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igarape.org.br/precisamos-falar-sobre-armas
15 de março de 2018
14/03/2018
Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo
Sabemos que o custo de matar aqui é baixo. Menos de 10% das mortes violentas resultam
em condenação. Adicionar mais armas em circulação em um país com alto nível de
impunidade é uma receita para o desastre. Deveríamos, então, fortalecer e não tentar
revogar a lei de controle de armas –10.826/2003, conhecida como Estatuto do
Desarmamento. Essa lei foi fruto de uma grande mobilização da sociedade civil, igrejas,
estudiosos e contou com o apoio de meios de comunicação. Ela veio para aprimorar a
regulação responsável de armas e munições em um país extremamente violento.
Ao contrário do que seu nome fantasia sugere e do que se diz por aí, o estatuto não
desarma o cidadão. Hoje, um brasileiro maior de 25 anos pode possuir até seis armas em
casa ou local de trabalho, desde que cumpra requisitos estabelecidos. No entanto, é
importante que se entenda que possuir uma arma é um ato de grande responsabilidade.
Armas são instrumentos de ataque e raramente de defesa, e aumentam o risco de
acidentes, suicídios e assassinatos de parceiros íntimos em lares onde estão presentes.
Se sua escolha é possuir uma, não subestime os riscos.
O estatuto, no entanto, proíbe o porte de armas para civis, isto é, cidadãos comuns não
podem andar armados nas ruas. E isso faz todo sentido. A ideia de que armar civis torna
as sociedades mais seguras é um mito. Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) em São Paulo mostra que o aumento de 1% de armas de fogo eleva em até 2%
a taxa de homicídio. A evidência de países como os EUA, reforça o achado: os estados
que têm leis de armas mais permissivas registraram aumentos acentuados em homicídios,
roubos, assaltos domiciliares e acidentes envolvendo crianças. A maioria dos especialistas
concorda com este ponto. Consulte o manifesto dos pesquisadores contra a revogação do
Estatuto do Desarmamento, de setembro de 2016, onde há dezenas de fontes sérias
sobre o assunto.
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Um último esclarecimento importante é sobre o referendo de 2005, previsto no estatuto.
Nele, a população decidiu que civis poderiam continuar a comprar armas no Brasil. E seu
resultado foi respeitado, uma vez que a posse continua permitida no país. Caso a
população tivesse decidido na outra direção, a posse para civis seria também inviabilizada.
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