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SAUDE E CIDADANIA
de que necessitarem. Por que este nome? Foi que a cousa pública é res nullius e por isso deva ser
consensual entre todos os conselheiros, senão menosprezada, não merecendo um tratamento honesto e
aplaudido. Jovem dinâmico, ex-presidente e fiel às regras ditadas para a boa administração.
iniciador da atual sede cujo término ficou sob a
Não se pretende, com tais conceitos, generalizar o
responsabilidade do professor Dalgimar Beserra. Administrar bem a cousa pública insucesso, contra os interesses da coletividade, de todas
Dr. Ivan galgou com mérito, reconhecido por
as administrações da cousa pública. Há exceções.
todos que lidam com a ética, devido à sua conduta é tarefa difícil. As pressões
sóbria, cavalheiresca. Essas qualidades o alçaram E, por falar em exceções, veja-se o gerenciamento da
à mais alta postulação hipocrática: presidente internas e externas, paralelas, são autarquia administrativa dos médicos nos últimos anos.
do Conselho Federal de Medicina. Em sua gestão Quase tudo, ali, mudou: há uma transparência total dos atos
no CFM predominaram o respeito à sociedade e
tantas que aquela tarefa só será praticados pelo Conselho Federal de Medicina, na gestão do
a valorização da excelência da prática médica; alcançada, com muito suporte Dr. Ivan Moura Fé, à prova do mais exigente auditor.
uma revolução na atuação do Conselho Federal
A lisura da mesma é fruto da filosofia impregnada pelo
de Medicina. Conselho esse reconhecido em moral, sentimental e político, por Dr. Ivan Moura Fé, respaldada na moral, na honestidade,
todos os rincões, do Oiapoque ao Chuí, quando
altruisticamente, durante cinco anos renunciou à parte do administrador. na consciência política de destemido patriota.
convivência familiar, aos lazeres e à sua clientela, Substituindo a rotina imposta pelos administradores
e como paladino da ética tornou-se um Ivanhoé, indicados, para o Conselho, pelo eixo São Paulo – Rio,
nos moldes modernos. Dr. Ivan, a classe médica surgiu o Comando de um nordestino, filho do Piauí e
cearense tem muito a lhe agradecer, não pelas ofertado pelo Ceará para que se implantasse uma boa
páginas sociais, pela propaganda encomendada, administração. Assim, aconteceu.
mas pelo trabalho impagável, pela missão que a
Hoje, graças ao espírito empreendedor do Dr. Ivan Moura
poucos é confiada, pela honestidade cotidiana
Fé, com a ajuda dos seus pares, o Conselho Federal de
dentro do humilde papel em que todo humanista
Medicina é um órgão auscultado em todas as questões
se sente bem.
relacionadas com a política de saúde do País. A figura
do seu Presidente é sempre requisitada quando se trata
Discurso proferido pelo presidente do CREMEC de defesa do interesse da coletividade, por sua retidão
conselheiro Lino Antonio Cavalcanti Holanda, por moral, cultura e elevado grau de politização, a par de
ocasião da inauguração do auditório comprovado sentimento de brasilidade.
Conselheiro Ivan de Araújo Moura Fé Por tudo que tem feito em prol da categoria médica e do povo,
18 de outubro de 1996. o Dr. Ivan Moura Fé se tornou credor da administração geral.
Edições CREMEC-2014
Arte da Capa
Wiron Teixeira / Fred Miranda
Diagramação
Júlio Amadeu / Fred Miranda/ Dalgimar Menezes
Ficha Catalográfica
Bibliotecária Regina Lúcia Freitas Holanda - CRB-3/808
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Araújo Moura Fé quanto eu, para registar aqui o mapa das nossas
andanças na velha Fortaleza. Não ficamos muito na Barão do Rio
Branco, pois em 1983, Dr. Ivan Moura Fé, agora eleito presidente,
resolve adquirir a casa da Rua Carlos Gomes, esquina de Floriano
Peixoto, 2021, e aí instala a entidade. Ainda há uma só Faculdade
de Medicina no Ceará, mas o atendimento dos médicos estava a
exigir espaços mais amplos. Não custa a exigir mais espaço, e como
estamos confundindo deliberadamente a história do Dr. Ivan Moura
Fé com a do CREMEC, é aí que entra a Reforma do Espaço, com
reestruturação desse espaço, o nascimento ou renascimento do espaço
de hoje, o prédio atual, que foi principalmente obra do conselheiro
Orlando Monteiro, vice-presidente, no então dos princípios dos anos
noventa; no que Ivan Moura Fé não é mais presidente. É presidente,
sim, porém do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasilia,
eleito por seus pares, onde vai inaugurar outro prédio, a sede atual
da entidade. Parecia ser seu destino mexer com as estruturas e ar-
quiteturas. Mais: novo prédio do Conselho está sendo construído,
na Avenida Antônio Sales, com a ajuda do CFM, agora que temos
7 (sete) Faculdades de Medicina a um raio de 600km de Fortaleza,
talvez mais faculdades, e temos inscritos mais de 16.000 médicos.
Eis a faceta vitruviana, construtiva, de Ivan Moura Fé, em que se
encastoam os propósitos de funcionalidade e solidez do construto,
de que fala Vitrúvio1. Quem vier depois vai usufruir dos feitos, se-
jam bem-vindos; temos mais ou menos consciência de que estamos
fechando um ciclo, completando uma era. Deixando, além de vasto
acervo, fantasmas; o Canterville2 do prédio da Floriano Peixoto,
chama-se Nelson.
Enquanto caminhamos por esse labirinto de ruas, fatos e fastos, o
livro vai sendo construído, uma vez que a matéria de que consta, são
escritos reunidos ao longo de todo o período, postos preto no branco,
como que em cima da hora, à medida que se desenrolam os eventos
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da prática da medicina e da política médica do Ceará e do Brasil.
Os eventos são os mais significativos, é como se a gente estivesse
criando um país, pois deitamos os nossos olhos na VIII Conferência
Nacional de Sáude, na criação do texto que vai entrar na constitui-
ção como base do SUS, “saúde direito de todos e dever de estado”,
à Primeira Conferência Nacional de Ética Médica, Hotel Glória,
Rio de Janeiro, que dá origem ao Código de Ética de 1987/88, e não
menos importante, ao texto de saúde para a constituinte do Ceará.
Os trabalhos do Dr. Ivan Moura Fé vão dando conta disso tudo.
Mais na frente, em 2009, a Revisão do Código de Ética Médica,
Clube Sírio, São Paulo.
De passagem, os textos que estão em Saúde e Cidadania vão
sendo deitados no Jornal Conselho, pois desta feita, tem o CREMEC
um veículo de divulgação dessas matérias. Fundamos o Jornal Con-
selho, há mais de 30 anos, com a ajuda inestimável do Professor José
Jackson Coelho Sampaio. Então, o Jornal, em que originalmente está
a maioria dos escritos, é também labor do conselheiro Ivan Moura
Fé, com a contribuição do Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues,
de Fernando Monte e deste pouco modesto apresentador de livro.
Ex-libris. A marca que fica, o brasão do proprietário dos textos.
Ele já vinha sendo feito há anos, portanto, ao sabor dos acontecimen-
tos, e do espírito do tempo (Zeitgeist); pois, nesse ínterim, sobrevêm
as lutas pela residência médica; não esqueçamos que Ivan Moura
Fé foi presidente da Comissão Estadual de Residência Médica, a
luta pelo SUS, já mencionada, a formação das Comissões de Ética
dos Hospitais, e estamos retornando ao anos noventa, com Ivan na
presidência do Federal, e nós aqui instituindo a primeira seccional
do CREMEC, no Cariri. Depois, vêm as seccionais de Sobral e de
Iguatu. A partir do segundo lustro da década de 90, os eventos vão
contar com o esforço de quem o Dr. José Mauro Mendes Gifoni
apelida de fomentador faustiano, Lino Antonio Cavalcanti Holanda.
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Nosso método nesta apresentação não pode, não deve se pejar de
qualquer tipo de paranoia, nem mesmo a paraneia crítica de Salvador
Dali. Nós queremos ser apenas uma fração do que se faz no Brasil,
em matéria de ética, de abordagem ética, de abordagem bioética, um
microcosmo, no cenário maior das atividades conselhais do Brasil,
mas contribuindo sempre uma pouca, ou um pouco, para não ser
pedante, mesmo sendo. O livro em todos os seus textos, querendo
ou não, vai demonstrar isso. Os escritos vão examinar com objetivi-
dade, concisão, clareza, todos os nossos grandes temas: De trás para
diante, como contraponto musical tipo caranguejo3, .... Prontuário
Eletrônico, Ética e Genética, Autonomia, Programa Mais Médicos,
Serviço Civil Obrigatório, Revalida, Dignidade no Final da Vida,
Condições de Trabalho Médico, Auditoria, Bioética, Valorização do
Médico e dos Pacientes, Antibióticos, Medicamentos Fracionados,
Carreira de Médico de Estado, O SUS e as Policlínicas, Programa
Saúde de Família, Concurso Público... As Novas Faculdades de
Medicina ... de maneiras que, em retrospectiva, chega-se ao primei-
ro texto, que está no número 0 do Jornal Conselho, de 1983, que é
explicativo das funções do Conselho, que nunca está ao gosto de
alguma gente, órgão federal da fiscalização da prática médica e da
promoção “do perfeito desempenho ético e moral da Medicina e o
prestígio e o bom conceito da profissão e dos que a exerçam”. Indo
em ordem cronológica, e não lançando mão só de imagem musical,
mas pictórica também, cada artigo vai se constituir em Quadros de
Uma Exposição4, diante de cada um o expectador/leitor medita, e
arremata, ao final: aqui se defende a boa prática, aqui se defende o
concurso público, aqui se defende o SUS, aqui se defende a resi-
dência médica, aqui se defende a democracia, aqui... com o estilo
de traços limpos, claros, sem cor política partidária, às vezes em
chiaroscuro, como o que é parte de escrito outro de Ivan Moura Fé,
que não se encontra nesta coletânea: “o trabalho .... tem que se dar
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de forma eficaz, porém discreta, evitando os holofotes e os gestos
teatrais tão ao gosto de alguns”; às vezes com sorrisos enigmáticos
e senso de humor.
Os artigos, os editoriais do Jornal Conselho, dão conta de todos
esses fatos, e a gente sabe, vai constatando mesmo, que a arte é, de
fato, longa; e a vida, breve.
Nisso vem literatura do eu, iniciada, como todos sabem, por
Agostinho de Hipona, dito santo, com as Confissões. É um capítu-
lo quase vazio, na escritura de Ivan, pois ao receber homenagens,
honrarias, medalhas, diplomas, títulos, ele tende a quase descartar o
ego, como o demonstram alguns de seus discursos relativos a esses
eventos: honrarias e títulos e comendas de Cidadão de Fortaleza,
como Cidadão Cearense, como Presidente do Conselho Federal,
como presidente do Conselho Regional, como membro da Academia
Cearense de Medicina... É bom notar, que a escrita limpa, sempre
limpa, quase nunca, mesmo nessas circunstâncias, fala de si, quase
a remeter o espectador, o leitor a Blaise Pascal, que assevera, assen-
ta que Le moi est Haïssable, o ego é odiento, mas que possa/pode
lembrar vagamente Marco Aurélio das Meditações e Montaigne no
seu dizer que eu [Montaigne, nos Ensaios] sou motivo, a inspiração,
dos meus escritos, pois para se dizer o que se fez, o certo é falar do
feito, do que foi feito, e não ficar sob o holofote do eu fiz isso, eu fiz
aquilo, eu sou o bom, adivinhem quem sou. Olhaí eu!
O mais esquisito, isso eu já disse a ele pessoalmente, é que ele
se diz religioso ou tem hábito afim, mas na vida real e nos escritos,
não se consignam as palavras parasitas e os clichês, tipo assim:
louvado seja deus, morreu em odor de santidade, graças a deus fiz
isso, fiz aquilo, agradeço ao pai, está com o pai, tranVferiu-se para
a eternidade, etc, dos que se dizem religiosos. A escrita do Ivan é
plenamente laica, não usa esses clichês nem como figura de retórica.
Calham bem ao Ivan duas observações de Guimaraes Rosa5: “Eu
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quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”; quase tudo
Sócrates/Platão - com quid de depressão Stoa (estoico), do pessi-
mismo da inteligência versus o otimismo da vontade, de Gramsci.
Outra: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e
esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela
quer da gente é coragem”.
Mais apropriadamente aqui, socorre-nos Machado de Assis6:
“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro,
um governo, ou uma revolução; alguns dizem que assim é que a
natureza compôs as suas espécies.”
“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um
livro...”
Alguma bibliografia:
1 - Marcus Vitruvius Pollio - De Architectura, Apud Rita de Cássia Pereira
Saramago. Dissertaçao. Ensino de estruturas nas escolas de arquitetura do Brasil.
Escola de Engenharia de São Carlos, Departamento de Arquitetura e Urbanismo.
USP. São Carlos, 2011: página 42.
Na verdade, Vitrúvio refere-se a utilitas, venustas et firmitas, ou seja, utilidade
(funcionalidade), beleza e solidez.
2 - Alusão ao Fantasma de Canterville, conto quase-gótico de Oscar Wilde;
tenho quase certeza que o li há sessenta anos, adaptado a quadrinhos, mas não cuido
que tenha sido em Ediçoes Maravilhosas da Editora EBAL. Minha ediçãozinha,
a levou o vento, em 1979.
3 - Uma pequena nota. Para quem não é vidrado em música, o cânone caran-
guejo está, por exemplo, na Oferenda Musical (Musikalische Opfer) de J. S. Bach
4 - Alusão à peça de Modesto Mussorgski Quadros de uma Exposição.
5 - Rosa JG: Grande Sertão: Veredas, 29ª Edição, Editora Nova Fronteira,
1988 (páginas: 8, 278).
6 - Machado de Assis JM: Primas de Sapucaia! in Histórias sem Data. Obra
Completa, Vol. II, Editora Nova Aguilar S.A., 1985: 417-423.
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EDITORIAL
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Naturalmente compreende-se que a forma pela qual os Conselhos
devem lutar em defesa dos legítimos interesses da classe médica e da
saúde da comunidade difere da que é adotada por outras entidades de
classe, como os Sindicatos e as Associações Médicas. Entretanto, tal
diferença nem de longe deverá impedir-nos de reivindicar as mudanças
que a nossa consciência exige e a lei autoriza.
É tempo, portanto, de os CRMs saírem de sua tradicional timidez
para uma postura mais participativa e atuante, atendendo assim às
melhores aspirações da classe médica e cumprindo a missão que lhes
está historicamente reservada.
Ivan Moura Fé
Publicado originalmente no jornal Conselho em out/nov/dez/1983
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A CRISE DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS
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Corpo Clínico daquele hospital, a contratação de médicos plantonistas
para o Setor de Pediatria e a eleição, pelo voto direto, das Chefias das
diversas Clínicas.
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O PAPEL DOS CONSELHOS DE MEDICINA
Ivan Moura Fé
Publicado originalmente no jornal Conselho em jan/fev/mar/1989
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*CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
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nacional, procurando contribuir para que o país avance no sentido de
assegurar aos seus cidadãos o atendimento de direitos básicos tais como
saúde, educação, moradia e emprego. No entanto, a par da luta mais
geral em prol de uma sociedade justa e democrática, há questões mais
específicas que têm de ser enfrentadas com aplicação e competência.
Recordemos que se encontra em tramitação no Congresso Nacional
Projeto de Lei sobre o Sistema Único de Saúde, instrumento que regu-
lamentará e traçará as diretrizes referentes à saúde no Brasil. O que os
médicos brasileiros e o CFM têm a dizer sobre isto?
Como segmento organizado da sociedade compete a nós,
coerentes com o compromisso social e humanista da Medicina, lutar
pela implantação de um sistema de saúde que assegure o atendimento
universal e igualitário a todos os cidadãos; pela efetiva participação
popular na formulação, acompanhamento e fiscalização das políticas
e ações de saúde; pela alocação de recursos suficientes para o setor, de
tal forma que se supere a atual situação de sucateamento da estrutura
pública ambulatorial e hospitalar. Por sinal, há estudos bem funda-
mentados demonstrando que o Brasil terá que, no mínimo, duplicar,
a curto prazo, os recursos destinados à saúde, se quiser efetivamente
implantar uma política de melhoria do setor. Aliás, a maior ou menor
valorização da saúde serve de indicador do nível de vida de um povo,
e pode-se aferir qual o tipo de opção que um país faz pelo volume de
investimentos que destina a setores sociais como saúde e educação.
Estando todos nós empenhados no fortalecimento da estrutura
pública dos serviços de saúde, por entendermos ser este o caminho
para viabilizar saúde para todos, naturalmente devemos lutar para que
esta seja uma das prioridades governamentais em termos de aplicação
de recursos. É preciso ficar claro, no entanto, que ser a favor da saúde
pública não significa ser contra o exercício liberal da Medicina. Não
significa querer estatizar a saúde. Achamos que há espaço para a prá-
tica privada da profissão, dentro dos mesmos critérios de seriedade e
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dignidade que devem seguir todos os que exercem a Medicina. O que
não podemos aceitar é que só uns poucos tenham acesso aos serviços
médicos de melhor qualidade, enquanto os serviços médicos acessíveis
à população mais carente encontram-se desprovidos das condições
mínimas para um funcionamento adequado, faltam equipamentos e
medicamentos e é insuficiente o número de profissionais de saúde. O
que não podemos aceitar é a existência de uma Medicina para os ricos e
outra, Medicina para os pobres. O que condenamos é a intermediação
lucrativa do trabalho médico, a mercantilização da Medicina, a transfor-
mação da doença em mercadoria e da profissão médica em mera forma
de comércio. Contra isto se insurgem veementemente todos aqueles
que compõem o “Movimento Saúde e Dignidade Profissional”.
Com a mesma ênfase, no entanto, cerramos fileiras ao lado dos
que militam a favor de remuneração condigna e melhores condições
de trabalho para os médicos. É inaceitável que o trabalho médico,
que é considerado uma atividade essencial, seja remunerado a preços
irrisórios, como às vezes ocorre. Esta é uma entre tantas frentes de luta
em que devem se empenhar, de forma unitária, as entidades médicas,
somando esforços os Sindicatos, as Associações Médicas e os Conselhos
de Medicina.
Outra questão importante, na qual devemos nos deter, é a da for-
mação médica. Tal como a saúde, a educação atravessa no Brasil enormes
dificuldades, o que naturalmente também ocorre no ensino superior,
e consequentemente no ensino médico. Entendemos ser fundamental
uma efetiva atuação do CFM no sentido de que recursos suficientes
sejam destinados ao ensino médico. Ao mesmo tempo, deve-se cobrar
o estabelecimento de rigorosos critérios quanto à abertura de novos
cursos de Medicina, tendo como referencial básico os interesses e as reais
necessidades do país. Por outro lado impõe-se a criação de mecanismos
que permitam e estimulem a reciclagem e a educação continuada dos
médicos.
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Por fim, embora com o convencimento já assinalado de que
o CFM, como órgão máximo da ética médica brasileira, necessita
partir de uma concepção onde a ética é vista como algo abrangente e
diretamente relacionado com as vertentes econômica, social e política
da realidade da prática médica, entendemos que cabe a esta entidade
estimular a reflexão acerca das questões éticas polêmicas, algumas das
quais surgidas devido ao próprio desenvolvimento tecnológico, tais
como as que dizem respeito ao prolongamento artificial da vida, aos
transplantes e à engenharia genética. Naturalmente esta reflexão pode
se alargar e ter como objeto a própria razão de ser da profissão médica e
a sua fundamentação central. Achamos que a Medicina, como a ciência
em geral, está alicerçada em uma concepção filosófica, e seu exercício se
dará de acordo com uma visão do mundo, com uma determinada forma
de valoração moral. Historicamente foi a Medicina conceituada como
uma profissão a serviço do ser humano, contra a dor e o sofrimento,
identificada com os valores da solidariedade e do mais puro humanis-
mo. É difícil se imaginar uma profissão mais bonita e de mais nobre
destinação do que a Medicina. Os difíceis e tortuosos tempos em que
vivemos é que fazem com que, por momentos, alguns companheiros
sejam tomados pelo desalento e pela descrença. Achamos que cabe a
nós, como médicos e como cidadãos, lutarmos para que o exercício da
profissão médica continue se dando dentro dos valores que a prática
médica consagrou, demonstrando claramente que a Medicina pode e
tem que ser exercida com dignidade e compromisso com a saúde, com
a sociedade e com o país.
Encerro minhas palavras repetindo o que disse no início: cabe
a este Conselho uma enorme tarefa. Há muito trabalho pela frente.
Acredito, no entanto, que a vida é feita de desafios e de lutas e que é nas
dificuldades que as pessoas e as instituições crescem. O maior exemplo
disto foi dado pelo CFM que nos cabe substituir. Portanto, é tendo
como norte o ideário do “Movimento Saúde e Dignidade Profissional”
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que direcionaremos nosso esforço. E que tenhamos competência para,
juntamente com os médicos deste país, e no meio de tantos desencon-
tros, lutar buscando contribuir, como cidadãos para proporcionar o
encontro do governo com o povo, do homem com a cidadania; como
médicos, visando alcançar o encontro da Medicina com seu compro-
misso social, do médico com a dignidade do seu trabalho.
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TÍTULO DE CIDADÃO DE FORTALEZA*
Senhoras e Senhores
Minha primeira manifestação é de agradecimento pela honraria
que me é concedida na data de hoje. A distinção de ser recebido como
cidadão de Fortaleza me enche de um justificado orgulho. Mais ainda,
por ser o autor do Projeto de concessão do Título de Cidadão de
Fortaleza um vereador com as qualidades morais e o compromisso social
do Dr. José Maria Pontes, verdadeiro representante do povo, exemplo
de que é possível o exercício da política resgatando o sentido primordial
de Política como a atividade cujo objetivo é o bem comum. E mais
necessário se torna que tenhamos políticos dessa estirpe nos difíceis
tempos que atravessamos hoje. Infelizmente, vivemos uma situação de
extrema penúria, desigualdade e injustiça social, em que milhões de
brasileiros estão privados dos mais elementares direitos de cidadania.
Alguns têm tudo, porém a maioria quase nada tem. O desemprego, a
fome, as doenças, a falta de moradia, as dificuldades de acesso a uma
educação de boa qualidade fazem o pesadelo de milhares de homens e
mulheres em todo este país.
No entanto, a história já mostrou diversas vezes que as maiores crises
podem dar início a períodos extremamente fecundos. Estamos em um
momento de múltiplas possibilidades para o nosso país. Aproxima-se
a hora em que os brasileiros decidirão quem irá dirigir os destinos da
nação. Se os que sempre fizeram da atividade política um caminho
para consolidar os privilégios de grupos, de elites, deixando à margem
numerosos segmentos da população; ou se, pelo contrario, repudiando
as práticas de exclusão, o povo brasileiro dará uma demonstração
memorável de que chegou a vez e a hora de assumir seu próprio
destino, e de que é possível construir um país melhor, mais solidário,
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mais fraterno, onde homens, mulheres, velhos e crianças não precisem
mendigar os direitos básicos da cidadania.
Nesta perspectiva, muito há que ser feito na área da saúde. É
imperativo que seja consolidado o Sistema Único de Saúde, de caráter
público, com atendimento universal, igualitário, integral e resolutivo.
Em nenhum momento podemos aceitar medidas destinadas a implantar
uma medicina pobre para pobres. Somente com maciços investimentos
no setor saúde reverteremos o perverso modelo que faz com que milhares
de pessoas morram de doenças que podem ser prevenidas ou tratadas.
A ocorrência de patologias que, há muito, deveriam estar erradicadas,
ao lado da superlotação dos serviços públicos de saúde, com dezenas de
pacientes graves sendo atendidos em macas nos corredores dos hospitais,
configura um quadro que penaliza os pacientes, angustia os profissionais
de saúde e envergonha a nação.
No que tange à saúde mental, impõe-se a ampliação dos serviços
ambulatoriais e centros de atenção psicossocial, possibilitando que os
pacientes sejam atendidos em locais próximos às suas residências, assim
mantendo os vínculos com seu meio familiar e social, e que os pacientes
internados em razão de crises agudas do seu quadro psiquiátrico tenham
continuidade do seu tratamento após a alta hospitalar. Em toda e
qualquer circunstância, há que serem respeitados os direitos de cidadania
das pessoas acometidas de transtornos mentais.
Dignas autoridades; Senhoras e Senhores.
Em minhas reflexões, às vezes me indago: Qual o sentido da vida? O
que estamos fazendo neste planeta? E a única resposta que encontrei até
agora foi a seguinte: a existência de um ser humano se justifica na medida
em que ele se dispuser a fazer alguma coisa em benefício dos outros.
Penso que este é o verdadeiro distintivo do cidadão, ou seja, aquele
que faz parte de uma comunidade, de um conjunto humano, de uma
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cidade. E considero que esta disposição de servir tem caracterizado de
forma indelével os médicos ao longo da história desta profissão. Assim,
por ter a convicção de que a essência da Medicina é o humanismo, a
solidariedade, o compromisso com a vida, defendo uma prática médica
pautada nos princípios firmados por ocasião da aprovação do Código de
Ética Médica, em histórica Conferência Nacional da qual participaram
alguns dos que estão aqui presentes, como Lino Antonio Cavalcanti
Holanda, Dalgimar Beserra de Menezes, Orlando Bezerra Monteiro,
José Roosevelt Norões Luna e Rita de Cássia Mota Moura Fé. Tais
princípios servem de introdução à norma ética básica de nossa profissão
e enfatizam um conceito mais abrangente de saúde e o compromisso
do médico com a sociedade, ao afirmar:
** “Todo ser humano, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça,
cor, sexo, religião, ideologia, idade, opinião política ou de outra natureza,
origem nacional ou condição sócio-econômica, nascimento ou qualquer outra
condição, tem direito a um padrão de vida que lhe assegure saúde e cuidados
médicos. Entende-se por saúde não a ausência de doença, mas a resultante
das adequadas condições de alimentação, habitação, saneamento, educação,
renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da
terra e acesso a serviços de saúde. E deste conceito amplo implica a garantia
pelo Estado dos direitos sociais fundamentais de cidadania. A Medicina,
enquanto profissão, tem por fim a promoção, preservação e recuperação da
saúde, e seu exercício é uma atividade eminentemente humanitária e social.
É missão do médico zelar pela saúde das pessoas e da coletividade, aliviar
e atenuar o sofrimento de seus pacientes, mantendo o máximo de respeito
pela vida humana, não usando os seus conhecimentos contrariamente aos
princípios humanitários.”
É este o ideário que tenho procurado seguir ao longo dos meus 30
anos de prática da Medicina.
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Nesta caminhada, foram fundamentais a amizade, o apoio, os
ensinamentos de numerosos companheiros com os quais tive a honra
de conviver, procurando, todos os dias, com eles aprender alguma coisa
para a profissão e para a vida.
A palavra mais afetuosa, porém, reservo para minha mulher, Rita,
e meus filhos, Ivan, Daniel e Mariana, razão e sentido da minha vida,
fonte de inspiração, estímulo para a jornada. Sem eles eu não teria como
chegar até aqui. Quero também fazer uma referência muito comovida a
meu pai, Nelson de Moura Fé, exemplo para toda a minha vida de um
homem que nunca se omitiu diante dos problemas e nunca permitiu
que outros decidissem por ele. Dele e de minha mãe, Hilda Araújo de
Moura, recebi, ainda, o gosto pelo trabalho, a correção nas atitudes, a
valorização da amizade.
Para concluir, quero mais uma vez expressar meu contentamento
por estar sendo, agora formalmente, acolhido por esta cidade. Moro em
Fortaleza desde o ano de 1966. Nesta cidade fiz o Curso de Medicina,
me casei, vi nascerem meus filhos Aqui desempenho minha profissão,
cuido dos meus doentes. De forma que fico muito feliz em juntar ao
meu registro de nascimento na cidade de Simplício Mendes, no Estado
do Piauí, o título de cidadão de Fortaleza.
Por fim, quero agradecer a todos os que compareceram a esta
solenidade para dividir comigo e com os meus familiares este momento
de alegria.
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Muito obrigado.
*Discurso proferido pelo Dr. Ivan de Araújo Moura Fé no dia 12/09/02,
na Câmara Municipal de Fortaleza, por ocasião da outorga do Título de
Cidadão de Fortaleza
** Citado pelo Dr. Francisco Álvaro Barbosa Costa, Presidente do
Conselho Federal de Medicina, na apresentação do Código de Ética
Médica aprovado pela Resolução CFM 1.246/88.
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DIA DO MÉDICO*
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O Presidente Lino Antonio Cavalcanti Holanda e os ilustres
homenageados são profissionais que servem de exemplo e estímulo
para os mais jovens, ao mesmo tempo em que nos ajudam a manter a
motivação e o alento, mesmo nos momentos mais árduos da atividade
médica. E são muitas as dificuldades para o exercício da Medicina nos
tempos atuais.
A sobrecarga de trabalho nos serviços de urgência e emergência, a
angústia da falta de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva, o desem-
penho do mister médico em serviços nos quais, por falta de vagas, temos
que conviver com “o doente do corredor” e até com “o leito-chão”, são
algumas das fontes de angústia para muitos profissionais da Medicina.
Diante de tudo isto, e com a convicção de que “saúde é direito de
todos e dever do Estado”, queremos aqui reafirmar nossa firme posição
em favor do fortalecimento do Sistema Único de Saúde, dentro dos
princípios do acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de saú-
de, com gestão transparente e participativa e controle social através dos
Conselhos de Saúde. Nesta perspectiva, o Programa Saúde da Família
há que ser consolidado, pela ampliação do número de profissionais de
saúde, assim como pela garantia de que os serviços serão bem equipa-
dos e disporão de medicamentos para as necessidades da população.
Não podemos aceitar a condenável atitude de alguns gestores, os quais,
após os períodos eleitorais, fazem verdadeiros desmontes nas equipes
de saúde, demitindo sem explicações e sem motivo os profissionais de
saúde e, com isto, agravando ainda mais o sofrimento da população.
Tais condutas, se ocorrerem – e, infelizmente, já estão ocorrendo –,
serão energicamente denunciadas pelo Conselho Regional de Medicina.
Somos, ademais, pela realização de Concurso Público para mé-
dicos e demais profissionais da saúde. É necessário que se faça, com
urgência, a correção de um modelo que, ao longo dos últimos anos, se
voltou para a terceirização dos serviços de saúde, gerando distorções
que estão comprometendo seriamente o funcionamento desses servi-
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ços. Há, como é sobejamente conhecido, carência de profissionais em
muitos dos serviços de saúde em nosso meio. E ninguém ignora que
um hospital ou posto de saúde público bem estruturado é, geralmente,
a única possibilidade de que milhares e milhares de pessoas dispõem
para o atendimento aos agravos à saúde.
Defendemos, igualmente, a melhoria das condições de trabalho e
remuneração digna para os médicos. Não há como justificar os salários
irrisórios que por vezes são pagos aos profissionais que têm a nobre in-
cumbência de cuidar de um dos maiores bens do ser humano, que é a
saúde. Quanto à remuneração profissional, a CBHPM, a Classificação
Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, foi, ao longo dos
últimos meses, o referencial das lutas médicas no que se refere aos Planos
de Saúde, Cooperativas Médicas e Seguro Saúde, devendo ser apoiada
por todos os médicos, os quais, como diz o Código de Ética Médica,
têm direito a boas condições de trabalho e a uma remuneração justa.
Um tema que também nos preocupa é a qualidade do ensino mé-
dico. Vemos as iniciativas voltadas para a abertura de novos Cursos de
Medicina e temos, neste momento, que pontuar ser indispensável para
o funcionamento de um curso médico que o mesmo esteja estruturado
de modo a garantir que aos profissionais ali formados será oferecida
toda a condição de se prepararem bem, de modo a adquirirem a ne-
cessária competência para lidar com a saúde e a doença em todas as
suas dimensões.
Aproveitamos a oportunidade para esclarecer um tema que está,
surpreendentemente, suscitando incompreensões e polêmicas. Referi-
mo-nos ao projeto de lei do Ato Médico. Dito projeto apenas propõe,
de forma muito clara, o que é do conhecimento da humanidade pelo
menos desde Hipócrates, há 2.400 anos, ou seja, que “diagnosticar
e tratar doenças são atos médicos”. Qualquer cidadão, do menos es-
clarecido ao mais culto, sabe que quem adoece procura um médico.
No entanto, semelhantes conceitos estão provocando animosidade
40
entre profissionais das diversas áreas da saúde, o que é extremamente
lamentável. O Conselho Regional de Medicina defende um relaciona-
mento respeitoso entre os diversos profissionais, levando-se em conta,
naturalmente, a especificidade do trabalho de cada um deles. Por fim,
queremos dizer que os médicos cearenses honrarão o Juramento que
fizeram ao abraçar a profissão médica, continuando a empenhar o me-
lhor de sua capacidade no atendimento aos pacientes e contribuindo
para melhorar os índices de saúde do Estado. Ao mesmo tempo, como
cidadãos, saberão também estes médicos lutar de maneira vigorosa pela
afirmação da cidadania do povo cearense.
Muito obrigado.
41
O CONSELHO E A EDUCAÇÃO MÉDICA
CONTINUADA
44
CONCURSO PUBLICO
46
também foi a oportunidade para que vários médicos demonstrassem,
de forma inequivoca, que não estavam dispostos a renegar seus com-
promissos éticos. De qualquer modo, consideramos que o concurso
poderia, por este ângulo, fazer com que a vulnerabilidade dos médicos
aos humores provincianos dos politiqueiros fosse minimizada.
Queremos deixar claro, no entanto, que não temos ilusões de que o
concurso seja a panacéia, a solução para todos os males. Achamos que,
mesmo com o concurso, continuará sendo grande a rotatividade dos
médicos do PSF, principalmente porque vários deles, na realidade, estão
decididos a cursar Residência Médica. Estamos, porém, convencidos de
que o concurso, por garantir os direitos trabalhistas, é, sim, um fator de
estabilização e um estímulo aos médicos, muitos dos quais ficarão nas
cidades para as quais foram aprovados. Impõe-se, contudo, a adoção
de outras iniciativas, entre as quais a que se volta decididamente para
a Educação Médica Continuada, em que sejam criados mecanismos
permanentes de reciclagem dos médicos do PSF.
Deste modo, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará
acompanhará atentamente todas as etapas de preparação e execução
do Concurso do Estado para médicos e do Concurso para o PSF, por
entender que, mesmo com limitações, são passos importantes para a
ampliação da assistência à saúde do povo cearense e para a melhoria
das condições de trabalho dos médicos.
47
O ATO MÉDICO
50
direito de todos. Não aceitamos que seja estabelecida uma Medicina
pobre para pobres.
Por tudo isto, concluímos: devemos ser favoráveis à Regulamen-
tação da Profissão Médica; devemos dizer Sim ao Ato Médico.
51
BALANÇO DE 2004
54
novo esforço em prol da Educação Médica Continuada: o CREMEC
patrocinará um Curso de Especialização em Medicina de Família e
Comunidade, com duração de um (1) ano e atividades a serem desen-
volvidas em quatro (4) núcleos: Grande Fortaleza, Cariri, Crateús e
Sobral. As aulas terão início no mês de março deste ano.
55
CURSO DE MEDICINA DE FAMÍLIA E
COMUNIDADE
Um abraço fraterno
Ivan de Araújo Moura Fé
58
SERVIÇO DE VERIFICAÇÃO DE ÓBITOS
60
A CONSULTA MÉDICA
62
OS MÉDICOS E A INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA
64
MENSAGEM*
Saudações
Tenho a satisfação de cumprimentar os participantes da XIV
Jornada Médica de Aracati, lamentando não estar presente aos debates,
pelo fato de ter que presidir o III Congresso Científico e Ético do
Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará, no período de 3
a 5 de novembro de 2005, em Fortaleza.
Gostaria de ressaltar alguns pontos básicos da Ética Médica,
discutidos aí, em Aracati, na semana passada, quando da realização do
LXXI Fórum de Ética Médica do Interior. O primeiro deles se refere
à atitude do médico diante do seu paciente, quando devem prevalecer
o zelo, a dedicação, o interesse em tudo fazer em benefício da saúde
do doente. Este esforço para conhecer e compreender a enfermidade,
esta disposição à solidariedade, este desejo de aliviar o sofrimento são
marcas indeléveis da Medicina ao longo de toda a sua história, já sendo
pontos cardeais dos ensinamentos hipocráticos há mais de 2.400
anos. Estas características tão peculiares à atividade do médico talvez
expliquem o extraordinário grau de confiança que os povos de todas as
nações depositaram nos esculápios. Como ilustração, lembramos que
recentemente o IBOPE realizou uma pesquisa, na qual 81% dos
entrevistados declararam que confiam nos médicos, colocando a
profissão médica como a instituição de maior credibilidade junto
à população brasileira.
Partindo dessas premissas básicas que definem o humanismo da
profissão médica, teremos amplas condições para exercer a Medicina
de forma digna, sentindo-nos gratos pelo trabalho que abraçamos, que
nos permite prover o sustento da nossa família numa atividade em que,
na essência, estamos continuamente tendo a oportunidade de fazer o
bem às outras pessoas.
65
Assim, haveremos que exercitar constantemente esses valores,
aplicando os princípios que nos foram legados pelos Pais da Medicina
e engrandecendo cada vez mais nossa profissão. Ao mesmo tempo,
teremos que envidar esforços para melhorar nossas condições de
trabalho, conseguir uma remuneração justa e viabilizar a contratação
de pessoal qualificado tecnicamente e em número suficiente para evitar
a sobrecarga excessiva de atendimentos, prejudicial aos pacientes e aos
médicos. De tal forma que se caracteriza a necessidade do engajamento
dos médicos também na luta por uma política de saúde voltada para os
reais e legítimos interesses da população, dentro da concepção de que
saúde é um direito de todos os cidadãos.
No que diz respeito especificamente ao Programa “Saúde mais
perto de Você”, é nosso entendimento que se trata de uma iniciativa
promissora, que tem o objetivo imediato de aumentar a resolutividade
dos hospitais-polo do interior do Estado do Ceará, garantindo a
presença, nesses serviços, de especialistas em clínica médica, ginecologia/
obstetrícia, traumato/ortopedia, pediatria/neonatologia e cirurgia geral.
Significa, portanto, segundo anunciam os gestores estaduais da saúde,
oferecer “atendimento à população mais próximo da sua residência, o
mais rápido possível e com a melhor qualidade, evitando, ao máximo,
as transferências desnecessárias para a capital”. No entanto, algumas
distorções surgiram e merecem reparos. Várias vezes constatamos
que faltam alguns profissionais previstos pelo Programa, seja pela
não contratação dos mesmos em número suficiente, seja por haver
atraso de pagamento dos médicos, o que gera insatisfação e leva
alguns deles a se desfiliarem do Programa. O resultado previsível é
o comprometimento da eficácia do serviço, em prejuízo da saúde da
população. A responsabilidade dos gestores estaduais e municipais de
saúde deve, portanto, ser cobrada.
Quanto à saúde da mulher, causam grande preocupação os
inaceitáveis números concernentes à mortalidade materna em nosso
66
Estado. É imperativo que sejam adotadas medidas no sentido de
identificar as principais causas da mortalidade materna em nosso meio,
fundamentando a adoção de providências dirigidas ao atendimento
integral à saúde da mulher e da criança, tudo dentro dos parâmetros
recomendados pelos médicos especialistas do setor.
Por fim, na certeza de que todos esses temas serão intensamente
debatidos no conclave, formulamos votos de que a XIV Jornada Médica
de Aracati se revista de pleno êxito, contribuindo para o aprimoramento
técnico e científico dos médicos da região e suscitando reflexões que
aprofundem o compromisso moral e social dos que exercem a Medicina.
Minhas cordiais saudações a todos os participantes da Jornada.
67
III CONGRESSO CIENTÍFICO E ÉTICO DO
CREMEC*
70
Djacir Gurgel de Figueirêdo
Edna de Castro Picanço
Edvaldo Cordeiro Costa
Elígio Figueirêdo Abath
Francisco Braga Montenegro Filho
Francisco Mansuêto de Sousa
Joacillo Miranda Ponte
José Péricles Maia Chaves
José Ulisses Peixoto Neto
Maria Nogueira Machado Arcanjo
Roberto Caminha Juaçaba
Sebastião Barros de Almeida.
Os ilustres médicos homenageados honram a Medicina Cearense
e marcam, com o seu exemplo, a trilha a ser seguida pelos novos escu-
lápios, para que a profissão médica continue a ser merecedora da con-
fiança e da gratidão de quantos sofrem agravos à saúde. Neste sentido,
foi muito alentadora a pesquisa recentemente realizada pelo IBOPE, na
qual 81% dos entrevistados declararam que confiam na classe médica,
colocando a profissão médica como a instituição de maior credibilidade
junto à população brasileira.
Faremos, ainda, nesta solenidade, a premiação dos vencedores do
Concurso de Monografias Professor Dalgimar Beserra de Menezes,
certame instituído para estimular, entre os médicos e estudantes de
Medicina, a produção de trabalhos de ética e bioética.
Por fim, nesta sessão solene de abertura do Congresso, temos que fazer
alguns agradecimentos: ao Conselho Federal de Medicina, na pessoa do
seu Presidente, Dr. Edson de Oliveira Andrade, que sempre se mostrou
sensível às iniciativas do CREMEC; aos representantes dos Conselhos
Regionais de Medicina, que compareceram ao III Congresso munidos de
vasto saber nos campos técnico, ético e jurídico; aos Professores convidados
para as conferências e mesas-redondas do conclave, vários dos quais vieram
71
de outros Estados, pela presteza com que acolheram o convite do Conselho
e se dispuseram a trazer seu conhecimento e sua experiência para dar maior
brilhantismo ao Congresso; aos Conselheiros do CREMEC, que colabora-
ram nas etapas preparatórias do encontro e agora se mostram presentes em
sua execução; de um modo todo especial, ao Dr. Helvécio Neves Feitosa,
Presidente da Comissão Científica do conclave, e ao Dr. Lino Antonio
Cavalcanti Holanda, da Comissão Executiva, os quais coordenaram as
reuniões de elaboração da programação científica e de implementação das
medidas administrativas do evento, não poupando esforços para o êxito
do mesmo, tendo, nesse mister, a companhia operosa do Dr. Vladimir
Távora Fontoura Cruz. Agradecemos, ainda, a contribuição fundamental
dos membros das Câmaras Técnicas do CREMEC, particularmente os
de Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia
e Medicina de Família e Comunidade, que são responsáveis pela maior
parte das sugestões de temas científicos e de professores convidados. E o
empenho imprescindível dos funcionários do CREMEC, representados
aqui na pessoa da Sra. Fátima Maria Sampaio de Barros.
Nossas boas vindas a todos os participantes do Congresso.
Muito obrigado
72
O CONCURSO DO PROGRAMA
SAÚDE DA FAMÍLIA
74
A LETRA DOS MÉDICOS
76
A FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO
DA MEDICINA
78
A TERMINALIDADE DA VIDA
80
ERRO MÉDICO
81
ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência. E são
estas as mais frequentes razões para as denúncias formuladas contra
médicos no Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará. Em
número significativo delas (93 citações nos processos ético-profissionais
instaurados no CREMEC no período de 2003 a 2005), a queixa do
paciente se centra na afirmação de que o médico não fez pelo doente
tudo o que poderia e deveria ter feito. É, por exemplo, acusado de
negligência o médico que, sem motivo de força maior, falta ou chega
atrasado ao plantão; ou o que retarda, injustificadamente, o encami-
nhamento para a cirurgia de um paciente clínico que está entrando
em abdome agudo. Já o médico que realiza anestesias simultâneas, ou
que, sozinho, fora da situação de urgência, anestesia e opera o pacien-
te, ou o que não se cerca das cautelas já consagradas no atendimento
do enfermo, estão sujeitos à acusação de imprudência. E, embora não
queiram alguns doutrinadores, é perfeitamente admissível a acusação
de imperícia no caso de um médico que causa prejuízo à saúde de um
paciente por agir contrariamente aos conhecimentos mais comezinhos
da profissão. Muitas vezes teremos condutas que contêm, simultanea-
mente, elementos de imprudência e de negligência. É evidente, ainda,
que o médico tem o direito de alegar seus motivos, os porquês do seu
procedimento, conseguindo, muitas vezes, provar que agiu acertada-
mente. É o que constatamos no levantamento das denúncias apreciadas
no CREMEC, pois, em aproximadamente 80% das sindicâncias ins-
tauradas, o Conselho concluiu pelo arquivamento, por não identificar
indícios de infração ao Código de Ética Médica.
82
médicas, investir na educação médica continuada, pautar a relação
médico-paciente pelo humanismo, dedicação e zelo do médico e buscar
melhorar as condições da atividade profissional do esculápio.
83
MORTALIDADE MATERNA
85
de saúde e a sociedade como um todo, sendo o elevado número de óbitos
uma violação dos direitos humanos das mulheres e das crianças e um
grave problema de saúde pública. O Conselho Regional de Medicina
do Estado do Ceará, imbuído de sua responsabilidade ética e social, se
sente no dever de contribuir para dar visibilidade a esta magna questão,
no intuito de incentivar os médicos a se mobilizarem para o esforço
de redução da mortalidade materna. Deste modo, cumprindo suas
atribuições de fiscalizar a prática médica e promover o perfeito desem-
penho ético e científico da Medicina, e consciente, ademais, de que a
Medicina é uma profissão a serviço do ser humano e da coletividade,
inicia o CREMEC, neste momento, uma campanha pela maternidade
segura e pela redução dos índices de mortalidade materna. Contando
com a participação de instituições tais como a Sociedade Cearense de
Ginecologia e Obstetrícia, as Secretarias estadual e municipais de saúde,
os Comitês de Prevenção da Mortalidade Materna e a Promotoria de
Justiça de Defesa da Saúde Pública, pretende o CREMEC catalisar um
amplo processo de identificação e correção das causas evitáveis de óbitos
maternos. Dentro desta linha de trabalho, propomos a implantação
de cursos na área de atendimento integral à saúde da mulher, os quais
devem fazer parte indispensável da formação dos médicos do Programa
Saúde da Família. Ampla campanha de divulgação deve ser feita junto
à população, ressaltando a importância do pré-natal. Por sua vez, deve
ser aprimorado o sistema de referência e contrarreferência, assim como
se impõe que os serviços de atenção terciária estejam bem equipados
e com pessoal qualificado, viabilizando o atendimento rápido das pa-
cientes em quadro clínico mais grave. Afinal, não podemos aceitar que,
em pleno século XXI, “mulheres continuem a morrer de parto”.
86
A SAÚDE EM PERSPECTIVA
87
A matéria que estamos enfocando constituiu parte da agenda da
audiência que os médicos Ivan Moura Fé, Lino Antonio Cavalcanti e
Dalgimar Menezes, diretores do CREMEC, tiveram, em 06/02/07,
com o representante do Governo do Estado, Deputado Ivo Gomes.
Ademais, foram tratados os seguintes temas: o Plano de Cargos, Carrei-
ras e Salários para a saúde, a difícil situação do Instituto Médico Legal
e do Serviço de Verificação de Óbitos de Fortaleza e a designação dos
novos Diretores dos Hospitais do Estado. Quanto ao Plano de Cargos,
foi levada a reivindicação de que o processo de discussão seja reaberto,
possibilitando a inclusão de médicos em todas as fases de análise da
questão. Por fim, manifestaram os dirigentes do CREMEC preocupa-
ção com a demora na designação dos novos Diretores dos hospitais do
Estado e com a instabilidade administrativa que isto gera. Expressaram,
ademais, o entendimento de que as direções devem ser ocupadas por
médicos comprometidos com o serviço público e não com qualquer
interesse menor de cunho político-partidário.
O ilustre representante do governo estadual afirmou que consi-
derava todos os itens discutidos como relevantes e asseverou que não
haverá retrocesso na área da saúde. E, realmente, retrocesso é algo que
não se pode de forma alguma aceitar, até porque bastam as dificuldades
com que já lidamos diariamente para atender bem nossos pacientes
e exercer com dignidade a profissão médica. Naturalmente, cabe às
entidades médicas, entre as quais o Conselho Regional de Medicina,
a luta permanente e vigilante para que a população cearense usufrua o
direito à saúde. E para que os médicos disponham de todos os meios
que a moderna ciência oferece no que toca à prevenção e ao tratamento
das enfermidades.
88
SAÚDE X VIOLÊNCIA
89
a Secretaria de Segurança e o Departamento Estadual de Trânsito, no
sentido de abordar os vários aspectos do problema e apontar soluções.
É matéria que deve merecer cuidadosa atenção.
Outro ângulo do nosso tema diz respeito a uma forma específica
de violência que é sofrida por médicos no exercício da sua atividade
profissional. Já por diversas vezes o Conselho Regional de Medicina
foi procurado por médicos, os quais relataram que sofreram ameaças
ou mesmo agressões físicas em seu trabalho. Algumas circunstâncias
parecem contribuir para fazer eclodir a animosidade e a irritação de
pacientes e familiares contra médicos. É o caso do trabalho em servi-
ços de urgência e emergência ou qualquer outra situação em que haja
um número excessivo de pacientes aguardando atendimento médico.
O que sinaliza claramente que medidas de racionalização do trabalho
médico, com a garantia de boas condições para o desempenho pro-
fissional, se impõem de forma imprescindível e urgente. Ao lado da
criação de mecanismos de acolhimento dos pacientes, com orientação
preliminar e classificação de risco, é preciso que haja a contratação de
pessoal técnico qualificado e em número suficiente, para que se garanta
a dignidade do trabalho médico e se possibilite satisfatória atenção à
saúde da comunidade cearense.
90
REPERCUTINDO O ENEM
92
PCCS
94
LUTAS MÉDICAS
96
IV CONGRESSO CIENTÍFICO
E ÉTICO DO CREMEC*
98
Abner Cavalcante Brasil
Antero Coelho Neto
Antonio Carlos dos Santos Oliveira
Edmar Teixeira Vieira
Ernani Holanda Barreira
Francisco de Paiva Freitas
João Paiva Freitas
Jonathas Nunes de Barros
José Ernani Maciel de Lima
José Iran dos Santos
José Maria Primo de Carvalho
Viliberto Cavalcante Porto
Os médicos homenageados, ilustres praticantes da arte
hipocrática, se tornaram exemplos para todos os médicos cearenses,
merecendo o respeito e a admiração de todos os que veem a saúde
como um dos maiores bens do ser humano.
Por ser de justiça, queremos fazer alguns agradecimentos
nesta sessão solene de abertura do Congresso; ao Conselho Federal
de Medicina, na pessoa do seu Presidente, Dr. Edson de Oliveira
Andrade; aos representantes dos Conselhos Regionais de Medicina;
aos Professores convidados para as conferências e mesas-redondas do
conclave, vários dos quais vieram de outros Estados; aos Conselheiros
e membros das Câmaras Técnicas do CREMEC, particularmente os de
Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral e Ginecologia e Obstetrícia.
Estes profissionais, mestres da Medicina e da Ética Médica, enriquecem
nosso congresso e merecem toda a nossa gratidão. Cabe, ainda,
uma referência especial ao Dr. José Eduilton Girão, Presidente da
Comissão Científica do conclave, e ao Dr. Lino Antonio Cavalcanti
Holanda, da Comissão Executiva, pela enorme dedicação em todas as
etapas do congresso. Por fim, destacamos o trabalho operoso do Dr.
Vladimir Távora Fontoura Cruz, com a sua equipe, e dos funcionários
99
do CREMEC, representados aqui na pessoa da Sra. Fátima Maria
Sampaio de Barros.
Nossas boas vindas a todos os participantes do Congresso.
E parabéns pelo Dia do Médico.
Muito obrigado.
100
E LA NAVE VA
101
A atividade de fiscalização da Medicina, comandada pelos Conse-
lheiros José Málbio Oliveira Rolim, Maria Neodan Tavares Rodrigues
e Lino Antonio Cavalcanti Holanda, foi intensificada, tendo sido visi-
tados cerca de 60 municípios do interior do Estado e vários hospitais
e postos de saúde em Fortaleza. Na vistoria dos hospitais e do PSF dos
municípios, feita sempre em articulação com a Promotoria de Justiça
de Defesa da Saúde Pública, foram detectados e corrigidos alguns pro-
blemas, tais como a falta de prontuários médicos em alguns serviços,
a carência de equipamentos indispensáveis ao trabalho médico, ou a
ocorrência de prescrições por profissionais não médicos; houve, ainda,
a identificação de casos de exercício ilegal da Medicina. Em alguns
hospitais, foi constatado que não havia Diretor Técnico; ou este cargo,
privativo de médicos, era exercido por profissional não médico. Todas
essas irregularidades foram corrigidas ou denunciadas às autoridades
competentes. No caso específico do PSF, advertências foram feitas em
alguns municípios, no sentido da adequação do número de famílias a
serem atendidas por cada médico, evitando-se, assim, que o excesso de
trabalho comprometa o bom atendimento à saúde da população.
Algumas reivindicações setoriais tiveram encaminhamento satis-
fatório. Foi o que aconteceu com os Cirurgiões Cardiovasculares, que
chegaram a um acordo com as Secretarias de Saúde de Fortaleza e do
Estado do Ceará, com a adoção da CBHPM, com redutor de 22%,
para o pagamento dos procedimentos da especialidade. Nas reuniões
que levaram à solução da pendência, teve participação ativa o membro
da Câmara Técnica do CREMEC, Dr. João Martins de Souza Torres.
Da mesma forma, o Conselho contribuiu para resolver parcialmente o
impasse com os Anestesiologistas da região do Cariri, os quais voltaram
a atender os pacientes. Gestões também foram realizadas para melhorar
o setor de Cirurgia do HGF, no que se refere aos cirurgiões ligados à
Cooperativa de Cirurgiões Gerais, resultando no aumento do número
de cirurgiões de cada equipe de plantão, aumento da remuneração do
102
plantão e melhoria do funcionamento da sala de recuperação pós-anes-
tésica. Indiscutivelmente, porém, o movimento mais aguerrido foi o
dos médicos da Prefeitura de Fortaleza, que culminou em conquista
salarial para muitos colegas, mas deixou insatisfação nos médicos do IJF.
Possivelmente, será elaborado um Plano de Cargos, Carreiras e Salários
específico para os esculápios dessa instituição.
Certamente, o labor continuará em 2008, ano em que pretendemos
iniciar a construção da nova sede do Conselho de Medicina, dotando o
órgão de instalações mais adequadas para o atendimento à comunidade
e aos quase oito mil médicos em atividade em nosso Estado.
Os integrantes do Conselho de Medicina desejam que todos os
médicos do Estado do Ceará tenham um Ano Novo pleno de realiza-
ções, paz e alegria.
103
D. JOÃO VI E A CIDADE DE QUIXADÁ
106
CÓDIGO DE ÉTICA EM DEBATE
108
Concluímos esta reflexão solicitando que os médicos cearenses
contribuam para o encaminhamento da seguinte questão: o Código
de Ética Médica deve sofrer acréscimos, modificações? Ou deve ser
substituído por um novo Código? Que novas vertentes éticas devem ser
necessariamente incorporadas à carta magna dos médicos brasileiros?
O Conselho de Medicina do Ceará fica aguardando as manifestações
dos colegas.
109
ELEIÇÕES
112
parte do seu tempo à tarefa de transmitir aos colegas a mensagem de
que a Medicina deve continuar sendo exercida com zelo, dedicação,
solidariedade e espírito humanista. É com base nesta concepção que
pretendemos chegar às eleições do Conselho Regional de Medicina do
Estado do Ceará, em 7 de agosto de 2008.
113
AS ELEIÇÕES E A FUTURA
GESTÃO DO CRM
116
DISCURSO DE POSSE*
Senhoras e Senhores
118
levando os esculápios ao desalento e à desesperança. Muitos médicos
já falavam em abandonar o serviço público, e numerosos profissionais
aprovados no último concurso para médicos do Estado relutavam em
assumir as novas funções tendo em vista os salários irrisórios. De forma
alvissareira, porém, estamos vivendo um momento que parece traduzir
um processo de revitalização do emprego e da remuneração médica.
E nada mais pertinente que a participação do Conselho de Medicina
nesta empreitada, tendo em vista a formulação do Código de Ética
Médica, onde se lê que “a fim de que possa exercer a Medicina com
honra e dignidade, o médico deve ter boas condições de trabalho e ser
remunerado de forma justa”.
É tendo por parâmetro este conjunto de realizações do último
mandato que os novos conselheiros assumem agora uma nova etapa de
trabalho e de lutas, com a responsabilidade do empenho e da dedicação
no sentido de que seja ampliado e enriquecido o que foi construído
nos períodos anteriores. Muito há que ser feito, não só nas linhas de
trabalho anteriormente apontadas, ou seja, na fiscalização, na ação
judicante e na educação médica continuada, como na contribuição da
entidade para as conquistas sociais e da cidadania, entre as quais ocupa
um lugar de destaque a luta pela efetivação do direito universal à saúde.
O fortalecimento do Sistema Único de Saúde, voltado para o atendi-
mento universal, equânime e resolutivo à saúde de todos os cidadãos do
país, é e continuará sendo bandeira histórica do Conselho Regional de
Medicina do Estado do Ceará. A chapa eleita, com o sugestivo nome
“Ética e Cidadania”, tem o compromisso de contribuir para a afirmação
dos princípios de humanismo, solidariedade, zelo e dedicação à saúde
do ser humano que caracterizam a profissão médica.
Torna-se patente, outrossim, que uma especial atenção deve ser
dedicada aos 7 cursos de Medicina atualmente existentes em nosso
Estado, sempre com a preocupação de que os futuros médicos recebam
uma formação técnico-científica condizente com as atuais necessidades
119
de saúde da população alencarina; do mesmo modo, que os temas éti-
co-morais tenham um lugar de destaque na grade curricular das nossas
Faculdades de Medicina. E nesta matéria, o Conselho de Medicina tem
condições de dar importante contribuição. Por sinal, com o aumento
mais rápido do número de médicos no Estado do Ceará, vai ficando
evidente a necessidade de o CRM ter uma nova sede, mais ampla e bem
equipada, que melhor atenda às necessidades de todos os que buscam
a entidade. A construção da nova sede do CREMEC é uma das metas
da gestão que ora se inicia.
Uma importante discussão que se dá atualmente se refere a novos
temas de ética e bioética, surgidos com o avanço científico e tecnoló-
gico. Destaco 2 deles, a reprodução assistida e a clonagem, ambos
tornando reais possibilidades antes insuspeitadas, porém trazendo
dilemas éticos relevantes. Ao mesmo tempo em que podem contribuir
para ultrapassar problemas de infertilidade e resultar no tratamento
eficaz para enfermidades até agora incuráveis, colocam em pauta o
direito das próximas gerações, o que abrange o direito do nascituro a
conhecer a própria origem e a ter um futuro aberto. Questões outras,
como a preocupação com a preservação do meio ambiente e com a
biodiversidade, em respeito não só às populações atuais, mas também
às dos séculos vindouros, frequentam as inquietações dos bioeticistas e
devem merecer a nossa atenção.
Enfim, há um vasto campo de matérias para reflexão e elaboração,
sem perder de vista a marca humanista da Medicina através de toda a
sua história. E neste momento, em que se fala em pluralismo demo-
crático, vem à baila a questão do pluralismo moral em um mundo tão
diversificado ao ponto em que um pensador como Engelhardt disse que
somos “estranhos morais”. É um desafio, portanto, identificar pontos
de encontro que possibilitem aos estranhos morais uma convivência
salutar e construtiva. Numa aplicação prática do conceito, precisamos
trabalhar a relação médico-paciente de forma que nela o doente não se
sinta “como um estranho em terra estranha”.
Para concluir, quero agradecer a todos os médicos que apoiaram
120
a eleição da chapa “Ética e Cidadania” e a todos os que vêm participar
da nossa alegria nesta solenidade de posse. Ao mesmo tempo, quero
conclamar os eleitos, entre os quais se incluem 12 novos Conselheiros,
ao trabalho dedicado e contínuo em prol do aprimoramento científico
e ético dos médicos cearenses e da melhoria da atenção à saúde da
população do nosso Estado. É para nós muito claro que, para termos
bom êxito, precisaremos continuar contando com o apoio do Sindicato
dos Médicos do Estado do Ceará, da Associação Médica Cearense e
suas filiadas, das Associações de Especialidades e da Academia Cearense
de Medicina. E desde já agradecemos a dedicação e o empenho dos
membros das Câmaras Técnicas e das Seccionais, dos Representantes
municipais do Conselho e dos funcionários do CREMEC.
Por fim, de um modo todo especial, o meu agradecimento à minha
família: minha mulher, Rita, e meus filhos, Mariana, Daniel e Ivan,
pelo apoio e a solidariedade em toda a minha caminhada.
Muito obrigado.
121
REVISÃO DO CÓDIGO DE
ÉTICA MÉDICA
124
CONFLITOS ÉTICOS
125
A outra situação, igualmente conflituosa, diz respeito aos imigran-
tes. Segundo foi amplamente noticiado, o senado italiano aprovou
um projeto de lei autorizando médicos a denunciarem imigrantes que
estiverem em situação ilegal. Na hipótese de tal dispositivo ser seguido,
o imigrante que vá em busca de atendimento médico poderá sair do
consultório diretamente para a cadeia. Assim, o doente terá acrescido à
angústia relacionada com os agravos à saúde o medo de que o médico
o entregue às autoridades policiais. Organizações representativas dos
médicos protestaram com veemência, incitando os médicos a descon-
siderarem a proposta senatorial e afirmando que os profissionais da
Medicina são médicos e não espiões. Além da clara afronta ao princípio
milenar do segredo médico, um dos aspectos cardeais da ética profis-
sional, a estapafúrdia proposta, caso seja posta em prática, poderá levar
o imigrante doente a fugir do atendimento médico regular e procurar,
talvez, assistência clandestina para as suas necessidades de saúde.
Nos fóruns de ética médica realizados pelo CREMEC nos hospitais
de Fortaleza e no interior do Estado, por vezes surgem dúvidas que
guardam alguma analogia com a questão dos imigrantes italianos. Assim,
é feita a pergunta: como devo agir se estou de plantão no hospital e
atendo um paciente ferido que é conhecido como um perigoso assal-
tante? E no caso de uma paciente que provocou aborto? Devo chamar
a polícia? A orientação dada tem sido no sentido de que o papel do
médico é atender bem o paciente, com zelo, dedicação e interesse em
aliviar a dor, o sofrimento, não lhe cabendo tarefas relacionadas com a
eventual detenção de criminosos.
Concluindo, convém lembrar o que deve, realmente, balizar a
conduta médica, conforme expressa a Declaração de Genebra, aprovada
pela Associação Médica Mundial, em 1948: “a saúde do meu paciente
será minha primeira consideração”.
126
ELEIÇÃO DO CONSELHO
FEDERAL DE MEDICINA
128
O SUS E AS POLICLÍNICAS
130
TÍTULO DE CIDADÃO CEARENSE*
Senhoras e Senhores
Em primeiro lugar, quero expressar meu agradecimento pela
honraria que me é concedida na data de hoje. O agradecimento se
dirige a esta augusta casa e ao Deputado Lula Morais, autor do projeto
de concessão do Título de Cidadão Cearense. Parlamentar atuante, o
Deputado Lula Morais tem toda uma história de engajamento nas causas
sociais, na luta pela afirmação dos direitos da cidadania. O que adquire
particular importância nos dias de hoje, quando há uma clara tendência
para desqualificar a atividade política, reduzindo-a em sua relevância
ou fazendo pesadas e maldosas insinuações sobre a integridade dos seus
participantes. O que não é nada bom para a democracia e interessa,
isto sim, aos que desejam a manutenção do status quo, da situação de
exclusão, que é a marca vergonhosa da sociedade em que vivemos. Daí,
que ganha em magnitude o papel dos que, aqui nesta Casa ou em outros
setores da sociedade, empregam sua energia e seu saber propondo e
procurando concretizar iniciativas que contribuam para combater as
mazelas sociais e amenizar a injusta e inaceitável desigualdade vigente
em nosso meio.
E é aos que acreditam numa sociedade melhor e lutam para que
os avanços sociais verificados nos últimos anos se intensifiquem e
aprofundem que nos filiamos. Como Martin Luther King, eu também
tenho um sonho: ver todas as pessoas do meu país tendo acesso imediato
e resolutivo aos cuidados de saúde. Ver o nosso país dar passos largos
no sentido de superar a condição de ser uma sociedade excludente e
evoluir para o respeito à dignidade das pessoas.
Neste sentido, no que se refere ao setor saúde, é imperativo que
seja consolidado o Sistema Único de Saúde, única alternativa a que
podem recorrer milhões de brasileiros para a vacinação, para os exames
de prevenção de enfermidades, para o tratamento das doenças. O SUS,
131
portanto, tem que estar bem estruturado, abrangente, com pessoal
bem preparado e motivado para propiciar atendimento digno aos que
demandam seus serviços. Não há como aceitarmos a demora de meses,
e até anos, de pacientes aguardando a realização de um exame por vezes
decisivo para o diagnóstico da afecção de que estão acometidos. Ou
realizando verdadeira via crucis em busca de uma vaga em UTI. Ou,
ainda, sendo humilhados e desrespeitados em sua intimidade, por terem
que permanecer dias e dias em macas nos corredores dos hospitais, já
que, mais uma vez, não há vagas nas enfermarias. Estas são algumas das
situações que angustiam os médicos e os pacientes e se constituem em
verdadeiras denúncias de desrespeito aos direitos humanos.
No campo da saúde mental, também há algo a ser dito. Durante toda
a minha vida profissional – e já são quase 37 anos de atividade – exerci a
psiquiatria. A experiência de trabalhar em hospitais psiquiátricos, vendo,
portanto, os pacientes mais graves, e, simultaneamente, atendendo em
ambulatórios públicos, tendo contato quase diário com o sofrimento das
pessoas mais humildes e carentes, me sensibilizou, desde muito cedo,
para a questão dos direitos dos pacientes acometidos de enfermidades
mentais. Levando-me a refletir sobre o papel do médico e das instituições
de saúde. Entendo a psiquiatria como uma prática que só se justifica
se tiver um intuito libertador. Como tive a oportunidade de escrever
certa vez, impõe-se que a Psiquiatria se desvincule de qualquer ação
repressiva ou de limitação da liberdade dos pacientes, e contribua para
a recuperação emocional dos enfermos, de modo que estes possam
exercer sua autonomia e trilhar o caminho do crescimento e da realização
pessoal.
É indispensável que sejam ampliados os recursos para a estruturação
de serviços de saúde mental – os CAPS (Centros de Reabilitação
Psicossocial) e as Residências Terapêuticas, entre eles – de forma que
os doentes mentais possam ser tratados mantendo-se o mais próximo
possível do seu meio familiar e social. Mas também há que se garantir aos
132
doentes mais graves, que necessitam de internamento, um tratamento
digno, humano, competente, fundamentado nos preceitos éticos e no
melhor conhecimento científico. De forma que nenhuma instituição
médica possa ser outra vez comparada a um “cemitério de vivos”, como
se referiu Lima Barreto ao hospital onde esteve internado.
As algemas da segregação e as cadeias da discriminação de que o
grande pacifista de Atlanta queria libertar os negros são análogas às que
oprimem os pacientes com transtornos mentais ou outras enfermidades
estigmatizantes, como a hanseníase ou a SIDA. É um dever ético
darmos nossa colaboração para a humanização não só do tratamento
dos doentes, mas também construindo uma mudança de atitude da
coletividade em relação a eles.
Diante deste quadro, como não nos preocuparmos com a formação
médica, com a festiva e indiscriminada abertura de cursos de medicina,
muitas vezes sem qualquer condição para que ali se qualifiquem
adequadamente os futuros médicos? Abrir escolas médicas tornou-se
um negócio, a busca de lucros. O sentido social, que deve ser uma das
vigas mestras de qualquer proposta de um novo curso, acaba ficando
esquecido. Talvez estejamos próximos do momento em que a conta por
esses desacertos seja cobrada, e se imponha uma profunda reformulação
no sistema educacional brasileiro.
Por seu turno, com as dificuldades crescentes para o exercício
da profissão, com os médicos vivendo conflitos e angústias junto aos
pacientes e sem condições de encaminhar as mudanças estruturais
necessárias à organização dos serviços, é bom que comecemos a prestar
atenção à saúde dos próprios médicos, iniciativa que já se esboça em
alguns outros Estados, com a elaboração de propostas de atuação neste
sentido.
Ilustres Deputados, Dignas Autoridades, Senhoras e Senhores.
Vejo a Medicina como uma profissão a serviço da saúde do ser
humano e da coletividade, como está expresso, de forma tão eloquente,
no Código de Ética Médica. A atitude humana, solidária e zelosa dos
médicos para com os doentes, ao longo de milênios, fez com que a
133
Medicina granjeasse a gratidão da humanidade. Temos, portanto, que
preservar a melhor tradição hipocrática. Contudo, sentimo-nos no
dever de alçar a nossa voz para além do cenário de consultórios, postos
de saúde ou hospitais, cobrando medidas que caminhem no sentido de
um atendimento mais digno aos pacientes e de uma vida social mais
justa e mais fraterna.
Quero concluir referindo-me, de forma particularmente
carinhosa, à minha mulher, Rita, e aos meus fi lhos, Mariana,
Daniel e Ivan, fontes de minha alegria e da minha vontade de
viver. E aos meus pais, Nelson de Moura Fé e Hilda Araújo de
Moura, profundas influências na minha formação pessoal e moral,
presenças permanentes em minhas lembranças e no meu afeto.
Entre todas as pessoas que muito contribuíram para meu trabalho
profissional, destaco o Dr. Nílson de Moura Fé, sob a orientação do
qual dei os primeiros passos na Psiquiatria. Meus agradecimentos
aos conselheiros e funcionários do Conselho Regional de Medicina
do Estado do Ceará, com os quais tenho compartilhado, ao longo
de anos, aspirações, projetos, dificuldades e alegrias.
Para concluir, quero dizer que este dia, em que sou recebido como
Cidadão Cearense, ficará gravado em letras especiais na minha memória
afetiva. Por fim, agradeço a todos os que compareceram a esta solenidade
para viver comigo e com os meus familiares este momento de alegria.
Muito obrigado.
134
CREMEC: 50 ANOS
135
Por outro lado, houve profundas modificações no cenário da
atividade médica. De prática eminentemente liberal, em consultórios,
ou com visitas dos médicos às residências dos doentes, passou o trabalho
médico a ser feito em grandes organizações, quer estatais, quer sob a
forma de planos de saúde, cooperativas médicas e seguro-saúde. O
que trouxe aspectos novos que merecem atenção e análise. Um deles
diz respeito à autonomia do médico. De fato, vemos atualmente uma
interferência cada vez maior na relação médico-paciente, limitando o
direito do médico de, em diálogo com o seu paciente, decidir quais os
meios diagnósticos e terapêuticos que devem ser adotados em benefício
da saúde do doente. Ademais, observa-se que os médicos muitas
vezes são submetidos a um regime de trabalho extenuante, tendo que
atender um número de doentes bem superior ao que seria razoável.
O que traz, inevitavelmente, maiores riscos de erro profissional, além
de poder causar danos à própria saúde dos esculápios. Tal situação,
verificada principalmente nos serviços públicos de saúde, faz com que
seja indispensável a adoção de medidas para a melhoria do Sistema
Único de Saúde, com providências quanto à organização dos serviços
e à ampliação dos recursos humanos, o que passa, necessariamente,
por modificações no financiamento do setor saúde. Neste sentido, o
CREMEC, juntamente com o Sindicato dos Médicos e a Associação
Médica Cearense, sempre se empenhou para que houvesse concurso
público, com a admissão de novos médicos, e que a remuneração médica
fosse compatível com a importância social e científica da Medicina.
No que se refere à regulamentação ética da profissão médica, os
Conselhos de Medicina adotaram primeiramente o Código de Ética
Médica que fora aprovado pela Associação Médica Brasileira, em
1953. Posteriormente, seguiram-se os códigos de ética de 1965, 1984
e 1988, o último ainda em vigor, embora em processo de revisão, com
a possibilidade de que seja editado um novo código ainda no ano em
curso. Em todos estes diplomas éticos da profissão médica, destaca-se
136
a afirmação dos valores humanistas e de respeito à dignidade humana
que devem ser a base de toda a vida profissional dos esculápios.
O que se pode afirmar é que o Conselho de Medicina do Estado
do Ceará, ao completar meio século de funcionamento, tem toda
uma história de trabalho e realizações, porém muitos desafios pela
frente, suscitando de cada um de nós dedicação, zelo com a saúde
dos pacientes e com a boa prática da Medicina, compromisso com a
dignidade humana.
137
CINQUENTENÁRIO DO CONSELHO
REGIONAL DE MEDICINA*
140
Nesta vertente, destacam-se as lutas que, nos últimos dois anos,
resultaram na conquista do Plano de Cargos, Carreiras e Salários
(PCCS) para os médicos da Prefeitura de Fortaleza, para os médicos
do Estado do Ceará e para os médicos do Instituto Médico Legal
(IML), este último, em significativa coincidência, tendo sido aprovado
pela Assembleia Legislativa na manhã de hoje. Em todas estas vitórias,
tiveram participação ativa o Conselho de Medicina, o Sindicato dos
Médicos do Estado do Ceará e a Associação Médica Cearense, devendo
ser assinalado o trabalho incansável realizado por uma de nossas
homenageadas, a Dra. Teresinha Braga Monte.
E é justamente às homenagens que agora nos referimos. O Plenário
do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará escolheu, por
unanimidade, três médicos, os quais, por terem pautado o exercício de
sua profissão por ilibada conduta ética, irão agora receber a Medalha
de Honra ao Mérito Profissional. São eles:
Geraldo De Sousa Tomé
Renan Magalhães Montenegro
Teresinha Braga Monte
Por sua vez, será entregue o Diploma de Mérito Ético-Profissional
aos médicos que completaram 50 (cinquenta) anos de exercício da
profissão médica sem jamais terem sofrido sanção ético-profissional de
qualquer natureza. Os agraciados são:
Airton Fontenele Sampaio Xavier
Arlindo de Almeida Simões
Francisco de Assis Barroso
Hiran dos Santos Monteiro
José de Aguiar Ramos
Orlando Jorge Cavalcante
Raimundo Adjafre de Souza Roriz
Severino de Medeiros Filho
Wilcar Cavalcante Gondim
141
Todos os homenageados escreveram páginas de dedicação à
atividade médica e ao cuidado dos pacientes, honrando os ideais mais
elevados da nossa profissão. Tornaram-se, portanto, merecedores de
nossa admiração e gratidão.
Fazemos questão, nesta solenidade, de registrar alguns
agradecimentos; ao Conselho Federal de Medicina, na pessoa do
seu Presidente, Dr. Edson de Oliveira Andrade, pelo apoio que
sempre deu às iniciativas do CREMEC; aos representantes dos
Conselhos Regionais de Medicina; aos Professores convidados para as
conferências e mesas-redondas do conclave, vários dos quais vieram de
outros Estados; aos conselheiros e membros das Câmaras Técnicas do
CREMEC, particularmente os de Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia
Geral, Ginecologia e Obstetrícia e Medicina de Família e Comunidade.
Estes profissionais, expoentes da Medicina e da Ética Médica, dão
brilho e elevado conteúdo ao nosso congresso. Uma referência toda
especial cabe à Dra. Valeria Goes Ferreira Pinheiro, Presidente da
Comissão Científica do conclave, e ao Dr. Lino Antonio Cavalcanti
Holanda, da Comissão Executiva, que se desdobraram em trabalho e
dedicação em todas as etapas do congresso. É necessário ainda citar a
operosidade do Dr. Vladimir Távora Fontoura Cruz, com a sua equipe,
e dos funcionários do CREMEC, representados aqui na pessoa da Sra.
Fátima Maria Sampaio de Barros.
É, portanto, com muita alegria, que iniciamos a presente
solenidade, que comemora cinquenta anos de serviços prestados
pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará à saúde da
população cearense.
Nossas boas vindas a todos os participantes desta solenidade e deste
Congresso.
Muito obrigado
142
*Discurso de abertura da Solenidade de Comemoração do
Cinquentenário do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará
e do V Congresso Científico e Ético do CREMEC, no dia 09/09/09, em
Fortaleza, Ceará
143
O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
146
O novo Código de Ética Médica é composto de 25 princípios
fundamentais do exercício da Medicina, 10 normas diceológicas
(os Direitos dos Médicos), 118 normas deontológicas (as vedações,
proibições cujo desrespeito dará margem à instauração de processo
ético-profissional contra o médico acusado) e entra em vigor cento
e oitenta dias após a data de sua publicação, ou seja, no final de
março de 2010. Seu texto completo está disponível no endereço
eletrônico do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará,
www.cremec.com.br.
147
COMENDA SINDICAL MÉDICA*
Senhoras e Senhores
Antes de tudo, quero agradecer aos membros do Sindicato dos
Médicos do Estado do Ceará pela distinção que me é concedida no dia
de hoje. Receber a Comenda Sindical Médica, passando assim a fazer
parte da galeria onde se encontram expoentes da Medicina cearense, é
algo que muito me dignifica e honra.
Quando ocorre um acontecimento de tal relevância, somos natu-
ralmente induzidos a uma reflexão sobre o papel que vimos desempe-
nhando no drama à nossa volta, tentando identificar o que merece ser
destacado e o que cabe corrigir. O que nos leva a um rápido mergulho
no passado.
Tendo o ideal de ser médico, e não existindo, ainda, Faculdade
de Medicina no Estado do Piauí, vim para Fortaleza em 1966, para
fazer o 3º ano científico no Colégio Castelo. Em 1967, ingressei no
curso médico. Meu interesse pela Psiquiatria surgiu ainda na primeira
metade do curso de graduação, sem dúvida a partir da convivência
com o Dr. Nilson de Moura Fé, meu tio e ilustre psiquiatra desta
terra. A formatura em 1972, os primeiros pacientes sob meus cui-
dados profissionais, o casamento em 1975, a obtenção, através de
concurso, do Título de Especialista em Psiquiatria em 1975, a eleição
como membro do Conselho Regional de Medicina em 1978 e de
Presidente do CREMEC em 1983, o nascimento dos meus filhos
passam pela memória em ritmo caleidoscópico. Ao mesmo tempo,
esses marcantes eventos davam ensejo a que, vez por outra, fosse feita
uma avaliação. Ocasião em que se fortalecia a convicção de que, tendo
eu estudado em escola pública, portanto custeada pelo conjunto da
população, contraíra uma dívida social e o dever moral de empenhar
todos os meus esforços para de algum modo retribuir o que recebera.
O que poderia dar-se através de um trabalho médico dedicado e zelo-
so e do exercício da solidariedade em relação aos menos aquinhoados
pela fortuna. E a fixação, de forma indelével, da compreensão de que
149
a medicina só encontra justificativa moral se estiver a serviço da saúde
do ser humano e da coletividade.
Prosseguindo nesse fluxo de consciência, recordo que há um bom
tempo, ao refletir sobre meu trabalho como médico, concluí que o perío-
do de dez anos, em que atuei como preceptor do Programa de Residência
Médica de Psiquiatria do Hospital de Saúde Mental de Messejana, e
a atividade como membro do Conselho Federal de Medicina estavam
entre as experiências mais marcantes e enriquecedoras de minha vida
profissional. Já participara de campanhas pela melhoria da qualidade do
ensino médico e pelo fortalecimento da Residência Médica. Lutara em
defesa da saúde pública, pelo reconhecimento dos direitos dos pacientes
com doença mental, contra a discriminação e os preconceitos de que
são vítimas esses enfermos. Atuara por longo tempo no Conselho Re-
gional e no Federal de Medicina, na discussão e elaboração das normas
éticas, tendo sido, inclusive, membro da Comissão de Sistematização
do Código de Ética Médica que ainda se encontra em vigor no Brasil.
Parece, no entanto, que algo estava faltando: precisava eu ter uma vi-
vência eminentemente “sindical”. E foi o que se deu nos últimos anos,
nos movimentos reivindicatórios dos médicos por melhores condições
de trabalho e de remuneração.
Há uma passagem no Eclesiastes que diz: “Tudo quanto te vier à mão
para fazer, faze-o conforme as tuas forças”. Procurei aplicar tal máxima
ao longo de minha atividade como dirigente de entidades médicas.
Se minhas forças pareciam, em vários momentos, frágeis diante da
grandeza dos obstáculos, a convicção da justeza da causa e a soma de
esforços com os parceiros de luta fizeram com que a vitória coroasse
empreitadas que por vezes foram longas e penosas. Foi o que aconte-
ceu, por exemplo, na mobilização pela conquista do Plano de Cargos,
Carreiras e Salários para os médicos do município de Fortaleza, em
2007. Naquela oportunidade, tamanha era a insatisfação dos médicos
do município, e de tal magnitude foram os conflitos surgidos nas as-
sembleias da categoria médica, que o Conselho Regional de Medicina,
o Sindicato dos Médicos e a Associação Médica Cearense tiveram que
150
demonstrar extraordinária capacidade de equilíbrio entre a necessidade
de manter a luta de forma permanente e tenaz e a obrigação de evitar
que o movimento radicalizasse em paralisações prejudiciais aos pacientes.
Ou seja, ao pugnar em defesa das legítimas reivindicações dos médicos,
não podíamos perder de vista o dever ético e a responsabilidade social
de continuar proporcionando a melhor atenção à saúde dos doentes.
Ao final, após numerosas assembleias médicas e incontáveis reuniões,
com a participação inclusive da Sra. Prefeita Luiziane Lins, estávamos
em condição de comemorar, com centenas de outros médicos, uma
conquista realmente significativa, embora ainda aquém do que enten-
demos ser justo para a categoria médica.
Em 2008, foi a vez da mobilização dos médicos do Estado com
vistas à implantação de um PCCS minimamente satisfatório. Tínha-
mos, então, um quadro preocupante: dezenas de médicos aprovados no
Concurso para o Estado não mostravam o menor interesse em assumir
o emprego. Outros, tinham tomado posse, mas afirmavam nas assem-
bleias médicas que esperariam, por alguns meses, que ocorresse uma
mudança substancial nos padrões remuneratórios; em caso contrário,
pediriam demissão, pois tinham boas propostas para atuação na área
privada. Percebia-se um profundo desalento dos médicos em relação ao
serviço público. Na oportunidade, o Sindicato dos Médicos, o Conselho
de Medicina e a Associação Médica, em mais uma demonstração de
unidade e compromisso de luta, levaram ao Governador do Estado,
Dr. Cid Gomes, a pauta reivindicatória dos médicos, ocasião em que lhe
foi informado que havia possibilidades concretas de que dezenas e talvez
centenas de médicos se demitissem. O que era um fato extremamente
preocupante para os que, como nós, defendemos o fortalecimento dos
serviços públicos de saúde. Sua Excelência demonstrou sensibilidade e
participou dos entendimentos que resultaram no estabelecimento do
PCCS nos termos aprovados em assembleia dos médicos. Por fim, em
2009, outra vitória iria acontecer, agora beneficiando os médicos do
Instituto Médico Legal, em mais uma negociação das entidades médicas
com o Governador do Estado.
151
Hoje, novos desafios estão aí postos. Vemos centenas de pacien-
tes sem conseguir com a necessária presteza acesso aos serviços de saúde.
Presenciamos a multiplicação desenfreada dos cursos de Medicina,
sem qualquer consideração quanto à necessidade social de tais cursos
e pondo em plano secundário a qualidade do ensino oferecido aos fu-
turos médicos. Ficamos angustiados com a injustiça social e a situação
de iniquidade em que vivem milhões de brasileiros. Mas o ânimo não
arrefece, e a luta continua.
Em minha caminhada, tive a honra de dirigir a Sociedade Cearense
de Psiquiatria, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará
e o órgão máximo da Medicina brasileira, o Conselho Federal de Me-
dicina. E se algo do que realizei nessa trajetória foi considerado pelos
meus pares como digno de encômios, procurarei fazê-lo ainda melhor
de ora em diante.
Concluo minhas palavras, agradecendo mais uma vez ao Sindicato
dos Médicos do Estado do Ceará, na pessoa do seu Presidente, D. José
Maria Pontes, e aos amigos e familiares que dividem comigo a alegria
deste momento. Quero, por fim, reconhecer que, sem a presença ca-
rinhosa de minha mulher, Rita de Cássia Mota Moura Fé, e de meus
filhos, Mariana, Daniel e Ivan, ser-me-ia impossível alcançar as reali-
zações aqui mencionadas.
Um abraço a todos e muito obrigado.
152
REGULAMENTAÇÃO DA
PROFISSÃO MÉDICA
154
SOLIDARIEDADE
156
CARREIRA DE MÉDICO DE ESTADO
158
MEDICAMENTOS FRACIONADOS
159
2) Ocorre redução das despesas com medicamentos e, portanto,
ampliação das possibilidades de acesso ao tratamento.
3) Evita-se a ocorrência de sobra de medicamentos, uma vez que
só é prescrita a quantidade a ser utilizada para a boa condução do res-
pectivo quadro clínico. Sabe-se que o uso acidental ou inadequado de
medicamentos está entre as principais causas de intoxicações, o que se
busca evitar ou pelo menos reduzir com o fracionamento.
Ressalte-se que os medicamentos sujeitos a controle especial (Por-
taria 344/98, da ANVISA) não podem ser fracionados.
Um aspecto importante que foi discutido diz respeito às alegações
que podem ser levantadas pela indústria no sentido de que a nova mo-
dalidade de produção dos remédios traria aumento de custos, o qual
teria inevitavelmente que ser repassado aos usuários. O entendimento
da ANVISA é o de que não serão aceitas majorações dos preços dos
medicamentos com base no fracionamento.
Há vários fatores que influem de forma importante para que haja
ou não uma boa condição de saúde da população. Certamente, os me-
dicamentos estão entre eles. Assim, ao mesmo tempo em que lutamos
para que os serviços de saúde sejam bem organizados, com pessoal com-
petente e comprometido com a saúde dos pacientes, com remuneração
digna e boas condições de trabalho, temos a clareza de que o direito
à utilização das ações de saúde passa pelo acesso e o uso racional de
medicamentos, com segurança e qualidade dos produtos prescritos, o
que está dentro dos propósitos da Política Nacional de Medicamentos.
Adotando-se, aqui, o conceito da Organização Mundial de Saúde de que
há uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados
para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades
individuais, pelo período adequado e ao menor custo para si e para a
comunidade. Consideramos, portanto, bem-vinda a proposta de fra-
cionamento dos medicamentos.
160
VALORIZAÇÃO DO MÉDICO
E DOS PACIENTES
162
DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE
164
ANTIBIÓTICOS
165
2. As prescrições somente poderão ser dispensadas quando apre-
sentadas de forma legível e sem rasuras, por profissionais devidamente
habilitados e contendo as seguintes informações:
I - nome do medicamento ou da substância prescrita, dosagem ou
concentração, forma farmacêutica, quantidade (em algarismos arábicos
e por extenso) e posologia;
II - identificação do emitente: nome do profissional com sua inscri-
ção no Conselho Regional ou nome da instituição, endereço completo,
telefone, assinatura e marcação gráfica (carimbo);
III - identificação do usuário: nome completo;
IV - data da emissão.
Obs.: por ocasião da compra do medicamento, será feita a identi-
ficação do comprador.
3. As receitas de antimicrobianos terão validade de 10 (dez) dias a
contar da data de sua emissão.
4. A supracitada Resolução tem um anexo com a lista dos 93 anti-
microbianos registrados na ANVISA, e a observação que “não se aplica
aos antimicrobianos de uso exclusivo hospitalar”.
Entendemos que a determinação da ANVISA, embora possa
inicialmente trazer algum transtorno para médicos e pacientes, tem o
intuito de proteger a saúde da população, racionalizando a utilização
dos antibióticos, além de fortalecer a prescrição médica. Cabe, porém,
uma observação: é mais que pertinente a preocupação de todos os cida-
dãos com a preservação ecológica do planeta. Assim, considerando que
vivemos um momento de efervescência da tecnologia da informação, um
mundo virtual em expansão, com emprego crescente da “computação
em nuvem”, é razoável supor que possam ser adotadas outras formas
de controle da utilização de medicamentos que não aumentem, mas
sim reduzam o consumo de papel. É esta a ponderação que levaremos
à consideração da ANVISA.
167
que de melhor pode oferecer a ciência médica para o alívio das doenças.
A valorização do conhecimento e a ênfase na atitude ética diante
dos pacientes são princípios basilares da atividade médica que devem
ser incentivados durante todo o período de formação dos futuros escu-
lápios, desde a fase dos bancos escolares, prolongando-se nas atividades
teóricas e práticas da Residência Médica e, assim, consolidando um
modo de agir para todo o período de exercício da profissão médica. É
estabelecendo tais parâmetros de conduta profissional que o médico vai
evitar as acusações por imperícia, imprudência ou negligência, fazendo
com que não ocorram situações como as que têm dado margem às de-
núncias que chegam ao Conselho de Medicina. Denúncias que falam
que o médico foi descuidado, desatento, não examinou bem o paciente,
deixou de solicitar exames fundamentais para a elucidação diagnóstica.
Ou que o doutor foi grosseiro, desrespeitoso com pacientes ou familiares
destes. Ou, ainda, que não levou em consideração os valores do doente,
suas crenças e razões de consciência; ou seja, que deixou de tratar como
devidamente relevante a autonomia do paciente, isto é, o direito do
enfermo de participar ativamente das decisões sobre o tratamento que
vai receber, após devidamente esclarecido sobre as alternativas existentes
e os benefícios e os riscos de cada uma delas.
Avulta, portanto, o papel das instituições formadoras dos médicos,
entre as quais estão as Faculdades de Medicina e os serviços que mantêm
Programas de Residência Médica, que se obrigam a diligenciar para que
a preparação científica e ética dos médicos seja planejada de forma a
possibilitar que a ciência e a ética se aliem em prol do exercício digno
e humanista da Medicina.
168
BIOÉTICA: RECORTES, DÚVIDAS E
INQUIETAÇÕES
169
sofrer a acusação de desrespeitar o direito à crença da enferma, ou não
agir e ser passível de acusação por omissão de socorro? Estas situações,
que ocorrem com certa frequência, suscitam dúvidas que estão longe
de uma solução pacífica. Entretanto, existe norma promulgada pelo
Conselho Federal de Medicina, a Resolução CFM nº 1.021/1980,
que disciplina, em síntese: 1) Se não houver iminente perigo de vida,
a vontade do paciente ou de seu responsável deve ser acatada; 2) Caso se
verifique iminente perigo de vida, o médico deve realizar a transfusão,
independentemente de consentimento.
Noutro importante hospital da capital alencarina, um paciente
jovem, não doador de órgãos, teve diagnóstico clínico de morte ence-
fálica. Em circunstâncias assemelhadas, uma pergunta que surge é se os
equipamentos que vinham mantendo artificialmente a vida do paciente
podem ser de pronto desligados. Não havendo naquele nosocômio a
possibilidade imediata de utilização de exames complementares que
confirmassem a morte, houve certa hesitação dos médicos sobre o que
fazer. Foi aí que os familiares pressionaram a equipe de saúde, no sentido
de que fossem desligados os aparelhos. Atitude diametralmente oposta
se deu em outro caso, acontecido há alguns anos (e estamos sempre
falando de vivências em hospitais de referência de Fortaleza), em que o
médico assistente de um paciente em morte encefálica se viu obrigado
a prescrever para o de cujus drogas vasoativas e antibióticos.
As matérias citadas acima são ilustrativas de que se multiplicam
os contextos em que talvez o maior desafio seja o de exercitar a capa-
cidade de convivência entre opiniões, crenças e cosmovisões bastante
diferentes. O mundo é cada vez mais diversificado e plural. Conceitos
há muito sedimentados são postos em xeque. Neste cenário, a bioética
tem importante contribuição a dar, ampliando os horizontes da reflexão
e estimulando a revisão desapaixonada de teorias e práticas no campo
da saúde e da vida.
170
AUDITORIA MÉDICA
172
prontuário do paciente e até mesmo examinar o doente; neste último
caso, há necessidade de autorização do enfermo, e o médico assistente
deve ser antecipadamente cientificado, sendo-lhe facultado estar pre-
sente durante o exame. Se o auditor constatar indícios de ilícito ético
no atendimento ao paciente, obriga-se a fazer a devida comunicação ao
Conselho Regional de Medicina, conforme normatizado na Resolução
CFM nº 1.614/2001.
Objetivando contribuir para uma melhor compreensão de todas
estas questões, a Câmara Técnica de Auditoria do Conselho Regional de
Medicina do Ceará vai realizar um curso que brevemente será oferecido
a todos os médicos interessados no assunto e que buscará pelo menos
reduzir os conflitos anteriormente citados entre auditores, médicos
assistentes e pacientes.
173
O MONTE SINAI E O SUS
176
AS (MÁS) CONDIÇÕES DO
TRABALHO MÉDICO
178
ser hospitalizado. Deste modo, conclui-se que também na área da saúde
complementar há muito que ser mudado para que os médicos possam
exercer o melhor do seu saber em benefício dos pacientes.
O Conselho Regional de Medicina do Ceará continuará atento e
participativo na luta para que os médicos tenham condições de traba-
lhar de forma ética, competente e humanista, dentro dos princípios
consagrados na tradição milenar da Medicina.
179
REVALIDAÇÃO DO DIPLOMA DE MÉDICO
182
PREMIAÇÕES
184
DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA
CEARENSE DE MEDICINA*
Senhoras e Senhores
Em primeiro lugar, quero expressar meu agradecimento pela
honraria que me é concedida na data de hoje, fruto da generosidade
dos integrantes da Academia Cearense de Medicina.
Tenho a responsabilidade de assumir a cadeira nº 63, cujo patrono
é o ilustre médico Vinicius Antonius Holanda de Barros Leal. Nascido
em Baturité, em 16 de outubro de 1922, o Dr. Vinicius Barros Leal
formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco,
em 1948. Teve um período de atividade política, sendo vereador de
Fortaleza, de 1951 a 1954. Especializou-se em Pediatria, no Hospital
das Clínicas da Universidade de São Paulo, em 1959, e obteve o
Título de Especialista em Pediatria pela Associação Médica Brasileira.
Inscreveu-se no Conselho Regional de Medicina do Ceará, com o CRM
nº 63. Casou-se com Dona Idilva de Castro Alves, com quem teve sete
filhos. Presidiu o Centro Médico Cearense, no período 1963-1964.
Desenvolveu atividade docente, sendo Professor de Clínica Pediátrica
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, e foi
um dos fundadores da Sociedade Cearense de Pediatria, da qual foi
Presidente, no período 1970-1971. Publicou vários livros, dentre os
quais destacamos “A colonização portuguesa no Ceará – O povoamento”
e “História da Medicina no Ceará”. Este último merece um registro
adicional: em 1978, o Governador do Estado do Ceará, o médico
Waldemar Alcântara, assinou um Decreto instituindo prêmio para a
melhor monografia que versasse sobre o tema “História da Medicina no
Ceará”, com o intuito de comemorar o 30º aniversário de fundação da
Faculdade de Medicina do Estado. Inscrevendo-se no dito certame, com
o pseudônimo Galeno de Monte-Mor, o Dr. Vinicius Barros Leal obteve
o 1º lugar. A monografia vencedora deu origem ao livro referido. O
185
autor trabalhou, ainda, como médico da Legião Brasileira de Assistência
e foi Diretor do Asilo de Menores Juvenal de Carvalho. Foi membro do
Instituto do Ceará, da Academia Cearense de Medicina e da Academia
Cearense de Letras. O ilustre médico, após uma vida laboriosa e plena
de realizações, faleceu em 13 de abril de 2010.
No momento em que vou ocupar a cadeira de tão insigne mestre
da Medicina e da cultura cearense, permito-me algumas lembranças e
reflexões. Em minha formação médica, dei os primeiros passos sob a
competente orientação dos Doutores Nilson de Moura Fé e Orgmar
Marques Monteiro Filho. Ainda no curso médico, era incentivado a
ler Freud, para começar a entender a psicodinâmica das emoções e dos
comportamentos, a valorizar todas as manifestações sintomáticas dos
doentes e apreender o significado da afirmação de Terêncio:
“Nada do que é humano me é estranho.”
Foi também a época de estudar “O Eu dividido”, notável obra
de Ronald Laing, para tentar compreender o profundo processo de
cisão do pensamento, da afetividade, da personalidade do paciente
esquizofrênico. Sem dispensar a leitura dos grandes escritores, os
quais muitas vezes vislumbram com notável agudeza os aspectos mais
recônditos da imaginação e do sentir humano. Assim é que encontramos
no Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, o Coro das Ninfas indagando:
“Que remédio deste aos humanos contra o desespero?”
Ao que Prometeu responde:
“Dei-lhes uma esperança infinita no futuro.”
Em contrapartida, Nietzsche entende que, somente aceitando a
finitude, o homem vai superar o desespero. Já nos Comentários sobre
a Primeira Década de Tito Lívio, de Maquiavel, lemos que “todos os
homens são maus, estando dispostos a agir com perversidade sempre que
haja ocasião”. E em Shakespeare, Hamlet afirma que, se formos tratar as
pessoas como merecem, ninguém escapará do chicote. Em tom jocoso,
Erasmo de Roterdam celebra a insensatez como a marca registrada do
186
Homo sapiens. Outros autores exemplificam situações em que alguém
sente certo prazer com o sofrimento alheio. Enfim, mostram algumas
das faces ocultas que ilustram de que barro os humanos somos feitos,
sem faltar o relato de demonstrações de solidariedade, desprendimento,
generosidade, heroísmo. A compreensão de que essas são características
humanas universais talvez ajude o médico a ter um olhar mais tranquilo
para as numerosas facetas da personalidade e do comportamento das
pessoas, facilitando-lhe o viver e o clinicar.
Tais incursões pelas várias formas de pensar a vida e descrever a
aventura humana são uma importante fase preparatória para a prática
clínica, que é, na psiquiatria, um exercício de relacionamento humano,
de auscultar e buscar detectar a dor psíquica, o mal-estar, a angústia, a
tristeza, os dramas familiares. Destacando-se aí o grande significado do
encontro terapêutico, em que uma das metas mais relevantes é conseguir
evitar que, segundo a expressão de Tristam Engelhardt, o paciente se
sinta “como um estranho em uma terra estranha”.
Convém ter em mente, ademais, que durante uma consulta, o
médico examina o paciente e, ao mesmo tempo, o paciente examina o
médico. A impressão que o doente tem do médico é fundamental para
que haja um bom vínculo terapêutico e o tratamento tenha chance de
chegar a um bom resultado. Podemos mesmo afirmar que, em muitos
casos, quando a primeira consulta é bem-sucedida o paciente já começa
a melhorar. Atenção especial deve ser dada ao relato do paciente, às
manifestações clínicas e também às emoções do enfermo. Saber ouvir
é um dos requisitos essenciais para a atividade médica. Recordemos o
aforismo de Sir William Osler:
“Médico, escute o paciente. Ele está dizendo o diagnóstico para você.”
Ao mesmo tempo, jamais poderemos olvidar o alerta de Hipócrates,
ao afirmar que a experiência é enganosa e o julgamento difícil, sendo
a vida breve para tão longa arte.
Já o médico e notável escritor, Guimarães Rosa, diz:
187
“Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras
maiores perguntas.”
E é esta atitude aberta a observar, ouvir, perscrutar, aprender,
indagar, rever conceitos, comparar experiências, eventualmente ensinar,
que poderá ser útil a quem pretende tornar-se um verdadeiro médico.
Aprender com os mestres da Medicina, com os pacientes, com os artistas,
com os grandes escritores.
A relação médico-paciente, chave do sucesso profissional, envolve
muitas vezes situações extremamente delicadas e complexas. A literatura
pode vir em nosso auxílio na ilustração do tema. Tomemos por exemplo
a obra “A Morte de Ivan Ilitch”. Nesta famosa novela de Tólstoi, é relatada
a evolução e o agravamento do quadro clínico de um enfermo. Após
um acidente doméstico, em que se machucou um pouco, Ivan Ilitch
começou a sentir mal-estar, uma sensação de peso, com prenúncio de
dor, e um contínuo mau humor, o que acabou decidindo-o a procurar
o médico. Chama a atenção a forma como se deu a consulta. A certa
altura do exame, já o atendimento marchando para o fim, o paciente
quis se esclarecer acerca do seu caso, saber qual a seriedade de suas
manifestações clínicas, entender o que realmente estava acontecendo,
por que seu corpo reagia de forma tão pouco usual. Após algumas
palavras, quase como se pedisse desculpas pela impertinência, fez ele a
famosa pergunta:
“Doutor, a minha doença é grave?”
A atitude severa do médico ante a curiosidade do enfermo causou
neste tal impressão que ele, um juiz de instrução, portanto habituado
aos tribunais, se imaginou como se fosse o réu numa sala de julgamento
em que o magistrado estivesse prestes a dizer:
“Acusado, limite-se a responder às perguntas formuladas, pois, em
caso contrário, serei obrigado a ordenar que o ponham para fora da sala”.
O quadro, fruto da imaginação criadora de um grande escritor,
abre linhas de reflexão sobre a relação médico-paciente, o direito do
188
paciente de saber a afecção que o acomete, a evolução esperada, qual
o tratamento indicado, as razões dos exames solicitados e o que pode
acontecer se o paciente não fizer o tratamento. Temas estes caros à esfera
da ética médica. O direito do paciente à informação é hoje considerado
inquestionável. E traz consigo o dever do médico de informar, em
linguagem compreensível, todos os aspectos relacionados à doença e ao
respectivo tratamento. Esta é a regra. O Código de Ética Médica prevê,
no entanto, a exceção, para o caso em que o médico tem boas e sólidas
razões para concluir que a informação pode ser danosa ao paciente. Cabe
lembrar outra possibilidade: a do paciente não querer saber, ou seja, de
ele exprimir de forma inequívoca que não deseja receber determinadas
explicações. Afinal, estamos falando do direito ao conhecimento e não
da obrigação de saber.
Acrescente-se que o paciente, devidamente informado e esclarecido,
tem a prerrogativa de decidir se aceita ou não o auxílio médico. Tem o
médico o dever de utilizar todos os meios a seu alcance em benefício
da saúde do paciente, mas compete a este deliberar se quer ou não
ser tratado. Faz exceção a esta regra geral a situação de urgência ou
emergência, ou o risco iminente de morte, quando o socorro médico
pode eventualmente ser prestado independentemente do consentimento
do enfermo.
A experiência de Ivan Ilitch traz à memória o relato de uma paciente,
a qual estava em tratamento fazia algum tempo e ainda não apresentava
sinais de recuperação. Ao dizer ao médico assistente que continuava
sentindo-se mal, percebeu um claro ar de censura e desagrado no
esculápio, como se o Doutor considerasse que a paciente, pelo fato de
não estar melhorando, lhe estava faltando com o respeito...
É instrutivo lembrar as observações feitas por Balint em seu
instigante livro, “O médico, seu paciente e a doença”, em que o autor
postula que o medicamento mais frequentemente utilizado na clínica é
o próprio médico. No entanto, assim como os medicamentos, o médico
189
também pode produzir reações desfavoráveis. O médico tem indicações,
posologia, e também tem efeitos colaterais e contra-indicações. E é
muito pouco estudado quanto a todos estes aspectos.
Danilo Perestrello, médico brasileiro que desenvolveu o conceito
de Medicina da Pessoa, entende que o grande desafio da Medicina
é conseguir que o médico não seja ele próprio iatrogênico. Que não
aconteça com ele o que se dá com determinados medicamentos, os
quais, se administrados de forma incorreta, podem transformar-se em
venenos. Quanto ao diagnóstico da enfermidade, Perestrello afirma que
a maioria dos doentes quer e precisa sabê-lo. Ainda que os pacientes
pouco entendam da linguagem técnica da Medicina, sentem-se mais
calmos com as informações do médico, como se tal conhecimento
significasse que o inimigo já foi localizado e, portanto, pode ser
combatido adequadamente. É claro que esta passagem nos lembra mais
uma vez a enorme importância de o médico se expressar de maneira a
ser entendido pelos pacientes.
Uma vez ultrapassada esta etapa que envolve o primeiro atendimento
e a adoção das medidas terapêuticas iniciais, há que lidar com atenção,
zelo e sensibilidade com as várias manifestações do paciente, o que
nem sempre é fácil. Se o médico consegue inspirar confiança e deixa
o paciente à vontade, este vai expressar queixas, temores, fantasias,
aspirações, visão de mundo.
Uma paciente com depressão dizia:
“Doutor, eu tenho raiva de quem ri”.
Dificilmente a enferma encontraria uma forma mais eloquente
para expressar o sofrimento, a dor, o ressentimento, o desencanto com
o mundo e a vida. Ao mesmo tempo, tais palavras fazem recordar os
belos versos de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito:
190
Outra paciente deprimida, ao ser aconselhada a se conformar com
os seus problemas, pois podia facilmente encontrar pessoas em condição
muito pior que a dela, foi amarga e verdadeira:
“Eu sei. Não tenho a menor dúvida de que há pessoas em situação
mais desgraçada que a minha. Porém, isto não me traz o menor consolo.”
Será que esta pessoa não poderia ser auxiliada a ver as coisas de outra
forma? Em magnífico poema, Camões, cantando as dores d’amor, faz
um apelo e uma sugestão:
“Ouçam a longa história de meus males e curem sua dor com minha
dor, que grandes mágoas podem curar mágoas”.
Outras manifestações extremamente reveladoras poderão vir à tona.
Uma paciente que já fora internada em hospital psiquiátrico fez certa
vez o seguinte comentário:
“Doutor, depois que uma pessoa passa por um hospital psiquiátrico e é
classificada como doida, não pode nem rir um pouco mais alto, que aparece
logo alguém para dizer: “O que é isto? Você já está piorando? Parece que
vai ter uma crise? Está precisando voltar para o hospital.”
A observação expõe um dos aspectos mais marcantes das vivências
daqueles que são acometidos por transtornos mentais. Os doentes
mentais se encontram talvez na condição do mais profundo desamparo
em que pode se achar um ser humano, uma vez que se veem acometidos
justamente na esfera da razão, ou seja, na capacidade de compreender
e discernir a realidade, e assim poder lidar de forma mais adequada
com os desafios da vida. Como se isto fosse pouco, o adoecer psíquico
costuma ser acompanhado por toda sorte de discriminação, preconceito,
estigmatização. Não será raridade que os pacientes psiquiátricos sejam
olhados como verdadeiros párias pelos que se consideram sadios. E um
dos preconceitos mais comuns é o de julgar que esses enfermos não têm
qualquer possibilidade de recuperação. A prática clínica, no entanto,
demonstra o contrário. Muitos doentes obtêm melhora considerável e
se reintegram às suas atividades profissionais e sociais. Outro equívoco
191
em relação aos doentes mentais consiste em afirmar que eles em nenhum
momento têm o direito de opinar sobre o tratamento a que se submetem;
que não têm, portanto, o direito de consentir. A capacidade de consentir
pode, sim, estar comprometida nos quadros psiquiátricos mais graves.
Porém, na maioria das situações clínicas, o doente mental está em plena
condição de tomar, de forma livre e consciente, as decisões acerca do
seu tratamento.
O tema do consentimento livre e esclarecido nos remete às
questões éticas relacionadas à pesquisa médica. Muitos trabalhos já
foram publicados sobre ética em pesquisa, mostrando alguns casos de
graves violações dos direitos humanos. Costumeiramente, são citados
os crimes dos médicos nazistas nos campos de concentração, durante
a 2ª Guerra Mundial. Houve, porém, um estudo que se desenvolveu
em sua maior parte em período de paz e que merece ser divulgado e
jamais esquecido. Durante quatro décadas, de 1932 a 1972, o Serviço
de Saúde Pública dos Estados Unidos, juntamente com o Tuskegee
Institute, levou a cabo no Alabama uma investigação, na qual foram
incluídos 399 homens afro-americanos, que sofriam de sífilis e nunca
tinham recebido tratamento para a doença, e outro grupo de 200
indivíduos não afetados pela enfermidade. O projeto tinha por objetivo
estudar a história natural da sífilis, ou seja, observar qual seria a evolução
da sífilis sem tratamento. Assim, os médicos apenas registravam os
sintomas da doença, solicitavam alguns exames, mas não informavam
aos enfermos qual a real natureza do problema clínico, nem quais os
verdadeiros motivos para a realização dos exames. Em vez disto, diziam
que os sujeitos da pesquisa sofriam de “sangue ruim”. Em suma, os
doentes não sabiam que sofriam de sífilis. Era-lhes assegurado, em caso
de óbito, o custeio das despesas com o enterro. Durante a 2ª Guerra
Mundial, houve o cuidado dos investigadores de diligenciar juntos às
autoridades, no sentido de que os participantes da pesquisa não fossem
mobilizados, pois nesse caso algum deles poderia receber tratamento
192
para sífilis nas Forças Armadas. Mesmo com o advento da penicilina,
nenhum dos pacientes do estudo foi tratado. Somente em 1972, o fato
foi amplamente divulgado e denunciado.
O caso Tuskegee mostra os caminhos tortuosos pelos quais pode
se desenvolver a pesquisa médica, quando realizada sem algum tipo de
controle social. A ânsia faustiana pelo saber envolve riscos terríveis. O
conhecimento, tão importante para a humanidade, não deve ser buscado
por meio de um pacto com o diabo.
E falando em participação social, é alentador que nos últimos anos
a sociedade brasileira venha dando mais atenção a algumas matérias
do campo da bioética. Um exemplo de anos recentes foi a interessante
polêmica em torno da votação, pelo Supremo Tribunal Federal, do item
da lei de biossegurança que trata da utilização de células-tronco, que
acabou despertando o interesse de diversos segmentos sociais, motivando
acirradas discussões. Por sinal, recentemente, foi noticiado que nasceria
no Brasil uma criança destinada a fornecer células-tronco para uma irmã
com grave doença hematológica. O fato suscita polêmicas no âmbito
da ética e da bioética. Reconhecendo, embora, como legítimo o desejo
dos pais da enferma de buscar um meio que permita recuperar a saúde
da filha doente, não podemos fugir de algumas reflexões. A criança
doadora, uma vez alcançada a idade do entendimento, como reagirá ao
tomar conhecimento de qual foi a principal motivação para sua vinda
ao mundo? No centro do debate, coloca-se o princípio kantiano de
que o ser humano deve ser tratado como um fim em si mesmo e não
unicamente como um meio. É claro que os pais da futura doadora jamais
vão admitir que a nova filha seja para eles tão somente um meio para
salvar a vida da filha enferma. Uma coisa, no entanto, é indubitável. É
imperioso que a utilização dos extraordinários avanços da ciência e da
tecnologia se dê dentro de princípios éticos, de forma a garantir que
o saber esteja sempre a serviço da saúde, da dignidade e da liberdade
dos seres humanos.
193
Senhoras e Senhores, já é tempo de concluir este fluxo de
consciência. Antes, porém, dirijo um olhar muito especial aos meus
familiares, minha mulher Rita, meus filhos Mariana, Daniel e Ivan,
meu genro Fabrício e minhas noras Anaih e Joamara, nos quais sempre
encontro afeto, solidariedade e inspiração. E reservo um carinho todo
particular para minha neta Alice e meus netos Vinícius e João Gabriel,
cujo desabrochar para a existência me fez entender melhor uma
passagem de Guimarães Rosa, em Grande Sertão, Veredas, onde lemos:
“Um menino nasceu: o mundo tornou a começar!”
Renovo o preito de reconhecimento aos que aprovaram meu
ingresso na Academia Cearense de Medicina. E agradeço a todos os
que compareceram a este momento tão grato para mim.
Muito obrigado
Ivan de Araújo Moura Fé
194
FILAS, MACAS E...
196
MEDIDA PROVISÓRIA 568/2012
198
ELEIÇÕES
200
DIGNIDADE NO FINAL DA VIDA
202
A dignidade da pessoa humana, inscrita na Constituição Federal
como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, encontra
plena guarida nas normas éticas que disciplinam a atenção médica aos
doentes desde o nascimento até os instantes finais da existência.
203
FALTAM MÉDICOS NO BRASIL?
206
de emenda constitucional criando a Carreira de Estado para os médi-
cos, com tempo integral e admissão por concurso público, parece uma
ideia promissora. Ademais, há dados sugestivos de que os centros que
dispõem de programas de Residência Médica ou outras modalidades de
aprimoramento profissional, bem como oferecem melhores condições
de vida para a família dos médicos, têm maior chance de fixar estes
profissionais. De igual forma, serviços bem equipados, com estrutura e
condições que permitam ao médico exercer a profissão com eficiência,
além de remuneração digna, são fatores que certamente desempenham
um papel cardeal, podendo contribuir para assegurar uma adequada
presença médica em todos os municípios do país, de forma a garantir
o acesso aos cuidados com prevenção, manutenção e recuperação da
saúde de todos os habitantes deste grande país.
207
ÓRTESES, PRÓTESES E MATERIAIS
ESPECIAIS IMPLANTÁVEIS
209
exclusivos (artigo 3º). É bom considerar, por outro lado, que o material
fornecido para o procedimento pode eventualmente ser de qualidade
ruim ou duvidosa, o que torna imperativa a ação médica para contornar
o problema. Neste sentido, a Resolução CFM 1.956/2010 prevê que,
quando o médico assistente requisitante julgar inadequado ou deficiente
o material implantável, bem como o instrumental disponibilizado, pode
recusá-los e oferecer à operadora ou instituição pública pelo menos três
marcas de produtos de fabricantes diferentes, quando disponíveis, regu-
larizados junto à ANVISA e que atendam às características previamente
especificadas (artigo 5º). Se persistir a divergência entre as partes, está
prevista a arbitragem, através da escolha, de comum acordo, de um
médico especialista na área, para a decisão (artigo 6º).
O Código de Ética Médica veda ao médico exercer a profissão com
interação ou dependência quanto a qualquer organização destinada à
fabricação, manipulação, promoção ou comercialização de produtos
de prescrição médica (artigo 68). Proíbe ainda, de forma taxativa, que
o médico obtenha vantagens pela comercialização de órteses, próteses
ou implantes de qualquer natureza, cuja compra decorra de influência
direta em virtude de sua atividade profissional (artigo 69). É oportuno
lembrar, ainda, o disposto no Código de Ética Médica, no capítulo dos
Princípios Fundamentais, em que está prescrito que o médico exercerá
sua profissão com autonomia, não podendo renunciar à sua liberdade
profissional nem permitir quaisquer restrições ou imposições que pre-
judiquem a eficiência e a correção de seu trabalho (itens VII e VIII).
No entanto, a leitura histórico-sistemática da carta ética dos médicos
torna indubitável que a autonomia profissional se destina a alcançar o
melhor para a saúde do paciente. É uma autonomia a favor da saúde
dos pacientes. Se exercida de outra forma, perde a sustentação ética.
210
ELEIÇÕES, MÉDICOS ESTRANGEIROS E
REVALIDA
212
de revalidação de diplomas médicos, com critérios bem estabelecidos
do ponto de vista técnico e conceitual e calendário previamente di-
vulgado. Causa pasmo que, a serem verdadeiros os rumores, na vinda
“emergencial” de médicos estrangeiros, estes não seriam submetidos
ao REVALIDA.
A tudo isto respondemos reiterando nossa disposição de trabalhar
pelo atendimento digno à população, ao tempo em que reafirmamos
algumas de nossas propostas e bandeiras de luta: 1) Respeito à dignidade
de todos os pacientes, inclusive os atendidos nos serviços de emergência.
2) Fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). 3) Carreira
de Estado para médicos. 4) Melhoria das condições de trabalho e
remuneração dos médicos. 5) Revalidação dos diplomas de médicos
formados no exterior, através do REVALIDA.
213
SERVIÇO CIVIL OBRIGATÓRIO
215
problemas de saúde da população? É mais do que hora de serem postas
em prática medidas consistentes e duradouras que assegurem saúde
para todos. E isto passa pela criação da carreira de estado para médicos
e pela solução do grave problema de subfinanciamento do setor saúde.
É sumamente importante que seja aprovado pelo Congresso Nacional
o Projeto de Lei de iniciativa popular que propõe a destinação de 10%
das receitas correntes brutas da União para a Saúde Pública.
Há outros pontos a considerar na crise atual. O discurso do gover-
no de que a participação compulsória dos estudantes de medicina no
SUS é imprescindível para a humanização dos futuros médicos parece
estranho, ou mesmo falacioso. Que outra profissão cultiva mais o hu-
manismo que a medicina? Foi justamente a atitude solidária, humana
e competente dos médicos para com os doentes que fez com que os
esculápios conquistassem o respeito e a gratidão da população, o que,
entre nós, se expressou por diversas pesquisas de opinião já realizadas,
nas quais a medicina apareceu em primeiro lugar no conceito dos cida-
dãos. Ademais, durante todo o curso médico o estudante tem contato
frequente com pacientes dos serviços públicos.
O Conselho de Medicina do Ceará luta pela entrada de mais
médicos no serviço público, porém postula que eles sejam admitidos
através de concurso público, como, aliás, se impõe pelas leis do país.
Deste modo, os médicos assumirão suas responsabilidades, mas tam-
bém irão usufruir os respectivos direitos trabalhistas. E não ficarão à
mercê de uma “bolsa-médico”, um arremedo de contrato que agudiza
ainda mais a precariedade das relações de trabalho entre os médicos e os
empregadores. Quanto aos médicos formados no exterior, todos serão
bem-vindos, desde que revalidem o diploma de médico e demonstrem
proficiência na língua portuguesa.
O CREMEC apoia as ações voltadas para um melhor atendimento
à saúde da população, tendo como parâmetros a legalidade, a justiça
social e a dignidade do ser humano.
Senhoras e Senhores
Estamos aqui, perante os médicos e a sociedade, para tomar
posse como Conselheiros do Conselho Regional de Medicina do Es-
tado do Ceará. É o momento de reafirmar as concepções cardeais do
Código de Ética Médica de que a Medicina é uma profissão a serviço
da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem qualquer
discriminação, devendo o médico, no atendimento dos pacientes, agir
com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. Com
o intuito de concretizar estes princípios basilares da carta magna da
profissão e bem cumprir seu papel ético, científico, social e político, o
CREMEC tem que assumir compromissos de ação em várias vertentes:
seja contribuindo na formulação de políticas de saúde voltadas para o
atendimento digno à população, seja lutando pelo aprimoramento cien-
tífico e ético dos médicos, seja exercendo com diligência a fiscalização
do trabalho médico, seja, ainda, apurando as denúncias de possíveis
infrações às normas que regulam a profissão médica e adotando as
medidas disciplinares pertinentes. Ressalte-se a importância de que o
médico tenha boas condições de trabalho e remuneração justa, de forma
que possa exercer a Medicina com honra e dignidade.
A chapa “Ética e Cidadania”, ao se dirigir aos médicos cearen-
ses, pleiteando apoio na eleição do Corpo de Conselheiros do CRM,
comprometeu-se a defender a ética e a dignidade do trabalho médico,
lutando pelas seguintes bandeiras:
- Defesa do SUS
- Concursos públicos para Médicos
Há que ser fortalecido o Sistema Único de Saúde, com caráter
universal, equânime, resolutivo, capaz de atender bem todos os pacien-
tes. Não é justo que as pessoas peregrinem por dias e meses em busca
217
de atendimento às suas necessidades de saúde, que fiquem amontoadas
em filas, macas ou “piscinões”. Isto quando conseguem chegar a alguma
fila ou maca. A dificuldade de acesso à saúde é uma realidade constatada
diariamente e foi tema de destaque nas mobilizações populares ocor-
ridas no Brasil nos últimos meses. No entanto, a urgente mudança de
uma situação que é moralmente indefensável não se dará com medidas
pirotécnicas ou manobras publicitárias por parte de autoridades gover-
namentais. Exige, isto sim, aprimoramento na gestão e uma substancial
melhoria do financiamento do SUS, possibilitando construir e equipar
mais serviços de saúde e contratar pessoal em número adequado para
melhor atender à coletividade. Repetiremos sempre: a admissão ao
serviço público deve ocorrer através de concursos públicos em todos
os níveis, federal, estadual e municipal.
Outros temas da plataforma do novo corpo de conselheiros foram:
- Defesa do Ensino Médico de Qualidade
- Posicionamento contra a abertura indiscriminada de novas
escolas médicas
- Contribuição para a formação ética do estudante de Medicina
É imprescindível que haja maior rigor nos critérios de abertura
de novos cursos médicos e na avaliação de funcionamento dos cursos
existentes. É também vital que sejam aperfeiçoados os mecanismos de
avaliação do progresso do aprendizado dos estudantes de medicina,
ao longo de todo o curso, possibilitando, assim, medidas corretivas
que assegurem uma boa formação aos futuros médicos, o que significa
aquisição de conhecimento técnico-científico, habilidades psicomo-
toras específicas e atitudes ético-morais consentâneas com o exercício
humanista da Medicina.
218
se sensibilizem para os aspectos éticos da profissão médica. Uma articulação
mais efetiva do Conselho com os professores e estudantes de medicina será
uma das tarefas prioritárias da atual gestão do CRM.
- Defesa da Residência Médica
A universalização da Residência Médica é uma meta a ser almejada.
Naturalmente, a ampliação das vagas de RM deve dar-se em serviços
devidamente preparados em termos de equipamentos e recursos hu-
manos, com especial ênfase no corpo de preceptores e supervisores,
objetivando sempre a boa qualidade da formação dos médicos residentes.
Não esqueçamos que a RM dá novo dinamismo e vitalidade aos servi-
ços e não pode, de nenhuma forma, ser encarada como mão-de-obra
barata. Considerando que os médicos residentes trabalham 60 horas
por semana, nada mais justo do que a luta para que tenham melhor
remuneração, pelo menos nos valores pagos pelo governo federal aos
integrantes do Programa Mais Médicos, ou seja, R$ 10.000,00 (dez
mil reais) por mês.
- Expansão da educação Médica continuada
- Realização dos Fóruns de Ética Médica na capital e no interior
do Estado
- Realização do Congresso Científico e Ético do CREMEC
O Código de Ética Médica dispõe, em seus Princípios Fundamentais,
que compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e
usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente. Visando
contribuir para a atualização científica dos médicos, o CREMEC tem re-
alizado diversos cursos, seminários e fóruns, alguns com duração de vários
meses. Temas como Medicina de Família e Comunidade, Perícia Médica,
Urgência e Emergência, Saúde Mental, Saúde do Idoso e Pediatria foram
abordados em cursos de longa duração, sob a coordenação de renomados
professores e contando com a participação ativa e interessada de vários
médicos. Esta tem sido uma das mais promissoras iniciativas do CREMEC,
que deve ser continuada e ampliada.
219
De igual modo, os Fóruns de Ética Médica em Fortaleza e nas
cidades do interior do Estado, assim como o Congresso Científico
e Ético do CREMEC, são atividades que possibilitam a divulgação
de conhecimentos, a troca de experiências e, de forma expressiva, a
exemplificação de situações conflituosas da vida profissional que po-
dem servir de balizamento para orientar a boa conduta dos esculápios,
ajudando-os a evitar as frequentes armadilhas que surgem no dia-a-dia
da prática clínica.
- Manutenção do REVALIDA
Que continue a prevalecer o que dispõe a Lei 9.394/1996, que
estabelece as Diretrizes e Bases da educação nacional, com a exigência
de que os graduados por universidades estrangeiras tenham que revali-
dar seus diplomas por universidade pública brasileira. Trata-se de uma
medida de precaução, com o sentido de proteger a sociedade, garan-
tindo a qualificação dos que se dispõem a trabalhar no Brasil. É bom
lembrar que os médicos brasileiros que vão trabalhar em outros países
também se submetem a árduos processos de avaliação antes de terem
autorização para a prática profissional. O que sempre foi considerado
natural e necessário, dentro da responsabilidade que cada país tem de
preservar a qualidade do atendimento à saúde dos seus habitantes. É o
que, em nosso entendimento, o Brasil também deve continuar seguindo.
- Luta por boas condições de trabalho e remuneração digna
- Implantação da Carreira de Estado para Médicos
Um dos grandes problemas vividos pelos médicos tem sido traba-
lhar muitas vezes em péssimas condições, com risco de comprometer a
qualidade do atendimento prestado aos enfermos. Ademais, frequen-
temente a remuneração é insatisfatória, há atrasos nos pagamentos, os
vínculos trabalhistas são precários. Na luta das entidades médicas para
avançar nestas questões, o piso da FENAM é a bandeira em termos de
parâmetros de remuneração. E a carreira de estado para médicos, a exem-
plo do que já ocorre com outras profissões, se afigura como o caminho
220
para de fato assegurar a presença de médicos em todas as localidades
do país. Aliás, já tramita no Congresso Nacional proposta de emenda
constitucional criando a carreira de médico de estado.
Algo, porém, ainda precisa ser dito sobre a polêmica maior que
vivemos recentemente, envolvendo duas matérias. Há mais de uma dé-
cada, os médicos lutavam pela aprovação de uma lei que regulamentasse
a profissão. Por fim, o texto do que seria a Lei 12.842 foi aprovado nas
duas casas do Congresso nacional. Mas vieram os vetos presidenciais,
atingindo de forma danosa a essência da proposta da categoria médica,
principalmente ao ser eliminado o item que considerava como ativida-
des privativas dos médicos a formulação do diagnóstico nosológico e
a respectiva prescrição terapêutica. Dando margem a que, de repente,
qualquer um se sentisse no direito de desempenhar o papel milenar-
mente destinado aos médicos. Quase que ao mesmo tempo, o governo
federal promulgou a Medida Provisória 621, que instituiu o Programa
Mais Médicos (PMM). Seguiu-se um festival de incompreensões. A
solicitação dos Conselhos de Medicina de que o registro dos médicos
formados no exterior fosse antecedido da respectiva revalidação dos
diplomas, como sempre ocorreu e continuará sendo exigido dos não
participantes do PMM, foi alvo de acusações de obstrução e falta de
patriotismo. A Advocacia Geral da União afirmou publicamente que já
preparava processos por improbidade contra os dirigentes dos Conselhos
de Medicina. De repente, ter o devido zelo no sentido de garantir que
a autorização para o exercício da medicina no Brasil seja precedida de
exame acurado da qualificação dos requerentes, da verificação de que
realmente são médicos, e bem formados, de repente, repito, tal zelo foi
transformado quase em crime. Ao mesmo tempo, a poderosa máquina
publicitária federal conseguiu incutir na população a visão de que os
médicos brasileiros são elitistas, corporativistas, xenófobos, que por
orgulho e comodidade não querem ir para as periferias das grandes
cidades nem para os distantes rincões da pátria; nem permitem que
221
médicos estrangeiros o façam. É claro que, em tal campanha de ma-
nipulação, em nenhum momento se falou das péssimas condições de
trabalho em tais locais, ou das constantes ocorrências de violências de
toda ordem verificadas nas ditas periferias, demandando providências
do poder público – providências que quase nunca vêm – para garantir
tranquilidade às populações e condições de trabalho aos que querem
exercer seu mister profissional. E se, por acaso, algum promotor alegasse
que os chamados intercambistas estavam sendo contratados pelo gover-
no ao arrepio da legislação trabalhista brasileira, em claro desrespeito
a direitos consagrados em nossa pátria, a impressão que se tinha é que
isto estava sendo dito para surdos.
Senhoras e senhores, tudo que falei sobre estes infaustos aconteci-
mentos é do conhecimento público. O governo aprovou a MP 621, da
forma que quis. Não importa. Continuaremos lutando para que todas
as localidades do Estado e do país tenham médicos preparados para bem
atender a população. Reiteramos, porém, a convicção de que a criação
da carreira de estado para médicos é o caminho para a interiorização
da medicina de forma consistente e duradoura. Afirmamos que nada
temos contra estrangeiros ou contra médicos formados no exterior.
Nossa pátria sempre acolheu bem os que vêm de outros países.
Em mensagem final a todos os companheiros de profissão, penso
que é hora de os médicos se dedicarem como nunca àquilo que sabem
fazer melhor: atender bem os pacientes, com dedicação, zelo, solida-
riedade, compromisso.
Encerrando minhas palavras, quero agradecer aos médicos que
apoiaram a eleição da chapa “Ética e Cidadania” e a todos os que estão
prestigiando esta solenidade de posse. Destaco que a equipe eleita conta
com 18 novos Conselheiros, de diversas especialidades médicas, o que
significa o influxo de novas ideias em prol do trabalho do Conselho
de Medicina do Ceará pela dignidade da profissão médica e pelo bom
atendimento à saúde dos pacientes.
222
O CREMEC continuará somando esforços com o Sindicato dos
Médicos do Estado do Ceará, a Associação Médica Cearense e a Aca-
demia Cearense de Medicina, na construção de uma medicina pautada
pela busca da excelência científica, do perfeito desempenho ético e pelo
engajamento social. Assim como dará continuidade à parceria com a
Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública, no esforço comum
pela garantia de saúde para todos. E desde já agradecemos a dedicação
e o empenho dos membros das Câmaras Técnicas e das Seccionais,
dos Representantes municipais do Conselho e dos funcionários do
CREMEC.
Por fim, de um modo todo especial, o agradecimento aos meus
familiares, pelo apoio e solidariedade nesta caminhada.
Muito obrigado.
223
PROGRAMA MAIS MÉDICOS
226
médicos, proposta que as entidades médicas vêm defendendo há tempo,
deverá ser implementada nos próximos três anos. O financiamento da
saúde dificilmente poderá sair da pauta do Congresso, tantas foram as
demonstrações de que, no atual estado de coisas, nem Padilha, nem
cubanos, nem marcianos trarão avanços significativos para o setor saúde.
Pelo menos enquanto alguma Medida Provisória não extinguir os
Conselhos de Medicina, o CREMEC continuará desempenhando seu
papel de promover o desempenho técnico, científico e ético da medi-
cina. O que lhe é assegurado pela citada lei 3.268, mutilada, porém
ainda em vigor...
227
PRONTUÁRIO MÉDICO
230
LUTAS PARA 2014
232
cobrança no sentido de que sejam corrigidas as distorções encontradas.
É pela dedicação continuada às atividades referidas que o CRM
do Ceará continuará honrando o compromisso de lutar com denodo
pela melhoria da saúde da população cearense e pela dignidade e o bom
conceito da Medicina e dos que a exercem.
233
CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA - ELEIÇÕES
236
desempenharam com dignidade e competência as elevadas tarefas ine-
rentes aos cargos que ocuparam. É o que também se espera de quem
for eleito em 25 de agosto de 2014.
237
AUTONOMIA: CONTROVÉRSIAS
240
ÉTICA E GENÉTICA
242
DEBATES ELEITORAIS
244
aos médicos. Não só exercendo a profissão com zelo e dedicação, mas
também cobrando dos governantes medidas que amenizem as graves
carências do setor saúde. Este é um dever da cidadania.
245
AS BASES DO RACIOCÍNIO MÉDICO
APRESENTAÇÃO
Ainda bem que esta obra, “As bases do raciocínio médico”, escrita
há 30 anos pelo Dr. Fernando Monte, não ficou inédita, como chegou
a pensar o autor ante as dificuldades de publicação. Embora, como ele
diz, o só ato de escrevê-la tenha sido prazeroso, seria lamentável se as
reflexões desenvolvidas pelo ilustre médico não viessem a lume. Foi bem
melhor dar prosseguimento à “ilusão de poder colaborar com a sociedade,
ao colocar um pequeno grão no majestoso edifício do conhecimento humano”.
Nos capítulos iniciais do livro, vamos encontrar a inevitável e perti-
nente citação dos gregos, de Hipócrates e seus estudos sobre a natureza
do homem e a sistematização da doença como um fenômeno natural,
e oportunas referências a Platão, que escreveu sobre quase tudo, a tal
ponto que já foi dito que toda a filosofia posterior se resume a notas
de rodapé a Platão.
Saltando alguns séculos e, portanto, diversos capítulos, chegamos
a Claude Bernard e sua formulação de que a doença deveria ser enten-
dida a partir da saúde. O que, numa dessas ginásticas da memória, me
fez lembrar episódio ocorrido quando eu era estudante de medicina, e
um conhecido meu se queixou de dor de ouvido. Foi ao médico e, ao
retornar da consulta, mostrava-se decepcionado. Ao ser indagado sobre
as razões do seu desapontamento, revelou:
“Eu disse que estava com dor no ouvido direito, e o médico examinou
primeiro meu ouvido esquerdo. Concluí que ele precisava ver como era o
ouvido bom para só assim ter condição de asseverar que o outro ouvido
estava enfermo”.
247
Hoje, penso que o Doutor que atendeu meu amigo talvez estivesse
redescobrindo Claude Bernard. Ou não. Poderia apenas estar dando
sequência às várias etapas do exame do paciente, da forma que aprendera
na faculdade de medicina.
Manifesta o autor a preocupação de que “em nossa sociedade a saúde
tornou-se um bem de consumo”, algo que pode ser vendido ou comprado.
Ademais, “o mercado consumidor é ampliado com a transformação de um
incômodo em uma doença”. De maneira que a classificação das doenças
se ampliou ao ponto em que a CID virou um cartapácio que lembra
os antigos catálogos telefônicos. São tantas as doenças indexadas, tão
numerosos os transtornos, que dificilmente encontraremos alguém
que não seja enquadrado em pelo menos duas ou três das categorias
definidas como mórbidas. Daí a necessidade de estudar a saúde como
normalidade e o conceito de doença. Por seu turno, pode ser útil re-
cordar o que já foi expresso, com variada mescla de seriedade e gracejo,
por alguns expoentes da Medicina:
248
Não se trata de ignorar e negar a ciência e a tecnologia. Refere-se o
autor à utilização racional dos avanços do conhecimento e da técnica, em
benefício da saúde do ser humano. Por sua vez, ao abordar as condutas
terapêuticas, e considerando quantas delas foram adotadas e depois
consideradas impróprias ou até danosas, faz uma chamada à prudência,
lembrando o lema hipocrático de “antes de tudo não prejudicar”.
Não poderia faltar em tão qualificada obra a abordagem da questão
da equidade no atendimento aos enfermos, um problema antigo – já
referido por Platão em “As Leis”, em que temos a figura do médico
dos senhores e a do médico de escravos –, cuja solução poderá dar-se
menos pela via dos códigos, juramentos e leis que através da superação
das desigualdades sociais.
E é adequadamente valorizada a autonomia do paciente, matéria
que ganha relevância nos dias atuais e envolve conflitos éticos e decisões
difíceis. E em que o médico vai precisar cultivar mais o diálogo com o
enfermo, ouvindo as razões deste e evoluindo para aceitar que “a melhor
solução para o paciente não é necessariamente a solução técnica”. Reafir-
mando, ademais a concepção do indivíduo como um fim em si mesmo e
não apenas como um meio, famosa formulação kantiana. Acrescente-se
que o respeito à autonomia inclui a solicitação do consentimento livre e
esclarecido do doente. E mais uma vez temos que expressar admiração
ao anotar que Platão já falava do tema, na obra supracitada, relatando
um diálogo no qual é dito que o médico nascido livre nada prescrevia
antes de conquistar a autorização do paciente, claro que se referindo,
no caso, às enfermidades de pessoas livres. Se o doente era um escravo,
a conduta era outra...
Há muito mais a ser visto no livro. Um capítulo, “Erro médico
socialmente aceito”, é particularmente instigante ao abordar as possibi-
lidades de erro mesmo quando o ato médico é executado “com as mais
honestas intenções de acertar”.
249
Concluindo esta sinopse, diria eu que o Dr. Fernando Monte é um
daqueles pensadores incômodos, no sentido de que não permite que
seu leitor ou ouvinte prossiga placidamente a caminhada, sem dúvidas
ou inquietações. Pelo contrário, levanta com frequência questões, põe
em cheque conceitos estabelecidos, enfim, incita à reflexão. O resul-
tado é enriquecedor, com ampliação dos horizontes conceituais e um
aprofundamento da compreensão deste universo da saúde e da doença,
em que transitam os médicos e os pacientes.
250
PRONTUÁRIO ELETRÔNICO
251
diversos daqueles em que se dão os atendimentos médicos, às vezes a
quilômetros de distância. O que torna impositiva a adoção de meca-
nismos que permitam a consulta rápida ao prontuário do paciente que
está outra vez sendo atendido, consulta esta que pode ser decisiva para
a compreensão da evolução clínica do enfermo, colaborando para que
seja estabelecida a melhor conduta terapêutica.
Hoje, os especialistas na matéria asseveram que já há tecnologia
capaz de tranquilizar o médico e o paciente quanto aos tópicos supra-
citados. Para isto, porém, é necessário que sejam obedecidos alguns
requisitos. A necessidade de sistematização do assunto levou o Con-
selho Federal de Medicina (CFM), em associação com a Sociedade
Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), à elaboração de normas
que regulamentassem o tema. Atualmente, está em vigor a Resolução
CFM 1.821/2007, que “Aprova as normas técnicas concernentes à di-
gitalização e uso dos sistemas informatizados para a guarda e manuseio
dos documentos dos prontuários dos pacientes, autorizando a eliminação
do papel e a troca de informação identificada em saúde”, cuja consulta é
indispensável para quem tenciona migrar dos registros em papel para
os eletrônicos. Não há que olvidar, no processo de implementação
das regras da citada Resolução, a relevância da Comissão de Revisão
de Prontuários da instituição prestadora de serviços médicos. E que é
permanente a guarda dos prontuários arquivados eletronicamente em
meio óptico, microfilmado ou digitalizado. Foi, ainda, estabelecido o
prazo mínimo de 20 (vinte) anos, a partir do último registro, para a
preservação dos prontuários dos pacientes em suporte de papel, que não
foram arquivados eletronicamente pelos meios acima listados.
Para que seja adotado o PEP, o médico precisa ter certificado digital
e utilizar um software certificado pela SBIS. Algumas vantagens da nova
ferramenta parecem evidentes: a localização de informações dentro de
um prontuário volumoso é uma dificuldade quando se utiliza o pron-
tuário em papel. Com o formato eletrônico, o dado pode ser encontrado
252
rapidamente. Por sua vez, a organização dos dados permite a emissão
de relatórios, o que poderá ser útil para levantamento estatístico e epi-
demiológico. Acrescente-se que o PEP pode ser acoplado a um banco
de dados com informações sobre medicamentos, o que possibilita, in-
clusive, que sejam acionados alertas acerca, por exemplo, de interações
medicamentosas e possíveis efeitos adversos dos remédios prescritos. Em
tese, portanto, o prontuário eletrônico pode contribuir para melhorar a
assistência aos pacientes, encontrando aí uma sólida justificativa ética.
Ademais, levaria a uma redução significativa no consumo de papel, tendo
também, por conseguinte, uma função ecológica relevante. Estando,
assim, entre os instrumentos que os humanos se obrigam a adotar para
a preservação do planeta, em respeito às gerações futuras.
253
Edições CREMEC-2014
Edições CREMEC-2014
3464.2222
PERFIL IVAN MOURA FÉ
HOMENAGEM Administrar bem a cousa pública é tarefa difícil. As
Hoje, é dia de festa, para o Conselho Regional pressões internas e externas, paralelas, são tantas que
de Medicina do Estado do Ceará: inauguramos o aquela tarefa só será alcançada, com muito suporte
auditório conselheiro Ivan de Araújo Moura Fé, moral, sentimental e político, por parte do administrador.
que estará à disposição dos médicos para eventos Há, no Brasil, o conceito, abraçado por muitos, de
SAUDE E CIDADANIA
de que necessitarem. Por que este nome? Foi que a cousa pública é res nullius e por isso deva ser
consensual entre todos os conselheiros, senão menosprezada, não merecendo um tratamento honesto e
aplaudido. Jovem dinâmico, ex-presidente e fiel às regras ditadas para a boa administração.
iniciador da atual sede cujo término ficou sob a
Não se pretende, com tais conceitos, generalizar o
responsabilidade do professor Dalgimar Beserra. Administrar bem a cousa pública insucesso, contra os interesses da coletividade, de todas
Dr. Ivan galgou com mérito, reconhecido por
as administrações da cousa pública. Há exceções.
todos que lidam com a ética, devido à sua conduta é tarefa difícil. As pressões
sóbria, cavalheiresca. Essas qualidades o alçaram E, por falar em exceções, veja-se o gerenciamento da
à mais alta postulação hipocrática: presidente internas e externas, paralelas, são autarquia administrativa dos médicos nos últimos anos.
do Conselho Federal de Medicina. Em sua gestão Quase tudo, ali, mudou: há uma transparência total dos atos
no CFM predominaram o respeito à sociedade e
tantas que aquela tarefa só será praticados pelo Conselho Federal de Medicina, na gestão do
a valorização da excelência da prática médica; alcançada, com muito suporte Dr. Ivan Moura Fé, à prova do mais exigente auditor.
uma revolução na atuação do Conselho Federal
A lisura da mesma é fruto da filosofia impregnada pelo
de Medicina. Conselho esse reconhecido em moral, sentimental e político, por Dr. Ivan Moura Fé, respaldada na moral, na honestidade,
todos os rincões, do Oiapoque ao Chuí, quando
altruisticamente, durante cinco anos renunciou à parte do administrador. na consciência política de destemido patriota.
convivência familiar, aos lazeres e à sua clientela, Substituindo a rotina imposta pelos administradores
e como paladino da ética tornou-se um Ivanhoé, indicados, para o Conselho, pelo eixo São Paulo – Rio,
nos moldes modernos. Dr. Ivan, a classe médica surgiu o Comando de um nordestino, filho do Piauí e
cearense tem muito a lhe agradecer, não pelas ofertado pelo Ceará para que se implantasse uma boa
páginas sociais, pela propaganda encomendada, administração. Assim, aconteceu.
mas pelo trabalho impagável, pela missão que a
Hoje, graças ao espírito empreendedor do Dr. Ivan Moura
poucos é confiada, pela honestidade cotidiana
Fé, com a ajuda dos seus pares, o Conselho Federal de
dentro do humilde papel em que todo humanista
Medicina é um órgão auscultado em todas as questões
se sente bem.
relacionadas com a política de saúde do País. A figura
do seu Presidente é sempre requisitada quando se trata
Discurso proferido pelo presidente do CREMEC de defesa do interesse da coletividade, por sua retidão
conselheiro Lino Antonio Cavalcanti Holanda, por moral, cultura e elevado grau de politização, a par de
ocasião da inauguração do auditório comprovado sentimento de brasilidade.
Conselheiro Ivan de Araújo Moura Fé Por tudo que tem feito em prol da categoria médica e do povo,
18 de outubro de 1996. o Dr. Ivan Moura Fé se tornou credor da administração geral.