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20/09/2018 Perspectivismo político e pragmatismo radical como alternativas à crise política.

olítica. Entrevista especial com Moysés Pinto Neto - Instit…

Perspectivismo político e pragmatismo


radical como alternativas à crise política.
Entrevista especial com Moysés Pinto Neto

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Por: Patricia Fachin | 30 Outubro 2017 

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“A tese do ‘pragmatismo radical’ é uma tentativa de escapar dos dilemas
infinitos e entediantes sobre a unidade ou o futuro da esquerda”, afirma
Moysés Pinto Neto à IHU On-Line, ao explicar o “oximoro provisório” que vem
adotando em suas análises políticas. Segundo ele, “a palavra ‘pragmatismo’
quer dizer que temos que realmente querer aquilo que dizemos. (...) O
pragmatismo a que me refiro não é do acordão com o PMDB, mas o que
efetivamente quer derrotar o PMDB. E para isso temos que pensar estratégia,
temos que ler os pontos fracos, temos que estudar os movimentos do adversário
e fazer o que é necessário”.

Além do pragmatismo, Moysés Pinto Neto aposta no “perspectivismo


político”, que tem raízes em Nietzsche e “consiste na concepção de que o
mundo é habitado por diferentes sujeitos, humanos e não-humanos, que o
apreendem segundo pontos de vista distintos”, explica.
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Na avaliação dele, a identidade da esquerda que mantém a luta de classes


como horizonte, e a manutenção de um posicionamento próximo do centro nas
campanhas eleitorais e concessões à direita durante as gestões dos governos
progressistas, foram alternativas adotadas nos últimos anos, mas “não vêm
funcionando”. Na direção contrária, Moysés sugere o pragmatismo e uma
aproximação com o centro político. “O centro é relevante por duas razões:
primeiro, para fechar a janela e resistir, com um bloco majoritário, contra a
ascensão dos discursos fascistas; segundo, porque durante esse tempo ainda
precisamos aprimorar um programa alternativo, que está longe de estar bem
definido. Precisamos ganhar tempo. (...) Quanto mais desprezamos o centro, a
mais distância ficamos da maioria e por isso menor a chance de espaços na
democracia representativa”, defende.

Moysés Pinto Neto também chama atenção para “o déficit teórico e a falta de
alternativas” à esquerda. “Você vê muita gente compartilhando críticas ao
neoliberalismo, mas existem poucas reais alternativas”; entre elas, pontua, a
“crítica pura e simples”, uma proposta “desenvolvimentista” que aposta na
“volta do Estado de bem-estar”, ou a sugestão da instituição de uma “renda
mínima”. Entretanto, assegura, “não há saída econômica enquanto persistir a 
ideia de crescimento”. E adverte: “A solução não é acelerar o crescimento, mas
buscar transformar nossas formas de vida de modo que transformemos o
próprio conceito de desenvolvimento (por um envolvimento, quem sabe).
Repensar o Estado, nossa organização política, nossa organização espacial entre
as cidades, os modos de produção e organização do mercado, as possibilidades
de encontrar em outras referências respostas aos nossos problemas. Não há
estratégia econômica dentro do quadro atual que possa contemplar e garantir a
qualidade de vida de todos. É só colocando em xeque as premissas, os valores do
crescimento, que poderemos pensar em alternativas para além da
instrumentalização do que anda em piloto automático”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Pinto Neto diz ainda que o
pragmatismo radical e o perspectivismo político ainda não são
compreendidos pela esquerda por conta de uma “atitude de superioridade
moral” que dispensa “inclusive a compreensão dos motivos do outro. Dispensa-
se a participação dos aliados potenciais. Hoje, para você entender as motivações
do "outro lado", tem que pedir uma série de desculpas, quando não sai
confundido junto com ele e potencialmente linchado”, diz.

Moysés Pinto Neto é graduado em


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Moysés Pinto Neto é graduado em
Ciências Jurídicas pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS, mestre em Ciências
Criminais pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande
do Sul - PUCRS e doutor em Filosofia
nessa mesma instituição. Leciona no
curso de Direito da Universidade
Moysés Pinto Neto durante sua palestra no IHU Luterana do Brasil - Ulbra Canoas.
Foto: Cristina Guerini | IHU

Na semana passada, ele esteve no


Instituto Humanitas Unisinos – IHU participando do 2º Ciclo de Estudos
A reinvenção política no Brasil contemporâneo. Limites e perspectivas, onde
ministrou a palestra Perspectivismo Político e Pragmatismo Radical.
Possibilidades para a reinvenção da política.

O vídeo da conferência pode ser visto aqui.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Você tem dito que é impossível desenvolver uma saída
para a crise sem o mínimo de perspectivismo político. Como chegou
a essa proposta? Pode nos explicar melhor em que consiste essa
ideia? Por que o perspectivismo é a melhor saída?

Moysés Pinto Neto - A ideia de perspectivismo, que remete a Nietzsche,


recebeu novas cores quando os antropólogos Tânia Stolze Lima e Eduardo
Viveiros de Castro propuseram interpretar o pensamento indígena a partir
dessa chave. Para Viveiros de Castro, o perspectivismo é irredutível ao
relativismo (com o qual mantém uma relação ortogonal) e consiste na
concepção de que o mundo é habitado por diferentes sujeitos, humanos e não-
humanos, que o apreendem segundo pontos de vista distintos. No contexto da
virada especulativa (tanto na Antropologia quanto na Filosofia), essas ideias
vão se desdobrar até uma dimensão em que não estão em jogo apenas questões
epistemológicas, mas a própria pluralidade imanente de mundos que são
habitados de acordo com diferentes pontos de vista, multiplicando o próprio
conceito de "natureza", cuja oposição à "cultura" mantinha, mesmo no pós-
modernismo, uma reserva para a filosofia ocidental.

Somado a isso, um ensaio do filósofo Rodrigo Nunes ("Geração, Perspectiva,


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Acontecimento"), com insights fundamentais acerca da relação entre transição


geracional e os acontecimentos de 2013, sustenta a necessidade de
"perspectivarmos" — à época — as relações entre a esquerda institucional,
mais voltada à Realpolitik, e os novos movimentos autonomistas,
desenvolvendo uma espécie de dialética interna como resposta à progressiva
erosão que ia se estabelecendo mediante feedbacks recíprocos. Algum tempo
depois, publiquei um texto chamado "Juventude em Chamas", também sobre
2013, no qual debatia com Rodrigo e sustentava que teríamos que levar esse
perspectivismo até mesmo a segmentos identificados com a "direita",
rapidamente descartados pela esquerda na época como "coxinhas", politizando
as lutas contra a corrupção, saúde e educação que eram as pautas quase
universais de 2013. Isso não aconteceu. Na realidade, foram think tanks de
direita que, na crise do segundo governo Dilma, capitalizaram essa energia
revoltada e hoje sentimos o reflexo mais doloroso, que é — diante do descrédito
geral das instituições — o surgimento do fascismo enquanto "pessimismo
desorganizado" tal como Walter Benjamin dissera — e já constava como
possibilidade aberta naquele ensaio.

Ecossistemas virtuais

Quando nos jogamos em caminhos muito arriscados para o
qual não temos boas respostas, em geral o senso comum
tende a nos abandonar. Esse conselho é uma prudência que
não pode ser simplesmente desprezada

A profusão de linhas de subjetivação formadas a partir da política do


algoritmo em que vivemos, vulgarmente chamadas de "bolhas", proporcionou
uma espécie de versão reduzida desse multicosmo de pontos de vista nas redes
sociais. Ao longo dos últimos três anos, ecossistemas virtuais têm sido
reforçados na direção de proporcionar uma composição altamente heterogênea,
mas organizada em torno de significantes vazios. A polarização formada nas
eleições de 2014 entre direita e esquerda, resultado de uma campanha
marcada por essa ortopedia de linhas transversais que haviam se formado no
ano anterior, vai dividir o largo ecossistema de 2013 em dois, formando o
universo vermelho e o universo azul. Ainda lembrando os trabalhos de Rodrigo
Nunes, a distinção que ele faz entre "sistema-rede" (que chamo ecossistema) e
"movimento-rede", que seria uma graduação da escala entre organização e
consistência, mostra que uma paleta heterogênea de movimentos-rede se
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articularam em torno a um eixo e flutuam, conforme o assunto, sem se


desconectar necessariamente de todo resto nas divergências.

O ruim desse processo é que as próprias análises feitas pelos intelectuais se


fecharam nos respectivos ecossistemas. A narrativa que costuma acompanhar o
golpe parlamentar, por exemplo, é uma análise conglobante de tentar
abranger de ponta a ponta - do macro ao micro - todos os espaços de
imponderabilidade e jogo que existiam no tabuleiro político até então,
funcionando rigorosamente a partir de todos os marcos referenciais do
ecossistema vermelho. Ela pretende explicar "de fora", como se o analista
dispusesse de um ponto de vista alheio aos pontos de vista, possibilitando ligar
da geopolítica até a micropolítica, do Pré-Sal até a alergia da classe média ao
pobre. O efeito disso é um abismo ontológico cada vez mais profundo e amplo
entre perspectivas, fazendo com que as próprias pontes de diálogo sejam
substituídas por um discurso bélico que pressupõe a adesão a uma identidade
rigidamente marcada pelo campo de origem. Isso vira condição de entrada. O
próprio debate mais ou menos cômico de se a esquerda "deve aceitar" o apoio
de artistas que apoiaram o golpe na resistência ao fascismo que ataca obras de
arte, é indicativo disso.

Por outro lado, Viveiros de Castro também coloca o "xamanismo" como
uma das características do perspectivismo indígena. O xamanismo é "a
habilidade de certos indivíduos de cruzar deliberadamente as barreiras
corporais e adotar a perspectiva de subjetividades aloespecíficas, de modo a
administrar as relações entre estas e os humanos" ("A Inconstância da Alma
Selvagem", p. 358). Nesse momento, dada essa imensa distância, talvez uma
das possíveis vias seja tentar imitar (seguir o exemplo) dos xamãs e habitar o
ponto de vista alheio. Como Viveiros afirma, isso não significa um
autocancelamento, uma vez que o xamã não quer "objetivar", mas "personificar"
o conhecimento, maximizando a intencionalidade. Desse modo, em vez de
lutarmos contra as forças invisíveis da catástrofe por vir, faríamos um escrutínio
das intencionalidades que habitam esses outros pontos de vista, possibilitando
visualizar o tabuleiro político como uma conjunção de pontos de vista
heterogêneos que se cruzam sem que um intelecto exterior e unificador possa,
desde fora, julgá-los simplesmente.

Um exemplo disso tem sido a difícil tarefa de compreender, no âmbito das


"guerras culturais", como funciona o outro polo. Contribuições como de
Nancy Fraser, Dale Beran e Angela Nagle, entre muitos outros, têm
tentado trazer esses elementos. Nesse ponto, não concordo com Rodrigo,
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quando disse, na entrevista em que nós concedemos ao IHU, que Nagle sofreria
de "déficit de perspectivismo", uma vez que projetaria um "bom senso" nos trolls
que, no fundo, rejeitariam qualquer tipo de crise dos seus privilégios. Por um
lado, entendo e concordo que a própria ideia de "guerras culturais" pode passar
uma imagem de simetria quando, a rigor, trata-se de minorias lutando por
direitos iguais. Entretanto, é preciso ver isso a partir de dois componentes: em
alguma escala, e isso Nancy Fraser, por exemplo, destaca, existe um
cruzamento de ressentimento de classe que complica os vetores
oprimido/opressor que a política de identidades costuma usar. Há um encontro
entre a revolta contra as elites políticas e econômicas que, em certo
momento, respinga nas elites culturais. Isso é até mais visível no Brasil,
provavelmente.

Segundo, a dinâmica de feedbacks que forma uma estrutura oposicional entre o


"Tumblr Liberalism" e os trolls do 4Chan se estabelece não apenas no nível
básico de afirmação de direitos, mas justamente a partir do destaque em torno
aos exageros. Estruturalmente, e esteticamente, esse movimento de resposta que
dá ares transgressores a pautas conservadoras e por vezes até fascistas
abastece-se dessas curvaturas. Portanto, não acho que Nagle sofra de déficit de
perspectivismo, mas o contrário: ela conseguiu visualizar o que é o combustível

que alimenta trolls, mesmo que isso signifique algo moralmente inaceitável para
nós. Devem ser publicados em breve dois ensaios - um sobre um episódio da
série Black Mirror ("The Waldo Moment"), e outro sobre o filme "Taxi
Driver" -, nos quais tento inclusive formalizar essa estrutura, mostrando como
os sinais invertidos proporcionam uma forma de reforço infinito.

O potencial do perspectivismo, entre muitos outros, é o de poder desenhar


saídas desses impasses nos quais parece que todos os recursos que utilizamos
não dão conta.

IHU On-Line - Por que seria melhor para a esquerda se aproximar de


uma visão de senso comum? Considerando o senso comum, que
ideias deveriam compor uma proposta de esquerda?

Não creio que a esquerda deva simplesmente reproduzir o


senso comum, mas deveria estar atenta a ele

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Moysés Pinto Neto - Primeiro, teria que dizer que cada vez me sinto menos
confortável teorizando sobre a "esquerda". A tese do "pragmatismo radical"
já é uma tentativa de escapar desses dilemas infinitos e entediantes sobre a
unidade ou o futuro da esquerda. Em geral, hoje em dia a esquerda não tem sido
um atalho cognitivo para posições políticas, como deveria ser, mas um lugar de
não-pensamento.

Dito isso, não creio que a esquerda deva simplesmente reproduzir o senso
comum, mas deveria estar atenta a ele. O falibilismo que costuma habitar as
impressões baseadas na experiência não é desprezível. Ou seja, quando nos
jogamos em caminhos muito arriscados para o qual não temos boas respostas,
em geral o senso comum tende a nos abandonar. Esse conselho é uma prudência
que não pode ser simplesmente desprezada.

Estrategicamente, esse debate está posto no mundo inteiro. Como simplificar


nosso vocabulário numa época em que as demandas são prementes? Boa parte
do desperdício da janela de 2013 está em não compreender como demandas
simples, do senso comum, podem ser revolucionárias. Imagine-se, por exemplo,
o que seria uma resposta à altura das demandas por saúde e educação que

permearam 2013. Uma recuperação da escola pública, com investimento maciço
e mudança de currículo, a universalização do saneamento básico e a construção
de redes de saúde poderiam ter dado a tônica daquele momento. Em vez disso, a
esquerda queria sua própria pauta, a reforma política, que estava na agenda
- mas não sincronizou com as demandas.

Não quero dizer que o senso comum é infalível. O senso comum pode ser
bastante equivocado. Mas o problema é transformar nossas pautas em senso
comum. Como produzir condensações - memes, eu diria - que sejam capazes de
multiplicar por contágio viral. Esse é o esforço a que me refiro.

IHU On-Line - Por que o centro político é tão importante na sua


análise política e por que você aposta em trazer o centro para o lado
da esquerda e não o contrário?

Debater a democracia representativa é uma das nossas


tarefas, assim como debater a própria existência do Estado

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Moysés Pinto Neto - O centro é relevante porque é majoritário. Ele


corresponde ao "indeciso". A maioria não é necessariamente conservadora, mas
simplesmente se baseia em parâmetros que possam ser aceitos com
razoabilidade. Evidentemente, diante de uma perspectiva revolucionária isso
parecerá conservador. Mas é mais ou menos um elemento de prudência.

Quanto mais desprezamos o centro, a mais distância ficamos da maioria e por


isso menor a chance de espaços na democracia representativa. Eu até acho que
debater a democracia representativa é uma das nossas tarefas, assim como
debater a própria existência do Estado. Porém isso não elimina a necessidade
de dar respostas agora. Quando você pensa no período de 2002 a 2008, existia
uma preocupação substantiva de convencer quem pensa diferente. Os
argumentos normalmente cortavam as pontas hiperbólicas, controlavam as
figuras de expressão, afastavam as identidades e buscavam se comunicar com
quem não necessariamente compartilha a mesma visão de mundo. A partir de
um certo momento, com a alta popularidade dos governos Lula e Dilma, isso
tudo começou a ficar em segundo plano. A afirmação identitária passou ao
primeiro, colocando-se à frente do próprio tema debatido. A sensação de
copertencimento passou a ser mais relevante que o conteúdo e os pontos frágeis 
não puderam mais ser levantados. Isso vai provocando o distanciamento do
centro, da posição pragmática que só quer saber o que funciona. O centro é anti-
ideológico. Ele não suporta que um pacote de crenças comande a deliberação,
quer debater caso-a-caso. O centro prefere a razoabilidade à coerência. Ele é
fragmentário.

O segundo ponto é que não temos um centro sólido no Brasil, o que nos coloca
sempre sob risco de golpe das forças oligárquicas. O fato de não existir uma
cultura de respeito à institucionalidade, um chão mínimo de direitos, faz com
que estejamos sempre sob a espreita da violência fascista. O centro funciona
muitas vezes como amortecimento das altas voltagens e permite certa dose de
prudência necessária. Na maioria dos países do Norte, não existe ameaça, por
exemplo, de uma virada militar. Isso não se discute. Então acho que esse é um
papel interessante que o centro desempenha e que não pode ser simplesmente
desprezado, porque a promessa do novo não é necessariamente redentora. O
perigo não é só para melhor, também podemos piorar muito. A própria ficção
científica nos apresenta cenários em que isso é visível.

O texto "Identidade de Esquerda ou Pragmatismo Radical?" é uma tentativa de


esboçar, desde alguém com o ponto de vista de esquerda, um
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perspectivismo do centro, assim como os outros dois que mencionei acima


são esboços de perspectivismo da direita.

Há ainda um terceiro ponto: como uma recente reportagem da Vice mostrou, a


extrema-direita cresce no mundo inteiro e sua grande aposta é aproveitar a
"janela de Overton" para introduzir temas no debate público que haviam sido
arquivados progressivamente ao longo do pós-Segunda Guerra Mundial.
Para muitos da esquerda, isso é a morte do centrismo, que teria colapsado
com o Brexit e a eleição de Trump. Nossa tarefa agora é radicalizar à
esquerda e propor novas alternativas. Até certo ponto, concordo com o
diagnóstico. No entanto, o centro é relevante por duas razões: primeiro, para
fechar a janela e resistir, com um bloco majoritário, contra a ascensão dos
discursos fascistas; segundo, porque durante esse tempo ainda precisamos
aprimorar um programa alternativo, que está longe de estar bem definido.
Precisamos ganhar tempo.

IHU On-Line - Como, na sua compreensão, a proposta do


perspectivismo político é vista pelas esquerdas hoje no país? Quais
são as dificuldades de entender ou aceitar essa proposta?

Moysés Pinto Neto - Não existe. E não existe por uma razão bem simples:
certeza moral. Na verdade, não sei traduzir isso, mas seria: self-righteous. A
atitude de superioridade moral é a predominante. Dispensa-se inclusive a
compreensão dos motivos do outro. Dispensa-se a participação dos aliados
potenciais. Hoje, para você entender as motivações do "outro lado", tem que
pedir uma série de desculpas, quando não sai confundido junto com ele e
potencialmente linchado.

Com o tempo, comecei a perceber que esse problema traz pelo menos três
consequências graves: o primeiro, uma percepção equivocada sobre o tamanho
do "condomínio". Ainda há quem defenda ideias como de uma revolução com
base da força, quando a maioria simplesmente não se identifica com esses ideais,
inclusive a parte mais pobre da população. Segundo, esse dimensionamento
errado acaba provocando um progressivo ensimesmamento da linguagem que,
ao mesmo em que se vangloria da sua superioridade moral, lamenta
melancolicamente o isolamento social. Além da posição inócua ("vem, Meteoro",
"vou estocar comida" etc.), ainda pode ter o rebote de provocar o
ressentimento popular canalizado contra elites culturais, como vimos no
caso do MAM (Museu de Arte Moderna). Finalmente, a atitude também gera um
enfraquecimento dos nossos argumentos De tanto se considerar superior
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enfraquecimento dos nossos argumentos. De tanto se considerar superior,
começa-se a esquecer que é preciso fundamentar as próprias posições para
convencer o outro. E isso tem servido como espécie de álibi para não reconhecer
a própria fragilidade teórica ou incapacidade de formular alternativas positivas.
É um modo de fugir de questões difíceis.

IHU On-Line - Você e outros autores têm chamado atenção para o


déficit teórico da esquerda em relação à falta de propostas
alternativas ao neoliberalismo. Por que há essa dificuldade, na sua
avaliação? O que seria uma alternativa neste caso e que questões
deveriam compor uma agenda econômica à esquerda?

Você vê muita gente compartilhando críticas ao


neoliberalismo, mas existem poucas reais alternativas

Moysés Pinto Neto - O déficit teórico e a falta de alternativas vêm mais ou


menos juntos. Você vê muita gente compartilhando críticas ao 
neoliberalismo, mas existem poucas reais alternativas. Eu citaria pelo menos
quatro grupos aí.

O primeiro é o da crítica pura e simples. Pense, por exemplo, num Mike Davis. A
lógica neoliberal soterra tudo e não deixa espaço para mais nada. Todo esforço
micropolítico é capturado pela mesma máquina de produzir neoliberalismo. A
totalidade sufoca, não resta espaço a partir para a própria crítica. Mas, em
termos de uma imaginação alternativa, pouco ou nada resta. Muitas vezes esse
discurso confunde-se com a demanda por resistir, que no fim das contas pode
até ser prudente, mas não tem base para durar para sempre. Precisamos resistir
às mudanças na CLT de um congresso apodrecido e completamente dominado
pelas forças do capital? Sem dúvida. Porém, se não tivermos ideias alternativas
sobre o mundo do trabalho, um dia - numa conjuntura desfavorável - a porteira
cai. Acho que o livro de Naomi Klein "No is not enough" vai por aí. Todo
mundo, depois de Trump, está inclinado a acreditar que o Occupy (e todas as
analogias a respeito) foi importante, mas é preciso ir além da resistência e
inventar algo novo.

O segundo grupo é o desenvolvimentista e da volta do Estado de bem-


estar. Aqui está o grande bloco da esquerda intelectual brasileira, mesmo
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discordando entre si (ex., André Singer, Chico de Oliveira, Jessé Souza). Já


vimos que a coisa não funcionou bem devido ao patrimonialismo que
confundiu desenvolvimento econômico com o enriquecimento dos oligopólios
plutocráticos que saquearam o Estado, então por que não dizer simplesmente
que não existe isso — o patrimonialismo? Ironias à parte, não vejo como isso
pode vingar se as condições sociais e materiais são completamente diferentes do
mundo industrial do fordismo, com domínio dos Estados nacionais, pacto
entre burguesia e classe trabalhadora organizada, demanda por crescimento e
outros elementos daquele momento. Há propostas mais interessantes dentro
desse espectro, como o social-desenvolvimentismo do Marcos Nobre e da
Laura Carvalho, mas ainda vejo limites bem substantivos nessas propostas.

O terceiro grupo, que acho bem mais interessante, é o que investe na ideia de
renda mínima. Eles vão desde ideias mais radicais, como reestruturar todo
Estado ou até ir além do Estado (inspirado nas ideias de Toni Negri), até usar
como saída de emergência (dentro de um social-liberalismo). Curioso porque
o próprio establishment, como gente como Mark Zuckerberg e Klaus Schwab,
começa a bancar a ideia. No Brasil, temos muita gente que já defendia isso há
muito mais tempo, como Giuseppe Cocco, Bruno Cava e outros. E há quem hoje
pense isso em conexão com os que tentam recuperar o marxismo em diálogo 
com o novo populismo do Norte (Sanders, Corbyn, Melenchon etc.), como o
Victor Marques ou o ecossocialismo, com a Sabrina Fernandes e o
Alexandre Costa Araújo. O interessante do populismo é que ele é mais e menos
radical que a esquerda brasileira (PT e PSOL): de um lado, evita a
simbologia e a identidade, procurando equilibrar-se com o senso comum; de
outro, procura ir além da conciliação dentro do neoliberalismo, pautando-se a
partir de demandas que possam realmente transformar o consenso social - e
colocando em questão a ideia de futuro. Nas vertentes não apenas social-
reformistas ("neoliberalismo progressista"), a pauta do comum entra como
elemento de construção de outra lógica de mundo.

O último grupo, no qual me incluo, diria que não há saída econômica enquanto
persistir a ideia de crescimento. É impossível, no contexto atual, continuar
produzindo e acelerando a fim de alimentar o imaginário consumista. Ele só
produz frustração e é profundamente niilista, chegando a desprezar a própria
subsistência da Terra e das outras espécies no seu limite. Para essa visão,
enquanto perdurar o modelo atual, estaremos sempre diante do mesmo dilema.
A solução não é acelerar o crescimento, mas buscar transformar nossas formas
de vida de modo que transformemos o próprio conceito de desenvolvimento (por
l i t b ) R E t d i ã líti
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um envolvimento, quem sabe). Repensar o Estado, nossa organização política,
nossa organização espacial entre as cidades, os modos de produção e
organização do mercado, as possibilidades de encontrar em outras referências
respostas aos nossos problemas. Não há estratégia econômica dentro do quadro
atual que possa contemplar e garantir a qualidade de vida de todos. É só
colocando em xeque as premissas, os valores do crescimento, que poderemos
pensar em alternativas para além da instrumentalização do que anda em piloto
automático. Porém, quando fomos chamados ao debate, a atual Presidenta do
PT, Gleisi Hoffmann, chamou-nos de "minorias com projetos ideológicos
irreais".

Evidentemente, não divido isso em grupos estanques e espero que as pessoas


não fiquem chateadas comigo por as mencionar (foi um elogio). Muitos
compartilham muitas coisas em comum: eu mesmo sou bastante simpático ao
terceiro grupo.

IHU On-Line - Entre as saídas adotadas pela esquerda, você tem


apontado duas possibilidades recorrentes: a) assumir plenamente a
identidade e manter a luta de classes como horizonte; e b) a
manutenção de um posicionamento mais próximo do centro nas

campanhas eleitorais e concessões à direita durante os governos
esquerdistas. Para além dessas duas, você sugere uma terceira, a
qual denomina de pragmatismo radical. Por que essa visão é melhor
e tem mais possibilidade de dialogar com os novos movimentos e
coletivos que estão surgindo?

O que mais vejo nas redes sociais é a pessoa postar coisas


radicais que eu me pergunto: "ok, mas o que você quer com
essa postagem?"

Moysés Pinto Neto - A expressão "pragmatismo radical" é o oximoro


provisório que venho adotando. A palavra pragmatismo traz a ressonância do
acordão, da concessão, da conciliação. Já a palavra "radical" traz a ressonância
do sectarismo. Usei uma para equilibrar a outra. Mas não sei se essa construção
funciona realmente. Talvez precise de outra expressão melhor.

Sobre os pontos a) e b), o problema é que ambos não vêm funcionando. Sempre
se pode dizer "mais um esforço", e considerar que é a visibilidade da esquerda
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que está promovendo a reação — e, portanto, estamos no caminho certo. Como


sou um pacifista (para muitos isso é defeito), não consigo visualizar nas
metáforas bélicas a saída. Por ali, em geral, só nos vejo esmagados pelos que
dominam a linguagem e a prática da violência. Minhas saídas em geral são pela
evasão.

Porém, ao mesmo tempo, a palavra "pragmatismo" quer dizer que temos que
realmente querer aquilo que dizemos. Como disse atrás, a atitude de "self-
righteous" da esquerda é sua ruína. Nós queremos realmente que nossas ideias
vençam ou entramos em um debate apenas para asseverar nossa superioridade
moral? Pode parecer meio banal isso, mas fico impressionado com a quantidade
de interações em que visualizo o desprezo pela prática da esquerda. Ou seja,
entra-se na disputa apenas para "marcar posição". O pragmatismo a que me
refiro não é do acordão com o PMDB, mas o que efetivamente quer derrotar o
PMDB. E para isso temos que pensar estratégia, temos que ler os pontos fracos,
temos que estudar os movimentos do adversário e fazer o que é necessário.

O que mais vejo nas redes sociais é a pessoa postar coisas radicais que eu me
pergunto: "ok, mas o que você quer com essa postagem?". Tenho quase certeza
que é só narcisismo mesmo. A pessoa não quer efetivamente construir nada. 
Nesse ponto gostei muito das últimas intervenções da Tatiana Roque ao IHU e
El País Brasil, em que ela mostra a impostura dessa atitude radical que só fala
para si mesma, que é quase uma estetização consumista das ideias de
esquerda, mais ou menos como vestir camiseta do Che.

IHU On-Line - Nesta semana o PSOL anunciou que possivelmente


Guilherme Boulos será seu candidato à presidência em 2018. Ainda
se especula em torno de outros nomes à esquerda, como Lula e Ciro
Gomes. Como vê essas possibilidades?

A ligação de Boulos com Lula e o PT é intensa e isso leva o


partido novamente ao dilema que constantemente tem que
enfrentar: de se tornar realmente uma força independente,
com programa e estratégia própria, ou continuar como
satélite/superego do PT

Moysés Pinto Neto - A entrada de Boulos para mim diria duas coisas ao
mesmo tempo: primeira, que o PSOL se abriria pela primeira vez a uma
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liderança social com base real. Com isso, a imagem associada à política
impetuosa de Diretório Acadêmico sem conexão com o resto da sociedade,
que acabou prevalecendo na candidatura de Luciana Genro, fica modificada
para melhor. O MTST é um movimento de peso e ator político relevante do
cenário nacional. No entanto, ao mesmo tempo a ligação de Boulos com Lula e
o PT é intensa e isso leva o partido novamente ao dilema que constantemente
tem que enfrentar: de se tornar realmente uma força independente, com
programa e estratégia própria, ou continuar como satélite/superego do PT.
Desde 2013, parecia que PSOL e REDE se tornariam novas forças políticas
capazes de expressar a multiplicidade da esquerda irredutível ao projeto
petista, com o PSOL tendo um viés mais radical e a REDE mais voltado para o
centro-esquerda ecológico.

Ambos os projetos, no entanto, continuam com dificuldade de decolar: a REDE


vem desempenhando um papel importante na interpelação judicial dos absurdos
que vêm promovendo Governo e Congresso, mas cada vez mais se conecta
exclusivamente ao Poder Judiciário e demora para se aproximar de bases sociais
sólidas; o PSOL, por outro lado, paga um preço caro pelo papel que escolheu em
2014, quando lança uma candidatura apenas para "marcar posição" e
imediatamente adere, por meio de nomes importantes do partido e sem 
qualquer contrapartida do PT, ao "voto crítico". A diminuição do apoio a
Marcelo Freixo nas eleições de 2016 é o preço que a associação custou, na
medida em que não conseguiu se firmar como campo independente e com isso
acabou preso ao nicho universitário da esquerda cultural. Por mais fortes e
coesos que possam ser esses coletivos e movimentos, são uma minúscula,
irrisória fatia da população no nível eleitoral. A escolha de Boulos reforçaria a
ambiguidade da posição política do PSOL em relação ao PT. Para crescer, o
PSOL terá que ser salvo de si mesmo por movimentos de ocupação da política
que, desde fora, encontrem no partido um lugar para introduzir-se no cenário
eleitoral e consigam movimentar as energias que a burocracia partidária não dá
vazão — como aconteceu com o Muitas em BH.

Ciro Gomes eu não votaria, mas acho um nome respeitável. É um


desenvolvimentista típico e esse segmento da sociedade mereceria
representação. Ele e Marina representam as duas alas do lulismo, sendo ele a
vencedora (via Dilma). É justo que ainda haja essa alternativa na eleição;
porém não é a minha. Além disso, Ciro parece bastante desconectado das lutas
pós-2013 na sociedade brasileira, muito especial das políticas de identidade,
seguidamente utilizando metáforas falocêntricas para expressar sua
competência e a necessidade de uma liderança masculina na política Os
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competência e a necessidade de uma liderança masculina na política. Os
recentes comentários recíprocos entre ele e Bolsonaro, assim como elogios
antigos do ideólogo da extrema-direita Olavo de Carvalho, mostram que essa
relação é nítida. Apesar disso, jamais simplesmente nivelaria Ciro com esses
boçais.

Finalmente, sobre Lula, acho lamentável a candidatura, porque é um imenso


déficit de renovação política, um nome que nos paralisa na mesma cena e
inclusive põe em risco a radicalização de setores que deveriam ficar em silêncio.
Teria muito mais outras coisas para dizer, mas fico por aqui. Se Lula conseguir
concorrer, contudo, é fortíssimo candidato. Acho que ganha o pleito, inclusive.

IHU On-Line - Você reconhece uma espécie de perspectivismo


político em algum dos possíveis candidatos à presidência ou em
algum político brasileiro?

A candidatura Lula é lamentável porque é um imenso déficit


de renovação política, um nome que nos paralisa na mesma
cena e inclusive põe em risco a radicalização de setores que 
deveriam ficar em silêncio

Moysés Pinto Neto - Não, em nenhum. Ainda, ao menos. Lula, na verdade,


mantém alguma capacidade plástica de fazer muitos jogos simultaneamente,
como afirmando que Dilma provocou o sentimento de traição dos seus eleitores
ao fazer o ajuste fiscal (agradando a base de esquerda), mas tendo pouco tempo
atrás dito que teria nomeado, no lugar dela, o próprio Henrique Meirelles
como ministro da Fazenda (agradando o mercado). Esse jogo, no entanto, não
provoca um diálogo frutífero (como se espera do perspectivismo), mas o inverso:
uma manipulação suja em que a militância cobra tudo dos adversários e tolera
todos os erros do seu candidato, exatamente como acontecera em 2014 com
Marina Silva. Assim, todos os "pecados" do PT são veniais, enquanto qualquer
um dos outros é mortal. Como vimos logo após a eleição, parece que o problema
não eram os bancos, mas o banco certo: Bradesco, não Itaú.

IHU On-Line - Estamos comemorando 100 anos da Revolução Russa. O


que a esquerda reproduziu da matriz dessa Revolução que não
deveria ter reproduzido?

Moysés Pinto Neto - O estalinismo sem dúvida que continua vivíssimo


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Moysés Pinto Neto - O estalinismo, sem dúvida, que continua vivíssimo
entre nós. A patrulha, o policiamento e a ideia de que criticar é ser contrário, são
indicativos de que isso ainda é bem atual. É o que acontece com quem acha que
2013, por exemplo, é responsável pelo fascismo, como se quem ousa contestar
a burocracia governamental estivesse cometendo uma forte heresia e
provocando o enfraquecimento da unidade necessária. Tem um texto que escrevi
chamado "Para uma esquerda sem Vaticano Vermelho" em que vou nessa
linha.

Além disso, também o imaginário crescimentista da Modernidade


precisa ser colocado em questão. É uma longa história.

Assista à integra da palestra de Moysés Pinto Neto no IHU, em 25/10/2017.

Leia mais
Identidade de Esquerda ou Pragmatismo Radical?. Artigo de Moysés Pinto
Neto. Cadernos IHU ideias, Nº. 259
Esquecer o neoliberalismo: aceleracionismo como terceiro espírito do
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O processo de renovação da esquerda é atravancado pela 'renovada'


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