EDUCAÇÃO

no OGE 2017
ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO
Mensagens chave
» Se aumentar os investimentos no sector da Educa-
ção, Angola pode melhorar ainda mais os resultados
alcançados após a consolidação da paz no país, em
2002, aspecto fundamental para o desenvolvimento
de Angola, dado que mais de metade da população
é menor de 19 anos.
• Apesar de o orçamento para o sector da Educação
ter crescido, de 2016 para 2017, cerca de 10%
em termos nominais, tendo em conta a inflação, o
orçamento acabou por baixar 5% em termos reais.
Resumo dos resultados da análise
do OGE para a Educação em 2016
Principais resultados da análise do OGE para a Educa-
ção, analisados em profundidade no Folheto de 2016:
1. Angola investe no sector da Educação pouco mais
de um terço (6.6%) daquilo que ficou previsto nos
Compromissos de Dakar de 2000, onde se compro-
mete a atribuir 20% da despesa total para o sector
de Educação.

• A percentagem da despesa total da atribuição
orçamental para a Educação tem vindo a carac-
terizar-se por uma tendência decrescente, re-
presentando actualmente cerca de 6% a 7% da
despesa total.
» As atribuições de Angola para a Educação devem
ser aumentadas para os 20% estipulados nos
seus compromissos internacionais (Compromisso
de Dakar, 2000), para que o país atinja o 4º Objec-
tivo de Desenvolvimento Sustentável, o da “Edu-
cação de Qualidade”. Actualmente, com menos de
7% da despesa total para o sector, Angola encontra-
-se muito abaixo de outros países da região da África
Austral. A título de comparação, por exemplo, em
2017 o Zimbabwe alocou 24.5% do seu Orçamento
geral do Estado (OGE) à Educação, a Namíbia 19.4%
e o Malawi 17%.
» A Lei de Bases da Educação considera o subsiste-
ma da Educação Pré-escolar obrigatório e a “base
da Educação”, mas nos últimos anos registaram-se
cortes drásticos na Educação Pré-Escolar pública.
Com um corte em 2017 de mais 67% do orça-
mento, uma percentagem muito significativa
das crianças em Angola não terão acesso à edu-
cação da primeira infância, período fundamental
no desenvolvimento do seu cérebro e na forma-
ção do adulto.1
» Existem assimetrias grandes na distribuição do
Orçamento Geral de Estado por província e por
habitante. As alocações em termos geográficos
das despesas com a Educação não são equitativas,
como ilustrado na análise da alocação do orçamento
2. O sector da Educação não está a ser preservado dos
cortes feitos em consequência da crise económica.
3. Existem algumas inconsistências entre as priorida-
des políticas no Plano Nacional de Desenvolvimento
2013-2017 (PND) e a alocação financeira no OGE.
4. Angola não está a investir recursos adequados no
Ensino da Primeira Infância, base crucial de toda a
Educação da criança.
5. A actual crise económica que o país enfrenta está
a provocar grandes atrasos na disponibilização dos
fundos previstos no OGE.
A continuação da crise implica que sejam feitas refor-
mas mais profundas para financiar de maneira ade-
quada a Educação: assegurar a gratuitidade do ensino
básico e garantir que as crianças e jovens angolanos te-
nham acesso a Educação de qualidade; cumprir com os
compromissos nacionais e internacionais assinados por
Angola, sobretudo a nova Agenda 2030 dos Objectivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em concreto o
ODS 4 - Educação de Qualidade. Isto requer um esforço
na estabilização do quadro macro-fiscal (em particular
no desacelerar da taxa de inflação, na protecção do sec-
tor de Educação de mais cortes fiscais, no aumento da
eficiência, da transparência e da prestação de contas e
na responsabilização do sector relativamente às despe-
sas e aos resultados dos investimentos na Educação;
requer também uma discussão abrangente das priori-
dades políticas e orçamentais de médio prazo do país).
©UNICEF Angola/2015/Carvalho

»
para a Merenda Escolar, com grandes disparidades
entre os valores disponíveis em diferentes provín-
cias (por exemplo, Kz 835 milhões em Moxico vs
aproximadamente Kz 749 milhões em Luanda).

» Para confrontar os diferentes desafios, as atribui-

ções orçamentais devem ter em consideração a
inflação e a crescente demanda da população es-
tudantil, resultante do elevado crescimento demo-
gráfico que se assiste no país.

2
A organização do sistema de
Educação em Angola
A Constituição da República de Angola define como ta-
refa fundamental do Estado promover o acesso univer-
sal ao ensino obrigatório gratuito. A nova Lei de Base da
Educação e Ensino (Lei 17/16), conforme no Artigo 9º,
diz que todos os indivíduos têm iguais direitos no aces-
so, na frequência e no sucesso escolar nos diversos
níveis de ensino, e o Artigo 11º confirma a gratuitidade
do Sistema de Educação e Ensino através da isenção
de qualquer pagamento pela inscrição, assistência às
aulas, material escolar e apoio escolar até à 9ª classe,
incluindo a Merenda Escolar para todos os indivíduos
que frequentam o ensino primário nas Instituições Pú-
blicas de Ensino.
O artigo 21º da Lei 17/16 confirma a importância fun-
damental e obrigatória do sistema de Educação pré-es-
colar, através de Centros Infantis, para crianças dos 3
meses até os 5 anos de idade.
Depois seguem-se três ciclos de um período total de
12 anos. O Ensino Primário, da 1ª à 6ª classe, e o Ensi-
no Secundário, com um primeiro ciclo da 7ª à 9ª classe,
e um segundo ciclo da 10ª até à 12ª classe. A Educação
Técnica e Profissional é realizada em centros de forma-
ção públicos e privados para todas as idades, e o nível
intermédio é realizado após a 9ª classe. Posteriormen-
te, existem as vertentes universitárias para o Ensino
Superior, que não fazem parte do foco desta análise.
Além destes, aponta vários subsistemas de Educação
definidos por lei, incluindo o da Educação de Adultos, o
qual inclui a Alfabetização.
As instituições sectoriais operam em três níveis terri-
toriais: central, provincial e municipal. Ao nível central
existem vários ministérios com responsabilidades es-
pecíficas para o sector. O principal responsável pela
implementação das políticas e planos educativos do
governo é o Ministério da Educação (MED), incluindo a
Alfabetização e a Educação de Adultos.
Ao nível local, existem Secretariados e Direcções pro-
vinciais de Educação (agora Gabinetes, de acordo com
a recente reorganização da Administração Local2), que
são unidades orçamentais, mas ao nível municipal, em-
bora existam secções de Educação (agora departamen-
tos municipais), elas não têm um orçamento próprio e
dependem da Administração Municipal. Estas autorida-
des locais têm um papel chave na execução do ensino
primário e secundário. Isto abrange a distribuição de
bens e serviços (como, por exemplo, a Merenda Esco-
lar) e alguns investimentos em infra-estruturas físicas
(como a restauração e construção de raiz de escolas).
Prioridades e realidades do sector
da Educação em Angola em 2017
As prioridades do Governo no sector da Educação não
mudaram significativamente em 2017, o último ano de
implementação do PND 2013-2017. As políticas educa-
tivas que continuam a ser formuladas em termos mui-
to gerais no Relatório de Fundamentação do OGE de
2017, derivado do PND, são:
» “Promover o Desenvolvimento Humano e Educa-
cional. Assegurar uma Educação e Aprendizagem
ao longo da vida para todos e para cada um dos an-
golanos.
» Continuar a implementar a Estratégia Nacional de
Desenvolvimento de Recursos Humanos, abrangen-
do e integrando todos os níveis de formação e de qua-
lificação, desde a alfabetização, educação e formação
inicial, até à formação avançada, dando resposta às
necessidades de desenvolvimento do País e melho-
rando substancialmente a qualidade da educação e
formação.”
Em termos mais específicos, e dentro das limitações
financeiras, o relatório enfatiza os seguintes programas
como prioritários:
» Programa de Alfabetização
» Programa de Expansão do Ensino Pré-Escolar
» Programa de Desenvolvimento do Ensino Primário
e Secundário
» Programa de Melhoria do Sistema de Formação
Técnico-Profissional
» Elaboração e Implementação da Estratégia Nacional
de Formação de Quadros.
No relatório de fundamentação parecem existir algu-
mas inconsistências quando, por exemplo, o parágrafo
162 defende que as dotações orçamentais para a Edu-
cação são suficientes para assegurar a implementação
do PND 2013-2017. Nas notas finais do relatório, no
parágrafo 182, fala-se da redução da capacidade de fi-
nanciamento da prestação dos serviços de Educação,
Saúde e Assistência Social, assim como da suspensão
da execução de projectos de investimento em curso
como algumas das consequências da redução perma-
nente das receitas petrolíferas.
Conforme já constatado, com 7% do OGE alocado para
a Educação, Angola continua longe de atingir o Com-
VI SÃO GERAL DA PROPOSTA DO OGE 2 0 1 7 3
promisso de Dakar de 2000. Para além do Compromis-
so de Dakar, Angola aderiu à Nova Agenda do Desen-
volvimento Sustentável 2030. O ODS número 4 fala da
“Educação de Qualidade”, e junto das suas correspon-
dentes metas aspira “garantir uma educação inclusiva,
equitativa e de qualidade, e promover oportunidades
de aprendizagem ao longo da vida para todos”. Sendo
assim, Angola tem que ajustar os seus programas para,
até ao ano 2030, por exemplo, garantir que todas as
meninas e rapazes terminem os ciclos de Ensino Pri-
mário e Secundário que devem ser gratuitos, equita-
tivos e de qualidade, e produzir resultados escolares
pertinentes e eficazes (meta 4.1.).
Esta situação representa uma grande preocupação,
uma vez que Angola continua com enormes desafios
no que diz respeito ao acesso e à qualidade da Edu-
cação. Segundo o Relatório sobre os Objetivos de
Desenvolvimento do Milénio de 2015, elaborado pelo
Ministério do Planeamento e Desenvolvimento do Ter-
ritório, no âmbito do Ensino Primário, Angola alcançou
nos últimos 15 anos uma grande expansão, mas há
fortes discrepâncias a nível provincial. Embora a Taxa
de Escolarização tenha aumentado, a de conclusão do
Ensino Primário ainda é relativamente baixa. Os dados
indicam que cerca de um terço dos alunos do ensino
primário não consegue concluí-lo. A Taxa Bruta de Es-
colarização no ensino secundário não chega a 50%.
Para além disso, embora se registem aumentos na taxa
de Alfabetização, ela ainda está longe do estipulado pe-
los ODM, encontrando-se, segundo o Censo 2014, nos
34%, onde junto aos jovens se encontra nos 27% e nas
zonas rurais perto dos 60%.
Tendências de atribuição de
verbas ao sector da Educação
De 2016 a 2017, a dotação orçamental para o sector da
Educação aumentou 10% em termos nominais, mas
em termos reais, usando 2014 como ano de base, bai-
xou 5%.
GRÁFICO 1 Despesas Nominais vs reais
600
500
KZ MI MILHÕES
400
300
200
100
0 da mais próximo dos valores orçamentados de 6.6 e
2014 2015 2016
Despesa Educação Nominal
Despesa Educação Real (preços de 2014)
Fonte: OGE 2017, adaptado à inflação oficial
4
O maior declínio no valor do orçamento foi, porém, de
2015 para 2016, período em que o orçamento foi redu-
zido em 6% em termos nominais e em 32% em termos
reais. Isto representa um desafio claro e grande para o
sector educativo, sobretudo no que diz respeito ao for-
necimento ou melhoria da qualidade do serviço. Parte
desta redução foi suportada pelos professores, que vi-
ram os seus salários a aumentar mas sem ter em conta
a inflação.3 Este desafio para o sector não está suficien-
temente articulado na análise orçamental do Executivo
e os Deputados da Quinta Comissão não parecem ter
escrutinado o suficiente este aspecto antes de subme-
terem o OGE 2017 para aprovação na especialidade.
Dois terços do orçamento para Educação, ou seja, cerca
de 67% do mesmo, são executados pelas províncias,
representando um grau de desconcentração significati-
vo no sector. Os documentos orçamentais não contêm
informação sobre a subclassificação económica dentro
do sector de Educação, mas segundo o Relatório de
Análise das Despesas para a Saúde e Educação do Ban-
co Mundial (2017), a massa salarial representa o maior
tipo de despesa, a qual, durante 2010 e 2015, flutuou
entre os 53,8% (2014) e os 75,3% (2015). As despesas
com bens e serviços oscilaram entre os 10,8% (2015) e
os 24,4% (2013); e as de capital entre os 3,3% (2015) e
os 13% (2014) da despesa total realizada.4 Os dados do
Banco Mundial sobre despesas com pessoal abrangem
todos os funcionários públicos no sector da Educação e
não apenas os professores. Mesmo com os dados dis-
ponibilizados através do relatório referido, não é possí-
vel analisar a evolução da despesa com os professores.
O gráfico 2 mostra que, depois de 2015, a dotação or-
çamental para a Educação, em percentagem da des-
pesa total e numa análise temporal, diminuiu signifi-
cativamente para um nível inferior ao do período 2010
– 2013. O gráfico inclui dados da despesa realizada e
é interessante observar que em quase todos os anos
esta foi mais elevada do que a alocação orçamental. O
ano de 2015 é particularmente interessante, uma vez
que a despesa excedeu o valor orçamentado em 3,6
pontos percentuais. Isto reflecte que não foi possível
limitar a despesa até o nível desejado à crise que, neste
caso, foi provavelmente causada pelo peso significativo
dos salários, a representarem em 2015 cerca de três
quartos de todas as despesas em Educação (um tipo
de despesa mais difícil de cortar rapidamente). Se as
despesas totais estimadas para 2016 e 2017 estiverem
certas, espera-se então um nível de despesa realiza-
2017
6.8% da despesa pública total. Uma grande deficiência
do sector é a instabilidade nos valores atribuídos e as
grandes flutuações de ano para ano, que afectam gra-
vemente a continuidade e eficácia do sector.
 GRÁFICO 2 Percentagem orçamentada vs realizada Com 3%, o Ensino Técnico-profissional recebeu uma
no sector da Educação (2010 - 2017) fatia igual ao oferecido aos serviços subsidiários. Por
14 6.000 último, o Ensino Pré-escolar, já com uma dotação muito

12,5
reduzida em 2016 e nos anos anteriores, foi sujeito a
12 5.000 um corte dramático de 67%, reduzindo o orçamento
Percentagem da despesa pública total

9,8
para esta subfunção a 0.1% da despesa no sector de
8,9

8,9
10

9,4
8,2

8,8
4.000 Educação. Estes cortes, e o pouco investimento no En-

KZ MIL MILHÕES
8,5

8,4
8,3

8 sino Pré-Escolar, dificultam que o país atinja uma das

6,9

6,8
6,6
3.000

6,2
metas principais do ODS 4, a de, em 2030, todas as
6
crianças terem acesso ao Ensino de Primeira Infância e
2.000
4 a um ensino Pré-escolar de qualidade.
2 1.000
Repartição do orçamento por programa
0 0 Observando os programas educativos tidos como prio-
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 ritários no OGE de 2017, nota-se que, a viver um con-
texto económico complexo, ainda existem inconsistên-
Despesa com a Educação orçamentada
cias entre as prioridades descritas e as alocações feitas
Despesa com a Educação realizada
para os mesmos.
Despesa total orçamentada (Kz nominais, excl dívida)

Fonte: OGE 2010-2017; Relatórios da Conta Geral do Estado 2010-2014 O Executivo destinou aproximadamente 12.5% do to-
tal do OGE para a Educação a estes 14 programas7. O
A principal conclusão da análise da despesa total maior programa, que absorve quase metade destes
para o sector de Educação é que a mesma está valores (5.5% das despesas atribuídas à Educação), é
sujeita a uma redução significativa, mesmo com- o Programa de Desenvolvimento do Ensino Primário e
parando com os níveis baixos de despesas para o Secundário. Este, destacado como um dos quatro pro-
sector nos anos 2010 a 2013.5 Sendo que os valores gramas prioritários, entre o OGE revisto de 2016 e o
despendidos estão em termos nominais e que a infla- OGE de 2017, viu o seu orçamento crescer 13% em
ção acumulada atingiu os 42% em 2016, a redução em termos nominais.
termos reais torna-se radical.6
O segundo maior programa prioritário é o de Melhoria
Atribuição por subfunção do Sistema de Formação Técnico-Profissional, que so-
no sector da Educação freu uma redução de quase 50% entre o OGE 2016 re-
Em termos das subfunções do sector, o Ensino Primário visto e o OGE 2017. Isto reduziu a quota-parte do OGE
continua a receber mais de metade (57%) do orçamen- para educação a 1%, o que representa uma contradição
to para a Educação. Entre 2016 e 2017, a sua dotação directa ao articulado na parte narrativa do OGE.
aumentou em 6%. O Ensino Secundário encontra-se
em segundo lugar com 21% da alocação, aumentando O terceiro maior programa prioritário é o de Alfabetiza-
substancialmente entre 2016 e 2017 com um incremen- ção, que tem uma dotação muito reduzida, de 0.5% do
to de 16% dos fundos alocados. Em terceiro lugar, o En- OGE para a Educação, mas que não sofreu diminuição
sino Superior recebe 16% dos valores alocados para a nenhuma, mantendo-se assim estável a sua alocação
Educação no OGE de 2017, representando um aumento entre o OGE de 2016 revisto e o OGE de 2017.
significativo de 22% acima do valor recebido em 2016.
A maior inconsistência encontra-se no quarto programa
GRÁFICO 3 Alocação para as subfunções do sector da Educação dado como prioritário. Segundo a lista de programas finan-
2017 (percentagem do total para o sector)
ciados através do OGE de 2017, o Programa de Expansão
3% 0%
do Ensino Pré-Escolar deixou de receber atribuições finan-
16% Ensino Pré-Escolar
ceiras. Caracterizando-se por uma dotação sempre muito
Ensino Primário reduzida, de 0.03% do OGE para o sector. Uma das men-
3% Ensino Secundário sagens-chave da análise do OGE de 2016 foi a de que
Angola não estava a investir os recursos adequados
57% Ensino Técnico-Profissional
no Ensino da Primeira Infância. Outra área orçamental
Ensino Superior
21% que ilustra a falta de prioridade no Ensino Pré-escolar
Serviços Subsidiários apresenta-se pelos 0.001% do OGE destinados à ad-
à Educação
ministração e gestão de centros infantis em 5 das 18
Fonte: OGE 2017 províncias. Como demonstrado na análise das aloca-

VI SÃO GERAL DA PROPOSTA DO OGE 2 0 1 7 5

ções para as subfunções e programas, o fracasso na
priorização deste subsector agravou-se substancial-
mente no OGE de 2017. A expansão do ensino pré-esco-
lar não se faz sem investimentos adequados.
Dentro dos outros 10 programas na área de Educação en-
contram-se dois que recebem grandes fatias do orçamen-
to programático. Ambos são ligados ao Ensino Superior
(Programa de Melhoria da Qualidade do Ensino Superior
(2.2%) e Programa de Reabilitação e Dotação de Infra-es-
truturas para o Ensino Superior (1.8%)). Sem dúvida que
uma melhor qualidade no Ensino Básico resultaria numa
maior eficiência do investimento no Ensino Superior.
Não existem muitos dados sobre os resultados dos
diferentes programas. O reforço da gestão destes
programas de forma transparente é uma das áreas na
qual Angola pode começar a aumentar a eficiência das
despesas públicas na área da Educação. O aumento da
transparência, da prestação de contas e da responsabi-
lização também reduziria a corrupção no sector.
Distribuição geográfica dos
recursos no sector da Educação
Uma das maiores preocupações relacionadas com o
sector da Educação em Angola são as fortes desigual-
dades no acesso e qualidade do ensino em várias di-
mensões, nomeadamente no que diz respeito aos ní-
veis de rendimento e à geografia, como documentado
na análise do OGE de 2016.
GRÁFICO 4 A Evolução dos Quatro Programas Prioritários
no OGE 2017 (Kz Nominais)
90
80
70
60
Kz Mil Milhões
50
40
30
20
10
0
2014 2015 2016 (REV) 2017
Programa de Desenv. do Ensino Primário e Secundário
Prog. de Melhoria do Sistema de Form. Técnico Profissional
Programa de Alfabetização
Programa de Expansão do Ensino Pré-escolar
Fonte: OGE 2010-2017; Relatórios da Conta Geral do Estado 2010-2014
Desta forma, é urgente que o Executivo se comprometa
com a nação para o alcance das metas estipuladas inter-
na e externamente, assegurando que todas as crianças,
com especial ênfase para as meninas e para as crian-
ças vulneráveis, tenham acesso à Educação obrigatória,
6
gratuita e de qualidade em todo o território8. Segundo
o Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde 2015-
2016, em relação ao nível de escolaridade há uma
disparidade entre os géneros, com os homens a pre-
dominarem nos níveis de escolaridade mais eleva-
dos e as mulheres nos níveis mais baixos. Também
há diferenças em relação ao âmbito rural e urbano.
Nas áreas urbanas, cerca de 51% das mulheres e 66%
dos homens atingiram o nível secundário, contra apenas
10% das mulheres e 28% dos homens nas áreas rurais.
A análise do OGE de 2016 demonstrou grandes dispa-
ridades na atribuição orçamental por pessoa nas várias
províncias. Por exemplo, a província do Cunene teve
uma atribuição 21% inferior à média de todas as pro-
víncias em 2016; outro exemplo vem da província de
Benguela, onde a atribuição por pessoa de Kz 16.209
representa quase o dobro da atribuição por pessoa da
província limítrofe do Cuanza Sul, no valor de Kz 8.750.
Este ano, o foco da análise é um dos programas gover-
namentais que, com uma gestão eficiente, poderia ser
muito benéfico para as crianças vulneráveis: a Merenda
Escolar. Em 2017, a dotação orçamental para este pro-
grama foi de Kz 7,8 mil milhões, representando 0,11%
do OGE. Este nível mantém-se estável desde pelo me-
nos, 2015.
Infelizmente, mesmo com uma análise básica, o gráfico
5 ilustra claramente que o programa não está a ser bem
gerido. A lógica da repartição dos valores alocados às
diferentes províncias não é clara9. Em primeiro lugar,
não se explica o porquê de as províncias de Malanje,
Lunda Norte e Moxico receberem dotações de quase
o dobro da média de 433 milhões KZ por província, o
que contribui para explicar as enormes diferenças entre
os valores alocados por criança dos 5 aos 14 anos nas
diferentes províncias.10 Na mesma faixa etária, dez das
18 províncias têm dotações de Kz 1.083 por criança,
um valor acima da média.
As críticas ao programa são ampliadas no PER do Banco
Mundial, onde consta que: “…as refeições fornecidas
são de valor nutricional questionável e menos de 8% da
população-alvo (418.733 de 5.247.128 alunos dos 6 aos
9 anos) beneficiaram do programa em 2011. Além dis-
so, o programa não está disponível para os estudantes
de todos os municípios de uma dada província, além de
que os critérios de escolha dos municípios beneficiá-
rios também não são claros”. Apesar deste parágrafo
se referir aos resultados do programa em 2011, as críti-
cas são ainda válidas para 2017.
Em conclusão, o sector de educação continua a
apresentar problemas idênticos aos identificados

©UNICEF/ANGA2016-63/Simancas
na análise do OGE de 2016, pelo que urge identificar
as razões das assimetrias geográficas para definir
melhores métodos de atribuição de recursos sec-
toriais entre as províncias, mais equitativos e mais
alinhados com as necessidades de cada província.
Seja relativamente à despesa geral da Educação, ao En-
sino Primário ou, como demonstrado nesta análise, à
distribuição da Merenda Escolar.
Investimentos em outros
sectores necessários para o
funcionamento da Educação
O Censo de 2014 demostra que 48% da população com
18 anos ou mais nunca completou a 6ª classe ou nunca
frequentou a escola, apenas 20% completou o ensino
primário e 13,2% concluiu o segundo ciclo. Na faixa
etária dos 5 aos 18 anos, 22% das crianças e jovens
encontram-se fora do sistema de ensino, com uma dis-
paridade grande entre homens e mulheres no grupo dos
15 aos 18 anos.
A falta do registo do nascimento de 75% das crian-
ças dos 0 aos 4 anos, e 50% das crianças dos 5 aos
14 anos, é certamente um dos factores que limita o
acesso ao ensino secundário, dado que é necessário
para a obtenção da certidão de conclusão do ensino
primário (6.ª classe) e para se matricular na sétima
classe. Contudo, existe um processo de coordenação
entre o Ministério de Justiça e o de Educação para
dar resposta a este problema. A disparidade no que diz
respeito ao género durante a adolescência provavelmen-
te tem uma base na falta de instalações de saneamento
nas escolas secundárias e na gravidez precoce.
O Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde de 2015-
2016 demonstra que apenas 38% das raparigas frequen-
tam o ensino secundário, comparando com 55% dos rapa-
zes. Também demonstra que 7% das meninas de 15 anos
e 51% das jovens de 19 anos já têm um filho nado-vivo.
Para melhorar os resultados da Educação para as meni-
nas o Executivo deve prever um aumento nas alocações
financeiras no saneamento nas escolas secundárias e
em acções de prevenção da gravidez precoce.
GRÁFICO 5 Valor orçamentado para Merenda Escolar total
por província e por criança de 5-14 anos
900 4.500
800 4.000
700 3.500
Kz milhões (nominais)
Kz por habitante
600 3.000
500 2.500
400 2.000
300 1.500
200 1.000
100 500
0 0
Luanda
Cabinda
Zaire
Uige
Bengo
Cuanza Norte
Malanje
Lunda Norte
Lunda Sul
Moxico
Cuanza Sul
Benguela
Huambo
Bie
Namibe
Huila
Cunene
Kuando Kubango
Valor Orçamentado 2017 Média por criança de 5-17 anos
Despesa por criança de 5-14 anos
Fonte: OGE 2017
NOTAS DE RODAPÉ
1 “Os três primeiros anos da vida de uma criança são particularmente críticos, pois é
um período onde o cérebro se desenvolve e aprende mais rápido. O desenvolvimento
de vínculos seguros com seus cuidadores ajuda as crianças a desenvolverem a
resiliência face às adversidades. Programas e intervenções de desenvolvimento
para a primeira infância, incluindo a amamentação, jogos e prácticas de incentivo
para o desenvolvimento das crianças na primeira infância, apoio à saúde e à
nutrição, protegem as crianças contra o stress, aumentam a aprendizagem em casa
e estabelecem as bases para a aprendizagem na escola”. (Black, M.M. et al. (2016,
October 16). Early childhood development coming of age: science through the life
course. Retrieved from http://dx.doi.org/10.1016/ S0140-6736(16)31390-3).
2 Segundo o Decreto Presidencial n.º 208/17, de 22 de Setembro de 2017.
3 Os relatórios do OGE não detalham as remunerações dos funcionários públicos
por sector ou tipo mas segundo a RFI, os salários foram aumentados, em 2014, em
8%, e entre 5% e 15% em 2017. (http://pt.rfi.fr/angola/20170420-angola-inflacao-
40-aumentos-salariais-entre-5e-15). O jornal online Rede Angola, confirma que
o Conselho de Ministros aprovou um “aumento gradual” dos salários na função
pública até 15%, para os salários mais baixos (http://www.redeangola.info/
funcionarios-publicos-vao-ser-aumentados-ate-junho/).
4 Um constrangimento importante nesta análise é a morosidade na preparação e
publicação das Contas Gerais do Estado, demostrando a execução do OGE em
termos de despesas realizadas. Os dados usados nesta análise vêm da Avaliação
da Despesa Pública em Saúde e em Educação em Angola (PER) do Banco Mundial,
publicado no dia 15 de Maio de 2017, página 63.
5 Esta é uma situação ainda mais relevante se considerarmos um crescimento médio
natural da população de aproximadamente 3% anual (segundo a projecção da
população para o período de 2014-2050, realizada pelo INE), o que implica uma
demanda crescente dos serviços de educação, enquanto os recursos dedicados à
provisão dos serviços são reduzidos.
6 Não está claro se a inflação afectou ainda os níveis salariais no sector. Parte da
inflação é absorvida pelos empregados do sector, que verão o poder de compra dos
seus salários a reduzir-se quase para a metade.
7 Os 14 programas mencionados são os seguintes: 1) Programa de Desenvolvimento
do Ensino Primário e Secundário; 2) Programa de Reforma Educativa; 3) Programa
de Desenvolvimento do Sistema de Ensino Especial; 4) Programa de Melhoria do
Sistema de Formação Técnico Profissional; 5) Programa de Melhoria da Qualidade
do Ensino Superior; 6) Programa de Alfabetização; 7) Programa de Reforço da
Capacidade Institucional do Sistema de Emprego e Formação Profissional; 8)
Programa de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico; 9) Programa de
Reabilitação e Dotação de Infra-estruturas do Ensino Superior; 10) Programa
de Implementação do Sistema Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação; 11)
Programa de Expansão do Ensino Pré-Escolar; 12) Programa de Intensificação da
Alfabetização de Adultos; 13) Programa de Desenvolvimento e Estrut. da Formação
de Professores e de Especialistas em Educação; 14) Programa de Melhoria do
Sistema de Formação Técnica e Profissional e do Emprego.
8 Segundo os artigos 11 e 12 da nova Lei de Bases da Educação, a educação é
gratuita e obrigatória até à 9.ª classe.
9 O critério estabelecido para a merenda escolar é de Kz 40 milhões por município.
Ela é destinada apenas às escolas do ensino primário. Nesta base, cada província
receberia o montante de acordo com o número de municípios que tem e não pelo
número de crianças a frequentarem o ensino primário. Já ao nível do município
não existem critérios para definição do montante por criança e não estão claros os
critérios de priorização das mesmas.
10 A análise, feita com base nos dados do Censo de 2014, fala do número de crianças dos
5 aos 14 anos por província como uma aproximação de crianças em idade escolar.
VI SÃO GERAL DA PROPOSTA DO OGE 2 0 1 7 7
A Educação é um dos sectores estratégicos
para o desenvolvimento socioeconómico de
um país. Os fundos atribuídos à Educação
representam um investimento directo na re-
dução da pobreza e no crescimento susten-
tável, o que explica que em muitos países o
sector tem um peso substancial, entre 20 e
30% do OGE.

Em Angola, onde a atribuição ao sector per-

manece ainda limitada a 6.8% do OGE, é ur-
gente apostar mais na Educação e no futuro
do país através de investimentos maiores e
com enfoque na educação de qualidade e no
acesso equitativo ao ensino.

©UNICEF/ANGA2015-0027/Simancas