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22 - Proposta de Paz
amizade. Ou, como diz o historiador Arnold econômicas, trabalhamos para manter
Toynbee J. (1889-1975), “Tais vislumbres do abertas as vias de diálogo e de
mundo real são esboços de valor comunicação, esforço que já atravessa
inestimável”.23 gerações.
1. A proteção dos direitos humanos dos garantidos por ele é a fonte do sofrimento
desabrigados e migrantes internacionais; de pessoas desalojadas.
Em primeiro lugar, as preocupações da Por isto mesmo, ele insistiu que devemos ir
gravidade do seu impacto – exatamente o além da proibição dessas armas e rejeitar a
que são capazes de ocultar lógica do temor à retaliação nuclear, que
imediatamente. se baseia na disposição de sacrificar a vida
de um grande número de pessoas. Esta é a
Fiquei impressionado com as seguintes solução fundamental para a ameaça das
palavras contidas no relatório e resumo armas de destruição em massa e deve ser
das conclusões da Conferência de Viena: buscada em nome do direito de viver de
todos os povos do mundo.
Como no caso da tortura, que degrada a
humanidade e é inaceitável por todos, o O Dr. Joseph Rotblat (1908–2005), de
sofrimento causado pelo uso de armas notável desempenho nas Conferências
nucleares não é apenas uma questão legal: Pugwash – estabelecidas em 1957, ano em
necessita de avaliação ética.37 que o presidente Toda fez a sua
declaração –, certa vez me fez esta
Este apelo repercute na declaração de confidência:
meu mestre, Josei Toda, pedindo a
abolição das armas nucleares, proferida — Há duas maneiras de abordar as armas
em setembro de 1957, num período em nucleares. Uma delas é a legal e a outra, a
que cresciam as tensões da Guerra Fria e abordagem ética. O Sr. Toda, como pessoa
acelerava-se a corrida armamentista religiosa, adotou a última.39
nuclear:
Há uma proibição absoluta contra a tortura,
Mesmo que neste momento cresça no considerada injustificável em quaisquer
mundo inteiro o movimento para abolir os circunstâncias. Da mesma forma, é
testes nucleares, o meu desejo é atacar o chegado o momento de desafiar as armas
problema pela raiz: cortar as garras ocultas nucleares do ponto de vista ético.
podem ser ameaçados por um ataque entre países, a ameaça de uso como
nuclear. Apesar destas preocupações, a premissa da dissuasão nuclear continua a
prioridade deve ser a de remover gerar tensões militares que envolvem
gradualmente as causas inerentes de grande número de países.
tensões e trabalhar para criar condições
em que a resposta com a ameaça de Os Estados com armas nucleares e seus
armas atômicas não seja mais vista como aliados são obcecados pelo sigilo e a
única opção. segurança para proteger informações
confidenciais sobre os seus arsenais. Ao
Conforme estabelece o Parecer Consultivo mesmo tempo, as nações ameaçadas
do Tribunal Internacional de Justiça de pelas que possuem as armas cruéis tratam
1996, não apenas a utilização de armas de fabricar as suas próprias bombas
nucleares, mas também a ameaça de uso atômicas e ganhar a expansão militar. O
seria considerada ilegal. mínimo que esta espiral exige é uma séria
reflexão sobre a ação militar preventiva.
O juiz Ferrari Bravo, em Declaração anexa
ao Parecer Consultivo, comentou que “o Os partidários do temor à retaliação o
abismo que separa o artigo 2, parágrafo 4, defendem como a chave para a prevenção
do artigo 51 [da Carta das Nações Unidas] do uso dessas armas. Mas quando se faz a
alargou-se, como resultado do grande avaliação da natureza cruel das armas
obstáculo da dissuasão lançado nele”.45 atômicas e se expandem as suas
De tal sorte, a continuidade da política de implicações da vida na era nuclear e a
temor à retaliação transformou a enormidade da carga imposta ao mundo, o
compreensão e a prática do direito à resultado destas políticas torna-se
autodefesa, da maneira como foi dolorosamente claro.
originalmente concebido pelos autores da
Carta. Embora o artigo 2, parágrafo 4, O fato de que as armas nucleares não
estabeleça que a ameaça ou o uso da tenham sido usadas em tempo de guerra
força são, a princípio, ilegais, a existência desde os bombardeios de Hiroshima e
de armas nucleares fez necessária a Nagasaki deve ser atribuído mais ao peso
criação de planos contínuos para a legítima da responsabilidade no devastador
defesa individual ou coletiva, que estão impacto humano de seu uso do que a
definidos nos termos do artigo 51 como qualquer efeito de dissuadi-lo. Os países
medida temporária a ser tomada até que o que não estão sob a proteção de um
Conselho de Segurança esteja pronto para guarda-chuva nuclear nunca foram
agir. Assim, o que era para ser uma medida submetidos à ameaça de um ataque
excepcional, tornou-se prática regular, atômico. É o peso moral da promessa de
subvertendo a intenção da Carta. renunciar à opção nuclear – por exemplo,
o estabelecimento de Zonas Livres de
Mesmo após o fim da Guerra Fria, esta Armas Nucleares (NWFZ), a recusa dos
irregularidade permanece. Sem qualquer países a coletivamente buscar o
confronto armado ou mesmo hostilidade armamento atômico – que tem uma clara