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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU


DISCIPLINA: “CONTRATOS IMOBILIÁRIOS, LOCAÇÃO E OUTROS”
PROF.ª LUCIANA GONÇALVES DE FREITAS SANCHES CUNHA1

Unidade II – Contrato de compra e venda

O contrato de compra e venda vem a ser, como ensina Caio Mário da Silva
Pereira, “o contrato em que uma pessoa (vendedora) se obriga a transferir a
outra (compradora) o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea,
mediante o pagamento de certo preço em dinheiro ou valor fiduciário
correspondente.”

A definição do instituto pode ser extraída do art. 481, CC: “Pelo contrato de
compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”.

Assim, trata-se de um contrato donde defluem obrigações recíprocas para


cada uma das partes. Para o vendedor, a obrigação de transferir o domínio
da coisa; para o comprador, a de entregar o preço.

No direito brasileiro, os efeitos derivados do contrato são meramente


obrigacionais, e não reais, pois a compra e venda não transfere, por si só, o
domínio da coisa vendida, mas apenas gera para o vendedor a obrigação
de transferi-lo.

Há a necessidade da tradição para a transferência da propriedade.

1
Luciana Gonçalves de Freitas Sanches Cunha é Bacharel pela PUC-Campinas em Ciências Humanas,
Jurídicas e Sociais, Mestranda em Direito pela UNIMEP, Professora da Graduação e Pós-Graduação da
UNIP – Campinas e São Paulo nas cadeiras de Direito Civil e Direito Processual Civil. Professora
orientadora do Escritório de Assistência Judiciária da UNIP Campinas. Professora do Curso Preparatório
para Carreiras Jurídicas Intelecto, em Campinas. Advogada e consultora com atuação na área cível.
Demonstra tal tese o art. 1.267, CC, que afirma que a propriedade das
coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.

Seguiu o nosso código a orientação do direito romano, desprezando a


tradição francesa para quem do contrato de compra e venda derivam efeitos
reais, visto que, através dele, e sem outras formalidades, o comprador
adquire o domínio.

A compra e venda é contrato:

Consensual: em oposição aos contratos reais, se aperfeiçoa


independentemente da entrega do objeto, pela mera coincidência da
vontade das partes sobre o preço da coisa (art. 482, CC);

Bilateral ou sinalagmático: envolve prestações recíprocas de ambas as


partes;

Oneroso: implica sacrifício patrimonial para ambos os contratantes;

Comutativo: geralmente a estimativa da prestação a ser recebida por


qualquer das partes pode ser feita no ato mesmo em que o contato se
aperfeiçoa.

De execução simultânea: geralmente a execução ocorre de plano,


imediatamente. Pode ocorrer com execução diferida, postergada para data
futura. Mesmo que haja o pagamento de prestações, não se converte
compra e venda em contrato de duração ou de execução continuada.

Translativo: é instrumento para transferência e aquisição de propriedade.


Para os imóveis em específico há a necessidade do registro público.
Em alguns casos, no entanto, nos deparamos com contratos aleatórios –
art. 458, CC e art. 459, CC. Exemplificamos a questão com a “venda de
coisa futura”: frutos de uma colheita esperada.

Alguns casos sujeito à forma prescrita em lei, mas no mais das vezes
independe de qualquer formalidade. Pode ter a sua forma escrita ou verbal,
e se escrita, por instrumento público ou particular.

Do contrato de compra e venda, pode se extrair, a partir do art. 482 do


Código Civil, três elementos: a res – o objeto, que engloba todas as coisas
que não estejam fora do comércio (escapam as insuscetíveis de
apropriação e as legalmente inalienáveis); o preço - deve ser em dinheiro
sob pena de caracterizar contrato de troca; deve também ser sério, justo,
sob pena de ser entendido como doação e o consentimento das partes –
que deve recair sobre o objeto e sobre o preço.

Com relação ao preço, deve ser determinado ou, ao menos, determinável.


Nesse sentido, a lei autoriza que as partes deixem a sua fixação a critério
de terceiros (art. 485, CC), ou a taxa de mercado (art. 486, CC). Não se
admite, porém, que uma das partes exclusivamente posso fixar o preço (art.
489, CC)

A venda de coisa alheia é, de regra, nula, pois ninguém pode alienar o que
não é seu. Duas exceções:

a) o vendedor, ao depois e antes que o comprador sofra a evicção, torne-se


proprietário da coisa.

b) se as partes souberem desde o início que a coisa pertence a terceiro, o


negócio valerá como promessa de fato de terceiro, uma vez que o alienante
estará prometendo que obterá a anuência do proprietário para vender a
coisa.

O contrato de compra e venda gera os seguintes efeitos:


a) obrigações acessórias: responsabilidade pela evicção e pelos vícios
redibitórios, por parte do alienante. O mesmo responde pela perda que o
adquirente venha a sofrer ao ser privado da coisa comprada, em virtude de
sentença judicial que a atribuir a terceiro, como também responde pelos
vícios ocultos de que a coisa vendida por acaso seja portadora;

b) despesas do contrato: as partes podem fixar quem deverá arcar com as


despesas mas, no silêncio, o art. 490, CC, determina que as despesas de
escritura ficarão a cargo do comprador e as de tradição a cargo do
vendedor;

c) o problema dos riscos: o art. 492, CC, determina que “até o momento da
tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço
por conta do comprador”. O parágrafo 1o. do art. 492 estipula que os casos
fortuitos ocorridos no ato de contar, marcar ou assinalar coisa que já
estiverem a disposição do comprador, correrão por conta destes. Veremos
exceção a esta regra quando o comprador estiver em mora de receber a
coisa comprada (parágrafo 2º do art. 492, CC);

d) a questão da garantia: por seu um contrato bilateral, não sendo ajustado


prazo diferenciado, a permuta das prestações deve ser simultânea. Nesse
sentido, o art. 491, CC. Verifica-se, aqui, que a lei mune o vendedor de uma
“direito de retenção”. O art. 495, CC, determina que o vendedor poderá
sobrestar a entrega da coisa pactuada a termo sempre que o comprador
estiver em insolvência, exigindo caução. Este artigo deve ser lido em
consonância com o artigo art. 477, CC.

e) vícios redibitórios e evicção: Os vícios redibitórios


“são os defeitos ocultos desconhecidos do comprador, que tornam a coisa
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuem de tal sorte o valor
que o adquirente, se os tivesse conhecido, não compraria a coisa, ou daria
por ela um menor valor”. Tem como características: (art. 441, CC) que o
defeito deva prejudicar a coisa ou diminuir-lhe sensivelmente o valor; que o
defeito deve ser oculto; deve existir no momento de conclusão do contrato.
Com relação à evicção, a mesma ocorre quando o adquirente de uma coisa
se vê, total ou parcialmente, privado da mesma, em virtude de sentença
judicial que a atribui a terceiro, seu verdadeiro dono. O art. 447, determina
que o alienante garanta o adquirente dos vícios da evicção. São requisitos
necessários: a onerosidade da aquisição, a sentença judicial a determinar
este direito e a denunciação à lide ao alienante.

Para a defesa dos vícios redibitórios, são possíveis a ação redibitória: onde
manifesta-se a vontade de se devolver a coisa defeituosa e reclamar a
repetição da importância paga, ou a ação quanti minoris, em que o
adquirente, em vez de enjeitar a coisa recebida, reclama apenas o
abatimento do preço. Silvio Rodrigues aponta que a escolha do
procedimento é ato de inteira faculdade do autor, sendo que, uma vez eleita
a via, não mais poderá ser alterada.

Importante se faz evidenciar algumas cláusulas especiais ao contrato de


compra e venda, também chamados de pactos adjetos, quais sejam:

a) Retrovenda: é a cláusula adjeta à compra e venda pela qual o vendedor


se reserva ao direito de reaver, em certo prazo, o imóvel alienado,
restituindo ao comprador o preço ou valor recebido, mais as despesas
por ele realizadas durante o período de resgate, desde que autorizadas
por escrito, inclusive as empregadas em melhoramentos necessários do
imóvel. Apenas admissível nas propriedades de bens imóveis. O
adquirente terá propriedade resolúvel que se extinguirá no instante em
que o alienante exercer o seu direito de reaver o bem. O CC, em seu art.
505, fala que o prazo para a resgate ou retrato é de três anos. Se as
partes fixarem prazo com excesso será considerado não escrito. Se a
coisa vier a perecer em virtude de caso fortuito ou força maior, extingue-
se o direito de resgate, uma vez que houve perda do bem para o
comprador, sem que ele seja obrigado a pagar o seu valor, e do direito
para o vendedor. Se o imóvel se deteriorar, o vendedor não terá direito à
redução proporcional do preço, que deverá restituir ao comprador. O
comprador, enquanto detiver a propriedade sob condição resolutiva, terá
direitos aos frutos e rendimentos do imóvel, não respondendo pelas
deteriorações surgidas dentro do prazo reservado para resgate, salvo se
agir dolosamente. Se a cláusula de retrovenda for nula, tal nulidade não
afetará a validade da obrigação principal. Na retrovenda, o vendedor
conserva a sua ação contra terceiros adquirentes da coisa retrovendida,
ainda que eles não conhecessem a cláusula de retrato. Assim, se o
vendedor fizer uso do seu direito de retrato, resolver-se-á a posterior
alienação do imóvel feita pelo adquirente a terceiro, mesmo que o pacto
de retrovenda não tenha sido averbado no registro imobiliário.
b) Venda a Contento: É a que se realiza sob a condição de só se tornar
perfeita e obrigatória se o comprador declarar que a coisa adquirida lhe
satisfaz. O negócio somente se aperfeiçoa com a manifestação de
agrado da coisa pelo adquirente. O vendedor não poderá discutir a
manifestação de desagrado do comprador que tem julgamento de
caráter subjetivo e interno. Destina-se geralmente àqueles negócios que
têm por objeto gêneros que se costumam provar, medir, pesar ou
experimentar antes de aceitos. A matéria vem tratada nos artigos 509 a
512 do CC. O CC (art. 509) entende que é uma venda realizada sob
condição suspensiva (ainda que a coisa lhe tenha sido entregue),
somente se aperfeiçoando se o adquirente manifestar sua vontade. A lei
não determina tempo para a manifestação de interesse do comprador.
Assim, se no contrato não tiver prazo, poderá o vendedor intimar o
adquirente para que, num intervalo improrrogável, declare se a coisa lhe
satisfaz ou não, sob pena de considerar perfeita venda (art. 512, CC).
c) Preempção: é o pacto adjeto à compra e venda em que o comprador de
uma coisa móvel ou imóvel fica com a obrigação de oferecê-la a quem
lhe vendeu, para que este use de seu direito de prelação em igualdade
de condições, no caso de pretender vendê-la ou dá-la em pagamento.
Somente existirá se o comprador resolver vender a coisa, o vendedor
quiser adquiri-la, e estivermos dentro de um prazo determinado. Caso
contrário, não será exigível. O art. 513, parágrafo único diz que o prazo
para exercício do direito de preferência não poderá exceder 180 dias se
for bem móvel ou 2 anos se for bem imóvel. O vendedor pode também
exercer o seu direito de prelação, tendo conhecimento de que a coisa
vai ser vendida, intimando o vendedor. (art. 514, CC). Não observado o
direito de preempção, não se inibe a venda feita a terceiro mas
responderá o alienante por perdas e danos. (art. 518, CC). Segundo o
art. 516, CC, inexistindo outro prazo, o direito de preempção caducará
se não exercido em 3 dias (bens móveis) ou 60 dias (bens imóveis). O
art. 519, CC, estipula que se a coisa expropriada para fins de utilidade
pública ou interesse social, se não for adotada para o destino
desapropriatório, conferirá ao expropriado o direito de preempção pelo
preço atual da coisa.
d) Reserva de Domínio: tem-se a reserva de domínio quando se estipula,
contrato de compra e venda, em regra de coisa móvel infungível, que o
vendedor reserva para si a sua propriedade até o momento em que se
realize o pagamento integral do preço. O comprador só adquire o
domínio da coisa se integralizar o preço, momento em que o negócio
terá plena eficácia. O negócio confere ampla garantia ao vendedor uma
vez que, se não for pago o preço, poderá optar entre reclamar o preço
ou reaver a coisa, por meio de ação de busca e apreensão ou
reintegração de posse. Caso decida pela recuperação do bem, nos
termos do art. 527, CC, poderá reter as prestações pagas até o
necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas e o
que mais de direito que lhe for devido, sendo o excedente devolvido ao
comprador. Deverá ser o devedor constituído em mora mediante o
protesto do título ou interpelação judicial antes do ajuizamento de
qualquer ação. O comprador deverá suportar os riscos da coisa durante
todo o período em que estiver como bem (pode se utilizar até de
interditos), uma vez que, embora o vendedor conserve o domínio, com a
tradição passou o adquirente a usar e gozar do bem, retirando todas as
vantagens que a coisa puder lhe oferecer.
e) Venda sobre documentos: Em razão da ampla utilização nos negócios
de importação e exportação da venda contra documentos, a matéria
vem regulada pelo CC em seus artigos 529 a 532. A novidade foi
justamente a substituição da figura da tradição da coisa pela entrega de
seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo
contrato. O pagamento, salvo estipulação em contrário deverá ser feitos
no ato da entrega dos documentos, e o comprador não poderá recusar-
se ao pagamento, alegando defeito de qualidade ou de estado na coisa
vendida, exceto se o vício já estiver comprovado.
f) Pacto comissório: é essencialmente uma garantia ao vendedor do
imóvel, que optando por esta modalidade, pode outorgar a escritura
pública de compra e venda na pendência de prestações a serem pagas.
Ocorrendo por qualquer motivo o inadimplemento da obrigação, ou seja,
o seu não pagamento, o vendedor terá duas opções imediatas a sua
disposição: primeira: executa a nota promissória representativa do saldo
devedor; ou segunda: inicia processo de reintegração de posse
cumulada com rescisão do negócio efetuado.
g) Pacto de melhor comprador: o contrato poderá ser desfeito caso outro
comprador venha a se apresentar com preço e condição melhores. O
pacto é resolutivo, e está sujeito ao prazo decadencial fixado em um ano

Peculiaridades acerca da legitimação para contratar. Importantes


observações devem ser feitas a respeito dos contratantes. Senão vejamos:

Com relação à compra e venda entre ascendentes e descendentes é


necessário que haja o consentimento expresso dos demais descendentes,
bem como do cônjuge do alienante. É anulável, portanto, se faltarem estes
consentimentos. Quando os demais descendentes forem menores, haverá
necessidade de autorização judicial.

Caso haja este tipo de contrato de compra e venda, o bem alienado será
considerado antecipação da herança legítima e o herdeiro deverá trazer
este bem quando da abertura da sucessão para a apuração dos quinhões a
cada um.

Dispensado será o consentimento do cônjuge, se o regime de bens for o da


separação obrigatória.

Com relação aos condôminos de parte indivisa, a compra e venda deverá


obedecer à preferência entre os condôminos. É um direito não uma
obrigação. O vendedor não está obrigado a vender a coisa, mas se o fizer,
terá que oferecê-la ao condômino, que poderá adquiri-la, se quiser, que terá
preferência nas mesmas condições oferecidas pelo terceiro. Trata-se de
preempção, tal qual ao contrato de locação de imóveis.

Com relação a contratantes casados, é importante observar que o art. 1647


do CC prescreve que um cônjuge não pode alienar ou gravar de ônus real
os bens imóveis que possua, sem o consentimento do outro, ressalvados os
casos de suprimento judicial e o regime de bens de separação absoluta.

Entre os cônjuges é possível a venda, desde que sejam dos bens excluídos
da comunhão (art. 499).

Com relação à compra e venda, há que se destacar ainda a possibilidade


de existência do compromisso de compra e venda. O contrato preliminar foi
positivado no Código Civil, iluminado pelas diretrizes da eticidade,
sociabilidade e operabilidade, devendo ainda sempre observar os princípios
da boa-fé objetiva, a equivalência das prestações e a função social do
contrato.

De antemão ressalta-se que não se devem confundir as negociações


preliminares com o contrato preliminar, este, gênero do compromisso de
compra e venda, pois aquelas consistem na fase em que ocorrem debates
prévios, ajustes provisórios, diálogos e entendimentos sobre o negócio
desejado, sendo anterior à formalização da proposta e essencial à gênese
de qualquer negócio jurídico bilateral.

Assim, para a adequada noção do compromisso de compra e venda, ímpar


absorver que o mesmo é um contrato, ou seja, impõe a conjunção de
vontades ainda que em razão do negócio jurídico preliminar, apenas uma
das partes assuma deveres com o acordo entabulado.

Para, além disso, frise-se que o conceito de compromisso de compra e


venda há de ser extraído da noção de contrato preliminar, que como bem
observa Mário Luiz Delgado, consiste em uma obrigação de fazer,
inconfundível com o dever jurídico previsto no negócio definitivo, que
poderá consistir em um vender, comprar, emprestar, constituir hipoteca, etc.

Nesta mesma esteira, Maria Helena Diniz leciona que o contrato preliminar
consiste no negócio jurídico em que uma ou ambas as partes
comprometem-se a pactuar, mais tarde, outro negócio, denominado
principal, gerando, portanto, por conseqüência, o dever de concluir outro
contrato, que deverá observar os elementos essenciais já delineados
anteriormente.

Saliente-se desde cedo que muito embora consista o contrato preliminar em


um ajuste prévio que não poderá ignorar os elementos essenciais à
formação válida do negócio jurídico almejado, sua forma, nos exatos termos
do artigo 462 do Código Civil, pode ser livremente eleita pelas partes,
destacando-se, entretanto que a inobservância ao formato escrito poderá
gerar sérios problemas, tanto na seara probatória como no tocante a
oponibilidade perante terceiros.

O contrato preliminar de compra e venda, como se pôde observar ao longo


das linhas iniciais deste estudo, traz em seu bojo a obrigação de contratar
definitivamente, sob certo prazo ou condição, não importando a sua forma.

Deste modo, na medida em que o sistema impõe a observância à forma


para os negócios translativos de domínio de bens imóveis, em princípio não
se pode admitir, ainda que haja cabal prova de quitação, que o
compromisso de compra e venda sirva como documento hábil à
transferência de propriedade na esfera registral.

Por consequência, quitado o preço e recusando-se o promitente vendedor a


outorgar a escritura pública, caberá ao credor exercer sua pretensão
mediante adjudicação compulsória, servindo a sentença de título translativo
de propriedade, e neste caso, se o bem ainda compuser o patrimônio do
devedor ou de seus sucessores causa mortis, não surgem maiores
problemas, não sendo essencial em tal hipótese a observância ao registro
do negócio entabulado, nos moldes da súmula 239 do Superior Tribunal de
Justiça que dita que “o direito à adjudicação compulsória não se condiciona
ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis.”

Em verdade, a averbação do negócio preliminar tem outra função, servindo


de fator de eficácia em relação a terceiros, matéria a ser desenvolvida no
tópico seguinte e que por conseqüência em nada afeta os planos da
validade e da eficácia no que pertine as partes contratantes.

Mas como solucionar a questão da obrigação de prestar declaração de


vontade? O doutrinador Mário Delgado dá a resposta, afirmando que da
leitura de relação obrigacional como um processo, eventual outorga de
escritura pública, não se caracteriza propriamente como um fazer, sendo
outrossim ato essencial ao pagamento e visa em essência transferir a
propriedade à luz das regras impostas pelo sistema em tais relações, e
assim, encontra-se o fundamento a justificar a transmissão desta
modalidade de obrigação em razão da morte do devedor.

O procedimento a ser observado na recusa da outorga da escritura pública


pelo devedor ou de seus herdeiros é o elencado no Código de Processo
Civil, cuja singeleza dispensa maiores comentários.

Outra situação que há de ser analisada está em eventual não cumprimento


por parte do devedor, quanto a obrigação de quitar o preço ou as parcelas
ajustadas e nesta hipótese, a faculdade conferida ao credor de resolver o
negócio jurídico nos moldes do artigo 475 do Código Civil.

Em homenagem à boa-fé enquanto cercania da autonomia privada saliente-


se, que muito embora a resolução do negócio seja permitida, esta não
poderá estar acompanhada de cláusula de decaimento, esteja o negócio
albergado pela Lei 6766/79 ou não, seja em razão do contido no Código de
Defesa do Consumidor, seja por expressa violação do princípio da função
social do contrato, que dirige o senso ético que deve balizar a conduta dos
contratantes.
Neste contexto tem-se ainda que se o compromisso de compra e venda
versar sobre aquisição de imóvel em loteamento urbano, também não
permitirá a inserção de cláusula de arrependimento, sendo esta vedada nos
moldes do artigo 25 da Lei 6.766/79 e na medida em que esta se
caracteriza como norma de ordem pública, o preceito em comento é
inderrogável pela autonomia privada.

Com relação aos terceiros, cabe também analisar os efeitos do contrato


preliminar, matéria positivada no parágrafo único do art. 463 do Código
Civil, posto que como visto, em regra, a eficácia de um negócio jurídico está
limitada às partes, outrossim, podendo se estender atingindo terceiros
estranhos ao negócio, normalmente mediante a observância à publicidade
do ato.

Ocorre que se de um lado os terceiros estão obrigados a respeitar as


relações negociais entabuladas pelas partes, por outro se impõe que para
tanto os mesmos devem ter ciência da existência das mesmas, estado que
se prova por meio da inscrição da minuta do contrato preliminar junto à
matrícula do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis, como prevê o
Código Civil.

Com relação à compra e venda de imóveis, já que contrato que tem no


consentimento um elemento importante, pode se questionar a respeito da
aplicação do Código do consumidor. Existe plena harmonização entre este
diploma legal e o Código Civil, no que tange à compra e venda e os
principais aspectos são: a proibição de cláusula abusivas bem como a
devolução das quantias já pagas nas vendas a prazo.

O consumidor não pode perder todas as quantias pagas. Poderá haver uma
perda, como por exemplo, o valor a título de cláusula penal, mas não todas
as parcelas. É o que prescreve o artigo 53 da lei consumerista.
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de
móveis ou imóveis mediante pagamento em
prestações, bem como nas alienações
fiduciárias em garantia, consideram-se nulas
de pleno direito as cláusulas que
estabeleçam a perda total das prestações
pagas em benefício do credor que, em razão
do inadimplemento, pleitear a resolução do
contrato e a retomada do produto alienado.

Uma novidade do Código Civil de 2002 foi a tipificação do contrato


estimatório. Neste tipo contratual, o proprietário ou possuidor, denominado
consignante, faz entrega da posse da coisa a outra pessoa, denominado
consignatário, cedendo-lhe o poder de disposição, dentro do prazo
determinado e aceito por ambos, obrigando-se o segundo a pagar ao
primeiro o preço por este estimado ou restituir a coisa. Há o intuito de
alienar a coisa, que um tem, e a livre disponibilidade, que tem o outro. O
consignatário tem a posse própria que se separou do proprietário ou
consignante.

O contrato denomina-se estimatório tendo em vista a ênfase que se atribui à


estimação do valor da coisa feita pelo consignante (preço de estima) e à
confiança que deposita no consignatário. A autorização para venda não é
essencial para a noção desse contrato, pois o consignatário pode optar por
adquirir a coisa para si ou simplesmente restituí-la. Não há qualquer
conseqüência jurídica pela não venda, seja por falta de empenho do
consignatário seja por não conseguir interessado em adquirir a coisa. As
partes do contrato são o consignante e o consignatário.

O consignante é o proprietário da coisa, que possa dispor dela e transferir o


poder de disposição ao consignatário. Pode ser apenas o possuidor que
não seja proprietário, transferindo apenas o poder de disposição da posse.
O contrato é útil para ambas as partes. O consignante não necessita de
incumbir-se diretamente da venda da coisa, ou porque não exerça atividade
comercial, ou porque não disponha de rede de negócios necessária para
fazer chegar a coisa ou a mercadoria aos destinatários, ou porque não
queira promover essa atividade. Por seu turno, o consignatário não
necessitará investir recursos financeiros para promover sua atividade, ou
para obter o proveito que espera com a diferença para mais do preço
estimado, com a vantagem de poder devolver a coisa ao consignante se
não conseguir encontrar interessado em adquiri-la, sem custo adicional.

A relação entre o consignante e o consignatário não é equivalente a de


vendedor e comprador. O primeiro não se obriga a transmitir ao segundo a
coisa nem este se obriga a pagar àquele o preço. O consignante transfere o
poder de dispor, que não poderá exercer enquanto perdurar o prazo, mas
permanece proprietário da coisa. Tampouco se confunde com a relação de
mandante e mandatário, pois o consignatário não é representante do
consignante, exercendo direito próprio. Todavia, sustentava Antônio Chaves
que "é com o mandato que mais se assemelha essa espécie; é um mandato
para vender. A operação de venda é sempre em vantagem do mandante e
só eventualmente do mandatário. Daquele o é sempre porque, pela venda,
ele recebe necessariamente o preço". Alguns enxergam estreitas relações
do estimatório com os contratos de depósito e comissão.

A entrega da coisa, no contrato estimatório, não produz os efeitos amplos


da tradição, ou seja, da transferência da propriedade para o consignatário.
Ainda que o contrato seja real, não produz efeitos reais. Do mesmo modo
como se dá com outros contratos reais, no direito brasileiro, a exemplo do
depósito, do mútuo, do comodato. Nesses contratos, a tradição configura
elemento essencial para suas existências. No contrato estimatório, a
tradição é essencial para que o poder de disposição que foi transferido ao
consignatário possa ser exercido. Pago o preço dentro do prazo ou quando
este se encerrar sem pagamento, a transferência da propriedade operar-se-
á, no primeiro caso para o adquirente, no segundo caso para o
consignatário.
O art. 534 do CC alude à autorização do consignatário para vender os bens
móveis do consignante.

Quando o consignante transfere o poder de disposição sobre a coisa retém


a propriedade. A não transferência da propriedade ao consignatário é o
traço característico do contrato estimatório. Contudo, a retenção da
propriedade (que em muito se assemelha à situação de nua-propriedade)
não autoriza o consignante a exigir a restituição.

Por outro lado, o exercício do poder de dispor pelo consignatário importa


automaticamente a perda da propriedade, que é transferida ao adquirente a
quem o consignatário entregou a coisa, desde que tenha observado o valor
estimado.

Apenas as coisas móveis podem ser objeto de contrato estimatório. Coisas


móveis que estejam no comércio, isto é, que possam ser alienadas. Neste
ponto, a relação com a compra e venda torna-se inevitável, porquanto tudo
que possa ser objeto de venda pode ser suscetível de contrato estimatório.
As coisas imóveis estão excluídas porque não permitem a tradição real.

O consignante tem o dever de garantir ao consignatário a livre


disponibilidade das coisas entregues em consignação. Deve abster-se de
qualquer ato que dificulte o exercício desse direito. Em virtude de manter a
titularidade de domínio, que não é transferida ao consignatário em razão do
contrato estimatório, responde o consignante pelos vícios da coisa e pelos
riscos de evicção perante o adquirente da coisa.

O consignante não pode interferir na atividade desenvolvida pelo


consignatário. Não é admissível que faça exigências ao consignatário
quanto aos procedimentos que deva adotar, como divulgações publicitárias
ou o modo de divulgar a coisa nos locais de venda.
O negócio ajustado entre o consignatário e o terceiro adquirente é res
inter allios em face do consignante. As condições que aqueles ajustarem
para a alienação da coisa consignada não podem ser recusadas ou
modificadas pelo consignante.

O consignatário pode ao final do contrato pagar o preço ou restituir a coisa


ao consignante. Encerrado o prazo sem pagamento do preço ou
restituição da coisa consignada, o domínio transfere-se ao consignatário,
que ficará obrigado a pagar o preço estimado. O não pagamento do
preço, após o transcurso do prazo, resolve-se pelas regras gerais do
inadimplemento, inclusive quanto às conseqüências pela mora (juros
moratórios, multa contratual, perdas e danos, custos judiciais).

Se o consignatário restituir a coisa com defeito ou danos pagará ao


consignante a correspondente indenização.

Se a restituição da coisa se tornou impossível por fato imputável


exclusivamente ao consignante (por exemplo, se fez contrato estimatório
a respeito de bem que estava com vício ou defeito, que causou a
deterioração da coisa) o preço não é devido.

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