – no “canto da sereia” das
potências espaciais.

Isso de nada adiantou ou de muito pouco adiantou, pois o


nosso acesso a determinados itens e tecnologias continuou sendo negado. Pior, a
cada avanço que se consegue a duras penas com esforço próprio, surge um novo
obstáculo imposto pelas potências.

Nessa seara, se não somos inimigos, também não somos


vistos como aliados. As ações mostram que o Brasil, simplesmente, não é confiável
aos olhos do Primeiro Mundo. Nunca houve uma contrapartida leal, uma efetiva
reciprocidade pela nossa adesão ao sem número de acordos pelos quais aceitamos
restringir nossa capacidade espacial, militar, científica e tecnológica. Nunca houve,
por parte das potências espaciais e militares, a sincera intenção de dispensar ao
Brasil algum tratamento preferencial.

103
Library Of Congress. Crossroads: a Brief Autobiograph by Fernando Henrique Cardoso. Disponível em:
<www.loc.gov/loc/kluge/prize/cardoso.html>. Acesso em: 17 jul. 2012; tradução nossa.
134
Também ficou evidente ser praticamente impossível um país
desenvolver um programa espacial sem a presença de militares, assim como é mero
jogo de cena restringir essa ou aquela tecnologia espacial ao uso exclusivamente
civil, vez que praticamente todas trazem uma natureza intrinsecamente dual.

Em face disso é que continuam as restrições por parte dos


detentores de tecnologias sensíveis, em que pese terem induzido o Brasil a aderir a
acordos, fazendo-nos crer que as obteríamos. Por isso que o Brasil fez bem em
manter militares no desenvolvimento de atividades espaciais, ainda que de natureza
civil, até porque não teria como dispensar o conhecimento de que são detentores os
cientistas e técnicos dos centros de CT&I castrenses.

Essa dicotomia civil-militar que se pretende impingir ao Brasil,


afastando o braço militar do projeto espacial, a quem aproveita? Seguramente, em
nada aproveita aos brasileiros.

As mesmas potências que nos criam embaraços são aquelas


que mantêm intimamente imbricados os campos político, econômico e militar,
associando grandes corporações e governos em projetos de interesse comum nos
campos da pesquisa, desenvolvimento e produção de artefatos e equipamentos civis
e militares. Na sua atuação, não há delimitação precisa entre as cores das bandeiras
dos seus países e os cifrões de suas empresas.

E aí, o mercado aeroespacial, altamente rentável e de bilhões


de dólares, é diretamente ligado a interesses de governos e de grandes corporações
privadas, tanto pelos aspectos ligados à segurança nacional, como pelos de ordem
econômica e financeira, que se utilizam de todo pretexto, por mais insignificante que
seja, para criar obstáculos ao desenvolvimento de outros países nesse segmento.

Não é demais retomar o exemplo do satélite sino-brasileiro


CBERS-2, principal ferramenta de produção de imagens do território brasileiro e de
monitoramento do desmatamento da Amazônia. O fim da sua vida útil, sem que seu
135
substituto estivesse pronto, representou um misto de imprevidência, de
incompetência e de falta de recursos. Revelou, também, como os valiosos recursos
que faltaram para concluir o seu substituto em tempo hábil terminaram drenados
para remunerar os satélites americanos e indiano que tiveram de ser alugados para
o monitoramento do próprio território brasileiro. E, mais do que tudo, como o
embargo tecnológico funcionou de modo a atrasar a conclusão do CBERS-3. Um
baita vexame!104

Por isso, mais do que acreditar no que dizem governos


estrangeiros, organismos internacionais e atores transnacionais, devemos enxergar
como agem. É da observação segura da realidade que nos cerca que devemos
pautar nossas relações internacionais e as medidas decorrentes no plano interno.

3.6.9. Fechando a conexão

A conexão de todas as informações trazidas aqui, às quais


poderiam ser acrescidas inúmeras outras, revela a intrincada rede de interesses a
permear as influências de outros centros de poder e a forma estúpida como foi
conduzida a política externa – e interna também – brasileira, causando danos
irreparáveis ao nosso programa espacial.

A assinatura de tratados e acordos internacionais, afetando a


soberania do Brasil, a acentuada queda de investimentos, o esvaziamento do
componente militar do programa, a desmontagem da sua estrutura organizacional,
pulverizando seus órgãos e entidades, e a diminuição do status da AEB – tudo,
enfim, trabalhando contra o PNAE – revelam, por sua vez, a precariedade e a
fragilidade dos mecanismos de defesa que, em nome do Estado, deveriam pugnar
pela preservação dos interesses nacionais, mas se calam e deixam que eles sejam
deprimidos pela ação adversa de agentes externos e internos.

104
SILVEIRA, Virgínia. Embargo a componentes atrasa lançamento de satélite. Valor Econômico, São Paulo, 18
mai. 2010. Empresas & Tecnologia, p. B3.
136
Evidentemente que cada um poderá concluir de forma
totalmente diversa daquela a que chegamos, mas não há como negar os fatos que
foram apresentados. Eles aí estão.

137
4. QUILOMBOLAS EM ALCÂNTARA?
UMA FARSA ANTROPOLÓGICA E JURÍDICA

Disponível em: SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). <www.jornaldaciencia.org.br> (Jornal
da Ciência nº 607, 5 out. 2007). Através de: <www.trocistas.com/veiga/lancamento-de-foguete-espacial-no-
brasil/>. Acesso em: 04 jul. 2012.

Há um novo imperialismo, que ocorre não mais pela guerra, mas


pelas instituições econômicas e não governamentais. Eles agora
implementam e infundem não apenas a ideologia, mas também
uma forma prática de agir. Muda-se a cara do Imperialismo, mas
permanece a mesma intenção com novas práticas.
(...)
...antropólogos estão visceralmente ligados e, por isso, dão laudos
sempre comprometidos, o que, em consequência, compromete o
funcionamento do Estado. O parecer é ditatorial.
EDWARD LUZ, antropólogo que se contrapõe a corrente
antropológica hoje dominante no Brasil, em audiência pública na
Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara
dos Deputados, em 26 mai. 2010. Departamento de Taquigrafia,
Revisão e Redação da Câmara dos Deputados, Nota Taquigráfica nº
0700A/10, 26 mai. 2010, p. 18.
138
É preciso decidir entre o interesse de 2.000 pessoas que
moram no setor Nordeste da península que forma o município
de Alcântara versus 190 milhões de brasileiros.
RICARDO RANGEL, Diretor do Centro de Lançamento de Alcântara.
Expansão terá de retirar quilombolas, diz coronel. Folha de S. Paulo,
São Paulo, 11 set. 2009. Ciência, p. A6.

Como o branco, o negro nunca foi, no Brasil, um paladino da


liberdade. Nem podia. Havia escravidão em Palmares. Escravos
que se recusavam a fugir das fazendas e a ir para os quilombos
eram capturados e convertidos em cativos dos quilombolas. A
luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora
da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas
não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os
escravos negros do Brasil praticavam, e praticam a escravidão
ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para
vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo,
os Bantu, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi,
foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus no
Camerum. Uma luta social que se omite em relação a
essa verdade histórica não emancipa, apenas mistifica
na busca de privilégios.
MARTINS, José de Sousa. O branco da consciência negra. O Estado
de S. Paulo, São Paulo, 19 nov. 2006. Caderno "Aliás, A Semana
Revista", p. J4. O autor é professor titular de Sociologia da Faculdade
de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).

Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no


seu encalço e, se capturado, era executado pela “severa justiça”
do quilombo.
CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares. Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira, 3. ed., 1966. p. 35.
139
4. QUILOMBOLAS EM ALCÂNTARA? UMA FARSA ANTROPOLÓGICA E
JURÍDICA

4.1. Compreensão da “questão quilombola”

Para que os interesses que estão em jogo em Alcântara sejam


percebidos, vamos ao mapa de Alcântara (Fig. 32), o “palco” onde protagonistas e
antagonistas, nacionais e internacionais, ensaiam os seus movimentos.

Fig. 32 – Mapa de Alcântara representando o conflito de interesses naquele município.

140
A questão territorial relativa ao Complexo Espacial de Alcântara
(CEA) começa pelo Decreto nº 7.820 de 12 de setembro de 1980, do Governo do
Maranhão, determinando a desapropriação de uma área de 52 mil hectares para
instalação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Depois, o Governo federal,
por Decreto Presidencial não-numerado, de 8 de agosto de 1991, ampliou a área
para 62 mil hectares, nos seguintes termos:

Art. 1º Ficam declaradas de utilidade pública, para fins de


desapropriação pela União, as áreas de terras e respectivas
benfeitorias compreendidas num polígono de aproximadamente
62.000 ha (sessenta e dois mil hectares), no Município de Alcântara,
Estado do Maranhão, de acordo com a planta de situação constante
do Processo MAer n° 06-06/083/89, necessários à implantação pelo
Ministério da Aeronáutica, do Centro de Lançamento de Alcântara.

Acompanhando pelo mapa (Fig. 32), vê-se que o município de


Alcântara ocupa uma península na qual, mais ou menos a sudeste, estão a cidade
de Alcântara e a pequena área destinada à Agência Espacial Brasileira (AEB).

Ainda no sudeste da península, ao norte da cidade, ocupando


8.713 hectares, está o Centro de Lançamento, destinado a empreendimentos de
natureza militar e sob a jurisdição da Aeronáutica. É só o que hoje existe de todo
Complexo Espacial vislumbrado. Ali, está sendo construído o sítio de lançamento do
Cyclone-4 porque, devido à “questão quilombola”, desde 2008, pelo menos, foi
obstaculizada a sua implantação, um pouco mais ao norte, fora da área do CLA, nos
povoados de Mamuna e Baracatatiua, principais focos de resistência à expansão do
CEA.

Ao norte do CLA, do nordeste para o interior da península, uma


área maior, ocupando 52.744 hectares, originalmente destinada à ampliação do CEA
e onde seriam desenvolvidas atividades espaciais de natureza civil, com a instalação
de diversos sítios de lançamentos e outras atividades de apoio, sabendo-se ser
necessário um sítio de lançamento para cada modelo de foguete (Fig. 33).
141
Área destinada à
construção de sítios para
lançamentos comerciais

CENTRO DE
LANÇAMENTO DE
ÂLCANTARA
(sob a jurisdição
do Comando da
Aeronáutica)

Fig. 33 – Mapa representando a área originalmente destinada ao Complexo Espacial de Alcântara


Fonte: DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). CTA: Ciência e Tecnologia para a Defesa Nacional.
Palestra institucional proferida pelo Brigadeiro Engenheiro Venâncio Alvarenga Gomes, então Subdiretor de
Empreendimentos daquela organização, no 62º Fórum de Debates Projeto Brasil. São José dos Campos (SP), 17 dez.
2008. Disponível em: <www.slideshare.net/ProjetoBr/brigadeiro-eng-venncio-alvarenga-gomes-presentation>. Acesso
em: 1º abr. 2010. CTA, sigla que designava o Centro Tecnológico da Aeronáutica, hoje DCTA.

Todavia, mais recentemente, o Relatório Técnico de


Identificação e Delimitação (RTID)105 elaborado sob encomenda do INCRA,

105
Edital do INCRA publicou o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), reconhecendo as
comunidades quilombolas situadas no município de Alcântara (MA). Diário Oficial da União nº 214, Seção 3, 4
nov. 2008, p. 110.
142
demarcou quase todo o município de Alcântara como “território quilombola”, tomando
não só toda a área destinada à expansão do Complexo Espacial (52.744 ha), mas
também a área mais ao sul (25.361 ha), em um total de 78.105 hectares,
inviabilizando a continuidade do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).
Apenas o espaço atualmente ocupado pelo CLA ficou fora da área demarcada pelo
RITD; o que representou uma imensa concessão às pressões internacionais e aos
movimentos sociais “satélites” de organizações estrangeiras.

A estreita faixa nordeste ao norte do CLA, junto ao litoral,


segmentada por uma linha pontilhada na figura 32, é imprescindível à continuidade
do PNAE, pois ali seriam instalados os sítios de lançamento de foguetes de
programas espaciais de natureza civil (sítios de expansão 2 a 4 da figura 33). Sem
ela, o PNAE estará inviabilizado, salvo se o Complexo Espacial for transferido para
outro local, recomeçando do “zero”.

Em mais um passo, cedendo às pressões, na estreita faixa do


litoral, há quem considere a hipótese de o Complexo Espacial de Alcântara ser
reorganizado em “ilhas”, cada uma correspondendo a um sítio de lançamento (Fig.
34); solução que nos parece extremamente precária.

Em dezembro de 2010, notícia em periódico de circulação


nacional deixava a impressão que essa questão estava praticamente resolvida, pois
o Governo federal, como que despertando de um misto de leniência e letargia, teria
provocado uma minuta de decreto, elaborada pela Advocacia-Geral da União (AGU),
solucionando o conflito pela oferta de moradia, emprego, acesso ao mar e outras
compensações aos rurícolas de 21 localidades a serem realocadas para a expansão
do CEA, viabilizando, assim, uma etapa crucial do Programa Espacial Brasileiro.106

106
LEITÃO, Matheus; SELIGMAN, Felipe. Quilombolas terão de abrir caminho para foguetes no MA. Folha de S.
Paulo, 10 dez. 2010. Ciência, p. C11.
143
Fig. 34 – Hipótese do Complexo Espacial de Alcântara reorganizado em “ILHAS”; cada uma
correspondendo a um sítio de lançamento.
Fonte: Palestra do Dr. Roberto Amaral, então presidente da Alcântara Cyclone Space (ACS), em 06 out. 2009, em
audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados (CREDN).

Entretanto, tudo indica que foi uma falsa esperança e nada


andou, conforme consignado pelo Ministério da Defesa (MD), em junho de 2012, na
forma que se segue:

Essa situação é ainda objeto de controvérsia, dependendo da


deliberação da Câmara de Conciliação, instaurada pela AGU.
Área ao norte do CLA para expansão e dificuldade para remoção das
comunidades existentes: um procedimento de conciliação posterior à
publicação do RTID foi instaurado pela Advocacia da União, com o
objetivo de solucionar as controvérsias decorrentes da pretensão de
expandir as áreas destinadas ao programa espacial brasileiro. Pela
proposta, cerca de 12 mil hectares ao norte da península de
Alcântara seriam repassados para uso da União.107

107
Resposta do MD ao Requerimento de Informações nº 2014/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
144
Por sua vez, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(MCTI), diz, enfaticamente, como um dos principais óbices para maior avanço na
implantação do CEA (g.n.):

Futuramente, quando da necessidade de ampliação e instalação de


novos sítios de lançamentos comerciais, haverá necessidade de
busca de solução para superar as restrições impostas pela
delimitação das áreas de quilombolas estabelecida pelo INCRA.108

No primeiro mapa (Fig. 32), usamos a expressão “Pretenso


Território Quilombola”, assim como, frequentemente, serão empregadas as palavras
“quilombo”, “quilombola” e expressões que as contenham entre aspas, uma vez que,
depois de termos percorrido aquele município, concluímos que a existência de
“quilombos” e “quilombolas” em Alcântara não passa de uma farsa antropológica e
jurídica.

4.2. Auscultando o Centro e a cidade

A existência de quilombos em Alcântara da forma como vem


sendo apresentada não passa de uma farsa antropológica, amparada em um
embuste jurídico. É algo absolutamente fantasioso e descabido, que tem impedido a
implantação do CEA, atrasado o PNAE – Objetivo Nacional Permanente, estratégico
para a soberania e o desenvolvimento do Brasil – e causado prejuízos incalculáveis
ao País.

Não se está negando a possibilidade de uma ou outra


localidade rurícola, no passado, ali, ter servido de refúgio para negros fugidos de
fazendas e engenhos locais, mas não é razoável que mais de cem localidades
possam, historicamente, ser identificadas como quilombos, para legitimar todo o
território demarcado pelo RITD como “território quilombola”.

108
Resposta do MCTI ao Requerimento de Informações nº 2013/2012, do Deputado Cláudio Cajado.
145
Mais do que a leitura e a análise de livros e documentos –
dever de casa que fizemos – sobre a presença de quilombos naquele município, ali
estivemos três vezes, verificando, in locum, a verdade que cerca a “questão
quilombola” artificialmente criada naquele município maranhense.

Em 21 de maio de 2009, acompanhando uma comitiva de


Deputados e Senadores, ficamos restritos ao CLA, em que pese a chamada
“questão quilombola” não ter ficado de fora da abordagem feita pelas autoridades da
Aeronáutica.

Em outro momento, 12 e 13 de janeiro de 2010, fomos na


esteira da equipe da TV Câmara que produzia reportagens sobre o Programa
Aeroespacial Brasileiro109, indo, não só ao CLA, mas, principalmente, a agrovilas,
construídas pelo Comando da Aeronáutica para reassentar habitantes de povoados
deslocados quando da instalação do Centro, e ao povoado de Mamuna, tido como o
principal óbice, junto com o povoado de Baracatatiua, para a implantação do sítio de
lançamento da Alcântara Cyclone Space (ACS) conforme o planejamento original.

Na terceira viagem à Alcântara, nos dias 27 a 30 de janeiro do


mesmo ano, fomos em comitiva constituída por consultores Câmara dos Deputados
e pelo então Deputado Rodrigo Rollemberg (hoje Senador), Relator do Conselho de
Altos Estudos e Avaliação Tecnológica (CAEAT) da Câmara dos Deputados para o
estudo sobre o Programa Aeroespacial Brasileiro realizado pelas Consultorias
Legislativa e de Orçamento e Fiscalização Financeira. Nova visita ao CLA, a

109
TV CÂMARA. Endereços eletrônicos das reportagens produzidas e as datas das respetivas exibições:
1 - <www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=SERIE-ESPECIALOS-DESAFIOS-DO-PROGRAMA-ESPACIAL-
BRASILEIRO&selecao=MAT&programa=244&materia=102140&velocidade=100K>. Acesso em: 22 fev. 2010;
2 - <www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=PROGRAMA-ESPACIAL-BRASILEIRO-2PROBLEMAS-
FINANCEIROS&selecao=MAT&programa=2&materia=100356&velocidade=100K>. Acesso em: 23 fev. 2010;
3 - <www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=PROGRAMA-ESPACIAL-BRASILEIRO-3FOGUETES-X-
QUILOMBOLAS&selecao=MAT&programa=2&materia=100428&velocidade=100K>. Acesso em: 24 fev. 2010;
4 - <www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=PROGRAMA-ESPACIAL-BRASILEIRO-
4SOLUCOES&selecao=MAT&programa=2&materia=100528&velocidade=100K>. Acesso em: 25 fev. 2010.
146
agrovilas e ao povoado de Mamuna, além de reunião com alguns vereadores de
Alcântara e, em São Luís, com o governador em exercício do estado do Maranhão e
o seu secretariado, tratando da “questão quilombola” em face do Programa Espacial
Brasileiro.

Nas duas passagens pelo Centro de Lançamento, entre


exposições do Comando, conversas informais e reunião com pessoal que ali serve,
foi possível saber que, apesar de alguns discursos adversos, várias melhorias
introduzidas em Alcântara são caudatárias das instalações espaciais, a começar da
energia elétrica que, até então, nem na sede do município havia, além da construção
do porto flutuante, que atende não só o CLA, mas também todo o município.

Na reunião feita com alguns vereadores de Alcântara, resultou


ser indiscutível a contribuição do CLA para o desenvolvimento município. A fala foi
de otimismo com as atividades espaciais em Alcântara, trazendo novas
oportunidades e que os edis são favoráveis ao desenvolvimento, embora sendo
necessárias ações que melhor distribuam os benefícios advindos das atividades
espaciais que ali têm lugar, capacitando os jovens alcantarenses e privilegiando as
empresas locais.

Há projeto de um novo porto para atender às instalações


espaciais e ao município, sem as restrições da maré que condicionam os horários de
utilização do atual. Todavia, a sua construção enfrenta dificuldades oriundas de outra
vertente que, sistematicamente, vem sendo utilizada para retardar, encarecer ou
impedir investimentos vitais para o progresso do País e do seu povo: a ambiental.

Aliás, questões ambientais são parte dos óbices que os


ativistas se utilizam contra as construções e a expansão das instalações espaciais
em Alcântara. Como todas as obras e serviços de engenharia no CLA dependem de
licenciamento ambiental, muitas delas são atrasadas, apesar das disponibilidades
orçamentárias, aguardando pela burocracia da licença.

147
Todavia, é perceptível que, enquanto a área do CLA está bem
conservada, onde existe uma área de preservação ambiental (APA) voltada para a
bacia do Rio Pepital, que abastece a sede do município de Alcântara, naquelas
ocupadas pelos habitantes locais há devastação causada, principalmente, pela
agricultura de coivara e pela produção de carvão vegetal.

Além da agricultura de coivara, a caça, a extração de madeira e


a produção de carvão vegetal, apesar de ilegais, são expressivas para a economia
local, fazem parte do modo de vida tradicional dos rurícolas de Alcântara e
materializam o choque entre a legislação ambiental e as formas de exploração da
natureza a que essas populações estão adaptadas.

No conjunto dos benefícios trazidos a Alcântara pelas


atividades espaciais ali desenvolvidas, há o recolhimento aos cofres municipais de
5% de ISS sobre todas as obras e serviços contratados pelo CLA e o fato de haver
ali (em 2010) dezesseis empresas prestando serviços, com 80 a 90% dos seus
empregados sendo da região, até por exigência contratual do Comando da
Aeronáutica para priorizar mão-de-obra e materiais do município.

Acresçam-se as evacuações aeromédicas de habitantes em


graves condições de saúde e o aumento da empregabilidade, que alcança o pessoal
que trabalha para as empresas terceirizadas e os servidores civis e militares que
moram na região e, ainda, os jovens locais que acorrem à prestação do serviço
militar. A remuneração desse pessoal representa a injeção de recursos na economia
local, havendo casos de o sustento da família vir do soldo daqueles que servem
como soldados do CLA.

Mesmo assim, a temporariedade do serviço militar desses


jovens faz com que, depois de quatro anos, muitos deles voltem à condição anterior
de rurícola, sem emprego e sem dinheiro, embora vários deles tenham obtido

148
alguma qualificação profissional durante a sua permanência na Aeronáutica,
permitindo-lhes alçar voos mais longos.

Outros benefícios ainda podem ser alinhados a partir da


instalação do Centro de Lançamento em Alcântara, como o apoio às entidades de
classe em atividades de natureza social, a participação conjunta com a AEB na
restauração da rodovia MA-106, a promoção do Projeto Soldado-Cidadão, o
acolhimento de jovens da comunidade alcantarense na Escola Caminho das
Estrelas, que apoia dependentes de militares e funcionários do CLA, a doação de
material proveniente da desmobilização de canteiro de obras para agrovilas e a
promoção de atividades de lazer e recreação junto à comunidade alcantarense.110

Junto com a AEB, o Centro ainda participa do Comitê Gestor do


Projeto Alcântara Cidade Sustentável, visando à construção, em área do município
de Alcântara, de um Centro Comunitário (espaço multifuncional de integração social),
no qual haverá restaurante popular oferecendo refeições de baixo custo, caixa
bancário, pequena biblioteca com uma saleta de leitura, sala de informática e espaço
para oferecimento de serviços básicos, tais como atendimento à saúde e emissão de
documentação básica.111

Em área do CLA, em mais uma ação voltada para a


preservação ambiental, está prevista a implantação de uma usina (custo estimado
em R$7,3 milhões), para o tratamento de resíduos sólidos e a reciclagem do lixo
gerado em todo o município, a qual estarão atreladas muitas outras ações: aterros,
mini-usina de etanol, educação ambiental, hortas, pomares e outros cultivos para
escoamento do composto orgânico, fábrica de tijolos ecológicos para habitação
popular, sistemas comunitários de coleta, tratamento e disposição de efluentes

110
Respostas do MCTI e do MD aos Requerimentos de Informações nº 2013/2012 e nº 2014/2012, do Deputado
Cláudio Cajado.
111
Ibid.
149
domésticos, paisagismo urbano, turismo sustentável, segurança comunitária e
preservação do patrimônio ambiental urbano.112

Em contrapartida, ficamos sabendo que convênios celebrados


com o Maranhão, quando da instalação do Centro de Lançamento, não foram
honrados pelos governos do estado, tendo sido retirados os técnicos que davam
treinamento aos rurícolas, de modo que não houve a implementação de projetos de
desenvolvimento agrícola que garantissem a auto-sustentabilidade das agrovilas.

Mesmo assim, nas palavras de Diretor do CLA, houve


considerável melhoria do IDH do município – particularmente, saúde, educação e
expectativa de vida – depois que a Aeronáutica se instalou em Alcântara.

O que observa, particularmente nas agrovilas, é que a


Aeronáutica tem feito muito por Alcântara, bem além das suas atribuições
institucionais. E teria feito mais, não fosse a limitação dos recursos, embora as
queixas devam ser dirigidas aos Governos federal, estadual e municipal quanto à
prestação dos serviços – educação, saúde, transporte,... – constitucionalmente
atribuídos a cada um. Essa ausência do Poder Público, em todas as esferas, é
queixa recorrente, com muita intensidade, dentro e fora do CLA, na sede e no interior
do Município, refletindo a histórica desatenção do Estado brasileiro, de um lado, para
com a população mais carente e, do outro, para com a ciência e tecnologia.

Fica a impressão que as autoridades de uma esfera


governamental estão a esperar pela ação das outras, ninguém trazendo para si a
responsabilidade de fazer a parte que lhe cabe, em um “jogo de empurra” que deixa
um vácuo onde a Aeronáutica é, por vezes, endeusada e, em outras, demonizada. É
nesse vácuo que os ativistas sociais buscam ganhar espaço para as suas causas,

112
Respostas do MCTI e do MD aos Requerimentos de Informações nº 2013/2012 e nº 2014/2012, do Deputado
Cláudio Cajado.
150
ainda que elas não sejam necessariamente as mesmas dos moradores dos
povoados de Alcântara.

Quando se mergulha na busca de informações sobre as


condições de Alcântara, o que se vê é muita discussão, muita reunião, muito estudo,
muito projeto, muito relatório, recursos não aplicados porque faltam parceiros
estaduais e locais, muita burocracia e quase nenhuma execução. É algo
impressionante e absolutamente irrazoável.

Na busca de ouvir outros integrantes do CLA, além dos oficiais


integrantes da sua Direção, no dia 27 de janeiro de 2010, a comitiva da Câmara dos
Deputados se reuniu com militares de baixa graduação e civis que ali trabalham,
naturais ou habitantes de Alcântara.

Um soldado, morador de uma agrovila, declarou que a


mudança do seu antigo povoado para ela trouxe melhorias em termos de estudo –
porque antes nem escola havia – de saúde e lazer também. Entretanto, reclamou
que, apesar de o seu pai ter recebido gleba para plantar, não há terra disponível para
outras famílias que vão se constituindo nas agrovilas a partir dos filhos que nascem e
de outras pessoas que vão mudando para elas; fato confirmado por habitantes das
agrovilas que percorremos.

Mas todos foram unânimes em dizer que o Centro de


Lançamento melhorou a vida em Alcântara e que, se ele fosse transferido, o
município se acabaria, sendo acrescentado que apenas uma minoria muito pequena
é que se coloca contra o CLA.

Um sargento da área de saúde, que tem contato com a


população nos cuidados que dispensa, disse ter observado a infiltração de gente
entre os “quilombolas”, incitando-os contra o Centro de Lançamento; no que foi
corroborado por um soldado morador de Alcântara.

151
Feita a interpelação sobre o Movimento dos Atingidos pela
Base Espacial de Alcântara (MABE), para nossa surpresa, poucos sabiam da sua
existência. Entretanto, alguns declararam ter ouvido dizer que o movimento seria
comandado pela Igreja Católica e por ONGs, tendo, inclusive, promovido uma
romaria contra o CLA, em que pese a Igreja em Alcântara ficar neutra.

Ainda nessa reunião, ficamos sabendo que a região é muito


piscosa, atraindo até pescadores de outros estados, que a produção agrícola é
baseada na “roça de toco”, que exige rotatividade anual, e que a atividade
econômica peculiar do município, afora a agricultura de subsistência, é a produção e
venda ilegais de carvão, com a população promovendo grandes queimadas.

Houve reclamos por uma escola agrícola voltada não só para a


agricultura, mas também para a pesca e a pecuária; providência que deveria ter sido
adotada desde a implantação do CLA.

No dia 12 de janeiro de 2010, acompanhando a equipe da TV


Câmara em sua trajetória pela cidade, agrovilas e povoados, começamos a visita
pelo Museu Aeroespacial, mantido pela Aeronáutica no centro da Cidade.

Na calçada dele, uma senhora de cor negra e o seu marido,


engenheiro mecânico austríaco aposentado, moradores do povoado de
Samucangaua, abordaram-nos, curiosos sobre a nossa presença em Alcântara.
Conversamos por algum tempo, mas a fala dela foi taxativa sobre a atuação dos
governos e de outros personagens no município: “Projetos têm demais, mas nada é
realizado.” Deu-nos vontade de perguntar, mas pensamos não ser conveniente: no
caso do seu povoado ser reconhecido como parte do “território quilombola”, o seu
esposo, de alvura absoluta, teria de sair da área?

O museu (Fig. 35), que abre todos os dias da semana, significa


a valorização de Alcântara pela Aeronáutica e parece ser o melhor espaço da cidade
para receber turistas: auditório, sanitários limpos e bebedouro. Há de se ressaltar
152
que, apesar do mero valor simbólico, as únicas bandeiras do município que
encontramos estavam nesse museu e na sala de reunião do Diretor do Centro de
Lançamento.

Fig. 35 – Casa de Cultura Aeroespacial – frente e interior –, atração turística mantida pelo Centro
de Lançamento de Alcântara na sede do município.

No museu, trabalhavam um cabo da Aeronáutica, natural de


São Luís, e duas moradoras de Alcântara: uma funcionária efetiva do Comando da
Aeronáutica; e a outra, de uma empresa terceirizada. Uma delas declarou que a
existência do CLA ajuda muita gente em Alcântara, ressaltando que o Centro
aumentou a empregabilidade, em particular entre os jovens, que não tinham o que
fazer e agora incorporam para a prestação do serviço militar durante quatro anos,
embora muitos não aproveitassem para estudar. Ainda assim, havia aqueles que
faziam a diferença, preparando-se e sendo promovidos a cabos.

Do museu, seguimos para uma entrevista, que fora agendada,


com Sérvulo de Jesus Morais Borges, o Borjão, tido como liderança do MABE –
Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara. Todavia, ao chegar à
sede do movimento, na cidade, fomos recebidos por uma jovem de 28 anos,
Francinete Pereira da Cruz, que informou da viagem do entrevistado para São Luís.

153
Bastante desenvolta, informou ter nascido em São Luís e sido
criada na cidade de Alcântara, apesar de breve passagem pelo povoado de Tacaua.
Não se identificou como “quilombola”, mas como militante dessa causa. Disse estar
concluindo o curso de meio-ambiente no Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia (IFET) de Alcântara, que reúne três cursos técnicos: meio-ambiente,
eletrônica e hospedagem; diga-se de passagem, absolutamente alheios às
características e necessidades do município, essencialmente agrário, tendo milho,
mandioca e feijão como as principais culturas.

Ressaltou a baixa qualificação dos moradores de Alcântara


para concorrer aos empregos oferecidos pelo CLA, particularmente aqueles que
dependem de concurso público, que têm âmbito nacional e atraem candidatos
melhor preparados de todo o Brasil, deixando sem chance os habitantes locais.

Na entrevista também esteve presente Danilo Serejo, um


jovem, com evidente ascendência negra e indígena, apresentado como líder do
MABE em Canelatiua, embora esse povoado não esteja entre aqueles que já foram
atingidos pelo Centro de Lançamento; o que não afasta a possibilidade de vir a ser
alcançado pela expansão que se vislumbra.

Sobre a origem do MABE, Danilo Serejo informou que o


movimento tivera início, em 1999, durante seminário promovido pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), que tem sede em São Luís,
pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão
(FETAEMA) em Alcântara e por sindicatos de trabalhadores rurais de Alcântara,
quando fora sentida a necessidade de se criar uma instituição que representasse os
atingidos pela base espacial.

Em uma publicação do Projeto Nova Cartografia Social da


Amazônia (PNCSA) sobre a “questão quilombola” em Alcântara, encontramos a
confirmação dessa origem:

154
Fundado em 1999, a partir do seminário “Alcântara: a Base Espacial
e os Impasses Sociais”, realizado em maio daquele ano, o MABE
veio a fortalecer uma luta que existe desde 1980 capitaneada pelo
STTR de Alcântara e que tem raízes na resistência histórica à
escravidão pelos indígenas e quilombolas alcantarenses.
(...)
O seminário “Alcântara: a Base Espacial e os Impasses Sociais” foi
organizado pelo STTR de Alcântara com apoio da CONTAG, da
FETAEMA, do então prefeito municipal José Wilson Bezerra de
Farias e do advogado Domingos Dutra. Este evento reuniu
quilombolas de toda Alcântara e também estudiosos, políticos e
advogados, além de militantes do movimento negro (CCN, PVN-
SDDH) e associações voluntárias da sociedade civil para discutir os
problemas econômicos, sociais, ambientais e culturais causados pela
implantação da Base, e para definir estratégias de defesa dos direitos
territoriais e étnicos das comunidades quilombolas. O MABE foi fruto
deste processo de mobilização.113

Nessa publicação, que historia a origem do MABE, podem ser


percebidos mais alguns atores (Fig. 36), além dos citados antes e outros que
aparecerão depois, que são pano de fundo na “questão quilombola” em Alcântara:
CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais,
ACONERUQ – Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do
Maranhão, Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, STTR de Alcântara –
Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e CCN-MA – Centro de Cultura
Negra do Maranhão, formando uma rede de ONGs ditas “brasileiras”, embora
apoiadas por entidades e ONGs estrangeiras, ou em estreita associação com elas,
como a Fundação Ford (sede em Nova York, EUA) e o COHRE (Centre On Housing
Rights and Evictions – ONG com sede em Genebra, Suíça).

A ressaltar que o coordenador da publicação também apoiada


pelas organizações estrangeiras é o mesmo antropólogo que elaborou o RTID.
113
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombolas atingidos pela Base Espacial de Alcântara. Série
“Movimentos sociais, identidade coletiva e conflitos”. v. 10. Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia
(PPGSCA-UFAM, CNPQ, FAPEAM). São Luís, 2007, p. 3.
155
Fig. 36 – Montagem feita de extratos da publicação que leva o título indicado na capa. Segue-se o
nome do coordenador da publicação, o antropólogo que elaborou o RTID, e das entidades que a
apoiaram, inclusive entidades estrangeiras e ONGs ditas “brasileiras” apoiadas por entidades e ONGs
estrangeiras.
Fonte: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombolas atingidos pela Base Espacial de Alcântara. Série “Movimentos
sociais, identidade coletiva e conflitos”. v. 10. Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PPGSCA-UFAM, CNPQ,
FAPEAM). São Luís, 2007.

Mesmo as ONGs ditas “brasileiras” devem ser vistas com muita


reserva. No endereço eletrônico da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
(<www.social.org.br>. Acesso em: 12 jun. 2010.), por exemplo, são encontradas
inúmeras entidades estrangeiras apoiando suas atividades. No seu relatório “Direitos
Humanos no Brasil 2009”, entre as mais de vinte entidades colaboradoras, surge o
apoio da Fundação Heinrich Böll (com sede em Berlim, Alemanha) e da ActionAid
(ONG fundada na Inglaterra, em 1972, que depois transferiu sua sede para
Joanesburgo, África do Sul).114 E entre as colaboradoras da Rede Social ditas
“brasileiras”, parcela considerável subsiste com apoio financeiro recebido do exterior.

114
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. Direitos Humanos no Brasil 2009. São Paulo, 2009, p. 5.
Disponível em: <www.social.org.br/dh%20no%20brasil%202009.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2010.
156
Da cartilha “Agroenergy: Myths and Impacts in Latin America”,
editada pela Rede Social surgem a EED – Evangelischer Entwicklungsdienst
(Serviço das Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento – ONG com
sede em Bonn) e a Grassroots International (ONG com sede em Boston, EUA).115
Organizando essa publicação junto com a Rede Social, paradoxalmente, está a
Comissão Pastoral da Terra (CPT), da esquerda católica, aliada a uma esquerda
protestante (principalmente a alguns segmentos luteranos e anglicanos) baseada em
alguns países europeus.

Apenas esses atores – há outros – já são suficientes para


indicar que a “questão quilombola” em Alcântara representa uma amálgama de
problemas sociais com tempero ideológico, político-partidário, religioso e sindical;
tudo isso mesclado com ativismo social, persecução de prestígio acadêmico-
profissional e evidentes interesses de organizações estrangeiras. Todos formando
uma rede intimamente imbricada, em que, não poucas vezes, o mesmo sujeito ocupa
lugares em várias dessas organizações, que, por sua vez, se apoiam mutuamente,
uma aparecendo na rede de apoio a outra.

Mesmo diante disso tudo, o Governo federal, alinhado


ideologicamente com os movimentos sociais e deles prisioneiro, com onguistas
ocupando postos em vários dos seus órgãos e entidades, entre a leniência e a
omissão, deixa que os interesses vários desses atores, inclusive estrangeiros, se
sobreponham à segurança e ao desenvolvimento nacionais.

No estabelecimento dos “territórios quilombolas” que se


espalham por todo o País, inclusive em Alcântara, é perceptível que, obedecendo às
diretrizes externas, o antropólogo delimita “tecnicamente” o “território étnico”, ao
mesmo tempo em que o Ministério Público dá o respaldo jurídico, enquanto, na

115
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos; Comissão Pastoral da Terra. Agroenergy: Myths and Impacts in
Latin America. São Paulo; Recife, 2007, p. 4. Disponível em: <www.social.org.br>. Acesso em: 12 jun. 2010; a
partir da opção “Cartilhas”.
157
sequência natural, a Fundação Cultural Palmares, a Secretaria Especial de Políticas
para Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e o INCRA, igualmente
comprometidos com a “causa”, só fazem endossar, e o Presidente da República,
com a carreira política intimamente vinculada aos movimentos sociais, comparece,
homologando e fechando o ciclo.

Isso tudo está patente no laudo antropológico encomendado


pelo Ministério Público Federal contra a instalação do CEA, publicado sob o título
“Os quilombolas e a Base de lançamento de foguetes de Alcântara”. Na
apresentação desse trabalho, assinada por quatro ministros de Estado, as palavras
de ordem utilizadas transparecem o compromisso ideológico entre essas
autoridades, o autor da obra e o Ministério Público Federal, afora o raivoso discurso
que, irresponsavelmente, endossa a denúncia “contra o Estado Brasileiro, por
crime de genocídio étnico-racial” na região de Alcântara, quando se sabe,
exatamente, o significado da palavra genocídio, a repercussão internacional que ela
causa e que ali, sabidamente, não há a ocorrência de coisas assim. Criminosa é a
acusação!! Eis um excerto da apresentação:

A presente obra reflete a luta travada pelas comunidades


remanescentes de quilombos do município de Alcântara, estado do
Maranhão, por seus direitos ao território e à autodeterminação étnico-
racial. Trata-se do resultado de uma perícia antropológica
encomendada pelo Ministério Público Federal para subsidiar ação
civil pública ambiental e étnica em prol do reconhecimento dos
direitos destas comunidades.
A publicação desta peça acadêmico-jurídica traz ao público a batalha
determinada e contínua, ainda na contemporaneidade, de várias
comunidades que ousaram, nos anos 80, ainda em plena ditadura
militar, questionar a lógica arbitrária e intervencionista da instalação
de um grande projeto desenvolvimentista de caráter tecnológico e mi-
litar em seus territórios, o Centro de Lançamento de Alcântara – CLA.
(...)
Nos anos 90, e em especial com a chegada do século XXI, o caso de
Alcântara ganha novos matizes. Além da acolhida de suas
158
reivindicações pelo Ministério Público Federal, obtendo seu
reconhecimento étnico-racial e, apesar de faltar ainda a regularização
fundiária do seu território, essas comunidades apelaram para a
Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2003, contra o
Estado Brasileiro, por crime de genocídio étnico-racial.116

Outra farsa aí contida fica por conta da ação perante a CIDH,


capitaneada, na verdade, por ONGs que usaram alguns rurícolas de Alcântara
cooptados como “quilombolas”, como ver-se-á mais adiante.

Francinete, a representante do MABE que nos recebeu em


janeiro de 2010, ao dizer de como aderiu ao movimento, corroborou parte do que
havíamos concluído quanto aos componentes ideológico e político-partidário na
“questão quilombola” em Alcântara. Ela informou que, há aproximadamente uns oito
anos, quando atuava em atividades do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual era
filiada, foi convidada por Borjão e passou a trabalhar no movimento e a nele se
envolver, por identificação ideológica, como colaboradora e militante. Ainda
acrescentou que todos os dirigentes do MABE eram filiados ao PT.

Em síntese, ficou evidenciado que há motivações externas ao


povo de Alcântara a fazer a população do município de massa de manobra e, porque
não dizer, vítima para atender a interesses nem sempre nobres, até porque parte
ponderável desses atores não quer a resolução dos conflitos, haja vista que a
existência deles só se justifica na medida em que os problemas subsistam.

Como em Alcântara foram construídas sete agrovilas para os


moradores transferidos da área onde se instalou o CLA – cinco na primeira fase: Só
Assim, Cajueiro, Pepital, Espera e Ponta Seca, reassentando 521 habitantes; e duas
na segunda: Marudá e Peru, para 829 habitantes – despertou-nos desconfiança
sobre a legitimidade de o MABE se identificar como o Movimento dos Atingidos pela

116
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Os quilombolas e a base de lançamento de foguetes de Alcântara. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2006. v. I, pp. 7-8.
159
Base Espacial de Alcântara, haja vista que não encontramos na sua sede qualquer
representante que fosse morador das agrovilas.

Reforça a falta de legitimidade o fato de o seu líder e a militante


que nos recebeu não morarem nas agrovilas nem nos povoados rurais, mas sim na
sede do município, onde Borjão sempre habitou; ou seja, nunca foi “quilombola”.

Aliás, na passagem por algumas agrovilas, os moradores


“torciam o nariz” a cada vez que o nome de Borjão era citado como liderança;
deixando nítida a ideia de que se trata de uma liderança “fabricada” por entidades
externas à Alcântara e sem representatividade local. Também foi perceptível a
rejeição aos acadêmicos, às “lideranças” por estes fabricadas e a outros que por lá
perabulam em busca de adesistas à sua causa “quilombola”.

A própria liderança política no município não pertence ao


parlamentar identificado como defensor dos “quilombolas”, haja vista que dados do
Tribunal Superior Eleitoral revelam que, do total de votos para deputado federal, nas
eleições de 2006, o mesmo deteve apenas 1.369 (12,626%) dos votos em Alcântara,
enquanto aquele que liderou a votação obteve o dobro (2.765 votos - 25,491%), com
os votos restantes sendo pulverizados pelos demais candidatos; o que, de certo
modo, comprova que os “defensores da causa quilombola” não têm da população
local o apoio que tanto propagam. 117 Nas eleições de 2010, o mesmo parlamentar
caiu para 437 votos nominais em Alcântara118, revelando o esvaziamento da causa.

A falta de representatividade e de legitimidade das chamadas


lideranças “quilombolas” do MABE também pode ser considerada à luz dos
candidatos a vereador de Alcântara, em 2008, quando três líderes listados na
publicação “Quilombolas atingidos pela Base Espacial de Alcântara”, anteriormente
117
Disponível em: TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
<www.tse.gov.br/internet/eleicoes/2006/result_votacao_pais.htm>. Acesso em: 14 jun. 2010.
118
Disponível em: TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
<http://agencia.tse.jus.br/estatistica/sead/eleicoes/eleicoes2010/vmz_candidato_MA.zip>. Acesso em: 17 jun.
2012.
160
citada: Samuel Araujo Morais, Vicente Amaral Rodrigues e Inaldo Faustino Silva
Diniz, tiveram apenas 208, 156 e 11 votos respectivamente. Nenhum deles
conseguiu se eleger, enquanto o vereador mais votado alcançava 776 votos, mais do
que dobro da soma das três lideranças “quilombolas”.119

Aliás, ficou evidente uma proliferação e consequente


pulverização de “lideranças” e entidades. Alguns se dizem “líderes” e se fazem porta-
vozes de seus povoados sem nunca terem recebido, ainda que informalmente,
mandato para tanto. Assumem uma representatividade apenas para “consumo
externo”, sob o abrigo das ONGs que lhes dão apoio, sem que encontrem respaldo
expressivo entre os habitantes de Alcântara.

Nesse sentido, vereadores de Alcântara, reunidos com a


comitiva da Câmara dos Deputados, queixaram-se de que, todas as vezes em que
havia algum evento relacionado à Alcântara e ao Centro de Lançamento, eles, que
legitimamente representam a população, eram alijados, enquanto as lideranças
“fabricadas” pelas ONGs é que iam falar em nome do município e do seu povo.

A fala dos vereadores corrobora o que o diretor do CLA


informara sobre uma audiência em que ele estivera, onde as pessoas encontradas,
estranhamente, não eram moradoras das agrovilas.

Um dos vereadores disse, ainda, das ONGs tentando seduzir


os “quilombolas” de todas as formas, chegando a mandar “meia dúzia” deles a
viagens internacionais, embora todos ali fossem a favor do programa espacial. Falou,
também, de alguns querendo tirar proveito pessoal dos problemas que existem,
colocando-se contra o CEA, como em uma audiência pública em que observara
ONGs, que talvez nem conhecessem município, fazendo todo o tipo de
questionamento para atrapalhar, ali, o desenvolvimento das atividades espaciais.

119
Disponível em: IG. <http://apuracao.ig.com.br/primeiro-turno/MA/07030/index.html>. Acesso em: 14 jun. 2010.
161
Durante a entrevista com a militante do MABE, esta informou
que o movimento não tem uma estrutura formal nem personalidade jurídica, fazendo
apenas as articulações entre diversas entidades e as “comunidades quilombolas” e
que o Borjão era o articulador político, havendo seis coordenadores que faziam parte
das comunidades, sendo Leonardo, do povoado de Brito, o coordenador-geral.

Entre as diversas articulações do MABE, Francinete disse da


parceria com o MST para a formação de pessoal, estudando fora de Alcântara, com
Danilo Serejo, citado antes, sendo acadêmico de um curso de Direito, na
Universidade Federal de Goiás (UFG), especial para assentados da reforma agrária
e pequenos agricultores. Não temos dúvida que, ao abrigo da nobre função de
proporcionar educação superior, está sendo promovida a capacitação político-
ideológico para a forma de luta que já conduzem no País.

A militante do MABE também informou de um projeto com a


Associação Tijupá, que iria trabalhar um projeto de cadeia produtiva do município, e
das ligações do MABE com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
de Alcântara (STTRA) e com a Associação das Comunidades Negras (São Luís),
acrescentando o apoio ao movimento prestado pela Rede Social (São Paulo), pela
Justiça Global (Rio de Janeiro), pela Sociedade de Direitos Humanos e por
universidades, principalmente em assessoria jurídica.

Ainda falou sobre projetos do MABE que, mesmo não tendo


personalidade jurídica, são apoiados por órgãos e entidades do Governo federal:
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SPPIR); Secretaria
Nacional de Economia Solidária (SENAES) e Caixa Econômica Federal (CEF).

Disse do apoio em recursos financeiros recebidos pelo MABE


da ONG alemã ASW e que esta pagava o aluguel de 3 mil reais para o Movimento
ter a sua sede instalada em um casão de dois andares no centro de Alcântara. Para
nossa surpresa, quando procuramos por essa sigla na Internet, encontramos a

162
indústria aeroespacial alemã Aero Systems Wedel GMBH (<www.aerosystems-
wedel.eu>. Acesso em: 12 jun. 2010.).

Enfatizou a atuação do MABE nas atividades de discussão e de


levar informações às “comunidades”, realizando oficinas sobre a Constituição
Federal, leis e decretos; o que, evidentemente, é feito pelos vieses que atendem ao
MABE e aos seus patrocinadores.

No curso da entrevista, tanto Francinete como Danilo


abrandaram o radicalismo quando se aventou a hipótese de o Centro de Lançamento
sair de Alcântara, mudando para um discurso voltado para a manutenção das
atividades espaciais no município, mas com uma política de compensação que
significasse melhor qualidade de vida; o que é mais consentâneo com os interesses
nacionais e locais, em que pese contrário à pretensão das ONGs, ativistas,
acadêmicos e outros atores que trabalham contra o Programa Espacial Brasileiro.

Em outra ocasião, o então da Câmara Municipal de Alcântara,


Benedito Barbosa, o Bené, que não participara da reunião entre vereadores locais e
a comitiva da Câmara dos Deputados, mas nos recebeu em seu gabinete,
identificando-se como “quilombola” e ideologicamente da esquerda autêntica,
inicialmente radical em sua fala em relação ao CLA, abrandou-a e terminou
concluindo de forma semelhante aos militantes do MABE, isto é, pela manutenção
das atividades espaciais, desde que resultando em mais benefícios para Alcântara.

Antes de terminar a entrevista e seguirmos para as agrovilas, a


militante do MABE deixou escapar algo que já era de nossa percepção: há
moradores de Alcântara que não vêm o Movimento com bons olhos, justamente pelo
papel adverso ao Centro de Lançamento, por entenderem que este tem
proporcionado benefícios para seus moradores.

163
4.3. Pelos caminhos rurais de Alcântara

Nas três agrovilas que visitamos nas duas passagens que


fizemos em janeiro de 2010: Pepital, Marudá e Peru, alguns pontos e queixas
comuns puderam ser observados.

Nelas, o Comando da Aeronáutica ergueu uma estrutura


impressionante para os padrões até então encontrados nos povoados da região, com
todas as obras em alvenaria (Figs. 37 e 38): igreja, salão de festas, posto de saúde,
escola, lavanderia comunitária, casa de farinha, campo de futebol e casas com 80
metros quadrados para cada família reassentada, com o banheiro situado
externamente, seguindo aos hábitos locais. Tudo servido com água encanada e luz
elétrica, serviços até então inexistente para aquela população. A eletricidade só há
pouco começara a chegar a outros povoados.

Fig. 37 – À esq.: casa no povoado de Mamuna, no padrão tipicamente adotado na região antes da
implantação das agrovilas. À dir.: casa-padrão das agrovilas implantadas pela Aeronáutica.
Flagrante diferença entre as condições primitivas e as que foram oferecidas nas agrovilas.

164
Fig. 38 – À dir.: casas da agrovila de Pepital. À esq.: casa sendo construída na agrovila de Pepital;
o que indica a atração de novos moradores ou a fixação de novas famílias que vão se
constituindo e desmente a acusação de o Brasil estar promovendo “limpeza étnica” em Alcântara,
feita, nacional e internacionalmente, por alguns acadêmicos e ativistas sociais.

Contrariando a fala de que os moradores das agrovilas foram


expulsos de suas antigas moradias, houve um acordo, registrado em cartório –
conforme ouvimos no CLA e nas próprias agrovilas – prevendo todas essas
benfeitorias (Fig. 39), com a localização delas tendo sido feita pelos próprios
reassentados, que optaram por ficar perto da sede do município, ainda que
pudessem ter escolhido áreas mais ao norte, junto ao mar, na Baía do Cumã, um
lugar bastante piscoso.

Fig. 39 – Posto de saúde (esq.) e escola (dir.) na agrovila de Pepital. Perceba-se a qualidade das
construções feitas pela Aeronáutica, se comparadas com as casas de taipa que os rurícolas até
então habitavam. A escola está fechada porque a população optou por frequentar as escolas da
sede do município, mas suas instalações bem poderiam ser utilizadas para uma escola agrícola.
165
Alguns prédios, inclusive moradias, estão a pedir manutenção,
até por descuido ou abandono. Percebe-se a existência de dois grupos de
moradores: uns, desprovidos de vontade e iniciativa, que ali foram reassentados e
vão simplesmente deixando a vida passar, nem mesmo se preocupando em
melhorar as condições de suas moradias, em mau estado de conservação; outros,
bastante operosos, motivados pelas novas possibilidades da agrovila, melhorando
sensivelmente o seu padrão de vida, a começar de suas casas, ajardinadas,
cuidadas com esmero e, até mesmo, ampliadas (Fig. 40).

Fig. 40 – À esq.: casa de agrovila ampliada pela construção da varanda. À dir.: casa de agrovila na
entrada de Marudá ampliada e adaptada para comércio local, o barzinho onde a comitiva da
Câmara dos Deputados conversou com diversos moradores.

Circunstâncias várias levaram à desativação e abandono de


algumas instalações construídas pela Aeronáutica, como a igreja, que foi substituída
por templos menores a dividir a população entre católicos e evangélicos pentecostais
(Fig. 41); e a escola, pela conveniência de estudar em Alcântara, com o ônibus da
prefeitura realizando o transporte dos alunos.

166
Fig. 41 – Igrejas vão surgindo nas agrovilas, sinal que há fiéis; outra forma de comprovar ser
caluniosa a acusação de ONGs, acadêmicos e ativistas sociais de que o Brasil pratica “limpeza
étnica” em Alcântara.

A presença de muitas crianças nas agrovilas desmente as


ONGs e os ativistas sociais que acusam o Governo brasileiro, inclusive em fóruns
internacionais, de promover “limpeza étnica” em Alcântara, alegando que as
condições nas agrovilas “impedem a reprodução material e social” dos seus
moradores e que obrigam os jovens, “proibidos de viver nos territórios de seus
ancestrais”, a se mudarem para São Luís ou para a sede do município. O êxodo
rural, como acontece em todo o País, é motivado pelas melhores condições de vida
e de oportunidade de trabalho que as cidades de maior porte oferecem, e não pelas
condições das agrovilas em si mesmas.

Aliás, pelo que se viu no povoado de Mamuna, ao norte do CLA


e junto ao litoral, em condições bem mais desfavoráveis e primitivas que as agrovilas
construídas pela Aeronáutica, estas representaram um sopro de civilização no seio
de uma população carente de tudo e afastada dos benefícios mais elementares,
inclusive água encanada e luz, e o elo entre aquela a área rural e as cidades,
facilitando o acesso aos bens e serviços encontrados no mundo urbano e
despertando novas possibilidades e ambições; o que leva ao êxodo rural.

167
Essa busca pela cidade, particularmente entre os mais jovens,
também é motivada pela falta de trabalho, queixa recorrente em toda a área rural de
Alcântara. Se não há trabalho, não há dinheiro; o que leva muitos a dizer que, por
isso, ali não é um lugar muito bom para se viver. Esse quadro é atenuado para
aqueles que recebem dinheiro de familiares que trabalham em Alcântara ou em São
Luís e para os aposentados. Tanto é assim, que, em duas casas das visitadas,
encontramos anciãos morando sozinhos e vivendo da aposentadoria, enquanto
todos os seus filhos haviam se mudado para Alcântara ou para São Luís.

Eventualmente, encontramos moradores que haviam


trabalhado com carteira assinada para empresas realizando obras de engenharia no
Centro de Lançamento, mas que, terminadas as obras, voltaram à condição de sem-
emprego.

Um morador de Pepital disse que uma de suas filhas estudava


no povoado de Cajueiro; a outra, o segundo grau, em Alcântara; e que a terceira
terminara os estudos, mas ficava em casa sem nada fazer porque ali não havia
serviço. Acrescentou que emprego no CLA exigia estudo, sem qualquer chance para
as suas filhas com o “estudozinho” que tinham.

Mesmo assim, as agrovilas funcionam como polo de atração de


novos moradores, muitas vezes morando em casas de inferior qualidade, no modelo
primitivo de taipa, atraídos por serviços e outros benefícios que não existem em seus
povoados de origem (Fig. 42): transporte, melhores estradas, proximidade da sede
do município, etc.

168
Fig. 42 – À esq.: D. Heloísa na sua casa de taipa que ergueu em Marudá, típica dos rurícolas da
região; o que permite concluir que, apesar do êxodo rural, as agrovilas são polos de atração, pois
ela e sua família se mudaram do povoado de Manival, à beira-mar, para a agrovila. Á dir.: jovens
das agrovilas indo para a escola em Alcântara; algo impossível antes do reassentamento em
virtude da distância e das condições precárias das estradas dos povoados de origem.

As queixas dos habitantes das agrovilas, todas elas muito


razoáveis, não impedem que eles, em geral, reconheçam que a transferência dos
antigos povoados para onde hoje se encontram significou melhoria de vida,
particularmente pela casa de alvenaria, água encanada, luz elétrica, condições de
estudo e de apoio à saúde.

No elenco das reclamações, estão os lotes de quinze hectares


que cada família recebeu para plantio porque a qualidade do solo é muito inferior à
daquele onde moravam antes (Fig. 43) e porque a área desses lotes é insuficiente
para acomodar as novas famílias constituídas pelos filhos que chegaram à idade
adulta e defrontam-se com a proibição de ocuparem novos lotes para o plantio.

Esse problema passa pelo tipo de agricultura que continuou a


ser praticada mesmo depois da mudança para as agrovilas, a “roça de toco” ou
coivara, bastante primitiva e basicamente de subsistência. De herança indígena, é
caracterizada pela derrubada das árvores de maior porte, hoje raras na região,
seguida da queimada e do plantio de espécies que obedecem a um ciclo anual:
milho, arroz, feijão, mandioca; tudo de forma intinerante, para assegurar o

169
“descanso” da área anteriormente ocupada. De tão primitiva a agricultura praticada,
que nem a tração animal é adotada no preparo do solo e os legumes e verduras
consumidos no município, que se diz agrícola, são produzidos fora dali.

Fig. 43 – Rua da agrovila de Pepital. A exuberância da vegetação plantada pelos moradores nas
suas casas construídas pela Aeronáutica contrasta com a vegetação esquálida encontrada na
maior parte da área percorrida.

Na verdade, se o Governo tivesse provido a assistência técnica


agrícola aos reassentados, conforme a concepção original das agrovilas, com a
correção de solo e a capacitação dos agricultores, os quinze hectares de cada
família talvez fossem suficientes e não haveria razão para tantas queixas.

Nesse sentido, especialistas em reflorestamento, pesca,


agricultura e pecuária fariam muito mais pela população local do que os discursos
das ONGs e de outros setores que se contrapõem ao CLA. O que os chamados
ativistas sociais, INCRA, IBAMA e assemelhados, durante esse tempo todo,
proporcionaram à população local? Absolutamente nada. Qual o futuro que essas
ONGs e os ativistas infiltrados no aparelho estatal oferecem para a população
carente de Alcântara? Na reunião com os vereadores de Alcântara, foi dito sobre os
prejuízos que as ONGs têm causado ao município e que nas audiências promovidas

170
por essas organizações e entidades ninguém apresenta proposta para incrementar a
agricultura e a pesca, a verdadeira vocação do município.

Os vereadores disseram, também, sobre projetos que vão


sendo implantados divorciados da realidade local, como os cursos do IFET, quando
77% dos habitantes do município são rurícolas e clamam por uma escola agrícola,
evidenciando que pelo apoio governamental à vocação econômica local é que serão
minimizados os problemas da população rural de Alcântara, assim como mais
facilmente desaparecerão os óbices à expansão das atividades espaciais naquele
município.

Os moradores das agrovilas também se queixam do


compromisso, que não teria sido honrado pelo Comando da Aeronáutica, de apoiar
com máquinas e adubação a preparação do solo para o plantio e de fornecer os
documentos das casas; um problema que aflige as famílias reassentadas, que, por
não serem as donas, não podem aliená-las.

Na passagem da comitiva da Câmara dos Deputados por um


bar na entrada da agrovila de Marudá, os frequentadores disseram que a base é boa
e já trouxe muitas melhorias para Alcântara, particularmente quanto às estradas,
apesar de carroçáveis, ao transporte e à escola, uma vez que foi possibilitado o
acesso ao ensino de segundo grau.

Entretanto, queixaram-se que o acesso ao local das pescarias


piorou bastante porque passaram a ficar a aproximadamente duas horas de bicicleta,
sendo obrigados a passar pela área do CLA e a apresentar crachá.

No mesmo tom queixoso, disseram que das mais de cem casas


que estimavam existir em Marudá, cerca de umas vinte, de antigos moradores que
se mudaram para São Luís, estavam abandonadas e mal conservadas e não podiam
ser ocupadas por quem delas necessitava.

171
Conversando com um morador que se identificou como irmão
da presidente da associação local, D. Vitória, este acrescentou que muitos jovens
adquiriram uma profissão prestando serviço militar no CLA, como o sobrinho dele,
que aprendeu a dirigir e hoje é motorista em São Luís; o que revela, mais uma vez, o
fenômeno da busca de oportunidades nos polos urbanos pelos jovens rurícolas com
a empregabilidade aumentada a partir de sua melhor qualificação.

Ao ser perguntado aos frequentadores do bar se conheciam


Borjão do MABE, a resposta pode ser assim sintetizada: “Ele faz reunião prometendo
coisas, mas ninguém ‘bota fé’ naquilo que diz. Ele se diz líder, mas ninguém o
escolheu.”; o que confirmou a falta de representatividade desse movimento em
relação aos moradores das agrovilas e de outros povoados de Alcântara, assim
como de ser uma “liderança fabricada” por organizações forasteiras.

Soubemos, ainda, que produziam muita melancia, mas não


tinham como vender este e outros produtos para o Centro de Lançamento; o que se
explica porque este só pode comprar através de licitação. Mas também há a
precariedade das estradas vicinais e a falta de transporte para o escoamento da
produção agrícola local, deixando-os reféns de atravessadores, que adquirem os
produtos agrícolas a preço vil para revender, depois, com lucros exorbitantes.

Em uma casa de taipa construída em um terreno de que se


apossara, encontramos D. Heloísa (Fig. 42), que, se mudara para Marudá, com o
esposo e filhos, vinda de Manival, um povoado à beira-mar. Disse-nos que a vida na
agrovila era melhor e exibiu-nos, orgulhosa, seu quintal repleto de plantações de
tomate, maxixe, pimenta, pimentão, boldo, hortelã, mandioca, milho e outros
vegetais, vendendo parte da sua produção para a população local. Essa senhora e
sua família personificam um exemplo que contraria o discurso de que os moradores
dos povoados litorâneos não querem ser reassentados em outros lugares da região.

172
Em rápida passagem na agrovila de Peru, a comitiva visitou a
casa de D. Glória, a presidente da associação local, que se disse muito satisfeita
com as condições de vida ali encontradas; o que se pode constatar a partir das
condições de sua casa, muito bem cuidada e ampliada. A rigor, das agrovilas
visitadas, Peru é a mais progressista e desenvolvida.

Depois, seguimos para a área em que seria, originalmente,


instalado o sítio de lançamento do Cyclone-4, no litoral ao norte do CLA, onde se
encontram os povoados de Mamuna (Fig. 44) e Baracatatiua, os principais focos de
resistência à expansão do Complexo Espacial, como já dito antes.

Fig. 44 – À esq.: conjunto de casas do povoado de Mamuna. À dir.: o então Deputado Rodrigo
Rollemberg e o Dr. Paulo Motta, coordenador do Conselho de Altos Estudos da Câmara dos
Deputados (CAEAT), conversando com D. Maria de Jesus, moradora de Mamuna.

Em Mamuna, povoado com cerca de 240 habitantes,


encontramos uma população intensamente doutrinada contra a ideia de ser
reassentada em outros locais de Alcântara. Ali, sem que tenhamos conseguido
descobrir a fonte dos recursos para tanto, chamou-nos a atenção o grande número
de casas sendo reconstruídas em alvenaria; de mais difícil remoção que as casas de
taipa, tanto pela qualidade da construção como pelo seu imenso valor simbólico, haja
vista a ideia de robustez e resistência de uma edificação em tijolo e cimento (Fig.

173
45). Some-se a isso, a chegada da energia elétrica, que parece ter sido feita ali com
mais pressa do que em outros povoados de Alcântara. Causou-nos espécie o
momento dessas mudanças, justamente quando se aventava o reassentamento dos
moradores desse povoado.

Fig. 45 – À esq.: casa típica do povoado de Mamuna. À dir.: casas do povoado de Mamuna sendo
construídas ou reformadas em alvenaria. É perceptível como seguem o padrão adotado nas
agrovilas construídas pela Aeronáutica. Nota-se, também, a eletricidade trazida pelo Programa
Luz para Todos.

O pensamento contra a transferência que ali viceja é bastante


pragmático, bem distante das tradições ou de outros argumentos falaciosos
brandidos por antropólogos e ONGs.

A fala de D. Maria de Jesus, uma quebradora de coco de


babaçu, sintetizou muito bem o que vai pelo espírito dos habitantes de Mamuna. Ali,
eles têm o babaçu, o peixe e outros produtos vegetais que dão o que comer. Nada
precisa ser comprado e ainda sobra para vender. Se forem para outro lugar, serão
obrigados a comprar e, para isso, terão que ser assalariados, ao mesmo tempo em
que emprego no Centro de Lançamento não é para quem trabalha na roça, mas para
quem é concursado, restando para os habitantes dali apenas lavar chão e limpar
banheiro. Por isso que é melhor ficar onde estão, quebrando coco, onde existe a
praia e se colhe o babaçu e o guajuru.

174
Os povoados litorâneos de Alcântara têm o mar como fonte de
alimento e são mais férteis, pois ali os rios são mais largos e irrigam melhor o solo,
facilitando a agricultura e o surgimento de espécies vegetais que permitem a
atividade extrativista: babaçu, buriti, juçara, entre outros.

O valor do mar é tão grande, que Manoel Santana Serejo,


pescador em Mamuna, reclamou da interdição da pesca, até por uma semana, todas
as vezes em que há lançamento de foguete no Centro, e fez questão de ressaltar a
tranquilidade que é morar naquele povoado.

Mesmo assim, as facilidades decorrentes da proximidade do


mar não são imprescindíveis para a sobrevivência local, até porque a imensa maioria
dos povoados rurais de Alcântara está distante do litoral e, mesmo assim, são
vivificados (Fig. 46).

O que se percebeu na fala dos moradores de Manuna,


colocada como obstáculo praticamente intransponível para a ampliação da área
destinada às atividades espaciais, não foi o discurso “quilombola”, mas puro
pragmatismo de pessoas muito simples, mas inteligentes o bastante diante das
opções que lhes são oferecidas e da preocupação com o futuro; no que estão
corretíssimas.

Não é o discurso de grupo étnico, de raízes africanas ou de


tradição que levou à reação contra a ideia de serem reassentados. É o da
sobrevivência. E quem mora ali é uma gente cordata, longe do radicalismo das
ONGs e de outros que se arrogam a falar em nome dela.

175
Fig. 46 – Distribuição dos povoados rurais de Alcântara no suposto “território quilombola”,
podendo ser observado que a maioria deles está distante do litoral; o que permite concluir que a
importância de estar próximo ao mar é relativa, na medida em que diz respeito a alguns povoados
apenas, e não a maioria deles. Os pontos circulados indicam as agrovilas construídas pela
Aeronáutica em locais que foram escolhidos pelos próprios reassentados.
Fonte: SANCHES, Mariana. Incra atrasa o já emperrado projeto espacial brasileiro por causa de quilombolas. Revista
Época, São Paulo, 16 fev. 2009, ed. 561.
Obs.: Houve inserções sobre o mapa original, melhor explicando-o.

É absolutamente incompreensível que o Governo federal não


consiga oferecer para esse reduzido número de pessoas atrativos que as façam, de
bom grado, serem reassentadas em outro local, onde lhes seriam oferecidas
melhores condições de vida. Um custo absolutamente irrisório diante de um
programa de Estado que não deslancha, entre outras coisas, por causa disso.
176
Por onde passamos em Alcântara, nada encontramos de
costumes que apontem para origens africanas. Os nomes dos povoados, de origem
portuguesa ou indígena: Cujupe, Iririzal, Murari, Tajurará, Timbotuba, Cajituba,
Piquiá,... Os nomes de alguns igarapés: Tiquara, Pratitá, Periaçu,... e os costumes
são mais próprios dos indígenas e caboclos da Amazônia. As festas religiosas são
para santos católicos, embora haja muitos evangélicos pentecostais.

O próprio laudo antropológico revela um arraigado misticismo


de fundo católico vigente na região, e não de crenças de origem africana.120 A
presença católica também se revela nos nomes de muitas localidades: São Benedito,
Santa Rita, São Raimundo, São Francisco, Santa Helena,...

Um dos vereadores que se reuniu com a comitiva da Câmara


dos Deputados foi taxativo sobre a grande herança indígena na região (Fig. 47), com
alguns povoados intensamente ligados a essa ancestralidade, como Itaaú. Disse,
ainda, de uma pesquisa feita por uma universidade na região, sem dizer qual, que
encontrou sangue indígena na ilha do Cajual, mas desconsiderou essa informação,
dando a entender que houve manipulação do resultado da pesquisa.

Fig. 47 – Menina da agrovila de Pepital e morador da agrovila de Peru. A tez e o cabelo de ambos
apontam para forte ascendência indígena, e não negra.
120
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Os quilombolas e a base de lançamento de foguetes de Alcântara. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2006. v. I, pp. 36-37.
177
Fig. 48 – À esq.: consultor da Câmara dos Deputados conversando com um pescador da agrovila
de Peru. A depender da cor da pele, o consultor está mais próximo de ser um “quilombola” do
que o morador local. À dir.: consultora da Câmara dos Deputados conversando como moradores
do povoado de Mamuna. D. Maria de Jesus, quebradora de coco de babaçu, está sentada. Parcela
ponderável dos moradores é mestiça e, não de cor negra.

De qualquer modo, a forte presença negra em Alcântara está,


mesmo, na cor da pele de parcela ponderável de sua população, mas também há
muito de origem indígena, ao lado de brancos e de uma intensa mestiçagem cabocla
Figs. 48 a 50).

Fig. 49 – À esq.: o então Deputado Rodrigo Rollemberg com morador de Pepital. A depender da
cor da pele, o parlamentar seria tão “quilombola” quanto o habitante local. À dir.: o repórter
Fabrício Rocha, da TV Câmara, com outro morador, cuja tez também não revela tanta
ancestralidade negra.
178
Fig. 50 – À esq.: o então Deputado Rodrigo Rollemberg com crianças da agrovila de Pepital. À dir.:
a flagrante mestiçagem das crianças e sua patente higidez. Que tal chamar os acadêmicos e
ativistas sociais que acusam o Brasil de promover “limpeza étnica” nas agrovilas?

Nos contatos com os habitantes, nenhum deles reproduziu o


discurso dos antropólogos e ativistas sociais, do Ministério Público, do INCRA e de
outros setores governamentais. Aquelas falas de ancestralidade africana, de raízes
na África, de comunidade que se “caracteriza como grupo étnico remanescente de
quilombo, dotada de trajetória própria e relações territoriais específicas com
presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão
histórica sofrida”121; tudo isso é balela reproduzida fora de Alcântara e sem eco junto
à população em geral. Nem o jeito de edificar as casas de taipa se liga a qualquer
passado africano, mas sim às técnicas tradicionais do caboclo amazônico.

Os habitantes das agrovilas e de Mamuna mostraram relativa


indiferença à ideia de se declararem “quilombolas”, com alguns mostrando-se
avessos a ela; o que não impede que algumas “lideranças” locais, previamente
fabricadas e apoiadas por ativistas sociais, venham a reverberar o discurso vindo de
fora, mas sem o respaldo dos habitantes em geral.

121
Transcrição do Edital do INCRA publicando o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) que
reconheceu as comunidades quilombolas situadas no município de Alcântara (MA). Diário Oficial da União nº
214, Seção 3, 4 nov. 2008, p. 110.
179
Nisso tudo, ficou evidente a existência de uma rede de ativistas,
incluindo agentes governamentais, concitando os moradores a se declarem
“quilombolas” em troca de algumas vantagens, como a obtenção da terra, e
chantageando com a ameaça de expulsão aqueles que assim não se declarassem.
Mas sonegam a esses mesmos moradores que a propriedade será imposta
coletivamente, em nome de uma associação que será, tudo indica, gestada e gerida
por indivíduos identificados com esses ativistas.

Todavia, nas vezes em que foi levantada a hipótese da


propriedade coletiva, houve reação, pois os “quilombolas” a serem “beneficiados” só
admitem a propriedade individualizada e devidamente titulada.

A rigor, a invenção do “território quilombola” está conferindo aos


alcantarenses um poder de barganha que nunca tiveram e que dele alguns têm se
valido para obter vantagens, sendo patente que a ancestralidade africana, até
daqueles que passaram a ser dizer “quilombolas”, será rapidamente esquecida
diante de condições mais vantajosas que venham a lhes ser oferecidas.

Não há nenhuma real auto-identificação como “quilombola”.


Não há uma gênese expontânea dessa noção. Os habitantes locais nem têm ideia
precisa do significado de “quilombola”, ficando evidente a participação de entidades
externas nesse processo, forçando a “conscientização” dos moradores locais de sua
condição “quilombola”; enquanto o que os preocupa, de fato, seja nas agrovilas, seja
em outros povoados rurais, no mais das vezes, possa ser resumido em alimentação
e moradia.

Essas são as reais questões em que exsurgem todas as vezes


em que se fala no reassentamento dos habitantes de alguns povoados para a
ampliação da área destinada às atividades espaciais. Todo o mais é acessório ou
falacioso.

180
Nas agrovilas em que houve o reassentamento das 312
famílias deslocadas dos seus antigos povoados quando da instalação do CLA,
embora as pessoas estejam mais satisfeitas do que onde moravam originalmente, há
queixas quanto à:

distância delas para o mar e para a foz dos igarapés que nele deságuam, treze a
vinte quilômetros, conforme a posição da agrovila, onde facilmente obtinham o
peixe e outros frutos do mar, sem precisar se deslocar por longos trajetos;

exigência da apresentação de crachá para os pescadores das agrovilas poderem


atravessar a área do CLA e chegar ao mar;

falta de titulação das casas das agrovilas;

impossibilidade de novas construções para outros moradores que pretendam se


instalar nas agrovilas;

impossibilidade de novos lotes agricultáveis para as novas famílias que vão se


constituindo nas agrovilas a partir do crescimentos dos filhos;

área reduzida dos novos lotes destinados à agricultura;

impossibilidade de serem ocupadas as casas abandonadas por antigos


moradores que se mudaram;

qualidade inferior das terras onde foram instaladas as agrovilas para o plantio dos
roçados e para serem encontradas plantas nativas que permitem atividades
extrativista, considerando que as terras mais próximas do mar são melhor
irrigadas pelos igarapés, portanto mais férteis e abundantes de caça e plantas
nativas que fazem parte de sua alimentação e de sua produção econômica:
babaçu, buriti, guajuru etc.;

falta de apoio técnico para o desenvolvimento de atividades rurais (agricultura,


pesca e pecuária).

181
Vimos de perto que as razões para as queixas são verdadeiras,
mas totalmente apartadas das teses dos cientistas sociais. O problema é social,
ligado à sobrevivência do indivíduo e não de qualquer grupo étnico, como pretendem
os antropólogos, que, junto com outros, capitalizam, distorcem e repercutem essas
queixas, nacional e internacionalmente, em atitude de evidente má-fé.

Na sede do município, em 2010, as queixas mais frequentes


eram estabelecidas pelas comparações entre as condições de vida e trabalho no
Centro de Lançamento e as encontradas fora dele, sendo perceptível a orquestração
de algumas ideias e chavões, objetivando aprofundar esse fosso e o sentimento de
rejeição ao CLA. As comparações mais frequentes eram as seguintes:

a embarcação que transporta o pessoal do CLA, ligando Alcântara a São Luís, é


de excelente qualidade se comparada com as demais embarcações que fazem o
mesmo trajeto para os habitantes do município;

o asfalto das vias de acesso ao CLA e de circulação interna são de excelente


qualidade, enquanto as que servem ao município, são quase totalmente
carroçáveis e, aquelas poucas que são pavimentadas, estão em péssimo estado;

o CLA dispõe de ambulâncias novas e bem equipadas, enquanto o doente do


município é carregado em carroceria de picapes velhas

os que trabalham no CLA têm a garantia do salário; o que não acontece com os
moradores de Alcântara;

as casas do CLA são “mansões” que contrastam com as moradias dos habitantes
de Alcântara; e

a baixa qualificação dos habitantes de Alcântara faz com que, via de regra, só
consigam ocupar funções subalternas, com o chavão “para o povo de Alcântara
só restou a limpeza dos banheiros da base” sendo constantemente invocado;

a injustiça representada pela ACS ganhando dinheiro em Alcântara, à custa dos


182
“quilombolas”.

Mesmo assim, após a notícia de que havia a ideia de transferir


as instalações espaciais de Alcântara para o Amapá ou Ceará, o discurso local
contra a presença do CLA mudou. As queixas passaram a se limitar ao fato de que
ali foram criados dois mundos: um, de primeira grandeza, na área do Centro; e o do
resto de município de Alcântara, completamente desprovido de recursos.

Atenuar a divisão entre esses dois mundos é absolutamente


necessário, mas não é algo que se faça de um dia para outro e passa por gerações.
Mas os habitantes de Alcântara estão impacientes por retornos maiores e mais
imediatos do programa espacial, ainda que nem tenha sido iniciada a fase
experimental, quanto mais a fase operacional de natureza comercial, momento a
partir do qual o programa estaria consolidado e em condições de começar a gerar
dividendos econômicos.

No bojo de todas essas questões, nem o CLA nem as


atividades espaciais são responsáveis pelo abandono a que Alcântara e a sua
população foram condenadas. Há que se dissociar o desenvolvimento do município
das atividades espaciais, em que pese os inevitáveis pontos de contato. As
autoridades que coordenam e executam as atividades espaciais, institucionalmente,
são diferentes daquelas, nas instâncias federal, estadual e municipal, responsáveis
pela promoção do desenvolvimento econômico e social do município.

Diante da omissão dos agentes políticos e dos agentes públicos


detentores da competência constitucional e legal para tanto, é perceptível o imenso
esforço dos responsáveis pelo Programa Espacial Brasileiro, no afã de remover os
óbices com que se defrontam, em se imiscuir em atribuições que não são da sua
competência. Enquanto isso, os alcantarenses, impacientes para colher, cada vez
mais, benesses da pouca presença do Estado brasileiro, dirigem suas cobranças
para a Aeronáutica, que pouco pode fazer, apesar do muito que já fez.

183
Sem absolver a parcela de responsabilidade que cabe às
autoridades federais e municipais nas questões relativas a Alcântara, ficou a
impressão que o Governo do Maranhão finge que não vê o que ali ocorre, omitindo-
se na espera de que o Governo federal, pressionado pelas circunstâncias, tome para
si os encargos que seriam da esfera estadual.

Por outro lado, mesmo com toda a carência encontrada em


Alcântara, em nossas andanças pela Amazônia e pelo Nordeste, vimos lugares de
miséria praticamente absoluta e de muita fome – o que não vimos no município
maranhense – e, paradoxalmente, não encontramos ONGs, cientistas sociais e
congêneres nessas regiões de muito pior condição sócio-econômica.

Os próprios vereadores de Alcântara colocaram isso com muita


propriedade, perguntando por que essas ONGs não se preocupam com outros
municípios, dos 217 que o Maranhão possui, tão ou mais pobres que o deles, e
porque os estudos feitos por ONGs e outros movimentos, agora desejando saber até
sobre a chuva que cai no município, não aconteciam antes da instalação do CLA.

Cremos que é chegado o momento de o Governo brasileiro


decidir em que condições prosseguirão as atividades espaciais do Brasil e se estas
permanecerão em Alcântara.

Qual será o futuro de Alcântara se as atividades espaciais


forem transferidas para outro lugar? Que a resposta fique para as ONGs, ativistas
sociais, acadêmicos, INCRA, SPPIR, IBAMA, Ministério Público Federal, seus títeres
locais e todos os demais que trabalham contra o Programa Espacial Brasileiro,
porque, sem dúvida, o município submergirá em uma situação ainda mais difícil.

Será que vale a pena, com toda a sorte de restrições e


exigências que têm sido colocadas, continuar a investir ali?

184
Talvez seja melhor deixar Alcântara para os “quilombolas” e
suas ONGs “protetoras”. O polo científico-tecnológico, industrial e até turístico que se
vislumbra para o futuro, possivelmente, fique melhor em outro lugar.

Será que, mesmo a um custo maior, mas enxergando o


empreendimento a médio e longo prazos, não seria o caso transferir o Centro de
Lançamento para outro Estado? Com toda a certeza, há estados, municípios e seus
respectivos habitantes sedentos para receber um centro espacial.

Todas as alternativas envolvem altíssimo custo e uma solução


que nos parece viável passa pela desativação do Centro de Lançamento da Barreira
do Inferno (CLBI) que, espremido pelo avanço da cidade e pela especulação
imobiliária, teria suas atividades transferidas para o CLA, que está dimensionado
para os objetivos da Aeronáutica. Algumas atividades que tivessem de ser mantidas
em Natal, como o rastreamento, poderiam ser transferidas para a Base Aérea.

Obtida uma área compatível com os objetivos atuais e futuros


do PNAE – talvez pela doação por um Estado ou município interessado –, a
alienação do terreno do CLBI, com o metro quadrado valiosíssimo, próprio para a
construção de hotéis, resorts e outros investimentos imobiliários valorizadíssimos,
redundaria em recursos para a construção de outro centro de lançamento. Tudo isso
na expectativa de não surgirem “novos quilombolas” nesse novo local.

4.4. “Quilombolas” no Brasil – uma criação da Fundação Ford

Até este ponto da abordagem, foram feitas referências


pontuais, embora muito incisivas, à atuação da Fundação Ford na questão de
Alcântara, que, a rigor, é apenas uma pequena amostra, dentro de uma espectro
muito mais amplo, da influência dessa organização estrangeira na agenda política e
social brasileira, não sendo exagero dizer que dispositivos da Constituição Federal
de 1988 foram escrito por ela através de seus prepostos brasileiros.

185
Essa organização, com escritório instalado no Brasil desde
1962, investiu fortemente na oposição ao regime militar – o que explica a adesão
incondicional de parte da esquerda brasileira às suas teses –, e nos cursos de
graduação e pós-graduação em ciências sociais e antropologia das principais
universidades brasileiras. Mais recentemente, está voltada também para os cursos
jurídicos. Por essa vertente, formatou uma elite política e intelectual para agir em
conformidade com as diretrizes emanadas do seu escritório de Nova York.

Ao mesmo tempo, construiu seus braços operacionais ao


patrocinar e apoiar, intensivamente, a criação de um sem número de ONGs e
movimentos sociais voltados para causas ambientais, indígenas, raciais e outras que
possibilitam a fácil manipulação da opinião pública interna e mundial.

Desse modo, formou – e vem formando – os seus “soldados”


que, embora nascidos do Brasil, foram enraizados nos aparatos acadêmicos e
estatal e em organismos privados obedecendo à “programação” alienígena.

Extratos da obra “Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil:


Uma Parceria para a Mudança Social”, editada por essa fundação, em conjunto
com a Editora da Universidade de São Paulo, deixam isso patente (g.n.):

... aos poucos as ciências sociais vieram a ocupar o lugar daquelas


primeiras áreas e tornaram-se o campo privilegiado de ação da
Fundação no Brasil, (...) 122
--------------------------------------------------------------------------------------------
No contexto da América Latina, o Brasil se distingue por seus
avanços acadêmicos no desenvolvimento das ciências sociais,
nos quais a Fundação Ford exerce papel determinante e
excepcional. 123

122
CAMPOS, Maria Malta. “Da Formação de Professores de Ciências à Reforma da Educação”, in Nigel Brooke e
Mary Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança Social. São
Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002, p. 111.
123
SOUZA, Cecília de Mello e. “Dos Estudos Populacionais à Saúde Reprodutiva”, in Nigel Brooke e Mary
Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança Social. São Paulo /
Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002, p. 133.
186
--------------------------------------------------------------------------------------------
Acima de tudo, estamos mais do que conscientes de que nosso
público se compõe tanto de ativistas das organizações não-
governamentais (ONGs) quanto de professores universitários.
A mudança de estratégia torna-se evidente (...) graças à contratação
de especialistas para fornecer assistência técnica permanente às
instituições de ensino superior na criação de novos programas de
pós-graduação e pesquisa em ciências sociais.
A década de 1970 mostra também um aumento significativo do
volume de recursos doados às ONGs. 124
--------------------------------------------------------------------------------------------
...a volta da democracia (...) Nesse período, ganhou impulso a
prática da Fundação de “apostar no setor de ONGs” como fonte
de análise e de atuação. (...) ...o Escritório do Brasil defendeu, em
1986, um maior apoio às “organizações não-governamentais
envolvidas em questões específicas de governo, (...).125
--------------------------------------------------------------------------------------------
Depois de promover a formação de uma geração de cientistas
sociais, a Fundação inseriu-se (discretamente) no tecido da vida
intelectual brasileira. Ao apoiar intelectuais, líderes de ONGs,
inovadores em gestão pública e progressistas do setor privado –
em cuja orientação a Fundação confiou para navegar nesses anos
todos na complexa cultura brasileira – pode também ganhar uma
pequena mas permanente menção quando a história da sociedade
civil brasileira for escrita.126

Caracterizado que a Fundação Ford, de um lado, formatou,


intelectualmente, algumas gerações de acadêmicos e, de outro, montou, com as
ONGs, os braços operacionais de sua atuação no Brasil, fazendo das ciências
sociais e dessas organizações instrumentos de controle e ação, fica ainda mais

124
BROOKE, Nigel. “O Escritório da Fundação Ford no Brasil, 1962-2002: Um Apanhado Histórico”, in Nigel
Brooke e Mary Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança
Social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002, p. 15 e 23.
125
STATION, Elizabeth; WELNA, Christopher J. ”Da Administração Pública à Participação Democrática”, in Nigel
Brooke e Mary Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança
Social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002. p. 189.
126
Ibid., p. 195-196.
187
perceptível sua prioridade para temas específicos que, hoje, se refletem nas
atividades espaciais em Alcântara (g.n.):

...a mudança de ênfase iniciada no final da década de 1970, é a


triplicação na proporção de recursos canalizados para as
ONGs.(...) ...refletindo a expansão de atividades da sociedade civil,
sua luta em prol da redemocratização e a decisão da Fundação de
dar suporte a toda uma gama nova de grupos e problemas sociais,
como, por exemplo, reforma agrária, direitos da mulher,
identidade cultural, direitos dos índios e preconceito racial.127
--------------------------------------------------------------------------------------------
Nesse caso, porém, é importante observar que o destaque
aparentemente súbito do campo de Direitos Humanos e de outras
áreas de ciências sociais aplicadas, como os estudos voltados para a
mulher e os afro-brasileiros, deve-se ao uso de novas categorias e
128
denominações dos programas.
--------------------------------------------------------------------------------------------
Embora os resultados desse esforço tenham sido mais lentos nos
escritórios estrangeiros, na sede de Nova York a transformação foi
impressionante. (...) o novo interesse da Fundação pela diversidade
social manifestava-se através do financiamento de organizações
de pesquisa e de assessoria jurídica preocupadas com questões
de gênero e de raça.
Todas essas mudanças causaram grande impacto nas
atividades da Fundação no Brasil, (...) No início dos anos de 1980,
porém, o Escritório do Brasil passou a apoiar pesquisas mais
dirigidas para as prioridades de políticas públicas
estabelecidas em Nova York. 129

--------------------------------------------------------------------------------------------
(...) A partir do início dos anos de 1990, escolheu privilegiar
particularmente os direitos da mulher, do negro e dos grupos

127
BROOKE, Nigel. “O Escritório da Fundação Ford no Brasil, 1962-2002: Um Apanhado Histórico”, in Nigel
Brooke e Mary Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança
Social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002, p. 25-26.
128
Ibid. p. 31-32.
129
STATION, Elizabeth; WELNA, Christopher J. ”Da Administração Pública à Participação Democrática”, in Nigel
Brooke e Mary Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança
Social. São Paulo / Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002. p. 175-176.
188
indígenas, sem, porém, desviar-se do objetivo mais amplo, que era
“estender a todos os brasileiros o acesso à justiça e à cidadania
democrática” (Telles, 2000).130
--------------------------------------------------------------------------------------------
Fortalecer as ONGs que representam os grupos sociais mais
vulneráveis – mulheres, negros, índios e pobres – foi uma das
respostas. (...) Em especial, destaque-se o apoio concedido aos
centros de estudos afro-brasileiros, aos cursos de pós-
graduação em cultura, história e outras contribuições dos
negros para a sociedade.131
--------------------------------------------------------------------------------------------
A avaliação insistia na ausência de dados e de análises que
permitissem um conhecimento, o mais preciso e objetivo possível,
dos cenários sociais de discriminação de raça e de gênero. Era
vital, portanto, investir na criação de competências profissionais
nesse campo dos direitos humanos de sorte a assegurar, em futuro
próximo, a formação de pessoal, disponível para as ONGs, capaz
de ler, interpretar e discutir políticas públicas e, em decorrência,
capaz de intervir nos processos decisórios (...) A problemática
das desigualdades de raça e de gênero foi então uma área de
vanguarda, que, no curso dessa década, deveria receber avaliações
críticas, diagnósticos e investimentos que contemplassem os direitos
humanos.132

Se no tópico 3.5 (pág. 111) tínhamos dito da atuação da


Fundação Ford com organização de fachada da CIA, agora, a partir de informações
contidas em trabalho de Amilcar Araujo Pereira133, ainda que ele tenha um
entendimento diverso do nosso, é possível dizer daquela entidade agindo no Brasil

130
ADORNO Sérgio; CÁRDIA, Nancy. “Das Análises Sociais aos Direitos Humanos”, in Nigel Brooke e Mary
Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança Social. São Paulo /
Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002. p. 235.
131
Ibid., p. 213.
132
Ibid. p. 213-214.
133
PEREIRA, Amilcar Araujo. "O Mundo Negro": a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil
(1970-1995). Tese apresentada ao Curso de Doutorado em História do Departamento de História do Instituto de
Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, em 2010, como
requisito parcial para obtenção do grau de Doutor. Disponível em:
<www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp130574.pdf>. Acesso em 20 jul. 2012. p. 152-157.
189
como braço do governo norte-americano, voltando-se para a vertente racialista ou
intensificando sua atuação nesse campo a partir do momento em que o governo
Geisel suspendeu, em dezembro de 1977, a atuação da Inter-American Foundation
(IAF – Fundação Inter-Americana)134 no País, órgão do governo dos Estados Unidos
que promovia políticas racialistas no Brasil, financiando organizações do movimento
negro, embora, desde antes, a Fundação Ford, até então, sem financiar projetos
nesse sentido, intermediasse as ligações entre a IAF e as lideranças desse
movimento.

A Fundação Ford, sem qualquer pudor, deixa bem claro o que


já tínhamos percebido há algum tempo e afirmamos no início deste tópico: a Carta
de 88 foi escrita sob a influência daquela fundação norte-americana e, aí, entram os
negros, os índios, o meio-ambiente, as minorias, a reforma agrária etc. (g.n.):

Em meados da década de 1980, as expectativas de uma nova


Constituição, já prevista nas negociações para o retorno da
democracia, mobilizaram a discussão da reforma institucional e das
relações de poder na sociedade. (...) Nesse ano, os principais temas
a serem tratados pelo programa eram a educação, o acesso aos
direitos humanos, a ampliação da consciência com relação a
esses direitos, a promoção da troca de informações entre as
ONGs e a melhoria da administração da justiça. Ativistas e
pesquisadores da área de direitos humanos foram encorajados a
trabalhar com representantes do governo na elaboração de
reformas sociais e econômicas de peso a serem incluídas na
nova Constituição.

O tema Reforma Agrária adquiriu destaque com a proximidade


da reforma constitucional. A Fundação financiou seminários
sobre reforma agrária em várias capitais, os quais reuniram juristas,
134
A Inter-American Foundation (IAF) nos termos do seu endereço eletrônico (<http://www.iaf.gov>), é um órgão
independente do Governo dos Estados Unidos, criado pelo Congresso dos EUA, em 1969, e dirigido por um
Conselho Diretor nomeado pelo Presidente dos EUA e confirmado pelo Senado desse país, oficialmente
destinado a proporcionar ajuda financeira direta para os esforços de autoajuda da população pobre da América
Latina e Caribe, visando a grupos de base e organizações não governamentais, e a incentivar parcerias entre
organizações comunitárias, empresas e governo local, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das
pessoas de baixa renda e a fortalecer as práticas democráticas.
190
representantes do governo, trabalhadores rurais e pesquisadores
acadêmicos. Manteve seu apoio à Associação Brasileira de
Reforma Agrária (Abra), (...) 135

Todos esses extratos datam de 2002 e são suficientes para


caracterizar, se considerado apenas até aquele ano, que a questão “quilombola” em
todo o Brasil, aí incluída a de Alcântara, tem a Fundação Ford como pano de fundo,
sem que tenha cessado a sua atuação até o momento, haja vista que ela prossegue
no apoio financeiro aos movimentos sociais engajados nessa causa, inclusive na
área do CEA, que parecem merecer especial atenção dela e de outras organizações
estrangeiras, como se vê nos trechos a seguir:

Em 1988, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) e


o Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN) criaram o “Projeto
Vida de Negro”.
(...)
As atividades desenvolvidas junto às comunidades negras pelo PVN
tiveram apoio da Fundação Ford (EUA), a Oxfam (Inglaterra),
a EZE (agora EED, Alemanha), a Cese (Bahia) e a Fundação
Cultural Palmares/Ministério da Cultura. A partir de 1991, o PVN
trabalhou a questão agrária das comunidades, na perspectiva de
enquadrá-las no conteúdo do artigo 68 do ADCT. Passou a intervir
jurídica e institucionalmente para solucionar os problemas fundiários.
(...)
Em 24 de maio de 2005, em São Luís – MA, ocorreu o “Seminário
Direitos Constitucionais e Agrários das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas”, com o apoio do Centro de Cultura Negra do Maranhão,
da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos e da Fundação
Ford. Participaram antropólogos, especialistas do Direito, represen-
tantes das comunidades e associações quilombolas, entre outros.136

135
ADORNO Sérgio; CÁRDIA, Nancy. “Das Análises Sociais aos Direitos Humanos”, in Nigel Brooke e Mary
Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança Social. São Paulo /
Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002. p. 223.
136
FIABANI, Adelmir. Os quilombos contemporâneos maranhenses e a luta pela terra. Disponível em:
<www.estudioshistoricos.org/edicion_2/adelmir_fabiani.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2012. p. 4, 11 e 15.
191
4.5. O art. 68 do ADCT – terras dos remanescentes dos quilombos

No tópico anterior, foi possível a percepção de como a


Fundação Ford, primeiro, formatou inteligências e construiu ONGs a seu serviço,
que, numa segunda etapa, influíram na redação de dispositivos da Carta de 88 das
mais diversas maneiras, inclusive pela construção de um sem número de minorias –
índios, negros, gêneros,... – em que o Brasil passou a ser fragmentado.

Essa fragmentação levou à quebra do paradigma da


democracia racial – sob cujo signo sempre se sustentou a integração de todos os
brasileiros, independentemente da sua origem étnica – e instituiu o racismo como um
programa de Estado, que até então estava restrito a manifestações individuais. A
fragmentação também ficou materializada na substituição da política indigenista da
integração – herança direta do modelo da assimilação dos povos periféricos,
adotada pelo império português – pela política colonial britânica da diferenciação e
do governo indireto dos chefes indígenas, pregando a preservação dos diferentes
valores, costumes e identidades locais, desde que as lideranças – governantes,
intelectuais etc., cooptados ou fabricados – se conduzissem em consonância com as
diretrizes da metrópole; o que, em pleno século XXI, ainda parece ser a referência a
ser seguida por alguns títeres que surgem aqui e acolá.

Seguindo por esse raciocínio, neste tópico, será visto como


inteligências e ONGs ligadas ao movimento negro construíram a trajetória que
culminou no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e,
portanto, resultou na criação constitucional dos “quilombos” no Brasil, que, até antes
da Carta de 88, eram vistos unicamente pela percepção que, historicamente, deles
se tinha.

Frederico Menino Bindi de Oliveira, em dissertação de


mestrado, revela as primeiras movimentações, em meados da década de 1980, que
resultaram no dispositivo constitucional que resultou na construção dos “quilombos”

192
(g.n.):

No Maranhão, o Centro de Cultura Negra (CCN/MA) e a Sociedade


Maranhense de Direitos Humanos (SMDH) – entidades ligadas ao
movimento negro – passaram a realizar visitas frequentes a
comunidades rurais negras do interior do Estado tendo em vista a
identificação destes grupos e o resgate de sua cultura. Em 1986, foi
organizado o I Encontro das Comunidades Negras Rurais do
Maranhão, no qual foi idealizado o Projeto Vida de Negro (PVN),
implementado no ano seguinte. O projeto contou com
financiamento expressivo da Fundação Ford e é considerado o
embrião da mobilização quilombola no Maranhão bem como
da posterior Coordenação Nacional dos Quilombos, a
Conaq (...). Participaram do PVN antropólogos, juristas e
militantes que desempenharam papel decisivo na defesa dos
direitos quilombolas introduzidos na Constituição Federal de
1988.

No Pará, as comunidades negras rurais ganharam visibilidade a partir


do I Encontro Raízes Negras. Realizado em 1985 e organizado de
modo semelhante ao evento do Maranhão, o encontro reuniu
estudiosos, militantes e alguns representantes de comunidades
negras rurais daquele Estado interessados em chamar a atenção das
autoridades para a realidade ainda pouco conhecida dos atuais
quilombos (...).137

Outro trabalho acadêmico, de João Carlos Bemerguy


Camerinidis, registra as ações imediatamente subsequentes no caminho do art. 68
do ADCT (g.n.):

A proposta de titulação das terras das comunidades remanescentes


de quilombos chegou às discussões da Assembleia Nacional
Constituinte pelas mãos do movimento negro, que se

137
OLIVEIRA, Frederico Menino Bindi de. Mobilizando oportunidades: estado, ação coletiva e o recente
movimento social quilombola. Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre
em Ciência Política no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de S. Paulo, São Paulo, em 2009. Disponível em:
<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-10122009-113130/pt-br.php>. Acesso em: 20 jul. 2012. p. 62-63.
193
fundamentou da experiência das comunidades negras rurais do Pará
e no Maranhão na luta pela terra. Representantes do Centro de
Cultura Negra do Maranhão (CCN/MA) e do Centro de
Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA)
participaram de discussões em âmbito nacional e apresentaram
propostas, sendo que a entidade maranhense pretendia uma
formulação que mencionasse a expressão “comunidades negras
rurais”, termo que indica uma abordagem agrarista da questão, ao
invés de comunidades remanescentes de quilombos (SILVA, 1997a,
p. 13/14).

Contudo, da Convenção Nacional: “O Negro e a


Constituinte”, realizada em Brasília, em agosto de 1986, resultou
a Sugestão nº 2.886, onde ficou consignada a expressão
“comunidades negras remanescentes de quilombos”, que
já acionava o conceito de quilombo e enfatizava o aspecto racial.138

Essa Convenção Nacional, que reuniu ONGs e militantes de


diversos estados brasileiros, representou a consolidação de vários encontros
municipais e estaduais orientados, desde 1985, para influir na Assembleia Nacional
Constituinte. Foi o mais importante dos eventos do movimento negro que
antecederam a Carta de 88. Tanto é assim que foi dessa Convenção que saiu a
Sugestão que sintetizou as discussões do movimento negro nos âmbitos estadual e
municipal ao incorporar as inúmeras reivindicações que tinham sido debatidas nos
inúmeros encontros anteriores.

Compulsando documentos indicados pelo Centro de


Documentação e Informação (CEDI) da Biblioteca da Câmara dos Deputados e indo
ao Diário da Assembleia Nacional Constituinte (Suplemento), de 9 de maio de 1987,

138
CAMERINIDIS, João Carlos Bemerguy. DISCURSOS JURÍDICOS ACERCA DOS DIREITOS TERRITORIAIS
QUILOMBOLAS: desmascarando os colonialismos da épistémè jurídica. Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito Ambiental na Escola Superior de Ciências Sociais da
Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, em 2011. Disponível em:
<http://pt.scribd.com/doc/92171349/JCB-Camerini-Direitos-territoriais-quilombolas>. Acesso em: 20 jul. 2012. p.
51.
194
que publicou a Sugestão nº 2.886 (Fig. 51), que deu origem, entre outros
dispositivos, ao art. 68 do ADCT139, são destacados os nomes de Maria Luiza
Junior, Coordenadora-Geral da Convenção “O Negro e a Constituinte”, e de Carlos
Alves Moura, do Centro de Estudos Afro-Brasileiros, que subscreveram a Sugestão
em nome de inúmeras ONGs negras.

Fig. 51 – A montagem, feita a partir de recortes das páginas 529 e 531 do Diário da Assembleia
Nacional Constituinte (Suplemento), de 9 de maio de 1987, traz extratos da Sugestão nº 2.886, que
deu origem aos dispositivos constitucionais que alcançam os quilombos. Destaques para os
nomes de Maria Luiza Junior e Carlos Alves Moura.

139
ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE. Diário da Assembleia Nacional Constituinte (Suplemento) de 9 de
maio de 1987, p. 529 a 532.
195
A partir daí, houve propostas, com certas variações
apresentadas por alguns Constituintes identificados com o movimento negro, e
sucessivas redações do dispositivo que pretendia titular as terras “quilombolas”, até
chegar a forma como o art. 68 do ADCT foi apresentado quando da promulgação da
Carta de 88.

A bem da verdade, a questão referente à titulação dos


“quilombos” não foi devidamente considerada no âmbito da Assembleia Nacional
Constituinte, pois, a partir da Sugestão apresentada, tramitou praticamente sem
discussão, sendo aceita quase integralmente na sua concepção original. Os registros
mais significativos encontrados nos Anais não são de debates sobre o tema, mas de
discursos, aqui e acolá, de militantes e simpatizantes da causa.

Para chegarmos a essa conclusão, foram efetuadas inúmeras


pesquisas nos portais eletrônicos da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Em endereço eletrônico da Biblioteca Digital do Senado


Federal140, buscada a opção “04. Constituinte nos Jornais” e inserida a palavra
“QUILOMBO” na janela de busca, foram obtidas 119 ocorrências. Percorridas uma a
uma, nada se encontrou de discussão sobre esse tema na Assembleia Nacional
Constituinte.

O que se verificou, parcamente, foram discussões na imprensa


a favor e contra, ainda que muito incipientes. Mesmo o Jornal da Constituinte 141,
editado pela Assembleia Nacional Constituinte, em apenas seis dos seus
exemplares, mencionou a palavra QUILOMBO. Assim mesmo, fazendo simples
referências à inovação ou meras transcrições dos dispositivos tramitando.

140
Disponível em: SENADO FEDERAL. <www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/103421>. Acesso em: 06 jun. 2010.
141
ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE. Jornal da Constituinte, edições nº 4, 22 jun. 1987; nº 28, 7 dez.
1987; nº 47, 16 mai. 1988; nº 53, 27 jun. 1988; nº 62, 12 set. 1988; e nº 63, 5 out. 1988.
196
Solicitado o auxílio do Centro de Documentação e Informação
(CEDI) da Biblioteca da Câmara dos Deputados e efetuadas pesquisas nos Anais e
Diários da Assembleia Nacional Constituinte e nas Bases Históricas do Congresso
Nacional (Senado Federal), do CEDI foi obtida a seguinte informação:

Em atenção a sua solicitação, informamos que a referência inicial à


garantia das terras dos remanescentes de quilombos foi feita pela
Sugestão 2886, item IX, 2, de autoria da Convenção "O Negro e a
Constituinte". O documento segue anexo.
Esse ponto parece ter sido acatado pelos constituintes de forma
muito pacífica, já que não conseguimos localizar ao longo do
processo debates sobre o tema.

A pouca atenção dispensada à “questão quilombola” durante os


trabalhos de elaboração da nova Carta foi notada, também, fora do âmbito da
Assembleia Nacional Constituinte:

...o debate sobre a titulação das terras dos quilombos não


ocupou, no fórum constitucional, um espaço de grande destaque
e suspeita-se mesmo que tenha sido aceito pelas elites ali presentes,
por acreditarem que se tratava de casos raros e pontuais, como o do
Quilombo de Palmares.142

O CEDI informou, ainda, que aconteceram duas audiências


públicas143 que trataram da questão dos negros, não tendo sido identificado nenhum
tema especifico sobre “terras dos quilombos”.

Portanto, é possível concluir que os Constituintes de 88


passaram ao largo dos debates que deveriam ter acontecido em torno da titulação
de terras dos remanescentes de quilombos nem atentaram para os possíveis

142LEITE, Ilka Boaventura. O legado do testamento: a Comunidade de Casca em perícia. Florianópolis:


NUER/UFSC, 2002 (apud FIABANI, Adelmir. O quilombo antigo e o quilombo contemporâneo: verdades e
construções. Disponível em: <http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Adelmir%20Fiabani.pdf>. Acesso
em: 4 jul. 2012. p. 9).
143
ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE. Reunião nº 7 (publicada no DANC 20/05/1987, p.120); e reunião
nº 10, (publicada no DANC 21/05/1987, p.120).
197
desdobramentos que poderiam advir da aprovação desse dispositivo trazido pela
Sugestão nº 2.886 e que agora se reflete em Alcântara e em outros municípios do
Brasil.

Não bastasse, em 1988, houve, de fato, um estelionato


constitucional, pois o constituinte aprovou a palavra “quilombo” à luz do significado
que sempre teve ao longo de todos os tempos: a de refúgio de escravos negros
fugidos e, eventualmente, de luta contra as expedições que buscavam, novamente,
apresá-los.

Todavia, os parlamentares, ou não enxergaram ou foi deles


ocultada a intenção subterrânea, que aflorou tão logo entrou em vigor a Carta
Magna. Os movimentos sociais, endossados pelos antropólogos de plantão e seus
apoiadores infiltrados nos órgãos estatais, apressaram-se em dar uma nova
interpretação à palavra, ampliando consideravelmente a aplicação do art. 68 do
ADCT, dizendo do “quilombo contemporâneo” de modo a alcançar todos
descendentes de negros, remanescentes ou não de quilombos verdadeiros,
promovendo uma reforma agrária destinada à implantação de propriedades coletivas
em nome de associações, burlando a Constituição e ferindo o princípio da segurança
jurídica e os direitos adquiridos de proprietários, para o que basta uma auto-
declaração junto à Fundação Cultural Palmares.

Esse “novo” significado da palavra quilombo é aplicado à


Alcântara pelo RTID quando diz da “noção ressemantizada de quilombo”.144

Reforçando as informações que apontam para as “pegadas” da


Fundação Ford no art. 68 do ADCT, mesmo sabendo-se que esta entidade de
atuação transnacional tem vínculos com quase todas ONGs (talvez todas) mais
significativas do movimento negro, tomando-se aqui apenas duas ONGs apontadas

144
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Os quilombolas e a base de lançamento de foguetes de Alcântara. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2006. v. I, p. 47-48.
198
como as proponentes originárias da titulação das terras das comunidades
remanescentes de quilombos, do que resultou o art. 68 do ADCT, o Centro de
Cultura Negra do Maranhão (CCN/MA) e o Centro de Estudos e Defesa do
Negro do Pará (CEDENPA), é inegável o forte vínculo delas com a Fundação Ford
como se vê em uma publicação da primeira (Fig. 52) e diretamente no endereço
eletrônico da segunda (Fig. 53):

(...)

Fig. 52 – A montagem feita a partir de publicação do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN-
MA), indicando a relação direta dessa ONG com a Fundação Ford e com outras entidades.
estrangeiras
Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/99130676/balaiada>. Acesso em: 20 jul. 2012

199
(...)

Fig. 53 – A montagem feita a partir do endereço eletrônico do Centro de Estudos e Defesa do


Negro do Pará (CEDENPA), indicando a relação direta dessa ONG com a Fundação Ford.
Disponível em: <http://cedenpa.org.br>. Acesso em: 20 jul. 2012

Finalmente, a destacar que os dois subscritores da Sugestão


que resultou em vários dispositivos constitucionais referentes aos negros têm seus
nomes vinculados a entidades apoiadas pela Fundação Ford: Maria Luiza Júnior, no
endereço eletrônico da Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) –
ABPN (Fig. 54); e Carlos Alves Moura, em um projeto cultural do Arquivo Nacional
(Fig. 55), materializando mais algumas “pegadas” dessa organização na Carta de 88.

Fig. 54 – Extrato de página eletrônica da Associação Brasileira de Pesquisadores(as)


Negros(as), que tem vínculos com a Fundação Ford e também com a Oxfam, onde foi
onde foi encontrado o nome de Maria Luiza Junior.
Disponível em:
ABPN. <www.abpn.org.br/index.php?option=com_content&view=section&layout=blog&id=25&
Itemid=121&lang=em>. Acesso em 16 jan. 2009.

200
(extrato da pág. 3)

(extrato da pág. 4)

(extrato da pág.119)

Fig. 55 – Extratos da publicação referente a um projeto do Arquivo Nacional apoiado pela


Fundação Ford, com o nome de Carlos Alves Moura, ao lado de dezenas de outros,
constando da publicação
Fonte: ARQUIVO E ADMINISTRAÇÃO. Revista da Associação dos Arquivistas Brasileiros. Guia Brasileiro
de Fontes para a História da África, da Escravidão Negra e do Negro na Sociedade Atual. Edição
comemorativa do Centenário da Abolição. Rio de Janeiro, julho de 1988. Disponível em:
<www.aab.org.br/digitalizacao/revistas/ed_esp1988.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2010.

4.6. O COHRE contra o Brasil na OIT

No contexto da pressão mundial que se contrapõe às atividades


espaciais em Alcântara, que pode ser medida também pela extensa rede de ONGS
nacionais e internacionais que trabalham contra, nos planos interno e externo, entre
inúmeras outras, surge o Centre On Housing Rights and Evictions (COHRE – Centro
pelo Direito à Moradia e contra Despejos), que tem sede internacional em Genebra
(Suíça) e sede brasileira em Porto Alegre. Seu portal eletrônico informa ter status
consultivo perante a Organização das Nações Unidas (ONU), o Conselho da Europa,
a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização para a Unidade
Africana (OUA).

A comunicação à Organização Internacional do Trabalho (OIT)


a seguir (Fig. 56) é significativa, revelando a atuação adversa do COHRE.

201
Fig. 56 – Extrato (montagem) da comunicação à OIT pelo Centre On Housing Rights and
Evictions (COHRE) contra atividades espaciais em Alcântara.
Fonte: COHRE. <www.cohre.org/store/attachments/Comunicacion_OIT_Alcantara.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2003.

A petição, em um total de dezenove páginas, é encimada por


três moradores de povoados de Alcântara, todos trabalhadores rurais, erigidos a
presidentes de sindicatos e associações locais, mas apoiados pelo COHRE.

Ora, só alguém absolutamente desprovido de senso acreditará


que três agricultores de um lugar recôndito serão capazes de redigir uma
comunicação com esse conteúdo e, mais ainda, em língua espanhola e endereçá-la
a um endereço situado em Genebra (Suíça).

202
Não temos dúvida que foram utilizados como massa de
manobra para respaldar os interesses do COHRE que, nesse caso específico, estão
resumidos no pedido que fecha a petição (Fig. 57).

Fig. 57 – Extrato (montagem) da comunicação à OIT pelo Centre On Housing Rights and
Evictions (COHRE) contra atividades espaciais em Alcântara.
Fonte: COHRE. <www.cohre.org/store/attachments/Comunicacion_OIT_Alcantara.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2003.

203
Em resumo, tudo o que o COHRE comunica, para depois
peticionar, exigindo providências, com a máxima urgência, a serem cobradas do
Estado brasileiro, parece estar tendo sucesso, por outras vias, em função de ações
conduzidas no plano interno, e está representando mais atrasos ao PNAE e, talvez,
até decretando o seu fim.

Nisso tudo, causa certa perplexidade a quantidade de outras


organizações internacionais que são apresentadas como parceiros e apoiadores da
sua filial COHRE Americas (Fig. 58).

Fig. 58 – Parceiros e apoiadores da filial COHRE Americas, destacando-se a Fundação Ford,


que, sistematicamente, é o agente financeiro de um sem número de ONGs que atuam no
Brasil, e os Ministérios da Justiça e das Cidades (Governo contra Governo?).
Fonte: COHRE. <www.cohre.org/americas>. Acesso em: 02 jun. 2003.
204
Entre esses apoiadores, destacamos a Fundação Ford,
devido a sua forte presença junto a inúmeras ONGs que atuam no Brasil e, por
mais paradoxal que ainda possa parecer, o Ministério da Justiça e o Ministério das
Cidades. Em outras palavras, no caso específico desses ministérios, seu apoio ao
COHRE significa o Estado brasileiro trabalhando contra o próprio Estado brasileiro
e evidencia, mais uma vez, a fragilidade de nossas Políticas de Estado, minadas
pelas próprias autoridades governamentais.

Aliás, há mais gente nessa polarização dentro do próprio


Governo federal: de um lado, o Ministério da Defesa, o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Informação, a Aeronáutica, a AEB, a ACS, o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE); do outro, além dos Ministérios da Justiça e das
Cidades, os Ministérios da Cultura, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário,
trazendo consigo suas respectivas entidades vinculadas e órgãos: IBAMA, INCRA,
Fundação Cultural Palmares, Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Secretaria
Especial de Promoção de Políticas de Promoção e Igualdade Racial etc., em regra
ocupados por ativistas sociais comprometidos com suas ONGs, subvencionadas por
entidades estrangeiras, colocando Governo contra Governo, Estado contra Estado,
interesses internacionais contra os interesses do Estado e do povo brasileiros. Ao
segundo grupo reúnem-se, também, alguns membros do Ministério Público Federal.

Em outra página eletrônica do COHRE, ONGs que se


apresentam como representantes de negros brasileiros aparecem irmanados ao
COHRE e à Fundação Ford (Fig. 59).

205
Fig. 59 – ONGs brasileiras ligadas ao movimento negro consideradas parceiras do COHRE,
destacando-se, mais uma vez, a Fundação Ford, que as apoia financeiramente junto com a
ONG SELAVIP, fundada por um padre belga e que tem sede na Bélgica e base operacional no
Chile.
Fonte: COHRE. <www.cohre.org/quilombos>. Acesso em: 02 jun. 2003.

Abrigados em endereço eletrônico da Casa Civil da


Presidência da República, no tópico “Documentos Públicos Recebidos pelo GEI”
(Grupo Executivo Interministerial Alcântara)145, encontramos sete boletins
denominados Quilombol@, editados, em 2005, pela Campanha Nacional pela
Regularização dos Territórios de Quilombos, que têm também versão em língua
inglesa, destinada, naturalmente, a produzir efeitos no campo internacional. Em
todas as edições, o foco principal é a região de Alcântara, seguindo-se a questão

145
Disponível em: CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.
<www.planalto.gov.br/casacivil/gei_alcantara/static/index.htm>. Acesso em: 06 jun. 2010.
206
que envolve a Restinga da Marambaia, onde há instalações da Marinha, e o
município de São Mateus, no Espírito Santo.

Esses boletins são outras provas da intensa e extensa


articulação internacional contra o Centro de Lançamento de Alcântara. Além do
logotipo do próprio COHRE, que editou esses boletins, aparecem logotipos que
nos remetem para o governo da Suíça, para a Fundação Ford (que tem sua matriz
em Nova York), para duas ONGs negras brasileiras que recebem apoio da
Fundação Ford (a CONAQ e a ACONERUQ) e a SELAVIP, uma ONG com sede
na Bélgica e base operacional no Chile (Fig. 60).

Fig. 60 – Logotipos de algumas entidades internacionais e nacionais da extensa rede que se


contrapõe às atividades espaciais em Alcântara, extraídos do Boletim Quilombol@, editado
pelo COHRE.
Fonte: CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. <www.planalto.gov.br/casacivil/gei_alcantara/static/4-
Docs_Pub_Recebidos/Bolet_Quilomb_01_Março_05.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2010.

207
4.7. Outras ONGs e ativistas contra o Complexo Espacial de Alcântara

Quando se vai ao Relatório de 2006 da Comissão


Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), é encontrada, como admitida, uma
petição contra o Centro de Lançamento de Alcântara, em nome de alguns
povoados daquele município, destacando-se, ainda, as ONGs Centro de Justiça
Global e Global Exchange. Do resumo da petição fizemos o seguinte extrato
(g.n.):

INFORME Nº 82/06
PETICIÓN 555-01
ADMISIBILIDAD
COMUNIDADES DE ALCÂNTARA
BRASIL
21 de octubre de 2006
I. RESUMEN
1. El 17 de agosto de 2001, el Centro de Justicia Global, los
representantes de las Comunidades Samucangaua, Iririzal, Ladeira,
Só Assim, Santa Maria, Canelatiua, Itapera y Mamuninha – todas
integrantes del mismo territorio étnico de Alcântara, Maranhão; la
Sociedad Maranhense de Derechos Humanos (SMDH); el Centro
de Cultura Negra de Maranhão (CCN); la Asociación de
Comunidades Negras Rurales Quilombolas de Maranhão
(ACONERUQ), la Federación de Trabajadores de la Agricultura del
Estado do Maranhão (FETAEMA), y Global Exchange presentaron a
la Comisión Interamericana de Derechos Humanos (en adelante,
denominada "CIDH" o "la Comisión") una petición contra la República
Federativa del Brasil (en adelante, denominada “Brasil”, "el gobierno
brasileño" o "el Estado"). En esta petición se denuncia la
desestructuración sociocultural y la violación del derecho de
propiedad, tanto como del derecho a la tierra ocupada por las
comunidades tradicionales de Alcântara. Tal situación fue creada por
la instalación del Centro de Lanzamiento de Alcântara, y por el
consiguiente proceso de expropiación que viene ejecutando el
gobierno brasileño en esa región, así como por la omisión en que
incurre éste, al no otorgar los títulos de propiedad definitiva a las
mencionadas comunidades. Según los peticionarios, los hechos
caracterizan violaciones de los Derechos Humanos garantizados por

208
la Convención Americana sobre Derechos Humanos (en adelante,
denominada "la Convención" o "la Convención Americana"), en sus
artículos 1.1, 8, 16, 17, 21, 22, 24, 25 y 26, así como por la
Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre (en
adelante denominada "la Declaración"), en sus artículos VI, VIII, XII,
XIII, XIV, XVIII, XXII y XXIII.146

Depois, buscando-se o endereço eletrônico do Centro de


Justiça Global, há a informação que o seu Programa de Defensores de Direitos
Humanos é apoiado pelo Fundo da Sociedade Civil (CSF) do IRISH AID –
Departamento de Assuntos Internacionais, que conduz um programa de cooperação
para o desenvolvimento promovido pelo governo da Irlanda, destinado, pelo menos
nos termos da sua declaração oficial, a apoiar as organizações da sociedade civil
como parceiros na realização da Declaração do Milênio e de metas associadas à
147
redução da pobreza e de proteção e promoção dos direitos humanos.

Também foi encontrada referência ao Centro de Justiça


Global sendo apoiado pela Fundação Ford, conforme se observa no extrato de
publicação editada por aquela entidade norte-americana, que revela, ainda, parte da
sua agenda no Brasil, quando aponta outras áreas e instituições (há inúmeras
outras) em que dissemina sua influência:

Do mesmo modo, cabe menção o apoio a estudos sobre a


profissionalização das atividades de policial, de promotores públicos
e de juízes, empreendidos pelo Instituto de Estudos Econômicos,
Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp). Foram concedidas
doações também a ONGs como Justiça Global (RJ) e ao Gabinete
de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop-PE). Têm
início também os primeiros investimentos no recém-criado Instituto
Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e

Fonte: OAS (OEA) - Organization of American States (Organização dos Estados Americanos). COMISSÃO
146

INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. <www.cidh.org/annualrep/2006sp/Brasil555.01sp.htm>. Acesso


em: 04 jun. 2010.
147
Fonte: JUSTIÇA GLOBAL. <http://global.org.br/programas/defensores-de-direitos-humanos/>. Acesso em: 04
jun. 2010.
209
Tratamento do Delinquente (Ilanud), para estudos sobre polícia
comunitária. 148

Por sua vez, a Global Exchange é uma ONG com sede na


Califórnia (EUA) que, no Brasil, diz estar focada no trabalho com direitos
humanos, tendo como objetivo construir conexões mais fortes entre os
movimentos sociais do Brasil e os Estados Unidos.149

Pesquisando na Internet a combinação das expressões


“Global Exchange” com “Ford Foundation” e “Global Exchange” com “Fundação
Ford” foram obtidas, respectivamente, 2.480 e 66 ocorrências (Fig. 61); o que,
mesmo desprezando algumas delas, é um bom indicativo de como essas
entidades atuam irmanadas.

Fig. 61 – Resultado de pesquisa na Internet, em 04 jun. 2010, com as expressões que estão indicadas
nas janelas, com 2.480 ocorrências para uma combinação e 66 ocorrências para outra; o que, de
certo modo, indica a densa atuação conjunta das duas entidades que têm base nos Estados Unidos.

Ainda sobre a petição impetrada junto a CIDH, na página


eletrônica da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
(ABONG), foi encontrada notícia apontando para uma audiência ocorrida, no dia 28
de outubro de 2008, em Washington (g.n.):

148
ADORNO Sérgio; CÁRDIA, Nancy. “Das Análises Sociais aos Direitos Humanos”, in Nigel Brooke e Mary
Witoshynsky (orgs.), Os 40 Anos da Fundação Ford no Brasil: Uma Parceria para a Mudança Social. São Paulo /
Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo / Fundação Ford, 2002. p. 236.
149
Fonte: GLOBAL EXCHANGE. <www.globalexchange.org>. Acesso em: 04 jun. 2010.
210
(...) Nesta segunda-feira (27) haverá uma audiência na sede da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA, em
Washington DC, nos EUA, sobre as violações de direitos humanos
cometidas pelo Estado brasileiro em relação às comunidades
quilombolas do território étnico de Alcântara, Maranhão. (...)
Leonardo dos Anjos, da comunidade de Brito, e Militina Serejo, da
comunidade de Mamuna, irão a Washington contar pessoalmente
sua luta para que o Estado efetive o direito dos quilombolas ao seu
território, conforme garantido pela Constituição Federal de 1988,
Convenção Americana de Direitos Humanos e Convenção n. 169 da
OIT. (...)
Participarão também da audiência, Luciana Garcia, advogada da
Justiça Global, organização que, juntamente com movimentos
sociais e outras organizações da sociedade civil, como o Movimento
dos Atingidos pela Base Espacial, a Sociedade Maranhense de
Direitos Humanos, e Centro de Cultura Negra do Maranhão;
apresentou a denúncia junto a CIDH; e a antropóloga e professora
doutora da Universidade Federal do Maranhão, Maristela Andrade,
que acompanha e estuda há anos as comunidades quilombolas de
Alcântara. 150

Em relação aos quatro protagonistas relacionados, Não


traçaremos considerações em relação à advogada Luciana Garcia, tendo em vista já
ter ficado comprovado ser causídica de uma ONG vinculada a organizações
internacionais.

Sobre o Sr. Leonardo dos Anjos (Fig. 62, esq.), sua foto revela
ser uma pessoa de cútis e olhos muito claros, traços finos no rosto e cabelo lisos;
suficientes para afastar a ascendência africana que, se houver é muito remota. Não
bastasse, apresentado como coordenador do Movimento dos Atingidos pela Base
Espacial (MABE), o povoado de Brito, local da sua residência, não se inclui entre
aqueles que foram atingidos pela implantação do CLA.

150
ABONG. Brasil terá que se explicar ante a OEA violações contra comunidades quilombolas e acordo com a
Ucrânia. Disponível em: <www.abong.org.br/final/noticia.php?faq=19302>. Acesso em 06 jun. 2010.
211
Em relação à Militina Garcia Serejo (Fig. 62, dir.), do povoado
de Mamuna, cuja população também ainda não foi reassentada, sua cútis morena
indica ascendência africana, mas não o suficiente para caracterizá-la como
“quilombola”, salvo pelos critérios extremamente elásticos que passaram a ser
adotados pelos antropólogos. É professora de História da escola de Mamuna e tudo
indica que a sua passagem pela universidade, em São Luís, resultou na sua
politização pelo grupo que propugna por “quilombos” em Alcântara.

Fig. 62 – Leonardo dos Anjos e Militina Serejo durante oitiva na CIDH/OEA, no dia 27 out. 2010. A
cútis e os traços do rosto dele não indicam ascendência africana, salvo se muito remota. A foto
original, colorida e em tamanho maior, revela, ainda, olhos azulados. Militina, em que pese a
cútis morena, não tem características físicas que a digam ser exatamente uma “quilombola”.
Disponíveis em:
OAS (Organization of American States). <www.oas.org/Photos/2008/10Oct/62/pages/_0000981.htm>; e
OAS (Organization of American States). <www.oas.org/Photos/2008/10Oct/62/pages/_0001008.htm>. Ambos os
acessos em: 08 jun. 2010.

Sobre a professora Maristela de Paula Andrade, considerando


sua trajetória acadêmica e o momento em que surgiu a invenção do território
“quilombola” de Alcântara, ainda que, eventualmente, possamos estar equivocados,
tudo indica ser ela, se não a mentora intelectual, alguém que alimenta a sua vida
Fig. X –
acadêmica e o seu prestígio profissional a reboque dessa ficção.
Disponível em: acesso em:

212
O seu currículo Lattes151 informa suas conexões com ONGs e
entidades religiosas, as mais várias, em São Paulo e no Maranhão, tendo mantido
vínculo empregatício com o escritório da Caritas Brasileira em São Luís,
ressaltando-se que a Caritas Internacional (<www.caritas.org>. Acesso: em 6 jun.
2010.) tem sede no Vaticano e é uma das vertentes da esquerda católica; com a
Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE. <www.cese.org.br>. Acesso: em 6
jun. 2010. ), que recebe apoio financeiro de aproximadamente vinte organizações do
Canadá, Holanda, Alemanha, Estados Unidos, Finlândia, Noruega, Suíça, Suécia, a
maioria delas entidades religiosas católicas e protestantes identificadas com a ala
progressista; com a Comissão Pastoral da Terra; e com o Serviço de Orientação
da Família, atual Sempreviva Organização Feminista (SOF. <www.sof.org.br>.
Acesso: em 6 jun. 2010.), que recebe apoio financeiro de entidades internacionais e
que, em nome dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, defende o aborto.

Ainda, de acordo com seu currículo, sua atuação é voltada para


quilombos, conflitos agrários, identidade étnica, movimentos sociais rurais,
comportamento político dos camponeses, sistemas de classificação da natureza,
conhecimento local e práticas tradicionais; todos temas bem identificados com as
ONGs com as quais trabalhou.

Entre os seus inúmeros projetos de pesquisa, ressaltam-se


aqueles desenvolvidos com apoio financeiro internacional: Departamento de
Cooperação Internacional da Grã Bretanha, Action Aid Brasil, Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD – Banco Mundial),
Conselho Mundial de Igrejas, Misereor e Pão Para o Mundo (Brot für die Welt).

Também do seu currículo Lattes saltam aos olhos seus fortes


vínculos com a Fundação Ford, tanto profissionais como na sua atuação acadêmica
sob o patrocínio daquela entidade norte-americana. (Figs. 63 e 64).
151
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
<http://lattes.cnpq.br/8924456262459198>. Acesso em: 06 jun. 2010.
213
Fig. 63 – Atuação acadêmica da professora Maristela de Paula Andrade sob o patrocínio da
Fundação Ford.
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ).
<http://lattes.cnpq.br/8924456262459198>. Acesso em: 06 jun. 2010; montagem a partir do currículo Lattes.

Fig. 64 – Vínculos profissionais da professora Maristela de Paula Andrade com a Fundação Ford.
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ).
<http://lattes.cnpq.br/8924456262459198>. Acesso em: 06 jun. 2010; montagem a partir do currículo Lattes.

Há que se ressaltar o estreito convívio acadêmico que mantém


com o antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, que produziu o Relatório

214
Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), demarcando quase todo o município
de Alcântara como “território quilombola”, e que tem servido para respaldar todas as
decisões administrativas e judiciais subsequentes.

Esse antropólogo, além ter sido integrante de grupos de


projetos de pesquisas coordenados pela professora Maristela e financiados pela
Fundação Ford e pelo governo britânico (Fig. 65), tem com ela mais de uma dezena
de livros e trabalhos técnicos em co-autoria e a participação em cerca de quinze
bancas de mestrado, graduação, concursos públicos e outras.

Fig. 65 – Vínculos da professora Maristela de Paula Andrade com Alfredo Wagner Berno de
Almeida, o antropólogo que demarcou quase todo o município de Alcântara como “território
quilombola”.
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
<http://lattes.cnpq.br/8924456262459198>. Acesso em: 06 jun. 2010; montagem a partir do currículo Lattes.

215
Aproveitando o fio de meada estabelecido e indo ao currículo
Lattes do antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, verifica-se que é outro
acadêmico muito próximo da Fundação Ford, inicialmente, por vínculo empregatício
(Fig. 66).

Fig. 66 – Vínculos profissionais do antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, que demarcou
quase todo o município de Alcântara como território quilombola, com a Fundação Ford.
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ).
<http://lattes.cnpq.br/1596401343987246>. Acesso em: 08 jun. 2010; montagem a partir do currículo Lattes.

Depois, os vínculos com a Fundação Ford desse antropólogo,


que fez do seu RTID pivô de quase tudo aquilo que acontece em Alcântara contra o
Programa Espacial Brasileiro, são ressaltados em projeto de pesquisas sob o apoio
financeiro daquela entidade norte-americana e por ele coordenados (Figs. 67 e 68).

216
Fig. 67 – Projetos de pesquisa do antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida sob o apoio
financeiro da Fundação Ford.
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ).
<http://lattes.cnpq.br/1596401343987246>. Acesso em: 08 jun. 2010; montagem a partir do currículo Lattes.

Fig. 68 – Projetos de pesquisa do antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida sob o apoio
financeiro da Fundação Ford.
Disponível em: CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
<http://lattes.cnpq.br/1596401343987246>. Acesso em: 08 jun. 2010; montagem a partir do currículo Lattes.
217
No rastro desse antropólogo, a publicação de sua obra “Os
quilombolas e a base de lançamento de foguetes de Alcântara”, pelo Ministério do
Meio Ambiente, mas sob a coordenação editorial da GTZ, do Projeto Tal Ambiental e
do Projeto AMA (Fig. 69), revela a ação internacional não só no âmbito do MMA, mas
também no laudo antropológico que embasou a ação contra o CEA.

Fig. 69 – Coordenação editorial da obra que publicou o laudo antropológico que amparou a ação
contra a expansão do Complexo Espacial de Alcântara.
Fonte: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Os quilombolas e a base de lançamento de foguetes de Alcântara. Brasília:
Ministério do Meio Ambiente, 2006. v. I, p. 4

O Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise (AMA) do


Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, vinculado à
Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA) do Ministério do Meio Ambiente, é
uma experiência que envolve governo e a comunidade internacional.152

O Projeto de Assistência Técnica para a Agenda da


Sustentabilidade Ambiental (TAL Ambiental), coordenado pelo Ministério do Meio
Ambiente, foi implantado para apoiar o programa de empréstimos junto ao Banco
Mundial destinado a fortalecer o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).153

A GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit


– Agência Alemã de Cooperação Técnica) foi reunida, em 2011, junto com outras

152
HOLLIDAY, Oscar Jara. Para sistematizar experiências. Tradução de: Maria Viviana V. Resende. 2. ed.,
revista. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006. p. 7.
153
Fonte: MMA (Ministério Do Meio Ambiente). <www.mma.gov.br/apoio-a-projetos/tal-ambiental-assistencia-
para-agenda-sustentavel>. Acesso em: 24 jun. 2012.
218
entidades alemãs, na GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
– Agência Alemã de Cooperação Internacional), vinculada ao governo alemão.154

Sobre a GTZ no Brasil, os trechos a seguir dizem bem da sua


atuação (g.n.):

Apontada como a principal responsável pela demissão do


antropólogo acreano Terri Aquino da Coordenação de Identificação e
Delimitação de Terras Indígenas da Funai, a alemã Carola Kasburg,
dirigente da Cooperação Técnica Alemã (GTZ), há quase 10 anos
vem dando as cartas na política indigenista brasileira. Tal poder é
atribuído principalmente aos recursos que sua entidade, ligada ao
governo alemão, disponibiliza para a Funai executar ações sociais e
de demarcação das terras indígenas. (...)
A Funai só faz o que a GTZ manda. Com isso, o Brasil fica refém do
capital externo para reconhecer os direitos de seus primeiros
habitantes. (...)155

Paradoxalmente, a notícia tem fundamento em relatório do


próprio antropólogo em pauta aqui, e mais, atendendo a um pedido da própria GTZ,
conforme se conclui dos excertos a seguir (g.n.):

O senador Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR) vai propor no Senado uma


devassa sobre o uso de financiamentos de organismos
internacionais, como a Agência de Cooperação Alemã (GTZ),
destinados a ações sociais e de demarcação de terras indígenas
no País. Relatório independente feito pelo antropólogo Alfredo
Wagner Berno de Almeida, a pedido da própria GTZ, revela que a
diretora da agência Carola Kasburg e representantes do Programa
Piloto para a Conservação das Florestas Tropicais do Brasil (PPTAL)
vêm ditando, há dez anos, as regras da política indigenista brasileira
dentro da Fundação Nacional do Índio (Funai). (...)
(...)
154
Fonte: GIZ (Deutschen Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit). <www.giz.de>. Acesso em: 24 jun.
2012.
155
AQUINO, Romerito. Estudo aponta erros da GTZ na política indigenista brasileira. Página 20 On-Line (portal),
Rio Branco, AC, em 29 fev. 2004. Disponível em: <http://pagina20.uol.com.br/29022004/especial_1.htm>. Acesso
em 23 jun. 2012.
219
Antropólogos e indigenistas ouvidos pelo Jornal de Brasília
confirmaram que a agência alemã e sua diretora exercem
interferência direta na Funai. "Há muito tempo, a Funai só faz o
que a GTZ e outros organismos internacionais mandam", diz um
ex-assessor da Funai, que pediu anonimato temendo represálias. (...)
(...)
Investimentos – Raineer Willingshifer, conselheiro para Assuntos de
Cooperação Técnico-Financeira da Embaixada da Alemanha no
Brasil, à qual a GTZ está vinculada, disse que o governo de seu
país investiu R$ 14,7 milhões em cooperação técnica e R$ 52,5
milhões em cooperação financeira em programas e projetos de
apoio aos indígenas brasileiros. Segundo Wilingshifer, esses
investimentos iniciaram-se em 1996.156

Em última instância, fica perceptível que há uma extensa e forte


rede montada, sem controle do Estado brasileiro, em que determinados antropólogos
são livremente contratados, por agentes do Governo – igualmente identificados com
a “causa” –, para a demarcação de áreas indígenas e quilombolas, em um conjunto
de ações em que não há o comprometimento com a coisa pública nem com o
interesse nacional brasileiro, mas com o proveito das organizações internacionais, de
quem se tornaram autênticos “funcionários”.

Seguindo para outra faceta que envolve ONGs que atuam em


Alcântara, vem à baila a Associação Tijupá, que colabora com o MABE, conforme
informou a militante desse movimento na entrevista à TV Câmara (pág. 162).

Ora, na petição admitida contra o CLA pela CIDH – Comissão


Interamericana de Direitos Humanos (pág. 208), entre as entidades que a
promoveram, aparece a SMDH – Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos

156
NEWTON, Greg (da Agência Reuters). Funai sofre ingerência de investidor alemão. Jornal de Brasília,
Brasília, 07 mar. 2004. Matéria transcrita no Diário do Senado Federal, em 11 mar. 2004, pp. 06584-06585.
220
Humanos. Ora, a Associação Tijupá foi criada, em 1990, por desmembramento
dessa ONG.157

Não bastasse, a professora Maristela, levada à OIT como perita


na “questão quilombola” em Alcântara, é co-fundadora da SMDH; condição suficiente
o bastante para torná-la impedida de atuar.

Interessante perceber que, na SMDH, irmanada à professora


Maristela, surge a engenheira agrônoma Marluze do Socorro Pastor dos Santos, a
primeira, como co-fundadora158; a segunda, como diretora159. Sem descartar outras
ações conjuntas de ambas, do mesmo modo que a professora Maristela, a agrônoma
Marluze tem passagem também pela Cáritas160, sendo registrado, ainda, ser
integrante da Associação Maranhense de Pesquisas Afro Brasileiras
(AMPEAFRO)161 e do Fórum Carajás (reunião de ONGs do Maranhão, Pará, em
articulação com entidades da Alemanha, para acompanhar os impactos sociais,
ambientais e econômicos sobre a região de abrangência da Ferrovia de Carajás.162

157
LUZZI, Nilsa. O debate agroecológico no Brasil: uma construção a partir de diferentes atores sociais. Tese
apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em Ciências Sociais em
Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2007. p.
61 (nota de rodapé). Disponível em: <www.ufrrj.br/cpda/static/tese_nilsa_luzzi.pdf>. Acesso em: 06 jul. 2010).
158
Disponível em: SMDH (Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos).
<www.smdh.org.br/geral.php?id=Hist%F3rico>. Acesso em: 04 jul. 2009.
159
SILVA, José Domingos Cantanhede. Pobreza e Desenvolvimento: o PCPR nas Comunidades Quilombolas.
Dissertação apresentada à Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Mestre em Políticas
Públicas. São Luís, 2005. p. 10. Disponível em: <www.pgpp.ufma.br/producao_cientifica/download.php?id=6>.
Acesso em: 04 jul. 2010. Trecho tomado como referência: “Através do Projeto Babaçu, elaborado sob a liderança
de Marluze Pastor Santos, quando ainda era diretora da SMDH, tivemos as condições para colocar na pauta
de discussão dos movimentos sociais e de algumas agências governamentais as questões relativas à extração
da amêndoa do babaçu. Nesta ocasião agradeço pelas críticas e sugestões feitas ao meu projeto de dissertação
apresentado nos processos seletivos do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e da Ford
Foundation.” (g.n.).
160
ALMEIDA, Rogério. A voz da terra: duas décadas líder de audiência. 2006.
Disponível em: <www.piratininga.org.br/2006/85-voz-da-terra.html>. Acesso em: 04 jul. 2010.
161
Disponível em: CECAB (Centro de Estudos do Caribe no Brasil). <www.revistabrasileiradocaribe.org>. Acesso
em: 04 jul. 2009.
162
Disponível em: CONTR@PONTO. <www.uniblog.com.br/abracorsspa/107948/contra-ponto-edicoes-de-
n%C2%BA-41-e-45.html>. Acesso em: 04 jul. 2009.
221
Ora, a agrônoma Marluze, em cota do PT, era a
superintendente do IBAMA no Maranhão; de modo que todos os vínculos levantados
imediatamente antes até poderão explicar os óbices ambientais que impediram, sob
o viés ecológico, a ampliação do CEA e atrasaram a construção do sítio da ACS,
embora dentro da própria área do CLA.

Coincidência ou não, só depois da exoneração da agrônoma


Marluze do cargo que ocupava no IBAMA163 é que foi liberada a licença prévia
daquele órgão para o projeto de implantação do Complexo Terrestre Cyclone-4 no
Centro de Lançamento de Alcântara.164

De qualquer modo, a sombra de organizações estrangeiras não


permeia apenas as atividades da professora Maristela, mas também da agrônoma
Marluze. Em carta de recomendação enviada à Fundação Ford, ambas solicitaram o
apoio daquela organização à dissertação de mestrado de um indicado delas (g.n.):

Para conseguir participar no Programa de Bolsa de Pós-Graduação


da Fundação Ford obtive apoio de várias pessoas. As professoras
Maristela Andrade e Sandra Nascimento, além de lerem o meu
projeto, enviaram cartas de recomendação. Marluze Pastor
Santos, na qualidade de coordenadora do Fórum Carajás, assinou
uma carta de recomendação testemunhando a minha
participação nos movimentos sociais, assim como Joseane
Gamba o fez sobre minha atuação como técnico e Secretário
Executivo da SMDH – Sociedade Maranhense de Direitos Humanos.
A todas elas meu sincero agradecimento.165

163
IMIRANTE.COM. Ibama no Maranhão tem novo Superintendente. Disponível em:
<http://imirante.globo.com/noticias/pagina206602.shtml>. Acesso em: 06 jul. 2010.
164
PANORAMA ESPACIAL. ACS: IBAMA concede licença. Disponível em:
<http://panoramaespacial.blogspot.com/2010_04_01_archive.html>. Acesso em 06 jul. 2010.
165
SILVA, José Domingos Cantanhede. Pobreza e Desenvolvimento: o PCPR nas Comunidades Quilombolas.
Dissertação apresentada à Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Mestre em Políticas
Públicas. São Luís, 2005. p. 10. Disponível em: <www.pgpp.ufma.br/producao_cientifica/download.php?id=6>.
Acesso em: 04 jul. 2010. p. 13.
222
Além disso, a própria Sociedade Maranhense de Direitos
Humanos, que irmana todos os protagonistas citados imediatamente antes, é
financiada por entidades estrangeiras – Fundação Ford, Oxfam e Misereor –,
conforme comprova o seu endereço eletrônico (Fig. 70).

Fig. 70 – Extrato do site da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, financiada por


organizações estrangeiras, e da qual a professora Maristela é co-fundadora e a
agrônoma Marluze, ex-superintendente do IBAMA no Maranhão, aparece como diretora.
Disponível em: SMDH (Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos).
<http://www.smdh.org.br/parceiros.php?id=Parceiros>. Acesso em: 04 jul. 2010.

No endereço eletrônico da OEA, foi disponibilizado um vídeo da


audiência ocorrida na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, no dia 28 de
outubro de 2008, em Washington.166 Nele, aparece a professora Maristela, que lá

Disponível em: OAS (OEA) - Organization of American States (Organização dos Estados Americanos).
166

<www.oas.org/en/media_center/videos.asp?sCodigo=08-0347&videotype=>. Acesso em: 08 jun. 2010.


223
compareceu na condição de perita, acusando o Brasil de promover limpeza étnica
em Alcântara.

Desse vídeo, extraímos as imagens que estão no próximo


quadro (Fig. 71). Um olhar mais atento perceberá o vivo interesse de um grupo de
pelo menos cinco freiras norte-americanas, acompanhando esse evento; o que bem
comprova, mais uma vez, a multiplicidade de interesses externos sobre o que
acontece em Alcântara.

Fig. 71 – A causa “quilombola” de Alcântara tem outros atores interessados, como as freiras
norte-americanas, ao fundo, que acompanharam a audiência na CIDH. Foram pelo menos cinco
delas. Na foto da direita, no peito da religiosa, a cruz por elas utilizadas.
Disponíveis em:
OAS (Organization of American States). <www.oas.org/Photos/2008/10Oct/62/pages/_0000965.htm>; e
OAS (Organization of American States). <www.oas.org/en/media_center/videos.asp?sCodigo=08-
0347&videotype=>. Ambos os acessos em: 08 jun. 2010.

É inegável que a linha progressista da Igreja Católica e seus


desdobramentos, como o MST, são outros elementos a criar obstáculos à
implantação do CEA; o que explicaria a presença das referidas religiosas na
audiência da CIDH (g.n.).

Ratificando informação citada anteriormente, dada por jovens


alcantarenses que são soldados do CLA, sobre uma romaria promovida pela Igreja

224
Católica e por ONGs contra as atividades espaciais em Alcântara, encontramos a
seguinte notícia (g.n.):

Cerca de 5.000 pessoas são esperadas para participar no fim de


semana de uma manifestação no Maranhão em protesto contra a
situação das famílias desapropriadas para a construção da base
aeroespacial de Alcântara. O acordo firmado entre o Brasil e os
Estados Unidos que permite o uso da base para lançamento de
foguetes com satélites também será alvo dos protestos.
(...)
Segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço agrário da
Igreja Católica e organizadora da romaria, estão programadas uma
vigília e uma caminhada de aproximadamente cinco quilômetros.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) já
confirmou sua participação no evento e deverá ser representado por
cerca de 300 pessoas.167

A presença de sindicatos, da CPT e do MST na região confere


um viés ideológico que, necessariamente, não busca a solução dos problemas que
ali têm lugar, vez que é próprio dessas organizações se alimentarem de conflitos.

4.8. O papel do Ministério Público Federal

É indubitável que alguns membros do Ministério Público


Federal, talvez por boa-fé e crendo piamente nas “causas nobres” que abraçam, são
muito ativos em litígios como os relativos aos “quilombolas”, fazendo com que o
Parquet passe a atuar, não como órgão do Estado brasileiro, mas como parte efetiva
do litígio, dando, de forma incondicional, todo o suporte jurídico necessário aos
litigantes que se contrapõem aos interesses do Estado.

167
GUIBU, Fábio. Protestos contra base de Alcântara deve reunir 5.000 no Maranhão. Folha Online. 14 nov.
2002. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u42475.shtml>. Acesso em: 10 jun. 2010.
225
O MPF se faz mais parte do que as próprias partes que seriam
as maiores interessadas, pois tornam suas teses invocadas por antropólogos que
nem mesmo são esposadas pelos habitantes locais.

Há algum tempo, é perceptível o comprometimento de parcela


do Ministério Público Federal com questões ambientais, indígenas e raciais,
extrapolando as suas funções institucionais e se associando diretamente com
organizações supranacionais.

Sobre isso, é relevante a fala de algumas autoridades, a


corroborar as nossas colocações, como o Deputado Aldo Rebelo, ex-presidente da
Câmara dos Deputados, que deixou isso patente (g.n.):

Aplaudido por ruralistas, o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-


SP) disse ontem numa audiência pública em Ribeirão Preto para
debater o Código Florestal que alguns membros do Ministério
Público agem como "braços jurídicos das ONGs"
168
ambientalistas.

O Ministro Gilmar Mendes, ainda Presidente do STF, foi mais


incisivo em suas palavras (g.n.):

Sem falar diretamente sobre a guerra de liminares que envolveu o


leilão de concessão da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA),
o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar
Mendes, criticou o que chamou de "instrumentalização" e "coop-
tação" do Ministério Público para defender interesses de ONGs.
"Às vezes são ONGs que entram com ações ou acionam o MP.
Se ele (o MP) se deixa usar como instrumento de ONGs, isso não
é correto. É uma instituição que tem que zelar pelo cumprimento da
lei", afirmou.
"É preciso encarar esse debate com muita objetividade e sem paixão.
Temos que ter muito cuidado porque essas ONGs podem estar

168
Procuradores agem como “braços das ONGs”, diz Aldo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 04 fev. 2010. Ciência,
p. A18.
226
sendo financiadas por empresas internacionais e representando
seus interesses. Então não vamos ser ingênuos", completou.
Ele também criticou o que chamou de "estratégia de guerrilha
judicial", referindo-se à elaboração de mais de um pedido sobre a
mesma coisa, só para possibilitar o adiamento do debate. "Esses
agrupamentos montam estratégias de guerrilhas judiciais e dividem
os pleitos (pedidos) para que não haja decisão definitiva", disse.
"É comum que ONGs façam cooptação do MP para as suas
teses. Nenhuma ONG está revestida do título de defensora maior do
planeta".169

O Deputado Cláudio Cajado, em voto em separado relativo ao


Projeto de Lei nº 2.292/07, apontou para o envolvimento de integrantes do Ministério
Público Federal com ONGs e organizações estrangeiras. Esse projeto de lei, a título
de dispor sobre a compensação financeira relativa ao resultado da exploração de
atividades econômicas aeroespaciais e afins, pretende, na verdade, beneficiar os
“quilombolas” de Alcântara. O Parlamentar, ao se referir a nomes que tinham sido
indicados para oitiva em audiência pública sobre essa questão, registrou (g.n.):

O terceiro nome constante do Requerimento em tela é o de Deborah


Macedo Duprat de Britto Pereira, hoje, vice-procuradora-geral da
República, com pesquisa efetuada na Internet revelando cópia de
expediente do Ministério Público Federal a indicar sua participação
em evento patrocinado diretamente pela Embaixada Britânica e
pela Fundação Ford (...).170

O Parlamentar se referia à Conferência Inter-Regional sobre


Sistemas de Justiça e Direitos Humanos, em setembro de 2006, no Itamaraty; o que
parece demonstrar a ingerência, aceita sem contestação e aplaudida por autoridades
brasileiras, de organizações e governos estrangeiros em nossas questões internas.

169
SELIGMAN, Felipe. Mendes critica "instrumentalização" do Ministério Público por ONG. Folha OnLine, 21 abr.
2010. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u724138.shtml>. Acesso em: 09 jun. 2009.
170
Disponível em: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei nº 2.292, de 2007.
<www.camara.gov.br/sileg/integras/694469.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2009.
227
E sobre a Fundação Ford, com já visto antes, há “pegadas” dela na questão dos
“quilombolas” de Alcântara e em outros “quilombos” do Brasil, assim como nas
questões relativas aos índios brasileiros.

Em seguida, o Deputado prosseguiu, revelando a presença da


vice-procuradora, ao lado de onguistas, nas seguintes ocasiões: em 2003/04, no
papel de professora da disciplina Direito e Povos Indígenas de um curso de especia-
lização financiado pela Fundação Ford na Universidade Federal de Roraima (UFRR);
em maio de 2008, no Encontro dos Povos Indígenas e Movimentos Sociais da Bacia
do Xingu, em Altamira, estado do Pará, promovido pelo Conselho Indigenista Missio-
nário (CIMI) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), entre outras organizações.171

Nesse evento, em Altamira, em que um engenheiro da


Eletrobrás foi ferido por índios caiapós, a vice-procuradora, junto com o procurador
Marco Antônio Delfino, abordaram o tema, bastante sugestivo pela carga semântica
de algumas palavras empregadas, “A batalha judicial de Belo Monte pela falta de
consulta aos índios”.172

O Deputado Cláudio Cajado ainda ressalta a vinculação do ISA


com a Fundação Ford:

Há de se destacar que o ISA é a mais importante das ONGs que se


dizem brasileiras, com forte atuação nas demarcações das terras
indígenas e percebendo a maioria dos seus recursos de
organizações e governos estrangeiros, inclusive da Fundação Ford,
da qual parece ser uma entidade dileta.173

Observando que a atuação do Ministério Público, em última


instância, é, sistematicamente, contra projetos de desenvolvimento, matéria

171
Disponível em: CÂMARA DOS DEPUTADOS. <www.camara.gov.br/sileg/integras/694469.pdf>. Acesso em:
03 jun. 2009.
172
Ibid.
173
Ibid.
228
publicada em periódico de circulação nacional acusa o desvirtuamento de segmentos
daquele órgão quando do cumprimento de suas funções constitucionais (g.n.):

Em carta aberta, o presidente da Abdib (associação da indústria de


base), Paulo Godoy, condenou a ação do Ministério Público de
processar por improbidade administrativa o presidente do Ibama,
Roberto Messias Franco, por ter concedido a licença de instalação
para o início da obra de construção da hidrelétrica de Jirau.
(...)
Segundo Godoy, Messias vive hoje o mesmo constrangimento que,
recentemente, Jerson Kelman, ex-diretor-geral da Aneel, e Adriano
Rafael Arrepia de Queiroz, coordenador-substituto de energia
hidrelétrica do Ibama, também sofreram ao terem sido favoráveis
aos projetos de Jirau e Belo Monte.
Para Godoy, há, por trás desse padrão de comportamento, uma
triste sensação. A de que, muitas vezes, esses processos
administrativos ignoram a lisura do processo, a qualificação técnica
do servidor, a profundidade da documentação apresentada e a
qualidade e o histórico de atuação do órgão que tomou a decisão.
"Parece um jogo de poder, uma cruzada pessoal, em que a
instituição que detém poder de veto ou de polícia o usa para
ameaçar, cercear ou para autopromoção", afirma.
(...)
Para Godoy, essas distorções são fruto de uma Constituição que
foi obrigada a criar leis e estruturas para proteger o cidadão contra os
desmandos e a intransigência de um Estado então ditatorial. "Pas-
sados mais de 20 anos da publicação da Constituição de 1988, pare-
ce imprescindível o país arrostar esse emaranhado jurídico e institu-
cional e, a partir disso, remover algumas das amarras que travam a
promoção do desenvolvimento da sociedade e da economia", diz. "É
preciso abrir o debate, preservar conquistas e corrigir desvios." 174

Enio Antunes Rezende, em tese de doutorado, também


identifica essa tendência de parcela do Ministério Público ao tratar da composição do

174
BARROS, Guilherme. Empresários repudiam ação contra Ibama. Folha de S. Paulo, São Paulo, 15 jul. 2009.
Dinheiro, p. B2.
229
Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), órgão colegiado do Ministério
do Meio Ambiente (g.n.):

Durante a pesquisa de campo pode-se constatar que a gama de inte-


resses no CGEN possui representações duplicadas ou até quadrupli-
cadas. Cabe afirmar que a organização dos grupos a serem apresen-
tados abaixo é uma construção do pesquisador, que foi feita a partir
das informações e percepções das representações entrevistadas.
Essa construção também se beneficiou de observações realizadas
durante a participação do pesquisador nas reuniões do CGEN.
Portanto, pode-se afirmar que as diferentes representações
tenderiam a se alinhar formando os seguintes grupos:
Grupo 1: IBAMA, MMA, (ABONG, FBOMS, SBPCHum);
Grupo 2: MCT, MIDIC, CNPQ, INPI (SBPC, CEBDS, ABRABI,
FEBRAFARMA);
Grupo 3: MAPA, EMBRAPA;
Grupo 4: MS, FIOCRUZ, Instituto Evandro Chagas;
Grupo 5: MINC, Fundação Palmares;
Grupo 6: COIAB, CNS, MPF;
Grupo 7: MD, MJ e MRE.
Nem sempre os integrantes destes grupos informais possuem uma
visão homogênea sobre as questões votadas pelo conselho, existem
situações específicas em que os interesses internos ao grupo podem
divergir. Entretanto, a existência desses grupos pode ser atestada
tanto pelo fato de que alguns conselheiros se auto-identificam como
participantes de determinado grupo quanto pelo modo jocoso como
se referiam a determinado grupo tido como opositor político, por
exemplo: alguns representantes do Grupo 1 referiam-se aos
representantes dos Grupos 2, 3 e 4 como o “eixo do mal”, enquanto
que alguns representantes destes mesmos grupos referiam-se aos
representantes do Grupo 1 e 6 como “máfia verde”.
Tal percepção também foi corroborada durante as reuniões do
CGEN, quando se pôde observar as interações pessoais existentes

230
dentro e entre esses grupos, além da própria dinâmica da votação
das questões tratadas pelo Conselho.175

Enxergando mais de perto a atuação comprometida de


membros do Ministério Público na questão dos “quilombolas” de Alcântara, a Ação
Cautelar Inominada impetrada pelo Ministério Público Federal 176, em 15 de maio de
2008, contra a AEB, a ACS e a Fundação Aplicações de Tecnologias Críticas
(ATECH), que impediu os trabalhos preparatórios para a instalação do sítio de
lançamento da ACS nos povoados de Mamuna e Baracatatiua, foi subscritada pelos
procuradores da República Alexandre Silva Soares, Tiago de Sousa Carneiro e
Regis Richael Primo da Silva.

O primeiro deles, Alexandre Silva Soares (Fig. 72), pouco antes


de ingressar com a ação, mais precisamente entre 21 e 23 de março de 2007, havia
participado, sob os auspícios da Fundação Ford, do Seminário “Formação Jurídica
e Povos Indígenas, Desafios para uma educação superior no Brasil”, na
Universidade Federal do Pará (UFPA); evento ao que compareceram nove
procuradores do MPF (Fig. 73).177

175
REZENDE, Enio Antunes. Biopirataria ou bioprospecção? Uma análise crítica da gestão do saber tradicional
no Brasil. Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Administração da Escola de Administração da
Universidade Federal da Bahia, em 2008, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em
Administração. Disponível em: <www.adm.ufba.br/pub/publicacao/4/DOUT/2007/734/tese_enio_2008.pdf>.
Acesso em: 26 jul. 2009.
176
Disponível em: MPF (Ministério Público Federal). Procuradoria da República no Maranhão.
<www.prma.mpf.gov.br/uploads/File/ACI%20Alcantara.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2010.
177
Disponível em: UFPA (Universidade Federal do Pará). <www.ufpa.br/juridico/index.php?pag=programacao>.
Acesso em: 05 jun. 2010.
231
(...)

Fig. 72 – Montagem com elementos de página eletrônica do seminário “Formação Jurídica e


Povos Indígenas, Desafios para uma educação superior no Brasil”, realizado na Universidade
Federal do Pará, destacando-se os nomes de alguns membros do Ministério Público Federal,
entre os nove que participaram do evento, em particular o de Alexandre Silva Soares.
Fonte: UFPA. <www.ufpa.br/juridico/index.php?pag=programacao>. Acesso em: 05 jun. 2010.

Fig. 73 – Montagem com elementos de página


eletrônica do seminário “Formação Jurídica e Povos
Indígenas, Desafios para uma educação superior no
Brasil”, realizado na Universidade Federal do Pará,
destacando-se a Fundação Ford como agente
financeiro e o apoio do Ministério Público
Federal.
Fonte: UFPA.<www.ufpa.br/juridico>. Acesso em: 05 jun. 2010.

232
A programação desse evento fez com ele mais parecesse um
convescote de confraternização entre várias ONGs, ativistas sociais e instituições
públicas de ensino superior apoiadas pela mesma fundação norte-americana de
atuação transnacional.

E o que mais uma vez salta aos olhos é a presença da grande


“mão” da Fundação Ford, que também se nota em muitas outras frentes que ferem a
soberania e os interesse nacionais, surpreendendo, não o comparecimento desse ou
daquele integrante do Parquet ao seminário, mas a participação maciça e direta do
Ministério Público Federal e de outros órgãos e entidades públicas, contribuindo para
um evento apoiado financeiramente por aquela entidade norte-americana, que
também projeta sua influência na questão dos “quilombolas” de Alcântara.

O mesmo procurador Alexandre Silva Soares é encontrado,


depois, ao lado de várias ONGs, ativistas sociais e acadêmicos que atuam na
mesma linha, inclusive da professora Maristela de Paula Andrade, cujo
comprometimento com a causa “quilombola” de Alcântara já foi alvo de
considerações anteriores, participando da mesa-redonda “Políticas de
desenvolvimento, movimentos sociais e conflitos sócio-ambientais” (Fig. 74), na VI
Jornada Maranhense de Sociologia, de 6 a 9 de outubro de 2010.178

178
Disponível em: CCN-MA (Centro de Cultura Negra do Maranhão).
<http://ccnmaranhao.blogspot.com/2009_10_01_archive.html>. Acesso em: 06 jun. 2010.
233
Fig. 74 – Montagem com elementos de página eletrônica do Centro da Cultura Negra do
Maranhão relativa à mesa-redonda “Políticas de desenvolvimento, movimentos sociais e
conflitos sócio-ambientais”, na VI Jornada Maranhense de Sociologia, de 6 a 9 de outubro de
2010, destacando-se o nome do procurador Alexandre Silva Soares.
Fonte: UFPA. CCN-MA (Centro de Cultura Negra do Maranhão).
<http://ccnmaranhao.blogspot.com/2009_10_01_archive.html>. Acesso em: 06 jun. 2010.

Mais recentemente, ao defender os interesses da entidade que


preside, a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a
senadora Kária Abreu foi outra a “colocar o dedo na ferida” representada pela
atuação do Ministério Público, acusando procuradores de terem sido capturados pela
ideologia das ONGs (g.n.):

A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) pediu na Justiça a suspensão da


campanha intitulada "Carne Legal", que recomenda aos
consumidores que verifiquem a origem da carne produzida na
Amazônia. A campanha, disponível ainda na internet, começou a ser
veiculada em junho com três vídeos, intitulados "churrasco de
desmatamento", "picadinho de trabalho escravo" e "filé de lavagem
de dinheiro".
Para a CNA, a campanha tem viés ideológico e é uma forma de
pressionar empresas e produtores a assinarem termos de ajuste de
conduta com o Ministério Público, que valem como garantia de
234
origem da carne. "Os produtores são acusados de crime por não
aceitarem os termos impostos pelos procuradores da República
capturados pela ideologia das ONGs", diz a ação apresentada à
Justiça..
(...)
(...) Os vídeos foram produzidos pela Fundação Padre Anchieta. Os
custos de produção e veiculação da campanha, bancada pelo
Ministério Público, foram estimados em cerca de R$ 400 mil. (...)179

José Luiz de Andrade Franco e José Augusto Drummond,


professores da Universidade de Brasília (UnB), estudando a “criação” de “quilombo”
na localidade do Tambor, no município de Novo Airão, estado Amazonas, além de
evidenciarem um modus operandi padrão – o que caracteriza uma orientação
centralizada –, revelam, mais uma vez, o comprometimento do Ministério Público
Federal, o viés ideológico da questão e a manipulação que se faz (g.n.):

Não há fato novo que desminta tal versão. Como, então, em 2006,
surgiu, no Tambor, uma comunidade de remanescentes de
quilombos, reconhecida pela Fundação Cultural Palmares (FCP)?
Bem, é uma consequência da crença de que a versão da história
que deve prevalecer é aquela que favorece as lutas dos
movimentos sociais. Então, se não há fatos novos, que os fatos
sejam criados. Se os conceitos são insuficientemente largos para
abranger os grupos sociais que se pretende enquadrar nas leis, que
sejam ampliados os conceitos. Esta lógica fica clara quando se
afirma que, para serem consideradas remanescentes de
quilombos, as comunidades que pretendem se beneficiar do art. 68
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias não precisam
ter sido constituídas por escravos fugidos.
(...)
No caso do PNJ [Parque Nacional do Jaú], o quilombo foi literalmente
uma “invenção” que veio de “fora”. Isto se descobre facilmente
quando conversamos com os moradores do Tambor. Eles são
unânimes em dizer que são “carambolas” (expressão usada por
todos os entrevistados e que demonstra a falta de familiaridade com
179
SALOMON, Marta. CNA diz que acordo de carnes é uma 'farsa'. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 06 ago.
2010. Economia, p. B8.
235
o conceito de quilombola) sim, mas são unânimes também em admitir
que nunca haviam pensado nisso antes da chegada de “Ana Felícia”
– trata-se da pesquisadora da FIOCRUZ Ana Felisa Guerrero, que,
desde 2003, passou a referir-se, em seus artigos e projetos de
pesquisa sobre saúde negra na Amazônia, aos moradores do
Tambor como remanescentes de quilombos (Creado, 2006). Ana
Felisa foi além. Articulou-se com o Ministério Público Federal
(MPF), com a FCP [Fundação Cultural Palmares], com ex-
moradores do Tambor, agora residentes em Novo Airão, e com
lideranças do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Novo Airão
(STRNA), para iniciar o processo de reconhecimento da comunidade
do Tambor como remanescente de quilombo (Creado, 2006).
Os moradores do Tambor entrevistados identificam as seguintes
pessoas como promotoras da ideia de quilombo: Ana Felisa
Guerrero, a “Ana Felícia” (pesquisadora da FIOCRUZ), Marcos Farias
de Almeida (antropólogo do MPF), Sebastião Abreu de Almeida,
o Bá (ex-morador do Tambor, residindo há mais de dez anos em
Novo Airão) e Aldenor (STRNA). Estes moradores do Tambor,
unanimemente, disseram ser “carambolas” porque foram feitas a
eles promessas de que seriam indenizados e receberiam as
terras onde moram, além da luz elétrica e outras facilidades. No
entanto, eles não podem ser indenizados e receber a terra, pois a
indenização está condicionada, justamente, à saída da terra que
ocupam no interior do PNJ. Revelaram-se mal informados sobre as
implicações da posse coletiva da terra, no caso das comunidades
remanescentes de quilombos, e sobre as restrições que continuarão
a pesar sobre eles, no que diz respeito ao comércio e circulação de
carne de caça, pirarucu e “bichos de casco”. Todos disseram preferir
a indenização ao quilombo e demonstraram pouco apego a
tradições “imemoriais” e à posse coletiva do território, preferindo
buscar “cada um o seu caminho”, como foi frisado por um dos
entrevistados, um senhor com cerca de 60 anos.180

180
FRANCO, José Luiz de Andrade; e DRUMMOND, José Augusto. “A Invenção de um Quilombo na
Comunidade do Tambor” (in Terras de Quilombolas e Unidades de Conservação: uma discussão conceitual e
política, com ênfase nos prejuízos para a conservação da natureza. 2009. p. 56 e 58-59). Disponível em:
<www.grupoiguacu.net/documentos/Quilombolas.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2010.
236
Trocando os nomes dos personagens e o lugar, é a mesma história dos
“quilombos” de Alcântara, com os seguintes pontos comuns, alguns concluídos da
leitura de outros trechos do trabalho dos professores da UnB:

a adoção de instrumentos para “convencer” os rurícolas a se declararem


quilombolas, em uma espécie de “vale-tudo” para se obter a “auto-declaração”,
de modo a implementar a máxima “tem que primeiro convencer para depois
titular”181;

é um processo longe de ser espontâneo, uma vez que provocado por agentes
externos aos habitantes locais;

os agentes estatais extrapolam o seu papel institucional (Ministério Público


Federal, INCRA, Fundação Cultural Palmares etc.), fazendo-se indutores do
processo ao lado de sindicatos de trabalhadores rurais, de “lideranças” locais
fabricadas ou cooptadas e de onguistas;

os laços de parentesco e de compadrio entre comunidades vizinhas;

a inexistência de população exclusivamente negra;

os casamentos entre negros e caboclos;

nenhum apartheid, devido à intensa miscigenação;

uma cultura comum, sem conotação étnica, ditada pelo tipo de atividade
extrativista local, caldeando elementos remanescentes dos índios e de
populações migrantes; e

a divisão, que é recente e bem acentuada, entre católicos e protestantes.

181
TRINDADE, Joseline Simone Barreto. Nós, quilombolas: a construção da identidade quilombola a partir dos
mapeamentos de comunidades negras rurais no Pará. In: XXIV Reunião Brasileira de Antropologia, 2004, Olinda
(apud FIABANI, Adelmir. O quilombo antigo e o quilombo contemporâneo: verdades e construções. Disponível
em: <http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Adelmir%20Fiabani.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2012. p. 9).
237
Buscando socorro em trabalho acadêmico ao qual já
recorremos antes, o seu autor termina por corroborar essa invenção de “quilombo”,
feita no ambiente acadêmico, de forma completamente alheia aos supostos
“quilombolas” – uma invenção provocada por agentes externos aos pretensos
“quilombos” (n.g.):

No entanto, a abertura tanto da burocracia estatal quanto da agenda


governamental para militantes do movimento negro favoreceu a
disseminação de alguns esforços – ainda embrionários no inicio da
década de 1980 – de identificação e mobilização de
comunidades negras rurais até então desconhecidas.

Tais iniciativas vinham sendo promovidas principal-


mente por acadêmicos, e ocorreram de maneira relativamente
esparsa em diferentes regiões do Brasil – sobretudo, no Maranhão,
no Pará e, em menor medida, em São Paulo (...).182

Tantos indícios sugerem que antropólogos e procuradores,


ainda que de boa-fé e acreditando na “causa”, atuam como instrumentos de ONGs,
formalizando procedimentos em que os primeiros dão o respaldo técnico e, os
segundos, o respaldo jurídico. E se perscrutações mais detalhadas forem feitas, com
toda certeza outros nomes e informações irão surgindo na extensa malha
estabelecida em torno da questão “quilombola” em Alcântara, na qual os verdadeiros
protagonistas não são os rurícolas do município, mas aqueles que movimentam os
cordéis por trás dos panos.

182
OLIVEIRA, Frederico Menino Bindi de. Mobilizando oportunidades: estado, ação coletiva e o recente
movimento social quilombola. Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre
em Ciência Política no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de S. Paulo, São Paulo, em 2009. Disponível em:
<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-10122009-113130/pt-br.php>. Acesso em: 20 jul. 2012. p. 62-63.

238
5. CONCLUSÃO

Disponível em: SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).


<www.jornaldaciencia.org.br> (Jornal da Ciência nº 697, 9 set. 2011). Através de:
<www.jornaldaciencia.org.br/impresso/JC697.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2012.

239
Programa Espacial Brasileiro entrou em seu último ano sob o
governo Lula com dificuldades para cumprir uma promessa feita
pelo presidente: colocar um foguete em órbita.
Os dois projetos que podem conseguir isso provavelmente só
terão voos de qualificação após o mandato de Luiz Inácio Lula
da Silva, e alguns especialistas dizem que as duas empreitadas
acabarão competindo uma com a outra.
Quando o VLS (Veículo Lançador de Satélites) explodiu em
2003, matando 21 pessoas no CLA (Centro de Lançamento de
Alcântara), no Maranhão, Lula afirmou que ajudaria o projeto da
Aeronáutica a se recuperar a tempo de lançar o foguete no ano
seguinte. Não foi tão rápido. O VLS – que pretende colocar
satélites de até 400 kg em órbita baixa (cerca de 800 km) – foi
retomado, mas só terá um primeiro lançamento experimental em
2011.
(...)
O outro foguete a ser lançado do Maranhão é o Cyclone-4,
projetado pela binacional ACS (Alcântara Cyclone Space),
criada pelos governos de Brasil e Ucrânia. O projeto – capaz de
levar 1.600 kg a órbitas de 35 mil km de altitude – mantém o
cronograma com lançamento em 2010, mas está com
dificuldades de financiamento.
GARCIA, Rafael. Plano brasileiro de lançar foguete enfrenta
atraso. Folha de S. Paulo, São Paulo, 2 jan. 2010. Ciência, p.
A8.

240
5. CONCLUSÃO

2003,... 2010, 2011, 2012 e 2013 se avizinhando... e o


Programa Nacional de Atividades Espaciais virou uma novela sem fim.

Afora os óbices externos, representados principalmente pelos


embargos no fornecimento de equipamentos e dispositivos sensíveis, há a postura
errática que sucessivos governos brasileiros têm adotado frente ao PNAE, travando
o seu desenvolvimento.

Podem ser creditadas ao estamento governamental as políticas


de administração de pessoal e de aquisição de material que clamam por radicais
mudanças, a carência crônica de recursos que justificam a falta de investimentos, a
instabilidade e a descontinuidade do fluxo de recursos, a pequena prioridade na
formação no campo das ciências exatas, a falta de comando para a correta
coordenação de todos os órgãos e entidades que participam do PNAE; em suma, a
ausência de uma efetiva Política Espacial Brasileira.

Mais grave, é a implantação do Complexo Espacial de


Alcântara que não se perfaz, com o Governo federal cedendo às pressões de
entidades internacionais e de ONGs estrangeiras, às quais se juntam as “brasileiras”
financiadas com recursos externos e alguns segmentos do próprio Estado.

O Governo federal, no lugar de se posicionar de forma altiva e


soberana, rechaçando com veemência as interferências contrárias à segurança e ao
desenvolvimento nacionais, demonstra tibieza e leniência. Isso para não dizer da
cumplicidade, quando se verifica a existência de ativistas sociais, autênticos
representantes dessas ONGs, nomeados para cargos sensíveis no aparelho estatal,
conduzindo ações em consonância com os influxos externos que recebem.

A “questão quilombola” em Alcântara de há muito tempo


poderia estar resolvida e de uma forma socialmente justa, sem causar prejuízos aos
habitantes dos povoados a serem reassentados em outras áreas. Essa questão,
241
levantada em cima de uma premissa falsa, porque ali não há quilombolas, tem
servido de pretexto, ao lado das questões ambientais, para retardar ou, mesmo,
impedir o desenvolvimento do segmento espacial brasileiro, com o Governo,
docilmente, aceitando tudo isso.

De qualquer modo, justifica-se o tom ácido da conclusão,


apontando para o Governo federal, porque este, como intérprete dos interesses do
Estado e das aspirações do povo brasileiro, deve sair do acuamento a que foi levado
e passar à ofensiva, revertendo o quadro atual em favor do PNAE, Objetivo Nacional
Permanente a ser perseguido e mantido, a despeito de todos os óbices internos e
externos que se levantam.

Está nas mãos do Governo federal a política de recursos


humanos, da flexibilização das normas aplicáveis à aquisição de tecnologias críticas,
do direcionamento correto dos recursos, da contraposição aos agentes internos e
externos que trabalham contra as atividades espaciais brasileiras, de exercer o papel
de principal cliente dos produtos espaciais da indústria nacional e de tomar em suas
mãos inúmeras outras medidas absolutamente necessárias para vencer as forças
ocultas que atrapalham o desenvolvimento de todas as áreas estratégicas para o
Brasil e que clamam por socorro.

Há que se relegar ao passado o fazer CT&I à base do “martelo,


arame e durepoxi” e tirar o País da “corrida de obstáculos”, começando, para valer, a
corrida espacial.

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