Vous êtes sur la page 1sur 19

ESTUDO MULTIDISCIPLINAR ENVOLVENDO O ENTORNO DA ESTAÇÃO

ECOLÓGICA DE CARIJÓS

Anna Virginia Muniz Machado*


Engenheira Civil, Mestre em Engenharia Civil, Professora Adjunta da UFF, Assessora Técnica da ABES,
Doutoranda em Engenharia Ambiental – UFSC.
Daniela Althoff Philippi
Bacharel em Administração - UFSC, Mestranda em Administração – UFSC.
Derce de Oliveira Souza Recouvreux(1)
Analista de Sistemas - FURB, Especialista em Informática - UFSC, Aluna Especial do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Ambiental – UFSC.
Ivanete Masson
Pedagoga, Especialista em Educação Ambiental, Extensionista da Epagri, Mestranda em Engenharia Ambiental –
UFSC.
Rosi Cristina Espindola da Silveira
Engenheira Civil – PUC-RS, Especialista em Saneamento Ambiental – PUC-RS, Mestre em Desenvolvimento
Regional na Área Técno-ambiental – UNISC. Engenheira no Núcleo de Planejamento Urbano e Gestão Municipal
da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC
Sandra Sulamita Nahas Baasch
Engenheira Civil e Sanitarista, Doutora em Engenharia de Produção – UFSC, Professora do Departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental – UFSC e dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental e de
Produção - UFSC.
Vendelin Santo Borguezon
Licenciatura em Estudos Sociais - FEBE (Brusque - SC), Licenciatura em Geografia - UDESC/FAED, Especialista
em Gestão Escolar - UDESC/FAED, Professor Colaborador da UDESC e Efetivo do Magistério Público de SC,
Mestrando em Engenharia Ambiental – UFSC.

Endereço*:Rua Otto Gama D’Eça, 627/901 – Florianópolis – SC – Brasil- e.mail:annav@alternex.com.br

RESUMO
Objetivo geral do trabalho foi o de desenvolver uma metodologia que permitisse iniciar um processo de
conhecimento da comunidade e constituir uma base informacional para subsidiar futuros estudos e inter-relações
nesta área. Dentre as áreas que se enquadraram nesta condição, optou-se pela comunidade de Barra do Sambaqui,
cujas características sócio-ambientais exigem realização de trabalhos de preservação e gestão ambiental bastante
singular. Por se tratar de uma área de contato com a Esec Carijós e de ameaça ao já fragilizado ecossistema local,
procurou-se agir com prudência, considerando todas as informações já disponíveis em outras entidades que
antecederam esta pesquisa e que ainda estão interagindo com a comunidade. Dessa forma, este documento reflete a
cooperação de um grupo de estudo multidisciplinar, baseado no cruzamento das informações levantadas, de modo a
subsidiar uma interação com a comunidade e para compreensão do ambiente onde vivem, para estudos de avaliação
de impactos ambientais desta ocupação em relação à área de manguezal da Esec Carijós. Foram identificadas
informações relativas aos aspectos físicos, históricos, de economia e renda e de infra-estrutura, pesquisados junto às
entidades que atuam na área e em atividades envolvendo a comunidade em estudo. A etapa final do trabalho
contemplou o envolvimento da comunidade na discussão e reflexão sobre as informações, promovendo um
incremento na capacidade de intervenção no ambiente, além de capacita-los para atuar em outros processos
participativos, de posse de tais informações. A comunidade incorporou a totalidade dos dados, tabelas, mapas,
gráficos e demais instrumentos.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Empoderamento, Meio Ambiente, Cidadania

1. INTRODUÇÃO
Pensar o ambiental atualmente, segundo Medina (2000), significa pensar de forma prospectiva e complexa,
introduzir novas variáveis nas formas de conceber o mundo globalizado, a natureza, a sociedade, o conhecimento e
especialmente as modalidades de relação entre os seres humanos, a fim de agir de forma solidária e fraterna, na
procura de um novo modelo de desenvolvimento. Afirma ainda que a educação não pode permanecer alheia as

1
novas condições de seu entorno, as quais exigem dela respostas inovadoras e criativas que permitam formar
efetivamente o cidadão crítico, reflexivo e participativo, apto a tomar decisões. No entanto a tarefa educativa exige
uma reflexão sobre o que é educar e o que é formar.

Na ótica da sustentabilidade pela co-evolução sociedade-natureza passa a ser, então, um desafio sem proporções
para os seres humanos, pois além de tratar a questão ambiental sob a ótica técnica tanto na área social como
ecológica, ela deve ser vista também a partir das relações sociais (Foladori, 2000) e das relações de cada unidade
com o seu ambiente. Acselrad (2001) aponta para a mesma direção, ao afirmar que as cidades sustentáveis requerem
uma nova cena com múltiplos atores e representações, fazendo referência a três procedimentos necessários: 1)
Refiguração do espaço articulando natureza e sociedade; 2) Reproblematização da ação aplicando uma racionalidade
cientifica ecológica ao urbano; 3) Reinstitucionalização do tempo buscando novas formas de duração das coisas, a
partir da aplicação de diferentes modelos que visam alcançar a sustentabilidade urbana, quais sejam: a) pela
representação técnico-científica das cidades através do Modelo da racionalidade eco-energética, desenvolvida por
Pillet e Odum, e do Modelo de metabolismo, discorrido por Godard e Fabiani; b) A cidade como espaço de
qualidade de vida, através dos modelos de ascetismo e pureza, discorrido por Douglas e do modelo do patrimônio
discorrido por Emilianoff; c) A cidade como espaço da legitimação de políticas urbanas, através do modelo da
eficiência e do modelo da equidade em busca da redução de desigualdades ao acesso aos serviços públicos.

Por outro lado, não basta estarmos capacitados em tais modelos, precisamos formar e nos reformar a fim de
sabermos respeitar a percepção do outro nesse processo, principalmente do outro enquanto um ser social, ou um ser
da natureza, que vivencia a realidade local. Nesse aspecto, a construção de uma sociedade sustentável, democrática
e participativa passa sem sombra de dúvida pela educação, seja ela formal, informal ou não formal. Segundo Medina
(2001), a informação, a aquisição de conhecimento e a integração de esforços são condições "sine Qua non" para
avançar na construção dessa sociedade sustentável.

2. OBJETIVO GERAL
Levantar, sistematizar e disponibilizar informações à comunidade da Barra do Sambaqui, área adjacente à Unidade de
Conservação - Estação Ecológica Carijós, possibilitando o empoderamento pelo acesso ao conhecimento e pela
percepção do significado de sua importância nos processos participativos.

2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS


÷ Estudar as mudanças ocorridas no entorno da Estação Ecológica Carijós – ESEC Carijós, especificamente
na comunidade denominada Barra do Sambaqui, a partir do processo de ocupação ao longo do tempo.
÷ Fazer o levantamento de dados nas diferentes entidades governamentais e não governamentais, com
pertinência de informações na área de estudo, cruzando-os com as informações fornecidas pela
comunidade.
÷ Interagir para despertar a comunidade frente ao quadro ambiental e às suas potencialidades.

3. METODOLOGIA
Momento Um:
÷ Discussão da proposta de estudo a ser desenvolvido;
÷ Definição da área geográfica de estudo;
÷ Definição dos sub-grupos de trabalho;
÷ Definição da forma de trabalho do grupo.

A definição da área de estudo deu-se pela escolha de duas comunidades que fossem representativas, isto é, que
apresentassem maior ameaça entre as que fazem parte do entorno da Estação Ecológica de Carijós – ESEC Carijós,
localizada no Norte da Ilha de Santa Catarina e que apresentassem maior ameaça para a preservação dessa Estação..
Essa Unidade de Conservação representa um esforço de preservação dos manguezais, um ecossistema bastante
fragilizado, visto a ocupação de seu entorno. As comunidades de Saco Grande e Barra do Sambaqui foram
selecionadas sendo Barra do Sambaqui a área do presente estudo. As unidades de conservação constituem-se numa

2
possibilidade de preservação da vida e precisam ser reconhecidas pelas pessoas para que se estabeleça um elo de
ligação como parte de si e do seu ambiente.

Após a definição da área, intuitivamente os integrantes do grupo se aglutinaram compondo a seguinte equipe de
profissionais: 1 administrador, 1 bacharel em turismo, 1 advogado, 1 economista, 1 psicólogo, 1 pedagoga
especializada em educação ambiental, 1 analista de sistemas, 3 engenheiras civis, 1 geógrafo e 1 artista plástica. Foi
realizada uma visita a comunidade definindo previamente uma forma de trabalho. Estabeleceram-se reuniões
semanais, discutindo em conjunto cada momento, conforme os passos seguintes.

Momento dois:
÷ Identificação dos atores sociais com pertinência na área de estudo;
÷ Levantamento das informações disponíveis nas instituições;
÷ Sistematização e cruzamento das informações;
÷ Levantamento das primeiras questões;
÷ Estruturação inicial do trabalho;
÷ Organização do roteiro de visitas;

A identificação dos atores sociais deu-se primeiramente através de contatos e visitas nas organizações
governamentais e não-governamentais para busca de dados secundários. A busca dos dados secundários deu-se
individualmente ou em dupla de alunos, e posteriormente, reuniram-se as informações. Realizou-se em grupo, o
primeiro cruzamento das informações disponíveis, onde foi possível identificar as primeiras questões sobre a
dinâmica da comunidade, ainda que muito preliminarmente. Neste momento, buscou-se uma estruturação para o
trabalho através de um sumário que orientou um documento prévio. A partir desta visualização, foi possível elaborar
um roteiro básico para buscar uma primeira aproximação com a comunidade.

Momento três:
÷ Apresentação dos dados reunidos ao grupo;
÷ Estruturação das próximas etapas;
÷ Visitas de reconhecimento na área de estudo;
÷ Discussão e compreensão de conceitos sobre sustentabilidade.

Para este momento previu-se uma apresentação dos resultados, a fim de que essa base de dados pudesse
servir de subsídio à disciplina de Avaliação de Impactos Ambientais, e aos alunos que viessem a compor com o
atual grupo de trabalho a continuidade dos estudos e interação com a comunidade. Para definição dos próximos
passos foi discutido com os demais integrantes do grupo orientados pela professora titular da disciplina Prof. Dra.
Sandra Sulamita Nahas Baach.

Momento quatro:
÷ Reapresentação do trabalho em sala de aula, para os novos integrantes do grupo na disciplina de Avaliação
de Impactos Ambientais;
÷ Reestruturação das próximas etapas;
÷ Divisão em subgrupos;
÷ Realização de entrevistas com diversos atores sociais da comunidade de Sambaqui e entorno;
÷ Sistematização e cruzamento dos dados;

Momento cinco:
÷ Preparação dos dados;
÷ Apresentação e doação do trabalho realizado para a comunidade de Barra de Sambaqui.

3
4. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A comunidade da Barra do Sambaqui localiza-se na faixa litorânea noroeste da Ilha de Santa Catarina, junto à Baia
Norte, ao longo da Rua Izid Dutra e integrante do distrito de Santo Antonio de Lisboa. Tem como limites ao norte o
Rio Veríssimo (Manguezal de Ratones - Estação Ecológica de Carijós), ao sul e a oeste a comunidade de Sambaqui
a leste a comunidade de Santo Antônio de Lisboa e a noroeste a Ponta do Sambaqui e a Ponta da Daniela.
Figura 01 – Área de Estudo
Fonte: PMF - Ipuf

5. LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES

Foram realizadas as identificações dos atores sociais com pertinência à localidade, destacando-se as instituições,
governamentais e não governamentais, nos âmbitos federal, estadual, municipal e local, que desenvolveram alguma
ação na região.

Levantamento das informações secundárias obtidas em consultas nos documentos disponíveis e em instituições como:
IPUF, IBAMA, CELESC, UFSC, COMCAP, CASAN e outras, buscando a especificidade da região e identificando
possíveis incompatibilidades no cruzamento dos dados.

Identificação dos elementos a serem pesquisados para complementar e checar os dados levantados, junto às
instituições, para a elaboração do panorama da área de estudo.

5.1. ASPECTOS HISTÓRICOS E CULTURAL

Santo Antonio de Lisboa teve como um de seus primeiros povoadores o padre Mateus Leão, que em 1698 recebeu
cartas de sesmarias de duas léguas de terras na Ilha de santa Catarina.
A partir de 1714, quando o Sargento-mor Manoel Manso de Avelar construiu em Sambaqui um entreposto para operar
com o comércio marítimo e ali se instalou com a família, a região começou a florescer. A região de Santo Antonio de
Lisboa ganhou importância econômica e foi elevada a condição de "Freguesia" em 1750, sendo portanto umas das três
mais antigas da ilha.

Fato marcante para a região foi a visita do Imperador Dom Pedro II, acompanhado de sua esposa e numerosa comitiva,
quando em sua primeira viagem a Santa Catarina. Sua passagem por Santo Antonio de Lisboa se deu em 21 de outubro
de 1845, onde chegou a bordo do vapor Imperatriz. Consta em uma crônica de Franklin Cascaes que o calçamento tipo
pé-de-moleque - feito com pedras irregulares geometricamente arranjadas, ainda existentes em Santo Antônio - foi
obra realizada especialmente para a visita do Imperador.

4
A povoação de Sambaqui fica a noroeste da vila de Santo Antônio de Lisboa, situada entre a Ponta do Pereira e a do
Luz, está já na foz do rio Ratones. Seu nome significa casqueiro, concheira ou ostreira. Essa designação também é
dada "a antiquíssimos depósitos, situados ora na costa, ora em lagoas ou rios do litoral, e formados de montões de
conchas, restos de cozinha e de esqueletos amontoados por tribos selvagens que habitavam o litoral americano em
época pré-histórica" (Dic. Aurélio, apud. Soares, 1990).

Sambaqui foi por muitos anos considerado o melhor porto de Santa Catarina, por sua posição protegida de vagas e
ventos. Por dispor de excelente água potável, Sambaqui foi em outras épocas local preferido para abastecer
embarcações que trafegavam pela costa. Relato de João Justino de Proença, de 1887, diz que: "neste excelente porto,
um dos melhores do Império, continua a funcionar com regularidade o importante encanamento sobre largos trilhos de
ferro que ali mandei construir." Tal encanamento chegava até o local conhecido como praia da Aguada. É
remanescente dessa época uma velha caixa d'água localizada na encosta do morro onde se encontra a nascente e que
ainda hoje continua a servir a comunidade. (Soares, 1990)

A Casa da Alfândega, edificação de 1854, persiste na atualidade, testemunhando o período em que a localidade foi
intensamente visitada pelos navios. A Alfândega de Sambaqui foi desativada em 1964, com o fechamento do porto de
Florianópolis. Hoje, sedia a Associação de Moradores de Sambaqui - ABS, onde se desenvolvem atividades sócio-
culturais ligadas ao folclore ilhéu, como as festas religiosas e grupos de danças de Boi de Mamão, da Ratoeira e de Pau
de Fita. A casa está tombada como patrimônio histórico e arquitetônico pelo Decreto Municipal n°069, de 24/02/1987.
No século XIX, a economia ilhoa era basicamente agrícola e pesqueira. Não diferente, a sociedade da Freguesia de
Santo Antonio era formada por uma população tradicional, que vivia da pesca, principalmente da tainha e da produção
agrícola em pequena escala. A economia da região se baseava no cultivo da mandioca e na pesca. A colheita da
mandioca, nos meses de setembro e outubro, originava a festa da "farinhada" que mobilizava toda a população.
(Barros, 1979).

Nesta época, a farinha era o principal produto de exportação catarinense. Na Ilha de Santa Catarina, os principais
produtores de farinha eram as freguesias de Santo Antonio, Lagoa e Ribeirão da Ilha. Santo Antonio se destacava pela
existência de um porto próprio, favorecendo o comércio entre o norte da Ilha e o porto do Desterro. Este entreposto
tornou-se o maior de todas as freguesias, escoando a produção agrícola advindas de Ratones, Barra do Sambaqui,
Pontal, Jurerê, Vargem Grande, Vargem Pequena, Canasvieiras, Ingleses e Rio Vermelho. (Soares, 1990)
O Rio Ratones pode ser considerado a principal via fluvial da Ilha de Santa Catarina, e foi usada em muitos trechos
com certa intensidade até o início do século XX, para o escoamento da produção agrícola banhada por seus afluentes e
para o transporte de pessoas, embora seja considerado um rio muito coleante e raso, dando vazão apenas a pequenos
botes e canoas. Como as estradas de barro que ligavam o interior da ilha com a capital encontravam-se em péssimas
condições, o mar era o caminho mais fácil, tanto para o escoamento da produção, como para o deslocamento de
pessoas. Esta situação comercial privilegiada de Santo Antonio perdurou por muito tempo, se alterando somente a
partir da Segunda metade do séc. XX. (Soares, 1990).

5.2. ASPECTOS NATURAIS


Caracterização do meio físico
A Barra do Sambaqui caracteriza-se por preservar, na periferia da capital, áreas ecologicamente importantes, com
presença marcante de morros e matas exuberantes, remanescentes de Floresta Atlântica, banhada pela maior bacia
hidrográfica da Ilha – a de Ratones, e uma extensa área de manguezal. (Ipuf, 2001). O relevo, conforme figura 02, é
constituído por elevações com remanescentes da Floresta Atlântica, mas na maioria são capoeirões, intercalando por
algumas áreas planas, além de uma extensa planície úmida que faz limite com o manguezal de Ratones, na parte
norte da região.

O Manguezal do Rio Ratones faz limite com a comunidade da Barra do Sambaqui e possui uma área de 6,25 Km2.
Tem como rio principal o rio Ratones, que deságua em um pequeno estuário na enseada de mesmo nome na Baía
Norte da Ilha de Santa Catarina. Localiza-se na coordenadas geográficas de 48°30´00" e 48°32´06" de longitude
oeste e de 27°27´54" e 27°29´31" de latitude Sul. (Agenda 21 Florianópolis, 2000)

5
Figura 02– Relevo

Foto: Anna Virginia M. Machado Foto: Ibama - ESEC Carijós Foto: Ibama -ESEC Carijós

Este Manguezal está situado na maior bacia hidrográfica da Ilha, a Bacia Hidrográfica do Rio Ratones e os seus
principais rios são, em ordem de importância, rio Ratones, o rio Veríssimo e o Rio Papaquara ou Cachoeira. Este
manguezal, além de já ter sido muito afetado pelos problemas de desmatamento assim como os outros manguezais,
certamente foi o mais atingido por obras de drenagem. Em 1949, o DNOS (Departamento Nacional de Obras e
Saneamento) iniciou obras de drenagem, através de canalizações de cursos de água e construção de comportas para
evitar a entrada da água do mar, com o objetivo de recuperar terras para a agricultura. Esta obra acabou por diminuir
em muito sua área original. Além disso, é atravessado pela rodovia SC-401 e que atualmente sofre com aterros na
região de suas nascentes. (CECCA, 1997). Em 1987 o decreto federal no 94.656 cria a Estação Ecológica dos
Carijós que abrange os manguezais de Ratones e Saco Grande.

Caracterização do meio biótico


FLORA
Grande parte das áreas mais baixas e de menor declividade vem passando por intenso processo de urbanização
desordenada. No restante da região, ocorre uma cobertura vegetal constituída predominantemente de florestas
secundárias (floresta pluvial da encosta atlântica) em diferentes estágios de regeneração, processo este que se inicia
após a derrubada da floresta original, no caso para uso agropecuário, e posterior abandono da área, possivelmente
pelo esgotamento do potencial produtivo do solo. Com isto ocorreu uma regeneração natural da mata e a formação
das florestas secundárias que se observa atualmente. Em algumas áreas houve reflorestamento com espécies
exóticas, principalmente eucaliptos e pinus. Na planície úmida a vegetação de restinga original cedeu espaço, em
grande parte, a campos de pastagem, que se estendem até os limites do manguezal e áreas de transição, locais onde o
solo sofre a influência das marés. (Ipuf, 2001).

CECCA (1997) coloca que as águas protegidas da Baia Norte, aliada a pequenas profundidades e aos sedimentos
depositados pelos rios, proporcionaram e desenvolvimento dos manguezais.

Os manguezais são áreas que recebem diretamente a influência das marés e estão diretamente relacionados aos
sistemas fluviais à montante. São ecossistemas que detêm alto teor de matéria orgânica, apresentando grande
produtividade e diversidade biológica. Do ponto de vista ecológico os manguezais têm uma maior relação com o
ecossistema marinho e toda a sua fauna aquática, como área de alimentação e reprodução de muitas espécies de
peixes. Os manguezais constituem parte típica da vegetação litorânea, situadas em partes planas, inundáveis na
preamar e emersas na baixamar, acompanhando as margens das baías e desembocaduras de rios. É em regiões de
águas calmas sujeitas a inundações pela maré que se forma a vasa, solo pantanoso, onde se instalam os manguezais.

Em 1987 o decreto federal no 94.656 cria a Estação Ecológica dos Carijós que abrange os manguezais de Ratones e
Saco Grande. O aterro e destruição dos manguezais fazem desaparecer não só essas áreas usadas tradicionalmente
pelas populações da Ilha para pesca, como provoca fatalmente uma redução no número e quantidade de espécies que
se pescam nas baías e no litoral. Das áreas correspondentes à vegetação característica de manguezal, verifica-se que
ocorreu uma redução significativa de aproximadamente 47% da sua área original, decorrentes da abertura de canais
e valas de drenagem junto à rede hidrográfica da Bacia Hidrográfica do Rio Ratones, da construção das rodovias
estaduais SC 401 e SC 402 e das implantações de comportas junto a pontes da SC 402. (CECCA, 1997).

Desde o início da ocupação da Ilha pelos colonos, os manguezais foram utilizados como fonte de lenha, seja para os
engenhos, para caieiras ou uso doméstico. Além disso, algumas de suas espécies de árvores foram exploradas para

6
tingir redes de pesca ou para extrair o tanino usado nos curtumes de couro. Atualmente os problemas que afetam os
manguezais da Ilha estão ligados à ocupação urbana, que vem provocando aterros como os que estamos assistindo.
(Silva, 2001)

A ocupação irracional e desenfreada dos ambientes litorâneos em todo o Estado de Santa Catarina e no Brasil tem
trazido prejuízos nefastos aos ecossistemas costeiros e à população nativa local. Os “métodos desenvolvimentistas”
adotados na gestão dos ecossistemas naturais ocupam irracionalmente áreas de manguezais, criadouros naturais da
fauna marinha, poluem o ambiente e dificultam a sobrevivência da atividade pesqueira artesanal. (Silva, 2001)

Esta preocupação é visível e unânime nas entrevistas com os pescadores. Eles apontam que “o mangue de Ratones e
o mangue do Saco Grande, são elementos responsáveis, pela boa pesca da região, quando ocorre a diminuição da
vegetação do mangue, principalmente por interferência humana, diminui as espécies de peixes e a quantidade,
peixes que eram antes capturados em grande quantidade hoje não existem mais. Entende-se que o pescador tem
consciência da necessidade da qualidade ambiental para sua sobrevivência. Eles ensinam mostrando o que pode, e
não pode ser jogado ao mar, ao afirmarem: ” só pode voltar para o mar aquilo que pertence ao mar, porém é preciso
cuidar com as cascas de ostras e de berbigão, estas os animais não consomem e machuca os pés quando anda-se no
mar”. (Silva,2001)

FAUNA
Na fauna de zona costeira e estuarina se destacam os moluscos, os crutáceos e uma grande variedade de peixes, além
lontra (Lontra longicaudis) e o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), em ambientes terrestres os répteis –
cobras e lagartos – os gambás, morcegos, macaco-prego e coati entre outros e na avifauna se encontram 107
espécies de aves, dentre as quais a garça branca (Casmerodius albus) o biguá (Phalacrocorax brasilianus), mais
abundante, e o colhereiro (Ajaia ajaja).

No entorno da ESEC Carijós, na comunidade de Barra de Sambaqui, antiga Colônia de Sambaqui, a fauna era farta.
“Além de criações de animais, eles tinham também o peixe, ostra, siri, e o berbigão. Aquele rio cheio de voltas é
presente da natureza”. (Ferreira,1998)

De acordo com alguns moradores entrevistados, principalmente os nativos, foi demonstrada a preocupação e a
atenção em relação com a preservação do ambiente local, visto a clareza das inter-relações percebidas no seu
cotidiano:
“Gosto da natureza. Parece que as pessoas têm falta de conhecimento para participar nas reuniões
da comunidade. Muita gente diz que a natureza está pior. Eu não acho. Antes nos morros só tinha
pedra, hoje tem árvores (verdes) e casas, por causa das queimadas. Os rios eram mais fundos. O
mangue cada vez mais tampa os rios. O mangue está avançando”.

5.3. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS


Para se ter uma noção mais detalhada das características e particularidades da população residente e da situação
econômica e social da localidade, construiu-se diagnósticos específicos para cada uma das duas subdivisões, a partir
dos Censos de 1991 e de 2000 do IBGE. Não consideramos os censos anteriores, devido a não disponibilização dos
dados por bairros, como é o caso de Barra de Sambaqui.

DEMOGRAFIA
Segundo o IBGE, o número de habitantes passou de 455 em 1991 para 781 habitantes em 2000 como podemos
visualizar na Tabela 01. As mulheres que representavam a minoria em 1991, passaram a ser maioria em 2000.

Em relação a faixa etária, de acordo com a Tabela 02, na comunidade da Barra do Sambaqui cerca de 42% da
população residente tem até 19 anos o que sinaliza uma população bastante jovem. Entre 20 e 39 anos estão 33 %
da população e, 13% estão na faixa entre 40 e 49 anos. Acima de 50 anos encontram-se cerca de 12% dos habitantes.
Ver Tabela 2.

7
Tabela 01- População Residente na Barra do Sambaqui
Ano População Residente Homens Mulheres
1991 455 62,31% 47,69%
2000 781 49,55% 50,45%
Fonte: IBGE - Censo Demográfico

Tabela 02- População por Faixa Etária na Barra do Sambaqui


Faixa Etária Abs. (%)
Até 19 anos 314 42
20 a 39 anos 261 33
40 a 49 anos 109 13
+ de 50 anos 97 12
Total 781 100
Fonte: IBGE-Censo Demográfico, 2000.

ECONOMIA E RENDA
Segundo os dados publicados pelo IBGE através dos censos por bairros de 1991 e 2000, o rendimento nominal
mensal da pessoa responsável pelo domicílio particular permanente situado na Barra do Sambaqui, conforme pode
ser observado na Tabela 03, evoluiu da seguinte maneira; o percentual de responsáveis sem rendimento algum
passou de 0% em 1991 para 4,7% em 2000. Esse comportamento revela um dado preocupante, pois indica que um
percentual significativo dos chefes de domicílio na Barra do Sambaqui não tinha rendimento algum em 2000,
situação da qual não se tinha registro nove anos antes.

Tabela 03 - Rendimento nominal mensal da pessoa responsável pelo domicílio


Classe 1991 (%) 2000 (%)
Sem renda - 0 10 4,7
Até ½ 5 4,7 1 0,5
De ½ a 1 22 20,6 18 8,4
De 1 a 2 32 29,9 35 16,4
De 2 a 3 22 20,6 39 18,2
De 3 a 5 15 14,0 60 28,0
De 5 a 10 10 9,3 38 17,7
De 10 a 15 - 0 6 2,8
De 15 a 20 - 0 4 1,9
Mais de 20 1 0,9 3 1,4
TOTAL 107 100 214 100
Fonte: IBGE – Censos de 1991 e 2000.

Já o percentual de responsáveis com rendimento médio mensal de até meio salário mínimo, o que também é
insuficiente para sustentar um domicílio, passou de 4,7% em 1991 para 0,5% em 2000. Este dado, no entanto,
envolve uma situação dúbia que desperta uma merecida reflexão, pois pode indicar, tanto que os que ganhavam até
meio salário mínimo melhoraram seu rendimento, como também que os responsáveis por estes domicílios passaram
a não ter rendimento algum. Um dado também publicado e que pode ajudar a entendermos melhor a situação, é a
maneira como evoluiu o valor do rendimento nominal médio dos chefes de família no período, o qual em 1991
correspondia a 2,65 salários mínimos e em 2000 passou a corresponder a 3,38 salários mínimos (vide Tabela 05).

Tabela 04- Valor do rendimento nominal médio


Anos Renda (1) Salário Mínimo (2) (1) / (2)
1991 CR$ 95.943,93 CR$ 36.161,60 2,65
2000 R$ 676,79 R$ 200,00 3,38
Fonte: IBGE – Censos de 1991 e 2000.

8
Quanto ao restante das classes de rendimento publicadas pelos censos, expressos na tabela 03, constata-se que a
classe de rendimento que reunia o maior número de responsáveis pelos domicílios (30% do total) em 1991, era a dos
que ganhavam entre 1 e 2 salários mínimos, e que já em 2000, tal classe passou a ser a dos que ganhavam de 3 a 5
salários mínimos (com 28% do total).

5.4. ASPECTOS RELATIVOS À INFRA-ESTRUTURA


PLANO DIRETOR DOS BALNEÁRIOS E INTERIOR DA ILHA
De acordo com informações disponíveis no site (http://www.ipuf.sc.gov.br/principal.htm, acessado em 23/11/2002),
atualmente o Plano Diretor que regula o uso e ocupação de solo na Barra do Sambaqui é o Plano Diretor dos
Balneários e do Interior da Ilha de Santa Catarina. Foi elaborado em 1984 e transformado na lei no. 2.193/84, através
da proposta do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), com o objetivo de disciplinar o
crescimento e a ocupação dos balneários. Na Barra do Sambaqui o plano definiu a região nas seguintes áreas,
(IPUF, 2002b):
÷ Áreas de exploração rural (AER);
São aquelas destinadas á produção agrícola, pecuária ou florestal;
÷ Área de proteção permanente(APP);
São aquelas necessárias à preservação dos recursos e paisagens naturais, e à salvaguarda do equilíbrio
ecológico, compreendendo:
÷ Topos de morros e linhas de cumeada;
÷ Encostas com declividade igual ou superior a 46,6%;
÷ Mangues e suas áreas de estabilização;
÷ Dunas móveis, fixas e semi-fixas;
÷ Mananciais, desde as nascentes até as áreas de captação de água para abastecimento;
÷ Faixa marginas de 33,00m ao longo dos cursos de água com influência da maré, e de 30,00m
nos demais;
÷ Faixa marginal de 30,00m ao longo das lagoas e reservatórios de água situados na zona
urbana, e de 50,00m a 100,00m para os situados na zona rural;
÷ Fundos de vale e suas faixas sanitárias, conforme a legislação de parcelamento do solo;
÷ Praias, costões, promontórios, tômbolos, restingas em formação e ilhas;
÷ Áreas onde as condições geológicas desaconselham a ocupação;
÷ Pousos de aves de arribação protegidos em acordos internacionais assinados pelo Brasil;
÷ Áreas dos parques florestais, reservas e estações ecológicas;
÷ Florestas e bosques de propriedade particular, quando indivisos com parques e reservas
florestais ou outras áreas de vegetação de preservação permanente;
÷ Áreas de proteção limitada (APL)
São áreas que pelas características de declividade do solo, do tipo de vegetação ou de venerabilidade
aos fenômenos naturais, não apresentam condições adequadas para suportar determinadas formas de
uso do solo sem prejudicar o equilíbrio ecológico ou da paisagem natural. incluindo:
÷ Áreas onde predominam declividades entre 30% e 46,4%;
÷ Áreas situadas acima da "cota 100" que não estejam abrangidas pelas Áreas de Preservação
Permanente;
÷ Área residencial predominante com subdivisão específica (ARP-3)
Onde o uso residencial é complementado por comércio e serviços vicinais de pequeno porte.

PROPOSTA DO NOVO PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DO DISTRITO DE


SANTO ANTONIO DE LISBOA
Conforme informações disponíveis no site (http://www.ipuf.sc.gov.br/principal.htm, acessado em 23/11/2002), a
proposta do Novo Plano de Desenvolvimento Integrado do Distrito de Santo Antonio de Lisboa, é uma proposta de
trabalho da Administração Municipal em elaboração no Ipuf, que busca planejar a implantação de um Plano de
Desenvolvimento Integrado para o Distrito de Santo Antonio, visando o desenvolvimento sustentado deste Distrito.
Este plano de desenvolvimento abrande os seguintes programas, conforme IPUF (2002a e 2002b):
÷ Atualização da Legislação UrbanísticaO Programa “Atualização da Legislação Urbanística” objetiva a
elaboração de uma proposta de rezoneamento de uso e ocupação do solo no Distrito de Santo Antônio
de Lisboa, visando promover os ajustes necessários nos atuais limites de zoneamento, especialmente na

9
adequação do processo de urbanização à legislação ambiental; a regulamentação e a ampliação das
Áreas de Preservação Cultural e a reestruturação viária da região. O resultado esperado é a aprovação
de uma nova lei específica de zoneamento de uso e ocupação do solo, de sistema viário e das áreas de
preservação cultural e ambiental.
÷ Melhoria da Infra-Estrutura Urbana e ComunitáriaO Programa “Melhoria da Infra-Estrutura Urbana e
Comunitária”, propõe a elaboração, implantação e acompanhamento de projetos infra-estruturais na
área social e urbana relativos aos aspectos de saneamento, transportes, equipamentos públicos urbanos
e comunitários, patrimônio histórico construído, tendo como referência as recomendações da Agenda
21 Local, resultado das solicitações de entidades comunitárias.
÷ Geração de Trabalho e RendaO Programa de Geração de Trabalho e Renda reúne os projetos relativos
ao desenvolvimento econômico da região, e ações com potencial para gerar novos postos de trabalho
ou melhorar a qualidade e potencializar o aproveitamento daqueles já existentes, tais como:
maricultura, pesca e atividades de produção primária; turismo; produção artística.
÷ Preservação Ambiental (Manejo de Ecossistemas)
Este programa prevê projetos ligados ao uso sustentado e a conservação dos ecossistemas presentes na
região: manguezais; encostas, orla e águas, de forma a compatibilizar sua utilização (para fins
turísticos, culturais, de lazer, educacionais, etc.) com as características inerentes a cada tipo de
ecossistema, preservando o patrimônio natural e construído.
÷ Participação ComunitáriaEste programa busca legitimar o processo de planejamento participativo com
o comprometimento das associações representativas das comunidades do Distrito na busca de soluções.

5.5. SANEAMENTO
Os dados referentes ao saneamento na Barra de Sambaqui foram levantados diretamente junto a CASAN e a
COMCAP, bem como aos Censos de 1991 e 2000 do IBGE e no Diagnóstico Preliminar para o Plano Diretor do
Distrito de Santo Antônio de Lisboa, realizado pelo IPUF.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA
A região é abastecida de água potável pela CASAN, no entanto muitas residências possuem ponteiras para captação
de água subterrânea. Segundo o diagnóstico do IPUF (2001) é preciso avaliar e melhorar a capacidade de
atendimento do atual sistema de abastecimento de água, como também de monitoramento da qualidade da água que
abastece a comunidade de algumas ruas da Barra do Sambaqui, as quais têm a possibilidade de contaminação.

Ao analisarmos os dados dos censos, observamos que de acordo com IBGE (1991), dos 107 domicílios existentes,
apenas 1 não possuía canalização interna de água. Dos 106 domicílios beneficiados com esse serviço, nenhum era
abastecido pela rede geral, sendo 37 abastecidos por poço ou nascente e 69 abastecidos de “outra forma”,
representando 35% e 65% respectivamente, dos domicílios com água canalizada. Já, segundo o IBGE (2000), dos
214 domicílios existentes, 120 eram abastecidos por rede geral, em pelo menos um cômodo, 75 eram abastecidos
por poço ou nascente na propriedade, e 19 domicílios eram abastecidos de “outra forma”. Destes, 18 domicílios
tinham água canalizada em pelo menos um cômodo e 1 domicílio não possuía nenhuma forma de canalização. No
decorrer de 9 anos, tempo decorrido entre um censo e outro, podemos perceber uma melhora significativa na
distribuição de água potável na localidade de Barra de Sambaqui, visto ter elevado em 56% o percentual de
domicílios atendidos por rede geral, e ter reduzido de 65% para 9% o percentual de domicílios abastecidos de “outra
forma” (vide Figura 07).

Por outro lado não se pode afirmar o mesmo em relação à qualidade da água. usada para abastecimento. Conforme
as agentes do Posto de Saúde de Santo Antonio de Lisboa, no ano de 2000, 100% dos atendimentos foram à famílias
com acesso à rede de água tratada. Segundo a enfermeira responsável pelo posto, muitas famílias ainda utilizam
água das cachoeiras como forma de economia com o pagamento da conta de água da CASAN. Entretanto foi
constatado que, das amostras realizadas nas fontes naturais, 100% apontaram contaminação por coliformes fecais,
ocasionando recorrentemente, doenças diarréicas principalmente em crianças.

10
Figura 07 – Saneamento Básico

240
RESIDENCIAS - LIXO / ÁGUA / ESGOTO 1991 e 2000
214

210
190
209
RESIDÊNCIAS ATENDIDA

140
120
107

89
90
76 75

69

40 37
31 19
9 4
9 3
0 2
-10
1991 ANO 2000

Total de domicílios Lixo coletado


Lixo- outra forma Água- rede geral
Água- poço/nascente Água- outra forma
Esgotamento sanitário com fossa séptica Esgotamento sanitário de outra forma
Sem esgotamento sanitário

Fonte: IBGE Censo 1991/Censo 2000

ESGOTAMENTO SANITÁRIO E PLUVIAL


Por ocasião do levantamento do diagnóstico preliminar do IPUF (2001), foram identificados aspectos referentes ao
saneamento, no que diz respeito à necessidade de recolhimento de animais domésticos abandonados e verificação
da existência de esgotos domiciliares ligados clandestinamente à rede pluvial e aos córregos. Conforme
informações da CASAN (2002), a região não possui rede e tratamento de esgotos. Segundo as agentes de saúde do
Distrito de Santo Antônio, esta constatação traduz um problema bastante sério uma vez que os sistemas individuais
são mal dimensionados, o que se agrava devido ao tipo de solo não ser adequado, com o lençol freático
extremamente alto. No início de 2002, a CASAN contratou uma empresa para elaborar o projeto, o qual deverá estar
pronto em abril de 2003. A grande preocupação é encontrar uma alternativa viável para o tratamento de esgotos,
para apresentá-lo a comunidade, devido a área ser de exploração da maricultura.

Figura 08 – Sistema Biológico de Tratamento de Esgoto

Foto: PMF - IPUF (2002b)

Por outro lado existe na Barra do Sambaqui, uma empresa especializada em sistema biológico para tratamento dos
efluentes (sistema com zona de raízes). Segundo um técnico da empresa várias residências e estabelecimentos estão
optando por este recurso, conforme Figura 08. No entanto, como é um serviço de um custo elevado, muitas famílias

11
não possuem condições para realizá-lo, condição que podemos constatar através da Tabela 04, onde está
demonstrada a média do rendimento familiar nessa localidade.

Como podemos visualizar na Figura 07, no espaço de 9 anos, entre os Censos de 1991 e 2000, houve um acréscimo
de exatamente 50% no número de domicílios na Barra de Sambaqui. De 107 subiu para 214 domicílios. De acordo
com o IBGE (1991), dos 107 domicílios, 95 possuíam instalação sanitária só no domicílio, sendo que destes, 89
domicílios possuem fossa séptica e 6 domicílios dispõem seus efluentes de outra forma. Dos 89 que possuem fossa
séptica, apenas 5 são ligados à rede pluvial, os restantes são ligados a sumidouros. Outros três domicílios possuem
fossa séptica, comum a todos, e ligada a um sumidouro. Em 9 domicílios restantes, não apresentavam nenhuma
instalação sanitária.

Já em 2000 dos 214 domicílios, 212 possuíam banheiro com instalação sanitária e 2 não apresentavam nem banheiro
nem sanitário. Daqueles, 209 apresentavam fossa séptica, e os outros 3 com o destino dos efluentes de outra forma.
Já o destino dos efluentes das fossas sépticas, infelizmente os dados do IBGE não informam se é através de
sumidouro ou da rede pluvial e seus respectivos percentuais.

RESÍDUOS SÓLIDOS
No Distrito de Santo Antônio de Lisboa, onde a Barra de Sambaqui é pertencente, a Prefeitura possui uma
Intendência da Secretaria de Obras (responsável pela capina e limpeza de bueiros, embora sua capacidade de
atendimento está aquém da demanda);

A coleta convencional é realizada pela COMCAP, nas 2ª, 4ª e 6ª feiras, a partir das 15 h. Praticamente a totalidade
da Barra de Sambaqui possui coleta porta a porta (+ ou - 80% de cobertura), c/ exceção de algumas servidões, de
difícil acesso ao caminhão, nas quais o lixo é recolhido nas esquinas. Os resíduos sólidos são transportados até à
Central de Transbordo – CTReS localizada no bairro Itacorubi, onde é pesado e transferido para as carretas da
Formacco, que levam até o aterro sanitário de Biguaçú (Empreendimento privado que recebe resíduos de 9
municípios da Região Metropolitana de Florianópolis, a um custo de R$ 54,00/t.). Desde 1990 a Prefeitura contrata
os serviços dessa empresa, a partir de concorrência pública, em cujo edital constava o transporte para fora do
território de Florianópolis.

Conforme Censo do IBGE de 1991 existiam 107 domicílios, sendo 76 contemplados com a coleta convencional de
lixo representando a ordem de 71% de cobertura dos serviços. Os restantes 31 domicílios dispunham de outra forma
seus resíduos sólidos: destes 18% queimavam, 5,6% jogavam em terreno baldio e 5.6% enterravam. Foi constatado
que nenhum lixo era depositado no mar e lago.

Já em 2000, existiam 214 domicílios, sendo que a coleta de lixo abrangia 210 domicílios, representado 98% de
cobertura dos serviços. Destes, 70% eram coletados porta a porta pelo serviço de limpeza municipal, e 29,5%
coletados através de caçambas estacionárias. Dos 4 domicílios restantes, 3 domicílios queimavam seus resíduos e 1
domicilio proporcionava outro destino não especificado.

São dados relevantes, visto que, a cobertura dos serviços de coleta convencional, no espaço de 9 anos, foi
intensificada passando de 71% para 98% dos domicílios atendidos. E os depositados de “outra forma” regrediram,
passando de 29% para 1,9% dos domicílios (vide Figura 08). Embora sejam dados oficiais, podemos aqui observar
uma contraposição com os dados fornecidos pela Prefeitura, de 80% de cobertura dos serviços de coleta de lixo,
naquela localidade.

A produção de lixo (Barra de Sambaqui, Sambaqui, Santo Antônio de Lisboa e Cacupé) tem sido em cerca de:
138,36 t./mês na baixa temporada (de abril a novembro de 2001), e de 174,56 t./mês na alta temporada (de dezembro
de 2001 a março de 2002). É estimada para a Barra de Sambaqui e Veríssimo, a produção de 3 t./coleta, cerca de 9
t/semana, sendo que a varrição está incluída nessa estimativa. E, a produção per capita para o município de
Florianópolis, a COMCAP estima uma média de 880gramas/hab.dia.

A varrição realizada pela COMCAP é deficitária, pois é realizada apenas na orla turística, nas vias de grande
circulação de veículos, de 15 em 15 dias, sendo que atualmente não está sendo realizada devido a falta de pessoal.

12
Quanto à coleta seletiva, ela é realizada pela própria empresa municipal de limpeza pública, a COMCAP, nas 5ª
feiras, a partir das 8h, no sistema porta a porta, sendo que na rua Izid Dutra, ela é realizada em parte (da rodovia
Gilson da Costa Xavier até a Igreja). A coleta seletiva da cidade é transportada para duas associações de Catadores
(uma delas, a ARESP – Associação de Recicladores de Florianópolis localizada na CTR3 do Itacorubi) e para dois
outros sucateiros.

Já a “coleta pesada” (“monstro”/especial em mutirão) é realizada 1 (uma) vez por ano. A meta é alcançar 3 voltas
por ano. A última em Barra de Sambaqui foi realizada nos dias 24, 25, e 26 de julho recente, recolhendo um total de
25 toneladas. No ano de 2001 foram coletadas cerca de 35 toneladas.

Um Projeto de Educação Ambiental está sendo realizado, no primeiro momento, apenas com os funcionários da
COMCAP. Afirmam ser necessário buscar dados junto à FLORAM, embora já tenha ficado evidenciado a não
integração entre as secretarias municipais, quanto à questão, muito menos ainda, em relação à uma Unidade de
Conservação. Por outro lado a COMCAP, está viabilizando junto a Secretaria Municipal de Saúde um trabalho que
intenciona treinar os agentes de saúde (1 para cada 250 casas aproximadamente), para atuarem em atenção primária
ambiental.

Encontra-se em discussão na Assembléia Legislativa a Política Estadual de Resíduos Sólidos. Não há lei municipal
ou código municipal de limpeza urbana e sim algumas leis sobre questões específicas: Lixo hospitalar; lixeiras;
proibição de jogar lixo em qualquer lugar (lei orgânica do município).

5.6. TRANSPORTE
ACESSO
O acesso rodoviário se dá através da rodovia SC-401, passando pela localidade de Santo Antônio de Lisboa e de
Sambaqui, sendo que a primeira fica a 13 km do centro de Florianópolis.

SISTEMA VIÁRIO LOCAL


Poucas ruas são pavimentadas. A rua principal, Rua Isid Dutra possui apenas uma parte pavimentada. As demais se
apresentam em condições ruins de tráfego, piorando em dias de chuva. Na grande maioria dos trechos faltam
calçadas e abrigos de ônibus.

TRANSPORTE RODOVIÁRIO
A região é servida pela linha do bairro SAMBAQUI, Patamar 2. Linha SAMBAQUI e SAMBAQUI/UFSC/GAMA
D´EÇA, que passou a operar em fevereiro de 1999, pela empresa TRANSOL.

5.7. HABITAÇÃO
Segundo o IBGE, em 1991 todos os domicílios eram particulares e permanentes, casas isoladas ou de condomínio.
Já em 2000 podemos visualizar na tabela 1 que a maioria dos habitantes moram em casa (96%), mas agora aparecem
3% dos habitantes que moram em apartamento e 1% em cômodo.

Quanto as condições do domicílio 96% eram próprios, 3% eram alugados ou cedidos e 1% tinham outra forma de
condição em 1991. Já em 2000, o número de domicílios próprios passou para 84%, alugados para 9% , 6% cedidos e
outra forma continuou em 1%.

5.8. ENERGIA ELÉTRICA E ILUMINAÇÃO PÚBLICA


A energia elétrica chegou à Barra do Sambaqui em 1951. Na ocasião foram feitas 66 ligações em residências. Desde
então, não se verificou neste bairro a explosão demográfica ocorrida em outros de Florianópolis, conforme a Tabela
09 e a Figura 11. As ligações são feitas pela Celesc, conforme o solicitado pelo interessado, sendo que, de acordo
com a legislação da Prefeitura, não se faz mais ligações em estabelecimentos que não sejam legais.

13
Figura 09 – Ligações de Luz

Fonte: Celesc

5.9. EDUCAÇÃO
Foram identificadas três escolas que atendem aos alunos da comunidade estudada a saber:
÷ Escola Municipal Marcolino de Lima, localizada na Barra do Sambaqui, com 73 alunos de primeira a
quarta série do 1o. Grau, sendo atendidos. Porém, tem estrutura para 100 alunos. Na elaboração do
diagnóstico do IPUF (2000) constatou-se uma necessidade de reforma e ampliação da área de lazer e
esporte da escola;
÷ Escola Estadual Fundamental de Sambaqui;
÷ Núcleo de Educação Infantil Maria Salomé dos Santos. É uma escola municipal, situada na rua
Professor Euclides da Cunha, no início da Barra do Sambaqui. Esta escola tem capacidade para 150
crianças e atualmente tem um quadro de 148 crianças. Possui uma demanda maior, porém não são atendidas
devido à inexistência de vagas nos turnos de maior demanda. Este fato também foi apontado no diagnóstico
preliminar do IPUF para a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado do Distrito de Santo Antônio
de Lisboa (IPUF, 2000). Foi inaugurada em 1995, sendo que até então as crianças eram atendidas no centro
comunitário. Nesta escola não existe nenhum trabalho específico em educação ambiental sendo
contemplado nos conteúdos das disciplinas.

Ao consultarmos as tabelas do IBGE, constatamos que em 1991, 24,30 % dos responsáveis pelos domicílios,
possuíam de 4 à 7 anos de estudo enquanto que 21,50%, não tinham nenhum ano de estudo. Já em 2000, 41,12% dos
responsáveis pelos domicílios tinham de 4 à 7 anos de estudo, enquanto que 0,7% com nenhuma instrução, ou
menos de um ano de estudo. (Censo IBGE 91 e 2000)

Pesquisando no Manual da Agenda 21 local, elaborado pela FLORAM, verificou-se baixo nível de alfabetização
ambiental da população, e que a direção das escolas estão afastadas das comunidades.

No diagnóstico preliminar realizado pelo IPUF, para a elaboração do Plano Integrado de Desenvolvimento do
Distrito de Santo Antônio de Lisboa (IPUF, 2000), foram apontadas várias sugestões que contemplam a educação
conforme a seguir:
÷ Preservação da identidade cultural local (necessidade de apoio da Fundação Clara Manso de Avelar);
÷ Educação Ambiental no tocante ao lixo reciclável.

14
No material que subsidiou a elaboração do plano de manejo da ESEC Carijós (2000), consta que em 1999, que a
FLORAM criou um projeto para contemplar a Educação Ambiental nas escolas no entorno da ESEC. No entanto,
não se sabe se realmente foi implementado ou não, ou então, se foi implantado não obteve sucesso, visto a proposta
de Educação Ambiental da Estação Ecológica Carijós – ESEC Carijós, sugerida pela comunidade, por ocasião da
elaboração do diagnóstico rápido participativo realizado em outubro de 2001, tais como:

÷ Intensificar o trabalho de Educação Ambiental para reforçar consciência dos moradores do entorno.
Estender o trabalho de Educação Ambiental nas escolas e associações comunitárias;
÷ Trabalhar em parceria com as organizações comunitárias.

No tocante a educação, considerando o que se pretende para os diferentes atores sociais, caberá integrar as propostas
feitas pelas instituições, buscando o sucesso no trabalho educativo. Sendo que a escola parece ser um bom local para
se intensificar um trabalho voltado à educação ambiental para a comunidade.

Ao mesmo tempo em que existem sinais de participação da comunidade, ainda não se percebe que a mesma esteja
conscientizada da importância da realidade ambiental na qual está inserida. A ESEC Carijós deverá ser melhor
compreendida pela comunidade, como uma possibilidade no estabelecimento da relação ser humano e natureza,
ampliando o grau de correlação entre os dois ambientes.

5.10. SAÚDE
Conforme consulta realizada no Diagnóstico do IPUF (2001) e através de contatos realizados junto à Secretaria
Municipal de Saúde de Florianópolis, nos meses de Agosto e Setembro de 2002, foi verificada: a) a existência de um
posto de saúde localizado em Santo Antônio de Lisboa que atende e todo o Distrito, inclusive a comunidade de
Barra do Sambaqui; b) Os serviços são oferecidos à comunidade de segunda à sexta, das 7:30 às 12:30h e das 13:00
às 18:30 através de diferentes profissionais de saúde sendo: 2 clínicos geral, 1 pediatra, 1 enfermeira, 2 técnicos de
enfermagem,12 agentes comunitários de saúde e 2 auxiliares administrativos; c) Os principais atendimentos feitos
são nas áreas de clínica geral e pediatria, exame preventivo, vacinação, teste do pezinho, pré-natal e nebulização. O
posto possui também uma farmácia que fornece medicamentos do SUS (Sistema Único de Saúde).

Dos 12 agentes de saúde comunitários existentes no distrito, 4 agentes fazem o atendimento na comunidade de Barra
do Sambaqui em atenção ao Programa de Saúde da Família. Este trabalho contempla a orientação básica e o
acompanhamento às famílias no atendimento aos principais grupos como: os hipertensos, que representam o número
de 63 pessoas; as gestantes, que atualmente são apenas 3; crianças da faixa de 0 a 5 anos, em um total de 96,
atualmente. Verifica-se um percentual elevado de gestantes adolescentes. Os diabéticos representam 30 casos. Estão
também no grupo de acompanhamento realizado pelas agentes, as doenças como a hanseníase e a tuberculose,
porém atualmente não há nenhum caso registrado.

O posto possui também um gabinete dentário com dentistas e 1 auxiliar. Durante as reuniões realizadas no
diagnóstico preliminar do Plano de Desenvolvimento integrado (IPUF) 2001, a única reclamação quanto ao setor de
saúde apresentada pela comunidade foi o descontentamento sobre a possibilidade de transferência de uma dentista
lotada junto à unidade de saúde. Por outro lado no processo de discussão da Agenda 21 Local, foi apontada a
necessidade de plantão noturno.

Apesar da comunidade estar atualmente abastecida com rede de água da CASAN, existem segundo a enfermeira
chefe do posto muitos casos de diarréia e doenças intestinais principalmente em crianças. Este fato ocorre, devido à
boa parte da população utilizar água não tratada, como forma de diminuição dos custos com o pagamento de água da
CASAN, de acordo com o mencionado no item, relativo ao saneamento.

Conforme contato com três agentes comunitárias, as mesmas fizeram algumas considerações sobre os trabalhos
desenvolvidos na comunidade, relatando o interesse em se criar um conselho distrital para melhor envolver a
comunidade nas decisões sobre as questões de saúde. Também se verifica a necessidade de formar grupos de jovens
para trabalhar as questões de combate às drogas e controle de natalidade em adolescentes.

15
Em pararelo a COMCAP, está viabilizando junto a Secretaria Municipal de Saúde um trabalho que intenciona
treinar os agentes de saúde (1 para cada 250 casas ) aproximadamente para atuarem em Atenção Primária
Ambiental, com especial enfoque na questão de resíduos.

Por ocasião do levantamento do diagnóstico preliminar do IPUF (2001), foram relatados a necessidade de
recolhimento de animais domésticos abandonados, fato este evidenciado pelas agentes, e que segundo elas, está
sendo iniciado um programa de controle de zoonoses através da Secretaria Municipal de Saúde. Obteve-se registros
de doenças intestinais e diarréias, como também doenças de pele, tais como as micoses, principalmente em crianças.
Registram-se doenças intestinais e diarréias, como também doenças de pele tais como as micoses principalmente em
crianças.

Quanto à saúde da população dada a característica da área verificada através dos documentos e dos poucos contatos
pode-se concluir que:

÷ É necessário, checar as informações através de visita local, verificando como a comunidade percebe os
problemas de saúde e qual a relação que faz com o meio aonde vive;
÷ Há necessidade de valorizar a atuação dos agentes de saúde no atendimento às famílias, como forma de
conexão entre a comunidade e o setor formal da saúde no sentido preventivo, bem como capacitá-los no
tocante às doenças relacionadas com a falta de saneamento;
÷ Divulgar informação na comunidade quanto aos problemas decorrentes do uso da água sem tratamento;
÷ Um desafio para a comunidade está em perceber a ameaça representada pela ocupação desordenada.

5.11. INTERAÇÕES REALIZADAS COM A COMUNIDADE


O contato com a comunidade foi realizado através de uma série de entrevistas realizadas na área de estudo,
envolvendo os moradores fixos, e representantes da associação de moradores, com o objetivo de verificar a validade
das informações obtidas através da base documental, junto às entidades.

Para tanto foi utilizado um roteiro de entrevistas semi-estruturada, construido com uma visão interdisciplinar,
considerando a pertinência das pessoas com o lugar.

Roteiro para Entrevista na Comunidade da Barra do Sambaqui

1 - O que você gosta em sua comunidade e o que não gosta?


(Pode-se levar a pessoa a desenvolver a idéia de passado presente e futuro, observar a idéia de mudanças ocorridas e
o sentimento, percepção em relação a essas mudanças, observar nível de satisfação, insatisfação e indiferença sobre
os diversos aspectos: ambiental; social; econômico; estrutural; saúde; educação; segurança; existência da ESEC
Carijós).

2 - Qual sua forma de envolvimento dentro da comunidade?


(Observar o nível de envolvimento nas questões do plano diretor, escola, saúde, saneamento, organizações sociais,
ESEC Carijós).

3 - Se você pudesse intervir em alguma coisa em sua comunidade o que faria e o que deixaria de fazer?
(Observar o nível de percepção sobre os impactos positivos e negativos, vontade de participar, necessidade de
informação para tomada de decisões, o que sabe e não sabe sobre enquadramento de ocupação das áreas e outras,
sentimento de pertinência ou não com o lugar onde vive).

4 - Questão livre o que gostaria de nos dizer ou dizer as pessoas fora de sua comunidade?
(Perceber o interesse sobre possibilidades e grau de informações, discussões e continuidade de trocas com agentes
externos).

Nome dos pesquisadores: ___________________________________________________


Local:
Data: __/__/__ Hora: __/__/__

16
Entrevistado: _____________________________________________________________
(Anotar nome e percepção da equipe sobre o mesmo)
Data, hora e local de reunião futura (sentir o grau de interesse em reunir).

No decorrer das entrevistas, houve a possibilidade de uma integração entre os pesquisadores e a comunidade, com a
possibilidade de percepção das reações emotivas dos moradores em relação à região.

Através dos relatos obtidos nas entrevistas realizadas, pode-se considerar que boa parte dos entrevistados tem
conhecimento da extração de areia dos rios, sem fiscalização ou qualquer tipo de controle. As questões de segurança
são bem regionalizadas, havendo problemas sérios em algumas ruas e ausência de qualquer reclamação em outras.
Nas ruas sem pavimentação, como é o caso da Rua do DAE, é a maior reivindicação da população havendo
disposição da mesma quanto a realização mutirão para calça-la. Há preocupação de algumas pessoas em que,
fazendo-se melhorias como a pavimentação da rua, atraia-se mais moradores para o local e isto contribua para
aumentar a degradação ambiental. A grande maioria dos entrevistados demonstrou ter consciência da importância
do mangue e da preocupação com a degradação que a região vem sofrendo e há reclamações de que muitos praticam
queimadas. Em alguns locais é solicitada mais iluminação pública;

O transporte coletivo no geral é criticado pelos poucos horários e pela má conservação dos ônibus. Poucas pessoas
conhecem a proposta do IPUF para mudança no Plano Diretor do bairro. Algumas pessoas vêm observando as
ocupações desordenadas e loteamentos em locais não destinados para esse fim, sabem que existem áreas verdes que
não podem ser ocupadas, mas reclamam que os ricos constroem as casas e derrubam árvores centenárias (querem a
lei igual para todos).

No que diz respeito ao esgotamento sanitário, grande parte dos entrevistados afirma ter fossa séptica, algumas com
sumidouro e outros sem ter certeza da existência deste. Não foi indagado durante as entrevistas da realização ou não
da manutenção das fossas. Pela situação observada em alguns locais, como a rua do DAE, por exemplo, pode-se
afirmar que a maioria das fossas não tem sumidouro e que não há manutenção periódica, uma vez que, é possível
verificar o afloramento nos terrenos do líquido proveniente da fossa saturada. Nesta mesma rua, nos últimos 100
metros uma tubulação coletora leva o esgoto diretamente a um canal que deságua no Rio Veríssimo. Algumas
pessoas têm consciência que o esgoto lançado diretamente nos rios vem contribuindo para a diminuição de peixes;

Em alguns locais muitas pessoas usam a água proveniente de cachoeiras ou poços, mesmo sendo servidos pela
CASAN, na maioria dos casos pela isenção da taxa de água. Há reclamações de acúmulos de lixo em locais
impróprios como margens de rios e barrancos.

Uma vez reunidas todas as informações e a correlação entre os dados foi realizada uma reunião com a comunidade,
na escola local, para apresentação dos resultados. A divulgação foi realizada através de chamadas em locais
públicos, e foi articulada com as lideranças comunitárias. Foi adotada uma metodologia, que iniciou a reunião com
uma atividade de integração e buscou representar que o objetivo do encontro estava ligado ao fato de que todos
poderiam ver as informações que apenas uns poucos conheciam.

As apresentações foram realizadas de forma a expor à comunidade os dados levantados, utilizando-se uma
linguagem simples, e de muitas imagens e gráficos. Na medida em que as imagens foram mostradas, os membros da
comunidade se identificaram com cada local, na medida que as informações iam sendo agregada.

Diversas lideranças da comunidade mencionaram que, por diversas vezes pesquisadores haviam percorrido a área e
entrevistado as pessoas, sendo que, entretanto, estes dados nunca haviam sido disponibilizados para os mesmos, e
nem mesmo haviam sido fornecidas as explicações.

Todos os materiais apresentados ficaram em exposição na escola, tendo sido também objeto de atividades com os
alunos e reuniões de pais.

17
6. CONCLUSÕES
Inicialmente os moradores não demonstraram entendimentos sobre a importância da Estação Ecológica Carijós, e o
impacto que a ocupação do entorno, onde está localizada a comunidade de Barra do Sambaqui, pode gerar sobre
aquele ambiente.

Os representantes da comunidade demonstraram interesse do entendimento dos dados apresentados, consolidando a


necessidade da apropriação do conhecimento sobre a área, envolvendo desde aspectos do bioma e principalmente o
estabelecimento de uma nova compreensão da ação antrópica.

Fica evidenciada a necessidade da informação como fator de empoderamento da comunidade, habilitando-a atuação
qualificada nos processos participativos, tais como, Agenda 21 Local, Conferência das Cidades, Comitês de Bacias,
e Planos Diretores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGENDA 21 local do município de Florianópolis. Meio Ambiente que faz a gente. Florianópolis:
Prefeitura municipal de Florianópolis, 2000. 243p.

ACSELRAD, Henri. Sentidos da Sustentabilidade Urbana. In: ACSELRAD, Henri (Org.) A Duração
das Cidades. Sustentabilidade e Risco nas Políticas Públicas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p.27-55.

BARROS, Edy Álvares Cabral de. A Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades e Santo Antônio:
1841 à 1910: a sua transição demográfica. Dissertação de Mestrado. Florianópolis. UFSC, 1979.

BRASIL/MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE/INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E


DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (MMA/IBAMA). Diagnóstico Rápido Participativo do Entorno
da Unidade de Conservação (DRPEUC), Florianópolis, 2001. 71p.
CARUSO, Mariléa Martins Leal. O Desmatamento da Ilha de Santa Catarina: de 1500 aos dias atuais.
Florianópolis. UFCS, 1983, 158p.

CECCA, Centro de Estudos Cultura e Cidadania. Uma Cidade numa Ilha: Relatório sobre os problemas
sócios ambientais da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Insular, 1997. 247p.

FERREIRA, Sergio Luiz. Histórias Quase Todas Verdadeiras, 300 anos de Santo Antônio e Sambaqui.
Florianópolis: Editora das Águas, 1998.
FOLADORI, Guillermo, TOMMAZZINO, Humberto. El Concepto de Desarrollo Sustentable Treinta Años
Después. In: Desenvolvimento e Meio Ambiente. N.1, p.41-56, jan/jun 2000. Ed. UFPR.

INSTITUTO DE PLANEJAMENTO DE FLORIANÓPOLIS (PMF/IPUF). Plano de Desenvolvimento


Integrado do Distrito de Santo Antônio de Lisboa. Diagnóstico Preliminar. Florianópolis, 2001.

INSTITUTO DE PLANEJAMENTO DE FLORIANÓPOLIS (PMF/IPUF). Disponível em:


(http://www.ipuf.sc.gov.br/principal.htm, acessado em 23/11/2002).

MATURANA, Humberto. Formação Humana e Capacitação. Petrópolis, RJ:Vozes, 2000. 86p.

MEDINA, Naná Mininni; SANTOS, Elizabeth C. Educação Ambiental. Uma metodologia participativa
de formação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, 229p.

SILVA, Daniel José da. Uma abordagem Cognitiva ao Planejamento Estratégico do Desenvolvimento
Sustentável. 1998. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção, UFSC. Florianópolis. 240p.

18
SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de
Dissertação – 3a.edição revisada e atualizada – Florianópolis: Laboratório de Ensino à Distância da UFSC, 2001.
121p.

SOARES, Iaponan, org. Santo Antonio de Lisboa: Vida e Memória. Florianópolis: Fundação Franklin
Cascaes, 1990. 203p.

SILVA, Iracy da Costa e. Características Sócio-Econômica-Cultural e Ambiental das Comunidades


Pesqueiras de Santo Antônio de Lisboa e Sambaqui. 2001. Monografia (Especialização em Educação Ambiental)
– Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental, UDESC. Florianópolis.

ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE CARIJÓS – ESEC Carijós, Disponível em:


(http://www2.ibama.gov.br/unidades/carijos, acessado em 09/09/2002).

19

Vous aimerez peut-être aussi