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PLATÃO, PROMETEU E A MITOLOGIA


39-54 minutos

PLATÃO
Corrente filosófica derivada do pensamento de Platão,
caracterizada pelo dualismo corpo-alma, pelo primado da ideia
sobre o mundo percebido, pela desconfiança com relação às
representações que o homem faz do mundo na medida em que
ele, o mundo sensível, é uma degradação do mundo divino, o
mundo das ideias, o platonismo é uma das tradições centrais do
pensamento ocidental. Para o idealismo platônico, a matéria é
sempre uma manifestação ilusória, incompleta ou simples imitação
imperfeita de uma matriz divina.

Platão desenvolveu seu pensamento através de um gênero


filosófico vivo e dinâmico, o diálogo, forma expositiva herdada
talvez do pensamento oriental. Em vinte oito diálogos autenticados
como seus, ele abordou, com um estilo impecável e refinado,

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praticamente todos os grandes problemas filosóficos e metafísicos


da história da filosofia, indo do discurso racional à linguagem
poética, das questões políticas aos problemas da arte e muito
mais.

SÓCRATES
Em muitos dos seus textos encontramos uma declarada aversão
pelos poetas. Considerava-os mentirosos, fantasistas, perigosos.
Eles não habitariam a “cidade justa” do filósofo. Sócrates, em A
República, famoso diálogo platônico, afirmou que a polis só seria
justa se governada pelos que fossem capazes de cultivar a
filosofia. Só aqueles capazes de alcançar o que era imutável e
eterno e não ficassem presos à multiplicidade, ao variável, é que
poderiam governá-la. O mundo material para Platão era uma
manifestação ilusória, incompleta ou mera imitação imperfeita de
uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e
intangíveis.

Platão, lembremos, nasceu em Atenas em 428 e morreu em 347


aC. Seu verdadeiro nome era Aristoclês. Por causa de seu porte
atlético, de seus ombros largos, ganhou o apelido de Platão.
Recebeu uma educação das mais cuidadas, dedicando-se, antes
da filosofia, à poesia e ao teatro, à tragédia especialmente.

Por volta dos vinte anos, conheceu Sócrates, entregando-se a

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partir de então, com grande paixão, à filosofia, permanecendo ao


lado de seu mestre até 399 aC, data de sua morte. Militou nas
fileiras do partido aristocrático, mas logo se desiludiu com as
mesquinharias e a corrupção do jogo político. Entregou-se então
inteiramente ao estudo e à filosofia. Viajou muito, visitando Megara
para conhecer Euclides, o Socrático. Foi ao Egito e à Sicília (onde
viveu na corte de Denys de Siracusa) e, provavelmente, à Ásia
Menor, Creta, à Itália do sul, onde conheceu o pitagorismo com
Archytas de Tarento. Há uma história, não confirmada, de que por
causa de atritos com o referido Denys, teria sido vendido como
escravo e depois resgatado por Dion, político grego, tio daquele.

ACADEMIA
Ao retornar em 387 aC, Platão começou a ensinar filosofia na
periferia de Atenas, nos jardins onde ficava a Academia, às
margens do rio Cefiso, perto do local onde o herói Akademos tinha
o seu túmulo. Akademos (hekas, longe, distante; demos, povo) é
aquele que “age independentemente do povo”. Foi um herói mítico
ático que revelou aos Dioscuros (Cástor e Polideuces, os gêmeos,
filhos de Zeus) o lugar onde Teseu havia escondido Helena, por ele
raptada. A Academia ficava além do bairro Cerâmico, perto do

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cemitério de Atenas. Mais tarde, chamado de volta à Sicília por


Dion, logo retornou a Atenas. Platão morreu octogenário, legando
a sua fortuna e a direção da Academia a seu sobrinho Speusippe.

Em A República, Platão coloca as elaborações míticas muito


próximas da

HESÍODO
mentira: Narrar um mito é contar algo falso, ainda que no seu
interior exista alguma verdade. Em Górgias, Platão rotula o mito
como história para crianças, contos da carochinha (mythos graos).
É em A República que ele procura desenvolver uma análise dos
mitos. Condena Homero, Hesíodo e os poetas órficos, pois
“atentavam contra a moral e a dignidade humana”.

Vários trabalhos foram escritos ao longo dos séculos sobre a


posição de Platão com relação à mitologia e também sobre o seu
desembaraço em se apropriar dos mitos, que tanto condenou, na
medida em que eles serviam para ilustrar os seus pontos de vista,
deformando-os, reinventando-os inclusive.

Para Platão, o mito era ficção, o que os aproximava por isso da

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parábola e da alegoria. Ficção, como se sabe, é ato ou efeito de


fingir, criação fantástica, farsa. Parábola (para, ao lado; ballein,
lançar; pôr em paralelo), é mensagem indireta transmitida por meio
da comparação, da analogia. Alegoria (allos, outro; egor, falar),
falar de uma coisa, mas referindo-se a outra. Para Platão o mito
não podia ser usado como um método válido para se alcançar a
verdade, embora pudesse ser objeto de uma forte adesão interior,
como no caso dos mitos escatológicos, por exemplo.

O mito era também perigoso para Platão porque tinha um sentido


oculto. Precisava ser ultrapassado, decifrado, interpretado. Era
aberto a múltiplos níveis de significação. Ou seja, o mito “não
afirmava a verdade, oferecia sentidos.” Era, como tal, uma “outra”
representação. Evocava, sugeria, falando tanto à inteligência
quanto à imaginação, o que sempre podia causar muita confusão.
Para Platão, o mito, em suma, era um retorno ao pré-lógico.

Obras como as de Victor Brochard (Les Mythes dans la philosophie


de Platon) e Luc Besson (Platon, les mots et les mythes),
publicadas no último século, não nos ajudaram muito a entender as
teorias de Platão sobre os mitos e muito menos explicam a
contento porque ele, que tanto os combateu, os usou da maneira
como o fez, modificando-os, falseando-os.

Foram sobretudo os diálogos de Platão (A Apologia de Sócrates,


Criton, Phedon, O Simpósio e Theeteto) que contribuíram para
fazer de Sócrates, do qual não temos obra alguma, um mestre do
pensamento e um dos pais da filosofia, o pensador capaz de
despertar os espíritos para a reflexão graças à sua ironia e à sua
maiêutica, a sua arte de dialogar. O essencial da filosofia socrática
consistia, como se sabe, em sua fé na razão humana, pela qual o
homem poderia atingir o conhecimento de si mesmo e a felicidade.

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Conhece-te a ti mesmo e Ninguém é mau voluntariamente eram


frases usadas por Sócrates, segundo Platão.

Deixando de lado a questão de Sócrates ter existido ou não, de ter


sido um personagem “inventado” (um mito?) ou um ser
historicamente determinado, de sabermos onde começa Sócrates
e termina Platão, tomemos um mito usado por este último para
ilustrar o que aqui se diz: o mito de Prometeu, como foi
apresentado em Protágoras, diálogo em que Sócrates e os sofistas
discutem sobre a questão de ser possível ou não se ensinar a
virtude.

Eis o mito de Prometeu como Platão o narrou. Retirei-o de “Platon,


Oeuvres complètes”, Bibliotèque de la Pléiade, NRF:

“Era o tempo em que os deuses já existiam, mas não as raças.


Quando chegou o momento marcado pelo destino para o seu
nascimento, os deuses modelaram-nas no interior da Terra, com
uma mistura de terra e de fogo e de todas as substâncias que
podem se combinar com o fogo e a terra. Depois, quando
decidiram trazê-las à luz, eles ordenaram a Prometeu e a Epimeteu
que as dotassem de qualidades, distribuindo-as a cada uma delas
como conviesse. Epimeteu pediu a Prometeu que o deixasse fazer
sozinho tal distribuição: ”uma vez feita por mim tal distribuição,
disse ele, tu a verificarás depois”. Aquiescendo Prometeu,
Epimeteu se pôs ao trabalho. Ao distribuir as qualidades, ele deu a
certas raças a velocidade sem a força; a algumas, mais fracas,
dotou de rapidez; a outras ele concedeu armas; para aqueles
desarmados por natureza, inventou alguma outra qualidade que
lhes permitisse assegurar a sua salvação. Às raças de pequena
altura, concedeu-lhes a possibilidade de uma fuga alada ou a vida
num habitat subterrâneo. Aquelas que foram dotadas de elevada

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altura, era por essa qualidade mesma que se salvavam. Assim,


com relação a todas, a distribuição que procurou fazer consistiu em
igualá-las quanto às oportunidades e, no que dissesse respeito ao
que imaginou, tomou precauções para que nenhuma delas se
extinguisse.

Assim, depois de lhes haver dado meios de escapar de ações


destrutivas recíprocas, imaginou para cada uma delas defesas
adequadas contra as variações de temperatura que vinham de
Zeus: vestiu-as com uma espessa pele e sólidas carapaças,
próprias para protegê-las não só do frio, mas também das altas
temperaturas; sem contar que, quando fossem se deitar, tal
proteção constituir-se-ia também numa coberta individual e parte
de cada uma; elas calçariam um tipo de tamanco feito de chifre ou
de couro, sólido, sem sangue. Depois disso, forneceu-lhes
alimentos próprios a cada uma delas: para algumas, a erva que
crescia da terra, para outras, os frutos das árvores, para outras,
raízes; a algumas consentiu que seu alimento fosse a carne de
outros animais e lhes atribuiu uma fecundidade restrita, enquanto
atribuía uma fecundidade abundante àquelas que corriam o risco
de ter o seu número diminuído e dessa forma garantindo a
salvação de suas espécies.

Mas, como Epimeteu não era muito atento, não se deu conta que,
depois de ter gasto o tesouro das qualidades em benefício dos
seres privados de razão, restava-lhe ainda a raça humana que não
fora absolutamente dotada; e ele estava preocupado com relação
ao que fazer. Ora, enquanto assim se preocupava, eis que chegou
Prometeu para fazer o devido controle; ele viu os animais
adequadamente dotados, sob todos os aspectos, enquanto o

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homem ficara completamente nu, descalço, sem cobertas,


desarmado. O momento do homem sair do interior da Terra em
direção da luz já havia chegado. Então, Prometeu, atarantado, sem
saber que meio encontrar para salvaguardar o homem, roubou de
Hefesto e de Athena o gênio criador das artes, isto é, o fogo (pois
sem o fogo ninguém poderia adquirir e muito menos utilizar este
gênio criador); e foi procedendo assim que Prometeu deu ao
homem o seu presente. Eis então como o homem adquiriu a
inteligência que é aplicada às necessidades da vida. Mas ele, o
homem, não possuía a arte de administrar as Cidades! Esta arte,
com efeito, estava com Zeus. Mas não era mais possível a
Prometeu penetrar na acrópole habitada por Zeus, sem falar das
temíveis proteções que envolviam o próprio Zeus. Então, Prometeu
penetrou sub-repticiamente na oficina que era comum a Athena e
Hefesto, onde os dois praticavam suas artes, e, depois de ter
roubado a arte de se servir do fogo, domínio de Hefesto, e as artes
restantes, domínio de Athena, fez delas presente ao Homem. É
deste fato que resultam para a espécie humana os confortos da
vida, mas, posteriormente, para Prometeu, com a instigação de
Epimeteu, resultou uma perseguição por ter sido o autor do roubo!

Ora, desde que o homem teve a sua parte do lote divino, foi,
primeiramente, o único animal a crer nos deuses; pôs-se a
construir altares e imagens. Em seguida, logo começou a articular
artisticamente os sons da sua voz e as partes do seu discurso. As
habitações, as roupas, os calçados, os agasalhos, os alimentos
tirados da terra foram, depois disso, suas invenções. Assim que os
homens se equiparam dessa maneira, no começo, viviam
dispersos. Não havia cidades; em consequência disto, eram
destruídos pelos animais selvagens, pois, de toda maneira, eram

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mais fracos; e se o produto de suas artes lhes garantia o suficiente


para o seu sustento, não lhes dava ele meios de enfrentar os
animais, pois não possuíam ainda a arte política da qual a guerra é
uma parte. Assim, eles procuraram se agrupar e, fundando
cidades, garantir a sua salvação. Mas, quando se agrupavam,
cometiam injustiças uns aos outros, precisamente por não possuir
a arte de administrar as cidades. Sendo assim, espalhavam-se
novamente em várias direções e eram dizimados. Foi então que
Zeus, temendo o desaparecimento total da espécie humana,
mandou Hermes levar aos homens o sentimento do pudor e da
justiça, a fim de que tais sentimentos fossem o atributo das cidades
e os liames pelos quais criar-se-iam as amizades. Neste ponto,
Hermes perguntou a Zeus de que maneira enfim ele daria aos
homens tais sentimentos: será também preciso que eu faça entre
eles a distribuição da mesma maneira que foram distribuídas as
disciplinas especiais? Ora, eis como tal distribuição havia sido
feita: um único indivíduo, que é um especialista da medicina, basta
para um grande número de indivíduos estranhos a esta
especialidade; o mesmo acontece para as outras profissões. Bem!
Será necessário que eu estabeleça desta maneira os sentimentos
da justiça e do pudor entre a humanidade? Ou será preciso que eu
os distribua indistintamente a todos?

“A todos indistintamente”, respondeu Zeus, e que o sejam no


número dos que participam destes sentimentos! Não haveria, com
efeito, cidades se apenas um pequeno número de homens, como
é, aliás, o caso com relação às disciplinas especiais, participasse
destes sentimentos. Além disso, institui mesmo em meu nome uma
lei, segundo a qual, será condenado à morte, como se fosse para o
corpo social uma doença, aquele que não for capaz de participar

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dos sentimentos do pudor e da justiça.”

HEFESTO E ATHENA DE BORDONE


Em síntese, o que temos neste diálogo, também chamado de Os
Sofistas, através do mito de Prometeu à maneira de Platão, é uma
história sobre origem das espécies vivas. Epimeteu, na repartição
das qualidades por essas espécies, esqueceu-se do homem. Com
a intervenção de Prometeu, uma correção é introduzida. Ele
roubou o fogo e com ele as habilidades de Athena e de Hefesto,
deuses aqui considerados como “tecnocratas”, dando-o de
presente ao homem, que assim se civilizou. Por essa ação,
Prometeu será perseguido pelos deuses. Ficou faltando ao homem
a arte política, que era de Zeus. Os homens aprenderam a emitir
sons, a articular seus discursos, mas viviam dispersos, embora
tivessem construído templos e cultuado a imagem dos deuses.
Fundaram cidades, mas lesavam-se mutuamente. Zeus, temendo
que eles se destruíssem, enviou Hermes para lhes dar o pudor e a
justiça, que deveriam ser distribuídos entre todos os homens, como
ordenou o Senhor do Olimpo. Aqueles que fossem incapazes de

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compartilhar tanto um como outro sentimento deveriam ser


entregues à morte, pois seriam como doenças envenenando o
corpo social.

SOFISTAS
O mito de Prometeu, narrado desta forma, Platão o pôs nos lábios
de Protágoras, o sofista. Platão, como se disse, era um inimigo
figadal desses filósofos, para os quais o que interessava era o
homem perdido na imediatez do mundo, o problema da sua
subjetividade, uma rebelião contra a metafísica, uma afirmação do
concreto e do particular. O homem como medida de todas as
coisas era uma das máximas da sofística. Para Platão o que
interessava era o Homem; para os sofistas, ao contrário, só havia
homens, situados histórica e geograficamente. Contra este modo
de pensar, Sócrates, isto é, Platão, falava de uma ordem moral
objetiva, de verdades absolutas.

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PROTÁGORAS
Platão faz então Protágoras, o “inimigo” de Sócrates, distorcer a
história de Prometeu para defender os seus pontos de vista. No
discurso de Protágoras o que temos é o fogo, símbolo da
inteligência humana, como impulsionador da civilização, e o
homem fazendo a sua história. De um lado a valorização da
técnica e, de outro, a da vida social. Protágoras põe em relevo o
cidadão, o homem que com a técnica se transforma em agente da
história. Platão, com se sabe, em sua cidade ideal, aristocrática,
não reservou para essa “nova classe”, pragmática e utilitarista, que
tem origem nas propostas dos sofistas, um lugar de destaque. Em
Protágoras, Platão procura deixar claro que uma coisa é saber
(filosofia) e que outra é saber fazer (sofística).

Hesíodo, quase quinhentos anos antes de Platão, havia fixado de


modo bem diferente o mito de Prometeu em sua “Teogonia”. Em
linhas gerais, o resumimos aqui, incluindo alguns dados e
comentários para a sua melhor compreensão: Prometeu e
Epimeteu, gêmeos, pertenciam à raça dos titãs, eram filhos de
Jápeto e de Clímene; Atlas e Menécio eram os outros irmãos.
Quando da luta entre a segunda dinastia divina (titãs) e a terceira
(olímpicos, chefiados por Zeus), Prometeu tomou o partido destes
últimos. Agradecidos, os olímpicos, vencedores, o admitiram no
Olimpo.

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Zeus, com o tempo, resolveu acionar um plano que alimentava há


muito: a destruição dos humanos, raça oriunda da segunda
dinastia divina, do reino de Cronos, seu pai, pois eram criaturas
inferiores, Aniquilá-los através de um dilúvio. Assim foi feito, mas

Prometeu conseguiu salvar seu filho Deucalião,


que era casado com Pirra, a Vermelha, sua prima, filha de
Epimeteu. Salvo o casal, em pouco tempo a Terra voltou a se
povoar, uma nova raça humana fora criada.

Logo se reiniciaram as disputas entre os humanos e os deuses.


Por sugestão de Prometeu, foi promovida uma reunião entre as
duas partes na Terra, em Mecone, na qual, por motivos jamais
esclarecidos, Prometeu resolveu enganar seu primo, o Senhor do
Olimpo. Para a reunião, um enorme boi havia sido dividido em
duas partes. Numa, as carnes e as entranhas do animal, cobertas
com o seu couro; noutra, os ossos, encobertos pela gordura.
Coube a Zeus, a pedido de Prometeu, escolher inicialmente a sua
parte. Ele optou pela que parecia a todos a mais apetitosa, a última
mencionada, pois carnes e gorduras sempre andam juntas. Zeus
logo percebeu que fora enganado. Tomado por imensa cólera,
Zeus resolveu privar os humanos do fogo, tecnologia que eles mal

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controlavam, fazendo-os dessa maneira regredir à animalidade,


imbecilizando-os (anoetos). A reunião de conciliação proposta por
Prometeu terminara, um grande fracasso...

Prometeu resolveu então intervir novamente; foi aos céus e


roubou uma centelha do fogo do deus Hélio, o Sol, trazendo-a para
a Terra, escondida dentro do galho oco de uma figueira. Com o
fogo, os humanos se reanimaram; aos poucos foram deixando a
vida animal, recuperando a inteligência de forma diferente,
começaram a produzir bens como nunca o haviam feito antes.

O revide de Zeus veio prontamente. Mandou


prender Prometeu nas montanhas do Cáucaso. Acorrentado por
Hefesto, seu fígado era destruído diariamente por um abutre
monstruoso, filho de Tifon e de Équidna; à noite, quando a ave se
ausentava, a glândula se recompunha. Para castigar os homens,

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Zeus inventou uma punição terrível, um mal que por eles seria
desejado e amado ao mesmo tempo. Enviou Zeus uma tentação
irresistível, a mulher, provocando com isso a irremediável divisão
dos sexos, Pandora, “mal tão belo”,”presente de todos os
deuses”.

HERMES, EPIMETEU E PANDORA

Ela e os benefícios do fogo vieram juntos, tornando-se assim a


mulher o preço do fogo. Pandora desceu assim como um presente
dos deuses para simbolizar o fogo dos desejos que tanta
infelicidade causaria aos homens.

Nas mãos, ela trazia uma jarra; dentro dela, os espectros infernais
do Jardim de Perséfone, todos os males com os quais desde então
a humanidade vem se havendo, dores, misérias, doenças,
violência, mentira, corrupção, inveja, velhice, pestes, catástrofes
etc. Recebida por Epimeteu (o que sabe sempre depois), apesar

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da advertência do irmão para que nada aceitasse dos deuses, a


jarra foi aberta, dela escapando todos os mencionados males,
com exceção de um, a esperança, que passou a ser tida por
quase toda a humanidade como algo muito positivo. Como logo se
constatou, porém, a esperança se constituiu talvez no maior dos
males, pois foi a partir desse momento que o presente (só ele é
eternamente real) deixou de ser vivido pelos humanos.

Foi por suas intervenções a favor dos humanos que Prometeu

recebeu o apelido de filantropíssimo, o muito amigo


dos homens. Sob o ponto de vista dos deuses, porém, Prometeu
foi um criminoso, um ser perigoso, que roubou um segredo divino e
o entregou aos humanos. Entrando na posse do fogo,
entusiasmados, os humanos logo esqueceram a origem divina do
elemento. Usaram-no exclusivamente para produzir bens
materiais. Ao invés de usá-lo também espiritualmente, como
agente fecundante, purificador e regenerador, como meio de
iluminação que conduzisse a uma vida superior, passaram a vivê-lo
tão só como desejo, paixão, velocidade, violência, corrupção, como
gerador de conquistas, de riquezas e de guerras. O fogo se tornou
incontrolável, apenas um fator de progresso material. De celeste
que era inicialmente, o fogo acabou por se tornar infernal na mão
dos humanos, transformado em fonte de revolta e de regressão
psíquica. Por isso a humanidade progride tanto materialmente,
tecnicamente, mas regride cada vez mais moralmente,

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socialmente.

HÉRCULES
A punição de Prometeu, determinada por Zeus, deveria mantê-lo
preso a um sofrimento eterno, agrilhoado às rochas. Hércules,
entretanto, quando do seu terceiro trabalho, ao passar pelas
montanhas do Cáucaso, ouviu os seus gritos. Dele se apiedou e
matou o monstruoso abutre que lhe destruía o fígado a flechadas,
libertando o filantropíssimo titã. Com a aquiescência do próprio
Zeus, que desejava ampliar o seu renome de divindade
magnânima e generosa, como diz Hesíodo, tudo acabou bem.
Uma condição, contudo, foi imposta por Zeus: Prometeu ficaria
obrigado até o final dos tempos a carregar no tornozelo uma
argola, confeccionada com o metal dos seus grilhões, à qual se
prenderia um fragmento da montanha onde estivera acorrentado.
Com esta exigência, Zeus não só reafirmava a sua autoridade
como impedia que o titã esquecesse o seu crime...

Prometeu é, sem dúvida, um dos mais contraditórios, ambíguos e


paradoxais personagens da mitologia grega. Num momento, ao
que parece omisso com relação ao destino dos seus irmãos titãs
ou desprezado por eles, ajudou os olímpicos; depois, insurgiu-se
contra Zeus, com quem havia se unido, a autoridade suprema;
logo em seguida, procurou se envolver num discutível e utópico

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projeto político, a salvação da humanidade, mas cometendo erros


incompreensíveis, que comprometeram o seu intento, levando-se
em conta, sobretudo, que ele era ”o que sabia antes”, “o de juízo
previsor”.

ELPIS
O mito, como se disse, nos conta que Epimeteu e Pandora
conseguiram fechar a jarra por esta última trazida, retendo apenas
uma entidade chamada “Elpis”, a Esperança. Ao conservá-la como
um valor positivo, os humanos, como logo se viu, perderam o
presente, isto é, deixaram de vivê-lo para se projetar em direção do
futuro, expectantes, angustiados, frustrados sempre, como a
experiência sempre demonstrou. Uma das consequências mais
danosas decorrentes da conservação de Elpis foi também a perda
da dimensão física do presente por grande parte da humanidade,
que passou a viver tão somente em termos de projeções mentais,
construindo mapas de territórios inexistentes. Elaborações
puramente mentais, sendo um de seus melhores exemplos o tema
filosófico da utopia (como a própria República de Platão), palavra
que etimologicamente significa, como se sabe, “em lugar nenhum”.

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ÉSQUILO

A literatura filosófica e a arte vêm produzindo ao longo dos


séculos numerosas obras nas quais a figura de Prometeu, o titã, é
evocada. Na antiga Grécia, além de Hesíodo, foi Ésquilo, o
primeiro dos poetas trágicos, a escrever sobre ele, a tragédia
Prometeu acorrentado. Ésquilo (525-456 aC) é, com todo os
méritos, o fundador do teatro grego. Das suas noventa peças só
sete chegaram até nós. No seu teatro, o coletivo sempre superou o
individual, a polis e os deuses sempre venceram. A fatalidade
sempre esmagou o homem, pois ele tendia a ultrapassar o seu
metron, como Prometeu o fez com relação aos deuses. Mais ainda:
a falta de um recaía sobre todos. A lição de Ésquilo é a de que
todos devem gemer. Ou seja: sofrer para compreender. Honrado
por Aristóteles, cinquenta anos depois de sua morte, como grande
moralista, Ésquilo tornou-se lenda, um símbolo do pensamento
ético. A sua estátua ornava o teatro de Dioniso em Atenas. Poetas,
pensadores e dramaturgos de todos os tempos, como os
modernos Percy Shelley, Karl Marx e Eugene O'Neill usaram as
obras de Ésquilo como motivação de sua própria criatividade.

O teatro de Ésquilo se dirige para as questões universais, para as


questões humanas mais graves, problemas sociais, como a

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natureza da justiça. Escreveu sua obra quando as instituições


políticas da polis (Atenas) ainda não se haviam firmado de todo.
Não havia no teatro de Ésquilo lugar para “aventuras” individuais
como as que Sófocles pôs em seu teatro (Édipo). Seu Prometeu
era um “revoltado” contra o sistema e, como tal, devia ser punido.
Para Ésquilo, o castigo de Prometeu tinha a finalidade de fazê-lo
“retroceder na sua atitude demasiado favorável aos humanos.” Na
tragédia esquiliana, Hefesto, ao aprisioná-lo, embora se sinta
indeciso entre a sua simpatia por um parente e o temor a Zeus, lhe
diz: Pois tu, que és um deus, não só desafias a cólera dos deuses
como ainda deste aos mortais honras indevidas.

BYRON

Ésquilo, contudo, não chegou a fazer de Prometeu, como Hesíodo,


uma

GOETHE
espécie de “promotor” da decadência da humanidade, apenas o
responsável pela vinda de Pandora, a mulher, “o mal tão belo”...
Em Ésquilo, Prometeu assume a sua revolta, bate de frente contra
os deuses (Zeus), os amaldiçoará e anunciará o seu fim, como os

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germânicos o farão com o seu Ragnarok (Crepúsculo dos Deuses).


As correntes humanistas modernas, filósofos e artistas dos séculos
XVIII e XIX, de inspiração romântica, Goethe, Michelet, Byron e
outros, trarão o tema prometeico para o primeiro plano em suas
produções, sempre enfatizando o seu lado “demasiadamente
humano”, progressista e técnico.

Platão, ao se apropriar do mito de Prometeu, esvaziou-o,


rebaixando-o de certo modo, transformando Prometeu, na fala de
Protágoras, num “produto” dos sofistas, patrono do homo faber e
do homo politicus. O mito do titã tem uma dimensão bem maior,
outras implicações, conforme podemos sacá-las das “leituras” que
dele fizeram Hesíodo, Ésquilo e muitos outros.

Platão sempre desvalorizou as técnicas diante do conhecimento


filosófico. Para ele, as classes que compõem o Estado deviam
corresponder às três partes da alma individual. À parte
concupiscente da alma corresponderia a classe dos produtores
(artesãos, comerciantes, agricultores etc.), voltada para a produção
de bens, para os ganhos materiais. A segunda parte da alma, a
irascível, seria a dos guerreiros, valentes e audazes. A parte
racional da alma corresponderia à classe governante, de onde
sairiam os sábios, os únicos que conheciam a verdade e o bem.

APOLO

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Quando Platão proclamou os deveres de um verdadeiro legislador


foi a Apolo

DIONISO
que ele o enviou para se inspirar. Para Platão, é Apolo a divindade
inspiradora das mais importantes, belas e primeiras leis, as que
dizem respeito à fundação dos templos, aos sacrifícios, ao culto
dos deuses, aos heróis, aos antepassados. Apolo, o deus da
aristocracia ateniense, através de seu oráculo, era para Platão o
guia do gênero humano. Platão, lembremos, nos falava disso tudo
num período histórico da Grécia (Atenas) chamado de clássico,
um período que se pretendeu eterno como tantos outros, um
período de esplendor e apogeu, que, como tantos outros, porém,
teve fim, se foi, diante das irrefreáveis forças dionisíacas, no eterno
jogo dialético dos contrários, da construção e da destruição...

Sabemos que Platão, como está em A República, não


considerava a democracia um regime político ideal. O fundamento
da sua doutrina política é moral e religioso. A perfeição moral

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consistia para ele na harmonia das três partes da alma. Cabia à


polis, isto é, ao Estado, a tarefa de fazer com que em cada
indivíduo esta perfeição moral se realizasse. Ele deve ser a
“suprema vontade” a exigir obediência e respeito, sem ser
coercitivo. Assim, o Estado, exemplo de justiça, de beleza e de
bondade, seria uma realização terrena da civitas ideal, uma
antecipação da felicidade celestial. Daí, pois, o Estado para Platão
ser uma entidade dedicada a fins transcendentes. A harmonia
platônica tem, politicamente, bases morais e espirituais e não
materialistas ou econômicas.

A polis grega (Atenas), entre os séculos V e IV aC, tinha por base


três princípios: eleuteria (independência), autonomia (poder
próprio) e (autogestão). Nesse período, esses três princípios
chegaram a um razoável equilíbrio, criando um regime político que
se denominou então de “democracia”, porque a sua proposta era a
da liberdade dos cidadãos e a da eliminação (na realidade, uma
leve atenuação) das diferenças entre as classes sociais.

Teoricamente, falava-se muito em igualdade perante a lei, em


liberdades individuais, em filantropia, traduzindo esta em melhoria
da situação econômica dos segmentos sociais que até então não
haviam tido a mínima representatividade política na polis. Na
teoria, tudo bem, mas na prática é que estavam os problemas, os
insolúveis problemas. A aristocracia grega evidentemente não
implantaria uma política dessa natureza à custa de seu patrimônio
e privilégios. Para tolerar o acesso desses segmentos a níveis
econômicos mais elevados a saída estava na manutenção de uma
política externa agressiva, colonialista, imperialista.

Além do mais, em que pesem as boas intenções dos discursos

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democráticos, para se manter a polis funcionando, era preciso


manter uma população de escravos, destituídos de quaisquer
direitos civis. Para que a aristocracia pudesse se dedicar às coisas
públicas, à vida na “agora”, à política e à arte, não precisando se
envolver com as pesadas tarefas cotidianas, era preciso manter
uma grande estrutura. Os gregos tinham um verbo, politeyesthai,
que significava “tomar parte nos negócios públicos”.
Evidentemente, só quem o conjugava eram os eupátridas, os bem
nascidos. Esse verbo também admitia um outro sentido, muito
simples, “viver”. Ou seja, só quem “vivia” eram os eupátridas, os
que participavam da vida púbica na pólis. Eram aproximadamente
40 mil, 140 mil com os familiares.

O número de escravos precisava, por outro lado, ser ao mesmo


tempo suficientemente grande e limitado para que a aristocracia
não ficasse desservida e para que se afastassem as possibilidades
de sublevações, greves e revoltas, sempre de difícil controle. O
número de escravos, no período mencionado, andou por volta de
250 mil. Se a esse número acrescentarmos o de 70 mil, no qual se
incluem os metecos (estrangeiros), privados da posse de terras e
do direito de casamento com uma ateniense, mais os artesãos
(industriais), comerciantes, professores, artistas, funcionários
públicos de baixa categoria, endividados de todo o gênero,
prisioneiros, todos sem direitos políticos, desprezados pela
aristocracia, teremos números bastante significativos.

Na democracia ateniense dos sécs. V e IV aC, os sofistas


desempenharam um papel importante, pois foram eles que
forçaram a mudança do discurso político sobre o problema moral.
O contacto com outras culturas, com leis e costumes diversos, foi
também um poderoso fator estimulante para que aumentasse a

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participação, na administração pública, de representantes de


alguns segmentos sociais que até então dela nunca haviam feito
parte. Essa participação, inclusive na atividade legislativa,
convenceu os gregos do caráter humano das leis e das instituições
sociais. As antigas leis, de caráter divino e eterno, começam a
mudar. Com os sofistas, as leis, como tudo o mais, são relativas e
são os homens que as estabelecem. São altamente convencionais,
devem ser fixadas através de discussões, debates, acordos.

Não há, por isso, uma verdade objetiva universal válida igualmente
para todos como também não pode haver uma moral verdadeira
para todos. Entenda-se: Moral (mos, moris, em latim, é
etimologicamente vontade de alguém, desejo, capricho) é o
conjunto de valores individuais ou coletivos, considerados
universalmente como norteadores das relações sociais e da
conduta dos homens. Na Filosofia, é cada um dos sistemas
variáveis de leis e valores estudados pela Ética, caracterizados por
organizarem a vida das múltiplas comunidades humanas,
diferenciando e definindo comportamentos proscritos,
desaconselhados, permitidos ou ideais.

Os gregos, lembro, davam o nome de Ethos ao conjunto dos


costumes e hábitos fundamentais, no âmbito do comportamento
(instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideais ou crenças)
característicos de uma determinada coletividade, época ou região.

Platão fez de Prometeu, decididamente, o patrono da


desagregação da antiga ordem social fundamentada nos valores
aristocráticos, apolíneos, um agente dionisíaco, um sofista. Os
novos tempos da democracia ateniense consolidaram o poder do
logos, trazendo ironias ou a indiferença de filósofos com relação
aos mitos e aos poetas.

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Os tempos modernos recuperaram a imagem de Prometeu. A


poesia (Voltaire, Schelling, Herder, Byron), as artes plásticas
(Ticiano, Rubens, Bocklin) e a música (Beethoven, Liszt, Orff)
fizeram dele um símbolo da revolta do pensador ou do artista
criativo contra um destino que o quer esmagar. Culturalmente, o
ocidente, desde o Renascimento, fez dele uma figura de referência
para simbolizar também a sua decidida vontade de “roubar” os
segredos do Universo, do Céu e da Terra (antes só ao alcance da
aristocracia), para colocá-los, a altíssimo preço, ao alcance de
todos; uma vontade que parece não conhecer limites.

É por essa razão que alguns denominaram o período em que os


sofistas atuaram na filosofia grega de o do “iluminismo grego”,
numa clara referência ao movimento que no final do séc. XVIII
procurou, através da Enciclopédia, fazer um quadro geral de todos

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os esforços do espírito humano, nele se dando um grande espaço


à técnica, às artes mecânicas e aos ofícios, para enfatizar a
dignidade do técnico, do artesão, e sua utilidade social.

Prometeu é hoje, sem dúvida, o herói dos tempos modernos.


Somos, em grande parte, o resultado dessa grande “ideia” grega,
que atravessou séculos, uma ideia instigante, transformadora, e,
ao mesmo tempo, causadora de muitas angústias e sofrimentos. O
fogo que Prometeu deu aos humanos vem lhes proporcionando
importantes conquistas e, ao mesmo tempo, muitas perdas e
derrotas.

ADÃO E EVA (DÜRER)


O mito de Prometeu representa, segundo uma perspectiva
evolutiva da história do ser humano, o despertar da consciência.
Do ponto de vista divino, porém, uma queda, como a
representaram, por exemplo, os poetas bíblicos quando nos
descreveram o episódio em que Adão e Eva, por terem comido o
fruto da árvore da ciência (figueira), foram expulsos do Paraíso.
Recordemos que foi no galho oco de uma figueira, nele escondido,
que Prometeu trouxe o fogo dos céus. A figueira (ficus religiosa) é
a árvore do fogo, consagrada na Grécia a Palas Athena e a
Hefesto, divindades ligadas às artes técnicas (*).

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FICUS RELIGIOSA
Muitas são as interpretações do tema prometeico. Uma delas,
muito sugestiva, irônica, completa, fechada, esquecida (porque
ninguém hoje lê mais poesias), foi a que encontrei em Murilo
Mendes, poeta brasileiro (1901-1975), retirada do seu livro O
Visionário. Intitula-se o poema Novíssimo Prometeu:

“Eu quis acender o espírito da vida,


Quis refundir meu espírito molde,
Quis conhecer a verdade dos seres, dos elementos;
Me rebelei contra Deus,
Contra o papa, os banqueiros, a escola antiga,

MURILO MENDES (ISMAEL NERY)


Contra minha família, contra meu amor,
Depois contra o trabalho,
Depois contra a preguiça,
Depois contra mim mesmo,

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Contra minhas três dimensões:


Então o ditador do mundo
Mandou me prender no Pão de Açúcar:
Vêm esquadrilhas de aviões
Bicar meu pobre fígado,
Vomito bílis em quantidade,
Contemplo lá embaixo as filhas do mar
Vestidas de maiô, cantando sambas,
Vejo madrugadas e tardes nascerem
- Pureza e simplicidade da vida! –
Mas não posso pedir perdão.”

(*) – Ashavattha, em sânscrito, era o nome que na antiguidade


védica se dava à “ficus religiosa”, grande árvore de raízes aéreas.
Já era usada como símbolo religioso em Mohenjo Daro e Harappa
(3.000 aC), cidades do vale do rio Indus, em ruínas quando as
tribos árias chegaram à região por vontade de 2.000 aC.

Duas etimologias podem ser estabelecidas para a palavra: 1) tha,


em sânscrito, quer dizer permanecer, ficar; ashva é cavalo. Ou
seja, a “árvore sob a qual os cavalos se aquietam”. Liga-se o nome
na Astrologia védica (Jyotish) ao signo de Mithuna (Gêmeos). Os
Gêmeos, na Índia, têm o nome de Ashwins (Castor e Polideuces,
os Dioscuros na mitologia grega) e são as divindades que fazem
nos céus a transição das trevas noturnas para a luz, antecedendo
o Sol (Surya). Este, como símbolo da vida consciente no ser
humano, deve caminhar em direção do Brahman (O Todo)
espiritualmente.

Com os Ashwins vem Ushas, a deusa da Aurora (Eos entre os


gregos). Os Ashwins são deuses cavaleiros, têm domínio completo
de sua montaria e exercem diversas funções no mito, dentre elas a

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arte médica. São divindades curadoras, pois controlam os cavalos,


símbolo do psiquismo inconsciente.

A segunda etimologia se compõe de a, partícula que indica


negatividade em sânscrito; de shwa, que quer dizer amanhã; e de
“tha”, que quer dizer permanecer, ficar. “Ashavattha” significaria,
pois, aquilo que nunca permenece o mesmo de um dia para o
outro, isto é, o transitório. Na filosofia hinduísta (darshanas),
ashavattha é o mundo fenomênico, perecível, aquilo que dura
muito pouco, o mundo de Maya, o mutável, o instável, “o que não
permanece o mesmo de hoje para amanhã.”

Na tradição hinduísta, principalmente nos Upanishads e no poema


Bhagavad Gita (integrado ao épico Mahabharata), ashavattha é a
árvore invertida que se identifica com o eixo do mundo (axis mundi)
que une o céu e a terra, por onde se espalha a sua ramagem, uma
imagem das escrituras sagradas, os Vedas.

No Budismo, a árvore tem o nome de “pippal”. A iluminação do


príncipe Sidarta Gautama, que o transformou em Buda, ocorreu
numa Lua cheia do mês de maio. Sentado sob a figueira, em Bodhi
Gaya, perto do Nepal, o príncipe “aquietou os seus cavalos” e
recebeu o apelido de Buda, o Iluminado.

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A ÁVORE DE BUDA

Em muitos lugares da Índia, a grande figueira é conhecida também


pelo nome de banian (ficus indica ou ficus bengalensis), símbolo
do conhecimento superior e da imortalidade. Confunde-se ela com
o deus Vishnu, a segunda pessoa da trindade (trimurti) hinduísta,
que tem tantos nomes quantos galhos tem a figueira sagrada. Os
vishnuístas a adoram, sendo ela muito encontrada na vizinhança
dos templos. Ainda hoje, em muitas cidades do interior da Índia, há
um banian sagrado; seus galhos pendentes em direção da terra
dão nascimento a novos troncos e é no seu cruzamento que os
templos e lugares sagrados de repouso são construídos.

A figueira, na tradição cristã, tornou-se a árvore do mal,


simbolizabdo a sinagoga, que não reconheceu Cristo, e todas as
doutrinas heréticas. A tradição medieval cristã aproximava o verbo
peccare (pecar) da palavra hebraica pag, figo. Em quase todas as
tradições, porém, como na indo-mediterrânea, a figueira sempre
apareceu associada a ritos de fecundação, as divindades fálicas,
como Dioniso, Príapo e outras.

Considerada como a árvore da abundância, da fecundidade


perigosa, descontrolada, aparece na Bíblia como a árvore da
ciência. Por isso, ao comer os seus frutos, Adão e Eva foram
expulsos do paraíso. Ciência, fígado e fogo se equivalem neste
contexto semântico.

Prometeu rouba o fogo dos céus e o esconde no galho oco de uma


figueira, entregando-o depois aos humanos. Por isso, como
punição terá o seu fígado (ficatum), órgão do corpo humano que se
regenera, destruído e recomposto alternadamente.

Ter um bom fígado, como registram nossos dicionários, é

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expressão usada para descrever uma pessoa corajosa, intrépida,


sem temor, características sempre associadas ao fogo. A palavra
ficatum, em latim, lembre-se, designava o fígado de ave engordada
com figos. Encontramos também o adjetivo figadal, aquilo que é
próprio do fígado, para designar um sentimento alimentado nas
vísceras, um sentimento rancoroso, invejoso, profundo. Seria este
o caso de Prometeu, um invejoso dos olímpicos?

O nome Prometeu, etimologicamente “o que sabe antes”, pode ser


relacionado também com o verbo manthanein, que tem ligação
com a produção do fogo pelo atrito de dois pequenos bastões de
madeira, símbolos, na Astrologia ocidental, do signo de Gêmeos,
do elemento ar, ligado à vida mental. Na língua sânscrita, o
substantivo manthini designa o ato de se girar um bastão, tanto
para produzir o fogo como a manteiga. Já se levantou a hipótese
que Prometeu seria o modelo grego dos sacerdotes do deus Agni,
uma das três grandes divindades do fogo no mundo védico (Surya
e Indra são as outras).

O DEUS AGNI

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