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1 Departamento de Abstract A methodological approach to infant mortality estimation in Brazil based on vital in-
Informações em Saúde,
formation provided by Ministry of Health systems is presented. The study evaluated the available
Centro de Informação
Científica e Tecnológica, data to establish criteria for identifying municipalities with serious data deficiencies, proposing
Fundação Oswaldo Cruz. an adequacy index. All municipalities were classified in strata according to geographic region
Av. Brasil 4365,
and adequacy of information. To estimate infant mortality by macro-geographic region, in 1998,
RJ 21045-900, Brasil.
celials@cict.fiocruz.br direct calculation was performed in strata with adequate information. The United Nations mod-
pborges1@brfree.com.br el was used in the other geographic strata. The Brazilian North presented the most deficient in-
2 Departamento de
formation, with 63% of the municipalities presenting inadequate reporting (35% of the regional
Epidemiologia e Métodos
Quantitativos em Saúde, population), followed by the Northeast (29% of the population). In the South, only 1% of the
Escola Nacional de Saúde population showed inadequate information. For the whole country, 12% of the population pre-
Pública, Fundação Oswaldo
Cruz. Rua Leopoldo Bulhões
sented serious problems in completeness of death reports. The adequacy index varied from -28%
1480, Rio de Janeiro, RJ in Maranhão to 94% in Rio de Janeiro. The infant mortality rate was estimated in the interval
21041-210, Brasil. 30.7-32.6 per 1,000 live births and the completeness of infant deaths from 61.8% to 65.6%.
duca@ensp.fiocruz.br
Key words Infant Mortality; Mortality Rate; Information Systems; Underregistration
dade adequada. Devido ao fato das taxas apre- na cobertura das informações de mortalidade
sentadas estarem superestimando os valores (Becker, 1991).
do coeficiente de mortalidade infantil, em de-
corrência do procedimento metodológico em- b) Desvio médio do coeficiente geral
pregado, as estimativas têm causado reações de mortalidade no período 1996-1998
negativas e de desestímulo aos profissionais de
saúde que vêm desenvolvendo ações especifi- Sabendo-se que não há grandes alterações no
camente dirigidas à diminuição dos óbitos in- coeficiente geral de mortalidade de uma popu-
fantis (ABRASCO, 2001). lação em um período curto de três anos, este
Recentemente, o MS tem estimulado o de- indicador pode ser utilizado para avaliar a re-
bate sobre a forma mais adequada de estimar a gularidade das informações de óbitos.
mortalidade infantil no país. O presente traba- Na presente análise, foram calculados, pri-
lho tem por objetivo propor uma proposta me- meiramente, os coeficientes gerais de mortali-
todológica para a estimação deste indicador dade para os municípios brasileiros, referentes
mediante a utilização das informações do SIM aos anos de 1996, 1997 e 1998. A seguir, foi cal-
e do SINASC. Parte-se do princípio de que nos culada a média aritmética dos coeficientes. O
locais para os quais a cobertura dos sistemas desvio médio foi, então, definido como a mé-
de informação é adequada, a mortalidade in- dia aritmética dos valores absolutos dos des-
fantil deve ser calculada de forma direta. vios do CGM, em cada ano, em relação à mé-
dia. Matematicamente, é expresso por:
pectiva região. A mortalidade infantil para o do IBGE, a cobertura de óbitos infantis nesse
Brasil foi estimada, por sua vez, como média estado teria diminuído em 20%. Da mesma for-
ponderada das estimativas regionais, tendo co- ma, em São Paulo, estado que, reconhecidamen-
mo ponderações, desta feita, o número estima- te, tem um dos melhores sistemas de informa-
do de nascidos vivos para 1998. ções do país, a cobertura estimada, em 1997, é
de 92%, porém decresce para 82%, em 1998.
Observando as estimativas de cobertura de
Inconsistências das estimativas do IBGE óbitos infantis para as demais UF, percebe-se
outras incoerências (Tabela 2). A título de exem-
A apreciação das estimativas oficiais da morta- plificação, estado como Amapá, onde mais de
lidade infantil no Brasil, fornecidas pelo IBGE, 20% da população apresenta grande precarie-
junto à análise das informações de nascimen- dade na informação de óbitos (ver seção seguin-
tos e óbitos dos sistemas do MS, mostra incon- te), tem, de acordo com as estimativas do IBGE,
sistências importantes nas estimativas realiza- cobertura superior ao Estado de São Paulo.
das por mensuração indireta, que merecem ser A análise que conjuga a estimativa do Esta-
destacadas. do do Amazonas e a estimativa no município
Na Tabela 1, apresentam-se as estimativas da capital, para o ano de 1998, aponta também
das coberturas de óbitos infantis informados para incorreções nas estimativas por mensura-
pelo SIM, obtidas pelo IBGE, para o período ção indireta. A taxa de mortalidade infantil em
1996-1998, por Grande Região. Observa-se au- Manaus foi estimada em 38,4 por 1.000 NV, e
mento das coberturas nas regiões Norte e Nor- no Estado do Amazonas em 33,1 por 1.000 NV,
deste. Porém, de acordo com essas estimativas, o que levaria a uma estimativa de 28,4 por 1.000
na Região Sudeste, a cobertura de óbitos infan- no interior do estado, evidentemente muito in-
tis teria decrescido de 94%, em 1996, para 81%, ferior à esperada para o padrão de desenvolvi-
em 1998. Tratando-se de uma região que tem mento do interior do Estado do Amazonas.
apresentado, historicamente, regularidade das A comparação das estimativas municipais,
informações de registro, é difícil de acreditar obtidas por mensuração indireta pelo IBGE com
que a subenumeração de óbitos tenha, de fato, os coeficientes de mortalidade infantil calcula-
aumentado de 6% para 19%, nos três anos con- dos pelo método direto nas capitais brasileiras
siderados. mostra, igualmente, disparidades relevantes
Analisando, por sua vez, as estimativas das ( Tabela 3). Chama a atenção, por exemplo, a
coberturas segundo as UF que compõem as re- estimativa fornecida pelo IBGE para Recife. Se
giões Sul e Sudeste, as incoerências são ainda correta, a estimativa da mortalidade infantil,
mais acentuadas (Tabela 2). Por exemplo, a co- calculada em 38 por 1.000 NV, estaria indican-
bertura de óbitos infantis, estimada pelo IBGE, do um sub-registro de óbitos infantis de mais
para o Estado do Rio de Janeiro, em 1997, é su- de 70% nesse município. De maneira similar, a
perior a 100% (de 110%), mas decresce para estimativa da mortalidade infantil em Curitiba
89%, em 1998. Ou seja, segundo as estimativas estaria apontando para uma cobertura de óbi-
Tabela 1
Tabela 2 Tabela 3
Coberturas (%) dos óbitos infantis informados no Coeficientes de mortalidade infantil calculados
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do pelo método direto e estimados pela Fundação
Ministério da Saúde (MS), e estimadas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos municípios das capitais. Brasil, 1998.
por Unidade da Federação. Brasil, 1997-1998.
Município Mortalidade infantil
Unidade da Cobertura (%) (por 1.000 nascidos vivos)
Federação 1997 1998 Método Estimada
direto1 pelo IBGE2
Rondônia 63,6 67,4
Porto Velho 31,9 26,1
Acre 55,6 81,8
Rio Branco 31,3 46,0
Amazonas 57,4 64,2
Manaus 35,1 38,4
Roraima 47,2 56,5
Boa Vista 19,2 29,8
Pará 39,8 47,4
Belém 30,4 29,8
Amapá 93,5 87,3
Macapá 24,1 25,2
Tocantins 49,8 55,1
Palmas 24,2 28,8
Maranhão 13,6 20,3
São Luís 22,7 45,5
Piauí 17,1 20,4
Teresina 18,0 30,3
Ceará 40,4 40,0
Fortaleza 31,1 51,1
Rio Grande do Norte 33,8 36,7
Natal 17,9 44,7
Paraíba 30,1 23,8
João Pessoa 16,8 46,3
Pernambuco 52,0 52,0
Recife 21,6 38,0
Alagoas 31,2 55,8
Maceió 47,2 53,2
Sergipe 47,2 62,0
Aracaju 28,9 42,9
Bahia 31,1 37,1
Salvador 25,7 31,3
Minas Gerais 75,5 73,6
Belo Horizonte 20,6 30,4
Espírito Santo 69,0 74,5
Vitória 15,0 25,6
Rio de Janeiro 109,7 89,3
Rio de Janeiro 18,2 24,8
São Paulo 92,4 81,9
São Paulo 18,8 20,9
Paraná 69,4 76,8
Curitiba 16,6 22,5
Santa Catarina 74,4 74,0
Florianópolis 13,9 19,7
Rio Grande do Sul 83,4 87,9
Porto Alegre 16,4 21,3
Mato Grosso do Sul 97,7 98,6
Campo Grande 18,8 19,3
Mato Grosso 58,1 64,4
Cuiabá 21,0 21,6
Goiás 70,7 71,3
Goiânia 19,9 24,3
Distrito Federal 82,4 72,2
Brasília 16,4 23,2
Brasil 55,1 57,3
Fonte: 1 DATASUS (2001); 2 Simões (1999).
Fonte: DATASUS (2001).
tos infantis de apenas 74%, menor do que a en- O que dizem as informações de óbitos
contrada nos Estados do Amapá e Acre. e nascimentos do Ministério da Saúde
É importante destacar que muitas dessas
cidades têm regularidade das informações de Após a análise das fontes de informações de
registro de óbitos e são predominantemente nascimentos e óbitos do MS, os municípios de
urbanas. As grandes proporções de sub-regis- cada UF foram agregados segundo a categoria
tro, estimadas com valores maiores do que 20% de adequação das informações (Tabela 4). Veri-
em grande parte dos municípios analisados, su- fica-se que a Região Norte é a que possui as
gerem falhas nos procedimentos metodológi- maiores deficiências na cobertura das informa-
cos utilizados para obtenção das estimativas ções de óbitos. Do total de municípios da re-
por parte do IBGE, e apontam que a mortalida- gião, 63% têm registro inadequado de óbitos,
de infantil deve ser calculada pelo método di- constituindo, aproximadamente, 35% da popu-
reto, nos locais onde houver adequação das in- lação total. A Região Nordeste, embora com si-
formações de nascimento e óbitos. tuação um pouco melhor, também revela gran-
de precariedade das informações de óbitos. Do
total de municípios da região, 53% apresentam
Tabela 4
Mato Grosso do Sul 61,1 23,4 37,1 66,2 1,8 10,4 77,9
Mato Grosso 30,0 8,7 59,6 63,5 10,5 27,8 49,3
Goiás 45,0 6,2 50,1 70,3 4,9 23,6 65,2
Distrito Federal 100,0 100,0 0,0 0,0 0,0 0,0 100,0
Centro-Oeste 54,4 10,1 41,0 67,5 4,7 22,4 70,2
Tabela 5
Estimativas da mortalidade infantil por aplicação do modelo da Organização das Nações Unidas (ONU)
nos estratos compostos por municípios classificados na Categoria I. Brasil, 1998.
Tabela 6
Estimativas da mortalidade infantil nos estratos considerados segundo o método utilizado. Brasil, 1998.
* Métodos: (1) Cálculo direto; (2) Modelo da Organização das Nações Unidas (ONU) – sub-registro constante
para 1 ano e mais de idade; (3) Modelo da ONU – sub-registro diferenciado por grupo etário (< 1 ano, 1-4 anos,
5 anos e mais); cálculo baseado nas estimativas de sub-registro encontradas nos grupos 0-4 anos e 5 anos e mais;
(4) Modelo da ONU – sub-registro diferenciado por grupo etário (< 1 ano, 1-4 anos, 5 anos e mais); cálculo baseado
nas estimativas de sub-registros encontradas nos grupos 1-4 anos e 5 anos e mais.
talidade infantil obtidas pelo modelo da ONU estimativas regionais. Utilizando esse procedi-
nos estratos da Região Nordeste. Já para obten- mento metodológico, a mortalidade infantil
ção do limite superior da estimativa, a mortali- para o Brasil foi estimada dentro do intervalo
dade infantil foi ajustada pelo modelo da ONU 30,7-32,6 por 1.000 NV (Tabela 7).
em todos os estratos regionais, além de se con- Em relação à cobertura das informações de
siderar os valores superiores da estimativa da óbitos infantis, a região que demonstra o maior
mortalidade infantil nos estratos da Região sub-registro é a Nordeste, seguindo-se da Re-
Nordeste. gião Norte. Na totalidade do Brasil, a estimati-
A mortalidade infantil para o Brasil foi esti- va da cobertura de óbitos infantis variou de
mada, por sua vez, como média ponderada das 61,8% a 65,6% (Tabela 7).
Tabela 7
Estimativas da mortalidade infantil e da cobertura de óbitos infantis por Grande Região. Brasil, 1998.
Norte, Nordeste e Centro-Oeste para os quais é cia das estimativas obtidas por aplicação do
possível calcular a mortalidade infantil pelo modelo da ONU, quando comparadas às obti-
método direto. Por outro lado, a análise da re- das pelo método direto nos locais com cobertu-
gularidade temporal das informações chama a ra satisfatória das estatísticas vitais, sugere que
atenção para a ampliação da cobertura dos sis- o vetor-padrão foi adequado. Variações maio-
temas de informação em diversas áreas do país. res foram provenientes dos pressupostos a cer-
No que se refere ao SINASC, a cobertura tem ca do comportamento do sub-registro de óbi-
aumentado, nitidamente, e no que diz respeito tos por idade, na Região Nordeste, onde a hi-
ao SIM, vários municípios já têm incorporado pótese de sub-registro constante por idade foi
as informações provenientes do Sistema de In- rejeitada. No estrato composto por municípios
formações de Ações Básicas (SIAB). Sendo as- localizados nessa região e classificados na Ca-
sim, pressupostos de sub-registros constantes tegoria III, a estimativa variou de 74 a 82 por
no tempo não podem (e não devem) ser assu- 1.000 NV, dependendo da suposição assumida.
midos como verdadeiros. É importante destacar que nos locais onde
Em relação ao método utilizado para corri- a precariedade das informações de registro é
gir a mortalidade infantil nos locais com defi- muito grande, outros métodos baseados em
ciências na notificação das informações vitais, pesquisas locais são mais adequados. Nesse
optou-se pelo modelo da ONU, por ter a vanta- sentido, o MS tem dirigido esforços para inte-
gem de ajustar a curva completa da mortalida- grar as informações do SIM e do SIAB, e para a
de por idade, e por ter sido utilizado, anterior- realização de pesquisas de busca ativa de óbi-
mente, para ajustar esses dados no Brasil, com tos nos locais com grandes deficiências de re-
bons resultados (Szwarcwald & Castilho, 1995). gistro.
O procedimento consiste em ajustar a curva de Tendo em vista que por mais robustos que
mortalidade por idade a um modelo-padrão sejam os métodos utilizados, erros provenien-
por intermédio da estimação de dois parâme- tes de pressupostos não verdadeiros, de mode-
tros de uma regressão linear que expressam, lagem matemática e de amostragem conduzem
respectivamente, o nível de mortalidade e a re- a variações consideráveis nas estimativas resul-
lação entre a mortalidade na infância e a adul- tantes, conclui-se, este trabalho, relevando-se,
ta. A partir de pressupostos sobre o comporta- uma vez mais, a importância da análise conti-
mento do sub-registro de óbitos por idade, foi nuada das informações de nascimentos e óbi-
possível a sua aplicação para os estratos regio- tos, no sentido de contribuir à melhoria dos
nais com precariedade das informações vitais. nossos sistemas de informação, para que, em
A maior fonte de erro nas estimativas obti- futuro próximo, a mortalidade infantil possa
das por esse procedimento está na escolha do ser avaliada de forma direta em todo o territó-
vetor-padrão. Na presente análise, a consistên- rio nacional.
Agradecimentos
Referências