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Manual do

Empreendedor
sobre Segurança
de Barragens

Diretrizes para a
Elaboração de Projeto
de Barragens

Volume
V

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
1
Manual do
Empreendedor
sobre Segurança
de Barragens

Diretrizes para a
Elaboração de Projeto
de Barragens

Volume
V
República Federativa do Brasil
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Vice-Presidente da República no Exercício do Cargo de Presidente da República

Ministério do Meio Ambiente


José Sarney Filho
Ministro

Agência Nacional de Águas

Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor-Presidente)
Paulo Lopes Varella Neto
João Gilberto Lotufo Conejo
Gisela Damm Forattini
Ney Maranhão

Secretaria-Geral (SGE)
Mayui Vieira Guimarães Scafura

Procuradoria-Federal (PF/ANA)
Emiliano Ribeiro de Souza

Corregedoria (COR)
Elmar Luis Kichel

Auditoria Interna (AUD)


Edmar da Costa Barros

Chefia de Gabinete (GAB)


Horácio da Silva Figueiredo Júnior

Gerência Geral de Articulação e Comunicação (GGAC)


Antônio Félix Domingues

Gerência Geral de Estratégia (GGES)


Bruno Pagnoccheschi

Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR)


Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares

Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica Nacional (SGH)


Valdemar Santos Guimarães

Superintendência de Tecnologia da Informação (STI)


Sérgio Augusto Barbosa

Superintendência de Apoio ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SAS)


Humberto Cardoso Gonçalves

Superintendência de Implementação de Programas e Projetos (SIP)


Ricardo Medeiros de Andrade

Superintendência de Regulação (SRE)


Rodrigo Flecha Ferreira Alves

Superintendência de Operações e Eventos Críticos (SOE)


Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho

Superintendência de Fiscalização (SFI)


Flavia Gomes de Barros

Superintendência de Administração, Finanças e Gestão de Pessoas (SAF)


Luís André Muniz
Agência Nacional de Águas
Ministério do Meio Ambiente

Diretrizes para a Elaboração


de Projeto de Barragens
Manual do Empreendedor sobre
Segurança de Barragens
Volume V

Superintendência de Regulação (SRE)

Brasília – DF
ANA
2016
© 2016, Agência Nacional de Águas (ANA).
Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T.
CEP 70610-200, Brasília, DF
PABX: (61) 2109 5400 / (61) 2109-5252
www.ana.gov.br

Comitê de Editoração Revisão dos originais


João Gilberto Lotufo Conejo Alexandre Anderáos
Diretor André César Moura Onzi
André Torres Petry
Reginaldo Pereira Miguel Fernanda Laus de Aquino
Representante da Procuradoria Federal Helber Nazareno de Lima Viana
Josimar Alves de Oliveira
Sergio Rodrigues Ayrimoraes Soares Marcus Vinícius Araújo Mello de Oliveira
Ricardo Medeiros de Andrade Nádia Eleutério Vilela Menegaz
Joaquim Guedes Correa Gondim Filho Sérgio Ricardo Toledo Salgado
Superintendentes Erwin De Nys – Banco Mundial
Paula Freitas – Banco Mundial
Mayui Vieira Guimarães Scafura Maria Inês Muanis Persechini – Banco
Secretária Executiva Mundial
José Hernandez – Banco Mundial
Supervisão editorial Orlando Vignoli Filho – Banco Mundial
Ligia Maria Nascimento de Araújo – Comitê Brasileiro de Barragens — CBDB
Coordenadora — auxílio na análise das contribuições da
Carlos Motta Nunes Audiência Pública

Elaboração Todos os direitos reservados.


Ricardo Oliveira – COBA, S.A É permitida a reprodução de dados e
Lúcia Almeida – COBA, S.A informações contidos nesta publicação,
José Oliveira Pedro – COBA, S.A desde que citada a fonte.
António Pereira da Silva – COBA, S.A
António Alves – COBA, S.A
José Rocha Afonso – COBA, S.A
Flávio Miguez – COBA, S.A
Maria Teresa Viseu – LNEC, Portugal

Foto de capa:
UHE Barra Grande / Anita Garibaldi (SC) e
Pinhal da Serra (RS)
Crédito: Baesa / Banco de Imagens da ANA

Catalogação na fonte: CEDOC / BIBLIOTECA

A265d Agência Nacional do Aguas (Brasil).


Diretrizes Para Elaboração de Projetos de Barragens.
-- Brasília: ANA, 2016.

156 p. il. – (Manual do Empreendedor sobre Segurança de


Barragens, 6)
ISBN 978-85-8210-041-7
ISBN 978-85-8210-036-3 (Coleção)

1. Recursos Hídricos – Gestão 2. Barragem – Segurança. I.


Título.

 CDU 627.82
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Modelo geológico 2D de uma barragem de concreto gravidade (Barragem de
Ribeiradio, Portugal). 30
Figura 2. Mapa de risco sísmico na América do Sul. Aceleração máxima na rocha com a
probabilidade de 90% de não ser excedida, para um período de 50 anos. 32
Figura 3. Estruturas do sistema de desvio de rio por túnel. UHE Campos Novos, SC. 36
Figura 4. Desvio do rio por canal lateral na região do vertedor, associado a túnel de
desvio. UHE Monte Claro, RS.  37
Figura 5. Desvio do rio feito em uma única fase. Construção das estruturas definitivas e
galerias de desvio, a seco. UHE Salto, GO.  37
Figura 6. Desvio do rio feito em uma única fase. Desvio do rio feito pelas galerias de
desvio. Leito ensecado com as ensecadeiras de montante e de jusante UHE
Salto, GO.  38
Figura 7. Desvio do rio em diversas fases. Escavação do canal de desvio na ombreira
direita. UHE Baixo Iguaçu, PR.  39
Figura 8. Desvio do rio em diversas fases. 1ª Fase. Desvio pelo leito estrangulado e
canal lateral. UHE Baixo Iguaçu, PR.  39
Figura 9. Desvio do rio em diversas fases. 2ª Fase. Desvio pelo vertedor, com uso de
ensecadeira incorporada de montante e de jusante. UHE Baixo Iguaçu, PR. 40
Figura 10. Seção típica de uma barragem de terra homogênea. Barragem de Ponte Nova, SP.  52
Figura 11. Seção típica de uma barragem de terra zonada. Barragem de Três Marias, MG
– seção no leito do rio.  53
Figura 12. Seção típica de uma barragem de terra – enrocamento. 54
Figura 13. Seção típica de uma barragem de enrocamento com face de concreto.
Barragem de Xingó, SE/AL.  55
Figura 14. Análise de percolação em regime permanente pelo método dos elementos
finitos (linhas equipotenciais). 67
Figura 15. Análise de estabilidade pelo método de Bishop Modificado. Situação de
percolação estável. 73
Figura 16. Análise de tensões deformações. Modelação do primeiro enchimento do
reservatório. Deslocamentos horizontais. 75
Figura 17. Designação das zonas de uma barragem de enrocamento com face de concreto. 79
Figura 18. Construção da borda do talude de montante com material 2A. 82
Figura 19. Seção da laje do plinto de montante e jusante (interno). 85
Figura 20. Junta perimetral. Conceito de múltipla proteção. Barragem de Salvajina, Colômbia. 86
Figura 21. Junta perimetral. Utilização de cinza volante em alternativa ao mastique.
Barragem de Aguamilpa, México.  87
Figura 22. Juntas verticais: A) Campos Novos, área central (zona de compressão);
B) Barra Grande, RS/SC, ombreiras (zona de tensão). 89
Figura 23. Detalhe do muro da crista e da junta de expansão no contato laje-fundação
do muro da barragem de Barra Grande, RS/SC. 90
Figura 24. Barragem do Castelo do Bode, Portugal (arco-gravidade com 115 m de altura
máxima, concluída em 1951).  92
Figura 25. Barragem da Aguieira, Portugal (arcos múltiplos de grandes vãos de dupla
curvatura, com 89 m de altura máxima, concluída em 1981). 93
Figura 26. Barragem de Fratel, Portugal (barragem de soleira vertente, com 43 m de
altura máxima, concluída em 1973).  94
Figura 27. Modelos de elementos finitos e modelos físicos utilizados nos estudos do
comportamento de uma barragem em arco. 103

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 28. Modelo de elementos finitos (barragem) e de elementos discretos (maciço
rochoso de fundação) utilizado no estudo de uma barragem em arco. 104
Figura 29. Modelo de elementos finitos de uma barragem de soleira vertente.  104
Figura 30. Modelo hidráulico utilizado no estudo do vertedouro de superfície e dos
descarregadores de meio-fundo de uma barragem em arco. 119
Figura 31. Eixo e viga de apoio das comportas. 120
Figura 32. Bacia de dissipação do Tipo II.  124
Figura 33. Bacia de dissipação do tipo roller bucket. 124
Figura 34. Tomada de água em torre com acesso, por passadiço, à barragem de aterro.
Barragem de Lucrécia, RN. 126
Figura 35. Tomada de água em torre, adjacente à barragem de concreto. Barragem de
Ribeiradio, Portugal.  127
Figura 36. Tomadas de água numa das vertentes seguida de túnel. Barragem do Baixo
Sabor, Portugal.  127
Figura 37. Formação de ondas estacionárias de frente abrupta na barragem de Itaipu.
Vista lateral e vista de montante.  133
Figura 38. Regimes de escoamento a jusante de uma comporta.  134
Figura 39. Exemplo de cavitação no concreto por tipo jato cavitante.  135
Figura 40. Tipos de irregularidades de superfícies de concreto e zonas de erosão por
cavitação.  136
Figura 41. Exemplo de curvas de áreas inundadas e volumes armazenados de um
reservatório.  138

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Tempos de recorrência mínimos (anos) recomendados para as cheias de projeto. 29
Quadro 2. Sismo máximo de projeto das barragens. 33
Quadro 3. Fator de rugosidade, K.  34
Quadro 4. Inclinações máximas dos taludes de escavação. 42
Quadro 5. Ensaios de caracterização de solos para zonas impermeáveis. 59
Quadro 6. Ensaios de caracterização de materiais para filtros, drenos e transições. 63
Quadro 7. Ensaios de caracterização de materiais de enrocamento. 64
Quadro 8. Critérios para os filtros.  69
Quadro 9. Limites de D10f e de D90f para prevenir segregação.  69
Quadro 10. Limites granulométricos da zona 2A. 80
Quadro 11. Classificação da rocha e largura correspondente do plinto. 85
Quadro 12. Fatores de redução das resistências de atrito e coesão. 106
Quadro 13. Coeficientes de segurança ao tombamento e à flutuação.  107
Quadro 14. Tensões admissíveis do concreto massa.  107
Quadro 15. Coeficientes de segurança recomendados nas fundações. 108
Quadro 16. Coeficientes de impacto.  109
Quadro 17. Coeficientes de segurança.  110
Quadro 18. Cobrimento mínimo.  113
Quadro 19. Barragens de aterro. Grandezas a monitorar. 144
Quadro 20. Barragens de concreto. Grandezas a monitorar. 145

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
SIGLAS E ABREVIATURAS
ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland
ABGE Associação Brasileira de Geologia de Engenharia
ABMR Associação Brasileira de Mecânica das Rochas
ABMS Associação Brasileira de Mecânica dos Solos
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos
ACI American Concrete Institute
AFNOR Association Française de Normalisation
AISC American Institute of Steel Construction
ANA Agência Nacional de Águas
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
ANPC Autoridade Nacional de Proteção Civil
ANSI American National Standard Institute
ART Anotação de Responsabilidade Técnica
ASCE American Society of Civil Engineers
ASDSO Association of State Dam Safety Officials (United States)
ASSHTO American Association of State Highway and Transportation Officials
ASTM American Society for Testing Materials
AWS American Welding Society
AWWA American Water Works Association
BS British Standards
CBDB Comitê Brasileiro de Barragens
CDWR California Department of Water Resources
CEB Comité Eurointernational du Béton
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
CMP Cheia Máxima Provável
CNPGB Comissão Nacional Portuguesa de Grandes Barragens
CONFEA Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
CRSI Concrete Reinforcing Steel Institute
DHN Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha
DIN Deutsches Institut für Normen
DSG Diretoria de Serviço Geográfico do Exército
EDIA Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A.
EDP Energias de Portugal
EIA Estudo de Impacto Ambiental
ELETROBRAS Centrais Elétricas Brasileiras S.A.
GSHAP Global Seismic Hazard Assessment Program
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBRACON Instituto Brasileiro de Concreto
ICA Instituto de Cartografia da Aeronáutica
ICOLD International Commission on Large Dams
INAG Instituto da Água

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
INDE Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ISRM International Society for Rock Mechanics
LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil
MI Ministério da Integração Nacional
NPB Normas de Projeto de Barragens
PMP (PMF) Precipitação Máxima Provável (Probable Maximum Flood)
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RQD Rock Quality Designation
RMR Rock Mass Rating
SHF Société Hydraulique Française
USACE – United States Army Corps of Engineers
USBR United States Bureau of Reclamation
USFS United States Federal Specifications

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens
Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
SUMÁRIO
Manual do Empreendedor SOBRE SEGURANÇA DE BARRAGENS 14
ESCLARECIMENTOS AO LEITOR16
1 DISPOSIÇÕES GERAIS18
1.1 Âmbito e objetivos 18
1.2 Responsável pela elaboração do projeto 18
1.3 Painel de especialista 18
1.4 Normas técnicas 18
1.5 Aspectos gerais do projeto 19
1.5.1 Barragem, fundação e ombreiras 19
1.5.2 Órgãos extravasores e de operação 19
1.5.3 Reservatório e áreas no entorno 20
1.5.4 Barragem - Ações de projeto e condições de carregamento 20
1.5.5 Aspectos ambientais e administrativos 21
2 ETAPAS DOS ESTUDOS E PROJETOS 23
2.1 Generalidades 23
2.2 Estudos preliminares e de viabilidade 23
2.2.1 Estudos preliminares 23
2.2.2 Estudos de viabilidade 24
2.3 Projeto básico 24
2.4 Projeto executivo 25
2.5 Projeto final como construído (as built) 25
3 ELEMENTOS BASE E ESTUDOS GERAIS DO PROJETO 27
3.1 Elementos gerais 27
3.2 Estudos hidrológicos 28
3.3 Estudos geológicos, hidrogeológicos e geotécnicos 29
3.4 Estudos sismológicos 31
3.5 Borda livre normal e mínima 33
3.5.1 Definição 33
3.5.2 Fatores quantificáveis 33
3.5.3 Fatores não quantificáveis 35
3.5.4 Valores da borda livre recomendados 35
3.6 Desvio do rio 36
3.7 Escavações 40
3.7.1 Aspectos gerais 40
3.7.2 Escavação a céu aberto 41
3.7.3 Escavações subterrâneas 44
3.8 Tratamentos de fundações 45
3.8.1 Aspectos gerais 45
3.8.2 Tratamento superficial 46
3.8.3 Tratamentos profundos 47
4 BARRAGENS DE ATERRO (TERRA E ENROCAMENTO) 50
4.1 Aspectos gerais do projeto 50
4.2 Tipos de estruturas 51

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
4.3 Estudos dos materiais 56
4.3.1 Considerações gerais 56
4.3.2 Elementos do projeto 57
4.3.3 Materiais para zonas impermeáveis 58
4.3.4 Materiais para filtros, drenos e transições 62
4.3.5 Materiais de enrocamento 63
4.4 Fundações 65
4.5 Dimensionamento e verificação da segurança 66
4.5.1 Aspectos gerais 66
4.5.2 Análises de percolação 66
4.5.3 Análises de estabilidade 71
4.5.4 Análise de tensões e deformações 74
4.5.5 Aspectos relativos à crista da barragem e aos taludes de montante e de jusante 76
4.5.6 Análises relativas a barragens de enrocamento com face de concreto 78
5 BARRAGENS E OUTRAS ESTRUTURAS DE CONCRETO 91
5.1 Estruturas 91
5.2 Fundações 95
5.2.1 Estudo das fundações 95
5.2.2 Tratamento dos maciços de fundação 96
5.3 Materiais 96
5.3.1 Concreto massa 96
5.3.2 Outros materiais 97
5.4 Critérios de projeto 97
5.4.1 Aspectos gerais 97
5.4.2 Barragens gravidade 99
5.4.3 Barragens em arco 100
5.5 Avaliação da segurança das estruturas 101
5.5.1 Modelos e métodos de análise estrutural 102
5.5.2 Análise de estabilidade global 105
5.5.3 Análise de tensões e deformações 107
5.6 Dimensionamento e verificação da segurança 108
5.6.1 Aspectos gerais 108
5.6.2 Análise estrutural 109
5.6.3 Dimensionamento 110
5.7 Disposições construtivas 112
5.7.1 Armaduras 112
5.7.2 Drenos 114
5.7.3 Juntas 114
5.7.4 Outros dispositivos das juntas 115
5.7.5 Ancoragens 117
5.7.6 Aparelhos de apoio 117
6 ÓRGÃOS EXTRAVASORES E DE OPERAÇÃO 118
6.1 Vertedouro 118
6.1.1 Aspectos gerais 118
6.1.2 Disposições de projeto 119

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
6.2 Descarregador de fundo 121
6.2.1 Aspectos gerais 121
6.2.2 Disposições de projeto 122
6.3 Estruturas de dissipação de energia 123
6.3.1 Aspectos gerais 123
6.3.2 Disposições de projeto 123
6.4 Tomadas de água 125
6.4.1 Aspectos gerais 125
6.4.2 Disposições de projeto 128
6.5 Circuitos hidráulicos 129
6.5.1 Canal de adução 129
6.5.2 Conduto adutor 129
6.5.3 Equipamentos de regulação de vazões e de obturação 132
6.5.4 Canal de fuga 132
6.6 Outros problemas hidráulicos 132
6.6.1 Ondas estacionárias de frente abrupta 132
6.6.2 Emulsionamento de ar 134
6.6.3 Erosão por cavitação 135
6.6.4 Abrasão por sólidos 137
7 RESERVATÓRIO E ÁREA A JUSANTE 138
7.1 Aspectos gerais 138
7.2 Estudos de remanso 139
7.3 Estudos de vida útil do reservatório 139
7.4 Qualidade da água para consumo humano 140
7.5 Cadastro da área do reservatório 141
7.6 Área inundável em caso de ruptura e planejamento de emergência 141
8 CONTROLE DE SEGURANÇA 142
8.1 Aspectos gerais 142
8.2 Plano de monitoramento e instrumentação 142
8.2.1 Grandezas a serem monitoradas 143
8.2.2 Seleção dos instrumentos 145
8.2.3 Elaboração do projeto de instrumentação 146
8.2.4 Critérios de operação, processamento e análise de dados e resultados 147
8.2.5 Manutenção do sistema de instrumentação 147
8.3 Inspeções de segurança 148
8.4 Análise global da instrumentação e inspeção de segurança 148
8.4.1 Atividades de controle de segurança 148
8.4.2 Modelação do comportamento 148
8.4.3 Valores de referência para a instrumentação 149
9 Referências bibliográficas 150

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Manual do Empreendedor
SOBRE SEGURANÇA DE BARRAGENS
INTRODUÇÃO GERAL atribuições e formas de controle necessárias
para assegurar as condições de segurança das
As barragens, compreendendo o barramento, barragens.
as estruturas associadas e o reservatório, são
obras necessárias para uma adequada gestão A Lei de Segurança de Barragens atribui aos
dos recursos hídricos e contenção de rejeitos de empreendedores e aos responsáveis técnicos
mineração ou de resíduos industriais. Sua cons- por eles escolhidos a responsabilidade por de-
trução e operação podem, no entanto, envolver senvolver e implementar o Plano de Segurança
danos potenciais para as populações e os bens da Barragem, de acordo com metodologias e
materiais e ambientais existentes no entorno. procedimentos adequados para garantir as
condições de segurança necessárias. No Brasil,
A segurança de barragens é um aspecto fun- os empreendedores são de diversas naturezas:
damental para todas as entidades envolvidas, públicos (federais, estaduais ou municipais)
como as autoridades legais e os empreendedo- e privados, sendo sua capacidade técnica e
res, bem como os agentes que lhes dão apoio financeira também muito diferenciadas.
técnico nas atividades, relativas à concepção,
ao projeto, à construção, ao comissionamento, No presente Manual do Empreendedor so-
à operação e, por fim, ao descomissionamento bre Segurança de Barragens, pretende-se
(desativação), as quais devem ser proporcio- estabelecer orientações gerais quanto às
nais ao tipo, dimensão e risco envolvido. metodologias e procedimentos a ser adotados
pelos empreendedores, visando a assegurar
Para garantir as necessárias condições de se-
adequadas condições de segurança para as
gurança das barragens ao longo da sua vida útil,
barragens pelas quais são responsáveis, ao
devem ser adotadas medidas de prevenção e
longo das diversas fases da vida das obras,
controle dessas condições. Essas medidas, se
designadamente, as fases de planejamento e
devidamente implementadas, asseguram uma
projeto, de construção e primeiro enchimento,
probabilidade de ocorrência de acidente redu-
de operação e de descomissionamento
zida ou praticamente nula, mas devem, apesar
(desativação).
disso, ser complementadas com medidas de
defesa civil para minorar as consequências de O manual aplica-se às barragens destinadas à
uma possível ocorrência de acidente, especial- acumulação de água para quaisquer usos. Para
mente em casos em que se associam danos o caso dos empreendimentos que têm uso
potenciais mais altos. preponderante de geração hidrelétrica, devem
As condições de segurança das barragens de- ser observadas as recomendações da Agência
vem ser periodicamente revisadas, levando em Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Centrais
consideração eventuais alterações resultantes Elétricas Brasileiras (Eletrobras), constantes
do envelhecimento e deterioração das estrutu- de seus normativos e manuais.
ras ou de outros fatores, como o aumento da
Os procedimentos, estudos e medidas com
ocupação nos vales a jusante.
vista à obtenção ou concessão de licenças am-
A Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, co- bientais, necessárias para a implantação dos
nhecida como Lei de Segurança de Barragens, empreendimentos, não são considerados no
estabeleceu a Política Nacional de Segurança presente manual, bem como os procedimentos
de Barragens (PNSB), considerando os as- para a gerência das obras ou das empreitadas
pectos referidos, além de outros, e definiu que regem a construção.

14 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
O presente manual compreende oito guias, • Manual do
Volume VI – Diretrizes para a
Empreendedor

constituintes dos seguintes volumes: sobre Segurança


de Barragens Construção de Barragens, no
qual se estabelecem procedi-
• Volume I – Instruções para Diretrizes para

mentos gerais que devem ser


a Construção
de Barragens
Manual do
Empreendedor Apresentação do Plano de VI
respeitados, de forma a ga-
Volume
sobre Segurança
de Barragens

Segurança da Barragem, no
rantir a segurança das obras
Instruções para qual se apresenta um modelo
Apresentação do
Plano de Segurança durante e após a construção.
padrão e respectivas instru-
da Barragem

Volume
I
ções para elaboração do • Volume VII – Diretrizes para a
Manual do

Elaboração do Plano de
Empreendedor

Plano de Segurança da sobre Segurança


de Barragens

Barragem. Operação, Manutenção e


Diretrizes para
a Elaboração do

Instrumentação de Barragens,
Plano de Operação,
Manutenção e
Instrumentação de

• Volume II – Guia de Barragens

VII
no qual se estabelecem pro-
Volume

Orientação e Formulários
Manual do
Empreendedor

cedimentos gerais para a ela-


sobre Segurança
de Barragens

para Inspeções de Segurança


boração do Plano de
de Barragem, no qual se esta-
Guia de Orientação
e Formulários
para Inspeções
de Segurança de
Barragem Operação, Manutenção e Instrumentação,
II
Volume
belecem procedimentos,
que devem orientar a execução dessas ativi-
conteúdo e nível de detalha-
dades, de modo a assegurar um adequado
mento e análise dos produtos
aproveitamento das estruturas construídas,
finais das inspeções de segurança.
respeitando as necessárias condições de
• Manual do
Volume III – Guia de Revisão segurança.
Empreendedor

Periódica de Segurança de
sobre Segurança
de Barragens

• Volume VIII – Guia Prático de


Barragem, no qual se estabele- Manual do
Empreendedor

Pequenas Barragens, no qual


Guia de Revisão sobre Segurança
Periódica de de Barragens
Segurança de
Barragem.
cem orientações para a reali-
Volume
III se descrevem procedimentos
zação da Revisão Periódica de Guia Prático de
Pequenas Barragens
práticos de operação, manu-
Segurança de Barragem. Volume
VIII
tenção, inspeção e emergên-
• Manual do
Empreendedor
Volume IV – Guia de cia para pequenas barragens
sobre Segurança

Orientação e Formulários
de Barragens

de terra.
Guia de Orientação dos Planos de Ação de
Observa-se que o volume destacado se refere ao
e Formulários do
Plano de Ação de

Emergência (PAEs), no qual


Emergência – PAE

Volume
IV assunto desenvolvido no presente documento.
se apresentam o conteúdo e
organização de um PAE. Os guias devem ser entendidos como docu-
• Volume V – Diretrizes para a mentos evolutivos, devendo ser revisados,
Manual do
Empreendedor
sobre Segurança Elaboração de Projetos de complementados, adaptados ou pormenori-
de Barragens

Barragens, no qual se estabele- zados, de acordo com a experiência adquirida


Diretrizes para a
Elaboração de Projeto
de Barragens
cem procedimentos gerais que com sua aplicação, bem como com a evolução
devem ser contemplados nos da tecnologia disponível e a legislação vigente.
Volume
V

projetos, do ponto de vista da


segurança.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
15
ESCLARECIMENTOS
AO LEITOR

O que são as Diretrizes para Elabora- aos aspectos específicos das barragens de
ção de Projetos de Barragens? aterro e de concreto, aos órgãos extravasores
e de operação, ao reservatório e área a jusante,
As presentes diretrizes são um documento que, bem como ao controle da segurança, incluindo
do ponto de vista da segurança, pretende auxi- o plano de monitoramento, instrumentação, as
liar na elaboração do projeto, nas suas diversas inspeções de segurança e a análise do compor-
etapas, desde os estudos preliminares e de tamento e avaliação da segurança da barragem.
viabilidade, ao projeto final como construído.
São principalmente focados os critérios de Como estão estruturadas estas Dire-
segurança adotados no dimensionamento trizes?
das barragens, referindo alguns aspectos
da modelação do comportamento dessas As diretrizes estão divididas nos oito seguintes
estruturas e nomeando apenas os métodos e capítulos:
técnicas correntemente utilizados. Capítulo 1 – “Disposições Gerais”, no qual, após
Ressalta-se que estas diretrizes não têm a pre- a definição do âmbito e objetivos das Diretrizes,
tensão de substituir outros manuais e normas se fazem algumas considerações sobre a quali-
existentes de projeto de barragens, mas sim de ficação do responsável pela elaboração do pro-
incorporar o aspecto “segurança” no dimen- jeto, normas técnicas a utilizar, aspectos gerais
sionamento dessas obras e suas respectivas a contemplar no projeto da barragem, dos seus
órgãos extravasores e de operação, do reserva-
estruturas. Espera-se que, com essas diretrizes,
tório e áreas no entorno, bem como as ações e
os usuários tenham uma referência para que
condições de carregamento a considerar.
os seus projetos reflitam empreendimentos os
mais seguros possíveis, de acordo com a técni- Capítulo 2 – “Etapas dos Estudos e Projetos”,
ca e conhecimento existentes. no qual se referem os conteúdos e grau de
aprofundamento de cada etapa dos estudos
A quem interessa? e projetos, desde os estudos preliminares e de
viabilidade, ao projeto básico, executivo e final
Interessa aos empreendedores, aos projetistas como construído.
responsáveis pela elaboração dos projetos,
aos responsáveis pela elaboração da Revisão Capítulo 3 – “Elementos Base e Estudos Gerais
Periódica de Segurança de Barragem e, gene- do Projeto”, no qual se apresentam os estudos
ricamente, a todas as entidades diretamente básicos, visando obter os elementos a incluir
ligadas à área de Segurança de Barragens. nos projetos, designadamente, elementos
gerais, estudos hidrológicos, geológicos, hi-
Qual o conteúdo destas Diretrizes? drogeológicos, geotécnicos e sismológicos,
bem como estudos relativos à borda livre, ao
Estas diretrizes contemplam critérios de pro- desvio do rio, às escavações e ao tratamento
jetos das barragens, desde os elementos base, de fundações.

16 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Capítulo 4 – “Barragens de Aterro (Terra e Capítulo 8 – “Controle de Segurança”, no qual
Enrocamento)”, no qual se apresentam, além se apresentam os aspectos essenciais a se ter
de alguns aspectos gerais a se ter em conta no em consideração no controle de segurança,
projeto, os estudos a desenvolver, tais como envolvendo o monitoramento e instrumen-
os relativos aos materiais de construção, aos tação, as inspeções de segurança e a análise,
maciços de fundação e às estruturas (fatores interpretação e avaliação do comportamento
que influenciam a escolha do tipo estrutural e da barragem. São dadas indicações sobre
tipos de barragens mais comuns), seguindo-se o conteúdo do plano de monitoramento e
considerações sobre o dimensionamento e instrumentação, designadamente sobre as
verificação da segurança das barragens. grandezas a serem monitoradas, a seleção
dos instrumentos, o conteúdo do projeto de
Capítulo 5 – “Barragens e outras Estruturas de
instrumentação, os critérios de operação, os
Concreto”, no qual se apresentam os aspec-
procedimentos para processamento e aná-
tos fundamentais e os elementos de projeto
essenciais a considerar no dimensionamento lise de dados e resultados, e a manutenção
das barragens de concreto e de outras estru- do sistema de instrumentação. Finalmente,
turas de concreto (como as estruturas dos referem-se, de forma integrada, as atividades
órgãos extravasores e de operação, e outras), necessárias ao controle da segurança.
os estudos a desenvolver para as fundações
e respectivos tratamentos, bem como para os Referências
materiais (concreto massa, concreto armado,
Entre as diversas referências bibliográficas
aço, etc.), seguindo-se considerações sobre
em que se apoiou a elaboração das presentes
a segurança global das estruturas e sobre o
Diretrizes para a Elaboração de Projetos de
dimensionamento e verificação da segurança.
Barragens deve salientar-se o manual Critérios
Finalmente, apresentam-se disposições cons-
de Projeto Civil de Usinas Hidrelétricas publica-
trutivas essenciais a se ter em consideração no
do em outubro de 2003 pela ELETROBRAS e o
projeto das estruturas de concreto.
Comitê Brasileiro de Barragens.
Capítulo 6 – “Órgãos Extravasores e de
Operação”, onde se apresentam disposições Algumas disposições das Normas de Projecto
essenciais de projeto e dimensionamento de Barragens, publicadas através da Portaria
hidráulico dos órgãos extravasores e de nº 846/93 de 10 de setembro, dos Ministérios
operação, designadamente, do vertedouro, da Defesa Nacional, da Administração Interna,
do descarregador de fundo, das estruturas do Equipamento, do Planeamento e da
de dissipação de energia, das tomadas de Administração do Território, da Economia, da
água e circuitos hidráulicos. Finaliza-se com a Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das
apresentação de outros problemas hidráulicos Pescas e do Ambiente, Lisboa, Portugal, foram
a contemplar no projeto, como, por exemplo, de muito interesse na elaboração destas dire-
erosão por cavitação ou abrasão por sólidos. trizes. Uma versão atualizada dessas normas
está sendo terminada para publicação.
Capítulo 7 – “Reservatório e Área a Jusante”, no
qual se apresentam os aspectos essenciais a Finalmente, é de referir as contribuições forneci-
considerar no dimensionamento do reservatório, das pelas normas espanholas, que fazem parte
incluindo os estudos de remanso, de avaliação do Reglamento Técnico sobre Seguridad de
da sua vida útil, da qualidade da água, bem como Presas y Embalses, de março de 1996, atualizado
aspectos a considerar no cadastramento da área pelo Real Decreto 9/2008 de 11 de janeiro. Essas
do reservatório e no estudo da zona inundável a normas estão em fase final de atualização, pre-
jusante, em caso de ruptura da barragem. vendo-se sua publicação em breve.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
17
1 DISPOSIÇÕES
GERAIS

1.1 Âmbito e objetivos edições das Normas e Regulamentos da


Associação Brasileira de Normas Técnicas
Nas presentes Diretrizes estabelecem-se os – ABNT.
princípios gerais que, do ponto de vista da
Casos específicos e/ou omissos serão supridos
segurança, devem orientar o empreendedor e o
pelas normas, regulamentos e padrões técni-
projetista por ele contratado, na elaboração de
cos das organizações a seguir listadas:
projetos de barragens.
• American Association of State Officials
O uso de critérios diferentes dos aqui indi-
– ASSHTO
cados pode, eventualmente, ser apropriado,
de acordo com as condições específicas de • American Concrete Institute – ACI
alguns empreendimentos e visando, muitas • American Institute of Steel Construction
vezes, à aplicação de novos conhecimentos, de - AISC
técnicas melhoradas de projeto, construção e
de avaliação da segurança de barragens. • American National Standard Institute ANSI
• American Society for Testing Materials
1.2 Responsável pela elaboração - ASTM;
do projeto • American Society of Civil Engineers - ASCE

O responsável técnico pela elaboração do proje- • American Water Works Association - AWWA;
to deve ter registro no Conselho Regional de En- • American Welding Society - AWS;
genharia e Agronomia – CREA, com atribuições
• Associação Brasileira de Cimento Portland
profissionais correspondentes e ter ART (Anota-
- ABCP;
ção de Responsabilidade Técnica) registrada no
CREA da região onde se desenvolve o Projeto. • Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia - ABGE;
1.3 Painel de especialista • Associação Brasileira de Mecânica dos
Solos - ABMS;
É prática corrente no Brasil e em muitos outros
países que a elaboração do projeto de grandes • Associação Brasileira de Recursos Hídricos
barragens seja acompanhada por um painel de - ABRH;
especialistas, contratado pelo empreendedor, vi- • Association Française de Normalisation
sando assegurar a adoção de critérios atualiza- - AFNOR;
dos da melhor prática disponível e a adequação
• British Standards - BS;
do projeto às condições locais.
• California Department of Water Resources
1.4 Normas técnicas - CDWR;
• Comissão Nacional Portuguesa de Grandes
As normas e padrões a serem utilizados na
Barragens - CNPGB
elaboração do projeto devem ser as últimas

18 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
• Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB; • As ações estáticas e dinâmicas, conside-
rando suas variações ao longo da vida da
• Comité Eurointernational du Béton - CEB;
barragem, e as combinações de ações mais
• Concrete Reinforcing Steel Institute - CRSI; desfavoráveis para situações de operação
• Deutsches Institut für Normen - DIN; normal, para situações excepcionais e de
construção e para eventos extremos.
• Instituto Brasileiro de Concreto - IBRACON;
• Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT;
Os aspectos relativos ao controle das vazões
• International Commission on Large Dams através da barragem e, principalmente, através
- ICOLD; da fundação, bem como os associados ao local
• Laboratório Nacional de Engenharia Civil de implantação da obra, tais como as caracte-
- LNEC; rísticas topográficas, geológicas, geotécnicas e
hidrogeológicas, hidrológicas, sismológicas e
• Société Hydraulique Française - SHF;
climáticas, além de aspectos ambientais e de
• United States Army Corps of Engineers utilização da obra, devem ser adequadamente
- USACE; ponderados na definição das características
geométricas das estruturas, na seleção dos ma-
• United States Bureau of Reclamation
teriais para sua construção e na identificação
- USBR;
das principais ações que irão se desenvolver
• United States Federal Specifications – USFS ao longo da vida da barragem. Estes aspectos,
• World Bank. Operational Manual. OP 4.37 – que envolvem diversas áreas de atividade e
Safety of Dams muitas especializações, são apenas referidos
nas presentes Diretrizes de modo a salientar a
sua importância para o projeto das barragens
1.5 Aspectos gerais do projeto
relativamente à sua segurança.

1.5.1 Barragem, fundação e ombreiras 1.5.2 Órgãos extravasores e de operação

A barragem, assim como suas fundações e O projeto deve incluir as estruturas dos ór-
ombreiras, devem ter adequadas condições de gãos extravasores e de operação, tais como,
segurança para as diferentes situações que vão dos vertedouros, dos descarregadores de
ocorrer ao longo da sua vida, tais como, para fundo, e, se for o caso, da casa de força e dos
situações de construção, de operação normal e circuitos hidráulicos, bem como das obras de
também para situações extremas, associadas desvio do rio.
às ações externas (como cheias e sismos) ou
às propriedades estruturais. Assim, no projeto O projeto dos órgãos extravasores e de ope-
da barragem, de sua fundação e ombreiras, ração deve considerar aspectos hidráulicos
devem ser consideradas situações de projeto e operacionais, além dos estruturais, entre
adequadas para verificação das condições de outros:
segurança e operacionalidade, de acidente • As cheias de projeto e de verificação, nas
e incidente identificados, atendendo à expe- fases de construção e de operação, con-
riência existente com obras semelhantes, bem siderando os danos potenciais induzidos
como as características do local, e ainda: pela barragem, e a eventual existência de
• As características geométricas das barragens a montante e a jusante;
estruturas; • A regulação do nível da água no reservatório,
• As características, propriedades e compor- quer em condições normais de operação,
tamento previsto para os materiais da estru- quer em situações de emergência;
tura e da fundação, nos aspectos hidráulico, • O cálculo do tempo necessário para o rebai-
mecânico, térmico e químico; xamento do nível de água no reservatório;

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
19
• A previsão dos dispositivos necessários para uma funcionando como segurança e a outra
proceder à dissipação de energia das vazões destinada ao serviço normal de operação.
descarregadas e turbinadas (quando for o Existem também casos com ocorrência
caso), sem prejuízo para a barragem e para de controle a jusante, com comportas ou
outras obras que possam ser afetadas. válvulas.

As soluções adotadas para os órgãos extra-


vasores e de operação devem ser justificadas 1.5.3 Reservatório e áreas no entorno
por métodos comprovados pela experiência e,
sempre que necessário, recorrendo à utilização Os estudos do reservatório devem incluir:
de modelos físicos.

No caso de barragens com altura do maciço • A justificativa dos volumes total, útil e morto
superior a 15 m (quinze metros) e/ou com do reservatório, e o volume reservado para
capacidade total do reservatório superior a amortecimento de cheias;
3.000.000 m3 (três milhões de metros cúbi- • Volume de sedimentos que serão
cos), considera-se recomendável que: transportados;
• Os vertedouros sejam aptos a escoar vazões • Características de permeabilidade do reser-
de projeto, sem necessidade de auxílio dos vatório e estabilidade de suas margens, bem
descarregadores de fundo (ou descargas de como eventuais medidas que se considerem
fundo) ou de outros órgãos de operação; necessárias.
• Os vertedouros munidos de comportas
1.5.4 Barragem - Ações de projeto e
satisfaçam os seguintes requisitos: sejam
condições de carregamento
divididos em, pelo menos, dois vãos ou
orifícios; as comportas possam ser mano-
As principais ações a considerar no projeto de
bradas localmente e à distância, e mediante
barragens (barragem de aterro, barragem de
energia de natureza elétrica ou hidráulica,
concreto, estruturas de concreto dos órgãos ex-
procedendo de duas origens distintas, além
travasores, dos órgãos de operação ou da casa
de poderem ser acionadas manualmente
de força), estabelecidas de acordo com as nor-
nos casos em que a sua dimensão permita
mas brasileiras da ABNT, como referido no item
tal manobra em tempo útil; e, no caso de se
1.4, são as seguintes (ELETROBRAS, 2003):
instalarem comportas automáticas, even-
tualmente utilizando sensores elétricos para • Ações permanentes
medição do nível da água, estas comportas
sejam providas de dispositivos e sistemas ˚˚ Peso próprio
que permitam controlar o funcionamento ˚˚ Cargas diversas
do automatismo com confiabilidade; • Cargas acidentais
• Sejam previstos descarregadores de fundo
(ou descargas de fundo) que permitam o ˚˚ Sobrecargas
˚˚ Cargas
rebaixamento do reservatório abaixo da devidas à presença de
crista do vertedouro, e não apenas quando equipamentos eletromecânicos
é imperativo manter uma vazão a jusante
˚˚ Cargas devidas à operação de equipa-
(para abastecimento, irrigação ou outros mentos de construção e ações tem-
usos), ou quando é necessária a descarga porárias dos equipamentos durante a
de sedimentos; operação
• Os descarregadores de fundo sejam
• Pressões hidrostáticas
equipados com duas comportas ou vál-
vulas, controladas por montante, com • Pressões hidrodinâmicas
possibilidade de acionamento idêntico ao
˚˚ Devido a esforços hidráulicos
atribuído às comportas dos vertedouros,

20 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
˚˚ Devido a ações sísmicas excepcional, efeitos sísmicos, etc.) e as
ações correspondentes à condição de
• Pressões Intersticiais
carregamento normal.
˚˚ Análises com traçado de redes de fluxo • Condição de Carregamento Limite (CCL)
˚˚ Análises simplificadas, de acordo com Corresponde a uma combinação de
diretrizes gerais como:
ações, com muito baixa probabilidade de
˚˚ Subpressões no contato das estrutu- ocorrência ao longo da vida útil da estru-
ras de concreto com a fundação tura, considerando a ocorrência de mais
de uma ação excepcional (condições
˚˚ Subpressões em seções de concreto
hidrológicas excepcionais, defeitos no
˚˚ Subpressões em planos inferiores ao sistema de drenagem, manobras de ca-
contato concreto/fundação
ráter excepcional, efeitos sísmicos, etc.)
• Pressão dos sedimentos transportados e as ações correspondentes à condição
• Empuxo de terraplenos de carregamento normal.
• Condição de Carregamento de Construção
• Ações devidas ao vento
(CCC)
• Dilatação, retração e deformação lenta de
estruturas de concreto Corresponde a todas as combinações
de ações que podem ocorrer durante a
No Manual da Eletrobras (ELETROBRAS, execução da obra (em períodos curtos
2003) definem-se as ações acima listadas e em relação à sua vida útil), devido a car-
indicam-se os respectivos valores de referên- regamentos de equipamentos de cons-
cia ou recomendados. Considera-se que esses trução, a estruturas executadas apenas
valores de referência devem ser adotados para parcialmente, carregamentos anormais
todas as barragens destinadas à acumulação durante o transporte de equipamentos
de água, independentemente da classificação permanentes, e quaisquer outras condi-
da barragem. No mesmo manual indicam-se ções semelhantes.
também as condições de carregamento a
adotar nos estudos de estabilidade global e 1.5.5 Aspectos ambientais e
de avaliação dos esforços internos (tensões), administrativos
para as estruturas civis dos aproveitamentos
hidráulicos, designadamente: Os aspectos ambientais associados à constru-
ção das barragens, bem como à sua operação
• Condição de Carregamento Normal (CCN)
ao longo da vida útil, passaram a constituir
Corresponde às combinações de ações, uma preocupação importante no projeto das
com grande probabilidade de ocorrência barragens desde as últimas décadas do século
ao longo da vida útil da estrutura, que XX, em especial depois da publicação de diver-
ocorrem durante a operação normal ou a sos documentos da Comissão Internacional
manutenção de rotina da obra, em condi- das Grandes Barragens sobre este tema, entre
ções hidrológicas normais. outros (ICOLD, 1967) e com a implementação
• Condição de Carregamento Excepcional da Política Nacional de Meio Ambiente nos
(CCE) anos 1980 no Brasil.

Corresponde a uma combinação de Os estudos, com vistas à caraterização dos


ações, com baixa probabilidade de ocor- impactos ambientais e à definição de medidas
rência ao longo da vida útil da estrutura, mitigadoras adequadas, envolvem aspectos
em geral, considerando a ocorrência de muito diversos, desde o realojamento de po-
uma ação excepcional (condições hidro- pulações afetadas a aspectos climáticos, re-
lógicas excepcionais, defeitos no sistema lativos à fauna e à flora, etc. Referem-se, como
de drenagem, manobras de caráter exemplo, os estudos e trabalhos promovidos

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
21
pela EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Durante a elaboração do projeto também
Infraestrutura do Alqueva, relativos ao orde- devem ser analisadas e ponderadas as con-
namento do território, à qualidade da água, à dições em que irá decorrer a construção, bem
limpeza e desmatamento do reservatório, à como a operação, manutenção, inspeção,
vazão remanescente, aos sismos induzidos, monitoramento e instrumentação da obra ao
à sedimentologia, no reservatório e a jusante longo do tempo.

da barragem, e aos aspectos arqueológicos O projeto e a construção de barragens exigem


e de preservação do patrimônio cultural, outorga de uso de recursos hídricos e licen-
realizados para a barragem de fins múlti- ciamento ambiental, cujas condicionantes
plos do Alqueva, no rio Guadiana, Portugal podem ter implicações a serem seguidas
(SANCHES; PEDRO, 2006). pelo empreendedor.

22 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
2 ETAPAS DOS
ESTUDOS E
PROJETOS

2.1 Generalidades fases posteriores, com maior investimento nos


estudos de base, tais como, nos levantamen-
O projeto, nas suas diversas etapas, deve ba- tos topográficos, prospecções geológicas e
sear-se em estudos nos quais os problemas de geotécnicas, ensaios de materiais, medições e
segurança tenham sido devidamente conside- estudos.
rados, de acordo com o porte da barragem e
Nessa fase devem ser mencionadas as pos-
com a classe de dano potencial1 associado que
sibilidades de a barragem servir a finalidades
lhe for atribuída.
múltiplas, maximizando seus benefícios am-
A segurança das barragens deve considerar bientais e sociais.
aspectos estruturais, hidráulicos, operacionais
A primeira fase de um projeto de barragem
e ambientais.
deve incluir uma inspeção aos locais alterna-
tivos para sua implantação, por equipe multi-
2.2 Estudos preliminares e de disciplinar, incluindo, no mínimo, engenheiros
viabilidade civis com experiência em geotecnia, hidráulica,
hidrologia e construção e, ainda, geólogo de
2.2.1 Estudos preliminares engenharia e especialista em meio ambiente.

Em cada local alternativo recomenda-se que,


Na fase de Estudos Preliminares ou de
nessa fase:
Inventário são estudadas, sumariamente,
alternativas de localização e de porte da bar- • seja realizado um mapeamento geológico de
ragem e do seu reservatório. São estimados, superfície apoiado por geofotointerpretação;
em primeira aproximação, os benefícios, os
• o estudo hidrológico defina uma série de
custos e os prazos de implantação das obras,
descargas médias mensais e seja esti-
bem como os impactos ambientais e os pos-
mada a descarga de projeto dos órgãos
síveis custos de mitigação desses impactos. A
extravasores;
viabilidade ambiental do projeto é um aspecto
fundamental para o seu prosseguimento em • as estruturas civis e os equipamentos
permanentes sejam dimensionados e quan-
tificados com base em soluções tradicio-
1 Dano potencial associado: dano que pode ocorrer devido a rompi- nalmente adotadas em projetos do tipo em
mento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de
uma barragem, independentemente da sua probabilidade de ocor- estudo.
rência, podendo ser graduado de acordo com as perdas de vidas
humanas e impactos sociais, econômicos e ambientais.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
23
2.2.2 Estudos de viabilidade contendo a descrição do empreendimento,
os processos construtivos, a infraestrutura de
Esses estudos têm por objetivo a caracteriza- canteiro de obra, o cronograma de execução
ção da viabilidade técnica, econômica e am- e, ainda, termo de referência para os estudos
biental da implantação, bem como a operação ambientais, objetivando a obtenção da Licença
da barragem e de seu reservatório. Prévia. Sugere-se que os levantamentos de
campo envolvam pelo menos uma estiagem
Para tanto se torna necessário o conhecimento
e uma época chuvosa. Caso venha ser de-
da valoração dos benefícios econômicos e
mandado pela legislação ou pela entidade
sociais conferidos pela barragem (ainda que
licenciadora, nessa fase são preparados docu-
calculados em termos estatísticos), em termos
mentos para a realização de fóruns ambientais
presentes e em cenários futuros, os custos de
e audiência(s) pública(s).
implantação, de comissionamento, de ope-
ração, de manutenção da barragem e, ainda, O Estudo de Viabilidade deve ser constituído
os custos ambientais (incluídos os custos de por peças escritas e desenhadas e outros ele-
implantação e manutenção dos programas mentos de informação, de modo a possibilitar a
ambientais e das medidas mitigadoras e com- apreciação das soluções preconizadas, incluin-
pensatórias), ao longo da vida útil da barragem do aspectos de segurança, e, assim, permitir a
e do reservatório. Todos os itens indicados sua comparação e a tomada de decisões.
devem ser monetariamente valorados, de
modo a ser possível estabelecer um fluxo de
2.3 Projeto básico
caixa, englobando investimentos e benefícios
ao longo do tempo.
No inciso IX do art. 6º, Seção II das definições,
Os custos de construção devem ser baseados da Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993, é in-
na seleção de uma alternativa de projeto, con- cluída a seguinte definição de Projeto Básico:
siderando o tipo de barragem e de seus órgãos “conjunto de elementos necessários e suficien-
extravasores e de operação, como tomada de tes, com nível de precisão adequado, para carac-
água e casas de força, além de outras estru- terizar a obra ou serviço, ou complexo de obras
turas que vierem a ser necessárias, tais como ou serviços objeto da licitação, elaborado com
órgãos e equipamentos para transposição de base nas indicações dos estudos técnicos preli-
peixes, eclusas de navegação, descarregadores minares, que assegurem a viabilidade técnica e o
de vazões ecológicas ou sanitárias e outros. adequado tratamento do impacto ambiental do
empreendimento, e que possibilite a avaliação
As alternativas de projeto da barragem devem do custo da obra e a definição dos métodos e do
ser desenvolvidas, de modo a ser possível esti- prazo de execução, devendo conter os seguintes
mar os custos de construção civil e fabricação, elementos:
transporte e montagem dos equipamentos
a) desenvolvimento da solução escolhida de
permanentes. Devem também ser estimados
forma a fornecer visão global da obra e iden-
os custos dos acessos, das instalações de
tificar todos os seus elementos constitutivos
canteiro de obra e de acampamento, e da
com clareza;
manutenção dessas instalações, bem como da
engenharia de projeto e engenharia do proprie- b) soluções técnicas globais e localizadas,
tário, de desapropriações, do suprimento de suficientemente detalhadas, de forma a
energia elétrica, dos seguros e dos juros. minimizar a necessidade de reformulação ou
de variantes durante as fases de elaboração
Nessa fase são desenvolvidos os levantamen- do projeto executivo e de realização das
tos de campo, os ensaios de laboratório e estu- obras e montagem;
dos ambientais visando à elaboração do EIA/ c) identificação dos tipos de serviços a executar
RIMA (se necessário) e a obtenção da Licença e de materiais e equipamentos a incorporar
Prévia. Recomenda-se que, de início, seja emi- à obra, bem como suas especificações que
tido um Relatório de Planejamento Ambiental,

24 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
assegurem os melhores resultados para o para o projeto de barragens, quer do setor pú-
empreendimento, sem frustrar o caráter blico, quer do setor privado.
competitivo para a sua execução;
O Projeto Executivo, por se constituir no deta-
d) informações que possibilitem o estudo e a
lhamento do projeto básico, principalmente
dedução de métodos construtivos, instala-
nas obras maiores, é realizado durante a
ções provisórias e condições organizacionais
construção, uma vez que as condições reais
para a obra, sem frustrar o caráter competiti-
encontradas na implantação podem otimizar
vo para a sua execução;
custos importantes. Nas obras menores, a sua
e) subsídios para montagem do plano de licita- antecipação visa complementar o projeto bá-
ção e gestão da obra, compreendendo a sua sico e dar maior confiabilidade no orçamento
programação, a estratégia de suprimentos, antecipado da implantação.
as normas de fiscalização e outros dados
necessários em cada caso; No Projeto Executivo devem ser detalhadas as
soluções preconizadas no Projeto Básico das
f) orçamento detalhado do custo global da
obras civis e dos equipamentos hidromecâni-
obra, fundamentado em quantitativos de
cos e elétricos, confirmando-se a sua exequi-
serviços e fornecimentos propriamente
bilidade e adaptando-as às condições reais
avaliados”.
encontradas durante a construção, baseados
Apesar de essa lei instituir normas para licita- em novos dados de campo obtidos, quer atra-
ções e contratos da Administração Pública, a vés da observação das condições topográficas
definição do Projeto Básico nela contida é ade- existentes, quer de investigações geotécnicas
quada também para o projeto de barragens do adicionais, ou através de dados de instrumen-
setor privado. tação instalada durante a construção.

Assim, o Projeto Básico de uma barragem Soluções alternativas às desenvolvidas no


deve ser constituído por peças escritas e de- projeto básico só devem ser consideradas se
senhadas e outros elementos de estudo, tais novos dados surgirem durante a construção
como o estudo de materiais de construção, que inviabilizem ou apresentam vantagens
resultados de ensaios de laboratório ou de técnicas, econômicas ou de prazo.
campo, relativos à definição final e respectivo
dimensionamento, uma proposta de canteiro, O Projeto Executivo de uma barragem deve ser
com o modo de construção das obras, critérios constituído por peças escritas (adaptação/refi-
de medição e as medições, quantitativos e or- namento de critérios de projeto e memórias de
çamento finais e as especificações técnicas, de cálculo) e desenhadas de fácil e inequívoca inter-
modo a, eventualmente, fazer licitação e poder pretação que irão permitir a construção da obra.
iniciar-se a construção da obra. As especificações técnicas construtivas, as
medições com critérios de medição e quanti-
2.4 Projeto executivo tativos deverão, se necessário, ser alteradas,
adaptadas ou complementadas, de modo a
No inciso X do art. 6º, Seção II, da Lei nº 8.666 permitirem a execução das soluções desenvol-
de 21 de junho de 1993, é definido o Projeto vidas no projeto executivo.
Executivo da seguinte forma: “ o conjunto dos
elementos necessários e suficientes à execução
2.5 Projeto final como
completa da obra, de acordo com as normas
construído (as built)
pertinentes da Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT”. Após a conclusão da construção, o empreen-
Tal como para o Projeto Básico, esta definição dedor promoverá a obtenção de um docu-
do Projeto Executivo é considerada adequada mento que se intitulará “Projeto Final como
Construído” e que será parte integrante do
Plano de Segurança da Barragem. Este projeto,

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
25
que deve estar disponível para análise da en- • Os resultados dos ensaios de materiais
tidade fiscalizadora, sempre que esta assim o utilizados (concreto, solos, enrocamentos,
entenda, deve incluir: maciço rochoso e outros materiais) e outros
• Os elementos com interesse para a segu- estudos laboratoriais efetuados e respecti-
rança da obra tal como executada, incluindo vos relatórios;
relatórios, desenhos como construído e • Os cronogramas de execução dos serviços;
cálculos justificativos; • O plano de monitoramento e de instrumen-
• Representação dos aspectos geológicos tação realmente utilizados nas obras;
e geotécnicos da fundação da barragem e • Os registros das leituras da instrumentação
dos resultados, relativos ao seu tratamento, e a das inspeções realizadas durante a
bem como das obras subterrâneas; construção.
• Fotografias representativas das escavações
para as fundações e do seu tratamento e
dos demais aspectos da construção;

26 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
3 ELEMENTOS
BASE E ESTUDOS
GERAIS DO
PROJETO

Apresentam-se, em seguida, os elementos temperaturas médias mensais, obtidas com


base e os estudos do projeto, comuns aos di- base num número significativo de anos, da
ferentes tipos de barragens, visando a obter os insolação, da radiação solar média mensal
elementos a incluir nos projetos, independen- e dos ventos dominantes (velocidade e
temente da etapa em que se encontram e do direção);
tipo de barragem.
• Tipos de ocupação humana, agrícola e
industrial, e vias de acesso das áreas a mon-
3.1 Elementos gerais tante e a jusante da barragem;
• Análise das características do local da bar-
Os elementos gerais a incluir no projeto são:
ragem e da área a jusante que possam ter
influência nas soluções encontradas para o
• Mapas em escala adequada de localização,
desvio do rio e para o vertedouro.
da bacia hidrográfica e da área a jusante da
barragem necessários para os estudos da Estes elementos gerais de apoio à caracteriza-
descarga dos órgãos extravasores e da onda ção topográfica, geológica, geotécnica, hidro-
de inundação provocada pela ruptura da lógica, hidrogeológica e sismológica do local
barragem, para as barragens de dano poten- da obra, conjugados com aspectos ambientais,
cial alto, e de localização de obras existentes
e administrativos, bem como as finalidades da
na bacia com interesse para a avaliação da
obra, devem ser adequadamente ponderados
segurança, bem como povoações existentes
com vistas à definição das soluções de projeto.
junto ao rio;
Essa definição geral e detalhamento são feitos
• Perfil longitudinal do rio desde a nascente
ao longo das fases de projeto referidas no ca-
até a uma determinada distância a jusante
pítulo 2.
da barragem, que se considere adequada,
assim como perfis dos principais afluentes, Sempre que possível deve-se trabalhar com
assinalando-se neles as barragens existen- cartografia em escalas grandes, produzindo
tes, com indicação do tipo, altura, compri-
mapeamentos com bases a laser e radar, exis-
mento da crista, volume armazenado, uso
tentes nos comandos do Ministério da Defesa:
principal e potência instalada;
DSG, ICA, DHN e IBGE (INDE).
• Plantas e respectiva topografia do local da
barragem e da bacia hidrográfica, com o Nos itens seguintes referem-se aspectos dos
contorno do reservatório; estudos utilizados na caracterização de alguns
• Descrição das condições climáticas da elementos base de projeto, especialmente rele-
região, com indicação, tais como, das vantes para a definição das soluções de projeto.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
27
3.2 Estudos hidrológicos falta destes, valores obtidos pela aplicação
de modelos adequados.
Os estudos hidrológicos, de fundamental im-
As metodologias a utilizar devem ser as mais
portância para o projeto das barragens, visam
adequadas, face à informação disponível e às
a obter os seguintes elementos:
características e finalidades do aproveitamen-
• Vazões fornecidas pelo aproveitamento e to, adotando-se os seguintes procedimentos:
probabilidade de garantia dessas vazões,
de acordo com a distribuição no tempo das
• As vazões fornecidas na seção em estudo
demandas a satisfazer;
devem ser determinadas, sempre que pos-
• Hidrogramas das cheias naturais e modifi- sível, recorrendo-se à análise estatística de
cadas, para dimensionamento dos órgãos séries homogêneas, da ordem de pelo menos
extravasores, definitivos e provisórios; 30 anos, de registros de vazões integrais
• Curvas de vazão nas seções de restituição; mensais e anuais;
• Volume de sedimentos afluentes ao • Na falta de séries de registros suficiente-
reservatório, para fixação do volume de mente longas ou na ausência de quaisquer
assoreamento. registros de vazões, deve a informação
disponível ser completada com dados de-
A realização dos estudos hidrológicos é, em
duzidos das precipitações e de informações
geral, baseada na informação e de acordo com
da população local;
metodologias e procedimentos a seguir indica-
dos (NPB, 1993). • As vazões fornecidas pelo aproveitamento
devem ser determinadas pela análise da ex-
A informação necessária é a seguinte: ploração prevista do reservatório, utilizando
• Características fisiográficas (morfologia, técnicas de simulação e recorrendo à série
geologia, pedologia e rede hidrográfica), histórica ou a séries sintéticas que repro-
climáticas, de cobertura vegetal e de duzem as características estatísticas das
ocupação da bacia hidrográfica própria do séries de vazões a que se refere a alínea (a);
aproveitamento; • As perdas por evaporação e por percolação
• Distribuição estatística da precipitação através da fundação e do corpo da barragem
anual e das precipitações mensais sobre devem ser avaliadas e incluídas na análise;
a área da bacia hidrográfica do aproveita- • A cheia de projeto deve ser fixada, recor-
mento, utilizando os registros disponíveis; rendo-se a métodos estatísticos, incorpo-
• Distribuição estatística das precipitações rando a informação histórica disponível, de
extremas sobre a bacia hidrográfica, com du- simulação hidrológica (modelos precipita-
ração associada ao tempo de concentração; ção-escoamento) e a fórmulas empíricas,
com a análise crítica dos valores obtidos
• Escoamentos integrais anuais e mensais
pelas diferentes vias de cálculo, e conside-
afluentes à seção da barragem;
rando cheias originadas por precipitação
• Vazões instantâneas máximas anuais ou, na com duração igual e múltipla do tempo de
falta destas, vazões diárias máximas anuais; concentração;
• Registros adicionais sobre vazões de • Os tempos de recorrência a adotar no di-
cheia (informação histórica), incluindo mensionamento dos órgãos extravasores e
marcas de cheia, testemunhos verbais e proteção contra cheias devem ser fixados,
registros escritos; de acordo com o tipo, altura e classificação
• Valores dos parâmetros caracterizadores da barragem quanto ao dano potencial
da qualidade da água e inventário de fontes associado;
poluidoras; • Os tempos de recorrência mínimos, reco-
• Registros de medições do transporte de mendados para as cheias de projeto são
sedimentos afluente ao reservatório ou, na indicados no Quadro 1;

28 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
• As vazões de dimensionamento dos órgãos reservatório (mediante desmatamento e lim-
extravasores devem considerar o amorteci- peza do terreno e trabalhos de investigação
mento das cheias no respectivo reservatório e geológico-geotécnica) e devem conduzir à
nos reservatórios a montante. definição dos seguintes elementos:
A precipitação máxima provável (PMP) deverá pre- • Conhecimento das condições geológicas
ferencialmente ser obtida segundo o “Manual de regionais;
Estimação da PMP”, elaborado pela Organização • Modelo geológico para o local da barragem, em
Meteorológica Mundial (WMO, 2009).
função da composição litológica e estrutural do
A cheia máxima provável (CMP) deverá ser de- local, com indicação das principais característi-
terminada recorrendo a modelos precipitação cas relevantes para o projeto;
– escoamento tendo como base a PMP. • Características hidrogeológicas da região e
do local da obra, com indicação de surgên-
Em alternativa e na falta de dados de base
suficientes para a estimação da PMP, poderá cias, infiltrações, cavernas, artesianismo,
utilizar-se o valor correspondente à cheia com qualidade da água e grau de solubilidade
o período de recorrência de 10 000 anos. das rochas.

O programa de investigações geológico-geo-


Quadro 1. Tempos de recorrência mínimos (anos) técnicas engloba o mapeamento de superfície
recomendados para as cheias de projeto. e a realização de ensaios de geofísica (sísmica
Volume, V Tempo de
de refração, eletrorresistividade, GPR, etc.),
Altura, h (m)
(hm³) recorrência (anos) sondagens mecânicas (percussão, rotativa e
h ≥ 30 V ≥ 50 CMP trado), poços, trincheiras, galerias, amostra-
15 ≤ h < 30 03 ≤ V < 50 1 000 gens e ensaios in situ e de laboratório.
h < 15 V < 03 500
As condições hidrogeológicas do maciço
devem ser avaliadas com segurança, através
Os estudos hidrológicos devem ser comple- de ensaios de perda da água, infiltração, bom-
mentados com a avaliação das áreas inun- beamento, instalação de medidores de nível da
dáveis e do tempo de propagação das cheias água, piezômetros, etc.
provocadas por uma eventual ruptura da
barragem, recorrendo-se a modelos hidrodinâ- O estudo dos materiais de construção, de seu
micos adequados. Esses estudos irão permitir desmonte e de suas condições de colocação em
classificar o dano potencial associado. obra é feito mediante investigações geológico-
geotécnicas nas jazidas de materiais e pedreiras,
No caso de barragens com dano potencial as-
envolvendo ensaios de geofísica, sondagens me-
sociado alto e/ou se a entidade fiscalizadora o
determinar, devem ser elaborados os estudos cânicas, poços, trados e ensaios de laboratório.
de rompimento de barragem e o Plano de Ação A consideração conjunta, da disponibilidade
de Emergência (PAE), e com a definição de
de materiais, dos impactos ambientais resul-
sistemas de aviso e previsão de cheias.
tantes da sua extração, da morfologia do vale
e das condições de fundação, definirá o tipo de
3.3 Estudos geológicos, barragem mais adequado em cada caso.
hidrogeológicos e geotécnicos
Na Figura 1 apresenta-se, como exemplo, o
Os estudos geológicos e hidrogeológicos modelo geológico obtido para uma barragem
apoiam-se em informações já existentes e de concreto, através dos estudos e investiga-
em observações do local da barragem e do ções realizadas.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
29
Figura 1. Modelo geológico 2D de uma barragem de concreto gravidade (Barragem de Ribeiradio,
Portugal).
Fonte: OLIVEIRA et al., 2006 / Banco de Imagens ANA

30 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Complementando a informação geológica e sua estrutura (zoneamento, falhas, famílias
hidrogeológica e, com base nas investigações de descontinuidades, etc.), bem como, em
geológico-geotécnicas, são desenvolvidos os especial, do seu comportamento hidráulico
estudos geotécnicos para o local da barragem, (permeabilidade) e mecânico (deformabi-
jazidas de materiais e pedreiras, com a defini- lidade, resistência, em alguns casos efeitos
ção dos seguintes elementos (NPB, 1993): do tempo);
• Fraturamento do maciço de fundação da • a uma avaliação das condições de realização
barragem, com definição e caracterização do tratamento das fundações com vistas a
das feições principais; melhorar o seu comportamento hidráulico e
• Zoneamento do maciço de fundação da estrutural;
barragem, visando definir áreas do maciço • a uma avaliação em volume e qualidade da
com características aproximadamente existência de materiais disponíveis para a
homogêneas; construção das obras (OLIVEIRA, 2006).
• Classificação das zonas geotécnicas identi- Os estudos relativos à caracterização geológi-
ficadas para definir a superfície de fundação ca, hidrogeológica e geotécnica dos maciços
da barragem e dos órgãos extravasores e de de fundação das barragens requerem especial
operação; atenção no caso de fundações difíceis, tais
• Permeabilidade das formações que consti- como quando constituídas por solos que po-
tuirão o maciço de fundação da barragem e dem sofrer liquefação, dispersão ou colapso,
do reservatório, bem como os escoamentos ou por maciços rochosos cársticos ou consti-
que nele poder-se-ão instalar; tuídos por rochas com gesso (OLIVEIRA, 1973).
• Condições de injeção de consolidação, de
impermeabilização e de drenagem dos ma- 3.4 Estudos sismológicos
ciços de fundação;
• Propriedades geomecânicas do maciço Os estudos sismológicos devem abranger o
de fundação da barragem, dos taludes do local da obra, a região (algumas dezenas de
reservatório e dos terrenos situados imedia- quilômetros em torno do local) e a província
tamente a jusante; tectônica (algumas centenas de quilômetros
• Propriedades mecânicas e de permeabilida- em torno do local) e devem incluir a história
de dos materiais disponíveis nas jazidas de sísmica, designadamente a relação dos sismos
materiais e pedreiras; registrados com indicação de datas, profun-
didade dos focos, epicentros, magnitudes, e
• Zoneamento e avaliação dos volumes dos
durações.
diversos materiais de construção disponí-
veis e indicação de sua distância à obra. A sismicidade do território do Brasil é baixa,
Estes estudos que devem ser realizados por como é evidenciada pelo mapa da Figura 2. No
especialistas, ao longo das diversas fases do entanto, alguns sismos podem ser induzidos
desenvolvimento dos projetos, como referido por outras causas, tais como, pela formação de
no capítulo 2, são de grande importância para grandes reservatórios criados pelas barragens
o projeto das obras, e devem conduzir, em (sismos de barragem).
especial:
• a uma adequada caracterização dos ma-
ciços de fundação, dos pontos de vista da

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
31
Figura 2. Mapa de risco sísmico na América do Sul. Aceleração máxima na rocha com a probabili-
dade de 90% de não ser excedida, para um período de 50 anos.
Fonte: GSHAP

Os principais sismos de barragem que ocor- 3,0; Capivari-Cachoeira (PR), magnitude 3,0;
reram no Brasil e as respectivas magnitudes Açu (RN, 1994), magnitude 3,0.
foram os seguintes: Volta Grande (MG/SP,
Os estudos sismológicos devem conduzir à
1974), magnitude 4,2; Nova Ponte (MG, 1998),
definição das ações sísmicas, em particular
magnitude 4,0; Cajuru (MG, 1972), magnitude
da intensidade, forma e duração das vibrações
3,7; Capivara (PR/SP, 1979), magnitude 3,7;
sísmicas no local da obra, considerando-se
Tucuruí (PA, 1998), magnitude 3,6; Balbina
ICOLD (1989b); NPB (1993); e MI (2002):
(AM, 1990), magnitude 3,4; Miranda (MG,
2000), magnitude 3,3; Paraibuna (SP, 1977), • O sismo máximo de projeto (SMP), que
magnitude 3,0; Igaratá (SP, 1985), magnitude corresponde ao maior sismo crível (SMC)
que pode afetar a barragem, e que deve

32 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
ser estimado por via determinística, ou, vista assegurar um valor muito baixo para a
não dispondo da necessária informação, probabilidade de galgamento e, por outro lado,
por via probabilística, devendo neste caso evitar o encarecimento desnecessário da obra.
serem adotados os tempos de recorrência
mínimos, em função do dano potencial as- O valor da borda livre deve ser essencialmente
sociado, indicados no Quadro 2; determinado pelos seguintes fatores: regime
de ventos, fetch (máxima linha reta ininterrup-
• Os sismos de projeto indicados no Quadro
ta sobre o lago segundo a qual sopra um vento
2 devem ser selecionados considerando de-
específico), tipo de barragem, sismicidade
terminadas situações, tais como atividades
da região (pouco condicionante no caso do
de extração de petróleo e gestão de águas
subterrâneas ou, no caso de barragens com Brasil) e incerteza em relação aos parâmetros
mais de 100 m de altura, criando reservató- hidrológicos. Na definição desse valor pode
rios de capacidade superior a 1 000 hm3 de ser considerada uma parcela, devida a fatores
armazenamento. quantificáveis, e outra, devido a fatores não
quantificáveis.
Quadro 2. Sismo máximo de projeto das barragens. Tendo em consideração que os valores dos
Sismo máximo de projeto (SMP) fatores quantificáveis que podem ocorrer du-
Dano Avaliação probabil- rante os períodos de operação normal devem
potencial Avaliação de- ística
associado ser mais elevados do que os que podem ocor-
terminística (tempo de recorrência
mínimo, anos) rer durante o curto período em que ocorre a
Alto SMC 1/10.000 cheia de projeto, o valor da borda livre deve ser
De 50% a o maior que for obtido para as duas definições
Médio 1/1.000 a 1/10.000
100% do SMC
referidas.
Baixo 1/100 a 1/1.000

3.5.2 Fatores quantificáveis


Na ausência de estudos de sismicidade,
Na prática corrente, tem-se considerado
recomenda-se a utilização dos critérios esta-
como fatores quantificáveis os associados às
belecidos em ELETROBRÁS (2003), através
ações do vento (ondulação e maré de vento)
da análise pseudo-estática a avaliação das
e dos sismos.
condições da barragem face a sismos naturais
ou induzidos adotando-se cargas sísmicas O vento sobre o reservatório provoca sobre-
correspondentes a acelerações de 0,05g na -elevações temporárias do nível de água e
direção horizontal e 0,03g na direção vertical. ondulações, cujas características (magnitude,
duração, orientação e distribuição sazonal)
3.5 Borda livre normal e mínima devem ser devidamente ponderadas e aferidas
ao local da barragem.
3.5.1 Definição A probabilidade de ocorrência simultânea de
vento excepcional e da cheia máxima de proje-
A borda livre normal em barragens tem sido
to é muito baixa. Assim, a hipótese de vento ex-
definida como a diferença entre a cota da
cepcional deve ser conjugada com as situações
crista e o nível máximo normal do reservatório
de operação normal do reservatório, enquanto
(ICOLD, 1978). Pode, no entanto,
a situação de cheia máxima de projeto deve ser
definir-se uma borda livre mínima (diferença conjugada com a ocorrência de vento habitual.
entre a cota da crista e o nível de máxima cheia,
O vento excepcional é um vento com caracterís-
ou nível maximum maximorum).
ticas ciclônicas, com um tempo de recorrência
O valor da borda livre é muito importante para da ordem do milhar de anos, enquanto o vento
fixar a cota da crista da barragem, tendo em habitual é um vento forte, mas com um tempo

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
33
de recorrência da ordem das duas dezenas em que S1 representa a sobre-elevação devida
de anos. ao espraiamento (m); K é um fator que ca-
racteriza a rugosidade da superfície do talude
Não se dispondo de informação suficiente para
de montante da barragem; α – ângulo desse
estabelecer as velocidades do vento, podem
talude com a horizontal (admite-se inclinação
ser adotadas para o vento excepcional uma ve-
constante do paramento na área pertinente);
locidade de 160 km/h e, para o vento habitual,
Hs a altura significativa das ondas (média
uma velocidade de 80 km/h (USBR, 1973).
aritmética das alturas do terço das ondas mais
A velocidade do vento e a altura das ondas altas); e L o comprimento de onda.
geradas são condicionadas pela topografia
A expressão anterior foi estabelecida para
da área do reservatório (desenvolvimento e
barragens de aterro4, admitindo que as ondas
forma), fatores representados pelo fetch máxi-
incidem normalmente ao talude da barragem,
mo (maior comprimento que é possível traçar
(Martins, 2002).
sobre o reservatório) e pelo fetch efetivo (que
considera a forma do reservatório). Este último Os valores do fator de rugosidade (K) são in-
pode ser obtido pela média dos valores corres- dicados no Quadro 3 (Meer; Janssen, 1994;
pondentes ao fetch máximo e dos oito valores, Martins, 2002):
obtidos para ângulos afastados 3o entre si,
Para estimar a altura significativa das ondas
quatro para um e outros lados (USBR, 1992).
(Hs), existem também fórmulas, tal como
A ação do vento origina uma maré (wind (Martins, 2002):
setup ou wind tide)2 no reservatório, com uma
sobre-elevação do nível da água que pode ser 𝑉𝑉 !,!" 𝐹𝐹!!,! 𝑉𝑉𝐹𝐹!!,!
estimada pela expressão (USBR, 1992, 2012): 𝐻𝐻𝐻𝐻 = ou 𝐻𝐻𝐻𝐻 =  
422 200

𝑉𝑉 ! 𝐹𝐹𝐹𝐹 Sendo Hs expresso em (m), V em (km/h) e Ft


𝑆𝑆! =
6,3  . 10! 𝐷𝐷 em (km).

em que S0 representa a sobre-elevação do re- Quadro 3. Fator de rugosidade, K.


(Fonte: Meer; Janssen, 1994; Martins, 2002)
servatório (m); V a velocidade do vento (km/h);
Ft o fetch efetivo (km); e D a profundidade Rugosidade da superfície do talude de
K
montante
média do reservatório na área de medição do
Liso (concreto, concreto betuminoso, blo-
fetch (m). cos arrumados)
1,0

Grama (3 cm) 0,9 / 1,0


O espraiamento (run-up)3 sobre o talude de
camada de enrocamento de proteção
montante contribui também para uma signifi- 0,55 /
(rip-rap) de dimensão característica d tal
0,60
cativa elevação das ondas, que pode ser ava- que Hs/d=1,5 a 3
liada pela expressão (Meer; Janssen, 1994): ou mais camadas de enrocamento de pro-
0,50 /
teção de dimensão característica d tal que
0,55
Hs/d=1,5 a 6

𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡
𝑆𝑆! = 1,6𝐾𝐾 𝐻𝐻𝐻𝐻
𝐻𝐻𝐻𝐻 𝐿𝐿 Observa-se que as expressões anteriores, em-
bora de estrutura semelhante, podem conduzir

2 Maré de vento é o movimento vertical do nível de repouso do res-


ervatório devido às tensões provocadas pelo vento na superfície
da água. 4 No caso de barragens de concreto (a superfície do paramento de
3 Espraiamento é o movimento de elevação da água sobre uma montante pode considerar-se vertical, não rugosa e não porosa), a
estrutura ou praia no momento de quebra da onda; corresponde à sobre-elevação do nível no reservatório pode fixar-se como equiva-
altura na vertical atingida pela água acima do nível de repouso. lente à altura da onda incidente.

34 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
a resultados apreciavelmente diferentes, sen- (as barragens de terra são muito mais vul-
do opção da projetista a expressão que melhor neráveis que as de concreto, situando-se as
se adapta a cada caso. de enrocamento numa situação intermédia)
e ainda, a ação destrutiva do galgamento
O comprimento de onda L e o período T calcu-
variável com a duração e a altura da lâmina
lam-se pelas expressões:
sobre a crista da barragem (tanto maior
quanto menor o desenvolvimento da crista);
𝐿𝐿 = 1,56𝑇𝑇 ! , 𝑇𝑇 = 0,33𝑉𝑉 !,!" 𝐹𝐹!!,!!
   
• Instabilidades na região superior da barra-
gem, devido, por exemplo, à ação de agentes
Relativamente à ondulação gerada pelo sismo, atmosféricos, a trânsito ou a animais;
a altura da onda (h) em metros pode ser esti- • Velocidade de subida da água no reservató-
mada pela expressão (CINS, 1968): rio e capacidade do descarregador de fundo
(caso exista);
• Tipo de vertedouro (um vertedouro de su-
𝐾𝐾! . 𝑇𝑇. 𝑔𝑔𝑔𝑔
ℎ=   perfície, sem comportas e que funcione sem
 
2 que o escoamento possa incluir fases em
pressão, é do tipo que em princípio oferece
sendo: Kh o coeficiente sísmico horizontal; T o mais segurança), bem como a confiabilida-
período predominante do sismo (s); g a acele- de do seu dimensionamento e condições de
ração da gravidade (m/s²); e H a altura máxima manutenção;
de água a montante (m). • Ocupação do vale a jusante, questão central
da segurança de barragens;
3.5.3 Fatores não quantificáveis • Características da onda de inundação, re-
sultante de eventual ruptura da barragem,
Os fatores não quantificáveis (ou de difícil
dependentes da altura da barragem, da
quantificação), que podem também influen-
capacidade do reservatório, da largura e do
ciar o valor da borda livre, são diversos, desta-
declive do vale a jusante.
cando-se os seguintes (Martins, 2002):
• Grau do conhecimento das condições 3.5.4 Valores da borda livre
hidrológicas; recomendados
• Sismos que, além da ondulação, poderão ter
Para as barragens construídas no Brasil, tem-
outros efeitos de difícil quantificação e mui-
se considerado adequado adotar os valores
to dependentes das características do sis-
mínimos, a seguir indicados (ELETROBRAS,
mo, que podem interferir com a borda livre,
2003):
como por exemplo, alterando (pelo menos
localmente) a cota da crista, provocando • A borda livre normal deve ser limitada ao
deslizamentos das margens e alteração da mínimo de 3,0 m para as barragens de ater-
batimetria do reservatório. ro (terra ou enrocamento), e de 1,5 m para as
• Deslizamentos das margens do reservatório, barragens de concreto;
sendo, tal como para os sismos, em geral de • As bordas livres normais das ensecadeiras e
muito difícil quantificação, as característi- das casas de força devem ser limitadas ao
cas destes deslizamentos e a magnitude mínimo de 1,0 m;
das ondas geradas;
• A borda livre mínima deve ser de 1,0 m acima
• Transiente provocado pela interrupção
do nível de máxima cheia do reservatório
brusca de funcionamento de estruturas
em barragens de aterro, e de 0,5 m acima do
hidráulicas;
nível de máxima cheia do reservatório em
• Vulnerabilidade ao galgamento, dependen- barragens de concreto.
te, entre outros fatores, do tipo de barragem

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
35
3.6 Desvio do rio fases construtivas, qualquer que seja a solução
adotada, tais como, para soluções utilizando
O desvio do rio, visando possibilitar a constru- túneis, galerias ou canais; considerando a bar-
ção da barragem em condições de segurança, ragem construída por partes, com a passagem
deve considerar diversos fatores, como: a área da água num dos lados da calha do rio, ou em
e o regime hidrológico da bacia hidrográfica, as áreas da calha, definidas pelos sucessivos re-
condições morfológicas e geológicas do local,
cintos ensecados.
o tipo de barragem, o prazo e o programa dos
trabalhos, e as consequências de uma eventual Em soluções de desvio do rio, que incluam a
ruptura das obras, provisórias ou definitivas. utilização de alguns dos órgãos de descarga da
barragem, ou quando se prevê a incorporação
O desvio pode ser efetuado em diversas fases
de ensecadeiras no corpo da barragem, as
ou em uma fase única em função das caracte-
respectivas ensecadeiras devem respeitar as
rísticas do vale. Em vales abertos, o desvio do
especificações das obras definitivas.
rio pode ser feito através do estrangulamento
parcial do rio, que permanecerá na calha natu- A título de exemplo, apresenta-se na Figura 3
ral e, após o fechamento da seção, através da um sistema de desvio constituído pelo canal de
própria estrutura principal. Em vales estreitos,
aproximação, estrutura de emboque, conduto
o desvio pode ser feito através de túneis, gale-
(túnel), desemboque e canal de restituição; e
rias, estruturas rebaixadas ou adufas.
na Figura 4, apresenta-se um sistema de des-
O projeto deve especificar devidamente os ele- vio por túnel, no qual é utilizado o vertedouro da
mentos estruturais necessários nas diferentes usina como canal de desvio (ROCHA, 2006).

Figura 3. Estruturas do sistema de desvio de rio por túnel. UHE Campos Novos, SC.
Fonte: ROCHA, 2006

36 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
As Figuras seguintes ilustram um desvio do rio
numa única fase: antes do rio ser desviado, são
construídas as estruturas nas ombreiras, a seco,
sem interferência no fluxo do rio (Figura 5); o
rio é seguidamente desviado para as galerias
de desvio em concreto, embaixo do vertedor; é
então escavado um canal lateral, de entrada e
saída das galerias, e construídas duas enseca-
deiras, a montante e a jusante, possibilitando
assim a construção do barramento no leito do
rio (Figura 6) (ROCHA, 2006).

Figura 4. Desvio do rio por canal lateral na região do


vertedor, associado a túnel de desvio. UHE Monte
Claro, RS.
Fonte: ROCHA, 2006

Figura 5. Desvio do rio feito em uma única fase. Construção das estruturas definitivas e galerias de des-
vio, a seco. UHE Salto, GO.
Fonte: ROCHA, 2006

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
37
Figura 6. Desvio do rio feito em uma única fase. Desvio do rio feito pelas galerias de desvio. Leito en-
secado com as ensecadeiras de montante e de jusante UHE Salto, GO.
Fonte: ROCHA, 2006

As Figuras 7, 8 e 9 ilustram um desvio do rio que permite a execução dos trabalhos na parte
realizado em fases múltiplas: o desvio se inicia ensecada do rio, com a construção do vertedou-
com a escavação do canal lateral para auxiliar ro (Figura 8); após a conclusão do vertedouro
no desvio do rio após a construção da enseca- inicia-se a segunda fase do desvio, com a remo-
deira em “U” da 1ª fase, que estrangula o leito do ção de parte da ensecadeira de 1ª fase e com a
rio (Figura 7); inicia-se em seguida o desvio do construção da ensecadeira de montante e de
rio com a construção da ensecadeira de 1ª fase, jusante de 2ª fase (Figura 9) (ROCHA, 2006).

38 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 7. Desvio do rio em diversas fases. Escavação do canal de desvio na ombreira direita. UHE Baixo
Iguaçu, PR.
Fonte: ROCHA, 2006

Figura 8. Desvio do rio em diversas fases. 1ª Fase. Desvio pelo leito estrangulado e canal lateral. UHE
Baixo Iguaçu, PR.
Fonte: ROCHA, 2006

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
39
Figura 9. Desvio do rio em diversas fases. 2ª Fase. Desvio pelo vertedor, com uso de ensecadeira incorporada
de montante e de jusante. UHE Baixo Iguaçu, PR.
Fonte: ROCHA, 2006

As vazões de desvio, para cada fase do ma- 3.7 Escavações


nejo do rio, devem ser definidas pelos tempos
de recorrência resultantes de uma análise,
3.7.1 Aspectos gerais
confrontando-se o custo das obras de desvio
com o valor esperado do custo dos danos
O projeto de escavações numa barragem e
resultantes das respectivas inundações, in-
seus órgãos extravasores e de operação visa
cluindo os danos locais, os devidos a atraso
no cronograma e os associados a eventuais a definir a forma, dimensões e procedimentos
danos a montante e a jusante. executivos para tal, tendo em consideração
a finalidade da escavação, as dimensões
A definição do tempo de recorrência da cheia,
mínimas exigidas, o tipo de estruturas, as
a considerar nos estudos da derivação provi-
sória do rio, deve considerar a especificidade condições geológico-geotécnicas e de esta-
de cada situação e os tipos de barragem e de bilidade dos cortes, bem como a eventual ne-
ensecadeira, e deve ser devidamente justifi- cessidade de métodos especiais de escavação
cada, recomendando-se a adoção de tempos (ELETROBRAS, 2003).
de recorrência não inferiores a 5 e a 20 anos,
respectivamente, para barragens de concreto e De um modo geral, pode-se considerar que o
de aterro. projeto de escavações visa a atingir superfícies
adequadas à fundação, otimizando os volu-
Nas operações de desvio e de fechamento
final para enchimento do reservatório, devem mes a escavar e os tratamentos necessários,
ser consideradas as vazões características da bem como os volumes de eventuais reaterros
época prevista para as respectivas operações. das escavações.

40 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Aspectos a considerar são a avaliação das Um ponto importante do dimensionamento
condições de escavação dos materiais in situ hidráulico é a definição das velocidades de flu-
(métodos e equipamentos a utilizar na sua xo da água a que os maciços naturais estarão
escavação), a caracterização geotécnica dos submetidos nas várias estruturas, de modo a
produtos gerados e a avaliação da possibili- se poder definir os tratamentos ou proteções
dade de seu uso. As dificuldades executivas, necessárias às superfícies escavadas.
principalmente a necessidade de uso de mé- O projeto de escavação deve otimizar o ba-
todos especiais de escavação e a proximidade lanço entre volumes escavados e tratamentos
de estruturas que possam ser danificadas, são necessários ao maciço remanescente, levando
aspectos que devem também ser analisados. em conta também o volume dos materiais
que eventualmente irão cobrir as escavações.
As escavações definitivas, que permanecem ao
Entretanto, a aplicabilidade dos materiais es-
longo do período de vida do aproveitamento,
cavados nas obras definitivas influenciará tam-
devem ser projetadas, de modo a apresentar
bém no projeto final, pois pode ser de interesse
a necessária segurança, ao longo desse perío- a ampliação dos volumes escavados, levando-
do, considerando os efeitos do reservatório, a se em conta a necessidade de estocagem.
durabilidade dos materiais e as condições de
manutenção. A informação contida no presente item 3.7 é
baseada nos capítulos 12 e 13 do Manual da
Nas escavações provisórias, que devem per- Eletrobras (ELETROBRAS, 2003), cuja consul-
manecer apenas durante uma determinada ta se aconselha.
fase da construção, as condições de segurança
não necessitam ser tão rigorosas como nas 3.7.2 Escavação a céu aberto
definitivas. Entre as escavações provisórias,
cabe distinguir as que são feitas para fundação Estabilidade dos taludes
de estruturas e as que devem ser compati-
O projeto de escavações a céu aberto deve ser
bilizadas com as exigências da estrutura. De
desenvolvido, atendendo aos estudos geoló-
um modo geral, a profundidade da escavação gicos, hidrogeológicos e geotécnicos, referidos
resulta da necessidade de garantir as necessá- no item 3.3. Com base nesses estudos são
rias condições de fundação das estruturas, em definidos os parâmetros a utilizar nas análises
função dos estudos estruturais e hidráulicos, de estabilidade dos taludes de escavação
enquanto que os métodos de escavação a uti- que, por sua vez, irão subsidiar a previsão dos
lizar (comum, a fogo, ou especial), a inclinação possíveis tratamentos, com base na relação
dos taludes de escavação e os tratamentos dos custo/benefício, comparando declividades dos
taludes, são definidos com base nas caracte- taludes versus tratamentos de contenção.
rísticas geotécnicas dos maciços e na posição
No caso de taludes de escavação, de pequena
do nível freático.
dimensão, a definição da declividade pode
Na definição das condições de segurança para ser baseada na experiência com casos seme-
os taludes de escavação, devem ser respeita- lhantes. Como diretriz geral, para taludes não
dos os níveis de risco admissíveis, tendo em condicionantes às feições geológicas são indi-
consideração a sua localização e a influência cadas no Quadro 4 as inclinações dos taludes
da sua eventual instabilidade na segurança e de escavações para os diversos materiais.
na economia do aproveitamento. Em particu- Em função da responsabilidade e das dimen-
lar, realça-se a importância da estabilidade dos sões dos taludes ou da ocorrência de materiais
taludes do vertedouro e dos canais de acesso e pouco convencionais, devem ser feitas análises
extravasores e, nos casos em que se aplica, dos de estabilidade baseadas em resultados de en-
taludes do circuito hidráulico de geração. saios de campo e de laboratório, a desenvolver

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
41
na fase dos estudos geológicos, hidrogeológi- função da classificação geomecânica do
cos e geotécnicos. maciço, como o método de Hoek e Brown,
poderão ser utilizados.
Quadro 4. Inclinações máximas dos taludes de Para os maciços rochosos compartimen-
escavação.
(Baseado em ELETROBRAS, 2003, quadro da página 225) tados, as análises de estabilidade poderão
ser baseadas nos métodos já mencionados,
Talude
Descrição quando aplicáveis, e ainda em métodos como
máximo
10V:1H a os de Kovary e Hoek e Bray. Os parâmetros de
Rocha sã - permanentemente exposta
5V:1H resistência devem ser aqueles referentes às
Rocha sã - temporariamente exposta
10V:1H a descontinuidades e não ao material. Poderão
Vertical
ser definidos em função da experiência com
Rocha decomposta - permanentemente
exposta, submersa
1V:1H materiais e obras similares, através de méto-
Rocha decomposta - permanentemente
dos semiempíricos (Barton e Choubey) ou,
1V:1,5H
exposta, não submersa eventualmente, ensaios de laboratório e in situ.
Rocha decomposta - permanentemente
1V:1,5H Para os materiais compartimentados, os es-
exposta
Capeamento - permanentemente expos- 1V:2,0H a tudos de estabilidade devem considerar dois
to 1V:1,50H domínios: a estabilidade superficial e a esta-
Capeamento - permanentemente expos- 1V:2,50H a bilidade global do talude. A diferenciação das
to, submerso, sujeito a rebaixamento 1V:2,0H
feições que podem ser importantes para cada
Capeamento - temporariamente exposto 1V:1,50H
um dos domínios deve ser feita com base na
sua persistência, espaçamento e atitudes.
A posição da água subterrânea tem sido
Na estabilidade superficial, a inclinação e altura
reconhecida como um dos fatores mais impor- da face das bancadas devem, em princípio, ser
tantes na estabilidade de taludes. No caso de otimizadas, de modo que sejam minimizados
barragens é imprescindível ter-se em conta sua os tratamentos e as contenções necessárias e
posição antes e depois de cheio o reservatório. atendidas as necessidades executivas. No caso
No primeiro caso a influência no método de de taludes de encosto de estruturas, pode ser
escavação e na estabilidade dos taludes mes- de interesse minimizar os volumes do material
mo provisórios tem que ser considerada. No a ser lançado (por ex.: concreto), o que pode
segundo caso são principalmente os taludes levar à adoção de taludes mais íngremes,
definitivos os mais afetados. bermas menores, etc., com contenções mais
intensas, se for o caso.
O estudo de estabilidade dos taludes em maci-
ços rochosos deve sempre ser iniciado pela di- A estabilidade global é, sobretudo, governada
ferenciação entre maciços compartimentados pela eventual ocorrência de descontinuidades
e maciços não compartimentados. No primeiro de grande extensão, compatíveis com as di-
caso se incluem aqueles cuja ruptura estará mensões dos taludes. Deve procurar-se garan-
condicionada pela existência de descontinui- tir a estabilidade global, sempre que possível,
dades estruturais do maciço que possuem por uma inclinação média conveniente, obtida
baixa resistência em relação à rocha intacta. por adequada combinação dos parâmetros:
inclinação das faces, altura das bancadas e
Para os maciços não compartimentados, as
largura das bermas. O tratamento estabili-
análises de estabilidade devem basear-se em
zante principal deve ser a drenagem profun-
métodos reconhecidos, como sejam o Bishop
da. Contenções como ancoragens, mais ou
modificado, Morgenstern e Price, ou Sarma. Os
menos profundas, só devem ser adotados em
parâmetros de resistência poderão ser obtidos
casos especiais.
através de referências bibliográficas com maci-
ços e obras similares ou mesmo com retroaná- A altura máxima das bancadas deve ser con-
lise, quando possível, métodos semiempíricos, siderada, em princípio, da ordem de 10 m em

42 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
maciços rochosos. Devem ser adotadas alturas Os critérios para fixação de coeficientes de
menores para materiais muito instáveis ou ero- segurança mínimos a serem atendidos devem
díveis. No caso de rocha sã podem ser adotadas considerar o potencial de dano de cada caso:
alturas maiores. Devem ser sempre previstas as • Para os taludes que interferem diretamente
bermas mínimas para circulação e instalação na segurança e operação da barragem (cor-
dos equipamentos de perfuração. A largura tes em escavação de vertedouro e na casa
mínima das bermas deve também ser definida de força, canais de adução, aproximação e
como suficiente para acomodar eventuais que- restituição, etc.), os coeficientes de seguran-
das de blocos de reduzidas dimensões. ça para a condição de regime permanente
(situação que não seja a de chuvas intensas
No caso de taludes em solo, a estabilidade
nem a de rebaixamento rápido), devem ser
deve ser verificada utilizando-se processos
maiores que 1,5. Para a condição de chuvas
analíticos, bem como considerações seme-
intensas, os coeficientes de segurança de-
lhantes às estabelecidas para os parâmetros
vem ser maiores que 1,3, sendo os mesmos
de resistência, descritos no item 4.5.3. requisitos aplicados no caso de existir uma
Os taludes submersos devem ser analisados subestação, aos taludes desta cuja ruptura
para a condição de regime permanente, e os eventual atinja os equipamentos eletro-
mecânicos. Em casos excepcionais em que
não submersos, para a condição de regime per-
os danos decorrentes de um eventual des-
manente e de chuvas intensas. Os níveis piezo-
lizamento sejam muito elevados, caso de
métricos, a serem considerados nas análises,
canais de aproximação de vertedouro, cujas
devem ser os mais realistas possíveis, tendo
rupturas comprometam a extravasão de
em conta as observações a serem obtidas com
cheias, o coeficiente de segurança mínimo
a instalação de medidores de nível d’água e
para a condição de chuvas intensas deve ser
piezômetros, durante a implementação do
superior a 1,3.
programa de investigação geológico-geotéc-
• Para os taludes de escavações e aterros de
nica e os dados dos postos pluviométricos
obras complementares, tais como estradas,
representativos da área. Devem ser também
subestações, cuja ruptura não atinja equi-
consideradas as influências do reservatório e
pamentos, etc., os coeficientes de seguran-
das escavações adjacentes.
ça para a condição de regime permanente
Os taludes dos canais de adução, aproximação devem ser maiores que 1,3. Para a condição
e de restituição, em geral, sofrem interferências de chuvas intensas os coeficientes de segu-
dos reservatórios, podendo ocorrer, em muitos rança devem ser superiores a 1,1.
casos, oscilações rápidas que, para taludes em
Drenagem
solo, dependendo das suas características de
permeabilidade, podem conduzir à situação de Dois tipos de drenagens devem ser considera-
rebaixamento rápido, devendo nesse caso ser dos para os taludes: a superficial e a profunda.
analisado, segundo a metodologia desse tipo A primeira controlará o efeito das chuvas sobre
de carregamento, nas condições indicadas no o talude e constará basicamente de canaletas e
item 4.5.3. Entretanto, a situação crítica para descidas de água, dimensionadas para chuvas
esses taludes pode também ser a condição de de tempo de recorrência de 50 anos, no míni-
chuvas intensas (combinadas à condição de mo. Deve ser dada preferência a estruturas de
nível d’água mínimo no canal). concreto, moldadas in situ, em terreno natural.
A declividade deve ser tal que permita a água
Taludes naturais que possam representar desenvolver certa velocidade para lavagem de
riscos para a segurança das obras devem material caído dos taludes, com previsão de
também ser objeto de análise, adotando-se os caixas de acumulação de sedimentos e de dis-
mesmos critérios considerados para os taludes sipação, onde necessários, mas que não con-
de escavação permanente. duza à erosão fácil dos materiais geológicos.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
43
A drenagem profunda tem por objetivo manter função das características de erodibilidade
o lençol freático com nível controlado ou evitar dos materiais do terreno. O projeto pode ser
surgências de água descontrolada em pontos elaborado com base na experiência com ma-
críticos do talude de jusante. O projeto implica- teriais e obras similares, tendo-se em conta,
rá a escolha do sistema a ser utilizado (furos, além do material, a inclinação do talude e as
poços ou esporões drenantes) e a definição das possibilidades de manutenção. Deve ser dada
dimensões e quantidade dos elementos dre- preferência aos revestimentos com cobertura
nantes. O projeto deve levar em consideração a vegetal, desde que os taludes de face tenham
necessidade de controle de qualquer possível inclinação mais suave ou igual a 1,5H:1V. Para
carreamento de material, dimensionando taludes mais íngremes, dever-se-á ter cuidados
adequadamente os filtros necessários. Todo o especiais na fixação da proteção vegetal. As
projeto de drenagem profunda deve considerar espécies selecionadas devem ser aquelas com
a possibilidade de variação do nível da água, comprovado sucesso na região. O estudo deve
tanto sazonal como após o enchimento do levar em conta a fertilidade do solo natural e
reservatório. a necessidade de implantação de camada de
solo orgânico. Sempre que possível os métodos
Proteção e acabamentos das superfícies de escolhidos devem ter em vista a minimização
escavação dos serviços de manutenção, durante a opera-
Os materiais escavados devem ser estudados, ção do aproveitamento.
também, com a finalidade de se definir sua Quando na região ocorrerem seixos, cascalhos
desagregabilidade e erodibilidade, principal- ou matacões, a melhor solução para revesti-
mente junto à superfície de escavação final mento desses taludes é a sua colocação em
prevista. Essas informações permitem prever boas condições sobre o talude.
os tratamentos superficiais a serem aplicados
para cada caso e tendo em conta a importân- 3.7.3 Escavações subterrâneas
cia das fundações e dos taludes, provisórios ou
permanentes. Dimensionamento

Em função do acabamento que se pretende O projeto de escavações subterrâneas deve ser


obter nas superfícies escavadas, são limitadas desenvolvido, atendendo aos estudos geológi-
as sobre-escavações (over-breaks) e as subes- cos, hidrogeológicos e geotécnicos e respectivo
cavações (under-breaks) para cada superfície. zoneamento e classificação, referidos no item 3.3.

Os tratamentos dos taludes rochosos podem As dimensões das escavações são, em geral,
ser superficiais ou profundos, dependendo do definidas por motivos hidráulicos, tendo
tipo de instabilizações potenciais que possam também em consideração as condicionantes
vir a ocorrer. geomecânicas.

Os tratamentos superficiais destinam-se a O dimensionamento inicial dessas escavações


conter a queda de blocos, após a remoção dos pode ser feito por métodos empíricos com base
chochos, podendo ser localizados ou siste- em classificação de maciços rochosos confor-
máticos. Esses tratamentos são constituídos me proposto por Rocha, Barton e Bieniawski.
basicamente por chumbadores ou ancoragens, Cavidades de forma complexa e/ou subme-
furos/tubos de drenagem, ou telas metálicas. tidas a carregamentos extraordinários ou
com condições geomecânicas difíceis podem
Os tratamentos profundos são aplicados para
exigir análises por métodos numéricos, como
prover a estabilização de pontos específicos do
o Método dos Elementos de Contorno, Método
talude, podendo implicar ancoragens especiais
dos Elementos Finitos, Método das Diferenças
e drenagem profunda com furos.
Finitas, etc. Qualquer dimensionamento feito
No caso de taludes em solo, a necessidade deve ser considerado como preliminar e sujeito
de proteção superficial deve ser definida em a confirmação, durante a fase executiva. No

44 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
projeto das escavações subterrâneas deve ser hidrogeológicas podem mudar substancial-
sempre considerado como imprescindível um mente, em função da fase da obra, devendo ser
acompanhamento executivo cuidadoso, que sempre cuidadosamente analisadas. Especial
permita a adaptação do projeto às condições atenção deve ser dada aos túneis de desvio nas
reais encontradas. fases de construção, operação, fechamento
das comportas, construção e fechamento do
Os métodos de sustentação provisórios, even-
tampão e nos túneis de adução, em termos de
tualmente necessários, devem ser definidos
pressões hidrodinâmicas.
com base em sua adequabilidade técnica e
econômica, durabilidade e facilidade de insta- Cuidados ambientais e de segurança e saúde
lação. O projeto de escavação deve considerar ocupacional nas escavações subterrâneas
a logística para remoção dos materiais escava-
O controle ambiental é essencial ao provi-
dos, seja por poço ou galerias.
mento de condições seguras de trabalho. A
Tratamento das escavações subterrâneas ventilação é vital, não só no fornecimento de
ar fresco, como na remoção de gases oriundos
Do projeto deve constar um pré-dimensiona- das explosões e/ou gerados por equipamentos.
mento dos suportes necessários para cada
seção tipo e a definição dos critérios para suas Um aspecto a ser verificado na drenagem sub-
adaptações às condições reais de campo, terrânea é o rebaixamento dos níveis freáticos,
em função da caracterização e classificação que poderão afetar as atividades à superfície.
geomecânica.
Altos níveis de ruído gerados por equipamen-
A estabilização de escavações subterrâneas tos, em geral, e dutos de ventilação forçada,
deve ser obtida sempre pelo uso de materiais frequentemente, obrigam o uso de protetores
não perecíveis, sendo vetado o uso de madeira. de ouvido e linguagem por sinais.

Em princípio, deve-se associar a aplicação de


suporte a um adequado programa de instru- 3.8 Tratamentos de fundações
mentação executiva. A compatibilização entre
a rigidez do suporte e as deformações previstas 3.8.1 Aspectos gerais
e desejadas para o maciço é imprescindível.
O tratamento de fundações inclui o conjunto
Os métodos de suporte mais convencionais de operações, tendo como principais objetivos:
envolvem: cambotas metálicas e enfilagem;
ancoragens ativas ou passivas; concreto proje- Assegurar adequadas condições de contato da
tado com ou sem adição de fibras; tela metá- estrutura com a sua fundação;
lica; concreto moldado, armado ou simples; e Melhorar as propriedades mecânicas do maciço
injeções prévias de consolidação. de fundação, designadamente, a resistência e a
deformabilidade;
Drenagem Reduzir a permeabilidade do maciço e/ou homo-
geneizar os fluxos da água, através da fundação;
A drenagem em obras subterrâneas tem por
objetivo manter o lençol freático com nível Controlar as subpressões; e
controlado ou evitar surgências de água, com Evitar o carreamento de solos pela fundação
utilização de furos, poços, galerias e canaletas, (piping).
visando reduzir o carregamento hidráulico no
revestimento estrutural.
O projeto deve definir claramente os objetivos
A drenagem de obras subterrâneas poderá ser e vantagens do tratamento das fundações,
fator decisivo para a sua estabilização, prin- bem como os procedimentos que devem ser
cipalmente quando executada previamente usados para controle dos seus resultados.
à escavação. Além do mais, as condições Os custos do tratamento de fundação, em

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
45
especial dos tratamentos de consolidação, A sequência de tratamentos superficiais é
devem ser confrontados com a alternativa de semelhante para os diversos tipos de interface
remoção adicional dos materiais, em vez do estrutura-fundação, mas esses tratamentos
seu tratamento. são diferenciados em função de sua intensida-
de e dos materiais envolvidos. As fundações em
Podem ser realizados tratamentos superfi- solo e em rocha devem ser diferenciadas, bem
ciais e profundos, de acordo com as carac- como os materiais que as cobrirão, tais como,
terísticas da fundação, o tipo de projeto e os concreto, solo ou enrocamento. As atividades
custos envolvidos. de tratamento são seguidamente referidas.
A liberação de fundações, imediatamente antes
Remoção de materiais indesejáveis
da implantação da estrutura, deve ser realizada
de acordo com critérios adequados, que permi- O projeto da estrutura deve definir o nível do
tam a aprovação dos tratamentos realizados. maciço que se considera adequado para a
fundação, bem como, sempre que possível, os
Um cuidadoso mapeamento geológico-es- limites de variação aceitáveis.
trutural da superfície da fundação, em escala
compatível com a escala da obra, deve ser Caso se opte pela remoção, os critérios para
exigido antes da liberação, no qual sejam controle devem ser informados de forma obje-
indicadas as litologias existentes, os sistemas tiva, com base na observação visual dos mate-
de descontinuidades mais importantes, os riais ou das suas características de resistência,
graus de fraturamento, de decomposição e de deformabilidade e permeabilidade, indicando
consistência do maciço rochoso, ocorrência a forma de aferição das mesmas e o procedi-
de surgências, e ainda eventuais ensaios e mento de acompanhamento geotécnico.
investigações realizadas e outras informações
Regularização
de interesse para uma posterior análise do
comportamento da estrutura quando a obra As irregularidades topográficas existentes na
estiver em operação. fundação podem originar concentrações de
tensão e/ou dificuldades executivas. O projeto
O tipo e extensão dos tratamentos devem ser
deve definir e justificar o tratamento a ser
definidos, tendo em consideração o modelo
realizado, se remoção por escavação, retalu-
geológico-geotécnico e hidrogeológico dos
damento ou regularização com material ade-
maciços de solo e/ou rocha, a serem tratados,
quado, em geral concretagem e, se de maneira
bem como os requisitos de fundação da estru-
localizada ou generalizada.
tura. As técnicas de tratamento a utilizar devem
estar devidamente aferidas e comprovadas em Taludes de altura significativa, muito íngremes
obras similares. (ou mesmo negativos), devem ser suavizados
para garantir uma adequada distribuição de
A informação contida no presente item tensões na estrutura. O projeto deve definir a
3.8 é baseada no capítulo 13 do Manual da posição em que eles terão que ser tratados, o
Eletrobras (ELETROBRAS, 2003), cuja consul- ângulo máximo de inclinação aceitável, a con-
ta se aconselha. formação que deve ser dada ao terreno e tam-
bém o método de escavação exigido, de modo
3.8.2 Tratamento superficial
a minimizar abalos no material remanescente.

Generalidades Limpeza

O tratamento superficial tem por objetivo A limpeza, isto é, a remoção de todo material
preparar a superfície da fundação para receber solto na fundação, deve ser considerada no
o material que lhe será sobreposto. Os trata- projeto, incluindo a grossa e a limpeza fina,
mentos de taludes devem ser definidos, tendo esta última com lavagem. Os equipamentos
em atenção o item 3.7, relativo às escavações. a utilizar em cada fase devem ser definidos,

46 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
bem como as pressões de água e/ou ar do pro- projeto da estrutura, desde que seu objetivo
cesso de lavagem. Esses processos devem ser principal seja o controle de subpressão.
definidos, levando em conta a erodibilidade e
desagregabilidade dos materiais da fundação Injeções localizadas
e o rigor necessário. Essas injeções de pequena profundidade
têm por objetivo vedar zonas abaladas pela
Descontinuidades geológicas individuais que,
detonação, assegurar contatos de concreto
pela sua extensão e/ou abertura, justifiquem
com a fundação, tratamento de descontinui-
tratamentos localizados, devem ter tratamen-
dades geológicas específicas, etc. Devem ser
tos projetados, de acordo com o objetivo a ser
definidos os tipos de furação, sua orientação e
alcançado, envolvendo remoção parcial do
profundidade, em função das feições a serem
material de preenchimento e substituição por
injetadas. Os materiais e critérios de injeção
outros adequados, em geral, argamassa ou
são os da injeção profunda.
concreto pobre.

Recobrimento superficial 3.8.3 Tratamentos profundos

A necessidade de recobrimento superficial Generalidades


da fundação deve ser definida, em função
O tratamento profundo da fundação tem por
da possibilidade de ocorrer carreamento do
objetivo melhorar as propriedades do maciço
material do aterro para feições da fundação ou
em seus aspectos de resistência, deforma-
do material da fundação para dentro do aterro.
bilidade e permeabilidade ou prover meios
O projeto deve definir o material a ser usado
para sua melhor drenagem. A redução de per-
e sua espessura e deve ter em consideração
meabilidade contribui, essencialmente, para
a compatibilidade de deformação entre ele, o
a diminuição do fluxo afluente ao sistema de
material a ser lançado sobre ele e a fundação.
drenagem. No entanto, a necessidade de ho-
Os materiais a utilizar podem ser filtros granu- mogeneizar a fundação, eliminando zonas de
lares, concreto poroso, argamassa, concreto grande concentração de fluxo, principalmente
lançado, concreto varrido (slush grouting), quando há risco de erosão interna, pode tam-
emulsão asfáltica, etc. O emprego eventual de bém justificar o tratamento.
geossintéticos e de emulsões asfálticas deve ser Os tratamentos profundos são definidos com
avaliado de forma criteriosa, tendo em vista a base em ensaios de perda de água realizados
sua durabilidade, ao longo da vida da obra, e as em sondagens mecânicas.
suas características físicas (filtração, impermea-
bilização, possibilidades de colmatação, etc.). No entanto, não deixando de considerar o in-
teresse da experiência prévia, nem das inevitá-
O recobrimento superficial pode, também, ser veis adaptações durante a execução, o projeto
necessário para proteção de materiais, (como, por dos tratamentos profundos deve ser elaborado
exemplo, blocos de rocha de grandes dimensões) com base em uma análise da sua necessidade
que podem desagregar durante intempéries. e dos objetivos a atingir. Em casos de trata-
mentos significativos, pode ter interesse a
Drenagem superficial
realização de um teste de injeção em trechos
O tratamento superficial deve considerar a ne- experimentais, na área a tratar (ISRM, 1996).
cessidade de controle de surgências, durante o
Consolidação
lançamento dos materiais, podendo essas dre-
nagens ser associadas às drenagens definiti- A necessidade de consolidação da fundação
vas. Materiais granulares em tapetes ou drenos depende da sua natureza e dos requisitos
e até, eventualmente, meias canas de concreto estruturais e da impossibilidade de atendê-los
devem ser considerados prioritariamente no com os maciços existentes ou quando for mais

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
47
econômico ou conveniente o tratamento do • Ensaios de verificação dos resultados e cri-
que a remoção. térios para aceitação do tratamento;
• Durabilidade da cortina a longo prazo, levan-
O método mais comum de consolidação da
do em conta a possibilidade de lixiviação da
fundação consiste na injeção de caldas de
cimento. Essas injeções permitem melhorar a calda em condições agressivas da água de
resistência e/ou a deformabilidade do maciço, percolação.
bem como homogeneizar a parte superior da Na definição dessas disposições do projeto, é
rocha de fundação, quando excessivamente importante:
fraturada ou quando eventualmente abalada
• Concentrar o trabalho de injeção da cortina,
pelas detonações.
sempre que possível, em uma única linha.
O projeto deve incluir a definição da parte do ma- Um maior número de linhas pode-se justi-
ciço a ser tratado, o tipo de perfuração, a malha ficar, em especial nas zonas mais próximas
inicial, a inclinação dos furos, o tipo de injeção, o da superfície em áreas muito desconfinadas
uso de obturadores especiais, o tipo de calda, e os e com grande número de juntas abertas,
critérios de fechamento de malha e de alteração ou em obras de grande altura. Nesse caso,
de calda. Devem também ser estabelecidos os deve ser considerada a construção de uma
critérios de avaliação dos resultados da injeção, laje de concreto suficientemente espessa
com base em métodos geofísicos ou por medi- para acomodar o obturador, para permitir
ção direta de deformabilidade in situ. maiores pressões e melhor penetração;
• A definição da profundidade da cortina
Injeção profunda
deve, sempre que possível, apoiar-se em
A injeção profunda de argamassa ou calda de aspectos geológico-estruturais;
cimento é executada através de furos dispostos • A orientação dos furos deve atender à
ao longo de linhas, formando uma cortina, e visa a posição e atitude das descontinuidades
controlar a percolação, através da fundação, redu- geológicas principais;
zindo o fluxo afluente aos sistemas de drenagem.
• As pressões de injeção devem ser definidas,
A redução do fluxo pode também ser necessária
com base nas profundidades de injeção,
para evitar problemas de erosão interna.
havendo interesse em usar pressões as mais
Os objetivos da injeção e as metas a atingir de- altas possíveis de modo a melhorar a efi-
vem ser claramente definidos, e as disposições ciência das injeções, (o critério de limitação
do projeto devem incluir os seguintes aspectos: da pressão efetiva, em kg/cm2 a 0,25 H/m,
sendo H a profundidade média do trecho
• Modelo de comportamento hidrogeotécnico
em injeção em metros) só deve ser consi-
da fundação, definido com base nos resulta-
dos das investigações e ensaios; derado, em princípio, para rochas fraturadas
horizontalmente e próximas à superfície;
• Definição da posição da(s) cortina(s),
número de linhas, diâmetro dos furos, bem • A relação água/cimento – A/C (em peso)
como sua orientação e profundidade, as das caldas deve ser determinada com base
quais devem ser definidas com base no em ensaios de laboratório específicos,
modelo hidrogeotécnico e na altura da devendo evitar-se caldas ralas (A/C>2),
barragem; reconhecidamente instáveis;

• Espaçamento dos furos primários e critérios • É recomendável o uso de bentonita em pe-


para fechamento da malha, sequência da quenas percentagens para assegurar maior
injeção; estabilidade às caldas;

• Definição das caldas a serem usadas, aditi- • O posicionamento das cortinas será definido
vos, critérios para engrossamento de calda, em função das necessidades de estabilidade
ensaios de controle de campo e pressões de do projeto, tendo em conta a posição das corti-
injeção; nas de drenagem e o modelo hidrogeotécnico,

48 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
podendo estender-se para a vizinhança da enchimento do reservatório, e da necessi-
estrutura, a montante. dade de submetê-lo a processos de limpeza
ou de substituição;
Drenagem profunda de fundações em maci- • a análise da necessidade de filtro e de
ços rochosos
proteção contra colmatação, levando-se
A drenagem das fundações da barragem, em conta os fenômenos de carreamento de
com grande influência na sua estabilidade,
materiais soltos.
visa controlar as subpressões na superfície de
fundação. Nas fundações, em que o fluxo é controlado,

O sistema de drenagem principal é obtido, predominantemente, pelas descontinuidades


através de furos (rotopercussivos ou rotati- do maciço rochoso, o diâmetro dos furos tem
vos), em geral descarregando em galerias de pouca influência na eficiência da drenagem
drenagem, dentro das estruturas de concreto.
(podem ser adotados furos de diâmetro máxi-
A possibilidade de implantação de galerias ou
poços, dentro do próprio maciço rochoso, deve mo da ordem de 10 cm, semelhantes aos usa-
ser considerada, sempre com a preferência dos nas sondagens convencionais, perfurados
para drenagem por gravidade. As galerias a rotopercussão).
devem ser projetadas, de modo a poderem ser
sempre mantidas drenadas, preferencialmente As condições de manutenção e monitoramento
por gravidade. Acresce-se que a existência do sistema de drenagem profunda em maciços
dessas galerias permite, se necessário, um
rochosos, visando ao controle da sua eficiência,
reforço de tratamento de impermeabilização
ou de drenagem. são muito importantes para a estabilidade das
respectivas estruturas As medições das vazões
Os túneis de desvio, bem como galerias de
investigação geotécnica, realizadas na fase coletadas pelo sistema, bem como as pressões
de projeto, podem ser integrados ao sistema piezométricas resultantes na fundação são
drenante do projeto. parâmetros do maior interesse para o controle

Em princípio, cada cortina de drenagem deve da segurança.


consistir de apenas uma linha de furos (linhas
adicionais podem ser requeridas apenas em Drenagem profunda de fundações em solo
áreas específicas de grande afluxo). O espaça-
A drenagem profunda de fundações em solo é,
mento será definido, em função da permeabili-
dade do maciço, de maneira sistemática, ou de em geral, executada nos casos onde ocorrem
acordo com o modelo hidrogeotécnico do ma- camadas superficiais e de baixa permeabilida-
ciço. A profundidade da cortina de drenagem de a jusante, as quais exercem um bloqueio da
deve ser da ordem de 80% da profundidade da
saída do fluxo, elevando as subpressões nessa
cortina de injeção adjacente, devendo sempre
atravessar o trecho fissurado superficial e ser região da barragem e comprometendo sua es-
localizada a jusante da cortina de injeções. tabilidade, ou mesmo criando condições para

O projeto de drenagem profunda deve estar a ocorrência de fluxos de saída concentrados.


associado ao projeto de injeção e incluir: Devem ser verificadas as possibilidades de dre-
• a disposição das linhas de drenagem, o nagem, através de poços de alívio executados
diâmetro, espaçamento, profundidade, e
orientação dos furos, bem como o método a jusante, ou de trincheiras drenantes, depen-
adotado na sua perfuração;
dendo das condições geotécnicas, hidrogeoló-
• os critérios para verificação da capacida-
de de drenagem do furo, antes e após o gicas e metodologia executiva.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
49
4 BARRAGENS DE
ATERRO (TERRA E
ENROCAMENTO)

4.1 Aspectos gerais do projeto dias trabalháveis pode exigir maior intensidade
de uso de equipamento, tornando mais alto o
As barragens de aterro são estruturas essen- custo unitário de aterro compactado. Nesses
cialmente constituídas por materiais naturais casos, os materiais que não exijam tempo seco
ou processados, podendo ter diferentes tipos, para lançamento devem ser considerados, por
de acordo com os fatores condicionantes lo- serem mais competitivos em custo.
cais, em seguida indicados.
Materiais excessivamente úmidos ou secos
Um fator importante são as caraterísticas dos podem exigir correção de umidade, o que poderá
materiais disponíveis. Em princípio, todos os colocá-los em desvantagem econômica e de
materiais disponíveis devem ser considerados prazos de execução na comparação com outros
como potencialmente utilizáveis na seção da materiais alternativos. Dificuldades maiores de
barragem, prevendo-se no projeto um adequa- escavação e transporte também devem ser
do zoneamento. levadas em consideração nesta comparação.

Os materiais provenientes de escavações com O tempo requerido para a construção deve


possibilidade de aplicação na barragem são, ser levado em consideração, de acordo com
em geral, os mais econômicos, devendo, por- os vários aspectos das etapas de construção,
tanto, ser os primeiros a se considerar. reaproveitamento de materiais e necessidade
de estoques intermediários. Essa comparação
Na utilização de materiais de empréstimo,
deve ser feita mediante o desenvolvimento de
devem ter preferência os que estão localizados
um estudo completo de arranjo geral, sequên-
mais próximos da barragem e na área do reser-
cia construtiva, prazo de construção, balanço
vatório, mas considerando também a posição
de materiais, desembolso, vantagens financei-
das jazidas, a etapa de exploração e a cota em
ras de antecipações, de redução de prazos e/ou
relação à da barragem.
adiantamento de desembolsos. A comparação
Dada a influência, preponderante no custo, da de custos globais deve indicar o cronograma e
declividade dos taludes, os materiais que pos- metodologia executiva mais vantajosa.
sibilitam taludes mais íngremes podem ser os
As características hidrológicas do local e o
mais indicados, mesmo em confronto com ou-
esquema de desvio do rio são fatores im-
tros situados em posição mais próxima da bar-
portantes na seleção do tipo da barragem,
ragem ou extraídos de escavação obrigatória.
técnica e economicamente mais vantajosa,
As condições climáticas do local devem ser le- devendo ter-se presente que para certos tipos
vadas em consideração na escolha das seções de barragens, (como, de um modo geral, as
das barragens, uma vez que, em regiões de barragens em concreto) pode aceitar-se um
chuvas intensas ou de chuvas muito prolonga- maior risco e, portanto, esquemas de desvio
das, a produtividade cai, e o número menor de mais econômicos.

50 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
A etapa de construção da barragem, associada atravessam os aterros, tais como os condutos
ao problema da travessia do rio, pode tornar de tomadas de água.
mais caro o reaproveitamento de materiais de
Na verdade, muitas barragens construídas no
escavação, pela necessidade de pilhas de esto-
que intermediárias. Assim, o esquema de des- Brasil dispõem de tomadas de água munidas
vio deve levar em consideração a possibilidade de uma grelha a montante e comporta a ju-
de aplicação direta dos materiais e, eventual- sante e, deste modo, o conduto está sempre
mente, deve ser adaptado à obtenção de uma em carga. Essa situação deve ser evitada, por
barragem mais econômica. Reciprocamente, ser potencialmente geradora de problemas de
a seleção da seção transversal da barragem erosão interna.
deve levar em consideração as condicionantes
de etapas de construção introduzidas pelo 4.2 Tipos de estruturas
esquema de desvio.
As barragens de aterro podem classificar-se
As características geológicas e topográficas da
nos seguintes três tipos principais:
fundação são, também, importantes fatores da
economia das seções da barragem, principal-
mente porque as características de resistência • Terra, com seção homogênea ou mista;
da fundação podem condicionar a declividade • Terra-enrocamento, com uma vedação (ou
dos taludes da barragem (a utilização de núcleo) de solo e espaldares de enroca-
taludes mais íngremes, possibilitada pelos mento situados a montante e a jusante do
enrocamentos, exige melhores características núcleo;
de resistência dos materiais de fundação). A
• Enrocamento, com órgão de vedação no
deformabilidade e permeabilidade da funda-
talude de montante (face de concreto).
ção podem igualmente influenciar a seleção
do tipo de barragem (barragens de seção ho-
mogênea impõem menor grau de exigência). Barragem de seção homogênea ou mista
Os aspectos topográficos podem apontar para A utilização de barragens de seção homo-
tipos de barragens que se adaptam melhor à exis- gênea é, em geral, menos frequente, face à
tência de grandes heterogeneidades de fundação. indisponibilidade de solos com caraterísticas
O tipo de barragem a selecionar deve integrar- relativamente homogêneas. Nas barragens de
se adequadamente no arranjo geral da obra, seção mista, aproveitam-se os materiais mais
minimizando as interligações entre as diversas permeáveis para os espaldares, devidamente
estruturas, maximizando o aproveitamento protegidos contra o efeito de erosões super-
das estruturas para as diversas finalidades da ficiais, e utilizam-se os menos permeáveis na
obra e minimizando os volumes de escavações zona central. O zoneamento dos materiais é
dos circuitos hidráulicos. definido de acordo com as suas características
tecnológicas, a sua sequência e época de esca-
Um aspecto que deve ter particular atenção
vação e de aproveitamento.
nas barragens de aterro prende-se à interliga-
ção dos aterros com as restantes estruturas Na Figura 10 apresenta-se uma seção típica de
de concreto e, em particular, com aquelas que uma barragem de terra homogênea.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
51
Figura 10. Seção típica de uma barragem de terra homogênea. Barragem de Ponte Nova, SP.
Fonte: Cruz, 2004

Deve sempre prever-se um sistema de água que circula através dela, controlando, des-
drenagem interna, constituído por um filtro te modo, as poropressões na zona superficial da
subvertical ou inclinado (ou dreno chaminé), fundação e evitando a instalação de pressões
tapete drenante junto à fundação e dreno de pé no aterro. A camada inferior do tapete deve
de jusante. funcionar como filtro do material de fundação,
controlando também a erosão interna da zona
O filtro subvertical intercepta a percolação
superficial da fundação. A adoção desta cama-
através da barragem, sendo a água a ele afluen-
da filtrante é particularmente importante para
te conduzida para jusante, através do tapete
barragens com espaldares de jusante construí-
drenante. Assim, desde que ambos os dispo-
dos com solos permeáveis (por exemplo, solos
sitivos sejam adequadamente dimensionados,
arenosos ou com pedregulhos), fundações em
respeitando condições de filtro entre materiais,
rochas alteradas ou fissuradas de elevada per-
e tenham capacidade de escoamento suficien-
meabilidade com potencial de erosão elevado
te, o espaldar a jusante do filtro subvertical
ou fundações em rochas brandas (arenitos
permanecerá não saturado, e a erosão interna
e siltitos).
do seu material fica controlada.
Os drenos de pé de jusante asseguram a conti-
O filtro subvertical é de construção fácil, mas
nuidade ao tapete drenante e constituem uma
como normalmente é mais rígido do que
segurança adicional, face à eventual colmata-
os materiais adjacentes, pode verificar-se
ção do filtro ou do tapete drenante, ou mesmo,
transferência de tensões entre materiais de
a grandes e inesperados fluxos provenientes
diferente deformabilidade, o que aconselha
da fundação.
frequentemente a adoção de filtros inclinados.
Essa adoção de filtros subverticais em vez de Em casos muito favoráveis do ponto de vista
verticais constitui a tendência internacional das ações e de menor responsabilidade, com
dos últimos anos. exceção dos diques de selas, mesmo que de
pequena altura, podem ser dispensados os
Quando for pertinente controlar gradientes
filtros subverticais e/ou sub-horizontal contí-
hidráulicos de saída a jusante da barragem e de
nuos, substituído(s) por um sistema de drenos
reduzir as subpressões, podem ser adotadas
de pé e de fundação, desde que não haja sus-
na fundação trincheiras drenantes ou poços de
peita de erosão interna.
alívio espaçados regularmente.
A necessidade de introdução de juntas de
Quando colocado diretamente sobre a funda-
construção nos aterros deve ser determinada,
ção, o tapete drenante intercepta também a

52 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
em função do planejamento da obra, devendo tecnológicas dos materiais, quer dos aterros,
adotar-se o menor número de juntas que per- quer das fundações.
mita distribuir os volumes lançados de modo
A Figura 11 ilustra uma seção típica de uma
a se obter um histograma mais homogêneo de barragem de terra zonada.
produção, o que permitirá a mobilização de um
menor número de equipamentos. Barragem de terra-enrocamento

A largura da crista é definida em função de Nas barragens mistas de terra-enrocamento,


diversos aspectos, tais como, a altura e impor- os taludes podem ser mais íngremes do que
nas barragens de terra, o que permite reduzir
tância da obra, o risco sísmico do local, a natu-
consideravelmente o volume da barragem,
reza dos materiais a empregar, a configuração
podendo essas soluções ser adotadas, sempre
da linha de saturação com o reservatório cheio,
que exista disponibilidade de enrocamento,
o processo construtivo e, se a crista for utiliza- proveniente de escavações obrigatórias ou
da como acesso, a largura mínima necessária de jazidas próximas da obra, e as fundações
para o tráfego de veículos (nos dois sentidos). sejam de boa resistência.

A inclinação dos taludes é definida de acordo A Figura 12 ilustra uma seção típica de uma
com as principais ações e com as características barragem de terra-enrocamento.

Figura 11. Seção típica de uma barragem de terra zonada. Barragem de Três Marias, MG – seção no leito do rio.
Fonte: Cruz, 2004

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Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
53
Figura 12. Seção típica de uma barragem de terra – enrocamento.
Fonte: Maranha das Neves, 1991

A disposição dos diversos materiais na seção incluindo filtros, drenos e transições subverti-
deve ser feita de modo a concorrer para uma cais ou inclinadas.
melhor compatibilização de deformações
Desde que o enrocamento seja suficientemente
entre a vedação (ou núcleo), as transições e
permeável, a água percola, através da vedação
enrocamento dos espaldares.
de solo, e atinge rapidamente a zona do espal-
A vedação central ou núcleo nessas barragens, dar de jusante, junto à fundação, mantendo-se
em geral semelhante à das barragens de seção a restante zona, por isso, praticamente seca.
homogênea ou mistas, pode, portanto, ser As poropressões no núcleo são dependentes
constituída por materiais mais permeáveis, da razão entre a permeabilidade horizontal
como areias siltosas ou rochas alteradas e vertical do seu material constituinte, mas
compactadas, desde que a permeabilidade e como essa zona é suportada pelos espaldares
o consequente fluxo resultante seja aceitável. de enrocamento, a estabilidade não é particu-
larmente sensível a essas poropressões.
A rocha do enrocamento dos espaldares de
montante e de jusante deve ser resistente As barragens desse tipo são particularmente
e durável (não deve alterar-se, devido às adequadas para obras de grande altura (para
ações meteorológicas e químicas da água de obras de altura inferior a 20 m, esta solução
percolação e agentes atmosféricos). envolve dificuldades de construção, devido ao
reduzido espaço disponível).
A largura mínima do núcleo impermeável deve
ser da ordem de 30% da carga hidráulica do Barragens de enrocamento com face de con-
reservatório, e maior ou igual a 3 m no topo da creto a montante
barragem, por razões construtivas.
Essas barragens apresentam vantagens de
Para controlar a erosão interna, as barra- custo para vales relativamente encaixados,
gens devem dispor de um sistema drenante, com boas fundações, em regiões de grande

54 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
pluviosidade e, principalmente, no caso das localização muito distante da barragem, de
escavações requeridas para as estruturas de solos argilosos com características adequadas
concreto produzirem o volume de enrocamen- para execução de um núcleo.
to necessário para a execução da barragem. Na Figura 13 apresenta-se uma seção típica de
Outras circunstâncias favoráveis a esse tipo uma barragem de enrocamento com face de
de barragem são a ausência, escassez ou concreto a montante.

Dique de desvio intermediário

Material Descrição Zona


I Transição de rocha e saprolito com finos 2B
II Transição grossa, enrocamento fino Dmáx 0,40 m 3A
III Enrocamento são, Dmáx 1,00 m 3B
IV Enrocamento de jusante 3C
V Enrocamento de proteção do talude 4
VI Proteção do CCR -

Figura 13. Seção típica de uma barragem de enrocamento com face de concreto. Barragem de Xingó,
SE/AL.
Fonte: Cruz et al., 2009

O plinto ou laje cut-off que, em conjunto com a fundar o plinto em maciço de qualidade infe-
laje do paramento de montante, são responsá- rior, quando se adotam medidas preventivas
veis pelo barramento da água, são elementos que protejam a fundação de erosões, reves-
muito importantes dessas estruturas. tindo as zonas potencialmente erodíveis com
filtros, gunita ou concreto projetado (Cruz et
O plinto é normalmente fundado em rocha sã,
al., 2009).
não erodível, o que permite sua consolidação
e seu tratamento à base de injeções. Todavia, O volume dos enrocamentos, a eventual re-
a experiência tem mostrado que é possível dução das obras de desvio, os elementos de

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
55
vedação e uma eventual redução do tempo de Os materiais usados no corpo das barragens
construção, são fatores a considerar na com- de aterro são, principalmente, solos, enroca-
paração entre barragens de enrocamento com mentos e misturas de solo e de enrocamento,
núcleo e com face de concreto. mas são também utilizados, em alguns tipos
de barragem, outros materiais, tais como con-
A qualidade do enrocamento depende de vá- creto, solo-cimento, aço, concreto betuminoso,
rios fatores, tais como, da qualidade da rocha, geomembranas e geotêxteis.
da granulometria do enrocamento e do méto-
do de compactação (recomendando-se, por- Os solos caracterizam-se por granulometrias
tanto, a utilização de rochas sãs e resistentes mais ou menos extensas, com larga predomi-
e de processos de construção que forneçam nância de elementos de pequenas dimensões,
enrocamentos bem graduados e compacta- que governarão, assim, o comportamento do
dos). A definição da espessura das camadas maciço dos pontos de vista de compactabili-
de enrocamento a compactar deve considerar dade, deformabilidade, resistência mecânica e
a dimensão máxima dos blocos a colocar na permeabilidade.
camada.
Os enrocamentos são materiais em que a per-
centagem de elementos de dimensão inferior
4.3 Estudos dos materiais a 0,075 mm não ultrapassa os 10%, podendo
a dimensão máxima atingir 1 m, sendo nor-
malmente a percentagem de elementos de
4.3.1 Considerações gerais
dimensões maiores do que 50 mm superior a
Sendo as barragens estruturas destinadas 60%. Os materiais, com granulometrias que
“à contenção ou acumulação de substâncias respeitam estes indicadores, exibem um com-
líquidas ou de misturas de líquidos e sólidos” portamento drenado (o mesmo sucedendo
(Lei Nº 12334/2010), os projetos devem as- se a permeabilidade for superior a 10-5 m/s) e
sendo os aterros construídos por camadas de
segurar o controle de fluxo, a estabilidade e
enrocamento compactado, uma granulome-
a compatibilidade das deformações (Cruz,
tria extensa favorecerá a obtenção de uma
2004).
acentuada diminuição do índice de vazios,
O controle de fluxo deve ser realizado com a com o consequente aumento da resistência e
inclusão de sistemas de vedação na barragem redução da deformabilidade.
e na fundação, no eixo e a montante do eixo,
Existem ainda materiais de transição entre os
e de sistemas de drenagem na barragem e na
solos e enrocamentos, que se podem designar
fundação, a jusante. As zonas externas ou es-
por misturas de solo e de enrocamento, nos
paldares da barragem devem ser compatíveis
quais a percentagem de elementos grosseiros
com os maciços de fundação e ter caracterís-
é significativa, mas a percentagem de elemen-
ticas que garantam a estabilidade dos taludes
tos finos é suficientemente elevada para se
para as várias condições de carregamento. A
ter uma grande influência no comportamento
compressibilidade dos materiais da barragem
mecânico do aterro.
e da fundação deve ser compatibilizada ou
devem ser adicionadas zonas de transição, a Os filtros, drenos e transições a serem cons-
fim de reduzir os recalques diferenciais e totais, truídos com materiais granulares (em alguns
que venham a prejudicar o desempenho dos casos particulares e, sobretudo como transi-
sistemas de vedação e de drenagem, seja pela ção, poderão utilizar geotêxtis em substituição
ocorrência de trincas, causadas por recalques de materiais granulares) desempenham
diferenciais, seja pela inversão dos gradientes papel fundamental nas barragens de aterro,
de fluxo nos sistemas de drenagem, devido a pois controlam os escoamentos, através do
recalques totais excessivos. corpo da barragem e da sua fundação, sendo

56 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
essencial que conduzam os fluxos afluentes 4.3.2 Elementos do projeto
sem afogamento e que retenham os materiais
adjacentes, evitando erosões internas. O projeto deve incluir os estudos dos materiais
e das suas condições de colocação na obra, a
Os estudos dos materiais devem ser desen- saber (NPB,1993):
volvidos, de modo a maximizar a utilização, na
• Definição das jazidas dos materiais com a
própria obra, dos materiais provenientes das
respectiva localização, zoneamento, ava-
escavações necessárias, para construção do liação dos volumes disponíveis, informação
empreendimento. Caso aqueles materiais não sobre níveis freáticos, sazonais ou resultan-
apresentem características tecnológicas ade- tes do enchimento parcial do reservatório,
quadas e volume suficiente, devem ser utiliza- e condições de escavação dos solos e de
dos solos e/ou rochas de jazidas previamente desmonte dos materiais rochosos;
selecionadas. • Balanço de materiais, visando à sua utili-
zação, de acordo com os locais de origem
Nas fases preliminares dos estudos, os volumes
e aplicabilidade, compatível com as etapas
requeridos de cada tipo de material são ainda
de construção e o cronograma executivo;
pouco definidos, dadas as diferentes alternati-
• Compartimentação do maciço das pe-
vas de projeto ainda possíveis e mesmo do des-
dreiras, de modo a adotar o processo de
conhecimento das disponibilidades existentes
desmonte mais adequado à obtenção da
dos diversos materiais. No entanto, na fase final
granulometria desejada;
dos estudos de viabilidade e nos projetos bási-
• Características físicas, propriedades fun-
cos e executivos, as demandas já são definidas
damentais e composição mineralógica
de forma mais precisa, devendo-se concentrar
dos materiais (solos e enrocamentos),
os estudos na caracterização tecnológica e
devendo ter-se presente que, em princípio,
econômica dos materiais existentes, de modo
todos esses materiais são adequados para
a especificar os processos construtivos, assim a construção de barragens de aterro, com
como as características da obra. exceção dos solos com teor inconveniente
em matéria orgânica, das argilas muito
Desta forma, a pesquisa de materiais de cons-
sobreconsolidadas e dos solos e rochas al-
trução nas fases iniciais do projeto, baseada
teráveis ao contato com o ar ou com a água,
em um estudo geológico preliminar deve,
em especial os que contenham minerais
essencialmente, fornecer indicações de locais
solúveis;
potenciais de obtenção de materiais imper-
• Determinação sobre amostras, representa-
meáveis, materiais granulares permeáveis,
tivas do solo das jazidas, das características
pedreiras, etc. Essa pesquisa, complementada
de compactação (teor em umidade ótimo e
por amostragens piloto, permite visualizar a
peso específico aparente seco) para ener-
origem, localização, distribuição e prováveis gias de compactação específicas previstas
volumes dos diversos materiais disponíveis. para a construção;
A experiência existente com obras semelhan- • Ensaios de laboratório sobre amostras com
tes fornece indicações para definição dos prin- compacidade e teor em umidade previsíveis
cipais aspectos dos programas de investigação nas várias fases da obra, para determinação
e ensaios, bem como da intensidade com que de características de cisalhamento, defor-
mabilidade e permeabilidade;
os estudos devem ser realizados.
• Tipo e modalidade de realização dos en-
Por razões ambientais, as localizações dos saios, referidos na alínea anterior, de modo
materiais de construção deverão, sempre que a permitir uma caracterização em termos
possível, ser na área do reservatório. de tensões totais e efetivas e medição

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
57
dos parâmetros de poropressão ou gran- 4.3.3 Materiais para zonas
dezas, que permitam obter informação impermeáveis
equivalente;
Nos estudos de materiais para barragens de
• Tensões e deformações a impor nos ensaios
aterro deve ser dada especial atenção aos
de laboratório, de modo a representarem, na
materiais com função de vedação. Em geral,
medida do possível, as trajetórias de tensão
os solos mais procurados para as zonas de
e deformação na obra;
vedação são os argilosos e os siltosos, embora
• Previsões de aterros experimentais a execu-
possam conter alguns elementos com fração
tar com os materiais e os equipamentos que
mais grossa ou mesmo serem solos de alte-
irão ser efetivamente usados na construção,
ração com blocos ou fragmentos de rochas,
para aprovação das caraterísticas mecâ-
desde que após compactação apresentem a
nicas e hidráulicas determinadas em labo-
permeabilidade desejada.
ratório e para estudo da compactabilidade
dos materiais, eficiência de equipamentos, Apresentam-se, em seguida, alguns aspectos
umidificação e rendimentos; esses aterros a considerar na amostragem e nos ensaios de
experimentais são em geral executados materiais para as vedações das barragens de
pela empreiteira no início das obras; aterro (baseado no capítulo 9 do Manual da
• Sistemas de escavação, transporte, colo- Eletrobras, ELETROBRAS, 2003).
cação, umidificação e compactação dos
Amostragem
materiais dos aterros;
• Investigação geotécnica de materiais para Para cada fase do projeto, a amostragem deve
filtros, drenos e transições, caraterização da ser feita simultaneamente às investigações
granulometria e permeabilidade e estudos geológico-geotécnicas, considerando a repre-
sobre a alterabilidade granulométrica e sentatividade das amostras, perante a varia-
mineralógica, durante o período de vida da bilidade dos materiais (jazidas homogêneas
barragem; podem ser amostradas para a condição média
das características dos materiais, mas jazidas
• Materiais para filtros, drenos e transições,
de grande variabilidade devem ser amostradas
obtidos por lavagem de finos, peneira-
também para as condições extremas).
mento ou britagem, quando tenha havido
dificuldade em encontrar materiais naturais A amostragem para a realização de ensaios
suscetíveis de utilização direta; deve levar em consideração os processos de
• Especificações sobre geotêxteis, que pode- exploração previamente definidos e, para cada
rão ser utilizados em certos tipos de barra- jazida, devem ser definidos o contorno geomé-
gem em diversas funções; trico e os volumes disponíveis dos diferentes
tipos de materiais.
• Estudos e especificações para proteção dos
paramentos e da crista; Durante a construção do empreendimento
• Estudos e especificações, relativos aos devem ser coletadas amostras deformadas
concretos, aços, caldas de injeção, materiais (e, eventualmente, indeformadas) nos aterros
betuminosos, materiais a utilizar em pare- experimentais e definitivos, que devem ser
des diafragmas e geomembranas. submetidos a ensaios de laboratório.

58 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Ensaios

A caracterização tecnológica dos diversos Seguidamente são realizados ensaios geo-


tipos de material em cada jazida deve ser feita técnicos de laboratório para caracterizar os
através de ensaios in situ (densidade e umida- aterros a construir com os solos de cada jazida,
de naturais), ensaios de granulometria, limites relativamente à permeabilidade, resistência
de consistência e determinação da densidade mecânica e deformabilidade.
real dos grãos, bem como de ensaios de ca-
No Quadro 5 são indicados os ensaios mais fre-
racterização e compactação em laboratório quentemente realizados, tanto de carateriza-
sobre amostras representativas. Os resultados ção como para a avaliação dos parâmetros de
desses ensaios permitem definir as caracterís- resistência, deformabilidade e permeabilidade,
ticas dos solos presentes, sua variabilidade e ou de outras caraterísticas dos solos argilosos,
distribuição ao longo das jazidas e, portanto, o como a expansibilidade ou dispersividade.
zoneamento das jazidas em parcelas conside-
radas homogêneas.

Quadro 5. Ensaios de caracterização de solos para zonas impermeáveis.


Tipo de ensaio Objetivo (Norma de ensaio)
Ensaios de caracterização
Umidade é a diferença entre o peso úmido e o peso seco do solo “in situ”,
Umidade Natural sendo o teor de umidade o quociente, expresso em percentagem, da umida-
de do solo pelo seu peso seco (ABNT NBR 6457)
Peso total do solo (P) dividido pelo seu volume total (V). O ensaio mais
Densidade Natural comum para determinação do peso específico natural do solo “in situ” é o
método do cilindro de cravação (ABNT NBR 09813)
Granulometria por peneiramento e
Diâmetros das diversas partículas existentes no solo (ABNT NBR 7181)
sedimentação
Teores em umidade para os quais a consistência do solo muda de um estado
Limites de consistência
para o outro
Teor em umidade a partir do qual um solo passa a exibir plasticidade (ABNT
Limite de plasticidade
NBR 7180)
Teor em umidade acima do qual o solo perde as características de plasticida-
Limite de liquidez
de, passando a comportar-se como um fluido viscoso (ABNT NBR 6459)
Relação entre o peso e o volume de uma partícula individual de solo (ABNT
Peso específico real dos grãos
NBR 6508)
Determinação da umidade ótima do solo, para uma dada energia de com-
Ensaios de Compactação pactação, e do peso específico aparente seco máximo associada à umidade
ótima (ABNT NBR 7182)
Obtenção do coeficiente de permeabilidade de uma amostra de solo
(podem ser realizados em permeâmetro de carga variável, em células de
Ensaios de Permeabilidade
adensamento edométrico ou em câmaras triaxiais, sendo estes últimos os
mais fiáveis)

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
59
Tipo de ensaio Objetivo (Norma de ensaio)
Ensaios de resistência e deformabilidade
Determinar os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo (coesão e
Cisalhamento direto
ângulo de atrito)
Determinar os parâmetros de resistência e de deformabilidade do solo. De-
pendendo das condições de drenagem, seja na fase de adensamento sob a
tensão confinante, seja na fase de aplicação da tensão desviadora, o ensaio
pode ser classificado como:
Compressão triaxial
• Adensado drenado (CD)
• Adensado não drenado, com ou sem medição de poro-pressões, e satu-
rados, ou não (CU ou CUsat)
• Não adensado não drenado, com medição ou não de poropressões (UU)
Visa a determinar as características de compressibilidade dos solos sob a
Adensamento edométrico
condição de confinamento lateral (ABNT NBR 12007)
Especiais
Caracterizar o solo quanto à sua expansibilidade (ensaio de expansibilidade
com determinação da pressão de expansão nula em câmara edométrica,
Ensaios de expansibilidade
difração de raios-X, absorção de azul de metileno, análise térmico diferencial
e espectrometria infravermelha)
Indicado no caso de solos não saturados que possam apresentar colapso
Ensaios de colapsibildade
com o aumento de umidade
Caracterizar solos que sofrem erosão interna por via coloidal, ou seja, devido
a um processo de dispersão que ocorre quando as forças repulsivas entre as
partículas de argila excedem as atrativas, de tal forma que quando a argila
Ensaios de dispersividade
fica em contato com a água, as partículas de argila destacam-se e entram
em suspensão e são arrastadas (ensaio de dupla sedimentação, SCS; sais
solúveis, Crumb test, Pinhole test)

Uma vez feita a identificação das jazidas dispo- da barragem (final do período de construção,
níveis, os ensaios de permeabilidade, a serem rebaixamento rápido do reservatório e percola-
realizados em permeâmetro de carga variável, ção estável) é suficiente realizar ensaios aden-
células de adensamento edométrico ou nas câ- sados não drenados e saturados (Cusat ou Rsat)
maras triaxiais, permitem obter dados para os com medida de poropressões. Esses ensaios
estudos de percolação, devendo ser realizados permitem obter os parâmetros de resistência
em amostras compactadas em laboratório, ao cisalhamento, em termos de tensões totais
de modo a representar as várias condições de e efetivas, parâmetros de poropressões e os
moldagem. módulos de deformabilidade.

Os ensaios de cisalhamento direto permitem Em casos especiais, em barragens de muito


a determinação da resistência ao cisalha- grande porte, poderá justificar-se ainda realizar
mento; porém, não permitem a determinação outros tipos de ensaios triaxiais, como ensaios
de parâmetros de deformabilidade, nem a não adensados e não drenados (UU ou Q) com
obtenção dos valores da poropressão. Apesar medida de poropressões, que poderão simular
das suas limitações, é um ensaio interessante, melhor o período final de construção, e ensaios
quando se pretende conhecer a resistência adensados e drenados (CD ou S), para a fase
residual de solos argilosos. de percolação estável.

Os ensaios de compressão triaxial permitem Durante o período construtivo devem também


obter os parâmetros de poropressão, de resis- ser realizados ensaios de permeabilidade in situ
tência (em termos de tensões totais e efetivas) em aterros experimentais e definitivos, além
e de deformabilidade, a serem adotados no di- de ensaios de laboratório em permeâmetro de
mensionamento das estruturas. Normalmente, carga variável ou em células de adensamento
para as análises de estabilidade e deformabi- edométrico sobre amostras indeformadas, reti-
lidade, nas diferentes fases de carregamento radas nos aterros mencionados. Os ensaios de

60 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
laboratório devem ser realizados em corpos de Seleção dos parâmetros de projeto
prova talhados nas direções vertical e horizon-
A seleção dos parâmetros de projeto deve ser
tal, com ou sem influência do nível de tensões.
estabelecida após adequada interpretação de
Pode também justificar-se a realização dos
todo o conjunto de ensaios.
mesmos ensaios de compressão triaxial sobre
corpos de prova ou amostras indeformadas, Para áreas em que as características dos solos
retiradas do maciço da própria barragem ou de possam ser consideradas homogêneas, devem
aterros experimentais. ser adotados os valores médios dos parâme-
tros. Nas áreas heterogêneas, os resultados
As características de compressibilidade ou
dos ensaios devem ser considerados, de forma
expansibilidade dos vários tipos de materiais,
compatível com a utilização desses materiais
em diferentes condições de moldagem, devem
no zoneamento do maciço, estabelecendo
ser estudadas na fase de projeto por meio
parâmetros de projeto para cada zona da bar-
de ensaios em laboratório de adensamento
ragem, em função da respectiva origem do solo.
edométrico (ou ensaio de adensamento uni-
De forma análoga, devem ser selecionados os
dimensional) que permitem obter parâmetros
parâmetros de permeabilidade nas direções
destinados à avaliação dos recalques, devido a
vertical e horizontal, com ou sem a influência
consolidação de solos compressíveis.
do nível de tensões.
Podem ainda ser realizados ensaios especiais
Os parâmetros de deformabilidade para análi-
para determinação de características de ex-
ses pelo método dos elementos finitos podem
pansibilidade, colapsibilidade, ou dispersivida-
ser obtidos após a comparação dos valores
de dos solos.
obtidos de várias fontes, tais como:
O ensaio de expansibilidade mais comum é • os ensaios de laboratório;
o que emprega o equipamento utilizado no
• os ensaios in situ, quando realizados na fase
ensaio de adensamento com determinação
construtiva;
da pressão de expansão nula em câmara edo-
métrica, mas existem muitos outros ensaios • os resultados da observação de obras
que podem fornecer informações sobre a construídas com materiais e condições
expansibilidade do solo, tais como a difração semelhantes ou da própria obra durante a
de raios-X, absorção de azul de metileno, construção.
análise térmico diferencial e espectrometria
infravermelha. Os parâmetros de projeto, resultantes de en-
saios sobre amostras moldadas em laborató-
O ensaio de colapsibilidade mais simples é o
rio, devem ser confrontados, sempre que pos-
que é feito no mesmo equipamento utilizado
sível, com os obtidos de blocos indeformados
no ensaio de adensamento, medindo-se a
retirados da própria barragem ou de aterros
deformação vertical sofrida pela amostra, em
experimentais.
uma determinada tensão, ao ser inundada.
Os parâmetros de poropressão de construção,
Para avaliar a dispersividade de uma argila,
obtidos dos ensaios de laboratório, devem
podem realizar-se, entre outros, os seguintes
também ser confrontados com resultados
ensaios:
da observação de obras semelhantes ou da
• Crumb test e análises granulométricas por própria obra, quando devidamente instrumen-
peneiramento e sedimentação com e sem tada, logo no início da construção.
uso de agentes desfloculantes para uma
primeira indicação (ensaio de dupla sedi- Os parâmetros de resistência, em termos de
mentação, SCS); tensões efetivas, a serem adotados nas análi-
• ensaios com o aparelho Pinhole test; ses de estabilidade, são definidos com base na
interpretação dos resultados dos ensaios de
• ensaios químicos.
compressão triaxial. Em casos particulares, as

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
61
envoltórias de resistência podem ser adotadas devem envolver, pelo menos, o dobro do volu-
em termos de tensões totais, obtidas de en- me necessário.
saios não drenados.
A caracterização geológica compreende a
4.3.4 Materiais para filtros, drenos e descrição dos tipos de materiais existentes, a
transições mineralogia, origem, espessura dos depósitos,
alternância textural, posição do lençol freá-
Os materiais naturais são obtidos através
tico e características do capeamento estéril.
de escavações convencionais mecanizadas,
A caracterização geotécnica compreende a
dragagem ou mesmo escavações com o uso
de explosivos e são aplicados na obra sem ne- descrição da homogeneidade granulométrica
cessidade de qualquer tipo de beneficiamento. das areias, as necessidades de beneficiamento
O beneficiamento dos materiais naturais, seja dos materiais por peneiramento e/ou lavagem,
por lavagem, peneiramento ou britagem, origi- a forma dos grãos e a permeabilidade. Esses
na os materiais processados. dados devem ser apresentados na forma de
perfis, seções e plantas, complementados por
Apresentam-se os procedimentos, a seguir, vi-
sando à caracterização dos materiais naturais um texto descritivo.
e processados (ELETROBRAS, 2003).
Na definição do tipo e quantidade de ensaios,
Caracterização dos materiais naturais - será sempre considerada a experiência obtida
areias e cascalhos com a utilização de materiais semelhantes em
outras obras, bem como a possibilidade de
As investigações de campo, por meio de
definição dos parâmetros, através da análise
varejão, sondagens com amostragem e, even-
tátil-visual. Os ensaios a serem executados nas
tualmente, dragagem, devem ser realizadas
com espaçamentos estabelecidos em função areias e cascalhos incluem, designadamente:
do modelo geológico, da homogeneidade dos análise mineralógica, ensaios de granulome-
materiais presentes, da fase dos estudos e do tria, de permeabilidade, compacidade relativa
volume dos depósitos. (densidade mínima e máxima), teores de
matéria orgânica e torrões de argila, peso es-
Na caracterização dos volumes disponíveis em
pecífico real dos grãos e índice de forma.
jazidas, situadas no leito do rio, devem ser con-
sideradas as eventuais alterações, durante o No Quadro 6 são indicados os ensaios mais
período de cheias, quer dos volumes, quer das
frequentemente realizados para caracterizar
granulometrias presentes. O desvio do rio pode
materiais para filtros, drenos e transições.
também provocar alterações nos volumes das
jazidas em determinadas etapas da obra. Devem ser estimados parâmetros de resistên-
Em cada jazida deve ser definido o contorno cia e de deformabilidade das areias e investi-
geométrico dos volumes disponíveis. Nas fases gadas características específicas das areias
iniciais de projeto, os volumes a serem pes- que possam influir no desempenho dos filtros
quisados para zonas drenantes da barragem e transições dos maciços.

62 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Quadro 6. Ensaios de caracterização de materiais para filtros, drenos e transições.
Tipo de ensaio Objetivo (Norma de ensaio)
Diâmetros das diversas partículas existentes no material
Granulometria por peneiramento
(ABNT NBR 7181)
Obtenção do coeficiente de permeabilidade (podem ser reali-
Ensaio de permeabilidade
zados em permeâmetro de carga constante)
Determinação da densidade mínima, de simples derrama-
Densidade mínima
mento de material (ABNT NBR 12004)
Determinação da densidade máxima, através utilizando a
Densidade máxima
compactação vibratória (ABNT NBR 12051)
Determinação do teor em matéria orgânica (ABNT NBR
Matéria orgânica e torrões de argila
13600) e de teor de argila em torrões (ABNT NBR 7218)
Relação entre o peso e o volume de uma partícula individual
Peso específico real dos grãos
de solo (ABNT NBR 6508)
Média da relação entre o comprimento e a espessura dos
Índice de forma grãos do material, ponderada pela quantidade de grãos de
cada fração granulométrica que o compõe (ABNT NBR 7809)
Determinação dos minerais, por exemplo, por difração de raios
Análise mineralógica
X

Caracterização dos materiais processados Para obtenção de dados sobre a proporção a


ser obtida de cada graduação de britas, para
Os materiais processados são essencialmente
o balanceamento, devem ser utilizadas curvas
utilizados quando os materiais naturais exis-
de britagem, obtidas de obras com materiais
tentes não atenderem às características reque-
semelhantes e da própria obra.
ridas ou não estão disponíveis em quantidades
suficientes. Nos casos em que é importante caracterizar o
material britado, em proporção e do ponto de
As principais fontes de materiais processados
vista tecnológico, podem ser utilizados ensaios
são os materiais de escavação obrigatória ou
de britagem, providenciando-se um desmonte
os obtidos de pedreiras. Esses materiais po-
de rocha no local e transportando-se o mate-
dem contribuir como fonte de materiais para
rial para um local onde exista uma central de
filtros e transições na forma de areia artificial,
britagem em funcionamento. Essa providência
britas, “bica corrida” separada por grizzly ou
pode ser adotada, quando o programa de
“bica corrida” do britador primário ou a distân-
estudos de tecnologia de concreto também
cia adequada.
necessite de um grande volume de amostras
A disponibilidade de materiais processados de rocha para britagem.
deve ser verificada, através de estudo de
Os parâmetros de projeto, correspondentes
balanceamento dos materiais de escavação.
aos materiais processados para filtros, drenos
Na avaliação dos volumes correspondentes,
e transições, devem ser estabelecidos com
devem ser considerados os fatores usuais de
base na experiência com obras semelhantes e
perdas e relação de volumes corte/aterro (para
comprovados no decorrer da própria obra.
uma validação preliminar, o fator a considerar
para rochas duras é de 1,5 vezes o volume no 4.3.5 Materiais de enrocamento
corte para obtenção do volume do material
processado colocado no maciço). Os enrocamentos devem ser obtidos, prefe-
rencialmente, das escavações em rocha para
A amostragem para ensaios de análise minera-
implantação das estruturas. A exploração de
lógica, permeabilidade, densidade, absorção e
pedreiras será utilizada quando os volumes das
ciclagem natural e acelerada deve ser feita por
escavações em rocha não forem suficientes e/
coleta em sondagens, das escavações ou das
ou não atenderem à qualidade exigida.
pilhas de estoque.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
63
Os procedimentos a seguir na caracterização barragem. A experiência com obras e materiais
desses materiais são indicados. semelhantes deve também ser considerada.

As investigações para enrocamento, provenien- Os ensaios comumente executados em rocha


te de pedreiras ou de escavações obrigatórias, são: análise petrográfica, massa específica,
embora programadas de forma semelhante, ciclagem natural, ciclagem água/estufa,
diferem no fato de que, nas pedreiras é pos- abrasão Los Angeles, índice de forma, resis-
sível escolher os materiais de características tência à compressão puntiforme, e resistência
próximas das desejadas, ao passo que nas
à compressão uniaxial.
escavações são aproveitados os materiais
disponíveis. No Quadro 7 são indicados os ensaios mais
frequentemente realizados para caracterizar
A sondagem rotativa é o principal tipo de in-
material rochoso para enrocamento.
vestigação, mas podem também ser utilizados
métodos geofísicos.
Quadro 7. Ensaios de caracterização de materiais
Na estimativa de volumes, deve ser considera- de enrocamento.
da a relação entre os volumes medido e inferi-
Tipo de ensaio Objetivo (Norma de ensaio)
do, a qual depende do nível de conhecimento
Análise petro- Análise macroscópica de amostras
do modelo geológico-geotécnico. gráfica (ABNT NBR 12768)
Massa especí- Obtenção das massas específicas
O volume total disponível cubado deve ser fica seca e saturada (ABNT NBR 12766)
superior ao volume necessário (da ordem Obtenção de velocidade de propa-
Velocidade
de 50%) para atender às perdas, durante a ultrassônica
gação de ondas ultrassônicas (ASTM
2845/00)
exploração.
Verificar a velocidade dos efeitos
A caracterização geológica deve compreender da alteração intempérica sobre
Ciclagem na-
amostras de rochas, função de sua
a descrição detalhada dos tipos litológicos tural, ciclagem
mineralogia (norma da CESP: MCA-
água/estufa
existentes, textura, cor, compartimentação 14- Sanidade do Agregado através da
ciclagem natural; ABNT NBR 12696)
do maciço rochoso (sistemas de juntas, es-
Determinar qual o desgaste que o
paçamento, características da superfície do Abrasão Los material sofre quando submetido
contato), decomposição dos constituintes mi- Angeles ao método de abrasão Los Angeles
(ABNT NBR 6465)
neralógicos e caracterização do capeamento.
Média da relação entre o compri-
Essa caracterização geológica será apresenta- mento e a espessura dos grãos do
da, principalmente, na forma de perfis, seções Índice de forma
material, ponderada pela quantidade
de grãos de cada fração granulo-
e plantas, e será complementada por um texto métrica que o compõe (ABNT NBR
descritivo. 7809)
Resistência à
A caracterização geotécnica deve compreen- Obter índice de resistência puntifor-
compressão
me, correlacionável à resistência à
der a descrição detalhada dos diversos está- puntiforme
compressão uniaxial (proposta de
(Point Load
gios de decomposição do maciço rochoso, os padronização, ISRM, 1985)
Test)
graus de resistência ou dureza e de fratura- Determinar a carga de ruptura e exa-
Resistência à
mento, a recuperação de sondagens e outros compressão
minar a superfície de rotura de uma
amostra de rocha sujeita a compres-
parâmetros de interesse. Essa caracterização uniaxial
são uniaxial (ABNT NBR 12767)
geotécnica será apresentada em conjunto com
a caracterização geológica, na forma de perfis,
seções e plantas, e complementada pelo texto Na definição dos parâmetros de projeto dos en-
descritivo. rocamentos, as experiências obtidas em obras
semelhantes ou na construção da própria obra
Os tipos e quantidades de ensaios a executar,
são do maior interesse, considerando:
de acordo com a literatura técnica nacional ou
internacional, dependem do tipo de obra e do • para a densidade, os resultados de obras
material rochoso e sua localização na seção da similares, com o mesmo tipo de material e

64 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
condições semelhantes de alteração, fratu- utilizados, quando associados às fundações
ramento e energia de compactação; dos órgãos extravasores e de adução em
• para a deformabilidade, os resultados de maciços rochosos;
instrumentação da própria obra, durante a • Se o aterro se apoiar diretamente sobre a
construção ou de obras semelhantes, obten- fundação rochosa, o contato deve ser objeto
do-se os módulos de deformação, levando de tratamento para evitar fenômenos de
em consideração o tipo de rocha, espessura erosão interna provocados por percolações,
de camada e energia de compactação; através das descontinuidades do maciço ro-
• para a resistência ao cisalhamento dos choso, devendo-se prever, no caso de funda-
enrocamentos compactados, os resultados ções de vedações (núcleos), a regularização
obtidos em obras semelhantes, com as da superfície da rocha e o preenchimento de
devidas adaptações às condições vigentes descontinuidades, e, nas fundações de um
ou da própria obra, tendo em consideração espaldar, a necessidade de recorrer a filtros,
estudos que permitem correlacionar a resis- drenos e transições;
tência do enrocamento com a resistência,
• Se entre o aterro e o maciço rochoso ocor-
obtida em laboratório, utilizando materiais
rer solo ou rocha branda muito alterada e
mais finos, guardadas certas proporções de
fraturada, a fundação deve ser submetida
granulometria.
apenas a tratamentos muito localizados
e relacionados com eventuais órgãos de
vedação, que atravessem a fundação de má
4.4 Fundações qualidade, tais como diafragmas e cortinas
de injeções.
As fundações das barragens de aterro podem
ser constituídas por maciços rochosos ou por No caso de fundações em solos, os principais
solos, sendo também frequentes fundações aspectos a considerar são (NPB, 1993):
nos dois tipos de maciços ou mesmo terrenos • Um adequado conhecimento da permeabi-
de transição entre solos e rochas. Em quaisquer lidade, importante para estimar as vazões,
dos casos, essas fundações constituem uma através do maciço de fundação e que pode
unidade com a estrutura que suportam, deven- revelar-se decisivo na escolha do sistema a
do, portanto, ser analisado o comportamento
adotar para dominar esses fluxos, incluindo
do conjunto barragem-fundação.
na fase de construção, por razões de eficiên-
Nas fundações em maciços rochosos, os prin- cia e de economia;
cipais aspectos a se ter em consideração são • Nos solos arenosos, raramente a permea-
(NPB, 1993): bilidade pode ser medida em laboratório,
• Estudo da percolação, para o que se torna dada a extrema dificuldade em colher
necessário caracterizar a permeabilidade amostras indeformadas, devendo-se, por
dos maciços e as condições de fronteira; isso, realizar ensaios “in situ”, interessando
• Estudo da resistência ao cisalhamento e volumes representativos do maciço;
da deformabilidade, nos casos de terrenos • Nos maciços com permeabilidade elevada,
de muito fraca qualidade, fundações de o domínio total ou parcial dos fluxos perco-
galerias ligadas a órgãos de vedação no lados e dos gradientes hidráulicos pode efe-
paramento de montante e estudos de es- tuar-se, recorrendo a tapetes impermeáveis,
tabilidade dos encontros, durante a fase de trincheiras de vedação, paredes diafragma,
construção; filtros e poços de alívio;
• Ações resultantes da percolação, tendo em • Os maciços de solos drenantes podem ser
conta as cortinas de injeção; suscetíveis de liquefação, devido a ações
• Consideração de cortinas de drenagem, sísmicas ou sofrer colapso por alterações da
dispositivos que só são normalmente sua estrutura;

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
65
• Nos maciços em solos relativamente imper- • Verificação das condições de funcionali-
meáveis, deve-se considerar os efeitos dos dade e segurança, tendo em atenção as
gradientes hidráulicos e das deformações e prescrições do projeto a satisfazer.
assegurar a estabilidade mecânica;
A experiência tem evidenciado a grande
• A caracterização dos maciços referidos na influência dos erros humanos na ocorrência
alínea anterior pode ser efetuada em labo- de acidentes, devido a falhas no projeto, na
ratório ou “in situ”; construção, na operação ou na manutenção. A
• Nas fundações em solos, os efeitos preju- ocorrência dessas falhas não deve ser minora-
diciais dos gradientes hidráulicos são nor- da por intermédio do sobredimensionamento
malmente evitados por sistemas de filtros e das estruturas, mas pela adoção de medidas
drenos; adequadas de garantia de qualidade, tanto no
projeto como na construção, na operação e na
• O controle dos efeitos das deformações
manutenção e monitoramento.
e a obtenção de adequada resistência
mecânica podem ser conseguidos por con- Os cenários devem ser definidos, tendo em
veniente definição geométrica da barragem consideração as características específicas da
e melhoria das propriedades mecânicas dos obra, especificando no dimensionamento os
solos (vibroflutuação, compactação dinâ- parâmetros representativos das ações e suas
mica, saturação prévia, pré-carregamento e combinações, dos materiais das estruturas e
drenagem). da fundação e das técnicas de construção e
operação.
Os métodos de estudo utilizados na caracte-
rização geológica e geotécnica dos maciços O corpo da barragem e suas fundações devem
terrosos e rochosos de fundação devem ser considerados em conjunto e, neste mesmo
corresponder à boa prática seguida no âmbito contexto, os órgãos extravasores e de operação
da Geologia de Engenharia, da Mecânica dos e os taludes do reservatório, devendo-se consi-
Solos e da Mecânica das Rochas. derar as interações entre as diversas estruturas
e a barragem.

4.5 Dimensionamento e Na quantificação da segurança em relação


verificação da segurança à ruptura de barragens de aterro devem ser
adotados os coeficientes de segurança globais
4.5.1 Aspectos gerais que, de acordo com a prática habitual, estabe-
lecem a relação entre as forças resistentes e
No dimensionamento das barragens para jus- instabilizadoras, ao longo de uma superfície de
tificativa das suas formas, dimensões e outras deslizamento potencial crítica. A verificação da
disposições do projeto, visando à verificação segurança à ruptura, de acordo com a prática
das condições de segurança e operacionali- habitual, assegura também, em geral, a verifi-
dade, em relação aos previsíveis cenários de cação da operacionalidade da obra em relação
acidente e incidente, podem-se considerar os a deformações excessivas.
seguintes passos (NPB, 1993): De forma análoga, a segurança relativamente
à ruptura hidráulica, quer em análise do tipo
• Identificação dos principais cenários e de- pontual quer global, deve também ser quantifi-
finição das correspondentes situações de cada por meio de um coeficiente de segurança.
dimensionamento;
4.5.2 Análises de percolação
• Caracterização das ações e suas combi-
nações, bem como das características dos
Modelo hidrogeotécnico
materiais e das estruturas, e análise do
comportamento destas últimas para as si- Os estudos da percolação da água através do
tuações de dimensionamento consideradas; maciço da barragem e da fundação permitem

66 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
prever a distribuição de pressões e o valor das Os estudos de percolação devem ser realizados
vazões, fornecendo subsídios para os estudos para as situações de reservatório em operação
de estabilidade, para o dimensionamento e de rebaixamento rápido. Para a situação de
dos dispositivos de drenagem interna e para reservatório em operação, o nível da água de
seleção e dimensionamento dos sistemas montante deve ser o máximo normal, e para di-
de vedação e drenagem da fundação. Esses mensionamento dos dispositivos de drenagem
estudos são realizados, com base no modelo (maiores valores de vazão), o nível da água de
hidrogeotécnico dos maciços, na definição do jusante deve ter o valor mínimo. Para as análises
qual se podem considerar os seguintes passos de estabilidade, o nível de jusante deve ser o que
(ELETROBRAS, 2003): fornece a combinação mais desfavorável de
• identificação dos materiais com caracterís- carregamento. Para a situação de rebaixamen-
ticas hidrogeotécnicas individualizáveis; to rápido, devem ser considerados os níveis da
• definição dos parâmetros hidrogeotécnicos água máximo e mínimo normal do reservatório.
de cada material, inclusive sua eventual
Para os casos correntes é, em geral, suficiente
anisotropia;
considerar modelos planos de escoamento em
• distribuição espacial, em geral bidimensio- regime permanente, analisados, por exemplo,
nal, ou em casos excepcionais, como barra- por meio de soluções numéricas, que fazem
gens de muito grande porte, tridimensional, uso dos métodos de diferenças finitas ou de
dos vários materiais. elementos finitos (para a realização das quais
Para os maciços da barragem, o modelo resulta estão disponíveis no mercado diversos pro-
simplesmente das características hidrogeotéc- gramas de cálculo automático, considerando
nicas especificadas para cada material, mas a condutividade hidráulica, como função da
para as fundações, ombreiras e eventuais selas pressão do escoamento e determinando itera-
laterais, o modelo depende da maior ou menor tivamente a posição da linha de saturação para
complexidade das condições geológicas. escoamentos não confinados, como é o caso
das barragens de aterro).
Os valores dos coeficientes de permeabilidade
a serem adotados nas análises devem ser Na Figura 14 apresenta-se um exemplo de
devidamente ajustados para o nível de tensões uma análise de percolação em regime perma-
efetivas atuantes na fundação e no maciço, nente pelo método dos elementos finitos de
bem como consideradas as eventuais aniso- uma barragem de terra zonada e respectiva
tropias no seu valor. fundação.

310
300 NR = 295.00
290
280
270
260
250
240
294

25
288

273

254

230
292

255

7
263

220 P600

210
-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 450 460 470 480 490 500

Figura 14. Análise de percolação em regime permanente pelo método dos elementos finitos
(linhas equipotenciais).

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
67
Dimensionamento de sistemas de filtros, sendo hoje reconhecido que a ocorrência de
drenos e transições fendas é um fator determinante na deteriora-
ção das barragens de aterros, construídas com
O controle dos fluxos de percolação nas
materiais coerentes. De fato, essas desconti-
barragens de terra de seção homogênea ou
as barragens com núcleo vedante (sejam os nuidades propiciam o aparecimento de cami-
espaldares em terra ou enrocamento) é feito nhos preferenciais de escoamento, nos quais a
pelo sistema de filtros, drenos e transições. velocidade da água cresce abruptamente, ori-
No seu dimensionamento, poderão ser utili- ginando grande poder erosivo e consequente
zados, a princípio, os critérios convencionais remoção para jusante das partículas de argila.
de transição granulométrica dos materiais
O controle dos fenômenos de escoamento
adjacentes, a apresentados no Quadro 8, onde
“d” é o diâmetro das partículas dos materiais a concentrados, devido à fissuração do núcleo,
serem protegidos (base) e “D” é o diâmetro das faz-se dotando a barragem de um adequado
partículas dos materiais de filtro. Na definição filtro a jusante – o filtro crítico – que funcio-
de faixas, pode-se considerar para “d” o valor na adequadamente, não somente para as
médio da faixa e “D” o limite superior da faixa. situações normais de um escoamento, que
atravessa uma interface núcleo-filtro contínua,
Filtro crítico (filtro a jusante do núcleo)
como também para o caso de fluxos concen-
A aplicação das regras clássicas, granulométri- trados, que atingem a face do filtro, através de
cas, de dimensionamento de filtros a materiais descontinuidades no núcleo.
siltosos ou argilosos conduz, normalmente, a
Dado que a ocorrência de fendas nos
sistemas filtrantes onerosos, conservativos e
de difícil execução. materiais argilosos, constituintes dos nú-
cleos, é um fenômeno de difícil previsão, o
Numa primeira fase, filtros e drenos surgiram, dimensionamento de filtros para esses mate-
sobretudo, como órgãos das barragens sus- riais deve prever o problema da fissuração.
cetíveis de controlarem eventuais fenôme-
nos de erosão interna e levantamento numa Com base nos estudos realizados por James
perspectiva de controle de escoamento em Sherard e pelo US Soil Conservation Service
meios porosos. nos anos 1980 (Sherard et al., 1984a, 1984b,
1985, 1989), podem-se adotar, como critérios
A resistência intrínseca dos materiais argilosos
à erosão interna, quando comparada com de dimensionamento, os apresentados no
os solos incoerentes, não ofereceu qualquer Quadro 8 e no Quadro 9 (ICOLD, 1994) e
contestação durante muitos anos. Só a partir que são utilizados pelo US Soil Conservation
de 1950, Casagrande chamou a atenção para Service, o US Bureau of Reclamation e o US
o aparecimento de fissuração nesses solos, Army Corps of Engineers (USDA SCS, 1986;
alertando para as possíveis consequências, USBR, 1987; USACE, 1994).

68 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Quadro 8. Critérios para os filtros. (Fonte: ICOLD, 1994; USDA SCS, 1986; USBR, 1987; USACE, 1994)
Categoria do Descrição do solo de base e % de material pas- Critério de filtro
solo de base sado na Peneira Nº 200 (0,074mm) (nota 1) (nota 2)
Argilas e siltes finos;
1 D15≤9d85(nota 3)
mais de 85%
Areias, siltes, argilas e areias argilosas e siltosas;
2 D15≤0,7 mm
40 a 85%
Areias siltosas e argilosas; D15 ≤+0,7mm
3
15 a 39% (notas 4 e 5)
Areias e cascalhos;
4 D15≤4d85(nota 6)
menos de 15%

Notas:

1. A designação da categoria do solo refere-se à fração do material passada na Peneira Nº4, ou seja, a percentagem é
determinada a partir da curva granulométrica do solo de base, ajustada a 100% passando na peneira Nº 4 (4,76mm).
2. A dimensão máxima das partículas dos filtros deve ser de 75mm, e um máximo de 5% das partículas deve passar na
peneira Nº 200 (0,074mm); os finos devem ter um índice de plasticidade nulo. É conveniente utilizar a relação entre D90
e D10 do Quadro 9 para estabelecer a granulometria do filtro. Estes critérios conduzem à utilização de granulometrias uni-
formes para os filtros, o que previne a segregação, durante a construção. Para garantir uma permeabilidade adequada, os
filtros devem apresentar uma dimensão D15 igual ou superior a 4d15, mas não inferior a 0,1mm.
3. Quando o valor de 9d85 é inferior a 0,2mm, é conveniente utilizar 0,2mm.
4. A= percentagem de material passada na Peneira Nº 200 (0,074 mm), após o ajustamento da granulometria (ou seja,
da fracção passada na Peneira Nº 4).
5. Quando o valor de 4d85 é inferior a 0,7mm, é conveniente utilizar 0,7mm.
6. Para a categoria 4, o valor de d85 deve ser determinado, a partir da curva granulométrica integral do solo de base, sem
ajustamento para as partículas superiores a 4,76mm.

Quadro 9. Limites de D10f e de D90f para prevenir segregação.


(Fonte: ICOLD, 1994; USDA SCS, 1986; USBR, 1987)

D10 mínimo D90 máximo


(mm) (mm)

<0,5 20
0,5 a 1,0 25
1,0 a 2,0 30
2,0 a 5,0 40
5,0 a 10 50
10 a 50 60

Transições de montante A principal função do filtro de montante é


impedir que, após um rebaixamento do reser-
Relativamente ao filtro a montante do núcleo,
vatório, o material do núcleo migre na direção
tem-se verificado uma tendência gradual em de montante, entre os vazios do maciço de en-
tornar esses filtros (que eram construídos com rocamento. No entanto, devido à compressão
as mesmas camadas e as mesmas caracterís- das camadas superiores, o material do núcleo
ticas granulométricas das do filtro de jusante) vai consolidando-se, pelo que deve encontrar-
mais econômicos (Sherard et al., 1985). se num estado relativamente rígido e, por isso,
Tal resulta de se considerar que os filtros de não terá tendência para migrar. Além disso,
montante desempenham um papel menos atendendo à sua permeabilidade, a percolação
importante do que os filtros de jusante. da água no núcleo, após um rebaixamento, será

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
69
muito lenta. O gradiente hidráulico será muito maciço, com o objetivo de controlar gradientes
baixo, e a velocidade e a energia de percolação hidráulicos de saída a jusante da barragem
serão muito pequenas para erodir as partículas e de reduzir as subpressões. A vazão a ser
do solo do núcleo e transportá-las para jusante. considerada incluirá a contribuição dos fluxos
Deste modo, o filtro de montante não é crítico, pelo maciço e pela fundação. As espessuras e
porque não irá funcionar para controlar os es- distribuição das camadas drenantes devem ser
coamentos concentrados, devido a fendas que verificadas para a vazão obtida nas análises de
ocorram no núcleo da barragem (aspecto que percolação, considerando um coeficiente de
é satisfeito pelo filtro de jusante). segurança igual ou superior a 10.

No caso do filtro de montante, assim como em Em qualquer caso, a posição da linha de satura-
outras transições de menor responsabilidade ção do filtro sub-horizontal terá influência nas
e/ou em posições de baixos gradientes de análises de estabilidade do talude de jusante.
percolação, como entre o enrocamento de Caso necessário, poderão ser utilizados tapetes
proteção e o espaldar de montante, poderá drenantes de camadas múltiplas, constituídas
aceitar-se como critério: por camadas com diferentes granulometrias,
devidamente dimensionados, com função de
filtro envolvendo a camada interna do dreno.
D15≤9d85
No dimensionamento final, às espessuras re-
queridas pela capacidade drenante serão adi-
Drenos e transições funcionando como dreno
cionadas espessuras, que serão consideradas
Como critério de dimensionamento devem contamináveis pelo material de base (material
verificar-se as relações propostas por Terzaghi a ser protegido).
para solos não coesivos, ou seja:
Os poços de alívio ou trincheiras a jusante da
• D15 (dreno) ≤ 5 d85 (filtro), condição que as- barragem serão adotados nos casos em que
segura a capacidade de retenção pelo dreno possam ocorrer subpressões elevadas na
das partículas do filtro; fundação.
• D15 (dreno)≥ ³ 5 d15 (filtro), condição que
Valores mínimos
assegura um adequado contraste de per-
meabilidades entre os materiais do dreno e Por razões construtivas, devem ser consi-
do filtro. derados os seguintes valores mínimos para
a espessura dos dispositivos de drenagem
Como princípio e, procurando garantir elevada
(ELETROBRAS, 2003):
probabilidade de não haver segregação granu-
lométrica significativa durante a construção,
• Filtro vertical ou inclinado: 0,60m
os materiais do filtro e, em especial, o do dreno,
devem apresentar um coeficiente de uniformi- • Filtro sub-horizontal: espessura de 0,25m
dade CNU=D60/D10 inferior a 10.
• Trincheira drenante de fundação: largura
Na hipótese de não ser técnica e/ou economica- 0,60m
mente viável, a obtenção de materiais que satis-
façam os requisitos acima indicado, deve proce- • Poços de alívio: diâmetro mínimo de 0,10m

der-se a estudos e ensaios de laboratório, com o


• Transições a jusante de núcleo: largura de
objetivo de modificar as condições exigidas. 0,60m

Sistemas de drenagem na fundação • Drenos de pé: largura de 0,40m

Os sistemas de drenagem na fundação devem


incluir tapetes drenantes sub-horizontais do

70 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Dimensionamento de sistemas de analisados para as condições de carregamento
impermeabilização associadas: ao final de construção; a um rebai-
xamento rápido do nível do reservatório; a uma
Os dispositivos de impermeabilização de fun-
situação de percolação estável; e à ocorrência
dação podem incluir trincheiras de vedação
de um sismo.
(cut-offs de solo compactado, paredes dia-
fragma, trincheiras de lama, etc.), cortinas de Em casos específicos, pode ser necessário ve-
injeção e tapetes impermeáveis, com o objetivo rificar outras situações de carregamento, tais
de reduzir vazões pela fundação e gradientes como, nos casos de necessidade de bermas de
de saída a jusante, podendo estar combinados equilíbrio, em estágios de construção em que
com sistemas de drenagem. estas não tenham sido ainda construídas, ou
em casos de escavações no pé do talude do
O dimensionamento será também efetuado, a
aterro já lançado da barragem.
partir de análises de percolação, considerando
os diferentes tipos de materiais de fundação Situação de final de construção
e aterro envolvidos, com as respectivas per-
meabilidades e representando os eventuais Neste cenário, considera-se que durante a
sistemas de drenagem. construção de um aterro com materiais de
baixa permeabilidade, simultaneamente com
Em análises de estabilidade hidráulica, relacio- o desenvolvimento das pressões, devido ao
nadas com gradientes de saída, a razão entre peso das camadas que vão sendo colocadas,
as forças devido ao peso próprio e as forças de desenvolvem-se poropressões, cuja dissipa-
percolação deve estar compreendida entre 3 e 5. ção se fará mais ou menos lentamente, con-
forme a velocidade de crescimento do aterro.
4.5.3 Análises de estabilidade
A grandeza das poropressões iniciais depende,
fundamentalmente, do teor em umidade
As análises de estabilidade devem ser feitas
do material e do grau de compactação, que
em tensões efetivas, exceto nos casos
determinam o seu grau de saturação e a sua
em que a análise envolva materiais cujo
compressibilidade.
comportamento se assemelha ao das argilas
plásticas saturadas ou a solos que tendem a A variação da poropressão (Δu) induzida pode
se contrair durante o cisalhamento, devendo ser expressa em função do acréscimo de
nesses casos fazer a análise em tensões totais. tensão principal máxima (Δσ1). O coeficiente
B̅ =∆u ⁄∆σ1 pode ser considerado aproximada-
Os parâmetros de poropressão e de resistência mente constante, ao longo das superfícies
ao cisalhamento dos diversos materiais potenciais de deslizamento.
envolvidos nas análises de estabilidade
devem ser obtidos de ensaios de laboratório Em alternativa, podem se exprimir as poro-
programados para representar, o mais pressões de forma adimensional, através do
aproximadamente possível, as condições de coeficiente Ru=u⁄γtHs, em que (u) é a poropres-
carregamento de campo. são, (γt) o peso específico total, e (Hs) a altura
da coluna de material.
No caso de enrocamento, quando não for Os valores do B̅ ou Ru podem ser avaliados com
possível a realização de ensaios, serão utilizados base nos ensaios de compressão triaxial ou
valores obtidos em outros locais, com materiais baseados na experiência comparável.
semelhantes, devidamente adaptados às
condições vigentes no caso em análise. Situação de percolação estável

O caso de percolação em regime permanente


Cenários de carregamento
é representativo da condição de operação, na
Para garantia de estabilidade ao escorrega- qual o nível do reservatório, tendo atingido
mento, os taludes da barragem devem ser seu valor máximo, assim permanece por um

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
71
período de tempo suficientemente longo para com a linha de saturação; (hw), a altura de água
a saturação do maciço nas zonas submetidas acima do ponto de referência; (hi), a altura do
à percolação. Neste caso, admite-se que o material i, acima do ponto de referência.
adensamento do maciço tenha ocorrido e que
Depois de um rebaixamento instantâneo que
a percolação tenha se estabilizado.
não dê lugar a qualquer dissipação de poro-
Uma vez obtida a rede de percolação em regi- pressão, esta tomará o valor: 𝑢𝑢 = 𝑢𝑢! + ∆𝑢𝑢   ,
me estável, podem ser consideradas na análise ∆𝑢𝑢 = 𝐵𝐵∆𝜎𝜎!   em que ∆𝑢𝑢 = 𝐵𝐵∆𝜎𝜎 . . !
de estabilidades as poropressões obtidas.
Considerando a tensão principal máxima
A envoltória de resistência, em termos de ten- igual ao peso do material acima do ponto
sões efetivas, pode ser obtida dos ensaios de em referência, será antes do rebaixa-
compressão triaxial adensados (saturados)
não drenados (CUsat ou Rsat) com medição
mento: 𝜎𝜎! ! = ℎ! 𝛾𝛾! + 𝛾𝛾! + ℎ!   em que os
de poropressões. pesos específicos γi são saturados; e após
Situação de rebaixamento rápido do reservatório o rebaixamento:
 𝜎𝜎! = 𝛾𝛾! ℎ!  . Assim, vem:
O rebaixamento rápido do nível da água, por ∆𝜎𝜎! = 𝜎𝜎! − 𝜎𝜎! ! =   −𝛾𝛾! ℎ!  
motivos de operação, ou devido à ocorrência
de uma situação de emergência, pode ser
necessário durante a operação do reservató-
 
O valor de 𝐵𝐵 pode ser tomado igual à unida-
de, no caso de saturação completa, resultando
rio, devendo esse cenário ser considerado no
projeto.
então: 𝑢𝑢 = 𝑢𝑢 + 𝐵𝐵  ∆𝜎𝜎 = 𝛾𝛾
! ℎ − ℎ′ .
! ! !  
Quando os materiais dos aterros têm permea-
bilidades baixas, um rebaixamento lento do Ainda do lado da segurança, pode-se despre-
reservatório poderá não conduzir a uma apre-
ciável dissipação das poropressões instaladas,
zar h´, ficando .
𝑢𝑢 = 𝛾𝛾! ℎ!  
pelo que, para efeitos de cálculo, se pode con-
siderar como se fosse um rebaixamento rápido. Considerando pesos específicos submersos
nos materiais abaixo do nível mínimo de rebai-
Tal rebaixamento origina, em especial nos
xamento, tem-se para excesso de poropressão
solos de baixa permeabilidade, uma complexa
sobre a pressão hidrostática a altura de aterro
combinação de carregamento: redução das
na fatia considerada, acima do nível mínimo do
tensões principais com aumento da diferença
rebaixamento.
entre elas, isto é, aumento da tensão desviató-
ria, rotação da direção das tensões principais e Para avaliar a estabilidade do talude de mon-
o estabelecimento de condições transientes de tante, após o rebaixamento total ou parcial do
fluxo gravitacional de água. reservatório, admitem-se, normalmente, as
seguintes simplificações:
De um modo simplificado e do lado da segu-
rança, pode ser considerado (Bishop, 1954) • O rebaixamento é instantâneo;
que, antes do rebaixamento, a poropressão
num dado ponto de uma superfície de escor-
• O parâmetro da poropressão  
𝐵𝐵 = 1
regamento é: • Pode ser considerado que não se processa
nenhuma dissipação das poropressões,
𝑢𝑢! = 𝛾𝛾! ℎ! + ℎ! − ℎ!  
durante o rebaixamento ou pode admitir-se
Nesta expressão, considera-se: (h’), a distância alguma dissipação dependente da permea-
vertical ao nível no reservatório, antes do rebai- bilidade e compressibilidade do material;
xamento, da interseção de uma equipotencial

72 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
A envoltória de resistência em termos de ten- Métodos de análise
sões efetivas, a ser utilizada nas análises, deve
Na análise dos modelos é corrente a utilização
ser determinada de ensaios tipo CUsat ou,
de métodos de equilíbrio limite, dispondo-se
excepcionalmente, CDsat.
presentemente de numerosos programas co-
Situação de ocorrência de sismo merciais de cálculo automático, com pequenas
diferenças na forma de verificação das condi-
A análise de estabilidade, durante a ocorrência
ções de equilíbrio.
de um sismo, é sistematicamente considerada
em regiões sísmicas e tem sido recomendada, A escolha do método a aplicar deve ser função
mesmo em regiões historicamente com peque- da forma da superfície de ruptura a analisar (o
na atividade sísmica, como é o caso do Brasil, método de Bishop Modificado para superfícies
especialmente em se tratando de barragens circulares, o método de Janbu Modificado para
de porte e reservatórios importantes, devido à superfícies poligonais, bem como os métodos
possibilidade de sismos induzidos pelo enchi- de Spencer, Morgenstern-Price, GLE, Corps of
mento do reservatório. Engineers #1, Corps of Engineers #2 e Lorne-
Karafath, que permitem uma análise de sen-
Recomenda-se, portanto, a avaliação do com-
sibilidade da gama de valores em que poderá
portamento da barragem face à ocorrência de
variar o coeficiente de segurança para uma
sismos naturais ou induzidos, em particular por
dada superfície).
meio de análises pseudoestáticas. Na ausên-
cia de estudos de sismicidade, recomenda-se A Figura 15 ilustra a análise de estabilidade de
a adoção de cargas sísmicas correspondentes uma barragem de terra zonada e respectiva
a acelerações de 0,05g na direção horizontal e fundação, na situação de percolação estável,
0,03g na direção vertical. utilizando o método de Bishop Modificado.

410
400
390
380
2 .3 5
1 .7 1 .9 5

1.55
370
5
1 .6 0 0
1 .6

360
350 0
1 .7
5
1 .6

340
330
320
310
300
290
280
270
260
250
240
230
220
210
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400

Figura 15. Análise de estabilidade pelo método de Bishop Modificado. Situação de percolação estável.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
73
Verificação de segurança • analisar os riscos de fissuramento do nú-
cleo, ocasionado por zonas de tração ou por
Os coeficientes de segurança devem ser ava-
fraturamento hidráulico;
liados para as diferentes situações de dimen-
sionamento, definidas para os maciços de terra • subsidiar o projeto de instrumentação,
e de enrocamento, associadas a condições identificando os pontos críticos a serem
normais de operação (percolação estável), instrumentados;
bem como a situações pouco frequentes e a • otimizar o projeto de escavações, de modo a
ocorrências excepcionais. manter os recalques diferenciais, dentro de
níveis admissíveis;
Os coeficientes de segurança associados a
análises de estabilidade ao escorregamento, • determinar a sobre-elevação da cris-
empregando métodos de equilíbrio limite, de- ta para compensação de recalques
vem ser pelo menos iguais a 1,5 para condições pós-construtivos.
normais de exploração, a 1,4 para a fase final de
Para atingir esses objetivos, as análises de
construção, e a 1,3 para situações de rebaixa-
tensão-deformação serão realizadas, quando
mento rápido do reservatório. Para ocorrências
necessário, para as condições de período
excepcionais (cheias superiores à cheia de
construtivo, enchimento do reservatório com
projeto ou rebaixamentos rápidos em certas
estabelecimento de fluxo transiente e regime
circunstâncias, sismos), os coeficientes de
permanente de operação com percolação
segurança devem ser, pelo menos, iguais a 1,1.
estabelecida.
4.5.4 Análise de tensões e deformações
Os estudos de tensões e deformações podem
ser efetuados pelo método dos elementos
As análises de recalques, bem como as análi-
finitos, mediante a utilização de programas de
ses de tensões e deformações, a desenvolver
cálculo automático disponíveis no mercado.
para barragens de médio a grande porte (altura
da barragem superior a 30 m), ou em situações De um modo geral, esses programas permitem
especiais, como por exemplo, fundações em adotar diversos tipos de elementos estruturais
solos moles, que não foi possível remover, com diferentes comportamentos reológicos
têm as seguintes finalidades principais para os materiais, designadamente não linea-
(ELETROBRAS, 2003): res e variáveis no tempo, bem como considerar,
individualmente, as interfaces solo-estrutura, e
• verificar a compatibilidade de deformações
realizar análises de comportamento estáticas
entre os diversos materiais constituintes da
e dinâmicas.
barragem, de suas fundações e estruturas
adjacentes; A Figura 16 ilustra a modelação do primeiro
• avaliar o potencial de ocorrência de ruptura enchimento do reservatório (visualização dos
progressiva do maciço e da fundação; deslocamentos horizontais) numa análise de
• otimizar a posição do núcleo, no caso da tensões deformações de uma barragem de
barragem de seção mista; terra zonada e respectiva fundação.

74 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 16. Análise de tensões deformações. Modelação do primeiro enchimento do reservatório. Desloca-
mentos horizontais.

Para estudos simplificados de recalques da para cada material para o intervalo de tensões
fundação, podem também ser utilizadas efetivas, correspondente às condições
soluções analíticas da Teoria da Elasticidade de operação do maciço e da fundação. A
(ELETROBRAS, 2003). distribuição de tensões verticais totais podem
ser calculadas a partir de soluções analíticas
Os parâmetros de compressibilidade e de-
da Teoria da Elasticidade, e as poropressões
formabilidade dos materiais do maciço da
definidas, considerando os seus valores ao
barragem e da fundação devem ser determina-
final da construção e após o estabelecimento
dos a partir dos resultados das investigações
do regime estacionário de fluxo.
geológico-geotécnicas de campo e de labora-
tório, devidamente ajustados por experiência Para compensação dos recalques pós-cons-
com materiais e condições de carregamento trutivos, deve ser prevista sobre-elevação
semelhantes. da crista da barragem com valor igual ao dos
recalques estimados.
Deve ser dada especial atenção à identificação
de materiais colapsíveis ou expansivos na fun- Os recalques diferenciais admissíveis na crista
dação. Caso possam ocorrer solos colapsíveis, da barragem serão de 1%.
devem ser previstos os recalques pelo método
Para evitar a formação de trincas, com conse-
edométrico duplo com inundação ao nível de
quente maior segurança contra possibilidade
tensões atuantes, após o carregamento da
de erosão interna regressiva no núcleo da
barragem, e avaliação da necessidade de sua
barragem de terra-enrocamento, os seguintes
remoção prévia.
critérios devem ser atendidos:
Para cálculo de recalques pós-construtivos • as descontinuidades topográficas da fun-
do maciço e da fundação, pode, em princípio, dação da barragem, em particular sob o nú-
ser utilizada a condição unidimensional de cleo, devem ter inclinações ajustadas para
deformações, utilizando-se os parâmetros de evitar recalques diferenciais excessivos, que
compressibilidade mv (coeficiente de com- provoquem trinca no maciço, e zonas com
pressibilidade edométrica) e Cc (índice de baixos níveis de tensões, que possam ser
compressão), ou Cr (índice de recompressão). suscetíveis a fraturamento hidráulico;
Esses parâmetros devem ser determinados

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
75
• o potencial para fraturamento hidráulico Talude de montante
deve ser evitado, considerando que, em
O talude de montante deve ser protegido da
qualquer ponto do maciço, o valor da tensão
ação das ondas, levando-se em consideração o
principal menor efetiva seja positivo;
regime de vento e o fetch do reservatório. Essa
• devem ser introduzidos nas especifica-
proteção consiste, em regra geral, no recobri-
ções técnicas construtivas critérios para
mento do talude de montante com blocos de
redução ou eliminação das irregularidades
enrocamento (rip-rap).
topográficas.
Para determinação do peso dos blocos de
4.5.5 Aspectos relativos à crista da
enrocamento e sua distribuição, podem ser
barragem e aos taludes de montante e
adotados os critérios apresentados nas re-
de jusante
comendações da ICOLD (1993), assim como
em outras publicações como CERA (1966) e
Crista da barragem
Taylor (1973).
A borda livre entre o nível do reservatório (nível
O objetivo principal do enrocamento colocado
de máxima cheia ou maximum maximorum e
sobre o aterro é impedir a erosão e os danos,
nível máximo normal ou normal de retenção)
resultantes da ação das ondas no reservatório,
e a cota da crista da barragem devem ser
sendo demonstrado pela experiência que o en-
estabelecidas, de acordo com o indicado no
rocamento lançado é um tipo de proteção de
item 4.1, e de acordo, também, com o regime de
talude muito eficaz, desde que a sua colocação
ventos, o fetch e o grau de conhecimento das
em obra assegure uma superfície regular.
condições hidrológicas, bem como a sismici-
dade da região (pouco condicionante no caso O rip-rap deve conter uma proporção grande
do Brasil). de elementos superiores à dimensão mínima
Além disso, a crista da barragem deve ser ade- necessária para resistir à ação das ondas.
quadamente sobrelevada na fase construtiva Na operação de colocação do enrocamento,
para compensar os recalques que os aterros deve evitar-se toda a segregação e permitir a
sofrerão durante a vida útil da barragem, como construção de uma camada o mais densa e
referido no item anterior. imbricada possível. Deve ser constituída por
elementos de rocha sã e inalterável, com um
A largura da crista, em geral, não inferior a 3 coeficiente de forma aceitável. Com raras exce-
m, deve ser justificada, em função da altura ções, o enrocamento deve ser colocado sobre
e importância da obra, do risco sísmico do uma camada de transição em materiais mais
local, da natureza dos materiais a empregar, da finos, que serve de filtro para impedir o arraste
configuração da linha de saturação com o re- do material do aterro, através dos vazios do
servatório cheio, das condições de construção enrocamento. Essa camada de transição serve
e das exigências de circulação viária prevista. também para dissipar os efeitos hidrodinâmi-
De um modo geral (com exceção de barragens cos das ondas.
de pequeno porte), situa-se entre 6 e 10m.
Todos os métodos de dimensionamento do
Podem também utilizar-se fórmulas empíricas, enrocamento de proteção contra ondas têm
como a de Preece, no dimensionamento da
como premissa que o dimensionamento dos
largura da crista:
blocos, para que sejam estáveis, considere a
ação das ondas sobre a barragem, bem como o
𝐿𝐿 = 1,1 𝐻𝐻 + 1   peso específico dos blocos. As principais forças
a que o enrocamento vai ficar sujeito são as re-
sultantes das ondas geradas pelo vento. Existem,
onde H é a altura máxima da barragem, em por vezes, forças de arrastamento importantes
metros. que devem ser consideradas no projeto.

76 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Devem, portanto, ser considerados: e aquela em que não se aceita a ocorrência de
• o estudo relativo ao regime dos ventos; danos (coeficientes a=3, b=2/3 e KD=3,62).

• a determinação das alturas e das caracte- Os coeficientes para danos toleráveis ou admis-
rísticas das ondas, a partir do estudo dos síveis foram definidos a partir de resultados de
ventos; ensaios em modelo, em que se admitiam alguns
• a determinação das características do enro- deslocamentos do enrocamento de proteção,
camento para resistir à ação das ondas. mas sem ruptura deste. Os coeficientes para
não ocorrência de danos foram determinados
Fórmulas empíricas de projeto têm sido esta-
a partir de resultados onde não se verificava
belecidas, com base em estudos e ensaios em
qualquer deslocamento do enrocamento.
modelo. Esses estudos, inicialmente desen-
volvidos para projetos de obras costeiras ma- Os coeficientes relativos à não ocorrência de
rítimas, conduziram, para proteção de taludes danos nulos são, em regra geral, adotados
de reservatórios em barragens, à fórmula de para situações de operação normal. Os coe-
Iribarren-Hudson (ICOLD, 1993): ficientes relativos a danos toleráveis devem
ser utilizados para situações menos habituais.
Em qualquer das situações, devem sempre ser
γ r ha
Wr =   consideradas as condições mais severas de on-
K D (Gs − 1)3 (cot gϕ)b dulação, dado que existem outros fatores que
podem influenciar a ação das ondas, tais como
Nesta expressão empírica (em unidades in- o tipo de rebentação, o ângulo de atuação, a
glesas): a e b são coeficientes determinados duração, o espectro de alturas e a distribuição
experimentalmente; Wr representa o peso das alturas.
característico dos blocos de enrocamento
As ondas que normalmente se geram num
necessário para resistir à ação das ondas
reservatório podem ser do tipo mergulhante,
(libras5); γr o peso específico total de um
progressivo ou reflexivo. As ondas do tipo
elemento de rocha (libras por pé cúbico6); Gs,
reflexivo são as que podem levar a maior ins-
a densidade seca dos blocos de enrocamento;
tabilidade do enrocamento e, por isso, são as
ϕ, o ângulo do talude (medido a partir da hori-
normalmente consideradas para o cálculo dos
zontal); h, a altura da onda de projeto (pés7);
coeficientes acima referidos.
KD, o coeficiente de arrastamento, determinado
experimentalmente. Em obras situadas em locais onde não seja
possível ou econômica a obtenção de rocha
A expressão anterior pode ser utilizada, con-
para enrocamento de proteção, deve ser anali-
siderando para peso característico do enroca-
sada a utilização de outros materiais para esta
mento o peso mediano W50 e, como altura da
finalidade, conforme as recomendações do
onda, a altura significativa (Hs), de acordo com
Boletim 91 da ICOLD (1993).
Taylor(1973) a=2,6, b=1 e KD=3,2.

Segundo ICOLD (1993), o US Army Corps of Talude de jusante


Engineers utilizava até 1978 (norma EM 1110- A superfície do talude de jusante deve ser pro-
2-2300) os coeficientes a=2, b=1, KD=1,36. A tegida da ação erosiva da chuva e do vento, as-
partir dessa data passou a distinguir as situa- sim como de danos causados por animais, por
ções em que se pode tolerar a ocorrência de meio de grama ou outro revestimento vegetal,
alguns danos (coeficientes a=3, b=1 e KD=4,37) por material granular natural grosseiro (seixos
e cascalhos), ou por enrocamento, convenien-
temente transicionado. As partes submersas
5 1Libra ≈ 0,004448 kN
6 1l«Libra por pé cúbico ≈ 0,158 kN/m3 do talude de jusante devem ser preferencial-
7 1 pé ≈ 0,3048 m mente protegidas por enrocamento.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
77
Para cálculo das vazões da drenagem superfi-
cial, deve usar-se o “Método Racional”, consi-
face de concreto a montante, são: obter-se um
derando, pelo menos, períodos de recorrência
maciço pouco deformável e uma face de con-
das chuvas de 50 anos.
creto que suporte determinadas deformações
Devem ser escolhidos os materiais mais indi- sem exibir fissurações. Deve, pois, conceber-se
cados, em função das disponibilidades próxi- um zoneamento do maciço e utilizar materiais
mas da obra, das condições climáticas e das que permitam reduzir, ao mínimo, as deforma-
possibilidades de manutenção, especialmente ções junto à face. Para apoio a esse estudo, dis-
importantes quando o revestimento é vegetal. põem-se de ferramentas (ensaios laboratoriais
e métodos de cálculo, como o método dos ele-
É ainda recomendável que, se a superfície do
mentos finitos), que permitem realizar análises
talude de jusante for extensa em altura, seja
de previsão das deformações das barragens.
dotada de banquetas e bermas com canaletas
Esses métodos de cálculo permitem simular a
de drenagem.
interação entre a face de concreto e o maciço
4.5.6 Análises relativas a barragens de de enrocamento, mas o dimensionamento
enrocamento com face de concreto dessa face tem-se apoiado, essencialmente,
na experiência (incluindo alguns acidentes),
Características dos enrocamentos obtida com obras semelhantes. É essencial
que a compactação das camadas de enroca-
Os maciços construídos com enrocamentos mento reduza, ao máximo, a capacidade de
têm seu comportamento intrinsecamente liga- recalque, quando se inicia a construção das
do às características geomecânicas das rochas lajes de concreto.
disponíveis. Para caracterizar o comportamen-
to dos enrocamentos, é comum especificar- No zoneamento do maciço distinguem-se,
se, pelo menos, a realização de ensaios de normalmente, três zonas, tal como ilustrado na
compressão simples, compressão puntiforme, Figura 17, a seguir:
absorção de água, abrasão Los Angeles, cicla-
gem acelerada e ao tempo. Ensaios em corpos A construir com o material que
Zona 1 cobre o plinto e a junta perimetral
de prova de grandes dimensões (até 1m de
entre este e as lajes de concreto;
diâmetro) para obtenção de parâmetros de
deformabilidade e resistência ao cisalhamento Correspondente à zona de assen-
tamento da face de concreto e do
são também utilizados. Zona 2 plinto de fundação, normalmente
constituída por materiais granula-
Grande parte das barragens desse tipo no res, desde areias e cascalhos;
Brasil foi construída em regiões de rochas
Constituída pelo maciço de enroca-
basálticas e/ou gnáissicas. Os enrocamentos Zona 3
mento do corpo da barragem.
oriundos dessas rochas apresentam, em geral,
ângulos de atrito interno elevados e, portanto,
admitem angulações dos paramentos, tanto Zona 1
de jusante quanto de montante, de 1V:1,3 H a
1V:1,5 H, qualquer que seja a altura da barragem O material a se utilizar na cobertura do plinto e
(ELETROBRAS, 2003). da junta perimetral entre este e as lajes da cor-
tina deve ser um material fino, de preferência
Enrocamentos de rochas mais brandas, do tipo
uma areia fina não lavada ou areia siltosa, sem
sedimentares, exigirão taludes mais abatidos
coesão, com a função de colmatar qualquer
entre 1V:1,4H e 1V:2,0H.
fissura ou abertura da junta perimetral. Esse
Zoneamento da seção transversal material deve ser coberto por um aterro de
enchimento, constituído por um material silto-
Os princípios básicos, que devem orientar a -argiloso pouco compactado.
concepção de barragens de enrocamento com

78 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
1A - Solo fino siltoso impermeável
1B - Random
2A - Material de filtro da zona perimetral, dimensão < 36 mm, camadas de 0,40 m
2B - Transição de rocha fina processada, dimensão < 75 mm, camadas de 0,40 m
3A - Enrocamento selecionado, dimensão < 0,40 m, camadas de 0,4 m
3B - Enrocamento de pedreira, dimensão < 1,0 m, camadas de 1 m
3C - Enrocamento de pedreira, dimensão < 2,0 m, camadas de 2 m

Figura 17. Designação das zonas de uma barragem de enrocamento com face de concreto.
Fonte: ICOLD, 2010

É frequente se utilizar dois tipos de materiais a explorar para a obtenção dos materiais
(Material 1A e 1B): de enrocamento do corpo da barragem. O
material deve ser colocado em camadas de
• O Material 1A deve ser relativamente imper-
20 a 30cm ligeiramente compactadas.
meável e não coesivo, de modo a poder col-
matar qualquer fissura ou abertura daquela • O Material 1B deve ser um solo silto-argilo-
junta. É frequente se especificar um material so, que permita a construção de um aterro
com 5 e 10% de finos (dimensão silte e argi- de enchimento pouco compactado. Não
la), sem partículas com dimensão superior existe necessidade de estabelecer para
a 2 mm. Poderá ser material natural ou estes solos características bem definidas.
proveniente do processamento da pedreira É frequente considerar solos com uma

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
79
dimensão máxima das partículas de 6 cm adequada, evitando assim sobre-espessu-
e uma percentagem de finos (percentagem ras de concreto;
do material que passa na Peneira nº 200 da
• seja uma camada semipermeável, com
série ASTM) superior a 20%. Os materiais
possibilidade de controle de infiltrações,
devem ser colocados em camadas de 20 a
através de eventuais fendas nas lajes ou
30 cm compactadas.
pelas juntas;
Zona 2 • possa obturar fendas e, assim, reduzir
A zona 2, de assentamento da face de concreto infiltrações, através das juntas, dada a sua
e adjacente ao plinto, é constituída por dois granulometria, próxima de um filtro.
materiais, 2A e 2B. A granulometria do material 2A tem sofrido
alterações, como resultado da experiência ad-
A zona de filtro 2A deve ser constituída por um
quirida com barragens desse tipo em diversos
filtro de areia e cascalho numa extensão de 2 a 3
países. Tem-se reduzido a dimensão máxima
metros da junta perimetral. Em caso de ruptura
das partículas e utilizado partículas mais finas,
das lâminas de estanqueidade da junta perime-
isto é, percentagens mais elevadas que anti-
tral, o material 2A impede a migração, através
gamente, em partículas inferiores a 4,76 mm
da junta das partículas de dimensão de silte da
e 0,074 mm. Por outro lado, as granulometrias
zona 1A e, por consequência, serve de elemento
com dimensões máximas de 250 a 330 mm e
de estanqueidade auxiliar contra fugas.
dimensões mínimas de 50 a 75mm não têm
Essa zona deve ser constituída por material de se revelado satisfatórias, devido aos elevados
qualidade equivalente à dos agregados dos níveis de segregação.
concretos. O material deve ser processado
de modo a se obter limites granulométricos
específicos. Em ICOLD (2010) é proposto um É prática corrente utilizar nessa camada ma-
material com os limites granulométricos indi- teriais granulares de pequena dimensão e com
cados no Quadro 10. alguns finos, ou seja, com partículas de dimen-
são inferior a 4,76 mm (Peneira Nº 4) e 0,074
Quadro 10. Limites granulométricos da zona 2A. mm (Peneira Nº 200), de modo que possa
(Fonte: ICOLD, 2010)
desempenhar as seguintes funções:

Percentagem passando • seja uma camada de base para a face de


Peneira (ASTM)
em peso concreto que, após compactação ao longo
(mm) do talude, permita obter uma uniformidade
1 1/2” 38,1 100 de apoio das lajes e uma regularização ade-
3 / 4” 19,1 85 a 100 quada, evitando, assim, sobre-espessuras
Nº 4 4,76 50 a 75 de concreto;
Nº 16 1,19 25 a 50
• seja uma camada semipermeável com
Nº50 0,297 10 a 25
possibilidade de controle de infiltrações,
Nº200 0,074 0a5
através de eventuais fendas nas lajes ou
pelas juntas;
A camada de assentamento da laje de concre-
• dada a sua granulometria, próxima da de
to tem como funções:
um filtro, possa obturar fendas e, assim,
• ser uma camada de base para a face de reduzir infiltrações através das juntas, em
concreto que, após compactação ao longo especial na base da barragem, como a junta
do talude, permita obter uma uniformidade perimetral, se sobre o plinto e base da cor-
de apoio das lajes e uma regularização tina for colocada uma camada de Material

80 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
1A (esse material irá preencher a fenda, sem de concreto. A construção da borda do talude
ser arrastado, devido à capacidade filtrante de montante com material 2A é ilustrada na
da camada de base da cortina). Figura 18.

Segundo as recomendações da ICOLD (2010), Zona 3


o material a ser aplicado na camada de base
da face de concreto deve ter as seguintes ca- A Zona 3, constituída pelo maciço do corpo da
racterísticas granulométricas: barragem, é geralmente dividida em quatro
subzonas, 3A e 3B e 3C.
• dimensão máxima das partículas menor do
que 76 mm (100% passando na Peneira de A Zona 3A, em enrocamento miúdo, é a zona
3”); de transição, quer do ponto de vista de defor-
• 35 a 60% em peso das partículas passando mabilidade, quer de condições de filtro, para o
na Peneira Nº 4 (4,76 mm), de modo a con- enrocamento do maciço de montante – (Zona
ter, em média, pelo menos, 40% de areia; 3B). Com essa transição pretende-se assegurar
que o material 2A, da zona 2, não seja arrastado
• 0 a 8% em peso das partículas passando na
para os grandes vazios do enrocamento prin-
Peneira Nº 200 (0,074 mm).
cipal de montante. No contato com o maciço
Caso exista, o melhor material a se utilizar na de fundação e imediatamente adjacente ao
construção da camada de base da face de con- plinto, deve igualmente ser colocada uma zona
creto é o cascalho e seixos naturais. Na ausên- de transição com Material 3A, sobrejacente à
cia desse tipo de material, poderá ser utilizado
camada de Material 2A.
material britado, proveniente de pedreira.
Como a maior parte da carga, devido à água do
No final, a face do aterro terá de ser cortada e
reservatório, é transmitida à parte de montante
compactada, utilizando-se um rolo de menor
do aterro, é conveniente que a deformabilidade
dimensão, que deverá ser suspenso, a partir da
da Zona 3B seja a mais baixa possível, de modo
crista e puxado para cima, ao longo do talude,
a minimizar as deformações das lajes. É da
fazendo-se quatro ou mais passagens sem
vibração. experiência (Veiga Pinto, 1983) que a defor-
mabilidade dos enrocamentos aumente com a
Como os rolos vibradores não podem circular dimensão dos blocos, pelo que a tendência é a
junto ao bordo do talude, é necessário compac- de se utilizar elementos rochosos de menor di-
tar o material da zona 2, segundo a superfície mensão. Também, para reduzir ao máximo o ín-
inclinada do paramento.
dice de vazios pela compactação, interessa que
Em substituição da operação trabalhosa de a altura das camadas não seja muito grande.
compactação, ao longo do talude da zona 2,
Assim, para a zona de montante, correspon-
pode-se utilizar de técnica mais recente, usan-
dente ao suporte principal à carga hidrostática,
do concreto dental extrudado, construindo
a executar com o Material 3B, a espessura de
uma mureta de concreto extrudado para apoio
camada poderá ser da ordem de 0,6-0,8 m.
da laje. Uma máquina extrusora é empregada,
usando concreto dental com baixo teor de A Zona 3C, por receber uma carga relativa-
cimento (55 a 75 kg/m3) (Cruz et al., 2009). mente menor que a Zona 3B, é normalmente
Este procedimento facilita a construção, dimi- constituída com material mais compressível e
nui as perdas de material da transição, aumen- de maiores dimensões, podendo ser construí-
ta a velocidade de alteamento da barragem, ao da em camadas mais espessas. Normalmente,
mesmo tempo em que confere um acabamen- esse material é compactado em camadas de
to mais adequado para a construção da face 0,6-1 m.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
81
Figura 18. Construção da borda do talude de montante com material 2A.
Fonte: ICOLD, 2010

82 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Entre as zonas 3B e 3C, a zona T, localizada na razão mínima de 200 litros por metro cúbico
parte central da barragem, pode ser utilizada (Cruz et al., 2009). Normalmente para essa
para dispor materiais de qualidade inferior operação é suficiente uma quantidade de água
ou misturas de seixos e enrocamentos, como de cerca de 1/4 do volume do enrocamento.
soluções práticas e econômicas.
Os enrocamentos devem ser depositados no
Na fixação da separação entre os materiais aterro pelo equipamento de transporte, em
3B e 3C, deve ser observado, por um lado, a montículos. Após esta fase, o material é espa-
previsão em qualidade e volume dos materiais lhado com “bulldozers”, de modo a regularizar
de enrocamento a se obter na pedreira e, por a altura das camadas, antes da compactação.
outro, nos resultados das análises tensões - de- Essa operação, denominada de “pré-compac-
formações que forem efetuadas, corroboradas tação”, conduz a uma distribuição de blocos
pela experiência na construção e observação mais homogênea e sem segregação, de tal
do comportamento de barragens deste tipo. modo que os fragmentos menores vão preen-
chendo os vazios intragranulares.
O acabamento do paramento de jusante do
corpo do aterro é normalmente feito em- A compactação deve ser levada a cabo por
purrando os blocos de maiores dimensões, rolos vibradores com um peso estático mínimo
arrumados com meios mecânicos, de modo a de 10 tf. O número de passagens do rolo deve
criar uma superfície esteticamente satisfatória ser somente especificado, a partir de estudo
e estável para o talude. experimental, quando da compactação das
primeiras camadas. Normalmente, com quatro
Em termos práticos, pode ser considerado que
ou seis passagens de rolo vibrador já se conse-
um enrocamento de elevada rigidez é obtido,
guem estados de densidade relativa próximos
compactando-o com pesados rolos vibradores
dos 100%.
e camadas relativamente pouco espessas, ou
seja, para estados de densidade relativa próxi- As especificações construtivas, relativas à
mos dos 100%. colocação e compactação, só poderão ser de-
finitivamente estabelecidas com os resultados
Os resultados laboratoriais mostraram, ainda,
obtidos nos aterros experimentais, a serem
que a água tem um efeito de enfraquecimento
realizados no início das obras.
dos elementos rochosos, conduzindo a maio-
res assentamentos. Desse modo, para que o Durante a fase de construção do aterro é
maciço de enrocamento seja menos deformá- necessário efetuar um controle contínuo das
vel, após a construção e colocação da cortina, características dos materiais de enrocamento,
é recomendável regar abundantemente o tais como do estado de compacidade e granu-
material de enrocamento. lometria, por meio de ensaios de campo, con-
duzidos sobre amostras de grande dimensão.
Não há necessidade ou intenção de usar a água
adicionada para lavar ou empurrar os finos para O uso de aterros experimentais é muito utili-
o interior dos grandes vazios do enrocamento. zado para comprovação da eficácia dos equi-
Portanto, não é necessário que a água seja apli- pamentos de compactação, com relação ao
cada com alta pressão. É satisfatório que ela número de passadas e espessura das camadas.
seja adicionada por qualquer meio que molhe Recomenda-se que sejam realizados logo após
completamente o material, preferencialmente o início dos trabalhos na própria praça do corpo
antes de compactá-lo, embora o benefício da barragem ou em áreas de estoques de rocha.
continue, pois o enrocamento é submetido,
O estado de compacidade pode ser obtido da
durante a construção, à umidade e à água que
determinação do peso e volume do material
percola por ele.
duma escavação aberta no aterro após com-
A adição de água ao enrocamento tornou-se pactação (os chamados ensaios “macro”).
uma prática comum em barragens altas numa

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
83
Caso haja uma elevada produção de finos à caldas. Todavia, a experiência tem mostrado
superfície das camadas pelo efeito da com- que é possível fundar o plinto em rochas de
pactação, será necessário efetuar uma escari- qualidade inferior, quando se adotam medi-
ficação, ou lavagem com jateamento de água das preventivas que protejam a fundação de
de elevada potência. erosões, reduzindo os gradientes hidráulicos e
revestindo as zonas potencialmente erodíveis
Como as zonas de tração na laje se manifestam,
com filtros, gunita ou concreto projetado.
em geral, junto às ombreiras, devido aos deslo-
camentos serem descendentes, na direção do Como critério básico, a estrutura do plinto e das
centro da barragem e para jusante, dever-se-á zonas 2 e 3A devem ser assentadas em rocha
ter um cuidado especial na compactação dos sã competente e injetável. O tratamento de
enrocamentos dessa zona, eventualmente fundação para controle dos gradientes consis-
pela redução da altura das camadas. te na execução de cortina de injeção de caldas
de cimento. Suas características permitem o
Largura da crista controle e a redução da permeabilidade e da
A largura da crista de barragens de enroca- vazão, e o controle de erosões (piping). Não se
mento com face de concreto pode variar entre exclui, no entanto, a possibilidade de assentá-
sete e dez metros. É comum acomodar-se os -lo em rocha alterada, porém, não suscetível à
trabalhos de concretagem da face (acesso, erosão, ou em camadas de cascalho e areia.
transporte de materiais, deslocamento dos O projeto da geometria e o alinhamento do
guinchos das formas deslizantes, estocagem plinto na região das ombreiras deve ser dirigido
de armaduras, etc.), em praças situadas em para reduzir as escavações e o volume de con-
elevações inferiores à da crista, antes da colo- creto de regularização.
cação dos últimos metros de enrocamento.
De modo a otimizar as escavações a montante
Plinto do plinto, tornando-as mais econômicas e
atendendo os gradientes requeridos, coloca-se
Fundação
parte do plinto dentro da barragem. Esse con-
O plinto é constituído por uma laje ancorada ceito tem sido adotado em muitas barragens
diretamente sobre a rocha de fundação. Essa atuais.
laje deve servir, por um lado, de apoio à face
No caso de fundações rochosas extremamente
de concreto e, por outro, permitir o prolonga-
decompostas, podem ser indispensáveis esca-
mento para a fundação do plano de vedação
vações adicionais e a construção de blocos de
da barragem que é, na maioria das vezes, feito
concreto sob o plinto ou muros de contenção,
através de uma cortina de injeções, realizada a
elevando significativamente o consumo de
partir da superfície do plinto.
concreto. Em situações como essas, as condi-
No dimensionamento do plinto devem ser ções de estabilidade dessas estruturas devem
considerados os gradientes hidráulicos, as ser cuidadosamente analisadas.
características geológicas e a geometria (to-
Barras de ancoragem ou tirantes podem ser
pobatimetria) da fundação (Cruz et al., 2009,
necessários, não só para fixar o plinto na fun-
ICOLD, 2010).
dação, mas também para resistir parcialmente
A escavação para a localização do plinto ao empuxo da água de montante.
deve ser executada cuidadosamente para
Largura
evitar fraturamento do maciço rochoso e
sobre-escavações. O método atual para dimensionar o plinto
consiste em relacionar os gradientes com as
O plinto deve ser apoiado em rocha dura, sã,
caraterísticas do maciço rochoso de fundação,
não erodível, o que permite sua consolidação
definidas pela classificação geomecânica RMR
e seu tratamento de base com injeção de

84 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
(Rock Mass Rating), nomeadamente (Cruz et Quadro 11. Classificação da rocha e largura corre-
al., 2009): spondente do plinto.
(Fonte: Cruz et al., 2009)

• Define-se o nível da rocha de fundação, e Classe da rocha RMR Gradiente hidráulico


esta, depois de limpa, passa por um levan- 80 - 100 18 – 20
tamento geológico em trechos de 25 a 30m 60 – 80 14 – 18
de comprimento; 40 – 60 10 – 14

• Em cada trecho descrevem-se a litologia, a 20 – 40 4 - 10


estrutura do maciço rochoso, a posição ou o < 20 (*)
afloramento de água, o sistema de estratifi- (*) Recomenda-se rebaixar a fundação, ou construir
trincheiras ou muros de vedação.
cação, cisalhamento, RQD, etc., e registra-se
fotograficamente o trecho;
• Calcula-se depois o RMR com base nos da- Para fundações em rochas alteradas, é prática
dos anteriores e utiliza-se a correlação entre comum estender o plinto internamente sob a
o RMR e o gradiente hidráulico, indicada no barragem, de forma que a parte externa seja
Quadro 11. limitada a 3 ou 4 m (necessária para permitir
os serviços de execução da cortina de injeção
em três linhas). Essa situação é ilustrada na
Figura 19.

Figura 19. Seção da laje do plinto de montante e jusante (interno).


Fonte: Cruz; Materón;Freitas, 2009

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
85
Espessura contato da laje (ângulo de 90o), de modo a
atenuar o aparecimento de trincas na laje nes-
A espessura do plinto geralmente é considera-
sa área de contato.
da igual à da laje da face. As sobre-escavações
e a topografia irregular usualmente ocasionam Uma altura mínima de 0,80m é usualmente
maiores espessuras e, então, uma espessura especificada, abaixo do veda-junta de cobre
mínima de projeto de 0,3 a 0,4 m é geralmente (fundo). Essa dimensão pode ser reduzida
razoável para a maioria dos plintos. para 0,50m para barragens menores do que 40
m de altura.
A fim de se reduzir as fendas no plinto, devido a
variações de temperatura e retração, poderão Juntas transversais
ser construídas juntas de construção, devendo-
se regar durante 14 dias as superfícies expostas. Nas atuais barragens não são projetadas juntas
de contração transversais, ao longo do plinto.
Ligação laje-plinto Somente são previstas juntas de construção
durante as várias etapas construtivas.
Uma recomendação empírica de projeto, vi-
sando à adequada ligação da laje com o plinto, Nas Figuras 20 e 21 apresentam-se seções de
consiste em estabelecer a face de jusante juntas perimetrais com múltiplas proteções,
do plinto perpendicular com a superfície de fundamentais para a sua vedação.

1 Membrana de Hypalon 7 Enchimento em poliestireno expandido (esferovite)


2 Mastique de vedação 8 Mistura areia asfalto
3 Enchimento em madeira compressível 9 Zona de filtro
4 Veda-junta de PVC 10 Armadura de aço
5 Veda-junta de cobre 11 Reforço de armadura (antilasqueamento)
6 Cilindro de neoprene

Figura 20. Junta perimetral. Conceito de múltipla proteção. Barragem de Salvajina, Colômbia.
Fonte: ICOLD, 1989a, 2010

86 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
O projeto e as técnicas de execução da laje
devem garantir seu bom comportamento,
diante de deformações e sua estanqueidade.
Para isso, nos critérios de projeto, é necessário
estipular uma vazão máxima admissível de
percolação, investigando-se as causas de
eventuais valores excedentes e tratando-se as
trincas, de modo a reduzir as vazões aos valo-
res admissíveis.

O conceito de estanqueidade deve sempre


estar associado às outras propriedades do
concreto, como resistência e elasticidade,
em vista das deformações diferenciadas das
Figura 21. Junta perimetral. Utilização de cinza
várias zonas do maciço durante a construção,
volante em alternativa ao mastique. Barragem de
Aguamilpa, México. bem como ao longo e após o enchimento do
Fonte: Cruz; Materón;Freitas, 2009
reservatório e sua operação.

Espessura
Laje
As premissas básicas de um projeto da laje de Segundo a ICOLD (1989), os resultados das ob-
uma barragem deste tipo são: servações dessas obras têm evidenciado que
as pressões da água instalam na maior parte da
• Todo o maciço de enrocamento compac-
cortina estados de compressão biaxial, e que as
tado está a jusante do reservatório, prote-
tensões de tração que, por vezes, se verificam,
gido por uma superfície (face de concreto)
ocorrem em zonas bem definidas, como sejam,
impermeabilizante;
nas proximidades do plinto, junto à base, e nas
• O fluxo pela fundação, seja rochosa ou ombreiras. Tem-se verificado, ainda, que mes-
aluvionar, é controlado a montante pela mo essas trações tendem a desaparecer com
execução de cortinas de injeção ou paredes o tempo, devido a um processo de relaxação
diafragma, respectivamente; de tensões. Esses comportamentos devem-se
• A laje de concreto, o plinto, a junta perime- à reduzida deformabilidade dos aterros de en-
tral e o projeto das juntas verticais (entre rocamento compactado e à existência de uma
lajes), suas integridades e durabilidade são zona especial de apoio da cortina, constituída
importantes fatores para o bom desempe- por material relativamente fino e bem compac-
nho da barragem a longo prazo. tado (o material da zona 2).

A laje da face de concreto deve, portanto, asse- A deformação da cortina, sob a ação das pres-
gurar adequada estanqueidade e resistência, sões da água, é essencialmente condicionada
associada à capacidade de deformação (com- pela deformação do enrocamento, e não pela
portamento elástico), bem como adequada sua rigidez. Dessa forma, a espessura da laje é
durabilidade. principalmente condicionada pela necessidade
de ser impermeável e durável a longo prazo. Em
O dimensionamento e as especificações consequência, é recomendável (ICOLD, 2010)
construtivas da laje têm sido estabelecidos a utilização de lajes com espessura constante
empiricamente. A estanqueidade da laje, como de 0,25 ou 0,30 m, para barragens de baixa
“barreira impermeável”, tem sido posta em a média altura (até 100 m) e um acréscimo
causa pela ocorrência de trincas e rupturas du- de espessura de 0,002 H para barragens de
rante o enchimento. E o consequente aumento grande altura, (MatErÓn, 2007) propõe para
acentuado das vazões de percolação. barragens com altura H inferior a 120 m, com

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
87
enrocamentos bem graduados, que a espessu- a colocação de veda-juntas, alternativa desne-
ra da laje (e) seja: cessária e custosa.

A uma distância L (10 a 20 m) do plinto, nas


𝑒𝑒 = 0,30 + 𝛼𝛼𝛼𝛼  
juntas de conexão laje-plinto, um veda-juntas
adicional (além do veda-juntas de cobre, na
Sendo α para enrocamentos com módulo de
elasticidade superior a 100 MPa, e para módu- base da laje) tem sido colocado em alguns
los de elasticidade inferiores. projetos, de modo a aumentar a proteção e
melhorar a estanqueidade (no caso de trincas)
Veda-juntas
em toda essa área, junto ao plinto.
Distinguem-se diversos tipos de juntas, tais
como junta perimetral, juntas horizontais de Nas juntas verticais entre lajes, não há trans-
construção, juntas de conexão laje-plinto, jun- passe de armaduras entre duas lajes vizinhas.
tas verticais e juntas de expansão.
As juntas de contração devem ser colocadas:
A junta perimetral, externa, entre a cabeça do • nas ombreiras, zona de tração (uma das prá-
plinto e a laje, é a junta de maior importância,
ticas consiste em colocar um veda-juntas
devendo aplicar-se o conceito de “múltipla
proteção”. Têm sido utilizados vários tipos de de cobre no fundo da laje e um veda-juntas,
materiais combinados, tais como mastique, tipo Jeene, PVC no topo, entre as duas lajes);
neoprene, PVC e juntas de cobre (ICOLD, 1989b • na zona central, onde ocorrem as zonas de
e Cruz et al., 2009).
compressão, não são colocadas juntas na
Um material compressível (madeira ou outro) parte superior, somente o veda-juntas de
com espessura entre 12,5 e 20 mm é usual- cobre (fundo); entre as duas lajes é aplicada
mente colocado na interface do plinto com a
uma pintura asfáltica em uma das faces,
laje da face. O objetivo é evitar concentrações
de tensões de compressão nas bordas da antes da concretagem da laje adjacente.
junta durante a construção e o enchimento do Recentemente (após a ocorrência de trincas
reservatório, períodos nos quais a laje da face e rupturas nas lajes centrais das barragens
se movimenta contra a estrutura do plinto, por de Barra Brande e Campos Novos (2005) e
causa das deformações do enrocamento.
de Mohale (2006), durante o enchimento
As juntas horizontais de construção são dos respectivos reservatórios), tornou-
definidas, de acordo com os vários estágios se aconselhável a inclusão de material
de construção das lajes (2 a 3 estágios para
compressível, madeira ou material equiva-
barragens acima de 140 m). São tratadas pela
remoção de alguns centímetros da concreta- lente, de modo a absorver os esforços de
gem anterior, limpeza (ar, água) e a realização compressão.
das conexões entre as armaduras. A armadura
Na Figura 22 ilustram-se as duas situações
serve como transpasse para a concretagem da
etapa seguinte. Não se deve conceituar essa para as juntas verticais, em zona de compres-
junta de construção como de contração, com são e em zona de tensão.

88 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 22. Juntas verticais: A) Campos Novos, área central (zona de compressão);
B) Barra Grande, RS/SC, ombreiras (zona de tensão).
Fonte: Cruz; Materón;Freitas, 2009

As juntas de expansão são de conexão entre • colocação de armadura dupla (0,4% em


a extremidade superior da laje e o muro da ambas as direções) em uma faixa de 10 a
crista. Embora normalmente localizada a 15 m, ao longo do plinto (TSQ1, Barra Grande,
alguns metros acima do nível da água normal Campos Novos).
do reservatório, a junta de expansão fica entre
a superfície superior da laje e a base do mu- Muro de crista
ro-parapeito. O cobre tem sido normalmente
Como dimensão básica para a etapa inicial
utilizado nessas juntas.
de projeto pode ser tomada a altura de 3 a
Projeto da armadura 5m de muro.

A porcentagem de ferragem adotada nos O projeto e os progressos construtivos com a


projetos tem sido, de modo geral, fixada em- utilização de pré-moldados têm contribuído
piricamente. A principal preocupação tem sido para a redução de prazos construtivos e custos
garantir a estanqueidade pela minimização de do muro-parapeito. O dimensionamento desse
trincas e manter a integridade da laje, quando muro deve considerar os seguintes aspectos:
submetida a esforços de compressão e fle-
xão, em consequência das deformações do
• promover a dissipação das ondas que sobem
enrocamento. pelo talude;

Alguns dos critérios empiricamente adotados • calcular a borda-livre, a partir do topo do muro
são os seguintes: -parapeito;
• aplicação de 0,4 a 0,5% (vertical) e de 0,3
• prolongar as extremidades dos muros até as
a 0,35% (horizontal) de aço em cada dire- ombreiras;
ção, em forma de malhas, com exceção da
região próxima do plinto e ombreiras, onde • estimar a sobre-elevação nominal, devido aos
geralmente se especifica 0,4%; recalques da barragem (pós-construtivos, pós
-enchimento e os da fase de operação, consi-
• eliminação do transpasse de uma laje para derando o efeito da fluência);
a outra por meio das juntas verticais;
• concretagem do muro no local ou com elemen-
• colocação de armadura dupla
tos pré-moldados.
antilasqueamento;

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
89
Após a concretagem dos muros, a área entre as Na Figura 23 apresenta-se um exemplo de
duas estruturas é preenchida com enrocamen- muro da crista e pormenor de junta de expan-
to fino (Dmax ≤ 0,30m) em camadas compacta- são no contato laje-fundação do muro.
das, até atingir a cota de crista da barragem.

Figura 23. Detalhe do muro da crista e da junta de expansão no contato la-


je-fundação do muro da barragem de Barra Grande, RS/SC.
Fonte: Cruz; Materón;Freitas, 2009

90 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
5 BARRAGENS
E OUTRAS
ESTRUTURAS DE
CONCRETO
5.1 Estruturas De um modo geral, no projeto das diferentes
barragens de concreto massa, recomenda-se
As barragens de concreto são caracterizadas (NPR, 1993):
pela sua forma, dimensões e materiais utiliza- • Evitar formas angulosas e reentrâncias
dos na construção, tais como o concreto con- acentuadas, descontinuidades e hetero-
vencional vibrado e o concreto compactado geneidades, utilizando armaduras nessas
com rolo. Essas barragens são, em geral, clas- zonas quando não evitáveis, assim como na
sificadas nos seguintes tipos fundamentais: vizinhança de aberturas;
gravidade, gravidade aliviada, contrafortes,
• Utilizar, sempre que possível, estruturas
arco simples e arcos múltiplos, estes últimos
curvas, quer em planta quer na vertical;
de simples ou dupla curvatura. Como exemplo
de diferentes tipos de barragens de concreto, • Evitar cristas excessivamente rígidas;
apresentam-se nas Figuras 24, 25 e 26 três • Considerar, no caso de barragens em arco,
obras da EDP- Energias de Portugal, construí- arcos com curvatura decrescente e espes-
das na segunda metade do século XX (ICOLD, sura constante ou aumentando para os
1988; CNPGB, 1992). apoios e, sempre que possível, estruturas
simétricas, com bases de fundação direta
As barragens de concreto massa têm formas (socos de fundação) e, se necessário, com
estruturais muito diversas, como ilustrado encontros artificiais;
pelas três obras referidas, procurando dar
• Utilizar concreto de baixa permeabilidade a
resposta adequada e econômica aos requisitos
montante, armaduras de pele ou concretos
funcionais e de segurança, assim como às
de maior resistência, junto aos paramentos
condições ambientais. Recentemente, os
e sistemas de drenagem no interior;
projetos de barragens de contrafortes e de
outras estruturas com formas mais elaboradas • Privilegiar, mesmo no caso de barragens
tornaram-se mais raras, em favor de soluções gravidade, a injeção das juntas de contração;
com formas mais simples, embora envolvendo • Incluir nas obras de maior porte e suas fun-
maiores volumes de concreto. Além disso, a dações um sistema de galerias que, além de
técnica de construção de barragens de concreto facilitarem a drenagem, permitam o acesso
pelo método do concreto compactado com às diferentes zonas e, designadamente, à
rolo (CCR) tem vindo a desenvolver-se e a vizinhança da superfície de fundação.
atingir níveis de qualidade que se aproximam
dos obtidos pelos métodos tradicionais de
colocação do concreto nas barragens.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
91
Figura 24. Barragem do Castelo do Bode, Portugal (arco-gravidade com 115 m de altura máxima, concluí-
da em 1951).
Fonte: CNPGB, 1992 / Banco de Imagens ANA

92 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 25. Barragem da Aguieira, Portugal (arcos múltiplos de grandes vãos de dupla curvatura, com
89 m de altura máxima, concluída em 1981).
Fonte: CNPGB, 1992 / Banco de Imagens ANA

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
93
Figura 26. Barragem de Fratel, Portugal (barragem de soleira vertente, com 43 m de altura máxima,
concluída em 1973).
Fonte: CNPGB, 1992 / Banco de Imagens ANA

Nos projetos das barragens de concreto devem • Definição das formas das barragens, com
constar, fundamentalmente, os seguintes ele- base em técnicas experimentais ou por cál-
mentos (NPB 1993): culos, devendo, em princípio, ter expressão
• Justificativa da solução adotada, devendo analítica;
ser considerados como parâmetros princi- • Condicionamentos impostos às formas pela
pais a forma do vale, a natureza da funda- fase de construção, citando-se, a título de
ção, os materiais disponíveis, os meios exis- exemplo, as curvaturas verticais e as incli-
tentes para a construção, as vazões de cheia nações das barragens de arco, como conse-
e os órgãos extravasores e de operação; quência do efeito do peso próprio, a existên-
cia de mais ou menos juntas de contração,

94 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
como consequência do desenvolvimento e pela experiência. Assim, os projetos devem, em
dissipação do calor de hidratação do cimen- geral, incluir disposições relativas ao estudo
to, a eventual eliminação de juntas e o uso das fundações e ao seu tratamento.
de maiores espessuras, em consequência
da utilização de técnicas de arrefecimento 5.2.1 Estudo das fundações
artificial e, ainda, a eventual necessidade
de manter, durante a construção, blocos de Os estudos geológicos, hidrogeológicos e
menor altura, para a passagem de cheias geotécnicos, indicados no item 3.3, constituem
maiores do que as que podem ser descarre- a base para a definição dos parâmetros que
gadas pelas obras de desvio do rio; caracterizam o comportamento hidráulico e
• Valor da vazão de cheia adotada no di- estrutural dos maciços de fundação das bar-
mensionamento das obras de desvio do rio, ragens de concreto, salientando-se os estudos
valor que é fixado tendo em vista os estudos sobre a litologia, o grau de alteração, a altera-
hidrológicos e hidráulicos, as alternativas bilidade, a compartimentação, a deformabili-
auxiliares para a passagem das cheias su- dade, a resistência, e o estado de tensão inicial
periores às adotadas para desvio do rio e o nos maciços, apenas no caso de vales muito
planejamento dos trabalhos; encaixados (OLIVEIRA, 1987).
• Estudo das obras de desvio do rio, tendo em
Na definição dos parâmetros relativos à per-
vista, além da vazão de cheia, as disposições
meabilidade, salienta-se que a percolação,
do item 4.2;
através desses maciços, quando a rocha não
• Justificativa e definição dos órgãos extrava- é muito alterada, se processa essencialmente
sores e de operação. através das superfícies de compartimentação,
Além da estrutura principal das barragens de incluídas nestas as superfícies permeáveis
concreto, as estruturas dos órgãos extravaso- das falhas. Devem caracterizar-se as direções
res e de operação e respectivos equipamentos preferenciais, as absorções e os regimes de
devem também ser adequadamente dimen- escoamento, bem como a variação da permea-
sionados dos pontos de vista hidráulico e es- bilidade com o estado de tensão.
trutural, de acordo com princípios semelhantes Na caracterização da deformabilidade da
aos adotados para o dimensionamento da fundação, por meio de ensaios “in situ” e no
barragem, dado que eventuais deficiências de laboratório ou correlações com parâmetros de
funcionamento, em especial, dos órgãos extra- classificação dos maciços, devem ser consi-
vasores, podem pôr em risco a segurança geral deradas as heterogeneidades, estabelecendo
da obra. um adequado zoneamento da fundação, bem
Deve observar-se, no entanto, que algumas como comportamentos anisótropos e, even-
estruturas dos órgãos extravasores e de opera- tualmente, efeitos de tempo (Oliveira, 1986).
ção (edifícios das casas de força, pontes, etc.) Na definição dos parâmetros característicos da
são estruturas de concreto armado e devem, resistência do maciço, além da resistência da
portanto, ser dimensionadas de acordo com os rocha, deve ser especialmente considerada a
critérios de dimensionamento adotados para resistência ao deslizamento, ao longo das prin-
essas estruturas. cipais superfícies de compartimentação, tendo
em conta os seus eventuais preenchimentos,
5.2 Fundações rugosidade das superfícies e teor em água
(Oliveira, 1985).
As fundações das barragens de concreto, em
Nos casos especiais de barragens de concreto
geral, constituídas por maciços rochosos, for-
apoiadas sobre maciços aluvionares ou cársti-
mam um conjunto com a estrutura que supor-
cos, devem ser consideradas as características
tam, tendo grande influência nas condições de
específicas desses maciços.
segurança desse conjunto, como evidenciado

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
95
5.2.2 Tratamento dos maciços de
5.3 Materiais
fundação

O tratamento dos maciços de fundação das


5.3.1 Concreto massa
barragens de concreto visa, essencialmente,
A escolha do concreto massa para barragens
melhorar as características mecânicas e hi-
exige que se proceda, em cada caso, a estudos
dráulicas desses maciços, por intermédio de
de natureza técnica e econômica, tendo em
injeções de consolidação e impermeabilização
consideração as características, disponibili-
do maciço ou de ligação na interface estrutura-
dade e procedência dos agregados, cimentos,
fundação e por sistemas de drenagem, tendo
aditivos e adjuvantes (plastificantes, etc.).
em atenção que as cargas transferidas pelas
barragens de gravidade atingem em maior es- O ligante a ser utilizado no concreto massa
cala a zona central do vale, e que as barragens deve ser constituído por cimento Portland, po-
em arco transferem as cargas essencialmente zolanas naturais ou artificiais e cinzas volantes,
às ombreiras. em proporções que permitam obter as caracte-
rísticas mecânicas requeridas para o concreto,
As injeções dos maciços devem ser estudadas,
minimizando o calor de hidratação e o risco de
tendo em conta as características destes,
reações expansivas, devendo ainda ser consi-
como por exemplo, as superfícies de compar-
derada a utilização de adjuvantes para atender
timentação, de modo a preencher de forma
aos processos de colocação e compactação do
adequada os vazios e as descontinuidades
concreto.
existentes. Quando as características do ma-
ciço de fundação ou a dimensão da barragem No projeto devem ter-se em conta os seguintes
o justificar, deve ponderar-se a realização de aspectos (NPB, 1993), de acordo com as res-
blocos de ensaio, incluindo ensaios de injetabi- pectivas especificações técnicas das normas
lidade, na fase anterior à instalação do canteiro brasileiras da ABNT ou, na ausência destas,
ou no início dos trabalhos, visando definir, para das especificações da ASTM ou outras, tal
cada zona do maciço, os produtos, os métodos, como indicado no item 1.4.
as pressões e as técnicas a utilizar.
• Existência e origem dos agregados para
A impermeabilização deve ser complementa- o fabrico do concreto com a quantidade
da com a execução de drenos, visando reduzir necessária;
as subpressões nas zonas do maciço em que, • Processo de obtenção dos agregados,
mesmo nos casos em que a impermeabiliza- tais como a extração, britagem, seleção e
ção é eficiente, os respectivos valores possam lavagem;
pôr em risco as condições de estabilidade da • Propriedades físicas e químicas dos
barragem. Atendendo às vazões recolhidas nos agregados, tal como preconizado pelas
drenos, devido à percolação, através da funda- normas;
ção, e a infiltrações no corpo da barragem, o
• Existência e origem da água para a fabrica-
projeto deve incluir a definição do modo como
ção do concreto, e sua composição e quali-
tais vazões são conduzidas para o exterior,
dade, atendendo às normas técnicas;
privilegiando, sempre que possível, a saída da
água por gravidade. • Cimentos e aditivos, tais como pozolanas
e cinzas volantes, bem como adjuvantes,
Para garantir adequadas condições de segu- atendendo às normas técnicas;
rança da fundação poderão, ainda, ser ne- • Composição e características do concreto,
cessárias medidas suplementares, tais como para cada zona da obra, atendendo às nor-
chumbadores e ancoragens ativas. mas técnicas;
• Características térmicas, mecânicas, hidráu-
licas e de trabalhabilidade do concreto, que
garantam boas condições de construção e

96 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
assegurem as características requeridas de (deformabilidade para ações rápidas e man-
resistência, deformabilidade, permeabilida- tidas ao longo do tempo e resistências),
de e durabilidade; bem como as relativas às características dos
• A qualidade do concreto é determinada por constituintes do concreto (cimento, materiais
meio de ensaios em laboratório, devendo-se pozolânicos, agregados, água, aditivos) e res-
prestar atenção especial às suas caracterís- pectivas composições.
ticas reológicas e à possibilidade de altera-
5.3.2 Outros materiais
ções ou deteriorações de qualquer origem;
• Previsão da agressividade da água do As características de outros materiais utiliza-
reservatório ao concreto, aos materiais da dos nas barragens de concreto e nos órgãos
fundação e aos produtos de injeção; extravasores e de operação, tais como aço,
• Nas regiões mais frias do país, a resistência materiais dos dispositivos de vedação e dos
do concreto ao gelo. aparelhos de apoio, devem igualmente respei-
tar as especificações das normas brasileiras da
Nas barragens de concreto compactado com
ABNT em vigor ou, na sua ausência, as normas
rolo devem, ainda, ser considerados:
equivalentes da ASTM ou outras entidades, tal
• Uma composição do concreto que tenha como indicado no item 1.4.
em conta a utilização de equipamentos
pesados na sua colocação e compactação;
5.4 Critérios de projeto
• A construção de um bloco experimental,
integrado ou não no corpo da obra, com o
5.4.1 Aspectos gerais
objetivo, entre outros, de ensaiar os procedi-
mentos de colocação do concreto, número
O projeto das barragens e outras estruturas de
de passagens e de tratamento das juntas concreto tem por objetivo definir as formas,
entre camadas; dimensões e outras características das estru-
• O aprovisionamento em estoque de quan- turas, de modo a satisfazer as condições de
tidades de componentes do concreto que segurança, funcionalidade, durabilidade e fácil
garantam o ritmo previsto de colocação. operação e manutenção, com a maior econo-
mia possível, ao longo da vida útil destas obras.
Dos projetos devem constar também elemen-
tos sobre: Para assegurar aqueles objetivos, em especial
• Canteiro e tipo de equipamento para exe- para garantir as condições de segurança e fun-
cução das obras, tais como meios de arma- cionalidade, devem ser analisados cenários de
zenamento dos agregados, ligante e água, acidente e incidente (equivalentes a estados-
fabricação, transporte e colocação do con- -limite últimos e de utilização) que, com maior
creto, programação dos trabalhos, ritmos ou menor probabilidade, têm possibilidade de
de concretagem, espessuras de camadas e ocorrer durante a vida das obras.
tipos de moldes; Em geral, os cenários de acidente estão asso-
• Laboratório do canteiro, com indicação da ciados a rupturas globais ao longo de super-
aparelhagem e máquinas de ensaio para fícies envolvendo grandes volumes, podendo
controle dos materiais e do concreto, assim afetar gravemente as condições de segurança
como das instalações de apoio ao controle das estruturas, enquanto os cenários de inci-
de segurança da obra. dente estão associados a rupturas pontuais,
afetando volumes limitados e pondo essen-
No Manual da Eletrobras (ELETROBRAS,
cialmente em risco as condições de operação
2003) podem ser encontradas informações
das estruturas (ROCHA, M., 1978; ICOLD, 1988).
adicionais sobre as características dos con-
cretos para barragens, tais como as relativas A identificação, para cada tipo de obra, dos
aos ensaios, às classes e às propriedades principais cenários de acidente e de incidente,

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
97
deve ter em consideração, além da experiência Para verificação das condições de segurança
com obras do mesmo tipo, aspectos específi- e funcionalidade em relação a cada um dos
cos da obra em causa, relacionados principal- cenários, devem ser consideradas situações de
mente com os seguintes fatores: projeto (condições de carregamento indicadas
• finalidades da obra, suas características e na seção 1.5.4), representando condições
propriedades do concreto e do maciço de normais, excepcionais e limites que podem
fundação; ocorrer ao longo da vida da obra, e analisado o
comportamento da estrutura por meio de mo-
• características hidrológicas, geológicas,
delos apropriados, em geral modelos elásticos,
hidrogeológicas, geotécnicas e sismológicas
para análise das condições normais (CCN),
do local da obra;
de construção (CCC) e mesmo excepcionais
• ações mais importantes e suas combina-
(CCE), e modelos não lineares para análise das
ções, como indicado no item 1.5.4;
situações limites (CCL).
• métodos de construção, forma de proceder
ao primeiro enchimento e operação do Além dos modelos estruturais, represen-
reservatório; tando a estrutura e a fundação como um
• condições de manutenção e de controle de conjunto (merecendo particular atenção a
segurança. superfície de interação concreto-maciço
rochoso), é em geral necessário modelar o
Para além de outros cenários de acidente e de comportamento hidráulico e as ações da água
incidente cuja consideração se julgue necessá- (modelos hidráulicos) e, em muitos casos, da
ria, devem ser analisados cenários associados temperatura (modelos térmicos) e dos sismos
ao maciço rochoso de fundação na vizinhança (modelo da ação sísmica). Esses modelos das
da barragem e ao concreto, tais como: ações são em regra analisados separadamente
• Em relação ao maciço de fundação: em relação aos modelos estruturais, mas deve
ser considerado que, em certos casos, existe
˚˚deslocamentos provocados pela
abertura e fecho das superfícies de interação entre os parâmetros que intervêm
compartimentação; em ambos os modelos.

˚˚fendilhação, corte e esmagamento A quantificação do grau de segurança em


das formações; relação à ocorrência de cada um dos cenários
deslizamento por superfícies de me- tem sido tradicionalmente efetuada por meio
˚˚
nor resistência conjugado com defi- de coeficientes globais que integram as dife-
ciente funcionamento dos sistemas rentes aproximações e incertezas envolvidas,
de impermeabilização e drenagem; em particular na modelação das ações, das
propriedades estruturais e do comportamento
˚˚erosão nas descontinuidades
e dissolução dos minerais das dos materiais.
formações;
Os cenários de acidente e incidente, nas bar-
˚˚erosão a jusante, devido a descar- ragens e outras estruturas de concreto acima
regamentos ou ao eventual galga- referidos, foram associados aos materiais que
mento da obra. constituem estas estruturas (o maciço rocho-
• Em relação ao concreto: so de fundação, o concreto massa, vibrado
ou CCR, e o concreto armado ou protendido).
˚˚deslocamentos reversíveis e per-
manentes da estrutura; No entanto, a incidência destes cenários varia
também com o tipo de estrutura.
˚˚fendilhação e corte em zonas
localizadas ou afetando volumes
Assim, nos itens seguintes, referem-se aspec-
apreciáveis;
tos específicos destes cenários, nas barragens
˚˚derrubamento de blocos; de concreto mais frequentemente utilizadas:
˚˚encurvadura de peças delgadas. as barragens gravidade e as barragens em arco.

98 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
5.4.2 Barragens gravidade etc.) para limitar os efeitos do desenvolvimen-
to e posterior dissipação do calor de hidratação
Essas obras são em geral construídas em vales do cimento.
largos, quando é necessário assegurar a des-
Assim, no projeto das barragens gravidade,
carga de grandes vazões, ou a agressividade
recomenda-se a verificação dos seguintes
do clima recomenda a consideração de obras
cenários de acidente e incidente:
de apreciável espessura (USBR, 1977; USACE
1995 e 2001; CFBR 2002 e 2006). Têm fre- • Em relação ao maciço de fundação:
quentemente planta reta e, em muitos casos
˚˚ deslizamento ao longo da superfície
(como, por exemplo, na obra representada na de fundação (interação concreto-
Figura 25), incorporam o vertedouro e têm a -maciço rochoso) ou ao longo de
casa de força colocada numa das margens. superfícies de menor resistência do
maciço existentes na vizinhança da
Cada um dos blocos dessas barragens é di-
superfície de fundação, conjugados
mensionado para suportar, essencialmente
com elevadas subpressões;
por intermédio do seu próprio peso, as pres-
sões da água e outras forças horizontais que ˚˚ abertura e fecho das juntas do
atuam sobre ele. Deve, no entanto, ter-se em maciço rochoso, respectivamente
consideração que, nas ombreiras, em especial a montante e a jusante, poden-
no caso de vales com menor relação extensão/ do alterar significativamente
altura, se desenvolvem efeitos de transferência as subpressões e as vazões de
de esforços entre blocos adjacentes. percolação;

A subpressão na superfície de fundação, ˚˚ erosão do maciço, a jusante, devi-


da a grandes descarregamentos
na medida em que reduz os efeitos do peso ou mesmo ao galgamento da
próprio, é uma ação muito importante nestas barragem.
obras. A distribuição das subpressões ao longo
• Em relação ao concreto:
da superfície de fundação depende da forma
como se processa a percolação entre mon- ˚˚ abertura de fendas, em especial
tante e jusante e, portanto, das características nas juntas de concretagem junto do
do maciço rochoso, dos níveis da água e dos paramento de montante, com ins-
sistemas de impermeabilização e de drenagem talação de subpressões e redução
(ANDRADE, R. M., 1984). Os principais modelos da superfície resistente das juntas;
de distribuição das subpressões encontram-se ˚˚ corte através de juntas de concre-
nas publicações da especialidade e manuais, tagem, em especial nas barragens
como por exemplo, (LECLERC, M. et al., 2001). CCR;

Nestas barragens, mesmo nas barragens ˚˚ possibilidade de tombamento de


todo o bloco, em especial para
de gravidade aliviada, o nível de tensões no
jusante, ou tombamento da crista,
concreto é relativamente baixo em relação à
para jusante ou para montante,
resistência do concreto, em especial as com-
particularmente durante a ocorrên-
pressões, bem como as tensões transmitidas à
cia de sismo;
fundação.
˚˚ expansões diferenciais no con-
Tratando-se de estruturas rígidas, com creto, associadas a fenômenos
grandes massas, as ações térmicas que se de reatividade álcali-agregado ou
desenvolvem durante a colocação do concreto a outras reações químicas, origi-
são especialmente importantes, devendo ser nando fissuração, deslocamentos
adotadas técnicas adequadas (envolvendo a permanentes de subida da crista,
composição do concreto, juntas de contração, fecho das juntas de contração e
o arrefecimento dos materiais e do concreto, tensões horizontais nos blocos.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
99
no caso de barragens de dupla curvatura, a se-
Além destes cenários, deve ainda ser conside- quência de construção e o comportamento das
rada a possibilidade de formação de grandes juntas de contração podem alterar significati-
ondas no reservatório, devido à queda súbita vamente as distribuições de tensões devidas
de grandes volumes de terra (ou de gelo, em ao peso próprio (PEDRO, 1977).
algumas regiões), movimentos de fecho ou Os arcos devem ter maior curvatura na zona
afastamento das ombreiras, movimentos central e espessuras que aumentem para os
diferenciais das duas margens ao longo de encontros, sendo frequentemente definidos por
grandes falhas ativas, deterioração dos maciços curvas circulares de três centros, parabólicas ou
rochosos de fundação por erosão e dissolução. elípticas. Para melhorar a inserção nas ombrei-
Não apenas o projeto, mas também a instru- ras e permitir tornar as estruturas simétricas,
mentação e monitoramento das barragens são frequentemente considerados pulvinos
gravidade devem ser planejadas e implemen- (socos de fundação) e encontros artificiais.
tadas tendo em consideração os principais Considerando que as barragens em arco são
cenários de deterioração identificados para a estruturas menos espessas do que as barra-
barragem em causa. gens gravidade, as ações térmicas associadas
à construção são menos importantes do que
5.4.3 Barragens em arco
as ações devidas às variações ambientais da
temperatura. Como referido, essas barragens
As barragens em arco são construídas em vales
têm um comportamento tridimensional, em
em U ou em V relativamente estreitos (relações
especial, a partir da injeção das juntas de
extensão/altura inferiores a 5 ou 6), com maci-
contração. Deste modo, as temperaturas exis-
ços rochosos de boa qualidade, especialmente
tentes no concreto, na época de injeção das
nas ombreiras.
juntas, definem o estado térmico de referência
A curvatura em planta assegura um compor- para as futuras variações de temperatura no
tamento arco, que equilibra grande parte das concreto impostas pelas ondas térmicas no
pressões da água, desde que as ombreiras ar e na água do reservatório, assim como pela
assegurem o necessário apoio. A curvatura na radiação solar. Assim, recomenda-se que a in-
vertical, nas barragens em arco de dupla cur- jeção das juntas de contração seja feita numa
vatura, permite que as compressões verticais época fria, para que os efeitos térmicos na bar-
devidas ao peso próprio compensem, total ou ragem sejam essencialmente de aquecimento
parcialmente, as trações devidas às pressões em relação à época de referência (compressão
da água que se desenvolvem: na parte superior generalizada da estrutura).
da estrutura, junto do paramento de jusante
Os sismos são também uma ação importante
(dado o pendor para jusante das consoles); e
nas barragens em arco, além do peso próprio,
na vizinhança da fundação, junto do paramen-
das ações da água e da temperatura (além de
to de montante (dado o pendor para montante
outras ações, tais como os sedimentos acumu-
das consoles nesta zona) (ROCHA, 1965;
lados no reservatório ou as pressões devidas
PEDRO, 1989 e 1999; USBR 1977; USACE 1994
ao gelo), dado que as barragens em arco, pela
e 1999, FANELLI, M., 1999).
sua deformabilidade, podem ampliar bastante
As barragens em arco são em geral construídas as vibrações impostas na fundação (PEDRO,
por blocos, separados por juntas de contração 1977 e 1999; SEVERN, 1999).
verticais, mas têm um comportamento tridi-
Os maciços rochosos de fundação, como
mensional, especialmente depois da injeção
referido, têm particular importância no com-
das juntas de contração. No entanto, admite-
portamento das barragens em arco. Assim, os
se em geral que a instalação do peso próprio,
estudos de reconhecimento e caracterização
durante a construção, se desenvolve como se
destes maciços devem merecer especial aten-
os blocos fossem independentes. Na realidade,
ção (ROCHA, 1978).

100 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Os principais cenários de acidente e incidente ondas nos reservatórios, movimentos do vale e
nas barragens em arco estão associados: deterioração dos maciços rochosos, tal como
• Em relação ao maciço de fundação: referido para as barragens gravidade.

˚˚formação de cunhas tridimen- A instrumentação e monitoramento das bar-


sionais pelas diferentes famílias ragens em arco deve igualmente ser planejada
de descontinuidade do maciço e implementada tendo em consideração os
rochoso das ombreiras, com pos- principais cenários de deterioração identifica-
sibilidade de destacamento e des- dos para a barragem em estudo. De um modo
lizamento ao longo das superfícies geral, no monitoramento do comportamento
dessas cunhas, sob a ação das for- das barragens em arco, além das grandezas
ças aplicadas pela barragem, das consideradas habitualmente para barragens
subpressões nessas superfícies e gravidade, afigura-se adequado monitorar
do peso das cunhas; também os efeitos da temperatura ambiental,
bem como os deslocamentos, as tensões e as
˚˚cedência de um dos encontros,
impedindo um adequado compor- deformações.
tamento dos arcos;

˚˚abertura das juntas do maciço 5.5 Avaliação da segurança das


a montante, originando grandes estruturas
deslocamentos da fundação, com
eventuais perturbações das cor- A avaliação das condições de segurança
tinas de impermeabilização e au- e funcionalidade em relação aos cenários
mento das vazões de percolação, de acidente e incidente mais importantes
bem como facilitando a formação associados a cada estrutura (estados-limite
das cunhas acima referidas nas últimos e de utilização) deve ser feita, como re-
ombreiras; ferido, considerando situações de projeto que
podem ocorrer ao longo da vida da barragem
˚˚erosão do maciço, a jusante, devi-
do a grandes descarregamentos e analisando o comportamento por meio de
ou mesmo ao galgamento da modelos adequados. Devem ser consideradas
barragem. em especial as estruturas principais, incluindo
a interação com as fundações e, em particular,
• Em relação ao concreto:
as interfaces concreto-rocha.
˚˚fendas e fissuras, em especial nas
cotas mais baixas do paramento Os critérios de segurança devem apoiar-se em
de montante, bem como nas co- coeficientes e tensões admissíveis, devidamen-
tas intermédias do paramento de te comprovados pela experiência com estrutu-
jusante, em especial no caso de ras do mesmo tipo, ao longo de muitos anos.
cristas muito rígidas;
Nos itens seguintes, faz-se uma breve referên-
˚˚expansões diferenciais no concreto, cia aos modelos de análise estrutural presen-
devido a fenômenos de reatividade
temente utilizados no estudo das estruturas
álcali-agregado ou a outras reações
de concreto das barragens e referem-se, em
químicas, originando fissuração,
especial, os critérios de segurança destas
deslocamentos permanentes para
estruturas estabelecidos pela ELETROBRAS
montante e de subida da crista,
e pelo Comitê Brasileiro das Barragens
além de aumento das tensões de
(ELETROBRAS, 2003), enquadrados pelos
compressão nos arcos.
princípios gerais estabelecidos na norma bra-
sileira NBR 8681/84.
Além destes cenários, deve também ser consi-
derada a possibilidade de formação de grandes

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
101
5.5.1 Modelos e métodos de análise adotados modelos tridimensionais no estudo
estrutural do seu comportamento. No entanto, adotam-
se também, com frequência, em especial
Na modelação do comportamento estrutural no estudo de alguns elementos estruturais,
das barragens de concreto é em geral neces- modelos de equilíbrio planos, lajes e cascas e
sário, como já referido, modelar não só o com- mesmo arcos e consoles.
portamento estrutural, mas também as ações
mais importantes (PEDRO, 2000). A análise dos diferentes modelos é atualmente
feita por meio de métodos numéricos, em
Assim, os modelos das ações associadas ao especial, pelo método dos elementos finitos
peso dos materiais e equipamentos, aos níveis
(Zienkiewicz et al., 2005) e/ou por modelos
da água no reservatório, às variações de tem-
de elementos discretos (no caso de envolve-
peratura no concreto (associadas à presa e
rem maciços de fundação com muitas descon-
impostas pelas variações da temperatura no ar
tinuidades (Vieira Lemos, 2013).
e na água) ou à ocorrência de um sismo, permi-
tem avaliar os efeitos diretos destas ações (em Estão hoje disponíveis no mercado programas
especial as forças e as deformações impostas) de cálculo automáticos muito gerais para aná-
com base nas caraterísticas geométricas das lise do comportamento estático e dinâmico
estruturas e nas propriedades mecânicas, hi- dos modelos pelos métodos referidos. Podem
dráulicas e térmicas dos materiais. ser considerados materiais de comportamento
As forças e deformações impostas corres- elástico linear ou não linear, quer nos elementos
pondentes aos efeitos diretos das ações, volumétricos quer ao longo das superfícies de
por sua vez, permitem estimar a resposta menor resistência. Nos casos em que interessa
da estrutura (deslocamentos, deformações especialmente modelar o comportamento
e tensões) com base nas suas caraterísticas das juntas de contração da barragem e das
geométricas e propriedades mecânicas dos superfícies de menor resistência da fundação,
materiais (deformabilidade e resistência), incluindo a interação com as pressões da água,
assim como eventuais consequências dessa a utilização de modelos de elementos discre-
resposta (deslizamentos, tombamentos, tos é especialmente indicada.
fendilhação, etc.).
No estudo do comportamento de barra-
Os modelos das ações e estruturais são em re- gens de concreto, têm sido também muito
gra analisados separadamente mas, em alguns utilizados modelos físicos, como por exemplo,
casos, quando há interação entre os efeitos di- os modelos desenvolvidos no Laboratório
retos das ações e a resposta estrutural, devem Nacional de Engenharia Civil, em especial para
ser analisados em conjunto (é, por exemplo, análises de modelos estruturais e hidráulicos
o caso da percolação através da fundação da (PEDRO et al., 1992).
barragem, em que as tensões que se desenvol-
vem na fundação alteram a permeabilidade do Todos os modelos e métodos (mais ou menos
maciço e, portanto, as vazões e as pressões da exatos) a serem utilizados na análise estrutu-
água). Os modelos podem igualmente reque- ral devem estar devidamente calibrados, em
rer uma análise não linear quando as conse- particular com base em resultados do monito-
quências associadas às respostas estruturais ramento de obras do mesmo tipo.
alteram de forma significativa as propriedades
No caso de estruturas que possam ser, apro-
dos materiais.
ximadamente, modeladas como consoles, as
Sendo as estruturas de concreto massa e tensões normais nas seções transversais e na
respectivas fundações, em geral, estruturas interface concreto-rocha podem ser estimadas
maciças de grandes dimensões, devem ser pelas expressões:

102 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
𝜎𝜎(𝑥𝑥, 𝑦𝑦) = 𝑎𝑎 + 𝑏𝑏𝑏𝑏 + 𝑐𝑐𝑐𝑐

𝑁𝑁 plano considerado; A – a área da seção trans-


𝑎𝑎 =
𝐴𝐴 versal; ΣMx e ΣMy - o somatório dos momentos
1
𝑏𝑏 = 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 − 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 de todos os esforços em relação aos eixos x e
𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 − 𝐼𝐼𝐼𝐼𝑦𝑦 !
y, respectivamente; Ix e Iy – os momentos de
1 inércia da seção transversal, em relação aos
𝑐𝑐 = 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 − 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 eixos x e y e Ixy – o produto de inércia da seção
𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 − 𝐼𝐼𝐼𝐼𝑦𝑦 !
transversal, em relação aos eixos x e y.

Nas Figuras 27, 28 e 29 apresentam-se exemplos


Nestas expressões representa-se por: σ (x, y) de modelos de elementos finitos e de elementos
– a tensão normal num ponto de coordenadas discretos, bem como de modelos físicos, utiliza-
(x,y); ΣN – o somatório das forças normais ao dos em estudos de barragens de concreto.

Modelo de elementos finitos– vista de montante Modelo físico – vista de jusante

Figura 27. Modelos de elementos finitos e modelos físicos utilizados nos estudos do comportamento de
uma barragem em arco.
Fonte: EDP, EDIA / Banco de Imagens ANA

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
103
Figura 28. Modelo de elementos finitos (barragem) e de elementos discretos (maciço
rochoso de fundação) utilizado no estudo de uma barragem em arco.
Fonte: LNEC

Figura 29. Modelo de elementos finitos de uma barragem de soleira vertente.


Fonte: LNEC

104 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
5.5.2 Análise de estabilidade global Nas superfícies de ruptura dos maciços rocho-
sos ou na interface estrutura-fundação, deve
Nos estudos das barragens de concreto deve ser considerada a eventual coesão, a menos
ser dada especial atenção à verificação da que as investigações ou condições existentes
estabilidade global em relação aos seguintes no campo indiquem o contrário.
estados-limite: deslizamento em qualquer pla-
Nas fases iniciais de projeto, os valores de coesão
no, seja da estrutura, seja da fundação, tom-
e ângulo de atrito para o maciço de fundação e
bamento, flutuação e tensões na barragem, na
seus planos de descontinuidade, adotados em
fundação e na interface concreto-rocha.
situações e obras similares, constituem uma
Na verificação da segurança de alguns elemen- importante informação. Nas superfícies de
tos estruturais, devem ser também verificados deslizamento que interceptam trechos, onde
os estados-limite associados à estabilidade os parâmetros geomecânicos (atrito e coesão)
elástica (flambagem), a deformações e recal- são diferentes, a resistência ao deslizamento ao
ques e a vibrações. longo dessa superfície deve ser calculada para
cada trecho, admitindo-se que há ruptura por
As situações de projeto consideradas para as
cisalhamento nos trechos, onde o coeficiente de
análises de estabilidade devem ser definidas,
segurança necessário não é alcançado. Nesse
tendo em consideração:
caso, a resistência do trecho é recalculada, ad-
• as conformações topográficas do local, mitindo coesão nula e um ângulo de atrito, cor-
principalmente na região das ombreiras; respondentes ao valor residual (pós-ruptura).
• os resultados das investigações geológicas O excesso de tensão tangencial não suportado
e geomecânicas; pelo trecho em ruptura é transferido às partes
• as tensões de confinamento pré-existente remanescentes da superfície de deslizamento,
e as pressões de água do subsolo, nas aná- recalculando-se a segurança ao deslizamento
lises de estabilidade envolvendo maciços para cada trecho, e assim sucessivamente, até
rochosos; que se verifiquem os critérios de segurança nos
diferentes trechos (ou a impossibilidade de
• as subpressões, no corpo das estruturas, as
verificar esses critérios).
pressões intersticiais, caso representem a
condição mais severa; Os esforços nos diferentes trechos devem
• as cargas acidentais de projeto (exceto respeitar a compatibilidade de deformações
cargas de equipamento permanente) não entre os diferentes materiais, conforme o nível
devem ser consideradas, sempre que as de solicitação atingido.
forças verticais atuarem como fatores de
Considera-se que a segurança ao deslizamento
estabilidade.
está verificada se

Segurança ao deslizamento
𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁𝑁 𝜙𝜙𝜙𝜙 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶
A verificação das condições de segurança 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹 + 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹
ao deslizamento (escorregamento) deve ser 𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹 = ≥ 1,0  
𝑇𝑇𝑇𝑇
realizada, como antes mencionado, para as
superfícies de menor resistência das estruturas
e respectivas fundações, bem como para as Nesta expressão, representa-se por: FSD – o
superfícies submetidas a tensões críticas e coeficiente de segurança ao deslizamento;
para a interface estrutura-fundação. por FSDϕ – o fator de redução da resistência
Os parâmetros geomecânicos, obtidos através ao atrito; por FSDc – o fator de redução da re-
dos resultados de investigações e ensaios pre- sistência à coesão; por ƩTi e ƩNi – o somatório
liminares, devem ser utilizados nas avaliações das forças tangenciais normais nos diferentes
das condições de segurança ao deslizamento. trechos da superfície de deslizamento; por Ci e

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
105
ϕi – os valores característicos da coesão e do Nesta expressão, representa-se por: FSF – coe-
ângulo de atrito em cada trecho da superfície ficiente de segurança à flutuação; ƩV – soma-
de deslizamento, em análise; e por Ai – a área tório das forças gravitacionais; e ƩU - somatório
efetiva comprimida de cada trecho da superfí- das forças de subpressão.
cie em análise.
Devem ser desprezadas quaisquer contribui-
Os valores característicos de coesão e do ân- ções favoráveis devido à coesão e ao atrito
gulo de atrito interno são valores definidos de entre blocos ou entre a estrutura e a fundação.
forma prudente para cada caso particular, com As forças verticais devem incluir as cargas
base nas respectivas distribuições estatísticas, permanentes mínimas das estruturas, o peso
quando possível. próprio de equipamentos permanentes, se
instalados, e de lastros (água ou aterro) e
No caso de maciços sem coesão, o coeficiente
sistemas de ancoragem, se utilizados durante
de segurança ao deslizamento vem dado pela
determinados estágios da construção. Todas
expressão anterior, com Ʃ Ci Ai = 0.
as cargas acidentais devem ser ignoradas nas
Segurança ao Tombamento verificações de estabilidade.

O coeficiente de segurança ao tombamento, Coeficientes de segurança – valores mínimos


em qualquer direção, é definido como a relação admissíveis
entre o momento estabilizante e o momento
O grau de estabilidade mínimo requerido para
de tombamento, em relação a um ponto ou
as estruturas, em relação aos estados-limite
uma linha efetiva de rotação,
de deslizamento, tombamento e flutuação é
FST = ƩMe / ƩMt definido pelos valores mínimos admissíveis
para os respectivos coeficientes de segurança.
Nesta expressão, representa-se por: FST – o
coeficiente de segurança ao tombamento; Para a segurança ao deslizamento, os fatores
ƩMe – o somatório dos momentos estabi- de redução do coeficiente de atrito (tangente
lizantes sobre a estrutura, devido ao peso do ângulo de atrito) e da coesão (FSDø e FSDc),
próprio da estrutura e às cargas permanentes para as situações de carregamento normal
mínimas, bem como ao peso próprio dos equi- (CCN), excepcional (CCE), limite (CCL) e de
pamentos permanentes, se instalados; ƩMt – construção (CCC), são indicados no Quadro 12.
o somatório dos momentos de tombamento,
devido à atuação de cargas desestabilizantes, Quadro 12. Fatores de redução das resistências de
tais como a pressão hidrostática, a subpres- atrito e coesão.
(Fonte: ELETROBRAS, 2003, Quadro 7.4)
são, os empuxos de terra e as forças devido
aos sismos. Fatores de Casos de carregamento
redução CCN CCE CCL CCC
Na verificação da segurança, em relação ao FSDc 3,0 (4,0) 1,5 (2,0) 1,3 (2,0) 2,0 (2,5)
tombamento da barragem ou de um elemento FSDϕ 1,5 (2,0) 1,1 (1,3) 1,1 (1,3) 1,3 (1,5)
estrutural, não deve ser considerada a coesão
na respectiva superfície de apoio.
A adoção desses valores pressupõe razoável
Segurança à flutuação conhecimento dos parâmetros de resistência
O coeficiente de segurança à flutuação é de- dos materiais envolvidos. Nos casos em que tal
finido como a relação entre o somatório das conhecimento é precário ou os materiais não
forças gravitacionais e o somatório das forças apresentam constância de comportamento,
de subpressão, devem-se adotar os valores entre parênteses.

Os coeficientes de segurança ao tombamento


(FST) e à flutuação (FSF), para as quatro
FSF = ƩV / ƩU

106 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
situações de carregamento (CCN, CCE, CCL e Nos carregamentos excepcionais, limites e de
CCC), são indicados no Quadro 13. construção, admite-se que a resultante possa
estar aplicada fora do núcleo central de inércia.
Quadro 13. Coeficientes de segurança ao tomba- Nesses casos, deve ser refeita a análise de
mento e à flutuação. tensões, considerando uma pressão intersticial
(Fonte: ELETROBRAS, 2003, Quadro 7.5)
ou subpressão integral na zona tracionada,
Coeficientes Casos de carregamento quando eventuais tensões efetivas de tração
de segurança CCN CCE CCL CCC superarem as tensões admissíveis, definidas
Flutuação - para cada caso, sendo nula, entretanto, a
1,3 1,1 1,1 1,2
FSF capacidade de resistência à tração no contato
Tombamento concreto-rocha. A partir dos novos esforços so-
1,5 1,2 1,1 1,3
- FST
licitantes, recalculam-se as tensões normais e
de cisalhamento e os coeficientes de seguran-
ça ao deslizamento, tombamento e flutuação,
5.5.3 Análise de tensões e deformações
se for o caso.
A verificação da segurança, em relação ao Nos carregamentos com aplicação do efeito
estado-limite último de perda de equilíbrio sísmico, deve ser considerado que, devido à
global, deve ser complementada por análises natureza do fenômeno, não haverá aumento
de tensões e deformações, para verificação das da subpressão e da pressão intersticial em
condições de segurança em relação a rupturas zonas eventualmente tracionadas.
localizadas, devido a tensões máximas locali-
zadas (bem como as distribuições de tensões Tensões admissíveis no concreto massa
e respectivos níveis médios), deformações
As tensões admissíveis de compressão e de
excessivas e vibrações (ressonância, defor-
tração são definidas em função da resistência
mações e tensões máximas). Essas análises
característica do concreto à compressão (fck),
devem ser elaboradas para todos os elementos
por intermédio dos coeficientes indicados
estruturais e de fundações, considerando-se os
no Quadro 14 para os diferentes casos de
casos de carregamentos indicados no item 1.5.4.
carregamento.
Critérios detalhados para cada estrutura indivi-
dualmente devem ser estabelecidos durante o Quadro 14. Tensões admissíveis do concreto massa.
desenvolvimento do projeto. (Fonte: ELETROBRAS, 2003, Quadros 7.1 e 7.2)

Caso de Tensão admissível


Nas análises de tensões, devem ser considera-
carregamento à compressão à tração
dos os efeitos da retração e das variações de
CCN 0,50fck 0,050fck
temperatura, bem como as subpressões, onde
CCC 0,55fck 0,055fck
aplicável.
CCE 0,60fck 0,060fck
Na definição do comportamento do concreto, CCL 0,65fck 0,065fck
devem ser levados em consideração os efeitos
de fluência e, em alguns casos, da relaxação.
A resistência característica do concreto à
Para as condições de carregamentos normais, compressão fck, que deve ser especificada no
as seções nas estruturas de concreto massa projeto executivo, corresponde a um valor de-
devem trabalhar à compressão ou com tensões finido de forma prudente, em geral, a partir do
de tração menores que a tensão admissível do valor médio da resistência, obtido em ensaios
concreto. Para as seções nas fundações, não realizados na idade de j dias (fcj, em geral j > 28
serão admitidas tensões de tração, devendo dias). Considerando para uma distribuição es-
a resultante dos esforços solicitantes estar tatística normal, caracterizada pelo coeficiente
aplicada dentro do núcleo central de inércia da de variação Δ, o valor da resistência com 85%
área da base. de probabilidade de ser ultrapassada vem:

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
107
envolvidos. Nos casos em que tal conhecimen-
to é precário ou os materiais não apresentam
𝑓𝑓!" = 𝑓𝑓!" 1 − 0,883𝛿𝛿  
constância de comportamento, devem ser ado-
tados os valores indicados entre parênteses.
Adota-se também, em alguns casos, um valor
da resistência com probabilidade de 95% de 5.6 Dimensionamento e
ser ultrapassado, sendo então a resistência verificação da segurança
média minorada pelo fator (1-1,645 Δ).

Tensões admissíveis nas fundações 5.6.1 Aspectos gerais

A tensão normal máxima admissível na fun- O dimensionamento das estruturas de concre-


dação (σ) não deve ultrapassar a capacidade to massa e das estruturas em concreto armado
de carga da fundação (Rf) minorada por um ou protendido dos órgãos extravasores e de
coeficiente de segurança λ. operação das barragens deve ser feito obede-
cendo às prescrições e normas da ABNT, com-
plementadas, onde necessário, pelas normas
relacionadas no item 1.4. Nos casos em que as
𝑅𝑅!
𝜎𝜎! ≤  =   normas e os padrões citados não se apliquem,
λ
� poderão ser usados critérios estabelecidos por
instituições internacionais reconhecidas, desde
A capacidade de carga do maciço de fundação que previamente aprovados pelo contratante.
deve ser determinada por métodos ade-
quados, mediante critérios que atendam às Estados-limite
condições de ruptura, e às limitações, relativas
As estruturas devem ser dimensionadas para
aos recalques excessivos, prejudiciais ao com-
estados-limite últimos, associados ao colapso
portamento e perfeita utilização da estrutura,
ou a qualquer forma de ruína estrutural, que
e utilizando, como subsídios, os resultados de
determina a paralização do uso da estrutura.
ensaios “in situ” e de laboratório. Os valores
dos coeficientes de segurança recomendados Deve ser dada atenção às verificações de insta-
para os diferentes casos de carregamento são bilidade e efeitos de 2ª ordem, seja para peças
indicados no Quadro 15. isoladas, seja para conjuntos estruturais, onde
esses efeitos forem significativos.

Os efeitos de fadiga devem ser verificados nas


Quadro 15. Coeficientes de segurança recomenda-
estruturas nas quais ocorrem inversões de sinal
dos nas fundações.
(Fonte: ELETROBRAS, 2003, Quadro 7.3) nas tensões, devido a cargas oscilantes.
Caso de carregamento Coeficiente de segurança Os principais estados-limite de utilização
CCN 3,0 (4,0) estão associados à deformação excessiva e à
CCC 2,0 (3,0) fissuração. Admite-se uma abertura de fissuras
CCE 1,5 (2,0) de 0,3 mm para as estruturas, em geral, e de
CCL 1,3 (1,5) 0,2 mm para as zonas em contato com a água,
conforme a NBR-6118/00.

Os valores do coeficiente de segurança indi- As peças ou elementos estruturais sujeitos à


cados pressupõem razoável conhecimento vibração devem ser dimensionados de modo a
dos parâmetros de resistência dos maciços evitar problemas de ressonância mecânica.

108 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
As cargas que possam causar impactos nas Os efeitos da retração e das variações de
estruturas devem ser majoradas pelos coefi- temperatura devem ser considerados na deter-
cientes de ponderação indicados no Quadro minação dos esforços internos, especialmente
16, exceto quando especificado de outra forma: nas estruturas de concreto massa.

No que diz respeito aos esforços externos ati-


Quadro 16. Coeficientes de impacto.
(Fonte: ELETROBRAS, 2003, Tabela 8.2) vos, devem ser considerados:
Coeficientes
Tipo de estruturas
de impacto
• As combinações mais desfavoráveis de
Apoio de máquinas rotativas 1,5
nível de água, a montante e a jusante, bem
Apoio de máquinas leves 1,2 como os correspondentes diagramas de
Cargas móveis: subpressão;
Ver normas da • As cargas variáveis, em intensidade e dire-
Pontes rodoviárias e ferroviárias, exce-
ANBT
to pórticos e pontes rolantes ção, do modo mais desfavorável;
(NBR – 7187)
Em lajes, vigas, pilares e pórticos de
1,1 • As cargas acidentais, uniformemente dis-
edifício
Em fundação de edifícios 1,0
tribuídas ou concentradas, na combinação
Estruturas leves de suporte de eleva-
mais desfavorável em termos de intensida-
2,0
dores e guindastes fixos de, localização, direção e sentido;
Fundações e pilares não esbeltos de
suporte, cargas provenientes de eleva- • As peças e elementos estruturais na região
1,4
dores ou guindastes fixos da fundação e no interior das estruturas,
Plataforma de transformadores e analisados com e sem subpressão;
outras estruturas de suporte de equi-
pamentos que se desloquem sobre 1,1
trilhos
• Os empuxos de terra nas estruturas, con-
Pórticos e pontes rolantes 1,25
siderando a ocorrência de lençol freático,
caso exista;

• Os esforços de ondas no dimensionamento


5.6.2 Análise estrutural
de estruturas, tais como comportas (po-
As ações e as características geométricas e dendo ser desprezados nos estudos das
físicas a serem consideradas na definição dos estruturas em massa);
modelos de análise estrutural de cada estrutu- • Os efeitos das variações de temperatura
ra em particular devem ser selecionadas, tendo nas barragens (de contrafortes, gravidade
em consideração as características específicas aliviada e arco).
de cada uma.

Os efeitos do vento são dispensados na análise Coeficientes de segurança


do comportamento das estruturas de conten-
ção, mas o seu efeito deve ser considerado no Os coeficientes de majoração das cargas e de
dimensionamento de certas estruturas como, minoração das resistências do concreto e do
por exemplo, da cobertura da casa de força. aço são indicados no Quadro 17.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
109
Quadro 17. Coeficientes de segurança.
(Fonte: ELETROBRAS, 2003, Tabela 8.1)

Coeficientes
Caso de carregamento Tipo de estrutura Verificação
γf γc γs
Ausência de Armadura 2,0 - -
a) Estrutura de concreto massa
Necessidade de Armadura
1,4 1,4* 1,15
CCN
b) Estrutura de concreto armado
ou protendido (reticuladas/lami- Estado-limite Último 1,4** 1,4* 1,15
nares) Estado de Utilização 1,0 1,0 1,0
Ausência de Armadura 1,6 1,4* -
a) Estrutura de concreto massa
CCC, Necessidade de Armadura
1,1 1,4* 1,15
CCE,
CCL b) Estrutura de concreto armado
ou protendido (reticuladas/lami-
nares) Estado-limite último 1,1 1,4* 1,15
(*) Para as obras com alto padrão de controle de qualidade do concreto, poder-se-á adotar o γc = 1,3 conforme está
referenciado no subitem 5.4.1 da NBR-6118/00.
(**) Poderão ser observadas as recomendações da NBR – 8681/84.
gf - Coeficiente de majoração das cargas.
gc - Coeficiente de minoração da resistência do concreto.
gs - Coeficiente de minoração da resistência do aço.

5.6.3 Dimensionamento As estruturas em concreto protendido são,


regra geral, mais esbeltas, com maiores vãos
Estruturas em concreto armado e protendido e menor peso, em relação às de concreto ar-
mado convencional, pois são constituídas por
As estruturas de concreto armado são, em ge-
materiais (aço e concreto) de características
ral, estruturas lineares (vigas, pilares, pórticos,
mecânicas superiores.
arcos e grelhas) e estruturas laminares (cascas,
placas e chapas). O dimensionamento das estruturas em concre-
to protendido deve ser feito por verificação dos
O dimensionamento das estruturas reticuladas
estados-limite (último e de utilização), com
e das placas submetidas à flexão deve ser feito
os coeficientes de segurança e minoração, ca-
por verificação dos estados-limite (último e de
racterísticas dos materiais e outros requisitos
utilização), com os coeficientes de segurança
estabelecidos na NBR-7197, NBR-7482, NBR-
e minoração indicados no Quadro 17 e carac-
7483 e demais normas brasileiras da ABNT
terísticas dos materiais e outros requisitos
em vigor (complementadas, se necessário, por
estabelecidos nas normas brasileiras em vigor
outras normas, como indicado no item 1.4).
(complementadas, se necessário, por outras
normas, como indicado no item 1.4). Estruturas em concreto massa e em concreto
compactado a rolo
O dimensionamento das estruturas laminares
de concreto armado submetidas, simultanea- As estruturas de concreto massa são, em geral,
mente, à flexão e a esforços atuantes no plano, estruturas maciças, nas quais os efeitos de
será feito por processos que desconsideram a variações de temperatura, devido ao calor de
resistência à tração do concreto e que admitem hidratação do cimento, assim como outras
a existência de uma deformação positiva na variações, associadas à colocação do con-
direção principal, produzindo fissuras ortogo- creto, são significativos. Essas estruturas são,
nalmente a esta direção e formando campos em geral, construídas em concreto vibrado ou
de compressão entre essas fissuras. compactado a rolo.

110 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Considera-se assegurada a verificação da se- • Concreto e seus materiais constituintes:
gurança dessas estruturas quando os estados propriedades térmicas e propriedades
múltiplos de tensão, devido aos valores de cál- mecânicas;
culo das ações (majorados por coeficiente de • Condições de contorno: condições térmicas
segurança), estiverem no interior da envoltória ambientais regionais, tipos de formas e pra-
de Mohr, correspondente aos valores caracte- zos de desforma;
rísticos da resistência do concreto massa. Não
• Recursos disponíveis: possibilidade de
se dispondo de determinação experimental da
refrigeração do concreto, utilização de po-
envoltória de Mohr, relativa ao concreto massa,
zolana, condições de fabricação, transporte
poderá ser adotada a envoltória de Telemaco
e aplicação, sequência executiva e tempo
Van Langendonck (ELETROBRAS, 2003). de retomada entre camadas, bem como as
Os efeitos das variações de temperatura, inter- condições e tipo de cura.
na e externa, bem como da retração do concre-
to nas estruturas de concreto massa, devem Os cálculos preferencialmente devem ser fei-
ser analisados por meio de testes e estudos tos considerando o fluxo de calor tridirecional.
adequados, bem como por meio de modelos
Poderão ser feitas simplificações, conside-
térmicos.
rando o fluxo uni- ou bidirecional, em função
Os efeitos da fluência do concreto e, eventual- das dimensões da peça em estudo, desconsi-
mente, da relaxação, devem ser devidamente derando o fluxo em determinada direção, cuja
considerados na determinação das tensões dimensão seja superior a 2,5 vezes a menor
e deformações e devidamente ensaiados em dimensão da peça.
corpos de prova em laboratório. Essa verificação deve ser feita para diversas
As estruturas em concreto compactado com idades, ao longo da curva de resfriamento da
estrutura, devendo ser considerado o ganho da
rolo são similares às de concreto massa e
resistência do concreto e, quando for o caso,
devem ser dimensionadas, de acordo com
a minimização dessas tensões, em função da
critérios idênticos.
fluência.
Estudos térmicos de concreto massa
O tempo de retomada entre camadas não deve
No planejamento executivo da obra (cro- ser inferior a três dias e não superior a 21 dias,
nograma executivo, métodos construtivos, admitindo-se sua redução, comprovada em
cálculos de comportamento térmico, inclusive
características das formas e equipamentos
a utilização de formas deslizantes, com subida
disponíveis) devem ser definidas as caracte-
de 20cm por hora.
rísticas das camadas de concretagem, a sua
altura e sequência de colocação, de modo a Nos casos especiais, como nas fundações
permitir um adequado controle da fissuração sobre maciços rochosos ou quando alguma ca-
por tensões de origem térmica. mada permanecer exposta por mais de 21 dias,
a retomada será feita com altura de camada
Estas tensões devem ser determinadas através equivalente à metade da altura anteriormente
de estudos da evolução térmica da massa, por determinada. Estudos específicos poderão
meio de modelos, conforme a lei de Fourier, alterar as idades limite de três e 21 dias.
analisados pelos métodos simplificados tradi-
cionais ou por métodos numéricos, tais como Estruturas executadas com Concreto
pelo método dos elementos finitos. Compactado a Rolo (CCR), com camadas de
concretagens de pequena espessura (~30 cm)
Para tanto, devem ser suficientemente conhe- poderão ser concretadas de forma contínua,
cidos os parâmetros que determinam a evolu- sem necessidade de tempo de espera entre
ção térmica da massa, tais como: camadas.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
111
As condições de lançamento do concreto resistência (à compressão e tração) e de-
devem ser orientadas no sentido de se evitar formabilidade (módulo de deformação e
o aparecimento de fissuras ou trincas, oriun- coeficiente de Poisson).
das das tensões de tração, provocadas pela
Quando forem utilizados agregados, que
retração térmica. Essas condições, a serem
confiram ao concreto valores relativamente
definidas a partir da realização de estudos
elevados de difusibilidade térmica e módulo
térmicos, serão as seguintes: temperatura de
de deformação, bem como valores baixos de
lançamento do concreto, espessura das cama-
capacidade de alongamento, a análise dos
das de concretagem e intervalo de tempo de
execução entre duas camadas superpostas. efeitos térmicos deve ter como diretriz a com-
paração das deformações.
O estudo dos efeitos térmicos deve ser feito
considerando as características térmicas, Sempre que, em estudos da evolução de
mecânicas e elásticas de todos os materiais temperatura, as duas dimensões da estrutura
envolvidos e a geometria da estrutura. forem aproximadamente iguais e menores que
a terceira dimensão, será conveniente que os
Quando for necessária a determinação da estudos da evolução de temperatura levem em
evolução das temperaturas, deslocamentos, consideração fluxos de calor em mais de uma
deformações e tensões ao longo do tempo, direção.
esta deve ser feita por meio da aplicação do
método dos elementos finitos. Para análise de efeitos térmicos, o coeficiente
de segurança deve ser definido como sendo a
Na determinação das tensões e deformações relação entre uma característica resistente do
ao longo do tempo, deve ser considerado o efei- material, seja tensão ou capacidade de alon-
to de fluência. Em relação às tensões, poderá gamento, e o correspondente efeito causado
ser considerado o efeito do peso próprio, como
pela evolução de temperatura.
carregamento combinado ao efeito térmico.
As tensões de tração, decorrentes das defor-
Na análise dos efeitos térmicos devem ser con-
mações térmicas, serão consideradas satis-
siderados os seguintes parâmetros do concreto
fatórias, quando, comparadas à resistência à
e do maciço rochoso de fundação:
tração do concreto, proporcionarem um coefi-
• Relativamente ao concreto: massa especí- ciente de segurança não inferior a 1,10.
fica; características térmicas (condutibili-
dade, calor específico e difusibilidade, va- Os coeficientes de segurança para cada estudo
riáveis com a temperatura e coeficiente de a ser efetuado variarão, de acordo com o grau
expansão variável com a idade); resistência de conhecimento sobre as características do
à compressão e tração e sua evolução com concreto a ser aplicado e com as diretrizes so-
a idade; elevação adiabática de tempe- bre fissuração admissível, impostas à estrutura
ratura ao longo do tempo para diversas em questão.
temperaturas iniciais do concreto; evolução
do módulo de deformação e coeficiente de 5.7 Disposições construtivas
Poisson com a idade; coeficiente de fluência
para diversas idades de carregamento; evo-
5.7.1 Armaduras
lução da capacidade de alongamento com
a idade em ensaio rápido e capacidade de
Cobrimento das armaduras
alongamento em ensaio lento.
• Relativamente ao maciço rochoso de O cobrimento mínimo das armaduras, inclusive
fundação: características térmicas (condu- da armadura de distribuição e dos estribos, é
tibilidade, calor específico, difusibilidade, o indicado no Quadro 18, conforme o tipo de
coeficiente de expansão); massa específica; estrutura e condições de exposição.

112 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


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Quadro 18. Cobrimento mínimo. Armadura contra a retração
(Fonte: ELETROBRAS, 2003, Tabela 8.3)

Serão previstas, quando necessário, arma-


Cobrimento
Tipo de estruturas mínimo duras adicionais para absorver os esforços
(cm) resultantes da retração e/ou da variação de
Estruturas sem risco de incêndio, em temperatura.
ambiente abrigado, sem contato com
o solo
Para as estruturas de concreto armado, nos
Lajes 2,0
casos cobertos pelas normas da ABNT, a ar-
Paredes, vigas e pilares 2,5
madura contra a retração deve ser calculada
Estruturas sujeitas a incêndio Ver NB-503
de acordo com as referidas normas. Nos casos
Estruturas não abrigadas ou em con-
tato com o solo ou submersa
especiais não previstos nas normas da ABNT,
Aço Ø < 16 mm 3,5 devem ser utilizadas armaduras com as carac-
Aço Ø >16 mm 5,0 terísticas seguidamente indicadas:
Estruturas submersas, sujeitas a cor-
7,5 • Lajes expostas, concretadas sobre maciço
rente da água
Estruturas sujeitas a corrente da água rochoso
em alta velocidade (soleira de verte-
douro, etc.) > 12 m/s
10,0 Devem ser consideradas inteiramente fixas
na rocha, somente necessitando ser arma-
da a face superior da laje. Exceto quando
Espaçamento, esperas, emendas e dobra- predominarem outras condições de carre-
mento das barras gamento, deve-se adotar para a armação
da face exposta 0,2% da área da seção
O espaçamento das barras para as estruturas transversal de concreto, armada nas duas
em concreto armado deve atender ao disposto direções, ou a seguinte armação máxima
no subitem 6.3.2 da NBR-6118/00. em cada direção:

O espaçamento das barras para as estruturas


em concreto massa não deve ser inferior a 15 cm. Para lajes expostas a escoamento

Nas juntas de construção horizontais, o compri- ø 20mm cada 20cm


ou ø 25mm cada 25cm
mento máximo das esperas, quando possível,
deve ser igual à altura correspondente a duas Para lajes expostas a subpressão e
camadas de concreto, acrescido do compri- pressão de percolação
mento de uma emenda por trespasse, salvo ø 20mm cada 30cm
em faces adjacentes à superfície de escavação,
Para fundações secas
onde tal limitação não se aplica.
ø 12,5mm cada 30cm
Nas juntas verticais de construção deve-se, em
geral, prever as emendas próximas às juntas. • Paredes executadas contra rocha
As emendas poderão ser do tipo trespasse, As superfícies contra a rocha devem ser
solda ou luva, respeitando-se o subitem 6.3.5 armadas para as tensões de retração,
da NBR-6118/00. decorrentes dos vínculos impostos pela su-
perfície da rocha. Adotar 0,15% da área da
São permitidas as emendas por trespasse nas seção transversal ou, no máximo, uma barra
barras de bitolas 32mm, com comprimentos de diâmetro 20mm, cada 30 cm, em cada
de ancoragem calculados pelas expressões da direção.
NBR-6118/00. A armação na face oposta será calculada
como se não houvesse rocha, exceto nos
Para o dobramento e fixação das barras devem
casos especiais, onde a estrutura está anco-
ser respeitadas as prescrições do subitem
rada na rocha.
6.3.4. da NBR-6118/00.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
113
5.7.2 Drenos sem possibilidade de interligação direta entre a
galeria inferior e a crista (ou galeria superior), a
Os drenos no interior das barragens de con- saída inferior desses drenos deve ser detalha-
creto têm por finalidade interceptar eventuais da, de maneira a se evitar curvas com ângulos
percolações, visando: fechados, devendo-se prever dispositivos ou
• evitar pressões intersticiais elevadas, decor- geometria que facilite a remoção de eventuais
rentes da água de infiltração; obstruções, causadas pela queda de materiais
durante a construção.
• detectar eventuais defeitos de construção
do concreto no final da obra (tais como de-
5.7.3 Juntas
ficiências de vibração, juntas de construção
permeáveis, etc.), para seu reparo antes do
Juntas de construção
enchimento do reservatório;
• detectar, durante a vida útil da barragem, a As juntas de construção em concreto são as
formação de fissuras na parte de montante superfícies endurecidas e rígidas, contra as
dos blocos. quais será lançado concreto fresco, indepen-
dentemente da presença ou não de armaduras.
Usualmente, prevê-se uma linha de furos de
Essas juntas são fechadas (isto é, não existe
drenagem, com diâmetro entre 75 e 200 mm,
nenhuma folga entre as partes), permitindo
a cada três metros entre si, no interior do con-
que a peça seja considerada monolítica.
creto, em blocos de gravidade, ou no interior
das cabeças de montante, em blocos de con- As juntas determinam as etapas de constru-
traforte ou de gravidade-aliviada. Esses drenos ção, limitando o comprimento, a largura e a
devem ficar localizados próximo ao paramento altura das camadas de concretagem, devendo
de montante. O espaçamento, localização ser compatibilizadas com o planejamento exe-
e diâmetro dependem das características cutivo da obra.
geométricas dos blocos e das propriedades do
concreto, especialmente sua permeabilidade e As juntas de construção horizontais são função
resistência. da altura limite das camadas de concretagem,
determinadas de acordo com o planejamento
Esses drenos, cuja localização em relação à executivo da obra (cronograma executivo, mé-
face de montante varia de 6 a 12% do compri- todos construtivos, características das formas
mento total da base, devem se estender desde e equipamentos disponíveis) e do controle da
a fundação até a proximidade da crista, onde a fissuração de origem térmica.
pressão da água é reduzida (usualmente até a
galeria mais próxima da crista), enquanto que Juntas de construção verticais podem também
os drenos de junta entre blocos (ø = 100 a 250 ser necessárias, em função do planejamento e
mm ) devem se estender até a crista dos blocos. sequência construtiva prevista para a estrutura.

Antes do enchimento do reservatório, esses As peças seccionadas por juntas de construção


drenos devem ser submetidos individualmente verticais devem ser verificadas estrutural-
a um teste de pressurização, preenchendo-os mente e, quando necessário, injetadas e/ou
completamente com água, para permitir a armadas convenientemente, de forma a asse-
detecção de eventuais infiltrações, oriundas gurar um comportamento monolítico. Essas
de imperfeições no concreto, condicionadas, juntas, quando sujeitas a pressões de água,
geralmente, à presença de juntas permeáveis devem obrigatoriamente ser protegidas por
entre camadas de concretagem e a fissuras veda-juntas.
internas no concreto, de modo a permitir seu
O tratamento das juntas de construção, hori-
tratamento, antes de se efetuar o enchimento.
zontais ou verticais, visa eliminar da superfície
No caso de barragem com dreno inclinado para do concreto endurecido quaisquer substâncias
a montante (acompanhando o paramento) que prejudiquem a aderência com o concreto

114 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
fresco. Para remover tais elementos, a super- As juntas de dilatação podem também ser
fície do concreto endurecido deve ser tratada utilizadas para separar partes das estruturas
com jatos de água a alta pressão ou jatos de que apresentam comportamentos estruturais
areia, imediatamente antes do lançamento diferenciados (como, por exemplo, mudanças
da camada posterior. Os jatos serão aplicados de geometria). Essas juntas são abertas (existe
com intensidade suficiente para remover ape- folga entre as partes separadas), sendo a aber-
nas as impurezas e a nata de cimento superfi- tura pré-determinada, de maneira a absorver a
cial, sem exposição excessiva dos agregados expansão prevista.
graúdos, para garantir a aderência perfeita
entre as duas camadas de concretagem. Caso As juntas de dilatação devem ser dotadas de
a junta de construção não seja coberta com veda-juntas em suas faces superiores, para
concreto novo, logo após o tratamento acima evitar a entrada de fragmentos sólidos em seu
indicado, o corte da junta deve ser repetido interior, assim como quando estiverem sujeitas
antes do lançamento do novo concreto para a pressões de água.
remover novas contaminações, eventualmente
existentes, especialmente o limo formado pela 5.7.4 Outros dispositivos das juntas
continuidade da cura da camada preparada
anteriormente. Dispositivos de vedação

Juntas de contração Veda-juntas são peças de seção delgada, colo-


cadas numa junta de contração, expansão ou
Essas juntas são criadas nas estruturas de construção, de maneira a impedir a passagem
concreto, de modo a reduzir as tensões de
da água ou, em casos específicos, a entrada de
tração, decorrentes da retração e das variações
fragmentos sólidos no interior das juntas. Os ve-
(internas e/ou externas) de temperatura.
da-juntas são necessários, também, no entorno
O espaçamento deve ser determinado, de de zonas de juntas de contração, que devam ser
forma a atender a funcionalidade da estrutu- injetadas, para confinar a calda de injeção.
ra, mantendo as condições de estabilidade
Os dispositivos de vedação devem ser de PVC,
determinadas em estudos específicos. O espa-
mas podem também ser utilizadas chapas de
çamento entre as juntas de contração, que de-
fine o comprimento dos blocos das estruturas, aço ou cobre.
deve levar em conta, também, a capacidade de Nas juntas de dilatação ou contração, nas quais
produção e de lançamento do concreto. a abertura sofre variações, devem ser utiliza-
As juntas de contração devem, porém, permitir dos dispositivos de vedação de PVC, capazes
a livre movimentação entre as partes, sendo de absorver estas variações. As abas serão
as armaduras interrompidas, e eliminada a dotadas de nervuras que, devidamente envol-
aderência entre o concreto das faces. vidas pelo concreto, dificultam a percolação da
água e melhoram a sua fixação. Esse objetivo
Quando sujeitas a pressões de água, as juntas
pode ser alcançado, também, pela utilização
de contração devem ser dotadas de veda-jun-
de veda-juntas expansíveis, colados às faces
tas. A utilização de veda-juntas pode também
das juntas.
ser necessária em casos específicos, para evi-
tar a entrada de fragmentos sólidos no interior Os dispositivos metálicos de cobre ou aço
das juntas, quando estiverem abertas. são indicados para aplicação em juntas de
construção horizontais, ou em estruturas que
Juntas de dilatação ou expansão
se prestam ao desvio do rio (adufas, túneis,
Essas juntas secionam a estrutura, permitindo etc.), nas quais a utilização de dispositivos de
movimentos de expansão, geralmente ocasio- vedação de PVC não é aconselhável, devido ao
nados por variações térmicas ambientais. fluxo da água.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
115
O número de linhas de dispositivos de vedação a eventuais problemas ocorridos em seu envol-
colocados em uma face depende do nível de vimento com concreto. Após a sua captação,
pressão da água e dos danos que poderão ser a água deve ser direcionada para a galeria de
causados pela eventual passagem de água, drenagem, aliviando, assim, a pressão no inte-
através da junta. rior da junta.

De uma forma geral, é suficiente adotar-se duas Preferencialmente, os drenos de junta devem
linhas de veda-juntas no paramento montante ser retilíneos, de modo a dificultar o seu en-
e, eventualmente, uma no paramento jusante e tupimento durante o período construtivo e,
na face superior da junta. também, a facilitar a sua desobstrução, caso
necessário. Para este último caso, é necessário
As galerias no interior das estruturas de con-
que a extremidade superior dos drenos de junta
creto devem ser protegidas contra percolação
sejam acessíveis, e a sua trajetória ao alcançar
de água nas juntas de contração, tornando-se
a galeria de drenagem não forme ângulos retos,
obrigatório a colocação de veda-juntas contor-
que podem favorecer o entupimento.
nando o seu perímetro.
Injeções entre blocos
É recomendável que o veda-junta seja anco-
rado ou fixado em rocha sã um mínimo de 30 A injeção de juntas de contração com calda
cm, através de block-out aberto no maciço e de cimento, assegurando a transferência de
preenchido com argamassa ou concreto com esforços entre blocos de concreto adjacentes,
agregado graúdo de dimensão máxima carac- permite que a estrutura da barragem, formada
terística de 19 mm. pelos diversos blocos, se comporte como uma
estrutura monolítica.
Para paredes sujeitas a pressões de água, deve
ser avaliada a necessidade ou a conveniência A injeção de juntas de contração longitudinais
da utilização de dispositivos de vedação nas é obrigatória. No entanto, a injeção de juntas
juntas de construção, em função da espessura de contração transversais pode, por vezes, ser
das paredes e das pressões de água. dispensada ou realizada apenas parcialmente.

Chavetas As áreas das juntas a serem injetadas devem


ser delimitadas e vedadas por sistemas de
As chavetas podem ser utilizadas em juntas de veda-juntas, que impeçam a fuga da calda
contração, visando a transferência de esforços durante os serviços de injeção.
entre blocos adjacentes.
Em estruturas de maior porte, a área a ser
A colocação de chavetas em juntas de contra- injetada ao longo da altura das juntas deve ser
ção introduz dificuldades executivas, pelo que subdividida, de modo a facilitar os trabalhos de
deve ser devidamente ponderada a necessida- injeção e evitar a aplicação de pressões eleva-
de da sua utilização. das aos veda-juntas.
Drenos de juntas A injeção das juntas de contração deve ser
executada após o arrefecimento do concreto
Os drenos de juntas, quando empregados,
nos blocos da barragem e, em particular, numa
devem ser utilizados entre as duas linhas de
época fria, de modo a assegurar a abertura má-
veda-juntas instaladas, junto ao paramento de
xima das juntas. Quando é necessário realizar
montante da barragem de concreto.
injeções, numa época em que as temperaturas
Tais drenos, normalmente com diâmetro de do concreto ainda não se apresentam estabili-
cerca de 15 cm, captam a água que passa, zadas, antes do enchimento do reservatório, é
através do veda-junta mais a montante, devido conveniente prever a realização dos trabalhos

116 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
de injeção em mais de uma etapa. Uma outra alteração e fraturamento, da aderência entre
solução pode ser o emprego de sistemas de a barra de aço e a argamassa e, também, da
pós-refrigeração do concreto, devendo no en- aderência entre a argamassa e o maciço.
tanto, analisar-se o efeito da pós-refrigeração
no comportamento térmico do concreto, de Além do dimensionamento do comprimento
modo a evitar a ocorrência de fissuras. da barra de aço, a ser embutida no maciço, no
caso de rocha, deve-se verificar a capacidade
O sistema de injeção deve ser constituído por
do maciço para resistir aos esforços de tração,
tubos de injeção e tubos de respiro. Caso haja
necessidade de diferentes etapas de injeção, o transmitidos pelo conjunto de ancoragens. A
sistema deve ser projetado de forma a permitir superfície resistente será constituída de um
a reutilização dos circuitos de injeção ou prever- cone, com o vértice voltado para o extremo da
se o emprego de circuitos diferentes para cada ancoragem e a geratriz formando um ângulo
etapa de injeção. Em ambos os casos, deve-se com esta direção.
utilizar sistemas de injeção, dotados de válvu-
las especiais, que impeçam o entupimento das Esse ângulo é função das características da
tubulações de injeção e de respiro. rocha e deve ser especificado, a partir de aná-
lises/ensaios geotécnicos. Na falta de dados
A sequência dos trabalhos, bem como as pres-
experimentais, adota-se para o ângulo um
sões de injeção, as caldas e os procedimentos
a adotar, devem ser definidas pelo projeto. valor da ordem de 30o.

As interseções entre as superfícies de ruptura,


5.7.5 Ancoragens
quando se utiliza uma grande quantidade de
Dispositivos de ancoragem são compostos por ancoragens muito próximas uma das outras,
barras de aço dos tipos CA ou CP embutidas no devem ser verificadas.
concreto e/ou chumbadas no maciço rochoso,
com a finalidade de estabilizar maciços rocho- O dimensionamento dos dispositivos de an-
sos ou estabelecer uma continuidade entre coragem será feito em conformidade com a
partes de uma estrutura. NBR-5629 e NBR-6118.

Existem dois tipos de ancoragens, a “ativa”, 5.7.6 Aparelhos de apoio


também chamada de tirante ou protendida, e
a “passiva”, também chamada de chumbador. Os aparelhos de apoio são dispositivos para
A ancoragem passiva ou chumbador é utilizada transmissão de esforços, deformações e des-
quando se deseja restabelecer a continuidade locamentos entre duas estruturas.
entre partes de uma estrutura ou maciço ro-
Os aparelhos de apoio são constituídos de cha-
choso ou estabilizar partes instáveis dos maci-
ços rochosos, sendo aceitável o aparecimento pa de policloropreno (neoprene) e, conforme
de deformações controladas do maciço. as condições de trabalho, poderão ser simples
ou fretados, ou ainda, recobertos com lâminas
A ancoragem ativa ou tirante deve ser utilizada
de politetrafluoretileno (PTFE), denominados
quando, para estabilidade do maciço, torna-se
de apoios deslizantes.
necessário aumentar a força de atrito na junta
sujeita a deslizamento, através do acréscimo O controle de qualidade dos aparelhos de
de força normal.
apoio deve ser realizado, através de ensaios,
O comprimento do embutimento da barra de não só no aparelho completo, como também
aço no maciço é função de suas condições de em seus diversos componentes.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
117
6 ÓRGÃOS
EXTRAVASORES E
DE OPERAÇÃO

Os órgãos extravasores das barragens incluem Em barragens de aterro e enrocamento, o


os vertedouros e os descarregadores de fundo vertedouro deve ser implantado independente
(ou descargas de fundo), devendo evitar-se do corpo da barragem, sendo este em canal ou
que os respectivos circuitos hidráulicos incluam em túnel, devendo garantir-se que a descarga
zonas comuns. e dissipação de energia seja efetuada suficien-
temente afastada do corpo da barragem.
Os órgãos de operação das barragens incluem
as tomadas de água, as casas de força, os Em barragens de concreto, os vertedouros po-
circuitos hidráulicos associados e respectivas dem ser incorporados no corpo da barragem,
restituições. sendo classificados em: superfície, de meio-
-fundo ou de fundo, em função da sua posição
Os órgãos extravasores e de operação das
relativamente ao reservatório.
barragens, em geral estruturas de concreto,
devem respeitar, no seu dimensionamento, as No caso de vertedouros controlados por com-
disposições estruturais indicadas e as disposi- portas, deve garantir-se que o nível máximo
ções, relativas ao comportamento hidráulico, no reservatório, correspondente à cheia de
que constam dos artigos seguintes e, ainda, projeto, considerando uma das comportas na
prever soluções para situações de emergência, posição fechada, não origine o galgamento da
reparações, manutenção e inspeções. barragem.

Atendendo ao seu funcionamento e importân- O dimensionamento do vertedouro deve


cia relativa para a segurança da barragem, tra- apoiar-se em uma análise técnico-econômica
ta-se cada um desses órgãos, separadamente, rigorosa, que considere alternativas, sem e com
nos itens seguintes. comportas e, neste último caso, o número e di-
mensões das comportas mais adequados. Nos
vertedouros controlados por comportas, de-
6.1 Vertedouro
vem ser previstas, no mínimo, duas comportas.

6.1.1 Aspectos gerais No caso de barragens de aterro, o recurso a


comportas ou a túneis em vertedouros só se
O vertedouro tem por finalidade assegurar a justifica quando tal conduza a uma significati-
descarga da cheia de projeto, sem auxílio de va economia.
outros órgãos, assim como a descarga da cheia
Os vãos dos vertedouros com soleira livre ou
de verificação sem galgamento da barragem.
controlados por comportas devem ter dimen-
O vertedouro pode ser de soleira livre ou con- sões amplas, que reduzam o risco de obstrução
trolado por comportas, quer em barragens de por objetos flutuantes de grande dimensão, em
aterro, enrocamento ou de concreto. especial quando as zonas da bacia hidrográfica

118 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
mais próximas do reservatório se apresentem 6.1.2 Disposições de projeto
significativamente florestadas.
Capacidade de descarga
O projeto dos vertedouros deve incluir (NPB,
1993): Escoamento não controlado por comportas

• A justificativa da solução adotada, em A capacidade de descarga da soleira espessa


função do tipo da barragem, das condições do tipo WES, operando como vertedouro livre,
hidrológicas, topográficas, geológicas e pode ser calculada pela seguinte lei geral de
geotécnicas do local, das vazões a serem vazão:
descarregadas e dos condicionamentos
impostos a essas vazões e à sua restituição
a jusante;
𝑄𝑄 = 𝐶𝐶. 𝐿𝐿. 2𝑔𝑔. 𝐻𝐻!/!  
• Os critérios, modelos e métodos de análise,
Nesta expressão representa-se por: Q, a vazão
utilizados no dimensionamento hidráulico,
descarregada (m3/s); C, o coeficiente de va-
podendo ser considerada, quando a ope-
zão; L, a largura efetiva do vertedouro (m); H,
ração o permitir, a reserva adicional de um a carga sobre a crista (m); g, a aceleração da
dado volume do reservatório para amorte- gravidade (m/s2).
cer parte da cheia, e devendo ser tidos em
conta os condicionamentos, quanto ao nível Para vertedouros com paramentos de montan-
máximo permitido no reservatório; te verticais, o coeficiente de vazão (C) não é
influenciado pela profundidade do vertedouro
• Os critérios, modelos e métodos de análise
(P) quando P > 2H. Nos casos em que P <
que presidiram ao dimensionamento dos 2H, verifica-se a influência da profundidade a
vários elementos estruturais; montante, da inclinação da face de montante,
• As medidas para evitar ou controlar deterio- da velocidade de aproximação e do grau de
rações ou obstruções que ponham em risco afogamento a jusante. O coeficiente de vazão,
a estabilidade da obra; em ambos os casos, pode ser avaliado com
base na bibliografia da especialidade, como,
• A descrição dos órgãos de obturação e regu-
por exemplo, USBR (1973) e USACE (1988).
lação e justificativa das soluções adotadas.
Para soleiras com perfis diferentes das do tipo
WES, nomeadamente, em forma de labirinto,
Na Figura 30 apresenta-se o modelo hidráulico
circular, ou leque, ou de forma irregular, as
utilizado no estudo do vertedouro de superfície
leis de vazão são diferentes da apresentada,
e dos descarregadores de meio-fundo de uma
devendo ser consultada a bibliografia especia-
barragem arco. lizada, relativa a esses tipos de vertedouros.

Escoamento controlado por comportas

Para vertedouros com comportas, a largura


efetiva do vertedouro pode ser definida pela
expressão:

𝐿𝐿 = 𝐿𝐿! − 2 𝐾𝐾𝐾𝐾 + 𝑛𝑛. 𝐾𝐾𝐾𝐾 . 𝐻𝐻  

Figura 30. Modelo hidráulico utilizado no estudo do Nesta expressão, representa-se por: L, a largura
vertedouro de superfície e dos descarregadores de efetiva (m); L’, a largura geométrica útil (m); Ka,
meio-fundo de uma barragem em arco. o coeficiente de contração das ombreiras; Kp, o
Fonte: LNEC, EDIA / Banco de Imagens ANA coeficiente de contração dos pilares, podendo

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
119
esses coeficientes ser estimados com base nas Nesta expressão, representa-se por: Q, a va-
indicações da bibliografia especializada; n, o zão descarregada (m3/s); Cd, o coeficiente de
número de pilares; e H, a carga sobre a crista descarga, que pode ser obtido na bibliografia
(m). especializada; G0, a abertura da comporta, de-
finida como a distância mínima entre a borda
A capacidade de descarga do vertedouro deve,
da comporta e a soleira do vertedouro (m); B, a
se necessário, ser verificada em modelo físico.
largura geométrica útil do vertedouro (m); h, a
A capacidade de descarga do vertedouro, carga hidráulica sobre o centro do orifício (m).
quando operando com aberturas parciais
O eixo e a viga de apoio (munhão) das compor-
(Figura 31), pode ser avaliada pela expressão
tas, representados na Figura 31, devem estar
posicionados fora da linha da lâmina de água.

𝑄𝑄 = 𝐶𝐶! 𝐺𝐺! 𝐵𝐵 2𝑔𝑔ℎ  

Figura 31. Eixo e viga de apoio das comportas.


Fonte: ELETROBRAS, 2003, Figura 3.2

120 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
A capacidade de descarga do vertedouro, para 6.2 Descarregador de fundo
diferentes aberturas das comportas, deve ser,
se necessário, verificada em modelo físico. 6.2.1 Aspectos gerais
Localização das comportas
Os descarregadores de fundo (ou descargas de
A localização das comportas sobre a soleira fundo) permitem o rebaixamento do nível do
exerce influência direta sobre as pressões que reservatório, abaixo da crista do vertedouro, o
se estabelecem, ao longo do perfil do verte- que pode constituir uma importante medida de
douro, para operação com aberturas parciais. A segurança (com especial enfoque no primeiro
pressão mínima não deve ser inferior a -2,5 m enchimento), assim como manter uma vazão
de coluna de água e deve ser confirmada nos a jusante (quando é imperativo para abasteci-
estudos em modelo físico, se necessário. mento, irrigação ou outros usos), e ainda a des-
carga de sedimentos finos, que se encontram
Se as comportas ensecadeiras forem po- depositados no reservatório na zona adjacente
sicionadas na região da crista da ogiva do a montante.
vertedouro, devem ser verificadas as pressões
imediatamente a jusante das ranhuras, tendo No caso de barragens de concreto, é usual
em vista a ocorrência de baixas pressões nessa prever-se a sua instalação através do corpo da
região. barragem, enquanto nas barragens de aterro,
os descarregadores são túneis escavados
Calha do Vertedouro no maciço de fundação ou nas margens, ou
condutos preferencialmente instalados em
Em vertedouros de concreto-gravidade, o perfil
trincheiras escavadas no maciço de fundação,
da calha pode ser definido pelas condições de
e não incorporados no aterro.
estabilidade da estrutura.
Os descarregadores de fundo devem ser pro-
Nos vertedouros de encosta, o perfil pode ser
jetados de maneira a permitir a condução da
adaptado ao relevo local. A calha deve ser,
água, através da barragem em condições de
em princípio, retilínea e de seção retangular.
segurança com eficiência hidráulica elevada.
A declividade deve garantir um escoamento
O controle deve ser efetuado através de com-
supercrítico e estável.
portas ou válvulas de regulação. Na restituição
Eventuais variações de largura da calha, estrei- a jusante, deve ser prevista a conveniente dis-
tamentos ou alargamentos, devem ser limita- sipação de energia e minimização dos efeitos
das por inclinações de 1:3F, onde F é o número erosivos.
de Froude do escoamento.
Em barragens com altura superior a 15 m
É recomendável, eventualmente, a verificação (quinze metros) e capacidade total do reser-
hidráulica da calha em modelo físico. vatório superior a 3.000.000 m3 (três milhões
de metros cúbicos), em especial no caso de
Perdas de Carga barragens com dano potencial alto, é recomen-
dável a utilização de descarregadores de fundo
A estimativa das perdas de carga, ao longo da
(descargas de fundo), equipados com duas
face de jusante do vertedouro, é necessária
comportas ou válvulas, controladas por mon-
para se determinar a profundidade do escoa-
tante, uma funcionando como segurança e a
mento, ao longo da calha, e pode ser importan-
outra destinada ao serviço normal de operação
te para o projeto dos dispositivos de dissipação
(RSB, 2007).
de energia.
Do projeto do descarregador de fundo, devem
constar (NPB, 1993):
• A justificativa das soluções adotadas
para o número, localização, acesso e

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
121
dimensionamento desses órgãos, em fun- Formas de entrada
ção do tipo de obra, das vazões a descarre-
As formas de entrada da água devem propor-
gar e das condições topográficas, geológicas
cionar a aceleração progressiva e gradual do
e geotécnicas do local;
fluxo e terão, em geral, superfícies curvas con-
• A justificativa das seções transversais cor-
tínuas, de preferência elípticas ou circulares,
rentes dos descarregadores de fundo, tendo
previstas para manter condições adequadas
em vista a acessibilidade para operações de
de pressão, ao longo das paredes.
manutenção e reparação;
• O cálculo do tempo necessário para o esva- As avaliações da distribuição das pressões
ziamento do reservatório; devem apoiar-se na bibliografia especializada
e, eventualmente, em estudos de modelos
• Os critérios, modelos e métodos de análise
físicos. As condições de vorticidade devem ser
adotados para o dimensionamento estrutu-
verificadas ainda em fase de projeto e, even-
ral desses órgãos;
tualmente, em estudos de modelos físicos.
• A descrição dos órgãos de obturação e regu-
lação (comportas e válvulas) e justificativas Devem ser evitadas pressões negativas que se
das soluções adotadas; traduzam em perigo de cavitação.
• As soluções para a restituição das vazões a
Ranhuras
jusante em condições de segurança;
• As soluções para proteção das entradas A perturbação do fluxo produzida pelas ra-
(grades ou grelhas). nhuras resulta em um abaixamento localizado
da pressão, que deve ser verificada, devido ao
risco de cavitação.
6.2.2 Disposições de projeto
No caso de ranhuras retangulares e ranhuras
Apresentam-se em seguida algumas disposi- com recesso na parede de jusante, o decrés-
ções a atender no projeto e dimensionamento cimo de pressão deve ser avaliado, com base
e dimensionamento dos descarregadores de na bibliografia especializada. Ranhuras com
fundo (ELETROBRAS, 2003). recesso devem ser adotadas, se a pressão re-
sultante for inferior à pressão atmosférica.
Capacidade de descarga
A necessidade de blindagem metálica na região
A avaliação da capacidade de descarga pode da ranhura pode ser avaliada, em função do
ser efetuada, no caso de orifícios controlados abaixamento de pressão. Pressões inferiores
por comportas e válvulas de regulação, pela a -3,0 m de coluna de água indicam a necessi-
expressão dade de blindagem, que dependerá finalmente
da frequência prevista para a operação.
𝑄𝑄 = 𝐶𝐶𝐶𝐶 2𝑔𝑔𝑔𝑔   Órgãos de proteção e operação

A necessidade de grades a montante dos


Nesta expressão, representa-se por: Q, a vazão
descarregadores de fundo depende do tipo de
descarregada (m3/s); C, o coeficiente de des-
controle previsto para o fluxo.
carga, estimado com base nas indicações da
bibliografia especializada; A, a área do orifício A inclusão de válvulas de regulação, do tipo
(m²); e H, a diferença entre o nível de água a jato oco (“Howell-Bunger”), exige cuidados
montante e o nível de água a jusante do dispo- semelhantes aos adotados para as tomadas
sitivo de controle (m). de circuitos hidráulicos de geração de energia.

A capacidade de descarga e as condições do No caso do controle a montante ser feito por


escoamento devem ser verificadas, se neces- meio de comportas de segmento ou compor-
sário, em ensaios de modelo físico. tas deslizantes, a utilização de grades pode

122 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
ser dispensada. Controles intermediários, ou a Bacias de dissipação de energia do tipo roller
jusante para esses tipos de comportas, devem bucket poderão constituir alternativa ade-
prever grades fixas com abertura máxima infe- quada, dependendo de avaliação técnico-e-
rior a 1/3 da mínima dimensão do conduto na conômica e de considerações sobre o maciço
seção das comportas. rochoso de fundação.

Ventilação e aeração No dimensionamento hidráulico das bacias


de dissipação, recomenda-se adotar soluções
A ventilação ampla do fluxo a jusante da sucção com base na experiência do U. S. Bureau of
da comporta, ou válvula de controle, é funda- Reclamation e proceder à verificação dessas
mental para a segurança da operação e a redução soluções, eventualmente, por ensaios em mo-
dos riscos de regimes transitórios indesejáveis, delo físico.
pelo que se deve prever um duto de ventilação.
6.3.2 Disposições de projeto
Deve ser também verificada a necessidade
de utilização de dispositivos de aeração para Apresentam-se, em seguida, algumas dispo-
evitar a cavitação. sições de projeto e dimensionamento dessas
estruturas (USBR, 1973; ELETROBRAS, 2003).
6.3 Estruturas de dissipação de Bacias de dissipação por ressalto
energia
As bacias de dissipação de energia por ressalto
6.3.1 Aspectos gerais podem apresentar geometrias diversas e ser
dotadas ou não de blocos, destinados a me-
O projeto das estruturas, visando a garantir lhorar a eficiência da dissipação de energia.
a segurança da restituição efetuada pelos
A Figura 32 ilustra uma bacia de dissipação do
vertedouros, descargas de fundo e circuitos
tipo II (USBR, 1973).
hidráulicos, deve incluir (NOB, 1993):
Nos casos mais comuns, as bacias apresentam
• A justificativa das soluções para a dissi-
seção transversal retangular e largura constan-
pação da energia, proveniente das des-
te, incluindo:
cargas, e de proteção do leito e margens
do curso de água a jusante contra erosões • blocos de impacto, com o objetivo de que-
inconvenientes; brar a lâmina líquida e promover a dissipa-
ção da energia;
• A previsão das erosões e seu tipo para se
poderem projetar as obras de proteção • soleira terminal, que contribui para fixar o
adequadas, em particular no pé de jusante ressalto no interior da bacia de dissipação de
energia e reduzir o comprimento do ressalto;
da barragem;
• sempre que a velocidade do escoamento a
• A definição das obras de proteção para
montante o permita, blocos de impacto, que
evitar danos significativos na bacia de dissi-
permitem reduzir substancialmente o com-
pação, nas margens e no leito do rio;
primento do ressalto e, consequentemente,
• Os critérios, modelos e métodos de aná- da bacia.
lise que presidiram ao dimensionamento
hidráulico e estrutural da restituição dos A profundidade da bacia deve ser dimensio-
vários órgãos. nada para a vazão de projeto, enquanto o seu
comprimento pode ser otimizado para uma
Soluções com bacias de dissipação por res- enchente de tempo de recorrência inferior à
salto deverão ser utilizadas, sempre que não de projeto, admitindo-se a expulsão do res-
for possível a adoção do defletor em salto de salto para enchentes mais raras; os eventuais
esqui, para a restituição do fluxo do vertedouro danos devem ser justificados por uma análise
ou para o descarregador de fundo a jusante. técnico-econômica.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
123
Figura 32. Bacia de dissipação do Tipo II.
Fonte: USBR, 1973

Bacias de dissipação do tipo roller bucket

A bacia do tipo roller bucket promove a forma-


ção de um turbilhão de grandes dimensões, de
eixo horizontal, onde se verifica a dissipação de
energia do escoamento (Figura 33).

O dimensionamento hidráulico dessas ba-


cias, com ou sem dentes, pode ser efetuado
com base na experiência do U.S. Bureau
of Reclamation, podendo ser dispensáveis
ensaios em modelo físico, desde que se verifi-
quem as seguintes condições:
• não exista funcionamento prolongado com
vazões próximas das de dimensionamento;
• a vazão específica seja inferior a 50 m2/s;
• a velocidade à entrada da concha seja infe-
rior a 22 m/s.

Figura 33. Bacia de dissipação do tipo roller bucket.


Fonte: USBR, 1973

124 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Defletores em salto de esqui A estimativa da erosão máxima produzida
Os defletores em salto de esqui constituem um pela ação de jatos livres pode ser efetuada,
sistema eficiente e econômico para a restitui- por meio de fórmulas empíricas indicadas na
ção das águas a jusante de vertedores e são re- literatura especializada (obtidas com base na
comendados quando as condições hidráulicas, observação de obras e/ou ensaios de modelos
topográficas e geológicas o permitirem. físicos ou instalações experimentais).

A crista do defletor deve estar sempre situada A realização de ensaios em modelo físico
acima do nível de máxima enchente a jusante com fundo móvel, com material solto ou com
do vertedouro, e a curvatura do defletor deve ser material coesivo, permite uma avaliação mais
capaz de definir a orientação do jato efluente, segura das estimativas obtidas por meio de
correspondendo a um raio de curvatura entre 5 fórmulas empíricas.
a 10 vezes a profundidade do escoamento.
6.4 Tomadas de água
O ângulo de saída do defletor com a horizontal
deve ser escolhido de forma a:
6.4.1 Aspectos gerais
• conciliar o lançamento do jato a uma dis-
tância suficiente para garantir a segurança A tomada de água destina-se a captar vazões
da estrutura principal, com o interesse de se do reservatório, devidamente controladas, po-
conseguir a expulsão do ressalto; dendo situar-se no corpo da barragem ou fora
• ter boa definição do jato para vazões peque- dele.
nas e a redução do ângulo de incidência do
jato na bacia de lançamento. As tomadas de água devem ser dimensio-
nadas, em conformidade com as condições
Este ângulo de saída, em princípio, deve variar locais, para satisfazer as finalidades que lhe
entre 10° a 20°, mas sua otimização pode ser estão atribuídas, tais como o abastecimento
objeto de ensaio em modelo físico. público e industrial, a irrigação e a produção hi-
drelétrica. Outros usos, menos frequentes, são
A crista do defletor deve ser bem definida para
o abastecimento de circuitos de refrigeração
minimizar a tendência de pressões negativas,
ou a manutenção de fluxos residuais no leito a
imediatamente a montante da mesma. O ân-
jusante da barragem.
gulo entre a tangente à curva na crista e o pa-
ramento imediatamente a jusante não deve ser As tomadas de água podem ser dos tipos:
inferior a 40°. A distribuição das pressões ao
• através do corpo da barragem, no caso de
longo da curva pode ser avaliada segundo mé-
barragens de concreto;
todos propostos na bibliografia especializada.
• em torre separada do corpo da barragem,
Bacia de lançamento com acesso por passadiço, muito frequente
em barragens de aterro;
O interesse de se efetuar uma pré-escavação da
• em torre de tomada de água adjacente à
bacia de lançamento, proveniente de um verte-
barragem, no caso de barragens de concreto;
douro com salto de esqui, e a extensão dessa
pré-escavação, devem ser avaliados, com base • em estrutura fundada numa das vertentes,
na previsão da magnitude da fossa de erosão frequentemente seguida de túnel;
natural e das consequências dessa erosão. • em estrutura flutuante, principalmente no
caso de tomadas de água temporárias.
As dimensões da fossa de erosão dependem
das características hidráulicas do jato efluente Ilustram-se nas figuras seguintes alguns casos
e, especialmente, das características geome- de tomadas de água. Na Figura 34 apresenta-
cânicas do maciço rochoso na região da bacia se caso de uma tomada de água separada do
de lançamento. corpo da barragem, com acesso por passadiço,
numa barragem de aterro. Em barragens de

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
125
concreto, a Figura 35 representa o caso de vertentes, seguidas de túneis, de uma barragem
uma tomada de água em torre e, na Figura de concreto.
36, o caso de tomadas de água numa das

Figura 34. Tomada de água em torre com acesso, por passadiço, à barragem de aterro. Barragem de Lucré-
cia, RN.
Fonte: Secretaria de Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte, SEMARH-RN / Banco de Imagens ANA

126 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 35. Tomada de água em torre, adjacente à barragem de concreto. Barragem de Ribeiradio, Portugal.
Fonte: Coba, S.A. / Banco de Imagens ANA

Figura 36. Tomadas de água numa das vertentes seguida de túnel. Barragem do Baixo Sabor, Portugal.
Fonte: Coba, S.A. / Banco de Imagens ANA

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Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
127
No projeto da tomada de água devem constar Submergência mínima
(NPB, 1993):
Deve ser evitada a formação de vórtices com
• A justificativa da solução adotada, de acor- arrastamento de ar, sendo fixada a elevação
do com as vazões a derivar, com a deposição do portal de entrada, em função da submer-
de sedimentos, com o tipo de barragem e gência mínima e reduzindo-se a circulação do
com as condições hidrológicas, topográfi- escoamento na área da tomada. O grau de
cas, geológicas, sismológicas e geotécnicas submergência requerido deve ser avaliado com
do local; base na bibliografia especializada.
• Os critérios, modelos e métodos de análise A formação de vórtices desfavoráveis é muito
que presidiram aos dimensionamentos influenciada pela circulação do escoamento
hidráulico e estrutural desse órgão; no canal de aproximação. Assim, o critério de
• As soluções adotadas para a restituição das submergência mínima deve ser considerado
vazões; apenas como uma estimativa preliminar para o
projeto da tomada de água, podendo eventual-
• As soluções para proteção das entradas,
mente ser, a posteriori, verificado em modelo
nomeadamente, grades ou grelhas;
físico.
• As soluções adotadas para atender aos efei-
tos de instabilidade elástica, fendilhamento Perdas de carga
e vibrações provocadas pelo funcionamento
As perdas de carga na tomada de água incluem
dos equipamentos;
a perda nas grades, contínua ao longo da en-
• As soluções para enchimento e esvazia- trada até a seção da comporta e nas ranhuras
mento dos condutos forçados. da comporta.

O cálculo das perdas de carga é dado pela


6.4.2 Disposições de projeto expressão geral:

Apresentam-se, em seguida, algumas disposi- 𝑉𝑉 !


ções que devem ser consideradas no projeto e ℎ! = 𝐾𝐾𝐾𝐾  
! 2𝑔𝑔
dimensionamento das estruturas das tomadas
de água (ELETROBRAS, 2003).
Nesta expressão, representa-se por: ht, as
Geometria perdas de carga localizadas totais (m); V, a ve-
locidade do escoamento na seção da perda de
A tomada de água deve ser projetada de forma
carga (m/s); g, a aceleração da gravidade (m/
a estabelecer uma aceleração progressiva e
s2); e Ki, os coeficientes de perda de carga loca-
gradual do escoamento do reservatório à adu-
lizadas nas diferentes singularidades (grades,
ção, evitando-se os fenômenos de separação
entrada, ranhuras, etc.), obtidos com base em
do escoamento e minimizando-se as perdas de
informações da bibliografia especializada. Em
carga.
particular, o coeficiente de perda de carga nas
Para tomadas com carga menor que 30 m de grades é obtido em função da relação entre as
áreas líquida e bruta das grades e guias, deven-
coluna de água, a velocidade adotada na seção
do ser considerado nos cálculos, por segurança,
bruta das grades deve ser de 1,0 a 1,5 m/s. Para
que a grade se encontra ligeiramente obstruída
tomadas com carga maior que 30 m de coluna
(em princípio, um valor da ordem de 20%).
de água, a velocidade a considerar pode ser de
1,5 a 2,5 m/s. Vibração das grades

Na seção das comportas, a velocidade máxima O escoamento, ao passar através das grades,
não deve ultrapassar 6 m/s. provoca vibrações das barras, de acordo com

128 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
a velocidade de aproximação, a espessura das A velocidade máxima deve ser da ordem de
barras da grade normal ao escoamento e o 2,5 m/s para canais escavados em rocha ou re-
número de Strouhal (variável com as caracte- vestidos em concreto, e de 1,0 m/s para canais
rísticas da seção das barras e da relação entre escavados em solo.
o espaçamento e a espessura das barras). Essa
frequência deve ser diferente (inferior a 1/3) A altura do canal deve ser selecionada em fun-
da frequência natural das barras, a fim de se ção das alturas máximas de água esperadas,
evitar fenômenos de ressonância, que possam adicionando uma folga que não se recomenda
provocar danos ou a própria destruição das inferior a 0,50 m.
grades.
As perdas de carga nos canais de adução
A frequência natural das barras submersas (curvas de remanso) podem ser calculadas,
(função das dimensões das barras e modo de utilizando a equação de Manning-Strickler:
fixação, além das características do aço e da
água), bem como a frequência induzida pelo 1 !/! !/!
escoamento, podem ser estimadas com base 𝑉𝑉 = 𝑅𝑅 𝐼𝐼  
𝑛𝑛
na literatura especializada.
Nesta expressão, representa-se por: V, a velo-
6.5 Circuitos hidráulicos cidade média na seção (m/s); R=A/P, o raio
hidráulico (m), sendo A, a área molhada (m2)
Os circuitos hidráulicos variam de acordo com e P, o perímetro molhado (m); I, a declividade
o fim a que se destinam, a saber, o abasteci- do canal (m/m); e por n, representa-se o coe-
mento para consumo humano e industrial, a ficiente de rugosidade (m-1/3/s) (que pode ser
irrigação, ou a produção hidrelétrica. obtido na literatura especializada, em função
do tipo material do canal).
Em geral, no abastecimento de água para
consumo humano, industrial e irrigação, os 6.5.2 Conduto adutor
circuitos hidráulicos são em conduto e/ou em
canal de adução e, na produção hidrelétrica, Os condutos adutores devem, também, ser di-
em conduto forçado. mensionados, com base em estudo técnico-e-
conômico, objetivando a minimização da soma
Apresentam-se, em seguida, algumas dis-
posições gerais a considerar no projeto dos dos custos da estrutura e das perdas de carga.
circuitos hidráulicos, com especial enfoque Em princípio, os condutos adutores devem ser
para os circuitos para a produção hidrelétrica dimensionados para a vazão máxima prevista
(ELETROBRAS, 2003). de projeto. As velocidades máximas do escoa-
mento devem ser da ordem de 2,5 m/s para
6.5.1 Canal de adução
túneis não revestidos, de 3,0 m/s para túneis
O dimensionamento dos canais de adução revestidos com concreto projetado e de 4,5 m/s
deve apoiar-se em estudo técnico-econômico, para túneis revestidos com concreto estrutural.
objetivando a minimização da soma dos custos
No caso de condutos forçados para casas de
da estrutura e das perdas de carga.
força, o diâmetro do conduto deve, também,
Em princípio, a seção do canal deve ser dimen- apoiar-se em estudo técnico-econômico, de
sionada para a vazão máxima prevista, con- modo a minimizar a soma do custo do conduto
siderando o reservatório em seu nível mínimo e do valor atualizado líquido da energia perdida
operacional, e a inclinação do canal deve ser para turbinamento, limitando-se as velocida-
escolhida de forma a se ter um escoamento des máximas a 7 m/s em condutos revestidos
subcrítico (controlado por jusante). de concreto e 8 m/s em condutos de aço.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
129
A perda de carga total ao longo dos circuitos O golpe de aríete corresponde às rápidas
hidráulicos inclui as perdas localizadas e as oscilações da pressão, em torno da pressão
perdas contínuas. normal, que se desenvolvem nos condutos sob
pressão, quando ocorrem variações bruscas
As perdas de carga contínuas poderão ser
da vazão (fecho ou abertura da válvula da
calculadas por intermédio da fórmula de
turbina).
Darcy-Weisbach:
Assim, o conduto forçado deve ser projetado,
de modo a resistir, em cada seção:
𝐿𝐿 𝑉𝑉 !
ℎ! = 𝑓𝑓 .   • à pressão interna, correspondente ao má-
𝐷𝐷 2𝑔𝑔
ximo golpe de aríete positivo, causado pela
interrupção da vazão na seção da válvula da
Nesta expressão, representa-se por: hf, a perda turbina (que não deve ultrapassar 50% da
de carga contínua (m); L, o comprimento do carga estática do reservatório);
conduto (m); V, a velocidade média do escoa- • à não ocorrência de pressões negativas em
mento no conduto (m/s); g, a aceleração da qualquer ponto do conduto, devido ao golpe
gravidade (m/s2); f, o coeficiente universal de de aríete negativo, causado pela abertura
perda de carga, calculado pela expressão de brusca das válvulas ou resultante da flutua-
Colebrook-White: ção, que se segue ao golpe positivo.

1 2𝜀𝜀 2,51
= −2𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 +   As variações de pressão devido ao golpe de
𝑓𝑓 𝐷𝐷 𝑅𝑅! 𝑓𝑓
aríete são dadas por:

Sendo Re, o número de Reynolds e ε a rugosida-


de das paredes do conduto (m), obtida a partir 𝑎𝑎∆𝑉𝑉
ℎ!"# =  
da bibliografia especializada, em função do 𝑔𝑔
material do conduto;
Representando-se nesta expressão por hmax, a
As perdas de carga localizadas, decorrentes variação de pressão em altura de água (m); a,
de singularidades (tais como curvaturas e a celeridade da onda de pressão (m/s); ΔV, a
contrações), obtidas a partir dos respectivos diferença entre as velocidades do escoamento
coeficientes Ki (indicados na bibliografia normal e correspondente à variação da vazão
especializada), somam-se, de acordo com a (m/s); e g, a aceleração da gravidade (m/s2).
expressão:
Essas variações de pressão diminuem, quanto
menor for a relação entre o tempo da variação
𝑉𝑉 !
ℎ! = 𝐾𝐾!   da vazão e o tempo crítico do conduto forçado,
2𝑔𝑔
definido como o tempo que a onda de pressão
Nesta expressão, apresenta-se por: hla perdas leva para percorrer todo o conduto, de compri-
de carga localizadas (m); por Ki os respectivos mento (L), desde o dispositivo de fechamento
coeficientes de perda de carga; e V, a velocida- até o reservatório, e retornar ao seu local de
de média do escoamento (m/s). início, estimado por:

Fenômenos transitórios podem ocorrer em


escoamentos de diferentes tipos, mas são os
que se verificam em escoamentos sob pressão
2𝐿𝐿
𝑇𝑇! =  
(condutos forçados) que são, em regra, os mais 𝑎𝑎
comuns em circuitos de geração em barragens.
Nesta expressão, representa-se por: Tc, o
tempo crítico do conduto forçado (s); L, o

130 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
comprimento do conduto forçado (m); e a, a prever a abertura rápida de zero à plena
celeridade da onda de pressão (m/s). vazão, considerando o nível mínimo normal
do reservatório;
O tempo de fechamento da turbina é, em geral,
superior ao tempo crítico do conduto forçado, • No caso de usina em sistema interligado,
mas pode existir a possibilidade de um fecha- responsável por menos de 40% da carga,
mento, a partir de uma abertura parcial, em um o dimensionamento deve prever a abertura
tempo praticamente igual ao tempo crítico. rápida de 50 a 100% da vazão máxima,
Assim, o golpe de aríete deve ser calculado, considerando o nível mínimo normal do
também, para fechamentos parciais, no senti- reservatório.
do de definir a máxima sobrepressão a que o
Operação em sistema interligado
conduto poderá estar submetido.
Os problemas relativos ao golpe de aríete e à
A celeridade da onda de pressão varia em
regulação da frequência dos grupos turbina-
função das características geométricas e de
-gerador são complexos, com repercussões
deformabilidade do conduto forçado, e do tipo
econômicas conflitantes e difíceis de avaliar.
de material e do apoio no maciço rochoso, no
caso de condutos enterrados. Em geral, quanto maior a inércia do grupo,
melhor a estabilidade do sistema e as condi-
No estudo do golpe de aríete podem ser usados
ções de regulação. No entanto, um acréscimo
métodos simplificados ou métodos computa-
de inércia, com relação ao mínimo exigido
cionais de análise numérica.
pelas características da máquina, representa
Chaminé de equilíbrio um aumento de custo (do próprio gerador, de
construção civil e dos equipamentos de carga
A diminuição do comprimento do conduto for- e manuseio).
çado com relação ao desnível do circuito, por
meio da utilização de chaminé de equilíbrio, Circuitos hidráulicos mais curtos, resultantes
contribui para a redução do golpe de aríete no de uma chaminé de equilíbrio, correspondem a
conduto e para atender às exigências da regu- menores golpes de aríete e menor necessidade
lação de frequência dos grupos motores. de inércia girante para uma dada especificação
de constância da frequência.
A utilização de chaminé de equilíbrio deve ser
adotada, se o correspondente efeito de redu- Aos golpes de aríete estão ligadas sobrevelo-
ção do golpe de aríete resultar em uma alter- cidades decorrentes do excesso momentâneo
nativa “circuito hidráulico de adução - turbina” de energia hidráulica resultante da maior
mais econômica, ou para atender as limitações queda, com o correspondente prejuízo para as
de sobrevelocidade exigidas pela regulação condições de regulação.
dos grupos. Em grandes turbinas de baixa queda com con-
A chaminé deve ser dimensionada para a dutos forçados curtos, o tempo de fechamento
hipótese de rejeição rápida da vazão máxima, do distribuidor pode ser limitado pela condição
correspondente ao desligamento total do sis- de não ruptura da coluna de água no tubo de
tema, quando em plena carga, para os níveis sucção. Fechamentos muitos rápidos podem,
máximo normal (oscilação positiva) e mínimo neste caso, resultar no rompimento da coluna
normal (oscilação negativa) do reservatório. de água, ao qual se segue um golpe positivo
de pressão que age sobre a turbina e as pás
O dimensionamento para manobras de admis- diretrizes, a partir de jusante.
são de água será definido, em função de:
Essas situações devem ser analisadas cuida-
• No caso de uma usina isolada ou estação de dosamente na fase de projeto, sendo que para
bombeamento, ou atendendo mais do que tal deve-se recorrer à literatura especializada.
40% do sistema, o dimensionamento deve

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
131
6.5.3 Equipamentos de regulação de A influência de eventuais oscilações do nível
vazões e de obturação de água, decorrentes do escoamento do verte-
douro, deve, eventualmente, ser analisada em
O projeto dos equipamentos para regulação de modelo físico.
vazões e obturação dos órgãos extravasores e
de operação deve incluir:
6.6 Outros problemas
• A justificativa dos equipamentos de regu- hidráulicos
lação e de obturação adotados, em função
do tipo da barragem a que se destinam e Na operação de barragens ocorrem, ainda, por
das características do local onde vão atuar, vezes, outros problemas hidráulicos, a saber:
bem como a indicação das leis de abertura e ondas estacionárias de frente abrupta; emul-
fechamento das comportas; sionamento de ar; e erosões, em especial por
• As infraestruturas que garantam um fácil cavitação e abrasão por sólidos.
acesso aos mecanismos de manobra dos
Apresenta-se, em seguida, uma breve descri-
equipamentos de obturação e regulação,
ção desses problemas, devendo ser consultada
devendo, em particular, ser garantido o
a literatura especializada para um desenvolvi-
acesso a estruturas situadas no reservatório,
mento mais aprofundado.
que contenham tais mecanismos por meio
de passadiços;
6.6.1 Ondas estacionárias de frente
• A previsão de situações de funcionamento abrupta
para cenários de incidente e acidente, tais
como avarias, bloqueios, dificuldades de As ondas estacionárias de frente abrupta,
acesso e rupturas de comportas. também designadas por ondas transversais
oblíquas, são perturbações que ocorrem nos
6.5.4 Canal de fuga escoamentos em regime supercrítico, devido
a alterações da seção transversal do canal
O dimensionamento do canal de fuga deve (ICOLD, 1992, Figura 37).
ser feito com base em estudo econômico,
comparando as perdas na geração com os
custos de escavação. Nesses estudos consi-
dera-se, em geral, uma velocidade máxima
da ordem de 2 m/s.

132 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Figura 37. Formação de ondas estacionárias de frente abrupta na barragem de Itaipu. Vista
lateral e vista de montante.
Fonte: SBB, Engenharia / Banco de Imagens ANA

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Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
133
Tais alterações podem decorrer de pilares 6.6.2 Emulsionamento de ar
inseridos na soleira descarregadora e de va-
riações de alinhamento das paredes da calha O emulsionamento de ar pode ocorrer em es-
vertedora. As variações de alinhamento devem coamentos com velocidade elevada, ao longo
ser evitadas ou minoradas, mas a inserção de de calhas vertedoras. Devido à intensidade da
pilares é indispensável em vertedores com
turbulência gerada, ocorrem, ocasionalmente,
comportas.
velocidades com direção e magnitude que
O aparecimento dessas ondas, cuja posição permitem a projeção de gotas de água que,
se mantém, no caso de regimes permanentes ao cair, arrastam bolhas de ar para o seio
(escoamentos com vazão constante em cada do escoamento.
seção), pode introduzir variações significativas
da altura do escoamento e distribuições trans- Para que a intensidade de turbulência neces-
versais de vazão não uniformes, que devem ser sária ao aparecimento desse processo ocorra,
consideradas no dimensionamento da altura é necessário que a camada-limite do escoa-
das paredes da calha vertedora e dos órgãos mento (zona do escoamento perturbada pela
de dissipação de energia a jusante. fronteira sólida) se desenvolva, passando a
O estudo desse tipo de ondas e das soluções ocupar toda a altura do escoamento (aflora-
para a sua atenuação é, geralmente, efetua- mento da camada-limite). A partir daí, pode
do por meio de ensaios em modelos físicos. iniciar-se o processo de emulsionamento de
Nesses ensaios, pode ser estudada a geometria ar, sendo o regime uniforme (escoamento em
do vertedouro, que conduza à atenuação das que a quantidade de ar emulsionado iguala a
ondas, que mais condicionam as alturas das
quantidade de ar libertado) atingido mais a
paredes das calhas vertedoras, bem como a
jusante, após ocorrência de uma zona de tran-
distribuição transversal da vazão, embora não
sição (Figura 38).
seja possível a total eliminação dessas ondas
para todos os valores da vazão.

Figura 38. Regimes de escoamento a jusante de uma comporta.


Fonte: INAG, 2001

134 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
O afloramento da camada-limite pode não 6.6.3 Erosão por cavitação
ocorrer numa mesma seção para toda a largura
transversal do vertedouro, devido às irregulari- A cavitação em escoamentos de líquidos con-
dades da superfície e a eventuais singularida- siste na formação e subsequente colapso de
des, como é o caso dos pilares das comportas. cavidades ou bolhas preenchidas com vapor.
Essas bolhas formam-se nas zonas do líquido
O escoamento em regime uniforme pode tam- em que a pressão local desce até atingir a
bém não ser atingido, caso o vertedouro não tensão do vapor, e o seu colapso tem lugar
apresente comprimento suficiente. quando são transportadas para zonas em que
a pressão local é superior à tensão do vapor.
O emulsionamento de ar tem como principal
inconveniente o aumento da altura do escoa- O colapso das bolhas dá origem à criação de
mento e o consequente aumento da altura das pressões localizadas muito elevadas de que re-
paredes da calha vertedora. No entanto, o cál- sultam flutuações de pressão, acompanhadas
culo das alturas de água em vertedores é fre- de vibração e ruído. Quando este colapso tem
quentemente efetuado de modo simplificado, lugar junto das superfícies das paredes que
considerando apenas o escoamento de água, limitam o escoamento, estas ficam submeti-
sendo posteriormente adotada uma folga, para das a forças dinâmicas localizadas, de grande
intensidade e frequência, que podem originar a
ter em consideração o emulsionamento de ar,
erosão do concreto.
além de outros aspectos. No caso de obras
especialmente importantes, pode recorrer-se O aspecto típico das superfícies de concreto
à literatura especializada para estimar a quan- erodidas pela ação da cavitação é o de uma su-
tidade de ar emulsionado e a correspondente perfície esponjosa, devido ao arranque e à fratura
altura de escoamento. de elementos dos agregados (Figura 39).

Figura 39. Exemplo de cavitação no concreto por tipo jato cavitante.


Fonte: SBB, Engenharia / Banco de Imagens ANA

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
135
Nos órgãos extravasores, de segurança de O estágio e os efeitos de cavitação são previsí-
barragens, a diminuição local da pressão veis, através do valor que assume o parâmetro
resulta, mais frequentemente, de flutuações de cavitação, dado por
turbulentas de pressão, provocadas por vór-
tices originados por descontinuidades das
𝑝𝑝 − 𝑝𝑝!
superfícies. Essas descontinuidades podem 𝜎𝜎 =  
𝑉𝑉 !
estar associadas a: 2𝑔𝑔
• irregularidades das superfícies que definem
Nesta expressão, representa-se por: σ, o
as fronteiras do escoamento, resultantes de
parâmetro de cavitação (adimensional); p, a
deficiente desempenamento dos moldes, pressão absoluta num ponto fora da cavitação,
ou da presença de pedaços de argamassa, expressa em altura de água (m); pv, a pressão
incrustações de carbonato de cálcio, arma- do vapor no interior das bolhas, que usualmen-
duras saídas do concreto ou fissuras; te se toma igual à tensão do vapor de água à
• a elementos estruturais, tais como ranhuras, temperatura a que esta se encontra, expressa
em altura de água (m); V, a velocidade do
juntas de dilatação, blocos de queda e de
escoamento (m/s); e g, a aceleração da gravi-
amortecimento em bacias de dissipação de
dade (m/s2).
energia e blocos dispersores de saltos de
esqui de saída. O valor crítico do parâmetro σ, a partir do qual
se verifica o início da cavitação em diversas es-
truturas hidráulicas, e para diferentes situações
São relativamente numerosos os casos em que de funcionamento, pode ser encontrado na
o concreto das superfícies dos órgãos de se- literatura especializada e/ou pode ser obtido
gurança de barragens têm sofrido danos, mais em ensaios de modelos físicos.
ou menos importantes, por ação da cavitação.
Os tipos de irregularidades das superfícies de
Em especial, por exemplo, tem-se a erosão nos concreto suscetíveis de provocar erosão por
blocos de queda e de amortecimento de bacias cavitação e as zonas a jusante das irregularida-
de dissipação (principalmente os últimos), bem des, em que esta se verifica, são indicadas na
como nos blocos dispersores de saltos de esqui. Figura 40.

Figura 40. Tipos de irregularidades de superfícies de concreto e zonas de erosão por cavitação.
Fonte: INAG, 2001

136 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
A medida mais frequente para proteção das su- colapso das bolhas, evitando ou reduzindo a
perfícies de concreto dos órgãos de descarga, erosão por cavitação.
submetidos a escoamentos em superfície livre
Nos trechos dos órgãos de descarga com es-
com velocidades elevadas, contra a erosão por
coamento em pressão, a erosão por cavitação
cavitação provocada por irregularidades, tem
pode ser evitada, em muitos casos, mediante a
sido a adoção de especificações rigorosas para
fixação de seção transversal adequada para o
o acabamento dessas superfícies.
conduto. Aumentando-se a seção do conduto,
Por exemplo, as especificações para acaba- reduz-se a velocidade e, consequentemente,
mento das superfícies de concreto adotadas aumenta-se a pressão. Esses aspectos conju-
pelo USBR (USBR, 1984) estabelecem que: gam-se no sentido favorável do não apareci-
• os ressaltos (degraus) ou rebaixos (depres- mento da cavitação.
sões) sejam limitados a 3,2 mm e a 6,4 mm,
respectivamente, dependendo se a superfí-
6.6.4 Abrasão por sólidos
cie é executada com forma, ou não, e se a
A ação repetida de blocos de rocha, ou areias,
irregularidade é transversal ou no sentido do
conduzidos pelo escoamento contra as super-
escoamento;
fícies do concreto, pode originar a abrasão des-
• quando a irregularidade se localiza a jusante sas superfícies. No caso de bacias de dissipação
de uma comporta, ela deve ser totalmente
de energia por ressalto, pode ser verificada a
removida;
abrasão das soleiras e muros, devido a elemen-
• todas as irregularidades não aceitáveis tos sólidos que se podem introduzir nas bacias
devem ser removidas ou reduzidas a uma por efeito de correntes de retorno a jusante ou
dimensão adequada por meio de esme- por deslizamento, a partir das encostas laterais
rilhamento em chanfro. As declividades (pelo que, para prevenir tal ocorrência, são
devem ser inferiores a (20H:1V), (50H):1V) necessárias bermas adequadas, por detrás dos
e (100H:1V) para velocidades de (12 a 27) muros laterais).
m/s, (27 a 36) m/s e maiores que 36 m/s,
respectivamente. A abrasão também pode ser verificada em dis-
sipadores de energia do tipo roller-bucket, pe-
As condições acima referidas são, muitas ve- rante uma distribuição do caudal não uniforme
zes, difíceis de executar em obra. em largura (devido a aberturas assimétricas de
Para os trechos mais vulneráveis das superfícies, comportas) que provoque correntes de retorno.
podem ser utilizados materiais mais resistentes, A abrasão do concreto pode ainda ocorrer em
tais como concretos especiais (em substitui- estruturas de outros órgãos extravasores e de
ção a blindagens em aço, até recentemente operação, tais como em vertedores e descarrega-
considerada por alguns especialistas a melhor dores de fundo, especialmente durante as cheias,
solução construtiva, embora de alto custo e devido à ação dos sedimentos, provenientes de
impraticável em superfícies de grande área). No reservatórios operados a “fio-de-água”.
entanto, considerando as dificuldades executi-
vas de concretos especiais em grandes áreas, a O controle dessas erosões pode ser feito por
alternativa frequentemente mais adequada e proteção do concreto por meio de argamassas,
mais econômica é a aeração da veia líquida. pinturas à base de resinas epóxi, concreto com
fibras de aço, ou a utilização de impregnação
A aeração consiste na criação de uma des-
de polímeros.
continuidade (ranhura, defletor ou degrau) na
soleira ou na parede que origina, sob a lâmina Observa-se ainda que as superfícies de concre-
líquida em escoamento, uma cavidade posta to atacadas por abrasão apresentam-se, em
em contato com a atmosfera, para o qual o ar geral, lisas, diferente do aspecto característico
é aspirado. Esse ar, depois de arrastado para o esponjoso que apresentam as superfícies ero-
interior do escoamento, amortece o efeito de didas por cavitação.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
137
7 RESERVATÓRIO
E ÁREA A JUSANTE

7.1 Aspectos gerais • O impacto produzido pelo reservatório nos


seus variados aspectos, designadamente
A planta do reservatório, em uma escala ade- ambiental, ecológico, climático, hidrológico
quada, bem como o cálculo das superfícies e histórico-cultural;
inundadas e dos volumes armazenados e o • O corte de árvores e desmatamento da área
traçado das curvas respectivas, devem ser do reservatório;
incluídos no projeto, assim como:
• Os requisitos relativos às características da
• Os limites da zona de proteção do reserva- água do reservatório.
tório e os condicionamentos a observar na
Na Figura 41 apresentam-se, como exemplo,
construção de edifícios, no estabelecimento
as curvas de áreas inundadas e de volumes
de indústrias e no exercício de atividades
armazenados de um reservatório.
nessa zona;
• As utilizações secundárias compatíveis com
as finalidades principais do reservatório e as
condições em que podem ser exercidas;

Área inundada (km²)

0,20 0,18 0,15 0,13 0,10 0,08 0,05 0,03 0,00


1320 1320

1310 1310

1300 Volume 1300


armazenado
Cota (m)

Área
1290 inundada 1290

1280 1280

1270 1270

1260 1260
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Volume armazenado (hm³)

Figura 41. Exemplo de curvas de áreas inundadas e volumes armazenados de um


reservatório.
Fonte: COBA, S.A.

138 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Os estudos hidrológicos indicados no item 3.2 O estudo deve ser efetuado admitindo valores
devem abranger a área do reservatório e, com da rugosidade do leito e das margens estima-
especial atenção, as formações mais permeá- dos, com base na literatura especializada (que
veis, solúveis ou erodíveis, de modo a permitir devem ser posteriormente aferidos, a partir de
fazer uma previsão das vazões perdidas por perfis ou níveis de água medidos no próprio rio,
infiltração, inclusive para vales colaterais, e para condições de vazão conhecidas) e resol-
tomar as medidas necessárias para evitar ou vendo numericamente a equação das curvas
diminuir essas perdas. de remanso.

O projeto deve ainda incluir estudos relativos O espaçamento das observações linimétricas e
ao reservatório e à área a jusante, tais como: dos levantamentos das seções topobatimétri-
• A estabilidade das margens, incluindo me- cas deve ser definido para cada caso.
didas de drenagem, aplicação de tirantes
ou chumbadores, e desmonte de blocos de
7.3 Estudos de vida útil do
rocha ou de zonas instáveis, que se conside-
reservatório
rem necessárias para garantir a segurança;
• O perfil da linha de água, quer a montante Quando o assoreamento não permite uma
quer a jusante da seção da barragem; operação adequada do reservatório, a sua vida
• O assoreamento do reservatório, com base útil pode ser considerada terminada.
na avaliação da quantidade de materiais
Além da perda da capacidade do reservatório,
sólidos transportados pela água em sus-
pensão e por arrastamento; a deposição de sedimentos dificulta a navega-
ção, origina deslocamento da área de remanso
• O regime de ventos, visando a avaliação das
para montante e enchentes mais frequentes
ondas e fixação da borda livre;
e, ainda, uma redução gradual da geração de
• A previsão das perdas por evaporação.
energia; dificuldades de operação da tomada
• O comportamento do lençol freático no de água, das válvulas de descarga e das com-
entorno do reservatório e, se necessário, portas; e danos nas turbinas, por abrasão.
monitoramento em locais onde existirem
bens a serem atingidos. Apresenta, ainda, efeitos ecológicos de erosão
nas margens dos reservatórios, erosão do de-
Alguns aspectos a se ter em conta na elabora-
pósito formado e efeitos a jusante da barragem.
ção destes estudos são em seguida indicados
(ELETROBRAS, 2003). Os estudos devem apoiar-se num conjunto de
informações obtidas, tais como:
7.2 Estudos de remanso • pelo levantamento das condições de
erosão da bacia hidrográfica (uso do solo,
O estudo do perfil da linha de água a montante desmatamento, tipo e cobertura do solo,
da seção da barragem deve ser efetuado, inclinação das encostas, etc.), bem como
visando definir a área de inundação do reserva- dos postos sedimentométricos existentes
tório, as interferências sobre obras existentes ou desativados;
e as condições de escavação do canal de res-
• pela análise dos estudos existentes sobre o
tituição de eventuais usinas nas extremidades
tema, para a bacia, e pela coleta de dados
superiores do reservatório.
hidrológicos e sedimentológicos necessários
O estudo do perfil da linha de água a jusante (séries de vazões líquidas e de descarga
visa a verificação da extrapolação da curva- sólida total, granulometria do sedimento em
chave do canal de restituição. suspensão e do leito, etc.).

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
139
Os diferentes estudos que poderão ser efetua- 7.4 Qualidade da água para
dos incluem: consumo humano
• estimativas do tempo de assoreamento do
A qualidade da água contida num reservatório
reservatório (total e do volume morto);
não é uniforme em profundidade, verificando-
• avaliação das alturas de depósito no pé da se uma estratificação térmica, que corresponde
barragem e na soleira da tomada de água, a uma estratificação densimétrica e, também,
bem como a distribuição de sedimentos no a uma estratificação da qualidade da água.
reservatório para períodos de tempo consi-
De um modo geral, podem ser consideradas
derados adequados;
nos reservatórios três zonas na distribuição de
• curvas cota x área x volume (Figura 41) ori- temperaturas em profundidade, designada-
ginais e com o reservatório assoreado, para mente: uma zona superior (15 a 20 m), onde
vários períodos de tempo, e porcentagem se faz sentir a influência da luz solar e do ar à
de assoreamento no reservatório para os superfície (epilímnio), uma zona intermediária
mesmos períodos; de transição (metalímnio); e a zona inferior
• quantidade de sedimento depositado no do fundo do reservatório, onde a influência
volume para controle de cheias; da luz solar e do ar é praticamente inexistente
(hipolímnio).
• declividade da camada de topo e da cama-
da frontal do depósito do delta adjacente à Na zona superior do reservatório, a temperatura
barragem; da água acompanha, aproximadamente, as va-
• efeitos das grandes enchentes e o transpor- riações sazonais da temperatura do ar, e a água
apresenta boa qualidade, devido à aeração a
te de sedimentos;
partir da superfície, à elevada concentração de
• previsão dos efeitos de erosão no canal de
oxigênio dissolvido, à sedimentação das partí-
jusante da barragem e efeitos ambientais culas em suspensão, à baixa carga bacteriana,
decorrentes; em resultado da penetração da luz solar.
• remanso do reservatório, considerando o
Na zona intermédia, verifica-se uma apreciável
sedimento depositado.
variação da temperatura, bem como a redução
Para o controle do assoreamento de reservató- da velocidade de sedimentação das partículas
rios podem ser adotadas medidas preventivas, em suspensão, o que origina um aumento da
caso o assoreamento seja um problema, den- carga orgânica e de bactérias e uma acentuada
tro do dobro do tempo da vida útil econômica redução do oxigênio dissolvido, diminuindo,
do aproveitamento, assim como medidas portanto, a qualidade da água.
corretivas. Na zona inferior, junto ao fundo do reservatório,
As medidas preventivas poderão ser efetiva- não se verificam, praticamente, significativas
variações sazonais da temperatura, e não exis-
das, prevendo-se descarregadores de fundo
tem condições de reaeração para reposição
e desarenadores, adequadamente posiciona-
do oxigênio consumido pela decomposição
dos. O controle corretivo do assoreamento é
da matéria orgânica, pelo que os teores de
feito na fase de operação do aproveitamento.
oxigênio são bastante baixos, e a água não
A manutenção da vegetação ciliar do reser- tem qualidade adequada para abastecimento
vatório e dos cursos de água, bem como o público.
reflorestamento e o manejo adequado de Assim, no caso de a água a ser captada se des-
solos na agricultura da bacia hidrográfica a tinar ao abastecimento humano, é conveniente
montante, além de outras medidas, são muito ou mesmo necessário que a captação se efetue
importantes para o controle do assoreamento na zona superior do reservatório. Para assegu-
do reservatório. rar esta possibilidade, no caso de reservatórios

140 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
de maior profundidade, devem ser previstas to- 7.6 Área inundável em caso de
madas de água em diferentes níveis, de modo ruptura e planejamento de
a que, em qualquer época do ano, se possa emergência
captar água com adequada qualidade.
O projeto deve conter o estudo da área inundá-
7.5 Cadastro da área do vel a jusante, em caso de ruptura da barragem,
reservatório considerando a hipótese de ruptura mais pro-
vável, súbita ou progressiva, parcial ou total.
O cadastro da área do reservatório deve ser
incluído no projeto, de modo a fornecer os O estudo deve também incluir a caracterização
elementos necessários para avaliar o custo das
do vale a jusante, de modo a permitir a defini-
desapropriações, especialmente no caso de se
ção da classe de dano da barragem. Essa defi-
prever a necessidade de reassentamento de
populações afetadas. nição deve ser feita de acordo com a Resolução
do CNRH nº 143/2012, que estabelece critérios
Do cadastramento, devem constar os seguin-
gerais de classificação de barragens por cate-
tes elementos:
goria de risco, dano potencial associado e pelo
• Rede de comunicações (viária), com as respec- seu volume, em atendimento ao Art. 7 da Lei n°
tivas obras de arte (pontes, viadutos, etc.); 12.334/2010.

• Equipamentos sociais, tais como, escolas,


No caso das barragens de dano potencial as-
hospitais, quartéis, serviços públicos, igrejas e
cemitérios; sociado alto e/ou se a entidade fiscalizadora
o determinar, o projeto deve incluir o plano de
• Ocupação agrícola ou industrial;
ação de emergência a ser desenvolvido, de
• Ocupação populacional, isto é, povoações, acordo com o Guia de Orientação e Formulários
habitações e outros bens imóveis.
dos Planos de Ação de Emergência.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
141
8 CONTROLE DE
SEGURANÇA

8.1 Aspectos gerais o controle de segurança ser feito com especial


cuidado nessa fase.
O controle da segurança estrutural, ao longo
O Plano de Monitoramento e Instrumentação
da vida de uma barragem, compreende o con-
deve ser reavaliado nas Revisões Periódicas de
junto de medidas a tomar, com a finalidade de
Segurança da barragem e convenientemente
conhecer bem o estado da barragem, de modo
adaptado, sempre que necessário.
a detectar eventuais anomalias de comporta-
mento em tempo útil para intervir eficazmente O monitoramento e instrumentação das
e corrigir a situação ou, pelo menos, evitar as barragens, além de contribuir de forma muito
mais graves consequências. importante para o controle das condições de se-
gurança dessas estruturas (permitindo detectar
O controle da segurança estrutural inicia-se na
antecipadamente qualquer eventual anomalia
fase de projeto e prossegue ao longo da vida
que possa comprometer o seu desempenho
da obra, incluindo a realização de inspeções
ou ameaçar a sua estabilidade), possibilita
de segurança, de ensaios e de monitoramento
também a obtenção de informação do maior
do comportamento ao longo do tempo, bem
interesse sobre a aferição dos modelos de com-
como a análise e interpretação dos resultados
portamento das barragens, com vantagens para
obtidos e a avaliação das condições de segu-
a identificação de aspectos que necessitem de
rança da barragem. A realização de ensaios e o
estudos e investigações adicionais, e mesmo
monitoramento do comportamento apoiam-se
numa adequada instrumentação da barragem. para o projeto de outras obras.

O Plano de Monitoramento e Instrumentação


8.2 Plano de monitoramento e
deve ser elaborado na fase de projeto, sendo
instrumentação
detalhado e complementado, à medida em
que se forem obtendo novas informações so-
O Plano de Monitoramento e Instrumentação
bre a obra e seu comportamento. Esse plano
inclui disposições sobre a definição das gran-
será implementado na fase de construção, de
dezas a monitorar e sobre os instrumentos a
modo a poder controlar eficazmente o com-
instalar na barragem para esse monitoramen-
portamento, durante o primeiro enchimento do
to, devendo ser:
reservatório e ao longo da vida da barragem.
• Devidamente justificada a seleção das gran-
O primeiro enchimento do reservatório é uma dezas a monitorar, associadas às ações, às
das etapas da vida da barragem muito relevan- propriedades das estruturas e aos efeitos
te do ponto de vista da segurança, como evi- que caracterizam o seu comportamento,
denciado pela experiência, devendo, portanto, bem como às eventuais consequências
desses efeitos;

142 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
• Elaboradas as especificações dos instru- Podem ser consideradas grandezas os as-
mentos a serem instalados e respectivos pectos mensuráveis enumerados a seguir, de
acessórios utilizados na realização das acordo com o que se quer caracterizar:
leituras, incluindo os cuidados em sua ins-
• As principais ações — os níveis da água
talação e utilização (devendo indicar-se de
a montante e a jusante da barragem, as
forma clara, por meio de plantas e seções
temperaturas do ar no local da barragem
apropriadas, a localização e os detalhes de
e da água do reservatório, as quantidades
instalação dos instrumentos);
de precipitação e, em algumas obras, as
• Estabelecidos os procedimentos de coleta, vibrações provocadas por sismos, assim
validação, registro e transmissão dos dados como as características químicas da água
e resultados aos responsáveis pela sua aná- do reservatório;
lise e interpretação;
• As propriedades das estruturas e os respec-
• Indicada a frequência de leituras a efetuar tivos materiais da barragem e da fundação
nas diferentes fases de vida da barragem, — a deformabilidade e a resistência, a per-
em condições normais de operação; meabilidade, a difusibilidade e o coeficiente
• Estabelecidos os procedimentos gerais, de dilatação térmica, entre outros;
relativos à manutenção dos instrumentos. • Os efeitos diretos das ações˗— os fluxos de
percolação, subpressões, pressões inters-
Deve ser estabelecido o esquema de comuni-
ticiais (poropressões), temperaturas do
cações, assim como os procedimentos rela-
concreto, pressões estáticas e dinâmicas
tivos ao monitoramento, no caso de eventos
da água, bem como os efeitos associados
extremos.
ao comportamento estrutural da barragem
Devem também ser dadas indicações sobre e sua fundação, tais como deslocamentos
as qualificações dos técnicos encarregados absolutos, horizontais e verticais, des-
da instalação, utilização e manutenção dos locamentos angulares, deslocamentos
instrumentos colocados na barragem. diferenciais entre os bordos de juntas e
fendas, deformações e tensões, resposta a
Nos itens seguintes, desenvolvem-se alguns
ações dinâmicas.
aspectos relativos às atividades de monitora-
mento e instrumentação de barragens de aterro
e de concreto. Informações complementares, A observação das grandezas associadas
relativas a essas atividades, podem ser obtidas às ações, assim como os deslocamentos,
nas “Diretrizes para a Operação, Manutenção e subpressões e vazões de infiltração são, em
Instrumentação de Barragens” deste Manual geral, importantes para os diferentes tipos
(Volume VII). de barragens.

Para as barragens de concreto é também im-


8.2.1 Grandezas a serem monitoradas
portante a observação das temperaturas no
concreto, devido às variações da temperatura
Tipo de grandezas
ambiental e, na fase de construção,
As grandezas a serem monitoradas devem ser decorrentes do calor de hidratação do cimento
definidas de acordo com as características da (podendo originar fissuras de origem térmica),
barragem, tais como com os materiais (aterro, assim como o monitoramento de desloca-
concreto, maciço de fundação), mas também mentos relativos das juntas entre os diferentes
com suas dimensões e com os principais blocos. Nas barragens de aterro há, em geral,
cenários de deterioração, associados à sua interesse no monitoramento de recalques e
construção e operação. das poropressões no interior do aterro.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
143
As grandezas a serem monitoradas em barra-
gens de aterro e de concreto, respectivamente,
assim como os instrumentos mais comuns para
sua medição, estão sintetizadas no Quadro 19
e no Quadro 20 (ELETROBRAS, 2003).

Quadro 19. Barragens de aterro. Grandezas a monitorar.


(Adaptado de ELETROBRAS, 2003, Tabela 14.2)

Tipo de Estrutura
Instrumentos mais Enrocamento Terra com
Grandeza Terra / Enroca-
comuns com face de Terra galeria en-
mento
concreto terrada
Pressões neutras no aterro (po- Piezômetros hidráulicos,
X X X X
ropressões) pneumáticos e elétricos
Medidores de recalque
Recalques do aterro X X X X
Inclinômetros
Deslocamentos superficiais
Marcos geodésicos X X X X
(planialtimétricos)
Piezômetros de funda-
Subpressões na fundação X   X X
ção
Vazões de percolação Medidores de vazão X X X X
Materiais sólidos carreados
Medidores de turbidez X - X X
pelas águas de percolação
Células de pressão
Pressões totais e poropressões total e piezômetros
X - X X
nas interfaces hidráulicos, elétricos ou
pneumáticos
Deslocamentos diferenciais da Medidores triortogonais
- X - -
junta perimetral de juntas
Deslocamentos entre lajes na
Medidores de juntas - X - -
região das ombreiras
Extensômetros e defor-
Tensões internas no concreto - X(*) - -
mímetros
Eletronível
Deflexão da laje de montante - X - -

Tensões na interface solo-con-


Células de pressão - - - X
creto da galeria
Extensômetros de fun-
Recalques ao longo da galeria - - - X
dação

(*) Barragem de altura superior a 100 m.

144 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
Quadro 20. Barragens de concreto. Grandezas a monitorar.
(Adaptado de ELETROBRAS, 2003, Tabela 14.1).

Tipo de Estrutura

Grandeza Instrumentos mais comuns Gravidade


Gravidade
aliviada ou Arco CCR
maciça
contrafortes
Vazões de infiltração Medidores de vazão X X X X
Subpressões na fundação Piezômetros hidráulicos X X X X
Recalques na fundação Extensômetros de fundação X X X X
Tensões Tensômetros - X(*) X  

Comportamento térmico do concreto Termômetros X X X X

Métodos geodésicos e de
Deslocamentos horizontais e verticais nivelamento de precisão X X X X
Pêndulos diretos e invertidos
Deslocamentos diferenciais entre
X X X X
blocos
Medidores triortogonais de
Deslocamentos diferenciais entre
junta - X - -
monólitos
Abertura de juntas entre blocos - X X -
Pressão intersticial entre camadas de
Células de pressão - - - X
concretagem

(*) Barragens de altura superior a 70 m.

Número de grandezas e seções-chave de barragens similares sobre fundações com


maciços resistentes e pouco permeáveis.
A quantidade de grandezas necessárias para
monitorar de forma adequada o comporta- Na definição do plano de instrumentação de
mento de uma barragem depende do tipo uma determinada barragem, é recomendável
de barragem, nomeadamente, dos materiais a comparação com a instrumentação utilizada
utilizados na construção e das etapas pre- em outras barragens semelhantes.
vistas para sua construção, do seu porte, do
Em regra, o comportamento da zona central
comprimento da crista e altura máxima, das
do vale é representado, pelo menos, por uma
características geológicas da fundação e dos
seção “chave” correspondente à zona de maior
principais cenários de deterioração que lhe
altura da barragem. O comportamento de
estão associados.
cada uma das margens deve ser representado
As dimensões da barragem são um parâmetro por seções “chave”, tendo em consideração as
fundamental, dado que às barragens de maior características geométricas da estrutura e do
porte estão associados benefícios importantes vale, bem como as características geológicas e
e, também, consequências significativas, no geotécnicas da fundação.
caso de se desenvolverem eventuais cenários
de deterioração. 8.2.2 Seleção dos instrumentos

O comportamento de barragens com ca- Na seleção dos instrumentos a instalar numa


racterísticas geológicas de fundação muito barragem para medição das grandezas uti-
complexas, envolvendo litologias muito lizadas para seu monitoramento, devem ser
variadas, maciços rochosos muito fraturados consideradas:
ou permeáveis, deve também ser monitorado
com mais detalhe do que o comportamento

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
145
• A exatidão, a precisão e o campo de medida construção, teste e aperfeiçoamento em con-
adequados às medições a efetuar, visando dições reais de campo, decorre em regra em um
à avaliação das condições de segurança e intervalo de alguns anos. Particularmente os
operacionalidade da barragem e à verifica- instrumentos eletrônicos, que são normalmen-
ção dos critérios de projeto; te empregados em sistemas automatizados
de instrumentação, onde os sensores devem
• A confiabilidade compatível com o período permitir a leitura remota dos instrumentos,
de tempo em que se prevê a utilização dos
devem ter sido testados sob condições reais
instrumentos;
de campo, devendo assegurar uma vida útil de,
• A robustez adequada para suportar as con- pelo menos, duas décadas.
dições de utilização e do meio envolvente,
causando perturbações mínimas nesse 8.2.3 Elaboração do projeto de
meio; instrumentação

• A simplicidade de instalação, de modo a


Fases de estudos de viabilidade e projeto
minimizar a interferência nos trabalhos
básico
de construção, bem como de operação e
manutenção. O projeto de instrumentação de uma barragem
• A experiência existente sobre a utilização dos deve ser elaborado, desde as fases de estudos
instrumentos em barragens semelhantes; de viabilidade e Projeto Básico do empreendi-
mento, em especial, abrangendo a concepção
• A automação da coleta dos dados. e o arranjo geral da instrumentação, a definição
A compatibilização entre a ordem de grandeza das grandezas a monitorar e do número e tipo
do parâmetro a ser medido e a precisão do de aparelhos a serem utilizados, de modo a
instrumento é um aspecto fundamental, assim elaborar a lista de materiais de instrumentação
como seu campo de leitura. É necessária uma necessários.
estimativa precisa da ordem de grandeza dos
Na definição do número de instrumentos, de-
valores a serem medidos.
ve-se prever alguns instrumentos de reserva,
Outro fator relevante é a robustez do aparelho, uma vez que durante a execução da barragem,
principalmente para instrumentos eletrônicos, particularmente após o exame das reais carac-
que devem ter proteções adequadas para ope- terísticas geológicas da fundação, tendo por
rar em ambientes úmidos, como os existentes base as escavações para assentamento das
na galeria de drenagem de uma barragem. estruturas, é comum a constatação de novas
Considerando-se que as barragens são con- feições geológicas ou anomalias que requerem
cebidas e construídas para operar ao longo de uma revisão do plano de monitoramento e
muitas dezenas de anos, é de relevante impor- instrumentação.
tância a seleção de instrumentos robustos,
A decisão sobre a automação da instrumenta-
que possam assegurar um comportamento
ção deve ser tomada, também, nesta fase, vis-
adequado durante um longo período de tem-
to que assim será possível se prever sensores
po. Para tal, destacam-se os instrumentos de
adequados para os instrumentos da barragem,
concepção mecânica, confeccionados em aço
além do fato de possibilitar a integração entre
inox, fibra de vidro, plásticos ou outros mate-
os sistemas de transmissão dos dados dos
riais que permitam assegurar uma longa vida
instrumentos civis com os eletromecânicos.
útil dos instrumentos.

Os instrumentos selecionados devem prefe- Fases de projeto executivo e construção


rencialmente ter sido testados previamente Durante o projeto executivo será elaborado o
em laboratório e em outras barragens, para que detalhamento da instrumentação da barra-
se possa ter a certeza de seu desempenho real, gem, procedendo-se à elaboração das especi-
pois a concepção de um instrumento e a sua
ficações técnicas, contendo os procedimentos

146 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
básicos para a instalação e operação dos durante os primeiros anos da fase de opera-
vários tipos de instrumentos, assim como dos ção. O primeiro enchimento do reservatório e
desenhos, contendo os detalhes de locação e o monitoramento durante os primeiros anos
instalação. É importante que, durante a insta- de operação permitem testar os modelos que
lação, seja elaborado relatório com os registros representam adequadamente o comporta-
das principais ocorrências e com o perfil de ins- mento da barragem. Esses modelos permitem
talação do instrumento, muito úteis na análise estimar os resultados de algumas grandezas
posterior dos resultados. do sistema de monitoramento, em função das
variações das ações associadas à operação e
Nessa fase é usual se proceder à complemen-
ao ambiente e, desta forma, enquadrar e sim-
tação da lista de materiais de instrumentação
plificar o monitoramento da obra em condições
com novos instrumentos em locais específicos
normais de operação.
da barragem ou em blocos ou seções trans-
versais, localizados em trechos com caracte- Quando os valores das grandezas monitoradas
rísticas geológicas especiais ou de relevante deixarem de se enquadrar nas previsões dos
interesse. modelos, deve ser verificado, em primeiro lugar,
se não se trata de erro de observação e, não
Devem-se elaborar, também nesta fase, os
sendo o caso, proceder à análise do comporta-
procedimentos básicos a serem seguidos
mento da obra e definição dos novos modelos
nos testes de laboratório ou de campo para
calibração ou aceitação dos instrumentos, par- de comportamento.
ticularmente, quando forem utilizados novos A definição das grandezas a monitorar e as
instrumentos ainda não testados em outros respectivas frequências de leitura, nas dife-
empreendimentos similares. rentes fases de vida da barragem, é difícil de
Particular atenção deve ser dada aos instru- estabelecer, de forma geral, dado que depende
mentos elétricos ou eletrônicos, especialmen- de diversos fatores, entre outros, das caraterís-
te, àqueles a serem instalados nos maciços de ticas da barragem, seu porte, dimensão do re-
terra-enrocamento, onde a ocorrência de des- servatório e principais cenários de deterioração
cargas atmosféricas poderá provocar grande identificados para a barragem em estudo.
perda de instrumentos. Daí a importância de
Nas “Diretrizes para a Elaboração do Plano de
se prever o aterramento apropriado, tanto dos
Operação, Manutenção e Instrumentação de
cabos que fazem a conexão dos instrumentos
Barragens” (Volume VII), no qual se estabele-
com a caixa seletora (ou de sua blindagem),
cem procedimentos gerais para a elaboração
como da própria caixa seletora.
do Plano de operação, manutenção e instru-
mentação, são detalhadas mais informações
8.2.4 Critérios de operação,
processamento e análise de dados e sobre as grandezas a monitorar, a frequência
resultados de leitura dos instrumentos, a leitura e valida-
ção dos dados e, por fim, informações sobre o
As grandezas a monitorar e as frequências de processamento, apresentação e arquivo dos
leitura da instrumentação devem levar em dados e resultados.
consideração as principais preocupações do
controle de segurança nas diferentes fases de 8.2.5 Manutenção do sistema de
instrumentação
vida das barragens.

Assim, na fase de construção, interessa asse- Para assegurar o bom funcionamento dos
gurar uma boa qualidade da obra e, durante instrumentos, sua manutenção deve ser feita
o primeiro enchimento do reservatório, que de forma sistemática pelos técnicos da equipe
constitui um ensaio de carga fundamental, de segurança da barragem, ou contratada ex-
deve ser assegurado um adequado controle teriormente, dependendo do tipo de trabalho e
de segurança da barragem, assim como sua especificidade ou complexidade.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
147
A manutenção deve ser mantida, independen- poderá indicar a necessidade de um reforço
temente da frequência das leituras, e deve ser das atividades de manutenção ou de pequenos
avaliada nas inspeções de segurança especiais trabalhos de reparação das estruturas ou dos
e constar do respectivo relatório. equipamentos, ou mesmo a necessidade de
uma inspeção especial.

8.3 Inspeções de segurança As inspeções de segurança especiais devem


ter lugar sempre que forem detectadas ano-
As inspeções de segurança têm por objetivo malias, consideradas graves ou desvios signi-
essencial a detecção de sinais ou evidências ficativos do comportamento, em relação aos
de deterioração, comportamento anômalo ou comportamentos previamente estabelecidos,
sintomas de envelhecimento das estruturas. assim como durante períodos de grandes e
Essas inspeções permitem, também, identifi- rápidas variações das ações, tais como o pri-
car anomalias da instrumentação instalada na meiro enchimento do reservatório ou no caso
barragem. de rebaixamentos rápidos do nível da água no
reservatório, ou em resultado da ocorrência de
São previstos dois tipos de inspeção de se-
outros eventos adversos.
gurança, a saber, regulares e especiais. Para a
realização da inspeção de segurança regular O relatório dessas inspeções de segurança es-
e especial e o respectivo preenchimento das peciais incluirá, além da análise dos resultados
fichas de inspeção, poderá ser seguido o “Guia da própria inspeção, a análise dos relatórios das
de Orientação e Formulários para Inspeções de inspeções regulares anteriores e dos registros
Segurança de Barragens” (Volume II) . das grandezas da instrumentação, de modo
a fundamentar uma avaliação do comporta-
8.4 Análise global da mento da barragem, bem como de eventuais
instrumentação e inspeção de propostas de medidas corretivas, no âmbito da
segurança operação ou do monitoramento, ou mesmo de
trabalhos de reparação.
8.4.1 Atividades de controle de Todo esse conjunto de informação deve ser
segurança avaliado, de forma completa e sistemática, na
revisão periódica de segurança de barragem.
As inspeções de segurança, regulares e es-
Nessa revisão, a ser elaborada com a periodi-
peciais, os ensaios e o monitoramento do cidade indicada pela entidade fiscalizadora,
comportamento da barragem, ao longo do deve ser feita a revisão do projeto, uma inspe-
tempo, originam a obtenção de um conjunto ção especial, e a reavaliação dos procedimen-
de informações que, devidamente analisado tos de operação, manutenção, instrumenta-
e interpretado, permite realizar o controle das ção e monitoramento, permitindo, assim, uma
condições de segurança da obra, ao longo da avaliação do comportamento da barragem e
sua vida útil. o estabelecimento de um eventual plano de
As inspeções de segurança regulares e o moni- ação de melhoria e cronograma de implanta-
toramento da barragem, em condições normais ção das ações.
de operação, constituem o primeiro nível do
8.4.2 Modelação do comportamento
controle das condições de segurança da barra-
gem. No relatório das inspeções de segurança
Um aspecto importante da revisão periódica
regulares devem não só constar os resultados
de segurança de barragem consiste numa
das observações e medições realizadas, mas
reavaliação dos modelos de comportamento
também uma comparação desses resultados
da estrutura.
com os valores de referência previamente es-
tabelecidos. Essa análise dos resultados, reali- Esses modelos permitem generalizar e
zada durante a inspeção de segurança regular, correlacionar as diferentes grandezas do

148 Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


Volume V - Diretrizes para a Elaboração de Projetos de Barragens
monitoramento associadas às ações, às pro- durante o primeiro enchimento do reservatório,
priedades estruturais e aos efeitos, que carac- para as ações da água), são utilizados nas fa-
terizam a resposta da estrutura (efeitos diretos ses iniciais da vida das barragens para balizar
das ações e efeitos estruturais), assim como os valores das grandezas selecionadas para
interpretar os resultados associados das inspe- o seu monitoramento e para as avaliações de
ções, em particular, à observação das eventuais
segurança. No entanto, as informações que se
consequências ou efeitos permanentes provo-
vão acumulando sobre o efetivo comporta-
cados nas estruturas (por exemplo, vazões de
mento de uma determinada barragem permi-
infiltração e percolação e materiais carreados,
deslocamentos permanentes, absolutos e tem uma melhor calibração dos modelos de
diferenciais, recalques, entre outros sinais de comportamento iniciais (modelos designados
degradação dos materiais e das propriedades como determinísticos), ou mesmo, o desenvol-
das estruturas). vimento de modelos apoiados essencialmente
nos resultados do monitoramento (designados
Após devidamente calibrados com os resul-
como modelos estatísticos).
tados do monitoramento e das inspeções
realizadas, em geral, em condições normais
8.4.3 Valores de referência para a
de operação, os modelos de comportamento
instrumentação
permitem realizar estudos de simulação de
cenários associados a situações extremas e
Dispondo de modelos calibrados do comporta-
avaliar a segurança das estruturas, face a es-
mento da barragem, podem ser definidos, para
ses cenários. Os modelos de comportamento
constituem, assim, uma ferramenta do maior os diferentes instrumentos de monitoramento
interesse para apoiar a interpretação dos re- das estruturas, valores de referência, de modo
sultados do monitoramento das barragens e a permitir a futura comparação com os valores
para avaliar as condições de segurança dessas medidos e, assim, facilitando a pronta detecção
obras (Pedro, 1999). de eventuais anomalias de comportamento.

A análise dos modelos pode ser realizada de Esses valores de referência podem ser deter-
forma direta, estabelecendo, como “input”, minados, fundamentalmente, com base:
os valores das grandezas do monitoramento
da barragem, que caracterizam as ações e • Em critérios de projeto, tais como, por
as suas propriedades estruturais e obtendo, exemplo, as subpressões medidas pelos
como “output”, os respectivos efeitos. Esses piezômetros de fundação, que devem ser
efeitos estimados devem ser confrontados mantidos dentro dos limites estabelecidos
com os efetivamente observados na obra, o no projeto;
que permite avaliar a fiabilidade dos modelos
de comportamento estabelecidos. • Em estudos dos modelos, para as diferentes
grandezas, consideradas no monitora-
A análise pode, no entanto, ser efetuada, mento, por exemplo, para deslocamentos,
também, de forma inversa, como por exem- deformações, etc.
plo no estudo de processos expansivos nas
barragens, estabelecendo como “input” as Salienta-se que os valores de referência,
grandezas representativas das propriedades apoiados em estudos de modelos de com-
estruturais e dos efeitos observados na barra- portamento das obras, devem ser reavaliados,
gem e estimando como “output”, as ações que à medida em que se aperfeiçoam esses mo-
originaram esses efeitos. delos. Uma reavaliação dos diferentes tipos
Em geral, os modelos de comportamento de modelos de comportamento, efetuada a
utilizados para justificar as soluções de projeto intervalos regulares de tempo, em especial,
(eventualmente calibrados para as ações da durante as revisões periódicas de segurança, é
construção, nomeadamente, o peso próprio, e também recomendável.

Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens


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