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BAGOAS n. 18 | 2018
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Resumo
Este artigo pretende desenhar uma crítica ao conceito de “amor líquido”
apresentado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman. O conceito aqui
contraposto é derivado de seus escritos a respeito da pós-modernidade, por
ele intitulada “modernidade líquida”. Como tal, traz consigo o ceticismo
característico do autor, cristalizado no que chamou de “fragilidade dos
laços humanos”, que seria marca das relações afetivas de nosso tempo
histórico. Em direção à interdisciplinaridade, utilizo a historiografia de
Mary Del Priore com a intenção de problematizar a bipolaridade fundada
pelo intelectual polonês — amor líquido/amor sólido. Argumento que
o “amor líquido” não constitui um fenômeno exclusivo ou definidor da
modernidade tardia, e para isso traçaremos uma análise comparativa
deste período com o Brasil Colônia.
Abstract
This article intends to delineate a criticism to the concept of “liquid love”
presented by the polish sociologist Zygmunt Bauman. The concept here
counterproposed derives from his writings about postmodernity, which
he called “liquid modernity”. As such, embodies the characteristical
skepticism of the Author, crystallized in what he entitled as “frailty of
human bonds”, which would be a mark to the affective relations in our
historical time. Regarding interdisciplinarity, I use Mary Del Priore’s
Historiography with the intention to problematize the bipolarity
founded by the Polish intellectual — liquid love/solid love. It is argued
that the “liquid love” does not constitute a phenomenon that is exclusive
or defining of the late modernity, and for this we will draw a comparative
analysis between this period and the Colonial Brazil.
[...] não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender
a morrer. E não se pode aprender a arte ilusória — inexistente,
embora ardentemente desejada — de evitar suas garras e ficar
fora de seu caminho. Chegado o momento, o amor e a morte
atacarão — mas não se tem a mínima ideia de quando isso
acontecerá. Quando acontecer, vai pegar você desprevenido.
Em nossas preocupações diárias, o amor e a morte aparecerão
abnihilo — a partir do nada. (Ibid., p.19)
3 “A sexualidade, claro, não é uma exceção a esta regra. Desprendida cada vez
mais da reprodução, de seus vínculos com o amor, a segurança e a permanência, e do
seu papel de “imortalizadora” graças à continuidade da linhagem, ela é hoje mais autô-
noma do que nunca. É autosuficiente e só perdura em função de seus benefícios. Mas o
oposto é outra vez sua leviandade, “a insuportável leveza do sexo”. Preocupar-se com o
rendimento não deixa espaço nem tempo para o êxtase, o físico não conduz ao metafísi-
co, seu mistério desapareceu, portanto, argumenta Bauman, suas promessas “exaltadas
pelas mídias” só podem terminar insatisfeitas. A vitória do sexo, no máximo, é uma
vitória de Pirro. Definitivamente, as agonias atuais do homo sexualis são as do homo
consumens.” (Tradução minha)
4 E também nas páginas 40; 42; 44; 56 desta mesma obra. Esse trabalho transpa-
rece de maneira magistral a solidão, o abandono e a violência por que passavam nossas
ancestrais coloniais. Fazendo uma excelente arqueologia do abandono parental e da vio-
lência doméstica que ainda são praticados e que, dada sua longevidade, não constituem
fenômenos específico de nossa modernidade.
Considerações