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Empreendedor
sobre Segurança
de Barragens
Diretrizes para a
Elaboração de Projeto
de Barragens
Volume
V
Diretrizes para a
Elaboração de Projeto
de Barragens
Volume
V
República Federativa do Brasil
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Vice-Presidente da República no Exercício do Cargo de Presidente da República
Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor-Presidente)
Paulo Lopes Varella Neto
João Gilberto Lotufo Conejo
Gisela Damm Forattini
Ney Maranhão
Secretaria-Geral (SGE)
Mayui Vieira Guimarães Scafura
Procuradoria-Federal (PF/ANA)
Emiliano Ribeiro de Souza
Corregedoria (COR)
Elmar Luis Kichel
Brasília – DF
ANA
2016
© 2016, Agência Nacional de Águas (ANA).
Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T.
CEP 70610-200, Brasília, DF
PABX: (61) 2109 5400 / (61) 2109-5252
www.ana.gov.br
Foto de capa:
UHE Barra Grande / Anita Garibaldi (SC) e
Pinhal da Serra (RS)
Crédito: Baesa / Banco de Imagens da ANA
CDU 627.82
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Modelo geológico 2D de uma barragem de concreto gravidade (Barragem de
Ribeiradio, Portugal). 30
Figura 2. Mapa de risco sísmico na América do Sul. Aceleração máxima na rocha com a
probabilidade de 90% de não ser excedida, para um período de 50 anos. 32
Figura 3. Estruturas do sistema de desvio de rio por túnel. UHE Campos Novos, SC. 36
Figura 4. Desvio do rio por canal lateral na região do vertedor, associado a túnel de
desvio. UHE Monte Claro, RS. 37
Figura 5. Desvio do rio feito em uma única fase. Construção das estruturas definitivas e
galerias de desvio, a seco. UHE Salto, GO. 37
Figura 6. Desvio do rio feito em uma única fase. Desvio do rio feito pelas galerias de
desvio. Leito ensecado com as ensecadeiras de montante e de jusante UHE
Salto, GO. 38
Figura 7. Desvio do rio em diversas fases. Escavação do canal de desvio na ombreira
direita. UHE Baixo Iguaçu, PR. 39
Figura 8. Desvio do rio em diversas fases. 1ª Fase. Desvio pelo leito estrangulado e
canal lateral. UHE Baixo Iguaçu, PR. 39
Figura 9. Desvio do rio em diversas fases. 2ª Fase. Desvio pelo vertedor, com uso de
ensecadeira incorporada de montante e de jusante. UHE Baixo Iguaçu, PR. 40
Figura 10. Seção típica de uma barragem de terra homogênea. Barragem de Ponte Nova, SP. 52
Figura 11. Seção típica de uma barragem de terra zonada. Barragem de Três Marias, MG
– seção no leito do rio. 53
Figura 12. Seção típica de uma barragem de terra – enrocamento. 54
Figura 13. Seção típica de uma barragem de enrocamento com face de concreto.
Barragem de Xingó, SE/AL. 55
Figura 14. Análise de percolação em regime permanente pelo método dos elementos
finitos (linhas equipotenciais). 67
Figura 15. Análise de estabilidade pelo método de Bishop Modificado. Situação de
percolação estável. 73
Figura 16. Análise de tensões deformações. Modelação do primeiro enchimento do
reservatório. Deslocamentos horizontais. 75
Figura 17. Designação das zonas de uma barragem de enrocamento com face de concreto. 79
Figura 18. Construção da borda do talude de montante com material 2A. 82
Figura 19. Seção da laje do plinto de montante e jusante (interno). 85
Figura 20. Junta perimetral. Conceito de múltipla proteção. Barragem de Salvajina, Colômbia. 86
Figura 21. Junta perimetral. Utilização de cinza volante em alternativa ao mastique.
Barragem de Aguamilpa, México. 87
Figura 22. Juntas verticais: A) Campos Novos, área central (zona de compressão);
B) Barra Grande, RS/SC, ombreiras (zona de tensão). 89
Figura 23. Detalhe do muro da crista e da junta de expansão no contato laje-fundação
do muro da barragem de Barra Grande, RS/SC. 90
Figura 24. Barragem do Castelo do Bode, Portugal (arco-gravidade com 115 m de altura
máxima, concluída em 1951). 92
Figura 25. Barragem da Aguieira, Portugal (arcos múltiplos de grandes vãos de dupla
curvatura, com 89 m de altura máxima, concluída em 1981). 93
Figura 26. Barragem de Fratel, Portugal (barragem de soleira vertente, com 43 m de
altura máxima, concluída em 1973). 94
Figura 27. Modelos de elementos finitos e modelos físicos utilizados nos estudos do
comportamento de uma barragem em arco. 103
Segurança da Barragem, no
rantir a segurança das obras
Instruções para qual se apresenta um modelo
Apresentação do
Plano de Segurança durante e após a construção.
padrão e respectivas instru-
da Barragem
Volume
I
ções para elaboração do • Volume VII – Diretrizes para a
Manual do
Elaboração do Plano de
Empreendedor
Instrumentação de Barragens,
Plano de Operação,
Manutenção e
Instrumentação de
VII
no qual se estabelecem pro-
Volume
Orientação e Formulários
Manual do
Empreendedor
Periódica de Segurança de
sobre Segurança
de Barragens
Orientação e Formulários
de Barragens
de terra.
Guia de Orientação dos Planos de Ação de
Observa-se que o volume destacado se refere ao
e Formulários do
Plano de Ação de
Volume
IV assunto desenvolvido no presente documento.
se apresentam o conteúdo e
organização de um PAE. Os guias devem ser entendidos como docu-
• Volume V – Diretrizes para a mentos evolutivos, devendo ser revisados,
Manual do
Empreendedor
sobre Segurança Elaboração de Projetos de complementados, adaptados ou pormenori-
de Barragens
O que são as Diretrizes para Elabora- aos aspectos específicos das barragens de
ção de Projetos de Barragens? aterro e de concreto, aos órgãos extravasores
e de operação, ao reservatório e área a jusante,
As presentes diretrizes são um documento que, bem como ao controle da segurança, incluindo
do ponto de vista da segurança, pretende auxi- o plano de monitoramento, instrumentação, as
liar na elaboração do projeto, nas suas diversas inspeções de segurança e a análise do compor-
etapas, desde os estudos preliminares e de tamento e avaliação da segurança da barragem.
viabilidade, ao projeto final como construído.
São principalmente focados os critérios de Como estão estruturadas estas Dire-
segurança adotados no dimensionamento trizes?
das barragens, referindo alguns aspectos
da modelação do comportamento dessas As diretrizes estão divididas nos oito seguintes
estruturas e nomeando apenas os métodos e capítulos:
técnicas correntemente utilizados. Capítulo 1 – “Disposições Gerais”, no qual, após
Ressalta-se que estas diretrizes não têm a pre- a definição do âmbito e objetivos das Diretrizes,
tensão de substituir outros manuais e normas se fazem algumas considerações sobre a quali-
existentes de projeto de barragens, mas sim de ficação do responsável pela elaboração do pro-
incorporar o aspecto “segurança” no dimen- jeto, normas técnicas a utilizar, aspectos gerais
sionamento dessas obras e suas respectivas a contemplar no projeto da barragem, dos seus
órgãos extravasores e de operação, do reserva-
estruturas. Espera-se que, com essas diretrizes,
tório e áreas no entorno, bem como as ações e
os usuários tenham uma referência para que
condições de carregamento a considerar.
os seus projetos reflitam empreendimentos os
mais seguros possíveis, de acordo com a técni- Capítulo 2 – “Etapas dos Estudos e Projetos”,
ca e conhecimento existentes. no qual se referem os conteúdos e grau de
aprofundamento de cada etapa dos estudos
A quem interessa? e projetos, desde os estudos preliminares e de
viabilidade, ao projeto básico, executivo e final
Interessa aos empreendedores, aos projetistas como construído.
responsáveis pela elaboração dos projetos,
aos responsáveis pela elaboração da Revisão Capítulo 3 – “Elementos Base e Estudos Gerais
Periódica de Segurança de Barragem e, gene- do Projeto”, no qual se apresentam os estudos
ricamente, a todas as entidades diretamente básicos, visando obter os elementos a incluir
ligadas à área de Segurança de Barragens. nos projetos, designadamente, elementos
gerais, estudos hidrológicos, geológicos, hi-
Qual o conteúdo destas Diretrizes? drogeológicos, geotécnicos e sismológicos,
bem como estudos relativos à borda livre, ao
Estas diretrizes contemplam critérios de pro- desvio do rio, às escavações e ao tratamento
jetos das barragens, desde os elementos base, de fundações.
O responsável técnico pela elaboração do proje- • American Water Works Association - AWWA;
to deve ter registro no Conselho Regional de En- • American Welding Society - AWS;
genharia e Agronomia – CREA, com atribuições
• Associação Brasileira de Cimento Portland
profissionais correspondentes e ter ART (Anota-
- ABCP;
ção de Responsabilidade Técnica) registrada no
CREA da região onde se desenvolve o Projeto. • Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia - ABGE;
1.3 Painel de especialista • Associação Brasileira de Mecânica dos
Solos - ABMS;
É prática corrente no Brasil e em muitos outros
países que a elaboração do projeto de grandes • Associação Brasileira de Recursos Hídricos
barragens seja acompanhada por um painel de - ABRH;
especialistas, contratado pelo empreendedor, vi- • Association Française de Normalisation
sando assegurar a adoção de critérios atualiza- - AFNOR;
dos da melhor prática disponível e a adequação
• British Standards - BS;
do projeto às condições locais.
• California Department of Water Resources
1.4 Normas técnicas - CDWR;
• Comissão Nacional Portuguesa de Grandes
As normas e padrões a serem utilizados na
Barragens - CNPGB
elaboração do projeto devem ser as últimas
A barragem, assim como suas fundações e O projeto deve incluir as estruturas dos ór-
ombreiras, devem ter adequadas condições de gãos extravasores e de operação, tais como,
segurança para as diferentes situações que vão dos vertedouros, dos descarregadores de
ocorrer ao longo da sua vida, tais como, para fundo, e, se for o caso, da casa de força e dos
situações de construção, de operação normal e circuitos hidráulicos, bem como das obras de
também para situações extremas, associadas desvio do rio.
às ações externas (como cheias e sismos) ou
às propriedades estruturais. Assim, no projeto O projeto dos órgãos extravasores e de ope-
da barragem, de sua fundação e ombreiras, ração deve considerar aspectos hidráulicos
devem ser consideradas situações de projeto e operacionais, além dos estruturais, entre
adequadas para verificação das condições de outros:
segurança e operacionalidade, de acidente • As cheias de projeto e de verificação, nas
e incidente identificados, atendendo à expe- fases de construção e de operação, con-
riência existente com obras semelhantes, bem siderando os danos potenciais induzidos
como as características do local, e ainda: pela barragem, e a eventual existência de
• As características geométricas das barragens a montante e a jusante;
estruturas; • A regulação do nível da água no reservatório,
• As características, propriedades e compor- quer em condições normais de operação,
tamento previsto para os materiais da estru- quer em situações de emergência;
tura e da fundação, nos aspectos hidráulico, • O cálculo do tempo necessário para o rebai-
mecânico, térmico e químico; xamento do nível de água no reservatório;
No caso de barragens com altura do maciço • A justificativa dos volumes total, útil e morto
superior a 15 m (quinze metros) e/ou com do reservatório, e o volume reservado para
capacidade total do reservatório superior a amortecimento de cheias;
3.000.000 m3 (três milhões de metros cúbi- • Volume de sedimentos que serão
cos), considera-se recomendável que: transportados;
• Os vertedouros sejam aptos a escoar vazões • Características de permeabilidade do reser-
de projeto, sem necessidade de auxílio dos vatório e estabilidade de suas margens, bem
descarregadores de fundo (ou descargas de como eventuais medidas que se considerem
fundo) ou de outros órgãos de operação; necessárias.
• Os vertedouros munidos de comportas
1.5.4 Barragem - Ações de projeto e
satisfaçam os seguintes requisitos: sejam
condições de carregamento
divididos em, pelo menos, dois vãos ou
orifícios; as comportas possam ser mano-
As principais ações a considerar no projeto de
bradas localmente e à distância, e mediante
barragens (barragem de aterro, barragem de
energia de natureza elétrica ou hidráulica,
concreto, estruturas de concreto dos órgãos ex-
procedendo de duas origens distintas, além
travasores, dos órgãos de operação ou da casa
de poderem ser acionadas manualmente
de força), estabelecidas de acordo com as nor-
nos casos em que a sua dimensão permita
mas brasileiras da ABNT, como referido no item
tal manobra em tempo útil; e, no caso de se
1.4, são as seguintes (ELETROBRAS, 2003):
instalarem comportas automáticas, even-
tualmente utilizando sensores elétricos para • Ações permanentes
medição do nível da água, estas comportas
sejam providas de dispositivos e sistemas ˚˚ Peso próprio
que permitam controlar o funcionamento ˚˚ Cargas diversas
do automatismo com confiabilidade; • Cargas acidentais
• Sejam previstos descarregadores de fundo
(ou descargas de fundo) que permitam o ˚˚ Sobrecargas
˚˚ Cargas
rebaixamento do reservatório abaixo da devidas à presença de
crista do vertedouro, e não apenas quando equipamentos eletromecânicos
é imperativo manter uma vazão a jusante
˚˚ Cargas devidas à operação de equipa-
(para abastecimento, irrigação ou outros mentos de construção e ações tem-
usos), ou quando é necessária a descarga porárias dos equipamentos durante a
de sedimentos; operação
• Os descarregadores de fundo sejam
• Pressões hidrostáticas
equipados com duas comportas ou vál-
vulas, controladas por montante, com • Pressões hidrodinâmicas
possibilidade de acionamento idêntico ao
˚˚ Devido a esforços hidráulicos
atribuído às comportas dos vertedouros,
Os principais sismos de barragem que ocor- 3,0; Capivari-Cachoeira (PR), magnitude 3,0;
reram no Brasil e as respectivas magnitudes Açu (RN, 1994), magnitude 3,0.
foram os seguintes: Volta Grande (MG/SP,
Os estudos sismológicos devem conduzir à
1974), magnitude 4,2; Nova Ponte (MG, 1998),
definição das ações sísmicas, em particular
magnitude 4,0; Cajuru (MG, 1972), magnitude
da intensidade, forma e duração das vibrações
3,7; Capivara (PR/SP, 1979), magnitude 3,7;
sísmicas no local da obra, considerando-se
Tucuruí (PA, 1998), magnitude 3,6; Balbina
ICOLD (1989b); NPB (1993); e MI (2002):
(AM, 1990), magnitude 3,4; Miranda (MG,
2000), magnitude 3,3; Paraibuna (SP, 1977), • O sismo máximo de projeto (SMP), que
magnitude 3,0; Igaratá (SP, 1985), magnitude corresponde ao maior sismo crível (SMC)
que pode afetar a barragem, e que deve
𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡
𝑆𝑆! = 1,6𝐾𝐾 𝐻𝐻𝐻𝐻
𝐻𝐻𝐻𝐻 𝐿𝐿 Observa-se que as expressões anteriores, em-
bora de estrutura semelhante, podem conduzir
Figura 3. Estruturas do sistema de desvio de rio por túnel. UHE Campos Novos, SC.
Fonte: ROCHA, 2006
Figura 5. Desvio do rio feito em uma única fase. Construção das estruturas definitivas e galerias de des-
vio, a seco. UHE Salto, GO.
Fonte: ROCHA, 2006
As Figuras 7, 8 e 9 ilustram um desvio do rio que permite a execução dos trabalhos na parte
realizado em fases múltiplas: o desvio se inicia ensecada do rio, com a construção do vertedou-
com a escavação do canal lateral para auxiliar ro (Figura 8); após a conclusão do vertedouro
no desvio do rio após a construção da enseca- inicia-se a segunda fase do desvio, com a remo-
deira em “U” da 1ª fase, que estrangula o leito do ção de parte da ensecadeira de 1ª fase e com a
rio (Figura 7); inicia-se em seguida o desvio do construção da ensecadeira de montante e de
rio com a construção da ensecadeira de 1ª fase, jusante de 2ª fase (Figura 9) (ROCHA, 2006).
Figura 8. Desvio do rio em diversas fases. 1ª Fase. Desvio pelo leito estrangulado e canal lateral. UHE
Baixo Iguaçu, PR.
Fonte: ROCHA, 2006
Os tratamentos dos taludes rochosos podem As dimensões das escavações são, em geral,
ser superficiais ou profundos, dependendo do definidas por motivos hidráulicos, tendo
tipo de instabilizações potenciais que possam também em consideração as condicionantes
vir a ocorrer. geomecânicas.
Generalidades Limpeza
O tratamento superficial tem por objetivo A limpeza, isto é, a remoção de todo material
preparar a superfície da fundação para receber solto na fundação, deve ser considerada no
o material que lhe será sobreposto. Os trata- projeto, incluindo a grossa e a limpeza fina,
mentos de taludes devem ser definidos, tendo esta última com lavagem. Os equipamentos
em atenção o item 3.7, relativo às escavações. a utilizar em cada fase devem ser definidos,
• Definição das caldas a serem usadas, aditi- • O posicionamento das cortinas será definido
vos, critérios para engrossamento de calda, em função das necessidades de estabilidade
ensaios de controle de campo e pressões de do projeto, tendo em conta a posição das corti-
injeção; nas de drenagem e o modelo hidrogeotécnico,
4.1 Aspectos gerais do projeto dias trabalháveis pode exigir maior intensidade
de uso de equipamento, tornando mais alto o
As barragens de aterro são estruturas essen- custo unitário de aterro compactado. Nesses
cialmente constituídas por materiais naturais casos, os materiais que não exijam tempo seco
ou processados, podendo ter diferentes tipos, para lançamento devem ser considerados, por
de acordo com os fatores condicionantes lo- serem mais competitivos em custo.
cais, em seguida indicados.
Materiais excessivamente úmidos ou secos
Um fator importante são as caraterísticas dos podem exigir correção de umidade, o que poderá
materiais disponíveis. Em princípio, todos os colocá-los em desvantagem econômica e de
materiais disponíveis devem ser considerados prazos de execução na comparação com outros
como potencialmente utilizáveis na seção da materiais alternativos. Dificuldades maiores de
barragem, prevendo-se no projeto um adequa- escavação e transporte também devem ser
do zoneamento. levadas em consideração nesta comparação.
Deve sempre prever-se um sistema de água que circula através dela, controlando, des-
drenagem interna, constituído por um filtro te modo, as poropressões na zona superficial da
subvertical ou inclinado (ou dreno chaminé), fundação e evitando a instalação de pressões
tapete drenante junto à fundação e dreno de pé no aterro. A camada inferior do tapete deve
de jusante. funcionar como filtro do material de fundação,
controlando também a erosão interna da zona
O filtro subvertical intercepta a percolação
superficial da fundação. A adoção desta cama-
através da barragem, sendo a água a ele afluen-
da filtrante é particularmente importante para
te conduzida para jusante, através do tapete
barragens com espaldares de jusante construí-
drenante. Assim, desde que ambos os dispo-
dos com solos permeáveis (por exemplo, solos
sitivos sejam adequadamente dimensionados,
arenosos ou com pedregulhos), fundações em
respeitando condições de filtro entre materiais,
rochas alteradas ou fissuradas de elevada per-
e tenham capacidade de escoamento suficien-
meabilidade com potencial de erosão elevado
te, o espaldar a jusante do filtro subvertical
ou fundações em rochas brandas (arenitos
permanecerá não saturado, e a erosão interna
e siltitos).
do seu material fica controlada.
Os drenos de pé de jusante asseguram a conti-
O filtro subvertical é de construção fácil, mas
nuidade ao tapete drenante e constituem uma
como normalmente é mais rígido do que
segurança adicional, face à eventual colmata-
os materiais adjacentes, pode verificar-se
ção do filtro ou do tapete drenante, ou mesmo,
transferência de tensões entre materiais de
a grandes e inesperados fluxos provenientes
diferente deformabilidade, o que aconselha
da fundação.
frequentemente a adoção de filtros inclinados.
Essa adoção de filtros subverticais em vez de Em casos muito favoráveis do ponto de vista
verticais constitui a tendência internacional das ações e de menor responsabilidade, com
dos últimos anos. exceção dos diques de selas, mesmo que de
pequena altura, podem ser dispensados os
Quando for pertinente controlar gradientes
filtros subverticais e/ou sub-horizontal contí-
hidráulicos de saída a jusante da barragem e de
nuos, substituído(s) por um sistema de drenos
reduzir as subpressões, podem ser adotadas
de pé e de fundação, desde que não haja sus-
na fundação trincheiras drenantes ou poços de
peita de erosão interna.
alívio espaçados regularmente.
A necessidade de introdução de juntas de
Quando colocado diretamente sobre a funda-
construção nos aterros deve ser determinada,
ção, o tapete drenante intercepta também a
A inclinação dos taludes é definida de acordo A Figura 12 ilustra uma seção típica de uma
com as principais ações e com as características barragem de terra-enrocamento.
Figura 11. Seção típica de uma barragem de terra zonada. Barragem de Três Marias, MG – seção no leito do rio.
Fonte: Cruz, 2004
A disposição dos diversos materiais na seção incluindo filtros, drenos e transições subverti-
deve ser feita de modo a concorrer para uma cais ou inclinadas.
melhor compatibilização de deformações
Desde que o enrocamento seja suficientemente
entre a vedação (ou núcleo), as transições e
permeável, a água percola, através da vedação
enrocamento dos espaldares.
de solo, e atinge rapidamente a zona do espal-
A vedação central ou núcleo nessas barragens, dar de jusante, junto à fundação, mantendo-se
em geral semelhante à das barragens de seção a restante zona, por isso, praticamente seca.
homogênea ou mistas, pode, portanto, ser As poropressões no núcleo são dependentes
constituída por materiais mais permeáveis, da razão entre a permeabilidade horizontal
como areias siltosas ou rochas alteradas e vertical do seu material constituinte, mas
compactadas, desde que a permeabilidade e como essa zona é suportada pelos espaldares
o consequente fluxo resultante seja aceitável. de enrocamento, a estabilidade não é particu-
larmente sensível a essas poropressões.
A rocha do enrocamento dos espaldares de
montante e de jusante deve ser resistente As barragens desse tipo são particularmente
e durável (não deve alterar-se, devido às adequadas para obras de grande altura (para
ações meteorológicas e químicas da água de obras de altura inferior a 20 m, esta solução
percolação e agentes atmosféricos). envolve dificuldades de construção, devido ao
reduzido espaço disponível).
A largura mínima do núcleo impermeável deve
ser da ordem de 30% da carga hidráulica do Barragens de enrocamento com face de con-
reservatório, e maior ou igual a 3 m no topo da creto a montante
barragem, por razões construtivas.
Essas barragens apresentam vantagens de
Para controlar a erosão interna, as barra- custo para vales relativamente encaixados,
gens devem dispor de um sistema drenante, com boas fundações, em regiões de grande
Figura 13. Seção típica de uma barragem de enrocamento com face de concreto. Barragem de Xingó,
SE/AL.
Fonte: Cruz et al., 2009
O plinto ou laje cut-off que, em conjunto com a fundar o plinto em maciço de qualidade infe-
laje do paramento de montante, são responsá- rior, quando se adotam medidas preventivas
veis pelo barramento da água, são elementos que protejam a fundação de erosões, reves-
muito importantes dessas estruturas. tindo as zonas potencialmente erodíveis com
filtros, gunita ou concreto projetado (Cruz et
O plinto é normalmente fundado em rocha sã,
al., 2009).
não erodível, o que permite sua consolidação
e seu tratamento à base de injeções. Todavia, O volume dos enrocamentos, a eventual re-
a experiência tem mostrado que é possível dução das obras de desvio, os elementos de
Uma vez feita a identificação das jazidas dispo- da barragem (final do período de construção,
níveis, os ensaios de permeabilidade, a serem rebaixamento rápido do reservatório e percola-
realizados em permeâmetro de carga variável, ção estável) é suficiente realizar ensaios aden-
células de adensamento edométrico ou nas câ- sados não drenados e saturados (Cusat ou Rsat)
maras triaxiais, permitem obter dados para os com medida de poropressões. Esses ensaios
estudos de percolação, devendo ser realizados permitem obter os parâmetros de resistência
em amostras compactadas em laboratório, ao cisalhamento, em termos de tensões totais
de modo a representar as várias condições de e efetivas, parâmetros de poropressões e os
moldagem. módulos de deformabilidade.
310
300 NR = 295.00
290
280
270
260
250
240
294
25
288
273
254
230
292
255
7
263
220 P600
210
-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 450 460 470 480 490 500
Figura 14. Análise de percolação em regime permanente pelo método dos elementos finitos
(linhas equipotenciais).
Notas:
1. A designação da categoria do solo refere-se à fração do material passada na Peneira Nº4, ou seja, a percentagem é
determinada a partir da curva granulométrica do solo de base, ajustada a 100% passando na peneira Nº 4 (4,76mm).
2. A dimensão máxima das partículas dos filtros deve ser de 75mm, e um máximo de 5% das partículas deve passar na
peneira Nº 200 (0,074mm); os finos devem ter um índice de plasticidade nulo. É conveniente utilizar a relação entre D90
e D10 do Quadro 9 para estabelecer a granulometria do filtro. Estes critérios conduzem à utilização de granulometrias uni-
formes para os filtros, o que previne a segregação, durante a construção. Para garantir uma permeabilidade adequada, os
filtros devem apresentar uma dimensão D15 igual ou superior a 4d15, mas não inferior a 0,1mm.
3. Quando o valor de 9d85 é inferior a 0,2mm, é conveniente utilizar 0,2mm.
4. A= percentagem de material passada na Peneira Nº 200 (0,074 mm), após o ajustamento da granulometria (ou seja,
da fracção passada na Peneira Nº 4).
5. Quando o valor de 4d85 é inferior a 0,7mm, é conveniente utilizar 0,7mm.
6. Para a categoria 4, o valor de d85 deve ser determinado, a partir da curva granulométrica integral do solo de base, sem
ajustamento para as partículas superiores a 4,76mm.
<0,5 20
0,5 a 1,0 25
1,0 a 2,0 30
2,0 a 5,0 40
5,0 a 10 50
10 a 50 60
No caso do filtro de montante, assim como em Em qualquer caso, a posição da linha de satura-
outras transições de menor responsabilidade ção do filtro sub-horizontal terá influência nas
e/ou em posições de baixos gradientes de análises de estabilidade do talude de jusante.
percolação, como entre o enrocamento de Caso necessário, poderão ser utilizados tapetes
proteção e o espaldar de montante, poderá drenantes de camadas múltiplas, constituídas
aceitar-se como critério: por camadas com diferentes granulometrias,
devidamente dimensionados, com função de
filtro envolvendo a camada interna do dreno.
D15≤9d85
No dimensionamento final, às espessuras re-
queridas pela capacidade drenante serão adi-
Drenos e transições funcionando como dreno
cionadas espessuras, que serão consideradas
Como critério de dimensionamento devem contamináveis pelo material de base (material
verificar-se as relações propostas por Terzaghi a ser protegido).
para solos não coesivos, ou seja:
Os poços de alívio ou trincheiras a jusante da
• D15 (dreno) ≤ 5 d85 (filtro), condição que as- barragem serão adotados nos casos em que
segura a capacidade de retenção pelo dreno possam ocorrer subpressões elevadas na
das partículas do filtro; fundação.
• D15 (dreno)≥ ³ 5 d15 (filtro), condição que
Valores mínimos
assegura um adequado contraste de per-
meabilidades entre os materiais do dreno e Por razões construtivas, devem ser consi-
do filtro. derados os seguintes valores mínimos para
a espessura dos dispositivos de drenagem
Como princípio e, procurando garantir elevada
(ELETROBRAS, 2003):
probabilidade de não haver segregação granu-
lométrica significativa durante a construção,
• Filtro vertical ou inclinado: 0,60m
os materiais do filtro e, em especial, o do dreno,
devem apresentar um coeficiente de uniformi- • Filtro sub-horizontal: espessura de 0,25m
dade CNU=D60/D10 inferior a 10.
• Trincheira drenante de fundação: largura
Na hipótese de não ser técnica e/ou economica- 0,60m
mente viável, a obtenção de materiais que satis-
façam os requisitos acima indicado, deve proce- • Poços de alívio: diâmetro mínimo de 0,10m
410
400
390
380
2 .3 5
1 .7 1 .9 5
1.55
370
5
1 .6 0 0
1 .6
360
350 0
1 .7
5
1 .6
340
330
320
310
300
290
280
270
260
250
240
230
220
210
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400
Figura 15. Análise de estabilidade pelo método de Bishop Modificado. Situação de percolação estável.
Para estudos simplificados de recalques da para cada material para o intervalo de tensões
fundação, podem também ser utilizadas efetivas, correspondente às condições
soluções analíticas da Teoria da Elasticidade de operação do maciço e da fundação. A
(ELETROBRAS, 2003). distribuição de tensões verticais totais podem
ser calculadas a partir de soluções analíticas
Os parâmetros de compressibilidade e de-
da Teoria da Elasticidade, e as poropressões
formabilidade dos materiais do maciço da
definidas, considerando os seus valores ao
barragem e da fundação devem ser determina-
final da construção e após o estabelecimento
dos a partir dos resultados das investigações
do regime estacionário de fluxo.
geológico-geotécnicas de campo e de labora-
tório, devidamente ajustados por experiência Para compensação dos recalques pós-cons-
com materiais e condições de carregamento trutivos, deve ser prevista sobre-elevação
semelhantes. da crista da barragem com valor igual ao dos
recalques estimados.
Deve ser dada especial atenção à identificação
de materiais colapsíveis ou expansivos na fun- Os recalques diferenciais admissíveis na crista
dação. Caso possam ocorrer solos colapsíveis, da barragem serão de 1%.
devem ser previstos os recalques pelo método
Para evitar a formação de trincas, com conse-
edométrico duplo com inundação ao nível de
quente maior segurança contra possibilidade
tensões atuantes, após o carregamento da
de erosão interna regressiva no núcleo da
barragem, e avaliação da necessidade de sua
barragem de terra-enrocamento, os seguintes
remoção prévia.
critérios devem ser atendidos:
Para cálculo de recalques pós-construtivos • as descontinuidades topográficas da fun-
do maciço e da fundação, pode, em princípio, dação da barragem, em particular sob o nú-
ser utilizada a condição unidimensional de cleo, devem ter inclinações ajustadas para
deformações, utilizando-se os parâmetros de evitar recalques diferenciais excessivos, que
compressibilidade mv (coeficiente de com- provoquem trinca no maciço, e zonas com
pressibilidade edométrica) e Cc (índice de baixos níveis de tensões, que possam ser
compressão), ou Cr (índice de recompressão). suscetíveis a fraturamento hidráulico;
Esses parâmetros devem ser determinados
• a determinação das alturas e das caracte- Os coeficientes para danos toleráveis ou admis-
rísticas das ondas, a partir do estudo dos síveis foram definidos a partir de resultados de
ventos; ensaios em modelo, em que se admitiam alguns
• a determinação das características do enro- deslocamentos do enrocamento de proteção,
camento para resistir à ação das ondas. mas sem ruptura deste. Os coeficientes para
não ocorrência de danos foram determinados
Fórmulas empíricas de projeto têm sido esta-
a partir de resultados onde não se verificava
belecidas, com base em estudos e ensaios em
qualquer deslocamento do enrocamento.
modelo. Esses estudos, inicialmente desen-
volvidos para projetos de obras costeiras ma- Os coeficientes relativos à não ocorrência de
rítimas, conduziram, para proteção de taludes danos nulos são, em regra geral, adotados
de reservatórios em barragens, à fórmula de para situações de operação normal. Os coe-
Iribarren-Hudson (ICOLD, 1993): ficientes relativos a danos toleráveis devem
ser utilizados para situações menos habituais.
Em qualquer das situações, devem sempre ser
γ r ha
Wr =
consideradas as condições mais severas de on-
K D (Gs − 1)3 (cot gϕ)b dulação, dado que existem outros fatores que
podem influenciar a ação das ondas, tais como
Nesta expressão empírica (em unidades in- o tipo de rebentação, o ângulo de atuação, a
glesas): a e b são coeficientes determinados duração, o espectro de alturas e a distribuição
experimentalmente; Wr representa o peso das alturas.
característico dos blocos de enrocamento
As ondas que normalmente se geram num
necessário para resistir à ação das ondas
reservatório podem ser do tipo mergulhante,
(libras5); γr o peso específico total de um
progressivo ou reflexivo. As ondas do tipo
elemento de rocha (libras por pé cúbico6); Gs,
reflexivo são as que podem levar a maior ins-
a densidade seca dos blocos de enrocamento;
tabilidade do enrocamento e, por isso, são as
ϕ, o ângulo do talude (medido a partir da hori-
normalmente consideradas para o cálculo dos
zontal); h, a altura da onda de projeto (pés7);
coeficientes acima referidos.
KD, o coeficiente de arrastamento, determinado
experimentalmente. Em obras situadas em locais onde não seja
possível ou econômica a obtenção de rocha
A expressão anterior pode ser utilizada, con-
para enrocamento de proteção, deve ser anali-
siderando para peso característico do enroca-
sada a utilização de outros materiais para esta
mento o peso mediano W50 e, como altura da
finalidade, conforme as recomendações do
onda, a altura significativa (Hs), de acordo com
Boletim 91 da ICOLD (1993).
Taylor(1973) a=2,6, b=1 e KD=3,2.
Figura 17. Designação das zonas de uma barragem de enrocamento com face de concreto.
Fonte: ICOLD, 2010
É frequente se utilizar dois tipos de materiais a explorar para a obtenção dos materiais
(Material 1A e 1B): de enrocamento do corpo da barragem. O
material deve ser colocado em camadas de
• O Material 1A deve ser relativamente imper-
20 a 30cm ligeiramente compactadas.
meável e não coesivo, de modo a poder col-
matar qualquer fissura ou abertura daquela • O Material 1B deve ser um solo silto-argilo-
junta. É frequente se especificar um material so, que permita a construção de um aterro
com 5 e 10% de finos (dimensão silte e argi- de enchimento pouco compactado. Não
la), sem partículas com dimensão superior existe necessidade de estabelecer para
a 2 mm. Poderá ser material natural ou estes solos características bem definidas.
proveniente do processamento da pedreira É frequente considerar solos com uma
Figura 20. Junta perimetral. Conceito de múltipla proteção. Barragem de Salvajina, Colômbia.
Fonte: ICOLD, 1989a, 2010
Espessura
Laje
As premissas básicas de um projeto da laje de Segundo a ICOLD (1989), os resultados das ob-
uma barragem deste tipo são: servações dessas obras têm evidenciado que
as pressões da água instalam na maior parte da
• Todo o maciço de enrocamento compac-
cortina estados de compressão biaxial, e que as
tado está a jusante do reservatório, prote-
tensões de tração que, por vezes, se verificam,
gido por uma superfície (face de concreto)
ocorrem em zonas bem definidas, como sejam,
impermeabilizante;
nas proximidades do plinto, junto à base, e nas
• O fluxo pela fundação, seja rochosa ou ombreiras. Tem-se verificado, ainda, que mes-
aluvionar, é controlado a montante pela mo essas trações tendem a desaparecer com
execução de cortinas de injeção ou paredes o tempo, devido a um processo de relaxação
diafragma, respectivamente; de tensões. Esses comportamentos devem-se
• A laje de concreto, o plinto, a junta perime- à reduzida deformabilidade dos aterros de en-
tral e o projeto das juntas verticais (entre rocamento compactado e à existência de uma
lajes), suas integridades e durabilidade são zona especial de apoio da cortina, constituída
importantes fatores para o bom desempe- por material relativamente fino e bem compac-
nho da barragem a longo prazo. tado (o material da zona 2).
A laje da face de concreto deve, portanto, asse- A deformação da cortina, sob a ação das pres-
gurar adequada estanqueidade e resistência, sões da água, é essencialmente condicionada
associada à capacidade de deformação (com- pela deformação do enrocamento, e não pela
portamento elástico), bem como adequada sua rigidez. Dessa forma, a espessura da laje é
durabilidade. principalmente condicionada pela necessidade
de ser impermeável e durável a longo prazo. Em
O dimensionamento e as especificações consequência, é recomendável (ICOLD, 2010)
construtivas da laje têm sido estabelecidos a utilização de lajes com espessura constante
empiricamente. A estanqueidade da laje, como de 0,25 ou 0,30 m, para barragens de baixa
“barreira impermeável”, tem sido posta em a média altura (até 100 m) e um acréscimo
causa pela ocorrência de trincas e rupturas du- de espessura de 0,002 H para barragens de
rante o enchimento. E o consequente aumento grande altura, (MatErÓn, 2007) propõe para
acentuado das vazões de percolação. barragens com altura H inferior a 120 m, com
Alguns dos critérios empiricamente adotados • calcular a borda-livre, a partir do topo do muro
são os seguintes: -parapeito;
• aplicação de 0,4 a 0,5% (vertical) e de 0,3
• prolongar as extremidades dos muros até as
a 0,35% (horizontal) de aço em cada dire- ombreiras;
ção, em forma de malhas, com exceção da
região próxima do plinto e ombreiras, onde • estimar a sobre-elevação nominal, devido aos
geralmente se especifica 0,4%; recalques da barragem (pós-construtivos, pós
-enchimento e os da fase de operação, consi-
• eliminação do transpasse de uma laje para derando o efeito da fluência);
a outra por meio das juntas verticais;
• concretagem do muro no local ou com elemen-
• colocação de armadura dupla
tos pré-moldados.
antilasqueamento;
Nos projetos das barragens de concreto devem • Definição das formas das barragens, com
constar, fundamentalmente, os seguintes ele- base em técnicas experimentais ou por cál-
mentos (NPB 1993): culos, devendo, em princípio, ter expressão
• Justificativa da solução adotada, devendo analítica;
ser considerados como parâmetros princi- • Condicionamentos impostos às formas pela
pais a forma do vale, a natureza da funda- fase de construção, citando-se, a título de
ção, os materiais disponíveis, os meios exis- exemplo, as curvaturas verticais e as incli-
tentes para a construção, as vazões de cheia nações das barragens de arco, como conse-
e os órgãos extravasores e de operação; quência do efeito do peso próprio, a existên-
cia de mais ou menos juntas de contração,
Figura 27. Modelos de elementos finitos e modelos físicos utilizados nos estudos do comportamento de
uma barragem em arco.
Fonte: EDP, EDIA / Banco de Imagens ANA
Segurança ao deslizamento
𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁 𝜙𝜙𝜙𝜙 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶
A verificação das condições de segurança 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹 + 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹
ao deslizamento (escorregamento) deve ser 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹 = ≥ 1,0
𝑇𝑇𝑇𝑇
realizada, como antes mencionado, para as
superfícies de menor resistência das estruturas
e respectivas fundações, bem como para as Nesta expressão, representa-se por: FSD – o
superfícies submetidas a tensões críticas e coeficiente de segurança ao deslizamento;
para a interface estrutura-fundação. por FSDϕ – o fator de redução da resistência
Os parâmetros geomecânicos, obtidos através ao atrito; por FSDc – o fator de redução da re-
dos resultados de investigações e ensaios pre- sistência à coesão; por ƩTi e ƩNi – o somatório
liminares, devem ser utilizados nas avaliações das forças tangenciais normais nos diferentes
das condições de segurança ao deslizamento. trechos da superfície de deslizamento; por Ci e
Coeficientes
Caso de carregamento Tipo de estrutura Verificação
γf γc γs
Ausência de Armadura 2,0 - -
a) Estrutura de concreto massa
Necessidade de Armadura
1,4 1,4* 1,15
CCN
b) Estrutura de concreto armado
ou protendido (reticuladas/lami- Estado-limite Último 1,4** 1,4* 1,15
nares) Estado de Utilização 1,0 1,0 1,0
Ausência de Armadura 1,6 1,4* -
a) Estrutura de concreto massa
CCC, Necessidade de Armadura
1,1 1,4* 1,15
CCE,
CCL b) Estrutura de concreto armado
ou protendido (reticuladas/lami-
nares) Estado-limite último 1,1 1,4* 1,15
(*) Para as obras com alto padrão de controle de qualidade do concreto, poder-se-á adotar o γc = 1,3 conforme está
referenciado no subitem 5.4.1 da NBR-6118/00.
(**) Poderão ser observadas as recomendações da NBR – 8681/84.
gf - Coeficiente de majoração das cargas.
gc - Coeficiente de minoração da resistência do concreto.
gs - Coeficiente de minoração da resistência do aço.
De uma forma geral, é suficiente adotar-se duas Preferencialmente, os drenos de junta devem
linhas de veda-juntas no paramento montante ser retilíneos, de modo a dificultar o seu en-
e, eventualmente, uma no paramento jusante e tupimento durante o período construtivo e,
na face superior da junta. também, a facilitar a sua desobstrução, caso
necessário. Para este último caso, é necessário
As galerias no interior das estruturas de con-
que a extremidade superior dos drenos de junta
creto devem ser protegidas contra percolação
sejam acessíveis, e a sua trajetória ao alcançar
de água nas juntas de contração, tornando-se
a galeria de drenagem não forme ângulos retos,
obrigatório a colocação de veda-juntas contor-
que podem favorecer o entupimento.
nando o seu perímetro.
Injeções entre blocos
É recomendável que o veda-junta seja anco-
rado ou fixado em rocha sã um mínimo de 30 A injeção de juntas de contração com calda
cm, através de block-out aberto no maciço e de cimento, assegurando a transferência de
preenchido com argamassa ou concreto com esforços entre blocos de concreto adjacentes,
agregado graúdo de dimensão máxima carac- permite que a estrutura da barragem, formada
terística de 19 mm. pelos diversos blocos, se comporte como uma
estrutura monolítica.
Para paredes sujeitas a pressões de água, deve
ser avaliada a necessidade ou a conveniência A injeção de juntas de contração longitudinais
da utilização de dispositivos de vedação nas é obrigatória. No entanto, a injeção de juntas
juntas de construção, em função da espessura de contração transversais pode, por vezes, ser
das paredes e das pressões de água. dispensada ou realizada apenas parcialmente.
Figura 30. Modelo hidráulico utilizado no estudo do Nesta expressão, representa-se por: L, a largura
vertedouro de superfície e dos descarregadores de efetiva (m); L’, a largura geométrica útil (m); Ka,
meio-fundo de uma barragem em arco. o coeficiente de contração das ombreiras; Kp, o
Fonte: LNEC, EDIA / Banco de Imagens ANA coeficiente de contração dos pilares, podendo
A crista do defletor deve estar sempre situada A realização de ensaios em modelo físico
acima do nível de máxima enchente a jusante com fundo móvel, com material solto ou com
do vertedouro, e a curvatura do defletor deve ser material coesivo, permite uma avaliação mais
capaz de definir a orientação do jato efluente, segura das estimativas obtidas por meio de
correspondendo a um raio de curvatura entre 5 fórmulas empíricas.
a 10 vezes a profundidade do escoamento.
6.4 Tomadas de água
O ângulo de saída do defletor com a horizontal
deve ser escolhido de forma a:
6.4.1 Aspectos gerais
• conciliar o lançamento do jato a uma dis-
tância suficiente para garantir a segurança A tomada de água destina-se a captar vazões
da estrutura principal, com o interesse de se do reservatório, devidamente controladas, po-
conseguir a expulsão do ressalto; dendo situar-se no corpo da barragem ou fora
• ter boa definição do jato para vazões peque- dele.
nas e a redução do ângulo de incidência do
jato na bacia de lançamento. As tomadas de água devem ser dimensio-
nadas, em conformidade com as condições
Este ângulo de saída, em princípio, deve variar locais, para satisfazer as finalidades que lhe
entre 10° a 20°, mas sua otimização pode ser estão atribuídas, tais como o abastecimento
objeto de ensaio em modelo físico. público e industrial, a irrigação e a produção hi-
drelétrica. Outros usos, menos frequentes, são
A crista do defletor deve ser bem definida para
o abastecimento de circuitos de refrigeração
minimizar a tendência de pressões negativas,
ou a manutenção de fluxos residuais no leito a
imediatamente a montante da mesma. O ân-
jusante da barragem.
gulo entre a tangente à curva na crista e o pa-
ramento imediatamente a jusante não deve ser As tomadas de água podem ser dos tipos:
inferior a 40°. A distribuição das pressões ao
• através do corpo da barragem, no caso de
longo da curva pode ser avaliada segundo mé-
barragens de concreto;
todos propostos na bibliografia especializada.
• em torre separada do corpo da barragem,
Bacia de lançamento com acesso por passadiço, muito frequente
em barragens de aterro;
O interesse de se efetuar uma pré-escavação da
• em torre de tomada de água adjacente à
bacia de lançamento, proveniente de um verte-
barragem, no caso de barragens de concreto;
douro com salto de esqui, e a extensão dessa
pré-escavação, devem ser avaliados, com base • em estrutura fundada numa das vertentes,
na previsão da magnitude da fossa de erosão frequentemente seguida de túnel;
natural e das consequências dessa erosão. • em estrutura flutuante, principalmente no
caso de tomadas de água temporárias.
As dimensões da fossa de erosão dependem
das características hidráulicas do jato efluente Ilustram-se nas figuras seguintes alguns casos
e, especialmente, das características geome- de tomadas de água. Na Figura 34 apresenta-
cânicas do maciço rochoso na região da bacia se caso de uma tomada de água separada do
de lançamento. corpo da barragem, com acesso por passadiço,
numa barragem de aterro. Em barragens de
Figura 34. Tomada de água em torre com acesso, por passadiço, à barragem de aterro. Barragem de Lucré-
cia, RN.
Fonte: Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte, SEMARH-RN / Banco de Imagens ANA
Figura 36. Tomadas de água numa das vertentes seguida de túnel. Barragem do Baixo Sabor, Portugal.
Fonte: Coba, S.A. / Banco de Imagens ANA
Na seção das comportas, a velocidade máxima O escoamento, ao passar através das grades,
não deve ultrapassar 6 m/s. provoca vibrações das barras, de acordo com
1 2𝜀𝜀 2,51
= −2𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 +
As variações de pressão devido ao golpe de
𝑓𝑓 𝐷𝐷 𝑅𝑅! 𝑓𝑓
aríete são dadas por:
Figura 40. Tipos de irregularidades de superfícies de concreto e zonas de erosão por cavitação.
Fonte: INAG, 2001
1310 1310
Área
1290 inundada 1290
1280 1280
1270 1270
1260 1260
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Volume armazenado (hm³)
O projeto deve ainda incluir estudos relativos O espaçamento das observações linimétricas e
ao reservatório e à área a jusante, tais como: dos levantamentos das seções topobatimétri-
• A estabilidade das margens, incluindo me- cas deve ser definido para cada caso.
didas de drenagem, aplicação de tirantes
ou chumbadores, e desmonte de blocos de
7.3 Estudos de vida útil do
rocha ou de zonas instáveis, que se conside-
reservatório
rem necessárias para garantir a segurança;
• O perfil da linha de água, quer a montante Quando o assoreamento não permite uma
quer a jusante da seção da barragem; operação adequada do reservatório, a sua vida
• O assoreamento do reservatório, com base útil pode ser considerada terminada.
na avaliação da quantidade de materiais
Além da perda da capacidade do reservatório,
sólidos transportados pela água em sus-
pensão e por arrastamento; a deposição de sedimentos dificulta a navega-
ção, origina deslocamento da área de remanso
• O regime de ventos, visando a avaliação das
para montante e enchentes mais frequentes
ondas e fixação da borda livre;
e, ainda, uma redução gradual da geração de
• A previsão das perdas por evaporação.
energia; dificuldades de operação da tomada
• O comportamento do lençol freático no de água, das válvulas de descarga e das com-
entorno do reservatório e, se necessário, portas; e danos nas turbinas, por abrasão.
monitoramento em locais onde existirem
bens a serem atingidos. Apresenta, ainda, efeitos ecológicos de erosão
nas margens dos reservatórios, erosão do de-
Alguns aspectos a se ter em conta na elabora-
pósito formado e efeitos a jusante da barragem.
ção destes estudos são em seguida indicados
(ELETROBRAS, 2003). Os estudos devem apoiar-se num conjunto de
informações obtidas, tais como:
7.2 Estudos de remanso • pelo levantamento das condições de
erosão da bacia hidrográfica (uso do solo,
O estudo do perfil da linha de água a montante desmatamento, tipo e cobertura do solo,
da seção da barragem deve ser efetuado, inclinação das encostas, etc.), bem como
visando definir a área de inundação do reserva- dos postos sedimentométricos existentes
tório, as interferências sobre obras existentes ou desativados;
e as condições de escavação do canal de res-
• pela análise dos estudos existentes sobre o
tituição de eventuais usinas nas extremidades
tema, para a bacia, e pela coleta de dados
superiores do reservatório.
hidrológicos e sedimentológicos necessários
O estudo do perfil da linha de água a jusante (séries de vazões líquidas e de descarga
visa a verificação da extrapolação da curva- sólida total, granulometria do sedimento em
chave do canal de restituição. suspensão e do leito, etc.).
Tipo de Estrutura
Instrumentos mais Enrocamento Terra com
Grandeza Terra / Enroca-
comuns com face de Terra galeria en-
mento
concreto terrada
Pressões neutras no aterro (po- Piezômetros hidráulicos,
X X X X
ropressões) pneumáticos e elétricos
Medidores de recalque
Recalques do aterro X X X X
Inclinômetros
Deslocamentos superficiais
Marcos geodésicos X X X X
(planialtimétricos)
Piezômetros de funda-
Subpressões na fundação X X X
ção
Vazões de percolação Medidores de vazão X X X X
Materiais sólidos carreados
Medidores de turbidez X - X X
pelas águas de percolação
Células de pressão
Pressões totais e poropressões total e piezômetros
X - X X
nas interfaces hidráulicos, elétricos ou
pneumáticos
Deslocamentos diferenciais da Medidores triortogonais
- X - -
junta perimetral de juntas
Deslocamentos entre lajes na
Medidores de juntas - X - -
região das ombreiras
Extensômetros e defor-
Tensões internas no concreto - X(*) - -
mímetros
Eletronível
Deflexão da laje de montante - X - -
Tipo de Estrutura
Métodos geodésicos e de
Deslocamentos horizontais e verticais nivelamento de precisão X X X X
Pêndulos diretos e invertidos
Deslocamentos diferenciais entre
X X X X
blocos
Medidores triortogonais de
Deslocamentos diferenciais entre
junta - X - -
monólitos
Abertura de juntas entre blocos - X X -
Pressão intersticial entre camadas de
Células de pressão - - - X
concretagem
Assim, na fase de construção, interessa asse- Para assegurar o bom funcionamento dos
gurar uma boa qualidade da obra e, durante instrumentos, sua manutenção deve ser feita
o primeiro enchimento do reservatório, que de forma sistemática pelos técnicos da equipe
constitui um ensaio de carga fundamental, de segurança da barragem, ou contratada ex-
deve ser assegurado um adequado controle teriormente, dependendo do tipo de trabalho e
de segurança da barragem, assim como sua especificidade ou complexidade.
A análise dos modelos pode ser realizada de Esses valores de referência podem ser deter-
forma direta, estabelecendo, como “input”, minados, fundamentalmente, com base:
os valores das grandezas do monitoramento
da barragem, que caracterizam as ações e • Em critérios de projeto, tais como, por
as suas propriedades estruturais e obtendo, exemplo, as subpressões medidas pelos
como “output”, os respectivos efeitos. Esses piezômetros de fundação, que devem ser
efeitos estimados devem ser confrontados mantidos dentro dos limites estabelecidos
com os efetivamente observados na obra, o no projeto;
que permite avaliar a fiabilidade dos modelos
de comportamento estabelecidos. • Em estudos dos modelos, para as diferentes
grandezas, consideradas no monitora-
A análise pode, no entanto, ser efetuada, mento, por exemplo, para deslocamentos,
também, de forma inversa, como por exem- deformações, etc.
plo no estudo de processos expansivos nas
barragens, estabelecendo como “input” as Salienta-se que os valores de referência,
grandezas representativas das propriedades apoiados em estudos de modelos de com-
estruturais e dos efeitos observados na barra- portamento das obras, devem ser reavaliados,
gem e estimando como “output”, as ações que à medida em que se aperfeiçoam esses mo-
originaram esses efeitos. delos. Uma reavaliação dos diferentes tipos
Em geral, os modelos de comportamento de modelos de comportamento, efetuada a
utilizados para justificar as soluções de projeto intervalos regulares de tempo, em especial,
(eventualmente calibrados para as ações da durante as revisões periódicas de segurança, é
construção, nomeadamente, o peso próprio, e também recomendável.
Pedro, J. O.. Safety and Performance of Arch EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infra-
Dams, in “Arch Dams: Designing and Monitoring estruturas do Alqueva, S.A., 2006.
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