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A LEITURA FORA DO LIVRO Antes disso, no entanto, vale dizer que,

Lúcia Santaella embora haja uma sequencialidade histórica no


aparecimento de cada um desses tipos de
leitores, isso não significa que um exclui o
Fora e além do livro, há uma outro, que o aparecimento de um tipo de leitor
multiplicidade de modalidades de leitores. Há o leva ao desaparecimento do tipo anterior. Ao
leitor da imagem, desenho, pintura, gravura, contrário, não parece haver nada mais
fotografia. Há o leitor do jornal, revistas. Há o cumulativo do que as conquistas da cultura
leitor de gráficos, mapas, sistemas de notações. humana. O que existe, assim, é uma
Há o leitor da cidade, leitor da miríade de convivência e reciprocidade entre os três tipos
signos, símbolos e sinais em que se converteu a de leitores acima, embora cada tipo continue,
cidade moderna, a floresta de signos de que já de fato, sendo irredutível ao outro, exigindo
falava Baudelaire. Há o leitor espectador, do inclusive habilidades perceptivas, sensório
cinema, televisão e vídeo. A essa motoras e cognitivas distintas.
multiplicidade, mais recentemente veio se
somar o leitor das imagens evanescentes da 1. O leitor contemplativo, meditativo
computação gráfica, o leitor da escritura que, Esse primeiro tipo de leitor tem diante
do papel, saltou para a superfície das telas de si objetos e signos duráveis, imóveis,
eletrônicas, enfim, o leitor das arquiteturas localizáveis, manuseáveis: livros, pinturas,
líquidas da hipermídia, navegando no gravuras, mapas, partituras. É o mundo do
ciberespaço. papel e da tela. O livro na estante, a imagem
Em vez de discorrer sobre cada uma exposta, à altura das mãos e do olhar. Esse
dessas modalidades, escolhi uma outra rota leitor não sofre, não é acossado pelas urgências
classificatória e histórica ao mesmo tempo. do tempo. Um leitor que contempla e medita.
Percebi que por trás dessa multiplicidade, há Entre os sentidos, a visão reina soberana,
três tipos ou modelos de leitores. Trata-se de complementada pelo sentido interior da
uma tipologia que não se baseia na imaginação. Uma vez que estão localizados no
diferenciação dos processos de leitura em espaço e duram no tempo, esses signos podem
função das distinções entre classes de signos ou ser continua e repetidamente revisitados. Um
espécies de suporte desses signos, mas toma mesmo livro pode ser consultado quantas vezes
por base os tipos de habilidades sensoriais, se queira, um mesmo quadro pode ser visto
perceptivas e cognitivas que estão envolvidas tanto quanto possível. Sendo objetos imóveis, é
nos processos e no ato de ler, de modo a o leitor que os procura, escolhe-os e delibera
configurar modelos de leitor, como se segue: sobre o tempo que o desejo lhe faz dispensar a
eles. Embora a leitura da escrita de um livro
1. O primeiro é o leitor contemplativo, seja, de fato, sequencial, a solidez do objeto
meditativo da era pré-industrial, o leitor da era livro permite idas e vindas, retornos,
do livro e da imagem expositiva. Esse tipo de ressignificações. Um livro, um quadro exigem
leitor nasce no Renascimento e perdura do leitor a lentidão de uma dedicação em que o
hegemonicamente até meados do século XIX. tempo não conta.
2. O segundo é o leitor do mundo em
movimento, dinâmico, mundo híbrido, de 2. O leitor fragmentado, movente
misturas sígnicas, um leitor filho da revolução Este leitor nasce com o advento do
industrial e do aparecimento dos grandes jornal e das multidões nos centros urbanos
centros urbanos, o homem na multidão. Esse habitados de signos. É o leitor apressado de
leitor, que nasce com a explosão do jornal e linguagens efêmeras, híbridas, misturadas.
com o universo reprodutivo da fotografia e Mistura que está no cerne do jornal, primeiro
cinema, atravessa não só a era industrial, mas grande rival do livro. A impressão mecânica
mantém suas características básicas quando se aliada ao telégrafo e à fotografia gerou esse ser
dá o advento da revolução eletrônica, era do híbrido, testemunha do cotidiano, fadado a
apogeu da televisão. 3. O terceiro tipo de leitor durar o tempo exato daquilo que noticia. Nasce
é aquele que começa a emergir nos novos com o jornal um tipo novo de leitor, o leitor
espaços incorpóreos da virtualidade. Vejamos fugaz, novidadeiro, de memória curta, mas ágil.
cada um desses tipos em mais detalhes. Um leitor que precisa esquecer, pelo excesso de
estímulos, e na falta do tempo de retê-los. Um os signos, estão disponíveis ao mais leve dos
leitor de fragmentos, leitor de tiras de jornal e toques, num click de um mouse. Nasce aí um
fatias de realidade. outro tipo de leitor, revolucionariamente
distinto dos anteriores. Não mais um leitor que
Com a sofisticação dos meios de tropeça, esbarra em signos físicos, materiais,
reprodução, tanto na escrita quanto na imagem, como era o caso do leitor movente, mas um
com a reprodução fotográfica, a cidade começa leitor que navega numa tela, programando
a se povoar de signos, numa profusão de sinais leituras, num universo de signos evanescentes,
e mensagens. As palavras, as imagens crescem, mas eternamente disponíveis, contanto que não
agigantam-se e tomam conta do ambiente se perca a rota que leva a eles. Não mais um
urbano. Sinais para serem vistos e leitor que segue as sequências de um texto,
decodificados na velocidade. Como orientar-se, virando páginas, manuseando volumes,
como sobreviver na grande cidade sem as setas, percorrendo com seus passos a biblioteca, mas
os diagramas, os sinais, a avaliação imediata da um leitor em estado de prontidão, conectando-
velocidade do burburinho urbano. O leitor do se entre nós e nexos, num roteiro multilinear,
livro, leitor sem urgências, é substituído pelo multi-sequencial e labiríntico que ele próprio
leitor movente. Leitor de formas, volumes, ajudou a construir ao interagir com os nós entre
massas, interações de forças, movimentos, palavras, imagens documentação, músicas,
leitor de direções, traços, cores, leitor de luzes vídeo etc. Trata-se de um leitor implodido cuja
que se acendem e se apagam. subjetividade se mescla na hipersubjetividade
de infinitos textos num grande caleidoscópico
Há uma isomorfia entre o modo como tridimensional onde cada novo nó e nexo pode
esse leitor se move na grande cidade, o conter uma outra grande rede numa outra
movimento do trem e do carro e o movimento dimensão.
das câmeras de cinema. Velocidade que cria
novas formas de sensibilidade e de pensamento, Enfim, trata-se aí de um universo
uma outra maneira de interagir com o mundo. inteiramente novo que parece realizar o sonho
Esbarrando a todo instante em signos, signos ou alucinação borgiana da biblioteca de Babel,
que vêm ao seu encontro, fora e dentro de casa, uma biblioteca virtual, mas que funciona como
esse leitor aprende a transitar entre linguagens, promessa eterna de se tornar real a cada click
passando das coisas aos signos, da imagem ao do mouse. (Navegar no ciberespaço: o perfil
verbo, do som para a imagem com do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004).
familiaridade imperceptível. Isso se acentua
com o advento da televisão: imagens, ruídos,
sons, falas, movimentos e ritmos na tela se Atividade
confundem e se mesclam com situações Que tipo de leitor sou eu?
vividas. Onde termina o real e onde começam Em seus estudos sobre a tipologia de leitores, a
os signos se nubla e mistura como se misturam pesquisadora Lúcia Santaellla (Navegar no
os próprios signos. ciberespaço: o perfil do leitor imersivo. São
Paulo: Paulus, 2004), considera que há tipos de
3. O leitor virtual
O aspecto sem dúvida mais espetacular leitores. Isto posto, estabeleça algumas
da era digital está no poder dos dígitos para considerações sobre o tipo de leitor que você
tratar toda e qualquer informação, som, se considera ser de acordo com a
imagem, texto, programas informáticos, com a classificação apresentada pela autora
mesma linguagem universal, uma espécie de Santaella.
esperanto das máquinas. Graças à digitalização
e compressão dos dados, todo e qualquer tipo Lembre: Todos nós atravessamos a linha
de signo pode ser recebido, estocado, tratado e divisória entre o final de século XX e início do
difundido, via computador. Aliada à XXI; portanto, podemos nos identificar com
telecomunicação, a informática permite que
“mais de um”. Nomeie também os espaços
esses dados cruzem oceanos, continentes,
hemisférios, conectando numa mesma rede preferíveis para o teu tempo de leitura e o
gigantesca de transmissão e acesso, tempo de leitura diária.
potencialmente qualquer ser humano no globo.
Tendo na multimídia sua linguagem, e na
hipermídia sua estrutura, esses signos de todos

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