REVOLUCIONÁRIA: UM ESTUDO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE REVOLUÇÃO E CIÊNCIA EM LENIN E KROPOTKIN Oliveira, Mateus Tuzzin de.1(IC); Almeida, Francis Moraes de.1(O) 1 Departamento de Ciências Sociais, Universidade Federal de Santa Maria;
A passagem do século XIX ao XX no mundo ocidental em geral, e em especial no
continente europeu, assinalou um período de profundas e significativas transformações sociais na história humana, marcado por conflitos de classe e modificações na estrutura do Estado capitalista moderno. A sociedade burguesa de fins do século na Europa, convulsionada pelas crises econômicas em escala global do último quartel e a entrada do capitalismo na fase monopolista, viu sua concepção de mundo hegemônica – do irrestrito livre mercado, da iniciativa privada, do individualismo e do progresso – cair em decadência, anunciando a emergência de novas condições histórico-sociais que favoreceriam, nos estertores da centúria, o surgimento de movimentos sociais organizados, sindicatos e partidos operários de massa. Anarquistas e marxistas envolveram-se ao longo das décadas de transição de um século a outro em clamorosas polêmicas sobre a direção a ser conferida aos movimentos da classe operária face ao aparato do Estado burguês. Acerca das relações estabelecidas entre o conceito de ciência e as táticas de revolução social, no pensamento de representantes selecionados de ambas as vertentes no período, é que se propôs empreender a investigação. Dentre todas as proximidades e/ou dessemelhanças que pudessem unir e/ou separar Kropotkin e Lenin, permanece em aberto a questão de saber até onde e de que modo foram capazes de alinhar uma determinada concepção de ciência com uma ideia respectiva de revolução social. Com efeito, se por um lado identificam-se como expoentes de doutrinas anticlericais e, em alguns casos extremos, como o marxismo da época da segunda Internacional, notadamente cientificistas, por outro divergem quanto às estratégias econômicas e políticas que possuiriam capacidade de concretizar seus projetos revolucionários. Isso significa que a questão do relacionamento entre teoria e prática, pensamento e ação, ciência e valor foi pensada diferentemente pelos dois. Por isso, a constatação da divergência em meio às similaridades motivou a elaboração do seguinte problema de pesquisa, a fim de nortear a investigação empreendida: durante os anos da segunda Internacional (1889-1916), quais foram as relações existentes entre as concepções de ciência e revolução em Lenin e Kropotkin? A partir de tal problema, resolveu-se indicar como objetivo geral da pesquisa contribuir para elucidar a natureza das relações entre ciência e revolução no pensamento marxista e anarquista ao longo das décadas de passagem do século XIX ao XX, valendo-se do emprego de técnicas de pesquisa para a decodificação do material empírico selecionado para análise (obras dos pensadores) como o uso da análise de argumentação como uma forma de análise de conteúdo avançada. Os resultados parciais, à medida que prossegue a investigação, têm apontado na direção de confirmação de algumas hipóteses originariamente lançadas para a pesquisa, tais como: a) Lenin apresenta uma concepção da relação entre ciência e revolução mais ligada à realidade histórico-social russa que Kropotkin e b) o marxismo de Lenin e o anarquismo de Kropotkin não estiveram equidistantes do evolucionismo darwinista. Contudo, permanecem em aberto questões teóricas diversas ainda não elucidadas no processo de pesquisa, que não pode pretender esgotar a realidade subjacente ao tema eleito para investigação, senão apenas fornecer uma interpretação particular da realidade estudada.
XXX Jornada Acadêmica Integrada - JAI
Universidade Federal de Santa Mara, 19 e 23 de Outubro de 2015