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O METODO EM ECONOMIA: UMA PERSPECTIVA HISTORICA* PEDRO CEZAR DUTRA FONSECA** 1 — Embora a discussio sobre as possibilidades e a origem do conhecimento remonte & Grécia, foi a partir do Renescimento, com a ctitica ao ethos medieval, quando se definiram 0s contornos modernos do debate como hoje conhecemos. Pode-s: considerar a obra de Locke, An essay concerning human understanding “Ensaio, = sobre 0 entendimento humaiio”), de 1690, como o desabrochar da autonomia académica e filosofica da Teoria do Conhecimento, nela sintetizando-se toda a inquietagdo e a criatividade da intelectuali- dade dos séculos XV @ XVII. De momento, pouco interessa a reconstrugdo dos grandes siste- mas filoséficos emergentes daquela época a atualicade, passando por Descartes ¢ Leibnitz, Hume ¢ Comte, Kant ¢ Hegel: Interessa- nos, sobretudo, sua influéncia na Economia Politici’hascente no século XVII ¢ em seus desdobramentos sucedidos tis século XIX; mais precisamente, como este debate filossfico tomou corpo, de © Trabalho apresentado no Curso, Filosofia da. Citncia, Metodologia © Economia, realizado de 16 a 27 do outubro de 1989 na Universidade de Brasflia — UnB. ** Do Departamento de Citncias Feonémicas ¢ do Curso de P6s-Graduagio em Economia da UFRGS. Agradego os comentirios de Leda Paulani, sem responsobilizéta pelas imperfeigdes que permaneceram no texto. 65 + geral, forma consciente ou no, entre os pensadores sociais os quais se convencionou denominar economistas, influenciando na forma com que este entenderam fazer ciéncia; em uma palavra, em seu método. Sabemos, todavia, que tais grandes sistemas filoséficos podem set agrupados, principalmente para fins didéticos e de exposigio (embora, evidentemeate, com fundamentos objetivos), sob os mais diferentes critérios. Para trazer 4 lume o debate no campo da Economia, convém reter inicialmente um destes critérios, o qual trata particularmente sobre a origem do conhecimento, mas com profundas implicagies em sta possibilidade. Tratam-se dos sistemas iniciados por Locke e Hume, de um lado, e por Descartes ¢ Leibnitz, de outro, costumeiramente denominados de empirismo e raciona- lismo, A medida que se pode sumariar um complexo de idéias em poucas palavras, permite-se demarcar uma linha divis6ria entre ambos quanto & resposta dada a indagagio sobre onde repousa primordialmente a coasciéntia cognoscente, se na experiéncia, como em Locke © Hume, ou na razo, como em Descartes ¢ Leibnitz. Em sua forma mais radical, o empirismo nega qualquer espécie de conhecimento que nao o emanado na experiéncia e na observa. A cigncia é mais a descti¢ao do conereio que abstragio, e mesmo os conceitos provém da experiéncia. O procedimento de “fazer cigncia” adota a méxima precaugéo a0 enunciar leis, todavia, em \dmitem-se regularidades no objeto de investigaglo, as quais permitem chegat a certa ptobabilidade de que os fatos ocorram ou yenham a ocorrer sob determinadas condigGes, mas nunca a certeza. Fica claro, portanto, que esta concepeio sobre a origem do conhe- cimento implica decisivamente sobre sua possibilidade. Prosaica- mente, alia-se 0 empirismo ao método usado de forma tradicional (embora nao exclusiva) nas ciéncias naturais, como na Biologia, onde 0 papel da observacdo e da experimentago & preponderante; nestas, 0 que € 0 € porque assim se observou, mas nfio porque devessem necessariamente ser. A estatistica, tanto descritiva como indutiva, é poderosa auxitiar para quem trabalha sob sua égide, cujas preocupagdes centrais esto em observar, medir, colecionar fatos, buscar eventuais regularidades e registré-las, sempre com a maior preciso e preccupacao. Sua importincia foi fundamental na sociologia nascente, com o positivismo e o organicismo; este tiltimo, com Spencer, procurando levar as Gltimas conseqiiéncias a analogia da sociedade com organismos vivos. Assim como estes, a sociedade conhecia uma evolucio gradual e sistémica, O préprio funcions- 66 ms lismo nfio escapou — antes assentou-se — na concepgiio de que a sociedade compunha-se de partes (células, 6rgios, tecidos) cada qual com certo grau de especializagio, mas cujo fim residia em garantit a boa harmonia do conjunto, ao cumprir corretamente sua fungio. Nao resta diivida do vies autoritdrio desta visio de sociedade — jf nfo de todo empirica, mas mediada por certa abstregio — a qual define ex-ante o papel de cada parte, tendo por pressuposta determinada nogéo de harmonia. Por outro lado, 0 racionalismo afirmaré a crenga de que a razio 6 iluminada para conhecer 0 mundo ([luminismo). © conhe- cimento no depende da observacdo, pois pode nascer do prépr pensamento, através de construgdes I6gicas. Proposigdes como “se um bem possui demanda ineléstica, ao subir seu prego também sobe 0 dispéndio total do consumidor com este bem” so deste tipo, Ela é verdadeira por definigao; se, a0 subir 0 prego, cair a despesa total do consumidor com 0 bem, entdo, por decorréncia, sua demanda néo é ineléstica. Nao se precisa de qualquer teste empitico para refuté-la e podemos convencer-nos de sua veracidade sem qualquer apelo aos fatos ou a provas empiricas. No hi davida de que o racionalismo, ao apoiarse na Iégica (formal), propés, em suas vertentes iniciais, com Descartes ¢ Leib- nitz, que os juizos possuiam validade universal. Em vez de proba- bilidade ha a certeza: um simples contra-exemplo (também “I6gico”, ‘mesmo hipotético) pode refutar uma proposicao, independentemente de investigago empirica. O racionalismo cléssico, por iss2, casase perfeitamente bem com a Matemética, uma linguagem apoiada em axiomas ¢ em conceitos evidentes por si mesmos. Encontrou campo nna mecinica, oridé se concebiam reagdes de causa-efeito perfeita- mente previsiveis. No campo das ciéncias sociais, também propée, como os empiristas, a existéncia de um método tinico; mesmo 0 positivismo de Comte, impregnado pelo empirismo, nio deixou de considerar a Sociologia uma Fisica Social, argumentando que esta evoluitia & medida que absorvesse ¢.desenvolvesse 0 método da Fisica em suas previsdes e explicagées. 2 — A Fisiocracia francesa, primeira escola tida como de Economia, recebeu influéncia marcante do racionalismo, fazendo parte do mesmo contexto pré-revolucionério francés, com a difusio das idéias iluministas da Enciclopédia. Assinala-se, inicialmente, que a Fisiocracia pode ser vista como um momento de transigao entre as explicagdes teol6gicas do mundo as materialistas. Assim, seus 67 adeptos concebiam a sociedade (e, por extensio, o sistema econ6- mico) como partes de uma ordem natural, mas que era expressio, ao mesmo tempo, da vontade divina, Deus criara o mundo ¢ estabelecera, desde entio, suas leis, cabia ao homem descobri-las através da Cigncia, fazendo uso'de sua razio iluminada. As leis eram, portanto, universais e necessérias, quando nio.imutiveis. Os fisiocratas, com esta concepeao, elaboraram um modelo simplificado de sociedade, o que Ihes permitiu chegar a conceitos abstratos de grande valia para a Economia Politica posterior, como produto quido, classe produtiva e excedente econémico. Mas suas leis ‘econdmicas inspiravam-se primordialmente na mecéinica e, de forma até surpreendente, inaugurou-se na economia 0 modelo organico, comparando-se a vida econdmica a de um organismo vivo — mas via racionalismo © nfo empirismo. Assim, a circulagio do san- gue descoberta por Harvey tornow-se anéloga @ da circulacio da tiqueza; as trés classes fisiocratas. (proprietéria, “produtiva” e “estéril”) representam drgios ou partes desta sociedade, cujo bom funcionamento, se houvesse liberdade, levaria ao que hoje os neo- cléssicos chamariam de "timo social” A fisiocracia revela nao 56 a simbiose do materialismo (conhe- cimento “cientifico”) com o espiritualismo (conhecimento teol6gi- co), mas entre liberalismo e autoritarismo. Liberalismo, pois 0 mundo era equilibrado ¢ harménico por si mesmo, pois construgio divina; nao havendo interferéncias, como diria mais-tarde Walras, todos os mercades tenderiam a se equilibrar, Dai o: laissez-faire defendido pelos mais exaltados membros da escola, as vezes visto com reservas pot seu expoente méximo, 0 Dr. Quesnay. Nao obstante, 0 liberalismo exigia certo reforco autoritério (0 que nio nos € de todo estranho ...), pois o modelo orginico passava nio a explicar mas a julgar a vida econdmica a partir dele: qualquer desvio do definide a priori como parte da ordem natural das coisas ‘mereceria severa punigao, pois obstculo & harmonia social. Sabe-se, ppor isso, que os fisiocratas nunca compartilharam das idéias mais, afoitas correntes entré alguns membros da Enciclopédia, entendiam que a monarquia era a expresso da vontade divina, criticaram a reptblica © a existéncia de constituigdes, defendendo o despotismo esclarecido: despotismo (“autoridade”), mas esclarecido (“com liberdade”) Apesar da profunda marca do racionalismo, seria absurdo dizer que 0s fisiocratas despreocuparam-se com os fatos, com a observa- 68 Gf © com o mundo empfrico. As “‘hesitagdes” — as quais, por outro angulo, podem significar no contradigdes, no sentido vulgar, ‘mas criatividade — manifestam-se também neste aspecto. 1 bem verdade que a principal construsio terica fisiocrata, o Tableau Economique, parte de axiomas, como o homo economicus, que toda a ilustragao da circulagao da riqueza entre as classes € hipotética e propGe-se revestida da certeza universal e que carece, finalmente, de qualquer observagdo empirica mais sistematica, como dados hist6ricos e/ow estatisticos. Recorrem-se, eventualmente, a exemplos empiricos, mas como exemplos. ou seja, no para demonstrar, testar ‘ou evidenciar uma proposigéo, mas para ilustrar como.as verdades chegadas pela razao e pelo método dedutivo so corretas. A recorrén- cia a0 empirico era, por assim dizer, um aval, mas nao necessidades do proprio método. Todavia, paira sobre os fisiocratas, e no ‘prprio Tableau, uma certa inquietagdo e desconforto com este procedimento. Em vérias assagens, fugiu-se da abstrago, como na teoria do valor: ao afir- ‘mar a absoluta impossibilidade de um padrao para comparar valores de uso diferentes, diferentes “bens”, acabow-se por negar a propria possibilidade de uma teoria do valor. Toda.a construgao abstrata da circulagao da, riqueza — 0 “modelo” — parece esvaziar-se a0 no se chegar a uma {6rmula também abstrata de mecida. Isto nos permite asseverar que os fisiocratas sentiram a necessidade intelec- tual de uma mediagao entre 0 momento da abstragao ¢ o mundo empfrico; incapazes deste salto, firmaram-se.em sett racionalismo, mas advogaram a necessidade de medir as variéveis econdmicas, sendo os precursores.da Contabilidade Nacional. Tais mediagées, todavia, tudo sugere que eram menos para testar e mais para ilustrar ou quantificar o que jé se sabia por um exercicio do pensamento; e nada nos impediria de indager, seguindo a propria ldgica da escola: medir para que, se independentemente da medida ja conhe- ‘cemos a variével em todas. as stas ‘prop! Key- nes, posteriormeite, em sua critica aos “‘cléssicos”: qual a necess dade pratica ou tedrica de medir 0 PNB se ja sabemos, de antema que sua tendéncia € igualarse ao PNB potencial? Temos a necess dade de quantificar algo quando hé divida e incerteza, certamente ausente no mundo da necessidade légica ahist6rica e da ordem natural. 3 — Smith procurou resolver vérias questées que Ihe pareciam’ contradit6rias ou insuficientes nos fisiocratas. Nao s6 em questies 6

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