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Porto Inseguro

0 que os brasileiros
pensam dos índios?

-
a
Kísêdjê Kapêrê j

INSTITUTO INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL SOCIOAMBIENTAL
Acervo

POVOS INDÍGENAS ISA -PROJETO CAPACITAÇÃO

NO BRASIL

POVOS INDÍGENAS

TERRAS INDÍGENAS NO BRASIL


Classificadas segundo situação juridico-administrativa em 11/12/2000

1.474.506
570.970
2.045.476

www.socioambiental.org

103.679,621
Povos
no
Indígenas
BRASIL Porto Inseguro

0 que os brasileiros
pensam dos índios?

INSTITUTO
SOCIOAMBIENTAL
civil, sem fins lucrativos, fundada em 22 de abril de 1994.

Incorporou o patrimônio material e imaterial de 15 anos

de experiência do Programa Povos Indígenas no Brasil,

do Centro Ecumênico de Documentação e Informação

(CEDI), e o Núcleo de Direitos Indígenas NÜ I), de | Brasilia.

Com sede em São Paulo (SP) e filiais em Brasília (DF)

e São Gabriel da Cachoeira (AM), além de bases locais

para a implantação de projetos demonstrativos, o Instituto

tem como objetivo defender bens e direitos sociais, coletivos

e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural,

aos direitos humanos e dos povos. 0 ISA produz estudos,

pesquisas, projetos e programas que promovam a

sustentabilidade socioambiental, divulgando a

diversidade cultural e biológica do país.

Para saber mais sobre o ISA consulte

www.socioambiental.arg

Conselho Diretor:

Neide Este rei (Presidente), Enrique Svírsky (Vice-presidente),

Juliana Santilli, Leão Serva e Márcio Santilli

Secretários Executivos:

Nilto Tatto (Secretário Geral) e Sérgio Mauro (Serra) Santos Filho

São Paulo
Av. Higienópolis 901
01238-001 São Paulo SP Brasil
Telefone: 55 11 3825.5544 Fax: 55 11 3825.7861
socioamb@ax.apc.org

Brasília
SCLN 210 Bloco C sala 112
70862-530 Brasília DF Brasil
Telefone: 55 61 349.5114 Fax: 55 61 274.7608
isadf@tba.com.br

São Gabriel da Cachoeira


Rua Projetada 70 Centro Caixa Postal 21
96750-000 São Gabriel da Cachoeira AM Brasil
Telefone/ Fax: 55 92 471.1156
,

?!-_>/> Acervo
-//ISA

i
I
I
I
EZEQUIAS HERINGER (XARÁI
11948 1996)
1
BEPGOGOTI MEKRAGNOTI
17-1996)

VIRGÍNIA VALADÃO
KRUMARE METUKTIRE 11952-1998)
DARCY RIBEIRO (7-1998)

11922-1997)

PREPORI KAIABI
CLAUOIO VILLAS-BÔAS ARACY LOPES DA SILVA (7-2000)

11916-19981 (1949-2000)

EM MEMÓRIA
" O Reencontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos

de uma necessária aliança entre parceiros igualmente diferentes

de modo a podermos juntos deslocar o desequilíbrio perpétuo do


, ,

mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim "

(excerto do texto de Eduardo Viveiros de Castro, na página 54)


•?tLj7 ^ Acervo
-//Tis a
E -

'JíLíZs* Acervo

_//f ISA
Apresentação 007

Palavras Indígenas 016

Temas Brasil 500 x Povos Indígenas 216 055

Demografia e Línguas 077

Legislação 089

Política Indigenista 107

Terras Indígenas: Demarcação e Exploração de Recursos Naturais 161

Organizações Indígenas 195

Projetos Governamentais de Desenvolvimento Regional 223

Regiões Geográficas 1. 2.1.

NOROESTE RORAIMA
AMAZÔNICO SERRA
LAVRADO

5Ít
241 293

TAPAJÓS/ SUDESTE
MADEIRA* DO PARÁ

12 . 13. 14.

RONDONIA OESTE PARQUE GOIÁS/


DO MATO INDÍGENA TOCANTINS/
GROSSO DO XINGU MARANHÃO

i ; Sêm

Siglas 81 7. Diretório Nacional 821 . Fontes 824.

índice Remissivo de Povos 825. índice Geral 827.


INSTITUTO
SOCIOAM B ENTAL I

www.socioambiental.Qrq

Editor responsável Processamento de dados Apoio de longo prazo para a


Carlos Alberto (Beto) Ricardo Rodolfo Marincek (coordenação), realização do PIB 1996/2000
Alexandre Malfatti, Ana Carina Gomes
Coordenadora da Equipe de
de Andrade e Rosane Sinalo
edição, redação e pesquisa
Fany Pantaleoni Ricardo

Edição de imagens
Administração
Moisés Pangoni, Reinaldo Yoshikawa,
O
dnup
Carlos Alberto de Souza, Marcelo de Souza,
Beto Ricardo
Cristina Khan (Brasília), Solange de Oliveira

Equipe de edição, redação e pesquisa e Mareia M.Veloso

Fernando luís B.Vianna, Juliana Portenoy Apoios complementares


Colaboradores autorais
(estagiária), Luís Donisete, Marco Antonio MEC - Ministério da Educação - SEF/DPE/
Os nomes dos colaboradores que escreveram
Gonçalves, Marcos Rufino, Marta Amoroso Assessoria de Educação Escolar Indígena
cederam fotos aparecem
artigos e notícias ou
e Renato Sztutman
nos créditos dos respectivos textos e fotos
Preparação de originais e Apoio institucional
Colaboradores editoriais
secretaria de produção gráfica
Ana Valéria Araújo, Antonella Tassinari,
Vera Feitosa
Bruce Albert e Marina Khan
Revisão
Agradecimentos
Heloisa Barros, Juliana Portenoy e Vera Feitosa
Ana Lange, Ariovaldo José dos Santos, Benigno
Design e produção gráfica Marques, CCPY, Denise Fajardo, Dominique Tilkin
Roberto Strauss Edson Beiriz, Eliane Pequeno, Fábio
Gailois,
Montenegro, Funai (Imperatriz, São Luís, Belém, Cortesias de imagens (Agências)
Editoração eletrônica Altamira, Oiapoque, Marabá, Cuiabá, Itaituba, Agência Estado
Roberto Strauss (coordenação), Luciana Zanin Eunápolis/BA, João Pessoa, Parintins, Manaus, Ainazônia 21
e Thaís de Almeida Marão Schiavan Guarapuava, Porto Velho, Chapecó, Gurupi e Abri! Imagens
Suajará Mirim), IDS, Jornal Diário Catarinense,
Mapas e análises espaciais
Jornal Estado de Minas, Juliana SeElani,
Laboratório de Geoprocessamento do ISA
Serviços de Burcau
Leonardo Carneiro da Cunha, Ligia Neiva, Maria
Alicia Rol3a (coordenação), Edna Amorim dos Paper Express
Cristina Troncarelli, Maria Eliza Leite, Maura
Santos e Cícero Cardoso Augusto
Campanili, Michel Pellanders, Mônica Maia, Impressão e Acebameflto
Donnettey-Cochrane Gráfica
Documentação Noraídino Cruvinel, Patrícia Mesquita, Renato
Editora do Brasil Uda - DivisíEo Hamburg
Ângela Galvão (coordenação), Leria M. Luiz Ferreira/Agência Estado, Ricardo Beliel,
Tiragem
M. da Silva e Luiz Adriano dos Santos Rodrigo Mesquita, Roque Larata, Rosa Gauditano,
3.00D exemplares
Secoya, Sérgio Leitão, Suzana Camargo, Sydney
Possuelo, Urihi, Walter B!ós e Walter Coutinho Pepol
Mialo impresso em papel Print Mex ySg/m2
(Votorartfim) e Páler. BoSd 70 g/m 2
(Ciu. Suzana de Papel u Celulose)

Guardas em papel Pólen Rustic 180 g/m 2


Suzana de Papel e Celulose)
(Cia.

Cepa em Cartão Supremo 250 g/m 2


(Cia. Suzana de Papel e Celulose)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Povos indígenas no Brasil, 1996-2000/ [Carlos Alberto Ricardo (editor)]. -


São Pauío: Instituto Socioambiental, 2000.

Vários colaboradores.

ISBN 85-994-09-6

1. índios da América do Sul - Brasil 2. Povos indígenas - Brasil I.

Ricardo, Carlos Alberto, 1950-

00-5385 CDD-980.41

índices para catálogo sistemático:


1. Povos indígenas 980.41
Brasil:
2. Povos indígenas: Brasil 980.41
0
Acervo
~í/í ISA
APRESENT A Ç Ã

Prezado leitor(a):
VOCÊ ACHA QUE ATÉ 1 .500 TODO DIA ERA DIA DE ÍNDIO, MAS HOJE
ELES SÓ TÊM O DIA 19 DE ABRIL? Não é bem assim! Repare! Aqui no ISA, por
exemplo, como nas milhares de aldeias dos mais de 200 povos nativos diferentes que hoje
vivem no país, todo dia continua sendo dia de índio. Esta publicação é um dos frutos de um
olhar cotidiano, atento e dedicado, que teve início na década de 70. A tarefa de tecer
um painel abrangente da situação atual dos povos indígenas no Brasil tem
sido, de fato, um quebra-cabeça somente possível pela persistência de uma
equipe de pesquisadores-editores do ISA, coordenada por Fany Ricardo, que,
ao longo dos anos, manteve rotinas diárias para receber e buscar informa-
ções qualificadas, dentro de uma estratégia acumulativa que contou com
uma extensa rede de colaboradores voluntários. POVOS
lllcIlCJCIlCIS
no Brasil 1996/2000 é uma obra de referência que se soma a uma

série iniciada em 1980, pelo CEDI. Traz um resumo comentado das políticas indigenistas,

oficiais e não-governamentais e da política propriamente indígena. Reúne informações


qualificadas e abrangentes sobre a situação jurídica e de fato das terras indígenas, dos

conflitos, da demografia, das línguas, da legislação e outros temas afins. Todo o material

está organizado em oito capítulos temáticos e 1 8 capítulos regionais, com índice remissi-

vo por povo.Nas 832 páginas deste volume, o leitor encontrará 81 artigos


assinados, a maior parte inéditos, e 1.713 noticias extraídas e resumidas a
partir de fontes diretas, de 77 fontes de imprensa e um vasto conjunto de
documentos avulsos (ver relação na página 824 ), além de grafismos, quadros, 27
mapas e 270 fotografias. A propósito dos chamados >-500 anos do Brasil <, desta
vez decidimos abrir com um capitulo especial reunindo doze narrativas indígenas sobre a
origem do mundo, a chegada dos brancos e o "descobrimento", das quais emergem ver-

"Os índios são anteriores aos brancos, na


sões recorrentes e reveladoras.
ordem do parentesco e na ordem do território. Os brancos não che-
garam aqui, eles saíram daqui; não descobriram os índios, mas enco-
briram a si mesmos, ató voltarem para o que pensaram ser um en-
contro com o desconhecido, mas que não foi senão um reencontro
com O olvidado." (ver adiante et texto* de MVC, nas pgs. 16 e *9 a 54)
Como diz Davi Kopènawa/yanomami, "os brancos nunco pensam nessas coisas que os
xamãs conhecem, é por isso que eies nãô tem medo. Seu pensamento esta cheio dè esque-
cimento. Eles continuam a fixá-lo sem descanso em suas mercadorias, como se fossem

suas namoradas." { Nos últimos cinco anos da cena indíge-


ver adiante nas pgs. 19 a 23 )

na-indigenista brasileira aqui resumidos, merecem dGStBCfUC pOSÍtí-


VO, entre outros: a continuidade do crescimento global da população indí-
gena, o avanço significativo no reconhecimento oficial e demarcação das
terras indígenas, a diferenciação e descentralização dos serviços de atendi-
mento à saúde e educação escolar indígenas, o protagonismo crescente das
organizações indígenas no chamado "mercado de projetos", o desengave-
tamento do Estatuto das Sociedades Indígenas, o avanço da tramitação no
Senado da ratificação da Convenção 169 da OIT, a decisão histórica do TRF
que obriga a União indenizar os gigantes Panará pelos danos causados após
o "contato" e a positividade da visão que os brasileiros têm dos índios. Entre
os destaques neÇJQtlVOS, há pelo menos doze povos na linha vermelha da
extinção demográfica e 3% da população araweté, um povo tupi que vive na região do
médio Xingu (PA), morreu em conseqüência de um surto de catapora (!) no final do ano
2000, por não dispor de cobertura vacinai prévia; cresceu a ocupação predatória do
entorno do Parque Indígena do Xingu, ameaçando a sustentabilidade da terra indígena
mais consagrada do país; o não-demarcação pelo governo federal da Terra Indígena
Raposa-Serra do Sol (RR), diante das pressões políticas locais; ao invés de discutir a con-
servação e o uso sustentável dos recursos naturais, conservacionistas e indigenistas dispu-
tam em bravatas de salão primazias antagônicas a respeito de áreas sobrepostas, fazen-
do o jogo corporativista das burocracias ditas competentes; e, a ausência de uma política

indigenista oficial compatível com os novos tempos pós Constituição de 1988, propician-
do sobrevida ao "abacaxi Funai", que já chegou ao 27° presidente em 33 anos. En-
quanto o Estado não atualiza suas formas de relacionamento com os povos
indígenas, superando o paradigma tutelar e passando a encarar as terras
indígenas numa estratégia mais ampla de "áreas protegidas", o prêmio "ve-
xame anunciado" do período vai para a dobradinha governo federal PM -

baiana que, ao impedir com violência o acesso da Marcha Indígena ao local


da festa oficial em comemoração ao chamado “descobrimento", produziu um
gesto autoritário e excludente que rebatizou de Inseguro, aos olhos dos
índios, o Porto onde o Brasil começou.

Beto Ricardo, Editor. São Paulo, dezembro de 2000.

CopvngMad r
Acervo
//\C I SA

DE ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS E DE APOIO BRASILEIRAS


• ANAÍ - Associação Nacional de Ação Indigenista [www.anai.org.br/]
Traz informações sobre a instituição e os povos indígenas do Nordeste.
•Associação Xavante Warã [www.imaginario.com.br/questoes/xavante/index.htm]
Promove a campanha movida por Xavante da aldeia ldzô'uhu contra o desmatamento do cerrado.
• CCPY - Comissão Pró-Yanomami [www.ccpy.org.br/]

Traz notícias sobre os Yanomami, incluindo seus próprios boletins e referências bibliográficas.
•CEDEFES- Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva [www.cedefes.org.br/]
Informações sobre os índios de Minas Gerais.
• CTI- Centro de Trabalho Indigenista [www.trabalhoindigenista.org.br/]
Informa sobre as atividades da organização junto aos Guarani, Terena, Waiãpi e povos Timbira.
• IDETI - Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas [ www.ideti.org.br/]
Divulga os cursos e atividades culturais desta organização Xavante, destinados ao público não-indígena.
• ISA - Instituto Socioambiental [www.socioambiental.org/]
Divulga as ações dos diversos programas da instituição, campanhas e ações judiciais, "clipping" diário, notícias
exclusivas e um extenso banco de informações atualizadas sobre povos indígenas no Brasil, incluindo verhntBs pnr Ptnia
• Operação Amazônia Nativa [www.opan.org.br/]
Informações institucionais sobre a organização indigenista com sede em Cuiabá (MT), fundada em 1969.
• OPITARJ - Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá e Jordão
[www.amazonlink.org/opitarj/port/]
Conta a história da organização, fundada em 1994, relata os seus projetos atuais e apresenta sumariamente
a cultura dos Kaxinawá, Ashaninka, Katukina e Yawanawá, que vivem no estado do Acre.
• PWA - Programa Waimiri Atroari [www.waimiriatroari.org.br/]
Informações sobre este povo indígena e sobre as ações do PWA, apoiado pela Eletronorte.
• Vídeo das Aldeias [www.videonasaldeias.org.br/]

Traz informações institucionais e o catálogo com fragmentos dos vídeos, vários

DA IGREJA CATÓLICA
• Cimi - Conselho Indigenista Missionário [www.cimi.org.br/]
Disponibiliza informes e denúncias sobre fatos envolvendo os povos indígenas de todo o país,
incluindo a versão eletrônica do periódico Porantim e fornece informações sobre a instituição -
que é orgão oficial da CNBB - Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil.
•0 Mensageiro [www.mensageiro.freeweb.supereva.it/]
Versão eletrônica da revista 0 Mensageiro do regional Norte II do Cimi.

DE ORGANIZAÇÕES GOVERNAMENTAIS BRASILEIRAS Jorge Proladi. Xavante de Pimentel Barbosa (MT),


realizador do vídeo “Waptè, a Iniciação do Jovem Xavante".
• Funai - Fundação Nacional do índio [www.funai.gov.br/]
Apresenta a política indigenista oficial e as ações do governo no âmbito dos índios.
•Funasa - Fundação Nacional de Saúde [www.funasa.gov.br/]
0 link "Saúde Indígena” traz informações, legislação, normas e documentos oficiais.
•MAE - Museu de Arqueologia e Etnologia da USP [www.mae.usp.br] 0 MELHOR EM VÍDEO
Informações sobre seu acervo de 120 mil peças, além de exposições, cursos e loja. índios no Brasil é uma série de dez programas de 20'cada,
•MEC - Ministério da Educação [www.mec.gov.br/sef/indigena] mostrando como vivem e o que pensam índios de nove povos
Informações sobre programas oficiais e legislação a respeito de educação indígena contemporâneos. Realização da TV Escola, da Secretaria
de Educação à Distância do Ministério da Educação, com
• Museu do índio [www.museudoindio.org.br/]
produção da ONG Vídeo nas Aldeias. Acompanham a série três
Informação sobre as atividades do Museu, suas exposições, imagens e serviços.
cadernos com textos de antropólogos em linguagem didática,
• Presidência da República [www.planalto.gov.br/secom/colecao/indio.htm]
publicados peia Secretaria de Ensino Fundamental do
Disponibiliza o documento Sociedades Indígenas e a Ação do Governo MEC, responsável pela distribuição do material.

NA AMERICA LATINA E NO MUNDO


• Abya Yala Net [www.nativeweb.org/abyayala/]
Apresenta algumas informações sobre os povos indígenas do México, América Central e América do Sul.
• COICA - Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazônica
[www3.satnet.net/coica/]
Informa as ações da entidade e suas publicações.
• Cultural Survival [www.cs.org/]
Informa sobre as atividades e publicações em defesa de povos indígenas em todo o mundo.
• IWGIA - International Work Group for Indigenous Affairs [www.iwgia.org/]
Divulga informações e suas publicações na defesa dos interesses indígenas em todo o mundo.
• Lenguas Indígenas de la Amazônia [www.abyayala.org/Linda/index.html]
Site da Red de Lenguas Indígenas de la Amazônia.

• Página do Melatti [www.geocities.com.Rain Forest/Jungle/6885/index.html]


0 etnólogo Júlio Cezar Melatti (UnB) disponibiliza parte de seus trabalhos e um curso
sobre as áreas etnográficas da América do Sul.
Acervo

(Fonte: Banco de Dados do Programa Povos Indígenas no Brasil - Instituto Socioambiental, dezembro/2000)

Nome Outros nomes ou grafias Família/língiia UF (Brasil) População Ano


Países Limítrofes censo/estimativa

1 . Aikanã Aikaná, Massaká, Tu barão Aikanã RO 175 1995

2. A) uru Tupari RO 38 1990

3. Akunsu Akuntsu ? RO 7 1998

4. Amanayc Amanaié TYipi-Guarani PA 190 2000

5. Am onda wa Tupi-Guarani RO 80 2000

6. Anambé Tupi-Guarani PA 132 2000

7. Aparai Apalai Karíb PA 415 1998

8. Apiaká Apiacá Tupi-Guarani MT 92 1998

9. Apinayé Apinajé, Apinaié Jê TO 990 1999

10 . Apurinâ Aruák AM 2.779 1999

11. Arapaso Arapaço Tukano AM 300 1998

12. Arara rkarãgmã, Ukarammã Karíb PA 195 1998

13. Arara Karo Ramarama RO 184 2000

14. Arara Shawanauá Pano AC 200 1999

15. Arara do Aripuanã Arara do Beiradão ? MT 150 1994

16. Araweté Arauetc Tupi-Guarani PA 278 2000

17. Arikapu Aricapu J aboli RO 2 1999

18. Arikem Ariquen Arikem RO ?

19. Aruá Monde RO 6 1997

20. Ashaninka* Kampa Aruák AC 813 1993


Peru 55.000 1999

21. Asurini do Tocantins Akuáwa Tupi -Guarani PA 338 1998

22. Asurini do Xingu Awaeté Tupi-Guarani PA 91 1999


** PE 2.743 1999
23. Atikum Aticum

24. Avá-Canoeiro TTipi-Guarani TO/ GO 16 2000

25. Aweti Audi Aweti MT 106 1999

26. Bakairi Kurâ. Bacairi Karíb MT 950 1999

27. Banawa Yafi Banawa Arawá AM 215 1999

28. Baniwa* Baniua, Baniva, Walimanai, Aruák AM 4.000 2000


Wakuenai Colômbia 7.000 2000
Venezuela 1.192 1992

29. Bará* Waípinõmakã Tukano AM 54 1988


Colômbia 296 1988

30. Barasana* Hanera Tukano AM 61 1988


Colômbia 939 1998

31 Barc* Nheengatu AM 2.790 1998


Venezuela 1.210 1992

32. Bororo Boe Bororo MT 1.024 1997


** RO ?
33. Cassupá

34. Chaniacoco* Samuko MS 40 1994


Paraguai 908 1992

35. Chiquitano* ? MT ? 1995


Bolívia 55.000

36. Cinta l-arga Matétamãe Mondé MT/RO 643 1993

37. Columbiara Corumbiara ? RO ?

38. Deni Arawá AM 672 2000

39. Desana* Desâna, Desano, Dessano, Tukano AM 1.464 1998


Wira, llmukomasl Colômbia 2036 1988

40. Diahui Jahoi, Jahui, Diarroi Tupi-Guarani ,AM 17 1999

41. Enawenê-Nawê Salumâ Aruák MT 320 2000

42. Fulni-ô Yatê PE 2.930 1999

43. Galibi Marworno Galibi do Uaçá, Aruã Karíb AP 1.764 2000

10 APRESENTAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Nome
Nom Outros nomes ou grafias Fainíl ia/l íngua UF (Brasil) População Ano
Países Limítrofes censo/estimativa

44. Galibi* Galibi do Oiapoque Karíb AP 28 2000


Guiana Francesa 2.000 1982

45. Gavião Digüt Monde RO 436 2000


46. Gavião Parkatejê, Gavião do Jê PA 338 1998
Mãe Maria
47. Gavião Pukobiê, Pykopjê, Jê MA 250 1998
Gavião do MA
48. Guajá Awá, Avá "Oipi-Guarani MA 280 1998

49. Guajajara Tenethehara Tupi-Guarani MA 11.450 1998

50. Guarani* Tupi-Guarani MS/SP/RJ/PR/ 35.000 1998


ES/SC/RS
Kaiowá Pãi Tavyterã Tupi-Guarani MS/Paraguai Paraguai: 25.000 1995
Nandcva Avakatuelé, Chiripá T\ipi-Guarani MS/SP/PR/Paragiiai
M‘bya I\ipi-Guarani SP/RJ/ES/PR/SC/RS Brasil: 3.000 2000
Argentina/Paraguai

51- Guató Guató MS 372 1999

52. Ingarikó* Ingaricó Akawaio, Kapon Karíb RR 675 1997


Guiana 4.000 1990
Venezuela 728
53. Iranxc Irantxe, Manôki Iranxe MT 217 2000
54. Jaboti Jaboti RO 67 1990

55. Jamamadi Yamamadi, Djeoromitxi Arawá AM 320 1999

56. Jarawara Jarauara Arawá AM 197 1999


Jiripancó Jeripancó •* AL
57. 1500 1999
58. Juma Yuma Tupi-Guarani AM 7 2000

59. Kaapor Urubu-Kaapor, Ka’apor, T\ipi-Guarani MA 800 1998


Kaaportê

60. Kadiweu Caduveo, Cadiuéu Guaikuru MS 1.592 1998

61. Kaimbé Caimhé •* BA 634 1999


62. Kaingang Caingangue Jê SP/PR/SC/RS 25.000 2000
**
63. Kaixana Caixana AM 224 1997
64. Kalapalo Calapalo Karíb MT 362 1999
65. Kamayurá Camaiurá Tupi-Guarani MT 316 1999
66. Kamba Camba 7 MS ?

67. Kambeha Cambeba, Omágua Tupi-Guarani AM 156 2000


Kambiwá Cambiuá ** »*
68. PE 1.578? 1999
Pipipã

69 Kanamanli Ganam anti Arawá AM 162 1999


70. Kananiari Canamari Katukina AM 1.327 1999
71. Kanela Apaniekra Canela, Timbira Jê MA 458 2000
72. Kancia Rankokamekra Canela, Timbira Jê MA 1.387 2000
73. Kanoe Canoe Kanoe RO 84 1997
74. Kamarurc Cantaruré •* BA 244 1996
75. Kapinawá Caplnauá ** PE 422 1999
76. Karajá Carajá Karajá MT/TO/PA 1.804 1997
77. Karajá/Javaé Karajá TO 919 2000
78. Karajá/Xambioá Karajá do Norte Karajá TO 185 1997
79. Karapanã* Carapanâ, Muteamasa, Tukano AM 38 1998
llkopinõpõna Colômbia 412 1988
80. Karapotó Carapotó ** AL 796 1999
81. Karipuna Caripuna Tupi-Guarani RO 20 2000
82. Karipuna do Amapá Caripuna Creoulo Francês AP 1.708 2000
83- Kariri Cariri ** CE ?

84. Kariri-Xocó Cariri-Chocd *• AL 1.500 1997


85. Karitiana Cari tiana Arikem RO 360 2000
86. Kaluena Catuena Karíb PA/AM 7

87- Katukina Pcdá Djapá Katukina AM 578 1999

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL APRESENTAÇAO


Nome Outros nomes ou grafias Família/língua UF (Brasil) População Ano
Países Limítrofes censo/estimativa

88. Katukina Pano AC 318 1998


89. Kaxarari Caxarari Pano AM/RO 190 1993
90. Kaxinawá* Huni-Kuin, Cashinauá, Pano AC 3.964 199»)
Caxinauá Peru MOO 2000
••
91. Kaxixó MG ?

92. Kaxuyana Caxuiana Karíh PA 69 1998


93- Kaiabi Caiabi, Kayabi Tupi-Guarani MT/PA 1 .000 1999
94. Kayapó Mebegnokre, Caiapó, jf MT/PA 6.306 2.000
Gorotire, Aukre, Kikretun
Mekragnotire,
Kuben-Kran-Ken, Kokraimoro,
Meiuktire, Xikriti Kararaô

95. KJ ri ri BA 1.346 1999


96. Kocama* Cocama Tupi Guarani AM 622 1989
Peru 10.705 1993
Colômbia 236 1988
97. Konibo Pano AM 250 2000
98. Kokuiregalejê Timbira Jê MA ?

99. Krahô Craô, Kraô. Timbira jí TO 1.790 1999


100. Kreje Timbira. Krenyê PA ?

101. Krcnak Borun, Crenaque Krenak MG 150 1997
102. Krikaii Krinkati, Timbira Jê MA 620 2000
103. Kwazá Coaiá, Koaiá Língua isolada RO 25 1998
104. Kubeo* Cubeo, Gobewa, Kubéwa. lYikano AM 262 1998
Pamíwa Colômbia 4.238 1988
105. Kuikuro Kuikuru Karíb MT 394 1999
106. Kujubim Kuyubi Txapakura RO 14 1990
107. Kulina/Madihá* Culina, Madija, Madiha Arawá AC/AM 2.318 1999
Peru 300 1993
108. Kulina Pano Culina Pano AM 20 1996
109. Kuripako* Curipaco, Curripaeo, Aruák AM 1.100 2.000
Corípaco, Wakuenai Venezuela 2.585 1992
Colômbia 6.790 1988
110. Kuruaia Curuáia Mundurukú PA ?

111. Machineri Manchineri Aruák AC 459 1999


112. Macurap Makurap Tuparí RO 129 1990
113. Maku* Macu, Maku AM 2.548 1998
Maku Yuhupde Maku Colômbia 678 1995
Maku llupdá Maku
Maku Nadcb Maku
Maku Dow Maku
Maku Cacua e Nucak Maku
114. Makuna* Macuna. Yeba-masà lYikano AM 42 1998
Colômbia 528 1988
115. Makuxi* Macuxi, Macushi, Pcmon Karíb RR 16.500 2.000
Guiana 7.500 1990
116. Marubo Pano AM 1.043 2000
117. Matipu Karíb MT 98 1999
118. Matis Pano AM 239 2000
119. Matsé* Mayoruna Pano AM 829 2000
Peru 1.000 1988
120. Mawayana Karíb PA/AM 1

121. Maxakall Maxacali Maxakali MG 802 1997

122. Mehinako Meináku, Meinacu Aruák MT 183 1999


123. Menky Myky, Munku, Menki Iranxe MT 78 2000
124. Miranha* Mirãnha, Mirana Bora AM 613 1999
Colômbia 445 1988
125. Mirili Tapuia Miriti-Tapuya. Buia-Tapuya Tukano AM 120 1998

12 APRESENTAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 -


INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
^/-//--Acervo
f 1 r- a

Nome Outros nomes ou grafias Família/língua UF (Brasil) População Ano


Países Limítrofes censo/estimativa

126. Munduruku Mundurucu Munduniku PA 7.500 1997

127. Mura Mura AM 5.540 2000

128. Nahukwá Nafuquá Karíb MT 92 1999

129. Nambikwara Anunsu, Nhambiquara Nambikwara MT/RO 998 1999


Nambikwara do Campo Halotesu, Kithaulu, Nambikwara
Wakalitesu, Sawentesu
Nambikwara do Norte Negarotê, Mamaindê, Nambikwara
Latundê, Sabanê e Manduka,
Tawandê
Nambikwara do Sul Hahaíntesu, AJantesu,
Waikisu, Alaketesu,
Wasusu, Sararé

130. Nukini Nuquini Pano AC 425 1999

131. Ofaié Oíayé-Xavante Ofaié MS 56 1999

132. Oro Win Txapakura RO 50 2000

Paiaku Jenipapo-Kanindé *• CE 220


133. 1999

134. Pakaa Nova Wari, Pacaás Novos Txapakura RO 2.050 1996

135. Palikur* Aukwayene, Aukuyene. Aruák AP 918 2000


Palikuene Guiana Francesa 470 1980

136. Panará Krenhakarore, Krenakore, Jê MT/PA 202 2000


Krenakarore, índios
Gigantes Kreen-akarore

Pankararé Pancararé ** BA 1.027


137. 1996
**
138. Pankararu Pancararu PE 4.146 1999
Kalankó 230 1999
Karuazu ?

**
139. Pankaru Pancaru BA 84 1999

140. Parakanã Paracanà, Apiterewa 1'upi Guarani PA 746 1999

141. Pareci Paresi, Haliti Aruák MT 1.293 1999

142. Parintintin Tupi -Guarani AM 156 2000

143. Patamona* Kapon Karíb RR 50 1991


Guiana 5.500 1990

144. Pataxó ** BA 4.151 1998


**
145. Pataxó Hã-Hã-Hãe BA 2.050 1998

146. Paumari Palmari Arawá AM 720 1999

147. Paumelcnho ? RO ?

148. Pirahã Mura Pirahã Mura AM 360 2000


149. Piratuapuia* Piratapuya, Piratapuyo, "ftikano AM 900 1998
Pira-Tapuya, Waíkana Colômbia 400 1988
••
150. Pitaguari CE 871 1999
**
151. Potiguara PB 7.575 1999
152. Poyanawa Poianáua Pano AC 403 1999

153. Rikhaktsa Canoeiros. Erigpaktsa Rikbaktsa MT 1.025 1998

154. Sakurabiat Mekens, Sakirabiap, Sakirabiar Tupari RO 55 1999

155. Sateré-Mawé Sataré-Maué Mawé AM 7.134 2000

156. Shanenawa Katukina Pano AC 178 1998

157. Siriano* Siria-Masã Tukano AM ? 1988


Colômbia (665)

158. Suruí Aikewara Tupi-Guarani PA 185 1997

159. Suruí Paíter Mondé RO 586 1992

160. Suyá Suiá Jê MT 273 1999


161. Tapayuna Beiço-de-Pau Jê MT 58 1995

Tapeba **
162. CE 2.491 1999

163. Tapirapé TapHrape Tupi-Guarani MT 438 2000


164. Tapuia Tapuia-Xavante, Tapuio GO 235 1998
165. Tariano* Tariana, Tal i ase ri Aruák AM 1.595 1998
Colômbia 205 1988

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL APRESENTAÇÃO 13


Nome Outros nomes ou grafias Família/língua IF (Brasil) População Ano
Países Limítrofes censo/estlmativa

166. Taurepang* Tauiipang Pemon, Arekuna Karíb RR 532 1998


Venezuela 20.607 1992

167. Tembé Tupi-Guarani PA/MA 820 1999

168. Tenharim Tupi-Guarani AM 585 2000

169. Terena Aruák MS 15.795 1999

170. Ticuna* Tikuna, "ftikuna, Magiila Ticuna AM 32.613 1998


Peru 4.200 1988
Colômbia 4.535 1988

171. Tingui Boló ** AL 288 1999

172. Tiriyó* Trio, Tarona, Yawi, Karíb PA 735 1998


Ewarhuyana Pianokoto Karíb PA
Tsikuvana Karíb PA
Kahvana Karíb PA
Suriname 376 1974

173. Torá Txapakura AM 51 1999

174. Tremembé ** CE 1.511 1999

175. Truká « PE 1.333 1999

176. Trumai Trumai MT 92 1999

177. Tsohom Djapá Tsunhum-Djapá Katukina AM 100 1985

178. Tukano* TTicano, Ye'pâ-masa, Dasea Tukano AM 3.670 1998


Colômbia 6.330 1988

Tumbalala ** BA
179. ?

180. Tu pari Tuparí RO 204 1992

181. Tupiniquim •• ES 1.386 1997

182. Turiwara Tupi-Guarani PA 60 1998


** BA/PE
183. Tuxá 1.630 1999

184. Tuyuka* Tuiuca, Dokapuara, Tukano AM 530 1998


LTapinõmakãphõná Colômbia 570 1988

185. Txikão Txicão, Ikpeng Karíb MT 281 1999

186. Umutina Omotina. Barbados Bororo MT 124 1999

187. Uru-Eu-Wau-Wau llrueu-Uau-Uau Tupi-Guarani RO 124 2000

188. Urupain ? RO ?

189. Wai Wai* Waiwai Karíb RR/AM/PA 2.020 2000


Karafawyana Karíb PA/AM
Xereu Karíb PA/AM
Hixkarvana Karíb PA/AM
Karíb Guiana 130 2000

190. Waiãpi* Wayampi, Oyampi, Wayãpy, Tupi-Guarani AP 525 1999


Guiana Francesa 412 1992

191. Waimiri Atroar! Kinã Karíb RR/AM 798 1999

192. Wanano* Uanano, Wanana TTikano AM 487 1998


Colômbia 1.113 1988

193. Wapixana* Lapixana. Vapidiana, Aruák RR 6.500 2.000


Wapisiana, Wapishana Guiana 4.000 1990

194. Warckcna* liarequena, Werekena Aruák AM 491 1998


Venezuela 409 1992

Wassu ** 1.447 1999


195. .AL

196. Waurá Uaurá, Wauja Aruák MT 270 1999

197. Wayana* Waiana, Uaiana Karíb PA 415 1999


Suriname 400 1999
Guiana Francesa 800 1999

198. Witoto* Uitoto, Huitoto Witoto AM ?

Colômbia 5 .939 1988


Peru 2.775 1988

199. Xakriabá Xacrlabá Jê MG 5.093 1997

200. Xavante A'uwe, Akwe, Awen. Akwen Jê MT 9.602 2000

201. Xerente Akwc, Awen. .Akwen Jê TO 1.814 2000

202. Xetá l\ipi-Guarani PR 8 1998

203. Xipaia Shipaya Juruna PA ?

14 APRESENTAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 -


INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl
.Nome Outros nomes ou grafias Família/língua UF (Brasil) População Ano
Países l imítrofes censo/estimativa

204. Xokó Xocó, Choco **


SE 250 1987

205. Xokleng Shokleng li SC 757 1998

206. Xukuru Xucuru **


PE 6.363 1999

207. Xukuru Xucuru-Kariri **


Kariri AL 1.820 1996

208. Yanomami* lanomâmi, lanoama, Yanomami RR/AM 11.700 2000


Yanomam Xirianá
Sanumá Yanomami
Ninam Yanomami
Venezuela 15.193 1992
209. Yawalapiti laualapiti Aruák MT 208 1999
210. Yaminawa Jaminawa. laininawa Pano AC 565 1999
211. Yawanawá* iauanauá Pano AC 618 1999
Peru 324 1993
Bolívia 630 1993
212. Yekuana* Maiongong, Ye'kuana, Karíb RR 426 2000
Yekwana Venezuela 3-632 1992
213. Yudjá Juruna, Yuruna Juruna PA/MT 201 1999

214. Zo'é Potum T\ipi-<»iiarani PA 152 1998

215. Zoró PagiTn Monde MT 400 2000


216. Zuruahã Sorowaha, Suniwaha Arawá AM 143 1995

(*) Povos que estão presentes em mais de um país.

(**) Já não falam a língua original, usam o português regional.

ESTIMATIVAS - Para o ISA os 216 povos indígenas contemporâneos no Brasil somam uma
população estimada em 3S0 mil. Como não há um censo indígena no Brasil, os cômputos
globais têm sido feitos - seja pelas agências governamentais (Funai ou Funasa), pela Igreja
Católica (Cimi) ou pelo ISA - com base numa colagem de informações heterogêneas, que
apontam para estimativas globais que variam entre 3S0 e SOO mil.
VARIAÇÕES - Variam os critérios censitários, as datas, há povos sobre os quais simplesmente não há
informações, sabe-se pouco sobre os índios que vivem nas cidades... Até o número de etnias varia, seja
porque, por exemplo, povos até então "isolados" entram "em contato" - o Brasil é um país em formação -

seja porque povos considerados "extintos" reaparecem - os caminhos de volta.

CRESCIMENTO A população indígena total tem crescido nos últimos 25 anos, embora povos específicos
tenham perdido população e alguns estejam até ameaçados de extinção (na listagem acima há 12 povos
com população entre 2 e 38 indivíduosll.
MOSAICO - Dos 216 povos listados no quadro acima 40 (1 8.5%) têm parte da sua população residindo
em outro(s) país(es). Mesmo quando há informações demográficas a respeito, essas parcelas não foram
consideradas nem na estimativa global para o Brasil, nem para a classificação que segue: 61 povos
(28.2%) têm uma população de até 200 indivíduos, 50 (23.1%) entre 201-500, 37 (17.1%) entre
501-1.000, 43 (19.9%) entre 1.001-5.000, 09 (4.1%) entre 5.001-10.000, 05 (2.3%) entre
10.001-20.000, 01 entre 20.001-30.000 e 02 com mais de 30.000.

Há pelo menos 42 evidências de “ÍNDIOS ISOLADOS", assim chamados aqueles cujo


contato regular com agências indigenistas, especialmente a agência governamental,
não foi estabelecido e anunciado publicamente. Exceto uma em Goiás (supostamente Avá-
Canoeiro), todas as demais estão localizadas na Amazônia Legal (AC, AM, AP, MA, MT, PA, RO
e RR). A FUNAI tem um Departamento de índios Isolados que, em abril de 2000, era
responsável por seis “Frentes de Proteção Etno-Ambiental": Avá-Canoeiro (GO), Rio Envira
(AC), Guaporé (RO), Rio Madeirinha (ROIMT), Rio Purus (AC) e Vale do Javari (AM).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL APRESENTAÇÃD 15


•^1 )/ Acervo
-//ISA

â OUTROS TERMOS
AS NARRATIVAS INDÍGENAS AQUI PUBLICADAS DISPENSARIAM QUALQUER APRESENTAÇÃO - QUANTO MAIS UMA
ASSINADA POR UM BRANCO NÃO FOSSE 0 FATO DE QUE SEU DESTINATÁRIO SOMOS PRECISAMENTE NÓS, OS
BRANCOS. É APENAS POR ISSO QUE NÃO ME PARECE IMPRÓPRIO INTRODUZI-LAS, FAZENDO VOTOS DE QUE ELAS
NOS POSSAM ABRIR OS OUVIDOS, E REAVIVAR A MEMÓRIA. ESCUTEMOS POIS O QUE DIZEM OS DESANA, OS
BARÉ, OS MAWÉ, TODOS ESSES QUE VIEMOS A CHAMAR, POR ESQUECIMENTO, "ÍNDIOS", COMO QUEM DIZ OS
OUTROS, QUANDO FOMOS NÓS QUE NOS TORNAMOS OUTROS. OS QUE FORAM ESQUECIDOS NÃO ESQUECERAM.

O que se lerá aqui é a história destes quinhentos anos, uma Não é difícil perceber, entretanto, a presença de um grande
história que pensamos conhecer - mas contada em outros tema que atravessa muitos dos textos a seguir. Pois a diver-

termos. Não é, para começar, uma história (dos índios) con- sidade aparente reflete, ou antes, refrata uma convicção fun-
tada pelos brancos, mas uma história (dos brancos) contada damental. Esta diz: os índios são anteriores aos brancos, na
pelos índios. Uma história, ou melhor dizendo, várias. Pois ordem do parentesco e na ordem do território. Os brancos
estas histórias impressionam pela diversidade: diversidade não chegaram aqui, eles saíram daqui; não descobriram os
das posições enunciativas, dos contextos discursivos, dos índios, mas encobriram a si mesmos, até voltarem para o que
gêneros de fala, dos recursos semânticos, dos registros pensaram ser um encontro com o desconhecido, mas que
epistêmicos, dos processos de textualização. Fala-se aqui do não foi senão um reencontro com o olvidado. Somos, recor-
passado "imemorial", mas também do ontem e do amanhã; dam-nos os Desana, seus irmãos mais moços. Abandonamos
falam vozes muito distantes, outras muito próximas; falam nossos maiores no princípio dos tempos, e muito mais tarde
povos com experiência secular dos brancos, outros cujo "con- (apenas quinhentos anos atrás), acreditamos tê-los desco-
tato" conosco é coextensivo ao tempo de vida do narrador; berto. Os que vieram a ser chamados índios são aquele frag-
contam-se o que chamaríamos 'mitos', como se contam me- mento da humanidade originária que decidiu, para o melhor
mórias pessoais, inscrevem-se fragmentos de conversas, e ou para o pior, não seguir conosco. 0 retorno dos brancos
depoimentos formais, e entrevistas, e conferências; diz-se o era esperado - estava previsto -, mas se esperava, talvez,
que se diz há muito, e diz-se o que nunca foi dito; conta-se um pouco mais deles: que se comportassem como parentes
muito do que contamos, mas de modo bem diferente. Conta- que retornam, não como algozes; que partilhassem o que
se, em suma; mas também explica-se, critica-se, lamenta-se, haviam aprendido lá aonde foram morar, não que voltassem
justifica-se, reivindica-se, pergunta-se. Há muito o que dizer. para tomar o pouco que aos índios coubera; que seu enge-
nho não tivesse sido adquirido às custas da sabedoria, que
Tal impressão de heterogeneidade emerge não apenas da re-
sua arte não lhes houvesse embaralhado o entendimento, que
lação entre as narrativas, mas de muitas delas em si mes-
sua escrita não fosse usada para calar a voz dos que ficaram.
mas, em particular daquelas que buscam o fio que liga o pre-
sente ou o passado recente às condições gerais de possibili- 0 que dizem, então, estas narrativas, é que a relação com os
dade do mundo. Os personagens "históricos” (isto é, que fi- brancos sempre existiu. Não houve nem há "contato" que
guram em nossos mitos históricos) coexistem sem solução não fosse ou seja uma atualização - por mais que desastrosa
de continuidade ontológica com personagens "míticos"; te- - de uma virtualidade traçada no discurso das origens. Ailton

mas clássicos da tradição indígena pan-americana refletem, Krenak observa agudamente que "o encontro e o contato
absorvem e transformam motivos igualmente clássicos da entre nossas culturas e nossos povos, ele nem começou ain-
mitologia do Velho Mundo; juízos etnográficos profundos so- da e às vezes parece que ele já terminou". Mas vale também,
bre a sociedade dos brancos buscam sua justificação em am- e pelas mesmas razões, o inverso: ele jamais começou, pois
plas caracterizações antropológicas e cosmológicas. Há, dir- ele estava lá antes do começo. No começo foi o desencontro,
se-ia, de tudo. Exatamente como na história que conhece- e este ainda não terminou, quinhentos anos passados.
mos, aliás, cuja heterogeneidade é apenas menos sensível a
Mas quinhentos anos não é nada, conclui Ailton. É verdade.
nossos olhos e ouvidos, acostumados que estão às nossas
Sobretudo para quem tem boa memória, para aqueles cujo
próprias convenções narrativas, onde coabitam escalastem-
pensamento não está, como fulmina Davi Kopenawa, cheio
porais incomensuráveis, e aos nossos saltos "naturais" en-
de vertigem e de esquecimento. Possamos ao menos lem-
tre múltiplos registros discursivos.
brar daqui para a frente, nós que somos verdadeiramente
"muito esquecidos".
Acervo
-//ISA

P A L A V R A S
1 N D í G E N A S
S V N 3 ) ! Q N 1

S V a A V 1 V d

DOZE NARRATIVAS
SOBRE A ORIGEM DO
MUNDO, A CHEGADA DOS
BRANCOS E OS 500 ANOS

DO BRASIL

Copvrçhled material
A SAGA DE DAVI
KOPENAWA YANOMAMI
BRUCE ALBERT - Antropólogo, IRD/ISA

Davi Kopenawa, nascido em 1956, vive na aldeia


yanomami de Watoriki, situada ao pé da serra do
Demini |"serra do Vento"), no estado do Amazonas.
Seu grupo de origem foi quase inteiramente aniquilado
no alto rio Toototobi (perto da fronteira venezuelana) por
duas epidemias sucessivas após contatos estabelecidos
com o Serviço de Proteção ao índio (SPI) e com a missão
evangélica Novas Tribos do Brasil (MNTB) (1959-60,
gripe [?]; 1967; sarampo). Criança, Davi Kopenawa
perdeu, assim, a maior parte dos membros de sua família.
Em seguida sofreu, e depois rejeitou, o proselitismo dos
missionários da MNTB, abandonando na adolescência
sua região natal para trabalhar na Fundação Nacional
do índio (Funai) como intérprete. No começo dos anos
80, fixou-se em Watoriki, ali se casando com a filha do
líderda comunidade, xamã renomado que o iniciou e,
permanece seu mentor.
tradicionalista convicto,
Davi é hojea um só tempo chefe do posto indígena
Demini e um dos mais influentes xamãs de Watoriki.

A invasão de suas terras por cerca de 30 a 40 mil


garimpeiros custou a vida, entre 1987 e 1990, de mais
de mil Yanomami no Brasil. Chocado com essa tragédia
que reavivou nele a lembrança das que dizimaram sua
família nos anos 60, Davi Kopenawa engajou-se em uma
luta incansável contra a destruição de seu povo e da
floresta de sua terra. Graças a sua experiência com os
brancos e à firmeza intelectual que lhe confere o saber
xamanístico, tornou-se rapidamente o principal porta-voz
da causa yanomami, no Brasil e no mundo. Visitou, ao
longo dos anos 80 e 90, vários países da Europa e os
Estados Unidos. Recebeu, depois de Chico Mendes, o
prêmio Global 500 do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente e, recentemente, a Ordem de Rio
Branco ao grau de cavaleiro.

Depoimentos recolhidos, traduzidos e editados por Bruce Albert.

0 segundo fragmento da narrativa dB Davi Kopenawa loi publicado anteriormente


em Kopenawa Yanomami, Davi “Descobrindo os Brancos", in: Novaes, Adauto |org.|.
A Outra Margem do Ocidente - Mine Funarte/Companhia Das Letras, 1999.

18 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


» Acervo
ISA

SONHOS DAS ORIGENS


flr
t '

Davi Kopenawa
Aldeia Watoríki, Serra Demini (Roraima), 1998

Os dançam para os xamãs desde o primeiro tempo e assim continuam


espíritos xapiripe
até hoje. Eles parecem seres humanos mas são tão minúsculos quanto partículas de poeira
cintilantes. Para poder vê-los deve-se inalar o pó da árvore yãkõanahimwtas e muitas
tempo quanto para os brancos aprender o desenho de suas palavras.
vezes. Leva tanto
0 pó do yãkõanahiè a comida dos espíritos. Quem não o «bebe» assim fica com
olhos de fantasma e não vê nada.

Os xapiripe dançam juntos sobre grandes espelhos que descem do céu. Nunca são
cinzentos como os humanos. São sempre magníficos: o corpo pintado de urucum e
percorrido de desenhos pretos, suas cabeças cobertas de plumas brancas de urubu
rei,suas braçadeiras de miçangas repletas de plumas de papagaios, de cujubim
e de arara vermelha, a cintura envolta de rabos de tucanos.

Milhares deles chegam para dançar juntos, agitando folhas de palmeiras novas,
soltando gritos de alegria e cantando sem parar. Seus caminhos parecem fios de
aranhas brilhando como a luz do luar e seus ornamentos de plumas mexem lentamente
ao ritmo de seus passos. Dá alegria de ver como são bonitos!

Os espíritos são tão numerosos porque eles são as imagens dos animais da floresta.
Todos na floresta têm uma imagem utuper, quem anda no chão, quem anda nas árvores,
quem tem asas, quem mora na água. São estas imagens que os xamãs chamam e fazem
descer para virar espíritos xapiripe. Esta imagens são o verdadeiro centro, o verdeiro
interior dos seres da floresta. As pessoas comuns não podem vê-los, só os xamãs.
Mas não são imagens dos animais que conhecemos agora. São imagens dos
pais destes animais, são imagens dos nossos antepassados.

No primeiro tempo, quando a floresta estava ainda jovem, nossos antepassados eram
humanos com nomes de animais e acabaram virando caça. São eles que flechamos e
comemos hoje. Mas suas imagens não desapareceram e são elas que agora dançam para
nós como espíritos xapiripe. Estes antepassados são verdadeiros antigos. Viraram caça
há muito tempo mas seus fantasmas permanecem aqui. Têm nomes de animais mas são
seres invisíveis que nunca morrem. A epidemia dos brancos pode tentar queimá-los e
devorá-los, nunca desaparecerão. Seus espelhos brotam sempre de novo.

Os brancos desenham suas palavras porque seu pensamento é cheio de esquecimento.


Nós guardamos as palavras dos nossos antepassados dentro de nós há muito tempo e
continuamos passando-as para os nossos filhos. As crianças, que não sabem nada dos
espíritos, escutam os cantos do xamãs e depois querem ver os espíritos por sua vez.
É assim que, apesar de muito antigas, as palavras dos xapiripe sempre voltam a ser novas.
São elas que aumentam nossos pensamentos. São elas que nos fazem ver e conhecer
as coisas de longe, as coisas dos antigos. É o nosso estudo, o que nos ensina a sonhar.
Deste modo, quem não bebe o sopro dos espíritos tem o pensamento curto e enfumaçado;
quem não é oihado pelos xapiripe não sonha, só dorme como um machado no chão.
A- Acervo
— //N I SA
VâivuivimMI

Davi
Aldeia Watoriki,
Serra Demini (Roraima),
Kopenawa
DESCOBRINDO
1998

OS BRANCOS
Dos espíritos Há muito tempo, meus avós, que habitavam Mõramabi araopi, uma casa situada
muito longe, nas nascentes do rio Toototobi, iam às vezes visitar nas terras baixas
canibais
outros Yanomami estabelecidos ao longo do rio Aracá.

Foi lá que encontraram os primeiros brancos. Esses estrangeiros coletavam fibra de


1
Rio Aracá, que como o rio
palmeira piaçaba ao longo do 1
rio Durante essas visitas nossos mais velhos obtiveram
.

Toototobi, é um afluente do rio

Demini, ele próprio tributário da seus primeiros facões. Elesme contaram isso muitas vezes quando eu era criança.
margem esquerda do rio Negro. Naquele tempo, eles só encontravam brancos ao viajar muito longe de sua aldeia e
não iam vê-los sem motivo, simplesmente para visitá-los. Haviam visto suas ferramentas
1
Os antigos Yanomami metálicas e as cobiçavam, pois possuíam apenas pedaços de metal que Omama deixara 2
.

possuíam fragmentos de facões


e de machados muito gastos, que
Era durante essas longas viagens que, de vezem quando, eles conseguiam obter um facão
obtinham por um complexo circuito ou mesmo um machado. Trabalhavam então em suas plantações emprestando-os uns aos
de trocas interétnicas, mas cuja
outros. Quando um tinha aberto sua plantação, passava-os a um outro e assim por diante.
origem atribuíam a Omama,
seu herói cultural. Eles emprestavam também essas poucas ferramentas metálicas de uma aldeia a outra.

Não era para procurar fósforos que iam ver os brancos tão longe, não: tinham
seus paus de cacaueiro para fazer fogo. Evidentemente, eles achavam as panelas
de alumínio muito bonitas, mas tampouco era por isso que faziam aquelas viagens:
também tinham vasilhas de terracota para cozinhar sua caça. Era realmente por seus
facões e seus machados que iam visitar aqueles estrangeiros.

Mas foi bem mais tarde, quando habitávamos Marakana, mais para o lado da foz do rio

Toototobi, que os brancos visitaram nossa casa pela primeira vez. Na época, nossos mais
velhos estavam ainda todos vivos e éramos muito numerosos, eu me lembro. Eu era um
menino, mas começava a tomar consciência das coisas. Foi lá que comecei a crescer e
descobri os brancos. Eu nunca os vira, não sabia nada deles. Nem mesmo pensava que eles
existissem. Quando os avistei, choreide medo. Os adultos já os haviam encontrado algumas
vezes, mas eu, nunca! Pensei que eram espíritos canibais e que iam nos devorar. Eu os
3
Uma equipe da Comissão achava muito feios, esbranquiçados e peludos. Eles eram tão diferentes que me aterroriza-
Brasileira Demarcadora dos Limites
vam. Além disso, não compreendia nenhuma de suas palavras emaranhadas. Parecia que
ICBDLI subiu o rio Toototobi em 1958-9.
eles tinham uma Eram pessoas da "Comissão" 3 Os mais velhos diziam
língua de fantasmas. .

que eles roubavam as crianças, que já as haviam capturado e levado com eles quando
‘Alusão a uma primeira visita da tinham subido o rio Mapulaú, no passado 4 Era por isso também que eu tinha muito medo:
.

CBDL ao rio Toototobi, em 1941.


estava certo de que também iam me levar. Meus avós já haviam contado muitas vezes essa
história, eu os ouvira dizer: "Sim, esses brancos são ladrões de crianças!", e tinha muito
medo. Por que eles levaram aquelas crianças? Eu me pergunto isso ainda hoje.

Quando aqueles estrangeiros entravam em nossa habitação, minha mãe me escondia


debaixo de um grande cesto de cipó, no fundo de nossa casa. Ela me dizia então: "Não tenha
medo! Não diga uma palavra!", e eu ficava assim, tremendo sob meu cesto, sem dizer nada.
Eu me lembro, no entanto devia ser realmente muito pequeno, senão não teria cabido debaixo
daquele cesto! Minha mãe me escondia pois também temia que os brancos me levassem
com eles, como tinham roubado aquelas crianças, da primeira vez. Era também para me
acalmar, pois eu estava aterrorizado e só parava de chorar quando estava escondido.
Todos os bens dos brancos me assustavam também: tinha medo de seus motores, de suas
lâmpadas elétricas, de seus sapatos, de seus óculos e de seus relógios. Tinha medo da
fumaça de seus cigarros, do cheiro de sua gasolina. Tudo me assustava, porque nunca vira
nada de semelhante e ainda era pequeno! Mas, quando seus aviões nos sobrevoavam, eu
não era o único a ficar assustado, os adultos também tinham medo; alguns chegavam mesmo

20 PALAVRAS I N 0 i G E N A S POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


•'v.J/í- Acervo
-/A I s AÍ
m YAN0 M A Ml

a romper em soluços, e todo mundo fugia para a mata vizinha! Mós somos habitantes da
floresta, não conhecíamos os aviões e estávamos aterrorizados. Pensávamos que eram
seres sobrenaturais voadores que iam cair sobre nós e queimar todos. Todos tínhamos
muito medo de morrer! Eu me lembro que também tinha medo das vozes que saíam dos
rádios e da explosão dos fuzis que matavam a caça. Perguntava-me o que todas aquelas
coisas que pareciam sobrenaturais poderiam ser! Perguntava-me também por que
aquelas pessoas tinham vindo até nossa casa.

Mais tarde, reaimente comecei a crescer e a pensar direito, mas continuei a me


perguntar: "0 que os brancos vêm fazer aqui? Por que abrem caminhos em nossa floresta?".
Os mais velhos me respondiam: "Eles vêm sem dúvida visitar nossa terra para habitar aqui
conosco mais tardei". Mas eles não compreendiam nada da língua dos brancos; foi por
issoque os deixaram penetrar em suas terras dessa maneira amistosa. Se tivessem
compreendido suas palavras, acho que os teriam expulsado. Aqueles brancos os enganaram
com seus presentes. Deram-lhes machados, facões, facas, tecidos. Disseram-lhes, para
adormecer sua desconfiança: "Mós, os brancos, nunca os deixaremos desprovidos, lhes
5
A BR-21DjPerimetral Norte),
daremos muito de nossas mercadorias e vocês se tomarão nossos amigos!". Mas, pouco aberta em 1 973-4 e abandonada
depois, nossos parentes morreram quase todos em uma epidemia, depois em uma outra. e m 1 976, de pois de c orta r d uzentos
quilômetros a sudeste do
Mais tarde, muitos outros Yanomami novamente morreram quando a estrada entrou na
território yanomami.
floresta 5 e bem mais ainda quando os garimpeiros chegaram ali com sua malária.
Mas, dessa vez, eu tinha me tomado adulto e pensava direito; sabia realmente o
que os brancos queriam ao penetrar em nossa terra.

Os brancos são engenhosos, têm muitas máquinas e mercadorias, mas não têm Descobrir o
nenhuma sabedoria. Mão pensam mais no que eram seus ancestrais quando foram criados.
Descobrimento
Nos primeiros tempos, eles eram como nós, mas esqueceram todas as suas antigas palavras.
Mais tarde, atravessaram as águas e vieram em nossa direção. Depois, repetem que
descobriram esta terra. Só compreendi íssd quando comecei a compreender sua língua.
Mas nós, os habitantes da floresta, habitamos aqui há longuíssimo tempo, desde que Omama
nos criou. No começo das coisas, aqui só havia habitantes da floresta, seres humanos*. 6
A autodesignação dos Yanomami -
yanomae thèpê- significa antes de
Os brancos clamam hoje: "Nós descobrimos a terra do Brasil!". Isso não passa de uma tudo "seres humanos" - e se aplica
mentira. Ela existe desde sempre e Omama nos criou com ela. Nossos ancestrais a também aos outros índios, opondo-se
aos animais, aos seres sobrenaturais
conheciam desde sempre. Ela não foi descoberta pelos brancos! Muitos outros povos,
e aos nâo-indios (napêpê).
como os Makuxi, os Wapixana, os Waiwai, os Waimiri-Atroari, os Xavante, os Kayapó e
os Guarani ali viviam também. Mas, apesar disso, os brancos continuam a mentir para si

mesmos pensando que descobriram esta terra! Como se ela estivesse vazia]
Como se os seres humanos não a habitassem desde os primeiros tempos!
Os brancos foram criados em nossa floresta por Omama mas eie os expulsou porque temia
1
sua falta de sabedoria e porque eram perigosos para nós! 7 Ele lhes deu uma terra, muito Os brancos foram criados
por Omama a partir do sangue
longe daqui, pois queria nos proteger de suas epidemias e de suas armas. Foi por isso que de um grupo de ancestrais
os afastou. Mas esses ancestrais dos brancos falaram a seus filhos dessa floresta e soas Yanomami devoradas por lontras
numa grande enchente
e jacarés
palavras se propagaram por muito tempo. Eles se lembraram: "É verdade! Havia lá, ao longe, provocada pela quebra de um
uma outra terra muita bela!", e voltaram para nós. Na margem desta terra do Brasil aonde resguardo menstrual.

eles chegaram viviam outros índios. Esses brancos eram pouco numerosos e começaram a
mentir: "Nós, os brancos, somos bons e generosos! Damos presentes e alimentos! Vamos
viver a seu lado nesta terra com vocês! Seremos seus amigos!". Era com essas mesmas
mentiras que tentavam nos enganar desde que também chegaram a nós. Depois dessas
primeiras palavras de mentira eles foram embora e falaram entre si. Depois voltaram muito

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 21


^_Í7^ Acervo
JÂ S A I

YANOMAMI

&
numerosos. No começo, sem casa nesta terra, ainda mostravam amizade peios índios.
Tinham visto a beleza desta floresta e queriam se estabelecer aqui. Mas desde que se
instalaram realmente, desde que construíram suas habitações e abriram suas plantações,
desde que começaram a criar gado e a cavar a terra para procurar ouro, esqueceram
sua amizade. Começaram a matar as gentes da floresta que viviam perto deles.

Nos primeiros tempos, os seres humanos eram muito numerosos nesta terra. É o que
dizem nossos mais velhos. Não havia doenças perigosas, sarampo, gripes, malária.
Estávamos sozinhos, não havia garimpeiros para queimar o ouro, fábricas para produzir
ferro e gasolina, carros e aviões. A floresta e os que a habitavam não estavam o tempo
todo doentes. Foi apenas quando os brancos se tomaram muito numerosos que sua
fumaça-epidemia xawara começou a aumentar e a se propagar por toda parte. Essa
coisa má se tomou muito poderosa e foi assim que as gentes da floresta começaram a
* A axpressão xawara wakexi morrer8 Quando viviam sem os brancos nossos ancestrais não tinham fábricas, caçavam
.

("epidemia-fumaça"} designa aqui


a um só tempo as epidemias e a e trabalhavam em suas plantações para fazer crescer seu alimento. Também não sujavam
poluição, às quais é atribuída a todos os rios como esses brancos que agora procuram ouro em nossas terras.
mesma origem: a fusão do ouro,
dos metais e dos carburantes "Nós descobrimos estas terras! Possuimos os livros e, por isso, somos importantes!",
extraídos da terra para produzir
as mercadorias dos brancos e
dizem os brancos. Mas são apenas palavras de mentira. Eles não fizeram mais que tomar
abastecer seus veículos. as terras das gentes da floresta para se pôr a devastá-las. Todas as terras foram criadas
em uma única vez, as dos brancos e as nossas, ao mesmo tempo que o céu. Tudo isso existe
desde os primeiros tempos, quando Omama nos fez existir. É por isso que não creio nessas
palavras de descobrir a terra do Brasil. Ela não estava vazia! Creio que os brancos querem
sempre se apoderar de nossa terra, é por isso que repetem essas palavras. Sãotambém as
dos garimpeiros a propósito de nossa floresta; "Os Yanomami não habitavam aqui, eles vêm
de outro lugar! Esta terra estava vazia, queremos trabalhar nela!". Mas eu, sou filho dos
antigos Yanomami, habito a floresta onde viviam os meus desde que nasci e eu não digo
a todos os brancos que a descobri! Ela sempre esteve ali, antes de mim. Eu não digo:
"Eu descobri esta terra porque meus olhos caíram sobre ela, portanto a possuo!".
Ela existe desde sempre, antes de mim. Eu não digo: "Eu descobri o céu!". Também
não clamo: "Eu descobri os peixes, eu descobri a caça!". Eles sempre estiveram lá,

desde os primeiros tempos. Digo simplesmente que também os como, isso é tudo,

0 Povo das Quando viajei para longe, vi a terra dos brancos, lá onde havia muito tempo viviam
seus ancestrais. Visitei a terra que eles chamam Eropa. Era sua floresta, mas eles a
Mercadorias
desnudaram pouco a pouco cortando suas árvores para construir suas casas. Eles fizeram
muitos filhos, não pararam de aumentar, e não havia mais floresta. Então, eles pararam de
caçar, não havia mais caça também. Depois, seus filhos puseram-se a fabricar mercadorias
e seu espírito começou a obscurecer-se por causa de todos esses bens sobre os quais
fixaram seu pensamento. Eles construíram casas de pedra, para que não se deteriorassem.
Continuaram a destruir a floresta, dizendo-se: “Nós vamos nos tornar o povo das
mercadorias! Vamos fabricar muitas delas e dinheiro também! Assim, quando formos
realmente muito numerosos, jamais seremos miseráveis!”. Foi com esse pensamento que
eles acabaram com sua floresta e sujaram seus rios. Agora, só bebem água "embrulhada",
que precisam comprar. A água de verdade, a que corre nos rios, já não é boa para beber.

Nos primeiros tempos, os brancos viviam como nós na floresta e seus ancestrais eram
pouco numerosos. Omama transmitiu também a eles suas palavras, mas não o escutaram.
Pensaram que eram mentiras e puseram-se a procurar minerais e petróleo por toda parte,
todas essas coisas perigosas que Omama quisera ocultar sob a terra e a água porque seu
calor é perigoso. Mas os brancos as encontraram e pensaram fazer com eias ferramentas,
máquinas, carros e aviões. Eles se tomaram eufóricos e se disseram: "Nós somos os únicos
a sertão engenhosas, só nós sabemos realmente fabricar as mercadorias e as máquinas!".
Foi nesse momento que eles perderam realmente toda sabedoria. Primeiro estragaram sua
própria terra antes de ir trabalhar nas dos outros para aumentar suas mercadorias sem
parar. Nunca mais eles se disseram: "Se destruirmos a terra, será que seremos
capazes de recriar uma outra?".

22 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL


Quando conheci a terra dos brancos isso me deixou inquieto. Algumas cidades são belas,
mas seu barulho não pára nunca. Eles correm por elas com carros, nas ruas e mesmo com
trens debaixo da terra.Há muito barulho e gente por toda parte. 0 espirito se toma obscuro e
emaranhado, não se pode mais pensar direito. É por isso que o pensamento dos brancos está
cheio de vertigem e eles não compreendem nossas palavras. Eles não fazem mais que dizer:
"Estamos muito contentes de rodar e de voar! Continuemos! Procuremos petróleo, ouro,
ferro! Os Yanomami são mentirosos!". 0 pensamento desses brancos está obstruído, é por

isso que eles maltratam a terra, desbravando-a portoda parte, e a cavam até debaixo de
suas casas. Eles não pensam que ela vai acabar por desmoronar. Eles não temem cair
no mundo subterrâneo. Porém, é assim. Se os "brancos-espíritos-tatus-gigantes''
[mineradoras] entram portoda parte sob a terra para retirar os minérios, eles vão
se perder e cair no mundo escuro e podre dos ancestrais canibais
s
.
9
O universo yanomami
compõe-se de quatro niveis
superpostos suspensos em um
Nós, nós queremos que a floresta permaneça como é, sempre. Queremos viver nela
"grande vazio". 0 mundo subterrâneo
com boa saúde e que continuem a viver nela os espíritos xapiripè, a caça e os peixes. foi formado pela queda do nivel

Cultivamos apenas as plantas que nos alimentam, não queremos fábricas, nem terrestre na aurora dos tempos.
É habitado pelos ancestrais
buracos na terra, nem rios sujos. Yanomami da primeira humanidade,
que se tornaram monstros canibais
Queremos que a floresta permaneça silenciosa, que o céu continue ciaro, que a (os aõpataripê).

escuridão da noite caia realmente que se possam ver as estrelas. As terras dos brancos
e

estão contaminadas, estão cobertas de uma fumaça-epidentia-xaivara que se estendeu


muito alto no peito do céu. Essa fumaça se dirige para nós mas ainda não chega lá, pois
o espirito celeste Hutukararia repele ainda sem descanso. Acima de nossa f!oresta o céu
ainda é claro, pois não faz tanto tempo que os brancos se aproximaram de nós.
Mas bem mais tarde, quando eu fumaça aumente a ponto de
estiver morto, talvez essa
estender a escuridão sobre a terra e de apagar osol. Os brancos nunca pensam nessas

coisas que os xamãs conhecem, que eles não têm medo. Seu pensamento
é por isso
está cheio de esquecimento. Eles continuam a fixá-lo sem descanso em suas
mercadorias, como se fossem suas namoradas.

Oesenbo:
Davi Kopenawa

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 23


0 IMPERADOR DOS SATERÉ-MAWÉ
ALBA LUCY GIRALDO FIGUEROA
Antropóloga

Relatos antigos [sehay poot'i] colhidos em diversas Os brancos são associados a dois tipos de sapos
localidades da Área Indígena Andirá-Marau referem-se esbranquiçados: um chamado kaingkaing [não
à epopéia de um deus mítico que os Sateré-Mawé identificado] e outro manka’i[H\\a venulosa - cunauaru].
reconhecem como seu ancestral. Numa dessas versões, Também são feitas outras associações: uma com o
o nome atribuído ao demiurgo pelos narradores é o de macaco wahue: "caiarara” [Cebus albitrons unicolor],
"Imperador". 0 termo Imperador foi utilizado no contexto por ser ele "todo branco e sem-vergonha". A outra é
da língua sateré-mawé, sendo Imperador a única palavra com o tiapu ou tiapii [Cacicus cela], "japiin", [pássaro
em português do relato original, que tanto para o da família dos Icterideos]. Neste último caso, o traço
narrador quanto para os demais ouvintes, todos homens destacado é aparentemente, o hábito de habitação
adultos, era considerada uma palavra de sua própria coletiva e numerosa, bem como grande versatilidade
a
língua. Acrescentaram que o seu nome completo era canora demonstrada por esse pássaro. Alguns
"Imperador Dom Pedro". Em outros contextos, ocorre narradores apontam para justificar essa associação
a utilização do apelativo morekuat, nome genérico para a característica multi-instrumental da música ocidental.
"chefe", hoje reservado principalmente aos Os brancos são, assim, representados como
funcionários públicos. descendentes daqueles que seguiram o Imperador e
os Sateré-Mawé como descendentes dos que ficaram.
0 relato, em suas diversas versões, é fundamental
para a compreensão de como se configuram diversos A palavra toran, pronunciada com ênfase pelos
temas entre os Sateré-Mawé, tais como o da identidade narradores depois de uma pausa final, cada vez que
étnica, o lugar e o papel atribuído à categoria social narram um mito, demarca uma sequência temporal
dos brancos ( karaiwa na suas representações sobre
) durante a qual espera-se que a atitude dos presentes
o mundo e naquelas referentes às relações de poder seja de reverente silêncio diante das sehay poot'r.
com as instituições do Estado brasileiro. Fundamentam, palavras antigas, tidas pelos homens idosos como
por outro lado, o sentimento religioso embutido no senso palavras de bem e de beleza.
de territorialidade e na prática política dos Sateré-Mawé.
Um ponto comum a todas as versões do relato é o
consentimento explicitado pelo Imperador diante da
opção da parte dos índios de ficarem nas suas terras.

As narrativas Sateró-Mawé foram recolhidas a editadas por Alba Lucy Giraldo Figueroa a fazem parte de sua tese de doutorado
"Guerriers de 1‘écrrture et commerçants du monde enchanté: histoíre, identité e traitement du mal chez les Sateré-Mawé (Amazonie Centrale, Brésill".
A primeira narrativs foi treduzide por Silvia de Oliveira e a terceira por Brito de Souza.

ALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


7^ Acervo
//\C I SA

O IRMÃO DE EVA
Vidal, rio Manjuru (AM) - 1 996

A
[terreiro
ntigamente a gente não morria, porque

{ todos nós, índios,

de pedra]. Lá foi
morávamos
a primeira terra que nós habitamos.
lá, no nusoquen

Mas foi depois que existiu a morte, que a irmã dele morreu, weitapin "joga no caminho um bocado de serrado para eles não
quando ele abandonou essa casa primeira, que ele convidou o Adão. descobrirem mais por onde eu fui". De repente, o seu rasto ficou coberto

Tupana que mandou eles soirem de lá, daquela paragem. "Olha, Adão, e eles não souberam mais por onde segui-lo.

chamo teu povo para sair daí, daquela paragem". Ele falou assim: "Adão,
Quando chegou na beira do rio, ele atravessou - ele é poderoso, né?
chama teu povo para continuar, para ele ir embora, poro sair daí. Vai ter
Era um rio bem grande. De repente ele transformou uma pedra numa
muitas frutas pelas matas que vocês vão atravessar. Mos eu não quero
cachoeira e eles não conseguiram mois passar. Eles chegarom até a beiro,
que vocês fiquem se entretendo, Eu vou no frente".
lá eles corriam de um lado paro o outro e gritavam: "Ei! para onde
Ele insiste: "Vocês vão ter muita fruta, mas vocês não vão se entreter. que vocês foram!? Para onde que vocês foram!? Como que vocês
"
Mas o Adão é teimoso. Quando ele chegou lá, numa fruteira, ele trepou atravessaram!?". E escutaram o baque; era que estavam fazendo navio
e foi cortar o galho da fruteira. Lá, o povo dele se entreteve, quando para eles irem para irem para fora. Porque Deus fez aquele barco para
já,

eles seguiram, seguiram e seguiram. De noite já, eles encontraram uma eles irem embora. Mas o Adão, que não ouviu conselho, ele ficou. E ele

sorveira. Estava cheio de fruta, ele derrubou e eles demoraram mais uma chamou, chamou. Até que Deus respondeu: "Olha, Adão, eu já não dei

vez. Eles já estavam na viagem, mas ficavam se entretendo por aí. conselho para ti? Para tu me seguir com teu povo, mas tu não me ouviste.

Encontraram também uma árvore de coramurizeiro e lá o Adão trepou Tu vais ficar". Ele chamou mais ainda, e Deus respondeu da outro lado:

de novo. E em vez deles seguirem na frente, sem se entreter, não, eles se "Olha, Adão: Eu achei melhor que você ficasse mesmo. Porque se nós

pararam na fruta até a anoitecer. Lá eles acamparam e, quando foi de dia, abandonarmos todos o nossa terra, não iria dar certo. Vocês tem que
seguiram. Encontraram logo uma bacabeira e apanharam muita bacoba. trabalhar. Vocês tem que voltar. Tu tens que dizer para a tua mulher,
Aí, eles se entretiveram, fizeram um bule de vinho e a beberam todinho. para Eva: É melhor que nós vamos embora paro nossa casa. Porque ele
Lá, eles fizeram um barraco, de novo, para dormir. Quondo se lembraram convidou, mas nós não ouvimos o conselho, então nós temos que voltar,
que Deus lhes tinha mandado ir na frente: "Podem ir embora, que tal dia nós temos que trabalhar muito porque nós temos muita plantação [sese
eu vou para lá". Aí nessa lembrança, ele disse: "Eu não disse para vocês motpap ipoityp mikoí]". Aí, eles cuidaram de ir de novo para lá de
irem embora? Para quando eu chegasse, vocês já estarem na beira do rio onde eles vieram. Se eles tivessem ouvido o conselho de Deus,
esperando? Aí, quando eu chegasse, eu ia fazer um barco, uma canoa". nós não íamos ficar como nós, na mata. Nós não íamos trabalhar
0 velho veio por onde eles vieram. Por onde eles vieram, Deus passou na roça. Mas nós não aproveitamos nadinha.
tombém. Lá, ele encontrou de novo uma árvore derrubada. "Puxa vida,
Aqueles que foram com Deus, estão trabalhando para irem embora.
eles não me ouviram. Bem que eu falei para eles que não se entretivessem
Mas eles não, os que ficaram, se entretiveram na fruta. Ela se lembrou
nas coisas". Ele andou um pouquinho e lá encontrou, de novo outra árvore
e disse: "Eu tenho um irmão que me deu machado, terçado, ferro de
derrubada. Lá, ele achou foi barraco. "Aqui, eles ficaram". Ele andou,
cova, e eu deixei; por isso nós temos que ir embora de novo [voltar]".
andou, de novo e lá ele encontrou outra fruteira derrubada. "Puxa vida;
Disse Eva, convencendo o seu marido.
o Adão não me ouviu que eu falei para não se entreter com o pessoal dele.

Eu disse a ele que, à tarde, eu ia lá com eles. Quando chegasse lá, já ia 0 passarinho tikwã [Mimus gilvus. Mimidae ] estava dizendo, cantando

estar pronto para ir embora". Ele os encontrou, lá onde tinham se lá em cima do barco deles: "tikwã, tikwff': "Olha, não demora: a chuva
entretido: "Puxa, Adão, você não ouviu a que eu disse para você. já vai arriar". Aí o Imperador, que era o secretário de Deus, o velho, disse:

Eu falei para você vir embora. Então, eu já vou". E ele passou na frente "Mas o que diacho esse passarinho está adivinhando!?". E se pôs a ralhar

e eles ficaram para trás. "Eles ficaram para trás, porque o Adão não ouviu com ele, achando que estava mais do que abusado da cara. Aí, falou umas
o que eu lhes disse". Durante a sua viagem, ele falou a um passarinho coisas para o tikwã. E este respondeu: "Não, esse barco de vocês está para

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 25


'L/Z,* Acervo
//\V I SA
SATERE-MAWÉ

sair, para vocês ir embora". 0 Imperador falou para ele não cantar maii

perto dele. Deus tirou o livro de debaixo do braço. Puxou e aí, o

Imperador olhou e disse: Está certo, o que Deus falou está certo.

É o dia mesmo. Aí, não demorou e a chuva arriou. Aí criou aquela grande

água, lá onde o navio estava. Choveu, choveu, choveu, até que conseguiu

sair aquele barca de lá, de cima da terra. Aí eles se embarcaram efãram


embora, se escondendo da morte.

Eles foram embora se esconder de muitas doenças. 0 vento é que transmite

a doença: de muito longe vem febre, gripe, tudo quanto é doença. Eles se

queriam esconder de tuda isso, mas não teve jeito.

Toran

O IMPERAD
ERA ÍNDIO primeira pessoa que nasceu

Poi isso
foi lapuya, depois foi o karaiwa.

que os tapuya-in ficaram como donos da mata na'apy

Alfredo Barbosa - kaiwat, eles moram na própria terra mesmo. Depois apareceu

Ponto Alegre, rio Andirá (AM), 1 996 _umo pessoa, o "Imperador" que disse que era para eles não

ficarem na mata e sim para irem para yarupap ["lugar onde estão/

encostam os barcos"]... "Lá... não sei paro onde".


MÁ/
0 Imperador falou: "Vamos embora para abaixo, para fora". Lá foram

eles, foram andondo, mas encontraram fruteiras e ficaram entretidos e

deixaram de caminhar. 0 Imperador foi na frente e chegou no barco e


'
Um dos numerosos clãs (ywaniaria)
esperou la muito tempo. Mas como o povo nao chegava, ele convidou a
que constituíram o povo Sareré-Mawé.
1
nação waçoria ("Sapos") ,
para remar para ele. Na época não existia
2
Expressão antiga, 1
motor. E se foram para ywysasarè . 0 Imperador era índio. Ele deu a
traduzida como "para fora".
educação we'eghap [conhecimento, saber]. Ele disse: "Vocês aprenderão

fazer muita coisa". Os que foram remando, a nação sapo [waça], ficou na

cidade [tawa walo\ aldeia grande] e nós ficamos aqui no mato. Eles deram
origem aos brancos como vocês, aos japoneses, americanos, são todos

magkali, aquele sapinho branco. Lá ele deu inteligência para fazer avião,

rádio, televisão. Ele achou que era bom que lapuya ficasse cuidando de

tanta riqueza que tinha nos matos e disse que um dia ele mandava alguém
trazer espingarda, machado, terçado, máquina, machado novo, paro trocar

por produto. São os regatões. Ele disse que um dia ia contribuir com essas

coisas que hoje estão nas cidades e que o regatão traz. Morekuaria mil
po'oro koi, isto é o que as autoridades mandam.

Toran

PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


SATERÉ-MAWÉ

HE'I E
RIPYAIPOK
Dona Marii
Trindade L<

Vida Feliz, rk

iam descendo quando o Imperador o chamou para descer para fora (à

E
xistiram dois irmãos que jusante).

Uri era o nome da mulher, mas como quando iam descer ela cochichou ['he?i-'he?í\ ao ouvido do irmão

que ela tinha esquecido uma coisa: o seu banco, foi chamada de Urihe?r. Uri cochichou: Urihe?i-he?i.

0 irmão dela chamava Mari, mas como ele voltou, também a causa do apelo da irmã, chamaram ele

Mari-aipok: Mari voltou: Mari py aipolc. [Mari pé voltou]. Uri era o nome de Eva em língua sateré.

Df SFMHO DE MARIA MADALENA ALVES SAI E RÉ


tom» H*p KqT. OPiSM IW»

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 27


OS TUPINAMBÁ E
A FRANÇA EQUINOCIAL
BEATRIZ PERRONE-MOISÉS - Antropóloga, USP

Esse discurso foi registrado pelo missionário Claude


d'Abbevi!le, em sua História da Missão dos Padres
Capuchinhos na Ilha do Maranhão (1614; aqui transcrito
da tradução brasileira por Sérgio Milliet, São Paulo;
Martins Fontes, 1945, p. 115-116). Proferido diante de um
grupo de franceses que, em missão diplomática, tratavam
de estabelecer a aliança com os povos indígenas da região,
teve um grande impacto sobre os presentes.
A resposta que lhe deu o intérprete-embaixador dos franceses,
Des Vaux, eventualmente permitiu que a aliança fosse selada e
que os franceses instalassem, no Maranhão, a sua França
Equinocial. A colônia foi conquistada pelos portugueses dois
anos mais tarde. Sob o domínio dos peró, os Tupi da região
tiveram omesmo destino que os de Pernambuco, tal como o
descreveu Momboré-uaçu. Alguns anos maistarde, já não
nenhuma aldeia tupi livre na costa da
havia registro de
colônia do Brasil.

28 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^ÍJZ* Acervo
-y^ClSA
TUPINAMBÁ

"DIGO APENAS SIMPLESMENTE


O QUE VI COM MEUS OLHOS"
CHEFE MOMBORÉ-UAÇU -ALDEIA DE ESSAUAP, MARANHÃO, 1612

"Vi á chegada dos peró [portugueses] em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós,

franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar

residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que nossos companheiros

de Pernambuco reputavam grandemente honroso. Mais tarde, disseram que nos devíamos

acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e edificarem

cidades para morarem conosco. E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só
nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar as raparigas sem mais aquela, que

Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar
sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários pa/[padres]. Mandaram vir os

par, e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde

afirmaram que nem eles nem os pai podiam viver sem escravos para os servirem e por eles

trabalharem. E, assim, se viram os nossos constrangidos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos COITI OS eSCEaVOS
capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda
a nação; e com tal tiraria e crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram,

como nós, forçados a deixar a região.

Assim aconteceu com os franceses. Da primeira vez que viestes aqui, vós o fizestes

somente para traficar. Como os peró, não recusáveis tomar nossas filhas e nós nos

julgávamos felizes quando elas tinham filhos. Nesta época, não faláveis em aqui vos fixar.

Apenas vos contentáveis com visitar-nos uma ve2 por ano, permanecendo entre nós

somente quatro ou circo luas. Regressáveis então a vosso país, levando os nossos

gêneros para trocá-los com aquilo de que carecíamos.

Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para

defender-vos contra os vossos inimigos. Para isso, trouxestes um Morubixaba e vários

paí. Em verdade, estamos satisfeitos, mas os pero fizeram o mesmo.

Depois da chegada dos paí, plantastes cruzes como os peró. Começais agora a instruir

e batizar tal qual eles fizeram; dizeis que não podeis tomar nossas filhas senão por esposas

e após terem sido batizadas. O mesmo diziam os peró. Como estes, vós não queríeis

escravos, a princípio; agora os pedis e quereis como eles no fim. Não creio, entretanto,

que tenhais o mesmo fito que os pero; aliás, isso não me atemoriza, pois velho como

estou rada mais temo. Digo apenas simplesmente o que vi com meus olhos."

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO S0CI0AM8IENTAL PALAVRAS I N D I GENAS 29


,

Acervo
ISA

BRUNA FRANCHETTO
Antropóloga e lingüista, Museu Nacional/ UFRJ

Esta narrativa ( akinhá na língua kuikúro, pertencente à


família karib) foi contada pelo chefe Kuikuro Atahulu (hoje
Kujame), em 21 de setembro de 1982 na aldeia de Ipatse,
onde vivem cerca de 350 kuikuro, na região do Alto Xingu,
ao sul da Terra Indígena do Xingu, estado de Mato Grosso.
Esta narrativa conta acontecimentos que se desenrolaram
entre o final do século XVIII e o início deste século. Fala
dos primeiros encontros com os caraíba (os brancos), dos
bandeirantes (chamados de jaburus pelos antepassados
kuikuro),das matanças, de chefes capturados e levados
de suas aldeias, da resistência indígena, da chegada do
etnógrafo Karl Von den Steinen no final do século XIX,
das doenças, da invasão das terras xinguanas.

Depoimento coletado por Bruna Franchetto, publicado anteriormente


em Franchetto, Bruna "A Celebração da história nos discursos cerimoniais
Kuikúro (alto Xingu)’, in: Viveiros de Castro, E. & Carneiro da Cunha, M. Amazônia.
Etnologia e História Indígena. NHII/USP/Fapesp. 1993

OESENHO DE SEPÈ KUIKURO


fonl«. icsfvu ISA

30 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


O APARECIMENTO
DOS CARAÍBA
CHEFE ATAHULU (HOJE KUJAME), ALDEIA IPATSE, ALTO XINGU (MT). 1982

- Escuta! Os antepassados caraíba -Foram-se até o pessoal de Uagihütü, na época em que se


chegaram há muito tempo. dançava nduhe kuegü Foram até oí/[o campo]. Havia três das
.

nossas canoas no porto. "Serão jaburus?". "Onde?". "Devem


- Os antepassados caraíba vieram para o grande rio
ser jaburus que se juntaram na beira d'água. Vamos ver!”.
[Culiseu e/ou Culuene], acamparam em Tugi, construíram
"Tem algo na cabeça dos jaburus". Era Agahi [o chefe entre
muitas canoas de casca de jatobá, muitas enfileiradas,
eles naquela época], "Será que são os caraíba que vêm nos
para matar os nossos antepassados.
matar? Vamos ver”. Foram-se para a beira d'água, lá em óti.
-
"Vamos", disseram. Estavam em Angahuku [cabeceiras
- "Sim, são caraíba, fujamos!", disse Agahi para sua
do rio Buriti] e vieram até o pessoal de Agaha [Agaha ótomo].
Era ainda noite, quase madrugada, e o pessoal de Agaha
esposa. "Escuta! Vamos Aqueles são os que vêm
fugir!

nos matar”, disse Painingkú. Fugiram com suas esposas.


estava dançando nduhe kuegü. Escondidos, os soldados
fecharam o pessoal dentro das casas. Golpearam os que - Eram Kujaitsí e Agahi, eram os chefes. De madrugada
ainda estavam quase dormindo e que tentaram fugir. os caraíba atacaram. Alguns fugiram com rapidez, mas os
Morreram. 0 sangue correu como fio d'água e os que tentaram escapar mais devagarforam golpeados.
machados se mancharam de sangue. Depois colocaram os mortos em fila. Eram muitos, a aldeia
-
"Vamos!". Foram para aquele outro pessoal e era grande. Procuraram entre os mortos: "Onde está
chegaram também de madrugada. Tentaram fugir por entre o chefe?". Não havia chefes.

as pernas dos soldados. Pegaram-nos. 0 sangue correu. - Os caraíba foram-se. Atracaram no porto do pessoal
Juntaram os mortos e perguntaram: “Onde está o chefe?". de Sahutaha. Atravessaram o rio procurando Kujaitsí, o
Não havia chefe entre os mortos. Os caraíba continuaram chefe. Chegaram de madrugada. Alguns fugiram de pressa,
a viagem. "Vamos procurar em outra direção". Os que
outros morreram. Diante dos mortos, os caraíba perguntaram
tinham fugido voltaram aos poucos perto da aldeia, de novo: "Onde está o chefe deles?". Não havia chefes.
depois que os caraíba tinham ido embora. Tinham fugido. Continuaram procurando Kujaitsí.
-
"Vamos!". Os caraíba foram até o pessoal de - Depois foram-se os caraíba, para matar o pessoal
Ugihihütü, sempre de noite. De novo tentaram fugir por entre de Kunagü. Alguns fugiram depressa; os que iam devagar
as pernas dos soldados. Juntaram os mortos e perguntaram foram golpeados pelo círculo das casas. Não havia chefes
"Onde está o chefe? Onde está Kujaitsí?". Lá não estavam os entre os cadáveres enfileirados. Era quase impossível
chefes, nem Kujaitsí, nem Agahi, nem Painingkú. Os caraíba para eles encontrar Kujaitsí.
foram procurá-los, foram procurar Kujaitsí. A aldeia ficou
-Então dirigiram-se na direção do pessoal de Ahakugu,
vazia depois que os caraíba passaram matando.
na época da festa de nduhe kuegü. Não conseguiram achar
- Depois foram até o pessoal de Agatahütü. Era apenas o caminho. "Onde está o rio deles? Vamos por este atalho".
um pessoal de casa de roça, eram poucos. Eles também Só havia uma passagem estreita para as canoas.
foram agredidos a faca. Diante dos mortos enfileirados, Não encontraram a rio de entrada. "Onde vamos?". Foram-se
os caraíba perguntaram: "Onde está o chefe? para o pessoal de Isangá, para o porto dos de Isangá.
Procuremos na direção de Ajikugu".
- Lá as mulheres perguntaram-se "Quem são aqueles? Vamos
- Em Ajikugu estava Kuigalu, amarrando folhas de buriti.
olhar!". "São os caraíba!" - disseram os que tinham casado
Um buriti caiu, depois de cortado, sobre as canoas dos
na aldeia (os sobrinhos). "Itseke [espíritos]
I

". "Não, são


antepassados caraíba. As canoas afundaram. caraíba, vamos fugir!". "Não, vamos olhar!". Estavam
Aquele era Kuigalu.
enganados. Apenas um foi ver com a sua esposa. Ihikutaha
- Depois foram-se até o pessoal de Uahütii. Morreram e de fugiu. "Mãe, vamos fugir! Os caraíba estão aqui para nos

novo diante dos mortos: "Onde está o chefe? Não está aqui matar". Os antepassados caraíba não conseguiram matar
entre os cadáveres". os chefes. Dizem que estes fugiram e acabaram por amansar

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 31


Acervo
/X S AI

KUIKUKO

os antigos caraíba. "Fujamos, mãe!". "Deixa eu ficar por - Eles vieram quando a aldeia estava vazia. Vieram para
aqui". "Será que os caraíba não irão te golpear?". Fugiu ver o criminoso, o vingador. Foram-se. Os outros fugiram no
com Os caraíba foram matando aqueles que
a esposa. meio do caminho para outras aldeias, dizem. Esta foi a última

tinham permanecido nas casas. Os caraíba mataram vez.Pegaram Kujaitsí. "Não, não vamos matá-lo".
d pessoal de Isangá, enganaram-nos. Deslocaram-se de canoa. Depois pegaram Agahi.
"Não, não vamos maté-io; venha conosco!'. Assim,
-Foram-se para Intagii. Eram esrtes nossos antepassados,
os convenceram a ir até onde viviam os antepassados
o pessoal que morava em Angahuku. Os antigos não
caraíba. Depois pegaram Painigkú. Em seguida voltaram
conheciam os caraíba. Novamente estes os golpearam,
de óti. "Vamos!". Aqueles eram Agahi, Kujaitsí, Painingkú,
os atacaram. Morreram, enfileiraram os mortos. "Voltemos.
Ihikutaha. Depois que tinham pego os chefes, depois de tê-los
Mais uma vez virão nos matar". Os que voltaram para
vestidos com camisas, calças e sapatos, vieram para cá, para
olhar a aldeia, mais uma vez, iriam ser mortos.
o pessoal de Ipatse, para matar outras tribos. "Vamos matá-
- Kuigalu estava lá para matar o chefe dos caraíba. los?". Agahi, Painingkú e Kujaitsí estavam com eles. Atiraram

um pouco, à toa. De medo os nossos fugiram, todos fugiram.


- Kuigalu tinha fugido com seu sobrinho. Cavou um buraco
na beira d'água para matar o chefe dos caraíba, Estes -Foram-se para o córrego das palmeiras küâ, onde
chegaram, queimando a mata. "Vamos" disse o sobrinho. Kuigalu estava cortando uma palmeira bem alta. Quando os
"Não, espera!". Ainda noite, os soldados foram banhar-se; caraíba chegaram, Kuigalu derrubou a palmeira e golpeou as
no meio deles estava seu chefe, carregado até a água. canoas dos caraíba, que afundaram, até a morada dos itseke.
Enquanto estava deitado na água "Certo, tio. Mate-o!". Aquele era Kuigalu; foi ele que fez aquilo para matar.
Flecharam. Kuigalu voltou correndo para se esconder no
- Foram-se. Dividiram-se, os caraíba; canoas e coisas
buraco. Os companheiros carregaram o chefe até o
estavam no fundo do Encontraram jenipapo hem preto
rio.
acampamento. Ficaram esperando que Kuigalu e os seus
e subiram na árvore. Muitas carabinas foram deixadas
aparecessem. Ficaram esperando que aparecessem os
encostadas no tronco. Kuigalu disse "Vamos ver as armas
fugitivos. Sentiam falta de seu chefe morto por Kuigalu.
deles!". Isso quando os caraíba estavam no topo da árvore
Lá eles enterraram seu chefe, bem fundo, enquanto
de jenipapo. Logo chegou Kuigalu, nosso vingador, para pegar
Kuigalu e o companheiro os observavam. Os camaradas
mas não agüentou.
as carabinas. Tentou carregá-las,
atiraram a esmo. Enterraram junto as flechas dele, as facas,
Pegou apenas duas. "Ele não está nos matando", disseram
machado, cobertor, tesouras, tudo, e fecharam o buraco.
os caraíba antigos. Desceram da árvore de jenipapo.
Lá permaneceram quatro dias, esperando o vingador
"Ele não está nos matando; ele está roubando as carabinas".
[Kuigalu). "Vamos, meu tio! Vamos olhar”. "Espera!
"É verdade". Ficaram rindo. Kuigalu já estava longe e trouxe
Os caraíba ainda estão por aqui. Não vamos deixar que eles
as carabinas. Os caraíbas antigos ficaram rindo.
nos matem". Passou um dia e ficaram esperando o vingador.
"Deixem que as leve". E ele levou apenas duas carabinas.
Aos poucos, os que tinham fugido reapareceram lá perto da
aldeia. "Aqui está aquele que matou nosso chefe" disseram - Depois eles, os caraíba, vieram. Não mataram mais.
os antepassados caraíba. "Deixa chegar mais perto". Kujaitsí não deixou que isso acontecesse mais.

Ficaram espiando enquanto eles vinham. Aí os mataram. "Será que vamos matá-los?". "Não, deixem disso".
Os camaradas [caraíba] foram-se depois da morte de seu "Certo!". Os antepassados caraíba prenderam apenas
chefe; voltaram para o seu lugar. "Certo, vamos! Olha! Kujaitsí; voltaram, mas não mataram mais nossos antigos,

Mataram-nos quando nós quase estávamos indo embora, pararam de matar. Agora, procurando o pessoal de Kujaitsí,
logoquando você estava me dizendo: vamos, meu tio". acabaram por prender Painigkú, mas pararam de matar.
Sobre o túmulo estava uma cruz feita pelos caraíba. Assim, os nossas antigos ficaram muitos,
"Aqui estão as coisas que foram enterradas junto.
- Novamente outra vez vieram. 0 pessoal de Kujaitsí

Vamos cavar!". Desenterraram tudo: facas, machado,


e de Agahi os trouxeram de volta amansados. "Aqueles
tesouras. Depois cobriram o buraco. Ficaram com as
não são mais nossos assassinos". "As matanças que
coisas dos caraíbas. 0 chefe deles foi aquele que as tinha
vocês costumavam fazer não irão mais nos atingir".
trazido e tinha sido morto. Ficaram por aqui. Disseram os
"Sim, vamos ver!". Kujaitsí, Painingkú, Ihikutába,
antepassados caraíba: "Vamos ver aqueles que se juntaram".
Agahi os trouxeram de volta.

32 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1995/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


KUIKURO

Os cara ba vieram e deram presentes aos antigos,


í não tinham anzóis. Depois as esposas fizeram colares, um
deram as coisas que eles tinham. Kujaitsí, Painingkú, colar para este, outro para aquele. Muitos colares para as
Agahi, Ihikutaha mandaram os caraíbas darem presentes. mulheres; eles não deram miçangas azuis. Depois ele ficou
Mesmo assim alguns fugiram. Aqueles que ficaram na aldeia trocando tudo isso por colares de caramujo, numa época
receberam presentes. 0 mesmo aconteceu em outras aldeias. em que era difícil encontrá-los. Foi Kálusi (Karl Von den
Kujaitsí é que mandava. Voltaram de novo outra vez. Steinen) quem trouxe as miçangas muito tempo atrás,
Os antigos tinham bem poucas dessas coisas de caraíba. dizem as mulheres. Foi Kálusi o primeiro de verdade.
Os antigos de outras tribos é que tinham. Chegaram as facas, Partilharam as coisas dadas por Kálusi, as facas, as pás.
os machados, poucos. Era outro o instrumento usado para
- Mas depois começaram as mortes. Chegaram as
cortar, contam, nos tempos antigos. Contam que para fazer
doenças/feitiços [ kugihe ]. Nós ficamos poucos. Na época
roça cortavam primeiro os paus pequenos, depois
em que vieram os caraíba; eles trouxeram as doenças/
derrubavam as grandes árvores com dentes de piranha
feitiço, eles, os antigos, os donos de feitiço. As flechas/
vermelho. Faziam grandes queimadas em suas roças.
feitiço voaram. Morreram muitos. Os de Kuhikugu acabaram,
0 dia seguinte continuavam a derrubada, contam.
acredite, nos tempos das viagens dos caraíba. Contam
Era assim antigamente. Apareceram as facas afiadas.
os antigos que os colares de 'olho de peixe', os colares
Apareceram alguns machados com os quais começaram
das mulheres, eram enterrados com os mortos.
a abrir as roças. Tornaram-se donos dessas coisas.
Abriam roças com facas e pás. Quem não tinha faca, quem - Kálusi foi embora. Passou um ano e o pessoal de
não era dono, pedia "Quero sua faca". "Sim, pode levá-la". Kuhikugu viajou até os caraíba, até a aldeia dos Bakairí
(Poto). De lá, contam, trouxeram a tosse. Tinham ido buscar
- "Eu vou ficar com ela tantos dias". "Certo, pode lavá-la".
facas. Deram facas, tesouras, machados. Veio a tosse,
Assim, acabavam o trabalho das roças e depois devolviam
os instrumentos. 0 mesmo acontecia com os que não eram -Os caraíba dizem de nós: "Vamos pegar a terra deles!
donos das pás. Pediam emprestados os instrumentos para Deixemos eles sem terra! Deixemos o pessoal de Kuhikugu
cortar, os machados. Aos poucos os caraíba chegaram, sem terra". Por que isso? Por que isso acontece, como eu

assim aos poucos as facas aumentaram, chegaram posso constatar? Por que não nos deixam em paz por aqui?
facas pequenas para todos. Eu sei que antigamente seus antepassados sempre nos
matavam, vindo das aldeias dos caraíba, nossos
- Tempo quando havia muitas crianças, chegou
depois,
antepassados estavam aqui, os caraíba nos perseguiam.
Kálusi (Karl Von den Steinen). [Onde está a aldeia de Kálusi?].
Foi por isso, por outro lado, que as crianças são poucas,
Ele veio até Kuhikúru, isso na época em que os caraíba já
agora. Antigamente, contam, as caraíba nos matavam.
eram bons. "Aqui estão os caraíba". "Não nos matem!".
Fugindo deles, nossa gente mudou de aideia várias vezes.
"Não, estou aqui para dar isso para vocês". "Certo". 0 chefe
Aqui estão, veja, os descendentes. Por que vocês pegam
estava na casa. Depois levaram as coisas no meio da aldeia
nossa terra? Eu sei que vocês estão sobre nossas antigas
para a partilha. 0 chefe falou "Venham aqui, venham aqui!".
aldeias. Os caraíba dizem de nós: "De pressa, peguem as
"Vamos olhar!". Saíram das casas, os antigos. As mulheres
terras deles!". Eu pergunto porque vocês tomam a nossa
fizeram fila. "Venham aqui, perto dos chefes!". Os chefes
como vocês falam a nosso respeito. Escuta! Assim
terra,
deram colares nas mãos das mulheres, colares brancos,
eram os caraíba antigamente, eu sei, os que iam matando
miçangas 'olho de peixe'. Eram lindos. Todos os colares
nossos antigos. Agora nós amansamos os caraíba. Escuta!
foram distribuídos. Depois foram distribuídas as facas para
Acabou a estória. São estas as últimas palavras.
os homens, facas pequenas, machados, anzóis. Os antigos

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 03


ENTRE A BÍBLIA E A ESPINGARDA:
IMAGEM DESANA DO HOMEM BRANCO
DOMINIQUE BUCHILLET - Antropóloga. IRD

Os Desana, cuja autodenominação é Imiko-masã "Gente Após vários anos como capitão de São João Batista, ele
do Universo", são um dos 15 grupos indígenas da família fundou em 1990 a Unírt — União das Nações Indígenas do Rio
lingüística Tukano oriental que moram, com outros povos das Tiquié,uma organização indígena filiada à Foirn - Federação
famílias lingüísticas Arawak e Maku, na região do rio Negro, das Organizações Indígenas do Rio Negro, da qual ele foi o
noroeste amazônico. Somando aproximadamente 1.500 pessoas presidente até 1994. 0s principais objetivos da organização
no Brasil, os Desana dividem-se em umas 60 comunidades e eram a demarcação do território indígena e a revitalização da
sítios espalhados nas margens do rio Tiquié e seus afluentes, cultura da região. Em 1992, ele construiu num terreno elevado,
como, por exemplo, os igarapés Umari, Cucura e Castanha. próximo de São João, uma maloca no estilo tradicional, que
Há também algumas comunidades desana em afluentes do rio deveria servir de espaço de exposição e para a formação
Papuri, como, por exemplo, nos igarapés Turi, Ingá e Urucu da cultural dos jovens.
margem brasileira, e do rio Uaupés, como o igarapé Japurá.
Os Desana estão ligados aos outros povos da região por um De acordo com a tradição oral dos Desana, comum a outros

estreito sistema de relações matrimoniais e/ou de trocas


povos Tukano orientais, os ancestrais da humanidade subiram
o curso dos rios Amazonas, Negro, Uaupés e seus afluentes,
econômicas e cerimoniais.
partindo do Oceano Atlântico numa canoa - a “Canoa-de-
ToramT-Kêhfri cujo nome português é Luiz Gomes Lana, autor
, Transformação". Durante a viagem, iam parando em numerosas
desse depoimento, pertence ao clã Kêhíripõra os "Filhos do "casas de transformação", nas quais faziam festas. A viagem
Sonho", que mora na comunidade de São João Batista no rio sub-aquática na Canoa-de-Transformação é assimilada à
Tiquié. Nascido em 1947, Luiz é o filho primogênito de Firmiano humanização e maturação progressiva dos ancestrais da
Arantes Lana e de Emília Gomes (mulher tukano}, e é casado humanidade. Eles saíram por terra, entre as cachoeiras
com Catarina Castro (mulher tukano) com quem tem cinco de Ipanoré, no médio rio Uaupés. Foi nesse lugar que a
filhos. ToramT-Kêhíri e seu pai já falecido UmustPãrõkumu diferenciação entre brancos e índios aconteceu. 0 ancestral
(Firmiano Arantes Lana) são autores da coletânea de narrativas dos brancos foi então em direção ao sul, enquanto os índios
míticas "Antes o Mundo não existia. Mitologia dos antigos subiram o curso dos rios e afluentes procurando um
B
Desana-" Kãhíripõra" (Unirt/Foirn, 1995, 2* edição; 1 edição lugar bom para viver.
pela Livraria Cultura Editora, 1980).

Depoimento coletado em português pela antropóloga francesa Dominique Buchillet em Brasília, em junho de 1992
e publicado em francês na revista Ethnies. Droits de l'Homme et Peuples autochtones (Paris, Survival International
France) n° spécial 'Chroniques d'une conquàte', 1993 n° 14, pp. 19-21.

PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ES AN A

"NOSSO SABER NÃO


ESTÁ NOS LIVROS!"
LUIZ GOMES LANA. RIO TIQUIÉ (AM). 1992

"Para nós, os Eimko-mosã "A Gente do Universo", isto é, os Desana, a humanidade inteira, ou seja tanto os
Índios quanto os brancos, têm a mesma origem. Quando Paníiri-gasiru, a "Canoa-de-Transformaçào" chegou
em Diá-peragobe wi'í, [Cachoeira de Ipanoré, médio rio Uaupés, região do alto rio Negro] os ancestrais da
humanidade, jó em forma humana, começaram a sair pelo buraco. 0 ancestral daqueles que iriam ser as

brancos também estava nesta canoa. Ele foi o último a sair. Yebá-gõãmi, o nosso demiurgo, o mandou na
direção do sul, dizendo que lá ele poderia fazer a guerra, ele poderia roubar e atacar as pessoas para sobreviver.

Para nós, que somos os irmãos maiores dos broncos, ele deu a ordem de ficarmos calmos, vivermos unidos e de maneira pacífica.

Mas para o homem bronco, ele deu a ordem de ganhar a sua vida pela violência, de fazer a guerra, de matar.

Assim, quando os primeiros brancos chegaram na região, os nossos avós já sabiam que eles vinham para fazer a guerra, porque

Yebá-gõãmi havia dito para o ancestral deles ganhar a sua vida pela violência. Nós, nós somos calmos, nós não fazemos a guerral

Nós vivemos de maneira pacífica. Mas o branco gosta de violência. Ele gosta de fazer a guerra, ele gosta de batalhar, ele gosta de matar, ele

gosta de se apropriar das coisas dos outras pela violência. A gente sabe muito bem como ele é violento! Yebá-gõãmi lhe deu uma espingarda
como arma. A espingarda é o poder do branco. Yebá-gõãmi lhe disse que ele poderia obter todo o que queria com essa espingarda.

Com o branco, saiu também da Canoa-de-Transformação o missionário. Os dois saíram juntos! É por isso que, quando os nossos avôs
viram o branco chegar com a espingarda, eles já sabiam que ele estaria com o missionário. E, de fato, quondo o homem branco apareceu
aqui, na nossa terra [região do alto rio Negro], ele estava acompanhado do missionário. Nós jó sabíamos que o missionário chegaria com
o branco porque Yebá-gõãmi o havia dito! Para o missionário, ele deu um livro [a bíblia] para ele poder viver. Por isso, quando os
nossos ancestrais viram pela primeira vez o missionário com seu livro, eles já sabiam que esse livro era o poder dele, a sua arma.

Nós sabemos muito bem que o livro [Bíblia] é a arma do missionário. 0 outro branco possuía como arma uma espingarda.
Com essa espingarda ele pratica todo tipo de violência. A gente vê muito bem que Yebá-gõãmi falou a verdade! Ele tinha falado que
o homem branco faria suo vida roubando, matando, fazendo a guerra... É isso que nós vemos hoje em dia. Nós vemos o branco entrar na
nossa terra à procura de ouro, de cassiterita... Ele entra no nosso território com violência. Ele quer ser o proprietário de todas essas coisas!

Para nós, que somos os irmãos maiores do homem branco, Yebá-gõãmi deu o poder da memória, a faculdade de guardar tudo na memória, os

cantos, as danças, as cerimônias, as rezas para curar as doenças... Nós guardamos tudo isso na nossa memória! Nosso saber não está nos livros!

Mas ao branco, que foi o último a sair da Canoa-de-transformação, ele deu o poder da escrita. Com os livras, ele poderio obter tudo o que ele

precisaria, ele havia dito. É por isso que o homem branco chegou à nossa terra com a escrita, com os livros. Assim, Yebá-gõãmi havia dito!

Yebá-gõãmi queria também que a humanidade fosse imortal. Ele queria que a humanidade fosse como são hoje em dia as aranhas,

as cobras, as centopéias, os camarões. Estes, quando velhos, trocam de pele e voltam o ser jovens. Yebá-gõãmi queria também que a

humanidade trocasse de pele, mas ele não conseguiu. Ele havio dado aos ancestrais da humanidade uma cuia de ipadu [ Erylhroxylvm coca
var. ipadu] para lamber. Quando eles viram aranhas, escorpiões e outros insetos venenosos na beira da cuia, os ancestrais da humanidade

não tiveram coragem de se aproximar. Mas ns aranhas, os centopéias, os escorpiões não hesitaram e comeram o ipadu. É por isso que
eles trocam de pele quando velhos. É o ipadu que lhes deu o poder de trocar de pele!

Havia também uma grande bacia de água. fetá-gõã/mmandou os ancestrais da humanidade tomar banho. 0 ancestral do branco se

precipitou, e se banhou. Se os índios, seus irmãos maiores, tivessem sido os primeiros a tomar banho, a pele do seu corpo teria virado
branca, como é a pele do homem branco. Mas quando os índios se decidiram a lomor banho, a bacia virou e eles somente conseguiram
molhar a planta dos pés e a palma das mãos. É por isso que nós, os índios, temos o planta dos pés e a palma das mãos brancas! 0 branco,

o nosso irmão menor, tem a pele branca porque ele foi o primeiro a tomar banho na bacia. Foi isso o que os nossos avôs contaram!"

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INOÍGENAS 35


OS BRANCOS NA PAISAGEM DA CRIAÇÃO DOS ZO'É

DOMINIQUE GALLOIS * Antropóloga, USP

Nas narrativas dos povo tupi do Cuminapanema, os


Zo'é, conflitos com inimigos. As duas esposas de Jurusi uhu
eventos relacionados à origem envolvem sempre as diferentes faziam intervenções para me fazer entender que cabia a mim,
categorias de humanos reconhecidas por este povo. A leste, não a eles, dar notícias do herói Jipohan, cujo destino, após
estavam os inimigos Tapahaj, responsabilizados pela explosão os feitos contados nesta narrativa, pouco preocupam os Zo'è.
que provocou o cataclisma - um incêndio seguido do dilúvio - quando terminou sua obra recriadora, o herói partiu
Afinal,
que destruiu a primeira humanidade. Os brancos, ou Kirahi, rumo aos brancos e, por isso, somos nós, os kirahi, que
estavam presentes nesta paisagem das origens, alguns deles devemos dar notícias dele e trazer de volta aos Zo'é todos
testemunhando o momento em que o herói Jipohan refaz esses bens que Jipohan já tinha lhes mostrado, quando
os Zo'e com os restos da humanidade anterior. ele fez surgir a atual humanidade.

Como para outros povos de tradição tupi-guarani, a criação com cerca de 50 anos, não ó chefe nem xamã,
Jurusi uhu,
não é concebida pelos Zo'é como um evento ipso-facto, mas mas um “homem importante” entre os Zo'é, entre os quais
como uma ocorrência entre outras, dentro do movimento a posição de “representante" de determinados grupos
que faz alterar a relação dos homens entre si. Assim,
ciclico locais está em construção, no novo contexto de relações e
pouco importa se o herói que refaz os Zo'é após o cataclisma, convivência com agentes de assistência e visitantes da área.
Jipohan, é branco ou não é. Ele era “como os brancos” No decorrer das minhas estadias entre os Zo'é, Jurusi uhu
e possuia bens semelhantes aos dos kirahi de hoje. esteve sempre interessado em conversas e ensinamentos,
convidando-me a acompanhar sua familia em várias viagens
0 diálogo, editado e traduzido livremente, foi gravado na
pela área. Ele sempre foi um dos mais interessados em
aldeia Zawarakiaven em julho de 1992. 0 assunto da origem
reconhecer nossas “aldeias” e é neste contexto que liderou a
dos Zo'é surgiu quando estava conversando com Jurusi uhu
que alguns Zo e fizeram aos Waiãpi do Amapá, em 1996.
visita
e sua família, a respeito da localização de aldeias antigas e de

DESENHOS Z0'ê
Colei; lo úl Dommiqu» Gillmc

PALAVRAS N D í G E N A S POVOS INOÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


. .

JIPOHAN EGEN
'
u s i ttff» , ra '
h i e Ta t i t u

ildeía Zawarakiaven, Cuminapanema (PA|, 1992

Jurusi uhu - Ele fabricou os Zo'é, há muito tempo atrás. uito num'
Como é que os Kirahi chamam Jipohan? ps.

iformou •* ?d’é, Jipohan mesmo, há


Dominique Gallois - Jipohan, não sei!
riros Zo'é. Ele nos fez! Depois os Zo'é
Jurusi uhu - Aquele que nos refez, no passado? Foi quando começaram a levantar, levantar ele novo e de novo,
o dilúvio nos engoliu, quando as grandes águas chegaram até que todos estivessám ai!

e nos engoliram. quando queimou tudo, quando os Zo’é


Foi À C
D. G. - Onde está Jipohan ágora?
queimaram. Os Zo'é haviam perecido no dilúvio, não existiajfe,
mais. Tinham acabado. Foi então que Jipohan nos refez, bem Jurusi uhu - Agora parece que ele virou Kirahi.
pequenos. Foi pequeninos assim que ele nos fez! Refez os Você não viu Jipohan?
que haviam sido engolidos pelo dilúvio. Ele foi nos fazendo
D. G. - Não o vi.
de novo, pequeninos. Você, Kirahi, os de tua espécie
não tinham perecido. Jurusi uhu - Não o viu mesmo?

D. G. - Quem? D. G. - Mas onde foi Jipohan?

Jurusi uhu Você! Os Kirahi\ Era para que Jipohan


- Jurusi uhu - Longe, na direção dos Kirahi, muito longe.
pudesse refazer os Zo'é que os Kirahi não haviam perecido. É lá que está Jipohan.
Eles estavam sendo levado pelas águas. Para voltar,
D. G. - Longe, no rumo do Cuminapanema?
seguravam tartarugas, de noite. Os Kirahi andavam com
as tartarugas. Seguravam nas costas de tartarugas Jurusi uhu - Passando o outro lado do Cuminapanema.
warara e (assim) não desapareceram. Eu não sei, não fui lá! Não sei, nunca fui de avião,

por isso não vi Jipohan, não sei.


D. G. - Então os Kirahi apareceram?
Pa'hi - Somente o finado Sihe é que sabia, eu ouvi a
Jurusi uhu - Dentro de uma cabaça, estavam flutuando
o finado Sihe me ensinou quando
fala do finado Sihe, foi
numa cabaça como esta, indo embora! (...). Os Kirahi
era pequena.
estavam se distanciando, flutuando numa cabaça, flutuando
e se distanciando (...). Estavam ainda perto de onde Jipohan Jurusi uhu - Ele não disse por onde partiu Jipohan.
estava fazendo os Zo'é, começando a fazê-los, pequenos. Disse que estava longe, por ali, muito longe.
Ele trabalhava e novos Zo'é apareciam. Continuava e outros
Tatitu - Mas você o viu também, Jipohan é gente como você!
apareciam. Estavam começando a aparecer. Iguais aos que
haviam sido engolidos pelo dilúvio. Já havia outros no lugar Pa'hi - Jipohan é como você. Antes, Jipohan usava
deles! Refez todos, como eles eram. Ele foi montando os roupa, como a tua, igual a você.

ossos, pegando nos ossos, os ossos do pé, como estes.


Jurusi uhu - Era como você, ele usava essas coisas
Com os ossos, fez os Zo'é de novo. Fazia-nos pequenos. [mostra roupa, caderno, gravador). Tinha tudo isso, igual
E fazia outro, outro, outro, foi fazendo de novo. a essas coisas. Jipohan também tinha, era como você.
Foi há muito tempo atrás. Ele existe mesmo. Tinha um corpo como Kirahi Como você
D. G. - A partir dos ossos? vê o corpo dos Kirahi Gente! (...) Jipohan tem mesmo muita
roupa. É Jipohan mesmo que fabricou roupas como estas
Jurusi uhu - Com os ossos. Elecomeçou a segurar um,
que você usa (...). Foi longe, pela beira do Erepecuru, por
ficava em pé! Estava quase feito, ali mesmo. Segurou para
ali ele talvez tenha aparecido. A moradia de Jipohan é
ver. Então estava pronto. Pronto! Acabou! Ficaram assim.
muito longe, fica além dos Kirahi, é o que eu digo,
Tinha terminado. E ficaram assim (.,.). Depois, o dilúvio não
pela fala do finado Sihe...
voltou. Começaram a aumentar. Tiveram filhos, filhos

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 37


OS BARE DO ALTO RIO NEGRO

DOMINIQUE BUCHILLET - Antropóloga, IRD

Os Baré, um grupo indígena de origem Aruak, vivem reunidos com os Baniwa e os Passé na Fortaleza São José do
principalmente no Brasil, nos cursos módio e superior do rio Rio Negro (atual Manaus), forte militar que servia de base para
Negro, nos rios Içana e Xié (dois afluentes do alto rio Negro) as incursões na região do rio Negro, em busca de escravos.
e na Venezuela, na região do canal Cassiquiara. Considera-se
que eles somam aproximadamente 1500 no Brasil. 0 nome Baré
Ao longo dos séculos foram, juntamente com outros

deriva de bári, "branco", um termo que servia para diferenciar


grupos indígenas, reunidos em diversas fortalezas e vilas,

onde eram submetidos ao trabalho servil. Sua língua vernacular


os brancos dos negros. Os Baré englobariam vários grupos
foi gradativamente substituída pela língua geral e o português,
indígenas citados nas fontes históricas como os Mandahuaca,
assim como suas crenças, costumes e tradições foram
Manaca, Cunipusana e Pasimonare, não considerados
Baria,
adaptados, aos poucos, ao modelo português.
propriamente povos diferentes, mas, segundo a literatura
Até recentemente, eram considerados brancos pela Funai,
etnológica, "clãs exogâmicos separados de um tronco
comum há aproximadamente 150-120 anos”.
mas atualmente estão em um processo de reivindicação de
sua identidade étnica e de revitalização da cultura ancestral.
No momento da conquista os Baré ocupavam um território
Bráz de Oliveira França é Baré. Foi presidente da Federação
de mais de 165 mil km 2 incluindo o curso médio e superior
,

rio Negro, a região do canal Cassiquiare e o rio Mavaca.


das Organizações Indígenas do Rio Negro - Foirn, entre 1990
do
a 1997. É o atual administrador adjunto da ADR-Funai,
Os Baré foram um dos primeiros grupos indígenas do rio
Negro afetados pelo contato. De fato, desde 1669, elBS estavam São Gabriel da Cachoeira.

Narrativa coletada e editada por Geraldo Andrello (Antropólogo, ISA/Unicamp).

PALAVRAS N D í G E N A S POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


//
NOS NÃO ÉRAMOS ÍNDIOS
Bráz de Oliveira França, Rio Negro (AM), 1999

Aicué curí uiocó, paraná-assú sui, peruaiana, quirimbaua piri


pessuí [Vai aparecer do rio maior, o maior e mais poderoso
inimigo de vocês). Foi com essa mensagem que Ponaminari, o
grande mensageiro de Tupana, tentou prevenirtodòs os povos
que dominavam estas terras antes de 1500. Talvez os pajés e
carrascos invasores, pois a luta era totalmente desigual:
os chefes imaginassem que este poderoso inimigo fosse uma
enquanto os índios lutavam com suas flechas e zarabatanas,
epidemia, ou a ira mesmo
dos ventos, revolta das matas, ou
os brancos disparavam poderosos canhões contra homens,
vingança de Curupira. Mas em nenhum momento eles imagi-
mulheres e crianças que tentavam impedi-los de entrar em
naram que o inimigo seria o homem branco, vindo do meio do
suas terras. Mas mesmo dominado, preso e ferido, Ajuricaba
mar, conforme testemunharam os olhares Tupiniquim,
preferiu a morte, jogando-se acorrentado ao rio.
Tupinambá e quem sabe outros povos nativos da costa
Atlântica. Muitos anos depois, essa mesma história se Hoje, 500 anos depois, ainda lembramos das tristes histórias
repetiria nas terras dos valentes Xavante, Kaiapó, Juruna e contadas pelos nossos avós. Eles diziam que os primeiros
Kayabi no Centro-Oeste, entre os Tarumã, Baré e Manao, na comerciantes que apareceram no rio Negro traziam consigo
confluência dos rios Negro e Solimões, e entre os Tukano, mercadorias como fósforo, terçados, machados e tecidos,
Baniwa, Desana e outros no extremo norte, no alto rio Negro. com que tentavam convencer os índios a produzir borracha,
castanha, balata, piaçaba, cipó titica e outros produtos
Possivelmente, esses brancos foram recebidos com grande
naturais. Como essas mercadorias despertavam pouco
surpresa e admiração, mostrando-se por sua vez, com cara
interesse entre os índios, eles passaram a usar a violência,
de bons amigos, oferecendo presentes, tentando se comuni-
atacando aldeias e aprisionando homens e mulheres para
car através de gestos e sinais. Em seguida, voltaram a seu
levá-los aos seringais, castanhais, sorvais ou piaçabais
país de origem, para comunicar ao rei a descoberta de novas
localizados nos rios Brancos, Uacará, Padauiry e Preto.
terras, habitadas por indianos bugres ou indianos selvagens.
Muitos nunca mais voltaram desses lugares, uns porque não
Com essa notícia, o rei de Portugal deve ter, naturalmente,
resistiam aos maus tratos dos
enviado para estas terras vários navios com milhares de
patrões, outros porque eram
pessoas, com autorização para ocupar e dominar o maior
vítimas de doenças contagio-
espaço possível do território então ocupado por seus verda-
sas, como febre amarela,
deiros donos, a custa de qualquer preço.
gripe, varíola ou sarampo.
Enquanto isso, o povo jamais poderia imaginar a tamanha Ainda hoje, há descendentes dos
barbaridade que o homem branco seria capaz. Não sabiam Baré, Tukano, Baniwa e Warekena que
que a partir de então estava decretado o genocídio, o vivem nesses rios, em uma vida de
etnocídio, os massacres e as opressões dirigidos àqueles que escravidão. Há pessoas de mais de
passaram a ser chamados de indios. 60 anos que sequer conhecem o rio
Negro, mas apenas a lei do patrão.
No rio Negro, habitado ao longo de todo o seu curso pelo
povo Baré, e em seus afluentes pelos Tukano, Desana, Até as primeiras décadas do século
Arapasso, Wanano, Tuyuka, Baniwa, Warekena e outros, XX, era "de praxe" o branco ter a
ocorreram as mesmas violências. Povos e aldeias inteiras seu serviço homens e mulheres
foram dizimados pelos invasores franceses, holandeses e indígenas, seja para simples trabalhos
portugueses. Comerciantes brancos, credenciados pelos domésticos ou para trabalhos mais
governadores das províncias, eram portadores de carta sacrificados, como servir como
branca para praticarem qualquer ato criminoso contra os
povos indígenas. Nem mesmo o grande cacique guerreiro
"Wayury-kawa" (Ajuricaba) conseguiu livrar seu povo dos
nlzJZ* Acervo
~/ÁB AISA
'
RE

remadores nas grandes canoas que saíam de Tawa


(São Gabriel) até Belém do Pará, levando produto e trazendo
Nessa viagem, em meio a uma
mercadoria, numa viagem que demorava de seis a dez meses.
grande bebedeira de cachaça,
Muitos remadores não conseguiam retornar, mortos durante
a viagem pelo patrão. Aqueles que iam para extrair borracha ordenou que três de cada vez
ou outros produtos eram obrigados a produzir uma
determinada quantidade para entrega e, caso não caíssem na água. Então começou a
atingissem sua cota, eram açoitados no terreiro do barracão.
Os que eram obrigados a assistir esse espetáculo deviam disparar com seu rifle 44 na cabeça
dar risadas para não terem o mesmo destino.
de cada um, e assim matou todos.
Nessa mesma época, apareceram os primeiros missionários.
Eles tinham o propósito de aldear os índios, com a intenção
de livrá-los das garras dos patrões e submetê-los a crer em Nas décadas de 50 e 60, nos rios Uaupés, Tiquié, Içana
Deus através da evangelização católica. Essa investida, no e Xié o produto industrializado chegava através dos
entanto, foi pior do que qualquer sofrimento físico, pois chamados regatões (comerciantes ambulantes), que
obrigaram os índios a abandonar várias de suas práticas também se aproveitavam da mão-de-obra barata dos índios.
culturais, como as curas, as festas de Dabucury, os rituais Na sua mercadoria, sempre tinha a cachaça, com a qual
de preparação dos jovens e suas formas de homenagear e embriagava os homens, para abusarem sexualmente das
agradecer o grande criador do universo. Tudo isso virou ato mulheres, casadas e solteiras, como forma de pagamento
diabólico na lei dos missionários. Nos grandes prédios das das dívidas contraídas pelos pais e maridos.
missões, foram criadas escolas onde os índios eram
obrigados a falar a língua portuguesa e a rezar em latim.
Apesar de todo esse passado de violência e massacres,
podemos registrar alguma coisa como vitória: a demarcação
Nas primeiras décadas do século também se instalou na das cinco terras indígenas no alto rio Negro, confirmando
região do baixo rio Uaupés, na Ilha de Bela Vista, a família
mais uma vez a profecia do grande mensageiro de Tupana,
Albuquerque. Um desses que se fez conhecer por Manduca, o Purnaminari. Em uma de suas visitas a seu povo, muito
não por ser bom, mas por ser perverso e bêbado, recebeu irritado, disse: -
“Puxí c uri peçassa amun-itá ruaxara,
o título de Diretor de índios pelo antigo SPI. Manduca maramên curí pemanduari ixê, aramem curí peiassúca,
Albuquerque fazia questão de divulgar sua fama pelos rios
peiaxiú paraná ribiiuá upê, pemucamém peruá, pericú-aram
Uaupés, Tiquié e Papuri. Toda a população desses rios tinha maam peiara, Tupanaumeém ua peiaram". [Vocês agora vão
que ser seu produtor de borracha e farinha. Nessa época, ser dominados por outras pessoas, até quando vocês se
ele comprou um dos primeiros motores da região, com que
lembrarem de mim, aí então vocês irão ao rio tomar banho
transportava sua produção e seus homens, mas os índios mostrando suas caras, para que assim eu vos
e chorar
tinham que remar mesmo quando o motor estava funcionando reconheça e Tupana devolva aquilo que sempre foi de vocês).
e só podiam viajar sentados ou deitados. Conta-se que um dia
com seu motor até Manaus, quando alguns índios
ele viajou Analisando essa grande profecia, vemos que o povo
decidiram matarum de seus capangas mais perversos. de Tupana não era unicamente o povo Baré. Concluímos

Quando Manduca chegou, ao saber da notícia, mandou que os povos tinham que passar por esse longo período de
seus capangas prenderem todos os homens e mulheres sofrimento. Mas depois que se reconhecessem, começariam

de um determinado lugar para conversar com ele. então a reconquistar seus direitos originários, agiriam como
Quando esse pessoal chegou, ele já estava em estado de índios, brasileiros, amazonenses, sangabrielenses. A grande
embriagues e ordenou que todos fossem amarrados ao pé conquista do reconhecimento dos mais de 10 milhões de

de uma laranjeira onde havia um enorme formigueiro, até o hectares de terras demarcadas no rio Negro resultou de uma
dia seguinte. Ordenou então que todos embarcassem para luta que foi conseqüência desse passado. Mesmo assim, se

que ele, pessoalmente, os levasse de volta. alguns dos nossos antepassados nos vissem no estado em
que estamos perguntássemos por que eles há 500 anos
e lhe
viviam livres e tranqüilos, certamente nos responderiam:
"Nós não éramos índios!"

40 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INOÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
//\\ I SA B ARÉ

Baré-mira iupirungá (Origem do povo Baré) uma fuga. No primeiro período de lua nova ele e ela fugiram,
aproveitando o momento em que as guerreiras saíram para
Kuíri açú ambêu penaram, maiê taá baré-míra iupirungá caçar e coletar mel e frutas, o que serviria de consumo nos
[Agora eu contar para vocês a história da origem do dias da festa daexecução do homem que dera para o grupo
povo Baré], diziam os nossos historiadores do passado. muitas guerreiras de sua geração. Foram viver distante dos
E começavam a história dizendo:
demais grupos. Acredita-se que esse local tenha sido nas
Antigamente, ainda no início do mundo, entrou no rio Negro, proximidades de Mura no baixo rio Negro.

vindo do rio maior um grande navio, cheio de gentes no seu


Depois de mais eu menos trinta aros, a família já
interior e cada um com seu par. Apenas um homem viajava
estava grande, Tipa e Mira-Boia todos os dias pela tarde
neste mesmo de fora pois o mesmo não foi
navio, pelo lado curtiam sua felicidade juntos com os filhos e filhas de sua
aceito dentro por não estar acompanhado, Ao passar pela geração. Com que podiam ser uma família
isso eles viram
foz do rio Negro viajava tão próximo das margens do rio,
muito maior. Foi então que Tupana ordenou que viesse
que os passageiros viram que havia muitas pessoas na até eles o seu Mensageiro, o qual se chamou Purnamínari
margem, inclusive o homem que viajava pelo lado de fora,
para lhes dizer o seguinte:
o qual não resistindo à tentação, logo se jogou para fora e
aadou para a margem do rio. Ao alcançar a beira, ele foi
-
"Aquilo que vocês estão pensando agrada a Tupana,

agarrado por um grupo de mulheres guerreiras, que tinham por isso ele me enviou, para ensinar vocês a trabalhar

o costume de aceitar apenas mulheres em seu grupo. e com isso garantir a comida de vocês todos os dias".
Quando tinham necessidade de ter filhos, aprisionavam Ele então passou a morar com eles por um iongo período,
machos de outras tribos e dessa relação, se nascesse mulher ensinando-os a fazer canoa, remo, roça, armadilha para
elas criavam, e se fosse hemern eias o matavam. Esse seria pegar caça, peixe e treinar o novo grupo para guerra.
o destino do homem que nadou até o navio, para quem
deram o nome de"Mira-Boia"IGente-Cobra), se não fosse Quando o pequeno grupo já sabia de tudo que lhe foi

sua estrutura física ser um pouco diferente dos que elas já


ensinado, Purnaminari organizou uma grande festa com
conheciam, por isso resolveram poupar-lhe a vida depois
Dabucury, Adaby e Curiamã para preparar o povo na sua

de terem submetido Mira-Boia a um rigoroso teste de


caminhada, dizendo: “Agora que vocês já sabem de tudo
masculinidade. As guerreiras então, prepararam uma grande o que eu lhes ensinei para viver, voltem para a terra de

festa na primeira íua cheia, grande fogueira no centro do Tipa e tomem todas as mulheres do antigo grupo de Tipa para

mel silvestre foram coletados. serem mulheres de vocês, aí então vocês serão grandes e
pátio foi feita, muitas frutas e
respeitados e serão conhecidos por Baré-Mira (povo Baré)".
A festa com os rituais rolaram durante oito dias. No final da
festa, o grupo tomou a seguinte decisão: Mira-Boia ficaria Purnaminari, o mensageiro de Tupana, voltou várias
morando com um grupo com a condição de gerar um filho vezes para visitar e instruir seu povo. 0 grupo cresceu
com cada uma delas. Teria que dormirtrês noites com uma bastante a ponto de dominar totalmente a região do baixo
mulher que estivesse na época do seu período fértil. e médio rio Negro. Ao chegarem na Cachoeira de Tawa
Terminando essa missão, ele seria executado, assim (São Gabriel) permaneceram ali até que Purnaminari
como todo filho que nascesse homem. decidisse o novo destino do seu povo. No entanto, nessa

como grupo por um cachoeira Kurukui e Bururi desentenderam-se e brigaram


Mira-boia então passou a conviver
com muito entre si, por isso resolveram separar-se, ficando
longo período, nessas condições, até que gerasse filho
a última mulher, e essa última era a "Tipa"[Rouxinol],
Kurucuí de um lado e Buburi de outro lado do rio.

uma jovem muito bela que estava no primeiro período da


Essa separação acabou provocando desobediência às

por ser a mais nova, a mais bonita e muito regras de Purnamínari, que ordenou ao povo não se misturar
menstruação. Ela,

com Mira-Boia com outros grupos, porém Kurucuí e Baburi acharam que
querida pelo grupo, teve o privilégio de morar
até que sua gestação aparecesse visualmente para o resto para pode aumentar os seus grupostinham que ter muitas

do grupo. Devido a isso Tipa e Mira-Boia passaram a viver


mulheres. Foi quando eles guerrearam com grupos menores
e quando
para tomar suas mulheres e se multiplicarem.
uma vida a dois ala percebeu que já estava
gestante, descobriu também que estava perdidamente Assim Tipa e Mira-Boia fizeram e conseguiram serem pais
apaixonada pelo companheiro. 0 mesmo acontecia com de um grande povo que, até a chegada dos "brancos",
Mira-Boia. Como o destino do nosso herói seria a morte, habitava o rio Negro desde a foz até as cachoeiras.
ela conseguiu convencer o seu já considerado marido para

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 41


UMA NARRATIVA
WAPISHANA: OS BRANCOS
CHEGARAM ANTIG AMENTE...

NÁDIA FARAGE - Antropóloga, Unicamp

A que segue, pertence ao gênero que os


narrativa,
Wapishana designam por kotuanao dau'ao, "aquilo que
se conta sobre os antigos". De alta plasticidade temática
que recobre todos os acontecimentos humanos o gênero
é socialmente reconhecível sob uma forte convenção de
adequação, a referência exclusiva ao que é passado e morto,
do ponto de vista dos atualmente existentes, kainaonao.
0 gênero kotuanao dau'ao, assim, repousa sobre uma
sofisticadaconcepção de história - em que a experiência do
passado se constitui em uma experiência de linguagem bem
como a efetua, retoricamente: a narrativa cria o passado e, ao
mesmo tempo, sua distância em relação à realidade dos vivos.
José Antônio, o narrador, residente na aldeia wapishana
Sawariwao, na Guiana, tem, hoje, cerca de oitenta anos.
Sua idade avançada, aliada a um repertório considerável no
gênero kotuanao dau'ao, faz dele um kwad pazo, um sábio, de
onde deriva a autoridade socialmente reconhecida de sua fala.

A narrativa toi registrada na aldeia Canauanim. Roraima, em 1988,


quando José Antonio visitava seus parentes. Transcrita originalmente em
N. Farage, 1997, As flores da fala: práticas retóricas entre os Wapishana,
tese de doutorado inédita, Programa de Pós-Graduação em Letras, FFLCH/USP.
Tradução de Allan Charles, Casemiro Cadete e Nádia Fsrage.

utinsKios WAPISHANA

42 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


José Antônio, Aldeia Caunavamim (RO), 1988

1
paranakaru - literalmente “os do
Os brancos chegaram antigamente.
1
Não havia brancos aqui, nem lã em Georgettown.
mar", "os que vieram do mar - com que
Não. Todos iguais: Aruak, Carib, Wacawai, iguais, todos caboco. Eles não sabiam fazer os Wapishana designam os ingleses,
em contraste a karaiwa (brasileiros).
roça, parece: nunca haviam visto machado, terçado, lima, fósforos, eles nunca haviam
visto essas coisas.

Eles viviam por aí, pelo mundo, mas viviam. Eles faziam seu fogo com o que se
chama izako, pedra vermelha, pequena. Era diferente o modo como faziam seu fogo.
É, mas eles tinham fogo, eles queimavam sua roça, assim eles viviam sempre.

Depois, um dia, aqueles chamados Colombos 2 - da Inglaterra, parece - eles pensaram,


2
Columbusnao, onde
naoè sufixo pluralizante.
pensaram... Seu chefe, outro branco, disse: ha terra la. Eles pensaram, diz-se, ate que

arrumaram aquele barco de vento; não era movido a motor não, só vento.

Então, eles embarcaram todas as coisas: terçado, roupa, enxada, machado, fósforos,

lima, de tudo eles embarcaram. É, eles foram, foram... é, para cá, pelo lado de Georgetown.

Mas não havia cidade não. Eles vieram pelo mundo. Trouxeram sua gente, cinco ingleses,
com eles. Procuravam a terra. Foram pelo meio do mar3 vieram, vieram, não havia onde
,
!
ni»ni'o parana, água grandá.

descansar. Só vieram, não se sabe por quantos dias, parece. Por muitos dias vieram.
É longe aquela Inglaterra, sim! Então, os outros disseram para aquele Colombo:
"Ora, mataremos você!". 0 chefe disse: "Não, mais um pouco, dêem-me três dias, se

não encontrarmos terra, aí vocês me matam." Eles concordaram. Então, vieram, vieram,
e viram mato. Com aquele olho que colocavam, aqueles ingleses brancos mal viam um
matinho. "Você vê - eles diziam - terra lá?". "Há gente então", "Nós iremos lá longe",

É, mas seu olho de tirar e pôr alcançava lá. Em três dias alcançaram a beira da mata.

Chegaram e encontraram aqueles Aruak lá, Wacawai, moradores de verdade.


Então, diz-se, eles nunca haviam visto aquele barco grande. De jeito nenhum! Eles queriam

flechar, quase flecharam. Mas parece que aqueles ingleses acenaram com a mão: "não nos
flechem!" Eles chegaram, e então vieram para o barco. Mas diz-se que não sabiam a língua,

só a sua mesmo, "Nós trazemos coisas - mostraram para eles, assim, assim - para o trabalho:
terçado, tudo, machado - eles mostravam - fósforos... Olhe aqui, assim se faz fogo...".

Até que se foram acostumando com o que encontraram, eles já conheciam pedra.

Eles encontraram aqueles Aruak, Carib, Wacawai; é, do nosso jeito de verdade,


Wapishana, caboco de verdade. Não eram como os brancos, não: viviam no mato,
encoivaravam, cavavam com pedra, da pedra amolada faziam como enxada. Sua casa era

no mato, só folha de inajá que levantavam. Não era como nossa casa não! Eram desse jeito.

Nós fomos encontrados, nós fomos encontrados. Assim nós fomos encontrados. É o fim.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 43


Acervo
-//ISA

"NÃO ESQUECI QUEM EU


SOU E DE ONDE EU VENHO"

Ailton Krenak nasceu no Vale do rio Doce, Minas Gerais


em 1954. Os Krenak registravam uma população de cinco
mil pessoas no início do século XX, número que se reduziu
a 600 na década de 1920 e a 130 indivíduos em 1989.
Na época, Ailton pressagiou: "se continuar nesse passo,
nós vamos entrar no ano 2000 com umas três pessoas".
Felizmente isso não aconteceu. Contando com esforços
também do próprio Ailton, os Krenak fecharam o século com
150 pessoas.Com dezessete anos Ailton migrou com seus
parentes para o estado do Paraná. Alfabetizou-se aos dezoito
anos, tornando-se a seguir produtor gráfico e jornalista.
Na década de 1980 passou a se dedicar exclusivamente à
articulação do movimento indígena. Em 1987, no contexto das
discussões da Assembléia Constituinte, Ailton Krenak foi autor
de um gesto marcante, logo captado pela imprensa e que
comoveu a opinião pública: pintou o rosto de preto com
pasta de jenipapo enquanto discursava no plenário do
Congresso Nacional, em sinal de luto pelo retrocesso

na tramitação dos direitos indígenas.


Em 1988 participou da fundação da União das Nações
Indígenas - UNI, fórum intertribal interessado em estabelecer
uma representação do movimento indígena em nível nacional.
Juntamente com Chico Mendes, projetou-se na cena pública
participando em 1989 do movimento Aliança dos Povos da
Floresta, que reunia povos indígenas e seringueiros em torno
da proposta de criação das reservas extrativistas, visando
a proteção da floresta e da população nativa que nela vive.

Nos últimos anos, Ailton se recolheu de volta à Minas


Gerais e mais perto de seu povo.
Atualmente está no Núcleo de Cultura Indígena, ONG que
realiza desde 1998 o Festival de Dança e Cultura Indígena
idealizado e mantido por Ailton Krenak, na Serra do Cipó,
MG, evento que visa promover o intercâmbio entre as
diferentes etnias indígenas e delas com os não-índios.

Publicado anteriormente em Krenak, Ailton, " 0 Eterno Retorno do Encontro", in:

Novaes, Adauto (org.) A Outra Margem do Ocidente. Minc-Funerte/ Companhia


Das Letras, 1999.

44 PALAVRAS I N D í G E N A S POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^4/7^ Acervo
_//\C ISA
t
O ETERNO RETORNO
DO ENCONTRO
Ailton Krenak, 1998

Esta é uma boa oportunidade para reportar algumas das


narrativas antigas de muitas das nossas tradições, das
diferentes tribos que vivem hoje nesta região da América
que identificamos como o Brasil mas que, naturalmente,
bem antes de identificarmos como essa região geográfica
E nas narrativas antigas ele aparecia de novo como um
do Brasil, já vinha fazendo história. Os registros dessa
sujeitoque estava voltando para casa, mas não se sabia
memória, dessa história, estão tomados de falas, de
mais o que ele pensava, nem o que ele estava buscando.
narrativas em aproximadamente 500 línguas diferentes,
“ E apesar de ele ser sempre anunciado como nosso visitante,
só daqui da América do Sul. Essas narrativas são narrativas'
que estaria voltando para casa, estaria vindo de novo, não
que datam dos séculos XVII, XVIII, na língua de alguns
sabiamos mais exatamente o que ele estava querendo.
povos que nem existem mais. Desde o século XVIII, já
E isso ficou presente em todas essas narrativas, sempre
eram escritas em alemão, inglês, e distribuídas na
nos lembrando a profecia ou a ameaça da vinda dos brancos
Europa, narrativas muito importantes falando da criação
como, ao mesmo tempo, a promessa de ligar, de reencontrar
do mundo, falando dos eventos que deram origem aos sítios
esse nosso irmão antigo. Tanto nos textos mais antigos, nas
sagrados, onde cada um dos nossos povos antigos viveu
narrativas que foram registradas, como na fala de hoje dos
na Antiguidade e continua vivendo ainda hoje. Fico
nossos parentes na aldeia, sempre quando os velhos vão
admirado de reconhecermos que em mais de 500
falar eles começam as narrativas deles nos lembrando, seja
línguas e durante aproximadamente 300 a 400 anos
na língua do meu povo, onde nós vamos chamar o branco
são divulgados textos, como o texto muito importante
de Kraí, ou na língua dos nossos outros parentes, como os
que tem o título de XilãBalã. 0 XilãBalã é um texto sagrado,
Yanomami, que chamam os brancos de Nape. E tanto os
que tem tanta importância para os Maya quanto os textos
Kraí como os Nape sempre aparecem nas nossas narrativas
sagrados da cultura do Ocidente, como a Bíblia ou o
marcando um lugar de oposição constante no mundo inteiro,
Alcorão. São textos que fundam tradição e a memória -

>
a
não só aqui neste lugar da América, mas no mundo inteiro,
útero da cultura que cada uma dessas antigas tradições
mostrando a diferença e apontando aspectos fundadores da
tem do ser social, da história, do mundo, da realidade
identidade própria de cada uma das nossas tradições, das
circundante, e a minha admiração é que esses textos
nossas culturas, nos mostrando a necessidade de cada um
maravilhosos já tenham sido divulgados há tanto tempo,
de nós reconhecer a diferença que existe, diferença original,
e mesmo assim a maioria das pessoas continue ignorando
de que cada povo, cada tradição e cada cultura é portadora,
essas fontes de nossa história antiga. Como essa história
é herdeira. Só quando conseguirmos reconhecer essa
do contato entre os brancos e os povos antigos daqui
diferença não como defeito, nem como oposição, mas
desta parte do planeta tem se dado? Como temos nos
como diferença da natureza própria de cada cultura e
relacionado ao longo desses quase 500 anos? É diferente
de cada povo, só assim poderemos avançar um pouco
para cada uma das nossas tribos o tempo e a própria
o nosso reconhecimento do outro e estabelecer uma
noção desse contato? Em cada uma dessas narrativas r
convivência mais verdadeira entre nós.
antigas já havia profecias sobre a vinda, a chegada dos
brancos. Assim, algumas dessas narrativas, que datam de Os fatos e a história recentes dos últimos 500 anos têm
dois, três, quatro mil anos atrás, já falavam da vinda desse ndicado que o tempo desse encontro entre as nossas
outro nosso irmão, sempre identificando ele como alguém culturas é um tempo que acontece e se repete todo dia.
que saiu do nosso convívio e nós não sabíamos mais onde Não houve um encontro entre as culturas dos povos do
estava. Ele foi para muito longe e ficou vivendo por muitas Ocidente e a cultura do continente americano numa data
e muitas gerações longe da gente. aprendeu outra
Ele e num tempo demarcado que pudéssemos chamar de 1500
tecnologia, desenvolveu outras linguagens e aprendeu ou de 1800. Estamos convivendo com esse contato desde
a se organizar de maneira diferente de nós. sempre. Se pensarmos que há 500 anos algumas canoas

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS


aportaram aqui na nossa praia, chegando com os primeiros reconhecendo a territorialidade um do outro como elemento
viajantes, com os primeiros colonizadores, esses mesmos fundador também da sua identidade, da sua cultura e do seu
viajantes, eles estãochegando hoje às cabeceiras dos altos sentido de humanidade. Esse entendimento de que somos
rios lá na Amazônia. De vez em quando a televisão ou o jornal povos que temos esse patrimônio e essa riqueza tem sido o
mostram uma frente de expedição entrando em contato com principal motivo e a principal razão de eu me dedicar cada

um povo que ninguém conhece, como recentemente fizeram vez mais a conhecer a minha cultura, conhecer a tradição
sobrevoando de helicóptero a aldeia dos Jamináwa, um povo do meu povo e reconhecer também, na diversidade das
que vive na cabeceira do rio Jordão, lá na fronteira com o nossas culturas, o que ilumina a cada época o nosso
Peru, no estado do Acre. Os Jamináwa não foram ainda horizonte e a nossa capacidade como sociedades humanas
abordados, continuam perambulando pelas florostas do alto de ir melhorando, pois se tem uma coisa que todo mundo
rio Juruá, nos lugares aonde os brancos estão chegando quer é melhorar. Os índios, os brancos, os negros e todas as
somente agora! Poderíamos afirmar, então, que para os cores de gente e culturas no mundo anseiam por melhorar.
Jamináwa 1500 ainda não aconteceu. Se eles conseguirem
atravessar aquelas fronteiras, subirem a serra do divisor e O CONTATO ANUNCIADO
virarem do lado de lá do Peru, o 1500 pode acontecer só lá
pelo 2010. Então eu queria partilhar com vocês essa noção de Na história do povo Tikuna, que vive no rio Solimões, na
que o contato entre as nossas culturas diferentes se dé todo fronteira com a Colômbia, temos dois irmãos gêmeos, que
dia. No amplo evento da história do Brasil o contato entre a são os heróis fundadores desta tradição, que estavam lá na

cultura ocidental e as diferentes culturas das nossas tribos Antiguidade, na fundação do mundo, quando ainda estavam
acontece todo ano, acontece todo dia, e em alguns casos se sendo criadas as montanhas, os rios, a floresta, que nós
repete, com gente que encontrou os brancos, aqui no litoral, aproveitamos até hoje,,. Quando esses dois irmãos da
200 anos atrás, foram para dentro do Brasil, se refugiaram e tradição do povo Tikuna, que se chamam Hi-pí - o mais velho
- seu companheiro de aventuras
ou o que saiu primeiro e Jo-í
só encontraram os brancos de novo agora, nas décadas de
30, 40, 50 ou mesmo na década da 90. Essa grande na criação domundo tikuna, quando eles ainda estavam
movimentação no tempo e também na geografia de nosso andando na terra e criando os lugares, eles iam andando
de nosso povo expressa uma maneira própria
território e quando o Jo-í tinha uma idéia e expressava essa
juntos, e

das nossas tribos de estar aqui neste lugar. idéia, as coisas iam se fazendo, surgindo da sua vontade.
0 irmão mais velho dele vigiava, para ele não ter idéias muito

TERRITÓRIOS TRADICIONAIS perigosas, e quando percebia que ele estava tendo alguma
idéia esquisita, falava com ele para não pronunciar, não
0 território tradicional do meu povo vai do litoral do
contar o que estava pensando, porque ele tinha o poder
Espírito Santo até entrar nas serras mineiras, entre o vale
de fazer acontecer as coisas que pensava e pronunciava.
do rio Doce e o SãD Mateus. num pé de em cima da
Então, Jo-í subiu açaí e ficou lá

Mesmo que hoje só tenhamos uma reserva pequena no médio palmeira, bem alto, e olhou longe, quanto mais longe ele
rio Doce, quando penso no território do meu povo, não penso podia olhar, e o irmão dele viu que ele ia dizer alguma coisa
naquela reserva de quatro mil hectares, mas num território perigosa, então Hi-pí falou: "Olha, lá muito longe está vindo
onde a nossa história, os contos e as narrativas do meu povo um povo, são os brancos, eles estão vindo para cá e estão
vão acendendo luzes nas montanhas, nos vales, nomeando vindo para acabar com a gente". O irmão dele ficou

os lugares e identificando na nossa herança ancestral o apavorado porque ele falou isso e disse: "Olha, você não
fundamento da nossa tradição. Esse fundamento da tradição, podia ter falado isso, agora que você falou isso você acabou
assim como o tempo do contato, não é um mandamento ou de criar os brancos, eles vão pode demorar muito
existir,

uma lei que a gente segue, nos reportando ao passado, ele tempo, mas eles vão chegar aqui na nossa praia". E, depois
é vivo como é viva a cultura, ele é vivo como é dinâmica e que ele já tinha anunciado, não tinha como desfazer essa
viva qualquer sociedade humana. É isso que nos dá a profecia. Assim as narrativas antigas, de mais de quinhentas
possibilidade de sermos contemporâneos, uns dos outros, falas ou idiomas diferentes, só aqui nessa região da América
quando algumas das nossas famílias ainda acendem o fogo do Sul, onde está o Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela,
friccionando uma varinha no terreiro da casa ou dentro de nos lembram que os nossos antigos já sabiam desse
casa, ou um caçador, se deslocando na floresta e fazendo contato anunciado.
o seu fogo assim - auto-sustentável.
Os Tikuna têm suas aldeias parte no Brasil e outra na vizinha
Essa simultaneidade que temos tido a oportunidade de viver Colômbia. Os Guarani partilham o território dessas fronteiras
é uma riqueza muito especial e um dos maiores tesouros que do sul entre Paraguai, Argentina, Bolívia. Em todos esses
temos. 0 professor Darcy Ribeiro costumava dizer que a maior lugares, áreas de colônia espanhola, áreas de colônia
herança que o Brasil recebeu dos fndios não foi propriamente portuguesa, inglesas, os nossos parentes sempre
o território, mas a experiência de viver em sociedade, a nossa reconheceram na chegada do branco o retorno de um irmão
engenharia social. A capacidade de viver junto sem se matar. que foi embora há muito tempo, e que indo embora se retirou

4G PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
//\\ I SA KRENAK

também no sentido de humanidade, que nós estávamos sempre, nos dá sempre a oportunidade de reconhecer o
construindo. Ele é um sujeito que aprendeu muita coisa Outro, de reconhecer na diversidade e na riqueza da cultura

longe de casa, esqueceu muitas vezes de onde ele é, de cada um de nossos povos o verdadeiro patrimônio que
e tem dificuldade de saber para onde está indo. nós temos, depois vêm os outros recursos, o território, as
nossas tecnologias
florestas, os rios, as riquezas naturais, as
Por isso que os nossos velhos dizem: "Você não pode se e a nossa capacidade de articular desenvolvimento, respeito
esquecer de onde você é e nem de onde você veio, porque pela natureza e principalmente educação para a liberdade.
assim você sabe quem você é e para onde você vai". Isso não
pessoa do indivíduo, é importante para Hoje nós temos a vantagem de tantos estudos antropológicos
é importante só para a
o coletivo, é importante para uma comunidade humana saber sobre cada uma das nossas tribos, esquadrinhadas por

quem ela é, saber para onde ela está indo. Depois os brancos centenas de antropólogos que estudam desde as cerimônias
chegaram aqui em grandes quantidades, eles trouxeram de adoção de nome até sistemas de parentesco, educação,
também junto com eles outros povos, daí vêm os pretos, por arquitetura, conhecimento sobre botânica. Esses estudos
exemplo. Os brancos vieram para cá porque queriam, os deveriam nos ajudar a entender melhor a diversidade,

pretos eles trouxeram na marra. Talvez só agora, no século


conhecer um pouco mais dessa diversidade e tomar mais
XX, é que alguns pretos tenham vinda da América para cá ou possível esse contato. Me parece que esse contato

livre e espontânea vontade. Mas foi um


da África para cá por verdadeiro, ele exige alguma coisa além da vontade pessoal,

movimento imenso. Imagine o movimento fantástico que exige mesmo um esforço da cultura, que é um esforço de

aconteceu nos últimos três, quatro séculos, trazendo milhares ampliação e de iluminação de ambientes da nossa cultura
e milhares de pessoas de outras culturas para cá. Então meu comum que ainda ocultam a importância que o Outro tem,

povo Krenak, assim como nossos outros parentes das outras que ainda ocultam a importância dos antigos moradores
nações, nós temos recebido a cada ano esses povos que vêm daqui, osdonos naturais deste território. A maneira que essa
para cá, vendo eles chegarem no nosso terreiro. Nós vimos gente antiga viveu aquifoi deslocada no tempo e também no

chegar os pretos, os brancos, os árabes, os italianos, os espaça, para ceder lugar a essa idéia de civilização e essa
japoneses. Nós vimos chegartodos esses povos e todas idéia do Brasil como um projeto, como alguém planeja

essas culturas. Somos testemunhas da chegada dos outros Brasília lá no Centro-Oeste, vai e faz.

aqui, os que vêm com antiguidade, e mesmo os cientistas e


Essa capacidade de projetar e de construir uma interferência
os pesquisadores brancos admitem que sejam de seis mil,
na natureza, ela é uma maravilhosa novidade que o Ocidente
oito mil anos. Nós não podemos ficar olhando essa história
trouxe para cá, mas ela desloca a natureza e quem vive em
do contato como se fosse um evento português. 0 encontro
harmonia com a natureza para um outro lugar, que é fora do
com as nossas culturas, ele transcende a essa cronologia do
Brasil, que é na periferia do Brasil.
descobrimento da América, ou das circunavegações, é muito
mais antigo. Reconhecer isso nos enriquece muito mais e nos Uma margem, é uma outra margem do Ocidente mesmo,
outra
dá a oportunidade de ir afinando, apurando o reconhecimento é uma margem onde cabe a idéia do Ocidente, cabe a
outra
entre essas diferentes culturas e "formas de ver e estar no
cabe a idéia de desenvolvimento. A idéia
idéia de progresso,
mundo” que deram fundação a esta nação brasileira, que mais comum que existe é que o desenvolvimento e o
não pode ser um acampamento, deve ser uma nação que progresso chegaram naquelas canoas que aportaram no
reconhece a diversidade cultural, que reconhece 206 línguas litoral e que aqui estava a natureza e a selva, e naturalmente
que ainda são faladas aqui, além do português. Então os selvagens. Essa idéia continua sendo a idéia que inspira
parabéns, vocês vêm de um lugar onde tem gente falando todo o relacionamento do Brasil com as sociedades
duzentos e tantos idiomas, inclusive na língua borum, que é tradicionais daqui, continua; então, mais do que um esforço
a fala do meu povo, é uma riqueza nós chegarmos ao final
pessoal de contato com o Outro, nós precisamos influenciar
do século XX ainda podendo tocar, compartir um elemento de maneira decisiva a política pública do Estado brasileiro.
fundador da nossa cultura e reconhecer como riqueza, como
patrimônio. 0 encontro e o contato entre as nossas culturas Esses gestos de aproximação e de reconhecimento, eles
e os nossos povos, ele nem começou ainda e às vezes podem se expressar também numa abertura efetiva e maior
parece que ele já terminou. dos lugares na mídia, nas universidades, nos centros de
estudo, nos investimentos e também no acesso das nossas
Quando a data de 1500 é vista como marco, as pessoas povo àquilo que é bom e àquilo que é
famílias e do nosso
podem achar que deviam demarcar esse tempo e comemorar considerado conquista da cultura brasileira, da cultura
ou debaterem de uma maneira demarcada de tempo o evento nacional. Se continuarmos sendo vistos como os que estão
de nossos encontros. Os nossos encontros, eles ocorrem para serem descobertos e virmos também as cidades e os
todos os dias e vão continuar acontecendo, eu tenho certeza, grandes centros e as tecnologias que são desenvolvidas
até o terceiro milênio, e quem sabe além desse horizonte. Nós somente como alguma coisa que nos ameaça e que nos
estamos tendo a oportunidade de reconhecer isso, de exclui, o encontro continua sendo protelado. Tem um esforço
reconhecer que existe um roteiro de um encontro que se dá comum que nós podemos fazer que é o de difundir mais essa

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 47


! _> Acervo
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visão de que tem importância sim a nossa história, que tem todo mundo, então que progresso é esse? Parece
importância sim esse nosso encontro, e o que cada um que nós tínhamos muito mais progresso e muito mais
desses povos traz de herança, de riqueza na sua tradição, desenvolvimento quando a gente podia beber na água
tem importância, Quase não existe literatura indígena
sim. de todos os rios daqui, que podíamos respirar todos os
publicada no Brasil. Até parece que a única língua no Brasil ares daqui e que, como diz o Caetano, alguém que estava
é o português e aquela escrita que existe é a escrita feita lá na praia podia estender a mão e pegar um caju.
pelos brancos. É muito importante garantir o lugar da
Tem uma música do Caetano, tem uma poesia dele que
diversidade, e isso significa assegurar que mesmo uma
fala disso, o nativo levanta o braço e pega um caju.
pequena tribo ou uma pequena aldeia guarani, que está aqui,
As pessoas estão preferindo em nome do progresso
perto de vocês, no Rio de Janeiro, na serra do Mar, tenha a
instalar aquelas casas com aquelas placas luminosas
mesma oportunidade de ocupar esses espaços culturais,
e distribuir Coca-Cola na praia.
fazendo exposição da sua arte, mostrando sua criação e
pensamento, mesmo que essa arte, essa criação e esse
pensamento não coincidam com a sua idéia de obra de arte
À MARGEM NO ORIENTE
contemporânea, de obra de arte acabada, diante da sua visão No Japão tem uma lha que se chama Hokaido,
norte do
estética, porque senão você vai achar bonito só o que você lá povo Ainu, tem um porto nessa ilha que se chama
vive o
faz ou o que você enxerga. Nosso encontro - ele pode Nibutani, é uma palavra ainda que dá nome para esse lugar,
começar agora, pode começar daqui a um ano, daqui a assim como aquela montanha bonita lá em Tóquio, no Japão,
dez anos, e ele ocorre todo o tempo. Pierre Clastres, depois o monte Fuji, também reporta a uma história muito antiga do
de conviver um pouco com os nossos parentes Nhandevá povo Ainu, uma história muito bonita, de uma mãe que ficou
e M'biá, concluiu que somos sociedades que naturalmente sentada esperando o filho que foi para a guerra e que não
nos organizamos de uma maneira contra o Estado; não tem retornava, passou o inverno, passaram as estações do ano
nenhuma ideologia nisso, somos contra naturalmerte, assim e ela ficou cantando, esperando o filho voltar e o filho

como o vento vai fazendo o caminho dele, assim como a demorava demais, então ela chorava de saudade do filho;
água do rio faz o seu caminho, nós naturalmente fazemos as lágrimas dela foram formando aquela montanha e o lago,
um caminho que não afirma essas instituições como e toda aquela paisagem linda é dessa mãe que ficou com
fundamentais para a nossa saúde, educação e felicidade. saudade do filho que saiu para a guerra e que não voltou,
então ficou chorando por ele. Os Ainu estão lá em Hokaido
Desde os primeiros administradores da Colônia que
há mais ou menos uns oitocentos anos, talvez mais um pouco,
chegaram aqui, a única coisa que esse poder do Estado
porque eles foram tendo que subir lá para cima, que é o lugar
fez foi demarcar sesmarias, entregar glebas para senhores
mais gelado, liberando aqueles territórios cá de baixo para a
feudais, capitães, implantar pátios e colégios como este
formação desses povos que vieram subindo. 0 Japão agora
daqui de São Paulo, fortes como aquele lá de Itanhaém.
no final do século XX é uma das nações mais tecnológicas,
Nossa esperança que o desenvolvimento das nossas
é
digamos assim, do mundo, mas eles não puderam negar a
relações ainda possa nos ajudar a ir criando formas de
existência dos Ainu, eles negaram isso até agora. Na década
representação, formas de cooperação, formas de
de 70 alguns Ainu conseguiram chegar à comissão da ONU
gerenciamento das relações entre nossas sociedades,
que trata desses assuntos e apresentaram uma questão para
onde essas instituições se tornem mais educadas, é uma
o governo do Japão: querem reconhecimento e respeito pela
questão de educação. Se o progresso não é partilhado por
sua identidade e cultura. Quinhentos anos não é nada.
todo mundo, se o desenvolvimento não enriqueceu e não
propiciou o acesso à qualidade de vida e ao bem-estar para

PALAVRAS I N D GEKAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

^4-íZ^ Acervo
-7/A ISA

Os Termos da Outra História


EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO
Para Aracy, em memória da colega querida.

D
iante de textos tão distintos, a busca de recorrências deve por força deixar
escapar muita coisa, e coisa importante. Não ouso, por exemplo, sequer
|
f esboçar uma discussão dos registros discursivos empregados, como o contraste,
uma dada narrativa, entre um modo testemunhal, onde conto
às vezes interno a e
reflito sobre o que vi "com os meus olhos", como diz Momboré-uaçu, e um modo

tradicional (no sentido preciso do termo), Dnde narro o narrado, falando "pela fala" de um
1
Tal distinção corresponde apenas outro, como diz Jurusi uhu Não tenho, também, elementos bastantes para dar realmente
1
.

muito parcial e imperfeitamente


àquela que faríamos entre narrativas
conta de duas outras diferenças significativas: a distinção entre as narrativas (ou momentos
'históricas' e 'míticas'. da mesma narrativa) que inscrevem o surgimento dos brancos na origem absoluta das coisas
e aquelas que os tomam como aparecendo em um mundo já constituído; e as diferenças
na estimação da diferença entre índios e brancos — diferenças que devem ser elas
próprias estimadas em função das condições em que se produziram ou se
consolidaram essas narrativas.

Quero, aqui, apenas registrar uma ressonância que percorre qs textos, e que ecoa alguns
motivos importantes da tradição oral indígena. Eia diz respeito à inserção do problema da
origem dos brancos no complexo pan-americano analisado por Lévi-Strauss, na tetralogia
Mitológicas e nos livros que a seguiram, notadamente o último, História de Lince.

O desequilíbrio As Mitológicas começam e terminam com o mito de obtenção


originário do fogo de cozinha, que é também um mito de origem da cultura
humana. No último volume da série (O homem nu), Lévi-Strauss mostra como o motivo
do "desaninhador de pássaros", que enquadra a origem do fogo nos mitos bororo e jê
discutidos no primeiro volume (O cru e o cozido), é a versão semanticamente atenuada de
um macro-esquema mítico de difusão continental. Os protagonistas desse "mito único",
ligados entre si por uma relação de afinidade matrimonial, são a raça humana, terrestre, e
um povo celeste, os donos do fogo, Para resumir um longo raciocínio; o fogo, fundamento
da cultura, é posto como correlato da aliança de casamento, fundamento da sociedade.
Cozinhamos a carne que comemos assim como, e porque, não comemos de
nossa própria carne.

A relação entre as narrativas sul-americanas sobre o surgimento dos brancos e o


mito de origem do fogo foi inicialmente estabelecida por Roberto DaMatta, para o caso
2
R. DaMatta, "Mito e antimito do Auké timbira 2 . Bem mais tarde, em História de Lince Lévi-Strauss demonstrou que a
,

sntre os Tlmbira." In: Vários


autores. Mito e linguagem social
legenda de Auké é uma inversão sistemática de um episódio do célebre mito cosmogôníco
{ensaios de antropologia estruturai). recolhido no Rio de Janeiro por André Thevet, em meados do século XVI. Os textos sateré-
Rio do Janeiro: Tempo Brasileiro,
1970 {pp. 77-106}.
mawé e o diálogo zo'é aqui apresentados mostram uma filiação direta a essa 'arqui-narrativa’
tupinambá, possivelmente o primeiro mito sul-americano jamais publicado (em 1575).
Quinhentos anos, como disse Ailton Krenak, é mesmo muito pouco,

É notável que presença dos brancos tivesse sido tão cedo absorvida por um complexo
a

mítico evidentemente anterior a 1500, Lévi-Strauss argumenta que os brancos estavam


contidos virtualmente, isto é, estavam previstos, formal senão historicamente, em uma
estrutura constitutiva do pensamento indígena: um operador dicotômico que faz com que
toda posição de um termo seja inseparável da contraposição, tratada como pressuposição.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 49


de um termo contrário. No mito tupinambá, a criação dos índios implica a criação dos não-
índios; ou, tomando-se as coisas pela outra ponta, o fato da existência dos brancos é posto
como constitutivodo fato da existência dos índios, como participando das condições de
possibilidade deste último (ao definir os índios, justamente, como "índios", i.e. como não-
brancos). Nesses termos, os brancos vieram ocupar apenas um degrau suplementar na
cascata de dicotomias reiteradas entre as posições de 'si' e de 'outrem' que flui pelo mito
desde muito antes de 1500: criadores e criaturas, humanos e não-humanos, parentes e
inimigos, e assim por diante, A profecia de que fala a narrativa baré, os repetidos "nós já
sabíamos" que atravessam o discurso desana, o tema, em suma, do contato anunciado que
Ailton Krenak põe em evidência, sublinhando sua difusão pan-americana, são as marcas
dessa necessidade retrospectiva (pds dois sentidos de "necessidade"! da posição de
outrem no pensamento indígena. Lévi-Strauss a resume na idéia de uma "abertura ao
outro" que seria consubstanciai a esse pensamento, e que se manifestou, diz ele, desde
os primeiros contatos com os brancos. Irfelizmente, como se sabe, a recíproca jamais

veio a ser verdadeira: o outro (nós) tinha toda uma outra idéia do que devia ser o outro.

A realidade virtual dos brancos no corpus mitológico pré-colombiano não significa


uma oposição meramente 'distintiva', estática e autocontida, entre índios e brancos.
0 princípio dicotômico do mito tupinambá é um princípio recursivo: as dualidades que
ele põe em cena são vistas por Lévi-Strauss como sintomáticas de um "dualismo em
desequilíbrio perpétuo" próprio das cosmologias ameríndias. Após examinar as múltiplas
versões do mito tupinambá nas duas Américas — todas elas protagonizadas por
pares de gêmeos dissimilares — ,
o antropólogo francês conclui:

"Qual é, com efeito, a inspiração profunda desses mitos? [...] Eles representam a organiza-
ção progressiva do mundo e da sociedade na forma de uma série de bipartições, mas sem
que entre as partes resultantes a cada etapa surja jamais uma verdadeira igualdade: de um
modo OU de outro, uma delas é sempre superior a outra. Desse desequilíbrio dinâmico depende o bom
funcionamento do sistema, que sem ele se veria constantemente ameaçado de cair em
um estado de inércia. 0 que esses mitos proclamam implicitamente, é que os pólos entre
os quais se ordenam os fenômenos naturais e a vida em sociedade céu e terra, fogo e —
água, alto e baixo, perto e longe, índios e não-índios, concidadãos e estrangeiros etc. —
jamais poderão ser gêmeos. O espírito se esforça em emparelhá-los, mas não consegue
estabelecer sua paridade. Pois são tais afastamentos diferenciais em cascata, tais como
!
c. Lévi-Strauss, Histoire de Lynx. concebidos peio pensamento mítico, que põem em marcha a máquina do universo" 3 .

Paris: Plon, 1991 Ipp. 90-31|.

Ou seja, não somente a posição de um termo pressupõe a contraposição de seu contrário,


como acarreta uma proliferação indefinida de oposições de extensão decrescente, internas
ao termo de referência. Quanto à "superioridade” inevitável de uma das partes resultantes de
qualquer bipartição, é preciso entendê-la como assimetria lógica (inerente ao funcionamento
multidicotômico do mito, onde a contraposição é internalizada como pressuposição), e não
como gradação ontológica (inerente à substância dos termos); como superioridade instável,
dinâmica e ambígua, que não se congela em uma hierarquia finalizada. Pois não se deve

esquecer que, se os brancos levaram consigo, ou adquiriram, um saber e um poder que


os índios rejeitaram, é porque os brancos eram índios: foram os índios que produziram os
brancos, a estes conferindo a função de representar uma virtualidade contida na essência
do humano (isto é, dos índios). O Imperador era índio, como recordam os Sateré-Mawé:
o superior era interior. Ou, como lembram os Kuikúro, foram os índios que amansaram
os brancos. A ação, ainda quando na forma do deixar acontecer, é sempre indígena, porque
Em outras palavras, os brancos só constituíram os índios como não-
a significação o é.
brancos porque foram, antes, constituídos como não-índios por eles. "Nós já sabíamos".

Ao encarnarem, pelo avesso, as condições que definem a condição humana ao serem —


aquilo que os índios poderiam ter sido, e que, porque não o foram, tornaram-se propriamente
humanos, isto é, nem espíritos, nem animais, nem brancos —
os brancos oscilam entre uma
,

positividade e uma negatividade igualmerte absolutas. Sua gigantesca superioridade cultural


(técnica, ou objetiva) se dobra de uma infinita inferioridade social (ética, ou subjetiva): são

50 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BBASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^Lj2^ Acervo
Z/\C ISA

quase imortais, mas são bestiais; são engenhosos, mas estúpidos; escrevem,
mas esquecem; produzem objetos maravilhosos, mas destroem o mundo e a vida...
Superculturais e infra-sociais, portanto. E assim é possível passar de uma visão positiva
ou mesmo irênica dos brancos, tal a exprimida nas narrativas sateré-mawé, a uma negativa
e polêmica, como a manifestada nas falas de Davi Kopenawa ou de Bráz de Oliveira França.
A narrativa de Luiz Gomes Lana se dispõe, quanto a isso, na zona ou momento de transição
entre esses dois pólos, enquanto o discurso de Momboré-uaçu traz um rigoroso raciocínio
indutivoque fundamenta a passagem 'experimental' do primeiro ao segundo.
Da possibilidade mítica à realidade histórica, diriam talvez alguns, esquecendo
com isso que o mito é uma versão da história, e a história uma transformação do mito.

Mas, se o problema da origem dos brancos está, por assim dizer, resolvido desde antes
do começo do mundo, o problema simétrico e inverso do destino dos índios permanece-lhes,
parece-me, crucialmente em aberto. POIS O desafio OU 6HÍQm3 C|U6 S6 põe 30S ífldiOS COnsistG 6TT1
saber se é realmente possível utilizar a potência tecnológica dos brancos, isto é, seu modo
de objetivação —
sua cultura —
sem se deixar envenenar por sua absurda violência, sua
grotesca fetichização da mercadoria, sua insuportável arrogância, isto é, por seu modo de
Subjetivação —
sua sociedade. Davi Kopenawa responde negativamente a essa
questão: a cultura dos brancos exprime sua sociedade, e por aí não há saída. Ailton Krenak
parece responder positivamente: a sociedade indígena se exprime em sua cultura, e deve
haver espaço para esta. A história irá decidir; e então, o mito terá explicado.

0 problema da origem dos brancos foi 'processado' pela máquina do mito do fogo, A morte branca
como observamos. Mas algumas das narrativas aqui apresentadas mostram uma dimensão
específica desse processo, que não foi objeto de atenção especial nem de DaMatta, nem
de Lévi-Strauss. Refiro-me à presença, nos textos desana e sateré-mawé, bem como no que
1

se pode entrever no diálogo zo'é, do difundido mito da 'vida breve cujo lugar dentro do ,


complexo sobre a origem do fogo e da cultura foi demonstrado em "O cru e o cozido"*. c Lévi-Strauss, te cru etiecuit.
-

Paris: Plon, 1964 (troisième paris).

Os mitos que contam como os humanos perdemos nossa imortalidade originária, ou


passamos a viver menos que as árvores, ou a não poder rejuvenescer como certos animais,
giram em tomo de um motivo central: uma 'má escolha' que fizemos, diante de uma prova
proposta ou uma oportunidade oferecida por um demiurgo (ou personagem equivalente).
Via de regra, essa má escolha resultou de algum erro ou descaso expresso em termos
dos cinco sentidos: deixamos de ouvir, de ver, de tocar —
em suma, de responder a algum
estímulo; ou, alternativamente, vimos, ouvimos, falamos, provamos o que não devíamos.
Os que se comportaram apropriadamente, como as árvores, ou os répteis e artrópodes
que mudam periodicamente de pele e assim rejuvenescem, obtiveram uma longa vida.

A narrativa desana encadeia os temas da vida breve e da origem dos brancos. Após
descrever como o branco, o último a sair da Canoa-de-Transformação, foi mandado embora
pelo demiurgo, o texto passa diretamente (e, para um ouvinte que não conhece o contexto
mítico mais amplo, algo misteriosamente) ao motivo da vida breve dos humanos. Os bichos
venenosos conseguiram se aproximar do recipiente contendo a droga da troca de pele, a
humanidade não. Nenhuma referência aos brancos, aqui; mas é tentador imaginar que, entre
os bichos venenosos, talvez estivesse o branco... Pois no parágrafo seguinte este reaparece,
na figura do ancestral que conseguiu se transformar em branco ao se banhar na bacia da
água mágica do demiurgo. Como se sabe, em outras versões do mito (e para outros povos
amazônicos), o tema da imortalidade ou da ressurreição acha-se associado a um banho em
uma bacia de água mágica, que nos troca a pele. Nesta narrativa desana, o tema parece ter
se cindido: a imortalidade ou rejuvenescimento perpétuo pela troca de pele se restringe aos
animais, mas o meio típico de alcançá-la é deslocado para explicar a diferença — expressa
em termos de uma troca de cor da pele, justamente — entre índios e brancos.

A desana transforma outros mitos tukano onde a relação entre surgimento dos
narrativa
brancos e origem da morte é bem mais evidente. Em uma história barasana registrada por

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 51


S. Hugh-Jones, a origem do poder dos brancos — as armas de fogo — é explicada como
frutode uma escolha fatídica. 0 demiurgo ofereceu aos ancestrais humanos a opção entre
o arco e a espingarda: os que seriam os brancos escolheram a segunda, os que seriam (ou
s
S. Hugh-Jones, "The gun and the
permaneceriam sendo) os índios, o primeiro 5 Foi em conseqüência de tal escolha, pode-se
.
bow: myths of white men and Indians."
VHoijmib 106-107, 1988: 138-155. supor,que os brancos foram enviados para longe pelo demiurgo, como conta aqui Luiz Lana.
O tema da escolha das armas aparece nesta mesma forma entre os Tupinambá do Maranhão
seiscentista (ele foi registrado por Abbevilie junto aos Tupinambá de Momboré-uaçu), na
mitologia alto-xinguana contemporânea, e em muitas outras. Quanto ao mito barasana de
Hugh-Jones, ele é, na verdade, uma variante muito próxima do mito tupinambá de Thevet.
Como este, ele estabelece uma conexão direta entre a origem da vida breve (dos índios)
e a origem dos brancos, pois estes últimos são ditos semelhantes às aranhas, cabras e
mulheres, em sua capacidade de longa vida. Ao contrário da troca de pele natural das
5
Ds Barasana conceituam a
cobras, aranhas e mulheres, os brancas trocariam uma pele cultural, as roupas; engenho
menstruação como uma 'troca de peie’ técnico e imortalidade relativa, assim, se ligam 6 Esse . mesmo tema das roupas aparece no
periódica,i.e. um rejuvenescimento
diálogo zo’é aqui publicado, Jipohan, o demiurgo capaz de ressuscitar os mortos a partir
das mulheres. Tal rejuvenescimento,
no caso masculino, só se pode fazer dos ossos, foi-se com os brancos, e, como estes, anda vestido e é senhor de muitas roupas. 7
ritual e coletiva mente, através das

cerimônias do He ('Jurupari'), 0 fragmento mítico tupinambá reportado por Abbevilie, e o mito barasana de Hugh-Jones,
concebidas como uma menstruação sugerem uma inversão da senioridade entre os irmãos em conseqüência da escolha das
masculina — e/ou, como indica o mito
de Lana, mediante a ingestão de coca,
armas. (Recorde-se que o sistema patrilinear dos Tukano hierarquiza as fratrias masculinas
substância indispensável em tais e seus descendentes por ordem de nascimento.) Lévi-Strauss tratou os mitos da vida breve
cerimônias. Quanta à relação entre as
roupas e a longa vida, trata-se
em termos de um "código dos cinco sentidos", que, como se pode constatar, está presente
obviamente de uma equivalência no mito desana. Seria possível ver no motivo da escolha das armas uma modulação deste
simbólica, motivada pelo tBma da troca
de pele dos animais. De resto, a noção
código. Em lugar de erros relacionados à sensibilidade, teríamos aqui uma falta ligada ao
de uma 'imortalidade' dos brancos, no bom senso, isto é, ao entendimento: um 'errD de cálculo', digamos. No mito quinhentista
caso do mito barasana, refere-se ao de Thevet, a ruptura do demiurgo (de quem os brancos seriam os "sucessores e verdadeiros
fato de que os brancos são inumerá-
veis, reproduzindo-se incessantemen- descendentes", diz o frade francês) com
humanidade índia, fruto da ingratidão ou
a
te: imortais, portanto, no sentido de agressividade desta, pode igualmente sertomada como um caso de 'má escolha’, de
que é inútil matá-las; sempre chegarão 8
outros em seu lugar. E este raciocínio
ausência de discernimento por parte dos humanos (dos índios).

nada tem de simbólico.


No mito desana aqui publicado, nada é dito nesse sentido: o irmão mais moço continua
7
0 tema da troca de pele como técnica sendo-o, e não se fala em escolha, mas em alocação de objetos e técnicas apropriados
de imortalidade é central na
cosmologia de váríos grupos tupi
à Vocação' respectiva dos brancos e dos índios, a espingarda e a bíblia versus o arco e
contemporâneos; entre os Araweté, a memória. A narrativa de Luiz Lana parece, assim, evitar ou resistir a uma conclusão que
por exemplo, ele está associado aos
estaria presente em versões anteriores do mito, resistência que indicaria uma mudança
MaT (i.e. Maira), que, após devorarem
os mortos chegados no céu, refazem- política na estimação da diferença entre índios e brancos. Os brancos, agora, não são o
nos a partir dos ossos — como que os índios poderiam ter sido, mas o que os índios não quiseram ser. Daí, penso, a
Jipohan — e os mergulham em uma
bacia de água mágica para revivê-los
cisão parcial entre os motivos da origem dos brancos e da perda da imortalidade.
e rejuvenescê-los.
0 mito de origem do povo Baré contado por Bráz de Oliveira França, nesse sentido —
3
A esse esquema que
os descendentes daqueles que não
faz dos brancos mas aqui trata-se de pura especulação de minha parte ,

poderia ser lido como uma

cometeram o erro cometido peles


inversão dos mitos tukano, ou pelo menos como um estado ulterior do movimento de
índios, a mitologia yanomami reajuste ideológico esboçado no texto de Luiz Lana. 0 homem que viajava só, do lado de
apresenta uma alternativa interessan-
fora do grande navio que entrou no Rio Negro, e que se tornou o ancestral dos Baré, pare-
te.Os brancos foram criados a partir
do sangue de índios mortos em virtude ceu-me corresponder ao irmão mais moço da narrativa desana, o último a sair da Canoa-
da ruptura de um interdito sexual. Os
de-Transformação, e que virou o branco. Recordemos que a Canoa-de-Transformação
brancos são aqui, não os que fizeram a
boa escolha, mas o produto direto, os é, na mitologia tukano, uma grande sucuri que traz em seu interior os diferentes grupos
"sucessores e verdadeiros descen- exogâmicos, e que o herói baré se chama, justamente. Cobra (uma 'cobra' aquática, que
dentes” de uma má escolha feita pelos
indios. (Ver a nota 7 de B. Albertao
vem do rio). No caso desana, temos um irmão mais moço que é mandado embora por seus
texto de Davi Kopenawa}. parentes masculinas, devido è sua agressividade; no caso baré temos um estrangeiro que
9
Se recordarmos que Baré seria uma
é incorporado, ao conseguir pacificar, por sua potência sexual, um grupo de mulheres
derivação de bári, "branco” como agressivas. Tudo se passa, em outras palavras, como se o ancestral dos brancos do mito
Icromaticamente) não-negro — não- desana se transformasse no ancestral dos índios no mito baré. Neste último, então, a origem
escravo? — , conforme menciona D.
se toma ainda
Buchillet, a questão dos índios se vê definitivamente desconectada da origem dos brancos (que chegam de fora,
mais complexa. Compare-se, aliás, e no meio de uma história em andamento), ao passo que na narrativa de Luiz Lana elas
com o mito desana, onde os índios se
vêem como não-brancos nesse mesmo
ainda mostram uma ligação. 8
sentida cromático.

52 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/21)00 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Uma outra manifestação do tema da má escolha, com a consequente perda de algo que
os brancos obtiveram ou mantiveram, encontra-se nos mitos mawé aqui publicados, em que
ele seassocia a motivos cristãos. Os humanos que ficaram foram aqueles que deixaram de
atender ao chamado do Imperador (ou de Deus), porque, na saborosa expressão de Vidal
Sateré-Mawé, "se entretiveram na fruta" ao longo do caminho. Isso sugere uma apropriação
do episódio bíblico da maçã (Adão e Eva estão entre os protagonistas da narrativa], mas
1

evoca também um tema famoso da mitologia nativa, o 'chamado da madeira podre a que os
humanos responderam em lugar dos chamados da pedra e da madeira dura, perdendo assim
10
Ver o mito apinayé (M9)
a oportunidade de viver tanto quanto estas últimas No caso das narrativas sateré-mawé,
1
".

analisado esn O cru e o cozido.


note-se, os que se foram com o Imperador conseguiram "se esconder da morte", e viraram
os brancos; os que, ao contrário e literalmente, perderam o barco, estes ficaram na floresta
11

e estão doravante sujeitos ao que não há jeito de evitar.


11 Os temas indígena e bíblico
do dilúvio sa acham aqui fundidos.
mesma origem que De um equação deriva É interessante reparar também
Em suma: os brancos têm a a morte. lado, esta
de uma 'dedução transcendental' que visa uma condição humana universal — assim, se nos animais a que os brancos são
associados pelos Mawé, segunda
os humanos em geral morrem, que haja um tipo de humano em particular que
é preciso Alba Figueroa. Dos dois sapos
'esbranquiçados', um, pelo menos,
não morra, ou que haja um não-humano que viva mais que os humanos. De outro lado, é venenoso (o cunauaru), produzindo
porém, exprime uma dedução empírica, que os índios viveram, ou melhor (ou pior), morreram uma secreção branca que destrói a
epiderme ao toque. 0 macaco cair ara,
na própria carne. Os brancos conseguiram se esconder da morte, pois foram eles que a
como dizem os índios, é "branco e
revelaram aos índios, que a causaram. As doenças que os dizimam vêm de longe, diz
isto é, sem-vergonha"; e o japim é gregário

a narrativa dos Mawé: vêm do mesmo lugar para onde foram os brancos. A história kuíkuro e barulhento — lhering observou
também que este pássaro tem
é ainda mais direta: ainda após amansados, mesmo depois de convencidos a deixar de matar um cheiro muito desagradável.
os índios, os caraíba continuaram trazendo a morte, na forma da doença e do feitiço. Venenosos (um veneno que 'troca

Quando não matam com as próprias mãos, fazem-no por procuração, através dos objetos — a pele'), lascivos e

fedorentos, os brancos não são


barulhentos-

por coincidência, cortantes —


que os significam: "Deram facas, tesouras, machados. assim tão inambiguamente positivos...

Veio a tosse." DaviKopenawa descreve minuciosamente o mesmo encadeamento sinistro:


a cultura dos brancos é mortífera. Ninguém melhor que nós, portanto, para ilustrar a
morte como condição.

Retornemos ao duplo fundamento da condição humana tematizado pelos mitos de origem:


Qs sobrinhos
é, a cultura e a sociedade. Os mitos de origem da vida
o fogo e a aliança matrimonial, isto . _
breve explicitam o terceiro fundamento, este natural: a condição mortal da espécie humana.
ne cva

A esse triplo título, os brancos vêm desenhar os limites do humano, por excesso ou
por carência. No que concerne ao 'fogo', isto é, à tecnologia da objetividade, somos
superculturais. No que concerne à mortalidade natural da espécie, somos sobrenaturalmente
'imortais' (inumeráveis e indestrutíveis]. Mas no que concerne à vida de relação, às formas
socialmente instituídas da subjetividade, somos indiscutivelmente sub-humanos.
É sobre este último limite que quero dizer algo, à guisa de conclusão.

Se a aliança matrimonial é posta, na mitologia ameríndia, como fundamento da sociedade,


onde estão os brancos, a esse respeito? 0 que várias das narrativas acima publicadas sugerem,
é que somos aqueles seres que não sabem o que é uma relação social humana: somos
os maus aliados por excelência. Gente que não troca gente em casamento, mas que
mata, rouba e escraviza gente.
No mito desana, o ancestral do branco é um irmão mais moço, não um aliado por casamento.
Mas um irmão que, ao retornar, comporta-se como um estrangeiro eum inimigo, vindo para
roubar e matar. Entre as 'coisas' que os brancos roubaram, como recordam Davi Kopenawa
e Momboré-uaçu, estavam as crianças: em lugar, portanto, de virem se aliar aos índios, os
brancos arrancam-lhes o fruto de suas alianças. 0 chefe tupinambá do Maranhão revela
os caminhos da traição: os indios se estimaram honrados quando os brancos passaram a
coabitar com suas mulheres, pensando que estes desejavam se tornar seus cunhados e
formar com eles uma só nação; mas eis que os brancos logo perverteram a aliança em
sujeição, escravizando aqueles que lhes haviam dado esposas. E se, na fase inicial do
'contato' dascrita por Momboré-uaçu, a aliança serve de pretexto e antecedente para a

P0VD5 INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PALAVRAS INDÍGENAS 53


servidão, a narrativa de Bráz de Oliveira França mostra a culminação do processo,
quando é a servidão que passa a servir de antecedente para uma repugnante anti-aliança,
com os patrões do Rio Negro tomando à força as mulheres índias em 'pagamento'
,2
E nesse sentido, o mito de Mira-Boia
das 'dívidas’ contraídas por seus pais e maridos. 12
e as amazonas contado por Bráz de
Oliveira França pode ser lido como
invertendo a figura do patrão.
Nos textos sateré-mawé e wapishana, encontra-se uma visão mais idealizada
dessa relação cie troca entre índios e brancos. No caso dos textos mawé, em particular,
estabelece-se uma divisão do trabalho vista como relativamente natural' au pelo menos —
deseja-se que, fundado como está no discurso das origens, tal sistema de troca possa vir
a ser equitativo na realidade. Note-se que os mitos mawé reduzem
com os as relações
brancos a uma troca econômica de produtos, não a uma troca matrimonial de pessoas;
mas registre-se, quanto a isso, o subtexto presente na identificação dos brancos ao
macaco cairara, tido por 'sem-vergonha', isto é, licencioso e sexualmente voraz.
Mas é também nas narrativas mawé que se pode divisar a sugestão mais interessante: a
de que os brancos estavam, sim, destinados a ser os aliados dos índios. Eva tinha um irmão;
Adão tinha um cunhado, portanto. 0 texto de Vidal Sateré-Mawé não deixa muito claro como
As primeiras linhas da narrativa falam na morte de uma
'funciona' essa tríade originária.
"irmã dele”, mas não está óbvio quem é "ele"; a impressão que tive é que se trata de Tupana,
ou Deus. Não há elementos aqui para dizer que esta irmã era Eva. Mais adiante, Adão e Eva
são descritos como os ancestrais dos que ficaram, não tendo seguido com Deus e com os
brancos. Em seguida, o motivo da permanência dos índios na floresta, junto à morte e às
doenças, é explicado pelos ouvidos moucos que Adão faz ao convite de Deus; mas mais
adiante, é Eva quem, atendendo a um chamado de seu irmão, convence Adão a voltar no

caminho e ficar. Par autro lado, esse irmão é quem lhe teria dado machados, terçados,
enfim, objetos dos brancos (ou de Tupana), o que poderia sugerir que o irmão de Eva é
que embora, ficando Adão e sua mulher na floresta. Os textos são muito ambíguos.
foi

Seria Tupana o irmão de Eva? Seriam os brancos os cunhados de Adão os brancos que —
a velha mitologia tupi-guarani tem por descendentes do demiurgo? Ou seriam os índios os
u Na pequena narrativa “Uruhe‘i e
filhos desse irmão de Eva, visto que foi ele quem a chamou de volta para a floresta? 13
Mari pysipok", figuram apenas Eva
seu irmão Mari-pyaipok,
(Uruhe'i) e
nome que provavelmente se liga ao
Seja como fôr, Eva tinha um irmão. 0 que é conforme à visão indígena dos fundamentos
Maira da mitologia tupi. Ambos os da vida social: portrás de todo casal, há o irmão da mulher, o homem que cedeu sua irmã
irmãos ficam, ou voltam do caminho,
ao outro homem. D 'átomo de parentesco’, para recordarmos a noção famosa de
e os Sateré-Mawe são ditos
descendentes de Eva; Adão não Lévi-Strauss, é constituído por uma criança, seu pai, sua mãe, e seu tio materno.
entra em cena. Outras versões do
mito de Uruhe'i e Mari-pyaipok fazem Os textos mawé sugerem, então (ou pelo menos eu gostaria que estivessem sugerindo...),
destes personagens dois irmãos que os brancos e os índios não seriam simples e igualmente os descendentes de Adão e Eva.
homens, com Mari como o que foi
embora e Uruhe'i como o que ficou. Não seríamos, — fórmula que jamais impediu que alguns desses
portanto, 'todos irmãos'
(Essas variantes, registradas por 'irmãos' espoliassem, escravizassem e assassinassem outros irmãos. Não seríamos todos
Nunes Pereira e outros, são referidas
nos trabalhos de Alba Figueroa.)
'filhos de Adão', pois — alguns seríamos, do irmão de
talvez, filhos descendentes
Eva,
Não é impossível que as versões mais colaterais desta, não de Adão. Quem são os sobrinhos de Eva, os brancos ou os índios,
antigas do mito fossem protagonizadas
uma questão que o mito não permite resolver. Mas isso não muda a moral da história:
eis aí
por um par de irmãos homens, e talvez
gêmeos, como na mitologia tupinambá, somos primos cruzados, isto é, cunhados potenciais. Não somos naturalmente idênticos
que parece ter fortemente influenciado como o são irmãos; seremos sempre diferentes, pois é essa diferença que nos torna
a cultura mawé. A feminização de um
dos irmãos se deveria, nesse caso, a socialmente necessários uns aos outros, e iguaimente necessários uns aos outros.
uma interferência da casal blbltco, 0 reencontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança
ou a uma fusão com mitos de
proveniência não-tupi, Mas eia pode
entre parceiros iguaimente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio
estar exprimindo o fundo mitológico perpétuo do mundo um pouco mais para a frente, adiando assim o seu fim. (outubro, 2000)
propriamente mawé, povo que fala
uma língua do tronco tupi mas
não da família tupi-guarani.

54 PALAVRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 19S6/2D0O - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


POVOS
INDÍGENAS
^4/7* Acervo

SOS BRASIL 500 ANOS Editorial do ISA publicado em Parabólicas rf 57. março, 2000

O Instituto Socioambiental resolveu não comemorar os 500 anos de Brasil.


Não foi uma decisão difícil. A maior parte de nós tem andado em lugares e com gentes
neste país, para as quais o sentido de pertinência e a auto-estima não se expressam ao
compasso do relógio dos poderosos, instalados nas praças das principais cidades.

Sentimo-nos remando contra o fluxo, ao lado de índios e outras populações tradicionais


E DAQUELES CIDADÃOS INCONFORMADOS COM A DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS LOCAIS QUE
DESFRUTAMOS NA INFÂNCIA E DAS CIDADES ONDE, CADA VEZ MAIS, VIVEMOS. "ANOS REDONDOS','
PORÉM, ENGENDRAM COMEMORAÇÕES IMPERATIVAS. NÃO HÁ COMO FICAR TOTALMENTE INDIFERENTE.
Mirando a paisagem nacional, constatamos oue o governo federal, após longa hesitação,
ACABOU JOGANDO POUCAS FICHAS NUM PROGRAMA CULTURAL QUE SE RESUME À TROCA DE GENTILEZAS
com Portugal, uma exposição de arte, cujo acabamento está sendo de última hora e com

RECURSOS PRIVADOS DE ORIGEM OBSCURA, E UM EVENTO SIMBÓLICO EM COROA VERMELHA (BA).


Vista do bastidor, a cena oficial central do 22 de abril no sul da Bahia será um resumo
da ópera do Brasil que não deu e não dará certo. No local onde os portugueses
desembarcaram e rezaram a primeira missa em 1500 está sendo erigido um parque temático,
QUE TERÁ PISO DE PEDRA PORTUGUESA, CRUZ DE AÇO INOX E UM PaTAXOPPING MOVIDO A ÍNDIOS
FAVELADOS, CUJAS CASAS ESTÃO SENDO SUBSTITUÍDAS POR CUBÍCULOS DE ALVENARIA, OBRA SOB
SUSPEITA DE SUPERFATURAMENTO POR EMPREITEIRA FAVORECIDA POR POLÍTICOS. VEXAME À VISTA,

ANUNCIADO PELO ISA HÁ DOIS ANOS EM SUA PUBLICAÇÃO MENSAL PARABÓLICAS <N°45 DE NOVEMBRO/98).
Bem perto DALI, O FRAGMENTO REMANESCENTE DE PAISAGEM natural de MATA ATLÂNTICA CONHECIDO
como Monte Pascoal, transformado em parque de papel, está sendo consumido por outros
Pataxó que não têm alternativa para sobreviver, enquanto Ibama e Funai não se entendem.
A OUTRA FACE DESTA MESMA MOEDA SERÁ UMA MARCHA INDÍGENA QUE DESEMBOCARÁ EM COROA
Vermelha, incentivada pela Igreja Católica, cuja autoridade suprema acaba de pedir perdào -

a Deus, é claro - pelos erros históricos cometidos contra os povos nativos do mundo.
Será que a América católica sempre precisará de ridículos tiranos?
Fora do centro, milhares de iniciativas promissoras ocorrem, se valendo do ambiente
comemorativo, muitas delas envolvendo parcerias, inclusive entre poder público e sociedade.
Tais iniciativas incluem desde seminários e pacotes multimídias sobre música popular ou sobre
a temática indígena, até shows ao ar livre dos monstros sagrados da MPB, patrocinados
por uma rede de supermercados. Coisas para ver, (re) pensar e desfrutar, seja numa
ALDEIA REMOTA DA AMAZÔNIA OU NUM PARQUE DE CIDADE.
Como escreveu um dos fundadores do ISA, "devastamos mais da metade de nosso país
pensando que era preciso deixar a natureza para entrar na história: mas eis que esta última,
COM SUA COSTUMEIRA PREDILEÇÃO PELA IRONIA, EXIGE-NOS AGORA COMO PASSAPORTE JUSTAMENTE A
natureza '.'Será que a diversidade socioambiental do Brasil, cantada em prosa e verso,
RESISTIRÁ ÁS SUCESSIVAS RECICLAGENS DO NOSSO MODELITO PREDATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO
E AO AMBIENTALISMO PRIVATISTA DE SUCURSAL QUE SE INSTALOU NO PAÍS A PARTIR DA RlO 92?
A LONGO PRAZO NÃO NOS RESTARÁ, EM MEIO AO CAOS, ALTERNATIVA ENTRE A MESMICE DOS
SHOPPINGS E O CONFINAMENTO DOS PARQUES TEMÁTICOS?

Copyrk
1

0 que os Brasileiros Pensam dos índios?

Instituto Socioambiental

PESQUISA NACIONAL DE OPINIÃO ISA/IBOPE, Perguntados sobre quais seriam os três maiores problemas dos
REALIZADA DE 24 A 28 DE FEVEREIRO DE 2000, índios,57% indicaram a invasão das suas terras, 41% apontaram
REVELA QUE A MAIORIA DOS BRASILEIROS 28% indicaram as doenças transmiti-
0 desrespeito à sua cultura e

RECONHECE OS DIREITOS DOS ÍNDIOS E das pelo contato com os brancos (gráfico 09). Assim, os maiores

APÓIA AS DEMARCAÇÕES DE SUAS TERRAS problemas indicados são decorrentes da relação com os não índi-
os. 92% dos entrevistados consideram que os índios devem conti-

nuar vivendo como tais (gráfico 04) e que, para isso, 0 governo
deveria priorizar a implantação dc programas dc saúde e dc edu-
A IMAGEM DOS ÍNDIOS
cação adequados (48%), realizar a demarcação das suas terras
O Ibope realizou uma pesquisa de opinião pública de âmbito naci- (37%) e estimular a produção de bens voltados para 0 mercado
onal, encomendada pelo ISA, sobre o que os brasileiros pensam (31%) (gráfico 19).

dos índios. É a primeira pesquisa de opinião sobre o assunto rea-


lizada em todo Brasil. Dois mil homens e mulheres foram ouvidos AS TERRAS INDÍGENAS
pelo Ibope entre 24 e 28 de fevereiro, expressando as opiniões
dos brasileiros sobre os índios às vésperas das comemorações dos
A demarcação das terras indígenas também recebeu expressivo
apoio dos brasileiros. Informados de que os índios representam
500 anos do “Descobrimento do Brasil”,
apenas 0 2 % da população brasileira e têm direitos de posse per-
,

Embora a grande maioria dos brasileiros viva em cidades ou regi- manente e de usufruto exclusivo sobre 1 % do território nacional,
ões distantes das terras indígenas, 78% dos entrevistados revela- apenas 22 % dos entrevistados consideram que é muita terra para
ram ter interesse no futuro dos índios (gráfico 02) A pesquisa .

pouco índio, enquanto outros 68 % entendem que a extensão das


revela que os brasileiros têm untaimagem positiva dos índios, sendo terras indígenas é adequada ou insuficiente (gráfico 11 ).
que 88 % concordam que os índios conservam a natureza e vivem
Mesmo nas regiões norte e centro oeste, onde se situam 99 % da
em harmonia com ela (gráfico 01 ), 81% acham que eles não são
preguiçosos e apenas encaram o trabalho de forma diferente da
extensão total das terras indígenas, 59% dos entrevistados consi-

89% afirmam que eles não são ignorantes e


nossa (gráfico 07),
deram-na adequada ou insuficiente, enquanto 34% acham que é

muita terra.
apenas possuem uma cultura diferente da nossa (gráfico 18), e
também 89% consideram que eles só são violentos com aqueles Perguntados especificamente sobre o caso dos índios que falam
que invadem as suas terras (gráfico 14). português e se vestem como nós, 70% dos brasileiros consideram
que os seus direitos territoriais devem ser mantidos, contra 24%

que acham que deveriam perdê-los (gráfico 20 ).


O PAPEL DO GOVERNO
Dentre os entrevistados, 82% acham que o governo federal deve-
para evitar a extinção dos povos indígenas e para promo-
O DIREITO À DIFERENÇA
ria atuar

ver a sua defesa (gráfico 17). 75% acham que os índios precisam O reconhecimento do direito dos índios a serem diferentes de nós
ser protegidos e ensinados e 93% afirmaram que eles devem rece- é um consenso nacional: 92 % da população acham que eles de-
ber uma educação que respeite os seus valores (gráfico 13 ). vem ter o direito de continuar vivendo de acordo com os seus

POVOS INDÍGENAS NO BHASIL 1996/2000 -


INSTITUTO socioambiental 500 ANOS 57
es (gráfico 04), opinião confirmada pelos 91% que consi- GRÁFICO 01:

deram que eles devem ter espaço para viver conforme a sua cultu- Os índios conservam a natureza
ra (gráfico 12). 67% discordam que os índios devessem ser pre- e vivem em harmonia com ela?
parados para abandonar a selva e viver como nós (gráfico 16).

Estes índices são ainda maiores entre os entrevistados que têm 100 100

instrução de nível superior. 90 90

80 80

O FUTURO 70 70

60 60
A pesquisa também detectou uma mudança significativa na opi-
50 50
nião dos brasileiros quanto ao futuro dos índios. Em vista da tra-
40 40
gédia histórica representada pelos 500 anos de colonização, com
30 30
que muitos povos indígenas foram extintos e a sua população total
20 20
reduzida de alguns milhões para os atuais 300 mil, havia, até há
alguns anos atrás, uma forte impressão, mesmo entre aqueles que

os defendiam, de que os índios acabariam sendo extintos no futu-


10

Concorda
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Discorda
=l
Não Sabe/
Não Opinou
ro. No entanto, a maior parte dos entrevistados (45%) expressou
otimismo quanto ao futuro dos índios, tanto com relação a conti-

nuarem vivendo nas suas terras quanto à preservação da sua cul-


GRÁFICO 02:
tura. Outros 26% expressaram otimismo apenas em relação à pre-
Qual o seu grau de interesse pelo
servação das terras ou à cultura, enquanto 21% manifestaram pes-
futuro dos índios brasileiros?
simismo em relação à preservação de ambas (gráfico 10).

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100 100

A PESQUISA 90 90

80 80
A amostragem do Ibope considerou as diferenças de sexo, de grau

de instrução, de renda familiar, de idade, de região de origem, de 70 70

porte e de tipo dos municípios de residência, para compor o uni- 60 60

verso dos dois mil entrevistados. As entrevistas foram realizadas 50 50

com eleitores de mais de 16 anos. 40 40

30 30

20 20

10 10

Tem Interesse Nenhum Interesse Não Opinou

GRÁFICO 03:
Você acha que a educação dada aos índios deve respeitar seus
valores e sua cultura?

100 100

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80 80

70 70

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40 40

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Concorda Discorda Não Sabe/


Não Opinou

58 500 ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


a GRÁFICO 04:
Os índios devem ter o direito de continuar
GRAFICO 07:
Os índios não são preguiçosos, apenas
vivendo na selva de acordo com os seus costumes? encaram o trabalho de forma diferente de nós?

100 100 100 100

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Concorda Discorda Nào Sabe/ Concorda Discorda Nào Sabe/


Não Opinou Não Opinou

GRÁFICO 05: GRÁFICO 08:


Os índios são violentos Na sua opinião qual é o principal problema
e perigosos? que afeta os índios brasileiros atualmente?

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GRÁFICO 09:
GRÁFICO 06:
Na sua opinião quais são os 3 principais problemas
Os índios devem ser educados
que afetam os índios brasileiros atualmente?
de acordo com a nossa cultura?

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POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL 500 ANOS 59


GRÁFICO 10: GRÁFICO 13:
Qual destas frases melhor expressa a sua opinião sobre o A educação dada aos índios deve
futuro dos índios brasileiros? respeitar os seus valores e a sua cultura?

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Nào Sabe/
Não Opinou

GRÁFICO 11: GRÁFICO 14:


Qual dessas frases melhor expressa a sua opinião sobre Os índios são violentos apenas
a quantidade de terras que os índios possuem para viver? com os que invadem as suas terras?

GRÁFICO 15:
GRÁFICO 12:
Os índios são bons mas aprendem
Deve haver espaço para que os índios
muitas coisas ruins com os brancos?
possam viver de acordo com a sua cultura?

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Concorda Discorda Não Sabe/ Concorda Discorda Nào Sabe/


Não Opinou Não Opinou

60 SOO ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1995/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


0 16: GRÁFICO 19:
Os índios devem ser preparados Quais dessa medidas devem ser adotadas para que
para abandonar a selva e viver como nós? os índios brasileiros continuem a viver como índios?

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Concorda Discorda Não Sabe/


Não Opinou
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GRÁFICO 17: GRÁFICO 20:


O governo deveria deixar Qual dessas frases expressa sua opinião sobre
que os índios sejam extintos? os índios que talam português e se vestem como nós?

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GRÁFICO 18:
Os índios não são ignorantes, apenas
possuem uma cultura diferente da nossa?

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Nào Opinou

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL 500 ANOS 61


A pesquisa ISA/Ibope ganhou expressivo espaço na mídia, surpreen- donam sua cultura e acabam >uts ruas. pedindo esmola. (Correio
dendo a opinião pública com a posturafavorável dos brasileiros com Braziliense, 10/04/00)
relação aos povos indígenas. Publicada no site do ISA, a pesquisa foi
0 BOM SELVAGEM. Pesquisa revela que brasileiros consideram os ín-
intensamente consultada por usuários. Seguem algumas das man-
dios bons por natureza e por preservarem o meio ambiente. Entre-
chetes de artigos veiculados pelos principais meios de comunicação
vistados dizem que os índios devem ter direito à terra. (Correio
durante o mês de abril de 2000:
Braziliense, 10/04/00)
NO PAPEL DE MOCINHO. Brasileiros acham que os índios são bons e
protegem a natureza. As coisas ruins aprenderam dos brancos. (Veja,
PESQUISA MOSTRA 0 QUE O BRANCO ACHA DO ÍNDIO. Levantamento
revela que brasileiros se preocupam com ofuturo das nações indíge-
12/04/00)
nas e acreditam que sua cultura deva ser preservada. (Jornal da Tar-

A CULPA É NOSSA. Pesquisa nacional mostra que os brasileiros têm de 10/04/00)


imagem extremamente positiva do povo indígena. 78% acham que o
BOAS-VINDAS AOS ÍNDIOS. (Artigo de Marina Silva, Correio Braziliense,
índio é bom por natureza e aprende a fazer maldade com o homem
13/04/00)
branco. Os índios que se mudam para cidades como Brasília aban-

fflWTH

No papel de mocinho
Brasileiros acham que os índios são bons e protegem
a natureza. As coisas ruins aprenderam dos brancos

«umu pureza i

i aluOirii

O bom selvagem
A optnUo doi brasileiros nio poderia ser mais favoravH
a população indígena Acompanhe os principais resultados
de uma pesquisa inédita feita pelo Ibope

Oi índios, que
itpreitntam 0,2%
da população sdo
donrn de 11% do
iinltórlo nacional
íssa quanlidadt
de 1 irra *.

Revista Veja, 12/04/00.

62 500 ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ttLS/^ Acervo
-//ISA

no começo da semana
MARCHA INDÍGENA Conselho
passada.
Intertribal,

A importância deste evento é compa-


rada pelos índios a uma ocorrida em 1 860 quan-
Chico Caruso.
do eles se encontraram para discutir a partici-
Quem somos? Aonde vamos? Veja, 03/05/00,
pág. 43.
pação na Guerra do Paraguai - na qual o Brasil
foi o principal país que combateu o país vizi-

nho. As lideranças presentes tamhém assinam


hoje o Tratado de Cooperação Mútua, uma es-

pécie de estatuto que definirá normas para que


as tribos reivindiquem demarcações de
terras junto ao Governo federal. (A Crítica,

10/10/99)

REPRESSÃO ANUNCIADA
Diante da organização dos movimentos sociais
na Bahia e das retomadas de terra pelos Pataxó
c Palaxó Hã-Hã-Hãe no extremo sul do estado,
o senador Àntonio Carlos Magalhães afirmou:
“Quem vier fazer manifestação conirária quan-
do o Brasil comemora 500 anos, evidentemen-
te não é brasileiro e não sendo brasileiro não
pode ser tratado como tal”. Antes disso, em ja-

neiro, o coronel Cristóvão, chefe da Casa Mili-


tar do governo da Balda já havia afirmado que
a Polida Militar estava instruída pelo governa-
— Sei lá. dor César Borges “para não admitir nenhuma
forma de protesto durante as comemorações
dos 500 anos do Brasil, no dia 22 de abril”.

ÍNDIOS PROTESTAM CONTRA mais fiel assessor da Presidência ao mais (ISA a partir de O Diário de Porto Seguro,
FESTA DO DESCOBRIMENTO combativo militante da causa indígena. 26/01/00)
Por serem os donos da terra onde ficará o
0 Conselho de Articulação dos Povos e Organi- Memorial do Descobrimento, os índios 1’ataxó
ÍNDIOS PASSAM POR
zações Indígenas do Brasil (Capoib) enviou ao estão no centro das atenções dos preparativos
Papa João Paulo carta de protesto contra o
SANTARÉM NA MARCHA
II oficiais. São os únicos que têm conversado pes-
que chama de “festa triunfalista" programada soalmente com os representantes do governo e
EM DIREÇÃO À BAHIA
pelo Governo brasileiro para celebrar os 500 tentam obter a promessa de construção - além No próximo dia 9 de abril, eslará passando por
anos do Descobrimento. Os índios querem que do museu e das ocas, onde poderão expor seus Santarém, rumo à Coroa Vermelha, na Bahia, a
o evento sirva para mostrar a real situação en- artesanatos e montar espetáculos e produções “Marcha Indígena 2000”, que sairá de diversas
frentada por eles, vítimas da colonização. Se- culturais - de uma escola, um posto de saúde e regiões do País. A caravana da região Norte,
gundo Maurício Guarani, membro do Conselho, uma farmácia de remédios naturais. (JB, composta de 523 pessoas, sairá de Manaus,
os índios não têm por que comemorar. Desde o 21/03/99) passará por Parintins, Santarém, Belém, Impe-
ano passado, 42 líderes indígenas foram assas- ratriz, Palmas com chegada em Salvador pro-
sinados no Brasil. (O Globo, 23/10/98)
ÍNDIOS LANÇAM gramada para o dia 16 de abril. Antônio Anaya,

CARTA PARA REPUDIAR do Cimí esteve em Santarém no coiueçu de ja-


PROTESTO NO O “DESCOBRIMENTO” neiro, onde fez contatos com as entidades po-

LUGAR DE FESTA pulares e com a Igreja Católica, para acertar os


Seis nações indígenas do Mato Grosso do Sul detalhes da passagem da marcha pela cidade.
Não é nada festiva a agenda que índios de vári- assinaram a “Carta de Repúdio aos 500 Anos (O Liberal, 22/03/00)
do país estão organizando como alter-
as partes do Descobrimento”. O documento deve ser en-
nativa àcomemoração oficial pelos 500 anos viado ao Congresso Nacional e ao presidente JUSTIÇA VAI GARANTIR
de descobrimento do Brasil. Com o lema 500 Fernando Henrique Cardoso. A carta pretende
PRESENÇA DE ÍNDIOS
anos, nada a comemorar, planejam aproveitar mostrar, segundo Wilson Mota, chefe do núcleo
o mesmo dia e local da grande festa que será o da Funai de Dourados (MS) que o Brasil não
EM FESTEJOS
,

ponto alto das atividades oficiais, com inaugu- foi descoberto pelos portugueses. “Não existiu A Procuradoria Geral da República no Acre en-
ração do Memorial do Descobrimento, para descobrimento. Como alguém pode ter desco- tra hoje na justiça Federal com um pedido de
promover a Conferência Indígena, um amplo berto um território onde viviam 5 milhões de salvo-conduto para garantir a entrada de índi-
seminário sobre os problemas e desafios des- pessoas?”, pergunta Mola. os de todo o País na cidade de Porto Seguro
ses povos. Em 22 de abril de 2000, no sul da A carta foi assinada na aldeia Panambizinho, na (BA) no dia 22 de abril, na festa dos 500 anos
Bahia, haverá manifestação para agradar do região de Dourados (MS) , no encerramento do do Descobrimento. O procurador Marcus

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 19S6/2C0D - INSTITUTO 50CIDAMBIENTAL SOO ANOS «3


Acervo
—//Tis a

Vinícius Aguiar acatou denúncia apresentada MARCHA INÉDITA LIDERANÇAS CONVIDAM FHC...
por caciques de 17 tribos do Acre e região sul CONTESTA A FESTA OFICIAI O líder indígena Carajá Pataxó, 38, pretende
do Amazonas. Segundo eles, a Policia Militar
Os índios brasileiros decidiram ficar de iòra dos entregar hoje ao presidente Fernando Henrique
baiana estaria sendo orientada a montar uma
festejos oficiais dos 500 anos. O governo pro- Cardoso documento pedindo sua presença na
barreira na entrada da cidade a pretexto de evi-
tar “protestos" nos festejos do Descobrimento. move uma festa de Estado, com a presença de inauguração de monumento em homenagem
Os caciques apresentaram recortes de jornais autoridades estrangeiras, e os índios lamentam aos 500 anos do Brasil, em Santa Cruz Cabrália
de Porto Seguro em que um oficial da PM con- 0 que chamam de “invasão européia”. Num (BA). Anteontem, 0 ministro Alberto Cardoso
movimento tido como inédito no país, por sua (Segurança Institucional) informou que FHC
firma que o policiamento será aumentado na
abrangência e poder de mobilização, desde 0 não iria à solenidade. O governo alegou dificul-
cidade. “Estou pedindo habeas-corpus preven-
tivo para que seja garantido aos índios o direito
dia 4 foi iniciada a “Marcha Indígena 2000". O dades para fazer a segurança do presidente no
movimento quer reunir no dia 22 numa gran- local. Assinado por 36 Pataxó, 0 documento
de ir e vir”, disse o procurador. “E para res- ,

de conferência, em Porto Seguro, mais de 2.000 afirma que os índios aceitam a presença de
guardar também o direito da manifestação pa-
índios representando cerca de 200 etnias policiais civis e militares na reserva “para a
cífica do pensamento”. Para Aguiar, a medida
identificadas no país. manutenção da ordem pública e segurança das
da PM “traz implícita uma conotação racista”.
“Brasil: Outros 500", como
denominado 0
foi autoridades” convidadas para a festa. No texlo,
(MSP, 30/03/00)
movimento, vai chamar a atenção da sodedade os índios dizem também que as auloridades
para a causa indígena e contestar a versão ofi- presentes à cerimônia não serão alvo de pro-
PROCURADOR PEDE testos ou qualquer tipo de constrangimento.
ciai do Descobrimento.
SEGURANÇA PARA A programação dos índios é ampla e abrange (FSP, 13/04/00)
VIAGEM DOS ÍNDIOS também outras minorias sodais, como negros
O procurador do Ministério Público Federal no e sem-terra. Com a marcha, iniciada na Amazô- ... MAS ELE TEME
a
Amazonas Ageu Florêndo pediu onlem à 6 Câ- nia (onde vivem 51% dos indígenas do país), POR SUA SEGURANÇA
mara de Coordenação, em Brasília, que acione eles pretendem chamar a atenção das diversas
localidades por onde passarão dizendo que “os
O presidente da Funai, Carlos Marés, disse on-
todos os órgãos federais e estaduais para que
lem que os índios pataxó estão sendo “cons-
haja segurança nos deslocamentos das lideran- índios continuam sendo explorados e excitados”.
trangidos” pela Polícia Militar da Balda e pela
ças indígenas que vão participar do manifesto As propostas da marcha e da conferência são
Comissão dos 500 Anos, presidida pelo Minis-
contrário aos festejos dos 500 anos do Desco- elogiada por Marés, um advogado que ocupa
tério do Esporte e Dirismo, Rafael Greca. Um
brimento em Porto Seguro, na Bahia. A decisão há cinco meses a presidência da Funai. “Pela
monumento de protesto contra as festividades
dc Florêncio foi tomada após receber 0 docu- primeira vez há uma mobilização nacional dos
dos 500 anos que estava sendo feito pelos Pataxó
mento Manifesto Manaus: 500 Anos de Resis- povos indígenas. As poucas tentativas anterio-
em Porto Seguro foi destruído peia PM. Hoje,
tência Indígena Negra e Popular, de sete lide- res foram frustradas. Além disso, os índios es-
às 16b, 0 presidente Fernando Henrique Car-
ranças licuna do Amazonas, na sede da Procu- tão certos ao dizer que não têm 0 que come-
doso recebe unta comissão de 12 lideranças in-
radoria da República regional. Os Hcuiia criti- morar, de reclamar mais políticas públicas”,
dígenas, durante protesto de 1.300 índios, em
cam a comemoração oficial dizendo que “é uma afirmou.
Brasília. Ele ameaça não ir às comemorações
festa para elites colonialistas responsáveis pelo Os governos federal e da Bahia estão se prepa-
rando para impedir que a marcha e a confe-
em Porto Seguro por causa dos conflitos.
genocídio e massacre dos índios, negros e po-
Diante das ameaças do presidente FHC de não
bres”, e pediram garantias para que não sejam rência indígena se transformem num ato con-
participar da festa dos 500 anos do Descobri-
barrados nas divisas interestaduais. Segundo tra 0 presidente Fernando Henrique Cardoso e
sua política social e econômica. Na última quin-
mento, em Porto Seguro (BA) ,
por causa da falta
Ageu Florêncio, 0 documento será encaminha-
dc segurança em função dos protestos dos ín-
do à Funai, Poficia Federal e Ibama. (OESP, ta. foi decidido que a segurança dos eventos,
dios previstos durante as comemorações, os
04/04/00) espedalmente durante 0 período em que FHC
governos federal e estadual iniciaram uma ope-
estiver presente, ficará a cargo do Ministério
ração para tentar acalmar a comunidade indí-
ÍNDIOS DO AM E DE da Defesa. As Forças Armadas ocuparão os síti-
gena. Foi oferecido todo 0 apoio logístico para
RR INICIAM MARCHA os e praias históricos de Porto Seguro, e os ma-
os índios realizarem a conferência dos povos e
nifestantes terão de enfrentar fuzis e possivel-
em Manaus,
Protestos e manifestações culturais mente tanques nas ruas se partirem para um organizações indígenas em Coroa Vermelha.

que reuniram cerca de 400 índios de diversas Além de alugar a casa de show Cabralão, onde
confronto.
marcaram ontem 0 da Marcha seriam realizados os debates, o governo fede-
etnias, início O primeiro sinal de que haverá dificuldades
Indígena para tribos do Amazonas e de Roraima. ral forneceria colchões, alimentação e infra-
nesse setor foi dado semana passada, quando
A marcha será formada por caravanas de todas estrutura para 0 evento. As lideranças pataxó
cerca de 200 PMs cercaram e destruíram, du-
as regiões do país, O objetivo do movimento, de Porto Seguro aceitaram a proposta e convi-
rante a noite, 0 monumento que os índios pre-
segundo a sua direção, é mostrar que 0 “Brasil - daram FHC a participar da festa. Na semana
tendiam construir na praia Coroa Vermelha
que os índios querem é outros 500" (alusão - denunci- passada, 200 policiais militares ocuparam Co-
onde foi realizada a primeira missa
aos 500 anos do Descobrimento). Durante os ando 0 que classificam de “genocídio da raça".
roa Vermelha e destruíram um monumento de

serão promovidas atividades e protes- protesto, que os Pataxó estavam construindo,


trajetos, A ordem foi de Borges (governador da Bahia).
tos em tomo da questão indígena — preserva- perto do local da primeira missa do Brasil, onde
(FSP, 09/04/00)
ção da identidade étnica e cultura, denúncia de se concentrarão as festividades em Porto Segu-

massacres e reivindicações de demarcação de ro. 0% 13/04/00)


terras, enlre outros. (FSP, 05/04/00)

64 500 ANOS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1S96/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


MARÉS CULPA ÍNDIOS DE TODO O PAÍS TRIBOS DE PE VÃO
GRECA POR CRISE RUMAM PARA PORTO SEGURO PEDIR DEMARCAÇÃO
O presidente da Funai, Carlos Frederico Marés, Representantes de tribos de todo o País estão As manifestações de protesto contra as festivi-

acusou ontem a comissão que organiza a (esta se dirigindo para Porto Seguro (BA) onde par- dades para os 500 anos não se resumem a
dos 500 anos, coordenada pelo ministro do ticipam, de 16 a 22 de abril, da Semana dos Brasília. Os índios de Pernambuco, com apoio
Esporte e Turismo, Rafael Greca, de desrespei- Povos Indígenas 2000. Muitas caravanas pas- de várias entidades, fazem manifestação hoje.
a Constituição e criar um clima de terroris-
tar sam antes por Brasília, onde está marcada para Eles vão exigir a demarcação, a homologação
mo contra os índios no Sul da Bahia, com o uso hoje a primeira manifestação de protesto con- de terras e o pagamento de indenizações a pos-
de forças policiais, intimidações e violências. A tra as comemorações oficiais dos 500 anos de seiros, por parte do governo federal, para a li-

PM baiana invadiu a reserva pataxó, na semana Descobrimento. Ontem, uma caravana forma- beração de áreas indígenas. O protesto, marca-
passada, e destruiu a base de um monumento da por 80 índios de lá etnias de Mato Grosso do para esta tarde, no Bairro do Recife Antigo,
que estava sendo erguido pelos índios. As criti- partiu de Cuiabá com destino a Brasília. De Cam- faz parte das manifestações programadas para
cas de Marés, que está demissionário, inicia- po Grande, outra caravana de 90 índios, repre- os 500 anos do Descobrimento. (OESP, 14/04/00)
ram mais uma crise no Governo, trazendo em- sentando seis nações indígenas de MS, seguiu
baraços para o novo ministro da Justiça, José para Salvador. (OESP, 13/04/00)
Gregori, antes mesmo da sua posse. Segundo
Marés, a comissão dos festejos tem cometido ÍNDIO APONTA FLECHA PARA
arbitrariedades contra os índios. Ele lembrou ACM DURANTE MANIFESTAÇÃO
que o artigo 231 da Constituição proíbe qual-
quer violação da reserva indígena. Ele disse que O presidente do Senado, Anlonio Carlos Maga-

até a construção de uma cruz metálica de 16 lhães (PFL-BA), teve ontem uma flecha aponta-

metros, pelos organizadores dos festejos, no


da para seu rosto por um índio que participava
local da primeira missa, sem autorização da da marcha contra as comemorações dos 500

Funai, é ilegal. Marés condenou particularmente anos do descobrimento do Brasil. O índio


Henrique Iabaday conseguiu furar a segurança
a destruição do monumento à resistência que
os índios tentam erguer no local. Ele disse que,
e, empunhando uma flecha a poucos centíme-
tros de ACM, exigiu dele a imediata aprovação
para os índios, o descobrimento do Brasil trouxe
sofrimento e significou até agora 500 anos de
do Estatuto das Sociedades Indígenas, que tra-

agressões e de resistência.
mita há nove anos no Congresso. Antes de che-
(O Globo, 13/04/00)
gar ao Congresso, cerca de 500 integrantes da
marcha já haviam atirado flechas no relógio da
Rede Globo comemorativo aos 500 anos do
Brasil. (FSP, 14/04/00)

Ique/JB,
16/04/00,
psg. 8.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL 500 ANOS 65


) -

DOCUMENTO FINAL DA CONFERÊNCIA DOS POVOS E ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO12.BRASIL


Chegamos na aldeia Pataxô de Coroa Vermelha, de todas as terras demarcadas, indenização e re- segundo grau profissionalizante;
município de Santa Cruz Cabrália, Bahia, no dia cuperação das áreas e dos rios degradados, como fiscalização da aplicação das verbas destina-
17 de abril. Cumprimos o compromisso de refa- por exemplo o Rio São Francisco; reconhecimen- das às escolas indígenas, criando um Conselho
zer os caminhos da grande invasão sobre nossos to dos povos ressurgidos e seus territórios; prote- Indígena;
territórios, que perdura já 500 anos. ção contra a invasão dos territórios dos povos iso- 13- a educação escolar indígena e o atendimento
Somos mais de 3-000 representantes, de 140 po- lados; desconstituição dos municípios instalados à saúde deve ser de responsabilidade federal. Re-
vos indígenas de todo o país. Percorremos terras ilegalmente em área indígena; respeito ao direi- jeitamos as tentativas de estadualização e
e caminhos dos rios, das montanhas, dos vales e to de usufruto exclusivo dos recursos naturais municipalizaçâo;
planícies antes habitados por nossos antepassa- contidos nas áreas indígenas, com atenção espe- 14. a Lei Arouca, que institui um subsistema de
dos. Olhamos com emoção as regiões onde os po- cial à biopirataria; paralisação da construção de atenção à saúde dos povos indígena, seja aplica-
vos indígenas dominavam e construíam o futu- hidrelétricas, hidrovias, ferrovias, rodovias, da;
ro, ao longo de 40 mil anos. Olhamos com emo- gasodutos em andamento e indenização pelos 15- fortalecer e ampliar a fiarticijmção ativa das
ção as regiões onde os povos indígenas tomba- danos causados pelos projetosjá realizados; apoio comunidades e lideranças nas instâncias
ram defendendo a terra cortada por bandeiran- a auto-sustentação, com recursos financeiros decisórias das políticas públicas para os poivs
tes, por aventureiros, por garimpeiros e, mais tar- destinados a projetos agrícolas, entre outros, para indígenas, em especial, que os Distritos Sanitári-
de, por estradas, fxir fazendas, por empresários as comunidades indígenas. os Especiais Indígenas tenham autonomia nas
com sede de terra, de lucro e de poder. 2.a imediata aprovação da Convenção 169 da deliberações;
Refizemos este caminho de luta e de dor, para re- Organização Internacional do Trabalho (OIT); 16. 0 atendimento de saúde deve considerar e res-
tomara história em nossas próprias mãos e apon- 3. aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas que peitar a cultura do povo. A medicina tradicional
tar, novamente, um futuro digno para todos os tramita no Congresso Nacional conforme apro- deve ser valorizada e fortalecida;
povos indígenas. vado pelos povos e organizações indígenas (PL 17. formação específica e de qualidade para pro-
Aqui, nesta Conferência, analisamos a sociedade 2.057/91); fessores, agentes de saúde e demais profissionais
brasileira nestes 500 anos de história de sua cons- 4. o fim de todas asformas de discriminação, ex- indígenas que atuam junto às comunidades;
trução sobre os nossos territórios. Confirmamos, pulsão. massacres,ameaças às lideranças, violên- 18. que seja elaborada uma política específica
mais do que nunca, que esta sociedade, fundada cias e impunidade. Apuração imediata de todos fjara aulagrande região do país, com a ]tartici
na invasão e no extermínio dos povos que aqui os crimes cometidos contra os ftovos indígenas pação ampla dos povos indígenas e de todos os
viviam,
1. foi construída na construída na escravi- nos últimos 20 anos e punição dos responsáveis. segmentos da sociedade, a partir dos conhecimen -
dão e na exploração dos negros e dos setores po- Exigimos o respeito às nossas culturas, tradições, tos e projetos de vida existentes;
pulares. É uma história infame, é uma história línguas, religiões dos diferentes povos indígenas 19. fortalecer 0 impedimento da entrada (e reti-
indigna. do Brasil; rada) das polícias Militar e Civil de dentro das
Dignidade tiveram, sempre, os perseguidos e os 5. a punição dos responsáveis pela esterilização áreas indígenas sem autorização das lideranças;
explorados, ao longo destes cinco séculos. Revol- criminosa das tnulheres indígenas a critério da 20. exigimos a extinção dos processos judiciais
tas, insurreições, movimentos políticos e sociais comunidade; contrários a demarcação das terras tradicionais
marcaram também nossa história, estabelecendo 6. que a wrdadeira história deste país seja reco- ocupadas pelos povos indígenas.
uma linha contínua de resistência. nhecida e ensinada nas escolas, levando em con- Nós, povos indígenas do Brasil, percorremosjá um
Por isso, voltamos a recuperar essa marca do pas- ta os milhares de anos de existência das popula- longo caminho de reconstrução dos nossos terri-
sado para projetá-la em direção ao futuro, nos ções indígenas nesta terra: tórios e das nossas comunidades. Com essa histó-
unindo aos movimentos negro e popular e cons- 7. reestruturação do órgão indigenista, seu forta- riafirmemente agarrada por nossas mãos coleti-
truindo uma aliança maior: a Resistência Indí- lecimento e sua vinculação à Presidência da Re- vas, temos a certeza de que rompemos com 0 tris-
gena, Negra e Popular. pública, através de uma Secretaria de Assuntos te passado e nos lançamos com confiança em di-
Nossas principais exigências e propostas: Indígenas, cmsultando-se as organizações de base reção ao futuro.
São as seguintes as principais exigências e pro- quanto a escolha dos secretários; Apesar do peso da velha história, inscrita nas clas-
postas dos povos indígenas para o Estado brasi- 8. que o presidente da Funai seja eleito pelos po- ses dominantes deste país, na sua cultura, nas
destacadas por esta Conferência:
leiro, vos indígenas com indicação das diferentes regi- suas práticas políticas e econômicas e nas suas
cumprimento dos direitos dos povos indígenas ões do Brasil; instituições de Estado, já lançamos 0 nosso grito
garantidostia Constituição Federal: até ofinal do 9.a educação tem que estar a serviço das lutas de guerra efundamos 0 início de uma nova his-
ano 2000 exigimos a denuircação e regulariza- indígenas e do fortalecimento das nossas cultu- tória, a grande história dos “ Outros 500".
ção de todas as terras indígenas: revogação do ras; A nossa luta indígena é uma homenagem aos inú-
Decreto 1.775/96: garantia e proteção das terras 10. que seja garantido o acesso dos estudantes meros heróis que tombaram guerreando ao longo
indígenas; devolução dos territórios reivindica- indígenas nas universidadesfederais sem o vesti- de cinco séculos. A nossa luta épara nossos jilfjos
dos pelos diversos povos indígenas do Brasil in- bular; e netos, povos livres numa terra livre.
teiro; ampliação dos limites das áreas insufici- 11. reforma, ampliação e construção das escolas Coroa Vermelha, Bahia, 21 de abril de 2000.
entes para a vida e o crescimento das famílias indígenas e oferta de ensino em todos os níveis,
indígenas; desintmsão (retirada dos invasores garantido-se o magistério indígena e educação de

66 500 ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo -

V,SA
~' ACONTECEU
CARTA DE MONTE PASCOAL
Na véspera do Dia do índio e a quatro dias das
comemorações dos 500 anos do Descobrimen-
to, índios de todo o país exigiram ontem, na
Carta do Monte Pascoal, que o Governo federal
demarque e regularize os territórios indígenas
até o fim do ano. E pediram o fim do genocídio
de seus povos. Estes são os dois principais pon-
tosdo documento escrito no Monte Pascoal,
onde durante dois dias reuniram-se índios de
180 etnias, em encontro preparatório da Con-
ferência dos Povos Indígenas do Brasil, que
começou ontem.
Na carta, os índios voltam a denunciar a des-
truição do monumento erguido em Coroa Ver-
melha e repudiam o massacre de Eldorado do
Carajás. (O Globo, 19/04/00)

À caminho de Porto Seguro.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL 500 ANOS 67


"

JZ
'*U= S*- Acervo
SA Í~Ã~C 0 N T E C E U
I

“FUI PISOTEADO PELO BATALHÃO"


Gildo Terena teve sua imagem conhecida, humilhei dizendo: parem com isso! Não sabemos eu caí no chão sem defesa nenhuma, sem agres-
através dos meios comunicação, por ter ca- o que estão fazendo, nós não sabemos o que está são nenhuma, eu tentei levantar e fui pisoteado
minhado de joelhos e com os braços aber-
, acontecendo com nós, nós estamos apenas pro- pelo batalhão. Senti como se fosse animal depois.
tos, em direção ã tropa de choque da PM testando com faixas, com com camisas
cartazes, Eu chorei, eu não aguentei ver em mim que um
baiana que atacou manifestantes indígenas dos outros 500 anos que queríamos. Doeu em índio pisado, pisado no começo de uma nova era
no dia 22 de abri I de 2000, em Santa Cruz mim ,
ajoelhei ali implorando Paz, implorando dos 500 anos. Eu chorei, chorei me perguntando,
de Cabra lia. paz, só que ninguém me ouviu porque eu sou um, o que eles estavam fazendo. É doído, é doído em
"
Doeu em mim, eu vi mulher chorando sem saber sou um ser humano não governante. mim. É doído ver meu povo triste de longe de todo ,

de nada. Doeu em mim, ter crianças alijando com Eu coloquei dejoelhos, andei mais de cinco metros o Brasil, foi para protestar com paz. Chegando la
desespero eu sabia que eu era um ser humano,
,
de joelhos, pedi para que eles parassem. Eu fui com violência, foram embora, não de cabeça bai-
mas não um animal para ser tratado com bom- andando, anilando dejoelhos, eu cheguei nafrente xa,mas esperando os outros 500 que não fjossam
bas, com os cavalos. Eu olhei para mim, eu colo- deles, eles diziam o soldado, que estava só cum- ser assim.
quei primeiramente a Deus no meu caminho que prindo a missão deles. Aí quando eu levantei, vi (Excerto do depoimento de Gildo Jorge Roberto
me protegesse de todo o mal que ia acontecer co- um daqueles colocando mais um, mais uma bom- Terena, pronunciado no ato público de solidarieda-
migo, eu abri as minhas mãos, pedi a orientação ba, para jogar pro lado do meu povo, eu abri os de e acolhida da delegação da Marcha Indígena 2000,
do Pai, que Ele pudesse me proteger. At com hu- meus braços, queeram pra jogar em mim e
eles na cidade de Rondonópolis no dia 24 de abril de
milhação de todos os povos em mim me pus, me
, não neles e nisso eu fui empurrado pela bomba e 2000, na Praça dos Carreiros, às 17 horas).

Gildo Jorge Terena, ao chão, durante o avanço da PM.

68 500 ANOS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


DIA 22 E MARCADO POR
REPRESSÃO E VIOLÊNCIA
Um
tantes
conflito envolvendo cerca de mil manifes-
do movimento negro, estudantes da Or-
6 FOLHA DE S.PAULO Sio Paalu, Jumin|a jj dsabrlldeiooo

ganização Brasil Outros 500, punks e MST e 200


policiais militares resultou em 141 prisões e
vários feridos
ocorreu em
na manhã de ontem, 0
Santa Cruz Cabrália, quando os
conflito Conflito marca festa dos 500 anos
Ação usa bombas de gás contra * Policiais prendem 141 pessoas Cerco impede a entrada até de
manifestantes tentavam chegar ao local da Con- pedras e flechas; não houve mortes por 'alteração da ordem pública' moradores em Porto Seevro (BA)
ferência dos Povos Indígenas para engrossar a
marcha dos índios a Porto Seguro.
Os policiais usaram bombas de gás lacrimogê-
neo e balas de borracha para dispersar a multi-
dão. Um grupo foi perseguido e cercado na Pra-
ça de Cabrália e ficou a manhã toda retido num
círculo feito por policiais, debato de chuva.
Durante o conflito, no início da manhã, o índio
Pataxó Crispim, foi ferido com uma pedrada.
Helicópteros do Exército sobrevoavam a praça.
Levavam atiradores apontando metralhadoras
para os manifestantes presos. Um grupo de par-
lamentares, entre os quais o deputado federal
José Dírceu (PT-SP) e a senadora Marina Silva
(PT-AC), tentava, com procuradores da Repú-
blica, um acordo para liberar os presos. As au-
to ridades policiais só admitiam libertá-los se as
manifestações se restringissem à área da Con-
ferência dos Povos Indígenas,
índios - A marcha indígena à qual os manifes-
tantes se uniriam também foi barrada pela
na saída de Cabrália. Os policiais usaram a ca-
PM
O GLOBO
valaria e atiraram bombas de gás lacrimogêneo,
ferindo uma índia. Cerca de 3 mil manifestan-
tes seguiram a marcha. Aos índios, juntaram-se
os integrantes dos movimentos. Os índios esta-
Batalha na festa dos 500
vam pintados e portavam bordunas, arcos e fle- Sete índios ficam feridos e 140 manifestantes são presos em choques com PMs na Bahia
chas, mas não reagiram às bombas da polícia.
O cacique Naflton Pataxó, indignado, disse que
os índios queriam fazer uma manifestação pa-
cífica em Porto Seguro, mas foram agredidos, a PROCURADORES Os procuradores Márcio Torres, Robério dos
mando do presidente Fernando Henrique Car- ANUNCIAM INQUÉRITO Anjos Filho e Paulo Fontes estão em Porto Se-
doso e do governador César Borges (PFL). guro desde o dia 12. Ligados ao trabalho de
Turistas que estavam em Cabrália ficaram re- O MPF anunciou oficialmente ontem que deter- defesa judicial dos índios, eles vieram para cá
voltados. “Isso é ditadura", disse o paulista minará a abertura de inquéritos para apurar os porque temiam a ocorrência de conflitos. Em
Fernando Cerqueira. “Esses índios são pacífi- fatos ocorridos em Santa Cruz Cabrália e apu- dez dias, tentaram de várias maneiras
cos, não iriam agredir o presidente." rar as responsabilidades. De acordo com nota intermediar negociações entre as autoridades
Líderes sindicais e parlamentares de esquerda divulgada por procuradores da República na e as lideranças indígenas, para garantir a reali-
passaram a tarde tentando reagrupar os mani- Bahia, as cenas de violência que eles presenci- zação da manifestação. Ontem, a sensação de
festantes que se dispersaram com o ataque da aram “podem constituir atos de improbidade frustração entre eles era visível, "O que ocor-
PM e libertar os presos no primeiro confronto. administrativa e configurar a prática de vários reu ali pode ser visto como ameaça à democra-
Três procuradores do MPF deram apoio. So- crimes, a exemplo de abuso da autoridade, cia”, desabafou Torres.
mente às 14h45, com a chegada do juiz Airto periclitação da vida e da saúde, lesões corpo- Na nota, eles também afirmam que não aceitam
Pinheiro, da comarca local, a situação se nor- rais e cárcere privado". A nota é assinada por a justificativa de que a violência teria sido co-

malizou. três procuradores, que acompanharam a ma- metida para garantir a segurança da comitiva
O china ficou tenso principalmente por causa nifestação ao lado dos índios. Eles observam presidencial. “Tal propósito não tem o condão
da intransigência do coronel Muller, que coman- no texto que os policiais militares que partici- de afastar o respeito à legalidade e aos direitos
dava a tropa de mais de mil homens em Cabrália. pavam das operações haviam retirado do peito fundamentais dos cidadãos, listados no artigo
(OESP, 23/04/00) a sua identificação, possivelmente para garan- 5“ da Constituição da República", assinala o tex-

tir sua impunidade. to. (OESP, 24/04/00]

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1596/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL 500 ANOS 69


CARTA-DENÚNCIA AO MPF BALANÇO DE PORTO SEGURO
As bombas que a PM atirou sobre os índios em
Coroa Vermelha, na manhã de anteontem, dei-
xaram sequelas. Em vez de entregar um docu-
mento contendo as conclusões da Conferência UM VEXAME INACREDITÁVEL
ao presidente Fernando Henrique Cardoso,
como pretendiam, os índios vão enviar uma car- U p oi como se alguém convidado para uma festa de casamento cuspisse no

ta-denúncia ao Ministério Público Federal. O chão da sala." Este infeliz comentário do ministro da Cultura e, por
presidente da Funai, Carlos Marés, que estava incrível que pareça, sociólogo, Francisco Weffort, resume a postura do gover-

com os índios e foi atingido por um dos no diante da repressão promovida pela polícia baiana aos manifestantes -
petardos, pediu demissão. E índios, negros, estudantes e MST - que tentaram protestar contra a festa que
o Cimi, instituição ligada à comemorou os 500 anos. Mas o ministro esqueceu de um detalhe: nenhum
CNBB. se pronuncia sobre o daqueles que sentiram na pele as bordunas da PM
episódio oficialmente hoje. foiconvidado para o rega-bofe oficial. As imagens
Satisfeitos com os resultados de índios apanhando correram mundo, transforman-
da Conferência Indígena, a do o que poderia ter sido uma festa popular num
maior e mais abrangente de fiasco com poucos precedentes.
todos os tempos, mas tristes A truculência começou no início de abril, quando
e revoltados com os episódi- a polícia destruiu, na calada da noite, um monumen-
os do último Sábado, os índi- to-resistência dos índios pataxós, ainda inacabado,
os partiram ontem para todos em Porto Seguro. No dia 22, o protesto pacífico de
os pontos do país fazendo índios desarmados foi sufocado pela tropa de cho-
protestos. Os índios Kayapó. que. Bombas de gás lacrimogêneo e granadas de
por exemplo, rasgaram, ain- efeito moral encerraram com violência o que era
da no asfalto, logo depois do para ser apenas uma passeata. Perguntado sobre o
episódio, as roupas que ves- porquê da repressão, FHC foi FHC: “Não fui eu que
tiam. (A Tarde, 24/04/00) mandei." Enquanto a pancadaria não tinha critérios
- 141 pessoas foram presas -, ele plantava uma muda
de pau-brasil com o presidente de Portugal, Jorge
Sampaio, rodeado por 2Ü0 ilustres homens brancos
de temo. Para que as autoridades não fossem inco-
modadas pelo alarido dos excluídos, mais de 6 mil
policiaisforam acionados. Até a liberdade de ir e vir
dosturistas foi violada: as estradas que dão acesso a
Porto Seguro foram fechadas e ninguém entrava ou
saía sem dar explicações ou ter um crachá.
Não foi só na hora de fazer a segurança que o
governo meteu os pés pelas mãos. Boa parte do
dinheiro gasto foi desperdiçado. A réplica da nau
capitânia de Cabral custou R$ 3,8 milhões e não
saiu do lugar. A tentativa de ir de Salvador a Por-
to Seguro falhou por problemas no mastro e nos
motores e a nau só deverá cumprir a rola em ju-
nho. O vexame foi motivo de piadas de brasileiro.
Flá cinco séculos, os portugueses da Escola de
Sagres já cruzavam o mundo.
Apesar da violência, da total desorganização e
de uma falta de sensibilidade histórica e social, a
RESUMO Da Bahia do Palácio do Planalto acabou caindo sobre a
ira
para o mundo: Quem é
mesmo cabeça de um defensor do lado mais fraco. O pre-
o selvagem?
sidente da Funai. Carlos Frederico Marés, que es-
teve o tempo todo com os índios e quase foi atingido por uma granada, pediu
demissão e foi chamado de desleal pelo porta-voz da Presidência. O ex-
presidente de Portugal Mário -Soares deu uma aula de política aos nossos soció-
logos: "Manifestações são normais em regimes democráticos.” Mais uma lição
do colonizador. A senadora Marina Silva (PT-AC) endossou: “Isso prova que a
democracia só chegou na casa-grande. Na senzala ainda é ditadura."
fwrs Garçoni

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


ÍNDIOS ENTREGAM
CARTA A FHC
O presidente Fernando Henrique Cardoso re-
cebeu ontem uma carta com críticas de índios
xavante e mehinaku. A carta foi entregue a FHC
logo após os índios, oriundos de duas aldeias
de Mato Grosso, terem dançado para o presi-
dente brasileiro e para o de Portugal, Jorge
Sampaio, na abertura da Mostra do
Redescobrimento, megaexposição de arte que
se realiza em comemoração dos 500 anos do
Brasil.

A carta, que foi entregue ao presidente com uma


fita de vídeo, um livro e um CD, é basicamente
um arrazoado sobre a situação das populações
indígenas do país e contém a afirmação segun-
do a qual os índios ‘não estão comemorando
nada”. ‘‘Hsla não é a nossa comemoração”, diz
o texto, assinado pelos índios Suptó, xavante, e
Ciucartec, mehinaku, e distribuído pela ONG
Instituto de Desenvolvimento das Tradições In-

dígenas.
Hm tom cordial, no entanto firme, a carta res-

salta que os índios compareceram à cerimônia


“sem rancor e sem raiva”, mas alerta que os
territórios demarcados para os indígenas "con-
tinuam sendo ameaçados pelos projetos de de-
senvolvimento que não levam em consideração
nosso pensamento e nossa vida".
A carta afirma também que “o povo brasileiro
não conhece o povo indígena. Vocês não sabem
quem somos e nunca entraram em nossas ca-

sas com respeito para compartilhar nossa sa-

bedoria e amizade". Termina afirmando que os


índios estavam ali para realizar “um ritual de
passagem para transformar este lugar num país
onde nosso povo possa viver”.
O presidente não leu a carta, entregue primei-
ramente ao presidente da associação provedo-
ra da mostra, Edemar Cid Ferreira. FHC nem
viu direito os demais objetos entregues, plissan-

do -os à sua assessoria. FHC, que não eslava


acompanhado de sua mulher, Ruth, teve que
esperar por dez minutos por Sampaio, que es-
tava atrasado.
Eles então assistiram à apresentação dos 46 ín-
dios, que durou cerca de cinco minutos, e su-
biram ao segundo andar do prédio, para ver o
original da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei

de Portugal, noticiando o Descobrimento do


Brasil. A visita à carta também durou pouco,
cinco minutos. (FSP, 24/04/00)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL 500 ANOS 71


POLÊMICA

AS MUITAS FACES DE UMA GUERRA


C/Ml INTERPRETA COMEMORAÇÕES DOS 500 ANOS E CRITICA MOVIMENTO INDÍGENA
Em maio de 2000, o assessor político do genas presentes na Conferência. Até o último do descobrimento do Brasil No final do dia, um
Cimi, Paulo Maldos, divulgou um documen- momento o governo federal tentou construir este Fernando Henrique Cardoso mais autista, irres-
to que testemunhava e analisava os fatos cenário. ponsável e isolado do que nunca, troava para São
que se deram em Porto Seguro e em Santa Cenário 2: o presidente Fernando Henrique Car- Paulo, seguramente longe da democracia. Um />e-
Cruz de Cabral ia, Bahia, por ocasião da doso, reconhecendo que a sifttação em Coroa Ver- queno grupo de lideranças indígenas voltava des-
Marcha Indígena, da Conferência dos Povos melha era de tensão social, restringe as suas ati- moralizado para seus estados.
e Organizações Indígenas do Brasil e das co- vidades no dia 22 de abri! a Porto Seguro, obser- O "núcleo duro" do governo federal, o presidente
memorações oficiais dos SOO anos da che- vando de brige, da Cidade Alta, a chegada da Nau Fernando Henrique Cardoso, o general Alberto
gada dos portugueses a essas terras. A se- Capitanea e demais embarcações, inaugurando Cardoso, osr. Marcelo Cordeiro, todos haviam sido
guir, publicamos as conclusões desse docu- obras, plantando pau-brasil etc. Seria estabeleci- derrotados e chegaram a preparara mídia para a
mento, em que o Cimi firma sua posição a do um " cordão sanitário " militar em volta da ci- eventualidade do Cenário 3, seu grande pesadelo.
respeito do papel do governo e dos caminhos dade de Porto Seguro, de forma a que nenhum Porém, às custas de urna bruta! repressão e do fiel
do movimento indígena no Brasil. protesto popular fosse ouvido e de nenhuma ma- apoio de suas lideranças indígenas e da sua milí-
Durante dois longos anos os povos e organizações neira visto. cia indígena, mantiveram o Cenário 2.
indígenas, o Cimi, entidades do movimento ne- Cenário 3: o presidente Fernando Henrique Car- O "esquema indígena " do Cal. Alberto Cardoso não
gro e do movimento popular buscaram organizar doso, reconhecendo o estado de convulsão social funcionou a contento. As lideranças que aliciou
eventos em abril de 2000, na região de Porto Se- na cidade de Porto Seguro, devido a presença de não eram "orgânicas" aos povos indígenas, ao
guro. onde teve início a formação da sociedade e mais de 100 mil militantes populares e indíge- movimento indígena. O Estado de Sítio que im-
do Estado brasileiro. nas, suspende as atividades programadas para a plantou no dia 22 de abril, na região de Porto Se-
Tudo terminaria em um grande ato público cole- cidade no dia 22 de abril e dedica todo o seu dia a guro, só desgastou o governo federal e mostrou,
tivo das entidades negras, populares e
do movi- atividades reprogramadas para Brasília. Este ce- para todo o mundo que o modelo político e eco-
,

mento indígena - o que seria um profundo exer- nário era o pesadelo que atormentava o "mícleo nômico atual não comporta a participação dos
cício da democracia, apropriada pelos setores duro ” do governo federal. setores fxtpubres e do movimento indígena orga-
populares. Alguns índios da Amazônia e o cacique de Coroa nizado.
Mas o governo Fernando Henrique Cardoso não Vermelha aceitaram fazer o jogo do governo, de O máximo que conseguiu foi criar uma "cabeça
entendeu assim. Desde a destruição, em 4 de abril olho nos benefícios que conseguiriam de imedia- de ponte" no movimento indígena, a partir da
de 2000, do monumento indígena em Coroa Ver- to e no futuro. Fizeram de tudo para construir o Amazônia, para construir novas investidas con-
melha. para o governo federal, tudo se transfor- "objeto do desejo " do governo federal, o Cenário tra os povos indígenas no Brasil. Da mesma for-
mou em uma ameaça à ordem estabelecida. O l. Tentaram destruir a Conferência Indígena. ma que, de resto, tentafazerem outros movimen-
general Alberto Cardoso comandou a estratégia Ameaçaram os participantes, ameaçaram o Cimi tos sociais: dividir, conquistar aliados
militar, o sr. Marcelo Cordeiro foi destacado para como entidade de apoio. Trouxeram a Funai, a “confiáveis " para o governo federal e caracteri-
cooptar os índios e separá-los dos demais movi- Polícia Militar, a Prefeitura de Santa Cruz Cabrália zar os movimentos autênticos, incluindo o MST,
mentos sociais. para dentro da Conferência Indígena. Trouxeram como "radicais" e "inimigos do diálogo e da de-
A fxirtir da entrada em campo destes dois emissá- uma jornalista de Brasília para fazer o trabalho mocracia”. Para sustentar um modelo político e
rios do poder central, o movimento indígena, o de confundir os jornalistas e atacar o Cimi. econômico baseado na violenta exclusão social,
Cimi, o movimento negro e os movimentos popu- A ordem federal era atacar a Conferência e esse o único caminho é conquistar aliados fiéis entre
lares, incluindo o MST, passaram a se confrontar grupo fez o que pôde, inclusive com o apoio de os próprios excluídos.
como “núcleo duro" do governofederal, com seus uma milícia indígena, um novo apêndice da Po- Milhares de lideranças indígenas voltaram para
estrategistas militares e dos órgãos de inteligência. lícia Militar baiana. Porfim, vieram milhares de as suas aldeias, tristes porém dignas. Também
Estes, ao que tudo indica, trabalharam com três policiais militares para terminar o trabalho sujo voltaram, cansados e dignos, os milhares de mili-
cenários possíveis. de evitar as manifestações indígenas, negras e tantes do movimento negro e dos movimentos
Cenário 1: o presidente Fernando Henrique Car- popjdares. populares. Todos eks haviam cumprido com sua
doso cumpre toda a agenda do dia 22 de abril, A brutalidade foi tanta durante a Conferência tarefa, haviam realizado seus objetivos maiores.
divulgada em âmbito nacional e internacional Indígena, como no dia 22 de abril que resultou Haviam feito um grande congraçamento na luta
.

pelo Itamaraty. Vai a Coroa Vermelha, inaugura no oposto do que desejava o grupo palaciano e coletiva, na prática. Haviam desmascarado afar-
as obras, recebe os tripulantes da Nau Capitanea seu esquema indígena: as lideranças que se reti- sa de um Estado e de um goi>erno controlados por
etc. Para tanto, era necessário a destruição da raram da Conferênciaficaram isoladas, suas pró- oligarquias, Jx>rpolíticos e por militaresfascistas,
Conferência Indígena, a expulsão do Cimi do lo- prias bases não as acompanharam. Foram des- índios, militantes negros e militantes populares
cal, o controle militar sobre os demais movimen- moralizadas. voltaram para casa plenos de razão e de futuro.
tos sociais e uma articulação forte e bem sucedi- O terror impbntado e espallyado durante todo o Embora de forma difícil e confiitiva, todos havi-
da com lideranças indígenas que fossem "orgâ- dia 22, peb general Cardoso e pela Polícia Militar am tUuio um passo decisivo em direção ao seu
nicas" e que conquistassem um controle férreo da Babia, detonou, na mídia nacional e interna- objetivo maior:a construção dos outros 500 anos
sobre o conjunto dos povos e organizações indí- cional, as comemorações oficiais dos 500 anos na sociedade brasileira. Paulo Maldos, maio/00)
(

72 500 ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


TRÉPLICA va afastar a responsabilidade pela repressão vio- ção de um grande número de índios, reunidos na
Em 18/06/00, a diretoria do Cimi respondeu às lenta praticada contra os índios no 22 de abril. Conferência Indígena, do movimento "Brasil: 500
acusações lançadas pelo documento assinado pe- Para se defender, o Cimi lançou argumentos como anos de resistência indígena, negra e popular".
las organizações indígenas (ver abaixo) em um o de está ao lado dos povos indígenas em suas 0 texto conclui que as organizações indígenas,
texto veiculado f)ela internet intitulado "As no- exigências pelo esforço real da Igreja Católica para ao assinar o documento ao lado, assumiram um
vas faces de uma guerra o resgate das dívidas para com eles. Negou o seu posicionamento político e ideológico alinhado ao
Segundo este texto, o ataque contra o Cimi fazia papel de manipulação dos índios e o recurso a Estado e ao governo brasileiro atual, instaurando
parle de uma estratégia governamental que visa- um discurso salvacionista, lembrando a aprova- com este uma relação de estreita colaboração.

AS FACES ESCURAS DO LNDIGENISMO MISSIONÁRIO COMAS MODERNAS FORMAS DE DOMINAÇÃO COLONIAL


Documento assinado pelas organizações in- na, a sua pluralidade e sua vontade política de rar estes eventos apenas através de um significa-
dígenas responde criticamente ao texto di- contribuir para o efetivo respeito dos direitos de do contestatório, era preciso incluir uma dimen-
vulgado pelo Cimi. todos os povos indígenas localizados no territó- são proposital, demonstrando ao mundo tanto os
A passagem das festividades que deteriam mar- rio nacional. nossos problemas quanto as perspectivas que se
car os 500 anos de invasão colonial, não deixou A Conferência Indígena foi idealizada na ocasião desenhavam j)ara os nossos povos.
de representar uma expectativa no sentido de que da VI Assembléia Geral da Coiab, em maio de 1998, O processo organizativo dos povos indíge-
poderia ser a oportunidade tanto fiara as autori- numa perspectiva de apresentar a visão histórica nas: A organização dos povos indígenas voltada
dades governamentais quanto para a
,
Igreja, de de todo o processo de invasão e nossas perspecti- para a participação na política brasileira iniciou-
assumirem suas responsabilidades perante o pro- 0 projeto da
vas futuras a partir desse momento. se de modo mais contundente na Amazônia, onde
cesso de dizimação e extermínio dos povos indí- marcha indígena surgiu no Fórum de Debate do as pressões e os conflitos em torno das riquezas
genas que ocorreu desde os primórdios da colo- Amazonas, do qual a Coiab e o Cimi Norte I to- naturais e da luta pela demarcação dos territóri-
nização até os dias atuais. Esse momento pode- mam parte diretamente. os indígenas representavam desafios decisivos,
ria ter sido aproveitadopara o dialogo e apoio Desde o início dos preparativos, as organizações com apoio inicial da Igreja.
concreto junto aos povos indígenas na consoli- indígenas não queriam apenas manifestar-se con- Estefoi inclusive um dos eixos prioritários traça-
dação de seus direitos. tra as comemorações, mas também queriam apro- dos na ocasião da I Assembléia nacional do Cimi
Porem, assim como no processo de colonização veitar o momento histórico para alavancar con- em 1975, promovendo a: "Autodeterminação, aju-
do país tanto o Estado como a Igreja mantiveram quistas políticas em relação aos direitos indíge- dando os povos indígenas a serem autores e des-
seus verdadeiros objetivos de controlar, dominar nas. Pareceainda não ter sido compreendido pelo tinatários de seus projetos e de sua própria
e detonar os povos indígenas. Cimi a estratégia dos povos da Amazônia, que há historia".
De um lado o Estado preparou seus festejo indife- muito tempo ultrapassou os frágeis limites da Esta concepção carrega em si o entendimento pre-
rente ao destino dos povos indígenas, e os rece- denuncia ou da contestação, prática habitual do conizado na Declaração de Barbados ( 1970) de
beu a "balas e bombas" em Coroa Vermelha, na- Cimi que optou historicamente por uma bandei- que: "ou a libertação dos índios é feita por eles
quele 22 de Abril, que simbolizou claramente o ra de luta que não incorpora a participação, a mesmos, ou não é libertação ", ressaltando a im-
tratamento dado aos índios nesses 500 anos. mudança através da própria vivência, ou pelo portância do protagonisnm dos povos indígenas
De outro lado, a momento repre-
Igreja naquele menos não a deseja para os povos indígenas. em suas lutas e processo organizai iws e de arti-
"
sentada pelo Cimi apresentava-se como "aliada Os problemas ocorridos em Brasília e no decorrer culação.
dos povos indígenas esboçando gestos de pedidos da Conferência se deram a partir do momento que As assembléias indígenas passaram a exercer,
de perdão por tantos crimes cometidos em nome as organizações da Amazônia deram-se conta da como foi observado na prój)ria avaliação dos 25
de Deus. Porém na prática tentava manipular os postura do Cimi em querer manter o controle de anos do Cimi, uma importante função na toma-
índios para se respaldar na condição de proteto- todo o processo das manifestações indígenas da de consciência dos direitos e da ajirmação ét-
ra e salvadora dos índios de modo a garantir sua quanto a sua orientação política. nico/cultural das centenas de povos indígenas,
sobrevivência político-financeira. Se foram as lideranças das organizações indíge- possibilitando através desses mecanismos a cons-
Os fatos: 0 Conselho Indígcnista Missionário - nas da Amazônia que reagiram mais do que ou- trução de suas estratégias e formas de lutas, en-
Cimi, em um documento oficial intitulado "As tras. isso se deve essencialmente a possibilidade tre as quais a constituição de organizações indí-
muitas faces de uma Guerra", de autoria do Sr. tida de acumular maior experiência neste pro- genas locais e regionais, culminando em 1989 com
Paulo Maldos, assessor da entidade, divulgou em cesso organizativo, procurando definir por conta a estruturação de uma instância de articulação
nível nacional e internacional uma versão dos própria o caminho da autonomia e dasformas de para os povos indígenas da Amazônia, através da
acontecimentos ligados aos 500 anos com mui- luta que melhor correspondem a atual realidade Coordenação das Organizações Indígenas da Ama-
tas distorções e inverdades. dos povos indígenas. zônia Brasileira - Coiab.
Entre outras acusações, o Cimi acusa lideranças Queríamos uma plena participação, uma articu- 0 movimento indígenafoi conquistado novos es-
indígenas sem apresentar nomes e provas de te- lação indígena nacional sem interferência: que- paços, assumindo a interlocução tanto com os seg-
rem sido cooptadas pelo governo para esvaziarem ríamos selar um pacto entre os povos indígenas mentos governamentais quanto fjopulares em ní-
as manifestações indígenas em Coroa Vermelha. do Brasil e reforçar o processo organizativo atra- vel nacional ou internacional. 0 debate indígena
Ocorre que tais acusações visavam somente quei- vés do Capoibjustamente para aumentar a nossa foi levada dentro dos gabinetes para discutir ques-
mar lideranças indígenas e descredibilizar as or- força política até então diluída perante o Estado. tões de terra, saúde, educação, meio ambiente,
ganizações indígenas que se posicionaram con- Queríamos aprofundar a reflexão em tomo do alternativas econômicas, etc.
tra as manobras do Cimi naquela Conferência. Estatuto das Sociedades Indígenas, em tramitação Atuou-se para que a jmrlicipação indígena dei-
0 desencadeamento dos problemas ocorridos du- no Congresso Nacional, conforme pauta original xasse de ser apenas decorativa para que possa-
rante a Conferência Indígena, muito distante do da Conferencia, na perspectiva de aproveitar esta mos assumir as nossas responsabilidades. Articu-
que foi colocado pelo Cimi, se deve a uma série oportunidade única de estarmos juntos, milhares lações, convênios foram firmados na persfiectiva
de fatores históricos que devem ser postos boje, de indígena, e podermos consolidar a nossa posi- de promover melhoria de vida fiara as populações
para compreender melhor o movimento indíge- ção perante o Governo. Não era possível configu- indígenas de todo país. Mais recentemente, vári-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL 500 ANOS 73


)

as organizações passaram a manter Convênio com dígenas. sem ter traçado claramente estratégias legitim idade para falar por si ou pelo seu povo.
a Fundação Nacional de Saúde na perspectiva de que permitissem definir uma nova relação com o A construção de um futuro viável para os
modificar o triste quadro de saúde dos povos in- movimento indígena, agarrando-se desesperada- nossos povos: Apesar dos problemas sofridos ao
dígenas. cansado de analisar os relatórios anuais mente a urna prática que, infelizmente, nesta atu- longo dos 500 anos nos mobilizamos na conquista
,

do Cimi a respeito das “violências contra os po- ai conjuntura, não está tão distante da tutela do de nossos direitos. Estamos convictos das neces-
vos indígenas "procuramos mudar o curso da his- Estado através da Fundação Nacional do índio - sidades de unir as forças de nossos povos, nossos
tória e dos acontecimentos na vida quotidiana FUNAI, tão severamente criticada pelo Cimi. lideres, nossas mulheres e crianças para construir-
das aldeias. Por assinarmos os convênios com a 0 embate estava criado, favorecendo as divergên- mosjuntos um espaço para garantir na prática o
Fundação Nacional de Saúde fomos duramente cias políticas que opuseram o Cimi e o movimen- reconhecimento de nossos direitos como povos di-
criticados pelo Cimi que não concorda que as or- to indígena, em função dessa tendência incorri- ferenciados.
ganizações indígenas atuem na prestação de ser- gível em querer ver a organização dos povos indí- Seguiremos lutando pela melhoria da qualidade
viços de saúde, alegando que esta é uma política genas a sua "imagem e semelhança ", mesmo sen- de vida das nossas comunidades de modo a obter
de terceirização.. do necessário para tal denegrir lideranças indí- melhores serviços na área da saúde, educação, a
A crise de identidade do Cimi: Com a dinâmi- genas que. por ironia do destino, destacaram-se demarcação de nossas terras, a defesa do meio
ca desse processo organizativo, o papel de justamente através da ação missionária, ou agir ambiente, o desenvolvimento auto-sustentável, a
articulador do Cimi passou progressivamente a de modo tal a promover divisões entre os povos proteção de nossos culturas, hem como a
ser assumido pelos povos indígenas, que foram indígenas. reestruturação do órgão indigenista oficial e nossa
definindo novas formas de lutas e de fortaleci- 0 Cimi continua insistindo em querer ser porta- participação em todas as instâncias que tratem
mento das nossas organizações. voz dos povos indígenas e definir o destino dos de assuntos de nossos interesses. (Brasília-
Pouco a pouco o Cimi viu definhar o seu papel índios. Isso é inadmissível. Cada indígena,perten- DF, 17/05/00)
até então protagonista na defesa dos direitos in- cendo a alguma organização ou não, é quem tem

José Severino da Silva, Capoih (Conselho de Articulação dos Povos e Organizações indígenas do Brasil)
Euclides Pereira, Coiab ( Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira)
Jerônimo Macuxi, CIR (Conselho indígena de Roraima)
Aldenicio Susana Basto, Foccit (Federação das Organizações Caciques e Comunidades Indígenas da Tribo Tikuna)
Nino Fernandes, CGTT (Conselho Geral da Tribo Tikuna
ObadiasB. Garcia CGTSM (Conselho Geral da Tribo Sateré Matvé)
,

Almir Sumi, Cunpir (Coordenação das Nações e Povos Indígenas de Rondônia)


Pedro Garcia Tariano, Poirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro)
José Ubi ratam Sompré, Coiat (Coordenação das Organizações Indígenas do Araguaia e Tocantins)
Antônio Ricardo Domingos da Costa, AI}OINME (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo)
Celia Sampaio Kaingáng, Apisc (Associação dos Professores Indígenas do Estado de Santa Catarina)
Andila Inácio Kaingáng, APBKG (Associação dos Professores Bilíngue Kaingáng e Guarani do Rio Grande do Sul)
Coaraci Gabriel - Galihi Marworno. Apio (Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque)
Orides Kaingáng, C/CSC (Conselho Indígena de Caciques do Estado de Santa Catarina)
Escrawen Sompré - Xerente, CIX (Conselho Indígena Xerente)
Genilda Kaingáng, Conami (Conselho Nacional das Mulheres Indígenas)
Megaron Tcbukaramãe Conpib (Conselho Nacional dos Povos Indígenas do
,
Brasil)

Azelene Kaingáng. Assif (Associação Nacional dos Servidores índios da FUNAI)


Clovis Maruho. Civaja (Conselho Indígena Vale dojavari)
André da Cmz Camheha.UNI -Tefé (União das Nações Indígenas de Tefé)
Francisco Avelino, UNl-Acre (União das Nações Indígenas do Acre)
Agnelo Temríté Wadzatsé, Aspa (Associação Pariwaun A‘uwe)
Gilberto Pereira dos Santos, CIM (Conselho Indígena Mura)
Pirmino Alfredo da Silva, Apir (Associação dos Povos Indígenas de Roraima)
Agenor Palmari, Opimp (Organizaçao dos Povos Indígenas do Médio Purus)

74 500 ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^d=JZ* Acervo
-//£ ISA

As Artes Indígenas
na Mostra do Redescobrimento

Curador-associado do
Luís Donisete Benzi Grupioni
Módulo Artes Indígenas

EXPOSIÇÃO, QUE INCLUÍA PARTICIPAÇÃO


DE REPRESENTANTES DOS POVOS INDÍGENAS,
FOI UM SUCESSO DE PÚBLICO

De 23 de abril a 7 de setembro de 2000 esteve aberta ao público a


Mostra do Redescobrimento Brasil +500, que ocupou os três prin-
cipais edifícios do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Promovi-
da pela Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, a Mostra consti-
tuiu-se num amplo painel sobre as artes no Brasil, da pré-história
aos dias de hoje. Dividida em 13 módulos, apresentando cerca de
15 mil obras, foi visitada por mais de 1.800.000 pessoas.

O Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, onde até há pouco tempo fun-

cionava o Museu da Aeronáutica e o Museu do Folclore, foi refor-

mado para abrigar os módulos Arqueologia e Artes Indígenas da

Mostra do Redescobrimento. Figurando entre os preferidos do


grande público, o módulo de Artes Indígenas apresentou cerca de
500 objetos indígenas provenientes de museus europeus e brasi-

leiros e de colecionadores particulares. Da Europa vieram peças


dos museus de Portugal (Museu Antropológico da Universidade
de Coimbra e Academia das Ciências de Lisboa), Bélgica (Musées
Royaux d .Art et dHistoire), Itália (Museo Nazionale Preistorico

Etnográfico “Luigi Pigorini"), Alemanha (Museum für Võlkerkunde-


Berlim e Staatliches Museum für Vólkerkunde - Dresden e
Miinchen), Áustria (Museum für Vólkerkunde - Wien) e Dinamar-

ca (Nationalmuseet). Do Brasil, foram apresentados objetos do


Museu Nacional/t TRJ. Museu Paraense Emílio Goeldi/CNPq, Mu-
seu do Índio/Funai e Museu de .Arqueologia e Etnologia/USP.

PROPOSTA CONCEITUAL
Com curadoria de Lúcia Hussak van Velthem (Museu Paraense
Emílio Goeldi) e José Antonio Fernandes Dias Braga (Universida-
de de Lisboa), o módulo Artes Indígenas procurou inovar a forma
de apresentação dos artefatos indígenas. Recusando os modelos

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL 500 ANOS 75


consagrados de exposições etnográficas, onde os objetos são apre- os no Brasil. Ali foram expostas obras coletadas por Natterer
sentados por etnias ou reunidos por critérios morfológico-funcio- (1817), Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792), Casper
nais, o projeto conceituai da mostra centrou a organização dos (1848), Guido Boggiani (1901), Frei Gil de Vilanova (1902),
objetos segundo as atividades e os efeitos que estes produzem. Thcodor Koch-Grunberg (1905), Comissão Rondon (1923),
Esta opção permitiu reunir objetos de diferentes etnias, datas, for- Manoel Cruz (1939), Lévi-Strauss (1939), Curt Nimuendajú
matos e funções em blocos, nos quais a mostra foi dividida. (1941), Charles Wagley (1941), Harald Schultz (1950), Darcy
Ribeiro (1950), Expedito Amaud (1964), Eduardo Galvão (1966),
Dois enfoques principais marcaram a organização da exposição.
Protásio Frikel (1966), Thomas Gregor (1974), Wiliiam Crocker
0 primeiro deles visava problematizar a apresentação de objetos
indígenas como objetos artísticos. Partia-se da indagação de como (1975), Berta Ribeiro (1978), entre vários outros.

tratar objetos indígenas como obras de arte, uma vez que na sua A mostra Artes Indígenas reumu pela primeira vez, num mesmo
origem eles não foram feitos, nem pensados enquanto tal. Se no ambiente de exposição, objetos de diferentes museus que nunca
mundo ocidental, a arte é uma esfera distinta da vida, nas socieda- haviam sido exibidos juntos. Teve o mérito de trazer de volta para
des indígenas tal automatização não existe. Objetos de uso cotidi- o Brasil objetos que desde que foram coletados e depositados em
ano e ritual se equivalem e se distanciam pelos múltiplos significa- museus europeus nunca haviam retomado para o país. Este foi o
dos que carregam para aqueles que os produzem e os possuem. O caso do mantelete emplumado Túpinambá, coletado provavelmente
segundo enfoque procurou cercar os objetos pelos efeitos que eles na primeira metade do século XVII, que foi levado para a Holanda
produzem, com quatro eixos estruturantes: construir avida cotidi- por Maurício de Nassan, em 1664, e depois oferecido ao Rei da
ana, fabricar a imagem de si, combater os inimigos e criar realida- Dinamarca, sendo integrado ao Gabinete Real de Curiosidades até
des paralelas. Foram apresentados artelatos utilizados no preparo entrar para a coleção do Nationahnuseet.
e no consumo de alimentos, na ornamentação e na identificação

das pessoas, na guerra e nos rituais. Um último bloco, denomina- PARTICIPAÇÃO INDÍGENA
do “devorar a cultura dos brancos" cumpriu a função de mostrar
a apropriação de técnicas e motivos ocidentais nas produções in-
Composta majoritariamente por artefatos guardados em museus
dígenas contemporâneas, sejam elas obras voltadas para o merca-
brasileiros e estrangeiros, o módulo Artes Indígenas não esteve

do de arte, sejam vídeos dirigidos por videomakers indígenas. restrito a este universo. Objetos contemporâneos foram adquiri-
dos exclusivamente para serem exibidos ali, de modo a atestar a

vitalidade e a contemporaneidade das produções artísticas indíge-


OBRAS nas. Alguns artefatos indígenas foram expostos enquanto instala-

ções artísticas, procurando explorar novas linguagens e significa-


Nenhuma exposição havia apresentado tão vasto panorama das
dos. Este foi o caso da confecção de uma armadilha de pesca
produções artísticas indígenas, quer enfoquemos o módulo Artes
Indígenas pela quantidade e origem das peças, quer pela
baniwa, de um cesto funerário e roda de buriti bororo e da sepul-
tura xinguana, montados no espaço da exposição por represen-
abrangência das etnias representadas e pela temporalidade das
tantes desses povos.
obras expostas. Mais de cem povos, extintos e atuais, estiveram
representados na exposição, De artefatos colelados no século XVII O interesse e a projeção alcançados pelas artes indígenas na mídia
a artefatos produzidos especificamente para serem exibidos na e junto ao grande público foi um fato surpreendente. No imbróglio
mostra, este módulo apresentou objetos coletados por viajantes e que marcou as comemorações oficiais dos 500 anos do Brasil,

etnólogos que marcaram o conhecimento antropológico dos índi- esta exposição foi uma honrosa exceção, (maio, 2000)

76 500 ANOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo
-V/A ISA

DEMOGRAFIA E LÍNGUAS
Censos Demográficos e "os índios":
Dificuldades para Reconhecer
e Contar

Antropóloga/iSA
Marta Azevedo

PROBLEMAS E PERSPECTIVAS PARA Os métodos antropológicos, ou o uso combinado de diferentes

0 APRIMORAMENTO DAS FONTES DE métodos, permitem analisar com profundidade as condições de

vida dos grupos indígenas nos contextos em que vivem, suas rela-
DADOS DEMOGRÁFICOS PARA AS
ções com a população do entorno, explicando assim alguns com-
POPULAÇÕES INDÍGENAS
portamentos demográficos específicos.

As estimativas sobre os contingentes populacionais dos


Estudar as sociedades indígenas do ponto de vista demográfico
povos que habitavam a região que agora denominamos
envolve dificuldades de duas origens distintas: de um lado a falta
Brasil var iam mais de acordo com os interesses políticos de seus
de dados confiáveis, na maioria dos casos sc consegue uma cifra
autores do que com relação à metodologia adotada. Como diz o
de população total por uma determinada área geográfica, sem ca-
historiador John Monteiro (2) “...qualquer estimativa da popula-
racterização por sexo, idade, número de mortes por idade e nú-
ção global de 1.500 terá de levar em conta fatores históricos, tais
mero de filhos nascidos vivos por idade da mãe, para citar as prin-
como efeitos diferenciados das doenças sobre povos distintos e os
cipais variáveis demográficas. Por outro lado a metodologia da
movimentos espaciais de grupos indígenas em decorrência do con-
análise demográfica disponível é adequada para populações de
tato, entre outros.” Alguns autores estimam a população indígena
grande porte, o que não é o caso da maior parte dos povos indíge-
no século XVI entre 2 e 4 milhões de pessoas, pertencentes a mais
nas residentes no Brasil de hoje. A questão gerada pelo segundo
de 1.000 povos diferentes; Darcy Ribeiro (3) afirma que desapa-
caso pode ser contornada com um acúmulo de dados históricos
receram mais de 80 povos indígenas somenle na primeira metade
ou com processos de correção e adequação estatística que ainda
do século XX, sendo que a população total teria diminuído, de
não foram muito testados ou usados para o caso brasileiro.
acordo com esse autor, de 1.000,000 para 200.000 pessoas. O
A inexistência de fontes de dados confiáveis para as populações
extermínio de muitos povos indígenas no Brasil por conflitos ar-
indígenas não é um problema isolado do Brasil. Na publicação
mados, as epidemias, a desorganização social e cultural são pro-
“Estúdios Sociodemograficos de Pueblos Indígenas” (1) conclu-
cessos de depopulação que não podem ser tratados sem uma aná-
sões do seminário realizado no Chile em 1993, algumas cons- uma dessas
lise das características internas e da história de cada
tatações foram feitas, comparando-se estudos sobre as populações uma mesma
sociedades. Estudos sobre os diferentes impactos que
autóctones de diferentes países latino-americanos: existe pouca
epidemia teve sobre diferentes povos ainda estão por surgir; as
ou nenhuma possibilidade de comparação entre os diferentes cen-
relações entre esses povos e diferentes agências indigenistas ou
sos demográficos nacionais, devido à disparidade de critérios de
frentes de colonização e seus impactos na dinâmica demográfica
definição da categoria “índio”. Apesar disso, alguns avanços
de suas populações também não foram ainda estudadas.
metodológicos nos censos específicos indígenas, como é o caso

do censo da Colômbia de 1993, e algumas análises que usam como A partir de análises demográficas e antropológicas de populações

referência os censos demográficos e outros tipos de registros, como autóctones de diferentes regiões colonizadas pelos europeus sabe-

cálculos de fecundidade baseados no método do filho tido no ano se que após um longo período de perdas populacionais causadas

anterior ao censo, são instrumentos úteis para gerar informações por guerras, epidemias e pelos processos de escravização, os po-
específicas sobre populações indígenas assim como nos induzem vos indígenas iniciam um processo de recuperação demográfica,

a realizar futuras investigações. muitas vezes consciente. Alguns estudos exemplares demonstram

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1986/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL DEMOGRAflA E LÍNGUAS 79


•^SL^ Acervo
_Y/^ ISA i ciência, de recuperação e, portanto, crescimento acelerado sados enquanto etnias diferenciadas (existem hoje cerca de 200
dessas populações, quando se tem acesso a fontes de dados com povos falando línguas diferentes, no Brasil), o quesito "cor dapele”
séries históricas. delimita de maneira precária a existência de índios. O censo de
1991 foi o primeiro a colocar a variável indígena como item espe-
cífico no questionário da amostra ao quesito "cor".
A POPULAÇÃO INDÍGENA CRESCE relativo É,

portanto, nesse quesito que os índios vão estar enquanto popula-


EM RITMO MAIS ACELERADO
ção diferenciada; em outros países, como os EUA, é 0 quesito “race”
Em estimativas feitas por diversos estudiosos, antropólogos, que pesquisa essas populações (no questionário do censo de 1990
demógrafos ou profissionais de saúde, se constata que a maioria estão classificados os povos autóctones em 3 grupos: índios ame-
dos povos indígenas tem crescido, em média, 3,5% ao ano, muito ricanos - escreve-se por extenso 0 grupo a que pertence; eskimos;
mais do que a média de 1,6% estimada para o período de 1996 a aleutas; sendo que a definição é feita pelo recenseado e não pelo
2000 para a população brasileira em gerai. Estudos sobre a transi- recenseador) . Desde os primeiros censos, onde os índios eram
ção demográfica de diferentes povos do mundo inteiro dão conta contados como pardos, havia sempre a ressalva (que se manteve
de que depois da queda da mortalidade, acentuadamente da mor- no censo de 91) de que só seriam recenseados os índios que
talidade infantil, devida à transição epidemiológica que ocorre com habitam postos da FUNAI ou missões religiosas, sendo que os
a vacinação dessas populações e com o atendimento mais eficaz e aborígenes qae vivem em tribos arredias ao contato" não fo-
moderno à sua saúde, existe um incremento populacional durante ram nunca recenseadas. Esse tipo de classificação de Indlanidade,
um certo período, que varia de acordo com componentes estrutu- que toma como critério 0 tempo de contato com a sociedade não
rais de cada sociedade. Muitos autores apontam as variações no índia, não existe mais nem em outros países, nem no Brasil (desde
ritmo e perfis da transição demográfica de cada sociedade como a Constituição de 1988). Pela última constituição todos os povos
produtos de seus sistemas econômicos, e alguns estudos já foram indígenas brasileiros são cidadãos, e portanto recenseáveis. No

realizados apontando componentes das estruturas sociais, inclu- México se pesquisa esses povos autóctones nos censos através do
indo modelos de casamento e composição familiar, como quesito língua falada (não estrangeira), prevalecendo assim um
determinantes dessa dinâmica. Após esse período de incremento critério linguístico e não racial e nem de cor da pele.
populacional começaa queda dos níveis de fecundidade, ou seja a
Apesar disso é possível pesquisar as populações indígenas nos cen-
diminuição do número médio de filhos por mulher. Os estudiosos
sos e comparar esses dados com os de registros vitais, coletados a
desse tema apontam sem dúvida a urbanização e mudança de status
partir das certidões dc nascimentos e óbitos, obrigatórias em todo
feminino nas sociedades, como variáveis importantes para essa
o país. Tomando-se o município como unidade territorial para essa
queda. O perfil demográfico de países europeus hoje em dia de-
pesquisa pode-se inferir alguns tipos de contagens e característi-
monstram que com a diminuição da mortalidade e queda da
cas. É possível cruzar as informações do quesito cor, com religião,
fecundidade passa a existir uma diminuição acentuada no ritmo
língua (censo 1940) residentes e natos
,
no município. Além disso
de crescimento, até o que se tem chamado de suicídio demográfico,
tem-se a informação de domicílios rústicos (entre os quais estari-
quando os níveis de fecundidade de algumas populações ficam
am os indígenas) Por exemplo, no censo de
. 1940, para o municí-
abíiixo do nível da reposição.
pio de São Gabriel da Cachoeira/ AM (que não sofreu divisões des-
A questão que se coloca hoje em dia para os estudos demográficos de essa época):
de populações indígenas no Brasil é se esses povos estão em fase
Populaçao total Brancos Pretos Amarelos Pardos
de crescimento acelerado devido à queda da mortalidade provocada
pela melhoria ao atendimento da saúde, mas ainda com a fecun- 13-182 1,011 68 8 12.043
didade estando em níveis muito superiores aos da população não
indígena, ou se esse crescimento é produto realmente de uma re-
Com o objetivo de conhecer melhor as características sócio-
demográficas dos imigrantes (alemães, italianos e japoneses) que
cuperação demográfica consciente, ou seja, que as sociedades têm
a percepção de que perderam população em um período de sua aqui chegavam, o censo de 1940 pesquisou também a informação
história recente e estão agora tentanto recuperar essa população.
sobre línguas faladas da população. Os resultados desse censo
permitem verificar a incidência de línguas nativas faladas por uma
população bastante significativa principalmente nos estados do
OS ÍNDIOS E OS CENSOS OFICIAIS
norte, apesar de não terem sido recenseados os índios sem conta-
As características demográficas das populações indígenas brasi- to ou com pouco contato com as frentes de colonização. Porém,
leiras nunca foram alvo de interesse específico dos censos análises desse censo sobre esse fato não foram até 0 momento
demográficos (não comentarei aqui as PNADs - pesquisas nacio- desenvolvidas pois 0 interesse eram as outras línguas “estrangei-
nais por amostra de domicílios, também feitas pelo IBGE -
,
que ras” faladas e não as línguas nativas. A partir desse censo pode-se
não pesquisaram os povos indígenas, talvez porque esses não fos- cruzar a informação cor da pele -parda - com 0 quesito língua

sem considerados como mão de obra possível, ou relevantes falada, tendo-se distinguido a língua guarani e outras línguas
economicamene para o país) . Embora não tenham sido pesqui- indígenas para pessoas de 5 anos e +. Obteve-se para 0 Brasil

80 DEMOGRAFIA E LÍNGUAS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1SS6/2000 • INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


é

população de 46.208 pessoas que falavam guarani ou são dos resultados devido ao tamanho pequeno da maior parte
outra língua aborígene; não existem dados por município; no esta- desses povos. Foram calculados os resultados para todas as unida-
do do Amazonas a população é de 10.381 homens e 9.182 mulhe- des da federação, não só aqueies onde estão localizadas Tis, para
res (de 5 anos e +). É possível a partir disso fazer inferências, analisar os dados por levando-se em conta aqueles índios que se

comparando-se com outros levantamentos específicos do SPI (Ser- encontram em áreas urbanas. A qualidade das informações obti-

viço de Proteção ao índio) e posteriormente FUNAI. Em 1960 e 80 das é bastante boa, se levarmos em conta a metodologia adotada.
o censo levanta apenas o quesito cor, sendo que os índios foram A população indígena total contabilizada foi dc 306.245, algo pró-

incluídos em pardos; em 1970 o quesito cor da pele não constou ximo dos totais veiculados pelas outras fontes indigenístas para
da pesquisa. essa mesma data, Na tabela abaixo estão os resultados da popula-
ção indígena dos estados da Amazônia legal, por fonte, incluindo
Várias questões decorrem das definições dos conceitos usados nos
os resultados do IBGE, dados veiculados pela FUNAI, setor de saú-
questionários dos censos e da sua metodologia de coleta de da-
dos. Muitos trabalhos já comentaram e analisaram a escolha polí-
de, em 1996, e dados veiculados pelo ISA em sua publicação "Po-
vos Indígenas no Brasil - 1991/1995”. Pode-se observar, porém,
tica dos censos brasileiros de identificar as ditas “minorias étni-
que alguns resultados por estado estão aquém daqueles obtidos
cas” a partir do quesito cor da pele, e não escolher por exemplo
pelas outras fontes, por exemplo Roraima, Acre, Mato Grosso,
finguas taladas (como é o caso do censo mexicano), ou identifica-
Rondônia e Amapá. Já para outros estados 0 oposto ocorreu; a
ção étnica por povo (como é o caso de censos como o americano
população indígena contada pelo censo foi bastante superior àquela
e o canadense), ou mesmo realizar censos especiais para essas
populações ao mesmo tempo que o censo demográfico nacional
veiculada pelas outras fontes, como por exemplo São Paulo, Rio
de jíuieiro e Espírito Santo. Nesses últimos a população é grande
vai a campo (como é o caso de países como a Colômbia, Venezuela
nas áreas urbanas, portanto a categoria indígena deve ser entendi-
e Paraguai) A variável ‘pardo’, no quesito 'cor da pele
. residu-
da e analisada de maneira diferente: são pessoas que se auto-iden-
al, isso quer dizer que todos os caboclos no norte, os mulatos,
tificaram enquanto indígenas, que estão dispersas pelos grandes
mestiços em geral são classificados como pardos, sem possibili-
centros urbanos, Para analisarmos tal fenômeno de (ressur-
dades de desagregação para análises mais detalhadas. A introdu-
gimento de índios urbanos (ou descendentes de índios) seria pre-
ção da variável ‘indígena’, no censo de 1991, no referido quesito
também pode ser discutida na medida em que não é cor da pele,
ciso uma pesquisa qualitativa detalhada, qual a motivação que le-

vou essa população a se identificar como índio, que tipo de carac-


assim como pardo, mas uma categoria genérica, instituída pela

colonização portuguesa para identificar todos os povos nativos que


terística foi tomada em conta na hora dessa identificação e assim
por diante.
aqui habitavam.

Os resultados obtidos para a população indígena contabilizados


TABELA COMPARATIVA DE LEVANTAMENTOS DA
por esse censo de 991 precisam ser analisados levando-se em conta
POPULAÇÃO INDÍGENA DAS UFS DA AMAZÔNIA LEGAL
a metodologia da coleta de dados. O quesito cor da pele encontra-
se no questionário da amostra; os censos brasileiros possuem dois UF ISA FUNAI IBGE
tipos de questionário: um mais geral onde são pesquisadas carac-
Mato Grosso 18.450 21.172 16.548
terísticas gerais da população, como idade e sexo, e incide sobre o
Rondônia 4.012 6.923 4.135
universo populacional, outro onde são pesquisadas variáveis mais
específicas como número de filhos, tamanho e tipo de famílias, Acre 9.107 9.489 4.748

níveis de educação, níveis de renda, tipos de profissão etc., que Amazonas 57.901 65.433 67.882
permitem análises sobre as características sócio-demográficas da
Roraima 32.771 31.265 23.422
população. O cálculo da amostra é feito de maneira estatística com
Pará 10.563 18.381 16.134
base nas características e nas projeções da população obtidas por
pesquisas anteriores do IBGE. A amostra do censo brasileiro é Amapá 3.859 4.723 3.244

considerada bastante representativa do universo populacional. O Maranhão 12.859 13.768 15.671


problema para a população indígena é que além de não se possuir
Tocantins 4.482 4.417 5-049
pesquisas anteriores sobre seu tamanho e características essa po-
Total 154.004 175.571 156.833
pulação é fragmentada em pequenas (com relação ao resto da po-
pulação) unidades, o que dificulta a sua expansão e generalização
dos resultados, tendo-se como base áreas geográficas pequenas.
A partir desses resultados preliminares o que se espera agora é
Para obtermos os dados sobre cada etnia a partir dessa variável que tanto antropólogos quanto demógrafos comecem a se interes-
seria preciso um trabalho meticuloso de desagregar os dados da sar por realizar análises demográfico-antropológicas dessas po-

amostra por município e depois por setor censitário, e verificar pulações. Muitos cálculos podem ser feitos com os dados do cen-
para cada TI (consideradas setores censitários especiais) qual a so, apesar de todas as limitações apontadas, e, considerando-se
população e suas características, o que reduziria o grau de preci- que 0 próximo censo 2000 continuará a contar essa população, é

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL $996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL DEMOGRAFIA E LÍNGUAS 81


a4/?í*Acervo
,

_//£ ISA divo que se realize um debate sobre as diferentes fontes de QUESTÕES POLÍTICAS E ANTROPOLÓGICAS:
dados e suas qualidades e potencialidades para análises.
DESAFIOS PARA O FUTURO
Com relação aos censos oficiais do IBGE, poderíamos recomen-
FONTES ALTERNATIVAS DE DADOS dar que se melhorasse a metodologia de coleta de dados fazendo

Outras fontes de dados sobre a população indígena são geradas um treinamento específico para aqueles recenseadores que fos-

por instituições como a Fundação Nacional de Saúde e Instituto sem trabalhar nas Tis, consideradas setores censitários especiais

Socioambiental, cada uma delas com uma metodologia e objetivos e ainda que se fizesse um questionário especial para as popula-

diferentes. O ISA tem efetuado um acompanhamento preciso do ções indígenas, com a colaboração de profissionais especializados,
processo de identificação e demarcação das terras indígenas, para que possa ser aplicado junto com o censo, para que pudéssemos
tal trabalho é necessário fazer estimativas do contigente realmente começar a ter dados comparáveis e ao mesmo tempo
populacional dos povos que habitam essas terras. Essas estimati- específicos para as políticas públicas direcionadas aos povos indí-

vas são feitas apenas com o objetivo de informar o processo de genas. Será imperativo também repensar o critério operativo de

demarcação e acompanhar a evolução da população total dc cada identificar os povos indígenas, não como variável do quesito cor
TI ou de cada etnia. Para isso é necessário usar diferentes fontes da pele, mas como totalidades sociais distintas, a exemplo do que
de dados, uma vez que a instituição não tem como objetivo fazer vem ocorrendo com os censos norte-americanos ou canadenses.

recenseamentos ou análises demográficas, o que se toma “um ver-


Para outras instituições, como Funasa, que geram informações
dadeiro quebra-cabeça”, como diz Beto Ricardo (4).
populacionais sobre esses povos passíveis de análises sobre sua

A Fundação Nacional de Saúde, atual Funasa, a partir de 1991, dinâmica demográfica, recomendaríamos repensar o critério geo-
vem procurando efetuar cofetas de dados populacionais com gráfico. incluindo a base geográfica das Tis, municípios, e áreas
enfoque para os epidemiológicos, para a melhoria da oferta dos urbanas, devido à cada vez maior presença de índios nas cidades e

serviços de saúde. A partir desse ano, com a estruturação dos Dis- considerando que. já se sabe que os índios ocupam bairros especí-
tritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena, espera-se que essa ficos delimitados, o que gera uma rede que opera e facilita esse

atividade de coleta e registros de dados epidemiológicos melhore movimento migratório e relações sociais com suas comunidades

consideravelmente para o Brasil como um todo. de origem.

A Lei 6001 de 1973, Estatuto do índio, em seu capítulo III, artigo Recomenda-se, finalmente, a realização de censos indígenas, inte-

12, postula que os registros vitais, ou seja de nascimentos e óbitos grando ou complementando os censos globais, elaborados com
e casamentos civis de índios ‘não integrados’ serão efetuados pelo ampla participação das comunidades indígenas em todas as suas

órgão de assistência ao índio, ou seja pela FUNAI. Portanto essa fases (desde a elaboração do instrumento de coleta de dados) em
seria uma fonte de dados valiosa para se conhecer os dados das convênios com organismos que a elas prestam assistência técnica
populações indígenas, mas na maior parte dos casos, os postos ou econômica. (dezembro 2000) ,

indígenas não estão equipados com a infra-estrutura necessária

para essa atividade, ficando assim bastante comprometido o uso


NOTAS
dessa fonte de dados. Apesar disso a FUNAI através de seu setor de
acompanhamento à demarcação de terras e também através do (1) Publicação realizada com o apoio das instituições: Celade, C1DOB, KNUAP,
ICI, 1993-
setor de assistência à saúde, tem efetuado levantamentos
populacionais bastante abrangentes, embora sem muitas variáveis (2) Jonh Monteiro: “A Dança dos Números’’ in Tempo e Presença, ano i(i. n.

para se poder analisar os diferentes componentes demográficos. 273, 1994.

(3) Darcy Ribeiro: “Culturas e Línguas Indígenas do Brasil'', 1937. in Educação


A igreja católica, desde a fundação do Conselho Indigenista Missi-
e Ciências Sociais
onário em 1973, vem também efetuando levantamentos
(4) Beto Ricardo: “A soclodiversldade nativa contemporânea no Brasil” in Po-
populacionais dos povos indígenas onde possui bases missionárias
vos indígenas no Brasil - 1991/1995.
e atividades indigenistas. O Cimi alertou para o aumento do con-
(5) Eduardo Viveiros de Castro: “Araweté -o povo do Ipixuna" - Cedi, 1992
tingente populacional dessas populações já no início da década de
1980, tendo feito um levantamento bastante amplo em ditérentes (6) Maria A zevedo, Márcia Pivatto c Isahella Carneiro: “Análise demográfica de

regiões do Brasil, apesar de não possuir rendimento para análises duas populações indígenas no Brasil” - X Encontro de Estudos Populacionais,

1996.
demográficas, já que não são pesquisadas as variáveis como ida-

de, sexo, nascimentos e mortes em um mesmo período de tempo


para diferentes povos.

82 DEMOGRAFIA E LÍNGUAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ENQUANTO AS INSTITUIÇÕES OFICIAIS NÃO GERAM DADOS
Estudos de caso realizado por antropólogos registram os eventos vi- TABELA 1 e 2: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL
tais de uma determinada população durante um período grande de Enatvenê Waiãpi
tempo o que permite algumas análises sobre sua dinâmica
,

Ano Masc. Fem. Total Ano Masc. Fem. Total


populacional. Esse é o caso, por exemplo, do trabalho elaborado so-
1985 75 82 157 1985 159 149 308
bre osAraweté, de Eduardo Viveiros de Castro. Na publicação de seu
livro (5) consta um apêndice com os dados populaciomiis registrados 1987 88 89 177 1987 175 168 343
por indigenistas ou outros desde o tempo do contato com esses índi- 1989 94 97 191 1989 190 184 374
os em 1976. 0 registros permitem verificar um aumento populacional 1991 108 107 215 1991 206 200 406
devido à diminuição da mortalidade, notadamente a infantil, e a 1993 114 124 238 1993 228 216 444
um ligeiro aumento da natalidade, que ainda teria que ser melhor
1995 128 130 258 1995 239 222 461
demonstrada pela continuação da análise. 0 que chama atenção é a
último quadro, onde o autor tabula os dados dos óbitos pré contato a
partir das categorias nativas de causa mortis: doenças; inimigos (de-
GRÁFICO 1 E 2: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO
sagregado por cada povo com quem os Araweté mantinham guer- Enatcenê
ras), onde estão a maior proporção de mortos e/ou pessoas raptadas
ou desaparecidas; espíritos e acidentes. Essa ' demografia enrica' per-
mitiria aos índios gerenciar algumas políticas próprias incorporan-
do técnicas demográficas ocidentais.

Em um estudo sobre a dinâmica demográfica de dois povos indíge-


nas - Waiàpi e Enawenê-nawê - procurei demonstrar como se pode-
ria conhecer os diferentes perfis e dinâmicas dessas populações au-
tóctones se tivéssemos, como é o caso dessas duas sociedades, séries
históricas de dados sobre nascimentos, mortes, casamentos e migra-

como póster para X Encontro de Estu


ção. Esse estudo foi publicado -

dos Populacionais da Abep (6), em 1996, e teve como base os dados


coletados para população Waiàpi pela Dra. Dominique Gallois e Flo-
ra Dias Cabalzar; e para a população Enawenê-Nawê os dados
coletados pela equipe da Opan que então trabalhava com esses povos.

Esses povos tiveram contato relativamente recente com a sociedade


envolvente, por volta da década de 70, e ambos contam com assis-
tência médica desde os anos 80. A série de dados dos eventos vitais
perm ite levantar algumas hipóteses sobre ofuturo dessas populações
no que tange ao seu crescimento populacional.

Quanto à evolução da população total as tabelas I e2e gráficos l e 2


mostram que ambas as populações demonstram um crescimento a par-
tir de 1985, o que se confimut /tela evolução do número de nascimentos,
possivelmente não só causado pelo aumento do número absoluto, mas
também devido à diminuição da mortalidade infantil, proporcionado
pelos programas de vacinação com que ambos los povos contam.

Com relação à parturiçâo o número médio de filhos por mulher é 4,


considerando o total da população nos diferentes anos, observado
pela média e mediana em ambos os casos.
A parturiçâo tem início nafaixa etária de 10 a 14. sendo que a maior
proporção de nascimentos ocorre nafaixa etária dos 15 aos 19, para

ambas as populações. Entre os Waiàpi, se confirma a idade mais jovem


ao ter filhos, a proporção de mulheres com 10 a 14 anos tendo filhos é muitos filhos (10, como número ideal). Para ambos os povos o fato
um pouco maior do que entre os Enawenê-Nawê; Com relação ao inter- de terem sofridos graves perdas populacionais anteriores ao contato
valo intergenésico. a média e mediana para ambas as populações fica parece estimular o desejo de crescimento, de formas diferentes.
em 3 anos.
Esse exemplo de estudo demográfico preliminar procura mostrar, no
Na concepção waiàpi sua população deve crescer ainda mais para âmbito deste artigo, os possíveis rendimentos para estudos acadêmi-
ocuparem toda a extensão de seu território, eles dizem que como cos antropológicos e demográficos, além de outros estudos impor-
antes morreram muitos waiãpi agora devem novamente serem mui- tantes como análises sobre a interface da dinâmica populacional e a
tos. Para os Enawenê-Nawê, parece ser que também têm consciência exploração de recursos naturais, bem como para o planejamento de
de seu crescimento populacional, dizem que as mulheres devem ter políticas públicas vollatlas para essas populações.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL DEMOGRAFIA E LÍNGUAS 63


0 que se Sabe Sobre as Línguas
Indígenas no Brasil

Lingüista e Antropóloga,
Bruna Franchetto
Museu Nacional/ UFRJ - CNPq

DEPOIS DE 500 ANOS, 85% DAS LÍNGUAS entre dialetos e bnguas, tarefa nada simples, dadas as dificuldades

INDÍGENAS FORAM EXTINTAS. E DAS 180 de estabelecer fronteiras claras; nesse campo, entram em jogo,

além de nossa ignorância propriamente Üngüística, fatores ideoló-


EXISTENTES HOJE, A MÉDIA DE FALANTES
gicos e políticos, intentos e externos aos povos indígenas.
POR LÍNGUA É MENOS DE 200 PESSOAS
Michael Krauss lançou uma alerta para o mundo quando afirmou,

com base em rigoroso levantamento, que, no século que está inici-


Números e porcentagens podem falar de modo mais contundente
ando, três mil das seis mil línguas existentes no mundo desapare-
mesmo quando se fala em línguas indígenas no Brasil, um País,

ainda, mullilíngüe.

No contexto sulamericano, o Brasil é o País com a maior densida- O pesquisador Willem Adelaar apresentou, em 1991, o seguinte qua-
de linguística, ou seja diversidade genética, e também uma das dro para a América do Sul m :

mais baixas concentrações de população por língua. São cerca de


180 línguas, das quais a grande maioria se concentra na região País .V" de línguas nativas N° de falantes

amazônica, para uma população hoje estimada em 350 mil pesso- Argentina 14-23 169.432 a 190.732
as, 215 etnias. Essas línguas se distribuem em 41 famílias, dois
Bolívia 35 2.786.512 a 4.848.607
troncos, uma dezena de línguas isoladas, conforme Aryon
Brasil 170-180 155.000 a 270.000
Rodrigues™. O número de falantes vai de um máximo de 20 mil/
dez mil (Guarani, Tikuna, Terena, Macuxi, Kaingang) aos dedos Chile 6 220.053 a 420.055

de uma mão, quando não resta um único e último falante; mas a Colômbia 60 a 78 194.589 a 235.960
média é de menos de 200 falantes por língua. O número total de
Equador 12-23 642. 109 a 2.275.552
línguas deverá se alterar com a aumento de descrições de novas
Unguas ou de línguas ainda parcialmente documentadas. Guiana Francesa 6 1.650 a 2.600

Guiana 10 17.000 a 27.840


Nos anos 80, pesquisadores do Museu Goeldi encontraram os dois
últimos falantes de Puruborá e redescobriram o Kiijubim; em 1987, Paraguai 14-19 33-170 a 49.796

o Zo'e ingressou na fanvflia tupi-guarani; em 1 995, foi identificado Peru 50 a 84 4.724.307 a 4.831.220
um grupo arredio como sendo falante do até então desconhecido
4.600-4.950
Suriname 5
Canoê. Pierre e Françoise Grenand listam 52 grupos amazônicos
Venezuela 38 52.050 a 145.230
ainda sem contato e cujas línguas podem revelar novos agrupa-

mentos genéticos ou novos acréscimos a famílias ou troncos já


Coletle Grinemld calcula o número total de línguas na América do
estabelecidos As classificações linguísticas sofrem constantes
Sulem mais de 400, maior do que lodo o resto das Américas, com
modificações na medida em que cresce o número de descrições,
uma surprendente varieéule genética e número de línguas isoladas,
de reexames de descrições ou de dados já disponíveis, do trabalho embora não tão alto como em outras regiões do mundo, como por
de comparação, o que permite rever hipóteses sobre a pré-histó- exemplo, as 760 línguas de Papua Nova Guiné ou as 850 atualmente
ria e a história indígenas. Números e classificações poderão ainda em pleno uso na índia. A variedade genética sulamericana (118fa-
sofrer modificações na medida em que se esclareçam diferenças mílias), contudo, é comparável somente à da Nova Guiné ®.

84 DEMOGRAFIA E LÍNGUAS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^LjT^ Acervo
//\C I SA
cerão e 2.400 estarão perto da extinção
(i)
. Apenas 600, ou seja, É a grande diversidade que toma a perda irreversível. Para os lin-

10%, se encontram seguras, a salvo; no próximo século, diz Ken giiistas, essa perda significa não conseguir reconstruir a pré-histó-

Hale, a categoria “língua” incluirá, somente, aquelas faladas por, ria lingiiística e determinar a natureza, o leque e os limites das
no mínimo, cem mil pessoas
ÍS)
Isso significa que 90%
. das línguas possibilidades linguísticas humanas, tanto em termos de estrutura
do planeta está em menos 20% - ou talvez 50% - das
perigo; pelo como em termos de comportamento comunicativo ou de expres-

línguas já estão agonizando. Uma língua agonizante ou “em peri- são e criatividade poética, Mais graves e mais complexas são as
go” é, uma língua local, minoritária, e em situação
tipicamente, conseqüências da perda lingiiística para as populações indígenas,

de ruptura geracionai, onde se os pais ainda falam com seus pró- minoritárias e sitiadas. Se é complexa a relação entre identidade

prios pais suas línguas maternas, já não o fazem mais com seus lingiiística e identidade étnica, cultural e política - não sendo cias
próprios filhos, que abandonam definitivamente o uso da língua redutíveis uma à outra, como mostram os povos indígenas do Nor-
nativa, destinada à morte dentro de um século, a menos que algo deste não há dúvida quanto às consequências da agonia e desa-
aconteça para a sua revitalização. Entre os fatores principais dessa parecimento de uma língua com relação à perda da saúde intelec-

condenação à morte está a pressão das línguas nacio5 tual do seu povo, das tradições orais, de formas artísticas (poéti-

nais, dominantes, em situações de pressão socioeconômica, de ca, cantos, oratória), de conhecimentos, de perspectivas

meios e canais quais a escolarização, a ontológicas e cosmológicas. Certamente, diversidade lingiiística e


assimilação, através de

mídia (rádio, televisão etc. ) , a sedimentação de atitudes valorativas


diversidade cultural podem ser equacionadas e, nesse sentido, a

positivas para a língua do colonizador e negativas para a língua


perda lingiiísUca é uma catástrofe local e para toda a humanidade.
dos colonizados. Krauss calcula que 27% das línguas sidamericanas O que sabemos e como chegamos a saber dessas línguas?
não são mais aprendidas pelas crianças.

NO BRASIL OS PRIMEIROS DADOS


No que diz respeito às línguas indígenas no Brasil, Aiyon Rodrigues, O século XVI viu a Europa sc expandir para além de suas frontei-
em trabalho já citado, estima que, às vésperas da conquista, eram ras. As conquistas fizeram os sábios europeus, encabeçados por
faladas 1.273 línguas; em 500 anos, uma perda de cerca de 85%.
muitos missionários e alguns viajantes, mergulharem na diversi-
É só contemplar o mapa etno-histórico no qual Curt Nimuendajú,
dade. Ampliaram-se os horizontes lingiiísticos, começaram a se
nos anos 40, procurou oferecer um panorama do povoamento do
acumular conhecimentos registrados em listas de palavras, esbo-
Brasil indígena utilizando somente as fontes documentais históri-
ços gramaticais, escritas de falas e discursos. Nos novos mundos,
cas disponíveis produzidas pelos colonizadores: um território co- se iniciavam investigações que alimentavam teorias e tipologias,
berto em toda sua extensão por faixas e pontos coloridos para dar inspiradas ora nos esquemas evolucionistas que vigoraram até o
conta dos troncos, famílias, agrupamentos lingiiísticos, línguas iso-
final do século XIX, ora no universalismo dos gramáticos filósofos
ladas, falados por inúmeros povos; vazios brancos indicam áreas,
radonalislas que floresceram sobretudo no século XVII.
sobretudo ao longo dos baixos cursos dos rios principais, despo-
voadas já nos primeiros tempos da colonização t7)
.
Enquanto os espanhóis registravam quase que obsessivamente as
línguas encontradas nos territórios que iam conquistando em tra-
Luciana Storto relata a grave e significativa situação do Estado de
jetórias de penetração do litoral para o interior, os portugueses se
Rondônia: 65% das línguas estão serianiente em perigo pelo fato
concentraram nas línguas da costa, onde dominava o tupi-guarani.
de não estarem sendo mais usadas pelas crianças e por ter um
Os documentos dos primeiros três séculos da colonização do Bra-
pequeno número de falantes; 52% não estão sendo faladas pelas
sil que a nós chegaram, são gramáticas e catecismos de três lín-
crianças; 35% são momentaneamente seguras ®. Muitos linguis-
guas indígenas que desapareceram, com seus falantes, no mesmo
tas dedicados ao estudo dessas línguas são testemunhas de pro-
período: Tupinambá, Kariri e Manau. O Tupi Antigo disfarçava-se
cessos de perda, menos ou mais gritantes. No Alto Xingu, por exem-
nas línguas Gerais - Paulista e Amazônica das quais se conser-
plo, um sistema intertribal onde são faladas línguas geneticamente
vou uma considerável memória escrita e, também, missionária.
distintas, há língqas ainda plenamente vivas e íntegras e línguas na
beira da extinção. Há apenas 50 falantes de Trumai (língua isola- As gramáticas jesuíticas tupi até hoje são objeto de admiração e
da) e o Yawalapíti (aruak) sobrevive em menos de uma dezena de repulsa. De um lado, admira-se clareza e detalhamento das obser-

falantes numa aldeia multilíngiie onde dominam o Kuikuro (karib) vações que nos permitem apreciar ainda os sistemas e processos
e o Kamayurá (tupi-guarani)
(,:l)
. As outras línguas alto-xinguanas, fonológicos e morfossíntãticos do tupinambá e do tupi antigo. Do
ainda saudáveis, dão, contudo, sinais preocupantes: a escola é outro lado, e ao mesmo tempo, critica-se a roupagem expositiva
considerada o tempo/espaço onde tem que se aprender a língua que traduz e classifica os fatos registrados através das categorias
do branco; os jovens, fascinados com tudo o que provém do mun- da tradição gramatical greco-latina, A língua indígena, de qual-

do das cidades, procuram falar cada vez mais o português e ao quer maneira, era consumida e transfigurada, enfim, conquistada,
mesmo tempo se aíàstam das tradições orais. É como se a avalanche pelo empreendimento missionário, na escrita, nos catecismos, nos

e a sede de novos conhecimentos aniquilassem tudo aquilo que se autos e peças teatrais pedagógicas, onde o combate cristão bilín-

torna associado aos velhos, à vida aldeã. giie (tupi/português) entre o bem e o mal deveria engajar índios e

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1986/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL DEM06RAFIA E LÍNGUAS 85


. 0 ,

<34*^ Acervo
//xC ISA
,
pecadores das aldeias e das vilas, na luta contra o demô- Levantamento feito por Slorlo e Moore em 1991 mostrava que de
nio do paganismo e na elevação para o reino divino pregado pelos 80 a cem línguas tinham recebido algum tipo dc descrição; quase
conquistadores. Mais tarde, o romantismo tupi na construção da metade estava sem nenhuma documentação. Os autores conside-
nacionalidade brasileira apresentaria a face profana dessa tradi- ravam que 10 % das línguas contavam com uma descrição grama-
ção missionária, erguendo-se com seus lirismos sobre morte, tical satisfatória. Havia somente 12 doutores no Brasil dedicando-
massacre, sacrifício de povos inteiros. E é uma língua tupi transfi- se ao estudo dessas bnguas, somente oito universidades com a
gurada (e desfigurada) pela literatura que foi traduzindo para o presença das bnguas indígenas em programas de pós-graduação.
imaginário nacional brasileiro um índio genérico que continua O SIL trabalhava com 40 bnguas, não tendo contribuído à forma-
povoando o senso comum, a história escolar, filmes e novelas. ção de nenhum pesquisador brasileiro. Cinquente e nove esfavam
10)
sendo investigadas por lingüistas não-missionários; entre I 985
'

As descobertas nos novos mundos pavimentaram o caminho da


e 1991, uni aumento de 36 %; entre 1987 e 1991 Programa de
linguística que se apresentaria como ciência na segunda metade
,

Pesquisas Científica das Línguas Indígenas Brasileiras (PPCLIB)


do século XIX, comparando e classificando as línguas conhecidas
do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) deu apoio a bolsas,
das terras conhecidas, reconstruindo suas histórias. O território
pesqmsas de campo e cursos intensivos.
brasileiro começou a se povoar, aos poucos, por dezenas de povos
e bnguas nos mapas desenhados pelas frentes de colonização pe- Os resultados de levantamento por mim realizado em 1995 mos-
netrando o interior. Ao missionário sucedia, ou melhor, se acres- travam a existência de cerca de 120 pesquisadores (80% ativos;

centava, o estudioso viajante, que acompanhava, direta ou indire- uma dezena de pesquisadores missionários com vínculos acadê-
tamente, as novas expedições de conquista: Koch-Griiniberg, micos cm instituições brasileiras). Observava-se 0 aumento da
Steinen, Capistrano de Abreu, Nimuendajú, para mencionar os mais participação de graduandos e pós-graduandos; as atividade do SIL

importantes. As observações gramaticais, mais ou menos sistemá- pareciam estacionárias. O número de pesquisadores estrangeiros
ticas, eram acompanhadas ou ilustradas por coletâneas de textos, representava cerca de 10 % desse total: norte-americanos, france-
transcrições alfabéticas dc peças das tradições orais de diversos ses, holandeses, alemães, sem contar os ligados às missões evan-

povos indígenas. Começava a se constituir um corpus, na sua mai- gélicas, onde os norte-americanos são a maioria. Entre 1991 e
oria composto de narrativas, que seriam transfiguradas, novamen- 1995, houve aparentemente um aumento de cerca de 40% em ter-
íe, para alimentar um folclore nacional com suas personagens mos do número de bnguas estudadas.

emblemáticas, como Macunaíma, o herói trickster dos povos karib Naquele momento, eu observava que, para as cerca de 180 lín-
do norte amazônico. guas, poderia se falar que pouco mais de 30 delas têm uma docu-
mentação ou descrição satisfatória (algo como uma gramáüca de
EVANGELIZAÇÃO E PESQUISA referência com textos e, possivelmente, um léxico), 114 tendo al-

gum tipo de descrição sobre aspectos da fonologia e/ou da sinta-


O zelo evangelizador tem sido, de qualquer maneira, a base do
xe, 0 restante continuando no limbo do desconhecido. Nesse cál-
interesse lingüístico missionário; continua sendo ainda hoje, para
culo, aproximado e provisório, incluía os frutos visíveis, ou seja,
o trabalho lingüístico de muitas missões de fé, encabeçadas pela
em poder de instituições brasileiras ou publicados, da atuação do
norte-americana Summer Institute of Linguistics, hoje Sociedade
Nesse sentido, uma classificação tripartida em línguas sem
SIL.
Internacional de Linguística (SIL) Essas missões e seus linguistas,
.

nenhuma documentação, com pouca (ou alguma documentação)


portadores de um trágico binômio "aniquilar culluras, salvar lín-
bem documentadas, é obviamente simpliiicadora. Nos levantamen-
guas”, após demorado trabalho de estudo, esvaziam palavras e
tos da produção de conhecimentos na área da chamada “linguísti-
enunciados de línguas indígenas para torná-los recipientes de ou-
ca indígena”, geralmente não está em jogo a qualidade, nem abso-
tros conteúdos, bíblias e evangelhos, novas semânticas para povos
luta nem relativa, dos trabalhos 011 das análises, mas a sua mera
subjugados e passivizados sob o rolo compressor da conversão
existência. A qualidade da documentação ou da descrição linguís-
civilizatória. O SIL, duble de missão militantemente evangelizadora
tica é questão que só receutemente começou a ser discutida com
e instituição de pesquisa, foi personagem importante na
seriedade, inclusive graças ao acúmulo de novos conhecimentos e
implementação da pesquisa em lingüfstíca “indígena" no Brasil
novos dados, a uma maior atenção às teorias que estão na base de
entre o final dos anos 50 e o dos anos 70, bem como teve, até não
modelos descritivos, ao aumento de pesquisadores envolvidos, a
muito tempo atrás, primazia na cena da lingüística internacional
uma maior circulação e divulgação das pesquisas e ao desenvolvi-
(tendo recursos próprios para publicar e publicando em inglês)
mento de metodologias e tecnologias para 0 armazenamento e
A lingüística laica, não obstante, foi se desvencilhando, mesmo qne
processamento de dados.
penosamente, do marco missionário, procurando documentar o
que resta dessa diversidade, desdobrando-se entre o desenvolvi-
mento de seus modelos descritivos e explicativos e a aplicação de
A “LINGÜÍSTICA INDÍGENA” NOS ANOS 90
seus saberes em prol de projetos políücos que possibilitem a Depois da hegemonia do estruturalismo distribucionalista norte-
sobrevida digna das línguas indígenas diante do fascínio e poder da americano importado pelo SIL, nos anos 90 assistimos, então, de-
língua dos brancos na mídia, nos papéis, nas máquinas, nas escolas. cididamente, a um desenvolvimento gradual e progressivo da área,

96 DEMOGRAFIA E LÍNGUAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO 50CI0AMBIENTAL


Acervo
//\C I SA
com uma interessante diversificação de linhas teóricas; convivem ainda, muito mais a ser feito. Há um excedente de trabalhos des-

(e competem) diferentes paradigmas, num saudável pluralismo critivos parciais e escassez de gramáticas de referência. Nos domí-

científico; amadurece a discussão entre pesquisa descritiva e pes- nios dos gêneros de discurso, da arte verbal, da coleta de tradi-

quisa teórica, cujo objetivo é a de inserir os dados dc línguas indí- ções orais, da elaboração de dicionários, as lacunas são imensas,

genas nos debales e embates da teoria linguística atual. Foi reto- como nos estudos sociolingüísticos, estes últimos indispensáveis

mada a investigação histórica e comparativa. Assim, por exemplo, quando se trata de entender as muitas e complexas situações de

espera-se resultados importantes do projeto "Tupi Comparativo" bibngüismo, multilingiiismo e perda linguística.

em andamento no Museu Gocldi, da documentação do Zo'e e do


Araweté e dos encontros de lingüistas especialistas em línguas tupi- EDUCAÇÃO ESCOLAR E PRESERVAÇÃO
guarani, das pesquisas sobre finguas da família pano no Setor de DE LÍNGUAS INDÍGENAS
Linguística do Museu NacionalAIFRJ, da documentação do
em andamen- No campo das línguas indígenas, o linguista é uma figura de iden-
Yawalapiti e do Enawenê-Nawê para a família aruak,
tidade dupla: é pesquisador e assessor de programas educacio-
to também no Museu Nacional, dos estudos das línguas karib me-
nais, fonóiogo e fazedor-de-escritas-de-línguas-de-tradição-oral,
ridionais (Universidade de Campinas - Unicamp - e Museu Nacio-
amazônico (Museu Goeldi). Vislumbra-se um professor e redator de material didático em língua indígena. Rece-
nal) e do nordeste
be demandas de organizações não-govemamentais, do Estado e
bom diálogo entre etnologia, arqueologia e linguística. Fortalecem-
se centros de pesquisa tradicionais e outros despontam, experiên-
dos índios. O envolvimento em projetos de educação (escolar)

cias se firmam ou fracassam.


não significa apenas um exercício de aplicação de conhecimentos
científicos, mas deve, hoje, se basear numa capacidade de revisão
Segundo o relatório mais recente disponível 01 ', em 1998 sobe para crítica do modelo dominante da chamada “educação bilíngue”,
cerca de 80 o número de finguas objeto de algum tipo de estudo ainda, em muitos casos, atrelado, apesar de suas diversas versões,
por parte de não-missionários. Percebe-se leve declínio das ativi- a uma matriz missionária ideologicamente eivilizadora e
dades do SIL (30 finguas em estudo e oito projetos considerados integracionista (de novo, o legado do SIL, que monopolizou, até
concluídos) interessante observar o aumento do
. número de lín- uns 20 anos atrás, a chamada educação bifingiie também no Brasil).
guas já investigadas por missionários e retomadas por linguistas
Por outro lado, já há grupos indígenas que percebem “o perigo”
brasileiros. Graças ao levantamento feito por Lucy Seki de disser-
que suas línguas correm e, por conseqüência, estão interessados
tações, teses, publicações e inéditos, podemos avaliar, pelo menos
em sua revitalização; em situações desse tipo, são os índios que
quantitativamente, o incremento da produção por parte de pes-
procuram interagir com lingüistas que possam dedicar-se à docu-
quisadores brasileiros. Uma série de extensas e cuidadosas gra-
mentação de sua língua. Diante de uma tarefa desse tipo - docu-
máticas de referência está chegando ao público, como as gramáti-

Kamayurá"” e ainda
mentar uma iíngua num projeto conjunto com os índios e propor
cas Tiriyó, Tmmai, Karo, Apurinã, Tikuna,
Kadiweu, Karitiana, entre outras.
um trabalho de preservação on salvamento fáltam-nos intru-
mentos conceituais e estratégicos. Como diz Grinevald, em traba-
O quadro institucional, infefizmente, melhorou pouco. Ainda se- lho aqui citado, este linguista de campo é como uma orquestra de
gundo Seki, no final dos anos 90, dos 66 programas de pós-gradu- um homem só: deve dominar todos os campos da linguística des-
ação em Letras e Linguística, apenas 12 desenvolvem pesquisas critiva, conhecer as principais teorias que podem guiar suas inter-

sobre línguas indígenas. Não obstante, aumentou, sem dúvida, a pretações e explicações, saber o baslante de uma específica lin-
presença de trabalhos sobre línguas indígenas em eventos científi- guística aplicada para se enveredar em projetos de alfabetização
cos nacionais e, nos internacionais, já faz algum tempo que os ou de revitalização linguística sem cair na armadilha de achar que
missionários/lingüistas do SIL não dominam mais a cena. Inaugu- os problemas se resolvem na escola, conseguir fazer pesquisa so-
ra-se ou cresce a participação de brasileiros nos universos eletrô- bre a língua com os índios, ser sensível e esperto, saber que fazer
nicos especializados, como üstas de discussões, algumas das quais linguística numa aideda não é um passeio de algumas semanas.
criadas no últimos anos, como a Ung-amerindia iniciativa de ,
Os índios certamente agradeceriam todos os esforços e inciaíivas
pesquisadores da Unicamp. A isso acrescentamos que, pela pri-
que facilitassem o aparecimento desse novo pesquisador; a lin-
meira vez, informações ricas e razoavelmente fidedignas apare-
guística "indígena” deixaria para trás, definitivamente, amadorismo
cem em sites oficiais e não-oficiais e em veículos governamentais
e subalternidade; a sociedade cm geral aprenderia mais sobre um
e de divulgação científica.
assunto que diz respeito diretamente à salvaguarda de uma rique-
Em suma, muito está sendo feito no Brasil fora da redoma za que está em seu seio e que, ou desconhece, ou sepulta, no sen-
missionária, se pensarmos na penúria de uns 20 anos atrás. Há, so comum dos estereótipos. ( outubro 2000)
,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/200D - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL DEMOGRAFIA E LÍNGUAS 87


Acervo
J/f I SA
- “On endangered languages and
(6) Hale, Ken the importance of linguistic

-
diversity", no voliim t EndangeredLanguages - Language loss and community
(1) Fonte: Adelaar, Willem “The endangered problem: South America", em
response (editado por Lenore A. Grenoble e J. Whaley Lindsay, Cambridge:
Endangered Languages (editado por Robert Robons e Eugene Uhlenbeck, New
Cambridge University Press, 1998).
York: St. Marin ‘s Press, 1991). Os dados de Adelaar também podem ser confe-
ridos em As línguas amazônicas hoje (organizado por Francisco Queixalós e (7) Mapa etno-bístórtco de Curt Nimuendaju (Rio de Janeiro: IBGE, 1981).

Odile Renault-Lescure, São Paulo: IRD/ ISA/ MPEG, 2000).


(8) Storto, Ludana - “A Report on language endangerment in Brazil”, em Papers
(2) Grincvald, Colette - “Language endangerment in South America: a on language Endangerment and the Maintenance of Linguistic Diveristy
programmatic approach”, no volume Endangered Languages - Language loss (editado por Jonathan D. Bobaljik, Rob Pensalfini e Luciana Storto, The MIT
and community response (editado por Lenore A. Grenoble e J. Whaley Lindsay, Working Papers in Linguistics, Vol. 28, 1996).

Cambridge: Cambridge University Press, 1998).


(9) Franchetto, Bruna - “Línguas e História no Alto Xingu”, em Os povos do
(3) Rodrigues, Aryon D.
- “Línguas Indígenas - 500 anos de descobertas e per- Alto Xingu - História e Cultura (organizado por Bruna Franchetto e Michael

das", em Ciência Hoje, 16 (95), 1993. Heckenberger, Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, no prelo).

(4) Grenand, Pierre e Grenand, Françoise -


“Amérique Equatoriale: Grande (10) Rodrigues, Aryon D. - Línguas Brasileiras, São Paulo: Edições Loyola,

Amazonie”, em Situation des populations indigènes des forêts denses et 1986.

bumides (editado por Serge Bakuchet, Luxemburg: Office des publicaiioiis


(11) Seki, Lucy - A Linguística Indígena no Brasil dissertação de mestrado,
,

officielles des communautés européemies, 1993).


1999.

(5) Krauss, Michael


- “The world ‘s languages in crisis”, em Language, 68,
(12) Seki, Lucy - Gramática Kamayurá, Campinas: Editora da Unicamp, 2000.
1992.

88 DEMOGRAFIA E LÍNGUAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0C10AMBIENTAL


Acervo
-//ISA

LEGISLAÇÃO

Panará

Copyrighled m.ifânal
;

^4/^» Acervo
-//'SÁ _
LEGISLAÇÃO

CÓDIGO PENAL INCLUI CIDADANIA


0 anteprojeto do novo Código Pena/ traz várias inovações na defini- Crimes contra a cidadania - São criados os crimes de:
ção de crimes contra a humanidade, a cidadania e minorias étnicas,
• atentado a direito de manifestação (impedir manifestação pacífi-
religiosas e sociais. 0 anteprojeto foi elaborado por uma Comissão
ca de partidos ou grupos políticos. étnicos, raciais, culturais ou reli-
deJuristas criada pelo Ministério daJustiça para rever o atual Código
giosos): sujeito a pena de reclusão de um a quatro anos:
Penal (que é de 1940) e apresentar uma nova proposta utilizando-se
dos esboços já feitos por comissões anteriores. Publicado no Diário • violação discriminatória de direito ou garantia fundamental (im-
Oficial da União no dia 29 de março, o anteprojeto estará recebendo pedir, por qualquer forma de discriminação ou preconceito, o livre

críticas e sugestões de quaisquer interessados até o dia 31 de agosto. exercício de direito assegurado pela Constituição): sujeito a Jiena de
reclusão de um a quatro anos.
0 Código Pena I em vigor caracteriza-se por definir essencialmente
crimes contra o Jiatrimônio (furto, roubo etc.) e crimes contra pes- • associação discriminatória (organizar associação afim de pregar
soas, sejam eles contra a vida, a honra ou a liberdade individual discriminação ou preconceito ) sujeito a pena de reclusão de um a
Pouca atenção é dada aos crimes praticados contra bens ambientais quatro anos;
e sociais, de natureza coletiva e sem repercussões patrimoniais ou
• fabricação, comercialização de símbolos, emblemas, distintivos ou
econômicas diretas. TaI omissão foi parcialmente suprida com a re-
propaganda destinada à propagação de doutrina racista ou
cente edição da lei de Crimes Ambientais. Embora de forma ainda
atentatória à Uberdade: sujeito apena de reclusão de um a quatro anos.
incipiente, o anteprojeto cria novos delitos, que não constam do Códi-
go em vigor, buscando criminalizar condutas lesivas a direitos sociais Crimes contra a humanidade -Além do crime de genocídio,
já previsto em lei específica, são definidos os crimes de:
OS “NOVOS CRIMES” DO ANTEPROJETO
• tortura ( torturar alguém com emprego de violência ou grave ame-
Crimes contra comunidades indígenas - São criados aça, causando-lhe sofrimento físico ou mental) : sujeito à pena de
os crimes de: reclusão de quatro a oito anos

• invasão de terras indígenas: sujeito à pena de reclusão de dois a • condescendência com a tortura e sonegação de informação (dei-
cinco anos e multa; xar o carcereiro de comunicar ao juiz a transferência dejtessoa pre-
sa para outro estabelecimento ou para outro local): sujeito a deten-
• realização de jsesquisa ou lavra mineral em terras indígenas sem
ção de seis meses a dois anos. (Juliana Santilli, jul/98)
autorização legal: sujeito à pena de reclusão de dois a cinco anos;

• exploração ilegal de recursos naturais de terras indígenas, ou


indução dos índios a explorá-los: sujeito à reclusão de dois a cinco
anos e multa.

CÓDIGO CIVIL - ÍNDIOS DEIXAM DE SER INCAPAZES

Os índios deixam de ser legalmente incapazes, segundo o projeto de incapacidade civil dos índios toma os seus atos anuláveis, quando
lei que institui o novo Código Civil, em tramitação no Congresso. 0 praticados sem a assistência do órgão tutelar e sem que os índios
novo Código Civiljáfoi aprovado pela Câmara dos Deputados e />elo revelem consciência dos atos praticados. 0 novo Código Civil acaba
Senado Federal, lendo voltado à Câmara ftara apreciação das emen- com a relativa incapacidade civil indígena, e estatui que a matéria
das aprovadas no Senado. Espera-se a sua aprovação no início de será regulada fmr legislação especial, o que é um avanço conceituai
2001. 0 Código Civil em vigor, aprovado em 1916, considera os índi- 0 projeto de lei que estabelece o Estatuto das Sociedades Indígenas,

os “ relativamente incapazes”, equiparando-os aos maiores de 16 anos também em tramitação no Congresso, estabelece a capacidade civil

e menores de 21 anos e aos pródigos (indivíduos que dilapidam o plena dos índios. (Juliana Santilli, nov/00)

seu patrimônio, e podem ser interditados peta família). A relativa


Será que Indio Pode...?

Entrevista realizada per Estudantes de Direito, estagiárias no ISA

Thais Chueiri e Lilia Toledo Díniz

CARLOS MARÉS, JURISTA, EX-PRESIDENTE Juridicamente, o que tem mais importância no Brasil: o
DA FUNAI, RESPONDE A 12 PERGUNTAS Código Civil ou o Estatuto do índio?

FORMULADAS POR ESTUDANTES DE DIREITO CM - As duas leis estão dentro da mesma hierarquia, portanto uma
não manda na outra, Mas o Estatuto do índio tem duas situações

Pergunta - índio pode lazer carteira de identidade? E se que o coloca acima do Código Civil. Primeiro, é mais novo, e a lei

puder, há algum tipo de identificação étnica?


nova é que contraria a lei velha, a revoga. E segundo, é uma lei

especial e pela regra geral das leis, as leis especiais têm prevalência
Carlos Marés - Sim, índio pode e deve fazer carteira de identidade, sobre as leis gerais, e o Código Civil é uma lei geral. Isto quer dizer
que é um registro geral dos cidadãos brasileiros. Portanto, todos que os dispositivos do Estatuto que contrariarem o Código Civil ou
têm direito à carteira de identidade. Isso é um direito, não uma qualquer lei anterior ou geral, a eles prevalecem.
obrigação. A carteira de identidade normal, que sc tira na polícia,

chama-se identificação civil e é feita justamente para se provar a


O índio pode sofrer sanções mesmo sem ter consciência
de sua causa?
sua identidade nos lugares em que se vai, e apresentar para as

autoridades brasileiras. CM - Não, o Direito pressupõe que todas as pessoas devam saber a
razão porque estão sofrendo a sanção. Portanto, toda sanção tem
A lei brasileira não permite, não admite a identificação étnica. A
carteira de identidade apresenta o nome, a filiação, a data e o lo-
que ser fruto de um processo legal em que se esclareça o porquê
de estar havendo a sanção e a razão do ato praticado. Ele tem
cal de nascimento, mas não tem nenhuma informação a respeito
direito de defesa sempre.
de identidade étnica, cor de pele ou opção sexual. Por outro lado,
o índio tem direito também a um registro na comunidade onde índio pode prestar concurso para algum cargo público?
nasceu. Esse registro é uma identificação étnica, sem dúvida.
CM - Pode, para todos os cargos públicos que ele esteja habilita-

índio pode votar? Pode ser candidato? do a fazer. Por exemplo, é claro que ele não pode ser juiz se não
for bacharel em Direito, Cada concurso público tem suas exi-
CM - Não há nenhuma restrição ao voto, de nenhum cidadão bra-
gências, como algum curso, determinado tipo de formação ou
sileiro. Todos os cidadãos brasileiros têm direito a votar. Não há
determinada escolaridade que devem ser observadas. Se ele
essa restrição em hipótese alguma. Agora, para votar, ele tem que
preencher esses requisitos, tem liberdade e direito total de
estar inscrito no registro eleitoral, que é o cartório eleitoral, O
participar.
voto no Brasil é obrigatório, portanto ele. como cidadão brasilei-
ro, é obrigado a votar se for maior de idade e alfabetizado em É possível que determinada língua indígena, quando fala-
Mngua portuguesa. Porém, eu entendo que se ele vive na aldeia, da pela maioria da população de certo município, se torne
segundo seus usos e tradições e o povo, coletivaraente, decide não oficial?
votar, esta decisão prevalece sobre a obrigatoriedade ria lei brasi-
CM - É uma pergunta meio complicada, em princípio não, A bngua
leira, porque os povos indígenas têm o direito constitucional de
oficial brasileira é o português, no entanto é admitido no caso do
viver segundo seus usos, tradições e costumes.
indígenas o uso da língua materna para todos os fins, inclusive no
O índio pode ser candidato, pois é um cidadão com todos os direi- processo judicial. Porém, ela não pode se tornar oficial dc um
tos. Para ser candidato, entretanto, há algumas restrições, como o município. Não há línguas oficiais de um município. A língua ofici-
conhecimento da língua, para alguns cargos. Se ele cumprir esses al é a Portuguesa e vale para o Brasil todo, sendo admitidas as
requisitos, poderá ser candidato. línguas indígenas em conjunto com ela.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 99E/ZDOO - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LEGISLAÇÃO 31


|
^LíZ^Acervo
—!& ISAo índio vender os produtos de sua terra cora o intui- possível haver um acordo com o Governo federal, estadual ou
to de lucro? municipal para que não haja esse pagamento, isso se chama re-
núncia fiscal e há limites para fazê-la. Mas aí é um problema de
CM - Todos os bens da comunidade pertencem à comunidade como
políticas públicas novamente. Claro que os impostos só incidem
um todo, portanto, pertencem ao povo, são bens coletivos. Os ín-
em produtos que serão vendidos fora do mundo indígena, para o
dios podem vender esses bens, negociar esses bens, dispor desses
mercado consumidor externo. Intemamente, na área indígena e
bens? Podem até determinado limite. Eles podem dispor dns fru-
nas relações entre povos indígenas, não há incidência de imposto.
tos, mas não da terra, evidentemente. Podem dispor dos frutos da
terra. Mas se a pergunta é direcionada ao indivíduo, ou seja, o Como o Estado pode julgar o grau de civilização de um
indivíduo índio pode vender o produto ou fruto da terra em bene- índio para decidir se este é relativamente incapaz ou não?
fício próprio? Não. A outra questão que nos leva essa pergunta é a Quais os critérios utilizados?
do lucro propriamente dito. O lucro tem um conceito técnico-eco- CM - O Estado propriamente não tem capacidade de decisão, a
nómico que é resultado do produto do investimento financeiro respeito disso, como órgão público. O único que poderia decidir
para se obter determinada vantagem. Ou seja, no comércio, você sobre isso seria o juiz. Os critérios utilizados são os critérios de
compra para vender, ou na indústria e na agricultura você produz prova, portanto muito subjetivos e que estão ligados à perícia, es-
para vender com o preço maior do que o investimento. Então, se pedalmente a antropológica; entretanto, o que tem que ser levado
você pensar simplesmente em lucro, se você disser que o índio em conta, é que o juiz, quando faz uma perícia antropológica, só
pode, individualmente, comprar um bem e vender esse bem mais faz se o caso tiver magnihtde suficiente para tal. Ou seja, a decisão
caro, a resposta é sim. Não há nenhuma restrição, desde que a de um ato praticado com violação ou não da tutela indígena, só vai
origem daquele dinheiro seja dele. Ele. pode ter dinheiro pessoal,
ser levado em juízo se tiver causado dano a algum patrimônio in-
pode ter bens individuais e com estes bens ele tem total liberdade no
dividual ou coletivo.
atual sistema. Mas não pode fazer isso com os bens da comunidade.
É que uma comunidade negue a existência do Estado
lícito
Os índios têm direito a um sistema de crédito, mesmo es-
como uma estrutura superior de poder?
tando em terras públicas?
CM - Este não é um problema de licitude, mas de legitimidade,
CM- 0 sistema de créditos depende da política para a qual é aber- licito ê tudo o que a lei permite ou não proíbe, então se pode
to. O Estado brasileiro pode abrir linhas de créditos oficiais para dizer que essa negação não seja lícita do ponto de vista da lei bra-
os povos indígenas independente de eles estarem em terras públi- sileira. Mas é legítima do ponto de vista de reivindicação de um
cas ou não. O problema não é a natureza da terra, mas as exigên- povo. Então aí temos que separar o que é lícito para a legislação
cias do banco. Um banco pode abrir uma linha de crédito para brasileira e o que é legítimo como direito de povo. Então é legíti-

determinadas atividades em que se incluam alguns grupos indíge- mo a partir do ponto de vista do direito de um povo, mas não é
nas, não há restrições legais para fazer isso. Agora, o banco priva- lícito a partir do ponto de vista do direito brasileiro.
do vai fazer se puder ter vantagens, lucro, Então é muito difícil o
Como encarar o direito autoral coletivo na nossa legis-
índio estabelecer alguma relação com o banco privado porque ele
lação?
teria que reter um lucro, que dificilmente vai ter. Já com bancos
públicos e com dinheiro público, é claro que sim, depende apenas CM A nossa legislação
- autoral não trata de direito autoral coleti-

de vontade política. vo, ela se limita aos direitos autorais individuais. Entretanto, tem
que haver um casamento entre os direitos estabelecidos na Consti-
Os índios devem pagar impostos quando vendem os pro-
tuição e a legislação infraconstitucional. Ainda não há legislação
dutos de suas terras?
garantindo os direitos autorais coletivos. Mas é possível garanti-
CM - Esse é um problema delicado. Há impostos federais, estadu- los de outra forma, mesmo que não tenha lei, através de atos, como
ais e municipais, cada um deles será competente para cobrar e exemplo de reconhecimento pelos órgãos públicos, de que aquele
isentar o Governo federal, estadual ou municipal. Em geral, não há bem, aquela obra, é um produto coletivo. O Museu do índio, o
isenção para produtos destinados ao mercado consumidor. E se Museu de Arte Nacional, a Biblioteca Nacional e o Instituto de
não há isenção, eles estariam obrigados a pagar. É claro que é Patrimônio Histórico podem fazer isso. ( outubro 2000) ,

92 LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/ZC-OC- - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Estatuto da Alforria

Márcio Santilli Coordenador do Programa


Brasil Socioambiental do ISA

SOB FORTES PRESSÕES, 0 CONGRESSO sob a égide destes conceitos, foi promulgada a Lei 6001, também

NACIONAL RETOMA A DISCUSSÃO SOBRE conhecida como “Estatuto do índio", e que continua até hoje em vigor.
O ESTATUTO DAS SOCIEDADES INDÍGENAS
A NOVA CONSTITUIÇÃO
Você aceita a idéia de que as leis brasileiras tratem os índios como
Em 1988 veio a nova Constituição brasileira, e um dos seu princi-
se fossem crianças, loucos ou incapazes? Ou que o Estado os subs-
pais avanços é o capítulo que consagrou os direitos indígenas.
titua no exercício pleno de direitos civis? Pois assim tem sido, ao
Rompendo uma tradição secular, ela reconheceu aos índios direi-
longo de quase todo este século que está prestes a terminar.
tos permanentes. Eles jánão teriam que ser incorporados àcomu-
O Código Civil brasileiro foi promulgado em 1916. Na lógica de tdião nacional, ou serem forçados a assimilar a nossa cultura. Suas
reconhecer os direitos individuais, estabeleceu que “todo homem organizações sociais, línguas, tradições e os seus direitos originá-

é capaz de direitos e obrigações na ordem civil”. Mas criou exce- rios às terras que ocupam, passaram a ser permanentemente re-

ções para esta regra: os menores de 16 anos, os loucos de todo conhecidos.

gênero e os surdos-mudos que não puderem exprimir a sua vonta-


A Constituição estabelece que a União deve proteger esses direitos,
de, são considerados incapazes; os menores entre 16 a 21 anos,
mas não fala em tutela, em órgão indigenista ou em incapacidade
os pródigos e os “silvícolas” (sic), são tratados como "relativa-
dos índios. Ao contrário, no seu Artigo 232, ela diz que “os índios,
mente incapazes”.
suas comunidades e organizações, são partes legítimas para in-
A partir deste pressuposto, de que os índios não são plenamente gressar em juízo, em defesa dos seus direitos e interesses”. Signi-
capazes de exercer os seus direitos civis, alei determinou que eles fica que os índios podem, inclusive, entrar em juízo contra o pró-
seriam tutelados. Diferentemente dos loucos, das crianças e dos prio Estado, o seu suposto tutor.
pródigos, para os quais a Justiça nomeia, quando é o caso, uma
Desde a promulgação da Constituição surgiram propostas em
pessoa como tutor, para os índios ela estabeleceu a tutela da União,
tramitação no Congresso para rever a legislação ordinária relativa
a ser exercida por um órgão indigenista - atualmente, a Funai -
aos direitos dos índios. A partir de 1991, projetos de lei foram
até que eles estejam “integrados à comunhão nacional”, ou à soci-
apresentados pelo Executivo e por deputados para regulamentar
edade brasileira. Ou seja: enquanto forem índios - e algum dia
dispositivos constitucionais e para adequar a velha legislação aos
deverão deixar de sê-lo - um órgão de Estado exercerá por eles os
termos da nova Carta. Em 1994, uma proposta de Estatuto das
seus direitos civis.
Sociedades Indígenas foi aprovada por uma comissão especial da
Ao longo do tempo, a tutela foi exercida mais em favor do tutor
Câmara dos Deputados.
que do tutelado. Só na primeira metade deste século, 83 etnias
foram extintas. Estradas, hidrelétricas e empreendimentos econô-
micos de vários tipos foram implantados com impactos devastado- OBSTRUÇÃO
res sobre as terras indígenas. Povos foram sendo contatados de
No entanto, antes mesmo que esta proposta fosse encaminhada ao
forma desastrosa, provocando a disseminação de epidemias mor-
Senado Federal, a liderança do Partido da Social Democracia Bra-
tais ou a sua transferência forçada para terras distantes.
sileira (PSDB) articulou um pedido de recurso para que o projeto
Eventualmente, indigenistas sérios lançaram mão da tutela para de lei fosse apreciado pelo plenário da Câmara. Um novo governo
exercer algum tipo de proteção aos índios. Assim foi na criação do - FHC - havia sido eleito e, alegou-se, necessitava de tempo para
Parque Indígena do Xingu, no início dos anos 60. Em 1973, ainda formar um juízo a respeito. Porém, cm vez de juízo, seguiu-se uma

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LEGISLAÇÃO 93


^4íZ^ Acervo
—Z/jTlSA
obstrução de seis anos, sem que o projeto avançasse na sua DEBATES E CONFLITOS
tramitação.
Grupos indígenas têm assumido posições diferentes em relação ao
Inúmeras vezes organizações indígenas e de apoio dirigiram-se novo Estatuto. Os mais organizados têm apoiado a renovação da
aos deputados e ao próprio governo, solicitando o fim da obstru- lei e a consequente substituição da tutela, procurando formular e
ção. Em abril do ano passado, o projeto de lei chegou a ser inclu- apresentar ao Congresso sugestões que possam aperfeiçoar os pro-
ído na pauta de votação. Porém, mais uma vez, o governo pediu jetos de lei. Outros grupos mais vinculados e dependentes da Funai
tempo para apresentar as suas sugestões. Somente agora, às vés- têm se manifestado contra a substituição do velho Estatuto, enten-
peras do aniversário dos 500 anos de colonização, o governo con- dendo que a superação do instituto da tutela implicará no fim do
cluiu negociações internas e apresentou uma proposta alternativa próprio órgão indigenista.
àquela anteriormeme aprovada pela comissão especial, unia se-
mana após a passagem por Brasília das delegações indígenas
Em recente debate havido na Câmara dos Deputados, um grupo
Kayapó, manipulado por funcionários atrasados da Funai, chegou
que participaram da marcha de protesto ocorrida etn Porto
a atacar fisicamente um representante das organizações indíge-
Seguro. O ex-presidente da Funai, Carlos Marés, entregou-a aos
no
nas, que defendia o fim da tutela e um tratamento mais digno (que
índios sul da Bahia,
o de incapazes) aos índios. Diante de conflitos como este, os de-
putados relutam em colocar o Estatuto na pauta de votações.
O CONTEÚDO
O relator, deputado Luciano Pizzatto, vem realizando reuniões de
Há importantes pontos comuns entre as duas propostas. Ambas consulta aos índios em várias regiões do País, procurando escla-
propõem a revogação do dispositivo do Código Civil que estabele- recer o significado das propostas e recolher sugestões que as me-
ce a tutela, substituindo-o por outros instrumentos de proteção lhorem. Ele deverá formular, nas próximas semanas, um parecer
dos direitos coletivos dos índios. Regulamentam, com pequenas sobre a proposta do governo. A este parecer serão apresentadas
diferenças, a exploração dos recursos naturais existentes nas ter- emendas c, então, ele será levado à votação no plenário da Câmara.
ras indígenas. Abordam novos temas, como o dos direitos de pro-
priedade intelectual, a proteção ao meio ambiente e o acesso aos
PERSPECTIVA DE APROVAÇÃO
recursos genéticos, não tratados pelo Estatuto atual.

Após a sua aprovação, a proposta seguirá para a apreciação do


Porém, a proposta do governo, intitulada ‘Estatuto dos índios e
Senado. É difícil prever quanto tempo ainda será necessário para a
das Comrmidades Indígenas”, não considera um terceiro nível de

conceito (além do de índios c comunidades) o das suas "socieda-


promulgação de uma nova lei, mas se espera que eia possa ocor-
,

rer até o final deste ano ou, no máximo, até o início do ano que
des” ou "povos”, que designe o do conjunto das comunidades
vem. Até lá, os debates serão intensos.
herdeiras de um mesmo processo histórico, que falam a mesma
h'ngua e compartilham a mesma formação cultural. Assim, ela não A promulgação do novo Estatuto será fundamental para se superar
estabelece devidamente a titularidade dos direitos culturais, atri- a pesada herança da tutela e da substituição dos índios enquanto
buindo-os às “comunidades" indígenas quando, na verdade, eles sujeitos diretos dos seus próprios direitos. Será uma carta de
não pertencem genericamente a toda e qualquer comunidade, mas alforria concedida pelo Estado aos povos indígenas, para que eles
somente àquelas que pertencem à mesma sociedade ou povo. possam construir, com um mínimo de autonomia, os seus própri-
os projetos de futuro.
Em relação aos temas da educação e da saúde, a proposta do go-
verno é mais sucinta, pois se limita a remetê-los a outras leis já Antes tarde do que nunca. No limiar do novo milênio, o Brasil

existentes, promulgadas posteriormente à formulação da propos- precisa livrar-se do ranço colonial da tutela e da dominação. O
ta do Congresso. Por outro lado, é bastante mais extensiva quanto Estatuto das Sociedades Indígenas permitirá que as novas gera-
ao aproveitamento de recursos hídricos e potenciais energéticos, ções respirem outros ares e vislumbrem outros horizontes. Os
ou quanto à regulamentação do exercício do poder de polícia peio outros 500. (Publicado na revista Ciência Hoje n° 163, ago/OO)
órgão indigenista federal, estabelecendo multas e outras punições
aplicáveis aos invasores das terras indígenas, estendendo ao órgão
o poder de aplicar a nova lei que pune os crimes ambientais.

9» LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

Acervo
//\\ ISA

Biodiversidade e Conhecimentos
Tradicionais: Formas Jurídicas
de Proteção

Promotora de Justiça (DF) e


Juliana Santilli
membro do Conselho Diretor do ISA

O papel das comunidades indígenas e de outras comunidades tra- laboratório suíço. Diante da repercussão negativa do acordo, o
dicionais na conservação da biodiversidade tem sido reconhecido governo decidiu editar uma MP que regulasse, ainda que

em vários acordos internacionais, entre os quais a Convenção da casuisticamente, o acesso aos recursos genéticos e aos conheci-

Diversidade Biológica e a Agenda 21 Enfatiza-se a necessidade de


.
mentos tradicionais associados à biodiversidade.

criação de um regime legal suigeneris de proteção às inovações e


A Medida Provisória contém uma série de inconstitucionalidades, vio-
práticas tradicionais relevantes à conservação da biodiversidade,
lando direitos assegurados às comunidades indígenas e tradicionais
que proíba e puna a sua apropriação indevida. Entre os casos mais
em vários dispositivos. Comentaremos alguns aspectos mais graves.
conhecidos de violação aos seus direitos culturais, estão o
patenteamento do “ayahuasca”, já impugnado pela organização O casuísmo motivador de sua edição está expresso no Alt. 1
0, que

indígena Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de las dispõe: “À pessoa dc boa fé que, até 30 de junho de 2000, utilizava

Organizaciones de la Cuenca Amazônica (Coica) perante a agên- ou explorava economicamente qualquer conhecimento tradicio-

cia de patentes dos Estados Unidos, e o patenteamento da “quinua”, nal no País, será assegurado o direito de continuar a utilização ou

planta de alto valor nutritivo usada por comunidades tradicionais exploração, sem ônus, na forma e nas condições anteriores”. Ou
dos países andinos. seja, com o objetivo de “legitimar” o acordo da Bioamazônia com

No Brasil, enquanto a sociedade civil e o Congresso discutem propos-


a Novaríis (assinado cerca de um mês antes da edição da MP), o
governo não só legalizou toda e qualquer biopirataria e espoliação de
tas legislativas, o governo edita Medida Provisória (MP) que viola fron-
conhecimentos tradicionais praticados no País até o dia 30 de junho
talmente os direitos indígenas e de comunidades tradicionais, abrindo
de 2000, como também assegurou aos biopiratas o direito dc continu-
as suas terras para a biopirataria e para a expropriação de seus conhe-
ar a piratear nossos recursos genéticos e nossos conhecimentos.
cimentos tradicionais, produzidos ao longo de gerações

Dispõe o Art. 14 da MP que, cm casos de relevante interesse públi-


A MEDIDA PROVISÓRIA N° 2.052/2000 co, “assim caracterizado pela autoridade competente”, o ingresso

A discussão acerca da criação de mecanismos legais de proteção em terra indígena, área pública ou privada, para acesso a recursos
aos conhecimentos indígenas e tradicionais associados à genéticos, dispensará prévia anuência das comunidades indígenas
biodiversidade, bem como de controle e compensação às comuni- e locais e dc proprietários. A Confederação Nacional dos Traba-
dades detentoras de tais conhecimentos, torna-se particularmente lhadores na Agricultura (Contag), com a assessoria dos advoga-
relevante em função da MP n° 2.052, de 30 de junho de 2000, dos do Instituto Socioambiental, propôs ação direta de
editada pelo Governo, e das propostas legislativas em tramitação inconstitucionalidade contra a referida MP, perante o Supremo
no Congresso Nacional. Tribunal Federal.

A MP foi editada às pressas pelo governo para “legitimar” o acor- Vê-se que o citado Artigo 14, ao permitir o acesso aos recursos
do firmado entre a organização social Bioamazônia e a genéticos situados em terras indígenas sem a prévia anuência das

multinacional Novarüs Pharma, em 29 de maio de 2000, que pre- respectivas comunidades, afronta os direitos de posse permanente

vê o envio de dez mil bactérias e fungos da Amazônia ao referido e usufruto exclusivo assegurados aos índios pela Constituição.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTD SOCI0AMB1ENTAL LEGISLAÇÃO 95


Acervo
//\C I SA
A CONVENÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLOGICA jurídico análogo ao dos recursos minerais, que também constitu-

em propriedade distinta da do soio e pertencem à União.


0 Artigo 8(j) da Convenção da Diversidade Biológica obriga os
Já destacamos as conseqüências negativas de tal regime jurídico
países signatários a “respeitar, preservar e manter o conhecimen-
para as comunidades tradicionais e indígenas, em especial. Com
to, inovações e práticas das comunidades locais e populações in-
efeito, as comunidades indígenas são usufrutuárias exclusivas dos
dígenas com estilos de vida tradicionais relevantes à conservação
recursos naturais existentes em suas terras tradicionais - estando
e utilização sustentável da diversidade biológica", bem como “en-
ou não associados a conhecimentos tradicionais - nos termos do
corajar a repartição justa e equitativa dos benefícios oriundos da
Art. 231, §3°, da Constituição.
utilização desse conhecimento, inovações e práticas”. O reconhe-
cimento da necessidade de proteção da sociodiversidade, intrin- Se não for respeitado 0 direito de usufruto exclusivo das comuni-
secamente associada à biodiversidade, está consagrado também dades indígenas sobre os recursos genélicos de suas terras, inde-

na legislação interna brasileira. A necessidade de criação de um pendentemente da titularidade do direito de propriedade sobre os
regime legal suigenerís de proteção aos direitos intelectuais cole- mesmos, sofrerão os índios mais uma restrição no exercício de
tivos tem sido destacada em vários fóruns internacionais de discussão. seus direitos territoriais e culturais, tão fundamentais à sua pró-
pria sobrevivência como povos diferenciados.
Dois dos maiores especialistas mundiais, Vandana Shiva (da ONG
Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource Entendemos que os recursos genéticos - da mesma forma como
Pollcy, de Nova Déllti, índia) e Gurdial Singh Nljar (da rede de os bens ambientais em geral - independente de pertencerem ao
ONGs Third World Network, sediada em Penang, na Malásia) cha- domínio privado ou púbbco (conforme a dominialidade sobre os
mam atenção para os preconceitos existentes na própria definição recursos naturais que os contêm), devem ter 0 seu acesso e utili-

do conhecimento, em que se considera o conhecimento ocidental zação limitados e condicionados por regras de interesse público.
como “científico" e as tradições não-ocidentais como “não cientí- Isto não significa, entretanto, que devam integrar 0 patrimônio
ficas”, afirmando que os sistemas tradicionais de conhecimento público. São bens de interesse público, independentemente de se-
têm as suas próprias fundações científicas e epistemológicas, que rem de propriedade pública ou particular.

os diferem dos sistemas de conhecimento ocidental, reducionistas


Neste particular, parece bastante oportuna a observação de Vandana
e cartesianos. Por tal razão, Shiva e Nijar alertam para a urgente
Shiva, segundo a qual a soberania assegurada aos países signatári-
necessidade de criação de sistemas legais de proteção a conheci-
os da Convenção de Diversidade Biológica (CDB) sobre os recur-
mentos tradicionais que considerem as suas especificidades culturais.
sos genéticos existentes em seus territórios não deve ser entendida
No Brasil, tramitam atualmente no Congresso Nacional três proje- como soberania estatal, e sim como soberania popular, ou seja,

tos legislativos acerca da matéria, além da MP editada pelo Execu- soberania a ser exercida pela sociedade civil daquele país. A pro-
tivo: 1 ) uma proposta de emenda constitucional encaminhada pelo posta de emenda constitucional apresentada pelo governo parece
Executivo ao Congresso, que pretende incluir os recursos genéti- incidir exatamente neste equívoco: confunde 0 direito de sobera-
cos entre os bens da União; 2) projeto de lei apresentado pela nia sobre nossos recursos genéticos com dominialidade pública

senadora Marina Silva (PT-AC), já aprovado pelo Senado Federal ou estatal. Proteção estatal não significa propriedade pública, ne-
na forma de Substimtivo apresentado pelo relator deste na Comis- cessariamente.
são de Assuntos Sociais, senador Osmar Dias (PSDR-PK) e 3) pro-
jeto de lei apresentado pelo deputado Jacques Wagner (PT-BA), Projeto da senadora Marina Silva
ainda na Câmara dos Deputados. A Câmara dos Deputados insta- O Projeto de Lei n° 306/95, de autoria da senadora Marina Silva

lou uma Comissão Especial para apreciar os projetos. (PT-AC) dispõe sobre 0 acesso a recursos genéticos e seus produ-
,

tos derivados. Jáfoi aprovado pelo Senado (na forma do Substitutivo


Lembremos ainda que o Estatuto das Sociedades Indígenas, tam-
do Relator, senador Osmar Dias) e encontra-se na Câmara dus
bém em tramitação no Congresso Nacional, dispõe que: “O acesso
Deputados.
e a utilização, por terceiros, de recursos hiogenéticos existentes
nas terras indígenas, respeitará o direito de usufruto exclusivo das O projeto estabelece as condições para autorização de acesso a

comunidades indígenas e dependerá de prévia autorização das recursos genéticos nacionais, a serem concedidas pelo Executivo,
mesmas, bem como de prévia comunicação ao órgão indigenista e determina a criação de uma Comissão de Recursos Genéticos,
federal". Vejamos o que dispõem tais projetos legislativos. composta por representantes do governo, da comunidade científi-

ca, de comunidades locais e indígenas, de organizações não-go-


Emenda constitucional vernamentais e empresas privadas, com a função de referendar as
A emenda constitucional encaminhada pelo governo pretende in- decisões do Executivo relativas à política nacional de recursos ge-
cluir os recursos genéticos entre os bens da União, tornando pú- néticos. Segundo 0 projeto, 0 acesso depende de contrato entre
blica a sua propriedade, independentemente do titular do direito autoridade competente designada pelo Executivo e a pessoa in-
de propriedade sobre o solo e sobre os recursos naturais que os teressada, e estabelece as partes e as condições para a assina-
contêm. Estabelece, portanto, para os recursos genéticos, regime tura do contrato.

96 LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1906/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


-zLS?^ Acervo
//\C I SA
0 projeto dedica um capítulo (Arts. 44, 45 e 46 e seus diversos REGIME SUI GENERIS DE PROTEÇÃO
parágrafos) à “Proteção do Conhecimento Tradicional Associado
A DIREITOS INTELECTUAIS COLETIVOS
a Recursos Genéticos”, no qual estabelece que o “Poder Público

reconhece e protege os direitos das comunidades locais e popula- Embora os projetos de lei citados acima contenham alguns dispo-
ções indígenas de se beneficiarem coletivamente por seus conhe- sitivos visando reconhecer e proteger os direitos de comunidades
cimentos tradicionais e a serem compensadas pela conservação tradicionais associados à biodiversidade, o que nos parece bas-
dos recursos genéticos, mediante remunerações monetárias, bens, tante positivo, tais iniciativas são ainda tímidas e pouco precisas
serviços, direitos de propriedade intelectual ou outros mecanis- na regulamentação de mecanismos de compensação para as co-
1)
mos”. Determina a criação de um cadastro nacional onde serão munidades tradicionais.
depositados registros de conhecimentos associados a recursos
genéticos pelas comunidades locais e indígenas, e estabelece que
Um regime legal sui generis de proteção a direitos intelectuais
coletivos de comunidades tradicionais deve partir das seguintes
as comunidades locais e indígenas detêm os direitos exclusivos
premissas:
sobre seus conhecimentos tradicionais, somente elas podendo
cedê-los, por meio de contratos. Prcvisão expressa dc que são nulas de pleno direito, e não pro-
duzem efeitos jurídicos, as patentes ou quaisquer outros direitos
Dispõe ainda que a proposta de contrato de acesso a recursos
de propriedade intelectual (marcas comerciais, etc.) concedidos
genéticos (quando situados em terras indígenas) “somente será
sobre processos
3) ou produtos direta ou indiretamente resultan-
aceila se for precedida do consentimento prévio fundamentado da
tes da utilização de conhecimentos de comunidades indígenas
comunidade local ou população indígena, obtido segundo as nor-
ou tradicionais, como forma de impedir o monopólio exclusi-
mas daras e precisas que serão definidas para esse procedimento 4)
vo sobre os mesmos;
pela autoridade competente” (Arts. 44 e 45).

De acordo com o comuni-


2) Previsão da inversão do ônus da prova em favor das comunida-
Art.46 do projeto, “fica assegurado às
des tradicionais, em ações judiciais visando anular patentes con-
dades locais e populações indígenas o direito aos benefícios
cedidas sobre processos ou produtos resultantes de seus conheci-
advindos do acesso a recursos genéticos realizado nas áreas que
mentos, de forma que competiria à pessoa ou empresa demanda-
detêm, definido na forma de contrato conexo previsto nesta lei e
da provar o contrário;
após consentimento prévio fundamentado”, De acordo com o pa-
rágrafo único deste artigo, “as comunidades locais e populações A expressa previsão da não-patenteabilidade dos conhecimen-
indígenas poderão solicitar à autoridade competente que não per- 5) tradicionais permitiria
tos o livre intercâmbio de informações en-
mita o acesso a recursos genéticos nas áreas que detêm, quando tre as várias comunidades, essencial à própria geração dos mesmos;
julgarem que estas atividades ameaçam aintegridade de seu patrimônio
Obrigatoricdade legal do consentimento prévio das comunida-
natural ou cultural". Basicamente, são estas as normas do projeto.
des tradicionais para o acesso a quaisquer recursos genéticos
6) si-

tuados em suas terras, com expresso poder de negar, bem como


Projeto do deputado Jacques Wagner
para a utilização ou divulgação de seus conhecimentos tradicio-
O projeto de lei apresentado peio deputado jacques Wagner (PT-
nais para quaisquer finalidades, e, em caso de finalidades comer-
BA) contém poucas diferenças - positivas - em relação ao
ciais, previsão de formas de participação nos lucros gerados por
Substitutivo já aprovado no Senado, como as alterações nas defini-
processos ou produtos resultantes dos mesmos, através de contra-
ções de comunidades e sociedades indígenas, de forma a adotar
tos assinados diretamente com as comunidades indígenas, que
as mesmas definições constante do projeto de lei que institui o
poderão contar com a assessoria (facultativa) do órgão indigenista,
Estatuto das Sociedades Indígenas.
de organizações não-governamentais e do Ministério Público Fe-
Também merece ser elogiado o acréscimo de parágrafo único ao deral, devendo ser proibida a concessão de direitos exclusivos para
Art. 46 do Substitutivo aprovado no Senado, com a seguinte reda- determinada pessoa ou empresa;
ção: “As comunidades locais e populações indígenas poderão ne-
Criação de um sistema nacional de registro de conhecimentos
gar o acesso a recursos genéticos existentes nas áreas por eles
tradicionais associados à biodiversidade, como forma de garantia
ocupadas, ou o acesso a conhecimentos tradicionais a eles associ-
de direitos relativos aos mesmos. Tal registro deverá ser gratuito,
ados, quando entenderem que estas atividades ameaçam a integri-
facultativo e meramente declaratório, não se constituindo condição
dade de seu patrimônio natural ou cultural”, A redação do
paia o exercício de quaisquer direitos, inas apenas um meio de prova;
Substitutivo previa apenas a possibilidade de as comunidades “so-
licitarem" às autoridades competentes que não permitam o acesso Tal sistema nacional de registro deve ter a sua administração

a recursos genéticos situados em suas terras tradicionais. supervisionada por um conselho com representação paritãria de
órgãos governamentais, não-governamentais e associações indí-
genas representativas, bem como um quadro de consultores ad
hoc que possam emitir pareceres técnicos, quando for necessário.
(abril, 2000).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1S3B,'2QU0 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LEGISLAÇÃO 97


PROPOSTAS DE OUTROS PAÍSES
Outros países têm aprovado legislação interna regulando a conser- vações de comunidades tradicionais relevantes para a conservação
vação da biodiversidade e a distribuição justa e equitativa dos bene- da biodiversidade, em consonância com o Artigo 8(j) da Convenção
fícios derivados da utilização sustentável de seus recursos. Vejamos da Diversidade Biológica:

algumas iniciativas visando proteger conhecimentos, práticas e ino-

País Iniciativas Legislativas País Iniciativas Legislativas

Costa Rica Em 1998, a Costa Rica aprovou a sua Lei


". da Colômbia 0 Grupo Ad hoc de Biodiversidade elaborou, em
Biodiversidade", com um capítulo dedicado à 95, um projeto de lei sobre a conservação e utili
“proteção dos direitos de propriedade intelectual zação da diversidade biológica, com vários dis

e industriar. Estabelece um sistema híbrido de positivos acerca do conhecimento tradicional.


proteção, mesclando os tradicionais direitos de Esta proposta estabelece dois regimes diferentes
propriedade intelectual (patentes, etc.) com um para a tramitação das solicitações de acesso aos
sistema sui generis de proteção, prevendo o re recursos genéticos, conforme haja ou não conhe
gistro de direitos intelectuais comunitários sui-
'
cimentos associados.
generis".
Filipinas A Ordem Executiva Presidencial n° 247/95 esta

Pacto Andino 0 Regime Comum Andino de Acesso (ou Co belece normas para a realização da bioprospec-
munidade Andina) - aos Recursos Genéticos foi ção. Em 1997, foi editada a Lei de Proteção aos
adotado acordo comercial regional pela Decisão Direitos dos Povos Indígenas. Ambas leis estabe-
391 de 19%, que deixou entre a Colômbia. Equa lecem que o acesso ao conhecimento indígena só
dor. a sua regulamentação a cargo de cada serão permitidos dentro das terras ancestrais in
Venezuela, Peru e Bolívia, país. Distingue o re dígenas com o livre, prévio e informado consen
curso genético do componente intangível (conhe timento das comunidades. A referida lei protege

ci mentos associados) e estabelece que o contrato os direitos de comunidades indígenas aos seus
de acesso, quando tenha como objeto componen “domínios ancestrais", integridade cultural,

tes intangíveis, conterá um Anexo, no qual se pre autogoverno (inclusive ao seu próprio sistema ju
veja a repartição justa e eqüilativa dos benefící dtcial). posse coletiva das terras e preservação dos
os provenientes de seu uso. sistemas indígenas de conhecimento.

Bolívia A Decisão Andina 391 foi regulamentada pelo Tailândia Embora o país não tenha ratificado a Con venção
Decreto 24.676/97. Em relação aos conhecimen da Diversidade Biológica, o Ministério da Saúde
tos tradicionais, estabelece a realização de Con propôs normas permitindo o registro da mediei
tratos Anexos, subscritos pelos provedores do com na tradicional tailandesa. Caso seja aprovada a
ponente intangível e o solicitante do acesso. proposta, os curadores tradicionais podem regis
trar suas práticas medicinais para assegurar me
Equador Em 1996, aprovou uma mini lei, que declara:
canismos de compensação pela sua utilização co
"0 Estado equatoriano é o titular dos direitos
mercial. Os EUA protestaram contra a proposta.
de propriedade sobre as espécies que integram
a biodiversidade, bens nacionais e de uso públi índia Encontra-se em tramitação um projeto de lei
co. Sua exploração comercial se sujeitará à regu regulando o acesso a recursos genéticos e a dis
lamentação especüdque determinará o presidente tribuição equitativa dos benefícios derivados. As
da República, garantindo os direitos ancestrais comunidades locais poderão inlercambiar livre

das comunidades indígenas sobre os conhecimen mente os componentes intangíveis dos recursos
tos e os componentes intangíveis da biodiversi- biológicos. Em 1995, foi estabelecido o Registro
dade e dos recursos genéticos e o controle sobre da Biodiversidade dos Povos. A índia tem se des
eles Foi criado um Grupo de Trabalho sobre tacado na defesa dos direitos de agricultores pe
Biodiversidade. rante a comunidade internacional.

Peru 0 governo criou um grupo formado por represen Malásia A proposta de lei (“Community InteUectual Rights
tantes indígenas, de ONGs e funcionários de Mi AcVj elaborada pela rede de ONGs Third World
nistérios e do órgão de patentes (Indecopi) para NetWork prevê que: I) as comunidades locais e
,

formular um projeto de lei regulando o acesso a indígenas são os guardiões (custodians) de suas
recursos genéticos. Saliente-se que a sua legisla inovações; 2) devem ser proibidos quaisquer di

ção de propriedade industrial é uma das poucas reitos de monopólio exclusivo sobre tais inova
a obrigar o Estado a criar uma regulamentação ções, e quaisquer transações que violem tal proi-

especial para o registro de conhecimentos de co bição são nulas e não produzem efeitosjurídicos
munidades indígenas e rurais. e 3) o livre intercâmbio e transmissão de conhe
cimentos entre comunidades indígenas.

9B LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Direito Autoral e Direito de Imagem:
Novos Desafios para os índios

Ana Valéria Araújo Coordenadora do Programa


Direito Socioambiental do ISA

0 INCREMENTO DO USO DA IMAGEM concretos referentes ao patrimônio cultural indígena. Diga-se ain-

EDOS BENS CULTURAIS INDÍGENAS TRAZ da que o Estatuto do índio, Lei 6.001/73, reporta-se aos temas,

assegurando genericamente o respeito ao patrimônio cultural das


PARA ÍNDIOS E SUAS ORGANIZAÇÕES
comunidades indígenas e criminalizando algumas ações que vio-
UMA NOVA ORDEM DE POTENCIAIS
lem a sua imagem, ou de seus membros, e expressões de sua cultura.
CONFLITOS E DEMANDAS POR SOLUÇÕES
Independentemente disso, a verdade é que, apesar da legislação, a
imagem dos índios e os bens que constituem a expressão de suas
O direito de imagem e o direito autoral são questões bastante dis-
cultoras (cantos, desenhos, pinturas, mitos, etc.) não raro têm
tintas e devem ser analisadas separadamente, embora muitas ve-
sido utilizados de maneira indevida, sem que lhes seja facultado o
zes, na prática, surjam juntas e aparentem tratar de uma coisa só.
acesso a instrumentos eficazes de proteção dos seus direitos. O
F.m primeiro lugar, o direito de imagem é um direito afeto às pes-
assédio e as investidas quanto ao uso da imagem e dos bens cultu-
soas e é tratado no plano do direito constitucional. Enquanto isso,
rais indígenas crescem em quantidade e complexidade, estabele-
o direito autoral é um ramo do direito civil e protege os direitos
cendo para os índios e suas organizações uma nova ordem de po-
das pessoas, enquanto autoras de obras intelectuais, sobre essas obras.
tenciais conflitos e demandas por soluções.
É certo que a Constituição Federal oferece as bases gerais para
todos esses direitos. Em seu Artigo 5°, que trata dos direitos e de-
O DIREITO AUTORAL BRASILEIRO
veres individuais e coletivos, a Constituição garante a todas as pes-
soas a inviolabilidade de sua imagem e do direito a indenização Esse direilo regula a proleção às obras intelectuais, assim entendi-
por danos decorrentes de sua violação. Daí que não se pode usar das todas as criações do espírito, expressas por qualquer meio, de
a imagem de quem quer que seja, tampouco dos índios, por quais- forma tangível ou intangível. Em outras palavras, trata-se dos tex-

quer meios ou para qualquer Em, sem a sua devida autorização e tos literários, artísticos ou científicos, das músicas, fotografias,
respectiva compensação. A imagem dos índios, de suas comunida- desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e tantas outras coisas,
des e povos constitui patrimônio indígena a ser protegido e respei- listadas no Artigo 7° da Lei 9-610, de 19 de fevereiro de 1998, que
tado por todos. regulamenta o assunto. O direito autoral está eminentemente

Quanto aos direitos autorais dos índios, o Artigo 231 da Constitui- centrado na idéia da produção individual. Toda a proteção ofere-

ção de 88 reconhece a organização social, costumes, línguas, cren- cida parte da idéia de que há um autor, pessoa física (apenas em
ças, tradições indígenas e o caráter coletivo das mesmas, ofere- casos excepcionalíssimos, pessoa jurídica), responsável direto e

cendo garantia específica a lodos os seus bens - aqui incluídos os exclusivo pela criação de uma dada obra artística, científica ou

bens culturais. Além disso, a Constituição reconhece expressamente literária, a quem a lei confere direitos morais e patrimoniais sobre

a existência de manifestações culturais indígenas, que constituem aquela obra. Admite-se, obviamente, a co-autoria e a existência de

o seu patrimônio cultural, objeto de ampla proteção na seção obras coletivas, mas essas nada mais são do que o somatório de

dedicada aos bens culturais e à cultura, em que se cria para o criações individuais que passam a integrar uma obra autônoma.
Estado brasileiro a obrigação de protegê-las. Esse modo de proteção, entretanto, não incorpora as especi-
Além da Constituição, as leis federais e estaduais de proteção aos ficidades da produção cultural indígena, que, em sua grande par-
bens culturais em geral podem também ser aplicadas em casos te, decorre de uma atuação coletiva e indivisa. Tomemos como

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LEGISLAÇÃO 99


exemplo a arte corporal dos índios Xikrin: a antropóloga Isabelle integrante desse povo. E um direito que não se reparte e existe em
Oiiannini esclarece que "a pintura xikrin, que tem como base o razão do fato de que o indivíduo pertence àquele povo.
próprio corpo humano, possui uma função social e mágico-religi-
osa, sendo a maneira correta de um indivíduo se apresentar tanto AUTORIA COLETIVA
no cotidiano como em épocas de rituais e resguardos. A pintura é
Entretanto, ao buscar proteger as obras de autoria coletiva, os ín-
uma tradição gráfica altamente padronizada e que reflete a marca dios encontram dificuldades para adequar os mecanismos estabe-
de uma identidade étnica inconfundível. Ela tem padrões e moti-
lecidos pela legislação aos seus padrões próprios e específicos.
vos bem definidos, culturamente reconhecidos por todos os mem-
Faculta-se, por exemplo, ao autor da obra intelectual, registrá-la,
bros da Comunidade, e é entendido como um sistema de comuni-
conforme a sua natureza, na Biblioteca Nacional, na Escola Nacio-
cação. Os padrões rígidos, cuja origem, para esta comunidade,
nal de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no
remonta ao tempo mítico, foram, são e serão transmitidos de ge-
Instituto Nacional do Cinema e no Conselho Federal de Engenha-
ração a geração de forma coletiva, pois é um recurso constante
ria, Arquitetura e Agronomia. 0 registro não é obviamente
para a reafirmação de uma idéia e de um ideal. Para a Comunida-
condicionante da proteção legal, mas assegura o direito. Só que as
de Xikrin, a pintura corporal é um atributo da própria natureza
tentativas até agora feitas no sentido de registrar as obras indíge-
humana. Meio de comunicação, classificação e de representações
nas junto a algumas dessas instituições, esbarraram na questão da
gráficas exlremamente elaborado e muito valorizado pelos índios.”
autoria coletiva, demonstrando que o sistema não está habilitado a

O grafismo xikrin, como tantas outras formas de expressão das reconhecer e proteger padrões distintos dos seus.

culturas indígenas, tem autoria coletiva, que assim há de ser reco- A fim de solucionar esses problemas e garantir a proteção efetiva

nhecida. Não se trata de um somatório de autorias individuais, aos bens culturais indígenas, o então presidente da Fundação Na-
nem de co-autoria, mas de uma atividade que possui característi- cional do índio (Funai), Carlos Frederico Marés, criou o registro

cas de um sistema de comunicação visual o qual confere a essa do patrimônio cultural indígena, a cargo do Museu do índio. O
arte funções específicas na vida dessa sociedade. Desse modo, a novo mecanismo deverá facilitar o cadastro dos bens culturais in-

proteção autoral deve também se fazer coletivamente -o direito é tegrantes do patrimônio indígena, na medida em que povos indí-

concernente a todo o povo e a cada índio em particular como genas, suas comunidades, organizações e os próprios índios, em

DECRETO PROTEGE PATRIMÔNIO IMATERIAL


No dia 7 de agosto de 2000, o presidente da República Fernando No Brasil já existia legislação de proteção ao patrimônio cultural
Henrique Cardoso assinou o Decreto n° 3-551, publicado no Diário material (protegido através do tombamento), mas faltava a prote-
Oficial de 7 de setembro de 2000 (DOU, Seçãol pág. 2, n"151), insti- ,
ção do patrimônio imaterial. Nesse contexto, criou-se um grupo de
tuindo o registro de bens culturais de natureza imaterial. Esse regis- trabalho que tinha por objetivo discutir, no âmbito do Ministério da
tro deve ser feito no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultura, a proteção ao patrimônio cultural imaterial. Entre os parti-
Nacional (lphan). cipantes do grupo, estavam presentes o ex-ministro da Educação, Edtuir-
do Portela, e o jurista Joaquim Falcão, da Fundação Roberto Marinho.
O decreto estabelece o critério de relevância para o registro dos bens
o
culturais imateriais § 2 do Decreto), ficando a decisão so-
(Art. 1°, O decreto é um passo importante na proteção do patrimônio cultu-
bre a conveniência do registro a cargo das autoridades competentes, ral nacional na medida em que vem atender a necessidade da soci-
no caso, o presidente do Ipban e o Conselho Consultivo do Patrimônio edade brasileira de proteger seus bens culturais. Porém, élimitanle a
Cultural. Esse decreto determina que, para efeito de registro, os bens partir do momento em que estabelece que o bem deve ser de cunho
o 1
culturais imateriais serão inscritos em quatro livros (Art, I , § °, relevante para ser registrado, algo que pode minimizar a possibili-
incisos I, II, III e IV), classificados da seguinte forma: o livro dos dade de registro desse patrimônio.

saberes (conhecimentos e modo de fazer enraizados no cotidiano


Com relação aos índios, visando dar maior autonomia para a prote-
das comunidades): das celebrações culturais (rituais efestas da vida
ção de seus bens e garantir a indejiendência em relação aos diversos
social) formas de expressão ( manifestações literárias, musicais, plás-
interesses que os contrapõem, o então presidente da Funai, Carlos
ticas, cênicas e lúdicas) e dos lugares ( espaços onde se reproduzem e
Frederico Marés de Souza Filho, assinou a Portaria n° 693700 regula-
se concentram práticas culturais coletivas).
mentando o registro do patrimôn io cultural indígena. Esta portaria
Segundo o decreto, a requisição do registro, ou cadastro, somente permite à própria comunidade indígena requerer o registro de seus
pode serfeita peto ministro de Estado da Cultura: instituições vincu- bens, sem a necessidade de haver aprovação pelo critério da relevân-
ladas ao Ministério da Cultura: Secretarias da Cultura, Município e cia. A portaria determina, ainda, expressamente, que o cadastro não
do Distrito Federal e as sociedades ou associações civis (Art. 2a do é condição necessária para atestar a titularidade do hem cultural
Decreto). Deste modo, criou-se uma limitação, pois não fica permi- indígena. Essa portaria foi ligeiramente alterada pelo atual presidente

tido aos detentores do bem cultural, como por exemplo as comuni- da Funai, Glenio da Costa Alvarez. ao estabelecer que afomui de registro
dades indígenas e quihmbolas, fazerem a requisição. do bem cultural inuiterial indígena éo cadastramento. (Ijlia Toledo Diniz,

estagiária do Programa de Direito Socioambiental/ISA - ago/00)

100 LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


; ;

se tratando de produção individual, além de outros interessados, obtida deve ser a mais específica possível, definindo-se detalhes

poderão solicitar a sua instauração. Independentcmente de regis- sobre o uso do objeto contratado para um fim determinado.

tro, porém, os direitos autorais dos índios têm se resolvido caso a Quanto ao pagamento ou outra forma de compensação, há que ser
caso, em acordos privados nos quais é reconhecida a autoria cole- pacntado com os próprios índios e fixado no instrumento de auto-
tiva das obras e são estabelecidas obrigações pelo uso dos direitos rização. Não há percentual ou parâmetro estabelecido na legisla-

de autor. 0 direito de imagem dos índios também tem sido objeto ção. Em se tratando, por exemplo, da cessão de direitos autorais
de contratos que lhes garantam proteção e justa compensação. sobre desenhos ou ilustrações a serem inseridas numa publica-

A premissa é de que está assegurado aos povos e comunidades ção, pode se estabelecer um valor fixo, uma percentagem da ven-
indígenas, e ao índio como indivíduo, em caráter permanente, o da da publicação, ou, ainda, ambos. 0 ideal é que esse valor seja,
direito exclusivo de usarem, fruírem e disporem de suas obras e no mínimo, compatível com a praxe do mercado para os não-índi-
criações de espírito, ainda que transmitidas pela tradição oral, in- os, considerando-se o valor cultural agregado característico da
dependentemente de sua origem temporal. Assim sendo, a utiliza- situação em questão. Nos casos de utilização de obras e criações

ção de quaisquer obras e criações por terceiros, tendo ou não fins indígenas sem finalidade lucrativa, este fato deverá ser levado em
lucrativos, deve ser precedida de expressa autorização do povo ou consideração.
comunidade indígena em questão. Em outras palavras, é necessá-
Finalmente, os contratos de cessão de direito autoral deverão con-
rio obter permissão, por escrito, dos autores, para utilizar o mate-
ter salvaguardas que garantam crédito de autoria coletiva e proibi-
rial, o que se materializa num contrato pelo qual o interessado se
ou parcial da obra indígena, sem expres-
ção de reprodução total
compromete a pagar ou oferecer outra forma de contrapartida
sa autorização da comunidade autora. Nos casos de cessão de uso
pactuada com os índios.
do direito de imagem, é importante também garantir que a utiliza-

ção da imagem não se dará de forma ilimitada, tão pouco de ma-


Pode ocorrer que a autoria da obra seja tida como individual. Nes-
neira ofensiva aos usos, costumes e tradições daquela comunida-
te caso, é possível obter do próprio artista a autorização para o
de e dos povos indígenas em geral.
uso. Em se tratando de autoria coletiva, o correto será obter uma
autorização do representante da comunidade, segundo seus usos, Os direitos autorais e o direito de imagem dos povos indígenas no

costumes e tradições. Há, porém, casos de definição mais comple- Brasil ainda não encontram claro amparo nas leis. Em que pese

xa,em que a autoria de uma obra seria partilhada por mais de este fato, os índios têm buscado soluções criativas para assegurar

uma comunidade indígena. É o caso, por exemplo, de alguns mi- os seus direitos. É de se esperar que o direito brasileiro venha a

tos, danças e rituais. Em qualquer hipótese, todavia, a autorização incorporar essas iniciativas, (outubro, 2000)

PORTARIA N° 693, FUNAI/PRES, 19/07/2000


O PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI, no uso seu do índio, acompanhada da descrição do bem e de todas as de-

das atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto, aprovado pelo mais informações pertinentes.
Decreto n°564, de OS de junho de 1992, e com fundamento nos arti- Art. 5°. O cadastro deverá ser efetuado no prazo máximo de noventa
gos 215, §l°e231 da Constituição Federal, dias, de maneira gratuita, devendo o Museu do índio fornecer ao
interessado certidão que ateste a condição do bem cadastrado.
RESOLVE: Art. 6°. A Fundação Nacional do índio deverá dar ampla divulgação
o
Art. I . Fica criado o Cadastro do Patrimônio Cultural Indígena. aos bens culturais cadastrados, especialmente junto às sociedades
Art. 2° Caberá ao Museu do índio proceder ao cadastro do indígenas.

patrimônio cultura! indígena em livro próprio. Parágrafo Único -O Museu do índio organizará banco de dados con-
Parágrafo Único -O cadastro não é condição necessária para tendo todas as informações sobre os bens cadastrados.
atestar a existência e titularidade do bem cultural. Art. 7°. Fica instituída, para funcionamento no âmbito do Museu do

Art. 3°. Poderão solicitara instauração do procedimento de cadastro: índio, a Comissão Deliberativa, que deverá dirimir as dúvidas ou
I. as sociedade indígenas e suas comunidades; conflitos decorrentes do cadastro efetuado.
II. as organizações indígenas Parágrafo Único -A Comissão Deliberativa será composta petos se-

III. as organizações da sociedade civil; guintes membros:

IV. as instituições científicas; l. um representante da Associação Brasileira de A ntropologia;


V. O Ministério Público Federal II. um representante de organização indígena de base nacional ou
VI. A Fundação Nacional do índio; regional;

VII. o índio, no caso de produção individual. m. o Chefe do Museu do índio regulamentará o funcionamento da
Parágrafo Único - Em qualquer hipótese, fica ressalvado o direito da Comissão Deliberativa em regimento interno.

sociedade indígena interessada obstar o cadastro de um bem inte- Art. 8o Retvgar a Portaria n° 2I6/PRES, de
.
03. 04.2000.

grante do seu patrimônio cultural Art. 9o . Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação.
Art. 4 o A solicitação de cadastro deverá ser dirigida ao Chefe do Mu-
.
Assina: Glenio da Costa Alvarez, presidente.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LEOISLAÇÃO 101


W_>7^ Acervo
_//£ ISA

0 Direito de Usufruto e os Projetos


Econômicos Indígenas

Promotora de Justiça (DF) e


Juliana Santilli
membro do Conselho Diretor do ISA


0 DIREITO DE USUFRUTO EXCLUSIVO DOS § - Incluem-se no usufruto, que se estende aos acessórios e
ÍNDIOS SOBRE AS RIQUEZAS NATURAIS DE seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos trechos

SUAS TERRAS DEVE SER ENTENDIDO COMO das vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas.

UM BENEFÍCIO AOS ÍNDIOS, UMA PROTEÇÃO §


2° - É garantido ao índio o exclusivo exercício da caça e pes-
ESPECIAL, E NÃO COMO UMA RESTRIÇÃO ca nas áreas por ele ocupadas, devendo ser executadas porfor-
ÀS SUAS ATIVIDADES PRODUTIVAS ma suasória as medidas de polícia que em relação a ele even-
’’
tualmente tiverem de ser aplicadas.

A Constituição Federal assegura aos índios os direitos de posse O direito de usufruto exclusivo, assegurado constitucionalmente

permanente sobre suas terras tradicionais e de usufruto exclusivo aos índios, implica que estes podem tirar dos recursos naturais de

sobre os recursos naturais nelas existentes, incluídas as riquezas suas terras todos os frutos, utibdades e rendimentos possíveis, desde

do solo, dos rios e dos lagos. As únicas exceções ao direito de que não lhe alterem a substância ou comprometam a sua

usufruto indígena estão previstas na própria Constituição: aprovei- sustentabilidade ambiental.

tamento de recursos hídricos e mineração por terceiros, desde Os índios não podem alienar a terceiros o seu direito de usufruto.
que ouvidas as comunidades indígenas e assegurada a participa- Isto não significa, entretanto, que estejam obrigados a gozar direta
ção nos resultados da lavra (Art. 231, §3°) e imediatamente de seus bens, ou que não possam fazer parcerias

O direito de usufruto exclusivo se destina a assegurar aos índios


ou ser assessorados por terceiros em projetos que visem a explo-
meios para a sua subsistência, para que possam se reproduzir,
ração de seus recursos naturais. O entendimento contrário trans-
física e culturalmente. e não tolher as suas iniciativas e projetos de
formaria o “usufruto exclusivo" indígena em um verdadeiro “pre-
sente de grego" às comunidades indígenas, que estariam impedi-
auto-sustentação econômica.
das de desenvolver os seus próprios projetos econômicos, confor-
O conceito jurídico de usufruto exclusivo é fundamental à com- me salienta Roberto Santos, em artigo sobre a "Parceria Pecuária
preensão da legislação que regula a exploração dos recursos na- em Terras Indígenas".
turais das terras indígenas. Segundo o Código Civil, Art. 713, o
As comunidades indígenas não podem, definitivamente, se envol-
usufruto é o “direito real de fruir as utilidades e frutos de uma
ver em projetos que impliquem a perda da posse de suas terras,
coisa", e o usufruto estende-se aos acessórios da coisa e seus acres-
ou que comprometam a sustentabilidade de seus recursos, pois
cidos (Art. 716). De acordo com o Arí.718 do Código Civil, “o
estes devem ser preservados para as próximas gerações, por se
usufrutuário tem direito à posse, uso, administração e percepção
tratar de direitos coletivos.
dos frutos”.
A terra indígena, enquanto base do habitat de um povo, e a
O Estatuto do índio em vigor (Lei 6.001/73) estabelece a seguinte
sustentabilidade das riquezas naturais que delas são extraídas,
definição do usufruto indígena:
asseguram a reprodução física e cultural das comunidades indíge-
"Art. 24-0 usufruto assegurado aos índios ou silvícolas compre- nas. E foi justamente por reconhecer a dependência das comuni-
ende o direito à posse, uso e percepção das riquezas naturais e de dades indígenas de seu habitat natural, que a Constituição impôs
todas as utilidades existentes nas terras ocupadas, bem assim ao ao Poder Público a obrigação de defender e preservar não só as

produto da exploração econômica de tais riquezas e utilidades. terras habitadas pelos índios, como também as utilizadas para suas

102 LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo
-y^ClSA
:s produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recur- inscritos e autorizados; somente podem vender madeira ou mi-
sos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua nerais extraídos conforme as normas específicas para talfim,
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradi- mas podem fazer roças e aldeias mesmo nas áreas considera-
ções (Ari 231, caput). das de preservação permanente

O direito de usufruto exclusivo Indígena não pode impedir os índi- Em outras palavras: as atividades tradicionais das comunidades
os de desenvolver suas próprias atividades produtivas, ainda que indígenas, voltadas para a sua subsistência ou consumo interno,
com finalidades comerciais. Fundamental é a preservação dos re- não estão sujeitas a qualquer restrição ou condicionadas por qual-
cursos ambientais existentes nas terras indígenas, de forma a asse- quer autorização do Poder Público. Já as atividades de exploração
gurar a sobrevivência das próximas gerações, bem como a manu- comercial de recursos naturais dependem do cumprimento das
tenção da posse e do controle das comunidades indígenas sobre exigências e normas legais específicas, inclusive das normas
as atividades e projetos desenvolvidos em suas terras, posto que ambientais aplicáveis,
estes devem promover a sua auto-sustentação econômica e

ambiental e não a sua dependência em relação a terceiros. Salien-


DEFINIÇÕES
te-se que, em qualquer hipótese, o próprio Estatuto do índio, em
seu Ari. 8
o
,
parágrafo único, estabelece a nulidade dos atos O direito de usufruto exclusivo deve ser entendido como um bene-
negociais praticados entre índios e terceiros que lhe sejam preju- fício concedido aos Índios, para que possam desenvolver suas ati-

diciais, ou cujos efeitos nocivos sejam desconhecidos pelos índi- vidades produtivas utilizando-se de suas riquezas naturais e não

os, devido às suas diferenças culturais. como um empecilho legal ao desenvolvimento de projetos que
promovam a sua auto-sustentação econômica e ambiental. As ati-
Conforme já dito acima, a Constituição veda a transferência da posse
vidades econômicas voltadas para a comercialização, que venham
da terra indígena a terceiros e o também já transcrito aci-
Art. 24,
a ser desenvolvidas pelas comunidades indígenas, dependem, en-
ma, deve ser entendido em sintonia com o Art. 18 do Estatuto:
tretanto, do cumprimento das exigências e normas legais específi-

"Art. 18 -As terras indígenas não poderão ser objeto cie arren- cas, sobretudo das leis ambientais.
damento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja
O usufruto exclusivo dos índios sobre os recursos naturais de suas
o pleno exercício da posse diretapela comunidade indígena ou
terras não impede que os índios realizem parcerias ou sejam as-
pelos silvícolas.
sessorados por terceiros na elaboração e desenvolvimento de pro-
§1° - Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos jetos econômicos em suas terras, desde que não transfiram a pos-
grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, se das mesmas e nem alienem definitivamente o uso ou fruição de
pesca ou coleta defrutos, assim como de atividade agropecuária suas riquezas naturais.

ou extrativa.
Garinipagein pelos próprios índios
Denlro do conceito de usufruto exclusivo, entretanto, há que se
A garimpagem pelos próprios índios é expressamente permiti-
fazer distinções entre o uso de recursos naturais para o atendi-
da pelo Estatuto do índio:
mento de necessidades internas de uma comunidade indígena,
segundo seus usos, costumes e tradições, e a produção de exce- “Art. 44 - As riquezas do solo, nas áreas indígenas, somente
dentes para comercialização, ainda que vise a sua própria subsis- pelos silvícolas podem ser exploradas, cabendo-lhes com ex-

tência. Sobre esta distinção, leciona Carlos Frederico Marés de clusividade o exercício da garimpagem, faiscação e cata das
Souza Filho (em seu livro “O Renascer dos Povos para o Direito") que: referidas áreas".


0 usufruto de suas terras (indígenas), segundo seus usos, cos- A Constituição Federal promulgada em 1988 manteve o usufruto

tumes e tradições, implica a possibilidade de, sem restrições, exclusivo das comunidades indígenas sobre os recursos do solo,

utilizar os bens e recursos da área. Portanto, os indígenas po- conforme já explicitado. Portanto, o Art. 44 do Estatuto do índio
dem fazer roça, aldeia, extrair lenha e alimentos para o uso da foi por ela recepcionado e mantido. É evidente a distinção entre o
comunidade, sem qualquer restrição, porque restrições impos- tratamento constitucional conferido à mineração e ao garimpo. A
tas administrativamente ou por lei, implicariam inconsti- Constituição trata as duas atividades de forma diferenciada, refe-

tucionalidade. rindo-se às mesmas em dispositivos diferentes. A mineração é re-

gulada pelo Art. 231, §3", da Constituição, ao passo que o disposi-


Por outro lado, as populações indígenas produzem excedentes
tivo que se refere ao garimpo é o §7", que exclui a possibilidade
que comercializam para a aquisição de bens e serviços de que
de garimpagem por terceiros em terras indígenas. Portanto, as
não dispõem intemamente. A extração destes excedentes deve
normas constitucionais que estabelecem condições especificas para
ser orientada segundo os padrões legais de proteção ambiental
a mineração em terras indígenas - necessidade de autorização do
nacional, levando-se em conta as normas gerais aplicáveis.
Congresso Nacional, consulta às comunidades afetadas e sua par-
Assim, a caça somente estápermitida para seu consumo inter-
ticipação nos resultados da lavra - obviamente não se aplicam à
no, se pretenderem vender carne de caça, devem ter criadeiros
garimpagem pelos índios.

POVOS INDÍGENAS NO HHASIL 1996/2001] INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL LEGISLAÇÀD 103


^LjZ* Acervo
—//f ISA
0 Estatuto das Sociedades Indígenas, em tramitação no congresso Da exploração florestal madeireira
Nacional, mantém a mesma orientação, estabelecendo que: "Art. Conforme já salientado anteriormente, a Constituição Federal, em
14 - Integram o patrimônio indígena: II - o usufruto exclusivo seu Art. 231, §3°, assegura aos índios a posse permanente de suas
de todas as riquezas naturais do solo, dos rios edos lagos existen- terras e o “usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos
tes nas terras ntdígenas, incluídos os acessórios e os acrescidos e o exer- lagos nelas existentes”. Portanto, a utilização das riquezas do solo
cício de caça, pesca, coleta, gmimpagemjaiscaçãoecata." de suas terras tradicionais é expressamente permitida aos índios,
e. de acordo com o Código Civil, Art. 43, 1, são bens imóveis: “o
A Lei 7 805/89, ao regulamentar o regime de permissão de lavra
solo com a sua superfície, os seus acessórios e adjacências natu-
garimpeira, dispõe expressamente, em seu Art. 23, que: “A per-
rais, compreendendo as árvores e frutos pendentes”. Não resta
missão de lavra garimpeira de que trata esta lei: a) não se apli-
” dúvida, portanto, que os recursos florestais existentes nas terras
ca a terras indígenas.
indígenas estão entre as riquezas naturais que são objeto do usu-
Portanto, não se aplicando às terras indígenas as regras gerais que fruto exclusivo assegurado constitucionalmente aos índios.
disciplinam a permissão de lavra garimpeira, normas específicas
regulamentando as condições para o exercício de atividades
Assim, os índios podem usar livremente os recursos florestais de

garimpeiras pelos próprios índios devem ser editadas pelo Poder


suas terras em atividades tradicionais, voltadas para a subsistência
ou consumo interno, podendo cortar árvores para construir ca-
Público. Por outro lado, os índios não podem ser impedidos de
sas, fazer utensílios domésticos, móveis, instrumentos de traba-
exercer um direito (ao usufruto exclusivo de seus recursos natu-
lho, cercas, canoas e barcos, e usar seus recursos florestais para
rais e à própria garimpagem, faiscação e cata, atividades permiti-
quaisquer outros fins que visem possibilitar a sobrevivência física
das pela Constituição e pelo atual Estatuto do índio) devido à au-
e cultural da comunidade indígena. No desenvolvimento de suas
sência de regulamentação legal. As leis em vigor que regulamen-
atividades tradicionais, as comunidades indígenas não estão sujei-
tam as atividades minerárias simplesmente não dispõem sobre o
tas a quaisquer limitações legais, pois a Constituição Federal lhes
procedimento e as exigências que as comunidades indígenas de-
assegura o reconhecimento de sua “organização social, costumes,
vem cumprir para requerer autorização do Poder Público para
línguas, crenças e tradições” e direitos “originários” sobre as ter-
garimpar em suas terras.
ras que tradidonalmente ocupam (Art. 231, capuf). Portanto, não
Até que exista uma regulamentação legal específica para a garim- incidem sobre as atividades tradicionais desenvolvidas pelas co-
pagem em terras indígenas, pelos próprios índios, os projetos ex-
munidades indígenas as limitações gerais estabelecidas pelo Códi-
perimentais de garimpo em terras indígenas devem ser objeto de go Florestal. Assim, podem plantar, fazer roças e aldeias mesmo nas
autorizações ad hoc, concedidas pelo DNPM, caso a caso, que áreas de preservação permanente estabelecidas pelo Código Florestal.
deverá ouvir o órgão ambiental, nos termos da legislação perti-
Diversas são, entretanto, as condições jurídicas para a exploração
nente, e que poderá consultar o órgão indigenista sobre os possíveis

impactos do projeto de garimpagem sobre a comunidade indígena.


de recursos florestais de terras indígenas visando a sua
comercialização. Tais atividades madeireiras comerciais devem se
Garimpagem por terceiros submeter à legislação ambiental aplicável. Assim, estarão sujeitas

a todas as restrições impostas pelo Código Florestal, pela Lei 7.754/


A Constituição Federal e a legislação ordinária são absolutamente
claras em relação à proibição da garimpagem por terceiros den- 89, pela legislação que regula a exploração de recursos florestais

tro de terras indígenas. Nenhuma das disposições constitucionais sob a forma de manejo florestal sustentável e proíbe o corte e a

que procuraram legitimar o garimpo organizado se aplicam às ter- comercialização de determinadas espécies.

ras indígenas, por expressa ressalva constitucional. Salienta-se, finalmente, que a exploração florestal realizada por

As terras indígenas foram expressamente excepcionadas e excluí- terceiros em áreas indígenas viola flagrantemente o direito de usu-

das da incidência das normas constitucionais que procuraram le-


fruto exclusivo assegurado constitucionalmente às comunidades
indígenas. Tal conduta ilegal é passível de ser responsabilizada tanto
gitimar as atividades das cooperativas de garimpeiros. O Art. 231.
§7°, da Constituição, estatui que: “Não se aplica às terras indíge-
no plano administrativo (através de multas, apreensões e outras

sanções administrativas impostas pelo Instituto Brasileiro do Meio


nas o disposto no Alt. 174, §3“ e §4°”.
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama), quanto
A Constituição estabeleceu uma clara distinção no tratamento jurí- no piano cível (pagamento de indenizações às comunidades indí-
dico dado à mineração e ao garimpo em terras indígenas. Se, por
genas) e no plano criminal, {abril, 2000 )
um lado, a mineração por terceiros está sujeita a condições espe-
cíficas, por outro lado, o garimpo em terra indígena por terceiros
é absolutamente proibido.

104 LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1906/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ESTATUTO Após seis anos de paralisia na tramitação do ração de recursos minerais e florestais em ter-

projeto de lei que institui o Estatuto das Socie- ras indígenas, a proposta do governo acrescen-
dades Indígenas, em substituição à Lei n" 6001/ ta um capítulo dispondo sobre o aproveitamento
TRAMITAÇÃO DO ESTATUTO 73, o Estatuto do índio, o governo federal fina- de recursos hídricos e potenciais energéticos,
DO ÍNDIO SERÁ RETOMADA lizou discussões internas e apresentou a sua que detalha disposições específicas a respeito,

proposta alternativa ao projeto cie lei formula- enquanto o projeto da Câmara se limitava a apli-
Os líderes partidários da Câmara dos Deputa- do por uma comissão especial da Câmara dos car à questão, no que couber, o disposto em
dos decidiram adiar para o dia 18 de abril a Deputados a partir de um substitutivo do seu relação à exploração de recursos minerais.
votação do recurso que impede a continuidade relator, deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR). Quanta à regulamentação da pesquisa e lavra
da tramitação do Projeto de Lei do Estatuto das
A proposta do governo, intitulada “Estatuto do mineral, a proposta do governo fortalece a via
Sociedades Indígenas. Trata-se de um índio e das Comunidades Indígenas", foi apre- da licitação, garantindo aos portadores de re-
substitutivo, assinado pelo deputado Luciano
sentada hoje pelo presidente da Funai, Carlos querimentos de pesquisa mineral protocolados
Pizzatto (PFL-PR) que jaz na mesa da Câmara Marés, às lideranças indígenas que participam
,
no Departamento Nacional de Pesquisa Mine-
desde 1994. O adiamento foi proposto pela li-
da marcha de prolesto contra as comemorações ral antes de outubro de 88 apenas a vantagem
derança do PT nu Câmara dos Deputados, de- dos 500 anos de colonização do Brasil e se en- para fim de desempate no processo de licita-
putado Aloizio Mcrcadante (PT-SP), e contou
contram reunidas nas proximidades do Monte ção, enquanto o projeto da Câmara lhes atribuía
com o apoio dos cerca de 400 índios que com- Pascoal e do da Bahia.
iiloral sul direito de prioridade, liberando-os da licitação.
punham a Marcha Indígena 2000, presentes
O texto do governo, com 130 arligos, adota ba- A proposta do governo desenvolve de forma mais
ontem ao auditório Nereu Ramos, da Câmara
sicamente a mesma estrutura de títulos e capí- extensa a questão do exercício do poder de
dos Deputados,
tulos e o mesmo espectro temático do projeto polícia pelo órgão indigenista federal na prote
A decisão havia sido tomada anteontem tace à
que tramita na Câmara, mas apresenta modifi- ção do património indígena, estabelecendo
confirmação, pelo b'der do governo na Câmara,
cações importantes quanto ao seu conteúdo e multas e outras sanções cuja especificação em
deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), de que
tratamento conceituai. O texto não contempla lei vem sendo exigida por decisões dos tribu-
a Casa Civil da Presidência da República estaria
o conceito de sociedade (ou povo) indígena, tomando como parâmetro dis-
nais superiores,
prestes a fechar uma outra proposta e enviá-la
que, no projeto da Câmara, dá sentido e unida- posições constantes da Lei de Crimes
à casa. Pelo menos desde o segundo semestre
de às comunidades indígenas que integram uma Ambientais, também promulgada recentemen-
do ano passado o Executivo federal tenta pro-
mesma organização social e compartilham lín- te. Porém, garante a atribuição das comunida-
duzir um texto para ser lançado na Câmara na
gua, costumes e tradições comuns. des indígenas em autorizar o ingresso de ter-
conjuntura dos 500 anos, mas até ontem nada
Os capítulos referentes à assistência à saude e à ceiros em suas terras, hoje em mãos da Funai,
havia sido formalmente apresentado. Entretan-
educação foram bastante reduzidos em relação que passa a ser apenas comunicada.
to, na audiência que lideranças indígenas tive-
ao projeto da Câmara, em vista da existência de No que se refere às terras indígenas, a proposta
ram no Palácio do Planalto ao final do dia, o
outras disposições legais promulgadas mais incorpora os prazos de audiência a terceiros
presidente Fernando Henrique afirmou que a
recentemente, como as constantes da Lei de nos processos administrativos de demarcação
proposta do governo lhes seria apresentada hoje.
Diretrizes e Bases da Educação e de outra lei constantes do Decreto n“ 1775, que instituiu o
Na semana passada, um acordo de lideranças
específica sobre saúde indígena, também co- chamado contraditório. Porém, preserva os dis-
havia decidido que a votação do recurso que
nhecida como Lei Arouca, aprovada no ano pas- do projeto da Câmara que especificam
positivos
paralisou a continuidade da tramitação do
sado pelo congresso. as condições para a participação dos índiòs na
substitutivo do deputado Pizzalto ocorreria on-
Os capítulos relativos aos direitos culturais in- identificação e demarcação das suas terras.
tem, dia 14 de abril. Paraleiamente, seria apre-
sentado um requerimento de urgência para a
dígenas também foram reduzidos a um único, Assim como o projeto da Câmara, a proposta
“patrimônio cultural", que preserva, no entan- do governo revoga o instituto da tutela da União
tramitação do texto obstruído. Os parlamenta
to, princípios básicos de proteção a estes direi- sobre os índios, de que trata o Código Civil e a
res, então, teriam cinco sessões para votar o
novo texto, se houvesse apresentação de emen- tos, incluídos os conhecimentos tradicionais Lei ri
1

6.001/73 em vigor, estabelecendo outros


associados aos recursos genéticos existentes nos instrumentos de proteção especial aos direitos
das. No entanto, havia temores de que o tempo
para analisar a proposta do governo fosse insu- seus territórios. Neste ponto específico, a pro- indígenas. No entanto, mantém atribuições de

ficiente. Diante desta circunstância e face à con- posta assegura o direito de usufruto exclusivo caráter tutelar ao órgão indigenista especifica-

firmação da liderança do governo de que o tex-


dos índios, desconsiderado em projeto de lei mente em relação à proteção aos índios isola-

to seria apresentado em breve, líderes partidá-


relativo ao acesso a recursos genéticos anteri- dos e às suas terras, situação não regulada pelo
ormente encaminhado pelo governo ao congres- projeto da Câmara.
rios, incluindo o do PT, solicitaram o adiamen-
so Nacional. Os acréscimos e reduções propostos pelo go-
to da votação do recurso e a suspensão da apre-
sentação do requerimento de urgência. (ISA, Da mesma ibmta, o capítulo relativo às normas verno em relação ao que consta do projeto da

14/04/00) penais é mais restrito que o constante do projeto Câmara, no geral, acabam por conferir uma
da Câmara, não acolhendo novas tipificações de maior ênfase nas questões econômicas,
GOVERNO ELABORA crimes contra os direitos indígenas e reduzindo patrimoniais e negociais. Ficam ampliadas as

PROPOSTA PARA O ESTATUTO penas, de modo a adequá-las aos parâmetros do condições de interveniência do órgão
Código Penai. Ficam mantidos us critérios cultu- indigenista federal e reduzidas as atribuições
Proposta, que se intitula “Estatuto do índio e rais na atribuição de penas e de atenuantes no caso extra judiciais do Ministério Público Federai em
das Comunidades Indígenas”, foi entregue peio dos crimes praticados por índios. relação aos direitos indígenas.
presidente da Funai hoje aos índios reunidos Aproveitamento econômico - Por outro lado, A proposta do governo reafirma o caráter per-
em Monte Pascoal. além de manter os capítulos referentes à explo- manente dos direitos indígenas inscritos na

P0V0S INOlGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL legislação '


tos
•zLJ7j* Acervo
ISA

Constituição de 1988 e, assim, os regulamenta ÍNDIOS FAZEM PRESSÃO representantes dos povos e organizações indí-
e os consolida. Porém, não tem a grandeza de PARA MUDAR ESTATUTO genas do País para discutir o conteúdo de uma
reconhecer a unidade das organizações sociais "proposta alternativa”, preparada pelo Execu-
indígenas, atribuindo às comunidades indíge-
Os chefes indígenas não aceitarão que um tivo Federal.

nas a titularidade de direitos culturais que, na


aculturado deixe de considerado
ser Amanhã, dia 8 de junho, o deputado estará com
verdade, são comuns a iodas as comunidades
inimputável, como prevê o Estatuto do Índio em representantes indígenas do Fórum Regional dos
uma mesma sociedade ou povo debate na Câmara. Direitos Indígenas do Centro-Oeste, que come-
que integram
indígena. (ISA, 17/04/00)
Pintados para guerra, com cocares, arcos, fle-
ça hoje em Campo (irande (MT). Na próxima
chas e bordunas, os índios interromperam vá- semana, o debate ocorrerá na reunião do Con-
rias vezes a sessão em que foi ouvido o relator
CIMI CRITICA MUDANÇAS selho Deliberativo da Coordenação das Organi-
do projeto, deputado Luciano Pizzato. Caciques
NO ESTATUTO DO ÍNDIO pediram aos deputados que derrubem o item
zações Indígenas da Amazônia Brasileira
(Coiab), com representantes indígenas da re-
O Conselho Indigenista Missionário (C.imi) não que trata da tutela, dizendo que temem pelo gião Norte do País. A reunião com o deputado
apoia o substitutivo do governo federal ao Esta- fiituro de sua cultura. marcada para o dia
está 1 5.
tuto das Sociedades Indígenas cujo relator é o Eles pediram mudanças na questão do uso de A assessoria do deputado Luciano Pizzatto in-
deputado Luciano Pizzatto. 0 novo projeto dá terras indígenas na mineração. 0 texto propos- formou que nos próximos dias dois outros en-
abertura para o garimpo de mineradoras em to pelo governo prevê que os índios garimpem contros com representantes dos povos indíge-
áreas indígenas e mantém as terras sob impasse livremente, mas exige que a mineração em es-
nas devem ser fechados. O primeiro com os
do governo. "Nesse novo substitutivo há vários cala industrial, em terra indígena, seja feita com Kayapó. que deverá ocorrer no município de
aspectos que trazem novidades contrárias à autorização do Congresso e a aceitação das co-
Redenção (PA), e o segundo com representan-
Constituição Federal e aos direitos humanos munidades indígenas. tes Xavante, possivelmente no município de
internacionais, que já estão consolidados. Ago- “Setenta mil índios frequentam escolas e dis- Barra do Garças (MT). As duas reuniões de-
ra eles querem aprovar um projeto a toque de putam o mercado de trabalho. Por que eles
vem ser agendadas para o mês de junho.
caixa, sem discussão", disse Jorge Vieira, as- devem ser inimputáveis se, por exemplo, de- A discussão pública sobre o conteúdo da pro-
sessor de comunicação do Cimi. rem um golpe num banco?”, reagiu o deputado posta preparada pelo Executivo federal foi
As mudanças da proposta proibirão o garimpo Antônio Feijão, defensor do projeto. ( 0 Globo, reivindicada por diferentes grupos c organiza-
das terras indígenas por garimpeiros de outras 04/05/00) hem como por organizações de
ções indígenas,
origens, mas liberam as mineradoras, através apoio. Embora não tenha sido formalmente
do contrato com a comunidade e posterior apro- PRIMEIRAS REUNIÕES PARA apresentada ao Legislativo, o texto - apresenta-
vação do Senado, a desenvolver o garimpo nas DISCUTIR NOVO ESTATUTO do como uma proposta alternativa ao
reservas. Segundo Vieira, a liberação para o substitutivo do deputado, cuja tramitação está
garimpo vai prejudicar o meio ambiente.
Luciano Pizzatto, relator do substitutivo ao Pro-
há seis anos obstruída por iniciativa do próprio
jeto de Lei n° 2.057/91, inicia amanhã marato-
Quanto à posse de terras indígenas, o governo - foi distribuído aos índios e às organi-
substitutivo mantém com a União, alegando que
na para debater com as comunidades indíge-
zações de apoio na semana das comemorações
nas texto apresentado pelo governo no último
dessa forma os índios ficarão impossibilitados oficiais dos 500 anos. A proposta gerou polê-
de vender as propriedades.
mês de abril
mica, ensejando manifestações de caravanas
O representante do Cimi garante que a justifi-
A Funai. organizações indígenas e a assessoria
indígenas no Congresso Nacional. Por conta dis-
cativa não procede porque a Constituição do deputado Luciano Pizzatto, autor do
já so, o deputado Luciano Pizzatto resolveu discutir
proíbe o repasse das terras a terceiros. ”0 que
substitutivo ao Projeto de Lei n“ 2.057/91, que
o texto com os interessados. (ISA, 07/06/00)
atualiza o Estatuto do fndio, definiram as pri-
o governo federal quer é diminuir o patrimônio
indígena de acordo com seus interesses políti-
meiras reuniões que o deputado manterá com
cos e financeiros”, enfatizou. (Gazeta de
Alagoas. 30/04/00)

LEI INCLUI ÍNDIOS EM COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS


A instituição de uma Política Nacional de Recur- nismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos bém as organizações civis de recursos hídricos
sos Hídricos e a criação de um Sistema Nacional e pela solução,em primeira instância, dos con- com atuação na bacia hidrográfica. Mais um
de Gerenciamento de Recursos Hídricos, pela pri- nova
flitos relacionados aos recursos hídricos. Pela avanço legislativo: pela primeira vez, uma lei na-
meira vez na história no país, é o objetivo da Lei lei, os Comitês de Bacias Hidrográficas cujos ter- cional inclui expressamente representantes de co-
9-433/97. Entre os órgãos integrantes do referido ritórios abranjam terras indígenas devem incluir munidades tradicionais em órgãos gestores de
Sistema, estão os Comitês de Bacias Hidrográficas, não só representantes da Funai, como também das recursos naturais, e não apenas representantes
responsáveis pela aprovação do Plano de Recur- comunidades indígenas ali residentes ou com in- de órgãos públicos. (Juliana Santilli, nov/00)

sos Hídricos da bacia, pela definição dos meca- teresses na bacia. Devem estar representadas tam-

106 LEGISLAÇÃO POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Descascando o “Abacaxi" da República
nos "500 Anos" do Brasil

Entrevista à Equipe de Edição

0 JURISTA CARLOS FREDERICO MARÉS DE ca. Inclusive, ele foi advogado de presos políticos, Foi ele que ad-
SOUZA FILHO, 25° PRESIDENTE DA FUNAI, vogou em meu favor, para a minha volta ao Brasil. Ele que me
RELATA AS VICISSITUDES E LIÇÕES APÓS CINCO recebeu em São Paulo. Então, qualquer convite que viesse do José
MESES DE GESTÃO À FRENTE DO ÓRGÃO PÚBLICO Carlos, eu analisaria... A abertura que o José Carlos deu foi total.

Ele queria que a Funai funcionasse. Havia uma história que a Funai
FEDERAL MAIS DESPRESTIGIADO DO PAÍS
estava muito mal, que estava prevista até a sua possível extinção...

Então, o convite tinha esse caráter, fazer uma política indigenista


Você chegou a imaginar que algum dia seria presidente da
pública séria no Brasil. As pessoas do ISA me ajudaram a elaborar
Funai?
alguns pontos que teriam de ser aceitos pelo presidente da Repú-
Quando Samey assumiu o governo, eu era secretário de culUira de blica para eu assumir a Funai, Alguns pontos de caráter eminente-
Curitiba, houve uma negociação de um grupo de pessoas para que mente político, outros de caráter econômico e outros de caráter
eu fosse nomeado presidente da Funai... Mas não era exatamente indigenista propriamente dito (ver box Balanço dos 13 pontos).
o momento. Não que
isso estivesse abso-

lutamente fora...

mas também não era


previsível... e muito
menos no segundo
governo FHC. Ainda
tenho critérios mui-
to diferentes do FIIC.

Então, o que te le-


vou a aceitar o
convite?

O convite partiu do
ministro da Justiça

José Carlos Dias,


uma pessoa com a
qual cu já tinha re-
lação anterior, desde
a época da ditadura
e mantenho um pro-
fundo respeito pela
sua dignidade políti-

POVCS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA I 109

GapyriQhtedm
"

DOS 13 PONTOS
Da “agenda positiva " prer lamente negociada com o governo, o que foi possível fazer em 5 meses, segundo Marés

0 que foi proposto 0 que foi realizado

I. Promulgar, até abril de 2000, uma nova lei reguladora das relações dos 1. “0 Estatuto do índio estava encalhado na Casa Civil. Puxamos a discus-
povos indígenas com o estado-sociedade brasileira, substituindo o atual são para o Ministério da Justiça. Foi uma discussão extremamente dura,
Estatuto do índio ( lei 6001/73) e superando o parâmetro tutelar em que até porque a Casa Civil queria baixar uma qualidade
o Estatuto do índio para
o momento se assentam essas relações. Há um projeto de lei (2057/91) em anterior ao estatuto atual, até que, numa conversa com o próprio FHC, ele
tramitação na Câmara dos Deputados, visando instituir o Estatuto das So- perguntou para o Pedro Parente, na minha frente, como estava indo o esta-
ciedades Indígenas, já aprovado em Comissão Especial e pronto para ser tuto e ele respondeu que estava indo muito bem... Eu cortei a conversa di-
votado em plenário. Foi colocado em pauta em abril deste ano e pouco de- zendo que estava muito atrasado e que esse compromisso não se cumpriria.
pois retirado a pedido da Casa Civil,que se propôs a apresentar uma pro- Ele me perguntou o por quê e eu disse que o homem quefaz as leis na Casa
posta de governo a curto prazo. Civil, chamado José Bonifácio Andrada, impedia. Então ele disse que ia tro-
car e de fato colocou um outro interlocutor, Eduardo Graeff. A discussão
melhorou, mas continuou muito dura e, na verdade, ela só saiu do papel,
porque o presidente se comprometeu com os índios no dia 13 de abril, no
encontro com as lideranças, que entregaria uma proposta de estatuto na
conferência de Porto Seguro. Usando esse argumento, eu pressionei a Casa

Civil e entreguei o Estatuto aos índios.

2. Concluir o processo de ratificação legislativa da Convenção 169 da Orga- 2. "A ratificação da Convenção 169 andou ainda menos que o Estatuto, pois
nização Internacional do Trabalho relativa aos Povos Indígenas e Tribais dependia do Congresso e o governo não mexeu uma palha, aliásfez quest '
em Países Independentes, já efetivado no âmbito da Câmara e das comis- de não mexer e sempre colocava como uma discussão para depois do Esta-
sões do Senado, pendente de votação final em plenário. tuto. ”

3. Constituir, no âmbito do Ministério da Justiça, um Conselho de Defesa 3 “A discussão de um Conselho de Defesa dos Direitos Indígenas foi em
dos Direitos Indígenas, presidido pelo min istro de Estado e secretariado pelo tomo daforma de composição. A primeira idéia era de personalidades, que
presidente da Funai, composto por representantes de órgãos governamen- representassem a visualização internacional da política indigenista, o que
tais tais como os Ministérios da Saúde, Educação, Meio Ambiente, Defesa, era muito ruim. Total ausência de índios. Além do mais era preciso ter algu-
Orçamento. Política Fundiária e Agricultura, e por representantes de orga- mas pessoas ligadas à causa indígena e não só vaca sagrada... Muito cedo
nizações indígenas e de apoio aos índios, com competência para definir e me dei conta que esse Conselho que imaginávamos dar respaldo ao presi-
acompanhar os rumos da política indigenista no Brasil. dente da Funai era uma coisa inviável. Faltou vontade política de cima. *

4. Formular e implantar, gradativamente, a partir da estrutura da Funai, 4. “Os chamados programas regionais eram o centro de uma proposta para
um sistema de programas integrados de ação governamental por regiões -
uma nova política pública indigenista. Na verdade, mostrou-se que a pro-
"Programas Regionais " - visando desenvolver novos modelos de política posta é possível e positiva. 0 que aconteceu, porém, é que os programas
indigenista a nível local-regional, iniciando pelas regiões em que haja maior regionais precisam de tempo de implementação. Imaginávamos que rapi-
organização do movimento indígena, promovendo instâncias de represen- damente seria possível estabelecer alguns programas regionais, quejá esta-
tação junto ao Estado brasileiro, com os primeiros programas formulados vam maduros, como no alto Rio Negro, no Amapá, em Roraima e no Acre.
até abril de 2000. Mas eu tinha de resolver problemas mais imediatos, como o problema
xavante, o programa que mais avançou. Não conseguiu fazer um programa
regional no MS. 0 programa regional não serve apenas para resolver proble-
mas nas regiões mais maduras, mas também naquelas que têm velhas polí-
ticas deformadas.

.5. Articulação dos Programas Regionais com os Distritos Sanitários Especi- 5. “0 grande problema tia transferência da assistência da saúde indígena
ais Indígenas e com a política de atenção à saúde indígena recém da Funai para a Funasa foi a transição. Escolheram a pior transição possí-
reformulada pelo governo federal. vel. Foi desastrosa, possibilitou uma onda de críticas no sentido de que isso
ia acabar com a Funai. Porque realmente, a proposta foi mais ou menos
essa. Entregaram todos os carros todos os aviões... A saúde
, nem precisava.
A transição foi malfeita e equivocada. ”

6. Intensificar o processo de demarcação das terras indígenas, que já se 6. A Raposa/Serra do Sol foi a grande sacanagem do governo FHC. Durante
encontra em fase adiantada mas momentaneamente em ritmo lento, e pro- todo o tempo em que estive na Funai fui enganado a respeito. Pequenos
mover a homologação da TI Raposa/Serra do Sol - principal demarcação logros. Na verdade, o FHC não quer enfrentar os políticos de Roraima, não
pendente de conclusão - através de decreto presidencial (processo de ho- quer perder os votos. Esse é o problema. Mas também não queria perder a
mologação encaminhado pela Funai se encontra no Ministério da Justiça). oportunidade de fazer uma boa política indígena. Falei três vezes pessoal-
mente com o FHC sobre essa terra e as três vezes eu fui ludibriado. Na quar-
ta vez, numa conversa com os índios, ele respondeu que havia sido feita
uma comissão para discutir. E a comissão era o Gol. Cardoso. Na verdade,
ele não quer. E eu linha claro que, mesmo sobrevivendo ao 22 de abril, eu teria

na semana seguinte uma briga nacional a respeito de Raposa/Serra do Sol. ”

110 I POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


" " " " " "

0 que foi proposto 0 que foi realizado

7 Definir e implementar a nível nacional e internacional


. uma política de 7. “Uma parte da discussão sobre direitos coletivos de propriedade intelec-

apoio às garantias dos conhecimentos tradicionais dospovos indígenasfrente tual está na proposta do Estatuto das Sociedades Indígenas e outra, minha,
à ameaça de patenleamento e para a proteção dos direitos coletivos de au- é a de habilitar o Museu do índio para ser o depositário da cultura imaterial
tor e de propriedade intelectual. individual e coletiva das sociedades indígenas. Isso foifeito. Isso dependeu
menos do governo, foi o que a gente queria fazer e fez .

8. Propor ao MPF que assuma integralmente a defesa judicial dos interesses 8. “0fato de o MPF assumir a defesa desses direitos coletivos dos índios era
indígenas, instado diretamente petos povos indígenas ou peta Funai. uma questão de ampliação da sua ação. Isso avançou bastante, mais em
função do meu relacionamento direto do que institucionalmente. A propo-
sição do governo é tratar as questões administrativas da Funai como ques-
tões públicas e federais e, portanto, defendidas pela Advocacia Geral da
União .

9. Definir uma política nacional de apoio às iniciativas indígenas e pró- 9. “A única coisa que avançou explicitamente foi sempre nomear índios
indígenas junto à OEA. ONU, OIT e outros organismos e foros internacio- para os encontros internacionais, como na reunião que tratou da Conven-
nais, em especial à declaração dos direitos indígenas da OEA e do Fundo ção da Biodiversidade em Sevilba. Fiz contato com todos os organismos in-
Indígena, com aceitação de representação oficial dos índios brasileiros tias ternacionais. Mas isso precisava de mais tempo. Já tinha dado passos, tanto
instâncias pertinentes. nos organismos internacionais quanto intemamente, no Itamaraty. Eu che-
guei à conclusão que o Itamaraty é um órgão muito complicado de conver-
sar, tem uma hierarquia muito fechada. Tem que conseguir muito apoio
para mudar qualquer política internacional .

10. Constituir grupos de trabalho em conjunto com os países vizinhos para 10. "A única coisa que eu consegui fazer foi visitar praticamente todos os

estudar soluções para as questões de nacionalidade, de direitos e interesses comandantes militares de fronteira e abrir a discussão sobre os povos que
dos povos que vivem nas regiões de fronteira. vivem nessas regiões. 0 que me surpreendeu foi a receptividade entre os
comandantes militares, que se dão conta que é preciso ter uma política
indigenista correta e positiva na fronteira. Principalmente fxira que as po-
pulações indígenas vejam o Brasil com simpatia.

11. Incluir as demandas indígenas nos fundos e programas governamentais 11. “A única coisa que avançou foi no Ministério da Saúde, além da inclu-
defomento, como o Pronaf (Ministério da Política Fundiária), e ampliar a são do Pronaf indígem e alguns fomentos estaduais. Por exemplo, a pers-
interface indígena com o PPG7, Programa Piloto para a Proteção das Flores- pectiva de um programa regional guarani no Mato Grosso do Sul,
tas Tropicais Brasileiras (Ministério do Meio Ambiente) ampliando-a para
,

além da Amazônia Legal e atribuindo maior ênfase às questões relativas à


gestão territorial.

12. Manter a Funai livre de ingerências político-partidárias quanto a no- 12. "Essa foi total, pois era uma condição da administração.
meações para funções de confiança assegurando ao seu presidente ampla
.

liberdade para a composição da sua equipe, inclusive diretores e outras


funções de nível superior cujas nomeações são de competência do presi-
dente da República e do ministro da Justiça.

13 Assegurar cobertura financeira com periodicidade definida pelo Tesou- 13- "A cobertura financeirafoi conseguida através de uma conversa pessoal
ro Nacional, através do Ministério da Justiça, aos empenhos orçamentários com o FHC, que se comprometeti no ano 2000 a lilferar tudo o que pudésse-
realizados pela Funai garantindo-lhe o
,
máximo de autonomia possível e mos gastar Ele dizia que a Funai era um poço sem fundo. A primeira pro-
isentando o seu orçamento de eventuais contingenciamentos. posta que fizemos foi de dinheiro para a indenização das ocupações, das
benfeitorias de boa-fé, principalmenle das áreas do Nordeste e do MS. Isso
somava algo em torno de R$ 150 milhões, prometidos para o ano 2000. 0
problema real que aconteceu nos três primeiros meses é que não tinha or-

çamento, não tinha como viabilizar esse dinheiro. 0 orçamento só come-


çou a funcionar em maio. Infelizmenle, não pude cobrar essa dívida. Mas
estava acreditando que a promessa ia ser cumprida. Não foi. ”

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 111


tinham seis administrações regionais. A idéia era
reduzir tudo isso a uma administração regional e

toda a aprovação de projetos deveria ser em con-


selho, com listagem pública do que tinha sido dado
para cada um. E isso começou a ser aceito por
todas as lideranças. . , Começaram aacharqueisso
era uma solução. Gastei boa parte de meu tempo
em Brasília em discussão com os Xavante. A solu-
ção estava próxima. Sabia que eu encontraria um
grande problema na frente, que seriam as dívidas
das administrações xavante. Mas isso eu ainda não
tinha equacionado como resolver.

Mas você distribuiu DASs (cargos de confi-


ança) aos Xavante?

Não, exatamente para não distribuir nem DASs,


nem carros ou outros bens, a proposta tinha de
Marés e ser alternativa. Tsso é a qualidade da coisa. Eu não negociei ne-
cacique
nhum cargo e nenhum carro, nenhum bem...
Celestino:
estratégia para
solucionar Qual a proporção de índios que trabalham na Funai e como
impasse
você vê esse aspecto?
crônico com
os Xa vante.
Não vejo muita diferença entre um trabalhador índio e um não-
índio dentro da Funai. Convivi com alguns índios dentro da Funai
que são muito mais qualificados que os não-índios. Por exemplo,
o Vilmar Guarani como advogado sabe mais, está mais preocupa-

do com o direito indígena, que boa parte dos advogados da Funai.

Ele tem uma relação com a questão indígena muito profunda e


isso o qualifica muito mais. Essa é uma profissão técnica que eu

conheço e posso avaliar. Em outras profissões deve ocorrer o mes-


mo. Além de formação técnica, os funcionários da Funai devem ter

uma ligação emocional com o tema e isso os índios têm de sobra.


O fato de ter uma grande quantidade de índios trabalhando na
Funai, portanto, é positivo. O mal é a forma pela qual os índios são

muitas vezes cooptados para trabalhar. Na verdade, alguns destes


cargos foram dados por cooptação política e toda cooptação é
ruim. Tanto faz o sujeito estar ligado a um político qualquer, ou a
um cacique, por um favor. Esse é o problema.

Você foi o primeiro presidente da Funai depois do Dinartc


É cabível um indígena presidente da Funai?

que não sofreu uma "xavantada". O que você fez mais con- Claro! A dificuldade que ele teria seria uma disputa étnica. Algu-
cretamente em relação aos Xavante? mas etnias não aceitam outras. Ao contrário disso ser um proble-
O problema xavante é o extraordinário equívoco das pofrticas
ma, isso seria uma solução. Inclusive a existência de um conselho
adotadas no passado, paternalismo, entrega de postos... Cada
de indígenas, um grande congresso nacional indígena com repre-
sentantes de todos os povos, o que é meio difícil de conceber...
bordunada era respondida com presentes, o que aprofundava dis-
para os Xavante e que
mas uma coisa desse tipo é o caminho...
putas internas, divisões... A proposta que fiz

eles entenderam era fazer programas de desenvolvimento local em


Como você viu a colaboração indigenista de determinados
cada aldeia, em cada terra separadamente e fazer projetos que
governos estaduais?
englobassem as necessidades deles. Como resultado de uma dis-

cussão que eles mesmos fizessem, que as decisões e os pedidos O grande problema é que se depende dos governos estaduais que
fossem aprovados em conselhos xavante nas aldeias. Isso come- tenham uma sensibilidade com as questões indígenas. Naqueles

çou a ser aceito. Inicialmente, era muito complicado. Os Xavante que tinham essa sensibilidade, os projetos andavam e avançavam.

112 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1986/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
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I SA
tuuudiiO do que eu imaginava, as reivindicações dos governos Ião. Tinha gente pressionando diretamente o ministro. O Orlando
estaduais para a Funai foram positivas aos índios. Não estou falan- tinha recebido uma pensão vitalícia por lei e essa lei o proibia de
do das reivindicações de políticos, de deputados, etc. Os relacio- manter qualquer cargo público. Além de comparecer, ainda estava
namentos com os governos do RS, do MS, resultaram muito posi- proibido de receber pelo tal cargo. Eu não tinha alternativa, tinha

tivos, já com o AP, que eu tinha grandes expectativas, não tive tem- que demiti-lo. Então, cm deferência, mandei uma mensagem para
po de aprofundar. E isso se explica pelo fato de MS e RS terem ele dizendo que teria que demiti-lo. Era uma questão meramente
problemas gravíssimos e urgentes. administrativa interna e dentro do meu conceito de administração
pública. Acho que não existe dentro da administração pública nin-
E o papel das ONGs na política indigenista? guém intocável. E se alguém for intocável, saio eu. A polêmica toda
Uma política pública indigenista, assim como ambientalista, se ela foi criada por interesse político subalterno. Quando mandei o fax

não conta com um diálogo com as ONGs - eu não diria parceria, não o demitia, mas avisava que ele estava numa situação complica-
porque a ONG deve ter uma visão crítica e o parceiro não é o da e que seria demitido. A demissão saiu no Diário Oficial da União
crítico -, a política pública não vai conseguir emplacar. Por uma dias depois. A direita interceptou essa informação intemamente
razão bastante simples, porque toda visão que um administrador na Funai e jogou na imprensa, Esse é um típico fato criado para

público tem, especialmente federal, é deformada. O espelho que tentar a minha desmoralização. O Villas-Bôas me ligou numa sex-
corrige a deformação tem de ser a sociedade civil organizada. Não ta-feira, dia que recebeu o tal fax, eu estava no alto Solimões e ele

é o consultor, não é o conselheiro, os as- reclamou para o chefe de gabinete, que


sessores, quem vão corrigir essa defor- propôs que me procurasse na segunda-
mação. É a sociedade organizada que tem feira seguinte e ele aceitou. Na sexta ou
uma posição crítica. Acho que esse diá- Sem diálogo com as no sábado a imprensa o procurou. Ele
logo é absolutamente fundamental. Fiz
ONGs as políticas não esperou mais para falar comigo e
questão de, em cada lugar que eu ia, en- botou a boca no trombone. Foi uma cla-
contrar com as ONGs. Eu senti que mui-
públicas não ra armação da direita do governo contra
tas vezes as ONGs vinham meio assusta- emplacam!
das. Esse diálogo não é de costume... ONG

tem de cumprir um papel crítico, não Quem fez a armação contra você?
precisa ser meiga...
Tem nome e sobrenome. Chama-se
Andréa Matarazzo [secretário de comu-
Você foi identificado com o ISA?
nicação da Presidência da República].
No começo, esse peso era grande. As Ele que incentivou a imprensa a fazer isso.

pessoas me viam como um agente do ISA Eu pedi para o José Carlos Dias ligar para
para destruir a Funai internamente. Mas o Andréa Matarazzo e avisá-lo que se con-
isso foi rebatido muito rapidamente por algumas pessoas de muito tinuasse eu diria publicamente o que ele estava fazendo. E aí, mor-
peso dentro da Funai e que não têm essa vinculação. Em Roraima, reu um pouco o assunto. Se o presidente da República estava tão
eu era visto como o demônio do ISA que estava lá para destruir o interessado em manter o Villas-Bôas, poderia me dar uma ordem
governo. Nunca me trataram como governo, mas como ISA. Agora, expressa para não demiti-lo ou simplesmente me demitir, o que
dentro do governo federal, isso não tinha peso algum, era só dis- seria a mesma coisa. Eu ia partir para o ataque naquele momento.
curso de alguns setores de roraimenses. A oposição que eu tinha E aí parou. Se eu estava errado, porque não me demitiram? Até
era estritamente política, era a direita do governo que queria me então o Villas-Bôas não estava demitido. Era o momento. O que
ver queimado. aconteceu foi uma mistura de interesses, eu já tinha demitido mui-
ta gente e desagradado uns quantos políticos, especialmente do
Você teve apoio do ISA ?
PFL. Inclusive do Paraná, que estavam fazendo força para me der-
Minha relação com o ISA-Brasília, especialmente com o Márcio rubar. Ninguém tinha coragem de sair em público e defender um
Santilli, não poderia ter sido melhor. Foi uma relação de apoio coronel ou um fantasma desconhecido, então pegaram o mote do

franco. O ISA-São Paulo tinha algumas discussões lotalmente fora Villas-Bôas. Acho que houve uma ordem do presidente mandando
do eixo que eu imaginava como, por exemplo, no episódio Villas- parar com a história, porque se continuasse acabaria sobrando

Bôas. para ele, ou me demitiria ou ficava mal. Nada mais aconteceu.

Mas, qual o contexto em que você assinou o polêmico fax Mas a mídia enfatizou que demitir Orlando Villas-Bôas por
demitindo Orlando Villas-Bôas? fax era demais...

Eu comecei fazendo uma limpa nos cargos comissionados. Alguns Isso não era bem verdade. É uma barbaridade. Se é um fax ou um
não apareciam e outros estavam totalmente deslocados. Demiti um telefonema não faz nenhuma diferença. Quando ele saiu na im-
coronel da polícia militar e uma parente próxima de um alto esca- prensa dizendo que foi demitido por fax, eu não tinha mais o que

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl POLÍTICA INDIGENISTA 113


,

conversar com ele. A demissão sai sempre no Diário Oficial da A primeira observação que pude fazer é a mais óbvia: os proble-

União, enquanto não sair é apenas aviso do que vai acontecer. Man- mas indígenas estão fora da Amazônia. Acho que a Constituição de
dei o fax avisando que ia demitir, como ele estava irregular, o fax 1988, quando definiu os direitos indígenas, avançou muito para

tinha o sentido de dar a possibilidade dele se demitir, é o que faria evitar o que foi feito com os índios fora da Amazônia... Antes de

qualquer pessoa. Eu recebi centenas de mensagens de apoio e 88, a demarcação das terras indígenas era uma benesse do Esta-

pouquíssimas críticas, algumas nem enviadas a mim. Praticamen- do. Depois de 88, as áreas são demarcadas por direito indígena.

te todas as críticas, fora as da imprensa, foram de gente ligada ao Antes não havia direito. Isso ocasionou todas as demarcações das

ISA. Pessoas que não vinham enfrentar a discussão comigo, só ali- áreas fora da Amazônia. Não foram direitos, foram concessões de
mentavam a coisa de jornal. O resto das pessoas me mostrou apoio. terras aos índios. Isso gerou a grande dificuldade dos índios fora

Recebi apoio de muitos índios. da Amazônia. Na Amazônia, se discute se o índio tem ou não direi-
to à terra. Muda o enfoque da discussão.
Para a opinião pública brasileira, fora do mundo restrito

do indigenismo, Orlando Villas-Bôas é identificado com Efetivamente, as demarcações estão sendo feitas antes da fronteira

os direitos dos índios... Além disso, às vésperas da sua agrícola chegar, isso também deternúna a possibilidade de garan-

posse, você aceitou um almoço amigável com ele, por ini- tir esses direitos. É isso que deve ser feito... A política do não-
ciativa do ISA, e convidou-o para acompanhá-lo ao Xingu. direito é a política da concessão, no chegar da fronteira agrícola.
Você não acha que deveria ter ponderado isso na maneira Dentro da Amazônia, podem vir a acontecer grandes problemas.

de fazer a coisa? Mas está na hora de resolver os de fora.

O que me impressionou profundamente


A maneira foi mandar uma carta para
começar uma negociação. A maneira 0 que me foram as concentrações urbanas indíge-

nas dentro da Amazônia. Embora tenham


grosseira foi dele que chamou a impren- impressionou foram as
territórios rclativamente bons, muitos
no foco que eu era louco. A
sa e botou
concentrações urbanas índios se concentram em determinados
demissão dele, que ocorreu uma sema-
na depois do fax, era necessária, a única
indíaenas na Amazônia locais, evidentemente por uma política es-
tatal profundamente equivocada que tem
alternativa era ele ter pedido demissão.
de ser revista e não sei se tem retorno.
Quando almocei com ele, não sabia que
Refiro-me especiahnente ao Solimões. É
era funcionário comissionado irregular
chocante o que acontece lá. üma aldeia
do órgão do qual estava assumindo a di-
de quatro mil habitantes. Esse processo
reção, se soubesse não teria ido.
de urbanização me assustou. É a coisa
mais chocante que eu vi.
Um dos ex-presidentes da Funai,
Márcio Lacerda, disse que a Funai
gasta 99% do seu orçamento em atividades meio. Você con- Como você avalia a tua demissão?
corda?
A sensação toda que eu tive foi de traição, de covardia tão grande
Essa é uma afirmação típica de administrador público que diz que que eu não consigo entender. Está muito acima de minha compre-
faz política de qualidade, que sabe fazer avaliação etc. Isso é uma ensão. E a coisa não aconteceu no dia 22 de abril. Isso que é mais
bobagem sem tamanho. 0 orçamento da Funai é muito ruim, mui- interessante: ela começou a acontecer no dia 13 de abril [de 2000]

to mal organizado, porque o orçamento da União é muito mal or- na reunião dos índios com o Fernando Henrique, no Planalto. Na
ganizado. A União criou um plano estratégico, uma nova véspera, José Carlos Dias tinha saído do Ministério. Mas já estava

metodologia, influência da reengenharia, qualidade total que aca- marcada uma reunião em que eu e o ministro iríamos ao Congres-
ba piorando profundamente o orçamento público. 0 orçamento so, acompanhar os índios e depois haveria uma reunião com o
da Funai é um orçamento ruim porque é pequeno, mal direcionado, FHC, que receberia 12 líderes indígenas enquanto os demais fica-

mas muito fácil de arrumar. É questão de vontade política, se o riam ali na praça da Esplanada, esperando a aparição do presi-

presidente da República quiser, ele arruma. Temos de nos dar conta dente na sacada. Isso era o combinado. Ele viria na sacada, com as
é que o orçamento da Funai, fora o pessoal, esse ano de 2000 era lideranças, dava um alô, e se recolhia. Seria uma cena para a im-
na ordem de Rí 40 milhões. Eu pedi para o FHC botar mais RÍ prensa internacional. E além disso, ia receber os índios lá em Por-

150 milhões, tenho consciência que esse valor era loucura, por- to Seguro, no dia 22. iam entregar um documento para ele.
que não tinha capacidade de gasto. Acho que se a Funai gastasse

metade já estava bom. O problema é saber que política vai ser Mas a combinação estava aceita pelos índios?
aplicada ao orçamento e que transparência vai ter o orçamento.
Havia muita divergência interna entre os índios, evidentemente.
Quais as observações sobre a cena indígena que você fez Havia toda uma discussão. No dia 13 pela manhã houve a cena no
nas suas viagens pelo Brasil? Congresso. O senador Eduardo Suplicy conseguiu trazer o presi-

114 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


.
.
.

denie do Senado, Antônio Carlos Magalhães, que então levou aquela entendeu. O Davi olhou para ele, e disse algo como, eu só estou
flechada no nariz. O José Gregori, ministro da Justiça já nomeado dizendo que nós queremos o Marés como presidente da Funai.
em substituição ao José Carlos Dias, demonstrou um medo Então ficou uma coisa esquisita. O Nailton Pataxó, que não é trou-

desesperador dos índios. Ele tinha medo, e não queria mais que xa, viu a situação, deixou passar a vez dos dois e voltou a falar,

houvesse a reunião dos índios com o presidente. Mas como a reu- “Presidente, eu só quero dizer o seguinte: os pataxó têm sofrido

nião já estava marcada, ele queria, de algum jeito, eliminar ou muito. . . e o único presidente da Funai que tem tido um compor-
simplificar. E a reunião foi totalmente transformada. Primeiro por- tamento ao lado dos índios, que a comunidade gosta, que o meu
que não quiseram que eu fosse. Ele pediu para eu não ir. Daí eu povo quer é o Marés, então a gente quer que ele seja mantido
disse assim: se eu não for você está me demitindo. Então ele quis como presidente". Daí o Fernando Henrique disse para o Nailton:

que eu fosse. Daí eu fui. A reunião foi de uma tensão...! A sensação “O problema de escolha do presidente da Funai é meu!". Então o
que eu tinha é que nós iríamos ser todos presos. A impressão que Nailton Pataxó vira para ele e diz: “O problema é seu, mas o sofri-

eu tinha era a de ter entrado no quartel do inimigo. Era uma coisa mento é nosso”. E eu ah, eu estava sem graça. Parecia que eu tinha
clean, não tinha um quadro na parede. Não tinha nada, tudo clean mandado os índios falarem.

Onde foi essa reunião? E a segunda vilania?

No Palácio do Governo, no Planalto. Com seguranças, uma sala A segunda vilania aconteceu quando falou uma liderança macuxi

grande, não tinha cadeiras, nada. Os ín- que estava lá e pediu a demarcação da
dios paradinhos no meio, os guardinhas Raposa/Serra do Sol (RR) Aí o Fernando .

nos cantos. Todos com uma cara de que Henrique fala que quanto à “Raposa" as

estavam prontos para sacar metra-


(de FHC para Davi coisas não são simples assim, e que ele

lhadores e passar fogo. Um clima Yanomami) Você teria que montar uma comissão para ten-
indescritivelmente tenso. Entra o “O que a comissão
gostaria que eu tar resolver: decidir,

Fernando Henrique com três ou quatro eu resolvo". A comissão, na verdade, era


ministros. Estavam o Pedro Parente [che- o general Alberto Cardoso [chefe da Casa
fe da Casa Civil] ,
o Gregori (ministro da Militar], Eu não gostei da resposta do
Justiça nomeado) e o Aluísio Nunes presidente. Já na resposta que ele deu a
Ferreira [secretário geral da Presidên- respeito do Estatuto do índio ele foi ex-

cia] . Entram tensos, param no meio e tremamente positivo, porque pergunta-


todo mundo de pé. Um cara, então, deu ram e ele disse: “O Estatuto do índio está
um passinho para frente e disse assim: pronto". Ele olhou para mim, como que
“Quem é o representante dos índios?”. E perguntando. Aí eu disse assim: olha está
era o Baré, o Orlando Baré. O Orlando praticamente pronto, está em condi-
tinha sido escolhido ali. Aí o cara do governo disse: “Então, o se- ções.. . E não estava assim pronto. Havia três pontos de divergên-
nhor tem dez minutos para falar”! Não tinha imprensa, nenhum cia. Claro que eu não disse isso, mas pensei cá comigo, se eles

fotógrafo, nada! Daí o Orlando olhou para o presidente e começou concordarem com estes três pontos então está pronto. Pode sair

a falar: “Olha, nós estamos aqui"... E soltou o verbo indígena. Con- amanhã ou depois, O presidente disse, então, que quando os índi-
versa vai, conversa vem. “Eu estou aqui com os meus parentes, os estivessem lá em Porto Seguro, o presidente da Funai levaria o
estou representando, não sei o que”... Passaram-se dez minutos. Estatuto para eles verem.

“Está aqui na minha frente o Nailton Pataxó, a grande liderança


Essa reunião foi alguns dias antes dos eventos de Porto
pataxó que vai falar”. E o Orlando passou a palavra para o Nailton,
Seguro, não foi?
que começou a falar. E o Nailton é muito divertido, muito rápido. E
a coisa foi se distendendo. A conversa foi ficando boa. E a gente Sim! A imprensa não participou, não tinha um fotógrafo. Havia

começou a sentir que o Fernando Henrique se soltou, começou a medo! Mas a conversa foi boa, falou todo mundo, o presidente
falar, se metia no meio, dava palpites. E aí lodos falaram. Foi uma falou, deu risada. . . E depois a gente soube pelo pessoal do Palá-
conversa ótima, distendida, alegre, com um toque, aliás, dois to- cio que FHC ficou feÜz com a reunião. Tão feliz que achou que não
ques de vilania. O primeiro foi depois da fala do Davi Yanomami . . iria haver problemas em Porto Seguro. Isso gerou uma nefasta

Ele disse: “Presidente, quero dizer que nós estamos sofrendo. . declaração do José Gregori para a imprensa, no dia seguinte, quan-
queremos que o senhor resolva o problema dos Yanomami . . . mas do ele disse: “Eu acho que é preferível a gente falar com os índios
para resolver o problema dos Yanomami nós queremos que o se- do que com os amigos dos índios”. Alguns dias antes dessa reu-

nhor mantenha o Marés na presidência da Funai, porque esse é o nião, a Polícia Militar da Bahia tinha derrubado o monumento que
presidente amigo dos índios”. E o Fernando Henrique vira para os índios estavam erguendo na área indígena, então a tensão esta-

ele, com grosseria, e diz: “Você gostaria que eu indicasse o caci- va toda à flor da pele e ainda por cima o Henrique Suruí meteu a

que da sua tribo?". Ele falou isso para o pobre do Davi, e este não flecha no nariz do senador ACM.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 115


A» Acervo
-//ISA
Se essa reunião começou mal, mas resultou num clima fa- momento, seria não pedir demissão porque eu iria deixar os índi-
vorável, então você foi a Porto Seguro com uma agenda os na rua da amargura. Só porque mudou o ministro e eu estava

positiva? numa conjuntura difícil? Não fazia sentido. Eu tinha que acompa-
nhar aquele momento e ver o que aconteceria para frente. Ver se
Na verdade, a partir do dia 13 de abril, o ministro da Justiça me
eu conseguiria dar a volta por cima. Eu imaginava que ele ia me
isolou totalmente! Eu não falava nem com o porteiro do Ministério
demitir e escolher alguém de sua confiança, mas não, eu pedi de-
do Turismo, que a essa altura coordenava o programa da come-
missão depois da agressão de Porto Seguro e ele não tinha nin-
moração oficial dos 500 anos do Brasil em Porto Seguro, na Bahia.
guém para por no lugar, levou 20 dias para conseguir alguém,
Até esse dia, a Funai tinha o papel de principal interlocutor entre
andou convidando alguns amigos meus que não aceitaram.
com o Ministério do Htrismo e a área de segurança, para resolver

o problema de Porto Seguro. Especialmente com a área de segu-


rança, porque o ministro do 'Itirismo, Rafael Grecca, só falava co- Mas você tentou pedir demissão?
migo no Ministério da Justiça, com o testemunho do ministro José
Tentei, não é que tentei, pensei em pedir demissão por incompati-
Carlos Dias. A partir desse dia 13, fim de papo!
bilidade com o ministro. Mas não o fiz exatamenle porque achei
que o meu papel ainda podia ser de conciliação naquele momen-
Quem te isolou então foi o novo ministro da Justiça?
to, porque eu estava vendo que, como eu não era o intermediário,
Sem dúvida nenhuma. O ministro da Justiça me pôs para fora. E as coisas estavam nas mãos do general Cardoso. Ele queria botar é

não falou comigo! Ele não falou comigo polícia mesmo. Mas eu não imaginava
a partir dessa reunião do dia 13. Nessa que fosse botar polícia naquela circuns-

reunião ele não havia tomado posse ain- Não fui com uma tância. Eu ainda pensava que a gente po-
da. Ele era ministro mas não tinha toma- deria reeditar o cenário proposto no co-
do posse oficialmente. No dia seguinte ele
agenda positiva meço, que era aquela história toda e,

tomou posse, e evidentemente eu fui até a Porto Seguro. depois, um grande happy end com o
lá. Quando eu fui cumprimentá-lo foi
A minha vontade Fernando Henrique recebendo os índi-

algo, assim, grotesco. Estávamos no mes- os. Então eu fui para Porto Seguro nessa
mo barco, queria dar os meus parabéns
demissãt expectativa Eu não fui propriamente com
e desejar felicidades. Quando eu estiquei uma agenda positiva, mas tentando enfi-

a mão, ele disse: "Eu não posso falar com ar goela abaixo do governo uma agenda
você agora, mas eu te chamo”. Mas é cla- positiva.

ro que ele não poderia falar comigo na-


Mas você não foi lá para ver o circo
quele momento, nem eu queria falar com
pegar fogo?
ele. Ele estava em uma fila de cumpri-
mentos. Eu até achei graça da situação. Eu nem imaginava que iria pegar fogo!
Mas na verdade, já indicava uma posição de que ele não queria Ao contrário, eu imaginava que iria ser uma coisa muito tranqüila,

falar comigo. Durante todo o período eu não consegui falar com que ia ser uma coisa boa, apesar da situação extremamente tensa

ele. que havia com os outros movimentos sociais presentes. Porque a


repressão em cima do MST (Movimento Sem Terra) e do movi-
Então você foi a Porto Seguro sem retomar o contato com mento negro era total. Na véspera eu vi que o caldo podia entor-

o ministro? nar. Mas a minha agenda era de impor uma agenda positiva.

Eu falei com ele no dia 19 de abril, Dia do índio, num evento que
Estando em Porto Seguro, houve um momento em que você
houve na sede da Funai em Brasília. E ele foi até lá fazer um discur-
chegou a fechar uma negociação que viabilizaria o encon-
so. E foi o discurso mais sensacional que se pode imaginar. Ele
tro dos índios com o presidente?
elogiava a política indigenista do governo. Disse que era a primei-
ra vez que os índios estavam a favor do governo. E não se referia a Sim, eu conversei com os assessores do FHC e do gal. Cardoso.
mim. Dava a entender que eu não tinha nada a ver com aquilo, que Conversei com eles, eles me deram todos os telefones... caso acon-
eu era contra aquela política! Naquele dia ele fez o discurso e foi tecesse alguma coisa. Eu fui negociar esse encontro com os índi-

embora correndo e me disse, de novo, que não poderia falar co- os. Fui conversar com os índios que, entretanto, tiraram em as-

migo e que me chamava depois. Eu disse que o dia 22 estava aí. sembléia que não queriam fazer esse encontro com o Fernando
Depois de um "pois é”, ele foi embora. Então não falei com mais Henrique. Tudo isso lá na Bahia. Fui na Conferência Indígena e
ninguém. Portanto, não com uma agenda positiva a Porto Segu-
fui falei no encerramento.
ro. A minha vontade naquele momento era pedir demissão. Eu
estava vendo que eu estava afastado. Aí eu ponderei com algumas
pessoas e a posição que eu entendi como a mais correta, naquele

116 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Essa decisão de não falar com o FHC parece que provocou E o chamado “movimento indígena"?
um racha entre os índios...
A sensação que eu tinha antes do dia 22 de abril era que estava
Eu não me posicionei. Disse que se quisessem falar eu os botava havendo um crescimento do movimento indígena como nunca havia
na frente do FHC... Sobre esse episódio, há coisas interessantes ocorrido no Brasil, no sentido lato, de que as organizações esta-

que eu gostaria de relatar mais detalhadamente. Quando cheguei, vam se fortalecendo. E havia um reposicionamento de todo o mo-
na manhã seguinte, já tinham prendido um monte de gente, já ti- vimento indígena, que estava começando ganhar uma outra pers-
nha gente ferida... uma confusão! pectiva. Uma coisa sintomática dessa nova perspectiva era que essa
marcha, típica de liderança, recebeu adesões inesperadas, como a
Eu, o Ideputado federal] José Dirceu e a [senadoral Marina Silva
dos Xavante. Outra perspectiva foi dada pelos índios do Nordeste,
conversamos com o comandante da Polícia Militar que estava lá...
que estão cada vez mais se articulando, e se articulando de uma
Os índios tinham decidido que iriam marchar até Porto Seguro,
forma diferente. A repressão em Porto Seguro foi nesse sentido
independente do encontro com FHC. O policial disse que a ordem
devastadora para o movimento indígena. Vai ser difícil o movi-
era não deixar entrar em Porto Seguro. Eu lhe perguntei: "Quem
mento indígena se recuperar, sobretudo recuperar a sua esponta-
deu ordem? Autoridades superiores, o presidente da República?"
neidade.
Porque se fosse o presidente eu pedia para ele liberar. Não tinha
nenhum risco marchar até Porto Seguro. Era uma loucura da se- Depois dessa experiência na Funai, como ficaram as tuas
gurança, uma marcha de cinco horas! Então, eu fiz o seguinte trato convicções sobre o assunto?
com o comandante. Eu iria buscar a au-
torização para eles entrarem em Porto Eu acho que todas as idéias que eu tinha
Seguro. Mas eu não conseguia falar no A repressão em a respeito da questão indígena, do ponto
telefone. Como eu tinha crachá para en- de vista dos direitos coletivos e da minha
Porto Seguro foi
trar no lugar das autoridades, eu ia para perspectiva teórica, foram confirmadas

lá para conseguir a autorização, enquanto devastadora para o integralmente. Claro que eu tenho uma
os índios estavam na marcha. Foi esse o reflexão muito mais profunda hoje. Algo

acordo feito. Estava fácil. Mas os índios que deve ser mais refletido é o problema
andaram duzentos metros e veio a bate- da territorialidade. Sempre para mim, a
ria pesada da polícia atirando bombas. questão indígena foi ligada à
Eu não tive tempo nem de sair de Coroa territorialidade. Sempre que se falava de
Vermelha. Então foi uma traição da Polí- índio, localizava-se o território. Talvez

cia Militar ali, mas não foi só da PM, foi fosse um equívoco meu, talvez para os
também do governo. Eu saí marchando antropólogos isso fosse uma coisa muito
com os índios. Os Xavante estavam mui- fácil... Isso foi para mim uma novidade
to animados. A idéia era chegar lá e fazer uma festa. Eles queriam grande para a reflexão. Ver que é possível existir um povo que não
fazer uma festa para o FHC, eles queriam fazer uma festa para eles. está diretamente referenciado a um território, ou que o território

Os índios se sentiram naquele momento traídos mesmo! pudesse ser apenas uma questão ou nenhuma questão. Quando
saí da Funai, com essa coisa toda na cabeça, a primeira coisa que
A polícia abriu inquérito tentando responsabilizar você fiz foi ler sobre a questão cigana para ver exatamente como se
pelo que aconteceu... desloca do conceito de territorialidade. Talvez essa seja uma ques-
Recebi a notícia, por um jornal, de que eu não tinha tomado as
tão puramente teórica, sem muito valor político. Mas, enfim, do
ponto de vista teórico, a reflexão que eu fiquei devendo foi essa.
atitudes de pacificação necessária. Arquivaram rapidamente, não
prosseguiram com um inquérito da PM baiana (outubro, 2000)
a acusação. Esse foi

feito apenas para não punir o Comandante, não fui chamado nem
para testemunhar, quanto mais para me defender.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INOIGENISTA 117


Propostas para uma Nova
Política Indigenista

Márcio Santitli coordenador do Programa


Brasil Socioambíental/ISA

CONTRIBUIÇÕES DO ISA PARA A são apenas começava a chegar ao interior do país. Várias regiões

REESTRUTURAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS não eram ainda acessíveis por estradas. A maioria da população

FEDERAIS RELATIVOS À ATENÇÃO AOS ÍNDIOS rural era analfabeta e destituída de direitos efetivos. Grandes pro-
jetos económicos e de infra-estrutura apenas começavam a se im-
plantar na Amazônia, sob o signo da “integração nacional”.
Este texto resume idéias gerais para uma reestruturação dos ser-
O instituto da tutela é aplicado aos índios (ou “silvícolas”, como
viços públicos federais relativos à atenção aos povos indígenas. É
prefere o Código Civil) desde o inído do século e está cristalizado
um instrumento de discussão, com vistas a constituir propostas de
no Estatuto do índio (Lei 6001/73) como na lei de criação da
intervenção da sociedade civil e do movimento indígena num con-
Funai. Há 30 anos, embora boa parte dos povos indígenas já man-
texto de anunciada reforma do Estado. Parte do pressuposto de
tivesse contatos regulares com a sociedade/estado nacional, eram
que nenhum processo ou modelo de reforma pode atingir seus
relações comparativamente tênues, apesar das pressões históricas
legítimos objetivos finalísticos se não for capaz de articular-se aos
de colonização e de aculturação. A grande maioria da população
projetos de futuro próprios dos povos indígenas. Por outro Lado, a
indígena não falava português, o grau de isolamento geográfico
possibilidade de intervenção destes povos - e das suas organiza-
era infmitamente maior, não havia televisão nas aldeias, o poder
ções - neste processo, depende da sua capacidade de propor ru-
público estava distante (apesar de a Funai dispor de melhor estru-
mos e alternativas em tempo político real, no momento em que as
tura e recursos) e as frentes de expansão econômica, se já assola-
decisões de governo são tomadas. Pretendemos, com este texto,
vam terras indígenas, o faziam com intensidade bem menor.
oferecer a contribuição do ISA a esta discussão.
Atualmente, se por um lado ainda há algumas dezenas de grupos
indígenas isolados, por outro lado as comunidades e as suas lide-
ESGOTAMENTO DA TUTELA
ranças cncontram-sc em contato freqiiente c regular com inúme-
Em 998 a Funai
i completou 30 anos, o Estatuto do índio comple- ras agências de estado, federais, estaduais e municipais, com
tou 25 e a Constituição 10 anos dc vida. Temos uma legislação conírontantes, exploradores, pesquisadores, missionários, jorna-
infraconstitucional que precede em 15 a constitucional vigente, e listas, membros de organizações de apoio e representantes de or-

um órgão de estado que precede a ambos e que se define como de ganismos internacionais. A maioria das aldeias dispõe de equipa-
caráter tutelar. mentos de comunicação e transporte (embora em condições ge-
ralmente precárias), ouve rádio ou televisão, recebe visitas fre-
Os últimos 30 anos trouxeram modificações profundas na organi-
qiientes de terceiros ou convites para se fazer representar cm reu-
zação social e política de todos os povos. Houve extraordinário
niões ou eventos.
avanço nas comunicações, na informática, na biotecnologia e na
própria consciência dos povos em relação ao meio ambiente e aos O assédio de interesses econômicos sobre as terras indígenas se
direitos coletivos e difusos. O Brasil de trinta anos atrás era ainda generalizou. A própria Funai estima que 85% das terras indígenas
um país de forte predomínio cultural e econômico de base rural, sofre algum tipo de intrusão de terceiros, de forma permanente ou
submetido a governos militares de caráter autoritário, com inú- intermitente, com maior ou menor grau de consentimento por parte
meros bolsões de isolamento habitados por populações distantes das lideranças locais, sendo os intrusos, geralmente, garimpeiros,
dos centros de informação e dos meios de comunicação. A televi- madeireiros, posseiros, fazendeiros ou pescadores. Paralelamen-

118 POLÍTICA INDIGENISTA P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO S0QI0AMBIENTAL


'3^=íZ^ Acervo
//\C I SA
te, nos últimos 8 anos avançou o processo de demarcação admi- ões relevantes do ponto de visla da locahzação das terras indíge-
nistrativa das terras indígenas, sendo que dois terços das mesmas nas, agrupando etnias vizinhas e que mantém relações entre si e
encontram-se homologadas. 0 reconhecimento oficial das terras convivem em contextos comuns. Não devem ser confundidos com
está fazendo emergir as questões relacionadas à gestão territorial a estrutura atuai das administrações regionais da Funai ou com a
como prioritárias na agenda da política indigenista. divisão política do pais em estados e municípios. Seriam unidades
Surgiram e se desenvolveram centenas de organizações indígenas
administrativas com alto grau de autonomia, com metas e agendas
que se propõem a representar diretamente interesses específicos
específicas de trabalho, com orçamento próprio e poder de con-

ou gerais, e que em alguns casos mantêm vínculos com organiza- tratar e demitir funcionários, que poderiam dispor de unidades

ções indígenas internacionais, como a Coica, por exemplo. Houve operacionais ou projetos de área em quantidade e localização apro-
priadas a cada região.
enorme ascensão da temática indígena nos fóruns institucionais

nacionais e internacionais. Apesar da influência das organizações Os programas regionais deveriam ser formulados, implantados e
de apoio, funcionários públicos e de terceiros em geral, o administrados por um conselho regional, com poderes para deci-
protagonismo político das lideranças indígenas alcançou patamar dir sobre as programações anuais, propor os orçamentos anuais,
inédito e irreversível no contexto globaiizante deste final de sécu- avaliar o desempenho do programa e dos seus funcionários e indi-
lo. Sob certos aspectos, talvez possamos afirmar que as mudanças car nomes para a sua coordenação executiva. Não deveria haver
nas relações de contato havidas nestes últimos 30 anos foram mais um único modelo de gestão administrativa para todos os progra-
profundas que as dos 470 anos anteriores. mas regionais, podendo haver modelos alternativos, mais viáveis

Às vésperas do terceiro milênio, soa ridículo que índios sejam con- ou adequados às diferentes realidades regionais, especialmente

siderados “relativamente capazes" e, sobretudo, que um órgão de quanto ao nível de organização dos povos da região e a sua capa-

Estado seja tutor das 215 etnias que habitam o território brasilei- cidade de assumir o gerenciamento do seu programa em maior ou

ro, intermediando (autorizando e desautorizando) as inúmeras menor grau. Nos casos das regiões em que o nível de organização

relações de contato em que se encontram envolvidas. Por outro dos índios é incipiente, é maior o seu grau de dependência em
lado, a condição de tutelados cerceia a sua livre expressão políti-
relação à Funai, não há organizações de apoio em condições de

ca, a administração direta dos seus territórios, o seu acesso aos apoiá-los e são mais precárias as condições de logística, o Estado

serviços públicos, ao mercado de trabalho, às linhas oficiais de deverá geri-los por administração direta.

crédito, etc. Além de reduzir a capacidade civil dos índios, a tuteia Os programas regionais devem ter por objeto um espaço territorial
é um obstáculo à autogestão das terras e dos projetos de futuro expressivo e não devem pulverizar-se em grande quantidade, evi-
dos povos indígenas. tando assim a burocraúzação ou a perda de referência estratégica

A “proteção" da tutela deve ser substituída por outros instrumen- do órgão. Organizar as atividades de fomento em cerca de 30 pro-
tos de apoio do poder público aos povos indígenas. O Estado não gramas regionais seria o ideal em termos administrativos, permi-

deve pretender substituí-los como sujeitos políticos no exercido tindo a articulação direta com a direção nacional, sem instâncias

direto dos seus direitos e das suas relações. Um novo estatuto deve administrativas regionais, estaduais ou intermediárias. Estas me-
regular estas relações e ao Estado deve caber o papel de viabihzar diações burocráticas acabam isolando os programas, abrindo es-

serviços básicos (educação, saúde) e fomentar os projetos cultu- paços para a interferência política e dificultando o diálogo cotidi-

rais, econômicos, ambientais indígenas. O conceito de fomento é ano entre eles e a sede, o que prejudica as iniciativas de articula-

muito mais apropriado que o de tutela para definir o papel amai e ção inter-institucional, as negociações de recursos e a cooperação

futuro que os povos indígenas devem reivindicar do Estado. entre os programas. No entanto, se o número de programas se

pulverizar, como hoje ocorre com as administrações regionais da


Funai, fica inviável uma relação ágil e cooperativa com a direção
PROGRAMAS REGIONAIS
centrai, o que exigiríainslâncias intermediárias para organizar esta
Um órgão de Estado para assuntos indígenas, fundado no conceito relação.
de fomento, poderia ser estrumrado a partir de programas estra-
Assim, como são 215 as etnias e 560 as terras indígenas, não seria
tégicos e programas regionais. Os programas esttatégícos tratari-
possível organizar programas regionais por etnias (salvo em situ-
am de questões gerais, como demarcação das terras, exercício do
ações excepcionais), devendo eles terem o caráter de programas
poder de polícia em defesa dos direitos indígenas, sistema de co-
pluriétnicos, sem prejuízo de se organizarem sub-programas, ou
municações, intercâmbio cultural, legislação, etc. Seriam
projetos étnicos, ou de áreas indígenas específicas dentro da juris-
estruturados a partir da demanda em escala nacional colocada
dição de um programa regional. A forma de organizar um progra-
por estas questões gerais. Teriam coordenações baseadas na sede
ma regional, de subdividi-lo ou não, de buscar contemplar as
central do órgão e articulariam estas demandas nas várias regiões
especificidades daquela área, de optar por mecanismos de deci-
e quanto às suas interfaces com outros órgãos e políticas setoriais.
são e de gerenciamento que mais lhes convém, deveria ser decidi-
Mas o conceito mais fundamental é o de programas regionais. Es- da (e revista ao longo do tempo) por cada conselho regional. De-
tes programas poderiam ser construídos tomando por base regi- vem ser estimuladas as diferenças entre os programas regionais,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1896/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAI POLÍTICA INDIGENISTA 119


Acervo
//\V I SA
pois a diversidade é própria das sociedades indígenas, inclusive quadamente este conjunto crescente de demandas, reunindo no
no que se refere à própria composição dos conselhos regionais, sen próprio quadro profissionais das várias áreas de formação.
Por outro lado, supondo-se que o Ministério da Saúde dispõe de
A proposta dos programas regionais não é uma solução mágica
competência técnica específica neste campo, deve responder às
para os problemas que afetam os povos indígenas e que marcam
demandas de saúde indígena e contar com o apoio das instituições
as suas relações com o Estado. A vantagem deste modelo é de indi-
públicas (inclusive das privadas) para desenvolver ações específi-
car objetivos claros à ação do Estado em cada região e possibilitar
cas e articular suas demandas no âmbito do SUS.
o desenvolvimento de dinâmicas políticas regionais em bnsca de

soluções. É de se supor que onde o movimento indígena está mais O Ministério da Saúde deveria implementar os distritos sanitários

organizado, imprimirá uma dinâmica diferenciada ao programa indígenas na sua estrutura, através de uma agência específica que
da sua região.O objetivo seria superar o modelo atual dc órgão melhor possa atender esta demanda frente a outras que hoje se
centralizado, em que um dirigente eiege isoladamente as priorida- encontram no âmbito da FNS. Os dirigentes destes distritos deveri-
des e distribui o orçamento como deseja, permitindo que alguns am integrar a coordenação dos programas regionais. Será impor-

grupos indígenas que têm acesso mais fácil à sede, se articulem a tante para os índios que as discussões sobre a implantação dos
interesses corporativos para fazerem valer as suas demandas em distritos sanitários ocorra de forma articulada com a de progra-
detrimento das dos demais povos e da própria qualidade da políti- mas regionais, inclusive no que se refere às áreas de jurisdição,

ca do Estado para a questão indígena. que deveriam ser coincidentes.

No modelo dos programas regionais, cada região teria o seu pró- Da mesma forma, não deve ser ignorada ou prejudicada a atenção
prio orçamento, não podendo comprometer os demais. Certamente direta do Ministério da Educação em relação aos povos indígenas.
haveria programas regionais melhores que outros, mais avança- Como sc sabe, há um sistema nacional de ensino, descentralizado
dos, mais democráticos, com maior capacidade de articular apoi- (federalizado), e uma rede de escolas indígenas, especializada. 0
os e iniciativas. Sem prejuízo do intercâmbio de experiências e de Comitê de Educação Escolar Indígena do MEC deveria ser reforça-
boas soluções, é desejável que os programas sejam, mesmo, dife- do com recursos humanos e financeiros para ampliar a escala dos
rentes e possam expressar diferentes graus de organização indíge- projetos que atualmente apóia e para poder trabalhar mais siste-
na, desde que os que desejem e reunam as condições para avan- maticamente na articulação das demandas indígenas com o siste-

çar nas soluções não sejam impedidos ou desestimulados pela ma, na regularização das escolas indígenas e no estímulo a proje-
centralização, pelo burocratismo, ou por interesses espúrios. O tos de capacitação e profissionalização. As instituições prestadoras
avanço de cada programa regional seria determinado pela capaci- de serviços de educação indígena, sejam prefeituras, Estados, igre-

dade da coalizão de forças locais, que se articularam em torno jas ou ONGs, assim como as organizações de professores indíge-
dele, de construir as soluções no decorrer do tempo, de utilizar da nas, deveriam se fazer representar nos conselhos regionais.
melhor fornia os recursos disponíveis.
Assim, os programas regionais, embora constituindo uma agência
de fomento para demandas indígenas, deveriam articular na sua
SAÚDE E EDUCAÇÃO estratégia de ação as ações específicas a serem desenvolvidas no
âmbito de outras instituições públicas. Os consellios regionais,
Os programas regionais (assim como os estratégicos) devem ter
dispondo de representação expressiva das organizações e lideran-
por objeto apoiar e fomentar as formas de vida de cada povo, pensá-
ças indígenas locais, deveriam exercer o seu papel de planejamen-
las - portanto - no seu todo, mas o órgão ou agência dc Estado
to e de controle social do conjunto destas atividades do Estado,
por eles responsável não deve pretender o monopólio das rela-
sem prejuízo da constituição de conselhos ou outras instâncias es-
ções com os povos indígenas. Seria um braço do Estado que apóia
pecíficas para as políticas de saúde ou de educação.
a sua organização para se relacionar com o conjunto. Da mesma
forma, o fato dele existir não reduz as responsabilidades de outros
órgãos públicos em relação às demandas indígenas. Se compete TRANSIÇÃO
ao Ibama proteger as florestas c fomentar o desenvolvimento sus-
A constituição de um órgão público de fomento não pode ser feita
tentável, também tem ele responsabilidades em relação às flores-
do dia para a noite. Seria inútil formular uma boa proposta alter-
tas situadas em terras indígenas e às demandas de manejo de re-
nativa à Funai e querer implantá-la através de um decreto ou me-
cursos naturais por seus habitantes.
dida provisória. Embora a necessidade dc um órgão mais apropri-
Isto é particidarmente importante e urgente no que diz respeito à ado que a Funai já seja antiga, não basta mudar o nome, a roupa e

política para saúde indígena. Disputas corporativas entre a Funai e o endereço de uma instituição pública para se poder mudar a po-
a FNS, nos últimos anos, inviabilizaram a organização de um servi- lítica indigenista. A própria Funai dispunha de um modelo
ço de saúde razoável para os povos indígenas. Se o que se espera é institucional mais moderno e interessante que o antigo SPI mas,
uma ação integrada por parte do Estado, diferentes agências têm como foi constituída sob uma forte crise que assolou o SPI, sem
que se articular para atender o conjunto das demandas indígenas. um projeto claro alternativo, assumiu todos os seus ridos, sem
Nenhum órgão indigenista - ou de fomento - pode abarcar ade- construir antes um paradigma diferente de política indigenista.

12D POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


o, tão importante quanto uma proposta alternativa, seria Para coordenar o processo de formulação dos programas regio-
dispor das condições para construí-la sem a pressão emergen- nais, a Funai deveria constituir uma equipe técnica, constituída a
didista e fisiológica que hoje atropela o dia a dia da Funai. partir de núcleos técnicos hoje dispersos na estrutura do órgão,
apoiada por quadros das organizações indígenas e de apoio, que
Não há recursos humanos e financeiros para se estruturar - ao
desenvolveria unta metodologia para a composição das coordena-
mesmo tempo programas regionais para todo o território nacio-
-
ções provisórias e uma agenda de oficinas de trabalho nas regiões
nal. Como já se viu, não se trata de uma fórmula acabada a ser
priorizadas, Se se começasse pela Amazônia, por exemplo, a mai-
implantada nas várias regiões, mas de programas apropriados a
or parte desta equipe poderia esiar baseada - no primeiro ano -

cada contexto e às condições concretas do movimento indígena em Manaus, até que os programas no norte estivessem formulados
local. Seria necessário estabelecer uma agenda (de três a quatro
e em condições de serem implementados, deslocando-se no ano
anos de trabalho) para a formulação (planejamento) e a implan-
seguinte para outra região, e assim sucessivamente. Na medida em
tação dos programas regionais. Alguns programas seriam formu-
que os primeiros programas começassem a ser implementados,
lados num primeiro ano, para começarem a ser implantados num serviriam dc referência (consideradas as especificidades locais)
segundo ano, quando outros seriam formulados para posterior
para as regiões onde ainda não estivessem formulados.
implementação, Assim, áreas prioritárias para a implantação de
Quando a maior parte das regiões já tivesse programas constituí-
programas regionais deveriam ser definidas, considerando, num
dos, seria possível se dimensionar com exatidão qual é a estrutura,
primeiro momento, as regiões em que o movimento indígena se
necessária para uma sede central do órgão de fomento. Da mesma
encontra melhor estruturado.
forma, deveriam ir sendo definidas as regras para a relação entre
Quando se iniciasse a formulação de um programa em determina- os programas regionais e a direção central do órgão. Uma nova lei
da região, compondo-se os atores locais numa coordenação pro- deverá definir estas regras, de preferência a partir da prévia defi-
visória, seria importante contar com a colaboração das unidades nição do novo estatuto, com o reconhecimento da plena capacida-
locais da Funai. Neste sentido, os administradores regionais deve- de civil dos índios, das obrigações do Estado, das condições e li-

riam estar informados do processo, provendo as informações e mitações para o exercício do usufruto exclusivo dos recursos na-
apoio logístico necessários para a formulação do programa. Qu an- turais existentes nas terras indígenas. (Publicado originalmente

do o programa formulado começasse a ser implementado, a es- em Últimas Notícias/ISA, 07/04/99)


trutura local da Funai passaria a integrar a estrutura do programa.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


- POLÍTICA INOIGENISTA 21
S7 ^ Acervo ,

ACON
s

T E L£_UJ

GALERIA DA CRISE PERMANENTE dos Xavante, de funcionários da Funai e de gru-


pos políticos vinculados aos índios e aos servi-

dores que, na sua opinião, tencionavam


FUNAI: 27 PRESIDENTES EM 33 ANOS desestabilizá-lo para que não reformulasse o
órgão. (ISA)
] - José de Queiroz Campos - jornalista - dez. 67 a jun. 70
2- Oscar Jeronymo Bandeira de Mello - militar - jun. 70 a mar. 74 23° SULIVAN SILVESTRE -
3- Ismarth Araújo de Oliveira - militar - mar. 74 a mar. 79 AGOSTO/97 A FEVEREIRO/99
4- Ademar Ribeiro da Silva - engenheiro - mar. 79 a nov. 79 Sulivan Silvestre,
5- João Carlos da Veiga - militar - nov. 79 a out. 81 paranaense, funcio-
6- Paulo Moreira Leal - militar - out. 81 a jul. 83 nário do Ministério
Público de Goiás, to-
7- Otávio Ferreira Uma - economista - jul. 83 a abr. 84
mou posse em 22 de
8- Jurandy Marcos da Fonseca - advogado - maio de 84 a seL 84
agosto de 1997. For-
9- Nelson Marabuto - policial - set. 84 a abr 85 mado em Direito
10- Ayrton Carneiro de Almeida (Indicado pelo ministro Costa Couto, foi impedido, por um pela PUC de Goiás,
conjunto de índios, de assumir o cargo no dia 18 de abril. Sua nomeação ficou no papel). Silvestre era especi-

1 1- Gérson da Silva Alves - militar - abr. 85 a set. 85 alista em meio ambi-


12- Álvaro Villas-Bôas - indigenista - ente. Desconhecido
set. 85 a nov. 85
entre índios e indi-
13- Apoena Meirelles - sertanista - nov. 85 a maio 86
genistas, seu nome
14- Romero Jucá Filho - economista - maio 86 a set. 88
surpreendeu, já que estavam cotados para ocu-
15- tris Pedro de Oliveira - advogado - set. 88 a mar. 90 par o cargo antropólogos e funcionários da
16- Airton Alcântara - militar - mar. 90 a ago. 90 Funai conhecidos pela comunidade.

17- Cantfdio Guerreiro Guimarães - - 90 a Sua nomeação comprovou o poder de fogo do


militar ago. jul, 91
ministro íris Rezende, que conseguiu colocar
18- Sidney Possuelo - sertanista - jun. 91 a maio 93
no comando um apadrinhado pofitico sem ne-
19- Cláudio dos Santos Romero - maio a set. de 93 nhuma experiência com a política indigenista.
20- Dinarte Nobre de Madeiro - set. 93 a set. 95 A indicação política desagradou o funcionalis-
21- Márcio José Brando Santilli - filósofo - set. 95 a mar. 96 mo da Funai, que torcia pela nomeação de um
22- Júlio Marcos Germany Gaiger - advogado - mar. 96 a jul.97 técnico dos quadros da Fundação e algumas or-
ganizações não-govemamentais.
23- Sulivan Silvestre - advogado - ago.97 a fev.99
Em seu discurso de posse, Silvestre afirmou ser
24- Márcio Lacerda - político - fev.99 a nov.99
a demarcação de terras a prioridade de sua
25- Carlos Frederico Marés - advogado - nov.99 a abril 00 gestão. Além disso, enfatizou a necessidade de
26- Roque Barros Laraia - antropólogo - abril 00 a maio 00 uma aproximação entre a Funai, os índios e as

27- Glênio Alvarez - geólogo maio 00 - demais entidades de apoio.


Procurou estruturar o Conselho Deliberativo e
Participativo das Lideranças Indígenas, promo-
vendo o diálogo entre a Funai, os representan-
22° JÚLIO GAIGER - Foi indicado pelo ministro Nelson Jobim, com tes indígenas, as ONGs, o Cimi e o Capoib, sem-
MARÇO/96 A JULHO/97 quem trabalhava desde meados de 1995 na for- pre em defesa da descentralização do órgão
mulação do polémico Decreto 1775. que prevê indigenista.
O advogado gaúcho a revisão de áreas indígenas ainda não Em 1 de fevereiro de 1999, Silvestre morreu em
Júlio Gaiger foi no- registradas. Essa indicação causou imediatos um acidente de avião. O bimotor Sêneca, que o
meado presidente protestos de organizações indígenas e de apoio. levaria de Brasília até uma reunião com os ín-
da Funai em 12 de Em junho de 1997, apesar dos apelos dos dios Fulni-ô e Pankararu, caiu a poucos minu-
março de 1996, Xavante pela saída imediata de Gaiger, o novo tos da pista do aeroporto de Goiânia. O aciden-
ocupando o lugar ministro da Justiça, íris Rezende, bancou a sua te ocorreu por volta das 21h30. Pouco depois
de Márcio Santilli. permanência. Mas, em 17 de julho, Gaiger en- da queda, o aparelho foi consumido pelo fogo.
ligado à questão in- tregou o cargo, alegando que o governo não Renan Calheiros, ministro dajustiça na época,
dígena desde 1977, teria se empenhado na implementação da polí- afirmou que iria acompanhar as investigações
quando dirigiu a As- tica indigenista e que lhe teria faltado apoio sobre o acidente. (ISA)
sociação Nacional político para levar adiante a reformulação ad-
de Apoio ao índio ministrativa do órgão.
em Porto Alegre, Gaiger foi assessor jurídico “Ressinto-me, na Funai, da ausência de deci-
do Cimi até 1991 e trabalhou como assessor na sões estratégicas que escapam do nosso alcan-
Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Am- ce", escreveu em sua carta de demissão. Em
biente e Minorias da Câmara. entrevista, disse que vinha sofrendo pressões

122 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO 50CI0AMBIENTAL


24° MÁRCIO LACERDA - rio da Cultura do município de Curitiba, entre 26° ROQUE DE BARROS LARAIÁ -
FEVEREIRO/99 A NOVEMBRO/99 1983 e 1988. ABRIL/00 A MAIO/00
Colaborou, na Assembléia Nacional Constituin-
José Márcio Panoff te (1987-88), na formulação do Capítulo VIII,
Com a demissão de

de Lacerda tomou Marés, o então pre-


“Dos índios”, e foi um dos coordenadores da
posse na Presidên- sidente substituto, o
campanha "Povos Indígenas na Constituinte”.
cia da Funai cm 22 antropólogo Roque
Em 1989, fundou o Núcleo de Direitos Indíge-
de fevereiro de de Barros Laraia. as-
nas (ND1), e, em 1994, o Instituto
1499- Foi deputado, sumiu a presidência
Socioambiental (ISA), do qual foi presidente e
senador e vice-go- conselheiro.
da Funai em regime
vernador do Mato interino. Foram 29
Marés é também autor de seis livros, o último
Grosso. Hm seu dis-
deles - “O renascer dos povos indígenas para dias até que Glênio
curso de posse, pro- Alvarez fosse nome-
o Di reito” - é resultado de sua dissertação de
meteu investir na ado presidente pelo
doutoramento apresentada, em 1988, à LTPR.
aprovação de um Marés foi indicado para a presidência da Funai
ministro José Gre-
novo Estatuto do ín-
pelo ministro da Justiça, José Carlos Dias, que
gori.

dio, “que reflita uma política realista, voltada


advogou em seu favor, providenciando a regu-
Laraia é formado em história, mas optou pela

para proporcionar às sociedades indígenas o quando de antropologia. Foi parte do corpo docente do
larização de sua situação no Brasil,
legítimo direito de explorar em bases racionais Museu Nacional (IIFRJ) e, a partir de 1968, da
seu retorno depois de nove anos de exílio.
os recursos naturais existentes em suas terras”. Antes de assumir o cargo, Marés apresentou 13
InB. É integrante do Conselho Indigenista des-
Sua atuação foi marcada pela defesa de parce- propostas para o ministro como condição para de que foi criado, em 1967. À época, esse con-
rias entre o estado e os municípios para melho- selho representava o poder máximo no órgão.
poder assumir a presidência da Funai (ver arti-
rar os atendimentos às sociedades indígenas.
go Descascando o “abacaxi”, nos “500 anos”
O antropólogo tem experiência de pesquisa com
Em 31 de maio, Lacerda foi retirado à força do do Brasil). Entre elas, estava a homologação da os Terena e os Suruí do Pará.
prédio da Funai por 5 1 guerreiros xavante, que Durante a gestão de Marés, Roque Laraia foi o
reserva indígena Raposa/Serra do Sol.
se revoltaram devido ao afastamento do diretor responsável pela Diretoria de Assuntos
O curto período em que Marés esteve na Funai
da AER de Nova Xavantina.
foi marcado por atos polêmicos. Logo no início
Fundiários. Lm entrevista exclusiva ao Isa, con-
A gestão de Lacerda teve de enfrentar, a partir fessou que os maiores problemas por ele en-
de 2000, declarou publicamente que não have-
de maio de 1999, os inquéritos por ocasião da ria o que comemorar no dia 22 de abril, aniver-
frentados em sua curta gestão na presidência,
CPI da Funai, promovida por parlamentares que foram o esvaziamento dos quadros profissionais,
sário de 500 anos do “descobrimento" do Bra-
visavam investigar o relacionamento do órgão a escassez de recursos e a pressão constante de
sil. "É uma festa da chegada das caravelas, festa
federal com ONGs, admissão de antropólogos e dos brancos. A maior parte dos índios brasilei-
grupos indígenas, como os Xavante e os Fulniô.

aplicação de recursos. Nesse período, tomou- Segundo ele, “não é possível administrar a Funai
ros tem contato com a civilização branca há bem
se cada vez mais público o caos orçamentário menos de 500 anos”, disse ele.
com os Xavante do jeito que estão". Para ele. a
da Funai. maioria dos índios continua desassistida, ao
A gestão de Marés foi marcada pela negociação
Em novembro, por pressões dos índios, de vá- em [orno da apresentação da nova proposta para passo que uma etnia acaba consumindo o tem-
rias instituições e de ONGs, colocou o cargo à po da administração e tomando a maioria dos
índio". Em 7 de abril de 2000,
o “Estatuto do 1

disposição. Na ocasião, ele admitiu que enfren- recursos parcamente disponíveis. (ISA)
Marés apresentou a proposta do governo “Es-
tou conflitos internos, principalmente com o tatuto do índio e das comunidades indígenas"
médico Oswaldo Cid Nunes da Cunha, exonera- às lideranças indígenas que se reuniam em 27° GLÊNIO ALVAREZ - iMA10/00
do da chefia do Departamento de Saúde na Funai Monte Pascoal, em ocasião da marcha de pro-
em Brasília, que classificou Lacerda de “incom- testo contra as comemorações dos 500 anos. 0 geólogo Glênio
petente". Alvarez, funcionário
isso sedeu antes mesmo da proposta ser sub-
Lacerda acusou o médico de deslealdade ao da Funai há 1 4 anos, é
metida ao Legislativo.
condenar publicamente a decisão do governo o 26° presidente do
Em 22 de abril, após presenciar uma ação da
de transferir a área de saúde indígena para a orgão indigenista ofi-
polícia contra a marcha dos índios que iam de
Fundação Nacional de Saúde. (ISA) cial desde sua funda-
Coroa Vermelha a Porto Seguro para protestar
ção, em 1967. Foi ad-
contra as comemorações dos 500 anos, Marés
25° CARLOS FREDERICO MARÉS - anunciou que pediria demissão. “Não posso
ministrador regional

NOVEMBRO/99 A ABRIL/00 do órgão em Boa Vista


permanecer num governo que faz agressão físi-
(RR), em 1994, perí-
ca ao movimento indígena organizado", afirmou
Nascido em União da odo de demarcação da TI Yanomami.
após ter decidido, em caráter irrevogável, apre-
Vitória (PR), Carlos À escolha de Alvarez, gaúcho de Santa Maria,
sentar sua demissão ao ministro da JustiçaJosé
Frederico Marés de encerrou a interinidade do antropólogo Roque
Gregori. (ISA)
Souza Filho é professor de Barros Laraia, que ocupou 0 cargo desde a
de Direito Agrário e saída de Carlos Frederico Marés. Alvarez disse
Ambiental da PUC-PR. que pretende implantar programas conjuntos
Foi procurador do esta- com governos estaduais. Seu principal desafio

do do Paraná entre é contornar a falta de verbas para desenvolver


1991 e 1994, e secretá- os programas previstos para 2000. (ISA)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 123


MINISTROS DA JUSTIÇA candidatura do presidente do PSDB, 0 senador REESTRUTURAÇÃO
Teotônio Vilela Filho, ao governo de Alagoas.
Em julho de 1999, Calheiros deixou 0 governo. DA FUNAI
NELSON JOBIM - Sua queda vinha sendo esperada desde 0 início
JANEIRO/95 A MAIO/97 da disputa em tomo da nomeação do diretor FUNAI APARECE EM LISTA
O advogado gaúcho Nelson Jobim foi deputado geral da Polícia Federal. Disposto a efetivar no DE ÓRGÃOS ELIMINÁVEIS
federal pelo PMDB de 1987 a 1991. Participou cargo 0 delegado Wantuir Jacine, então diretor
interinoda corporação, Calheiros entrou em O governo federal poderá fechar, fundir ou
cora um dos quatro relatores adjuntos da Co-
confronto direto com 0 chefe da Casa Militar, transformar em empresa pública 22 órgãos e
missão de Sistematização da Constituição apro-
general. Cardoso, e teve atritos com 0 presidente. estatais a partir de janeiro próximo, segundo
vada em 1988 e foi relator da fracassada revi-
Durante sua gestão, declarou 19 Tis, dentre elas,
estudo aprovado pelo presidente FHC. O objeti-
em 1993 e 1994.
são constitucional
a TI Rítposa/Serra do Sol (AM), com 1.687.800 vo da medida é reduzir as despesas do governo
Quando nomeado ministro da. Justiça por
há e a TI Munduruku (PA), com 2.340.360 ha. federal e 0 número de empresas estatais. Entre
Fernando Henrique Cardoso, Jobim travou a
(ISA) as empresas listadas estão a Funai e 0 Dnocs,
aprovação do novo Estatuto das Sociedades In-
entre outras. A lista não é definitiva e depende
dígenas no Congresso e paralisou as demarca-
da negociação com os ministérios. A Funai po-
ções de terra, fazendo 0 presidente assinar um JOSÉ CARLOS DIAS - deria ser transformada numa entidade pública
novo decreto sobre procedimentos administra- JULHO/99 A ABRIL/OO ou fundida com algum outro órgão do Ministé-
tivos de demarcação de terras indígenas. Na
O criminalista paulista José Carlos Dias, que tem rio da Justiça. No entanto, 0 ministro da Justi-
época, Jobim alegava a falta de objetividade nos
afinidade política com 0 PSDB, assumiu em ju- ça, Nelson Jobim, negou ontem que o govern
procedimentos administrativos de identificação
lho de 1999 0 Ministério da Justiça depois de 0 tenha intenção de extinguir a Funai. (FSP.
dessas terras. Redigiu e, finalmente, em janeiro
treze anos sem exercer um cargo público. O 19/09/96)
de 1996, 0 governo acabou aprovando 0 De-
advogado sc destacou na defesa de presos polí-
creto 1775, que abriu a possibilidade de con-
testação de todas as terras indígenas, mesmo
ticos durante a ditadura militar (1964-1979), FUNAI PEDE APOIO ÀS
presidiu a Comissão de Justiça e Paz da LIDERANÇAS INDÍGENAS
as já demarcadas.
Arquidiocese de São Paulo (1979-1981) , zelan-
Hm fevereiro de 1997, Jobim deixou 0 cargo no A Funai empossou terça-feira os novos mem-
do pelos direitos humanos.
Ministério para assumir como ministro do Su-
bros do Conselho Indigenista, um marco con-
Durante sua gestão, tiveram lugar as negocia-
premo Tribunal Federal. Durante sua gestão, 30 siderado histórico na Fundação. Dos 14 mem-
ções em tomo da proposta do novo Estatuto das
Tis foram declaradas, dentre elas, as cinco do
Sociedades Indígenas e foram declaradas 1 8 Tis. nomeados para um mandato de dois anos,
bros,
Rio Negro, que somam 10.610.538 ha. (ISA)
50% são de líderes indígenas, fato inédito na
Em 1 1 de abril de 2000, foi demitido pelo pre-
sidente Fernando Henrique Cardoso, depois de Funai. (Jornal de Brasília, 05/03/98)
ÍRISREZENDE - uma discussão sobre uma nota divulgada, na
MAIO/97 A ABRIL/98 qual criticava 0 secretário Nacional Autidrogas, EM BUSCA DE
Duas vezes governador do estado de Goiás ex- ,
Walter Maierovitch, protegido do general Car- UM NOVO MODELO
ministro da Agricultura do governo Sarney e doso. (ISA)
A Funai está analisando a transformação das
senador eleito pelo PMDB do mesmo estado,
administrações regionais do órgão em superin-
íris Rezende Machado foi escolhido por JOSÉ GREGORI - ABRIL/00 tendências ou coordenadorias para dar auto-
Fernando Henrique Cardoso como parte de uma
A nomeação de José Gregori, advogado c ami- nomia aos administradores e facilitar a obten-
manobra para pacificar rebeliões protago-
go do presidente Fernando Henrique Cardoso, ção de recursos fora dos cofres públicos para
nizadas por parlamentares do PMDB.
para 0 Ministério da Justiça teve como objetivo desenvolver alividades da fundação.
Oriundo do MDB, tendo sido cassado pelos
em
por um fim na alta rotatividade de titulares 11 a “Temos que reconhecer que não há mais re-
militares 69, Rezende é agropecuarista e
pasta e, possivelmente, eliminar uma fonte de cursos. O caixa é pequeno e a tendência é ficar
advogado. Assumiu 0 Ministério depois de pre-
problemas na Esplanada dos Ministérios, cada vez menor. Por isso temos que buscar al-
sidir a Comissão de Constituição e Justiça do
Gregori, até então secretário Nacional de Direi- ternalivas que permitam 0 desenvolvimento dos
Senado.
tos Humanos, conta com a mais absoluta confi- nossos projetos”, explicou Sulivan Silvestre, que
Em abril de1998, deixou 0 posto no Ministério
ança do presidente, integra seu círculo mais um encontro de 49 administra-
participou de
para concorrer ao governo de Goiás. Declarou
próximo e mantém um bom relacionamento dores de todo 0 País, no município de
dez Tis, dentre elas, a TI Kainpa e isolados do
com 0 ministro-chefe do Gabinete de Seguran- Manacapura (a 55 quilômetros de Manaus).
Rio Envira (AC) com 245,8 mil ha. (ISA)
ça Institucional, general Alberto Cardoso, Em Essa descentralização, segundo 0 presidente,
todas as trocas, Gregori sempre teve seu nome uma melhor às atuais ad-
RENAN CALHEIROS - viabilizaria estrutura
cogitado. Mas, por diversos motivos, inclusive ministrações e a Funai estaria “saindo" de
ABRIL/98 A JULHO/99
0 de 0 Ministério ter servido como moeda de Brasília e chegando até os índios. (A Crítica,

A nomeação do alagoano Rcnan Calheiros, que troca política entre 0 Palácio e os partidos da 13/09/98)
foi líder da Câmara no governo Collor (a quem base, 0 presidente nunca conseguiu empossá-lo.
apoiou na campanha de 1989), permitiu a Em maio de 2000, 0 Estatuto do índio e das
Fernando Henrique Cardoso encerrar a com- Comunidades Indígenas foi enfim encaminha-

plicada negociação com 0 PMDB na reforma do ao Congresso Nacional. Até outubro do mes-
ministerial. A escolha abriu caminho para a mo ano, Gregori declarou oito Tis. (ISA)

124 PDLiTI ca indigenista POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1S9B/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


MUSEU NACIONAL DISCUTE vo de transformação cultural e organizacional. LACERDA DEFENDE
FUTURO DA POLÍTICA A constatação unânime do seminário consiste REFORMULAÇÃO
INDIGENISTA na idéia de que as organizações indígenas e as
autoridades nativas trazem um elemento novo
O presidente da Funai, Márcio Lacerda, admi-
0 Museu Nacional (UFRJ) sediou entre 28 e 30
para a elaboração de políticas diferenciadas e tiu ontem que narcotraficantes estão usando os
de junho de 1999 o seminário “Bases para uma índios de áreas da Amazônia no tráfico de dro-
se mostram como parceiros privilegiados e po-
nova política indigenista”. Coordenado e orga- gas. Essa prática, segundo Lacerda, vem ocor-
tenciais executores dessa nova política
nizado pelos professores João Pacheco de Oli- rendo na região de Tabatinga (AM) na frontei-
indigenista. O seminário resultou em um docu- ,

veira e Antônio Carlos de Souza Uma, o evento ra do Brasil com a Colômbia, principalmente
mento síntese, encaminhado à presidente do
pretendeu promover um debate sobre a elabo- em áreas do rio Javari. Nessa região, diversos
Conselho da Comunidade Solidária, a primei-
ração de uma nova política indigenista na vira- índios estariam sendo aliciados por traficantes
ra-dama Ruth Cardoso, que participou da ceri-
da do milênio, envolvendo setores da agência colombianos.
mônia de encerramento do encontro. a
(ISA,
indígena, instâncias da administração federal e A revelação de Lacerda foi em depoimento
partir do relatório “Bases para uma nova feita

governos estaduais. na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da


política indigenista ”, organizado por João
O seminário contou com exposições de quatro
Pacheco de Oliveira e Antônio Carlos de Sou- Câmara que apura irregularidades na política
antropólogos e um
João Pacheco de
jurista.
za Lima edeO Globo, 01/07/99)
indígena. Ele disse que a situação é do conhe-
Oliveira falou sobre movimentos indígenas, cimento da Poficia Federal e do Exército. “A
ONGs e a cooperação internacional. Gilberto Funai já fez a sua parte informando a situação
Azanha, sobre etnodesenvolvimento, mercado
GOVERNO QUER
aos órgãos de segurança”.
e mecanismos de fomento. Antônio Carlos de
TRANSFORMAR FUNAI Lacerda admitiu ainda ser comum nas áreas
Souza Uma, sobre a formação de quadros pro- A Funai deverá ser transformada em agência indígenas da Amazônia a prática da biopi ralaria,
fissionais pata novas formas de ação indigenista. executiva, nos próximos dois anos, para ser mais roubo de madeira e a garimpagem ilegal. “Com
Márcio Sanlilli, sobre o novo lugar do Eslarlo eficaz no comando da política indigenisla. A a atual estrutura da Funai é impossível coibir
diante das sociedades indígenas. Por fim, o ju- exemplo das recentes mudanças do Ibama, a esse tipo de coisa”, reconheceu Lacerda, ao
rista Carlos Frederico Marés dissertou sobre a Funai lerá mais autonomia e flexibilidade no defender na CPI da Funai uma ampla
regulação jurídica das relações entre socieda- orçamento, por meio de contratos de gestão reestruturação éo órgão. Ele admitiu também
des indígenas, Estado e a sociedade nacional. com o governo federal. A mudança faz parte do que a Funai vive hoje um dos períodos mais
Participaram também das discussões represen- novo modelo de administração pública, mas críticos de sua história. "A falta de recursos é o
tantes do Ministério do Meio Ambiente, da Funai, deve ser primeiro aprovada pelas lideranças pior problema", disse Lacerda, ao explicar que
da Funasa, além de lideranças indígenas de todo indígenas e pelo Congresso. O projeto está sen- o órgão tem um orçamento de Rí 77 milhões
o pais. Integraram mesas redondas a senadora do elaborado pela Einatec, da UnB. para este ano, mas 50% desse valor está
Marina Silva e o coordenador do Comitê Inter- Chamado de programa de desenvolvimento da contingenciado.
tribal Marcos Terena, Todos contribuíram na Funai, o projeto será discutido pelas lideranças Outra proposta de Lacerda para revitalizar a
elaboração de relatórios, encaminhados para indígenas nos próximos 1 5 dias, como afirmou política indígena prevê a destinação de um
órgãos de cooperação internacional a fim de o presidente do órgão, Sulivan Silvestre de Oli- percentual do Fundo de Participação dos Mu-
orientar os investimentos em projetos voltados veira. Ele disse ter tomado consciência das crí- nicípios (PEM) para os municípios que investi-
para os índios. ticas de várias organizações indígenas da Ama- rem nas áreas indígenas sob seu domínio. Se-
O evento foi definido pelos organizadores como zônia que não foram convidadas para a reunião, gundo Lacerda, essa bonificação seria decisiva
um “diálogo aberto e respeitoso para com as que ocorreu em Manaus, com os administra- para ampliar o atendimento aos índios.
diferenças”. Para eles, é importante, antes de dores regionais. A sugestão do presidente da Funai para bonificar
tudo, apontar o precioso elenco de experiênci- Para o desenvolvimento do Projeto, a Funai já os municípios já vem sendo discutida no Con-
as inovadoras realizadas em diversos pontos do assinou convênio de Rí 90 mil com a Finatec. gresso. Um projeto da senadora Marina Silva
Brasil indígena que objetivam a gestão direta Com 30 anos de fundação, quadro de 3 -3 50 fun- (PT-AC) prevê aumento nas cotas do Fundo de
de recursos por organizações constituídas pe- cionários, 50 administrações regionais e aten- Participação dos Municípios (FPM) para Esta-
ios próprios índios. Essas organizações são fru- dimento para 2 15 povos indígenas (são 330 mii dos e municípios que investirem em programas
tos sobretudo de parcerias com ONGs e orga- índios) ,
é a primeira vez que a Funai promove ambientais. (DCI, 19/08/99)
nismos governamentais de diversos escalões e sua própria reestruturação.
especialidades, apoiadas financeiramente por No Programa de Desenvolvimento da Nova Funai
mecanismos de cooperação internacional e está inserido o Projeto Pró-Índio, que terá o XAVANTADAS
multilateral. objetivo de tomar as terras indígenas auto-sus-

Desse modo, o intento do seminário foi deslo- tentáveis, com investimentos externos. GAIGER SE INDISPÕE
car a discussão do eixo da agência indigenista Também elaborado pela Finatec, o projeto terá
com
COM OS XAVANTE
oficial c da relação tutelar para dar foco as ini- convênio o Sivam para garantir a integri-
ciativas e organizações indígenas. Em vez de dade das comunidades. Segundo o chefe do O presidente da Funai, Júlio Gaiger foi agarra-
tomar a questão da tutela como pressuposto Departamento de Planejamento da Funai, Saint do ontem por um grupo de índios Xavante du-
básico, o debate gravitou em tomo do efetivo Cl ai r Pitangui Verciani, o Pró-fndio consiste em rante uma reunião de trabalho no auditório do
aproveitamento da rica e diversificada experi- elaborar projetos de biotecnologia, manejo sus- órgão. levado escada abaixo pelos índios,
ência sócio-cultural das sociedades indígenas, tentável, ecoturismo, agricultura, entre outros, Gaiger foi resgatado na frente do prédio por um
que inclui iniciativas próprias de autogestão, para as comunidades desenvolverem. (OESP, funcionário que o colocou dentro de um carro
soluções políticas dinâmicas e um processo ati- 15/09/99) particular que passava pelo local. Gaiger pediu

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 125


)

"
para ser levado ao Ministério da Justiça, onde As xavantadas " na Funai:

foi protegido por seguranças. Os índios perma- (1)barreira na porta

neceram na frente do prédio da Funai à espera da Presidência,


de Gaiger, mas se dispersaram no final da tarde. em maio de 2000;
Assessores da Funai afirmam que os Xavante Í2t ocupação da sala do
presidente; atrás do retrato
teriam sido induzidos por funcionários da pró-
do fíondon, o cacique
pria Funai a organizar o protesto. Tudo come-
Aniceto, em abril de 1997;
çou quando Gaiger discutia, na reunião, a ques-
(31 o cacique Celestino com
tão da reestruturação do órgão e foi interrom-
o ministro da Justiça Milton
pido por um membro do Sindicato dos Servi-
Seligman e Júlio Gaiger,
dores Públicos, que afirmou considerar um em maio de 1997;
absurdo suas propostas. Nesse momento, en-
(4)em maio de 1999,
trou um grupo formado por 20 índios que ocu-
discutem com o então
pou as laterais do auditório. Ajudado por um presidente Márcio Lacerda.
intérprete, o líder Xavante Lauro começou a
protestar contra a reestruturação do órgão.
Não satisfeito, o líder aproximou-se da mesa
onde estava Gaiger e começou a bater com sua
borduna protestando em língua Xavante. Outros
índios se aproximaram e prenderam o presi-
dente da Funai. Até o final da tarde, depois de
ter passado pelo Ministério da Justiça, pelo Con-
gresso e pelo STF, Júlio Gaiger ainda estava com
o terno manchado do jenipapo e urucum usa-
dos pelos índios. (OESP, 23/10/96

OPERAÇÃO ARMADA TIRA


ÍNDIOS DO GABINETE
A PF desencadeou um operação armada para
desalojar os índios Xavante que ocupavam o
gabinete do presidente da Funai, Júlio Gaiger,
Armados com metralhadoras e fuzis e com o
aval de Gaiger e do ministro interino da Justiça,

20 soldados do Comando de Operações Táticas


da FF entraram no gabinete às 4hJ0 da madru-
gada de sexta-feira, dia 1 1/04, renderam os ín-

dios e os conduziram à Superintendência da PE


Na superintendência, houve empurra-empurra
ontem pela manhã, quando outros índios foram
ao local tentar libertar os presos. Ao meio dia
todos foram soltos. Foram feitos exames de cor-
po de delito no Instituto Médico Legal, já que
dois dos índios retirados do gabinete de Gaiger
sofreram agressão. Em nota oficial, a Funai des-
mente que tenha havido problemas na opera-
ção. De acordo com a assessoria da Funai, os
índios deixaram o local sujo e depredaram qua-
dros que estavam na parede do gabinete. Um
dos Xavante preso de madrugada afirma que os
policiaiscomprimiram o cano de uma metra-
lhadora contra seu peito. Disse ainda que o pre-
sidente da Funai estava acompanhando a ope-
ração. A Funai negou. (OESP, 12/04/97)

SULIVAN É ACUSADO
DE ARMAR MANIFESTAÇÕES
Há oito meses no posto de presidente da Funai,
Sulivan Silvestre de Oliveira fez uma aliança com

1Z6 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

os índios xavante, etnia que possui 8.000 mem- XAVANTE PEDEM tão,alegada como impedimento à demarcação

bros e ficou famosa pela mania de produzir in- DEMISSÃO DE LACERDA da extensão integrai das terras indígenas, como
vasões e ameaçar ftincionários da entidade. ocorre em relação à Ti Raposa-Serra do Sol.
Uma pressão política distorcida. Assim o presi- Os políticos locais também praticam a
Dados aatos espetaculares, osXavante são uma
dente da Funai, Márcio Lacerda, definiu a inva- cooptação de índios que, embora minoritários,
espécie de PFL indígena - falam alto com o go-
são da sede do órgão, ontem, por 51 guerrei- aceitam se posicionar contra a demarcação em
verno, estão sempre no poder e são acusados
ros xavante - que o redraram à força do prédio troca de benesses governamentais.
por outras tribos de favoredmento na distribui-
e ainda ocuparam a entrada do Ministério da
ção de recursos. O acordo, do qual os índios Em dezembro de 96, houve uma tentativa de
Justiça. Os índios (um dos vários grupos xavante
de outras eutias desconfiavam há tempo, veio à redução da área através de um despacho do
da Reserva Parabubure, em Mato Grosso) ocu- então ministro da Justiça, Nelson Jobim. À épo-
tona semana passada por causa de denúncias
como param a Funai em represália ao afastamento do
dos funcionários da Funai. Eles apontam ca, o jornal O Globo publicou declaração do
diretor da AER Nova Xavantina - à qual a reser-
indício da parceria uma manifestação organi- deputado Francisco Rodrigues (PPB-RR) atri-
va é circunscrita -, ocorrido depois que foram
zada em março, quando os Xavante invadiram buindo a redução proposta a um acordo que
apurados gastos excessivos da AER em 98.
a sede da entidade, constrangeram e agrediram resultou no apoio maciço da bancada de
dois funcionários, O chefe Arnaldo Xavante, um De acordo com o presidente da Funai, o admi- Roraima à emenda da reeleição. Em dezembro
nistrador Raimundo Lustosa foi afastado sema-
dos líderes do protesto, admitiu que tudo foi de 98, foi anunciada a assinatura de uma por-
na passada do cargo pelos gastos aparentemente
negociado diretamente com Oliveira. “A única do atual ministro Renan CaüieLros deter-
taria
Irregulares da AER Nova Xavantina. Márcio
coisa que o presidente pediu foi que não hou- minando à Funai a demarcação da área na sua
Lacerda explicou que o grupo xavante respon-
vesse violência”, explica. extensão integrai. O anúncio foi feito em ceri-

de março por
sável pelo incidente de ontem quer Lustosa
Os índios decidiram a invasão mônia no Palácio do Planalto e a portaria foi
de volta à administração para manter o que
iniciativa própria, mas, antes de ir às vias de entregue pelo Ministro da Justiça, em mãos, ao
fato, negociaram o apoio do presidente da FUnai
chamou de status quo. (jornal de Brasília,
coordenador do CIR.
ambos adversários de 01/06/99)
Eles tinham dois alvos, A CPI da Funai teve sua instalação proposta por
Oliveira; um era o economista OUicüio Reis, requerimento de deputados amazônicos em
diretor de assistência; outro, a antropóloga Ana maio de 95. Propunha-se a investigar demarca-
Costa, diretora de saúde.Os dois foram arras-
CPI DA FUNAI
ções de terras indígenas, antropólogos, ONGs e
tados pelos corredores, expulsos do prédio e “irregularidades” no órgão. No entanto, o re-
xingados de “traidores” por defender o uso de CPI DA CHANTAGEM querimento permaneceu engavetado durante
critérios técnicos na aplicação das verbas da quatro anos e agora, em março de 99, foi res-
Parlamentares conservadores da bancada ama-
entidade. Os Xavante, que reivindicavam a com- suscitado (entre outros) pela própria lideran-
zônica, liderados pelos deputados Elton Ronhelt
pra de 100 automóveis para suas reservas esta- ça do governo no Congresso como forma de
(PFL-RR) e Antônio Feijão (ex-PFL, boje PSDB-
vam enfurecidos com Reis que havia vetado o impedir a instalação de outra CPI, a do sistema
AP), propuseram ao presidente da Funai.
seu pedido. Depois do protesto, ele cedeu, li-
financeiro, que constrangeria o governo ao in-
Márcio Lacerda, e ao Ministro da Justiça, Renan
berando a compra de vinte carros para a tribo. vestigar ganhos absurdos dos bancos às véspe-
Calheíros, a redução da área da TI Raposa-Ser-
Ana Costa, que era contra a doação de objetos ras da desvalorização do real. 0 deputado EI-
ra do Sol, a ser demarcada pelo governo fede-
e dinheiro aos índios, foi demitida. Quem se lon é o primeiro vice-líder do governo na Câ-
ral, em troca do arquivamento da CPI da Funai,
deu bem foi o índio Arnaldo Xavante, Ele ga- mara e o primeiro subscritor do requerimento
recentemente instalada na Câmara dos Deputa-
nhou um cargo de assessor da Presidência e dá da CPI da Funai.
dos a pretexto de investigar irregularidades no
expediente em Nova Xavantina, no interior de
Várias denúncias de irregularidades na admi-
órgão.
Mato Grosso, nistração da Funai têm sido divulgadas pela
ATI Raposa-Serra do Sol, com extensão de ,6 i

“Não tenho dúvida de que a administração arti-


imprensa e investigadas pelo MPF nos últimos
milhão ha, está situada no NE dc RR e é ocupa-
culou a invasão”, acusa Reis. “Os ônibus que
dois anos, referentes à gestão do seu ex-presi-
da desde tempos imemoriais pelos Macuxi,
transportaram os índios foram pagos pela Funai,
Taurepang, Ingarikó, Wapixana e Patamona, dente Sulivan Silvestre.
e havia até marmita pronta para eles”, diz a ex-
sendo sua população atual estimada em 12 mil Na semana passada, o atual presidente da Funai,
diretora de saúde, Ana Costa. Oliveira nega as
índios. Cerca de 800 garimpeiros e fazendei- Márcio Lacerda, afirmou na Comissão de Meio
acusações, mas admite que conversou com Ambiente e Minorias da Câmara que 99% do
ros, número que já foi bem maior, vivem na área
Arnaldo Xavante por telefone antes da agressão
ilegalmente, estimulados por políticas coloni- orçamento total (incluída a folha de pagamen-
aos diretores. Segundo ele, a questão é políti-
ais desenvolvidas nos últimos anos pelo governo tos) da Funai, em 98, foram consumidos em
ca. “Eu encontrei o órgão assim e estou tentan-
estadual, em cumplicidade com órgãos federais. atividades-meio do órgão, e que cerca de 25%
do acabar com essas distorções. Sou contra o
Essas políticas coloniais incluem a criação de do orçamento de custeio (excluída a folha de
assistencialismo”, garante. Mas a tribo dos
municípios dentro das terras indígenas, como pagamentos) foram gastos com passagens, diá-
Xavante, que adora o assistencialismo, está até
os de Uiramutã e Pacaraima, transferindo-se tí- rias e despesas de pensão dos índios que fre-
organizando uma manifestação em Brasília para
tulos de eleitores que vivem em outras cidades quentam Brasília.
pedir ao novo ministro da Justiça, Renan
para se forjarem plebiscitos. Posteriormente O caos orçamentário e administrativo do órgão
Calheíros, que deixe Oliveira no cargo. (Veja,
esta “população” desaparece, como confirmam é de conhecimento público, nada tem aver com
13/05/98)
os dados censitários do IBGE, e políticos que a identificação dos limites das terras indígenas,
vivem em Boa Vista ocupam os cargos munici- e está diretamente ligado ao fisiologismo políti-

pais beneficiando-se do Fundo de Participação co nas nomeações para os cargos de confiança


dos Municípios. A criação de municípios é, en- existentes na sua estrutura. No entanto, a pro-

POVOS INDÍGENAS NO BHASIL 1396/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 127


. .

posta de CPI antecede este fluxo recente de ir- CPI DEFINE ROTEIRO INQUÉRITOS COMEÇAM COM
regularidades e serve, agora, ao objetivo da DE INVESTIGAÇÕES COMANDANTE DA AMAZÔNIA...
chantagem política sobre o governo por parte
da sua própria base parlamentar. (Últimas No- A CPI da Funai aprovou, no liltimo dia 8, 0 ro- O comandante militar da Amazônia, Luiz
tícias/ISA, 29/03/99)
teiro de seus trabalhos. O roteiro, proposto pelo Gonzaga Lessa, disse que a defesa da Amazônia
deputado federal Antônio Feijão, prevê duas fa- pode ser utilizada como pretexto para a inter-
Na primeira, os membros da Comissão — venção armada no Brasil por parte de países
CÂMARA INSTALA CPI ses.

presidida pelo deputado federal Alceste Almeida desenvolvidos. Segundo ele, a intervenção mili-
Hoje será instalada a CPI da Funai, com o obje- (PMDB-RR) - colherão depoimentos de pes- tar motivada pela proteção ao meio ambiente é
tivo de apurar também o relacionamento do soas previamente escolhidas, entre funcionári- “tendência da próxima década”.
órgão íederal com ONGs internacionais, os re- os públicos, representantes de ONGs, de enti- Lessa foi 0 primeiro inquiri do pela CPI da Funai
quisitos para a admissão de antropólogos e a dades de classe (espedalmente de garimpeiros e usou a maior parte do tempo destinado à sua
aplicação de recursos pela fundação, e empresas de mineração) e do Ministério Pú- exposição para expor as “ameaças" à Amazô-
“As áreas demarcadas são ricas em minérios blico. Na segunda, os componentes da CPI visi- nia. Disse considerar preocupante a ausência
como urânio, ouro e cobre”, diz o autor do re- tarão as áreas indígenas Yanomami e Raposa- do Estado em longas faixas dc fronteira c que 0
querimento para a criação do CPI, deputado Serra do Sol (Roraima), Waiãpi (Amapá), Interesse pela Amazônia se justifica pelo fato de
Elton Rohneit (PFL-EE), que apresentou o pe- Pataxó (Bahia) e Wahmri-Atroari (Amazonas) a região ter um quinto da disponibilidade de
dido em 1995. Segundo ele, a demora na insta- 0 roteiro aprovado prevê que a CPI investigará água doce do planeta, um terço das florestas
lação da comissão foi motivada pela existência os critérios para demarcação de terras indíge- tropicais c riquezas do subsolo. Depois de afir-
de outras comissões de inquérito no período. nas, 0 relacionamento da Funai com outros ór- mar que a Amazônia é inegociável, afirmou:
Como 0 regimento interno da Câmara permite gãos públicos e com ONGs, a aplicação das ver- “Queira Deus que no futuro não tenhamos de
0 funcionamento simultâneo de apenas cinco bas orçamentárias do órgão indigenista oficial lutar para reincorporar a Amazônia ao territó-
CPIs, a da Funai teve de esperar. e os requisitos para a admissão de antropólogos. rio brasileiro”. (FSP, 17/06/99)
“A Funai é alvo de muitas pressões externas, O roteiro não especifica se esía admissão se refere
em especial de ONGs internacionais”, afirma aos quadros da Ftinai 011 às tetras indígenas. ... E PRESIDENTE DA FUNAI
Rohneit, que se diz favorável às demarcações, Além da Funai, a Comissão selecionou um con-
Márcio Lacerda compareceu ontem, dia 18/08
mas não da forma atual. Cinicamente, 0 prová- junto de instituições, entre governamentais fe-
,

à CPI da Funai, reabrindo a fase de inquirição


vel relator da CPI, Antônio Feijão (PSDB-AP), derais e estaduais, não-governamentais, entida-
após 0 fim do recesso parlamentar. Falou por
ex-presidente de uma entidade de garimpeiros des de classe e 0 MPF, que serão chamadas a
com base na Amazônia, a Usagal, reclama da
40 minutos para uma platéia composta por li-
depor. Entre as não-governamentais estão três
deranças indígenas, deputados federais que
atuação descontrolada de garimpeiros e pes- ONGs (CU, ISA e CPFY) uma organização indí-
quisadores estrangeiros nas reservas. “Não se
,

compõem a CPI, representantes de ONGs e ser-


gena (a Apina, dos índios Waiãpi, do Amapá),
vidores da Funai. Lacerda historiou generica-
tem controle sobre as pessoas e instituições in- as missionárias MNTB e Cimi, duas entidades
mente as condições do contato entre índios ea
ternacionais que estão garimpando e fazendo formadas por garimpeiros com atuação 11a Ama-
sociedade envolvente até a instauração da Cons-
pesquisa tecnologia na Amazônia”, garante. zônia e a Agência de Cooperação Técnica da
(ISA, a partir de Cotreio Braziliense, 25/05/99)
tituição de 88. Em seguida, justificou as demar-
Alemanha (GTZ) órgão do governo alemão que
,
cações de terras indígenas como recurso para
faz 0 acompanhamento técnico da apliação dos
LÍDERES NEGAM BARGANHA recursos financiados através do PP-G 7 para a
defender as comunidades das frentes de desen-
volvimento que avançam para a Amazônia.
Os deputados federais Ellon Rohneit (PFL-RR) demarcação de terras indígenas na Amazônia.
(Marco A. Gonçalves/ ISA, 19/08/99)
e Antônio Feijão (PSDB-AP) integrantes e lide-
,
Além dos critérios para a demarcação de terras
res da CPI da Funai, negaram que tenham indígenas, a lista de questões a serem aborda-
proposto ao governo retirar a CPI em troca da
DEPUTADOS EMBARCAM
das pela Comissão é extremamente abrangente,
revisão dademarcação Raposa-Serra do Sol, Inclui investigar as fontes e formas de financia-
PARA RORAIMA...
conforme acusação feita pelo coordenador do mento das ONGs brasileiras bem como sua atu- Uma comitiva de sete deputados que compõe a
ISA, Márcio Santilli. Feijão disse que não quer ação dentro de terras indígenas; institutos de CPI da Funai embarca hoje para Boa Vista (RR)
polemizar com que 0 acusa de
Santilli, ter pesquisa e missões com projetos cm áreas in- Será é a primeira de uma série de visitas que
chantageado 0 governo. “Ele vai poder se ex- dígenas também serão investigados. A incidên- CPI programou para as próximas semanas. Es-
plicar na CPI", afirmou o deputado. cia de interesses de mineradoras em terras in- tão confirmadas as idas dos deputados Alceste
A reportagem apurou que Feijão esteve várias dígenas, os convênios celebrados pela Funai Almeida (PMDB), presidente da CPI; Elton
vezes com 0 presidente da funai. Márcio com terceiros para 0 desenvolvimento de ativi- Rohneit (PR), Alrnir Sá (PPB) e Airton Casca-
Lacerda, acompanhado de lideranças in dígenas. dades em áreas indígenas, obras públicas ou vel (PPB). todos eleitos por Roraima; do depu-
O deputado afirma ter em mãos documento de privadas cuja continuidade estejaparahsada por tado Antônio Feijão (PSDB-AP) relator da CPI;
,

índios pedindo que a área Raposa-Serra do Sol ser escopo de conflitos fundiários ou por aíetar da deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM)
não seja demarcada. (Hoje em Dia, Belo Hori- terras indígenas, a gestão do orçamento da Funai e do deputado João Grandão (FT-MS).
zonte, 11/06/99) são outros tópicos lislados pelos deputados da O roteiro aprovado pela CPI informa que ama-
CPI. (Marco A. Gonçalves /ISA, 10/06/99) nhã, dia 10, a comitiva parlamentar se desloca-
rá pela manhã para a 'II Raposa-Serra do Sol,

cuja demarcação está obstruída por força das


pressões que 0 governo e a bancada roraimense
exercem sobre 0 Executivo federal. Em Rapo-

128 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1336/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


,

'•!_ i / > Acervo:

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sa-Serra do Sol, o roteiro informa que os depu- Presente à audiência, o governador Neudo Cam- interessa particularmente ao relator da CPI,
tados deverão visitar a aldeia Maturuca e, em pos disse que ONGs que mantêm relações com Antônio Feijão, que luta para impedir que o CTI
seguida, sobrevoar as plantações de arroz de organismos internacionais controlam setores continue desenvolvendo projetos junto aos ín-

não-índios instaladas na região do rio Surumu, importantes do Estado, instado pelos deputa- dios Waiãpi. A visita ao Estado, que prevê uma
dentro de tetras indígenas. Daí, a comitiva se- dos de oposição a apresentar provas das acu- visita à aldeia Aramirã, na TI Waiãpi, foi

guirá para as aldeias Cantão e Malacacheta, Para sações, o governador disse que não as tinha. O transferida para entre 22 e 24 de novembro.
o dia 11, está agendada audiência pública na relator Antônio Feijão declarou ao jornal Folha (Marco A. Gonçalves/ ISA, 27/10/99)
Assembléia Legislativa de Boa Vista, e no último de Boa Vista que a CPI vai encaminhar um
dia, uma visita à TI Yanomami - mais especifi- obeio ao MPF pedindo instauração de inquéri- ANTROPÓLOGA É INQUIRIDA
camente, à base militar de Surucucus - e, em to para apurar a atuação de estrangeiros em
Os deputados da CPI da Funai inquiriram no
seguida à aldeia Dernini. (Marco A. Gonçalves/ terras indígenas. (Marco A. Gonçalves/ ISA,
dia 1“ dc dezembro a antropóloga Dominique
ISA, 09/09/99) 14/09/99)
Gallois, doutora e professora do Departamento
de Antropologia da USP. Dominique é também
... E RELATOR MANIPULA RELATOR QUER coordenadora de vários projetos que o CTI de-
PROGRAMAÇÃO “ZERAR” DEMARCAÇÕES senvolve junto aos índios Waiãpi, povo que ha-
A recém-encerrada visita da CPI da Funai à O jornal Folha de Boa Vista informa que foram bita as florestas do oeste do Amapá (ver capítu-
Roraima foi pródiga em cenas de manipulação ouvidas 19 pessoas nos três dias de visita da lo Amapá/Norte do Pará).
e ameaças aos processos de demarcação dc ter-
CPI à Roraima e registradas cerca de 30 horas Na dihgência da CPI no Estado, ocorrida entre
ras indígenas, mesmo aos já consolidados. O de depoimentos em fita cassete. O deputado osdias22e24de novembro Dominique Gallois
,

relator e o presidente da CPI procuraram pro- havia sido acusada por deputados locais, entre
Antônio Feijão declarou que a demarcação da
duzir evidências que corroborem a tese de que TI Raposa-Serra do Sol não se baseou em crité- os quais o relator da CPI, Antônio Feijão, de
a demarcação da TI Raposa-Serra do Sol em rios antropológicos e que no texto final da CPI promover divisão entre os Waiãpi, aumentar a
uma área única inviabiliza projetos econômi- recomendará a revisão de seu processo área indígena no momento de sua demarcação
cos de interesse da ebte esladual. Assim, o ro- demarcatório, e de ter elaborado um projeto de “garimpagem'’
teiro da visita à Raposa-Serra do Sol foi altera-
Na audiência realizada na Assembléia Legislativa dentro da terra indígena.
do de modo que apenas os opositores da de- de Boa Vista, Feijão disse que quer zerar todos Por conta das divergências entre Antônio Fei-

marcação fossem ouvidos os procedimentos relativos à demarcação de jão e Dominique Gallois, os deputados Dr.
A visita à aldeia Maturuca, onde cerca de mil terras indígenas. À imprensa local, afirmou ain-
Rosinha (PT-PR) e Vanessa Grazziotin (PC do
índios esperavam a chegada dos deputados, foi
da que seu relatório vai propor a reestruturação
B-AM) reclamaram da impropriedade de o
transferida da manhã para o flm da tarde, ge-
da Funai, uma política de integração entre índi-
relator inquiriruma pessoa contra a qual to-
rando protestos dos tuxauas (bderes indígenas)
os e não-índios e rígidos critérios para a ad-
mou várias iniciativas na Justiça. Mesmo diante
que pretendiam “desmascarar" as reais inten- missão de entidades que queiram trabalhar em da insistência dos dois deputados, a pondera-
ções da CPI. A comitiva que se dirigiu à TI este- terras indígenas.
ção não foi aceita pelo presidente da Comissão,
ve nas fazendas de arroz irrigados implantadas A deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) e deputado Alceste Almeida
pelo governo estadual dentro da terra indíge- o deputado João Grandão (PT-MS) afirmaram Ao longo de 40 minutos, Dominique Gallois

na, em algumas aldeias controladas por grupos que a visita à Roraima deixou claro que o obj e- explicou detalhadamente seu trabalho junto aos
aliados do governador Neudo Campos (PPB) tivo da CPI não é investigar denúncias de
Waiãpi, desde seu primeiro contato com o gru-
em vilas de garimpeiros e na sede do municí- corrupção na Funai, mas impedir a continuida- po, no nifcio dos anos 70. Relatou as conseqii-
pio de Uiramutã, também criado dentro dos li- de das demarcações de terras indígenas e for-
ências do contato promovido pela Funai, na
mites identificados pela Funai como terra tra- çar a revisão de outras demarcações já homo- época da abertura da Perimetral Norte, as su-

dicional indígena. logadas pelo governo federal. (ISA, a partir de cessivas invasões de garimpeiros c o risco dc
Os parlamentares ouviram as queixas dos fa- extinção a que os Waiãpi estiveram expostos.
Folha de Boa Vista, 10 e 14/09/99)
zendeiros e a manifestação de membros da or- Historiou os 18 anos de luta dos índios para
ganização indígena Sodiur que representa tuna obter a demarcação de suas terras, reahzada
-
CPI É PRORROGADA
minoria absoluta das aldeias de Raposa e que, mediante convênio entre a Sociedade Alemã de
E ADIA VIAGEM AO AMAPÁ
curiosamente, defende menos terras para os Cooperação Técnica (GTZ) e a Funai entre 1994
índios e mais para os arrozeiros. Um acordo de lideranças viabibzou a entrada e 1996.
No dia seguinte à visita i Raposa-Serra do Sol, do pedido de prorrogação da CPI da Funai na A antropóloga informou ainda que, ao contrá-
os deputados da CPI estiveram na audiência pauta de votação da Câmara dos Deputados rio do que vinham dizendo opositores do tra-

pública realizada na Assembléia Legislativa, em ontem, dia 26. O pedido de prorrogação aca- balho do CTI no Amapá, os Waiãpi perderam
Boa Vista, capital do estado, encerrada apenas bou sendo aprovado no final do dia, conceden- grande parte de seu território ao longo do pro-
às 2 horas da manhã de domingo. O ISA apu- do mais 60 dias para que a Comissão realize cesso de reconhecimento oficial. Em seguida,
rou que os parlamentares roraimenses e seus seus trabalhos. A contagem desse período pas- o relator Antônio Feijão encaminhou duas ba-
abados acusaram o ex-administrador regional sa a ser feita a partir do dia 18 de outubro, um terias de perguntas sobre os procedimentos
da Funai em Roraima, Walter Blós - destiteído dia após o fim do período regular de 120 dias. adotados na auto-demarcação da área e sobre
recentemente do cargo por pressões da banca- F,m sessão ordinária realizada hoje (27/10) os ,
um projeto de recuperação de áreas degratla-
da federal de Roraima e do governador Campos -
parlamentares da Comissão acataram solicita- das pelo garimpo dentro da área Waiãpi, apro-
,
o CIR e a Diocese de Roraima de semear a dis- ção, feita pelos parlamentares de oposição, para vado como projeto demonstrativo (PDA) no
córdia entre os índios em Raposa-Serra do Sol. que a viagem ao Amapá fosse adiada. A viagem âmbito do PPG7. Todas as questões foram res-

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA indigenista 129


pondiclas, sem provocar qualquer contestação Ao perceber o esvaziamento do plenário, o de- ÍNTEGRA DA CARTA
por parte dos inquiridores. putado Doutor Rosinha (PT-PR) pediu verifica- DE MARÉS A ORLANDO
Um novo requerimento, solicitando mais 60 dias ção de quórum ao presidente da Comissão, de-
VILLAS-BÔAS, VIA FAX
de prorrogação para CPI da Funai foi enviado putado Alceste Almeida (PMDB-RR), que cons-
estasemana para a Câmara dos Deputados. tatou número insuficiente de parlamentares para “Brasília, 25 de janeiro de 2000.
(Marco A. Gonçalves/ ISA, 02/12/99) aprovar a ata da sessão. Diante desta situação, Caro sertanista,
o relator da CPI saiu correndo atrás de deputa- Ao parabenizá-lo peia justa e merecida pensão
CPI APROVA RELATÓRIO dos para que a sessão pudesse ser concluída. especial vitalícia que lhe foi concedida pelo
Não adiantou: foi encerrada sem ata. Governo Brasileiro, inclusive ao saudoso Cláu-
A intenção de se valer da CPI para reivindicar a
Desde fevereiro, o requerimento que prorroga dio Villas-Bôas, por seus relevantes serviços
diminuição da TI Raposa-Serra do Sol e
os trabalhos da CPI da Funai tem sido colocado prestados à nobre causa indígena brasileira,
criminalizar os trabalhos do CTI entre os Waiãpi
na pauta de votações da Câmara dos Deputa- consoante à lei n° 9,793/99, lamento muitíssi-
foi evidenciada pela apresentação do relatório
dos, Até o final do primeiro semestre, no en- mo comunicar-lhe da real necessidade de ter
do deputado Antônio Feijão, aprovado cm ses-
tanto, não havia sido votado. (Marco A. Gon- de dispor do cargo da comissão, que ora ocu-
são realizada boje, 14/12.
çalves, jul/OO) pa, de Assessor desla Presidência, código DAS
Das 14 sugestões a serem encaminhadas para
102.2, em razão do cumprimento do Decreto
providências do Ministério da Justiça, quatro
n° 3134/99, que dispõe sobre as adequações/
solicitam a instauração de inquéritos contra o
CTI. Há também três sugestões que se referem
DEMISSÃO DE reduções em 10% dos gastos com a remunera-
ção dos cargos em comissão e funções de con-
àTI Raposa-Serra do Sol: um pedido para revi- ORLANDO VILLAS-BÔAS fiança no âmbito das Fundações, além do já sig-
sar seus limites, "em respeito aos ocupantes de
nificativo corte sofrido na estrutura básica da
boa-fé e aos proprietários” que terão que dei-
LEI CONCEDE PENSÃO Funai, motivada pela recente passagem da Saú-
xar a área; que sejam excluídas do polígono a
ESPECIAL AOS VILLAS-BÔAS de Indígena para a Ftinasa, de acordo com o
ser homologada pela Punai as áreas utilizadas
estabelecido no Decreto n" 3413/99.
para rizicuitura, ignorando que estes produto- O vice-presidente da República, no exercício do
Na oportunidade, colocando-me à inteira dis-
res foram enfiados dentro da TIpelo governo cargo de Presidente da República faz saber que
posição do ilustre Sertanista/Indigenista, reite-
do Estado exatamente para viabilizar reduções o Congresso National decreta e sanciona a se-
ro os votos de estima e elevado apreço.
quando de sua demarcação; e a abertura de guinte Lei:
Atenciosamente,
inquérito para investigar as parcerias dos índi- Artigo r - É concedida a Cláudio Villas-Bôas e
Carlos Frederico Marés de Souza Filho
os de Raposa-Serra do Sol com ONGs. Orlando Villas-Bôas, sertanistas, por seus rele-
Presidente da Funai"
O relatório propõe ainda que os procedimen- vantes serviços prestados à causa indígena bra-
tos administrativos adotados pelo governo fe- sileira, pensão especial vitalícia e equivalente à
O SERTANISTA RESPONDE
deral no âmbito do reconhecimento oficial das remuneração prevista para o NS-A-UI, inerente
terras indígenas seja modificado, e que seja às categorias funcionais de Nível Superior da “À assessoria da Funai,
constituído um “colégio revisor”, no quai teri- tabela de vencimento do funcionalismo públi- Solicito a fineza de confirmar o FAX ora recebi-
am assento órgãos da administração pública, co federal. do em desligamento da Assessoria e do quadro
exceto a Funai. Sugere também que a homolo- Parágrafo único - Por morte de Orlando Villas- da Fundação Nacional do Índio. Devo lembrar
gação das demarcações passem pelo crivo do Bôas, a pensão de que trata esse artigo reverte- que por ocasião de nossa aposentadoria houve
Congresso Nacional. Apesar das manifestações rá a sua esposa, Sra. Marina Lopes de Lima uma recomendação constante em processo ao
contra seu conteúdo, enviadas por ONGs e or- Vilias-Bôas. senhor Ministro do Interior que, em face da
ganizações indígenas, este reiatório foi votado Artigo 2° - É vedada a acumulação desse bene- nossa baLxa aposentadoria, algo fosse feito na
c aprovado por sete deputados, todos da ban- fício com quaisquer outros recebidos dos co- base do beneficio estipulado (mais ou menos 1 ,000
cada amazônica, no último dia 14 de dezem- fres públicos, resguardado o direito de opção. cruzeiros, na época). Agradeceria a assa Assesso-
bro,Os quatro deputados da oposição apresen- Artigo 3°. — Os reajustes destas pensões serão ria uma confirmação breve desta solicitação.
taram seu voto em separado, no qual condena- concedidos de acordo com os reajustes dos ser- Atenciosamente,
ram a parcialidade c os procedimentos vicia- vidores públicos federais. Orlando Villas-Bôas, 26/01/2000”
dos da CPI, apresentando, no final do voto, Artigo 4° - A despesa decorrente dessa Lei cor-
propostas para uma agenda positiva relativa à rerá à conta do Orçamento de Seguridade Soci- DEMISSÃO NO DOU
questão indígena no país. (Marco A. Gonçal- al da União, a cargo do Instituto Nacional do
O presidente tia Funai, no uso dc suas atribui-
ves, 14/12/00) Seguro Sodal.
ções que lhe são conferidas pelo Eslatuto, apro-
Artigo 5° - Essa Lei entra em vigor na data de
vado pelo Decreto n° 564, de 08 de junho de
SESSÃO INCONCLUSA sua publicação.
1992 ,
resolve:
A conclusão formai dos trabalhos da CPI da (Marco Antonio de Oliveira Maciel/Waldeck - Exonerai' 0 servidor Orlando Villas-
Artigo n° 1
Funai depende de que o requerimento que so- Omélas, DOU, 19/04/99)
Bôas, matricula n“ 0445982 do cargo em co-
licita uma segunda prorrogação de 60 dias seja missão de Assessor, código DAS 102.2, da Pre-
aprovado peia Câmara dos Deputados. Isso por- sidência, para qual fora nomeado através da
que, depois de aprovar o relatório apresentado Portaria n”011/92 de 20/01/92.
pelo deputado Antônio Feijão, os deputados que Artigo n" 2 - Esta portaria entra em rigor na
inlegram a CPI deixaram o plenário antes de a data de sua publicação. (Carlos Frederico Ma-
ata da sessão ter sido votada. rés, DOU, 02/02/00 ')

13Í POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


POLÊMICA Esse foi o valor que a turma do andar de cima
estipulou para remunerar extraordinariamente
Orlando Villas-Bôas disse à imprensa que não os serviços de um homem que passou a vida
se preocupava com o dinheiro, mas que se sen- trabalhando pelos índios.
tiu humilhado pela forma como foi tratado pelo Tendo ganho a pensão, Villas-Bôas perdeu o
presidente da Funai. direito de receber qualquer dinheiro público
A imprensa nacional reagiu com inúmeros arti-
(além da aposentadoria que já linha). Pagar-
gos e editoriais criticando a demissão de Villas lhe o DAS seria um ato de prevaricação. Era a
Boas e a postura de Marés. lei que determinava a sua demissão. Ademais,
No primeiro dia de fevereiro, o presidente DAS não é honraria, é função. Orlando Villas-
Fernando Henrique Cardoso telefonou para casa Bôas não prestava serviços regulares à Funai.
de Villas-Bôas em São Paulo pedindo-lhe des- Se há gente ganhando DAS sem trabalhar, ou
culpas e convidando-o para integrar um conse- dando consultorias mandrakes, isso faz parte
lho indigenista, que deveria ser criado pelo do capítulo do assalto à bolsa da Viúva.
Ministério da Justiça. Feita a confusão, o governo reagiu com uma
Rebatendo as críticas sobre a demissão de mistura de boa educação e mandrakaria. Na boa
Orlando, Marés reagiu explicando que estava educação. FFHH telefonou ao sertanista pedin-
reorganizando o órgão. “O caso está totalmen- do-lhe desculpas. Maravilha. É um prazer viver
te encerrado. Seria redundante e antiético num país onde o presidente pede desculpas a
mantê-lo aqui na Funai. Gostaria que ele tivesse um servidor humilhado. Na mandrakaria, ofe-
compreendido isso", afirmou para o Jornal do receram-lhe novas formas de rendimentos. Era
Brasil em 3 de fevereiro. maracutaia. O governo só pode oferecer em-
Apesar dos rumores da queda de Marés por pregos dentro das leis que regem o funciona-
ocasião desse ato, o ministro da Justiça, José lismo público e, por conta disso, não há como
Carlos Dias, negou a possibilidade de demiti- empregar Orlando Villas-Bôas, (trecho do ar-
lo. Tentando contornar a situação, reiterou a tigo de Elio Gaspari, FSP 06/02/00)
proposta de FHC para Villas-Bôas participar do
conselho indigenista Mas Villas-Bôas 1 não acei-
CARGO NA UNIFESP
tou. (ISA, fev/00)
O sertanista aceitou o cargo de assessor da rei-

“MARÉS FEZ O toria da Universidade Federal de São Paulo,


antiga Escola Paulista de Medicina, que cum-
QUE A LEI MANDA”
pre, há 34 anos, um convênio para fornecer
Tremenda demagogia a que se fez em tomo da remédios e médicos ao Parque Nacional do
demissão do sertanista Orlando Villas-Bôas da Xingu. (FSP, 07/03/00)
Fundação Nacional do índio. Ao demiti-lo do
cargo de DAS-2 (R$ 1.136,90 mensais), o pre-
sidente da Funai, Carlos Frederico Marés, fez o
que a lei manda, a norma administrativa exige
e a moralidade recomenda. Se um homem como
Orlando Villas-Bôas caiu numa situação dessas,
a culpa pode até não ser dele, mas Fingir que a
Funai fez algo de errado é iludir a boa fé do
público.
Villas-Bôas aposentou-se com proventos de ín-

dio na década de 70. Se tivesse passado mais


tempo nos corredores de Brasília em vez de ter
trabalhado no mato, teria saído com dinheiro
de cacique. Para remediar esse absurdo (que
não envolve apenas o sertanista, mas todos os
índios da vida nacional) o governo da época
praticou outro. Resolveu-se dar um DAS ao
sertanista. Nas suas palavras, “houve uma re-
comendação em função de nossa baixa aposen-
tadoria”. A homenagem valeu-lhe, em dinheiro
de hoje, pouco mais de RS 1.000 mensais. Du-
rante 20 anos o sertanista acumulou a aposen-
tadoria com o DAS. Em abrildo ano passado, o
Congresso Nacional aprovou e o governo con- Orlando Villas-Bôas em sua
cedeu-lhe uma pensão vitalícia de Rí 1.315. residência, em São Paulo.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B/2PQ0 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 131


-

E ONDE FICA O ÍNDIO?


"Acalmadas um pouco as águas que tanto se agi- a questão indígena - que é grave e urgente: neste tituído progressivamente pelos "direitos" dos co-
taram na polêmica em tomo de Orlando Villas- momento mesmo, há situações extremamente lonizadores - resultando no massacre que os
Bôas, talvez o episódio mereça alguma rejlexão. delicadas envolvendo povos indígenas em Mato transformou em minoria {pouco mais de 300 mil
São báa menor dúvida de que Orlando ViUas-Bôas Grosso do Sul e Pernambuco, Bahia e Rondônia, pessoas, somados todos os grupos), quando eram
mereça todo o respeito e consideração pelos 40 e para citar apenas uns poucos casos. Nesta últi- milhões na época da chegada dos portugueses,
tantos anos de trabalho na área indígena, pelos ma, é parte da própria bancada federal no Estado contra umas poucas dezenas de adventícios que
sacrifícios que fez, pelos exemplos de dedicação, que pressiona por vários caminhos para reverter fíoderiam ter exterminado, se houvessem desejado.
coragem e desapego, pela obra que realizou - da a demarcação da área Raposa-Serra do Sol, que Exatamente por se tratar de muitas culturas dife-
qual o Parque do Xingu é o maior testemunho pertence legitimamente aos grupos ali instalados renciadas, o presidente da Funai está propondo
concreto e a gratidão dos grupos ali concentra- há séculos. É o mesmo perigo que ainda ronda desde sua posse uma nova política, também dife-
dos, a prova indiscutível do reconhecimento da dezenas de grupos que não tiveram suas terras renciada por grupos. Não se pode olhar com os
parte dos maiores interessados. demarcadas definitivamente. mesmos parâmetros culturas absolutamente di-
Também se poderia desejar que sua saída de um Também neste exato momento continua em rit- ferentes entre si e em níveis diversos de
cargo de confiança se processasse de outra for- mo de tartaruga no Congresso a discussão - que aadturação. Uma postura nova, muito salutar -
ma, sem traumas, depois de identificado e con- já vem de anos - do novo Estatuto do índio, que mas que, em meio à polêmica, foijogadafora com
solidado outro caminho que lhe permitisse viver terá de definir questões delicadíssimas, principal a água da bacia.
tranquilo.Mais ainda, com todas as homenagens mente a permissão para atividades econômicas Mais uma vez, o índio sai perdendo. Não por cul-
que merece: mesmo que se pense hoje diferente- em áreas indígenas. E em especial a perm issão pa dos envolvidos diretamente no episódio,
mente quanto aos caminhos a seguir nas relações para atividades mineradoras. Orlando e Marés - mas pela visão que se tem con-
com os povos indígenas, isso não obscurece os Mas nada disso mereceu a menor atenção no epi- solidado dos fatos. Quando, na verdade, se teria
méritos de Orlando e seus irmãos ninguém fez
; sódio, transformado apenas numa questão entre podido, a partir da impossibilidade de acumula-
melhor que eles na época. Víllas-Bôas e o presidente da Funai, Carlos ção de proventos, resolver não apenas a questão
Isso dito, entretanto, pode-se ver com clareza, Frederico Marés. E em mera divergência - ou des- de Orlando Villas-Bôas, mas abrir, no governo e
num caso concreto, que o País é mesmo subde- cortesia - a respeito de um cargo de confiança. na comunicação, um novo tempo e um novo es-
senvolvido, não apenas injusto. Se, depois de tra- Não faltou até quem propusesse o desrespeito à paço para a questão indígena. De forma qtw os
balhar durante décadas expondo a vida, em con- lei, para a permanência de Orlando no cargo, sob povos indígenas passassem a ser vistos como Jxis-
dições dificílimas, numa posição de comando e o argumento de que o desrespeito seria irrelevante suidores de uma organização social e política que
responsabilidade, uma pessoa ainda tem tantas no caso. tem aspectos admiráveis. Como povos com os
dificuldades para sobreviver com dignidade, re- De cambulbada, tratou-se o presidente da Funai quais poderíamos aprender muitas coisas - a co-
cebendo os proventos de uma aposentadoria, como alguém destituído de qualquer mérito, ape- meçar pela não-formação de aglomerações huma-
pode-se concluir que nossa situação previ - sar de uma carreira pública marcada por atua- nas inadministráveis, devastadoras para o meio
denciária é mesmo de extrema precariedade. A ções lúcidas e desassombradas. Esqueceu-se prin- ambiente. Como pessoas que merecem todo o res-
imensa maioria das pessoas recebe da Preindên- cipalmente -já que se tratava de tema relaciona- peito em sua diversidade cultural e pelo papel que
cia Social muito menos - até mesmo as que do com a questão indígena - seu último livro, "0 desempenham de guardiães maiores do que nos
passam a vida contribuindo peto máximo. Renascer dos Povos Indígenas para o Direito", no resta de diversidade biológica.
Depois, é lamentável que se decida criar um Con- qual mostra com clareza a dificuldade do nosso Talvez seja ainda tempo para aprender com o epi-
selho Indigenista só quando surge uma situação sistema legal para lidar com culturas diferencia- sódio. E para mudar nossa atitude nessa questão ".

dificílima de manobrar na comunicação, e não das e baseadas, por exemplo, na propriedade co- (Washington Novaes, OESP, 1 1/02/00)
por uma preocupação real do governofederal com letiva. Mostra como o direito desses povosfoi subs-

SAÚDE confusão. Se é para prevenir o índio de doen- CIMI É CONTRA


ça, a competência é da FNS. Mas a assistência DSEIS COM FUNASA
ao indígena doente é de responsabilidade da
FHC UNIFICA POLÍTICA 0 Cimi se manifestou contrário à proposta de
Funai.
que a Funasa seja órgão gestor da política de
DE SAÚDE INDÍGENA “0 limite entre uma competência e outra não é
atendimento à saúde dos povos indígenas,
bem definida, bom unificar”, afirmou
por isso é
O presidente Fernando Henrique Cardoso assi- estabelecida no documento "Distritos Sanitári-
o secretário executivo do Cimi, Saulo Feitosa.
na, nos próximos dias, decreto transferindo para os Especiais Indígenas - Propostas de
Ele, porém, está preocupado que essa transfor-
o Ministério da Saúde todas as atividades de Operacionalização". Alegou dois motivos fun-
mação possa levar a uma gradativa transferen-
prevenção e assistência médica ao índio. Des- damentais: que é uma ação inconstitucional por
cia de responsabilidades do governo federal
de a constituição de 1988, a função era dividi- ferir o artigo 198 da Constituição Federal e a
para o Estados e municípios.
da entre o ministério e a Funai, ligada ao Minis- Lei n" 8.080/90, artigo 9", e que desrespeita as
“Estão previstos projetos com os Estados e mu-
térioda Justiça. resoluções da II Conferência Nacional de Saú-
nicípios, e há muitos casos em que os próprios
A situação gerava atritos de competência e res- de Indígena.
municípios são réus em ações de disputa pela
ponsabilidade. “Havia uma zona cinzenta. Quan- "Ao Ministério da Saúde cabe a função consti-
posse da terra", disse Feitosa. Com a unificação, a
do as coisas não andavam bem, um setor res- tucional de ser o gestor da saúde e de designar,
FNS vai assumir a coordenação de cerca de 700
ponsabilizava o outro, mas quem perdia eram através da portaria, o executor das ações. Da
servidores da Funai, a maioria enfermeiros e mé-
os próprios índios", admite Januário Montone, forma como está proposto a Funasa terá a fun-
dicos. (Diário do Grande ABC, 22/04/99)
presidente da FNS, do Ministério da Saúde. ção gestora e a execução será estabelecida atra-
Há 1 1 anos, os estimados 325 mil indígenas vi- vés de convênios com terceiros, podendo ser
vem em situação que só gerou insegurança e ONGs, organizações indígenas, estados e muni-

132 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


cípios". Assim coloca o parecer do Cimi sobre 0 Cimi, por fim, solicitou que o Ministério da presidente Fernando Henrique Cardoso. Os ín-
a política da Funasa, criticando a desvinculação Saúde atendesse às reivindicações dos povos dios ameaçaram subir a rampa e paralisar o
da União de sua responsabilidade constitucio- indígenas e as resoluções da X Conferencia Na- A guarda pre-
trânsito naquelas proximidades.

nal e a falta de participação das comunidades cional de Saúde, promovendo a realização de sidencial chamou o reforço da Polícia Militar.

indígenas conforme esse modelo. Conferências Estaduais de Saúde Indígena. Liderados pelo cacique Raoni, eles produziram

O Cimi declarou que não vai estabelecer qual- (ISA, a partir do "Parecer do Cimi sobre a po- uma “Carta das Lideranças Indígenas", critican-
quer espécie de convênio com o governo que lítica da Funasa para a saúde dos povos in- do a decisão do governo em transferir da Funai
vise ao gerenciamento dos ÜSEIs, mas que con- dígenas", 16/06/99) para a FNS a responsabilidade pela assistência

tinuará desenvolvendo seu trabalbo e partici- médica aos indígenas.


pando dos fóruns de discussão. ÍNDIOS PROTESTAM Os índios expuseram faixas com críticas à polí-

Defendeu que a política de atenção à saúde deva tica indigenista da Funai mostraram temor com
CONTRA FNS
se dar em conformidade com o processo de a proposta de alguns setores do Governo que
consolidação do Sistema Único de Saúde, deli- Cerca de 70 índios kayapó fizeram uma mani- desejam extinguir o órgão c transformá-lo numa
berando que a atenção à saúde aos índios deva festação em Brasília em frente do Palácio do secretaria ligada à presidência da República.

viabilizar o enfoque diferenciado. Planalto, onde tentaram uma audiência com o (Hoje em Dia, 19/06/99)

SAÚDE INDÍGENA É
“BRASÍLIA, 22 DEJULHO DE 1999 TRANSFERIDA PARA FNS
Exmo. Senhor Com a finalidade de suprir as demandas O DOU publicou a Medida Provisória n° 1 .91 1-

Presidente da República verificadas e a minimização da situação ora co- 8, alterando a Lei 9.649, que dispõe sobre a
Dr Fernando Henrique Cardoso locada, solicitamos que sejam imediatamente organização da Presidência da República e dos
Exmo. Senhor, implantados os Distritos Sanitários Especiais In- Ministérios. A novidade desta oitava reedição
Nós, lideranças indígenas, representantes das or- dígenas com a assinatura do Decreto, passando a
da MP é a introdução de modificações que im-
ganizações indígenas, abaixofirmadas, legítimos responsabilidade sobre a saúde indígena para o
plicam na transferência da competência legal
conhecedores das dificuldades enfrentadas por Ministério da Saúde. Consideramos este sistema
do patrimônio, funcionários e funções de con-
nossas comunidades, estivemos em Brasília nos de maior importância para a população indíge-
fiança da Funai para a FNS, no que se refere à
dias 21 e 22 de julho de 1999 analisando a situa- na uma vez que são propostas firmadas pelas li-
deranças indígenas durante a realização das Con- atenção à saúde indígena.
ção de desespero em que se encontram os indíge-
nas brasileiros no que se refere à questão do aten- ferências de Saúde Indígena nos estados e regiões As mudanças trazidas pela reedição da MP de-

dimento à satíde. e com aval na Conferência Nacional realizada em verão ser complementadas na próxima segun-
Neste momento, cerca de 99% da população indí- Brasíliaem 1993 A proposta abre a possibilidade da-feira por um decreto presidencial, a ser pu-
gena está totalmente abandonada fjelo poder pú- da definição de um gestor único na questão da blicado também no Diário Oficial. Este decreto
blico responsável verificando-se, entre outros
,
saúde indígena contemplada com competência precisará a competência da FNS, preverá a im-
problemas, afalta de medicamentos, viaturas para técnica e administrativa própria.
plantação do sistema de DSEI's, e transferirá as
transportes de doentes e total descrédito para com- Não pretendemos com a criação dos Distritos Sa-
rubricas orçamentárias da Funai relativas à saú-
pra de medicamentos. nitários retirara responsabilidade da Funai, mas
de para a FNS, alterando alguns aspectos do De-
Indignados com da Funai frente à
tal descaso valorizar seu papelfrente a outras atribuições que
creto n” 1.141/94.
questão da saúde nas áreas indígenas, tem se ve- possui com relação à defesa dos direitos indíge-
rificado revoltas e movimentos locais das comu- nas relativos à questão de terras, Jiscalização, A nova MP altera o artigo 14 da Lei n° 9.649,

nidades indígenas, reivindicando uma maior res- manejo sustentável, alternativas econômicas e que define as competências dos ministérios,
ponsabilidade do órgão indigenista. outras questões relevantes que dizem respeito à introduzindo os índios entre o público-alvo a
Como forma de resoltw estas reivindicações, a melhoria da qualidade de rida dos povos indígenas. ser beneficiado pelas ações do Ministério da
Funai vem exercendo atos de repressão contra as José Set>erino da Silva - Capoib Saúde. Incluiu, ainda, na referida lei um novo
lideranças indígenas utilizando seu poder de po- Benjamin Castro - Coiab artigo (28-B), transferindo da Funai (Ministé-
lícia para abertura de inquéritos policiais com a Waldemir Parintintim - Cunpir
rio da Justiça) para a FNS (Ministério da Saú-
conivência do Ministério Público Federal, como José Souza da Silva - UN/-AC
do índio
de): I) os Postos de Saúde e Casas
está acontecendo no Rio Grande do Sul e em ou- Genival de Oliveira dos Santos UNI -Tefé
mantidas pela Funai para assistência à saúde
tras regiões. Esta práticatem legitimado de for- Clóvis Am brósio - CIR
OSPTAS das comunidades indígenas; 2) os bens móveis,
ma injusta a irresponsabilidade e a inoperância Osvaldo Honorato Mendes -

imóveis, acervo documental e equipamentos,


deste órgão indigenista no que diz respeito ao João Almeida Vasques - OASPT
cumprimento de suas obrigações legais junto às Antônio Ricardo Domingos da Costa - AP01NME- inclusive veículos, embarcações e aeronaves,
comunidades indígenas. CE que se destinem ao exercício das atividades de
Por outro lado, constatamos também que a Jàlta Gerson Pataxó -APOINME-BA assistência à saúde do índio. Esta transferência

de definição de uma política de saúde indígena Juvino Sales -Apois patrimonial deverá, segundo o texto da MP, ser
tem causado enormes transtornos quando os in- Aurélio Tenharin efetivada até 28 de setembro de 1999, "fican-
dígenas buscam apoio à saúde nas áreas, ocor- Daniel Pereira Lescano
do, desde já, referidos bens à disposição da FNS,
rendo muitas vezes um jogo de empurra-empur- Antônio Sarmento dos Santos -ANTAPAMA
sem prejuízo das atividades operacionais a eles
ra entre a Funai e a Fundação Nacional de Saúde, Emir Borges Pereira - Terena
pertinentes."
aumentando ainda mais o sofrimento das comu- Ambrósio Viana -Poim eAAISARN
Quanto à distribuição dos servidores, o artigo
nidades indígenas com óbitos que poderiam ser Vitorino Soares Guajajara -
“ Ficam redistribuídos da
Manoel Eufrásio Rodrigues -APOINME/PB 28-B dispõe que: 1)
evitados e causando, inclusive conflitos e divisão
"
nas comunidades indígenas, muitas vezes estimu- Clóvis Rufino Reis - Civqja Funai do Ministério da Justiça para a FNS do

lados por funcionários dos dois órgãos. Ministério da Saúde, os cargos de provimento

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 133


efetivo, ocupados ou vagos em 31 de dezembro na forma do parágrafo anterior, sem prejuízo APROVADO PROJETO DE LEI
de 1 998, que se destinem ao exercício das ati- dos seus direitos e vantagens, serão lotados na
vidades de assistência à saúde do índio; 2) Os área específica de saúde do índio da FNS". (Úl- O Senado Federal aprovou, sem emendas, o
servidores ocupantes dos cargos redistribuídos timas Notícias/KA, 30/07/99) projeto de lei originário da Câmara dos Depu-
tados, de autoria do ex-deputado federal Sér-
gio Arouca (PPS-RJ), que dispõe sobre as con-
MUDA A POLÍTICA DE SAÚDE INDÍGENA dições e o funcionamento dos serviços de saú-
Desde 91, na gestão Collor, o governo federal ten- Tumucumaque (norte do Pará), assim como em de para as populações indígenas. A lei deverá
ta fazer com que o Ministério da Saúde assuma a outras fronteiras internas, não há instituições ser promulgada pelo presidente da República
responsabilidade pela atenção à saúde indígena. privadas qualificadas em condições de imple- nos próximos dias.
Na ocasião, um conjunto de decretos distribuiu mentar sennços de saúde. Assim, não haverá como A aprovação deste projeto ocorre em um mo-
competências da Funai entre o Ministério da Saú- enfrentar consistentemente as demandas de saú- mento de definições importantes no que se re-
de, da Educação, do Meio Ambiente e da Agricul- de indígena numa via de mão única rumo à
fere à instituição de uma política para a saúde
tura.Em 94foram substituídos (exceto o que trata terceirização. O poder público deveria tentar
de educação escolar indígena) pelo Decreto n° estruturar ações diretas nestas regiões
indígena. A "Lei Arouca", como deverá ficar
e, portan-
1.141, que estabelece parâmetros de atuação con - to, também criar um modelo de distrito que não conhecida, estabelece a competência da União,

junta entre a Funai e os citados ministérios, sob seja terceirizado. através do Ministério da Saúde, para estruturar
a suposta coordenação da primeira. Além disso, a FNS parece estar ainda longe de de- e pôr em funcionamento um “subsistema de
Destavez, a mudança vem com força de lei - finir ou adotar parâmetros jurídicos adequados atenção à saúde indígena", vinculado ao SUS
medida provisória, até que o Congresso a aprove. para uma política consistente de terceirização. A que terá como base os DSEIs, unidade admi-
Transfere da Funai e unifica na FNS a estrutura modalidade de convênio que vem sendo adotada nistrativa que proverá serviços de saúde junto
pública federal pertinente, seus recursos huma- nas negociações que estão mais avançadas acaba às aldeias indígenas e será responsável pela ar-
nos, equipamentos e orçamento específicos. Pro- por transferir para a instituição conveniada a
ticulação das demandas respectivas junto ao
põe-se um sistema de DSEIs, com orçamentos pró- barafunda burocrática e formal que impede as
SUS. Estabelece, ainda, que a União deverá fi-
prios pré-indicados e boa parte das atribuições e instituições públicas de funcionar. Há restrições
nanciar este subsistema, podendo outras insti-
qualidades a eles atribuídos pelas últimas confe- quanto ao tempo de duração dos convênios, para
rências nacionais de saúde indígena. o pagamento de encargos trabalhistas aos profis- tuições públicas ou privadas, complemenlar-

O Departamento de Operações (Deope), da FNS, sionais a serem contratados,ou para a abertura mente, aportar recursos ou execular serviços
ao qual está subordinado a Coordenadoria de Saú- de licitações que envolvam valores maiores. São de assistência à saúde dos índios. (Últimas Ato-
de Indígena (Cosai), anunciou que dispõe de R$ anteriores às leis que criaram as figuras das Or- Hcias/ISA. 01/09/99)
55 milhões no orçamento de 99 para implementar ganizações Sociais e das Organizações da Socie-
a nova política e os 33 DSEIs previstos para todo o dade Civil de Interesse Público, justamente para
Brasil. Está pleiteando no orçamento plurianual remover obstáculos para as parcerias entre a so-
FUNASA ABRE SERVIÇO
outros R$ 100 milhões/ano para os próximos três ciedade civil e o Estado. A Funasa inaugurou ontem o Serviço de Apoio
anos. Os DSEIs terão limitações quanto à sua au- Expectativas - Ao mesmo tempo em que tais mu -
ao índio (SAI) centro de referência para
,
índi-
tonomia administrativa, não constituindo uni- danças abrem a possibilidade de ampliar os re-
os que vêm de todo o Brasil, prindpalmente da
dade orçamentária. Terão seu “gestor" nomeado cursos disponíveis, criar mecanismos de controle
região Centro-Oeste, buscar tratamento de saú-
diretamente por Brasília, mas dispondo de um socialmais efetivos, melhorar a qualidade dos
orçamento próprio indicativo, resultante da di- serviços prestados e das relações inter- de especializado em Brasília.

visão destes valores ftelos vários DSEIs, através de institucionais envolvidas, geram, também, preo- O SAI vai fazer a triagem e o encaminhamento
um critério ponderado que considera estimati- cupações quanto à unilateralidade da estratégia do paciente indígena aos hospitais da rede pú-
vas de poptdação e condições de logística de cada de terceirização e ao baixo nível de institu- blica do Distrito Federal, além de acompanhar
área proposta para a sua criação. cionalidade com que ela se desenvolve. Há até todo o tratamento, até que ele esteja em plenas
Os esforços do Deope/FNS para iniciar a quem atribua as limitações na política de convê- condições de voltar para a sua aldeia. O maior
implementação de alguns distritos estão integral- nios a um boicote velado da burocracia da FNS à objetivo do SAI é reduzir o tempo de perma-
mente orientados para um modelo de implantação de um modelo de assistência
nência do índio fora de sua aldeia e garantir
terceirização da execução dos serviços de saiíde, terceirizado.
agilidade no diagnóstico e no tratamento médico.
através de uma política de convênios com orga- Seja como for, o sentimento que paira entre os
nizações indígenas, ONGs, universidades e igre- interessados é de muito ânimo quanto à perspec-
O serviço contará com um médico, uma enfer-
meira, sete auxiliares de enfermagem e pessoal
jas quejá estejam envolvidas na prestação destes tiva de melhora na situação em que se encontra
sennços. A FNS nomeia um "gestor", disponibiliza hoje a saúde indígena, mas de sofrimento diante de apoio para garantir ao índio o melhor acom-
recursos e, supostamente, acompanha e se res- dos limitados instrumentos da nova política. Para panhamento, desde sua chegada a Brasília até
ponsabiliza pela qualidade da execução. Assim, as organizações civis, assumir maior responsa- sua volta ao estatuto de origem. (Jornai de
em algumas regiões em que o movimento indíge- bilidade em relação aos serviços já constitui de- Brasília, 23/02/00)
na está mais organizado ou em que há institui- safio suficiente, que não deveria ser agravado por
ções sérias envolvidas com ações de saúde, há ar- dificuldades adicionais de gestão. Tudo indica que
ticulações não-governamentais em curso para as limitações do momento têm mais a ver com as
GOVERNO DESTINA
assumir a organização dos distritos e, portanto, agruras da transição. Mas pode também signifi- NOVOS RECURSOS
alguma viabilidade para o modelo de terceirização car que este processo exigirá no futuro do Minis-
A Funasa vai investir 65,72% a mais de recur-
pretendido. tério da Saúde uma solução institucional mais
No entanto, o Brasil é grande e os índios são su- consistente, como a criação de uma agência es-
sos este ano em programas de saúde indígena
jeitos sociais de ponta, dispersos pelasfronteiras, pecializada em saúde indígena, independente da no País. 0 anúncio de mais investimentos será
tendencialmente mais presentes exatamente onde pesada e ineficaz estrutura atual da FNS. (Márcio feito hoje pelo presidente do órgão, Mauro
o Estado e a sociedade nacionais estão menos pre- Santilli, Parabólicas/ISA, ago/99) Ricardo Costa, quando definirá a aplicação de
sentes. No Vale do Javari (AM), no Parque do RS 106 milhões para o atendimento de 210

134 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


1

DEMONSTRATIVO DE CONVÊNIOS DA ÁREA DE SAÚDE INDÍGENA EXERCÍCIO DE 1999 -

Ministério da Saúde / Fundação Nacional da Saúde


Departamento de Operações - Coordenação de Saúde do índio

DSEI/Sede Instituição Conveniada Objeto Valor do Convênio Vigência

AC Altojuruá/ União das Nações Indígenas Estruturar ações de atenção básica de saúde 5,721.028,08 11/99 a
Cruzeiro do Sul Alto Purus/ do Acre e Sul do Amazonas - nas áreas de abrangência dos DSETs 01/01
UNI (pop. 13 mil índios, 125 comunidades,
162 profissionais de saúde)

Subtotal 5.721.028,08

AP Amapá/Norte do Pará/ Secretaria do Estado Promover melhoria na condição de saúde das 2.482.678,00 08/99 a
Macapá da Saúde do Amapá populações indígenas do Amapá e norte do Pará 10/00
(87 profissionais de saúde e 26 pessoas de apoio)

Subtotal 2.482.678,00

AM Manaus/Manaus Coordenação das implantar e desenvolver do DSEI de Manaus 4.333.250,0] 11/99 a


Organizações Indígenas da compreendendo as populações indígenas 03/01
Amazônia Brasileira - Coiab distribuídas nos municípios de Manaus,
Manacapuru, Buriri, Anamã, Nova Olinda.
Borba, Novo Ayrão, Manicoré, Autazes, Itacoatiara,
Posto do Município de Humaitá (pop. 10.802 índios,

91 aldeias, 121 profissionais de saúde


e 12 administrativos)

AM Parintins/Manaus Associação Ameríndia - Desenvolver, implantar e executar ações de 2.554.214,00 12/99 a


Cooperação Solidária com saúde a população indígena do DSEI de Parantis 01/01
os Povos Indígenas da (pop. 9 100 aldeias 80, profissionais
-
,

América de saúde 11 e 4 equipes)

AM Rio Negro/ Associação Saúde Implantar 0 DSEI do Rio Negro com 0 objetivo de 2.052.182,00 11/99 a
São Gabriel da Cachoeira sem limites (SSL) prestar atenção integral a saúde da população 1/01
indígena dos rios Tiquié e Vaupés
(pop. 6 mil, profissionais de saúde 36)

AM Alto Rio Negro/ Diocese de São Gabriel Implantar a atenção primária à saúde e formação 2.023,267,87
São Gabriel da Cachoeira da Cachoeira de recursos humanos no DSEI para as etnias Baré,

Túkano c Baniva (pop 4 mii e 65 comunidades —


atender a população urbana dos bairros da praia de
Boa Esperança com pop. 1.800, contratação de

34 profissionais de saúde)

AM Rio Negro/ Prefeitura Municipal de Desenvolver ações de saúde em território 1.356.193,00 11/99 a
São Gabriel da Cachoeira São Gabriel da Cachoeira Yanomami na região do Alto Rio Negro 05/02
(pop. 6 rail, 90 comuuidades indígenas)

AM Alto Solimões/Tabatinga Diocese do Alto Solimões Implantar e desenvolver do Sistema de Saúde e 7.777.080,10 10/99 a
abrangência do DSEI (pop. 32.500 índios, 05/01
1 16 aldeias, 235 profissionais de saúde)

AM Médio Purus/Lábrea Organização dos povos Atenção básica de saúde à população do DSEI 2 . 672 719,74
. 11/99 a
indígenas do Médio Purus - (pop. 3.423, 50 comunidades, formação de 04/01
OPIMP 47 AIS, 9 microscopistas e estruturação do
controle social e da organização da rede de serviços)

AM Javari/Atalaia do Norte Conselho Indígena do Implantar e desenvolver das ações de saúde do 2.666.656,00 10/99 a
Vale do Javari (Civaja) DSEI do Vale do Javari (pop. 2.681,22 aldeias e 06/01
64 profissionais de saúde)

AM Tefé/Tefé União das Nações de Tefe/ Prestar assistência a saúde a partir de programas 4 988 152,00
. .

Tefé de vigilância epidemiológica e sanitária, de


antropologia da saúde fortalecimento da medicina
tradicional indígena e sua integração ao SUS
(pop. 6.645 índios, 74 aldeias, 140 profissionais
de saúde e 34 pessoas de apoio)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOOIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 135


1

DSEI/Sede Instituição Conveniada Objeto Valor do Convênio Vigência

AM Alto Rio Negro/ Federação das Organizações Formar, capacitar e treinar em serviço RH para o DSEI
São Gabriel da Cachoeira Indígenas do Rio Negro e organização do serviço de saúde na regjão da calha
do Rio Negro e estrada

AM Yanomami/Boa Vista Instituto de Desenvolvimento Implantar um sistema de saúde adaptado às 1.691.698,00 11/99 a
Sanitário em Meio Tropical - peculiaridades locais no território Yanomami, 11/00
IDS região dos rios Cauaburis, Marauia e Padauari
(pop. 9-269, aldeias 230, profissionais de saúde 110)

AM Yanomami Secoya — Serviço de Garantir assistência básica de saúde a população 1.577.083,00 H/99 a
Coperação com o Yanomami (pop. 1.535) das regiões do Rio Maruauiá. 01/01
Povo Yanomami Demini e Padauari - Região do Médio Rio Negro —
AM (profissionais de saúde 19)

AM Yanomami Inspetoria Salesiana Prestar assistência básica de saúde a população Yanomami 101.220,00
Missionária da dos xaponos Pahoroa e Xamatá no Rio Marauiá
Amazônia - Isma (pop.531 índios, 2 comunidades)

Subtotal 37.425-913,11

PA Kaiapó/Redeoção Prefeitura Municipal Garantir atenção a saúde da população indígena do 2.923-353,00 10/99 a
de Redenção DSEI (pop. 3.318, aldeias 29 e 56 profissionais de saúde)

PA Tapajós/ltaituba Prefeitura Municipal de Assistência a saúde da população indígena Mundurucu 2.072.571,00 12/99 a
Jacareacanga e Kayabi (pop. 8.121 índios, distribuídos em 87 aldeias, 01/01
profissionais de saúde 72)

PA Altamira/Altmira Prefeitura Municipal Estruturar e implantar as ações de saúde à população 1.934.671,00 12/99 a
de Altamira indígena da região dos rios Médio Xingu, Iriri e Curuá 01/01
(pop. 2 mil, 1.423 aldeados c profissionais de saúde 52)

PA Guamá/Tocantins Prefeitura Minicipal Implantar a casa do índio na sede do município e prestar 713.817,00 12/99 a
de Paragominas atenção integral a saúde e indígenas das aldeias das etnias 01/01
Tembé, Timbira, Kaapor-Tembé e Amanayé (pop. 1.016
índios, 13 aldeia, 24 profissionais de saúde)

PA Guamá/Tocantins Prefeitura Municipal Organizar pólo-base de Ourém para prestar assistência à 641.953,00 12/99 a
de Ourém saúde da população indígena do Alto rio Guamá 01/01
(pop. 508 índios, 1 1 aldeia e 7 profissionais de saúde)

Subtotal 8.286.365,00

RO Porto Velho/Porto Velho Cunpir - Coordenação da Promover a saude, assistência médica, desenvolvimento 3-331935,59 11/99 a
União das Nações e povos do controle social, capacitaçãode recursos humanos e 01/01
indígenas de Rondônia infra estrutura do DSEI de Porto Velho (pop- 6.028 - 20 etnias)

RO Vilhena/Vilhena Proteção Ambiental Prestar assistência a saúde à população indígena do DSEI 4. 123-887,00 10/99 a
Cacoalende - Paca (pop. 5-067, aldeias 65 e 88 profissionais de saúde) 01/01

Subtotal 7.455.812,59

RR Leste de Roraima Boa Vista Conselho indígena Implantar assistência a saúde a população indígena do 6.945.041,00 11/99 a
de Roraima - CIR DSEI. (pop. 27 mil, aldeias 185 e 270 profissionais de saúde - 03/01
250 AIS)

RR Yanomanii Boa Vista Saúde Yanomami Prestar assistência a saúde de forma permanente e 7.208.870,00 10/99 a
Boa Vista - Urihi integral as populações Yanomami residentes nas 02/0
regiões Ajarani, Auaris. Balawaú, Demini, Honnoxi,
Missão Catrimani, Parafuri, Surucucu, Toototobi,
Tukuxim. Xiriana e Xitel (pop. 6.159 - 12 sub-regiões)

RR Leste de Roraima Conselho Indígena Contribuir para melhoria da situação de saúde da qualidade 442.915,85
Boa Vista de Roraima de vida nas comunidades indígenas do Leste de Roraima

RR Boa Vista Diocese de Roraima Manutenção da Casa de Cura de Roraima 318.605,36


(Casa de Cura)

Subtotal 3-098.809,00

136 POLÍTICA iNDIGENlSTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0 CIO AMBIENTAL
-
Acervo
'

~-/AiC
y I SA A C Q WTECE U ]
.. .^kAAA.l.-

DSEI/Sede Instituição Conveniada Objeto Valor do Convênio Vigência

TO Tocantins/Palma Fundação de Assistência Implantar e organizar serviços de saúde para os povos 3 116 939,20
. .

ao Sudeste Amazônico - indígenas Xerente, Krahô, Apinajé, Karajá e Javaé


Fasam (pop. 6.139. 66 aldeias, 80 profissionais de saúde,
24 pessoas de apoio)

Subtotal 3.116.939,20

TOTAL REGIÃO NORTE 79-447.168,19

MT Xingn/Canarana MT Universidade Federai do Desenvolver, implantar e executar ações do sistema à saúde 2.887.049,64 08/99 a
Estado de São Paulo da população indígena em toda jurisdição do DSEI do Xingu 10/00
Cpop. 3.600, aldeias 47, profissionais de saúde 64)

MT Kaiapó/Cofider Prefeitura Municipal Implantar o DSEI para atender 2.018 índios em 12 aldeia das 2.287.345,00 12/99 a
de Colider etnias Kayapó, Panara, Apiaka, Mundurucu, Kaiabi 01/01

(47 profissionais de saúde)

MT Xavante/Barra da Garça Sociedade na Defesa Implantar a atenção de saúde à população indígena Xavante 5.434.589,24 11/99 a
da Cidadania - SDC (pop. 10.136, 1 10 aldeias e 156 profissionais de saúde) 03/01

MT Tangará da Serra/Cuiabá Trópicos - Instituto de Prestar assistência a saúde da população ao DSEI 2.695.235,99 11/99 a
apoio ao desenv. e (pop. 4.218, aldeias 56 e 80 profissionais de saúde) 03/01
meio ambiente

MT Cuiabá Operação Amazônia Atenção básica de saúde aos povos indígenas Enawene Nawe, 511.745
Nativa - Opan Myky e Irantxe na região noroeste do Estado do Mato Grosso

Subtotal 1381596487

GO Araguaia/ Instituição Advenlista Implantar um sistema de atendimento a saúde 1.439.678,22


São Félix do Araguaia Central Brasileira de a população Karajá. Que habita às margens
Educação e Assist. Social do rio Araguaia (pop. 1.430 índios, 7 aldeias e

19 profissionais de saúde)

GO Araguaia Associaç. Educação e Organizar 0 sistema de atenção básica de saúde aos povos 733 452,95
.

Assistência Social N. Carajá e Tapirapé (pop. 700 índios, 5 aldeias e 13

Senhora da Assunção - profissionais de saúde)


Ansa - MT

Subtotal 2.173.131,17

MS Mato Grosso do Sul/ Missão Evangélica Caiuá Promover a saúde, prestar assilência e controlar os 3.098.809,00 11/99 a
Campo Grande agravos das populações indígenas do DSEI 04/04
(pop. 33.223, aldeias 48 e 101 profissionais de saúde)

Subtotal 3.098.809,00

TOTAL REGIÃO CENTRO-OESTE 19.087.905,04

MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integrai a saúde aos povos indígenas 550.107,00 12/11 a
de Àmarante Guajajara, Krikatl e Gavião (pop. 3.485, profissionais 01/01
de saúde 52)

MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integral a asaúde do povo 59.430,00 12/11 a
de Maranhãozinho Urubu-Kaapor nas terras indígenas do Alto Uiriaçu 01/01
(pop 250, indios, profissionais de saúde 4)

MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Promover atenção integral a saúde dos povos indígenas 853-529,00 12/11 a
de Zé Doca das etnias Guajajara, Urubu-Kaapor, Awá-Guajl 01/01
(pop. 1.450, profissionais de saúde 41)

MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integral a saúde às etnias Guajajara, 1 .009.9 15,00 12/11 a
de Barra do Corda Ramkokame-krá*Canela, Apanyekrá-Canela e Krápum-kateyê 01/01
que habita as terras indígenas de Cana Brava-Guajajara,
Rodeador e Lagoa Comprida (pop. 6.660 e profissionais de saúde 87)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDÍGENISTA 137


;

'?l- 17 Acervo
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DSEI/Sede Instituição Conveniada Objeto Valor do Convênio Vigência

MA Maranhão/São Luiz Prefeitura Municipal Prestar assistência integral a saúde em áreas indígenas nos 910.630,00
de Arame territórios de Bacurizinho, Morro Branco, Urucu-Juruá e
32 aldeias próximas ao município de Arame (pop. 5036 índios,
6l profissionais de saúde)

Subtotal do Maranhão 3.373.611,00

CE Ceará Missão Tremembé Assegurar o acesso de pacientes indígenas aos Serv. 78.400,00
De Referência e garantir a participação das lideranças
indígenas nas reuniões do Conselho Distrital de Saúde Indígena

Subtotal do Ceará 78.400,00

SUBTOTAL DO NORDESTE 3.452.011,00

SC Interior Sul/ Chapecó Prefeitura Municipal Implantar o programa de promoção e integral de saúde na 78.000,00 12/99 a
de Entre Rios reserva indígena PI Chapecó (pop. 1.050 índios, 6 profissionais 11/00
de saúde)

SC Interioro Sul/Chapecó Prefeitura Municipal Promover a melhoria das condições de vida a saúde indígena 259.000,00 12/99 a
de Ipuaçu Kaingang através do desenvolvimento de ações de promoção n/oo
prevenção e assistência de saúde

SC Interior Sul Prefeitura Municipal Implantar o programa de promoção da assistência integral 277.308,00 12/99 a
José Boiteux a saúde nas comunidades indígenas de José Boiteux (9 profissionais 11/00
de saúde)

SC Interior Sut Associação Estadual O programa de promoção, prevenção e assistência primária 4.406.577,44 12/99 a
dos Rondonislas em toda jurisdição dos DSEIs de São Paulo, Parauá 11/00
e Santa Catarina

SUBTOTAL DA REGIÃO SUL 5.020.885,44

TOTAL GERAI 107.007.969,67

etnias diferentes.O montante de recursos vai LEVANTAMENTO APONTA ENCONTRO ANTECIPA


beneficiar uma população de cerca de 350 mil PROLIFERAÇÃO DA AIDS PAUTA DA III CONFERÊNCIA
índios. Os programas serão executados com a
participação de 23 organizações não-governa- A Aids está avançando nas comunidades indí- A cidade de Manaus (AM) sediou, dias 1 1 e 12
mentais. genas da fronteira amazônica e, se não forem de outubro, um encontro nacional entre orga-

Além de anunciar o aumento de recursos, a implementadas medidas preventivas, a doença nizações indígenas e ONGs conveniadas com a
Eunasa também divulgará o Informe de Saúde pode em poucos anos virar uma epidemia. Funasa para uma avaliação dos trabalhos reali-
Indígena, um relatório que trata da re- Essas são algumas das conclusões da pesquisa zados no último ano e para definir as novas ba-
estruturação e dos investimentos feitos nos 34 Fronteiras Amazônicas do Brasil, coordenada em 2001. Os presentes reco-
ses dos convênios

DSEUs espalhados pelo País. (OESP, 23/03/00) pelo professor da Universidade de Brasília Victor nheceram o aumento nos índices de prevenção,
Leonardi. Encomendado pelo Ministério da Saú- imunização e de controle das doenças, resulta-
de e financiado pela ONU, o levantamento está do da maior participação dos profissionais de
FUNASA INCENTIVA HOSPITAIS
sendo finalizado e será lançado como livro cm saúde nas comunidades indígenas. Não obstante,
A Funasa anunciou ontem que vai pagar até 30% oulubro. Foram feitos, nos últimos três anos, advertiu-se que ainda há muito que avançar no
a mais que a tabela normal do SUS para os hos- estudos sobre moradores, especialmente os ín- funcionamento dos DSEIs, por exemplo, no que
pitais que se dispuseram a atender índios. Com dios,que vivem entre Oiapoque, no Amapá, ao se refere ao conhecimento e respeito dos pro-
esse incentivo, a fundação espera conseguir Alto Guaporé, noMato Grosso. fissionais em relação aos conceitos de saúde e
vencer a resistência de muitos hospitais. Segundo Leonardi, embora ainda não se confi- doença próprios da configuração cultural de
Como os indígenas têm o hábito de acompa- gure um quadro de epidemia, é alto o risco de cada povo, abordagem que está no cerne da pro-
nhar seus doentes durante as internações, os disseminação da Aids entre as populações indí- posta dos DSEI. Dessa maneira, temas debati-
em hospitais por
médicos evitam receber índios genas dessa área, que têm II mil quilômetros dos nesse encontro anteciparam pautas que es-
não contarem com infra-estrutura adequada. de extensão. (O Globo, 23/07/00) tarão na III Conferência Nacional de Saúde In-
(O Globo, 24/03/00) dígena, a se realizar dos dias 14 a 18 de maio
de 2001. (Últimas Notícias/ISA, 24/10/00)

138 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 199B/MXJ - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


•^>7^ Acervo
ISA

Povos Indígenas e a Conquista da


Cidadania no Campo da Saúde

Marcos Peliegriní Médico da Funasa,


trabalha há 15 anos com a saúde indígena

A INTENÇÃO DESTE ARTIGO É REFLETIR movimento indígena? Remédios diferentes? Vacinas diferentes? A
SOBRE A POSSIBILIDADE E 0 PROCESSO DE questão, normalmente colocada com certa ironia, é pacientemen-

CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE ATENÇÃO À te respondida pelos índios que diferente é o modo de acesso e o
uso que eles fazem desses produtos, hoje indispensáveis à sua so-
SAÚDE INDÍGENA QUE ATENDA CADA SITUAÇÃO
brevivência física. Esta diferença no acesso, interpretação e usos
dos serviços de saúde passa por questões linguísticas, culturais,

Numa reunião do Fórum Permanente Mbya-Guarani, em dezem- políticas e geográficas, entre outras, e c mais evidente nas regiões
bro de 1998 na cidade de Porto Alegre, uma autoridade municipal onde ocorrem conflitos com a população não indígena, quando a
questionou os representantes indígenas sobre a sna excessiva mo- aplicação de vacinas, por exemplo, passa a ser tida pelos índios
bilidade. Após uma discussão sobre a situação de saúde e as difi- como uma exposição a venenos de efeitos imediatos ou tardios. É
culdades relativas ao acesso aos serviços públicos, o secretário o caso da população das serras do nordeste de Roraima, que fo-

perguntava por que as famílias guaranis não se lixavam onde as gem das vacinas oferecidas pelo recém criado município de
terras estavam sendo demarcadas, pois poderíam ser cadastradas Uiramutã, sediado mim aglomerado que se formou em torno de

numa determinada unidade de saúde o que permitiria um atendi- uma corrutela do garimpo dentro da terra indígena. A população

mento adequado aos casos de doença. não consegue acreditar que pessoas que convivem com (ou traba-
lham paia) as mesmas que disparam armas de fogo contra seus
Felipe Brizuela, liderança que tem com
se destacado nas relações
líderes e aliados, seqiiestram as irmãs da Consolaía e atiram seu
os não índios nos últimos anos, responde que o caminho de uma
caminhonete da ponte sobre as pedras do rio tenham algum inte-
pessoa nem a própria pessoa decide: é Nanderu quem o faz, não é
resse em contribuir com a melhoria de seu estado de saúde.
possível que onde uma pessoa deva ir seja determinado por outra

pessoa e muito menos pelos juruá (não índios). E continua:


BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA
“Vocês falam das doenças que seus olhos vêem, falam dos catar-
ros, dos tumores, das feridas, dos atropelamentos... Vocês contam
DE SAÚDE INDÍGENA
os mortos em números como se eles não existissem mais, vocês A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196 definiu a saúde ,

não vêem a tristeza como nossa doença, vocês não sabem da nossa como “direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
alegria de ver um pedaço do mato com água limpa, os animais políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
comendo, uma árvore florescer..." doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” e


Mesmo que os brasileiros não fôssemos assim tão diferentes (a
estipulou os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) basea-
ponto de pensarmos alguns que ter saúde é, dentre outras coisas,
dos também na descentralização, integralidade das ações, partici-
ver uma árvore Qorir, e outros que é transformar a mesma árvore
pação e controle social.
em madeira), é sempre enorme o abismo entre quem adoece e o

profissional de saúde: para o primeiro a doença é um aconteci- Esta conquista do povo brasileiro foi resultado da mobilização de
mento na vida que pode ter as mais diversas conseqüências, para setores populares, profissionais de saúde e políticos no movimen-
o segundo é só mais um caso dc doença. Afinai, o que seria uma to pela reforma sanitária qne começou a se formar na década de
atenção diferenciada à saúde conforme a demanda organizada pelo 70 e que teve sua proposta final sistematizada em 1986 na VIII

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA I 139


erencia Nacional de Saúde, que recomendou uma conferên- A indefinição de uma política de saúde, formulada com base na
cia específica para discussão da saúde indígena. A I Conferência multiplicidade de fatores envolvidos no processo de adoecer e
Nacional de Proteção à Saúde Indígena, realizada neste mesmo buscar tratamento das pessoas indígenas, comprometia o acesso
ano, apontou para a criação dos Distritos Sanitários Especiais In- desta população aos serviços de saúde e impedia a implantação de
dígenas como forma de estender os direitos constitucionais relati- ações de saúde com resultados efetivos. Além de ignorar as dife-
vos à saúde aos povos indígenas. rentes inserções históricas e geográficas na sociedade nacional,

línguas e modos próprios de perceber e agir no mundo, a pouca


A primeira iniciatíva de implantação desta proposta se deu por
cobertura dos serviços de saúde disponíveis era agravada pela in-
meio de um decreto presidencial, de fevereiro de 1991, que atri-
suficiência de recursos para execução das ações, especialmente
buía a responsabilidade pela assistência à saúde indígena ao Mi-
na Funai, órgão do Ministério da Justiça que não dispunha de re-
nistério da Saúde e criava o Distrito Sanitário Yanomami. Na ver-
cursos para assistência à saúde.
dade esta regulamentação governamental não foi implementada
em outras áreas indígenas além desta, sendo revogada em 1994 Enquanto isso a população era acometida por infecções respirató-
pelo Decreto 1.141. Este decreto dividia as ações de atenção à rias e intestinais, malária, tuberculose, doenças sexualmente
saúde indígena entre a Funai e a Fundação Nacional de Saúde, transmissíveis, desnutrição e doenças preveníveis pela vacinação,
contrariando preceitos constitucionais e a Lei Orgânica da Saúde', evidenciando um quadro sanitário caracterizado pela alta ocor-

e servia principalmente a interesses corporativos das instituições. rência de agravos que poderiam ser significativamente reduzidos
Mais grave ainda é que o decreto de 1994 contrariava totalmente com o estabelecimento de ações sistemáticas e continuadas de aten-
os princípios e diretrizes da II Conferência Nacional de Saúde para ção básica à saúde nas comunidades.
os Povos Indígenas realizada em 1993 que apontavam para a cria-
Embora não cubram a totalidade da população indígena no Brasil,
ção dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas como um
os dados disponíveis indicavam, em diversas situações, taxas de
subsistema de saúde complementar ao SUS.
morbidade e mortalidade três a quatro vezes maiores que as
registradas para a população brasileira em geral.

TAXAS DE MORBIDADE E MORTALIDADE

um consolidado dos relatórios


Ainda que tratando de dados parciais, econômicas severas entre os povos indígenas. Para muitos deles o
de 22 das 47 administrações regionais da Funai, cobrindo uma po- tratamento só tem sido possível mediante internação em unidades
pulação de cerca de sessenta mil indivíduos, demonstrou o registro hospitalares, o que os afasta de seus familiares e de suas atividades
de 466 óbitos em 1998, quase 90% deles entre menores de cinco anos nas comunidades por um extenso período de tempo. Mais uma vez o
de idade, tendo como causas mais Jreqüentes as doenças caso dos Yanomami merece ser lembrado, 17 das 36 pessoas rema-
transmissíveis, especialmente as infecções res/ríratórias e intestinais, nescentes dos Sikaimatheribè foram internadas na Casa de Cura em
a malária e a desnutrição. As causas externas, especialmente a vio- Boa Vista desestabilizando sua organização familiar e econômica.
lência e o suicídio, são importantes causas de mortalidade em algu-
mas
Em algumas regiões, onde as comunidades indígenas têm um relaci-
regiões (Mato Grosso do Sul e Roraima, por exemplo), sendo a
onamento mais continuado com a população regional, nota-se o apa-
terceira causa de mortalidade conhecida entre a população indígena
recimento de novos problemas de saúde relacionados às mudanças
do Brasil. Os dados consolidados no Relatório de Atividades de 1998
introduzidas no seu modo de vida, tais como a hipertensão arterial,
da Coordenação de Saúde do Índio/Funasa, baseando-se no material
o diabetes, o alcoolismo, a depressão, os atropelamentos e o suicídio,
enviado pelas equipes de saúde indígenas de 24 unidades da federa-
problemas cada vez mais freqüentes em diversas comunidades.
ção onde verifica-se a presença indígena, mostram um número de
84 1 óbitos cuja indicação de causas é proporcionalmente semelhan - A infecção pelo vírus da imudeficiència humana (HIV) também é
te aos dados analisados pela Funai. um agram que têm ameaçado um grande número de comunidades.
Desde 1988, começaram a ser registrados os primeiros casos de aids
No caso dos Yanomami de Roraima, por exemplo, o coeficiente de
entre índios, número que vem aumentando com o passar dos anos,
mortalidade infantil em 1998, segundo dados da Fundação Nacional
sendo que, dos 36 casos conhecidos até o momento, 8 foram notifi-
de Saúde, foi de 141 por mil nascidos vivos, sendo o de mortalidade
cados no ano de 1998, distribuídos em todas as regiões do Brasil. O
gera! de 20,4 por mil habitantes. Tais indicadores, se analisados em
curto período de tempo transcorrido entre o diagnóstico e o óbito
pequenas comunidades, mostram que mais da metade da
nível das
dos pacientes e a falta de informações sobre os modos de transmis-
população de algumas delas morreu no período de um ano, como foi
são do vírus e prevenção da doença, demostram a vulnerabilidade
observado ao norte da Serra Farima, na região do Tucuxim. A análise
desta população diante das tendências da epidemia no Brasil, com
específica da incidência de malária mostra um incremento, em 1998,
número cada vez maior de casos nas regiões interioranas acometen-
de 58% do índice parasitário anual em relação ao ano anterior, su-
do cada vez mais as pessoas com menor poder aquisitivo e acesso à
perando mil casos por mil habitantes.
informação e preservativo, mulheres e jovens.
A tuberculose, por sua manifestação clínica tardia e insidiosa e ne-
cessidade de tratamento prolongado, tem consequências sociais e

140 POLÍTICA INOIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
—/^ClSA
OS DISTRITOS SANITÁRIOS entre 0 estado de saúde dos povos indígenas entre si e os demais
seguimentos do povo brasileiro, assegurando a igualdade de opor-
ESPECIAIS INDÍGENAS
tunidades, e traz questões que dizem respeito à paz, regularização
0 processo de formulação de uma política nacional de saúde para da situação fundiária, ecossistema estável, educação, renda e jus-
os povos indígenas que revertesse o quadro de desassistência ex-
tiça social; aspectos fundamentais e abrangentes quando pensa-
posto anteriormente foi retomado no âmbito do Ministério da Saú-
mos em promoção à saúde.
de no segundo semestre de 1998 e intensificado em 1999 Esse
.

processo contou com diversas discussões regionais e nacionais e Apesar de importantes empreendimentos no que diz respeito à
resultou em um plano de organização de 34 Distritos Sanitários organização de serviços, 0 desafio de contemplaras especificidades
Especiais Indígenas para atendimento de toda a população indíge- de cada contexto na implantação dos Distritos Sanitários Especiais
na brasileira. Atendendo a maioria das recomendações das confe- Indígenas ainda está longe de ser superado. A Fundação Nacional

rências de saúde indígena, 0 modelo não contempla, entretanto, a de Saúde firmou convênios com organizações indígenas,
autonomia administrativa dos distritos e a indicação dos seus che- indigenistas, universidades e municípios procurando suprir as
fes pelo Conselho Distrital. necessidades das mais diversas naturezas e em cada situação tem
se deparado com diferentes potencialidades e entraves para efeti-
0 Distrito Sanitário Especial Indígena ficou caracterizado como
vo funcionamento do modelo. Ainda que seja observado um au-
uma unidade organizacional de responsabilidade da Fundação
mento significativo na oferta de serviços, há que se considerar que
Nacional de Saúde, estabelecida a partir de uma população e terri-
as necessidades de saúde transcendem os limites do setor saúde e
tório definidos por critérios socioculturais, geográficos,
trazem demandas que não podem ser atendidas Lsoladamente pe-
epidemiofógicos e de acesso aos serviços; contando com uma rede
ias organizações que assinaram convênios com a Fundação Nacio-
de serviços própria nas terras indígenas, capacitada para as ações
nal de Saúde para execução das ações. Além das dificuldades para
de atenção básica à saúde, e articulada com a rede regional para
recrutamento de pessoal com perfil adequado para atuação num
procedimentos de média e alta complexidade. A participação Indí-
contexto intercultural e pouca capacidade administrativa por par-
gena é garantida nos Conselhos Distritais de Saúde de composição
te de algumas organizações, especialmente as indígenas que fo-
parilária entre usuários indígenas (50%) prestadores de serviços
,

ram constituídas visando a representação política dos interesses


e profissionais de saúde que delibera sobre a elaboração do plano
das comunidades e não a execução de grandes projetos, deparam-
de saúde do distrito, avaliação das ações e apreciação de contas
se com difícil tarefa de executar as ações propostas e ao mesmo
dos prestadores de serviços.
tempo exercer um papel crítico em relação à formulação e
Esta proposta foi regulamentada pelo Decreto n.° 3.156 de 27 de que tratam de sua situação.
implementação de políticas públicas
agosto de 1999 que dispõe sobre as condições de assistência à
saúde dos povos indígenas e pela Medida Provisória n.° 1.911-8, Mesmo com essas dificuldades, 0 processo de organização dos
que trata da organização da Presidência da República e dos Minis- Distritos Sanitários Especiais Indígenas traz oportunidades de par-

térios, onde está incluída a transferência de recursos humanos e ticipação e protagonismo indígena inéditas na história do Brasil

outros bens destinados às atividades de assistência à saúde da Funai com a criação d.e conselhos locais e distritais de saúde. Estes são

para a Funasa. Finalmente, em 31 de agosto de 1999, 0 Senado as instâncias que permitirão a adequação dos serviços às diferen-

Federal aprovou a Lei no. 9.836/99, do projeto apresentado pelo tes realidades desde que se constituam cm espaços de diálogo que
Deputado Sérgio Arouca em 1994 baseado nos princípios gerais valorizem a palavra dos representantes indígenas onde sejam dis-

do relatório final da H Conferência Nacional de Saúde para os Po- cutidos as reais necessidades c problemas de saúde da população.
vos Indígenas, que complementa a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080/ Para tanto há que se ter clareza sobre 0 papel dos Conselhos

90 e 8142/90). Distritais e do perfil dos conselheiros para representar questões


de interesse de toda a população de sua região distrital. Há sem-
A lei do Deputado Arouca determina que 0 modelo adotado para a
pre 0 risco de uma ação restrita por pactos, lealdades ou interes-
atenção à saúde indígena “deve se pautar por uma abordagem di-
ses corporativos e não por um objetivo comum.
ferenciada e global, contemplando aspectos da assistência à saú-

de, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, de- Buscar os meios para efetiva participação da sociedade no
marcação de terras, educação sanitária e integração institucional",
aprofundamento da reflexão e tomada de decisão nas questões
colocando ao Estado a necessidade de superara mera responsabi- relativas ao seu bem estar é o passo decisivo em direção a um
lidade de disponibilizar serviços médicos, mas também proporci- processo de saúde para todos os cidadãos.
onar os meios necessários às comunidades indígenas para melho-
rar e exercer 0 controle sobre sua saúde. Deste ponto de vista, (E o que é que isso tem a ver com água limpa, árvores florindo,

assegurar a eqüidade sanitária implica em reduzir as diferenças comida boa e farta, animais brincando?..,) (abril, 2000)

POVOS INDfGENAS NO BRASIL 1956,'2000- INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 141


ANTAÇÃO DOS DSEIS Notas e Referências

Em novembro de 1997, a partir de uma demanda da Comissão latersetorial de Saúde


Em 1999 foram disponibilizados 68 milhões de reais para contratação
Indígena do Conselho Nadonal de Saúde (CISI/CNS), a 6
a
Câmara de Coordenação e
de pessoal, ampliação e melhoria de infra-estrutura para atendimento Revisão do Ministério Público Federal convocou uma audiência para tratar da assistência
melhoria da rede de transporte e comunicação e aquisição de insumos à saúde indígena, cujo relatório aponta para a ilegalidade do Decreto 1.14 1/94, conside-
básicos que estão sendo aplicados conforme quadro abaixo. rando ser competência do Ministério da Saúde a gestão do sistema único de saúde.

a
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Ata da 83 Reunião: 117-118

BRASIL, Decreto n,° 1.141 de 19 de maio de 1994. DOU, 20/05/94,


RECURSOS HUMANOS
BRASIL, Decreto n.° 23 de 04 fevereiro de 1991. DOU, 05/02/91.
Profissionais Meta Con- % Em % Trei- %
2002 2000 tra- Treina- nado BRASIL. Decreto n.° 3.156 de 27 de agosto de 1999. DOU 165 -A, 28/08/99- pp. 37-38.

tado mento BRASIL. Lei 8080 de 19 de setembro de 1990.

Médicos 232 182 138 75 22 12 84 46 BRASIL. Lei 8142 de 28 de dezembro de 1990.

Enfermeiros 317 252 223 88 46 18 139 55 BRASIL. Lei 9836/99- DOU, 24/09/1999. Seção 1, p. 1.

Dentísías 162 120 104 86 19 15 56 46 BRASIL Medida Provisória n.° 1.911-8, de 29 de julho de 1999- DOU, 30/07/99 p. 14.

a
Aux. Enfermagem 889 732 708 96 114 15 436 59 CONFERÊNCIA NACIONAL DE PROTEÇÃO À SAÚDE DO ÍNDIO, 1 Relatório Final. Brasília,
1986.
Ag. Indig.de Saúde 2644 2311 1545 66 164 7 439 18
CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE PARA OS POVOS INDÍGENAS, 2‘ Relatório Final.

Ag. Ind. de Saneamento 320 lól 16 9 16 9 00 Luziânia (GO), 1993-

Outros 897 825 719 87 71 8 185 22 FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. Consolidado dos relatórios bimestrais - DES/DAS - Ano
1998 - Brasília, FUNAI, 1999 (xerox).
Total 54714583 3437 74 436 9 1339 29
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Relatório anual de saúde indígena. Boa Vista, Coorde-
nação Regional da Fundação Nacional de Saúde, 1998.

EQUIPAMENTOS FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Relatório de atividades 1998 - Coordenação de Saúde


do índio. Brasília, Fundação Nacional de Saúde. 1999 (xerox).
Especificação Meta Adquirido %
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Distritos Sanitários Especiais indígenas - Proposta de
2002 2000
Operacionalização ..1999-
Veículos 309 236 191 80
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Formação de Agentes Indígenas de Saúde - 1999
Barcos 429 327 138 42
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Informe de Saúde Indígena. Brasília, Edição Brasil,
2000 .
Rádios 1376 796 269 33

Pólo - ase 235 172 41 23

Posto de Saúde 1495 1015 190 18

Casa de Saúde do índio 45 43 19 44

Computador 338 174 61 35

OBRAS (REFORMAS E ADEQUAÇÃO DE UNIDADES DE SAÚDE)


Especificação Meta Em % '
Con- %
2002 2000 exe- cluí-

cução do

Const. Posto de Saúde 912 297 2 0,6 -

Reforma Posto de Saúde 454 255 2 0,8 01 0,4

Const. Pólo-Base 101 58 12 20 01 i

Reforma Pólo-Base 111 65 17 26 01 i

Const. Casa Saúde do índio 13 02 • • -

Ref. Casa de Saúde do índio 34 30 12 40 01 3

Obs: Os percentuais são sobre a Meta 2000.


Fonte: Funasa (atualizado em fcv/00)

142 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


A Educação Escolar Indígena no Brasil
A Passos Lentos

Luís Donisete Benzi Grupioni Doutorando em


Antropologia Social na USP

NOS ÚLTIMOS ANOS, PODE-SE A legislação que trata da educação escolar indígena tem apresen-
CONTABILIZAR UMA SÉRIE DE AVANÇOS tado formulações que dão abertura para a construção de uma es-
E CONSENSOS NA ESTRUTURAÇÃO DE UMA cola indígena que, inserida no sistema educacional nacional, man-

POLÍTICA PÚBLICA, DE ÂMBITO NACIONAL, tenha atributos particulares como o uso da bngua indígena, a sis-

tematização de conhecimentos e saberes tradicionais, o uso de


DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
materiais adequados preparados pelos próprios professores índi-

os, um calendário que se adapte ao ritmo de vida e das atividades


Tais avanços se deram tanto no plano legal quanto no plano admi-
cotidianas e rituais, a elaboração de currículos diferenciados, a
nistrativo. Todavia, ainda não se estruturou um sistema que atenda participação efetiva da comunidade na definição dos objetivos e
às necessidades educacionais dos povos indígenas de acordo com
rumos da escola. A legislação também tem colocado os índios e
seus interesses, respeitando seus modos e ritmos de vida, resguar-
suas comunidades como os principais protagonistas da escola in-
dando o papel da comunidade indígena na definição e no funcio-
dígena, resguardando a elas o direito de terem seus próprios mem-
namento do tipo de escola que desejam. A impressão que se tem é
bros indicados para a função de se tornarem professores a partir
que a educação escolar indígena caminha a passos lentos: avança-
de programas específicos de formação e titulação.
se em direção a algumas conquistas, mas inúmeros obstáculos se

apresentam a cada momento. Todavia, essas definições no plano jurídico ainda encontram-se

mais como princípios do que como práticas que norteiam os pro-


Nesse contexto, um registro deve ser feito: a educação escolar in-
cessos de efetivação da escola no meio indígena. Várias são as
dígena virou uma pauta política relevante dos índios, do movimen-
amarras administrativas que retardam o processo, embora aqui se
to indígena e de apoio aos índios, Deixou de ser uma temática
possa já vislumbrar um cenário diferente de alguns anos atrás.
secundária, ganhou importância à medida em que mobiliza dife-
rentes atores, instituições e recursos. Encontros, reuniões e semi-

nários têm se tornado recorrentes para a discussão da legislação DA FINAI PABA O MEC
educacional, de propostas curriculares para a escola indígena, de
A transferência de responsabilidade e de coordenação das iniciati-
formação de professores índios, do direito de terem uma educa-
vas educacionais em terras indígenas do órgão indigenista (Funai)
ção que atenda a suas necessidades e seus projetos de futuro. Hoje para o Ministério da Educação, em articulação com as secretarias
não mais se discute se os índios têm ou não que ter escola, mas estaduais de educação, através de decreto da presidência da Re-
sim que tipo dc escola. pública (n.26/91), responde em muito pelas alterações ocorridas
Se nos atermos à legislação, verificaremos um processo lento, mas neste setor. Essa transferência abriu a possibilidade, ainda não efe-

que segue de forma gradativa e cumulativa, onde o direito à uma tivada, de que as escolas indígenas fossem incorporadas aos siste-

educação diferenciada, garantido na Constituição de 1988, vem mas de ensino do país, de que os então “monitores bilingues” fos-

sendo regulamentado por meio da legislação subseqiiente. Além sem formados e respeitados como profissionais da educação e de
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e da que o atendimento das necessidades educacionais indígenas fos-

Resolução 3/99 do Conselho Nacional de Educação, a educação sem tratadas enquanto política pública, responsabilidade do Esta-
indígena está contemplada no Plano Nacional de Educação e no do. Encerrava-se, assim, um ciclo, marcado pela transferência de
projeto de lei de revisão do Estatuto do índio, ambos em tramitação responsabilidades do órgão indigenista para missões religiosas no

no Congresso Nacional. atendimento das necessidades educacionais indígenas.

POVOS iNDÍGENAS no BRASIL 1995/2000 - INST1TLT0 SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA : 143


zLjl* Acervo
-//ISA é um processo em curso. É possível elencar vários as- desenvolver ações específicas nessa área. Com isto, reconheceu-
pectos positivos dessa transferência de responsabilidades que se a importância das experiências não-governamentais de forma-
ensejou o envolvimento de outras esferas do poder público, abrin- ção de professores indígenas e, paralelamente, abriu-se caminho

do novos canais de interlocução para os índios. E é possível, tam- para o surgimento de novos cursos de formação, por iniciativas

bém, demonstrar as inúmeras resistências dessas mesmas esferas governamentais. Outra ação significativa deu-se com o apoio à
de poder em absorver as escolas indígenas, respeitando o direito publicação de materiais didático-pedagógicos elaborados pelos
dos índios à uma educação diferenciada, tarefa que requer novos próprios professores índios enquanto momento importante do
aportes teóricos, metodológicos e administrativos. processo de sua formação, permitindo a ampliação de uma litera-
tura de autoria dos próprios professores indígenas.

PARÂMETROS DE UMA POLÍTICA NACIONAL


Ao assumir a responsabilidade de coordenar as ações educacio-
nais em terras indígenas, o MEC tomou como primeira tarefa a

construção de um documento que tivesse a função de definir os Participantes de Encontro, promovido pelo MEC,
parâmetros de uma política nacional para essa para traçar princípios sobre a formação de professores indígenas.

modalidade de educação, de modo a orientar


a atuação das diversas agências. Assim, em

1993, foi lançado o documento "Diretrizes


para a Política Nacional de Educação Escolar
Indígena" que estabelece como princípios
organizadores da prática pedagógica, em con-
texto de diversidade cultural, a especificidade,

a diferença, a intercul-turalidade, o uso das


línguas maternas e a globalidade do processo
de aprendizagem. Esse documento, elabora-
do pelo Comitê Nacional de Educação Esco-
lar Indígena, composto por representantes de
órgãos governamentais e não governamentais
que atuam na educação indígena, além de
representantes de professores indígenas, foi
pautado em experiências inovadoras levadas
a cabo por organizações não-governamentais
que atuam junto a diferentes povos indígenas. Foram essas experi-
ências, que nasceram num contexto de se construir alternativas de
autonomia para os povos indígenas frente à política integracionista
do Estado, que geraram um modelo de formação próprio para os
professores indígenas, de modo a habilitá-los para assumirem a
docência e a gestão de suas escolas, que, por sua vez, foi encampado
pelo MEC como proposta a ser disseminada em todo o país.

COORDENAÇÃO GERAL DE
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
Outras iniciativas importantes vieram somar-se a este novo contex-
to. Consolidou-se uma coordenação geral de educação escolar
indígena no âmbito do Ministério da Educação, ao mesmo tempo
em que se incentivou a criação de instâncias gestoras nas secreta-
rias de educação estaduais para cuidar das escolas e da formação
dos professores indígenas. Formulou-se no MEC um programa de
financiamento de projetos na área da educação indígena para apoiar
ações desenvolvidas por organizações de apoio aos índios e uni-
versidades, além de direcionar recursos orçamentários do FNDE
para que as secretarias de estado da educação pudessem também

144 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl

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REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL ESCOLAS INDÍGENAS E SEUS DOCENTES EM 2000
PARA ESCOLAS INDÍGENAS Estado Escolas Escolas Professor Professor
Municipais Estaduais não-índio Indígena
Consolidando este quadro, um novo documento começou a che-
gar nas escolas indígenas de todo o país: o Referencial Curricular Acre 21 64 20 64
Nacional para as Escolas Indígenas (RCNEI), documento indutor e Alagoas 11 15 45
orientador de novas práticas, que contou com a participação de
Amapá 01 39 77 107
especialistas, técnicos e professores índios em sua formulação.
* 110
Trata-se de um longo e detalhado documento em que se apresen- Amazonas 537 761

tam considerações gerais sobre a educação escolar indígena, quer Bahia 32 01 20 68


através da fundamentação histórica, jurídica, antropológica e pe-
Ceará 02 23 03 64
dagógica que sustenta a proposta de uma escola indígena que seja
intercultural, bilíngiie e diferenciada, quer através de sugestões de Espírito Santo 6 05 18
trabalho, por áreas do conhecimento, que permitam a construção Goiás 01 03
de um currículo específico e próximo da realidade vivida por cada
Maranhão 142 59 156
comunidade indígena, na perspectiva da integração de seus etno-

conhecimentos com conhecimentos universais selecionados. Num Mato Grosso 133 07 45 271
campo que se caracteriza por uma plêiade de concepções e práti-
Mato Grosso do Sul 37 116 138
cas diferentes, o documento conhecido pela sigla RCNEI conse-
Minas Gerais 07** 01 69
guiu reunir e sistematizar um mínimo de consenso, capaz de sub-
sidiar diversas interpretações e propostas de construções pedagó- Pará 68 9 77 100
gicas e curriculares autônomas. Para que isto de fato ocorra será
29 88
Paraíba 37
preciso qualificação profissional dos agentes educacionais e aber-
Paraná 26 37 63
tura nos rígidos esquemas administrativos das secretarias de edu-
cação, demodo que se possa construir novos canais de interlocução Pernambuco 81 30 166
em que as comunidades indígenas tenham papel ativo na definição Rio de Janeiro 03*** 10
do projeto político pedagógico de suas escolas.
Rio Grande do Sul 08 44 141 162

Rondônia 29 31 43 90
CENSO ESCOLAR INDÍGENA
Roraima 10 173 47 423
No plano administrativo está em curso a realização de um censo
escolar indígena, quantítativo e qualitativo, com três produtos, ne-
Santa Catarina 26 39 45

cessários e há muito esperados: a inclusão das escolas indígenas ****


São Paulo 15 08
no sistema educacional, a criação de um cadastro de escolas e de
02 04
Sergipe 01
um cadastro de professores índios, que permitirá avaliar impasses,
Tocantins 64 20 118
dificuldades e avanços nas ações governamentais de melhoria da
qualidade do ensino e dos profissionais da educação. Ainda não Total 1035 631 959 3041
estão disponíveis os dados desse censo, mas alguns números for-
Notas:
necidos pelo MEC a partir de informações das próprias secretarias
estaduais de educação, permitem verificar que muito precisa ser * Amazonas indicou apenas o total de escolas. Como a maioria das escolas são muni-
cipais, apesar de haver escolas estaduais, agregamos esse total como municipal.
feito para a institucionalização da educação indígena no sistema
** As escolas estão nucleadas totalizando 28 endereços distintos.
nacional de educação.
*** As escolas do RJ são escolas indígenas comunitárias, uma localizada em Angra
Existem, segundo esses dados, 1.666 escolas em áreas indígenas, dos Reis e duas em Parati.

das quais 631 são estaduais e 1.035 municipais, com diferentes **** São Paulo não possui escolas indígenas autônomas. Existem salas de aulas em
situações de reconhecimento legal. Pouquíssimas são reconheci- aldeias, vinculadas a escolas estaduais e municipais. Não foi indicado o número de
salas de aula.
das como escolas indígenas, apesar da criação dessa categoria pela
Resolução 3/99 do CNF.. Em sua grande maioria são consideradas Fonte: Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indígenas do MEC, a partir de dados
fornecidos pelos setores responsáveis pela educação indígena nas secretarias esta-
como escolas rurais ou salas de extensão de escolas urbanas, se-
duais de educação (Out/00).
guindo calendários e currículos próprios desses estabelecimen-
tos. De acordo com o levantamento do MEC são 4.000 professores
lecionando nessas escolas, sendo 959 professores não-índios, e
3.04 1 professores índios. Pouco se sabe sobre o perfil destes pro-
fessores e sobre sua formação. Das 24 secretarias de estado da

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 145


ucação que possuem escolas indígenas, sejam elas municipais A VANÇOS NA LEGISLAÇÃO DE EDUCAÇÃO INDÍGENA
ou estaduais, menos de 10 elaboraram programas de formação de
A promulgação da Constituição de 1988 ensejou um processo de
professores indígenas com vistas a titulação dos mesmos. A maio-
normalização do direito dos índios a uma educação diferenciada.
ria realiza ações de capacitação, com metodologias, temáticas e
em discussão no parlamento
Os dispositivos legais, já em vigor ou ,

tempos variados. Isso tem reflexo direto no modo de funciona- apontam para uma verdadeira revolução no reconhecimento do di-
mento da escola: com exceção de um único estado, em que todas reito dos índios à uma educação específica voltada à valorização do

as escolas indígenas possuem uma proposta curricular própria, a conhecimento indígena e preocupada em garantir meios e instru-

maioria das escolas indígenas do país não conta com proposta mentos para um convívio mais equilibrado com a sociedade brasileira.
curricular específica, seguindo as das demais escolas regulares do leis em vigor -Alei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de
Estado. Na verdade, a maioria das escolas em terras indígenas não 19%, trata, pela primeira vez desse direito. Em dois artigos, preco-
,

são nem reconhecidas como escolas indígenas. niza como dever do Estado o oferecimento de uma educação escolar
bilíngue e intercultural, que fortaleça as práticas socioculturais e a
língua materna de cada comunidade indígena, e proporcione a opor-
A LEGISLAÇÃO E A REALIDADE tunidade de recuperar suas memórias históricas e reafirmar suas

Constata-se, assim, um hiato entre a legislação e a realidade, entre identidades, dando-lhes, também, acesso aos conhecimentos técni-

co-científicos da sociedade nacional. Para que isto possa ocorrer, a


o discurso e a prática. Se há avanços na formulação nacional da
LDBEN determina a articulação dos sistemas de ensino para a elabo-
política de educação indígena, há ainda inúmeras dificuldades para
ração de programas integrados de ensino e pesquisa, que contem
sua implementação no âmbito estadual, esfera responsável pela
com a participação das comunidades indígenas em sua formulação
efetivação da escola indígena. Fundamentalmente esbarramos em
e que tenham como objetivo desenvolver currículos específicos, ne-
falta de vontade política e administrativa dos governos estaduais incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas
les
em encamparem a educação indígena como uma prioridade e, comunidades. A LDBEN ainda prevê a formação de pessoal especi-
com isto, ainda está distante a consolidação de um cenário, onde a alizado para atuar nessa área e a elaboração e publicação de materi-
escola esteja à serviço dos interesses e dos projetos de futuro dos ais didáticos específicos e diferenciados.

povos indígenas, permitindo que estes tenham acesso a informa-


Instado a interpretar a LDBEN, o Conselho Nacional de Educação lan-
ções essenciais para um convívio mais harmônico e menos çou uma resolução (n. 3199) que fixa diretrizes para o funciona-
destrutivo com os demais segmentos da sociedade brasileira. mento das escolas indígenas. Importantes definições foram aí ins-
critas e regulamentadas, das quais três merecem ser destacadas: (a)
De modo geral, percebe-se o pouco envolvimento de várias secre-
a criação da categoria escola indígena, reconhecendo-lhe “a condi-
tarias estaduais de educação que ainda não absorveram a temática
ção de escolas com normas e ordenamento jurídico próprios ", (b)
da educação indígena como uma de suas linhas de trabalho. E este
uma formação específica para os professores indígenas,
garantia de
é um dos principais pontos a ser enfrentado, uma vez que a execu- podendo esta ocorrer em serviço e, quando for o caso, conco-
ção da política de educação indígena ficou sob a responsabilidade mitantemente com a sua própria escolarização e ; (c) definição

dessas secretarias. Poucas são as que estruturaram um corpo téc- precisa das esferas de competência, em regime de colaboração, entre
nico administrativo para formular e implementar uma política es- União, Estados e Municípios. À primeira cabe legislar, definir diretrizes

tadual de educação indígena e que mantêm cursos regulares de e políticas nacionais, apoiar técnica e financeiramente os sistemas

formação e titulação de professores indígenas. Em sua maioria, as


secretarias estaduais não contam com orçamento próprio para
ações nessa área, limitando-se a realizar pequenos cursos, encon- aconteçam. Os índios estão tendo papel importante nesse proces-
tros e oficinas com os parcos recursos obtidos junto ao FNDE. Em so, qualificando suas reivindicações, exigindo o cumprimento da
vários estados, o trabalho acumulado de organizações de apoio legislação. 0 Ministério Público tem aqui um vasto campo de atu-

aos índios não é reconhecido, e parcerias desejáveis não são efeti-


ação, em defesa dos interesses indígenas, diante da apatia de mui-
vadas. Boa parte das escolas indígenas ainda não sentiram os no- tos governos estaduais. Se não se vislumbra uma nova mudança no
vos ares de mudança ensejados pela legislação. gerenciamento da educação indígena, então é preciso criar os
mecanismos necessários para que o atual funcione. No ritmo atu-
Vencer obstáculos e resistências para que as escolas indígenas se-
jam um instrumento de autonomia, política e cultural, e não mais al, muitos anos ainda serão necessários para que os índios pos-

um instrumento de submissão histórica, é o grande desafio do mo- sam efetivamente assumir os destinos de suas escolas, (outubro,

mento. Lm desafio para os próprios índios cm descobrir e cons- 2000)

truir um sentido para a escola, um desafio para os pesquisadores,

indigenistas e aliados do movimento indígena, e um desafio para

os legisladores e para os agentes governamentais.

Nesse cenário, a falta de vontade política é o que mais fica eviden-

te. Onde ela existe, passos certeiros ou não estão sendo dados.
Onde ela não existe, é preciso criar condições para que as coisas

146 POLÍTICA INOIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


I

'4/A» Acervo
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de ensino para o provimento de programas de educação intercultura luciano Pizzallo, o capítulo da educação indígena virou uma colcha
e de formação de professores indígenas, atém de criar programas de retalhos, congregando propostas dispares e antagônicas. 0 G<wer-
específicos de auxílio ao desenmlvimento da educação. Aos Estados no Federal apresentou um novo texto que acredita-se que seja incor-
caberá a responsabilidade "pela oferta e execução da educação escolar porado peto relator. Nele prevê-se que os "índios tenham acesso aos
indígena, diretamente ou por regime de colaboração com seus conhecimentos valorizados e socializados no contexto nacional, de
municípios", integrando as escolas indígenas como “unidades modo a assegurar-lhes a defesa de seus interesses e a participação na
próprias, autônomas e específicas no sistema estadual" e provendo- vida nacional em igualdade de condições, enquanto grupos etnica-
as com recursos humanos, materiais efinanceiros, além de instituir mente diferenciados " e garantindo “ respeito aos processos educativos
e regulamentar o magistério indígena. e de transmissão de conhecimento das comunidades indígenas". 0
processo de implantação de escolas deverá, pela proposta do Execu-
leis em discussão no Congresso - Outras duas leis em dis-
estão
tivo, garantir autonomia tanto para o projeto pedagógico quanto à
cussão no parlamento e também tratam do direito dos índios à uma
gestão administrativa, num contexto plural de idéias e concepções
educação diferenciada: o Plano Nacional de Educação e a revisão do
pedagógicas. Ficam assegurados “ currículos programas e processo
Estatuto do índio. ,

de avaliação de aprendizagem e materiais pedagógicos e calendários


No Plano Nacional de Educação há todo um cajrítuto sobre a educa- escolares diferenciados e adequados às diversas comunidades indí-
ção escolar indígena, com metas a curto e longo prazo, onde se esta- genas", bem como o direito destas de participar dos processos de
belece a universalização da oferta de programas educacionais aos recrutamento e seleção de seus professores, dando prioridade aos
povos indígenas para todas as séries do ensinofundamental, assegu- próprios índios. Para tanto, a proposta de reformulação do Estatuto
rando autonomia para essas escolas, tanto no que se refere ao proje- do índio também pretê "programas de formação de recursos huma-
to pedagógico quanto ao uso dos recursos financeiros, e garantindo nos especializados, possibilitando a condução pedagógica da educa-
a participação das comunidades indígenas nas decisões relativas ao ção escolar petas próprias comunidades indígenas".
funcionamento dessas escolas. 0 PNE prevê, ainda, a criação de pro-
Mesmo sendo positivas as alterações e novas formulações da legisla-
gramas específicos /jara atender às escolas indígenas, bem como a
ção, devemos reconhecer a morosidade com que tais conquistas se
criação de tinhas de financiamento para a implementação dos pro-
efetivaram. Já se vão quase 20 anos desde a promulgação da Consti-
gramas de educação em áreas indígenas. Atribuindo aos sistemas
tuição para que um princípio ali inscrito, fosse detalhado e regula-
estaduais de ensino a responsabilidade legal pela educação indíge-
mentado pela legislação subseqüente. Quantos anos mais serão ne-
na, o PNE assume como uma das metas a ser atingida nessa esfera de
cessários para tais avanços produzam efeitos práticos? 0 desafio
atuação a profissionalização e o reconhecimento público do magistério
parece ser o de como tomar realidade os avanços inscritos no plano
indígena, com a criação da categoria de professores indígenas como car-
jurídico, demodo a que a escola em áreas indígenas, historicamente
reira específica do magistério e com a imjtiementação de programas
utilizada como meio de dominação, seja um instrumento de autode-
contínuos de formação sistemática do professorado indígena.
terminação, que respeite as tradições e modos de ser indígenas e
Também em tramitação no Congresso Nacional está uma proposta esteja a serviço dos diferentes projetos de futuro desses povos. Em
de lei de revisão do Estatuto do índio (lei 6.001 de 1973) que se tor- suma, que lhes abra novas perspectivas, a seu favor e não contra!
nou defasado frente às inovações do texto constitucional atualmen-
te em vigor. No último substitutivo do projeto, de autoria do dep.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 147


vj/j/ Acervo

A C 0 INI T E C E ü j

APROVADO O NOVO
EDUCAÇÃO Baniwa, secretário municipal de São Gabriel da
Cachoeira (AM). REFERENCIAL CURRICULAR
As experiências de formação de professores
EDUCACÃO INDÍGENA indígenas desenvolvidas por organizações não-
NA NOVA LDBEN govemamentais de apoio aos índios foi tema de
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação uma sessão do encontro. Foram apresentadas
Nacional, conhecida como Lei Darcy Ribeiro, as experiências da OGPTB entre os Ticuna, do
apresenta três artigos que regulamentam a oferta ISA no Ningu, da CPI-AC no Acre e do CTI entre

de educação escolar em comunidades indíge- os Waiãpi. No painel sobre as experiências de


secretarias estaduais de educação foram apre-
nas. O arligo 32, repetindo o artigo 210 da Cons-
comunidades sentadas as iniciativas de MG, MT, RS, TO e MA.
tituição Federal, assegura às in-

dígenas a utilização de suas línguas maternas e Ao término do encontro, os participantes apro-


processos práprios de aprendizagem no ensi- varam sugestões para o Plano Nacional de Edu-
no fundamental. cação. (ISA, out/97)

Nos artigos 78 e 79 preconiza-se como dever


do Estado o oferecimento de uma educação es- PLANO NACIONAL
colar bilíngue e intercultural, que fortaleça as INCLUI OS ÍNDIOS
práticas socioculturais e a língua materna de
O governo federal deverá apresentar ao Con-
cada comunidade indígena e proporcione a
gresso Nacional, no final deste ano, o Plano
oportunidade de recuperar suas memórias his-
Nacional de Educação (PNE), fixando metas da
tóricas c reafirmar suas identidades, dando-lhes,
educação nacional, do ensino fundamental ao
também, acesso aos conhecimentos técnico -ci-
ensino superior, para os próximos 10 anos. 0
entíficos da sociedade nacional. Prevê-se, ain-
plano, previsto peia Constituição de 1988 e pela
da, a articulação dos sistemas de ensino para a Foi entregue, em novembro de 1998, o
LDBEN de 1996, está sendo elaborado pelo
elaboração de programas integrados de ensino Referencial Curricular Nacional para as Esco-
INEP/MEC, com a colaboração dos estados e
com a participação das
e pesquisa, que contem las Indígenas (RCNEI). O RCNEI risa reorientar
municípios.À educação indígena consta como
comunidades indígenas em sua formulação e as fragmentadas e às vezes díspares ações pú-
uma das modalidades de ensino do plano. Uma
que tenham como objetivo desenvolver currí- blicas e privadas de educação escolar indígena.
primeira versão do deste capítulo, elaborada
culos específicos, neles incluindo os conteúdos O mérito dessa inidativa e de seu produto, apre-
pelo MARI/USP. a pedido do NÜPES/USP, que está
culturais correspondentes às respectivas comu- sentado pelo ministro Paulo Renato, foi fruto
coordenando a redação do Plano, foi discutida
nidades. Para tanto, a lei prevê a formação de
pelo Comité de Educação Escolar Indígena/MEC, de uma salada intercultural e multibngue, tra-
pessoal especializado para atuar nessa área e a balho de uma interminável equipe, que lista mais
em setembro, e por coordenadores de projetos
elaboração e publicação de materiais didáticos de 300 nomes. Foi produzido durante um ano e
na área de educação escolar indígena,
específicos e diferenciados. coordenado por Nietta Lindenberg Mon-
reunidos em Brasília em outubro. Ele devera meio e
A antiga I.DB não fazia nenhuma referência à
a convite da Coordenadoria Geral de Apoio
ser objeto, ainda, de uma audiência pública te,
educação escolar em comunidades indígenas.
às Escolas Indígenas da Secretaria de Ensino
em novembro.
(ISA, dez/96) Fundamental do MEC.
Entre as principais metas incluídas no capítulo
sobre educação indígena, destaca-se: 1 . Defini- O Referencial Curricular é um guia de orienta-

MEC REALIZA ENCONTRO ção dos sistemas de ensino estaduais como a ção, um texto de subsídio, formativo e informa-
para que estados municípios possam in-
DE EDUCAÇÃO INDÍGENA esfera responsável pela oferta da educação es- tivo, e

colar indígena; 2. Criação da categoria oficial teirar-se, respeitar e incentivar a nova política

Entre os dias 30 de setembro e 03 de outubro, de escola- indígena para garantir que a pública atualmente em vigor para as escolas

o MEC promoveu, em Brasília, o I Encontro especificidade da educação intercultural e bi- indígenas, a partir de um novo marco jurídico
Nacional de Coordenadores de Projetos na língüe seja assegurada; 3. Universalização da expresso na Constituição de 1988 e na Lei de
Área de Educação Indígena. Participaram adoção das diretrizes para a política nacional Diretrizes e Bases de 1996. Reúne os princípi-

cerca de 80 pessoas representando secretariai s de educação escolar indígena e implementação os contemporâneos que garantem a educação
estaduais de educação, demees, Funai, ONCs dos referenciais curriculares indígenas em todo específica e diferenciada, bilmgiie e intercultural

e universidades. o país; 4. Garantia de inclusão das escolas indí- a que tem direito as diversas sociedades indí-

A questão da LDB e a regularização dos currí- genas nos programas de auxílio ao desenvolvi- genas dopais. Como um referencial paraa cons-
culos e cursos de formação de professores in- mento da educação já existentes e criação de trução curricular, oferece subsídios aos profes-
dígenas foi abordada em palestra proferida pelo outros programas específicos que contemplem sores das escolas indígenas e aos técnicos dos
Prof. Júlio Winggers (SC) , A inclusão da educa- as necessidades destas escolas; 5. Garantia de sistemas de ensino sobre aspectos variados dos
ção escolar indígena no Plano Nacional de Edu- programas de formação em serviço aos docen- processos de ensino-aprendizagem, desejáveis
cação foi apresentada por Luís Donisete tes indígenas, procurando a qualidade e a con- nas áreas de conhecimento próprias às escolas
Grupioni (Marl/USP). A construção de refe- tinuidade sistemática desta formação, e sua re- indígenas brasileiras. Dá sugestões de trabalho
renciais pedagógicos curriculares indígenas foi gulamentação e reconhecimento público como a serem discutidas e criticamente apropriadas
o tema da palestra de Nietta Monte (CPI AC). E carreira do magistério. (ISA, tiov/97) para o ensino de línguas (portuguesa e Indíge-
a discussão sobre a munidpalização ou esta- na), matemática, geografia, história, ciência,
dualização foi conduzida pelo Prof. Gersen arte e educação física, ao longo do ensino fun-

148 POLÍTICA 1NDIGENI5TA POVOS IKDlGCNAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

damcntal. Tirou da clandestinidade e tornou nicipal de São Gabriel da Cachoeira, Gersen Estadualização - Normalizando a LDBEN, a re-
“oficiais" algumas das mais significativas expe- Banivva, defendeu que os municípios também solução define claramente as esferas de com-
riências atuais em educação escolar indígena. deveríam ter essa responsabilidade. Ele afirmou petência, em regime de colaboração, entre
(Nietta Lindenberg Monte in Página 20, Rio que se fossem estadualizadas as escolas indíge- União, Estados c Municípios. À primeira cabe
Branco, 13/12/98) nas, seu município ficaria com apenas 5% das legislar, definir diretrizes e políticas nacionais,
escolas, uma vez que as outras 95% são indíge- apoiar técnica e financeiramente os sistemas de

MEC INICIA DISTRIBUIÇÃO nas. A do Mato Grosso do


secretaria estadual ensino para o provimento de programas de edu-

DOS REFERENCIAIS Sul também se posicionou contrária a cação intercultural e de formação de professo-
estadualização. Outras instituições e represen- res indígenas, além de criar programas especí-
A Coordenação Geral de Apoio às Escolas Indí- tantes de secretarias manifestaram seu apoio a ficos de auxílio ao desenvolvimento da educa-
genas do MEC iniciou a distribuição do estadualização. O argumento principal é que os ção, Aos Estados caberá a responsabilidade
Referencial Curricular Nacional para as Esco- municípios não tem capacidade técnica para “pela oferta e execução da educação escolar
las Indígenas em todo o país. Foram editados oferecer uma educação de qualidade aos po- indígena, diretamente ou por regime de cola-
12.000 exemplares do Referencial que serão vos indígenas e de que são muito expressivos boração com seus municípios", integrando as
distribuídos para todos os professores indíge- os interesses anti-indígenas nos municípios, o escolas indígenas como “unidades próprias,
nas, técnicos governamentais, ONGs, universi- que poderia fazer com as escolas indígenas não autônomas e específicas no sistema estadual" e
dades e imprensa. Destes, 2.500 serão envia- tivessem qualquer apoio do poder municipal, provendo-as com recursos humanos, materiais
dos para as escolas indígenas acompanhado de A questão da estaduahzação, bem como outras e financeiros, além de inslituir e regulamentar
um kit com publicações, embaladas numa cai- ponderações apresentadas na audiência públi- o magistério indígena.
xa. Fazem parte destas publicações: Cadastro ca serão discutidas nas próximas reuniões do Formação - A resolução garante uma forma-
Nacional de Consultores da Educação Escolar CNE, quando se votará a resolução, garantiu o ção específica para os professores indígenas e
Indígena, 0 Governo Brasileiro e a Educação presidente da Câmara Básica, Ulisses de Olivei- que esta poderá ocorrer em serviço e, quando
Escolar Indígena 1995-1998, e um guia com ra Panisset. (ISA, out/99) for o caso, concomitantemente com a sua pró-
informações sobre os 10 livros didáticos que pria escolarização. Esta formação deverá dar
acompanham o referencial, produzidos por pro- MINISTRO HOMOLOGA ênfase à constituição de competências que pos-
fessores indígenas e assessores de diferentes RESOLUÇÃO sibilitem aos professores indígenas a elabora-
projetos de formação governamentais e não- ção de currículos e programas próprios, pro-
governamentais. O Ministro da Educação Paulo Renato Souza
dução de material didático e utilização de
Segundo a Secretaria de Ensino Fundamental do homologou no dia 18 de outubro o parecer de
metodologias de ensino e pesquisa.
MEC, Iara Prado, a idéia de re-edição destes n“ 14/99 da Câmara de Educação Básica do
0 MEC deverá iniciar, ainda este ano, utn pro-
Üvros didáticos e sua distribuição para todas as Conselho Nacional de Educação, favorável à
grama de divulgação e discussão da resolução
escolas indígenas do país, é “oferecer referên- aprovação do projeto de Resolução que fixa
em todo o país, de modo a informar o conteú-
cias, exemplificando como é possível a cons-
diretrizes nacionais para o funcionamento das
do da resolução aos professores indígenas e a
trução de material didático de qualidade ade- escolas indígenas e dá outras providências.
incentivar os setores responsáveis pela educa-
quado a cada comunidade indígena, e ao mes- À resolução, que recebeu o n' 3/99, cria a cate-
ção indígena nas secrelarias a implemeulá-la.
mo tempo, iniciar um intercâmbio entre os di- goria escola indígena, reconhecendo-lhe “a
(luís Donisete Grupioni, nov/99)
ferentes povos e escolas indígenas do país". condição de escolas com normas e ordena-
mento jurídico próprios”. Constituirão elemen-
0 MEC enviará os Kits e os Referenciais para as COMITÊ TEM
Secretarias Estaduais de Educação para as tos básicos para a definição dessa categoria sua
e
NOVA COMPOSIÇÃO
ONGs que desenvolvem projetos em áreas indí- localização cm terras habitadas por comunida-

genas, para que elas façam a distribuição junto des indígenas, atendimento exclusivo a comu- O Comitê de Educação Escolar Indígena, ins-

às escolas e professores indígenas. (ISA, dez/98) nidades indígenas, ensino ministrado nas lín- tância assessora e consultiva do MEC, tem nova
guas maternas e organização escolar própria. composição. Fazem parte do Comitê os seguin-

CONSELHO NACIONAL As escolas indígenas terão a prerrogativa de do MEC (Iara Prado), da


tes representantes:

organizar as atividades escolares, independen- Undime (Renner Gonçalvez Dutra), do Consed


REALIZA AUDIÊNCIA PÚBLICA
temente do ano civil, de modo a respeitar o flu- (Raquel Teixeira e Zélia Resende), da Futiai
No auditório do edifício sede do Conselho Na- xo das atividades econômicas, sociais, culturais (Susana Grillo Guimarães e Meiriel Souza), da
cional de Educação reahzou-se a audiência pú- e religiosas. Elas serão criadas em atendimento ABA (Luís Donisete Grupioni e Silvio Coelho dos
blica para discussão da resolução que “fixa as à reivindicação ou por iniciativa da comunida- Santos), da Abraiin (Giivan Muller e Angel
diretrizes nacionais para o funcionamento das de interessada. A resolução cstabclccc que as Cobrcra Mori), das ONGs (Nietta Monte e Eunice
escolas indígenas e dá outras providências”. Na escolas indígenas deverão ser vinculadas aos Dias de Paula), das universidades (Bruna
audiência, o relator da matéria, Pe. Kuno sistemas estaduais de ensino e que somente Franchetto e Marta Azevedo), do Fórum dos
Rhoden apresentou o estudo realizado pela Câ- municípios qne possuam sistemas próprios de conselhos Estaduais de Educação Gálio
mara Básica do CNE e a proposta da resolução, educação, disponham de condições técnicas e Wiggers) e dos professores indígenas da região
abrindo aos participantes a possibilidade de financeiras adequadas e, ainda, contem com a Norte (Boa Ventura Belizário, Jadir Neves da
apresentarem sugestões e comentários. anuência das comunidades indígenas interes- Silva e João Bosco Marinho) da região Centro-
,

O capílulo da resolução que define como com- sadas, poderão manter escolas indígenas. Esta- Oeste (FiladéUio de Oliveira Neto e Maria de
petência dos Estados a responsabilidade pelas beleceu-se um prazo de três anos para a trans- Lourdes Kaivvã) da região Nordeste (José Ag-
,

escolas indígenas e pela formação dos profes- ferências das escolas municipais para os siste- naldo Gomes de Souza e Sandro Cruz dos San-
sores índios gerou polêmica. O secretário mu- mas estaduais de educação. tos) e da região Sudeste (Algemiro da Silva)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1998/ZOOO INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 149


Acervo
//\C ISA ACONTECEU
De acordo com a portaria de nomeação dos Gmpioni; da assessora de programas de forma- dos programas: Quem são eles?, Nossas Línguas,
novos membros, o Comitê reunir-se-á ordinari- ção de professores indígenas, Teresa Maher, e Boa Viagem Ihantu, Quando Deus Visita a Al-

amente duas vezes por ano e o MEC levará cm do coordenador da COIAB, Euclides Macuxi. deia, Uma Outra História, Primeiros Coiilatos,
consideração suas recomendações como sub- (Jornal do MEC, abr/00) Nossas Tetras, Filhos da Terra, Do Oulro Lado
sídios às ações a serem implementadas na área do Cén e Nossos Direitos.
da educação escolar indígena no país. (ISA a PROFESSORES INDÍGENAS “É a primeira vez que a questão indígena é abor-
partir do DOU, 29/03/00) DISCUTEM FORMAÇÃO dada numa série para televisão, dando a pala-
vra aos índios, visando enriquecer o currículo
Quinze professores indígenas, de treze etnias,
escolar e combater idéias preconceituosas a
INEP/MEC REALIZA CENSO
representando as diferentes regiões do país es-
respeito desses povos. A série "índios no Bra-
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Edu- tiveram reunidos em Brasília, em encontro pro- sil” traz depoimentos de personagens, residen-
cacionais (INEP/MEC) em parceria com as se- movido pelo MEC, para traçar princípios sobre tes em diferentes partes do país, que expres-
cretarias estaduais e municipais de educação a formação de professores indígenas. 0 encon- sam com extrema fidelidade a relação nem sem-
está realizando o primeiro censo escolar indí- tro, que contou cora a assessoria da educadora
pre amistosa, entre o índio e o branco, desde a
gena no país. Através do censo será possível Nietta Monte e do antropólogo Luís Donisete época do descobrimento até os dias atuais”,
conhecer o modelo pedagógico adotado em Grupioní, foi centrado na discussão de quatro
explica Vincent Carelli, diretor da série. (ISA,
cada comunidade indígena, o currículo e o ca- temas: o perfil do professor indígena, currícu- ago/00)
lendário escolar, o número dc alunos indíge- lo da escola indígena, currículo dos cursos de
nas matriculados em cada série, o vínculo ad- formação dos professores indfgenas, e materi-
ministrativo e a infra-estrutura das escolas, o al didático e a pesquisa. Durante o encontro, PROJETOS ECONÔMICOS
tipo de material didático e equipamentos exis- os professoras indígenas analisaram e apresen-

tentes nas escolas indígenas e o grau de forma- taram sugestões para o documento “Diretrizes
EM TERRAS INDÍGENAS
ção dos professores indígenas. para a implementação de programas de forma-
“Esse levantamento levará o Brasil a conhecer ção de professores indígenas nos sistemas es- CARTILHA INCENTIVA TURISMO
a realidade educacional nas comunidades indí- taduais de ensino”, em fase de elaboração pelo
O governo lançou ontem no Rio uma cartilha
genas, identificai' o perfil do aluno, do profes- MEC. (ISA, ago/00)
que ensina os índios a explorar a indústria do
sor c da escola, c as peculiaridades existentes,
turismo.O lexto dá dicas de como os morado-
além da relação que cada um desses povos TV ESCOLA LANÇA SÉRIE res nas reservas devem receber os visitantes e
mantém com a nossa sociedade”, explica Ma- DE VÍDEOS SOBRE ÍNDIOS os orienta a resolver problemas relacionados
ria Helena Guimarães de Castro, presidente do
com a nova atividade, como tratamento do lixo
INEP, que realiza o levantamento em conjunto O canal da TV Escola começa a exibir a série
produzido pelos turistas e eventuais doenças
com a Secretaria de Ensino fundamental. (Jor- “índios no Brasil”, composta por 10 progra-
transmitidas pelos brancos no contato.
nal do MEC, abr/00) mas de aproximadamente 20 minutos cada. Sob
A iniciativa do governo provocou a imediata
a direção do documentarista Vincent Carelli, da
ONG Vídeo nas Aldeias (SP), a série é uma ini-
reação de estudiosos da cultura indígena. Um
TELECONFERÊNCIA SOBRE dos principais indigenistas do país, Sidney
ciativa da TV Escola, da Secretaria de F.nsino a
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA Possuelo, funcionário da Fimai, criticou a me-
Distância, em parceria com a Secretaria de En-
dida. Encarregado dc frentes de contato com
“Educação Indígena: formação do professor” sino Fundamental do MEC. Alunos, professores
índios arredios, como os Korubo, no vale do
foi o tema da primeira teleconferência que inau- e diretores poderão amphar os seus conheci-
Javari, fronteira do Brasil com o Peru, Possuelo
gurou a série “Parâmetros Curriculares Nacio- mentos e desmistificar os preconceitos a res-
é contra a aberrara das áreas para o turismo.
nais da Educação Fundamental", realizada no peito da questão indígena no Brasil. Primeira-
Ele argumenta que o incentivo ao turismo entre
dia 14 de abril, pelo MEC, no auditório da mente os vídeos serão exibidos pelo canal da
os índios é precipitado. Para Possuelo, a explo-
Embratel em Brasília. A teleconferência foi TV Escola. No próximo ano, a SEF estará reali-
ração do turismo nas aldeias como fonte de
transmitida ao vivo para os 57 auditórios da zando 15.000 cópias dos programas que serão
renda para as comunidades segue a tendência
Embratel, onde se reuniram professores, con- enviados para as escolas do país, acompanha-
do governo de “terceirizar tudo". (A Crítica,
sultores c especialistas em Educação de todo o dos de três livros, com textos que deram ori-
16/12/97)
país, telepostos também da Embratel e rede da gem aos roteiros dos vídeos, escritos por an-
TV Escola. tropólogos e consultores da SEF (Bruna
No início foram exibidos três filmes: o primei- Franchetto, Carlos Fausto, Dominique Gallois,
TURISMO EM RESERVAS
ro, explicativo sobre a história dos índios no Luís Donisete Grupioni, Virgínia Valladão c O presidente da Funai, Sulivan Silvestre, infor-
Brasil e as ações do MEC dirigidas a eles; o se- Vincent Carelli), mou que na próxima semana deve ser criado
gundo, mostrando a experiência da escola in- Os programas - Apresentada pelo bder Ailton um grupo de trabalho para avabar o lançamen-
dígena nas aldeias Maxacali e Pataxó, em Mi- Srenak, “índios no Brasil" mostra, sem inter- to do Manual Indígena de Ecoturismo, ocorri-
nas Gerais; e o último, apresentando o projeto mediários, como vivem e o que pensam os ín- do no último dia 15, em Brasília. O documento
desenvolvido pela Comissão Pró-Índio do Acre dios de nove povos dispersos no território na- foi apresentado no World Ecotur' 97, encontro

na formação de professores indígenas. cional, escolhidos entre mais de duzentas etnias: que discute o turismo ecológico como fonte de

A mesa-redonda contou com a participação da Ashaninka e kaxinawá (AC) Baniwa do Rio Ne-
,
renda.
coordenadora-geral de apoio às escolas indí- gro (AM), Krahô (TO), Maxacali (MG), O objetivo da discussão é analisar os aspectos
genas do MEC, lvete Campos; do consultor do Pankararu (PE) Tanomami (RR) Kaiowá (MS)
, , antropológicos e etnológicos e tomar o assun-
MEC para educação indígena, Luís Donisete e Kaingang do sul do país, São dez os títulos to mais comum aos funcionários da instituição.

150 POLÍTICA indigenista POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENÍAL


Acervo
_^ISA aconteceu
A elaboração do manual foi coordenada pelo da a concessão de benefícios, como mais re- FUNAI CRIARÁ COMISSÃO
Ministériodo Meio Ambiente, tendo a partici- cursos do Sistema Único de Saúde (SUS), por PARA ECOTURISMO
pação de alguns técnicos da Funai. exemplo, às prefeituras de cidades vizinhas às
“Sou a favor da auto-sustentação das comuni- reservas. Isso, segundo o novo presidente, es-
A recém-empossada diretora de educação,

dades indígenas, de que elas se mantenham por tabeleceria uma maior integração entre os índios
Susana GriUo Guimarães, reconhece a necessi-
capacidade própria, mas temo que a atividade e a população não-índia. (O Liberal, 23/02/99) dade da Funai assessorar os projetos que sur-

turística possa prejudicá-las, trazendo doenças, gem em vários estados. Ames de deixar a dire-
toria de Assistência do órgão, ela demonstrou a
forçando o contato com a civilização e SOLUÇÕES PARA O
7
preocupação com a exploração do turismo sem
descaracterizando a cultura indígena ', ponde- DESENVOLVIMENTO
rou Silvestre. estudos e anunciou acriação de uma comissão
SUSTENTÁVEL? para analisar o assunto. “Os Guató, os Bororo,
Segundo a cartilha, os índios teriam que cons-
truir hotéis rústicos para hospedar os visitantes O novo presidente da Funai, Carlos Marés, em Paresi, Pataxó e Kaingang também querem o
fora das aldeias; vender pacotes para agências; visita oficial ao Amazonas veio buscar nas ex- turismo. Não podemos virar as cosias para isso”.

treinar guias; exigir que os turistas estejam va- periências dos índios da região, em especial dos Susana reconheceu a pouca participação da
cinados, entre outros pontos. uaimiri-atroaris, soluções de desenvolvimento Funai na resolução de problemas nas aldeias,

“Como se pode exigir qoe essas ações sejam auto-sustentado, uma das principais metas de por falta de recursos, e que o turismo étnico
cumpridas por etnias que ainda não admitem o sua administração. pode ser a solução para muitos deles. “0 pro-
contato com os brancos? indaga o presidente Marés visitou os Waimiri ontem e também irá a blema é que, senão ordenadas, as vistos po-
,

da Funai, demonstrando que a oficialização do São Gabriel da Cachoeira reunir-se com os re- dem gerar impactos negativos. A produção de

turismo nas reservas é algo delicado e que pre- presentantes da Coiah. Em entrevista coletiva, alimentos nas aldeias pode ser afetada pela ex-
concedida oniem em Manaus, Marés falou so- cessiva produção de artesanato”.
cisa de tempo para discussão, (Diário de
Cuiabá, 04/01/98) bre projetos da Funai c a situação do órgão no Os grupos de estudo acontecerão em parceria
que diz respeito à saúde, proteção e demarca- com o MALA. Mas a mudança constante de car-

ção de terras indígenas. gos na Funai faz mais estragos do que se imagi-
FUNAI APOIA EXPLORAÇÃO
Para o novo presidente, uma das principais pre- na. 0 vai-e-vem de diretores poderá atrasar a
SUSTENTÁVEL DE RESERVAS
ocupações da fundação será justamente com criação definitiva da comissão. Hoje, a direto-
O novo presidente da Funai, o ex-senador José uma área que passou a ser gerenciada pela ria de Assistência é acumulada pelo vice-presi-
Márcio Panoff Lacerda (PMDB-MT), defendeu Funasa: a saúde dos povos indígenas. Marés diz dente do órgão, Dinarte Nobre de Madeira, En-
oniem, ao tomar posse, a exploração econômi- que a Funasa tem competência técnica para as- quanto isso, o turismo nas aldeias do Xingu está
ca de áreas indígenas. Lacerda disse que a ex- sumir a saúde dos índios, mas critica a manei- proibida.
ploração legal de madeira e garimpo em áreas ra como se deu a passagem de um órgão para Indiferentes a Brasília, os Kamayurá não vêem
indígenas pode ser uma fome de recursos outro. a hora de coiicrelizar o projeto. Ergueram uma
para as comunidades. Ele lembrou que há vári- Segundo Marés, não houve um processo de tran- oca extra para receber os turistas, com banhei-

os projetos nesse sentido em tramitação no Con- sição. A mudança ocorreu sem nenhum prepa- ro e cozinha. Para quem reclama da falta de
gresso que podem ser aproveitados, mas res- ro, o que leni gerado impasses em várias regi- recursos, levantar a estrutura tão cedo, sem
saltou que qualquer tipo de utilização econô- ões. “A Funasa é um órgão técnico de alia com- garantias de aprovação do projeto, foi pouco
mica nas reservas deve ser feita de forma assis- petência, mas não tinha nenhuma tradição para prudente.
tida e orientada. lidar com a realidade indígena”, diz. Para re- Confiantes,des esperam não ter mais proble-
“A proibição resultou em danos mais graves do solver a questão, ele propõe por enquanto, o mas para manutenção de veículos e
fazer a
que aqueles que se pretendeu prevenir: o ga- diálogo e o trabalho conjunto entre Funai e motores de barcos. 0 pajé da tribo, Takumã,
rimpo clandestino, a exploração predatória da Funasa. lembra que a abertura de estadas aumentou o
madeira de lei, a biopirataria’’, afirmou. As ações e metas da Funai, para seu novo presi- intercâmbio entre as comunidades da região,
(...) Lacerda considera indispensável acriação dente, serão localizadas. Ele não defende uma inclusive durante cerimônias como o kwarup,
de mecanismos legais que garantam a preser- política nacional para os indígenas, mas políti- o que lambém exige gastos.
vação do ambiente e a destinação de parte do cas diferenciadas, propondo ainda uma revisão Tradição à parte, um breve passeio mostra que
dinheiro obtido com as atividades econômicas do órgão. os índios terão muito o que fazer para atrair os
aos índios. Para o novo presidente da Funai, a Os projetos produtivos em área indígena são turistas. Apesar da disposição de preservar a
tentativa de preservação absoluta das reservas vistos com bons olhos pelo novo presidente. Ele cultura, latas e plásticos são facilmente vistos
indígenas impediu o aproveitamento econômi- não vê polêmica no índio se estruturar econo- no caminho que leva à lagoa Ipavu, perto da
co dessas áreas sob o amparo da lei, contribu- micamente. “Só é preciso ter cuidado para não aldeia.
indo para que o acesso dos índios à sociedade alterar as crenças e a cultura dos povos”, res- Em uma das ocas, crianças jogam cartas, brin-
não-índia ocorra pela porta da ilegalidade. salta. Até mesmo a exploração de madeira em cam com bonecos dos teiettubies, ouvem a ban-
(,..)Crítico das práticas assistencialistas que não teria problema desde qoe
terras indígenas da norte-americana For Non Blondes e exibem
historicamente dominaram a relação da Funai houvesseum plano de manejo. Os projetos eco- um cartaz dos australianos Hanson. 0 que pode
com os índios, Lacerda defendeu o desenvolvi- nômicos dependeriam da necessidade de cada ser um tremendo banho de água fria no turista
mento sustentável dos grupos. Ele sugeriu ain- povo. (A Crítica, 09/12/99) acontece exatamente na oca de Kotok e Takumã
- os lideres da aldeia. (Correio Braziliense,
10/08/00)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIQENISTA !


151
Acervo
_//£ ISA

Surto Corporativista Assola a Funai

Márcio Santiíli Coordenador do Programa


Brasil Socioambiental do ISA

ÓRGÃO QUER BAIXAR PORTARIA OBRIGANDO convênio a definição de obrigações para ambas as partes, sendo

ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS, ONGS E MISSÕES que a minuta só estabelece obrigações às entidades.

RELIGIOSAS A REALIZAR CONVÊNIOS COM A Funai abusa do seu poder legal quando pretende aprovar ou
A FUNAI PARA INGRESSAR OU REALIZAR vetar projetos ou atividades dc interesse das comunidades, mesnto
QUAISQUER ATIVIDADES DE APOIO AOS ÍNDIOS quando a natureza dessas atividades independe de autorizações
formais dos poderes públicos. Na minuta, os projetos que serão

Em reunião em objeto de convênios dependem da anuência (sic) da comunidade


do Conselho Indigenisla da Funai, realizada 3 de
março, a presidência do órgão apresentou uma rninula de porta- indígena, mas mesmo projetos das comunidades indígenas ficam

ria que pretende condicionar o ingresso e a permanência de subordinados à aprovação da Funai. É um abuso do instituto da

prepostos de entidades civis e religiosas em terras indígenas à pré- tutela, que relega as comunidades indígenas à incapacidade civil,

via celebração dc convênios com a Funai. cerceia o seu direito de organização, de conduzir os seus próprios
destinos e de construir as relações de parceria que desejam. Na
Essa minuta circulou de mão em mão entre os índios funcionári-
minuta, a Funai sequer se obriga a cumprir prazos na análise dos
os, que trabalham na sede do órgão. O texto da minuta atinge,
convênios e projetos.
inclusive, as organizações indígenas que, juridicamente, são orga-
Exige das entidades informações sobre suas fontes de financia-
nizações civis como outra ONG qualquer. A Funai, na amai gestão,
mento e contratos com terceiras partes, mesmo nos casos em que
tem questionado a legitimidade das organizações indígenas, ale-
ela sequer participa financeiramente dos projetos. Decidirá segundo
gando que apenas ela, enquanto órgão tutor, além da comunidade
seus próprios critérios jurídicos e técnicos, que não são
indígena em si, através de suas lideranças tradicionais, pode legal-
explicitados, dando margem a ampla subjetividade. Atribui-se o
mente representar direitos e interesses indígenas.
direito de determinar a reahzação de auditorias a qualquer tempo,
Esse entendimento viola frontalmente o disposto no artigo 232 da obrigando as entidades a custeá-las.
Constituição brasileira: “Os índios, suas comunidades c organiza-

ções são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa dos O CONVÊNIO QUE SE
seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em to-
PROPÕE NÃO É CONVÊNIO, É UM
dos os atos do processo”.
EMARANHADO DE OBSTÁCULOS
A Constituição legitima expressamente as organizações indígenas
burocráticos capaz de inviabilizar a execução de projetos das pró-
e não faz referência, sequer, à existência da Funai. Se as organiza-
prias comunidades indígenas. A minuta estabelece que apenas en-
ções indígenas podem ingressar em juízo, muito mais ainda po-
tidades civis registradas no Brasil podem reahzar os convênios
dem desenvolver os seus projetos livres de qualquer cerceamento
Ou
obrigatórios com a Funai. seja, outras entidades não teriam
por parte da Funai, desde que o façam de acordo com a lei.
possibilidade de atuar em terras indígenas, mesmo que disponham
A minuta é essenrialmente ilegal, pois pretende obrigar institui- de convênios com organizações indígenas ou instituições públicas
ções privadas que atuam legalmente a reahzar convênios com a ou privadas Ou seja, empresas estrangeiras de minera-
brasileiras.

Funai, sendo que a própria figura do convênio pressupõe a Mvre ção poderiam atuar lcgalmcnte em terras indígenas, mas organi-

expressão de vontade das partes. É, também, inerente à figura do zações civis de apoio, não.

152 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIÉNTAL


-I (/-.Acervo
//iC I SA
incentivar a cooperação internacional com os povos de mecanismos que fortaleçam a participação dos índios na de-
indígenas, a íitnai prefere cerceá-la. marcação das suas terras.

À intenção arbitrária da parte da Funai, nesse nível, não tem pre- .Ainda no âmbito do PP-G7, embora em um outro seu componente,
cedente nos anos 90, e lembra os piores momentos da ditadura o PDA, que apoia projetos demonstrativos de associações civis,

militar. No entanto, não constitui um caso isolado. está prevista a criação de uma linha de financiamento específica
para projetos comunitários indígenas. A iniciativa conta com o apoio
A intenção de se afirmar corporativamente através do cerceamen-
da coordenação do PPTAI,, mas sofre oposição da Coordenação de
to às atividades de organizações civis tem se manifestado em ou-
Patrimônio Indígena da Funai.
tras oportunidades recentes, inclusive no que se refere ao PP-G7,
Plano Piloto de Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras, finan- Esse segmento pretende gerir diretamente quaisquer recursos que
ciado pela cooperação internacional, especialmente pelo governo se destinem a projetos indígenas, dispondo do poder de veto a
alemão, e que mantém um componente indígena denominado projetos que considere, a seu próprio juízo, como lesivos aos índi-
PPTAI., Plano de Proteção das Terras Indígenas da Amazônia Legal os, ainda que contem com o apoio dos índios e estejam adequados
Brasileira. às leis vigentes. Incomoda ao setor, que projetos sejam aprovados
no âmbito de uma comissão executiva em que as ONGs têm parti-
Os contratos internacionais relativos ao PP-C7 preveem que de-
marcações de terras indígenas poderão ser realizadas, entre ou-
cipação paritária e em que a Funai terá apenas representação.
Dentro da própria Funai se engendram grupos de interesse capa-
tras modalidades, através de convênios com organizações indíge-
nas e de apoio que atuam nas terras objeto de demarcação, casos
zes de inviabilizar o sucesso dessa iniciativa, em prejuízo dos índi-

os e da sua própria finalidade institucional.


em que deveria haver dispensa de licitação para a contratação, em
vista da sua óbvia especialização.

No entanto, a Diretoria de Assuntos Fundiários da Funai suscitou PROJETOS INDÍGENAS


formalmente suposta contradição entre dispositivos contratuais
Essa mesma instância da Funai vem tentando sistematicamente
para alegar exigência de licitação, o que subordinaria a escolha
boicotar projetos de caráter econômico que visem um maior grau
exclusivamente ao critério do menor custo e poderia, facilmente,
de autonomia para determinados povos indígenas, especialmente
preterir uma organização indígena local ou uma ONG com atua-
quando esses projetos contam com apoio de ONGs e dispõem de
ção específica na área, prejudicando a própria qualidade do tra-
assessorias e recursos próprios para se viabilizar.
balho. Nesse caso, felizmente, a oposição das organizações indíge-

nas e dos próprios doadores prevaleceu e o dispositivo O caso mais conhecido é o do Projeto de Recuperação de Áreas
alegadamente contraditório será substituído, de modo a reafirmar Degradadas por Garimpos da Terra Indígena Waiãpi, no estado do
essa alternativa ao processo usual de demarcação e a necessidade Amapá, uma parceria entre a organização indígena local e o CTI,

OS PROGRAMAS DEMONSTRATIVOS DO PPG- 7


O subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), fomentado pelo Mi- seja recomendado, o projeto é enviado para a entidade proponente
nistério do Meio Ambiente, é uma das linhas de ação do Programa que, por sua vez, pode solicitar a participação do Grupo de Apoio a
Piloto para Proteção de Florestas Tropicais do Brasil (PPG -7), dos Elaboração de Projetos (Gapep).
sete países mais ricos do globo, que financia projetos de caráter de-
Entre os subprogramasjá aprovados, estão o Projeto Reservas Indíge-
monstrativo que viabilizem o envolvimento de comunidades tradi-
nas, cuja instituição responsável é a Funai, que visa contribuir para
cionais e organizações não-govemamentais, O PPG -7 assume como
a proteção e conservação das áreas da Amazônia Legal por meio da
objetivo contribuir para a preservação da Amazônia, da Mata Atlân-
melhoria, conservação e manejo sustentável dos recursos naturais, e
tica e de ecossistemas associados, apoiando o desenvolvimento susten-
o Projeto Parques e Reservas, que tem como instituição responsável
tável pela participação e pela integração das contribuições locais.
o Ibama, que procura contribuir para a preservação da biodiversidade
Em abril de 2000, o PDA completou cinco anos, fechando o primeiro dos ecossistemas da Amazônia Legal e Mata Atlântica.
ciclo de um programa que nasceu com o desafio de contribuir j>ara a
Entre os projetos aprovados recentemente pela Comissão Executiva
preservação ambiental e testar experiências de desenvolvimento sus-
do PDA estão o da Associação das Comunidades Indígenas Timbira
tentável, Ao final desse ciclo, o número de subprojetos aprovados na
do Maranhão - " Vity Cati: consolidação das práticas agroextrativistas
Amazônia e na Mata Atlântica, muitos já concluídos, chega a 156.
e de beneficiamento de frutas nas aldeias associadas", o da Comis-
Dentre esses projetos, 18 são destinados a povos indígenas. Até outu-
são Pró-Índio do Acre (CPI) - "Manejo dos Recursos Agroflorestais
bro de 1999, o programa contava com um montante de recursos equi-
nas Terras Indígenas do Estado do Acre" -e o do Conselho Gera! da
valentea U$ 13 481 .134,30 /tara a Amazônia e V$ 4.819.293,79 para - "Elnodesenvohnmenlo e Formação de Gestores
Tribo Ticuna
a Mata Atlântica.
Ticuna”. (ISA, out/00)
A triagem dos projetos é realizada por uma Secretaria Técnica, que
encomenda pareceres ao Grupo de Análise de Projetos (GAP). Caso

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 153


) I,

Acervo
-7/flSA
AUMENTO DO INDIGENISMO ALTERNATIVO
Durante a década de 90, aumentou significativamente a participa- ria com a Foim, é responsável f>ela implementação do Projeto de

ção de organizações não-governamentais (ONGs) em projetos com Consolidação da Demarcação Física das cinco TIs do Rio Negro e tam-
comunidades indígenas nas áreas de saúde, educação escolar, de- bém desenvolve projeto de fiscalização e vigilância no Parque Indí-
marcação e vigilância de terras e alternativas econômicas sustentá- gena do Xingu, em parceria com a organização indígena Atix (Asso-

veis. Buscando a sustentabilidade das terras indígenas e suas comu- ciação Terra Indígena Xingu); os Amigos da Terra, em parcerias com
nidades. projetos nessas áreas envolvem, hoje, tanto as entidades da diversas organizações indígenas, instala redes de radiofonia e treina

sociedade civil constituídas, majoritariamente, por não-índios e os usuários em diferentes terras indígenas; a Operação Amazônia
costumeiramente denominadas "ONGs" como as chamadas “ organi- Nativa (Opan) desenvolve ações de vigilância e, em parceria com os

zações indígenas". Nos domínios específicos da saúde e educação Amigos da Terra, de instalação de radiofonia em seis TIs no estado do
escolar, verifica-se, ainda, o crescimento da atuação de instituições Amazonas (Katukina do Rio Biá, Kanamari do Riojuruá, Kanamari
como Universidades e Fundações. do Matrinchã. Vate do Javari, Kulina do MédioJuruá e Kulina do Ca-
cau de Tarauacá). A Opan mantém, ainda, um projeto de apoio à
Demarções de Tis - Entre 199! e 1994, demarcações físicas de di-
preparação do acompanhamento indígena e da consolidação da de-
versas terras indígenas foram efetivadas através de convênios entre
marcação física da TI Vale do Javari. em seu limite sul.
o órgão indigenista governamental, Fundação Nacional do índio
(Funai), e ONGs. Saúde Com a transferência da responsabilidade pela saúde indíge-
-

na no Brasil- da Funai para a Fundação Nacional de Saúde (Funasa)


Por meio de um desses acordos, assinado em setembro de 1991. a
-,assiste-se, hoje, à montagem dos chamados Distritos Sanitários
Fundação Mata Virgem (FMV) assumiu a coordenação da demarca-
Especiais Indígenas (DSEIs), em número de 34 em todo o país. Na
ção da TI Mekragnoti (sudeste do Pará), com recursos da Rainforest
administração desses distritos, a Funasa tem adotado a prática de
Foundation International (RFI). Em abril de 1992. foi a vez de o Nú-
assinar convênios com diferentes instituições,que assumem com-
cleo de Direitos Indígenas (ND!) comprometer-se com a obtenção
promissos, em cada caso específico, relacionados ao atendimento à
dos recursos necessários à demarcação da TI Kampa do Rio Amônea
saúde de populações indígenas.
(Acre), executada pela Funai. No caso de 6 terras indígenas tikuna,

quem se responsabilizou também em 92. pela obtenção dos recursos


,
Segundo dados da Funasa, o universo de instituições a ela conveniadas
foi o Centro Magüta. 0 governo austríaco, através da organização inclui prefeituras, uma única Universidade, a Unifesp (ex-Escola
VIDC (Vienna Institute for Development and Cooperation) finan- ,
Paulista de Medicina), no caso específico do distrito do Xingu, a Se-
ciou a demarcação, e os trabalhos foram realizados por uma empre- cretaria de Estado de Saúde do Amapá, no DSEI Amapá/ Norte do Pará,
sa privada contratada pelo Magüta. mas também ONGs e organizações indígenas. São II ONGs e oito

organizações indígenas: (ver tabela no item Saúde neste capítulo


Em 1994, o Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI)
firmou convênio com a Funai e realizou a demarcação física da TI Educação - Projetos na área da educação como formação escolar,

Araweté do Igarapé Ipixuna (sudeste do Pará), custeada freio gover- de professores indígenas e elaboração de material didático, também
no austríaco No mesmo ano, a Funai e o Centro de Trabalho são um campo de atuação de ONGs. 0 CTI, junto aos Waiãpi, a CP
Indigenista (CTI) oficializaram acerto para que a demarcação da TI Acre junto aos índios daquele estado, a CCPY, com os Yanomami, o
Waiãpi (Amapá) fosse realizada por esta ONG, em parceria com os ISA, no Parque Indígena do Xingu e na região do Rio Negro são alguns
índios e com recursos do PPTAL (Projeto Integrado de Proteção às exemplos (ver capítulos regionais).
Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal). Em 1996, o Insti-
Projetos Econômicos - Atualmente, há dezenas de projetos econô-
tuto Socioambiental (ISA), a organização indígena Foim (Federação
micos entre povos indígenas no Brasil. Quase sempre, a preocupação
das Organizações Indígenas do Rio Negro) e a Funai assinaram con-
manifesta pelas entidades proponentes (ONGs e organizações indí-
trato relativo à condução da demarcação de cinco TIs na região co-
genas) é combinar geração de renda econômica e preservação
nhecida como “Cabeça do Cachorro" (Alto Rio Negro, Médio Rio Ne-
ambiental. Alguns desses projetos são custeados diretamente por agên-
gro I e II, Rio TéueRioApapóris), com recursos do PPTAL (ver capí-
cias da chamada cooperação internacional através de agências, pri-
tulo Noroeste Amazônico).
vadas ou governamentais, e de bancos e instituições
Fiscalização e Vigilância - Quatro ONGs participam do Compo- intergovemamentais. Crescem nos últimos anos, entretanto, possi-
nente Dois do PPTAL, que são os projetos defiscalização e vigilância bilidades de crédito através de linhas de financiamento ligadas a ór-

das terras indígenas demarcadas com recursos desse projeto: o CD, gãos governamentais brasileiros, como o PDA (ver box em seguida)
em parceria com a Apina (Conselho de Aldeias Waiãpi), trabalha na o 1’DPI (ver capítulo Organizações Indígenas), o Padic (MT) e o PAIC
Implementação do Plano de Vigilância da 77 Waiãpi: o ISA, em parce- (RO). (ISA, oiit/00)

154 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
_//£ ISA
de Trabalho Indigenista. Embora aprovado pelo PDA e apoi- No ínído de fevereiro, foi assinado um contrato entre a CVRD e o
ado pelo governo estadual, o projeto teve sua execução sustaria ISA para viabilizar pré-investimentos necessários à boa execução
por decisão judicial motivada por uma coalisão de interesses lo- do manejo florestal. Na oportunidade, a Funai, convidada, solici-
cais estimulada pela Funai. tou a inclusão de uma cláusula contratual subordinando a
efetividade do contrato à prévia análise da Funai e do Ibama, de
Em vez de viabilizar procedimentos administrativos que permitam
modo a melhor caracterizar a participação dos órgãos no projeto.
aos índios exercer direitos reconhecidos em lei, como o de exclu-
sividade na cata, faiscação e garimpagem em suas terras, expresso A solicitação foi acolhida pelo ISA e pela CVRD, o contrato foi en-

no Estatuto do índio e no Código de Mineração, a Funai bombar- viado para a Funai que, quarenta dias já transcorridos, estando
deia os procedimentos adotados pelos índios com o expresso ob- informada da urgência da sua manifestação frente ao apertado
jetivo de impedi-los dc exercer esse seu direito.O mesmo espírito cronogramade execução do manejo, ainda não se manifestou. Em
corporativo vem rondando outros projetos. suma, a Funai, que tem a obrigação legal de prover aos índios os
meios necessários à sua digna sobrevivência, não o faz e, ainda
0 Plano de Manejo Florestal da Terra Indígena Xíkrin do Cateté,
por cima, sente-se no direito de impedir que instituições civis os
parceria entre a Associação Bép-Nói e o ISA, aprovado por porta-
apoiem para que eles mesmos o façam.
ria conjunta da Funai e do Ibama há quase dois anos, está sofren-
do oposição do mesmo grupo. O projeto dispõe do apoio daCVRD Afirma-se numa tutela cartonai e no corporativismo mais estreito,

(Companhia Vale do Rio Doce), do Banco Mundial, do Ibama, do ainda que os índios, seus supostos tutelados, sejam brutalmente
Ministério do Meio Ambiente, do Ministério da Justiça, da Embrapa prejudicados. E tudo ocorre em um governo que se esmera em
e de um grande número de instituições públicas e privadas. afirmar, como prioridade sua, a realização de parcerias com a
sociedade civil. (Publicado em Últimas Noticias/ISA, 13/03/97)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 155


;

^ Acervo
_//f I SA

Assessores do
ORGANIZAÇÕES 1973 já está definido que o ingresso nas áreas
indígenas deve ter autorização da Funai. Bve-
vez, seja objeto de projelo de
ministro disseram que ele foi
lei.

“fcrlemenle" pres-
NÃO-GOVERNAMENTAIS mos quatro que não funcionaram
portarias, sionado pela bancada evangélica, que estava
porque não havia vontade política", diz. “Não insatisfeita com as restrições de acesso que vol-
NOVO CONSELHO INDIGENISTA vedamos nenhuma portaria; as organizações são taram a ser impostas às missões.
bem vindas, mas precisamos saber de seus pro- A existência de biopirataria em terra indígena
ACEITA "PAUTA SURPRESA”
pósitos para evitar interferências nas culturas remete a dois problemas diferentes: o acesso
A Funai reuniu em Brasília, nos dias 4 e 5 de dos povos”. às áreas e à regulamentação da aquisição de
março, os novos membros do Conselho Para o ISA, a proposta é ilegal, porque atinge conhecimentos indígenas. “Portarias concedem
lndigenista. Na reunião, para a qual não houve até as organizações indígenas que, juridicamen- à Funai poder cartorial; mas o necessário é que
pauta estabelecida previamente, a Funai colo- te, são organizações civis como outras quais- o órgão tenha poder de polícia", diz o antropó-
cou sobre a mesa uma minuta de Portaria para quer. “A minuta é essencialmente ilegal, pois logo Carlos Alberto Ricardo, do Instituto
regulamentar a entrada e a ação de organiza- pretende obrigar instituições privadas que atu- Sociambieiital (ISA), ao referir-se à impotência
ções civis e missões religiosas em terras indí- am ilegalmente a lazer convênios com a Funai. da Funai diante de madeireiros e garimpeiros,
-
genas. Fazem parte do Conselho: Titulares Além disso, só estabelece obrigações para as que estão presentes na maioria das terras indí-
Antônio Carlos Silveira (Fundação Nacional de entidades", afirma Santilli. genas demarcadas.
Saúde); Rafael José de Menezes Bastos (Asso- Silvestre garante que a entrada em vigor da por- Para a coordenadora do Núcleo de História In-
ciação Brasileira de Antropologia) ; João Baptisia taria não significa que a Funai passará a adotar dígena da Universidade de São Paulo,
Borges Pereira (Universidade de São Paulo) uma atitude polirialesca. (Correio Braziliense, Dominique Gallois, normas diferentes devem
Megaron Txucarramãe, Pedro Comélio Seg Seg 27/03/98) regulamentar o acesso de pesquisadores, mis-
Kaingang, Francisca Nevantino Ângelo (repre- sionários e membros de ONGs. Para da, que
sentantes Indígenas) e Benedito Ferreira Mar- FUNAI BLOQUEIA trabalha há 20 anos em area indígena, hoje “não
ques. Suplentes - Fíávio Pereira Nunes (Funda-
ACESSO ÀS ALDEIAS... há controle nenhum”.
ção Nacional de Saúde) Carlos Fausto (Associ-
;
Convênio firmado em 1996 entre a Funai e a
ação Brasileira de Antropologia); Lux Boelitz Pesquisadores, missões religiosas, organizações Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Vidal (Universidade de São Paulo); Marcos não-governamentais enfrentarão maiores res- concede à Embrapa o direito de eoletar e con-
Terena Tsuptó Xavante e Esteia Maria dos San- Irições para entrar em aldeias indígenas, A Funai servar recursos genéticos da tàuna e da flora
,

tos de Oliveira (representantes Indígenas) e vai divulgar amanhã portaria com novas exigên- indígena mediante autorização da Funai, que
Marcos António dos Santos. cias para o acesso de estranhos às aldeias, como deverá necessariamente ouvir a comunidade.
Os membros do Conselho presentes à reunião forma de conter a máfia da biopirataria que atua Apesar disso, nenhum dos mais de 200 presi-
assumiram o compromisso de enviar sugestões em áreas indígenas. Arquivos da Funai - divul- dentes das associações indígenas (registradas
para aprimorar a minuta de portaria até o dia gados no domingo - mostram que grande nú- na Receita Federal) assinou o convênio. A cole-
13/03. Uma nova reunião do Conselho está mero de instituições aluam à revelia do gover- ta feita em terra Indígena passa a fazer parle do
marcada para o dia 23/03- no e muitas vezes põem os próprios índios con- Sistema Brasileiro de Recursos Genéticos fican-
Em plena pré-temporada de invasão ilegal de tra a Punai, alem de promoverem um leilão da do à disposição de qualquer pesquisador do
madeireiras, que acontece todo ano no final da floresta.
planeta.
estação chuvosa na Amazônia, a pauta coloca- Para se ter acesso a terras indígenas, normal- Desde 1995, tramita no Senado um projeto de
da pela Funai diante do ilustre Conselho é, no mente exige-se a comprovação do que vai ser
lei, apresentado pela senadora Marina Silva (PT-

mínimo, uma prioridade questionável. (Últimas feito, cópias de documentos, atestados de vacina- AC), elaborado com base na convenção sobre
Notícias/ISA, 05/03/98) ção e a autorização só é dada depois que os antro- diversidade biológica, aprovada na Eco 92, 0
pólogos consultam os índios sobre o pedido. projelo regulamenta Inclusive a apropriação dos
FUNAI ELABORA “Hoje a Funai não tem muitos meios para con- recursos em terra indígena, mas esbarra no
NORMAS PARA ONGS trolar e fazer uma fiscalização de forma eficaz", lobby dos setores interessados em permanecer
afirma o ex-presldente da fundação, Márcio nas terras indígenas dc forma ilegal. (O/SP,
A Funai pode baixar hoje uma instrução Santilli. A prova disso, segundo ele, são as cons-
13/08/98)
normativa para disciplinar o ingresso e perma- tardes invasões que ocorrem em centenas de ter-

nência de entidades civis e religiosas em terras ras indígenas. (Correio Braziliense, 12/08/98) AUSÊNCIA DO ESTADO
indígenas em todo o país. A proposta, divulgada
PREOCUPA MILITARES
no começo do mês, condiciona a entrada im-
e
... MAS PORTARIA E PARLAMENTARES
plantação de projetos nestas áreas à assinatura
É REJEITADA POR CALHEIROS A criação de novos territórios na região amazô-
de convênios com a Funai. Logo após ser
divulgada - em minuta, dia 3 passado, durante Renan Calheiros rejeitou ontem o texto da por- nica está sendo considerada uma solução para
a reunião do Conselho lndigenista em Brasília taria elaborada por técnicos da Funai com ob- vários problemas na área, como a ausência do
- a medida começou a ser criticada por orga- jetivo de regulamentar o acesso de pesquisado- Estado e a ocupação desse espaço pelas ONGs,
nizações não-governamentais que trabalham res, missionários e membros das organizações Durante visita à Amazônia, o ministro da Defe-

com os índios. não-governamentais às áreas indígenas. sa, Geraldo Quintào, disse que a solução para
As entidades acusam Sulivan Silvestre de violar Calheiros teria dito, após reunião com o presi- problemas como invasão de fronteira, a entra
a Constituição Federai e estar tomando uma dente da Funai, no fim da tarde, que não have- da de drogas no País, integração da região, além
decisão política. Em resposta, Silvestre diz que ria mais “portaria nenhuma". Segundo ele, o da efetiva atuação de todos os ministérios e ór-
as entidades querem substituir a Funai. “Desde texto “precisa ser elaborado com calma" e, tal- gãos dos governos federal e estadual seja a cri-

156 POLÍTICA INDIGENISTA P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- instituto socioambiental


ação de territórios. "Talvez se criarmos dois ou folha de computador pedindo a construção de mente na Amazônia. Mozarildo informou que o
três Territórios, como o Alto Solimões e o Alto uma caixa de água, telefone para a tribo se co- requerimento jã foi entregue à Mesa do Senado
Rio Negro, por exemplo, trazendo com eles a municar com o batalhão do Exército e energia. com 37 assinaturas, e o próximo passo será a
força dos poderes constituídos, consigamos (OESP, 16/05/00) indicação dos membros por parte dos líderes
solucionar muitos dos problemas da Amazônia”, dos partidos.
declarou o ministro. MINISTRO DA DEFESA “As ONGs começaram a atuar no Brasil com um
O discurso de Geraldo Quintão encontrou eco CRITICA ATUAÇÃO DE ONGS trabalho de propaganda, de convencimento da
entre todos os parlamentares, até mesmo os da necessidade de sua atuação em defesa do meio
oposição, que participavam da viagem ao pro-
Quintão criticou a atuação das ONGs no País,
ambiente, dos índios e de outras causas que
jeto Callia Norte. “É uma forma de um particidarmente na Amazônia, e defendeu um concordamos que devem
ter pla- ser abraçadas e de-
maior controle por parle do governo sobre es-
nejamento estratégico para a região, colocan- fendidas. Mas, aos poucos, foram ocupando o
do-aa salvo de uma utilização mais imcdiatista”,
sas instituições. “O que fazem essas ONGs que
lugar do Estado em algumas atividades, finan-
estão aí cheias de dinheiro, que propagam ao
afirmou o deputado Eduardo Jorge (PT-SP). O ciadas até com dinheiro público”, denunciou o
mundo que defendem os índios?”, questionou
deputado Júlio Delgado (PMDB-MG) lembrou senador.
o ministro, durante palestra no encerramento
que, dessa forma, os órgãos federais estarão Para Mozarildo, “a CPI será a oportunidade para
da visita que fez a diversas unidades de fronteira.
mais perto dos problemas e facilitando a que o país volte os olhos para o interior da
“São ONGs que se banqueteiam de recursos in-
integração com o governo estadual local, que Amazônia". Ele disse que o Brasil não pode ir a
que dão umas migalhas para os
ternacionais e
não se sente motivado para executar seus pro- reboque do que pensam os países europeus e
índios que moram no norte do Brasil", decla-
gramas em áreas como a ianomâmi que, por os Estados Unidos sobre aAmazônia. “Nós éque
uma reserva indígena, sob a responsa-
rou o ministro, que defende uma maior partici-
ser está temos que dizer a eles como queremos a nos-
pação de todos os órgãos federais, principal-
bilidade do governo federal. O deputado Antô- sa Amazônia e de qual forma a região deve
mente Fundação Nacional do índio (Funai) e
nio Feijão (PSDB-AP) disse que essa solução beneficiar a nós, brasileiros", acrescentou o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
mostraria ao mundo que o Brasil está preocu- parlamentar,
Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além do
pado com a região e trabalhando para preser- Mesmo ressaltando que nem todas as ONGs atu-
Ministério da Saúde. Na visita, o ministro
var sua integridade. am de maneira prejudicial ao país, Mozarildo
Quintão constatou que a ausência desses órgãos
A ausência dos diferentes órgãos federais na Cavalcanti citou o exemplo de uma ONG que
na região làz com que lodo o trabalho de assis-
região leva o Exército a fazer, por exemplo, o adquiriu 1 70 mil ha de terra em RR como exem-
tência às populações, inclusive aos índios, seja
trabalho de integrar o índio à comunidade, que plo dos desvios que ocorrem na atuação dessas
executado pelo Exército.
deveria ser executado pela Funai. Os militares instituições, A gleba foi adquirida, segjindo o
“Não se pode negar que o trabalho das ONGs
querem essa proximidade com os índios por- senador, de posseiros ribeirinhos.
preenche uma lacuna”, reconheceu o coman-
que consideram uma ameaça a possibilidade de Em aparte, o senador Bernardo Cabral desta-
dante da Amazônia, general Alcedir Pereira
formação de uma nação ianomâmi. Para eles, cou que a CPI irá esclarecer quais as ONGs atu-
lopes, anfitrião da visita, que acredita, no en-
esse é um ingrediente para a separação da re- am seriamente no país, quais estão atuando na
tanto, que algumas dessas instituições ‘‘insu-
gião. Por isso, os militares também aprovam a clandestinidade e de onde vem o dinheiro para
flem" os índios da região, De acordo com le-
criação de territórios na área, já que aumenta- elas. Já o senador Edison lobão (PF1-MA) afir-
vantamento dos militares, hoje existem mais de
rá a presença do Estado na região, facilitando a mou que é contra as ONGs que “vêm tumultuar
800 ONGs. (OESP, 16/05/00)
preservação das fronteiras. a vida nacional” e favorável às que procuram
Um exemplo de ausência do Estado, que dimi- ajudar o Brasil, A senadora Heloísa Helena (PT-
CPI DAS ONGS
nuirá com a criação de territórios, foi vivenciado AJ.) garantiu o apoio da oposição à CPI e pediu
pelo ministro Quintão. Ao desembarcar em O senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) dis- o mesmo tratamento dos governistas às propos-
Maturacá, no noroeste do Amazonas, o minis- seque apóia a instalação da CPI proposta pelo tas de CPI lançadas pela oposição. Qomal do
tro recebeu do cacique Joaquim, chefe indíge- senador Bernardo Cabral (PFL-AM) para inves- Senado, 07/08/00)
na da área, uma carta redigida em três vias de tiga!' a atuação das ONGs no Brasil, principal-

POVOS INOÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL POLÍTICA indigenista 15J


Acervo
//\C ISA

Nem só de Pregação Vive a Missão

Antropólogo/ISA
Marcos Pereira Rufino

PARA ALÉM DO PROSELITISMO RELIGIOSO, projeto de sustentatibilidade e ocupação territorial entre os Mura,

MISSIONÁRIOS CRISTÃOS ESTÃO ENVOLVIDOS cuja meta é a produção, beneficiamento e comercialização de fru-

EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO, SAÚDE E tas regionais, ou o projeto de desenvolvimento e disseminação entre


comunidades indígenas e não-indígenas de técnicas apícolas e de
AUTO-SUSTENTAÇÃO
industrialização de frutas regionais desenvolvido também no Ama-
zonas. Ambos os projetos são apoiados pelo PDA, que são
A presença de missões religiosas cristãs entre os povos indígenas subprogntmas do Programa Piloto para a Proteção das Florestas
do país é, sabemos, uma realidade antiga, que sc iniciou no mo-
Tropicais do Brasil (PPG7) . A importância dessa temática levou o
mento mesmo da colonização do Brasil pelos portugueses. O qua-
órgão a constituir, na década dc 90, a Articulação Nacional de Àuto-
dro atual em que ocorre esta presença é complexo e envolve um Susteutação (Anas) que reúne missionários e assessores em um
,

conjunto muito heterogêneo de missionários, A evangelização dos


fórum comum para o aprofundamento do tema e o suporte às equi-
povos indígenas não é uma preocupação exclusiva da Igreja Cató-
pes missionárias e organizações indígenas no desenvolvimento des-
lica, mas também de uma miríade de agências religiosas protes-
tas atividades. A inserção do Cimi no campo de ações visando a
tantes. Estas, por sua vez, reproduzem no contexto da missão en-
auto-sustentação de grupos indígenas se dá de modo peculiar: a
tre os índios as suas características de agentes religiosos relativa-
elaboração de seus projetos é orientada por um nítido espírito
mente independentes, multiplicando-se em diversas igrejas e de- anticapitalista e antiliberal, de maneira que se evita formular pro-
nominações, com as respectivas diferenças em sua teologia, modo postas que carreguem vestígios de empreendimento empresarial,
dc atuar, converter.
obtenção de lucro ou acúmulo de riquezas. Grosso modo, o perfil

A atuação da missão católica também não esconde a sua diversida- das propostas de auto-sustentação elaboradas pelo Cimi procura
de. Além do trabalho realizado pelas diversas ordens e congrega- situá-las como atividades de baixo impacto sobre as condições

ções, cada qual com o seu carisma e projeto missionário próprio, sociais e econômicas internas aos grupos indígenas que são bene-

há hoje a forte presença de missionários seculares, comprometi- ficiados por elas. Estas propostas salientam também o sentido co-
dos diretamente com o plano pastoral da hierarquia eclesiástica munitário que estas atividades podem desempenhar no interior
do país. Estes últimos estão, em sua grande maioria, ligados ao destas realidades.
Cimi - Conselho Indigenista Missionário, órgão anexo à CNBB,
Ainda no campo católico, não podemos ignorar que em algumas
criado por ela com a finalidade de coordenar a ação missionária
regiões o Cimi participa diretamente, através da pastoral indigenista
nacionalmente e sintonizá-la com as preocupações contemporâ-
diocesana local, da gestão dos Distritos Sanitários Especiais indí-
neas da Igreja Católica. Contrariamente aos missionários católicos
genas, junto com as organizações indígenas e ONGs parceiras. Éo
das ordens e congregações, os cerca de 40Ü missionários do Cimi,
caso da diocese de Boa Vista, em Roraima, cujos missionários atu-
distribuídos em 112 equipes, estão cada vez mais distantes do
proselitismo religioso e concentram a sua amação na política
am em parceria com o CIR, e da diocese de São Gabriel da Cacho-

eira, no noroeste amazônico, em que estes atuam conjmitamente


indigenista, desenvolvendo algum trabalho na área da saúde, edu-
com a Foirn e o município.
cação, movimento indígena, assessoria jurídica etc,

Nos últimos anos vêm sendo desenvolvidos também alguns proje- A ação de missionários protestantes é ainda mais complexa. Além
tos de geração de alternativas econômicas, como por exemplo, o das centenas de grupos que frequentemente são denunciados por

153 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/20D0- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Zs» Acervo

—//\' I SA
suas práticas de claro desrespeito à diversidade cultural, com a Os grupos protestantes de maior destaque no cenário da política

imposição de valores, cultos e cosmologias estranhos aos índios, indigenista são o GTME (Grupo de Trabalho Missionário Evangéli-

há também um conjunto de agentes missionários protestantes di- co) e o Comin (Conselho de Missão entre os índios). Estas duas
retamente envolvidos na política indigenista. A maior parte das ati- agências missionárias são muito próximas uma da outra. Apesar
vidades desenvolvidas por estas denominações evangélicas, e que de estarem explicitamente comprometidas com a evangelização
não são propriamente religiosas, estão na área da educação e da dos povos com quem atuam, ambas enfatizam o envolvimento mis-
saúde. Nos é bastante conhecido o trabalho de sistematização lin- sionário na educação, saúde e movimento indígena, atuando con-
guística e gramatical realizado em diversos povos, cujos resulta- juntamente na realização de diversas atividades neste âmbito. Al-

dos são aproveitados não apenas para a tradução da Bíblia no idi- gumas vezes, elas agem em parceria com os missionários católi-

oma nativo mas também para a estruturação de escolas indígenas cos do Cimi e ONGs na condução de atividades comuns. Podemos
e grupos de alfabetização. O desenvolvimento de ações dirigidas à citar a sua participação conjunta no Comitê de Resistência Indíge-
saúde é frequente em muitas missões protestantes, ocupando, na, Negra e Popular, e na marcha indígena dos 500 anos, evento
muitas vezes, o espaço deixado pelo Kstado. Em alguns contextos, que propunha fazer uma contracelebração dos festejos oficiais

a atuação destas missões em programas de saúde é a principal realizados pelo governo e Igreja Catóbca. (outubro, 2000)
forma que elas tem de legitimar a sua presença entre os índios e,

às vezes, de justificar a sua entrada em áreas de índios isolados.

USP PROMOVE REUNIÃO SOBRE MISSÕES EM TIS


Antro/xílogos, linguistas e historiadores, preocupados com afaita de As propostas - Diz o documento:
assistência da Funai em relação às /xipulações indígenas no Brasil, 1) Nos contextos específicos, onde se delega às organizações religio-
se reuniramem São Pauto, a convite do Mari - Grupo de Educação sas a prestação de serviços assistenciais de responsabilidade do Esta-
Indígena da USP, em 19/10, para discutir e avaliara intenção da Funai do ( especialmente nas áreas de Saúde e Educação), devem-se criar
em assinar novos convênios com organizações missionárias, repas- instâncias de controle e avaliação efetivas e permanentes, capazes
sando para estas agências tarefas de assistência que. pela Constitui- de monitorar a qualidade dos serviços realizados por aquelas
ção. cabem ao governo federai Estiveram presentes à reunião />es- agências:
quisadores da USP, Unicamp, Museu Nacional, Museu Goeldi, PUC-SP, 2) Essas instâncias devem contemplar a participação indígena, as-
ateCNRS. sim como de profissionais (antropólogos, lingiiistas, educadores,
Há pouco, o presidente da Funai. Julio Gaiger. mostrou-se disposto a médicos, enfermeiros, agentes de saúde, advogados, indigenistas en-
revogar a atual instrução normativa que regula a presença tre outros), sem vínculos com as instituições avaliadas:
missionária em áreas indígenas, assim como firmar convênios com 3) O poder público deve assumir as mudanças qualitativas das de-
estas agências. Para tanto, solicitou que as missões apresentassem mandas indígenas, que focalizam não a/ienas a prestação de servi-

um grande plano de trabalho, indicando áreas de atuação egru/xis ços, mas também sua continuidade e sua eficiência enquanto ins-
indígenas. trumentos para a autodeterminação: e
Recusando a delegação indiscriminada de resjxmsabitidades a estas 4) As políticas públicas devem ser sensíveis ao acúmulo de conheci-
missões e entendendo que a oferta da assistência não deve estar con- mentos gerados por diferentes agentes da sociedade civil, tanto na
dicionada à aceitação de novas práticas religiosas nem ao formulação do desenho global dessas políticas, quanto em nível lo-
proselitismo religioso, os pesquisadores reunidos firmaram um do- cal. Tendo em vista as especificidades e a complexidade de cada caso,
cumento propondo ao governo federal que crie instâncias de ai atia- tais conhecimentos contribuem efetivamente /mra uma melhor ade-
ção da presença missionária em áreas indígenas, promova amplo quação dos serviços prestados às demandas das diferentes comuni-
debate junto às comunidades indígenas e leve em consideração o dades indígenas.
conhecimento acumulado sobre estas sociedades na formulação e O documentofimt da reuniãofoi encaminhado às autoridades com-
implementação de políticas públicas voltadas jxtra estes povos. petentes e será apresentado ao Conselho Científico da ARA e à An/xx:s,
que realiza encontro em Caxambu (MG) na próxima semana. (Luís

Donisete Benzi Grupioni, Jornal da Ciência Hoje/SBPC, 15/1 IA)6)


, ...... . .Jilr »• '

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL POLÍTICA INDIGENISTA 159


Acervo
//A I SA

ção de respeitar as práticas culturais dos povos .Segundo de, as instituições religiosas dispõem
MISSÕES RELIGIOSAS indígenas: “o Ministério da Educação assumiu de uma estrutura que permite a ação direta dos

o seu papei no processo de garantir a integri- missionários nas aldeias, 0 que facilita a identi-
NOVOS CRITÉRIOS PARA dade cultural dessas populações, como órgão ficação dos problemas específicos de cada co-
MISSIONÁRIOS EM TI responsável pela condução da política educa- munidade e melhora. 0 atendimento fornecido
cional a ser oferecida aos índios do país. Hoje pelos religiosos.
0 presidente cia Funai, Sulivan Silvestre, anun-
tem-se uma política definida, um setor compe- “Não podemos fazer a mesma coisa em 60 al-
ciou ontem, em Campo Grande (MS), que vai
com 60 funcionários, sendo que a maior
tente e conselho representativo para identificar deias
baixar portaria na próxima semana estabelecen-
problemas, propor soluções e orientar uma parte trabalha na área administrativa”, diz. Ele
do critérios para o funcionamento de seitas re-
política educacional para os povos indígenas espera resposta da direção da Funai para a cons-
ligiosas e entidades civis em terras indígenas.
da Constituição do grupo técnico. “Precisamos de um
que siga determinação legal tituição
Silvestre disse que as seitas que estiverem “in-
Federal de 1 988 - a estrita separação entre Igreja estudo sério sobre o caso". (ESP. 28/12/99)
terferindo e prejudicando a cultura indígena
e Estado -, sem deixar qualquer dúvida quanto
poderão ser expulsas das aldeias”. A Funai vai

recorrer a estudos antropológicos para saber o


à natureza laica da educação no Brasil e quan- UNIVERSAL REPRODUZ
to ao dever do Estado em oferecer o ensino fun- EM ALDEIA SUAS
grau de intervenção das entidades religiosas.
damental a todos os seus cidadãos. Por outro
0 presidente da Funai está visitando aldeias in- REUNIÕES NA CIDADE
lado, o próprio Estatuto do índio (Lei 6.001,
dígenas em MS para, segundo ele, “conhecer a
de 19.12.73) no seu Capítulo 11, artigo 58, O lema da Igreja Universal do Reino de Deus,
realidade”. São nestas áreas que vem sendo
considera ‘crime contra índios e a cultura indí- “Jesus é 0 Senhor”, escrita em xavante na pa-
registrados surtos intermináveis de suicídios -
gena escarnecer de cerimônia, rito, uso, costu- rede do templo da aldeia Campinas (MT)
entre os índios, particularmente entre os
me ou tradição cultural indígenas, vilipendiá- “jesusi wanhi apito" (pronuncia-se Jezusi uani
Guarani (ver capítulo Mato Grosso do Sul) Al- .

los ou perturbar, de qualquer modo, a sua prá- apitó) é um elemento significativo do tipo de
guns estudos apontam a presença de igrejas
tica’ ,
prevendo detenção de um a três meses de penetração que os seguidores de Edir Macedo
evangélicas como causa dos suicídios. “Não
prisão para 0 infrator. Os índios, como cida- vêm promovendo entre os indígenas.
pode haver qualquer catequízação ou evange-
dãos, têm direito a receber uma educação de Estimulando a pregação religiosa na língua na-
lização, porque isso poderia ofender a cultura
qualidade ofertada pelo poder público: eles não tiva da comunidade c formando pastores índi-
das comunidades indígenas", disse Silvestre.
devem ser forçados ou seduzidos a aderirem a os, a Universal conseguiu reproduzir na reser-
As seitas e entidades civis já instaladas cm ter-
uma nova religião e a abandonarem práticas va cópias fiéis de suas reuniões nas maiores
ras indígenas deverão apresentar à Funai um
tradicionais e seculares para terem acesso a capitais do país.
projeto de atuação. As que não se adequarem
programas de alfabetização e letramento. Pro- Todas as noites, por volta das 18hJ0, 0 pastor
às exigências do órgão deverão ser expulsas das
tege-se, nesse sentido, as manifestações cultu- índio Benjamin Sereza, 43, e suas duas obrei-
aldeias, segundo Silvestre. (ISA, a partir de Di-
rais das sociedades indígenas, reconhecendo ras se banham no córrego próximo à aldeia
ário de Pernambuco, 17/10/97)
aos índios 0 direito de permanecerem índios, e Campinas, vestem uniformes da Universal e se
rompendo com umalonga tradição jurídica que dirigem ao templo para a realização do culto.
MEC NÃO DÁ APOIO AO SIl sempre procurou assimilar os índios, fazendo De cabelos penteados, eles esperam a chegada
com que abandonassem suas línguas e práticas dos índios para 0 início da pregação. Sereza
A chefe da Assessoria Internacional do gabine-
culturais”. (ISA a partir do Ofício 443/99 do veste camisa social gravata. Elas, saias azul-
te do ministro da Educação, embaixadora Vitó- marinho e blusas
MEC, 09/11/99) listradas.
ria Alice Cleaver, enviou ofício para a Socieda-
(. .)
.Como todos os fiéis da Universal, os índios
de Internacional de Linguística informando que
ESTADO PERDE são estimulados a fazer ofertas em dinheiro à
o MEC não dará apoio ao ensino missionário
AUTORIDADE MORAL igreja. 0 pastor diz arrecadar em média R$
em áreas indígenas. A correspondência é a res- 40,00 por mês.
posta doMEC à visita de Isabel Murphy e Steven A Procuradoria Regional da República 110 Mato
A principal fonte de renda da Universal na al-
N. Sheldon, representantes da Sociedade Inter Grosso solicitou à Funai, em setembro deste ano, deia são os aposentados, que, como trabalha-
nacional de Lingüíslica ao Ministério, realiza- a formação de um grupo técnico para 0 acom-
dores rurais, recebem mensalmente do INSS um
da no primeiro semestre, quando solicitaram panhamento da atuação da Igreja Universal do
salário mínimo.
apoio ao trabalho de ensino missionário entre Reino de Deus na aldeia Campinas.
Segundo 0 professor Paraúdza, na falta de di-
os índios. Responsável pelo parecer enviado sobre 0 as-
nheiro, os pastores também recolhem e vendem
Diz a correspondência que “É de conhecimen- sunto ao Ministério Publico, Jorge Luiz de Paula,
pelos índios. Os re-
peças de artesanato feitas
to deste Ministério que o SIL iniciou sua atua- antropólogo da administração da Funai em Nova cursos são enviados aos líderes da igreja em
ção no Brasil em uma época em que a linguísti- Xavantina (área que engloba a aldeia Campi-
Cuiabá (MT). (ESP, 28/12/99)
ca ainda não se institacíonalizara em nosso País nas) , afirma que falta ao Estado “autoridade
e a educação indígena seguia o modelo tradici- moral” para impedir a ação dos evangélicos na
onal, feita em português, em escolas do Serviço região.

de Proteção aos índios ou, ainda, por missões “As igrejas agem na brecha da tal ta de assistên-
religiosas, por meio da transferência de respon- cia do governo. E,como ninguém faz nada de
sabilidades originariameníe de competência do graça, os índios acabam tendo de assistir aos
órgão indigenista brasileiro”. cultos. Mas, para tirar as missões de lá, 0 que
Educação laica - Na correspondência, o MEC vamos pôr no lugar? Não temos recursos. Falta

reafirma o caráter laico da educação e a inten- autoridade moral para isso”, diz.

160 POLÍTICA INDIGENISTA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


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Acervo
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TERRAS INDÍGENAS:
DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO
DE RECURSOS NATURAIS

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Acervo
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TERRAS INDÍGENAS:
DEMARCAÇÃO E EXPLORAÇÃO
DE RECURSOS NATURAIS
Acervo
//\\ ISA

Demarcação das Terras Indígenas:


Uma Luz no Fim do Túnel?

Márcio Santilli Coordenador do Programa


Brasil Soc'oambiental/ISA

NOS ÚLTIMOS ANOS, HOUVE UM SIGNIFICATIVO registradas em cartório foram submetidos ao contraditório admi-

AVANÇO NO PROCESSO DE DEMARCAÇÃO nistrativo, incluídas algumas das terras já demarcadas mas ainda

DAS TERRAS INDÍGENAS NO BRASIL, MAS não registradas, que puderam ser contestadas retroativamente.
Cerca de 150 demarcações foram simultaneamente submetidas às
AINDA PERSISTEM DIFICULDADES POLÍTICAS
contestações de terceiros, num período marcado por fortes ten-
E ADMINISTRATIVAS PARA A SUA CONCLUSÃO
sões, críticas à mudança na sistemática de demarcação e de ame-
aças de invasões às terras indígenas. Assim, durante os 180 dias

No período de 1996 a 1999, o processo de demarcação adminis- que se seguiram à publicação do Decreto 1775, houve forte apre-

trativa das terras indígenas viveu fluxos e refluxos importantes. No ensão por parte dos índios, da Funai e de organizações de apoio
decorrer de 95, o primeiro ano do primeiro mandato de Fernando quanto às suas conseqüências.
Henrique Cardoso (FHC), a maior parte dos processos pendentes
Ao término destes prazos, a quase totalidade das contestações
de decisão política desde o governo anterior foi objeto de atos
havidas foram rejeitadas e houve a expedição de um significativo
administrativos, como portarias de delimitação e decretos de ho-
número de portarias dedaratórias e de decretos de homologação.
mologação. No entanto, o curso dos demais processos esteve pa-
A grande maioria dos processos em curso teve prosseguimento, o
ralisado, à espera da decisão de governo sobre a anunciada revi-
que possibilitou a conclusão de vários deles e um avanço significa-
são do Decreto 22/91 que, até então, estabelecia o procedimento
tivo no cômputo oficial das demarcações de terras indígenas. Ao
administrativo para a demarcação das terras indígenas.
término do seu primeiro mandato, FHC tornou-se o campeão das

Em janeiro de 1996, foi expedido o Decreto 1775, assinado pelo demarcações, com o maior número de decretos homologatórios e a

presidente da República a pedido do ministro da Justiça, Nelson maior extensão já demarcada por um presidente na história do Brasil.

Jobim. O governo alegou que a sua edição seria inevitável para


Porém, oito processos foram obstados pelo ministro da Justiça,
sanear juridicamente os processos de demarcação, mas os índios, as
que solicitou à Funai novas diligências. Foram eles: Sete Cerros
organizações de apoio e a própria Fundação Nacional do índio (Funai)
(MS),Xucum (AL), Seruini-Marienê (AM) Évare I (AM) Baú
, , (PA),
temiam que ele viesse a promover a redução das terras indígenas.
Apiterewa (PA) ,
Kampa do Rio Envira (AC) Krikati (MA) e Rapo-
,

O novo decreto introduziu o chamado princípio do contraditório sa-Serra do Soi (RR) . O recurso às novas diligências foi a forma
nos processos de demarcação. Entre a conclusão dos trabalhos de encontrada pelo ministro da Justiça para satisfazer pressões políticas

identificação de terra indígena, através de portaria do presidente contrárias às demarcações ou para contornar problemas específicos.
da Funai, e a expedição da portaria dedaratória dos limites ofici-
A Terra Indígena (TI) de Sete Cerros, com sua demarcação já ho-
ais da mesma, da lavra do ministro da Justiça, abriram-se prazos
mologada, havia sido objeto de um mandado de segurança
para a manifestação de terceiros interessados: de 90 dias, para
impetrado pela Agropecuária Sattin Ltda. junto ao Supremo Tribu-
que proprietários ou órgãos públicos apresentassem as suas con-
nal Federal (STF) que deu origem ao questionamento que modvou
testações aos limites propostos; de 60 dias, para que a Funai desse
o ex-ministro da Jusüça, Nelson Jobim, a propor a revisão do De-
parecer às contestações apresentadas; e de 30 dias, para que o
creto 22/91 e a edição do Decreto 1775/96. Ao final do prazo para
ministro da Justiça decidisse a respeito.
as novas diligências, nenhuma providência administrativa foi
Num primeiro momento, todos os processos demarcatórios em recomendada ou adotada. A permanência dos índios Kaiowá
curso envolvendo terras indígenas que ainda não haviam sido na área está garantida por uma liminar do ministro do STF,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1395/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 163


ery ua Silveira, e até hoje não ocorreu o julgamento de méri- PPTAL
to do mandado de segurança.
Os principais avanços ocorridos no processo de demarcação das
A TI Xucuru foi a que sofreu o maior número de contestações. terras indígenas deram-se no contexto da execução do Plano de
Apesar da pressão intensa dos regionais e do clima de violência Proteção das Terras Indígenas na Amazônia Lega] (PPTAL), um
existente contra os índios, também não houve nenhuma decisão dos componentes do Programa Piloto de Proteção das Florestas
administrativa a seu respeito. Tropicais Brasileiras (PP-G7), coordenado pelo Ministério do Meio

A TI Seruini-Marienê foi contestada por uma agropecuária que Ambiente e financiado pelos países do Grupo 7 especialmente pela

apresentou um título dominial incidente na área. O ex-ministro


Alemanha. O contrato para o financiamento do PPTAL foi concre-

Jobim proferiu um despacho ao final do prazo das diligências de- tizado em meados de 1996.
terminando que os proprietários fossem indenizados pela área in- Através do PPTAL foram realizadas 31 identificações e 38 demar-
cidente, mantendo a extensão integral da Tl. cações de terras indígenas, todas situadas na Amazônia Legal Bra-

A TI Évare I, dos índios Ticuna, foi contestada por índios Kokama sileira. Outras 62 identificações e 93 demarcações estão em curso

que vivem em parte dela. Os Kokama, à époea da demarcação, não ou previstas para os próximos anos. Esse projeto constituiu a mai-

assumiam a sua identidade indígena. Porém, passaram a assumi-


or contribuição para o avanço das demarcações nos últimos qua-

la depois e alegaram direitos sobre a parte que ocupam. Despacho tro anos. Os recursos aportados pela cooperação alemã possibili-
taram o reconhecimento oficial de mais de 20 milhões de ha de
do ex-ministro determinou que os seus limites fossem revistos, de
terras indígenas.
forma a se demarcar uma parte da área em favor dos Kokama, sem
que houvesse aumento da extensão total. Entre estas, destacam-se em importância as demarcações de cinco
A TI Baú, dos índios Kaiapó, foi objeto de despacho ministerial deter-
terras contíguas situadas na região do Rio Negro, com 10,6 mi-
lhões de ha c mais de 30 mil índios de 23 etnias. Destacara-se,
minando a sua redução. Porém, ela não chegou a ser reduzida e os
seus limites anteriores chegaram a ser posteriormente confirmados.
também, as demarcações das Tis do Vale do Javari, com 8,5 mi-
lhões de ha e cerca de quatro mil ocupantes, e Munduruku, com
A TI Apyterewa foi contestada, entre outros, pela madeireira
2,3 milhões de ha e pouco mais de cinco mil ocupantes.
Peracchi, que afirmou dispor de títulos de domínio incidentes.

Despacho do ex-ministro determinou que a Funai procedesse à


A inclusão no PP-G7 de um componente voltado para a demarca-
ção das terras indígenas se justifica pela importância conferida ao
redução de cerca de 60 mi! ha da TI em favor da madeireira.
reconhecimento oficial destas terras para o seu objetivo de prote-
A TI Kampa do Rio Envira apresentava uma pequena sobreposição ção à floresta amazônica. O PPTAL tem um caráter estruturante em
com a TI Kuilna do Rio Envira que é contígua à área Kampa. Um termos de políticas públicas, diferentemente da maior parte dos
despacho ministerial determinou que a sobreposição fosse exclu-
demais componentes do PP-G7, que têm caráter demostrativo. Nas
ída da Tl Kulina, que teve sua extensão homologada em 1991.
suas próximas etapas, ele poderá abranger a totalidade das terras

A TI Krikati também sofreu várias contestações de ocupantes não- indígenas ainda não demarcadas situadas na Amazônia Legal.

índios e de prefeituras municipais. Houve negociações entre a Funai


Porém, a demarcação das terras é condição necessária mas não
e o governo do Maranhão com vistas à sua redução, mas esta não
suficiente para a proteção da floresta, que supõe outras iniciativas
chegou a ocorrer. Os índios chegaram a derrubar uma torre da linha voltadas para a gestão pelos índios dos territórios demarcados.
de transmissão de energia que atravessa a sua área. Técnicos contrata-
Neste sentido, o PPTAL pouco avançou até o momenlo. Apenas 16
dos pela Elenonorte chegaram promover a sua demarcação física em dentre as terras já demarcadas dispõem de planos de proteção e
extensão integral, mas ainda não ocorreu a sua homologação. vigilância, com maior ou menor abrangência, em formulação ou

A TI Raposa-Serra do Sol também foi contestada pelo governo de execução no âmbito do projeto. Em alguns casos, o PPTAL proveu

Roraima c por ocupantes não-índios. Despacho ministerial deter- apoio institucional a organizações indígenas para treinamento e

minou à Funai a sua redução, mas posteriormente os seus limites capacitação.

originais foram confirmados por portaria do ministro da Justiça


Um novo componente indígena do PP-G7, Projetos Demonstrati-
Renan Calheiros. Até hoje, a sua demarcação não foi homologada
vos dos Povos Indígenas (PDPI), que é voltado para o apoio a
e há forte pressão política do governo local e das bancadas parla-
projetos comunitários, começará a ser executado no próximo ano.
mentares do estado contra esta homologação.
Outro dentre os seus projetos, o Corredores Ecológicos, deverá

A edição do Decreto 1775 não chegou a promover reduções de dispor de um componente indígena para intervenções de caráter

terras indígenas em escala significativa, como se temia quando da regional pelos povos que vivem nas áreas priorizadas para a sua

sua edição. Tampouco promoveu o alegado saneamento jurídico implantação. Mesmo assim, ainda se estará longe de atender as

do processo demarcatório. As demarcações, em gend, continua- demandas econômicas e de manejo de recursos naturais dos po-

ram avançando e o número de ações judiciais propostas contra vos indígenas da região.

elas também continuou crescendo.

164 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ARCAÇOES PARTICIPATIVAS veis para a Amazônia, as demarcações nas demais regiões não dis-

põem de recursos suficientes.


Outto aspecto importante das demarcações promovidas pelo PPTAL
tem sido o apoio à participação ou fiscalização dos índios e de Embora, comparativamente, os custos das demarcações fora da
organizações parceiras nos trabalhos demarcatórios, No caso das Amazônia sejam menores, seja pela menor extensão das áreas, seja

terras indígenas do Rio Negro, o Instituto Socioambiental (ISA) e pela logística gerabnente mais fácil, os avanços mais significativos

a Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foira) têm ocorrido na Amazônia. Ainda assim, nos últimos quatro anos,
protagonizaram as demarcações, atribuindo-lhes ênfase no pro- dezenas de terras indígenas tiveram as suas demarcações conclu-

cesso de participação e de conscientização dos índios, e não ex- ídas nas demais regiões do País. Porém, nestas regiões, a deman-
dusivanienie nas técnicas de engenharia envolvidas nos trabalhos da de pagamento de indenizações por benfeitorias de ocupantes
de demarcação física. não-índios é muito maior, até por conta da ocupação colonial muito
mais intensa que se estabeleceu historicamente nestas regiões. A
A maior parte das cerca de 600 comunidades residentes foi visita-
Funai estima em cerca de 200 milhões de reais a demanda de re-
da, participou da discussão sobre as demarcações e os direitos
cursos para a regularização fundiária das terras indígenas já
delas decorrentes, tomou conhecimento sobre os novos limites
demarcadas cm todo o País.
das terras indígenas e recebeu mapas e outros materiais informa-
tivos e promocionais. Centenas de questionários foram aplicados
entre as comunidades indígenas, recolhendo muitas informações CÔMPUTO DA SITUAÇÃO JURÍDICO-
sobre os usos e expectativas com relação às terras demarcadas. ADMINISTRATIVA DAS TERRAS INDÍGENAS
Outra experiência importante de participação indígena sc deu na A partir das identificações e demarcações realizadas nos últimos
demarcação da TI Kulina do Médio Juruá, situada no sul do Ama- anos, a situação jurídico-administrativa das terras indígenas no
zonas, realizada através de convênio com a União das Nações Indí- Brasil, em agosto de 2000, ficou sodo a seguinte:
genas do Acre (UNI-AC) e com o apoio do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi). Constituiu-se em um caso denominado de Situação N° % do n° Extensão % da extensão
“autodemarcação”, também com um grande grau de protagonismo Jurídica de Terras Ha das Terras
indígena no seu processo.
A identificar 59 2.697.000
A participação indígena nos trabalhos de demarcação tem impor- (duas interditadas)

tância fundamental parti assegurar não apenas a correção de even- Em identificação 56 41.100
tuais problemas que freqiientemente ocorrem quando da defini- (duas interditadas)

ção dos limites das terras, mas para a consciência dos ocupantes Em identificação/ 25 1.474.553
sobre estes limites, sua posterior fiscalização e a própria gestão Revisão

do território. No passado, as demarcações sempre se reduziram à


Com restrição S 570.970
dimensão técnica e comumente geraram questionamentos ou alie- de uso a não-índios
nação dos índios depois.
Total 148 25,74 4.783.578* 4 62 *
,

No âmbito do PPTAL, 13 demarcações contaram com componen- Identificada/ 17 3.303.312


tes que viabilizaram a participação dos índios. Porém, nem sem- Aprovada/Funai.

pre é possível assegurar a efetiva participação indígena nos pro- Delimitada 72 19.9n.235
cessos demarcatórios, especialmente quando o grupo ocupante é (24 em demarcação)
exíguo em termos de população ou tem contato recente com a
Total 89 15,48 23.214.547 22,40
sociedade nacional. Sobretudo, porque a cultura tutelar da Funai
Reservadas 14 73-222
privilegia o caráter das demarcações como obras de engenharia e
despreza a importância desta participação. Homologadas 64 17.190.234

Registradas no 26l) 58.369.952


CRI e ou SP
DEMARCAÇÕES FORA DA AMAZÔNIA
Total 538 58,78 75.633.408 72,98
O PPTAL tem provido recursos da cooperação alemã para a de-
Total no Brasil 575 100,00 103.631.578 100,00
marcação das terras indígenas na Amazônia Legal. Porém, este
apoio não se estende às demais regiões do País, nem mesmo para
a área de domínio da Mata Atlântica, que recebe algum apoio em A extensão total das terras indígenas corresponde a 12,3% da ex-
outros componentes do PP-G7. Assim, as demarcações no Nordes- tensão do território nacional. Os números correspondentes à ex-

te, Sudeste, Sul e Mato Grosso do Sul continuam dependendo ex- tensão das terias “a identificar” ou “em identificação” apresenta

dusivamente do aporte de recursos do orçamento da União. F.n- uma distorção, pois apenas parte delas dispõe de referências quanto
quanto a Funai sequer consegue gastar todos os recursos disponí- à área. As terras “em revisão" ou sujeitas a “restrições de uso”

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1396/201)0 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 165


ser alteradas quando estiverem definitivamente identi- Os avanços ocorridos nos anos 90 não se deram de forma linear.

ficadas. As terras “identificadas” e “delimitadas" poderão apre- Houveram fluxos e refluxos e, à exceção de alguns momentos es-

sentar pequenas alterações quanto às suas extensões pois a defini- pecíficos em que as demarcações se intensificaram, pode-se dizer
ção dos seus números exatos depende dos trabalhos topográficos que o ritmo delas é geralmentc lento, mesmo havendo disponibili-
executados no processo de demarcação física. dade de recursos no contexto do PPTAL. Dc todo modo, diferente-
mente do período dos governos militares e do governo Samey, em
0 número de terras indígenas também sofre alterações em função
qne havia paralisia no processo por deliberada falta de decisões
dos processos de demarcação que, eventualmente, podem aglutinar
políticas, e ressalvado o caso de alguns processos que continuam
ou desmembrar algumas das terras. Também ocorrem casos, como
pendentes ainda hoje pela mesma razão, os principais obstáculos
entre os Mbiá no Sul do País, em que grupos indígenas que se
para que haja um fluxo mais ágil nas demarcações estão situados
encontram acampados em beira de estradas acabam obtendo uma
no âmbito da própria Funai, Há morosidade na formação dos gru-
terra que até então não constava de listagens oficiais, Há, ainda,
pos de trabalho para Identificação de terras indígenas, atrasos na
grupos de índios antes isolados, que passam a estabelecer contato
entrega dos laudos antropológicos, na tomada das providências
e passam a ter as suas terras nelas incluídas.
rclatívas às licitações para as demarcações físicas e na fiscalização
Essas alterações tomam complexa a tarefa de comparar o cômpu- dos trabalhos demarcatórios, que frequentemente apresentam er-

to atual com outros cômputos anteriores. O publicado na última ros técnicos e exigem o retorno das empresas contratadas para
edição de “Povos Indígenas no Brasil, 1991-95”, por exemplo, que sejam refeitos. Estes fatores deverão impedir que o processo
mencionava uro número total de terras que incluía as 14 áreas de demarcação das terras indígenas seja concluído ainda no atual
que, posteriormente, foram oficialmente reconhecidas de forma mandato presidencial.
contínua integrando a TI Alto Rio Negro. Assim, a melhor forma de
Portanto, estes avanços ainda estão muito aquém do desejável e do
avaliar o desempenho do processo demarcatório nos últimos anos
possível, sendo que a Constituição previa a conclusão de todas as
é através da comparação das providências adotadas em cada go-
demarcações até o ano de 93, prazo este já descumprido há vários
verno, como se segue:
anos. Pelo menos 1 50 terras indígenas continuam sem limites de-
finitivamente estabelecidos, além de outras providências faltantes
Presidente Período/ Qtdes. Extensão Homolo- Extensão
indicadas pelo cômputo acima.
ano declaradas (ha) gada n° (ha)

Fernando 58 25.794.203 112 26.405.219


Coílor
Jan.90/set.92
RAPOSA-SERRA DO SOL
Jtamar OuL92/dez.94 39 7.241.711 16 5.432.437 A principal pendência relativa às demarcações refere-se ao caso
Franco da TI Raposa-Serra do Sol, situada no nordeste do Estado de
Roraima. Ocupada desde tempos imemoriais por índios de cinco
Fernando Jan.95/ag/00 82 28.043.812 1J5 31.344.576
H. Cardoso
etnias - Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Taurepang e Patamona- e
identificada pela Funai em 1993 com uma extensão aproximada
Total 243 63.182.232
de 1,8 milhões de ha. É a mais populosa entre as terras indígenas
que ainda não tiveram a sua demarcação concluída.
Como se vê, é expressivo o avanço havido no processo demarcatório
no decorrer dos últimos dez anos. Mais de dois terços do total das Em dezembro de 1996, um despacho do ex-ministro Nelson Jobim
terras com demarcações concluídas foram neste período, embora recusou as contestações havidas durante o processo do contradi-
caiba ressaltar que várias delas foram submetidas aos procedi- tório e reconheceu a constitucionalidade do laudo antropológico
mentos atualmente previstos pelas normas administrativas atual- que fundamentou a sua identificação. Mas determinou à Funai que
mente vigentes, apesar de já terem sido anteriormente reconheci- procedesse à revisão dos seus limites, de modo a excluir áreas
das segundo os procedimentos vigentes à época. É o caso do Par- situadas ao sul da terra indígena, aiém de outras “ilhas” no entor-

que Nacional do Xingu, criado em 1961 por decreto presidencial no de cinco “vilas” de garimpeiros invasores. No entanto, este des-
com base na legislação ambiental então vigente, portanto, através pacho não apresentou um memorial descritivo para o novo perí-

de ato de igual hierarquia legal que o decreto homologatório de metro proposto, que definisse com clareza os cortes que deveriam
terra indígena e que foi redemarcado posteriormente. ser feitos, estimados em cerca de 300 mil ha. Os limites não foram
revistos pela Funai e, em dezembro de 1998, a portaria ministerial
As 14 terras “reservadas” a que se refere o cômputo acima são
de reconhecimento da sua extensão integral foi assinada pelo ex-
consideradas como estando com os seus procedimentos
ministro Renan Callieiros, determinando a sua demarcação física.
demarcatórios concluídos com base nas normas então vigentes,
embora não se descarte a possibilidade de que também venham a Como os limites reconhecidos pela portaria ministerial
ser submetidas um dia aos procedimentos atuais. Juridicamente, correspondem, na sua quase totalidade, à linha de fronteira inter-
não há necessidade de redemarcar estas terras, mas muitas outras que nacional e ao curso dos principais rios da região, as providências
se encontravam em condições similares o foram por decisão da Fimai. relativas à sua demarcação física necessárias à homologação da

166 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1336/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


j
rapidamente tomadas pela Fim ai. No entanto, iniciou- Há pelo menos dois tipos de demandas quanto a revisões de limi-

se um processo de fortes pressões políticas movido pelo governo e tes de terras indígenas. Algumas são absolutamente legítimas, pois
pelas bancadas parlamentares estaduais, que incluíram a ameaça se referem a casos de terras demarcadas em tempos passados com
de promoverem um “banho de sangue”, proferida até mesmo em exígua extensão, insuficientes para a sobrevivência dos índios. Pre-

cadeia de televisão, caso a terra indígena venlta a ser homologada dominam casos deste tipo nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do

pelo presidente da República. País, nas quais se incluem o Mato Grosso do Sul, onde os índios
Terena e Kaiowá vivem confinados com menos de um
em áreas
Apesar da área já estar adnimistrativamente demarcada, ainda ocor-
em fazendas fora
hectare por habitante, sendo forçados a trabalhar
rem pressões no âmbito do Poder Executivo e há pendências no
dos seus íimites e sofrendo várias consequências nefastas. A
Poder Judiciário. Em reunião sobre o assunto havida na Presidên- exiguidade das terras é um dos fatores apontados como causa do
cia da República, a Advocacia Geral da União c o Ministério da
elevado índice dc suicídios entre os Kaiowá.
Defesa expressaram ao presidente sua preferência pela redução
da área, nos termos do despacho Jobim. 0 Ministério da Justiça, a Porém, também há casos em que demandas indígenas por ampli-
Casa Civil e a Funai expressaram o seu apoio à portaria ministeri- ação de área estão relacionadas a reservas de recursos naturais
al. O presidente ainda não tomou uma decisão a respeito. exauridos nos territórios tradicionais era decorrência da explora-
ção predatória, normalmente realizada com algum grau de con-
Por outro lado, o Estado de Roraima propôs um mandado de se-
sentimento dos grupos indígenas ocupantes. É o caso da TI
gurança junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), defendendo
Badjônkôre, reivindicada pelos índios Kaiapó, que já dispõem de
uma demarcação em “ilhas", ainda mais restritiva que a própria
mais de dez milhões de ha reconhecidos, para uma população que
proposta do despacho Jobim. O STJ analisa o mandado de segu-
não ultrapassa seis mil pessoas. Eles alegam que esta nova área se
rança e concedeu uma liminar determinando a permanência dos
inclui no território por eles tradicionahnente ocupado no passa-
ocupantes não-índios na área até o julgamento final do mandado.
do. Atualmente, há apenas ocupações indígenas recentes em sedes
No entanto, a liminar concedida não impede a continuidade do pro-
de fazendas situadas na região. Ao longo dos últimos 20 anos, a
cesso demarcatório e a homologação da área na sua extensão integral.
exploração predatória de mogno exauriu as reservas anteriormente
Pela importância específica do caso, a pendência quanto à homo- existentes na TI Kaiapó e há indícios de que, mais do que a terra,

logação de Raposa-Serra do Sol coloca dúvidas quanto à os Kaiapó visam com esta reivindicação o acesso a outras áreas

credibilidade da posição do governo em relação à demarcação onde ainda possa haver mogno passível de exploração.

das terras indígenas. Por tratar-se de uma pendência de caráter


Há casos em que ambos os fatores estão presentes em reivindica-
político, deixa a dúvida quanto à primazia dos critérios técnicos
ções indígenas. É o caso da ampliação proposta pelos índios
antropológicos na definição dos limites das terras indígenas. A
Xokleng. Seu território atual já demarcado, situado no Estado de
ameaça do governo estadual de promover o tal banho de sangue é
Santa Catarina, foi objeto de redução no passado, além de outros
vista pelos índios como uma tentativa de chantagem contra o go-
impactos sofridos pela construção de barragens para contenção
verno federal. Na verdade, já houve vários casos de conflitos com
de enchentes em cidades da região. Porém, a ampliação proposta
mortos e feridos na região, e a prolongada indefinição quanto aos
não se limita à recuperação de áreas subtraídas, mas inefui novas
seus limites definitivos é que mantém a situação de tensão e o ris-
áreas e um novo perímetro formado por linhas secas, que certa-
co de novas violências contra os índios. A homologação desta área
mente não correspondem à ocupação tradicional e que visam in-
com a sua extensão integral, além de solucionar o caso em si,
corporar áreas pertencentes a unidades de conservação ambiental,
sinalizaria a disposição do governo em dar curso normal aos pro-
Os Xokleng também se associaram à exploração madeireira no
cessos demarcatórios, sem concessões indevidas aos interesses
passado, ao ponto de se exaurirem as áreas de floresta no interior
políticos e econômicos eventualmente contrariados.
da terra demarcada, e há indícios de que o perímetro proposto
para a sua ampliação traga implícita a intenção de retomar con-
OUTROS IMPASSES tratos ilegais com madeireiros da região, visando a devastação das
florestas existentes nestas unidades de conservação.
Além do caso Raposa-Serra do Sol e de alguns outros casos pen-
dentes de decisão política, há outros impasses relativos à demar- Assim, algumas das demandas de revisão de áreas estão relaciona-

cação das terras indígenas. Alguns de caráter administrativo, como das mais a recursos naturais exauridos do que à necessidade de

os já apontados em relação às dificuldades da Funai para acelerar terra propriamente dita. Portanto, têm a ver com a incapacidade
o processo demarcatório. Outros relativos ao acúmulo de obstá- da Funai e das próprias comunidades em implementarem projetos
culos surgidos em função de decisões judiciais que anulam ou econômicos que viabilizem a auto sustentação dos índios. Se não
atrasam outras demarcações. Mas há outros ainda mais comple- chegam a ser ilegítimas, estas reivindicação colocam, pelo menos,
xos, que se referem a uovas demandas indígenas por revisões de muitas dúvidas quanto à conclusão do processo demarcatório,
áreas já demarcadas ou identificadas, e as relativas às chamadas projetando para o infinito reivindicações que vêm encontrando

etnias emergentes. resistências políticas cada vez mais fortes.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B.'2000 - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 167


-"0?* Acervo
_//\V ISA lesma forma, há diversas situações envolvendo reivindicações é imperativo que o governo estruture programas de fomento, de
territoriais por parte das chamadas etnias emergentes, grupos in- manejo sustentável e de recuperação de áreas degradadas.

dígenas que chegaram a ser oficialmente considerados como ex-


Certas situações, como a dos índios M’biá que, em muitos casos,
tintos ou que deliberadamente procuraram não se identificar como
estão vivendo à beira de estradas, especialmente na região Sul,
indígenas no passado, em função do preconceito até então exis-
também seria necessária a formulação de programas específicos
tentes. Alguns grupos efetivamente descendentes de povos indíge-
para definir as suas perspectivas, de permanência ou não nas áre-
nas hoje reassumem a sua identidade tradicional por entenderem
as em que se encontram, bem como a sua origem, se vêm de ou-
que os avanços mais recentes no reconhecimento de terras e de
tras terras já reconhecidas ou de outros países, devendo conside-
direitos aos índios passaram a ser mais interessantes que a nega-
rar-se, sobretudo nestes últimos casos, a possibilidade de se lan-
ção da própria identidade praticada no passado. É, claramente, a situ-
çar mão de instrumentos de desapropriação para assentá-los.
ação relativa aos índios Kokama, do alto Solimões, aqui já referida.

A questão das etnias emergentes também requer providências es-


Mas também há casos polêmicos, envolvendo grupos bastante
pecíficas, seja através do provimento de laudos antropológicos
miscigenados, especialmente na região Nordeste, que reivindicam
consistentes que atestem a condição indígena destes grupos, seja
identidades tradicionais que, na verdade, nunca corresponderam
através do encaminhamento de eventuais demandas distorcidas por
a povos específicos, mas a designações genéricas atribuídas pelos
terras ou direitos aos órgãos públicos competentes.
colonizadores a conjuntos de etnias que não eram capazes de dis-
tinguir. É o caso de um grupo que agora se apresenta como des- A atual falta de planejamento e de critérios para estas situações

cendente dos TUpinambá que. na verdade, eram constituídos de coloca o órgão indigenista ao sabor de pressões, nem sempre qua-
povos diversos, os primeiros a estabelecer contato com os portu- lificadas, mas que por vezes acabam se sobrepondo à situação mais
gueses na costa brasileira durante o século XVI. fundamental de providenciar a identificação e a demarcação de
terras indígenas que ainda não foram objeto de qualquer provi-
Estas situações também tendem a produzir resistências políticas,
dência administrativa.
dúvidas antropológicas e pendências judiciais. Colocam, ainda, o
Estado brasileiro diante da perspectiva de infinitude do processo Esta situação casuística poderá ampliar o número de processos
demarcatório. demarcatórios subjúdice ou sujeitos a derrotas judiciais. Poderá,
também, suscitar reações ainda maiores por parte de regionais ou
de forças políticas contrariadas, com conseqiiências nefastas até
PROVIDÊNCIAS E RISCOS PARA O FUTURO mesmo para os casos absolutamente legítimos de demarcação de
terras para os povos que até hoje não viram as suas demandas
Em vista das pendências ainda existentes no processo de demarca-
atendidas.
ção das terras indígenas, algumas providências poderiam ser ado-
tas no sentido de agilizar a sua conclusão. A principal delas seria a 0 governo federal deveria equacionar a questão da disponibifização
articulação de uma campanha nacional pró identificação de terras de recursos orçamentários para as demarcações e regularizações

indígenas, que pudesse mobilizar antropólogos e técnicos de vári- da situação fundiária das terras já demarcadas. Por maiores que

os órgãos e instituições, priorizando as terras que ainda não fo- sejam as necessidades de recursos, elas constituem uma pequena
ram objeto de qualquer providência administrativa em relação a fração frente aos compromissos orçamentários da União, mesmo
outras demandas de revisão e deampliação de terras já identificadas os correspondentes à política de reforma agrária Diante do volu-

ou demarcadas. me de dinheiro público que hoje se destina ao pagamento de ju-

ros, ou que se desvia para a corrupção e para a ineficiência admi-


Também seria importante que a Fimai exercesse uma atuação mais
nistrativa, as demandas indígenas significam muito pouco.
pró ativa na orientação dos antropólogos convocados para coor-
denar os grupos de trabalho de identificação de terras indígenas. 0 atual governo deveria repor a perspectiva de concluir o proces-

Via de regra, estes antropólogos, alguns recém formados, inclusi- so demarcatório no horizonte do seu mandato. Resolver com bre-

ve, são enviados a campo sem que disponham de informações e de vidade os casos pendentes de decisão política, como o de Raposa-
orientações básicas para a realização dos seus trabalhos. A conse- Serra do Sol, programar a disponibifização dos recursos necessá-
qiiência tem sido o atraso na entrega dos laudos antropológicos rios e pressionar a Funai para que resolva as deficiências que têm
ou a necessidade de revisá-los posteriormente. retardado as providências que estão aos seus cuidados.

As demandas de revisão de terras já demarcadas requerem o esta- É bem verdade que situações como a dos índios que ainda não
belecimento de critérios que possam distinguir entre os vários ti- mantém contato com a sociedade nacional, não são passíveis de
pos de reivindicação. Nos casos das terras em que há evidente programações com cronogramas rígidos. Mas mesmo nestes ca-

superpopulação indígena, a Funai não deveria continuar esperan- sos, as providências possíveis deveriam ser urgentizadas, pois com
do pela eclosão de conflitos e podería antecipar-se, formulando o passai' do tempo e com o avanço do processo de ocupação até
programas que ordenem estas demandas. Já nos casos em que a mesmo nas regiões mais remotas do país, as soluções ficarão cada
questão não é a exiguidade de mas a exaustão de recursos,
terras, vez mais difíceis e onerosas, (jiãho 2000) ,

168 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


"J/LíZ^ Acervo
_//*C ISA
Regularização das Superposições
entre terras Indígenas e
Unidades de Conservação

Rachel Biderman Furriela e Advogados do ISA

Raul Silva Telles do Vaile

A CRIAÇÃO DE GRUPOS DE TRABALHO PARA posição entre terras indígenas e UCs ê que muitas vezes as comu-

RESOLVER A QUESTÃO DAS SUPERPOSIÇÕES nidades são alijadas dos processos de tomada de decisão sobre a

SERÁ UM EXERCÍCIO PARA A INTEGRAÇÃO utilização das áreas necessárias à sua sobrevivência, o que impli-

DAS POLÍTICAS INDIGENISTA E AMBIENTAL ca, em alguns casos, na restrição de uso da área pelos índios, e em
outros, na autorização de uso por terceiros, em flagrante desres-
peito aos direitos originários das comunidades sobre seus recur-
A defesa dos direitos indígenas c ambientais historicamente anda- sos. Dessa forma, devido à falta de permeabilidade do órgão
ram juntas. É impossível garantir o direito que as comunidades ambiental às demandas da comunidade indígena, em muitos casos
indígenas têm sobre as terras por elas tradicionalmente ocupadas esta se torna uma “intrusa” em sua própria terra, perdendo a au-
(art. 231 da Constituição Federal) sem considerar a importância tonomia sobre o manejo dos seus recursos e sobre a fiscalização

da conservação ambiental dessas áreas e sua aptidão para ofere- do território. Um exemplo clássico de conflito desse tipo é o da
cer os recursos necessários à sobrevivência física e cultural das Ilha do Bananal, onde convivem um Parque Nacional du Araguaia
comunidades que nela habitam. Porém, nem sempre a convivên- e uma Terra Indígena (antiga TI Boto Velho) ,
e onde os conflitos
cia entre a política Indigenista e a política ambiental tem sido har- Fundiários são agudizados pela falia de gestão administrativa con-

moniosa e complementar. junta e pela desídia do órgão ambiental na fiscalização e combate


às invasões de fazendeiros e madeireiros. Situação parecida ocor-
re no Parque Nacional Pico da Neblina, no Amazonas, onde as
POLÍTICAS DIVERSAS
comunidades indígenas temem a pressão de uma eventual expan-
Ao longo dos tempos, inversamente ao que se poderia esperar, os são do ecoturismo em suas terras, promovida pela política oficial

órgãos competentes para tratar da questão indígena (Funai e seus do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
antecessores) sempre viram a questão ambiental como secundá- Renováveis (lbama).
ria no processo de demarcação de terras, assim como os órgãos
ambientais nunca entenderam a demarcação de terras indígenas OS GRUPOS DE TRABALHO:
como uma possibilidade efetiva de conservação dos recursos na- POSSÍVEL SOLUÇÃO PARA O CONFLITO
turais. Dessa forma, embora seja notório que as comunidades in-
Entretanto, esses conflitos advindos da superposição entre áreas
dígenas necessitem de áreas ecologicamente sadias para poder
indígenas e UCs podem estar com seus dias contados. A resolução
sobreviver, e que em decorrência disso costumam utilizar seus dessas pendências tomou-se obrigação legal. O cumprimento dessa
recursos de maneira a conservá-los para as amais e próximas ge-
exigência prevista em lei dependerá, no entanto, de vontade políti-
rações, não se logrou ainda implementar uma política integrada
ca e articulação dos agentes de governo para a Implementação da
para essas questões. Lei n° 9-985, de 18 de junho de 2000, que instituiu o Sistema
l'ma grave decorrência dessa falta de planejamento conjunto é a Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Snuc) e esta-

criação de Unidades de Conservação (UCs) sobrepostas a áreas belece os critérios e normas para a criação, implantação e gestão

tradicionalmente utilizadas por povos indígenas, 0 que gera, em das unidades de conservação.

muitos casos, uma série de atritos entre as comunidades, a Funai e A lei do Snuc, como ficou conhecida, estabeleceu, em seu artigo
o órgão ambiental. O principal problema decorrente da sobre- 57, a obrigação para os órgãos federais responsáveis pela execu-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCÍOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 165


Acervo
_//£ ISA
ção dás poliiicas ambiental e indigenista de instituir grupos de tra- A PROPOSTA DA RESERVA INDÍGENA
balho para, no prazo de 180 dias a partir da vigência da Lei, pro-
DE RECURSOS NATURAIS
por as diretrizes a serem adoladas com vistas à regularização das
O Instituto Sodoamblental propôs uma solução para a questão da
eventuais superposições entre áreas indígenas e unidades de con-
superposição no processo de discussão legislativa da lei do Snuc.
servação. Além dessa obrigação, a lei exigiu que no ato de criação
dos grupos de trabalho deverão constar seus participantes, bem À época, foi apresentada proposta ao deputado Fernando Gabeira,
relator do Projeto de Lei em tramitação na Câmara dos deputados,
como a estratégia de ação e a abrangência dos trabalhos, garantin-
do-se a participação das comunidades envolvidas.
de criação de uma nova figura intitulada “Reserva Indígena de
Recursos Naturais (RIRN)”. Essa unidade de conservação integra-
O objetivo específico desses grupos de trabalho criados pela lei do
ria o Snuc e se destinaria à proteção dos recursos ambientais exis-
Snuc é possibilitar a resolução de conflitos envolvendo terras indí-
tentes em terras indígenas. Deveria ser criada por decreto presi-
genas e UCs de forma consensual, criando foros de discussão onde
dencial, por solicitação da(s) comunidade(s) indígena(s), desde
as partes interessadas serão obrigadas a negociar uma saída que que aprovada pelo órgão ambiental federal, se comprovada sua
contemple os interesses em questão, que não são irreconciliáveis, relevância ambiental. Segundo a proposta, a RIRN deveria ser gerida
uma vez que é de interesse, tanto do órgão ambiental quanto das
pela comunidade indígena ocupante, que poderia requisitar o apoio
comunidades indígenas, a conservação ambiental nessas áreas. No
dos órgãos indigenista e ambiental para a realização dos atos de
dia 08 de novembro os Ministros da Justiça (José Gregori) e do no entanto,
proteção e fiscalização da unidade. Essa proposta ,

Meio Ambiente (J os é Sarney Filho) editaram a Portaria


não chegou sequer a constar do relatório final apresentado pelo
Interministerial No. 26l, instituindo um grupo de trabalho com o
deputado Fernando Gabeira à Comissão de Meio Ambiente e Mi-
objetivo de ímplemenUir a determinação contida no artigo 57 da Com
norias da Câmara, razão peia qual não consta da Lei do Snuc.
Lei do SNUC. Esse grupo de trabalho interimuisteriid conta com
a retirada da figura da RIRN durante a tramitação do projeto, per-
representantes do ministérios do Meio Ambienle e da Justiça, do
maneceu, mfelizmente, uma grande lacuna em nosso ordenamento
1 a
Ibama, da Funai e da 4 e 6 Câmaras do Ministério Público Fede-
no que tange à questão de preservação ambientai em terras indí-
ral. Essa portaria deixou de contemplar exigência da lei que deter-
genas . A eventuai retomada dessa proposta permitiria solução mais
mina que deve ser garantida a participação das comunidades en- apropriada à resolução da questão da superposição.
volvidas nesse processo. O prazo de trabalho estipulado para con-

clusão dos trabalhos do grupo interministerial é de 60 dias, pror-


rogáveis por outros 60 para propor
,
“diretrizes a serem adotadas UMA PROPOSTA DE SOLUÇÃO
com vistas à regularização das eventuais superposições entre áre- PARA AS SOBREPOSIÇÕES
as indígenas e unidades de conservação”. No dia 14 de novembro,
O processo de regularização das superposições entre terras indí-
alguns dias depois da edição de portaria, o Ministro do Meio Am-
genas e UCs deverá ser orientado pelo princípio contido no artigo
biente convocou reunião extraordinária do Conselho Nacional do
231 da Constituição Federal que estabelece que “são terras tradi-
Meio Ambiente paia discutir e buscar soluções para os problemas
cionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em cará-
relacionados às superposições, Como resultado da reunião do
ter permanente, as utilizadas para as suas atividades produtivas, as
Conarna foi criado um grupo de trabalho que deverá gerar subsí-
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessári-
dios ao grupo interministerial.
os ao seu bem estar e as necessárias à sua reprodução física e

A própria lei determina que as comunidades indígenas devem ter cultural, segundo seus usos, costumes e tradições". De acordo com
voz ativa nesse processo, o que pressupõe a participação de repre- esse princípio constitucional, não é possível validar unidades de
sentantes de cada comunidade em que exista situação de conservação em terras tradidonahnenle ocupadas por comunida-
superposição territorial de terras indígenas e UCs em eventuais des indígenas, pois estas têm direito originário sobre suas terras,

grupos específicos para regularizar cada área de conflito. O grupo ou seja, anterior à criação de qualquer unidades de conservação.
inicial que definirá as diretrizes gerais deveria contar com repre- Em outras palavras, a regra que deverá nortear as tarefas dos gru-
sentações significativas de lideranças indígenas das principais áreas pos de trabalho a serem instituídos segundo determina o artigo 57
onde existem superposições. Outros atores com reconhecida atu- da Lei do Snuc, é a de qualquer unidade de conservação cujos
ação nas áreas sob análise também deveriam ser consultados e limites se sobreponham, total ou parcialmente, ao perímetro de
convidados a participar nesse processo, como instituições públi- terras indígenas, deixarão de existir, onde houver superposição.
cas e privadas, com experiência comprovada nesses temas
A superposição parcial entre os perímetros de UCs e terras indíge-
socioambientais. Espera-se que essa falha venha a ser contornada
nas deverá ensejar a alteração do ato normativo criador da unida-
no decorrer desse processo de discussão.
de de conservação. Uma alternativa em situação de conflito seria o
estabelecimento de um novo perímetro para a unidade de conser-
vação se houver possibilidade de expansão desta em área contí-
gua, porém não coincidente com a terra indígena. Em não sendo
possível, poder-se-ia cogitar da hipótese de criação de uma nova

170 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL


%

ÇÃO ENTRE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E TERRAS INDÍGENAS


São 46 as sobreposições entre Terras Indígenas e Unidades de Conservação Federais e Estaduais na Amazônia Legal - envolvendo 41 áreas de
conservação e 32 T/s reconhecidas oficialmente. A extensão da área sobreposta é de 13 521. 729 hectares. Este é o resultado do monitoramento
dessas terras elaborado através
,
do Sistema de Informação Geográfica do Instituto Socioambiental - SIG/ISA , em setembro de 2000.
Além dessas sobreposições, listamos alguns casos sobre os quais há registro de ocupação indígena em áreas de conservação federais e estaduais
da Mata Atlântica. (Fany Ricardo/ISA)

VF UC Federal Terra Indígena Área sobreposta

Há %(1) %(2)

PA Parque da Amazônia Andird-Maraú 90..W 9.91 11,40

TO Partia do Araguaia tnawébohona 376. 545' 66,96 100,00

AP Partia Cabo Orange Uaçále II 53-323 11,51 11,36

RR Pama Monte Roraima Raposa/Serra do Sol 106.169 100,00 6.06

RO Pama Pacaas Novos Uru-Eu-Wau-Wau 704.356 100,00 37,42


'**
AM Pama do Pico da Neblina Balaio 52.726 2.34 100,00

AM Idem Médio Rio Negro II 43.443 1,93 13,58

AM Idem Yanomami 1.140.370 50,64 11,89

MT Estação Ecológica do íquê Enawenê-Nawê 222.514 99,57 29,32

RO Reserva Biológica dojaru Igarapé Lourdes 7.789 2,74 4,00

RO Rebio do Guaporé Massaco 410.624 68.81 95.65

AM Reserva Ecológica Jutaí So/imões Betânia 3-999 1,37 3,29

AM Flona de Altamira Baú 1.061 0,15 0.06

AM Flona do Amazonas Yanomami 1.411.568 95.10 14,72

RR Flona de Roraima Yanomami 2.798.547 95,62 29,19

RO Flona Bom Futuro Karitiana 35.388 12.53 38,18

RO Flona do Purus Inauini-Teuini 67.887 14,20 26,66

AM Flona Mapiá-Inauini Inauini-Teuini 5.027 1,05 1.34

Idem Camicuã 1.050 0,28 1,79

AM Flona de Humaitá Diabtii 29299 6% 61

AM Flonal Cubate Alto Rio Negro 432.645 100,00 537


AM Flona Cuiari Alto Rio Negro 109.268 100,00 1,36

AM Flona Içana Alto Rio Negro 198.582 100,00 2.46

AM Flona Içatia Aiari Alto Rio Negro 486.657 100,00 6,04

AM Flona Pari Cachoeira / Alto Rio Negro 17.626 100,00 0.22

AM Flona Pari Cachoeira II Alto Rio Negro 636.012 99.96 7.89

AM Floresta Nacional Pirauiara Alto Rio Negro 636.940 100,00 7,90

AM Flonal Taracuá I Alto Rio Negro 655.385 100,00 8,43

AM Flona Taracuá U Alto Rio Negro 562.582 100,00 6,98

AM Floresta Nacional Uruçu Alto Rio Negro 72.492 100.00 0,90

AM Flona Xié Alto Rio Negro 402.123 99.15 4.99

Total de Ves 28 Total de Tis 18 11.772.364

(!) em relação à UC Federa!


(2) em relação à Terra Indígena

* AT! Roto Velho foi reidentificada com o nome de tnawébohona e ampliada para 376.545 ha
**A TI Balaio está sendo reidentificada, mudará o nome e a extensão

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 171


IÇÕES ENTRE UCS ESTADUAIS E TIS NA AMAZÔNIA LEGAL
UF UC Estadual Terra Indígena Área sobreposta

Há %(1) %(2)
AM Parque Estadual Serra do Araçá Yanomami 1.522.002 81,80 15,90

AM Parque Est. Rio Negro Setor Norte Waimiri-Atroari 5.715 3,36 0,22

AM REB/O dos Seis Lagos Balaio 11.187 29,80 21,20

AM Reserva Desenwlv. Sustentado Amaná Cuiú-Cuiú 36.805 1,64 100,00

AM Res.Desenvolv. Sustentado Mamirauá Jaquiri 1.666 0,13 99,50

AM Idem Acapuri de Cima 19.467 1,50 100,00

AP Res.Desenv. Sustentado Rio Iratapuru Waiãpi 2.656 0,30 0,44

RO Floresta Estadual de Rend. Sust. Do Rio Vermelho (D) Kaxarari 2.713 1,87 2,45

RO Florest.Est.Rend.Sust.do Rio Roosevelt Roosevelt 3552 12,00 1,49

RO Florest.Est.Rend.Sust.do Rio Mequens Rio Mequens 1.402 0,32 1,30

RO Idem Igarapé Omerê 16.477 3.80 32,00

MA APA Baixada maranhense Rio Pindaré 5.602 0,33 35,50

AM APA Marquem Esquerda do Rio Negro Waimiri-Atroari 112.023 15,10 4,29

AM APA Margem Direita do Rio Negro Jatuarana 4.455 0,69 81,80

AM APA Medio Punis Lago Ayapm LagoAyapud 3.643 18,50 15,00

Total deVCs 13 Total de Tis 14 1.149.365

(1) em relação à UC Estadual

(2) em relação à Terra Indígena

OCUPAÇÕES INDÍGENAS EM UCS DA MATA ATLÂNTICA


UCs Povo/TI

Parque Nacional Monte Pascoal Pataxó

Parque Nacional Ilha do Superagui (SP/PR) Guarani M'bya

Parque Estadual Ilha do Cardoso (SP) Guarani M'bya

Parque Estadual Intervales (SP) Guarani M'bya

Estação Ecológica dejuréia-ltatins (SP) Guarani M’bya


*
Área de Relevante Interesse Ecológico da Serra das Abelhas Reserva Biológica Estadual do Sassafrás (SC) Xokleng (TI Ibirama La Klãnô

•A Funai aprovou os reestudas da TI tbirama, em 1 1/11/99, cuja superfície de 14.084 ha, passou para 37. 108 ba, comfigurando sobreposição com as duas UCs.

unidade conservação em área próxima com características históricos. É imprescindível que as autoridades competentes te-

ambientais e natureza similar à que deixar de existir. Em outras nham vontade política para resolver essas pendências e estabele-
palavras, onde existir unidade de conservação totalmente inserida çam políticas de conservação ambiental compatíveis com a prote-
em terra indígena, ela deverá deixar de existir. Onde a superposição ção e defesa dos direitos das comunidades indígenas e do desen-
for parcial, seu perímetro deverá ser alterado, limitando-se ao volvimento sustentável. Não será simples a solução dos casos de
perímetro não superposto, ou ampliado a área contígua. superposição de terras indígenas e unidades de conservação, pois
mesmo com a criação dos grupos de trabalho e a definição de
DESAFIOS diretrizes justas e plausíveis, ainda assim será necessário um ár-

É importante que os grupos constituídos pelos ministérios avaliem duo trabalho junto ao poder legislativo para que sejam editadas as
caso a caso para permitir a adequação dos objetivos de conserva- leis necessárias à desafetação das Unidades de Conservação, como
o
ção ambiental e de proteção dos direitos territoriais das comuni- determina o texto constitucional (art. 225, § I
,
111) . De qualquer
dades indígenas. É preciso que as áreas de governo envolvidas com forma, esse será um importante exercício para a definição de po-

esses conflitos dêem prioridade para o trato da matéria, abando- líticas para o uso sustentável dessas terras de enorme importância
nando eventuais comportamentos corporativistas e antagonismos socioambiental. (novembro, 2000)

172 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^tUSLs- Acervo
//\C I SA

As Terras Indígenas e as Unidades de


Conservação: A proposta de "RIRN"
é direito e vantagem para os índios

Márcio Santilli Coordenador do Programa


Brasil Socioambiental/ISA

PODEM OS ÍNDIOS ASSOCIAR-SE AO exaurir. Mudam a localização das aldeias em busca de novas re-

ESTADO BRASILEIRO PARA PROMOVER servas de recursos naturais, enquanto a área anteriormente ocu-

A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS pada se recompõe. Um dia poderão voltar a viver onde se localiza-

EXISTENTES EM SUAS TERRAS? PODEM OS va sua antiga aldeia. Nem sempre se trata de um processo pacífico,
linear, pois a guerra é um recurso freqüente, de modo que um
ÍNDIOS ASSOCIAR-SE A TERCEIROS PARA
local anteriormente ocupado por determinado grupo passa a per-
PROMOVER A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS
tencer a outros. Certamente há casos de povos pré-colombianos
NATURAIS EXISTENTES EM SUAS TERRAS?
que pressionaram excessivamente os recursos dos seus territóri-

os, mas também há casos cm que o manejo tradicional destes re-

cursos implicou cm aumento da biodiversidade, no desenvolvi-


Estas questões têm gerado polêmica nas discussões que objetivam
mento por processos culturais de variedades genéticas de grande
a formulação de legislação para a defesa dos direitos indígenas e
importância alimentar. Grosso modo, os povos que viviam nas flo-
do meio ambiente, e também em relação às estratégias de trabalho
restas tropicais da América dispunham de fartura de recursos.
das organizações de apoio junto às comunidades indígenas. As di-
ficuldades decorrentes da multiplicação das relações de contato Atualmente, o que também vale para o futuro, os povos indígenas
entre os povos indígenas e a sociedade brasileira (e internacio- vivem em circunstância radicalmente diferente. Mesmo supondo-
nal), associadas à ambiguidade de conceitos consagrados na tra- se a melhor das hipóteses, que tenham suas terras demarcadas em
dição constitucional brasileira relativa aos direitos indígenas, cau- grande extensão, desintrusadas de invasores, estarão confinados
sam enorme confusão entre indigenistas e ambientalistas que atu- nelas. Terão que produzir sua subsistência e os excedentes indis-
am no âmbito do governo e das organizações não governamentais. pensáveis para a aquisição de bens de consumo que desejem ou
uma vez estabelecidas, introduzem nas so- necessitem a partir dos recursos ali existentes. Se a população cres-
As relações de contato,
ciedades indígenas necessidades e expectativas que não podem
cer, o que é desejável, sobretudo nos casos dos povos qne estão

ser solucionadas pelas práticas econômicas e culturais pré-conta-


em processo de recomposição demográfica decorrentes de conta-
tos genocidas, tanto maior será a pressão que teião que exercer
to. Geraimente, antes mesmo de verem o primeiro homem bran-
sobre estes recursos finitos. Para recomporem relações sustentá-
co, as comunidades indígenas começam a ser afetadas por doen-
veis, necessitarão de apoio, de parcerias, de aportes técnicos, de
ças de branco que suas medicinas tradicionais e seus sistemas
imunológicos desconhecem. Os primeiros contatos se dão com conhecimentos científicos que lhes permitam algum grau dc auto-

aventureiros, em contextos conflitivos, em relações desiguais. São


nomia e de resistência ao esbulho total. Outra hipótese de sobrevi-
vência é a caridade missionária ou oficial, alguém que lhes doe o
interlocutores que visam a exploração de eventuais riquezas dos

índios e de suas terras. Mesmo o contato oficial se estabelece atra-


que necessitam, e seja capaz de seguir doando de forma crescente

vés da geração de relações de dependência, da oferta de facões,


e permanente. Dependência, em lugar da autonomia.

panelas e outros bens de consumo utilitário que produzem novas


Não fazem sentido, a não ser aos que se arvoram em tutores dos
necessidades e expectativas.
índios, as interpretações restritivas aos direitos constitucionais dos

A relação pré-contato entre os índios e a natureza tem alto grau de índios. • A Constituição fala do de usufruto exclusi-
direito
sustentabilidade. Ocupam determinada áreae nela praticam a caça, vo que os índios detêm sobre as riquezas do solo, dos rios
a pesca, a coleta e a agricultura até que os recursos comecem a se e dos lagos existentes em suas terras. É um direito, não é

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1 996/2000 ' INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS T73
pedimento. Se para exercê-lo de forma efetiva os índios sas de mineração que cobiçam as riquezas das suas terras. Deve o
se associam, se esta associação não lhes é lesiva, não há violação Estado brasileiro promover esta proteção? Investir concretamente
do usufruto exclusivo. Usufruto exclusivo não significa que os ín- nela? Recompensai' os Yanomami pelo respeito às montanhas que,
dios só podem explorar seus recursos com suas próprias mãos, aliás, estão entre as mais altas e belas do Brasil?

com suas próprias técnicas, com seu próprio conhecimento, com


Quantos não serão os povos indígenas interessados na proteção a
seu próprio equipamento. Ou então só poderão explorá-los aquém
longo prazo dos recursos naturais e dos valores culturais que atri-
de suas possibilidades e necessidades e, mesmo assim, sem garan-
buem a partes dos seus territórios? Que apoios poderiam obter ao
tia de sustentabilidade. Se o usufruto indígena estiver sujeito a tal
associarem à proteção destes recursos a proteção dos seus direi-
limitação, não será usufruto, será só limitação.
tos? O que teriam a perder?

Há muitos casos em que associações lesivas entre índios e tercei-


Por outro lado, uma política de conservação de recursos ou de
ros resultam na detonação ambiental dos seus territórios. Não se
biodiversidade não deveria ignorar a importância que os territóri-
inscrevem no usufruto legalmente previsto. Os terceiros, nestes
os indígenas têm no contexto nacional (11% do território nacio-
casos, não poderiam devastar e nem se apropriar como fazem dos
nal) e, principalniente no contexto amazônico (19% da Amazônia
resultados econômicos da sociedade. Mas tampouco se pode de-
Legal). Não deveria menosprezar as possibilidades concretas de
bitar aos índios a responsabilidade unilateral pela conservação
compatibilizar a conservação de recursos com os projetos de futu-
ambiental. Eles podem fazer o que os outros também podem. De-
ro de vários povos indígenas. Em muitas situações, em que as ter-
veriam fazer melhor, pois o direito aos recursos também pertence
ras indígenas são diminutas e superpopuladas, as dificuldades se-
às suas futuras gerações. O mesmo deveria valer para os demais.
riam grandes e as possibilidades de conservação seriam peque-
Os índios não são ecologistas atávicos, mas podem, mais facilmen-
nas. Mas nos casos em que pnvos indígenas lograram conquistar o
te que qualquer pecuarista, estar interessados ou ser convencidos
reconhecimento de territórios extensos, a compatibilidade é virtu-
a preservar os recursos naturais das suas terras, até porque têm
al, mas evidente. Imaginar um sistema nacional de unidades de
clareza da essencialidade destes recursos para suas vidas.
conservação ambiental sem comunicação sistêmica com territóri-
• Se os índios podem explorar os seus recursos até de os indígenas, é pensar pequeno e conservar pouco.
forma insustentável, pois a eles pertencem os recursos c a
• A diferença fundamental entre reservas de recursos na-
decisão de explorá-los, não podem também conservar es-
turais situadas em terras indígenas e as situadas fora de-
tes recursos? Não podem obter apoio oficial para isso?
las, está no fato de que as primeiras pressupõem necessa-
Não podem zonear o seu território para definir onde vão explorar
riamente a iniciativa ou, no mínimo, o apoio dos próprios
e onde vão conservar? Não podem obter reconhecimento formal
índios na sua criação, a sua protagônica participação na sua
do estado para o zoneamento do seu território? Não podem cons-
gestão, a efetiva compatibilidade entre uma política de conserva-
truir aüanças políticas com os setores da sociedade envolvente que
ção e sens projetos de futuro. Não se pode instituir unilateralmen-
desejam a preservação ambiental? Autonomia ou limitação?
te uma reserva de recursos naturais em terras indígenas, como faz
Há demandas indígenas concretas neste sentido. Os Kaiapó da al- o poder público no caso de outras unidades de conservação
deia Aukre, tio sul du Pará, conhecidos vendedores de mogno, ambiental pois, aí sim, estariam sendo violados os direitos e a
decidiram destacar parle do seu território de ocupação na forma vontade do povo ocupante, e estaria comprometida a eficácia
de uma espécie de estação ecológica, onde eximem-se de qual- da conservação.
quer atividade predatória ou de subsistência, e desenvolvem pro-
À plenitude do direito de usufruto pressupõe a possibilidade de
jetos de pesquisas sobre os recursos naturais ah existentes, da flo-
associação para a exploração e para a conservação de recursos
ra e da fauna, em parceria com uma organização ambientahsta
naturais. À lei deve abrir alternativas para os índios, e não limitá-
canadense. Há respeito absoluto pelos limites desta área. Pode haver
las. A diversidade dos projetos de futuro destes povos não pode
reconhecimento oficial a esle respeito?
ser contemplada na perspectiva tutelar do julgamento pseudo ide-

Os Xikrin do Cateté, também do sul do Pará, zonearam o seu terri- ológico, ainda que bem intencionado, sobre se podem ou não po-
tório em parceria com o ISA, visando o manejo de madeira, mas dem explorar ou conservar aquilo que lhes pertence de direito,

também visando a conservação permanente dos seus castanhais. em parceria ou não com aliados que possam apoiá-los ou com
Praticaram algum ato inconstitucional? Podem obter reconheci- instituições públicas que devam apoiá-los.

mento oficial ao zoneamento do seu território? Converteram-se ao


Para quem alega que a criação de reservas de recursos naturais
neoliberalismo?
em terras indígenas é inconstitucional, segue-se a reprodução do
Os Vanomami sequer perambulam pelas inúmeras montanhas exis- conceito de terras indígenas constante do parágrafo primeiro do
tentes em seu território. São as moradas dos espíritos dos seus artigo 231 da Constituição do Brasil: “São terras tradicionalmente
ancestrais. A conservação absoluta (inviolabilidade) dessas mon- ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter perma-
tanhas é um valor da sua cultura ancestral e futura. Não haveria nente, as utilizadas para as suas atividades produtivas, as impres-

porque protegê-las dos próprios Yanomami, mas sim das empre- cindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao

174 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural, § T- As comunidades indígenas que ocupem terras nas

segundo seus usos, costumes e tradições». Se a Constituição fosse quais foram criadas RIRN terão acesso, em caráter preferencial, à

burra ou perversa, e impedisse “a preservação dos recursos linhas de crédito e outros incentivos para o desenvolvimento

ambientais necessários ao seu bem estar”, seria o caso de alterá- de atividades de auto-sustentação econômica c defesa do
la. Felizmente, a Constituição é generosa para com os índios e só patrimônio ambiental.
precisa ser compreendida e respeitada.
Art. 60 (incluir renumerando os demais)
Segue-se a proposta formulada pelo ISA como sugestão para in-
Nos casos em que unidades de conservação já criadas
clusão no projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados,
incidam total ou parcialmente sobre terras indígenas, o poder pú-
que visa instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
blico federal deverá, no prazo de dois anos da promulgação desta
relatado pelo Deputado Fernando Gabeira. Que os leitores façam a
lei sob pena da nulidade dos atos que as criaram, instituir grupos
sua própria avaliação. É o texto:
de trabalho específicos composio por representantes da comuni-
Art. 14 (incluir inciso)
dade indígena ocupante, do órgão indigenista e ambiental e, quan-

VIII - Reserva indígena de Recursos Naturais do for o caso, de outras instituições públicas ou privadas com reco-

nhecida atuação na área, para analisar raso a caso as sobreposições e


Art. 22 (incluir, renumerando os demais)
propor medidas que compatibilizem a coexistência da unidade de
A Reserva Indígena de Recursos Naturais é uma unidade de conservação com a terra indígena sobre a qual incide.

conservação federal que se destina à proteção dos recursos


§
1“- Nos casos em que os grupos de trabalho concluírem
ambientais existentes em terras indígenas.
pela incompatibilidade da coexistência da unidade de conserva-
o
§ I
- A RIRN será criada por decreto presidencial, por so- ção com a terra indígena sobre qual incide, o poder público fede-

licitação dais) comunidade (s) indígena(s) que detém direitos de ral deverá, no prazo de um ano:

ocupação sobre a área específica a ser protegida, situada em de-


I. reclassificar a área incidente como Reserva Indígena de
terminada terra indígena, desde que aprovada pelo órgão ambiental
Recursos Naturais, nos termos do artigo 22.
federal com fundamentação da sua relevância ambiental.

D
II. retificar os limites da unidade de conservação de modo
§ 2 - A criação da RIRN não prejudicará o exercício das
a subtrair a área incidente sobre terra indígena, observando-se,
competências legais do órgão indigenlsta federal sobre a sua área
sempre que possível, o disposto no § 6” do artigo 59-
de abrangência,
III. revogar o ato de criação da unidade de conservação,
o-
§ 3 O plano de manejo da RIRN será formulado e execu-
quando sua área original for totalmente incidente sobre terra indí-
tado em conjunto pela comunidade indígena e pelos órgãos
gena e se comprovar a impossibilidade de compatibilização ou a
indigenista e ambiental, que poderão, quando for o caso, convo-
redassificação, nos termos do previsto neste artigo.
car outras instituições públicas ou privadas com reconhecida atu-
ação na área. § T- Não se aplicam aos casos mencionados no parágrafo
anterior o disposto nos parágrafos 3°, 4o ,
7" e 8“ do artigo 59.
4“
§ -
0 plano de manejo deverá especificar:
Art. 61 (incluir, renumerando os demais)
a) as atividades de fiscalização, de manejo de recursos na-
turais, de pesquisa ou de visitação que poderão ou deverão nela Nos casos de redassificação ou compatibilização da coe-

realizar-se. xistência de unidades de conservação com terras indígenas, deve-

rão ser previstas formas de compensação às comunidades indíge-


b) as eventuais restrições de uso a que a(s) comunidade (s)
nas pelas restrições decorrentes do estabelecimento destas medi-
indígena(s) ocupante(s) se disporá.
das.

c) as competências do órgão ambiental federal em relação


§
1° - A compensação se fará preferentialmente através da
à sua área de abrangência.
viabilização de programas visando a auto-sustentação econônúca

§ 5”- A RIRN será gerida pela comunidade indígena ocu- das comunidades indígenas.
pante, que poderá requisitar o apoio do órgão indigenista e do o
§ 2
- O estabelecimento das medidas indicadas no caput
órgão ambiental para a realização dos atos de proteção e fiscaliza-
não prejudicará em nenhuma hipótese o livre trânsito dos índios
ção da unidade.
em suas terras. (Texto amplamente divulgado pelo ISA no dia
o-
§ 6 Na RIRN não serão realizadas obras não previstas 05/09/96)
no seu plano de manejo, bem como atividades que impliquem em
desmatamento, exploração de madeira e de minérios.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TEBflAS INDÍGENAS 176


,

^L/7 » Acervo
//A I sA

TERRAS INDÍGENAS abrigam reservas ambientais e indígenas e foi reunião, convocada pelo ministro do Meio Am-
derrotada pelos senadores nordestinos que per- biente e presidente do Conama, José Sarney Fi-

dem 0,8% do FPE, conforme cálculos com base lho, ocorreu num contexto em tpie entidades
FUNAI DESVIA Tia arrecadação de 1998. preservacionistas radicalizam o discurso con-
RECURSOS DO PPTAL “Vou ter dificuldades em do
ouvir senadores tra a presença de índios e outras populações
O diário paulista Folha de S, Paulo noticiou, no Nordeste defendendo a preservação da Ama- humanas em unidades de conservação. Ocor-
dia 28 de setembro, que a Funai zônia”, desabafou Marina, ao final da votação. reu, também, uma semana após o governo fe-
está usando
recursos do Programa Integrado de Proteção O projeto ganhou apoio de 40 senadores, mas deral instituir um grupo de trabalho

às Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) para ser aprovado precisava de 41 votos. Qua- imerministerial para tratar do assunto, confor-

doados pela Alemanha para a demarcação de tro parlamentares se abstiveram e 19 vota- me determinado pelo artigo 57 da Lei n° 9-985/
terras indígenas, para cobrir suas despesas. O ram contra. 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Uni-
programa é um dos componentes do Programa “Com essa rejeição estamos deixando de dar dades de Conservação (SNUC). Embora muitos

Piloto para a Proteção das Florestal Tropicais uma contribuição do ponto de vista prático, dos presentes tenham preferido entender a

do Brasil do G7, o grupo dos sete países mais relevante e estratégico para o País”, alertou questão como “um falso dilema”, os discursos

ricos do mundo. De acordo com o jornal, dos Marina. Ela acrescentou que 538 mil km 2 da enfatizaram uma suposta incompatibilidade

R$ 804 mil desviados da conta do PPTAL, ape- Amazônia foram devastados nos últimos 30 entre a presença indígena e a preservação de

nas metade foi devolvida.


anos. “Todo mundo cobraessapreservação, que unidades de conservação, particularmente as

Os financiadores já tomaram ciência do fato e,


fica na conta unicamente dos 20 milhões de ha- definidas pelo SNUC como “de proteção inte-

de acordo com a reportagem, “os coordenado- bitantes da região”, reclamou. gral". O ISA defendeu que a questão deve ser

res alemães do projeto pediram, por telefone,


Para criar o fundo de reserva, a senadora pro- tratada de forma mais ampla e teve oportunida-

que a Funai explique em carta o que ocorreu". pôs redução de 1% dos 85% do FPE destinados de de apresentar suas propostas.
O Ministério da Justiça, ao qual a Funai está su- aos Estados das regiões Norte, Nordeste e Cen- Diante da dificuldade para conciliar as posições,

bordinado e a direção do programa pressionam tro-Oeste e mais 1% foi retirado dos 15% o plenário do Conama decidiu criar uma co-

o órgão indigenista oficial para que “devolva o distribuídos entre Sul e Sudeste. (A Crítica, missão para acompanhar os trabalhos do GT
18/11/99) intermimsterial composto por representantes de
restante dos recursos antes que o caso tome
proporções maiores", escreveu o repórter Lucas entidades indígenas, indigenistas, ambientalistas

Figueiredo, da Sucursal de Brasília da Folha. e de um representante da Associação Brasileira


De acordo com a reportagem, a falta dos R$
SOBREPOSIÇÃO de Estados e Meio Ambiente (Abema), com ou
sem assento no Conama, A apreciação das pro-
804 mil na conta bancária do PPTAL foi notada DE UCs E Tis
quando uma fatura de R$ 250 mil, que deveria postas encaminhadas pelo ISA - que foi esco-

ter sido quitada peio programa, devolvida compor a comissão - deverá ocorrer
lhida para
foi
CRONOLOGIA DAS DISCUSSÕES no âmbito dos dois grupos de trabalho.
por falta de pagamento. A Folha de S. Paulo
informa que “o dinheiro do PPTAL havia sido Destaque de alguns fatos que colocaram na 23/1 l/OO - Realização da primeira reunião da
sacado pela Funai e usado para pagar contas pauta da mídia e dos movimentos indigenista comissão do Conama, O grupo, nessa ocasião,
do órgão, que amarga uma de suas piores fases e ambientalista a questão da presença indíge- decidiu discutir preliminarmente as

de falta de recursos. “Pelas normas do PPG7, na em Unidades de Conservação oficialmente sobreposições de unidades de conservação de

a Funai só tinha autorização para usar a ver- reconhecidas uso sustentável (uso direto) com terras indíge-
ba com proteção às terras indígenas”, escre- 5 a 9/1 1/00 - Realização do II Congresso Bra- nas e a primeira categoria escolhida irara os

veu o repórter. sileirode Unidades de Conservação. Esse con- trabalhos foi Florestas Nacionais (Flonas) De- .

A devolução dos recursos, segundo informa o gresso promovido pela Rede Pró-Unidades de cldiu-se por uma proposta que compatibilize

jornal, foi exigida expressamente pelo ministro Conservação, em Campo Grande, divulgou um Flonas e terras indígenas, de modo a não ser

da Justiça, Renan Callieiros, ao presidente da abaixo assinado manifestando “profunda preo- necessário propor alterações na legislação vi-

Funai, A Funai repôs R$ 400 mil em duas par- cupação com as invasões de unidades de con- gente. A proposta para compatibilizar Flonas e

- uma de R$ 250 servação por grupos indígenas, cada vez mais terras indígenas teria as seguintes característi-
celas mil e outra de R$ 150
mil. A Funai prometeu devolver o restante “à frequentes e graves" e solicitando “medidas ur- cas: a) a adoção de um regime de gestão com-

medida em que o PPTAL precisasse do dinhei- gentes no sentido de garantir total respeito aos partilhada, no qual a concessão para a explo-
ro”. (Últimas Notícias/ISA, Jimites e finalidades dos Parques Nacionais de ração da Flona seria do lbama, mas dependen-
29/09/98)
Monte Pascoal, Araguaia, Superagui e demais te de anuência prévia do (s) povo (s) indígena(s)
que habitam a área sobreposta; b) os custos da
FUNDO PARA ÁREAS unidades de conservação de proteção integral,
determinando, ademais a imediata retirada dos elaboração do projeto seriam ressarcidos pela
DE PRESERVAÇÃO ,

renda gerada pela comercialização da produ-


invasores e a restauração da ordem jurídica de-
DE TIS É REJEITADO ção; e c) a proposta seria apresentada via Re-
mocrática, E por fim, o abaixo assinado diz re-
O Senado ontem o projeto de lei que
rejeitou afirmar a “posição contrária a qualquer altera- solução do Conama.
destina recursos do Fundo de Participação dos ção da destinação ou categoria das unidades 05/1 2/00 — Realização da segunda reunião da
Estados (FPE) às áreas de preservação e terras de conservação nacionais, que vise acomodar comissão do Conama. O grupo avaliou a pro-
indígenas demarcadas. A proposta, apresenta- reivindicações territoriais de qualquer tipo”. posta, apresentada pelo presidente da entidade
da pela senadora Marina Silva (PT - AC) ,
cria 14/11/00 - Realização da reunião extraordi- Direito por Planeta Verde, Herman Benjamim,
um mecanismo inovador para a distribuição de nária do Conama sobre sobreposição entre ter- de redação para uma resolução que trata da
uma parcela maior de recursos e Estados que ras indígenas e unidades de conservação. Essa compatibilização da sobreposição entre Florcs-

176 TERRAS INDÍGENAS P0VDS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTTAL


tas Nacionais e Terras Indígenas. Sucintamen- SOBREPOSIÇÃO ENTRE TERRAS INDÍGENAS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
te, a proposta de resolução, a ser submetida ao
As duas propostas do ISA dades de conservação e terras indígenas, sem dei-
plenário do Conama, dispõe que, ressalvadas
As terras indígenas, seja por sua dimensão - 12% xar, entretanto, de resolver tais conflitos.
os usos, costumes e tradições das comunida- da extensão total do território nacional e 21% da A primeira proposta é o estabelecimento de uma
des indígenas habitantes da área em que ocor- extensão da Amazônia Lega! brasileira -, pela nova modalidade de espaço protegido: a Reserva
re a sobreposição, e desde que tais comunida- variedade ou singularidade dos ecossistemas que Indígena dos Recursos Naturais - RIRNJá trata-
des manifestem interesse, poderá haver explo- abrigam, ou pela situação de relativa preserva- da nos artigos acima.
em sua
ração sustentável dos recursos florestais ção dos seus recursos naturais devem ser consi- A segunda proposta do ISA é o desenvolvimento,
com a aprovação de um plano de
totalidade,
deradas como componente fundamental para por parte do governo, de um Programa de prote-
manejo. Do GT Interministerial esteve presente
uma estratégia nacional de conservação e uso ção à biodiversidade e de apoio ao uso sustentá-
sustentável da biodiversidade. Tais recursos e sua vel de recursos naturais em terras indígenas. Essa
apenas o presidente da Funai, Glênio Alvarez.
proteção são, além disso, fundamentais para os proposta foi apresentada à Secretaria de
(dezembro/2000)
projetos de futuro dos povos indígenas no Brasil. Biodiversidade do Ministério de Meio Ambiente -
O que se pode observar portanto, é uma sobre- MMA. Esse programa atuaria dando apoio a pro-
ALGUMAS MANCHETES posição de interesses, ou seja, tantos os povos in- jetos de pesquisa científica com {xircerias indí-
DO DESENTENDIMENTO dígenas como aqueles preocupados com a prote- genas; realizando etno-zoneamentos em terras
ção da biodiversidade, possuem os mesmos inte- indígenas criando RIRNs; promovendo o uso eco-
;

índios Pataxós reclamam posse do Monte resses: garantir a manutenção e a susten- nômico sustentável de recursos naturais; recupe-
Pascoal - Já governo federal quer a saída dos tabilidade de nossa diversidade biológica. rando áreas degradadas e recursos naturais em
indígenas do território do parque. (Gazeta do Por outro lado, tanto os esforços de proteção da exaustão; e implementando soluções negociadas
Povo, 20/10/00) biodiversidade em VCs como as políticas de para os casos de sobreposição entre terras indí-
sustentabilidade cultural e econômica para os genas e unidades de conservação.
Pataxós negam saída do Monte Pascoal (A Tar-
povos indígenas do Brasil têm sido deficientes. As Na proposta apresentada, sugere- se uma primei-
de-Salvadur. 26/10/00) áreas protegidas do país sofrem os mais diversos ra etapa a ser desenwhnda na Amazônia e na Mata

índios ocupam sede do Ibama em TO - Javaés problemas desde unidades de conservação que só
, A primei-
Atlântica. Essa etapa abarca trêsfases.
existem formalmente até áreas onde as ativida- ra é aformulação de uma proposta preliminar de
contaram com a ajuda dos Karajás para expul-
do
des degradadoras são uma constante, comprome- programa, com estratégias diferentes para os dois
sar funcionários Instituto do Parque Nacio-
tendo deforma grave a biodiversidade que se que- biomas, priorizando na Amazônia a identifica-
nal do Araguaia (Gazeta Mercantil, 07/11/00)
ria conservar. As políticas referentes aos povos ção de áreas prioritárias para a conservação de
Documento pede índio longe de Superagui (O indígenas, por sua vez, não têm logrado garantir biodiversidade nas terras indígenas e na Mata
Estado do Paraná, 09/11/00) que as comunidades indígenas consigam se man- Atlântica, que apresenta uma realidade bem dis-
ter, levando algumas delas à beira da indigência tinta, adotando-se a estratégia de analisar casos
Ambientalistas pedem retirada de índios de re- total. Vários fatores estão por trás desse cenário, que podem ser considerados fyaradigmáticos. A
servas naturais ( A Tribuna da lmprensa-RJ, desde a falta de uma política consistente e inte- segunda fase da proposta apresentada ao MMA
10/11/00) grada de conservação de biodiversidade no país, pode ser descrita como um amplo processo de
passando pela ausência de recursos materiais e consulta às organizações e comunidades indíge-
Conama decide quem fica com as áreas de con-
humanos, até o desinteresse do governo e da pró- nas, às instituições de pesquisa e aos atores go-
servação (O Liberal-Pelem, 14/11/00)
pria sociedade por tais questões. vernamentais envolvidos. A terceira e últimafase
Conama discute superposição de áreas (Diário No caso da sobreposição entre Tis e UCs, apesar da proposta prevê aformulação final do progra-
do Comércio-SP, 15/11/00) da evidente convergência de interesses - ou uma ma e sua discussão com os interessados.
verdadeira sobreposição de interesses - acontece O grande diferencial dessa proposta de programa
Tribo Nauas reclama posse de terras - Conside- também um somatório dos problemas encontra- éofato de nãofocalizar o conflito da sobreposição
rados extintos os Nauas querem reserva de 40 dos independentemente na conservação de e sim criar uma abordagem mais ampla da ques-
mil ha do Parque da Serra do Divisor ( A Críti- biodiversidade em áreas protegidas e na tão de conservação da biodiversidade e seu uso
ca, 16/11/00) sustentabilidade econômica dos povos indígenas, sustentável ruis terras indígenas. Vale ressaltar que
ou seja uma sobreposição de problemas. muitas vezes o problema da sobreposição entre
índios podem ser retirados de Superagui. Pes-
É mister perceber que o foco dessa questão não é terras indígenas e unidades de conservação frode
quisadores querem a desocupação imediata das
a sobreposição de terras indígenas e unidades de ser percebido como um falso conflito, pois há, na
áreas de proteção ambiental ( Gazeta do Pom- conservação e sim o estabelecimento de uma po- maioria das vezes, ao lado de uma clara conver-
Curitiba, 19/11/00) de proteção e uso sustentável de nossa
lítica gência dos interesses dos povos indígenas e da-
Os índios e os Parques Nacionais (A Gazeia do biodii>ersidade que considere todo o nosso terri- queles preocupados com a proteção da
tório deforma integrada, ou seja não apenas uni- biodiversidade brasileira, divergências continu-
Povo, 21/11/00)
dades de conservação. adas entre os órgãos governamentais res/xmsá-
Assim, o tema deve ser tratado de forma mais veis por tais questões, criando um clima de con-
ampla ao invés da tentativa de solucionar os epi- frontação que poderia ser evitado.
sódios conflituosos que surgem, cada vez com Por outro lado, não é fx)ssível aceitar que os po-
maisfreqüência, e que não são nada mais do que vos indígenas sejam tratados como
agentes res-
indicadores da dimensão do problema a ser tra- ponsáveis pela degradação da diversidade bioló-
tado. gica nas unidades de conservação, quando se sabe
com a questão dessa forma, criando
Para lidar que há inúmeras áreas protegidas no país onde
uma interface ampla entre a conservação de não há nenhuma sobreposição com terras indí-
biodiversidade e a integridade das terras indíge- genas em estado avançado de degradação
nas, o Instituto Socioambiental possui duas pro- ambiental, sem que os responsáveis - madeirei-
postas não excludentes que, cabe ressaltar, trans- ros, caçadores, garimpeiros e fazendeiros - se-
cendem o problema da sobreposição entre uni- jam punidos. (Nurit Bensusan/ISA, dez/00)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 177


0 Subsolo das Terras Indígenas
na Amazônia

Fany Ricardo Antropóloga do ISA

EM 11 ANOS, 0 CRESCIMENTO A relevância de publicar resultados mais atualizados sobre o tema

DOS INTERESSES MINERÁRIOS é a retomada das discussões sobre ele no Congresso Nacional, onde

NAS TERRAS INDÍGENAS TRIPLICOU tramitam o Projeto de Lei n° 1 .610-A/96, que regulamenta as ativi-

dades minerarias em terras indígenas, de autoria do senador


Romero Jucá, já aprovado pelo Senado Federal e sob apreciação
O montante de alvarás e requerimentos de pesquisa e lavia mine- na Câmara dos Deputados, e o Projeto de Lei 2.057/91, que insti-

ral incidentes em terras indígenas na chamada Amazônia Legal tui o Estatuto das Sociedades Indígenas, do qual consta um capítu-
chegou, em abril dc 1998, a 7.203, atingindo 126 terras indígenas lo sobre mineração em Tis.

(Tis) . O número é resultado de análise realizada pela equipe do


ISA, a partir do cruzamento das informações adquiridas no Depar-
AUMENTO PROGRESSIVO
tamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), com o banco de
dados de terras indígenas, que o ISA atualiza diariamente. Essa Os dados computados entre 1987 e 1998 indicam um aumento
pesquisa dá continuidade ao levantamento pioneiro de um grupo significativo dos processos, isto é, dos títulos e requerimentos
de antropólogos do Centro Ecumênico de Documentação e Infor- minerãrios incidentes total ou pardalmente em terras indígenas

mação (Cedi) e geólogos da Coordenação Nacional dos Geólogos na região amazônica, ntesmo considerando que, neste período,
(Conage), iniciado em 1986. também cresceu a extensão do reconhecimento oficial de terras
indígenas, conforme se pode ver na tabela.
Naquela oportunidade, a pesquisa foi motivada pelas discussões
sobre o assunto no processo de elaboração do novo texto consti-
tucional brasileiro. Os dados do período 1986-87, publicados em Final de Dez/ Jun/ Abr/
1988 (Empresas de Mineração e Terras Indígenas na Amazô- 19870 93 <-> 95 98 f"'1

nia, São Paulo: Cedi/Conage, 1988, 82pp), chegaram a ser discu-


Total de processos 2.245 4.453 4.845 7.203
tidos cm sessão especial da Assembleia Nacional Constituinte.
Tis atingidas 77 117 121 126
Os números daquela pesquisa indicavam a existência de. 2.245
(*) Fonte: Empresas de Mineração e Terras Indígenas na Amazônia,
processos incidentes em 77 terras indígenas na Amazônia Legal,
Cedi/Conage, 1988, 82pp.
sob controle de 69 empresas ou grupos econômicos, sendo 560 (**) Fonte: Levantamento Cedi.
alvarás de autorização de pesquisa, entre as quais, sete conces- {***) Fonte: Monitoramento ISA.

sões de lavra e 1 .685 requerimentos de pesquisa.

Desde então, o Cedi, sucedido pelo ISA a partir de 1994, tem man- Ressalta-se que os números de 1998 não incluem os dados refe-

tido uma rotina diária de monitoramento dos interesses minerãrios rentes a quatro Tis situadas no sul de Rondônia, em decorrência
incidentes em Tis na Amazônia Legal. O método consiste em cru- de problemas técnicos nos disquetes obtidos pelo ISA junto ao
zar informações cartográficas obtidas junto a órgãos oficiais - as DNPM. No entanto, é provável a existência dc processos referentes
que constam dos alvarás de pesquisa e lavra oficialmente concedi- a essas terras, pois, já em 1995, a situação era a seguinte: TI
dos pelo DNPM e as que estão nos documentos de reconhecimen- Massaco com dois títulos (2% de seu subsolo) TI Rio Omerê com ;

to de TLs pelo governo federal (portarias ministeriais e decretos 22 títulos (100% do subsolo); TI Rio Mequens com dez títulos

presidenciais), de modo a produzir dados georreferenciados. (55,06%) e TI Tubarão-Latundê com 17 títulos (56,03%).

1JB TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Terras Indígenas
REQUERIMENTOS E TÍTULOS MINERÁRIOS
NA AMAZÔNIA LEGAL BRASILEIRA
Requerimentos ou Títulos minerários ativos
Fonte: DNPM (banco de dados SICOM+AREAS)

PERU

MG

Especificamente entre 1993 e 98, merece destaque o significativo Os subsolos dessas Tis apresentam, como se acaba de ver na tabe-
crescimento do número de requerimentos e títulos minerários nas la, altas taxas de superposição com áreas requeridas. No caso das
Terras Indígenas a seguir: Tis Curuá, Parakanã, Roosevelt, Serra Morena, Tapirapé/Karajá,

Trocará, Xambioá e Xikrin do Cateté, essa taxa chega a mais de


99%. Tis que, como a Mekragnoti, têm mais de 90% do seu subsolo
Processos Processos % do
em dez/93 em abri/98 subsolo "bloqueado" são 22. E 44, pelo menos, têm mais de 50% de seu
subsolo pretendido.
TI Baú (PA) 132 519 89,48
Os dados apresentados a seguir, juntamente com o mapa, com-
TI Kayapó (PA) 117 319 48,89
põem um panorama global dos resultados de que dispomos.
TI Mekragnoti (PA) 85 214 75,97

TI Panará (PA/ MT) 01 177 92,81


ANTES E DEPOIS DA CONSTITUIÇÃO
TI Sai Cinza (PA) 37 112 89,07
Títulos minerários emitidos antes e depois da promulgação da Cons-
TI Vale do Guaporé (RO) 02 60 92,39
tituição de 88 são objeto de tratamentos diferenciados nos dois
projetos de lei que visam a regulamentação de mineração em Tis

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERHAS INDÍGENAS I 179


Acervo
—/^ClSA
Títulos antes Títulos depois
sas que têm mais títulos e requerimentos em Tis são a Mineração

dc 05/10/88 dc 05/10/88 Silvana Indústria e Comércio Ltda. (com 961 títulos), a Cia. Vale
do Rio Doce e suas subsidiárias (com 590) e a Mineração Itamaracá
TI Yanomami 554 158
(que, com a Itajobi, chega a 452).
TI Alto Rio Negro 320 72
A tarefa de mensurar a multiplicidade de interesses numa mesma
TI Waimiri-Atroari 140 56
TI foi dificultada pelas lacunas existentes no Banco de Dados de
TI Raposa/ Serra do Sol 70 41 Empresas Mineradoras do DNPM. Somente como exemplo: no caso
TI Nhamundá-Mapuera 54 40 da TI Xikrin do Caíeté, há 27 empresas e pessoas físicas interessa-

das em seu subsolo. Dessas empresas, 17 são da Vale do Rio Doce,


não foi possível saber se as outras dez estão ligadas à ex-estatal,
(ver artigo de Sérgio Leilão, a seguir). A data de referência é 5 pelas dificuldades citadas acima,
de outubro de 1988, daí a importância de tomá-la como marco
de análise.
Podendo haver muitos interesses numa mesma TI, o inverso um -

mesmo ator interessado em várias Tis- também é verdadeiro. Aqui,


Títulos anteriores a essa data somam 1.941, enquanto os posterio- o caso da Mineração Silvana Indústria e Comércio Ltda. merece
res (até abril de 1998) totalizam 4.951.
destaque. Essa empresa começou a requerer intensamente alvarás
Existem algumas terras indígenas, entretanto, onde a incidência de pesquisas em Tis a partir de 1994. Seus 961 processos
de títulos era maior antes do que depois da data de referência. minerários incidem em 27 Tis, nos estados do Amazonas, Pará,

Casos marcantes são: Mato Grosso e Rondônia. Somente na TT Menkragnoti, dos índios
Kayapó, no Pará, dispõe de 284 requerimentos de pesquisa mine-
ral e na terra dos Uru Eu Watt Watt, em Rondônia, 144. Segundo o
TÍTULOS MINERÁMOS banco de dados do DNPM, a Mineração Silvana tem como sócias a
EM SITUAÇÃO IRREGULAR Mineração Santa Elina e Santa Elina Gold Corporation.

Foram assim considerados todos os processos que não são reque- Quanto aos minérios mais requeridos, o interesse pelo ouro de
é,
rimento para pesquisa, que é a fase inicial do processo no DNPM longe, o principal. Há 4,468 processos em que o objetivo é a pro-
para obtenção de autorização de pesquisa.
cura desse minério, representando 62% do total dos interesses
Tais títulos somam 311, representando: 14 concessões de lavra, das mineradoras. Em segundo lugar, aparece o cobre, com 425
l63 autorizações de pesquisa, 25 em disponibilidade, 92 requeri- títulos e requerimentos, o que representa 5,9% do total dos processos.

mentos de lavra c 17 licenciamentos

A maior parte desses títulos foi concedida após ou durante o reco- QUEM BLOQUEIA O QUÊ?
nhecimento oficial das Tis em que incidem. Destacamos dois ca-
Como conclusão, podemos lançar duas indagações. A primeira
sos: o das 6 concessões de lavra concedidas, em 1993, à Coopera-
delas segue a hipótese do bloqueio cartonai do subsolo das terras
tiva dos Produtores de Ouro de Pontes de Lacerda (MT) que reca- ,

indígenas na Amazônia Legal. Caso contrário, como explicar a re-


em sobre a TI Sararé, dos Nambikwara, homologada em 1991 e o,

quisição, por parte de uma mesma empresa, ademais sem experi-


de uma outra, à Sheila Adriana Pompemayer, incidente no Parque
ência na área de prospecção mineral, de várias áreas contínuas,
Indígena de Aripuanã, TI homologada em 1991.
que se sobrepõem e ultrapassam as terras indígenas, abrangendo
vastas áreas em diversas áreas amazônicas?
EMPRESAS E INTERESSES
Outra questão, que surge claramente mesmo numa rápida olhada
A pesquisa revelou que 388 empresas e duas dezenas de pessoas
no mapa, é que os interesses minerários cobrem extensas regiões
físicas estão envolvidas nesses processos incidentes em Tis.
da Amazônia, que vão muito além dos limites das Tis. Esse fato

Pode-se verificar uma grande concentração de títulos concedidos parece desqualificar o argumento, muitas vezes apresentado, de
às mesmas empresas. As dez maiores mineradoras, com suas sub- que as demarcações de Tis na Amazônia visam dificultar ou mes-
sidiárias, detêm 3.313 (46%) dos títulos existentes. As três empre- mo obstruir a exploração minerai, (julho, 1999)

ISO TERKAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/200(1 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


tNTRÁRIA A PROJETO DE LEI QUE REGULAMENTA MINERAÇÃO EM TERRA INDÍGENA

“Excelentíssimo Senhor presidente. Outro aspecto preocupante é o fato de que muitas comunidades in-

Através desta apresentamos a análise da Coordenação das Organiza-


dígenas não estão preparadas para negociações com empresas
mineradoras, entre outros motivos, porque possuem pouco tempo de
ções Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) sobre o projeto de lei

n° 16I0-A de 1996, de autoria do senador Homero Jucá. Para tanto contato com a sociedade envolvente e não têm experiência sobre pro-

destacamos alguns pontos negativos aos interesses dos povos indíge- cedimentos de contratos e desconhecem os valores dos diversos mi-

nas contidos no projeto de lei do senador HomeroJucá. Inicialmente nerais no mercado nacioruü e internacional.

o projeto prevê prioridade aos cerca de três mil requerimentos de Vale dizer que as comunidades indígenas não possuem equipamen-
autorização de pesquisa e de registro de licença para exploração mi- tos adequados à exploração racional de minerais e tão pouco sabem
nera! dentro de terras indígenas anteriores à Constituição de 1988. manusear máquinas utilizadas na garimpagem. Neste sentido, a
Tal previsão representa uma grande ameaça à rida das comunida- transformação do referido projeto em lei será um estímulo às inva-
des, uma vez que esses pedidos não vão precisar de editais e nossas sões legalizadas, tendo como consequência a exploração de mine-
organizações e comunidades não dispõem de recursos financeiros e rais através da manipulação e enganação dos índios pelos
humanos para promover laudos antropológicos e submeter todos es- mineradores profissionais.
ses pedidos às regras de relatório de impacto ambienta! específico, Um exemplo lamentável de que a exploração mineral, mesmo com a
em audiências públicas. autorização dos próprios índios, resulta em jogo de intrigas e
Outra grande preocupação advém do fato de que os principais enganação dos índios vem ocorrendo na Terra Indígena Waiãpi, onde
articuladores pela aprovação do projeto de lei de autoria do senador um projeto de mineração implementado pelo Centro de Trabalho
Homero Jucá, na Câmara, são proprietários ou ligados a empresas lndigenista (CT1) já causou sérios problemas de divisão social e os
mineradoras, o que evidencia interesses particulares em detrimento parentes Waiãpi não têm controle sobre a quantidade de ouro explo-
do interesse público. rado e não se dão conta dos prejuízos causados à organização social

0 pedido de urgência urgentíssima articulado pela “ bancada da mi- das comunidades. A Coiab não é contra a garimpagem em terras in-
neração ” e a posição do deputado Antônio Feijó (PSDB-AP) demons- dígenas, realizada ou autorizada pelos índios, mas esperamos que
tram que o Congresso Nacional corre o risco de aprovar o que parece isso ocorra qiumdo os índios envolvidos estejam conscientes das im-
ser uma estratégia montada por empresas mineradoras que resulta- plicações sociais e ambientais da garimpagem, tenham compreen-

num paradoxo entre o que o são da comunidade.


rá em prejuízo aos direitos indígenas e
Brasil se comprometeu em fazer na Agenda 21, em matéria de desen- Vale dizer que a mineração em terras indígenas por não-índios, não
volvimento auto-sustentável, e o permissível pelo legislador brasilei- resulta somente na invasão física das terras indígenas, mas também
ro, haja vista que na prática poderão resultar em invasões "legaliza- na invasão ideológica que provoca desagregação social. Infelizmen-
das" de terras indígenas e em danos irreparáveis ao meio ambiente. te, a ideologização em nossas comun idades multiplica-se a cada dia,

ora por iniciativa de igrejas de toda ordem, ora por iniciativa de


Senhor presidente se é verdade que os deputados estão interessados
pessoas que se autodenominam “aliados" aos índios, mas que na
em viabilizar a exploração minera! em terras indígenas e outros pro-
prática atuam em causa própria e promovem a desunião dos paren-
blemas ligados aos nossos interesses, então nesse caso, por que não é
tes, enquanto paulatinamente, as bases da identidade histórica e cul-
agilizada a tramitação do projeto de lei n° 2.057/91, que institui o
tural e a organização social de nossas comunidades são minadas por
há mais de seis anos tramita
Estatuto das Sociedades Indígenas, que
valores impostos como '
verdadeiros ou “melhores".
no Congresso Nacional e no qual existe um capítulo que trata da
'

mineração em terras indígenas? Nesse sentido reiteramos a nossa É nessa conjuntura que os parentes com poucos anos de contato não
solicitação para que os deputados agilizem a tramitação do projeto estão preparados para gerir de imediato projetos de mineração, haja

n° 2.057/91, cujo o relator é o deputado Luciano Pizzato. visto que nesse contexto, revelam-se complexos para os índios.

A alegação dos defensores do projeto do senador Romerojucá de que Assim sendo, queremos que os nossos direitos garantidos pela Cons-

o mesmo visa combater a garimpagem clandestina e racionalizar a tituição sejam respeitados. Para tanto, ratificamos a nossa posição
exploração mineral não apaga da nossa memória ofato de que, infe- contrária ao projeto de lei de autoria do senador Homero Jucá, que

lizmente, muita das vezes as leis são usadas para mascarar ativida- trata da exploração mineral em terras indígenas e esperamos contar

des ilícitas. Basta citar o falo de que dados do próprio governo fede- com o apoio de Vossa Excelência, no sentido de promover o debate e

ral, ou seja, a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), informam a agilização do projeto de lei do Estatuto das Sociedades Indígenas.

que 80% da madeira que sai da Amazônia é ilegal, apesar de que por Certos da atenção e da sua seriedade como legislador e jurista, ante-

lei a exploração de madeira deve ser controlaria pela autoridade com - cipamos os nossos agradecimentos.

petente através de plano de manejo. Coordenação Executiva da Coiab, 2 de março de 1998"

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 181


0

Acervo
//\C ISA

Mineração em Terras Indígenas:


0 Imbróglio da Regulamentação

Sérgio Leitão Coordenador do Programa


Direito Socicambiental/ISA

REGULAMENTAÇÃO DA MINERAÇÃO EM TERRAS da propor soluções satisfatórias para alguns pontos considerados

INDÍGENAS ESBARRA EM PONTOS POLÊMICOS cruciais no tratamento da questão da mineração em terras indíge-

nas, tendo deixado de lado muitas das sugestões já oferecidas pe-

los índios e organizações da sociedade civil de apoio aos direitos


As discussões sobre a regulamentação da exploração mineral em indígenas. Ilá também nos dois projetos dispositivos antagônicos
lerras indígenas vêm sendo travadas há cerca de dez anos no Con- que precisam ser harmonizados. O objetivo deste artigo é apre-
gresso Nacional. O primeiro projeto de lei sobre o tema resultou
sentar esses pontos de forma rápida e direta, inventariando os
da iniciativa do saudoso senador Severo Gomes ainda em 1989, impasses existentes.
tendo sido aprovado pelo Senado em 1990 e depois remetido à

Câmara do deputados, onde, entretanto, foi arquivado por força


LIMITAÇÃO AO NÚMERO DE MINERADORAS
de dispositivo regimental, em razão da sua não apreciação em ca-

ráter definitivo passadas duas legislaturas.


EM UMA MESMA TERRA INDÍGENA
Como demonstram os dados levantados pelo Instituto
Em 1991. foi apresentado, pelos deputados Aloízio Mercadante,
Socioambiental (ISA), existem diversas terras indígenas com mais
Fábio Feldmann e outros, 0 Projeto de Lei n° 2.057/91, elaborado
da metade de seu subsolo já objeto de requerimento de explora-
pelo Núcleo de Direitos Indígenas (NDI), que propunha a criação
ção mineral. Em alguns casos, tais requerimentos chegam a totalizar
do Estatuto das Sociedades Indígenas e a revisão da legislação
mais de 90% do subsolo da terra indígena.
infraconstitucional acerca dos direitos dos índios, contendo capí-
Essa situação indica a necessidade do estabelecimento de limites
tulo específico sobre a mineração em terras indígenas. Depois dis-
para a autorização de pesquisa e concessão de lavra dentro das
so, outros dois projetos no mesmo sentido foram apresentados, 0
primeiro, de iniciativa do Poder Executivo e 0 segundo, resultado
terras indígenas, evitando-se assim que uma dada Comunidade In-
dígena tenha 0 seu território inteiramente tomado por empresas
da articulação do Conselho Indigenlsta Missionário (Cimi) com
alguns parlamentares. Os três projetos acabaram por ser reunidos
mineradoras, em detrimento dos fins cligidos pela Constituição
Federal quando concebeu 0 próprio conceito de terras indígenas
em um substitutivo (Projeto n° 2.057/91 - substitutivo do relator)
- espaço para habitação, espaço para desenvolvimento de ativida-
de autoria do deputado Luciano Pizzatto, tendo sido este aprovado
em 29 des produtivas, espaço para a reprodução física e cultural e espa-
pela Comissão Especial da Câmara que analisou os projetos
desde então em ço para a preservação ambiental.
de junho dc 1994. O Projeto encontra-se parado
razão da obstrução que 0 Poder Executivo faz à sua Iramilação. Até 0 momento, nenhum dos projetos de lei que tramita no Con-
gresso Nacional propondo a regulamentação da matéria, apresen-
Em 1995 ,
senador Rontero Jucá apresentou ao Senado 0 Projeto
ta qualquer proposta no sentido de limitar a área de abrangência
de Lei n" 121/95, versando especificamente sobre a regulamenta-
da atuação das empresas mineradoras dentro de uma terra indíge-
ção da exploração e aproveitamento dos recursos minerais em
na, dando margem a situações absurdas como as já verificadas
terras indígenas. O Projeto foi aprovado pelo Senado em fevereiro
pelo ISA. Resta saber se a solução virá expressa no texto legal, ou
de 1996 e remetido à Câmara em março do mesmo ano, onde
se este remeterá ao Congresso Nacional a obrigação de estabele-
tramita sob 0 n° 1.6 10/96.
cer tais limites caso a caso, quando do exercício da função que lhe
Apesar dos longos anos de tramitação, nem 0 Substitutivo do de- atribuiu a Constituição de autorizar a pesquisa e a lavra das rique-

putado Pizzatto, nem 0 Projeto do senador Jucá, conseguiram ain- zas minerais nas terras indígenas.

182 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

ente, o ideal é que a própria lei fixe o percentual máximo LIVRE UTILIZAÇÃO POR PARTE DAS
do subsolo a ser explorado, ou que, pelo menos, estabeleça
COMUNIDADES INDÍGENAS DOS RECURSOS
parâmetros para tal limitação, os quais deverão nortear a ativida-
PROVENIENTES DA PARTICIPAÇÃO
de autorizadora do Congresso Nacional, evitando, quando da aná-
lise dos casos concretos, um desequilíbrio entre a garantia dos
NOS RESULTADOS DA LAVRA
direitos constitucionais indígenas e a possibilidade de exploração O Substitutivo do deputado Pizzatto estabelece que caberá à Co-
dos recursos minerais existentes no subsolo de suas terras. munidade Indígena administrar os recursos que receba a título de
participação nos resultados da atividade mineraria realizada em
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE suas tetras. Enquanto isso, o Projeto do senador Jucá determina
que tais recursos sejam depositados em caderneta de poupança
INDÍGENA NOS RESULTADOS ECONÔMICOS
em nome da Comunidade, que só poderá utilizar de forma livre os
DECORRENTES DA EXPLORAÇÃO MINERAL rendimentos auferidos, ficando o uso do valor principal condicio-
A Constituição estabelece que as Comunidades Indígenas deverão nado à autorização da Funai e do Ministério Público Federal.
participar dos benefícios resultantes da exploração mineral do
Pois bem, a participação nos resultados da lavra é garantida às
subsolo de suas terras. Essa participação é entendida em termos Comunidades Indígenas a título compensatório pela exploração
econômicos. Porém, restam dúvidas quanto ao melhor modo de
de suas terras e pelos impactos socioambientais inevitáveis, decor-
fixar o coeficiente dessa participação, assim como as bases sobre
rentes das atividades minerarias. Não seria juslo, pois, condicionar
as quais deve ele incidir.
o uso de recursos que visam minimizar as consequências de uma
O Projeto de Lei do senador Romero Jucá e o Substitutivo do depu- atividade que se faz em razão do interesse nacional - já que o
tado Lueiano Pizzatto fixam um percentual mínimo de 2%, fazen- subsolo é bem da União - à manifestação de vontade do próprio
do-o incidir sobre o “faturamento bruto resultante da Estado, seja qual for a justificativa usada para tanto.

comercialização do produto mineral, obtido após a última etapa


Nem mesmo o argumento da tutela se apbca, porque a tutela servi-
do processo de benefidamento adotado e antes de sua transfor-
ria, quando muito, para auxiliar os índios na sua manifestação de
o
mação industrial" (Art. 84 do Substitutivo e Art. 6 do Projeto Jucá)
vontade, não podendo servir de fundamento para um instrumento
Ambos os projetos admitem também a variação deste percentual,
que aniquile essa vontade por antecipação. Islo sem levar em con-
para mais ou para menos, em até 25%, quando da fase da conces-
ta qLie o instituto da tutela está totalmente superado e de que, nos
são de lavra,
dias de hoje, não há qualquer indício de que o Estado teria maior
A primeira pergunta que se faz é quanto às condições dc que deve- discernimento quanto ao uso e gestão desses recursos do que a

rá dispor uma Comunidade Indígena para saber se o percentual própria Comunidade Indígena.

que lhe está sendo pago corresponde exatamente ao faturamento


Não bastasse, o Projeto do senador Jucá cria a obrigatoriedade de
bruto mencionado. Ela terá acesso aos livros contábeis da
destinação de 2 ,5% dos recursos devidos a cada Comunidade para
mineradora? A Comunidade receberá informações do Fisco quan- um Fundo Especial de atendimento a Comunidades Indígenas ca-
to aos impostos recolhidos pela mineradora para poder, a partir
rentes. Embora, a olhos menos atentos, possa parecer louvável
delas, monitorar os seus ganhos e controlar a correta remunera-
este propósito, na verdade, o dispositivo acaba por atribuir à Co-
ção de sua participação?
munidade Indígena, que já suporta o ônus da mineração em seu

O falo é que nenhum dos dois projetos enfrenta a questão. Portan- território, a obrigação de financiar o bem-estar das demais Comu-

to, cabe indagar se não seria o caso de fazê-lo de imediato, recor- nidades, o que, no entanto, é dever do Estado.
rendo â assessoria de especialistas na área de tributação e mine-
ração, ou se deve a matéria ser deixada para discussão quando da OBRIGATORIEDADE DE REALIZAÇÃO
regulamentação da lei.
DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL
Outra pergunta recai sobre o próprio montante do percentual mí- Uma das exigências presentes no Substitutivo da Comissão Especi-
nimo estabelecido, havendo críticas quanto ao coeficiente de 2%, al é que a realização de atividades minerarias em terras indígenas
considerado insuficiente por alguns. Seria então o caso de deixar só ocorra após a elaboração de Estudo de Impacto Ámbieutal/Re-
que a Comunidade Indígena negociasse o percentual com a mineradora latório de Impacto Ambiental (EIA-Rima). O Projeto Jucá não es-
interessada, ao invés de fixá-lo em graus mínimo e máximo? tabelece esta exigência. Embora conste do texto constitucional a

obrigatoriedade do EIA-Rima para o licenciamento de toda e qual-


quer atividade potencialmente causadora de danos ao meio ambi-
ente, o que, em tese, permite estender a aplicação desse requisito
às atividades minerarias em terras indígenas, a previsão expressa
de sua necessidade no texio da lei afastaria qualquer margem de
discricionariedade da administração nessas hipóteses,

rOVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SDCIDAMBIENTAL TERRAS INDÍBENAS 183


zLSL* Acervo
_/A ISAC amplamente sabido, a atividade de exploração mineral
IjUIIIU t é condições para minerar em terras indígenas, exigido de todos os
causadora de significativos impactos socioambientais. Por isso, a demais interessados.
previsão expressa da lei é cautela indispensável para, antes de tudo,
Em outras palavras, os projetos preveem que o DNPM, em conjun-
fornecer ao Congresso Nacional, ao Poder Executivo, à Comunida-
tocom a Funai, deve declarar em cada caso as condições para que
de Indígena interessada e à sociedade como um todo, um diagnós-
uma mineradora possa se habilitar a explorar uma dada torra in-
tico dos riscos potenciais e a definição antecipada da reiação cus-
dígena. Porém, ao assegurarem o direito de prioridade a titulares
to/benefício do empreendimento. Ou seja, é preciso ficar claro
de antigos requerimentos, os projetos afastam a obrigatoriedade
que a atividade minerária irá causar impactos passíveis de serem
do juízo prévio nestes casos, inviabilizando-o na prática. Como é
minimizados pela adoção das medidas mitigatórias previstas na
sabido, há um número excessivo de requerimentos nesta condi-
legislação ambientai, sob pena de não ser a mesma autorizada. E,
ção, o que tenderá a fazer da exceção a regra.
no caso de ser possível a autorização da atividade, o EIA-Rima há
de elencar desde logo o rol das medidas mitigatórias no caso es- Vale ressaltar que a justificativa usada pelas mineradoras visando

pecífico, além das providências quanto à recuperação dos danos a manutenção desses dispositivos em ambos os projetos é pífia:

ambientes dela resultantes, conforme expressa exigência da pró- por serem tais requerimentos anteriores à Constituição de 88, quan-

pria Constituição Federal (Alt 225, §2°). do não existiriam regras especiais para a mineração etn terras in-

dígenas, os mesmos seriam válidos inclusive para us fins do direi-


to de prioridade de que fala o Código de Mineração. Ocorre que
AUDIÊNCIA DAS COMUNIDADES não existe direito adquirido contra a Constituição e tendo eia ins-
INDÍGENAS AFETADAS tituído um novo procedimento, devem todos os interessados a ele

serem submetidos na sua integralldade.


A Constituição determina que o Congresso Nacional só poderá au-
torizar a mineração em terras indígenas após ouvir as Comunida-
FINALMENTE
des Indígenas afetadas. Tanto o Substitutivo do deputado Pizzatto
quanto o Projeto Jucá fazem menção à determinação constitucio- Como se vê, há ainda muitas questões a serem sanadas para a re-

nal sem, no entanto, especificar como ela deverá ocorrer. Não está gulamentação da exploração mineral em terras indígenas. A ver-

previsto, por exemplo, que a audiência às Comunidades Indígenas dade é, porém, que tanto os índios como as organizações de apoio
deverá ocorrer dentro de suas próprias terras, tampouco está de- têm debatido o tema, procurando oferecer soluções aos proble-
finida a forma em que se dará a oitiva, não estando claro sobretu- mas existentes, sendo certo que os projetos de lei até hoje apre-

do o procedimento que levará ao conhecimento da Comunidade sentados resultaram, etn sua maior parte, de iniciativas e propos-

Indígena a questão sobre a qual ela deverá se manifestar. tas dos próprios índios e da sociedade civil organizada.

A lei há de ser expressa neste sentido, frisando que a consulta às Não obstante, tanto o Projeto Jucá quanto o Substitutivo do depu-

Comunidades deverá ser in loco e assegurando-lhes o recebimen- tado Pizzatto deixaram de incoqtorar muitas dessas sugestões, o

to de prévias informações sobre o conteúdo do projeto sobre o que aliás responde pelas lacunas e controvérsias apontadas aci-

qual deverá se manifestar, estabelecendo inclusive, se necessário, ma. Resta então perguntar a quem interessaria a não-regulamentação
obrigação para a empresa mineradora interessada de arcar com o da matéria, já que os índios e as organizações de apoio não têm medi-

pagamento de consultores independentes, os quais possam ofere- do esforços para que o tema seja regulamentado em lei (julho 1999) . ,

cer à Comunidade Indígena informações técnicas a respeito do


empreendimento. Nota da equipe de edição
Em abril de 2000, o Poder Executivo apresentou ao Congresso
Nacional uma proposta alternativa ao Substitutivo do deputado
DIREITO DE PRIORIDADE
Luciano Pizzatto ao Projeto de Lei do Estatuto das Sociedades Indí-
O Projeto de Lei do senador Jucá assim como o Substitutivo do depu- genas. Na parte relativa à mineração, essa proposta traz algumas

tado Pizzatto, asseguram o direito de prioridade aos requerimen- modificações.

tos de autorização de pesquisa e dc lavra incidentes sobre terras indí-


Por exemplo, no tocante aos requerimentos de pesquisa e lavra
genas, que tenham sido protocolizados junto ao DNPM antes de 5
apresentados ao DNPM antes de 5 de outubro de 88, a proposta
de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal.
alternativa do Executivo não mais assegura o direito de prioridade
Além de despejar, de imediato, sobre as terras indígenas uma en- aos titulares desses requerimentos, que só passarão a contar, na
xurrada de pedidos de pesquisa e lavra que terão de ser analisa- hipótese de aprovação do texto do governo, com a preferência em
dos de um momento para o outro, sem dar tempo hábil às Comu- caso de empate ao final do processo de escolha do responsável

nidades Indígenas para que possam avaliar as consequências das pela realização da exploração mineral em terra indígena. Ou seja,

atividades propostas sobre os seus territórios, em assim fazendo, se dois interessados concorrerem para explorar minérios e apre-

ambos os projetos acabam por dispensar os titulares desses re- sentarem propostas iguais, aquele que for titular de um requeri-

querimentos de se submeterem ao juízo prévio de verificação das mento anterior a 88 será declarado vencedor, (outubro, 2000)

184 TERSAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
//\C ISA

Patrimônio Genético:
De quem? Para quem?

André Uma Advogado do ISA

0 GOVERNO FEDERAL ELABOROU UMA EMENDA genéticos, na medida em que reconhece a estreita relação entre a

CONSTITUCIONAL PARA QUE 0 PATRIMÔNIO conservação deste recurso e os conhecimentos, o modo de vida,

GENÉTICO SEJA BEM DA UNIÃO os costumes e as tradições de tais populações, que há séculos, ou
milênios, interagem com o ambiente natural conhecendo-o pro-
fundamente e conservando-o, já que desenvolvem atividades de
A quem pertence o patrimônio genético do País? Quem são, se é pouco ou quase nenhum impacto.
que há, os detentores ou proprietários das informações existentes
Assim, a CDB indica que, aiém dos interesses econômicos, recaem
na estrutura genética dos recursos biológicos (Dora, fauna,
sobre a diversidade biológica e, portanto, sobre os recursos gené-
microorganismos) espalhados por todo território brasileiro, seja
ticos que a integram, interesses outros de ordem coletiva e difusa.
em propriedade privada, em terras indígenas, em posses de popu-
lações tradicionais ou ainda cm terras públicas? E mais: qual a A legislação brasileira já apontava neste sentido desde a promul-

conseqiiência para os sujeitos acima apontados caso a resposta gação da Constituição Federal de 1988, o que se consolidou com a
seja “a”, “b “ ou “c” ? 0 governo federal anunciou que pretende entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Lei
responder a essas questões rapidamente, sem um debate mais n° 8.078/90.

amplo com a sociedade, por meio de uma emenda constitucional,


O artigo 22 5 da Constituição Federai brasileira afirma que o direi-
qualificando o patrimônio genético como bem da União.
to ao meio ambiente ecologicamente equilibrado constitui um “bem
Com efeito, para buscarmos respostas mais consistentes para es- de uso comum do povo”, essencial à sadia qualidade de vida in-
sas indagações faz-se necessário, a priori, entendermos o alcance cumbindo a toda coletividade o dever de protegê-lo e preservá-lo
e o conteúdo da palavra “patrimônio”, no contexto da expressão para as presentes e futuras gerações. O CDC, por sua vez, define os
“Patrimônio Genético”, contornos estes indicados pela própria conceitos sobre direitos e interesses difusos e coletivos, que mere-
Constituição Federal. Além da Constituição Federal, é necessário cem destaque.
também destacarmos, ainda que brevemente, os princípios que
norteiam a Convenção de Diversidade Biológica (CDB) e que apon-
Partindo do pressuposto básico de que sobre um bem jurídico -

seja ele público ou privado - recaem vários tipos de interesses de


tam para o conteúdo mesmo dos interesses e direitos que recaem
sobre os recursos genéticos.
naturezas distintas, podemos afirmar, com base no que prevê a Lei
n° 8.078/90, em relação aos recursos genéticos, que:
A CDB, documento assinado pelo governo brasileiro durante a

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvol- Do ponto de vista do interesse eminentemente difuso - In-
vimento - a ECO 92, no Rio de Janeiro, e ratificado em 1994, atra- teresses afetos a uma coletividade indeterminada de pessoas, so-
vés do Decreto Legislativo n° 02, estabelece normas e princípios bre os recursos genéticos destacam-se e são determinantes os in-

que devem reger o uso e a proteção da diversidade biológica em teresses de natureza socioambiental, que apontam para a necessi-
cada país signatário. Em linhas gerais, a Convenção propõe regras dade de sua conservação em face da relevância para a manuten-
para assegurar a conservação da biodiversidade, o seu uso susten- ção da qualidade de vida humana e demais formas de vida. Vale
tável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso eco- aqui lembrar o amplo conceito legal de meio antbienle trazido
nômico dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada pelo artigo 3°, da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, Lei
nação sobre o patrimônio existente em seu território. Além disso, 6.938/81: “conjunto de condições, leis, influências e interações
é importante frisarmos que a CDB garante direitos especiais aos de ordemfísica, química c biológica, que permite, abriga e rege
povos indígenas e às populações tradicionais sobre os recursos a vida em todas as suas formas”, bem como o artigo 225 da

POVOS INDÍGENAS N0 RRASII 1935/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS . 185


Acervo
//iC I SA
Constituição Federal que estabelece o direito de “todos" ao meio am- correspondem a direitos fundamentais relacionados ao ambiente
biente ecologicamente equilibrado, essencial àsadia qualidade de vidas sadio e à qualidade de vida, cujos titulares são, além das presen-
tes, as gerações futuras. A expressão “patrimônio genético" impõe
Do ponto de vista dos interesses coletivos - Ligados a uma
algo mais do que o direito de usar, fruir, gozar e dispor dos recur-
coletividade determinável, pode-se dizer que além dos interesses
sos genéticos, revelando principalmente o dever de todos aqueles
de natureza ambiental e social, acima tratados, surgem também
que integram as presentes gerações (poder público e coletivida-
interesses outros de natureza econômica mas também de conteú-
de) de usar sustentavelmente e conservar este “recurso” que a
do cultural. Ou seja, em se podendo identificar (qualificar e
natureza íhes oferece, independentemente de sua titularidade ou
quantificar) os interessados, já podemos faiar em apropriação de
propriedade, sem privar as próximas gerações das condições de
um bem por uma dada coletividade, como por exemplo uma co-
usar, fruir e gozar desse mesmo recurso.
munidade local ou indígena que detém a posse ou propriedade
coletiva de um território e portanto dos recursos naturais que o Mais do que isso. A palavra “patrimônio” utilizada pelo legislador

integram e compõem. Registre-se aqui, que no caso dos povos constituinte, tanto para os recursos genéticos, como para os
indígenas, a posse permanente de um território lhes assegura o ecossistemas de relevante interesse para o País (Mata AÜântica,

direito ao usufruto exclusivo dos recursos naturais nele existentes, Floresta Amazônica, Pantanal Mato-grossense, Serra do Mar e zona
inclusive os recursos genéticos (art. 231 CF/88) Ou . mesmo a iden- Costeira, §4°, art.225 ), ou ainda o patrimônio cultural (artigo

tificação de um dado povo ou grupo social ao uso de uma espécie 216 CF/88) se cotejados com a expressão bem de uso cotnum do

da flora nativa (plantas medicinais) como forma de exteriorização povo que, no art. 225 qualifica o meio ambiente ecologicamente
e reprodução intrínsecas de sua cultura. O ardgo 216 da Constitui- equilibrado, pode nos conduzir a uma reflexão mais ampla e au-
ção também prevê a proteção jurídica dos bens materiais e daciosa. Não se trata mais de expressar uma categoria jurídica

imateriais portadores de referência à identidade, à ação e à me- definidora de propriedade estatal ou privada de um recurso mate-
mória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira rial, mas sim de bens materiais e imateriais cujo valor reside fun-

(indígenas, quilombolas, caiçaras, caboclos, caipiras), suas for- damentalmente na possibilidade e necessidade de seu uso coleti-

mas de expressão, os modos de criar, fazer e viver e as criações vo, cujo acesso pela população deve ser o mais amplo possível
científicas, artísticas e tecnológicas, qualificando tais bens como posto que se tratam de recursos essenciais para a garantia de vida

patrimônio cultural brasileiro. digna da população humana, inclusive as futuras gerações. Neste
sentido é que o paúimónio genético se enquadraria na categoria de
Do ponto de vista do interesse exclusivamente individnal -
bens de interesse difuso ou público, categorias jurídicas ainda em cons-
O conceito de patrimônio, no caso dos recursos genéticos, se re-
trução tanto pela doutrina como pela própria legislação, mas que per-
veste tão somente de conteúdo econômico, ou seja, da apropria-
sistentememe o governo federal insiste em desconsiderar.
ção mesma do recurso, no sentido de usar, gozar, fruir e dele dis-
por, excluindo todos os demais, evidentemente que dentro dos li- Reconhece-se que há necessidade cada vez mais emergente de
mites ao uso da propriedade estabelecidos pela legislação. buscarmos solução político-jurídica responsável que assegure, a
todos os titulares dos interesses acima referidos e não apenas à
Vaie dizer, entretanto, que os “interesses” difusos, coletivos ou in-
União, o respeito aos seus direitos. Entretanto, considerando-se a
dividuais podem convergir ou conviver simultaneamente sobre uma
complexidade da matéria e os distintos e legítimos interesses e
mesma como no caso sobre os recursos genéticos, inde-
“coisa”,
direitos envolvidos - públicos e privados, coletivos e difusos -, é
pendentemente de sua titularidade ou mesmo posse.
forçoso concluir que devemos aprofundar o debate com a socie-

O recurso genético é elemento constitutivo da própria essência ou dade interessada (comunidade científica, setor privado, popula-
da estrutura mesma dos recursos naturais (água, ar, solo, fauna e ções indígenas, comunidades locais, proprietários rurais, peque-
flora), que por sua vez compõem o meio andiiente ecologicamen- nos produtores) buscando principalmente, ao sugerirmos solu-
te equilibrado. A conservação e o uso dos recursos genéticos, que ções, ainda que por meio de ficções jurídicas inovadoras, refletir
integram os recursos naturais, interferem potencialmente (positi- sobre os impactos que a inclusão precipitada do patrimônio gené-
va ou negativamente) no equilíbrio ecológico - protegido constibi- tico como bem da União, ou cm qualquer outra categoria existente
cionalmente que se almeja para a manutenção da qualidade de ou por ser criada, poderá causar a todos esses interesses.
vida das presentes e futuras gerações. Assim sendo, podemos di-
Não podemos aceitar que administradores provisórios do Estado,
zer que a expressão "patrimônio genético”, na hipótese, revela
a pretexto de exercer a legitima soberania sobre a diversidade bi-
interesses e direitos que transcendem ao direito individual-priva-
ológica do País, reproduzam dissimuladamente a prática tirânica
do, ou mesmo ao direito público, despontando para um novo di-
e autoritária de outrora, que desconhecia deiiberadamente a im-
reito a que chamamos de intergeracional e portanto difuso, em
portância dos povos indígenas e das populações locais como su-
função da inequívoca indeterminabilidade de seus titalares ou
jeitos no processo de promoção do desenvolvimento sustentável
sujeitos, que são inclusive as gerações futuras.
da nação. A CDB, ainda que timidamente, reconhece esse papel,
Desta forma, a palavra “patrimônio”, no presente caso, expressa cabendo ao governo demonstrar se realmente pretende realmente
um conjunto de obrigações das presentes gerações que aplicá-la em nosso País. (outubro, 2000)

186 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/201)0 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
-7/A I SA

RECURSOS GENÉTICOS ação de uma Opep da biodiversidede, podemos ra, de espécies conhecidas (como a mandioca,
livrar o mundo da estreiteza do Ocidente todo- milho, arroz etc.) e que as pesquisas e inter-
poderoso e nos unir em torno dos 99® da câmbios promovidos pela empresa visam aten-
“LEI DAS PATENTES biodiversidade mundial que nos pertence. So- der às necessidades básicas de populações de
É CONVITE AO ROUBO” mente assim, leremos uma moeda de barganha baixa renda, tendo uma finalidade essencial-

forte. Todos os recursos financeiros existentes mente social e não lucrativa. Ele argumenta tam-
A dentista indiana Vandana Shiva, diretora da
não podem suprira falta de biodiversidade. (Pa- bém que os índios, quando entenderem que o
Fundação para a Pesquisa em Ciência Tecnologia
rabólicas, n° 17, abril de 19%) convênio não lhes beneficia, poderão negar a
e Recursos Naturais de Nova Delhi, tem denun-
autorização para a coleta.
ciado a armadilha geopolítica que está sendo
armada por alguns países que lideram a corri-
CONVÊNIO FINAI E EMBRAPA Miranda acredita também que a preocupação
com a necessidade de assegurar compensação
da à apropriação dos recursos genéticos exis- A Embrapa e a Fuiiai assinaram, em maio últi-
às comunidades indígenas pela utilização de
tentes no planeta. Autora de vários livros - en- mo, “convênio de cooperação" que permite a
seus conhecimentos tradicionais deve estar mais
tre eles Monoclutures os lhe Minds: prospecção botânica e a coleta de recursos ge-
voltada para as pesquisas científicas com plan-
Biodíversity, Biotlechnology andAgrfciiUure néticos em áreas indígenas. O convênio prevê a
tas medicinais. O pesquisador reconhece, en-
e StayingAlive: Women, Ecoiogy and Survlml necessidade de autorização prévia das comuni-
tretanto, que, uma vez cedidos os recursos ge-
in índia -, em 1993 com o
ela foi agraciada dades indígenas para a coleta, mas não estabe-
néticos para outras instituições, pouco contro-
Prêmio Nobel da Paz Alternativo, alimenta um lece mecanismos de controle sobre o destino e
le se terá sobre a sua utilização futura e sobre
sóbrio cult pelo movimento feminista c uma a utilização do material genético depois de co-
os produtos e processos que venham a ser de-
militância em defesa da natureza. Para Vandana, letado. Ele se antecipa às normas legais de con-
senvolvidos com base neles, que poderão vir alé
é na região amazônica e andina que se locali- trole sobre o acesso aos recursos genéticos bra-
a ser objeto de patenteamento por terceiros. Não
zam os maiores reservatórios do patrimônio sileiros, eslabelecidas em projeto de lei de au-
há nada no convênio impedindo que isso aconte-
genético da humanidade. E é para onde as soci- toria da senadora Marina Silva (PT-AC) que tra- ,
ça. £ luUamSmtílli, Parabólicas, pl-ago/97)
edades desenvolvidas têm olhado com cobiça, mita no Senado.
neste início da era da Revolução Biotecnológica. O convênio ainda não foi executado e depende-
Leia a seguir trechos da entrevista concedida rá da assinatura de convênios específicos para
COMISSÃO DA CÂMARA
por Vandana Shiva, em sua visita ao ISA em cada caso. Ele permite que a Embrapa
PEDE INVESTIGAÇÃO
abril de 96. disponibilize os recursos genéticos de áreas
SOBRE BIOPIRATARIA
ISA- A sra. acha que os recursos naturais indígenas a instituições de pesquisa, públicas
A comissão da Câmara dos Deputados que apu-
de países como o Brasil e a índia podem ou privadas, “desde que estes se destinem à ali- ra a biopirataria no Brasil pediu ao Ministério
ser uma moeda de barganha diante da mentação e agricultura”, e que “pertençam a Público que investigue esse tipo de prática den-
globalização? gêneros de espécies e variedades conhecidas".
tro de instituições de pesquisa do próprio go-
Eu acho que alguns recursos naturais são mui- Em troca, a Embrapa forneceria seus recursos verno. Segundo o relatório da comissão, divul-
to importantes, Nós precisamos estar cientes genéticos e técnicos para projetos agrope- gado ontem, os acordos científicos internacio-
desse riqueza para colocá-ia na mesa no mo- cuários em áreas indígenas.Os recursos gené- nais acobertam coletas ilegais de espécies ve-
mento em que as negociações mundiais quise- ticos (de espécies da fauna e da flora) das áre- getais e animais na Amazônia. Essas espécies
rem fazer parecer que nós nada temos e que as indígenas serão mantidos nos bancos de seriam usadas para a produção de novos medi-
aqueles que detêm o capital têm tudo. Mas, além germoplasma da Embrapa. Em seus registros,
camentos - é a esse tipo de prática que os cien-
disso, eu acho que temos mais do que a nature- deverão constar as áreas indígenas de onde fo-
tistas chamam de biopirataria. (FSP, 19/11/97)
za. Temos também uma diversidade cultural for- ram coletados e os povos indígenas que nelas
midável e já é tempo de começarmos a negociá- vivem. Entretanto, não há previsão de autoriza-
PROGRAMA TENTA
la de maneira otimista. Esta revolução ainda está ção dos índios para sua cessão a terceiros. O
por acontecer. convênio cria uma comissão paritária da Embrapa
COMBATER BIOPIRATARIA
ISA - Brasil e índia poderiam cria uma e da Funai para acompanhar as atividades. 0 governo vai estimular a formação de um con-
Opep biológica para melhorar seus recur- Os recursos genéticos das áreas indígenas esta- sórcio de empresas e instituições de pesquisa
sos naturais numa economia globalizada? rão disponíveis para instituições de pesquisa de para o desenvolvimento de produtos farmacêu-
Acho que sim. E nós teríamos alguns líderes com outros países, pois a Embrapa mantém uma po- ticos derivados de plantas, animais e
vontade de ferro. Uma Opep da biodiversidade lítica de intercâmbio internacional, devido à microorganismos oriundos da floresta amazô-
poderia não só resgatar os recursos do Tercei- grande dependência brasileira de recursos ge- nica. A propriedade da tecnologia, patenteável

ro mundo, como também salvar o planeta. Os nélicos eslrangeiros. Os índius, entretanto, não ou não, será dividida entre as entidades que tra-
modelos econômicos provenientes do mundo terão controle ou qualquer compensação eco- balharem no desenvolvimento do produto.
indusüializado, cultural e ecologicamente mui- nômica pela autorização de acesso: este é o O programa tem o objetivo de combater a
to pobre, em termos de biodiversidade, se so- ponto que suscita dúvidas sobre o convênio biopirataria na Amazônia. O projeto foi batiza-
brepõe a outros tipos de modelos, destruindo- entre organizações de defesa aos índios e ou- do de Programa Brasileiro de Ecologia
os e encobrindo-os. Assim, implanta-se a tros setores da sociedade civil que vêm acom- Molecular para o Uso Sustentável da Bio-diver-
monocultura do McDonakPs e da Coca-Cola por panhando a regulamentação legal do acesso a sidade da Amazônia (Probem) e vai consumir
toda a parir. Esse tipo de globalização, baseado recursos genéricos no pais. R$ 54,9 milhões.
somente no poder do capital, nivela por baixo a Márcio Miranda, chefe de pesquisa da Embrapa, O governo brasileiro estima que 25% de todas
humanidade. Não produz um engajamento in- pondera que o convênio só abrangerá recursos as drogas prescritas nos EUA contenham subs-
telectual, cultural e filosófico efelivo. Com a cri- genéticos destinados à alimentação e agricultu- tâncias ativas derivadas de plantas desenvolvi-

PDVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2D0D - INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 187


.

-?l j/ Acervo
--

—l/í s A I

A C 0 W TE j. ,
C E 01 _ _

das em florestas tropicais. As populações indí- to burocrático federal e que o excesso de con- Os próprios pesquisadores e o Inpa reconhe-
genas dominam o conhecimento sobre aproxi- trole gere descontrole no final. cem suas grandes dificuldades para exercer uma
madamente 1.300 plantas que contêm princí- "Tem lei que pega e lei que não pega", disse o atividade de vigilância e acompanhamento. Ade-
pios ativos com características de antibióticos, advogado Paulo de Tarso Siqueira Abrão, mem- mais, boa parte das verbas que subsidiam as
narcóticos, abortivos, anticoncepcionais, bro da comissão de meio ambiente da Ordem pesquisas do Inpa provém justamente de con-
antidiarréicos, anticoagulantes, fungicidas, anes- dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo. vênios internacionais.
tésicos, anliviróticos e relaxanles musculares. "O fundamental é que as negociações gerem Numa visão estratégica para o futuro da
Três laboratórios de referência serão criados frutos", disse, "f! preciso garantir a soberania biodiversidade nacional, o melhor (e talvez
em São Paulo e Amazonas para auxiliar na co- dos estados nacionais sem ser xenófobo”, con- único) antídoto contra a chamada biopirataria
leta de amostras, preparação de extratos e de- clui Abrão. está no aprofundamento das pesquisas
terminação da propriedade. A previsão é que O projeto de lei de acesso a esses recursos foi farmacológicas e no desenvolvimento de novas
os laboratórios do consórcio resultem na cria- proposto no Congresso pela senadora Marina técnicas de fabricação dos remédios, dentro do
ção do Pólo Tecnológico de Bioindústria da Silva (PT- AC). Ela deverá vir à SBPC discutir o próprio Brasil.
Amazônia, destinado a ampliar a base brasilei- projeto. Ontem, ela foi representada por um Limitar-se a legislar contra a presença estran-
ra de produção de insumos farmacêuticos de consultor, David Hathaway, da Assessoria e Ser- geira no setor talvez seja, além de um simples
origem biológica. A implantação do pólo pode- viços a Projetos em Agricultura Alternativa. paliativo, uma forma, nada sutil, de admitir a
rá ter incentivos fiscais. A utilização da Hathaway lembrou que há séculos existe um incompetência da pesquisa nacional para par-
biodiversidade inclui a domesticação de espé- "colonialismo genético”, para o qual países ticipar competitivamente desse importante
cies que possam gerar produtos comestíveis e criavam jardins bolânicos para se apropriar, por mercado. (PSP, 14/07/97)
produção de biomassa. A coleta será feita por exemplo, de plantas de outras regiões. “Com a
grupos ligados às universidades e instituições engenharia genética há mais centralização de GOVERNO TEME
de pesquisa da região. Os extratos serão pre- capital, de poder. As grandes empresas querem ISOLAMENTO E PERDA
servados, codificados e parte enviada para um se apropriar dos recursos genéticos globais." DE “DINHEIRO VERDE”
laboratório de referência a ser construído em Ele diz que, quando um país importa alumínio
A equipe do governo federal que estuda a legis-
Manaus (AM) do Brasil, paga pela mercadoria e pode reven-
lação sobre biodiversidade teme que o País
"Não temos dúvidas de que conseguiremos com- der um avião. Já quando uma grande empresa
possa criar uma espécie de
'

'Lei da Informática
bater a biopirataria"', disse o ministro Gustavo se apropria de um recurso genético, nada paga,
2", norma que criou uma reserva de mercado
Krause (Meio Ambiente, Recursos Hídricos e e o país importa depois o remédio pronto. Para
radical para produtos brasileiros em 1984.
Amazônia Legal) Outro laboratório de referên-
. Hathaway, trata-se também de justiça social. Por
O temor foi ampliado depois que a Assembléia
cia para ensaios biológicos será sediado no Ins- exemplo, quem possui o conhecimento sobre
Legislativa do Acre aprovou, no início deste mês,
tituto Butantan. O Laboratório de Estruturas um recurso genético muitas vezes é uma comu-
Moleculares do Instituto de Biociências da nidade indígena, que merece usufruir dos re-
a primeira Lei da Biodiversidade do País, O tex-
to proíbe a entrada de estrangeiros na floresta
Llnesp (Universidade Estadual de São Paulo) sultados. Para ele, trata-se ainda de incentivo à
amazônica daquele Estado. Para ter acesso aos
também vai colaborar. (PSP, 19/11/97) conservação. (PSP, 16/07/97)
recursos naturais do Acre, uma das áreas mais

EQUILÍBRIO É CHAVE PARA ricas do País, os estrangeiros precisarão se as-


BIOINCOMPETÊNCIA
sociar a uma empresa ou entidade de pesquisa
LEI ANTIBIOPIRATARIA
A recente aprovação de lei para o controle da doBrasil.
O projeto de lei sobre acesso a recursos genéti- biodiversidade no estado do Acre enseja gran- Uma lei semelhante, que serviu de base para a
cos, que pretende evitar a biopirataria na Ama- des dúvidas quanto à eficácia de combater, ape- redação do texlo aprovado no Acre, está em fase
zônia, corre o risco de prejudicar a ciência bra- nas com legislação, a biopirataria - prática de de tramitação no Congresso, lí de autoria da
sileira, se for muito rigoroso e afugentar a coo- criar patentes para remédios fabricados no ex- senadora Marina Silva (PT-AC) e trata da prote-

peração internacional. "O ponto mais impor- terior com plantas coletadas na Amazônia, sem ção c cobrança de royalties pelo uso das rique-
tante é negociar bem as parcerias", disse Mareio o pagamento de royalties ao Brasil. zas genéticas e vegetais. O projeto, que pode
de Miranda Santos, chefe do Departamento de Para que possam trabalhar no Acre, pesquisa- ser alterado por sugestões (emendas) de ou-
Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa (Em- dores estrangeiros deverão estar acompanha- tros parlamentares, tenta regulamentar deter-
presa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e dos por brasileiros e parte do material coleta- minações ainda da Convenção da Biodiver-
ex-diretor do Centro Nacional de Recursos Ge- do ficará sob controle do Estado. Para o âmbi- sidade, acordo feito por 144 países durante a
néticos (Cenargem). to federal, tramita no Congresso, desde 95, Eco-92, realizada no Rio.
"Não adiantaria nada ter uma excelente lei, mas projeto da senadora Marina Silva (PT-AC), O temor da equipe do governo é que, a pretex-
péssimos dentistas”, disse Miranda. Isto é, não com teor similar. to de defender o País da biopirataria, o Con-
adianta fechar as portas do resto do mundo -
Não se pode ignorar a importância do mercado gresso chegue a um lexlo ultranacionalista e
leia-se principalmente os EUA, detentor da mais de remédios derivados de plantas, qne, segun- com uma posição de isolamento.
poderosa engenharia genética e biotecnologia do a ONU, movimenta cerca de US$ 32 bilhões Biopirataria é a forma como ficou conhecida a
- para a biodiversidade brasileira, se não hou- em todo o mundo. Mas, mesmo reconhecendo saída ilegal, sem o pagamento de royalties, de
ver recursos humanos no País capazes de que as práticas desse setor devam estar sujeitas material genético (plantas, microorganismos,
pesquisá-la em parceria. “Nessa área, coope- a alguma forma de regulamentação em territó- ele.) para criar patentes de produtos no exterior.

ração internacional é necessária. Não é sufici- rio nacional, é bastante improvável que, dadas No momento, a Funai tenta cobrar de pesquisa-
ente a capacitação que existe no Brasil”, afir- as dimensões do Brasil, seja factível fiscalizar com doras ingleses, como revelou a Folha, pagamen-
mou. Ele também teme a criação de um apara- rigor os ilícitos contra o patrimônio biológico. to por remédios patenteados apartir de conhe-

188 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ví£jZ* Acervo
—l/f ISA

címentos dos índios Kaxinawa, da região ama- dez fiscais em Manaus diariamente. A Pobcia Para o pesquisador da Universidade do Amazo-
zônica. 0 Ministério Público do Acre vai entre- Florestal do Amazonas tem efetivo maior, na casa nas e do Programa Brasileiro de Ecologia
gar à Justiça, depois de amanhã, denúncia so- da centena, mas não dá conta dos 1 ,5 milhão Molecular para o Uso Sustentável da Bio-
bre diversos casos de biopirataria. Para de km !
do Estado. tecnologia da Amazônia (Probem) ,
Spartaco
Fernando DaTAva, da equipe do governo, o País No centro de Manaus, é possível contratar gui- Astolfi Filho, a construção do centro de bio-
não deve seguir uma linha fechada e inacessí- as a partir de Rí 300,00 por dia. Com tecnologia no Amazonas será uma das formas
vel, o que iria contrariar até mesmo determina- monomotores, o preço sobe até R$ 600,00. Se- de manutenção dos conhecimentos tradicionais
ções da Agenda 21, documento da Eco-92 que gundo a PF, há cerca de cem pistas clandestinas dos povos indígenas. Spartacco disse que falta

trata da biodiversidade, desenvolvimento sus- no Amazonas. lora os rios. "Um hidroavião ao Brasil uma legislação mais rigorosa na pre-
tentável e colaboração entre países, "Existem pode vuar de países vizinhos, pousar em um servação das riquezas biológicas e do conheci-
estrangeiros bons e maus. Não há sentido fe- afluente, fazer o serviço e voltar”, afirma o di- mento tradicional. Segundo ele, o centro de
char as portas para todos", disse DaTAva, que é retor do lupa, Ozório Fonseca. biotecnologia é um projeto capaz de gerar ren-
chefe do Departamento de Vida Silvestre do Para ele, o problema também reside no fato de da para todos os participantes por meio dos
Ibama. "Poderíamos incorrer no mesmo erro que hoje a biopirataria pode ser feita com ca- produtos comerciáveis. Fie disse que o centro
da Lei da Informática”. netas. Explica-se. O pirata está interessado em deve ter uma. rede de análise de biodiversidade,
0 governo federal, segundo apurou a Folha, elementos encontrados na casca de uma árvo- formado por pessoas detentoras do conheci-
teme larnbém que uma lei como a aprovada no re. Ele a dissolve e preenche a carga de uma mento tradicional. (A Crítica, 13/11/98)
Acre crie obstáculos para que o país realize caneta esferográfica. Chegando em seu labora-
acordos de cooperação com bancos e entida- tório, liofiliza (seca) a solução e recolhe os re- BIOPIRATARIA É PRATICADA
des estrangeiras. Atualmente, países do G-7, clu- síduos sólidos. Que, devidamente estudados, são POR “TURISTAS”
be dos mais ricos do mundo, investem em pes- sintetizados.

quisas e infra-estrutura de órgãos brasileiros Segundo o diretor do lupa, nada impede que 0 cx-coordenador da Coiab, Sebastião
como o Inpa de Manaus. hotéis de selva montem laboratórios para aten- Machinery, 28, disse que apesar da dissemina-

Para o autor da lei aprovada no Acre, deputado der seus clientes cientistas. Ele conta um caso ção maior de informações sobre a existência

estadual Edvaldo Magalhães (PC do B) o con- mais radical, ocorrido recentemente no Peru, de biopirataria nas áreas indígenas, nas regi-
,

mais do que necessá-


trole aos estrangeiros era onde a Pobcia Nacional encontrou um barco- ões dos riosjavari e Negro, ainda hámuita faci-

"Pode parecer utn exagero, mas vivemos


rio. laboratório que singrava rios oferecendo suas lidade para a entrada de cientistas identifica-

uma espécie de novo colonialismo”, disse, instalações a cientistas dos EUA. dos como turistas, missionários e pesquisado-
A Assembléia do Amazonas também tem um A Empresa de Turismo do Amazonas informa res que podem roubar conhecimentos do uso

projeto de Lei da Biodiversidade, ainda a ser que controla o chamado turismo receptivo, de plantas e animais como medicamentos. (A

votado, (m 13/07/97) aquele que leva turistas para o maio. Três das Crítica. 17/11/1998)
maiores agências de Manaus foram consulta-
É FÁCIL ENTRAR das peia Folha sobre a possibilidade de contra- ÍNDIOS DENUNCIAM
E SAIR DA FLORESTA tarum "mateiro”. Nenhuma aceitou o serviço, A BIOPIRATARIA
mas indicou endereço de agências "menores”,
Por R$ 400,00 por dia, um norte-americano Um documento paralelo à Carta da Terra ela-
sem registro oficial, que tinham até tabela de
contratou um guia caboclo, alugou uma borado pelo Comitê Internacional Intertribal,
preços. (FSP, 13/07/97)
voadeira (barco de alta velocidade) e se enfiou que envolve índios do Brasil, Ásia, África, Aus-

numa mata cem km acima de Manaus no co- trália e Europa, foi entregue ao coordenador
SEMINÁRIO ORGANIZADO mternacionai da Carta da Terra, o norte-ameri-
meço de março. Acompanhado por uma brasi-
PELOS ÍNDIOS DISCUTE cano Steven RockefeEer. Desta vez, os silvícolas
leira, ele carregava três caixas prateadas. De-
pois de três dias de pesquisas, trouxe em uma
BIODIVERSIDADE propõem não só sugestões e projetos a serem
das caixas duas plantas enormes. A biodiversidade é um tema que vem ganhando executados, mas graves denúncias de
"Ele disse que era para sua coleção particu- espaço nas discussões inlerriadonaís. Foi o que
biopirataria, roubo de madeira, extinção de
lar”, resume o guia Marcos Garanlido. O so- revelou ontem o ex- coordenador da Coiab, Se-
etnias e doenças transmitidas pelo homem bran-
brenome, apesar de ele dizer que é verdadeiro, cobram atitudes urgentes da ONU para
co. Mais:
bastião Manchinery. Ele participou ontem do
deve ser falso - é o "sobrenome" do boi que seminário "Biodiversidade e Direitos Indígenas:
que os indígenas recebam tratamento não só
ganhou o Festival Folclórico de Parintins neste biopro5pecção e conhecimentos tradicionais",
como minorias. Querem a definição de políti-

ano. A "viagem”, como classificou o guia de 33 cas claras governamentais que saíram da teoria
organizado pela Coiab. Sebastião ressaltou que
anos, rendeu R$ 500,00, O resto ficou com a os povos indígenas ainda não têm consciência
e sejam colocadas em prática. (A Gazeta.

agência que o contratou no centro de Manaus. Cuiabá, 04/12/1998)


sobre a importância da preservação dos conhe-
O Ibama, órgão que deveria coibir a aquisição cimentos tradicionais.
de espécimes na Amazônia, não tem mais de

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCI0AMB3ENTAL TERRAS INDÍGENAS tas


Acervo
_//Á ISA

Do Manejo Florestal
em Terras Indígenas

Paulo Pankararu Advogado do ISA

COMO OS ÍNDIOS PODEM, LEGALMENTE, É necessário a formulação e execução de políticas públicas que

EXPLORAR COMERCIALMENTE A permitam às comunidades realizarem a gestão de seus recursos

MADEIRA DE SUAS ÁREAS de modo que possam manter a integridade de seu patrimônio e
possam desenvolver suas atividades produtivas com êxito conside-
rando suas peculiaridades econômicas, sociais, cukurais e a pre-

A exploração de madeira em terras indígenas é um assunto polê- servação de seus recursos ambientais.

mico que vem recebendo os mais diverso enfoques, seja na con-


cepção dos próprios índios, ou de antropólogos, ambientalistas,
DA LEGISLAÇÃO
juristas instituições públicas e organizações não-govemamentais.
o
O ponto central da controvérsia é se os índios podem ou não ex- A Lei n° 4.771/65 (Código Florestal) em seu Art. 3 letra “G” e
,

plorar madeira em suas terras para fins comerciais. Todavia, tal §2°, submeteu ao regime de preservação permanente “as florestas
polêmica tem sido decorrente da falta de interpretação clara da e demais formas de vegetação natural destinadas a manter o ambi-
legislação pertinente e de políticas públicas consistentes para apoiar ente necessário à rida das populações silvícolas”. Embora o obje-
o desenvolvimento sustentável das comunidades indígenas. tivo fosse de proteger as comunidades indígenas, essa norma nas-
ceu sem possibilidade de eficácia plena por considerar como sen-
Diversos setores se posicionam terminantemente contrários à ex-
do de preservação permanente todos os recursos florestais exis-
ploração de madeira em terra indígena, alegando em síntese que
tentes nas terras indígenas. Sua aplicação implicaria na restrição
isso gera a sua conseqiiente invasão por estranhos, a degradação
total ao uso de tais recursos pelas comunidades indígenas, que
do meio ambiente e impacto cultural. Por um longo período esse
nem mesmo poderiam efetuar o aproveitamento de qualquer es-
argumento foi fortalecido pelo entendimento de que as florestas
pécie para a construção de uma casa ou confecção de uni arco.
situadas em terras indígenas estavam sujeitas ao regime de preser-
vação permanente e, também, pela inalienabilidade da madeira O Art. 46 da Lei n° 6001/73 (Estatuto do índio) modificou o Códi-
em questão, que pertenceria ao domínio da União Federal seguin- ,
go Florestal preconizando que “o corte de madeira nas florestas
do o principio civilista de que o bem acessório acompanha o prin- indígenas consideradas em regime de preservação permanente,
cipal, ou seja, como as terras indígenas pertencem ao domínio da de acordo com aletra “G” e §2° do Código Florestal, está condici-

União e são inalienáveis, os recursos florestais pertenceriam a ela onado à existência de programas ou projetos para o aproveita-
e também não poderiam ser objetos de comercialização. mento das terras respectivas na exploração agropecuária, na in-

dústria ou no reflorestamento.”
Porém, apesar de toda veemência dos setores que defendiam a
proibição da exploração de madeira em terras indígenas, milhões A letra “G” e o §2“ do Art. 3° do Código Florestal foram modifica-
de metros cúbicos de madeira foram extraídos ilegalmente destas ter- dos em função de sua incompatibilidade com o Art. 46 do Estatuto do
ras enriquecendo apena os proprietários de empresas madeireiras. índio. O caráter proibitivo da exploração de madeira presente naquele
Código, revestiu-se de natureza permissiva no texto desse último.
Isso demonstra que não basta simplesmente estabelecer regras
proibitivas quanto ao uso dos recursos das terras indígenas para Com efeito, a Medida Provisória n“ 1.956-55, de 19 de outubro de
proteger os interesses e o patrimônio das comunidades indígenas. 2000, que “Altera os arts. I
a 4a
, ,
14a 16 a
,
e 44 a, e acresce dispo-
a
O debate deve se pautar pela situação vivida de falo pelas comuni- sitivos à Lei ii 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o
dades indígenas e seus anseios quanto ao uso de seus recursos. Código Florestal, bem como altera o art. 10 da Lei na 9.393, de 19

190 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^4-íZs* Acervo
//\\ I SA
de dezembro de 1996, que dispõe sobre o Imposto Territorial Rural d) promoção da regeneração natural da floresta;

- ITR, c dá outras providências’’ determina que: e) adoção de sistema siívicultural adequado;

0 adoção de sistema de exploração adequado;


“Art. 2S Ficam acrescidos os seguintes dispositivos à Lei n“ 4.771,
g) monitoramento do desenvolvimento da floresta remanescente;
de 15 de setembro de 1965:
h) garantia da viabilidade técnico-económica e dos benefícios sociais;

'Art. 3“-A. A exploração dos recursos florestais em terras indíge- i) garantia das medidas mitigadoras dos impactos ambientais.
nas somente poderá ser realizada pelas comunidades indígenas
A aprovação do corte de madeira em terra indígena se fará me-
em regime de manejo florestal sustentável, para atender a sua sub-
diante a apresentação do plano de manejo florestal que será
sistência, respeitados os arts, 2= e 3“ deste Código." (NR)
apreciado pelo Ibama e a Funai. É dispensado a apresentação
Portanto, a Medida Provisória acima mencionada reafirmou a pos- do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório de Im-
sibilidade de exploração de madeira em terras indígenas já previs- pacto Ambiental - Rima.
ta pelo Estatuto do índio e pôs fim a qualquer dúvida nesse sentido.
Ressaltamos que o plano de manejo florestal apresentado por co-

O regime de manejo florestal sustentável a que se refere o Art. 1° munidades indígenas deverá respeitar as áreas de preservação
da Medida Provisória trata dos resultados econômicos e sociais permanente, às quais não é permitida a supressão, como exem-
que a atividade deve alcançar bem como o equilíbrio ecológico da plo, as florestas situadas ao longo dos rios, nas nascentes, nas en-
com a descrição do Art. 2"
área objeto do manejo. Esse regime foi conceituado pelo Decreto costas e no topo dos morros, de acordo

n° 2.788, de 19 de outubro de 1998, que regulamenta o art. 15 do do Código florestal.

Código Florestal no que se refere a exploração das florestas primi- Feitas estas considerações, deve-se esclarecer que não é valido o

tivas da bacia Amazônica, que adotou o conceito dc manejo flores- argumento de que os recursos florestais existentes em terras indí-
tal sustentado de uso múltiplo, o qual sc aplica ao manejo flo- genas seriam inalienáveis como são as terras indígenas, em decor-
restal em terras indígenas situadas na Amazônia por serem dc rência do principio civilista que determina que o bem acessório
formação primitiva. siga o principal. Essa é uma questão já superada, uma vez que os
o direitos indígenas não podem ser interpretado tão somente à luz
Art. I do Decreto; “A exploração das florestas primitivas da bacia
do direito comum. Os institutos jurídicos dc proteção dos direitos
amazônica de que trata o art. 15 da Lei n 2 4.771, de 15 dc setem-
dos índios são norteados pela natureza diferenciada dos povos in-
bro de 1965 (Código Florestal) e das demais formas de vegetação
,

dígenas. Por isso, aplica-se interpretação distinta para atingir a


arbórea natural, somente será permitida sob a forma de manejo
vontade do legislador indigenista, razão pela qual não se deve le-
florestal sustentável de uso múltiplo, que deverá obedecer aos prin-

cípios de conservação dos recursos naturais, de preservação da


var em conta apenas o Código Civil no caso de exploração de ma-

manutenção da diversi-
deira em terra indígena.
estrutura da floresta e de suas funções, de

dade biológica, de desenvolvimento sócio-econômico da região e 0§ 2“ do Art. 231 da Constituição Federal preconiza que cabe às
aos demais fundamentos técnicos estabelecidos neste Decreto." comunidades indígenas o usufruto exclusivo das riquezas do solo,

dos rios, e dos lagos existentes em suas terras. O usufruto dos


a
§ 2 do Art. P do Decreto: “Entende-se por manejo florestal sus-
um usufruto difereute daquele disci-
indígenas sobre suas terras é
tentável de uso múltiplo a administração da floresta para a obten-
plinado pelo Código Civil. É um usufruto que se compatibiliza com
ção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-
o princípio constitucional de promoção dos meios necessários à
se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do mane-
continuidade étnica do povo indígena. Nesse sentido é fundamen-
jo, e considerando-se, cumulativa ou alternatívamente, a utiliza-
tal garantir aos povos indígenas os meios necessários para o de-
ção de múltiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e
senvolvimento de suas atividades produtivas principalmente para
subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros
continuarem sobrevivendo cm suas terras e pralicando suas culturas.
bens e serviços de natureza florestal."
Ademais, parece fugir à lógica jurídica, que o Estado tenha reco-
O Art. 2° do Decreto estabelece os princípios gerais e fundamentos nhecido aos índios direitos originários sobre suas terras e, ao
técnicos do manejo florestal sustentável de uso múltiplo, Vejamos:
mesmo tempo, pretenda retirar deles o direito de decidir como
í - princípios gerais: viver sobre elas.

a) conservação dos recursos naturais; Roberto A. O. Santos, em parecer sobre “A Parceria Pecuária em
b) preservação da estrutura da floresta e de suas funções; Terras Indígenas”, observa:
c) manutenção da diversidade biológica;
“deve-se notar, porém, que não se pode interpretar a Consti-
d) desenvolvimento sócio-econômico da região;
tuição como se ela tratasse seus destinatários de modo irônico
II - fundamentos técnicos: ou desleal, dando, por exemplo, às populações indígenas um
a) caracterização do meio físico e biológico; presente grego: outorgar-lhes o usufruto, por um lado e por

b) determinação do estoque existente; outro, interditar-lhes o gozo das riquezas das terras, (in: Os
c) intensidade de exploração compatível com a capacidade do sítio; Direitos Indígenas e a Constituição, NDI/Sérgio Fabris, 1993).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 191


''O?* Acervo
//\C I SA ixploração de madeira, impõe-se também observar o CONCLUSÃO
o
conceito de terra indígena contido no § I do Art. 23 1 da Cons-
tituição Federai:
O Estatuto do índio alterou os dispositivos do Código Florestal,
que submetiam as florestas localizadas em terra indígenas ao regi-
"são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles me de preservação permanente, permitindo o corte de madeira ali
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas ativida- existente. A Medida Provisórian 0 1.956-55 consolidou a possibili-
des produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos dade dc realizar o corte de madeira em terras indígenas determi-
ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua repro- nando que sejam obedecidos os princípios do manejo florestal
dução física e cultural, segundo seus usos, costumes c tradições.” sustentável e o respeito as áreas de preservação permanente con-

Do exame desse conceito, se verifica que quatro elementos devem forme descreve o Código Florestal.

coexistir para que terra possa ser caracterizada como indígena: Aplicam-se também às atividades em terras indígenas as normas
- habitação em caráter permanente; de Decreto n° 2.788/98, que traz a regra geral sobre o tratamento
- utilização para atividades produtivas; a ser dado à exploração de florestas primitivas da Região Amazô-
- imprescindibilidade da terra à preservação dos recursos nica, já que avegetação em terras indígenas naquela região é pre-
ambientais necessários ao bem-estar; e dominantemente de formação primitiva.
- as necessárias para a reprodução 6'sica e cultural.
Quanto à extração de madeira, vimos que é possível e que se
Todos esses quatro elementos serão referenciados à luz dos usos, compatibiliza plenamente com o usufruto dos índios sobre as ri-

costumes e tradições dos índios ocupantes de uma dada terra. quezas existentes em sua terras, na forma prevista na Constituição
de 1988. Para tanto, há que se realizar o zoneamento e inventário
Assim, para que uma atividade econômica se realize no interior de
da terra a ser explorada, requisitos indispensáveis de acordo com
uma terra indígena, é preciso que se verifique, por exemplo, qual
o § 1° do Art. 231 da Constituição Federal.
a parte dessa terra que se destina à atividade produtiva, e qual a
parte que será resguardada para a proteção ambiental. Por fim, é imprescindível, ainda, que os benefícios provenientes

1“
da exploração de madeira em terras indígenas alcancem a todos
Isso, para que se atenda ao disposto no § do art. 23 1 da Consti-
os índios da comunidade envolvida. E que também sejam observa-
tuição Federal. Para tanto, no caso da exploração florestal em
das todas as técnicas de manejo florestal sustentável para a manu-
terras indígenas, impõem-se a feitura de zoneamento para de-
tenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
finição da área a ser explorada, acompanhado ainda do res-

pectivo inventário florestal, que identificará e classificará as Merece ressaltar que encontra-se em andamento o Plano de Ma-
espécies existentes. nejo Florestal da Comunidade Xikrin do Estado do Pará, com apro-
vação do Ibama e da Funai. A experiência dos Xikrin poderá servir
Desse modo, a exploração florestal em terra indígena pressupõe a
de inspiração para que outros povos indígenas possam desenvol-
realização prévia de zoneamento e inventário, devendo dar-se por
ver seus projetos.
via de manejo, em regime de rendimento sustentado, para que
seja assegurado o uso da floresta pelas gerações futuras, bem como A pretensão de que o Estado, apenas no exercício de seu poder dc
a participação de toda comunidade indígena nos sens resultados polícia atuando de modo a proibir e reprimir o corte de madeira

econômicos. em terras indígenas, protegeria os recursos florestais das comuni-


dades indígenas está bastante afastada da realidade. A proteção
Aliás, esses mecanismos já foram incorporados à seção dedicada
dos recursos florestais existentes em terras indígenas deve ser re-
à exploração florestal em terras indígenas, do Projeto de Lei que
solvida com a elaboração e execução de políticas públicas e pro-
institui o Estatuto das Sociedades Indígenas, que tramita, no mo-
gramas que ofereçam recursos técnicos e financeiros para as co-
mento, no Congresso Nacional.
munidades realizarem a gestão de seus recursos e decidirem o
modo como pretendem utiliza-los. Isso não elimina a obrigação
do poder público em fiscalizar e reprimir a extração de madeira
quando realizada de forma ilegal, ao revés, indica d aramente qual
deve ser o papel do Estado e permite que as comunidades indíge-
nas possam de fato usufruir de suas riquezas que lhes são assegu-
ras pela Constituição Federal, (outubro, 2000)

192 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/20110 - INSTITUTO SCJCIOAMBIENTAL


,

=
'*d f7. < Acervo
—7/f\ ISA AC 0 N T E C EJÍJ

MADEIRA "ESQUENTANDO’ MADEIRA preenchidas como se o mogno fosse originário


do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS)
A Operação Mogno desencadeada no ano passa- 3138/94 da Madeireira Universal, cujo projeto lo-
LADRÕES DE MOGNO do pelo Ibama, em conjunto com a Fimai e a Polí- caliza-se ao lado da área Mekranotire e, como des-
INVADEM ÁREAS cia Federal, produziu um relatório que mostra o tinatário, a Madeireira Marcou Ltda,, localizada tia
MILITARES E INDÍGENAS esquema montado para “esquentar” mogno reti- ddade de Castelo dos Sonhos (PA).
rado ilegalmente de terras indígenas no Pará e As toras de mogno apreendidas no interior da
Esgotadas as reservas de mogno nas terras par-
uma relação de madeireiras envolvidas. Entre Reserva ostentavam numeração sequencial e a
ticulares, os contrabandistas da madeira mais
as madeireiras autuadas estão pelo menos duas marca “L", que identificava 0 seu extrator. Toras
valorizada no Brasil estão agindo, agora, den-
(Exportadora Peracchi Ltda. e Indústria Para- com essa marcação e sequência numérica fo-
tro das áreas militares e reservas indígenas da
ense de Madeiras - Ipama) que, em dezembro ram localizadas no pátio da Madeireira Marcon
floresta Amazônica, principalmente no sul do
de 1992, assinaram declaração da Associação e foram também apreendidas.
Pará e norte do Mato Grosso. A ação dos pre-
das Indústrias Exportadoras de Madeira do Es- Com essas informações, 0 Ibama passou a fis-
dadores do mogno não tem limites. Dados for-
tado do Pará (Aimex) garantindo aos compra- calizar as madeireiras de São Félix do Xingu,
necidos pela íunai à Comissão Externa da Câ-
dores internacionais que não comer-cializariam Tncumã e Redenção (no Pará), identificadas
mara que investigou as madeireiras revelam que
madeira de terras indígenas. No documento, como as principais receptoras da madeira. Foi
pelo menos 60 áreas indígenas do País, a maio-
averbado em cartório por cada um dos 20 sig- confirmado que os projetos forma superdi-
ria delas na Amazônia, vêm sofrendo o assédio
natários, a Aimex e comprometia a realizar a mensionados, ou seja, não existe volume de
persistente dos madeireiros.
auto fiscalização e excluir da entidade as em- mogno na quantia alegaria. A diferença é enxer-
Erguida com requinte técnico, a ponte usada
presas que exercessem essa atividade ilegal. A tada com a madeira das reservas indígenas, le-
para drenar madeira roubada do Campo de Pro-
Operação Mogno, durante ação realizada na galizadas através dos documentos e créditos flo-
vas Brigadeiro Velloso, na Serra do Cachimbo,
Terra Indígena Mekranotire, em agosto de 1998, restais concedidos pelo Ibama. A Instrução
tinha 70 metros de comprimento e capacidade
apreendeu a farta documentação utilizada para Normativa, de 27 de outubro de 1998, que pa-
para veículos de até 50 toneladas. Ao descobrir
“esquentar” a madeira. Foram 21 Autorizações ralisa a exploração do mogno nessa região,
o acesso clandestino durante um vôo de
de Transporte de Produtos Florestais (ATPF), continua em vigor.
patrulbamento, em 96, a Aeronáutica decidiu
inutilizá-la imediatamente. Transformou-a em
alvo para os caças que fazem treinamento de MADEIREIRAS INSPECIONADAS PEIA OPERAÇÃO MOGNO
ataque e defesa.
Empresa Município Volume Volume
comando da Base
Investigações realizadas pelo
demonstram que Já havia um esquema de “ven-
Estocado (m 3 ) Irregular (m J )
da” de lotes de terra dentro da área militar para Madeireira Comasu Ltda. Redenção 2.612,246 1.305,043
pessoas interessadas na retirada de madeira.
Redenção Mad. Ind. Com. Ltda. Redenção 874.415 348,135
Numa casa construída pelos invasores dentro
Madeireira Carajás Ltda. Redenção 260,040 202,444
do campo de provas oficiais encontraram um
84,343 84,343
mapa da área dividida cm lotes. Estradas clan-
destinas garantiriam o acesso à BR-163 (Cuiabá- Laminados Suprema Redenção 32,294 32,294
Santarém). LumiJ Ind. de Madeiras Ltda. Redenção 185,579 185,579
Quando o esquema foi descoberto, os invaso-
Lumil Ind. de Madeiras Ltda. Redenção 145,825 145,825
res procuraram mobilizar políticos locais, a
Agro Industrial S. Sebastião Lida. Redenção 527,358 527,358
quero ofereceram lotes da área para consoli-
dar a ocupação. A Força Aérea Brasileira (FAB) 8,869 8,869

contudo, agiu mais rapidamente. Com as coor- M.M. Amorim Redenção 854,661 854,661
denadas fornecidas pela tripulação de helicóp- Madeireira l.éo Ltda. Redenção 824,656 '•>825,656
tero-patrulha, dois caças (F-5 e AMX) decola-
Exportadora Peracchi Ltda. 'Ibcumã 7.921,457 860,568
ram para o local com a missão de destruir a
7-449,797 '>7.449,797
ponte. Disparada pelo caça F-5, a primeira bom-
Ind. Madeireira Palmitos Ltda. Ibcuraã 1.056,161 846,111
ba errou o alvo. Explodiu a 50 metros de dis-

tância, abrindo um pequeno buraco na mata. Itaibi Madeireira Ltda. Tucumã 896,885 743,812
Mas a segunda foi certeira. Arrancou o piso da E.C.G. Soares Tucumã 688,383 575,742
ponte, sem derrubá-la Mesmo ainda de pé, a
D.R. Leite Madeiras Tucumã 422,836 1.731,404
construção Bcou inutilizada.
A Aeronáutica contabiliza 600 Madeireira Serra Dourada Ltda. S.F. do Xingu 749,266 '•><•>5.842, 130
nri de mogno
apreendidos na área, além de 600 toras de ou- L.C.C. de Oliveira S.F. do Xingu 2.732,978 754,963
tras espécies de árvores de valor comercial, Ind. Paraense de Madeiras Água Azul 1-993,775 "1.758,715
apreendidas há dois anos. Essa madeira, até ‘>537,319
46,329
boje, encontra-se sob a guarda da FAB, mas os ''

Saldo negativo: indica que a madeira foi comercializada sem autorização do I bania, e documento focal hábil. A madeira inexiste no pálio.
madeireiros estão tentando liberá-la na justiça, ’
: J
Todo estoque encontrado será apreendido, considerando relatório de vistoria dos PMFS, que detectou ausência dos
alegando que cortaram a madeira fora e a leva- voiumes nos Projetos para os saldos alegados.
ram para o campo. (O Globo, 12/03/98) Fonte: Ibama. (Parabólicas/fSA , n° 4, jan-fev/99)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL TERRAS INDÍGENAS 193


•ztLfL* Acervo

—J/T ISA ACONTECEU


TERRAS INDÍGENAS PROTEGEM FLORESTA AMAZÔNICA
As terras indígenas na Amazônia têm se mostra- Essa filosofia inspirou um projeto para demarca- micos, condizentes com as necessidades atuais
do fundamentais para a conservação da cobertu- ção de terras indígenas e a discussão de outro des- dos povos indígenas, deixa-os mineráveis às pres-
é visível ms regiões onde o
ra florestal. Esse fato tinado a alternativas econômicas para essas áre- sões de madeireiros, garimpeiros e todo tipo de
desmatamento tem avançado com maior rapidez ,
as,ambos no âmbito do PP-G7. exploradores.
como nos estados do Mato Grosso, Rondônia e sul Historicamente, porém, os investimentos do Ban -
Em termos concretos, há pouquíssimas iniciati-

do Pará. Tanto no levantamento do Instituto Na- co Mundial nas áreas ambiental e indígena esti- vas hoje na Amazônia voltadas a desenvolver pro-
cional de Pesquisas Espaciais (Inpe), como no re- veram voltados para políticas compensatórias aos jetos de gestão territorial e de alternativas econô-
alizado pelos próprios estados as terras indíge-
, programas de desenvolvimento regional. As ações micas. enquanto é crescente o assédio de interes-
nas aparecem como verdadeiros oásis de flores- que direta ou indiretamente fomentaram desen- ses econômicos sobre os recursos naturais das
tas, cercados de destruição. volvimento e ocupação de novas áreas na Ama- terras indígenas.
Mesmo em áreas onde existem alianças com em- zônia foram as maiores beneficiadas com os fi-
presas madeireirascomo por exemplo, os casos
- nanciamentos do Banco. Esse passado desfavorá- MAJOR ACERVO
dos índios sumí, cinta larga e kayapó -, a explo- veljustificaria um investimento mais substanci- FLORESTAI PROTEGIDO
ração dos recursos madeireiros é seletiva, o que Banco em relação aos índios e ao
al por parle do As terras indígenas da Amazônia brasileira são o
garante a conservação da cobertura florestal. No meio ambiente. maior acervo de floresta tropical no mundo sob
entorno dessas terras, entretanto, prevalece o corte Se a luta pelo reconhecimento e demarcaçãofoi a alguma forma de proteção formal, totalizando
raso. questão central da segunda metade do século 20, mais de l milhão de Km* ou 100.883 079 ha, o
No entanto, ainda é tímido o reconhecimento da a gestão territorial das terras indígenas é o gran- que representa 20% do total da A mazônia no país.
importância dessas áreas por parte dos órgãos de desafio do próximo século. Cerca de 90% delas Desse total, 80,9% estão efetivamente reconheci-
ambientais estaduais e federais. Não há políticas sofrem algum ti/to de invasão ou pressões para das e outros 12,9% estão em processo finaI de re-
públicas que agreguem o componente ambiental exploração não sustentável dos seus recursos na- conhecimento. Essas terras somam uma área cin-
das terras indígenas e que invistam na turais. Paralelamente, as populações indígenas co vezes maior do que a superfície de todas as
sustentabilidade socioambiental atual e futura buscam formas viáveis de participar da econo- Unidades de Conservação federais e estaduais de
dessas terras e das populações que nelas residem. mia de mercado, o que em inúmeras situações uso indireto (que não permite presença huma-
Atualmente, o Banco Mundial passa por um pro- causam disputas internas, conflitos externos, na) existentes na Amazônia brasileira. Nesse con-
cesso de avaliação e revisão de sua política flo- aliciamento, dilapidação dos recursos, colocan- texto, o avanço no processo demarcatórío das ter-
restal e garante estar considerando as terras in- do em risco a sustentabilidade econômica e eco- ras indígenas no Brasil representa não só uma
dígenas como uma das principais áreas do ponto lógica das terras. grande conquista para os direitos das sociedades,
de vista geográfico para sua política "voltada para A ausência de uma política de gestão dos recur- mas também um enorme ganlx) para o meio am-
estimulara conservação e o reflorestamento e evi- sos naturais e principalmente em relação ao de- biente do hemisfério. ( André Villas Boas e Maura
tar o desmata-mento", segundo Virgílio Maurício senvolvimento de alternativas sustentáveis que Campanili, Parabólicas/ISA, n° 49, abr/99)
Viana, professor da Esalq/USP e consultor do Bird. possibilitem viabilizar novos parâmetros econô-

MADEIREIROS Ainda segundo a reportagem, a PF descobriu "Eles colocam cipós e galhos de árvores sob o
PLANEJAM SAQUE À TI que os madeireiros chegaram a rastrear a área rio, cobrindo depois com cascalho, permitin-

TRINCHEIRA BACAJÁ através de levantamento fotográfico aéreo para do o trânsito de caminhões”, disse ao jornal o
identificar as zonas a serem exploradas. Teri- delegado da PF Adolfo Raquel Machado. O de-
Segundo o jornal 0 Estado de S. Paulo, Polícia am, também, contratado mateiros para identi- legado declarou ao repórter Edson Luiz que não
Federal do Pará descobriu que invasores pla- ficar as melhores árvores a serem abatidas. Para tem certeza de que haja participação de índios
nejavam extrair 100 mil m'de madeiras nobres, escapar da fiscalização do lbama e da poficia, na exploração de madeiras nobres dentro da
cm especial mogno, da Terra Indígena Trinchei- os madeireiros camuflam as toras retiradas terra indígena. (ISA, 04/05/99)
ra Bacajá. região de Altamira (PA), onde vivem como se fossem pontes sobre rios da região,
comunidades Kaiapó Xikrin do Bacajá e Kaiapó para retirá-las tempos depois.
Kararaô.

194 TERRAS INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo

ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS

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1
ír p.-rr? Y *
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Sede da Oibi (Organização Indígena
da Bacia do Içana), na comunidade
Tucumã-fíupitã (AM)
*í4j 7^ Acervo

ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
. .

*uz* Acervo
—/> I sA

Associações Indígenas e
Desenvolvimento Sustentável
na Amazônia Brasileira

Bruce Albert Pesquisador do Convênio ISA-CNPq-IRD

AS ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS DOS O processo de multiplicação dessas associações tem sua origem

ANOS 1990: ENTRE A NOVA CONSTITUIÇÃO na encruzilhada de vários processos sócio-políticos gerais,

E 0 "MERCADO DE PROJETOS" interagindo em nível nacional e internacional. No plano intento,

deve-se salientar, primeiro, a promulgação da Constituição de 1988


cujo artigo 232 abriu a possibilidade destas associações se consti-
Constata-se na Amazônia, a partir do fim dos anos 1980, um pro-
mírem como pessoas jurídicas. O segundo fator importante, a ní-
cesso extremamente dinâmico de criação e de registro de associa-
vel nacional, foi o processo de retração do Estado da gestão direta
ções indígenas na forma de "organizações da sociedade civil”
da “questão indígena” (restringindo-se, basicamente, a suas res-
(OSC). Para se ter uma idéia da escala do fenômeno basta dizer
ponsabilidades em matéria territorial) 2
e o esvaziamento político-
que existiam apenas dez destas associações antes de 1988 (Alto e
orçamentário da Funai, criada há três décadas pelo regime militar
Médio Solimões, Manaus, Alto Rio Negro, Roraima) e que são hoje
no quadro de suas políticas de desenvolvimento da Amazônia.
mais de 180 nos seis estados da Amazônia Brasileira: AM, RO, RR,
AC, PA, AP (provavelmente mais de 250 na Amazônia Legal). Ou No plano externo, o primeiro fator foi certamente a globalização

seja, foram quase multiplicadas por 20 em pouco mais de uma das questões relativas ao meio ambiente e aos direitos das minori-

década (ver lista em anexo e tabela l).


1
as ao longo dos anos 70 e 80, bem como a crescente colaboração
entre ONGs ambientais e sociais em projetos que integrassem ob-
Estas associações têm características diversas. A maioria é local
jetivos de conservação e preocupação pelo desenvolvimento co-
(grupo de comunidades, bacia de um rio), representante de um - fenômenos que
munitário tiveram seu ritual de consagração na
povo ou regional. Várias são constituídas com referência a ativida-
ECO 92 no Rio de Janeiro. O segundo, foi a decisiva descen-
des profissionais ou econômicas (professores, agentes de saúde,
tralização da cooperação intemational, hoje igualmente reorientada
produtores, cooperativas). Existe também uma importante rede
para interlocutores da sociedade civil organizada, para o desen-
de associações de mulheres, bem como diversas associações de
volvimento sustentável e o incentivo à implementação de micro-
estudantes indígenas. Embora ainda poucas tenham ínfraestrutura
projetos locais.
própria, a grande maioria destas está registrada em cartório ou
em processo de legalização, desempenhando regularmente fun- O recente boom das associações indígenas tem, portanto, como
ções políticas de articulação interna e de representação interétnica. condições fundamentais de possibilidade, por um lado, o quadro
jurídico progressista da nova Constituição e, do outro, o “merca-
Uma parte considerável e crescente dessas organizações indígenas tem
do de projetos ” aberto pela cooperação bi e multilateral e pelas
hoje acesso a fontes de recursos externos sob a forma de “projetos”
ONGs internacionais, seguidas pelos crescentes investimentos pú-
desti nados a diversos fins: gestão territorial, manutenção institucional,
blicos nacionais no setor das OSC (Ministérios do Meio Ambiente,
organização de assembléias e encontros, programas de saúde e de
da Saúde e da Educação)
educação, iniciativas relativas ã auto-sustentação e comercialização,
divulgação e reafirmação cultural etc. Neste contexto, hoje é cada vez

mais dificil distinguir entre associações “com” ou “sem projetos”; a


UMA MUTAÇÃO DO “MOVIMENTO
INDÍGENA”: DA ETNICIDADE POLÍTICA
diferença passa a ser entre associações que têm acesso a fontes de

financiamento diversificadas, amplas e regulares (associações regio-


À ETNICIDADE DE RESULTADOS?
nais, geralmente urbanas) e associações que contam apenas com al- Esta combinação de tendências e dinâmicas produziu não somen-
guns financiamentos reduzidos e pontuais (associações locais, rurais) te um crescimento acelerado do número de associações indígenas

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000- INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL URGANIZAÇÕES INDÍGENAS j


197
Acervo
ISA
na Amazônia. mas também uma considerável mutação qualitativa Praticando uma sutil dialética entre ação de protesto (na defesa

do papel do “movimento indígena” no debate/embate político a genérica ou específica dos direitos indígenas) e a busca de parti-

propósito do modelo de desenvolvimento da região. cipação, eslas associações são hoje cada vez mais reconhecidas
como atores do desenvolvimento socioambiental regional nos
De fato, as primeiras e poucas organizações indígenas criadas nos
fóruns oficiais onde negociam diretamente e em função de suas
anos 1980 eram associações informais, politicamente ativas, po-
próprias estratégias, tanto com administrações públicas, quanto
rém pouco institucionalizadas e voltadas, essencialmente, para
com agências de cooperação, ONGs ou empresas (negociadoras
reivindicações territoriais e assistenciais dirigidas a um listado tu-
de produtos “verdes”ou provedoras de indenizações).
tor, considerado falho nas suas responsabilidades legais e sociais.

A partir dos anos 1990, temos na Amazônia associações legaliza-


Em função dessa legitimação crescente, as associações indígenas
desenvolvem seus projetos a partir de um conjunto bastante diver-
das, com estatuto, CGC e conta bancária, assumindo cada vez mais
funções que o Estado deixou de desempenhar diretamente, reme- sificado de financiamentos nacionais e internacionais. Do lado dos
financiamentos internacionais, há os fundos de cooperação multi-
tendo em grande parte sua execução ou seu financiamento, por
em lateral (Banco Mundial, Comunidade Européia) 5 e de cooperação
um lado, à esfera locai (municípios, estados) - matéria de edu-
cação ou de saúde 5 - e, por outro, à rede das agências de coope-
bilateral (em que predominam os países norte-europeus) os fun- ,

ração bi e muitilaterai e das ONGs internacionais (no domínio dos dos de várias ONGs leigas ou ligadas a redes de financiadoras reli-

projetos de auto-sustentação econômica)


4
.
giosas (ONGs que frequentemente também intermediam financia-

mentos dc cooperação) . Em certos casos, os financiamentos tam-


Passamos, assim, de um movimento couflilivo de organizações e
bém podem rir através de projetos apoiados por empresas “tradi-
mobilizações etnopoKlicas informais (anos 1970 e 1980), que ti-
cionais” interessadas em produtos com alto valor etno-ecológico
nha por interlocutor o Estado, para a institucionalização de uma
agregado, como a BodyShop (Inglaterra), a Aveda (Estados Uni-
constelação de organizações onde as funções de serviço, econômico e
dos) ou a Hermes (França), ou mesmo ser substituídos por par-
social, são cada vez mais importantes e cujos interlocutores perten-
cerias comerciais privilegiadas com empresas “militantes” do cir-
cem à rede das agências financiadoras nacionais e internacionais, quer
cuito do “comércio equitável” (como as empresas importadoras
sejam governamentais ou não-govemamentais (anos 1990-2000).
do Guaraná Satéré-Mawé na Europa: Guuyapi Tropical na França,
Paralelamente, mudamos de uma dinâmica de construção Cooperativa Terso Mondo na Itália).

identitária sustentada por um conjunto de lideranças indígenas


Do lado nacional, há fundos oriundos de convênios firmados com
carismáticas (com discursos político-simbólicos neo-tradicionais
diversas administrações municipais, estaduais ou federais no campo
de muito impacto na mídia) para ,
uma fase de certa rotinização do
de educação, saúde e meio ambiente ou, algumas vezes, de indeni-
discurso étnico (nos moldes da retórica internacional do desen-
zações de grandes empresas estatais ou ex-estatais, como a Vale
volvimento “etno-sustentável” herdada das agências financiadoras),
do Rio Doce ou a Eletronorte. Existem, por fim, alguns financia-
apoiada em um novo conjunto de jovens quadros de organizações
mentos disponibilizados por ONGs nacionais, ainda que muitas
indígenas formados cada vez mais em administração de associa-
vezes também oriundos de ONGs ou agências de cooperação inter-
ções e gestão de projetos.
nacionais e apenas repassados para organizações indígenas.
Passamos progressivamente, portanto, na virada dos anos 1980/
90, de uma forma de etnicidade estritamente política, embasada
em reivindicações territoriais e legalistas (aplicação do Estatuto
DA DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS
do índio), para o que se poderia chamar uma etnicidade de re-
À GESTÃO DOS SEUS RECURSOS NATURAIS
sultados, na qual a afirmação identitária se tomou pano de fundo À evolução do processo de territorialização dos grupos indígenas
para a busca de acesso ao mercado e, sobretudo, ao “mercado inidado no contexto dos grandes projetos públicos de desenvolvi-
dos projetos" internacional e nacional aberto peias novas políticas
mento da Amazônia dos governos militares (a partir do quadro
descentralizadas de desenvolvimento (local/sustentável).
jurídico-administrativo do Estatuto do índio dc 1973) pode ser
Assim, neste contexto de retração progressiva do Estado da cena igualmente considerada um fator determinante na mutação recen-
indigenista, além de suas funções tradicionais de articulação e re- te dos parâmetros da questão indígena na região.
presentação política (cuja intensidade tende a diminuir com a re-
;
A’ fase mais intensa de reafirmação identitária e de mobilização
solução das pendências territoriais), estas organizações desempe-
I
etnopolítica do movimento indígena - a sua fase de “movimento
nham hoje, e cada vez mais, funções assistenciais, gerenciando
:
social” propriamente dito - deu-se durante o intenso e sofrido pro-
projetos de demarcação e vigilância territorial, projetos sanitári-
cesso de “diálogo conflitivo” com o Estado para a demarcação das
os, educativos, culturais e sociais (como a geslão de aposentados
terras indígenas ao longo das décadas de 1970 e 1980.
indígenas da APITU no Amapá) bem como
,
diversos tipos de pro-
jetos econômicos e comerciais (projetos agro-florestais e Depois de quase três decêiüos, esta dinâmica, se nãu cunduída,
agropecuários; projetos de piscicultura, artesanato, produtos lem ao menos e pela primeira vez, um horizonte de conclusão, Os
florestais, etc.). 160 povos indígenas da Amazônia dispõem hoje de um conjunto

19B ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


-
0 0 .

terras reservadas, sendo que 71,6% destas áreas gozam de TERRAS INDÍGENAS E
reconhecimento legal em diversos graus (terras delimitadas, ho- UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
mologadas ou registradas), A regularização das últimas terras in-
O contingente demográfico dos povos indígenas da Amazônia legal
dígenas da região avança a passos rápidos, ainda que falte resolver
representa 231.610 pessoas, ou seja, 1,2% da população total da
vários casos importantes (como o da Terra Raposa Serra do Sol
região 9 .
À primeira vista, esta baixa proporção pode levar a ques-
em Roraima) e que a maioria das terras indígenas ainda sofram
tionar 0 interesse em se preocupar com a incidência deste seg-
alguma forma de invasão. Entretanto, para ter uma idéia do ritmo
mento social na problemática de um desenvolvimento regional sus-
desta territorialização indígena, é preciso lembrar que, desde ja-
tentável Entretanto,. abordar a dimensão ambiental da questão indí-
neiro de 1995, foram homologadas no país 115 terras indígenas,
gena nesses termos seria absolutamente superficial e equivocado.
cobrindo uma área de 313.445,7 km 2 .
s

Nessa última fase do processo de territorialização começado na


Em virtude dos direitos históricos de uso exclusivo das terras que
ocupam tradieionalmente (artigo 231 daConstiúiição Federal), os
década de 1970 , movimento indígena situa-se num horizonte de
índios da Amazônia dispõem hoje de um notável domínio de terras
atuação onde 0 principal referencial de reivindicação que 0 opu-
reservadas, constituído ao longo de quase trinta anos de reivindi-
nha ao Estado e a partir do qual ele se construía politicamente,
cações jurídico-administrativas perante 0 Estado e de confrontos
está se esvaziando. Mas, se este confronto fundador com 0 Estado
agudos com diversos interesses regionais, Estas terras formam um
sobre a questão da terra tende a se dissolver com a diminuição das
arquipélago de 373 territórios cobrindo uma superfície de
áreas em litígio, ele também se reduz em importância em lunção
do próprio desengajamenlo do Estado com relação à questão indí-
1 .023.499 hm ou2
,
seja, 20,4 % da Amazônia legal (27,8% para as

gena, na qual parece limitar-se hoje a um papel de arbitragem


2 1 5 terras indígenas dos seis estados da Amazônia Brasileira) . Em
termos ambientais, estes números significam que 50,8% da superfície
indeciso ou oportunista entre mobilizações não-govemamentais e
da floresta ombrófiia densa (421.507,68 km ) 2
e aberta (258.652,16
interesses político-econômicos locais.
km2 ) da Amazônia legal estão inseridos em terras indígenas. 1(1

De fato, tanto por desinteresse político (prioridades macro-eco-


nômicas) quanto por vácuo conceituai (ausência de reforma de Estes números devem ser comparados com a superfície das unida-

uma administração indigenista obsoleta) 7


Estado parece ter desis-
des de conservação (federais e estaduais) na Amazônia. Existem
,

tido do planejamento de uma política indigenista de intervenção


na região 66 unidades de conservação de uso indireto (Parques
Nacionais, Reservas Biológicas, Estações e Reservas Ecológicas,
direta. Limita em grande parle sua intervenção ao prosseguimento

da legalização e desintrusão das terras da União consideradas de áreas de relevante interesse ecológico). Estas unidades cobrem
uso exclusivo das populações indígenas*. Por outro lado, ele trans- 192.285,5 km 2
,
ou seja, somente 3,8% da superfície da Amazônia
11
fere 0 essencial da responsabilidade dos serviços públicos dire-
legal. Se se acrescenta a elas as unidades de uso direto (Flores-

cionados às populações indígenas, seja para a esfera local por via tas Nacionais, Reservas extrativistas e Áreas de proteção ambiental)

de descentralização (educação e saúde indígena estadualizadas e


- 87 unidades cobrindo 360.274,7 km - 2
chega-se a um total de
municipalizadas) seja para a esfera global por via de terceirização 153 unidades de conservação cobrindo de 552.560,2 km ou seja,
2
,
,

(responsabilidade do apoio econômico às comunidades indígenas


1 1% da Amazônia legai. Entretanto, em muitos casos, estas unida-

em grande parle transferido para a cooperação internacional) des de conservação se sobrepõem parcialmente umas às outras ou
com terras indígenas e até com áreas reservadas para usos incom-
Neste contexto de “pós-territorialidade” e de retração do Estado,
patíveis (tais como Terras militares ou Reservas garimpeiras). A
as sociedades indígenas estão hoje expostas, além da problemáti-
superfície total destas superposições chega, assim, a 168.010,7
ca tradicional da proteção territorial e da conquista da cidadania,
km 2 reduzindo a superfície efetiva das unidades de conservação
,
12

a novos desafios que consistem na manutenção de complexas re-


em 7,7% da região. Isto significa que, na Amazônia legal, a super-
des sócio-pobticas externas a fim de garantir acesso a fontes de
fície das terras indígenas é praticamente três vezes maior que 0
financiamentos de programas sociais, sanitários e educativos adap-
total das unidades de conservação. Além disso, somente 23,4% da
tados à sua realidade cultural e, sobretudo, na viabUização, com o fioresta ombrófiia densa (291.638,9 km 2
e aberta (78.066,9 km 2
) )
apoio dos mesmos canais, de um modelo de gestão económico-
da região estão inseridos nestas unidades 13 menos da metade da ,

ambiental dos recursos naturais de suas terras.


superfície inserida em terras indígenas.
Para enfrentar estes novos desafios, elas têm hoje como principais
Esla importância geográfica da terras indígenas deveria por si só
interlocutores, não mais um Estado tutelar e clientelista onipoten-
tomá-las objeto de uma atenção privilegiada nas políticas públicas
te, mas uma rede diversificada de administrações públicas e agên-
de preservação ecológica e de desenvolvimento sustentável na Ama-
cias financiadoras com as quais devem negociar um leque de
zônia. Mas há outros fatores que reforçam ainda esta relevância
multiparcerias a fim de garantir a conünuidade de sua reprodução
ambiental. As terras indígenas são áreas reservadas de domínio da
social e cultural em um novo contexto de interiigação permanente
União e 0 Código Florestal (Lei 4771 de 15/9/65, Art.3, §3) consi-
entre os níveis regional, nacional e internacional.
dera-as como áreas de preservação permanente. São regiões de
alta relevância para estudo e conservação da biodiversidade: uma

POVOS INDlGENAS N0 BRASIL 1986/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 199


Acervo
_//£ ISA
pesquisa comprovou que 76% das áreas de extrema e alta das da região). 15 Muitas são invadidas e têm seus recursos «atu-
'

importância biológica na Amazônia estão inseridas em terras indí- rais explorados de maneira indiscriminada. Além disso, estima-se
4
genas.' Elas são habitadas por povos cujo modo de exploração que aproximadamente 50% das unidades de uso indireto têm po-
dos recursos é na grande maioria tradicional ou neo-tradicional e pulações residentes (como no caso do Parque do Pico da Neblina,
cujos conhecimentos e técnicas acumuladas em militares de anos terra dos índios Yanomami, o Parque do Jaú com ribeirinhos e o
de experimentos agronômicos e biotecnológicos constituem um Parque da Serra do Divisor com seringueiros).

considerável patrimônio de conhecimentos práticos e de varieda-


Entretanto, a nova lei do Sistema Nacional de Unidades de Conser-
des vegetais. Por último, a densidade de ocupação humana destas
2
vação (Lei n° 2,892-Art.42) só admite como solução para a pre-
áreas é geralmente muito baixa: 0,19 hab/km em média para as
sença de “populações tradicionais” nestas “Unidade de Proteção
terras indígenas dos seis estados da Amazônia Brasileira - ver ta-
Integrai” a sua remoção e reassentamento (a não ser em caso de
bela 1 (a média para a população total da Amazônia legal é de 3,6
superposição com áreas indígenas - Art. 57). Esta “solução” um
hab/km 2 ) 15 Existem, obviamente, exceções a
. este nível de baixa
tanto rígida do esvaziamento das unidades de uso indireto de suas
densidade demográfica: as terras Tikuna do Alto Solimões situam-
3
populações tradicionais, em detrimento de soluções mais prag-
se, por exemplo, numa média de 15 hab/km (5 hab/km 3 para os
máticas (contratos de uso, reclassificação), parece, ao contrário
índios do médio Solimões) incluindo casos incomuns como a T.I.
,

de seus objetivos, enfraquecer as possibilidades reais de preservar


Umariaçu com 88,6 hab/km2 ou aT.I. de Santo Antônio com
,
102,82
as áreas etn apreço, enquanto as experiências da última década na
hab/km 2 .
16
Entretanto, temos na Amazônia vastas terras indígenas,
Amazônia tendem a demostrar que não se tem política de conser:
como o Aripuanã com 0,02 hab/km 2 o Parque do Tíiniucumaque ,

vação realista sem envolvimento sócio-pofitico e econômico das


com 0,03 hab./km 2 o Vale do Javari com 0,04 hab./km 2 o Médio
, ,
"
2
populações locais organizadas. 2
Rio Negro II com 0,08 hab/km a terra Kayapó com 0,09 hab/ ,

km 2 a terra Yanomami com 0,12 hab/km 2 o Parque do Xingu


, , Deste modo, pode-se considerar que as unidades de conservação
com 0,14 hab/km 2 a terra Nhamundá-Mapuera com 0,15 hab/
, de uso indireto da Amazônia não somente sofrem as mesmas ame-
km 2 ou o Alto Rio Negro com 0,18 hab/km 2 17 ,
aças que as terras indígenas, mas têm ainda o agravante de não
admitirem a presença de populações cuja sobrevivência depende
TERRAS INDÍGENAS E DESENVOLVIMENTO da sustentabilídade de seu uso e que sejam, assim, capazes de
SUSTENTÁVEL: ARGUMENTOS mobilização social para defender seus limites e sua integridade
E CONTRA-ARGUMENTOS ambiental. A ideologia intransigente da preservação integral pare-

ce aqui reforçar a vulnerabilidade deslas áreas em nome do hori-


Estudos concretos já demostraram a importância das áreas indí-
zonte duplamente utópico da manutenção de ilhas de “vazio hu-
genas para a preservação da coberuira florestal amazônica. Fotos
mano” na Amazônia; útopica em função tanto das realidades geo-
de satélites do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) revelam,
gráfico-sociais da região quanto da falta de recursos do órgão res-
assim, o Parque do Xingu (MT) como um bloco de floresta ilhado
18 ponsável pelas áreas protegidas).
pelo desmatamento intensivo. Entretanto, permanece uma certa

reticência, entre ambientalistas adeptos da preservação integral O segundo contra-argumento - o mais freqiiente - é que os índi-
(oficiais ou não governamentais) contra a visão das ,
terras indíge- os, em função de suas novas aspirações sociais e econômicas numa
nas da Amazônia enquanto possíveis áreas de preservação ambiental situação de contato crescente, podem desenvolver - e em certos
e de uso sustentável da floresta. Três contra-argumentos são geral- casos já estariam desenvolvendo - atividades econômicas destrutivas
mente opostos a esta idéia; conda-argumentos, provavelmente, para o meio ambiente. Aisso pode-se opor uma série de objeções.
baseados num certo desconhecimento da realidade social e
ambiental das terras indígenas.
A primeira é que, se todos os povos indígenas mantêm algum tipo
de reiação econômica com o mercado, na imensa maioria dos
O primeiro contra-argumento observa que a maioria das terras
permanecem num espectro de baixo impacto
casos, estas relações
indígenas já sofrem de várias formas de invasão - por garimpei-
ambiental, na forma de trocas/trabalhos esporádicos, de sistema
ros, madeireiros, fazendeiros, colonos etc. - e que estas invasões,
tradicional de aviamento, ou de projetos comunitários mediados
certamente, vão se intensificar em função do desenvolvimento das 21
por instituições assistenciais (Funai, missões, ONGs). São bas-
atividades econômicas e dos fluxos migratórios nas regiões onde
tante raras na Amazônia as situações em que as comunidades indí-
se encontram as maiores áreas florestais ainda pouco afetadas.
genas dependem essendalmente do mercado para seu consumo e
Esta pressão sobre as terras indígenas e sua previsível acenniação
sobrevivência básicos, como é o caso de certas aldeias tikuna, con-
desqualificariam, assim, o aspecto da sua dimensão de preserva-
finadas em áreas indígenas reduzidas e densamente povoadas, com
ção ambiental.
escassos recursos naturais (ainda submetidos à predação de inva-
Entretanto, esta situação de ameaça ecológica não é em nada es- sores), e localizadas na periferia de centros urbanos do alto

pecífica às terras indígenas. Poucas unidades de conservação na Solimões (caso também dos Munduruku das áreas Praia do Man-
Amazônia são efetivamente implantadas e fiscalizadas (há apenas gue e Praia do índio, na periferia de Itaituba no Pará).
um funcionário do Ibama para cada 2 mil km 2 em áreas protegi-

2D0 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


.

7^ Acervo
_//£ ISA
São igualmente minoritários entre os 160 povos indígenas da Ama- (citadino/deculturado) ,
este modelo só inverte, de fato, a visão
zônia - apesar de serem regularmente destacados pela mídia - os colonial-evolucionista tradicional segundo a qual ir da floresta à

casos de grupos associados a atividades predatórias desenvolvidas cidade era percorrer o caminho do primitivo ao civilizado.
em suas terras por agentes econômicos das fronteiras regionais,
A atual realidade sociológica e cultural dos povos indígenas tem,
como garimpeiros e madeireiros. 22 Além disso, estas situações,
obviamente, pouco aver com esta ideologia “retro-evoludonista"
longe de configurar sistemas econômicos coletivos, envolvem em
e seu dualismo campo/cidade. De fato, longe disso, assistimos hoje,
gerai apenas alguns indivíduos (lideranças e snas famílias) como
,
em várias regiões, a um certo remanejamento dos coletivos indí-
é o caso da venda de madeira entre os Cinla Larga (Rondônia e
genas na forma de espaços sociais transversais - verdadeiras “co-
Mato Grosso) ou os Kayapó (Pará); venda de madeira, aliás, sele-
munidades muMocais” 36 em escala regional - que articulam re-
tiva e que não envolve exploração em grande escala ou, ainda
des de parentesco e fluxos de bens e pessoas entre vários pólos
menos, um desmatamento sistemático.
situados na floresta e na(s) cidade(s). Assim, esta expansão

Assim, a escala local destas atividades é totalmente incomparável translocal dos campos sociais indígenas e suas dinâmicas de mo-
com a magnitude dos empreendimentos econômicos “brancos” bilidade interna entre aldeias e cidades não pode ser confundida,

na Amazônia, e seu impacto ambiental permanece rclativamentc sob pena de se incorrer em cegueira conceituai, com um processo
marginal em função da densidade populacional das terras indíge- de migração das aldeias para as cidades.
nas em apreço, geralmente, extremamente baixa (0,02 hab/km 2
para os Cinta Larga do Aripuanã, 0,09 hab/km2 para os a Terra ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS E
Indígena Kayapó). Além do mais, estas atividades predadoras de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
segmentos dc algumas sociedades indígenas podem ser geralmente POTENCIALIDADES E INTERROGAÇÕES
revertidas quando são oferecidas e apoiadas alternativas aos mode-
No debate sobre as potencialidades das terras indígenas enquanto
los econômicos herdados da fronteira regional. Pode-se dar aqui
áreas de preservação ambiental e de desenvolvimento sustentável,
alguns exemplos, como o projeto de manejo sustentável de madei-
deve-se, portanto, evitar tanto o estereótipo dos índios ecologistas
ra elaborado peio ISA com os Kayapó-Xikrin (Pará) ou do projeto
(“autênticos”) quanto a caricatura inversa dos índios predadores
,

de garimpo de baixo impacto ambiental do CTI com os Waiãpi


(“aculturados"), baseada na idéia redutora de que o simples acesso
(Amapá) ou ainda, os projetos de criação de gado leiteiro desenvolvi-
,
das sociedades indígenas ao mercado fatalmente transforma seus
dos pela ONG italiana Manitese com os Tembé e Assurini (PA)
membros em agentes de destruição do meio natural.

O terceiro contra-argumento oposto a uma visão das terras indíge- As formas de mudança no uso dos recursos naturais pelas socie-
nas da Amazônia enquanto áreas de preservação ambientai apre-
dades indígenas depende, na realidade, do leque de opções sócio-
senta-se, enfim, sob a forma de uma posição segundo a qual o cconômicas e políticas oferecidas para sua articulação com a cha-
processo de intensificação do contato sustentaria, a longo prazo, mada “sociedade envolvente” (nas suas vertentes regionais, naci-
uma migração dos povos indígenas (ou de parte substancial de-
onais e internacionais) Assim, a “sociedade envolvente” já não se
.

les) para as cidades regionais ou capitais da Amazônia, acarretan-


limita mais, para os índios, à dimensão local de interação com os
do o abandono progressivo das áreas indígenas para formas de protagonistas tradicionais da frente de expansão regional (garim-
exploração não indígenas. Nesse aspecto, os índios seguiriam uma peiros, colonos, madeireiros, fazendeiros etc.) . O universo de arti-
tendência geral na região amazônica onde o grau de urbanização culação das sociedades indígenas com o “mundo dos brancos ”
25
era em 1996 de 61%, contra 45% em 1980. tem se complexificado consideravelmente ao longo das três úl-

timas décadas.
A presença indígena nas cidades da Amazônia é relativamente im-
portante e inegável. Apesar do fato de que sua flutuação toma qual- Nas décadas de 1970 e 1980, as sociedades indígenas começaram
quer recenseamento bastante precário, esta presença foi estimada a conquistar um espaço no cenário político nacional contemporâ-
24
em 20.075 pessoas no seis estados da Amazônia Brasileira no neo. Nos anos 1990, elas viram este espaço se expandir em escala
censo do IBGE de 1991, ou seja, 10,8% da população indígena to- mundial e se desdobrar em um leque de novas potencialidades
tal da região. Este fenômeno de deslocamento para os centros ur- sócio-econômicas. Os índios da Amazônia não (êm mais como único
banos tem por origem vários fatores, incluindo conflitos e padrões referencial econômico pós-contato o modelo predatório da fron-
de mobilidade tradicionais, e não somente a busca espontânea de teira local ou o modelo agrícola neo-colonial do indigenismo tute-
mobilidade social (emprego, educação) e/ou a indução por agentes 27
lar (os “Projetos de Desenvolvimento Comunitário” daFunai). 0
25
de contato (missionários, indigenistas, atores econômicos regionais) processo de descentralização e a interligação crescente do local
ao global, fora da mediação do Estado, põem hoje ao seu alcance
Entretanto, o argumento de um futuro esvaziamento das terras in-
um universo complexo de fontes de financiamento, recursos téc-
dígenas por emigração remete a um modelo sociológico tão ina-
nicos e canais de decisão desde o município até o Banco Mundial.
dequado quanto obsoleto. Baseado numa oposição caricata entre
índios "aldeados" e “desaldeados” e na idéia redutora da passa- Este conjunto potencial de parcerias constitui o quadro sócio-po-

gem de mão única de um estado social (rural/tradicional) a outro lítico no qual se desenvolveram e no qual operam as mais de 250

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/20DO - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 201


; 6 :

1: ASSOCIAÇÕES, POVOS E TERRAS INDÍGENAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Amazonas Rondônia Acre Roraima Para Amapa Totais

M° Organizações indígenas 90 31 22 18 1 6 183

N° de euiias 74 30 11 13 36 9 146 (*)

População indígena 99.604 10.826 9-655 31.322 28.445 5.634 185.486

% população indígena país 33,20% 3,61% 3,22% 10,44% 9,48?í 1,88% 61,83%

N° de terras indígenas 107 18 24 26 35 5 215

Superfície / Km' 441.523,35 60.783,54 19.407,59 154.543,42 280.249,66 41.965,21 998.472,75

% superfície Norte 12,29% 1,69% 0,54% 4,30% 7,80% 1,17% 27,80%

N° de Un. de Conservação {**) 29 6 6 7 15 6 69

Superfície / km 2
158.016,74 21.838,01 23.343,07 38.271,28 49.596,20 22.067,76 313.133,06

% superfície Norte 4,40% 0,61% 0,65% 1,07% 1,38% 0,61% 8,72%

(*): a presença dos mesmos povos cm vários estados faz que o total de povos é inferior a soma dos povos em cada estado.
(**): unidades de conservação federais e estaduais de uso indireto.

Fontes - Terras indígenas: banco de dados ISA 05/2000 {pesquisa F. Ricardo); Unidades de conservação: Mapa Amazônia 2000 ISA 12/1999 {pesquisa F. Ricardo) -

população indígena : FUNASA - fevereiro 2000 - dados geográficos website IBGE.


:

IVota: As associações indígenas dos seis estados da Amazônia Brasileira são atualmente objeto dc pesquisa realizada pelo autor no contexto de um projeto de cooperação

ISA CNPq IRD. Para se chegar a um número aproximado de organizações indígenas na Amazônia legal pode-se acrescentar aos números apresentados na Tabela 1 dados
oriundos de levantamentos indiretos como :

- L. Donisele Benzi Grupioni, 1999: "Diretório de associações e organizações indígenas no Brasil”. São Paulo: Ínep/MEC, Mari/USP: Mato Grosso = 48, Tocantins = 9,
Maranhão = 12, ou seja 69 associações
-MMA, 2000; "PDPl -Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas. Documento do Projeto. Anexo Vir. Brasília; MMASecretaria de Coordenação da Amazônia
Mato Grosso - 38, Tocantins = 10, Maranhão = 5 ou seja 53 associações. ,

associações indígenas da Amazônia legal para articular seus pro- vas expectativas materiais e sociais das suas comunidades de refe-

jetos de desenvolvimento social e econômico. É, portanto, a partir rência, envolvendo seus membros em projetos locais de explora-
da inter-mediação que estas associações garantem entre suas po- ção dos recursos naturais que sejam, ao mesmo tempo, não pre-
pulações de referência e o universo das parcerias disponíveis que datórios e capazes de promover uma certa auto-sustentação
serão definidas as condições sociais e políticas de possibilidade econômica das áreas indígenas. Nesse contexto, não deverá se ne-
para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das gligenciar o lugar da diversificação complementar das atividades e

terras indígenas da Amazônia. Quatro parâmetros políticos e soci- recursos econômicos extra-locais {ver acima nossa observação
ais fundamentais, externos e internos, muito provavelmente, con- sobre o novo espaço translocai das comunidades indígenas) tam- ,

di-cionarão o sucesso desta dinâmica. bém suscetível de aliviar o peso dos recursos naturais da floresta

O primeiro desses parâmetros será a possível capacidade destas


na formação da renda das comunidades e, portanto, de contribuir

para a preservação ambiental de suas áreas.®


organizações de continuar a mobilizar as redes de apoio e a mídia
nacional e, sobretudo, internacional, ao redor de temáticas etno- O último, porém não menos importante desses fatores, diz respei-
ambientais que permitem manter um nível suficiente de pressão to à determinação e à lucidez política que serão necessárias às
sobre o Governo federal para induzi-lo a manter as conquistas diretorias das associações indígenas para contornar- as novas for-
territoriais do movimento indígena destes últimos 25 anos contra inte- mas dc subordinação e dc clientelização no gerenciamento dos
resses econômicos locais c fluxos migratórios regionais crescentes. novos projetos socioambientais, não somente no contexto das re-

O segundo parâmetro, associado ao anterior, residirá na eficiên- lações que lhes são impostas pelas agências de financiamento (ou

cia poütica das associações para incentivar a elaboração de políti- de comercialização), mas, igualmente, no contexto das relações
cas públicas e não governamentais de escala apropriada, destina- que elas mesmas constróem com os demais membros das suas

das a investir no conhecimento da biodiversidade e na gestão eco- sociedades. A esse desafio acrescenta-se a complexa tarefa de ad-

nômica sustentável das suas terras, envolvendo estreitamente seus ministrar as formas de diferenciação social e cultural surgidas no
habitantes e tomando em conta seus projetos sociais específicos. processo de transformação sócio-econômíca induzido por estes
novos projetos de etnodesenvolvimento, (outubro, 2000)
O terceiro parâmetro, desta vez interno, remete à possibilidade

das associações indígenas traduzirem esta expressividade políti- Agradecimentos: Agradeço a M. Carneiro da Cunha, M. Fraboni,
co-institucional em autonomia econômica para as populações que W. Milliken, F. Pinton, A.R. Ramos, CA Ricardo. F. Ricardo e a equipe
se encarregam de representar. O desafio está em satisfazer as no- editorial do ISA por seus comentários eúru revisão final do texto.

202 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDlOENAS NO BRASIL 1996/2D0G - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


. , . ,

jetória deste movimento desde o fim dos anos oitenta ver C.A. Ricardo. 1991: “. Ver, sobre a preocupante situação ambiental Tikuna: D. Lima, 1999: “Povos indígenas
"Quem fala em nome dos índios?*', in: Povos Indígenas no Brasil 1987/90. São Paulo: e ambientalismo - As demandas ecológicas de índios do Rio Sohmões", MS.
ISA. pp. 69-72 e 1996: “Quem fala em nome dos índios (11)?", in: Povos Indígenas «o ,T
Brasil 1991/1995. São Paulo
. Cálculos a partir da Tabela Terras Indígenas na Amazônia Legal do Mapa Amazônia
: ISA. pp. 90-94.
Brasileira 2000, ISA.
I
. Mesmo assim, em 2000, só 2% do orçamento federal para ações indigenistas foram 15
. Ver o artigo de A. Vfilas-Bôas e M. Campanili, 1999: "Terras indígenas protegem flores-
alocados a fiscalização das terras indígenas (Funai) e menos de 1% a iniciativas de
ta Amazônica”, Parabólicas 49.
gerenciamenlo e recuperação ambiental (via MMA e Funai). Ver Hélcio Marcelo de Sou-
za, 2000: "Políticas Públicas para povos indígenas: uma análise a partir do orçamento”, 19
. Ver G. Sales, 1996: "O sistema nacional de unidades de conservação: o estado atuai”
Nota Técnica Inesc nq 38 (9/10/2000). no documento “Presença humana cm unidades de conservação”. Brasília: Ipam-ISA-
PPG7-WWF-CDCMAM/CD.
•*.
Cerca de 32 % do orçamento indigenista federal (via Funasa-MS) foram alocados em
2000 a 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) articulados ao Sistema Único za
. Ver o exemplo da Reserva de desenvolvimento sustentável de Mamirauá (D. Lima 1997:
de Saúde e gerenciados em parceria com organizações indígenas, organizações nâo-go- “Equidade, desenvolvimento sustentável, e preservação da biodiversidade: algumas ques-
vemamentais e, sobretudo, prefeituras municipais. Só 1,4% foram especificamente desti- tões sohre a parceria ecológica na Amazônia”. In: Faces do Trópico Úmido - Conceitos e
nados a educação indígena via Funai e MEC (em parceria com ONGs e Secretarias de questões sobre desenvolvimento e meio ambiente. 1L Castro e F. Pintou (orgs. ) Belém:
.

Educação). (Fonte: Nota Técnica Inesc n° 38 de 9/10/2000). CEJUP) ou da Reserva Extractivista do Juruá (M. .Almeida, 1996: “The management of
4 conservalion areas by traditional popidations: the case of lhe upper Juruá extracíive re-
. As ações públicas em apoio a alternativas econômicas indígenas (via Funai) represen-
serve”. In: K.H. Redford et a!, (orgs), Traditionalpeoples and biodiversity conservation
tam apenas 3,7% do orçamento indigenista federai. (Fonte: idem).
in large tropical landscapes. América Verde - The Nature Conservacy)
Programas de apoio a iniciativas comunitárias de desenvolvimento local/sustentável
31
. Retomamos aqui a classificação e a discussão de D, LimaeJ. Pozzobon, 1999: “Amazô-
com acesso aberto a organizações indígenas como o Paic (Rondônia) e Padic (Mato
nia socioambiental (sustentabilidade ecológica e diversidade social)”, MS.
Grosso) tio Banco Mundial, e os Projetos Demonstraíiws/Tipo A (PD/A), componentes
do PPG7 ( Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil) financi- 11
. Estes casos se desenvolveram geralmente a partir de situações de invasão maciça de
ado principalmente por países da União Européia. No âmbito dos PD/A está atualmente terras indígenas produzidas por talhas ou cumplicidade do órgão indigenista oficial as
em gestação um programa especializado para comunidades e associações indígenas, o quais lideranças indígenas, por falta de alternativa, se adaptaram com uma certa realpolitik
PDPI, Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas. económica.
s
. Fonte: Banco de Dados ISA, maio de 2000 (pesquisa F. Ricardo). JJ
. Dados IBGE.
7
. 43% do orçamento federal para ações públicas com povos indígenas foi alocado em 31
. Dado calculado a partir do trabalho de M. Azevedo, 1997: “Fontes de dados sobre as
2000 só para gastos com pessoal e manutenção da Funai. (Fonte: Inesc Nota Técnica n° populações indígenas brasileiras da .Amazônia’’, Cadernos de Estudos Sociais 13(1): 163-
38, 9/10/2000). 178. Recife: Fundação Joaquim Nabuco.

*. A continuidade da demarcação das terras indígenas sendo financiada com expressivo l


\ Ver, por exemplo, a pesquisa de G. Brandhuber, 1999: “Why Tukanoans migrates?
apoio da cooperação internacional através do Projeto de Proteção às Populações e Ter- Some remarks on conflict on lhe Upper Rio Negro Journal de la Sociétê des
,

ras Indígenas da Amazônia Legal-fYYAL (aproximadamente RÍ 11 milhões previstos em Américanistes 85:261-280, ou de P. Ferri, 1990: Achados ou perdidos? A imigração
2001; fonte: idem) indígena em Boa Vista. Goiânia: MLAL.

9
Fontes: Funasa, fevereiro de 2000 e IBGE censo de 1996. 16
. Sobre este conceito ver M. Godelier, 1996: “Anthropologie sociale et histoire locale",

1# Gradbiva 20:83-94 e, sobretudo. M. Sahlins, 1997: “O ‘pessimismo sentimental’ e a ex-


. Fonte: Mapa Amazônia Brasileira 2000. ISA (Tabela 5).
periência etnográfica: por que a cultura não é um ‘objeto’ em via de extinção (parte II)*',
II
. Fonte: Banco de Dados ISA, maio de 2000 (pesquisa F. Ricardo). Mana 3 (2): 1 03- 1 50.

t2 25
, Fonte: Mapa Amazônia Brasileira 2000, ISA (Tabela 2). Ver também: E Ricardo: . Ver, por exemplo, C. Junqueira, 1984: “Sociedade e cultura", Ciência e Cultura 36
Sobreposições entre unidades de conservação federais, estaduais, terras indígenas (8) sobre um projeto proposto pela Funai aos Cima Larga do Posto Serra Morena no
terras militares e reservas garimpeiros, comunicação ao Seminário “Avaliação e identi- início dos anos 1980.
ficação de ações prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos
iH
. Nesse aspecto, não se tem, necessariamente, uma relação linear entre contato e degra-
benefícios da biodiversidade da Amazônia brasileira*’, Macap- 21-25 de setembro de 1999-
dação ambiental nas áreas indígenas (Ver R.Godoy, D. Wikie ej. Franks, 1997: “The effect
IS
. Fonte: Mapa Amazônia Brasileira 2000, ISA (Tabela 3), of markets on neotropical deforestatian: a comparativo study of four Amerindian societies”
Current Antbropology 38(5): 875-878). Na sua redução da problemática da susten-
14
. Seminário “Avaliação e identificação de ações prioritárias para a conservação, utiliza-
tabilidade ecológica à fixação local das populações indígenas, os projetos de desenvolvi-
ção sustentável c repartição dos benefícios da biodiversidade da Amazônia brasileira”,
mento etno-ambientais tendem, geralmente, a ocultar a contribuição dos fenômenos de
Macap- 21-25 de setembro de 1999- Ver Parabólicas 54, set.-oul, 1999 (ISA).
mobilidade sócio-espacial e de acesso a recursos monetários de origem extra-locais na

Ver o documento "Diagnóstico demográfico, sócio-cconômico e de pressão antrópica renda indígena (aposentadorias rurais, salários retribuindo atividades locais ou não, bem
ua região da Amazônia legal - Versão 1.0” do ISPN, julho de 1999. como empreendimentos econômicos urbanos ou de intermediação entre aldeias e cida-
des). Ver sobre esta questão a contribuição de P. Léna (IRD) ao texto do projeto de
pesquisa CNPq-IRD-UFRJ (LAGET): "Globalização, movimento associativo e desenvolvi-
mento local sustentável na Amazônia*’, Rio de Janeiro: maio de 2000.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 2D3


'

Acervo
ISA
183 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA (AM, RO, RR, PA, AC, AP)
Pesquisa e compilação B. Albert (Novembro de 2000), com exceção das organizações da região do Rio Negro, pesquisadas por Beto
Ricardo. Este levantamento também contou com a colaboração em pesquisas de campo de José Pimenta (UnB-AC), Rosângela Reis (UNIR-
RO) e Maxim Repetto (UnB-RR)

Nota: As organizações e associações das demais regiões do país se encontram no final do volume, no Diretório Nacional.

AMAZONAS (90) Baixo Rio Vaupés e Tiquié (8)

ACITRUT Associação das Comunidades Indígenas 1986


MANAUS (6) de Taracuá, Rios Uaupés e Tiquié
AMARN Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro 1984 AMITRUT Associação das Mulheres Indígenas 1989
MEIAM Associação dos Estudantes Indígenas do Amazonas 1984 de Taracuá, Rios Uaupés e Tiquié

COIAB Coordenação das Organizações Indígenas 1989 UNIRT União das Nações Indígenas do Rio Tiquié 1990
da Amazônia Brasileira ACIRI Associação das Comunidades Indígenas do Rio Umarí 1991
COPIAM Conselho de Professores Indígenas 2000 ATRIART Associação das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié 2000
da Amazônia (ex-COPIAR 1990) (ex-CRETIART - 1994)
AM1SM Associação das Mulheres Indígenas Satéré-Mawé 1995 CIPAC Comunidades Indígenas de Pari Cachoeira 1995
ACWA Associação Comunidade Waimiri-Atroari 1997 OIBV Organização Indígena de Bela Vista 1997

ACIRC Associação das Comunidades Indígenas do Rio Castanho 1998


ALTO RIO NEGRO (42)
Alto Rio Vaupés e Papuri (14)
São Gabriel da Cachoeira (6) UNID1 União das Nações Indígenas do Distrito de lauaretê 1989
FOIRM Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro 1987 AMIDI Associação das Mulheres Indígenas do 1995
AAISARN Associação dos Agentes Indígenas 1995 Distrito de lauaretê
de Saúde do Alto Rio Negro ON1ARP Organização das Nações indígenas do Alto Papuri 1994
FDDI/SGC Fórum de Debate de Direitos Indígenas / 1997 UNIMRP União das Nações Indígenas do Médio Papuri 1994
São Gabriel da Cachoeira
UN1RVA União das Nações Indígenas do Rio Uaupés Acima 1996
ASSAI/SGC Associação dos Artesões Indígenas / 1999
OICI Organização Indígena do Centro Iauarêté 1997
São Gabriel da Cachoeira
COIDI Coordenação das Organizações Indígenas do 1997
APIARN Associação dos Professores Indígenas 1999
Distrito de Iauarêté
do Alto Rio Negro
AEIDI Associação dos Educadores Indígenas do 1997
GETEC Grupo de Estudo e Trahalho em Ecoturismo 1999
Distrito de Iauarêté

Cauaboris (1) AUDI Associação dos Trabalhadores Indígenas do 1998


Distrito de lauaretê
AYRCA Associação Yanomami do Rio Cauaboris e Afluentes 1999
APMCIESM Associação de Pais e Mestres das Comunidades 1998
Indígenas da Escola São Miguel
Alto Rio Negro e Xié (5)
FDDI/Iauareté Fórum de Debate de Direitos Indígenas / Iauarêté 1999
ACIRNE Associação das Comunidades Indígenas do Rio Negro 1988
CERC11 Centro de Estudos e Revitalização da Cultura 2000
ACIRX Associação das Comunidades Indígenas do Rio Xié 1989
Indígena de Iauarêté
A1NBAL Associação Indígena de Balaio 1991
AISP1 Associação Indígena de Saúde Pública de Iauarêté 2000
ACIPK Associação das Comunidades Indígenas 1992
ÂILCTDI Associação Indígena da Língua e Cultura Indígena 2000
de Potira Kapuamo
dos Tariano do Distrito de Iauarêté
OCIARN Organização das Comunidades Indígenas 1998
do Alto Rio Negro
MÉDIO RIO NEGRO (2)
Rio Içana e Ayari (8) CACIR Comissão de Articulação das Comunidades 1993
OCIDAI Organização das Comunidades Indígenas 1999 Indígenas Ribeirinhas

do Alto Rio Negro (ex- ACIRI - 1989) ACIMRN Associação das Comunidades Indígenas 1994
AMAI Associação das Mulheres de Assunção do Içana 1992 do Médio Rio Negro

OIBI Organização Indígena da Bacia do Içana 1992

ACIRA Associação das Comunidades Indígenas do Rio Ayari 1995 BAIXO RIO NEGRO (2)
UNIB União das Nações Indígenas Baniwa 1997 ACIBRN Associação das Comunidades Indígenas 1988
ÜMIRA União das Mulheres Indígenas do Rio Ayari 1999 do Baixo Rio Negro

AIBRI Associação Indígena do Baixo Rio Içana 1999 ASIBA Associação Indígena de Barcelos 1999

OICAI Organização Indígena Curipaco do Alto Içana 1999

204 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


)

ALTO SOLIMÕES (12) Barreirinha (4)

CGTSM Conselho Geral da Tribo Satéré-Maué 1987


Tabatinga (1)
OPISM Organização dos Professores Indígenas Satéré-Mawé
OSPTAS Organização de Saúde do Povo Ticuna do Alto Solimões 1995
OASISM Organização dos Agentes de Saúde Indígena 1997
Satéré-Mawé
Benjamin Constant (10)
AISMA Associação Indígena Satéré-Mawé do rio Andirá 2000
ccn Conselho Geral da Tribo Ticuna 1996
(Fundado em 1982)
Maués (3)
OGPTB Organização Geral dos Professores Ticuna Bilingües 1993
WOMÚPE Organização dos Professores Indígenas 1998
(Fundada em 1986)
Satéré-Mawé dos rio Marau e Urupadi
OMITIAS Organização da Missão Indígena da Tribo 1990
TOMÚPE Organização dos Tuxáuas Satéré-Mawé do rio Marau 2000
Ticuna do Alto Solimões
MOMÍPi: Organização dos Agentes Indígenas de Saúde 2000
FOCCITT Federação das Organizações e dos Caciques e 1997
Satéré-Mawé do rio Marau
Comunidades Indígenas da Tribo Ticuna

OIATTUR Organização dos Agentes Ticuna de Turismo 1998


SUL DO AMAZONAS (6)
OGEITTAM Organização Geral dos Estudantes Indígenas da 1999
Tribo Ticuna da Amazônia
Humaitá (5)
OGMICTTAM Organização Geral das Mulheres Indígenas 1999
OPIPAM Organização do Povo Indígena Parintmtin do Amazonas 1995
Cristãs da Tribo Ticuna da Amazônia
APITEM Associação do Povo Indígena Tenharim Morõgwitá 1996
AMIT Associação das Mulheres Ticuna 1999
APITIPRE Associação do Povo Indígena Tenharim 1997
OASPT Organização dos Agente de Saúde do Povo Ticuna 1999
do Igarapé Preto
AEPTAS Associação dos Estudantes do Povo Ticuna 1999
APP MAFUIR Associação de Pais e Professores do MÀFU1R 1997
do Alto Solimões
OPIT Organização do Povo Indígena Torá 1998

Atalaia do Norte (1
Lábrea (1)
CIVAJA Conselho Indígena do Vale do Javari 1992
OPIMP Organização dos Povos Indígenas do Médio Purus 1995

MÉDIO SOLIMÕES (3)

Tefé (1) RONDÔNIA (31)


ITO-TEFÉ União das Nações Indígenas do Médio Solimões 1993
(separada da UNI-Norte em 1986)
VILA EXTREMA (1)

ACIK Associação das Comunidades Indígenas Kaxarari 1997?


Região de Tefé (2)

AMIMS Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões 1992


PORTO VELHO (5)
C1JA Comissão Indígena do Japurá 1993
CUNPIR Coordenação da União das Nações e Povos 1996
Indígenas de Rondônia, Norte do Mato Grosso

SOLIMÕES e Sul do Amazonas (ex-APIRNG 1991)


(17)
AKOT Associação do Povo Karitiana 1996
Presidente Figueiredo (1) OPICS Organização do Povo Indígena Cassupá e Salamãi 1997
? ACIMURU - Associação das Comunidades Indígenas do Rio Urubu - ?
APP Associação de Pais e Professores dos Povos 1997

AMONDAWA Indígenas Amondawa


Autazes (5)
OPIRON Organização dos Professores Indígenas de Rondônia 2000
CIM Conselho Indígena Mura 1990

UM1M União das Mulheres Indígenas Mura 1993 ARIQUEMES (1)


OASIM Organização dos Agentes de Saúde Indígena Mura 1997 JUPAÚ Associação do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau 1997
OPIM Organização dos Professores Indígenas Mura 1994

OE1M Organização dos Estudantes Indígenas Mura 1998 GUAJARA MIRIM (9)

JIMATO Associação Indígena 1996


Nova Olinda do Norte (4)
i

RIO GUAPORÉ Associação Indígena 1996


UPIMS União dos Povos Indígenas Munduniku e Satéré-Maué 1991 AWOXOHWARA Associação 1997
CPIMS Coordenação dos Professores Indígenas 1993 RIO NEGRO/ Associação 1997
Munduruku e Satéré-Maué OCAIA
GS1MS Conselho de Saúde Indígena Munduruku e Satéré-Maué 1994 TANAJURA Associação Indígena 1997
MM1MS Movimento das Mulheres Indígenas Munduruku 1996 SANTO ANDRÉ .Associação Indígena 1997
e Satéré-Maué
SAGARANA Associação Indígena 1997

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 205


DUWI Associação Indígena 1997 FEUÓ (2)

POROROKA Associação do Povo Indígena Kanoé 1997 OPIRE Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira 1988

ACOSMO Associação Comunitária Shanenawá de Morada Nova 1998


JI-PARANÁ (6)
AAPIRB Associação Agrária do Povo Indígena do Rio Branco 1991 CRUZEIRO DO SUl (6)

AAPIIL Associação Agrária do Povo Indígena Igarapé Lourdes 1992 AAPBI Associação Agro-Extrativista Poyanawa do 1988
Barão e Ipiranga
AP IA Associação do Povo Indígena Arara 1995

- Associação APIWTXA Associação Ashaninka do Rio Amônea 1993


APIZ Pangyjej Indígena do Povo Zoró 1995
OPIRJ Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá 1995
DOATXATÔ Associação do Povo Indígena Aruá e Makurap 1997
AS1ATA Associação dos Seringueiros e Agricultores 1998
PANDEREJ Organização das Associações Indígenas de Ji-Paraná 1998
da Terra Indígena Arara

CACOAL-RIOZINHO (5) AKAC Associação Katukina do Campinas 1999

metareilá Organização Metareilá do Povo Indígena Sumí 1988 AIN Associação do Povo Indígena Nukini da República 1999

PAMARÉ Organização Pamaré do Povo Cinta - Larga 1989

COOPART Cooperativa de Artesãos Indígenas de Rondônia 1997

NUNERIMANÊ Associação do Povo Indígena Apurinã 1997 RORAIMA (18)


PAERENÀ Associação do Povo Indígena Cinta Larga 1997
(Tenente Marques) BOA VISTA (10)

CIR Conselho Indígena de Roraima (ex-CINTER 1987) 1990


PIMENTA BUENO (2)
APIR Associação dos Povos Indígenas de Roraima 1987
KEONPIJRA Associação Indígena 1989
OPIR Organização dos Professores Indígenas de Roraima 1990
APIK Associaçião do Povo Kwasar 1997
ARIKOM Associação Regional Indígena do Rio Kinô. 1991
Cotingo e Monte Roraima
VTLHENA (2)
SODIURR Associação dos índios Unidos do Norte de Roraima 1993
MASSAKÁ Associação dos Povos Indígenas Aikanã, 1996
Latundê e Kuazá TWM Sociedade para o Desenvolvimento Comunitário 1996
e Qualidade Ambiental
SAWENTE- Associação Indígena Nanibikwara 1993
NUKATISU ADMIR Associação para o Desenvolvimento das Mulheres 1997
Indígenas de Roraima

mm ACRE (22) ífeíí


ARIBAS

OMIR
COOPAIR
Associação Regional Indígenas do baixo São Marcos

Organização das Mulheres Indígenas de Roraima

Cooperativa dos Agricultores Indígenas de Roraima


1997?

1999

2000

RIO BRANCO (2)


ALTO ALEGRE (3)
UN1/AC União das Nações Indígenas do Acre 1991
ACB Associação Comunitária do Boqueirão 1997?
(ex-NCI 1988)
MCBA Mutirão Comunitário de Barata e Adjacências
MEIACSAM Movimento dos Estudantes Indígenas do Acre 1996
e do Sul do Amazonas APROMA Associação dos Produtores Rurais da Maloca da Anta 1999?

TARAUACÁ (12) AMAJARI (2)

ASKARJ Associação dos Seringueiros Kashinawa do Rio Jordão 1988 ARIA Associação Regional Indígena do Amajari 1996?

AKARIB Associação dos Kaxinawá do Rio Breu 1993


— Círculo de Pais e Mestres Escola Estadual 1999
Apolinário Gimenes (Yekuana)
OAEYRG Organização de Agricultores e Extractivistas 1993
Yawanawa do Rio Gregório
PACARAIMA (2)
OPITARJ Organização dos Povos Indígenas do 1996
ALID/CIRR Aliança para a Integração e Desenvolvimento 1999
Rio Tarauacá e Rio Jordão
das Comunidades Indígenas
APAIH Associação do Povo Arara do Igarapé Humaitá 1998
- Associação Programa São Marcos 2000
APAMINKTAJ Associação das Produtoras de Artesanatos das 1999
Mulheres Indígenas Kaxinawá de Tarauacá e Jordão
NORMAND1A (1)
APROKAP Associação dos Produtores Kaxinawá da Aldeia Paroá 1999
ARTID Associação Regional dos Trabalhadores 1996?
OPITAR Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá 1999 Indígenas para o Desenvolvimento

ASPCKPC Associação dos Produtores e Criadores Kaxinawá 2000


da Praia do Carapanã

ASPIRH Associação do Povo Indígena do Humaitá 2000


- Associação José Francisco (Kaxinawá do Caucho) 2000

ASKERG Associação Katukina do Sete Estrelas 2000

206 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


PARAUPEBAS (1)
I PARÁ (16) ABP Associação Indígena Bep-Nói de Defesa do 1995
Povo Xikrin do Cateté
BE1ÉM (5)

A1TTA Associação Indígena dos Tembé de Tomé Açu 1991


JACAREACANCA (2)
AMTAPAMA Associação dos Povos 1\ipi do Mato Grosso, 1994
CIMAT Conselho Indígena Munduruku do Alto Tapajós 1992
Pará, Amapá e Maranhão
PUSURU Associação Indígena Pusuru 1992
AGITARGMA Associação do Grupo Indígena Tembé do 1996
Alto rio Guamá
ITAITUBA (1)
ZYK - Associação dos Povos Indígenas do Gurupi 1999?
PAHYHYP Associação Indígena Pahyhyp (Munduruku) 1998
ZANEYWYKAAA
AIPAT Associação Indígena do Povo Assurini do Trocará 1998

MARUJA
A1PATAK
(5)

Associação Indígena Parakatejê Amjip Tàr Kaxuwa 1995


AMAPÁ (6)
APITO Associação dos Povos Indígenas do Tocantins 1997
MACAPÁ (4)
AIPAS Associação Indígena do Povo Aikewar do Sororó 1999
APINA Conselho das Aldeias Waiãpi 1994
- Associação do Povo Indígena Guarani do Jacundá •
1999
APITU Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque 1995
AIPAC Associação do Povo Anambé do Cairari 1999
CCP1AW Centro de Cultura dos Povos Indígenas Aparai e Wayana 1997

OURILÂNDIA DO NORTE (1) APIWA-TA Associação dos Povos Waiãpi do Triângulo do Amapari 1999
AKA Associação da Comunidade Kayapó - ÁUkre 2000
OIAPOQUE (2)

REDENÇÃO (1) AP10 Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque 1992


PYKATOTI Pykatoti Associação Kamôkô-re (Kayapó) 1995 AGM Associação Galiby Marworno 1999

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 207


zLj?-. Acervo
-//Tisa ]

da justiça. “Já se fizeram duas Constituições para recursos atenderiam projetos de comunidades
GERAL indígenas da Amazônia legal.
determinar a demarcação das terras indígenas
e o prazo para conclusão terminou em outubro Estrutura - A Coiab propôs que sejam contra-
CONSELHO NACIONAL DOS de 1993 e a nossa Constituição não é cumpri- tados quatro indígenas e um técnico não-indí-
POVOS INDÍGENAS É CRIADO da. Entendemos que só um Tribunal Internaci- gena, a ser escolhido pelos índios, para serem

em onal tem condições de pressionar a Presidên- integrados à equipe de consultores que traba-
Líderes indígenas de 108 etnias criaram
Brasília um novo órgão para defender seus di-
cia da República e a Justiça brasileira para fa- lha na preparaçãodo PDI. Estes cinco mem-
zer valer nossos direitos”, justifica Adalberto Silva. bros comporiam a secretaria técnica do pro-
reitos, o Conselho Nacional dos Povos Indíge-
nas, apesar de existir estrutura semelhante na De acordo com os índios, todos os órgãos do grama junto com um secretário, que seria es-
Funai. A aprovação do Estatuto dos Povos Indí- Governo têm mostrado descaso e favorecido a colhido pelas organizações indígenas. Quatro
invasão das terras indígenas; a poluição dos rios grupos de trabalho regionais seriam constituí-
genas, a reestruturação da Funai e o combate
às brigas internas são as metas prioritárias dos
da Amazônia — que detém o maior volume de dos, como sedes em Manaus (GT Amazonas e

dirigentes do conselho empossado ontem. O água doce do mundo em disponibilidade de uso; Roraima), Porto Velho (GT Acre, Rondônia e
Estatuto do índio, que há cinco anos no
tramita favorecido a bio-pirataria e a apropriação Mato Grosso), Belém (GT Pará, Amapá,
Congresso, prevê a demarcação das áreas indí- indevida do conhecimento da medicina tradici- Maranhão e Tocantins) e, possivelmente, Sal-
genas de todo o País e estabelece novas políti-
onal. (A Crítica, 26/07/00) vador (BA), para o GT que trabalharia com as
cas de educação, saúde e proteção aos índios comunidades da Mata Atlântica, que poderão
brasileiros. ter uma secretaria técnica específica,

O cacique Megaron Metuktire, da etnia caiapó,


PROJETOS A eslrutura funcional do programa teria ainda
de Mato Grosso, foi eleito presidente do conse- DEMONSTRATIVOS DOS uma comissão executiva - composia pelo secre-
lho. “Nossa principal luta é sensibilizar as au- tário técnico, mais um representante indígena
toridades para a gravidade da questão indíge-
POVOS INDÍGENAS PDPI -
de cada um dos quatro grupos regionais, que
na. Queremos ajudar a Funai”, afirmou. A ame- se reuniria quatro vezes por ano para analisar
aça de extinção da Funai e a transferencia do e aprovar (ou não) os projetos propostos pelas
COIAB APRESENTA SUA
atendimento à saúde indígena para o Ministé- comunidades e avaliar as ações da secretaria
rio da Saúde são as duas primeiras e principais
PROPOSTA PARA OS PDPIs técnica. Toda as demandas relacionadas à ela-
preocupações do novo Conselho. Para Megaron, boração. encaminhamento e monitoramento
Reunidos em Manaus (AM) entre 19 e 21 de
o fato da FNS dispor de R$ 56 milhões para a dos projetos seriam atendidas pelos grupos de
setembro, representantes da Coordenação das
saúde indígena, não resolve o problema. Segun- trabalho regionais. Assim, as organizações in-
Organizações Indígenas da Amazônia Brasilei-
do Álvaro Tucano, o conselho buscará parceri- dígenas funcionariam como proponentes e, jun-
ra (Coiab) redigiram uma proposta, entregue à
as com os estados, municípios, empresas pri-
secretária de Coordenação da Amazônia do to com as associações e comunidades indí-
vadas e entidades humanitárias nacionais e in- genas, leriam responsabilidades na execução
Ministério do Meio Ambiente, Maiy Allegretti,
ternacionais para criar meios de atendimento dos projetos.
para a implementação dos Projetos Demonstra-
dos índios, principaímente na Amazônia. O con- tivos Indígenas, os chamados PDls, novo com- Critérios excluem uso de práticas degra-
selho também pretende contribuir com o go- ponente do Programa Piloto para a Proteção das dadoras - Projetos voltados para o desenvolvi-
verno federal na formulação de uma nova polí- Tiorestas Tropicais do Brasil (PP-G7). Nas pa- mento de atividades econômicas sustentáveis,
tica indigenista. Para isso, a entidade promove- paia o monitoramento de terras indígenas e para
lavras dos índios, a proposta visa “adequar este
rá encontros com sertanistas, indigenistas, an-
programa à realidade indígena, garantir maior o resgate e a valorização cultural compõem o
tropólogos e militantes do indigenismo para escopo do PDI. Entretanto, a proposta da Coiab
participação indígena e simplificar o seu pro-
coletar informações destinadas a mudar a rea- exclui daramente projetos que apresentem ca-
cesso administrativo’’.
lidade indígena. (OESP, 22/10/99 e Jornal de como cultivos que
racterísticas degradadoras,
inspirados na experiência dos Projetos Demons-
Brasília, 22/07/99) demandem o uso de agrotóxicos on fertillizantes
trativosdo Tipo “A” (os PD/As), os PDls pre-
tendem viabilizar a execução de projetos que ou o desmatamento de florestas pri-
solúveis,
ÍNDIOS APELAM À márias sem um plano de manejo adequado.
promovam a sustentabilidade das terras indí-
ONU CONTRA JUSTIÇA genas, através do monitoramento de snas fron- Projetos orientados para o extrativismo vegetal

Um manifesto contra o descaso da Justiça bra- teiras e do uso econômico de seus recursos também devem apresentar plano de manejo. E
sileira para com os povos da floresta, índios, naturais em bases sustentáveis, incluindo sua construções de “cunho religioso não tradicio-
seringueiros eo meio ambiente está sendo dis- proteção. A Coiab - que congrega 64 entidades nais" eslão fora do programa.
cutido e deverá ser encaminhado, na próxima indígenas da Amazônia brasileira - propôs ao A Coiab propôs que os projetos se enquadrem
semana, ao Tribunal Internacional da ONU pe- governo que as organizações indígenas assu- em três níveis de financiamento: até R$ 20 mil,
las lideranças dos 45 povos indígenas de mam a condução do programa, que teria dura- com contrapartida de 10% para o proponente;
Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Roraima e ção de cinco anos e estaria sediado em Manaus. entre R$ 21 mil e Rí 100 mil, com contrapartida
até dos Pataxó da Bahia. Segundo avaliação do Por ser parte do PP-G7, o PDI contemplará tam- de 20%, e entre R$ 01 mil e R$ 300 mil, com
i

líder do povo Macuxi de Roraima, José bém projetos oriundos de comunidades indí- contrapartida de 30*. As agências financeiras
Adalberto Silva, até agora houve o descum- genas que habitem áreas localizadas no domí- seriam o Banco do Brasil e outrascom presen-
primento das demarcações das terras indíge- nio da Mata Atlântica. Segundo o documento ça bem disseminada nas áreas de abrangência
nas; ainda há falta de vigilância permanente das preparado pela Coiab, estas comunidades teri- do programa, como o Banco da Amazônia
áreas para evitar invasões; ineficiência do apa- am à sua disposição 20% dos recursos (Basa) A entidade reivindica que sua proposta
.

rato judicial para fazer cumprir a lei e lentidão disponibilizados, enquanto os outros 80% dos seja entregue até 4 de novembro à coordena-

zo8 organizações indígenas POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/20G0 INSTITUTO S0C10AMBIENTAL


)

ção geral do PP-G7 para ser apreciada no dia teresses deles demonstra o nível de conscien- uma inovação. Mas é no plano político que o
10 do mesmo mês, duranle a reunião da Co- tização dos indígenas. “Vou levar e defender as programa poderá, segundo Lima, vir a mudar,
missão Geral da Coordenação do Programa Pi- propostas deles para o ministério”, afirmou. se der certo, uma perspectiva ruim que se fun-
loto. (Marco Gonçahies/ISA, 01/09/99 Mary disse ter escutado as discussões e pro- damenta numa suposta incapacidade dos índi-
postas de todos os representantes com o obje- os em geriros seus próprios destinos. (A Críti-
LÍDERES DIZEM QUE VÃO tivo de adequar o programa á realidade indíge- ca, 23/07/00)
ADMINISTRAR O PROJETO na. (A Crítica, 22/09/99)

As lideranças indígenas da região amazônica não


EM BUSCA DA COIAB
aceitam receitas prontas de propostas para de-
AUTO-SUFICIÊNCIA
finir o Projeto Demonstrativo Indígena (PDI),
ÍNDIOS ESCOLHEM
um dos que vão receber parte dos recursos de A Coiab inicia a primeira das 12 oficinas que
20 milhões de marcos alemães, equivalentes a visam apresentar, informar e orientar as orga-
NOVO COORDENADOR
US$ 15 milhões, do Programa Piloto de Prote- nizações e associações indígenas sobre o Pro- O índio Gersen Baniwa foi eleito para dirigir a
ção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7). jeto Demonstrativo das Populações Indígenas coordenação das Organizações Indígenas da
O recado foi dado ontem à secretária da Ama- (PDPI). Cada organização ou associação indí- Amazônia Brasileira (Coiab) no triénio de 1996
zônia Legal do Ministério do Meio Ambiente gena, das 210 que a Coiab tem conhecimento a 1999- A escolha de Gersen ocorreu durante o
(MMA), Mary Allegrctti, em documento apro- que existem na Amazônia, vai poder pleitear no encerramento da V Assembléia Geral da Coiab.
vado por represenlates indígenas de nove esta- máximo R$ 250 mil. Como tem um caráter de Gersen é formado em filosofia pela Universida-

dos amazônicos, em reunião realizada na sede valorização da cultura, não serão aceitos pro- de do Amazonas e por dez anos coordenou a
do órgão cm Manaus. Os índios questionam, por jetos que propõem a implementação de ativi- Federação das Organizações Indígenas do Rio
exemplo, a orientação do Governo alemão de dades voltadas para a mineração, criação de Negro (Foirn). A comunidade Baniwa vive na
excluir do financiamento projetos ligados ao gado, exploração de madeira e cultivo de frutas área do município de São Gabriel da Cachoei-
extrativismo mineral e de madeira e querem ou hortaliças que envolvam o uso de agrotóxico. ra. A assembléia que reuniu 31 organizações
deixar as Organizações Não-Governamentais Na avaliação do assessor de comunicação da indígenas aprovou a Declaração dos Povos e
(ONGs) fora do PDI. Coiab, Manoel Lima, a instituição do PDPI re- Organizações Indígenas da Amazônia Brasilei-
A atitude dos índios com relação ao PDI não presenta um avanço na relação dos agentes ra. O documento pede a revogação do Decreto
surpreendeu a secretária da .Amazônia Legal do financiadores do Programa de Proteção das Flo- 1.775 e imediata demarcação das terras indí-
MMA, Mary Allegrctti, 5 1 . F.la disse que a deci- restas Tropicais (PP-G7) com os índios. Sem genas. Também manifesta solidariedade às en-
são de querer estar à frente dos projetos de in- contar que no plano institucional representa tidades que defendem a causa indígena como o

O QUE É O PDPI
O PDPI (Programa Demonstrativo dos Povos In- tro das terras indígenas. Estas áreas conservadas culiaridades sócio-culturais. Para alcançar esse
dígenas) é uma ação complementar ao Projeto estão, muitas vezes, cercadas por territórios com- objetivo, o PDPI propõe apoiar iniciativas locais
Integrado de Proteção às Populações e Terras In- pletamente devastados pela ação colonizadora. que visem à sustentabilidade J)ós-demarcatória
dígenas da Amazônia Legal, o PPTAL. O PFTAL, que Assim, nenhuma ação no sentido de proteger a das terras indígenas. A seleção das propostas lo-
por sua vez, é um projeto quefaz parte do esforço Jloresla tropical poderia ignorar o papel estraté- cais exige que os sub-projetos contribuam com
maior do l*rograma Piloto para a Proteção das Flo- gico que as Terras Indígenas ocupam neste con- os objetivos gerais do Programa Piloto e que pos-
restas Tropicais do Brasil, o PPG7, financiado pe- texto. suam caráter demonstrativo para auxiliar outras
mais ricos do mundo, o G7. O obje-
los sete países A iniciativa de criar o PDPI partiu do entendi- situações similares.
do PDPI, segundo descrição do próprio docu-
tivo mento que as ações do PPTAL em tiabilizar a de- As comunidades indígenas são atores privilegia-
mento do projeto, é o de contribuir para a marcação das terras indígenas, apesar do passo dos na concretização do PDPI. Seja como propo-
sustentabilidade econômica, social e cultural dos fundamental que propiciam, não esgotam o con- nentes ou como executores de subprojetos, as co-
povos indígenas em suas terras e para a conser- junto de problemas que enfretitam os povos indí- munidades devem estar completamente inseridas
vação dos recursos naturais nelas existentes. Este genas, mesmo na questão específica do territó- na condução das tarefas cotidianas do programa.
programa pretende atingir suas metas por meio rio. A demarcação das terras indígenas resolve a Esta fmrticipação, em vista disto, é uma condi-
do financiamento de subprojetos ao nível local situaçãojurídico-legal dos territórios tradicional- ção imprescindívelpara a aprovação de qualquer
que sejam planejados e executados de forma mente ocupados pelos índios, mas isso, por si só, proposta que, para participar do fmeesso de se-
participativa e que forneçam modelos para que não garante que estas terras terão uma leção, deve explicitar os mecanismos que irão
outras experiências similares possam ser sustentabilidade econômica, política ou garantir a efetiva participação das comunidades
implementadas na região amazônica. ambiental. no projeto. Esta exigênciafaz com que o PDPI rom -
Tanto o PPTAL quanto o PDPI são resultados de O PDPI, portanto, inaugura uma nova fase do pa com a prática assisten-cialista junto aos fx>-
uma constatação importante para a proteção das PPG7. Com o grande avanço obtido na demarca- vos indígenas, promovendo a demonstração de
Florestas Tropicais em território brasileiro: as ter- ção das terras indígenas toma-se imprescindível, evidências de que os grupos indígenas possuem
ras indígenas, por meio das populações que as agora, que se garanta a segurança e proteção des- capacidade de gestão sobre empreendimentos e
ocupam, desempenham um papel de grande des- tes territórios. A integridade das terras demar- ações que atendam as suas necessidades. ( Equipe
taque para o desenvolvimento ecológico e econo- cadas depende também da capacidade das de redação do ISA, a partir dc Schrdder, Peter et

micamente sustentável na Amazônia. O estudo comunidades indígenas em gerir o seus recursos alii. PDPI - Projetos Demonstrativos dos Povos
atento de imagens de satélite melaram que, em naturais de maneira auto-sustentável, através de Indígenas. Ministério do Meio Ambiente/Secretaria
diversas regiões da Amazônia, as maiores áreas atividades econômicas que não agridam o seu de Coordenação da Amazônia, abril/00.)
florestais conservadas coincidem com o períme- patrimônio ambiental e nem tampouco suas pe-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 209


^4/^ Acervo
_//£ 5A
I

A C 0 N T E C E U,

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, víti- COIAB PEDE DEVOLUÇÃO Portugal estará fazendo um gesto internacional
mas de massacres em Corumbiara (RO) e DE RELÍQUIAS INDÍGENAS que vai contribuir para que as organizações in-

dígenas, representadas pela Coiab, imple-men-


Eldorado de Carajás (PA). (A Crítica, 1 2/05/96) AO PRESIDENTE PORTUGUÊS
tem a recuperação de objetos indígenas guarda-
LM ÍNDIO DIRIGINDO A FUNAI? “Senhor Presidente, ainda na oportunidade de dosem instituições de diversos países europeus.
saudar Vossa Excelência com votos de saúde e É bem verdade que as condições técnicas em
A Coiab indicou ontem, em documento enviado
alegria vimos, através desta, solicitar a devolu- Manaus ainda não são as mais adequadas para
à Funai, o nome de Jorge Terena como suces-
ção dos objetos indígenas que compõem a ex- a preservação dos referidos objetos. Entretan-
sor do ex-presidente da Fundação. Segundo
posição “‘Memórias da Amazônia - Expressões to, com a colaboração das universidade do Por-
Maria do Carmo Trindade Serra, da etnia
de Identidade e Afirmação Étnica”. Estamos to, Coimbra e Universidade Federal do Amazo-
wanana, o movimento indígena vem acompa-
conscientes do cuidado especial que a Acade- nas, e acima de tudo com o apoio dado pelos
nhando o trabalho de Terena e acredita que este
mia de Ciências de Lisboa e a Universidade de governos do Brasil e de Portugal. Estamos con-
é o momento de o índio assumir a Funai. A co-
Coimbra têm dedicado para preservar o acervo victos que as referidas instituições contribuirão
ordenadora da Coiab não quis comentar uma
coletado, há mais de dois séculos, pelo cientis- com uma proposta que visa ampliar os meca-
possível indicação do sertanistaSidneyPossuelo,
ta .Alexandre Ferreira. Porém, também estamos nismos de reafirmação e enaltecimento da di-
que presidiu a fundação no governo Fernando
conscientes do valor histórico e cultural que as versidade cultural dos povos indígenas. Nesse
Collor e se destacou internacionaímente após o
peças representam para nós no contexto da sentido acreditamos que em breve teremos um
trabalho de demarcação das terras dos
nossa luta em favor da existência digna dos po- local adequado para guardar as peças de “Memó-
Yanomami e do contato com os índios isolados
vos indígenas. rias da Amazônia” e de outros acervos indígenas.
Korubo. (O Liberal, 19/07/97)
Consideramos a exposição “Memórias da Ama- Conforme as correspondências, em anexo, en-
ÍNDIOS DESCARTAM zônia" como um marco histórico para a rela- viadas pelas organizações indígenas que forniam

INTERFERÊNCIA EXTERNA ção entre povos europeus e povos indígenas, a base política da Coiab, é grande a nossa ex-
haja vista, que é a primeira vez que uma cole- pectativa para que a devolução das peças deixe
Os índios querem autonomia para discutir e de ser um desejo exdusivamente nosso e íome-se
ção retirada de nossos ancestrais volta à região
decidir seu destino sem a interferência das igre-
de origem para ser vista pelos índios e não ín- também uma expressão da vontade do Go-vemo
jas, entidades e políticos que durante 500 anos
dios. Não temos dúvidas de que é uma ocasião de Portugal de colaborar para que possamos ter,
impediram o acesso dos povos indígenas à
rara para a reflexão sobre o nosso passado, a em solo amazônico, uma herança dos nossos an-
tecnologia. A informação foi dada pelo índio
nossa situação atual e sobretudo as nossas ex- cestrais, refletindo a força viva da multiplicidade
Darcy Marubo, da Coiab, durante o Encontro
pectativas para o foturo de nossos descendentes. étnica e cultural dos povos indígenas.
de Lideranças Indígenas Brasileiras, iniciado
Lamentamos que ao longo dos anos em nosso Certos da atenção que Vossa Excelência dará a
ontem na sede da entidade.
país os governos não tenham tido preocupação nossa solicitação reiterarmos os nossos votos
Ao fazer uma retrospecdva Idstórica das lutas do
em preservar a nossa história. Assim sendo, de apreço e antecipamos os nossos sinceros
movimento indigenano País, o hder Aílton Krenak,
agradecemos os esforços implementados em agradecimentos.
44, de Belo Horizonte, admitiu a necessidade das
Portugal que tornam possível a preservação Atenciosamente, Darci Duarte Comapa Marubo,
lideranças voltarem a trabalhar para dentro das
durante dois séculos de cultura material indígena. Coordenador Geral/Coiab” (abr/1998)
aldeias. “O movimento indígena não pode mais
Senhor Presidente o nosso pleito não é movido
ter só atuação política para fora. Precisa encon-
pelo rancor, mas pela certeza de que a chave COIAB ELEGE
trar alternativas de sobrevivência dentro das al-

deias", assegurou. (A Crítica, 26/11/97)


para garantir o reconhecimento dos nossos di- COORDENADOR GERAL
reitos e dos nossos valores culturais é termos
perto de nós as relíquias que são parte signifi-
O índio Eudides Macuxi foi eleito o novo coor-
POVO INDÍGENA EXPÕE cativa dc nossa memória histórica. As peças são
denador geral da Coiab. A eleição de Euclides
DESEJO DE AUTONOMIA um cio dc ligação no tempo, entre a cultura foi durante a Sexta Assembléia Geral da Coiab,

material e a alma de nossos jxtvos.


que termina hoje e está acontecendo desde se-
O fortaledmenlo das organizações indígenas, o gunda-feira, na Maromba. Na avaliação do novo
reconhecimento de que a sociedade indígena é Passaram mais de dois séculos que centenas de
coordenador geral da Coiab, durante os oito
soberana nas suas decisões, a criação de um objetos indígenas foram retirados de nossas al-
anos de existência, a entidade tem tido conquis-
fundo de desenvolvimento auto-sustentável para deias. Numa época em que o índio ainda era
tas importantes no que diz respeito às questões
os povos indígenas e a valorização do sistema descrito pelo homem branco como exótico c
políticas.
tradicional da medicina indígena. Estas foram como um ser inferior. Vale ressaltar que, inté-
Para o ex-coordenador geral da instituição,
algumas das decisões tomadas pelas Lideranças lizmcnte, o preconceito contra os povos indí-
Darci Marubo, a Coiab passa atualmente por um
indígenas que participaram, em Manaus, do genas era institucionalizado pelo poder de Es-
dos momentos mais importantes desde a sua
encontro “Retrospectiva, Realidade e Futuro do tado dos países que colonizaram nossa gente e
criação devido os índios estarem mais consci-
Movimento Indígena do Brasil”, que se encer- nossas terras. O que nos leva a crer que nem
entes dos seus direitos e os brancos mais dis-
rou ontem em Manaus. (A Crítica, 28/11/97) todas as peças foram coletadas de forma pacífi-
postos a cumpri-los. (A Crítica, 22/05/98)
ca. Naprópria exposição não existem documen-
tos descrevendo de que forma os objetos foram
obtidos. Alguns ornamentos contidos na cole-
COIAB E FUNASA
ção são de uso exclusivo de guerreiros.
REALIZAM ENCONTRO
Senhor Presidente, com a devolução dos obje- Os limites de atribuições dos Distritos Sanitári-

tos indígenas coletados por Alexandre Ferreira, os Especiais Indígenas -DSEIs, procedimentos

210 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


administrativos e jurídicos, além de dúvidas so- Palmarl, Apurinã, Jarauara e Jamandi; o mais rais contidas nas reservas indígenas, tais como
bre a relação com governos municipais e esta- recente foi realizado na cidade de São Gabriel madeira e minérios, desde que isso beneficie
duais foram debatidas no encontro promovido da Cachoeira, do qual participaram Tukano, as tribos e preserve o ambiente. Para o Cimi,
em Manaus pela COIAB c a Funasa. O encontro Baniwa, Dessano, Tariano, entre outros. tais acordos são condenáveis. Segundo seus re-
foi solicitado pela Coiab, em virtude de que en- Os cursos fazem parte da meta da Coiab de in- presentantes, não existem mecanismos legais
ire dirigentes de organizações indígenas e re- vestir na formação de lideranças das comuni- que garantam o controle dessas riquezas pelos
presentantes de ONGs, até então, persistia a dades e dirigentes das organizações locais. Os índios, o que torna os negócios arriscados. Além
compreensão de que os convênios eram inalte- cursos estão sendo ministrados pelo assessor disso, a associação com empresas para a reali-
ráveis. Otilra preocupação vista entre lideran- técnico da Coiab, Silvio Cavuscens, com apoio zação de projetos econômicos é vista como um
ças e ONGs refere-se ao processo de compras de dirigentes mais experientes do Movimento passo para a destruição da cultura dos primei-
de equipamentos e medicamentos e contratação indígenas. “Os cursos são adaptados às neces- ros habitantes do Brasil. (OESP, 06/08/00)
de serviços de terceiros. Diaitle das dúvidas, a sidades e à realidade imediata dc cada povo”,
maioria manifesta por representantes de ONGs, explica Silvio, destacando que em muitos as-
o chefe de operações da Punasa, Dr. Ubiratan pectos as comunidades de diferentes povos con- RECURSOS GENÉTICOS
1’edrosa, explicou os DSEIs é um sistema novo vivem com os mesmos tipos de problemas. Sil-

de saúde preventiva, integrado ao sistema úni- vio, porém, ressalta que nas regiões onde é re-
E BIOPIRATARIA
co de saúde e que “a responsabilidade pela cente o início do processo dc organização polí-
política de saúde é da Funasa”, acrescentando tica, existe mais carência de informação sobre GOVERNO TEME
que "pelo convênio que nós assinamos, cie o funcionamento e a relação do poder público ISOLAMENTO E PERDA
(convênio) pode e deve ser alterado". Em rela- com povos indígenas. Ele cita como exemplo a DE DINHEIRO VERDE”
ção ao controle social, através dos conselhos região do Médio Purus. “Os índios do Médio
A equipe do governo federal que estuda a legis-
distritais, Ubiratan Pedrosa disse que a Funasa Purus ainda têm pouco apoio, pouca assistên-
lação sobre biodiversidade teme que o país pos-
não intervém nas decisões mas que tem dado cia e a 0P1MP (Organização dos Povos Indíge-
sa criar uma espécie de "Eei da informática 2”,
apoio às reuniões. ”0 iinportanle é que os con- nas do Médio Purus) está agora começando”.
norma que criou uma reserva de mercado ra-
selhos sejam formados com consistência”. Di- Na prática os cursos estão sendo muito bem
dical para produtos brasileiros em 1 984.
versos dos participantes ressaltaram que a re- recebidos pelas comunidades que participam
lação entre profissionais de saude e comunida- na definição dos lemas. Entre os assunlos esco-
0 temor foi ampliado depois que a Assembléia
Legislativa do Acre aprovou, no início deste mês,
des indígenas, nem sempre tem sido satisfatória lhidos destacam-se: a organização da socieda-
porque muitos profissionais estão somente in- de envolvente, alianças e parcerias possíveis de
a primeira Lei da Biodiversidade do país. 0 tex-
to proíbe a entrada de estrangeiros na floresta
teressados em ganhar salários e não querem serem estabelecidas entre povos indígenas e ou-
amazônica daquele Estado. Para ter acesso aos
respeitar o modo de vida tradicional das comu- tros segmentos sociais. (Jornal da Coiab. dez/99)
nidades. 0 chefe de operações da Funasa con-
recursos naturais do Acre, uma das áreas mais
ricas do país, os estrangeiros precisarão se as-
cordou com as dificuldades, mas lembrou que IGREJA PERDE INFLUÊNCIA
sociar a uma empresa ou entidade de pesquisa
6 um processo novo e que muitos profissionais ENTRE ÍNDIOS BRASILEIROS
do Brasil.
de saúde não possuem conhecimentos sobre
questões indígenas. {Jornal da Coiab, dez/99)
A influência da Igreja Catóüca entre os índios Uma lei semelhante, que serviu de base para a
do Brasil eslá diminuindo. A linha de ação do redação do texto aprovado no Acre, está em fase
Cimi tem sido contestada por um número cres- de tramitação no Congresso. É de autoria da
CURSO SOBRE POLÍTICAS
cente de comunidades especialinente as da re- senadora Marina Silva (PT-ÁC) e trata da prote-
PÚBLICAS MOBILIZA
gião amazônica, onde vive cerca de 60 % da ção e cobrança de royaltíes pelo uso das rique-
COMUNIDADES população indígena do Embora a que pode
País. discus- zas genéticas e vegetais, 0 projeto,
A série de cursos de formação sobre políticas são pareça burocrática, envolvendo o controle ser alterado por sugestões (emendas) de ou-
públicas que a Coiab vem realizandoem parce- das entidades de representação indígena, o ver- tros parlamentares, tenta regulamentar deter-
rias com organizações locais vem mobilizando dadeiro pano de fundo é ideológico. Para mui- minações ainda da Convenção da Biodiver-
comunidades, revelando expectativas
e a deter- tos índios, o visceral antineoliberalismo do Cimi sidade, acordo feito por 144 países durante a
minação dos povos que habitam recônditos não os favorece. Pelo contrário, estaria preju- Eco-92, realizada no Rio.
amazônicos. São centenas de pessoas, entre dicando suas comunidades. “0 Cimi quer que 0 temor da equipe do governo é que, a pretexto
homens, mulheres, idosos e crianças, que lu- os índios se organizem de forma comunitária, de defender o país da biopirataria, o Congresso
tam para superar a dura realidade da ausência longe de qualquer coisa que lembre o capita- chegue a um texto ultranadonaíista e com uma
do poder púbbco, que impede o acesso aos ser- lismo e de acordo com sua visão ideológica, que posição de isolamento. Biopiralaria é a forma
viços básicos de saúde, educação e de prote- fica entre o socialismo e o cristianismo primiti- como ficou conhecida a saída ilegal, sem o pa-
ção ao meio ambiente. De junho a dezembro a vo”, diz o Macuxi Eudides Pereira, diretor da gamento de royaltíes, de material genético (plan-
Coiab realizou, em parceria com organizações Coiab. “Acontece, porém, que muitos índios tas, microorganismos etc.) para criar patentes
locais, quatro cursos de formação de lideran- querem ler acesso a novas tecnologias, querem de produtos no exterior. No momento, a Ftmai
ças sobre poiílicas públicas, 0 primeiro foi re- ser capitalistas, sem ter de passar a vida inteira tenta cobrar de pesquisadores ingleses, como
alizado na Missão Surumu, na Terra Indígena usando tanga e cocar, para corresponder à vi- revelou a Folha, pagamento por remédios pa-
Raposa Serra do Sol, cm seguida foram realiza- são exótica que os outros têm dc nós, e sem ter de tenteados a partir de conhecimentos dos índios
dos cursos na aldeia São José, do Povo Krikati, morar cm barracões pobres e desconfortáveis”. kaxinawa, da região amazônica.
município de Montes Altos, no Maranhão; na Na prática, o Macuxi é favorável a acordos com 0 Ministério Público do Acre vai entregar à Jus-
Aldeia Nova Esperança, que reuniu povos empresas para a exploração das riquezas natu- tiça. depois de amanhã, denúncia sobre diver-

PQVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL Organizações indígenas 211


Acervo
—//f I 5A

sos casos de biopirataria. Para Fernando e dos Suruí, de Rondônia, também roubados pela posse de sua planta sagrada, a ayahuasca,
Dal’Ava, componente da equipe do governo, o em condições semelhantes, (CB, 21/04/98) uma vez que um cidadão norte-americano ob-
país não deve seguir uma Unha fechada e ina- teve patente de utilização exdusiva da mesma.
cessível, o que iria contrariar até mesmo deter- INDÍGENAS ESPERAM Vários índios, procedentes da selva amazônica,
minações da Agenda 21, documento da Eco-92 QUE BIODIVERSIDADE alegam utilizar a Ayahuasca (Banisteriopsis
que trata da biodiversidade, desenvolvimento GARANTA LIBERDADE Caapiun, um potente alucinógeno que não pode
sustentável e colaboração entre países.
1

’ Exis- ser importado em estado natural para os Esta-


tem estrangeiros bons c maus, Não há sentido A biodiversidade é um
tema que vem ganhando dos Unidos) há muitas gerações, em cerimóni-
fechar as portas para todos", disse DaTAva, que espaço nas discussões internacionais. Foi o que as de cura do corpo e da alma de seus povos.
é chefe do Departamento de Vida SUvestre do revelou ontem o ex-coordenador das Coiab, “Patentear esta planta equivale a patentear a cruz
Ibama, "Poderíamos incorrer no mesmo erro Sebastião Manchinery. Ele participou ontem do dos cristãos”, afirmou Antonio Jacanamijov
tia Lei da. Informática". seminário “Biodiversidade e Direitos Indígenas: Rosero, responsável pela Organização de Indí-
Acre crie obstáculos para que o país realize bioprospecção e conhecimentos tradicionais”, genas da Bacia do Amazonas (Coica), que re-

acordos de cooperação com bancos c entida- orgnizado pela Coiab. Sebastião ressaltou que presenta mais de 400 tribos de nove países da
des estrangeiras. Atualmente, países do G-7, clu- os povos indígenas ainda não têm consciência região. (A Crítica, 03/04/99)
be dos mais ricos do mundo, investem em pes- sobre a importância da preservação dos conhe-
cimentos tradicionais.
quisas e infra-estrutura de órgãos brasileiros A REVOLTA DOS PAJÉS
como o lupa, de Manaus. Para o pesquisador da Universidade do Amazo-
Para o autor da lei aprovada no Acre, deputado nas e do Programa Brasileiro de Ecologia A guerra contra a aprovação no Congresso Na-
estadual Edvaldo Magalhães (PC do B) ,
o con- Molecular para o Uso Sustentável da Biotecno- cional do projeto permitindo a ampliação do
trole aos estrangeiros era mais do que necessá- logia da Amazônia (Probem) Spartaco ,
Astolfi desmatamemo da Amazônia ganhou o reforço
rio. "Pode parecer um exagero, mas vivemos Filho, a construção do centro de biotecnologia de um grupo que lida com poderes sobrenatu-
uma espécie de novo colonialismo", disse. no Amazonas será uma das fornias de manu- rais: mais de 30 pajés de 17 nações indígenas
A Assembléia do Amazonas lambem tem um pro- tenção dos conhecimentos tradicionais dos po- de lodo o país. “Como pode o eleitor do Paraná

[eto de Lei da Biodiversidade, ainda a ser vota- vos indígenas. Spartacco disse que falta ao Bra- eleger um deputado que quer destruir a ilores-
do. (FSP, 13/07/97) sil uma legislação mais rigorosa na preserva- ta amazônica?" indagou Marcos Terena. E com-
ção das riquezas biológicas e do conhecimeno pletou: “Vocês não vão fazer nada? Nós vamos
PAJÉS SE UNEM tradicional. Segundo ele, o centro de biotecno- reagir!”. Os pajés estão em Brasília para discu-

CONTRA BIOPIRATARIA logia é um projeto capaz de gerar renda para tir o uso dos recursos naturais pelo homem
todos os participantes por meio dos produtos branco e, em especial, o que consideram “pi-
Nas páginas da Internet, a empresa americana comerciáveis. Ele disse que o centro deve ter rataria” dos conhecimento indígena sobre os
Coriell Cell Eeposítories vende a decodificação uma rede de anábse de biodivei-sidade, forma- princípios ativos de plantas medicinais. A Funai
do DNA e amostras de sangue dos Kantiana. A do por pessoas detentoras do conhecimento tra- recebe dezenas de denúncias contra laborató-
identidade genética dessa etnia da Amazônia vi- dicional. (A Crítica, 13/11/98) rios farmacêuticos de todo o mundo que esta-
rou mercadoria de alto valor comercial numa riam patenteando fórmulas usadas há séculos
operação clandestina, Pesquisadores america-
ÍNDIOS DENUNCIAM pelos índios. Depois de patentear, esses labora-
nos e um médico brasileiro estiveram na aldeia tórios industrializam os produtos sem pagar
com autorização da Funai a pretexto de investi-
A BIOPIRATARIA
nada aos detentores do conhecimento. Agora
gar o Mapinguari, ser mitológico da Região Ama- Um documento paralelo à Carta da Terra ela- os índios querem que o governo brasileiro adote
zônica que se assemelha a um bicho-preguiça borado pelo Comitê Internacional Intertribal, medidas específicas para protegê-los contra a
gigante, e colheram as amostras de sangue, à que envolve índios do Brasil, Ásia, África, Aus- exploração eapiratariaindustrial. QB, 16/01/00)
custa da ingenuidade dos índios. A história acon- trália e Europa, foi entregue ao coordenador-
teceu há dois anos foi denunciada por uma co- internacional da Carta da Terra, o norte-ameri- POVOS INDÍGENAS
missão especial da Câmara dos Deputados, mas cano Sieven Kockefeller. Desta vez, os silvícolas REALIZAM SEMINÁRIO
até hoje não se tomou nenhuma providência. O propõem não só sugestões e projetos a serem SOBRE BIODIVERSIDADE
primeiro passo será dado esta semana, quando executados, mas graves denuncias de
a Coordenação Geral de Defesa dos Direitos dos biopirataria, roubo de madeira, extinção de Durante o seminário “Biodiversidade e o co-
índios da Funai começa a divulgar no mundo etnias e doenças transmitidas pelo homem bran- nhecimento tradicionais: aspectos jurídicos e
todo uma Carta de Princípios da Sabedoria In- cobram atitudes urgentes da ONU para
co. Mais: econômicos", realizado em Rio Branco - AC, li-

dígena, exigindo o fim da biopirataria - a apro- que os indígenas recebam tratamento não só deranças indígenas discutiram de que maneira
priação ou roubo de conhecimentos tradicio- como minorias. Querem a definição de políti- é possível proteger, legalmente, os conhecimen-
nais e das características genéticas dos índios. cas claras governamentais que saíram da te- tos indígenas sobre biodiversidade e assegurar
Assinado por Terena, Javaé, Xerente, Pataxó, oria e sejam colocadas em prática. (A Gaze- que as comunidades sejam beneficiadas pelo
Xavante e os Kantiana, entre outros pajés, o ta, 04/12/98) repasse de conhecimento às indústrias farma-
documento é o resultado palpável de quatro dias cêuticas e pesquisadores. O seminário abordou
de discussões durante o I Encontro de Pajés, títrabém o problema da “biopirataria", carac-
INDÍGENAS DEFENDEM
encerrado no último final de semana em terizada pela apropriação ilegal de biodi-
PLANTA NOS EUA
Brasília. Nele, os índios cobram do governo bra- versidade e dos conhecimentos tradicionais
sileiro que exija a devolução do material gené- Vários representantes das tribos da Amazônia patrocinada por pesquisadores que atuam,
tico - sangue, pole, cabelo, unha - dos Kantiana chegaram esta semana a Washington para lutar muitas das vezes, a serviço de empresas inte-

212 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBÍENTAI


)

ressadas em desenvolver produtos farmacêuti- ador das etnias Guaraní-Kaiowá, Nandeva e etnia pira-lapuia, foi eleito vice-prefeito. O mu-
cos a partir dos conhecimentos tradicionais Terena. Em Minas Gerais, houve a maior con- nicípio terá mais dois vereadores índios: Flávio
sobre o uso de plantas, insetos, óleos vegetais, corrência ao Executivo, três candidaturas a pre- Carvalho (PT) , de etnia dessana; e Alberto Bar-
cascas de árvores e outras formas de tratamen- feito e três a vice-prefeito. Manoel Gomes de bosa (PFL), tariano. (A Crítica, 20/10/96)
to de doenças utilizadas pelas comunidades indí- Oliveira elegeu-se ao cargo de vice-prefeito de
genas. (Jornal da Coiab, abrU/maio/junbo 2000) São João das Missões. No Amapá, o índio Galibi
,
ÍNDIOS TENTAM VOLTAR
Marworno, João Neves dos Santos, conseguiu
À CENA POLÍTICA
ARGUMENTO NA eleger-se a prefeito pelo Partido Socialista Bra-

PONTA DA LANÇA sileiro (PSB) no município do Oiapoque. João Fora do Congresso desde 1987, quando o caci-
Neves leve o apoio do governador do Amapá, que Mário Juruna concluiu um mandato de de-
Um grupo de 21 pajés, incluindo oito mulhe- João Capiberibe (PSB). Dos 2.868 votos, Neves putado federal, a comunidade indígena tenta,
res, de 15 tribos indígenas, protocolou ontem, conquistou 180% de índios e 20% de bran-
.713, este ano, retornar à cena política. Até agora são
no Palácio do Planalto, uma carta ao presiden- cos. deixando em segundo lugar o candidato 1 1 candidatos disputando vagas nas Assembléi-
te Fernando Henrique Cardoso, Nela, os índios da situação Sérgio Gomes (PSDB). as Legislativas, na Câmara dos Deputados e até
manifestam sua preocupação e exigem uma le- (Porantim, set/56) no Executivo, numa campanha que se trava qua-
gislação que proteja a medicina natural, pre- se integralmente dentro da floresta, já que a
servando os conhecimentos deles nesse setor ELEITOS DOIS maioria é da Amazônia. Cinco deles preferiram
contra estrangeiros que chegam ao país, levam PREFEITOS INDÍGENAS partidos de esquerda - PT e PC do B - e os
as informações e registram como propriedade dentais estão no PPB, PDT, PSDC e PTB.
intelectual. Também manifestam sua preocupa- As eleições municipais de 1996 apresentaram O único candidato a governador é David Olivei-
ção com o projeto de conversão do deputado boas surpresas. Pela primeira vez na história ra, que disputa a eleição no Distrito Federal pelo
Moacir Micheletto à medida provisória que al- política do país foram eleitos de uma só vez dois PSDC. (OESR 05/08/98)
tera o texto do Código Florestal, e propõe a re- prefeitos indígenas. No Oiapoque (PA) a vitó- ,

dução da área de proteção nas áreas de flores- ria ]ã esperada do Gahbi Marworno, João Ne- VOTO ELETRÔNICO CHEGA
ta amazônica e de cerrado. Os índios nem ten- ves (PSB), com 1.713 dos 2.868 votos do mu- AOS ÍNDIOS DO NORTE
taram uma audiência com o presidente. Antes nicípio. Em Baía da Traição (PB), o índio Mar-
Para chegar a Sucuriju, uma das localidades de
do entregarem o documento fizeram um ritual cos Potiguara (PMDB) assume o lugar de Nancy
mais difícil acesso no Amapá, o viajante tem de
simbolizando o início das negociações com o Potiguara, a primeira indígena a vencer eleições
enfrentar 12 horas de liarco pelo rio Amapá
governo. Tudo ocorreu do lado de fora do Pla- para o executivo municipal. Nu Amapá, Neves
Grande e pdo Oceano Atlântico, a partir da ca-
nalto porque a segurança impediu que os pai és prepara uma grande festa, na posse em 1“ de
pital, Macapá. Cerca de oito horas são necessá-
entrassem no palácio. QB e Extra. 18/05/00) janeiro, com direito a reunir representantes de
rias para levar os disquetes das urnas eletrôni-
partidos de oposição, como o PT e o presiden-
cas instaladas em outras sele localidades até o
te Pernando Henrique Cardoso, que ainda não
município de Mazagão, uma das centrais de
OS ÍNDIOS NA respondeu ao convite. Na Paraíba, os Potiguara
totalização dos votos no estado, que este ano
confirmaram a força que já fez dois prefeitos
POLÍTICA PARTIDÁRIA consecutivos na cidade litorânea. Na eleição
terá eláções 100% informatizadas.
Para que não haja imprevistos, o presidente do
de Marcos Potiguara. os índios reforçam a deter-
TRE, desembargador Douglas Evangelista Ra-
ÍNDIOS CONQUISTAM minação de que o prefeito esteja sintonizado
mos, equipou dois barcos com aparelhos de úl-
ESPAÇO POLÍTICO com as lutas do povo. (Cimi, 10/10/96)
tima geração, que garantirão o envio imediato

As eleições municipais de 3 de outubro deste dos dados até a central.


ÍNDIOS ELEGEM 17
ano registraram a participação de mais de 80 Levar a tecnologia do voto informatizado a lo-
VEREADORES NO ESTADO cais de mais difícil acesso também desafia a
indígenas. Até onde apurou o Cimi, foram cin-
co candidatos a prefeito, quatro a vice e 73 con- O Amazonas terá, a partir de r de janeiro, 17 criatividade do TRE de Roraima. Num estado

correram ao cargo de vereadores em todo o vereadores e um vice-prefeito índios, segundo onde a de energia elétrica é parte da roti-
falta

país. Embora não se lenha dados precisos esta levantamento das organizações indígenas do Alto na, o tribunal alugou 464 baterias de carro, um

foi, propordonalmente, a maior participação Solimões e Alto Itio Negro e Cimi. Quatorze dos para cada uma eletrônica. Embora as máqui-
em eleições, de todos os tempos. É uma eleitos se concentram nos municípios de São nas devotar tenham autonomia para funcionar seis

constatação da necessidade que têm os povos Gabriel da Cachoeira, Benjatnin Constant, horas sem energia, o TRE quer evitar surpresas.
indígenas, em cada vez mais, ocupar os espa- Tabalinga, São Paulo de Olivença, Amaturá e Com 170 mil eleitores, Roraima realizou elei-

ços políticos institucionais para fazer frente à Santo Antônio do Içá. Nesses municípios - mais ções simuladas até o último domingo. O resul-

discriminação imposta pela sociedade dos bran- Barcelos e Santa Izabel do Rio Negro - estão tado, segundo o diretor geral do TRE, foi sur-

cos. É um sinal claro de que os povos e comu- peia estimativa da Punai, 50 mil dos cerca de preendente, sobretudo nas aldeias indígenas.

nidades indígenas desejam assumir as próprias 89-500 índios que habitam o território Enquanto em cidades grandes há eleitores que

representações em todas as instâncias possíveis amazonense. levam mais de um minuto para votar, os 6.300
defendendo eles próprios os projetos políticos Barcelos, São Gabriel da Cachoeira e Santa Isa- índios cadastrados alcançaram a média de 22
pessoais ou comunitários. bel, no Alto Rio Negro, têm 92% de população segundos. (GM, 25/09/98
Neste ano, o estado com maior participação de O Cimi estima que 25 mil índios vota-
indígena.
indígenas nas eleições foi o Mato Grosso do Sul, ram em 3 de outubro. Em São Gabriel da Ca-
em sete municípios, com 20 candidatos a vere- choeira, Thiago Montalvo Cardoso (PSDB), de

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996;ZOOO INSTITUTO S0CI0AIUBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 213


=í/> Acervo
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Z/^C I SA

NOS 500 ANOS DO BRASIL, secutivos pelo PFL e tenta a vaga de novo pelo lação da cidade e da violência dos fazendeiros,

350 ÍNDIOS CANDIDATOS PMDB. QB, 26/09/00) reconheceu que tendo um representante eleito
as reivindicações do povo indígena teriam uma
"Ridocomeçou na década de 80 com Junina, ÍNDIOS CANDIDATOS maior repercussão, tanto no Estado como em
que conquistou o eleitorado do Rio e tornou-se Brasília. Agnaldo Santos foi lançado na política
LUTAM POR DIREITOS
o primeiro índio a ocupar uma cadeira na Câ- pelo falecido cacique João Cravina» um dos mai-
mara. Agora, no ano em que o Brasil completa Cerca de 20 mil índios vão às urnas nas elei- ores líderes pataxós e fundador do PT em Pau
500 anos de Descobrimento, a eleição de 2000 ções em Mato-Grosso do Sul, segundo estima o Brasil, em 89- (A Tarde, 04/10/00)
bate recordes: cerca de 550 índios se lançaram Cimi. O eleitorado indígena vive em 22 dos 77
candidatos em todo o país. E o leque partidário municípios do estado, morando em cidades e INDÍGENAS ELEGEM
dos índios em todo o país também é o mais va- reservas. 0 Tribuna Regional Eleitoral vai ins-
66 REPRESENTANTES
riado: eles estão filiados a 15 partidos, que vão talai' urnas eletrônicas também em seções que
do PC do B ao PPB. É o que mostra um levanta- funcionam nas aldeias. Pelo menos 59 candi- Pelo menos 66 candidatos representando po-
mento do Cimi, datos indígenas a vereador disputam os votos vos indígenas conseguiram se eleger nas elei-

Segundo a entidade, só em Roraima, somam distribuídos nas seis etnias sul-mato-grossenses: ções municipais. Segundo levantamento parci-
200 índios candidatos. O segundo estado com guarani, caiuã, terena, ofaié xavante, guató e al feito pelo Cimi, 313 candidatos com origem
o maior número de candidaturas indígenas é o kadiwéu. As seções exclusivas se concentram indígena concorreram na última votação. Até
Rio Grande do Sul. São 30 postulantes a verea- em municípios como Dourados, Miranda e agora, já foram registradas a eleição de um pre-
dor, dos quais 29 do povo caingang e um da Sidrolândia. feito, seis vice-prefeitos e 59 vereadores. Todos
tribo guarani xiribá. Para os índios, entrar em Em Miranda serão dez lugares de votação loca- esses candidatos conseguiram sua eleição em
uma eleição é mais uma tentativa de dar voz aos lizados nas reservas la Lima, Cachoeirinha e municípios de pequeno porte. O levantamento
seus povos. (O Globo, 19/09/00) Fillad Rebuá. São aproximadamente três mil feito pelo Cimi ainda não foi concluído, mas
eleitores terena, para 15 concorrentes da etnia apontava a eleição de 62 candidatos, Ainda não
MS BATE RECORDE que disputarão vagas na Câmara Municipal. Em estavam computados, por exemplo, os dados

DE ÍNDIOS CANDIDATOS Dourados, segundo dados da Funai, os eleito- referentes aos estados de Alagoas, onde um ve-
res guarani, caitiá e terena vão escolher seus reador foi eleito em Porto Real do Colégio, e do
A comemoração dos 500 anos do Brasil moti- candidatos em nove seções instaladas nas al- Pará, onde três vereadores garantira mandato
vou um “boom” de candidaturas de índios no deias Jaguapiru e Bororó. Seis candidatos se- em Jacarcacanga,
Mato Grosso do Sul. São pelo menos 50 con- rão submetidos à avaliação de seu eleitorado O PT foi o partido que mais elegeu candidatos
correntes, recorde na história do Estado. Na étnico e de outras pessoas simpatizantes da cau- indígenas, com 1 1 vereadores no total. A legen-
disputa municipal de 1996, eram 30 os postu- sa. (JB, 30/09/00) da já tinha sido a que apresentara o maior nú-
lantes sul-matogrossenses, num universo de 80 mero dc candidaturas, com 51 no total. PTB c
candidatos pelo Brasil. Só na região de PATAXÓ HÃ-HÃ-HÃE PMDB elegeram seis vereadores ada, apare-
Aquidauana e Miranda (que ficam no Pantanal), ELEITO VEREADOR cendo em segundo lugar. O PMDB, entretanto,
13 índios disputam as eleições. São 5 mil os foi o partido que conseguiu eleger o único pre-
eleitores indígenas. Eslíma-se que, para vencer Entre os 11 vereadores que tomarão posse, dia
feito Ugado dírelamente a povos indígenas. Mar-
o
por um partido grande, cada índio precisa de I de janeiro, na Câmara Municipal de Pau Bra- cos Antônio dos Santos, do povo Potiguara, re-
pelo menos 500 votos. sil, no sul da Bahia, estará o pataxó hã-ha-hãe petiu seu desempenho de 1996 e foi reeleito
"Enepo yakahã’a kevánefi vótuna íti, yakávanea, Agnaldo Francisco dos Santos, de 33 anos. Eleito
prefeito no município de Baía da Traição, na
akó keváne tutnune xi’íxa'\ A frase, em idi-
itea pelo Partido dos Trabalhadores, numa coliga-
Paraíba. (Valor Econômico, 13/10/00)
oma terena, foi dita no comício na aldeia Li- ção com o PSDB e PDT, ele é o primeiro índio
que conseguiu essa façanha na região e num
mão Verde, em Aquidauana (MS) pelo índios , JURUNA. O PRECURSOR. ESTÁ
terena Wanderlei de Souza, 24, que disputa ao município hostil à causa indígena, sendo o sex-
to colocado, com 197 votos. Articulado e de
FORA DA VIDA PÚBLICA
cargo de vereador pelo PT. Significa: “Se quiser
vender seu voto, venda. Mas não venda o futuro de discurso afiado, o pataxó disse que um de seus O cacique xavante Mário Juruna foi o primeiro

seu filho”. Foi a mais aplaudida. (ESP, 26/09/00) principais compromissos é com a organização um povo indígena eleito para
representante de
e mobilização da população de Pau Brasil para um mandato parlamentar no Congresso. Impul-
ÍNDIA DO PT DISPUTA criar um mecanismo de fiscalização das ações sionado pela vitória de Leonel Brizola para o
do Executivo. Antes mesmo de iniciar o manda- governo do Rio de Janeiro no final de 1982,
UMA VICE-PREFEITURA to, Agnaldo Santos está se mobilizando para Juruna elegeu-se deputado federal pelo PDT,
A índiaKaingang, Ana Vendrammi, está surpre- impedir que o prefeito eleito, José Augusto San- com 31-904 votos, cumprindo mandato de 1983
endendo na disputa eleitoral deste ano em José tos Filho, o Zé de Dezinho (PTB) nomeie,
dele- a 1986, Treze anos depois de sua passagem pela
Boiteaux, município do Oeste Catarinense com gado do município Marcos Vinícius Gaspar, o política, Juruna ainda mora em Brasília e é as-

3.181 eleitores. Candidata a vice-prefeitura pelo “Marcão", um dos fazendeiros que tiveram as sessor para assuntos indígenas da liderança do
PT, Ana tem chance de se eleger e será, na his- terras retomadas pelos índios e acusado por ele PDT na Câmara. Com a saúde bastante debilita-
tória política de Santa Catarina, a primeira ín- de ser responsável pelos maiores atos de vio- da, Juruna esteve muito doente em 1998 e 1999,
dia a ocupar o cargo. Outros cinco Kaingang lência contra os Pataxó. com pancreatite, pneumonia e problemas car-
participam da eleição de José Boiteaux, con- Segundo o novo vereador, a comunidade pataxó díacos. Juruna foi cacique da aldeia xavante de
correndo à Câmara Municipal. O ex-cacique sempre achou que não deveria se envolver com Namunjurá, na reserva indígena de São Marcos,
Elpídio Priprá se elegeu por dois mandatos con- política, mas diante dos preconceitos da popu- na cidade de Barra do Garça (MT). Chamou a

Z14 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS P0VD5 INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2G0D INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Mário Juruna durante ocupação, atenção quando passou a denunciar, no início
pelos Xa vante, da sala da da década de 70, o assassinato de indígenas por
presidência da Funai em 1997.
fazendeiros. Mas, tomou-se famoso quando co-
meçou a circular por Brasília com um gravador
para registrar as promessas feitas pelas autori-

dades do governo. (Valor Econômico, 13/10/00)

OS ÍNDIOS ELEITOS NAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2000


Candidato Eleito Povo Município Votos Partido Estado Cargo

Virgulino Rodrigues Sales Kaxinawá Jordão 106 PT AC Vereador

João Sales da Rosa Kaxinawá Jordão 65 PT AC Vereador

Sivaldo Barbosa Sereno Kaxinawã Jordão 127 PT AC Vereador

Gérson Barbosa da Silva Kaxinawá Feijó 380 PT AC Vereador

Antonio Gilberto Kaxinawá Santa Rosa 44 PC do B AC Vereador

Manoel Sampaio Silva Kaxinawá Santa Rosa 32 PfdoB AC Vereador

Roberto Feitosa do Nascimento Kaxinawá Santa Rosa 32 PídoB AC Vereador

Francisco Lopes Kaxinawá Santa Rosa > PC do B AC Vice-prefcito

Protásio IUkano São Gabriel da Cachoeira 206 PSL AM Vereador

Domingos S. Camico Baniwa São Gabriel da Cachoeira 242 PTB AM Vereador

Alva Rosa ttikano São Gabriel da Cachoeira 297 PTB AM Vereador

Ailton Galvâo Baré São Gabriel da Cachoeira 304 PMDB AM Vereador

Robenilson Otero Baré São Gabriel da Cachoeira 308 PSL AM Vereador

Cecflio Correia Mura Autazes 215 PSDB AM Vereador Reeleito

Adir Suzano Bastos Tikuna Benjamim Constant 248 PSDB AM Vereador

Ofir Manoelino Aiambo Tikuna Benjamim Constant 190 PFL AM Vereador

Davi Félix Tikuna Benjamim Constant 356 PTB AM Vereador

Darcy Duarth Comapa Marubo Atalaia do Norte 68 PC do B AM Vereador

Maria Raimunda da Cruz Kambeba Alvarães 91 PTB AM Vereador

Miguel Arcan jo Barbosa de Araújo Tikuna Santo Antonio do Içá 274 PSDC AM Vereador

João Lourenzo Cruz Tikuna Tabatinga 323 PMDB AM Vereador

Darcy Bibiano Muratu Tikuna Tabatinga 323 PMDB AM Vereador

Manoel Nery Tikuna Tabatinga 173 PL AM Vereador

iranildo Nóbrega de Melo Azedo Sateré Mawé Parintins 956 PR AM Vereador

Zildo Palikur Palikur Oiapoque 183 PSB AP Vereador

Carlos Alberto Malaquias Galibi Marworno Oiapoque 140 PSB AP Vereador

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AM8IENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 215


Candidato Eleito Povo Município Votos Partido Estado Cargo

Ramos dos Santos Karipuna Oiapoque 143 PSB AP Vereador Reeleito

Estácio dos Santos Karipuna Oiapoque 202 PSU AP Vereador

Àgnaldo Francisco dos Santos Pataxó Hã-Hã-Hãe Pau Brasil 197 PT BA Vereador

Áurea Christiany Neri Pergentíno Tuxá Rodelas 234 PTB BA Vereador

Josefa Pereira da Silva Xavier Pankararé Glória 556 PFL BA Vereador

Francisco Alves da Silva Pataxó Santa Cruz Cabrália 174 PMDB BA Vereador

Luzia Silva Matos Pataxó Santa Cruz Cabrália 178 PMDB BA Vereador

Raimundo Nonato Kanela Kanela Fernando Falcão 154 PSC MA Vereador

Maria Diva Maxakali Santa Helena de Minas 106 PSD MG Vereador

Manoel Gomes de Oliveira Xakriabá São João das Missões 187 PDT MG Vice-prefeito Reeleito

Livíno Gomes de Oliveira Xakriabá São João das Missões 259 PDT MG Vereador

José Gomes de Oliveira Xakriabá São João das Missões 161 PDT MG Vereador

Manoel Ferreira da Silva Pataxó Carmésia 57 PL MG Vereador

Euzébio Batista da Cruz Kadiwéu Porto Murtínho 167 PT MS Vereador

Percedino Rodrigues Terena Dois Irmãos do Buriti 216 PT MS Vereador

Valdomíro Vargas Terena Aquidauaua 321 PV MS Vereador

Bartolomeu Patira Pronhope Xavante Geraldo Carneiro 186 PPS MT Vereador

Jeremias Xavante Xavante Campinápolis 289 PFL MT Vereador

Roberto Crixi Munduruku Jacareanga 316 PSC PA Vereador

Aurélio Crixi Munduruku Jacareanga 256 PSC PA Vereador

Hans Amâncio Caetano Kabá Munduruku Jacareanga 174 PSC PA Vereador

Marcos Antonio dos Santos Potiguara Baía da Traição 2043 PMDB PB Prefeito Reeleito

José Ciríaco Potiguara Baía da Traição 152 PT PB Vereador

Genival da Silva dos Santos Potiguara Baia da Traição 106 PPB PB Vereador

Roberto Carlos Batista Potiguara Baia da Traição 153 PL PB Vereador

Manoel Messias Rodrigues Potiguara Baia da Traição 233 PMDB PB Vereador

Idácio Gomes da Silva Potiguara Baia da Traição 252 PMDB PB Vereador

José da Silva Bemardes Potiguara Marcação 79 PMDB PB Vereador

Raimunda Cândido da Silva Potiguara Marcação 128 PPB PB Vereador

Paulo Sérgio da Silva Araújo Potiguara Marcação 127 PSB PB Vereador

Helena Maria da Conceição Potiguara Marcação 128 PPB PB Vereador

Maria Luciene Kambiwá Ibimirim 389 PL PE Vereador Reeleita

Pedro Chico Àtikum Carnaubeira da Panha 209 PMDB PE Vereador

Edson Gabriel da Silva Atikum Carnaubeira da Panha 280 PDT PE Vereador

José Vital Pankarani Jatobá 204 PSDB PE Vereador

José Kagmu Olíbio Kaingang Nova Laranjeiras 324 PT PR Vereador

Destnano Raposo Viriato Macuxi Normandia 90 PTB RR Vereador

Moisés Ramos da Silva Wapixana Normandia 126 PDT RR Vereador Reeleito

José Novais Macuxi Uiramiítã 889 PPB RR Vicc-prefeito

Anísio Pedrosa Macuxi Pacaraima ? RR Vice-prefeito

Rodrigues Pinto Macuxi Normandia 1493 ? RR Vice-prefeito

Nevis K. Farias Kaingang Benjamin Constaní do Sul 108 PT RS Vereador

Belo Farias Kaingang Benjamin Constant do Sul 97 PT RS Vereador

Batista de Oliveira Kaingang Benjamin Constant do Sul 139 PMDB RS Vereador Reeleito

Erpone Lopes Kaingang Gramado dos Loureiros 143 PPB RS Vereador Reeleito

Ireni Franco Kaingang Charrua 100 PMDB RS Vereador

Moacir Venhkag Ferreira Doble Kaingang Cadque Doble 214 PFL KS Vereador

? SC Vereador
João Fortes Kaingang Entre Rios

216 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Candidato Eleito Povo Município Votos Partido Estado Cargo

Elpidio Pripra Xokleng José Boiteux 131 PMDB SC Vereador

Valdo Correia da Silva Kaingang Ipuaçu 101 PPS SC Vereador

Nilson Belino Kaingang Ipuaçu 233 PPS SC Vereador

Orides Belino Kaingang Ipuaçu 1227 PPS SC Vice-prefeito

José Carlos Gabriel Guarani Ipuaçu 115 PPS SC Vereador

Antonio Oliveira Kaingang Entre Rios ? PPB SC Vereador

Fonte: Secretariado Nacional do Ciml. a partir de seus regionais, lideranças indígenas e TRF-s, em 22/1 (IAK)

AS CANDIDATURAS INDÍGENAS
As eleições no Brasil - como todo evento multi- oso, ao discurso cosmológico, passa então a cir- projeto político próprio, determinados a atuar na
facetado misto defesta, acordo combate e ritual
, ,
cularem uma ordem específica, a ordem políica, vida pública. Os primeiros estariam ligados aos
- mobiliza os veículos de informação também pelo regida por uma racionalidade burocrática e fun- partidos que tradicionalmente situamos na es-
anedotário que produz. Curiosamente, a presen- damentada em valores que se pretendem univer- querda política, os segundos estariam filiadas aos
ça crescente dos índios no processo eleitoral nos salmente válidos. Formas tradicionais de lideran- partidos de perfil clientelista.
é transmitida exatamente neste registro. De certo ça política - como, por exemplo, aquela assumi- As relações de gênero também repercutem essas
modo, a participação dos índios na disputa por da pelo sábio ancião, com sua oratória sensível, transformações. Se no âmbito do movimento in-
vagas no jwder legislativo e executivo é apresen- seu zelo pela reatualização permanente do lega- dígena é cada vez mais freqüente a participação
tada no mesmo tom de estranheza com que o jor- do mitológico e da tradição, seu prestígio guer- feminina e mesmo o surgimento de organizações
nalismo brasileiro descreve índios xinguanos reiro, - cede lugar para uma nova forma de lide- indígenas de mulheres, a política local de alguns
paramentados com sandálias Havaianas e calções rança, desta vez protagonizada porjovens talen- municípios começa a presenciar esse novo ator
Adidas. É como se a candidatura indígena selas- tosos, escolarizados, falantes do português, mi- social. Nas eleições municipais do ano 2000 tive-

se,solenemente a inexorável aculturação. Para


,
nimamente conhecedores dos códigos e peculia- mos até uma candidata caingangue à vice-pre-
além deste anedotário há. de fato, muito o que ridades do mundo dos brancos. feitura em um município do oeste catarinense.
refletirmos. Afinal, índios dos mais diversos po- Se não bastasse tudo isso, a candidatura indíge- Estas e muitas outras questões certamente não
vos estão lidando com as grandes instituições da na deve lidar obrigatoriamente com a mecânica deixam os índios estáticos em contemplação, ou
sociedade branca e com processos políticos per- de funcionamento partidário. Cerno sabemos, o em elucubrações filosóficas sobre sua nova con-
tencentes a uma gramática social e simbólica que partido jxAítico éem si mesmo o resultado de com- dição de sujeitos da “alta " política dos brancos.
lhesé absolutamente estranha, ao menos na ma- promissos, interesses e arranjos complexos. Com Ao que tudo indica muitos tem pressa. As eleições
neira como estamos acostumados a pensar. alguma freqüência a candidatura não pode se de 1996 contaram com pouco mais de 80 candi-
A começar pela representação política, essa tão eximir de promover um projeto político que lhe datos indígenas, entre vereadores e prefeitos. Em
louvada instituição do Ocidente, originada entre ultrapassa em extensão, fazendo referência não 1998, além do crescimento no número de candi-
os atenienses da Grécia antiga e, em sua forma apenas aos interesses da sociedade local datos o país assistiu à tentativa de David Terena
mais contemporânea, na Reivlução Francesa. A envolvente como também às grandes questões de chegar ao governo do Distrito Federal. Nas elei-
representação envolve, no mínimo, premissas e nacionais. Porforça de tais injunções o índio ga- ções de 2000, foram mais de 350 índios pleitean-
categorias mentais muito distintas aos modos nha ainda outras identidades: toma-se liberal ou do vagas nas eleições municipais - sendo 13 de-
nativos de fazer política. A idéia de delegar a um socialista; e até mesmo outros lugares ondeficar: les para prefeito-e 75 se elegeram. Na condição
indivíduo o poder de atuar em nome do grupo em está na esquerda na direita ou no
,
centro. de eleitores os índios também não ficam atrás.
questões que lhe são vitais implica em muitas Para alguns observadores, as diversas candidatu- Em simulações de votação realizados em Roraima,
coisas, como, por exemplo, na criação de um ras indígenas reproduzem alguns arranjos que nos o presidente do TRE espantava-se com a veloci-

mediador que se interpõe entre os índios e a to- são conhecidos. Uns seriam representantes "legí- dade do voto indígena na uma eletrônica: 22 se-
mada de decisões. A política, que em muitas for- timos" de seu povo, indicados ao pleito eleitoral gundos contra mais de um minuto de muito elei-
mulações nativas atravessa a vida social de ma- diretamente pela decisão de suas comunidades ou tor branco. (Marcos Pereira Ruflno/ISA, sel/00)
neira ampla articulando-se simultaneamente às de suas respectivas organizações indígenas. Ou-
regras do parentesco, ao complexo ritual e religi- tros seriam candidatos isolados, envolvidos em um

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 217


Olimpíadas Indígenas Exercitam
o Diálogo Intercultural

Antropólogo/ISA
Fernando Fedola de L B. Vianna

EVENTOS REUNINDO ATIVIDADES FÍSICAS de 600 atletas indígenas, representantes de cerca de 30 etnias de

TRADICIONAIS DOS ÍNDIOS E MODALIDADES diferentes regiões do país, em competições e demonstrações de

OLÍMPICAS CONVENCIONAIS COMO 0 FUTEBOL práticas como corrida de tora ( característica dos povos de língua
do Brasil Central) , arco-e-flecha, lutas corporais (como a buka-
CONSOLIDAM O ESPORTE COMO UMA DAS jê

huka, dos alto-xinguanos), arremesso de lança e zarabatana. O


MANEIRAS DE OS POVOS INDÍGENAS SE
público compareceu em massa. Provas de canoagem e natação,
COMUNICAREM ENTRE SI E COM OS "BRANCOS"
no próprio rio Tocantins, torneios de futebol masculino e femini-
no, no estádio e outros campos da cidade, e exibições de danças,
Entre os dias 1 5 e 21 de outubro de 2000, a cidade de Marabá, no
numa praça próxima ao estádio, completaram a cena: foi a tercei-
Pará, transformou-se no palco de um tipo de evento cada vez mais
ra edição dos chamados Jogos dos Povos Indígenas.'
freqüente no Brasil contemporâneo. Às margens do rio Tocantins,
na praia do Tucunaré, uma arena com capacidade para 2.500 es- Trocas culturais entre índios e “brancos”, como se sabe, não são

pectadores, construída especialmente para a ocasião, abrigou mais nenhuma novidade. E o mesmo continua valendo quando olha-

218 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


•5í4JZs* Acervo
-//SÁ
mos, especificamente, para o domínio da linguagem esportiva no EXPERIÊNCIAS REGIONAIS
Brasil, Num extremo, atividades físicas dos índios foram aprendi- E OUTROS EVENTOS
das e “esportificadas” pelos “brancos" - é o caso do jogo de pete-
Voltando a observar o plano regional, despontam outras experiên-
ca, particularmente popularizado e institucionalizado no estado
cias, como os Jogos dos Povos indígenas do Amapá (realização
de Minas Gerais. Noutra ponta, jogos e esportes inicialmente pra-
anual, desde 95) 7 a Olimpíada Indígena
,
do Amazonas, no municí-
ticados pelos habitantes das grandes cidades foram chegando aos
pio de Maués (maio de 98)', e os Jogos Indígenas Pataxó de Coroa
índios ao longo do século XX, em processos históricos que ainda
Vermelha (setembro de 2000, em Santa Cruz Cabrãlia/ BA) 9 . Igual-
não foram objeto de descrições mais cuidadosas, mas que se pode
mente regionalizados são os casos envolvendo apenas uma das
imaginar diferentes conforme a região do pais, o povo indígena
modalidades presentes em todos esses Jogos: o futebol, responsá-
envolvido e os agentes do contato. Do que se sabe sobre o assunto,
vel por um campeonato entre times de índios em Tocantins, em
pode-se dizer que o futebol é a recorrência mais notável.
1994'", pelo Intertribol - Campeonato Estadual ludígena de Fute-
Entre esses dois extremos, há todo um espaço onde jogos, espor- bol de São Paulo (estádio do Ibírapuera, fevereiro de 97)“ e por
tes, atividades físicas de caráter lúdico, cerimonial e/ou competiti- um exemplo similar em Roraima, que vem ocorrendo, anualmen-
vo, seja lá qual for sua origem, aparecem como formas de comu- te, desde 97 12 .

nicação entre diferentes povos indígenas e entre índios e não-mdi-


Atividades físicas, jogos e competições indígenas realizam-se nas
os. Os Jogos de Marabá são apenas um dentre muitos aconteci-
cidades também como parte de outros eventos. Foi o que aconte-
mentos que figuram nesse amplo espaço comunicativo.
ceu em outubro de 1996, momento
em que a cidade do Rio de
como candidata a sede dosjogos Olímpi-
Janeiro tentava se firmar
OS “JOGOS INDÍGENAS” cos de 2004 e, organizou uma recepção a membros do
para tal,

Comitê Olímpico Internacional (COl). Com o aparente propósito


Nos últimos anos, essa espécie de Olimpíadas Indígenas vem se
de mostrar à delegação do COI “o que é o Brasil”, os organizadores
repetindo em diversos lugares do país e motivando dezenas de

reportagens nas imprensas nacional e regionais. Apoiando- se nes-


da campanha incluíram na cerimônia uma realização de corridas
de tora, por parte de cerca de oitenta índios, no bairro carioca de
sas notícias, haveríamos de situar o marco inicial desse processo
Copacabana 13 No ano seguinte, o “Dia do índio” propiciou a pre-
.
por volta do ano dc 1994, quando, aparentemente, se realizou a
primeira iniciativa com essas características no Brasil: os Jogos da
paração de uma apresentação de huka-huka no Museu do índio,
14
2
Culmra Indígena, no Mato Grosso Melhor divulgados pela im-
.
também no Rio .

prensa nacional seriam, na sequência, duas edições dos chama-


Já em abril de 1999, ao assumir a responsabilidade pela organiza-
dos Jogos Abertos Indígenas do Mato Grosso do Sul, em 1995 e ção dos festejos oficiais dos “500 anos”, o então ministro do Es-
96, ambas tia cidade de Campo Grande 1 Foram . eles que abriram porte e Túrismo, Rafael Grecca, foi logo anunciando Jogos Indíge-
espaço para eventos semelhantes, mas, agora, com participantes nas como um dos O lança-
primeiros eventos a serem realizados.
oriundos não apenas de um estado da federação brasileira, mas mento das comemorações ocorreu em 25/04/99, na Esplanada
de diferentes regiões do país. dos Ministérios, em Brasília (DF) E, de fato, contou com demons-
.

trações de práticas como arco-e-flecha, corrida de toras, huka-


Marabá/2000, conforme já dito, foi a terceira edição de Jogos In-
huka e o jogo dc cabeçadas em bola de borracha (de grupos do
dígenas com esse caráter supra-estadual. A primeira ocorreu em
4 oeste mato-grossense e Rondônia), realizadas por cerca dc 200
Goiânia (GO), em outubro de 199ó . A repetição dosjogos indíge-
índios dos povos Kanela, Karajá, Pareci, Pankararu, Terena, Xavante,
nas começou a ser programada em 97. Naquela oportunidade,
13
entre outros
amazonenses esforçaram-se para que Manaus fosse a sede
.

políticos

escolhida. No entanto, desentendimentos entre o governo do Ama- Cada um dos eventos acima mencionados certamente guarda suas
zonas e representantes do poder federal quanto ao montante de especificidades. Deixando-as de lado, é possível notar alguns tra-
recursos financeiros que o primeiro deveria destinar para a reali- ços comuns, definidores do modelo dosjogos Indígenas tal como
zação do evento acabaram por inviabilizá-lo 3 . De acordo com o vem sendo desenvolvido e praticado no Brasil contemporâneo.
ponto-de-vista de um dos organizadores dosjogos (Marcos Terena,
de quem tratarei abaixo, comunicação pessoal), o ano de 98 não INTEGRAÇÃO ENTRE OS POVOS INDÍGENAS
foi propício para uma nova tentativa porque todas as atenções es-
Primeiramente, é de se frisar que a promoção desses eventos de-
tavam voltadas para a Copa do Mundo de futebol na França. .Assim,
pende diretamente da articulação entre órgãos do poder público
os Jogos dos Povos Indígenas só voltariam a se tornar realidade
das esferas federal - a Fundação Nacional do índio (Funai) e o
em 99, novamente no mês de outubro. Dessa feita, a cidade esco-
Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp), li-
lhida foi Guaíra, no Paraná6 .

gado ao Ministério da área de Esporte -, estadual (Secretarias) e,

às vezes, também prefeituras municipais, como ocorreu em Marabá.


Entretanto, ela conta com um elemento adicional, menos visível

mas extremamente importante: a atuação de determinadas perso-

POVDSINOlGENAS NO BRASIL1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 219


,

•5í4jZ^ Acervo
-//ISA
nabdades indígenas e formas de os índios se organizarem, respon- NEGOCIAÇÕES POLÍTICAS
sáveis pela intermediação entre as comunidades e o Estado. E TROCAS CULTURAIS
Aqui, merece destaque o papel dos irmãos Carlos e Marcos Terena, Podemos, assim, conceber que a integração promovida pelo es-

ligados a uma entidade chamada Comitê lntertribal (ITC) ,


que tam- porte sirva a propósitos políticos, de “organização indígena". To-
bém como uma das organizadoras dos Jogos Indígenas
aparece davia, a política está presente nesses Jogos Indígenas não apenas
supra-estaduais. Essesjogos foram desengatilhados, como já men- como meta Na definição de quais povos e, mais do que isto, de
cionado, por experiências anteriores no estado do Mato Grosso qual grupo de pessoas de cada povo - que, como sabemos, não
do Sul, onde vivem os Terena. A idéia dos Jogos de Goiânia surgiu são homogêneos nem isentos de conflitos internos - irão repre-
após um contato entre o ITC e o Indesp 16 e, na cobertura da mídia sentar, nesses festivais esportivos, a enorme sócio-diversidade na-
sobre os eventos que estamos aqui observando, Marcos é presen- tiva no Brasil contemporâneo, verificam-se múltiplos c diversifica-

ça recorrente, frequentemente caracterizado como um de seus dos processos de negociação.


idealizadores.
Conforme relato pessoal de um funcionário do Indesp envolvido
É sabido que Marcos Terena é um dos integrantes de primeira na organização dos Jogos de Goiânia, Guaíra e Marabá, é a Funai
hora do movimento indígena-indigenista no Brasil, tendo feito parte que faz contato e seleciona os grupos que irão participar de cada
do grupo de índios que, no final da década de 70, início da de 80, edição desses acontecimentos. Sabemos, no entanto, que há índi-
se empenhou na formação da União das Nações Indígenas (UNI), os no interior dos quadros da Funai e que este é um capítulo do
iniciativa pioneira de reunir diferentes povos indígenas numa mes- assunto “organização indígena" que não deve ser menosprezado.
ma organização. Funcionário, já há algum tempo, da Fuoai de Os Xavante com os quais tenho contato direto, de uma aldeia espe-
Brasília, onde desempenha o cargo de coordenador da área de cífica, no interior de uma das seis terras indígenas onde hoje se
direitos indígenas, ele parece acreditar que pode continuar a pro- dispersa este povo, contam, por exemplo, que nunca foram convi-
mover o trabalho de articulação de diversos povos indígenas, não dados nem consultados para participar dos Jogos Indígenas. 0
importando que ocupe, agora, um lugar sociológico que, situado grupo que costuma representar esse povo nos Jogos supra-estadu-
no interior do aparelho estatal, poucos se atreveriam a descrever ais é da aldeia de onde saiu um dos Xavante que detêm cargos d
como tendo a ver com movimentos sociais. E uma das maneiras ou relações na Funai de Brasília e que, por coincidência ou não, é
de fazer isso seria através da linguagem do esporte. casado com a irmã de Marcos Terena.

É o que sugerem tanto o investimento que tem dedicado aos Jogos O mesmo funcionário do Indesp revela dois outros fatos que indi-
Indígenas como suas mais recentes aparições em encontros de cam por onde podem passar os processos políticos envolvidos nos
discussão de política indigenista, nos quais tem insistido na união Jogos Indígenas, Informados de que os Kaingang do Paraná esta-
dos índios de variados grupos e lembrado que a idéia da UNI co- vam planejando a realização de protestos durante o festival de
meçou quando ele e outros indivíduos indígenas, estando em Brasília Guaíra, seus organizadores sentiram obrigados a cancelar sua par-
por razões diversas, passaram a se encontrar para jogar futebol 17 .
ticipação: “não temos nada a ver com política mas somos governo
No modelo Jogos Indígenas, há, portanto, o objetivo dc integrar os federal”, acrescenta o funcionário. Para Marabá/2000, a organi-

vários povos indígenas entre si. Objetivo que, aliás, não está, ape- zação ofereceu aos Fulni-ô, de Pernambuco, 18 vagas, mas eles

nas, conforme o que estou sugerindo, na “cabeça” de Marcos queriam levar uma delegação com 30 pessoas. A negociação re-

Terena. Diz o índio Karipuna Mário dos Santos, administrador da dundou em que os Fulni-ô acabaram por não ir a Marabá.
Funai de Oiapoqne, no Amapá: “Os jogos contribuem para fortale-
Saibamos reconhecer, contudo, que nem todos os processos visí-
cer a unidade entre as tribos. Os povos daqui mantêm mais seme- veis no modelo de evento de que tratamos aqui merecem ser redu-
lhanças do que diferenças entre si. Com isso, conseguimos a coo-
zidos à dimensão política. Os Jogos podem implicar, também, tro-
peração de todos em tomo de projetos que interessem à comuni- cas culturais entre diferentes povos, como ilustra o caso da inclu-
dade”
1
*. Outro exemplo vem do campeonato de futebol dos índios
são da corrida de tora nos Jogos do Amapá. Os povos de lá não são
em São Paulo, o Intertribol, durante o qual lideranças dos Guarani
adeptos históricos ou “tradicionais” dessa prática. Conheceram-
Mbya, Guarani Nhandeva, Terena, Kaingang, Krenak e Pankararu
na assistindo uma demonstração realizada pelos Krahó (Tocantins)
reuniram-se para analisar os problemas comuns às cinco etnias,
precisamente num desses Jogos que reúnem povos indígenas de
definir prioridades e divulgar um documento intitulado Programa várias regiões do país. Gostaram da novidade e resolveram levá-la
Intertribos, em que manifestavam os objetivos de “integrar as ações” “para casa".
entre estes povos e de “desenvolver trabalhos em parcerias com
os órgãos federais, estaduais, municipais, organizações não gover-
namentais, universidades e instituições interessadas e comprome- NAS CIDADES
tidas com a causa indígena".
Outro aspecto marcante dos Jogos Indígenas advém do fato de, em
quase todos os casos, serem realizados nas cidades. Podem, por
isso, ser considerados um caso particular de um fenômeno mais

220 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199G/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


,
cuja ocorrência no interior do universo de ações indígenas levados às cidades nesse tipo de acontecimento, os índios envol-

e indigenistas no Brasil vem aumentando, em freqiiência e visibili- vem-se em iniciativas nas quais está em cena o mostrar a cultura
dade social, nos anos mais recentes. indígena para os “brancos" verem (e a mídia divulgar).

Tradicionalmente, associamos o contato entre índios e não-índios


com imagens de entradas, bandeiras, expedições, frentes pionei- “PARA BRANCO VER”
ras, frentes de atração, missões religiosas e outros grupos e indiví-
No “para branco ver” dos Jogos Indígenas, é possível discernir
duos não-indígenas que, saindo de seus núcleos de assentamento alguns elementos importantes. Em primeiro lugar, pelo público
e moradia, embrenham-se pelos sertões e matas do país. Nos últi-
que costumam atrair e pelo espaço que alcançam na mídia, eles
mos anos, entretanto, o esporte, com as experiências dos Jogos
são oportunidades valiosas de reforço de uma mensagem em que
Indígenas, vem somar-se a um vasto conjunto de linguagens e no-
o movimento indígena-indigenista no Brasil tanto tem insistido:
vas tecnologias - como a música, a dança, a fotografia, os grafismos,
que a noção genérica de indianidade deve vir combinada com a
a cultura material, o cinema/ vídeo, o CD, o CD-ROM, a internet -
explicitação da diversidade étnica que povoa este universo. Assim,
por meio das quais são os índios que vêm até nós, habitantes dos com grupos de
,
os Jogos permitem à opinião pública deparar-se
centros urbanos 19 Inverte-se, assim, o sentido espacial, geográfi-
.
pessoas que, certamenle, são índios, mas que, antes disto, são
co, costumeiramente ligado à expressão contato interétnico. de
Bororo, Wai-Wai, Parakanã, Suruí, Munduruku, Kuikuro etc.
um contato que se concretiza na forma “brancos vão da cidade
para a 'selva' e encontram índios”, passa-se a um outro, em que Em segundo lugar, indo ao encontro daquele caráter político já

paraaeidade” e encontrando “brancos”.


referido, os Jogos abrem espaço para que a "questão indígena"
temos índios indo “da ‘selva’
seja exposta, discutida e tematizada de múltiplos pontos-de-vista.

Discriminar se os índios são ou não os principais sujeitos dessas Isso pode acontecer na forma de um debate organizado em para-

formas contemporâneas e às avessas de “expedições de contato" lelo à realização dos jogos e competições propriamente ditos, como
nem sempre é tarefa simples. Nas demonstrações de dança, shows ocorreu em Goiânia/96, com o fórum “Esporte e Identidade Cultu-
musicais, exibições fotográficas, realizações de jogos etc. que tra- ral Indígena", no qual autoridades, lideranças indígenas, esportis-
zem os índios (em “carne e osso” ou sua imagem) às cidades tas não-índios “de ponta" e personalidades como o jornalista Wa-
combinam-se, na realidade, disposições e interesses de atores tanto shington Novaes discutiram desde a utilização do corpo no cotidi-
indígenas - dentre as quais seria preciso considerar, em separa- ano até a suposta possibilidade de extinção da Funai, passando
do, as das chamadas lideranças - como não-indígenas, sejam es- pela demarcação de terras indígenas. Ou, então, nas declarações

tes últimos membros de agências governamentais ou não-gover- de lideranças indígenas e autoridades durante os eventos, cada
namentais. De todo modo, o que importa registrar é que, ao serem qual destacando um ponto diferente: a capacidade do esporte cm

POVOS INDÍGENAS no BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO socioambiental ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS 221


,

Acervo
_//£ ISA
L U ;onho de unir povos historicamente inimigos” (iatista parece ser, afinal, a principal mensagem direcionada aos "bran-
Lars Grael, falando como diretor do Indesp®); a participação dos cos” dos Jogos Indígenas: que os índios querem continuar a ser
21
índios “na construção do Brasil" (Marcos Terena) ;
o pedido ao aceitos como tais sem prejuízo de poderem gostar e fazer algumas

ministro do Esporte e Turismo, por parte de uma líder dos das coisas de que os "brancos” também gostam e fazem. ( novem-
Pankararu de Pernambuco, para que ajude quem sofre com a seca bro, 2000)
no Nordeste do país 22 entre outros. ,

Cerimônias de abertura de Olimpíadas e Copas do Mundo de fute-


bol evocam um terceiro ponto. Elas mostram que o esporte, como
linguagem do sensível, eminentemente visual, casa-se perfeitamente
bem, quando transformado em espetáculo, com outras formas de
bnguagem. E os Jogos Indígenas não ficam atrás, reservando lugar
para demonstrações de outros aspectos das "culturas indígenas":
música, dança, adornos e pinturas corporais ajudam a compor o
quadro sensorial em que têm vez os jogos e competições,

Por fim, focando nosso olhar sobre as atividades que constituem a


razão de ser desses eventos, deparamo-nos com um conjunto de
práticas, à primeira vista, heterogêneo. Nos contornos básicos de
algumas delas, como a corrida de tora ou a luta buka-huka, não
temos dificuldade em reconhecer o peso da “tradição indígena”.
Diante de outras, apesar de parecer intervir um certo esforço circuns-
tancial de encaixar o que é pouco formalizado no molde enrijecedor
do esporte - este é o caso da natação, da pescaria, do uso da
canoa, do arco-e-flecha, da zarabatana, do arremesso de lança
etc. -, acabamos aceitando o rótulo de jogos indígenas sem maio-
res problemas. Restam, porém, uns resíduos perturbadores: coi-

sas como o futebol, o voleibol ou corridas de 100 e 200 metros rasos.

De fato, quando olhamos para os índios, é difícil romper com uma


maneira de enxergar que divide bido entre o que é e o que não é
“tradicional”, “autêntico”, “original”. E a negação dessa dicotomia

A jogadora kayapó se
prepara para a competição.

1
Notícias sobre os III Jogos dos Povos Indígenas cncontram-se, por exemplo, 15
Ver O Globo, 09/1 1/96, p. 21.
em O Liberal dos dias 13, 17, 18, 19, 20 e 22/10/2000. 14
Ver Jornal do Brasil, 1 3/04/97, p. 06.
2
Folha deS. Paulo 01/01/1995; O Popular, 07/10/1996. 15
O Globo, 20/04/1999; Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, 21/04/1999;
J
Folha de S. Paulo 18/02, 25/03, 25 e 28/04/95; O Globo, 20, 28 e 29/04/95; Correio Braziliense, 26/04/1999-
A Gazeta Esportiva, 28/04/95; IstoÉ, 03/05/95; Diário Popular, 27/09/1996.
16
Ver Relatório Final dos Jogos dos Povos Indígenas (Goiânia - 16 a 20/10/
4
O Popular, 07 e 1 3/1 0; Jornal da Tarde, 16/10; Folha de S. Paulo, 17/10; 1996, disponível na sede do Indesp, em Brasília.

Crítica, 18/10; O Estado deS. Paulo, 21/10; O Dia, 21/10 e Veja, 23/10/1996. 17
Comunicações de Marcos Terena em dois seminários sobre política indigenista:
11

0 Globo, 14/08; A Crítica, 22/08, 11,17, 25, 26 e 27/09/1997. Universidade de Brasília (maio/ 98) e Museu Nacional, Rio de Janeiro (junho/

6
99).
O Estado do Paraná, 15, 17, 19, 21 e 24/10/1999.
18
IstoÉ, 08/1 1/2000, p. 66.
'IstoÉ, 08/1 1/2000.
19
O caso xavante, em específico, de utilização dessas novas linguagens e
* A Crítica, 14/10/1997.
tecnologias pode ser acompanhado em artigo de Laura Graham, neste volume.
‘M Tarde, 23/09/2000. 20
Encarte sobre os Jogos de Marabá em Porãduba (Jornal da Funai - Brasília),
10
Folha de S. Paulo, 20/10/1996. ano I, n° 1 ,
outubro/ 2000.

21
"A Gazeta Esportiva, 22/02/1997; Folha de S. Paulo e Folha da Tarde, 23/02/ Correio Braziliense, 26/04/1999.
1997; O Estado de S. Paulo, 24/02/1997; O Dia, 26/02/1997. 22
Correio Braziliense, 26/04/1999-
12
Folha de S. Paulo, 29/04/1997 e revista Amazônia 21, Manaus, ano 2, n° 4,
janeiro/ 2000.

222 ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


-?L i/ , Acervo
ISA

PROJETOS GOVERNAMENTAIS
DE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL

Areas de Impacto dos


Eixos de Desenvolvimento

i
áreas de extremo impacto

|
áreas de muito alto impacto

J
áreas de alto Impado

I ]
Terras Indígenas

Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação. Uso Sustentável e


Repartição dos Benefícios da Biodiversidade da Amazônia Brasileira
Seminário Consulta de Macapá. 1999
^Lj7^ Acervo
-//'SÁ
PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Estradas e Desmatamento

Marcelo Leite Jornalista, editar de Ciência ds FSP.


Artigo publicado na FSP em 19/03/00

AS RODOVIAS PREVISTAS NA ça de um representante da área de ambiente da Embaixada do

AMAZÔNIA PODEM REEDITAR Brasil nos EUA.

PADRÃO DE DESMATAMENTO NOS “Esse trabalho apresenta uma nova visão abrangente das ameaças
PRÓXIMOS 30 ANOS, AMEAÇANDO ao desenvolvimento sustentável da Amazônia', dizThomas Lovejoy,
180 MIL KM DE FLORESTAS
2
consultor-chefe de biodiversidade do Banco Mundial, que convi-
dou Nepstad a fazer a apresentação. “Ao reunir vários elementos,
fica claro que os projetos do Avança Brasil, não modificados, se-
Imagine uma área de floresta do tamanho de dois países como rão como acender um fósforo sobre a .Amazônia.”
Portugal. É o que a ex-colônia Brasil pode estar condenando à
“Prevejo que partes do trabalho serão questionadas. Isso é nor-
destruição, nos próximos 20/30 anos, se levar a cabo a recupera-

ção e a pavimentação de apenas quatro estradas do programa Avan-


mal, mas será aceito tio final", afirma Lovejoy. “Acredito que há
toda razão para esperar que o desmatamento suceda a pavimenta-
ça Brasil, do governo Fernando Henrique Cardoso.
ção das estradas: essa é a história na Amazônia e outros lugares e
A previsão foi feitapor três organizações não-govemaxnentais, como só um esforço maciço poderia prevenir isso - o que é improvável,
seria de prever. Três ONGs de renome científico. Duas são brasilei- por causa dos fundos limitados.”
ras: o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com
sede em Belém do Pará e o Instituto Socioambiental (ISA, de São
OUTRO LADO - MINISTÉRIO
Paulo) A terceira é o Centro de Pesquisa Woods Hole (WHRC) de
AFIRMA QUE ESTÁ ATENTO
.
,

Massachusetts (EUA).
A Secretaria de Coordenação de Amazônia do Ministério do Meio
As quatro estradas são a Cuiabá-Santarém (BR- 163), Humaitá-
Ambiente (MMA) não comentou diretamente as previsões do estu-
Manaus (BR-319), Transamazônica (BR-230, trecho Marabá-
do, mas disse que o governo dedica atenção ao problema. Segun-
Rurópolis) e Manaus-Boa Vista (BR-174). Um total de 3.500 km
do Mary AUegretti, titular da secretaria, “o Ministério do Meio
de rodovias, que dariam acesso a centenas de militares de km 2
de
Ambiente está atento à questão dos possíveis impactos ambientais
floresta, boa parte dela intocada, ou quase.
decorrentes da implementação dos eixos nacionais de integração
Pior: algumas dessas florestas são sujeitas a incêndios, como nos e de desenvolvimento".
anos de seca provocada pelo fenômeno El Nino. O efeito do últi-
AUegretti nega que haja descoordenação entre as áreas de planeja-
mo, de 1997/98, não pôde ainda ser avaliado em detalhes porque
mento e de ambiente do governo federal. O MMA, diz, “está em
o governo não divulgou os dados oficiais de desmatamento de 1999,
articulação com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-
normalmente fechados no começo do ano pelo Instituto Nacional
tão e com o BNDES para a elaboração de um estudo agregado
de Pesquisas Espaciais (Inpe).
desses possíveis impactos com vistas ao aperfeiçoamento do Avan-
ça Brasil na Amazônia”.
NO BANCO MUNDIA1 O Inpe informa que recebeu com atraso de três meses o repasse
O estudo das ONGs, com exclusividade pela Folha, foi apre-
obtido de verba para o ano passado. Com isso, os dados serão divulgados
sentado no Banco Mundial (Bird), em Washington, por Daniel este ano apenas no mês de abril. Em anos anteriores, isso aconte-
Nepstad, ecólogo do WHRC, em reunião que contou com a presen- ceria normalmente em janeiro.

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL I 225
ESTUDO TAMBÉM APONTA RISCO DE FOGO cial e abrem clareiras na floresta. Com mais luz, resseca-se a ca-

mada de folhas acumulada no chão, que em condições normais


0 estudo das ONGs Ipam, ISA e WHRC não se limita à previsão de permanece muito tímida para pegar fogo. Não é nada fácil iniciar

desmatamento entre 80 mil e 180 mil km-, cálculo baseado no queimadas na Amazônia.
padrão histórico de outras rodovias amazônicas (33% a 55% de
A rodovia também facilita a colonização da área por pequenos
perda na faixa de 50 knt de cada lado da rodovia asfaltada) Inclui ,

agricultores. Descapitalizados, empregam o fogo para limpar e


ainda a estimativa de que outros 187 mil km 2 se tornarão suscetí-
fertilizar o solo com cinzas. O fogo escapa para a floresta res-
veis ao fogo, com o adensamento da presença humana.
sequida, queimando o sub-bosque e abrindo caminho para mais

Isso ocorre numa espécie de círculo vicioso. A estrada atrai ma- radiação solar, o que a resseca ainda mais. E assim por diante.
deireiros, que fazem um corte seletivo de árvores de valor comer-

ALGUMA COISA ESTÁ FORA DA ORDEM


O ministro dos Transportes ,
Eliseu Padilha, responde mento aos cuidados j>ara evitar a degradação ambiental 0 que não
sobre estradas e desmatamento na Amazônia obedecer a isso estará fora da ordem mundial. Um país devastado,
que mantém rios e florestas sob ameaça, está condenado à periferia
Nenhuma ohra federaI no setor de transportes está ameaçando flo-
na rota de investimentos.
restas ou rios. Terminei de ter duas reportagens da Folha nos dias 19
e 20. com a terrível sensação de que ainda vivemos, a nove meses do Farei uma ampla reunião entre todos os interessados no tema trans-
século 2t, num velho mundo dividido entre mocinhos e bandidos. portes e meio ambiente. Convidarei ministros, governadores. prefei-
tos, técnicos, empresários e ONGs, para sairmos da reunião direto
Nesse mundo, descrito por dez organizações não-govemamentais que
para um mundo onde já não existam “mocinhos e bandidos" nem
fizeram estudos "independentes" sobre quatro rodovias do corredor
idéias ocultas travestidas em boas intenções. Ay premissas a nos con-
Fronteira Norte e sobre a hidrovia Tocantins-Araguaia, coube aos
duzir terão que ser claras como as nossas: queremos desenvolvimen-
governosfederal, estaduais e municipais, eleitos democraticamen-
to sem degradação ambiental.
te, o papel dos bandidos. No ataque estão eles, os "mocinhos” das
ONGs ambientais. Só não colocaremos a soja brasileira no porto de Roterdã (Holanda)
a preço competitivo, pela hidrovia Araguaia-Tocantins, se isso cus-
Vejamos ditas manchetes da Folha a de domingo, “Obras federais
tar a degradação dos rios. Só não escoaremos a jrrodução judas BRs
ameaçam florestas", na capa, e "Plano ameaça 180 km1 de flores-
163 (Cuiabá-Santarém), 319 (Humaitá-Manaus), 230 (Transamazônica)
tas”, napág. 1-17 (Brasil); e a de segunda-feira, “Hidrovia do gover-
e 174 (Manaus-Boa Vista) se custar a devastação dasflorestas.
no ameaça matar rios”, na pág, 1-8 (Brasil). As fontes da reporta-
gem de domingo são o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Temos técnicos tomando conta de cada projeto, gente preparada que
o Instituto Socioambiental e o Centro de Pesquisa lVoods Hole; as da nos aponta, com antecedência, qualquer impacto ou dano que a obra
de segunda são Cebrac, Instituto Socioambiental, WWV, Rede Cerra- pode causar. Produtos competitivos precisam de rodovias, hidrovias,

do, Simpósio Ambientalista do Cerrado, Rede Internacional de Rios e ferrovias e portos para ganhar o mundo. Para construí-los, pode ha-
Coalizão Rios Vivos. ver algum ti/m de dano ao meio ambiente. Para isso temos medidas
compensatórias - aplicadas qtumdo o impacto acontece, mas pode ser
Pois afonte agora sou eu, Eliseu Padilha, ministro dos Transportes, e
compensado por outra ação - e mitigadoras, aplicadas j>ara amenizar o
afirmo: nenhuma obra federal no setor transportes está ameaçando
impacto e ajudar a população local a conviver coma nota realidade.
florestas ou rios. Estão comigo os governadores e prefeitos dos Esta-
dos e municípios na área de influência dessas obras. Para cada obra há uma medida. Para rasgarmos os 970 km da BR-
174, que liga o Brasil aos mercados do Caribe, tivemos que cortar
Representamos a vontade do nosso pom. E recusamos tanto o papel
120 km da reserva dos Waimiri-Atroari. O traçado era mais adequa-
de bandidos como o de mocinhos. Não existem dois lados, mas ape-
do. Aplicamos então uma medida compensatória com a criação do
nas o debate sobre o que é melhor para o País. A premissa básica é a
Programa de Proteção piara a Área Indígena. Em 1987, havia 374 ín-
clareza de intenções, obscurecida nesse mundo de "mocinhos e ban-
dios. o que restara de uma nação de cinco mil, abalada por constan-
didos". Temos a mais firme vontade de desenvolver o País sem colo-
tes surtos de malária e outras doenças tropicais. Foi um trabalho
car em risco o meio ambiente.
duro. Em 1997 ainda registramos 117 casos de malária, mas, em 1998,
Vivemos num mundo globalizado. "Mocinhos e bandidos" nos levam quando as obras foram intensificadas, registramos sete casos, e a
ao passado, a um mundo distante do atual, onde a sobrevivência é população crescera para 773 índios.

assegurada apenas aos países que tiverem uma matriz transporte


Hoje eles aprendem a escrever em seu jiróprio idioma. Até lançaram
competitiva, capaz de colocar produtos em condições favoráveis em
ojorna! “ Kwa lajtremy" palavras que andam, em português. Nós temos
qualquer mercado.
esse dever, de fazer com que as nossas palavras andem e ajudem a
Os governantes têm a responsabilidade de levar o País ao século XXI criar a consciência de um mundo novo onde já não existam “ moci-
em condições de competir no mundo moderno, aliando desenvolvi- nhos " e “bandidos”. (Eliseu Padilha, FSP, 26/03/00)

226 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
OS ÍNDIOS E 0 MINISTRO DOS TRANSPORTES
Testemunha ocular da história, indlgenista trais Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte), vem financiando
Porfírio Carvalho discorda do ministro o Programa Waimiri-Atroari, programa de ações indigenistas que visa
compensar, se é que se pode compensar, o s impactos e prejuízos cau -
Acabo de ler um artigo assinado peto Sr. ministro dos Transportes
sados pelo reservatório da usina hidrelétrica Bcdhina no território
Eliseu Padilha, publicado por esse jornal na seção Tendências/Deba-
Waimiri-Atroari. As ações que constituem o Programa Waimiri-Atroari
tes em 26 de março de 2000. 0 artigo me causou extrema indigna-
é que vem conseguindo melhorar o nível de vida da comunidade in-
ção, ao se referir aos resultados de ações patrocinadas peto Ministé-
dígena. Esta melhoria deu condições inclusive para que, posterior-
rio dos Transportes como medidas compensatórias por cortar 120
",

mente, o povo Waimiri-Atroari exigisse dos empreendedores do


km da reserva dos Waimiri-Atroari" para abertura da BR-174. 0 mi-
asfaltamento da BR-174 o financiamento e implantação de um Pla-
nistro se apropriou de ações e resultados patrocinados por terceiros
no de Proteção Ambiental, com prazo de dez anos de duração. Con-
para propagar a preocupação do Ministério dos Transportes no trato
vém salientar que este Plano de Proteção Ambiental foi negociado
das questões ambientais de seus empreendimentos.
inicUdmente com os governos dos Estados do Anuizonas e de Roraima,
Parodiando o ministro, a fonte agora sou eu! então responsáveis pelo asfaltamento da BR-174. Esta negociação
semprefoi alvo de restrições do Ministério dos Transportes, que achava
Trabalho junto aos Waimiri-Atroari desde o início da década delOe
um absurdo as exigências dos índios. Atualmente, a implementação
assisti, protestando, o avanço dasfrentes pioneiras rumo a seu terri-
das ações do plano vem sendo dificultada pelo DNER. Portanto ...

tório. Assisti, e repito, protestando, enquanto funcionário da Funai,


a abertura da BR-174, que seccionou o território tradicional dos A preocupação do Ministério dos Transportes nas questões ambientais,
Waimiri-Atroari. e particularmente nas relacionadas às terras e comunidades indíge-
nas, apregoada pelo ministro, pode ser avaliada em outros casos. A
Portanto, posso afirmar que em 1974, antes da abertura da referida
própria BR-174, já no Estado de Roraima, atravessa a Terra Indígena
rodovia, a população dos Waimiri-Atroari era de 1.500 índios. F.m
São Marcos. No entanto, o Ministério não implantou nenhuma medi-
1987. eles estavam reduzidos a 374 indivíduos. Como testemunha
ocular e participante da história, posso afirmar que esta brutal re-
da para compensar os violentos impactos causados m comunidade
indígena pela abertura e posterior asfaltamento da rodovia. No Esta-
dução (cerca de 75%) na população dos Waimiri-Atroari ocorreu
do do Maranhão, o mesmo aconteceu em relação aos impactos cau-
durante a construção da BR-174, realizada pelo Exército, com forte
sados pela BR -226 na Terra Indígena Guajajara. Além das mortes de
resistência do povo Waimiri-Atroari. Soma-se ao confronto a intro-
índios Guajajara por atropelamento, a abertura e o asfaltamento da
dução e proliferação de doenças estranhas aos índios pelos constru-
rodovia são uma das principais causas do desajustamento social e
tores e pelos usuários da rodovia. Como exemplo da situação dramá-
cultural do povo Guajajara.
tica vivida pelos Waimiri-Atroari, em setembro de 1981, apenas na
aldeia Yawara, situada na margem da BR-174, morreram 21 índios Sem dúvida nenhuma essas rodovias foram e serão impactos violen-
de sarampo. tos sobre as terras e comunidades indígenas.

Os dados citados pelo ministro Eliseu Padilha nada têm a ver com as Eu sou testemunha disto. (José Porfírio Fontenele de Carvalho, carta
medidas compensatórias que ele afirma ter aplicado pela passagem enviada ao Painel do leitor - FSP, 31/03/00)
da BR-174 na Terra indígena Waimiri-Atroari. Desde 1987. a Cen-

VHMHM : iil

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 227
Hidrovia Araguaia-Tocantins:
Crônica de uma Fraude Anunciada

Fernando Mathias Baptista Advogado do ISA

A hidrovia Araguaia-Tocantins-Rio das Mortes, incluída na lista de tropeçamos em algumas cenas que lembram outras novelas de
prioridades de projetos de infra-estrutura do plano “Brasil em empreendimentos públicos levados a cabo com total atropelamento
Ação”, atual “Avança Brasil”, tem despertado acalorados debates e desrespeito às normas ambientais do País; tudo em nome da
e discussões envolvendo a clássica dicotomia "desenvolvimento necessidade de “progresso” e “desenvolvimento”.
versus meio ambiente”, traduzida na necessidade, por um lado,
Em dezembro de 1995, a Fundação de Auxilio para o Desenvolvi-
de desenvolvimento e integração das regiões Centro-Oeste eNorte,
mento da Pesquisa (Fadesp) do Estado do Pará foi contratada pela
e por outro na necessidade de preservação dos ecossistemas regi-
Ahitar para elaborar um pré-estudo de impacto ambiental sobre
onais e dos povos inágenas e comunidades tradicionais e ribeiri-
um pequeno trecho do rio Araguaia entre Barra do Garças e
nhas que vivem às margens desses rios.
Xambioá. Vale lembrar que o projeto da hidrovia estende-se por
Sem adentrar no mérito propriamente político do empreendimen- aproximadamente 2.200 km entre os rios das Mortes, Araguaia e

to e limitando-se a uma análise objetiva do projeto frente à Consti- Tocantins. Inobstante esse detalhe, a Ahitar apresentou esse estu-

tuição Federal e às leis que regem a conduta do Estado enquanto do setorial preliminar ao Ibama como sendo o próprio ELA do
empreendedor, não é difícil perceber que o desenrolar dessa his- empreendimento, perfeito e acabado. Como a superficialidade do
tória não vem - como se desejaria - compassado com as normas estudo era gritante e os profissionais envolvidos na elaboração do

constitucionais e legais de proteção ao meio ambiente e aos direi- mesmo denunciaram o fato, numa audiência pública realizada no
tos dos povos indígenas. Congresso Nacional, o Ibama viu-se na necessidade de rejeitá-lo

como insuficiente, exigindo a elaboração de outro ELA.


Antes mesmo de apresentar o Estudo de Impacto Ambiental/Rela-
tório de Impacto Ambiental (EJA/Rima) do projeto, a Administra- Desse primeiro episódio já se vislumbra que a pressa e a pressão

ção da Hidrovia Tocantins Araguaia (Ahitar) - vinculada à Compa- da Companhia Docas do Pará vinha comprometendo a qualidade
nhia Docas do Pará, do Ministério dos Transportes -, chegou a dos estudos ambientais sobre o projeto. Isso sem comentar a ati-

implementar obras de plaqueamento e sinalização no Rio das tude no mínimo desleal do empreendedor para com o órgão
Mortes e Araguaia dentro dos limites de terras indígenas, o que ambiental e a sociedade civil de, dente da pouca abrangência e
gerou uma forte reação principalmente por parte das comunida- fôlego do estudo preliminar, entregá-lo como definitivo, certo de

des xavante de Areões e Pimentel Barbosa, que, assessoradas pelo que o mesmo seria aprovado.

Instituto Socioambiental (ISA) ,


moveram uma ação judicial contra Assim incumbida de realizar novo ELVRima sobre o projeto, a
a empresa em 1997. A iniciativa gerou uma medida liminar, con-
Ahitar, através da Fadesp, elaborou os estudos necessários, entre-
a
firmada pelo Tribunal Regional Federal da I Região c até hoje gando o novo EIA ao Ibama oficialmente em 19 de maio de 1999.
vigente, impedindo toda e qualquer obra visando a Desta vez, trala-se de um calhamaço de sete volumes, que teorica-
implementação da hidrovia e permitindo apenas a navegação mente pretende avaliar os impactos ambientais e sociais do em-
tradicional de baixo calado.
preendimento e propor soluções e medidas para minimizá-los.

O processo de licenciamento ambiental da hidrovia vem sendo No entanto, novamente a suspeita de fraude se levantou e nova
conduzido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente c dos Re- investida dos Xavante se anunciou, abrindo um novo capítulo na
cursos Renováveis (Ibama) no mínimo de forma displicente, qua-
historieta da hidrovia.
se submissa Fazendo uma breve retrospectiva dos capítulos dessa
novela encenada pelo Ibama e pela Companhia Docas do Pará,

228 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
0PÓ10G0S DENUNCIAM FRAUDE foi fácil: depois de três pedidos de audiência ignorados, foram

Quatro dos sete antropólogos responsáveis pelo estudo sobre o


pessoalmente em uma comitiva de sete índios cobrar da diretora

meio antrópico e comunidades indígenas - Paulo Serpa, Eduardo


de licenciamento ambiental Gisela Damm Forattini, que afinal ce-
deu e se comprometeu a incluir em sua agenda “negociada”
Carrara, André Toral e Luís Roberto de Paula - publicaram carta à
com a Ahitar uma reunião na aldeia Xavante. Mais um episódio
opinião pública denunciando fraude intelectual no EIA em relação
vencido a unha.
a este capítulo. Gilberto Azanha, Maria Elisa Ladei ra e Antônio Carlos
Magalhães não acompanharam a denúncia feita pelo grupo, ge- Os Xavante, em sua obstinada guerra contra o empreendimento,
rando uma dissidência dentro da própria equipe técnica que ela- foram além e, mais uma vez assessorados pelo ISA, moveram ou-
borou o ELVRima. tra ação judicial contra a Companhia Docas do Fará, desta vez

De acordo com a carta dos quatro antropólogos, para impedir que o EIA/Rima fraudado fosse levado às audiências
trechos substan-
ciais do estudo antropológico relativos à análise de impactos e
públicas e dessa forma induzisse a sociedade em erro, uma vez
que o trabalho oficial não reflete as conclusões da equipe técnica
proposição de medidas mitigadoras foram sumariamente corta-
que o elaborou originalmente.
dos da versão final do EIA/Rima entregue ao Ibama. Coincidente-
mente ou não, os maiores impactos do empreendimento recaem O imbróglio chegou também ao conhecimento do Ministério Pú-
justamente sobre os povos indígenas que habitam a região, na blico Federal, que vem atuando de forma incisiva na questão: move
medida em que estes sobrevivem dos recursos naturais e da água hoje três ações civis públicas contra a Companhia Docas do Pará,
dos rios que atravessam a região. E grande parte destes impactos justamente por conta da denúncia feita pelos quatro intrépidos
não são mitigáveis, como a perda da qualidade da água que os antropólogos e a exemplo dos Xavante tampouco pretende deixar
índios bebem, ou a diminuição do estoque de peixes dos rios, que que a situação passe despercebida.
os índios comem.
Quatro medidas liminares foram conseguidas pelos Xavante e pelo
Apesar da reação desses antropólogos ter alcançado notável re- Ministério Público Federal, sustando por duas vezes a realização
percussão na mídia, essa fraude ainda continua velada aos olhos
das audiências públicas e o processo de licenciamento ambiental
do órgão ambiental, que afirma não ter “conhecimento formal” até que se sane a fraude perpetrada, o que vem gerando uma ver-
do ocorrido, muito embora esse ocorrido já tenha tomado pro-
dadeira guerra judicial nos tribunais, cujas batalhas vêm sendo até
porções de fato notório. agora vencidas pelos Xavante e pelo Ministério Público, que atuam

O Ibama simplesmente seguia “negociando” (termo usado pelos coordenadamente. Se tantas decisões judiciais vêm reconhecendo
próprios funcionários do órgão) com a Companhia Docas do Fará a fraude e suspendendo o licenciamento, é porque algo está de

- como se negociar o meio ambiente fosse possível - o andamento falo errado. Certo? Não necessariamente.
do processo de licenciamento. Assim, muito embora o Ibama já
O Ibama continua sistematicamente se omitindo frente a pedidos
tivesse recebido denúncias formais da fraude ao estudo antropo-
de explicações, tergiversando e arranjando desculpas para expli-
lógico, vinha dando andamento - a toque de caixa - ao processo
car o inexplicável.
de licenciamento, com o acompanhamento (ou seria supervisão?)
da Companhia Docas do Pará, A Companhia Docas do Pará, por sua vez, ao invés de se empenhar
em buscar soluções efetivas para os problemas contidos no estu-
Vista grossa a parte, o Ibama seguiu então agendando audiências
públicas para discutir o EIA/Rima junto aos interessados. Pergun-
do, encomenda - com recursos públicos - uma análise do EW
Rima a um grupo de consultores ligados à Faculdade de Saúde
ta-se: como discutir um estudo que não contém a análise dos im-
Pública da Universidade de São Paulo (USP), com o objetivo de
pactos ambientais e sociais nem medidas mitigadoras propostas e
corroborar frente à opinião pública a legitimidade do ELA/Rima
encontra-se sob suspeita de fraude?
fraudado. Clara situação de improbidade administrativa configu-
E as audiências públicas? Foram todas negociadas a portas fecha- rada pelo dispêndio de verbas públicas para tentar legitimar
das entre o Ibama e a Companhia Docas do Pará, lnobstante as uma ilegalidade.
dezenas de pedidos de audiências públicas formulados por orga-
nizações Indígenas e da sociedade civil, solenemente ignorados.
Mais um capítulo aberto na noveleta: muito embora membros des-
sa equipe de consultores tenham confirmado a fraude levantada
Todas as audiências foram estrategicamente marcadas em locais
pelos antropólogos, a Companhia Docas do Pará - insatisfeita com
onde a população claramente não tem condições de avaliar criti-
o produto final entregue pelo grupo - vem divulgando um relatório
camente o EIA/Rima e onde a opinião locai já se posicionara fran-
técnico que - de novo - não reflete as opiniões dos consultores
camente a favor da obra.
individualmente, concluindo que o EIA/Rima é um documento
“hábil” a subsidiar as discussões em tomo do empreendimento
XAVANTE CONTRA HIDROVIA
nas audiências públicas. Pior, usa do renome da USP para dar
Os Xavante conseguiram a muito custo arrancar o compromisso peso a um trabalho encomendado a um grupo de consultores
do Ibama de realizar uma audiência pública em suas terras. Não individuais.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 229
a-se de uma tentativa desesperada de buscar armas - com re- Todos os capítulos dessa tragicomédia vêm acenando para um fi-
cursos públicos, repita-se - para continuar na guerra judiciai, tan- nal incerto: se por um lado as ilegalidades e abusos são patentes a
to que o tal relatório vem sendo juntado em todas as ações e recur- ponto de gerarem tantos episódios como os narrados acima, não
sos como argumento de defesa, se deve subestimar o poder de ingerência política do governo na
esfera judicial, o que até agora não vem prevalecendo, felízmente.
Como o relatório vem sendo apresentado em nome da liSP e como
a Faculdade de Saúde Pública não é necessariamente o órgão mais
A preocupação que paira é a de que a lúdrovia Araguaia-Tocantins-

um estudo ambiental de uma obra dessa Rio das Mortes seja licenciada e implementada de forma atropela-
indicado para analisar
natureza, os Xavanle buscaram explicações junto ao Programa de da, sem qualquer controle social ou transparência administrativa

Pós Graduação em Ciência Ambiental (Procam) da USP, que de


por parte do governo federal e do órgão ambiental, o que resulta-

fato consolidou as suspeitas: o trabalho íeilo pelos consultores foi


rá em inúmeros impactos de grave monta que recairão sobre

encomendado e não tem qualquer valor científico; ao contrário, os povos indígenas e as populações locais, enquanto os benefí-

atesta que a comunidade científica, representada por suas institui-


cios econômicos advindos da suposta redução do custo do fre-

ções Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), te de transporte vão parar nas mãos de empresas privadas ex-

Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Fundação de Amparo a portadoras de soja,

Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) ,


etc, considera anti- Se depender dos Xavante de Pimentel Barbosa e Areões, isso certa-
ético que um trabalho de consultoria realizado nestes moldes seja mente não ocorrerá c a vida que corre na veia de seus rios se

utilizado como “parecer" num contexto de litígio judicial. Incan- perpetuará, mesmo que para tanto seja necessário sacrificar suas

sáveis, os índios buscam agora explicações junto à Reitoria da USP, próprias. (setembro 2000)
,

230 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIQAMBIENÍAL
A Amazônia e a Informação

Washington Novaes Jornalista. Artigo publicado


no GESPem 12/06/98

SIVAM NÃO PODE SER MAIS DESMATAMENTO


UMA "CAIXA PRETA", FORA DD Não bastasse esse nível de problema, também não se consegue
CONTROLE DA SOCIEDADE avançar na discussão de outro grave ângulo, levantado no recente
relatório da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, que apon-

Está aí de novo a Amazônia no olho do furacão. Por muitos moti- tou o processo de reforma agrária na Amazônia como um dos prin-
vos. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria sobre as pre- cipais vetores de desmatamento - mais de 250 mil km -, já que
2

ocupações ambientais da população brasileira mostrou que, para quase 90% das terras destinadas nos últimos 30 anos a esse fim

quase 50% dos habitantes da Amazônia e do Centro-Oeste, o prin- estão na Amazônia. Os órgãos envolvidos no processo, pelo lado

cipal problema está na devastação das florestas. dos que reivindicam terras, têm-se recusado a discutir o assunto e
exigem a retirada dessas conclusões do relatório. Do lado gover-
É uma preocupação que tem razões sólidas. Ainda há poucas se-
namental também prevalece o silêncio. A discussão sobre o pro-
manas, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) re-
grama de exploração de florestas nacionais - quaisquer sejam seus
afirmou a possibilidade de uma “superqueimada" este ano, num
méritos ou deméritos; a controvérsia é forte - parece empacada,
arco de florestas com mais de 200 mil km 2
-
do Pará a Rondônia,
depois de enfrentar obstáculos na justiça. Com todas essas ques-
incluindo partes do Tocantins e de Mato Grosso, Neste período do
tões sobre a mesa, continua-se a anunciar a abertura de novos
ano, com a seca agravada pelo El Nino, essa vasta extensão já esta-
“eixos de desenvolvimento” na região, paralelos aos “corredores
ria extremamente vulnerável por causa da extração seletiva de
ecológicos” planejados. Mesmo conhecendo o resultado devasta-
madeiras nobres, que abre clareiras e picadas na floresta, prejudi-
dor de iniciativas dessa natureza, como se tem visto no Centro-
ca parte da vegetação baixa (que seca) facilita maior penetração
Oeste e na própria Amazônia.
,

de luz e calor e reduz a umidade. Criam-se condições para que


qualquer queimada em propriedades próximas se alastre em alta Coincidência ou não, neste mesmo momento se observa uma ofen-

velocidade pela floresta. siva de relações públicas a respeito do Sistema de Vigilância da


Amazônia (Sivam). Reportagens entrevistas e jornais, home pages,
No ano passado, foram detectadas pelo menos 1 ,440 grandes quei-
vídeos institucionais, histórias em quadrinhos, aproximações com
madas florestais na Amazônia. Este ano, poderia ser muito pior. O
organizações não-governamentais e outras iniciativas, tentam lan-
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Minerais
çar uma luz favorável sobre o sistema, que tanta controvérsia cau-
(Ibama) anunciou haver iniciado em maio a Operação Macauã,
sou quando das denúncias de irregularidades em sua licitação.
para fiscalizar e impedir, com 136 fiscais, seis barcos e dois heli-

cópteros, os desmatamentos ilegais e queimadas nos 3,7 milhões A estratégia de relações públicas põe em destaque as possibilida-

de km 2
de florestas, inclusive no arco mencionado. Conseguirá? des de um sistema que contará com 87 estações meteorológicas,

Parece muito difícil. No ano passado, as operações desse tipo con- 19 radares fixos e seis móveis, 32 unidades de vigilância e teleco-

seguiram autuar por desmatamentos e queimadas irregulares em municações, três esquadrões de aviões Tucano, mais oito apare-
pouco mais de 40 mil ha, ou 420 km 2 - quando o desmatamento, lhos de sensoreamento, sensores térmicos, etc. E tudo isso ligado

segundo estimativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a satélites e outras tecnologias de ponta, capazes de permitir o

atingiu mais de 13 mil km Ou seja, a ação nesse campo chegou a


2
.
controle seguro do tráfego aéreo, o conhecimento do subsolo,

pouco mais de 3% da área atingida. o monitoramento do clima e dos recursos hídricos, a proteção
da biodiversidade e a fiscalização de queimadas e des-

POVOS INDÍGENAS N0 BRASI1199K2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PR0JETDS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 231
entre outras possibilidades. É muita coisa. Mas cia detecte a invasão de uma área indígena por uma madeireira.
abre interrogações. Informações complementares, das unidades terrestres, acrescen-
tam que se trata da madeireira tal, de propriedade de uma pessoa
A primeira é de natureza operacional. De posse de todas essas
da família de um parlamentar que ocupe importante posição no
informações, que poderão fazer os órgãos governamentais para
Congresso, na hora de votar projeto decisivo. Quem terá o poder
impedir, por exemplo, as queimadas e o desmatamento ilegais?
de liberar (e para quem) ou reter essa informação?
Em que estrutura de repressão se pensa? Ou, como já perguntou
alguém, ficaremos limitados a assistir a desnudamentos e queimadas São questões políticas e econômicas complexas. E preocupantes,
via satélite, já que o Brasil não dispõe de um só avião para combater diante da informação dos implantadores do Sivam de que ainda
incêndios e o número de fiscais em terra é quase insignificante? não foi definida a política de disponibilização de informações - os

critérios serão fixados pela CCSivam, isto é, pela comissão coorde-

CONTROLE DE ACESSOS nadora da implantação. Quem integra a comissão? Representando

o quê? Escolhido por quem? Convém lembrar que a primeira fase


A segunda interrogação é de natureza mais política. Num sistema
de operação já está prevista para o ano 2000.
capaz de disponibilizar tantas informações estratégicas e comerci-
ais, quem terá o controle dos acessos? Quem terá poder de dizer Se ainda não foram definidos os critérios, parece ser um bom
que informações entram no sistema e quem pode ter acesso ao momento para abrir uma discussão com a sociedade e seus vários

segmentos - econômico, político, ONGs, instituições que a repre-


que entrar em seu banco de dados? Exemplos esquemáticos po-
sentam (advogados, engenheiros, cientistas, etc.). Não será fácil
dem ajudar a entender. Obviamente, o conhecimento do subsolo
abrirá possibilidades extraordinárias no campo da mineração. O definir esses critérios, tantas as complexidades e os interesses em
que será feito dessas informações? Quem lerá acesso a elas? Como? jogo. Mas o Sivam não pode ser mais uma “caixa-preta”, fora do

A pergunta vale para o campo da biodiversidade, da informação


controle social. O atual esforço de “venda” do Sivam à sociedade

meteorológica e climática, militar c todas as áreas.


poderia ser ampliado, para abrir uma discussão em torno desses
pontos. (OESP, 12/06/98)
O controle da “saída" de informações desperta outra interroga-
ção. Digamos, num exemplo hipotético, que o sistema de vigilân-

GOVERNO AFIRMA QUE PROJETO SIVAM DEVE INICIAR OPERAÇÃO EM 2001


ATENDERÁ A POPULAÇÃO A localização de queimadas, a identificação de garimpos ilegais e

O governo nega que a instalação do Sivam tenha sido apressada em atividades de tráfico de drogaS na Amazônia será feita com eficiên-
razão das denúncias de invasão do território brasileiro porgrupos terro- cia a partir do segundo semestre de 2001, quando o Sivam começar a

ristas. Segundo a Polícia Federal, membros do grupo maoísta Sendero operar. O gerente do setor de vigilâncias de grandes áreas da Funda-
ção Aplicações de Tecnologias Críticas (Atech), Valter Rodrigues, dis-
Luminoso, do Peru. estariam in filtrando-se entre sem-terras ligados
à Liga Operária Camponesa (LOC), em Machadinho DOeste IRO). se que, graças aos equipamentos de rastreamento de última geração,
será possível diferenciar as atividades legais das ilegais nos nove Es-
Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenherg, o acompanhamento do Sivam.
tados sob
governo já havia decidiá) investir na Amazônia há peto menos dez
anos, por meio de um programa de atendimento à população dafron- Uma das empresas que participam da instalação do Sivam, a Atech

teira. Com o Sivam, os recursos para essa área foram reajustados e desenvolveu nos Estado Unidos programa que analisa imagens de

são utilizados princi/>almente em pequenas obras de infra-estrutura satélites, fotos aéreas e transmissões de rádio, "suspeitando "das ati-

nas cidades fronteiriças. vidades consideradas ilegais. “Baseado em inteligência artificial, a


partir das imagens, poderemos descobrir uma plantação de maco-
“Esse éum programa que vem sendo desenvolvido para ajudar a popu- nha ou uma pista de pouso clandestina e identificar os códigos usa-
lação e não por causa da ação de guerrilheiros ”, diz o ministro. "Não
dos nas transmissões de rádio dos traficantes”, afirmou Rodrigues.
’’

temos confirmação de que realmente os grupos estão no Brasil.


(OESP, 08/08/00)

Hoje, uma das principais preocupações do governo, além das fron-


teiras. é com a biopirataria. Segundo estimativas de biólogos, exis-
tem entre cinco milhões e 30 milhões de espécies na A mazônia -e só
1, 4 milhões delas estão descritas. São cerca de 750 mil insetos, 40 mil
vertebrados, 25(1 mil plantas e 360 mil espécies diversas.

No Brasil, há 2,8 mil espécies de madeiras, distribuídas em 870 gêne-


ros e 129 diferentes famílias botânicas. Cerca de 260 desses tipos
têm algum valor econômico e 50 são comercializados em volumes
significantes. (OESP, 20/07/99)

232 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE 0ESENV0LVIMENT0 REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
,

•í/j?. Acervo
-V/Tisa

CALHA NORTE te-Nordeste e a calha do rio Amazonas/Solimões


-
nais na região. Essa preocupação encontra eco
território de 1,2 milhão de knri abrangendo no Congresso Nacional e no próprio setor mili-
70 municípios, com baixíssima densidade tar.Mas fontes militares asseguram que a crise
NA DÉCADA DE 80, GOVERNO demográfica, povoado por várias tribos e infes- na Colômbia e a atuação cada vez maior de guer-
FEDERAL LANÇOU PROJETO tada de narcotraficantes, contrabandistas e ga- rilheiros e narcotraficantes na região são o prin-
Uma região fustigada pelo narcotráfico, garim- rimpos ilegais. (Gazela Mercantil, 26/08/99) O programa pretende promover a
cipal fator.

po ilegal e exploração predatória da natureza, ocupação e o desenvolvimento ordenado da


mas ainda muito isolada do resto do País. Por
OCUPAÇÃO DA .Amazônia Setentrional e é dirigido especialmen-

isso, para o Governo brasileiro, monitorar a


AMAZÔNIA É A META te à faLxa de fronteira, com enormes vazios
Amazônia com satélites e radares significa Garantir a soberania nacional, manter a ocupa- demográficos e a cada dia com mais ilícitos
protegê-la, A história da ocupação da região se ção e aumentar a densidade demográfica de transfrontei riços.

confunde com a de preocupação em torno cerca de milhão de km 2


na Amazônia são as As principais vertentes são o desenvolvimento
1 ,2

de sua proteção. principais metasdo programa Calha Norte para regional e a manutenção da soberania nacional
A resistência a qualquer tipo de intervenção o próximo ano. Em Manaus, 16 prefeitos do e da integridade territorial. As fronteiras estão

estrangeira na Amazônia nasceu de uma preo- interior do Amazonas reuniram-se com o as-
delimitadas, mas, muitas vezes, não demarcadas.
cupação militar. Mais especificamente na Esco- sessor da gerência do programa, corone! Luiz Embora a cargo do Ministério da Defesa, o pro-
la Superior de Guerra (ESG), que, nos imos 60, Alberto Martins Bringel, ontem, na sede da As- grama é multissetorial. A maior presença mili-
começou a montar a chamada Doutrina da Se- sociação Amazonense de Municípios (AAM), tar uma explicação, segundo oficiais brasi-
tem
leiros: o fato é que em muitas localidades a única
gurança Nacional. onde foi apresentado o cronograma de ativida-
Nos anos 70, no auge do regime presença do Estado brasileiro é das Forças Ar-
militar, iniciou- des do projeto para os próximos quatro anos.
se um processo de colonização através do pro- (A Crítica, 16/12/99)
madas, com pelotões, em torno dos quais agru-
jetos de assentamento. Foi na época da abertu- pam-se comunidades. (trechos de art. de Pau-
ra da Transamazônica. Nessa década, o Exérci- BRASIL OCUPA lo Paiva, GM, 28/08 a 03/09/00)
to começou também a construir os Pelotões ESPAÇO NA AMAZÔNIA
Especiais de Fronteira, cujos quartéis se trans- NOVA CHANCE
O governo brasileiro decidiu incrementar o Pro-
formaram na única e eficiente presença do Es- grama Calha Norte, para garantir maior presen- A possibilidade do Plano Colômbia - a ação de
tado por anos.
ça do Estado na Amazônia. Um dos motivos que combate ao tráfico de drogas patrocinada pe-
Em 1985. o então presidente do Conselho de
levaram a essa decisão foi a gradual deteriora- los Estados Unidos - ter consequências no Brasil
Segurança Nacional, general Bayma Denys, ide-
ção da situação política da Colômbia, com pos- trouxe à tona um dos mais ambiciosos progra-
alizou e pôs em prática o Projeto Calha Norte, síveis reflexos ao longo de 1.600 km de frontei- mas de ocupação, defesa e desenvolvimento da
um programa que deveria envolver todos os
comum. Além disso, a presença de um sem
ra Amazônia: o Calha Norte. Criado em 1985, du-
setores do Governo, mas que, passados 12 anos,
número de entidades internacionais numa re- rante a gestão do presidente José Sarney, o pro-
ainda não conseguiu ultrapassar os quartéis. em minérios e biodiversidade também
gião rica jeto viu seus recursos minguarem a cada gover-
A idéia de que os países ricos pretendiam criar motivou as autoridades brasileiras, especial- no, chegando a míseros Rí 1,2 milhão em 1999-
uma zona de exclusão na Amazônia sc intensifi- mente do setor a no progra-
militar, reinvestir Em 1989, a verba equivalia a R$ 47 milhões.
cou nos anos 80, quando a região entrou na ma, criado em 1985 e praticamente estagnado Por causa da crise no país vizinho, militares já
pauta das prioridades dos ecologistas interna-
a partir do início da década de 90 .
sonham com uma dotação de R$ 70 milhões
cionais, por causa da questão indígena (demar-
E nesse cenário que o Ministério da Defesa está para 2001. No orçamento da União, R$ 5,7 mi-
cação das terras) e da preservação da floresta implementando o Programa Calha Norte (PCN) lhões estão destinados para o Calha Norte e o
tropical - vítima da ação de madeireiras e das um misto de promoção do desenvolvimento re- resto virá, acreditam os oficiais, por emendas
queimadas. (O Globo, 10/08/97) gional e manutenção da soberania nacional na de parlamentares. (JB, 17/09/00)
região.O PCN vai beneficiar os estados do Ama-
MINISTRO DEFENDE PROJETO
zonas, Roraima, Pará e Amapá, num total de 70 MAIS VERBAS
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Carlos municípios, e abrange quase seis mil km de
Lampreia, defendeu a ocupação da fronteira fronteira com Peru, Colômbia, Venezuela, O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, anun-
com a Colômbia e a retomada do projeto Calha Guiana, Suriname e Guiana Francesa. No ano ciou ontem que pediu aumento da dotação do
Norte. Lampreia disse que a crise colombiana passado, o programa contou com apenas US$ projeto Calha Norte para R$ 36 milhões. O Or-
não ameaça a soberania brasileira na Amazô- 676 mil. Neste ano, tem previstos no Orçamen- çamento deste ano destinou R$ 5 milhões ao
nia, mas observou que uma presença mais for- to quase US$ 14 milhões. Calha Norte, que se destina ã proteção da fron-
te do Estado respaldaria a ação diplomática. Os recursos destinam-se à construção de no- teira amazônica. Quintão disse também que os
"Nossa ação diplomática não será suficiente se vos quartéis para pelotões de fronteira e a con- militares poderão ter aumento de até 30 % a
o Estado não tiver na região uma presença ri- vênios que beneficiarão municípios mais caren- partir de novembro, de acordo com o texto da
gorosa”, afirmou. Ele lembrou que há dois anos tes da região com obras como postos de saúde, lei que vai reformular a estrutura salarial das

um avião colombiano pousou do lado


militar escolas, projetos de eletrificação rural, etc. Forças Armadas. Quintão defendeu que os Es-
brasileiro em uma operação de guerra con- Comunidades indígenas também serao beneficia- tados Unidos e outros países produtores de
tra a guerrilha. das com pequenas estações de tratamento de água. insumos usados na produção de cocaína, como
0 Projeto Calha Norte foi criado no governo Afora a situação colombiana, muita gente, no éter e acetona, passem a exercer melhor con-

Sarney com o objetivo de integrar ao restante governo, atribui a retomada do Calha Norte ã trole sobre esses produtos e sobre o consumo
do País a área localizada entre a fronteira Nor- presença cada vez maior de ONGs internacio- de entorpecentes em seus territórios.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 233
.

W_í7 * Acervo
-//Tisa

A revitalização do projeto Calha Norte, criado Hoje, o índio macuxi Desmano Afonso de Sou- tões Especiais de Fronteira e a estrada fazem

em 1986, é uma preocupação das Forças Ar- za, vice coordenador do Conselho Indígena de parte da estratégia de revitalização do Projeto
madas por causa dos efeitos do Plano Colôm- Roraima, disse que a presença de militares traz Calha Norte (defesa da soberania nacional na
bia, que será iniciado no próximo ano para re- “perigo" à reserva Raposa-Serra do Sol. “O gra- região amazônica)

primir o narcotráfico e grupos guerrilheiros ve perigo que o povo Yanomami enfrenta deve O objetivo do pelotão de Tunuí, na fronteira

colombianos acusados de ligações com os servir de exemplo para as autoridades compe- entre Brasil e Colômbia, é aumentar a seguran-

traficantes. (JB, 17/10/00) tentes com relação à construção do pelotão na ça contra investidas de guerrilheiros e
reserva. Atentamos ao perigo da presença de narcotraficantes na Amazônia brasileira. “O dê

ÍNDIOS SE OPÕEM À militares e outros no meio das comunidades Uiramutã, que ficará dentro da reserva Raposa-

CONSTRUÇÃO DE QUARTÉIS indígenas", afirmou. Serra do Sol, é o de aumentar a vigilância na

NA AMAZÔNIA Em entrevista à Agência Folha, o índio Pedro fronteira com a Venezuela”, disse o general. Ele

Garcia, presidente da Federação das Organiza- disse que a estrada foi projetada para facilitar o
A construção de quartéis para dois novos Pelo- ções indígenas do Rio Negro (Eoirn), afirmou acesso ao pelotão de Maturacá, principalmente
tões Especiais de Fronteira (PEF) do Exército que as 17 famílias de índios Baniwa são contrá- na época da seca, quando o tráfego das embar-
brasileiro em terras indígenas está sendo con- rias também à presença de soldados nas comu- cações pelo rio é quase impossível.
testada pelos índios Macuxi, de Roraima, e nidades. “Sempre acontece um relacionamen- Em relação às denúncias de envolvimento de
Baniwa, do Amazonas. Os PEFs serão cons- to entre índias e soldados. Depois, elas ficam soldados com índias, o general Bandeira disse
truídos nos limites da reserva Raposa-Serra do mães solteiras, como aconíeceu em Iauaretê, que o Comando Militar da Amazônia registrou
Sol, em Uiramulã (RR) e na localidade de Tltnuí, onde tem crianças de Í2 e 14 anos, filhos de apenas um caso, em 1994. "O soldado foi pu-
em São Gabriel da Cachoeira (AM). soldados que não tiveram a responsabilida- nido com a demissão. Em todos esses pelotões,
Os índios argumentam em cartas enviadas ao de", afirmou. serão destacados militares casados, com famí-
Ministério da Justiça e à Funai que a instalação lideranças yanomami das comunidades de lia", afirmou.
dos pelotões traria às comunidades conflitos Maturacá, Nazaré, Inambu e Maia também re- Para o general, as lideranças indígenas têm
sociais com os próprios soldados, como aumen- jeitam a construção de uma estrada de 1 1 5 km outros interesses com as denúncias. “Essas li-

to da prostituição de índias e alcoolismo nas ligando São Gabriel da Cachoeira à aldeia deranças são manobradas por organizações
aldeias. Casos envolvendo índias Yanomami e Maturacá (AM), onde está instalado um pelo- governamentais e não-governamentais com in-
soldados já foram relatados ao Ministério Pú- tão de fronteira do Exército. Segundo o chefe teresses e ideais diferentes ou gente que quer
blico Federal pela Funai, a partir de depoimentos do Estado Maior do Comando Militar da Ama- conservar os índios na idade da pedra". (FSP,
do índio Davi Kopenawa Yanomami, de Roraima, zônia, general Clóvis Purper Bandeira, os Pelo- 26/10/00)

234 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Acervo
//\C ISA

No Xingu, a Energia
do Subdesenvolvimento

Lúcio FláviD Pinto Jornalista. Artigo publicado


no "Jornal Pessoal", Beiém (PA), set/00

Se tudo transcorrer conforme seus planos, a Eletronorte espera instaladas na estrutura da própria barragem. No caso do Xingu,
concluir o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, no dois rios serão usados para o local do represamento ao de gera-
final de junho próximo. Será a maior usina brasileira (e uma das ção. Mas, para desempenhar essa função, terão de ser alargados e
maiores do mundo), com capacidade de geração três vezes supe- receber concreto numa extensão de 13 km. Nada absolutamente
rior à amai de Ihcuruí (e 50% maior se considerada a duplicação inédito em matéria de engenharia, mas trabalho complicado, ain-
da hidrelétrica do rio Tocantins, apenas iniciada) e quase do ta- da mais na Amazônia, em função da enorme movimentação de
manho da Itaipu, que o Brasil divide em partes iguais com o Paraguai. terra que acarretará.
Quando entregar à Aneel (a agência oficial reguladora do setor
Esse é um ponto a se considerar. Há outros, que já constituem
elétrico) os estudos definitivos de Belo Monte, a Eletronorte espe-
acervo histórico depois de Tucuruí. Samuel, Balbina, Coaracy Nunes
ra ter formado um ambiente favorável à execução da obra. Seu
e Curuá-llna, mas que exigem abordagens novas, distintas de vári-
orçamento foi reduzido do estratosférico valor inicial, de 1 1 bi-
as das soluções adotadas. Os rios da Amazônia são volumosos,
lhões de dólares, para fascinantes US$3 bilhões, sem que a capaci-
mas têm unia declividade pouco acentuada, de problemática va-
dade de geração - 11 mil megawatts, ou 1 1 milhões de quilowatts
zão diante do seu porte. A partir de suas margens costuma desen-
- tenha sofrido qualquer diminuição. É o menor custo de kw insta- volver-se uma densa e rica cobertura vegetal. A formação do solo e
lado rie hidroeletricidade que se pode alcançar num empreendi-
do subsolo de suas áreas é complexa, escondendo mistérios e ofe-
mento de grande porte. Algo que só tem semelhança com a usina
recendo surpresas. O equilíbrio é dinâmico, mas delicado. Os des-
do Xingó, no Nordeste.
dobramentos de qualquer alteração podem desafiara imaginação.
Para aumentar o glamour. o lago artificial que se transformará
No caso de Belo Monte, os engenheiros descobriram que a sinuo-
com o represamento das águas do Xingu terá metade do tamanho
sa curva do Xingu àaltura de Altamira cria um desnível de 90 metros
inicialmente previsto. Além do mais, os 600 km 2 do reservatório
entre o ponto de barramento do rio e o lugar ideal para a constru-
corresponderão às cheias normais do rio. É uma área quase que
ção da casa de máquinas, desnível quase 20 metros superior ao de
cinco vezes menor do que a do lago da hidrelétrica de Tlicuruí.
Tucuruí, dispensando a elevação da barragem a um nível tal que
Nenhuma das aldeia próximas será atingida e a mata afetada já
levaria a uma inundação em grande escala (como a prevista no
sofre semestralmente a ação das águas nos períodos de enchente.
primeiro projeto para a área, que concluía a desastrosa barragem
O único remanejamento significativo atingirá um bairro de Altamira, de Babaquara). É um passo adiante na cultura dos barrageiros.
mas esse deslocamento já estava previsto porque o local é periodi- Sua incorporação à cultura geral da região do País, entretanto,

camente inundado. Como Altamira está bem próxima, não será requer um competente questionamento do projeto. Efa precisa
necessário construir uma nova cidade ao lado do canteiro de obras: resistir a testes de consciência.
quem trabalhar na usina irá morar na sede do município, reduzin-
Esse é o aspecto fundamental das lições que a história da
do a necessidade de investimentos na infra-estrutura e favorecen-
hidreletricidade na Amazônia nos oferece: é preciso acompanhar
do Altamira, se medidas prejraratórias forem adotadas a tempo e
paripassu os idealizadores e executores da obra para evitar que,
na escala necessária.
ao ser apresentado o projeto básico, como a Eletronorte pretende
Maravilha da engenharia? Talvez. A inovação introduzida na Ama- fazer dentro de menos de um ano, ele seja uma autêntica caixa
zônia pelo projeto Belo Monte está na distância de 50 km, entre a preta para a sociedade - e, por outro lado uma arma, para os que
barragem e a casa de máquinas. Em Tucuruí, as máquinas foram dominam os códigos de decifração.

POVOS INDÍGENAS NCI BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 235
a
A mais
resiste
autoritária das

em instalar
empresas federias da região (na qual,
sua sede, passados 27 anos da sua criação), a
aliás, radicalismos decorrentes, na maioria das vezes, pura e simples-
mente da desinformação - ou, quando não, da má informação. Se
Eletronorte se recusa a antecipar, ampliar ou sequer instalar de- à primeira vista parece que a Belo Monte será uma obra bem me-
bates a respeito. Prefere só anunciar a obra quando seu desenho nos agressiva à população e ao meio ambiente do que Dtcuruí ou
estiver concluído, como sempre tem feito. Mas a sociedade ama- qualquer outra usina similar, não se deve deixar de considerar a
zônica, que tem sido tão prejudicada quanto beneficiada pela ação possibilidade de que, do ponto de vista econômico, ela represente
da empresa, numa escala incompatível com o grau de democrati- uma sangria muito maior para o Pará. Com linhas de transmissão

zação e inserção regional de outras empresas (inclusive as corpo- na maior tensão existente no País, enormes blocos de energia bru-
rações privadas), não pode mais tolerar a arrogância e a autosufi- ta serão transportados por mais de dois mil km para o grande
ciência da Eletronorte. É preciso forçá-la a baixar entre os jurisdi- centro consumidor brasileiro, deixando como saldo um Pará defi-

cionados que a empresa talvez prefira tratar como súditos. nitivamente "vocacionado”- e, por isso, espoliado - como provín-
Uma relação mais amadurecida e civilizada mostraria que essa é cia energética nacional. Energia não para desenvolver, mas para
até mesmo a maneira de evitar mal-entendidos, partidarismos e subdesenvolver, de vez.

ELETROBRÁS RETOMA PIANOS DA USINA DE BELO MONTE


Ogovemo reassumiu a vontade política de transformar em realida- o que resultaria no remanejamento de uma população estimada em
de o projeto da usina de Beto Monte, uma mega-hidrelétrica com 8,4 mil pessoas, inclusive da aldeia de Faquiçamba.
capacidade de geração de II mil megawatts (MW), programada para
Escaldado com os problemas ambientais provocados por Tucuruí,
o rio Xingu, 300 km a oeste da usina de Tucuruí. Itaipu produz 12,6
Sampaio reconheceu que foram feitas diversas correções no projeto
milMW.
preliminar, aproveitando melhora topografia da região e, nessa nova
Durante dez anos, o projeto ficou engavetado, devido à pressão de Monte 400 km2 e
configuração, o reservatório de Belo terá apenas
grupos ambientalistas e de defesa das tribos indígenas, mas com uma provocará o remanejamento de seis mil pessoas. Além disso, não inun-
nova roupagem e umaforte autocrítica em relação a Tucuruí, a pro- dará mais nenhuma reserva indígena.
posta de construir Belo Monte está renascendo, com a perspectiva de
“São avanços espetaculares no projeto ”, diz o presidente da Eletrobrás,
que a sua primeira turbina esteja em operação a jtartir de 2009.
que no entanto fez uma crítica relevante em relação ao projeto de
O presidente da Eletrobrás, Firmino Sampaio, adiantou as principais Tucuruí Ele reconhece qiw a usina, ajresar dos seus aspectos positi-
conclusões do projeto preliminar. Ele disse que a usina será construída
vos, constituiu-se numa espécie de enclave, pois basicamente gerou
pela livre iniciativa, sob o regime de concessão da Agência Nacional eletricidade destinada ao abastecimento das indústrias da região (um
de Energia Elétrica. Nas contas da Eletrobrás, a usina deverá custar pólo produtor de alumínio) ou então para exportação f/ara fora da
cerca de R$ 6 bilhões e, se o governo considerar estratégico, a estatal
Amazônia.
poderá participar como sócia minoritária do projeto, com no máxi-
mo um terço do capita I.
Com Belo Monte, a Eletrobrás qiwr fazer o contrário de tudo o que
considerou equivocado em relação a Tucuruí. " É importante fazer
Com seus II mil MW, Belo Monte será a nuiior usina da Eletronorte uma autocrítica e aprender com o que aconteceu no passado. Com
(subsidiária da Eletrobrás) na bacia do rio Xingu. As outras hidrelé- Belo Monte, agora temosuma excelente oportunidade de reconhecer
tricas previstas no mesmo rio são as deAltamira (6,6 milMW), Ipixuna e valorizar as peculiaridades da sociedade e da cultura amazônica e
(1,9 milMW), Kokraimoro (1,5 milMW) e Jarina (620 MW). interiorizar o desenvolvimento como meio de reduzir os desequilíbrios
"A equipe técnica da Eletronorte teve o grande mérito de descobrir o setoriais e regionais".

potencial hidrelétrico da região ", disse Sampaio, salientando que.


0 projeto preliminar de Belo Monte prevê a instalação de 20 turbi-
nos últimos dez anos, embora o projeto tenha ficado em segundo nas, com capacidade de geração de 550 MW cada. Na primeira versão
plano, não chegou a ser desativado, pois foram efetuadas diversas do projeto, se o lago ficasse com 1,2 mil km isso jjraticamente sig-
correções na proposta preliminar jutra diminuir a resistência dos
nificaria a morte do rio Bacajá, um afluente do Xingu. Com a defini-
grupos ambientalistas e indigenistas. ção do projeto, a Eletronorte garante que o Bacajá, jtara alívio dos

Sampaio admite que a Eletrobrás e a Eletronorte tiraram muitas li- ambientalistas, não será comprometido.
ções do projeto de Tucuruí. Afinal, com seu enorme lago de 2,8 mH Os estudos de viabilidade econômicaficarão concluídos em dois anos,
kntí para uma potência instalada de 8,3 milMW (quando terminar
enquanto a Eletrobrás espera resolver as questões ambientais e lici-
o seu processo de duplicação), Tucuruí obrigou o remanejamento de tar a concessão até ofinal de 2003. 0 projeto básico ficará concluído
aproximadamente 20 mil pessoas, inundando inclusive a reserva no ano seguinte. Sampaio afirmou que os estudos preliminares indi-
indígena Parakanà.
cam que, sob todas as condições hidrotógicas, é possível transferira
Há uma década Belo Monte estava incluído na relação dos projetos energia para o sistema interligado, beneficiando o Sul-Sudeste. (Ga-
"malditos ", pois na proposta original o lago deveria ter 1,2 mil km2 , zeta Mercantil, 1 5/02/00)

236 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
,

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A C 0

HIDROVIA ARAGUA1A- ambiental, a Rede Cerrado, o Simpósio mais calorias do que consome; o problema é
Ambientalista Brasileiro no Cerrado, o WWF, a de renda e distribuição muito menos quando
TOCANTINS Rede Internacional de Rios e a Coalizão Rios as commodities têm seu mais baixo preço em
Vivos. E a análise independente do painel de es- 150 anos (Pnud, 1998).
ANATOMIA DE UMA INUTILIDADE pecialistas é um massacre. O avanço da fronteira agrícola implicaria ainda
Cotejados com os custos de transporte em ou- estímulo ao êxodo rural e ao inchaço das peri-
Coufirma-se o previsível: o estudo de impacto
tros empreendimentos, como a Ferronorte e a ferias urbanas, agravamento dos conflitos por
ambiental da Hidrovia Araguaia-Tocantins, hem
Ferrovia Norte-Sul (que está sendo retomada) teri as indígenas, aumento da erosão (de qua-
como o respectivo relatório, são inconsistentes
os custos da hidrovia são claramente tro a dez quilos de solo erodidos por quilo de
e não justificam a implantação desse projeto, A
antieconômicos. Tanto na direção sul, via grão produzido) e uso ainda mais intensivo de
análise independente desses documentos - fei-
Ferronorte (incluídos os custos no Porto de agroquímicos: seriam mais 3,6 milhões de li-
ta por uma coligação de instituições e que será
Santos), como rumo norle, mais altos que os tros por ano, a cada milhão de hectares incor-
divulgada nos próximos dias - comprova que o
da Norte-Sul. Isso apesar de os custos da porados ao processo de produção.
empreendimento seria desastroso do ponto de
hidrovia haverem sido claramente subestima- Todo esse estrago geraria apenas um posto de
vista ambiental, antieconômico, desnecessário,
dos, já que não incluem custos de operação trabalho para cada 94 ha cultivados, num toúd
prejudicial à sociedade, devastador para os gru-
(portos, rodovias) nem custo das medidas de quatro mil permanentes (60% dos postos se-
pos indígenas que vivem no trajeto e
mitigatórias dos impactos ambientais e sociais riam temporários) ,
com remuneração média de
desperdiçador de recursos públicos, entre mui-
do empreendimento. Nesse caso, como calcu- pouco mais de R$ i 50 mensais (a utilização de
tas outras coisas. Se os recursos previstos para
lar o custo/beneficio verdadeiro? agroquímicos exigiria 16 vezes mais que a re-
sua implantação - subestimados, porque não in-
Os impactos ambientais apontados pelos espe- muneração da mão-de-obra). Os mesmos in-
cluem portos nem rodovias alimentadoras - fos-
cialistas independentes são devastadores, desas- vestimentos previstos para a implantação da
sem dirigidos para ecoturismo, por exemplo,
trosos mesmo. A explosão de rochas e a movi- hidrovia, R? 220 milhões, se aplicados em infra-
gerariam muito mais empregos que os resul-
mentação de sedimentos pela dragagem nos estruturas de turismo, gerariam cinco mil em-
tantes da expansão da fronteira agrícola - des-
Rios das Mortes e Araguaia (com o propósito pregos diretos e 1 5 mil indiretos.
necessária. Pior que tudo, as obras previstas
de abrir um canal permanente de navegação na Seria possível ir muito além com a enumeração
nem sequer seriam capazes de consolidar um de outros prejuízos inadmissíveis. Mas não é
estiagem) inundariam áreas secas, vitais para o
canal de navegação permanente, que seria o seu
ecossistema, e secariam áreas de inundação, preciso, diante da grande pergunta: para que
suposto objetivo.
fundamentais para os processos de reprodução implantar um empreendimento antieconômico,
Muitos lances dessa história já foram comenta-
anti-social, antiambiental, ineficaz e desper-
da vida. A transformação da paisagem seria ra-
dos neste espaço, O primeiro estudo de impac-
diçador de recursos?
to da hidrovia, encomendado pela Administra-
dical, até mesmo com o desaparecimento de
parte das praias que já recebem centenas de A palavra agora está com o Ibama, a quem cabe
ção da Hidrovia Tocantins Araguaia - Ahitar (su-
milhares de visitantes por ano - o que levaria a
licenciar - ou não a hidrovia. (Washington
bordinada ao Ministério dos Transportes) à
graves perturbações sociais. Mas, ao final, es-
Novaes, OKSP em 17/03/00)
fundação de Amparo e Desenvolvimento da
sas obras estariam muito longe de atingir o ob-
Pesquisa da Universidade Federal do Pará
(UFPÁ), era tão inconsistente que foi recusado
jetivo de engenharia proposto. E, mesmo que GASODUTO
abrissem o canal de navegação para garantir a
liminarmente pelo Ibama e por órgãos BOLÍVIA-BRASIL
navegação na estiagem, não há cargas nessa
licenciadores dos Estados, depois de ser demo-
época do ano.
lido numa audiência pública na Comissão de
Meio Ambiente cia Câmara dos Deputados, em Não é só. As populações de peixes (vitais para GASODUTO COMEÇA
1996. o ecoturismo e para as populações ribeirinhas) A OPERAR EM 98
Encomendado novo estudo e entregue ao Insti- perderiam seus berçários nas lagoas de inun- Depois de décadas de negociação, Brasil e Bo-
tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recur- dação. Toda a flora seria alterada, assim como lívia assinaram, em julho último, o termo para
sos Renováveis (Ibama) no ano passado, ele so- as planícies de inundação. Ao norte, o proces- a construção do maior gasoduto da América
freu várias contestações: de vários dos antro- so de movimentação de sedimentos levaria ao Latina, com 3 -
1 50 km. O gás natural da Bolívia
pólogos que dele participaram e denunciaram assoreamento e à possibilidade de inundações atravessará seis Estados e 120 municípios bra-
ao Ministério Público que o Estudo de Impacto ribeirinhas e perdas de lavouras. Até a Hidrelé -

sileiros. Corn urn custo de 1,8 bilhões de dóla-


ambiental e Relatório de Impacto Ambiental trica de iiicuiuí seria afetada peia deposição res, a tubulação nasce em Santa Cruz. na Bolí-
(EIA-Rima) suprimira partes decisivas de seu de sedimentos. via, e aflora em São Paulo, na primeira fase de
trabalho; de biólogos também insatisfeitos: e do A expansão da fronteira agrícola, prlndpalmenle implantação. Em seguida será orientada até
Ministério Público, inconformado com o lato da monocultura da soja, significaria uma perda Porto Alegre, passando por Curitiba, Joinville e
de as audiências públicas para discussão des- irreparável da rica biodiversidade restante nos Criciúma. Começará a operar até o final de 1998
se EIA-Rima haverem sido marcadas apenas Cerrados, sem benefícios risíveis, já que estu- e deve ser utilizado basicamente na produção
para pequenas localidades ao longo do trajeto dos da Empresa Brasileira de Pesquisa industrial e para substituir as termoelétricas.
da Ifidrovia, exatamente as mais favoráveis ao Agropecuária (Embrapa) e da Escola Superior Deseja-se que sirva para abastecer frotas de
projeto. de Agricultura Luiz de Queiroz mostram a pos- transporte coletivo, o que faz com que grandes
Agora, o EIA-Rima, disponibilizado pelo Ibama sibilidade até de quadruplicar a produção de cidades, como São Paulo, sejam tremendamen-
em setembro do ano passado, tem sua dissec- grãos nos Cerrados sem desmatar um só hecta- te aliviadas da poluição do ar.

ção pública promovida pela coligação que re (com técnicas melhores) . Mas essa multipli- Estas informações gerais foram apresentadas
reúne a Fundação Cebrac, o instituto Socio- cação não teria mercado - o mundo já produz num seminário de consulta promovido em Cam-

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 237
)

Acervo
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ACONTECEU
po Grande, pela Petrobrás, responsável pelo em- PETROBRÁS DIZ QUE foram descobertas as aldeias Morro dos Cava-
preendimento do lado brasileiro, e com apoio OBRAS BENEFICIAM los e Massiambu, ambas Guarani, no municí-
do Banco Mundial, que financia a obra junto ALDEIAS INDÍGENAS pio de Palhoça, a 25 km do Gasbol.
com o BID. Mais do que promover a consulta à As 22 aldeias representam uma população total
Afirmando que as obras do Gasoduto Bolívia-
sociedade civil, como indicado no convite, ín- de 18.500 habitantes e a demanda por uma aju-
Brasil (Gasbol) não vão interferir diretamente
dios Terena e representantes de ONGs foram da da Petrobrás difere, dc acordo com a região.
no habitat dos índios, a Petrobrás anuncia que
que a Petrobrás tinha a dizer.
instados a ouvir o As 18 aldeias dc Mato Grosso do Sul, por exem-
vai beneficiar 22 aldeias indígenas nos estados
A mensagem era simples: a obra não é um bi- plo. serão contempladas com benefícios da or-
de Mato Grosso do Sul (MT), Santa Catarina
cho de sete cabeças mas apenas uma imensa dem de R$ 900 mil; a de Icatu, com R$ 80 mil;
(SC) e São Paulo (SP) . Até o final do ano, a
cobra grande, fabricada e controlada pela e as de Santa Catarina, com R$ 120 mil. Os ín-
Companhia diz que vai investir US$ 1,1 milhão
tecnologia de ponta que a empresa domina e dios de Santo Catarina terão, provavelmente, as
cm benfeitorias para essas aldeias, seguindo a
adota. À platéia foi dominada por uma apresen- primeiras terras guarani a serem regularizadas
filosofia de promover o desenvolvimento cm
tação de números, tabelas, cifras e organo- pela Funai, com apoio do Gasbol, no litoral da-
sintonia com as comunidades. Um comitê de
gramas que provavam que, do ponto de vista de quele estado.
gestão acompanhará e fiscabzará todas as ações
impacto ambiental, nenhum efeito nefasto viria
envolvendo a aplicação dos recursos, com a Com moradias precárias de madeira, os índios
a ser enfrentado. 0 aspecto social da obra virá da aldeia Icatu, em São Paulo, optaram pela
participação de representantes da Funai, das
por planos de mitigação formulados a
aldeias e da Petrobrás. construção de dez casas de alvenaria, uma for-
contemplar as prefeituras dos municípios afe-
Os benefícios variam de acordo com as neces- ma de amenizar outro problema: a prolifera-
tados, a partir de planos de indenização c dc
sidades de cada aldeia. Algumas priorizam a ção de agentes transmissores de enfermidades,
“compensação ecológica e desenvolvimento
posse da terra; outras preferem a construção como a “doença de Chagas”. Em Mato Grosso
ambiental”. O que se esperava ouvir era como
de casas de alvenaria, a reforma de escolas e do Sul, as lideranças de 18 aldeias preferiram a
havia sido formulado o conteúdo disto tudo.
de postos de saúde, por exemplo. Os índios tam- construção, ampliação e reforma de escolas e
Mas, para a Petrobrás, não parecia ser este o
bém terão o apoio no desenvolvimento econô- de postos de saúde, construção de sistemas de
problema mais sério, já que tudo havia sido
mico - a sustentabibdade do Plano de Desen- abastecimento de água - envolvendo poços
pragmaticamente planejado.
volvimento dos Povos Indígenas - participando artesianos, bombas e caixas dágua e distribui-
Nesse processo, fomos convencidos que só a
de cursos técnicos. Outras solicitações aceitas ção -, entre outras coisas. Na lista de solicita-
construção do gasoduto é que pode causar mais
pela Petrobrás foram o fornecimento de semen- ções, consta ainda o apoio no desenvolvimento
transtornos: caos dos canteiros de obra, desnta-
tes variadas, a construção de sanitários e a aqui- econômico, com a realização de cursos técni-
tamento inevitável mas rapidamente recuperá-
sição de vacas leiteiras e de um reprodutor. cos, o fornecimento de sementes, a aquisição
vel e constante interlocução com as comunida- de ônibus escolar e a implementação de
A identificação dessas comunidades ao longo diver-
des afetadas diretamente (as populações resi-
do traçado do gasoduto marcou o início de uma sos sanitários.
dentes na “faixa de risco") e as afetadas indire-
série de entendimentos. A partir de pesquisas Também em Mato Grosso do Sul, as lideranças
tamente (populações Indígenas Terena de PUade
realizadas pela Petrobrás, constatou-se a pre- indígenas concluíram que as três aldeias mais
Rebuá e Aldeinha, em MS e Guarani Mbyá, SC,
sença de três aldeias da etnia Terena em Mato próximas às obras do Gasbol são as mais ne-
que ficam distantes em mais de cinco km da
Grosso do Sul, a cinco km das obras. Na cidade cessitadas, pois sofreram forte influência da
tubulação) . Risco de explosão? Não. Risco de
de Anastácio, foi localizada uma aldeia conhe- urbanização das cidades vizinhas. Para cada
emissão de gás? Pouquíssimo provável. Polui-
cida como Aldeinha. E, na cidade de Miranda, uma delas, portanto, serão destinados R$ 100
ção? Jamais, pois queima de gás natural não gera
outras duas: Moreira e Passarinho. Com a con- mil. As outras 15 contarão com recursos de R$
resíduos...
tinuidade dos trabalhos houve a aproximação 40 mil cada uma. Na mesma região, nas proxi-
Basta saber como será, então, a tal da inter-
com a aldeia Biguaçu, formada por Guarani, no midades das margens do Rio Miranda, a aldeia
locução da Comunicação Social da Petrobrás,
litoral de Santa Catarina, na cidade de mesmo contemplada com a aquisição de
Lalinta será
responsável pelo diálogo permanente entre o
nome, a oito km das obras do Gasbol. uma câmara frigorifica com capacidade para ar-
empreendedor e a sociedade, e como será o
As três afdeias Terena de Mato Grosso do Sul mazenar 20 toneladas de pescado. A câmara
caráter compensatório das medidas miti-
abriram mão dos frutos que poderiam colher funcionará como fonte de renda e está incluída
gadoras. Os índios, por exemplo, só foram saber
isoladamente e anunciaram a disposição dc di- no Plano de Desenvolvimento dos Povos Indíge-
da existência do gasoduto depois que recebe-
vidir com outras 15 aldeias - localizadas a SO nas. (Serviço de Comunicação Institucio-nal/
ram o convite para viajar a Campo Grande, para
km das obras do Gasbol - as benfeitorias con- Assessoria de Imprensa Petrobrás, 05/03/98
esse seminário. Eles manifestaram preocupa-
cedidas pela Companhia. Segundo os técnicos
ção pelo envolvimento das prefeituras, e não
da Funai, no processo de captação dos recur-
da Petrobrás, a harmonia entre os índios foi um COMPENSAÇÃO DOS
fator importante, pois contribuiu para agilizar ATINGIDOS PELA
sos para eles destinados.
o programa voltado para as comunidades que OBRA ESTÁ ATRASADA
Problemas técnicos já existiram e foram apon-
a Companhia desenvolve ao longo do gasoduto.
tados por ONGs ambientalistas do Rio Grande
do Sul. Foram incorporados como falhas ine-
Uma outra aldeia, a de Icatu. também foi locali- O plano de compensação às comunidades indí-
zada no município dc Brauna, oeste do estado genas que serão afetadas pelas obras do
rentes a um projeto de tal porte, mas facilmen-
de São Paulo, próximo a Mato Grosso do Sul, a gasoduto está scriamente atrasado na Bolívia A
te contornáveis. Se outros existem, precisar-se-
ia continuar agindo com a impertinência que
1 5 km do Gasbol. Ao visitar a aldeia, especialis- avaliação é do auditor ambiental Raúl I.ópez,

tas em etnia verificaram que Icatu é uma aldeia responsável por enviar relatórios aos bancos
caracteriza as ONGs. (Marina Kahn, Parabóli-
composta por Terena e a etnia Kalngang. Já no estrangeiros financiadores da obra orçada em
cas/ISA n°32, set/97)
litoral de Santa Catarina, além da aldeia Biguaçu, R$2 bilhões. O alraso é consequência de um

238 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Acervo
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impasse enlre a Petrobrás e o GTB, consórcio dc três senadores e pelo menos oito deputados. No Alto Rio Negro, por exemplo, a distância, o
empresas executoras da obra na Bolívia, que têm “Um território elege apenas quatro deputados difícil acesso e o tamanho dos municípios seri-
propostas diferentes para compensar os índios. federais", informou. am as principais dificuldades a serem supera-
López recomenda um árbitro para mediar a Para ele, a vantagem de criar territórios fede- das. A região, porém, é uma das mais belas do
questão, A primeira etapa do gasoduto, no tre- rais nas regiões mais afastadas da capital do estado, aos pés do Pico da Neblina, na divisa
cho entre Mato Grosso do Sul e São Paulo, ter- Amazonas está em aproximar o poder público com a Venezuela.
mina em dezembro desse ano. A obra toda in- dos habitantes. Citou como exemplo a dificul- Tráfico - O futuro governador do Alto Solimões
clui 3-150 km de dutos entre Santa Cruz na dades de acesso a serviços essenciais de saúde, teria de se armar de coragem e disposição para
Bolívia e Rio Grande do Sul que vão transportar educação e do Judiciário existentes nos muni- enfrentar o tráfico de drogas. As cidades de
o gás boliviano. O Banco Mundial, o Banco cípios de Juruá e Alto Solimões, “distantes duas Tabatinga, Benjamin Constante e Atalaia do Nor-
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a horas de vóo de Manaus e vários dias de bar- te, muito próximas à fronteira com a Colômbia,
Corporação Andina de Fomento são co”. Outro ponto é o de proteger as áreas de formam o trajeto preferido pelos narcotrafican-
financiadores da obra que receberam o relató- fronteiras que passariam a constar dos territó- tes. Em Tabatinga, por exemplo, o nível de vida
rio de López, referente às observações feitas em rios cm sua maior parte. exibido pela população não condiz com a rea-
o
todo o trecho do gasoduto entre I de março e O senador previu que essa ‘
situação de aban- lidade de um município pesqueiro e de modes-
31 de maio. Através das informações enviadas dono” deve estimular boa parte da população ta atividade econômica. Sinal de que os cartéis
por López, os bancos acompanham se a do estado a se manifestar favoravelmente à cri- da cocaína atuam de forma intensa na área.
Pctrobrás está executando planos de compen- ação dos territórios. Se isso ocorrer, os gover- O território do Juruá seria o menos problemá-
sação ao meio ambiente e às comunidades afe- nadores nomeados pelo presidente da Repúbli- tico dos três. Fazendo divisa com o Acre, não
tadas peio projeto. (Tribuna da Imprensa -
RJ, ca teriam os nomes submetidos ao Senado. teria conflitos de fronteira e, quem assumisse
13/07/98) (OESP, 31/10/00) seu governo, poderia se transformar em herói
se conseguisse apoio do governo federal para
TERRITÓRIOS FEDERAIS IDÉIA DE DESMEMBRAR concluir a BR-3 1 9, antiga reclamação dos ama-

AMAZONAS TEM APOIO zonenses. Com essa estrada, o estado passaria

DE PARLAMENTARES a ter uma ligação direta, pelo sul, com Mato


SENADO APROVA PLEBISCITO Grosso.
SOBRE AMAZÔNIA A idéia de desmembrar o estado do Amazonas A criação dos territórios não enfrentaria pro-
para a formação de três novos territórios fede- blemas legais. O senador Mozarildo Cavalcante
O Senado aprovou hoje, em votação simbólica,
rais - Alto Solimões, Alto Rio Negro e Juruá - é (PFL-RR) é o autor do projeto inicial de sepa-
subslitutivo do senador Jefferson Péres (PDT-
bem recebida pelos políticos locais. Nenhum rar 26 municípios e criar o Estado de Solimões.
AM) ao projeto de decreto legislativo que auto-
parlamentar até agora defendeu a manutenção O senador Jefferson Péres (PDT-AM) apresen-
riza a realização de um plebiscito no Amazonas
da atual divisão geográfica e alguns ainda se tou um substitutivo propondo a criação dos três
para que a população decida sobre a criação
manifestaram favoráveis à divisão. territórios. A divisão não contraria a Constituição.
de três territórios federais no estado. A propos-
A única preocupação é com relação à viabilida-
Sem “peso” para a União, diz relator Em
ta ainda terá de ser votada na Câmara. Os terri- -
de econômica dos territórios, cuja criação de-
do projeto que prevê
tórios serão formados pelo desmembramento Brasília, o relator a reali-
pende da aprovação de projeto no Congresso e zação de um plebiscito sobre a divisão do Ama-
dos seguintes municípios: São Gabriel da Ca-
choeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos; da realização de um plebiscito. Caso seja con- zonas, Jefferson Péres (PDT-AM), avalia que, se
firmada a divisão, as áreas abrangidas reunirão ocorresse de imediato, a criação de três
Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, terri-
cerca de 360 mil habitantes. No Alto Solimões,
no lugar do atoai estado criaria
São Paulo de Olivença, Tonantins, Amaturã, Fon- tórios federais
vivem cerca de 200 mil pessoas. No Alto Rio um gasto “insuportável” nas finanças da União.
te Boa, Jutaí, Alvarães, Uarini, Maraà, Japurá e
Negro, 60 mil. E no Juruá, aproximadamente Péres argumenta, no entanto, que se a propos-
Santo Antonio do Iça; Carauari, Itamarati,
Eirunepé, Envira, Ipixtma e Guajará. Cerca de
cem mil. ta for aprovada pelos amazonenses, os territó-

cem mil pessoas vivem nesses municípios, de O deputado Artur Virgílio (PSDB), líder do go- rios só passarão a existirem 2003. Segundo ele,

acordo com o senador. verno no Congresso, é um dos mais entusias- até lá o governo federal terá as contas equili-

O plebiscito ocorrerá até seis meses após a pro- mados defensores do desmembramento. Segun- bradas e a divisão não representará um “peso”
mulgação da matéria, jefferson Péres previu que do ele, o estado do Amazonas é grande demais, para a União.
isso deverá ocorrer no segundo semestre de
o que o torna ingovernável. “Há quanto tempo De acordo com Péres, numa previsão otimista,
2001, caso os deputados votem o projeto, sem o governador não vai a determinadas cidades o projeto será aprovado em 2001 e o plebiscito
alterá-lo, até junho. Os termos do substitutivo do interior, como Juruá, Pauni ou Amalurá?”, realizado no segundo semestre. O senador lem-
alteram o projeto inicial apresentado pelo se- pergunta. “A criação dos territórios vai descen- bra ainda que, posteriormente, o Senado e a
nador Mozarildo Cavalcanti (PFL). O senador tralizar a administração dessas regiões." Câmara teriam de aprovar um projeto dc lei

por Roraima queria desmembrar 26 municípi- Para Virgílio, as preocupações econômicas são complementar para a instituição dos novos ter-

os para criar o estado de Solimões. Péres ale- infundadas. Ele cita o caso de Goiás, que pros- ritórios, o que na cena não ocorreria ames do
gou que não faria sentido criar um estado que, perou depois do desmembramento que criou o fim de 2002.
dificilmente, teria autonomia financeira, embora Tocantins, garante o parlamentar. “E Tocantins O senador não fez uma estimativa de quanto
tivesse de custear, entre outros gastos, uma As- tem uma perspectiva econômica das mais viá- seria o gasto para a constituição dos territóri-
sembléia Legislativa. Outra mudança, de acor- veis”, diz ele. os. Mas avalia que haverá um “ônus” para a
docom o senador, é que um estado implicaria Quem assumisse a administração dos novos ter- União, porque cada território é administrado
numa nova representação no Congresso, com ritórios teria de enfrentar problemas distintos. por um governador, secretários e há a necessi-

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL 239
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AS EXIGÊNCIAS LEGAIS PARA A CRIAÇÃO DE TERRITÓRIOS FEDERAIS


Tendo em vista as notícias sobre discussões no os moradores da região que se pretende transfor- ral) e sua competência deliberativa (artigo 33,
o
Congresso Nacional acerca de Projeto de Leis que mar em Território aprovem a sua criação. É o que parágrafo 3 ,
da CF).

propõem a criação do Território Federal do Rio a Constituição,em seu Artigo 18, parágrafo 3 °,
5 - 0 governo do Território Federal é nomeado pelo
Negro, bem como as dúvidas sobre o tema surgidas chama de " aprovação da população diretamente Presidente da República (artigo 84, inciso XIV, da
entre as organizações indígenas que integram a interessada". CF) e aprovado previamente, por voto secreto, após
Foirn, o Instituto Socioambiental elaborou esta Para saber se a população moradora da região arguição pública, pelo Senado Federal ( artigo 52,
Informação Técnica, relacionando as exigências aprova ou não a criação do Território Federal, o inciso III, item c, da CF).

feitas pela Constituição de 1988 quanto à cria- governo realiza um plebiscito, que nada mais é 6 Cada
- Território Federal disporá de 4 cadeiras

ção de territórios. do que uma consulta ao povo sobre um determi- na Câmara dos Deputados ( artigo 45, parágrafo
1 - Os Territórios Federais integram a União e de- rutdo assunto. Tal consulta éfeita mais ou menos 2 da CF) e não disporá de representação no Se-
vem ser criados por lei complementar (artigo 18, nos mesmos moldes de uma eleição, sendo que a nado.
parágrafos 2 o e 3 o da Constituição Federal). São
,
população vai às urnas para dizer se concorda ou 7 - Atualmente não há nenhum Território Federal
unidades federativas, como os Estados e o Distri- não com a criação do Território Federai criado. A Constituição de 1988 emancipou os an-
to Federal, mas não têm autonomia política. Note-se que quando a Constituição estabelece que tigos Territórios Federais de Roraima e doAmapá,

Isto quer dizer que. só se cria um Território Fede- a *população diretamente interessada" partici- transformando-os em Estados. 0 Território Fede-

ral após a aprovação da Lei Complementar espe- pará do plebiscito, refere-se às pessoas morado- ral de Fernando de Noronha foi anexado ao Esta-
cífica pelo Congresso Nacional, isto é, pela Câ- ras da região que estejam registradas na Justiça do de Pernambuco.
mara dos Deputados e pelo Senado Federal. Eleitoral como eleitores. Assim, por exemplo, os 8 - Existem no Congresso Nacional, tramitando
0 poder de legislar do Congresso Nacional com- menores de dezesseis anos não podem participar na Câmara dos Deputados, diversos projetos de
preende a possibilidade de elaboração de diferen- do plebiscito, porque não podem ainda votar. lei propondo a criação do Território Federal do
tes tipos de íeis. Existem Emendas à Constitui- 3 - Os Territórios Federais poderão ser divididos Rio Negro: Projeto de Lei do Deputado Federal Euler
o
ção, as Leis Complementares as Leis Ordinárias
,
em municípios (artigo 33, parágrafo I da CF), Ribeiro, do Deputado João Hermann Neto, Depu-
etc. Cada tipo de lei serie a uma situação deter- cujos prefeitos serão eleitos como nos demais tado Eduardo Jorge e do Deputado Aírton Casca-
minada e definida antecipadamente pela Consti- municípios. É a Lei Complementar quem dirá so- vel. Em tramitação no Senado, por sua vez, en-
tuição. Essas leis também se diferenciam pelo bre a criação de novos ou manutenção dos anti- contra-se o projeto de lei do Senador Mozarildo
número de votos de Deputados e Senadores ne- gos municípios. Assim, dependerá do que estiver Cavalcanti, que propõe a criação do estado do
cessários para a sua aprovação. Ou seja, quanto estabelecido na Lei Complementar específica para Solimões, estado este que abrangeria os municí-
mais complicado for o assunto a ser tratado pela a possível criação do Território Federal do Rio pios do Rio Negro. Este projeto jáfoi aprovado no
lei, maior será o número de votos necessários. Negro, saber se ficarão mantidos os municípios âmbito de uma das comissões do Senado na for-
No caso dos Territórios Federais, em face da sua atualmente existentes ou se serão criados outros, ma do substitutivo do SenadorJeferson Peres, do
importância e das implicações políticas, econô- transformando, por exemplo, um distrito de San- Amazonas, devendo agora ira plenário.
micas e sociais envolvidas, a Constituição exige ta Izabel do Rio Negro (se existe) em um novo Não se pode precisar quanto tempo projetos como
que a sua criação se faça mediante a votação de município. esses levam para ser aprovados. Em geral, demo-
uma Lei Complementar, que, por sua vez, pressu- 4 - Se o Território Federal tiver mais de 100 mil ram bastante só para ser votados. É certo, porém,
põe a aprovação pela metade mais um do núme- habitantes, ele disporá de órgãos judiciários de que se houver vontade do governofederal em a/?oi
a a
ro total dos Deputados e Senadores que compõem I e 2 instâncias, membros do Ministério Públi- ar a criação do Território Federal do Rio Negro, e
o Congresso Nacional (Artigo 69 da Constituição co FederaI e defensores públicos federais, e a lei se não houver maiores oposições, este tempo de
Federal). disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial votação e aprovação poderá ser bem menor. (Ana
2 Para que se crie o
- Território Federal é preciso (que corresponde à Assembléia Legislativa dos Valéria Araújo, nov/00)

que, além da votação da Lei Complementar, todos Estados e à Câmara Legislativa do Distrito Fede-

dade de funcionários para sustentar a máqui- gundo ele, um novo estado gerariaum custo Segundo ele, um bom argumento para a cria-
na. Cada território deverá ser representado por ainda maior para a União. “A criação de um ção dos territórios em regiões afastadas da ca-
quatro parlamentares e as novas regiões terão estado implica na criação obrigatória de um pital do .Amazonas é a possibilidade de haver a
uma segunda instância judicial, se a população Tribunal de Justiça, de uma Assembléia aproximação do poder publico com os mora-
ultrapassar os cem mil habitantes. Legislativa e de um Tribunal de Contas, impon- dores daquelas 22 cidades. (OESP, 02/11/00)
Péres modificou o projeto de decreto legislativo do pesado ônus ao novo ente federativo", diz o
original, que previa a criação de um novo Ksta- texto da proposta.
do, abrangendo 22 cidades do Amazonas. Se-

240 PROJETOS GOVERNAMENTAIS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
^4/7^ Acervo
ISA
1. NOROESTE AMAZÔNICO

VENEZUELA
COLOMBIA

iCUCUt Flonj do AMAZONAS

íiVÂiÍÔmAmI/
Fiooa PARI „
CACHOflRÃI

BITTENCotHtT-,

“j a 1’írfcÁ.
)PARAM Di ICO P.MUCÁA

AMAZONAS..?'
ã

E AMAZONICO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n
?
, fonte, data } lha)

766 AKo flio Negro Arapaso 14.599* ISA: 96 Homologada. 7.999.381 São Gabriel da Calha Norte. Faixa de fronteira.
Baniwa Decreto s/n de 14/04/38 homologa a demar- Cachoeira AM Requerimento e alvará de pesquisa
Bará Tukano cação. Fazem parte da TI todas as ilhas Japurá AM mineral. UHE planejada no rio
Baré localizadas no rio Negro entre a foz do rio Fapuri, na cachoeira de Aracapa a
Desaro Uaupés e a foz do rio Xi$. Revoga os decretos 10 km em linha reta de Yauareté
Ka rapar 99.094 a 99.104 de 9/3/90 que homologavam as Onze Flonas iincidem totalmente
Kubeo demarcações das Ais Maku, Yauareté I, na TI. Flona: Cubate, Cuiari, Içana,
Kuripako Yaureté II, Xié, Içana-Aiari, Cuiari, Médio Içana, Içana Aiari, Pari Cachoeira I e Pari
Maku Hupda içana Rio Negro, Cubate, Taracué e Kuripaco, Cachoeira II, Pirauiara.Tarauacá I

Maku Nadeb e os decretos 98.437 a 98.439 de 23/11/89 que e Tarauacá II, Uruçu c Xié-
Maku Yuhupde homologaram as Ais Pari-Cachoeira I. Pari-
Makuna Cachoeira II e Pari- Cachoeira II'. (DQU, 15/04/98)
Miriti Tapuia
Piratapuia
Síria no

Ta ria no
Tukano
Tuyufca
Wanano
Warekerta

369 Balaio Tukano 220 Sampaio: 91 Em Identificação/Revisãc. 54.840 SãoGabrielda Calha Norte. Faixa de fronteira.
Desano PortFunai/PP/468 de 25/04/88 p/ identificação da Cachoeira AM Requerimento e alvará de pesquisa
área. Não apreciada pele GTI em reunião de 14/02/89 mineral. Rodovia BR-307 corta a
por não ter sido considerada terra tradicional. área. Perimetral Norte no limite.

Marabitanas/Cue-Cue Tariano 1.645 ISA: 96 A Identificar. 0 SãoGabrielda A Associação das Com. Ind. do R.
Warekera Documento da Acirne - Assoe. das Comun. Ind. Cachoeira AM Negro, a Associação Indígena
Baniwa do R. Negro e da Assoe. Ind. Potyra Kapoano, com Potyra Kapoano com apoio da
Arapaço apoio da Foirn, solicita o apoio da Funai para o Foírn, solicitam à Funai, através de
Tukano Estude Antropológico de Identificação das terras documento de 30/07/96, a
Kuripako tradicionalmente.ocupadas pelas comunidades, realização de Estudos
Barè (carta de 30/07/96) Antropológicos de Identificação
Desano das terras tradicionalmente
ocupadas pelas comunidades.

401 Médio Rio Negro I Tukano 1.401* ISA: "96 Homologada. 1.776.138 São Gabriel da Cachoeira AM Calha Norte. Requerimento e
Barè Decreto s/n.de 14/04/98 homologa a demarcação. Sta. Isabel do Rio Negro AM alvará de pesquisa mineral,
Kuripako fazem parte de Ti todas as ilhas localizadas no rio Japurá AM
Maku Dow Negro entre a foz do ria Uaupés e a foz do igarapé
Arapaço Uaínumale. (D 0 U, 15/04/98)
Tariano
Desano
Piratapuia
Maku Yuhupde
Baniwa
Mírlti Tapuia

1065 Médio Rio Negro II Arapaso 979* ISA: 96 Homolcgada, 316-194 São Gabriel da Cachoeira AM Calha Norte. Faixa de fronteira/
Tukano Decreto s/n. de 14/04/98 homologa a Sta. Isabel do Rio Negro AM Requerimento e alvará de pesquisa
Barè demarcação [DOU, 15/04/98) mineral. Influência de UHE São
Desano Gabriel da Cachoeira. Incide
Kuripako parcialmente no PN Pico da
Piratapuia Neblina.
Tariano
Miriti Tapuia
Baniwa

468 Paraná Boá-Boã Maku Nadeb 107 Pozzobon: 98 Homologada. 240,545 Japurá AM Calha Norte. Requerimento e
{Lago Jutai) Decreto s/n. de 03/11/97 homologa a Sta. Isabel do Rio Negro AM alvará da pesquisa mineral.
demarcação (DQU, 04/1 1/97)

483 Rio Apapüris Tukano 124 ISA: 96 Homologada. 106.960 Japurá AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Maku Yuhupde Decreto s/n. de 14/04/98 homologa a Requerimento de pesquisa mineral.
Tuyuka demarcação (DQU, 1 5/04/98)
Desano

486 frio Téa Oesano 356 ISA: 96 Homologada. 411.865 Sta. Isabel do Rio Negro AM Calha Norte. Requerimento e
Tukano Decreto de 14/04/98 homologa a demarcação.
s/n. SãoGabrielda alvará de pesquisa mineral.
Baré Fazem parte da TI as ilhas do rio Negro situadas Cachoeira AM Isolados.
Maku Nadeb entre a foz do igarapé Uainum ale e e foz do rio
Piratapuia Téa. (DOU, 15/04/93)

328 Uneiixi Tukano 180 ISA: 96 Homologada. 403.182 St». Isabel do Rio Negrt) AM Calha Norte. Requerimento
Maku Nadeb Decreto s/n de 1/12/98 homologa
1 a de pesquisa mineral/Ga ritnpo não-
demarcação (DOU, 14/12/98) indigena.

* 0 censo da população indígena da região á cerca de 30.1)00 índios.


Esie número computa os indios que vivem na cidade de S.G.C com vínculos permanente com as Tis do Alto e Médio Rio NegrD.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIÜ AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 243
* Acervo
ISA

NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Dos Petroglifos aos Marcos de Bronze

Beto Ricardo Antropólogo, coordenador


do Programa Rio Negro/ISA

DEMARCAÇÃO DE CINCO TERRAS COMO suas organizações, depois de 30 anos de luta pela demarcação

ÁREA ÚNICA RECONHECE DIREITOS COLETIVOS (ver Cronologia, na seqüência).

DE 22 POVOS NUMA REGIÃO DE FRONTEIRA Entre dezembro de 1995 e maio de 1996, o então ministro de
GEOPOLÍTICA DA AMAZÔNIA BRASILEIRA Estado da Justiça, Nelson Jobim, declarou de posse permanente
dos índios e determinou à Funai a demarcação administrativa de
cinco Terras Indígenas (Tis) contíguas na região do alto e médio
No dia 15 de abril de 1998, quando o presidente da Federação rio Negro, situadas nos municípios amazonenses de São Gabriel
das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foim) ergueu os bra- da Cachoeira, Japurá e Santa Isabel:
ços diante da Assembléia lotada, na maloca da sede da organiza- TI Médio Rio Negro I (Portaria n° 1.558, de 13/12/95);
ção em São Gabriel da Cachoeira (AM), e exibiu os decretos de TI Médio Rio Negro II (Portaria n“ 1.559, de 13/12/95);
homologação que acabara de receber solenemente das mãos do TI Rio Téa (Portaria n° 106, de 13/02/96);
ministro da Justiça, houve uma grande comemoração. Esses pa- TI Rio Apapóris (Portaria n° 313, de 17/05/96) ;
e
péis se transformaram num troféu para os índios do Rio Negro e TI Alto Rio Negro (Portaria n° 301, de 17/05/96).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AM8IENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 245


CRONOLOGIA DA LUTA PELA DEMARCAÇÃO NO RIO NEGRO
1971 2.600.000 ha de superfície, 32% das terras tradicionalmente ocupa-
das pelos índios do Alto Rio Negro.
• Início das reivindicações indígenas pela demarcação do Alto
Rio Negro. • Reivindicações da Foim e laudo antropológico leiam 0 Ministé-
rio Público Federal (1HPF) a propor Ação Declaratória contra a
1975
União Federal, Funai e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
• Funai propõe criação de Território Federal Indígena do Alto Recursos Naturais Renováveis (lhaina), pelo reconhecimento da
Rio Negro. área contínua (8.150.000 ha) no Alto Rio Negro.
1979 • Médio Rio Negro: movimento indígena começa a despontar. II

• Funai declara de “ocupação indígena" três áreas contíguas: Pari- Assembléia da Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio

Cachoeira (1.020.000 ha), lauareté (990.000 ha) e Içana-Aiari Negro (ACIBRN) (1990) discute reconhecimento dos direitos
(896.000 ha). territoriais e in vasões garimpeiros.

• lideranças do Tiquié propõem à Funai delimitação do Alto Rio Ne- • Recomendada demarcação da Tl Médio Rio Negro com 2. 142. 000

gro como área única. ha (levantamento antropológico encomendado pela Procuradoria


Geral da República). MPF propõe Ação Declaratória pelo reco-
1981
nhecimento dos direitos territoriais dos índios da região.
• Proposta de área única é reenviada à Funai.
1992
1982 • Laudo antropológico é acrescentado ao julgamento da Ação
• Exército declara-se contrário à demarcação de terras indígenas Declaratória referente ao Alto Rio Negro.
na faixa de fronteira internacional. • Despacho de Sidney Possuelo. então presidente da Funai. publi-
1983 a 1985 cado no Diário Oficia! da União no mês de maio, aprova a área
contínua (8.150.000 ha) do Alto Rio Negro.
• Descoberta de ouro inicia uma “febre ” na Serra do Traíra, com
graves conflitos entre índios e garimpeiros e a chegada de grandes • Foim encaminha carta ao presidente da República solicitando
mineradoras ( Parampanema e GoldAmuzon). demarcação imediata do Alto Rio Negro.

• Funai identifica e delimita Taracuá (1.616.000 ha). Cubate • Polícia Federa! (PF) retira 2500 garimpeiros do rio Cauaburi,
(1.023.000 ha) elçana-Xié (480.000 ha). que acabam se instalando no Médio Rio Negro.

•A região da Serra do Traíra é reconhecida "de posse permanen- 1993


te" dos Maku e incluída na Área Indígena Pari-Cachoeira. que pas- • Ministro da Justiça, Maurício Corrêa, recomenda à Presidência da
sa a ter 2. 069. 000 ha.
República revisão administrativa do processo de demarcação que
• índios de várias etnias encaminham nova proposta de delimi- levou ao mosaico de terras indígenas e Flonas no Alto Rio Negro.
tação do Alto Rio Negro (8.150.000 ba contínuos), reiterada • Advocacia Geral da União é chamada pelo Ministério daJustiça
por Grupo de Trabalho (GT) da Funai. a dar parecer sobre a possibilidade de demarcação de Áreas Indí-
1986 genas contínuas nafaixa de fronteira.

• Garimpeiros ocupam Vila Nova e Bacabal, comunidades de


• Novo GT da Funai ratifica proposta de área contínua.
içaneiros evangélicos no Médio Rio Negro. PF retira garimpeiros
• Conselho de Segurança Nacional (CSN) propõe criação de “Colô-
mas passa a haver novas e crônicas invasões, de menor escala.
nias Agrícolas Indígenas” (um lote titulado para cada família
indígena), recusadas pela União das Comunidades Indígenas do Rio 1994
Tiquié (Ucirt). • Identificação pela Funai das Tl Médio Rio Negro I e II, Rio
1987 Téa e Rio Apapóris, contíguas

• Interesses do Projeto Calha Norte (PCN) entram em cena. 1995/96


• Foim faz acordo com Ministério da Aeronáutica/Secretaria
• 11 Assembléia dos Povos Indígenas do Alto Rio Negro recusa
Colônias Agrícolas Indígenas e resulta na de Assuntos Estratégicos (SAE)e Funai, cedendo parcela a noro-
este da TI Médio Rio Negro 11 para construção de uma mini-hidrelé-
• Fundação da Foim, com a missão de lutar pela demarcação da
trica, em troca de apoio para a demarcação das terras.
área única.
• Ministro daJustiça NelsonJobim visita a Foim em São Gabriel da
• CSN convence líderes da Ucirt e de outras regiões a aceitar nova
Cachoeira e assegura não haver impedimento jurídico à demar-
fórmula de demarcação: mosaico de áreas indígenas intercala-
cação em zonas defronteira, esclarecendo que essas terras estariam
das por Florestas Nacionais (Flonas).
sujeitas a limitações relativas à defesa do território nacional.
1988 a 1990 • Portarias ministeriais declaram cinco terras indígenas con-
• Portarias interministeriais e decretos presidenciais resultam na tíguas como de posse permanente dos índios do Alto e Médio
homologação de 14 Áreas Indígenas descontínuas, totalizando Rio Negro.

246 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


'sta decisão veio a atender boa parte das reivindicações históricas COMPLEXO CULTURAL E ECOLÓGICO TRINACIONAL
dos 22 povos indígenas que tradicionalmente habitam a porção
Com a demarcação das cinco terras indígenas do alto e médio Rio
brasileira da região dos formadores do Rio Negro embora tenham Negro do lado brasileiro, a maior parte da diversiátde socioambiental
restado pendências (ver abaixo). As terras reconhecidas oficial-
nativa do complexo cultura I e ecológico que se estende pela bacia do
mente foram demarcadas fisicamente entre 1997 e 1998 e homo- Rio Negro e seus formadores - cujas cabeceiras e altos cursos estão

logadas pelo presidente da República em abril de 1998. Formam situados na Colômbia e Venezuela -, está reconhecida oficialmente

uma área única com extensão de 10,6 milhões de ha, na faixa de como "áreas protegidas" (indígenas e ambientais, nos três países).

fronteira internacional com a Colômbia e Venezuela,


Os contornos desse "complexo " são os seguintes: ao norte, limita-se
crescentemente militarizada, parte de um complexo cultural e eco- /telo rio Guaviare; a teste pelos rio Negro e Guainia ao : sul, />elo rio

lógico mais amplo (ver bo.x). Caqueiá-Japura e a oeste pelos Andes.

Os povos indígenas aí residentes há séculos compartilham característi-


CONTESTAÇÕES cas sócio-culturais: ênfase no cultivo da mandioca amarga e mi pesca,
aldeias compostas /mr uma única casa coletim ocupada por um grupo
O governo do Estado do Amazonas contestou judicialmente quatro local de parentes, rituais complexos de iniciação masculina associados
das cinco Tis reconhecidas oficialmente pelo governo federal, atra- a um culto de ancestrais, organização social baseada em sibs

vés de mandado de segurança impetrado junto ao STJ, em 30 de fmtrilineares exogâmicos, entre outros. No lado brasileiro há represen-

novembro de 1994, antes mesmo da edição das portarias tantes dasfamílias linguísticas Tukano Oriental (Kubeo, Desuna, Tuhano,

declaralórias. O STJ concedeu liminar paralisando o processo, mas Miriti-Tapuya, Arapaso, Tuyuha, Siakuna, Bará, Siriano, Karapanã,
Wanano, Yuruti e Pira-tapuya), Arawak (Tariano; Baniwa, Kurilxiko,
depois julgou contra o pedido do listado do Amazonas, liberando
Warekena e Baré) eSluktt (Hupda Yubup, NadebeDouj. Essesgntpos
a demarcação. O Estado do Amazonas recorreu da decisão ao STF ,

ocupam cerca de 700 povoados estabelecidos ao longo dos rios Negro,


e obteve outra liminar, A Comunidade Indígena Curicuriari
llaupés. Tiquié, fapwri, Içana, Aiari e Xié, perfazendo uma população
habilitou-se nos autos, através dos advogados do ISA, solicitou e
total de cerca de 30 mil indivíduos. Osgrupos Tukano e Arawak, seden-
obteve uma decisão judicial liberando a demarcação.
tários e agricultores, possuem suas comunidades estabelecidas nas

margens desses rios, ao passo que osgrulm Maku. caçadores/coletores


Com base no polêmico Decreto 1.775 , apenas a Terra Médio Rio
semi-nômades, ocultam as áreas interfluviais da bacia do rio Uaupés.
Negro 1 sofreu contestação da parte da prefeitura de São Gabriel

da Cachoeira, em 1996, considerada sem fundamento pelo Minis- Atualmente, observa-segrande variação entre os inúmerospovoados da

tério da Justiça. área: mais de 50% desses /xrmados são sítios familiares, estabelecidos

principalmente ao longo do rio Negro: nutis de 200 desses povoados cons-


tituem comunidades compostas por uma média de dez a 15 famílias e
“PROJETO DE CONSOLIDAÇÃO” há. também, cinco centros distritais com uma população nutior, resul-
tado principalmente da implantação de missões religiosas /rela região.
Superadas todas as dificuldades políticas e os percalços adminis-
trativos, em junho de 1996 a Funai convocou uma reunião, reali- A região do alto e médio rio Negro caracteriza-se por uma enorme
zada na sede da Foim, em São Gabriel, para tratar de questões variedade de microecossistemas bem como por uma pobreza gene-
ralizada de nutrientes (oligotrofia), característica de bacias de rios
preliminares e do modelo de demarcação física das cinco Tis re-
de águas pretas. Possui formações florestais de terra firme, igapós
conhecidas oficialmente.
(florestas inundadas ) e campinarana, esta última também conheci-
Nessa ocasião, algumas recomendações da Foirn e do Instituto da como catinga do rio Negro, um tipo de vegetação peculiar à re-

Socioambiental (ISA) foram aceitas pela Funai: ( 1) como se trata gião. A catinga do rio Negro cobre a maior parte das Tis demarcadas

de uma "área única" formada por terras contíguas, a demarcação na região e seus solos são extremamente ácidos, arenosos e líxiviados

física deveria ser feita considerando os limites externos do polígono


(spodosolos). Apesar de uma diversidade de espécies relativamente
baixa, a catinga do rio Negro apresenta, no entanto, altíssimo grau
formado pelas cinco terras, limites esses cuja maior parte coinci-
de endemismo. Suas espécies são consideradas um recurso genético
de com a linha de fronteira internacional Brasil/Colômbia, já
em
de alto valor por constituírem exemplos de adaptação biológica
demarcada; (2) não havia necessidade de se abrir picadas nos
condições extremas. Os índios do alto rio Negro utilizam várias espé-
cerca de 238 km de linhas secas existentes nos limites internos
cies da catinga, mas em gera! suas comunidades estão localizadas
entre as terras indígenas, como também na área de superposição nas regiões de ocorrências de matas tle terra firme, cujos solos per-

e nas linhas limítrofes comuns, entre a Terra Indígena Médio Rio mitem o aproveitamento agrícola. Por este motivo, há grandes ex-
Negro II e o Parque Nacional do Pico da Neblina; (3) o processo tensões de terras no interior das áreas indígenas que não são habita-
de demarcação deveria ser mobilizador e participativo em todos das, constituindo reservas de recursos vegetais e aquáticos. Por ou-

os níveis, incluindo reuniões nas comunidades, produção de ma- tro lado, a tendência à concentração da população e áreas de terra

terial informativo e o aproveitamento de mão-de-obra indígena. firme vem sendo reforçadas há décadas pela intervenção de missio-
nários e comerciantes, criando situações críticas do ponto de vista
A Funai de Brasília abriu mão da administração direta da demar- das sustentabilidade socioambiental. Há forte demanda nas comu-
cação e, diante desta situação, a Foirn se manifestou oficialmente, nidades por serviços básicos e apropriados de atendimento à saúde,
em agosto de 1996, indicando o ISA para assumir a tarefa. No educação, segurança alimentar e geração de renda.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 247


,
.

0 presidente da República,
Fernando Henrique Cardoso, em
visita a São Gabriel da Cachoeira

em agosto de 96, recebeu da


diretoria da Foirn o pedido para que
o governo federal agilizasse a
demarcação (V, cujo processo teve
início com uma apresentação
pública, durante a Semana do índio,

em de 97 (21. Durante todo o


abril
ano, através de 21 frentes de
trabalho equipes Foirn/ISA
,

visitaram todas as comunidades das


terras em demarcação (3, 4e 5).

mesmo período, em visita às instalações militares cm São Gabriel durante o segundo semestre de 1996, no quadro do Projeto Inte-
da Cachoeira, o presidente da República, Fernando Henrique Car- grado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Ama-
doso, recebeu das mãos do então presidente da Foirn, Braz Fran- zônia Legal (PPTAL) do Programa Piloto para as Florestas Tro-
ça Baré, no dia 23 de agosto, uma carta solicitando que o governo picais do Brasil (PP-G7)
federal agilizasse os trâmites para a demarcação física e homolo-
gação das cinco terras indígenas da região. O instrumento para viabilizar a realização desse projeto foi um
contrato de serviço entre o Programa das Nações Unidas para o
Atendendo solicitação da Funai, o ISA e a Foirn formularam um Desenvolvimento (PNUD) (ref. 187/97) e o ISA, por notória espe-
projeto denominado Consolidação da Demarcação Física e For- cialização. Recursos financeiros da cooperação alemã já contrata-
mulação de um Plano de Proteção e Fiscalização, o qual foi apre- dos com o governo federal brasileiro, no âmbito do PPTAI/PP-G7,
sentado e negociado diretamente com a sede do órgão em Brasília, sob controle financeiro de uma representação do KfW (banco es-

248 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


A participação indígena no processo
de demarcação se deu em todos os
na Coordenação Geral, na
níveis:
Coordenação Operacional e nas
atividades de campo, com a abertura
de picadas e plaqueamento (6 e 7).
Uma empresa contratada pela Funai
fez o rastreamento dos pontos
geodésicos (8). Todas as comunidades
receberam cópia e puderam conferir o
mapa das terras em demarcação (9),
cujos decretos de homologação foram
entregues pelo ministro da Justiça,
Renan Calheiros, em abril de 98(10).

tatal alemão) em Brasília e fiscalização técnica de funcionários da genas no Rio Negro. Previa-se então a contratação de uma empre-
Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) na Funai, tiveram sa privada, através de licitação. Uma vez que se ingressou na nego-
que ser canalizados através do PNUD para contratar uma organi- ciação com a Foim e o ISA, subitamente os valores previstos bai-
zação não-governamental (ONG) brasileira que, em parceria com xaram para algo em tonto de 700 mil, dos quais uma parte foi
uma organização indígena se dispôs a executar parte da demarca- destinada pela Funai para contratar uma empresa de topografia.
ção, diante da recusa da Funai em fazê-lo pela via da administra- Ao final, depois de muitos percalços e dois tennos aditivos, o ISA
ção direta. ainda arcou com um prejuízo de cerca de 150 mil dólares -

disponibilizando técnicos, infraestrutura e equipamento - para


Vale lembrar que, antes de se considerar essa via, constava das poder cumprir as exigências do contrato, que previa, além de re-
planilhas orçamentárias da Funai uma previsão de 1.5 milhão de latórios narrativos e financeiros, relatórios técnicos de topografia,
dólares para custear os gastos com a demarcação das terras indí- um vídeo-documentário e uma exposição fotográfica.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 249


7^ Acervo
-//ISA
como no número da sem-
UMA DEMARCAÇÃO PARTICIPATIVA, especial do Wayurt, informativo Foirn,

pre aparecia impressa uma seleção de desenhos que existem es-


SEM PRECEDENTES
culpidos em baixo relevo, na forma de petróglifos, em muitas pe-
A formulação e negociação do projeto ISA/Foirn, chamado de "con- dras na beira dos rios, atestando, como se disse, que essas terras
solidação da demarcação”, teve que enfrentar uma situação sem marcadas há tempo.
já estão (de)
precedentes, seja pela extensão, pela localização, pela pluralidade
étnica, pelo número e distribuição das comunidades e pelas dis- As atividades propriamente de campo do projeto ISA/Foirn foram

tâncias e dificuldades de acesso.


organizadas em 21 frentes de trabalho e realizadas enlre abril de

1997 e abril de 1998. Só puderam ser iniciadas na data prevista


Dificuldades adicionais impostas pela direção da Funai, sob a ale-
porque a Foim e o ISA colocaram à disposição suas infraestruturas,
gação de falta de competência técnica do ISA para os trabalhos de
seus equipamentos de transporte e comunicação e mobilizaram as
geodésica, resultou num modelo de demarcação física dividido
associações filiadas à Foirn e os pesquisadores associados ao ISA,
em duas partes. Coube à Pórtico Engenharia Ltda., de Manaus),
como voluntários, além de contar com um banco de dados
contratada pela Funai, o rastreamento e materialização de 38 pon-
georreferenriado acumulado entre 1994/96 e uma retaguarda de
tos geodésicos, com a abertura de clareiras e colocação de mar-
apoio (administrativo, jurídico, técnico cpofitico) nas cidades onde
cos e placas e coube ao ISA/Foirn e associações filiadas a execu-
o ISA também tem escritórios, São Paulo c, sobretudo, Brasília.
ção de um conjunto de atividades de consolidação, incluindo o
plaqueamento dos pontos de acesso, a abertura de picadas e colo- Os equipamentos previstos no projeto foram chegando aos pou-
cação de marcos nas linhas secas e a mobilização e informação cos, sempre atrasados. 0 caso mais grave foi o do veículo utilitá-

das comunidades indígenas e da sociedade envolvente. Além do rio, que chegou a São Gabriel exatos 12 meses depois, quando já

mais, a aquisição dos equipamentos previstos no projeto Foim/ estava reunida a Assembléia da Foirn para comemorar a homolo-
ISA- como botes, motores, rádios, veículo e outros - ficaram sob gação da demarcação, em abril de 1998 (ver abaixo). Seus espe-

responsabilidade da Agência Brasileira de Cooperação, do Minis- lhos laterais tiveram serventia imediata apenas para que algumas
tério das Relações Exteriores, sob orientação da Funai, o que, como lideranças se pintassem antes da cerimônia. Ao final do processo,
se verá adiante, lambem adicionaram dificuldades ao planejamen- ainda que atrasados, esses equipamentos resultaram num saldo

to e execução das alividades previstas. positivo, porque permaneceram sob controíe direto da Foim e

associações filiadas.
Este modelo fracionado foi, no mínimo, ineficaz. A empresa con-
tratada burlou vários procedimentos técnicos e fez erros crassos. Sob uma coordenação geral formada pela diretoria da Foim e equi-
Driblou os fiscais da Funai/PPTAL, utihzou marcos de bronze fora pe do Programa Rio Negro do ISA, funcionou uma Coordenação
da especificação e, o mais grave de todos, implantou o marco do Operacional composta por cinco pessoas indígenas, selecionadas

Ponto Geodésico- 1, da TI Alto Rio Negro, acima da cabeceira do e indicadas pela Foirn e contraladas pelo ISA, sob comando de
Xié- Mirim, em território colombiano! Foi preciso que os técnicos Braz França (Baré) - ex-presidente da Foim entre 1991 e 1996.

topográficos contratados pelo ISA, com ajuda de pessoas das co- Foram organizados três tipos de frentes dc trabalho (a) de “fisca-

munidades próximas, localizassem o marco MF-1935-10, implan- lização e plaqueamento", que percorreu a maior parte das comu-
tado pela Comissão de Limites, junto ao qual, finalmente, o PG-1 nidades e sítios, localizados nos rios "internos” ou próximos da

foi correiamente fixado. Some-se a isso o fato de que alguns custos linha de fronteira internacional, ou seja, distantes da
de mobilização foram duplicados, visto que as equipes ISA/Foim “materialização” das Unhas secas; (b) de “picada seca" nos focais

encarregadas de abrir as linhas secas tiveram que acessar os pon- onde foi necessário abrir picadas e colocar marcos de concreto,

tos geodésicos separadamente, duplicando elevados gastos com o isto ó, em três trechos descontínuos, em locais remotos, somando
aluguel de helicóptero transladado de Manaus, a 850 km de dis- cerca de 56 km; e (c) de “fiscalização” para rios limites nos quais
tância de São Gabriel! não há comunidades residentes.

As atividades do projeto de consolidação ISA/Foim tiveram início, Durante as viagens das frentes de fiscaUzação e plaqueamento, equi-
em abril de 1997, com um ato público no ginásio escolar da cida- pes Foirn/ISA - com o apoio de pesquisadores associados de vári-
de de São Gabriel, da Cachoeira, com a presença de autoridades as instituições - visitaram cerca de 300 comunidades e sítios, dis-

religiosas, civis e mihtares e grande público. Na ocasião, mem- tribuindo informações, materiais de campanha e fazendo reuniões
bros da Foim e do ISA informaram sobre os procedimentos da para dar expUcações e aplicarum extenso questionário especial-
demarcação, tendo ao fundo um mapa das terras indígenas reco- mente elaborado para traçar um perfil socioeconômico da região.
nhecidas oficialmente impresso sobre lona plástica, nas dimen- Foram realizadas 238 entrevistas coletivas, a partir das quais se

sões de um outdoor. Na ocasião foram lançados também, como gerou um banco de dados georreferenciado, utilizado naformula-
parte da campanha da demarcação, uma camisela, um boné e um ção posterior de uma proposta de plano de proteção e fiscalização
mapa em lonapláslica com suporte para parede. Nesses materiais, e outros projetos de interesse da Foim e associações afiliadas.

250 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0C10AMBIENTAL


* Acervo
ISA
PENDÊNCIAS DE TERRA PRESENÇA MILITAR CRESCENTE
Há pendências de reconhecimento oficial e demarcação de terras
A crescente presença das Forças .Armadas brasileiras (Exército e
ocupadas tradicionalmente por comunidades indígenas na região
Aeronáutica) na região do Rio Negro inclui a incorporação pro-
do Rio Negro. No levantamento concluído pelo ISA em 98 e publi-
gressiva de recrutas indígenas, os quais já constituem a maioria da
cado no mapa-livro “Povos Indígenas do alto e médio Rio Negro”
tropa (ver no bloco de notícias, abaixo).
(Foirn/ISA, 1998), constavam 66 comunidades fora das terras
indígenas já demarcadas, além do fato de que a quase totalidade Há demandas por parte das comunidades indígenas, canalizadas
da população urbana de Santa Isabel (cerca de três mil habitan- pelas associações e pela Foirn, reivindicando ao governo federal a
tes) e São Gabriel (cerca de oito mil) é indígena. regulamentação das relações com os militares (ver no bloco de
notícias, por exemplo, 0 Ofício da Foim entregue ao Presidente da
As duas pendências de terra mais evidentes são: (1) a porção lo-
República em 23 de agosto de 1996).
calizada na margem esquerda do rio Negro, delimitada pelas ca-
beceiras dos seus tributários entre a foz do rio Sé e a do rio Uaupés, Exceto 0 pelotão de fronteira localizado em Cucuí, todos os de-
denominada Marabitanas/Cué-Cué, área de ocupação tradicional mais estão dentro de terras indígenas demarcadas: Maturacá (na
de várias comunidades indígenas ali localizadas e de outras que, TI Yanomami), São Joaquim, Querari, Iauareté, e Pari -Cachoeira
embora estejam na margem direita, dentro dos limites da TI Alto (na TI Alto Rio Negro) Ainda está prevista a instalação de
. um pe-
Rio Negro, demarcada, a utilizam para os seus roçados e outras lotão defronte a comunidade baniwa de 16010 Cachoeira, no alto
atividades de subsistência. Em 1996, a Foim encaminhou solicita- Içana. Estes pelotões foram construídos pela I
a
Cia. do 1" Bata-

ção por escrito à Funai em Brasília, reivindicando a sua identifica- lhão dc Engenharia e Construção (BEC) e estão sob comando do
o
ção oficial, reiterada muitas vezes; e (2) a Terra hidígena Balaio, a 5 Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), cujos quartéis estão loca-
meio caminho entre São Gabriel e Cucuí, delimitada provisoria- lizados na cidade de São Gabriel da Cachoeira, onde também estão
mente pela Funai em 1988. as bases da Aeronáutica, incluindo 0 radar do Sistema de Vigilân-

cia da Amazônia (Sivan) e o aeroporto, cuja área de domínio se


Estas duas terras finalmente serão objeto de estudo por um GT de
sobrepõe a áreas ocupadas por comunidades indígenas.
identificação criado pela Funai através da Portaria 993, de 21 de
setembro de 2000 .
Existe ainda uma área destinada pela União ao uso especial das
Forças Armadas (Decreto 95.859, de 22 de março de 1988, com
Há outras terras ocupadas por comunidades indígenas nas proxi-
extensão de 10.163 km 2
), totalmente sobreposta à Terra Indígena
midades das cidades de São Gabriel e Santa Isabel, como abaixo,
Médio Rio Negro I.
na direção de Barcelos, não reconhecidas oficialmente.
Na altura do km 1 12 da BR-307, que liga São Gabriel da Cachoeira
a Cucuí, construída pelo Exército na década de 70 e que corta a
SOBREPOSIÇÕES COM UCS E HIATO
TI Balaio, está planejada a conclusão de um ramal de 68 km até
Há duas unidades de conservação (UCs) ambiental sobrepostas com a aldeia yanomami de Maturacá, onde está situado um pelotão
terras indígenas: (1) o Parque Nacional do Pico da Neblina (cria- do Exército.

do pelo Decreto n° 83.550, de 5 de junho de

1979, com extensão de 22.000 km 2


) tem par-
te significativa da sua extensão incidente nas
Terras Indígenas Yanomami, Balaio e Médio
Rio Negro II; (2) A Reserva Biológica Esta-
dual Seis Lagos, criada pelo Decreto n°
12 . 836 de 9 de setembro de 1990 com
, ,
ex-
tensão de 369 km 2 ,
está totalmente incidente

no Parque Nacional e parciabnente sobrepos-


ta à delimitação provisória da Terra Indígena
Balaio. As 1 1 Flonas, criadas pelo governo

federal no final da década de 80, não foram


anuladas com a recente demarcação e estão
superpostas à TI Alto Rio Negro.

Além do mais, há um hiato não protegido,

de 24 mil ha, entre 0 limite sul do Parque


Nacional do Pico da Neblina e o limite norte
da TI Médio Rio Negro II.

Indígenas soldados no 5 e Bis, em S. Gabriel de Cachoeira.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 2S1


Acervo
-V/f ISA
O QUE É DEMARCAÇÃO, AFINAL? da Semana do índio. Antes mesmo de que tal possibilidade fosse

confirmada, chegou a informação de que o ministro da Justiça


De maneira pouco usual, a recente demarcação das terras indíge-
viria a São Gabriel, e assim aconteceu. Acompanhado do presiden-
nas da região foi "antecipada” pelo Estado, em relação à fronteira
permaneceu
te e do diretor de Assuntos Fundiários da Funai, ele
econômica, cuja expectativa de dinamização no Alto Rio Negro está
apenas algumas horas na cidade, indo direto do aeroporto para a
depositada na futura exploração de recursos minerais por parte
maloca da Foirn, onde foi recepcionado pelos membros da As-
de interesses privados e, possivelmente, no acesso c exploração
sembléia e por um grupo de canto e dança.
de recursos genéticos,
Durante a cerimônia improvisada, discursaram autoridades do
O entendimento da recente demarcação das terras indígenas por
governo federal e lideranças da Foirn. Braz França, ex-presidente
parte das comunidades - com diferenças sub-regionais e étnicas -

da Foirn e Coordenador Operacional da demarcação, destacou em


é bastante desigual, como se pode supor numa área tão extensa e
seu discurso que a conquista da demarcação teve a colaboração
diversa Para muitas comunidades, “demarcação” está associada a
também do governo e das ONGs e acrescentou: “Queremos que
imposição de restrições (através do fracionamento) por parte do
essa terra seja realmente o berço de sustentação econômica, polí-
listado, sobretudo pela memória do processo recente de reconhe-
tica e administrativa dos povos indígenas. Queremos que essa ter-
cimento parcial dos direitos territoriais, com a demarcação de
ra, essa população seja sujeito de um progresso que sejam tam-
"ilhas” na década de 80. Há dúvidas, entre as comunidades, sobre
bém participantes efetivos do desenvolvimento da nossa própria
o significado dos limites entre as diferentes terras demarcadas, ainda
sociedade, daquilo que tanto ansiamos para nosso futuro, para
que contíguas, na suposição de que representariam novas formas
garantia do nosso futuro, Para tanto, então, não se encerra aqui a
de restrição de passagem e uso. Assim como liá dúvidas sobre os
luta dos povos indígenas. A luta dos povos indígenas começou,
direilos de ocupação tradicional e usufruto dos recursos naturais
chegou a seu ponto e tem ainda sua longa caminhada para uma
de áreas não demarcadas, por parte das comunidades que estão
verdadeira conquista na área social, na área de segurança real-
localizadas em terras demarcadas como é o caso, por exemplo,
mente dos povos indígenas e da população que dela participa".
daquelas situadas na margem direita do rio Negro, na TI Alto Rio
Para que isso seja possível, disse Braz, é preciso haver “uma visão
Negro, e que têm suas roças na margem esquerda, não demarcada.
conjunta tanto a nível de governo, como a nível de população e
A visão das comunidades c lideranças das organizações indígenas outros setores que sempre vêm apoiando e assessorando o movi-
sobre o que venham a ser “invasores" de suas terras é também mento indígena”.
bastante variável. Comerciantes indígenas da TI Alto Rio Negro,

logo após a demarcação, passaram a reivindicar a retirada dos


Pedro Garcia, presidente da Foirn, ressaltou que a Federação está

comerciantes não-indígenas estabelecidos ou operando em lauaretê


discutindo um plano da proteção e fiscalização para as terras

(ver offcio da Foirn àFunai em 17 de março de 1998, adiante, nas


demarcadas c que a homologação é uma garantia importante, mas

notícias) assimcomo a direção da Foirn quer a retirada de alguns não resolve todos os problemas, para os quais as autoridades de
;

poucos ocupantes não-indígenas remanescentes da mesma TI Alto Brasília devem consultaras comunidades. E acrescentou: “unta coi-
sa que nos preocupa bastante é essa lei de mineração que se trami-
Rio Negro, cujas benfeitorias foram avaliadas pela Funai há anos
(ver ofício da Foirn àFunai de 17 de março de 1998). Porém, há ta no Congresso Nacional, onde as comunidades não são consulta-

certa tolerância seletiva com referência tanto a determinados pa-


das e a gente gostaria de participar, de discutir essa lei. Não gosta-

trões de barcos piabeiros que exploram pontos do Médio Rio Ne- ríamos que essa lei fosse aprovada sem a consulta prévia das co-

gro (ver nas notícias, adiante), remunerando determinadas co- munidades indígenas e no momento era o que tinha para dizer".

munidades, como a pequenos focos garimpeiros. Em outros tre-


Na sequência, o presidente da Funai, Sulivan Silvestre, destacou a
chos de rio, as comunidades residentes consideram invasores os contribuição da parceria ISA/Foim para que a demarcação fosse
membros de comunidades indígenas acima ou abaixo que, por
efetivada e destacou “a necessidade de um trabalho muito grande
exemplo, utilizam indevidamente determinadas áreas de pesca.
de mobilização da sociedade civil brasileira para que nós possa-
mos combater, ainda tristemente existente, um forte sentimento de
COMEMORAÇÃO discriminação e preconceito contra os índios no Brasil".
Finalmente, no dia 15 de abril de 1998, durante a VI Assembléia Ge-
O ministro da Justiça, Renan Calheiros, fez uso da palavra para
ral da Foirn, em São Gabriel da Cachoeira, o recém-empossado mi-
destacar que foi incumbido diretamente pelo presidente da Repú-
nistro da Justiça, Renan Calheiros, entregou aos dirigentes indígenas
blica, Fernando Henrique Cardoso e por sua esposa, dra. Ruth
os decretos de homologação das cinco terras indígenas demarcadas,
Cardoso, para vir pessoalmente entregar à Foirn os decretos de
o que foi comemorado pelas lideranças como uma vitória histórica.
homologação das demarcações das terras indígenas do Rio Negro
Às vésperas do evento, a diretoria da Foirn foi sondada pela Funai c afirmou a necessidade de haver “políticas c ações para garantir-
sobre a possibilidade de enviar uma delegação ao Palácio do Pla- mos a defesa da terra demarcada, a preservação da terra demarcada
nalto, em Brasília, para participar de uma cerimônia de homolo- c principalmentc buscar com as populações originárias, caminhos
gação de terras indígenas, as do Rio Negro incluídas, no contexto para o etnodesenvolvimento”.

252 NORDESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 096/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


RAMA REGIONAL mento de saúde, educação escolar, segurança alimentar e geração
de renda, com baixíssima resposta por parte dos órgãos do Gover-
Concluída a etapa da demarcação e homologação, a Foim e asso-
no Federal, o que coloca as comunidades á mercê de políticos lo-
ciações filiadas, com apoio de várias parcerias, passaram a se de-
cais e regionais, que distribuem bens em época de campanha polí-
dicar ao grande desafio de construir um Programa Regional de
tica e associam a possibilidade de vantagens mais duradouras à
Desenvolvimento Indígena Sustentável (ver Bloco de Notícias nes-
implantação de novas unidades administrativas na região, seja atra-
te capítulo) de longo prazo para a região do Alto e Médio Rio um Território Federal.
vés da criação de municípios ou mesmo de
Negro, com atividades de proteção, fiscalização, capacitação téc-

nica, expressão cultural e sustentabilidade e bem estar das comu- A Foim entendeu que um “plano de proteção e fiscalização” (ver
nidades indígenas. Box) das terras demarcadas seria apenas um componente desse
“programa regional”, (setembro, 2000)
Há uma forte demanda da parte das comunidades indígenas das

terras demarcadas por serviços básicos a apropriados de atendi-

Pedro Garcia apresenta os decretos de homologação á Assembléia da Foim, abril de I99S.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 253


;

PIANO DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO !« -iNUiiiHjjn

0 Plano de Proteção e Fiscalização das Tis do Alto e Médio Rio Negro 5. Pequenos projetos comunitários
aprovado na Assembléia Geral da Foim de abril de 98 linha as se-
• Constituição de umfundo de pequenos projetos comunitários (saú-
guintes linhas de ação:
de, educação, cultura, segurança alimentar, transporte e comunica-
1. Informação, comunicação e sinalização: ção), subordinado a um conjunto de regras de acesso amigável às

comunidades e de decisão, manejadas por um comitê que tenha a


• Ampliação da rede de radiofonia da Foim, segundo prioridades
participação direta da Foim e associações filiadas e parcerias não-
apontadas pelas comunidades e associações:
govemamentais.
• Produção e distribuição regular de informações através do boletim
6. Projetos especiais em áreas críticas
da Foim (Wayuri) e de programas de rádio e vídeo;
• Ações especiais de apoio à sustentabilidade de comunidades situa-
• Reforço do plaqueamento de sinalização em tocais indicados pelas
das em áreas críticas como, por exemplo: (a) a comunidade Maku
comunidades;
do Apapóris, totalmente isolada, no extremo sudoeste da TI Alto Rio
• Criação, por parte das comunidades/associações/Foim de um ,
sis- Negro e sem assistência básica; (b) o garimpo indígena do Traíra, no
tema de registro de invasões externas e rotinas formais de encami- qml sefixou uma comunidade permanente (c) o garimpo do Peuá,
;

nhamento de demandas junto às autoridades federais onde persiste uma invasão crônica; e outras.

• Reuniões periódicas Foim/Associações/Govemo federal para ava- 7. Capacitação


liação da situação geral das invasões das terras e das ações governa-
• Oficinas de capacitação de técnicos indígenas das comunidades,
mentais relativas;
associações e da Foim para a execução de atividades do plano (ope-
• Criação pela Foirn de um sistema de registro de pessoas interessa- ração de radiofonia e motores de popa, registro de invasões, docu-
das em entrar nas terras indígenas, para permitir uma avaliação mentação em vídeo, atividades de zoneamento, formulação, apre-
prévia pelas comunidades/associações; sentação e gestão de projetos, etc.).

• Monitoramento dos interesses minerários incidentes nas Terras 8. Interface no PPTAI/PP G7


Indígenas da região e acompanhamento do projeto-de-tei de regula-
• Procedimentos administrativos para a identificação, delimitação,
mentação da mineração em terras indígenas, em tramitação no Con-
demarcação e homologação das terras ocupadas tradicionalmente
gresso Nacional;
por cerca de 66 comunidades indígenas na região do alto e médio
4.
• Campanhas temáticas anuais para a disseminação de conceitos e Rio Negro, com prioridade para a TI Marabitams/Cué-Cué;
resultados de ações e projetos que garantam a proteção das terras,
• Interface com o Projeto Corredores Ecológicos (PCE), componente
dos recursos naturais e contribuam para a sustentabilidade e o bem
do PP-G7, através da implantação do Corredor Norte da Amazônia,
estar das comunidades;
proposto no âmbito do PCE
2. Fiscalização ostensiva
• Interface com o PDUPPTAL (via oficinas de capacitação).
• Rotinas defiscalização delimites críticos (calha do Rio Negro, Boca
9. Interfaces com outros órgãos, programas e projetos do Go-
do Cauaboris, rios Téa e Marié) através de equipes móveis Foirn/
verno Federal
Associações/Comunidades- Governo Federal.
• tbama/MMA-Punai/Mj: implantação do Parque Nacional do Pico da
3- Zoneamento socioambiental participativo
Neblina (PNPN) e solução administrativa />ara a proteção do biato
• Zoneamento socioambiental participativo como suporte perma- atualmente existente entre o limite norte da TI Médio Rio Negro He o
nente para o planejamento de ações integradas de etnodesenvolvi- limite sul do PNPN;
mento regional nas áreas de cultura, saúde, educação e atividades
• Ministério da Defesa: elaboração e implantação de um pacto de
produtivas (equipes Foim/associações/parcerias por rio);
procedimentos para as atividades militares ms terras indígenas do
Projetos demonstrativos alto e médio Rio Negro, com a participação de representantes da Foim;

• implantação de cerca de dez projetos demonstrativos participativos • Ministério das Relações Exteriores/Tratado de Cooperação Amazô-
(prioridades definidas pelas associações/Foim, geslão direta, jiesquisa nica (TCA): programa socioambiental pró-ativo de cooperação
e assessoria técnica especializada e capacitação), nas diferentes sub- trinacioml Brasil/ColômbiaA'enezuela para a bacia do Rio Negro,
bacias das terras indígenas demarcadas, integrando ações de sanea- no âmbito do TCA, com a participação de representantes da Foim;
mento básico, energia alternativa, segurança alimentar, geração de
•Secretaria de Assuntos Estratégicos/Comissão para Coordenação do
renda, saúde, educação escolar, comunicação e transporte.
Projeto do Sistema de Vigilância da Amazônia (CCSIVAM): mecanis-
mos de cooperação e intercâmbio de informações com a Foim, asso-
ciações Jiliadas e suas parcerias não-govemamentais. fabr/98)

254 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


..

Desafios para a Implantação


do DSEI-RN

Dominique Buchillet Antropóloga, IRD |ex-0RST0lW)/ISA

INVESTIGAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS E infecto-parasitárias, com destaque para as afecções respiratórias


INDICADORES QUE INCORPOREM A VISÃO (entre as quais a tuberculose) ,
a malária, as diarréias e parasitoses

INDÍGENA SÃO ALGUNS DOS REQUISITOS intestinais. Casos de anemia e de desnutrição foram reportados,

IMPORTANTES PARA ENFRENTAR DE bem como uma incidência alta de doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs) e de tracoma, entre outros agravos.
MANEIRA APROPRIADA A SITUAÇÃO DE
SAÚDE INDÍGENA NA REGIÃO DO RID NEGRO TUBERCULOSE
A presença da tuberculose é atestada no Rio Negro desde o início

No contexto da implementação de Distritos Sanitários Especiais do século XX (MacGovern 1928). Um inquérito retrospectivo des-
Indígenas (DSEIs) (1999/2000) não é demais rever os dados de 1977 e 1990 dos registros dos casos de tuberculose de dois
epidemiológicos disponíveis bem como propor sugestões para hospitais da região indica uma laxa de incidência anual superior a
implementação do DSEJ no Rio Negro (DSEi-RN) levando ,
em conta Irês casos por mil habitantes, uma predominância de formas pul-

a variabilidade dos povos dessa região e a do ambiente em que monares, uma parle importante de formas extrapulmonares (um
vivem, terço dos casos registrados), sobrehtdo ganglionares, bem como
uma distribuição da doença em todas as faixas etárias e sem dife-
A região é o habitat dc 22 etnias (cerca de 30 mil pessoas), cujas
renças substanciais em relação ao sexo (Buchillet & Gazin 1998)
línguas pertencem a três famílias linguísticas (Túkano oriental,
Dados para o ano Í999 confirmam a importância da endemia
Arawak e Maku), com características socioculturais, padrão dc
tuberculosa, assim como os achados clínicos e epidemiológicos
assentamento, densidade populacional, grau de mobilidade espa-
(Semsa 1999), condizentes com o longo tempo de contato dos
cial, modo de uso e adaptação ao meio ambiente e grau de contato
índios com essa doença,
com a sociedade nacional variados. O ambiente em que vivem é
também bastante diversificado, resultando numa heterogeneidade MALÁRIA
em termos de recursos genéticos e microorganismos, Dados históricos comprovam a importância epidemiológica e sa-
nitária da malária no Rio Negro há dois séculos (Buchillet 1995)

A SITUAÇÃO DE SAÚDE É GRAVE Dados recentes da Funasa confirmam a importância da endemia

A avaliação do estado sanitário das populações do rio Negro é di-


malárica na região (reportou-se cm 1998 uma incidência aiuiaí

de 103/1 .000 habitantes) e a co-exislência das formas de malária


ficultada pela ausência de padronização dos dados de morbi-mor-
vivax e fedeipamm, sendo a segunda importada e manifestando-
lalidade existentes e sua dispersão nas diferentes instituições que
se através de surtos esporádicos.
até então atuavam na área da saúde indígena na região, pela sua
imprecisão, não havendo sempre informações desagregadas por DIARRÉIAS E PARASITOSES INTESTINAIS
sexo, idade, etnia, procedência do paciente ou condição real de
Inquéritos coproparasitoiógicos conduzidos em 1997 entre 338
alta, e pela sua limitação, porque são principalmente coletados na
índios tukano orientais e maku da região do rio Tiquié mostram
rotina dos serviços de assistência.
92,30% de positividade para helmintos e/ou protozoários, sendo

Os dados disponíveis revelam, no entanto, a situação de saúde ca- que 69,2% deles apresentavam taxas altíssimas de multiparasitismo
lamitosa dos povos do rio Negro, na qual predominam as doenças intestinal (Felipe & Nigro 1997). Dados da ONG Saúde Sem Limi-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 255


. .

i Acervo
ISA
les (SSL) (1997) comprovam a alta prevalência de diarreias e gião. O alcoolismo é um problema importante, embora sua inci-

parasitoses digestivas na região como um todo. dência e significado sejam ignorados. Há, por fim, um número
elevado de “afecções mal definidas" (Amarante 2000).
ANEMIA E DESNUTRIÇÃO
CAUSAS DE ÓBITO
Casos de anemia e carências nutricionais severas foram reporta-
dos, particularmeme em grupos locais maku, embora ignora-se se Os dados de mortalidade são condizentes com os de morbidade,
estão ligados ao índice de infestação parasitária ou à situação de sendo as doenças diarréicas e respiratórias as principais causas

escassez alimentar verificada em certas épocas e/ou sub-regiões de morte. Verifica-se igualmente um número importante de óbitos
do Rio Negro. por causas ‘“indeterminadas” (20,7% das causas de mortes em
1998), o que reflete o nível de desassistência médica da região
OITROS AGRAVOS (Amarante 2000).

Registram-se índices elevados de DSTs (Semsa 1999), um fato

preocupante considerando que elas são a porta de entrada princi- TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
pal da infecção pelo Vinis da Imunodeficiência Humana (HIV).
Os dados analisados sugerem que a população da região encon-
Alguns casos de HIV/Aids foram reportados entre os militares da
tra-se ainda na fase inicial da chamada transição epidetniológica
região (ibid) O que também não deixa de ser alarmante, levando
caracterizada pelo predomínio de doenças infecciosas como fato-
em conta os frequentes intercâmbios sexuais entre o pessoal mili-
res de morbi-mortalidade. Esses dados precisariam, no entanto,
tar e as adolescentes da região. Outras doenças para as quais há
ser afinados de acordo com os vários grupos e sub-grupos do rio
registros incluem o tracoma, hiperendêmico entre certos sub-gru-
Negro, suas características sociocullurais e seu grau de contato
pos maku, podendo resultar em cegueira (SSL 1997). Há igual-
com a sociedade nacional. Os requisitos necessários para a ocor-
mente casos de hanseníase e de leishmaniose tegumentar (Ir. A.
rência, manutenção e impacto sobre as populações das principais
Sienckiewicz, comunicação pessoal). Entre as afecções dermato-
endemias da região (malária, tuberculose e parasitoses digestivas,
lógicas, predominam as escabioses e piodermites. Observa-se tam-
entre outras) permitem também postular que elas não acometem
bém surtos freqiientes de gripe, varicela e coqueluche, sendo os
de maneira igual os vários povos.
últimos refletindo a fraca cobertura vacinai da região (Semsa 1999)

Segundo os dados disponíveis, as doenças crônico-degenerativas, No caso da malária, por exemplo, podemos citar a exposição dife-

como diabetes, hipertensão arterial ou cardiopadas não parecem renciada a fatores importantes na transmissão dessa doença, como
contribuir de maneira substancial ao quadro nosológico da re- a presença de represas de água ou lugares de águas paradas, a

Agente Indígena de
Saúde da comunidade
de Jerusalém no Alto
Içana buscando
,

remédios com um
"promotor de salud"

da comunidade de
Camanaus, na fronteira
com a Colômbia.

256 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


A.-- Acervo
-//A ISA
existência de áreas desmatadas, a introdução de hematozoários
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO
por indivíduos oriundos de regiões de endemia pídustre (garim-
E VISÃO AUTÓCTONE
peiros, por exemplo), entre outros. 0 mesmo pode ser dito com
relação às parasiloses intestinais, cuja prevalência pode ser rela- Os dados apontam, portanto, para a urgência de investigações
cionada tão à diversidade e complexidade do meio ambiente, à epidemiológicas específicas. A importância de um perfil

concentração demográfica e ao grau de mobiiidade espacial, quanto epidemioíógico acurado é crucial numa região que constitui o
às condições do habitat e das fontes hídricas, à criação de ani- habitat de várias etnias, com modos de uso e adaptação ao meio
mais, ao destino inadequado dos dejetos e aos hábitos dietéticos, ambiente, grau de mobilidade espacial, tempo e formas de contato

entre outros, sendo, portanto, necessária a reaUzação de estudos a com a sociedade nacional diferenciados, como é o caso do Rio

nível micro para determinar a influência dos fatores físicos, Negro. A multiplicidade das variáveis que interferem no estado de
ambientais e sorioculturais no nível de infestação parasitária. Fica saúde das populações também impossibilita toda tentativa de ge-

também evidente que a tuberculose, doença ligada de maneira in- neralização. As diferenças no perfil epidemioíógico devem ser le-

tima às condições socioeconôrnicas de vida e ao estado imunitário vadas em conta para adequar as ações às necessidades e deman-

da pessoa, não acomete os povos indígenas de maneira igual. Con- das em matéria de saúde das diversas etnias, ou mesmo dentro de

siderando as características clínicas e epidemiológicas dessa do- uma etnia, delinear estratégias de controle de certas doenças (ma-

ença (incubação silenciosa, caráter crônico, capacidade de lária, tuberculose, parasitoses digestivas, entre outras) adaptadas

reativação endógena, distinção infecção/ doença etc.) e os requi- às características sotíoculturais locais e ao ambiente em que vi-

sitos para seu tratamento (quimioterapia anti-tuberculose de seis vem os vários grupos e sub-grupos, e direcionar a formação dos

meses no mínimo, necessidade da adesão ao tratamento) ,


fica cla- Agentes Indígenas de Saúde em função dos problemas de saúde

ro que a conduta profilática e terapêutica a adotar deve ser funda- encontrados nas áreas de sua atuação. A própria concepção do

mentada no contexto sociocultural local. DSEI prevê inclusive o fomento a pesquisas e/ou levantamentos
visando aprofundar o conhecimento da clientela indígena (inqué-
Por Dm, levando em conta as relações sinérgicas entre certas do-
ritos populacionais, nutricionais, socioantropológicos, de procu-
enças infecciosas (tuberculose, por exemplo) e as carências
ra dos serviços de saúde, entre outros) desde que os resultados
nutricionais, sendo que a desnutrição favorece a infecção, e esta,
dos mesmos tenham aplicação nas diretrizes, programas e rotinas
por sua vez, agrava o estado de desnutrição, é fundamental a rea-
de serviço do DSEI.
lização de inquéritos de avaliação da situação nutricional dos ín-

dios desta região, incluindo também estudos qualitativos sobre a Cabe ressaltar, no entanto, que as estratégias para o delineamento

concepção local da alimentação e dos modos de preparação culi- e planejamento de ações e intervenções em saúde destinadas à

nária, bem como sobre a lógica cultural das restrições, prescri- populações etno-culturais específicas não podem se restringir aos

ções e proibições alimentares. indicadores sociais e de saúde comumente utilizados (natalidade

geral e infantil, número de nativivos/ natimortos, morbidade, mor-


talidade, expectativa de vida, estatísticas relativas ao uso dos servi-
ços de saúde, entre outros) . Devem levar em conta a visão autóc-

tone, tanto na definição quanto na verificação dos problemas de


saúde. A consideração do auto-diagnóstico indígena, isto é, das
percepções e interpretações do seu estado de saúde pelos própri-
os índios, seria o primeiro passo para que o DSEI-RN não ficasse

uma apelação vazia, para inglês ver. {março, 2000)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1338/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 257


Acervo
_//\C ISA

"Piabeiros" Impulsionam Sistema


de Aviamento no Rio Negro

Gregory Prang e Paulo Petry Antropólogo e Icitiólogo/


Bio-Amazonia Conservation Int./Projeto Piaba

EXPLORAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS mil pessoas diretamente envolvidas no ramo, mais ou menos 150
CENTRALIZADA EM BARCELOS E MANAUS só em Santa Isabel. Uma só espécie, o cardinal (Paracheirodon

ESTÁ SUBINDO 0 RIO NEGRO E ENVOLVENDO axetrodi), constitui mais de 80% do volume de peixes ornamen-

CADA VEZ MAIS COMUNIDADES INDÍGENAS tais comercializados na bacia do Rio Negro. A alta taxa de mortali-

dade durante a captura e transporte na estação de seca, e a deman-


da do mercado são alguns dos problemas associados a sobrevida
Mais de 20 milhões de peixes vivos são exportados anualmente do
dessa atividade. Os Estados Unidos (EUA), Europa e Japão são os
estado do Amazonas, gerando cerca de três milhões de dólares
mercados principais para os peixes ornamentais, sendo mais pro-
para a economia do estado. No mercado mundial esse produto
curados os peixes raros e difíceis de criar em cativeiro.
movimenta cem milhões de dólares no varejo, incluindo também
espécies de outros países da América Latina, África e Ásia. Os mu- Desde 1989, professores, pesquisadores e estudantes da Universi-

nicípios de Barcelos e Santa Isabel constituem a maior área de dade do Amazonas (UA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da
pesca de peixe ornamental na bacia do Rio Negro, sendo Barcelos Amazônia (Inpa) têm implementado o “Projeto Piaba” no municí-
o principal posto de comércio. A pesca é artesanal com mais de pio de Barcelos para estudar a biologia e ecologia dos peixes or-

Piabeiros em ação
na região do médio
Rio Negro.

258 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 •


INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
Acervo
-Z/iClSA
namentais e a socioeconomia da pesca da bacia do rio Negro. O pagos entre uma e duas semanas e têm que arcar com os custos
projeto já coletou muitos dados sobre esta atividade, desde o pro- da passagem até Manaus, assumindo o risco de peixes desperdiça-
dutor até o consumidor, parte dos quais estão aqui resumidos. dos no processo de transporte.

A bacia do Rio Negro oferece um grande número de espécies para


o comércio de peixe ornamental. São encontrados no baixo Rio
PATRÕES
Negro, Novo Airão e Moura, várias espécies de acará, acará disco e Os patrões na exploração de peixe ornamental são conhecidos
alguns bodos. No médio Rio Negro. Barcelos, o cardinal, varieda- como piabeiros (os pescadores de piaba), atravessadores e com-
des (piabas que não são cardinais), acará discos e bodos são os pradores. Há Ó0 deles aproximadamente, dos quais entre 15 e 15
mais coletados. Em Santa Isabel o cardinal é coletado principal- operando acima de Barcelos. Para ser um patrão é necessário ser
mente nos rios Jurubaxi, Aiuanã e Téa, afluentes da margem direi- dono de um barco; quanto maior o barco, mais peixe pode ser
ta e no Paraná Atauí, na margem esquerda (há cardinal em todo transportado. O termo piabeiro é um pouco ambíguo: é usado para
lugar na bacia do Rio Negro acima do Rio Branco, mas não vale a descrever o patrão e o diente envolvidos na atividade. Não aconte-
pena um esforço grande em muitos locais); e algumas espécies de ce como no comércio de borracha, no qual a terminologia distin-
corredora são coletados nos tributários da margem esquerda, prin- gue claramente o seringalista (o patrão) do seringueiro (o clien-
cipalmente no Inambú e Cauaborís. No Alto Rio Negro, São Gabriel, te) . No caso da exploração de peixes ornamentais na bacia do Rio
a corredora é procurada nos rios Tiquié e Içana. Negro, a não distinção terminológica pode refletir a realidade
socioeconômica da pescaria. Há piabeiros que só compram peixe

EXPORTADORES de coletores/dientes, outros que compram peixe e pescam lam-


bem; e outros que só pescam.
O comércio de peixe ornamental funciona como as demais ativi-

dades extrativisías na Amazônia. Os atores principais são o expor-


FREGUESES
tador, o patrão (intermediário) e o freguês. Atualmente, dos mais
de 25 exportadores com permissão do Ibama para exportar peixe Os fregueses/coletores podem ser classificados de muitas formas:

ornamental, somente sete estão operando. Os quatro maiores ex- por tipo de peixe coletado e/ou os métodos pesqueiros que em-
portadores controlam pouco mais que 70% das exportações que pregam, se pescam em rios ou igarapés. Seria mais apropriado

saem de Manaus, Os exportadores que atualmente estão ativos em classificá-los segundo os locais em que são recrutados, em razão
Manaus são: das grandes distâncias percorridas para se obter peixes para ex-
portação. Com este critério, há duas categorias de coletores. Aque-
• Aquamazon Imp. e Exp,;
les moram numa das comunidades, tanto indígena quanto ri-
que
• Aquarium Corydoras Tetra; beirinha, perto de uma área pesqueira produtiva. Este tipo de

• Prestige Aquarium; coletor também é agricultor, pescador e caçador, coleta peixe or-

namental na estação seca, e coleta outros produtos extrativistas,


• Tabatinga Aquarium;
como piaçava, durante a cheia. Porém, durante a estação pes-
• AUanadeck Rodrigues de Melo; queira, muitos só pescam quando estão pressionados pela situa-

ção econômica.
• Turkys Aquarium;
À segunda categoria de coletor/freguês mora na cidade de Barce-
• Amazonas Selvagem.
los ou Santa Isabel e acompanha o patrão para a área pesqueira
Cada exportador tem seu próprio sistema para obter estoques de regularmente, ou pode ficar no acampamento para pescar duran-
peixe. Dois dos exportadores têm representantes que residem na te algum período, geralmente um a dois meses. Estes coletores
cidade de Barcelos e recebem peixes de intermediários e os envi- estão mais interessados em ganhar dinheiro vivo que os do interi-

am até Manaus. Estes representantes, por sua vez, têm aproxima- or, mais interessados nas mercadorias. Eles são geralmente soltei-

damente 20 intermediários e/ou pescadores independentes traba- ros e frequentemente, relacionados ao patrão através de amigos
lhando para eles. Um destes exportadores também tem um repre- ou parentes.
sentante no município de Santa Isabel. O raciocínio é que o expor-
tador pode controlar melhor o desembarque de peixes em Manaus.
PREÇO
Além dos representantes, estes exportadores empregam interme-
diários independentes espalhados pela bacia. Os demais exporta- Os preços pagos pelos peixes variam em função da espécie, tama-

dores têm vários intermediários; este número flutua de ano a ano, nho e estação do ano. Uma das espécies mais procuradas no rio

mas muitos permanecem leais. Os intermediários que entregam Negro é o cardinal tetra, um peixe com baixo valor no mercado. O
peixes aos representantes recebem menos que os que entregam freguês recebe entre R? 5,00 e Rí 10,00 por milheiro, conforme o
diretamente ao exportador, mas são pagos na hora e não assumem tamanho dos estoques encontrados nas instalações dos exporta-
o risco de mortalidade no transporte até Manaus. Os demais são dores em Manaus. O preço pago ao patrão também varia, mas o

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 INSTITUTO S0C10AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO Z59


<JZ^Acervo
-//ISA
costume é pagar o dobro do que ele pagou ao seu freguês. Nos curto (um a um ano e meio) e provavelmente sofre taxas de mor-

últimos três anos, o exportador tem vendido cada cardinal por um talidade natural que superam 95%, em condições naturais. Em
preço que varia entre R$ 0,04 e R$0,13, conforme a demanda função disso é normal se observar flutuações inter-anuais de pro-
internacional, a época do ano e o tamanho do peixe. Nos EUA os dutividade locabzada, porque 0 sistema é limitado pela eficiência

preços médios para o atacadista, lojista e consumidor são USjS reprodutiva ano a ano e não possui um tampão populacional que
0,26, USÍ 0,fí5 e US$ 2,00, respectivamente. A grande diferença inclua várias faixas etárias, 0 que é observado com espécies de

entre n preço pago ao coletor e 0 preço pago pelo consumidor ciclo de vida longo. Assim sendo, variações de abundância de cur-
deve-se aos custos associados com 0 transporte, condicionamento to prazo não são indicadores robustos do impacto da pesca. O
e alta taxa de perda dos peixes, além do fato que os lojistas com- impacto da remoção do cardinal do sistema poderia ser medido
pram em quantidades pequenas. As corredoras que são encontra- em teoria usando indicadores de produtividade de espécies
das no alto rio Negro alcançam entre R$ 0,10 e R$2, 50/unidade, predadoras (taxas de crescimento por exemplo), mas seria quase
conforme a espécie. Esses peixes custam entre US$ 4,00 e US$1 2,00 impossível estabelecer uma relação de causa e efeito porque 0
nos EUA. sistema é muito complexo e há muitas outras variáveis as quais
poderiam influenciar 0 efeito.
A estagnação do preço pago ao coletor no Rio Negro se deve tam-
bém a concorrência com os exportadores colombianos, os quais Em anos de baixa produtividade os pescadores procuram áreas de
levam grande vantagem no preço do frete pago pelos comprado- maior retomo, aliviando a pressão de pesca e possibilitando a re-

res. No trecho Bogotá-Miami, um kg custa US$ 0,70, enquanto no composição dos estoques em um curto período de tempo. Tam-
trecho Manatis-Miami, custa US$ 1,50. bém, 0 percentual da área de atuação da pesca é relativamente
pequeno quando comparado com a área total de ocorrência dos
Uma via para melhorar a remuneração aos coletores seria investir
peixes, já que a pesca é hmitada pelo número de pescadores e
na abertura de mercado para espécies consideradas “nobres”, com
condições de pesca, O tempo médio de pesca efetivo por dia não
alto valor individual, como os acarás e acaris. Várias espécies de
ultrapassa quatro horas. O restante do tempo é usado para obten-
Apistogramma, por exemplo, também poderiam ser criadas em
ção de alimento, isca e prospecção para 0 próximo dia.
cativeiro, combinadas com a piscicultura de espécies comestíveis,
e encontrar bons preços no mercado. É importante notar que nas áreas mais produtivas, Téa, Urubaxi,
Aiuanã e Ataui, a maior parte da pesca é feita com cacuri,uma
IMPACTO AMBIENTAL armadilha “passiva” de eficiência limitada. Essa é,
,
talvez, uma das
características da pescaria que propicia a manutenção dos esto-
A pesca ornamental é muito distinta da pesca comercial porque é
ques em níveis que permitem sua recuperação em curto prazo.
extremamente seletiva e requer que 0 produto sc mantenha vivo.
Observando os pescadores, é evidente que os mesmos somente
Essa pesca, especíahnente do cardinal, usa uma metodologia de
pescam em áreas que dão um mínimo de retomo. Uma vez que 0
esforço que produz efeitos ambientais pouco expressivos do pon-
retorno não é alcançado, eles procuram outras áreas. Essa estra-
to de vista estético, Não há remoção de vegetação ou outra pertur-
tégia de pesca tem 0 efeito de não depauperar completamente es-
bação cm larga escala. É uma pesca eminentemente concentrada
toques localizados. Os pescadores usam 0 termo “deixar para se-
no igapó. Na verdade, a manutenção da produtividade depende da
mente para 0 próximo ano”, 0 que, de fato, aparentemente funci-
integridade ambiental dos pesqueiros, e os piabeiros em geral têm
ona bem, Como há uma divisão territorial da pesca, e os mesmos
consciência disto. Os acidentes com as queimadas do igapó em
pescadores voltam ano após ano para os mesmos pesqueiros, há
vários tributários do Rio Negro servem de evidência empírica.
um senso de manutenção dos ambientes de pesca. Quando algu-
Do ponto de vista do sistema biológico e ecológico como um todo, ma disputa acontece e esta não é resolvida a contento, incêndios
é difícil atribuir impacto, visto que o cardinal tem um cicio de vida misteriosos podem ocorrer. (setembro, 2000)

260 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996WW0- INSTITUTO S0CI0AMBIENTAI


Roças Indígenas no Rio Negro são Foco
de Alta Agrobiodiversidade

Laure Emperaire Etna botânica, IRD/ISA

PESQUISA COMPARATIVA IDENTIFICA COMO FUNDAMENTOS DA DIVERSIDADE


AGRICULTORES INDÍGENAS CONSERVAM E
Nas roças indígenas do Alto Rio Negro, a quase totalidade da su-
CRIAM VARIEDADES DA MANDIOCA
perfície é ocupada por mandioca brava. Tons de folhagem e dife-

rentes estágios de crescimento dos pés revelam um sistema com-


Os resultados de uma pesquisa recente (IRMSA-CNPq: “Manejo
plexo. A mulher indígena é a mestre de obra dessa construção.
dos Recursos Biológicos na Amazônia: a Diversidade Varietal da
Uma vez desmaiada e queimada a área de floresta ou de capoeiras
Mandioca e sua Integração nos Sistemas de Produção”, 1998/2000),
velhas pelos homens, o trabalho da roça toma-se feminino, desde
apontam a região do Alto Rio Negro como um pólo de alta agro-
a escolha das variedades de mandioca ou das outras espécies cul-
biodiversidade. Foram registradas 89, 74 e 60 variedades, respec-
tivadas até o preparo dos alimentos. As mulheres indígenas são as
tivamente, junto a 12 agricultores indígenas Tukano ou Desana,
principais detentoras do saber ligado aos diferentes cultígenos.
seis Baniwa e nove Baré. Em cada uma das roças, o número de
variedades de mandioca levantadas foi de 15 a mais de 25. Nas Mas quais são os fundamentos de uma tal diversidade? Primeiro,

outras regiões pesquisadas na Amazônia brasileira, embora a di- há que se considerar os processos de seleção e experimentação

versidade se mantenha alta como um todo (com 41 variedades na de variedades, realizados durante inúmeras gerações, maximizando
-
região de Altamira ou 16 no Alto Juruá), se reduz singularmente a a diversificação das características agronômicas, utilitárias, ou

nível individual, com menos de quatro variedades cultivadas por morfológicas - das variedades. É o fundamento do processo local

agricultor. As explicações para esses contrastes só podem ser en- de seleção. Essa diversificação, que talvez encontre sua expressão
contradas com uma análise global dos sistemas que produzem ou máxima na região do Alto Rio Negro, dá origem a um amplo leque
utilizam esses recursos fito-genéticos. de variedades que confere aos sistemas agrícolas uma certa esta-

bilidade em termos de adaptações às condições ecológicas locais,


A agrobiodiversidade ficou em parte esquecida nos inventários da
de calendário de colheita (pelas diferenças de tempo de maturação
biodiversidade da região amazônica. Mas o “rolo compressor da
e de conservação na terra) e de resistência às pragas. É, portanto,
civilização”, os paradigmas de uma agricultura “moderna" e as
um importante fator de segurança alimentar.
pressões do mercado, ameaçam a diversidade de plantas tradido-
nalmente cultivadas e os sistemas agrícolas que lhes deram ori- As variedades diferem também pelos seus teores em amido, água,

gem, como o fogo e a floresta. fibras, etc. A combinação dessas características permite preparar

vários alimentos (farinhas, beijús, mingaus, caxiris, condimentos,


Os pesquisadores do projeto IRD/ISA compararam a diversidade
etc.) de uso quotidiano ou festivo. Porém, não existe uma relação
das variedades de mandioca, principal cultivo e base da alimenta-
direta entre o uso de uma certa variedade e um produto: é um
ção na Amazônia, entre populações indígenas, caboclas, de colo-
conjunto de variedades de caracteres semelhantes ou comple-
nos e de seringueiros - no Rio Negro, no Médio Amazonas, na
mentares, que permite elaborar um certo produto.
Amazônia oriental e no Acre - com a finalidade de caracterizá-la,

de entender suas funções, as práticas agrícolas e representações a Percebe-se, então, que o elemento central de manejo não é apenas
ela associada e os processos evolutivos em curso. a variedade, mas a diversidade em si, enquadrando-se assim numa
lógica oposta à agricultura moderna que privilegia a homoge-
neidade e a produtividade do cultivo.

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 261


[
Roça de mandioca no alto Iça na.

Mas a conservação de uma tal diversidade não responde apenas a regiões de colonização, os “indivíduos'' provenientes de sementes

fatores utilitários. É um bem coletivo inserido num referencial cul- são arrancados ou ignorados, por interferirem com uma diversi-

tural comum que se expressa, por exemplo, através dos mitos de dade varietal definida de forma mais rígida.

origem da agricultura ou das plantas cultivadas. Tem um valor

patrimonial e sua circulação responde a regras coletivas. Sistemas


FRAGILIDADE E RECONHECIMENTO
de trocas entre as 22 etnias indígenas da região do Alto Rio Negro
e formadores ocorrem num raio de centenas de quilômetros in- Atualmente, a elevada diversidade repousa em dinâmicas internas,
cluindo comunidades na Colômbia e na Venezuela. independentes das intervenções exteriores. Não obstante, as mo-

Apesar de ser menos visível, há outro elemento que enriquece cons- dificações geradas por uma pressão cada vez maior para a comer-
tantemente a diversidade de mandiocas: a fonte de diversidade cialização dos derivados de mandioca, uma crescente migração
encontra-se na multiplicação sexuada das mandiocas. Esse cultivo
da população rural para os pólos urbanos e a perda dos saberes

por estacas. Assim, o patrimônio associados tomam mais frágeis essas formas de manejo.
é principalmente reproduzido
genético de uma variedade será transmitido identicamente às ge-
A alta agrobiodiversidade identificada nas populações tradicionais,
rações de plantas seguintes. Ora, como qualquer outro vegetal, a
como entre os povos indígenas do Alto Rio Negro, não caracteriza
mandioca produz também sementes que, pela recombinação ge-
um estado de referência absoluto. Reflete uma história, pré e pós-
nética que ela implica, darão origem a novas variedades. Esse fe-
colonial, constituída de migrações, de contatos interétnicos e de
nômeno, embora não controlado, é perfeitamente conhecido por
pressões econômicas. Porém, o elemento que foi conservado, e
agricultores indígenas e caboclos da Amazônia e aproveitado como
cuja conservação deve ser incentivada, é a capacidade de adapta-
fonte de diversidade. Os novos pés nascidos de sementes serão
ção, através de práticas agrícolas e das representações associadas
testados, rejeitados ou multiplicados, dessa vez por estacas. Serão
à diversidade, a novos contextos. Manter uma alta diversidade não
incorporados ao estoque de variedades dos agricultores e entra-
significa ficar marginalizado em relação às exigências do merca-
rão em circulação nas mencionadas redes de intercâmbio.
do. As duas dimensões são compatíveis, principalmente se o papel
Esta relação entre diversidade e inovação - note-se que os funda- dessas populações, de conservar e criar novas variedades, for re-
mentos dos processos de seleção de novas variedades assemelham- conhecido e integrado nas políticas de conservação de recursos
se aos processos dos melhoradores modernos não é comparti- genéticos, em condições jurídicas que assegurem seus direitos
lhada por todos os agricultores da Amazônia. Por exemplo, nas sobre o material biológico, (setembro, 2000)

262 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 19se/2000 - INSTITUTO socioambiental


ORGANIZAÇÕES REUNIÃO DO CONSELHO região e alternativas econômicas para as aldei-
as. O encontro ocorreu entre os dias 28 de ju-
INDÍGENAS Vinte etnias já confirmaram participação na dé-
lho e
o
I de agosto, em Iauareté, município de
cima Reunião Ordinária dos Conselho Adminis-
S. Gabriel da Cachoeira.
trativo da Foirn entre 10 a 13 deste mês em S.
MULHER INDÍGENA PROTESTA Gabrielda Cachoeira. Entre os assuntos a se-
Parte considerável das terras indígenas do Rio
CONTRA DISCRIMINAÇÃO rem debatidos estão a demarcação de terras e a
Negro estão superpostas à faixa de fronteira in-

ternacional com a Colômbia, onde o Exército


Não há diferença no tratamento dado á mulher falta de políticas para o desenvolvimento auto-
brasileiro mantém vários pelotões. Nesse senti-
pelo homem branco e pelos das tribos indíge- sustentável das comunidades indígenas. (A Crí-
do, a assembléia reiterou a necessidade de se
nas do Alto Rio Negro. “Sofremos violência tica, 06/12/97)
estabelecer um diálogo com o governo federal
como espancamentos, agressões e lá não temos sobre sua pol ítica nacional de defesa para a re-
a quem reclamar", afirma a presidente da As- MULHERES DISCUTEM gião, a fim de criar uma convivência harmoni-
sociação das Mulheres Indígenas do Alto Rio MIGRAÇÃO osa entre os índios e os pelotões de fronteira.
Negro (Amam), Maria do Carmo Trindade Ser- (ISA, 08/11/98)
Mulheres indígenas da região do Alto Rio Negro
ra, 32 anos, casada, três filhos, há 12 anos em
querem criar alternativas econômicas nas aldei-
Manaus. Para ela, ser mulher é difícil em todos
os lugares porque esta não é ouvida. A associa-
as para evitar a migração para Manaus. Elas es- ASSEMBLÉIA CRIA
ção foi criada em 1984 para organizar as mu-
tão reunidas desde ontem, na sede da Coorde- ORGANIZAÇÃO NO
lheres indígenasque migraram do Alto Rio Ne-
nação das Organizações Indígenas da Amazô- BAIXO IÇANA
nia Brasileira (Coiab) e até , amanhã pretendem
gro a Manaus, recebendo a doação de uma casa
discutir propostas para um plano de trabalho Reunidos na comunidade Boa Vista, na Foz do
pela antropóloga do Inpa, Janete Chemela. (A
na região, que valorize a cultura, o artesanato, Içana, entre 19 e 20 de março, 93 participan-
Crítica, 10/03/96)
o trabalho feminino e fortaleça politicamente a tes - incluindo os capitães de nove comunida-
organização indígena de mulheres. des do baixo Içana - fundaram a Associação
FOIRN ELEGE DIRETORIA Da assembléia das mulheres indígenas do Alto das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Içana
A Assembléia Geral da Foim, realizada de 1 1 a Rio Negro se pretende retirar propostas de in- (Aibri). A reunião foi presidida por Valdomiro
14 de dezembro de 1996, elegeu a nova direto- tercâmbio entre as mulheres que migraram para Firmino e foi aberta com uma oração proferida
ria para o período de 1997 a 2000. A nova di- a cidade e as que estão no interior. (A Crítica. pelo irmão envangelista Felipe Aleixo. Da nova
retoria é constituída pelos seguintes membros: 06/09/97) associação fazem parte as seguintes comunida-
presidente - Pedro Garcia, da etnia Tariano; des: Piraiauara, Cabeçudo, Camarão, Jauacanã,
vice-presidente - Maximiliano Menezes, da etnia ORGANIZAÇÕES DE IAUARETÉ Auxiliadora, Irari-Ponta, Nazaré do Cubale, Buia

Tukano; Secretário - Bonifácio José, da etnia BUSCAM AÇÃO COORDENADA Igarapé e Boa Vista da Foz do Içana. Com a nova
Baniwa; Tesoureiro - Miguel Maia, da etnia organização, estas comunidades se desligaram
Tukano. Na assembléia também realizou-se a Pela primeira vez, um grupo de oito organiza- da Associação das Comunidades Indígenas do
escolha dos novos integrantes do Conselho Ad- ções indígenas da região de Iauareté, na Tem Rio Içana (Aciri), que tem sede em Assunção.
ministrativo da Foim, indicados pelas Associa- Indígena Alto Rio Negro (AM), noroeste da Os Estatutos foram aprovados, após leitura e
compõem a sua base territorial. (Co-
ções que Amazônia brasileira, se reuniu para discutir pro- explicações de Bonifácio José, diretor da Foim
municado da Foim, 15/12/96) blemas comuns, associados a questões como presente ao evento. A nova associação preten-
escolaridade indígena, fiscalização das terras de lutar pelos direitos indígenas, fiscalizar e pro-

indígenas recentemente demarcadas, relaciona- teger as terras demarcadas, valorizar a tradi-


mento com as Forças Armadas instaladas na ção, buscar alternativas econômicas, buscar

Pedro Garcia Tariano. Maximiliano C. Menezes Tukano. Bonifácio José Baniwa. Miguel B. Maia Tukano.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 263


apoio para os agentes de saúde e professores governamentais para facilitar as elaborações de Coripaco do Alto Içana, com apoio da Organi-
locais, incentivar os esportes e obter meios de projetos, segundo a realidade local. (A Crítica ,
zação Indígena da bacia do Içana (Oibi), avali-

transporte e comunicação de interesse coleti- 18/06/99) aram a situação da Funai na região e decidiram
vo. Foram eleitos para dirigir a associação Eido eleger um novo chefe de posto para a comuni-
Américo Cordeiro (presidente), Valdomiro Fir- FOIRN SOLICITA PRESSA NA dade de S. Joaquim, onde existe também um
mino (vice), José Maria Sampaio (secretário) TRAMITAÇÃO DO ESTATUTO pelotão do Exército. A sessão foi dirigida pelo
e Cosme Afonso Bittencourt (tesoureiro). Para capitão da Comunidade, sr. Alexandre Luiz
Lideranças indígenas reunidas para a XIII Reu-
conselheiros foram escolhidos Marcílio Didório Quintino. Apresentaram-se quatro candidatos e
nião do Conselho Administrativo da Foirn deci-
e Domingos Plácido. (ISA, aJmrtirdaAtada I 0 mais votado foi Rogério Luiz Quintino, cujo
diram solicitar do presidente da Câmara dos
Assembléia da Aibri, 19 e 20/03/99) curriculum inclui a formação escolar até a quar-
Deputados, Michel Temer, que aprove o Projeto
ta série do primeiro grau, seis anos como "pro-
AUTO-SUSTENTABILIDADE de Lei 2057/91 que visa instituir o Estatuto das
como
,

fessor rural” e quatro anos representan-


É TEMA DE ENCONTRO Sociedades Indígenas, que está com a sua
te da Prefeitura na região. (ISA, com base na
tramitação paralisada há vários anos na Câma-
Auto-sustentabilidade como fonte de alternati- Ata da Reunião de 23/08/99)
ra. As lideranças solicitam também que seja dis-
vas econômicas para o próximo milênio aos
cutido também o Projeto de Lei 1610-A/96, que 1ENCONTRO INDÍGENA DE
índios e ribeirinhos do Alto Rio Negro e da Ama-
pretende regulamentar as atividades de pesqui-
zônia Brasileira é o tema do I
o
Encontro dos BARCELOS FUNDA “ASIBA”
sa e lavra de minérios em terras indígenas. (So-
Povos Indígenas e Ribeirinhos da Região, que
licitação da Foirn à Câmara dos Deputados, Um grupo de indígenas do município de Barce-
começou anteontem e vai até hoje no Municí-
07/08/90) no Baixo Rio Negro, preocupado principal-
los,

pio de S. (iabriel da Cachoeira. Cerca de 300 mente com a questão “da sobrevivência das fa-
líderes indígenas estarão reunidos na cidade, mílias e a desvalorização da sua cultura moral
CORIPACO DO ALTO IÇANA
discutindo a maneira de implementar econo- e material", reuniu-se e decidiu preparar uma
ELEGEM CHEFE DE PI
mias alternativas auto-sustentáveis nas comu- reunião maior, a qual ocorreu no dia 5 de no-
nidades para evitar as dependências econômi- Aproveitando a oportunidade de uma Conferên- vembro de 1999, no Salão Paroquial de Nossa
cas e especuladores da região e a busca de ali- cia Bíblica na comunidade de Jerusalém, na qual Senhora da Conceição, com a presença de 80
anças com instituições governamentais e não- estavam reunidas cerca de 450 pessoas, os pessoas de várias "tribos". O principal tema

VI ASSEMBLEIA GERAL DA OIBI E PRIMEIRA REUNIÃO CORIPACO


Representantes das comunidades Baniwa de um Indígena Baniwa), demarcação (importância e da Prefeitura;
trecho do alto Içana, organizadas na Oibi, reuni- por isso deve haver proteção e Jiscalização, e a - Em Campo Alto fazer um barracão para passa-
ram-se em 10 de outubro de 1999 na VI Assem- bebida alcóolica é totalmente proibida na área geiros.
bléia Geral da associação, numa comunidade indígena e que isto é lei), comunicação (seis rá- Essas reivindicações devem ser levadas às autori-
Coripaco. A assembléia geral da Oibi acontece dios em operação e o projeto futuro para a re- dades pela Oibi.
anualmente para prestar contas e relatar as ati- gião) e transporte (motores de popa da associa- A assembléia aprovou a criação de uma associa-
vidades desenvolvidas ftela diretoria da associa- ção, bote, bongos e barco-motor). ção Coripaco com objetivo de procurar resolver
ção. Em 1998 a Oibi decidiu fazer a assembléia Fundação da Oleai - No dia / / seguiu-se urna problemas levantados. Na seqüência foram pro-
seguinte na comunidade de Coraci, com objetivo reunião com os capitães, lideranças, professores postos quatro nomes para associação, sendo ven-
de reunir representantes Coripaco, que habitam e agentes de saúde Coripaco das comunidades ,
cedor Organização Indígena das Comunidades
o segmento mais alto do Içana. Ao todo estavam Matapi Cachoeira, Coraci, Roraima, Barcelo, São Coripaco do Alto Içana (Oicai). Depois veio indi-
presentes cerca de cem ftessoas, contando com Joaquim, Wariramhá, Boa Vista, Campo Alto, Ma- cação dos candidatos para compor a diretoria da
lideranças de dez comunidades Coripaco, capi- traca, Jerusalém e Wainambi. Estava presente um Oicai, que foram: Paulo Lorenço, Tuli Melício,
tães, professores, agentes de saúde, além de re- representante da comunidade Coripaco Ponta Ti- Paulo Graciliano e Laureano Lourenço. Na elei-
presentantes da Foirn e do ISA. gre. Mais uma vezfalou-se das diferenças entre as ção ganhou para presidente o Laureano Louren-
A da Oibi tratou do descobrimento, co-
diretoria que "organização é conforme inte-
instituições e ço, com 47 votos; Tuli Melício, vice presidente, com
lonização e história mais recente do Brasil, ex- resse de cada um, por exemplo: religioso, civil, 26 mios; Laureano lourenço, para secretário, com
plicando como funciona e comparando as insti- indígena, ONGs e dos governos". Dito isto, a As- 15 votos; Paulo Graciliano para tesoureiro com 4
tuições governamentais, civis e dos índios, asse- sembléia se dividiu em grupos e depois organizou votos, no total de 92 votantes. Para o Conselho
guradas f>ela leifederal. Esta introdução foi feita uma lista de reivindicações: Fiscal foram indicados Graciliano e Samuel. A
para justificar o porque das organizações indí- - Falta de transporte para comunidades, AIS e pro- posse teve a palavra de dois capitães e oração fi-
genas no Brasil, na Amazônia, no Amazonas, em fessores; nal. A sede da associação será em Coraci. O man-
São Gabriel e no rio Içana. Seguiram-se relatos - Melhorar formação de AIS; dato da diretoria será de 4 anos. A próxima as-
sobre as atividades realizadas nas áreas educa- - Falta de apoio político; sembléia que será na comunidade de Panapanã,
ção (formação de professores, escola indígena - Precisa de associação própria; nos dias 10 e II de outubro de 2000. "A/xís mani-
Baniwa e Coripaco e trabalho para elaboração de - Falta de material agrícola; festação de satisfação dos presentes na avaliação,
uma gramática Baniwa e dicionário), saúde - Transporte aéreo deve melhorar; a noite fez-se o encerramento do evento deste
(participação na política de saúde em São Falta pesquisar minério; povo, bastante importante e histórico, com culto
-

a a
Gabriel, projeto de plantas medicinais com agen- - Precisa de escola de 5 a 8 série em São Joaquim: e manifestação de cultura e apresentações das
tesde saúde e Distrito Sanitário Especial Indíge- - Precisa de mais radiofonia; escolas e agradecimentos". (ISA, com base no Re-
na do rio Negro), alternativas econômicas (ex- - Precisa de mais AÍS em Campo Alto e Matraca; latório da Oibi referente à VI Assembléia Geral da
a a
periência: artesanato, farinha, tantalüa, avicul- - Precisa de reformas das escolas de I a 4 série; Associação e à primeira reunião das comunidades
tura e atualmente l*rojeto Arte Fibra de Arumã - Falta melhorar comunicação com representante Coripaco do Alto Içana, 24/10/99)

264 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


:

abordado foi ‘a necessidade de que os grupos cerca de 30 mil índios de 22 etnias diferentes. A livre circulação de bebidas alcoólicas em suas
se organizem para que sejam valorizadas as suas Foirn articula 34 organizações afiliadas, áreas. Apesar de proibida por lei, é notória a
culturas artísticas e materiais: e ... preservados O documento entregue ao presidente da Funai presença do álcool nas diversas áreas. Muitos
os seus costumes e suas identidades”. descreve dez linhas de ação, que passam pelo mostraram-se preocupados com o fluxo de
Após várias discussões, foi criada a Associação aprimoramento da comunicação entre as asso- transporte a partir da Colômbia, que encontra
Indígena de Barcelos (Asiba) e escolhida uma ciações e entidades que aluam na região, pelo condições de navegação favoráveis próximo as
Comissão Provisória para coordenar os traba- aperfeiçoamento da fiscalização sobre os limi- áreas indígenas. Outros observaram o proble-
lhos, composta por: Cecília Ticana, Virgília Baré, tes das (erras indígenas, pela implementação de ma representado pelo alcoolismo junto a mili-
Benjamin Baniwa, Clarindo Tariana, Romilda projetos demonstrativos geridos pelos índios tares e algumas lideranças indígenas, que faci-
Baniwa, Edgard Baré, Américo Tucano, Dilsa que possibilitem promover solução para pro- litam e até viabilizam o transporte de bebida
Baré e Maria Miguel Baré. blemas relacionados à falta de infra-estrutura e para dentro de suas reservas. Entre as propos-
O relatório sobre a reunião destaca que, em de serviços e a atender demandas básicas das tas de combater o problema está a de redistri-

1999, apareceram na região vários pesquisa- comunidades (segurança alimentar, saúde, edu- buir os postos de fiscalização, coordenando-os
dores, historiadores e lingliístas, que nunca fi- cação, saneamento, transporte), pelo fomento para uma ação mais eficaz. (ISA, a partir da
zeram algo que favorecesse a população indí- à capacidade técnica e a geração de renda c pela Ata da XIVReunião do Conselho Administra-
gena. No mês dc maio, apareceu IsmailTariano, articulação com órgãos públicos cujas ações tivo da Folm, jan/OO)
para pesquisar a história de Barcelos e propôs incidem nas áreas.
aos líderes indígenas que fosse feito “um gran- A proposta em questão sugere também atenção FOIRN AMPLIA DIRETORIA
de encontro com todos os irmãos”. à articulação com os programas do Programa E DISCUTE PARTICIPAÇÃO
Diante da necessidade de apoio jurídico, políti- Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais
FEMININA
co e financeiro, ficou acertada uma próxima do Brasil, 0 PP-G7 incidentes sobre a região.
reunião nos dias 10, 11 e 12 de dezembro pró- Além da identificação, demarcação e homolo- Os representantes reunidos na reunião do Con-
ximo, com a presença de pessoas de várias or- gação das Terras Indígenas Marabitanas-Cué Cué selho Administrativo da Foirn concluíram pela

ganizações. Também decidiu-se enviar uma car- e Balaio (via PPTAL), faz referência à implanta- necessidade de ampliação da diretoria da enti-

ta-circular para várias instituições governamen- ção do Corredor Norte da Amazônia, do Projeto dade. Todos concordaram que é preciso que a

tais e não-governamentais e que haverá articu- Corredores Ecológicos e aos Projetos Demons- entidade conte com alguém permanentemente
lação nas 44 comunidades rurais, para trativos Indígenas (PDIs) ,
ainda em discussão instalado em São Gabriel da Cachoeira, devido
cadastramento dos indígenas residentes no in- no âmbito do PP-G7. ao aumento de demanda por mu diretor que
terior. (ISA, Relatório do I Encontro Indígena De posse da solicitação da Foirn, 0 presidente estabeleça contatos, acompanhe o calendário
de Barcelos, 06/11/99) da Funai Carlos Marés sugeriu que o prazo para de prestação de contas e elaboração de relató-

a formulação de um orçamento para 0 Progra- rios e auxilie a comunicação com os parceiros


CRIADA ASSOCIAÇÃO ma Regional de Desenvolvimento Indígena Sus- da entidade. Todos concordaram também com
DE ARTESÃOS tentável do Alto e Médio Rio Negro seja reduzi- a importância que a diretoria conte com a pre-

do, dos 45 dias propostos, para uma semana. sença dc mulheres, que fomentem a participa-
INDÍGENAS URBANOS
(ISA, 15/12/99) ção feminina nas atividades da organização e
Como resultado da “Oficina de Comercialização (raga problemas específicos que digam respei-
de Artesanatos”, realizada em São Gabriel da XIV REUNIÃO DE to a mulher indígena. (ISA, a partir da Ata da

Cachoeira, entre 17 de novembro e 2 de de- XIV Reunião do Conselho Administrativo da


CONSELHO ADMINISTRATIVO
zembro de 1999, com 0 apoio da Mm, Planfor, Foirn, jan/OO)
UA, FAT e ADCAM, foi criada a Associação dos A XIV Reunião do Conselho Administrativo da
Artesãos Indígenas de São Gabriel da Cachoei- Foirn, reunido em 22 de janeiro de 2000, dis-
NOVOS CRITÉRIOS PARA
ra (Assai). (Wayuri, n°35, 08/00) cutiu diversas questões de interesse para 0 mo-
ELEIÇÃO DE DIRETORIA
vimento indígena da região, como a alteração

PROGRAMA DE do estatuto da entidade, 0 plano de proteção e A Foirn, cm reunião dc seu Conselho Adminis-
a Marcha trativo, discutiu os atuais critérios para a elei-
DESENVOLVIMENTO fiscalização pela parceria ISA/ Foirn,
dos 500 Anos, e a implantação do Distrito Sani- ção de membros dc sua diretoria. Ficou deci-
INDÍGENA SUSTENTÁVEL
tário Especial Indígena. Além destas questões, dido que o número de delegados a participar
A Poim entregou ao presidente da Funai, Carlos discutiu-se também os critérios necessários que da Assembléia da entidade a eleger a nova di-

Frederico Marés, no último dia 10 de dezem- devam ter os candidatos que disputarão vaga tia retoria será determinado por calha de rio e não
bro. solicitação de apoio político e financeiro diretoria da entidade e formou-se grupos para por associação. A calha do Rio Negro, Uaupés
para implementar um programa regional de avaliar os relatórios de atividades das entidades e Tiquié, Içana e Xié lerão cada uma o direito a
desenvolvimento indígena sustentável para 0 Alto de base filiadas à Foirn. (ISA, a partir da Ata 20 delegados, e a calha do Uaupés e Papuri,
e Médio Rio Negro. A proposta tem a finalidade da XIV Reunião do Conselho Administrativo 40. (ISA, a partir da Ata da XIV Reunião do
de consolidar a demarcação das cinco terras da Foirn, jan/OO) Conselho Administrativo da Foirn jan/00) ,

chamada “Cabeça do Ca-


indígenas da região
chorro” (noroeste da Amazônia brasileira), ASSEMBLÉIA
SOLUÇÕES PARA II
homologadas em abril de 1998, por meio da
BEBIDAS ALCOÓLICAS FORMALIZA ASIBA
implementação de um conjunto de projetos. As
cinco terras indígenas demarcadas perfazem um Representantes de diversas organizações afilia- Mais de 300 pessoas das etnias Baré, Desana,
total de 10,6 milhões de ha. Na região vivem das a Foirn demonstraram preocupação com a Piratapuia, Tariana, Canamari e Yanomami se

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 265


, ;

reuniram entre os dias 9 e 1 1 dc junho, na II alio rio Negro, a Coidi tem sido estimulada e tura Indígena dos Tariano do Distrito de lau-

Assembléia da Associação Indígena de Barce- apoiada decisivamenle pela Federação das Or- areté;

los (Asiba) . Os participantes residem na pró- ganizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), e é FDDI/lauareté - Fórum de Debates de Direitos

pria cidade de Barcelos e em comunidades c nma experiência sem precedentes. indígenas (representação no Distrito de Iaua-
sítios situados às margens do baixo rio Negro e Antes da criação da. Coidi, as atividades e proje- reté).

afluentes. Três pajés incensaram o local da as- tos desenvolvidos pelas organizações indígenas Assembléias - Em 1998, as principais organi-
sembléia, antes do início dos trabalhos sob a da região do alto rio Negro bascavam-se nas re- zações do Distrito de Iauareté tomaram a deci-
coordenação de Clarindo Tariana, e presidente lações diretas mantidas pela Foirn e suas orga- são de realizar suas assembléias conjuntamen-
da diretoria provisória eleita em novembro de nizações de base, que atualmente já ultrapassa- te, o que levou à realização da primeira assem-
99 (ver acima) O encontro, que contou com a
. ram a casa das 40. A Coidi propõe-se ocupar bleia geral da Coidi, ocorrida no mês de julho.
presença de Miguel Maia, membro da diretoria um espaço intermediário, buscando articular as Nos anos seguintes, 1999 e 2000, a estratégia
da Foirn, discutiu a implantação do Distrito ações de um conjunto de organizações vizinhas se repetiu, e a assembléia geral do Distrito de
Especial Sanitário Indígena do Rio Negro. 0 e que enfrentam problemas similares. Seu epi- Iauareté tornou-se talvez o mais importante
antropólogo Sidnei Feres apresentou os resul- centro de atuação é a sede do Distrito de lau- evento realizado anualmente na região.
tados do recente levantamento feito em conjunto areté, localizado no médio rio Uaupés, defronte Já na primeira assembléia, as organizações pre-
com a antropóloga Ana Gila de Oliveira (ISA/ à boca do rio Papuri, no ponto onde este rio sentes tomaram a importante decisão de exigir a
Foirn) no baixo Rio Negro, para identificar a passa a delimitar a fronteira Brasil/ Colômbia. retirada dos seis comerciantes brancos que atu-
população indígena da região. No último dia A população indígena de Iauareté é de cerca de avam permanentemente em Iauareté. Esta deci-
foram aprovados os Estatutos e eleita a primei- 2,300 indivíduos e a do distrito como um todo são, impulsionada peia demarcação da II Alto
ra diretoria permanente da Asiba, com Clarindo ultrapassa os seis mil. Desse modo, a Coidi re- Rio Negro e pela criação de uma associação de
Tariana na presidência, Marinete (secretária) presenta hoje todas as comunidades situadas no comerciantes indígenas a uma sé-
(Atidi), levou

Feres (tesoureiro). O conselho fiscal foi com- Uaupés entre as comunidades de Urubuquara e rie de gesiões e à ekiboração de documentos di-

posto por seis pessoas, entre as quais Milton Querari, bem como aquelas situadas no rio Pa- rigidos à Funai, Foirn, Poder Judiciário e Polícia
da Assembléia de Deus, também indicado como puri, desde sua foz até a de Melo Franco A popu- . Federal. A saída dos comerciantes brancos acon-
conselheiro da Asiba junto à Foirn. (ISA, com lação residente nessas comunidades pertence teceu entre abril e maio de 1999 de modo que,
,

base no “Relatório sobre a II Assembléia Ge- às etnias Tbkano, Tariana, Desana, Pira-Tapuia, na Segunda Assembléia, este fato já era
ral tia Asiba”, 09 a 11/06/00). Arapasso, Nfcmano, Tuyuka e Maku-Hupda. contabihzado como uma conquista da Coidi.
Fazem parte da Coidi tanto organizações de re- Nesta Segunda Assembléia, também foram in-
ACIBRN ELEGE NOVA presentação política, no sentido restrito do ter- dicados os nomes do Distrito que deveriam con-
DIRETORIA E LANÇA mo. como associações de segmentos específicos, correr às eleições para a Câmara Municipal de
INFORMATIVO que se ocupam de questões setoriais. São elas: São Gabriel da Cachoeira nas eleições de 2000
Unidi - União das Nações Indígenas do distrito e discutidas questões como transporte fluvial,
Em assembléia realizada entre 11 e 13 de ju-
de Iauareté; abastecimento de energia e obras públicas em
lho, na comunidade de Itapereira, foi eleita a
Oici - Organização indígena do Centro Iauareté iauareté, entre outras.
nova diretoria da Associação das Comunidades
(ex LIDI, ex UCIDI); Na Terceira Assembléia, ocorrida em julho de
Indígenas do Baixo Rio Negro (ACIBRN) assim ,
ONIMRP - Organização das Nações indígenas 2000, foi finalmente votado o estatuto da Coidi
composta: Jovelino Horácio (presidente),
do Médio Rio Papuri; e eleita sua segunda diretoria. Neste ano eleito-
Miguel Maia (vice) Clóvis Batista (
1“ secretá-
,

ONIARP - Organização das Nações Indígenas do ral, todos os candidatos à Prefeitura de São
rio) ,
Gerson Fonseca (2° secretário) Josias Bru-
Alto Rio Papuri; Gabriel da Cachoeira estiveram visitando
no e Luis Pena (tesoureiros). A nova diretoria
Unirva - União das Nações Indígenas do Rio Iauareté durante os dias em que foi realizado o
da ACIBRN tem utn programa de transporte c
Vaupés Acima; encontro, apresentando-se formalmenie à ple-
comunicação, além do fortalecimento do polo
Atidi - Associação dos Trabalhadores indígenas nária e fazendo comícios em diversos bairros à
base do Distrito Sanitário Especial Indígena do
do Distrito de Iauareté (dos comerciantes indí- noite. Havia mais de 200 pessoas participando
Rio Negro, sediado em Tapereira; o lançou um
genas) ;
das discussões. Todas as iniciativas c projetos
informativo. (Pucicab, n° 1, uga/00)
Aedi -Associação dos Educadores Indígenas do das organizações e associações foram apresen-
de Iauareté; tados durante os quatro dias de reunião. Diver
COORDENAÇÃO GERAL DE Distrito
-
Aispi Associação Indígena de Saúde Pública sos ofícios cobrando ações, fazendo sugestões
ORGANIZAÇÕES EM IAUARETÉ
de Iauareté; ou solicitando explicações foram elaborados e

Criada no final de 1997, a Coordenação das Amidi - Associação das Mulheres Indígenas do dirigidos à Prefeitura de São Gabriel, à Funai, à
Organizações Indígenas do Distrito de iauareté Distrito de Iauareté; Centrais Elétricas do Amazonas e ao Comando
(Coidi) representa uma integração de esforços APMCIFSM - Associação de Pais e Mestres das Militar da Amazônia. Além dos políticos, parti-

das cinco principais organizações indígenas Comunidades Indígenas da Escola São Miguel ciparam instituições como Foirn, FDDI/São
existentes nesta região (Unidi, Oici, Onimrp, Cercii - Centro de Estudos e Revitalização da Gabriel, ISA, Funai, Saúde Sem Limites, Prefei-

Oniarp e Unirva - ver abaixo). No contexto da Cultura indígena de Iauareté; tura de São Gabriel e Missão Salesiana. (ISA,
institucionalização do movimento indígena do AILCTDI - Associação Indígena da Língua e Cul- out/00)

266 I NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2D0D- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO
Até 1995, existiam 23 organizações indígenas na região do Rio Negro. Entre 1996 e 2000, esse número dobrou.
Somam, agora, 46, das quais 42 são filiadas à Foim.

Sigla Ano de fundação Sede Rio Associados Abrangência

1. AMARN 1984 Manaus Negro - Baixo 41 mulheres Cidade de Manaus

2. ASIBA 1999 Barcelos Negro - Baixo 60 comunidades Município de Barcelos

3. ACIMRN 1994 S. Isabel Negro - Médio 34 comunidades Da Ilha de Chile para baixo,

incluindo Padauiri e Preto

4. CACIR 1993 Liábada Negro - Médio 12 comunidades De Plano até a Ilha do Chile
5. ACIBRN 1988 Tapereira Negro - Médio 19 comunidades De Tapajós ate Amti

6. AAISARN 1995 São Gabriel Vários 10 agentes indígenas Rio Negro


da Cachoeira (SGC) de saúde

7. APIARN 1999 SGC Vários 220 professores Rio Negro

8. ASSAl-SGC 1999 SGC Negro 27 pessoas Município de SGC

9. FDD1-SGC* 1997 SGC Negro 28 pessoas Município de SGC

10. getec 1999 SGC Negro 26 pessoas Cidade de SGC

11. AINBAI, 1991 Balaio Miuá/la Mirim/ 07 comunidades Comunidades ao longo


Balaio e Demiti da BR 307
32. AYRCA 1999 Maturacá Cauaburis 05 comunidades Maturacá, [nambu,
Maturacá/Ariabú Ariabú. Maiá e Nazaré

13. ACIRNE 1988 Cué-Cué Negro 13 comunidades De Auxiliadora até S. Francisco

14. ACIPK (= AIP) 1992 Ilha das Flores Negro - Alto 12 comunidades De S. Sebastião até S. Felipe

15. OCIARN 1998 Marabilanas Negro - Alto 12 comunidades De Nova Jerusalém até Cucuí

16. ACIRX 1989 Vila Nova Xié 09 comunidades Rio Xié

17. ACITRUT 1986 Taracuá Uaupés/Tiquié 28 comunidades De Monte Cristo até Ipanoré

(no Uaupés) e Colina (no Tiquié)

18. AM1TRUT 1989 Taracuá Uaupés/Tiquié 28 comunidades De Monte Cristo até Ipanoré

(no Uaupés) e Colina (no Tiquié)

19- ACIRC 1998 Dhutura Igarapé Castanha 08 comunidades De Fátima até Buraco de Cobra
20. UNIRT 1990 S. José 2 Tiquié 16 comunidades De Pirarara-poço até S. João Batista
21.CIPAC 1989 Pari-Cachoeira Tiquié - Alto 4 bairros Pari-Cachoeira - sede
22. ATRIART (1994) Caruru Tiquié - Alto 1 3 comunidades De S. Domingos até Fronteira Igarapé
(ex-CRETIART) 2000

23- ACIRU 1991 S. Sebastião Uinari/Tiquié 04 comunidades Umari (de S. Sebastião até Piracema)

24. OIBV 1997 Bela Vista Tiquié 01 comunidade Beia Vista

25. UNIDI 1989 Loiro Uaupés 18 comunidades De Urubuquara até a Ilha S. João
26. OICI 1997 iauareté Uaupés 10 comunidades Distrito Iauareté

27. AMIDI 1995 Iauareté Uaupés 70 comunidades Distrito Iauareté

28. AEIDI 1997 Iauareté Uaupés 70 comunidades Distrito Iauareté

29. COIDI 1997 Iauareté Uaupés 70 comunidades Distrito Iauareté

30. AUDI 1998 Iauareté Uaupés 40 pessoas Distrito Iauareté

31. APMCIESM* 1998 Iauareté - sede Uaupés sem informação Distrito Iauareté

32. A1SP1 2000 Iauareté Uaupés 28 pessoas Distrito Iauareté

33. A1LCTDI 2000 Iauareté Uaupés 150 Tariano Distrito Iauareté

de 10 comunidades

34. CERCn* 2000 Iauareté Uaupés 40 pessoas Iauareté - sede


35. FDDI- iauareté’* 1999 iauareté Uaupés 30 pessoas Iauareté - sede

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCIDAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 267


;

Sigla Ano dc fundação Sede Rio Associados Abrangência

36. UNIKVA 1996 Arara Cachoeira Uaupés - Alto 26 comunidades De Taiaçu até Foz do Querari (nUaupés)

e Sta. Terezinha (no Iauiari)

37. UNIMRP 1994 Pato Papuri - Medio 17 comunidades Itapinima a Uandé

38. ONIARP 1994 UirapLxuna Papuri - Alto 08 comunidades De Uirapixuna até Melo Franco

39. AIBRI 1999 Boa Vista Içana - Baixo 10 comunidades De Boa Vista até Buia
(no Içana) e Nazaré do Cubate

40. AMAI 1992 Assunção Içana - Médio 03 comunidades Assunção

41. OCIDAI (1989) Assunção Içana - Médio 03 comunidades Assunção


(ex-AQRI) 1999

42. OIBI 1992 Tucumã Içana - Alto 16 comunidades De S. José até Tamanduá

43. UMB 1997 Castelo Içana — Alto 8 comunidades De Nazaré do Tçana até Tümii
c Vista Alegre (no Culari)

44. OICAI 1999 Coraci Içana-Alto 16 comunidades De Matapi até Camanaus

45. UMIRA 1999 Canadá Aiari 22 comunidades Aiari

46. ACIRA 1995 Canadá Aiari 22 comunidadses Aiari

(*) Não filiadas à Foim.


Informações atualizadas por Beto Hicardo/ISA até outubro/2CKI0.

1) AMARN: Associação das Mulheres Indígenas 17) ACITRUT: Associação das Comunidades In- 32) AISPI: Associação Indígena de Satíde Pú-
do Alto Rio Negro; dígenas de Taracuá do Rio Uaupés e Tiquié; blica de Iauareté;

2) ASIBA: Associação Indígena de Barcelos; 18) AMITRUT: Associação das Mulheres Indí- 33) AILCTDI: Associação Indígena da Língua e
3) AQMRN: Associação das Comunidades In- genas de Taracuá do Uaupés e Tiquié; Cultura Indígena dos Tariaito do Distrito de
dígenas do Médio Rio Negro; 19) ACIRC: Associação das Comunidades Indí- Iauareté;

4) CACIR: Conselho de Articulação das Comu- genas do Rio Negro; 34) CERCI1: Centro de Esntdos e Revitalização
nidades Indígenas Ribeirinhas; 20) UN1RT União das Nações Indígenas do Rio da Cultura Indígena dos Tariano do Distrito de
5) AC1BRN; Associação das Comunidades do Tiquié; Iauareté;

Baixo Rio Negro; 21) CIPAC: Comunidades Indígenas de Pari -


35) FDDI-Iauareíé: Fórum de Debate de Direi-
6) AAISARN: Associação dos Agentes Indígenas Cachoeira; tos Indígenas de Iauareté;

de Saúde do Alto Rio Negro; 22) ATRIART: Associações das Tribos Indígenas 36) UNIRVA; União das Nações Indígenas do Rio
7) AFIÀRN: Associação dos Professores Indíge- do Alto Rio Tiquié; Uaupés Acima;
nas do Alto Rio Negro; 23) ACIRU: Associação das Comunidades Indí- 37) UN1MRP; União das Indígenas do Médio
8) ASSAI/ SGC: Associações dos Artesões Indí- genas do Rio Umari; Papuri;

genas - São Gabriel da Cachoeira; 24) OIBV: Organização indígena de Bela Vista 38) ONIARP: Organizações das Nações Indíge-
9) EDDI-SGC: Fórum de Debate de Direitos In- 25) UN1D1: União das Nações Indígenas do Dis- nas do Alto Rio Papuri;
dígenas - São Gabriel da Cachoeira; trito de Iauareté; 39) AIBRI: Associação Indígena do Baixo Rio
10) GETEC: Grupo de Estudo e Trabalho em 26) OICI: Organizações indígenas no Centro de Içana;
Ecoturismo; Iauareté; 40) AMAI: Associação das Mulheres do Assun-
11) AINBAL: Associação Indígena de Balaio; 27) AM1DI: Associação das Mulheres do Distri- ção do Içana;
12) AYRCA: Associação dos Yanomami do Rio to de Iauareté; 41) OCIDAI: Organização das Comunidades In-

Cauboris; 28) AEIDI: Associação dos Educadores Indíge- dígenas do Distrito de Assunção do Içana;

13) ACIRNE: Associação das Comunidades In- nas do Distrito de Iauareté; 42) OIBI: Organização Indígena da Bacia do
dígenas do Rio Negro; 29) COIDI: Coordenado ria das Organizações In- Içana;

14) ACIPK: Associação das comunidades Indí- dígenas do Distrito de laureté; 43) UNIB: União das Nações Indígena Baniwa;
gena de Potira Kapuamo; 30) ATÍDI: Associação dos Trabalhadores Indí- 44) OICAI: Organização Indígena Curipaco do
15) OC1ARN: Organização das Comunidades genas do Distrito de laureté; Alto Içana;

Indígenas do Alto Rio Negro; 31) APMCIESM: Associação de Pais e Mestres 45) UMIRA: União das Mulheres Indígenas do
16) ACIRX: Associação da.s Comunidades Indí- das Comunidades Indígenas da Escola São Rio Ayari;
genas do Rio Xié; Miguel; 46) ACIRA: Associação das Comunidades indí-
gena do Rio Ayari.

268 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199612000 - INSTITUTO SOCtOAMBIENTAL


, .

ASSEMBLÉIA DA FOIRN ELEGE DIRETORIA PARA 2001-2004


Reunidos tia V Assembléia Geral eletiva da Fede- xas e exigem ilois turnos de votação. Na primeira deia Yanomami de Maturacá está em estudo, mas
ração das Organizações Indígenas do Rio Negro rodada, os delegados da Assembléia votam em um que nada será Jeito sem o consentimento da co-
(Foim), encerrada em 25/10/00. emS. Gabriel da dos candidatos indicados por cada pré-assemhléia munidade indígena local. Os 25 Yanomami pre-
Cachoeira 240 delegados de 42 associações indí-
, regional (Içana-Xié, Alto Uaupés-Papuri, Tiquié- sentes à Assembléia reagiram imediatamente e
genasfiliadas elegeram a nova diretoria da enti- Raixo Uaupés e Rio Negro). Somente na segunda entregaram carta aberta na qual se posicionam
dade para os próximos 4 anos. 0 novo presidente votação é que as posições dos quatro mais vota- contra a construção da estrada ( ver notícia no
é Orlando Oliveira, um Baré, professor em S. Isa- dos, um de cada região, são definidas. capitulo Roraima Mata).
bel. 0 é Domingos Barreto Tukano do alto
vice , A assembléia foi realizada no ginásio do Colégio Em relação ao fyelotão defronteira planejado para
Tiquié, presidente da Atriart. 0 secretário será S. Gabriel, onde a Foim foi fundada em l JH7.
l
Os ser instalado em Tunttí Cachoeira Alto Rio Içana,
.

Edilson Melgueiro Baniwa de Assunção do Içana,


,
trabalhosforam coordetiados por Álvaro Sampaio os militares refwtiram que se trata de um local
atual presidente da associação do maior bairro ( Tukano) e Orlando Baré, com a assessoria do a comunidade será beneficiada
estratégico e que
indígena da cidade de S. Gabriel, onde ele reside. advogado Paulo Pankararu (ISA). Num clima de com equipamentos e acesso a serviços.
obras,
0 tesoureiro eleito foi José Maria de Lima tranqüilidade, a reunião durou três dias e foi Bonifácio José, Baniwa do Içana e diretor da
Piratapuia de lauareté. marcada mais por avaliações do que por decisões, Foirn, reafirmou que a comunidade não quer o
A novidade foi a eleição de um quinto membro além da eleição da nova diretoria. pelotão por perto, embora nada tenha contra sua
jmra compor a diretoria da Foim na função de No primeiro dia da V Assembléia, estiveram pre- instalação dentro da TI Alto Rio Negro.
secretário executivo, cargo criado durante a As- sentes o presidente da Funai, Glenio Álvares, e os No segundo dia. foram relatados e avaliados o Dis-
sembléia. Apesar dos participantes terem rejeita- comandantes militares da região, Teu. Gel. Madei- trito Sanitário Esftecial Indígena do Rio Negro e os
do a da representação obrigatória das mu-
tese ra (V BIS) eMj. Ebling (BEG). Corneies, os delega- projetos-piloto que a Foirn desenmlve em parceria
lheres na diretoria, as associações das quatro dos indígenas discutiram questões relativas ao com o ISA e algumas associações locais, nas áreas
macro -regiões da entidade indicaram apenas plano de proteção e fiscalização das terras de piscicultura e manejo agroforested, comercia-
mulherespara concorrer ao cargo, e Rosilene Fon- demarcadas e outras questões polêmicas. 0 presi- lização de artesanato e educação escolar.
seca, professora de S. Isabel, foi eleita. dente da Funai disse que não tem recursos esse No discurso de encerramento, os atuais diretores
Dessa forma, houve renovação total da composi- ano para fazer sair do papel os 1 1 postos defisca- ressaltaram que vão garantir o cumprimento da
ção da diretoria. Todos os membros da diretoria lização cujas portarias ele mesmo assinou em agenda de atividades previstas até o final do ano
que encerra seu mandato em dezembro de 2000 agosto passado. Os comandantes militares infor- e uma transição tranquila até que a nova direto-
concorreram à reeleição e tiveram votações ex- maram que o ramal rodoviário planejado para li- ria tome posse no dia 02 de janeiro de 2001 (ISA,
pressivas. /Is eleições da Foirn têm regras comple- km 115 da BR 307 (S. Gabriel- Cucuf) à al-
gar o 26/10/00)

Orlando Oliveira. Domingos Barreto. Edilson Melgueiro. José Maria de Lima. Rosilene Fonseca.

o tenente-coronel Pedro Amaral, da SAE, lem- choeira, a 860 km de Manaus, representantes


DEMARCAÇÃO E brando que um dos objetivos do Calha Norte é da Federação das Organizações Indígenas do Rio

FISCALIZAÇÃO justamente promover a assistência às comuni- Negro (Foim) pediram ao presidente a agilização
dades indígenas da região. (Correio Brazi- na demarcação e homologação de cinco áreas
foram criadas
MJ ABRE PROCESSO liense, 22/05/96) indígenas da região. As áreas já

oficialmente, mas falta a realização do trabalho


DEMARCATÓRIO NO
ALTO RIO NEGRO FOIRN PEDE de campo para delimitar o espaço das reservas,

DEMARCAÇÃO A FHC que são contínuas e somam 10,8 milhões de ha.


Os índios vão dominar a faixa de fronteira do Os antropólogos Beto e Fany Ricardo, represen-
Brasil com Venezuela e Colômbia com a deci- O caráter militar da viagem do presidente tantes do ISA, organização não governamental
são do Ministério da Justiça, através da Funai, Fernando lenrique Cardoso à Amazônia foi que-
1 que desenvolve vários projetos em parceria com
de abrir o processo demarcatório da reserva brado por um pedido de demarcação de terras a Foim na região, também estiveram no encon-
o
indígena Alto Rio Negro (AM), uma área duas feito pelos índios da região do Alto Rio Negro tro com FHC, na do Comando do I BEC,
sala

vezes maior do que a Suíça. A demarcação de (ver íntegra da carta da Foim a FI1C no box), no ocasião na qual entregaram ao presidente um
áreas indígenas na faixa de fronteira não trará Estado do Amazonas, próximo à fronteira com a exemplar da publicação "Povos Indígenas no
qualquer problema para o Calha Norte, afirma Colômbia e a Venezuela. Em São Gabriel da Ca- Brasil 1991/95". (ISA e FSP, 24/0B/96)

P0VCS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 269


"

FOIRN QUER DEMARCAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DAS RELAÇÕES COM MILITARES


"Exmo. Sr. presidente da República órgãos governamentais responsáveis, para encon- meses, pelo GT formado pelo Ibama/Funai/Exér-
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO trar uma solução adequada aos casos de dto/Foim e Isa.

em mãos superposição de terras indígenas e unidades de Da mesma forma, para liberação de recursos do
conservação ambiental da região, que não se res- Convênio que a Foirn está negociando neste mo-
Primeiramente gostaríamos de cumprimentá-lo,
,
trinja os direitos indígenas inscritos na Consti- mento com a Fundação Nacional de Saúde ( cujos
em nome dos 19 povos indígenas da região do Rio tuição Federal e garanta a proteção ambiental detalhes vão em anexo, em carta assinada pelos
Negro e agradecer o falo do senhor ter aceito o Seria para nós também muito importante quefos- agentes indígenas de saúde).
nosso convite e a oportunidade de nos receber. sem regulamentadas as relações entre o Exército Finalmente, gostaríamos de convidá-lo desde já .

Expressamos a nossa satisfação pelo reconheci- e as comunidades indígenas da região, seja na área .a voltar a São Gabriel, no dia 19 de abril de 1997,
mento das terras indígenas na região e solicita- destinada ao uso especial militar e superposta à Dia do índio, para. assim o desejamos, assinar a
mos que seja agilizada a demarcação Jísica e Terra huiígena Médio Rio Negro I. seja nos pelo- homologação das demarcações e o referido Plano
posterior homologação dessas terras, bem como tões de fronteira. de Proteção e Fiscalização.
sejam tomados sem efeito os decretos anteriores Pedimos ainda atenção do governo federal à pro- Sem mais peto momento,
que criaram as " ilhas ", hoje incorporadas à Ter- posta de Plano de Proteção e Fiscalização das Ter- Atenciosamente.
ra Indígena Alto Rio Negro. ras Indígenas e Unidades de Conservação Ambien- Assina: Braz de Oliveira França Baré, presidente
Solicitamos ainda, um esforço coordenado dos tal da Região, que será elaborada nos próximos da Foirn, SGC, 23/08/96.

PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO Federa] em Brasília, com o objetivo de obter a de Solidária, com apresentação de danças e can-
DE TERRAS FEDERAIS declaração judicial da ocupação indígena so- tos dos índios fiiyuka e agradecimentos à pri-

bre aquelas terras. A decisão foi publicada no meira dama Ru th Cardoso. Em S. Gabriel da
Duas reuniões foram realizadas em S. Gabriel
Diário Oficial dajustiça. Seção II. página 219, Cachoeira, o ministro da justiça - acompanha-
da Cachoeira pelo grupo de trabalho composto em 6 de fevereiro último. (ISA, 13/02/98) do do presidente da Funai, Sulivan Silvestre, e
por órgãos federais e entidades ligadas ã causa do diretor do Departamento de Assuntos
indígena. Enquanto prossegue a operação de-
FHC HOMOLOGA TERRAS Fundiários do órgão, Áureo Faleiros - entregou
nominada Siapa, para retirada dos garimpei-
INDÍGENAS DO RIO NEGRO... simbolicamente os mapas definitivos das terras
ros na área de fronteira entre o Brasil, Venezuela
indígenas Alto Rio Negro. Médio Rio Negro I e II,

e Colômbia, representantes da Funai, Ibama, presidente da República, Fernando Henrique Rio Téa e Rio Apaporis ao presidente da Foirn,
0
ISA, Exército e Foirn, avançam na elaboração Cardoso, assinou dia 14 de abril os decretos de Pedro Garcia Tariano, diante de uma assembléia
de um projeto mais amplo de proteção e fisca- homologação de 1 3 terras indígenas, numa ex- de lideranças da região. (ISA, 16/04/98)
lização das terras federais, envolvendo áreas
tensão total de 1 2.691. 163 ha, entre elas as ter-
indígenas do médio Rio Negro I e II, Parque ras Alto Rio Negro, Médio Rio Negro 1 e II, Rio COMUNIDADES EXIGEM
Nacional do Pico da Neblina e a parte Téa. Rio Apaporis, na região do Rio Negro, que SAÍDA DE COMERCIANTES
amazonense da terra indígena Yanomâmi. (A
um polígono contíguo com
constituem NÃO-INDÍGENAS
Crítica, 05/09/96) como Cabe-
10.610.538 ha, também conhecida
As comunidades indígenas do distrito de
ça de Cachorro, no noroeste do estado do /Ima-
FOIRN SOLICITA FISCALIZAÇÃO zonas, na fronteira entre o Brasil e a Colômbia.
lauareté, localizada no extremo oeste Terra In-

DE COMERCIANTES Vivem na região 30 mil índios de 2.3 etnias dife-


dígena Alto Rio Negro (noroeste da Amazônia

rentes, o que corresponde a cerca de 10% da


Brasileira, estado do Amazonas), querem que
A Foirn solicitou às autoridades competentes,
a Funai retire imediatamente os comerciantes
como Exército, PF e Ibama, o controle da cir-
população indígena aUtal no Brasil. A demarca-
não-indígenas da região. A terra indígena, ho-
culação dos comerciantes ambulantes brasilei- ção das terras indígenas do Rio Negro, agora
concluída com os decretos de homologação,
mologada em abril deste ano pelo presidente
ros e colombianos entre os trechos de São
Fernando Henrique, é constitucionalmente de
Gabriel da Cachoeira e Mitú (Colômbia), pois representa uma conquista Ilistórica para os ín-
usufruto exclusivo dos índios. Além de serem
temem serem envolvidos no tráfico de drogas dios da região, organizados através da Foirn,
Federação das Organizações Indígenas do Rio
em número reduzido, os comerciantes nâo-in-
que pode estar sendo realizado por estes
dígenas controlam importantes conexões entre
comerciantes. (Ofício n° 033/97 da Foirn, Negro, uma das mais importantes organizações
a sede do município de São Gabriel da Cacho-
10/05/97) indígenas brasileiras, constituída por 25 asso-
eira e lauareté. Desde a realização da demar-
ciações de base. (ISA, 14/05/98)
cação da área indígena, lideranças de
JUSTIÇA GARANTE física
- entre as quais alguns comerciantes
DEMARCAÇÕES NO ... E POVOS COMEMORAM lauareté
indígenas - vêm advertindo os comerciantes não
MÉDIO RIO NEGRO HOMOLOGAÇÃO indígenas sobre a necessidade de abandonar os
0 Tribunal Regional Federal da I

Região, com Com a presença do ministro dajustiça, Renan limites das terras declaradas indígenas. Ilá exa-

sede em Brasfiia, reconheceu que a demarca- Calheiros, as 23 etnias habitantes do noroeste tamente um ano, os índios solicitaram ao posto
ção administrativa das Terras Indígenas do Mé- da Amazônia brasileira comemoraram, em São da Funai instalado no distrito que repassasse à
dio Rio Negro I c II, feita por meio das Portari- Gabriel da Cachoeira (AM) a homologação pelo
,
administração regional sediada em São Gabriel,
as n° 1.558 e n° 1.559, do ministro dajustiça, governo federal de cinco terras contíguas, que a exigência da retirada dos intrusos, mas nada
implica na aceitação da procedência da Ação somam 10,6 milhões de ha. Houve comemora- foi feito. Os insistentes pedidos dos índios re-

Declaratória movida pelo Ministério Público ções também em São Paulo, no último dia 15 sultaram num comunicado, preparado pela Di-

Federal contra a União e a Funai (unto à Justiça de abril, em encontro do programa Comunida- retoria de Assuntos Fundiários (Brasília) e en-

270 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl


viado ao escritório da Funai era S. Gabriel da 0 vereador José Ferreira dos Santos se congra- ... É APROVADA PELA FUNAI
Cachoeira, determinando a desintrusão de tulou com o posicionamento dos colegas
Iauareté. (ISA, 28/10/98) Erivelto, Altair e Marilene pela preocupação dos
O presidente da Funai, Glênio Alvarez, assinou
os
no dia 14/08/00 onze portarias (de n 822 a
mesmos quanto a questão das áreas indígenas.
832) redefinindo a missão dos postos indíge-
FUNAI E PF DÃO ULTIMATO O vereador disse discordar do radicalismo da
nas sob a jurisdição da Administração Regional
A COMERCIANTES Foirn contra o homem branco. No seu entendi-
de S. Gabriel da Cachoeira (AM) a maior parte
mento a Foirn é dirigida por brancos estrangei- ,

Uma equipe da Funai e da PF se deslocou de S.


ros e somente os brasileiros são discriminados.
dos quais tiveram, inclusive, sua localização al-

Gabriel para Iauareté com a missão de retirar


O vereador Edilson aparteou para concordar
terada. Todos os postos indígenas passaram a
os comerciantes não-indígenas do local. Depois ser denominados postos de vigilância e fiscali-
com a posição do colega Ferreira em relação a
de se reunir com lideranças das comunidades, zação, e a maior parte deles foi deslocada para
Foirn e disse que o povo de Iauareté, hoje já
a equipe intimou os comerciantes Pascoaí Gon- a boca dos principais rios que dão acesso às
quer o retomo do comerciante branco. O vere-
çalves (representante de Germano Henrique), terras demarcadas em 1998. Neste sentido a
ador Altair também pediu um aparte e indagou
José Maria da Silva, Edmar da Silva (casado com decisão vem atender a uma estratégia maior de
o vereador Flávio sobre o que a Foirn e o ISA
indígena), Josenaldo Rodrigues Menezes (re- proteção e fiscalização definida pela Foim e as-
têm feito, e qual o programa social em favor
presentante do sr. Valdérico) José Antonio la- sociações filiadas, A decisão foi comunicada
,
dos indígenas que vem das áreas demarcadas
dino (colombiano, casado com indígena) ejoão pelo administrador regional da Funai, Henrique
para a sede do município. O vereador Flávio suge-
Santos de Albuquerque (missionário da Assem- Vaz aos participantes da XV reunião do Conse-
riu convocar a Foirn e ISA para dar explicações.
bléia de Deus) a se retirarem imediatamente. A lho de Administração da Foirn, na maloca da
(Ata rí' 102, da Sessão Ordinária, 05/11/99)
equipe visitou também os comerciantes indíge- organização, em S. Gabriel. A medida vem con-
nas e fez apreensão de bebidas alcoólicas e firmar uma proposta elaborada por Braz Fran-
PF NOTIFICA INVASORES
outras, parte delas contrabandeada. (ISA, com ça, ex-presidente da Foim (1991/99) adminis-
base no Relatório Funai/PF de 02/02/99)
COLOMBIANOS NO XIÉ trador-adjunto da Funai desde dezembro de 99.
Atendendo solicitação do presidente da ACIRX de comum acordo com a Foirn e com apoio
a Funai de S. Gabriel, agentes da PF notificaram técnico do ISA. Antes de ser enviadaàPunai em
ORGANIZAÇÕES QUEREM
GARANTIR DEMARCAÇÃO um grupo de colombianos que estavam negoci- Brasília, a proposta foi submetida e aprovada
ando farinha e cipó nas comunidades do rio Xié, pelo mesmo Conselho da Foirn, na sua XfV reu-
As 30 organizações indígenas que vivem no Alto para que não retornem mais à região, São eles: nião, no final de 99. Com exceção dos postos

Rio Negro querem criar um sislema de prote- Qoenibin Hemandes I.ozano, seu irmão Henri deDmuí-Cachoeira (Alto Içana) e Maturacá (TI
ção e garantir a demarcação das terras nessa Giovani Lozano e Pedro Jtiho infctnte Cabarte, Yanomami) - que permaneceram nos mesmos
região, tendo o Exército no combate aos garim- (ISA, com base no Oficio 078/99-NSGC-SS/ locais - e de Melo Franco (no Papuri) e Vila

peiros e narcotraficantes que atuam naquela DPF/AM) José Morrnes (garimpo do Traíra) todos os de- ,

área. Esse assunto vai ser um dos itens da pauta mais foram deslocados em direção à boca dos
a
da 13 Reunifto do Conselho Administrativo das PROPOSTA DE rios: Téa, Cauaburis, Uaupés, Içana, lá Mirim,
Organização indígenas do Alto Rio Negro, que MUDANÇA DE POSTOS... Marié e Xié. A dúvida que ficou entre os conse-
será realizada no município de São Gabriel da lheiros e diretores da Foirn é se os postos vão
Cachoeira. Na pauta também está prevista a dis- Os postos da Funai devem ter sua missão e lo- sair do papel. (ISA, com base nas portarias e
cussão de propostas de novas ações de ativida- calização redefinidas na região do alto Rio Ne- na Ata da XV reunião do CAP/Foim, ago/00)
des produtivas para as comunidades indígenas. gro. Essa é a síntese da proposta que aADR de
(A Crítica, 05/08/99) S. Gabriel da Cachoeira encaminhou à Funai de FOIRN INDICA CONDIÇÕES
Brasília, depois de chegar a um acordo com a PARA IMPLANTAÇÃO
VEREADORES COMENTAM Foirn e de contar com apoio lécnico do ISA. A DOS POSTOS
reorganização dos postos que constam na es-
DEMARCAÇÃO
trutura oficial da Funai na região foi determina- Em carta da Foirn dirigida ao presidente da
O vereador Erivelto Coimbra foi à tribuna da da pelo presidente da do órgão, diante da nova Funai, datada de 18 de agosto de 2000 e com
Câmara Municipal de S. Gabriel da Cachoeira situação gerada coma demarcação das cinco 53 assinaturas, entre diretores e conselheiros
a
para comentar que, na demarcação das terras terras indígenas, homologadas em 1 998. Segun- presentes na XV Reunião do Conselho Admi-
indígenas da região, não foi respeitado o raio do a proposta, dos onze PINs, sete deverão ser nistrativo da organização, foram feitas recomen-
de 40 km de zona urbana e que na época não deslocados dos cursos altos e médios dos rios dações para qoe os postos de vigilância e fisca-
houve qualquer interesse das autoridades lo- localizados na TI Alto Rio Negro, para as bocas lização recém criados sejam implantados de
caisem contestar o caso. O vereador disse que dos principais rios de acesso às cinco terras acordo com uma estratégia mais ampla de pro-
mesmo sem apoio mandou um ofício ao chefe demarcadas: Cauaburis, lá Mirim, Içana, teção e fiscalização das terras indígenas.
da Funai contestando e que, de uma maneira Uaupés, Xié, Marié e Téa. Melo Franco, onde já Á Foirn reconheceu que o remanejamento e
irresponsável, o mesmo encaminhou para a houve posto do SPI, e Vila Morntes, garimpo redefinição da missão dos postos foi “om pe-
Foim, com objetivo de fazer média política. O indígena na Serra do Traíra, ambas localidades queno passo acertado na direção de um Plano
vereador informou ainda que enviou recente- na fronteira com a Colômbia, também deverão de Proteção e Fiscalização das terras indígenas
mente documento neste sentido para a CPI da receber postos, Apenas Maturacá (Yanomami) da região". Para qoe a decisão saia do papel, a
Funai, na Câmara Federal em Brasília, mas ob- e TYinuí (Içana), permaneceríam onde estão. Foirn aprovou as seguintes recomendações:
teve a confirmação que a demarcação das ter- ( ISA, com base naproposta enviada petaAER/ - que a indicação das equipes de funcionários
ras indígenas foi feita de acordo com a lei. SGC/AM em 10/03/00) dos postos seja feita pelas associações indíge-

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl NOROESTE AMAZÔNICO 271


nas de cada sub-região, através da Foim, que dades, a Cretiart e a assessoria técnica e antro- tro viveiros berçários e um açude, formam a

repassará para a AEE de SGC; pológica estão trabalhando para desenvolver um infra-estrutura necessária para desenvolver
-em cada posto devem ser contratadas no mí- modelo que possa ser parâmetro para projetos tecnologias de reprodução em cativeiro de es-

nimo quatro pessoas: um chefe, um operador de piscicultura no Alto Rio Negro, apropriado pécies de peixe da região, de acordo com as

de rádio, um motorista e um auxiliar de fisca- técnica, ecológica, social e culturabneme. Não condições locais, e a futura produção continu-
lização; em alguns casos, diante da necessida- apenas um modelo adaptado de piscicultura está ada de alevinos para povoamento das barragens
de maior de rotinas de fiscalização, serão ne- sendo construído, mas também uma forma de comunitárias.
cessárias pelo menos mais 2 auxiliares de fis- gestão eficiente, local e indígena, do projeto. Neste Quando estiver produzindo e distribuindo
calização; sentido, na Oficina ocorrida entre os dias 1 1 e 13 alevinos de aracu, o que se espera para os pri-
- a implantação destes postos deve ser precedi- de outubro, foi possível se chegar a alguns enten- meiros meses de 2000, este projeto beneficiará

da também da construção de locais apropria- dimentos sobre a organização do trabalho e as as comunidades filiadas à Cretiart (15), que so-
dos, da aquisição de alguns equipamentos bá- atribuições e responsabilidades de cada parte. mam uma população de cerca de 550 pessoas, É
sicos (radiofonia, bote com motor de popa, kit (Informativo Projeto de Piscicultura Alto possível que, depois de consolidada a atividade

de energia fotovoltáica, etc.) e material de con- Tiquié", Cretíart/Poirn/ISA, n° I, dez/99) de produção de alevinos, a Estação venha a ob-
sumo, especialmente combustível. ter excedentes, além da demanda das comuni-
Os Conselheiros da Foirn recomendaram ainda CRETIART DELIBERA dades associadas, que poderão ser utilizados no
o seguinte: SOBRE GESTÃO repovoamento do rio e na geração de alguma
- que a Funai se comunicasse com a CCSIVAM receita, necessária para a autonomia financeira
para indicar que os kits de equipamentos de Na IV Assembléia Geral da Cretiart, o Projeto de
desta atividade a médio prazo. (ISA, 04/11/99)
vigilância e comunicação, previstos para as ter- Piscicultura, voltou a ser um dos assuntos princi-
pais. Além do relato feito pelos assessores técni-
ras indígenas na Cabeça do Cachorro, sejam ESTAÇÃO CONSEGUE
cos e a equipe indígena sobre as atividades atu-
direcionados para os novos locais dos postos REPRODUÇÃO DO ARACU
de proteção e fiscalização da Funai; ais do projeto, centradas na reprodução do ara-

- que a Funai definisse um manual de fiscaliza-


cu, foram tomadas decisões sobre a administra- Os técnicos do ISA e da Cretiart conseguiram a

ção e um programa de treinamento para os fun- ção e gestão dos recursos do Projeto. A assem- reprodução induzida de uma espécie de aracu

cionários e de divulgação paras as comunida- bléia decidiu que a associação deveria assumir na Estação Caruru Cachoeira, Alto Rio Tiquié. A

des; e
parte da gestão dos recursos financeiros a serem experiência faz parte de um projeto mais am-
-que a Funai, juntamente com aFoirn, organize aplicados no Projeto no decorrer do ano 2000 e plo de manejo sustentável de recursos pesquei-
as responsabilidades correspondentes. Esta pro- ros e agroflorestais, que está sendo implanta-
uma rede de proteção e fiscalização envolvendo
a cooperação entre comunidades, associações, posta foi feita pelo ISA, através do assessor do do pelo ISA em parceria com a Federação das
missões, organizações não-govemamentais e ins- Programa Rio Negro, para apreciação da Assem- Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn),

na região, especial-
tituições públicas presentes
bléia. Tendo deliberado a este respeito, foi nas terras indígenas do alto Rio Negro. Depois

mente o Exército, Aeronáutica e o Ibama, com indicada uma pessoa para desempenhar a nova de várias tentativas fracassadas, a a reprodu-
reuniões periódicas de monitoramento. (ISA, função, que ficou sendo designaria por Logisla. ção induzida que obteve bons resultados foi feita

com base m carta da Foim em 18/08/00) (Informativo “Projeto de Piscicultura Alto


Tiquié", Cretiart/ Foirn/ ISA, n° 1, dez/99)
com base no método asiático, raramente
zado no Brasil, que consiste em injetar
utili-

hormônio nos peixes e soltar machos e fêmeas

PISCICULTURA INAUGURADA no mesmo tanque, liberando fluidos no local

“ESTAÇÃO CARURU” sem outras intervenções.

OFICINA NA ESTAÇÃO CARURU Com o objetivo de garantir a segurança alimen-


Foi inaugurada, dia 1 4 de outubro, como parte tar dos índios da região, o desafio é desenvol-
O Projeto de Piscicultura do Alto Tiqtiié, em im- do Projeto de Piscicultura do Alto Tiquié, a Es- ver um modelo pioneiro de piscicultura famili-
plantação na área das comunidades filiadas à tação Caruru Cachoeira, no povoado de mesmo ar com espécies nativas. O aracu foi eleito o
Cretiart, está passando por seu período de tra- nome, situado no alto rio Tiquié, no município peixe preferido pelas comunidades, na fase de
balhos mais imensos e decisivos. A partir de de São Gabriel da Cachoeira (AM). Comemo- formulação do projeto.
agosto deste ano até abril de 2000, várias ativi- rou-se neste dia a conclusão de uma das fases O projeto prevê a multiplicação dos resultados
dades envolvendo assessores técnicos do ISA e do Projeto de Piscicultura desenvolvido em con- com apoio de mais duas estações experimen-
técnicos indígenas da região estão sendo de- junto pelas quinze comunidades situadas entre tais, a serem instaladas nos próximos anos em

senvolvidas, relativas à reprodução de espécies São Domingos e a fronteira Brasil-Colômbia, o Iauareté (rio Uaupés) e Tmuí Caclioeoira (rio
de aracu e outros peixes regionais, bem como Conselho Regional das Tribos Indígenas do Alto Içana). As atividades da Estação Caruru rece-
experiências de adubação da água para a fase Rio Tiquié (Cretiart), o Instituto Sorioambiental bem apoio técnico do Cepta/Ibama e financia-
de larviciiltura e alevinagem. (ISA) e a Federação das Organizações Indíge- mento da Embaixada da Holanda, ICCO e Insti-
Não existe um modelo de piscicultura que pos- nas do Rio Negro (Foirn) . A piscicultura no Alto tuto de Cooperação Internacional da Áustria.
sa ser aplicado diretamente neste caso. Condi- Tiquié está sendo desenvolvida como projeto (ISA, 08/02/00)
ções ecológicas regionais muito específicas, li- demonstrativo e pretende-se que este modelo,
mitações logísticas, e a decisão de não criai' a quando concluído, seja replicado em Iauareté
dependência de insumos não disponíveis no lo- e no rio Içana.

cal (além dos equipamentos permanentes) são As instalações da Estação, composta pelo labo-
que levam ao desenvolvimento de um
fatores ratório de Reprodução, um depósito, uma casa
modelo pioneiro. Por este motivo, as comuni- de hóspedes, um viveiro de reprodutores, qua-

272 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS IN0ÍGENAS N0 BRASIL 1896/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


7

PLANTAS PARA ALIMENTAR OS PEIXES


Grande parte do trabalho dos últimos meses do sante para o projeto. Destas, precisamos selecio-
projeto Piscicultura foi relacionada à produção nar as melhores plantas. Aquelas selecionadas se-
de alevinos. Mas produzir somente alevinos não ó rão plantadas em um conjunto sistema agrojlores-
suficiente, alevinos e peixes também precisam ser tal (SAP) para fornecer uma parte do alimento dos
alimentados. Na piscicultura em outras partes do peixes. Os critérios para selecionar as plantas são
Brasil rações especiais para peixe são usadas, mas uma produção estável e regular, com frutas de alto
em nosso caso isto não e economicamente possí- valor nutritivo (para saber o valor nutritivo preci-
vel. Precisamos produzir nossa próprio alimen- samos analisar as frutas em laboratórios
tação para os peixes. Durante o segundo dia de especializados). Não serão selecionadas as árvores
oficina foi discutido o assunto "Plantas com po- que demoram muitas anos parafrutificar. Também, Defumação ritual do viveiro de mudas da
tencial para a piscicultura" (também chamadas para criar um SAP que ofereça frutas ao longo de Estação Caruru.
plantas ictioforrageiras). todo (ou quase todo) o ano, precisamos escolher
No seu ambiente natural, a maioria dos peixes do plantas que produzam frutas maduras em diferen- serão criados inicialmente), além de conhecer o
rio Negro se alimenta com frutas de igapó. Por tes estações e meses. Um SAP que só produz frutas ambiente natural (habitat) das plantas
essa razão, estamos interessados em plantar al- durante um período curto do ano não alcança seus 0 segundo dia de Oficina resultou em uma sele-
gumas destas árvoresfrutíferas em volta dos açu- objetivos. Por isso, é preciso saber quando as fru- ção de 14 plantas (embora o tempo tenha sido
des das comunidades. A pesquisa dos últimos me- tas de cada planta estão maduras. F. importante curto demais para um trabalho mais aprofun-
ses no alto Tiquié multou em uma lista de 40 ainda saber qual parte da fruta é comestível pelos dado). Os resultados desta pesquisa são mencio-
plantas frutíferas da região que pode ser interes- peixes, sobretudo por aracus e pacus (os peixes que nados na tabela abaixo.

Nome planta Nome planta Habitat Florescimento Amadurecimento Parte que


Tukano Tuyuka o peixe come

Kotne yapuri dttka Turikag-d'ka 2,3,6 Outubro Fevereiro - Março Caroço


Dasukiri Yõsõwidika 2 Setembro Janeiro - Julho Fruta
Diawe Diawe 2 Outubro Abril/Maio - Julho Fruta
ni.tiã Dikaperi Waiwasõ 2 Abril -Maio Janeiro - fevereiro Caroço
Wasó Waso 23.4,6 Junho - Agosto Outubro Caroço
Waikara Diatògtt 2 Janeiro AbrilMaio- Caroço
Pati dita
Wamtt
pati dika
Wamtt
V
4.5,6
Outubro
Outubro
Dezembro -Abril
Fevereiro -Abril
Flores - sementes
Caroço - polpa
,

Ne Ne 2,8 Outubro (duas vezes/ano) Junho Polpa


Diakapogtt Kapoagttdika 12 Outubro Março - abril Flores
Diatoa Diatoa 2 Julho Julho Caroço
Dikateda Dikada 3.4.6 Outubro Junho/Julho Semente
Buporigtrdika Kuwe.ko 2 Outubro Dezembro - Fevereiro Flores,sementes
Apoãgtt Kagttdika 2,4,6 Outubro Janeiro Caroço

Habitat : 1. Igapó 2. Margem do rio 3 Caatinga 4. Terra firme 5. Mata virgem 6. Capoeira 7. Roça 8. Chavascal

MILHO HOKA (TK) HORIKA (TV) Gabriel da Cachoeira. Naquele tempo, São Gabriel cer um pouco, cerca de dois meses, evitando pra-
não era como hoje, os comerciantes compravam gas e doenças nas plantas. Vários alimentos não
l Ima outra planta que pode ser muito importante para suas própriascriações. Hoje em dia, com o devem ser consumidos, como galinha, inambu,
para o Projeto de Piscicultura é o milho. A des- crescimento e modernização do comércio, come- tapurus, peixe salgado, dentre outros.
vantagem das plantas mencionadas acima é que çaram a trazer dos centros maiores. A melhor época para o plantio é depois do aru, a
demoram alguns anos até produzir as primeiras Antigamente, cada família tinha sua roça f>ara friagem que ocorre depois das grandes enchentes
frutas, mesmo aquelas com crescimento mais rá- consumo próprio, mas também vendia para o in- e antes dos os primeiros verões do meio do ano.
pido. O cultivo de milho, ao contrário, dura só ternato de Pari-Cachoeira, as missões também ti- Já o avô de Avelino se orientava pela chuva, plan-
alguns meses. 0 milho já foi mais plantado no nham suas criações. Com o desenvolvimento do tando nofinal do verão, quando começava a chu-
alto Tiquié. Na Oficina, foi feita uma conversa transporte e do comércio e o fim dos internatos, va ele plantava (mais ou menos em março).
sobre os motivos da redução de seu plantio na a demanda por produtos daqui.
cessou Antigamente, quando se debulham, deixava-se
região, sobre as regras de plantio e sobre a possi- Quando havia as malocas grandes, os tuxauas uma parte na água. para brotar, depois se levava
bilidade e dificuldades de sua rein tradução do cul- controlavam o plantio. Este era socado e assado para plantar na roça. Hoje em dia, dizem que
tivo. 0 milho fortalecerá o Projeto, por que pode dentro defolhas do próprio sabugo e também usa- pode-se plantar, com bons resultados, logo depois
ser um importante item na alimentação dos pei- va-se parafazer caxiri, quefica mais suave e sau- que é debulhado.
xes.além de seu emprego na alimentação da po- dável. Com o comércio, a produção passa a ter Produz melhor nas capoeiras em que tem mais
pulação local e de outra criações. Segue um resu- outra finalidade. Quando este acabou, a ativida- esterco de minhoca. Também da na terra preta
mo do que foi dito na Oficina. de decaiu. (dilá niisé, em tukano) e, especialmente, na "ter-
Há algum tempo atrás havia comprador para o Antigamente, quando se plantava milho, para con- ra de pólvora" (õma diveri dita, em tukano). (in-
milho, principalmente a União Familiar Cristã seguir uma boa produção, devia-se fazer absti- formativo "Projeto de Piscicultura Alto Tiquié",
(Ufac) de Pari -Cachoeira, que revendia em São nência de algumas comidas e de sexo. até ele cres- Cretiart/ Foirn/ ISA, n° I, dez/99)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 273


OFICINA DE CARURU DEFINE DIRETRIZES DA PISCICULTURA
Nosso objetivo é introduzira piscicultura famili- Seleção de
ar na região. matrizes e

Para dar certo e continuar sempre, a piscicultura reprodutores

deve respeitar nosso modo de vida: de aracu...

nossa economia, tecnologias, condições locais de


infra-estrutura, relevo, cultura, costumes.
Por isso deve seguiras seguintes diretrizes ou ori-

entações:
1. Modelo econômico
0 sistema de criação de peixes devefuncionar com
as mesmas regras das atividades de subsistência:
trabalha-se produzindo para alimentação e para
viver, o excedente podendo ser vendido. CABALZAR/ISA

2. Criar peixes usando tecnologias


apropriadas
ALOiSIO

Tecnologia apropriada de criação é aquela que


funciona de maneira duradoura.
Para isso, deve respeitar as condições locais: ... para indução
- adotar o conhecimento local e as matérias pri- hormonal no
mas existentes na região: laboratório...

ser entendida /tela população local, as pessoas sen -


do capazes de repassar o conhecimento adquiri-
do adiante:
ser acessível e manejávei por todos.
3- Espécies nativas
É importante adotar para criação espécies nati-
vas, pois:

cada cultura já mantém uma relação particular


com estas espécies nativas ( conhecimentos , téc-

nicas, usos);
evita mudar a dieta tradicional
evita mudar a composição de tipos de peixes do rio
evita introdução de doenças da água
evita o risco de procriação entre as espécies nati-
vas e espécies introduzidas (contaminação gené-
e a contagem
tica das populações locais)
dos ovos de
4. Criação em pequena escala
aracu após a
0 ideal é que cadafamília venha a ter seu próprio reprodução.
viveiro e tenha condições e conhecimentos para
manejá-lo.
5. Produção semi -intensiva ( sistema de
criação)
A produção (quantidade e tamanho que os peixes
atingem no viveiro) depende do jeito de acidar
dos peixes. Fazendo pouco esforço (pois deixa o
peixe no viveiro sem receber cuidados, sem ser
alimentado), chama-se "sistema extensivo". A
produção é baixa.
Quando o criador se esforça oferecendo alimen-
tos e outros cuidados aos peixes, chama-se "sis-
tema semi -intensivo " de criação. A produção au-
menta, e pode atender as necessidades de subsis-
8.Fonte de alimento segura - 0 sistema de criação de peixes não deve esgotar
tência, por isso o adotaremos.
6. Dedicação ao trabalho Tomando-se parte importante da alimentação, os recursos naturais de que depende. 0 que for
Para não atrapalhar outros trabalhos das famíli- essa produção da piscicultura não deverá falhar usado deve ser replantado f>ara dar conta de fu-
as, como a pesca, a caça, coletas, a abertura de nem ser interrompida. Por isso ela não deve de- turas necessidades.

roças, o plantio, etc., não podemos adotar um tipo pender de instintos de fora porque, se eles falta- Usando recursos naturais renováveis, fica mais
de criação que requeira dedicação muito grande rem, interrompe-se uma etapa e com ela toda a garantida produção constante ( que não se inter-
do criador, chamado sistema intensivo ".
", cadeia de produção. rompa) e permanente (que dure muito tempo).
7. Fontes de proteínas 9 Sustentabilidade ecológica
. 10. Replicabitidade

A produção da piscicultura deverá complementar Recursos naturais renováveis são aqueles elemen- Deve-se poder aplicar os resultados desta exfwri-

a pesca e a caça na alimentação das pessoas. A tosda natureza que, se utilizados com cuidado, ência em outras partes da bacia Amazônica.
pesca continuará sendo a maiorfonte de proteí- são repostos após um certo tempo. (Informativo “Projeto de Piscicultura Alto TU|uié'\

nas /utra a população local. Cretiart/ Foirn/ ISA, n" I, dez/99)

274 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


) ,

EDUCAÇÃO presentantes da universidade e das organizações dáticos nas línguas indígenas. A Conferência
indígenas, vai estudar 0 projeto e definir com contou com a participação de uma equipe do
base legal, inclusive a modificação do Estatuto da Educação, da Secretaria Estadual
IX ENCONTRO DE Ministério
e Regimento da Universidade, a forma de sele- de Educação, para que se façam parcerias para
PROFESSORES EM S. GABRIEL
ção e 0 número de vagas. Mas já se sabe que no as ações que constam do programa. Nessa oca-
O movimento dos Professores Indígenas do próximo ano, os índios amazonenses participam sião se discutiu a formação do Conselho Muni-
Amazonas, Roraima e Acre (Copiar) realizou seu do vestibular cotn características próprias e sis- cipal de Educação, com ênfase na educação in-

LX encontro etn São Gabriel da Cachoeira, du- tema diferenciado. dígena, por serem os índios a maioria absoluta
rante os dias de 09 a 15 de julho. Os professo- A Foim, a primeira a solicitar 0 acesso diferen- dos habitantes desse município. Falou-se ainda
res de outros locais dos estados do Amazonas, ciado dos índios à Universidade do Amazonas, da necessidade da regulamentação das escolas
Roraima e Acre chegaram a São Gabriel de bar- em dezembro de 1995, foi criada em I9S7 para municipais e da reelaboração dos seus currí-
co: a reunião teve início já no barco “Katatal” lutar pela demarcação das terras indígenas na culos e regimentos.
fretado só para esse fim. Estiveram presentes região do Rio Negro. Com sede em São Gabriel No programa “Construindo uma Educação Es-
cerca de 90 professores indígenas de diferen- da Cachoeira (a SOO quilômetros de Manaus), colar Indígena” consta um dado importante
tes etnias vindos de fora e 200 professores in- a Foim é composta por 23 organizações de base para 0 município, no diagnóstico da educação
dígenas do município de SGC. A reunião se rea- distribuídas ao longo dos rios da bacia do Rio escolar indígena que foi elaborado: 0 municí-
lizouno ginásio coberto do Colégio São Gabriel, Negro. (ISA eA Crítica, 27/03/97) pio é 0 segundo do Brasil com 0 menor índice
conlando com 0 apoio da Foim para a hospe- de analfabetismo, devido à grande escolarização
dagem e alimentação de todos os participantes. ... SERÁ APENAS AOS produzida pelas missões salesianas desde 0 iní-
Esse movimento se articula através do uma co- CURSOS SEQUENCIAIS cio do século. Em muitas comunidades esse
missão, a Copiar, que coordena a realização de índice é igual a zero entre a população jovem
seus encontros anuais, elabora os projetos e
0 Conselho Universitário da UA não aprovou 0 de 7 até 35 anos. (ISA, jtiI/97)
acesso diferenciado dos índios nos cursos de
presta contas de aplicação do dinheiro. Esses
graduação regulares. Em troca, viabilizou a en-
encontros têm produzido discussões e documen- A FALA TUKANO”
tos que têm sido paradigmáticos de normas e
trada de estudantes indígenas sem seleção aos
leis que 0 governo incorpora, como por exem- chamados cursos seqiiendais, aprovados pela O Centro “lauareté" de Documentação Etnográ-
nova Legião Brasileira de Assistência (LDB) Lei fica e Missionária (Cedem), vinculado à Inspe-
plo a Declaração de Princípios, produzida em ,

91 e reafirmada em 94. 0 tema desse DC Encon- Darq Ribeiro e 2000 foi 0 primeiro ano de ex- loria Salesiana Missionária da Amazônia, de

tro foi “Escolas Ltdígenas e Projetos de Futu-


periência, Esses cursos seqiiendais dão somente Manaus, lançou a série denominada “A Fala

ro
1

',
foram discutidas questões relacionadas aos
título referente ao número de créditos que cada 'Mano dos Ye’pâ-masa" de autoria do linguis-

estudante faz durante 0 período letivo. Não são ta Flenri Ramírez, depois de dois anos de pes-
objetivos da escola indígena: para que servem
cursos superiores, mas podem se transformar quisa (1994-96), com apoio dos saiesianos e
as escolas e suas continuidades fora da aldeia, a
em, se 0 aluno tiver condições de se manter, do bispo da Diocese de S. Gabriel da Cachoei-
quais projetos de futuro dos povos indígenas
essas escolas estão a serviço. Foi discutida ain-
persistir e cumprir sequencialmente todos os ra, D. Walter Ivan Azevedo. A obra em 3 volu-

da a situação específica da região do alto rio


créditos. Os alunos que haviam sido indicados mes (Gramática, Dicionário e Método de Apren-

Negro, onde historicamente as escolas têm ser-


pela Coiab e Meiam, junto com as organizações dizagem) é destinada aos interessados em
locais - como a Foim - entraram nesses cur- aprender esse dialeto da sub-família tukano
vido como portas dc saída das comunidades para
sos tendo a promessa de bolsas de estudo da oriental, especiaimente aos professores e estu-
os centros urbanos, sendo que 0 objetivo de um
Fimai, 0 que não aconteceu até meados de 2000. dantes indígenas, “na sua tentativa de escrever
trabalho educacional com base nas culturas e
línguas locais deve criar oportunidades e con-
Esses estudantes vindos do rio Negro estavam uma língua de grafia complexa”. Os informan-
dições para que os projetos de futuro dessas po-
morando em casas de parentes ou na casa do tes que trabalharam com Ramirez foram Alfredo
pulações se realizem nas próprias comunidades.
Meiam. (ISA, ago/00) Fontes, Arlindo Maia e Valério Lopes, O dicio-
nário traz mais de três mil palavras e dez mil
Foi discutida a questão da migração para Manaus
e Boa Vista, c a qualidade devida que as pessoas 1CONFERÊNCIA MUNICIPAL idiomatismos e expressões. O volume com o
DELIBERA SOBRE “método” é acompanhado de duas fitas com
têm nessas cidades. (ISA,jtm/96
e guia de pronúncia. (ISA eA Crítica.
EDUCAÇÃO INDÍGENA diálogos

ACESSO DIFERENCIADO 30/08/97)


Realizou-se em São Gabriel a I Conferência de
À UNIVERSIDADE DO
Educação, com participação de cerca de 300 MULHERES DISCUTEM
AMAZONAS...
professores indígenas em exercício do municí-
MIGRAÇÃO
A partir do próximo ano os indígenas poderão pio. Nessa ocasião 0 Professor Gersen dos San-
ingressar na Universidade do Amazonas (UA), tos Luciano - Baniwa - que assumiu a secreta- Mulheres indígenas da região do Alto Rio Ne-
num sistema diferenciado de vestibular. Aten- ria municipal de educação, entregou 0 seu pro- gro querem criar alternativas econômicas nas
dendo a pedido da Foim, da Coiab c Conselho grama “Construindo uma Educação Escolar In- aldeias para evitar a migração para Manaus. Elas
Geral da Tribo Ttcuna c Organização Geral dos dígena" para discussão. No programa constam estão reunidas desde ontem, na sede da Coor-
Professores Tikuna Bilíngues (CGTT/OGPTB) ações de formação dos professores indígenas denação das Organizações Indígenas da Ama-
0 Conselho Universitário da Universidade do com vistas à sua titulação para 0 magistério, zônia Brasileira (Coiab), e até amanhã preten-
Amazonas (Consu) aprovou, por unanimidade, programas educativos de rádio, construção de dem discutir propostas para um plano de tra-

0 acesso diferenciado de estudantes indígenas um barco-escola e estruturação de uma mini- balho na região, que valorize a cultura, 0 arte-
à universidade. Uma comissão, formada por re- gráfica para produção/edição de materiais di- sanato, 0 trabalho feminino e fortaleça politi-

POVDS INDÍGENAS ND BRASIL 1 99S/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 275


,

camente a organização indígena de mulheres. e Rosilene Fonseca, da Foirn, estiveram presen- COOPERAÇÃO ENTRE
Da assembléia das mulheres indígenas do Alto tes durante essa campanha, juntamente com UA E DIOCESE PARA
Rio Negro se pretende retirar propostas de in- Marina Kahn e Luís D. B. Grupioni do ISA. Nes- AÇÃO EDUCATIVA
tercâmbio entre as mulheres que migraram para sa ocasião, visitaram a organização Rainforest,
a cidade e as que estão no interior, “na base”, que já é parceira do ISA para o Programa Xingu. Um convênio firmado entre a UA e a Diocese de
como elas chamam. (A Crítica, 06/09/97) (ISA e O liberal. 28/10/97) S. Gabriel da Cachoeira vai possibilitar o de-
senvolvimento de programas e ações educativas,

NORUEGUESES ARRECADAM pelo Centro Saúde Escola, organização da


CONVÊNIO VIABILIZARÁ
diocese, voltadas para a população do alto rio
DINHEIRO PARA EDUCAÇÃO CONSTRUÇÃO DE ESCOLAS Negro, com ênfase nos grupos indígenas. O acor-
Todas as escolas de segundo grau da Noruega Um convênio da Secretaria de Assuntos Estraté- do, com vigência de dois anos, prevê a realiza-
interromperam suas aulas e 200 mil alunos fo- gicos (SAE), através do Sivam, com a Prefeitu- ção de cursos, seminários, assessoría técnica e
ram às ruas fazer o “dever de casa” que eles ra de São Gabriel da Cachoeira, no valor de R$ capacitação de recursos humanos nas áreas de
mesmo escolheram: trabalhar para os índios 288 mil, vai permitir a construção de dez esco- saúde e de antropologia médica. (A Crítica,
do Brasil. Ou melhor, arrecadar dinheiro para las de madeira em comunidades indígenas do 08/03/98)
financiar projetos de educação com índios da município. Os recursos já foram liberados e as
Amazônia brasileira. Os estudantes noruegue- obras licitadas, com início previsto para a pró- CRIADO CONSELHO
ses param uma vez ao ano, durante um dialeti- xima semana. Os próprios índios, serão a mão-
vo, para desempenhar tarefas que sejam rentá- Foi criado em Manaus, com o apoio dos pro-
de-obra para construção dessas escolas. (A Crí-
fessores indígenas, o Conselho Estadual de Edu-
veis, e o dinheiro resultante desses trabalhos tica, 07/11/97)
eles repassam para sua organização Operação cação Escolar Indígena (Copiar) Este tem como .

Dm Dia de Trabalho (OD) para que essa orga- objetivos implementar a política nacional de
SEMEC INICIA PROGRAMA DE educação indígena no estado do Amazonas, e
nização possa apoiar projetos educacionais
FORMAÇÃO DE PROFESSORES discutir, analisar e apoiar as diferentes experi-
para populações do terceiro mundo. Neste ano
ências educacionais indígenas levadas a efeito
de 1997 a campanha da OD foi direcionada para A Secretaria Municipal de Educação (Semec)
nessa região. Esse Conselho tem ampla repre-
os povos indígenas no Brasil: alguns progra- de S. Gabriel da Cachoeira deu início a um pro-

mas de educação foram previamente escolhi- grama de formação dos professores indígenas, sentação dos professores indígenas - maioria

dos em uma visita feita pelos líderes dos estu- com titulação no nível de magistério. Essa for-
- sendo eleito presidente Ademir Ramos e vice-
presidente Jadir Neves, Makuxi de Roraima, que
dantes da campanha desse ano a algumas áre- mação vai se realizar em etapas, durante o pe-
as indígenas. Esses estudantes estiveram nas ríodo das férias escolares, para que os profes- também trabalha na Coiab. A calha do Rio Ne-
gro tem três representantes com seus suplen-
áreas (incluindo São Gabriel) conversando e sores que estão em sala de aula possam partici-
conhecendo as organizações indígenas, seus par integraimcnte. Os professores foram divi- tes, que ficaram responsáveis por articular e
fazer discutir as questões pertinentes a essa re-
parceiros para escolher os locais onde iriam didos em o grupo de professores
dois polos:
gião. (ISA,jul/98)
ser desenvolvidos os projetos educacionais. indígenas baniwa do rio Içana, que possuem me-
Foram escolhidos os seguintes projetos de edu- nor escolaridade, ficou sendo o Polo 1 ;
e o gru-
cação: Waiãpi do Amapá, em parceria com o po de professores falantes de línguas da família PROFESSORES INDÍGENAS
CT1;Yanomami de Roraima em parceria com
,
fhkano Oriental, que possuem maior escolari- FUNDAM APIARN
a Comissão Pró Yanomami e Povos Indígenas dade ficou sendo o Polo 2. O curso começou
Professores indígenas reunidos no final da III e
do Alto Rio Negro, a ser desenvolvido pela Foirn em Juivitera, comunidade do alto rio Içana, onde
IV etapas do Magistério Indígena, em São Gabriel
em parceria com o Instituto Socioambiental. foidada a primeira etapa, com duração de 1
da Cachoeira, em julho de 1999, fundaram a
Durante a campanha dos estudantes, algumas mês e meio. A segunda elapa foi ministrada em
Associação dos Professores Indígenas do Alto
lideranças indígenas e profissionais das orga- Tunuí Cachoeira, em julho de 1998, para o Polo
Rio Negro (Apiarn). O objetivo dessa nova as-
nizações não governamentais suas parceiras, 1 e em São Gabriel para o Polo 2 na mesma
sociação é valorizar as escolas nas comunida-
viajaram para a Noruega a fim de divulgar e in- época. A previsão é que os professores indíge-
des, reestruturá-las de maneira a valorizar as
formar sobre a situação em suas áreas, especi- nas em serviço se formem em dezembro de
A Apiarn tem tam-
culturas e línguas da região.
ficamente no que tange à educação. Miguel Maia 2000. (ISA, fetr/98)
bém como objetivo valorizar o trabalho do pro-
fessor indígena das comunidades, antigamente
chamado de professor rural. (ISA e A Crítica
17/08/99)

FOIRN/ISA ASSINAM CONTRATO


O contrato do Projeto de Educação Indígena no
Alto Rio Negro, uma parceria entre Foirn e ISA,
Estudantes foi assinado, no início de agosto, com a
secundaristas
Rainforest da Noruega. O financiamento foi
noruegueses e
aprovado pela OD, organização dos estudantes
representante da
Rainforest Noruega se secundaristas noruegueses que apoia três pro-
reúnem com Foirn, ISA jetos de educação indígena na Amazônia brasi-
e Semec em S. Gabriel. leira. O principal objetivo do projeto, que de-

276 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDlGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


verá ter duração de três ou quatro anos, é bus-
car a renovação e reestruturação das escolas
indígenas dessa região. Inicialmente, vai inves-
tir na implementação de três frentes de ação:
Escola Indígena Baniwa Coripaco Páanhali, uma
iniciativa de lideranças da Oibi; Escola e Edu-
cação Hiyuka e Educação e Valorização da Lín-
gua e Cultura Tariana. O projeto desenvolve tam-
bém oficinas de capacitação técnica, que visam
a formação das lideranças em diferentes cam-
pos do conhecimento, como manutenção e con- Participação
dos Tuyuka
serto de motores de popa ou comunicação e
em Oficina
multimcios. para produzir programas de rádio
para produção
e informativos/ jornais locais. (ISA, ago/99)
de material
didático na
BARCO ESCOLA VAI língua.

ATÉ PROFESSORES
O barco escola do Unicef que vai atuar como lei assegura o respeito aos princípios da FUNAI ESTUDA CONVÊNIO
instrumento pedagógico em São Gabriel da Ca- interculturalidade, bilingiiismo, reconhecendo COM UNIVERSIDADES
choeira, a 858 km de Manaus, partiu ontem, às e valorizando as pedagogias e valores tradicio-
nais dos povos indígenas. Fica assegurado ain-
A Eunai está em negociando com a Unicamp,
1 9h30, do porto de São Raimundo. O barco faz em nível su-
da o ingresso na carreira de magistério indíge- UnB, e UFPE a formação de índios
parte do projeto "Promovendo educação nas
na através de concurso específico, que leve em perior. 0 interesse do órgão, conforme apre-
escolas indígenas", um investimento por parte
conta os conhecimentos linguísticos e culturais
sentado em reunião do Conselho Administrati-
do Unicef de Rí 88.644 com uma contrapartida
vo da Foim, é formar profissionais, principal-
da Prefeimra de São Gabriel da Cachoeira no tradicionais. (ISA, nov/99)
mente advogados, plenamente identificados
valor de Rí 74.239. 0 oficial de educação para
com a causa indígena. Atualmente, a Eunai está
a Amazônia brasileira do Unicef, Marcelo PROFESSORES FAZEM
preparando projeto para viabilização da pro-
Mazzoli disse que o barco vai beneficiar direta- ENCONTRO EM S. ISABEL
posta, a pedido da Unicamp. (ISA, a [tartir da
mente 508 professores, dos quais 389 são indí-
Ata da XIV Reunião do Conselho Administra-
genas, e indiretamente 1 1 mil crianças, das quais Começou ontem o encontro de 250 professores
tivo da Foim, jan/00)
nove mil são índios. (A Crítica, 22/09/99) indígenas da calha do rio Negro, em Santa Isa-

bel. Eles discutem propostas político pedagógi-


cas para a educação indígena na região, e
ESCOLA TUYUKA CRIA
APROVADA LEI DO SISTEMA for-
MATERIAL DIDÁTICO
mulam a proposta do estatuto da Conselho de
MUNICIPAL DE ENSINO EM SGC NA LÍNGUA
Professores Indígenas da Amazônia. A discus-
A Câmara Municipal de São Gabriel da Cacho- são sobre o estatuto da Copiam ficou combina- Os Tuyuka estão realizando encontros e ofici-

eira aprovou em novembro a Lei do Sistema Mu- da no último encontro de professores indíge- nas para produção de materiais de leitura e es-
nicipal de Ensino, regulamentando todo o ensi- nas, em setembro. A Seduc está coordenando a tudos em sua língua. As oficinas contam com
no fundamental que está sob gestão municipal, realização do evento, com o apoio das prefeitu- apoio dos antropólogos Aloísio e Flora Cabalzar,
conforme a Constituição Eederal. Essa lei reco- ras de Barcelos, São Gabriel da Cachoeira e Santa do ISA. Foram escolhidos alguns temas, como
nhece e regulamenta os sub-sistemas de ensino Isabel do Rio Negro. (ISA eA Crítica. 02/12/99) a situação atual da sociedade e seu meio; ativi-

indígenas, que são os sistemas de ensino em dades humanas e seus resultados, e realizado
estruturação nas diferentes comunidades indí- um diagnóstico socioambiental. Esse trabalho
genas do município. Nessa regulamentação se resultou numa pesquisa sobre os etno-
reconhece que os sub-sistemas de ensino indí-
genas são diferentes porque devem se estruturar
tendo como base o respeito às organizações
sociais, políticas e culturais dos povos indíge-
nas. Esses sub-sistemas devem ser autônomos
para construírem seus projetos político-peda-
gógicos, levando em conta os projetos
societários de cada povo indígena. Outra lei

aprovada foi a que dispõe sobre o quadro es-


pecial da Secretaria Municipal de Educação e
institui o Plano de Cargos e Carreira do Magis-

tério Público do município de São Gabriel, essa


lei assegura tratamento específico e diferencia-
do ao servidor de carreira do Magistério Indí-

gena. Além disso, em seus princípios gerais, essa Escola Indígena Baniwa Coripaco Páanhali no A/to Içana.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 277


Os pássaros transformam-se em dois homens
conhecimentos que levou à elaboração do CULTURA e

primeiro livro de autoria coletiva dos Ttayuka: se vingam carregando o menino rumo à Lua,

“Mariya dita maiitda hira” o que numa tradu- onde ele passa a morar numa pequena aldeia,

“Nossa Terra: conhecimentos para


AUTORES DESANA junto com todos os que agridem e matam os
ção livre é:

o manejo”. Essas atividades estão sendo leva-


LANÇAM LIVRO bichos e a selva. Essa é uma das histórias que o
das a efeito no âmbito do Projeto dc Educação O processo de colonização e a herança cultural índio desana Feliciano Una vem contando na ofi-

Indígena no Alto Rio Negro, realizado em par- dos índios foram questões debatidas ontem no I cina de pinturas, desenhos e histórias que reali-

ceira pela Foirn e ISA. (ISA,jun/00) Simpósio dos Povos Indígenas do Rio Negro, que za até hoje, dentro da programação da exposi-
no Parque do Mindu, com o lan-
se encerra hoje ção “Memórias da Amazônia”, em cartaz no Centro
‘TERRA DAS LÍNGUAS” çamento da segunda edição do livro “Antes o Cultural Palácio Rio Negro. (A Crítica, 18/04/97)

Mundo Não Existia - Mitologia dos Antigos


Foi elaborado, durante o curso de magistério
Desana-Khíripõra”. O livro foi escrito e ilustra- PINTURAS DESANA
para os professores indígenas do Alto Rio Ne-
do pelos índios Desana Luiz Gomes Lana e por
gro, ran livro que se intitula Terra das Línguas,
em índio da tribo Desana, Feliciano Lana possui
seu pai Fintiino Arantes Lana (falecido
contendo textos de autoria dos professores em 1989). Na ocasião, o Instituto Socioambiental uma infinidade de estampas - como ele chama
suas respectivas línguas nativas. O livro tem
(ISA) estará lançando “Povos Indígenas no Bra- as pinturas que revelam toda uma cultura rica
como objetivo incentivar a escrita nas línguas
uma de mitos espalhados pelo Brasil e outros pa-
sil 1 991-1995”, coletânea de 888 páginas
nativas da região, que são inúmeras (cerca de íses. Seu outro nome é Subé, filho do Sol. Alfa-
sobre o dia-a-dia das comunidades indígenas e
22 etnias vivent nessa região) e incluir nos cur- betizado a partir de 1946 pelos padres
os movimentos indigenistas no século 20. (A
rículos escolares temas relativos aos conheci- salesianos de Pari - Cachoeira, no rio Tiquié,
Crítica, 30/08/96)
mentos tradicionais dos povos dessa região. Os no Amazonas, aprendeu a ler, escrever e contar
textos foram produzidos em três diferentes eta-
SÂO GABRIEL FAZ FESTIVAL numero, o que o ajudou na preservação de toda
pas do curso de magistério, fazendo parte das a cultura de seu povo. (O Liberal, 23/04/98)
atividades das disciplinas linguística e línguas A cidade de São Gabriel da Cachoeira escolheu
ontem a estudante Alvimara Lemos da Silva como
indígenas, ministradas pelo prof. Gilvan M. de
a rainha do I
o
Festival Cultural das Tribos do
LANÇADO TERCEIRO VOLUME
da UFSC. (ISA, jiit/00)
Oliveira,
Alto Rio Negro. Nem mesmo a chuva que caiu
DA COLEÇÃO “NARRADORES”
durante a noite impediu a realização do espetá-
ESCOLA CORIPACO PÁANHALI A Associação das Comunidades Indígenas do Rio
culo que tem raízes ligadas ávida dos 18 povos Aiart (Acira) a Federação das Organizações In-
,

A Escola Indígena Baniwa Coripaco Pãanhali indígenas da região. O festival, realizado no Cen- dígenas do Rio Negro (Foirn) e o ISA estarão
iniciou o primeiro período letivo de suas ativi- tro Folclórico, Artístico e Desportivo do muni- lançando o livro “Waferinaipe Ianheike: a sa-
dades no dia 29 de agosto. Já estão pronlas as cípio, encerrou ontem com a apresentação das bedoria dos nosso antepassados”, no próximo
12 casas que compõem a comunidade/escola tribos Tukano e Waupés, que levantou o ânimo dia 19 de abril. Dia do índio, na sede da Foirn,
Pãanhali, que servirão como salas de aula e tam- das torcidas. Os índios Yanomami encenaram o em São Gabriel da Cachoeira, região do alto rio
bém como moradias para os professores. F,ssa ritual Kariamã, em que os adolescentes - Negro (AM). Trata-se do terceiro volume da
escola está sendo criada a partir de uma idéia cunhantãs e curumins - são iniciados à vida Coleção Narradores Indígenas do Rio Negro,
que há pelo menos três anos a Oibi vero discu- adulta. (A Crítica, 31/08/96) editada pela Foirn com a colaboração técnica
tindo: fazer uma escola de 5' à ÍP série do ensi-
do ISA, que se destina prioritariamente ao pú-
no fundamental, que sejaprofissionalizante, vol- MALOCAS PARA EXPOSIÇÃO blico de leitores indígenas da região.
tada para as necessidades ambientais e econô- “MEMÓRIAS DA AMAZÔNIA” “Waferinaipe Ianheike” é uma coletânea de nar-
micas das comunidades Baniwa e Coripaco da
O índio tukano José Maria Lima Barreto dá ori- rativas míticas dos Hohodene e dos Walipere
região do Médio e Alto Içana. A Oibi realizou
entações na língua tukano para os construtores dakenai, dois grupos Baniwa que habitam as
três encontros de educação Baniwa para dis-
de uma maloca tuyuka que está sendo erguida margens do rio Aiari, afluente do rio Içana, no
cutir a idéia dessa nova escola, chegando, in-
na área externa do Centro Cultural Palácio Rio Brasil. Resulta do trabalho do antropólogo Robin
clusive, a detalhar os conteúdos da parte
Negro por índios de várias tribos do Alto Rio Wright entre estas comunidades entre 1977 e 76,
diversificada do currículo. O calendário esco-
que registrou uma grande quantidade de narra-
Negro. Uma maloca waimiri-atroari já está con-
lar está sendo organizado em períodos intensi-
cluída. Essas peças fazem parte da preparação tivas de diversos gêneros - orações, canções, liis-
vos letivos, de mais ou menos dois meses cada,
do local para receber, no período de 3 de abril tóriíLS e cantos xamânícos. Dos sete narradores
dc acordo com as atividades tradicionais das
Baniwa, apenas dois ainda estão vivos.
a 3 de junho, a exposição “Memórias da Ama-
comunidades da região. No período em que não
zônia: expressões de identidade e afirmação ét- Um destes, Manuel da Silva, de Uapui Cachoeira,
há atividade na escola, os estudantes e profes-
nica”, com 250 peças indígenas recolhidas há realizou o trabalho de revisão da primeira versão
sores voltarão para suas casas. (ISA, ago/OO)
200 anos pelo naturalista Alexandre Rodrigues da publicação. Sua segunda versão foi cuidado-
Ferreira em viagens pelo Alto Rio Negro. (A Crí- síimente revisada por Paulo Fontes Rodrigues, se-

tica, 06/03/97) cretário da Acira; Dominique Buchillet, antropó-


loga e colaborada do ISA; Geraldo Andrello, an-

HISTÓRIAS REVELAM O tropólogo do ISA, e Bonifácio José, representante

MUNDO DOS DESANA Baniwa na diretoria da Foirn. (ISA, 06/04/99)

O indiozinho Kamauene, numa de suas noites de


caçada, atinge dois pássaros, ferindo suas asas.

278 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/200D - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


\ ,

OFICINA PROMOVE INTERCÂMBIO CULTURAL E CERA ESPETÁCULO


Entre os dias 25 dejaneiro e3 de fevereiro de 1998, Essa agenda era detalhada e avaliada a cada dia, números especiais, criados coletivamente, con-

reuniram-se na maloca da Foirn, em São Gabriel em reu niões matinais mediadas por Maximiliano tando inclusive com a participação de estudan-

da Cachoeira no noroeste do estado do Amazo-


,
Meneses Tukano, vice-presidente da Foirn, que tes da Unicamp que participavam do Programa
nas, os Tuyuka de Santa Cruz do Inambu, Alto Rio funcionou como tradutor entre o português e a Universidade Solidária.
Papuri e os Wanano de Arara e Caruru Cachoeira. língua tukano. Nofinai em cena aberta, houve uma troca de pre-
Alto Rio Uaupés, com a pesquisadora e intérprete 0 registro em áudio foi feito utilizando-se um sentes entre os participantes da oficina. Marlui,
da música indígena no Brasil Marlui Miranda e o conjunto de gravadores profissionais, comanda- Rodolfo e os estudantes receberam alguns instru-
músico e produtor cultural Rodolfo Stroeter dos por uma mesa digital de 24 canais, operada mentos musicais indígenas, comoflautas de pã e
Os 24 pares de dançarinos-músicos-cantores, 12 por um engenheiro de som. Além de microfones flautas japumtu e retribuiram com violões, mi-
de cada etnia, acompanhados de crianças, fize- estéreo fixados no teto da maloca, foram utiliza- sem fio e jogos de camisa de futebol. A
crofones
ram uma viagem custosa e especialmente demo- dos microfones de cabeça, sem fio. Paralelamen- Comunidade Solidária, atendendo à uma solici-
rada. em virtude da distância e da estação seca a equipe da TV Culturafoi colhendo imagens e
te, tação da Foirn, destinou dez mil reais para co-
prolongada que baixou muito o nível das águas, depoimentos do dia-a-dia da oficina. brir as despesas de deslocamento, hospedagem

dificultando a navegação. De São Paulo vieram Foram várias sessões livres para demonstrar os alimentação e remuneração das Comunidades
os músicos, os equipamentos e os técnicos de som, sons de diferentes tipos deflauta: os violões trazi- que participaram da oficina.

além de uma equipe da TV Cultura. Foram quase dos por Marlui circularam em várias mãos. Diá-
duas semanas de convivência e de intercâmbio logos musicais inusitados se estabeleceram. Como EM SÃO PAULO
cultural que geraram vários resultados. para os Tuyuka e os Wanano dançar-cantar- to- 0 sucesso da apresentação final levou o grupo
A idéia da oficina nasceu em 1997 entre a direto- car são gestos quase sempre associados, Rodolfo Tuyuka a São Paulo. A convite da Comunidade
ria da Foirn e a equipe do Programa Rio Regro do Stroeter, por exemplo, teve que abandonar seu Solidária, os Tuyuka do alto Papuri chegaram à

Instituto Socioambiental (ISA), coordenada pelo contrabaixo algumas vezes para entrar na nula capital paulista no dia 9 de abril para ensaios e
antropólogo Beto Ricardo, como resposta às de- empunhando uma flauta de pã. Marlui dançou- duas apresentações conjuntas com Marlui
mandas de várias comunidades interessadas em tocou-cantou somente com as mulheres. Miranda. Rodolfo Stroeter e o grupo de "cidadãos
registrar, com qualidade audiovisual, suasformas dançantes" dirigidos pelo coreógrafo Ivaldo
atuais de expressão cultural e de transformar em
APRESENTAÇÃO FINAI Bertazzo, dentro de uma programação da Comu-
espetáculo "parafora "parte de suas tradições vi- A partir do quinto dia de trabalho o grupo da ofici- nidade Solidária, no recém -inaugurado teatro do
vas. A proposta foi acolhida por Marlui Miranda e na começou a construir a apresentaçãofinal, pas- SESC Vila Mariana.
Rodolfo Stroeter/Pau - Brasil Som e Imagem e so a passo: ensaio, roteint. marcação de luz, cená- Os Tuyuka saíram de sua comunidade no dia 06
apoiada pela Comunidade Solidária, no âmbito rio e formas de acesso do público foram algumas até tauareté, na fronteira do Brasil com
a Colôm-
do Projeto Universidade Solidária. das dimensões trabalhadas. Assim como seus des- bia, de onde seguiram de avião a Manaus e São
dobramentosfuturos, combinando regras de uso do Paulo, com apoio da FAB. Ao chegar a São Paulo,
TRÊS MOVIMENTOS material gravado e a questão dos direitos au torais. os Tuyukaforam recebidos por uma equijte do ISA,
No dia seguinte à chegada a S. Gabriel, os Tuyuka A apresentação, realizada na noite de 3 de feve- que os acompanhou nos dez dias que permanece-
e os Wanano abriram suas caixas de adornos, se reiro, com a presença da primeira dama e antro- ram na capital paulista. Com casa lotada e a pre-
paramentaram, se pintaram e começaram a de- póloga Ruth Cardoso e comitiva, reproduziu o sença deprimeira -dama Ruth Cardoso, os Tuyuka
monstrar partes de rituais tradicionais que prati- movimento da oficina: peças da tradição de cada se apresentaram no SESC Vila Mariana nos dias
cam, apesar dos 300 anos de contato nada amis- uma das aldeias, números do repertório recolhi- 15 e 19. No dia 17, fizeram uma apresentação
tosos com os colonizadores e da implacável perse- do por Marlui Miranda em pesquisas anteriores e extra na Unicamp. em Campinas. (ISA, abr/OO)
guição cultural movida fie-
los missionários sa/esianos
neste séado.
Na sequência, Marlui Mi-
randa, acompanhada pelo
baixo acústico de Rodolfo
Stroeter, apresentou músi-
cas e instrumentos indíge-
nas de diversas etnias espa-
lhadas pelo Brasil, resulta-
do de suas andanças e pes-
quisas nos últimos dez
anos.
Concluída essa etapa de
apresentação mútua, os
participantes da oficina co-
meçaram a construir uma
agenda de trabalho que
combinou três movimen-
tos: (1) apresentar peças
inteiras para poder regis-
trar o áudio : (2) experi-
mentar nows instrumentos
e recursos audiovisuais: e
(3) construir uma apresen-
tação final para o público.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 279


INICIADA CONSTRUÇÃO DE dirigentes da Oibi e a equipe do ISA, que contou Baniwa em São Paulo. A marca registra a auto-
CENTRO CULTURAL TARIANO com Beto Ricardo (antropólogo, coordenador ria do trabalho dos índios Baniwa, habitantes
do Programa Rio Negro) e Fábio Montenegro do Rio Negro, que há mais de 2000 anos tran-
Os Tariano de lauareté deram início à constru-
(encarregado da elaboração de um plano de çam com fibra de arumã uma sofisticada
ção de um Centro Cultural, com apoio do pro-
comercialização), e com a participação especi- cestaria, famosa por seus grafismos peculiares.
jeto de Educação Indígena no Alto Rio Negro, Baniwa é resultado de uma parceria da
al do fotógrafo Pedro Martinelli. A pedido da ar- Arte
que tem como objetivo a valorização e revitali-
tista gráfica Sytvia Monteiro, que voluntariamen- Oibi, Foirn e do ISA. O evento também contou
zação das línguas e da cultura Tariana. Os
te se encarregou do desenho e editoração da pu- com o apoio do UZ, da rede de lojas Tok&Stok
Tariano são habitantes tradicionais da região de
blicação que deverá acompanhar a e do restaurante Capim Santo. No dia anterior,
lauareté. sendo que as outras etnias que íalam comercialização da cestaria (ver abaixo), foi o artesanato Baniwa foi objeto de matéria de
línguas da família tukano oriental chegaram montado um estúdio na aldeia, para fotografar capa da Revista da Folha (tiragem de 400 mil
depois e ocuparam também essa área. Os Taria- as peçascom fundo infinito e luz natural. exemplares) com oito páginas e ilustrada com
,

no são, portanto, a etnia majoritária em lauareté


Contando com o apoio dos moradores da co- fotos de Pedro Martinelli.
e os professores e lideranças estão se mobilizan- - Além da cestaria, houve o
munidade hospedeira, que garantiram um bom Livro de bolso
do para recuperar e revitalizar as diferentes lín-
astral e comida farta, criou-se um ambiente que lançamento de um livro de bolso (com textos
guas tariana bem como suas danças e cantos
permitiu documentar detalhadamente não só de Beto Ricardo e imagens de Pedro Manineili),
tradicionais. Foi realizado um primeiro curso
todos os passos da produção da cestaria pelos um vídeo e um ensaio fotográfico de Martinelli.
de língua tarianaeumaoficina pedagógica, para
homens e de uso pelas mulheres no proces- Toda a renda obtida com o comércio dos pro-
elaboração de materiais didáticos que possam
samento da mandioca, como passar a limpo os dutos foi revertida para a Oibi e será aplicada
cumprir essa função. 0 Centro Cultural está sen- vários aspectos relacionados ao mercado (como na construção de um entreposto comercial da
do construído em lauareté e deverá abrigar ati- controle de qualidade, embalagem, custos e pre- cooperativa dos artesãos Baniwa em S. Gabriel
vidades de valorização da língua e cultura, bem ços). (ISA, abr/99) da Cachoeira. (ISA, mai/00)
como uma biblioteca e um acervo de artes tra-

dicionais desse povo. (ISA, ago/00)


“ARTE BANIWA” LANÇADA TERÁ REVISÃO DO
...

EM SÃO PAULO... PLANO DE NEGÓCIO


ARTESANATO Aconteceu no dia 17 de abril de 2000 a abertu- O projeto piloto
'Arte Baniwa" - que envolve a

ra do evento de lançamento da marca Arte produção e comercialização de cestaria de


CESTARIA BANIWA
COMO EMBALAGEM
A combinação de essências naturais, artesanato
e expressões indígenas fonna um novo filão da
indústria de perfumaria no Estado do Amazo-
nas. A empresa Essencial Arte em Perfumaria,
da empresária amazonense (iraça Seráfico, vem
investindo nesse segmento e, após dez anos de
pesquisa, lançou, na última semana, a linha de
Artesãos
perfumes Mistérs d’Amazonie, que traz elemen-
baniwa da
tos culturais e naturais da região amazônica, in-
comunidade
cluindo cestaria baniwa como parte da embala- Santa Rosa
gem dos produtos. A produção da empresa já aguardam
atende aos mercados do Rio de Janeiro, São Paulo chegada do
e Bahia. (ISA eA Crítica, 31/08/97) bongo da
Oibi...

OIBIREÚNE MESTRES
DA CESTARIA DE ARUMÃ
Em abril de 1999, após quatro meses de prepa-
ração, a Oibi, com apoio da Foirn e do ISA, or-
ganizou uma oficina de mestres da arte de
arumã, identificados numa assembléia da asso-
ciação noanoanteriore convidados para o even-
to. Durante uma semana, estiveram reunidos na
casa comunitária de Dicumã-Rupitâ 20 artesãos
de dez comunidades do alto Içana. Cada qual
trouxe um conjunto de peças prontas para mos-
... que
trar e matérias-primas para preparar e trançar
transporta a
até o acabamento. cestaria de
Essa situação de trabalho e convivência permi- arumã até a
tiu uma interação inédita entre os artesãos, os cidade de SBC.

2B0 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


,

animã - será avaliado após um ano de opera-


ção comercial. Em agosto de 2000, o Fundo Na-
cional do Meio Ambiente (FNMA - vinculado ao
MMA) aprovou financiamento para um projeto
que prevê estudos de mercado e sobre os im-
pactos ambientais decorrentes da extração de
arumã. O projeta será realizado pelo ISA e terá
como parceiros a Oibi, a Foim e a Fundação
Vitória Amazônica (FVA).
Como o plano de negócios tem um prazo de qua-
tro meses para ser realizado, a meta é começar
Participantes
em outubro e terminar em janeiro de 2001 com ,
da Oficina de
a realização de tuna oficina com os artesãos em Mestres em
lAicumã, sede da Oibi. Esta oficina, além de ca- Tucumã
pacitar os artesãos, terá uma interface com a es- Rupitá , Alto
Içana, abr 99.
cola Baniwa-Coripaco, na tentativa de incorpo-
rar o artesanato no aprendizado da escola.
Desafios - Enquanto o plano de negócios não
fica pronto, o desafio é continuar vendendo e
superar as dificuldades mercadológicas existen-
tes. 0 principal problema encontrado hoje pela
Oibi é o alto custo do transporte. A redução des-
ses encargos viabilizará a construção de um ar-
mazém em São Gabriel da Cachoeira para ser-
vir de entreposto entre os produtores e os com-
pradores, o que ajudará na resolução de um
outro problema: o tempo de entrega, que hoje
é de três meses desde o pedido.
Diretoria da
Vendas - O número de pessoas interessadas no OIBI na sede
projeto está aumentando e, como resultado, a pro- da associação
dução deu um salto de cem dúzias de cestos por em Tucumã
trimestre para a mesma quantidade a cada mês. Rupitá
Alto Içana.
Outro bom indicador é a demanda por este dpo
de produto. Hoje, só a rede de lojas TOK & STOK
dá coma de quase toda produção, o que leva a
crer que ela pode continuar aumentando.
O livro de bolso “Arte Baniwa” também vem sen-
do um sucesso de vendagem e já está em sua
segunda edição, revisada e acompanhada de
créditos sobre direitos coletivos dos Baniwa.
(ISA, out/00)

SAÚDE
EPIDEMIA DE TUBERCULOSE
O município de S. Gabriel da Cachoeira vive uma
epidemia de tuberculose. Em oito meses - de
janeiro a agosto deste ano - os casos registrados
representam 88,75% (80) de todo o ano de ARTE BANIWA
1996 (89). Os números foram fornecidos, por
telefone, pelo secretário municipal de Saúde, o

odontólogo José Haroldo Xavier Bentinho, que


tem como fonte o hospital de Guarnição (como
é conhecido o hospital do Exército).
Situação crítica. Esta é a expressão mais repeti-
da pelas autoridades em saúde para designar o
quadro da tuberculose em São Gabriel da Ca-
choeira. O superintendente de Saúde do Arna- Capa do livro de bolso Foirn/ISA/Oibi. Capa Revista Folha de 16/04/2000.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 281


,

zonas, Tancredo Caslro Soares, disse que há três DOENGA AMEAÇA NOVA ONG PROCURA
anos a Susam não desenvolvia nenhuma ativi- DEIXAR ÍNDIOS CEGOS PROMOVER TRABALHO
dade no município. Essa ausência ajudou a
Os índios do Alto Rio Negro estão ameaçados
CONJUNTO
agravar o quadro. No período de 92/96, ü inci-
dência de tuberculose cresceu muito, está hem de ficar cegos. Uma pesquisa do Instituto de
Nos últimos anos, as instituições que trabalham
- Oftalmologia de Manaus, realizada na região de
acima dos índices asiáticos e africanos tidos mais diretamente a saúde da população que vive
- observou Soares, S. Gabriel da Cachoeira detectou que de 298
como os mais altos (A Crí- no interior de S. Gabriel da Cachoeira, estão
índios de diversas etnias examinados, mais de
tica, 02/09/97) procurando fazer suas atividades de forma con-
50% estão com tracoma, uma doença causada junta. Esse esforço possibilita que cada institui-
por uma bactéria que pode levar à cegueira.
INDICADORES APONTAM S. ção saiba o que a outra está planejando e fazen-
Segundo a pesquisa do Instituto, alguns índios
GABRIEL COMO ÁREA CRÍTICA do. Assim é possível trabalhar de forma organi-
Maku já estão cegos. (A Crítica, 03/03/99) zada, visando a melhoria no atendimento à saú-
A falta de políticas sanitárias preventivas e de es- de e na formação dos agentes de saúde. No sen-
trutura de saneamento adequadas, a dificuldade MINISTÉRIO LIBERA VERBA tido de oficializar esse modo de trabalhar foi
de transporte e o sedentarismo adotado pelo ín-
criada, em 28 de agosto de 1999, a Sociedade
Precisou de uma matéria na Rede Globo sobre
dio por influência do homem branco fizeram de para o Desenvolvimento da Saúde Indígena do
o abandono do hospital construído pelo proje-
São Gabriel da Cachoeira, município do Alto Rio
to Calha Norte em Iauaretê (AM), no Alto Rio
Rio Negro (SDS) . A SDS é formada pelas seguin-
Negro, uma das áreas com os piores indicado-
tes instituições: Foirn, AAISARN, Centro de Saú-
Negro, para o Ministério da Saúde decidir libe-
do país. Também
res de tuberculose e malária
de Escola Dom Walter Ivan, Saúde Sem Limites
rar uma verba de R$ f milhão. Os recursos são
ocorrem com grande frequência diarréias, e pela Associação dos Trabalhadores de Enfer-
suficientes para a reforma do imóvel e a com-
verminoses, infecções pulmonares e tracoma
pra dos equipamentos médico. Dez anos depois,
magem de São Gabriel da Cachoeira (ATESG)
(espécie de conjuntivite que causa a cegueira),
enfim, o hospital será inaugurado. (A Crítica,
A Secretaria Municipal de Saúde não faz parte
males de controle estatístico menos rigoroso. As
04/04/99) da SDS mas, estará trabalhando em parceria
maiores vítimas são os índios, que representam com a SDS. O objetivo principal da SDS é ga-
90% da população local, de 30 mil habitantes.
rantir que os serviços de saúde para a popula-
As ações de saúde na Região do Alto Rio Negro
ALCOOLISMO PROVOCA
ção do interior de S. Gabriel da Cachoeira se-
dependem, em grande parte, do trabalho qua- VIOLÊNCIA ENTRE ÍNDIOS
jam desenvolvidos com boas condições de ge-
se anônimo dos médicos das organizações não-
Diariamente, o xadrez da delegacia dc São rência e de qualidade técnica visando a melhoria
govemamentais, que ocupam o espaço deixa-
Gabriel da Cachoeira abriga pelo menos seis das condições de saúde e de vida nas comuni-
do pela omissão do poder público. O clínico
pessoas que perderam as estribeiras por causa dades. A SDS também tem como princípio que
Norimar de Oliveira é um exemplo. Formado
do álcool. De uma hora para outra começam a estas atividades sejam feitas respeitando-se as
pela Escola Paulista de Medicina, ele desistiu
distribuir socos, pontapés e até facadas em mu- culturas indígenas e as normas do Sistema Úni-
da vida na cidade grande - e de um salário mais lheres, filhos, amigos. Um ou outro caso de es- co de Saúde. (Wayuri, out/99)
gordo - para praticar aquilo que chama de tupro é registrado esporadicamente. Com uma
“uma medicina mais necessária", na ONG peculiaridade: ou as vítimas ou os agressores EXPOSIÇÃO SOBRE
Saúde Sem Limites, financiada pelo governo
são indígenas e estão alcoolizados. SAÚDE REPRODUTIVA
britânico e pela Comunidade Européia. QB, 0 coordenador da equipe do Programa Rio Ne-
22/02/98) Foi inaugurada a exposição sobre a saúde
gro da organização não-governamental Institu-
to Socioambíental, o antropólogo Carlos Alberto
reprodutiva das mulheres indígenas do Alto Rio
EPIDEMIA DE TRACOMA Ricardo, diz que a história da interação entre
Negro, no Memorial da América Latina, Essa
ATINGE OS MAKU brancos c índios explica, em parte, porque a exposição é fruto do trabalho desenvolvido pe-

cachaça sc proliferou tanto no Alto Rio Negro.


las organizações indígenas Amidi e Foirn com
Um programa de cooperação entre a Faculda- assessoria da antropóloga Marta Azevedo, apoi-
Ele diz que, de fato, a tradição de consumir o
de de Medicina de Ribeirão Preto (SP) e a As-
caxiri é milenar, mas que a bebida somente era ada pela Fundação MacArthur A exposição
sociação Saúde Sem Limites constatou a preva-
mostra desenhos e textos produzidos pelas mu-
lência de um surto de tracoma entre os Maku
ingerida em um contexto específico e dentro
lheres indígenas de diferentes etnias de Iauaretê,
de certos limites sociais. (CB, 04/04/99)
Hupdé que habitam comunidades situadas no durante os encontros sobre saúde da mulher
rio Tiquié, no alto Rio Negro, noroeste do Esta- promovidos nos anos de 1998 e 1999 A expo-
do do Amazonas. Segundo informações passa-
TUBERCULOSE ATINGE -

sição deve ficar até meados de dezembro no


das ao ISA pelo antropólogo Renato Athias, co- 20% DA POPULAÇÃO DO Memorial, devendo circular para outros cen-
ordenador do escritório regional da Saúde Sem ALTO RIO NEGRO tros urbanos, retornando para São Gabriel e
Limites em São Gabriel da Cachoeira - cidade Iauaretê no final do ano 2000. mv/99)
Dados da Funai e da Prefeitura de São Gabriel da (ISA,
que é uma espécie de capital da região - o sur-
Cachoeira atestam que a tuberculose atinge 20%
to foi constatado por exame oftalmológico rea-
do total da população do Alto Rio Negro. Naque- ISEMINÁRIO INDÍGENA
lizado em julho em 198 indivíduos Hupdê, cor-
respondente à 12,4% da população de duas
la região existem quatro postos de saúde para DE SAÚDE DO RIO NEGRO
tratamento ambuíatorial. Os casos mais graves
grandes comunidades. O tracoma causa defor- Foi realizado de 15 de outubro a 17 de outubro
são levados para o único hospital, o de São
midades nas pálpebras e déficiLs visuais agu- de 1999 o I
o
Seminário Indígena de Saúde do
Gabriel da Cachoeira. (A Crítica, 21/09/99)
dos. (ISA, 08/12/98) Rio Negro. O seminário contou com a presença
de representantes de várias organizações e en-

232 NOROESTE AMAZÔNICO P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBÍENTAL


ou rever, o mais citado foi a sutura e em
tidades, além do Ministério da Saúde, Coiab,
Rcdc Autônoma de Saúde Indígena (Rasi), da a administração de medicamentos.
segui-
PEIXE ORNAMENTAL
Foirn, Funasa, Diocese de São Gabriel, SSL, Ins- As entrevistas realizadas nas comunidades abor-
FOIRN E ACMIRN TENTAM
tituto de Desenvolvimento Sanitário (IBS). En- daram os aspectos de saneamento, abastecimen-
questões debatidas nas mesas
DISCIPLINAR EXPLORAÇÃO
tre as principais to de água, destino dos dejetos de lixo, postos
estavam os problemas de saúde na região, a im- de saúde, iniuno-prevenção, saúde materno in- A simação do sistema cie pesca comercial de
plantação do Distrito Sanitário Especial Indíge- fantil e o atendimento de enfermagem. peixes ornamentais foi o motivo da reunião or
na, cura tradicional indígena e a ação política Assim, a grande maioria das comunidades ganizada pela Foirn e pela ACIMRN, na Comu-
do movimento indígena frente ao governo. (ISA, (71%) possui solo do tipo argiloso e topografia nidade de Tabocal, Rio Téa, no dia 15 de agos-
ottI/99) acidentada (38%). to de 1998. Participaram 75 pessoas, na sua
A principal fonte de água de 43 comunidades maioria índios qne trabalham na captura de
PROJETO DE SAÚDE visitadas é o rio e o igarapé. Nas comunidades peixes ornamentais que são vendidos a comer-

REPRODUTIVA GERA não há rede de abastecimento nem tratamento ciantes. A reclamação unânime dos participan-
EXPOSIÇÃO de água. O lixo também não é tratado conveni- tes foi com respeito ao baixo preço pago pelos
enteinente, já que 15 colocam a céu aberto, 9 "patrões" pelo milheiro do peixe cardinal. Di-
Segue até 12 de dezembro a exposição Saúde enterram, 23 queimam e 9 jogam o lixo no rio. ante das reclamações, o representante dos com-
Reprodutiva - As concepções das mulheres in- Das 42 comunidades visitadas, apenas metade pradores concordou em pagar imediatamente
dígenas de lauareté, Terra Indígena no Alto Ido possui posto de saúde e estes encontram -se em dez reais e, quatro meses mais tarde, subir para
Negro. Amostra reúne uma seleção de desenhos mal estado de conservação. A assistência à saú- 12 reais. Os participantes da reunião disseram
produzidos por mulheres que participaram do de tem sido realizada pelos AIS e outros profis- que "... antes (anos atrás), havia um período
projeto Saúde Reprodutiva, desenvolvido pela sionais de saúde, como os do exército que rea- em que era proibido pescar cardinal e que ago-
antropóloga Marta Azevedo, do Núcleo de Estu- lizam visitas esporadicamente. (ISA, com base ra esse período não é mais respeitado, causan-
dos da População (Nepo), da Unicamp. A expo- no “Relatório de atividades. Levantamento de do vários transtornos para os pescadores que
sição acontece no Pavilhão da Criatividade do Saiíde no Município de Santa Isabel do Rio perdem seus materiais e para o meio ambien-
Memorial da América Latina. (O Dm, 07/12/99) Negro ” Sdo Gabriel da Cachoeira, jun/00) te”, com a diminuição dos estoques naturais.
Além do mais, o “manifesto" de embarque é
LEVANTAMENTO SANITÁRIO IDENTIFICAÇÃO DE feitoem Barcelos - provocando evasão de divi-
EM S. ISABEL COMUNIDADES INDÍGENAS sas no município dc origem, que é S. Isabel - e

PARA O DSEI-RN os patrões pagam os pescadores com merca-


Ima equipe de profissionais de saúde coorde-
dorias superfaiu radas como, por exemplo, um
nada pela Foirn. visitou as comunidades indí-
Com o objetivo de subsidiar ações futuras do motor rabela 5.5 HF por 200 milheiros de car-
genas do município de S. Isabel, no médio Rio
Distrito Sanitário Especial Indígena do Rio Ne- dinal. Diante do exposto a conclusão dos parti-
Negro, no mês de junho de 2000. gro (DSEI-RN), a Foirn e o ISA organizaram, cipantes foi: (1) definir o preço mínimo pelo
0 trabalho consistiu na aplicação de dois ques-
entre abril e maio de 2000, um levantamento milheiro em dez reais; (2) proibir a pesca en-
um com os Agentes Indígenas de Saú-
tionários,
das comunidades indígenas existentes em toda tre 30 de abril e 30 de junho em toda a região;
de e outrocom a população das comunidades, a área do município de Barcelos. O trabalho foi (3) solicitar ao Ibama a instalação de um pos-
com o objetivo de apurar dados para o planeja- realizado por uma equipe composta por dois to de fiscalização na área; (4) solicitar da pre-
mento e execução das ações de prevenção, con- antropólogos indicados pelo ISA, Ana Cita de feitura a instalação pela prefeitura de um posto
trole e tratamento de doenças, no âmbito do Oliveira e Sidnei Peres, pelo representante da de recolhimento de impostos e de um posto mu-
DSEI-RN. Foirn Miguel Maia, e por pessoal de apoio indi- nicipal de fiscalização dos preços das merca-
Dos 34 agentes 82,4% é do sexo
entrevistados, cado pelas organizações indígenas ACIMRN e dorias; (5) buscarnovos mercados para os pei-
masculino, com idades variando entre 23 a ó7 Cacir. O relatório final, entregue à Funasa em xes ornamentais, a preços tnais justos, com
anos. Todos falam português, além da língua de junho, identifica 53 comunidades, compostas, apoio de órgãos governamentais e não-gover-
origem, e sabem ler e escrever, sendo que dois na maioria dos casos, por mais de uma das se- namentais. (ISA, com base no Relatório da
cursaram o segundo grau, 28 o primeiro grau guintes etnias: Baré, Baniwa, Dessana, Pira- Reunião, 15/08/9H)
completo e quatro o primeiro grau incomple- tapuia, Tariana, Tukano, Uarequena, sdém da-
to. Todos atendem em uma única comunidade,
queles que se auto-identificam como “Branco” COMUNIDADES QUEREM
na qual residem. Dentre eles, apenas dois sa- ou “Caboclo”. No centro e nos bairros da cida- TERMO DE COMPROMISSO
bem benzer. de de Barcelos, dados ainda não conclusivos E FISCALIZAÇÃO
Quanto ao motivo que os levaram a ser agentes apontam a presença dc habitantes dessas mes-
de saúde, os mais citados foram os fatos de mas etnias (menos Uarequena) e outras: Reunidos na comunidade de ,3, João, situada
poderem ajudar a comunidade e de terem sido Arapaço, Cabarí, Yanomami, Canamaris e Miiití- no médio Rio Negro, 52 representantes das co-
indicados pela mesma. Tapuia. (ISA. out/00) munidades indígenas dc S. João, Monte Alegre,
Mais da metade dos AIS não utilizam remédio S. Francisco, Foirn e AC1M1RN e também
do mato. A Dipirona é o medicamento que os "piabeiros antigos" do município de S. Isabel
índios mais sabem usar e a Hiocina é que eles avaliaram as “invasões e atividades predatórias
mais sentem falta. Dos AIS entrevistados, 32 de piabeiros provenientes do município de Bar-
sabem medir temperatura, 27 sabem medir celos’'. O Ibamafoi convidado, mas não com-
pressão e 18 sabem auscultar pulmão. Referente pareceu. O sr. Guilherme Gomes disse que o
aos assuntos que eles gostariam de aprender Rio Aiuanã “sempre foi mercado das comuni-

PGV0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 283


dades e sempre houve respeito com os locais Foirn e a ACIMRN realizaram uma reunião, no der junto às “autoridades competentes” para
de pesca; com a chegada de piabeiros há mais qual o assunto foi as invasões c atividades pre- providenciar a retirada dos invasores, incluin-
ou menos 12 anos, pouca coisa tem mudado e datórias de piabeiros provenitentes do municí- do a balsa de um tal sr. Joel, com dois mergu-

sempre houve diálogo com as comunidades..” pio de Barcelos no Rio Aiuanã. A reunião deci- lhadores. (ISA, com base na denúncia envia-
Porém, relatou, há oito meses chegaram o sr. diu denunciar ao Ibama as atividades invasoras da pelas lideranças de Castanheiro à Foirn e
Raimundo e Eido dos Santos e Demétrio e seus e exigir um termo de compromisso dos repassada à AER/ Funai/ SGC em 03/1 1/99)
pescadores, denominados “novos piabeiros”, piabeiros da comunidade estipulando os perío-
todos vindos de Barcelos, causando transtor- dos e espécies permitidos para a atividade, Uma
nos ao sistema existente porque não respeitam reunião similar foi realizada também na comu- MINERAÇÃO
o “período de pesca” nem o meio ambiente. nidade de Tabocal - Rio Téa, para a discussão
Segundo o sr. Gomes, eles queimaram, em gran- dos mesmos problemas. (Relatório da reunião
“SEIS LAGOS”TEM 78%
de escala, as samambaias da margem do rio, na comunidade de Taboca/ - 15 de agosto de
onde os peixes se reproduzem na época da 1998 e reunião na comunidade de São João,
DO NIÓBIO MUNDIAL
cheia. O sr. João Batista Lopes, administrador município de Santa Isabel do Rio Negro - AM Guardada pelo Morra dos beis Lagos, entre a
da comunidade de S. João, acrescentou que 29/01/99) cidade de S. Gabriel da Cachoeira e o Pico da
estes piabeiros também capturam “bichos de Neblina, na região do alto Rio Negro, no Ama-
casco e pescados, atividades proibidas e res- IBAMA DE SGC RESPONDE zonas, está a maior reserva minerai de nióbio
peitadas pelos antigos piabeiros. O sr. Luis do planeta. Metal de alto valor industrial e ma-
F.m oficio assinado pelo sr. Ezio Borba, enge-
Carlos “Bazar”, piabeiro que há sele anos tra- téria-prima básica na produção de chips para
nheiro agrônomo de S. Gabriel, o Ibama res-
balha na região, afirmou que os novos piabeiros supercondutores c aços especiais, o nióbio bra-
ponde às demandas das comunidades indíge-
“tinham sua área de pesca em Barcelos, acaba- sileiro representa 78% das reservas mundiais.
nas de S. Isabel, encaminhadas pela ACIMRN e
ram com tudo lá, agora eles vem acabar com Segundo oJornal do Norte, de Manaus, que cir-

tudo aqui”. O Manoel Batista, professor da


Foirn em janeiro de 99, informando que, ape-
sr. cula hoje, a Secretaria de Assuntos Estratégicos
sar dos piabeiros serem obrigadas a portar li-
comunidade S. João, acrescentou que o modo (SAE) já mensurou a riqueza: a resma conhe-
cença do Ibama, não é competência do órgão
de pescar dos novos piabeiros é predatório, cida contém 2,9 mifhões de toneladas e está
ambiental autorizar a entrada nas áreas de do-
porque desperdiçam muitos peixes ornamen- avaliada em US$ 26 bilhões. Os dados fazem
mínio das comunidades, o que deve ser decidi-
tais e usam arrastões e malhadeiras. Tais pro- um relatório reservado da SAE a que o
parte de
do pelas suas lideranças, assim como não lhe
cedimentos também estão ocorrendo no rio novo jornal amazonense teve acesso. (JB,
cabe fiscalizar as invasões de piabeiros, o que
Jurubaxi, conforme relataram os senhores 21/01/96)
competiria às próprias organizações indígenas.
Alonso Coelho c Martinho Cunha. Segundo eles,
(ISA, com base no oficio do Ibama/SGC de
várias pessoas dc S, Isabel (Bruno, Antonio EXPLORAÇÃO PODE
03/02/99)
Ferreira c o vereador conhecido por "Catuaba”) SUBSTITUIR ZONA FRANCA
capturam peLxes e bichos de casco com gran-
des malhadeiras e arrastões. Denúncias foram FOIRN PEDE RETIRADA DE A exploração mineral é a única maneira con-

feitas ao Ibama, sem retorno. INVASORES DO “CASTANHEIRO” creta conhecida para o desenvolvimento da re-

Diante do exposto, os participantes da reunião gião do Alto Rio Negro e, com um pouco mais
Dezoito homens liderados pelos patrões de de investimento, provavelmente a saída econô-
resolveram formalizar suas denúncias e divulgá-
piaba Laércio Ribeiro e Baiano invadiram, sob mica mais viável para o Amazonas. É o que de-
las para o Ibama, Funai e PF, na espera de pro-
ameaça a mão armada, a Terra Indígena Médio fende o gerente da Companhia de Pesquisa de
vidências. Decidiram também que as comuni-
Rio Negro ü, através da comunidade Casta- Recursos Minerais (CPRM), João Orestcs San-
dades somente vão permitir a entrada de
nheiro, localizada na margem esquerda, acima tos, ao comentar sobre as reservas minerais do
piabeiros com mais de cinco anos de atividade
de S. Isabel. Estado, Para Santos, a exploração das reservas
na região desde qne assinem um termo dc com-
,

Segundo denúncia que lideranças da comuni- de nióbio, manganês, zinco e ferro no morro
promisso, com cinco cláusulas; respeitar o pe-
dade enviaram à Foirn em S. Gabriel, no dia 30 de Seis Lagos, no município de S. Gabriel da
ríodo de desova dos peixes ornamentais (entre
30 de abril e 30 de junho), respeitar o habitat
de outubro de 1999 os piabeiros chegaram em Cachoeira, de ouro, no Vaie do rio Tapajós, no
Castanheiro e pediram permissão ao capilão Sudoeste do Pará e Sudeste do Amazonas, e a
dos peixes e os locais de pescas de outros, con-
tratar exclusivamente pessoas das comunida-
Raul Ferreira da Silva para entrar, O capitão disse jazida de potássio, em Nova Olinda do Norte,
des e pagar pelo menos dez reais o milheiro,
que não aceitava e propôs: “nós mesmo faz a são algumas das áreas já conhecidas, que se
pesca c o senhor compra", o que não foi aceito exploradas renderiam recursos suficientes para
não mariscar outros peixes nem bichos de cas-
pelos piabeiros. Armado com revolver, o tal início de um projeto de substituição da Zona
co para vender. (ISA, com base no Relatório
da Reunião da Comunidade de S.João mu-
Baiano- que é casado com uma índia da co- Franca de Manaus, como pólo de Desenvolvi-
,

munidade Bacabau, logo abaixo - vociferou que mento. (A Crítica, 15/09/96)


nicípio de S. Isabel do Rio Negro, assinado
já havia matado esposa e filho na sua terra natal
pela ACIMRN e Foirn, em 04/12/98)
e que poderia fazer o mesmo com os índios, O GRANITO PODE SE TORNAR
capitão Raul insistiu que a terra indígena estava
FOIRN E ACIMRN DISCUTEM ALTERNATIVA ECONÔMICA
reconhecida por lei, mas liercio respondeu que
AÇÃO DE PIABEIROS
"lei não manda” e que se “os índios querem ir A exploração do granito, abundante no municí-
No dia 4 de dezembro de 1998, a convite das atrás de seus direitos, nunca iriam achar, nem pio de S. Gabriel da Cachoeira e explorado de
comunidades de São João, Monte Alegre, São no inferno”. Diante do fato consumado, as lide- forma artesanai, pode se tornar uma atividade
Francisco e Piabeiros antigos do mimidpio, a ranças de Castanheiro pediram à Foirn interce- geradora de emprego. Com finalidade de verifi-

284 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMB1ENTAL


cai' a viabilidade da exploração desse mineral, pes, informa o diretor de Relações Institucionais estadual do Morro dos Seis Lagos”. Para a
o prefeito Ainilton Gadelha viajará ao Estado do e Desenvolvimento da CPRM, Gil Azevedo. (Ga- CPRM, possíveis contestações à produção mi-
Espírito Santo, um dos principais produtores zeta Mercantil, 08/07/97) neral nessa área serão um problema de quem
desse material. (Folha de São Gabriel da Ca- vencer a concorrência, (75/) 30/09/97)
choeira, mar/97) CINCO GRUPOS DISPUTAM
MINA DE NIÓBIO CONCORRÊNCIA ADIADA
EXPLORAÇÃO DE GRANITO
Cinco grandes grupos ligados a companhias mi- A Companhia de Pesquisa de Recursos Mine-
TEM PARECER CONTRÁRIO nerais do Sul do País estão disputando a compra rais (CPRM) adia por 120 dias o recebimento
DO DNPM da mina de nióbio localizada em São Gabriel da dos envelopes de propostas e documentação,

0 Departamento Nacional de Produção Mine-


Cachoeira (a 858 km de Manaus), a maior do para esclarecer questões suscitadas pelo Ibama,
a
mundo com capacidade de reserva em tomo de Procuradoria Geral da República (2 região) e
ral (DNPM) órgão do Ministério das Minas e
,

82 milhões de toneladas de óxido de nióbio. pelo Instituto de Proteção Ambiental do Ama-


Energia, emitiu parecer contrário a um projeto
Quatro delas já visitaram a mina. As propostas zonas (lpaam). (DOU, 13/10/97)
de exploração de granito em áreas indígenas
vão ser abertas no dia 16 de outubro, na sede da
no município de S. Gabriel da Cachoeira. A im-
plantação do projeto envolve recursos de R$ 6,5
Companhia tlc Pesquisa de Recursos Minerais CPRM PODE SER PROIBIDA
(CPRM) no Rio dc Janeiro. As empresas inte-
milhões. Do montante previsto para o projeto,
,
DE EXPLORAR
compra da reserva têm ale 24 horas
ressadas na
cerca de 190 mil chegaram a ser aplicados na
- serviço antes desse prazo para remeter suas propostas à A Promotoria do Meio Ambiente ingressou on-
perfuração de 1 6 áreas este contrata-
- companhia. (A Crítica, 24/08/97) tem, no Tribunal de Justiça do Estado, com Ação
do à empresa Paulo Orcioli e Sociedade Ltda.
Civil Pública para anular o ato que concedeu
e na criação da Indústria de Granito do Rio Ne-
gro S.A., cujo contrato foi arquivado no dia PREFEITURA QUESTIONA direito de exploração da jazida de nióbio de S.

VENDA DE RESERVA Gabriel da Cachoeira, à Companhia de Pesqui-


quatro do mês passado no DNPM. (A Crítica.
sa de Recursos Minerais (CRPM). Se acatada,
06/04/97)
A partir da segunda quinzena deste mês, a Pre- também por consequência, o proces-
anulará,

feitura, organizações não-govemamentais e re- so licilatório para exploração da reserva. O pro-


PREFEITURA ESTUDA A motor do Meio Ambiente, José Nunes Roque,
presentantes da comunidade de S. Gabriel da
EXPLORAÇÃO DO GRANITO Cachoeira iniciam uma ampla discussão sobre autor da ação, disse que o juiz concedeu prazo

A Prefeitura Municipal de S. Gabriel da Cacho- a reserva de nióbio, na Região dos Seis bagos, de 72 horas para o Departamento Nacional de
eira está dando os primeiros passos para con- naquele município. O prefeito de São Gabriel, Produção Mineral (DNPM) e a CPRM se mani-

cretizar um dos seus principais projetos visan- Amilton Gadelha, 38, disse que a comunidade festarem sobre a ação, após o que deverá con-

do a viabilidade econômica para o município: esta "perplexa" com a atitude do Governo Fe- ceder liminar suspendendo, por prazo indeter-
a exploração do granito. Com esta finahdade, o deral que anunciou a venda da reserva sem fa- minado, o processo licitatório que entregaria à
prefeito Amifton Gadelha e o secretário de zer qualquer consulta aos que ali vivem. (A Crí- iniciativa privada a exploração da jazida, até que

Obras, Carlinhos de Souza Dias, viajaram no fi- tica, 03/09/97) a ação tenha a sentença definitiva. José Nunes
nal de maio ao município de Mucajá (RR), para explica que o direito de exploração da reserva,

conhecer “in loco" a fabricação de paralelepí- JAZIDA DE NIÓBIO SERÁ que foi baseado em relatório de pesquisa feita

pedos e contratar dois profissionais. A tarefa VENDIDA POR R$ 600 MIL pela CPRM em 1986, na verdade não existe,
desses profissionais será ensinar a técnica ãs porque a legislação brasileira à época já proi-

pessoas de S. Gabriel que já trabalham com o O direito de pesquisa e lavra sobre a maior re- bia a exploração do solo em área de Parque

granito, porém de forma muito rudimentar. Na- serva de nióbio do mundo, localizada em S. Nacional. Foi uma concessão ilegal, afirma, não
quele município, atualmente, cerca de 20 pes- Gabriel tia Cachoeira, está à venda por RÍ 600 se concede um direito onde existe uma proibi-
soas queimam o granito, provocando grande mil. O baixo preço deve-se a dois fatores: 0 ção expressa na legislação. Aliás, diz, a própria

desperdício. (A Crítica, 04/07/97) mercado mundial está super abastecido do pro- pesquisa foi ilegal, porque foi feita sem autori-
duto e a área onde fica a reserva - no morro zação do órgão competente, conforme estabe-

CPRM PRIVATIZARÁ dos Seis Lagos, próximo ao Pico da Neblina - é lecem o Código Florestal e o Regulamento do
de acesso. Desde que descoberta, no Parque Nacional. A jazida de S. Gabriel da Ca-
EXPLORAÇÃO MINERAL difícil foi

fim da década de 70, a reserva foi usada pelos choeira fica no Parque Nacional do Pico da Ne-
A CPRM, empresa pública responsável por le- militares como argumento para a necessidade blina. A área do Parque é uma reserva de con-
vantamentos geológicos, está transferindo ao de proteção da Amazônia. Na época, os milha- servação de uso indireto, o que quer dizer que
setor privado todo seu acervo de áreas para ex- res acreditavam que a reserva valia centenas de até mesmo a entrada de pessoas na região só é
ploração mineral. O processo será iniciado pela milhões de dólares. Os vencedores da licitação, permitida com autorização do órgão fisca-
licitação pública para a venda da maior jazida cujo resultado sairá ainda neste mês, poderão lizador, neste caso, o Ibama, informa. (A Crí-
de minério de niófaio do País, com reserva esli- explorar não só 0 nióbio, mas qualquer produ- tica 14/10/97)
,

mada de 2,9 bilhões de toneladas, localizada to mineral presente no subsolo. O documento


no alto do rio Negro, no Amazonas. O edital de da CPRM cita uma questão que pode causar pro- DESCOBERTA ARQUEOLÓGICA
venda já está disponível às empresas ou con- testos dos ambientalistas: “É importante infor- SUGERE EXTRAÇAO MILENAR
sórcios de empresas interessados. As propos- mai’ que a área do projeto está inserida nas se-
tas deverão ser apresentadas até 16 de outu- guintes unidades de conservação: Parque Naci- O garimpeiro mais antigo sonha ainda em
bro, data marcada para a abertura dos envelo- onal do Pico da Neblina e a Reserva Biológica “bamburrar". Os índios já mineram há milêni-

POVQS INDÍGENAS NG BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIO AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 285
os no Rio Negro. Descobertas arqueológicas era SIVAM PROMETE LUZ ELÉTRICA de de Mitu. A maioria dos refugiados são índios
serras do Parque Nacional do Pico da Neblina, E POSTOS DE SAÚDE que procuraram seus parentes no Brasil com
naquela região, sugerem que o ouro já era ex- medo da guerrilha. (A Crítica, 14/11/98)
Fornecimento contínuo de energia elétrica em
traído do lugar em passado remoto, lugar de
cidade onde há racionamento, postos de saúde
maior concentração indígena do País (tem 23
em comunidades carentes e material didático
FOIRN PEDE INFORMAÇÕES
etnias c cerca de 30 mil índios - 10% da popu-
para distribuição em mais de 200 escolas são
SOBRE PCH DE ARACAPÁ
lação indígena nacional) S. Gabriel da Cacho-
alguns dos benefícios indiretos prometidos pelo
,

nunca abandonou a chamada “febre do


A Foirn solicita da Fimaí maiores esclarecimen-
eira
Sivam. Em S. Gabriel da Cachoeira, município tos sobre aspectos do projeto de construção da
ouro”. (A Crítica. 29/09/98)
que vive às voltas com o racionamento de ener- PCH de Aracapá, no rio Papuri, fronteira com a
gia, a construção, a partir de 98, de uma pe- Colômbia, como os impactos sociais e ambien-
quena central hidrelétrica deve garantir, já no demanda, sistema
MILITARES tais, custos, potências versus
ano 2000, o fornecimento contínuo de energia de distribuição e gerenciamento da energia. A
elétrica para 20 mil pessoas. QB, 01/03/98) entidade afirma que o esclarecimento destas
FHC VISITARÁ INSTALAÇÕES questões é fundamental para que ela se pronun
O presidente Peruando Henrique Cardoso visi- ÍNDIOS QUEREM SE cie conclusivamente sobre o assunto. (Solici-
tará instalações militares na Amazônia, a con- ENGAJAR NO EXÉRCITO tação da Foirn, 02/02/99)
vite do Exército e terá um encontro com os
índios Tukano que integram, como soldados,
Em vez de trazer de outras regiões o efetivo ne-
cessário para a vigilância da fronteira, o Exérci-
FAB EVITA
o Pelotão de Fronteira de Iauareté. (O Globo, TRANSPORTAR ÍNDIOS
to prefere dar instrução militar aos moradores
18/08/96)
da região, No 5” BIS, 85,3% dos soldados in-
Depois que a Polfda Federal encontrou cocaína
PCH DE S. GABRIEL VAI corporados em 97 são índios - 150 das tribos
em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB),
tukano, macn, dessano, cubeo, baré, piratapuia
CUSTAR R$ 24 MILHÕES as caronas nas aeronaves foram proibidas. Uma
e baniva, Dos 280 índios incorporados em 1995,
vez por mês, os índios do Alto Rio Negro apro-
As propostas das empresas que disputam a mais de 200 se tomaram profissionais depois
veitavam os vôos da FAB para ir a Manaus bus-
construção da Pequena Central Hidrelétrica de um ano como recrutas. Em 9tí, foram incor- car o auxílio que recebem do INSS. Com o fla-
(PCH), no município de S. Gabriel da Cachoei- porados 140 índios das aldeias da Cabeça do
grante da PF, os pilotos passaram a evitá-los, te-
ra serão abertas no dia 22, no Rio, na sede da Cachorro e a maioria também já avisou que quer
mendo que, sem saber, os índios fossem usados
Comissão para Coordenação do Projeto Siste- se engajar. Praticamente todos os pelotões do
pelos traficantes para levar drogas à capital. Sem
ma de Vigilância da Amazônia (CCSivam). A Exército na fronteira amazônica foram instala-
a carona, os aposentadas têm que gastar quase
obra tem «dor estimado cm R$ 24 milhões. A dos próximo de aldeias indígenas. Nos poucos
R$ 60 em transporte. (O Dia, 07/10/99)
hidrelétrica de São Gabriel vai alimentar um dos casos em que isso não ocorreu, foram os índios
25 radares do Sivam. Os radares serão distri- que se aproximaram dos quartéis. Eles põem
buídos por toda a Amazônia Legal c um deles já seus filhos para estudar nas mesmas escolas dos NOVA EMPRESA VAI
está instalado em São Gabriel desde 94. De acor- filhos dos soldados e costumam trocar alimen- CONSTRUIR A HIDRELÉTRICA
do com a coordenação do Sivam, a carga extra tos e outros produtos com os militares, (O Glo-
A Comissão para Coordenação do Projeto do
de consumo de energia dificilmente poderia bo, 06/12/98)
Sistema de Vigilância da Amazônia (CCSivam)
ser suportada pelos antigos geradores termo
afirmou ontem que outra empresa vai substi-
elétrico existentes no município. (A Crítica ,
MINISTÉRIO QUER tuir a HMG Engenharia Ltda. na construção da
06/07/97)
MAIS PELOTÕES hidrelétrica de S. Gabriel e que são improce-
dentes as denúncias de que a empresa já estava
ÍNDIOSCOMPÕEM 85% O governo vai aumentar a presença militar na
em processo de falência antes de ser contrata-
DOS SOLDADOS NO ALTO Amazônia, a partir do próximo ano. O Ministé-
da pelo Ministério da Aeronáutica. Encarrega-
RIO NEGRO rio do Exército já lem planejado a criação de
da da construção da pequena central hidrelé-
pelo menos mais cinco pelotões na fronteira
A luta pelo território é constante na vida dos trica no igarapé Miuá, um afluente da margem
entre o Brasil, Colômbia, Venezuela, Suriname
índios da Amazônia. Além dos obstáculos à de- esquerda do rio negro, logo abaixo da cidade
e Guiana Francesa, reforçando seu esquema de
marcação de suas terras, eles passaram a ser de S. Gabriel, a empresa teve problemas finan-
segurança, hoje composto de 80 unidades. Para
uma peça importante para as Forças Armadas ceiros e abalou o comércio do município, ao
evitar gastos, os novos batalhões serão compos-
na defesa das fronteiras da região Norte, justa- deixar de pagar dívidas. A situação no municí-
tos por militares de Roraima. Amapá e Amazo-
mente as que o Exército considera “mais pio veio à tona com a denúncia feita pelo depu-
nas. (A Crítica, 06/12/98)
ameaçadas pela cobiça estrangeira". Em S. tado Vicente Lopes (PMDB), em sessão plená-

Gabriel da Cachoeira, os índios já representam ria na Assembléia Legislativa do Estado (ALE).


COLOMBIANOS SE uma em-
85% dos soldados incorporados este ano pelo Ele acusou a Aeronáutica de contratar
5” Batalhão de Infantaria de Selva. Além de re-
REFUGIAM EM S. GABRIEL presa “qualquer”, que já estava em processo
correr ao vasto conhecimento desses recrutas Cerca de 500 colombianos estão abrigados nos de falência antes de construir seu canteiro de
sobre a vida na floresta, o Exército aproveita o distritos de Iauareté c Querari município de São
,
obras. Segundo o parlamentar, a empresa deve
convívio para incutir na cabeça dos que troca- Gabriel da Cachoeira ,
desde que ocorreu o ata- R$ 262 mil a comerciantes do município, sem
ram o arco e flecha pelo fuzil o senlimento de que militar das Forças Armadas Revolucionári- contar os débitos com os funcionários, que tam-
nacionalidade. (O Globo, 20/09/97) as daColômbia (Pare) há Irês semanas, à cida-
,
bém não foram quitados. (A Crítica, 30/10/99)

286 NORDESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 19S6/2Q00 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


TUKANO DENUNCIA VIOLÊNCIA DE SOLDADOS EM PARI-CACHOEIRA
Eis a íntegra da carta de Álvaro Fernandes Sam- palavra do governo o General Rubens Bayma Houve as discussões enter civis e militares por
paio, liderança indígena da comunidade Balaio, Dennys, ministro da Casa Civil e Chefe do Gabi- causa das moças, principalmente por parte dos
fkira Sulivan Silvestre, presidente da Funai: nete Militar do presidente do José Sarney nos pais que não estavam acostumados com tantos
garantiu que Pari Cachoeira seria a "menina de costumes estranhos, bebedeiras e abuso de po-
‘‘Brasília, 30 de outubro de 1998 olhos do Brasil". Enfim, nós temos toda razão para der por parte dos militares. Essa mesma confu-
não acreditar no governo, porque até boje nenhum são aconteceu em lauarete e em outros lugares
Exmo Sr projeto de desenvolvimento foi instalado em Pari da calha do Rio llaupés.

Dr. Sulivan Silvestre Cachoeira. Em Pari Cachoeira, antes das eleições os solda-
MD presidente da Funai Passado tempo houve a invasão do Comando Mi- dos do Quinto BIS e do Primeiro BEC beberam a
litar da Amazônia (CMA) na AU de Pari Cachoeira cachaça, discutiram e brigaram. Foram presos no
Senhor presidente. UI que expulsou todos os índios que trabalhavam Quartel de Pari Cachoeira. E quando foi no dia 4
naquele garimpo e queimou os barracões, os ins- de outubro, dia da eleição, os soldados invadi-
No dia 10 do corrente mês, em São Gabriel da trumentos de trabalho, a cantina que abastecia ram a casa do professor Brasilino Borges Barreto
Cachoeira, AM, fui procurado por Sr Benedito os trabalhadores.Na época esse prejuízofoi equi- por causa da filha dele. Agrediram os índios com
Fernandes Machado, líder indígena de Pari Cacho- valente a 45 quilos de ouro. A UCIRT esteve em pedaços de paus e a briga ficou feia em todos os
eira que desabafou com toda razão a respeito da Brasília efalou com ministro da Justiça Bernardo níveis. Em seguida, os soldados brigaram, embri-
violência cometida pelos soldados contra os índi- Cabral, presidente da Funai e Ongs indigenistas. agados invadiram uma seção eleitoral. Aí os ín-

os daquele local. Enfbn, a diplomacia não deu em nada. A UCIRT dios tiveram que revidar a briga e os soldados
Talfato não era novidade para nós que somos as pediu a indenização do CMA através de advoga- apanharam.
lideranças mais antigas. No tempo do Calha Nor- dos particulares uma vez que nenhum advogado Vendo o medo de nossos parentes f>ara dar quei-
te, a União das Comunidades do Rio Tiquié da Funai queria defender os interesses de nossos xa aos setores competentes, eu. Benedito Fernan-
(UCIRT), e tendo como presidente o Sr. Benedito povos. Pari Cachoeira sofreu o boicote por paríe des Machado resolvemos procurar Vossa Senho-
Fernandes Machado, índio Tukano, não foi per- da Funai e mesmo do Projeto Calha Norte só por- ria para resolver essa questão junto ao Ministé-

mitido a instalação de Quartel em Pari Cachoei- que não acreditamos na conversa do governo. rio do Exército, porque estamos confusos e não

ra, enquanto a Calha Norte não implementasse Passado o tempo, os novos líderes de Pari Cacho- vamos admitir em hipótese nenhuma que essa
os projetos de criação de peixe, pecuária, ativi- eira deixaram instalar o Quartel naquele local. violência perdure em nosso meio.
dades agrícolas, saneamento básico, educação, Começou a confusão, as índiasforam estupradas Ciente de que seremos atendidos, antecipo os
energia e melhoria de transporte. Vendo a nossa e ninguém tomou providência, porque a maioria meus sinceros agradecimentos.
"
reação negativa e por que não acreditávamos na dos líderes não conhecem as leis que os ampara. Atenciosamente, assina: Álmro Fernandes Sampaio

FOIRN QUER DEFINIÇÃO que deveriam compor um Programa Regional vivência entre militares e indígenas a serem
DE PROCEDIMENTOS de Desenvolvimento Indígena Sustentável do Alto adotados nas terras indígenas da região. Reco-
e Médio Rio Negro, a Foirn incluiu uma reco- mendações no mesmo sentido têm sido reitera-

Em documento entregue ao presidente da Funai, mendação ao Ministério da Defesa: definir e di- das pela Foirn, através de documentos dirigidos
Dr. Carlos Marés, indicando dez linhas básicas fundir um conjunto de procedimentos de con- a autoridades do governo federai, desde a visita

do presidente Fernando Henrique Cardoso a São


em agosto de 96. (ISA, a partir de do-
Gabriel
cumento da Foirn à Funai em 10/12/99)

MINISTRO DA DEFESA
QUER TERRITÓRIO FEDERAL
0 Ministério da Defesa quer redesenhar o mapa
do país, para converter o Brasil numa Repúbli-
ca Federativa formada por 26 Estados, pelo Dis-
trito Federal e por dois territórios federais -
Alto Rio Negro e Alto Solimões. A nova divisão
da territorial da Região Norte, antiga aspiração
dos militares, foi agora publicamente
encampada por um civil: o ministro da Defesa,
Geraldo Quintão. Km meio à visita de três dias
ao Projeto Calha Norte, encerrada no domingo
( 14/05/00) Quintão lançou a idéia do parto dos
,

dois territórios no extremo oeste da Amazônia.


0 Território do Alto Rio Negro nasceria da jun-
ção de pedaços dos Estados do Amazonas e de
Roraima. Teria como capital a cidade de São
Gabriel da Cachoeira, município amazonense.
A proposta de Quintão ganhou a imediata sim-
A maioria da tropa é indígena. patia dos governadores da região, entre os quais

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 287


o mais entusiasmado é Amazonino Mendes
(PFL) ,
do Amazonas. Como Quintão, Amazonino
defende a formação apenas de territórios, não
de Estados. Políticos e militares vislumbram na
criação dos territórios a possibilidade de facili-

tar a administração das áreas às voltas com pro-


blemas crônicos decorrentes da infra-estrutu-
ra indigente. Tanto São Gabriel da Cachoeira
como Tabatinga (que seria a capital do Territó-
rio do Alto Solimões) padecem do mesmo mal:

a falta de energia elétrica.

Narcotráfico e guerrilha - Os militares en-


xergam outros méritos no fatiamento territorial,

além de instrumento destinado a integrar po-


pulações condenadas ao isolamento. A vigilân-
cia das fronteiras seria reforçada - hoje, a re-
gião é vulnerável ao narcotráfico e à guerrilha
Tropas colombianas
com bases plantadas em países vizinhos. A Flo-
entrincheiradas
resta Amazônica é rota do tráfico de cocaína e Exército colombiano
k constrói
abriga laboratórios de refino da droga. Os guer- pista de pouso

rilheiros das Forças Armadas Revolucionárias Grupos de 100 a 200


guerrilheiros estáo a
da Colômbia (Farc) estão espalhados por mais PERU 50 km de Tabatinga
BOLÍVIA
de 1 .000 quilômetros ao longo da fronteira en- Locais onde o Exército
treina seus guerrilheiros
tre São Joaquim, no extremo oeste da região
conhecida como Cabeça-do-Cachorro, e
Tabatinga. NormaJmente, acampam a apenas 50
quilômetros do limite com o Brasil. A inquieta-
viagem ao Amazonas, Quintão não prometeu que o casco de um barco de 12 m - empresta-
ção despertada pelas Farc levou o Exército a
recursos. Mas anunciou a decisão, chancelada do pelo pelotão à comunidade de S. Pedro em
implantar quatro centros de treinamento de re-
pelo governo federal, de buscar a aproximação 97 e devolvido reformado após oito meses - está
com países como Venezuela, Colômbia e Guiana. submerso no porto do pelotão. O líder da comu-
crutas em “Vamos
táticas antiguerrilha.
o
infernizar os guerrilheiros se entrarem em nos-
O ressurgimento da idéia de criação dos terri- nidade solicitou ao 5 BIS ressarcimento pelas

sas fronteiras”, diz o general Alcedir Lopes”,


tórios sugere que essa opção ganhou força. despesas com a reforma do barco, mas não teve
(Época, 22/05/00) resposta. Expressam também seu descontenta-
comandante da Amazônia.
militar
ONGs e internacional i/ação - Na ótica dos
mento pelo fato de um militar do pelotão ter

militares, a criação dos territórios ajudaria tam-


BANIWA NÃO QUER introduzido entre os jovens a prática da capoei-

bém a afastar outra assombração recorrente - PELOTÃO EM TUNUÍ ra o que, acrescido ao hábito de consumir be-

o risco de internacionalização da Amazônia. Eles


bidas alcoólicas em festas, tem estimulado a vi-
Em carta dirigida ao Comandante do Exército,
olência. (ISA, com base na carta ao CMA, as-
desconfiam das intenções das organizações não-
ao ministro da Justiça, ao presidente da Funai e
sinada por representantes de 16 associações
governamentais estabelecidas na região. “Nes-
do Ibama, ao CMA de Manaus e ao comandante
indígenas locais, em 04/08/00)
se momento, o navio Amazon Guardian, do o
do V BIS em S. Gabriel, lideranças Baniwa soli-
Greenpeace, está no Rio Juruá insuflando os
citam que o pelotão previsto para ser construído
índios, isso é interferência em nossa sobera- ADR QUER APOIO
defronte a comunidade de T\muí Cachoeira, lo-
nia”, protesta o general Lopes.
calizada no alto Içana, seja transferido para ou-
DO COMANDO PARA
Presença militar crescente Na esteira des- -
tro local. Os Baniwa prevêem impactos culturais
CONTROLAR BEBIDAS
vêm empreenden-
sa preocupação, os militares
e ambientais indesejáveis e sugerem que o novo Ofício dirigido pelo administrador regional da
do uma marcha silenciosa em direção à Ama-
pelotão seja instalado mais acima, na foz do Funai de S. Gabriel da Cachoeira (AM) ao co-
zônia. O contingente do Exército na região -
Cuiari, um afluente da margem esquerda do mandante do 5 o BIS, registra que tem recebido
22 mil homens - já é o segundo maior no país.
Içana, que nasce na Colômbia. (ISA, com base informações verbais de indígenas e profissio-
Só perde para a guarnição no Sul. Nos próxi- na carta enviada pela Foirn/Oibi/Acira/Unibi, nais de saúde de que militares dos pelotões de
mos 18 meses, o Exército removerá para as flo-
de S. Gabriel da Cachoeira, em 25/07/00) fronteira - especialmente em Pari -Cachoeira,
restas do Norte outros 2 mil soldados em servi-
Iauareté e Maturacá - estão levando bebidas
ço no Geará, no Rio de Janeiro e no rio Grande
LIDERANÇAS DE IAUARETÉ alcoólicas, promovendo festas e estimulando
do Sul A intensificação da presença militar na
AVALIAM RELACIONAMENTO
.

jovens a consumi-las. Pede que tais práticas se-


Amazônia só não é maior em conseqiiência de
jam coibidas e encaminha em anexo carta do
restrições orçamentárias. Nos últimos dois me- Em carta dirigida ao CMA de Manaus, lideran-
“líder geral” de Iauareté, datada de 20 de ju-
ses, economistas do governo vetaram a conces- ças indígenas de Iauareté, reunidas em Assem-
lho, relatando ao mesmo comandante distúrbi-
são da verba de US$ 120 milhões para a im- bléia Geral realizada entre 31 de julho e 4 de
os provocados por soldados e solicitando a
plantação do Sistema de Vigilância da Amazô- agosto de 2000, fizeram uma revisão de pontos
transferência dos mesmos. (ISA, com base no
nia (Sivam) e de outra de US$ 30 milhões parta críticos no relacionamento com os militares do
Ofício n° 12I/ERA/SGC/AM de 07/08/00)
a construção de lanchas de patrulha fluvial. Na pelotão de fronteira ali instalado. Relembram

288 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


AERONÁUTICA QUER DESPEJO Otero garante scr a área uma expressão da for- um espécime varia de alguns centavos de dólar
ça cultural que tem os povos indígenas na re- a US$ mil, segundo as informações recebidas
0 chefe do Estado Maior tio VII Comando Aé-
gião de São Gabriel da Cachoeira. (A Crítica, pelo Ibama e pelo antropólogo Carlos Alberto
reo Regional, dc Manaus, cel. av. Fernando
02/09/96) Ricardo, coordenador de projetos pelo Institu-
Tacca de Andrade, notificou moradores e pro-
to Socioambiental em São Gabriel da Cachoei-
prietários rurais das imediações do aeroporto
da cidade de S. Gabriel da Cachoeira, incluin-
VEREADORES ra, cidade onde fica parte do parque. Os inse-

do 24 sítios e três comunidades indígenas situ-


INDÍGENAS NO AM tos, diz Ricardo, estariam sendo comprados
desde maio, em remessas mensais, por um es-
adas nas margens da estrada que liga o aero- Flávio Carvalho (PT) 36 anos, foi eleito em quin-
,
critório francês. A lista foi entregue ao ibama
porto/porto de Camanaus à cidade. Segundo o to lugar, vereador de S. Gabriel da Cachoeira,
por um morador que queria saber se pode-
VII Cornar essas pessoas estão situadas na gleba com 326 votos. Militante do PT desde 1988, está
ria coletar aqueles animais para vender. (fSP,
Tombo AM 015-000, de uso exclusivo da Aero- é sua primeira cauditadura. Ele é da comunida- 04/09/97)
náutica, e deveriam desocupá-la em 1 5 dias. A de de Iauareté e foi eleito com a maioria dos
Foirn enviou ofício ao diretor de Assuntos Fun- votos dessa comunidade. Formado em Filosofia
diários da Funai em Brasília alertando sobre o fato
COMUNIDADES DO ALTO
pela Universidade do Amazonas. Carvalho é da
TIQUIÉ LANÇAM PACOTE
e pedindo esclarecimentos. (ISA, 28/08/00) etnia Desana e um dos diretores da Federação
das Organizações Indígenas do Rio Negro
TURÍSTICO
(Foirn). O Amazonas terá, a partir de 1" de ja- A bibliotecária suíça. Regula Feitknedit, 35 e
GERAL neiro, 17 vereadores e um vice-prefcito índios, seu marido, o italiano Massimo Pira, 36, esco-
scgtmdo levantamento das organizações indíge- lheram a selva amazônica para acrescentar mais
MISSÃO NOVAS TRIBOS nas do Alto Solimõcs e Alto Rio Negro e do Ciini. um roteiro emocionante ao currículo. Entre os
ENTRE OS DÂW Quatorze dos eleitos se concentram nos municípi- dias 30 de setembro e 6 de outubro, na compa-
os de S. Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constam, nhia de três índios e um intérprete, o casai per-
A missão religiosa Novas Tribos do Brasil está
Tabatinga, São Paulo de Oiivença, Amalurá e Santo correu de barco cerca de 1 .200 km pelos rios
conseguindo reverter a tendência de extinção
Antônio de Içá. (A Crítica, 20/10/96) Negros, Uaupés, Tiquíé, indo de São Gabriel da
dos índios Daw (Camãs) em São Gabriel da Ca-
Cachoeira até o povoado dc Santa Rosa e vol-
choeira. Os missionários dizem que a elevação
PREFEITURA VAI DOAR tando ao ponto de parlida. O grupo visitou al-
da mortalidade infantil na tribo foi detida c ela
LOTES EM SÃO GABRIEL deias e conviveu com índios de várias comuni-
voltou a apresentar taxas vegetativas razoáveis.
dades, como takanos e tuyucas, participou de
Os índios, porém, não conseguem se libertar 0 prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Amilton uma A viagem marcou a estréia de um
festa.
do alcoolismo. (A Crítica, 14/02/96) Gadelha, anunciou a distribuição de 500 iotes
pacote turístico, lançado pelo Conselho Regio-
de terras à famílias carentes até o final deste
nal das Tribos Indígenas do Aito Rio Tiquíé
SIMPÓSIO REÚNE POVOS ano. Os terrenos serão distribuídos de acordo
(Cretiart) ,
com apoio da prefeitura da cidade
DO ALTO RIO NEGRO com mu cadastramento, que começará a ser
de São Gabriel da Cachoeira. Os índios mos-
feito a partir da primeira quinzena de maio, pela
Educação indígena, a questão da terra, cultura
tram aos visitantes sua cultura, flora e fauna ao
Secretaria de Ação Social e Comunitária. (A Crí-
custo de R$ 1.500 para estrangeiros e Rf 1.200
e a história indígena do Alto Rio Negro, estarão tica, 27/02/97)
paia brasileiros. A receita vai viabilizar proje-
em discussão no primeiro simpósio dos povos
da região. O evento aconlece de 27 a 30 de agos- tos de opções econômicas para a sobrevivên-
FRANCÊS PROCURADO cia de 16 comunidades indígenas inseridas no
to no Parque do Mindu, uma realização con-
junta da Universidade do Amazonas e a Federa-
POR BIOPIRATARIA programa. (IstoÉ, 29/10 e A Crítica, 16/11/97)

ção das Organizações Indígenas do Rio Negro. A PF no Amazonas reforçou a vigilância na fron-
Nos qualro dias do evento, 250 lideranças indí- teira do Brasil com Peru e Colômbia, para ten-
ECOTURISMO EM
genas e representantes de órgãos governamen- tar prender o francês Marc Soula. Como o com- TERRAS INDÍGENAS
tais e de organizações nâo-governamenlais de- panheiro Joseph Merghel, ele tem em seu po-
Uma iniciativa dos índios Tukano de Pari Cacho-
baterão e apontarão os rumos para os povos der um carregamento de besouros e borboletas
eira, no alto rio Tiquié, na fronteira do Brasil
que vivem na região, onde em determinadas recolhidos da floresta: Mergiiel, belga estudio-
com a Colômbia, foi escolhida como projeto pi
áreas, as formas naturais de sobrevivência es- so de insetos, foi preso quinta-feira em flagran-
loto do programa de ecoturisrno em áreas indí-
tão se esgotando. (A Crítica, 25/08/96) te no Aeroporto de Tabatinga. Ele tentava em-
genas que órgãos do governo vão começar a
barcar num vôo para Manaus e depois para Bru-
PREFEITURA ENTREGA colocai' em prática a partir do próximo ano. O
xelas, com 78 besouros e 135 borboletas. (A
responsável por esse autêntico programa de ín-
MONUMENTO NO I FESTRIBAL Crítica, 02/09/97)
dio é Estevão Lemos Barreto, um tukano que
O prefeito de S. Gabriel da Cachoeira, Jusceii- cansou de ver os guias turísticos de Manaus fa-
IBAMA INVESTIGA
no Otero, fez, como parte do I Festribal, o tom- larem de coisas que pouco tinha a ver com os
TRÁFICO DE INSETOS
bamento da área onde fica localizado o Cenlro costumes indígenas. O objetivo do projeto, se-
Cultural, Folclórico, Artístico e Desportivo do O posto do Ibama no Parque Nacional do Pico gundo Barreto, é criar uma alternativa econô-
Alto Rio Negro, na principal avenida da cidade, da Neblina ( AM) ,
investiga a existência de uma mica, “dando início ao desenvolvimento susten-
ao entregar para comunidade um monumento rede internacional de tráfico de animais silves- tável dos povos indígenas dessa região''.

em pedra, tendo ao centro e no alto a cabeça tres, envolvendo besouros e borboletas nativos O lançamento da política de ecoturisrno para a
de um índio. No finai do mandato, Juscelino de florestas brasileiras. O preço oferecido por Amazônia e a criação oficial do Corredor Ecotu-

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1S96/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOR0ESTE AMAZÔNICO 2J3


-

MISSÃO REVERTE SITUAÇÃO DA COMUNIDADE DÂW


Os indígenas da etnia Dâw, falantes de uma lín- infantil eram bastante elevados, e os missionári- nicipal de Educação. 0 trabalho de educação es-
gua da família Maku, moram no Sítio Waruá, lo- os temiam que o grupo pudesse extinguir-se. A colar tem sido realizado pelos missionários e atu-
calizado na margem direita do Rio Negro, emfren- influência destes últimos conseguiu amenizar o almente conta também com uma professora da
teà cidade de São Gabriel da Cachoeira. Somam problema do alcoolismo. etnia Baré. Entre crianças e adultos, hoje são 21
no momento (agosto de 2000) 90 pessoas, distri- Uma doação intermediada pela Alem possibilitou alunos alfabetizados em dâw e português. Um con-
buídas em dez clãs. Segundo informações obti- a compra de terreno escolhido peta comunidade e vênio foi firmado em 1999 com a Secretaria Mu-
das com os missionários da Associação Linguís- que hoje integra a Terra Indígena Médio Rio Negro nicipal de Saúde e com o Programa de Agentes
tica Evangélica Missionário (Alem), que desde l.0 grupo organizou expedições de caça e extra- Comunitários de Saúde (Paes) e a comunidade
1984 realizam urn trabalho de evangelização, as- ção de piaçaba e. com a venda direta dos produ- escolheu seu agente de saúde, que no momento
sistência social e pesquisa linguísticajunto a esse tos, as famílias adquiriram ferramentas, redes, está em treinamento.
grupo, eles contavam nessa época 63 indivíduos. panelas, fornos, ralos, além de mudas de mandio- A estruturação da vida em comunidade, aliada à
Os Dâw. que assim como os outros grupos Maku ca para o plantio de suas próprias roças, /lí pri- melhoria da qualidade de vida e aos programas de
são conhecidos por seu alto grau de mobilidade meiras roçasforam abertas através de ajuris ( tra- vacinação, prevenção e acompanhamento médico
espacial, utilizam tradicionalmente uma rede de balho comunitário), com a participação de todos. têm gerado condições sanitáriasfavoráveis para o
varadouros na margem direita do Rio Negro, com Desde então, os Dâw passaram a morar permanen - crescimento demográfico dos Dâw. No entanto,
extensas ligações com o Rio Curicuriari e seus temente no sítio, levando uma vida sedentária. mesmo que sensivelmente minorado, o alcoolis-
ajluentes. Em meados da década de 80. trabalha- Hoje em dia, vendem na cidade frutas cultivadas mo ainda é preocupante, principalmente no que
vam J>ara os patrões na extração da piaçaba e e produtos coletados como tucurnã. ucuqui, diz respeito à população adulta masculina. Nos
cipó, principalmente nos rios Curicuriari e Marie, bacaba, pupunha e caranguejo. Todos os idosos e últimos 15 anos, foram registrados dez óbitos de
em um regime de semi-escravidão (sistema de deficientes físicos recebem aposentadoria rural. indivíduos adultos; destes, seis tiveram relação di-
aviamento). Isso provocou uma desagregação Com os recursos que dispõem, compram peixe, reta com e estado de embriagues (três por afoga-
social e a dispersão das famílias, que ocasional frango, sal. açúcar, café e outros itens como lan- mento. dois por insolação e um por atropelamen-
mente também trabalhavam em roças de indíge- ternas, pilhas, munição, roupas. Em 1998, o gru- to). Um dos principais problemas a afetar a comu -

nas de outras etnias. 0 consumo de álcool erafre- po organizou -se para escolher um capitão e um nidade éa alta incidência de tracoma. relatada por
qüente e estimulado pelos patrões e por alguns animador de esportes, o que sinaliza o início do pesquisculores do Curso de Oftalmologia da Uni-
moradores de São Gabriel Quando encontravam- processo de resgate do senso de comunidade e da versidade de Ribeirão Preto. A população atingida
se na cidade, famílias inteiras podiam ser vistas autonomia perdidos durante o tempo em que vi- está sendo tratada pelos profissionais do Centro
dormindo nas ruas, pais e filhos embriagados, veram sob a dominação dos patrões. de Saúde Escola, instituição responsável pela saú-
vítimas constantes de escárnio e hostilidade por Desde 1994, eles contam com uma escola de pri- de da comunidade no contexto do Distrito Sanitá-
parte da população. Os índices de mortalidade meira à quarta série, vinculada à Secretaria Mu- rio Especial Indígena. (Cristiane Lasmar, 23/08/00)

rístico Amazônia-Pantanal-Foz do Iguaçu mar- UNIVERSIDADE SOLIDÁRIA ria, o preparo da alimentação, o ensino bilín-

caram, de 10 a 14 de novembro em Santarém, TRAZ PRIMEIRA DAMA gue e a dança tradicional do povo Tdkano, os
no Pará, o Seminário
I Internacional de Ecoturismo A S. GABRIEL japoneses queriam também levar amostras de
da Amazônia. (Gazeta Mercantil, 21/11/97) plantas medicinais em troca de presentes.
A primeira dama Ruth Cardoso, presidente do Inconformado ao ver que os índios explicari-
PREFEITURA NEGA QUE ESTEJA Conselho da Comunidade Solidária, visitará o am os segredos das plantas e seus remédios de
PRETERINDO OS ÍNDIOS município de São Gabriel da Cachoeira, para graça, fez uma interferência rígida que acabou
acompanhar o trabalho dos estudantes das uni- não agradando os organizadores. No entanto, a
Esquenta o debate em torno do “modo” petista versidades de Campinas (SP) e do Amazonas na filmagem aconteceu em troca de duas moto-
de governar S. Gabriel da Cachoeira. Ontem foi região. No programa, também está incluída vi- serras, cujo uso foi logo autorizado pelo Ibama.
a vez do assessor Elias Brasilino contestar o ín-
sita aos Yanomami de Maturacá. A primeira- (Carta de Álvaro Sampaio para o presidente
dio Álvaro Sampaio, tachando-o de falso líder e
dama, que é antropóloga, também vai assistir a da Funai em 30/10/98)
de teleguiado do ex-prefeito Juscelino Gonçal-
uma apresentação da compositora e cantora
ves. Brasilino nega que o vice-prefeito Tiago Marlui Miranda em conjunto com os Tuyuca e FUNAI E PF VISTORIAM
Motalvo esteja sendo preterido e que haja algum
Uanano, como parte do programa Universidade COMERCIANTES INDÍGENAS
tipo de perseguição aos índios na área.
31/01 e Diário do Gran-
Solidária. (A Crítica,
0 prefeito de São Gabriel, Amílton Gadelha, por
de ABC, 03/02/98 - Ver mais detalhes na Uma operação conjunta Funai/PF foi a Iauareté
sua vez, diz que .Álvaro Sampaio equivocou-se retranca “Cultura", neste capítulo) para retirar comerciantes não indígenas, mas
ao dizer que os índios não participam de sua acabou fazendo uma vistoria nos 26 estabeleci-
gestão. São 13 os índios que integram o primei- mentos comerciais indígenas da localidade, em
IBAMA AUTORIZA ENTRADA
ro e segundo escalões de sua administração, in- uma grande apreensão de bebidas alcoólicas
DE TV JAPONESA NO BALAIO
cluindo Orlando Melgueiro como secretário de (cachaça, vinho, vodka e cerveja) e refrigeran-
Ttorismo, Gersen Luciano, como secretário de A área indígena do Balaio, superposta ao Par- tes, parte delas contrabandeada, entregues ao
Educação e Camico Agudelos como secretário que Nacional do Pico da Neblina, foi visitada pela comandante do pelotão de fronteira ali instala-

de Questões Indígenas. (A Crítica, 04/12/97) equipe de televisão Japonesa, Nagasaki, com do. Na baixada a equipe fez outras apreensões

autorização e apoio do sr. Ribamar Caldas da do mesmo tipo em Urubuquara e Taracuá. (ISA.
Funai e Ézio Borba do Ibama. com base no relatório Funai/PF de 02/02/99)
Mas, segundo a liderança do Balaio, Álvaro
Fernandes Sampaio, além de registrar a pesca-

290 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 -


INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
.

CATADORES DE do alguns indígenas a abandonar os seus sítios, Por fazer convergir para um mesmo espaço
LIXO RECICLÁVEL alegando ter comprado uma extensa faixa de cerca de 40 pesquisadores de diferentes
terras, na qual estariam abrangidos os sítios proveniências e disciplinas (antropologia,
Localizada à margem da estrada que liga a cida-
circundantes. Na verdade, “Felipe” conta ape- biologia, ecologia, medicina, arqueologia,
de de S. Gabriel ao porto de Camanaus, a lixeira
nas com uma concessão de terras aprovada pela pedagogia, nutrição etc.) assim ,
como cerca de
municipal a céu aberto c frequentada diariamen-
Câmara Municipal de Barcelos (Lei n. 359 de 40 índios de várias comunidades da região, o
te por índios catadores de laias de alumínio. O 02/12/1997). Dela consta uma cláusula que o Seminário deu oportunidade para uma intensa
quilo do produto é vendido a R$ 0,50 a um obriga a apresentar, no prazo de 180 dias da troca de ideias, experiências, projetos,
alravessador conhecido pelo apelido de Azul,
promulgação da referida lei, um Projeto competências e formas de conhecimento.
que revende para uma fábrica de reciclagem lo-
Ambiental, exigência nunca cumprida, segundo Assim, pôde-se divulgar e debater as pesquisas
calizada em Manaus. (A Crítica, 17/08/99)
dois vereadores. Isso toma automaticamente concluídas, em curso ou planejadas, fazendo
sem efeito a concessão, retornando as terras ao um balanço da produção e traçando diretrizes
PARI-CACHOEIRA PEDE Patrimônio Municipal. Outra irregularidade é para projetos futuros, de modo a atender aos
BARCO AO GOVERNADOR que as terras “concedidas" estão dentro dos interesses não apenas dos pesquisadores e
limites de uma área de proteção ambientai mu- instituições, mas sobretudo das comunidades
O líder do PMDB na Assembléia Legislativa do nicipal (APA Maritiá), informação ausente da estudadas.
Estado, deputado Vicente Lopes, está sendo o ele-
lei de 1997. GTs, Palestras, Plenárias - Os participantes
mento de ligação entre a comunidade indígena -
É preocupante o modo como o “ecoturismo" e distribuíram-se em três Grupos de Trabalho
de Pari - Cachoeira, Município de São Gabriel
a pesca esportiva vêm sendo implantadas no Saúde e Nutrição; Culturas, Línguas e Educação;
da Cachoeira, no Alto rio Negro, e o governador município de Barcelos. Existem, hoje, dois pro- Ecologia e Recursos Biológicos nos quais as
Amazonino Mendes para a doação de um barco
jetos desse tipo - o Poloecotur, financiado pelo pesquisas foram apresentadas e submetidas aos
para transportar carga e passageiros. A comuni-
Banco Interamericuno de Desenvolvimento, e comentários dos outros pesquisadores e índios.
dade vem enfrentando problemas desde que o
um convênio de cooperação técnica entre a Se- A partir do conjunto de trabalhos, cada GT
único barco disponível para a locomoção entre
cretaria de Estado da Cultura, Ibrismo e Des- elaborou uma série de recomendações tendo
a população de Pari - Cachoeira e a sede do Muni-
porto. o Instituto de Proteção Ambiental do cm vista ações e pesquisas futuras.
cípio, não funciona mais. (A Crítica, 15/12/99)
Amazonas (Ipaam), o Instituto Brasileiro de Além dos GTs, o Seminário contou com palestras
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis e sessões plenárias noturnas. Uma das palestras
“ECOTLRISMO” PRiyUDICA (Ibama) e a Prefeitura Municipal - para a orga- foi proferida por Martin von Hildebrand,
COMUNIDADES INDÍGENAS E nização da pesca esportiva, para a realização presidente do consórcio de ONGs que atua na
RIBEIRINHAS EM BARCELOS dos quais as comunidades indígenas e ribeiri- Amazônia colombiana COAMA íConsolidación
nhas não foram consultadas de modo adequa- Amazônica), e Francisco Ortiz, presidente da
A Associação Indígena de Barcelos (Asiba), for-
do. Durante a eleição de 2000, o prefeito José Etnollano, ONG filiada a essa instituição. Os
mada por 53 comunidades, enviou um abaixo-
Ribamar Fontes Beleza, reeleito, visitou essas palestrantes traçaram um panorama da situação
assinado com 197 assinaturas à Procuradoria da
comunidades utilizando o avião e as lanchas do indígena na Colômbia.
República do Amazonas denunciando os prejuí-
hotel Rio Negro Lodge. Já estão sendo construí- A outra palestra, proferida pela coordenadora
zos às comunidades que vêm sendo gerados pe-
dos mais dois hotéis de selva no município: um do Programa Direito Socioamblental do ISA, Ana
los empreendimentos turísticos criados naquele
no rio Araçá e outro no rio Unini. No rio Araçá, abordou a questão do acesso
Valéria Araújo,
Município (a 356 quilômetros de Manaus).
já começou a construção do hotel, apesar do aos recursos genéticos e a proteção de
Atividades ligadas ao Rio Negro lodge. hotel de
pedido de concessão de terras ainda estar em conhecimentos indígenas associados. As
selva localizado na margem direita do rio Ne-
tramitação na Câmara de Vereadores, (ISA, a recomendações da advogada lançaram as bases
gro, entre as comunidades Baturité e Camaru,
partir de informações do antropólogo Sidnei para o estabelecimento de uma nova redação
no município de Barcelos, estão prejudicando
Peres e de A Crítica, 28/10/00) entre pesquisadores e grupos indígenas
os 89 assentamentos (comunidades e sítios) da
pesquisados na Amazônia, em que os primemos
região, onde vivem ribeirinhos e índios Tultano,
SEMINÁRIO REÚNE devem comprometer-se a repartir os benefícios
Baniwa, Baré, Piratapuia, Arapaço, entre outros.
ÍNDIOS E PESQUISADORES (intelectuais, financeiros e outros) suscitados
O hotel é do norte-americano Phillipe
Marstelíer, representante da Amazon Tours no
EM SÃO GABRIEL peia pesquisa (ver Box)
Nas sessões noturnas aberlas ao público, os
Brasil e também dono do hurcoAmazon Queen Estabelecer um Programa Regional de
Grupos apresentaram os resultados das
e deuma frota de 30 lanchas. As embarcações Desenvolvimento Indígena Sustentável foi o
reuniões internas e suas respectivas
conduzem turistas estrangeiros à região para a principal intuito do ISA e da Foirn ao realizarem
recomendações, que foram então debatidas e
prática de pesca esportiva, indígenas e ribeiri- o 1

Seminário de Pesquisa na região, ocorrido
aprimoradas. Nessa ocasião, algumas pesquisas
nhos reclamam que as lanchas afugentam os dos dias 15 a L8 de novembro de 2000, em São
também foram expostas e, em seguida,
peixes, prejudicando a pesca artesanal e de sub- Gabriel da Cachoeira (AM), na sede da
passaram peio crivo de comentadores
sistência. Os turistas não respeitam os comuni- Federação. O encontro ensejou aumentar os
indígenas.
tários e sitiantes, fotografando-os e filmando subsídios para a disseminação de modelos de
Horizontes e banhos de rio Ao final d»
os sem autorização dos mesmos. desenvolvimento sustentável concatenados com
Seminário, pôde-se fazer um levantamento das
Phillipe Marstelíer, conhecido como “Felipe”, as especificidades da região da bacia do Rio
cerca de 70 pesquisas desenvolvidas na região.
também proíbe os moradores dos sítios vizinhos Negro, habitada por cerca de .35 mil pessoas,
O próximo passo será a codificação do material
de caçar, ameaçando-os de chamar a polícia e cuja grande maioria é composta por índios de
e a divulgação dos resultados entre todos os
tomar as suas espingardas. Ele vem pressionan- 23 etnias.
pesquisadores e comunidades locais. Desse

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NOROESTE AMAZÔNICO 291


; )

modo, será possível fazer um acompanhamento O próximo seminário acontecerá em 2002 e terá coordenador do Programa Rio Negro/ISA, teve
da produção de conhecimento em curso, bem seu objetivo ampliado, uma vez que nào apenas a vantagem de transcorrer “sem Método Zoop
como reconhecer as lacunas existentes e as apresentará um panorama das pesquisas e com muitos banhos de rio", o que estimulou
áreas mais promissoras ou carentes de realizadas, como deverá incitar a realização de ainda mais as intervenções indígenas e a troca
pesquisa. novos projetos. de experiências fora das sessões. (Valéria Macedo.
Assim, o saldo desse primeiro Encontro foi Notícias Socioambientais/ISA, 27/11/00
bastante positivo e, como alegou Beto Ricardo,

CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS PARA REGULAMENTAR AS RELAÇÕES


ENTRE PESQUISADORES E ÍNDIOS NO RIO NEGRO (AM)
O pesquisador, grupo de pesquisadores envolvi- 5 identificação dasformas de contrafkirtida para
. indígena em cujas terras a pesquisa foi realizada
dos em um único projeto ou instituição/pessoa a comunidade/povo, que assegure aos seus inte- em todas as publicações ou qiuiisquer outros mei-
jurídica pública ou privada deverá procurar es- grantes o retomo social dos trabalhos realizados, os de divulgação, bem como produtos resultantes
clarecer a comunidade/povo/associação sobre o garantindo a repartição de benefícios decorren- da pesquisa, identificando ainda o material ali
trabalho que pretende desenvolver, obtendo pre- tes da pesquisa nos termos da Convenção sobre coletado assim como o conhecimento tradicional
viamente o seu “ consentimento livre e informa- Diversidade Biológica (CDB) e demais leis que a que teve acesso, observada a cláusula de sigilo,
do " em documento a ser assinado pelo represen- regulamentam o assunto, seja por meio do paga- de modo a garantir o registro da origem do nuite-
tante da comunidade/povo/associação, pelo(s) mento de valor definido em comum acordo com a rial e da informação
pesquisador(s) e/ou instituição/pessoa jurídica comunidade/povo/associação participação nos
,
4. comprometer-se a fornecer à comunidade in-

pública ou privada, do qual deverá também cons- resultadosfinanceiros decorrentes da exploração forme resumido sobre os resultados da pesquisa
tar o seguinte: econômica de eventuais produtos ou qualquer (tese etc.), bem como cópia integral, em portu-
1. identificação do(s) pesquisador(s) e indica- outra forma de contrafkirtida; guês, para o acervo da FOIRN.
ção da instiluição(s) responsável pela pesquisa; O pesquisador, individualmente, e a instituição/ A comunidade/povo/associação deterá ser infor-
2. breve descrição do objetivo e razão da pesqui- fiessikijurídica pública ou privada deverão ainda: mada sobre o orçamento da pesquisa e suasfon-
sa, bem como dos procedimentos que serão utili- 1. comprometer-se a utilizar o material e produ- tes de financiamento.
zados; tos derivados, dados e/ou conhecimentos coletados Para a execução do projeto, o fwsquisador deverá
3 indicação do(s) local(s) em que serão realiza- exclusimmente para os fins autorizados pela co- apresentará comunidade a documentação infor-
das as atividades e do tem/x) previsto para o tér- munidade/povo/associação; mando que o seu projeto de pesquisa foi aprova-
mino dos trabalhos; 2. garantir o sigilo quanto aos dados confidenci- do pelos órgãos competentes e que foi submetido
4. informação sobre o uso e destituição do mate- ais envolvidos na pesquisa; à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa res-
rial e produtos derivados, dados e/ou conhecimen- 3 comprometer-se a indicar a comunidade/povo ponsável. quando for o caso.
tos coletados;

292 NOROESTE AMAZÔNICO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 -


INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
Acervo
-i/í 'SÁ
2.1 RORAIMA LAVRADO
zUl* a cervo
ISA IA - LAVRADO
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

fíef. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa ín fi, fonte, data ) (ha)

12 Ananás Makuxi 38 Funasa: 9S Homologada. Rng. CRI e SPEí. 1.769 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 85.920 de 16/02/82 homologa a demarcação Garimpo Indígena + não-lndígena
{DOU, 27/02/82). Reg. CRI Matr 9340 Uv 2-RG com índios.
11. 01 em 22.11.88. Reg. SPU Cert.023 em 12/12/95.

Anaro Wapíxana 50 Funasa:S9 Em Identificação. 0 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de Fronteira
Port. 54de 04/02/2000 cria GT p / estudos e
identificação da TI (DOU, 08/02/00).

14 Aningal Makuxi 13B Funasa: 99 Homologada. Rag. CRI e SPU. 7.627 Amajari RR Calha Norte. Faixa de fronteira. Faz
Dec. 86.933 de17/02/82 homologa a demarcação limite com a Estação Ecológica de
{DOU, 18/02/82) Reg. CRI de Boa Vista Matr 9343 Maracá.
Liv. 2RG fl. 01 em 22.1 1.88. Reg. SPU Cert, 03 8
em 01/12/95.

lã Anta Makuxi 90 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 3.173 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Dsc.n.376 24/12/91 homologa demarcação
(DOU, 26/12/91). Reg CRI Mat 12.483 Liv. 2 RG
fl. 01 em 24/03/92. Reg SPU Cert 003 de 20/1!/».

24 Araçá Makuxi 2B1 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 50.018 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Gec. 85934 de 17.02.82 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral.
(DOU, 16/02/82). Reg. CRI Matr 9341 Liv 2-RG Rodovias 0R-174 e RR-203 cortam
fl. 01 e m 22. 1 1 .88. Cert 01 3 em 28/1 1/95.

48 Barata/Livramento Wapíxana 535 Funasa: 99 Delimitada. Em Demarcação. 18.830 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Port. Funai 1.222 de 19/05/32, declara de posse Requerimento de pesquisa mineral.
permanente. (DOU, 25/5/82) Port 35 de 16/01/88 Rodovia RR-022 corta a área.
criaGT p/ revisão de levantamento sócro-econômico
e fundiário da TI. (DOU, 20/01/98) Contrata Funai e
Reta Topografia e Construções Ltda. p/ demarcação
topográfica no bloco IV, constituído pela TI
(DOU, 19/05/00).

57 Bom Jesus Makuxi 71 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 859 Bcntim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Dec.257 de 29/10/91 homologa demarcação Rodovia RR-4G1 noíimite.
(DOU, 30/1 0/91). Reg. CRI Matr. 3.176, Uv. 2RG,
fl. 01 V em 23/8/88. Reg. SPU n. 011 em 02/12/96.
58 Boqueirão Makuxi 312 Funasa: 99 Identificada/Aprova da/Funai. Sujeita a Contestação. 15.890 Alto Al agre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Port. 257 de 13/03/97 cria GT p/reidentificar a TI.
(DOU, 14/03/97|. Despacho do presidente da Funai
n. 71 de 09/11/98 aprova os estudos de identificação

da TI e determina a publicação no DOE de RR e


determina a fixação na sede da prefeitura.
(DOU, 20/11/98).

68 Cajueiro Makuxi 90 Funai: 94 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.304 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86.932 de 17/02/82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-intiigena
(DOU, 18/02/82). Reg. CRI Matr 9345 Liv. 2-RG fl. 01 com índios.
em 22.11.88. Reg. SPU Cert. 020 em 04/12/95.

72 Canauanim Makuxi 530 Funasa: 99 Homologada. 11.182 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de frontBira.
Wapíxana Dac.s/n. de Fernando H. Cardoso, de 15/02/96 Estrada estadual corta a área.
homologa a demarcação.(DDU, 16/02/96)

139 Jaboti Makuxi 187 Funasa: 99 Homologada. 14.210 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Wapíxana Dec. s/n. de 15/02/98 homologa a demarcação. Requerimento de pescuisa mineral.
(DOU, 16/02/96). Rodovia BR-4Q1 no limite.

140 Jacamím Wapíxana 794 Funasa: 99 Delimitada. 169.500 Bonfim RR Calhe Norte. Faixa de
Port.do ministra da Justiça n. 297 de 13/04/00 Caracaraí RR fronteira. Requarimento de
declara de posse permanente indígena. pesquisa mineral/Garimpo indígena
(DOU, 17/4/00). -r não-irtdigena com índios.

194 Malacacheta Wapíxana 485 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI. 28.631 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. de F. H. Cardoso, de 05/G1/96, homologa Requerimento de pesquisa mineral
a demarcação administrativa (DGU, 03/01/9S).
Reg. CRI em Bonfim Ma-, 17.305 LÍV.2/RG, fl. 01/02
em 19/01/98.

196 Mangueira Wapíxana 71 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI a SPU. 4.063 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Dec. B6.923de 16/02/67 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
{DOU, 17/02/82). Reg. CRI Bua Vista Matr 9339 com índios.
Uv. 2-RG fl. 01 em 22.11.88. Rag. SPU Cert. 019
em 01/12/95.

198 Manoá/Prum Wapíxana 785 Funasa: 99 Homologada. Reg. CHI e SPU. 43.337 Bonfim RR Calha None. Faixa de fronteira.
Makuxi Dec. 86924 de 16/02/82 homologa a demarcação
{DOU, 17/02/86). Reg. CRI Matr 9336 Liv. 2RG
fl. 1/2 em 22.11.88. Reg. SPU Cert. 014 em 29/11/95.

259 Moskcw Wapíxana 310 Funasa: 99 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestações. 14.200 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Port. Funai 1253 de 24/11/97 cria GT p/estudos Rodovia planejada RR-20E.
e identificação da TI. Despacho do pres. da Funai
n. 1 de 06/01/2000 aprova o relatório de estudes e
identrfic. e dBtermina que seja publicado no DOE de

RR e seja fixado na sede da prefeitura. (DOU, 10/01/00|.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 295


/ .

- LAVRADO
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2QQG

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n®, fonte, data |
(ha)

1161 Muriru Wapixana 0 Identificade/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestações. 5.520 Bonfim RR Calha Norte, Faixa de
Despacho do pres. Funai n. 10 de 09/04/99 Canta RR Fronteira
aprova o Rei. de Identif. e Delim. da H e determina
a publicação no DOE tie RR, e afixação na sede da
prefeitura. |D0U, 14/04/99)

225 Ouro Makuxi 105 Furtai: 94 Homologada. Reç. CRI e SPU. 13.573 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86.931 da 17/02/82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
administrativa (DDU, 18/02/82). Reg. CRI Matr. 9338 com índios.

Liv. 2-RG fl. 01 em 22.1 1 .88. Reg. SPU RR43 Liv.382


em 29/07/88.

249 Pium Wapixana Makuxi 190 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.607 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 271 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU. 30/1 a/91). Reg. CRI Matr. 12.335 Uv. 2RG
fl. 01 em 02/01/92. Reg. SPU Cert 009 em 24/11/95.

250 Ponta da Serra Wapixana Makuxi 312 Funai: 95 Homologada. Reg. CRI e SPU. 15.597 Amajari RR Catha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86935 de 17/12/82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
(DOU .18/02/82). Reg. CRI Matr. 9337 Liv. 2-RG com índios. Rodovia BR 174 no
01 em 22.1 1 .88. Reg. SPU Cert. 017 em 30/1 1/95.
fl. limite.

256 Raimundão Makuxi Wapixana 97 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.276 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Decretos/n. de 03/11/97 homologa a demarcação.
{DOU, 04/11/97). Port. Funai n. 454 de 19/05/98
constituiCom. Técnica p/ efetuar pagto de
indenização por benfeitorias consideradas de boa
fé (DOU. 20/05/98) Reg. CRI em Alto Alegre
Matr. 17,301 Liv. 2-RG fl. 01 em 19/01/98.

258 Raposa/Serra do Sol Pata mona Ingarikó 12.242 Funasa: 99 Delimitada. 1.678.800 Paca ra ima RR Calha Norte. Faixa de fronteira
Wapixana Makuxi Port. do ministro da Justiça n. 820 de 11/12/98 Requerimento e alvará de pesquisa
Taurepang declara de posse permanente dos índios mineral/Ga rímpo indígena + não-
100 U. 14/1 2/98). indígena com índios. Hidrelétrica
planejada. Várias rodovias
estaduais cortam a área. 0 Parque
Nacional Monte Roraima incide
totalmente na TI.

282 Santa Inês Makuxi 239 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 29.698 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86922 de 16.02.82 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral/
IDDU, 17/02/82). Reg. CRI Matr. 9345 Liv. 2-RG Garimpa indígena + não-indigena
fl. 01/C2 em 211 1.88. Reg. SPU Cert. 016 em com índios. Rodovia planujada BR-
30/11/95. 202.

287 Sâo Marcos Wapixana 2.703 GAndrello: 98 Homologada. 654.110 Boa Vista HR Calhe Norte. Faixa de fronteira.
Makuxi Dec. 312 de 29/10/91 homologa demarcação Requerimento de pesquisa mineral/
Taurepang administrativa (DOU, 30/10/91 1. Port. Funai n. 781 Garimpa indígena + não-indígena
de 27/08/93 constitui equipe técnica de trabalho com índios. BR 174 e Rodovia
Funai/Incra-RR e Gov. de RR, para levantamento estadual corta a área e Unhâo de
fundiário e avaliação de benfeitorias de ocupantes transmissão da Eletronorte.
não-índios a levantamento cartorial (DOU, 1/W33).
Port. Funai. n. 658 de 25/06/98 cria Com. Técnica p
pagto de indenização de benfeitorias de boa fé.
|DDU, 26/06/98}. Port.F unai n. 918 cria CT p/ com-
plementar levantamento fundiário (DOU. 11/09/98).

292 Serra dá Moça Wapixana 335 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 11.628 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 258 da 29/10/91 homologa demarcação Rodovia RR-34S corta a érea.
IDDU, 30/10/91). Reg. CRI Matr. 6.691, Liv.-2-ZRG,
fl.. 1 92 em 10/1/86. Reg. SPU Cert. 012 em 06/12/96.

296 Sucuba Wapixana Makuxi 167 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 5.983 Alto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 86921 de 16.02.82 homologa a demarcação Garimpo indígena + não-indígena
(DDU, 17/02/82). Reg. CRI Matr. 9444 Liv. 2-RG fl. 01 com índios. Rodovia RR-205 corta a
em 22/11/38. Reg. SPU Cert. RR-381 em 19/10/87. área.

297 TabafascBda Wapixana 343 Funasa: 99 Em Identificação/Revisão. 8.250 Bonfim RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
de 21/04/82 declara de posse
Port. 1.223/E Rodovia RR-170 corta a área.
permanente indígena (DOU. 11/05/82). Port Funai
n. 257 de 13/03/97 cria GT p/realizar estudos é
levantamentos objetivando a revisão de limites
da TI. (DOU, 14/03/97). Tem ocupante não-índio

impedindo o levantamento

321 Trtiaru Wapixana 315 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 5.653 Boa Vista RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. 387 de 24/12/31 homologa demarcação Rodovia RR-050 no limite.

(DDU, 26/12/21 ). Reg. CRI Matr. 12.482 Liv,. 2 RG


fl. 01 em 24/03/92. Reg, SPU Cert. 009 em 30/05/97.

338 Wai Wai


.
Wai Wai 112 Funasa: 99 Identific ada/Aprovada/Funai. 405.000 Caracaraí RR Calha Norte, na fronteira.
Sujeita a Contestações. S.João da Baliza RR Requerimento de pesquisa minera’
Despacho do pres.da Funai n.16 de23/04/99 São Luiz do Ana ué RR
aprova os estudos de identificação da TI
(DOU 27/04/99)

296 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


-
•^LíTí* Acervo
_//£ ISA

Facada na Raposa

Márcio Santilli Coordenador do Programa


Brasil Socioambiental/iSA

DESPACHO DO MINISTRO DA JUSTIÇA REDUZ Porém, as estratégias coloniais sempre tiveram eficácia limitada,
A TI RAPOSA/SERRA DO SOL EM APROXIMADA- dadas as condições precárias das terras da região para a prática

MENTE 300 MIL HA, LEGALIZANDO ENCLAVES agrícola. Parte do território indígena se estende pelo chamado la-
vrado, planície inundável constituída de gramíneas que se prestam
DE GARIMPEIROS E FAZENDEIROS E SUAS VIAS
DE ACESSO, ESQUARTEJANDO A ÁREA ÚNICA a pastagens naturais, onde se instalaram “fazendas” que, em geral,
são sítios precários, com habitações de madeira, a partir dos quais
CONTÍNUA E AMEAÇANDO EXCLUIR MAIS DE
se pratica a criação extensiva de gado bovino. Outra parte é forma-
20ALDEIAS E OUTROS SÍTIOS INDÍGENAS DO
da pelas serras, que integram o Maciço das Guianas, onde a ocu-
PERÍMETRO A SER DEMARCADO
pação colonial é recente e baseada na atividade de garimpo. Em-
bora toda a área tenha sido permanentemente ocupada pelos índi-

A Terra Indígena (TI) Raposa/Serra do Sol situa-se no nordeste do os, enclaves coloniais acabaram se estabelecendo no seu interior,

Estado de Roraima, no interflúvio formado pelos rios Surumú, Maú imbricados entre as aldeias e demais sítios de ocupação indígena.
e Tacutú, alcançando ao norte as fronteiras do Brasil c.om a
Venezuela e a Guiana (leste) A oeste, do outro lado do rio Surumú,
.
ATIVIDADES ECONÔMICAS TRADICIONAIS
situa-se a TI São Marcos, já demarcada e homologada. Raposa/
Os índios de Raposa/Serra do Sol praticam ainda suas atividades
Serra do Sol é habitada desde tempos imemoriais pelos povos
econômicas tradicionais, a caça, a pesca, a coleta de frutos e de
Makuxi, Ingarikó, Wapixana, Taurepang e Patamona. Há registros
outros produtos necessários à construção das suas casas e à sua
de outros grupos étnicos que chegaram a habitá-la no passado,
sobrevivência em geral. Mas também incorporaram algumas ativi-
mas que migraram para o norte ou foram absorvidos pelos Makuxi.
dades econômicas típicas da região, como a criação de gado, man-
A população amai da Terra Indígena é estimada em 12 mil índios,
tendo rebanhos significativos, atualmente maiores que os manti-
organizados em cerca de cem aldeias. Há colonos c garimpeiros
dos por ocupantes não-índios. Há, também, grupos de índios que
não-índios vivendo ilegalmente no seu interior, cuja população flu-
hoje praticam o garimpo maiuuü de ouro e de diamantes.
tua, mas deve estar atualmente em tomo de 2 mil pessoas.

Estratégias de colonização e de
O processo de reconhecimento oficial da área como território in-
ocupação desta região foram
dígena remonta ao início do século, desde que se estabeleceram
implementadas em diferentes períodos históricos por iniciativa da
Coroa Portuguesa, dos governos centrais do Brasil pós-indepen-
as práticas governamentais de demarcação. Já em 1917, o Gover-
no do Amazonas editava a Lei Estadual n° 941 destinando as terras
dência, dos governos do Estado do Amazonas enquanto a ele este-
,

ve incorporado o território do aluai Estado de Roraima e dos go-


compreendidas entre os rios Surumu e Cotingo aos índios Makuxi
e jaricuna. Porém, sua demarcação efetiva nunca se deu, e sempre
vernos do Território Federal de Roraima até a sua emancipação,
sofreu forte pressão contrária por parte dos interesses econômi-
em 1988. No entanto, o maior fluxo de invasores não-índios ocor-
cos e políticos regionais.
reu após a primeira grande retirada de garimpeiros do interior do
Território Yanomami, em 1990. Os garimpeiros se transferiram para Apesar de estarem os índios da região contatados desde o início
Raposa/Serra do Sol, onde organizaram núcleos habitacionais e da ocupação do vale do rio Branco, só a partir de 1977 a Funai
prostíbulos, respaldados pelas lideranças políticas do emergente tomou providências com relação ao reconhecimento do seu terri-

estado de Roraima. tório. Em 1977, foi instituído um Grupo de Trabalho (GT) Intermini-

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCiOAMBIENTAL RORAIMA LAVRADD 297


Acervo

//\V ISA
sterial para identificar a área, que, entretanto, não apresentou re- PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS
latório conclusivo de seus trabalhos. Em 1979, novo GT procedeu
Secção n“ 252
a uma identificação apenas parcial da área. Em 1984, outro GT
deixou de realizar trabalhos conclusivos. Em 1988, no bojo do O Interventor Federal no Estado do Amazonas usando das
Projeto Calha Norte, mais um GT Interministerial procederia ao attribuiçõcs legaes que lhe são conferidas e tendo em vista o artigo

levantamento fundiário e cartorial da área sem chegar a qualquer 1“ da lei n° 941, de 16 de outubro de 1917, e para inteira execu-

conclusão sobre o conjunto da área Na verdade, o conhecimento ção do acto de 1 1 de fevereiro do corrente anno, que considerou

oficial sobre a área acumulou-se progressivamente, resultando valido o processo de medição e demarcação do lote de terras

numa proposta de delimitação que veio a ser ajirovada pela Funai comprehendido entre os rios Sunimú e Cotingo e as serras de

e encaminhada para a competente decisão do ministro da Justiça Imairary-ipim e Conopiá-ipim, no município de Bôa Vista do Rio
no ano de 1993. Desde então, aguarda a sua aprovação, através de Branco, para localização, domicilio e aproveitamento dos índios
o o
portaria de delimitação, que deve determinar a sua demarcação Macuchys e Jaricunas, na forma dos artigos I e 5 da lei 94 1 de
,

física pela Funai. A extensão da área identificada é de aproximada- 16 de outubro de 1917, resolve declarar que fica reservado para

mente 1 .678.800 ha. localização, domicilio c aproveitamento dos índios Macuchys e


Jaricunas o alludido lote de terras, comprehendido entre os rios
O processo de demarcação da TI Raposa/Serra do Sol permane-
Surumú e Cotingo e as serras de lmairary-ipim e Conopiá-ipim, no
ceu paralisado desde o início do atual governo e foi submetido,
município de Bôa Vista do Rio Branco, deste Estado.
durante o ano passado, ao processo de contraditório instituído
pelo Decreto 1775/96. Contestações aos limites identificados fo- Cumpra-se.

ram apresentadas por ocupantes não-índios e pelo governo de


Palácio do Governo, em Manáos, 17 de março de 1925.
Roraima. Ao final dos prazos para análise das contestações apre-
Alfredo Sá
sentadas, o ministro da Justiça solicitou novas diligências à Funai

acerca deste e de outros sete processos demarcatórios, que deve-


riam ocorrer nos 90 dias seguintes. Ao término deste novo prazo,
o ministro dajustiça visitou a área, reuniu-se com os índios e dei- Como se vê, a lei demarcatória de 1917 foi revalidada em 1925,

xou-lhes a impressão de que emitiria uma decisão favorável ao seu não podendo ser desconsiderada pelo ministro dajustiça, e não

pleito. Porém, dois meses depois, publicou o seu Despacho n° 80 dando margem à validação de qualquer ato de titulação ou ocupa-
que, mesmo rejeitando todas as contestações havidas, acaba pro- ção da referida área.

pondo significativa redução da extensão identificada pela Funai.


(b) Mais adiante, já reportando-se ao processo recente de identifi-
Foi a primeira vez, nos anos 90, que o governo federal formulou cação da área indígena pela Funai, o ministro dajustiça faz men-
uma proposta de redução de terra indígena.
ção a “trabalhos de 1981 que concluíram pela área de 1.347.810
ha.”, pretendendo ao final do seu despacho, que os limites defini-

O DESPACHO N° 80 tivos a serem demarcados observem, "em princípio, a linha divisó-

ria explicitada no laudo de 1981". Ocorre que os referidos traba-


O Despacho do ministro da Justiça sobre a demarcação da Terra
lhos consistiram em estudos inconclusivos, que não caracterizam
Indígena Raposa/Serra do Sol, assinado em 20 de dezembro de 1996
um "laudo”, até porque não há nenhum antropólogo que os subs-
e publicado à véspera do Natal, contém uma sucessão de erros e de
crevem, e jamais foram aprovados pela Funai ou encaminhados
distorções que implicam em violações dos direitos territoriais indí-
para a competente decisão política delimitatória. Sendo assim, o
genas inscritos na Constituição do Brasil, a seguir comentados.
ministro não poderia tomá-los como referência em substituição à

Quanto ao processo de identificação da área indígena: o Despacho proposta encaminhada pela Funai em 1993, subvertendo a expres-
n° 80 começa por historiar o processo de identificação desta área, sa competência do antropólogo no processo de identificação.

cometendo, nesta parte, três graves erros de informação:


Cabe, ainda, ressaltar que, a proposta de limites constante do des-

(a) Ao remeter-se à análise dos primeiros atos do Poder Público pacho ministerial suprime da área a ser definitivamente demarcada
em reconhecimento ao caráter indígena desta área, praticados pelo outras partes, referentes a vilas c estradas, que constituem a terra

Estado do Amazonas a partir de 1917, o ministro dajustiça relata indígena em Iodos os limites já estudados, inclusive o de 1981. Ao

a ocorrência de um primeiro ato demarcatório, através da Lei n“ tomar como referência ou como parte da decisão sobre os limites

941, que teria sido anulada e posteriormente revalidada através da definitivos antigas propostas, formuladas em distintos contextos

expedição de um título de concessão. Esse primeiro ato políticos, o ministro joga umas contra as outras, atribuindo-lhes o
demarcatório foi implicitamente desconsiderado já que o ministro mesmo grau de importância para. ao final, formular uma proposta
concluiu que “não obstante esta última informação (a revalidação própria, em que a terra indígena se reduz em maior extensão do

da Lei n° 941), não foi encontrado e nem se tem notícia da expedi- que nas demais. Aparentando intermediar os estudos de limites

ção do mencionado título de concessão”. Segue-se, então, a trans- existentes, na verdade, o ministro busca uma suposta solução inter-
crição na íntegra do título que o ministro não encontrou: mediária entre a identificação de 1993 e a proposta do governo de

298 R0BAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo
//\C I SA
Makuxi, aldeia
Maturuca.

Roraima, de demarcar apenas pequenos sítios (ou ilhas) ao redor “Nos meses de estiagem, a vegetação dos campos torna-se seca, a
das habitações indígenas para liberar o restante para os colonos e folhagem verde vai se restringindo às baixadas próximas às mar-
garimpeiros regionais, proposta esta que foi expressamente rejei- gens dos rios e igarapés, que em sua maior parte são intermiten-
tada, por ser inconstitucional, pelo próprio despacho ministerial. tes, e param de verter água, secando. Os índios voltam-se para os
poços nos leitos secos e para os lagos que conservam água, procu-
(c) Em outro momento do seu despacho, o ministro afirma que o
rando surpreender os animais que buscam o bebedouro nos mes-
laudo antropológico que fundamenta a proposta da Funai de 1993
mos locais, e dedicando-se a sua atividade principal, a pesca."
é "absolutamente silente" e "não contém fundamento específico
algum que demonstre” a ocupação indígena da parte da área que “Tais atividades devem ser entendidas como parte integrante do
havia sido excluída nos estudos de 1981 . No entanto, esta parte da conjunto de procedimentos de exploração e produção, empreen-
área situada na planície ao sul da área identificada em 1993 onde, ,
didos pela totalidade dos grupos locais em toda a área em ques-
além de se localizarem várias aldeias, se concentram os rios e la- tão, formando um sistema de circulação e distribuição de recur-
gos perenes, é fartamente referida no laudo antropológico, como sos de larga abrangência e imprescindível à sobrevivência tísica e

também nas informações adicionais elaboradas pela diretora de cultural dos povos indígenas."

Assuntos Fundiários da Funai a pedido do próprio ministério da


Com efeito, os limites referidos nesses estudos, adotados indevida-
Justiça. A título de exemplo, extraímos do laudo antropológico as
mente pelo ministro como parâmetro para a delimitação definitiva,
seguintes citações:
deixam de fora, além de algumas aldeias, a maior parte dos buritizais,
“A área do inlerflúvio Surumú-Maú (Ireng), os principais afluen- sítios de pastagem e lagos perenes utilizados pelos índios para a
tes do rio Tacutú, um dos formadores do rio Branco, compreende, pesca, comprometendo as suas atividades de subsistência.

ao sul, extensas planícies, conhecidas na literatura como campos


naturais, recobertas por gramíneas ralas e pequenos arbustos
QUANTO AO CARÁTER CONTÍNUO
esparsos, e ao norte...”
DA TERRA INDÍGENA
“Durante um breve período de transição entre as estações, a vegeta-
O despacho ministerial contém várias referências sobre a validade
ção dos campos, até então submersa, viceja, e os animais deixam os
do laudo que embasa a identificação de 1993. Segue-se a transcri-
refúgios nos tesos das planícies e isolados nas serras para percor-
ção de algumas delas:
rer o seu habitat mais extenso; os índios que se mantinham dispersos
em pequenos grupos domésticos, voltam a se reunir aglutinando as “No mérito, o levantamento antropológico, conclusivo quanto à
parentelas extensas nas aldeias, compondo expedições de caça, e ocupação tradicional indígena da área em questão, goza de pre-
para as demais atividades de exploração econômica.” sunção juris tantum de veracidade,..."

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 299


Acervo
//\V I SA
“A proposta demarcatória da área sob análise, de forma contínua, naturais; (c) a sonegação deliberada e generalizada de impostos
para preservar a unidade cultural dos grupos indígenas que a ha- devidos aos Poderes Públicos em decorrência da extração de mi-
bitam, corresponde, assim, aos postulados constitucionais, nérios; (d) o desmatamento, o desbarrancamento e a poluição
insculpidos no art. 231 ,
1“, da Carta Republicana.” por mercúrio dos rios e igarapés da terra indígena; e (e) a suces-
são de conflitos entre índios e não índios, que resultaram em pelo
No entanto, o despacho afirma adiante que, “a conformidade da
menos 11 índios mortos nos últimos oito anos.
proposta deraarcatória da Funai, em suas linhas gerais, com o
paradigma constitucional, não está a impedir, entretanto, alguns O ministro da Justiça alega no seu despacho que a decisão de
pequenos ajustes, ditados pelo interesse público em preservar nú- excluir as áreas invadidas estaria fundada na decisão do Supre-
cleos populacionais não-indígenas, já consolidados, ou em res- mo Tribunal Federal (STF) que recusou conhecer recurso judi-
guardar situações jurídicas estabelecidas pelo próprio Poder Pú- cial apresentado pelo governo federal, via Ministério Público
blico Federal". E passa a determinar que a Funai subtraia partes Federal, contra a realização das eleições para a instalação do
da área identificada que implicam na redução e segmentação da município de Uiramutã. Porém, a decisão do STF bmitou-se a
área contínua. Vale analisar cada um dos “pequenos ajustes” pre- considerar inadequada a via processual adotada no caso, não
tendidos pelo ministro da Justiça. implicando em desconsiderar as áreas das vilas como parte inte-
grante da Terra Indígena. Em que pesem as considerações de
mérito constantes do voto do relator, muito questionáveis, a de-
QUANTO À EXCLUSÃO DAS “VILAS”
cisão do STF significou que a prova de que se tratasse de terra
0 ministro considera como “centros populacionais consolidados” indígena só poderia ser produzida em procedimento judicial
as chamadas valas de Uiramutã, Surumu, Mutum, Socó e Água Fria. ordinário, através de perícia técnica antropológica, impossível
E atribui ao “interesse público” a desafetação das áreas em que no contexto da ação proposta. Portanto, o argumento judicial de
eias se situam, excluindo-as do perímetro a ser demarcado. Po- que o ministro se apropriou consiste num sofisma e resulta de
rém, em nenhum momento o texto ministerial informa tratarem- uma distorção, aparentemente deliberada, do significado da de-
se as referidas vilas de núcleos habitacionais de garimpeiros e cisão do STF.
prostíbulos.
Evidentemente, diante da decisão do STF, não poderia o ato
Efetivamente, o governo do estado de Roraima, que historicamen-
demarcatório desconstituir, por si próprio, o município criado e
te se opõe à demarcação de áreas indígenas, estimula a invasão haveria que conviver nesta situação esdrúxula de um município
desta e de outras áreas e realiza investimentos em infra-estrutura
com em terra indígena, até que as instâncias competentes do
sede
de apoio aos núcleos de garimpo, incluída a abertura de estradas,
Judiciário pudessem decidir sobre a ação ordinária em trâmite,
sem que se possa, no entanto, considerá-las como “centros popu-
que discute a questão. Ou até que o bom senso das elites políticas
lacionais consolidados". Praticam-se ali, várias atividades ilegais,
venha a tomar providência em relação à proliferação da criação,
como extração predatória de minérios, roubo de gado, contrabando
por força dos interesses político-eleitorais de lideranças regionais,
e prostituição. Nos últimos anos, no entanto, observou-se signifi-
de municípios reconhecidamente inviáveis.
cativo processo de depopuiação nestes núcleos, em virtude da re-
dução das jazidas garimpáveis, o que ensejou, inclusive, a iniciati- Argumenta, ainda, o ministro da Justiça, que nas áreas em que se

va do governo local de promover o assalariamento de parte desta situam as vilas não se observam nenhum dos quatro componentes

população para que iá permanecesse, forjando uma hipótese de da definição constitucional de terras indígenas. Mas o despacho
crise social, com o objetivo de impedir a demarcação da área. omite a informação fundamental de que existem aldeias indígenas
(Uiramutã, Socó, Surumu, Água Fria) incrustadas em quatro das
Inscreve-se, também, nesta estratégia colonial do governo de Rorai-
cinco vilas mencionadas, além de várias outras que se situam nos
ma, a criação de municípios com sede no interior de terras indíge-
seus entomos. Ora, se até o componente da habitação mdígena
nas, sendo o caso do município de Uiramutã, recém instalado den-
permanente nelas se verifica, como se pode alegar a maplicabilidade
tro da TI Raposa/Serra do Sol. Trata-se de um exemplo caricatural
da definição constitucional? Na verdade, a eventual exclusão des-
do absurdo fenômeno de proliferação de municípios que não têm
tas áreas é que implicaria em flagrante violação constitucional.
qualquer condição de sustentabilidade orçamentária, que o País
gostaria de ver corrigido na oportunidade das anunciadas refor- Acrescente-se, ainda, que as atividades ilegaimente desenvolvidas

mas pobticas, pelos garimpeiros não se limitam ao entorno das vilas onde se

situam suas casas, estendendo-se pelos rios e igarapés que atra-


vessam o território mdígena, poluindo as suas águas, A ocupação
INTERESSE PÚBLICO
garimpeira provoca, ainda, outros danos, escasseando os recur-
Há pelo menos cinco bons molivos para que não se possa argiiir o sos da flora e da íauna, além de provocar freqiienles conflitos di-
"interesse público" para excluir as referidas áreas do perímetro a retos com os índios.

ser demarcado: (a) a violação sistemática da lei e dos costumes


nos núcleos invasores; (b) a apropriação indevida dos recursos

300 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


INDÍGENA RAPOSA-SERRA DO SOL
TERRA INDÍGENA
RAPOSA SERRA DO SOL
" identificação de 1981
|

com 1.347,810 ha

I I identificação de 1984
com 1.577.850 ha

^ identificação de
com 1.678.800
1992
ha

VENEZUELA
aldeia indígena

estradas

entorno das vilas de garimpo e da


sede da Fazenda Guanabara,
cf. despacho ministerial n.80

GUIANA

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 -


INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 301
Acervo
//\C I SA
QUANTO AOS TÍTULOS INCIDENTES nistério Público Federal, tendo especificamente a referida gleba
como e que concluiu pelo reconhecimento do seu caráter
E À FAZENDA GUANABARA oitjeto,

de ocupação indígena. Segue-se a transcrição da conclusão cons-


Os equívocos ministeriais anteriormente indicados, de desconsiderar tante da referida sentença:
a lei demarcatóría dc 1917 e os atributos de ocupação indígena da
“Os autos demonstram, e o laudo pericial comprova, que a área é
parte sul da área identificada em 1993 e também de considerar o
tradícionalmente ocupada por Indígenas.
“laudo de 1981” como referência para a definição de limites,
ensejaram a conclusão absurda de validar títulos expedidos ilegal- Pouco importa que o oposto tenha exercido posse mansa e pacífi-

mente pelo Incra a partir de 1981. No entanto, o parágrafo 6“ do ca sobre o imóvel, por anos a fio.

artigo 231 da Constituição é claríssimo ao considerar “nulos e ex- ... Pouco importa que o oposto, Newton Tavares, ocupe a área há
tintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por décadas. Tal argumento não justifica sua permanência em terras

objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere de domínio da União, destinadas ao usufruto permanente da co-
este artigo...". Ora, se o Poder Público Federal praticou atos munidade indígena que ali está.

inconstitucionais, não poderia o ministro pretender corrigir os seus procedente a oposição e reitegro a União na
... Isto posto, julgo
eFeitos à custa de parte do território indígena. Se o ministro consi-
posse do imóvel objeto desta ação, devendo a Funai tomar as pro-
dera que particulares merecem reparos em consequência destes
vidências cabíveis aposse e usufruto permanente das terras, pelos
atos, deveria cuidar de indenizá-los e de reassemá-los. silvícolas que a habitam.”
Porém, ao pretender adotar os limites descritos em 1981, como Acresceute-se que na área reivindicada pelo sr. Newton Tavares,
forma de legitimar as titulações posteriores, o ministro ameaça situam-se quatro aldeias indígenas: Jibóia, Santa Cruz, Macaco e
excluir da demarcação as áreas em que se situam outras oito al- Amália. Reconhecer direitos a este ocupante ilegítimo representa-
deias indígenas (Urubu, Preguicinha, Vista Alegre, Patativa.Jauari, ria remover estas aldeias, violando-se o disposto no parágrafo 5
o

Laje, Nativi e Matiri), além de outros sítios, retiros de criação de do artigo 231, que veda a remoção de grupos indígenas de suas
gado, buritizais e lagos, utilizados para a pesca e a coleta por de- terras, ressalvadas algumas situações limite. O mesmo dispositivo
zenas de comunidades indígenas. Caso a referência de limites de constitucional foi mencionado no despacho para rejeitar a contes-
1981 fosse também adotada para o nordeste da área, que não está tação do governo de Roraima à identificação da área.
mencionado no despacho ministerial, outras duas aideias,
Canauapai e Canã, também ficariam excluídas da demarcação. Se
Como se vê, a pretexto de legitimar aios do Poder Público Federal
que atribuiu suposto direito de propriedade a particulares ocu-
até aldeias que, enquanto habitação permanente, definem o pri-
pantes da terra indígena, o ministro substituiu o papel do antropó-
meiro dos critérios da definição constitucional de terras tradicio-
logo ao optar por uma referência de limite sem respaldo científi-
nalmente ocupadas pelos índios, situam-se em áreas que o despa-
co, adotado sem o devido conhecimento sobre o que há de ocupa-
cho pretende excluir dos limites a serem demarcados, então se
verificam também os demais critérios que, no caso, são inclusivos.
ção indígena em áreas dele excluídas, além de omitir e distorcer,
mais uma vez, o sentido de decisões judiciais tomadas em relação
Ainda que, por absurdo, se pretendesse excluir as áreas tituladas à área. Sequer a antiguidade da ocupação e da titulação destas
dos limites a serem demarcados, não se poderia adotar a linha partes da área poderia ser argiiida, pois sobre a parte da área já
divisória dos estudos de 1981. Primeiro, porque aigumas destas reconhecida pelo próprio despacho como sendo indígena incidem
titulações incidem até mesmo dentro destes limites. Mas, princi- ocupações e titulações mais antigas, embora igualmente ilegais.
palmente, porque a extensão da área a ser eventualmente excluída
seria miüto superior à extensão da área titulada, incluindo as al-

deias e demais sítios mencionados.


QUANTO ÀS ESTRADAS ESTADUAIS
O despacho ministerial pretende, ainda, subtrair da área
Mais absurda ainda é a intenção do despacho ministerial de ex-
identificada as estradas que a recortam, com suas respectivas fai-
cluir a área denominada fazenda Guanabara, supostamente per-
xas de domínio. Não contém, no entanto, a indicação dara de quais
tencente ao sr. Newton Tavares, que foi alvo de investigação pelo
estradas deveriam ser incluídas neste intento, nem a extensão a
Conselho de Defesa da Pessoa Humana, do próprio Ministério da
ser excluída dos limites da terra indígena sob o pretexto de faixas
Justiça, por violências que praticou contra comunidades indíge-
de domínio.
nas que habitam a área por ele reivindicada. O ministro argiii, em
favor da exclusão, a existência de sentença proferida contra o Incra Vale lembrar que os precedentes existentes quanto à desafètação
em ação discriminatória que teve por objeto esta gleba. No entan- de vias dc transportes que atravessam terras indígenas referem-se
to, o Incra perdeu a referida ação por não ter se pronunciado exclusivamente a rios e estradas que ligam o Brasil a países vizi-

dentro dos prazos processuais. E, ademais, a via processual da nhos, como é o caso dos rios Negro e Solimões e da BR- 174 (ro-
ação discriminatória não se presta a discutir a posse indígena so- dovia Manaus-Caracas) . No caso, as estradas existentes são esta-

bre a terra. Mais grave ainda, o ministro omitiu outra sentença duais e municipais, não havendo nenhuma de âmbito federal

judicial, proferida pela Justiça Federal em ação movida pelo Mi- (exceto o acesso à cidade de Normandia), e servem à interligação

302 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1836,'2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL


s de garimpo e das aldeias indígenas com a cidade de CONCLUSÃO
Normandia e o resto do estado. Confunde-se a garantia do direito
de ir e vir com o suposto direito de invadir.
Em vista dos argumentos e informações expostos, 0 Despacho n“
80 do ministro da Justiça, se executado, implicaria em uma redu-
No caso da BR-174, a faixa de domínio corresponde a 50 metros ção que pode ultrapassar a cifra de 300 mil ha. da extensão
de cada lado do leito carroçávei. Se aplicado este parâmetro (e identificada da TI Raposa/Serra do Sol, segmentando-a cm cerca
ainda que se decidisse por uma faixa de menor extensão) ,
três de cinco partes, perenizando os enclaves garimpeiros existentes
consequências nefastas afetariam a integridade do território indí- no seu interior, viabilizando formalmente 0 acesso de novos con-
gena: (a) a segmentação da área única e contínua em pelo menos tingentes populacionais não indígenas e excluindo mais de 20 al-
cinco áreas separadas por faixas de domínio; (b) a ameaça de qnc deias do(s) perímetro (s) a ser demarcado, além de dezenas de
várias aldeias situadas à beira das estradas fiquem parcial ou total- outros sítios, retiros e reservas de recursos naturais indispensá-
mente fora da área a ser demarcada como indígena; e (c) a possi- veis à sobrevivência dos índios. Sendo assim, é evidente 0 caráter
bilidade de instalação de novos focos de ocupação não indígena lesivo e inconstitucional do despacho ministerial.
ao longo das estradas.
A pretendida consolidação da redução e do esquartejamento terri-
A Aldeia Preguidnha, por exemplo, situa-sc numa curva da RR- torial propostos, na forma de uma portaria delimitatória, legitima-
319 e ficaria intcgralmcntc fora da área a ser demarcada. O mes- ria as invasões existentes e possibilitaria outras mais, ampliando
mo ocorreria em relação a várias casas da Aldeia Raposa I, uma
as situações de conflito que já se sucedem, há muitos anos, nesta
das mais populosas. Ou, ainda, há casos como 0 da Aldeia Xtiminã, região. Constituiria, ainda, um precedente reducionisía que pode-
situada há mais de 50 metros da RR-202, mas cujas roças estão ria ensejar outras futuras reduções nas terras indígenas que estão
localizadas à margem da estrada. Pelo menos 1 1 aldeias poderiam sendo ou ainda serão identificadas pela Funai
ser afetadas ou até ameaçadas de exclusão cm decorrência da
Com 0 objetivo de reparar os erros aqui enunciados, 0 Instituto
desafetação de estradas já existentes; além das três já menciona-
das, Morro, Lilás, Tbcurnã, Guariba, Olho D'Âgua, Cantagalo, Mara-
Socioambiental, em consonância com os direitos e expectativas
dos povos indígenas que ocupam Iradidonalmente a área em ques-
canã e Santo Antônio. Acrescente-se que 0 projeto colonial do go-
tão, propõe: (a) que seja tornado sem efeito 0 despacho ministeri-
verno locai segue sendo executado e novas estradas estão planeja-
al n° 80; (b) que seja expedida portaria dedaratória pelo ministro
das, ou etn construção, ampliando as implicações negativas desta
da Justiça, reconhecendo a ocupação indígena na integrai exten-
dedsão.
são da área identificada pela Firnat desde 1993, determinando sua
demarcação física; e (c) que seja efetivada a desintrusão da área
indígena, levando-se em consideração, quando for 0 caso, os di-
reitos à indenização e ao reassentamento dos ocupantes não-índi-
os que nela se encontram, (março, 1997)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO I 303


^4JZ#-Acervo
-/A ISA

Caminhos e Descaminhos da BR-174

Jornalista, assessor do
Marco Antonio Gonçalves
Programa Brasil Socioambíental/ISA

PAVIMENTAÇAO DA RODOVIA QUE LIGA MANAUS infra-estrutura, como a construção de uma linha de transmissão

A BOA VISTA E VENEZUELA VIRA SÍMBOLO DA proveniente da Venezuela, o chamado Linhão de Guri, "puxada"

COALIZÃO DE INTERESSES QUE MOVE 0 MAIS para solucionar o déficit de energia elétrica de parte da calha
norte do rio Amazonas.
NOVO "EL DORADO" DA AMAZÔNIA BRASILEIRA,
GERANDO CONFLITOS COM OS ÍNDIOS E
REEDITANDO 0 MODELO EXCLUDENTE E
PREDATÓRIO DE OUTRAS REGIÕES

Ao eleger a rodovia BR- 74


1 um dos eixos de desenvolvimento de
seu primeiro mandato, o governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso (FHC) deflagrou um processo de produção de Onde fica
estudos e zoneamentos destinados a orientar o uso econômico e
atrair empreendimentos para o lavrado roraimense - uma vasta
Com 970 quilômetros de extensão,
a BR-174 liga Manaus à fronteira
região de savanas localizada entre o território brasileiro e o sul
do Brasil com a Venezuela,
da Venezuela, de topografia predominantemente plana, onde ha-
cortando o Estado de Roraima
bitam cerca de 23.500 índios de seis etnias. Invariavelmente, tais

propostas têm defendido a adoção de políticas de incentivo a uma Mar do Caribe

agricultura de caráter extensivo para a região ao mesmo tempo


em que ignoram a existência do movimento indígena local como

interlocutor a ser ouvido em sua formulação. Em alguns casos, os


estudos chegam mesmo a desprezar a condição indígena de cer-
tos espaços, propondo atividades econômicas pouco ou nada com-
patíveis com as expectativas manifestadas pela maioria dos índios

que habitam o lavrado.


Santa Elena •
Uma das obras concebidas pelos militares como parte do Plano
de Integração Nacional (PIN), anunciado em 1970, a HK-174,
com FHC, tornou-se um dos eixos orientadores do Brasil em Ação
- o programa de mobilização de investimentos para obras de infra-

estrutura e desenvolvimento regional de seu primeiro mandato,

inspirado em uma política de aproximação de mercados e de


integração nacional e continental. Ao ganhar status dc eixo de
desenvolvimento, a rodovia que liga Manaus à Pacaraima (RR) '°4mazo nas Manaus
passou a servir de referência não só para estudos (mais) econô-
micos (que) ecológicos como também para outros projetos de
_veja_ 2 de dezembro, 998 1

304 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

Acervo
_//£ ISA
"SAIDA PARA 0 CARIBE”, PARA QUEM? zação tomaram o local a principal área de conflito entre índios e
não-índios da área São Marcos. Em 1998, durante sua campanha
As primeiras informações públicas sobre uma parceria econômi-
à reeleição, o atual governador do estado Neudo Campos (PPB)
ca com a Venezuela envolvendo o traçado da BR-174 surgiram em
declarou, provocatlvamente, ser o município “aporta de entrada
1995, quando foi anunciado que o governo brasileiro, através da
do progresso em Roraima”. Pacaraima é o local onde o sistema de
Eletrobrás, trocava informações com o governo venezuelano, atra-
transmissão vindo da Venezuela se conectará ao linhão erguido
vés da estatal Eletrificación dcl Caroni (Edelca), sobre uma possí-
pela Eletronorte entre 1998 e 99, cujo traçado coincide com o
vel importação de energia elétrica. Conforme divulgado na época,
desenho da BR-174. Ao contrário do que ocorreu na Venezuela,
as negociações envolviam interesses que se espraiavam por outros
no Brasil a execução das obras foi precedida por um ano de nego-
setores: mineração e siderurgia, telecomunicações, transporte,
ciações entre representantes das comunidades indígenas da TI São
petróleo e agricultura. Resultaram em um conjunto de 1 1 acordos
Marcos e a estatal, que resultaram num termo de compromisso
bilaterais, reunidos sob a Declaração de Caracas, assinados por
assinado entre a Apir e a Eletronorte em abril de 1998.
FHC e pelo então presidente venezuelano Rafael Caldera em julho

de 95. 0 acordo visava a integração da fronteira entre os dois pa- No lado venezuelano, o levantamento das torres têm esbarrado em
íses, prevendo, inclusive, a criação de uma zona de livre comércio dificuldades técnicas, orçamentárias e políticas, incluindo mobili-

em no máximo dez anos. zações de povos indígenas que habitam áreas a serem cortadas
pelo linhão, na Serra de Imataca e na Gran Sabana. Em julho de
No âmbito do acordo energético, as conversações gerar,mi a pro-
1998, técnicos governamentais dos dois países estiveram reunidos
posta de construção de uma nova usina hidrelétrica no rio Caroni
na cidade de Puerto Ordaz para discutir a revisão do cronograma
- no sudeste da Venezuela, onde está instalada a usina de Guri - e
das obras. Na ocasião, o governo da Venezuela admitiu que não
na interconexão elétrica entre Guri, Boa Vista e Manaus por meio
cumpriria o cronograma anteriormente acertado, que previa o iní-
de um linhão com cerca de 211 km de extensão, que percorreria
cio do fornecimento para dezembro do mesmo ano. Dois meses
o traçado das rodovias que unem os dois países. Em abril de 97,
depois, o atual presidente venezuelano Hugo Chávez Frias garantiu
FHC e Caldera assinaram uma dezena de outros documentos, en-
ao governador Neudo Campos que o linhão estaria concluído em
tre eles, o contrato de importação de energia elétrica, pelo qual o
abril de 2000.
Brasil deveria pagar US$ 9 milhões (cifra da época) por ano aos
venezuelanos ao longo de uma década. Em outubro, Chávez Frias enfrentava um novo levante indígena
dentro do Parque Nacional da Gran Sabana, sendo obrigado a anun-
Entre as assinaturas da Declaração de Caracas e do contrato de
ciar novo adiamento, desta vez, para meados de 2000. Ao longo do
importação de energia, o Banco Nacional de Desenvolvimento
período, a mobilização indígena evolui para uma coalizão nacio-
(BNDES) contratou o Consórcio Brasiliana - composto pelas em-
nal, composta não só por organizações indígenas, mas também de
presas de cons ultoria Booz Allen & Hamilton e Bechlel International,
defesa dos direitos humanos e ecologistas. Em abril de 2000, o
além do Banco ABN Amro - para decifrar os contextos dos 12 ei-
movimento distribui um manifesto via internet contra o linhão e os
xos da segunda fase do Brasil em Ação, identificando "oportunida-
projetos econômicos previstos para a Gran Sabana. “Não pode-
des de investimentos”. Nesse documento, a BR-174 aparece como
mos deixar de nos opor à insistência de destruir este maravilhoso
“a saída norte para o Caribe”. Paralelamente, a sinergia entre os
patrimônio ecológico e cultural apenas para satisfazer as ânsias de
interesses do governo federal e dos estados do Amazonas e de
um desenvolvimento suicida de Brasil e Venezuela", argumenta o
Roraima propiciaram a conclusão da pavimentação da BR-174,
libelo, considerando o projeto binacional “um erro Iiistórico”. Em
reinaugurada em maio de 1998 em uma cerimônia realizada so-
agosto, as torres e linhas de transmissão vindas de Guri permane-
bre o rio Alalaú, na TI Waimiri-Atroari. Esticada até a fronteira, a
ciam muito longe da fronteira entre os dois países.
estrada atualmente parte da capital do Amazonas em direção ao
norle, cortando a densa floresta amazônica, incluindo a área dos
Waimiri-Atroari (veja capítulo Roraima-Mata) Em seguida, pe- “NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA”
netra o lavrado de Roraima, ladeia várias unidades de conserva- PARA OS GRÃOS
ção e duas outras terras indígenas (Tis) (Araçá e Ponta da Serra)
Estimulado por políticas públicas federais e estaduais, o cultivo de
antes de atingir a TI São Marcos, dentro da qual se estende por 65
km grãos (especialmente soja) expandiu-se de maneira acelerada nos
até o município de Pacaraima, já no limile com a Venezuela.
últimos dez anos, avançando em todas as direções dos cerrados
do Planalto Central e sobre a borda oriental da Amazônia. Quatro
PELA “PORTA DE ENTRADA DO PROGRESSO”
dos sete projetos de investimentos em infra-estrutura para a Ama-
Elevada à condição de município em 1995, mesmo estando inte- zônia que integraram a primeira versão do programa Brasil em
gralmente situado dentro da TI São Marcos, a ex-Vila Pacaraima se Ação eram explicitamente orientados para favorecer a produção
converteu no centro geográfico de intervenções promovidas nos de soja no Centro-Oeste. E, embora o objetivo descrito nos docu-
últimos anos pela elite política de Roraima, corno a criação de mentos do programa fosse viabilizar uma saída para o Caribe, to-
uma área de livre comércio. Sua localização e progressiva urbani- dos os estudos e zoneamentos produzidos sobre o eixo da BR-

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1896/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 306


Boa Vista:
vcupação da Ama- Roraima recebe
zônia a qualquer dezesseis novos

0 novo
Roraima
Eldorado
que mais recebe migrantes.
é o Estado
custo,
distribui
ta a
hoje
ou facili-
compra de ter-
quem
a cada
moradores
24 horas

ras são as prefeituras, especialmente as


de municípios recém-criados. Os prefei-
E Rondônia, o que mais exporta gente tos querem inchar a população de suas
cidades para aumentar a fatia a que têm
Klester Cavalcanti, de Rorainópolis morar lá, na longínqua fronteira do Bra- direito no Fundo de Participação dos
sil com Venezuela e Guiana. Municípios, FPM, e outras verbas distri-
mapa das migrações no Bra- Um dos motivos da atual fuga de buídas pelos governos federal c estadual.

O
sil acaba de sofrer uma revi- moradores de Rondônia é a perda de
ravolta. A
mais recente pes- qualidade da terra. Como todos os anos Verbas e problemas —
Rorainópolis, a
quisa sobre o assunto feita os agricultores queimam a roça para 300 quilômetros da capital de Roraima,
pelo Instituto Brasileiro de renovar o plantio, o solo fica cada vez Boa Vista, é um exemplo dessa distor-
Geografia e Estatística, IBGE, coloca mais pobre em nutrientes. “Em cerca de ção. Emancipada em 1997. a cidade qua-
Roraima como o Estado que mais atrai cinco anos a produtivi- druplicou sua popula-
população e Rondônia como o que mais dade cai", explica o ção desde então. Tinha
exporta gente (veja quadro). O movi- engenheiro agrônomo Confira os cinco Estados 7 000 habitantes há três
mento dos caminhões de mudança entre Gerino Alves Filho, que mais atraem moradores anos. Hoje tem 28 000.
os dois Estados não pára. Entre 1991 e coordenador de pesqui- e os cinco que mais exportam Se o Brasil tivesse cres-
1996, Rondônia perdeu, em média, 37 sas do IBGE em Ron- (em número de migrantes cido nesse mesmo rit-
pessoas por dia. Roraima recebeu 16 dônia. Por essa razão, a por 1 000 habitantes) mo, abrigaria hoje 640
novos moradores a cada 24 horas. Esses imensa maioria dos milhões de habitantes.
números representam uma mudança e migrantes que hoje Foi a própria prefeitura
RONDÔNIA 55
tanto no perfil migratório da região ama- estão indo para Rorai- de Rorainópolis que
TOCANTINS 55
zônica. Nos anos 70, Rondônia era o ma é formada por incentivou a explosão
Eldorado da nova fronteira nacional, o lavradores que já mora- MATO GROSSO 50 populacional. "Atual-
destino de milhares de brasileiros que ram em outras regiões PIAUÍ 48 mente. nosso orçamen-
iam para lá seduzidos pela política de da Amazônia. “Eles MARANHÃO 4} to mensal é de 70 000
distribuição de terras na Amazônia, pro- partem em busca de
1 TAXA DE ENTRADA
mas é preciso três
reais,
movida pelo governo militar sob o lema terras novas e férteis", vezes mais", afirma o
de “Integrar para não entregar". A popu- RORAIMA 120
diz Gerino Filho. Em prefeito Geraldo da
lação rondonense. que era de 100000 geral, vão para onde AMAPÁ 112 Costa. A nova popula-
habitantes em 1970, cresceu nove vezes lhes oferecem algum TOCANTINS 81 ção, a ser contabilizada
em apenas duas décadas. Enquanto isso. atrativo —ainda que MATO GROSSO 67 oficialmente no próxi-
em Roraima, no extremo norte do país, o ilusório. Como o go-
GOIÁS
mo censo do IBGE.
64
aumento populacional não chegava à verno federal desistiu deve dobrar a cota de
Fonte: fflG£
metade disso. Pouca gente queria ir da trágica política de Rorainópolis no FPM.

voja 4 de agosto. 1999 71

306 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Aldeia Manalai ao norte da fíaposa/Serra do Sol.

Dança da Aleluia, aldeia Maturuca.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 307


Acervo
//\V I SA
174, desde que os acordos entre Brasil e Venezuela foram assina- sojicullores, inclusive do baião da soja Blairo Maggi, e plantios
dos, recomendam a monocultura dc grãos como atividade econô- experimentais vêm se multiplicando no lavrado roraimense - há,

mica prioritária para o lavrado, inclusive, cultivos experimentais de variedades transgênicas, sob
responsabilidade da Embrapa. A decadência do garimpo e as res-
A primeira evidencia da opção pelos grãos em Roraima ocorreu
trições para a implementação de projetos de mineração industrial
em julho de 1997. quando Fernando Henrique anunciou planos de
deslocaram os esforços da elite política do estado - tradicional-
liberar 6 milhões de hectares para a agricultura após a conclusão
mente ligada aos interesses minerários - para a soja, ao menos
do asÊaltamento da BR- 174 - um número aparentemente exagera-
momentaneamente.
do, a menos que pretendesse converter índios em plantadores de
soja e florestas em áreas de monocultura. Na ocasião, FHC chamou Cadernos dc agríbusiness de diários nacionais têm anunciado o
o eixo de “nova fronteira agrícola”. Dez meses depois, o ISA reve- lavrado roraimense como um novo El Dorado para a implacável
lou que a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) expansão da soja. Terra barata, incentivos fiscais, clima definido,

um zoneamento económico-ecológico sobre uma


estava finalizando insolação generosa, proximidade com o Caribe e colheita na
área de 20 mil km 2 na fronteira, incluindo grandes parcelas das entressafra são apresentados como atributos que justificariam tal

Tis Raposa/Serra do Sol e São Marcos, para a implantação de um expansão. No inicio de 2000, Neudo Campos criou o projeto
programa de desenvolvimento integrado. De acordo com o coor- Grãonorte, por melo do qual pretende Incentivar plantios mecani-
denador do estudo, Valter José Marques, o trabalho fora encomen- zados sobre o lavrado, apoiados em estudos da Embrapa que esti-
dado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no âmbito da mam haver 1 ,5 milhão de ha apropriados para a cultura de grãos
Comissão Binacional de Alto Nível Brasil-Venezuela. Iniciado em em Roraima. No início de agosto, o senador Mozarildo Cavalcanti
outubro de 1996, o zoneamento identificou áreas a serem aprovei- fez discurso incensando o projeto e sua meta de aumentar a área
tadas por atividades agrícolas - especialmente grãos - e pecuária. plantada de 1 mil para 5.850 ha.

Em fins de 1998, a Suframa e a FGV divulgaram os resultados do Pesquisadores de instituições respeitáveis, como a Embrapa e o
Projeto Potencialidades do Estado de Roraima, cuja finalidade se- Inpa, advertem que os planos de adensar a ocupação agrícola do
ria orientar “medidas incentlvadoras da Suframa” para facilitar a lavrado e de transformá-lo em um novo mar de soja - através de
vida “dos investidores sobre a aplicação de recursos” no estado. métodos convencionais, desenvolvidos em condições ecológicas
Apesar de recomendar o ecoturismo, a fruticultura, a piscicultura diferentes, como é o caso dos cerrados do Planalto Central - só
e produção de dendê, o estudo destaca a soja como atividade com agravarão os problemas de lixiviação e assoreamento já observáveis
grande potencial, por conta da existência de “1,2 milhão de ha na zona rural de Boa Vista, especiahuente nas áreas de cultivo me-
propícios para o plantio" no estado. Quanto às terras indígenas, canizado de arroz. Ademais, sua baixa rentabilidade por hectare
são caracterizadas neste estudo como “restrições à utilização dc demandará cultivos extensos, criando a perspectiva de um avanço
fatores potenciais existentes”. sobre as áreas florestadas, cuja inflamabilidade (associada ao evento
periódico do El Nino) favorece a ocorrência de incêndios devasta-

FUTURO DEVASTADOR dores, como os verificados entre o final de 1997 e início de 1998.

Embora proporcione uma frente de integração continental e rom- Na verdade, o futuro dos ecossistemas e das terras indígenas situa-
pa o isolamento da calha norte do Amazonas, o eixo constituído das na área de influência da BR-174 dependerá do caráter mais ou
pela BR-174 - e seu provável adensamento econômico - deve favo- menos predatório dos agentes exploradores e da capacidade dessas
recer o histórico propósito da elite roraimense de intrusar (para áreas serem defendidas das pressões externas. “Saída para o Caribe",
subtrair parcelas de) terras indígenas e isolar o movimento indí- “porta de entrada do progresso” ou "nova fronteira agrícola”, é
gena do lavrado, que têm no CIR e na Apir as organizações mais aqui, onde os planos de desenvolvimento estadual e federal para a
atuantes. Ao mesmo tempo em que promove a mais renitente cru- região se comungam, que emerge a questão crucial: qual o papel
zada contra o reconhecimento oficial de terras indígenas já vista reservado para a significativa população indígena do estado em re-
no estado, o governo do conservador Neudo Campos busca atrair lação às transformações econômicas projetadas para o próximo
produtores de grãos do Centro-Oeste e Sul do país. Visitas de século pela integração entre Brasil e Venezuela? (agosto, 2000)

31)8 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1896/2000 - INSTITUTD SOCIOAMBiENTAL


•^JZ^ Acervo

RAPOSA/SERRA DO SOL ados pela Diocese de Roraima. O CIK relata que lano. Trata-se de um ex-missionário da congre-
a cobiça das reses indígenas provocou troca de gação belga “Hermanitos dei Evangelio", que
tiros entre um vaqueiro e índios Makuxi. O va- atuou entre os índios Yekuana e Sanuma. Em
DECRETO 1.775 CAUSA queiro foi morto e dois índios saíram feridos 1969, abandonou sua carreira missionário para
EUFORIA EM RORAIMA do episódio. No dia 2 de fevereiro, o tuxaua da se tornar um “expert” em assuntos de geopo-

Á imprensa de Roraima recebeu como uma bên- aldeia Flexalzinho, Darciano de Souza, foi bale- iítica e indigenismo, trabalhando como consul-

ção política o Decreto 1.775, assinado pelo mi- ado e esfaqueado, estando hospitalizado. (ISA, tor do Ministério das Relações Exteriores do
nistro Nelsonjobim, que permite a contestação a partir de Carta do CIF de 09/02/%) governo venezuelano, o que ajuda a entender a

dos processos de demarcação das áreas indí- proposta indecorosa feita no laudo. As posições

genas no País. Um articulista da Folha de Boa DEPUTADO PROPÕE antündígenas de Barandiarán na Venezuela tam-

Vista informa que o presidente da Assembléia DIVISÃO DA ÁREA... bém são notórias. (ISA, a partir de Parabóli-

Legislativa, Alrnir Sá, convocou ontem uma co- cas, tnai/%, e de informe de Nelly Arvelo
letiva para anunciar que já mobilizou o corpo
O deputado federal Salomão Cruz (PSDB) en- Jimenez, dejun/96)
de técnicos e advogados da Assembléia para,
caminhou, esta semana, uma proposta para so-
lucionar o impasse da demarcação da TI Rapo-
em 45 dias, concluir os estudos necessários ao DEU RAPOSA NO
sa/Serra do Sol ao presidente da Comissão Ex-
contraditório, o que ele chamou dc “vícios no
terna da Câmara dos Deputados, Sarney Filho,
NEW YORK TIMES
processo demarcatório” das Áreas Raposa/Ser-
ra do Sol e São Marcos.
A comissão acompanha os procedimentos rela- O conflito acerca da demarcação da TI Rapo-
tivos à demarcação de terras indígenas no Bra- sa/Serra do Sol foi parar na capa do New York
“Almir Sá sugeriu ao governador que determi-
sil. Pela proposta do deputado, duas reservas Times de 21 de junho de 1996- Gomo era de se
ne a feitura de um (novo) laudo aníropológico
independentes seriam demarcadas, uma para os esperar, otema da reportagem é a demora do
da Raposa/Serra do Sol”, informa o articulista.
Ingarikó e outra para os índios Makuxi, ministro Nelsonjobim em promover a demar-
O jornal informa que “o deputado Almir Sá vai
contralar também um advogado de renome para
Wapixana e Taurepang. A proposta difere da- cação de uma área com grande visibilidade

elaborar o finai da parte jurídica do estudo de


quela preparada pela Funai em 1993 e que pública, por abrigar dez mil índios expostos a
aguarda parecer do ministro a Justiça, Nelson todo lipo de conflitos de terras, reforçando,
contestação aos realizados pela Funai”.
Jobim. (Folha de Boa Vista, 30/03 a 01/04/96) assim, as criticas e temores gerados pelo De-
O jornal O Diário, também de Boa Vista, infor-

ma que governador Neudo Campos


creto 1.775. Mas Raposa/Serra cio Sol é apenas
já assinou
decreto criando a Comissão Técnica Especial ... ENQUANTO CONFLITOS uma dentre as oito terras que continuam sol)

SE INTENSIFICAM análise da Funai, após a conclusão dos parece-


que vai trabalhar na elaboração do contraditó-
res sobre as contestações apresentadas no âm-
rio às demarcações de terras indígenas em
A violência envolvendo indígenas de Roraima bito do decreto do ministro Jobim, (Extraído
Roraima. De acordo com a reportagem, "a co-
ainda não tem um fim anunciado. Novas mortes de Parabólicas, ISA, ago/96)
missão é do mais alio nívei e deve apresentar o
poderão ocorrer em breve se não forem toma-
relatório dentro dos próximos 35 dias”. (ISA, a
das providências urgentes. Enquanto a reporta-
partir de Folha de Boa Vista, 02/02 e O Diá- CIR ORGANIZA PROTESTO
gem de O Diário entrevistava o coordenador
rio, 08/02/%)
substituto da Funai, Manoel Tavares, mais uma
EM BOA VISTA
denúncia chegava a suas mãos. Desta vez, os Mais de 800 índios vindos de diversas regiões
CD CONTRA DEMARCAÇÃO indígenas anunciaram um iminente conflito na participaram ontem de um protesto, na frente
É APREENDIDO Maloca do Morro, localizada na região do Maú, da Assembléia Legislativa de Boa Vista, contra a
O novo CD da Banda Pipoca, chamado “Macuxi entre o posseiro José Soares Cruz, conhecido demora na demarcação da TI Raposa/Serra do
Esperto", cujo lançamento seria ontem à noite como Zezão, e os índios. (O Diário, 21/05/96) Sol e contra a instalação do município de
num show, foi proibido de ser tocado em Uiramutã dentro da área indígena. Represen-
Roraima por determinação do juiz federal CONTESTAÇÃO À DEMARCAÇÃO tantes de entidades de apoio acompanharam os
índios na manifestação, que parou o trânsito
Vallisney de Souza Oliveira ao acatar uma deci- ÉPÉROLA DO ABSURDO
são do MPF. O procurador Osório Barbosa en- no Centro Cívico. Os índios saíram em passeata
Entre os muitos absurdos encaminhados à Funai da sede do CIR numa caminhada de mais de
tendeu que a música “Área contínua, não”, car-
ro-chefe do CD da banda, comete crime de dis- por conta do Decreto 1,775, o de Roraima me dois km. Durante o percurso, entoaram cantos

criminação por seu autor, o letrista Zerbini Ara-


rece um lugar de destaque pelo seu surrealismo. Makuxi. (Folha de Boa Vista, 17/09/96)
újo, ao ironizai
1

o processo de demarcação da
No laudo do “antropólogo” venezuelano Daniel

Ti Raposa/Serra do Sol. (O Diário, 09/02/%) de Barandiarán, ele sugere que o Brasil não deve
EM NY, TUXAUA ANUNCIA
demarcar a TI Raposaíierra do Sol para não pôr
AUTODEMARCAÇÃO
RELAÇÕES NA RAPOSA em risco “uma eventual ampliação territorial fu-
tura (!)". Mais que isso, Barandiarán comida o O vice coordenador do CIR, José Adalberto da
SE DETERIORAM
governo brasileiro a juntar-se à Venezuela para .Silva, Semana da Amazônia, que o
disse na VII
0 CIK enviou ao presidente da Funai, Márcio obter a conquista da porção ocidental da Guiana, governo de Roraima investe contra os direitos
Santiili, informe sobre conflitos que vêm ocor- equivalente a dois terços de seu território. As- dos índios. Criticando o governo brasileiro por
rendo deutro da TI Raposa/Serra do Sol, envol- sim, o governo de Roraima corrobora oficiaimen- gastar milhares de dólares em um evento sobre
vendo índios e funcionários das fazendas insta- te uma proposta de invasão de um país vizinho. a Amazônia em Nova York (EUA) ,
enquanto não
ladas na região. Segundo o informe, os confli- O (ai Daniel Barandiarán, no entanto, não é an- atende as reivindicações das populações indí-
tos se devem ao roubo do gado dos índios, do- tropólogo e provavelmente tampouco venezue- genas da região, o vice coordenador do CIR afir-

POVOSINDlGENASNO BRASIL 1996/ZOCO - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 309


TriLíZ^Acervo
—f/£\ SA aconteceu!
raou que os próprios índios irão demarcar a CIR LANÇA CAMPANHA CIR PROTESTA
reserva Raposa/Serra do Sol. “Nós vamos de- INTERNACIONAL PELA CONTRA DECISÃO
marcar a Raposa/Serra do Sol, conforme a Funai DEMARCAÇÃO “Essa medida é eminentemente política”, quei-
a identificou em 1993”, disse o tuxaua. José
Os índios ligados ao CIR estão encaminhando xou-se Nelino Galé, coordenador do CIR. "Para
Adalberto disse ter participado do evento para
carta circular para cerca de 40 ONGs espalha- aprovar a reeleição, FHC, que certamente par-
contestar o governo brasileiro. “Eu, índio
Makuxi, quero falar aqui do que o governo bra- das por países como Itália, Alemanha, FUÁ, Ca- ticipou da tomada da decisão, precisa dos vo-
sileiro não está fazendo para proteger os direi- nadá, Suíça e também no Brasil, pedindo apoio tos da bancada federal do estado de Roraima,
para pressionar o governo brasileiro a demar- contrária à demarcação integra] da terra indí-
tos dos índios que vivem na Raposa/Serra do
car a TI Raposa/Serra do Sol. A informação foi gena", disse. “Desde o CIR está lançando
Sol. (Folha de Boa Vista, 24/09/96) já,

prestada pelo vice coordenador do CIR, José apelos a todas as entidades de defesa dos direi-
Adalberto. Adalberto disse que o CIR pretende tos indígenas para que manifestem seu desa-
ÍNDIOS INICIAM
“montar novas estratégias" de pressão caso o grado diante dessa inaceitável medida”, avisou
DEMARCAÇÃO EM UIRAMUTÃ... ministro Nelson Jobim não demarque a área o coordenador do Conselho. Nelino Galé ad-
Os índios Makuxi e Wapixana estão cumprindo até o mês de dezembro. (Folha de Boa Vista, vertiu que a decisão do governo vai perpetuar
a promessa que fizeram de realizar a n/10/96) os confrontos já existentesna Raposa/Serra do
autodemarcação da TI Raposa/Serra do Sol. Em Sol. “É extremamente preocupante que o mi-

represália à criação de municípios em áreas MINISTRO VISITA ÁREA, nistro dajustiça faça letra morta da Constitui-

consideradas indígenas, mais precisamente FAZ PROMESSAS... ção brasileira, que decreta nulos e extintos qual-

Uiramutã, os índios iniciaram a autodemarcação quer ato de domínio ou posse de terra indíge-
pelas fazendas Novo Destino, de propriedade do O CIR considerou a visita do ministro da Justi- na para fins meramente políticos", concluiu
ça, Nelson Jobim, "bastante proveitosa”, segun- Galé. (JB, 28/12/96)
fazendeiro Valdir Leite, e Central, de Plínio Ne-
do informe divulgado pela entidade no dia 15
ves. A Funai classificou a atitude dos índios como
de outubro. No entanto, para a entidade “é in-
GOVERNO E FAZENDEIROS
pacífica e simbólica. O ato, segundo a Funai,
compreensível o adiamento da decisão até o
não tem valor legal. (O Diário, 02/10 e Folha
fi-
QUEREM MAIS
nal do ano”, referindo-se ao anúncio do minis-
de Boa Vista, 03/10/96)
tro de que a assinatura da portaria demarcatória Depois de quase duas horas de discussão entre
sairia até o Natal, sem precisar uma data. No fazendeiros e os dois advogados contratados
... QUE É INTERROMPIDA entendimento do CIR, “o tempo dado até o final pelo governo do estado para estudar a possibi-
PARA ESPERAR MINISTRO do ano pode significar a necessidade da Funai lidade de contestar judicialmente a nova deli-

Há quatro dias estão parados os trabalhos de refazer a proposta (de limites) iniciai, o que mitação da TI Raposa/Serra do Sol, ficou deci-

autodemarcação que os índios estavam desen- implicaria em redução da área (Raposa/Serra dida a formação de um GT para reunir docu-

volvendo, por conta própria, na área Raposa/ do Sol) ,


o que seria inaceitável”, afirma o co- mentos que subsidiarão uma ação administra-
municado, assinado pelo vice coordenador José tiva e outra judicial contra o despacho do mi-
Serra do Sol. Coordenados pelo CIR, os tuxauas
resolveram suspender os trabalhos até a che- Adalberto Silva. (ISA, a partir do Informe do nistro Nelson Jobim - que reduziu os limites
gada do ministro dajustiça, Nelsonjobim, pro- CIR de 15/10/96) da área. Os fazendeiros foram aconselhados a
gramada para amanhã. A autodemarcação foi
continuarem a trabalhar com seus advogados

iniciada nasemana passada, depois de ser anun- ... E REDUZ LIMITES particulares, paralelamente.

ciada pelo tuxaua José Adalberto Silva, do CIR, DA RAPOSA A ação administrativa vai se basear no argumen-
na abertura da Semana da Amazônia, em Nova to de que Jobim não estabeleceu perímetros
O ministro dajustiça Nelsonjobim, contrari- urbanos,nem coordenadas geográficas, para
York, no final do mês passado. (Folha de Boa
,

ando as expectativas criadas Junto aos índios que a Funairealize a nova delimitação, como
Vista, 09/10/96)
durante sua visita à TI Raposa/Serra do Sol, as- manda o despacho. O deputado Salomão Cruz
sinou o despacho n° 80, no dia 20 de dezembro disse que a tentativa de provar a posse ou a pro-
DEPUTADOS AMERICANOS de 1996, propondo significativa redução dos li-
priedade das fazendas que ficaram dentro do
PEDEM MANUTENÇÃO DA ÁREA mites da área identificada pela Funai. O despa- limite da área única é um caso complicado.
cho foi publicado no dia 24 de dezembro e, Segundo ele, quem não conseguir provar que é
Dezessete deputados dos dois maiores partidos
norte-americanos enviaram ontem carta ao pre-
mesmo rejeitando as contestações apresentadas proprietário antes de 1934 pode se considerar
durante o processo de contraditório, determi- como um caso perdido. “Para este, o jeito é
sidente FHC pedindo que não permita a redu-
na "pequenos ajustes, ditados pelo interesse entrar com pedido de indenização", frisou. O
ção da TI Raposa/Serra do Sol. “Preocupa-nos
que a redução dessa área crie um precedente
público em preservar núcleos populacionais não deputado recomendou também que os fazen-
para a possível redução de 177 outras áreas
indígenas já consolidados, ou em resguardar deiros quetêm documentos provando a posse
situações jurídicas estabelecidas pelo próprio devem defender suas propriedades “usando até
indígenas no Brasil", escreveram os congres-
sistas. A carta ao presidente brasileiro, datada
Poder Público Federal”. Com base nesse argu- a força, se necessário”. (Folha de Boa Vista,
mento, Jobim determina, por sua própria inici-
25 a 27/01/97)
de 1 de outubro, foi divulgada pela Coalizão
ativa, que a Funai reformule e reapresente a
pelos Povos e o Meio Ambiente da Amazônia,
sediada em Washington. Os deputados temem
proposta de delimitação da áreas com várias

que o governo dê a terra indígena para minera-


reduções em relação aos limites anteriormente
identificados. (ISA, dez/96)
dores e fazendeiros. (Diário Catarinense,
10/10/96)

310 HORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASiL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMOIENTAL


,

INFORME DO ISA PREFEITO CHAMA O EXÉRCITO REDUÇÃO FOI NEGOCIADA,


REPERCUTE EM RORAIMA DIZ DEPUTADO
O prefeito de Uiramutã, Venceslau Braz (PTB),
O ISA denunciouontem que o despacho elo decidiu ontem que vai pedir intervenção de tro- Em meio às denúncia de comercialização de
ministro da Justiça, Nelson Jobim, poderá sig- pas do Exército para prestar segurança à área votos na Câmara dos Deputados para a aprova-
nificar uma redução de mais de 300 mil ha nos do município. Encravado na TI Raposa/Serrado ção da emenda da reeleição, o jornal O Globo,
limites da TI Itaposa/Serra do Sol. O despacho, Sol, Uiramutã vive em constantes conflitos en- do Rio de Janeiro, publicou declaração do de-
segundo o ISA, poderá ainda, legalizar enclaves volvendo índios e fazendeiros e, agora, índios e putado federal Francisco Rodrigues (PFL-RR)
de garimpeiros e fazendeiros, esquartejar a índios. Braz teme que incidentes de maior gra- segundo a qual, o dilaceramento da TI Raposa/
única área contínua e excluir mais de 20 aldei- vidade possam ocorrer nos próximos dias. O Serra do Sol foi uma das consequências das
as e outro sítios indígenas do perímetro a ser prefeito explicou que Uiramutã fica a uma hora negociações políticas feitas entre o governo fe-
demarcado. “O ministro planeja uma facada na de vôo da capital e que qualquer incidente de deral e os deputados insubordinados, entre eles,
Raposa", afirmou em tom Irônico o ex-presi- maior proporção pode se transformar em pre- os de Roraima, para a aprovação da emenda
dente da Funai, Márcio SantiUi, um dos diri- juízo para o município. O prcfeiío disse que a da reeleição para cargos do Executivo. Em sín-
gentes do ISA. ‘‘A Fitnai não se manifestará so- presença da PM não ajuda muito quando há ín- tese, chantageado pelos deputados roraimenses,
bre essa questão por enquanto, pois a mesma dios envolvidos, uma vez que os policiais só o governo concedeu favores ao estado de
está pendente no Ministério da Justiça", disse podem agir se forem solicitados pela Funai ou Roraima, entre os quais, a redução da TI
o assessor de imprensa Antônio Carlos Lago. peia PF. (O Diário, 17/04/97) Raposa/Serra do Sol. (ISA, a partir de O Globo,
O despacho do ministro é apontado como uma 16/05/97)
sucessão de erros e distorções que implicam
CIR FAZ NOVAS
em violações dos direitos indígenas inscritos na PROTESTO NA PASSAGEM
DENÚNCIAS DE VIOLÊNCIA
Constituição. Márcio SantiUi disse que o minis-
DE FIIC PELA ITÁLIA
tro busca uma suposta solução intermediária O CIR informou que, no último final de semana,
entre a identificação de
93 e a proposta do go- o tuxaua de uma das comunidades que inicia- Aproveitando a passagem do presidente FHC
verno de Roraima, de demarcar apenas peque- ram a construção de um retiro para o gado foi pela Iiália, a seção italiana da Survival Inter-
nos sítios ao redor das habitações para liberar ameaçado de morte pelo vaqueiro conhecido national enviou mensagens ao presidente itali-

o restante para os colonos e garimpeiros. “O por “Goiano".Em seguida, com o apoio do pre- ano, Oscar Luigi Scalfaro, e ao papajoão Paulo
parâmetro para a delimitação definitiva deixa e de vereadores de Uiramutã, índios liga-
feito II advertindo para a decisão do ministro Nel-
de fora, além de algumas aldeias, a maior par- dos ao governo destruíram três casas das co- son Jobim de reduzir os limites da TI Raposa/
te dos buritizais, sítios de pastagem e lagos pe- munidades Tabatinga, Camararém e Lilás. O pre- Serra do Sol. Ao presidente FHC, foi entregue
renes utilizados pelos índios para pesca, com- feito Venceslau Braz destacou policiais civis para um abaixo-assinado com 3,2 mil assinaturas
prometendo as suas atividades de subsistência”, a fazenda Bom Jardim. Representantes das co- pedindo respeito aos direitos humanos e
disse SantiUi. munidades indígenas, temendo que outras ca- territoriais dos povos indígenas brasileiros, em
O ISA enviou cópias de sua posição ao ministro sas venham a ser derrubadas pelos policiais, particular, dos Guarani Kaiowá, Yanomami e
Nelson Jobim e ao presidente da Funai, Júlio foram até Boa Vista pedir ajuda à Funai. (Infor- Makuxi. (ISA, a partir de Cartas da Survival
Gaiger, apelando para que seja tornado sem me do CIR, 17/04/97) International, mai/97)
efeito o despacho ministerial, reconhecida a
ocupação indígena integral na extensão da área, FAZENDEIROS NÃO DESISTEM ÍNDIOS PARALISAM
a demarcação c a desintrusão da área. O ISA
OBRAS DENTRO DA TI
adverte que, se for consolidada por portaria, Termina hoje o prazo de 120 dias dado pelo
isso legitimaria as invasões existentes e possi- ministro da Justiça para que os interessados se Um informe divulgado pelo CIR em 26 de se-
bilitaria outras mais, ampliando as situações de habilitem a eventuais indenizações por ben- tembro afirma que uma construtora iniciou
conflito - além de se constituir num precedente feitorias de boa-fé levantadas dentro da TI Ra- obras de construção da prefeitura e de unta Câ-
reducionista, que poderia ensejar futuras re- posa/Serra do Sol. Mas os fazendeiros contrari- mara de Vereadores no recém-criado municí-
duções nas terras indígenas que estão sendo ados com a decisão mimsterial não desistem e pio de Uiramutã, dentro da TI Raposa/Serra do
ou que ainda serão identificadas pela Funai. estão apresentando novos argumentos para ten- Soi. Segundo o informe, as obras começaram

(Folha de Boa Vista, 08 a 10/03/97) tar manter suas posses dentro da área. Dos 292 no centro da aldeia Uiramutã, num campo de
proprietários de terras da TI Raposa/Serra do futebol utilizado pelos índios. No último dia 19,

FHC É RECEBIDO COM Sol, 21 recorreram aos advogados oferecidos diz o documento, as obras foram paralisadas
PROTESTOS EM BOA VISTA pelo governo estadual para auxiliá-los na ela- por moradores de várias aldeias e há no local
boração de recursos contra a decisão do mi- uma mobilização de 500 índios, que tende a
A chegada do presidente FiiC ontem a Boa Vis- nistro da Justiça Nelson Jobim, presente no des- aumentar de número, dada a aproximação das
ta foi marcada por protestos de sindicatos, ín- pacho assinado em 24 de dezembro de 1996- eleições de 3 de outubro, por eles repudiadas.
dios e estudantes roraimenses. Cerca de 500 Apesar de ter excluído parcela significativa da O CIR lembra ainda que, no ano passado, o
manifestantes não deram trégua ao presidente, área da fruição exclusiva indígena, a decisão mi- governo dc RR tentou iniciar ilegalmente as
desde a Base Aérea até o Palácio da Cultura. O nisterial considerou improcedente as contesta- obras de construção de uma hidrelétrica no rio
CIR e lideranças indígenas estiveram entre a ções apresentados pelos fazendeiros que ale- Coüngo, que nasce e morre dentro da terra in-
multidão, reivindicando a demarcação da TI gam propriedades instaiadas dentro da
ter ter- dígena. “Depois de muitos conflito, as obras
Raposa/Serra do Sol. (O Diário, 12/04/97) ra indígena, (ISA, a partir de Folha de Boa Vis- foram paralisadas. O objetivo do início das
ta, 24/04/97) obras da hidrelétrica era o mesmo da implan-

POV0S INDÍGENAS ND BRASIL 1896/2000 INSTITUTO SDCIDAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 311


taçâo do município, com sede e tudo, dentro ÍNDIOS “COMPRAM” “DEMARCAÇÃO
da terra indígena: impedir o uso da terra pelos DESINTRUSÃO DA ÁREA INVIABILIZA RIZICULTURA”
índios”. Ainda segundo o CIK, o atraso na
As lideranças das regiões do Amajari, Taiano, A única cultura de sucesso no estado está
demarcação das terras beneficia fazendeiros,
garimpeiros e, agora, o governo do estado, que
Serra da Lua, Raposa, Baixo Cotingo, Sitrumu e ameaçada pela demarcação em área contínua
tenta usurpar para si terras indígenas, que Serras e os coordenadores do CIR reuniram-se da reserva indígena Raposa/Serra do Sol. A de-
para buscar fórmulas de aplicação dos recur- núncia foi feita pelos segmentos agroindustriais
pertencem à União, (ISA, a Juirtir de informe
sos e aquisição de animais das fazendas locali- do arroz irrigado roraimense, considerado o
de Ana Paula Souto Maior de 18/06/97)
zadas nas áreas pretendidas pela Funai. Um dos único exemplo de agricultura de sucesso eaiito
principais destaques da reunião foi o tema da sustentável na Amazônia, que corre o risco de
CONSTRANGIMENTO
demarcação e a avaliação da criação do fundo falir se aárea da Raposa/Serra do Sol for demar-
NA INGLATERRA
financeiro que os índios estão formando para cada de forma contínua, como prelende a Funai.
Na passagem de FHC pela Inglaterra, a Survival comprar animais e indenizar benfeitorias e fa- Os empresários do selor alegam que não têm
International revelou que representantes de vá- zendeiros dispostos a sair de Raposa/Serra do apoio político para contestar a demarcação,
rias tribos brasileiras enviaram carta à rainha Sol. apesar de terem encaminhado ao ministro da
Elizabeth II pedindo que ela intercedesse em Segundo o levantamento, os índios (á compra- Justiça Nelson Jobim, através de advogados par-
favor dos povos indígenas da TI Raposa/Serra ram 900 cabeças de gado, 133 cavalos e 150 ticulares, solicitação de exclusão de suas ter-

do Sol. A entidade diz que a política indigenista caprinos e ovinos dos quatro maiores proprie- ras da área a ser demarcada. (Folha de Boa
de FHC “d uma fraude". (JB, 02/12/97) tários não-índios. As compras foram feitas na Vista, 30/10, e Brasil Norte, 31/10/98)
região das Serras, considerada o coração da
PELOTÃO DE FRONTEIRA área indígena. O coordenador das Serras expli- ÍNDIOS QUEREM
EM UIRAMUTÃ cou que a compra esiá sendo feita de acordo
ADVOGADO FORA DA FUNAI
com a procura dos próprios fazendeiros inte-
0 Exército, através da 1* Brigada de Infantaria ressados em negociar a venda de animais e in- Um grupo de 35 lideranças indígenas ligadas
da Selva, escolheu o município de Uiramulã para denizações de benfeitorias. “Ate agora compra- ao CIR e à Apir, decidiu ocupar a saía da asses-
instalar um novo destacamento de fronteira. A mos só animais", explica. Além da cota feita por soria jurídica da Funai em Roraima, exigindo a
escolha, que incide sobre os limites identifica-
índios funcionários públicos, a Funai também imediata retirada do procurador da entidade,
dos da TI Raposa/Serra do Sol, preocupa tanto contribuiu com R$ 100 mil para comprar 500 Wilson Précoma. A ação foi comunicada por
a Funai como o CIR. Este encaminhou carta à cabeças de gado, segundo o coordenador regi- fax ao presidente da Funai, Sullvan Silvestre,
Presidência da República, propondo uma dis-
onal. O próximo passo é fortalecer o fundo fi- pedindo a exoneração de Précoma.
cussão aberia sobre a queslão. (Informe da nanceiro para indenizar benfeitorias e discutir O advogado vem fazendo acusações contra a
Funat/cm, 11/11/97) a melhor forma de distribuir os animais com- Administração Regional da Funai, acusada pelo
prados pela comunidade. (Folha de Boa Vista, procurador de favorecer uma candidatura ao
NOVO PRESIDENTE DA FUNAI 28/08/98) governo do estado. Outra denúncia é a do des-
DEFENDE ÁREA CONTÍNUA caso da Fimasa, que seria culpada pela morte

O CIR ganhou um importante aliado na luta pela RAPOSA VOLTA À de 43 índios Yanomami no pólo-base de Uaris

a demarcação contínua da área Raposa/Serra


MESA DO MINISTRO neste ano. As eniidades indígenas querem a
apuração das denúncias, e acreditam que o
do Sol: o préprio presidente da Funai, Sullivan O consultor jurídico do Ministério da Justiça, procurador jurídico se aproveitou do momen-
Silvestre. Isso significa que, tecnicamente, o CIR Byron Frestes Costa, esteve no dia 20 de agosto to eleitoral para desmoralizar a Funai e a Funa-
está amparado, mas a questão passa a ser polí-
último na sede do CIR para discutir a demarca- sa. Précoma tem se posicionado contra a reti-
tica, como foi a decisão do ministro Jobim, que ção da TI Raposa/Serra do Sol. Alem de conver- rada dos garimpeiros da área São Marcos.
atendeu a requerimentos de políticos do Norte sai' com as lideranças indígenas e com o gover- (Anna Yekarê Nossa Notícia/CIR, nov/98)
para rever o parecer anterior da Funai, que ori-
nador Neudo Campos, o consultor sobrevoou a
entava peia demarcação em área contínua. área indígena acompanhado do coordenador do
Na reunião com o CIR, Sullivan Silvestre questi-
MINISTRO DETERMINA
CIR, Jerônimo Pereira da Silva, c do adminis-
onou o parecer de Jobim, alegando inconstitu- trador da Funai em Boa Vista para verificar a
DEMARCAÇÃO DE ÁREA
cionalidade. Sullivan prometeu que até abril a siluaçâo das cinco vilas e das fazendas que fica-
INTEGRAL
questão da demarcação estará encerrada. José ram fora da área, de acordo com o Despacho Em solenidade ocorrida no Palácio do Planal-
Adalberto, do CIR, disse que a expectativa da n° 80, de dezembro de 96, do ex-ministro da to, dia 11 de dezembro, o ministro da Justiça,
entidade é viabilizar algumas medidas, que en- Justiça Nelson Jobim. Renan Calheiros, assinou portaria reconhecen-
volvem a ida de uma comissão de índios à Nas conversas com os índios, o consultor jurí- do como de posse permanente dos índios
Brasília. Quer Uunbém a retirada de garimpei- dico explicou que as áreas consideradas como Malíuxi e Wapixana a área Raposa/Serra do Sol,
ros que irabalham há anos na área e uma cam- terras indígenas pelo Despacho n° 80 não so- com cerca de 1.678.800 milhão de ha, locali-
panha de combate à venda indiscriminada de frerão alterações e que o atuai ministro Renan zada entre os municípios de Normandia e
bebida alcoólica, que tem provocado a morte Calheiros apenas revisará as áreas excluídas por Uiramulã. O reconhecimento daposse deflagra
de vários índios. (Brasil Norte, 16/01/98) Nelson Jobim. Basicamente, ele vai analisar a o processo de demarcação da terra indígena,
situação atual das vilas e fazendas para fazer a que deverá ser homologada em 1999. A porta-
revisão. (ISA, 01/09/98) ria, de n° 820, publicada no DOU de 1 1 de de-
zembro de 1998, declara que a área deverá ser

31Z RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1S9B/20DO - INSTITUTO SDCI0AM3IENTAL


Z^-Acervo
ISA
-j/í
[ ACONTE C EU

demarcada de forma contínua “com ressalvas". de 15 produtores instalados na pane sul e su- ral do CIR, mas não corre risco de vida. Segun-
Uma faixa de 400 ha, próxima a Uiramutã. foi doeste da Raposa, próximo ao rio Surumu, fo- do informou o Cimi, o CIR decidiu fazer uma
excluída pelo ministro para o Exército brasi- ram para lá levados por políticas governamen- assembléia para deliberar sob re a retirada ime-
leiro. tais estaduais de pouco mais de uma década, diata de todos os invasores da área. (Últimas
O anúncio da assinatura da portaria gerou rea- com o deliberado intuito de intrusar os domíni- Notícias/m, 17/02/99)
ção imediata do governador Neudo Campos, que os indígenas e, assim, viabilizar reduções nas
declarou “ser um absurdo e uma falta de res- terras tradicionalmente ocupadas pelas clnias ADMINISTRADOR PEDE
peito ao povo de Roraima e à maioria das lide- da região. DEMARCAÇÃO URGENTE
ranças indígenas, contrárias à demarcação pro- Dois dos produtores de arroz - Paulo César
posta”. O governador declarou também que vai Quartiero e Luiz Afonso Faceio, líderes do mo- O administrador regional da Funai em Boa Vis-
entrar com ação na Justiça, solicitando a anu- vimento dos rizicultores contra a demarcação - ta, Walter Blos, enviou no último dia 29 de mar-

lação da portaria. Segundo ele, a maioria dos estãona região há cerca de 15 anos; os outros ço memorando ao presidente do órgão em
líderes de malocas existentes na área pretendi- chegaram no primeiro mandato do atual gover- Brasília, Márcio Lacerda, informando sobre os
da é contra a demarcação contínua. “Nós te- nador reeleito, Neudo Campos. Foram assenta-
riscos que os índios da Funai
e os servidores

mos uma proposta conciliatória. Cria nove ilhas dos na região com o apoio de subsídios gover-
correm por conta da indefinição acerca do iní-
numa área de aproximadamente 700 mil ha, que namentais para programas de cultivos irrigados cio da demarcação física da TI Raposa/Serra
atende perfeitamente as necessidades de toda - considerados insustentáveis por conta de sua do Sol. No documento, Walter Blos exorta o

população indígena Makuxi e Wapixana", itincrância face à degradação que acarretam nos presidente da Funai, o ministro da Justiça

salientou o governador. solos. Hoje, cultivam 8 mil ha dentro da Ti.


(Renan Calheiros) e a Presidência da Repúbli-
Rizicultores e pecuarisias anunciaram que pre- Do ponto de vista jurídico, os ruralistas que rei- ca a providenciar o início dos irabalhos
tendem distribuir três toneladas de arroz e cin- vindicam parcelas da terra indígenas acumulam demarcatórios e a posterior homologação de

co toneladas de carne para a população em uma perdas. Além de as contestações apresentadas Raposa/Serra do Sol como medida de proteção
manifestação contra a decisão ministerial, pro- em 96 ao Ministério da Justiça, por conta do aos índios. (ISA, 01/04/99)

gramada para a Praça do Centro Cívico, em Boa chamado "princípio do contraditório", terem
Vista. “Não há como fazer o estado crescer se sido consideradas improcedentes pelo ministro MPF INVESTIGA
não houver espaço para o desenvolvimento agrí- Nelson Jobim, Faceio já teve duas iniciativas para CONTAMINAÇÃO NA TI
cola”, analisou um dos empresários. (Brasil permanecer na área frustradas pela Justiça.
A Procuradoria da República do Estado de Ro-
Norte. 12/12; Folha de Boa Vista, 12, 13 e 30/ De acordo com Lang, na primeira delas, o ex-
raima, através da Portaria n° 19, publicada no
12. e DOU, 14/12/98) deputado estadual entrou com uma ação najus-
Diário dajustiça de 20 de abril de 1999, deter-
tiça Federal, em 97, solicitando sua permanên-
minou a instauração de procedimento adminis-
DEPUTADOS E RURALISTAS cia dentro da área até que pudesse amortizar os
trativo para verificar a prática de atividades da-
CONTRA DEMARCAÇÃO investimentos que havia feito na área. Dias an-
nosas ao meio ambiente e às comunidades in-
tes da assinatura da recém-assinada Portaria n°
Depois de tentar convulsionar o abastecimento dígenas que habitam a TI Raposa/Serra do Sol
820, o STJ julgou a ação considerando impro-
de arrozecarne,coma distribuição gratuita de por parte de fazendeiros instalados nas proxi-
cedente seu pleito, Em seguida. Faceio tentou
sua produção em Boa Vista, os produtores de midades do município de Normandia. A inicia-
ainda obter, através de uma mandato de segu-
arroz e os pecuaristas instalados dentro da TI tiva decorre de denúncia encaminhada pelo CIR.
rança, uma liminar para permanecer na terra
Raposa/Serra do Sol decidiram intensificar a De acordo com o processo criminal em curso
indígena. Perdeu, de novo. (Marco Antonío
pressão sobre o Executivo (Funai e Ministério na 2“ Vara Federal de Roraima, a aplicação
Gonçalves/Últimas Notícias, ISA. 14/01/99)
dajustiça) e o Legislativo Federal. O CIR infor- indiscriminada de agrotóxicos na Fazenda Casa
mou que, na última semana, parlamentares de
MAKUXI BALEADO Branca, localizada no interior da TI, cm dezem-
Roraima estiveram reunidos com deputados e bro de 1995, causou grandes danos ambientais
o ministro da Justiça, Renan Calheiros, solici-
POR FAZENDEIRO na região, acarretando a morte de inúmeras
tando a paralisação do processo de reconheci- O índio Makuxi Paulo José de Souza, habitante aves silvestres e graves danos à saúde das co-
mento oficiai da área. Querem que, no mínimo, da TI Raposa/Serra do Sol, foi baleado por um munidades indígenas próximas. Segundo os do-
os trabalhos de campo da demarcação não se- fazendeiro na maloca Willimon, situada próxi- cumentos do processo, as águas provenientes
jam iniciados. mo a Uiramutã. Segundo o CIR, ele não corre dos arrozais da fazenda deságuam justamente
Dias antes (8 de janeiro), advogados da Comis- risco de vida. Os disparos foram dados pelo fa- no igarapé que banha a Aldeia Jauari.
são de Direitos Humanos da Ordem dos Advo- zendeiro Roberto Rodrigues, que sacou sua O procurador regional dos Direitos do Cida-
gados do Brasil (OAB-RR) protocolaram uma arma após uma discussão com Paulo José so- dão, Eduardo André Lopes Pinto, determinou a
ação popular, com pedido de liminar, na justi- bre a demarcação da terra indígena, segundo realização de perícia por técnicos da Superin-
ça Federai, visando barrar o início dos traba- nota do Cimi. Cerca de 300 índios que partici- tendência Estadual do Ibama (RR) para apurar
lhos demarcatórios, A ação foi solicitada pelos pavam de uma assembléia de tuxauas (líderes o lançamento de resíduos tóxicos no igarapé
ni ralistas e por políticos esladuais ao presidente indígenas) se dirigiram até a fazenda de jauari, com vistas a dimensionar os danos ambi-
da OAB-RR, Ednaldo Nascimento. Rodrigues para exigir sua saída da área. entais causados à fauna, flora e aos recursos
Segundo informações de Renato Lang, ex-mem- A escalada de violência em Roraima inclui ain- hídricos da Terra Indígena. O Procurador de-
bro da CPT no eslado e profundo conhecedor da um atentado contra um dos membros histó- terminou ainda ao Centro de Pesquisa
de seu histórico de ocupação desde o período ricos do Cimi. Egon Heck. Ele levou uma facada Agroflorestal de Roraima (CPAF) que envie téc-
militar, as queixas e alegações dos rizicultores de um vaqueiro quando acompanhava um gru- nicos à fazenda para emitir relatório sobre a
são inconsistentes. Segundo ele, todos os cerca po de índios que participava da assembléia ge- uUllzação de agrotóxicos no local e sua ade-

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 313


quação às exigências legais. (Fernando Matinas ESTADO PERDE MAIS Pium, região do Taiano (cerca de 100 km de
Baptista, Últimas Notícias/ISA, 23/04/99) UMA NA JUSTIÇA Boa Vista) e encerrada no dia 4.

Esta proposta, de caráter preliminar, elege sete


A procuradora regional da República, Deborah
STJ LIBERATRÂNSITO áreas a serem contempladas na formulação do
Macedo Duprat de Britto Pereira, da 6* Câmara
DE NÃO-ÍNDIOS de Coordenação e Revisão, emitiu parecer con-
programa: ordenamento e regularização fimdiá-
ria; monitoramento, fiscalização e controle dos
Decisão tomada ontem pelo ministro Aldir Pas- trário ao mandato de segurança impetrado peio zoneamento ecológico-eco-
territórios indígenas;
sarinho, do STJ, permite que o homem branco Governo do Estado de Roraima contra a homo-
nómico participativo; projetos comunitários;
transite pela área indígena Raposa/Serra do Sol, logação da TI Raposa/Serra do Sol. “Nenhuma capacitação técnica e administrativa para os ín-
localizada em Roraima e disputada por índios, prova veio aos autos no sentido de evidenciar a
dios; relações com órgãos governamentais e, por
garimpeiros e mineradoras. A Portaria n° 820, titularidade, por parte do governo do Estado,
fim, cultura - mais espedficamente, a criação
assinada pelo ministro da Justiça Renan das terras que constituem a TI Raposa/Serra do
de um centro cultural indígena em Boa Vista.
Calheiros, impedia que os habitantes que não Sol, o que induz a ausência de direito subjetivo
Os resultados iniciais da implementação dos
fossem descendentes dos grupos indígenas próprio", argumentou a procuradora. Segundo
dois Distritos Sanitários Especiais Indígenas
Ingarikó, Makuxi, Wapixana e Taurepang tran- o parecer de Deborah Duprat, desde 1934 as
(DSEIs) no Estado também foram discutidos,
sitassem pela reserva. O C1R rejeita a mudança constituições brasileiras garantem aos índios a
com a presença do representante da Funasa em
e sustenta que a demarcação em ilhas vai acir- posse das terras ocupadas por eles tradicional-
Roraima. Estão em operação dois DSEIs no es-
rar os conflitos que acontecem na área. De acor- mente, o que, segundo ela, anula os títulos de
tado: um cobre a TI Yanomami e o outro as
do com jerônimo Pereira Da Silva, coordena- propriedades de todos os não-índios que ocu-
demais terras indígenas mais concentradas na
dor do CIR, nove índios foram assassinados pam a área. (Folha de Boa Vista, 04/10/99)
região leste de Roraima. (ISA. 09/02/00)
desde 1988 na região. Pressionado por políti-

cos e por representantes indígenas, Calheiros CIR DEBATE PROJETOS


lenta agradar os dois lados, enquanto aguarda ECONÔMICOS...
GOVERNO FECHA ESCOLAS
o julgamento da Justiça. (A Crítica, 09/07/99)
SE HOMOLOGAÇÃO SAIR
O grande desafio para os índios depois da de-
marcação está sendo a criação de projetos de O governador Neudo Campos está ameaçando
ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS desenvolvimento. Várias idéias estão sendo dis- fechar 138 escolas indígenas dentro da TI Ra-
PEDEM AUDIÊNCIA COM cutidas entre as comunidades, que preveem a posa/Serra do Sol caso esta seja homologada
NOVO MINISTRO participação dos governos e de outras entida-
em área única, como querem os povos Makuxi,
Há Wapixana, Ingarikó, Taurepang e Patamona que
des. projetos envolvendo pecuária, agricul-
Antes de qualquer político ou do governo ten-
tura e ecoturismo na reserva. Depois do incên-
a habitam. A informação foi repassada pelo CIR
tar o primeiro contato para falar sobre demar- em nota divulgada em 18 de fevereiro. Neudo
cação de terras com o novo ministro da Justiça,
dio de 1997, que foi acompanhado de uma gran-
de seca, a Comunidade Européia doou recur- Campos formalizou a ameaça em reunião com
José Carlos Dias, as lideranças indígenas ante- representantes indígenas das organizações
sos para as comunidades indígenas implanta-
ciparam-se e já se articulam para tentar sensi- Sodiur e Arikon, aliadas do governo, que de-
rem sistemas de canalização e poços artesianos
bilizá-lo sobre a questão Indígena. As organiza- fendem o retalhamento da terra indígena.
nas aldeias afetadas. A idéia agora é aproveitar
ções que defendem a demarcação de terras in- Segundo a nota do CIR, a reunião ocorreu em
o sistema para desenvolver unta agricultura
dígenas em área única - e que querem a retira- 17 de fevereiro no Palácio Hélio Campos, sede
irrigada. Os primeiros produtos seriam meian-
da de todos os não-índios de dentro tias reser-
cia e melão.
do governo estadual, c teve como objetivo ela-
vas - pediram ontem uma audiência com o José borar uma pauta de reivindicações a ser levada
Segundo o CIR, na área da Raposa/Serra do Sol
Carlos Dias para o dia 10 de agosto. (Folha de por coordenadores da Arikon e Sodiur ao pre-
há 15 mil cabeças de gado que pertencem aos
Boa Vista, 22/07/99)
sidente da Funai, Carlos Frederico Marés. Em-
índios e este rebanho tende a crescer, com a
compra de mais reses. Sobre o ecoturismo, o bora se trate de explícita retaliação à possível
REPRESENTANTE homologação da Terra indígena, Neudo Cam-
CIR considera que a atividade não será desen-
BRITÂNICO VISITA RAPOSA volvida tão cedo. "Precisamos formar as pesso- pos argumentou que, com o ato, a terra passa-

que entendam como ria s ser patrimônio da União, o que impediria


O secretário do Ministério das Relações Exteri- as para elas vai funcionar
a ação estadual. “O argumento é improceden-
ores da Inglaterra, Paul Taylor, visitou outem a o turismo na reserva”, falou José Adalberto Sil-

va, vice coordenador do CIR. “Estamos buscan- te. Na Ti São Marcos, homologada desde 1991,
TI Raposa/Serra do Sol para conhecer a área
há escolas e professores do estado que atuam
demarcada, mas ainda não homologada pelo do alternativas para que os índios não venham
a encher a periferia de Boa Vista", completou.
sem impedimento legai, A ameaça de Campos
presidente da República. Na véspera da viagem,
(Folha de Boa 16/12/98) tem a intenção de pressionar os líderes da
Taylor manteve audiência com o governador Vista,
Arikon e Sodiur a agirem contra a homologa-
Neudo Campos. O governo cedeu um helicóp-
... E APRESENTA PROPOSTA
ção da área única”, esclarece a nota do CIR.
tero para levar o viajante, junto com o secretá-
(Últimas Notícias/ISA, 18/02/00)
rio da Embaixada Inglesa no Brasil, John DE “PROGRAMA REGIONAL”
Pearson. No encontro, o inglês quis saber so-
O CIR entregou à presidência da Funai, no dia 8
bre o posicionamento do governo do estado
de fevereiro, uma proposta para a formulação
com relação aos problemas existentes nas re-
de um programa regional a ser aplicado em
servas. (Folha de Boa Vista, 17/08/99)
Raposa/Serrado Sol. A proposta havia sido apre-
sentada e aprovada pelos tuxauas da entidade
em Assembléia Geral, realizada na aldeia do

31» RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO 50CI0AMBIENTAL


ÍNDIOS LIGADOS AO em Boa Vista, Walter Blos, e do presidente da
GOVERNADOR DE RR Funai, Carlos Frederico Marés. Repetindo um
EM BRASÍLIA dos bordões do governador Neudo Campos, afir-

mam que a homologação "inviabilizará o de-


Um grupo de 1 5 índios ligados às organizações senvolvimento do estado”.
Arikon, Sodiur e Alicidi montou um protesto No gramado em que estão acampados, na
Esplanada dos Ministérios, os índios fincaram
uma seqüência de dez faixas em tecido, onde
estão inscritas frases contra a homologação.

contra a Igreja Católica e a Funai. Lauro Jorge POLICIAIS TORTURAM MAKUXI


ao lado do prédio do Ministério da Justiça, em Barbosa, vereador do município de liramutã e
Brasília. Contrários à homologação da TI Ra- presidente da Sodiur, disse que a audiência es-
0 CIR divulgou, no último dia 26, que o índio
posa/Serra do Sol em uma área contínua, os Makuxi José Maria dos Santos, conhecido por
tava marcada para hoje. às 17 horas. Na audi-
índios disseram estar esperando para serem Moacir. 45, morador da aldeia Maloquinha, na
ência com o ministro deverão estar presentes
recebidos pelo ministro da Justiça, José Carlos TI Raposa/Serra do Sol, foi espancado na dele-
uma liderança indígena e vários parlamentares
Dias, a quem pretendem reivindicar não ape- gacia da vila Surumu, que fica próxima à aldeia,
de Roraima, entre os quais o presidente da CPI
nas o parcelamento da área em questão como no dia 13 de julho. Segundo relato da vítima,
da Funai, deputado Alceste Almeida (PMDB).
também a destituição do administrador da Funai dois policiais militares, conhecidos por Leilton
(ISA, 05/04/00)
e Cabo Clóvis, o abordaram às três da tarde do
dia 13, ([uando retomava para sua aldeia, após
DEU NA VEJA
comprar mantimentos em Surumu. Segundo Mo-
(Veja, 19/04/00) acir, os policiais militares queriam informações
sobre roubo de gado na região, não acreditaram
Reserva de branco
quando o Makuxi disse não ter conhecimento
O governo federal estuda a criação de uma do rouho e o levaram para a delegacia "onde ele
000 quilómetros quadrados
reserva indígena de 16 teria que dizer onde estava o gado”.
na área de Raposa-Serra doSol, no nordeste do
Segundo o informe do CIR, na delegacia Moa-
Estado de Roraima. Como já há 85 000
quilómetros quadrados comprometidos
cir foi humilhado e brutalmente espancado com
com os índios, quase metade do Estado socos e pontapés para confessar um suposto cri-
estará reservada aos povos indígenas, que ^ me e submetido a sessões de tortura na delega-
equivalem a 7% da população local. Somadas as
cia de Pacaraima, para onde foi transferido. As
áreas de uso exclusivo do Exército, as reservas A nove da manhã do dia seguinte, sem ter se ali-
ecológicas e as regiões inabitáveis, vai sobrar
pouco para quem não é índio. O mapa mostra r _
mentado e com diversas hemorragias, Moacir
como o Estado está dividido foi conduzido por agentes da Funai para Boa
Vista, capital do estado. Conforme diagnóstico
Área Parcela x
(em quilômetros) em relação do médico de plantão, o indígena deu entrada
ao total com politraumatismo em conseqüência de es-

Total 225116 pancamento. Pai de oito filhos, Moacir saiu às


1 lh50 da manhã do dia 26 da Unidade de Saú-
I
Reservas indígenas* •100 965 45 %
de, ainda apresentando problemas clínicos, en-
I
Reservas ecológicas -13169 6%
tre eles amnésia e surdez parcial, ocasionada
|
Áreas do Exército -»47 1 % pela ruptura do tímpano do ouvido direito, con-
|
Áreas alagadas -111)4 6% seqiiência da agressão que sofreu.
1 Áreas montanhosas -5 94i 2% O CIR comunicou o crime à Funai, Ministério
| Sobram 88 898 40 % * Inclui ír*» Rapou-Setr» do
Público e PF. No período em que esteve inter-
nado as investigações não avançaram, pois o in-

dígena não tinha condições físicas e psicológi-


cas de falar sobre o ocorrido. A comunidade
Maloquinha teme por novas agressões, pois os
dois policiais continuam no destacamento de
Surumu. Desde janeiro de 99, o policial Leilton
responde inquérito por abuso de autoridade
contra indígenas, porém nunca foi punido. (ISA,
31/07/00)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 315


-

CAMPANHA CONTRA HOMOLOGAÇÃO


A elite mraimense parece ter ensandecido de vez para forçar uma conversa com o presidente do tas". 0 recado é dirigido diretamente ao presi-
face à iminente homologação da demarcação da órgão. Carlos Frederico Marés. Tm dos protagonis- dente Fernando Henrique, cujo chefe da Casa Ci-
Terra Indígena Raposa/Serra do Sol Desde o iní- tas, o índioJosé Not ais (da Sodiur), agradeceu pu- vil,ministro Pedro Parente, tem sido constante-
cio do ano, quando começaram a circular os pri- blicamente ao governador os alimentos e o trans- mente visitado por parlamentares do estado des-
meiros rumores de que a Presidência da Repúbli- porte fornecidos para a ocupação. Marés esteiv no de o início do ano. 0 último lance da campanha
ca assinaria o decreto que homologa a demarca- local, conversou com os índios e disse-lhes que a contra a demarcação de terras indígenas ocor-
ção dos 1.678.800 ha da área parlamentares, fa-
,
definição sobre os limites da área seguiria o que reu em abril, quando um indeo institucional, as-
zendeiros e o próprio governo de Roraima patro- manda a Constituição. Por incrível que pareça, sua sinado pela Assembléia Legislativa, foi veiculado
cinam uma escalada de hostilidades contra os resposta motivou um pronunciamento do sena- em emissoras de TV em horário nobre. ( Marco An -
índios e seus aliados - especialmente a Diocese dor MozarUdo Cavalcanti (PFL) no plenário do lonio Gonçalves, Parabólicas/ISA, abr/00)
de Roraima, a Funai e algumas ONGs. Senado, numa vazia sexta-feira,
A animosidade alcançou seu ponto máximo no 3 de março. MozarUdo, um dos lí-
início de março, quando duas missionárias cató- deres da campanha contra a ho-
licas, acompanhadas de alguns índios, foram in- mologação da Raposa, considerou
terceptadas em uma ponte sobre o rio Ereu, a ca- a resposta um acinte aos índios,
minho de uma comunidade indígena. Os prota- passando a condenar o presiden- DEMARCAÇÃO JA!
gonistas da emboscada, cerca de 30 pessoas, en- te da Funai por seus vínculos
tre as quais fazendeiros da região, retiraram sob pregressos com a sociedade civil
ÁREA CONTÍNUA NÃOUl
impropérios lodos de dentro de uma caminhone- organizada (as ONGs).
te D-20 e a lançaram no rio. Os emboscados fo- Na semana seguinte, outro parla- MOVIMENTO POR RORAIMA
ram obrigados a caminhar até a comunidade Ca- mentar roraimense, desta vez o
jueiro, distante 30 km da ponte. deputado Francisco Rodrigues
Embora o incidente não tenha ocorrido dentro de (PFL), tomou o microfone do ple-
Raposa/Serra do Sol, ele compõe uma coleção de nário da Câmara para denunciar FUNAI
|

atos intimidatórios, não raramente violentos, que o complô para internacionalizar


cspocam em vários pontos do estado. Segundo o a Amazônia. Como prema de sua
FUNDAÇÃO NACIONAL...
Conselho Indígena de Roraima (C/R), episódio tese. Rodrigues leu parte de um DE QUEM? PARA QUEM? DE QUAL PAÍS?
semelhante havia Morrido dois dias antes, desta documento assinado por um Mo- DEMARCAÇÃO EM ILHAS JAU!
tez envolvendo uma tropa de 90 policiais milita- vimento de Solidariedade Ibero- MOVIMENTO POR RORAX
resfortemente armados, que montaram uma bar- Americana, intitulado "A ecodi- I
'“g
reira tuicomunidade Urucuri, dentro de Raposa. tadura anglo-americana”. 0 tex-
Na ocasião, os policiais abordavam e hostilizavam to acusa a existência de “uma
os índios, afirmando que pretendiam prender lí- ofensiva internacional das ONGs
deres do CIR, inclusive seu coordenador geral, vinculadas à Casa de Windsor", OÃ/G^sSâo querem o nosso bem!
Jerônimo Pereira da Silva. Semanas antes, o pró- cujo propósito seria impor “uma
prio governador Neudo Campos (PPB) havia ame- ordem malthusiana " sobre a Ama-
Elas querem nossos bens!!!
açado fechar todas as 138 escolas indígenas que zônia para mantê-la despovoada
mantém dentro da área indígena caso o Executi-
vo federal homologasse sua demarcação de acor-
e impedir seu desenvolvimento.
Em seguida, o documento estabe-
DEMARCAÇÃO EM ILHAS JÁ!!!

do com a proposta da Funai. lece nexos entre a internacio-


nalização da região e um acordo
CAMPANHA NACIONAL internacional assinado pelo pre-
0 ambiente
Nós também achamos ...
hostil fomentado pela elite de sidente Fernando Henrique (espe-
Roraima não é novo e não se restringe à sua zona cificamente, a adesão à campa-
rural. Hoje, ressoa em outdoors espalhados ftela nha do WWFpara garantir 10% da
capital do Estado, Roa Vista, e por Brasília, em Amazônia protegida) bem como
A DIOCESE E NOCIVA A SOCIEDADE
DE
jornais controlados por políticos locais e pronun -
as nomeações de profissionais
ciumentos feitos nos plenários da Assembléia com histórico de lida vinculado ASSOCIAÇÃO DOS ARROZEIROS
Legislativa e até do Congresso Nacional Trata- ao movimento socialpara cargos
se de uma campanha, que inclui também a co- nos ministérios do Meio Ambien-
laboração de algumas dezenas de índios cujas te e Justiça, Carlos Frederico Ma-
demandas, suspeita-se, são financiadas por rés é citado como ex-presidente do
1 NÃO ACEITAMOS 0 APARTHEID QUE QUEREM
Campos e por fazendeiros locais. Reunidos em uma das ONGs mais ativas
ISA, "

torno das organizações Sociedade dos índios na campanha contra as hidrovias IMPLANTAR EM RORAIMA
Unidos de Roraima (Sodiur) e Associação dos brasileiras”.

Povos Indígenas dos Rios Quino e Cotingo Ari (. Menos hostil que o discurso do de- DEMARCAÇÃO EM ILHAS JÁ III

km), esses índios têm o papel deforjar urna base putado Francisco Rodrigues, as MOVIMENTO POR RORAII

indígena contra a homologação da Raposa/Ser- dezenas de outdoors espalhados


!

ra do Sol. Curiosamente, reivindicam menos ter- Roa Vista - e que, inclusive,


ras para os índios e mais para fazendeiros.
ftor
migraram jxira algumas avenidas NEUD0 11 '
Segundo informações do CIR, em meados defeve- de Brasília - clamam contra o que
reiro, essas "lideranças ',
após uma audiência com a Assembléia Legislativa de “"MOZARUDO 11 i f

o governador Neudo Campos, invadiram a sede da Roraima, que assina a mensagem,


Administração Regional da Funai em Roa Vista considera “ demarcações injus-

316 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


•Ijl* Acerva
SA
_//vC I
[ACONTECEU
JIIÍZ NOMEIA COMISSÃO Constituição Federal legitimao Congresso Naci- DOM APPARECIDO
PARA LAUDO onal para “sustar os atos normativos do Poder ASSUME DIOCESE
Executivo que exorbitem o poder regulamentar
0 juiz federal do fórum de Boa Vista, Helder ou dos limites de delegação legislativa”. Segun-
A Santa Sé nomeou o presidente do Cimi, dom
Girão Barreto, nomeou, no 21 de julho, uma co- do sua justificativa, com a declaração da posse
Apparecido José Dias, bispo de Roraima em
missão formada por cinco membros, todos pro- indígena sobre a área, “o Estado (de Roraima) substituição a dom Aldo Mongiano, que esteve
fessores universitários, para analisar e emitir lau- à frente da Diocese do estado nos últimos 20
vê suas possibilidades de progresso seriamente
do técnico-científico sobre a demarcação da TI comprometidas, uma vez que está impossibili- anos. Roraima é conhecido inlernacionalmen-
Raposa/Serra do Sol. A decisão do juiz refere-se te pela violência praticada contra os índios, que
tado de incluir quase metade de seu território
à Ação Popular impetrada pelos advogados em qualquer projeto de desenvolvimento".
contam com uma população superior a 30 mil
Silvino Lopes da Silva, Alcides da Conceição Lima Mozarildo cita especificamente “inúmeras fazen-
pessoas. Dom Apparecido tem 64 anos e tor-

Filho e Luiz Hitler Briíto de Lucena (falecido), nou-se bispo de Registro, interior de São Pau-
das produtivas (sic) lá estabelecidas há deze-
contra a Portaria 820/98, do Ministério da Jus- nas de anos”, que teriam sido prejudicadas pela
lo, em 1975. Para dom Aldo, “o fato de a Santa
tiça, que demarcou a TI de forma contínua. decisão.
Sé ter indicado dom Apparecido é uma prova
A Ação Popular, interposta no dia 8 de janeiro O argumento do senador Mozarildo do compromisso que a Igreja tem com os po-
Cavalcanti,
de 1999, pede a suspensão dos efeitos da Por- vos indígenas de Roraima, cuja Diocese enfrenta
essencialmente político, foi contestado pelo pa-
taria 820/98, do Ministério da Justiça, assina- recer do senador acreano Tião Viana, que, além
problemas graves”. Ele lembra que, quando as-
da pelo então ministro Renan Calheiros, com de reconhecer a legitimidade do Executivo fe-
sumiu a Diocese predominava entre os índios
base no argumento de que a demarcação de deral para determinar a demarcação de terras
uma desesperança, tal a situação de explora-

Raposa/Serra do Sol, em área contínua de 1,6 ção e pressão que enfrentavam. Junto aos índi-
indígenas no país, lembra que a Constituição é
milhões de ha, atende a interesses de potências os, a Diocese mantém atendimento na área de
clara em relação à posse e ao usufrulo exclusi-
estrangeiras que pretendem internacionalizar vo indígena sobre as (erras que tvadicionalmente
saúde, com a manutenção, há 30 anos, de um
a Amazônia, e para isso, estariam usando ONGS ocupam, segundo preceitos expressos em seu
hospital e dois grandes postos, além de 80 me-
e a Funai. Artigo 231. “Percebe-se claramente que a am- nores, espalhados nas aldeias. Também realiza

Os advogados da União e Funai, solicitaram que trabalhos nas áreas de educação jurídica e auto-
plitude dos direitos conferidos aos índios (pela ,

os autores fossem ouvidos e pediram o fim da sustentação, através de vários projetos. (O li-
Constituição em vigor) não oferece ensejo à
Ação, argumentando que contra um ato admi- possibilidade de restrições decorrentes dos fa-
beral, 29/06/96)
nistrativo não caberia Ação Popular, Porém, o tos referidos na justificativa da proposição em
juiz alegou que “o ato administrativo sob crivo exame”, argumenta o senador do PT, rejeitan-
CIR TENTA IMPEDIR ELEIÇÕES
produz efeitos concretos e é passível do crivo do o projeto “em virtude de apresentar vícios índios das Tis Raposa/Serra do Sol e São Mar-
judicial". insanáveis de inconstitucionalidade”. (Marco cos ameaçam impedir as primeiras eleições
A atitude de Girão preocupa as comunidades Antonio Gonçalves/ISA, 13/09/00) municipais de Uiramutã e Pacaraima, emanci-
indígenas que habitam a Raposa/Serra do Sol,
pados no fim de 1995. As duas vilas de garim-
pois, a Ação Popular que parecia fadada ao es-
peiros, que se transformaram em sedes dos dois
quecimento, é ressuscitada no momento em que GERAL municípios, ficam dentro das respectivas áreas
organização indígenas e não-indígenas cobram
indígenas. Os índios se reuniram no último dia
a homologação pelo presidente da República, SEIS MIL ÍNDIOS 16, em Boa Vista, capital do estado, e adverti-
Fernando Henrique Cardoso. Um Mandado de NAS ESCOLAS DE RORAIMA ram que haverá derramamento de sangue se as
Segurança com pedido Liminar, contra a Por-
eleições uão forem suspensas. “Decidimos que
taria 820/98, impetrado pelo Estado de Rorai- Cerca de 6 mil crianças indígenas estão matri-
nãovai ter eleição, com ou sem liminar dajus-
ma, obteve Liminar Parcial do Superior Tribu- culadas em escolas de educação indígena espa-
Ficamos 20 anos tentando resolver o pro-
tiça.
nal de Justiça, “inviabilizando” a homologação lhadas pelo estado de Roraima. Até o fim do ano
blema pacificamente. Agora chegou o momen-
da terra dos Makuxi, Mapixana, Ingarikó e passado, eram 129 escolas atendendo aos índi-
tode decidir, nem que seja pela força”, disse
Taurepang. (CIS, juI/00) os, Este ano as comunidades indígenas de
ontem em Brasília o índio Makuxi José
Bonfim e Boa Vista receberam mais dez esco-
Adalberto, vice presidente do CIR. (O Globo,
las, sendo oito novas c duas reativadas. Dos 364
REJEITADO PROJETO 21/09/96)
professores contratados, 309 são índios e 55
QUE SUSTA DEMARCAÇÃO
não-índios, com cursos de qualificação ofere-
TROPAS PARA
Em sessão realizada hoje pela manhã, a Comis- cidos durante o ano.
são de Assuntos Sociais do Senado Federal apro- Com a criação do primeiro magistério indígena
GARANTIR O PLEITO
vou por unanimidade parecer do senador Tião do país, implantado no estado em 94, foi possí- Temendo conflitos durante a eleição nos muni-
Viana (PT-AC) que rejeita o Projeto dc Decreto vel atender os professores de todas as tribos da cípios dc Uiramutã e Pacaraima, tropas do Exér-
Legislativo (PDL) n° 106, dc autoria do sena- região. As escolas indígenas primárias adoiam cito c da PF foram deslocadas para essas áreas
dor Mozarildo Cavalcante (PFL-RR) que susta ,
a cartilha “Aprendendo com a Natureza" para a fim de garantir a normalidade das votações.
os efeitos da Portaria n" 820, de 1 1 de dezem- ensinar aos alunos indígenas a Língua Portugue- Cansados de esperar por uma decisão do mi-
bro de 1998, que declara a posse permanente sa. O livro e o caderno de exercícios foram edi- nistro da Justiça, Nelson Jobim, os índios resol-
indígena sobre os 1,6 milhão de ha da Terra tados em 89 e elaborados por 15 professores veram mobilizar e realizar a demarcação da área

Indígena Raposa/Serra do Sol. indígenas Makuxj e Wapixana e por cinco téc- Raposa/Serra do Sol por conta própria e, com
Apresentado ano passado, o PDL do senador nicos da Secretaria de Educação do Estado. (O isso, impedir a emancipação da vila de
por Roraima argumenta que o Artigo 49 da Diário - Boa Vista, 16/04/96) Uiramutã. (OESP, 03/10/96)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIGAMBiENTAL RORAIMA LAVRADO 317


ACÃO NO STF CONTRA CER construirá no local. Os recursos para a obra Assembléia Legislativa para entrar em pauta de
CRIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS (Rí 275 mil) foram aprovados pelo ministério, votação. A nora secretaria tem por finalidade
faltando apenas a conclusão do projeto execu- promover a integração das entidades que atu-
Há dois dias das eleições municipais, o procu- tivo para sua liberação. Segundo o presidente am cm defesa da causa indígena, como a Funai,
rador geral da República, Geraldo Brindeiro, da CER, engenheiro Augusto Iglesias Ferreira, o CIR e Apir, no sentido de definirem prioridades
resolveu atender aos apelos das comunidades projeto deverá estar pronto no início do próxi- e as etapas de planejamento das ações para a
indígenas de Roraima e de ONGs, protocolando mo mês. “Em março o dinheiro já estará na melhoria da qualidade de vida das populações
no STF uma ação de inconstitucionalidade con- CER”, garante. indígenas.
tra a instalação dos municípios de Uiramutã e A usina será construída na igarapé do Paiuã, O orçamento da Secretaria do índio previsto
Pacaraima, localizados dentro de tetras indíge- mais precisamente na Cachoeira do Inferno, a para o ano que vem é de R$1 ,8 milhão. Só com
nas. A construção de prédios públicos dentro cinco km da. sede do município. Suas obras in- a folha de pagamento do pessoal, a nova secre-
das reservas caracteriza invasão, pelo estado, cluem uma barragem de três metros de altura taria deve desembolsar R$ 46 mií mensais. O
de áreas pertencentes à União. O procurador para manter o níve! mínimo das águas do reser- projeto prevê a contratação de 53 funcionári-
baseou sua ação no arí. 231 da Constituição vatório, casas de força onde serão instalados os, dos quais 17 cargos de chefia, a compra de
Federal, que expressa claramente que as terras uma turbina de 100 KW, equipamentos eletrô- três veículos, móveis e utensílios. Consultado a
tradicionalmente ocupadas pelos índios são nicos e um grupo gerador, além de uma respeito do novo projeto do governo do esta-
propriedade da União, para usufruto exclusivo subestação de 150 KVA, que energizará a rede do, o vice coordenador do CIR José Adalberto
,

das comunidades indígenas que nela habitam. de alta tensão. Essa rede terá cinco km de ex- rebateu :
“É mais um cabide de emprego”. Para
(Folha de Boa Vista, 08/10/96) tensão e fará a ligação entre a usina e a sede de ele, se o governo estivesse interessado reabnen-

Uiramutã. Atualmente o suprimento de energia te em cumprir as promessas da nova secreta-


ÍNDIOS IMPEDEM POSSE DE elétrica na localidade é feito por uma usina ria, bastava estruturar o DAI. Adalberto acredi-
VEREADORES E PREFEITOS te.rméletrica que só fica ligada 1 4 horas por dia. ta que a proposta do governo é muíto mais po-
(O Diário - Boa Vista, 21/02/97) lítica do que administrativa. (Folha de Boa Vista
índios Makuxi e Wapixana iniciaram a auto-
e Diário, 11/11/98)
demarcação das áreas indígenas de Roraima e

protestaram contra a criação dos dois novos


MAIS USINAS
ÍNDIOS EXPULSAM ADVOGADO,
municípios, rcccm-emancipados. As eleições O DNAEli, do Ministério das Minas e Energia,
não chegaram a ser prejudicadas, mas os índi-
QUE RECORRE À JUSTIÇA...
publicou despachos sobre a implantação de 44
os já ocuparam os terrenos destinados às sedes usinas termelétricas pela CER em municípios de Expulso da Funai por índios liderados pelo CIR
da prefeitura e Câmara Municipal de Uiramutã, Roraima, todas com potência inferior a 500 ltW. e Apir, o advogado da Funai, Wilson Précoma,
dentro da área Raposa/Serra do Sol. Com isso, O documento informa que duas das usinas de- afirmou que vai entrar com um mandato de se-
a posse dos prefeitos e vereadores está impedi- verão ser instaladas cm Pacaraima (TI São Mar- gurança na Justiça Federal para continuar tra-
da. O ministro da Justiça, Nelson Jobim, e o cos) e três em Uiramutã (TI Raposa/Serra do balhando no órgão. O administrador da Funai
presidente da Funai, JiíUo Gaiger, devem che- Sol). (DOU, 22/09/97) em Boa Vista, Walter Blos, continua a afirmar
gar amanhã à área. que a decisão dos índios é válida, porque fo-
Os índios Makuxi e Wapixana participam ativa-
ADVOGADO E ADMINISTRADOR ram eles que indicaram o advogado para tra-
mente da vida política da região e sempre fize-
DA FUNAI EM LITÍGIO balhar no órgão indigenista. Segundo Blos, so-
ram questão de votar e ter seus próprios candi- mente a Presidência da Funai pode decidir a
datos. O município de Alto Alegre, a noroeste O advogado da Funai Wilson Précoma, acusou situação de Précoma, inclusive se ele vai ser
de Roraima, elegeu o tuxaua Pereira como novo o atuai administrador da Funai, Walter Ni cano r redistribuído para outro setor. O coordenador
prefeito. A eleição para os dois municípios foi Blos, de responsabilidade pela utilização do CIR, Jerônimo Pereira da Silva, disse que a
garantida por um mandado de segurança indevida de combustível e desvio de diárias pa- entidade pediu a substituição do advogado e
impetrado pelo governo do estado. Dois dias gas aos servidores. Em nota de esclarecimento deixou a critério da Funai o nome de quem
ames da ergueram duas
eleição, os índios publicada em jornais de Boa Vista, Blos decía- deverá ocupai* o cargo. (Folha de Boa Vista,
malocas nos terrenos destinados às sedes da rou-se articulado às associações indígenas C1R 06/11/98)
prefeitura e da Câmara Municipal de Uiramutã, e Apir, cujas diretorias confirmam total confi-
interrompendo as obras dos prédios. A PM foi ança no trabalho executado pela Administração ... E REASSUME
chamada ao apreendeu algumas armas da Funai As duas organizações manifesta-
local e local.
PROCURADORIA DA FUNAI
de fogo e uma caminhonete D-2G, de proprie- ram, ao presidente da Funai, indignação com
dade da Diocese de Roraima, O carro estava as denúncias, que consideram improcedentes. Por decisão do juiz Helder Girão, o procura-
dando apoio aos índios, carregando estacas para Uma comissão de sindicância nomeada pela dor da Funai, Wilson Précoma reassumiu a fun-
a demarcação. (A Crítica, 09/10/96) presidência do órgão deverá apurar as alega- ção da qual havia sido afastado. Précoma foi

ções do advogado. (Brasil Norte, 01/10/98) impedido de trabalhar pelos índios, que inva-

UIRAMUTÃ PLANEJA diram sua sala no escritório do órgão


indigenista oficia! e ficaram vigiando o local
HIDRELÉTRICA DENTRO DA TI GOVERNO PROPÕE CRIAÇÃO
para impedir que o advogado retornasse. (Bra-
Técnicos do Ministério das Minas e Energia
DE “SECRETARIA DO ÍNDIO"
vi- sil Norte, 28/11/98)
sitaram ontem a sede do município de Uiramutã Promessa de campanha do governador Neudo
para fazer os últimos levantamentos do projeto Campos (PPB), a criação da Secretaria do ín-
executivo da Micro Central Hidrelétrica que a dio aguarda parecer da consultoria jurídica da

318 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIGAMBIENTAL


OAB PEDE AFASTAMENTO DE Legislativa, Rosa Rodrigues, e o deputado Gelb ESTADO VAI CONTESTAR
CHEFIAS DA FUNAI E FIJNASA... Pereira disseram que o bispo se excedeu. Eles NOVAS TIS
acusaram a Igreja Católica de subliminarmente
Em ofício encaminhado aos ministérios da jus- O governador Neudo Campos (PPB) vai nome-
incitar os índios à segregação social. A parla-
tiça e da Saúde, a seccional da OAB de Roraima, ar hoje uma comissão parar contestar, desde o
mentar entende que a Igreja cumpre seu papel
através do conselho federal da entidade, pediu início, três novos processos de criação de áre-
em defender as comunidades indígenas com
o afastamento do administrador da Funai, as indígenas no estado. Essa comissão será pre-
base em preceitos que acredita corretos. Mas,
Waíter Blos, e do diretor da Funasa em Roraima, sidida pelo procurador geral de Justiça do Es-
afirma que o radicalismo discrimina outros seg-
Hiran Gonçalves. Encaminhado há um mês, o mentos (|ue também precisam de apoio e são tado, Fuciano Alves de Queiroz, com a partici-
pedido ainda não recebeu resposta. Os pedi- pação de representantes dos municípios de São
tão carentes quanto os índios. “Acho que a Igreja
dos foram motivados pelas denúncias feitas Luiz do Anauá, São João Baiiza, Caroebe,
deve cuidar das almas de índios e não índios,
contra eles pelo procurador jurídico da Funai, 1
Caracaraí e Bonfim. O estado não concorda com
sem discriminação' .

Wilson Précoma, que os acusa de envolvimento as pretensões já anunciadas pela Funai de de-
O prefeito de Boa Vista c ex-governador Ottomar
na morte de 40 índios, no desvio de combustí- marcar as terras dos índios Wai-Wai (ampliada
Pinto (PTB) reagiu às críticas de dom Appareddo
vel e no uso indevido de viaturas das duas insti- afirmando que “o meu pastor não eslá trilhando de de 330 mil para 403 mil ha), Trombelas-
tuições em campanha política. (ISA, a partir o caminho da justiça cristã". Ottomar Pinto as- Mapuera (interditada desde 1987, com 2 mi-
de Diário de Boa Vista. 02/12/98)
em lhões de ha) e Muriru, com 5.520 lia. Essas áre-
sentou, 1980, várias famílias de agricultores
dentro da TI São Marcos, no Samã, quando a as envolvem parte desses municípios, por isso
... MANIFESTA APOIO
E área já estava em processo de demarcação pela os prefeitos vão participar da comissão. (ISA, a
PÚBLICO A PRÉCOMA Funai. Um dos assentados foi o japonês Masalúro partir de Folha de Boa Vista, 23/07/99)

Em nota veiculada na imprensa local, a seção Sotodate, que hoje se nega a sair da área e en-
de Roraima da OAB oficializou seu apoio às
frenta protesto dos índios do Samã. (Folha ele CPI DA FUNAI EM RORAIMA
denúncias do advogado da Funai, Wilson Boa Vista, 08 e 13/07/99)
Uma comitiva de sete deputados que compõem
Précoma. Em sua defesa, a OAB Roraima de-
a CPI que investiga os procedimentos para a
nuncia que o advogado eslá sofrendo retalia- FUNAI EXONERA
demarcação de terras indígenas e a atuação de
ções e ameaças dos dirigentes da Funai e da ADMINISTRADOR REGIONAL... ONGs conveniadas com a Funai embarca hoje
Funasa de Roraima. Précoma vem acusando os
O presidente da Funai, Márcio Lacerda, exone- para Boa Vista. O roteiro aprovado pela CPI in-
órgãos federais de negligência funcional, res-
rou Wídtcr Blós do cargo de administrador re- forma que amanhã a comitiva parlamentar se
ponsabilizando-os por óbitos nas comunidades
gional da Funai em Roraima. O vice coordena- deslocará para a TI Raposa/Serra do Sol, cuja
indígenas. (Folha de Boa Vista, 20/12/98)
dor do CIR, José Adalberto, disse que as lide- demarcação está obstruída por força das pres-
ranças indígenas estão indignadas com a deci- sões que o governo e a bancada roraimense
G7 FINANCIA DEMARCAÇÕES exercem sobre o Executivo federal. Em Rapo
são. Segundo ele, o Conselho já encaminhou
EM RORAIMA ofício ao presidente da Funai solicitando infor- sa/Serra do Sol, os deputados deverão visitar a

0 governo brasileiro está disponibilizando ver- mações sobre as razões do afastamento. aldeia Maturuca e, em seguida, sobrevoar as

bas do Projeto Integrado de Proteção às Terras À saída de Walter Blós da administração regio- plantações de arroz de não-índios instaladas na

nal da Funai não eslá ligada apenas à decisão região do rio Surumu, dentro de terras indíge-
e Populações Indígenas da Amazônia Legal Bra-
sileira (PPTAL) - financiado peio Programa Pi- administrativa por aplicação ou não da política nas. Daí, a comitiva seguirá para as aldeias Can-
indigenista. A presença de Blos e sua defesa da tão e Malacachela. Para o dia 11, está agendada
loto para a Proteção das Florestas Tropicais do
Brasil, dos sete países mais ricos do mundo consolidação das demarcações de terras no es- audiência pública na Assembléia Legislativa de

(PPG7) -, para demarcar sete novas áreas indí- tado incomoda a elite política de Roraima, que Boa Vista, e no último dia de permanência no
genas que estão em processo de reconhedmen- pressionaram Brasília para destiluí-lo. No mês estado (dia 12), uma visita à Terra Indígena

lo, a maioria nas regiões de Alto Alegre e Serra passado, Walter Blos criticou o ministro da Jus- Yanomami - mais especificamente, à base mili-

da tua. Três dessas terras já foram Identificadas Renan Calheiros, por conta da demora na
tiça, tar de Surucucus e, em seguida à aldeia Demini.
recentemente pela Funai: Boqueirão, Jacamim homologação da TI Raposa/Serra do Sol. (ISA, A visita a Roraima tem o objetivo de produzir
a partir de Folha de Boa evidências de que as terras indígenas e as uni-
e Muriru. As demais foram identificadas ao lon- Vista, 1.3/07/99)

mas em dades de conservação inviabilizam o desenvol-


go dos últimos dez anos, estão proces-
vimento econômico do estado, tese brandida
so de reestudo para aumentar o tamanho das E LIDERANÇAS EXIGEM
...
recorrentemente pelos parlamentares do esta
áreas: Barata/Livnunento, Taba Lascada, Moscou PRESENÇA DE PRESIDENTE
e Wai-Wai. Essas áreas indígenas são menores e
do. A visita às plantações irrigadas de arroz si-

estão espalhadas ein várias regiões do estado de A exoneração do administrador da Funai, Walter tuadas dentro de Raposa/Serra do Sol tem es-

Roraima. (Folha de Boa Vista, 29/12/98)


Blós, está sendo discutida por cerca de 60 lide- treita relação com essa estratégia. As duas fa-

ranças indígenas que estão reunidas, desde on- zendas produtoras de arroz irrigado listadas no
tem à tarde, na Missão Católica do Surumu. Se- roteiro de visiias da CPI são de propriedade de
POLÍTICOS ESTADUAIS
gundo o vice coordenador do CIR, José Adal- Paulo César Quartiero e Luiz Afonso Faceio, que
E BISPO EM CONFLITO
berto, os índios estão esperando a resposta do lideravam as manifestações contrárias à assi-
Deputados estaduais rebateram ontem as criti- ofício encaminhado ao presidente da Funai, natura da portaria ministerial que determinou
cas do bispo de Roraima, dom Appareddo Dias, Márcio Lacerda, no qual solicitam que ele ve- a demarcação da Raposa/Serra do Sol, em ja-

de que os políticos do estado desrespeitam as nha a Roraima esclarecer detalhadamente a sa- neiro. Seus cultivos foram implantados com in-

leis. A presidente em exercício da Assembléia ída de Blós. (Folha Boa Vista, 15/07/99) centivos fiscais do estado e recursos do Banco

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 319


)

do Brasil - que nunca foram pagos, gerando uni pelo governo e se opõem ã demarcação inte- fronteiras, me parece bastante estranha”, ana-
escandaloso desfalque aos cofres da casa ban- gral de sua própria terra”. De acordo com a lisou. (Folha de Boa Vista, 16/09/99)
cária - dentro dos limites da área indígena, ig- nota, a comitiva da CPI só chegou a Maturuca
norando o processo de demarcação conduzido às I6h30, quando muitas lideranças indígenas WALTER BLÓS
pela Funai à época. (Marco Antonio Gonçal- já haviam deixado o local por acreditar que não REASSUME FUNAI
ves/ISA, 09/09/99 haveria reunião, “Àquelas horas os tuxauas sa-
Empossado no último dia 1 1 de novembro, o
biam que não haveria mais tempo para uma dis-
novo presidente da Funai, Carlos Frederico Ma-
CPI É AGUARDADA cussão séria e adequada sobre os assuntos da
rés, nomeou Walter BIós para administrar o
CPI”, alega o documento.
POR 2,5 MIL ÍNDIOS órgão indigenista cm Roraima, em substituição
Segundo o CIR, a atitude da CPI não causou sur-
a Dismar Mesquista, à frente do órgão há ape-
O CIR divulgou nota informando que 2.500 ín- presa, já que os parlamentares de Roraima que
nas quatro meses. O nome de Walter BIós, que
dios estarão amanhã recepcionando os parla- a integram são contrários aos direitos dos índi-
havia sido exonerado do cargo por ter critica-
mentares da CPI na aldeia Maturuca, coração os e apoiam os invasores de Raposa/Serra do
do o ex-ministro Renan Calheiros pela demora
da Raposa/Serra do Sol”. ”0 CIR articula uma Sol.“O que nos surpreendeu e preocupou foi a
na homologação da TI Raposa/Serra do Sol, foi
das maiores mobilizações indígenas já ocorri- presença do presidente da Funai, Márcio
uma indicação do CIR. Sua retionieação foi
das em Roraima com a finalidade de questionar Lacerda, e do administrador local da Funai,
divulgada no fim de semana passado, durante
os parlamentares sobre a verdadeira intenção Dismar Mesquita (substituto de Walter Blos),
encontro organizado pela Coiab, em Manaus
da CPI”, informa a nota, que afirma que a CPI que acompanhavam a comitiva da CPI”. A nota
(AM). (ISA, a partir de Folha de Boa Vista,
em questão "foi criada para atrapalhar a demar- do CIR acusa o presidente da Funai de “coni-
15/12/99)
cação da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol”. vência" com os propósitos da CPI e que prova
“Ao invés de se preocuparem com o cumpri- disso é o relator da Comissão, deputado Antô-
DEPUTADOS REAGEM
mento da lei, que determinava a demarcação de nio Feijão (então no PSDB-AP), ter divulgado
À VOLTA DE BLÓS
todas as terras indígenas até 1993, os deputa- na visita ao estado que terá audiência com
dos, principalmente de Roraima, usam a CPI Márcio Lacerda para tratar da anulação do pro- Deputados estaduais e federais de Roraima cri-

como moeda de barganha política", afirma na cesso de demarcação da TT Raposa/Serra do Sol. ticaram a nomeação de Walter BIós para a Ad-
nota o coordenador do CIR, jerônimo Pereira (ISA, a partir de nota do CIR de 13/09/99) ministração Regional da Funai no estado. 0 de-
da O CIR anuncia que planeja aproveitar a
Silva. putado Gelb Pereira (PDT) usou o plenário da
presença dos parlamentares em Roraima para CIRO GOMES DEFENDE Assembléia Legislativa para repudiar a decisão
mostrar que “a maioria absoluta dos úidios que-
REVISÃO DE ÁREAS JÁ do presidente da Funai, Carlos Frederico Ma-
rem a demarcação integral da Raposa Serra do BIós nomeado como assessor da presi-
DEMARCADAS rés. foi

Sol, contradizendo o discurso do governo esta- dência da Funai em Roraima, assumindo as fun-
dual e da bancada parlamentai', que usam algu- O vice-presidente do PPS, Ciro Gomes, virtual ções executivas da Regional Boa Visla alé que
mas comunidades para afirmar que os índios candidato à Presidência da República por seu seja nomeado o titular. Durante o período que
preferem uma demarcação em blocos ou ilhas". partido, disse ontem em enlrevisia coletiva que esteve afastado do órgão, BIós trabalhou no pro-
(Marco Antonio Gonçalves/ISA, 09/09/99) o ccoturismo e a agricultura podem ser grandes grama de fiscalização e vigilância da TI São
alternativas para desenvolver Roraima. Fie tam- Marcos.

CPI MUDA ROTEIRO bém defendeu a soberania da Amazônia e a re- “Há uma orquestração para entregar a Amazô-
E IRRITA ÍNDIOS visão das terras indígenas já demarcadas e ho- nia aos paísesdo G7”, disse Gelb Pereira,
mologadas na região. Afirmou que em Roraima acreditanto que a volta de Walter BIós teve in-

A CPI da Funai decidiu, na última hora, alterar há uma provinda mineral e extrativista de ma- fluência de Márcio Santilli, que atualmente di-
o roteiro previamente divulgado, transferindo deira importante, solos propícios à agricultura rige o ISA. Indagado sobre as criticas de vários
para o finai do dia a visita programada para a mecanizada e de alta produtividade. Mesmo sem políticos contra o seu retorno à ADR, BIós dis-

aldeia Maturuca. Em vez disso, a comitiva pre- dominar a temática indígena local, o ex-gover- se: “Prefiro não fazer nenhuma declaração con-
feriu visitar posseiros e vilas de garimpos ile- nador do Ceará fez algumas considerações. “A tra essas pressões políticas". Segundo ele, a
galmente instalados dentro da TI Raposa/Serra contradição básica é que o mero extrativismo nomeação se deu depois do órgão ter ouvido
do Sol, O CIR divulgou nota repudiando a deci- predatório não cabe; porém, o ambientalismo entidades de apoio aos índios, que têm convic-
são dos parlamentares: “os deputados visitaram radical ou a idéia de proteção ao índio, que faz ção do trabalho meramente técnico que desen-
comunidades indígenas que são manipuladas uma província mineral inteira coincidir com as volve. (Folha de Boa Vista, 15/12/99)

32D RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRAStL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL


/

ORGANIZAÇÕES
INDÍGENAS

AS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DE RORAIMA


Nos últimos anos várias organizações indígenas
,
tenha havido períodos de aproximação entre do governo local, em especial do prefeito e de ve-
emergiram em meio aos embates políticos trava- ambas. Com base e atuação voltadas mais para a readores do município de Uiramutã, enclave cri-
dos no lavrado de Roraima. Cada qual tece alian- Tl São.Marcos, sua criação ocorreu sob influência ado pelo governo do estado, no final de 1995, juira
ças mais ou menos duradouras com algum (ns) de políticos locais, como o ex-governador Otomar conturbar o processo demarcatório da área. Em-
dos segmentos que transitam pela questão indí- Pinto. bora minoritários em relação ao CIR, têm base
gena no estado, de acordo de suas conveniências ATWM As iniciais vêem dos nomes Taurepang.
- indígena real maior que a das três outras orga-
conjunturais. Abaixo o ISA decifra sucintamen-
,
Wapixana e Makuxi. Sua fundação foi articulada nizações - Apir, ATWM e Arikom. As diferenças de
te esse emaranhado institucional, considerando pelo índio Wapixana Alfredo Silva, ex-Apir. Man- orientação religiosa e de objetivos quanto à de-
apenas as organizações que detêm maior tém relações com o governo local e estaria envol- marcação da Tl dificultam o entendimento com
protagonismo político na cena regional atual. vida na formulação de projetos econômicos, fi- o CIR. Ainda assim, a Sodiur mantém canais de
CIR 0 Conselho Indígena de Roraima é a nuiis
- nanciados pela Embratur. voltados para o comunicação com o a entidade católica. No en-
conhecida entre as organizações indígenas de RR. etnoturismo no norte da Tl Raposa/Serra do Sol, tanto. em função de sua estratégia de benefícios

tendo a maior e mais regular base de af>oio entre região ocupada pelos Ingarikó. imediatos, a Sodiur têm se proposto a engrossar
as aldeias da TI Raposa/Serra do Sol Conta com o Arikom A Associação Regional Indígena do Kinô,
- a [Hisição dos políticos municipais e estaduais de
apoio da Igreja Católica, através da Diocese de Cotingo e Monte Roraima é comandada por Gil- retalhar a área indígena.
Roraima e do Cimi, e de entidades civis desde sua berto Makuxi e apoia a demarcação da Tl Raposa Alidcir - Criada com o apoio de políticos e ou-
fundação em 1990. É responsável pela formação
,
Serra do Sol em ilhas, como querem o governo do tros não- índios, principalmente de Pacaraima, a

de lideranças expressivas, como Nelino Galé ex- \


Estado e as administrações municipais da região, Associação para a Integração e o Desenvolvimen-
coordenador da entidade, que se tomou vereador posicionando-sefrontalmente contra o CIR. A or- to das Comunidades Indígenas de Roraima é atu-

em Normandia, município próximo da fronteira ganização articula um pequeno grupo de índios almente coordenada pelo tuxaua Anísio Filho, que
leste da TI. Abriga, ainda, outras organizações de garimpeiros, aliados de antigos garimpeiros não- habita a TI São Marcos. A entidade representa in-
segmentos indígenas específicas como associa-
,
índios, contra os novos garimpeiros do estado. teresses das comunidades das malocas Sorocaima

ções de mulheres, de professores indígenas etc. Sodiur - Dirigida pelo evangélico Jonas Arai, Bananal. Samã II e têm presença marcante
I,

Defende a demarcação da Tl Raposa/Serra do Sol Marcolino, tuxaua da populosa aldeia do Contão, de índios evangélicos. Mantém aliança com lodos
em uma área única e contínua, segundo a pro- a Sociedade de Defesa dos índios Unidos de os segmentos contrários à demarcação da Tl Ra-
posta da Funai encaminhada em 1993- Roraima organiza a oposição contra a demarca- posa/Serra doSolem área única, ou seja, o gover-
Apir - A Associação dos Povos Indígenas de ção de uma área contínua com 14 líderes indíge- no de Neudo Campos, a Sodiur e a Arikom. São se
Roraima historicamente se opõe ao CIR. embora nas de Raj)osa/Serra do Sol Contam com o apoio articulacom a Apir e a ATWM. (ISA, mai/97)

Raposa/Serra do Sol.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 321


CIR E SODIUR TROCAM estudos detalhados dos impactos ambientais ciparam da votação todos os indígenas maio-
HOSTILIDADES decorrentes da exploração econômica nelas in- res de 14 anos, registrando-se um total de 4. 124
cidentes. Há preocupação especial em relação votos. A vice-coordenação da entidade deverá
índios ligados ao CIR foram até a maloca do aos projetos de desenvolvimento formulados ficar com o segundo candidato mais votado,
vereador tuxaua Lauro Silva e derrubaram-na,
pelos governos para a região. O Calha Norte, o Desmano Souza. A oficialização dos cargos dar-
construindo no iocal uma outra maioca. A
Sipam-Sivam, o Prodessul e o Linhão de Guri se-á em fevereiro próximo. Nos seus dois anos
Sodiur, da qual faz parte o índio Lauro, reuniu
estiveram na pauta das discussões. (ISA, a par- de atuação, Jerônimo se destacou na defesa da
seu pessoal e, em retaliação, derrubou a nova tir de Informe do CIR de 02/09/97) demarcação das terras indígenas do estado, no
maioca feita pelos índios do CIR. Segundo o
fortalecimento das equipes de agentes indíge-
presidente da Câmara de Uiramutã, isso vem em
CIR BUSCA APOIO EUROPEU nas de saúde, trabalho realizado parceria
acontecendo há muito tempo, mas a situação
CONTRA EFEITOS DA SECA com a. Funasa e em desenvolver projetos no
tem piorado desde que o ministro da Justiça,
setor da educação. (Diário, 01/12/98)
Nelson Jobim, decidiu assinar a proposta de O CIR encaminhou à Comunidade Européia um
demarcação em uma área contínua - em de- projeto que prevê a liberação de Rí 1,6 milhão
zembro. (O Diário, 10/04/97)
ONG INVESTE EM INFRA-
para a construção de poços artesianos, compra
ESTRUTURA PARA OS ÍNDIOS
de cestas básicas e sementes para mais de 40
POLÍTICOS FOMENTAM comunidades atingidas pela seca e pelo fogo. Cinco comunidades indígenas são assistidas por
CONFLITO, ACUSA TUXAUA Os coordenadores do CIR, Jerônimo Pereira da uma ONG italiana. Depois de prestada assistên-
Silva e José Adalberto, afirmaram que o apelo cia às comunidades indígenas atingidas pelo
0 tuxaua da Maloca do Pavão, Nelino Galé, ex- às entidades internacionais deve-se à omissão incêndio, a Centro Regional de Intervenção para
presidente do CIR, garantiu que políticos do dos governos federal e estadual em relação à a Cooperação (Crie) está investindo R$ 67 mil
recém-criado município de Uiramutã distribuí- siuiação dos índios. Eles têm tentado há vários na instalação de infra-estrutura para melhorar
ram armas de fogo e munição aos índios para dias uma audiência com o governador, mas não a qualidade da água consumida nas comunida-
se digladiarem. Galé não citou os nomes desses conseguem. des de Uiramutã, Serra da Moça, Flexauzinho e
políticos. A informação circulou em uma reu- O CIR chegou à conclusão que a situação dos Lilás, que serão beneficiadas com a implanta-
nião entre o CIR e a Sodiur, realizada dia 12 de 22 mil índios que vivem no estado é bastante ção de sistemas para o tratamento de água. As
abril na sede da Funai. O objetivo da reunião preocupante por causa da fome e da falta de comunidades receberão reservatórios, cata-ven-
era encontrar uma saída pacífica para os con- água. Eles aguardam a liberação de recursos até tos ou bombas, e encanamento por gravidade.
flitos que se desenrolam na região. abril, para iniciar uma operação de socorro. Os “Este projeto vai auxiliar as comunidades no
Galé destacou que a conversa serviu para es- índios da reserva de São Marcos estão deixan- cultivo de pequenas culturas e na criação de
clarecer que os “parentes” não estão brigando do suas aldeias jiara fugir da fome, da sede e gado”, afirmou o coordenador do CIR,
por conta própria, mas sendo incitados por dos incêndios que assolam a região, como con- Jerônimo Silva. As obras do Uiramutã já se ini-
políticos da região. 0 objetivo desses políticos, sequência da estiagem que já dura seis meses. ciaram, e devem estar concluídas em dois me-
segundo Galé, é semear a discórdia entre os Praticamente todos os igarapés secaram e os ses. (Folha de Boa Vista, 01/12/98)
índios c desestabilízar a boa convivência na re- animais domésticos estão morrendo. (.Diário do
gião. “Isso é um serviço eficiente paraque a Nordeste - Fortaleza, 27/03/98) ARTICULAÇÃO
paz não volte a reinar enlre os índios e a de-
TRANSFRONTEIRIÇA
marcação fique cada dia mais distante", inter-
LIDERANÇAS DE RORAIMA
pretou. Galé acusa o índio Lauro Barbosa, ve- Lideranças indígenas da Venezuela e da Repú-
ELEITAS PARA A COIAB
reador de Uiramutã e integrante da maioca blica da Guiana - países que têm fronteira com
Flcxal, dc fazer parte do grupo de índios que Eudides Pereira, da maloca do Limão, foi eleito o Brasil -, estão se articulando com organiza-
destruiu quatro casas (retiros) em malocas lo- coordenador da Coiab, na última assembléia ções indígenas brasileiras para elaborai' estra-
calizadas na região deste município. (O Diá- regional, realizada entre os dias 18e22 de maio, tégias para enfrentar problemas comuns das
rio, 15/04/97) em Manaus. A Coiab é uma entidade que con- suas comunidades, principalmente com rela-
grega 56 organizações indígenas da região Nor- ção à demarcação de terras. A política de de-
SEMINÁRIO INDÍGENA te, Da Assembléia, participaram mais de 1 50 li- marcação é um dos principais pontos que as

TRINACIONAL deranças, sendo sete de Roraima. Para secretá- organizações devem discutir. Afinal, o Brasil é
rioda organização foi eleito outro índio do es- o único país que garante constitucionalmente
Entre os dias 27 e 30 dc agosto, representantes tado, o professor Jadir, da maloca Boqueirão. um capítulo aos índios, o qual dá direito às
do CIR, do Conselho Nacional índio de Vene- Os dois membros da coordenação terão que populações de reservas demarcadas e o seu
zuela (Conive) e da Amcrindian Pcoples morar em Manaus, onde fica a sede da Coiab, usufruto. (Folha de Boa Vista, 15/07/99)
Association, da Guiana estiveram reunidos em por um período de três anos. (Anna Yekaré
Boa Vista para o Seminário Internacional dos
I Nossa Notícia/CIR, 05/98) MULHERES
Povos Indígenas do Brasil, Venezuela e Guiana.
REALIZAM ENCONTRO
Oitenta lideranças dos três países lançaram uma COORDENADOR DO
declaração conjunta propondo soluções para Pela primeira vez na história da organização
CIR É REELEITO
os conflitos regionais decorrentes da explora- indígena no estado, as mulheres indígenas de-
ção dos recursos naturais da região. As lide- Jerônimo Pereira foi reeleito coordenador do cidiram que não querem mais ser apenas cozi-
ranças reivindicam a demarcação integral e a Conselho Indígena de Roraima, e deverá per- nheiras ou cuidar de meninos. A partir dc ama-
desinírusão das terras indígenas, bem como manecer no cargo por mais quatro anos. Parti- nhã, elas participam na maloca Três Corações,

322 : RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000- INSTITUTD S0C10AMBIENTAL


a
município de Amajari, da I Assembléia de sido decisiva para a redução dos casos de ma- nio com a Eunasa. O encontro faz parte da eta-
Mulheres Indígenas de Roraima, com 200 par- lária no Distrito Sanitário do Leste de RR, afir- pa de capacitação de pessoal que o CIR precisa
ticipantes entre delegadas e convidadas. O co- ma o Bolelím da Saúde. Em 95, a nmíária atin- desenvolver até janeiro do próximo ano, quan-
ordenador do CIR, Jerônimo Pereira da Silva, giu aproximadamente (rês mil indígenas daquela do passa a se responsabilizar pela execução dos
destaca que as mulheres têm importância fun- região, enquanto em 96 estima-se o número de trabalhos de saúde na área do DSL, conforme
damental na conscientização dos jovens sobre casos em tomo de 1 ,5 mil. O único óbito regis- informações do coordenador de Comunicação
os seus direitos e contra o consumo de bebidas trado nos relatórios dos agentes de saúde e de do CIR, André Vasconcelos. (Folha de Boa Vis-
alcoólicas. "A organização delas fortalece o tra- uma pessoa da Guiana, país que faz fronteira ta, 24/11/99)
balho do CIR, nós vamos trabalhar em conjun- com Roraima. Os números foram apresentados
to, ouvindo as sugestões e críticas que elas têm”, aos participantes do Encontro, realizado entre CONVÊNIO CIR-FUNASA
garantiu. (Folha de Boa Vista, 28/11/99) os dias 28 de janeiro e 3 de fevereiro na missão ESTRUTURA DISTRITO
do Surumu. O evento foi organizado pelo CIR.
SANITÁRIO
(Boletim da Saúde 02/03/97) ,

SAÚDE O Distrito Sanitário indígena do Leste de


Roraima (DSL), criado pela Portaria n” 1 1 0/99
... E DESAGRADAM DEPUTADOS
da Eunasa, abrange uma população de 23.173
CRIANÇAS MAKUXI MORREM
O presidente da Assembléia Legislativa de habitantes, distribuída em nove regiões admi-
EM HOSPITAL DE BOA VISTA Roraima, deputado Édio Lopes, viajou ontem 204
nistrativas, 28 pólos-base e aldeias indíge-
Uma criança Makuxi de oito meses está entre para Brasília para entregar a autoridades fede- nas, das etnias Makuxi, Wapixana, Taurepang,
as cerca de dez crianças mortas na Hospitai rais, documento assinado pelos 24 deputados Ingarikó, Patamona e Wai-Wai. Nas regiões ad-
Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré por estaduais de Roraima repudiando a entrega dos ministrativas (Serras, Surumu, Baixo Cotingo,
infecções contraídas devido às péssimas con- serviços de saúde indígena à instituições não- Raposa, Hão Marcos, Amajari, Taiano, Serra da
dições de higiene no setor de pediatria. A índia guvemamentais. “O Governo Federal abre mão Lua e Wai-Wai) estão instalados os Conselhos
Makuxi Cleonice Servino velava desesperada na de um de seus principais deveres constitucio- Locais de Saúde, responsáveis pelo controle
capela do hospital o empo de sua filha Rosiane, nais em favor de ONGs que não representam os social no local. Desde o início de 2000, está
que morreu no última dia 31 de outubro. Sem interesses da sociedade brasileira", afirma um organizado o Conselho Distrital de Saúde, com-
falar bem o português, Cleonice pedia sua filha trecho do documento. (ISA, a partir de Folha posto por 28 membros dos quais metade são
de volta, entre soluços, Foi a terceira criança de Boa Vista, 11/08/99) representantes indígenas.
índia a morrer nas últimas 72 horas na mater- Um convênio estabelecido entre o CIR e a Funasa
nidade. Segundo o médico Alberto Volponi, a CIR TREINA EQUIPE criou o Projeto de Atenção Básica à Saúde Indí-
criança já chegou em coma ao hospital. Mas a DE SAÚDE... gena, que tem como objetivo possibilitar a

explicação não consolou a mãe. ‘Ti culpa dos estruturação efetiva do DSL, de acordo com as

brancos, é culpa dos brancos”, dizia, (Correio O CIR vai realizar, durante toda esta semana, diretrizes estabelecidas pela Coordenação de
liraziüense, 02/11/96) um treinamento introdutório sobre a realidade Saúde indígena da Funasa. A implantação e exe-
indígena no estado. O curso vem sendo minis- cução pardal do projeto teve seu início em ou-

DISTRITOS SANITÁRIOS trado no Aipana Plaza Hotel pela antropóloga tubro de 1999 tendo entrado
,
em execução ple-

MELHORAM ATENDIMENTO... Lêda Leitão Martins. O treinamento vem con- na em janeiro de 2000. Entretanto, o repasse das
tando com a participação de aproximadamente verbas pela Funasa não vem sendo feito da ma-
As entidades participantes do II] Encontro Es- 60 pessoas que foram contratadas pelo CIR, atra- neira pactuada, determinando a alteração de al-
tadual de Agentes Indígenas de Saúde de vés de convênio com a Eunasa, para prestarem gumas metas estabelecidas no inído do projeto.
Roraima divulgaram um manifesto solicitando atendimento às comunidades do Distrito Sani- As atividades desenvolvidas no âmbito do pro-
o reconhecimento do DSEI do Leste do estado tário Indígena do Lesle. A intenção do treina- jeto abrangem as seguintes áreas de atuação:
como forma mais adequada de organizar os mento, segundo o coordenador médico do pro- atenção básica à saúde; recursos humanos; for-
serviços de saúde na região. Assinado pelos jeto, Paulo Daniel, é que todos os profissionais mação de agentes indígenas de saúde; infra-es-
representantes do CIR, Apir, Coiab, Foirn, contratados, seja das áreas de saúde ou admi- trutura e equipamentos; operações e logística;
CGTSM e Civaja, solicita ainda participação no nistração, tenham conhecimento sobre a reali- medicamentos básicos; vigilância epidemio-
Núcleo Interiustitucional de Saúde Indígena de dade social, económica e política dos povos in- lógica; medicina tradicional indígena e mobi-
Roraima para programar a execução das ações dígenas, e, baseado em conceitos antropológi- lização comunitária e o controle social. Passa-
de saúde voltadas às comunidades indígenas. cos, compreendam suas culturas. (Folha de Boa dos seus seis primeiros meses, os resultados
Segundo informa o Boletim da Saúde, editado Vista, I O/U/99) do convênio CIR-Funasa têm sido avaliado de
pelo CIR, o reconhecimento do trabalho desen- forma positiva nas reuniões dos conselhos lo-
volvido pelos agentes indígenas de saúde da área um
... PARA ASSUMIR cais e distrital de saúde, sendo considerado
a contratação dos mesmos pelo gover-
Leste e
SAÚDE EM 2000 avanço importante na organização da saúde in-
no federal são as metas de iongo prazo do CIR dígena no país. (ISA, a partir de relatório do
para a área de saúde. No 111 Encontro, os parti- O CIR deu início ontem a mais uma oficina de asjun/oo)
cipantes avaliaram as conquistas e os pontos trabalho com as coordenações dos 25 pólos-
negativos do trabalho dos agentes indígenas nos base do Distrito Sanitário leste (DSI.) . O objeti-
últimos anos. vo do encontro c realizar o planejamento das
A ação dos agentes indígenas de saúde forma- ações de trabalho a serem desenvolvidas no ano
dos nos cursos realizados nos últimos anos tem 2000 pela entidade indígena através do convê-

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2003 INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 323


LINHÃO DE GURI / PEMÓN PARALISAM OBRAS dígenas. (ISA, a partir de informe do CIF de
24/10/97)
TI SÃO MARCOS Em reação contra a instalação de linhas de trans-
missão elétrica em suas terras, na semana pas-
ELETRONORTE SELA
sada, um grupo de índios Pemón (Taurepang)
LINHA DE TRANSMISSÃO decidiu paralisar os trabalhos que ocorriam perto
COMPROMISSO COM
CORTARÁ TIS das aldeias de San Rafael Kamoiran e San Fran-
OS ÍNDIOS
A rede de transmissão que vai trazer energia da cisco de Yuruani, no estado de Bolívar. Os índios A Apir, a Eletronorte e a Funai assinaram, na
Venezuela para Boa Vista atravessará territóri- exigem das empresas Edclca e Inparques (Insti- semana passada, 0 termo de compromisso de-
os indígenas aqui e no país vizinho. Isso, se não tuto de Parques da Venezuela) maiores esclare- corrente das negociações para a instalação de
for tratado com antecedência, pode encontrar cimentos sobre o projeto bem como serem per- uma linha de transmissão elétrica dentro da TI
resistência e resultar, inclusive, em atraso na manentemente consultados. Entidades de apoio, Sáo Marcos, localizada no norte do estado. O
execução do projeto. Por aqui, índios com cla- como o World Resources Instituto, têm solicita- linhão Santa Elena-Boa Vista, de 230 kV, com-
ra tendência governista, se reúnem no próximo do ao governo venezuelano maiores informações põe a interligação elétrica Brasil-Venezuela,
dia 4 na Câmara Municipal para tratar de vári- sobre a passagem dos fios de alta-tensão por parte de um acordo assinado entre os gover-
os assuntos, entre os quais, a linha de trans- parques c terras ocupadas por índios. nos dos dois países, pelo qual o Brasil compra-
missão de Guri. Esses índios querem iniciar Não é só a idéia de ter linhas de alta tensão so- rá energia produzida no país vizinho.
desde agora as negociações sobre o assunto. bre suas cabeças e torres metálicas em seus Com a definição do trajeto do linhão - que per-
(Folha de Boa Vista, 27/02/97) quintais que incomoda os Pemón. Teme-se que correrá 63,2 mil metros dentro da TI São Mar-
a passagem dos fios favoreçam empresas de cos -, os índios reivindicaram a abertura de
MINISTÉRIO AUTORIZA mineração interessadas em explorar suas áreas negociações com a Eletronorte, concessioná-
de ocupação tradicional. (ISA, a partir de
IMPLANTAÇÃO DA LINHA ria de serviços públicos de energia elétrica na
Environment i\'ews Service de 06/02/97) região Norte do país. Vários encontros, inclu-
Através da Portaria 12 de 9 de abril de 1997,
1 ,

sive entre indígenas dos dois países, chegaram


o diretor do DNAEE, órgão vinculado ao Minis- ÍNDIOS DEFINEM a ocorrer. Em dezembro de uma reunião
1997,
tério das Minas e Energia, autorizou a Eletro-
CONTRAPARTIDAS PARA entre tuxauas estabeleceu as contrapartidas
norte a “implantar a linha de transmissão de-
nominada Interligação Elétrica Brasil-Vene-
PASSAGEM DO LINHÃO para a passagem do linhão.
A indenização a ser paga aos invasores, acerta-
zuela, em 230 kV, com início no ponto de cone- Em reunião ocorrida nos dias 18 e 19 de outu- da entre índios e Eletronorte, foi fixada em R$
xão com o sistema de transmissão da Venezuela, bro, na maloca Boca da Mata, as lideranças in-
3,5 milhões. Para 0 sistema de vigilância a ser
localizado na fronteira entre o Brasil e a dígenas da região de São Marcos, juntamenie implementado na terra indígena, serão desti-
Venezuela, e término na subestação Boa Vista, com a Funai e as organizações indígenas CIR, nados outros RS 250 mil. Os estudos topográfi-
localizados, respectivamente, nos municípios de Apir e ATWM, definiram as contrapartidas refe- cos que antecedem a instalação das torres de
Pacaraima e Boa Vista”. A portaria fixa o prazo rentes à passagem do Linhão de Guri pelas áre- transmissão já foram concluídos. A Eletronorte
de seis meses para a apresentação ao DNAEE as indígenas SãoMarcos e Ponta da Serra. As informou, em dezembro, ter recebido do Ibama
pela Elelronorte do projeto básico do empre- demandas colocadas na reunião são as seguin- a licença prévia para iniciar as obras dc
endimento. O início das obras está “condicio- tes: a) recuperar todas as áreas degradadas em interligação Elétrica Brasil-Venezuela. (DOU,
nado ao projeto básico e ao atendimento das função da construção e instalação das torres e 18/12/97, eISA, 24/04/98)
demais exigências legais, inclusive às relativas linhas de transmissão; b) indenizar os bens in-
ao meio ambiente”, informa a portaria. (DOU, que porventura sejam
dividuais dos índios atin-
SERVIDOR AMEAÇADO POR
10/04/97) gidos pelas obras do empreendimento e de veí-
CAUSA DAS INDENIZAÇÕES
culos utiUzados no serviço dc construção e ins-
ACORDO PREVÊ 20 ANOS talação das linhas de transmissão; c) indenizar, O administrador regional da Funai em Boa Vis-
DE FORNECIMENTO em norne das comunidades indígenas, a massa ta, Walter BIÓs, denunciou ontem que um dos
floríslica existente na faixa de segurança (40 membros da comissão de pagamento das inde-
A Interligação Energética Brasil-Venezuela será
metros) calculada por uma comissão de avalia- nizações dos fazendeiros está sendo ameaçado
o primeiro sistema de transmissão binacional a
ção composta por representantes da Eletronorte, de morle por telefone. Ontem, ele encaminhou
que o Brasil adere. Num projeto semelhante, o
Funai e comunidades indígenas; d) desintrusar, ofício à PF pedindo garantia de vida aos servi-
Brasil construiu junto com o Paraguai a Usina
junto com os órgãos do governo federal, o MPP dores e proteção ao trabalho da comissão. Nos
de ltaipu. na fronteira com o Paraguai. Através
e Governo do Estado de Roraima, toda a TI São telefonemas, unta voz não identificada teria dito
dessa interconexão, o complexo hidrelétrico de
Marcos e Poma da Serra com base no levanta- ao funcionário que "preparasse 0 caixão” por-
Guri será ligado a Boa Vista numa extensão to-
mento fundiário realizado pela Funai em setem- que a saída dos fazendeiros da reserva São
tal de 685 km. Em território venezuelano, a li- bro de 1994 e definir a situação fundiária da Marcos estaria“acabando com 0 estado”. O
nha terá 400 km transportando energia em 400 área urbana do município de Pacaraima; e) fi- administrador garantiu que, apesar das amea-
kV entre as subestações Macaguá e Las Claritas,
nanciar, durante 0 período de construção da li- ças, as indenizações continuariam a ser pagas
onde passa para a tensão de 230 kV até Santa
nha, um sistema de vigilância das terras indíge- e os fazendeiros retirados da reserva.
Elena de Uairén, na fronteira. No lado brasilei-
nas São Marcos e Ponta da Serra, visando impe- Até julho, a Funai gastou R$ 1 milhão no paga-
ro a linha terá 200 km de extensão, com tensão dir novas invasões ou 0 retorno de invasores, mento das indenizações de 38 benfeitorias de
de 230 kV. (Folha de Boa Vista, 11/04/97)
que após a conclusão da obra ficará sob res- fazendeiros c posseiros da reserva São Marcos.
ponsabilidade da Funai e das comunidades in- Hoje, a estatal depositou a segunda parcela, no

324 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1596/2000 - INSTITUTO S0CÍ0AMBIENTAL


- 5

ÍNDIOS E ELETRONORTE FECHAM ACORDO EM RORAIMA


No dia IH de abril a Associação dos Povos Indíge-
, gráficos procuraram manter o traçado da linha o mentada conjuntamente J/ela Eletronorte, Funai
nas de Roraima (APIR) assinou termo de com- mais afastado possível das construções indígenas. e APIR. Após o depósito da primeira parcela, a
promisso com as Centrais Elétricas do Norte do Para os índios, o principal problema refere-se a Eletronorte poderá iniciar a obra dentro da Ti
Brasil (Eletronorte) autorizando a implantação umafaixa de terras com 40 metros de largura que
da Interligação Elétrica Brasil-Venezuela dentro deverá ser imobilizada pela construção da linha -
PERSPECTIVAS
da Terra Indígena (Tf) São Marcos, localizada no a “faixa de servidão ". Foi, ainda, recomendado Os índios avaliam que, com a Eletronorte con-
lavrado de Roraima, onde rirem os índios Macuxi, aos índios não construir residências dentro de cordando emfinanciaras benfeitorias dasfazen-
Wapixana e Taurepáng. Em troca, mais de cem urna distância inferior a 100 metros desde o tra- das e promover a desintrusão da área, são eles
posseiros, entre pequenos agricultores e criado- çado. Outro problema diz respeito ao que acabarão pagando pela saída dos invasores.
res de gado. serão retirados da Tl, que está demar- desmatamento em uma região de serras, onde o Muitos tuxauas afirmam que se o governo e a
cada e homologada por decreto presidencial des- terreno é sensível a erosões, o que afetaria os Funai os tivesse retirado antes, as compensações
de 1991- Pelo acordo, a Eletronorte se comprome- mananciais de água de algumas aldeias. f/ela construção da Unix/ iriam diretamen te para
te a pagar pelas benfeitorias existentes nas posses. Com os trabalhos topográficos finalizados, os ín- os índios. Mesmo apreensivos quanto às conse-
Destinada a abastecer Boa Vista, capital do esta- dios solicitaram estudos adicionais e. em outu- quências advindas da construção de uma linha
do, a linha de transmissão energética, em 230 kV, bro, surgiu a primeira proposta assinada pelos de energia tão próxima de suas aldeias, o
terá início no ponto de conexão com o sistema de tuxaiMS, condicionando a construção do linhão pragmatismo demonstrado f/elos índios deve-se
transmissão da Venezuela, localizado na frontei- aos seguintes pontos: a) recuperação das áreas de- à situação atual em São Marcos: o crescimento
ra entre os dois países, no município de Paca- gradadas pela construção de torres: b) indeniza- demográfico nas aldeias e a permanente chegada
raima, e término na subestação Boa Vista. Paca- ção dos bens individuais indígenas danificados: de famílias de outras áreas indígenas do lavrado
raima. município recentemente criado pelo go- c) indenização da massa fiorística existente na são alxmtados como fatores que em breve pode-
verno estadual, tem s/m sede dentro da área São faixa de servidão ; d) participação da Eletronorte rão acarretar problemas sérios de espaço, com
Marcos. A extensão total do linhão - que segui- nas providências para promover a desintrusão da agravante de que a principal perspectiva de de-
rá o trajeto da BR- 1 74, rodovia que liga Manaus 77 e na definição da área urbana de Pacaraima; senvolvimento em voga entre as aldeias é o cres-
(AM) à Venezuela - será de 211 km. Ambos, ro- e) financiamento para as indenizações das cimento de seu rebanho de gado.
dovia e linhão, incidem sobre aproximadamen- benfeitorias dasfazendas existentes dentro da Tl, Castigada pelo recente incêndio que assolou
te 65 km da TL depositando o valor total estimado a partir de le- Roraima, São Marcos tem na definição da situa-
vantamento fundiário da Funai em uma conta ção do município de Pacaraima uma questão que
NEGOCIAÇÕES especial antes do início dos trabalhos; j) financi- permanecerá após a saída das fazendas. Como
As negociações entre lideranças indígenas e a amento, durante a construção da linha, de um muitos tuxauas apontaram, este problema foi
Eletronorte para a passagem do linhão iniciaram sistema de vigilância da área. temporariamente deixado de lado em função dm
se em 29 de maio de 97, ocasião em que o projeto Com a Funai endossando a posição dos índios, a negociações com a Eletronorte. A prefeitura lo-
foi apresentado e foram distribuídos materiais Eletronorte propôs formar uma comissão de cal, recentemente instalada, criou uma Secreta-
informativos com as especificações técnicas da reestudo do levantamentofundiário existente para ria de Assuntos Indígenas e um Conselho de
obra. Os índios souberam ainda que seria neces- verificar a situação atual das posses, além de even -
Tuxauas, buscando aproximação com algumas
sária a realização de estudos topográficos na área tuais novas invasões. Após reavaliar 95 posses, esta lideranças para viabilizar o novo município. Pa-
para a definição final do traçado da Unha. Uma comissão estipulou o valor de RS 3-359.532, 00 para ralelamente, correm na Justiça duas ações, mo-
semana apôs esta reunião, os tuxauas de São o pagamento de todas as indenizações. 0 acordo vidas pela Funai e pelo Ministério Público Fede-
Marcos enviaram correspondência à Eletronorte assinado entre os índios e a Eletronorte incorpo- ral, para que sua sede deixe os limites da Ti Não
autorizando o levantamento topográfico e solici- rou Iodas as propostas anteriormente apresenta- há, entre as aldeias, um consenso sobre o caso.
tando a realização de estudos de impacto das pelos tuxauas, fixou em R$ 3-500.000,00 o Mesmo as mais afetadas, que se beneficiam de
ambiental e aformação de uma comissão
com- - valor para o pagamento das indenizações e em RS serviços de saúde e educação disponibilizados na
posta pelo Ministério Público, Ibarna, Fanai, Go- 250. 000. 00 os recursos para a implantação de um vila, preocupam-se com sua expansão e com o
verno do Estado, organizações de apoio e organi- sistema de vigilância para a área. Estes recursos afluxo crescente de novos moradores. (Geraldo
zações indígenas - para acompanhar os trabalhos. serão depositados em conta especial, a ser movi- Andrello, Parabólicas/ISA, n° 40, jun/98)
Encerrados em fins de julho, os trabalhos topo-

valor de R$ 1 milhão, somando R$ 2 milhões ÍNDIOS REIVINDICAM não esclarece sobre os direitos dos índios à ter-
dos R$ 3,5 milhões destinados a financiar a re- DIREITOS SOBRE TERRA ra. Os índios Pemón alegam que a construção

tirada dos fazendeiros e posseiros da reserva. A NA VENEZUELA do linhão de Guri onde habitam, no Parque
liberação da última parcela, no valor de R$ 1 ,5 Nacional de Canaima e Serra Imataca, está des-
milhões, foi solicitada pela Funai, e está por Cerca de 800 índios da etnia Pemón, habitantes truindo florestas. “Este projeto está afetando 1

contrato condicionada à saída de 50% dos in-


de Imataca e da (iran Sabana. fizeram uma ma- mil indígenasque vivem em 30 comunidades
vasores. A comissão da Funai julgou que 62 nifestação na semana passada na fronteira do Pemón, Karina, Akawaio e Arawako", afirma a
proprietários de benfeitorias seriam de boa-fé, Brasil para impedir o andamento das obras do Federação Indígena do Estado de Bolívar. (Fo-
e teriam direito a indenização. Foram conside- linhão de Guri dentro de suas terras. A princi- lha de Boa Vista, 1 1/8/98)

radas de má-fé 25 propriedades, sendo que nove pal estrada de acesso ao Brasil foi bloqueada

pelos indígenas. 0 protesto foi iniciado dia 5 de


delas entraram com recurso administrativo pe- CIR PEDE SUSPENSÃO
agosto, quando as autoridades celebraram ofi-
dindo o reconhecimento ao direito de indeni- DAS OBRAS
zação. (ISA, a partir de Folha de Boa Vista cialmente os 500 anos de descobrimento da
,

28/07 e 05/08/98) Venezuela. É a primeira vez que o governo da 0 CIR encaminhou carta ao presidente da
Venezuela mostrou-se disposto a ouvir as recla- Venezuela, Rafael Caldera, e a várias autorida-
mações dos índios. A constituição venezuelana des do primeiro escalão do governo do país,

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 325


pedindo a paralisação nas obras das linhas de CIR e pela Funai”, cortaram quatro km de fios e da Venezuela e o norte do Brasil. "Os povos in-

transmissão de Guri dentro de terras indígenas. derrubaram postes nos 43 km de rede elétrica dígenas de Gran Sabana, Selva de Imataca, Rio
No documento, o CIR solidariza-se com os ín- entre Conlão e Sunimu, utilizando-se para isso Pareágua, localizados no estado de Bolívar, ante
dios Pemón, das áreas da Serra de Imataca e dc uma serra elétrica. Segundo o jornal, o pre- as agressões cometidas contra as comunidades
Gran Sabana, que estão protestando contra as sidente da empresa suspeita que “o ato de van- indígenas, pedem ao Brasil e à Venezuela para
obras c pedindo reconhecimento dos seus di- dalismo tenha sido motivado por razões políti- cancelarem o protocolo de construção que tem
reitos sobre a terra. "Repudiamos a forma au- cas”, e acusa o senador Romero Jucá, adversá- por finalidade o desenvolvimento da indústria
toritária que a Edelca (estatal energética da rio poUtico do grupo do governador Neudo Cam- mineira, turística e florestal da Selva de Imataca
Venezuela) está executando o projeto do linhão pos, de ser um dos mandantes do crime. e de Gran Sabana, terras ancestrais dos povos
de Guri", afirma a carta assinada pelo coorde- A CER acusa a Funai e o CIR de agirem na cala- Pemón e Akawayo”, diz a carta. Os índios con-
nador do CIRJerônimo da Silva. As lideranças da da noite, tentando impedir a continuidade sideram que a construção da rede “despoja
do CIR argumentam que a Venezuela assinou o das obras, que alegam ter provocado grande nossos povos de seus territórios e que o desen-
tratado da OIT, pelo qual sc compromete a ga- impacto ambiental na região. O ato de vandalis- volvimento industrial terá um alto custo em
rantir a propriedade coletiva c individual dos mo, segundo o CER, trouxe sérios prejuízos fi- matéria ambiental, causando o desaparecimento
territórios indígenas tradicionalmente ocupa- nanceiros para a empresa. A Polícia Mibtar de de nossa cultura". (O Liberal, 04/11/98)
dos por eles. (Folha de Boa Vista, 12/08/98) Pacaraima e de Surumu foi acionada para evitar
novos ataques. A CER está preparando medidas INTRUSOS SE DIZEM
APARATO MILITAR CONTRA judiciais para punir os responsáveis pelo crime.
PRESSIONADOS PELA FUNAI...
PROTESTO INDÍGENA (ISA, a partir de Brasil Norte, 03/09/98)
lideranças da Associação de Produtores Rurais
O governo da Venezuela decidiu jogar duro con-
FUNAI QUER SAÍDA de Pacaraima (APRP) fizeram uma representa-
trao bloqueio montado por índios, desde a úl-
tima semana de julho, na rodovia El Dorado,
IMEDIATA DE POSSEIROS ção ao Ministério Público Federai contra a
Funai, denunciando que estão sendo pressio-
ligação com o Brasil, perto da fronteira entre A Procuradoria Jurídica da Funai vai entrar com nados a assinar documentos de indenização das
os dois países. Segundo informações de Serena ação de reintegração de posse com pedido de benfeitorias de suas fazendas e abandonarem a
Winona Warner, da entidade Amazon Watch, 50 liminar para retirar todos os fazendeiros que reserva de São Marcos.
policiais da guarda nacional venezuelana, acom- ainda não saíram da reserva indígena de São Eles também procuraram a Comissão dos Di-
panhados de um carro de artilharia, teriam se Marcos. A procuradora jAfda Carvalho disse que reitos Humanos da OAB pedindo ajuda no sen-
deslocado para a região do protesto no último a ação está finalizada. Na mesma ação, a Funai tido de que lhes sejam pagos valores justos nas
dia 12 de agosto e desfeito o bloqueio. (Últi- vai fazer depósito judicial das benfeitorias dos indenizações. Estão denunciando também es-
mas Noticias/ISA, 14/08/98) fazendeiros que se negaram a receber as inde- tar “sofrendo pressões psicológicas por parte
nizações. de funcionários da Funai e Eletronorte”. O pre-
ESTRADA É LIBERADA Até a presente data, das 58 propriedades consi- sidente da APRP, por exemplo, disse que suas
deradas de boa-fé, foram pagas indenizações a foram depredadas em 40% do
A rodovia Pan-americana, que liga Santa Elena benfeitorias até
47 delas. Alda Carvalho negou que tenha incita- seu valor, e que a Funai estaria “economizan-
de Uairén (na fronteira com o Brasil) às gran-

des cidades da Venezuela, foi desbloqueada pe-


do os índios a agirem com violência, invadindo
do” para sobrar dinheiro das indenizações. (Fo-
los índios venezuelanos . O ato foi um gesto con- as fazendas dos que se recusavam a sair da re-
lha de Boa Vista, 05/11/98)
ciliador, objetivando facilitar a reunião que os serva. “Não ê minha função”, enfatizou. “Tenho
conduzido o processo dentro da maior legali-
índios teriam com ministros do governo. Os po- ... E OAB QUER INTERVENÇÃO
vos indígenas da Venezuela querem que o go-
dade”, afirmou .a procuradora. “Os índios

verno daquele país paralise imediatamente a roratmenses são totalmente pacíficos, mas a A OAB quer pedir intervenção na Funai com base
construção do linhão de Guri, argumentando a paciência deles têm limite. Os índios são os do- num procedimento investigatório feito pela sua

quebra de equilíbrio ecológico causado pelas nos das terras c a palavra deles tem validade e é Comissão dc Direitos Humanos, a respeito do
obras. lideranças das etnias Akawaio, Arawako,
definitiva. O dinheiro que está sendo pago nas tratamento que os produtores rurais e

Karina e Pemón estavam realizando bloqueios


indenizações também é deles”. (Folha de Boa pecuaristas com propriedade dentro da reserva

na rodovia Pan-americana, como forma de cha- Vista 30/10/98) indígena de São Marcos vêm recebendo pelo

mar atenção das autoridades. Os índios querem órgão indigenisla no estado. O presidente da

que o governo da Venezuela reconheça legal- PROTESTO INDÍGENA Comissão, Silvino Lopes, disse que os produto-

mente suas terras, criando a reserva indígena NA VENEZUELA res estão sendo coagidos e ameaçados a recebe-

no estado Bolívar, fronteira com o Brasil. O re- rem indenizações das benfeitorias de suas pro-
Dezenas de índios Pemón e Altawayo do sul da priedades bem abaixo dos valores reais. “A Funai
conhecimento beneficiaria mais de 315 mil
Venezuela concentraram-se ontem na capital não está dando segurança de ampla defesa a es-
indígenas venezuelanos. (Diário de Boa Vista,
venezuelana para protestar diante a embaixada sas pessoas”, afirmou ele. A Funai é acusada de
19/08/98)
do Brasil contra a construção de um linhão de incitar os índios a invadirem fazendas e roubar
transmissão de energia elétrica em seus territó- um
NO BRASIL, ÍNDIOS gado. Depoimentos tomados de índio afir-

rios. Vestidos com trajes coloridos tradicionais mam que estes estão sendo orientados a ocupa-
DERRUBAM REDE ELÉTRICA e pintados para guerra, os representantes indí- rem áreas próximas das fazendas para construí-
Através do jornal Brasil Norte, a CER (estatal genas entregaram uma carta ao embaixador do rem casas. (Folha de Boa Vista, 13/11/98)
energética de Roraima) denunciou que índios Brasil em Caracas, pedindo que seja abandona-
da TI Raposa/Serra do Sol, “estimulados pelo do o projeto de construção da rede entre o sul

32G RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199S/2000 - INSTITUTO SOCtOAMBIENTAL


)

FUNAI VAI À JUSTIÇA JUIZ MANDA RETIRAR


CONTRA RENITENTES ÍNDIOS DA REGIÃO
A advogada da Fimai, Alda Carvalho, vai entrar A PF de Roraima cumpriu na manhã de ontem a
com a ação de reintegração de posse contra os decisão do juiz federal Hélder Girão Barreto,
14 fazendeiros da reserva São Marcos, no mu- que mandou retirar todos os índios que não
nicípio de Pacaraima, que se negam a deixar a pertencem à comunidade do Samã II. Ele en-
área. Eles não concordam com o valor das in- tendeu que a ocupação era um ato de pressão
denizações oferecidas pela Funai. Das 66 fazen- para forçar a Justiça a decidir favoravelmente
das que foram consideradas de boa fé, 52 já aos indígenas. José João Pereira, advogado do
estão desocupadas e 36 delas (13 sítios e 23 japonês Massachiro Sotodate, alvo principal da
fazendas) já foram ocupadas pelos índios. Se- manifestação e cuja retirada tomou-se "uma
gundo Galdino Pereira de Sousa, secretário da questão de honra” para as lideranças do C1R,
Apir, os lotes estariam tomados de mato e algu- Apir e TWM, disse que a decisão do juiz Hélder
mas benfeitorias estavam completamenle dete- Girão Barreto foi sensata. (Folha de Boa Vista,

rioradas. "Mas mesmo assim, em alguns sítios 15/07/99)


e fazendas, já estamos plantando e criando ani-
mais”, garantiu. (Folha de Boa Vista 30/11 e PFPRENDE INDIGENISTA
09/12/98 DA ELETRONORTE
PRESIDENTE DA VENEZUELA Indignado com a prisão do indigenista da
Eletronorte José Porfírio Carvalho. 54, pela PF
DESCUMPRE PROMESSA
em Roraima, o deputado Mário Frota (PSDB),
Perto de completar cem dias como presidente enviou um fax ao Ministério dajustiça exigindo José Porfírio de Carvalho.
da Venezuela, Hugo Chávez Frias suscitou quei- sua libertação. Carvalho foi acusado de insuflar
xas públicas de organizações indígenas de seu os índios contra o fazendeiro Massachiro ção da reserva. Se no prazo de 15 dias não re-
país ao declarar que o projeto de interconexão Sotodate, cuja propriedade está sitiada há duas correrem, automaticamente na audiência do dia
energética entre a Venezuela e o Brasil, o cha- semanas por 200 índios. (A Crítica, 16/07/99) 22 e 29 perderão suas propriedades. (Folha
mado linhão de Guri, seria retomado. Indigna- de Boa Vista, 03/09/99)
da com a notícia, a Federação Indígena do Es- INTRUSOS DIZEM QUE
tado Bolívar protestou através de nota divulgada ACEITAM SAIR DO SAMÃ NOVA MOBILIZAÇÃO
em abril, afirmando que o novo presidente NA VENEZUELA
descumpre, com a decisão, suas promessas de Após três horas de audiência, os produtores
rurais que ocupam a região do Samã na TI As comunidades indígenas venezuelanas estão
campanha, A nota informa ainda que a 11,

Corporação Venezuelana de Guayana, estatal que


São Marcos, entraram em acordo na audiência sabotando as obras de uma linha de transmis-
realizada ontem na Justiça Federal, presidida são de energia elétrica entre o Estado de Bolívar
executa o projeto, anunciou o reinicio das obras
pelo juiz Helder Girão Barreto. Eles vão aceitar (ao sul da Venezuela) e Boa Vista, capital de
ainda para abril. (Marco Antonio Gonçalves,
a indenização proposta inicialmente pela Funai Roraima. Armados de paus, não permitem a
Parabólicas/ISA, mai-jun/99)
e deixar a região num prazo de 60 dias. Dos continuação das obras no trecho de 80 quilô-

CERCO A FAZENDEIRO três produtores que haviam entrado na Justiça metros do Parque Nacional Gran Sabana. Em
tentando o direito de posse da terra, dois fize- troca, exigem do governo a concessão de títu-
TEIMOSO
ram acordo e um ficou para ser decidido hoje. los de posse definitiva de terra. Apoiados por
Um grupo de 200 índios Makuxi, Taurepang e O juiz determinou que produtores e índios man- organizações ambientalistas não-govemamen-
Wapixana mantêm desde ontem um cerco à fa- tenham convivência pacífica, até que conclua o tais da Venezuela e de outros países, os indíge-
zenda de Massachiro Satodati. No interior da prazo de saída da reserva. (Folha de Boa Vista. nas chegaram a derrubar na semana passada
propriedade, além de Massachiro, estão 30 se- 22/07/99) quatro torres de energia. A estatal Edelca, en-

guranças armados. Os índios também fizeram carregada das obras em território venezuelano,
como reféns dois agentes federais e uma equi- AÇÃO PARA RETIRAR calcula que os prejuízos já somam USS 100 mil.
pe de reportagem da TV Roraima, que tentou NAO-ÍNDIOS O boicote indígena, segundo um analista de
lurar o bloqueio. O fazendeiro se nega a sair da Caracas, compromete o último prazo acertado
O MPF e a Funai entraram com ação civil públi-
área demarcada de São Marcos, conforme de- com o Brasil para o término da obra, em junho
ca na Justiça Federal para retirar de dentro da
terminação da Funai. Massachiro discorda do de 2000. (Gazeta Mercantil, 18/10/99)
reserva São Marcos todos os não-índios. Esta
valor proposto como indenização por suas
ação considera aqueles que ainda permanecem
benfeitorias. Os índios interditaram a única es-
na reserva como proprietários de má fé, ou seja,
trada que dá acesso à fazenda e impedem que
que construíram alguma propriedade ou com-
qualquer pessoa se aproxime. (O Estado do
praram de terceiros após a demarcação da re-
Paraná. 02/07/99)
em 1992. Eles deverão sair sem direito a
serva,
indenização. No levantamento feito pela Funai,
essas propriedades não têm direito a indeniza-
ção porque foram ocupadas após a demarca-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 327


O UNHÃO EA DESINTRUSÃO DA TERRA INDÍGENA SÃO MARCOS
Em 1997. a Eletronortefoi autorizada f)elo gover- INDENIZAÇÕES PARTICIPAÇÃO INDÍGENA
no federal a construir uma linha de transmissão
0 processo foi iniciado quando a Eletronorte de- 0 sistema de fiscalização da retirada dos invaso-
de energia ligando Boa Vista ao complexo hidre-
positou a primeira parcela do valor total da inde- res conta desde seu início com a participação ati-
létrico de Guri, na Venezuela, com traçado que
nização a ser paga. No início, a Funai demorou va de representantes das comunidades indígenas,
possivelmente atravessaria a Tl São Marcos. Des-
em assumir o processo de desintrusão, forçando que se revezam periodicamente na composição
de então, a equipe de Assessoria Indigenista da
os índios a tomarem a iniciativa de contatarem das equipes de fiscalização junto com os agentes
Eletronorte realiza contatos com as comunidade
os invasores tentando a negociação. Os invaso- ambientais contratados pela Eletronorte, em par-
indígenas que a habitam, de modo a desencadear
res, por sua vez, assustaram-se com a iniciativa ceria direta com representantes da Funai. O pra-
um processo de negociação que compense os ín- até por preconceito, recusaram-se a zo previsto de um ano para 0 funcionamento do
dos índios, e,
dios pela passagem da linha de transmissão
negociar diretamente com eles, mesmo com a Programa de Vigilânciafoi prorrogado até dezem-
energética.
interveniência da Funai. Iniciou-se um movimen- bro de 2000.
Ao mesmo tempo em que os contatos eram man-
to de protesto dos in vasores sob alegação de que
,
Atendendo reivindicações das comunidades indí-
tidos com as comunidades indígenas, reuniões
os valores a serem pagos eram inferiores ao que genas da Tl São Marcos, a Eletronorte, aprovou
foram agendadas e realizadas com a Punai e com
elesachavam válidos para suas benfeitorias. A aditivo ao Termo de Compromissofirmado em 31
entidades oficiais e não-governamentais inclu-
,

direção da Funai interviu no processo, avaliando de março de 1998, alocando recursos para 0 cus-
indo as entidades que acompanham ou partici-
inicialmente quem dos invasores era de boa ou teio da aquisição de um ônibus e um caminhão
pam das ações de apoio às comunidades indíge-
de má-fé e, em seguida, enviou uma comissão para que servirão para afioio a iodas as comunidades
nas. Buscávamos a melhor forma de discutir o
iniciar os pagamentos das indenizações. indígenas da TI São Marcos, visando suprir as
assunto e, se autorizado pelas comunidades in-
Iniciado o processo de pagamento, os invasores necessidades geradas pela ação dos órgãos públi-
dígenas, fazer com que a construção da Unha de
foram comparecendo um a um. Até maio de 1999 cos locais que, em represália à retirada dos inva-
transmissão fosse feita com o menor impacto
haviam sido pagos 57 invasões - num total de R$ sores da área, negam transporte às comunidades
ambiental possível.
2-334. 457, 79 faltando a pagar oito invasores ( 12
- indígenas.
Inicialmente as comunidades indígenas autori-
,

invasões) considerados de boa-fé e 14 de má-fé. Complementando as ações de apoio às comuni-


zaram a Eletronorte a realizar os estudos topo-
De acordo com o levantamento realizado em maio dades indígenas da Tl São Marcos, no início do
gráficos do traçado da Unha. para que fosse pos-
de 1999, 24 invasões das levantadas pela comis- segundo trimestre de 2000 está programada a ins-
sível avaliar 0 impacto que a construção lhes cau-
são de avaliação já estavam abandonadas. Diante talação, no Posto Surumu, de uma oficina (tara
saria. Os estudosforam realizados com a partici-
da recusa dos invasores restantes em receber a produção de mudas de essênciasflorestais da re-
pação de representantes destas comunidades, e
indenização e sair da terra indígena, foi solicita- gião e de espéciesfrutíferas. Tais mudas serão dis-
resultou no atual traçado, evitando-se que a li-
;

do à Funai e ao Ministério Público que se tomas- tribuídas às comunidades indígenas que se inte-
nhafosse construída atingindo as TlsAraçá e Pon-
sem providências judiciais para sua desintrusão ressarem em participar desta atividade. Foi pro-
ta da Serra. Os estudos também apontaram a pos-
definitiva. posto ainda a instalação no mesmo posto, de um
,

sibilidade de contornar a área São Marcos.


Na ação que a Funai e o Ministério Público move- local apropriado fmra acolher exposição da cul-
Entretanto, após quase um ano de negociações, ram contra os invasores foram resgatadas inva- tura material dos índios de São Marcos. Estas pro-
as comunidades indígenas de São Marcos apre-
sões já abandonadas havia muito tempo, reabili- postas foram elaboradas e serão desenvolvidas
sentaram uma proposta, através da Punai, onde
tando queixas dos invasores mesmos os de má-
,
com a participação das comunidades indígenas.
colocaram como condição para perm itirem a ins-
fé, acerca de sua permanência na terra indígena No processo de construção da linha de transmis-
talação da linha de transmissão a desintrusão da
e dos valores a receber. Estefato criou uma situa- são - que ocorreu paralelamente à desintrusão -,
Terra Indígena. Tal desintrusão consistia na reti-
ção de apreensão junto à comunidade indígena as comunidades indígenas da Tl São Marcos par-
rada de todos os invasores dos limites de São Mar-
que passou a desacreditar nas ações de desintrusão ticiparam ativamente das equipes defiscalização
cos, incluindo ainda ações de vigilância durante
em curso. Os invasores por sua vez, passaram a e acompanhamento ambiental, tendo a oportu-
um ano, visando o acompanhamento da saída dos nidade de intervir várias vezes no processo, evi-
confiar que não mais sairiam da São Marcos,
invasores indenizados e a prevenção de novas in -
hostilizando os índios e aumentando as áreas já tando maiores danos ambientais na construção
vasões. Esta proposta também incluía cuidados
indevidamente ocupadas. 0 episódio do Samã re- e instalação da linha de transmissão. A constru-
ambientais na fase da construção, a recupera-
fletiu exatamente isto, quando um dos invasores, ção da linha estápraticamente concluída, faltan-
ção das áreas degradadas pelas obras, indeniza-
aumentando sua invasão, destruiu a roça do do ajustes no (yrocesso construtivo e a recupera-
ção pela massa floris Uca abatida e pelos bens in-
tuxaua Felicíano Makuxi, gerando uma revolta na ção de algumas áreas degradadas.
dividuais de cada índio atingido.
comunidade que culminou na ação policia! para A demora em concluir o processo de desintrusão
Esta proposta foi aceita pela Punai e pela Eletro-
expulsar os índios da sua própria terra. deve-se, primeiro, ao setorjurídico da Funai, que
norte no dia 31 março, com confirmação pelas
Estefatofoi marcante no processo de desintrusão, tudo fez para protelar as ações, só ingressando
comunidades indígenas no dia 18 de abril de
pois desencadeou o reinicio da retirada dos inva- em juízo um ano depois de iniciado o processo
1998. Antes desta data a Eletronorte e a Punai.
.

sores. Através de " audiências de justificação pré- indenizatório. quando os índiosjâ protestavam e
realizaram um levantamento das invasões exis-
via", em juízo, foram sendo realizados "acordos" ameaçavam retomar àforça algumasfazendas dos
tentes, fazendo uma reavaliação dos estudos re-
para a saída dos invasores. Nestes acordos, já fo- invasores. E, segundo, ao sistema judiciário local
alizados em
1994 pelo órgão indigenista oficial,
ram retirados mais 20 invasores (27 invasões), que, desrespeitando acórdãos do STF, insiste em
quanto ao valor das benfeitorias a serem indeni-
restando a sair 16 deles (17 invasões). 0 vedorpago "acordos " com os invasores, quando poderia de-
zadas. Este valorfoi estimado em R$3,5 milhões Mesmo as-
até 25 de agosto de 2000 foi de R$ 3384.33143. cidir liminarmente pela saída deles.
e no Termo de Compromisso firmado entre
referentes a 69 invasores (84 invasões). Em fun- sim, com todas as dificuldades enfrentadas, 0 pro-
Eletronorte e Funai com as comunidades indíge-
ção da reinclusão de invasores que já haviam cesso de desintrusão continua e se espera que até
nas peou estabelecido que se os valores fossem
abandonado a São Marcos e dos "acordos" cele- o final do ano esteja concluída. (Porfirio Carva-
maiores do que o estimado a estatal energética
brados em juízo, o valor pago ultrapassou os R$ lho, ago/00)
os complementaria. E, caso houvesse alguma so-
3,5 milhões inicialmente previstos.
bra deste valor, esta pertenceria às comunidades
indígenas da Tl São Marcos.

326 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


,

WAPIXANA munidade Européia. A Echo 3, escritório huma- CHUVA CHEGA APÓS


nitário da CE, aguarda um orçamento definitivo “PAJELANÇA” KAYAPÓ
a ser encaminhado peio CU! para deflagrar o
FUNAI QUER ANULAR PATENTE Depois de meses de estiagem, dioveu em
socorro. No fmal do mesmo mês, os índios ti- seis

A Funai quer anular a patente de uma substân- nham uma expectativa positiva em relação ao Roraima, e a chuva foi comemorada pela po-
cia com poder anticoncepcional que utiliza co- pedido. O CIR pretende, paralelamente, perfu- pulação e pelos dois mil homens, entre bom-
nhecimento tradicional dos índios Wapixana. A rar poços artesianos e instalar canalização para beiros e técnicos do Brasil, da Venezuela c da
patente foi registrada no Reino Unido pelo quí- distribuir a água entre as famílias indígenas. A Argentina, que lutaram contra o fogo. Coinci-
mico britânico Conrad Gorinskj'. “Vamos tentar entidade acredita ser preciso implementar um dência ou não, Knkryti e Myt-i, pajés
anular a patente ou assegurar uma retribuição programa emergencial que dê conta de atender Txucarramãe, anteciparam para anteontem à
financeira aos Wapixana”, disse Júlio Gaiger, as populações até setembro, período da colheita. noite o ritual previsto para ontem, para pedir
presidente da Funai. A Convenção sobre Diver- A expectativa dos índios, diz Jerônimo, 6 poder chuva ao deus da chuva e do trovão Bep-
sidade Biológica, assinada por 144 países, pre- plantar suas roças nos meses de abril c maio. (Mar- Kororotí.
vê que, em caso de produtos obtidos a partir de co Antonio Gonçalves, Parabólicas/ISA, abr/98) Os pajés foram levados de avião pela Funai para
conhecimentos tradicionais, parte dos royalties Boa Vista, onde celebraram a dança ritual, com
seja destinado à comunidade que detém a in- BR-174 DEVERÁ LEVAR pedaços de cipó e água jogada aos céus, para
formação. depois anunciar tranqüilamente que dentro de
MAIS FOGO A RORAIMA
Gorinsky é o primeiro pesquisador a escrever poucas horas iria chover. E muito. E foi assim.

na patente que a substância registrada, chama- Os projetos oficiais de colonização instalados O pajé Myt-í limitou-se a dizer, no seu idioma
da de rupununine, em referência ao do próximos da floresta foram apontados por es- nativo: “Estou feliz por ter ajudado a acabar com
Rupunini, faz parte do conhecimento de um gru- pecialistascomo um dos componentes do o sofrimentodo povo Yanomami e dos brancos
po indígena que vive no Brasil. Os Wapixana vi- megaincêndio que devastou quase 15% da pai- de Roraima, mas não estou surpreso porque
vem em Roraima e na Guiana. Normalmente, sagem roraimense nos últimos cinco meses. De para mim não havia dúvida do poder de
os dentistas usam informações retiradas de gru- acordo com o ecólogo Reinaldo Barbosa, do Kororoti. Só estou espantado com a surpresa
pos indígenas, mas não admitem isso. Dizem Inpa, o baixo nível tecnológico adotado pelos de vocês.” (Correio Braziliense, Diário do
que chegaram à nova droga por meio de pes- colonos em relação ao manejo agrícola da tem -
Grande ABCJI\ OESP, 03/04/98)
quisas. O rupununine é uma substância oblida ou seja, as queimadas - somado à estiagem inten-

sa c aos ventos alísios proporcionou o acidente.


a partir da semenie do bibiri (Ocoiea rodioei ) SOLIDARIEDADE DE
usada pelos Wapixana como anticoncepcional. Com a pavimentação da BR-174 e a chegada de
ENTIDADES INGLESAS...
Na patente, Gorinsky prevê outros dois usos para novos migrantes, a escala no uso do fogo deve-
a substância: inibidor de pequenos tumores e rá crescer de forma vertiginosa. A pressão so- O CIR divulgou, no último dia 15 de abril, in-

controlador do vírus da Aids. (PSP, 02/06/97) bre os recursos naturais (madeira, por exem- forme sobre os andamentos da campanha de
plo) e sobre os limites da floresta, a oeste, de- solidariedade aos povos indígenas atingidos
certo aumentarão. Cenas da mata em chamas, pela seca e pelos incêndios que devastaram o
INCÊNDIO como se viu no último mês de março, podem estado de Roraima entre o final do ano passa-
vir a se tomar uma rotina anual, criando, ao do e o último mês de março. Segundo o infor-

SEM ÁGUA E ALIMENTOS, lado da estação chuvosa, uma “estação de me, as primeiras entidades a contribuírem para
ÍNDIOS ESTÃO EM APUROS fogo” na região. a campanha foram a Oxfam, com R$ 1 36 mil, e
Pelo menos cinco áreas indígenas eslão direla- a Christian Aid, com R$ 107 mil. Ambas entida-
Os meios de sobrevivência tradicionais da po- mente afetadas pelo asfaltamenlo daBR-174. No des estão sediadas na Inglaterra. Esses recur-
pulação indígena do estado, estimada 30 mil ponta norte da estrada, já há notícias de atrope- sos serão utilizados para a compra de manti-
índios (aproximadamente 12,5% da popula- lamentos de índios da TI São Marcos, onde vi- mentos no mercado local, para compor cestas
ção) foram afetados tanto pela seca quanto pelo vem os Taurepang, Makuxi e Wapixana. Ainda
,
básicas. A composição da cesta deverá variar
fogo. No último dia 31, um dia após a chegada em Roraima, cresce a preocupação dos de acordo com o tamanho de cada família indí-
da chuva, o CiR uma organização indígena que Yanomami em relação à pressão sobre a fron- gena. Serão priorizadas, de acordo com o in-
representa etnias que habitam a região do la- teira leste de sua área. Já os Waimiri-Atroari, forme, as comunidades mais prejudicadas,
vrado (savanas) - informou que 1.1 14 famílias calejados com suas experiências passadas, já se como as iocalizadas na região das Serras, no
indígenas foram atingidas, perdendo casas, pas- precaveram: elaboraram um sofisticado plano Taiano e no Amajari. (Últimas Notícias/ISA,
tagens e roçados. No total, 2,2 mil ha de roças de monitoramento dos 125 km que cruzam sua 24/04/98)
foram devastados. Jerônimo Pereira da Silva, área tradicional, no Amazonas, O plano, que
coordenador geral da entidade, disse que mui- obteve K$ 3 milhões de recursos governamen-
das comunidades indígenas que habitam as
... E DA UNIÃO EUROPÉIA
tas tais, está em curso e conta com agentes motori-
serras e o lavrado roraimense já haviam perdi- zados distribuídos ao longo da rodovia . Hoje, Representantes do CIR, da CCPY, da União Eu-
do suas roças antes dos incêndios. cerca de 300 veículos cruzam diariamente a área ropéia e de quatro entidades de apoio européi-
Céticos em relação à eficiência do socorro go- Waimiri-Atroari. Com o asfaltamento total do as estiveram reunidas, entre os dias 20 e 23 de
vernamental, os tuxauas do CIR decidiram trecho roraimense, sabe-se lá por quanto esse maio, para acertar o repasse de R$ 1 ,2 milhão
deflagrar uma campanha internacional para ar- número poderá ser multiplicado. (Marco An- às comunidades indígenas afetadas pela seca e
recadar provisões e fundos para todas as co- tonio Gonçalves/!SA, abr/98) pelo incêndio que devastou cerca de 15% do
munidades atingidas. No dia 17 de março, en- estado de Roraima. Os recursos foram levanta-
caminharam um pedido de ajuda formal à Co- dos pelas ONGs France Liberté (França) Oxíam ,

POVDS INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 329


1998
(Inglaterra), Movimondo (Itália) e Médicos Sem
-

Fronteira (Holanda) junto ao Echo, o Departa-


mento Humanitário da Comunidade Européia.
LACEROA/AE

De acordo com o antropólogo Bruce Albert,

representante da France Liberte, os fundos do-


PAULO

ados pela Oxfam e pela Movimondo (cerca de


JOSÉ R$ 360 mil cada) serão aplicados em progra-
mas a serem desenvolvidos nas áreas indígenas
situadasno lavrado roraimense. Esses progra-
mas incluem ajuda alimentar e distribuição de
sementes às famílias indígenas, além da perfu-
ração de poços artesianos e irrigação de culti-

vos nas aldeias assoladas pelo fogo e pela seca.


O CIR, que já havia recebido cerca de R$ 280
mil em doações de outras fontes, será a entida-
de responsável pelo gerenciamento dos recur-
sos e pela implementação dos projetos na re-
gião do lavrado.
Outros R$ 360, doados pela France Liberté e
Pajés kayapó
gerenciados pela CCPY, serão utilizados para fi-
comemoram,
em Boa Vista, a nanciar a compra de medicamentos e equipa-
chuva que veio mentos médicos para a farmácia central da
após a pajelança. Funasa, em Boa Vista, capital do estado - que

FOGO E LAMA NO NORTE DO BRASIL


Com as chuvas recentes que caíram sobre pitação pluviométrica que caracterizam o clima madeireiros locais, e depois não conseguem per-
Roraima, o fogaréu inédito que consumiu algo da região. manecer nos seus lotes, que acabam sendo ven-
em torno de 20% do sen território começa a se A prática das queimadas é usual na região do la- didos a fazendeiros.
apagar. Ainda há focos não dimensionados no vrado de Roraima. São savanas que naturalmente Atualmente, esse processo está agravado Jfor dis-
nordeste do estado e na Guiana, mas é provável se ressecam nos /teriodos de estiagem, adquirin- putas políticas. Os três principais grupos políti-
que as chuvas não tardarão muito mais. encer- do alto grau de combustão, e são queimadas pelos cos tocais lotearam os órgãos com competências
rando a estiagem mais forte de que se tem me- índios e lavradores como alternativa rudimentar na questão fundiária. A Superintendência do Incra
mória, mais que a de 82, talvez comparável à para a limpeza de /fastos e áreas de plantio. Numa foi entregue ao grupo de Otornar Pinto, atual pre-
outra que penalizou o norte do Brasil em meados forte est iagem, como a que agora parece findar, feito de Boa Vista, cuja esposa, senadora, é
dos anos 40. ainda mais se alavancado pelo vento, perdeu-se o candidata ao governo do Estado nas eleições des-
A estiagem já configurava uma situação de cala- controle do fogo em muitas pequenas queimadas se ano. Outros cargos de confiança na Superin-
midade antes da generalização do Jogo. Come- queforam se somando e engolindo cercas, roças e tendência foram entregues ao grupo do senador
çou em agosto, dois meses antes do normal. Na casas. De qualquerforma, e apesar das demandas Romero Jucá, cuja esposa, ex-prefeita, também é
virada do ano, rios importantes, como o Mucajaí, de recomposição da frágil estrutura produtiva candidata ao governo. Olteraima, órgãofundiário
o Surtimu e o Tacutu já estavam reduzidos afile- dessa região, não se considera desastroso, ali, o estadual, é dominado pelo atual governador,
tes de ágtui ou sequências de fx>ças de águas quen -
impacto ambiental do fogaréu, Neudo Campos, candidato à reeleição. Todos dis-
tes, onde se concentraram a poluição dos garim- O dado mais chocante do episódio refere-se às re- putam para ver quem assenta, a qualquer preço,
pos, /feixes mortos efocos de reprodução de mos- giões de florestas situadas a oeste e ao sul do esta- mais gente nas áreas de Jloresta.
quitos, inclusive o transmissor da malária. Seca- do, especialmente as áreas de transição do latra- Vale registrar que Roraima não tem demanda de
ram asfontes /ferenes de ágtut utilizadas pelo gado do para a Jloresta, que arderam como nunca. No terra, embora sejam inúmeros os conflitos por ter-
da região do lavrado e também muitos igarapés caso, osfatores climáticos podem não ser os prin- ra engendrados pela estratégia caótica de ocupa-
da região de floresta. cipais vilões da história. Ocorre em Roraima um ção do estado. São menos de 300 mil habitantes
processo selvagem de colonização. Políticos irres- para um território quatro tezes maior que o da
CAUSAS F. CONSEQUÊNCIAS
ponsáveis promovem migrações desordenadas Paraíba, a maioria dos quais concentrados na
GLOBAIS. REGIONAIS E LOCAIS para Roraima, de contigentes populacionais mi- capital. Mesmo desconsiderando os 40 mil índios
Sobre as causas da forte estiagem, há hipóteses seráveis, oriundos principalmente do Maranhão, que detém direitos ainda não inteira mente reco-
diferentes,eventualmente não excludentes. A e que chegando passam a constituir clientelas
lá nhecidos sobre 55% do território, têm-se ali uma
mais alardeada /feia mídia atribui ao El Nino a dependentes desses políticos. das menores densidades demográficas do Brasil e
responsabilidade /forela. Difícil rechaçá-la, já que Assim, o mesmo processo que originou a praga do mundo. Mesmo assim, uma das poucas unani-
esse moleque anda mesmo embananando o cli- garim/mra em Roraima vem sendo recentemente midades entre os políticos locais é a oposição à
ma de várias regiões do planeta. Já o Lntzemberger aplicado a assentamentos rurais de colonização, demarcação das terras indígenas e o concorrido
reajirma sua hipótese de que o desmatamento que se concentram nas regiões de floresta, estímulo às migrações desordenadas.
desenfreado de outras regiões da Amazônia, como desmaiando os entornos de terras indígenas e de A abertura de estradas vicinais, a ação dos ma-
o sul do Pará, norte de Mato Grosso e Rondônia, unidades de conservação ambientai Não raro, a proliferação dos assentamentos de
deireiros e
está quebrando as ondas de evaporação e preci- esses colonos desmaiam a jloresta, alimentando colonização nas áreas de florestas provocam a

330 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


atende os distritos sanitários do Oeste, onde do no Senado .0 candidato ao senado, Getúlio
ELEIÇÕES
estão os índios Yanomami, e do Leste, onde vi- Cruz, defendeu na ocasião a inclusão do índio

vem as etnias Makuxi, Wapixana, Ingarikó, nos diversos programas governamentais de de-
Taurepang e Patamona. Os R$ 1 20 mil restan-
LÍDERES MAKUXI senvolvimento do estado. “Juntas, as comuni-

tes, doados pela Médicos Sem Fronteiras, se


CONCORREM À ASSEMBLÉIA dades indígenas de Roraima detêm 40% do ter-
destinarão a contratar profissionais de saúde ritório do Estado e representam 12% da nossa
Com aproximadamente dez mil eleitores indí-
para dar apoio aos postos da Funasa situados população. Essa realidade não pode deixar de
genas (5,8% do total). Roraima terá dois can-
dentro da TI Yanomami. (Marco Antonio Gon- didatos indígenas nas eleições de 4 de outubro:
ser observada pelo homem branco que quer
çalves/ISA, 27/05/98) em trabalhar com o desenvolvimento econômico
Nelino Galé, atualmente vereador 1'iramulã.
Makuxi, membro do estado”, comentou. (Folha de Boa Vista, 05
ejosé Adalberto Silva, índio
e 06/09/98)
ativo do CIR, uma entidade indígena indepen-
dente. Ambos concorrem pelo PT à uma vaga
na Assembléia Legislativa. (ISA, 08/09/98) ... É UM PALANQUE VAZIO
O Comitê de Apoio ao índio, inaugurado pela
COMITÊ DE APOIO AO ÍNDIO...
candidata Teresajucá, continua fechado e sem
A coligação “Compromisso com Roraima", da nenhuma serventia para as comunidades indí-

candidata Teresa Jucá (PSDB), inaugurou on- genas do estado. O prédio só serviu de palco
tem o Comitê de Apoio ao índio de Roraima, para uma festa, onde não faltaram promessas.
com a presença de comunidades indígenas de A criação do Comitê foi a forma encontrada pela
lodo o estado. Durante a inauguração do Comi- candidata de reverter uma situação criada por

tê, foram apresentados o programa de governo seu marido, Romero Jucá, quando presidiu a
do PSDB e as propostas de atuação desse parti- Funai, considerada uma das piores administra-

fjerda gradativa de umidade principalmente nas


,
Brasília canalizar recursos através dos órgãos ÍNDIOS PEDEM APOIO
bordas da floresta, viabilizando a introdução do cujas representações em Roraima são por eles PARA PROJETO PRÓPRIO
fogo onde antes isso não ocorria. Esse fenômeno controladas. No auge do fogaréu, o senador Jucá
Apesar de tanta esquizofrenia, e atépor conta dela,
já batia sido estudado pelo Ipam em outras regi- chegou a ser cogitado para o Ministério do Meio
as índios de Roraima escaldados, pretendo a apro-
.

ões da Amazônia, tradicionalmente mais afeta- Ambiente.


priação eleitoreira e “ nacionalisteira " dos recur-
das pela exploração seletiva de madeira, e agora
XENOFOBIA MILITAR DIFICULTA sos oficiais, elaboraram e orçaram o seu próprio
se confirma também em Roraima. Mais ainda,
projeto, centrado nas providências emergenciais
antecipa a /wssibilidade de que outros megain- AJUDA EXTERNA
requeridas especificamente pelas comunidades
cêndios venham a ocorrer em outras partes da Em Brasília, a confusão política também é total. indígenas, e se mandaram para Brasília para
Amazônia com o início da seca no hemisfério sul, Outro incêndio, o da reforma ministerial, impe-
contatarem autoridades e organismos internaci-
a partir do próximo mês. diu que o governo federal visualizasse o estrago
onais, em busca de recursos que pudessem ser
POLÍTICOS LOCAIS DISPUTAM CONTROLE em Roraima, até que o fogaréu literal tomasse
destinados a eles e administrados por eles própri-
as páginas do New York Times e as imagens da
SOBRE RECURSOS EMERGENCIAIS os, com chances, portanto, de se safarem da fisio-
CNN. Começou, então a pirotecnia política fe- boa receptivi-
logia eleitoreira reinante. Tiveram
,

Os fatores climáticos se associam à irrespon- deral. Na capital, o ministro do Meio Ambiente, dade entre instituições de cooperação internaci-
sabilidade política para explicar o fogo que que era para ser mas acabou não sendo substi- onal e ouviram do secretário de Políticas Regio-
calcina as florestas de Roraima.Mas os fatores tuído, foi eclipsado, sendo entregue à Secretaria
nais que o xenofobismo militar não atrapalhará
políticos infelizmente, não podem ser apagados
,
de Políticas Regionais, vinculada ao Ministério
a chancela da burocracia federal ao refmse de
pela chuva. Os mesmos interesses que poten- do Planejamento, e à qual está subordinado o
recursos externos para o atendimento das reivin-
cializam a estiagem e o fogo lutam agora para Departamento de Defesa Civil, a coordenação dos
dicações indígenas. Vamos ver.
controlar os recursos emergenciais destinados a esforços emergenciais relativos à situação de
Espera-se, ainda, que ofim dofogo não relegue a
minimizar os efeitos da catástrofe. Roraima. Foi essa mesma Secretaria que, ainda
catástrofe ao esquecimento. As primeiras chuvas
Na verdade, essa disputa já estava enunciada nos no final do ano fmsado, loteou indevidamente,
já rebaixaram as manchetes nas primeiras pági-
primeiros momentos do incêndio. O governador segundo critérios político-eleitorais, os recursos
nas, antes mesmo que fosse superada a polêmica
Neudo Campos saiu falando que o fogo já havia disponíveis para enfrentaras consequências, no
sobre a extensão do incêndio. Outras tragédias,
consumido 25% do estado, num chute superesti- Brasil do fenômeno El Nino. No estado, a coor-
,
como a que assola os sem-terra do sul do Pará, já
mado para superestimar recursos emergenciais. denação operacional foi delegada ao comando
se interpõem à atenção da opinião pública. É tudo
Pisando em Brasília, advertido pelos comparsas local do Exército. Enquanto o fogo avançava, a
o que o lamaçal da politicalha local deseja. Que
federais, reduziu a estimativa para 3%, preten- tônica das discussões entre os órgãosfederais era
ninguém defora monitore a esbórnia eleitoral com
dendo evitar um escândalo internacional. Esti- se o Brasil deveria ou não aceitar ajuda interna-
os recursos emergenciais, para que fiquem asse-
mou milhares de cabeças de gado torradas, mas cional. Para os militares, não. O fogo é nosso e
guradas as condições objetivas para a oconvncia
quem queimou mesmo foram os jabotis e outras qualquer ajuda externa caracteriza um atenta-
de novos desastres sociais e ambientais. E que nin-
espécies que não dispõem de mobilidade sufici- do à soberania nacional. guém se engane, Jx)is a floresta queimada ainda
ente para fugir do fogo. Enquanto isso, seus ad-
dará lugar a novas frentes de colonização, repro-
versários o acusavam de omissão e buscavam em
duzindo a saga trágica que constitui a história de
Roraima. (Márcio Sanlilli/ISA, 02/04/98)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA LAVRADO 331


ções (lo órgão. Jucá foi praücamente expulso caso as comunidades indígenas confirmem sua GADO POR VOTO
da presidência, depois que lideranças indíge- preferência pela candidata do PSDB, Teresa Jucá
O procurador da Funai, Wilson Précoma, de-
nas do Pará denunciaram sua participação em -que conseguiu 39,90% dos volos (57.864 vo-
clarou ter provas de que o senador Romero Jucá
esquemas de corrupção. O Comitê agora cria- tos)na ocasião.
entregou gado para as comunidades indígenas
do c uma forma de mudar essa imagem. Se- A recomendação das entidades indígenas para
em troca de voto para a candidata ao governo,
gundo representantes do CIR, trata-se de mais que votassem em Teresa Jucá na primeiro turno
Teresa Jucá, mulher do senador. Segundo
uma manobra eleitoreira; “No dia da inaugura- das eleições estaduais geron medidas extremas
Précoma, nos dias 2 e 3 dc outubro, antes do
ção, eles mandaram ônibus, fizeram promes- por parte dos partidários dc Campos. Nos dias
primeiro turno, Jucá, acompanhado de outro
sas, mas tudo não passou de uma enganação", que se seguiram à votação, ocorreram denún-
funcionário da Funai, entregou 400 matrizes de
denuncia Cíóvis Ambrósio, do CIR. (Brasil Nor- cias de irregularidades, envolvendo o encurrala-
rezes reprodutoras nas malocas Raposa I, II e
te, 17/09/98) mento de índios antes da votação, a distribui-
III, Guariba I e II. (Brasil Norte, 20/10/98)
ção de brindes e bebidas alcoólicas e o trans-

ALIADO no GOVERNO porte ilegal de eleitores indígenas em caminhões


promocionais de partidos aliados do governo. ELEIÇÃO EM RORAIMA
FAZ DENÚNCIAS É “JOGO PESADO”
A fim de combater o aliciamento de votos indí-

Um grande esquema de desvio de verbas e de genas na votação do segundo turno, no próxi-


O TSE aprovou o uso de tropas do Exército para
combustível da Funai para as campanhas de mo dia 25, Roraima terá uma ação federal en-
garantir a lisura das eleições em Roraima, onde
Teresa Jucá, do candidato Simeão e outros volvendo a PF de Boa Vista, funcionários da Funai
foi dois candidatos - Neudo Campos (PPB) e Tere-
denunciado pelo presidente da Comissão Per- de Brasília e até um helicóptero para conduzir
sa Jucá (PSDB) - disputam o segundo turno em
manente de Licitação (CPL), Cassiano Makuxi. as umas. A iniciativa foi proposta no último dia
meio a uma onda de denúncias de aliciamento
As denúncias foram encaminhadas para o mi- 16 de outubro, durante uma reunião entre o
de eleitores e compra de votos. 0 Ministério da
nistro de Justiça, Renan Calheiros, e para o pre- presidente da Funai, Sullivan Silvestre, represen-
Justiça e a Administração da Funai acompanha-
sidente da Funai em Brasília. “0 senador tantes do TRE e Ministério Público Federal,
ram uma operação paia impedir o aliciamento
Romero Jucá é quem controla a Funai, O membros da Apir e do CIR. de votos dos sete mil índios volantes em Rorai-
administador tem apoio do senador e por isso A intenção é formar uma equipe para fiscalizar
ma. Cinquenta agentes da PF e cem funcionários
ele está sucaíeando o órgão, em detrimento das o transporte dos índios de suas malocas para
da Funai estiveram percorrendo cerca de 280
comunidades indígenas", afirmou Cassiano os postos de votação e controlar o assédio de
malocas em todo o estado para coibir a compra
Makuxi. cabos eleitorais e bocas-de-urna. Segundo o
de votos, conto aconteceu no primeiro turno.
Outra denúncia de Cassiano dá conta do desvio coordenador da operação, Paulo Roberto de
Cinco índios da comunidade Wapixana de Mos-
de verbas das diárias liberadas para alguns fun- A2 evedo Jr., “a medida visa garantir aos índios
cou foram a Boa Vista denunciar achacamento
O administrador Walter Blós de- o usufruto de seu direito constitucional de voto".
cionários. foi cometido pelo candidato do PSL, Berinho
nunciado por também estar desviando verba da Denúncias encaminhadas à Apir afirmam que
Bantin, da coligação do governador Neudo Cam-
Em nota publicada na imprensa, a Funai nas malocas do Boqueirão e Boca da Mata, onde
Funai. pos (PPB). 0 tuxaua Wapixana Raimundo da
repudiou a denúncia, considerando-a "um ata- residem respeclivainente 160 e 400 índios, fo-
Silva afirmou que Bantin deu motosserras e uma
que de órgãos de imprensa ligados claramente ram verificadas ações coercitivas sobre os elei-
máquina de fazer farinha à comunidade indí-
à correntes políticas do Estado". (Brasil Nor- tores. (Liiciam de Cerqueira/ ISA, 19/10/98)
gena na véspera do primeiro turno. Como re-
te, 18 e 23/09/98) cebeu apenas 21 dos 180 votos da comunida-
ADALBERTO E NELINO de, mandou capangas tomarem o maquinário.

ÍNDIOS PODEM DEFINIR NÃO SE ELEGEM Segundo o superintendente da Funai, Paulo


Roberto Ferreira “como a diferença entre os
SUCESSÃO ESTADUAL
Adalberto Makuxi e Nelino Galé, candidatos in- candidatos é muito pequena, os sete mii votos
O futuro governador dc Roraima poderá ser dígenas que concorreram à Assembléia dos índios podem decidir a eleição. Está ha-
definido pelo voto dos cerca de sele mil eleito- Legislativa de Roraima, no último dia 4 de outu- vendo uma corrida dos candidatos às áreas in-
res indígenas do estado, cerca de 4% de todo bro, peio Partido dos Trabalhadores não se ele- dígenas com promessas dc doação de equipa-
seu eleitorado. Com 48.612 votos (47,49%) geram. De acordo com o CIR, Adalberto Makuxi mentos, bebidas, comidas eaté dinheiro. 0 jogo
obtidos no primeiro turno, o governador Neudo obteve apenas 319 volos, e Nelino Galé recebeu aqui é bastante pesado". (O Globo e Diário de
Campos pode ter sua reeleição comprometida, parcos 205 votos. (ISA, 19/10/98) Boa Vista, 20/10, e O País, 21/10/98)

332 RORAIMA LAVRADO POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


— -

Acervo
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2.2. RORAIMA MATA

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NOVO AIH AO

— limite Interestadual

rodovia implantada
TERRAS INDÍGENAS

H reconhecida oficialmente
mais de 2.585.000 ha
rodovia planejada
A reconhecida oficialmente
menos de 2. 100 ha
capital de Estado

• cidade
\ }
interditada

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL/2000
Unidade de Conservação federal
KS222*
nuniiD Área militar |
apresentada em outro capitulo
4
* í —'—

Copyiighled maleri
)

/MATA
Terras Indígenas
Instituto Socioambíenta! - Dezembro de 2000

Ref, Terra Jndígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n
a
, fonte, data (ha)

131 Ilha Jacaré Xipaca Satere-Mawe 0 Em IdentificaçSo/Revisio. 2.044 Airão AM Calha Norte.
Em redefinição (Funai; 95).Reservada/SPI (Funai: 84).

425 Trombeta s/Mapuera Wai Wai 284 Dias Jr: 98 Em Identifica ção/lnterditada. U ruçara AM Calha Norte, faixa de fronteira.
Karafawyana Port.Funai nPP/3633 de 06/11/87 Faro
interdita área PA Requerimento e alvará de pesquisa
p/ estudos e definição da área (DOU, 01/12/87) Oriximiná PA
Port.Funai n. 981 de 18/9/00 cria GT p/estudos S.JcSu da Baliza RR
e identificação. (DOU, 20/09/00) Nhamundá AM
340 Wa imírí- Atroa ri Waimiri Atroari 798 Carvalho: 99 Homologada Reg. CRI. 2. S. Luiz RR Cãlha Norte. Requerimento e
Karafawyana Dec. 97837 do 16.6.89 homologa a demarcação Novo Airão AM alvará de pesquisa mineral. Parte
Piriutiti IsoJ. administrativa. Ficam excluídas: faixa de domínio Pres, Figueiredo AM da Ai inundada pela UHF Balblna
da BR 174 e inundação de Balbioa. Reg. CRI de Moura AM Rodovia BR-174 corta a área.
Pres. Figueiredo Matr. 459, liv. .2-RG, fj. 225 em Estrada da Paranapanema corta a
17/4/W; Novo Airão Matr. 755, Liv. 2-B, fl. 368 área./RR de Jatapíi planejada.
em 17/6/89; S. Luiz Cara ca rei Matr. 211, Liv. B-3RG, isolados.
fl. 8 em 2/2/99, S. João da Baliza Malr. 212,
Liv. B-3/RG, fl. 8 em 3/2/89. Reg. SPU Cert. 292 de
22/1 1/88. Dec. s/n de 28/07/94 que retifica os limites
da área do Exército, Gleba Rio Pardo, deixando de
incidirem 21.408 ha na Tl.fDOU, 29/07/94}.

585 Yanomami Yanomami 11,336 FNS: 99 Homologada. Reg. CRI. 9.664.975 Aíto Alegre RR Calha Norte. Faixa de fronteira.
Yekuana Oec. s/n de 25/05/92 homologa a demarcação Boa Vista RR Requerimento e alvará de pesquisa
(DOU, 26/05/92). Port. Funai 939 de 28/09/S3 Caracaraí RR mineral. Hidrelétrica planejada.
constitui equipe técnica p/ levantamento fundiária Barcelos AM Rodovia BR-210 corta a área.
da TI na localidade do Rio Acara/município de S. Gab. da cachoeira AM Incidência de aproximadamente
Ba rcelos/AM (DOU, 30/09/93). Reg. CRI de S.G. Sta. Isabel r. Negro AM 459.633 ha do PN Picc da Neblina.
da Cachoeira (73.932 ha) Matr. 1 .209, Uv. 2/7. Macajal RR Incidência total das Flonas de
fl, 43 em 10/10/92: Sta Izab do R. Negro (1.575.072 ha) Roraima e Amazonas. E dc Parque
Matr. 102, Uv. Z-B. fl. 37/49 em 16/1 1/92; Barcelos Estadual Serra cu Araçá em
(2.223.302 ha) Matr. 296, Liv. 2-A1, fl.113 em 15/09/92; 1.522.002 ha. Isolados.
Boa Vista (1,502.718 ha) Matr. 12.687, Uv.Z/RG,
fl. gi/08 em 24/06/92; Alto Alegre <1.942.082 ha)
Matr. 12 086, Liv. 2-RG, fl. 01/02 em 24/6/92; Caracarai
(838.328 ha) Matr. 2.185, Liv. R-HRG, fl 68 em 16/2/93;
Mucajai (1.449.541 ha) Matr. 552, Liv. 2-B, fl.252/263
em 1/1 0/83. Oficio ao SPU 1 13 e 1 14 de 1 1/08/93.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 335


RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL

Copyr
Amazônia, Yanomami
e os Equívocos

Ex-ministro da Justiça
Jarbas Passarinho

EX-MINISTRO DA JUSTIÇA REAFIRMA A Revista do Clube Militar freqüememente publica artigos contrá-
A DEMARCAÇÃO DA TERRA YANOMAMI rios a demarcações de terras indígenas, sobretudo a Yanomami.
Os equívocos dos críticos são flagrantes. A demarcação em linha

contínua, como acabou sendo feita em novembro de 1991, fora


proposta ainda no Governo do general João Figueiredo, sendo seu
ministro o saudoso coronel Mário Andreazza, a quem estava su-

bordinada a Funai. A área interditada, de 9 milhões de ha, foi re-


Maloca yanomami,
próxima ao rio Demini.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 337


durida para 8,2 milhões pela Portaria l60, de 13 de setembro de terras indígenas é obrigatória a autorização do Congresso.
1988, assinada por quatro ministros, inclusive o chefe do Gabine- Indesculpável o erro, deplorável a crítica infundada c reiterada.

te Militar no Governo do presidente José Sarney. A portaria resul-


Os que ignoram mesmo superfidalmente a antropologia chegam
tou de estudo de uma comissão criada pelo presidente e da qual
ao absurdo de dizer que os índios Yanomami não existem, que se
fariam parte militares.
tratade uma farsa! Talvez porque não hajam contatato tribo com 0
Um ano depois, porém, nova portaria acaba com a demarcação nome Yanomami. Geneticistas e lingiiistas constataram que os
contínua e reduz a Terra Yanomami a pouco mais de 2 milhões de Yanomami existem há mais de mil anos. O centro de dispersão

ha, um enclave cercado de florestas nacionais. Imediatamente, situava-se nas serras do Imeri e de Parima, hoje fronteira com a

procuradores da República entraram, em outubro de 1989, com Venezuela. Documentos históricos datados de 1787 provam que a
uma medida cautelar para fazer valer a portaria anterior. A liminar migração iniciou-se no século XIX, do que decorre a existência de
foi concedida pelo juiz da 7* Vara Federal. O Governo limitou-se a quatro ramos dos Yanomami: Sanumã, Yanan, Yanomai e Yanoman.

dizer que a ação dos procuradores era de natureza política. O

magistrado sentenciou ordenando a demarcação contínua, em se-


INVERDADES GERAM INTRIGA
tembro de 1990, e determinou a retirada dos garimpos da área
interditada. Dois dias depois de eu assumir o Ministério da Justiça, 0 Além do erro crasso, afirmam que ao demarcar-se a terra, foi ela

presidente da Funai, um militar nomeado pelo meu antecessor, reque- chamada de Nação Yanomami, abrindo possibilidade do
reu em 17 de outubro de 1990 0 cumprimento da sentença judicial. desmembramento do território pátrio. Em nenhum documento
oficial ou oficioso isso ocorreu. É falsidade grave, porque induz os
EQUÍVOCOS leitores da revista - e não milhares de militares - a acreditar no

reconhecimento da existência de um território yanomami so-


Os críticos nada sabem desse antecedente. Cometem equívocos
berano, uma nação indígena dentro da nação brasileira. Intri-
clamorosos. Argumentam que não foi ouvido o Conselho de Defe-
ga perversa, que se seguiu a uma inverdade publicada de que
sa. Ora, a atribuição constitucional do Conselho (Artigo 91) é pro-
numa “reunião da ONU”, em Bruxelas, em 1993, teria havido a
por critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à
decisão de que as terras indígenas seriam reconhecidas como
segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso.
nações independentes.
Nada tem 0 Conselho com demarcação de terra, mas com utiliza-

ção dela, e isso foi desde logo preservado na portaria de 1991. O ministério das Relações Exteriores, em resposta a um requeri-

Outros reclamam que se ignorou 0 Congresso Nacional. Se lessem mento de informação do senador Epitácio Cafeteira, de maio de
0 artigo 231 da Constituição, veriam que só no caso do aproveita- 1996, afirmou não ter havido reunião da ONU em Bruxelas, mas
mento dos recursos hídricos e da pesquisa e lavra de minérios nas de um grupo ad boc e que nenhuma resolução existia. Mesmo os

338 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


menos informados sabem que resolução é atribuição da Assem-
bléia Geral da ONU, que se reúne em Nova York.

A um novo requerimento, este de autoria do senador Luiz Otávio,


de junho dc 1999, o ministro Lampreia reafirma categoricamente
que não existe possibilidade de aprovação de um texto internacio-
nal que atinja a soberania nacional em relação às terras indígenas.
É uni bom recado para as ONGs que pretendem nações indígenas

soberanas. Isso nada obstante, a intriga continua a ser veiculada.

A EXTENSÃO DA TERRA E A CONSTITUIÇÃO


Finalmente, a crítica incide na extensão da área demarcada, de

fato grande, mas não se trata de plano de colonização, em que é


comum destinar cem hectares jwr cajrita. Os nove milhões de ha
resultaram de ser a área tradicional e permanentemente ocupada
pelos Yanomami desde tempos imemoriais e, de acordo com a
o
Constituição (art. 231, parágrafo I ), imprescindíveis à sobrevi-

vência e à reprodução física e cultural dos índios. De resto, a Cons-


tituição (art. 20) reza que as terras indígenas são bens da União e
não dos índios, como supõem críticos desavisados.

Há razões, essas sim, para preocupação com a nossa soberania


sobre a Amazônia, mas não as equivocadas que li na Revista do
Clube Militar. (Artigo originalmente publicado em O Globo, Ca-
derno “Opinião ", 1 de fevereiro de 2000, p. 7)

YANOMAMI NÃO QUEREM ESTRADA PARA MATURACÁ


Vinte e cinco lideranças Yanomami das comunidades Maturacá. veis durante o período das chuvas, entre abril e outubro. Estimativas
Nazaré, Inambu e Maia no Amazonas, representadas pela Ayrca (As- referentes ao ramal para Maturacá indicam dez anos de obras, custo
sociação Yanomami do Rio Cauburis e afluentes), divulgaram carta de R$11 milhões e mais R$500 mil/ ano para manutenção.
aberta no primeiro dia da V Assembléia Geral da Foim (Federação
A decisão sobre a estrada pode estar próxima. Um dos comandantes
das Organizações Indígenas do Rio Negro) posicionando-se contra a
.

do Exército na região que recebeu a carta, Major Ebling, afirmou que


construção do ramaI rodoviário que o Exército planeja construir li-
a obra ainda éuma 'possibilidade em estudo " e que nada será exe-
gando o km 115 da BR -307 (São Gabriel da Cachoeira-Cucuí) até a
cutado sem o consentimento da comunidade Yanomami de Maturacá.
aldeia Maturacá. junto da qual está instalado um jielotão defrontei-
Estudo de impacto ambienta I da estrada está em andamento, a pedi-
ra. Cópias da cartaforam entregues em mãos ao presidente da Funai.
do do Instituto Militar de Engenharia (IME). Seus resultados devem
Glênio Alvarez, e aos comandantes do Exército na região.
ser submetidos a uma audiência pública ainda este ano.
Os signatários Yanomami alegam que a estrada traria transtornos e
Para convencer os Yanomami das vantagens da estrada, o Exército
não benefícios, pois facilitaria a invasão de estranhos, sobretudo
tem oferecido uma série de benefícios de infra-estrutura: poços
garimpeiros e turistas, com imjHictos culturais e sanitários negati-
artesianos, pontes ligando comunidades, veículos utilitários, assis-
vos, além de prejudicar os locais de caça e pesca. Também pergun-
tência médica, entre outros. Com os recursos crescentes do Calha
tam quem manteria a nova estrada, unui i<ez que a BR-307 "está
Norte, projeto reforçado com a “crise colombiana ",
pode-se supor
praticamente abandonada ".
que o Exército terá cacife para cumprir as promessas. Na carta, os

Questionamentos sobre o custo-benejicio dessas estradas merecem, Yanomami dizem que estão interessados nos benefícios, mas desde
defato, atenção. Os 204 km da BR-307 consumiram dez anos de tra- que não venham em troca da estrada. (ISA, com base em Carta Aberta
balho do Batalhão de Engenharia e Construção (1972/82), custam apresentada na V Assembléia da Foirn, 24/10/00)

R$800 mil por ano de manutenção e ficam parcialmente intransitá-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA MATA 339


Acervo
//\\ I SA

Foi Genocídio!

Procurador Regional da República na 1” Região


Luciano Mariz Maia

0 STJ,EM DECISÃO HISTÓRICA, FAZ 0 ACERTO Boiadeiro, Silva, Japão, Maranhão Uriçado, Adriano, Barbacena,
DE CONTAS COM A SOCIEDADE DEMOCRÁTICA Sozinho, Luiz Rocha, Parazinho, Pedão, Boroca. Não foram de-

E 0 ESTADO DE DIREITO NO CASO DO nunciados por falta de informação sobre suas identidades civis.

"MASSACRE YANOMAMI DE HAXIMU"


0 JULGAMENTO DE 1996
Agosto de 1993. Como uma bomba, explode a notícia de que uma Em 19 de dezembro de 1996, 0 juiz federal em Roraima, Itagiba

comunidade de índios yaiioiuami, habitante de Haximu, teria sido Catta Preta, reconheceu que 0 genocídio era delito distinto do ho-

destruída. O número inicial das pessoas tidas conto mortas micídio, por ser crime contra a etnia, cuja competência é do juiz

correspondia ao número de habitantes daquela comunidade, cer- singular, e não 0 tribunal do júri popular. Assim, proferiu julga-

ca de 69 - O fato motivou a ida do ministro da Justiça, do procura- mento, considerando procedente em parte a denúncia, sendo con-
dor geral da República e de toda a imprensa nacional e inter- denados Juvenal Silva (Cururupu), Francisco Alves Rodrigues

nacional ao palco dos acontecimentos, floresta amazônica, di- (Chico Ceará), João Pereira de Moraes (João Neto), Eliézio

visa com a Venezuela. Monteiro Néri (Eliézer), e Pedro Emiliano Garcia (Pedro Pran-
cheta) pelo crime de genocídio, com penas de 19 anos e 6 meses
A Polícia Federal foi logo instruída para atuar, sendo os trabalhos
aos primeiros, c 20 anos e 6 meses a este último, Os réus foram
desenvolvidos pelos delegados Sidney Veras, em seguida substitu-
absolvidos de outros crimes. Houve recurso tanto dos réus quanto
ído por Raimundo Cutrím. De outra parte, 0 procurador geral,
do Ministério Público. Deste, para obter condenação por outros
atendendo sugestões do procurador Aurélio Rios, designou (rês
delitos. Daqueles, para obter a absolvição, ou a nulidade do julga-
procuradores para atuar no caso: Frauklin Rodrigues, que já atu-
mento, por entenderem que, tendo havido mortes, a competência
ava em Roraima; Carlos Frederico Santos, lotado em Manaus e
seria do Tribunal do Júri.
conhecedor das questões em Roraima e Luciano Mariz Maia, da
Paraíba, que já tinha atuado em Roraima e realizava pesquisas com
a temática indígena. NO TRF
Foram denunciados e condenados Pedro Emiliano Garcia, tam- Perante 0 Tribunal Regional Federai, houve uma reviravolta. O TRF,
bém conhecido pela alcunha de Pedro Prancheta, garimpeiro; examinando a Apelação Criminal 1997.01.00.017140-0 RR, deci-

Eliézio Monteiro Neril, também conhecido pelo nome de Eliézer; diu, por maioria, anular a sentença proferida pelo juiz Itagiba Catta
Juvenal Silva, também conhecido pela alcunha de Cururupu, ga- Preta, por entender que, tendo havido morte, a competência para
rimpeiro; Francisco Alves Rodrigues - 0 Chico Ceará; João Pereira julgar seria do Tribunal do Júri, e não do juiz singular. Esclarecen-

de Morais - 0 João Neto. Foram absolvidos Waldinéia Silva Almeida, do seu pronunciamento, 0 Tribunal confirmou que houve genocídio.
também conhecida pelo nome de Ouriçada; e Wilson Alves dos Mas tal delito fora praticado mediante a morte intencional de mem-
Santos, conhecido pelo codinonie de Neguinho. Outros garimpei- bros do grupo yanomami de Haximu, se equiparando, para fins de
ros participantes da chacina de Haximu, conhecidos apenas por atribuição da competência para julgar, ao delito de homicídio. O
seus apelidos ou codinomes, ou alguns nomes completos, mas julgamento ocorreu em 30 de junho de 1998, e 0 juiz Tourinho
ausente a identificação foram Goiano Doido, Goiano Cabeludo, Neto, que havia preparado um voto estudado e profundo, de mais
Caporal, Carequinha, Paraná Aloprado, Ceará Perdido, Goiano de cem laudas, foi vencido, sendo que a tese vitoriosa foi apresen-

340 RD RAIMA MATA PGVOS INDlGENAS NO BRASIL 1336/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
—//f ISA
tãdãcõm inacreditável poder de síntese, em apenas uma lauda! 0 mérito das apelações. Ou seja, deve examinar se, em tendo havido
argumento vencedor resumiu-se, na prática, em sustentar que houve genocídio, como já admitido e proclamado, os garimpeiros apon-

genocídio, mas o genocídio foi cometido com a morte de mem- tados como culpados efetivamente praticaram os atos que lhes fo-

bros do grupo. E, se houve morte, foi crime intencional contra a ram atribuídos.

vida. Se foi crime doloso contra a vida, a competência seria do júri.

DECISÃO PARADIGMÁTICA
O RECURSO DO MPF a
Ainda assim, a decisão da 5 Turma do STJ é paradigmática, e um
0 Ministério Público Federal não se conformou com esse pronun- importantíssimo precedente. Acolhendo o entendimento de que o
ciamento. Foi muitíssimo importante obter do TRF o reconheci- genocídio é crime contra uma etnia, o tribunal não apenas faz res-
mento de que houvera a prática de genocídio. Mas havia a necessi- peitar o grupo enquanto tal, como também, na prática, planta a
dade de se modificar o entendimento de que genocídio equivalia a semente da esperança de que crimes cometidos contra índios não
crime doloso contra a vida. Era necessário fazer reconhecer que o fiquem impunes, já que o tribunal do júri é formado por homens e
genocídio tinha como objeto (ou valor) protegido a etnia, que é o mulheres da sociedade envolvente, majoritária, a qual ordinaria-
conjunto das vidas humanas, que formam uma realidade distinta e mente absorve o preconceito e a discriminação contrários à Justi-
além das existências individuais dos membros do grupo. ça, e absolve garimpeiros, fazendeiros, madeireiros e outros inte-

grantes de grupos econômicos e sociais, que avançam contra os


Em 12 de setembro de 2000 veio o novo pronunciamento, agora
bens e as pessoas de índios e suas comunidades.
do STJ. O caso foi registrado como RESP 222653-RR, sendo relator
o ministro Jorge Scartezzini. A 5“ Uirma desse Tribunal, em julga- Foi genocídio. O acerto de contas com a sociedade democrática e
mento unânime, decidiu que no genocídio o bem jurídico protegi- o Estado de Direito chegou. Os mortos morreram. Os vivos, muito
do é a etnia. Genocídio é crime contra a etnia. Portanto, a compe- vivos, não ficarão impunes. Esta é a lição de luta e esperança, que
tência para julgar o delito é do juiz singular, e não do Tribunal do a decisão do Superior Tribunal de Justiça nos devolve. Para o futu-
a
Júri. Reformou a decisão do TRF da I Região e restaurou a sen- ro, os dados e informações aqui apresentados poderão ajudar no
tença condenatória do juiz de Roraima. Os garimpeiros continua- processamento e condenação de responsáveis por outras agres-
a
rão condenados e presos. Mas o TRF da I Região deve examinar o sões e outros ataques a povos indígenas, (setembro, 2000)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 341


1

Novidades na Gestão
da Saúde Yanomami

ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS URIHI SAÚDE YANOMAMI


ASSUMEM GRANDE PARTE DO TRABALHO (RORAIMA E AMAZONAS)
DE ASSISTÊNCIA E DIVULGAM SUAS
A Urilti é uma nova ONG criada em 1999 por membros da Comis-
PRIMEIRAS INICIATIVAS E RESULTADOS
são Pró-Yanomami (CCPY), associação de apoio aos Yanomami
que acumulava experiência no atendimento à saúde desses índios
Com a reorganização do Distrito Sanitário Yanomami (DSY) en-
, desde 1991 em três regiões (Demíni, Toototobi e Parawau). Nas
tre meados e fins de 1999 o atendimento à saúde desses índios
. negociações com a Funasa envolvendo a celebração de um novo
passou a ser realizado através do regime de parcerias e convênios. convênio ampliado, foi decidida a criação desta nova ONG, voltada
De um lado, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), de outro, A Urilti firmou com a Funasa,
especiflcamente para o setor de saúde.
agências não-governamentais atuando em diferentes regiões da TI em setembro de 1999- um convênio previsto para durar, numa
Yanomami. Assim, no âmbito do DSY, a responsabilidade pela as- primeira etapa, 15 meses. Iniciada em 12 de dezembro de 1999, a
sistência aos Yanomami ficou dividida entre diversas institui- assistência da Urihi cobre 12 regiões da TI Yanomami: as três onde
ções. Dentre elas, a que responde pelo maior contingente a CCPY já atuava, além de Surucucu, Aratha u, Ilakoma, Xitei,

populacional é a Urihi Saúde Yanomami, conforme se pode Parafuri, Homoxi, Auaris, Catrimani e Ajarani.
averiguar no quadro abaixo:

Atendimento a 6.811 Yanomami


Uma das primeiras iniciativas da Urihi foi refazer os censos nomi-
DSY - POPULAÇÃO ASSISTIDA, POR INSTITUIÇÃO nais das comunidades a serem assistidas. Já se sabia que elas
FUNASA 721 6% correspondiam à maior parte da população yanomami. Mas os
levantamentos disponíveis, repassados pela Funasa, estavam
1DS 1.750 14,5%
desatualizados e traziam sérias distorções quanto aos nomes, sexo
MDM 340 2,8%
e relações de parentesco, além de errôneas designações das
MEVÀ 506 4,2% malocas. Diversas comunidades sequer dispunham de censo.
MNTB 827 6,9%
Para contornar esses problemas, a Urihi organizou um novo le-

SECOW ISMÀ 1.081 9% vantamento demográfico. O trabalho tem sido conduzido durante
URIHI 6.81 56,6% as visitas regulares das equipes de saúde, com o auxílio de intér-

pretes yanomami, além da colaboração voluntária e pontual de


Total 12.036 100%
um antropólogo e um sertanista na região de Surucucu. As coor-
Fontes: DSY/Funasa (mar/00) e Urihi (jun/00) denadas geográficas das malocas e dos principais acidentes geo-

Nota: O número de Yanomami atendidos pela Secoya é, conforme a própria entidade, um gráficos foram plotadas, na perspectiva de se elaborar um mapa
pouco superior ao aqui apresentado: 1 15ó (ver adiante). da área que venha a apoiar as ações no setor da saúde.

342 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0C10AMBIENTAL


. 1

A Urihi toma como sua principal meta garantir assistência primá-


ria permanente a toda essa população, que, em anos anteriores,
vinha apresentando indicadores de saúde preocupantes, A ade-
quação da infra-estrutura dos postos de atendimento na TI e o
estímulo à participação dos Yanomami na organização do Conse-
lho do DSY são outros dos objetivos, que ainda incluem a promo-
ção da educação em saúde,
São 194 profissionais na equipe, entre médicos, enfermeiros, au-
xiliares de enfermagem, um agente indígena de saúde,
microscopistas, laboratoristas, odontólogos, técnicos de controle
de endemias, administradores, equipe de apoio técnico e logístico,
antropólogo e educadores, l6l dos quais com atribuições predo-

minantemente nas aldeias yanomami. Nos cursos voltados ao trei-

namento técnico da equipe, um aspecto importante é a inclusão


de noções básicas sobre a vida social e a cultura yanomami.

POPULAÇÃO YANOMAMI ASSISTIDA P/ 1 R1HI - 1° SEM./2000


Resultados apenas iniciais desse levantamento - referindo-se às
Kegiões/Su b-Regiões Pop. N". de Comunidades
comunidades das quais já existiam censos prévios e incluindo os
óbitos e nascimentos de 1999 que ainda não dispunham de regis- Ajarani 81 01

tro de ocorrência junto ao DSY/ Funasa - indicam uma população Arathau 227 02
assistida 1 1% maior do que aquela que se conhecia, ou seja, 6.81
Auaris Katimani (214) 1.677 31
Yanomami, dispersos por 136 comunidades.
Momoibu (110)
Para garantir 0 desenvolvimento das atividades em todas as aldei-
Saula (164)
as, as regiões de maior contingente populacional - Auaris, Sururucu
Onkopiu (124)
e Xitei - foram divididas em sub-regiões, com postos de atendimento
minimamente equipados (farmácia, radiofonia e equipe fixa) Posto/Auaris (426)

Passarão (150)

Sigaima (189)

Katarrinha (212)

Alamotau-tuu (88)

Parawau 287 10

Catrimani 510 12

Dcmini 112 01

Hakoma 307 04

Homoxi 460 03

Parafuri 398 10

Surucucu Posto/Pirist (578) 1.598 35

Okomo u ( 423)

Yauratha (146)

Moxahi (451)

Toototobi 301 06

GC AT-’
Xitei Posto/Watatas (443) 21

Simoko (229)

Yopopekè (181)

Total 6.811 36
Vacinação no posto Parawau, Amazonas. Fonte: Urihi (jun/00)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 343


após implantar seu programa, a Urihi já divulga resul- As atividades como vacinação, busca ativa de malária, controle de

tados importantes, como as reduções no coeficiente de mortalida- vetores, tratamento em massa para verminoses a cada três meses,
de e na incidência da malária e a capacitação de indivíduos tratamento de oncocercose, visitas do odontólogo, vigilância
Yanomami para o trabalho na área da úde. epidemiológica e treinamentos dos profissionais estão sendo de-
senvolvidas conforme o programado. Entretanto, seu real impacto
Mortalidade e malária caem pela metade na situação de saúde dos Yanomami só poderá ser avaliado ao
O inédito contingente de profissionais de saúde treinados atuando final do ano de 2000.
no campo e a assistência ininterrupta em todas as áreas desde o
As remoções para investigação diagnóstica ou tratamento especi-
começo deste ano possibilitaram a realização de um diagnóstico
alizado para a Casa do índio e Casa de Cura de Boa Vista (RR)
da situação de saúde dos Yanomami. Os números apresentados a
somaram 146 casos desde o início da assistência da Urihi, de-
seguir referem-se, sempre, ao período que vai de janeiro a junho
monstrando uma tendência de queda com o passar dos meses.
de 2000.

Foram notificados 32 óbitos entre os Yanomami assistidos pela A falta de atendimento regular na Venezuela tem levado muitos
Urihi, determinando um Coeficiente de Mortalidade Geral (C,MG) Yanomami de lá a buscarem assistência nos postos de saúde man-
de 4,7% no semestre. Se forem mantidos no segundo semestre, tidos próximos à fronteira. Somente no período considerado, fo-

tais números levarão o CMG de 2000 a 9.4 (em mil), ou seja, 52,5% ram examinadas 529 lâminas dessa população e os atendimentos

menor que a média deste coeficiente entre 1991 e 1999 (CMG chegaram a 259- Cento e nove casos de malária foram diagnostica-
médio = 19.8) Essa redução é ainda mais significativa lembrando- dos e tratados. Em geral, os Yanomami da Venezuela apresentam,

se que é possível que muitos óbitos ocorridos entre os Yanomami ainda, um grave quadro de desnutrição.

até 1999 não tenham sido contabilizados, em virtude da baixa co-


bertura na assistência anteriormente oferecida. Investimentos na infra-estrutura
Por residirem em áreas muito afastadas dos postos de saúde que
Quanto à natalidade, houve aumento. Foram registrados 158 nas-
existem atualmente, cerca de dois mil Yanomami das regiões as-
cimentos, o que permite projetar para o ano de 2000 um Coefici-
sistidas pela Urihi só podem ser visitados de helicóptero, uma vez
ente de Natalidade Geral (CNG) de 46,4 (em mil) Esse número é
por mês, durante cerca de uma semana. A maioria dessas comuni-
quase 40% maior que a média registrada em todo o DSY entre
dades está a trais de dois dias de caminhada do posto mais próxi-
1991 e 1999 (CNG médio de 33,4).
mo e, para muitas, não há qualquer caminho possível. Para con-
Ainda que os dados de natalidade e de mortalidade gerais sejam tornar essa dificuldade, estão sendo construídas novas pistas de
relativos a apenas seis meses, caso se mantenha a tendência atual, pouso c postos dc saúde, Com isso, pretende-se que a assistência
pode-se esperar, já para o ano de 2000, uma significativa melhora torne-se não apenas melhor (permanente e efetiva) ,
mas também
destes indicadores, diretamente relacionados com a qualidade da mais barata, já que será possível, num primeiro momento, reduzir
assistência e com a qualidade de vida. ao mínimo o custoso uso do helicóptero (cerca de Rí 1 .500,00/
hora de vôo) no transporte das equipes e no abastecimento e, em
A dificuldade ou impossibilidade de acesso aos postos de saúde na
seguida, eliminá-lo completamente.
floresta contribui para que a mortalidade entre algumas comuni-
dades ainda seja bastante elevada. As doenças responsáveis pela
Capacitação e Manual Terapêutico
metade dos óbitos de causa conhecida foram malária e pneumo-
Com o objetivo de que os próprios Yanomami realizem certas ta-
nia, cada uma provocando 25% das mortes. Entretanto, no que se
refas fundamentais do trabalho de assistência à saúde, a Urihi
refere à malária, é importante frisar que sua incidência diminuiu
mantém, em Boa Vista, um Centro de Capacitação. Há cursos vol-
em 51%. A falciparum, o tipo mais grave da doença, que pode
tados para a formação de microscopistas e agentes de combates
inclusive provocar a morte, sofreu redução ainda mais expressiva,
ao vetor da malária (guardas de endemia), além de outros, sobre
caindo de 310 casos em janeiro para 52 em junho, em queda de
as maneiras como se trata a doença. Microscopistas yanomami já
83%. Além disso, o crescimento de 126% no total de lâminas de
existem oito, aprovados nas provas realizadas pelaFunasa, e, até o
pesquisa de malária realizadas (29.961) significou uma conside-
final de 2000, a previsão é formar outros tantos. Guardas dc
rável melhora da capacidade de diagnóstico da doença.
endemia formados são seis, e número igual está participando do

Outros aspectos do atendimento curso para o tratamento da malária. Todos esses Yanomami já es-

Diversas doenças foram responsáveis pelos 13.210 atendimentos tão ajudando no combate à malária nos locais onde vivem, e a

registrados. Porém, grande parte desses deveu-se às infecções res- meta, no futuro, é formar pelo menos um agente de saúde em cada
piratórias agudas e à malária: 31 e 20% respectivamente. comunidade.

Em todo o DSY, conheceram-se 14 novos casos de tuberculose, Outro trabalho desenvolvido foi a publicação do Manual
sendo oito destes oriundos das áreas assisti das pela Urihi. Em 1999, Terapêutico, organizado pelos médicos da Urihi. 0 Manual con-
haviam sido diagnosticados 57 novos casos de tuberculose. (Fon- tém informações detalhadas sobre as dosagens dos principais
te: Casa de Cura - Boa Vista, agosto/2000) medicamentos utilizados nas doenças mais comuns entre as popu-

344 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo
-V/A ISA
lações indígenas da Amazônia, e pode ser adquirido gratuilainente sediado em São Gabriel da Cachoeira (AM), passou a realizar um
na sede da entidade, em Boa Vista, (Fonte: Boletins da Urití n°l a 4) trabalho que procura contemplar diversos aspectos: tanto investi-
mentos de infra-estrutura, ações preventivas (incluindo a saúde
SECOYA (AMAZONAS) bucal) e de vigilância epidemiológica, aumento da cobertura vacinai
na faixa etária entre zero e dez, combate às principais endemias
Os Yanomami do rio Marauiá e médio Demini no Amazonas são
(como a malária e a tuberculose) e à desnutrição, quanto iniciati-
atendidos pela Serviços e Cooperação com o Povo Yanomami -
vas relacionadas à formação de agentes indígenas de saúde, à edu-
Secoya, em colaboração com a Missão Salesiana. Sediada em Bar-
cação sanitária da população, ao treinamento da equipe de campo
celos (AM) a Secoya foi oficialmente criada em 1997. Entretanto,
,
e à avaliação dos impactos dos próprios serviços de atendimento.
seus membros fundadores, apoiados por instituições filantrópicas
européias, atuam na região desde 1991, tanto no setor da saúde Há postos de saúde equipados com sistema de radiofonia e meios

como na educação. de remoção fluvial em todas as aldeias do rio Cauaburis. Em cada


uma, trabalham dois agentes indígenas de saúde. Nas comunida-
0 convênio entre 1'tmasa e Secoya, valendo por um ano e com
des do rio Padauiri, 0 IDS adotou práticas e medidas que possam
possível extensão por mais quatro, foi assinado em novembro de
propiciar uma identificação confiável do perfil sanitário da popu-
1999- Prevê a cobertura e o financiamento do atendimento à saú-
lação, tendo, ainda, dado os primeiros passos para a formação
de aos 1 156 Yanomami que moram em nove localidades: oito al-
dos agentes indígenas, com avaliações dos contextos sociais visan-
deias da bacia do rio Marauiá, município de Santa Isabel do Rio
do 0 recrutamento das pessoas mais indicadas para a função.
Negro (AM) e a Maloca Ajuricaba, no rio Deuúni, município de
Barcelos. O trabalho de assistência conta com “Casas de Saúde Além dos agentes indígenas e do pessoal administrativo, a equipe

Yanomami" situadas nesses dois municípios amazonenses. do IDS reúne uma enfermeira - responsável pela coordenação,
rotina e realização da vacinação -, auxiliares de enfermagem que
O maior obstáculo ao atendimento na área é 0 isolamento: a via-
compõem as equipes volantes e duas antropólogas: uma, de cam-
gem entre Barcelos e as comunidades mais distantes pode durar
po, permanece na área seis meses por ano; a outra, especialista
até cinco dias; e 0 rádio é 0 único meio de comunicação disponí-
em antropologia da saúde, presta assessoria ao projeto. Um dos
vel entre Barcelos, a representação regional da Funai e as locali-
princípios de atuação da equipe é deixar-se sensibilizar pela cultu-
dades yanomami atendidas pela Secoya.
ra indígena, dedicando-se a identificar os sintomas que os
Desde 0 início das atividades financiadas pelo convênio com a Yanomami associam às doenças mais comuns e a adequar a rede
Funasa, a Secoya vem dando continuidade ao trabalho que já rea- de saúde local à organização sócio-pohtica do grupo.
lizava na região, com iniciativas para controlar a malária, a tuber-
O processo associativo na região, onde surgiu a primeira organi-
culose e outras doenças (como a oncocercose), a promoção da
zação indígena yanomami, a Associação dos Yanomami do Rio
cobertura vacinai, a formação de agentes yanomami de saúde e 0
Cauaburis e seus Afluentes (Ayrca) -, também é objeto de atenção.
apoio à participação dos Yanomami na gestão do DSY, no que se
O IDS investe na ampliação das capacidades de autogestão dos
refere tanto à sua auto-organização como ao seu assento 110 Con-
membros da Ayrca e no fortalecimento da colaboração e
selho Distrital, que se reúne em Boa Vista (RR) Visando essa parti-
entrosamento entre ela e a Federação das Organizações Indígenas
cipação, são realizadas reuniões nas diversas comunidades da área,
do Alto Rio Negro (Foirn) Esse trabalho de capacitação objetiva,
envolvendo lideranças, pajés e os 15 agentes de saúde yanomami,
ainda, melhorar a compreensão, por parte dos Yanomami, das
que, embora ainda em treinamento, já estão atuando.
várias etapas e processos que envolvem a relação entre as ONGs e
Além de contratar 26 profissionais, a instituição tem-se dedicado à as comunidades no âmbito do Distrito Sanitário.
adequação e ampliação da infra-estrutura já existente na área, ad-
quirindo equipamentos médicos, odontológicos, logísticos e ad-
A colaboração do IDS com organizações indígenas vai além dos
laços com a Ayrca e a Foirn, estendendo-se às relações que man-
ministrativos e investindo na construção e reforma de diversos
tém com a Associação dos Agentes de Saúde Indígenas do Alto Rio
postos de saúde. (Fonte: relatório da Secoya, abr/OO)
Negro (AAISARN) Outras parcerias incluem 0 Instituto de Pesqui-
sas da Amazônia (Inpa), na definição de protocolos de
IDS (AMAZONAS)
enfrentamento da malária e da tuberculose, e duas instituições nas
Para 0 atendimento às regiões da TI Yanomami drenadas pelos quais são internados os pacientes yanomami: o Hospital de Guar-

rios Cauaburis e Padauiri, no estado do Amazonas, a Funasa fir- nição Militar e a Casa do índio, ambos instalados em São Gabriel
mou convênio com 0 Instituto pelo Desenvolvimento Sanitário em da Cachoeira. (Fon te: relatório do IDS, set/OO) (Equipe de Reda-
Meio Tropical - IDS em novembro de 1999- Desde então, 0 IDS, ção, setembro 2000)
,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 34S


.

^ÍJ7^ Acervo
//\\ I SA

Escolas Yanomami

Equipe de redação, a partir de Coordenador do Projeto de Educação da CCPY

relatório de Marcos W. Oliveira

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO INTERCULTURAL


DA CCPY VALORIZA LÍNGUA INDÍGENA E
QUER HABILITAR OS YANOMAMI A LIDAR •

COM AS QUESTÕES TRAZIDAS PELO .:*»

CONTATO COM OS "BRANCOS" ¥


No Brasil, a educação escolar voltada aos Yanomami é desenvolvida
por instituições com diferentes características: laicas ou religiosas,

órgãos públicos ou ONGs. Um levantamento promovido pela Funasa,


em fevereiro de 1999, apontou nove dessas instituições: Comissão Pró-
Yanomami (CCPY), Diocese de Roraima, Missão Evangélica da Ama-
zônia (Meva) , Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) Missão Salesiana,
,

Associação Serviços e Cooperação com o Povo Yanomami (Secoya) e

três Secretarias de Educação - as dos estados de Amazonas e Roraima


e a do município de São Gabriel da Cachoeira (AM)

LÍNGUA PORTUGUESA OU INDÍGENA?


As escolas com público Yanomami podem ser divididas em duas
regiões. A primeira corresponde às parcelas mais a oeste e sudo-
este da TI Yanomami, no estado do Amazonas. Não se sabe o nú-
mero certo de escolas dessa região, mas a esmagadora maioria
dos seus alunos (380 pessoas, ou seja, 9,9% da população da re-

gião) é alfabetizada em língua portuguesa (363 indivíduos) seja


,

por professores da Missão Salesiana ou das secretarias de educa-


ção do Amazonas e de São Gabriel da Cachoeira.

Na segunda região - porção roraimense da TI Yanomami e trecho


mais a nordeste de sua porção amazonense - há 31 escolas. A Meva
mantém uma escola sozinha e outra em parceria com a Secretaria
de Educação deRoraima A MNTB, três escolas. A Diocese de RR, 14 e
a CCPY, 12. Apesar das diferentes instituições que as sustentam, todas
essas 31 escolas promovem alfabetização em língua indígena. Elas
totalizam 228 alfabetizados (3,2% da população que vive na região)

346 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
ISA
No que se refere às escolas mantidas pela CCPY, é importante fri- O português é ensinado como segunda língua. A responsabilidade
sar que elas fazem parte de um projeto maior, chamado Programa de dar prosseguimento futuro ao processo educativo intercultural

de Educação Intercultural (PEI), que investe sistematicamente na ficará com os professores yanomami que estão sendo formados.

formação de professores yanomami.


Resultados parciais
Nos cinco anos de existência do PEI, 9 1 jovens foram alfabetizados
O PROGRAMA DA CCPY
e houve sete cursos voltados para a formação dos professores
Baseado nos princípios da especificidade, diferenciação, yanomami, incluindo cursos intensivos de língua portuguesa e ati-

interculturalidade e bilingüismo, o PEI teve início em julho de 1995. vidades de imersão na "cultura dos brancos”, tais como visitas a
Assume, como seu principal objetivo, habilitar os Yanomami a li- bibliotecas, prefeitura, aterro sanitário público, cadeia pública,

darem com as políticas, atividades e ações dos “brancos" que in- cemitérios, Eletronorte, transmissoras de televisão e de rádio. A
terferem na vida deles. Atualmente, o PEI envolve cerca de 720 temática metodologias de alfabetização também vem sendo in-

Yanomami, nas regiões do Demini, Toototobi e Parawau. O pro- cluída nesses cursos.
grama inclui atividades letivas nas escolas situadas na área indíge-
na e cursos de formação de professores yanomami, realizados no Quem participa?
Centro de Treinamento da CCPY, em Boa Vista (RR). Cinco professores não-índios, um coordenador e um antropólo-
go, Bruce Albert (convênio IRD-ISA), formam a equipe da CCPY.
Currículo específico 0 quadro de consultores externos do PEI conta com a participa-
A interdisciplinaridade e a alfabetização em língua materna são as ção de Marta Azevedo (assessoria educacional), Maria Cristina
principais marcas do processo educativo desenvolvido. Português Troncarelli (assessoria pedagógica), Eduardo Sebastiani (mate-
e matemática não são as únicas disciplinas ministradas pelo PEI. mática) e Henri Ramirez (linguística).
Geografia, história, saúde, educação ambiental e cidadania - con-
Aproximadamente 55 alunos constituíram a primeira turma, com-
ceitos, Estatuto dos Povos Indígenas e Projeto de Lei n” 1610 sobre
posta por jovens a partir de dez anos, do Demini, em 1 996. Quatro
mineração em áreas indígenas - constituem sua grade curricular.
jovens do Toototobi e um do Parawau foram enviados ao progra-
ma, por decisão de uma assembléia dos mais velhos. Em 1997,
esses cinco jovens tornaram-se os primeiros professores Yanomami

formados pelo PEI. Atualmente, são 19. Os mícrocopistas yanomami


do programa de saúde promovido pela Urihi frequentam também
os cursos intensivos de português oferecidos pelo PEI.

Expansão do PEI
Temas candentes da política indigenista brasileira, como o novo
Estatuto dos Povos Indígenas e a questão da mineração em terras

indígenas, requerem dos Yanomami uma urgente preparação para


enfrentá-los.

Para atingir este objetivo, a coordenação do PEI está elaborando


material didático em língua yanomae (Yanomami oriental) ,
adap-
tado à realidade indígena, que está sendo distribuído nas aldeias.
São cadernos de alfabetização, matemática, etnohistória, geogra-

Davi Kopenawa, Bruce Albert


e professores yanomami do Demini
produzindo material didático.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 347


AGROELORESTAL YANOMAMl (DEMINI E TOOTOTOBI)
0 crescente processo de sedentarização das comunidades, o aumen - Mudas de castanbeira do Brasil, pupunha. açaí. graviola, goiaba,

to da população e a tendência de fixação em localidades próximas acerola, cupuaçu, caju, entre outras espécies, foram adquiridas, trans-

aos postos de saúde são causas conhecidas da transformação do esti- portadas e, já na área indígena, rejdantadas em embalagens esjxíci-
lode vida do povo Yanomami. Com elas, vem, também, o risco de ais para período de adaptação. 0 objetivo é plantar essas espécies em
uma escassez crescente de alimentos. Para enfrentar essa situação, a definitivo nas roças, para que se somem às bananeiras e mamoeiros
CCPY elaborou o Projeto Agrojlorestal Yanomami (PAY), iniciativa de já existentes nelas. 0 pomar de cada aldeia, chamado de "módulo
cunho ambiental localizada em sete aldeias das regiões de Demini e agrojlorestal "
, terá. assim, cerca de 110 espécies, em área de aproxi-
Toototobi. 0 projeto foi aprovado pelo PD/A do Programa Piloto de madamente 5 00 nP.

Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) em 1998, mas pôde


A integração entre o PAY e o programa de educação, também promo-
iniciar suas atividades, efetivamente, apenas em abril de 2000.
vido j>ela CCPY, tem gerado uma boa receptividade dos membros de
Em três anos, o PAY pretende promover o cultivo de pomares nas al- outras comunidades, o que leva a crer que a expansão do projeto
bem como o intercâmbio de experiências do gênero entre os
deias, agrojlorestal será bem-vinda em outras regiões da TI Yanomami. Seu
Yanomami e outras etnias. Também está prevista a elaboração de principal viés é aproveitar a experiência dos mais velhos e. com o

um manual agrojlorestal yanomami. envolvimento dos jovens, introduzir novas tecnologias, usando as
escolas como espaço principal desse processo.
Até o momento, foram realizadas buscas de tecnologias relevantes e
material genético selecionado em Manaus ( no inpa e Fazenda 0 PAY envolve recursos da ordem de aproximadamente U$ 230, 000. 00,
Aruanâ), Fortaleza (Embrapa e Agroindústria Tropical) e Boa Vista dos quais a CCPY participa com U$ 43.000.00, como contrapartida.
(Embrapa, Inpa e viveiros particulares) 0 coordenador do projeto é (Fonte: Boletim Yanomami, CCPY, Brasília, n° í, mai/00)
o engenheiro agrônomo Ari Weiduschat. que realiza visitas à área a

cada três meses e, em Boa Vista, promove estudos sobre as sementes


e a melhor forma de cultivo de diferentes plantas.

fia, educação em saúde, cadernos de leitura, etc. Além desses ma- Apoios
teriais, alunos do programa estão produzindo jornais para cada No início de suas atividades, o PEI contou com o apoio do Unicef.
região. 0 entusiasmo e a vontade de aprender coisas novas já de- O Earth Love Fund (da Grã-Bretanha) também já apoiou o projeto
monstradas pelos Yanomami no desenvolvimento do PEI tomam no passado. A partir de 1998, passou a receber financiamentos
promissoras as iniciativas voltadas para a expansão do programa das ONGs norueguesas Fundação Rainforest e OI). Em 1999, con-
que, assim, pôde começar a ser implementado numa quarta re- tou com o apoio da Survival International e do MEC. Para o ano 2000,
gião da TI Yanomami: llomoxi em meados de 2000. os recursos assim obtidos pelo PEI são da ordem dc 11$ 2 1 5.000. (se-
tembro, 2000)

348 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1986/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


.

YANOMAMI/TERRA lidade sustenta que a criação da reserva deve-


YANOMAMI/GARIMPO
ria ter passado por votação no Congresso Naci-
onal. A Confamil argumenta que o artigo 49 da
REVISÃO É Constituição Federa! estabelece que é da "com-
FUNAI LEVANTA PRESENÇA
INCONSTITUCIONAL, petência exclusiva do Congresso Nacional apro- DE GARIMPEIROS
DIZJOBIM var, previamente, a alienação ou concessão de
A Assessoria de Comunicação da Funai infor-
"A revisão da Terra Yanomami está fora de co-
terras públicas com área superior a 2.500 ha”. mou que o órgão está fazendo um levantamen-
gitação”, disse o ministro da Justiça, Neison
Na verdade, a Confamil está confundindo con- to da presença garimpeira na TI Yanomami, para
Jobim, na Câmara dos Deputados. O decreto
cessão de terras com terras indígenas, que são determinar uma operação de retirada com a
direitos originários dos índios garantidos no ajuda da no mês de Nos últimos
legislativo, proposto pelo deputado Jair PF, fevereiro.
artigo 231 na Constituição.
Bolsotiaro (PPB-RJ), para tornar sem efeito o três meses a Funai não realizou qualquer ope-
decreto que homologou a reserva é incons-
Na tição entregue ao STF, a Confamil demonstra ração de retirada dos garimpeiros em Roraima.
que está temerosa com a possibilidade de a re- (A Crítica, 21/01/96)
titucional, argumentou o ministro, não há ne-

nhuma possibilidade de ser levado adiante.


serva se tornar um país independente do Brasil
após a promulgação da Declaração dos Direi-
Bolsonaro alega que a terra indígena está loca- INVASÃO GARIMPEIRA
tos dos Povos Indígenas, da ONU.
lizada na faixa de fronteira e Jobim diz que não CONTINUA, DENUNCIA DAVI
há nenhuma incompatibilidade nisso, pois
A entidade diz ser legítima para apresentar a
ação porque entre seus objetivos sociais está o “Caros amigos.
ambas as terras são da União.
de desempenhar o papel de “sentinela da pá- Escrevo esta carta para dizer que nós Yanomami
Jobim participou da audiência pública das co-
tria". (GM, 06/10/97) mandamos a nossa mensagem para vocês.
missões do Meio Ambiente e Minorias, Defesa
Nós Yanomami estamos muito preocupados
Nacional e Direitos Humanos. Na reunião, foi
... É ARQUIVADA porque a nossa área Yanomami está sendo in-
lida uma carta do líder yanomami Davi
vadida de novo pelos garimpeiros. É por isso
Kopenawa, denunciando a invasão das terras de O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo
mandou que nós Yanomami estamos informando que os
sua tribo por três mil garimpeiros. QB e Diário Tribunal Federal (STF) arquivar, on-
garimpeiros estão no meio do rio Catrimani e
Catarinense. 20/06/96) tem, a Ação Direta de Inconstitucionalidade
movida contra o decreto presidencial e a por- no alto Catrimani. Eles estão também ao redor
de Xitcia, Homoxi, Papiú No momen-
e Purafuri.
TERRA YANOMAMI E taria do Ministério da Justiça que destinavam
há 35 pistas de pouso ilegais em área
to
SOBERANIA NACIONAL: terras das Forças Armadas para a Reserva Indí-
gena Yanomami. 0 ministro considerou que a
Yanomami e o número de garimpeiros chega a
POLÊMICA 3-000 no Brasil e 4.000 na Venezuela.
autora da ação, a Confederação dos Integran-
O ex-ministro dajustiçajarbas Passarinho, res- tes e Beneficiários das Forças Armadas e Auxi-
Nós Yanomami queremos ajuda de vocês para
ponsável pela oficialização da demarcação da divulgar estas notícias sobre a invasão dos ga-
liares (Confamil) ,
não tem legitimidade para
Yanomami, e o diplomata aposentado Joa- rimpeiros. Pedimos que esta denúncia seja
TI propor a Ação, por não ser uma confederação
quim de Almeida Serra envolveram-se, entre transmitida para vários países da Europa e nos
sindical nem por ter sido criada de acordo com
junho c julho de 1996, em polêmica divulgada
1
a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Estados Unidos para que eles tomem conheci-

na imprensa O tema da polêmica: a


brasileira. (GM, 14/10/97)
mento do que está ocorrendo de novo na área
Terra Yanomami é ou não uma ameaça à sobe- Yanomami. Pedimos que as organizações des-
rania nacional? PROJETO “RESERVA tes países, que apoiam a questão indígena envi-

Almeida Serra defendeu a inconstitucionalidade DA BIOSFERA” em carias ao presidente do Brasil pedindo que
da demarcação da TI Yanomami, consideran- ele libere verbas para a operação de retirada
“O Amazonas é o último grande território do
do-a crime de “lesa-pátria”. A posição de Pas- dos garimpeiros para que acabe com urgência
mundo intacto e temos que preservá-lo", afir- a invasão da área Yanomami,
sarinho foi de denúncia da leviandade e do
mou o belga André Kerremans, administrador Caso os garimpeiros não sejam retirados logo,
alarmismo das considerações de seu
do projeto Reserva da Biosfera Alto Orinoco-
interlocutor, já que fundadas numa inexistente as doenças voltarão aumentar de novo.” (Davi
Casiquiare, que acolhe a zona protetora da
declaração da ONU de que as terras indígenas, Kopenawa Yanomami, 05/06/96)
maior floresta tropical-úmida do mundo. O lar
a partir de 1996, seriam consideradas indepen-
da etnia Yanomami na Venezuela — com 83-830
dentes do listado brasileiro. O ex-ministro apro- PF DIZ QUE FALTAM
km 2 em plena selva amazônica - foi declarado
veitou para reconstituir e defender o processo
,

reserva da biosfera, (iaruntir a proteção dos


RECURSOS PARA AGIR
de demarcação da Tf em questão, utilizando
índios ea conservação ambienta! é uma tarefa A superintendente da PF em Roraima, Sueli
argumentos que voltariam a aparecer no seu
que está nas mãos da UE e do governo vene- Golrisch, adverte: a falta de pessoas e de dinhei-
artigo de 2000 {Amazônia. Yanomami e os
zuelano, apoiados por um programa de oito ro para o processo de fiscalização das reservas
equívocos, reproduzido no presente capítulo)
milhões de Ecus. “Queremos preservar este indígenas do Estudo está facilitando as invasões
(ISA, a partir de O Globo, 27/06 e 02/07 e Tri-
imenso território e ajudar os indígenas a me- de garimpeiros na região, sobretudo nas terra
buna da Imprensa. 10/07/96)
lhorar seu nível de vida, preservar sua culmra e de domínio dos Yanomami. Ela considera exa-
identidade,mas também se integrar à vida mo- gerado, porém, o número divulgado pelo líder
AÇÃO JUDICIAL CONTRA TI...
derna no ritmo que decidirem", disse Yanomami Davi Kopenawa de existirem três mil
De autoria da Confederação dos Integrantes e Kerremans, A Reserva acolhe além dos garimpeiros no Brasil e quatro mil na Venezuela.
Beneficiários das Forças Armadas e Auxiliares Yanomami, os Yc'kuann (cerca de 1.500 indiví- "Caso esses sete mil garimpeiros reaJmente es-
(Confamil), a Ação Direta de Inconstituciona- duos). (Diário do Nordeste, 20/01/98) tivessem na reserva indígena, já teríamos senti-

P0V0S INOÍSENAS N0 BRASIL 1336/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA MATA 343


tioo efeito deies na economia do Estado. Pelo GOVERNO PREPARA PISTAS CLANDESTINAS
menos dc 15 em ] 5 dias teriam que vir à cida- “OPERAÇÃO YANOMAMI” SÃO FOCOS DE DOENÇAS
de comprar alimentos c combustível, o que es-
A maior e mais importante operação militar do Técnicos da Funasa garantem que a invasão
timularia o comércio, cujas vendas estão em
governo Fernando Henrique Cardoso, a ser re- garimpeira dificulta o trabalho de combate e
baixa,mas que há garimpeiros nas terras indí-
alizada nos quase dez milhões de ha da reserva controle de doenças endêmicas. Somente do
genas, não há a menor dúvida", disse Sueli
Yanomami, deverá envolver mais de cinco mil lado roraimense da reserva, ao norte, há pelo
Golrisch. ( Correio Bmziliense, 22/06/96)
militares do Exército e da Aeronáutica, além de menos 24 pistas clandestinas espalhadas desde
tropas das Forças Armadas da Venezuela - com com o Amazonas até a fronteira com a
a divisa
ONGS RECORREM A FHC PARA o objetivo de expulsar os três mil garimpeiros Venezuela, ao extremo noroeste do Estado.
RETIRADA DE GARIMPEIROS brasileiros e venezuelanos - cuja ação predató- Edgar Dias Magalhães, coordenador do Distri-

Duas entidades internacionais, a Survival ria vem destruindo rios e florestas, além de to Sanitário Yanomami. disse que as pistas clan-
luiernational e a World Rainforest Movement,
ameaçar com doenças os quase dez mil destinas preocupam porque essas localidades
enviaram carta ao presidente Fernando Yanomami que vivem na reserva. A operação são focos de infecção e reinfecção de doenças
vai incluir a participação da PE Funai, Ibama e infecto-contagiosas, principalmente a malária.
Henrique Cardoso,
A Survival diz em sua caria “eslar alarmada com DNPM e do Ministério das Relações Exteriores. Edgar diz que a Funasa lem mantido a doen-
o aumento da violência na área indígena, pois
A Operação Y'anomami ainda está no papel, à ça estável, mas seu controle fica difícil, por-

os garimpeiros estão entregando armas aos ín-


espera da boa vontade de um único homem: o
que não existe um trabalho de combate à
dios e os inchando à violência entre grupos." A ministro do Planejamento, Antonio Kandir. Dele malária do lado venezuelano.
mensagem do presidente da WRM reforçaa pre- depende a liberação dos R$ 6 milhões necessá- Na área há 23 postos de saúde, dos quais 15
ocupação da Survival. A entidade pede um sis- rios. (O Globo, 27/10/96) são mantidos pela Funasa em conjunto com a
tema de vigilância permanente na área e lem- Funai. Os demais são mantidos porvárias ONGs.
bra, ainda, que o governo brasileiro se com-
CONFLITO MATA TRÊS (Folba de Boa Vista, 14/05/97)
prometeu a retirar os garimpeiros que volta-
YANOMAMI E UM GARIMPEIRO
ram a invadir a reserva depois da visita de uma Um conflito na reserva dos Yanomami resultou DAVI VIAJA PARA DENUNCIAR
comissão de direitos humanos da OEA, em de- na morte de três índios da aldeia do Jericó e de
O líder yanomami, Davi Kopenawa, denunciou
zembro de 1995, à área Yanomami. um garimpeiro brasileiro. A denúncia foi feita
que a atividade garimpeira na reserva indígena
A coordenadora da CCPY, Claudia Andujar, pe- peio antropólogo goiano Marcos Lazarin em
foi retomada há alguns meses. Ele declarou es-
diu, no dia 2 de agosto, ao porta-voz da Presi- carta ao diretor da CCPY, Carlos Zacquini.
tar se preparando para percorrer os países do
dência da República, Sérgio Amaral, que inter- Na carta, o antropólogo, que faz uma pesquisa
primeiro mundo, no próximo mês, para denun-
cedesse junto ao presidente Fernando Henrique na reserva indígena para uma tese acadêmica,
ciar aos ambientalistas estrangeiros a invasão
para liberação de R$ 6 milhões destinados à conta que o conflito ocorreu no início do mês
do território do seu povo, considerado o mais
retirada de garimpeiros da área dos Yanomami. numa festa perto do rio Paragua, na parte da
primitivo do planeta. Kopenawa informou que
(JB, 30/07 e 03/08/96) reserva localizada na Venezuela. Segundo
garimpos estão sendo reativados nas regiões do
o tiroteio que resultou nas mortes foi
Lazarin,
rio Paapiú, Alto Catrimani, Aito Uraricuera,
MISSIONÁRIOS SÃO provocado pelo consumo elevado de álcool por
Parima e Alto Apiaú. "Nesses locais os garim-
MAIS NOCIVOS QUE índios c garimpeiros. O índio Pedro Yanomami
peiros estão recuperando as pistas de pouso e
GARIMPEIROS, DIZ PF teria atirado em um garimpeiro identificado na
mantimentos e maquinário",
até levando afir-
carta do antropólogo como Gaúcho, começan-
mou. (A Crítica, 29/08/97)
Para a PE os missionários estrangeiros, contra do o confronto. (O Globo, 11/12/96)
os quais a Funai não faz nada, são mais “peri-
CONFLITOS COM
“OPERAÇÃO YANOMAMI”
gosos" do que os garimpeiros.
COMEÇA...
A superintendente da PF em Roraima, Sueli MORTES CONTINUAM
Goerisch, considera o garimpo “um problema, Em dezembro, três Xiriana (sub-grupo O governo federal retomou o combate â inva-
mas é o terceiro ou quarto item em priorida- Yanomami) e um garimpeiro morreram na são de garimpeiros da Área Yanomami, em
de". Para ela, os números da Funai sobre a in- Venezuela, perto da fronteira brasileira.
Roraima. A Operação Yanomami está sendo re-

vasão da reserva estão superestimados. No finai dedezembro, em Homoxi, um alizada em conjunto pela Funai, Polícia Fede-
“A Funai tem que deixar de Mela e começai' a traba- Korematheri foi morto a tiros por homens do ral, ibama, Exército e Aeronáutica e terá um
lhar. O maior problema são essas entidades que en-
Tireytheril, com balas que, segundo informa- cuslo de R$ 1,7 milhão, No último fim de sema-
tram para catequizar os índios”, diz Goerisch. ram, teriam sido adquiridas da polícia na, foi destruída a pista clandestina de
Segundo o administrador da Funai em Boa Vis-
venezuelana. (Update/CCPY, fev/97)
Surucucus, a noroeste do estado. De acordo
ta,são 19 missionários estrangeiros que traba- com o presidente da Funai, Sulivan Silvestre,
lham na área Yanomami: 13 americanos, três mais 30 pistas devem ser dinamitadas e todos
RECURSOS PARA
portugueses, um alemão, um argentino e um os homens envolvidos têm ordem para prender
DESINTRUSÃO NÃO CHEGAM
queniano. Os missionários trabalham nas áre- garimpeiros, caçadores ilegais, posseiros e
as de educação, saúde e religião. “Eles leniam Dos 2,4 milhões que a Funai enviou para Boa grileiros. Segundo de, os que forem presos a
catequizar os índios mas não conseguem. Eu Vista para dar início à limpeza que tiraria os partir de agora vão responder a processo civil
sou contra esse trabalho, mas eles chegam aqui garimpeiros da terra dos Yanomami, apenas Rí e criminal e terão produtos como avião, ouro e

com a autorização do Itamaraty O que eu vou 400 mil chegaram ao destino. (Dtmusa Leão/ equipamentos apreendidos e levados para um de-
fazer?” disse Tavares. (FSP, 18/08/96) JB, 23/03/97) pósito judicial. Silvestre quer contar também com

350 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AWIBIENTAL


)

xíí_f7^Acervo
//\V I SA A C Q N T E C EU
^ ..i.

a ajuda dos próprios índios que, conhecedores da pistas próximas da capital”, informou o funcio- ingresso das mineradoras será dada pelos
mata, podem mostrar onde estão os predadores. nário. Serão recadastradas todas as aeronaves yanomami aculturados que sabem falar o por-
Na viagem que fará na próxima semana à Ingla- do Estado, inclusive as de uso agrícola, para tuguês e querem a melhoria de suas tribos”,
terra, o presidente Fernando Henrique Cardo- que sejam localizadas aeronaves clandestinas. disse ele. A Procuradoria da República em
so vai levar o resultado da operação surpresa (Folha de Boa Vista, 09/01/98) Roraima constatou que “segmentos pofiticos do
na reserva dos índios Yanomami. A operação, Estado” incentivaram a invasão da área indíge-
programada há dois anos, vai ser a resposta que ... PARA CHEGAR na em outubro, quando o projeto do senador
o presidente dará às ONGs que reivindicam mais À SUA ETAPA CONCLUSIVA foi aprovado por unanimidade no Senado. Um
atenção do governo em Há
relação aos índios. jornal local chegou a anunciar cm manchete que
mais de cinco anos o governo não realizava uma Acompanhado da coordenação da Operação o garimpo estava liberado aa área yanomami.
operação dessa natureza na Reserva Indígena Yanomami e jornalistas, o presidente da Funai Um programa da Rádio Difusora, do governo
Yanomami, considerada a maior do país e com esteve na área indígena para anunciar a fase
estadual, foi suspenso pela Justiça por incenti-
tamanho equivalente ao de Portugal e da Bélgi- conclusiva da ação que tenta manter a comuni-
var a reação dos garimpeiros contra a Pohcia
ca, e onde vivem mais de nove mil índios. (O dade livre da ação predatória dos garimpeiros. Federal, (O Estado de Minas, 15/01/98)
Popular, 12/11 e OE$p 24/11/97 Uma das formas de evacuar a área por comple-
to, anunciada pelo coordenador da operação,
RETORNO DE SOBREVIVENTES
é o ponto principal do Plano de Defesa da Área
... INCLUINDO FISCALIZAÇÃO A HAXIMU CAUSA
Yanomami, cuja minuta será apresentada hoje
A VÔOS CLANDESTINOS... PREOCUPAÇÃO
à imprensa, com o controle rigoroso da venda
0 presidente da íunai, Suiivan Silvestre, vai pe- de combustíveis e da atuação de aeronaves Cerca de 70 índios Yanomami, sobreviventes do
dir à direção do Departamento de Aviação Civil no Estado e a entrada de alimentos. (Brasil massacre da aldeia de Haximu, de agosto de
que aumente a fiscalização sobre os vôos clan- Norte, 14/01/98) 1993, retornaram há dois meses à antiga aldeia,
destinos em direção à área da reserva dos localizada na Venezuela, próxima da fronteira
Yanomami, a 200 km de Boa Vista (RO) A me- DAVI AVALIA OPERAÇÃO com Roraima. Entidades de defesa dos direitos
dida faz parte da segunda etapa da operação de DO GOVERNO FEDERAL humanos do Brasd e da Venezuela temem uma
retirada de garimpeiros da região, que come- nova tragédia na área, porque o governo
“Operações já aconteceram muitas, o que es-
çou no dia 5 de novembro do ano passado. (PSP, venezuelano não presta assistência aos 16 mil
pero é que os garimpeiros não voltem para a
05/01/98) Yanomami que vivem em seu território e não
nossa terra,” declara o líder Yanomami, Davi
Kopcnawa, ao faiar do encerramento de mais combate a invasão dc garimpeiros brasileiros.
... DE
E DESATIVAÇÃO Os Yanomami caminharam 70 km floresta para
uma operação de retirada dos garimpeiros da
POSTO DE COMBUSTÍVEL voltar para Haximu. Abandonaram a aldeia de
reserva indígena. O líder yanomami diz que o
Posto clandestino de combustível na vila de maior mal levado pelos brancos são as doen- Toototobi, em Roraima, onde haviam se refugi-
ado após o massacre de 16 índios. “Eles esta-
lintre Rios, região de Caroebe, foi desativado e ças, em especial a malária, que mata de forma
lacrado ontem pela Polícia Federal e pelo coor- assustadora os Yanomami. Os piores anos para
vam com saudades e foram estimulados por

denador da Operação Yanomami da Funai, Pau- garimpeiros em troca de armas e mantimentos",


os Yanomami, segundo Davi foram “a partir de
Roberto. Nas contas de Paulo, o Fldorado disse Davi Kopenavva, funcionário da Funai e
lo 1986, até 89/90, quando milhares de garimpei-
em média cinco chefe do posto indígena na aldeia de Demini.
Auto Posto vendia mi! htros de ros estavam em cada pedaço da nossa terra".
gasolina para aviação por mês, o suficiente para Davi faiou dos estragos provocados ao meio Em troca de armas e mantimentos, os índios

garantir a ida e vinda de uma aeronave tipo ambiente pelos garimpeiros: desmatamento,
concordaram com a construção de uma pista

Cessna 206, monomotor, 27 vezes na área clandestina perto da antiga aldeia e estariam
empoçamento de água, queimadas e lembra que
Yanomami, transportando cerca de cinco garim- trabalhando para os garimpeiros, disse Davi. “A
a maioria absoluta dos garimpeiros não é de
peiros por cada vôo. (Brasil Norte, 09/01/98) Roraima, esím de outros Estados. “São pesso- Venezuela tem uma política diferente com rela-
ção aos índios, mas participa de reuniões com
as que não possuem empregos ou outra forma
OPERAÇÃO QUER COMPLETAR dc sobreviver em seus Estados”, afirma Davi.
o governo brasileiro para combater a garimpa-
RETIRADA DE GARIMPEIROS... (Brasil Norte, 15/01/98) gem”, disse o embaixador da Venezuelano Bra-
sil, Nilos Alcalay. (A Crítica, 21/01/98)
Restam 800 a mil garimpeiros para serem reti-
RELATOR DEFENDE
rados da área Yanomami, segundo previsões da
MINERAÇÃO JUSTIÇA PUNE
Funai. Foram retirados 682, dos quais 542 ha-
GARIMPEIRO POR INVASÃO
viam sido indiciados pela Pohcia Federal. A pró- Um projeto do senador Romero Jucá (PFL- RR)
a
xima etapa do trabalho consiste em evitar o re- estabelece mineração em áreas indígenas com O Tribunal Regional Federal (TRF) da I Re-
torno dos garimpeiros para a reserva. “Sabe- o consentimento das comunidades atingidas. Ao gião (Brasília), em decisão publicada no Diá-
mos que há atividade garitnpeira no rio Caoaborí anunciar os resultados da operação Yanomami, rio dajustiça do dia 17 de agosto de 1998, não
e Pico da Neblina, onde esperamos encontrar o presidente da Funai, Suiivan Silvestre, disse aceitou o pedido de soltura encaminhado pelo
de cem a 150 garimpeiros”, afirmou Paulo que essa área não deve ser atingida pelo proje- garimpeiro Nelson Lindermann, preso por in-

Roberto, coordenador da operação pela Funai. to Jucá. “O nível de aculturação dos Yanomami vadir a TI Yanomami, localizada no oeste do
As atividades da segunda etapa serão realizadas não permite". Relator do projeto de Romero estado de Roraima. O Tribunal entendeu que a
principalmente em Boa Vista. “Faremos a fisca- Jucá na Câmara, o deputado Elloti Ronhelt (PFL- prisão de Lindermann foi justa e correta já que
lização permanente das distribuidoras de com- RR), vice-iíder do governo, disse que a Funai a legislação federai proíbe a extração de miné-
bustível para aviação (Shell e Petrobrás), e das não será ouvida a respeito. “A anuência para o rios dentro de terras indígenas. (ISA, 21/08/98)

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA MATA 351


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ALIMENTO POR OURO “PISTA NÃO É DA FUNAI”, sexuais não protegidas põem em risco a saúde

DIZ ASSESSOR dos Yanomami, com o aparecimento de doen-


Há cerca de dois anos, o Yanomami Cesário ças sexualmente transmissíveis. A presença
47 anos, descobriu uma “mina de
Barcelos, de A que vem sendo utilizada para apoio à
pista garimpeira e as degradações ambientais decor-
ouro" no meio da Floresta Amazônica. Desde garimpagem ilegal e ao abastecimento de aero- rentes favorecem, também, o aumento inevitá-
então, toda semana ele reúne o filho, Florentino, naves com droga que é levada para o Caribe e a vel dos casos de malária.
e outras dez pessoas para uma caminhada de Europa, na reserva indígena Yanomami, é clan- Tensões e conflitos entre garimpeiros e
quatro dias carregando - em vez de pás e ape- destina e não é controlada pela Funai, segundo Yanomami podem, a qualquer momento, resul-
trechos para mineração - espingardas calibre garantiu ontem a assessoria do órgío. O asses- tar em mortes de ambos os lados. As relações
16 e munição. Na volta à comunidade de sor de imprensa Alan Suassuna manteve conta- entre as comunidades sofrem abalos com a sim-
Maturacá, que faz parte de uma reserva to com a reportagem de 0 Diário para esclare- ples presença do garimpo, já que há aldeias que
yanomami no Parque Nacional do Pico da Ne- cer alguns pontos da matéria dando conta de a ela se opõem e outras que a apoiam e dela
blina, o grupo traz pelo menos 45 gramas de que traficantes estariam se utilizando de pistas obtêm privilégios. A posse de armas de fogo e
ouro em pó puro, Na realidade, a mina do ín- da Funai para abastecer as aeronaves. Na reali- de farta munição, obtidas pelos Yanomami jun-
dio é um acampamento de 30 garimpeiros no dade, disse Suassuna, a pista que a Funai sus- to aos garimperios, vem aumentar a tensão nas
alto do pico, que trocam alimentos por ouro. peita que esteja sendo utilizada é a antiga pista relações entre as comunidades. Hm exemplo de
(O Globo, 29/11/98) de Quincas Bonfim, que fica a 600 metros da hostilidade interna motivada pela presença do
Venezuela. (O Diário, 15/05/99) garimpo ocorreu entre as aldeias Yauratha e
DANOS AMBIENTAIS Koni u (20 km a nordeste do posto de Suru-
DO GARIMPO SERÃO YANOMAMI MATAM cucu), resultando na morte de dois índios.
INVESTIGADOS QUATRO GARIMPEIROS Nessa última comunidade, o garimpo retornou
com força desde fevereiro de 2000. Ele é ope-
A Procuradoria da República do Estado de Yanomami da Maloca do Homoxi mataram qua- rado através de uma pista de operação a cerca
Roraima instaurou, através de portaria tro garimpeiros que trabalhavam próximo à al-
de uma hora de caminhada da aldeia de Wathê
publicada no Diário dajustiça de 17 de dezem- deia deles. Depois disso, saquearam armas e
u (a menos de 1 5 km do 4” Pelotão Especial de
bro de 1998, procedimento administrativo com munições dos mineiros, conforme informações Fronteira do Exército Brasileiro e do posto da
o intuito de investigar a ocorrência de danos transmitidas através do serviço de radiofonia à
Funai) Essa pista abastece, peio menos, três
ambientais na TI Yanomami, em razão de práti- Funai, que pediu apoio à Polícia Federal. O dia balsas, que trabalham no rio Melo Nunes. No
ca ilegal de garimpagem. exato do fato será confirmado hoje com o re-
Parafuri, o garimpo está situado a uma hora de
Este procedimento foi deflagrado pelo procu- tomo do administrador regional substituto da caminhada do posto da Funai e é abastecido
rador da República Eduardo André Lopes Pin- Funai, Dismar Freitas Mesquita. Ontem pela
através de avião monomotor. A pista de pouso
to, em razão das denúncias relatadas pela Ope- manhã, ele viajou para a Reserva Yanomami,
utilizada é - N 03° 16.738/W 63°
a “Majestade"
ração Yanomami/98, Que constatou a ocorrên- com previsão de volar no fim da tarde, o que
apartir de informações de Moisés
42.645. (ISA,
cia da atividade clandestina. O procurador so- não aconteceu. Mesquita saiu com destino a
Ramalho, antropólogo da Urihi, ago/00)
licitou à Funai que proceda a visita técnica, jun- outra maloca mas deveria passar em Homoxi
tamente com membros do Ministério Público para verificar o que esteva acontecendo, Foi de
GARIMPO GERA
Federal, nas áreas afetadas, para realizar laudo lá que o chefe do posto, Edson, comunicou que
VIOLÊNCIA EM PARAFURI
técnico de avaliação de impacto ambiental cau- os índios também estavam usando as armas
sado pelo desmatamento que o garimpo clan- saqueadas dos garimpeiros para ameaçar os A atividade ilegal de garimpo no Parafuri, re-

destino vem causando na região, para fins de funcionários da Funai que trabalham na mes- gião da TI Yanomami, está causando a morte
futura indenização aos Yanomami. (ISA, 07/01/99) ma maloca. (Folha de Boa Vista, 08/10/99) dos índios por homicídio, além de colocar
em risco a vida dos profissionais da Urihi. A
YANOMAMI PRENDEM CRESCIMENTO DO GARIMPO denúncia está presente em ofício que a pró-
E ENTREGAM EM SURUCUCU É PREOCUPANTE pria Urihi, entidade que presta assistência à
saúde naquela área, encaminhou ao presiden-
GARIMPEIROS À FUNAI
Na TI Yanomami, a presença de garimpeiros nas te da Funai.
Os Yanomami da região do Paapiú, a cerca de regiões de Surucucu, Parafim e Xiriana vem ten- No documento, acompanhado de relatos dos
uma hora de vôo da capital de Roraima, Boa do, desde o final de 1999, um aumento mais recentes acontecimentos, a Urihi diagnos-
Vista,tomaram uma decisão inédita na tarde de preocupante. Nessas três regiões, há cerca de tica, ao longo do primeiro semestre deste ano,
ontem: expulsar os garimpeiros que ocupam mil garimpeiros em ação. Em Surucucu, a leste “uma escalada crescente de violência entre os
ilegalmentc o igarapé do Caveira. Armados de da serra Parima, entre as bacias dos rios Parima, Yanomami, incitada pelos garimpeiros que for-
arco, flechas, facões e espingardas, 50 índios Melo Nunes e Mucajaí, vivem cerca de 1750 necem armas e munição para grupos rivais".
detiveram quatro pessoas que ocupavam a área Yanomami do sub-grupo Yanomac (falantes do Os Yanomami “que reagem ao garimpo estão
de forma ilegal. Os Yanomami prenderam os yanomami oriental) A região começou a sofrer sendo paulatinamente assassinados, o que tem
garimpeiros F.liotério Bispo Araújo, Manoel de com a invasão garimpeira ainda na década de gerado entre os seus parentes a intenção de
Jesus Leda Ferreira, Francisco das Chagas Silva 80, depois que o projeto Radam divulgou a exis- vingança contra esses garimpeiros”, continua
ejoão Carlos Barros. Eles (oram levados para a tência de jazidas minerais por lá (1975) o texto. Apenas em 2000, já teriam sido assas-
comunidade de Paapiú e entregues aos agentes Os problemas trazidos pelo garimpo são vári- sinados quatro Yanomami.
da Funai, que os levaram até a Polícia Federal. os, incidindo nos planos social, cultural, Prevendo o risco de "um iminente conflito de
(OESP, 19/02/99) ambiental e sanitário. Prostituição e relações grandes proporções", a Urihi solicita ao órgão

352 RORAIMA MATA P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


1

indigenista “providências urgentes '


para a so- to da saúde e das condições gerais desses índi- serva Yanomami e pode chegar aos centros ur-
lução dos problemas que cercam a presença os, garante que a presença de garimpeiros, banos levada por garimpeiros. Até recentemen-
de garimpeiros cm Parafuri. (ISA, a partir Ho mesmo durante o inverno chuvoso que castiga te, a doença era restrita aos Yanomami, no
oficio Urihí 340, 04/09/00) o extremo-norte da Amazônia, é bastante acen- Brasil e Venezuela.
tuada. Edgar diz que o aumento da presença Pesquisa recente com 2.828 índios de várias al-

MINISTÉRIO PÚBLICO garimpeira está provocando o recmdescimen- deias revelou que 25,3% estavam infectados. Na
QUER QUE PF INVESTIGUE to de doenças consideradas mortais para os frá- aldeia de Xitel, 97% dos índios tinham o vetor.
NOVA INVASÃO geis índios da região. Aumentaram os casos de A doença é provocada pelo agente Onckocerca
malária e doenças respiratórias e só nestes pri- vohsolw e transmitida por um tipo de mosqui-
O Ministério Público Federal de Boa Vista, memos seis meses, morreram 60 índios Pata . to, o borrachudo “simulídio", encontrado em
Roraima, pediu ontem à Polícia Federal que a Funai, 47 foram por doenças e os demais por todo o país. Com a invasão das reservas pelos
investigue uma nova invasão de garimpeiros na causas violentas. (O Liberal, 18/07/96) garimpeiros, a doença estaria ameaçando ci-
área indígena yanomami. Os garimpeiros esta- dades do Norte c Centro Oeste. (FSP, 25/02/97)
riam aliciando índios com presentes e armas
EPIDEMIA DE MALÁRIA ATINGE
de fogo, que acabaram sendo usadas em cinco
OS YANOMAMI NA VENEZUELA DEBILITAÇÃO FÍSICA
assassinatos de Yanomami cometidos pelos pró-
IMPRESSIONA JORNALISTAS
prios índios, só nesse ano, segundo relatórios Uma epidemia de malária que afeta o Alto
encaminhados à presidência da Funai em Orinoco, no Estado venezuelano do Amazonas, Jornalistas da grande imprensa que visitaram a
Brasília e ao procurador da República Felipe fronteiriço com o Brasil, está provocando a aldeia yanomami de Surucucus (RR) ficaram
Bretanha pela Administração Regional de Boa morte de Yanomami, denunciou o bispo de impressionados com a debilitação física dos

Vista e pelo Núcleo Interinstitudonal de Saúde Puerto Ayacucho, Angel Divasson. O alerta da índios e o seu estado visível de fome e doença.

indígena (Nisi) Os Yanomami contaram no Nisi epidemia foi lançado no mês passado em um (A Crítica, 06/08/97)

que também mataram um garimpeiro a tiros e posto de saúde em território brasileiro. O dire-
enterraram o corpo numa roça perlo da maloca tor de Epidemiologia do Ministério da Saúde SERVIDORES DA
de Conhiteri. As denúncias são de que haja en- da Venezuela, Francisco Araoz, disse que uma FUNASA ATENDEM
tre mil e quatro mil garimpeiros na área. “Há comissão de médicos e agentes da Guarda Na- APENAS NA CIDADE...
denúncias de que os garimpeiros estão tentan- cional transferiu-se para região para atender os

do jogar índios contra índios. Essa éuma práti- índios. (A Crítica, 10/11/96) Os bebês Yanomami estão morrendo porque a
ca comum dos garimpeiros, para agirem com Funasa em Roraima não consegue obrigar seus
mais liberdade", disse o presidente da Funai, FALTA VERBA PARA O DISTRITO servidores a trabalhar na selva. Médicos e auxi-
Glênio da Costa Alvarez, liares de enfermagem contratados para cuidar
No dia 31 de janeiro de 1997, o coordenador
Os relatórios encaminhados pelo Nisi ao pro- de dez mil Yanomami se recusam a ir a campo
do DSY, da Funasa, enviou memorando ao co-
curador Felipe Bretanha e à Fíinai iníormam que tratar as doenças do branco que são fatais para
ordenador regional informando que após dois
uma visita à maloca de Iaurata constatou que os índios, como malária. Ficam em Boa Vista,
meses sem receber pagamento, duas empresas de
todos os Yanomami da comunidade, cerca de aluguel de aeronaves suspenderam seus serviços.
esperando a chegada dos casos mais graves em
cem, estavam nos garimpos, situados a uma “Para evitar ter que paralisar os serviços dire-
um hospital batizado de Casa do índio. A esti-

hora de caminhada da mata. Da maloca, segun- uma população indígena em real risco de
a
mativa oficial é de que tenham morrido, em
tos
do o relatório, é possível ouvir o ruído dos
extinção", como medida emergencial, a CCPY e 1997, entre 30 e 35 bebês nas áreas yanomami
motores das dragas em funcionamento dia e sob responsabilidade da Fundação. Entre 8% e
a Medecins du Monde “emprestaram" à Funasa
noite. Os índios vão aos acampamentos para 10% das crianças que nascem nas aldeias mor-
um de 35 horas de vôo, a serem repostas.
total
trabalhar na extração do ouro ou “simplesmente rem antes de completai’ nm ano de vida.
Sem verba, o fornecimento de medicamentos e
ficam acampados próximos aos garimpeiros, Dos sete médicos contratados para se revezar
alimentos está abaixo do normal e está se tor-
com o objetivo de receber alimentação ou al-
nando impossível continuar a trabalhar na área
nos 15 pólos-base da Fundação, não há pedia-
gum presente”. (O Globo, 21/09/00)
Yanomami, mantendo dez postos, atendendo
tras e apenas um está realmente trabalhando
na selva com os Yanomami. Aliás, uma: a médi-
emergências e transportando pessoas por via
ca Maria Aparecida da Silva, autora de um am-
aérea para tratamento, nessa situação “insus-
YANOMAMI/SAÚDE tentável,humilhante e estressante". Foram
plo dossiê a respeito do descaso com a área
yanomami. No nível médio, a situação também
solicitadas medidas urgentes para soluci-
GARIMPO AUMENTA TAXA onar a situação.
é ruim. Dos 41 auxiliares de enfermagem que

DE DOENÇAS E MORTES Na região do Parafuri, numa comunidade deveriam ser designados para os postos, somen-
te 13 aceitaram o desafio. Dos 21 enfermeiros,
“protegida” por garimpeiros, 18 a 30 índios
O número de mortes por doenças entre os apenas cinco viajam regularmente para o ter-
estão com a cepa faldpanim da malária que,
Yanomami poderá se tomar incontrolável se ritório yanomami. (Correio Bmiliense, 18/01/98)
sem tratamento, pode levar à morte. (Update/
persistir o atraso na liberação de 6 milhões so-
CCPYJeu/97)
licitados pela Funai para desintrusar a área. Em E SÃO AMEAÇADOS
...
menos de um mês, segundo relatório da Funasa, DOENÇA PODE DE DEMISSÃO
13 índios morreram com malária e doenças
CHEGAR ÀS CIDADES
respiratórias cm aldeias próximas dos garimpos. O presidente da Funasa, Januário Montoni, irá
O antropólogo Edgar de Magalhães, da Funasa, A oncocercose, doença que provoca lesões da demitir os servidores que se recusarem a tra-
que vem tentando manter um acompanhamen- pele e pode causar cegueira, está saindo da re- balhar nas aldeias da reserva indígena

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO S0CI0AMBIÉNTAL RORAIMA MATA 353


Yanomami, em Roraima. O aumento da morta- go do rio Mamirauá estariam sendo vítimas de à prevenção de doenças que atingem a popula-
lidade infantil entre os índios mais primitivos um surto de malária, A notícia de que a malária ção indígena. Visitas às aldeias teriam sido
das Américas - 46 bebês, com menos de um já matou oito índios e de que três casos da do- suspensas, o que vem causando mortes entre

ano,morreram em 1997 -fez com que Montoni ença já haviam sido registrados naquela área os Yanomami. O diretor do sub-distrito sanitá-

promovesse, em Brasília, um encontro com o sem que as autoridades de saúde tomassem pro- rio em Roraima, Ivan Soares Faria, nega a de-
coordenador regional da Funasa em Roraima, vidências foi divulgada no Jornal Nacional, da núncia e afirma que os servidores da institui-

Hiran Manuel Dias, e o chefe do Distrito Sanitá- Rede Globo. O administrador da Funai em ção estão em campo. Faria atribui as mortes de
rio Yanomami, Edgartl Magalhães. O presiden- Manaus, Benedito Hangel, 43, garantiu ontem 43 Yanomami ao contágio de um vírus da gri-
te da Funasa deu um ultimato aos seus dois su- que o órgão não tinha conhecimento da situa- pe, que teria sido levado da Casa de Cura de
bordinados para que retomem os trabalhos den- ção. Hangel negou, ainda, que a Funai esteja Rondônia para a aldeia pelos índios. O Correio
tro da área indígena imediatamente. A Funasa ausente daquela área há três anos, como foi apurou, no entanto, que dos 69 servidores
conta com cem servidores com contrato tem- divulgado na reportagem. De acordo com o concursados para trabalhar na área Yanomami,
porário em Roraima e outros 149 funcionários administrador, o primeiro posto da Funai (mos- somente 19 aceitaram viajar para as aldeias.

concursados. Todos, sem exceção, ao serem trado pelo Jornal Nacional) apenas foi transfe- (Correio Brasiliense, 08/10/98)
contratados, foram cientificados de que teriam rido para uma área mais no interior da reserva,
que trabalhai* na área indígena - que tem 9,4 chamada de maloca Kona. “Os Yanomami são “CEGUEIRA DO RIO”
milhões de ha - enfrentando dificuldades nômades e às vezes é preciso transferir os pos-
A Organização Mundial da Saúde (OMS) come-
logísticas e doenças endêmicas da região, como tos para acompanhá-los”, explicou. (A Crítica,
morou recentemente o sucesso de seu progra-
malária e oncocercose (que provoca cegueira). 07/03/98)
ma de erradicação da chamada cegueira do rio,
(Correio Brasiliense, 07/02/98)
doença parasitária crônica, conhecida oficial-
YANOMAMI DA mente como oncocercose, e um dos grandes
NOTÍCIA DE SURTO VENEZUELA BUSCAM problemas de saúde pública na África Ociden-
DE MALÁRIA MOBILIZA ATENDIMENTO NO BRASIL tal, onde 60% da população estava infectada e
MINISTÉRIO DA SAÚDE... 10% cega. No Brasil, há ocorrência de
Yanomami da Venezuela estão se dirigindo ao
oncorcercose nos estados do Amazonas e de
O Ministério da Saúde (MS) anunciou ontem Brasil em busca de socorro médico. A informa- Roraima, especiahuente na área dos Yanomami,
medidas emergendais para conter a malária que ção é do serviço de saúde da Administração
na fronteira com a Venezuela. O primeiro caso
ataca os índios da reserva Yanomami, no Ama- Executiva Regional da Funai em Boa Vista. As
conhecido foi o da filha de missionários que
zonas. Coordenador do programa Farmácia informações dão conta de que o inchaço
trabalhavam em 1967 em Roraima, Vinte anos
Básica, Platão Fischer, disse que o ministério populacional, a forte estiagem e as queimadas
depois, a Funasa assumiu a coordenação do
envia hoje 7.500 comprimidos de Mefloquina que destruíram as roças dos índios, deixaram
programa de controle da doença, já endêmica
- medicamento usado para combater a doença escassos os alimentos, provocando forte des-
no Parque Indígena Yanomami. Entre 1993 e
- para as três aldeias de Santa Isabel do Rio truição entre os Yanomami. Por ser a região
1996, em Surucucu, Túcuxim, Homoxi e Xitel,
Negro. Os medicamentos serão transportados bastante fria, e estando os índios debilitados,
mais de 80% dapopulação indígena eslava con-
para o local em uma aeronave da Força Aérea aumentaram os problemas respiratórios, que
taminada. O tratamento foi iniciado, mas esbar-
Brasileira, com duas equipes da Funasa. Segun- provocaram também mortes entre os índios,
ra na dificuldade de acesso à área e gran de mo-
do Fischer, o ministério foi surpreendido com principalmente, entre aqueles vindos da
bilidade dos Yanomami. (JR, 04/03/99)
a denúncia veiculada pelo Jornal Nacional, da Venezuela. (Jornal de Brasüia, 30/09/98)
Rede Globo. De acordo coma reportagem, oito
MANUAL ETNOLINGÜÍSTICO
índios morreram de malária e 32 casos da do- EM 1998, 45 MORTES AJUDA A ENTENDER E TRATAR
ença foram registrados. Sem exercer atividades ATÉ SETEMBRO
devido à doença, os índios estão passando fome Com a finalidade de facilitar a compreensão das
e os remédios estão acabando. Em Roraima, de janeiro a setembro de 1998, doenças e 0 atendimento médico dapopulação
A contaminação dos Yanomami pela malária morreram 45 Yanomami em Auaris, sendo 13 indígena dos Yanomami, 0 Museu Paraense
antecipou a segunda etapa do programa Farmá- de malária, 17 de broncopneumonia e 15 por Emílio Gocldi editou 0 livro “Saúde Yanomami
cia Básica, iniciado pelos municípios com até diarréia, desnutrição e causas desconhecidas. - Um Manual Etnolingüístico”, de Bruce Albert
21 mil habitantes, no final de 1987. O Ministé- Nenhum Yanomami morreu por tuberculose. As e Gale Goodwin Gomez. (PSP, 04/04/99)
rio da Saúde estava examinando a extensão das mortes por broncopneumonia foram causadas

remessas de medicamentos para regiões caren- por um surto de gripe que atingiu a capital do MUDANÇAS PREOCUPAM
tes, comoárcaindígenaeassentamento. As três estado, Boa vista, entre junho e agosto. (O Po- SERVIDORES
aldeias de Santa Isabel do Rio Negro vão rece- pular, 05/10/98)
Dados da Funasa indicam que a disseminação
ber três kits com 40 medicamentos diferentes.
(A Crítica, 05/03/98) PROCURADOR DA de doenças está sem controle nas aldeias
Yanomami. Entre 1991 e 1998, morreram 1.211
FUNAI DENUNCIA
Yanomami. Os 30 mil Yanomami e as outras
... E FUNAI DESVIO DE RECURSOS
etnias de Roraima e Amazonas estão desde 0
Um técnico da Fimai segue hoje para o municí- O procurador da Funai, Wilson Précoma, de- início do mês com 0 atendimento prejudicado.
pio de Santa ízabel do Rio Negro (a 628 km de nunciou que os índios de Roraima foram aban- O presidente da Associação dos Trabalhadores
Manaus) para averiguar a denúncia de que os donados pela Funasa, que teria utilizado para na Saúde Indígena de Roraima, Mateus Gomes
índios yanomami fixados em três aldeias ao lon- outros fins uma verba de R$ 500 mil destinada da Silva, disse que 0 governo está “privaüzando

354 :
ROBAiMAMATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
,

SAÚDE YANOMAMI: SITUAÇÃO CRITICA EM 1998


Segundo a Associação dos Trabalhadores em Saú- mento médico disponível. Apenas no primeiro A média anua! do Coeficiente de Mortalidade Ge-
de Indígena, de Roraima, os Yanomami estão su- semestre de 1998foram registrados 30 óbitos por ral nos últimos sete anosfoi de 1. 440 ( número de

cumbindo às doenças trazidas pelos garimpeiros pneumonia. óbitos em cem mil habitantes) A média deste co-
e operários que ocuparam suas terras desde o iní- eficiente no Brasil é de 600 óbitos em cem mil
cio da década de 70 quando da construção da
OUTRAS DOENÇAS habitantes, ou seja, o risco de morrer para os
Rodovia Perimetral Norte, seguida da corrida ao As diarréias e a desidratação representam outro Yanomami é quase 2,5 vezes maior. Se levarmos
ouro' nos anos 80. 0 forte impacto grave problema de saúde para os Yanomami. De em consideração que não existe assistência aos
epidemiológico, aliado à baixa resistência 1991 até 97, foram registrados 20.388 casos, ou Yanomami do lado venezuelano, bem como em
imunológica destas populações para certas doen- seja, uma média anual de 2.9 12 casos. No primeiro parte da Reserva no lado brasileiro ,como as regi-
ças, fez diminuir a população em algumas regi- semestre de 1998foram 2.088 casos, surrando a ões do Xiriana, do Padauaris, de Aracaçá e parcos
ões em 22%, como no Vale do Ajarani e em 50% faixa do esperado para aftenas um semestre em atendimentos em Tukixim, Olomai. Xicoi e
na região do rio Catrimani. 43,4%. Sigaima, a ausência de notificações pode indicar
Desde 1991. a média do Coeficiente de Incidên- uma situação ainda mais critica.
MALÁRIA cia Anual de tuberculose foi de 584 (em cem mil
A malária está dentre as doenças mais constan- habitantes) A média nacional deste coeficiente é
POLÍTICA DE SAÚDE
tes. Somente do lado brasileiro, onde há registros, de 50, o que significa que o risco dos Yanomami Existe li ma indefinição legal sobre a responsabi-
foram notificados 27.445 casos nos últimos sete desenvolverem a tuberculose é quase 12 vezes su- lidade institucional da saúde indígena no f>aís

anos, o que corresponde a praticamente metade perior ao da população brasileira em geral. Ou- onde as atii idades de assistência primária são res -
do número de habitantes. Somente nos primeiros tras doenças responsáveis por grande número de ponsabilidade da Eunai e atividades de controle
meses de 1998 registrou -se um total de 4. 152 ca- atendimentos nos últimos anos são as verminoses, de endemias, imunização, educação em saúde,
sos de malária, indicando um aumento de 93,6% as afecções dermatológicas ( micoses infecções e ,
desenvohámento comunitário e treinamento de
em relação ao primeiro semestre do ano anterior. escabiose), as infecções urinárias, as agentes indígenas são obrigações da Eunasa. Em
conjuntivites, as odontalgias e os ferimentos e Roraima, bá choques de ações entre servidores dos
PNEUMONIA/IRA traumatismos. dois órgãos, perpetuando uma disputa pela res-
A constante presença de não- índios em seu terri- ponsabilidade e, ao mesmo /empo, impedindo
tório e o retornode pacientes que estiveram in-
MORTES uma nuiior integração interinstilucional. Hoje,
ternados na cidade de Boa Vista para tratamen to 0 total de óbitos registrados de 1991 a 1998 (pri- oito instituições (seis não-governamentais) se

de diversas doenças têm introduzido sistemati- meiro semestre) foi de 1.211, assim distribuídos: ocupam da Área Yanomami, das quais 0 Distrito
camente as infecções respiratórias agudas (IRi\), causa desconhecida (35,1%); malária (23,4%), Yanomami (DSY), parte integrante da
Sanitário
comprometendo profundamente suas atividades IRA (13,2%); violência (4,5%); causas neonatais funasa, tem o impei mais importante, cuidando
de subsistência. A cada epidemia de gripe, cerca (2,6%); diarréias (2%); acidente ofídico (1,8%); de l.i dos 24 “pólos-base" de atendimento. (ISA,

de 15% dos casos evoluem com complicações tuberculose ( 1,5%) 0 desconhecimento da causa 23/1 1/98)

bactéria nas, principalmente a pneumonia, com de tantos óbitos deve-se, em grande parte dos ca-
alto índice de mortalidade quando não há trata- sos, à ausência de profissional de saúde.

e internacionalizando” o alendimento à saúde SURTO DE TUBERCULOSE enças encontradas na área Yanomami c noções
dos índios ao transferir os serviços nas aldeias básicas etnográficas yanomami. Este é mais um
A Funasa perdeu o controle da tuberculose na
para ONGs. ( Correio Braziliense, 25/07/99) curso preparatório da Urihi, que, a partir do
reserva Yanomami. Só em Boa Vista, na Casa de
dia 1 5 de dezembro, vai assumir a execução dos
Cura Hekura Yano, são 32 indígenas com a do-
FUNAI CULPA FUNASA trabalhos da saúde indígena do Dislrito Sanitá-
ença, dos quais 42 Yanomami. A situação vem
rio Yanomami (DSY) A Urihi é uma organiza-
0 chefe do Departamento de Saúde da Funai. se agravando desde 1991. Na maloca Sikói, na
ção voltada especificamente para o trabalho
Oswaldo Cid, ingressou com uma representa- região de Aiiaris, há aproximadamente 30 pes-
de saúde yanomami. Foi criada pela CCPY, que
ção na Procuradoria Geral da República res- soas doentes e deste total 1 7 estão com tuber-
desenvolvia trabalhos em três áreas indíge-

ponsabilizando a Funasa pelo alio índice de culose. 0 índice tolerável de tuberculose pelo
nas, conforme informações de um dos coorde-
mortes e doenças entre os índios yanomami, em Ministério da Saúde é de 53 casos para cem mil
nadores da organização, Cláudio Esleves de Oli-
Roraima. Relatório do Serviço de Epidemiologia pessoas. F.m Sikói, mais de 50% da população veira. Ele disse que o convênio com a Funasa
da Funasa, em Roraima, revelou que apenas está contaminada. Conforme o levantamento
para o trabalho no DSY foi assinado entre a
20,6% dos Yanomami que morreram no ano feito pelo DSY, já foram regislrados até o mês com a CCPY.
Funasa e a Urihi e não Disse ainda
passado receberam algum tipo de assistência passado 1 29 casos da doença Como não se regis-
que, até o momento, a organização só recebeu
médica. No ofício enviado à Procuradoria, o a doença como causa mortis, outros casos po-
tra
cerca dc Rí 2,5 milhões da Funasa do total de
médico informa o percentual de índios que dem ter ocorrido, (folha de Boa Vista, 04/1 0/99)
Rí 7,2 milhões do convênio. (Folha de Boa
morreram sem assistência médica c diz que o Vista, 24/11/99)
alto índice de doenças respiratórias entre os ONG ASSUME
Yanomami é decorrência da “não presença dos SAÚDE YANOMAMI
médicos dentro da aldeia como era previsto",
Mais dc 60 profissionais de saúde contratados
(A Gazeta, 28/07/99)
pela Urihi Saúde Yanomami participam desde
ontem de um curso no hotel Hamaraty, com
duração dc três semanas. Essas pessoas eslão
recebendo treinamento sobre as principais do-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA MATA 355


apenas em do mesmo ano. Durante mostrando a seqüência dos acontecimen-
YANOMAMI/INCÊNDIO abril
tos mais diretamente relacionados aos
esse período, o incêndio mereceu ampla
Em fevereiro de 199#< um incêndio atin- cobertura da imprensa nacional. Abaixo, Yanomami (mais sobre o incêndio no ca-
giu parcela significativa do Estado de seguem um depoimento de Davi Kopenawa pítulo Roraima - Serra e Lavrado, neste
Roraima, abarcando terras indígenas e Yanomami sobre o evento e uma seleção volume)
não-indígenas. A situação foi contornada de manchetes e matérias jornalísticas

OS PÉS DO SOI PISARAM A FLORESTA


A seca e oJogo não chegaram sem motivo. Omamari,
o espí rito do sol, pousou seu pés sobre afloresta. Foi
por isso que começou esse calor. Seus pés desceram
sobre a teria, pisaram as aguas, as praias dos rios,

as colinas e as montanhas. Assim que os j)és de


Omamari se aproximaram do topo dafloresta, tudo
começou a secar. Os fazendeiros, os colonos e os
outros brancos que moram ao redor da nossa ter-
ra não sabem nada sobre o espírito do sol. Eles acen -
deram fogos por toda parte. Foi assim que afloresta
começou a queimar, porque a terra, as árvores e as
folhasjá estavam todas secas.
Nós, habitantes da Serra do Vento, já conhecemos
estas coisas. Mas nem todos os Yanomami sabem.
Em muitas casas, também acenderam fogo nas
suas roças. Mas o chão da floresta estava coberto
defolhas secas que começaram a queimar. 0fogo
passou para as ervas secas, para os troncos de
árvores mortas, /te brasas voaram por toda parte
com o vento. Quando vi isso, fiquei muito preo-
cupado. Pensei que os brancos, mas também os
Yanomami, foram muito esquecidos.
A fumaça aumentou pouco a pouco e, de repente,
ela estava cobrindo toda afloresta. Primeiro, ela
subiu ao céu e, depois, baixou sobre nós. Então,
lembrei-me dos antigos e fiquei pensando que,
nos tempos primevos, toda aflorestajá havia quei -
mado que poderia recomeçar. As-
assim. Pensei
sim, pus-me a cheirar o pó da casca da árvore
yãkõanalii para jazer dançar meus espíritos
xapiripe.Queria que eles descessem para afastar
esta fumaça para longe de nós. Os anciãos da al-
deia não me disseram para fazer isso; comecei
sozinho, para tentar. plantas de feitiçaria. Eles secam estas plantas e lavras dos antigos. Por isso achamos que aflores-
Meus espíritos tentaram soprar seu vento fiara as sopram sobre os humanos com suas zara- ta iria queimar-se toda novamente. Já sabíamos.
afastar a fumaça. Mas não conseguiram. Ela já batanas. É assim que eles nos mandam doenças. Aconteceu há muito tempo, láfxtfo alto Rio Parima,
tinha aumentado demais e estava cobrindo toda Quando o fogo começou a subir na Serra do Ven- nas serras. Era o tempo de Oinama, que criou os
a floresta. Os fogos estavam em toda parte ao re- to, nós pensamos que essas plantas iriam quei- Yanomami. Foi ele que apagou as chamas batendo
dor de nós: na floresta, nos campos e até em tor- mar e que sua fumaça iria deslanchar uma epi- nofogo. Por isso não chegm até as terras baixas, te
no da cidade dos brancos. Então, meu sogro e demia que poderia matar todos nós. As nuvens savanas que existem nas terras cdtas da nossa flo-
outros xamãs da nossa aldeia se juntaram a mim de fumaça sobre nós ficaram tão baixas e la- resta. que chamamos purusi. são os rastros e o ca-
para trabalhar 0 fogo e a fumaça aumentavam macentas que quase afogamos. Não dava mais minho desse fogo antigo. São como as terras nuas
sem parar. Faltavam, ainda, os xamãs das outras para enxergar a floresta, os olhos ardiam, o peito ao redor da cidade, que os Brancos chamam de
aldeias Yanomami também atacar esta fumaça, ficava seco. a gente tossia sem parar. Não dava lavrado. Não existem sem razão. A florestajá quei-
como a gente, mais para respirar. mou assim, e as árvores nunca cresceram de novo.
Onde moramos, perto da Serra do Vento, o fogo Por isso, com meu sogro e os outros xamãs da al- Foi assim que os pés do sol já desceram sobre a
também começou na roça. Mas logo ele começou deia. trabalhamos muito durante esse temfx). Cha- floresta nos tempos primevos. Quando eles ficam
a subir na montanha. Então, mandamos todos mamos a chuva. E nossos espíritos jogaram água no alto do céu. o calor da seca não é muito forte.
nossos espíritos parajlecbar este Jogo e jogar água sobre as chamas. Eles sopraram seu vento para Mas, quando eles pisam sobre a floresta, as árvo-
sobre ele. Assim, ele começou a parar de andar. Se afastar a fumaça, para jogá-la para longe de nós. res secam e tudo se queima. Os peixes e osjacarés
não fosse isso, a floresta teria queimado inteira. Na Assim, aos pouco, ela acabou sumindo da flores- morrem. A caça e os humanos sofrem de sede. Foi
roça, fomos nós que apagamos ofogo. batendo nele. ta. Mas acho que elafica escondida no mundo em- o que aconteceu, de novo. (Davi Kopenawa
Nós também ficamos muito preocupados por cau - baixo da terra e, mais tarde, ela jwderá voltar. Yanomami, maloca Watoriki, set/98. Depoimento re-

sa da fumaça. Sabemos que, na montanha, os nè Foi assim que a floresta já queimou no começo colhido e traduzido por Bruce Albert, IRD)
waripé, seres maléficos dafloresta, cultivam suas dos tempos. Sabemos isso porque ouiimos as pa-

356 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


INCÊNDIO CONSOME GOVERNO INICIA COMBATE A INCÊNDIO. FOGO FOGO EM RR AMEAÇA QUASE SEIS MIL ÍNDI-
2 MIL HA DA TI SÓ SERÁ DEBELADO EM 15 DLAS (Jorna! de OS. PRESIDENTE DO IBAMA DIZ QUE INCÊN-
Brasília, 21/03/98) DIO JÁ ALCANÇOU 25% DA SUPERFÍCIE DO ES-
A área está localizada na reserva dos Yanomami, TADO, MAS SÓ QUEIMOU TOTALMENTE DE 3%
próxima à aldeia de Catrimani. “Todas as áreas MAIS DE 450 BOMBEIROS DO BRASIL, ARGEN- A 4% (O Globo, 24/03/98)
estão afetadas pela seca e pelo fogo; os índios TINA E VENEZUELA LNTEGRAM O GRUPO QUE
Macuxi estão sem água e o gado deles está mor- DÁ COMBATE AO FOGO (O Popular, 23/03/98) ONU VAI AJUDAR A COMBATER FOGO EM RR.
rendo”, afirmou Walter Blos, administrador da AMBIENTALISTAS CRITICAM DEMORA DO GO-
Funai. O Ibama afirma que os incêndios são INCÊNDIO EM RORAIMA .AINDA ESTÁ FORA DE VERNO BRASILEIRO EM ACEITAR AJUDA OFERE-
criminosos: os fazendeiros e os colonos que CONTROLE. HELICÓPTEROS CEDIDOS PELA .AR- CIDA PELO ÓRGÃO HÁ 3 MESES (FSP, 25/03/98)
praticam as queimadas perderam o controle do GENTINA ENTRAM EM OPERAÇÃO E APAGAM FO-
fogo nas áreas de pastagem e plantio e os in- COS EM ÁREAS INACESSÍVEIS POR TERRA. FOGO DESCONTROLE FAZ BOMBEIROS PRIORIZAR
cêndios estão se alastrando para as áreas de AMEAÇA OS YANOMAMI. (O Globo, 23/03/98) VIDAS.COORDENADOR DO COMBATE AO FOGO
mata virgem. Só a chuva pode controlar a situ- EM RR DIZ QUE É IMPOSSÍVEL APAGAR TODOS
ação. O Ibama afirma ainda não ter condições IMPRENSA ESTRANGEIRA TEME POR OS FOCOS NO ESTADO (OESP, 25/03/98)
para apagar os incêndios. Desde janeiro, 14 YANOMAMI. JORNAIS DE LISBOA ACUSAM GO-
municípios do estado estão em estado de cala-
VERNO BRASILEIRO DE OMISSÃO DIANTE DO FOGO AMEAÇA ALDEIAS YANOMAMI. LEVANTA-
midade pública. (OESP, 05/03/98) INCÊNDIO (O Globo, 23/03/98) MENTO DO INPE ESTIMA QUE ENTRE 13% E
17% DO TERRITÓRIO DE RR FOI QUEIMADO
FOGO JÁ DEIXA ILHADAS ALDEIAS INDÍGENAS INCÊNDIOS NAS SELVAS DE RR SE AMPLIAM E (Zero Hora, 25/03/98)
(FSP, 19/03/98) AFETAM OS YANOMAMI. BOMBEIROS USAM
TÉCNICAS DE TRINCHEIRAS PARA EVITAR A GOVERNADOR AGRADECE APOIO ARGENTINO.
FHC LIBERA R$ 2 MI CONTRA FOGO. ÍNDIOS PROPAGAÇÃO DO FOGO (Tribuna da Impren- VENEZUELA, ALEMANHA E G7 TAMBÉM PRES-
AMEAÇADOS QT. 20/03/98) sa, 24/03/98) TAM AUXÍLIO (OESP 26/03/98)

Aldeia yanomami queimada.


1998

LACERDA/AE

PAULO

JOSÉ

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 357


JOGO DE EMPURRA ALIMENTA INCÊNDIO EM glaterra), Movimondo (Itália) e Médicos Sem CCPY GANHA PRÊMIO
RR. ÓRGÃOS FEDERAIS TROCAVAM COMUNICA- Fronteira (Holanda) junto ao Echo, o Departa- DO GOVERNO FHC
DOS ENQUANTO FOGO ATINGIA A MAIA. FUNAI mento Humanitário da Comunidade Européia.
APONTA OMISSÃO PROPOSITAL DO ESTADO. (ISA, 27/05/98)
A CCPY ganhou prêmio do Ministério da Justi-

IBAMA ALERTOU P.ARA FOGO HÁ DOIS MESES


ça, em reconhecimento ao trabalho em defesa
do povo Yanomami em Roraima. A ONG ficou
(FSP, 27/03/98)
YANOMAMI/GERAL em segundo lugar na categoria Organizações
Não-Govemamentais em concurso promovido
BIRD OFERECE US$ 5 MILHÕES PARA COMBA-
pelo Programa Nacional de Direitos Humanos.
TE AO FOGO. ATÉ AGORA O GOVERNO LIBE- LIVRO “A FARSA YANOMAMI”
ROU Rí 2 MILHÕES PARA RR CONTROLAR IN - Como contribuição simbólica, a Comissão vai
REVOLTA PROFESSORES receber a quantia de 25 mil reais. A ONG ainda
CÊNDIOS. EMBRAPA PODE ENVIAR TÉCNICOS
INDÍGENAS não decidiu sobre o investimento do dinheiro.
E EQUIPAMENTOS. INPE AVALIA D/ANOS CAUSA-
A indicação do livro “A farsa Yanomami” para a Ferrenho crítico da CCPY, o governo faz o pri-
DOS NA COBERTURA VEGETAI,. REGENERAÇÃO
rede pública de Roraima causou indignação dos meiro reconhecimento público, em função do
DE FLORESTAS LEVARÁ DÉCADAS, DIZEM ES-
PECIALISTAS (OESP, 27/03/98) líderes e entidades indígenas reunidos em serviço que a ONG tem desenvolvido, há 1 5 anos,
Manaus para o X Encontro de Professores Indí- na luta pela garantia à terra aos Yanomami, além

LUIZ INÁCIO DA SILVA, CANDIDATO À PRESIDÊN- genas do Amazonas. de manter programas de educação e saúde na

CIA PELO PT, VAI A


RR E FAZ PLANALTO REAGIR. O livro foi escrito pelo coronel de reserva Carlos área, ( Folha de Boa Vista, 13 e 14/12/97)
ESTADO É DE POUCOS VOTOS, MAS ESTRATÉ- Alberto Lima Menna Barreto e publicado pela
GICO, PORQUE ATRAI O INTERESSE DE OUTROS Biblioteca do Exército Editora, no RJ, em 1995. DAVI EM CONFERÊNCIA
GOVERNOS E DE ONGS (OESP, 27/03/98) São 211 páginas divididas em 26 capítulos, to- SOBRE OS “500 ANOS”
das marcadas pela insatisfação com as demar-
O discurso da diferença marcou a abertura da
FUMAÇA ISOLA BOA VISTA E INCÊNDIO AVANÇA cações de terras para os índios e com a cres-
segunda etapa do ciclo de conferências “Brasil
PELO SUL DE RORAIMA. A COORDENAÇÃO DE cente atuação das ONGs, que estariam agindo
500 anos - experiência e destino”, promovido
COMBATE AO FOGO IDENTIFICOU ONTEM CIN- em prol da internacionalização da Amazônia.
pela Funarte e o Ministério da Cultura. Convi-
CO FOCOS, QUE PODEM SE ESPALHAR RAPIDA- Num dos capítulos, “A laoomanização dos ín-
dado para a primeira palestra do bloco "A ou-
MENTE. GOVERNO DA GUIANA DECRETA ESTA- dios”, o autor declara que os Yanomami não
tra margem do Ocidente”, que pretende discu-
DO DE EMERGÊNCIA. CNBB COMEÇA CAMPA- existiam e sugere que a imprensa “fez uma fan-
tir, até novembro, os do encontro entre
frutos
NHA PARA AJUDAR VÍTIMAS DE INCÊNDIO (Di- tasia” da situação de forma errônea.
europeus e índios, o yanomami Davi Kopenawa
ário de Cuiabá, 28/03/98) Gaúcho de Porto Alegre, o coronel Menna Barreto
começou a apresentação em sua própria lín-
morreu no Rio de Janeiro em 1995. Pertencia a
gua. A distância entre o português e o yanomami,
PERITOS DA ONU CHEGAM A RR. FOGO JÁ ATIN- uma tradicional família de militares. Cursou a Es-
porém, foi apenas uma das muitas diferenças
GE UMA ÁREA DE 36 MILHÕES DE HECTARES. cola de Comando e Estado-Maior do Exército e
exibidas pelo xamã ao público no auditório do
EXÉRCITO DESCOBRE NOVAS QUEIMADAS NA Escola Superior de Guerra. Exerceu o cargo de
Palácio Gustavo Capanema (O Globo, 14/09/98)
REGIÃO (Diário Catarinense, 31/03/98) Secretário de Segurança de RR a convite da Presi-
dência da República (A Crítica, 02/08/97)

PAPA FAZ DOAÇÃO


AOS YANOMAMI
O jornal italiano El Corriere impressionou o
papa João Paulo II ao informar que o governo
brasileiro não socorreu os índios Yanomami
após o megaincêndio de Roraima, liberando
ajuda apenas para os fazendeiros. O papa doou
imediatameme US$ 1 1 mil de seu próprio bolso e
anunciou <[ue o Vaticano vai destinar outros USÍ
25 mil para serem investidos em alimentos e saú-
de nas aldeias Yanomami. (A Crítica, 20/05/98)

DOAÇÕES DA UNIÃO EUROPÉIA


Representantes do Conselho Indígena de
Roraima (CIR) da Comissão Pró-Yanomami, da
,

União Européia e de quatro entidades de apoio


européias estiveram reunidos, entre os dias 20
e 23 de maio, para acertar o repasse de R$ 1 ,2

milhão às comunidades indígenas afetadas pela


seca e pelo incêndio que devastou cerca de 1 5%
do estado de Roraima. Os recursos foram le- Lins é o único yanomami-soidada servindo no pelotão do exército em Maturacá. Frequentemente,
vantados pelas ONGs France Liberté, Oxfam (In- por determinação do comandante, posa de "soldado-yanomami" para os visitantes.

358 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


VENEZUELA NEGOCIA TURISMO NO PICO DA NEBLINA INCLUI ALDEIAS YANOMAMI
CONHECIMENTOS Há periodicamente
turistas visitando as aldeias Um Yanomami serviu, ele mesmo, como guia a
TRADICIONAIS Yanomami. Entre dezembro de 99 e maio de 2000, turista italiano. Em troca, recebeu gasolina para
pelo menos seis turmas (formadas Jwr norte-ame- o motor do barco de seu pai, chefe da aldeia de
0 governo da Venezuela firmou, em janeiro de ricanos, japoneses, coreanos, italianos, israelen- Maturacá. A comunidade de Nazaré ganhou bote
1999, contrato com a Universidade de Zurique, ses e brasileirosde SE e MG) estiveram por lá. A e motor por permitir que um grupo de coreanos
Suíça, concedendo-lhe o direito de acessar os maior parte, levada por guias turísticos, foi auto- levados pelo Ibama fizesse uma filmagem.
recursos genéticos, inclusive os “componentes rizada pelo Ibama a visitar o Pico da Neblina,
intangíveis”, manejados pelos Yanomami. 0 passando, no caminho, pelas aldeias.
NUS PARA FOTOS
acordo foi assinado dias antes de Rafael Caldera 0 Ibama, que cobra taxa dos visitantes, alega que Os guias negociam o acesso às aldeias exploran-
entregar a presidência da República a Hugo tem competência para autorizar, unilateralmen- do as disputas entre os chefes yanomami. Na co-

Chávez Frias, empossado em fevereiro. Pactua-


te, o acesso ao local, já que se trata de Parque munidade de Nazaré, um guia pediu que os
Nacional. A Funai local autorizou a entrada de Yanomamificassem nus para serem fotografados
dos sob sigilo, os termos do contrato vieram
dois norte-americanos, que trocaram roupas usa- pelos visitantes. 0 fato causou desconforto entre
parcialmente a público em 26 de janeiro, atra- das pela chance de fotografar os Yanomami. a comunidade, que não quer mais a presença de
vés de reportagem publicada no El Nacional ,
turistas. Apesar disso, um Yanomami de Ariabu,
diário de maior circulação no país. DIVISÃO DOS GANHOS guarda-campo assalariado pela Cornara, sempre
Júlio César Centeno, especialista em flores- De modo geral, os Yanomami se dizem a favor do passa por Nazaré com garimpeiros e turistas, per-
tas e professor da Universidade dos Andes turismo, desde que os ganhos sejam repartidos. noitando na casa de sua irmã. (ISA, jun/OO)
(Mérida), informou ao ISA que o acordo foi

selado pelo Ministério do Meio Ambiente


venezuelano com a cumplicidade da Direção lização do que ali se encontrar”, avalia. ( Pa- como a preocupações recentes, como as epide-

de Assuntos Indígenas do Ministério da Edu- rabólicas - ISA, mar/99) mias de malária e tuberculose introduzidas pelos
cação; o El Nacional cita o Herbário e a Es- “civilizados”. Parte da venda dos dois mil exem-
cola de Antropologia da Universidade Central CALENDÁRIO TRAZ plares que compõem a tiragem do calendário será
da Venezuela como avalistas do contrato. Se- DESENHOS E DEPOIMENTOS revertida para os Yanomami, através da CCPY.

gundo Centeno, pelos termos anunciados, a O desenho para o mês de janeiro é assinado
Universidade de Zurique terá direito sobre A editora DBAe a CCPY lançaram, em 1 1 de por Davi Yanomami. Retrata a sobrenatural “flo-

80% dos ganhos e benefícios - inclusive co- dezembro de 1999, o calendário “Rastros resta nova", que, conforme a visão do autor,

merciais - decorrentes da exploração das in- Yanomami 2000". Os desenhos, com pincel atô- encontra-se sob a proteção do criador Omama,
formações genéticas obtidas entre os mico, e os textos-depoimentos - tudo de auto- mas que, um dia, será ofertada ao homem para
Yanomami. "O ministério se conforma com ria de indivíduos Yanomami - referem-se a as- substituir a que está suja. (ISA, a partir FSP,

20% dos ganhos das patentes e comercia- pectos mítico-cosmológicos deste povo, bem 09/12/99)

AYRCA: UMA ASSOCIAÇÃO YANOMAMI NO AMAZONAS


A Associação Yanomami do Rio Cauaburis (Ayrca) FONTE DE RECURSOS de os chefes possuírem sítios, perto de onde os
está ligada às aldeias Maiá, Ariabu e Maturacá, salesianos estão instalados.
Um convênio recente entre IDS e Foirn fwrmitiu o
situadas em tomo da Missão Salesiana instalada
repasse de R$ 4 mil à Ayrca. prevendo a aquisição
na região.Fundada em dezembro de 1998, a As- NOVA DIRETORIA
de equipamentos, a construção de uma sede da
sociação vem tentando se recuperar de um início
entidade na aldeia de Maturacá e a realização de Entre 27 e 29 de junho de 2000, na Missão
de existência turbulento marcado por graves con-
,
uma oficina de capacitação organizacional, a ser Salesiana de Maturacá/Ariabu, ocorreu a III As-
flitos internos.Sua fundação é controversa. Júlio
oferecida por alunos da Universidade do Amazonas. sembléia Geral da Ayrca.Uma nova diretoria foi
Góes reivindica a autoria, mas é acusado por
eleita: com 103
votos, Valdir Góes foi escolhido
muitos de ter usado a criação de uma associação DESCONFIANÇA E RESISTÊNCIA para continuar na presidência Armindo (de;
para obter bens em benefício próprio, através de
A AYRCA tem sido usada como canal para o envio Ariabu), que recebeu 130 votos, será o vice;
projetos.
de ofícios a autoridades, com demandas pontu- Arnaldo (105 votos, tesoureiro) e Renato (109
MUDANÇA DE PRESIDENTE ais e denúncias. Mas sua principal missão, que votos, secretário) completam a equipe.
O primeiro presidente da Associação, Pedro Re- seria colocar no mercado o cipó, farinha, piabas, Além da eleição, estiveram em pauta assuntos
nato, foi deposto emfevereiro de 2000. Junto com laranja e artesanato produzidos pelos Yanomami, como o curso de capacitação de lideranças, reali-

ele. saiu de cena o arquivo de documentos da por par-


sofre resistência das comunidades, que, zado com o apoio da Foim e do IDS, as situações
Ayrca, que foi queinuido. Remito foi acusado de ticiparem pouco do processo de escoamento da da educação escolar e da saúde, a relação das co-
usar os recursos repassados pela Foim (cerca de produção, desconfiam da mediação feita /tela As- munidades com a Funai. a Prefeitura de São
800 reais) em benefício próprio, sem prestar con- sociação. Gabriel da Cachoeira e o Pelotão do Exército ins-
tas. Além disso, teria contraído dívida não paga Para os chefes, é difícil evitara impressão de que tídado na região, bem como os problemas da be-
com a comunidade de Ariabu, causando conflito concentram os benefícios econômicos dos proje- bida alcoólica e da prostituição das jovens
com o tuxaua local, que é seu sogro. Com a depo- tos. No momento, nas comunidades da região do yanomami. Estiveram presentes lideranças
sição de Renato, assumiu o vice, Valdir Góes, fi- rio Cauaburis, 17 das 23Junções remuneradas são yanomami, representantes da Foim, IDS, Missão
lho de Daniel Góes, o tuxaua de Maturacá. Na as- ocufxtdas por pessoas designadas como periomi Salesiana, Funai, Prefeitura de São Gabriel da
sembléia de final de Jevereiro de 2000, Valdir foi (chefes e parentes de chefes), que se diferenciam Cachoeira e Exército. A data da próxima assem-
efetivado e a vice-presidência ocupada por Florisa, dos demais membros da sociedade yanomami, bléia ficou acertada para 15 de agosto de 2001.
Jilha de Júlio Góes. chamados de kasiteri. Também é conhecido o fato (ISA, jun/00)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA MATA 359


'«A J7 Acervo
_//xV ISA A C 0JN TECEU
LIVRO DENUNCIA não se pronunciaria. No entanto, um e-mail seu de de registrar 0 endereço eletrônico para o
PESQUISADORES... com uma espécie de pedido de socorro acadê- povo Yanomami, deparou-se com a informação
mico também caiu narede. Chagnon afirma, na de que 0 título já pertencia a tuna empresa dos
Antes mesmo de ser lançado, um livro está sa-
mensagem a um colega da Universidade da Estados Unidos, especializada em domínios na
cudindo a tribo antropológica norte-america-
Califórnia: "Preciso de todos os afiados que Internet. Além de ler os direitos de usá-lo, a
na. “Darkness in El Dorado" (Trevas no
puder reunir, nesta altura”. Informa que está empresa pode vendê-lo. O valor estabelecido é
Eldorado), do jornalista Patrick licrney, tem
constituindo um advogado especializado em de USÍ 25 mil. segundo informou a diretora da
tudo para virar best seller também no Brasil:
processos de calúnia e difamação e negocian- empresa, Mercedes Mèier.
Yanomami, eugenia, abuso sexual e genocídio.
do com a revista New Yorker” a publica-
“The Davi Eopenawa, líder do povo Yanomami, in-
Todo mundo fala dele, mas ninguém ainda leu.
ção de sua versão na mesma edição em que sairá formado do fato, escreveu-lhe a seguinte car-
Melhor dizendo, pouca gente leu a obra (que
o texto de TierneyNem mesmo os inimigos de ta, que já está a caminho dos EUA:
traz o vendável subtítulo “Como Cientistas e Jor-
Chagnon saem ilesos de “Darkness in Ei “Demini, 19 de setembro de 2000
nalistas Devastaram a Amazônia”) . Um capítu-
Dorado”. Por exemplo, o antropólogo francês Senhora Mercedes Mèier,
lo sairá na próxima revista “The New Yorker”.
Jacques Lizot, que viveu 30 anos entre Eu, Davi Yanomami, estou mandando este co-
O alvo central das denúncias é Napoleon
Yanomami venezuelanos e sobre eles escreveu municado para senhora da sociedade não indí-
Chagnon, antropólogo da Universidade da
“O Círculo dos Fogos” (lançado no Brasil pela gena, para senhora da sociedade norte-ameri-
Califórnia em Santa Barbara que pesquisou os
editora Martins Pontes). Segundo Tierney, Lizot cana, porque descobrimos na Internet que vocês
Yanomami da Venezuela na década de 60. Seu
não teria apenas escrito sobre a liberdade se- estão usando 0 nome do povo Yanomami, sem
livro “0 Povo Feroz” (1968) foi, durante anos,
xual entre índios, mas também usufruído dela. nos conhecer, nas nossas aldeias.A senhora não
obra de referência sobre a etnia. Ele é acusado
(Marcelo Leite, FSP, 23/09/00) é da nossa confiança. Nós não conhecemos a
de encenar conflitos entre aldeias Yanomami,
senhora. Eu quero que a senhora pare de usar
para documentar sua tese de que se trata de
... E CIENTISTA GAÚCHO 0 nome dos Yanomami. A senhora não pediu
um povo cronicamente propenso para a guer-
ra. A encenação teria depois degenerado em
DEFENDE COLEGA ACUSADO autorização, antes de usar 0 nosso nome, 0
nome dos Y'anomami,
matança real. Segundo Tiemey, Chagnon teria
Para o geneticista gaúcho Francisco Salzano, que Eu, Davi Yánomami, fiquei revoltado por causa
também participado de experimentos conduzi- com James
trabalhou Neel por quase 50 anos, do nome do meu povo, que está sendo usado
dos com os índios da Venezuela por James Neel,
o livro de Patrick Tiemey éum “caso de polí- na capa do papel e depois vão produzir pra ven-
geneticista da Universidade de Michigan. Neel
cia”. “Ele é um exemplo do extremo a que uma der por US$ 25.000 (vinte e cinco mil dólares
utilizou uma vacina anti-sarampo sobre a qual
pessoa pode chegar para alcançar a fama”, dis- americanos). O nome dos Yanomami não é pra
pesa a suspeita de ter desencadeado uma epi-
congresso de genética em iguas
se o cientista em negociar. Yanomami é nome de um povo muito
demia que matou dezenas, talvez centenas de
de Lindóia (SP). Salzano era colega e amigo antigo. Nós queremos que a senhora respeite 0
Yanomami.
pessoal de Neel. Os dois começaram a colabo- nome dos Yanomami. Não queremos arranjar
Na Internet - Nos EUA como no Brasil, circu-
em A parceria só se desfez com
rar 1957. a outra briga. Já temos briga no Brasil. Então, esta
lam vários e-mails sobre o caso. (Jm detes foi
morte do americano, no começo deste ano. é minha palavra a sociedade não indígena res- :

escrito por dois antropólogos citados no livro,


O geneticista gaúcho homenageou Neel em sua peitar e entender. Davi Kopenawa Yanomami.”
Terence Ihrner, da Universidade Comedi, e leslie
palestra de abertura do 46” Congresso Nacio- ( Boletim da CCPY, Edição n° 7, out/00)
Sponsel, da Universidade do Havaí, dos poucos
nal de Cenética. “Ele foi uni exemplo não só de
que de fato leram “Darkness in El Dorado”. A
cooperação científica, mas também de digni-
correspondência, originalmente destinada à
dade humana, "Segundo ele, as afirmações de WAIMIRI-ATROARI
presidência da Associação Antropológica Ame-
Tiemey sobre a conduta de Neel em relação aos
ricana (AAA), alertava para o conteúdo explo-
Yanomami são uma fantasia.”0 estudo foi pu- CASAL ALEMÃO
sivo do livro. "Escrevemos para informar sobre
blicado no “.American Journal ofEpidemioiogy”, SURPREENDIDO...
um escândalo iminente que vai afetar a profis-
uma das revistas mais sérias do mundo", afir-
são antropológica americana como um todo aos mou Salzano. “Se a vacina fosse letal, a revista
Um casal de alemães, 0 jornalista Rainer Vollner e
olhos do público e despertar indignação inten- sua companheira, irmgard, foram abordados por
seria a primeira a condená-la". Salzano disse
sa e chamados à ação entre os membros da as- índios Waimiri-Atroari enquanto cruzavam a área
que a vacina foi (estada em populações do mun-
sociação”, diz o e-mail. “Por sua escala, rami- de mesmo nome. Eles pretendiam escrever repor-
do inteiro e que todos os efeitos foram acom-
ficações, pura criminalidade e corrupção, não panhados minuciosamente pela equipe de
tagens para 0 Parlamento .Alemão sobre as condi-
Neel.
tem paralelo na história da antropologia. ’A AAA

“Se houve genocídio, onde estão os mor-tos?",


ções de rida dos moradores da região. 0 casal

publicou nota oficial, que pode ser lida na havia saído de Manaus no dia 4, a bordo do barco
pergunta. O geneticista gaúcho disse ter toma-
Internet(www. ameranthassn.org/press/ do conhecimento da polêmica por meio de
Noel, com mais cinco pessoas - tripulação mais 0
eldorado.htm): “Até que haja uma discussão e
Napoleon Chagnon, que teria afirmado que pre-
guia Petcr Hoestmann, também alemão - e, quan-
uma revisão completa e imparcial das questões
tende processar Tiemey. (Cláudio Ângelo, FSP,
do chegaram ao rio Curiuau, que corta a área
levantadas pelo livro, seria injusto externar um 23/09/00)
Waimiri-Atroari, já à noite, foram abordados por
julgamento sobre as acusações específicas con- um barco da Funal com pessoal armado.
tra indivíduos que ele contém”, afirma. Segundo Vollner, um dos tripulantes, que se
YANOMAMI.COM
O que diz Chagnon - 0 caso chegou a uma identificou como diretor do posto da Funai na
publicação dirigida a acadêmicos norte-ameri- Em setembro, a CCPY tomou conhecimento da área, exigiu que Hoestmann e 0 comandante do
canos, “The Chronide of Higher Education". apropriação do domínio 11 a Internet do título barco 0 seguissem até 0 posto, numa embarca-
Procurado por ela, Napoleon Chagnon disse que “Yanomaim.com". Ao pesquisar a possibilida- ção da própria Funai. Quando chegaram ao lo-

360 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


.

cal onde seria o posto, esperaram por 20 mi- REGIONAIS ACUSAM te, que garantiram a preservação de espécies
nutos até que três índios armados chegaram WAIMIRI-ATROARI DE importantes de quelônios e mamíferos aquáti-
junto com o funcionário do órgão. Em seguida, MONOPOLIZAR IGARAPÉ cos (tartarugas, botos, ariranhas, lontras pei-
foram levados a uma maloca próxima do pos- xes-bois e outros).A região está sendo usada
to, onde sofreram ameaças do chefe indígena. Os presidentes das comunidades de Padre como universidade de biodiversidade par diver-
Cerca de uma hora depois, segundo Hoestmann, Nova Jerusalém e Boa Esperança, loca-
Cailerí, sas escolas do pais. QB, 30/03/98)
o barco com o casal de alemães atracou no na rodovia BR- 174, denunciaram ontem
lizadas
porto. “Nós fomos obrigados a descer e, com que os Waimiri-Atroari estão impedindo que LIVRO NEGA CULPA
as pontas das flechas, os índios nos agrediram. pesquem no igarapé Água Branca. A denúncia DOS WAIMIRI NO
Até o guia teve sua orelha perfurada pela ponta foi feita através de um abaixo-assinado entre-
MASSACRE DE 1968...
das flechas", informou Volhter. Confundidos gue àadministração da Ftinai em Manaus e ao PWA.
com turistas, os “visitantes" tiveram todos os De. acordo com 0 presidente da comunidade Foi lançado 0 livro Massacre (Editora loyola,
seus pertences jogados no rio pelos índios -
Padre Calleri, Evandro dc Freitas, os índios cons- 239 páginas), do padre Silvano Sabattini, mis-

roupas, dinheiro, passaportes, máquina fotográ- truíram um cercado que impede as famílias de sionário d:i Congregação dos Consolata, presi-

fica e combustíveis. O prejuízo foi calculado em pescarem, uma das atividades que garante 0 dente da Comissão Pró-Índio da Prelazia de
Rí 20 mil. Ao final, foram reconduzidos para sustento das comunidades. Freitas diz não ter Roraima. A obra parte da recusa do missioná-
fora da área de barco. (A Crítica, 11/07/96) conhecimento de que ali seja terra dos índios,
rio em aceitar a versão oBciai dada ao massa-

“Sempre pescamos ali e nunca tivemos proble- cre de uma expedição comandada pelo sacer-

... E FUNAI TEM mas", observa. Segundo Freitas, um pescador dote João Calleri, que seguira de Manaus para
QUE CONTORNAR de 71 anos foi saqueado pelos Waimiri-Atroari a área dos índios Waimiri-Atroari, num trecho
da rodovia BR-1 74.
CRISE DIPLOMÁTICA ao tentar pescar na área, tendo-lhe sido tirados
um motor de popa, uma canoa, anzóis e linha Padre Cafieri viajou em outubro de 1968 acom-
A presidência da Punai está tentando fazer com de pesca. Em Presidente Figueiredo, a Funai panhado de sete homens e duas mulheres, com
que o caso ocorrido com o casal dc alemães disse aos denunciantes que nada poderia ser a missão de pacificar os índios e permitir a cons-
dentro da TI Waimiri-Atroari não vire um inci- feito. (A Crítica, 11/03/97) trução da estrada, que foi inaugurada em no-
dente diplomático. Em Manaus, um técnico do vembro. Os expedicionários acabaram mortos
Programa Waimiri-Atroari (PWA), mantido pela a tiros e flechadas, às margens do rio Abonari,
JÓIA A PARTIR DE BRACELETE
Eletronorte, afirmou que considera que o gru- hoje município de Presidente Figueiredo (AM).
po invadiu a área dos Waimiri-Atroari. Segundo A designer de jóias carioca Teresa Xavier, única Os Waimiri-Atroari foram apontados como os
ele, é impossível que lenha ocorrido um enga- brasileira que está enire os 25 vencedores do responsáveis pelas mortes.
no na rota de navegação do grupo, já que os Diamonds International Awards 1998, criou um Trinta anos depois, 0 livro de Sabatini apresen-
limites da reserva estão bem sinalizados. bracelete que combina palha trançada peios ta os resultados de suas investigações, que che-
Segundo Raimundo Cerejo, funcionário daFunai Waimiri-Atroari e 57 diamantes. O bracelete é garam a reunir 200 horas dc entrevistas e cem
que acompanha o processo, a presidência da originalmente utilizado pelos índios como um quilos de documentos, De acordo com elas, a
íunai recebeu uma carta da direção regional amuleto contra 0 mau-olhado. (OESP, 18/01/98) equipe de Calleri foi vítima de uma emboscada
(em Manaus) comunicando o problema e preparada pelos brancos, envoivendo 0 pastor
aguardando as providências que dependerão do COMPRADORES DA protestante Cláudio Lcawitt, do Movimento de
relatório dos técnicos que foram enviados à ELETRONORTE HERDARÃO Evangelização da Amazônia (Meva) ,
um coro-
reserva. “Mas é importante salientar que o arti- PROGRAMA nel inglês a serviço na Guiana, Wíllian
go 231 da Constituição determina que alguém Thompson, que seria ligado à CIA, e um mateiro
só pode entrar mima área indígena com a auto- O grupo que adquirir 0 Sistema Manaus de Ge- que participava da expedição, único sobreviven-
rização dos índios c da Punai, e 0 alemães não ração de Energia vai herdar uma série de com- te. Tanto a Meva como a CIA estariam interessa-
fizeram isso”, disse. De acordo com 0 coorde- promissos sociais e ecológicos firmados pela das na extração de minérios na região, e consi-
nador interino de Educação e Documentação Eletronorte na região. Enire eles, 0 de garanlir deravam incômoda a presença de Calleri na área
do PWA, as pessoas que os índios não conhe- a permanência na área e prestar assistência Waimiri-Atroari. (IstoÉ, 09/12/98)
cem e que entram na reserva sem sua autoriza- permanente à população Waimiri-Atroari, cuja
ção prévia são encarados como invasores “em existência estavaameaçada em 9R1 i
... MAS CACIQUE
Os índios já chegaram a ser pouco mais de 250
função do passado marcado por massacres e ASSUME PARTICIPAÇÃO
lulas pela lerra”. QB, 11/07 e A Crítica, 12/07/96) pessoas. Com a ajuda da empresa estatal, hoje
são mais de 700 pessoas vivendo na região. A O cacique Mário Paruwé, de 48 anos, quebrou
preocupação com os Waimiri-Atroari por parte o como, ainda adolescente,
VISITA DO silêncio: relatou

da Eietronorte vem desde a formação do lago participou com mais 59 índios, do massacre de
PRESIDENTE TCHECO
no rio Uatumã, que inundou parte considerável 12 pessoas da expedição do padre italiano
O presidente da República Tcheca, Vaclav Havei, do território Waimiri. Um convênio firmado com Giovanini Calleri, em 1968. Na versão oficial, 0
aproveitou sua visita ao Brasil para visitar os a Funai estabeleceu uma cota anual de R$ 800 padre irritou os índios ao pegar de volta pre-
índios Waimiri-Atroari. Havei trocou presentes mil, com a qual são adquiridos equipamentos, sentes que havia oferecido. Paruwé desmente:
com Tomás Temberre, líder indígena. O presi- roupas, remédios e oulros objetos de uso indi- “O padre chegou atirando e depois quis nos
dente deu uma espada de prata e ganhou um vidual e coletivo. amansar e catequizai; mas não aceitamos". Ele
arco com três flechas. (ESP, 19/09/96) A Eletronorte também firmou convênios com não revelou como ocorreram as mortes. Paruwé
vários órgãos governamentais de meio ambien- esclareceu ainda os motivos que levaram seu

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL RORAIMA MATA 361


,

povo a matar o respeitado sertanista Gilberto


Pinto Figueiredo, em 1974. 0 sertanista foi para
a aldeia tentar diluir as tensões criadas pela
foi confundido com um
abertura da estrada “e
“Com a chegada da estrada, veio
inimigo", disse.
muito bandido com metralhadora e muitas ca-
sas foram destruídas". (OESP, 19/04/99)

PROJETO COLHE RESULTADOS


Iniciado há dez anos, o Pro|eto Waimiri-Atroari
( PWA ) desenvolve ações integradas de saúde,
educação, proteção ambiental e apoio à pro-
dução no sul de Roraima e no norte do Amazo-
nas. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida
dos índios e equilibrar as relações econômicas
e culturais dos Waimiri-Atroari com a popula-
ção civilizada. Os resultados do PWA já são
mensuráveis na área de saúde: em dez anos a
população dos Waimiri-Atroari aumentou de
374 para 780 pessoas, ura crescimento
populacional de 7% ao ano. O Programa man-
tém 12 postos de saúde para o atendimento pri-
mário nas aldeias, e providencia a remoção para
hospitais em cidades vizinhas quando necessá-
rio. O mesmo ocorre nos serviços odon-
tológicos. Na área de educação, conseguiu al-

fabetizar 40% da comunidade com a participa-


ção de 26 professores indígenas e 8 não-índi-
os. O PWA coordenado pelo indigenista
é
Porfírio Carvalho. (O liberal, 28/10/98)
conhecimento não ficou limitado a isso. No con- recursos federais, segundo adiantou a assesso-
teúdo escolar, entraram disciplinas novas e fun- ria de imprensa do Estado.
ESCOLA FORTALECE damentais para o resgate da cidadania do seu Segundo o coordenador do PWA, Porfírio Car-
RESISTÊNCIA povo. São elas: língua portuguesa, etno-mate- valho, os índios querem o repasse integral e
mática, biologia e até computação. (Â Crítica antecipado, embora os recursos devam ser apli-
Na fronteira dos Estados do Amazonas e de
05/12/99) cados por um período de dez anos. Com esse
Roraima, os índios Waimiri-Atroari cantam e
dançam como num tempo experimentado por dinheiro, eles querem ampliar o sistema de vi-
seus antepassados, há mais de um século. Vi- gilância, aumentando o número de bases e veí-
vendo num território privilegiado por riquezas
ASFALTAMENT0 culos de fiscalização ao longo da estrada e im-

naturais, alvo de invasões, eles passaram por DA BR-174 plantar um sistema de radar para evitar possí-

sucessivos massacres e de um total de cerca de veis invasões da área, afirma Porfírio. O custo

no século 19, ficaram 350, em 1974. anual desse plano é de R$ 390 mil e sua execu-
seis mil,
PLANO DE PROTEÇÃO
O sangue derramado ao longo das aldeias fez ção e manutenção ficarão a cargo do PWA, ór-
AMBIENTAL gão de gerenciamento terceirizado, mantido
brotar um sentimento forte, que tem na educa-
ção o maior alicerce. Hoje, a população é de Os Waimiri-Atroari querem o repasse antecipa- pela Eletronorte em convênio com a Funai.

823 índios, dos quais 500 são crianças vivendo do de R$ 3,9 milhões para permitir o A obra de recuperação da BR-174 está parada
em 17 aldeias, onde em todas há escolas. Ne- asfaltamento dos 125 km da rodovia BR-174 há três meses no trecho que passa dentro da
las, recebem as lições que servem para fortale- (Manaus-Boa Vista) que corta sua reserva. O reserva Waimiri-Atroari desde o rio Abonari, no
cer e garantir a vida. “Aprendemos a fazer o valor será aplicado no Plano de Preservação município de Presidente Figueiredo (AM), até
roçado, de onde tiramos alimento, e outras coi- Ambiental e Vigilância, por um período de dez o riojundiá (RR). Em condições precárias, pela
sas que usamos quando temos que tratar com anos e faz parte de um acordo assinado, em BR-174 trafegam cerca de 70 veículos por dia,

os brancos”, afirma Renato Maíka, estudante outubro do ano passado, entre os governos do cortando os 2,58 milhões ha da reserva habita-
há mais de 1 1 anos e agora preparando-se para AM e RR, ministérios dos Transportes e da Jus- da por 687 índios. Com sua recuperação, esse
assumir o posto de professor. No total, são 28 tiça, a Hunai e representante dos índios. Até hoje, tráfego vai aumentar suhstancialmente, provo-
professores na área. Na escola, construída se- os recursos não foram repassados porque de- cando o receio dos índios de que voltem a ocor-
guindo o padrão tradicional da arquitetura uti- pendem da aprovação do Congresso Nacional, rer invasões na área, depredações do meio
lizada nas malocas, Maika aprendeu primeiro que ainda não votou o orçamento de 96. Os re- ambiente, escassez de caça e poluição dos rios.
a língua materna, as lendas, as tradições, o passes estaduais - o governo do AM deve con- Hoje, o sistema de fiscalização consiste em três
melhor jeito de fazer roçado de mandioca. O tribuir com Rí 500 mil - só sairão junto com os pontos de vigilância, colocados estrategicamente

362 R0HAIMA MATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAI


POR TRÁS DE UMA INAUGURAÇÃO DE ESTRADA

Em 5 de abriI de 1998, a área indígena Waimiri- DESENVOLVIMENTO ” E POVOS R$ 3 milhões de recursos governamentais para
Atroari foi invadida por cerca de dois mil caras
INDÍGENAS financiá-lo. 0 plano, em curso, conta com agen-
pálidas, alguns proeminentes, como os governa- tes motorizados distribuídos ao longo da rodo-
dores do Amazonas, Amazonino Mendes e de .
Um dos eixos de ' desenvolvimento " implantado pe-
via. Hoje, cerca de 300 veículos cruzam diaria-
Roraima, Neudo Campos. Os temíveis Waimiri- bs militares na metadefinal da década de a BR
70,
mente a área Waimiri-Atroarí. Com o asfaltamento
-174 percorre de sul a norte o estado do Amazo- total do trecho roraimense. sabe-se lá por quanto
Atroari,no entanto, não lançaram mão deflechas
nas, cortando ao meio a Tl Waimiri -Atroari. Ao número poderá ser
ou balas para receber os intrusos: tratava -se ape- esse multiplicado.
cruzar a fronteira com Roraima, sobe em direção á
nas da inauguração oficia! da parte amazonense
da rodovia BR- 174, obra que, na visão das elites Venezuela, percorrendo outras áreas indígenas. IN7ERESSES VENEZUELANOS
fxdíticas da região, deverá ajudara redimir econo-
Na realidade, pelo menos cinco áreas indígenas Interessados em aproximar-se doMercosul, a obra
estão diretamente afetadas pelo asfaltamento da
micamente os estados do Amazonas e de Roraima. também aos vizinhos venezuelanos, que
interessa
BR- 174. Na ponta norte da estrada, já há notícias
Nos últimos três anos, um esforço titânico para têm afHdado política e financeiramente o proje-
de atropelamentos de índios da Tl São Marcos,
fxivimentá-la vem sendo feito /telos dois gover- to.A BR- 174 é apenas parte de um acordo
nos estaduais com o apoio do governo federal. onde vivem os Taurepang, Macuxi e Wapixana. hinacional entre os dois países, assinado em abril
Ainda em Roraima, cresce a preocupação dos
Apenas a porção amazonense da obra de pavimen -
de 1997: prevê, também, a instalação de uma li-
tação está efetivamente concluída. Em Rorainui, Yanomami em relação à pressão sobre a frontei- nha de transmissão de energia elétrica que deve-
ra leste de sua área. Já os Waimiri -Atroari. caleja-
o trecho compreendido entre a fronteira com a rá percorrer o mesmo trajeto da rodovia. Entre-
dos com suas experiências passadas, já se preca-
área Waimiri -Atroari e Boa Vista, a capital, per- tanto, a pavimentação da estrada deveráfavore-
manece uma larga picada de terra, que se toma veram: elaboraram um sofisticado plano de cer a entrada de um grande contingente de
intransitável durante a estação chuvosa. monitoramento dos 125 km que cruzam sua área migrantes vindos tanto das periferias de Manaus
tradicional no Amazonas, e conseguiram mais de quanto de outras regiões do país. Com isso, a pres-
ÍMM* são sobre os recursos naturais e sobre as firon lei-
ras de áreas indígenas e de unidades de conser-
vação situadas na área de influência do rodovia
deverá intensificar-se.

RISCOS AMBIENTAIS
É o que já vem ocorrendo em relação à Reserva
Biológica de Uatumã, situada na margem direita
da represa de Balbina, em Presidente Figueiredo
(AM). Região de belezas naturais indescritíveis, a
reserva tem se transformado em alvo de invasões
e de um turismo inconsequente. Há rumores de
que a prefeitura local interessada em estimular
a ocupação irregular da área teria financiado a
abertura de vicinais desde a BR- 174 em direção à
reserva. Quanto à Roraima, a pavimentação da es-

trada, ainda que não totalmente concluída, deverá


favorecer as políticas governamentais de estímulo à
ocupação dasfranjas da floresta amazônica.

ÉFOGO...
Os projetos oficiais de colonização instalados pró-
ximos da Jloresla foi apontado por especialistas
como um dos componentes do megaincêndio que
devastou quase 15% da paisagem roraimense nos
últimos cinco meses. De acordo com o ecólogo
Reina/do Barbosa, do Instituto Nacional de Pes-
quisas da Amazônia (hipa), o baixo nível
tecnológico adotado pelos colonos em relação ao
manejo agrícola da terra - ou seja, as queimadas
- somado à estiagem intensa e aos ventos alísios,

proporcionou o acidente.
Com a pavimentação da BR-174 e a chegada de
novos migrantes, a escala no uso do fogo deverá
crescer de forma vertiginosa. A pressão sobre os
recursos naturais (madeira, por exemplo) e so-
bre os limites dajloresla a oeste, decerto
,
aumen-
tarão.Cenas da mata em chamas, como se viu no
9 commcmxsnAoIndm
último mês de março, podem vir a se tornar uma
rotina anual, criando, ao lado da estação chuvo-
sa, uma " estação de fogo
" na região. (Marco An-

0 Traçado da BR- 174. tonio Gonçalves/ISA, 08/04/98)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 363


no início, centro e fim do trecho da estrada que no lado amazonense. O convênio para o US$ 170 milhões, será financiada, em parte, com
está dentro da reserva, Ale'm disso, um veículo asfaltamento já foi assinado entre o Ministério recursos da CAF, organismo do qual a Venezuela
circula durante todo o dia para não deixar que do Exército e o Governo do Estado do Amazo- é um dos principais membros. (A Crítica,
os usuários da estrada desçam e provoquem nas. O trabalho está orçado em Rj 7 milhões e 25/02/97)
alguma reação dos índios. Os veículos peque- representantes do governo e do ministério pre-
nos só podem circular no período das 6 h às veem o início dos trabalhos para o hm de julho EMPRÉSTIMO INTERNACIONAL
18 hc, durante a noite, só é permitida a passa- e início de agosto. (O Diário de Roraima,
O governo brasileiro assina no próximo dia 15
gem de ônibus com passageiros. “Essas medi- 13/06/96)
de março, em Caracas, com a CAF, o acordo fi-
das foram tomadas porque os índios caçam à
nanceiro que autoriza o empréstimo de US$ 1 50
noite e a passagem de veículos afugenta os ani- ... ENTREGA CHEQUE
E
milhões para a pavimentação da BR-174. 0 úl-
mais. Quando a estrada estiver em seu uso ple- PARA REPRESENTANTE timo procedimento técnico para a liberação foi
no, esse controle não será mais possível e esse
O governador Amazonino Mendes fcz ontem a cumprido no dia 26 quando as obras foram
ponto lerá que ser bem negociado”, diz Porfirio
,

entrega do cheque de RÍ 1,7 milhão ao repre- inspecionadas por técnicos do Ministério dos
Carvalho. (A Crítica, 26/01/96)
sentante dos Waimiri-Atroari, Mário Parwé, Transportes e pelo DNER. “A CAI não liberaria

como contrapartida para o asfaltamento do os recursos pretendidos se não soubesse qual


GOVERNADOR DO tre-

a verdadeira situação da rodovia”, explica o


cho amazonense da BR-174 que corta a área
AMAZONAS FAZ PROPOSTA indígena. O encontro ocorreu na sede do go- diretor-geral do DNER, Maurício Hasendever.
As lideranças indígenas das 14 aldeias Waimiri- verno, em Manaus, e Parwé, depois de ouvir do A intenção do Ministério dos Transjrortes é co-

Atroari vão discutir, a partir de amanhã, a pro- governador que a indenização deveria ter sido meçai' imediatameníe os trabalhos de pavimen-

posta do governo do estado do AM de pagar Rí paga pelo governo federal, perguntou “se o di- tação da BR-174 a partir do estado de RR até a
i milhão correspondente à pavimentação dos
,6 nheiro seria logo depositado”. Amazonino fronteira entre Brasil e Venezuela. De acordo
55 km da rodovia BR-174 que passam pela ter- garantiu que estava pagando adiantado por dez com o presidente da Companhia dc Desenvol-
ra indígena, antes de atingir o estado de anos de proteção ambiental da área indígena. vimento do Amazonas, Gilberto Jucá, com a li-

Roraima. Porfirio Carvalho e Marcilio de Souza A assinatura do termo de compromisso estabe- beração do financiamento junto à CAí o gover-
Cavalcante, coordenadores do PWA, viajam neste lece a liberação de 44% do valor total do Plano no do AM vai ser ressarddo pela União em Rí
final de semana para a TI onde vão expor às de Proteção Ambiental e Vigilância da TI 30 milhões. “A execução das obras levou o go-
lideranças a intenção do governo de assumir as Waimiri-Atroari. Pelo termo assinado, o gover- verno amazonense a desembolsar Rí 55 mi-

despesas com a pavimentação e asfaltamento do no vai prestar apoio na execução do lhões. Desse total, RÍ 40 milhões foram aplica-

trecho entre os quilômetros 210 e 251, onde monitoramento, vigilância sanitária, instalação dos na recuperação e pavimentação de aproxi-
está localizada a reserva dos Waimiri. (A Críti- de lixeiras e sensoriamento remoto da área por madamente 245 km da rodovia e os outros R$
ca, 12/04/96) onde passa a estrada. É de responsabilidade do 15 milhões na construção dc pontes", informa.
governo, ainda, a recuperação de áreas degrada- Embora a BR-174 faça parte do “Programa Bra-
FALTA DE DINHEIRO das peia construção da BR-174 e de áreas afe- sil em Ação”, a iniciativa de pavimentar a rodo-

tadas pelas obras de asfaltamento eiiire os rios via partiu do governador Amazonino Mendes.
O 6° Batalhão de Engenharia c Construção
Abonari e Alatoú. Hoje, o único trecho que ainda não foi total-
(BEC) e o governo de RR anunciaram que en-
O gerente do Projeto Waimiri-Atroari, Marcflio mente pavimentado no lado do AM encontra-se
quanto não for resolvida a questão dapavimen-
Cavalcante, acrescentou que além dos chama- dentro da TI Waimiri-Atroari. (Amazonas em
tação da estrada eles permanecerão fazendo
dos impactos imediatos devem ser levados em Tempo, 28/02/97)
apenas a manutenção do trecho que corta a TI
conta os que podem ser provocados com a pas-
Waimiri-Atroari, Quanto ao pagamento dos R$
sagem de um número grande de pessoas e car- RR E DNER
3,7 milhões aos índios para garantir a implan-
tação do plano de vigilância e proteção da área,
ros pelo local, particulannente nos cuidados COMPLETAM CUSTEIO
segundo o diretor do DER, José Eufrânio, não
com doenças infecto-contagiosas. Nesse caso, DO PLANO AMBIENTAL
nem O
um trabalho de vigilância sanitária, com avalia-
ficou acertado quem pagará e quando, É de Rí 2.126.445, 39 o valor do custeio das
ção periódica da presença de insetos em cur-
asfaltamento dos 70 km da rodovia situados na ações do Plano Ambiental e de Vigilância para a
sos d'água, deverá ser feito. Além de secretári-
parte roraimense da área dos Waimiri-Atroari TI Waimiri-Atroari. O acordo foi assinado on-
os estaduais, à solenidade estava presente o
continuará temporariamente indefinido. Ele tem pelo governador de RR, Neudo Campos, o
presidente da Funai, Júlio Gaiger. (A Crítica,
explicou que, pela escassez de recursos, a pa- diretor do DER, Rohm Rivero, com o líder indí-
25/07/96)
vimentação do trecho não é prioridade, depen- gena Mário Parwé c o assessor do PWft, José
dendo, inclusive, de um empréstimo leilo pelo Porfirio Carvalho, (Folha de Boa Vista, 09 e
governo federal junto à Confederadón Andina
DNER NEGOCIA COM IBAMA
10/08/97)
de Fomento - CAF, da qual faz parte a Venezuela.
O diretor-geral do DNER, Maurício Hasendever
(O Diário de Roraima, 13/04/96) Borges, fará uma inspeção nas obras de pavi- TRÁFEGO É FISCALIZADO
mentação da BR-174, que corta a reserva. A
GOVERNO DO AM programação inclui uma visita à Tl Waimiri-
Os Waimiri-Atroari contam com duas Toyotas,

CHEGA A ACORDO... Atroari. O DNER está negociando com o lbama


duas motocicletas e fiscais florestais vigiando a
extensão da BR- 1 74 que corta a reserva. Os índios
O governo do AM acaba de dar sinal verde para licença para a execução de um plano de
têm auxiliado os caminhoneiros que apresentam
o 6° BEC iniciar o asüaltamento da BR-174, nos sustentabílidade ambiental, vigilância e prote-
problemas mecânicos. (A Crítica, 15/01/98)
cerca de 50 km que cortam a Tl Waimiri-Atroari, ção da reserva. A obra, orçada globalmente em

RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1336/301)0 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


364
s<4J7 Acervo
— SA
//\A I

ACONTECEU
TRECHO AMAZONENSE missão que investigue a possível radioatividade Para os índios, a contabilidade é muito mais

DA BR-174 É INAUGURADO da mina. (O Liberal, 16/05/96) simples. Eles querem o equivalente a um cami-
nhão carregado de minério por mês, o que da-
Depois de driblarem a campanha das entida-
ESTRADA EXPÕE CONFLITO... ria cerca de R$ 78 mil. Da mina saem, mensal-
des ambientalistas e indigenistas, os governos mente, cerca de 200 caminhões. “Eles estão
de Roraima e do Amazonas celebraram a pavi- “Se não pagar, não passa”. Com esse ultimato,
pedindo 0,5% do valor do minério extraído, bem
mentação dos 988 km da rodovia BR-174. O os índios Waimiri-Atroari fecharam ontem a
menos que os 2% normalmente exigidos das
governador Amazonino Mendes inaugurou 255 estrada que dá acesso à maior mina de cassi-
mineradores pelos proprietários da terra onde
km da estrada que passa pelo estado do Ama- terita do mundo, pertencente à Paranapanema.
atuam”, afirma Porfírio Carvalho, indigenista do
zonas, com a presença de políticos, empresári- O minério extraído de Pitinga responde por dois projeto de apoio aos índios Waimiri-Atroari.
os e representantes indígenas dos Wamiri-Atroari, terços do abastecimento da empresa, que pro-
Para Carvalho, os fundos de pensão erraram ao
cuja reserva é atravessada pela estrada. duz anualmente 15 mil toneladas de estanho. O comprar uma empresa que tinha pendências
A estrada passa a ser um corredor de exporta- minério é escoado por uma estrada vicinal que jurídicasem relação à sua principal mina. Os
ção para a Zona Franca de Manaus. “Saímos corta 45 km da reserva até atingir a BR-174,
Waimiri-Atroari reclamam a área de 526,8 mil
enfim do isolamento", diz o governador. Fal- que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR). ha ocupada pela Paranapanema, que fazia par-
tam apenas 54 km para a finalização do percur- A decisão dos índios foi tomada após uma frus-
te das terras imemoriais desse povo indígena,
so até Santa Elena do Uairém, na Venezuela. trada tentativa de negociação com os novos
segundo garantias da própria Constituição. No
( Tribuna do Norte, 08/04/98) controladores da Paranapanema sobre o paga-
entanto, na demarcação, a área ficou de fora.
mento de uma taxa para utilizar a estrada, “Te-
As reclamações dos índios vêm desde os anos
BRASIL E VENEZUELA mos com a Funai um contrato de licença para
80 e, para Porfírio Carvalho, os fundos deveri-
INAUGURAM BR-174 passagem pela reserva e um acordo de doação
am ter se informado a respeito.
à fundação dos Waimiri-Atroari, pelo qual pa-
INCOMPLETA O diretor da Paranapanema acha que há exage-
gamos R$ 16 mil por mês, mais carros, equipa- ro em tudo isso. “Já estive com os índios e eles
Apesar de inacabada, as obras de pavimenta- mentos e atendimento médico no hospital de
estão aculturados”, afirma Dequesch. A empresa
ção da BR-174 (Manaus-Boa Vista/Caracas) fo- Pitinga. Da F.letronorte, eles recebem outros R$
não pensa em retirar seus 2,5 mil empregados
ram inauguradas em clima de fervor cívico. O 70 mil mensais", afirma Ricardo Dequesch, di-
e respectivos familiares da área. Os índios de-
presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou retor da Paranapanema.
ram prazo de três dias para os empregados dei-
que a obra concretizava o “sonho boliviano”, Com a troca do controle acionário da empresa,
xarem a mina, usando a estrada. A empresa, no
uma referência ao herói Simón Bolívar. O pre- que pertencia â família Lacombe, passando aos
entanto, pode usar seu campo de pouso. A al-
sidente da Venezuela, Raphael Caldera, afirmou fundos de pensão dos funcionários do Banco
ternativa da empresa para não usar a estrada
que a estrada abre caminho para o projeto de do Brasil, os índios quiseram a revisão do acor-
seria construir uma outra estrada ou tirar mi-
integração da América Latina. A pavimentação do. "Eles pediram um valor cinco vezes maior e
nério por balsas, que desceriam quatro horas
da rodovia permite a viagem por terra desde o nós achamos que era muito. Nossa proposta era
pelo rio Pitinga até o lago da barragem de
litoral atlântico até o Caribe. Neste percurso, a uma quantia equivalente aos juros do valor de R$ Balbina.Mas isso não garantiria que a relação
estrada passa por 44 km que incidem com a 1 ,6 milhão pagos de uma só vez pelo governo fe-
com seus vizinhos fosse resolvida. (JB. 08/10/96)
reserva indígena Waimiri-Atroari. Do lado deral por outra estrada que corta a reserva Daria
venezuelano, a rodovia permite acesso a Cara- cerca de R$ 20 mil por mês”, diz Dequesch.
cas, capital venezuelana, com 12 horas de via-
gem. Os últimos 60 km, boa parte dentro da Os Waimiri durante bloqueio da estrada.
reserva, foram concluídos em outubro passa-
do. Grupos de apoio à política federal, critican-

do a ação da Funai e do Cimi compareceram à


cerimônia de inauguração da rodovia, (A Crí-
tica 24/1 1/98)

MINA DE PITINGA
RELATÓRIO APONTA
RADIOATIVIDADE
Um relatório elaborado pela CNEN e um ofício

da extinta Secretaria do Meio Ambiente do AM


indicam que Pitinga, a maior mina de cassiterita
do mundo, pode esconder um depósito de tório
radioativo. Os documentos foram enviados em
um envelope sem o nome do remetente e ende-
reço ao gabinete do vice-presidente da Comis-
são de Minas e Energia da Câmara, deputado
Antonio Feijão (PSDB-AP), que vai pedir à co-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- instituto socioambiental RORAIMA MATA 365


xs\Slji Acervo
ISA
ACONT E C E U

... £ AÇÕES DA EMPRESA NA da mineradora pela concessão, autorizando, FUNAI QUER LIBERAÇÃO
BOLSA DE SP SOFREM BAIXA ainda, a instalação de dois postos de vigilância DA ESTRADA...
dentro da área, onde a empresa manteria guar-
As ações preferenciais da mineradora A Funai está pressionando seus funcionários li-
das armados. Por conta dos interesses da
Paranapanema caíram 2,79% ontem, a terceira Paranapanema na jazida, o então presidente da
gados ao PWA a tirarem os índios da estrada
maior baixa entre as ações negociadas na Bol- em no-
que dá acesso à mina de Pitinga, ameaçando-
República assinou o Decreto 86.630,
sa de Valores de São Paulo. Depois do anúncio vembro de 1981, revogando encaminhamentos os de demissão. O presidente da Funai, Júlio
dos problemas com os índios Waimiri-Atroari, anteriores que reconheciam a área como de
Gaiger, entrou em contato com 0 gerente do
as ações da empresa já começaram o pregão ocupação indígena. Foi através desse decreto
PWA, Marcflio Cavalcante, e com 0 indigenista
com um preço 2,1% mais baixo. As ações pre-
que a área sofreu uma redução de 526,8 mil
Porfírio Carvalho, pedindo que os dois tentas-

ferenciais abriram o pregão valendo R$ 7 c de-


ha, exatamente na região onde está hoje a mina
sem convencer os índios a liberar a passagem
pois só caíram. (JB, 08/10/96) para a mineradora. Os dois se recusaram a aten-
de Pitinga. (ISA, out/96)
der ao pedido numa conversa não muito ami-
PARA WAIMIRI, ESTRADA AÇÃO JULGADA DESDE 1987 gável. (A Crítica, 10/10/96)
FECHADA É QUESTÃO DE
Em 1987, o indigenista Porfírio Carvalho ingres- ... ENVIA EMISSÁRIO PARA
DEFESA TERRITORIAL
sou com uma ação na Justiça pedindo a anula- TENTAR RESOLVER CRISE...
Os índios Waimiri-Atroari continuam ocupan- ção do contrato com a empresa Timbó Indús-
do a estrada da Mineração Taboca - pertencen- tria e Mineração, uma das primeiras a traba-
O chefe do Departamento de Patrimônio e Meio
Ambiente da Funai, Wagner Pereira Sena, che-
te à holding Paranapanema - que dá acesso à lhar com o Grupo Paranapanema, Segundo Car-
gou a Manaus para tentar reabrir as negocia-
mina de Pitinga, Somente crianças c mulheres valho, a área que hoje é tida como de proprie-
ções entre 0 Grupo Paranapanema e os índios
passam. Segundo os próprios índios, o que im- dade da mineradora seria, na realidade, dos
A ação sendo julgada, mas o MPF já Waimiri-Atroari. Ontem, ele se encontrou com
porta neste momento não é o dinheiro, mas a índios. está
conseguiu, segundo a anulação do contra-
representantes do grupo em Manaus e hoje se-
segurança da área. Eles tiveram acesso aos do- ele,
gue para a área indígena para ouvir as reivindi-
cumentos da Funai e descobriram várias irre- to entre o Grupo Paranapanema e a Funai, em
cações dos índios, “a parte mais prejudicada”
gularidades nos acordos firmados com a 1994. Para 0 indigenista, a luta dos Waimiri-
marca a retomada das
no impasse, segundo ele. (d Crítica, 11/10/96)
mineradora, na década de 80. “Fomos engana- Atroari é justa e terras
dos pela Funai", denuncia o h'der indígena Má- que consideram como indígena, mais de 500
... MAS WAIMIRI
rio Parwé, afirmando que o acordo para a ex- mil ha. “Enquanto cies não apresentarem uma
ploração da mina de Pitinga subtraiu-lhes 526,8 proposta decente aos índios, os Waimiri vão
CONTINUAM INSATISFEITOS
mil ha. Se eles não quiserem pagar o tpie que- continuar fechando a estrada, em um processo Os Waimiri-Atroari ameaçam, agora, derrubar
remos, o problema é deles”, disse Parwé, irri- que já está se tomando irreversível”. (A Críti-
uma ponte da estrada vicinal que liga a mina à
tado. “Vai ser melhor para nós, que não preci- ca, 10/10/96) BR-174. Insatisfeitos por não terem suas exi-
saremos mais gastar dinheiro fiscalizando a es- gências atendidas, eles estão dispostos a isolar
trada e nem os prejuízos que nos causaram. Eles OCUPAÇÃO DO de vez Pitinga. De nada adiantou a visita do
só não vão poder sair com mais nada daqui”, POSTO DE SEGURANÇA emissário da Funai de Brasília, Wagner Sena.
sentenciou. O que mais preocupa as lideranças No escuro da mata, rodeado pelos índios e
Waimiri-Atroari são as declarações dos repre-
Um grupo com cerca de cem Waimiri-Atroari,
acompanhado de representantes do PWA, Sena
sentantes da empresa de que, em quatro anos,
fórtememe armados, invadiu ontem 0 posto de
não conseguiu iniciar as conversações efetiva-
não haverá mais o que explorar na área. segurança da mina de Pitinga, no município de
mente. Sempre que fazia uma colocação, o ne-
O gerente do PWA, Marcflio Cavalcante, dá Presideme Figueiredo. A ação indígena é uma
ra- gociador era interrompido por gritos e expres-
zão aos índios, afirmando que, apesar da em-
radicalização da posição que vinham manten-
sões em hngua indígena.
presa explorar a mina desde o início dos anos
do desde 0 último dia 6, quando bloquearam a
Ele ainda propôs que os índios aceitassem 0
estrada que liga a mina à BR- 174.
80, somente em 1995 começou a pagar aos ín- valor proposto pela mineradora até uma próxi-
dios RJ 16 mem-
mil pelo uso da estrada. Outro
O diretor da Divisão de Estanho do Grupo
ma negociação. A situação piorou: acuado,
bro do projeto, o indigenista Porfírio CarvaJho,
Paranapanema, Ricardo Dequech, não quis fa-
Wagner deixou a reserva prometendo aos
também defende a idéia de que os índios estão
lar nos prejuízos econômicos da empresa com
Waimiri-Atroari que conversaria novamente com
0 fechamento da estrada. “O maior problema
iniciando um processo de revisão das áreas a Paranapanema. O mediador da Funai ainda
que estamos enfrentando agora 6 0 das famílias
demarcadas no passado, Para ele, trata-se de tentou marcar uma nova conversa com os índi-
um processo sem
que estão se sentindo acuadas, sem liberdade
volta. (A Crítica, 09/10/96) os em outro lugar. “Escritório de índio é na
para sair ou entrar na vila", disse. Se não hou-
mata", ouviu como resposta das lideranças
ver acordo com os índios, Dequech está pen-
NOVELA DA ESTRADA Waimiri-Atroari. (A Crítica, 12/10/96)
sando até na possibiüdade de construir uma
COMEÇOU EM 1982 nova estrada fora da reserva dos Waimiri-
Atroari. “Nós não podemos ficar como reféns
WAIMIRI QUEREM DEFENDER
A instalação da estrada vicinal usada para esco-
ar a produção da jazida de cassiíerita denomi- dos índios”, declarou. (O Diário de Roraima SUA VIDA, DIZ INDIGENISTA
nada que corta a TI Waimiri-Atroari
Pitinga - e A Crítica, 10/10/96) “Nós queremos a Paranapanema longe de nos-
foi autorizada pela Funai no dia 9 de julho de sa terra e vamos permanecer lá quanto tempo
1982, no governo do general João Figueiredo. precisar”, disse 0 índio José Maria Warakaxi
Ma ocasião, a Funai cobrou uma indenização que, ontem, participou de uma palestra na Uni-

366 RORAIMA MATA P0V0S INDÍGENAS N0 BRASiL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIÊNTAL


-
.

versidade do Amazonas, sobre o conflito com a PARANAPANEMA ACEITA dios em 1 5 dias. Diante de mais uma negativa
empresa Paranapanema. Segundo Porffrio Car- NEGOCIAR COM PWA dos Waimiri-Atroari, a mineradora encaminhou
vaJIio, eles aguardam a resposta da empresa em aos órgãos ambientais projeto para a constru-
um Duas semanas após o início do plantão Waimiri- ção de uma outra estrada, de 82 km, para es-
relação à proposta de pagamento de carro
Atroari, à beira da estrada que dá acesso à mina
de minério para cada 200 que cruzem a estrada. coar a produção.
O indigenista do PM diz que, na verdade, os
de Pitinga, as negociaçõescom o Grupo O projeto da estrada está sendo avaliado pelos
querem mas defender sua Paranapanema recomeçam. “Os índios estão órgãos ambientais cm regime de urgência, a fim
índios não dinheiro,
por estarem preocupados insatisfeitos. Querem apressar uma solução",
de que as obras sejam iniciadas 0 mais breve
vida, fortalecer-se
comentou por telefone o gerente geral da Mi- A área onde a empresa pretende abrir
cora o buraco de mais de dez mil ha que a tnine- possível.

radora abriu em suas terras. “Os índios sabem neração Taboca,em Pitinga, Aroldo Garcia, após a estrada pertence ao Estado e, caso venha a
que a empresa se estabeleceu de forma ilegal uma reunião com os gerentes do PWA. A reunião ser construída, será considerada de uso públi-
quando, em 1981 o governo federai extinguiu
aconteceu na estrada, mas para ser realizada foi
co, segundo informou 0 presidente da Ipaam,
,

preciso atender a uma condição da Paranapanema:


a reserva Waimiri Atroari, pelo Decreto 86.630/ Vicente Nogueira. Pela projeto, a via terá 72 km
que não havia que os índios ficassem dc fora da conversa. O as- e percorrerá uma área situada entre a reserva
81, sob justificativa de ali índi-
sunto está sendo tratado entre a empresa, dirigen- Waimiri-Atroari ea reserva biológica do Uaúimã,
os”, explicou o indigenista. “Basta visitar a área
tesdo PWA e um membro da Ftmai. km
para ver o estrago, que parece resultado de uma ligando Pitinga até 0 191 da BR-174, Além
bomba atômica”, disse Carvalho.
No último dia 16 de outubro, o PWA apresentou dos 72 km de estrada, os veículos terão que per-
Segundo Porfirio Carvalho, “o Exército não pode
uma proposta reivindicando, além do equiva- correr aproximadamente dez km de balsa sobre 0
uma empresa par- lente a 0,5% da produção, como fora oferecido tarumã (A Crítica, 22 e 26/10; 01/11/96)
ser acionado para proteger rio

ticular, ainda mais na situação da Parana-


pela empresa anteriormeiite, mais um valor fixo
de R$ 40 mil por mês. Dois dias depois, o ge-
paiiema”. Ele afirmou ainda que a empresa não ACORDO PROVISÓRIO
rente geral da Mineração Taboca apresentou
tem licenciamento e nunca pagou multas
como resposta o pagamento de R$ 10 mil fixos O PWA confirmou ontem 0 fechamento de um
estabelecidas por órgãos como Ibama e Ipaani.
mais os 0,5% sobre a produção. No final da tar- acordo entre os índios Waimiri-Atroari e a
Outra denuncia de Carvalho é quanto à possibili-
de, veio a resposia de que os índios baixaram mineradora Paranapanema para a liberação da
dade de que esteja havendo contaminação de car-
para Rí 30 mil aproposta, mas, em compensa- esúada que dá acesso à mina de Pitinga. O acor-
nes e frangos transportados para Manaus nos mes-
ção, querem para si 0 posto da Funai, hoje de do prevê que a empresa pagará RÍ 50 mil men-
mos carros que levam os minérios. Quanto a isso.
posse da empresa, além dos 0,5% sobre a pro- sais de royalties, um valor três vezes maior do
o problema já foi levado à Procuradoria Geral da
dução de cassiterita. “Precisamos avaliar com que era pago há um mês aos índios. 0 acordo
República, na capital. (A Crítica , 16/10/%)
cakna, inclusive vendo aspectos jurídicos, por- será assinado hoje, às 12 horas, na guarita da.

que esse prédio está em área da empresa”, dis- Paranapanema, onde os índios estão acampa-
EM APOIO, COIAB E CIMI
dos.A validade do acordo é de um ano, perío-
se 0 gerente da Taboca. (A Crítica, 20/10/96)
VÃO À PROCURADORIA do em que a Paranapanema espera já ter
Representantes da Coiab e do Cimi estiveram PARANAPANEMA construído uma estrada fora da reserva indíge-

ontem com o procurador chefe da Procurado- JÁ FALA EM PREJUÍZOS na. (Correio Braziliense, 07/11/96)

ria da República no AM, Carlos Frederico, apoi-


ando o movimento dos índios Waimiri-Atroari A Paranapanema começou a admitir que pode- AUDIÊNCIA PÚBLICA EXPÕE
contra a Mineração Taboca. No encontro, eles rá ter prejuízo caso a estrada de acesso à mina RISCOS DE NOVA ESTRADA...
lembraram das agressões provocadas pela de Pitinga não seja liberada dentro de dez dias.

mineradora no meio ambiente indígena, como Por enquanto, a interdição da estrada não afe- A primeira audiência pública convocada pelo
a poluição do rio Alalaú. Para o procurador, a tou 0 trabalho de transformação da cassiterita Ipaam para a construção de uma nova estrada
comprovação de que o Grupo Paranapanema em estanho, que é feito em São Paulo. Dirigen- pela mineradora Paranapanema começou ten-

deve chegar a um acordo com os índios é o fato tes da Paranapanema reuniram-se ontem com sa,com a presença de 20 índios Waimiri-Atroari
de já vir pagando um imposto irrisório sobre a 0 governador Amazonino Mendes a porias fe- munidos de arcos e flechas com pontas de fer-
utilização da vicina! localizada nas terras chadas. A mineradora teria ido buscar 0 apoio ro e 30 policiais também armados. Técnicos do
Waimiri-Atroari. do governador para intermediar a negociação PWA acharam 0 clima preocupante e convence-

Os índios estão estudando a proposta da com os índios, versão que não foi confirmada ram os índios a voltar para a área indígena. Os
mineradora de pagar somente 0,5% sobre a pelo secretário de Comunicação do Estado, índios querem impedir a construção da estra-

produção peio uso da estrada. Um cálculo apre- Ronaldo Tiradentes. Já 0 gerente da Mineração da, pois alegam que seu traçado corta a área
sentado pela mineradora afirma que esse índi- Taboca, Aroldo Garcia, disse que no encontro dos índios isolados Pirititi

ce representa R$ 24 mil mensais. Segundo o foram tratadas questões relacionadas à empre- Durante a audiência, chegou-se à conclusão de

gerente geral da mineradora, a primeira pro- sa que prestou serviço ao F,stado na pavimenta- que, além da licença do órgão estadriíd (Ipaam),

posta dos índios “está fora da realidade”, refe- ção da BR-174. o novo empreendimento da Paranapanema tam-
rindo-se aosRí 78 mil exigidos pelos índios. A noite, os índios foram informados sobre uma bém terá que passar peio parecer técnico do
Com a ocupação da estrada, a empresa tem uti- nova proposta encaminhada pela mineradora. Ibama, que, ontem mesmo, extra-oficialmente,

lizado avião para o transporte de funcionários Dessa vez, foi oferecido 0 pagamento de R$ 15 se manifestou contra a construção da estrada.

e de materiais utilizados na extração de mil mais 0 5 % da produção extraída da mina


,
De acordo com a Resolução 13 do Conama, todo

cassiterita. (A Crítica, 16/10/96) de Pitinga. Segundo 0 gerente do PWA, os índi- e qualquer empreendimento que passe a uma
os rejeitaram mais uma vez. Esta é a terceira distância de no mínimo dez km de unidades de
proposta da Paranapanema rejeitada pelos ín- conservação precisa de licenciamento do órgão

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 19S6/20OD- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA j


367
federal. Pelo traçado proposto pela empresa, a existência de índios isolados e prever o im- não se constrói uma maloca em apenas cinco
ela está a menos de dois km da Reserva Bioló- pacto a ser causado sobre a aldeia Uariné, situ- meses", disse. Segundo Cavalcante, os índios
gica de Ualuinã. Segundo ele, o rio Pitinguinha, ada próximo do traçado da estrada. (A Crítica, estão construindo ah a aldeia Uariné. “Antes de
que atravessa parte da reserva, já está sendo 28/02/97) erguer a maloca, os índios começaram a plan-
poluído pelos detritos da cassiterita retirada tar mandioca, batata, banana e outros alimen-
pela mineradora. GERENTE DE MINERADORA tos. Após um período de dois anos, quando co-

Segundo o coordenador do Grupo de Unidades DEFENDE A NOVA ESTRADA meçar a colheita, eles começam a construir a
de Conservação do Ibama, Ângelo Lima, os im- maloca”, expEcou. “É isso que está acontecen-
pactos previstos são incalculáveis. O principal O gerente da Mineração Taboca, Aroldo Garcia, do, muito antes da Taboca querer a estrada na-
problema está na possibilidade de haver assen- voltou a falar sobre a expectativa de crescimen-
quela área”, garante. As plantações seriam, as-
tamento de (amílias ao longo da estrada. “É evi- to dos investimentos na mina de Pitinga. A sim, a maior prova de que a área é ocupada
dente que a construção de uma estrada traz Paranapanema já teria, inclusive, grupos inte-
pelos Waimiri-Atroari. (A Crítica, 04/03/97)
impactos ambientais claros. É uma visão puris- ressados em investir mais de US$ 100 miihões
nos próximos três anos, e que poderiam ser
ta dizer que pode haver controle quando sabe- IBAMA VETA NOVA ESTRADA
mos que a migração de famílias é facilitada com estendidos por mais de 20 anos, na produção

a construção de qualquer estrada", enfatizou de estanho. A Paranapanema diz que sem os O Ibama negou autorização à Mineração Taboca
investimentos, a extração de minérios pode aca- para o desmatamento de 146 ha destinados à
Lima. A mesma ressalva foi feita pelo represen-

tante da empresa de consultoria Ecojus, respon- bar nos próximos três anos. “Ninguém investi- construção de uma estrada de acesso entre a

sável pelo Rima, Roberto Vieira, Mesmo expE- rá em Pitinga se não houver confiabilidade de Vila de Pitinga e a rodovia BR-174. Até ontem, a
escoamento da produção e Evre acesso à mina, decisão não havia chegado oficialmente ao co-
cando ser desastrosa a colonização na área,
ele acredita ser possível haver a proibição de boje subjugado à vontade dos dirigentes do nhecimento da direção da empresa, mas o ge-
PWA", disse Garcia. rente Aroldo Garcia adiantou que a Überação
assentamentos.
O principal argumento que o Grupo Garcia reforçou a afirmação dc que o do empreendimento deve vir do Ipaam.

Paranapanema levou ontem para a audiência licenciamento para a construção de uma nova Para tomar a decisão, o superintendente do

pública refere-se às potencialidades da mina de estrada, que contorne os limites da Tl Waimiri- Ibama no AM, Hamilton Casara, levou cm con-
Atroari, seria a solução ideal para os proble- sideração os estudos da Coordenação de Pro-
Pitinga, que produz hoje cerca de 50% da
mas entre os índios e a mineradora. Segundo teção a Grupos Indígenas Isolados da Funai, que
cassiterita do mundo. Com a construção da nova
ele, nos levantamentos topográficos para a nova apontam sinais de índios na área requisitada
estrada, orçada em Rí 1 milhão, segundo o
estrada foram feitas picadas na mata e sobre- pela empresa para a construção da estrada.
gerente da Mineração Taboca, Aroldo Garcia, a
expectativa da empresa é de que os investimen- voo da região e nenhum sinal de índio foi cons- Esses estudos foram iniciados em 1994 e, atra-

tos sejam crescentes na mina do Pitinga, como não conseguirmos mais uma via dc
tatado. “Se vés de um ofício, a Funai recomenda que sem a
escoamento estaremos praticamente inviabi- conclusão dos estudos é “desaconselhável qual-
a exploração do estanho contido na rocha sã
(dura), além dos projetos para aproveitamen- lizando os outros projetos", disse. Para o AM quer intervenção na área em questão".

econômico de nióbio e tântalo, minerais e o município de Presidente Figueiredo, a Outro argumento apresentado pelo Ibama é que
to tam-
bém encontrados na área. “Se hoje já causa- mina de Pitinga contribui com a geração de a nova estrada traria “danos expressivos à fauna

mos perturbação aos índios, esta preocupação impostos na ordem de aproximadamente R| 5 e flora locais”, tanto no período de sua abertu-

deverá ser ainda maior nos próximo anos" dis- ,


milhões por ano. A previsão para o ano 2000 é ra quanto no de sua operação. Ainda segundo
de que esse valor pode ser duphcado. (A Críti- o Ibama, a construção da estrada afetaria a in-
se, ameaçadoramente. “A redução de uma es-
ca, 02/03/97) tegridade da Reserva Biológica de Uatumã ao
trada alternativa reduziria esses impactos", con-
facilitar a invasão da área por posseiros. (A
cluiu. (A Crítica, 28/02/97)
WAIMIRI ACUSADOS Crítica, 19/04/97)

... E WAIM1RI CRITICAM OBRA DE CONSTRUIR


MALOCA FORA DA TI RADIOATIVIDADE
Os Waimiri-Atroari presentes ã audiência pú- IMPEDE EXPANSÃO DA
blica em Presidente Figueiredo reclamaram da A empresa Mineração Taboca denunciou ontem MINERAÇÃO NO PITINGA
poluição provocada pela mineradora, da falta que os índios Waimiri-Atroari estão construin-
de respeito com os índios ainda não contatados do uma maloca fora da reserva, em ritmo ace- A Cia. Taboca, controladora da mina de
que vivem entre a TI Waimiri-Atroari e a Reser- lerado, próximo do local onde está projetado a cassiterita do Pitinga (AM) considerada a mai-
,

va Biológica de Uatumã, por onde passaria a nova estrada para o escoamento da produção or do mundo, teve temporariamente congela-
estrada. Eles também voltaram a reivindicar a da mina dc Pitinga. Apresentando fotos do lo- do, por razões ambientais, o seu principal pla-

extensão de terra suprimida por um decreto cal, realizadas durante um sobrevôo, o diretor no de expansão: produzir uma liga composta
presidencial e cedida à mineradora. O da empresa, Ricardo Dequech, encaminhou o de ferro, nióbio e tântalo, destinada a uso in-

indigenista Porfirio Carvalho disse que “não há fato ao presidente da Funai, em Brasflia, e ao dustrial. O composto mineral produz rejeito
indenização no mundo que pague os prejuízos Ministério PúbÜco em Presidente Figueiredo. radioativo, com risco de contaminação
causados pela mineração”. O gerente do PWA, Marcílio Cavalcante, rebateu ambiental e dos operários que trabalham em
Questões levantadas pelos representantes do as acusações da empresa de que os índios inva- Pitinga. (A Crítica, 31/03/99)
Ministério Público faziam referência à necessi- diram a área para tumultuar a construção da
dade de aprofundamento do Rima. Para o pro- estrada. Segundo ele, nessa área há uma gran-
motor do Meio Ambiente, Roger Oliveira, é pre- de plantação de bananas além de outros roça-
ciso haver um estudo prévio para se confirmar dos plantados há mais de dois anos. “Depois,

RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTD SOCIOAMBIENTAL


, , "

PWA EXPLICA RESTRIÇÃO DE TRÂNSITO NOTURNO NA BR- 174


0 Ministério daJustiça pediu à Funai explicações turas do Exército que seguiam em frente e na re- embora sob controle, dos Waimiri Atroari com os
sobre o fechamento da BR- 174 no período notur- taguarda dos veículos. construtores da referida rodovia ( e aí inclui to-
no e sobre a fixação de pifares de sinalização no À noite o Exércitofecham as barreiras instaladas no dos os não índios ) a liberação fxtderá causar re-
trecho da rodovia que atravessa a TI Waimiri - locais conhecidos como Abonari e Jundiá, (ao sid e ações de represália dos Waimiri Atroari com os
Atroari.O pedido de informação do ministériofoi ao norte da Terra Indígena Waimiri Atroari e fora) transeuntes, e certamente com irreparáveis pre-
motivado pelo questionamento feito pelo depu- não permitindo a circulação de qualquer veiado. juízos à vida humana.
tado federal Francisco Rodrigues (PFL/RR). A Mais tarde o Exército aboliu o sistema de com- Portanto a circulação restrita do trecho da referi-
Funai repassou a consulta ao Programa Waimiri boio durante o dia, mas manteve as barreiras da rodovia - quando durante o período de 18,30
Atroari (PWA), mantido por um convênio Funai/ durante a noite a partir das 18,00 e abertura as às 05,30 da manhã só circulam veículos como
Eletronorte. Como resposta, o PWA enviou a se- 06,00 da manhã. ônibus de passageiros, carga perecível e emer-
guinte carta ao presidente do órgão indigenista Esta medida era justificada Jielo Exército como gências - é uma medida que visa a proteção dos
Glênio da Costa Alvarez: forma de protegei os transeuntes, de possíveis

Waimiri Atroari, dos transeuntes, ede todo o meio
"A resposta a esta consulta passa primeiro no problemas com os Waimiri Atroari, pois temia-se ambiente daquele trecho da rodovia BR- 174, que
retrospecto histórico recente daquela região, que que devido a mata densa dos 125 quilômetros e a se encontra encravada dentro da Terra Indígena.
foi palco de conflitos armados quando os Waimiri estrada muito mim poderia ocorrer acidentes e Quanto a fixação de" pilares " nas proximidades
Atroari principal povo habitante naquela área os transeuntes entrarem em conflito com os pró- da rodovia BR- 174, se trata de uma cerca de pro-
sofreu o maior revésjá registrado da história con- prios índios. Esta posição do Exército - fechar a es- teção a Terra Indígena visando evitar o acesso de
temporânea do relacionamento entre a socieda- trada para uso de veículos durante a noite - durou transeuntes a locais como igarapés, floresta e sí-
de brasileira e os povos indígenas. até a conclusão da pavimentação asfáltica da refe- tios utilizados /tara coletas de frutos e essências
Como sabe V Senhoria a construção da rodovia rida rodovia. vegetais pelos índios.
UR- 174 - Manaus-Caracaraí ( inicia!mente) mais Com a saída dos acampamentos do Exercito, tan- Foi necessário a implantação em alguns trechos
tarde Manaus -Boa Vista sofreu várias paralisações to no Abonari como Jundiá, a tarefa defiscalizar da estrada estas cercas, devido ao fluxo de in va-
em função de que os índios Waimiri Atroari não a área e defixar restrições na circulação foi pas- sores que procuravam depredar e roubar recur-
aceitavam a referida rodovia atravessando ao sada para o Programa de Proteção Ambienta! - sos naturais da Terra Indígena, cujo usufruto é
meio o seu território tradicional demonstrando
, PPA - Programa Waimiri Atroari, organismo cri- exclusivamente dos Waimiri Atroari, como prevê
sua fxisição com represálias aos invasores cons- ado em função de convênio assinado entre a a Constituição Federal e o Estatuto do índio ( Lei
trutores, qtw por sua vez recorreram a força mi- Funai/Com unidade Waimiri Atroari/Govemos Es- 6001/73).
litar para
conseguirem concluir a referida obra. taduais do Amazonas e de Roraima. Para complementar, informamos que o Progra-
Muita vidas foram sacrificadas levando aquele A restrição de circulação de veículos durante o ma Waimiri Atroari - Convênio Eletronorte-Funai,
povo quase ao extermínio. Os que sobreviveram período de 18,30 às 05,30 da manhã ficou esta- mantém vigilância constante no trecho da estra-
guardam muito vivo em suas memórias os episó- belecido /xir decisão dos Waimiri Atroari, que te- da dentro da Terra Indígena Waimiri Atroari, vi-
"
dios dantescos daforça que garantiu " a implan- mem a liberação da circulação de veículos no sando também a proteção dos índios e dos recur-
tação da rodovia. peiíodo noturno como um grande risco a segu- sos naturais existentes naquela parte da exube-
0 trecho da estrada que cruza a Terra Indígena rança deles. Temem que a violência existente tan- rante floresta amazônica.
Waimiri Atroari é de uma extensão de 125 quilô- to na cidade de Manaus, distante apenas 200 qui- Quanto a fixação de "pilares" na Terra Indígena
metros em mata densa e fica situada entre 6 al- lômetros e de Boa Vista, quando chacinas nos São Marcos, a beira da BR- 174, se trata também
deias.que se comunicam entre si, gerando um bairros são cometidas, cheguem até eles. de uma cerca de extensão de 300 metros que pro-
intercâmbio muito grande entre a população in- E esta preocupação também se fundamenta no tege importante manancial d'água de igarapéfor-
dígena daquela região. passado recente, quando aldeias inteiras foram mador do rio Surumu, área de preservação per-
A estrada seccionou o ecossistema da região in- dizimadas por ação dos construtores da referida manente e pertencente ao patrimônio de Recur-
terrompendo territórios de várias espécies animais, rodovia. E nada, e nada mesmo pode garan t ir aos sos Saturais da Terra Indígena. São Marcos de ,

como macacos, antas, etc., e outros membros im- Waimiri Atroari, que novamente não sejam viti- uso exclusivo das índios como lhes garante a Cons-
portantes do ciclo de vida animal daquela área. mas de ações criminosas de transeuntes da rodo- tituição FederaI e o Estatuto do índio.
A circulação de índios entre uma aldeia e outra e via, principalmente se esta circulação se der du- A medida que as comunidades indígenas toma-
seus sítios de coletas e de caça tornou-se extre- rante o período noturno. ram em erguer os ditos "pilares "- a cerca ,foi para
mamente perigosa, em virtude da circulação de Este temor tem fundamento. proteger e garantir o ecossistema local que vinha
veículos na estrada mesmo durante o dia e em Pelo lado ambiental, a circulação indiscriminada sendo depredado criminosamente por banhistas
alta velocidade, por não estarem habituados a de veículos no período noturno, aumentará o atro- vindos da cidade de Pacaraima e Boa Vista.
presença de veículos em seus caminhos, que é uma pelamento de animais, quejá atinge números sig- Éportanto uma medida que merece apoio dos três
ameaça constante a suas vidas e principalmente nificativos com prejuízos afauna e consequente- poderes da República - Executivo, Legislativo e
a das crianças. Em outras terras indígenas quejá mente ao estoque de alimentos dos Waimiri Judiciário e das instituições privadas ambien-
tem estradas implantadas há registro de alto ín-
. Atroari. Independeu temen te de atropelamentos, talistas nacionais e internacionais, pois além de
dice de acidentes fatais com perdas de vidas de como sabemos, a maioria dos animais da flores- seruma medida legal ajuda a proteger o patri-
muitos índios. ta têm hábitos noturnos, quando saem de suas mônio hídrico e ambiental daquela região, bene-
Após a construção da BR- 174 em 1974 ,o Exér- tocas e seus ninebos durante a noite, para se re- ficiando não só as comunidades indígenas ali
cito Brasileiro temendo represália dos índios produzirem e caçarem, completando o ciclo bio- habitantes como também toda a humanidade.
aos transeuntes da rodovia, e por saber que os lógico da vida. A circulação sem restrição de veí- Anexo fotos da sinalização ambiental da BR- 174
Waimiri Atroari sempre foram contrários a sua culos quebrará em escala maior estes ciclos, po- nos limites da Terra Indígena Waimiri Atroari.
instalação dentro de suas terras, só permitia, e dendo comprometer todo o processo da vida ani- É a nossa informação.
isto, SOMES TE DURANTE 0 DIA, a circulação de mal da região que é bastante representativo. Assina a carta datada de 17/07/2000, Marcilio de
,

veículos em forma de comboio guiados por via- Por outro lado, pela situação ainda conflituosa Sousa Cavalcante, gerente do PWA. (ISA, out/ÜO)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL RORAIMA MATA 369


vLj? Acervo
-

ISA A £ GLN T E C £ U
üflÉf

WAI-WAI RELATÓRIO DE IDENTIFICAÇÃO que não estão preocupados com os valores


É PUBLICADO maiores das etnias e sim em satisfazer as pres-
sões estrangeiras pela demarcação de terras
CPRM ANUNCIA JAZIDA... A Funai identificou a TI Wai-Wai, nos municípi-
indígenas a qualquer preço".
os de Caracaraí, Caroebe, São João da Baliza, No caso da TI Wai-Wai, Queiroz diz que é dara
Uma mina de ouro com elevado grau de pureza
São Luís do Anauá, no estado de Roraima, com a orquestração da Funai em promover
foi descoberta na selva amazônica, a sudeste de
a superfície de 405.000 ha, perímetro de 309 “esbulhos possessórios” contra dezenas de
RE, na divisa com o PA e AM. A informação foi fa-
km, referente aos grupos indígenas Wai-Wai, mílias assentadas pelo Incra. Em tempos remo-
divulgada pela Companhia de Pesquisas c Re-
Mawayána, Xcréu e outros, todos da língua tos planejou-se a ocupação da região e que
cursos Minerais (CPRM), que cadastrou a jazida
Karib, A população foi calculada em 1 10 indiví-
apenas em alguns trechos havia a proximidade
em nome de cooperativas de garimpeiros de RR,
duos em 1998. (DOU, 27/04/99) com comunidades indígenas, mesmo assim sem
A jazida está localizada na província mineral do
Jatapu, à margem do rio Anauá, onde só é pos- o registro dos conflitos. O documento também
sível chegar de anão. Para extrair o ouro, os
DEPUTADO CRITICA acusa a Funai de infiltrar especialistas em mi-
garimpeiros usam monomotores que partem de O deputado estadual Mecias de Jesus (PSL) diz grações temporárias dos índios, para forçar um
uma base montada na cidadezinha de São João que o relatório de identificação e delimitação quadro irreal, onde supostos conflitos seriam

da Baliza, a cem km do local. Embora a região da pretendida TI Wai-Wai, feito pela Funai, está justificativas de demarcações. A Funai é acusa-
seja habitada pelos Wai-Wai os depósitos estão
,
cheio de mentiras. O relatório citado foi feito da de ter aumentado abusivamenle a área pre-
fora da área indígena, segundo João Orestes dos pelo antropólogo Noraldino Vidra Cruvinel. “Ele tendida, que era calculada em 1983/86 em 330
Santos, diretor da CPRM. (JB, 03/06/96) é mais um dos que estão contribuindo para a mil ha. A contestação do Estado cita uma lista
entrega da Amazônia para as nações ricas”, disse de 68 famílias na TI Wai-Wai, contra 21 mora-

... MAS LOGO DESMENTE Mecias. O relatório estima que a área ocupada dores não-índios relacionados no relatório da
pelos Wai-Wai é de 405 mil ha, que podem no Funai. (Folha de Boa Vista, 18/08/99)
O superintendente regional da CPRM, Fernando futuro se transformar em mais uma reserva in-
Pereira de Carvalho, chegou ontem a Boa Vista
em MILITAR É ACUSADO DE
dígena Roraima. O deputado chama a aten-
em entrevista coletiva concedida na Assem-
e,
ção para as inverdades contidas no relatório, DESRESPEITO POR TUXAUAS
bléia Legislativa do Estado, negou a informação como a referência à inexistência de população
da existência de uma jazida de ouro ao sul de RR. Três tuxauas da etnia Wai-Wai, acompanhados
não-índia na área antes de 1980. Tal afirmação
O geólogo João Orestes dos Santos, que conce- do procurador da Funai em Roraima, Wilson
levará centenas de famílias que moram na área
deu a entrevista que gerou a polêmica, informou Précoma, estiveram ontem na Folha para repu-
pretendida a serem classificadas pela Funai
ter havido um mal-entendido. Orestes disse que diar matéria publicada em 26/08/99. Dizem que
como "ocupantes de má fé”. “Em 1984, a re-
não afirmou nada sobre a descoberta da jazida.
as afirmações feitas por Ahiuf Bantel (oficial da
gião já era habitada por centenas de posseiros”,
Durante reunião na Assembléia, os deputados reserva da Aeronáutica) quanto à origem deles
afirma Mecias. (Folha de Boa Vista, 16/08/99)
presentes - Medas de Jesus, Berinho Bantin e são inverídicas. Os Wai-Wai reivindicam o au-

Aimir Sá - manifestaram preocupação com o mento da reserva e dizem que as declarações


GOVERNO CONTESTA desrespeitam a identidade étnica dos Wai-Wai.
ocorrido. Segundo Meclas de Jesus, que é da
região sul, a notícia fez com que 300 garimpei- A Procuradoria de Justiça de Roraima Na época, Arnulf Bantel teria participado da

ros corressem para a área, que só não foi invadi-


protocolou na Funai a contestação, em caráter Operação Mapuera, que consistia em criar es-

da por que a BR-174 estava interditada. (O Diário provisório, contra o processo de demarcação trutura de apoio para missões religiosas ame-
de Roraima, 15/06 e folha de Boa Vista, 15 e da TI Wai-Wai, que envolve terras de vários mu- ricanas posteriormente instaladas na região. Na
17/06/96) nicípios no sul de Roraima. O procurador de década de 60 os missionários teriam atraído
,

Justiça do Estado, Luciano Alves Queiroz, de- Wai-Wai residentes na Guiana e Suriname, para

DENÚNCIA CONTRA nuncia que existe “uma usual estratégia da Funai o território brasileiro.

em usar empregados subalternos, no sentido de Naquele período, segundo Bantel, índios da al-
CANDIDATO DERROTADO
reunir micro-regiões de Roraima, sacrificando deia Ganashen eram hostilizados por aqueles
O candidato derrotado, por apenas um voto, à áreas devolutas estaduais e posses de não-índi- da aldeia Tiriós. Para evitar os conflitos
prefeitura de São I.uiz de Anauá, João “Rico" os, para formar grandes áreas indígenas." intcrétnicos os evangélicos atraíram os índios
Nunes, está sendo acusado de ter feito ameaças Queiroz diz concordar com a necessidade de para a região do rio Anauá, onde vivem hoje.
de morte e incendiado malocas de índios Wai- se demarcar terras na área em questão, mas Os tuxauas dizem que a versão de Bantel é equi-
Wai. Os denunciantes, o tuxaua Paulo Wai-Wai não aceita a extensão pretendida. Defende o vocada. Afirmam que os índios sempre habita-
e outros dois índios, disseram ainda que João desdobramento em áreas menores, tanto para ram aquelas terras. Explicam que antes da co-
Rico, como é conhecido, tomou uma canoa e os Wai-Wai, como para os Mawauyana, Xeréu e lonização pelo homem branco, seu povo era
um motor de popa doado aos índios em troca outros. Segundo ele, “a atuação da Funai cum- formado por oito pólos na região que chamam
de votos. A pedido do procurador da República pre exigências de poderosos grupos internaci- de “way-way yelton komo" (terra dos Wai-Wai
em RR, Osório Barbosa Sobrinho, será aberto onais, fazendo surgir ocupações supra-nacio- e outros), boje pertencente a República da
um inquérito policial para investigar o caso. O nais ou a neutralização da soberania nacional Guyana, Suriname e Brasil. Com a divisão pofi-
advogado do político derrotado, Alcir da Ro- na extremidade norte do país. 0s funcionários tica destes países, o povo deles foi separado.
cha, disse estranhar a acusação considerando-
,
da Funai unem grupos indígenas diferentes, em Mesmo assim, nunca deixou de ocupar as anti-
a uma bobagem, (folha de Boa Vista, 17/10/96) cultura, usos e costumes, numa demonstração gas aldeias, (folha de Boa Vista, 13/10/99)

370 RORAIMA MATA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL


Acervo
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ISA
3. AMAPÁ
NORTE DO PARÁ

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)

> Acervo
ISA
AMAPA/NORTE DO PARA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (nfl , fonte, data M
106 Gatíbi Karipuna do 568 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 6.689 Oiapoque AP Calha Norte. Faixa de fronteira,
Amapá DôC. 87.844 de 1982 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral.
Galihi (üGU, 22/1 1/82). Heg. SPU PA-71 em 12/12/83. Rodovia planejada AP-310
Reg. CRI Matr 01, Liv 02, fl. 01 em 10/10/83. planejada.

152 Juminá Galibi Marworro 129 Funai:99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 41.601 Oiapoqus AP Calhe Norte. Faixa de fronteira,
Karipuna do Amapá DeC. s/r de 21/05/92 homologa a demarcação Requerimento de pesquisa mineral.
administrativa (DOU, 22/5/92). Reg. CRI Matr. 17, Rodovia planejada AP-220
Liv. 2 fl. 17 em 16/09/92. Reg. SPU Cart. 02 em 20/03/95. planejada.

218 Nhamundá-Mapuera Xereu 2.376 Funai: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.049.520 Oriximiná PA Calha Norte. Requerimento e
Karafawyana Dec. 98063 de 17/08/89 homologa o demarcação Faro PA slvará de pesquisa minerai.
Katuena (DOU, 18/08/89}. Reg. CRI de Nbamundá (191.520 ha) Nhamunoá AM Hidrelétricas planejadas: Carona,
Katuena Matr. 556 Liv. 2-C, fl. 176. Reg. CRI de Faro (322.000 hei. Nhamundá e Cachoe :

ra Porteira.
Mawayana Matr. 1.030, Liv. 2-A, 11. 230 em 15/06/9C, Reg. CRI
Hixkariana Oriximir.á (538.000 ha) Matr. 1029, Liv. 2-A,
Kaxuyena Wai Wai ft. 229 em 15/06/90. Reg. SPU Cert. 11 de 21/09/90.

272 Ria Paru D'este Wayana Aparai 134 Funai:99 Homologada. Reg. CRI. 1.185.765 Monte Alegre PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
Decreto s/n de 03/11/97 homologa a demarcação Alenquer PA Requerimento de pesquisa mineral/
(DOU, 04/11/97}. Reg. CRI em Monte Alegre Almeirim PA Garimpo não indígena.
Mat. 4.548, Liv. 2-R, fl. 50 em 03/04/93. Reg. CR!
em Alenquer Matr. 28556, Liv. 2-J, fl. 166 em 03/06/98.

323 Parque Tiriyó 1.340 Faiardo: 99 Homologada. Reg. CRI. 3,071.057 Óbidos PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
Tumucumaque Wayana Aparai Dec. s/r. de 03/11/97 homolcga a demarcação Laranjnl do Jari AP Requerimento e alvará de pesquisa
Kaxuyana (DOU, 04/11/97}. Reg. CRI em Laranjal dn Jari Mair. 13, Oriximiná PA mineral/Garimpo não-indígena.
Aícrio (isolados) LÍV.2-A, fl. IS em em Alanouer
21/11/97. Reg. CRI Alenquer PA Isolados Akurio. Hidrelétrica
Matr. 2.854. em 03/06/98. Reg CR! am Óbidos
Liv. 2-J, Almeirim PA planejada. Rodovias planejadas.
Matr. RI -2100, Liv. 2/flG, fl. 2100 em 18/11/97. BR-163 e BR-210.
Reg. CRI em Oriximiná Matr. R1/338, Liv 2-G,
fl.185 em 21/07/98

324 Uaçá 1 e II Galibi Marworno 3.665 Funai: 99 Homologada. Reg, CRI e SPU. 470.164 Oiapoque AP Calha Norte. Faixa de fronteira.
Palikur Dec. N.298 de 29/10/91 Homologa a demarcaçao Requerimento de pesquisa mineral/
Karipuna do Amapá (DOU, 30/10/91}. Reg. CRI Matr.. N. 16, Liv. 2, Garimpo mdfcena. Rodovia BR-156/
fl,.16 em 06/03/32. Reg. SPU Cert 01 em 17/02/95. 3 corta a área. Rodovia planejada
AP-230. O Parque NaC. Cabo
Oranga Incide aproximadamente
66.853 ha na TI.

339 Waiãpi Waiãpi 525 Gallois; 99 Homologada Reg. CRÍ e SPU. 607.000 Laranjal do Jari AP Calha Norte. Fana de fronteira.
Decreta de 23/05/96 homologa a demarcação Amapari AP Requerimento e alvará de pesquisa
(DOU, 24/05/961. Roo. CHI em Amepsrl Matr. 001, mineral/Garimpo indígena e não
Liv. 2-RG, fl. 01 em 31/03/97. Reg. CRI em -indígena. Perimetral Norte corta a
Laranjal do Jari Matr. C04, Liv. 2-A, fl. C06 área. Rooovia planejada AP-160.
em 20/12/96. Reg. SPU Cert. s/n em 25/04/97

581 Waiãpi do Alto Waiãpi 0 A identificar. 0 Macapá AP Isolados.


Ama pari (isolados) (Gallois: 90) Mazagão AP
515 Waiãpi do Alto Waiãpi (isolados} 0 A Identificar. 0 Almeirim PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
Rio Ipítinga (Oliveira: 83) Isolados.

379 Zo'é Zd'b Ingarune 178 Funai: 98 Identificada/Aprcvãda/Furai. 624.000 Óbidos PA Calha Norte. Faixa de fronteira.
(isolados) Sujeita a contestação. Alenquer PA Isclados. Hidrelétricas p anejadas:
Port. Funai 309 de 97 cria GT p/ estudos e Armazém, Paciência, Mel,
identificação. Despacho do prcs. da Funai, Cara pana.
aprovando o estude de identificação (DOU, 03/1 2/99).

POVOS INDÍGENAS MO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ /MORTE DO PARÁ 373
Acervo
_//\C ISA

374 AMAPÁ /NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL
,

Acervo
ISA

Parque Indígena de Tumucumaque:


Novos Parceiros, Novos Desafios

Maria Denise Fajardo Pereira Doutoranda em Antropologia Social


na USP e pesquisadora do
Núcleo de História Indígena

DEPOIS DA HOMOLOGAÇÃO DA DEMARCAÇÃO, Missão/FAB/índios. Nesse contexto, a instalação de duas bases de

OS QUATRO POVOS INDÍGENAS QUE VIVEM apoio, uma no curso médio do rio Paru de Leste e outra nu Alto

NO PARQUE TÊM ACESSO A MEIOS DE Paru de Oeste, desencadeou um processo de centralização da po-
pulação indígena da região, que teve seu auge no início dos anos
COMUNICAÇÃO E CONTAM COM NOVAS
70, com uma paisagem dc praticamente dois núcleos populacionais
OPORTUNIDADES DE CONTATO
concentrados nas sedes das missões, sendo uma protestante, no
rio Paru de Leste, e outra católica, no Paru de Oeste. Ao longo dos
A homologação do Parque Indígena do flimucuinaque represen- anos, porém, os índios voltaram, gradualmente, a retomar seus
tou uma conquista de fundamental importância para os Wayana, antigos locais de moradia, bem como a criar novos lugares, prín-
Aparai, Tiriyó e Kaxuyana. Entretanto, o decreto qne homologava a cipalmente próximos aos dois centros locais, que dispõem de pis-
respectiva demarcação, publicado em 4 de novembro de 1997, no ta de pouso, sistema de radiocomunicação, enfermaria, escola e
Diário Oficial da União (DOU) de n° 213, só não foi amplamente entreposto de comércio de bens de consumo básicos (como sal,

festejado pelo simples, mas nem por isso menos grave, fato de que açúcar, panos, munição e outros), buscando assim, conciliar a
nele não constava o direito de posse permanente aos Tiriyó e opção por morar em grupos menores com o desejo de acesso fácil

Kaxuyana. aos centros locais, onde se enconlra assistência, comunicação,


transporte aéreo e possibüidades de obtenção de dinheiro via
Revoltados e sem saber direito a quem reclamar, esses povos exigi-
emprego remunerado e/ou venda de artesanato.
ram a presença de autoridades da Força Aérea Brasileira (FAB)

instituição que há quatro décadas presta apoio logístico ao Parque,


Na faixa leste do Parque, o Summer Institute of Linguistics (SIL) se
e do administrador regional da Fimai (Fundação Nacional do ín-
fez presente entre os Wayana e Aparai, a partir de 1963, através do
dio) de Macapá, responsável pela jurisdição do Parque, sob a ame-
casal Kohen, que assumiu, além da evangebzação, praíicamente
aça de incendiar a pisla do destacamento de fronteira que a FAB
toda demanda de assistência a esses grupos, até a chegada da FAB,
mantém nas imediações da Missão Tiriyó. O mal-estar apenas foi
em 1970, e da Funai, em 1973. De 1977 ao início dos anos 80, o
resolvido quando as autoridades chamadas se fizeram presentes, e
casal de missionários do SIL retirou-se da área e, em seu retorno,
sob a promessa do administrador regional da Funai, de que tudo
restringiu suas ações à evangelização e ao ensino escolar, passan-
se resolveria com um simples telefonema para a Funai de Brasília.
do a manter visitas esporádicas para acompanhamento e orienta-
O decreto permaneceu intacto por três anos. Até que, finalmente, a
ção dos pastores indígenas por eles formados e de uma nova
correção foi declarada no DOU, em 27 de julho de 2000.
missionária que passa a residir na base da Missão, localizada na
aldeia Apalaí, onde se concentra o Posto da Funai, a pista de pou-
BASES DA POLÍTICA so e a maioria da população indígena do rio Paru de Leste.

INDIGENISTA NA REGIÃO
Na faixa oeste, de população predominantemente tiriyó e kaxuyana,
O caso descrito acima aponta o forte vínculo, na região, entre os entre os anos 60 e 80, a assistência foi dividida entre a FAB e a

índios, a FAB e a Funai. É importante lembrar que a política Missão Franciscana, da Província de Santo Antônio/PE. Somente a
indigenista estabelecida na região a partir da década de 60 foi, partir dos anos 80, a Funai passou a ter atuação direta na região,

inicialmente, idealizada nos moldes dos chamados “trinômios" prestando auxílio complementar de pessoal na parte de cnferma-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCI0AWIB1ENTAL AMAPÁ/ NORTE 00 PARÁ 375
Acervo

//\' I SA
gem e odontologia. Também na década do 80, a Fundação Nacional adquiriu um caráter complementar à assistência prestada pelos

de Saúde (Funasa) assumiu as vacinações que, até então, eram rea- missionários e militares instalados no Parque. Em 994 1 surgiu uma
lizadas pelo Serviço de Unidades Sanitárias Aéreas (Susa) e por equi- nova fonte de apoio, o Governo do Estado do Amapá que. na ges-
pes do Instituto Evandro Chagas e do Instituto E. Barreto, de Belém. tão de João Alberto Capiberibe, iniciou uma série de convênios,
principalmente nas áreas de saúde, educação e transporte. A prin-
A ação dos missionários católicos entre os Tiriyó e Kaxuyana, des-
cípio, esses convênios foram estabelecidos com a Funai de Macapá.
de seu início, nos anos 60, caracterizou-se por aliar o trabalho
Em seguida, essa nova fonte motivou o surgimento da Associação
catequético à organização da assistência sanitária e educacional,
dos Povos Indígenas do Parque de Tumucumaque (Apitu), para
bem como ao desenvolvimento de um programa de capacitação
onde foram transferidos os convênios do governo do Estado.
dos índios para formas de trabalho não-indígenas, como criação e
comércio de gado, plantio de arroz, feijão e frutas de outras regi-

ões, e também de capacitação na área dc carpintaria, mecânica e


O PARQUE INDÍGENA DO TUMUCUMAQUE
olaria. Esse modelo funcionou de forma contínua durante três dé-

cadas, até que no início dos anos 90 sensíveis mudanças começa- A Terra Indígena Parque de Tumucumaque. Immologada em 1997.
ram a ocorrer. A morte de um missionário que desempenhava um localiza-se ao norte do Pará e noroeste do Amapá, na região em
papel importante no êxito da Missão, frei Cirillo Haas, não é unica- que o Hrasil faz fronteira com o Suriname. Compartilham desta
terra os índios Aparai. Kaxuyana, Tiriyó e Wayana, todos falantes
mente responsável pelas mudanças advindas, mas, de qualquer for-
de línguas caribe.
ma, marca o início de um novo período na faixa oeste do Parque.
O Parque de Tumucumaque. com 3-071.067 ha. e atravessado longi-
Durante a chamada "Fase Missionária" no Dimucumaque, que é
tudinalmente por duas hacias fluviais: uma. que tem por rios princi-
possível circunscrever ao período que vai de 960 a 990, os
1 1 índi-
pais o Paru de Oeste e o Marapi; e a outra, o Paru de Leste e o Citaré.
os estiveram oficialmente sob jurisdição da Delegacia Regional da Atualmente, os grupos indígenas que habitam o Parque constituem
Funai de Belém. Em com apoio financeiro do projeto Calha
1990, basicamente dois conjuntos populacionais, localizados em cada uma
Norte, foi construído um novo ponto de apoio, em uma nova sede destas bacias. Os Tiriyó da tremia Paru de Oeste/Marapi. juntamente

regional da Funai, não mais em Belém, e sim em Macapá (AP), em com os Kaxuyana. distribuem -se em torno do médio e alto curso des-

razão da melhor localização desta cidade, para efeitos de apoio ses rios e perfazem em tomo de 850 pessoas. Na bacia Paru de Leste/
ao Parque. Citaré, cerca de 75 índios Tiriyó encontram-se predominantemente
logístico
na cabeceira, enquanto os Wayarut e Aparai, /terfazendo em tomo de
De fato, com esta mudança, a Funai assumiu uma presença que até 415 indivíduos, habitam seu médio curso. No total, estima-se, para o

então não tinha, mas, por falta de recursos próprios, seu apoio Parque, uma população de, aproximadamente, 1340 pessoas, (set/00)

Reunidos na sede
da Apitu, índios
discutem o projeto
de fiscalização do
Tumucumaque.

1998

GRUPIONI

B.

DONISETE

LUÍS

376 AMAPÁ /NORTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
MUDOU NA ÚLTIMA DÉCADA? pelos missionários. Na faixa oeste do Parque, por exemplo, com o
apoio logístico da Aeronáutica, a Missão Franciscana encarregava-
É no bojo de tais mudanças que os índios do lúmucumaque move- se de assistir a população local em praticamente todos os setores.
ram-se na última década. Na prática, viu-se o surgimento de novos Para tanto, contava com uma ampla infra-estrutura de instalações
interlocutores indígenas, munidos de novas estratégias de relacio- e equipamentos, cuja manutenção e usufruto dependia do traba-
namento com os segmentos da sociedade envolvente que passa- lho indígena, remunerado pelos missionários, garantindo uma fonte
ram a amar no Parque, com programas de intervenção, tanto vol- alternativa de dinheiro, além da venda de artesanato e/ou produ-
tados para as áreas de saúde e educação, quanto para busca de tos nativos a visitantes esporádicos. Também na faixa leste do Par-
alternativas econômicas e defesa territorial. Os mais velhos conti- que, porém com uma infra-estrutura mais simples, algumas roti-
nuam sendo consultados e tendo suas opiniões respeitadas. As co- nas se consolidaram com a presença direta dos missionários do
munidades locais são mais requisitadas a participar e se envolver, SIL, durante os anos 60 e 70, e esporádica, nos anos 80.
mas a complexidade dos assuntos e a barreira da língua acabam
por limitar aos poucos bons falantes do português o domínio dos Entretanto, ao longo da década de 90, o apoio logístico da MB,

novos assuntos. que antes era diversificado, foi diminuindo, restringindo-se, prati-

camente, ao transporte aéreo, e evidenciando um desgaste no mo-


Nesse contexto, temos uma conjuntura sem precedentes no Par- delo de cooperação baseado no “trinômio”. Aliado a isso, o esgo-
que. De um lado, verificamos um conjunto de agências intervindo tamento de algumas fontes estrangeiras de apoio financeiro, uma
nos variados setores da vida indígena, via-de-regra sem articula- série de descompassos de expectativas entre os índios e os missio-
ção entre os diferentes programas implementados. De outro, en- nários, no que se refere aos programas de “educação para o tra-

contramos os índios em pleno processo de construção de repre- balho” implantados e, sobretudo, a ação de novos agentes, princi-
sentações sobre um universo de novas informações, novos atores palmente da Funai e do Governo do Estado do Amapá, contribuiu
e novos estilos de intervenção que lhes chegam, a todo momento, para um descentramento dos índios em relação às Missões e para
direta ou indiretamente. uma diversificação em suas fontes de assistência e recursos.

Quem conheceu o Tumucumaque, no início dos anos 90, certa- Atualmente, na faixa oeste, a Missão Franciscana continua presen-

mente pôde verificar que em ambas a faixas do Parque, os índios te, mantendo sua infra-estrutura de apoio e o trabalho catequético.
encontravam-se, em maior ou menor grau, localizados em torno Na faixa leste, outras missões protestantes se fazem indiretamente
das duas aldeias-sede de cada uma das Missões atuantes na área e presentes, através de alguns dos próprios índios da região e arre-

vivendo um cotidiano em que os afazeres domésticos e rituais eram dores que assumiram o papel de “pastores indígenas”. Mas, para-
organizados de acordo com as atividades e demandas promovidas lelamente, assiste-se ao surgimento de uma nova fase no Parque,

Tiriyó na Missão.

1996

GRUPIONI

B.

DONISETE

LUÍS

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIQAMBIENTAL AMAPÁ /NORTE D0 PARÁ 377
,

Acervo
-V/£ 'SÁ lais pautada predomínantemente por um indigcnismo de base Sem entender direito por que, de um dia para outro, seus agentes

missionária, mas por ações coordenadas pela Funai e, sobretudo, de saúde ficariam sem remuneração, as comunidades indígenas
pelo Governo do Estado do Amapá. foram informadas pelos servidores da Funai de Macapá, de que se
tratava de uma maneira encontrada pelo Governo do Estado de
repreender a Funai por esta ser contra o trabalho do CTI, organi-
A AIDS E OS DESCOMPASSOS
zação não-governamental que, segundo acusações daquela Admi-
DA ASSISTÊNCIA nistração, promoveria atividades de garimpo clandestino nas ter-

Apesar de conviver com programas de assistência implantados pe- ras dos Waiãpi (ver artigo de Angela Scbwengber neste capítu-
los missionários e militares e deles usufruir, os povos do lo). Em decorrência desses acontecimentos e desse tipo de pensa-
lúmucumaque permaneciam pouco conhecidos e praticamente mento, os Tiriyó e Kaxuyana passam a endossar os boicotes da
ausentes do cenário em que o movimento indígena se organizou e Funai local aos trabalhos de quem quer que seja que, segundo

conquistou uma série de direitos. É bem provável que virassem o aquela ADR, estivesse a favor do CTI e contra a linha de ação do
século no mesmo anonimato com que passaram por ele, não fosse então administrador da Funai local. Foi assim que uma agente in-

a chegada da Aids entre os Tiriyó. Tal fato levou o Himucumaque dígena de saúde da comunidade tiriyó e kaxuyana desistiu, às vés-

aos principais noticiosos nacionais e a algumas agências interna- peras da viagem, dc participar dc um Encontro dc Saúde Indígena
cionais de notícias (ver box). em Manaus, em agosto de 1997, pois iria acompanhada da con-
sultora da CN-DST/Aids no Amapá, enfermeira Dulcimar dei Castillo
Passado o enorme susto, em março de 1997, causado por um re-
a quai, segundo a Funai, seria ligada ao CTI,
sultado alarmante de 12 soropositivos num universo de 432 amos-
tras, pairam muitas dúvidas entre os profissionais que acompa- Em relação aos desdobramentos da Comissão Estadual de Preven-
nharam o caso, e sobretudo entre os próprios Tiriyó, tendo em ção e Controle das DSTs e Aids, a Funai e Funasa do Amapá foram
vista que os desdobramentos da presença do vírus da Aids na re- convocadas duas vezes para participar de sua instauração, mas
gião não foram tão rápidos e trágicos como se previu no calor das não compareceram, alegando que a assistência à saúde indígena
primeiras notícias, De um modo geral, o susto parece ter alertado não era de competência estadual. De qualquer forma, como havia
o Ministério da Saúde para a gravidade da questão, principalmen- sido definido com os representantes da Funai, Funasa, Programa
te em populações indígenas e em zonas de fronteira. Na prática, Estadual de DST/Aids e representantes indígenas presentes no Se-
porém, o episódio da Aids entre os Tiriyó trouxe à tona a enorme minário de agosto uma agenda de ações para os sete meses se-
dificuldade de articulação interinstitucional existente entre a Ad- guintes, em setembro de 1997 foi encaminhada uma equipe
ministração Regional (ADR) da Funai de Macapá e demais órgãos, multiprofissional responsável pela elaboração de material infor-
governamentais ou não, que se proponham a desenvolver ações, mativo sobre DSTs e Aids nas línguas tiriyó e kaxuyana. De Macapá,
seja nas áreas básicas de assistência, seja em programas econômi- essa equipe deveria seguir para a Missão Tiriyó onde seriam reali-
cos, educacionais ou ligados à defesa territorial. zados os trabalhos junto à comunidade indígena. 0 então adminis-
Foi justamente em razão de tal dificuldade, que a CN-DST/Aids se trador regional da Funai, ao receber a equipe, disse que não tinha

viu impedida de concretizar o programa de ações preventivas, conhecimento daquele trabalho, o que causou espanto e surpresa

planejado durante o “Seminário de Prevenção das DSTs e Aids para em seus integrantes, tendo em vista que os servidores da área de

os Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará", realizado em saúde da Funai local participaram da elaboração da programação

Macapá, no mês de agosto de 1997, com a participação de repre- das ações de prevenção onde essa atividade se incluía. O adminis-

sentantes indígenas e representantes de órgãos envolvidos com a trador esclareceu então que não queria o ingresso da enfermeira

assistência aos povos da região, como Funai, Fimasa, Governo do Dulcimar dei Castillo ,
alegando a cada momento um motivo dife-

Estado, Centro de Trabalho Indigenista e Missão Franciscana. Na rente, ou seja, sem nenhum motivo concreto que explicasse o real

ocasião, em concordância com todos os representantes presentes, prejuízo que uma enfermeira com larga experiência no trabalho
foi constituída a "Comissão Estadual de Prevenção às DSTs e Aids”, de saúde indígena poderia causar à comunidade tiriyó e kaxuyana.

que a partir de então ficaria responsável pelo acompanhamento Deste modo, uma equipe de profissionais contratados pela CN-

das ações programadas. DST/Aids foi forçosamente desarticulada, o dinheiro investido em


passagens e diárias foi perdido, e os Tiriyó e Kaxuyana ficaram
Na mesma época em que a CN-DST/Aids tentava implementar o
sem o material informativo com o qual passariam a contar a partir
referido programa de ações preventivas, hem como instituir a Co-
daquele trabalho.
missão Estadual de acompanhamento, a Secretaria de Saúde do
Amapá cortava um importante convênio de contratação de agentes Em relação a esse episódio, nem a ADR de Macapá, nem o Departa-
indígenas gerenciado pela Funai local, em decorrência da mento de Saúde da Funai/Brasília, enviaram qualquer justificativa

constatação de que o emprego dos recursos estava incidindo mais formal sobre o acontecido, embora essa justificativa tenha sido so-
na contratação de pessoal não-indígena para trabalhar em Macapá licitada através de oficio enviado pelo então coordenador da CN-
do que na contratação de agentes indígenas para trabalhar nas DST/Aids. No ano seguinte, em abril de 1998, depois de sete meses
próprias comunidades, como firmava o convênio. sem que nenhuma ação relativa ao acompanhamento e controle

378 AMAPÁ/ NORTE DD PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
y

OS TIRIYÓ E O SUSTO DA AIDS


Em 1995, ocorreu o primeiro registro de Aids entre os Tiriyó. Trata- sável por comunicar à comunidade indígena Tiriyó e Kaxuyana os
va-se deuma mulher jovem que, em janeiro de 19%. viria a óbito. resultados da testagem das alíquotas, de identificar os soropositivos e
Em julho daquele ano, um novo caso, entre a mesma etnia, era con- estabelecer estratégias de acompanhamento, hem como de investigar

firmado !>elo Dr Isamu Barros Kanzaki, da Universidade Federa! do casos de DSTs para tratá-los jx>r abordagem sindrômica e iniciar um
Amapá, que, após ter encaminhado para a Universidade de Berkele trabalho preventivo e educativo entre aquela população indígena.
um lote de 350 amostras de sangue colhidas entre os Tiriyó e
Por ocasião da entrega à comunidade indígena dos tão esperados re-
Kaxuyana, a serem testadas para o vírus HTLV, foi informado de que
sultados da sorologia realizada em agosto do ano anterior, as lide-
havia sido casualmente descoberta, em uma amostra, a presença do
ranças pediram que os resultados fossem comunicados individual-
vírus H/V Cabe ressaltar que esta pesquisa do Dr. Kanzaki foi reali-
mente e que, sob hipótese alguma, fossem divulgados para fora das
zada apenas com a anuência da ADR da Funai de Macapá, sem auto-
aldeias, sob 0 argumento de que tinham desconfianças quanto à ve-
rização da Funai de Brasília, e ainda, que as
350 amostras foram
racidade dos resultados apresentados, tendo em vista que já fazia
colhidas e encaminhadas para fora do país
sem o conhecimento do
quase um ano que 0 sangue havia sido colhido e que desde então não
Conselho Nacional de Saúde, conforme as "Diretrizes e Normas
haviam tido mais notícias do andamento dos mesmos. Manifesta-
Regulamenladortts de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
ram, ainda, seu desejo de quefosse urgentemente encaminhada uma
De qualquer forma, com esta constatação de mais um caso de IIIV+ nova coleta Em decorrência desta insegurança, por parte da comu-
na população tiriyó, a Funai de Macapá incumbe o Dr. Kanzaki de nidade, quanto aos resultados, e do pedido de um noto inquérito
realizar um inquérito sorológico específico para H1V. Em agosto de sorológico, que desta tez cobrisse toda população de cerca de 760
1996, sem comunicara Coordenação Nacional de DST/Aids do Minis- pessoas, a equijre do Ministério da Saúde decidiu não divulgar os re-

tério da Saúde e, mais uma vez, sem que o Conselho Nacional de sultados. nem mesmo para a Funai local, pois eles não poderiam ser
Saúde tomasse conhecimento, foram colhidas 432 amostras. Esta considerados oficiais.De fato, após a nova testagem solicitada, dos
iniciativa da Funai de Macapá esbarrou, porém, em um problema 12 casos positivos, apenas um foi confirmado. De qualquerforma,
operacional: o Henwcentro do Amapá (Hemoap), além de não ter a essa decisão de manter sigilo quanto aos 12 nomes causou uma das
atribuição de realizar testagem para H1V na população ent geral, con- primeiras indisposições da Funai do Anmpápara com a CN-DST/Aids.
forme as “Normas Técnicas para Coleta. Processamento e Transfu-
Cabia ainda a essa equi/ui realizar um diagnóstico situaciona! da
são de Sangue. Componentes e Derivados", não dispunha de kits su-
assistência médica aos índios, em gera I, sob jurisdição da AER da
ficientes para testar as 432 alíquotas e o sangue teve de ficar arma-
Funai de Macapá, e aos Tiriyó e Kaxuyana, em particular, tanto em
zenado à espera de alguma providência.
Macapá quanto na Missão Tiriyó.

Diante da notória inoperância das instituições amapaenses no acom-


Este diagnóstico, publicado no "Relatório de Viagem à Terra Indíge-
panhamento deste caso. hem como no trabalho de diagnóstico e pre-
na do Tumucumaque - Março/97", visava detectar as reais condi-
venção das DSTs e Aids entre populações indígenas, a procuradoria
ções de assistência à saúde indígena por parte tias instituições locais
Geral da República no Amapá denunciou o problema junto ao Minis-
responsáveis, para que, com base nesta realidade, fosse possível à
tério da Saúde, no final do ano de 1996, solicitando que este intervi-
CN-DST/Aids traçar um plano de melhoria das condições de acompa-
esse e assumisse o controle da situação.
nhamento e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis en-
Com esse alerta, o Ministério da Saúde enviou um grupo técnico a tre as populações indígenas do Amapá e norte do Pará.

Macapá para avaliar as necessidades das instituições locais de saúde


Diante de ta! incumbência e do conteúdo do referido relatório, que
e tomou a providência emergencial de encaminhar para o Instituto
assinalava, dentre outros graves problemas, a nuí qualidade tia assis-
de Saúde em Brasília o lote das 432 alíquotas de soro que se encon-
tência à saúde prestada aos índios e a falta de profissioiuiis capacita-
trava depositado no Hemoap por três meses.
dos - para citar apenas um exemplo, m época 0 cargo de Chefe da
De posse de resultados alarmantes ( 12 HIV positivos em um total de Assistência daquela AER era ocupado pelo motorista do órgão - a Funai
432 amostras), a CN-DST/Aids enviou, no início de 1997 )>ara Macapá de Maca/xí mostrou-se contraritula com as atribuições da equi!>e e. desde
e Missão Tiriyó uma equipe - composta de cinco médicos, uma an- então, passou a protagonizar um esforço, tanto de denegrir a imagem
tropóloga, duas enfermeiras e um administrador hospitalar- respon- dos integrantes do grupo, quanto de boicotar suas ações. (set/00 )

das DSTs e Aids tenha sido feita, a consultora da CN-DST/Aids no posta a essa consulta, a comunidade encaminhou um rádio para a
Amapá reuniu-se com as instituições locais para retomar 0 trabalho ADR de Macapá, dizendo que, tanto a consultora da CN-DST/Aids,
de saúde na comunidade indígena tiriyó e kaxuyana, com a devida quanto 0 restante da equipe enviada pelo Ministério da Saúde eram
autorização da Funai/BSB. Eis que desta feita, a ADR local conside- considerados "persona non grata" pela comunidade,
rou que tal autorização não era suficiente, apesar de, em setembro
Consultados sobre 0 conteúdo deste rádio, três lideranças que se
do ano anterior, ter alegado que era de fundamental importância
encontravam em Macapá para participar da Semana do índio em
para seu ingresso na área. 0 administrador disse que precisava con-
nenhum momento confirmaram que mantinham a posição quanto
sultar a comunidade. Para tanto, fretou uma aeronave e foi pessoal-
â consultora Dulclmar dei Castillo e ao restante da equipe. Duran-
mente reunir-se com as lideranças para discutir 0 assunto. Em res-
te 0 Encontro de Saúde, realizado naquela semana, quando nova-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ/ NORTE DO PARÁ 379
Acervo
-V/flSA
questionados sobre o rádio, disseram, em público, diante não fizeram senão defendê-la a todo custo, seguindo todas as suas

de uma câmera de vídeo que o problema todo surgiu porque o orientações para garantirem seu apoio.
pessoal daFimai disse para eles que Dulcimar teria ligações com o
Assim, em outubro de 1997, alguns representantes indígenas do
CTI e que o CTI não era bom porque garimpava em área indígena.
Tumucumaque foram convidados a participar da inauguração da
Posteriormente, esclareceram o ocorrido em entrevista gravada nova Casa do índio em Macapá e, naquela cerimônia, tiveram a
dizendo o seguinte: “(••) 0 que fizeram com a Dulce, fizeram as- oportunidade de conhecer o então presidente da Funai, Sulivan
sim, mas foi obrigado a dizer,mas não é que isso saiu do coração Silvestre, cujo discurso lhes conquistou. Para deixar os índios do
dos caciques ou do coração da comunidade. Isso saiu de outra Tumucumaque mais contentes, anunciou que sua terra encontra-

boca e entrou na outra boca, para outra boca dizer da Dulce que va-se prestes a ser homologada pelo presidente da República e

não é para rir a enfermeira. (...) Agora as coisas estão paradas, que, quando isso acontecesse, chamaria dois representantes para
nem a Funai, nem o Ministério (da Saúde) vai dar continuidade ao participarem, em Brasília, da cerimônia. Assim, os representantes
trabalho do DST e Aids”. De fato, no lugar das ações interrompi- indígenas voltaram para suas aldeias encantados com o poder e
das, não foram implementadas outras que as substituíssem, dc modo carisma do presidente da Funai e passaram a se considerar, a par-
que, em decorrência disso, tanto os Tirlyó e Kaxuyana quanto os tir dc então, seus protegidos e defensores.
demais grupos indígenas da região continuaram sem atenção neste
assunto e, assim, altamente vulneráveis a uma epidemia de Aids. NOVO GOLPE DA CAMPANHA DIFAMATÓRIA
Em juiho de 2000, os índios do lúmucumaque se riram diante de
A FUNAI LOCAL E A um novo dilema, dessa vez por conta da contratação, pelo Projeto
CAMPANHA CONTRA O CTI Integrado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Ama-
zônia Legal (PPTAL), da assessoria antropológica de Dominique
Ifm forte indício do caráter problemático da ADR da Funai de
Gallois, para coordenar uma equipe encarregada de realizar um
Macapá tem sido dado pela alta rotatividade de seus administrado-
levantamento etnoecológico no Parque. Ao serem consultadas a
res: em dez anos de existência, passaram por ali não menos de
respeito da entrada da equipe na área, as comunidades locais res-
sete. E uma constante, ao longo desses anos, tem sido a sistemáti-
ponderam que não aceitariam a entrada do CTI no Túmucumaque,
ca oposição aos programas de apoio nas áreas de saúde, educa-
evidenciando o quanto associam Dominique Gallois ao CTI e o
ção e alternativas econômicas, que CTI implantou entre os Waiãpi
quanto desconhecem que é por sua competência profissional com-
do Amapá.
provada em outras assessorias já prestadas ao PPTAL que ela foi
A certa altura, todo e qualquer órgão do governo federal e estadu- convidada a desenvolver o referido irahaího. Num dos rádios-res-
al que realizasse convênios ou quaisquer ações conjuntas com o posta, curiosameiite, pode-se ler o seguinte: “Comunicamos a vos-
CTI, entre os Waiãpi, passava, automaticamente, a ter suas ações sa senhoria que nós lideranças do Parque Indígena de
boicotadas nas demais áreas sob jurisdição da Funai de Macapá, lUmucumaquc não aceitamos o ingresso do pessoal do CTI. Infor-
Com estes agravantes, chegou-se a uma situação de paralisia e mamos que nos reunímos para dizer que nunca vamos aceitar.

impasse, em que a Funai local, consumida pelos conflitos com o Lideranças e comunidades desta área.” (Rádio n, 032/Apalaí,
CTI, por um lado, não conseguia atender satisfatoriamente às de- 10/07/00)
mandas de assistência aos índios sob sua jurisdição e, por outro
Ao que tudo indica, mesmo que a Funai de Macapá cesse sua cam-
lado, impedia que outras agências o fizessem, sob o argumento de
panha difamatória, ainda levará uni tempo até que os índios do
vínculo direto ou indireto, deslas com o CTI, deixando os índios à
Parque consigam se desvencilhar da imagem fantasmagórica culti-
mercê desses conflitos.
vada anos a fio cm torno do CTI, Este processo parece guardar
Com efeito, principalmente nos últimos cinco anos, foram vários semelhança com um outro que remonta à virada do século XIX,
os profissionais que se riram impedidos de exercer seu oficio de quando a população indígena da região, de quem descendem os
assistência e assessoria às comunidades indígenas do Amapá e norte atuais habitantes do Parque, temia entrar em contato com os bran-
do Pará, para não falar dos pesquisadores que passaram por cos. Tal receio, na época, era incitado pelos negros refugiados das
Macapá, sem pisar nas áreas indígenas, por serem alunos de Guianas, os mekoro, parceiros com quem trocavam produtos na-
Dominique Gallois, na Universidade de São Patúo (USP), num fla- tivos por industrializados, e por quem eram influenciados a temer
grante empenho de cerceamento à pesquisa lingiiística e antropo- e evitar qualquer contato com brancos, viessem estes da Costa Atlân-
lógica na região. tica ou do Sul.

Os índios do Parque, por sua vez, cada, vez mais alertados sobre, Conforme alardeavam os mekoro, os brancos só estavam interes-

supostas ameaças que estariam rondando a Funai local, sobre o sados em matar os índios e roubar suas terras. Sob tais ameaças,
perigo de que esta, fosse vencida por forças que a criticam porque ficava assegurado o monopólio dos negros no comércio que man-
querem acabar com ela, e temerosos de ficar sem a Casa do índio tinham com a população indígena da região. Os descendentes des-
que, na época, lhes hospedava em Macapá, compreensiveltnente, sa população foram superando, no decorrer deste século, seus

3B0 AMAPÁ/ NORTE 00 PARÁ POVOS INDÍGEMAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
Achefõ Ttriyó,
Nos últimos anos, não se diz mais aos índios do Tumucumaque
cacique da
aldeia Pedra
que eles devem temer os brancos em geral, mas sim, que eles de-

da Onça, no rio vem evitar certas categorias específicas de brancos: os pesquisa-


Paru de Oeste.
dores, principalmente os da USP, os integrantes do CT1 e todos

aqueles que, de uma forma ou de outra, estejam incumbidos de


realizar ações emergenciais específicas, paralelas ou complemen-
tares ao trabalho da Funai.

NOVOS PARCEIROS, NOVOS DESAFIOS


A região do Tumucumaque continua, nos dias de hoje, isolada e de
difícil acesso, mas há mais oferta de transporte aéreo, mais comu-
nicação interna e externa, via novos aparelhos de radiofonia insta-

Yonarè Tiriyó,
lados em um maior número de aldeias, mais motores de popa
cacique da transitando e mais aldeias espalhadas ao longo dos rios, mais di-
aldeia Paruaka,
nheiro circulando e mais bens de consumo industrializados en-
uma das
principais trando no Parque. Na paisagem das aldeias principais destaca-se a
lideranças tiriyó. proliferação das parabólicas; na vida diária, destaca-se uma nova
distribuição dos afazeres entre as atividades domésticas e as ativi-

dades promovidas pelas diferentes agências que atualmente de-


senvolvem programas na área. Nas três pistas de pouso revezam-
se, entre idas e vindas, novas equipes de agentes, ora encarrega-
das da saúde, ora da educação, ora de questões fundiárias.

Através destes agentes, os índios do Parque tiveram acesso ao novo


tipo de política pública que emergiu em decorrência dos direitos
constiúicionais conquistados pelo movimento indígena em finais

dos anos 80. Ecos dessa nova concepção chegaram aos índios sob
a forma de novos juízos sobre a polídea de “aculturação dirigida”
com a qual estavam familiarizados até então. A respeito da política
anterior ouvia-se que era de caráter paternalista e promotora da
dependência indígena e a esses termos seguiam-se muitos pontos
de interrogação. Entender o que era paternalismo tornou-se um
dos primeiros desafios para que os índios do Parque pudessem
compreender o motivo das transformações no tipo de relação que
os novos agentes se dispunham a estabelecer. Desafio que não está
vencido, mas que se atualiza a todo momento em que os índios se

defrontam com agentes que não se apresentam como “pais”, agen-


receios em relação aos pammkiri (brancos do Norte) e aos tes que não baseiam sua relação em trocas de favores, que não
karaiwa (brancos do Sul) . Aos poucos, suas relações externas, esperam dos índios, subserviência, e que por isso, investem em
antes restritas ao comércio com os negros, foram se ampliando e sua participação livre e autônoma nos trabalhos desenvolvidos em
os próprios índios foram criando estratégias para se relacionar suas terras, Na medida em que este novo modelo de relação com a
com os diferentes tipos de brancos com quem entravam em conta- sociedade envolvente, baseia-se em novas expectativas de ambas
to, fossem eles missionários, militares, funcionários do governo, as partes, muitas vezes o medo e a dúvida parecem desconcertar
pesquisadores ou aventureiros. os índios, e é nesses momentos que os representantes do modelo
baseado na tutela e dependência encontram terreno para reagir.
Num contexto completamente diferente e por motivos outros que

aqueles que levaram os índios do Tumucumaque, há um século, a Influenciados por transformações e questionamentos em torno do
temer os brancos; nessa última década, o pessoal da Funai de estilo de intervenção desenvolvido nos tempos do “trinômio”, os
Macapá, que os Tiriyó chamam defumiton, vem, de certa forma, missionários da faixa oeste entregaram para os índios, em meados
exercendo papel semelhante ao que um dia os mekoro exerceram dos anos 90, a administração da loja da Missão e dos retiros de
na vida daqueles grupos indígenas: o de querer monopolizá-los, gado, incluindo a comercialização interna e externa da carne. As
procurando isolá-los sob a alegação de que os outros são perigo- escolas do Parque, bem como a formação e remuneração dos pro-
sos e prejudiciais. fessores indígenas, foram assumidas pelo Núcleo de Educação In-

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ NORTE DO PARÁ


/ 381
^4/?^ Acervo
//\C I SA
dígena do Estado do Amapá. A assistência à saúde, bem como a edade envolvente encontra-se, mais do que nunca, em suas pró-
contratação de médicos e enfermeiros, e ainda a capacitação e prias mãos, Este aprendizado vem sendo difícil e tortuoso, entre-
remuneração de agentes indígenas de saúde, com a Medida Provi- tanto os erros e acertos na condução da Associação dos Povos
sória de n° 1.9 11 -8 de 29 de juiho de 1999, foi assumida pela Indígenas do Parque do Tumueumaque, bem como com o proces-
Funasa, através do Distrito Sanitário local. so de demarcação do Parque, que foi concluído em 1997, mas
que exige um envolvimento contínuo no que se refere à vigilância
Há quem diga que, nesta virada de século, os índios do Htmucu-
territorial, vem sendo de fundamental importância para sua maior
maque estão se “modernizando", entrando na “era da globa-
desenvoltura nesse novo contexto, em que se valoriza não mais a
lização”, “integrando-se” ao sistema da sociedade envolvente. Juízos
condição da tutela dos povos indígenas, mas a sua crescente auto-
de valor à parte, dir-se-ia, no mínimo, que os índios do Tutnucu-
nomia e autodeterminação. (setembro , 2000)
maque vêm percebendo que o futuro de suas relações com a soci-

382 AMAPÁ /NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
-O Acervo
_/> ISA

Zo'é Rompem o "Isolamento"


e Enfrentam a Demarcação
de seu Território

Equipe de redação A partir do "Relatório de Identificação da


Terra Indígena Zo’é", de Dominique Tilkin Gallois

e Nadja Havt Bindá, out/98, e do DOU, 29/11/99

OS ÍNDIOS DO CUMINAPANEMA INTERAGEM meta perseguida pelas antropólogas. Nesse sentido, o esforço do
COM NOVOS ATORES PARA CONVERTER GTcentrou-se na elaboração, com a participação dos índios, de

SUA ÁREA DE OCUPAÇÃO TRADICIONAL uma nova noção de "limite” adequada à sua realidade sociocultural.
EM "TERRA INDÍGENA" DEMARCADA
ISOLADOS?
Entre 1996 e 1998, as antropólogas Dominique Tilkin Gallois e Ainda que a Funai continue a defini-los insistentemente como "ín-

Nadja Havt Bindá, do Núcleo de História Indígena da USP, enfren- dios isolados”, a experiência de delimitação de sua terra implicou

taram um grande desafio: coordenar o Grupo de Trabalho (GT) um movimento inevitável de interlocução com a sociedade
designado pela Funai (Portaria n“ 309/PRES/97) para a identifica- envolvente. Ao se verem sob a necessidade de demarcar uma terra

ção e delimitação da terra dos Zo’é, grupo monolíngüe contatado sob critérios constitucionais, os Zo’é tiveram também de se ver
pelo órgão indigenista em 1987. como "índios”, o que representou para eles uma grande novidade.

Essa tarefa exigiu um esforço de


tradução das concepções nati-
vas acerca do território, o que
pressupunha um conhecimen-
to razoável da língua zo’é. Co-
nhecimento que só pôde ser ad-
quirido com muitos anos de
pesquisa de campo. Tal é, sem
dúvida, o caso de Dominique
Gallois, que faz pesquisa entre
os Zo’é desde 1989, além de co-
nhecer profundamente outra
população de língua tupi-

guarani, os Waiãpi do Amapá,


com quem trabalha desde 1977.

Como discutir com os Zo'é a


importância de delimitar uma
porção de terra situada entre
os rios Erepecunt e Cumina-
panema - no caso, estipulada
em uma superfície de 624 mil
ha e um perímetro de 463 km
- tornou-se então a grande

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTD SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ/ NORTE 00 PAHÁ I


383
Acervo
_//£ ISA
,
os Zo'é se apresentaram à base dos missionários protes- aos serviços de assistência à saúde. Hoje, eles totalizam 185 pes-
tantes da Missão Novas Tribos, depois de cinco anos de tentativas soas, distribuídas em seis assentamentos. Segundo Gailois e Bindá,
para estabelecer contato. Em 1989, a Funai iniciou atividades de o aumento demográfico foi conscientemente planejado pelos índi-
assistência na área, começaram a chegar pesquisadores, além de os, que têm aliado essa estratégia à expansão territorial e ao movi-
levas de cinedocumentaristas, jornalistas e fotógrafos interessa- mento de recuperação de zonas desativadas desde os anos 80. Isso
dos em divulgar a imagem dos índios “isolados”. aponta a continuidade de formas de organização social e padrões
próprios de divisão de unidades locais.
Apesar do rebuliço em tomo dessa “descoberta”, muitos são os
indícios de que os Zo'é travam contatos esporádicos com não- Segundo as autoras, a territorialidade Zo'é consiste em “como esta
índios há pelo menos 80 anos. Isso significa dizer que a novidade comunidade pensa a prática de gestão de seu espaço”, o que im-
para eles não tem sido exatamente o contato com outras popula- plica a “descrição dos padrões de organização social e política

ções, mas a compreensão e o aprendizado de categorias estranhas que determinam um modo tradicional de ocupação do espaço”.
ao seu universo cultural. Assim, a concepção de território para esses índios não se limita a
critérios puramente espaciais, antes deve ser buscada no
mapeamento de uma vasta rede de relações intercomunitárias.
TERRITORIALIDADE
O processo de territorialização para os Zo’é é o resultado da ma-
Até 1998, a área de ocupação Zo’é estava contida na Terra Indíge- neira como eles se organizam e regulam o acesso ao espaço e seus
na (TI) do Cuminapanema/Urucuiana, de 2.059-700 ha, interdita- recursos. O grupo local regula o acesso aos recursos ambientais,
da desde 1987 e que incluía regiões ocupadas por remanescentes apropriando-se de determinadas áreas. A referência principal não
do quilombo do Erepecuru. O esforço de identificação e delimita- é a habitação, mas a roça, que são classificadas como ativas (kiatu)

ção de uma área propriamente Zo’é passou, entre outros fatores, ou não ativas ( taperet). O grupo local não é definido pela ocupa-
pela garantia da contigiiidade de limites entre áreas de ambas po- ção propriamente dita de um espaço, mas pela história de um lu-

pulações. gar. Lugar não no sentido de localização, mas de “modo de vida”,


Como garantem as antropólogas que elaboraram o “Relatório de
“bem viver”, em um primeiro
noções que podem ser traduzidas

Identificação da TI Zo’é" (1998) para esse povo, limites não são


momento pelo termo nativo - koha. O koha de um indivíduo é seu

concebidos como marcadores fixos, e sim em termos de relações


local de origem e de destino após a morte.

sociais, cuja efetivação no espaço se dá de maneira móvel. Nesse


sentido, os limites para a demarcação representam também limi- O PROCESSO DE DELIMITAÇÃO
tes nas relações entre índios e não-índios, entre áreas de floresta
Os limites das áreas necessárias para a "reprodução física e cultu-
(a dos índios) e áreas desmatadas (pelos não-índios).
ral” dos índios, como consta nos preceitos do Artigo 231 da Cons-
Desde 1994, os Zo’é contam com um alto crescimento populacional tituição Nacional, foram reconhecidos pelo presidente da Funai,
devido, entre outras coisas, à permanência do posto da Funai e Carlos Frederico Marés de Souza Filho em 29 de novembro de 1999-

384 AMAPÁ /NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
•^4/4* Acervo
//\V I SA
Mapa desenhado pela família de
Sowari, indicando aldeias,
acampamentos e percursos na
porção norte e leste da área.
Fonte: Relatório de Identificação
da Terra Indígena Zo'é.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ NORTE DO PARÁ


/ 385

Gopyrlgtited material
No Relatório de Identificação, eles foram descritos da seguinte O FUTURO DOS ZOÉ NA “TERRA INDÍGENA”
maneira: "Partindo da cabeceira do igarapé da Raia Branca, aflu-
Segundo as antropólogas, a identificação da Terra Indígena Zo’é
ente do Erepecuru, segue-se o curso deste até o rio. O limite pros-
pela Funai deve ser vista apenas como um começo e, para o suces-
segue subindo o Erepecuru até o Igarapé da Batata, tomando o
so dessa iniciativa, deve ser configurada uma política de assistên-
rumo da sua cabeceira até o divisor de águas entre o Erepecuru e
cia capaz de atender às necessidades urgentes dos índios. Em pri-
o Kiãre. 0 limite leste acompanha o curso do Kiã’re e, depois, do
meiro lugar, é preciso reavafiar as intervenções de tipo "protecio-
Cuminapanema, Aproximadamente sete km a jusante da confluên-
nista”, que insistem na idéia de um isolamento absoluto. Mais que
cia Cuminapanema com o Tarari ultu, deve-se tomar rumo sudo-
proteger e isolar, cabe à política de assistência promover a partici-
este ate alcançar o curso do primeiro igarapé com direção W-E,
pação dos índios no processo de demarcação física e de geren-
imediatamente ao Sul da pista da Missão. Seguindo esse igarapé
ciamento ambiental de sua terra, que ainda está por vir.
até sua cabeceira, chega-se à cordilheira onde estão as cabeceiras
do Raia Branca". Faz-se necessário atribuir aos índios a capacidade de ter acesso ao

mundo exterior, o que implica o reconhecimento de um processo


O estudo do caráter tradicional da ocupação zo’é revelou que este
de abertura. Não é possível, todavia, que isso se dê de maneira
não reside no tempo de ocupação, mas em um princípio baseado
tranquila sem o acompanhamento de profissionais, sejam eles an-
na própria organização do grupo. Nesse sentido, seria equivocado
tropólogos e indigenistas, a quem cabe a missão de garantir sua
seguir com a distinção entre “terras habitadas em caráterperma-
adequação ao ritmo e às categorias de entendimento próprias à
nenle” e "terras utilizadas para atividades produtivas". Justificou-
cultura Zo’é. Gallois e Bindá reconhecem nesse processo uma pas-
se, no "Relatório”, a inclusão de áreas de entorno, que compreen-
uma vez
sagem inevitável para um segundo nível de contato com os bran-
dem território para a caça, mananciais e cursos de águas,
cos, o que as faz pensar nas perspectivas desses índios para sair
que são imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
do “isolamento”. Não há como negligenciar a grande curiosidade
necessários ao “bem-estar do grupo" e à sua “reprodução física e
que os Zo’é demonstram em relação ao mundo dos brancos e o
cultural” - para voltar a falar em termos constitucionais.
seu esforço para formular explicações para as diferenças que sal-
A proposta de delimitação exigiu, ainda, que o acesso a essas áre- tam aos seus olhos.
as fosse restrito aos Zo'é, de maneira a assegurar a continuidade
Em um quadro de contato como este, a política de assistência deve
da ocupação tradicional diante do crescimento da população. Re-
estar pautada na construção de canais de comunicação entre a
side nessa exigência a possibilidade de fato de essa terra ser con-
sociedade indígena e seu entorno e na capacitação da população
trolada pelos índios, condição essencial para garantir a efetividade
para essa comunicação, o que implica um esforço de tradução
do processo de regularização fundiária da terra.
cultural. Essa questão invade, inclusive, o caso da assistência à
saúde. Devem ser garantidos aos Zo’é assistência médica contí-
nua, cobertura vacinai e atendimento odontológico periódico. To-
davia, serviços como esses não serão o bastante se os agentes de
saúde não adequarem o seu trabalho à forma e aos ritmos de ocu-
pação territorial do grupo, (abril, 2000)

AMApA/ NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


"

Waiãpi e CTI:
Uma Parceria Ameaçada

Angela Maria Schwengber Ex-assessora do Programa Waiãpi,


do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), em 1998 e 1999,
para o acompanhamento de questões jurídicas

COALISÃO DE INTERESSES LOCAIS MOVE ATUAL PARCERIA ENTRE OS WAIÃPI E O CTI


CAMPANHA DIFAMATÓRIA CONTRA OS PROJETOS A assessoria que o CTI presta diretamente aos índios têm um caráter
DE PARCERIA ENTRE OS WAIÃPI DO AMAPARI E A predominantemenle educativo. Teve como meta inicial a regulariza-
ONG CENTRO DE TRABALHO INDIGENISTA ção fundiária e demarcação física da TI Waiãpi. concluída em 1996,
com apoio da Furtai e da GTZ. O Programa de Educação, iniciado em
1992, tem como meia a capacitação de jovens para o controle das

“Nós estamos lutando naquele caminho mesmo. Para nós não bem como a formação de adul-
escolas e enfermarias de suas aldeias,
,

tos e jovens na gestão de programas e de suas relações com agências


tem dois caminhos. (...) Não vamos estragar nossa terra. Fo-
externas. Os trabalhos contam com o apoio da RFN/Operação OI), do
mos nós Waiãpi que discutimos o projeto, todos os chefes, e
NE1/AP e do MEC. O Programa de Saúde Waiãpi/PSW. iniciado em 1996
criamos o (projeto do) PD/A. Sabemos que vocês, autoridades,
com apoio da Secretaria de Saúde do Governo do Estado do Amapá
são nossos amigos, mas não estão entendendo o nosso Projeto, ( GEA ) foi transferido em 1997 para a gestão do Consetlm das Aldeias/
é preciso esclarecer para vocês. Apina. Desde 1999. as intervenções nessa área passaram à responsa-
bilidade do DSEI/AP. Outro conjunto de intervenções, voltadas ao con-
O PD/A é para despoluir a nossa terra, mas não é só isso. É
trole territorial, à recuperação ambienta! e ao desenvolvimento de al-
também para tirar ouro, para manter as nossas coisas. Vocês
ternativas produtivas fomentam a participação indígena e o fortale-
não viram ainda o nosso trabalho e, por isso, não podem pren-
cimento de suas iniciativas para a fiscalização dos limites. O Progra-
der o nosso Projeto. ” (Waiwai, chefe da aldeia Mariry, 1998)
ma de Vigilância, realizado com apoio do PPTAL/Funai está sendo re-
“Homem branco só fala de garimpo, garimpo, garimpo! Não é tomado desde ofinal de 1999, após uma interrupção de dois anos, em
isso não! Brancofala que índio vai virar garimpeiro. índio não Junção da suspensão do convênio com a Furtai (verahaixo). OApina,
vai virar garimpeiro. Garimpeiro é quem estraga terra. Será
registrado em 1996. vem sefortalecendo gradualmente como uma ins-
tância de articulação entre aldeias e de representação externa. É com
que homem branco vai cuidar da terra de índio? Não! (...) Por
o Apina que o CTI tem estabelecido suas parcerias atuais, (ago/00)
isso, índio precisa aprender a trabalhar sozinho. Para se virar
sozinho sem precisar pedir dinheiro ao branco. É isso que nós
queremos (...). (Kasiripinã, presidente do Apina em 1998)

A parceria entre os Waiãpi do Amapari e o Centro de Trabalho De 1993 a 1996, a campanha de boicote à parceria entre os Waiãpi
Indigenista (CTI ) tem sido, desde 1993, alvo de boicotes e de cam- e o CTI foi protagonizada por garimpeiros apoiados por Antônio

panhas difamatórias. Desde o início da década de 1990, com o Feijão (geólogo, ex-presidente da União dos Garimpeiros do Amapá
apoio da antropóloga Dominique Tilkin Gallois, o CTI desenvolve e hoje deputado federal) e Socorro Pelaes (então prefeita do mu-
um programa com múltiplas ações, cujo objetivo é contribuir para nicípio de Amapari/,AP) Estes articularam
. uma série de denúncias
o fortalecimento da autogestão e do desenvolvimento sociocultural e boatos falsos contra o CTI para tentar impedir a demarcação da
deste povo, atendendo às suas demandas e garantindo a sua parti- TI Waiãpi, já que isso tornaria ilegal e significaria mais um blo-
cipação permanente. Atualmente, os Waiãpi totalizam 525 pesso- queio às invasões garimpeiras, constantes naquela área. O tom das
as, distribuídas em 24 assentamentos, com postos de assistência falsas denúncias era de que o CTI escravizava os índios e apropri-
em cinco aldeias-base. A parceria com o CTI atende a todos os ava-se do ouro garimpado por eles. Mas estas foram desmentidas
grupos locais da área (ver box). veementemente pelos próprios índios.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ/ NORTE DO PARÁ I 3S7
Z* Acervo
//çC 1 SA
A TI Waiãpi foi demarcada e homologada em maio de 1996. Foi porções incomensuráveis a partir de 1996. O ápice foi em agosto
sobre o projeto de "Recuperação de Áreas Degradadas por Garim- de 1997, quando uma Ação Civil Pública (ACP) - hoje reconheci-
po", programado para o início de 1997, que sobreveio a segunda da pela própria justiçacomo se ressentindo de "acentuados as-
parte da campanha difamatória (ver box). pectos políticos, sociais, econômicos e até ideológicos” e como

“sendo muito estranha, já que se contrapõe aos interesses dos pró-


prios índios..." (ver decisão do juizfederal do Amapá, João Boscn
O PONTO DE RUPTURA
Costa Soares da Silva, proferida no dia 28 de abril de 1999,
A saga recente do povo Waiãpi, permeada de conflitos com seg- publicada neste mesmo capítulo) - proibiu por um lapso de tem-
mentos políticos e religiosos e grupos econômicos ligados ao ga- po a continuidade das parcerias entre os Waiãpi e o CTI, sob ale-
rimpo, encontrou o ponto de ruptura quando resolveram eles gação de que eram nocivas para os índios e que acobertavam inte-
mesmos explorar e usufruir dessa riqueza em escala comunitária, resses econômicos sobre o ouro indígena. Sugeria que o CTI atua-
o que lhes permitiria maior apropriação de recursos para a sua va clandestinamente entre este povo, desconsiderando os convêni-
autonomia e autogestão. Direito exclusivo garantido pelo artigo 44 os, acompanhamento e financiamento pactuados com o governo
do Estatuto do índio, essa iniciativa seria viabilizada através da federal através da Funai, Ministério do Meio Ambiente (MMA) e
execução do projeto do PD/A, de autoria do Apina e do CTI. Este outros órgãos.
conjugava uma série de fatores e, dando certo, criaria um prece-

dente que esvaziaria o discurso e a concepção assistencialista -


razão de ser da estrutura atual da Funai e da forma de atuar de
A GUERRA DOS PAPÉIS
algumas instituições religiosas como a Missão Novas Tribos do
A segunda parte da campanha, guerra dos papéis, como batizaram
Brasil (MNTB). Trata-se de um discurso potente que, travestido
os índios o conflito jurídico instaurado acerca de seus programas,
sob o signo de “proteção”, desarma resistências e é capaz de
foi desencadeada, a partir de 1996, pelo então procurador da Re-
aglutinar vários grupos que não querem e nem podem admitir a
pública em Macapá, dr. João Bosco Araújo Fontes Júnior. Este,
emancipação dos povos indígenas, pois isso comprometeria a sua
recém chegado à cidade, fundamentou-se em informações parci-
própria existência coqvorativa.
ais e obviamente tendenciosas repassadas pelos funcionários da
O pesadelo expresso na campanha, que desde 1993 tentava difa- Administração Regional (ADR) da Funai em Macapá - uma buro-
mar e inviabilizar a construção dos programas waiãpi, ganhou pro- cracia ressentida e falida, que via seu papel assistencialista min-

O PROJETO DE RECUPERAÇÃO DE AREAS DA TI WAIÃPI DEGRADADAS POR GARIMPO


Para ampliar o plano de recuperação nas áreas degradadas pelos ga- der, a longo prazo, as demandas específicas das aldeias, tanto em
rimpeims com o Apina, idealizou esse
invasores, o CTI, juntamente termos de auto-subsistência quanto de produção para comer-
projeto, cujos procedimentos contavam com os resultados e experi- cialização.

ências consolidadas em iniciativas anteriores dos Waiãpi no sentido


Tecnicamente, no que se refere à questão ambiental, enqiuidrada
de diversificar e adequar suas atividades extrativistas ao controle
territorial e à recuperação ambiental. Aprovado em 1996 no quadro por procedimentos de geologia e mineração, o projeto visa trabalhar

dos Projetos Demonstrativos/Amazônia - PD/A. do Ministério do Meio em uma área ilegrailada fmr garimpo através de procedimento ga-
rimpeiro tecnicamente adequado para desenvolver metodologia e
Ambiente, sua implantação, a ser realizada ao longo de 24 meses, foi
suspensa na sequência da campanha deflagrada contra o CTI e o treinamento concomitante com a recuperação da área. O método
inclui desmonte hidráulico, sucção de polpa e concentração granítica.
Apina. Uma decisão judicia! recente foi favorável à execução desse
projeto, que agiuirda ainda consolidação. Um protótipo iniciai poderá sofrer adequações durante o desenrolar
dos trabalhos. Pretende-se lavar o ajeito e o cascalho remanescente,
O alvo inicial do projeto é a recuperação ambienta! de trechos da recuperando o máximo possível de ouro e mercúrio, refazendo-se a
bacia do igarapé Aimã, no coração da TI Waiãpi, intensamente ocu- topografia para revegetação orientada.
pada petos índios. A execução do projeto deve garantir a participa-
ção intensa de equipes indígenas de diversos grupos tocais e a conti- Em resumo, trata-se de consolidar uma nova orientação rui ativida-

nuidade do controle que estes exercem sobre os recursos naturais de de garimpeira realizada por estes índios hd muitos anos - e evitar a
seu território. O trabalho a ser realizado, em caráter piloto, para a multiplicação de pequenos garimpos explorados familiarmente, que
despoluição do igarapé Aimã, fmderáfuturamente ser adequado fuira serão reconduzidos num trabalho coletivo de escala de despoluição
a recuperação de outras zonas degradadas (sul e teste da TI), num de uma área degradada, com produção secundária de ouro arti-

formato de auto-gestão peta comunidade indígena. A ca/iacitação culando esta atividade ao sett atua! esforço na implantação de plan-
dos Waiãpi para a gestão dos recursos resultantes da produção se- tios agroflorestais nas picadas ila demarcação (consórcios de cupuaçú
cundária de ouro aluvionar e sua comercialização deve se dar na e pupunha. com viveirosfamiliares e central). Éjustamente peta sua
forma de investimentos capazes de atender demandas coletivas, sob escala não-familiar que essas atividades produtivas serão capazes
supervisão do Apina. A diversificação concomitante das atividades de fortalecer a experiência de gestão autônoma, principal expectati-
extrativistas e agro-florestais deve se dar numformato capaz de aten- va dos Waiãpi. (ago/00)

388 I AMAPÁ/ NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1998/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
'zLjZ* Acervo
//\C I SA
guar diante da autonomia que vinha sendo conquistada pelos índi- Durante essa guerra de papéis, os chefes waiãpi, individuahnente
os - por missionários da MNTB - que responsabilizavam o CTI e através do Apina, encaminharam inúmeros documentos, escre-
por sua expulsão, no final de 1995, da área indígena (responsabi- veram cartas para o procurador, para a Funai e para outras autori-

lidade exclusiva da Funai) -e por quatro Waiãpi do grupo local dades, muitas delas jamais respondidas. Fizeram duas caravanas à
Wiririry/Ytuwasu (assistidos até 1995 peia MNTB) que traziam di- Brasília (1997 e 1998) reunindo representantes de todas as aldei-

vergências históricas com as demais aldeias. as Waiãpi e buscando ser ouvidos e considerados pcios órgãos
federais competentes. Apresentaram-se voluntariamente e fizeram
Vale notar que. como desdobramento dessa intervenção equivoca-
declarações públicas, pedindo para ser ouvidos pelo procurador,
da do procurador e sobretudo em função da aliança entre políti-
que simplesmente ignorou-os em todos os seus procedimentos.
cos locais, a MNTB c a ADR da Funai em Macapá, esta facção indí-
Essa postura assumida também pelas demais autoridades, em
foi
gena recebeu desses agentes o apoio necessário para formalizar a
especial pela ADR Funai e pela imprensa. Em virtude disso, os ín-
cisão com relação aos demais Waiãpi, registrando em 1998, a As-
sociação dos Povos Indígenas do Triângulo do Àmapari (Apiwata).
dios apresentaram uma Representação ao Corregedor do MPF,
impugnando a tutela exercida e pedindo o afastamento do procu-
Os líderes que representam esta facção (composta de 1 5% da po-
rador de qualquer procedimento legal que envolvesse a defesa de
pulação da área) vinham, há alguns anos, se contrapondo às ações
de controle territorial realizadas pelo Apina em parceria com o
seu povo. Impetraram, também, um Mandado de Segurança com
pedido de liminar contra a decisão liminar do juiz Marcelo Dolzany.
CTI. Por esses motivos, os líderes da Apiwata vêm contribuindo
Além disso, pediram para ingressar como parte ativa na ACP, na
com a referida campanha de difamação, proferindo várias acusa-
condição de réus junto aos seus parceiros, na expectativa de po-
ções infundadas contra o CTI e contra a antropóloga Dominique
der ser ouvidos diretamente sobre a contenda.
Gallois, que geraram inquéritos e processos, em fase conclusão

por faita de provas. O CTI, solicitado a prestar esclarecimentos, encaminhou tudo o


que lhe foi requerido, ito entanto, riu suas razões serem recorta-
Questionado pelos seus pares do Ministério Público Federal, espe-
das, descontextualizadas e interpretadas ao sabor da lógica
cialmente os membros da Sexta Câmara, o procurador de Macapá
acusatória incorporada pelo autor da ACR Como medida de defe-
não hesitou em nenhum momento nos seus passos. Em março de
sa, o CTI encaminhou documentos esclarecendo o juiz sobre os
1996, abriu um dossiê sobre as atividades do CTI na área indíge-
reais interesses da comunidade waiãpi no que se refere aos traba-
na. Em setembro, instaurou um processo administrativo interno
lhos realizados em parceria, corrigindo dados falaciosos contidos
visando apurar possíveis irregularidades em relação à atuação do
na ACP. Propôs um Agravo de Instrumento no Tribunal Federal da
CTI. Em novembro, suspendeu da tramitação e aprovação final do
a
I Região em Brasília, com pedido de efeito devolutivo e suspensivo,
projeto PD/A, intervindo diretamente no MMA em Brasília. Em
para fazer cessar de imediato os efeitos da medida liminar, sobre o
dezembro, promoveu o inquérito civil público para apurar a lega-
qual o Tribunal silenciou, assim como não se pronunciou sobre o
lidade das atividades do CTI na área Waiãpi. Em seguida, solicitou
Mandado de Segurança dos Waiãpi. Apresentou uma Contestação
tinta equipe técnica, composta por um funcionário da ADR Funai
diante da ACP, pedindo sua extinção.
local, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Senta) e do Ibama,
para averiguação in toco da implantação do PD/A (que nunca foi Fim agosto de 1998, após inspeção judicial na área, o mesmo juiz

iniciado por determinação do próprio procurador). 0 relatório que havia proibido acontinuidade das parcerias reviu parciahnente
foi capcioso, desfocando o objeto solicitado e inventando malicio- sua decisão e reconheceu a importância dessas para o bem-estar
saraente a existência de uma pista de pouso onde era uma roça, o dos índios, ordenando a retomada de todas as ações, em exceção
que resultou numa multa do Ibama (que, aliás, não acompanhou do “Projeto PD/A", sobre o qual a contenda continua. Entretanto, o

a equipe) ao CTI. Em agosto de 1997, o procurador abriu uma deputado Antônio Feijão, onipresente e contumaz opositor dos inte-
Ação Civil Pública (ACP), com pedido de liminar contra a Funai, o resses waiãpi, criou focos de boicote na Câmara Federal, na im-

MMA e o CTI para proibir a implantação do PD/A e determinar a prensa e em órgãos públicos federais no Amapá, que resistem até
retirada definitiva dos integrantes desta ONG da área waiãpi. ale- mesmo à decisões judiciais. Tal foi o caso dos funcionários da ADR
gando a “nocividade de sua presença para os índios”. Antes mes- da Funai, que conturbaram e impediram, até outubro dc 1999, a

mo de instaurar a ACP, o procurador havia requerido também a plena retomada das parcerias. Partiu deles a iniciativa de acionar a
abertura de inquérito policial contra Dominique Gallois, por cri- Pohcia Federal para retirar da área à força os técnicos do CTI, logo
me de difamação, que virou processo, do quaf a ré foi absolvida após a primeira decisão liminar da ACP. Os Waiãpi denunciaram
no inicio de 2000. inúmeras vezes esses funcionários, exigindo o seu remanejamento.

Em 29 de agosto de 1997, o juiz federal Marcelo Dolzany da Costa, O deputado Feijão foi também autor de inquéritos policiais, em
na época atuando em Macapá, acatou o pedido de liminar do pro- tramitação, contra Dominique Gallois. Autos desses inquéritos re-

curador sem ouvir as partes contrárias, sem verificar in loco as velam assessoria direta da MNTB e da Apiwata na fundamentação
acusações proferidas e entendendo preliminarmente ser, de fato e de acusações, como prática ilegal de garimpagem, uso abusivo de
de direito, ilegal o garimpo pelos índios em suas próprias terras. imagem indígena e manipulação de lideranças indígenas. Acusa-
Esta questão tornou-se o ponto nevrálgico de todo o processo. ções veementemente desmentidas pelos Waiãpi, vale lembrar.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 389
Acervo
//\C I SA
queio paralelo (porém fundamental) veio da Fmiai nacio- É importante destacar, na scqüência dos fatos da guerra dos pa-
nal, cujos sucessivos presidentes, omitiram-se em anular a portaria péis, a substituição do juiz federal e do representante do MPF em
interna de 15 de agosto de 1997 que havia suspendido os convênios Macapá. Ambos têm se empenhado para reverter a condução do
que viabilizavam as ações do CTI na área Waiãpi. Esta portaria foi caso, atuando em conformidade com a Sexta Câmara e promoven-
uma decisão da então presidente substituta do órgão, que assumiu do uma nova interpretação dos autos do processo. O novo juiz
o cargo em caráter provisório, até que o novo presidente fosse no- deliberou ser o garimpo em terras indígenas feito pelos próprios
meado. Somente em agosto de 1999 a referida portaria foi revogada. índios, atividade legai e constitucionalmente amparada. Além dis-

so, criticando a postura da Funai, ele determinou imediata reto-


Contribuição incomensurável aos boicotes contra os direitos indí-
mada de todos os programas e convênios,
genas, foi dada por órgãos da imprensa local, que se tornaram
especialistas em manipular informações, deturpar sentidos e plantar O órgão indigenista, inconformado com tal decisão- o que chega
boatos falsos que raríssimas vezes incluem os depoimentos dos a ser absurdo, já que lhe favorecia na medida em que ele própria
próprios Waiãpi ou de membros do CTI sobre as contendas. é réu na ACP - ,
impetrou um Agravo de Instrumento no Tribunal
Federal em Brasília, obtendo uma liminar para novamente impe-
CONTINUIDADE dir a realização do projeto. Esse instrumento foi rebatido pelo CTI

e pelo MPF/Macapá. Em janeiro de 2000, o então presidente da


Contudo, o CTI, os Waiãpi, seus programas e seus parceiros continu-
Funai, Carlos Frederico Marés, solicitou a retirada do referido Agra-
am a receber apoio e reconhecimento da importância das suas inici-
vo apresentado pela gestão anterior.
ativas de órgãos como o Ministério Público Federal/Sexta Câmara, o
PPTAL, o MMA, a Sociedade de Cooperação Técnica (GTZ), o MEC. A ACP ainda não teve seu desfecho finai. Permanece ainda em fase
Além de alguns funcionários da Fimai, de inúmeras organizações in- peridal, aguardando novos desdobramentos. Trata-se de um labi-
dígenas e indigenisías do país, de governos e de ONGs de vários paí- rinto que parece revelar a saída para, em seguida, embrenhar em
ses e de políticos comprometidos com um desenvolvimento pautado novas e confusas veredas. Enquanto isso, os Waiãpi seguem sua
em princípios democráticos e na garantia dos direitos humanos. saga em busca da sua terra sem males, (agosto, 2000)

390 AMAPÁ f NORTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199B/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
) e ,

WJ 7^- Acervo
^/iWiSoAiyó
fome: Acervo de Luis Donisete B. Grupiom ACONTEC EU )

GERAL giies (em português e nas línguas indígenas lo-


PARQUE DO
cais). Os programas enfatizam o respeito ao
meio ambiente e ao desenvolvimento auto-sus- TUMUCUMAQUE/TIRIYÓ/
MINISTRO DA EDUCAÇÃO Segundo a representante da Unicef, “o
COBRA APOIO DA FUNAI
tentável,

prêmio é um estímulo para que o Amapá conti-


KAXUYANA
nue no caminho certo". (A Crítica 05/09/98
O ministro da Educação. Paulo Renato Souza, ,

USP PROMOVE CURSO PARA


Extra -RJ. 06/09/98)
enviou correspondência para o presidente da
PROFESSORES INDÍGENAS
Funai, Sulivan Silvestre, cobrando apoio do ór-
gão na implementação de programas educaci- De a 29 de novembro, oito professores indí-
onais desenvolvidos nas áreas indígenas do
PARQUE DO 1 1

genas Tiriyó e Kaxuyana, que lecionam nas es-


Amapá. Três programas estão cm curso no TUMUCUMAQUE/GERAL no Parque do Túmu-
colas indígenas localizadas
Amapá: o projeto Túré de formação em magis- cumaque, participaram de um curso de capa-
tério indígena, o programa de formação de pro- citação promovido pelo Grupo de Educação
APARAI E TIRIYÓ FAZEM
fessores Waiãpi e o programa de capacitação Indígena (Mari) e pelo Núcleo de História In-
ESTÁGIO NO HOSPITAL dígena e do Indigenismo, ambos da USP, que
dos professores Tiriyó e Kaxuyana, todos avali-

ados e recomendados pelo Comitê de Educa-


DA AERONÁUTICA conta com apoio financeiro do MEC. 0 curso,
ção Escolar Indígena do Ministério da Educa- Três monitores de saúde indígena de aldeias realizado na escola São Francisco, na Missão
ção e Cultura (MEC). Esses programas, que Apalai e Tiriyó foram levados pela Funai para
Tiriyós, foi centrado na discussão de novas prá-
contam com apoio financeiro do MEC, estão realizar um estágio no hospital da Aeronáutica
ticas pedagógicas e de organização escolar, bem
sendo realizados em articulação com o Núcleo de Belém. O programa, que objetiva fazer os
como se deu início à preparação de materiais
de Educação Indígena da Secretaria de Estado índios “aprenderem medicina dos brancos", foi
didáticos específicos para as escolas. O curso
da Educação do Amapá, Universidade de São é a primeira atividade do projeto “Resgatando
apresentado como uma alternativa de “supera-
Paulo e Centro de Trabalho Indigenista. ção" dos conhecimentos tradicionais dos xamãs: a escola junto com os Tiriyó e Kaxuyana: for-

No ofício encaminhado à Funai, o ministro afir- “O nosso pajé só fazia enganar a gente, dando
mação de professores indígenas e melhoria nas
mou: “Estas instituições vêm enfrentando vári- leite do mato, uma eivas que não curavam nada. condições de ensino”, elaborado pela USP a
os problemas no sou relacionamento com a atu- Por isso que eu quero aprender para ajudar meu pedido da comunidade indígena.
al administração da ADR Funai de Macapá, que
povo a se curar das doenças”, afirma o índio Ao término do curso, os professores Tiriyó e
tem criado dificuldades para o estabelecimen- Kapixaba Apalai. Os monitores estão aprenden- Kaxuyana prepararam correspondência ao mi-
to de parcerias que visem a oferta de progra- do cuidados básicos em situação de emergên- da Educação solicitando apoio à sua for-
nistro

mas de educação escolar indígena de acordo cia, vão fazer aprendizado laboratorial e por fim
mação e informações sobre o funcionamento da
com a política traçada por este Ministério. Tais vão enlrar no setor de internação. Os três índi-
TV Escola. (Luís Donisete Grupioni, nov/97)

dificuldades dizem respeito à não colaboração os, que faiam pouco o português, passam o dia
de chefes de postos indígenas com as equipes no hospital, onde fazem refeições. Eles estão
LIVRO DE LEITURA
educacionais, não parceria da ADR de Macapá alojados na Casa do índio, em Icoaraci.f'0 Li- Na abertura da mostra de filmes “Os Brasis In-
na implantação dos programas apoiados por beral. 06/09/98)
dígenas", no Espaço Unibanco de Cinema (SP)
este Ministério e constrangimentos para o in-
foi lançado o livro de leitura “História do Pei-
gresso de profissionais nas áreas indígenas’’.
PPTAL APOIA ABERTURA XÊ-Tesoura" de autoria dos alunos da escola
(Luís Donisete Grupioni. ago/98)
DE NOVAS ALDEIAS Tiriyó Tuxawa Awiri, da aldeia de Cuxaré. O li-

vro, escrito em português e em Tiriyó, narra


UNICEF DÁ PRÊMIO A Associação dos Povos Indígenas do Turnucu-
uma história tradicional do grupo e será utili-
AO AMAPÁ POR APOIO maque (PIT) apresentou ao PPTAi/Funai um zado nas escolas tiriyó do Parque do
AOS POVOS INDÍGENAS projeto de financiamento para apoiar a abertu-
Tumucumaque. Segundo a antropóloga Denise
ra de cinco novas aldeias Tiriyó e um Aparai. O Grupioni, uma das organizadoras do livro, este
O Fundo das Nações Unidas para a infância projeto aprovado pelo PPTAI., em caráter
é o primeiro produto do projeto “Resgatando a
(Unicef) escolheu o estado do Amapá para re- emergencial, inlegra um projeto de fiscalização
escola junto com os Tiriyó e Kaxuyana”, que
ceber o prêmio "Txai”, em reconhecimento ao e monitoramento das fronteiras do PIT, recen
vem sendo desenvolvido pela USP na área indí-
apoio das autoridades locais às crianças, mu- temente demarcado, que será financiado peio
gena. (ISA, 05/00)
lheres e âs comunidades indígenas da região. PPTAI. durante o ano 2000. Foram adquiridos
Hm Kaxináwa, Txai quer dizer amigo ou com- instrumentos de trabalho, ferramentas e com-
panheiro. Segundo a coordenadora da Unicef bustível que permitiram o deslocamento dos PARQUE DO
para a região da Amazônia, Vílma Alves Cabral, índios até as novas aldeias, o desmalamento e a
“o Amapá vem fazendo um trabalho exemplar, abertura de roças. Na faixa oeste do PIT, onde TUIVIUCUIVIAQUE/
através de programas governamentais que moram os Tiriyó e Kaxuyana, receberam mate-
WAYANA/APARAI
priorizam e reconhecem a importância étnica, riais de apoio as famílias envolvidas na abertu-
social, cultural e política das diferentes cultu- ra das aldeias Yawa, Aiki, Pedra da Onça, Boca
ras, povos e tradições do Brasil”. do Marapi e Rio dos Gêmeos. Na TI Paru d'Este,
ACERVO RESGATA TRADIÇÃO
Entre os programas em andamento, destaca-se contínua ao PIT, onde vivem os Wayana e Aparai, Em meados do ano de 1950, o jovem indigenista
o apoio às parteiras tradicionais e a assistência o PPTAL apoiou a abertura da aldeia Parapará. alemão Manfred Rauschert, da cidade de Bonn,
social por meio de projetos educacionais bilín- (Luís Donisete Grupioni dez/99 ,
visitou as aldeias dos Aparai e Wayana pela

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DD PARÁ 391
primeira vez e ficou encantado com o modo de tam suspeitas sobre os objetivos de seus traba- Neves admite que sofreu muita discriminação
vida daqueles índios. Com a ajuda do marechal lhos. A última vítima foi a linguista brasileira durante a campanha. “Os brancos diziam que
Eondon, iniciou um programa de pesquisas e Eliane Camargo, pesquisadora do Centre d’Etu- se recusavam a ser governados por um índios”,
uma longa convivência com os índios. Manfred des des Langues Indigènes d’Amérique (Celia/ contou Neves. “Ele ganhou as eleições por cau-
viveu quase 30 anos entre eles, de 1951 a 1979, CNRS) e professora visitante da USP. sa dos índios, que são minoria. O povo civiliza-

chegando a dar nome a aldeia Bonna, dos Aparai, No 24 de junho de 98, Eliane foi retirada
dia do votou no meu candidato” afirmou, ontem de
como homenagem a sna terra natal Durante esse . pela Funai do Parque Indígena do Tumucu- Macapá, a atual prefeita tucana Maria Bezerra.
uma coleção de gravações com
período, formou niaqtie, no extremo norte do Pará, onde estava Além das dificuldades que terá com a popula-
músicas e relatos da história e da cultura oral há dois dias dando continuidade a uma pesqui- ção branca, que desconfia da sua capacidade
do grupo, que estão sendo digitalizadas e incor- sa lingiiística entre os Wayana, iniciada em 1993. de administração, Neves vai ter que enfrentar
poradas ao Internationa) Institute for Tradicio- O procurador Regional dos Direitos do Cida- uma dura oposição na Câmara dos Vereadores.
nal Music, de Berlim, e ao Laboratório de ima- dão no Estado do Pará do Ministério Público O novo prefeito terá apoio de apenas quatro dos
gem Som em Antropologia da USB
e Federal, Ubiratan Cazetta, colheu um depoimen- nove vereadores eleitos. “Vou tentar mostrar aos
Centro de documentação - Em 1995, Man- to da pesquisadora, para análise das providên- brancos que não vou governar só para os índi-

fred, que está com quase 70 anos evivc aposen- cias cabíveis. A Funai de Brasília informou que os", disse Neves, otimista. Prova disso é a com-
tado em Bonn, de onde sai apenas para dar con- sua autorização havia sido assinada no dia 4 de posição de seu secretariado, metade branco e
ferências em universidades da Europa sobre sua agosto, após ter recebido um ofício da ADR metade índio.

experiência amazônica, iniciou um novo proje- Macapá, (Últimas Notícm/tSA, 14/08/98) Acusações e ameaças - Mal foi eleito, Neves
to: utilizar seu acervo para resgatar a tradição já assume num clima de inimizade com a
cultural dos Aparai e criar um Centro de Docu- EQUIPE VAI A ALMEIRIM prefeita. Ele jura que está sendo ameaçado de
mentação das Tradições Orais da Amazônia. SOCORRER OS APALAÍ morte e acusa Maria Bezerra pelas ameaças:
Com a ajuda do antropólogo paulista Tiago de “Ela disse que eu até poderia me eleger, mas
Oliveira Pinto, que dirige o Instituto Cultural
Uma equipe mista do Governo do Estado, inte- que não tomaria posse. Além disso, ela afirmou
Brasileiro na Alemanha, Manfred montou o pro- grada por membros da Defesa Civil e Coipo de que está guardando três balas de revólver: uma
jelo, cuja primeira etapa começou a ser execu- Bombeiros. Força Aérea Brasileira e Prefeitura para mim, outra para o meu vice, oJoãoDoris-
tada esta semana com a instalação, em Macapá, Municipal de Almeirim foi mobilizada às pres- mar, e a terceira para o governador do estado,
da aparelhagem básica de arquivo sonoro doa- sas ontem para socorrer cerca de cem famílias
João Capiberibe", contou Neves. (Correio Bra-
da por uma entidade alemã. Nesta etapa, que de indígenas da tribo Apalaí, da aldeia Bona, no ziliense, 09/10/96)
terá duração de seis meses, Manfred e os índi- alto rio Paru, no Parque Indígena de Dimucu-
maque, município de Almeirim, que estavam
os farão a seleção das narrativas míticas e his-
passando fome depois que suas roças foram
SEDE DA FUNAI É OCUPADA
tóricas para transcrição e tradução, enquanto
totalmente destruídas pela forte enchente que Cerca de 120 índios dos grupos Karipuna,
Mago de Oliveira cuidará da instalação do ar-

quivo e da utilização da aparelhagem técnica.


assolou aquela região norte do Estado. Segun- Palikur e Gafibi invadiram a sede da Funai em
O projeto tem duração p revistei de quatro anos. do o major BM Paulo Gerson Novaes de Aimeida, Oiapoque, protestando contra a nomeação do

Eles vão trabalharcom um universo de 1.800 coordenador adjunto da Defesa Civil estadual, a novo administrador regional, Evandro Bezerra
índios Aparai e Wayana, que possuem 12 for- mobilização de ajuda para salvar os cerca de Ribeiro. Os índios afirmam que só irão desocu-
mas diferentes de escrita, mas aprenderão um 500 índios envolveu cerca de 30 pessoas enire par a sede da Funai quando Jairo Bezerra Ri-

sistema único pelo qual serão elaborados livros médicos, enfermeiros, assessores do governo e beiro, Irmão do funcionário nomeado, for reco-

e cartilhas utilizados nas escolas indígenas. "Eu membros do Corpo de Bombeiros e da Defesa locado no cargo. Segundo o cacique Mário dos
Civil, que seguiram ontem em três -
aeronaves Santos Caripuna, Jairo foi escolhido e indicado
acho que não teremos dificuldades, porque va-
mos trabalhar com aqueles índios novos que uma do Governo do Estado, uma da FAB e uma pelos índios das sete etnias que habitam no es-

estão interessados e já sabem ier e escrever",


terceira fretada pela Defesa Civil - para Monte tado “O Jairo tem a confiança dos índios", dis-

explicou Manfred. (Folha do Amapá, 30/03 a Dourado, e de lá para a aldeia Bona, onde fo- se Caripuna. Já Evandro foi nomeado pelo se-

05/04/06) ram distribuídas cem cestas básicas com alimen- nador amapaense Gilvan Borges (PMDB). “O
tos e equipamentos para que os índios possam presidente da Funai curvou-se diante da influ-

FUNAI EXPULSA abrir roçados em terras mais elevadas. (O Li- ência política do senador, assinando uma no-
beral, 01/06/00) meação que para os índios não vale nada",
PESQUISADORA afir-

mou o cacique. (OESP, 23/04/98)


A Funai de Macapá vem criando inúmeras difi-

culdades para a realização de pesquisas antro- 0IAP0QUE ÍNDIOS DERRUBAM


pológicas e linguísticas entre os grupos indíge-
AFILHADO DE SENADOR
nas do Amapá e norte do Pará. O alvo principal GALIBI GANHA PREFEITURA
são os pesquisadores da Universidade de São Os Karipuna, Galibi e Marwono que vivem nas
DE OIAPOQUE
Paulo (USP) que há mais de cinco anos desen-
,
aldeias do município de Oiapoque (AP), con-
volvem um amplo programa de pesquisa na O primeiro índio a assumir uma prefeitura na seguiram vencer em Brasília uma “guerra” con-
região. Além de dificultar seu ingresso em área, Amazônia, João Neves (PSB), vai ter que fazer tra o senador amapaense Gilvan Borges
os funcionário disseminam mentiras entre os muita pajelança para invocar a paz e conseguir (PMDB). Eles fizeram o presidente da Funai,
índios, a fim de denegrir a imagem dos pesqui- governai’ o município de Oiapoque (.AP) Neves . Suiivan Silvestre, revogai’ a portaria de nomea-
sadores e da instituição a que pertencem. Em foi eleito pela maioria dos votos, mas não obte- ção de Evandro Ribeiro, indicado peio senador.
geral, as “fofocas" divulgadas aos índios levan- ve a unanimidade, Não vai ser fácil. No iugar de Ribeiro, os índios indicaram para

392 AMAPÁ NORTE DD PARÁ


/ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1995/2000 - INSTITUTO SÜCIOAMBIENTAL
-

ocupar o carpo o cacique Mário Karipuna, que Dusseldorf, na Alemanha. Sob o olhar incrédu- tura de Oiapoque. O atraso nos repasses tem
lem o apoio dos índios. Para forçar a direção lo de seguranças e bombeiros, os quatro índios causado grande revolta entre os índios, que en-
da Kunai a anular sua decisão, os índios invadi- desceram o rio Reno numa frágil canoa Karipu- traram em conflito com o prefeito João Neves.
ram e vinham ocupando há 30 dias a sede do na, cavada em tronco de árvore, medindo seis Os índios reivindicaram ao governador a perma-
órgão em Oiapoque, ameaçando incendiá-lo, metros de comprimento e pesando 240 quilos, nência de 29 agentes de saúde c monitores na
além de queimar e destruir uma ponte na BR- feita na aldeia Espírito Santo, no Oiapoque. área de educação, além de maiores recursos para
1 56, rodovia federal que corta as reservas indí- Para chegar cm Dusseldorf, a canoa seguiu de a merenda escolar. Esses problemas têm sido
genas. O índio Kemando Karipuna disse que as caminhão até Macapá, foi de balsa até Belém e causados pelo atraso no repasse de dinheiro por
aldeias estão em festa com a decisão da Kunai: de avião de carga até a Alemanha. Depois da parte da prefeitura. (O Liberai, 06/07/99)
“Viramos a mesa porque não tinha graça um exibição, foi doada para a prefeitura local. (Di-

político se meter em assuntos de índios. O se- ário de Pernambuco, 14/07/98) PREFEITO GALIBI É
nador manda no Congresso, mas na Kunai quem AFASTADO POR IMPROBIDADE
manda somos nós”, resumiu Kemando. (Jor- ÍNDIOS REIVINDICAM
nal de Brasília, 08/05/98) Considerado um exemplo da convivência pací-
ASSISTÊNCIA
fica entre brancos e índios, o prefeito dc
Os representantes indígenas das tribos Karipuna Oiapoque, no Amapá, João Neves (PSB), da
DE CANOA NO RIO RENO
e Palikur, que atuam no município de Oiapoque, etnia Ualibi e da aldeia Cumarumâ, foi afastado
Quatro índios das etnias Karipuna e Galihi- estiveram com o governador João Alberto Capi- do cargo pela Justiça por acusações de impro-
Marworno, do município de Oiapoque, (AP) beribe reivindicando a regularização dos convê- bidade administrativa. De acordo com o Minis-
roubaram a festa no Heine Spekatakel, em nios de saúde e educação firmados com a Prefei- tério Público Estadual, Neves, de 37 anos, utili-

ASSOCIAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO OIAPOQUE


Fm maio de 1992, os Palikur, Karipuna, Galibi- Vitória tem 52 anos, três filhos e é formada em Nesse momento, a Apio está se preparando para
Marworno e Galibi- Kafina criaram, em assem- odontologia pela Universidade Federal do Pará. administrar, em fkirceria com a Fundação Naci-
bléia geral, a Associação dos Povos Indígenas do De 91 a 95. teve consultório particular em Oiapo- onal de Saúde (Funasa), um grande convênio as-
Oiapoque (Apio). A cmgregação de várias etnias que. Pouco antes de assumir a presidência da sinado com o Ministério da Saúde, que prevê a
em uma única associação política se deu em de- Apio, dava consultas na área indígena, atratés contratação de recursos humanos, a aquisição de
corrência da luta conjunta pela demarcação das de um dos convênios entre Apio e governo do Es- medicamentos Jyara suprir toda a demanda da
terras indígenas travada nofinal da década de 70 tado. Sua gestão tem sido exlremamente eficien- área alimentação para a Casa de Saúde do ín-
,

e nos primeiros anos da década de HO, e princi- te e aprovada pelas diferentes etnias. Foi eleita dio, a construção e reforma das enfermarias,
palmente em Junção das intensas relações, presidente por três vezes, e na última o mandato combustível para deslocamento terrestre e fluvi-
mantidas ao longo da história, entre as socieda- foi ampliado de um ano para dois. al, frete de aeronaves para emergências, passa-
des indígenas da região. Para ter uma idéia do volume de trabalho realiza- gens aéreas e terrestres, entre outras coisas.
Logo quefoi instituída, a Apio possuía um caráter do em fxirceria com o governo do estado do Ama/m, A duração do convênio é de apenas um ano. F,
reivindicatório, pois sua atuação estava limitada em cinco anos, a Apio construiu 14 escolas, cinco para garantir sua renovação, não pode haver fa-
à representação /folítica frente aos não-índios. Em centros comunitários, 13 alojamentos para pro- lha na execução. Para Vitória “vai ser um tra-
,

1996, iniciou-se uma transformação radical na fessores não índios, um alojanwnto para índios balho muito grande e a gente vai ter que mostrar
atuação e no pafiel da Apio tui região. Isso se deu em trânsito em Oiapoque. Reformou e ampliou a que tem condição de administrar o que é nosso
com a eleição em 1994 (e reeleição em J99H) de Casa de Saúde do índio em Oiafwque, adquiriu A Apio. sob a administração de Vitória, cumpre
um governo que priorizou as ações descentraliza- 17 aparelhos de radiofon ia, um carro para a Casa exemplarmente o papel de uma prefeitura volta-
das, tornando fundamental a particifuição direta de Saúde do índio, um caminhão com capacidade da aos índios. Certamente a influência política
das comunidades tradicionais do Amapá, o que de transportar até 12 toneladas da produção agrí- dessa associação tem contribuído muito para a
inclu iu as populações indígenas do Estado. cola das aldeias para o Oiapoque. F ainda, afirmação dos Povos Indígenas do Oiapoque.
O governo do estado passou a financiar projetos gerenciou o projeto de formação de professores (Antionka Capiberibe, out/00)
em todas as áreas sociaisficando a cargo da Apio Palikur, tendo como parceiros o MFC e a Unicef.
estabelecer as prioridades, gerenciar os projetos e
contratar mão-de-obra seja fmra a construção de
urna escola, seja para cursos deformação de pro-
fessores. Em 1996. a Afno era presidida f>elo Galibi
Marworno João Neves. Neste mesmo ano, ele foi
eleito prefeito do Oiapoque com a maioria abso-
luta dos rotos da área indígena, que representam
cerca de 30 % do total de votos do município. Isto
em grande parte, graças ao bom desempe-
se deu,
nho que teve à frente da Associação.
Com a saída de João Neves, a presidência da Apio
foi assumida interinamente por Vitória Santos dos
Santos. Era a segunda mulher a presidir a Associ-
ação. que teve como primeira presidente Esteia
dos Santos Oliveira.Ambas são filhas de um líder
Karipuna quefoi muito influente na região, o "fi-

nado Coco".

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL AMAPÁ / NORTE DO PARÁ 393
zou irreguiarmente R$ 350 mil repassados pelo demarcadas e três delas já foram homologadas: que os índios tenham permitido 0 acesso à in-

Ministério da Integração Regional. A eleição do Uaçá, com 470.000 ha; Juminã, com 24.000 ha formação tradicional sem garanlias de que vi-

prefeito-índio teve repercussão internacional. e Galibi com 6.689 ha) . Faltam homologar ape- rão a ser recompensados por isso. O professor
Ele chegou a ser recebido pelo presidente fran- nas os 573.000 ha dos Waiãpi. (O Liberal, informou que sugeriu à Funai de Macapá - que
cês Jacques Chirac e pela ex-primeira dama 14/03 e Folha do Amapá, 16 a 22/03/96) irregularmente autorizou a pesquisa - um acer-
Danielle Mitterrand, em um encontro de povos to para que eventuais ganhos decorrentes de sua
ameríndios realizado em Paris. Primeiro pre- MISSIONÁRIOS pesquisa revertesse para os índios. Como não
feito índio do Brasil, João Neves foi eleito em EXPULSOS DA ÁREA houve resposta até 0 momento, não há como
1996 com 1.713 votos, 47% do eleitorado. Para resguardar, caso um produlo venha a ser pa-
sua posse foram convidadas, enlre outras auto- Missionários da Missão Novas Tribos do Brasil, tenteado a parlir das amostras sangiiíneas ou
ridades, 0 presidenle Fernando Henrique Car- que há 12 anos prestam assistência às várias vegetais, uma participação dos Waiãpi nos gan-
doso, e 0 presidente do Conselho Regional da aldeias waiãpi, tiveram que deixar a área por hos. Há, ainda, dúvidas de que os índios tenham
Guiana Francesa, George Effori. Em 1996, determinação da Funai, para quem 0 Evangelho exata consciência do uso que está sendo feito

Oiapoque tinha cerca de mil eleitores indíge- desvirtuaria a cultura indígena. (JT, 27/03/96) de seu sangue e de suas plantas. Sabe-se, no
nas. QB, 20/06/00) entanto, que sem eles essa eventual descoberta

GOVERNO HOMOLOGA dificilmente ocorreria. (Marco A. Gonçalves,


TERRA WAIÃPI Parabólicas, set/96)
WAIÃPI
0 presidente Fernando Henrique Cardoso está
SUSTO COM INVASÃO DA PF
ratando de limpar a área com
COMEMORAM DEMARCAÇÃO 1 os ativistas dos
Os índios Waiãpi decidiram, ontem, encami-
direitos humanos europeus, defensores da cau-
Com a participação do governador João Alberto sa indígena, antes de para Paris, iniciando visita nhar uma caria ao ministro da Justiça, íris
Capiberibe e de representantes dos governos oficial de três dias à França, O Diário Oficial Rezende, pedindo 0 retomo do CTI para a área,
brasileiro e alemão, os Waiãpi comemoraram publicou 11 decretos de homologação de áreas Waiwai, Kumaré, Kasiripinã, presidente do Con-
no dia 10 de março, a conclusão dos trabalhos indígenas no país, com destaque para a área selho das tribos Waiãpi (Apina), e os índios
de demarcação física de seu território. Partici- Waiãpi, com 607 mil ha, no Estado do Amapá. Aikyry e Seki reclamam da ação da Polícia Fe-
param, ainda, da comemoração na aldeia A reserva Waiãpi foi demarcada com recursos deral, que segunda-feira (11) enviou agentes
Aramirã, a 300 km de Macapá, 0 índio Davi liberados pelo Governo da Alemanha dentro do até a reserva, para cumprir a determinação da
Kopenawa e Geraldo Yanomami, 0 diretor da Programa Piloto para a Proteção das Florestas Funai.
Sociedade de Cooperação Técnica (GTZ), Hans Tropicais Brasileiras (PPTA1) . Com a homolo- Elescontam que a chegada da PF na reserva as-
Kinger e a diretora de Assuntos Fundiários da gação da área Waiãpi, 0 Amapá passa a ser 0 sustou os índios. Muitos teriam corrido para 0
Funai, Isa Maria Pacheco. primeiro Estado da Federação a ter todas as suas mato para se esconder. As crianças e os idosos
O processo de demarcação dos 573 mil hecta- reservas indígenas demarcadas e homologadas. ficaram em desespero e houve muito choro.
res ocupados pelos Waiãpi começou em 1993, (Folha do Amapá, 25 a 31/05/96) Segundo Kasiripinã, eles vieram a Macapá e fo-

quando 0 banco eslatal alemão (KfW) se ofere- ram os próprios índios que levaram para a re-
ceu para financiar 0 processo demarcatório. Um SANGUE E PLANTAS WAIÃPI serva a médica Maria Ferreira Bitencourt e cin-
acordo entre a GTZ, ligada ao governo alemão, co auxiliares da área de satide, lodos integran-
SÃO ENVIADOS AO EXTERIOR
aFunai e 0 Centro de Trabalho Indigenista (CT1) tes do CTI. No entanto, 0 substituto do chefe de
possibilitou que os próprios Waiãpi participas- Um professor da Universidade Federai do Amapá posto da Funai, Moisés, não permitiu a entrada
sem da demarcação. O trabalho exigiu que eles (Unifap) de ,
nome Luiz Kanzaki, confirmou que da equipe na reserva e acionou a PF.

aprendessem a guiar e consertar veículos mo- há algum tempo vem coletando sangue de índi- Segundo os índios, eles já estão cansados dessa
torizados, reconhecessem mapas e operassem os Waiãpi e, por intermédio de alguns deles, teve questão em que pessoas que nada têm a ver com
sistemas de radiofonia. “Essa demarcação só acesso a plantas com potencialidades terapêu- as questões indígenas querem a retirada do CTI
deu certo porque os índios estavam envolvidos ticas. Segundo 0 professor, amostras tanto do da reserva. Ele afirma que a Funai não está res-
no processo desde 0 começo. Houve um traba- sangue dos índios quanto das espécies vegetais peitando a vontade dos caciques e do povo
lho de capacitação que foi decisivo", explica 0 foram enviadas para laboratórios dos EUA e do Waiãpi. “Enfermeiro do CTI trabalha melhor que
técnico indigenista do CTI, Pedro Dias Corrêa. México. Segundo Kanzaki, com as amostras enfermeiro da Funai", afirma Kasiripinã “Nós
Os Waiãpi aproveitaram 0 trabalho de abrir pi- sanguíneas sua pesquisa pretende detectar 0 ví- levamos 0 CTI porque mandamos na nossa al-

cadas para plantar mudas nativas, como 0 rus HTLV, causador de doenças neurodegene- deia e não a Funai”, completou. (Jornal do
cupuaçu, baciiri e pupunha, nos limites de sua rativas e de câncer. A partir das pesquisas Amapá, 14/08/97)
área. O plantio teve dupla finalidade: além de laboratoriais, disse, pode-se chegar a algum
estimular a visita dos índios aos limiles, haverá fármaco que combata esses males. Quanlo às CARTA DE KASIRIPINÃ
produção de frutas que poderão ser comer- plantas, elas seriam pesquisadas para se saber
WAIÃPI ENVIADA AO
cializadas. Os limites da área serão, ainda, fis- se sua eficácia é meramente simbólica ou se é
MINISTRO DA JUSTIÇA
calizados através de imagens de satélite. possível identificar algum princípio ativo que
Com a demarcação da área waiãpi, os 5.261 tenha valor terapêutico e, portanto, comercial. “Ao ministro dajustiça:
índios que habitam as quatro reservas indíge- O caso, aparentemente, não suscita suspeitas em A Funai não pode ficar contra 0 CTI. Funai e
nas existentes no Amapá vivem uma estabilida- relação às intenções científicas do professor da CTI têm de trabalhar direito. O CTI trabalha bem,
de de causar inveja aos “parentes” de outros Unifap. Mas, 11 a falta de legislação interna que mas a Funai de Macapá atrapalha muito. A Funai
Estados. No Amapá, todas as áreas já estão trate do assunto, escancara a possibilidade de não pode fazer conflito com Centro de Traba-

394 AMAPÁ NORTE DO PARÁ


t POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 INSTITUTO SOCIOANIBIENTAL
lho Indigenista, Não estamos dizendo que a JUSTIÇA FEDERAL Outras 1 5 crianças infectadas estão internadas
Funaí vai acabar. Funai não é bom e isso não RECONHECE DIREITO DOS em hospitais da região. Morreram em junho as
pode acontecer. É que nós estainos lutando para WAIÃPI DE EXPLORAR OURO crianças Suka, Supe, Kinan, Ika e Parini Waiãpi,
ver se a Funai entende a nossa opinião. Não todas na faixa de um a 12 meses de idade. No
queremos, mas a Funai fala para nós que nós O juiz federal do Amapá, João Bosco Costa Soa- início de julho, a própria Funai admitiu que uma
Waíãpi fomos manipulados pelo CTI, não é isso. res da Silva, proferiu, no último dia 28 de abril, “bactéria desconhecida” estava atingindo a área
Quando nós fazemos a carta com as palavras uma histórica decisão para a questão do usu- Waiãpi, onde vivem 670 índios. No relatório, a

dos caciques, administrador da Funai não acre- fruto indígena sobre os recursos mineráveis Administração Regional (ADR) da Funai cm
dita. Fie diz que é o CTI que escreve as palavras garimpáveis em seu Segundo a deci-
território. Macapá informou Brasília sobre o que chamou
dos caciques em português. são, o juiz ordena a retomada integral do Proje- de “fatos desagradáveis".
Nós sabemos tirar a nossa idéia pata passar para to de Recuperação e Despoluição de Áreas De- O documento dizia que os Waiãpi foram sur-

os outros. Sabemos escrever em português. Nós gradadas por Garimpo, formulado pelos índios preendidos por uma “espécie de gripe, segui-
queremos a volta do CTI para nossa aldeia e Waiãpi com a assessoria do Centro de Trabalho da de forte vômito, diarréia e febre", que se
para a área. Indigcnista, uma entidade não-governamental de alastrou entre as crianças de até um ano. As
Levamos enfermeiros do CTI para nossas aldei- São Patdo, (Últimas mícias/ISA, 30/04/99) crianças passaram a morrer em 24 horas, após
as, mas a Funai mandou a polícia federal para a constatada a doença. O relatório denunciou a
nossa área buscar os enfermeiros do CTI que VÍRUS RADIOATIVO inexistência de serviço de saúde indígena no
foram levados pelos Waiãpi. A Policia Federal Estado. “Nossa administração não conta atual-
levou armas para nossa área sem avisar os Através de pesquisas, o cientista da Universida- mente com nenhum médico em seu quadro de
Waiãpi. Isso não pode acontecer. de Federal do Amapá (Unifap) Luiz Kanzaque, ,
profissionais”, descreve o documento. De acor-
A Funai não respeita caciques waiãpi. Nós res- descobriu o aparecimento de um vírus detecta- do com a ADR da Funai, a área Waiãpi é de
peitamos as autoridades, só autoridade que não do anteriormente em pessoas que hdam diaria- difícil acesso. A Funai de Macapá solicitou, no

respeita cacique Waiãpi”. (Kasiripim Waiãpi, mente com radiação. Kanzaque realiza diversas
dia 7, R$ 10 mil ao Departamento de Saúde do
Jornal do Dia, 14/08/97)
pesquisas na Amazônia, sendo titular de uma órgão em Brasília para levar uma equipe de téc-
cadeira na área de Enfermagem, na Unifap, e
nicos de saúde à aldeia. O dinheiro era para
UNICEF E GOVERNO ficou surpreso com o desenvolvimento do vírus pagar diárias de viagem, medicamentos, com-
nos índios, que só tinha encontrado ano-
PROMOVEM já
maUa em operadores de raio-X,
tal

entre outros da
bustível e locação de veículos. No dia 13, a ADR

“APROXIMAÇÃO ÉTNICA’’ enviou outro memorando a Brasília, informan-


área de saúde que lidam com radiação. do que momento não fora providen-
até aquele
As 300 crianças que vivem no município de Ser- Kanzaque não pôde continuar as pesquisas e ciado o “apoio”. A Funai no Estado buscou par-
ra do Navio, a 300 km de Macapá, estão sendo lamenta que algumas informações passadas an- cerias com o governo estadual e com um labo-
protagonistas de urna nova experiência de con- teriormente à imprensa tenham sido deturpa- ratório local, o que tomou possível a visito e o
vivência. Meninos e meninas indígenas e filhos das a partir de sua descoberta. preparo de um diagnóstico. (OESP, 21/07/99)
de pequenos agricultores que habitam no en- O chefe do 16° Distrito do Departamento Naci-
torno das aldeias waiãpi compartilham conhe- onal de Produção Mineral (DNPM/AP), Armindo
informa que apesar dos índios estarem
FACCÃO DENUNCIA
cimentos mútuos sobre diferenças culturais. Pinto,
localizados a montante no Amapari (nascen-
ANTROPÓLOGA...
Através do intercâmbio de conhecimentos, eles rio

têm contato com formas diferenciadas de vida. te), das minas de manganês, em Serra do Na- Dominique Gallois, a coordenadora da ONG
A prática é fruto de uma parceria entre o Unicef vio, a área que habitam possui uma das maio- conhecida como CTI (Centro de Trabalho Indt-
(Fundo das Nações Unidas) e o Governo do Es- res riquezas da Amazônia de minérios como genisto), está sendo acusada de insuflar os in-
tado do Amapá, através do Núcleo de Educação thorianita, molibdênio, zircônío, entre outros
dígenas contra os membros da CPI da Funai,
o Indígena da Secretaria Estadual de Educação. que possuem naturalmente radiação, criando instalada pela Câmara Federal, para apurar en-
O projeto Mirakatu está sendo desenvolvido há um “background" com essas características e tre outras coisas a atuação da Funai, o papel
um ano. Consiste num conjunto de atividades que pode muito bem ter atingido o grupo indí-
das ONGs nas aldeias, a biopiratoria, os aspec-
de professores-índios e não-índios das vilas de gena, necessitando que haja uma pesquisa mai- tos que direcionam a política de ocupação das
Riozinho, Tbcano 1 e TUcano II. O projeto Mira- or sobre o assunto, aproveitando as informa- terras indígenas e etc. Os membros da CPI vão
kalu financiou o registro audiovisual do dia-a- ções que o professor e pesquisador da Unifap reunir e realizar trabalhos de investigação em
dia na aldeia, realizado pelos Waiãpi. A comu- já possui ou investindo na própria pesquisa dele, algumas aldeias amapaenses no próximo dia 8
nidade recebeu verba da Unicef e do governo a fim de ajudar a perpetuação dos índios Waiãpi.
de outubro.
do estado par adquirir os equipamentos de fil- (O Liberal, 23/06/99)
A acusação parte de alguns índios contrários à
magem. Marti, o cineasta Waiãpi que partici- proposta feito pela antropóloga, durante reuni-
pou do projeto comenta: “Hoje podemos mos- BACTÉRIA FAZ VÍTIMAS ões realizadas, recentemente, nas aldeias
trar ao homem branco e a seus filhos o que é Waiãpi. Segundo o cacique da aldeia Manilha,
ser índio. Antes o branco era nosso inimigo. Somente no mês passado, cinco crianças Waiãpi,
Tzako Waiãpi, Dominique Gallois teria reco-
Queria nossa terra para caçar e pescar. Hoje no Amapá, morreram em menos de 24 horas,
mendado aos índios, inclusive, a prática da
estamos mais unidos. Ele (o branco) vai nos contaminadas pela bactéria Escbericbia cotí.
agressão física, principalmente contrao relator
ajudar a defender nosso mato”. (Diário Catari- Um relatório confidencial da Funai mostra que
da CPI, deputado federal Antônio Feijão (PSDB/
nense, 21/06/98) a falta de saneamento está comprometendo a
AP). (O Liberal, 14/09/99)
saúde dos índios, pois a bactéria se propagou
pela água e foi transmitida por leite materno.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1936/2DOO - INSTITUTO SGC10AMBIENTAL AMAPÁ /N0BTE 00 PARÁ 395
) ,

... MAS O CONSELHO um projeto de recuperação de áreas degrada- LIMINAR PROÍBE


DAS ALDEIAS REBATE das pela atividade garimpeira. VOLTA DA MNTB
Ontem, a CPI esteve na reserva Waiãpi, região
0 Conselho das Aldeias Waiãpi (Apina), enviou do município de Amapari, ouvindo os líderes No último dia 8 de agosto, a articulação em fa-
carta ao Liberal Amapá, rebatendo a matéria vor do retorno dos missionários da Missão No-
indígenas. Amanhã os deputados estarão no
publicada no dia 14 deste mês, onde Caubi vas Tribos do Brasil (MNTB) sofreu um revés.
município de Oiapoque onde tomarão depoi-
Amazonas do Sousa, vice-presidente daApiwata, Em Brasília, o juiz Francisco Neves da Cunha,
mentos dos índios Galibi da aldeia do Manga.
outra associação do povo Waiãpi, denuncia que da 16* Vara federal, concedeu liminar proibin-
Além do presidente da Comissão, deputado
a antropóloga Dominique Gallois estaria inci- do a entrada da MNTB na área Zo e, atendendo
Alcertes Almeida (PMDB-RR) e do relator, An-
tando os índios para receber com hostilidade
tônio Feijão (PSDB-AP), também acompanha os ao pedido do procurador Fclício Júnior, de
os membros da CPI da Funai, que devem che- Marabá, Os missionários vinham fazendo incur-
trabalhos do deputado Josué Bengtson (PTB-PA)
gar ao Amapá no próximo dia 8 de outubro. De sões à terra indígena, a fim de restabelecer uma
que preside a Comissão da Amazônia na Câma-
acordo com a carta, o povo Waiãpi é formado
ra e os membros efetivos dr. Rosinha (PT-PR), base de evangelização desativada há sete anos,
por 520 pessoas, com duas associações, a Apina Raimundo Santos (PFL-PA), Pedro Wilson (PT- Eles foram retirados pela Funai, depois de cons-
e aApiwala, que representa 15% da população tatados evidentes prejuízos ao modo de vida e à
SP) Vanessa Grazioti (PC do B-AM) e Almir Sá
,

Waiãpi. O documento revela que a maioria dos


(PTB-RR) saúde desses índios,
.
(ISA, 23/11/99)
caciques participou da reunião na aldeia A reentrada da missão na Terra Indígena Zo’é
Aramirã, e em nenhum momento Dominique vem sendo articulada com parlamentares fede-
Gallois falou em agressão aos parlamentares.
ZOÉ rais e interesses minerários, em especial, com
“Caubi Waiãpi não está falando a verdade. Ele o deputado federal Antônio Feijão. (Últimas
não participou da reunião e nem conversou com
PF RETIRA ESTRANGEIROS Notícias/ISA, 10/08/98)
a Dominique. fila o convidou para participar
da reunião, mas não
DA ALDEIA
Então, inventou
ele foi.
PORTARIA DA FUNAI
tudo o que saiu no jornal”, diz a carta da Apina. Um casal de estrangeiros foi retirado, na tarde
PROÍBE ACESSO
A carta diz ainda, que Dominique apóia todas de ontem, de uma aldeia Zo’é, no rio Cumina-
as comunidades. “Se ela não apoiasse toda co- panema. onde haviam entrado sem autorização O presidente da Funai, Sulivan Silvestre Olivei-
munidade Waiãpi, não teriam funcionado bem da Funai. Eles foram conduzidos para a delega- ra, assinou uma portaria proibindo por um ano

os cursos que ela ministrou para todos os cia da Polícia Federal em Sanlarém, onde conti- a partir de 1“ de setembro, o ingresso de pes-
Waiãpi. O curso não existe só este ano, já existe nuavam, à noite, sendo interrogados pela dele- soas, a qualquer título, na TI Cuminapanema,
há vários anos. Nós Waiãpi é que estamos pe- gada Maria das Graças Malheiros, para saber no estado do Pará, onde vivem os índios Zo'é.
dindo para ela continuar trabalhando com os qual o motivo da visita àquele grupo indígena. As autorizações já concedidas perdem a valida-
projetos do GTI. Em 1996, o CTI trabalhou com Josef Alfons Monia Houben, belga, médico, e de a partir da data estabelecida. A decisão foi

saúde em todas as aldeias porque nós pedimos Odina Grosso, italiana, enfermeira, vinham ten- publicada no Diário Oficial da União, no último
à Dominique”. (O Liberal, 24/09/99) tando entrar na área indígena há mais de um dia 17 de agosto.
mês, mas não obtiveram o aval da Funai. Sem De acordo com o texto da portaria, a proibição

FUNAI AUTORIZA autorização oficial, eles foram até lá com um não se aplica apenas às “forças Armadas, poli-

INGRESSO DO CTI guia brasileiro. ciais e equipes de saúde, no cumprimento de

Segundo informações obtidas no aeroporto de suas funções institucionais, cujo ingresso, lo-
A Funai, através de Portaria n“ 663, autoriza o Santarém, eles fretaram um monomotor, atra- comoção c permanência na Terra Indígena
ingresso das equipes técnicas do Centro de Tra- vés do piloto Waiter Mouzinho, e foram levados Cuminapanema deverá ser antecipadamente
balho Indigenista (CTI) na área Waiãpi e o até uma pista do garimpo do Tadeu, pelo piloto acordada e acompanhada por funcionários da
restabelecimento dos convênios e parcerias nos “Alemão”, local próximo a aldeia dos Zo’é. De Funai”. A Equipe do Posto Indígena de Contato
projetos de saúde, educação evigilânda. (DOU, lá, com auxílio de mateiros, que vivem no ga- Cuminapanema, do Departamento de índios Iso-
08/11/99 rimpo, os aventureiros se embrenharam nas lados da Funai, é que fará cumprir a proibição
matas numa viagem que durou sete dias até a e a exceção determinada pela portaria. (Últi-

CPI DA FUNAI EM MACAPÁ aldeia. Lá, porém, foram denunciados pelo fun- mas Notícias/ISA, 20/08/98)
cionário da Funai à Polícia Federal.
A CPI que apura as ações da Funai faz hoje, às O depoimento deles na PF se prolongou noite ESTRANGEIROS
16 horas, em Macapá, audiência pública na adentro e deverá continuar por todo o dia de
PAGAM PARA VER
Assembléia Legislativa onde tomará depoimen- hoje, não tendo sido esclarecido ainda a razão
tos da antropóloga belga Dominique Gallois, do da viagem aos Zo’é. Os dois deverão ser depor- Os Zo’é viraram atração para equipes de televi-
ex-procurador da República no Amapá, João tados do pais, pois tinham o visto de turistas e são da Europa c EUA que estariam pagando até
Bosco Araújo Fontes Júnior, do funcionário da não poderiam ter empreendido a viagem à área USÍ 200 mil para filmá-los. A autorização para
Funai Dilson Marinho e do pastor Silas, líder indígena. a tomada das imagens foi dada dias antes que a
da Missão Novas Tribos. Segundo informações extra-oficiais, o episódio direção da Funai decretasse a proibição de aces-
De acordo com o Ministério Público Federal, o abriu o precedente para que a PF peça a inter- so às aldeias Zo’é. (O Liberal, 24/08/98)
CTI (Centro de Trabalho Indigenista), ONG a dição da pista do garimpo Tadeu, por ameaçar
qual Dominique pertence, promovia a explora- o isolamento dos índios. (O Liberal, 14/08/96)
ção de ouro ilegalmente na reserva indígena
waiãpi. Tal exploração estaria camuflada sob

396 AMAPÁ/NORTE DO PARÁ PDVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL


^4/Z^Acervo
W/A ISA

4. SOLIMÕES

Ticuna

— limite interestadual

rodovia implantada
TERRAS INDÍGENAS

reconhecidas olicíalmente
mais de 19.000 ha
capital de Estado
A reconhecida oficialmente
menos de 13.200 ha
• cidade

Unidade de Conservação federal


A em identificação ou a identificar

INSTITUTO S0CIOAMBIENTAL/2000
nJJIUJT: ^ rea mi||,ar
apresentada em outro capitulo
!

Copyrlghled malenal
1 )

Terras Indígenas
Instituto Socioambientaí - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n“, fonte, data íha)

715 Acapuri de Cima Kocama 10! GT/Funai: S8 Delimitada. 19.40C Fonte Boa AM Sem localização.
Port do ministro da Justiça 237 de 13/04/2000
declara de posse permanente indigena
(O0U, 17/04/03).

496 Barreira da Missão Kaixana 480 Funai:95 Homologada. Reg. CRI. 1.772 Telè AM Calha Norte.
Miranha Oec 303 de 29/1G/91 homologa demarcação
WítOtD (DOU, 30/10/91 ). Reg. CRI Matr. 2178, Liv. 2 1, 11. 230
Issé verso em 20/1 1/91. Dominial Indígena.
Kambcba
Ticuna

52 Betânia Tlcuna 3.486 CGTT: 9$ Homologada. Reg. CRI e SPU, 122.763 Sto. Antonio do Içá AM Calha Norte.
Oecr. s/n de 03/07/95 homologa a demarcação
aprovada pela Funai (DOU, 04/07/95). Reg CRI de
Sto. Antonio do Içá Matr.107, Llv. 2-B, fl. 107 de
10/13/95. Reg. SPU. Cert. 002 em 19/03/96.

56 Bom Intenta Ticuna 258 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRI. 1.693 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa dei romeira.
Dec. do pres. F.H. Cardoso de 05/01/96 homologa a
demarcação. (DOU, 06/01/96). Reg CRI em Benjamim
Constant, Matr. 586, Liv. 2-3, fl. 8V em 12/01/96.

Caiuhiri Atravessado Miranha 0 Em Identificação. 0


Port Funai 42G de 29/D5/OOcrIa GT p/ estudes de
identificação da TI (DOU, 31/05/00).

720 Cuiu-Cuiú Miranha 367 Priscila Faulhaber: 95 Delimitada. 36.310 Maraã AM


Port Ministro da Justiça 817 de 15/12/98 declara de
posse permanente indigena (DOU, 14/12/S8).

747 Espírito Santo Kocama 121 Parecer/Funai: 97 Delimitada. 35.000 Jutaí AM


Port.do ministro da Justiça 560 de 7/10/99 declara
de posse permanente indigena. (DOU, 03/10/99).

96 Estreia da Paz Ticuna 383 Débora Lima: 98 Homologada. Reg. CRI. 12.876 Jutaí AM
Dec. s/n de 03/07/95 homologa a demarcação
aprovada pela Funai (DOU, 04/07/95). Reg. CRI em
Jutaí Matr. 252, Liv. 2/RG, fl. 52 em 25/08/95.

97 Evaré Ticuna 13.023 Fiinai: 95 Homologada. Rég. CRI. 548.177 S. Paulo de Olivença AM Calha Norte. Na fronteira. Rodovia
Kocama Dec. do pres. F.H. Cardoso de (K/01/95 homologa Tabatinga AM planejada BR-307. A área do
a demarcação. (DOU, 08/01/96). Port. pres. da Funai Exército Gleba Ta ca na incide
de 27/06/96 designa Ana Suely Arruda C. Cabral tctalmeirte na TI.
etnolinguista para estudos visando a identific. Étnica
da Comunidade da localidade de Sapotal, no munic.
deTabatinga (DOU, 02/07/96). Despacho do M. da
Justiça concordando que as terras Ticuna e Kokama
sejam separadas desde que não excedam a área de
548.177 ha (DQU, 26/03/97). Reg. CRI em S. Paulo de
Olivença Matr. 541, Liv 2-C-l, fl. 61 em 20/06/96; em
Tabatinga Matr. 242, Liv. 2-B, H. 97 em 01/03/96; em
Sto Antonio do Iça Matr. 138, Liv. 2-B, fl. 138em 15/04/96.

98 Evaré II Ticuna 2.200 Fu na i: 95 Homologada. Reg. CRI E SPU. 176.205 S. Paulo de Olivença AM Faixa de fronteira.
Dec. do pres. F.H. Cardoso, de 05/01/96 homologe
a demarcação administrativa. (DOU, 08/01/96). Reg.
CRI em S. Paulo de Olivença Matr. 542, Liv. 2C-1,
fl. 62 em 20/06/%. Reg SPÜ Cert. s/n em 18/02/97.

126 Igarapé Grande Kambeba 27 Funai: 00 Em Idenirlicação/Revisão. 400 Alvarães AM


Demarcada SPI (Funai: 90). Planta de delimitação
de D7/01/B3. Port. Funai 745 de 18/C8/84 cria GT p/
identifica ção da área (DOU, 22/08/94). Port. 134 de
1 1/03/99 cria GT p/ identificação da TI (00U, 15/03/99).

403 ilha do Camaleão Ticuna 0 Homologada. Reg. CRI E SPU. 236 Anamá AM Calha Norte.
Dec. s/n de 63/07/95 homologa a demarcação
(DOU, 04/07/95). Reg. CRI em Anama Matr. 01. Liv. 1-RG,
II. 01V em 30/39/96. Reg. SPU Cert. s/n em 02/04/97.

146 Jaquiri Kambeba 55 Lid. Indígenas: 96 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.320 Maraã AM Calha Norte.
SPU Cert. 001 em homologa a demarcação
(DOU 30/10/911. Reg. CRI de Maraã Matr. 061. Liv. 2-A,
fl. 77 em 27/1 1/91. Reg. SPU Cert. 002 em 20/1 1/95-

176 Kokasna Kambeba 140 Funai: 89 Em Identificação/Revisão. 930 Tefé AM Calha Norte.
Kocama Planta de delimitação 06/01/33.

184 Lago Beruri Ticuna 120 Funai: 94 Homologada. Reg. CRI E SPU. 4.980 Beruri AM Calha Norte.
Dec. s/n de 03/07/95 homologa demarcação
aprovada pela Funai |DQU, 04/67/95). Reg. CRI de
Beruri Matr. 79, Liv. 2/RG.fl. 41 em 22/09/95. Reg.
SPU Cert, DOÍ em 11/03/96-

169 Lauro Sodré Ticuna 634 CGTT; 98 Em Identific ação/Revisão. 9.600 Benjamin Constant AM Faixa de fronteira. Rodovia
Planta de delimitação e 03/06/32. Port. Funai 1 .692/E planejada BR-230. Requerimento
de 23/08/34 p/ proposta de identificação e delimitação. de pesquisa mineral.
Port. 22 de 18/01/00 cria GT p/ estudos de identificação
(DOU, 20/01/00).

POVOS INDÍGENAS NÜ BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SOLIMÕES 399


Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa |n
fl
, fonte, data ) (ha)

192 Macarrão Ticuna 404 Lid. Indígenas: 93 Homologada. Reg. CRI. 44.267 Jutaí AM
De c. 260 de 29/10/91 homologa demarcação
administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CRI Jutaí
Matr. 62, Liv. 2, fl. 62 em 25/1 1/91. Oficio ao SPU
158 DAF em 11/08/93.

13Ü7 Mapari Kaixana 0 Em Identificação. 0 Japurá AM


Port. Funai 743 de 13/08/97 cria GT p / identificação
da TI (DOU, 14/08/97).

569 Maraã/Urubaxi Kanarnari 185 Parecer/Funaí:93 Homologada. 94.405 Maraã AM


Oec- s/n de 11/12/98 homologa a demarcação
(DOU. 14/12/98).

Maraila Ticuna 137 CGTT; S6 Em Identificação. D Amaturá AM Sem localização.


Port. Funai 579 de C9/06/98. Cria GT p/ estudos de
identificação (DOU, 12/0B/9B).

200 Marajai Mayoruna 203 Lid. Indigenas: 93 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.195 Alvarães AM
Dec. 2S£ tíe 29/10/91 homoioga a demarcação
(DOU, 30/1 0/S 1). Heg. CRl AlvarSes Matr.üOI, Liv.2-A,
fl. 32 em 05/12/91 . Reg. SPU Cert. 005 em 14/05/97.

Matintín Ticuna 234 CGTT: 88 Em Identificação. 0 S. Antonio do Iça AM


Port. Funai 579 de 9/6/98 cria GT p/ estudos de
identificação da Tf (DOU, 12/06/98).

210 Méria Karnpanã 45 Lid. Indígenas: 98 Homologada. Reg. CRl E SPU. 585 Alvarães AM
Mura Witoto Dec. s/n de 04/10/93 homoioga a demarcação
Miranha (DOU, 05/10/93). Reg. CRI de Alvarães Matr. 018,
Issó Liv. 2-A, fl. 018 em 10/11/93. Reg. SPU. Cert.11 em

27/11/95

212 Miratu Karapanã 350 Barbosa: 85 Homologada. Reg. CRl. T3.199 Uerini AM Calha Norte.
Mura Dec.390 de 24/12/91 homologa demarcação
Miranha (DOU, 26/12/91). Reg. CRl de Uaríni Matr. 2,183,
Issè Liv. 2-1, fl. 208 em 14/01/92. Of. ao SPU 156 de 11/08/93.

Witoto

711 Nova Esperança Ticuna 180 PBrecBn98 Idantificada/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestação. 19.900 S. Paulo de Olivença AM Faixa de Fronteira
do Rio Jandiatuba Port. Funai. 579 de 09/6/98 cria GT p/identificação
(DOU, 12/06/98). Despacho do presidente da Funai
aprovando a área (DOU, 09/06/00)

469 Paraná da Paricà Kanarnari 60 Lid. Indígenas: 93 Homologada. 7.865 Maraã AM Calha Norte.
Dec. s/n de 08/09/98 homologa a demarcação
(DOU, 09/09/98).

Porto Praia Ticuna 282 CGTT: 98 Em Identificação. 0 Uaríni AM Incide na Estação Ecológica
Port. Funai 745 de 18/D8/94 cria GT p/ identificação Estadual Mamirauá.
da área (DOU, 22/08/94). Port. Funai 134 de n/03/99 cri

GT p/ identificação da TI (DOU, 15/03/99).

Ríazinho Ticuna Kulira 0 A Identificar. 0 Jutaí AM


{Funai: 93).

714 São José Ticuna 0 Em Identificação. 0 Manacapuru AM


Port. Funai para identificação da área. Até o dia
18/07/94 o relatório não tinha sido entregue.

709 São Sebastião Kaixana 224 GT/Funai: 97 Identíficada/Aprovada/Funai. Sujeita a Contestação. 57.700 Tonantins AM
Port. Funai 743 de 1 1/08/97 cria GT para identificar a
TI.Despacho do presidente da Funai n.4 aprova
estudos de identificação da TI (DOU, 17/02/00).

286 São Leopoldo Ticuna 824 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRl. 69.270 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. s/n dB 12/08/93 homologa a demarcação da Rodovia planejada BR-23C.
Funai (OO U, 13/08/93). Reg. CRl de Benjamim Requerimento de pesquisa mineral.
Consta nt Matr. 401 , Liv. 2-B, fí. 164 em 26/05/89. CT
ao SPU em 28/04/88.

312 Tikuna de Ticuna 1.586 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRl. 1.065 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Santo Antonio Dec. 311 de 29/10/91 homologa demarcação Rodovia planejada BR-23C.
(DOU, 30,'10/911. Reg. CRl de Benjamim Consta nt
Matr. 546, Liv. 2-2, fl. 109 em 18/06/95.

313 Tikuna Feljoal Ticuna 2711 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRl. 40.948 S. Paulo de Olivença AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec.do pres.F.H. Cardoso de 05/01/96 homologa a Requerimento de pesquisa mineral.
demarcação administrativa (DOU, 08/01/96) Reg.CRI
de Benjamim Con$tant,Mat. n. 585, Liv. 2-3, f!.08V em
06/11/95.

311 Tikuna Porto Espiritual Ticuna 160 Funai:87 Homologada. Reg. CRl E SPU. 2.839 Benjamin Constant AM Calha Norte. Faixa de fronteira.
Dec. do pres. F.H. Cardoso de 05/01/96 homologa a
demarcação administrativa. (DOU, 08/01/96). Reg
CRl em Benjamim Constant Matr. 587, Liv. 2-3, fl.09
em 29/01/96 .Reg. SPU Cert 008 em 22/04/36.

326 Tukuna Umaríaçu Ticuna 4.300 Fu na i/PPTTAL: 98 Homologada. 4.854 Tabatinga AM Calha Norte. Faixa de Fronteira.
ec. s/n. de 11/12/98 homologa a demarcação Rodovia planejada BR-307.
(DOU, 14/12/98).

400 SQLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


SOLIMQES
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambíental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n 6, fonte, data ] (ha)

Tupa-Supé Ticuna CGTT: 98 Em


32 Identificação. 0 Alvaries AM
Pon. Funai745 de 18/08/94 cria GT para identificação
da área |OOU, 22/08/94). Port. Funai 134de 11/03/99
cria GT p/ldantilicaçio da TI IDOU, 15/113/99).

325 Uati-Paraná Ticuna 480 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 127.199 fonte Boa AM Calha Norte.
Hec. 284 de 29/10/91 homologa a demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI de Fonte Boa Matr. 743,
Liv. 2'RG, ff. 0C1/005 em 03/05/93. Reg. SPU Cert
007 em 22/1 1/95.
337 Vui-Uata-ln cl ria
Ti 1.452 CGTT: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 121.198 Amaturá AM Calha Norte. Faixa da fronteira.
Dec. 3/n de 03/07/95 homologa a demarcação
aprovada pela Funai IDOU, 04/07/95). Reg. CRI em
Amalurá Matr. 534, Liv. 2C-1, fi. 54 em 02/05/96.
Reg. SPU Cert. 002 em 21/01/98.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBÍENTAL SOLIMÕES 401


Acervo
-V/T 'SÁ

402 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BKASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
-//ISA

Os Ticuna diante da
Degradação Ambiental

Fábio Vaz Ribeiro de Almeida Antropólogo da Universidade do Amazonas/


Museu Amazônico e assessor do C6TT desde 1992

Regina M. de Carvalho Erthal Antropóloga pesquisadora, trabalha com os Ticuna desde 1989

OS CAMINHOS DA QUALIDADE DE VIDA cionais e deslocamentos populacionais significativos para a beira

PASSAM PELA DEMARCAÇAO DA TERRA do rio Solimões, desembocou, com mais intensidade a partir da
E PELA AUTODETERMINAÇÃO década de 70, na formação de grandes aldeamentos, alguns com
uma população que já chega a mais de quatro mil indivíduos. Esta
“urbanização” crescente não tem sido acompanhada de uma infra-
Após um longo período de lutas pelo reconhecimento oficial de
estrutura imprescindível à viabilização da reunião de um número
suas terras, desde o final da década de 70, impulsionado pela par- significativo de pessoas ocupando um espaço comum, com utiliza-
ticipação de suas lideranças mais tradicionais no acompanhamen-
ção intensiva dos recursos naturais, já sendo visível um processo
to de todas as suas etapas, resultado de sua união estratégica em de degradação ambiental, com problemas urgentes de coleta e lo-
torno de um objetivo maior de proteção territorial, os Ticuna do
calização de dejetos, tratamento e distribuição de água. Ou seja,
Alto Solimões (AM) têm atualmente grande parte, aproxima-
questões de saneamento básico em geral.
damemte 90%, de seu território demarcado. Prossegue a luta pela
Os Ticuna começaram a ter, no decorrer das duas últimas déca-
finalização desse processo.
das, uma percepção cada vez mais clara das consequências das

O processo histórico de ocupação do território ticuna que gerou, mudanças de um padrão tradicional de ocupação do território que,

em situações históricas específicas, a dissolução de malocas tradi- junto a fatores externos e incontroláveis, tem determinado um

Crianças ticuna às margens do


rio Solimões, em Tabatinga.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SOLIMÕES j


403

Copynonrea r
sustento, principalmente para as gerações mais novas, bombarde-
suas reservas de alimentos e a provisão de água potável afetando, adas de modo intenso pela grande circulação de brancos em seu

de maneira incisiva, seu bem estar e snas condições de saúde. território, pela proximidade com sedes municipais e/ou pequenas

Acostumados a manter uma relação com seus diferentes cidades, e ainda pelo apelo ao consumo que lhes chega via televi-

ecossistemas, enquanto provedores inesgotáveis dos bens neces- sões e rádios, pode significar um novo ponto de referência e de

sários à sua reprodução no sentido mais amplo, os Ticuna têm união em torno de uma apropriação produtiva, independente e
percebido a importância de pensar nos novos elementos que pas- sustentada, do território.

saram a interferir no estabelecimento futuro de planos de manejo


Nesse sentido, o CGTT tem atuado de modo a estabelecer as parce-
de seus recursos naturais: aumento populacional ao longo do rio
rias que favoreçam a criação de condições propícias à execução
Solimões, pesca predatória nos lagos invadidos periodicamente
de projetos que se tomem a base para a implementação de uma
por brancos, pesca de exportação praticada também de forma pre-
política de desenvolvimento econômico sustentado para a região.
datória com conseqüente escassez alimentar para algumas comu-
As diversas parcerias estabelecidas pelo CGTT têm caminhado no
nidades, exploração exacerbada de produtos da floresta sem cor-
sentido de definir linhas de pesquisa nas áreas de desenvolvimen-
respondente plano de manejo, intrusão de madeireiros e garim-
to, saúde, educação; implementando projetos pilotos que servem
peiros, poluição ambiental, mudança nos padrões de morbi-mor-
como multiplicadores de experiências e, ainda, na perspectiva de
talidade da população, etc.
constituir quadros de dirigentes e gerenciadores capacitados cada
O processo devinculação de pescadores índios ao sistema de pes- vez mais para assumirem as responsabilidades de formulação e
ca dominado pelos atravessadores colombianos tem se intensifi- implementação de propostas que reflitam as reais necessidades da
cado proporcionalmente à destruição ambiental no Solimões, população ticuna como um todo.

igarapés e lagos, com uma já evidente escassez do pescado. O es-


quema de cooptação dos pescadores indígenas se baseia em um
PROJETOS E PARCEIROS
processo de endividamento muito próximo àquele já experimen-
tado pelos Ticuna frente ao barracão da borracha. Os atravessadores Desde o final da década de 80 e início dos anos 90, os Ticuna vêm

financiam o início da atividade, fornecendo barco, motor, implementando, cada vez de modo niais eficiente, um projeto de

malhadeira, combustível, e o pescador fica comprometido por essa autogestão que se tornou mais completo com a expansão da atua-

dívida inicial a aceitar o preço estabelecido pelo comerciante para ção do CGTT que, de órgão fiscalizador e definidor de políticas,

o produto do seu trabalho. adquire personalidade jurídica própria a partir de 1997, e passa a
ter o papel de formulador e gerenciador de projetos nas áreas de
A intensificação do esgotamento dos estoques nas áreas mais explo- desenvolvimento, saúde e educação.
radas tem levado os pescadores a invadir áreas de pesca e reserva de
comunidades menores, ou ainda lagos tidos como de preservação
Na área da saúde, a formação de quadros qualificados pela orga-

nização indígena e sua ampliação durante os duros anos (década


do estoque pesqueiro. Esse processo vem acirrando disputas entre
de 90) de disputas entre Funai (Fundação Nacional do índio) e
comunidades que acionam códigos diversos de acusação, na tentati-
va de controle de seus próprios estoques, seja com um discurso
FNS (Fundação Nacional da Saúde) pelo controle das ações de
saúde junto às populações indígenas no Brasil, transformou os
preservacionista e de apoio a vias tradicionais de manutenção da
Agentes Indígenas de Saúde (AIS) na base do atual Distrito Sanitá-
integridade do território, seja reivindicando tais reservas para ex-'
ploração em proveito próprio, associados a agentes econômicos rio Especial Indígena do Alto Solimões, para o qual a Prelazia do

externos. O discurso preservacionista veiculado pelas lideranças do Alto Solimões foi chamada a assumir a coordenação (1999), a

Conselho Geral cia Tribo Ticuna (CGTT) vem encontrando cada vez partir de uma convocação e apoio dos Ticuna ao pe. Joseney Lira
,

menos eco nas gerações mais novas, e mesmo entre alguns capitães do Nascimento.

cooptados por uma política municipal de troca de ‘'favores” (car- O processo de demarcação desencadeou, paralelamente, uma
gos, pequenas obras, barco, motor, etc.) que percebem a explora- discussão crítica sobre as propostas de “projetos econômicos”
ção das riquezas do seu território como uma via de acesso rápida a e/ou "comunitários” implementadas até então pela Funai, fruti-

uma economia monetarizada e uma alternativa de sustento. ficando na parceria com o Fundo Mundial para a Natureza/WWF-
USA para a realização do “Projeto de Etnodesenvolvimento; Fauna
Também no que diz respeito aos seus recursos florestais, os Ticuna
e Flora Ticuna” (1993/94) que propunha um aprofundado le-
têm sido assediados por propostas de exploração que, por trás de
vantamento dos diferentes ecossistemas encontrados nas áreas
projetos com um discurso preservacionista e de sustentabil idade,
Ticuna e suas potencialidades de desenvolvimento. Mesmo com
escondem empresas que vêm atuando de forma predatória em
poucos recursos, o Projeto desenvolveu ainda atividades de qua-
outras áreas da Amazônia.
lificação de quadros para a construção e manejo de açudes,
Após um período de união incondicional das diferentes facções através de aulas práticas e teóricas, com especial atenção para
ticuna em torno da luta pela demarcação de seus territórios, a a discussão da necessidade de um viéls participativo e de prote-
demonstração da possibilidade de se criar alternativas efetivas de ção ambiental.

104 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL! 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAIViBIEMTAL


esta mesma Unha, foi implementado o projeto "Universo Ticuna: tação, monografias, artigos, livros, seminário internacional etc.),

território, saúde e meio ambiente”, coordenado pelo antropólogo podendo ainda ter o seu resultado apropriado de modo mais ime-
João Pacheco de Oliveira, envolvendo o Museu Nacional/UFRJ, o diato pelas comunidades no senddo de preservação de seu territó-

Museu Goeldi, o Museu Amazônico/UA e a Fiocruz (Fundação Ins- rio ou de seu património cultural na forma do "Atlas das Terras

tituto Oswaldo Cruz) para estudar as representações indígenas Ticuna", do "Catálogo Digital do Acervo Museológico de Peças
expressas em seus discursos e práticas cotidianas sobre o territó- Ticuna-Museu Nacional” ou do vídeo “Uma Assembléia Ticuna".
rio, os processos de saúde/doença e em propostas de desenvolvi- Há outros em que, predominantemente, encontra-se o desenvolvi-
mento econômico. mento de metodologias e tecnologias a partir dos sistemas de ma-
nejo tradicionais bem sucedidos (pequenos açudes, manejo con-
Esse Projeto, que desenvolveu atividades de 199b a 1999, gerou sorciado de capoeira etc.) e ainda produtos definidos a partir das
produtos com um perfil acadêmico mais destacado (tese, disser- dinâmicas internas da sociedade ticuna e da necessidade de uma

O DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA DO ALTO SOLIMÕES (DSEI-AS)


O longo período de disputas enlreaFNSe Fumipelo controle das tições contra outras possibilidades que já vinham sendo aventaáis ( Bata-
de saúde junto às populações indígenas no Brasil, iniciado em 1991. lhão de Fronteira do Exército), e optaram pela indicação da Pastora I
uma defi-
foi certamente ocupado jmr níveis diversos de debates l>arii Indigenista. na pessoa do pe.Josene) Ura do Nascimento, para o car-
:

nição clara de um modelo de assistência e de jnráticas sanitárias que go de coordenador do DSEI-AS. Consultada a Diocese do Alto Solimões
superasse uma vinculação direta às demandas espontâneas e/ou e ponderadas as orientações contrárias do Cimi. o pe. Joseney acei-
emergenciais. Acompanhando esse processo, a capacitação de AIS foi tou o convite dos Ticuna e o DSEI -ASfoi implantado em novembro de
realizada de modo extensivo jmr diferentes instituições de ensino, pes- 1999, com uma equipe que ainda se estrutura para a execução de
quisa, ONGs nacionais e internacionais, organizações missionárias etc. um projeto de um ano .

obteiulo apoio de diferentes organizações indígenas já existentes ou


A contingência de ter que gerenciar as ações de saúde em um territó-
estimulando a stuiformação. No Alto Solimões, instituições como Mé-
rio composto por seis municípios, com uma das maiores populações
dicos sem Fronteira, Pnyeto Rasi/IA, Fiocruz e Esai/FNS capacitaram,
indígenas em território brasileiro, atendendo a indígenas em 120
de maneira descontínua e assistemática, em tomo de I60AIS,forne-
aldeias espalhadas peta beira do Solimões e igarapés, tem imposto ao
cetulo no mais das vezes uma supervisão pífia para suas atuações.
DSEI-AS a imensa tarefa de organização de uma infra-estrutura ca-
A exigência de controle social e participação das populações indíge- paz de sustentar a atuação de profissionais de saúde e AIS.
nas para a implantação dos DSEls desencadeou reun iões convocadas
Nesse contexto, foi selecionada e contratada uma equipe de médi-
Indo Cosai/Esai/FNS que referendaram diretrizes de implantação e
cos, odontólogos, enfermeiros, bioquímico, laboratoristas e auxilia-
definições territoriais dos Distritos (Reunião de discussão do pro-
res de enfermagem queforam preparados para atuar na área do Alto
cesso de implantação dos DSEls do Estado do Amazonas - Manaus.
Solimões através do I Curso de Formação da Equipe de Saúde do DSEI-
/5 a 19 de março de 1999).
AS (8 a 26 de novembro de 1999). Também essa equijie está sendo
Em junho de 1999. as organizações indígenas foram convocadas a testada e ajustada no sentido da realização de uma assistência que
Brasília peta direção do Deope/Cosai para a discussão de parcerias se propõe integral
para implantação dos DSEls. Na reunião, viram-se os Ticuna face às
Os AIS, boje 204, formam a base da assistência à saúde no Alto
opções propostas de assumirem a gestão do Distrito do Alto Solimões
Solimões e tiveram o seu primeiro Curso de Formação realizado em
ou indicarem uma instituição que o fizesse. De maneira conjunta,
fevereiro de 2000. Do mesmo modo que a estrutura operacional, a
os representantes das organizações de saúde do povo Ticuna (QASFT
definição de cargos e contratação de pessoa! ( exclusão do an tropó-
e OSPTAS) optaram peta realização de uma consulta às suas bases e
logo da equipe permanente) os cursos de capacitação para profissi-
.

assessorias. já que não haviam sido comunicados com antecedência


onais de saúde e AIS, as listagens de medicamentos, ele., têm sido
da pauta da reunião. Essa reunião foi convocada em detrimento da
elaborados peta equipe da Cosai de Brasília, com poucas chances (e
Oficina de Trabalho de Implantação do DSEI-AS. nuircada original-
tempo ) de adequação pelo DSEI.
mente para o período de 5 a 15 de maio de 1999 (Frojeto Rasi/IA).
com o objetivo de ampliar o conhecimento dos participantes I indí- Assoberbados com a tarefa de proporcionar uma infra-estrutura
genas, gerentes e gestores locais de saúde) sobre o conceito de DSEI. inexistente na imensa área a cobrir, o núcleo de coordenação e ge-
A Oficina acabou sendo realizada em julho de 1999, sob a égide da rência do DSEI-AS tem tido poucas chances de instrumentalizar as
necessidade deuma decisão /mr /tarte das organizações indígenas de lideranças locais e tradicionais para o seu importante papel de
saúde de assumir ou apontar um gerente para o Distrito. Em reunião fiscalizador do sistema. Assim, indígenas com maior domínio dos
com a presença da Pastoral Indigenista/AS, assessoria e lideranças códigos da sociedade nacional (vereadores, chefes de posta, capi-
do CGTT e Organizações Indígenas de Saúde, a OSPTAS se mostrou tães. agentes de saúde etc.), têm dominado a cena da saúde no DSEI-

tentada a assumir a gerência do distrito sendo desestimulada pela AS com o perigo da utilização dos canais de expressão das necessida-
própria contingência de já ter coordenado sem sucesso um projeto des das comunidades ( Conselhos Locais e Distritais) - principalmente
patrocinado pela DST-AIÜSe se tomado inadimplente no processo de nos períodos de eleições municipais - para o modelo já assimilado
prestação de contas. A OASPT e lideranças do CGTT argumentaram do fazer político branco

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SOLIMÕES 405


, .

Acervo
-V/£ ISA
diretriz de capacitação diversificada de suas lideranças (reuniões O trabalho de identificação dos modos tradicionais do uso dos
e assembléias do CGTT, encontros de lideranças femininas, cursos recursos naturais contribuiu para uma percepção crescente de que
diversos etc.). estes são extremamente bem sucedidos. Um projeto de desenvol-

vimento sustentado seria basicamente uma versão contemporânea


O Atlas das Terras Ticuna (Museu Nacional/Finep/PPG-7/CGTT,
dos modelos de manejo tradicionais, respeitadas as suas formas
nov. 1998) responde à necessidade da população ticuna de
tradicionais de organização e definição de papéis sociais. A expe-
controlar o seu território e os processos oficiais de seu reco-
riência acumulada com a construção de açudes nas comunidades
nhecimento pelas instâncias competentes do Estado nacional.
ticuna e, ainda, a avaliação técnica das possibilidades de seu
O Atlas é composto por uma listagem de todas as terras Ticuna
consorciamento com o ambiente de capoeira, passaram a indicar
e por um conjunto de fichas com mapa, dados básicos (muni-
a adequação de pequenos açudes de interceptação e estocagem de
cípio, população e situação atual), descrição da situação jurí-
peixe, vinculados ao controle de um grupo vicinal, podendo se
dica, breve histórico, descrição de problemas que afetam o uso
multiplicar no próprio curso do igarapé. As atividades de constru-
e ocupação da terra e uma lista de documentos.
ção de açudes foram implementadas durante o período de 1998/
99 nas comunidades de Porto Cordeirinho e Filadélfia, atingindo

as lideranças do município de Benjaiiiin Constam, e ainda na co-


munidade de Otawari, atingindo lideranças das áreas do Évare I e
II. A construção dos açudes foi desenvolvida junto com cursos te-
óricos, fazendo interagir as novas tecnologias com os saberes tra-
dicionais locais.

Atlas Todas as atividades realizadas nas comunidades tiveram por base


as demandas dos Ticuna, definidas a partir das Assembléias Gerais

do CGTT (pelos menos uma a cada ano), onde são discutidos os


das problemas das comunidades, permitindo neste processo o apare-
cimento de organizações setoriais em torno de questões específi-
Terras cas apoiadas pelo CGTT: Associação das Mulheres Indígenas Ticuna

(Amit - criada em 1998), Organização dos Agentes de Saúde do


Ticunas Povo Ticuna (OASPT - criada em 1998), Associação dos Estudan-
tes do Povo Ticuna do Alto Solimões (AEPTAS - criada em 1999)

O amadurecimento de uma longa história de busca de caminhos


próprios implementada pelos Ticuna, além de mudanças sensí-
veis nas linhas de financiamentos para projetos em áreas indíge-
nas realizadas por organizações governamentais c ONGs, têm in-

dicado a necessidade da formação de quadros indígenas compe-


com uma nova conjuntura que aponta para as
tentes para lidar

comunidades indígenas como parceiras privilegiadas, com o


controle de todas as fases de realização dos projetos: elabora-
ção de propostas, gerenciamento de recursos, divulgação e re-

produção de experiências.

RETOMADA DO PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO DAS TIS TICUNA


A Funai está dando sequência ao processo de identificação e deli- capoeiras dos Ticuna dali, tem no momento o que acreditamos ser
mitação de cinco das últimas terras que restam demarcar para os o seu finai, com a indicação />ela Funai/PPTAL dos antropólogos
Ticuna. São elas: Matintim, Nova Esperança doJandiatuba. Maraitá Regina Maria de Carvalho Frtbal e Fabio Vaz Ribeiro de Almeida
São Francisco do Canimari e Lauro Sodré. Com a participação do para a realização desta identificação. O Grupo de Trabalho esteve
antropólogo Fabio Vaz Ribeiro de Almeida, as quatro primeiras jã em campo entre os meses de janeiro e março de 2000 e aponta que
tiveram relatório apresentado à Divisão de Identificação do órgão as divergências dentro da própria comunidade assim como as re-
competente. No momento, o responsável peio relatório finai, o an- sistências do fazendeiro já estão superadas.
tropólogo Noraldino Cruvinel, faz pequenos ajustes para a publica-
ção no Diário Oficiai A última dessas cinco terras, Lauro Sodré. é O CGTT, em carta de dezembro último à presidência da Funai. apon-
também a mais antiga delas. Seu confiiluoso processo de regulari- ta a existência de dtms áreas onde os Ticuna habitam e ainda sem
zação. devido à existência de uma fazenda formada na itécada de providências do órgão: são elas Porto Redenção, no município de
70 através da ação de pistoleiros e da destruição de dezenas de São Paulo de OHvença. e Porto Niterói, em Amaturá.

406 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


m a atenção voltada para essas necessidades, foram realizados condição indispensável para que o indivíduo sttiba lidar com as de-
os seguintes corsos: “Noções de Informática para jovens ticuna" mandas de tais projetos, daí muitas vezes serem recrutados junto ao
(1998 - Museu Magiita); “Curso de recuperação dos rádios de grupo de professores que já tem uma experiência de atuação.
comunicação” (1998 - Museu Magiita); “Curso básico de
Muitas vezes, os indígenas mais capacitados para lidar com a ela-
Informática para índios ticuna” (1999 - Laboratório de Informática/
boração de projetos (fazer licitações e prestação de contas, rela-
UA/Manaus); “Formação Política" (1999 - Manaus); “Curso de
tórios etc.) têm sido aqueles mais afastados das tradições do gru-
planejamento participativo e elaboração de projetos” (1999 -
po que buscam representar. O domínio que têm do instrumental
Museu Magiita); “Curso para conservação de acervo e adminisua-
necessário à coordenação das atividades de projetos é, às vezes,
ção do Museu Magiita” (2000 - Museu Nacional/Museu do índio -
apreendido como uma qualidade individual, deixando de pesar o
Rio de Janeiro).
investimento neles realizado pelas organizações, fazendo com que
Os jovens estudantes ticuna (rapazes e moças) que colaboram com se comportem como verdadeiros “mediadores” entre a sociedade

a administração do Museu Magiita, através de um sistema de está- nacional e as comunidades indígenas.

gio c preparados pelos Cursos de Informática, estão produzindo o


Quando, dentro da organização indígena, tais "mediadores” são
Jornal Magiita, jornal eletrônico (distribuído via e-mail) com no-
instados a colocar de lado seus interesses particulares em benefí-
tícias das atividades do CGTT e suas organizações afiliadas, do
cio de objetivos comuns, desencadeia-se frequentemente um qua-
Museu, assim como os problemas e iniciativas da coletividade.
dro de iutas internas, com cisões que podem levar à criação de
novas organizações financiadas e em sintonia com interesses

NOVO COMPROMISSO, NOVO DESAFIO antiindígenas, geralmente vinculados aos poderes locais. Como
dominam melhor a comunicação para fora do grupo em questão,
Todo esse processo tem se refletido em uma maior capacidade das lhes dão crédito os burocratas do governo, jornalistas e a socieda-
lideranças do CGTT na escolha de projetos de desenvolvimento de como um todo, por conseqüência. Muitas vezes, também a che-
adequados aos seus diversos ecossistemas. gada de financiamentos (não importando as fontes) tem servido
de atrativo para alinhamentos ocasionais a organizações engajadas
Nesse sentido, uma nova parceria está sendo iniciada com o "Pro-
em lutas setoriais (saúde, educação etc.) Nota-se, principalmente
.

jeto de Etnodesenvolvimento e Formação de Gestores Ticuna”.


Apresentado em 1999 pelo CGTT ao Subprograma Projetos De-
em períodos eleitorais, a necessidade de alguns indígenas de
formatar uma imagem de liderança eficiente para as suas “bases
monstrativos PDA/MMA, ele recebeu financiamento de US$270.000
eleitorais” através de passagens rápidas pelas organizações, mas
e foi aprovado para o período de junho de 2000 a maio de 2002,
com atividades programadas em quatro subprojetos: (1) Constru-
com utilização intensa de recursos, conquistando pequenos favo-
res (muitas vezes função da atuação principal da organização em
ção de viveiros e piscicultura; (2) O açaí e a vigilância das frontei-
que se engajam ) em troca dos votos certeiros do eleitorado caren-
ras; (3) Plantio do tucum e a exploração integrada da capoeira
te de atenção. Essa tem sido, entre os Ticuna, a tônica do processo
ticuna; (4) Formação de gestores ticuna. Dentro deste Projeto, a
político de algumas organizações.
proposta de formação de gestores indígenas é vista como tâtor

primordial para o seu sucesso, assim como no sentido da criação Um outro problema ligado à capacitação necessária dos indígenas
de condições internas de avaliação de outras propostas vindas do para o gerenciamento de projetos de desenvolvimento é que, mes-
setor privado ou do próprio governo. A criação de condições para mo quando tais “mediadores" estão envolvidos em um projeto que
a autogestão deve gerar uma maior capacidade de captação de não é individual, mas coletivo, para executar as tarefas que lhes
recursos junto a agências financiadoras a nível nacional e interna- cabem são obrigados a se afastarem de suas terras e de suas “ba-
cional. Esse posicionamento desloca as comunidades de uma re- ses", para usar uma terminologia utilizada pelo próprio movimen-
lação paternalista com os órgãos governamentais de assistência, to indígena. Normalmente vão morar nas cidades próximas, onde
privilegiando as necessidades concretas de desenvolvimento das dispõem da infra-estrutura necessária.
potencialidades econômicas de seu território, dentro de modelos
A construção de um projeto de autonomia indígena entre os Ticuna
que gerem qualidade de vida para todos e garantam o sustento das
pressupõe, portanto, um duplo desafio para o CGTT: capacitar jo-
atuais e futuras gerações,
vens administradores sem que percam seus referenciais de identi-

A necessidade do CGTT de contar com quadros capacitados para dade e lealdade ao grupo do qual fazem parte e mantê-los sob a
gerenciar seus projetos, tem colocado desafios e resultados algu- autoridade das lideranças tradicionais que, em última instância,

mas vezes na especialização em tarefas específicas. É evidente tam- são definidas pelas estratégias de alianças internas ao grupo, É
bém que tais quadros só são possíveis de serem formados entre aque- essa a estratégia que tem sido adotada pela principal organização
les indígenas que têm algum domínio dos códigos da sociedade na- Ticuna em parceria com os estudantes, professores bilíngiies, AIS
cional brasileira. O domínio da língua portuguesa, por exemplo, é e mulheres, (julho, 2000)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 INSTITUTO S0C10AMBIENTAL SOLiMÕES 407


A Educação e a Arte Ticuna

Jussara Gomes Gruber Coordenadora pedagógica do


Projeto de Educação Ticuna e
assessore da OGPTB

"ANTES DO CURSO EU NÃO SABIA VÁRIAS pria OGP1B, autorizada pela Resolução n° 5 1/97 do Conselho Estadual

COISAS QUE FAZEM FALTA PARA VIVER NO de Educação/AM. Encontra-se em processo de legalização nesse Con-
MUNDO DE HOJE. O CURSO VEIO ABRIR MEUS selho o nível de 2“ Grau, cuja carga-horária deverá estar completa no

ano 2001.
OLHOS PARA CONHECER, POR EXEMPLO, COMO
PREVENIR AS DOENÇAS, QUAIS OS DIREITOS QUE O Curso deu origem a outras ações que, no seu conjunto, formam o
TEMOS NA NOSSA EDUCAÇÃO, NA DEFESA DA Projeto Educação Ticuna. Com o objetivo mais amplo de construção
NOSSA TERRA. TODOS ESSES CONHECIMENTOS de uma nova escola, essas ações se organizam em programas específi-
EU LEVO PARA MINHA SALA DE AULA. cos que se articulam entre si e com as atividades do Curso, voltando-

ESTOU MELHORANDO MEU JEITO DE ENSINAR se, basicamente, para a formação do professor, preparação de materi-
ais didáticos e organização da proposta pedagógica da escola. Temos
E ABRINDO OS OLHOS DOS MEUS ALUNOS"
assim os programas de educação ambiental, de arte e cultora, dc saú-
(PROF. RAIMUNDO PINTO BITENCOURT)
de, dc capacitação de supervisores índios e preparação de currículo.

A equipe de assessores do Projeto é formada por 28 profissionais -

Quando se aproxima o tempo do curso, os professores ticuna come-


entre responsáveis pelas diferentes disciplinas e colaboradores - que
çam a subir o rio Solimões viajando nos “navios-motores” que sema-
procedem de várias universidades e outras instituições de ensino.
nalmente partem de Manaus para Tabatinga, nos barcos das comuni-
dades, das prefeituras ou em suas próprias canoas. As viagens podem Uma outra equipe é composta por um grupo de assessores ticuna,
durar dois, três dias. Carregando sacolas com rede, mosquiteiro, pra- alguns basiante idosos, que participam do Curso e das atividades dos

to, copo, caderno, dicionário, roupas e outros pertences pessoais, aos diversos programas. Através de suas histórias, relatos, depoimentos,

poucos os professores vão chegando à aldeia de Filadélfia, perto da os professores têm aprofundado seus conhecimentos sobre a mitolo-
fronteira com o Peru, no município de Benjamin Constant. Nesta al- gia, a língua, a música, os rituais, a natureza, a medicina, os valores, a
deia estia escola TorüNguepataü, a “nossa casa de estudos”, ofitial- ética c outros tantos saberes e experiências acumulados por essas pes-
mcnte Centro dc Formação de Professores Ticuna. É aí que os profes- soas. As informações, registradas em filas de áudio e vídeo, passam a
sores amarram suas redes para estudar durante 30 ou 40 dias, duas compor os materiais didáticos, mas sobretudo constituem importante
vexes ao ano, no período das férias. suporte para reflexões e decisões a respeito dos vários aspectos - cul-

turais, sociais, históricos, éticos, entre outros - que servem de base


O grupo é numeroso. São 220 professores que trabalham com mais de
para a estruturação da escola ticuna.
seis mil alunos, em 93 escolas distribuídas nos municípios onde se

concentram a maior parte da população ticima: Tabatinga, Benjamin


Constant, São Paulo de Olivença, Amaturá c Santo Antônio do Içá. SAÚDE NA ESCOLA
O Curso de Formação de Professores Ticuna, promovido e administra- Como as doenças se transmitem? O que fazer para evitá-las? Como
do pela Organização Geral dos Professores Hcuna Bilíngües (OGPTB), melhorar a saúde da comunidade? Quais as relações entre saúde e
está na sua 13 a etapa, já com um total de 3.640 horas de aulas minis- meio ambiente? Como funciona meu corpo? Como posso cuidar
tradas. Em 1997, 212 professores concluíram a carga-horária relativa melhor dos meus dentes? Estas e outras perguntas transformaram-
ao nível de P Grau, e receberam os certificados expedidos pela pró- se nos temas do Programa Saúde na Escola, que começou a se

ué SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NU BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

^LíZ^Acervo
_y/£ ISA
estruturar em julho de 1997 no encontro organizado para discutir

e preparar um projeto sobre prevenção de Doenças Sexualmente

Transmissíveis (DST) e Aids. 0 encontro teve a participação de 22


professores e 14 agentes de saúde ticuna, com assessoria de uma
equipe de profissionais da área de saúde e educação: Marcos
Pellegrini, da Coordenação Nacional de DST e AIDS (Ministério da
Saúde), Marlúcia Garrido, responsável pela Coordenação Regio-
nal de DST e AIDS-AM, Elorides Brito (Susant), Celina Cadena
(Coiab), Marcelo Luiz Gonçalves (DIP-HospitalUniversitário/UFRJ).

0 projeto “Prevenção das DST/Aids nas Escolas Ticuná' foi aprovado

pelo Ministério da Saúde e passou a integrar o currículo do Curso de


Formação de Professores, como parte da disciplina de Ciências e como
tema de outras disciplinas. Foi desenvolvido em duas fases, nos meses
Professores ticuna no Curso de DST e AIDS.
de janeiro e julho de 1998, num total de 130 horas. Ao lado dos con-
teúdos relativos às doenças sexualmente transmissíveis e a Aids, os
reza e valorizar o conhecimento ambiental dos Ticuna “Embora não
alunos do curso tiveram noções de biologia e estudaram outros temas,
possam agir sozinhos contra a invasão de suas terras, a discussão da
como vacinação, diarréia, malária, tuberculose, hanseníase. As aulas
problemática ambiental dentro das organizações indígenas é um pas-
foram ministradas pelos médicos Sandra Chaves, Marcelo Luiz Gon-
so para a formulação de demandas ambientais dirigidas aos órgãos
çalves, Alberto Ramos, Mônica Merçon Almeida, Marcos Pellegrini.
competentes. A conscientização dos problemas ambientais nas esco-
Rodrigo Batista e pela enfermeira Elorides Brito. A equipe assessora e
las representa uma contribuição para a solução desta problemática
os professores prepararam uma cartilha sobre prevenção de doenças
Não substitui a ação organizada das lideranças atuais, mas contribui
e o cartaz: "Vamos evitar a aids”.
para a formação de lideranças futuras, além de promover a conserva-
No mesmo período foi iniciado um trabalho de saúde bucal, com ção de valores e conhecimentos sobre o meio ambiente que correm o
assessoria da dentista Maria Aparecida Guerra, que vem enfatizando risco de desaparecer”, conforme a assessora em seu último relatório.

a importância de prevenir as doenças bucais para manter a saúde


Nas escolas, a escovação começou a fazer parte da rotina
geral.
CONSTRUINDO A ESCOLA TICUNA
diária, em dois momentos, um total de 14 mil
sendo distribuídas,
escovas e creme dental para os alunos. Encontra-se em fase de Este programa foi tomando corpo a partir de um encontro destina-
preparação uma cartilha sobre os cuidados básicos com os den- do à capacitação de um grupo de 18 professores ticuna para ama-

tes. elaborada pelos professores, sob a orientação da dentista. rem como supervisores. No encontro, foram discutidas diversas ques-

tões que fazem parte da vida da escola, iniciando-se pelo estudo da


Em janeiro de 2000, o Programa Saúde na Escola trouxe para o
legislação e outros documentos referentes à educação escolar indí-
Curso outro assunto importante: a saúde dos olhos. Face às inúme-
gena. As diferentes atividades tiveram a orientação das professoras
ras queixas de problemas de visão apresentadas pelos professores,
Carlota Novaes, Carolina Pacini e Lucila Belfort. Entre os meses de
187 docentes foram examinados por dois oftalmologistas contrata-
abril e junho de 2000 os supervisores visitaram 91 escolas.
dos pela OGPTB, chegando-se a resultados bastante preocupantes:
Além do acompanhamento e orientação dos professores em sala
1 19 casos de pterígeo, 64 casos de pinguécula e 82 casos de erros
de aula, integram o Programa outras ações que fazem parte do
refracionais corrigíveis por óculos, além de casos, em menor núme-
processo de construção da nova escola ticuna, como a preparação
ro, dc catarata, maculopatia e glaucoma. Os médicos, André Portes
a
e implantação do currículo de I a 4* séries e a produção e aplica-
e Arlindo Portes, também ministraram aulas para os professores
ção de materiais didáticos específicos - que orientam o professor
cursistas, ensinando técnicas simples de medir a acuidade visual
no desenvolvimento do currículo. Também são vistos assuntos
dos alunos, informando sobre as doenças mais comuns que atingem
como: funcionamento e administração da escola, relações da es-
os olhos e os procedimentos preventivos.
cola com a comunidade, responsabilidades dos órgãos governa-
mentais e atuação das prefeituras locais.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Quanto à produção de materiais didáticos, destacam-se aqui alguns

Ngiã niirn to daugii i torii naane, que significa “vamos cuidar da dos livros que estão em fase de preparação pelos professores ticuna,

nossa terra", é o título da cartilha de educação ambiental, dirigida a sob a orientação dos consultores das diferentes disciplinas: Livro de
crianças e jovens das escolas ticuna, que está sendo preparada por um Geografia (com assessoria de Márcia Spyer de Resende); Dicionário
grupo de professores, com assessoria da antropóloga e bióloga Deborah Ticuna (assessoria de Marília Facó Soares); Livro de Matemática
de Magalhães Uma. O objetivo da cartilha é abordar os problemas (assessoria de Roseli de Alvarenga Corrêa); Livro de Alfabetização
ambientais da região, propor soluções e promover a criação de uma (assessoria de Carlota Novaes, Sirlene Bendazzoli, Cássia Marconi da

consciência ecológica, mostrando a necessidade de conservar a natu- Silva e Maristela Gusmão)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL S0LIMÕES 409


OUTRA ARTE TICUNA Os Ticuna, de modo geral, demonstram um excepcional talento e
sensibilidade para a arte. Essa particularidade se apresenta de
"Através dos desenhos as pessoas podem olhar o que existe na
maneira muito rica e imaginativa principalmente nas suas produ-
nossa cultura tudo o que temos na nossa imaginação, na flo-
;
ções materiais e na música. Tais aptidões não poderiam deixar de
resta, no que os velhos contam. Os desenhos são feitos pelas
ser estimuladas e valorizadas num projeto de formação de educa-
mãos dos artistas ticuna; eles mostram a capacidade que te-
dores. Por isso, um dos aspectos que marcam o Projeto Educação
mos defazer um trabalho como qualquer outro artista, usando
Ticuna é o espaço destinado às expressões artísticas. A arte é trata-
tintas e outros materiais. Como um livro, os desenhos podem
uma
da como área específica do conhecimento e também como
viajar e serem vistos por muitas pessoas, e essas pessoas podem
um meio para desenvolver potencialidades - percepção, criação,
valorizara nossa cultura e o nosso conhecimento".
reflexão, observação e outras - fúndamemais à construção de ou-
(Prof. Reinaldo Otaviano do Carmo)

Xisto
Batista Muratú
preparando
pintura para
a Mostra do
Redescobrimento.

Oficinas de arte: elaborando ilustrações para o “Livro das Árvores'...

... contada
pelo seu pai,
Adolfo Tomás.

... e para o Calendário Burti.

Hilda Tomás do Carmo com o desenho que representa a "Festa da Moça-Nova"...

410 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0C10AMBIENTAL


vrZ-JZ^Acervo
_//£ ISA thecimentos. A música, a poesia, o teatro e as artes visuais bre arte indígena brasileira, apresentada na Galeria Cândido
têm estado presentes em cada disciplina, em cada momento do Portinari, na Embaixada do Brasil em Roma.
Curso de Formação de Professores, Além disso, em oficinas espe-
Por ocasião do lançamento do Calendário Burti, em dezembro de
ciais, os professores têm acesso a novos materiais e técnicas, como
1999, seis integrantes do grupo viajaram a São Paulo, onde tive-
xilogravura, pintura com guache, aquarela e tantas outras.
ram oportunidade de visitar o Memorial da América latina e a
O trabalho também se estende às tintas naturais, buscando novas Pinacoteca de São Paulo.
possibilidades de uso, na escola, da vasta gama de pigmentos de
origem vegetal e mineral que os Ticuna conhecem. Através de pes-
quisas desenvolvidas nas disciplinas de Química e Arte, com ori-
”A FLORESTA É A COBERTA DA TERRA”
entação de Lilavate I, Romanelli e Suzana Gruber, os professores
Esta frase abre poeticamente O Livro das Árvores. Elaborado pe-
ticuna vêm redimensionando o valor de seus materiais e técnicas
los alunos do Curso de Professores Ticuna, com a orientação de
tradicionais, assim como descobrindo e adotando outros empre-
Jussara Gruber, O Livro das Árvores tem percorrido os mais dife-
gos e soluções plásticas.
rentes e insuspeitados caminhos. Além de seu uso no Curso e nas

A partir de março de 1999, foi iniciado um outro tipo de traba- escolas ticuna para o desenvolvimento de inúmeras atividades -

lho com arte, envolvendo um grupo de professores que demons- nas áreas de Ciências, Matemática, Ecologia, Língua Portuguesa,

travam maior interesse e talento para o desenho e a pintura. As Arte, Geografia -, o vem sendo adotado em diversas escolas
livro

primeiras oficinas destinaram-se à elaboração de ilustrações para indígenas do país e também nas escolas dos não-índios. Tem par-
um livro sobre os peixes e à produção de um conjunto de pintu- ticipado de feiras de livros nacionais e internacionais, e integrado

ras que seriam selecionadas para o Calendário Burti 2000. Utili- o acervo de inúmeras bibliotecas do Brasil e de outros países.
zando materiais como tintas e papéis de boa qualidade, os artis-
Em 1977, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil selecio-
tas ticuna a cada dia aperfeiçoavam mais seus trabalhos, toman-
nou O Livro das Árvores para receber os prêmios, instituídos por
do-se mais exigentes e meticulosos quanto à técnica, composi-
ela, de “Melhor Livro Informativo” e “Melhor Projeto Editorial”.
ção, distribuição das cores, acabamento. A orientação de Jussara
Gruber se deu no sentido de abrir espaço para que pudessem 0 bvro também fez parte do kit de materiais didáticos preparado
aprimorar sua capacidade crítica, aguçar o olhar e descobrir as em 1998 pela Secretaria de Educação Fundamental/MEC para ser
nuanças de seu próprio estilo, em suma, estabelecer uma sintonia distribuído, junto com o Referencial Curricular Nacional para as

mais apurada com todos os aspectos que envolvem a experiên- Escolas Indígenas, a todas as escolas indígenas do país.

cia estética.
Mais adiante, em 1999, esse livro veio compor uma coleção de
Mesmo havendo um grupo mais constante, as oficinas estão aber- 1 10 obras de literatura infantil, que o Ministério da Educação ad-
tas à participação de quem quiser pintar. A idéia é que esses en- quiriu com recursos do Fundo Nacional para Desenvolvimento da
contros de arte sirvam de incentivo para muitos e que os artistas Educação (FNDE) para ser entregue a 36 mil escolas públicas,
que formam essa vanguarda sejam os mestres de outros tantos,
Os recursos obtidos com a venda de O Livro das Árvores têm ser-
constituindo-se referência e orientação para crianças e jovens.
vido para financiar ações da OGPTB e de seu projeto de educação,
As obras produzidas nas oficinas têm participado de exposições, complementando gastos referentes à organização e realização do
como a Mostra do Redescobrimento, no Parque Ibirapuera (São Curso, possibilitando reformas no Centro de Formação, pagamento
Paulo) nos meses de abril a setembro de 2000, e uma mostra so- de pessoal, aquisição de livros e outros materiais utilizados no

Oficina de
Xilogravura.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL S0LIMÕES 411


o momento, foram distribuídos 2.783 exemplares do li- OFICINA DE PAPEI ARTESANAL E EXPOSIÇÃO EM BRASÍLIA
vro para 93 escolas ticuna, numa média de 25 a 30 livros por escola. Em junho de 1997 o artista japonês Naoaki Sakamoto realizou uma
oficina de dez dias na aldeia de São Leopoldo, para desenvolver téc-
“NÓSfizemos O Livro das Árvores para nossos alunos entenderem
nicas de manufatura de papei Trabalhando junto com alunos da es-
ntellmr por que devemos conservar o território, os animais, as
cola e o professor ticuna Raimundo Leopardo Ferreira. Naoaki reali-
plantas, a cultura. E também para os outros povos conhecerem
zou pesquisas sobre materiais disponíveis na natureza e sobre ins-
como é afloresta, corno é a riqueza da terra do povo Ticuna.
trumentos de trabalho defácil obtenção, procurando associar as téc-

0 Livro das Árvores ajudará a floresta a viver em paz. nicas tradicionais ticuna de preparação do tuniri e a técnica japo-

Esta semente que nós plantamos no Livro das Árvores vai dar
nesa washi. Das pesquisas resultou um papel que é possívelfabricar
’’ utilizando apenas os galhos das árvores de onde os Ticuna retiram a
frutos para todos no futuro ( Prof. João Clemente Gaspar)
entrecasca (tururi) - utilizada na confecção de máscaras e•jiainéis -

,
sem. no entanto, precisar abatê-las.
LIVRO AJUDA A CONSTRUIR BIBLIOTECA
Os trabalhos produzidos na oficinaforam expostos, no mês seguinte,
Cerca de 80% dos recursos financeiros necessários à construção na Sala Rubem Vatentim do Espaço Cultural 508. em Brasília.
do prédio onde foi instalada a liiblioteca Utchara vieram da ven- Tais eventos foram organizados e financiados peto Projeto l+l In-
da do Livro das Árvores. A complementação desses recursos a tercâmbio Brasit-Japão e desenvolvidos em conjunto com a OGPTB.
OGPTB obteve junto à Fundação Nacional do índio (Funai), que
VIAGEM AOJAPÃO
também apoiou a aquisição do mobiliário.
Como continuidcule da oficim em São Leopoldo. Raimundo Leopardo
A Biblioteca Utchara -
que na língua ticuna significa "uirapuru" -

Ferreira foi convidado pelo Projeto l+l para aperfeiçoar as técnicas


faz parte de um conjunto de salas destinadas às atividades da de confecção de paj>el artesanal no atelier do artista Naoaki Sakamoto,
OGPTB. Funcionando como um anexo do Centro de Formação de na cidade de Siigata. onde esteve durante o mês de setembro de 1997.
Professores Ticuna, na aldeia de Filadélfia, essas salas servem para
Paralelamente, esse Projeto organizou uma exposição de esculturas
ministrar aulas, realizar oficinas de arte, exposições, encontros,
e outros objetos de arte ticuna na sede da Embaixada do Brasil em
reuniões. Nos intervalos dos cursos, a sala central é utilizada como Tóquio. Aa abertura da exposição. Raimundo Leopardo proferiu uma
sala de leitura. palestra sobre os Ticuna e suas produções artísticas.

A primeira fase da construção do prédio foi inaugurada em janei-


INTERCÂMBIO COM ESCOLAS DA ÁUSTRIA
ro de 2000, com a presença de Carlos Frederico Marés, então pre-
Alunos de escolas austríacas começam a ter contato com a vida das
sidente da Funai, em visita aos professores ticuna que participa-
crianças ticuna através do intercâmbio de informações por cartas e
vam da 12“ etapa do Curso. A fase final foi inagurada em fevereiro,
desenhos. Esse projeto coordenado pela Rainforest Foundation da
,

pelo capitão da aldeia de Filadélfia.


Áustria, vem angariando recursos para o Projeto Educação Ticuna e

A Biblioteca possui uma acervo de mais de 2 mil livros, e, num doações de materiais para as escolas . Em agosto de 1999, Carlos
Macedo e Evajunga, responsáveis pelo projeto na Rainforest, junto
período de dois meses de funcionamento, já recebeu 1 .450 alunos
com um grupo de voluntários austríacos, viajaram aos Ticuna para
procedentes de quatro escolas ticuna situadas nas vizinhanças, bem
conhecer os professores e suas escolas.
como de escolas de não-índios, inclusive da cidade de Benjamin

Constanl. (junho , 2000) MÚSICA TICUNA


No dia 5 de outubro de 1999, os professores Ondino Casemiro e llilda
Tomás do Carmo abriram o 3° Seminário do Programa Crer para Ver,

no Teatro São Pedro, em São Paulo, ajiresentando canções tradicionais


ticuna. Esse Seminário foi promovido pela Fundiução Abrinq petos Di-

reitos da Criança, que apoia o Curso deformação de Professores Ticuna.

CULTURA TICUNA NA ITÁLIA


Em novembro de 1999, Constantino Ramas Lopes eas professoras Adélia
Luís Bitencourt e Hilda Tomás do Carmo viajaram à Roma, atendendo
a um convite da Associazione Voei delia Terra para realizar pidestras
sobre o Projeto Educação Ticuna e ministrar aulas para alunos de di-
versas escolas de nível elementar e médio sobre a cultura ticuna.

Na mesma oportunidiule foi lançado o Uvro le Scuole delia Poresta,

que apresenta os projetos de educação e cultura desenvolvidos pela


OGPTB e Comissão Pró-Índio do Acre. e também o trabalho com tece-
lagem kaxinawá do Projeto Jibóia-AC. Ministérios e outras institui-

Carlos Frederico Marés, então presidente da Funai, ções italianas patrocinaram essa publicação, organizada por Eva
em visita aos professores ticuna. Rosloski (da Associazione Voei delia Terra).

412 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


'sLíAf. Acervo

-T/bVansHro íplin
Fonte Calendário Burô 2000 AC ONTE CE if]

GERAL declarou o bispo. Em sua opinião, a demarca- PROTEÇÃO DOS LAGOS


ção da TI ümariaçu foi um “crime” por abarcar
parte da cidade de Benjamin Constant. “É um índios e representantes de comunidades ribei-
TICUNA DE ONDE? crime, porque isola, garante uma autonomia a rinhasdo vale do Javari, no Alto Solimões, que-
pessoas que estão vivendo à maneira de rem que o Ibama realize um trabalho efetivo
0 cadastramenio dc estrangeiros no Alto Solimões civili-

zados com uma legislação de índios”, afirmou. para proteger os lagos da região. Esta foi a
(AM) já começa a preocupar autoridades eclesi-
ásticas da região. Os religiosos questionam o cri- O bispo não poupou também o Cimi de suas críti- principal solicitação feita durante um encon-
Para de, a entidade não entende nada dos ín- tro inédito, que reuniu lideranças indígenas e
tério que será adotado para cadastrar a popula- cas.

dios da região. “Eles vêm com a mentalidade de ribeirinhos.


ção indígena - principalmente os Ticuna, que cir-
não buscar a verdade. Já a trazem pronta, empa- Segundo eles, os lagos vêm constantemente sen-
culam de uma aldeia a outra, entre Brasil, Peru e
cotada, comlacinho, e quem não disser amém às do invadidos por pessoas inescrupulosas, vin-
Colômbia, e não sabem a que país exatamente
suas teses é de direita”, afirmou. Irmão de um das de diversos municípios, que utilizam práti-
pertencem. (A Crítica, 27/01/96)
poderoso madeireiro da região, dom Alcimar Ma- cas predatórias de pesca, prejudicando o
ecossistema local e a sobrevivência de grupos
ÍNDIOS SE CANDIDATAM galhães diz que o setor está falido na região. “Eu
ouvi pessoas me acusando de ser madeireiro, de indígenas e de comunidades ribeirinhas. Par-
Oito índios Ticuna anunciaram que serão candi- ver os índios sobre a perspectiva do branco. Isto é ticiparam do encontro organizações não-gover-
datos a vereador nas próximas eleições. Quatro besteira!”, afirmou. (A Crítica, namentais, a FNS, o Ibama, o Cimi e a Coiab,
05/05/96)
vão concorrer em Tabadnga, dois em Benjamin além de 40 representantes de ribeirinhos e 20
Constant, um em Santo Antônio do Içá e outro ... CONVIDADO PELO
E É lideranças indígenas. Segundo representantes
em São Paulo de Olivença. (A Crítica, 14/04/96) GOVERNADOR PARA indígenas, o Ibama se dispôs a realizar um le-

vantamento de todos os lagos da região e im-


RECOMENDAR “PROJETOS”
ENVOLVIMENTO COM plantar um sistema de manejo para a proteção

A POLÍTICA LOCAL O bispo da Diocese do Solimões, dom Alcimar das espécies durante a época de reprodução.
Magalhães, foi convidado pelo governador do O Instituto também vai formar agentes
Os índios começam a despertar o interesse de estado, Amazonino Mendes, para fazer um le- fiscalizadores para protegerem os lagos e en-
políticos no interior da Amazônia. Com o au- vantamento das vocações econômicas da região. caminharem as pessoas responsáveis pela pes-
mento dos eleitores indígenas, eles são cada vez Acusado de ser ligado ao setor madeireiro, dom ca predatória ao Ibama. “Esse encontro foi algo
mais procurados por candidatos em busca de Alcimar aceitou o convite. O levantamento de- inédito, principalmente naquela região, onde
votos. Apesar do contato muito antigo, até hoje, verá subsidiar “ações governamentais de desen- já ocorreram diversos massacres de índios e
todos os Ticuna falam a língua nativa quando volvimento” para a região, que abrange os mu- assassinatos de ribeirinhos por causa da ma-
conversam entre si. Somente no município de nicípios de Tocantins, Santo Antônio do Içá, São deira ou da terra”, comentou Darcy Marubo,
Tabatinga, residem cerca de 10 mil Ticuna, se- Paulo de Olivença, Tabatinga, Benjamin Constant coordenador da Coiab. (A Crítica. 21/04/98)
gundo a prefeitura local. A densidade e Amaturá. A área tem forte presença de comu -

populacional somada ao processo de urbaniza- nidades indígenas Ticuna.


ARTE EM CALENDÁRIO
ção desse povo revelou que eles são um bom Dom Alcimar disse que está disposto a colaborar
filão eleitoral a ser explorado. para que as populações do Solimões tenham Colocar os índios como sujeito, e não como obje-
A legislação não os obriga a votar, mas a prática melhores perspectivas de rida. Como represen- to da obra. Esia foi a idéia que originou o Calen-
política descobriu que o voto indígena pode ga- tante da Igreja Católica, o bispo ressalta que pre- dário Burti 2000, ilustrado com pinturas do povo
rantir mandatos. Os próprios índios começam a tende contribuir no campo da reflexão, com ações Ticuna, lançado no dia 23 de novembro de 1999,
engrossar a lista de candidatos a cargos eletivos. evangelizadoras. Ele cita, por exemplo, a área de no Jockey Club de São Paulo. “Por ocasião da ce-
Feijoal, o maior colégio eleitoral de Benjamin educação onde a Igreja já vem atuando e deverá lebração dos 500 anos, era quase uma obrigação
Constant, elegeu como vice-prefeito do municí- ampliar o espaço pedagógico. Dom Álcimar de- 1

abrir esse espaço paia dai a palavra ao índio”,

pio o Ticuna Edir. Ele ficou seis meses sem rece- clarou que o trabalho com os prefeitos da região afirma Alex Chacon, responsável pela concepção,
ber seus vencimentos e sem saber qual era a sua já apresenta resultados nos setores de saúde e design e produção do calendário. Ricas em co-
tarefa. Nas últimas eleições, os Ticuna elegeram educação, citando o convênio firmado com a Es- res, as pinturas retratam a natureza e mitos de sua
14 vereadores, segundo dados da Diocese do Alto cola Agrícola Federal. Já está acertada a criação cultura, floresta, animais, rituais e histórias con-

Solimões. (A Crítica, 19/04/96) de um hospital em São Paulo de Olivença. tadas pelos velhos. As obras resultaram de ofici-
A participação da Igreja e do bispo Alcimar nas orientadas pela educadorajussara Gruber, que

BISPO DEFENDE Magalhães no projeto de desenvolvimento da há 22 anos realiza atividades com os ticunas.Todas

DECRETO 1.775... região do Solimões, chamado de Terceiro Ci- as imagens foram trabalhadas com material apro-
clo, não está agradando ao Cimi. Segundo Egon priado-papéis especiais, tinta guache, ecoline e

O bispo do Alto Solimões, D. Alcimar Magalhães, Dionísio, coordenador da entidade, o quadro aquarela - e são acompanhadas por um breve tex-
declarou em entrevista ser a favor do Decreto da região é desolador com as populações indí- to descritivo dos autores, em português, ticuna e
u
1.775. Se esse decreto tivesse sido colocado genas, desassistidas por falta de políticas dos inglês. Entre os trabalhos escolhidos estão os de
antes não teríamos as amarguras vividas entre governos estadual e federal. Para o Cimi, o Ter- sete índios que participaram do Projeto Educa-
índios e não-índios. Na demarcação das áreas, ceiro Ciclo não responde satisfatoriamente às ção Indígena, iniciado em 1993, promovido pela
nem os índios nem os não-índios foram con- necessidades dos povos indígenas: é uma ação Organização Geral dos Professores Ticuna Bilín-

sultados. Foi uma visão unilateral de Brasília, imediatista e eleitoreira, que não apresenta pro- gues, que tem por objetivo possibilitar que os pro-
tendo como base limites traçados em 1964; de postas consistentes para a população regional. fessores ticuna concluam o segundo grau e con-

lá para cá, o modo de vida dos índios mudou'’, (ISA, a partir de A Crítica. 10/01/97) duzam a educação do grupo.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SOLIMÕES 413


) ,

~?lji7 > Acervo


SA
I

[aconteceu]
Apoiada por um fundo ligado à ONU, Jussara não governamentais tiveram audiência com Dr. PROCESSO CONTRA
Gruber criou uma escola destinada à formação Sérgio Latiria Ferreira, da procuradoria Geral OS RESPONSÁVEIS
de professores ticuna entre os nativos. Seu tra- da República do Estado do Amazonas.
“Seis dos assassinos que mataram homens,
Há dois anos,
balho gerou ótimos resultados. Garanto para Conselheiro Geral da Tribo Ticuna
mulheres e crianças Ticuna e desde 1988 esta-
parte da produção de seus formandos foi Senhor Pedro Inácio Pinheiro, que os crimino-
vam soltos, foram presos. Depois disso, o man-
publicada no Livro das Arvores, sobre a flora sos vão ficar preso em mês de Agosto adiante,
dante do crime, Oscar Castelo Branco, pediu
da região. Os trabalhos divulgados no Calendá- mais tarde até agora não houve nada de prisão.
prisão domiciliar para o juiz porque já está
surpreendem pela beleza e pela técni-
rio Burti Um do assassino Valderei Nascimento Penha,
muito velho. Outros oito indiciados não conse-
ca apurada, que em alguns casos lembram agora ele é prefessor, dando aula no município
guiram ser achados pela Polícia Federal, mas
movimentos pictóricos europeus: "Esse tipo de Um do assassino que
de Benjamin Constant, AM.
alguns deles nós Ticuna já sabemo onde estão.
traço nasceu de minha observação das folhas matou mais Ticuna no meio do Rio Solimões,
Quando fomos até a Poficia Federal em Taba-
do maio”, explica o índio Nhaimatücü. (Gaze- que pertence ao Rio Amazonas. Agora esta rin-
tinga para pedir para cumprirem o mandato de
ta Mercantil, 17/U e Veja 01/12/99 do da nossa cara do incito Ticuna porque nunca
prisão dois oito últimos fugitivos, eles sempre
ficaram preso, não tem cadeia nem jugamento
dizem que não tem pessoal e barco para cum-
AMPLIAÇÃO DE AEROPORTO para eles. Desde 1 500 nunca houve que mata-
prir a lei”. (Jornal Magüta, CGTT, out/99)
dor dos Índios ficaram preso ou condenado,
Surgiu uma possibilidade de entendimento en- dentro de 500 anos, será que nós Índios não
tre os índios ticunas e a Comissão para Cons- temos valor perante alei Constituição, quando
trução de Aeroportos na Região Amazônica um branco mataram durante um ano tem
NARCOTRÁFICO

(Cornara) ,
em Tabatinga, para a ampliação do jugamento do réu. Onde estão advogado dos
aeroporto na fronteira com a Colômbia. Os ín- índios queganha nome dos índios, principal-
ALCOOLISMO E DESNUTRIÇÃO
dios concordam em ceder parte da área, desde mente advogado contratado pela Funail. Esse Sc entre a população ribeirinha de Coari, Tefé,
que sejam indenizados por isso. A obra é con- advogado, não são advogado dos índios, o ad- Boa, Uarini e Alvarâes o drama é o
Jutaí, Fonte
siderada vital em termos de segurança, já que vogado do chefe do gabinete o branco que tra- consumo de drogas injetáveis, nas aldeias in-
Tabatinga é um dos pontos mais estratégicos balhou na Funai, para dizer a verdade não de- dígenas do Solimões ele se iraduz no alcoolis-
na Amazônia. (A Crítica, 04/12/99) fende os índios, mas só defende os brancos que mo e na desnutrição infantil. “Todas as tribos
estão no função da Funai”. (jornal Magüta têm suas vendinhas com bebidas alcoólicas,
POR QUE DEMORAM CGTT, 1999) sobretudo cachaça. Todos bebem, das crian-
AS DEMARCAÇÕES? ças aos velhos. O controle é muito difícil”, aler-
ALGUMAS PRISÕES ta o professor José Paravidino, da equipe da
Os índios ticunas aproveitaram a passagem do
UFF. As áreas são habitadas sobretudo por ín-
novo presidente da Funai, Márcio Lacerda, por “No dia 7 de maio de 1999, o policia federal
dios Ticuna em comunidades que já cresce-
Manaus no Em de semana, para saber o por prenderam 6 pessoas qne assassinaram os
ram o suficiente para abrigarem problemas de
que da demora da demarcação das suas terras Índios Ticuna em 28 de março de 1988 na boca
saúde pública. “É um festival de doenças: he-
no Alto Solimões. Existem 1 2 áreas em proces- do Igarapé Capacete, ficou preso o mandante
patite, malária, cólera, tuberculose e hanse-
so de demarcação, mas seis outras sequer fo- que o senhor Oscar Castelo Branco, e Vandeley
níase. As crianças são castigadas pelas vermi-
ram ainda homologadas. Estão assim, mais vul- Penha do Nascimento que matou mais índios
noses, doenças de pele e desnutrição", diag-
neráveis ao avanço das frentes de expansão dos Ticuna no meio do rio Amazonas, faltam 3 as-
nosticou Paravidino. "O álcool cria nas aldei-
brancos. (A Crítica, 15/12/99) sassino que foram escondido. Nós do Conselho
as uma cadeia de problemas, como a diminui-
Geral da Tribo Ticuna - CGTT, queremos julga-
ção da capacidade de trabalho, o acirramento
mento dos assassino mais breve possivel, pedi-
dos conflitos internos e a prática do
CHACINA DO CAPACETE mos das instituição cobrando da Procuradoria
disse a professora Fátima Guedes.
suicídio",

Gerai da República do Estado do Amazonas.


Nas áreas ticuna visitadas pelos pesquisado-
IMPUNIDADE Organização FOCCITT, manifestou que um ab-
res da UFF, a expedição constatou um quadro
surdo que assassinou os Ticuna ficaram preso
de ausência de serviços de saúde bem mais
“No dia 28 de março de 1988, às 12 horas de já passou 1 1 anos, os Ticuna não pensam mais
grave que o encontrado nas cidades ribeiri-
dia aconteceu uma grande tristeza para o isso para pessoal ficar preso. É acusado antro-
nhas. (J8, 24/03/96)
povoTioma, até hojes nós não esquecemos, essa pólogo, prlncipafinente Dr. João Pacheco de
massacre é dia doloroso para o povo Ticuna. Oliveira Filho, que mandar prender os assassi-
PF DIZ QUE TRÁFICO
Que 20 homens civilizados mataram 14 pesso- no. Isso que ocorreu no dentro da Prefeitura de
as adullos e também crianças que pularam no
ALICIA ÍNDIOS
Benjamin Constant, onde funciona FOCCITT,
Rio Solimões perto ao Benjamin Constant não ,
também ouve na dentro da Câmara Municipal Os índios do Alto Solimões podem estar sendo
escaparam, mais foram morto e o corpo joga- de Benjamin Constant, AM. Mas isso é mentira. aliciados pelo narcotráfico. Quem adverte é o
do no Rio Solimões, escaparam aquele que cor- Foi depois do primeiro número do nosso jornal superintendente da PF no Amazonas, Mauro
reram pata dentro do mato. eletrônico que os assinano foi preso.” (Jornal Spósito. Segundo disse, os índios formam uma
Agora em 99 completou 1 1 anos do massacre Magüta, CGTT, 1999) mão-de-obra muito barata, são relativamente
do Ticuna e os culpados não ainda foram puni- dóceis e teoricamente podem plantar a coca em
dos, será que não haverá mais jugamento nem suas próprias terras demarcadas, onde estra-
prissão para esses assassinos. Em 98, Conse- nhos são proibidos de entrar. Pelos dados que
lho Geral da Tribo Ticuna, com outro entidade dispõe, Spósito diz que já existem plantações

414 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


de coca em território brasileiro, no Alto Soli- comerciante de jutaí. A situação de conflito en- tabelecído pela PF para o fim da operação e dá
rnões. Os indícios de laboratórios de refino de tre índios e garimpeiros, segundo o diretor do como certa a retirada dos garimpeiros da área.
cocaína em municípios como Tabatinga, Ben- DNPM, não deverá durai* muito mais tempo, pois (A Crítica, 27/02/96)
jamin Constam e Atalaia do Norte são muito for- trata-se de um bolsão de ouro, tipo aluvião, que
tes. Em Tabatinga, circulam informações de que fica na superfície dos leitos dos rios e que aca-
índios já são utilizados para guardar a droga. ba rapidamente. SUICÍDIOS
No final do ano passado surgiram pistas de uma
,
A presença dos garimpeiros nos rios Boia e Jutaí
grande plantação dentro de reserva indígena no é uma grande ameaça aos índios Hcuna, que para AUMENTA ÍNDICE
rio Japurá. Segundo o administrador da Funai defender suas terras são obrigados a partir para ENTRE OS TICUNA
em Manaus, Raimundo Catarino Serejo, Exér- o confronto, na maioria das vezes em desvanta-
Espalhados ao longo da região do Alto e Médio
cito e PF vasculharam a reserva mas não en- gem. Segundo a Coiab, a falta de proteção das
Solimões, os cerca de 30 mil Ticuna vivem as
contraram o plantio. (A Crítica, 14/04/96) áreas propicia a invasão e a situação piora com a
omissão da PF. A Coiab informa que alguns gru-
consequências e dilemas da integração. Em 15
meses, de setembro de 94 a dezembro de 95,
GOVERNADOR QUER pos de garimpeiros estão tentando negociar a
ENTREGAR ÁREA k UNIÃO entrada nas reservas. (A Crítica 23/02/96) ,
foram registrados U casos de suicídios entre
eles. Raimundo Cerejo. ex-administrador da
A situação no Alto Solimões é tão crítica que o Funai, disse que os suicídios sempre ocorreram
GARIMPEIROS NEGAM INVASÃO porém não há registros de tan-
governador do Amazonas, Amazonino Mendes entre os Ticuna,

(PMDB) quer ,
entregar a área para o governo A PF já está na região do rio Bóia com 15 agen- tos casos em tão pouco tempo. Antropólogos do
federal, transformando-a em território da União. tes fazendo o levantamento da presença de ga- órgão devem iniciar, nos próximos dias, um es-
Segundo ele, o Estado não tem condições de rimpeiros e possíveis irregularidades na extra- tudo sobre a questão. (A Crítica 19/04/96) ,

fazer os investimentos para conter o avanço do ção de ouro no local. A confirmação foi dada
narcotráfico que, no seu entender, se deve àfalta ontem pelo superintendente da PF, Mauro MAIS DEZ CASOS
de perspectivas econômicas para a população Spósito, que deu prazo até o dia 5 de março levantamento parcial feito pela Funai registrou,
local. (FSP, 21/11/99) para o fim da operação, Spósito não confirmou
em 1999 ,
dez casos de suicídio entre os índios
se os garimpeiros invadiram as áreas indígenas.
ticimas, que habitam a região do Alto Solimões,
Ontem, o presidente da Coogam, Francisco no Amazonas, próximo da fronteira com o Peru
GARIMPO Barrozo dos Santos, confirmou a presença de
e a Colômbia. A população ticuna no lado bra-
cerca de mil garimpeiros nos rios Bóia, Mutum sileiro da floresta amazônica (há ticunas tam-
INVASÃO GARIMPE IRA e Jutaí, com 59 dragas e 45 balsas, sem autori-
bém no Peru e na Colômbia é de 32 mil índi-
)

EM TERRAS TICUNA zação do DNPM. Ele afirmou que a cooperativa


os. O levantamento da Funai só abrangeu 80?4
está seguindo todos os trâmites legais para re-
da população: cerca de 25 mil índios. 0 núme-
O Departamento Nacional de Produção Mine- gularizar a atividade - existem, segundo Barrozo,
ro real de mortes por suicídio nas tribos, se-
ral (DNPM) confirmou ontem a presença de ga- sete processos no DNPM pedindo autorização
gundo a Funai, pode ser ainda maior. Dos dez
rimpeiros no rio Bóia, afluente do riòjutaí, entre para a exploração mineral na área. Barrozo dis-
casos constatados pela Funai, oito foram por
os municípios de Àniaíurá e Jutaí. A atividade se ainda que os garimpeiros não irão resistir a -
enforcamento e dois por ingestão de timbó
clandestina está sendo feita na reserva uma eventual operação de retirada feita pela PE veneno extraído da raiz de uma planta, que leva
extrativista do rio Jutaí, em área dos índios Ele esteve na Funai para explicar ao coordena- à morte por asfixia. Sete dos dez suicidas eram
Ticuna, há mais de dois meses. Até agora nem o dor as atividades dos garimpeiros na região. (A homens, com predominância de jovens. A an-
DNPM nem a PF realizou qualquer operação Crítica, 24/02/96) tropóloga Regina Ertbal, pesquisadora da Uni-
para retirada dos garimpeiros da área. Segun-
versidade Federal do Rio de janeiro, que estu-
do o diretor do DNPM, Fernando Burgos, o de-
OPERAÇÃO VAI RETIRAR dou o suicídio entre os ticunas de 90 a 97, diz
partamento e a PF estão impedidos de agir pela
GARIMPEIROS DA REGIÃO que as causas aparentes dos suicídios podem
falta de recursos, O diretor disse que sem a li-
scr conflitos entre clãs e até problemas como a
beração da verba destinada à proteção e defesa O superintendente da PF, Mauro Spósito, viajou
depredação ambiental. (FSP, 07/12/99)
das áreas indígenas, não tem como reprimir a ontem para a região do rio Bóia para acompa-
ação dos garimpeiros. Uma fonte da PF confir- nhar a operação de levantamento das ativida-
mou a invasão.
Por conta da falta de dinheiro, há informações
des de mineração que estão sendo feitas na área.
Ele vai comandar a retirada dos garimpeiros,
MUSEU MAGÜTA
de que já ocorreram vários conflitos entre índi- caso fique confirmada a invasão da área dos
os e garimpeiros na região do rio Bóia. A inva- índios Ticuna e a ilegalidade da exploração de
FECHAMENTO
são teria o apoio do prefeito do município de ouro. O DNPM deverá acompanhar a operação
CAUSA POLÊMICA
Jutaí, Francisco de Souza Moura, e dos comer- da PE O diretor do órgão, Fernando Burgos, Um grupo de índios Ticuna do Alto Solimões
ciantes que estariam dando “autorização" para confirmou que os garimpeiros têm seis ou sete aproveitou a oportunidade criada peio seminá-
o funcionamento dos garimpos. A maioria da requerimentos de permissão de lavra junto ao rio realizado na exposição Memória da Ama-
população local apóia os garimpos, já que pas- DNPM, mas que a autorização não foi concedi- zônia, para denunciar o fechamento do Museu
sou a ganhar dinheiro depois da chegada das da porque é necessário um licenciamento Magüta, um espaço organizado pela própria
dragas e balsas. “Eles estão movimentando a ambiental junto ao IMA, que não foi ainda con- comunidade indígena no início dos anos 90. O
economia do município, antes restrita aos em- cedido. Burgos acredita que a cooperativa não fechamento do Museu conta com a participa-
pregos gerados pela prefeitura”, contou um conseguirá este documento antes do prazo es- ção do cacique Pedro Inácio, que os índios

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOC 10 AMBIENTAL SOLIMÕES [


415
.

consideram ter perdido a liderança. Na briga Gruber, sobre as possibilidades que leria de CENTRO MAGÜTA RESPONDE
das lideranças, eles fundaram várias entidades, continuar funcionando. Não houve, também,
“O Centro Magiita não está fechando as portas
como o Conselho Geral da Tribo Ticuna (CGTT) nenhum interesse em averiguar de que maneira
ou encerrando suas muitas Unhas de atividade.
e a Associação Geral das Tribos Ticuna (ACGTT ) o Museu está conseguindo meios para continu-
Também não admite a hipótese de desfazer-se
O cacique é acusado de ter enriquecido ilicita- ar suas ações, nem mesmo uma preocupação
de sua sede. Jamais existiu também qualquer
mente, ficando com recursos obtidos pela co- com os compromissos já assumidos pelo Mu-
intenção da parte de sua diretoria de vir a fe-
munidade Ticuna. As lideranças Ticuna recla- seu e sua equipe técnica quanto a sua progra-
char ou desestruturar o Museu e a Biblioteca.
mam também que o cacique pratica arbitrarie- mação de trabalho para os próximos meses c
Isso não significa, contudo, que o Centro Magiita
dades. As denúncias dos Ticuna foram anos, bem como quanto às expectativas de ou-
não esteja atravessando graves dificuldades fi-
encabeçadas pelo índio Aldemício Bastos. Se- tras pessoas envolvidas no trabalho. De outro
nanceiras e que precise mudar o seu perfil
gundo o antropólogo João Pacheco de Olivei- fado, a Biblioteca do Museu vem atendendo cer-
institucional de modo a ajustor-se as atuais ne-
ra, presente ao encontro, a ACGTT represento ca deáO alunos por dia e professores da cidade
cessidades e aos critérios e prioridades das
os interesses dc uma minoria ligada ao hom em que só tem nessa biblioteca os livros necessári-
agências financiadoras. Gabe aqui alguns escla-
branco, além disso, quem está por trás do con- os a seus estudos e pesquisas.
recimentos (...) Pressionado por fatos relati-
flito vive mais em Manaus do que na região do Cabe salientar que o Museu, como todos sabem,
vos a luta pela demarcação de suas terias e por
Solimões. (A Notícia, 31/05/97) recebe diariamente visitantes, turistas e pesqui-
assistência diferenciada no campo da educação
sadores, e prindpalmente alunos das escolas
e saúde, o Magiila foi progressivamente expan-
EQUIPE QUESTIONA DECISÃO de Benjamin Constaut. (...) Este programa tem
dindo o número de pessoas a quem remunera-
o objetivo de aproximar as gerações mais jo-
“Prezados Senhores, va direta e regularmente.
vens da cultura e da história dos Ticuna, para
Ficamos surpresos com a ordem (...) de fechar F.m uma reunião do Conselho Indígena ocorri-
que sejam desfeitas as idéias preconceituosas e
o Museu Magiita e dispensar seus funcionári- discriminatórias em relação aos índios. Nesse
da em finais de 1993, logo após a conclusão da
os. Paulo Roberto Abreu Bruno, tesoureiro do demarcação física de seis principais áreas
sentido, o Museu tem sido um importante ins-
Magiita - Centro de Documentação e Pesquisa
trumento de transformação, possibilitando o
Ticuna, foi apresentado um balanço e discutida
do Alto Solimões (CDPAS), ordenou a Consían- extensamente entre as lideranças essa situação.
estabelecimento de relações mais equilibradas
tino Ramos Lopes, funcionário do Museu, que Até mesmo sem incluir os gastos com qualquer
entre índios e brancos na região. Entre abril e
entregasse as chaves do Museu no dia 17 de projeto específico ou atuação nas aldeias, a sim-
maio. visitaram o Museu mais de mil alunos,
maio a Nino Fernandes, primeiro secretário do ples manutenção do Centro com a folha de pa-
fatoque indica o sucesso desse programa.
Magiita-CDPAS, e que fossem encerradas as gamento e taxas (luz, telefone, etc.) totalizava
É preciso salientar também que o Museu já as-
atividades. Quando Constantino alegou que o cerca de 70 mil dólares por ano! Com o térmi-
sumiu vários compromissos com outras insti-
Museu estava funcionando, que a Biblioteca no de projetos de apoio institucional (Oxíam
tuições do país e do estrangeiro, para a realiza-
recebia muitos alunos e não podia parar e que
ção de exposições, palestras e outras atividades
em 1992 e Icco em 1994) tornar-se-ia inteira-

portanto, não seria justo fechá-lo, Paulo disse mente impossível embutir os custos de manu-
da cultura ticuna (...)
que então não efetuaria o pagamento a tenção dessa infraestrutura em projetos espe-
Visto a situação de isolamento, buscamos a par-
Constantino dos salários atrasados desde junho cíficos. (...)
ceria e o apoio de outras instituições, museus e
de 1995. (...).
pessoas (do país e de outros países), que direta
O Museu, como a Biblioteca são, sem sombra de
Sohre essa situação absurda e autoritária, te- dúvidas, atividades meritórias e importantes, pre-
ou indiretamente colaboraram para a sobrevivên-
mos vários pontos a considerar. vistas desde os primeiros projetos institucionais
cia do Museu e para a sua divulgação. Não pode-
O Magiita-CDPAS possui um Estatuto, onde
mos esquecer que o Museu Magiita foi destacado
do Magiita. Mas é importante notar que o públi-
consta o prazo de duração do Centro será co alvo do Museu são os visitantes estrangeiros e
em 1995 pelo Comitê Brasileiro do Icom (Con-
indeterminado, até que haja explícita manifes- que a biblioteca é uma iniciativa de interesse
selho Internacional de Museus), e com o Prêmio
tação contrária de parte de seus membros fun- municipal, pois atende a demanda dos estudan-
Rodrigo Mello Franco de Andrade. Naturaimente
dadores ou da Direção, ratificada por maioria tes brancos de Benjamin Constant. Hoje. depois
que, o Museu sendo fechado, deveremos prestar
absoluta dos associados, expressa em Assem- de muita luta pelos seus direitos à terra, no qual
esclarecimentos às instituições que destacaram
bléia Geral”.(...) o Magiita teve um papel fimdamental, quando em
o Museu e aos seus colaboradores, parceiros e
Considerando-se que não foi convocada uma simpatizantes. Isso colocaria o Museu, o Magtito-
um feito inédito, conseguiu junto ao governo da
Assembléia Geral para a resolução dos proble- Áustria os recursos necessários para realizar a
CDPAS e as equipes dc trabalho numa situação
mas administrativos e financeiros do Magiita- demarcação (ísica de seis das mais importantes
constrangedora, prevendo-se, logicamente, reper-
CDPAS, a leitura que se faz é que essa resolu- áreas dos Ticuna, as demandas prioritárias dos
cussões negativas também para o povo Ticuna,
ção partiu dc algumas pessoas e não da maio- índios são projetos de saúde e de desenvolvimento
Solicitamos, portanto, maiores esclarecimentos
ria dos associados, tampouco da Comissão In- sustentado, que precisam ser realizados nas al-
sobre essa questão, caso contrário nos sentire-
dígena e da totalidade dos membros da Direto- deias e com a ampla participação comunitária.
mos na obrigação e no direito de tomar outras
ria.Não aconteceu, ao menos, uma reunião Sem projetos econômicos o território Ticuna —
providências. Atenciosamente, Jussara Gomes
especial com lodos os membros da Diretoria, demarcado depois de muita luta - vai ser devas-
Gruber, Constantino Ramos lopes ejaime Custó-
já que o 2" Secretário, Adércio Custódio, não tado por atividades empresariais que buscam lu-
dio Manuel, Equipe do Museu Magiita". (Excertos
linha conhecimento de tais decisões. cro fácil e temam obter alguma cumplicidade de
da carta dirigida aos membros da Diretoria do
Desse forma, foi uma decisão arbitrária e des- algumas lideranças indígenas . A saúde Ticuna não
CDPAS, 16/05/96)
sem consultar os funcionários ticuna
respeitosa, pode ser pensada apenas como contratação e
MuseuJaime Custódio Manuel e Constantino
tio reciclagem de agentes indígenas, mas precisa

Ramos Lopes, e sua assessora, Jussara Gomes incluir saneamento básico a ser executado nas

416 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIÈNTAL


próprias aldeias e recliscutir o espaço ocupado
EDUCAÇÃO ao saudar 0 I Encontro Regional de Educação
por esses agentes na rida comunitária. Esses, Indígena. A ocasião deve opor índios e prefei-
durante a epidemia de cólera que atingiu a re- tos dos municípios em torno da questão da
gião do Alto Solimões, tiveram um papel impor- MEC DEFENDE MANUTENÇÃO contratação de professores concursados. Com
tantíssimo, conseguindo a partir de cursos de trei- DE PROFESSORES orientação de manter os professores Ticuna à
namento de combate ao cólera, realizados peio
A manutenção dos professores indígenas no AM frente de suas turmas, 0 MEC enviou ao encon-
Magiita com a ajuda dos Médicos sem Fronteira, será defendida pelo MEC no Encontro Regional tro 0 coordenador de Educação Indígena, Calo
erilar qne a população Tictma sofresse grave re-
de Educação Indígena, que aconlece de 4 e 5 de Valério Oliveira. Sua missão é derrubar 0 argu-
vés. Para suprir essas demandas dos próprios março, na Escola Ticuna, em Benjamin Constam. mento dos prefeitos de que a saída para a
índios, se o escritório do Centro Magiita não é A posição se opõe à substituição que está sendo contratação dos indígenas é a reabzaçâo de um
um belo e sugestivo cartão postal, constitui-se requisitada pelos prefeitos recém-empossados em concurso tradicional, como fazem os que plei-

em um verdadeiro símbolo político para os cinco municípios do Alto Solimões, que prefe- teiam uma vaga no magistério local.
1

Ticuna que deve ser preservado '


(João Pacheco rem professores concursados e formidmente ha- “Fazer um concurso nos padrões tradicionais
de Oliveira, antropólogo sócio-fundador e pre- bilitados. (A Crítica, 02/03/97) para os índios é 0 mesmo que excluí-los", dis-
sidente do Centro Magiita [1986-1992] e atu- se Oliveira, Só para se ter uma idéia do que
al Vice-Presidente [1992-]) isso representaria, dos 3i mil habitantes de
CONCURSO DIFERENCIADO
Tabatinga, dez mii são Ticuna. Lembra que to-

MUSEU MAGÜTA A determinação da Procuradoria Regional do Tra- dos têm um curso fornecido pela OGPTB, com
baího para que as prefeituras dos municípios apoio do MEC e outras instituições, que os ha-
“O Museu Magiita é o patrimônio do CDPAS, amazonenses regularizem, até 0 mês de abril, a bilita para 0 ensino de primeiro grau. Com a
em 1997, os lideranças fecharam Museu por- situação de servidores contratados sem concurso presença da Funai, de líderes Ticuna e dos se-
que tudos funcionário entraram na justiça do público preocupa a OGPTB. Desta forma, os cerca cretários de Educação municipais, ficou acer-
trabalho para receber seu indenização. de 200 índios que atuam como professores nas tado que será estudado um concurso diferen-
Em 4 de novembro de 1997, a diretória do Tis do Alto Solimões, contratados pelas prefeitu- ciado para os índios. (ODia-RJ, 18/03/97)
Magiiía Centro de Documentação e Pesquisa do ras, terão que se submeter a concurso público se
Alto Solimões resolve tomar as providências quiserem continuar na fimção. A quase totalidade INTERCÂMBIO
necessárias à extinção desta entidade, para tanta desses professores indígenas, no entanto, não pos- NIPO- AMAZÔNICO
em comprimento, também, do seu estatuto, sui habilitação formal para 0 magislério nem 0 ní-
transfere seu patrimônio para o Conselho Ge- vel de escolaridade exigido para o concurso. O artista plástico japonês Naoalti Sakamoto,
ral da Tribo Ticuna - CGTT, entidade civil sem No início do ano, a Procuradoria enviou notifi-
em papel artesanal, viajou meio
especialista

fins lucrativos, que ficou com o patrimônio. cação recomendatórk às prefeituras, dando mundo para ensinar os índios Ticuna a impor-
Que são responsável Museu Magiita é CGTT, prazo de 120 dias para a anulação de contratos tância da conservação dos costumes artesanais.
AM1T e OASPT, que são responsáveis do Museu Durante oito dias, Sakamoto dormiu em rede, to-
Irregulares e realização de concurso público “de
Magiita não mais Centro Documentação de Pes- acordo com a conveniência da administração". mou banho de rio, comeu peixe assado e condu-
quisa do Alto Solimões, que já foi extinto o CGC, ziu uma oficina, apresentando aos índios uma tra-
A OCPTB se adiantou aos prefeitos e vai discutir
tudos os Assessores e Assessora não-índio fo- 0 assumo durante 0 1 Encontro Regional de Edu- dição oriental milenar na fabricação de papel, 0
ram em dia o próprio índios que
afastado, hoje cação Indígena - a Escola Ticuna, que começa wasbi. Os Ticuna extraem do fimiri - árvore co-
ficam dia em dias. hoje na aldeia Filadélfia, em Benjamin Constam. mum da região amazônica-papel artesanal usa-
Causa disso em 1997 um da Assessora criar mai- “Vamos propor que a prova a ser aplicada aos do na confecção de máscaras ornamentos e
or problema com índio prindpalmenle com en- professores Ticuna seja específica, levando em vestimentas típicas das festividades. A entrecasca
tidade CGTT, no dia da abertura ela queria levar
consideração a língua, a cultura e a história dos da árvore, que leva em média sete anos para cres-
tudo peça do Museu, ela só conseguiu leva para cei; fornece unta película fina com a qual os Ticuna
Ticuna”, disse Jussara Gomes, da OGPTB. Os
casa dela os livros da biblioteca do Museu. índios temem que os professores Ticuna sejam
fabricam um papel resistente e utilitário. Para fa-
Agora próprio índio recuperam tudos peças tem substituídos por professores brancos. “Isso se-
zer os adereços, os Ticuna pintam 0 papei com
321 peças que esta no exposição, e 180 peças ria extremamente danoso do ponto de vista cul-
pigmentos vegetais. Sakamoto veio mostrar aos

esta no dentro deposito. Em


ano de 1998, os tural.É preciso lutar pelo direito constitucional
índios que a mesma técnica de produção pode
turista visitou Museu Magiita 1.908 turista de de ter escolas especiais que garantam forma- ser realizada com árvores mais novas e de dife-
vários país como da América e Europa, que vi-
ção diferenciada”, argumentou Jussara. Cerca rentes espécies: “Isso diminuiria 0 tempo de pro-
sitou Museu Magiita que localizado em cidade de 85% dos professores Ticuna têm vinculo em- dução do papel e preservaria a mata", completa 0
de Benjamin Constam Amazonas Brasii. E vai pregatício com as prefeituras e apenas 15% são
artista. Sakamoto, que conhece e estuda outras
recuperar mais ainda o Museu o ajuda do enti- funcionários da Funai. (A Critica, 04/03/97) relações de culturas primitivas com a natureza,

dade Fundação Vitac que aprovou projeto para considera a experiênda amazônica única: “Não
Museu Magiita.” (Jornal Magiita, CGTT, 1999)
MEC APOIA PROPOSTA encontraria nada fio autêntico”, revela. O papel
dos Ticuna é também uma forma dc expressão
“Quero cumprimentar a OGPTB pela preocu- artística própria, que corre o risco de ser esque-

pação com a qualidade da educação indígena. cida pelos próprias índios. O encontro, organiza-
Espero que esse processo de formação possa do e orientado peio Centro de Documentação e
continuar e que professores tenham condições Pesquisa do Alto Solimões, cm Benjamim Constant,
de exercer este importante magistério", escre- e pela arquiteta brasileira Maymni Ito, constatou
veu Ruth Cardoso, esposa do presidenle FHC, a dissolução do costume no dia-a-dia das aldeias

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SOLIMÕES 417


Ticuna. Segunda a arquiteta, o lururf é usado hoje Foundation, que ajuda a proteger as florestas e do que na verdade nós vamos valorizar e defen-
exdusivamente nas festas. Algo semelhante acon- seus povos, e inclui troca dc fotografias, uma ex- der os direitos das mulheres, preservar a natu-
teceu no Japão com o wasbi, o papel japonês, posição, venda de livros sobre índios brasileiros reza reproduzir a matéria-prima para que as-
que se tomou uma tradição quase extinta, (CB, e a apresentação dc um ritual coro músicas reli- sim conseguir preservar nossa áreas.
02/07/97) giosas dos índios. (Jorna! de Brasília, 25/06/98) Durante a reunião que aconteceu no dia 8 de
Março de 1999, no dia Internacional da Mu-
MOSTRA EXPÕE decidimos que nosso trabalho é para fazer
lher,

PEÇAS ARTES ANAIS ORGANIZAÇÕES tucum eurucúm. O tucum serve para


plantio de
elaboração da artesanato, e iirucúm para obter
A Mostra Arte Indígena Ticuna expôs na INDÍGENAS o cororau comecializar o mercado regional tudo
Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) ,
más- essa trabalho nós já fizemos nós já plantamos.
caras rituais, esculturas em madeira COMUNICADO AOS Agora nós vamos plantar para fazer viveiro para
muipiranga, redes de tucum. colares de tucumã ANTROPÓLOGOS criação de peixe, tudo essa nosso trabalho e
e pinturas em tecido de casca de árvore com administrado por coordenadora da Amit
“Prezados Senhores,
tintas naturais. Através dessas peças de cultura
Nós, caciques, professores, agentes de saúde, Carmem Tamaia e Hilda Pinto Felix vice-coor-
material, pode-se conhecer a história do povo denadora. Nosso entidade não tem ainda esta-
lideranças religiosas Ticuna, vereadores Ticuna
Ticuna, uma das maiores populações indígenas tuto já tenho rascunho, nós estamos esperando
e povo em geral, reunidos na I
a
Assembléia Ge-
do Brasil, que reúne hoje 26 mil índios. Uma reunião Geral da CGTT, prá nós reunimos junto
ral da Federação das Organizações e dos Caci-
das peças mais importantes da mostra é 0 Li- também com mulheres porque nós não temos
ques e Comunidades Indígenas da Tribo Ticuna
vro das Árvores, que se compõe de desenhos, finaccira própria para fazer nosso reunião.
(FOCCITT), na Comunidade Indígena Ticuna
e é utilizado nas escolas indígenas como méto- Queremos apoio do outro entidade como agên-
Novo Paraíso, mun. de São Paulo de Olivença,
do de alfabetização dos Ticuna. (O Globo eJB, cia finaciadora.” (JornalMagiita, CGTT, 1999)
nos dias 22, 23, 24 e 25 de junho de 1998, de-
08 e 12/11/97)
cidimos que:
Todos os antropólogos que faziam pesquisas ASSEMBLÉIA GERAL DO CGTT
O “LIVRO DAS ÁRVORES” sobre conhecimentos milenares e tradicionais
“A Assembléia da CGTT, realizada nos dias 14
Por dez anos mais de 200 Ticuna usaram guache nas comunidades indígenas Ticuna do Alto
as 16 de outubro de 1999, na aldeia Nova Espe-
e canetas coloridas para retratar a floresta ama- Solimões Amazonas, ficam expressamente proi-
rança no município de São Paulo de Olivença,
zônica. O resultado está em “O Livro das Árvo- bidos pelos caciques e lideranças das comuni-
onde estavam presente 68 capitães, 47 mem-
res”, que além dos desenhos, também traz tex- dades presentes nesta assembléia os seus livre
bros da AMIT, 48 Agente de Saúde c 12 profes-
tos sobre as relações dos índios com a mata. O acessos e de continuarem suas pesquisas, uma
sores, discussão da reunião demarcação da ter-
trabalho é resultado de uma longa convivência vez que as comunidades Ticuna nunca tiveram
ra, invasão da Os capi-
área, saúde e educação.
com a floresta amazônica, e seus autores: 230 retornos positivos dos materiais produzidos.
tães discutiram, que maneira a comunidade in-
índios Ticuna que habitam a região tio Alto Ficam também proibidos de promoverem even-
dígena pode alcançar alternativa econômica, já
Solimões. Juntos, integram a Organização Ge- tos culturais com assuntos específicos da Cultu-
que nunca tiveram apoio da prefeitura e do go-
ral dos Professores Ticuna Bilíngiies. A entida- ra Milenar Ticuna sem a prévia autorização e
verno do estado.
de, que bancou a edição do livro, sobrevive participação de representantes designados pela
A área Eware II, que invadido pesqueiro são
principalmente de recursos oriundos do MEC FOCCITT;
finaciados por empresas colombianas. Os
e do Ptindo Internacional de Desenvolvimento Sem mais o que deliberarmos e decidirmos para o
Cocama, que estão na área dos Ticuna, eles que
Agrícola (Fida), um dos braços da ONU. A ori- presente momento nesta área, subscrevemo-nos
convida os colombianos para morar na dentro
entação do projeto foi da professora Jussara em abaixo assinado”. (Comunidade Indígena
da comunidade da Cocama e tirar peixe.
Gruber. Ticuna Novo Paraíso, da FOCCITT, 25/06/98)
Todos pescadores são financiado por ele inclui-
A publicação contem também uma intenção
ría o equipamento de pesca, arrastão, com-
política de manter os madereiros longe da Ama- ASSOCIAÇÃO DE MULHERES
motores como resultado da pesca
bustível e até
zônia. Fora os motivos de ordem material - é
“Foi fundado no dia 19 de fevereiro de 1998, predatório os indígenas sentem que a alimen-
da selva que os índios tiram a base de sua sub-
que primeira vez as mulheres índias Ticuna or- tação está ameaçada, causa do Cocama por isso
sistência, há também argumentos de natureza
ganizou para melhorar a nossa razão e a nossa que eles contestaram nossa área Eware I que
simbólica. Toda a lógica social e religiosa dos
realidade no futuro. esta preso na justiça desde dia 10 de julho de
Ticuna se apoia em mitos que vêm da floresta.
Quando CGTT, fazer reunião nós mulheres tam- 1996, pelo Decreto 1775/96. Todo esse colom-
Ao esmiuçá-los, 0 livro desnuda um universo
bém reuniram com mulheres, na mesma aldeia biano que esta comunidade Cocama fugido na
fascinante. (FSP, 29/12/97)
com vários comunidades, principalniente com Colômbia devem ser mafioso, principalmente
mulheres dos cacique ou escolhido pelos mu- que mora na comunidade Bananal, no muni-
CRIANÇAS DE VIENA
lheresda comunidades. cípio de Tabatinga. Eles mandam pescadores
A professora Franziska Cesal organiza uma rede Nós mulheres organizamos não só os homem para invadir os lagos dos Ticuna.
de correspondências entre crianças austríacas, que pricipalmente o cacique que luta para nos- Area de Santo Antonio, demarcada e homolo-
estudantes do primeiro ano de uma escola bási- como a demarcação da terra, educa-
so direito gada e registrado no cartório da cidade, onde
ca de Viena, e os índios Ticuna. O objetivo da ção e saúde, nós também tem capacidade de localizam 03 aldeia Porto Cordeirinho e Fila-
correspondência é a doação de material didáti- lutar como os homens, nossa luta é valorizar a délfia e Bom Caminho sempre esta invadida pela
co e levantar recursos para essa população indí- nossa cultura e a língua materna. Hoje nós tem Policia Militar da cidade. A organização FOCCITT
gena. O projeto foi organizado pela Rainforest 180 mulheres ligado com Amit, que acreditan- autoriza a entrada da policia para os Ticuna fi-

418 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


-
.

•^4=^ Acervo -r
_7/\C S A
I

ACONTECEU
car preso quando acontece qualquer problema DOENÇAS INTESTINAIS regional da FNS visitou algumas comunidades in-

interno na comunidade. Nós estamos sabendo MATAM NOVE dígenas do Alto Solimões e anunciou a interligação
onde Terra demarcada não é permitido a en- da rede para 250 ligações domiciliares e 20 tor-

trada do qualquer policia para prender os índi- Uma epidemia de diarréia se abateu sobre co- neiras públicas em Belém do Solimões, e a com-
os." (Jornal Magiita, CGTT, out/99) munidades ticuna do alto Solimões, no extremo pra de geradores para fazer funcionar 0 poço da
oeste do Amazonas, matando entre setembro e comunidade de Vendaval. As duas comunidades
o dia 22 de outubro nove indivíduos. A infor- foram as mais atingidas pelo surto de diarréia, com
SAÚDE mação, obtida pelo jornal.4 Crítica, de Manaus nove mortes. “Nas demais, não há condições de
(AM), afirma que um hospital militar de se cavar 0 poço, estamos aplicando 0 Iratainenlo
Tabatinga registrem este ano 2,6 mil casos de
SUSPEITA DE CÓLERA da água de superfície", disse o administrador. O
pessoas afetadas por diarréia aguda, ocasiona-
PÕE ALDEIA EM ALERTA projeto contou com a participação da Prefeitura
uma bactéria intestinal chama-
da pela ação de de Tabatinga. (A Crítica, 27/10/98)
Um provável caso de cólera na aldeia Belém do da Escherichia coli. Crianças com ató cinco
Solimões, coloca os írês mil moradores do lo- anos de idade são as maiores vítimas.
em situação de apreensão. Segundo o pre-
NOVA ORGANIZAÇÃO É CRIADA
cal De acordo com médicos citados pela reportagem,
sidente do Conselho Geral da Tribo Ticiiua o contágio pela enterobactéria é provocado atra- “Em dezembro de 1998, na reunião do CGTT,
(CGTf), Nino Fernandes, trata-se de um adulto vés do consumo de água contaminada pelas fe- na aldeia de Belém do Solimões/AM, os 42
Ticuna doente: “Não temos informações sobre zes de doentes. Análises feitas na água consumida monitores de saúde antigo, desistiram da Or-
a idade Sabemos que começou a passar
dele. pela população indígena da região de São Belém ganização de Saúde do Povo Ticuna do Alio
muito mal na madrugada de ontem”. O presi- do Solimões atestaram que os igarapés estão con- Solimões -- OSPTAS, causa do autoritaria que
dente de Conselho disse que estão em alerta taminados. A reportagem afirma que a assistên- é responsável da organização, e os agentes de
porque a aldeia já foi atingida por uma epide- cia prestada pela Fundação Nacional de Saúde saúde ficam abandonados, mais a organiza-
mia em 1995, com várias mortes. 0 cólera é (FNS) e pela Furtai é deficiente. ção 11 a aldeia não tem assembléia.
uma doença infecciosa contagiosa, que pode Os dois órgãos apontam a dificuldade de loco- Na comunidade tendo muita doença como ma-
manifestar-se sob a forma epidêmica. “A proli- moção como razão para a falta de controle sobre lária e colerá, parece 0 agente de saúde não tem
feração fica mais fácil com o hábito dos índios a epidemia. A Funai, especialmente, afirma não responsável, para caminha documento para
de viverem em comunidades e pela proximida- ter recursos materiais e financeiros para custear FUNAI e FNS, para conseguir os remédio, real-
de com o rio”. Nino informou que o índio atin- a ida de equipes até as áreas onde estão os doen- mente esta abandoanado. Causa disso os antigo
gido pela doença está recebendo cuidados na tes. “Os cortes (no orçamento) se acumulam há agente de saúde criaram uma nova organização,
que espera medicamentos da
aldeia, e disse muito tempo. Desde agosto deste ano estamos que é Organização da Agente Saúde do Povo
Fundação Nacional de Saúde. O coordenador sem um centavo", queixou-se o administrador em Ticuna- OASPT.” ffomalMagüta, CGTT, 1999)
da FNS em Manaus disse não haver confirma- Tabatinga, Walmir Torres, ao jornal.
ção da doença, mas ai nda assim o posto vai en- A redução no orçamento da Funai foi determina- CÓLERA
viar os medicamentos para suprir toda a aldeia, da no início de setembro, quando o governo fe-

(A Critica, 29/08/98) deral anunciou as primeiras medidas para ajus- “O Conselho Geral da Tribo Ticuna - CGTT de-
tar o déficit público e enfrentar a crise financeira nuncia a morte de um índio Ticuna - Nelson

CACIQUES VÃO RECEBER internacional. A FNS afirma que os antibióticos Zaguri, mas conhecido como Arigó, com idade
TREINAMENTO DE SAÚDE alé agora aplicados nos doentes não têm surtido aproximada de 50 anos, ocorrida na madruga-
efeito. Segundo a coordenadora Marília Rocha, da do dia 09 de abril, na aldeia Ticuna de Cajari
Cento e quatro caciques Tikuna da região do área indígena Évare município de Tabatinga.
citada pela reportagem, os medicamentos ade- I, I,

Alto Solimões estarão participando de um trei-


quados - antibióticos da chamada terceira gera- Segundo 0 Agente de Saúde Alfredo Ticuita, 0
namento sobre políticas para a saúde durante - não doente tinha cólera, vindo a falecer por de
ção são usados pela Fundação. Como tra- falta
setembro, no município de Benjamin Gonstant, remédio no posto e pela falta de combustível e
ta-se de remédio injetável, a FNS alega que seria
O trabalho vai ser realizado por equipes da Uni- necessário manter enfermagens na região. “Não barco para. Foi pedido socorro, mas quando a
versidade do Amazonas e pela Equipe de Saúde Funai chegou já era tarde. Este agente de Saúde
temos condições", afirmou ao jornal. Enquanto
Indígena (Esai) da FNS. foi formado pelos Médicos Sem Fronteiras em
isso, a própria FNS registrou, nas últimas 52 se-
O objetivo do programa é tornar os caciques
manas, 171 casos de pessoas atingidas por diar- 1991, ocasião em que o cólera só não se alas-
agentes de saúde capacitados para o controle trou graças ao trabalho dos agentes de saúde
réias, 111 dos quais crianças com até cinco anos
social das doenças. Os agentes de saúde serão do povo Ticuna.
de idade, entre os Ticuna do alto Solimões. t Úl-
capacitados para lidar com doenças como a timas Notícias/ISA, 23/10/98) Pela sua experiência do agente de saúde com a
malária, infecções pulmonares, diarréias. Será doença, 0 CGTT alerta as autoridade para que
também realizada uma Assembléia dos Agentes tomem providências imediatas, pois como se
Indígenas de Saúde. Os lécriicos da Esai se junta-
ÁGUA CHEGA APÓS
sabe um caso de cólera nunca vem só pede tam-
rão à equipe que se deslocou para o Alto Solimões
QUATRO ANOS ,

bém que as autoridades sanitárias levem a sério


para realizar exames nas localidades de Belém Depois de quatro anos de espera finalmente a FNS
,
essa suspeita (porque se ela existe é porque não
do Solimões e Feijoal, para a identificação de iniciou a ligação de dois mil metros de rede de há material disponível para coleta de material)
casos de cólera e diarréia. (A Critica, 08/09/98) abastecimento com água de poço os 2,8 mil mo- Quando alguém morre de cólera no Sul do Bra-
radores da Comunidade de Belém do Solimões, sil, como está acontecendo no Paraná, 0 caso

que consumiam as águas sujas do rio Solimões, vira notícia nacional e as providências são toma-
sem nenhum tipo de traiamento. O administrador da imediatamente. Em 95 morreram vitimados

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SDCIDAMBIENTAL SOLIMÕES 419


Acervo
I SA

pelo cólera mais de 07 ticimas em Belém do vam como índios e hoje são caboclos que vivem a passar como Ticuna para que Évare 1 fosse
Solimões, nesla aldeia moram mais de 3.000 m com moradores ribeirinhos do rio Solimões. demarcada apenas para os Ticuna? Como nós
índio e é considerada uma área de cólera. A FNS O secretário-executivo do Cimi, Roberto Liegott, somos caboclos se a própria Funai em seu rela-
fez um projeto para tratamento de água que es- diz que há 30 anos os Kokama voltaram a se tório sobre tribos indígenas no Amazonas nos
taria pronto para o final daquele ano e até o definir como índios, depois de terem perdido a relaciona como povo indígena? Se somos cabo-
momento não apareceu uma gota d’água tratada identidade em contato com os seringueiros da clos, por que então a limai nos deu registro in-
e o dinheiro sumiu. O CGTT cobra das autorida- região. A agente pastoral Socorro Cardoso, da dígena, que temos em mãos? Por que a Funai só
des sanitárias um trabalho sério e não os desvi- Prelazia do Alto Solimões, confirmou que os se preocupa em demarcar terra dos Ticuna quan-
os do dinheiro da saúde como está ocorrendo Kokama vivem com ribeirinhos no povoado de do existem várias outras tribos no Alto Solimões?
com a FNS.” (Jornal MagUta, CGTT, 1999) Sapo tal, a 50 km de Tabatinga, na fronteira com O presidente da Funai não sabe de nada nem
a Colômbia. (FSP, 20/02/96) conhece os problemas indígenas do Brasil. Se
ASSEMBLÉIA DISCUTE ele quer realmente saber se somos índios ou
FALTA DE ASSISTÊNCIA COMUNIDADE QUER caboclos, que venha à nossa aldeia em Sapotal e

“No mês de dezembro de 1 998 o Conselho Ge-


ÁREA EXCLUSIVA lhe mostraremos. Sabemos muito bem que os
ral da Tribo Ticuna- CGTT, fez Assembléia Ge- culpados disso tudo não são os Ticuna, mas é a
O coordenadora da Comissão de Apoio aos índi-
ral da CGTT na aldeia Belém do Solimões no Funai. Se não tivermos resposta sou capaz de
os Cocama (Coiama), Regina Silva, afirmou que
município de Tabatinga, onde discutiam vários juntar todos os Kocama existentes no Alto
o Decreto 1.775 beneficia os grupos pouco co-
problema do índio Ticuna como: Demarcação Solimões e trazer aqui na Funai em Manaus para
nhecidos da Amazônia. “Com' o novo decreto,
da Terra, Saúde e Educação. Nessa reunião esta morar na própria Funai e com recursos finan-
vários grupos indígenas devem pedir que sejam
a presente 42 agente de Saúde na aldeias que da própria Funai, e aí, sr. Márcio Santilli,
ceiros
reconhecidos porque há uma falsa idéia de que
está tendo muita doença na aldeia como provaremos se somos índios ou caboclos.”
na região só existem os Yanoinami e os Ticuna”,
málaria, cólera e outra doença. (Francisco Guerra Samias, cacique Kocama,
declarou. A Coiama é a entidade que encaminhou
Que organização OSPTAS não dá de conta de coordenador-geral da Coiama, FSP, 23/02/96)
contestação à Funai em relação à demarcação da
tudos Agente de Saúde indígenas Ticuna, que TI Évare 1. A entidade reivindica a criação de uma
estão esquecido na sua comunidade, falta con- área exclusiva para os Kokama, com 4,8 mil ha,
...DESCARTA CONFLITO
E
tato do próprio coordenador da OSPTAS. No
menos de 1 % da área Ticuna em questão. Na con- COM OS TICUNA
mês de outubro e novembro de 1998 vai ser testação, o coordenador-geral da Coiama, Fran-
primeiro curso com Agente de Saúde com FNS
A Coiama enviou duas cartas ao jornal ,1 Crítica
cisco Guerra Samias, afirma que “esse local é
e OASPT no Universidade do Amazonas em Ben-
descartando a ocorrência de conflitos com os
habitado pela comunidade indígena Kokama e
índios Ticuna por causa de terras. As cartas in-
jamin Constant, AM.
não pelos úidios Ticuna, como está no decreto formam que a criação da entidade, feita depois
No mês de abril de 1999, esta aconteceu vários
de 5 de janeiro, que homologa a demarcação da
casos de doença grave na comunidade Ticuna
de assembléia-geral realizada em 2 1 de maio de
Évare 1". (FSP, 22/02/96)
1995, foi comunicada à Funai e tem como obje-
como o cólera e málaria falciparum outra do-
tivo preservar a língua, costumes, tradições e
ença, como na comunidade de Vendaval no mu-
TICUNA FICAM SURPRESOS De acordo com a Coiama, os
cultura deste povo.
nicípio de São Paulo de Olivença, que aconte-
O secretário do CGTT, Nino Fernandes, disse em Kocama liabitam a região de Sapotal há mais de
ceu 4 pessoas morreram com (málaria falci-

parum) Ibdo por falta de assistência.


.
Benjamin Constant (AM) que desconhece a con- um século e o decretro 1.775 é para eles o úni-

testação encaminhada pela Coiama. “Não sabe- co instrumento legal para contestar o equívoco
Como esta acontecendo tem algum comunida-
mos quem é essa instituição, nem sabemos o da Funai — no caso, a demarcação da TI Évare I
des Ticuna que durante 3 anos nunca foram va-
cinada, por essa motivo que querem os Kokama, porque não enviaram com a área reclamada pelos Kocama dentro. As-
que nós da Agente de
nada, nenhuma carta, a nós da CGTT". ACoiama sinadas pelo coordenador da entidade, Francis-
Saúde criamos outro Organização de Saúde jun-
to nosso organização maior CGTT. Nós temos é uma instituição recente, desconhecida dos co Samias, e pelavice-coordenadora, Regina Sil-
Ticuna, da Coiab, do Cimi e das ADRs da Funai va, as cartas afirmam que estranham as declara-
106 aldeias com total de 32.457 habitante, nem
em Tabatinga e Manaus. Ovice-coordenador do ções da Funai e de outras entidades que alegam
essa metade desta população nunca foram aten-
Cimi, Francisco Loebens, suspeita que se esteja desconhecer a Coiama. (A Crítica, 01/03/96)
dido nunca tiveram Assembléia dc Saúde.” (Jor-

nal Magüta, CGTT, 1999) criando uma situação de conflito na Évare I.

“Parece estranho que apareça esta contestação, MINISTRO ACATA PEDIDO


pois não se sabe de conflitos entre os Kocama e
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, assinou em
TICUNA/TI EVARÉ I
os Ticuna", disse. O coordenador da Coiab, Se-
25 de março de 1997 o Despacho n° 14, que
bastião Macbineri, afirmou que o Decreto 1.775
trata da contestação apresentanda pelos Kokama
KOKAMA CONTESTAM TI não pode ser usado como pretexto para indispôr
à demarcação da TI Évare Segundo o despa-
I.
índios contra índios. (A Crítica, 23/02/96)
índios Kokama contestaram a demarcação da cho, uma demarcação exclusiva para os Kokama
II Évare I, dos Ticuna. É a terceira contestação poderá ser feita “desde que as áreas separada-
de terras indígenas encaminhada à Funai des-
COIAMA RESPONDE À FUNAI...
mente destinadas aos índios Kokama e aos índi-
de que o decreto 1.775 foi Instituído, em 8 de “O presidente da Funai, Márcio Santilli, disse que os Ticuna não excedam a área que já lhes foi re-
janeiro, pelo ministro da Justiça, Nelson Jobim. somos caboclos; agora gostaria que cie respon- conhecida, em conjunto, peia Portaria
Para o presidente da Funai, Márcio Santilli, a desse essas perguntas: por que a própria Funai Dcclaratória do ministro da Justiça n” 00526, de
contestação dos Kokama envolve “uma polêmi- fez questão de desconhecer os nossos costumes, 11 dc outubro de 1991,pubficadanoDOUde 14
ca antropológica", pois eles não se identifica- tradições e cultura e chegou até anos incentivar de outubro do mesmo ano”. (DOU, 26/03/97)

420 SOLIMÕES POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - JNSTÍTUT0 S0CI0AMBIENTAL


Acervo
_//iC ISA
5. JAVARI

— limite interestadual
[
~ | terra indígena
reconhecida oficialmente

(fonte: Funai, 98)


• cidade

D batalhão do Exército
A aldeia
(fonte: Funai, 98)

+ pista de pouso
INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL/200O
terra indígena
í/.v;v^ Unidade de Conservação lederal
1
|

apresentada em outro capitulo

ÍO 0 10 <0 Km
- i

Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n
# fonte,
, data ) (fia)

187 Lameirão Mayoruna ÍMatses) 0 Em Identificação/ Revisão. 48.500 Atalaia do Norte AM Na fronteira. Boa parte dos Matses
Identificada pelo GT do Javari Port. 1.848/ Ede que viviam nesta área,
28/09/85. P»U. Funai 174 de 10/03/95 p/ identificar transferiram-se para a Ti Vaie do
e delimitar s área (DOU, 03/03/95). Javari

333 Vale do Javari Matses (Mayoruna) 3.9B1 Cívaja:QO Delimitada. Em Demarcação. 8.519.800 Julaí AM Na fronteira.Requerimento e
Marubo Port do ministro da Jostiça 818 de 11/12/98 Senjarrtin Constant AM alvará de pesquisa mineral.
Ma rs Kcrubo declara do posse permanente (DOU, 14/12/98). S. Paulo de Olivençe AM Isolados. Rodovia planejada
Kanameri Kulma Pano Extrato de contrato 35/99 entre Funai e Setag, Atalaia do Norte AM 8R-307.
Maya Tsohom Ojapa vigência 22/12/93 a 21/12/00. Valor R$ 1.179.810.00.
Isol. do Jandíatuba (D DU, 24/12/99).
IsoL do Alto Jota
Isol. do São José
Iso. do QuJxito

1365 Vale do Javari 0 Com Restrição de Uso. 7.200 Benjamim Constant AM Gfebe que ficou fora da
Gleba Itaqual Port do pres. da Funai 904 de 11/10/99 estabelece delimitação da TI Vale do Javari.
restrição de uso pelo prazo de um ano (DOU, 14/10/99). índios isolados.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JAVARI 423


Acervo
-V/Tisa

424 JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMB1ENTAL


Acervo
//1\ ISA

A Demarcação Finalmente
Chega ao Vale do Javari

Sílvia Cavuscens Sociólogo e indigenists, assessor dos povos do Vale do Javari desde 1384.
Contribuíram Clovis Rufino Reis, Jorge Marubo e André Maynrtina,
coordenadores do Civaja {ConseJho Indígena do Vale do Javari)

A TI VALE DO JAVARI, RECONHECIDA ção de uma área contínua, abarcando o conjunto da população

EM 1998, COMEÇOU A SER DEMARCADA indígena dessa região. A lentidão do processo de demarcação mo-
EM 2000, A REGIÃO É CENÁRIO COMPLETO tivou, em 1985, uma campanha nacional e internacional, lançada
por organizações não-governamentais no de sensibilizar as
DE UMA FRONTEIRA REMOTA DA AMAZÔNIA intuito

autoridades competentes.
BRASILEIRA: ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS
E NÃO-GOVERNAMENTAIS, FUNAI, IBAMA, O último trabalho de campo para a reidentificação e dehmitação

POLÍCIA FEDERAL, FRENTE DE CONTATO COM dessa TI, incluindo os levantamentos antropológico (referente à
população indígena) e fundiário (sobre a população ribeirinha),
ÍNDIOS ISOLADOS, MADEIREIROS, PESCADORES,
foi coordenado pela antropólogo Walter Coutinho, da Funai, no
CAÇADORES E NARCOTRAFICANTES
decorrer do ano de 1995.

O processo de demarcação do Vale do Javari ficou, então, parali-


Banhados pelas águas do rio Javari, na fronteira do Brasil com o
sado, em função da injustificada demora na entrega do relatório
Peru, os municípios de Benjamin Constant e Atalaia do Norte são
final, que só foi recebido pela Comissão Técnica do Projeto de
palco do extrativismo que marcou a relação com o floresta amazô-
Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal
nica desde os primórdios da colonização. Por lá, a convivência
(PPTAL) em junho de 1998. Tal demora dificultou ainda mais a
entre índios e não-índios continua sendo uma lula pela conquista
situação tensa na região em virtude da apreensão de madeira pelo
e garantia de espaços socioculturais e econômicos específicos.
Ibama em 1996, sobre a qual falaremos a seguir.
O Vale do Javari é habitado pelos povos Marubo, Matsés, Matís, Com a proposta técnica pronta, o então presidente da Funai, Sidivan
Kanamari, Kulina, além de pelo menos sete grupos indígenas iso-
Siveslre, assinou a portaria, dando início ao processo administra-
lados do contato com a população regional (ver box). Os índios tivo e legal da demarcação no dia 22 de maio de 1998. A publica-
da região vêm sofrendo todo tipo de interferência no seu modo de ção do resumo da proposta no Diário Oficial da União (29/05/
vida e cultura, além de terem sido caçados e massacrados. Um 1998) e no Diário Oficial do Amazonas (08/06/1998) deu início à
exemplo é a chacina comprovada de três índios Korubo isolados fase contestatória (conforme o art. 2
a 1° do Decreto n° 1.775/
, §
em novembro de 1989, caso ainda impune,
96), durante a qual apenas quatro contestações foram apresenta-

A inércia do status quo começou a ser sacudida na primeira me- das. Dessa forma, em dezembro de 1998, aportaria de delimita-
tade da década passada por um conjunto de fatores diretamente ção (Portaria Dedaratória) foi assinada pelo ministro da Justiça,

relacionados à demarcação da Terra Indígena (TI) do Vale do Javari. iniciando nma nova fase deste longo processo demarcatório.

O PPTAL aprovou, ainda, um Projeto de Preparação do Acompa-


nhamento e Consolidação da Demarcação Física da Terra Indíge-
PROCESSO DE DEMARCAÇÃO
na Javari, viabilizando a melhoria de estrutura para 0 Conselho
O processo em torno da demarcação da TI Vale do Javari vem se Indígena do Vale do Javari (Civaja), a mobilização das comunida-
estendendo há vários anos, sendo objeto de uma Portaria de Inter- des em torno da demarcação e a divulgação de todo esse proces-
dição da Funai N° 1749/85 e de levantamentos antropológicos re- so. Os recursos para a demarcação física no campo foram libera-

alizados em 1980, 1985, 1995/96, que apontam para a demarca- dos pelo PPTAL em 1999.

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1 99S/2000 INSTITUTO SQCIOAMBIENTAL JAVARI ! 425


1998

CAVUSCENS

SllVIO

A MADEIRA E A CONJUNTURA REGIONAL trabando de madeira para o Peru (cidade de Iquitos), através do
reboque em barcos com bandeira peruana, que não são objeto de
Em maio de 1996, o Ibama, com o apoio das Forças Armadas e
qualquer fiscalização.
da Polícia Federal, iniciou uma grande operação para apreensão
da madeira extraída ilegalmente da área indígena. Bloqueando Na conjuntura dessa região de fronteira internacional, um outro
os pontos de escoamento da madeira na foz dos principais rios fato importante vindo do Peru deve ser assinalado. As melhores

da região, a operação apreendeu, em 60 dias, 21 mil m 3


do pro- terras firmes da margem esquerda do baixo e médio curso do

duto, que seriam exportados para os Estados Unidos, Europa e Javari estão justamente no Peru. Em várias comunidades lá situ-

sudeste da Ásia. adas, a partir de 1996, colonos peruanos vêm sendo assentados.

O assentamento envolve mais de cinco mil pessoas, todas da sei-


Os empresários da madeira reagiram, contestando na Justiça Fe-
ta religiosa “Israelita", que preconiza melhores condições de vida
deral o ato do superintendente regional do Ibama que determinou
para os favelados das cidades peruanas, através da estruturação
aapreensão. Em 17 de junho de 1996, a Associação dos Madeirei-
de comunidades que tenham na agricultura a sua principal fonte
ros do Alto Solimões entrou com uma ação de Mandado de Segu-
seita incorpora, ainda, objetivos políticos.
de subsistência. Tal
rança Coletivo, na qual a atividade madeireira foi apresentada como
Busca promover mudanças sociais radicais no Peru, tendo, in-
solução para erradicar a pobreza e a marginalizaçâo, além de con-
clusive, já assumido a direção de algumas prefeituras da Amazô-
tribuir para a redução das desigualdades social. Na ação, alegou-
nia peruana. A produção agrícola dessas comunidades é signifi-
se, ainda, que a madeira apreendida teria sido retirada de terras
cativa, provocando mudanças na dinâmica comercial das cida-
particulares e não, indígenas (Processo n° 96.0002342-5).
des brasileiras da região e, em algumas ocasiões, a baixa do pre-
O juiz que analisou a ação considerou que os impetrantes exploravam ço dos produtos agrícolas.
madeira em desacordo com as leis pertinente fart. 19 do Código Flo-
restal e Decreto n° 1.282/940 que eles haviam tentado burlar a
),
ORGANIZAÇÃO INDÍGENA
fiscalização, camuflando a madeira, e que grande parte do produto
apreendido fôra furtado de terras indígenas. O parecer emitido pela A luta pela demarcação da área contínua foi o mais forte motor da
Justiça Federal negou, portanto, o pedido de Mandado. Entretanto, formação do Civaja. Fundado em 1991 - e oficialmente legalizado

por falta mesmo financeiros para vigilância


de recursos humanos e em 1994 -, 0 Civaja tem por objetivo articular os povos e comuni-

das balsascom a madeira apreendida, a Justiça nomeou os próprios dades indígenas na defesa de seus direitos, seja no que se refere à

madeireiros como seus fieis depositários. Como já era de se esperar, o terra, seja em busca de melhorias na situação da educação e saú-
produto desapareceu rapidamente. Após beneficiamento nas serrarias de, bem como de novas alternativas econômicas.

do Vale do Javari, a madeira foi comercializada nas principais cidades


Mesmo impulsionado por jovens lideranças, principalmente do
da região e também no Peru.
povo Marubo, 0 trabalho do Civaja é acompanhado pelas lide-

O corte de madeira na região não cessou após esse evento. A ma- ranças tradicionais, que participam, conversam e discutem os pro-

deira continua sendo extraída, principalmente na região do rio blemas nas assembléias. Entre tais líderes, João Tuxauá. maior
Jaquirana. O que acabou acontecendo foi a intensificação do con- liderança Marubo, que nunca deixou de acreditar nesse movi-

426 JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


^í-J 7^ Acervo
-//ISA
mento, procurando estimular, proteger e orientar a coordena-
SAÚDE
ção do Civaja. João veio a falecer em 1998, sendo sua morte
longamente chorada por ter sido o tuxaua que possibilitou a Na área da saúde, é inegável a importância da presença de organiza-

própria sobrevivência dos Marubo quando, décadas atrás, este


ções não-governamentais no Vale do Javari. Além do próprio Civaja e

povo foi atingido por epidemias que mataram muitos de seus da Pastoral Indigenista da Diocese do Alto Solimões, já aludidos, deve-
integrantes. se destacar a contribuição da Médicos Sem Fronteira (MSF).

Ao longo dos anos, o Civaja consegqi estruturar-se. Possui uma A MSF atua diretamente no Javari desde 1994, em resposta a uma
sede na cidade de Atalaia do Norte, 13 voadeiras com motores de solicitação oficial do Civaja para que realizasse a assistência bási-

popa, um motor de centro, um flutuante e uma rede de radiofonia ca às comunidades, tratando das principais doenças (IRA, malária

que atinge todas aldeias do Javari. e DST), e cursos de formação. A MSF assumiu, ainda, a construção

da Casa de Saúde Indígena de Atalaia do Norte, concluída em 1998.


O processo organizacional do Civaja vem sendo apoiado pela enti-
dade suíça Terra dos Homens. Um dos aspectos mais interessantes Em 1996, aconteceu um surto de coqueluche nas áreas do lúú e

do programa de fortalecimento institucional do Civaja refere-se à Curuçá, ocasionando dois óbitos em crianças de menos de 1 ano.

orientação para que a problemática do Javari seja abordada de No decorrer de 1997, graves problemas de saúde atingiram a po-
forma global. Em maio de pulação indígena do Javari, sendo que no período de fevereiro a
1997, por exemplo, o Civaja e a Pastoral
Indigenista da Diocese do Alto Solimões firmaram parceria para
maio de 1997, sete pessoas (5 crianças e 2 adultos) morreram,

desenvolver um projeto integrado junto às populações indígenas e em função, principalmente, de novo surto de coqueluche que, desta
vez, atingiu todas as aldeias.
ribeirinhas do Vale doJavari. O objetivo c realizar um processo

progressivo de capacitação de recursos humanos, definindo ações


0 processo de formação dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) foi

nos setores da saúde, educação e alternativas econômicas. As so- iniciado em 1994, visando solucionar, nas próprias comunidades, os
luções procuradas visam atender às necessidades específicas de problemas de saúde, prindpalmenle a alta taxa de incidência de malá-
cada grupo social, o que, no caso dos povos indígenas, ainda in- ria. Entre 1996 e 1998, outros AIS foram treinados, mas com elevado
clui a integridade étnica e territorial. grau de desistência. Em outubro de 1997, aFunasa realizou um Semi-
nário de Agentes Indígenas de Saúde do Vale do Javari. Com a partici-
pação da Funai e das entidades que atuam na área, 0 objetivo foi elabo-
A FUNAI NO JAVARI
rar propostas para os treinamentos dos AIS. Em 1998, cinco AIS foram
Mudanças constantes de administrador na Funai local e influen- integrados ao Programa de Agentes Comunitário de Saúde (PACS) da
cias políticas municipais e estaduais na condução do órgão têm Secretaria Municipal de Saúde de Atalaia do Norte.
motivado insatisfação por parte dos índios, que invadiram sua
Em novembro de 1998, aconteceu a I Assembléia dos AIS do Javari,
sede em junho de 1995 e em outubro de 1997. Nessa última
que contou com a presença de 28 AIS, além de representantes das
ocasião, houve nova mudança de administrador. Indicado pelas
entidades e da Funasa. A ocasião foi importante para uma definição
lideranças indígenas, chegou ao cargo o sr. Gilmar Jóias de
mais clara do trabalho de saúde na região, prindpalmente no tocante
Figueiredo Cosia Pinto, que melhorou nitidamente a qualidade
à prevenção e ao papel dos AIS. Também nessa ocasião, foi criado 0
da presença da Funai na área, ainda que sua atuação venha sen-
Setor de Saúde do Civaja, com 0 papel de preparar-se para assumir 0
do dificultada por falta de recursos financeiros e, principalmen-
trabalho da MSF, dada a perspectiva da saída da entidade da região,
te, pela indefinição quanto ao seu amai papel na relação com os
índios, reflexo da grave problemática estrutural por que passa o Em agosto de 1999, no bojo do processo de reestruturação do
órgão indigenista. Assim sendo, a equipe da Funai local é com- atendimento à saúde indígena no Brasil, 0 Civaja resolveu fir-

posta de 17 funcionários, que são obrigados a passar a maior mar convênio com a Funasa para implantar e gerir 0 Distrito
parte do seu tempo na cidade de Atalaia do Norte, sem condi- Sanitário Especial Indígena do Javari. A equipe do Distrito é

ções de deslocamento e permanência em área. composta por dois médicos, dois enfermeiros, 18 auxiliares
de enfermagem e 48 agentes indígenas de saúde, além das equi-
A divisão das responsabilidades da saúde integral ao índio entre
pes administrativa e de logística.
a Funai, encarregada da parte curativa, e a Funasa, responsável
pela prevenção, fez com que, nos últimos anos, a assistência dc Essa nova forma de relação com 0 governo federal representa um de-
saúde fosse realizada tle modo pontual, atendendo situações safio evidente para as lideranças indígenas, a quem cabe, agora, exe-

emergenciais. As campanhas de vacinação são representativas cutar as ações, desenvolvendo sua capacidade gerendal e administra-

desse período. Realizadas de helicóptero, atendem a uma parce- tiva sem, contudo, perder sua autonomia política, isto é, mantendo-se
la reduzida da população. Às vezes, passam-se meses entre uma organizadas em tomo da realização daquelas suas prioridades que
campanha e outra. extrapolam 0 setor da saúde.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTD SOCIOAMBIENTAL JAVARI «7


)

POPULAÇÃO DA TI VALE DO JAVARI


0 último levantamento populacional no Javari foi realizado entre o CRESCIMENTO POPUIACIONAL
final de 1999 e o começo de 2000 pela equipe de saúde contratada
Analisando os dados referentes ao aumento populacional ao longo
pelo Civaja, tio contexto do Distrito Sanitário Especial Indígena do
dos últimos anos. é possívelfazer algumas constatações. Elas tomam
Javari. 0 levantamento cobriu todas as aldeias dos povos contatados ,

como base os dados mais confiáveis, levantados em 1985, 1995/96 e


somando uma população de 2. 711 pessoas. Acrescentando-se a esse
1999/2000, e referem-se exclusivamente aos Kanamari, Matis e aos
número as melhores estimativas conhecidas em relação aos índios
Marubo e Matsés contatados:
"isolados", a população do Javari totalizaria 3-961 pessoas.
• um aumento populacional de 30,34% em 10 anos (1985 a
Houve
1995).É importante notar que esse período caracterizou-se por uma
Etnia 1980 1985 1995/96 1999/2000 situação de desassistència quase total, com a ocorrência de várias

epidemias de forte impacto letal (entre elas, a de malária, em 1994,


Kanamari 433 473 576 548
que provocou a morte de 30 pessoas).
Marubo 460 594 795 1.043 • Hum período de tempo de apenas 5 anos ( 1995 a 1999). a taxa de
Matsés 255 367 494 829 crescimento populacional se elevou para 32,25 %. É significativo o
falo de essa tara referir-se a um período de mudança no campo do
Matis 138 109 176 239 atendimento à saúde, durante o qual ocorreram ações surgidas da
Kutina Pano 25 10 20 articulação do Civaja com a MSF e a Pastoral Indigenista.

Kulina ( Arawa ) 25 38 52 MUDANÇAS


Sub total (contatados) 1336 1591 2061 2711 Aconteceram algumas mudanças em relação à localização das aldei-

Isolados " Korubo (200) 300 250 250 « as. Há vários anos, o Civaja vinha discutindo a situação dos Matsés
do seringal do Lameirão, lá localizados desde 1978 e divididos em
" Isolados " do Alto Jutai (0 200 150 150 * quatro comunidades distintas, todasfora da área contínua do Javari.
“Isolados " cioJandiatuba (!) 300 300 300 m Tal iniciativa possibilitou, finalmenle, a transferência de peio me-
nos parte dos Matsés para a região do rio Curuçd, dentro dos limites
“Isolados" Maya (150) 200 150 150 a>
da área delimitada, mais rica e com menos interferência da socieda-
“Isolados ” Tsohon-djapa (32) 100 100 100 ® de não-indígena regional. Em 1998. os Matis construíram uma nova
aldeia no igarapé Aurélio, por causa das dificuldades de coleta do
“isolados " Marubo - - - (100) ®
veneno utilizado com a zarabatana, e da escassez de caça.
“Isolados ” Matsés - - - (200) °>
Dentre as mudanças constatadas, a mais preocupante é o êxodo de
Total ( estimativa 2.373 3027 3-961 famílias indígenas, princifudmenle Marubo, para a cidade de Atalaia
do Sorte. Os índios nessa cidade chegam a atingir um número supe-
rior a cem pessoas. 0 fenômeno deve-se aos seguintes fatores:
Notas:

(1) As populações Sulina da família linguística Pano e Arawd foram computadas


• A permanência prolongada de índios que sãofuncionários da Eunai,
conjuntamente: principalmente Marubo e Matsés, na cidade de A talaia do Norte atrai
(2) Estimativas em relação a grupos "isoladas" que não são nem Malsés nem Maruim foram o deslocamento de seus familiares:
retomadas do letianlanwnlo de 1995/96.
• A sede do Civaja na cidade lambém provoca deslocamentos como
(3) Estimativas em relação aos Malsés e Marubo “isolados" foram obtidas pelo Civaja a
,

esses, por parte, principalmente, de jovens interessados em arranjar


partir de informações levantadas em campo ao longo dos últimos anos
trabalho, estudar ou simplesmente passear.

Tal situação tem provocado preocupações das lideranças tradicio-


nais. que discutiram longamente o assunto na última assembléia de
lideranças, procurando meios de evitar a saída, principalmente dos

jovens, para a cidade.

EDUCAÇÃO ESCOLAR A partir de 1997, a Secretaria Municipal de Educação de Atalaia


do Norte, através do Programa Pró-rural, contratou 13 profes-
A situação educacional na região do Vale do Javari pouco evoluiu
sores não-indígenas para atuarem nas aldeias. Esse fato trouxe
ao longo dos últimos anos. A Missão Novas Tribos do Brasil, pre-
alguns problemas, em função da inadequação dos métodos de
sente no .Alto Itiií desde 1955, pouco priorizou o processo educa-
ensino, no que se refere ao universo cultural e ao ensino bilín-
cional. Contudo, estendeu sua presença no Maronal (Alto Rio
gue e intercultural, além da curta permanência dos professores
Cuniçá) a partir de 1995, colocando ali dois professores. Alem
na área. .Alguns jovens encontram-se na T série, mas a maioria
disso, a própria comunidade nomeou uma professora marubo para
está na 1'.
alfabetização na língua materna.

428 JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


(Jiva/a realizou, entre 1995 e 1996, uma primeira tentativa de Etn julho de 1998, uma operação organizada pela Polícia Federal
viabilizar o ensino fundamental de jovens indígenas em Atalaia do foi realizada para explodir uma pista de pouso clandestina locali-
Norte, mas a proposta fracassou, principalmente por causa das zada na região do médio Curuça, Meses depois, indígenas obser-
interferências causadas pela vida da cidade. Desde então, o Civaja varam novamente a presença disfarçada de traficantes nessa mes-
tem priorizado a educação escolar nas aldeias. ma região, sem que a Polícia Federal nada fizesse, alegando falta

de recursos financeiros. Em 1999, um Matsés foi baleado no om-


Em outubro de 1 998, o Civaja firmou um convênio com a Associa-
ção de Assessoria a Saúde e Educação do Vale do Javari (Asasevaja),
bro por traficantes, por ter descoberto as suas atividades ilegais. 0
índio leve de ser deslocado para Manaus, onde permaneceu vários
para atuação, principalmente, no campo da educação. O convênio
meses em tratamento.
prevê a manutenção de um “Centro de Educação e Formação Indí-
gena do Vale do Javari “, a ser construído na região do médio rio
Curuça, próximo à confluência com o rio Pardo. Com uma equipe ÍNDIOS “ISOLADOS"
de 8 pessoas, a Asasevaja, coordenada pelo pastor Salvador, orien-
0 Vale do Javari se caracteriza por representar 0 habitat natural de
ta-se pelos princípios da Missão Novas Tribos do Brasil. Os alunos
vários povos indígenas ainda isolados do contato com a sociedade
permanecem na fase da alfabetização. Não há classificação do grau
nacional, A insistência em querer estabelecer 0 contato com os
de escolaridade.
índios “isolados” respaldou-se, inicialmente, na política
integracionistado órgão tutorem décadas passadas. No Javari, essa
DA MADEIRA AO NARCOTRÁFICO política provocou grandes interferências na vida dos povos indíge-

Cansados de esperar pelas autoridades e preocupados com a rela-


nas. As (rentes de atração, instaladas para manter 0 contato com

ção conflituosa com os não-índios, o Civaja e a Coiab (Coordena-


grupos “isolados", atraíram, em tomo dos postos, populações in-
ção das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) promo-
dígenas já contatadas. Quando a Funai obteve êxito 110 contato, as

veram, em abril de 1998, o I Encontro de índios e Ribeirinhos do


consequências não deixaram de ser trágicas, como no caso dos
javari. Reuniram-se, na região do rio Itaquaí, lideranças indíge- Malís, contatados em 1978, que perderam praticamente dois ter-

ços de sua população nos dois primeiros anos após 0 contato.


nas, representantes de comunidades ribeirinhas, entidades e insti-
tuições governamentais. 0 objetivo era reduzir as tensões existen- As tragédias envolvidas no contato com os “isolados” do Javari
tes entre índios e ribeirinhos, cm função da proibição de estes devem-se, em larga medida, à incapacidade da Funai em coibir, ao
últimos penetrarem na área indígena para realizar qualquer tipo longo dos últimos anos, a penetração de madeireiros, pescadores
de extrativismo dos recursos naturais, notadamente da madeira. O e caçadores nas terras dos povos indígenas do Vale do Javari, ape-
encontro resultou na possibilidade de uma articulação mais pró- sar da Portaria de Interdição da Presidência da Funai de 1985.
xima entre o Civaja c as comunidades ribeirinhas, na busca de
soluções para os seus respectivos problemas.
O CONTATO COM OS KORUBO
No primeiro semestre de 1998, o Civaja, com a assessoria rio
Entre os “isolados", o povo Korubo, habitante tradicional das ter-
Centro de Trabalhos Amazônicos (CTA), também realizou um
ras banhadas pelos rios lUií e Itaquaí e, mais recentemente, da
levantamento sócio-econômico de algumas comunidades indí-
região do rio QuLxito, merece uma atenção particular, pela peculi-
genas e ribeirinhas localizadas no baixo curso dos rios Javari e
aridade de sua história de resistência e da trágica luta para garan-
Itaquaí, do qual resultou um relatório com algumas propostas
tir a preservação de seu território tradicional e de sua própria
em termos de alternativas econômicas, enfocando, principal-
mente, a criação de peixes, a construção de olarias e a fabrica-
vida. Toda essa história caracteriza um povo aguerrido, em cons-
tante fuga, alvo direto da ação das frentes de penetração econômi-
ção de canoas. Todas as comunidades visitadas apresentaram
ca da região.
falta de infra-estrutura e equipamentos para beneficiamento e
escoamento de sua produção. O processo desencadeado pela Funai, ao longo dos 25 últimos
anos, na tentativa de contatar os Korubo favoreceu, sem dúvida,
A principal preocupação é que o maior controle sobre a explo-
ração madeireira tem forçado a população ribeirinha a procu-
maior hostilidade da população regional em relação ao órgão
indigenista. e aos povos indígenas. Esse processo traz à tona uma
rar meios de vida nas cidades do Alto Solimões, envolvendo-se,
série de dúvidas a respeito tanto da própria necessidade de esta-
inclusive, com o narcotráfico. Esta é uma atividade que está
belecer 0 contato quanto dos métodos empregados para este fim.
em nítido processo de intensificação em toda a região, como
havia sido assinalado em 1996 pelo próprio presidente da As- Enquanto a equipe da Funai mantém um esquema de segurança tal
sociação dos Madeireiros do Alto Solimões: “sem madeira em que integrantes da frente de atração devem permanecer “ostensi-
Benjamim Constant e Atalaia do Norte, as nossas serrarias não vamente armados", os Korubo realizam visitas regulares à comu-
funcionam, restando-nos apenas fazer uma coisa para sair desta nidade ribeirinha do Ladário, localizada na margem esquerda do
situação: 0 narcotráfico, pois ninguém vai morrer de fome!“ Itaquaí, abaixo da frente de atração. Os Korubo permanecem lon-
(Jornal A Crítica. 12/05/96). gas horas no Fadário, chegando até a brincar de bola com seus

POVOS INOÍGENAS NO SRASIL 1S96/200D - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JAVARI 429


Acervo
//\\ I SA
iores. A cada visita, pedem roupas, panelas, terçados etc. Os to motivou o Civaja a encaminhar, no dia 13 de março de 1997, um
ribeirinhos já presentearam vários cachorros aos índios. OsKorubo documento ao então presidente da Funai, Juiio Gaiger, em que se
gostaram e levaram os “presentes” para sua maloca. Em dezem- oferecia para apoiar e articular esforços com este órgão.

bro de 1999, alguns moradores do Ladário estavam à procura de


Entre agosto de 1996 e fevereiro de 2000, foram registrados diver-
mais dez cachorrinhos, para atender a pedido dos Korubo,
sos eventos cm que políticos e Justiça locais, madeireiros, caçado-

É necessário interrogar-se em relação às implicações da demons- res e pescadores agiram contra a interdição da região habitada
tração de força dos funcionários da frente de contato, para este pelos Korubo, entrando em conflito, às vezes violento, com a fren-
grupo Korubo que vem mantendo contatos regulares com a popu- te de contato. São manifestações dos interesses escusos de poKti-
lação da comunidade ribeirinha do Ladário. As informações le- cos locais e dos poderes econômicos remanescentes do extrativismo

vantadas nas comunidades próximas à frente de contato dão conta pressionando a equipe da frente de contato. Entretanto, a atuação
de que os Korubo não gostam dos homens que compõem esta equi- isolada desta última contribui para acentuar a gravidade da situa-

pe e não querem ir para iá. Os Korubo teriam contraído malária ção, gerando o aumento dos preconceitos contra os índios e ten-

(provavelmente, já antes do trabalho da frente), gripe, tosse e de- sões suplementares desnecessárias. Daí a importância da articula-
senvolvido problemas de pele, em função do uso das roupas dadas ção da frente de contato com a fávaja e outros atores da região.

pelos não-índios. Alguns dos Korubo apresentavam, ainda, feridas


A atual realidade dos Korubo toma necessária uma reflexão mais
e marcas de chumbo no corpo, ãbdo isso num contexto de contato
acurada em relação àpolítica do órgão tutor para os índios isolados. É
em que não houve qualquer trabalho preventivo de saúde junto à
preciso definir estratégias capazes de responder aos problemas ocasi-
população ribeirinha.
onados pelo conlato indiscriminado destes com a população regjonal.
Em várias ocasiões, o modo isolado com que age a frente de conta- Essas estratégias têm de ser pensadas mais a longo prazo, permitindo

to, sem qualquer interação com as autoridades locais, com as enti- a construção de uma relação entre equipes de contato e índios que

dades e organizações indígenas que atuam na região e mesmo com venha, de fato, proporcionar a estes últimos a segurança, a proteção e

a Administração Regional da Funai de Atalaia do Norte tem sido ob- o bem estar necessários, isto é, a garantia de sua integridade físicae de
jeto de questionamentos. A maneira de trabalhar da frente de conta- sua sobrevivência como povo. (juího, 2000)

43D JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


,

Korubo: o Ultimo Contato?

Philippe Erikson Antropólogo da Universidade de Paris X-Nanterre,


do Javari desde 1984.
faz pesquisa na região
Tradução de Renato Sztutman

0 FUTURO INCERTO DOS TEMIDOS CACETEIROS Desde o fim dos anos 60, não houve um ano sequer em que não se
ouviu falar dos Konibo. Nas pequenas cidades de Benjamin Constam
e de Atalaia do Norte (3.600 hab,), que contam com uma média
Para o melhor ou para o pior, esta que era sem dúvida a última
de um ou dois incidentes por ano, raros são aqueles que não têm
"grande etnia” não contatada do Brasil parece estar normalizando
mortes para chorar ou alguma história para contar. Mais de 30
suas relações com o mundo exterior. Após cerca de 30 anos de
pessoas que se aventuraram ilicitamente em território Korubo en-
hostilidades com a sociedade brasileira, os Korubo, ou pelo me-
contraram a morte. Haveria, sem dúvida, mais vítimas ainda se
nos uma fração deles, aceitaram a proposta de paz do mais
esses índios, localmente designados como caceteiros, se valessem
renomado sertanista da Funai, Sydney Possuelo. As tentativas pre-
além dos tacapes que lhes conferiram fama, de arcos e lanças.
cedentes haviam sido breves e tensas. Mas, no fim de outubro de

1996, acompanhado de quatro intérpretes da etnia Matís vizinha, No que diz respeito às vítimas do lado Korubo, não há evidência de
de uma equipe de funcionários seletos e alguns representantes da qualquer estimativa confiável. Os matadores de ameríndios rara-
mídia, Possuelo conseguiu passar cinco dias em companhia dos mente dentam transparecer seus crimes, sobretudo na presença
Korubo. Cinco dias que certamente marcaram uma reviravolta de estrangeiros. Não há dúvida, entretanto, que são os Korubo as
decisiva na história da bacia do Javari. principais vítimas dessa guerra contida, conduzida contra os ex-

Sidney Possuelo e
um guia matís que
serviu de intérprete
no primeiro contato
pacíficocom os Korubo.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JAVARI 431


Acervo
-l/f ISA as tolices habitu-
ploradores que se aventuram iíegalmente nas suas terras que estas últimas venham a alimentar ainda mais
para caçai; pescar ou extrair madeira. ais sobre os “índios nus recém-saídos da idade da pedra”. Apesar
da prudência de Possuelo, ainda é difícil escapar desse cenário.
Nesse lugar, onde se ouve rumores sobre alianças entre
narcotraficantes e índios, são muitos os testemunhos que denun- Nessas condições, é útil lembrar que os Korubo já haviam experi-

ciam as mutilações dos Korubo, cadáveres que flutuam nos rios ou mentado seguidos contatos com seringueiros na primeira metade
que jazem nas praias. Um funcionário da Funai, atualmente em do século XX. Alguns de meus informantes matís, que falam prati-

posto entre os Matís, estima que a população korubo está nitida- camente a mesma língua que os seus vizinhos Korubo e que só

mente em declínio. Sem dúvida, seria necessário rever os núme- foram oficialmente contatados no fim dos anos 70, contam, por
ros, que oscilam em tomo de 300, estimados alguns anos atrás exemplo, que seus antepassados possuíam dois “patrões” (Mai e
por especialistas. Benjamin) com os quais se comunicavam por meio de um intér-
prete de nome revelador (Korubon Anton) e que se apresentava
Os Korubo suportaram muitas provações, lúdo leva a crer que
como o fabricante das ferramentas que fornecia aos índios.
eles chegaram ao ápice de uma grave crise no momento do conta-
to de Possuelo com um segmento de soa população. Na esperança Quanto à nudez e à privação material desses índios sem arcos que
de melhorar uma situação repleta de tensões (externas e talvez são os Koinbo, pode-se postular, do ponto de vista da etnografia
também internas) que se tornava insustentável, um pequeno gru- regional, que não se traia de um arcaísmo, mas das consequênci-
po entre eles teve de deixai' o território, localizado entre o Itaquaí as de uma situação política na qual os adversários privilegiados
eo Ituí, ocupado peio menos desde o início do século XX. Foi essa passaram a ser os Brancos, em lugar de outros ameríndios da
fração de 17 pessoas que Possuelo primeiro contatou. mesma família lingüística. A privação e, particularmente, o aban-
dono dos ornamentos são, nessa parte do mundo, características
Em termos táticos, a escolha era prudente. Ao atravessar o Ituí, os
da interação com esses estrangeiros “radicais", os Brancos.
Korubo se instalavam em território inimigo (ocupado em particu-
lar por índios não contatados), distanciavam-se de seus lugares
conhecidos de caça, expunham-se, em suma, a sérios sofrimen- PERIGOS DO PÓS-CONTATO
tos, para não faiar do trauma que a decisão de migrar provocou.
O aspecto mais alarmante de toda essa situação diz respeito ao
Em lais condições, eles não recusaram, por muito tempo, os ma-
nufaturados que, espalhados pela floresta de modo
estado de saúde dos Korubo. O mínimo que se pode dizer é que a
a atrair sua
infra-estrutura médica da frente de contato não está à altura do
atenção, serviam como oferendas de paz,
resto dos equipamentos então disponíveis. Tíido leva a crer que
Possuelo, que chegou à região em maio de 1996, não precisou de um eventual surto de gripe, nada improvável, teria consequências
mais de seis meses para atingir os seus fins, diferentemente das tenta- desastrosas para a sobrevivência dessa população.
tivas de contato magicamente fracassadas em meados dos anos 70.
A longo prazo, é possível que a “pacificação” resulte na invasão
Há alguns anos, a tensão aumentava na região, tanto na cidade massiva de suas terras ou, ao menos, na intensificação do contato
como na floresta. Em Atalaia do Norte, houve notícias da com os brancos. Não causaria espanto se as famílias de não-índios
dinamitagem de casas comunais e de expedições armadas destina- que recentemente tugiram das margens do Ituí devido à ameaça
das a resolver de uma vez por todas o problema korubo. Num tal Korubo para lá voltassem, de modo a escapar da miséria da comu-
contexto, a Funai não teve outra opção senão contatar os Korubo. nidade fundada nas proximidades de Atalaia, num lugar chamado
Idealmente, mais valeria deixar os Korubo em paz e regulamentar Santa Cruz (comunidade significativamente apelidada de
de maneira estrita o acesso ao seu território. Mas deixou-se que o “Contrabanda”). Seria surpreendente, todavia, que as referidas fa-

conflito viesse à tona - os jogos econômicos eram muito impor- mílias tivessem essa idéia por si sós.
tantes e a situação por demais explosiva. Apesar dos riscos eviden-
Paradoxalmente, na medida em que os Korubo vivem mais perto
tes que ele comportava, esse contato representava talvez uma das
de Atalaia que outras etnias da região, contatadas há décadas, pode-
últimas chances de sobrevivência para os Korubo.
se dizer que a atitude dos primeiros colocou em xeque a seguran-
ça que havia nos territórios indígenas situados mais a montante,
AO VIVO E ONLINE particularmente o dos Matís e dos Marubo. O advento do “perigo

Uma das características mais notáveis da operação


Korubo” pode resultar numa pressão acirrada dos habitantes da
conduzida por
região sobre as terras indígenas; e, talvez, num retomo das com-
Possuelo foi, sem dúvida, o considerável desenvolvimento dos meios
panhias petrolíferas, impedidas durante muitos anos de se instala-
de comunicação que a acompanharam. Para levar a cabo esse
rem ali devido à hostilidade indígena.
empreendimento, foi gasto muito dinheiro, sobretudo devido ao
emprego de meios técnicos sofisticados. Graças a eles, a National Infeiizmente, uma vez estabilizado o contato, os “Korubo vestidos” e,

Geographic pôde acompanhar, ao vivo e on tine, o desenrolar das por parte da mídia, perdido o entusiasmo típico da atmosfera dos “pri-
operações. Diante de uma tal mediatízação com todo esse aparato, meiros contatos”, será cada vez mais difícil sensibilizar o público quanto
e a conseqüente globalização das imagens, torna-se preocupante aos verdadeiros problemas, que não deixarão de existir e ecoar.

43Z JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL Í996/2000 - INSTITUTO SOClOAMBIENTAL


.

Acervo
_//\C I SA
1 Kfc» ANOS DEPOIS itacoaí funciona bem, à noite e de
dia, impedindo praticamente toda
Os parágrafos acima são uma versão para o português de artigo
e qualquer penetração por ria flu-
publicado em francês em 1997 (revista Ethnies) Depois disso, a
vial. Os habitantes do vilarejo de
situação na frente de contato evidentemente evoluiu. Uma certa
fadário (a jusante do posto flutu-
normalização das relações parece ter sido conquistada desde en-
ante da Funai) bem que tentaram
tão, depois de algumas crises, dentre as quais a mais dramática
contornar o obstáculo a pé, abrin-
culminou na morte do sertanista Sobral Magalhães, assassinado
do algumas trilhas na floresta. No
por um Korubo em 22/09/1997. Muitas hipóteses circulam, e, sem entanto, essa tática rendeu pou-
dúvida, jamais saberemos qual foi exatamente o mal-entendido que
cos resultados. Os Korubo, na
motivou a tragédia. Depois de mais de um ano de visitas, regulares
companhia de alguns Matís, espa-
e aparentemente amigáveis, um funcionário pagou com a própria
lharam armadilhas sobre as trilhas
vida por uma desatenção nas suas relações com os Korubo. Te-
em questão para defender seu ter-
mia-se que as tentativas de aproximação fossem comprometidas e,
ritório. Dois invasores foram feri-
de fato, os índios deixaram passar muitos meses antes de voltar a
dos, e a população regional, já
visitar o posto. Mas voltaram, fazendo, segundo os Matís, como se
muito frustrada, começou a de-
nada tivesse acontecido. O retorno foi motivado, em particular,
sesperar-se. A pressão subiu a tal
pela busca de auxílio médico. Naquele período, a doença os havia
ponto que, em fevereiro de 2000,
atingido (malária, entre outras), matando algumas crianças.
cerca de 300 habitantes de Ben-

Um segundo drama veio à tona dois anos depois. Quando se ba- jamin Constant, armados com fu-

nhava bem em frente ao posto flutuante que serve de base para a zis e coquetéis molotov, retomaram à confluência, determinados a
equipe de Sydney Possuelo, no mesmo local em que Sobral teve pressionar o pessoal da base ou mesmo causar transtornos. Não

seu crânio esfacelado, uma menina Korubo desapareceu em pleno houve vítimas, mas foi necessária a intervenção de helicópteros e

dia, levada para o fundo da água por algum animal, certamente da Polícia Federal para restabelecer a calma.
uma anaconda. Como os Korubo poderiam atribuir esse novo in-

fortúnio às represálias sobrenaturais dos brancos, julgou-se pru-


E O FUTURO?
dente afastar o sanitarista responsável, pois suas atividades, de tipo
'
xamânico", indicavam-no como possível culpado. O antigo titu-
Ainda é cedo demais para se propor um balanço, mesmo que pro-
lar do posto retomou suas funções.
visório, sobre a situação. O que o futuro reserva para os Korubo é
imprevisível e a vigilância se impõe. O pequeno grupo contatado
Desde então, tudo voltou à ordem, e a situação parece cada vez mais
em 1996, 22 pessoas, hoje não passa de 17. Nesse meio-tempo,
serena. Em março de 2000, o grau de confiança atingiu um nível
houve um nascimento e seis mortes, dentre as quais a de um adul-
elevado, suficiente para se autorizar os Matís a partirem para a caça
to, por causa desconhecida. O grupo principal, sempre sem con-
junto com os Korubo e desacompanhados de qualquer não-índio.
tato, teria sido avistado pelos Marubo do lado do Coari, a montan-
Os Matís do Posto realmente aprenderam a conhecer os Korubo, de te das zonas geralmente freqüentadas por eles. Se a informação
quem sabiam pouquíssimas coisas quando os encontrei em setem- vier a se confirmar, é mais uma prova de que os Korubo não estive-
bro de 1998. Embora questões linguísticas não comprometessem a ram implicados em novos conflitos desde aquele em que Sobral
comunicação, as trocas de informação entre eles eram relativamen-
encontrou a morte.
te limitadas. Isso se deve, em parte, ao nervosismo inerente à situa-

ção de contato, mas talvez seja necessário apontai' um certo senti-


O futuro dos arredios da bacia do Javari depende hoje de uma
vontade política bastante forte para assegurar a proteção de seu
mento de "superioridade paternalista" por parte dos Maus. Aque-
les que interroguei consideravam, unanimemente, os Korubo como
território. Materialmente, um financiamento da União Européia,

adolescentes, de quem tudo, a começar pela baixa qualidade de seu vigente desde outubro de 1999, permitiu a Possuelo suprir as ne-
cessidades do posto que impede o acesso ao território Korubo.
artesanato, indicava falta de experiência. Hoje, se sabe que o peque-
no grupo contatado por Sydney Possuelo separou-se do resto da Além disso, 0 processo legal de demarcação das terras, em ques-

etnia depois de um conflito em tomo de uma mulher, mas ainda tão há muito tempo, parece, enfim, em vias de se concretizar. Um
restam muitas incertezas quanto à história mais geral da etnia.
projeto inicial previa a interdição da ocupação de uma margem
apenas do Itaquaí, 0 que poderia resultar na abertura para todos
os tipos de invasões. Depois de muitas discussões, 0 projeto defi-
A POPULAÇÃO REGIONAL nitivo inclui, doravante, as duas margens do rio, oferecendo ga-
Se o clima melhorou no que diz respeito às relações entre os Korubo rantias suficientes. Se é necessário estar muito atento à maneira
e os membros da equipe de Possuelo, as relações da última com a pela qual as coisas evoluem, há que se indicar, da mesma forma,
população regional, ao contrário, parecem degradadas. A fiscali- um mínimo de otimismo. Depois de 30 anos de conflito, não é tão

zação exercida pela Funai na região de confluência do Ituí com o cedo para tanto, (maio, 2000)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JAVARI 433


0

A PF só tem rebrais. Para ele, os indígenas que descobri-


GERAL por demais permeável”, disse. três

ram a substância não ganharam nada em tro-


agentes para a região. Segundo Spósito, a faixa
de fronteira concentra a maior produção mun- ca. “Não há respeito à propriedade intelectu-
COMISSÃO DA CÂMARA dial de folhas de coca. Só na fronteira do Vale al dos índios", declarou. No final da exposi-
DISCUTE TRABALHO do Javari, estão mais de 200 mil ha de plantios ção, Arruda denunciou o roubo de peças ar-
ESCRAVO NO JAVAR1, ... nos lados colombiano e peruano. Para ele, a queológicas em Faro (PA), um dos sítios ar-

falta de oportunidade econômica para as popu- queológicos mais importantes do mundo. Para
A audiência pública realizada ontem (8/5/96) pela
lações amazonenses nestas áreas obriga índios ele, a fronteira amazônica não passa por um
Comissão de Defesa Nacional da Câmara dos De-
e caboclos a procurar trabalho junto aos processo de internacionalização, mas de
putados, motivada pelas denúncias conddas na
reportagem “A Amazônia dos Esquecidos", exibi-
narcotraficantes. A mão-de-obra indígena, dis- “desnacionalização”. (A Critica, 09/05/96)
se, é usada para a primeira etapa da produção
da no Globo Repórter sobre a ação do narcotráfico,
da chamada pasta-base que, depois de ir a la- ... E EMPRESAS QUE
o contrabando de madeiras nobres e pescados,
trabalho escravo no Vale do Javari, na fronteira
boratórios clandestinos, é transformada em co- CONTRABANDEIAM
com o Peru e a Colômbia, deixou claro que a
caína pura. (A Crítica, 09/05/96) MADEIRAS NOBRES
região é um garimpo genético, onde recursos na-
... LABORATÓRIOS QUE
Ainda na Comissão de Defesa Nacional, o su-
turais são depredados à vontade. E, como ocorre
perintendente do Ibama, Hamilton Casara,
com todo garimpo, deixa cada vez mais pobre a SAQUEIAM RECURSOS
disse que está ocorrendo uma “garimpagem
população local e, assim que acaba a atividade no GENÉTICOS...
de madeiras nobres na última reserva flores-
local, dáxa destruição e miséria.
O professor da Universidade do Amazonas, tal do Brasil". Para explicar a denúncia, Ca-
0 superintendente do Ibama no AM, Hamilton
Frederico Arruda, denunciou aos deputados da sara disse que as empresas madeireiras são
Cesara, denunciou a “garimpagem” da floresta
Comissão de Defesa Nacional que laboratórios na- itinerantes, como o garimpo. Quando acaba
assim como o pesquisador da Universidade do
cionais e estrangeiros, em cooperação, estão o que estão procurando, seguem e se insta-
Amazonas, Frederico Arruda, denunciou a garim-
contrabandeando recursos genéticos da lam em outras regiões, tudo com uso de bai-
pagem genética, sobre a biodiversidade local.
biodiversidade do Vale do Javari. Para provar sua xa tecnologia e descumprimento da legisla-
Mauro Spósito, da PF do estado, confirmou a mai-
declaração, o pesquisador mostrou cópias de pu- ção. Segundo ele, há 1 1 serrarias do lado bra-
or área de plantação de coca na fronteira e o ad-
blicações internacionais mostrando a cooperação sileiro da fronteira e outras tantas do lado pe-
ministrador da Funai em Atalaia do Norte, na mes-
entre tais laboratórios. Na publicação Washington ruano.A madeira extraída é contrabandeada,
ma região, disse que os invasores das terras indí-
Insit, ele mostrou informações de que, em 1994, “em milhares de toneladas”, bem como ani-
genas da região estão chegando cada vez mais perto
foram enviados paia fora 1 5 mil extratos vegetais e mais silvestres, pescados ou vivos, Casara dis-
das aldeias de índios isolados, colocando em ris-
que a previsão para 1995 era de que esse número se que o Ibama no AM tem apenas 163 servi-
co a própria sobrevivência dessas populações.
alcançasse 20 mil. Ele informou ainda sobre um dores para cuidar de 1,5 milhão de km 2 .

Todo o material apresentado na Comissão será


convênio entre ajohnson & Johnson e a Faculdade (A Crítica, 09/05/96)
transformado num dossiê que deverá ser envia-
de Bioquímica de Ribeirão Preto (SP), de 1973.
do ao Ministério Público Federal.
Na audiência da Câmara dos Deputados, o re-
convênio tem cláusulas que proíbem a divulgação
OPERAÇÃO DO IBAMA
de segredos de pesquisa de medicamentos e im-
pórter da Rede Globo denunciou a ligação de APREENDE MADEIRA
põem todas as vantagens e benefícios das desco-
políticos da região com o narcotráfico, com o IRREGULAR...
bertas ao laboratório americano.
contrabando de recursos naturais e com o tra-
Frederico Arruda também informou que um Em ttrna semana de fiscalização nos rios do Vale
balho escravo. Para o repórter, o problema soci-
outro laboratório estrangeiro já teve acesso â do Javari, a 800 km de Manaus, o Ibama já apre-
al do Vale do Javari é mais grave do que os cri-
uma secreção extraída de uma rã amazônica endeu 4 mil toras ou 5 mil metros cúbicos de
mes denunciados no programa, que nasceu de
que serve para o tratamento de derrames ce- cedro. As madeiras foram tiradas ilegalmente
uma convem dele com Frederico Arruda, pro-
fessor e pesquisador da Universidade do Amazo-
Soldados do
nas. Segundo ele, no Vale do Javari, os extratores
Exército brasileiro
de madeira fazem o trabalho e ainda ficam de-
tomam conta da
vendo para os empresários. "O trabalho escravo madeira apreendida
é generalizado na região", disse o repórter. Para na área indígena
ele, não adianta o governo proibir a retirada de do rio Ituí e Itaquai.

madeira sem dar alternativas econômicas para a


região. (A Crítica, 09/05/96)

TRÁFICO QUE
...

EMPREGA ÍNDIOS, ...

O superintendente da PF no AM, Mauro Spósito,


informou aos deputados federais da Comissão
de Defesa Nacional que a situação de total falta

de fiscalização na fronteira do Brasil com o Peru


e Colômbia já dura 30 anos. “É uma fronteira

434 JAVARI POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


1

'

de uma área interditada pela Fintai devido à arem a entrada do rio Quixito com três barcos. RECORDE DE APREENSÕES
existência de um grupo Korubo isolado. A ope- O Exército ajuda na operação, que esteve pró-
ração começou no dia 10 de maio e tem a par- xima de trocar tiros com madeireiros do local.
A apreensão de 3.565 toras de madeiras nobres

ticipação do Exército, da PF e do governo do Na operação, a PF constatou ainda trabalho es- no Vale do Javari bateu todos os recordes estatísti-
AM. Pontos de escoamento da madeira foram cravo na extração de madeira nos municípios cos do Ibama nos últimos anos. A informação foi

bloqueados - rios Itaeoaí, Ituí e javari - pelos de Atalaia do Norte e Benjamin Constam. Nes- dada pela assessoria de comunicação do órgão,
homens da operação. Balsas carregadas com ses locais, os empresários pagam os trabalha- em Brasília, que afirma ainda que esse montante
toras foram interceptadas, mas ninguém foi pre- significa quase a metade da madeira em toras apre-
dores apenas com rancho (comida), roupas e
so ou pagou multa. As toras seguiriam pelo rio armas por uma permanência de dez meses na endida em todos os estados desde janeiro. Os nú-

Solimões até as fábricas de Manaus. mata. Segundo os fiscais do Ibama, todas as meros colocam o estado do AM em primeiro lu-
"Estamos fazendo perícia no locai para desco- madeireiras da região atuam sem projetos de gar, como recordista de apreensões.
brir qual é a madeireira responsável pela ex- manejo ou qualquer de regularização. A
tipo O Ibama continua fiscalizando e apreendendo

tração ilegal e comercialização", afirmou Ha- população está dividida em relação à operação: madeiras sem origem e vai apresentar nos próxi-

milton Casara, do Ibama amazonense. A Asso- alguns parecem indignados com a ostentação mos dias as informações necessárias àjustiça Fe-
ciação dos Madeireiros do Alto Solimões (Amas) deral sobre os cerca de 8 mil metros cúbicos apre-
dos madeireiros, que exibem mansões, carros
afirmou que a madeira foi retirada de áreas do ano e possantes voadeiras. Ao mesmo tem- endidos. À informação foi dada pelo superinten-

particulares. “Os donos das propriedades pos- po, as cidades estão à míngua. “Até hoje não se dente substituto do Ibama no AM, José Ricardo
suem títulos definitivos que garantem a regula- entende para onde vai todo esse dinheiro (da Araújo Lima, e do procurador do órgão, Faulo

mentação da posse da terra”, disse o presiden- madeira)", diz um funcionário público sob con- Figueiras. Eles explicaram ainda que a liminar
a
teda entidade. Túlio Albuquerque, que é con- dição de anonimato.
concedida pelo juiz federal da I Vara, Marcos

tra a operação. “O Ibama está favorecendo o A apreensão do barco que transportava o lote
Augusto de Sousa, suspendendo o leilão das toras,

direcionamento da mão-de-obra para o de madeiras íoi contestada por políticos locais,


não favorece os madeireiros, cujo objetivo era

narcotráfico”. Casara retrucou a afirmação, di- como vereador Valério Ramos, de Benjamin recuperar a madeira apreendida e interromper a

zendo que “concordar com a exploração pre- Constam. Eles afirmam que a medida é arbitrá- fiscalização. O Ibama informou ainda que a che-

datória seria concordar com um alto prejuízo à ria, já que a atribuição pertence à Capitania dos fe subsfiUita da Funai local, Sílvia Regina Tafuri,

sociedade”. (OESP, 15/05/96) Portos, Hoje, uma comissão de vereadores de confirma em documento que a madeira foi reti-

Benjamin Constam deve impetrar um mandado rada dos rios Ituí e Iíaquaí, na reserva. Vale do

... E MADEIREIROS RECLAMAM de segurança contra o Ibama por suposto abu- Javari. (A Crítica, 23 e 24/05/96)

DE DESEMPREGO so de poder. (A Crítica, 22/05/96)


RUSSOS PRESOS NA
O chefe do DEI1 da Funai, sertanista Sidney ... GERA AMEAÇAS DE TI SÃO DEPORTADOS
Possuelo, considerou como “jogo de pressão" MADEIREIROS E POLÍTICOS
das madeireiras a denúncia de que 60 mil tra- A PF deportou dois cidadãos de nacionalidade

balhadores no Alto Solimões estão sem empre- Parte da madeira apreendida nos rios Pau Bran- russa que foram encontrados e presos no inte-
go em conseqiiência da apreensão de madeiras co e Extremão pertence ao madeireiro José rior da TI Vale do Javali no dia 18, numa ope-
em toras pelo Ibama. Para o indigenista, a rea- Siqueira Filho, de 74 anos, que explora a ativida- ração conjunta com o Departamento de Índios

ção dos madeireiros acontece sempre que uma de há mais de 50 anos. Cearense do interior do Isolados da Funai . De acordo com informações
ação de fiscalização é realizada sobre a saída estado, ele alertou que está disposto a reunir 200 da Funai, os dois russos Vladmir Zeverev e

ilegal de madeiras da região e do Vale do Javari, homens armados para lutar contra a operação Anatoli Khijniak, ao serem abordados pela equi-
Ele lembra que o Vale do Javari sempre pediu que classifica como “o tiro de misericórdia” na pe do Departamento e pelos agentes da PF, se

uma maior atenção do governo através dos ór- economia de dois municípios dependentes da identificaram como sendo arquiteto e geógrafo.
gãos públicos, como o Ibama, a Funai c a PE comercialização de madeira. “Estou arruinado, Contaram que vieram ao Brasil para conhecer
Possuelo denuncia que a madeira cruza o mas sou capaz de gastar o último cartucho da populações indígenas, atraídos por reportagens
Solimões, chega a Manaus (AM) e sai do país minha espingarda para trocar tiros contra as feitas pela televisão do país deles e por ima-

por Belém (PA). “Alguns carregamentos de metralhadoras dos federais e militares", disse. O gens na rede mundial de computadores
madeira brasileira são feitos com notas fiscais barco apreendido pelo Ibama pertence a Azanir (Internet) .
(A Crítica, 23/03/99)
de empresas peruanas”, declarou. Possuelo está José Graça. Graça disse que o Ibama está usando
na região comandando a frente de atração dos seu barco na operação indevidamente. Um servi- TRÁFICO USA ÍNDIOS, DIZ
dor do órgão confirmou a informação, mas
Korubo. (A Crítica, 16/05/96) SECRETÁRIO ANTIDROGAS
negou que haja empecilho legal no uso.

NOVA APREENSÃO Em Benjamin Constam, e Atalaia do Norte, a no- índios da região dos rios Javari e Japurá, no
tícia de que toda a madeira apreendida será lei- Amazonas, estão sendo usados para transpor-
DE MADEIRA...
loada provocou indignação em políticos e em- tar insumos químicos do Brasil para laborató-
Fiscais do Ibama c da PF fizeram nova apreen- presários. Estes pretendem mobilizar a popula- rios de refino de cocaína na Colômbia. A infor-

são de madeira - cerca de 1.150 metros cúbi- ção em uma passeata contra a operação fede mação é do secretário nacional Anlidrogas,
cos - que estavam camuflados nos igarapés do ral. É visível a estagnação econômica da região, WaJter Maierovitcli, que participa em Tabatinga
Pau Branco e Extremão, afluentes do rio Quixito, a queda no comércio e a paralisação das serra- (AM) de um encontro com autoridades brasi-

Vale do Javari, município de Atalaia do Norte riascom a falta de matéria-prima. Das seis gran- leiras e colombianas. Maierovítch disse que os
(AM) Com a ajudou de
. um mateiro, os fiscais des serrarias, cinco estão paradas. O desempre- traficantes usam os índios para trazer insumos
conseguiram chegar ao local, depois de bloque- go é crescente. (A Crítica, 22/05/96) do Acre pelo rio Javari, passando pelos rios

POVOS ÍNDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOClGAMBIENTAl JAVARI 435


SAUDE
REGIÃO DO ITUÍ SOFRE
SURTO DE MALÁRIA...
Cinco dos cerca de 200 índios doentes de ma-
lária tipo falciparum morreram na comunida-
de de Massapé, no rio Ituí, município de Ata-
laia do Norte. A falciparum é letal e mata em
menos de uma semana pessoas que nunca con-
traíram a doença, caso não haja tratamento
adequado. A informação foi dada pelo índio
Clóvts Marubo, do Civaja. Até agora, a equipe
da Funasa só conseguiu levar atendimento ã
comunidade de Massapé, onde existe o foco.
As demais localidades continuam com o aten-
dimento descoberto. Um trabalhador do rio
Quixito, comunidade de Cachoeira, disse que
há mais de um ano a Funasa não aparecia no
local para fazer atendimento. Sem dinheiro e
remédios, a Prefeitura de Atalaia do Norte está
sem condições de ajudar a Fundação. “Aqui
nesse fim de mundo, só podemos contar com a
Sidney Possuelo, da Funai, disc Lite com os pescadores em Atalaia do Norte.
ajuda de Deus”, disse um morador local, víti-
ma de malária.
Solimões c Japurá, alé entrar na Colômbia pelo no Amazonas, Mauro Spósito. "No dia dez, como
O coordenador da Funasa, Horácio Augusto
rio Caquetá. A rota alternativa é pelo rio Içá, prometemos, fomos a Tabatinga e entregamos
de Almeida, reconheceu que estão ocorren-
que muda de nome para Putomayo ao entrar todo o material dos pescadores que estava reti-
do muitos casos de malária na região do
em território colombiano, disse Maierovitch, do no posto da Funai”, contou o presidente da
Solimões e Vale do Javari. De acordo com a
por telefone, (JB, 28/05/99) Colônia de Pescadores Z-3 de Benjamim Cons-
fundação, há registros de 112 casos só no
tant, João Vieira.
Vale. do tipo vivax e falciparum. Horácio afir-
POLÍTICOS ACUSADOS DE Além da devolução do material, o delegado
ma que a situação está controlada e que há
Spósito se comprometeu a agendar uma audi-
PROTEGER PESCADORES cinco equipes da Funasaem ação na região.
ência púbUca de dois representantes dos pes-
0 coordenador do órgão informa que a situ-
O vereador de Atalaia do Norte, Edmar Chagas cadores com o procurador Geral da República,
ação mais complicada é na comunidade de
da Silva(PMDB), e o ex-vice prefeito do muni- Geraldo Brindeiro. (A Crítica, 16/02/00)
Massapé, onde uma equipe esteve durante
cípio, Marcos Monteiro da Silva, são acusados
este mês atendendo à população infectada e
de raptarem ontem três presos que estavam
... MAS VOLTAM A INVADIR TI fazendo borrifações contra o mosquito trans-
sendo encaminhados para a PF de Tabatinga por
Inconformados por não poderem pescar nos
missor. (A Crítica, 23 e 24/05/96)
invasão da TI Vale do Javari. Com os invasores
- Raimundo Alves de Andrade, Laurimar Lopes rios Itaquaí e Ituí, localizados na reserva indí-

Alves e José Alves Lopes - foram apreendidos gena Vale do Javari, os pescadores de Benjamim ... E RECEBE SOCORRO DE ONG
400 quilos de peixe Uso, tracajá abatido, mate- Constant e Atalaia do Norte planejam desafiar a
Profissionais da Médicos Sem Fronteiras
rial de pesca, armas e canoas. A prisão dos in- vigilância da Funai e entrar na reserva em bus- (MSF), ONG que atua em regiões carentes do
vasores da TI foi feita por uma equipe de fisca- ca de peixe. Uma reunião ratificou a posição mundo, estão no Vale do javari, prestando
lização da Funai e policiais militares de dos ribeirinhos de entrar ilegalmente na região, comunidades indígenas locais.
assistência às
Tabatinga.A área já está delimitada, aguardan- a exemplo do que ocorreu em janeiro, quando A entidade está tentando controlar o surto de
do demarcação, mas vem sendo invadida cons- queimaram o posto da Funai local. “Dessa vez, malária que só neste ano atingiu 1 68 índios.
tantemente por madeireiros, pescadores e ca- o objetivo é somente pescar", sustenta João A MSF preparou 13 microscopistas indígenas
çadores. (A Crítica, 15/07/99) Vieira da Silva, presidente da Colônia de Pesca- e deixou às comunidades sete microscópios
dores Z-3, completando: “Queremos um acor-
e sete motores “rabetas” para servir de apoio
PESCADORES DEVOLVEM do que nos permita transitar em parte da reser- ao trabalho de diagnóstico da malária e para
va”, disse Vieira. (A Crítica, 11/07/00)
CANOAS E REDES... o transporte dos agentes de saúde e doentes
da área. (A Crítica, 01/06/96)
Os pescadores de Benjamim Constant e Atalaia
do Norte cumpriram sua parte no acordo que
uma “guerra" com funcionários da Funai,
evitou
comandados por Sidney Possuelo, e com o de-
legado-chefe do Departamento de Projetos Es-
peciais da Superintendência da Polícia Federal

436 JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl


; ;

TERRA/DEMARCAÇÃO Somente poderão ingressar e locomover-se na Peru, vivem grupos Kanamari, Korubo (este,

área, por tempo determinado, pessoas autori- recentemente contatado pela órgão indigenista
zadas pelo Departamento de índios Isolados da federal), Kulina, Marubo, Matís, Mayoruna,
PORTARIA RESTRINGE Funai. A restrição não se aplica às Forças .Arma- além de outros ainda isolados. Com a aprova-
INGRESSO NA TI das e policiais, no exercício de suas funções ção do relatório, publicado no DOU no dia 29
VALE DO JAVARI... constitucionais, cujas entradas e deslocamen- de maio, abre-se 0 período de 90 dias para 0
tos deverão ser acompanhados por funcionári- encaminhamento de contestações à Funai, com
Através de Portaria n° 810, de 25 de setembro os da Funai. (DOU, 30/09/96) base no Decreto 1.775/96. (ISA, 03/06/98)
de 19%, 0 presidente da Funai, Júlio Gaiger,
baseado no reconhecimento do direito dos ín-
FUNAI APROVA TERRA
... E MINISTRO A DECLARA
...
dios às terras que ocupam, independente da
DOIS ANOS DEPOIS... DE POSSE PERMANENTE
demarcação, estabelece a restrição ao direito
de ingresso, locomoção e permanência de pes- O presidente da Funai, Sulivan Silvestre, apro- Através da Portaria n° 818 dei 1/12/98, 0 mi-
soas estranhas aos quadros da Funai, por três vou no último dia 26 de maio as conclusões do nistro da Justiça Renan Calheiros declara de
anos, no perímetro da TI, descrito pela Porta- relatório de identificação e delimitação da TI ocupação permanente indígena a TI Vale do
ria n° 1.849/E de 8 de abril de 1985 que inter- Vale dojavari, com 8.457.000 ha. Na área, situ- Javari, com 8.519.800. ha de superfície e 2.068
ditou a área. ada no estado do Amazonas, fronteira com 0 km de perímetro, localizada nos municípios de

PROGRAMA INVESTE NA PROTEÇÃO DA TI VALE DO JAVARI


Parceria entre Funai e Centro de Trabalho O PROGRAMA DE PROTEÇÃO • Implementar um programa de sensibilização e
Indigenista prevê continuidade das ações ETNO-AMBIENTAL DO VALE DOJAVARI de educação ambientaljunto a população regio-
envolvendo “ índios isolados” e defesa da TI rud habitante do entorno da TI;

como um todo. Visando reforçar essa política de proteção efisca- • Pronujver intercâmbio com outras iniciativas
lização, o DEU e 0 Centro de Trabalho Indigenista de proteção etm-ambiental na Amazônia;
Reconhecida e interditada pela Funai em 1985 a ,
(CTI) estabeleceram, em 1997, uma parceria para • Apoiar as atividades do Conselho Indígena do

Terra Indígena (Ti) Vale doJavari nunca foi obje- executar 0 Programa de Proteção Etno-Ambiental Vale do Javari (Ctvqja) visando orientar e capa-
to de uma estratégia de proteção e fiscalização do Vale dojavari. O Programa, com duração pre- citar seus dirigentes para as ações de proteção e
por parte do governo brasileiro. As retiradas ile- vista de 36 meses, teve apoio aprovado pela Agên- vigilância da TL
gais de madeira e de outros produtos eram feitas cia de Cooperação Espanhola (ABC!) em março de Visando atingir estes objetivos, o Programa pro-
abertamente, com 0 envolvimento da própria po- 1999, e pela Comissão Européia ( CE) em outubro pôs-se executar as seguintes atividades/ações:
pulação indígena aliciada pelos invasores. Tal
, do mesmo ano. • Reforçar a estrutura de fiscalização e vigilân-
estado de coisas só começou a mudar em 1996, Seu objetivo global é a preservação da Terra Indí- cia da base estabelecida na confluência Ituí-
quando a Funai, por iniciativa e sob a coordena- gena Vale dojavari, visando o bem estar dos povos Itaquaí, aumentando seu efetivo técnico-
ção de seu Departamento de índios Isolados indígenas que ali vivem e seus recursos naturais, operacional e sofisticando sua rede de comuni-
(DEU), estabeleceu a Frente de Proteção Etno- principalmente os pequenos grupos isolados sob cação com a base logística de Tabatinga;
Ambiental do Vale do Javari. constante ameaça. Atendendo à filosofia de tra- • Estabelecer novas bases de controle (Postos de

A base de operações dessa Frente foi instalada na balho do DEU, 0 projeto não busca estabelecer o Vigilância) em pontas estratégicos da TI ( confluên-

confluência dos rios Itaquaí e Hui, limite seten- contato com os grupos indígenas isolados, a não cia dos rios Itaquaí-Quixito e Jutaizinho-Jandia-
trional da TI e região por onde costumam ser em situações extremas, quando isto se revelar tuba) e implementar as ações de fiscalização;
perambular membros da etnia isolada Korubo. O como a única alternativa viável fmra lhes garan- • Estabelecer um
sistema cartográfico geo-
apoio do Ibania e da Polícia Federal às atividades tir a sobrevivência física. referenckulo para o monitoramento da TI;
de fiscalização permitiu a realização de apreen- Trata-se de estabelecer um conjunto de ações de • Realizar sobrevôos periódicos para detectar in-
sões de carregamentos de madeira, peles e carne proteção visando propiciar-lhes condições de se- vasões e mapear as malocas de grupos isolados;
de animais silvestres e pescados extraídos ilegal- gurança para uma vida livre e autônoma - e, qui- • Implementar expedições terrestres sistemáticas
mente da TI interditada, bem como 0 indicia- çá, para recompor seu contingente populacional para identificação de sinais da presença de gru-
mento dos infratores. e seu modo de vida tradicional. Para tanto, foram pos isolados em determinados pontos da TI;
Em 1997, a equi/w da Frente decidiu estabelecer estabelecidos os seguintes objetivos específicos: • Estabelecer um banco de dados para delimita-

contato com um grupo de 21 Korubo que come- • Consolidar as estratégias de proteção física da ção da área de perambulação dos grupos isola-
çou a perambularfora dos limites da TI. O objeti- TI Vale dojavari dos e para 0 conhecimento da sua dinâmica de
vo era garantir a sobrevivência do grufx), que se • Mapear as dimensões das áreas de domínio dos ocupação;
aproximava perigosamente dos vilarejos ribeiri- povos indígenas isolados: • Implementar ações de saúdejunto aos Matis e
nhos. Hoje, esses Korubo mantêm relações pacífi- • Conhecer em detalhes a dinâmica de ocupação Korubo já contatados através de um barco equi-
cas com osfuncionários da Frente, de quem rece- destes povos, sem a necessidade de estabelecer 0 pado para esta finalidade;
bem eventual assistência de saúde, principalmen- contato • Organizar um kit audiovisual itinerante para
te para 0 tratamento de malária. • Estabelecer e executar um Plano de Atendimen- divulgação das ações do projeto junto à popula-
to à saúde aos grupos recém -contatados (Matis e ção não-indígena;
Korubo); • Implementar seminários e reuniões de traba-
• Melhorar o conhecimento sobre as populações lho nas aldeias dos povosjá contatados, com apoio
indígenas e a utilização que fazem dos recursos do Civaja, buscando 0 envolvimento mais efetivo
naturais para o estabelecimento conjunto de al- desta população nas ações de proteção e vigilân-
ternativas econômicas para os povos com longo cia. (Trechos de folder do Centro de Trabalho
tempo de contato; Indigenista)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL JAVARI 437


des de Atalaia do Norte e Benjamin Constant cir-
Atalaia do Norte, Benjamim Consumi, Julaí e São CIVAJA
Paulo de Olivença, no Amazonas. A portaria de- cula a notícia de que o juiz federal que conce-

termina a demarcação administrativa da área. deu liminar aos madeireiros é filho de um de-
ÍNDIOS APOIAM AÇÃO
(DOU, 14/12/98) les. O documento alerta ainda para o contra-
CONTRA MADEIREIROS bando de pescado para a Colômbia. (A Crítica,
O Civaja divulgou documento manifestando pre- 26/05/96)
FUNAI RKSTRINGE ACESSO ocupação em relação à exploração de madei-
À REGIÃO DE “ISOLADOS” O coordenador
ras na TI do Vale do Javari. da ÍNDIOS E RIBEIRINHOS
entidade, Clóvis Rufino Marubo, declarou que
A Ftinai, através da Portaria n“ 964, estabelece DISCUTEM EXPLORAÇÃO
“a extração de madeira vem gerando uma gran-
restrição ao acesso naTI Vale dojavari - Gleba SUSTENTADA
de invasão em nossas terras, o que resulta em
Itaquaí, localizada no município de Benjamim
conflitos entre o branco e os índios, principal- índios e ribeirinhos da Amazônia estão jun-
Constant, cuja extensão é de 7.200 ha e 74 km primeira vez, discutindo o desenvol-
mente os isolados (os Korubo), que correm o tos, pela
de perímetro. Esta lerra constava da Portaria
risco de extinção se a atividade continuar". Um vimento da região e a exploração sustentada
n“ 810, de setembro de 1996, que restringiu o
retrospecto apresentado da invasão das terras dos recursos naturais. O encontro inédito
ingresso à TI Vale do Javari, mas ficou fora do
indígenas cita várias etnias que foram extintas acontece desde ontem, num hotel a 25 quilô-
perímetro da TI quando foi declarada de posse
em consequência do contato com os brancos. metros do município de Atalaia do Norte - a
permanente. Devido à existência de índios iso-
O documento divulgado pelo Civaja ressalta que cerca de mil km de Manaus. O coordenador
lados, nesse perímetro, a Funai restringe a en-
a atividade madeireira não traz nenhum benefí- do Civaja, Clóvis Marubo, acredita que a dis-
trada, locomoção e permanência de pessoas
cio à população local, pois esta é realizada com cussão é a única saída para que índios e ribei-
estranhas aos seus quadros, pelo período de
trabalho semi-escravo. “A exploração vem sen- rinhos vivam em harmonia. Segundo ele, os
um ano. (DOU, 14/10/99)
do feita na área indígena que atualmente está brancos são muitas vezes insuflados por ma-
interditada pelo Ministério da Justiça; além dis- deireiros para ficar contra a demarcação das
CONTRATO PARA so, a madeira é explorada e exportada ilegal- terras indígenas. O encontro termina, na se-
DEMARCAÇÃO DA TI mente, o que vem caracterizando o contraban- gunda-feira, com a organização de um docu-
do que traz grandes prejuízos ao país". De acor- mento. O texto irá definir propostas para que
A empresa Selag Serviços Técnicos Uda. ven- do com o Civaja, os madeireiros pertencem à o governo apoie a parceria entre os grupos.
ceu a licitação para demarcar a TI. A vigência classe política local, inclusive à família do bis- Participam da reunião representantes da Funai,
do contrato assinado entre Funai e empresa é po Alcimar Magalhães, que incita a população a do Ministério da Saúde, da Pastoral Indigenista
de um ano a partir de 22/1 2/99, O custo é de apoiar a atividade com a promessa de doar do Alto Solimões e ainda do Cimi. (Jorna! da
Rí 1.179.810,00. (DOU, 24/12/99) madeiras para a construção de casas. Nas cida- Tarde. 18/04/98)

LIDERANÇAS INDÍGENAS CONTRA A CRIAÇÃO DO TERRITÓRIO FEDERAL DO ALTO SOLIMÕES


"As lideranças indígenas do Vale do Javari e índios, os ribeirinhos, enfim os trabalhadores da do fome, sem assistência de saúde e sem escolas.
Solimões. reunidas na III Assembléia Gera! do região, vão ficar esquecidos. Mas isto acontece principalmente pelo desinteres-
Civaja. na Aldeia São Sebastião, rioCuruçá mu- ,
O governo vai gastar muito dinheiro com a cria- se de políticos ou de burocratas que. como ele,
nicípio de Atalaia do Norte, entre os dias 10 e 13 ção do Território Federal, tendo que estruturar estão mais in teressados em defender a política dos
de março de 1997. vêm a público manifestar-se uma nova administração complexa cujos cargos governantes e fmderosos.
contrárias a proposta de criação do Território Fe- serão assumidos por gente de fora. É preciso mudara situação dramática de nossos
deral do Alto Solimões apresentada pelo Deputa- A gente sabe que quando Roraima e Rondônia povos, assim como dos pobres da cidade e
do Fuler Rifyeiro. passaram a ser Territórios Federais muita gente. detodos aqueles que vivem esquecidos nas mar-
Este projeto tem a pretensão de melhorar a vida veio de outros lugares para ocufmra terra, crian- gens dos rios.

da população, criar mais empregos, trazer gente do muitos conflitos com a população regional e Acreditamos que para melhorar, a única solu-
de fora para ocupar nossas terras consideradas os poi os indígenas que ali moravam. ção é oferecer mais recursos e condições de tra-
"vazios demográficos ", Além de profxir a seguran- Sabemos que o mesmo acontecerá aqui, já que as balho para as instituições locais, tais como: pre-
ça na área de fronteira. terras indígenas representam mais de 60% do to- feituras, entidades da sociedade civil, organiza-
Nossa memória é viva, não esquecemos que o tal da superfície do território do Alto Solimões. /lí ções indígenas. Recursos devem ser repassados
autor do projeto, Deputado Buler Ribeiro, mui- nossas terras serão invadidas e os nossos povos para região mas não para serem gastos com
,

tas vezes se posicionou contrário aos interesses sofrerão de novo muitas violências e desrespeito. mais administração, mais burocracia, como
dos povos indígenas. Na nossa região, ele apoia Principalmente os grupos indígenas isolados en- ocorre na proposta da criação dos Territórios
as empresas madeireiras jogando a população contram-se ameaçados devido à sua fragilidade Federais. Além disto faz-se necessário criar me-

regional contra os nossos povos. Ele tampouco no contato com a sociedade regiotud. canismos sérios de fiscalização desses recursos.
conhece a nossa realidade nem a vida e o sofri- Sabemos que as empresas madeireiras querem o Exigimos também a demarcação de nossas terras
mento dos ribeirinhos. Ele afirma estar preocu- Território Federal para poder conseguir mais como única forma de garantir a nossa sobrevi-
pado com a nossa situação. Ele está tão preocu- afxtio e recursos financeiros a fim de reiniciar a vência em respeito à própria Constituição de I9HH.
pado que não fez nada nem quando era secretá- extração da madeira de lei, sem quaisquer preo- Poderemos assim viver em paz na nossa Terra,
rio de saúde do Estado. cupações para os índios ou para os trabalhado- trabalhando e garantindo o nosso futuro, contri-
Corno poderíamos aceitar essa proposta sem des- res madeireiros que vêm explorando ao longo das buindo efetivamente com o desenvolvimento dessa
confiança, uma vez que vai beneficiar apenas os últimas décadas. região, resguardando inclusive melhor do que nin-

políticos desacreditados e os donos das empresas A única verdade contida no projeto do Deputado guém as fronteiras deste País. Aldeia São Sebasti-
madeireiras atualmentefalidas7 Como sempre, os Euler Ribeiro é que o povo está sofrendo, passan - ão, 13/03/1997".

438 JAVARI POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


9 .

Policiais da Dinandro
I polícia antinarcótico
do Peru ) investigam
com os Matsés da
comunidade Santa
Rosa, Quebrada
Chobas, informações
/
m
r
sobre a existência '
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de pista de pouso WV
/

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clandestina.

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CIVAJA BUSCA PROJETOS DE “FANTÁSTICO” DENUNCIA Vale dojavari, estamos com dificuldades de po-

ALTERNATIVAS ECONÔMICAS NARCOTRAFICANTES E der transitar para vender nossas produções na

As comunidades indígenas do Vale do Javari, na CIVAJATEME REPRESÁLIAS cidade e nem podemos remover doentes, difi-
cultando assim o nosso acesso com parentes e
região do Alto Solimões, querem quebrar a de-
Através de carta à Funai, os coordenadores do comunidades indígenas no Vale dojavari, e a nos-
pendência econômica da indústria da pesca e da
Civaja denunciam os riscos que correm após sa comunicação radiofônica é interferida por pes-
madeira. 0 Gvaja estuda a elaboração de proje-
denúncias divulgadas pelo programa de tele- soas que não se identificam. Sendo que nossa
tos agroextrativistas para buscar financiamento,
visão "Fantástico”, da Rede Globo: vida está em risco...
através do programa de Projetos Demonstrativos
“Nós, coordenadores do Gvaja, vimos através des- Além disso, os empresários madeireiros de Ben-
(PDA), patrocinado pelo PPG-7, Submetidos, du-
ta informar que a missão realizada pela PF no dia jamim Constant querem denegrir a imagem da
rante décadas, ao trabalho semi-escravo que abas-
6 a 16 de julho 1998, no rio Curuçá, com objeti- Funai e lançam notas no jornal dizendo que a
tecia a indústria madeireira, os índios das tribos
vo de localizar pistas clandestinas de narcotráfico Fundação pode ter facilitado narcotraficantes,
Kanamari, Marubo, Matís e Mayuruna começam
na área que foi divulgada no Fantástico no dia 1 culpando a entidade Médicos Sem Fronteiras e
a discutir alternativas econômicas capazes de
de julho de 1998, apareceram pessoas que esta- índios que estão envolvidos com o narcotráfico
romper com a dependência do capital estrangei-
vam acompanhando a tripulação do barco de pro- na região, isso è tumultuar para impedir a de-
ro. Jorge Oliveira Duarte, do Civaja, contesta a
priedade do Civaja, sendo todos eles indígenas, marcação da Vale do Javari... Queremos tam-
acusação dos madeireiros de Benjamin Constant
como entrevistados Darci Marubo e Waldez, fun- bém que crie um posto de vigilância definitiva
de que os índios estejam favorecendo a ação de
cionário do DU da Funai no Javari. O descobri- na entrada do rio Curuçá para controlar não
narcotraficantes na região. Segundo ele, os ma-
mento de saída de tráfico de drogas no afluente somente o narcotráfico, mas também a entrada
deireiros '‘espalham o boato” para interromper
do rio Pardo e igarapé Todos Santos, nesta ope- e saída de pescadores e caçadores que tiram
o processo de demarcação das terras indígenas
ração da PF, trouxe hoje um clima muito tenso também a caça a pesca, alevinos e filhotes de
na região. Cerca de 90% do território de Atalaia
para os índios das comunidades indígenas tartaruga, que estão ameaçados...
do Norte, onde está localizado o Vale do Javari, é
Marubo, Mayoruna e Kanamari, mais próximos Nós do Civaja, queremos ajudar muito para que
composto por área indígena em aproximada-
daquela região. Tememos que os narcotraficantes a demarcação de nossa terra sej a agilizada logo
mente 8.400.000 ha. (A Crítica, 04/08/98)
entrem em conflito com os índios. E também, os depois do final do prazo de contestação que
índios foram entrevistados pelo Fantástico, e nós termina no final de agosto de 1998. Queremos
do Gvaja, diante deste fato, estamos ameaçados apoiar a demarcação de nossas terras, dizendo
e acusados como informantes para a PF. Com isso, onde devem ser colocadas as placas junto com
índios em trânsito no referido rio Curuçá e rio a Funai, e a equipe de demarcação de nossas
Pardo, principalmente rio Javari que é fronteira terras...” (O Mensageiro, set-out/98)
do Brasil com o Peru e território dos povos do

POVOS INDÍGENAS NO BRASIl 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AM8IENTAL JAVARI 439


"IS0LAD0S7K0RUB0 água. Em 1972, a Funai pagou caro por ter PRESSÕES DE MADEIREIROS
montado o acampamento na margem esquerda CONTRA VIGILÂNCIA
do rio Itaquaí. Furiosos com a presença dos
EXPEDIÇÃO DE CONTATO sertanistas em suas terras, os índios incendia- O clima entre madeireiros e indigenistas no
VIA S ATE LITE ram o acampamento, matando o servidor Moisés Vale do Javari voltou a ficar tenso no fim da

A National Geographic começa a exibir esta se- Santana e um trabalhador braçal. Para Possuelo, tarde de ontem, quando um grupo de jagun-
a revolta dos Korubo é resultado dos massacres ços invadiu as terras da tribo arredia Korubo
mana, direto da Amazônia brasileira, todos os
que eles sofreram dos madeireiros e morado- e ameaçou matar um por um os funcionários
passos de uma expedição da Funai que tentará
res da região. (O Globo, 13/10/96) da Funai que mantêm vigilância na entrada da
fazer contato com os índios Korubo. A aventu-
área, na foz do rio Itaquaí. A informação foi
ra, chefiada pelo indigenista Sidney Possuelo, o
confirmada ontem pelo comandante do 8 Ba-
parte de Tabatínga, junto à fronteira com a Co- E CONSEGUE
...
talhão de infantaria da Selva, coronel José An-
lômbia e prossegue por barco e a pé através da CONTATO AMISTOSO
tônio Braga. Segundo a nota, várias ameaças
mata. Os relatos e imagens serão transmitidos
Após anos de tentativas frustradas, o sertanista de morte foram dirigidas aos indigenistas, a
via satélite. (Isto É, 28/08/96)
Sidney Possuelo, da Funai, conseguiu atrair de ontem teria sido a mais grave. O adminis-
neste final desemana o principal grupo de ín- trador regional da Funai, Benedito Rangel, dis-
FRENTE DA FUNAI AVANÇA...
dios isolados do Vale do Javari. Os Korubo re- se que não há ainda confirmação oficial da
Oito sertanistas caminham há dois dias pela colheram os presentes típicos desses encon- origem das ameaças. “Podem ser contraban-
mata fechada da reserva do Vale do Javari, na tros: panelas de alumínio, facas e machados. distas, madeireiros ou até mesmo narcotrafi-

divisa com Colômbia c Peru, com a missão de O contato foi amistoso e a equipe da Funai, cantes”, revelou. O comandante militar de
entrar em contato com os índios Korubo e salvá- com 16 integrantes, chegou até a maloca dos Tabatinga, porém, garante que as ameaças são
los do perigoso assédio dos madeireiros. As Korubo para retribuir a visita que os indígenas frutodo confronto entre “uma força que quer
malocas dos índios são de difícil acesso: a mata haviam feito semana passada ao acampamen- madeira e outra força que quer preservar a
tem de ser aberta a facão e a água, nos igarapés, to da frente. Agora, Possuelo e sua equipe es- etnia indígena". (JB, 14/12/96)
chega na cintura dos funcionários da Funai. tão tratando de consolidar o contato, eliminan-
Sidney Possuelo explica que só resolveu reto- do o risco de uma reação imprevisível dos FUNAI AUTORIZA A RETIRADA
mar os trabalhos da frente de contato com os Korubos, perto de 150 índios, ainda que esta- DE TORAS JÁ DERRUBADAS
Korubo por temer que os índios sejam exter- tísticas vagas avaliem que eles podem ser uma
minados pelos madeireiros. A base da nova fren- população entre 200 e 2 mil índios. Para efeti- A Funai permitiu a entrada de madeireiros no
te de atração foi montada num barco que está var o contato com os índios, Possuelo ficará Vale do Javari, na área dos índios Korubo. A
ancorado no rio Ituí para evitar ataque dos pelo menos três anos no Vale do Javari. (OF.SP, autorização foi concedida para a retirada de um
Korubo, que não sabem nadar e têm medo de 17/10/96 e O Globo, 18/10/96) carregamento de madeira deixado para tris,

449 JAVARI POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAI


l

FUTEBOL ANTI-DOPPLNG
Os quase mil km cortados /w/o rio Javari, marcan- encontrado uma bola de futebol no barco dos vi- 0 campo de terra rapidamentefoi transformado
do a fronteira entre Brasil e Pera, fazem parte de sitantes. Foi o suficiente para quebrar a formali- em pântano com a chuva que caiu durante a fmr-
uma das regiões mais isoladas do mundo. Segundo dade da reunião. 0 cacique Antônio tomou a pa- tida. A bola impregnada de lama, assim como
as policias brasileira e peruana, os Índios MatséZ lavra e imediatamente desafiou o grupo de poli- todos os jogadores, muitas vezes era irreconhe-
Mayoruna, que habitam a região, são usados por ciais para uma partida de futebol no centro da cível em meio a confusão de pernas e corpos
traficantes peruanos para transportar grandes car- aldeia. Para Amauri e seu grupo era o equivalente caídos, na tentativa defazer um gol. Os quaren-
regamentos de cocaína, ou produtos químicos, até a fumar o "cachimbo da paz”. ta minutos de "guerra " entre policiais e índios
as pistas de pouso clandest inas abertas na selva. Para os moradores da aldeia 31 seria a segunda opor- resultou em um empate de três gols. Exaustos
Durante uma operação da PF brasileira, em abri tunidade de fxirtici[)ar de umjogo defutebol contra com o calor, e pelos efeitos da malária, resolve-
de 1999, para investigar a presença de trafican- um time estrangeiro. A /mineira foi quando seus ram decidir suas diferenças numa cobrança de
tes na área indígena, um grupo de policiais foi à parentes matsé, que vivem do outro Uuio do rio. em pênaltis. Desistiram depois de várias tentativas
aldeia 31, onde vivem 312 mayoruna, em busca território peruam, levaram a primeira bola e os en- sem sucesso. Ao final índios e policiais olharam-
de informações. 0 agente Amauri Bezerra Lima, sinaram a dar os primeiros chutes. Desde então es- se, não mais como adversários, mas como viti-

trêmulo de malária, contraída durante os 20 dias tavam esperatulo a oportunidadepara encontrar um mas de um sacrifício. Acabaram no rio toman-
da viagem, foi recebido pelos desconfiados caci- novo adversário. Temíveis como guerreiros no pas- do banho, como num vestiário de um grande
ques no interior de uma grande maloca. Alertou sado, os mayoruna, não admitem perder. Enquanto estádio. Se em campo não conseguiram uma vi-
para os riscos do envolvimento com traficantes, os policiais deixaram suas arnuis no barco, impro- tória, os policiais certamente conquistaram a

ofereceu medicamentos, e tentou apurar novas visando um uniforme parajogar, os índios, concen- confiança da tribo mayoruna. Sabem que nas
informações. Os índios ouviram em silêncio, apoi- trados em frente à maloca do cacique Antonio, pin- próximas investigações uma bola de couro será
ados em lanças e flechas,até que um jovem en- taram -se eforam para o campo segurando suasfle- mais eficiente do que temíveis metralhadoras.
trou pela pequena porta anunciando que havia chas como para uma "guerra". (Ricardo Beliel, revista VSD, edição 1 144, jun/99)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JAVARI 441


após a área ter sido interditada para assegurar PF INVESTIGA MORTE DEU NO NEW YORK TIMES:
a sobrevivência dos Korubo e favorecer a ação
A Superintendência da PF no Amazonas vai abrir
A ÚLTIMA BATALHA TRIBAL
da frente de atração liderada pelo indigenista
inquérito para investigar a morte do funcionário Em matéria de dez páginas publicada na revista
SidneyPossuelo. (A Critica, 14/01/97)
da Funai, Raimundo Batista Magalhães, na TI Vale de domingo do New York Times, Diana Jean
do Javari. Para a Funai, a causa do ataque seria Schemo relata a expedição de Sydney Possuelo
SERTANISTA É MORTO uma reação a brigas, disputas e conflitos acu- no seu primeiro contato com os índios isola-
POR KORUBO mulados nos últimos anos. “Esses índios vêm dos Korubo,
Os índios Korubos, que após vários anos de iso- sendo assassinados, massacrados, explorados, Ilustrada por grandes fotos coloridas de Nicolas
lamento entraram em contato no ano passado roubados pelos brancos há anos”, disse Rcynard, mapas apontam para uma região onde,
com uma expedição chefiada peio sertanista Possuelo. Na região, há ribeirinhos que extraem
segundo a autora, “índios nus ainda vivem no
Sidney Possuelo, mataram ontem (22/08/97) madeira, caçam, invadem a área indígena, “já ritmo da floresta, assim como há centenas de
o auxiliar de sertanista Raimundo Batista Ma- ocorreram dezenas de mortes dos dois lados." anos; comendo o que ela provê”.
galhães, conhecido como Sobral, A Funai ain- No posto trabalhavam dez funcionários. Apenas
Na reportagem, Schemo questiona se esses ín-
da não tem detalhes sobre o ataque dos índios, Magalhães e mais dois eram efetivos. Os outros dios isolados devem ser expostos ao mundo
que vivem no vale do Rio Javari. Nos últimos 20 são contratados temporários. Três estão afasta- moderno. (New York Times, 31/10/99)
anos, os Korubo, conhecidos como índios dos, doentes de malária, (A Critica, 26/08/97)

caceteiros por utilizarem bordunas como arma,


já haviam matado sete servidores da Funai e dois FRENTE DARÁ PROTEÇÃO
funcionários da Pctrobrás, (JB, 23/08/97) AOS “ISOLADOS”
A Funai, através da Portaria n" 1.071, determi-
nou que a proteção aos grupos indígenas isola-
dos seja exercida pela Frente de Contato Vale
do Javari/DEIl (Departamento de índios Isola-

dos/Funai), A proteção ambiental da TI Vale do


Javari também fica sob a responsabilidade da
frente de contato. (DOU, 02/12/98)

447. JAVARI POVOS INOiGEUAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


•«i-J?,-» Acervo
_// 'SÁ

6. JURUÁ
JUTAÍ
PURUS

Kulina
^Lj7^ Acervo
—f/í ISA
6. JURUÁ
JUTAÍ
PURUS

PERU

J^BlrtrlNWÇA IC AR APJ
.nOt.U)* m issÀo

'—AMA ZO^A^V/ \
t arauaRI.

abufari

*U/I Dl
piTiiio
iaitá

limite interestadual TERRAS INDÍGENAS


rodovia implantada reconhecida oficialmente
mais de 15.000 ha

® capital de Estado
À reconhecida oficialmente
menos de 8.000 ha
• cidade
A em identificação
(sem perímetro
ou a identificar
definido)
tV.V.W.I Unidade de Conservação federal
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL/2000

! \
apresentada em outro capitulo
50 0 50 100 Km
)

* Acervo
ISA
JURUA/JUTAI/PURUS
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n®, fonte, data (ha)

391 Acima Apurinã 40 Funaí: 99 Homologada. Reg. CRI. 40.686 Lábrea AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a TI. Reg. CRI
Matr. na comarca de Lábrea R3-1963, Liv. 2-H,
fl. 25 em 15/12/97. OF. 033 abra processo no
SPU em 19/01/98

353 Água Preta/lnari Apurinã 165 Funai: 95 Homologada. 139.763 Pauini AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação.
IDOU, 04/1 1/97}

357 Alto Sepatíni Apurinã 85 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI. 26.095 Lábrea AM PMACI.
ITerra dos Macacos) Dec. s/n dç 05/OV96 hqmploga a demarcação
(DOLT, 08/01/SG). Reg. CRI Matr. RM*2, Liv.2-H,
fl. 24 em 15/12/97.

20 Apurinã BR 317 km 124 Apurinã 162 Funai/R. Branco: 93 Homologada. Reg. CRI 42.198 Boca do Acre AM PMACI. Faíxa de fronteira.
Dec, 251 de 29/10/91 homologa a cemercaçãc Lábrea AM Requerimento de pesquise
administrativa (DOU, 30/10/911. Reg. CRI minera). Rodovia BR‘317 corta a
Boca tfo Acre (8.900 ha) Matr. 1758, Liv. 2, fL 79
em 09/12/91, Lábrea (33.297 ha}, Matr. 1642, Liv. 2F,
386 em 28/11/91. Proc. SPU Df. 131 em 1 1/08/93.
fl.

21 Apurinã do Apurinã 58 Relat. GT: 98 Identificada/Aprovada/funai, Sujeita a Contestação. 18.270 Tapauá AM Rodovia estadual no limite.

lg. Sao João Port. Funai 226/98 cria GT p/estudos e identificação


da TI. Despacho dc pres. da Funai aprova o relatório
da identificação (DOU, 03/12/99).

22 Apurinã (lo Apurinã 74 Funai Manaus: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 96.456 Tapauá AM Rodovia estadual corta a área. Faz
Ig.Tauamirjm Dec. 253 de 29/10/91 homologa demercaçao limite com a Reserva Biológica do
(DOU, 30/10/91 J. Reg. CRI de Tapauá Matr. RI-613, Abufari.
Liv. 2-D, fl. 15 em 31/05/99. Reg. SPU Cert. 006 em
16/04/96.

Arama/Jnauini Isolados 0 A Identificar. 0 Pauini AM Isolados.


IHeck: 86)

392 Banawa/Rio Piranhas Banawa Yafi 215 Funai: 99 Delimitada. 79.680 Tapauá AM PMACI
Port. Min. 260 de 28/05/92 declara de posse
permanente (DOU, 29/05/921. Port. da Funai 86 da
12/02/99 cria GT para revisão de limites da TI
(DOU. 19/02/99).

55 Boca do Acre Apurinã 121 Funai: 99 Homologada. Rsg. CRI. 23.240 Lábrea AM PMACI. Faixa de fronteira.
Dec. 263 de 29/10 /91 homologa a demarcação Boca do Acra AM Rodovia 8R-317 corta a área.
IDOU, 3Q/1 0/91), exclui área de servidão da BR 317.
Reg. CRI Boca do Acre <8.772 ha) Matr. 1.716.
Liv. 2-GD, fl. 30. 21/12/90 Reg. CRI em Lábrea
(17.512 ha}. Matr. 1.508. Liv.2-F, fl. 209em 02/05/89.
Proc. SPU Cert. 092 Suaf em 1 1/04/89.

62 Cacau doTarauacá Kulina 230 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 28.367 Envira AM
Oec. n.272 de 29/10/91 homologe a demarcação
(DOU, 30/1 0/911. Reg. CRI em Envlra, Matr. R-1-171,
Liv. 2 A, f 1. 171 em 22/1 0/91. Reg. SPU Cert. 01 5 em
15/08/97.

67 Caititu Apurinã 220 Funai: 99 Homologada Reg. CRI e SPU. 388.062 Lábrea AM PMACI.
Paumari Oec. 282 de 29/10/91 homologa demarcação
Jamamadi (DOU. 30/10/91 ). Reg. CRI Matr. 1503 Liv. 2-F,

fl.192/195 em 31/D3/89. Reg. SPU 173-AM em 29/07/88.

516 Camadeni Deni 65 Parecer/Fun8i:91 Homologada. 150930 Pauini AM PMACI.


Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
(DOU. 04/1 1/97).

59 Camicuã Apurinã 285 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 58.519 Boca do Acre AM PMACI.
Dec. 381 de 24/12/91 homologa demarcação
(OOU, 26/12/91). Reç. CRI Matr. 176S, Liv. 2 G,
em 22/01/92. Reg SPU Cert 10 em 24/11/95.

|
fl. 87/88

405 I Apurinã 120 Funai: 99 Homologada. 115.044 Pauini AM PMACI.


Dec. s/n de 03/11/97 homologa n Tl (DDU, 84/11/97)

91 Deni Deni Kulina 672 Funai Manaus: 00 Em Identificação/Revisão. 998.480 Tapauá AM


Port. 1913/Ede 07/01/85 p/ identificação e Itamarati AM
levanta mento fundiário. Contratação da consultoria
técnica para realização do trabalho de identificação
e delimitação (DOU. 14/06/95). Pon. 1.828 de 06/11/98
cria GT p/estudos, levantamento e identificação da
Tl IDOU, 12/11/98). Port. Funai 126 de01/03/98 cria
GT p/estudos de levantamento e identificação.
IDOU, 03/03/99).

719 Fortaleza do Palauá Apurinã 31 Funai: 39 Delimitada. 760 Manacapiru AM


Portaria Ministerial 403 de 12/08/99 declara de
posse permanente (0011,13/08/99).

387 Guajahã Apurinã 135 Funai; 99 Homologada. 5.036 Pauini AM PMACI.


Dec. s/n de 11/12/98 homologa a demarcação
(DOU. 14/12/901.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ/JUTAÍ/PURUS 445


) /

* Acervo
ISA
UTAI/PURUS
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2ÜtiO

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n®, fonte, data (ha)

445 Hí-Merimõ Marimã 0 Com Restrição de Uso. 365.000 Camarua AM Isolados.


Port. pres. da Funai 553 de 15/07/96 estabelece Tapauá AM
restrição ao direito de ingresso, locomoção e
permanência de pessoas estranhas aos quadres
da Funai por 2 anos. (DO 11,26/07/95). Port. pres.
Funai 786 de 28/07/98 prorroga a restrição ao
uso da área por mais 2 anos (0011,30/07/981.
Port. Funai 86 cria ST p/ estudo e levantamento
de identificação da TI (DOU, 19/02/99).

393 Igarapé Capanã Jamamadi 40 Funai: 99 Homologada. Reg.CRI. 122.555 Boca do Acre AM PMACI. Requerimento de pesquisa
Dec. s/n em 03/1 1/97 homologa a demarcaç3o mineral.
(üOU, 04/1 1/97). Reg. CRI em Boca do Acre
Matr. 2.030, Liv. 2-H.fl. 75/76 em 29/12/97.

Igarapé Carioca Apurirã 0 Em Identificação. 0 Manacapuru AM Sem localização.


Proc. 1574/92 cria GT p/ identificação da área.

539 Inauíni/Teuini Jamamadi 107 Funai/R. Branco: 93 Homologada. Reg. CRI. 488.996 Boca do Acre AM PMACI. Fluna Alto Purus incide
Dec. s/n de 03/1 1/97 homologa demarcação Pauini AM parcialmente (67.863 ha
(DOU, 04/1 1/97). Reg. CRI em Beca do Acre aproximadamente) e a Flone
Matr. 2.029. Uv. 2-H, 11. 74 em 29/12/97. Mapiá-lnauini incide aproxim.
1.812 ha.

409 Jacareúba/Katawixi Katawixi 0 A Identificar. 0 Canutama AM PMACI. Isolados.


Isol.do Jacareúba Port. Funa^PP/272 de T0/02/87 p / identificação e
levantamento das necessidades dos índios isolados.

415 Jarawara/ Jarawara 40C Funai: 99 Homologada. 390.233 Lábrea AM PMACI.


Jamamadi/ Kanamanti Dec. s/n de 14/04/98 homologa a demarcação
Kanamanti Jamamadi (DOU,15/04/98). Port. 1.011 de 04/1 1/98 cria
Comissão Técnica p/efetua rpagtc de indenização
p/ benfeitorias consideradas de boa-fé.
(DOU, 12/11/98).

151 Jatuarana Apurinã 55 Funai: 95 Homologada. 5.251 Manacapuru AM Calha Norte.


Dec. 273 de 29/10/91 homologa a demarcação
(00U, 30/10/91),

421 Juma Juma G Funai: 97 Delimitada. 3-3.700 Canutama AM


Port. do ministro da Justiça n. 282 de 30/07/93
declara de posse permanente. Port Funai 26 de
10/01/99 cria GT p/realizar diagnóstico antropológico
junto ao grupo Juma. GT. (DOU, 39/01/99.1.

153 Juruô Kulina 0 Em Identificação/Revisão, 30.687 Juruá AM Faz limite com a Flana de Tefé.
Port. Funai 1.453/E
de 25/11/82 declara de posse
permanente dos indígenas.

160 Kanamari do Rio Juruá Kanamari 496 Neves/Labiak: 84 Homologada. 596.433 Eirunepe AM
Dec. s/n de 03/11/37 Resolução 74 de 14/10/99 Itamarati AM
revoga a resolução 45 de 01/04/97. E considera p/ Pauini AM
afeitos de ndenizaçâo as benfeitorias da boa-fé,
dos ocupantes não-índios cadastrados no levant.
Fundiário realizado p/ GT instituído p/ Port. 1.17/99
de 23/1 1/84 18/10/99). Port. Funai. 1.055 de
(DOU,
04/11/99 criaComissão Técnica pi assinar escritura
pública de reconhecimento de domínio em favor
da União que será lirmada no ato do pegto aos
ocupantes de títulos de dominio (DOU, 10/11/99).

169 Kaxarari Kaxarari 190 Funai/R. Brsnco: 93 Homologada. Rég. CRI. 145.869 Porto Velho AM PMACI - Planafloro. Faixa de
Dec. de 13/08/92 homologa s demarcação Lábrea RO fronteira. Requerimento de
adminisirativa (DOU, 14/08/92). Reg. CRI de pesquisa mineral
Lábrea (97.204 ha) Matr. 1.441. Uv. 2-F,íl, 113/114
em 13/07/88. Reg. CRI Porto Velho (48.647 ha)
Mair. 4.909 Uv. 2-RG, íl.OOl de 23/12/38. Proc.
SPU CT 150 Suaf em 10/06/88.

181 Kulina Co Médio Juruá Kulina 920 Fuínai;9S Homologada. 730.142 tpixuna AM
Dec. s/n de 11/12/98 homologa a demarcação Eirunepe AM
(DOU, 14/12/98). Port. Furtai 57B de 19/07/99 cria Envlra AM
GT para atualizar levantamento fundiário
(00U, 21/07/99).

433 Kulina co Médio Jutaí Kulina 30 Funai Manaus: 00 Em Identificação. 0 Jutai AM


Port. Funaf/PP/1682 de 31/10/86 p
levantamento da área.

708 Kumarudo LagoUala Kulina 280 GT/Funai: 95 Em Identifica çio. 89.000 Juruá AM
Port. Funai 745 de 18/C8/94 cria GT p/
identificação da área (DOU, 22/08/941.

1144 Marimã Isolados 0 Com restrição de Use. 87.966 Tapauá AM Isolados.


Port. Funai 1.071 de 22/11/96 restringe direito de
ingresso, locomoção e permanência na TI por 2
anos, por ser habitat de inúios isolados
(DOU, 28/1 1/S6). Port. Funai. 85 cria GT p/ estudos
e levantamento de identificação (DOU, 19/82/99).

446 JURUÁ / JUTAÍ / PUflUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1995/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
-
)

JUTAI/PURUS
Torras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioamhiental - Dezembro de 2000

Raf. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa {n
s
, fonte, data lha)

28 Mawetek Kanarnari 207 Relat. GT: 95 Delimitada. 118.000 Eirunepe AM Sem localização.
da Justiça 55$ de 0//10/S9 declara
Fort. ministro
de posse permanente indígena (DOU, 08/10/99).

503 Paumari do Cuniuá Kalukina Paumari 53 Funai: 95 Homologada. Fieg. CRI. 42.828 Tapauá AM
Dec, s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
(DOU, 04/11/97). Reg. CRI em Tapauá Matr. 1.755,
Liv. 2-E, 11. 45 em 31/12/97.

30 Paumari do Paumari 86 GT de Identif.: 98 Delimitada. 22.713 Tapauá AM


Lago Manissufi Port do ministro da Justiça 295 de 13/04/00
declara de posse permanente indígena
{DOU, 17/04/001

472 Paumari do Paumari Apurirã 561 GT de Identif.: 93 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 116.000 lábrea AM PMACI. Rodovia planejada BR-317.
Lago Marahã Port Funai 1128 de 07/11/97 cria GT p/reestudar a
TI, homologada Com 79.141 ha pur decreto de
03/09/98. Despacho do pres. da Funai aprova o
relatório de estudos e identificação |O0U, 20/08/99).

382 Paumari do ApurinS Pa uma 'i 60 Funai: 99 Homologada. 15.792 Tapauá AM


Lago Periçá Katukina Dec. s/n de 08/09/98 homologa a demarcação
(DOU, 09/09/98).

487 Paumari do Rio Ituxi Paumari 46 Funai/R. Srartco: 93 Homologada. 7.572 lábrea AM PMACI
Dec. s/n de 11/12/98 homologa a demarcação
(DOU, 14/12/98). Port 1.158 de 16/1 2/99 constitui
Comissão Técnica para pagto. das indenizações
de benfeitorias <le boa-fé (DOU, 23/12/99).

23 Peneri/Tacaquiri Apurinã 700 Funai: 97 Homologada. 189.870 Pauini AM PMACI.


Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
{DOU, 04/1 1/97). Port. 1 .336 constitui Comissão
Técnica para pagtc. das indenizações de
benfeitorias de boa-fé {DOU, 19/12/97).

284 Rio Biá Katukina 400 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI. 1.185.791 Jutai AM Rodovia planejada BR-230.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação Caracari AM Requerimento de pesquisa mineral.
{DOU, 04/1 1/S7). Reg. CRI emCarauari Matr. 1.233,
Liv. 2-E, 11. 248 em 12/01/98.

500 São Pedro/Sepatini Apurinã 45 Funai: 91 Homologada. Reg. CRI. 27.644 Lábrea AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
{DOU, 04/11/97). Reg. CRI em Lábrea Matr. R-1954,
Uv.2-H.il. 26 em 15/12/97.

202 Seruini/Marienê Apurinã 230 Funai: 96 Delimitada. Demarcação Física. 144.971 Pauini AM PMACI. A área do Exército Gleba
Port. do ministro da Justiça 813 de 10/12/98 Lábrea AM 25 de Setembro incide aproxim.
declara de posse permanente (DOU, 11/12/98). 19502 ha na TI.

Tapauá Paumari 0 A Identificar. 0 Canutama AM Sem localização.


Kalukina Funai: 83

309 Terra Vermelha ApurinS 45 Funai: 96 Homologada. Reg, CRI e SPU. 6.928 Beruri AM
Dec. 274 de 29/10/91 homologa a demarcação
administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CRI Berurí
Matr. 27, Liv. 2 R6. 11. 15 verso em 13/04/92. Reg.
SPU Cen.004 em 13/05/97.

510 Tumiã Apurinã 45 Funai/R. Branco: 93 Homologada. Reg. CRI. 124.357 Lábrea Lábrea AM PMACI.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação
(DOU, 04/11/97}. Reg. CRI em Lábrea Matr. R1-1965,
Liv. 2-H.fl. 27 em 15/12/97.

351 Zurjahã Zuruahã 135 FunBÍ:9G Homologada. Reg. CRI e SPU. 239.070 Tapauá AM
Dec.256 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU, 30/10/91 }. Reg.CRI Matr. RI/164,Liv. 2-D,
11, 17 em 13/06/30. Reg. SPU Cert. 004 em 12/04/96.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAl


• JURUÁ/JUTAÍ/PÜRÜS 447
Acervo
-V/Tisa

JURUÁ/JUTAÍ/PURUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCIOAMBIENTAL


.

Juma: a Tragédia de um Povo

Edmundo Antonio Peggion Antropólogo, UFMT

AOS CINCO SOBREVIVENTES DE HOJE NÃO maior dos massacres, no igarapé da Onça. Desse episódio sobre-
RESTA NEM A ESCOLHA DE ONDE MORAR viveram apenas sete.

Esses sobreviventes permaneceram em suas terras, já sem repre-

Osjuma tornaram-se conhecidos pelas ações trágicas impetradas sentar qualquer perigo aos invasores responsáveis pela tentativa

contra eles. São vários os registros em que constam ataques e ten- de extermínio. No final da década de 70 e início de 80, o Conselho
tativas de extermínio. Na década de 60, lutavam para impedir o indigenista Missionário (Ciini ) denunciou o massacre de 1964 atra-

avanço da exploração em suas terras, enquanto os invasores vés do jornal Porantim caracterizando o
,
falo como genocídio.

buscavam acabar com toda sua população. Em 1964, aconteceu o Entretanto, ao que tudo indica, o assunto caiu no esquecimento.

HISTÓRICO DOSJUMA E DOS CONFLITOS


Osjuma, um poro defiliação linguística Tupi-Guarani, habitam hoje índios da região do Purus, que até então, em meados do século XIX,
a região do rio Açuã, próximo à cidade de Ldhrea, ao sul do estado do era ocupada basicamente pela população indígena
Amazonas. A Terra Indígena Juma, localizada no município de
Alguns acontecimentos desse período estabeleceram uma ação de-
Camtama-AM, tem 38, 700 ha de extensão e foi declarada de Jmsse terminada em relação aosJuma. Em 1869, eles atacaram e mataram
permanente indígena através da Portaria n° 282 em julho de 1993
um casa! que riria na região, provocando o envio de tropas policiais
Osjuma pertencem a um grupo de povos denominados Kagwahiva,
ao local, a fim de evitara interrupção do extrativismo. Ta Ifato ocor-
que migrou como um todo. de acordo com os registros históricos, da
reu devido à imprudência de um homem que atirou contra um gru-
região do Alto Tapajós para as proximidades do rio Madeira. Nesse
po indígena que lhe acenou amistosamente.
processo, ocorreram fragmentações e hoje os grupos Kagwahiva lo-
calizam-se numa ampla área, com vários grupos habitando o médio Os conflitos com as populações indígenas começaram a acirrar-se

e alto rio Madeira e os Juma no Purus. Esses grupos têm em comum na segunda metade do século XIX. quando levas m igratórias foram
um complexo sistema de metades exogâmicas que recebem o nome chegando gradativamente do Nordeste do Brasil para trabalhar no

de dois pássaros: Mutum e Tararé. extrativismo. Esse acontecimento está diretamente relacionado com
a crescente utilização da borracha ftelas indústrias dos Estados Uni-
No Purus, os primeiros registros da área já apontavam os Juma como dos e da Europa, que atingiu seu ápice por volta de 1910.
habitantes daquela região. Com o início da ocupação efetiva do loca!
Padecendo perseguições continuas, os Juma tentavam a todo custo
por não-índios, começaram as guerras contra os povos que Ui residi-
manter seuterritório e integridade. Em novembro de 1959, eles ata-
am. Em meados do século XIX, buscava-se a interligação dessa bacia
caram um casa! no igara/vé Trufary, gerando uma grande revolta na
fluvial com o rio Madeira numa tentativa de evitar o seu trecho
população de Canutama. Entretanto, ta! ataquefoi resultculo de uma
encachoeirado. Ti nesse momento que surgiram as referências mais
invasão anterior de regionais a uma aldeia indígena. Após tomarem
pontuais acerca das Imputações indígenas que ali habitavam, vege-
conhecimento ilo fato, a população local organizou-se em um pe-
tação e clima locais.
queno exército, armado de espingardas e rifles com a clara intenção
As principais referências desse período são de Manoel Urbano da de exterminar toda a população Juma. Esse evento só não ocorreu
Encarnação, que navegou pelo Purus em 1861, João Martins da Silva devido ü intervenção do delegado de polícia local que demoveu o
.

Coutinho, em 1862 e William Clandless, em 1864 São informações grupo de seu Em um momento anterior, um grupo de regio-
intento.

que dão conta também da possibilidade de ocupação efetiva por não- nais já havia invadido uma aldeiaJuma. destruindo-a por completo.

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ / JUTAI / PURUS 449
Acervo
—l/yC I SA
Ti 1993, K; é, um componente do grupo, de 35 anos, foi atacado OS IMPASSES CRIADOS
e morto por uma onça. Os Juma reduziram-se, então, a seis indiví-
Hoje, os Juma estão reduzidos a cinco indivíduos - um pai, suas
duos - um casal de velhos, um homem e suas três filhas -, que
três filhas e uma neta. Tanto o pai quanto as filhas estão casados
ficaram recebendo assistência esporádica da Funai através da Ad-
com os Uru-eu-wau-wau e vivem atualmente o impasse de voltar
ministração Regional (ADR) de Rio Branco, que possui em Lábrea
para suas terras ou de abandoná-la e viver na aldeia do Alto Jamary.
um posto indígena da Frente de Contato Rio Purus, ligada ao De-
partamento de índios Isolados da Funai. Aruká, o pai das meninas, recebeu uma mulher, Boropó, mas essa
tem se recusado a permanecer muito tempo junto ao marido. Além
No início dos anos 90, tentou-se o casamento das meninas Juma
disso, por já ter sido casada com seu tio materno, Boropó tomou-
com homens Parintintin e Uru-eu-wau-wau. Contudo, todas as ten-
se alvo de uma crise interna nos Uru-eu-wau-wau. A ameaça de
tativas realizadas nessa época foram frustradas. Recentemente,
levarem-na para viver na TI Juma fez eclodir uma disputa pela per-
como todos estavam com a saúde abalada, resolveram mudar-se
manência da mesma na aldeia do Alto Jamary.
para as proximidades da estrada que liga I.ábrea a Humaitá. Nesse
local, ficaram acompanhados de pescadores que transitavam pelo Esse fator, associado à saída dos três principais caçadores, agora

Purus. Esses, aproveitando-se da fragilidade do grupo, seduziam casados com as mulheres Juma, nos leva a considerar que a crise
as jovens Juma, levando-as consigo para suas viagens através do com relação ao povo Juma provocou um problema junto aos Uru-
rio (Boletim de Ocorrência de Lábrea lavrado em 31/07/98). eu-wau-wau. Se os Uru-eu-wau-wau forem viver na Terra Juma, a
aldeia Alto Jamary' entrará em crise, e se os Juma forem viver junto
aos Uru-eu-wau-wau, poderão desaparecer e a referida Terra Juma
OS TEMPOS RECENTES não será nem mesmo demarcada. No futuro, caso os filhos desses

No ano de 1998, a Funai de Brasília começou a negociar a casamentos não sejam considerados Uru-eu-wau-wau, poderão
contratação de um antropólogo para propor uma solução alterna- reivindicar suas terras, que possivelmente estarão tomadas por
tiva ao povo, pensando em casamentos com indivíduos de organi- invasores e destruídas suas unidades de recurso, (abril. 2000)
zação social semelhante, uma vez que já não havia mais possibili-
dades matrimoniais internas. Ao mesmo tempo, a ADR de Porto
Velho retirou os Juma de sua terra, transferindo-os para a Casa do
índio. Tentava-se, então, solucionar um outro problema: a falta de
mulheres entre os Uru-eu-wau-wau da aldeia do Alto Jamary, em
Rondônia.

Essa transferência, realizada à revelia dos representantes da Funai,


tanto de Lábrea quanto de Brasília, acarretou no falecimento do
casal de velhos, ocorrido no Alto Jamary e comunicado 20 dias
após aos representantes das organizações indígenas e não-gover-
namentais. Os falecimentos de Itevi, no dia 23 de dezembro de
1998, e de seu marido, no dia 13 de janeiro de 1999, Memo 003/
(

98-PIV Alto Jamaty/ADR PVH e Nota de serviço PIV Alto Jamary


respectivamente) denotam que a transferência dos Juma foi uma
resolução desastrosa para esse povo. A juma Mandei,filha de Aruká, e seu

marido uru-eu-wau-wau Kowarivuru.

OS SOBREVIVENTES JUMA NO UNIVERSO DA ALDEIA URU-EU-WAU-WAU

LEGENDA
;
= i
,

H Juma
Uru-eu-wau-wau
1
lá.;'*. /\ homem
=
O mulher

BorehaT írowac
Bororó Aruká

i nr^n J
Arima

travejara (chefe)
itevi

Mande i

Koa ri
i
u ::
'
j
rrnA
w -ÚL n i—
j0T
=

I
i
casamento
germanidade
filiação
falecimento

450 JURUA/JUTAI/ PURUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
_//A ISA

0 Isolamento dos Hi-Merimã

Luciene Pohl Antropóloga consultora


na Funai/Manaus

A EXISTÊNCIA DOS HI-MERIMÃ, ISOLADOS NO


MÉDIO RIO PIRANHA, É CONFIRMADA POR MEIO
DE RELATOS DE VIZINHOS. ENQUANTO ISSO,
FRENTES DE EXPLORAÇÃO AMEAÇAM SEU FUTURO

Os Hi-Merimã, depois de terem sido considerados uma das gran-


des populações do rio Punis, com aproximadamente mil indivídu-
os em 1943, são, atualmente, um povo isolado. Vivem na bacia do
rio Piranha situada entre os rios Juruá e Punis, stü do estado do
Amazonas. Os Hi-Merimã também foram chamados de Maimã,
Merimã e Marimã.

As notícias sobre eles são escassas e esporádicas. Segundo os da-


dos levantados em campo, os encontros dos Hi-Merimã com seus
vizinhos dizem mais sobre situações de confrontos e desentendi-

mentos do que contatos pacíficos.

Estabelecer uma cronologia dos confrontos é tarefa bastante difí-

cil. Entretanto, há pistas dc que eles coincidam com épocas distin-


tas de exploração econômica, tais como extração da sorva, da se-
ringa e, atualmente, da madeira.

Pela condição de isolamento dos Hi-Merimã, só é possível traçar um


perfil desse povo através dos relatos das comunidades vizinhas.
Jarawara, moradores da Tl no limite leste da Terra Hi-Merimã.

JAMAMADI, OS VIZINHOS DO LESTE


Por meio dos relatos dos Jamamadi, é possível perceber uma cons-
índios da família lingiiísüca Arawá, que vivem na Terra Indígena tante necessidade de estabelecer diferenças entre os dois povos.
(Tl) Jamamadi/faruwara/Kanamati, no limite leste da TI Hi-Merimã, Para eles, os Hi-Merimã são aqueles índios “brabos”, que vivem
dizem que vê-los é como procurar caça. Silenciosa e fortuitamente na mala e têm costumes estranhos ao “bem viver” jamamadi. Esta
podem ser encontrados na mata, desaparecendo em seguida ao relação toma-se clara quando os Jamamadi mostram os sinais

perceberem estar sendo observados. deixados na área de caça, muitas vezes coincidente entre eles e os
Hi-Merimã.
Entre as histórias dos Jamamadi, consta que os Hi-Merimã procu-
raram estabelecer contato com eles. Mas houve pouco entendi- Acerca dos Jamamadi, relata Ehnrenreich, em expedição pelo rio

mento acerca dos verdadeiros objetivos, tanto de um lado quanto Purus no ano de 1888: "Cada família tem o seu domínio de caça
de outro, resultando na morte de vários Hi-Merimã. delimitado por marcos divisórios determinados. Para este fim,

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^4/Z^ Acervo
-V/flSA
usam-sc tufos dc pelos de animais (de capivara, aguti, macacos, época: “o nome de um era Stissti, ele não quis ficar aqui, ficou
espinhos dc Cercolabes prehensilis, etc.), entalados em paus ra- parece que uma semana trabalhando aqui e quis voltar para a
chados que se levantam, de distância em distância, à beira do ca- terra dele mesmo”,
minho que conduz da aldeia ao mato”.
De um encontro mais antigo entre esses dois povos, há informa-
O mesmo tipo de delimitação do território de caça é atribuído aos ções sobre uma festa em uma aldeia. Os Banawá contam que as

Hi-Merimã. No entanto, a diferença está em possuir ou não um casas eram como aquelas da roça deles, de chão batido e sem
terçado ou facão amolado para cortar o marco e deixar algum parede, e não existia nenhuma maloca grande. Relatam que além
resto de animal. Para efeito demonstrativo, os Jainamadi apontam de usarem somente tanga, ou amarrar o pênis, furavam o lábio
para um crânio e um fêmur de macaco fincados em um pau, por inferior e introduziam um adorno de pau.
eles cortado com o terçado e deixado no caminho e algumas pe-
nas de mutum, também fincadas no pau, que denotam a presença
SOROWAHA OU ZURUAIIÃ,
Hi-Merimã,
OS VIZINHOS DO OESTE
Cestos para transporte de alimentos coletados, deixados na mata
índios também falantes de uma língua da família Arawá e que vi-
pelos Hi-Merimã, também são bastante parecidos com os confec-
vem na Terra Indígena Zuruahã, que limita a oeste com a TI Hi-
cionados pelos Jamamadi. Todaviam, apresentam diferenças, como
Merimã. Nos relatos dos Sorowaha, há várias histórias de hostili-
a ausência de uma alça, conforme apontado pelo informante
dades entre eles e os Hi-Merimã. Entre as quais:
Jamamadi,
“0 pai dajaxiri estava flechando peixe num lago perto do igarapé
Durante uma caminhada de três dias com os Jamamadi, dentro da
Prelão, onde atualmente tem a casa do Gamoni. Ele estava tia mar-
TI Jamamadi/Jarawara/Kanamati, foi encontrado um local rico em
gem do lago observando os peixes e bem na sua frente havia um
vestígios dos Hi-Merimã. lá, os Jamamadi explicam como os Hi-
morro. Ele estava meio agachado, olhando para o lago, quando ou-
Merimã fazem a retirada de veneno usado na zarabatana e demais
viu um barulho (tipo um assobio para chamar a atenção). Olhou
flechas: “Eles usam veneno, prá mim ele pegou pé do veneno, su-
para o alto do morro e avistou alguns Maimã, estes apontaram fle-
biu, derrubou, desceu, bateu o cipó, taí o veneno que usa prâ ca-
chas em sua direção e ele ficou só olhando, pois não sabia o que
çar. Bate, bate, bate com pé, ferve e mistura com água o veneno no
estava acontecendo. Os Maimã atiraram as flechas e acertaram uma
funil e coloca na flecha. Tá tudo tirado, tá aí. Eles fazem flecha dc
flecha cm cada clavícula. Ele saiu correndo, os Maimã o seguiram e
arutnã. Eles têm panaco, parece que ele faz a casca do jutaí para
acertaram mais uma flecha no ombro (entre o peito e o braço),
fazer vinho daí fica com pilão e coloca vara assim. Tem batata,
sendo que ainda continuou correndo e caiu com a quarta flechada
cará de comer, na nossa língua é taia, tipo cará, dá no mato mes-
que o atingiu no saco escrotal quando tentava passar por cima de
mo, uma batata mesmo que o cará, ele acha come. Tem jamú, a
uma árvore que estava no caminho. Morreu ali mesmo.
batata que dá na terra, grande, batata dos índios mesmo, ele rala,

rala, espreme, tira goma, tira massa que ninguém num come, e a Outro Sorowaha o encontrou, retomou para casa e comunicou
goma come com jutaí, carne. Massa não come, ele deixa. Papai aos outros. Todos os homens sorowaha pegaram suas flechas e
parece que comeu esse, eu já não comi assim, papai quando anda arcos e saíram para buscar o morto. Não encontraram nenhum
assim no mato conta, por isso eu tô lembrando bem”. Maimã no local, pegaram o corpo e transportaram para casa, onde
o colocaram em sua rede. Passou a noite.
Há alguma regularidade nos vestígios deixados pelos Hi-Merimã.
No verão, época de seca, eles deixam diversas marcas na região de No outro dia, de manhã bem cedo, saiu um Sorowaha para caçar e
extração de copaíba dos Jamamadi. “A gente topa e dá prá ver bem viu os rastros dos Maimã no roçado. Tinham vindo à noite roubar
aí, rastro novo, quebrado novo, fogo dele aceso, tudo assim. Dc raízes de konaha (timbó) . 0 Sorowaha voltou para casa e contou
inverno eles vão se embora, passando longe, foi prá outro canto, o que tinha visto. Novamente os Sorowaha se armaram e saíram à
casa dele, maloca dele. Longe. Ninguém não viu maloca dele por- procura dos Maimã.
que é longe, não é perto não...’’. (Relato de Toitinha durante os
Não muito longe, avistaram os Maimã sentados em um pau, con-
trabalhos de campo, na identificação e delimitação da TI Hi-
versando. Os Sorowaha se aproximaram devagar e sem fazer baru-
Merimã, março-abril, 1999)
lho. Com a aproximação, os Maimã perceberam e saíram corren-
do, ficando a esposa de um Maimã mais atrás. Os Sorowaha a
flecharam. Ela morreu e os Sorowaha continuaram flechando-a.
BANAWÁ: HABITANTES DO MÉDIO PIRANHA
Encheram o corpo dela de flechas”. (Estas informações não es-

índios também pertencentes à família linguística Arawá encontra- tão publicadas e foram cedidas por João DalPoz. Encontram-
ram os Hi-Merimã e dizem ter compreendido parcialmente sua se em Mitos e Histórias dos Sorowaha ,
narrados a Jonia Fank e
língua. Mas houve entraves quando um “patrão” não-índio, para o Edinéia Porta da Equipe do Projeto Zuruaha, em colaboração
qual os Banawá trabalhavam, tentou usufruir da mão-dc-obra hi- com João Dal Poz e Mário Lúcio Silva, OPAN e Cimi Lábrea/
merimã. Segundo relata Bidu, Banawá, que era muito jovem na Cuiabá. 1996)

452 JUBUÁ/ JUTAÍ/PtmUS POVOS IKDÍGENAS NO BRASIL 1S3G/20D0 - INSTITUTO SDCIOAMBÍENTAL


UMA VIZINHA DO SUL A “NOVA” FRENTE DE EXPLORAÇÃO
Dona Inês é uma seringueira habitante do limite sul da Terra Indí- Durante os trabalhos de campo de identificação e delimitação da TI
gena que já teve várias facas de seringa, facões e machados desa- Hi-Mcrimã, em 1 999, jangadas com aproximadamente cem toras de
parecidos na estrada de seringa. Segundo ela, os índios lêm um madeira foram encontradas sendo rebocadas no barco de ribeiri-

modo bastante peculiar de viver: “ Pra fazer bóia eles fazem o fogo nhos residentes nas imediações do rio Piranha. A madeira transpor-
acolá, um fogo maior e aí faz um girau. Daí bota um negócio pra tada estava sendo retirada de dentro da TI já interditada, cujos limi-
comer em cima, pra assar, a gente vê as varas. Aí pronto, eles an- tes são amplamente conhecidos pela pequena população local.
dam fazendo assim. Às vezes, quando passava a chuva, eles pega-
A extração de madeira tem sido a nova forma encontrada pela popu-
vam jarina e botavam assim, escorando no pau, acho que era pra
lação da região para garantir seu sustento, além de motivo de cons-
esperar passar a chuva, umas palhinhas escorada assim, não é
tantes embates entre políticos influentes que defendem os interesses
nem pra dormir, pra passar a chuva, Eles pegam a palha, botam
dos grandes madeireiros em oposição a técnicos ambientalistas.
em cima da outra e amarram no pau.”
Tal forma de extrativismo reproduz velhas práticas de clientelismo
Esta senhora afirma que nunca existiu índio nas proximidades de
e aviamento que têm início com o ribeirinho passando pelos “pa-
sua colocação, mas ao ser indagada sobre os vestígios atuais diz:
trões” regionais até as indústrias madeireiras exportadoras do
“Agora nós ficamos cabreiro, né. Porque o índio é que nem onça,
Amazonas. Invade territórios pouco explorados, desrespeitando
ele acostuma mas não amansa. É que nem eu tenho dito para os
os direitos originários de povos que lá estão,
meus meninos, o brabo mesmo que nunca tem contato com nin-

guém um dia, dois, irês, quatro anos fazendo sinal para eles e A abundância ainda encontrada na região certamente está com os
nada... Quatro anos c que eles foram atacar, mataram o pai dele! dias contados. Na medida em que os recursos utilizados pela in-
Mas não são estes índios daí, são de outro rio. Por isso eu digo dústria madeireira vão se esgotando em locais mais frequentados,
para eles, às vezes, né? A gente nunca sabe”. os ribeirinhos avançam, percorrendo territórios preservados. As-
sim sendo, qual seria o futuro daqueles que têm no isolamento a
sua alternativa de vida? (abril, 2000)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL JURUÁ/JUTAÍ/PURUS 453


permanente dos da Portaria
MADEIRA por parte da empresa Agropastoril Novo Hori-
zonte. A empresa, valendo-se do decreto 1.775/
se
n“ 813. (DOU, 11/12/98)
índios, através

96, questionou a delimitação da área, mas não


MADEIREIROS EXPERIMENTAM capaz de produzir prova capaz de contestar FORTALEZA DO
foi TI
NOVA ESPÉCIE que asseguram
os laudos antropológicos ser a
PATAUÁ DECLARADA
área de ocupação tradicional dos Apurinã.
Madeireiros do Vale do Juruá garantem ter en- DE POSSE PERMANENTE
contrado uma espécie com iguais ou melhores (DOU, 08/04/97)
A Funai aprovou as conclusões do Resumo do
vantagens econômicas que o mogno: a árvore
tarumã da várzea (vitex cymosa bert ex ÍNDIO É ASSASSINADO Relatório de Identificação da Terra Indígena

spreng), que, de tão dura e rasistentc, 6 cha- POR COMERCIANTE Fortaleza do Patauá, de ocupação tradicional
do grupo Apurinã, com superfície de 760 hec-
mada por muitos caboclos de árvore-de-aço. Ela
O assassinato do índio Heginaldo Apurinã, ocor- tares e 1 1 km dc perímetro. Após seis meses da
vem sendo explorada experimeníalmente pela
rido no último dia 18 110 município de Lábrea
,
aprovação, 0 Ministério da Justiça a declarou
indústria madeireira do AM e os primeiros re-
(AM) deixou a aldeia Japiim
,
em clima de revol- posse permanente dos índios Apurinã através
sultados são animadores. Não apresenta falhas
ta. “Os índios estão tensos e querem providênci- da portaria n° 408. A Terra Indígena está locali-
internas, tem período curto de secagem e per-
as da Justiça para punir 0 assassino”, afirmou
zada no município de Manacapuru, AM. (DOU,
mite aproveitamento comercial em torno de
ontem 0 coordenador da OP1MP, Moacir Apurinã,
04/02 e 13/08/99)
90% por causa do tronco uniforme.
que esteve em Manaus para pedir ao Ministério
A população dessa espécie é tão grande nas
Público 0 acompanhamento do processo,
margens do rio Juruá, segundo o madeireiro
Reginaldo morto com 13
APURINÃ ESTÁ
foi tiros pelo
George Valério, 42 anos, que seriam necessári-
atravessador de produtos agrícolas Antônio Je-
PRESO INJUSTAMENTE
as várias décadas de corte sistemático para es-
sus Rodrigues dos Santos, que está preso em O promotor de Justiça João Lúcio de Almeida
gotar os seus estoques nativos. “Tenho a im-
Lábrea. O crime aconteceu depois de um desen- Ferreira disse que se houve algum erro no pro-
pressão que podemos ter em nas mãos a nossa
tendimento entre os dois em relação ao paga- cesso que levou à prisão do índio Apurinã Ge-
galinha dos ovos de ouro”, atesta o madeireiro
mento de um carregamento de castanha vendi- raldo Florentino de Souza, 38, condenado a 12
Orivan Antônio Lopes, 52 anos, um dos princi-
da pelo índio. Segundo Moacir, a relação entre anos por crime de homicídio, não foi do Poder
pais exportadores do Vale do Punis. “É uma
índios e brancos tem sido conflituosa na área. Judiciário. A afirmação deve-se ao fato de que
forma de tirar a pressão sobre outras árvores,
Ele espera levar do Ministério Público a garantia 0 índio foi condenado pelo Tribunal do Júri Po-
como o mogno, a cerejeira e a sumaúma", diz,
de que 0 processo contra 0 assassino não sofra pular de Boca do Acre. Geraldo está preso há
com a experiência de quem corta madeira na
interferência políticas. (A Crítica, 25/04/97) três anos, como autor do assassinato do agri-
região há 40 anos. (A Crítica, 08/04/97)
cultor Raimundo João Abreu Souza, no municí-
JUSTIÇA SUSPENDE pio de Boca do Acre (a 1.038 quilômetros de

APURINÃ PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO Manaus). Após três meses da condenação,

À AGROPECUÁRIA Alinerindo José da Silva Filho, 24, se apresen-

a
tou à polícia confessando 0 crime, 0 índio está
FUNAI AVALIA BENFEITORIAS O juiz da 16 Vara Federal em Brasília, Francis-
preso na Penitenciária Desembargador
co Neves da Cunha, suspendeu 0 pagamento de
Raimundo Viciai Pessoa e Almerindo vive livre-
A Comissão de Sindicância da Funai, instituída
indenização à empresa Agropastoril Novo Ho-
para avaliar as benfeitorias construídas por ocu-
mente em Boca do Acre. (A Crítica, 16/03/99)
rizonte, que possui títulos incidentes sobre a
pantes não-índios em áreas consideradas indí- Terralndígena Seminí/Marienê, habitada pelos
genas, fez publicar duas resoluções sobre a índios Apurinã, no Amazonas. O ex-ministro da
REUNIÃO SIGILOSA DISCUTE
questão. Na resolução 57, de 13 de novembro JustiçaNelsonJobim havia determinado iFunai
COMBATE AO TRÁFICO
de 1996, a comissão decidiu aprovar 0 parecer que indenizasse a Agropastoril pela “posse e Termina hoje, em Tabatinga (AM) ,
fronteira com
que considera de boa fé as benfeitorias domínio” sobre as terras indígenas, além da in- a Colômbia, um encontra sigiloso entre autori -

construídas por 20 ocupantes não indígenas


denização por benfeitorias de boa-fé. Em deci- dades brasileiras e colombianas para tratar do
dentro da TI Água Preta/ Inari. Já a resolução são liminar (datada de 27 de novembro de combate ao tráfico de drogas, controle de fron-
38, do mesmo dia, aprova 0 parecer que consi- 1997), 0 juiz proibiu o presidente da Funai de teiras e impacto ambiental. Segundo 0 secretário
dera de má fé as benfeitorias levantadas por efetuar 0 pagamento da indenização pelos títu- nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, que
Francisco das Chagas Venâncio, ocupante do los dominiais incidentes sobre as terras indíge- coordena 0 evento, a localização de laboratórios
Seringal Catipari, e de boa fé benfeitorias nas, por considerá-la inconstitucional e lesiva de refino de pasta-base de coca nas margens está
construídas pelos demais ocupantes não-índi- ao patrimônio pú-büco. (Últimas Noticias - contaminando rios da região com resíduos de
os na TI Catipari Mamoriá. As resoluções de- ISA, 13/03/98) insumos químicos usados no processo. Entre os
correm da realização da demarcação destas
resíduos lançados estão ácido sulfúrico, tiner,
duas áreas. (ISA, a partir de DOU, 19/11/96)
ácido clorídrico, acetona, petróleo, uréia e
AU DÁ POSSE DE TI SERUTN1/ ci-

mento. A partir da análise das águas pode ser


MARIENÊ AOS APURINÃ
NEGADAS CONTESTAÇÕES possível até chegar à localização dos laboratóri-

DA TI SERUINI-MARIENÊ O Ministério da Justiça considerou a proposta os. Segundo 0 secretário, os Rios Juruá e Iça,

apresentada pela Funai, objetivando a definição brasileiros, são portas de entrada pata a coca,
O Ministério da Justiça julgou improcedente a de limite da Terra Indígena Seruini/Marienê, e que é refinada em laboratórios ao longo dos Rios
contestação da área indígena Seruini-Marienê concluiu por declarar a TI como sendo de pos- Caquela e Putomayo, ambos na Colômbia.

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Conforme Maierovitch, índios vêm sendo usa-
DENI DESANIMADOS COM O FUTURO
dos no transporte da coca por causa do conhe-
cimento que têm de rios e igarapés. Como além Com grande parte de sua população acometida

do problema policial do tráfico há questões POPULAÇÃO DECRESCE por alguma doença, os índios Deni estavam se
ambientais e sociais em jogo, a comissão brasi- 20% EM QUATRO ANOS recusando a procriar por não verem perspecti-
leira em Tabatinga conta com agentes da Funai, vas melhores para seus filhos. A situação ficou
do Ibama e da Secretaria de Ação Social, além
Lm povo marcado para morrer. Assim tão grave que órgãos ligados aos direitos indí-
indigenistas e entidades de defesa dos direitos genas chegaram a pensar que este seria o fim
da Receita e da Polícia Federal.
indígenas definem a situação dos índios Deni da nação Deni. No mês de março, em carta en-
Maierovitch disse que os traficantes usam os
em consequência das doenças trazidas pelo
que, caminhada aos principais órgãos de saúde, vá-
índios para trazer insumos do Acre pelo rio
homem branco e da falta.de assistência da Funai, rios índios fizeram um apelo desesperado r.
Javari, passando pelos rios Solimões e Japurá,
estão morrendo de tuberculose, pneumonia, “Nosso povo continua morrendo, morre mais
ate entrar na Colômbia pelo rio Caquetá. A rota
malária e anemia. Dossiê do Setor de Saúde do que nasce. Precisamos de ajuda”. A carta foi
alternativa é pelo Rio Içá, que muda de nome
Cimi mostra um quadro aterrador: 15% da po- assinada por 12 índios que temiam ver aconte-
paru Pulomayo ao entrar em território colom-
pulação Deni está com tuberculose e 40% com cer entre seu povo o mesmo que ocorreu no
biano. “É nas margens dos rios Caquetá e
anemia crônica. Hm seis aldeias situadas às da década de 1970, quando 85 índios Deni
final
Pulomayo que ficam os principais laboratórios
margens do rio Xeniã, houve um decréscimo morreram vitimados pela tuberculose.
de refino dos cartéis colombianos”, disse ele
de 20% nos últimos quatro anos. Segundo o coordenador regional do Cimi, Mi-
por telefone. (OESPeJB, 28/05/99)
“Com uma população de 500 pessoas espalha- guel Feeney, hoje a situação ainda é difícil, mas
da,s por pequenas aldeias entre a margem es- está melhor. A entidade mantém contatos per-
APURINÃ GANHA LIBERDADE querda do rio Xeruã e as regiões centrais dos manentes com os Deni e está desenvolvendo um
E PROCESSO VAI SER REVISTO rios Cuiiiá, Mamoriá, Teutíni e seus afluentes trabalho na tentativa de reestabelecê-los não só
no oeste do Amazonas, o povo Deni é uma na- fisicamente mas também psicologicamente.
O índio apurinã Geraldo Florentino de Souza,
ção em extinção, em consequência dos cons- Entre os trabalhos articulados pelo Cimi, está o
38, foi libertado ontem. Ele estava preso liámais
tantes surtos de malária, sarampo e tuberculo- projeto de uma reserva extrativista de borracha
de três anos na penitenciária agrícola Anísio
se trazidos pelos branco invasor”, alerta Nicole para os índios, em parceria com o Ibama, na
Johim, na BR- 174. Ele agora vai aguardar em
Freris, médica do Cimi. A equipe do Cimi man- comunidade da Mandioca.
liberdade a revisão do processo que o conde-
teve contato com 271 índios Deni e confirmou Trabalho escravo - Um relatório de viagem
nou a 12 anos de prisão. (A Crítica, 01/06/99)
que o processo se acelerou. Um exemplo da sobre os índios Deni, o Cimi denuncia a exis-
de março de 1995 a abril desse ano,
tragédia: tência de trabalho escravo entre os indígenas

APURINÃ SOFRE NOVA CILADA nasceram dez bebês, mas sete morreram de na extração de madeira de sua própria terra.
malária e pneumonia. (O Globo, 12/05/96) “O velho patrão dos Deni, Raimundo Lopes,
As suspeitas de que o índio apurinã Geraldo continua explorando a área como se nada ti-
Florentino não teria paz, mesmo após ganhar
ESTUDO CONFIRMA QUEDA vessemudado nessas últimas décadas. No pri-
liberdade no rumoroso processo em que foi meiro semestre desse ano, o igarapé Rezemá
condenado por crime que não cometeu, confir-
NA EXPECTATIVA DE VIDA
ficou engarrafado com toras do senhor Lopes,
maram-se ontem. Em telefonema aos advoga- A expectativa de vida dos índios caiu de 48,2 enquanto os Deni ficaram devendo ao patrão. A
dos do Instituto dos Direitos Civis do Amazo- anos para 42,6 anos entre 1 993 e 1 995, de acor- exploração de madeira continua até a cabecei-
nas, ele informou que teria sido vítima de uma do com estudo realizado por Rômulo Moura, ra do rio Xeruã. Contudo, os maiores benefici-
nova cilada preparada por fazendeiros e está do Instituto de Medicina Tropical (IMT), de ados dessa devastação florestal são o prefeito
preso na Delegacia de Boca do Acre, por or- Manaus. Um exemplo da ineficiência do aten- do município de Itamarali e Valdemar Moraes,
dem do juiz local. Os advogados de Florentino dimento dispensado à saúde indígena, aponta- dono de uma serraria em Carauari (AM)”, diz
seguem hoje para Boca do Acre, onde vão se do no relatório do IMT, está localizado na capi- o relatório. (A Crítica> 08/12/96)
dos fatos e se possível, pedir o relaxa-
inteirar tal amazonense. Apesar de ser considerado o
mento da prisão. (A Crítica, 03/07/99) médico
principal posto de atendimento e tria-
ESTADO RECONHECE EPIDEMIA
gem dc índios de toda a Amazônia, a Casa do
índio de Manaus convive com superlotação e Cerca de 39 dos 291 índios Deni, na região do
APROVADA A TI APURINÃ
com a falta de isolamento daqueles que têm rio Juruá, centro-oeste do AM, estão contami-
DO IGARAPÉ SÃO JOÃO doenças contagiosas. nados pelo bacilo de Kock, que produz a tuber-
A Funai, no despacho n° 73, aprovou as conclu- Em junho desde ano (1996), uma equipe de culose. Segundo Nicolas Freris, médica do Cimi,
sões do Resumo do Relatório de Identificação e reportagem da Folha de S. Paulo encontrou na a situação é gravíssima na região devido à falta
Delimitação da Terra Indígena Apurinã do igarapé comunidade Deni 120 índios doentes e seus de assistência médica.0 superintendente esta-

São João. A terra é de ocupação do grupo Apurinã, parentes acomodados em alojamentos adapta- dual de Saúde, Risonildo Almeida, disse que
tem superfície de 18.270 hectares e 87 km de doscomo centro de internação para pacientes certamente o número de índios deni contami-
perímetro e está localizada no município de com tuberculose, fogo-selvagem, malária, ca- nados é muito maior do que se pode imaginar,
Tapauá, estado do Amazonas. Esse relatório tra- tapora e outras enfermidades. A superpopulação chegando a atingir mais da metade da popula-
ta-se de um reesmdo, pois o relatório anterior não e a falta dc isolamento resultam *‘da falta de ção. Para ele, o principal problema enfrentado
incluiu, na delimitação da terra, lagos, igarapés e vagas na rede pública de saúde”, esclareceu o pelo estado para diminuir o índice da doença é
outras áreas imprescindíveis para a sua reprodu- administrador regional da Funai de Manaus, a falta de interação entre o Programa de Con-
ção fisica e cultural. (DOU, 03/12/99) Benedito Rangel de Morais. (Tttpari ouí/96) ,
trole de Tuberculose e a Susam.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAI JURUÁ/ JUTAl/PURUS 455


vai se reunir com as lideranças das aldeias do
rio Xeruã para dar continuidade ao projeto.
(A Crítica, 22/04/00)

"ISOLADOS

FUNAI RESTRINGE ATIVIDADES


EM ÁREA DE "ISOLADOS”
A Funai publicou, em julho e novembro, duas
portarias estabelecendo restrições ao direito de
ingresso, locomoção e permanência de pesso-
as estranhas em áreas localizadas no municí-
pio de Tapuá (AM), região do rio Punis, onde
há evidências da presença de índios isolados.
A restrição tem validade de dois anos, a partir

da data de publicação no DOU, e abre exceção


de ingresso nessas áreas somente para pessoas
autorizadas pelo Departamento de fndios Iso-
lados da Funai.
A primeira portaria é a de n“ 553, assinada em
15 de julho de 1996 e publicada no DOU no dia
26 do mesmo mês, e afeta uma área de 365 mil
ha onde há indício da existência de índios Hi-
Merimã. A segunda portaria, de número 1.071,
foi assinada em 22 de novembro de 1996 e
publicada no dia 28 seguinte, estabelecendo
uma área de 87.966, contígua à primeira, onde
há evidências de circulação de índio Marimã. A
publicação dessas portarias é o primeiro passo
CHAVES

para o reconhecimento dos direitos desses gru-


PÀDUA
pos sobre as terras que ocupam. (ISA, nov/97)

RODRIGO FUNAI FRORROGA RESTRIÇÃO


Em portaria de n° 786, a Funai resolveu pror-
rogar a restrição de ingresso, locomoção e per-
“O programa deve atuar mais próximo da su- cada. Esse é o primeiro passo para garantir a manência na Terra Indígena Hi-Merimã. A de-
perintendência, para que se possa tomar co- continuidade de suas formas tradicionais de cisão considerou o prazo anterior insuficiente
nhecimento de como está realmente a situação vida”, afirma o representante do Cimi, Miguel
para o objetivo de proceder a identificação e
da população no estado", disse, Segundo a co- Aparício. delimitação da terra indígena à luz do Decreto
ordenadora estadual do programa, Fátima Praia, A iniciativa terá uma duração prevista de seis
1.1775/96. (DOU, 30/07/98)
o AM ocupa há quatro anos o segundo lugar de meses e seus objetivos principais são mapear a
incidência de tuberculose no Brasil, perdendo realidade socioeconômíca e de saúde dos Deni
apenas para o Rio de Janeiro. O programa apon- e treiná-los no uso de equipamentos úteis ao JUMA
ta como um dos fatores do alto índice de tu- processo denvnrcatório. “Faremos oficinas de
berculose no estado a falta de uma política agrí- trabalho para introduzir o uso de GPS (equipa-
MORRE MAIS UM JUMA
cola para o interior, o que causa êxodo rural, mento de localização via satélite), por exem-
fazendo a população se concentrar na periferia plo”, assinala o responsável no Greenpeace pela Os Junta - povo indígena instalado num afluen-
da capital, Manaus, vivendo em condições implementação do projeto, Nilo D’Ávila. “Assim, te do rio Punis, cujo futuro é incerto face à
sublimaras. (A Crítica, 15/11/96) os próprios Deni poderão trabalhar na defini- impossibilidade de reproduzirem-se, perdeu
ção dos limites do seu território". mais um membro, uma mulher idosa, morta

LÍDERES PEDEM AJUDA A ONGS Sete caciques das quatro aldeias Deni do Vale recentemente. Agora, são apenas seis índios,
do Cuniuá (AM) estiveram presentes ao encon- sendo um casal de velhos, um homem de meia-
O projeto de apoio à autodemarcação elabora- tro com os ativistas do Greenpeace. O coorde- idade e três mulheres jovens. Diante disso, há
do pelo Cimi, Opan e (ireenpeace nasceu a par- nador geral do Programa para a Demarcação quem especule sobre a possibilidade de recor-
tir de um pedido das próprias lideranças indí- das Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) rer à engenharia genética para garantir a per-
genas durante visita das entidades à região em e representante da Funai, Artur Ribeiro Men- petuação dos Juma. Por algum moralismo que
maio de 1999. “Os Deni querem a terra demar- des, também participou. Em maio, o Greenpeace não se entende, a Funai tem afastado sistemati-

456 JURUÁ/JUTAf/PURUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


camente essa possibilidade. A única boa noti- em plena vigência do Pmaci, a Mendes Júnior bém que a demarcação das terras indígenas fere
cia recente para os Juma é que suas terras de- invadiu as terras dos índios Kaxarari “saquean- interesses do narcotráfico da região. Ele exph-
vem ser demarcadas em breve. (ISA, a partir do enorme quantidade de pedra-granito”, se- ca que o trabalho estabelece pontos geodésicos
de A Crítica, 15/11/96) gundo o documento, e construiu um ramal que para a área, o que facilitará um controle maior
interliga a BR-364 à área da pedreira passando do Exército sobre a região. Bá, ainda, a cobiça
REMOÇÃO ILEGAL E MORTE pelas terras indígenas. sobre a madeira (mogno) a caça e os recursos
DE REMANESCENTES A construtora é acusada de ter construído uma pesqueiros dos índios Kuhna, revela Tóia. (A
barragem represando as nascentes do rio Azul, Crítica, 12/05/96)
O Cimi e a Coordenação das Organizações Indí-
principal manancial que abastece as comunida-
genas da Amazônia Brasileira (Coiab) encaminha-
des Kaxarari, formando um lago que transfor-
DEMARCAÇÃO NO MÉDIO
ram representação à Procuradoria da Republica mou-se em criadouro do mosquito anofelino,
do Estado do Amazonas solicitando providências
JURUÁ PODE GANHAR PRÊMIO
gerando um grande surto de malária e hepatite
e denunciando aFunai pela remoção ilegal e morte na região. O surto matou 12 índios, inclusive dois Nos últimos seis anos, um grupo de cinco pes-
de dois índios Juma, uma das menores comuni- velhos líderes do grupo. A Mendes Júnior é acu- soas conseguiu resistir aos interesses dos ex-
dades indígenas do país. Até setembro do ano sada ainda de ter usado dinamite para explora- ploradores de madeira da Amazônia, lutando
passado, os Juma, sobreviventes de um violento
ção de uma pedreira, espantando a caça e con- pela demarcação das terras do índios Kulina,
massacre ocorrido em 1964, somavam seis pes-
taminando as águas do rio Azul; de ter destruído no Médio Juruá, próximo ao município de
soas sob o risco de extinção. Em outubro o admi- cinco hectares de floresta primária e inundado Eirunepé (AM) A perseverança e a seriedade
.

nistrador regional da Funai em Porto Velho. Sady uma área de seringueiras, castanheiras, madei- do trabalho valeram o reconhecimento do Pro-
Beavalti,sem o conhecimento dos funcionários ras de lei e ervas medicinais; ter facilitado a en- grama de Gestão Pública e Cidadania da FGV e
do órgão que acompanham a comunidade, auto- trada de pessoas estranhas, como madeireiros e da Fundação Ford, que selecionaram a iniciati-
rizou a remoção dos índios para a Casa do índio va da UNI-AC como uma das 20 finalistas para
comerciantes na área indígena, promovendo de-
(sob alegação de estarem doentes), e em seguida sagregação sociocultural e econômica entre os as premiações desse ano. Criado em 1991, o
para a terra indígena Uru-eu-wau-wau, em Kaxarari. (Folha do Amapá, 25 a 31/05/96) projeto conseguiu, quatro anos mais tarde, ini-
Rondônia, com o objetivo dc promover casamen- ciar concretamente o trabalho de demarcação
tos interétnicos. Durante a estada nesta área, dois de 770 mil ha de terra. Segundo Francisco
idosos do grupo vieram a falecer, sem que tenham KULINA Avelino Batista, responsável pelo projeto, foram
sido explicadas as causas. gastos US$ 600 mil nos trabalhos demarcatórios.
Na representação ao Ministério Público, as enti-
DEMARCAÇÃO SOB (JB, 28/09/97)
dades destacam trechos de memorando do che-
CLIMA DF, TERROR
da frente de contato da Funai no Rio Punis,
fe
MALÁRIA MATA NO JURUÁ
Rielli Franciscato, responsável pelo acompanha- Os índios Kulina denunciaram ontem em
mento dos Juma que sequer sabia da saída dos Manaus a morosidade com que está sendo tra- A Fundação Nacional de Saúde (FNS) anunciou
índios de sua terra. No documento dirigido ao tado pelo polícia o incêndio ocorrido na sede ontem que enviará uma equipe do município de
órgão em Brasília, Franciscato é taxativo em afir- da UNI-ÁC no município de Eirunepé. Segundo Fonte Boa (a 680 quilômetros de Manaus) para
mar que não havia motivo que justificasse a trans- o tesoureiro da entidade, Tóia Machineri, o in- a região do Cumaru do Lago Uala, na localidade
ferência, ocorrida, segundo ele, sem a concor- cêndio ocorrido dia 22 de abril faz parte das deCaiatú, no baixo Juruá, no Amazonas, a fim de
dância da comunidade. Ele demonstra preocu- intimidações feitas por políticos com a inten- combater a epidemia de malária que já matou

pação quanto ao estado de saúde do grupo no ção de paralisar os serviços de demarcação da duas crianças índias, da etnia culina, da aldeia
contato com a Casa do índio. Para Franciscato, a II Kulina do Médio Juruá. Pau-Pixuna, no último fim de semana.
morte dos idosos está relacionada a fatores psi- A denúncia foi encaminhada à Procuradoria da A FNS não informou a data do deslocamento da
cológicos originados com a transferência abrup- República no Acre, no dia 5 de maio. Ao dele- equipe mas os funcionários do setor do índio do
ta. (Informe do Cimi n°352, 18/03/99) gado de polícia de Eirunepé, Francisco Valdir órgão adiantaram que os agentes de saúde esta-

de Alencar, a UNI fez solicitação para que, após rão viajando o mais breve possível para a locali-
as deligências policiais, a entidade livesse como dade onde farão o diagnóstico, tratamento e con-
KAXARARI justificar a perda dos equipamentos de demar- trolede veiores. Até o dia 10 desse mês, segundo
cação (um teodolito e dois rádiotransmissores) o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em
CONSTRUTORA É ACUSADA e alimentação estocada para a equipe de traba- Manaus, dos 132 habitantes da aldeia Pau-Pixuna,
lho junto a entidade financiadora do projeto, a 36 índios estavam com malária vivax dez com a
DE INVADIR TERRA INDÍGENA )

ONG Pão Para o Mundo, com sede na Alema- do tipo falcipamm a forma mais grave, e três
,

A Associação das Comunidades Indígenas nha. “Até agora não recebemos nenhuma infor- apresentaram a malária mista {falciparum e
Kaxarari, do Acre, entrou com representação mação sobre o resultado do laudo feito pelo vivax). Três crianças culina estão internadas em
criminal junto à Procuradoria da República Corpo de Bombeiros", disse o índio. estado grave no hospital de Tefé, com malária
contra a construtora Mendes Júnior, do ex-se- A situação entre índios e fazendeiros da região falcipamm. As duas que morreram no sábado
nador pelo Amapá, Henrique Almeida, respon- é tensa desde o desenvolvimento dos trabalhos tinham menos de um ano de idade.
sabilizando a empresa por danos morais, ma- de demarcação das terras, realizado em convê- O membro da coordenação regional do Cimi,
teriais e ambientais às comunidades. Segundo nio com a Funai. Telefonemas anônimos amea- padre Egon Ileck, disse que o surto de malária
u
a representação entregue esta semana ao pro- çadores têm sido feitos às lideranças indígenas não é surpresa para os índios. O problema é
curador da República Luiz Francisco Fernandes e nenhuma providência foi adotada pela auto- que vem se agravando”. Heck disse que o traba-
de Souza, durante o asfaltamento da BR-364, ridade policial do município. Tóia disse tam- lho de prevenção contra a malária não vem sen-

P0V0S íNDiGEMAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL JURUÁ /JUTAÍ/PURUS 457


do feito pelos órgãos competentes - FNS e Funai. finalidade fortalecer a presença deles dentro da tares e 1 16 km respectivamente. Durante os tra-
O padre explicou que a Pastoral Indigenista de área, denunciam a Opan e Comin. A terra indíge- balhos de demarcação física da área, os Paumarí
Tefé, cujos integrantes vivem nas aldeias, mostra- na, habitada pelo povo Kulina, foi homologada descobriram que os castanhais e lagos utiliza-

ram à FNS que a situação estava piorando e que em 11 de dezembro passado e, para que seja dos pelo grupo, de forma tradicional, estavam
havia a necessidade de se adotar medidas urgen- concluída a regularização, é necessária a retira- fora das áreas demarcadas. Diante disso, a Funai

tes para combater a doença entre os índios. da de (odos os ocupantes não-índios. Esta fase reconheceu a necessidade de proceder a revi-

Funai responsabiliza a FNS -O administra- está em andamento, (A Crítica, 17/03/99) são de limites da área, constituindo um Grupo
dor da Funai em Manaus, Benedito Rangel de de Trabalho com a finalidade de realizar os es-
Morais, disse que a responsabilidade de contro- ÁREA EIRUNEPÉ tudos e levantamentos necessários.
lar doenças como a malária nas comunidades GANHA ESCOLAS Além disso, também aprovou o Resumo do Re-
indígenas é da Fundação Nacional de Saúde. latório de Identificação da Terra Indígena
Segundo ele, o decrelo federal número 1.141, O prefeilo de Eirunepé, Dissica Valério Tomáz, Paumarí do Lago Marahã, de ocupação dos gru-
de 19 de maio de 1994, determina que a FNS
inaugurou no último final de semana três esco-
pos Paumarí e Apurinã, com superfície e perí-
exerça esse controle. “AFunai é responsável pela
las, três postos de saúde e três geradores de metro aprovados de 1 16.000 hectares e 230 km
parte assistencial mas o controle das doenças energia em comunidades ribeirinhas do muni- respectivamente, localizada no município de
endêmicas como a malária é de responsabilida- cípio, localizadas no rio Eiru, Médio juruá. As Lábrea, AM. (DOU, 20/08/99)
de da FNS", disse. (A Crítica, 17/06/98)
benfeitorias, realizadas na área indígena Kulina,

foram recebidas com satisfação pelos morado- MINISTRO DECLARA


res do local, As escolas c os postos de saúde DE POSSE PERMANENTE
AMEAÇA DE
foram inaugurados nas comunidades de São
CONFLITO NO JURUÁ A TI DO LAGO MANISSUÃ
Francisco do Alto Eiru, Estirão e São José, res-

A construção de pectivameme situados a cerca de 80, 50 e 30 O Ministério da Justiça declarou, através da por-
benfeitorias dentro da área in-
quilômetros da sede do município. taria 295, de posse permanente dos índios
dígena Kulina, do Médio juruá, no município
Os professores das escolas rurais foram treina- Paumarí a TI Paumarí do Lago Manissuã, com
de Eirunepé em uma comunidade de morado-
dos pela Secretaria Municipal de Educação superfície aproximada de 22.713 há e períme-
res não indígenas, pode resultar em conflito. A
(Semec) e nas aldeias as aulas serão ministradas tro aproximado de 1 16 km. Esta terra está loca-
denúncia foi feita peia Operação Amazônia Na- ,

em português e na língua kulina. Os professores lizada no município de Tapauá, AM e é de ocu-


tiva (Opan) e Conselho de Missão entre índios
das escolas indígenas serão dois índios. Na esco- pação tradicional dos Paumarí. (DOU, 17/04/00)
(Comin). Representantes das duas entidades
dizem que a inauguração de uma escola deve la de São Francisco do Alto Eiru foram matricula-

com dos 22 adultos c 39 crianças. E nos estabeleci-


acontecer na segunda quinzena de março
a presença do governador Amazonino Mendes. mentos indígenas há cerca de 50 matriculados,
KANAMARI
Segundo as entidades, em janeiro do ano pas- entre crianças e adultos. O inicio das aulas está
previsto para maio. (A Crítica, 25/03/99)
MINISTÉRIO DA
sado o Ministério Público, atendendo à solici-

tação feita por elas e pelos próprios indígenas,


JUSTIÇA DECLARA
impediu a entrada de representantes do muni- PAUMARÍ POSSE DA TI MAWETEK
cípio de Eirunepé e do governo do estado. Para O Ministério da Justiça, tendo em vista o decre-
os índios, a visita naquela ocasião teria como FUNAI APROVA AS TISDO LAGO to 1.796, declarou a Terra Indígena Mawetek
finalidade fortalecer os moradores dentro da como sendo de posso permanente dos índios.
MANISSUÃ E DO LAGO MARAIIÃ
área. Em dezembro foram abertas clareiras den- A portaria que declara a posse, de n° 558, con-
tro da área indígena para possibilitar pouso de A Funai, através do despacho de n° 40. decidiu siderou os termos do despacho da Funai n° 18,
helicóptero, mas por pressão dos nativos, no- aprovar as conclusões do Resumo do Relatório que aprovou o relatório de identificação e o fato
vamenle a visita foi descartada. de Identificação e Delimitação da Terra Indíge- de que não houve contestação da caracteriza-
Há fortes preparativos de uma viagem nesse mês na Paumarí do Lago Manissuã. A terra está lo- ção indígena da terra, conforme o prazo de
para inaugurar tanto as escolas Kulina como a calizada no município de Tapauá, AM, e possui contestação estabelecido no decreto 1.775/96.
terceira escola dos não-indfgenas, que tem como superfície e perímetro aprovados de 22.713 hec- (DOU, 08/10/1999)

458 JimUÁ/JUTAÍ/PURUS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAIVBIENTAL


Acervo
-y/iSA

7. TAPAJÓS
MADEIRA

Sateré-mawé

Copyrlghledmolen
^7^ Acervo
-//ISA
7. TAPAJÓS
MADEIRA

R p kr < r A » * '

taim/QVôWJV*

IPUaNÀ,

A 7A) na S ^R^ACANCA

M ATO GBOSSi URIRU


V P VCUT IN G A

TERRAS INDÍGENAS
rodovia implantada reconhecida oficialmente
mais de 15.000 ha

capital de Estado
reconhecida oficialmente
menos de 11.000 ha

em identificação ou
Unidade de Conservação federal a identificar

Ârea rníntar
flirnirr apresentada em outro capitulo
)

Acervo
-V/f ISA
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n°r fonte, data (ha|

13 Andirá-Marau Sateré-Mawé 7.134 Funai Parintins: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 788.528 Itaituba PA Requerimento de pesquisa mineral.
Dec, 93060 de 06/08/86 homologa a demarcação. Barreirirhs AM Incidência de Aprox. 90328 ha do
Reg. CRI de Parintins (30.934 ha) Matr. 1.888, Parintins AM P. Nacional da Amazônia. Rodovia
Liv.2 G, fl. 141 em 10/02/87;Barreirinha 1343.044 ha) Aveirp PA planejada PA-265.
Matr. 266, Liv. 2-B, fl. 83 em 16/02/87; Aveiros Ma ii és AM
{115.253 ha) Matr. 3.050, Liv. 2-G, fl.29 em 26/02/87;
ItaHu ba (350.61 5 ha) M
atr. 3.059, Liv. 2-G r fl. 23 em

26/02/87. Reç. SPU PA-07 em <57/05/8? e SPU RR


Cert.160, fl. 359 em 01/05/87.
1384 Apipica Mura 66 GT/Funai: 98 Identificada/Apruvada/Funai. Careiro da Varzea AM
Desp. do Presidente da Funai aprova a TI.

{OU, 26/04/00)

1336 Ariramba Mura 73 Parecer/Funai: 96 Delimitada. 10.762 Manicoré AM


Port. do ministro da Justiça 827 de 11/12/98
declara de posse permanente. (OQU. 14/12/98).

53 Boa Vista Mura 54 Funai Manaus: 00 Idertificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 300 Careiro AM
Despacho do presidente da Funai 21 de 21/12/99
aprova as conclusões do relatório de estudos e
identificação (OÜU, 24/12/90|.

Cscaia do Piquiá Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré AM


Port 388 de 35/05/96 constituiGT p/estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão
de limites {DOU, 04/06/96).

74 Capivara Mura 154 Funai; 93 Em Identificação/Reservada/SPI. 650 Autazes AM


Port, 1816/E de 08.01.85 p/identifica çeo,
definição de limites e lev. Fundiário. Planta de
delimitação em 11/04/85.

Capoeira Grande Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré AM


Port. 388 de 31/05/96 cria GT p/ estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de
limites IDDU. 84/08/96).

83 Cuatá-laranjal Munduruku 1738 GT/Funai: 97 Delimitada. 1.121.300 Borba AM Rodovia planejada AM-080
Sateré-Mawé Port.do ministro da Justiça 581 de 07/10/39
declarando de posse permanente {DOU. 09/10/99).

Colônia São João Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré


Port 386 de 31/05/36 cria GT para estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de
limites (DOU. 04/06/961.

83 Cuia Mura 77 Funai Manaus; OO Homologada. Reg. CRi e SPU. 1.322 Autazes AM Rodovia AM-465 corta a área.
Dec. 309 de 29/10/91 homologa a demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI. Autazes Matr. 531, Liv. 2 B,

fl. 191 em 26/C 2/92. Reg. SPU Cert. 010 em 03/06/97.

83 Cunha Mura G Em Ideniificação/Reservada/SPI. 78 Sorba AM


Port 5.816 de 08/01/85 p/ identificação de limites
e levantamento fundiário.

Cunha Sapucaia Mura 300 Funai Manaus: 00 Em Identificação. 0 Borba


Port Funai 1.039 de 04/11/99 cria GT p/ estudos e
identificação na Tf {DOU, 09/11/99),

1159 Diíituii Djahoi 30 Edmundo Peggion; 97 Idemilicada/Aprovada/Funai. 47.600 Manicoré Humaitá AM


Port Funai 742 de 01/09/99 cria GT p/ realizar
estudos e levantamentos de identificação da TI

(DOU. 03/09/99.) Desp. FunBi. aprove TI (DÜU. 26/04/001

1370 Fortaleza do Castanho Mura 75 GT/Funai: 97 Idertificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 2.000 Careiro
Port 053 de 16/01/97 cria GT p/idenlificação da TI.
Despacha do presidente dã Funai n. 2 de 21/01/00
aprova conclusões do estudo de identificação
1D0U, 25/01/00).

107 Gavião Mura 77 Funai Manaus: 00 Homologada Reg. CRÍ. 8.811 Careiro AM
Dec. 305 de 29/13/91 homologa e demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CR! em Grajaú Matr. BGS0,
ÜV.2-RG, fl. 01 em 04/05/97.
111 Guapenu Mura 320 Funai Manaus: 00 Em Identificação/Reservada/SPI. 2.450 Autazos AM
Portaria 1816 de 8/1/85 cria GT p/ identificação
de limites e levantamento fundiário. Planta de
delimitação de 13/04/83.

Igarapé Acurau Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré


Port 388 de 31/05/96 cria GT para realizar estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de limites
(DOU, 04/06/96).

Igarapé Joari Apurinã 24 Funai Manaus: 00 Em Identificação. 0 Beruri


Port. Cria ST p / identificar a área.

Inajazinho Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré


Port. 388 de 31/05/96 cria GT p/ realizar estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de
limites (DOU, 04/06/96).

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS /MADEIRA 461


}

S/MADEIRA
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n® fonte, data (ha)

134 Ipixuna Parintintim 54 P. Kawahib: 99 Homologada. 215.362 Humaitá AM Polonoroeste. Requerimento de


Dec. s/n de 03/11/97 homologa a demarcação pesquise mineral.
(DOU. 04/11/97)

13G Itaitinga Mura 25 Funai Manaus: 00 Delimitada. Em Demarcação. 160 Autazes AM


Port Mínist. da Justiça 307 de 1 6/08/93 declara
de posse permanente <00 U. 17/08/93}. Contrato
entre Funai e Consulnort Engenharia de Precisão
Ltda. p/demarcação topográfica da TI, no valor
de 7.8CQ.00. Vigênciade um ano a partir de
31/01/00 (DOU, 57/02/001.

Julaí do Igapó Açú Mura 101 Funai Manaus: 00 Em Identílicação. 0 Borba


Port. Funai 1.039 cria GT p/ estudos e
Identificação da TI (DOU, 9/1 1/99).

519 Koyabi Kayabi 387 Funai Itaituba: 00 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 1.408.000 Jacareacanga Apiacás
Apiaká Despacho do presidentes da Funai 28 de 23/06/99
Munduruku aprova c relatório de estudos e identii. da TI.

(DOU, 25/C6/99).

133 Lago Aiapoá Mura 420 Funai: 94 Homologada. Reg. ORE e SPU. 24,866 Beruri Artnri AMAM
Dec. s/n de 12/08/93 homologa a demarcação
(DOU, 13/08/93). Reg. CRI de" Beruri Matr. 075,
Lrv. 2-RG, fl. 40V de 09/12/94. Reg. SPU Cert. 001
em 17/11/95.

1120 Lago Capa nã Mura 28 Parecer/ Funai: 96 Delimitada. 6.290 Manicorá


816 de 11/12/98. Declara de
Port. Ministerial
posse permanente indígena (DOU, 14/12/98)

1135 Lago Jauari Mura 145 Parecer/ Funai: 96 Delimitada. 15-180 Manicoré
Port.do Ministro da Justiça 824 de 11/12/98
declara de posse permanente (DOU, 14/12/98).

1343 Miguel/Josefa Mura 258 Rei. Ident; 98 Delimitada, 1.100 Autazes


Port Ministerial 345 de 14/07/99 declara de
posse permanente (ODU, 15/07/99). Contrate Funai
e Asserplan, Engenharia e Consult. p/ demarcar a
TL (DOU. 28/01/001.

214 Mundurucu Munduruku 5075 Parecer/Funai: 95 Delimitada. 2.340.360 Jacareacanga PA Requerimento e alvará de pesquisa
Port. Ministro da Justiça 823 de 11/12/98 mineral. Garimpo indígena e não-
declara de posse permanente dos índios indígena. Hidrelétrica planejada (B.
(DOU, 14/12/98). S. Manoel). Rodovia planejada BR-
030. Hidrovia planejada.

Muratuba Mura 45 Funai Manaua: 00 Em Identificação. 0


Consta na relação da Funai como terra em
identificação.

215 Murutinga Mura 316 Funai: 94 Em Identificação/Reservada/S PI. 1.270 Autazes AM


Port 1.816/F. de 08/01/35 p/ identificação e
definição de limites.

217 Natal/Felicidade Mura 97 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 313 Autazes AM Dec. de homologação juntou as
Dec. 296 de 29/10/91 homologa a demarcação áreas Natal e Felicidade
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI Autazes Matr. 533, Reservadas/SPI.
Uv. 2B, fl. 191 em 25/02/92. Reg. SPU Cert. 012
em 16/06/97.

223 Nove de Janeiro Parintintim 30 Funai Porto Velho: 00 Homologada. 228.777 Humaitá AM Rodovia BR- 230 no limite.
Dec. s/n de 03/11/97 homologa s demarcação
(DOU, 04/1 1/97).

Onça Mura 0 Em Identificação/Reservada/SPI. 413 Borba AM


Em revisão pela Funai.

Onça II Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré AM


Port. 368 de 31/05/96 cria GT p/ realizar estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de
limites (DOU, 04/05/96).

Pacovão Mura 34 Funai Manaus: 00 Em Identificação. 0 Borba AM


Port. 1.039 da 4/11/99 cria GT p/ estudos e
identificação da TI (DOU. 9/11/99).

227 Padre Mura 54 Funai: 56 idemifícada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 782 Autazes AM


Despacho do presidente da Funai aprova as
conclusões dos estudos de identific. da TI
IDOU, 24/12/99).

Pantalelo Mura 0 Em Identificação. 0 Autazes AM


Consta na lista da Funai p/ idantificar anos 94 e 95.

234 Paracuhuba Mura 67 Funai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 927 Autazes AM
Dec. 310 de 29/10/91 homologa demarcação
administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CR! Autazes
Matr. 530, Liv. 2-B, fl. 191 (25/02/92). Reg. SPU.
Cert. 011 em 06/06/97.

462 TAPAJÓS/ M AO EIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


} /

Acervo
-// ISA 'MADEIRA
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambienta! - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n B fonte, data
, (ha)

1131 Paraná doArauato Mura 103 Parecer/ Furtai: 98 Delimitada. 5.90C Itacoatiara AM
Port. ministra da Justiça 290 de 13/04/00 declara
de posse permanente indígena (DOU, 17/04/00).

Paraná do Maquira Mura 0 Em Identificação. 0 Itacoatiara AM


Port. 389 de 31/05/96 erra GT pi realizar estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de
limites (DOU, 04/06/96).

486 Parauari Isol. do Parauari 0 A Identificar. 0 Maués AM Isolados. Garimpo não-indígena.


[Uno D. Neves: 86) Axinim AM
13&5 Patauá Mura 47 Parecer/ Funai: 98 Identificada/Aproveda/Funai. 619 Autazes AM
Despacho do Pres. da Funai aprova a Tl.

(DOU. 26/04/00)

Pinaiuba Mura 458 Parecer/ Funai: 96 Delimitada. 29.900 Manicoré AM


da Justiça 821 de 1/12/98 declara
Port. ministro 1

de posse permanente indígena (DOU, 14/12/98).

245 Pirahâ Mura Pirahã 36U Funai Homologada. 346.910 Humaitá AM Rodovia BR-230no limite.

Porto Velho: 00 Dec. s/n de 03/1 1/97 homologa a demarcação Manicoré AM


IDO U. 04/1 1/97)

Praia do índio Muncuruku 65 Funai Itaituba: 00 Demarcada pelo lucra. 28 Itaituba PA


Lote demarcado pelo Incra em 1986, Projeto
Fundiário Cachimbo Lote 739, Gleba Arraia
(Funai/Gelém).

Praia du Manyue Muncuruku 115 Funai Itsiluba: 00 Demarcada pelo Incra. 30 Itaituba PA
Lote demarcado pelo Incra, Projeto Fundiário
Cachimbo, Lote 736, Gíeba Arraia (Funai/Belém)

260 Recreio/ S. Félix Mura 139 Funai: 94 Homologada. Reg. CRI e SPU. 251 Autazes AM
Dec. 295 de 29/10/91 homologa demarcação.
(OQU. 30/19/91). Reg. CRI Autazes Matr. 532, Liv. 2 0,
n. 191 em 25/02/92. Reg. SPU Cert. 006 em 22/11/95.

1363 Ric Jumas Mura 44 GT ldent:97 Delimitada. 8.852 Careiro AM


Port. ministerial 289 de 17/04/00 declara de
posse permanente (0 DU, "7/04/00).

1128 Rio Manicoré Mura 52 Parecer/ Funai: 96 Delimitada. 19.300 Manicoré AM


da Justiça 819 de 11/12/93
Port. ministro
declara de posse permanente (DOU, 14/12/98).

1133 Ric Urubu Mura 374 Parecer/ Funai: 98 Delimitada. 27.500 liacoatidra
Port. co ministro da Justiça 294 de 13/Q4/C0
declara da posse permanente (DOU, 17/04/00).

278 Sai Cinza Munduruku 1.022 Funai Itaituba: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 125.552 Itaituba PA Requerimento de pesquisa mineral.
Dec. 393 du 24/ 1 2/9 1 homologa demarcação Garimpo indígena. Rodovia BR-23G
(DU, 26/1 2/91|. Recj. CRI Matr. 4155, Liv. 2, fl. 275 no limite.

em 10/01/30. Reg SPU PA-06, Liv. 2, II. 510/511 28/03/89.

Salsa 1 Mura 0 Em Identificação. 0 Manicoré AM


Port. 368 de 31/05/96 cria GT p/ realizar estudos
antropológicos de identificação e/ou revisão de
limites [DOU, 04/06/96).

289 São Pedro Mura 47 Funai: 99 Homologada. Reg. CRi e SPU. 726 Autazes AM
Dec. s/n de 05/01/96 homologa a demarcação
(DOU, 08/01/96). Reg. CRI de Autazes Matr. 314,
Liv. 2-A, ÍE. 334 em 14/12/87. Reg. SPU CerU75,
Liv. 380 cm 29/07/88.

756 Sepoti Tenharim 65 GTIdent.:98 Delimitada. 247.859 Humaitá AM


Port. do ministro da Justiça 296 de '3/04/00 Manicoré AM
declara de posse permanente (DOU, 17/04/00).

843 Tabocal Mura 15 GT/ Funai: 97 Identificada/Aprovada/Funai. Sujeita a contestação. 907 Careiro AM
Port. Funai 053 de 17/01/97 cria GT p
estudos e identificação da Ti, Despacho do pres.
da Funai 71 de 26/1 1/99 aprovando o relatório
de identificação (DDU, 03/12/99|.

129 Tenharim do Tenharim 60 Funai Delimitada. 88.240 Manicoré AM Requerimento e alvará de pesquisa
Igarapé Preto Porto VeiliO: 00 Port. Ministro da Justiça 559 de 07/13/99 declara mineral. Estrada da rrtineradora no
de posse permanente (DOU, 08/10/99). limite da área.

307 Tenharim/ Marmelos Tenharim 460 Funai Homologada. Reg. CRI. 497.521 Humaitá AM Requerimento de pesquisa
Porto Velho: 00 Dec. do pres. Cardoso dB 35/01/96 homologa
F.H. Manicoré AM mineral. Garimpo indígena.
a demarcação (DOU, 03/01/96). Reg. CRI de Rodovia BR-230 corta a área.
Manicoré {257.662 ha) Matr. 1.295, Liv.2-4, II. 264
em 31/01/96; em Humaitá Matr. 2.458, Liv. 2-1,
fl. 178 em 19/03/96.

317 Torá Torà 103 GT Ident : 98 Delimitada. 50.600 Manicoré AM Alvará úe pesquisa mineral.
Aaurinã de 13/04/00 declara
Port. do ministro da Justiça 293 Humaitá AM
de posse permanente indígena |D0U, 17/04/00)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS /MADEIRA 4G3


ÓS/MADEIRA
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n°, fonte, data ) (ha)

3i8 Tracajé Mura 0 Em Identifica (ãc/Reservada/SPI- 690 Autazes AM


Port. 1.816 de 08/01/85 p/identificação, definição
de limites e levantamento fundiário.

319 trincheira Mura 189 Funai: 99 Komolugadc. Reg. CRI u SPU. 1.624 Autazes AM
Dec. 91.143 da 20/08/86 declara de posse
permanente (DOU, 21/08/86). Reg. CRI de Auta2es
Matr. 288. Liv. 2-A, 11. 313 em 14/12/87. Reg. SPU
AM-174 em 29/07/88.

464 TAPAJÓS /MADEIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


,

Acervo
_//£ ISA

Os Mura Lutam
para Recuperar suas Terras

Marta Amoroso Antropóloga/ISA,


especialista em história Mura

ATINGIDOS PELO INTENSO CONTATO COM OS legal moveu o extinto Serviço de Proteção ao índio (SPI) a demar- ,

BRANCOS DESDE 0 SÉCULO XVIII E POR UMA car lotes destinados aos Mura nos municípios de Manicoré, Careiro,
POLÍTICA INDIGENISTA QUE LOTEOU E REDUZIU Itacoatiara e Borba. Parte significativa das terras Mura que perma-
neceram ocupadas, conservam esses marcos de madeira do
SUAS TERRAS, OS MURA TENTAM RECUPERAR SPI,

atestando direitos muito antigos à terra.


PARTE DELAS NA REGIÃO DO MADEIRA
A demarcação realizada pelo SPI seguia um modelo da política

Os últimos anos foram decisivos para a população Mura, habitan- indigenista da época, de distribuição de pequenos lotes de terra

te tradicional do rio Madeira, no Amazonas. Em agosto de 1990,


aos índios, com o objetivo de liberar o restante da área para a

os Mura do município da Autazes, AM, criaram o Conselho Indíge- ocupação e exploração pela população regional. Tal política con-

na Mura (CIM), primeira e mais importante organização não-go- denou os Mura a viver nesses lotes que pontilham o vasto territó-

vemamental da etnia. Mais recentemente uma antiga reivindica- rio original de circulação da etnia, identificado anteriormente com

ção da etnia - a demarcação das suas terras -, conduzida pelos a bacia do rio Madeira.

coordenadores do CIM, teve enfim repercussão nas esferas fede-


Assim, se a política de terras do SPI de um lado garantiu a presen-
rais. Em 1996 a Funai deu início à identificação e delimitação das
ça Mura em um território tradicional, ela foi a principal responsá-
Terras Indígenas Mura, criando cinco grupos de trabalho encarre-
vel por situações de evasão e conflito, que marcam a história da
gados de verificar a situação da população mura nos municípios
etnia neste século. Parte considerável da população mura migrou
de Itacoatiara, Careiro, Borba, Autazes e Manicoré, todos no esta-
para as cidades - Manaus, Borba e Autazes, principalmente - onde
do do Amazonas.
vivem em bairros exclusivamente Mura. A população que perma-
Contatados no século XVIII pela missão jesuíta, que visava se as- neceu nas aldeias, por sua vez, teve que lutar contra ameaças de
sentar às margens do rio Madeira e pelo sistema colonial do Grão- arrendamento de seus castanhais, em contratos efetuados pelo SPI,
Pará, os Mura registram longa convivência com a sociedade naci- órgão de tutela da época.
onal, história marcada pela escra-
vidão no período colonial e o tra-
IDENTIDADE MURA
balho semi-escravo para patrões
que monopolizavam o extra- O processo de delimitação e de-
tivismo da castanha-do-pará na marcação da Terra Indígena
área indígena. Cunhã-Sapucaia expõe, de um
lado, traços da identidade mura e
O processo de demarcação das
de outro, os dilemas de identida-
terras mura é igualmente antigo.
de de uma população indígena
Em 1917 o Governo do Estado do
Amazonas, através da lei n" 941,

de 16 de outubro, autorizou a
Wanderley Guedes Farias
concessão de lotes de terra à po- Antonio Guedes dos Reis Maria e
,

pulação indígena do estado. O ato Raimundo, seu filho. TI Pinatuba.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS / MADEIRA 465


-)/>/_> Acervo

— //A I SA
AS TERRAS MURA
0 trabalho de identificação e demarcação das Terras Mura está sen- respectivamente. População: 22 pessoas (em 1998). Despacho do pre-

do financiado peto Programa Piloto para Proteção de Plorestas Tro- sidente da Funai n" 87. publicado no DOU em 24/12/99.
picais do Brasil (PPG- 7), através do Projeto Integrado de Proteção
das Terras e Populações Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL). Apre- TERRAS EM PROCESSO DE IDENTIFICAÇÃO
sentamos abaixo a situação dos trabalhos de identificação e delimi- (segundo Informações do ÜAF/Funai):
tação das Terras Indígenas Mura, segundo os diferentes estágios de • Terra Indígena Capivara (município deAutazes, AM)
reconhecimento oficiaI.
Com uma população de 154 habitantes (1997) e 827 ha. encontra-se
em fase de estudo, aguardando o relatório do GT PP 315/PRES/97.
TERRAS DFMiRCADAS F. HOMOLOGADAS (ANTERIORES AO PPTAL)
• Terra Indígena Guapenu (município de Autazes, AM)
Terra Indígena Município/UF
Superfície de 3.498 ha e população de 285 habitantes ( 1997). Aguar-
Cuia Autazes, AM da resultados do relatório do GT PP315/PRES/97.
Natal/Felicidade Autazes, AM
• Terra Indígena Jauary (município deAutazes, AM)
Recreio/São Félix Autazes, AM Superfície de 3 559 ha e população de 112 habitantes (1997). Aguar-
São Pedro Autazes, AM da resultados do relatório do GT PP3I5/PRES/97.
Trincheira Autazes, AM • Terra Indígena Lago do Limão ( município deAutazes, AM)
Superfície de 4. 183 ha e 49 habitantes (1997). Aguarda resultados do
TERRAS DECLARADAS DE POSSE PERMANENTE relatório do GT PP315/PRES/97.
Terra Indígena Município/UF • Terra Indígena Muratuba (município deAutazes, AM)
Itaitinga Autazes ,
AM Superfície de 954 ha e população de 31 habitantes ( 1997). Aguarda

Miguel/Josefa Autazes, AM resultados do relatório do GT PP315/PRES/97.


Rio Manicoré Manicoré, AM • Terra Indígena Mnratinga ( município deAutazes, AM)

Ariramha Manicoré. AM, que compreende as seguin- Superfície de 572 ha e população de 572 habitantes ( 1997). Aguarda
tes áreas: Área Ariramba: Área Igarapé dos resultados do relatório do GT PP315/PRES/97.
Mura e Área Mura do Baetas • Terra Indígena Panlaleão (município deAutazes. AM)
Lago Capanã Manicoré, AM. que compreende a Area Com uma população de 300 jiessoas (1997) ,
aguarda estudos.
Palmeira e Área Guariba
• Terra Indígena de Patauá (município de Autazes. AM)
Pinatuba Manicoré, AM Superfície de 619 ba e jiopulação de 47 habitantes (1998). Aguarda
Lagojauari Manicoré, AM resultados do relatório do GT 969/PRE/98.
Rio Urubu Itacoatiara, AM • Terra Indígena Ponciano (município deAutazes. AM)
Paraná doArauató ftacoatiara, AM Superfície de t.540 ha e 15 habitantes ( 1997). Aguarda relatório do

Riojumas Careiro, AM GTPP315/PRES/97.


• Terra Indígena Arary (município de Borba. AM)
TERRAS COM ESTUDOS DE IDENTIFICAÇÃO APROVADOS Superfície de 40. 750 ba e população de 221 habitantes (1997). Aguar-

PELA FUNAI, publicados no Diário Oficial, afim de cumprir o prazo da relatório do GT PP053/PRES/97.

de 90 dias, para contestações de interessados. Encontram-se ainda • Terra Indígena Cunhã-Sapucaia (município de Borba. AM)
sem portaria do ministro da Justiça: Superfície de 452. 180 ba. 409. 665 km de perímetro e uma /mpuiação
• Terra Indígena Tabocal (município de Careiro, AM) aproximada de 587 habitantes. Aguarda o relatório do GT PPW39/

Suj>erjicie e perímetro aprovados: 907 ha e 17 km, respectivamente. PRES/99. Reúne as localidades deJuta í do Igapó Açu, Pacovão, Cttnhã,
População: 15 pessoas (em 1997). Despacho do presidente da Fumin° Sapucaia. Igara/ié Açu, Boca do Tupaiiã. Capana do Aracu, ciladas

71. jmblicado no DOU em 03/12/99. na documentação histórica da Funai.

• Terra Indígena Boa Vista (município de Careiro da Várzea, AM) • Terra Indígena Setemã (municípios de Borba e Nova Aripuanã, AM)

Esta terra foi homologada no dia II/I2/9B, com 133 ba. Teve seus Superfície de 18.900 ha e 77 habitantes (1997). Aguarda resultados
limites revistos. SujKrficie e perímetro aprovados: 300 ba e 21 km, do relatório GT PP053/PRES/97.
respectivamente. População: 38 pessoas (em 1998). Despacho do pre- • Terra Indígena Marinheiro (município de Careiro. AM)
sidente da Funai «“ 86. publicado no DOU em 24/12AJ9. Superfície de 3.500 ha e população de 73 habitantes (1997). Aguarda

• Terra Indígena Fortaleza do Castanho (município de Careiro, AM) resultados do Relatório GT PP053/PRES/97.
Su/ierfície e perímetros aprovados: 2. 800 ba e 31 km. respectivamente; • Terra Indígena Aplpica (município de Careiro. AM)
População: 75pessoas (em 1997). Des/xicho do jnresidente da Funai n° Superfície de 650 ha e 68 Habitantes (1998). Aguarda relatório GT
2. publicado no DOU em 25/01/00. PP969/PRES/98.
• Terra Indígena Padre (município deAutazes, AM) (Marta Amoroso/ISA - março, 2000)
Esta terra foi homologada no dia 23/05/96, com 391 ha. Teve seus

limites revistos. Superfície e perímetros ajnovados: 782 ha e 13 km.

466 TAPAJÓS /MADEIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1986/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


cujo itinerário foi marcado pelo contato muito antigo e traumático
com a sociedade nacional. Os Mura dessa região convivem há meio
século com moradores não-índios, estabelecidos por vezes em
aldeias próximas, que passam, com a proposta de demarca-
ção, a compor a Terra Indígena de Cunhã-Sapucaia. Tal situa-

ção é exemplar para se apreender como os Mura constróem


sua identidade étnica.

Quando em 1997 foram iniciados os trabalhos de identificação e


delimitação das Terras Indígenas Mura do rio Igapó-Açu, levanta-

mento do qual resultou uma proposta de demarcação de três ter-

ras indígenas - Igapó-Açu, Pantaleão e Cunha-Sapucaia - duas


outras comunidades vizinhas apareciam como sendo ocupadas por
não-índios. Os moradores da aldeia do Forno, no rio Igapó-Açu e
tia Comunidade Boa Sorte, na boca do rio Tu pana, distinguiam-se
da população Mura, e eram também classificados como não-índi-
os pelos Mura.

Em 1999 foi iniciado o Grupo de Trabalho Borba II, a partir de


uma solicitação das lideranças mura de revisão da proposta de

1997 e da sugestão da criação de uma área contínua, englobando


as três terras indígenas descritas anteriormente. Nesta segunda

proposta, as aldeias do Forno e Boa Sorte passavam a ser incluídas

na TI Cunhã-Sapucaia. A justificativa das lideranças mura para a


inclusão, baseava-se nas relações interétnicas mantidas pelos ín-

dios com os moradores das duas aldeias, relações em alguns ca-


sos muito antigas, mas que agora eram oficializadas pelas lideran-
Mura , T. I. Jauary, Município de A utazes.
ças indígenas e dos não-índios, ambas as partes interessadas na

inclusão dos não-índios na Terra Indígena. Os emblemas da apro-


ximação eram os casamentos inieréticos celebrados entre os Mura

PANTALEÃO: A TERRA INDÍGENA “ENGOLIDA” PELA CIDADE


Tal como outras áreas mura, o processo de identificação e delimita- Em 1991, a Funai e a Prefeitura de Autazes (administração do pre-
ção da TI Pantaleão data do início do século, época de atuação do feito José Inácio Siqueira) firmaram acordo pelo qual seriam entre-
SPI. Situada à margem Paraná Madeirinha, afluente da
direita do gues aos Mura uma gleba contendo 100 lotes de terra, com sanea-
margem esquerda do rio Madeira, a TI Pantaleão foi sendo mento básico, uma Coisa de Apoio aos índios, escola e posto médico.
gradativamente invadida nas duas últimas décadas por loleamentos Do acordo, somente o posto médico e a Casa de Apoio foram entre-
de novos bairros que foram englobando parte de sua área. O proces- gues aos índios, nada mais foi cumprido jtela Prefeitura.
so levou os Mura a reivindicarem, a partir de 1986, junto à Prefeitu-
As reivindicações dos Mura de Autazes. uma população calculada boje
ra de Autazes, a indenização pelo esbulho de suas terras. Das qua-
em 748 pessoas, passou a se concentrarem dois pontos: a demarca-
renta e cincofamílias nucleares indígenas visitiulaspelo SPI nas pri-
ção contínua das áreas Pantaleão e Mutirão e o cumprimento do
meiras décadas do século, restavam na década de 1980 somente 14,
acordo de 1991 firmado com a prefeitura local.
distribuídas em pequenos lotes espalhados de maneira irregular ao
.

longo da área. Após os primeiros conflitos entre índios e não-índios, Em 1997, a Funai criou um grupo de trabalho ( Portaria n°315/PRES/
a Prefeitura de Autazes iniciou estudos para a avaliação da área ocu- 97), que realizou levantamento de campo visando determinaras áreas
pada,com o intuito de indenizar os indígenas ou realizar permutas urbanas e rurais ocupadas pelos Mura dentro da sede do município.
com os mesmos. Em 1989. um levantamento populacional realizado Novo grupo de trabalho da Funai está sendo programado para o ano
petas lideranças indígenas apontava nove famílias remanescentes, 2000, com o objetim de reexaminar a situação das terras dos Mura
sonumdo um total de 70 índios. Na ocasião, as indenizações foram em Autazes. O objetivo destes trabalhos de identificação e delimita-
calculadas pela Prefeitura, mas no ano seguinte, alegando falta de ção da TI Pantaleão, ainda em fase definalização, é garantir à popu-
recursos, a Prefeitura recuou, informando que os Mura seriam ex- lação mura condições de sustentabilidade. como áreas de cultivo
pulsos da área e suas moradias seriam derrubadas. próximas ao local do assentamento. (Equipe de edição, a partir de
entrevistas com Maurício dos Santos e Manuel Garcia, CIMZAutazes e
levantamento realizado por Klianc S. S. Pequeno, antropóloga/Funai,
fev/2000).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS / MADEIRA 467


C
Acervo
_//i isa
das aldeias de Sapucaia e Pantaleão e os moradores da aldeia do tanto, freqüentemente questionados se seriam realmente índios.
Forno, como também os pactos de colaboração na fiscalização e Diante destes dilemas, a população aldeã tem dado respostas por
aproveitamento comercial da área do rio Tlipana estabelecidos com vezes burocráticas, como a de solicitar documentos de identidade
as lideranças de Boa Sorte, O caráter oficial dessa aliança pode emitidos pela Funai, onde junto ao nome e sobrenome, assinam
ser notado, por exemplo, no esforço dos Mura em trazer o vigário “Mura”. Os censos e levantamentos populacionais da terra indíge-
da paróquia de Borba, que visita anualmente as aldeias, para, ex- na seriam outros recursos igualmente cartoriais que a população
cepcionalmente, celebrar o casamento de um índio mura com uma indígena lança mão para reafirmar sua condição étnica e confir-
moradora da aldeia do Forno. Os não-índios do Forno, por sua mar opções individuais. O “se assinar como índio” em áreas que
vez, passaram a reivindicar identidade indígena Munduruku, no apresentam moradores não-índios ou indivíduos com uma identi-
que foram apoiados por uma ONG de Borba, encarregada de pro- dade litubeante, funcionaria como uma atualização necessária, tanto
videnciar documentos de identidade “de índio". para uso interno da comunidade, como para prestar satisfação
aos órgãos indigenistas e entidades indígenas.
Do ponto de vista dos Mura, este processo de inclusão de indivídu-
os e grupos familiares inteiros no interior da etnia segue um pa- Pouco mais de uma dezena de famílias de não-índios deverá aban-
drão que pode ser identificado na história genealógica das famíli- donar Cunhã-Sapucaia. Algumas delas habitam a região há tanto
as. Foi também descrito pela documentação colonial relativa a esta tempo quanto os moradores mais antigos da aldeia do Forno ou
população. Documentos da época da redução dos Mura (1785) da Boa Sorte. A argumentação dos Mura para que estes moradores
fazem menção ao processo de “murificação” praticado pela etnia, abandonem a área, baseia-se no fato dessas famílias evitarem por
que se caracterizava exatamente pela incorporação de índios de todos os meios se somarem à população indígena e, no entanto, se

outras etnias, além de ciganos e negros foragidos, aos grupos mura beneficiarem da exploração dos recursos econômicos da terra.
seminômades. Lembremos que por ocasião da “redução voluntá-
No perímetro proposto para a delimitação da TI Cunhã-Sapucaia
ria” do século XVIII, a liderança que mediou as negociações entre
estão inseridos quatro lotes regularizados pelo do Instituto Nacio-
os Mura e as autoridades coloniais era um índio manao, criado
nal de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Deles, apenas um
desde pequeno pelos Mura.
pertence a uma moradora não índia que deverá abandonar a área.
Os outros três pertencem aos Mura da localidade Boa União, al-

deia do Jutaí do lgapó Açu, que buscaram na titulação da terra


"CABOCLO LEGÍTIMO"
garantias para permanecerem no lgapó Açu. Confirmada a demar-
É uma categoria nativa presente na maioria dos depoimentos dos cação da TI, os Mura de Boa União perderão seus títulos de terra.

Mura, utilizada para indicar uma condição indígena particular, a A participação desses indivíduos nos trabalhos preliminares de
do índio "misturado”. Por caboclo o Mura alude ao componente identificação, a atuação de alguns deles como professores e lide-

biológico, o sangue indígena, ainda que misturado em casamentos ranças indígenas junto à população local, indicam que é a defesa
com migrantes nordestinos ou imigrantes peruanos ou bolivianos; da Terra Indígena de Cunhã-Sapucaia, e não a posse de pequenos
por legítimo sinaliza o que pertence a uma determinada área geo- lotes individuais, que deverá de maneira geral mobilizar os esfor-

gráfica: caboclo legítimo do Matupiri, do Paraná do Madeirinha. ços dos Mura daqui para frente, (fevereiro 2000) ,

Não é mais índio legítimo, porque viveu


o processo civilizatório em todos os seus
terríveis matizes no período colonial,
assim como foi alvo das políticas públi-
cas do século XX, do SPI à Funai. O Mura,
ao falar em caboclo legítimo, reafirma a
consciência do processo histórico vivi-

do pelo grupo étnico. Nas palavras de Ma-


nuel Tiago, 80 anos, liderança mura de
Sapucaia: “Mas o que foi afinal o SPI? Não
foi feito para civilizar o índio?”

A identidade indígena dos moradores das


aldeias de Cunhã-Sapucaia tende a se for-

talecer no processo de demarcação das


terras indígenas. Em contato com a soci-
edade regional os Mura se vêm, no en-

Casa de Raul, com os demais habitantes da aldeia


Boa União (22 moradores), TI Pinatuba.

468 TAPAJÓS / MADEIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
_//£ ISA

Waraná:
o Legítimo Guaraná dos Sateré-Mawé

Maurício Fraboni Socioeconomista da Acopiama

DESCOBRIDORES DAS VIRTUDES FITOTERÁPICAS comercialização, consultoria, promoção, monitoramento de im-

DO GUARANÁ, OS SATERÉ-MAWÉ, POR VIVEREM pacto, controle de qualidade e pesquisa e desenvolvimento do projeto,

NO ÚNICO BANCO GENÉTICO DA PLANTA NO Com esse esquema, apesar de muito rigoroso, fica difícil para o
MUNDO, DEVEM CONQUISTAR UM VALOR CGTSM, conseguir defender, pelo menos em grande parle, as fina-

DIFERENCIAL NO MERCADO INTERNACIONAL lidades de longo prazo devido às pressões do gasto corrente e à

redistribuição caótica dos recursos obtidos (pois as necessidades

O Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM) assumiu, em


de cada família são em gerai, grandes e urgentes) é a tarefa mais
,

árdua e heróica que o projeto impõe.


uma assembléia reaiizada em janeiro 1998, com a unanimidade
dos presentes, um ambicioso desafio: fazei
1

do Projeto Guaraná,
iniciado experimentalmente pela coordenação do Conselho três A TRADIÇÃO: UM COMPROMISSO
anos antes, o motor econômico para uma verdadeira autogestão
Os Sateré-Mawé conservaram, das terras ancestrais, o coração da
das 70 aldeias localizadas na TI Andirá-Marau, que possui 800 mil
área de eleição do guaraná, “as terras altas". Eles, no que chama-
hectares, habitada por 7 mil pessoas e situada na fronteira entre o
mos de nível “empírico”, são os descobridores das virtudes
Amazonas e Pará.
fitoterápicas do guaraná,. São os guardiões de formas ritualizadas

A perspectiva dessa autogestão é uma realidade que é conhecida de produção (coleta e transplante das mudas espontâneas da flo-

pelos tuxáuas por “Sateré-Mawé éco ga’apypiat waraná mimotypoot resta, cuidados especiais na torrefação em forno de barro, ao fogo
sése”, o que pode ser traduzido como “as terras sagradas à natu- de lenha aromática, etc.) e de seu consumo (relacionamento
reza e à cultura do guaraná do povo Sateré-Mawé”. Essa idéia pode mítico-mágico com a personificação da planta, laço entre as “be-
ser interpretada como uma estratégia para manter, reconstruir c las palavras” que a bebida de “çapó” de guaraná inspira nas reu-
fortalecer um espaço antrúpico caracterizado por uma economia niões políticas, o efeito de coerência e harmonia na organização
suave que visa proteger o único banco genético do guaraná exis- social comunitária, etc.)

tente no mundo.
A tudo isso, precisa-se acrescentar o compromisso que o Conse-
lho Tribal assume frente ao consumidor final de salvaguardar e,

O PROJETO onde for necessário, resgatar e recuperar os recursos naturais e o

ecossistema, assim como a identidade c o patrimônio cultural tribal


Consiste em vender o guaraná produzido na área por um preço - conjunto que, frente à consciência suciai moderna, aparece como
diferencial no mercado internacional, baseando-se no fato de que valioso patrimônio da humanidade. Além disso, o Conselho se com-
se trata de um produto biológico, nativo e inimitável. Através de promete a garantir equidade e transparência na repartição da renda.
um rigoroso esquema de composição de preço, os recursos gera-

dos com essa venda visam unicamente o interesse geral dos Sateré-
Mawé a longo prazo. Simplificando esse esquema, aproximada-
O MERCADO
mente um terço dos recursos gerados é destinado aos cultivadores, O pressuposto fundamental, então, é que o guaraná dos Sateré-
um terço ao Conselho - para os gastos correntes e tutela do inte- Mawé pode vir a ser reconhecido no mercado internacional com
resse coletivo da comunidade - e um terço para a transformação, um valor diferencial no plano qualitativo, assim como no plano

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS /MADEIRA I 469


.

Acervo
//\C I SA
ético (produto que internaliza custos ecológicos e sociais, assim Essa unificação nasce pela necessidade de garantir o funciona-
como valores culturais e sociais), qualidades que podem ser mento do Conselho como associação econômica, cm primeiro lu-

transferidas ao preço final. A oferta no mercado internacional de gar, com o fim de chegar à comercialização internacional direta.

produtos que tenham, autenticamente, um conjunto de caracterís-


ticas equivalentes às do guaraná dos Sateré-Mawé é
Uma economia local integrada
A estratégia do Conselho em comprar o guaraná diretamente dos
extremadamente mais baixa do que a demanda potencial e a pro-
produtores, a um preço quatro vezes maior que o do mercado,
cura que existe nesse sentido.
não é suficiente para acabar com a exploração dos atravessadores
Não é por acaso que a importadora francesa Guayapi Tropical, pois eles, ent resposta, inflacionam os preços dos produtos por
responsável há alguns anos por ter conseguido o reconhecimento eles comercializados. Por outro lado, o dinheiro poderia contri-
legal na França do guaraná como integrador alimentar, deixou de buir para monetarizar as relações entre “parentes", minando as
comprar guaraná em pó a US$ 10 por quilo para comprá-lo dos formas tradicionais da reciprocidade e do mutirão. Por isso, se faz
Sateré-Mawé ao preço único de US$ 4 1 ,4/kg, fixado pelo Conselho necessária a compra coletiva de mercadoria na cidade, o que per-
Tribal. Ou que a Cooperativa Terzo Mondo (CTM), importadora mite ao CGTSM não somente derrubar os preços para ao mesmo
italiana pela rede da European Fair Trade Association, considere a tempo drenar o dinheiro, mas também privilegiar, por exemplo, a
colaboração com o CGTSM um projeto estratégico, a ponto de es- compra da produção autônoma das costureiras Sateré-Mawé que
tar disposta a ir além das facilidades especiais, em nome do “co- vivem em Manaus, favorecendo a manutenção dos laços étnicos, e
mércio justo'’, chegando a pagar 100% do produto antecipada- começar um processo suave de reorientação do consumo em di-
mente, cada vez que o CGTSM o solicita, expondo-se assim a riscos reção a produtos ecologicamente sustentáveis e apropriados.
que qualquer operador consideraria altíssimos, mas permitindo
dessa maneira que o projeto se desenvolva com ausência total de O saber artesanal nos fornos de barro
capital de giro! 0 incentivo à volta do uso dos fornos de barro no lugar de fomos
de ferro (caso os primeiros tenham sido abandonados) na tor-
Isto não acontece por acaso. Todavia, se a experiência dos Sateré-
refa-ção do guaraná, é fruto do compromisso de garantir a qua-
Mawé parece singular, não é devido tanto à especial e profunda
lidade organolética do produto. Esse incentivo começa a se tradu-
identificação entre os Sateré-Mawé e o guaraná, pois existem pro-
zir numa renascença geral do artesanato tradicional de utensílios
dutos já conhecidos que teriam um potencial econômico compa-
de cozinha feitos de barro, patrimônio cultural que corria o risco
rável nas áreas indígenas da Amazônia. É também devido ao com-
de se perder.
portamento do CGTSM, baseado na idéia mestra que a autonomia
política, reivindicada peias comunidades indígenas, por um reco- Pioneiras na coleta diferenciada do lixo
nhecimento, antes de mais nada, jurídico e legislativo, se constrói A coleta diferenciada do lixo (pilhas e plástico), financiada pelo

de fato sobre a autonomia das escolhas econômicas. CGTSM e realizada pela Amism (Associação das Mulheres Indíge-

Consequentemente, baseando-se na experiência que esta última se nas Sateré-Mawé), essencial ao controle sanitário e na prevenção

constrói, por sua vez, sobre a credibilidade da organização tribal da poluição ambiental, surgiu para evitar a possibilidade de con-
frente à comunidade de referência assim como frente aos parcei- taminação dos guaranazais; estimular a prevenção da degradação

ros da sociedade envolvente. do meio ambiente e criar a oportunidade de abrir o baixo Andirá
às formas de ‘turismo responsável’ (selecionado). Esta forma de
Em última análise, se o CGTSM desde 1995 (ano dos primeiros 20 kg
turismo, planejada com a colaboração da Associação Comunitária
de pó exportados) até iioje conseguiu manter o preço e multipli-
Aspac de Silves, permitiria ao consumidor conhecer o guaraná e
car cada ano a exportação (a colheita de 1999 é de 3,3 toneladas
quem cuida dele.
de pó), é porque, apesar da inércia ou das resistências ativas do
sistema, consegue manter sua credibilidade frente aos consumi- Cuidar das abelhas nativas
dores finais e às famílias de produtores. A instalação racionai de colmeias para criação de abelhas nativas
é. uma forma de contribuir para a melhoria da saúde na área for-

necendo mel, pólen e própolis para consumo próprio e, também,


OUTRAS ATIVIDADES
para incrementar a produtividade dos guaranazais com a
Para entender o que está mudando e o qne se procura mudar en- polinização. Esta produção de mel da florada do guaraná, com
tre os Sateré-Mawé, destacamos as principais dinâmicas certeza, poderá ter acesso a nichos de mercado privilegiados. Mas
introduzidas. esta atividade traz à luz a existência do triste costume de extração
O caminho dos Antigos para um futuro comum com a finalidade exclusiva de venda barata de mel para
predatória,

O novo estatuto, aprovado na Assembléia de 1998, que reunifica a A criação de abelhas pretende acabar com isso
os atravessadores.
tribo depois de sete anos de divisão entre o Andírá e o Marau, e ao mesmo tempo com o estresse cultural: a abelha ocupa impor-
aponta a visão de um futuro possível e restitui dignidade à autori- tante posição na mitologia Sateré-Mawé e, portanto, merece res-

dade tradicional dos tuxáuas, esmagada durante decênios pelo sis- peito. Além disso, esta atividade contribui para o incremento da
tema dos capitães criado pelo Serviço de Proteção ao índio (SPI) produção de frutas e ao retorno da caça.

470 TAPAJÓS ! MADEIRA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIÉNTAL


Saldar a dívida com o pau-rosa
0 projeto de manejo sustentável do pau-rosa nativo e de consórcio
para uma destilaria de óleo essencial, obtido com métodos de ex-
tração pioneiros, que evitem o abatimento das árvores, é feito em

colaboração com a Avive (Associação Comunitária de Mulheres de


Silves) . O seu objetivo é acabar com 40 anos de exploração preda-
tória de um dos últimos estoques existentes dessa árvore em vias
de extinção, exploração essa hoje fora da legalidade, da qual o
homem indígena participou, através do clássico esquema do “avi-

amento”. O projeto é um dos compromissos assumidos unilateral-


mente pelo CGTSM (com solene referência à co-participação, atra-

vés da Coica, via Coiab, à Aliança do Clima) de salvaguardar o


patrimônio florestal na área de difusão do guaraná nativo.

Entrar em consórcio’ com


o desenvolvimento regional
Está em processo de construção um consórcio, para produção de
xarope de guaraná, entre o CGTSM, o Centro de Treinamento Ru-
ral de Urucará (a outra organização de produtores, caboclos, que
veicula guaraná na rede de pontos de venda do comércio justo") e
a Agrorisa (a empresa familiar queem troca de serviço transforma
em pó e comercializa o guaraná do CGTSM) A produção do xaro-.

pe é uma necessidade para valorizar economicamente o casquilho


da semente - subproduto da transformação em pó - e é também,
na realidade, um promissor instrumento de integração não subal-
terna na sociedade nacional. Cabe salientar que, ambos os casos -

guaraná em pó e xarope - são projetos de consórcios abertos. A


razão disso é política, no sentido alto e nobre da palavra: o Conse-
lho quer reverter de vez o olhar sobre a sociedade indígena, não
mais como um empecilho, mas sim como pólo de desenvolvimen-
O preparo do çapó de guaraná.
to local; e não apenas beneficiária passiva de assistência, mas sim
responsável e cuidadosa dos interesses gerais.

As galinhas, o manejo
ENFIM, A AUTONOMIA QUE CHEGA LONGE
florestal e o artesanato, e... É preciso sublinhar que o Projeto Guaraná nasceu, cresceu e se
O financiamento, por parte do CGTSM, do projeto de criação de desdobra de forma totalmente autofinanciada. No sentido forte:

galinha caipira, organizado pela Amism, nasce para eliminar a im- até toda a atividade de assistência técnica ao Projeto na sua forma
portação de alimentos na área. Desdobra-se, logicamente, na subs- geral, realizada pela Acopiama - Associação de Consultoria e Pes-
tituição de ração industrializada por ração autoproduzida, utili- quisa Indianista da Amazônia, é financiada pelo guaraná. A
zando plantas nativas, objeto de manejo. Essa ação não vai só ser- Acopiama não teria meios para funcionar em outros projetos da
vir para garantir, sem custo monetário, ração de alta qualidade às Coiab em andamento, assim como com outras organizações indí-
galinhas, sem introduzir poluição biológica na área (antibióticos genas, se não fosse pelos Sateré-Mawé. Pequeno passo, talvez, de
etc,), mas também para começar a legitimar plenamente a reivin- um longo e difícil caminho que levará um dia as comunidades
dicação da Coiab frente ao Ibama, de liberação da exportação de indígenas até a liberdade de toda tutela! (março, 2000)
artesanato tradicional indígena. Trata-se de garantir a conserva-

ção das mesmas plantas cujas sementes vão compor objetos de


artesanato e cujas flores, fora da época de florada do guaraná,
garantiriam alimento às abelhas!

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS / MADEIRA 471


•^>7^ Acervo
ISA

Conflitos eDemandas nas Terras


Indígenas do Médio Rio Madeira

Edmundo Antonio Peggion Antropólogo,


Universidade Federal de Mato Grosso

RECONHECIMENTO E REGULARIZAÇÃO RISCOS DE EXTRAÇÃO DE


DAS TERRAS INDÍGENAS REVELA TENSÕES MADEIRA NO IGARAPÉ SEPOTI
NUMA REGIÃO IGNORADA PELA IMPRENSA Em meados desse século, os Tenharim trabalhavam na extração de
E PELAS AUTORIDADES FEDERAIS
produtos vegetais, como seringa e caucho, e viviam reJalivamente
isolados da população regional. Suas relações eram intermediadas

Na região do Médio Madeira, vivem os grupos indígenas que se por comerciantes, que traziam bens manufaturados para trocar
autodenominam Kagwahiva. São eles o Tenharim Jahói, Parintintin, pelos produtos vegetais. Com 0 passar dos tempos, os vínculos
Torá (Txapakura), Apurinã (Aruãk), Pirahã (Mura) e Mura com esses comerciantes se estreitaram, e alguns indivíduos

(Mura) As reivindicações mais fortes começaram com os Tenharim


. Tenharim estabeleceram com eles alianças de casamento.

do rio Marmelos, em 1994- Eles pediam a revisão de suas terras, Parte do grupo continuou a viver acima das cachoeiras do rio
já homologadas em 1996 (ver Povos Indígenas no Brasil - 1991/ Marmelos, mais próximos das cabeceiras, mas dois desses comer-
1995, pãg. 370). Apesar disso, essa é uma das terras que ainda ciantes, casados com mulheres tenharim, resolveram descer 0 rio,
não foi reconsiderada. Até meados dos anos 90, estavam iden- indo se estabelecer no rio Sepoti, um afluente do Marmelos. Neste
tificadas as Terras Parintintin, Pirahã e Tenharim do rio Marmelos. fundaram aldeias e a população cresceu. Os descendentes
local,

Em 1997, começaram as identificações de terras indígenas na re- casaram-se com mulheres da aldeia que permaneceu rio acima,

gião através do Projeto Integrado de Proteção às Terras e Popula- localizada hoje na Transamazônica. mas continuaram a viver no
ções Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) ,
com 0 reestudo da Sepoti. O rio Marmelos, abaixo das cachoeiras até sua foz, foi ocu-
Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto. Posteriormente se se- pado por muitos nácleos habitados pela população regional, que
guiram, em 1998, a identificação das TIs Tenharim do Rio subia 0 rio a partir de Auxiliadora, uma pequena vila pertencente
Sepoti, Torá e, em 2000, está em curso a identificação da Terra ao município de Mantcoré. Com a morte de uma mulher tenharim
Indígena Jahói. As terras Mura também estão sendo definidas por falta uma
de assistência, 0 grupo decidiu transferir-se para
através do PPTAL. localidade mais próxima de Auxiliadora, fundando uma aldeia no
rio Marmelos denominada Estirão Grande. Entretanto, nunca aban-
Embora a situação caminhe para uma melhora, algumas questões
donou 0 rio Sepoti, de onde retirava todos os produtos necessári-
prementes têm se colocado para estes povos. Em alguns casos existe
os à sobrevivência do grupo.
0 conflito entre os índios e regionais, tais como assentados do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e fa-
A Terra Indígena Sepoti foi identificada recenteniente e levou-se
zendeiros. Existem também conflitos entre grupos indígenas que em consideração 0 fato de os índios transitarem por duas áreas. A
disputam 0 mesmo espaço territorial. Além disso, a pressão exter- Terra Indígena Sepoti possui, assim, duas glebas - Sepoti e Estirão

na tem levado as populações indígenas a explorarem intensiva- Grande. Atualmente, os Tenharim do rio Sepoti têm vivido da caça,

mente seus territórios e, em alguns casos, tem ocorrido mortes da pesca, da produção de farinha para consumo e comercialização
e, printipalmente, da coleta da castanha. As atividades econômi-
por conflitos gerados pela exploração dos recursos naturais.
cas desse povo são vinculadas ao sistema de aviamento da região.
Assim, toda a produção é entregue aos regatões que circulam pelo
rio Marmelos, em troca de produtos manufaturados. O maior pro-

472 TAPAJÓS / MADEIHA PÜV0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SUCIOAMBIENrAI.


'íiJZ^.Acervo
-V/Tisa
blema atualmente é que alguns regatões estão convencendo os ín- cionais. A caça fugiu para as serras, região do território de acesso
dios a retirarem madeira de suas terras. O acordo sempre envolve praticamente impossível. O assoreamento do igarapé Preto e seus
produtos manufaturados ou a construção de casas para os Tenharim afluentes dizimou a pesca e tomou os cursos de água impossíveis
em suas aldeias. Como em geral esses acordos são feitos com al- de serem navegados, em alguns trechos a água atinge no máximo
guns indivíduos e não com o grupo como um todo, têm gerado 10 centímetros. Passado esse momento crítico, com a conquista
conflitos internos que podem resultar na fragmentação dos da regularização fundiária, novameníe os Tenharim do Igarapé
Tenharim que, no Sepoti, já são poucos, Preto são vítimas de agentes que querem, a qualquer custo, ocu-

par as suas terras. Atualmente, grande parte do território está cir-

CRISENO IGARAPÉ PRETO: cundada por fazendas, que já destruíram a mata nativa para o plan-
tio de sementes. Os Tenharim têm resistido e tentam garantir que
CONSEQÜÊNCIAS DA HIDROVIA
seu território não seja invadido ou afetado pela monocultura que
A simação dos Tenharim do Igarapé Prelo complicou-se após a toma conta da região.
regularização de suas terras. A identificação propriamente foi rea-

lizada em 1984, mas na época deixou fora parte do território tra-

dicional ocupado por uma empresa de mineração. Com a reivindi-


TENHARIM DO RIO MARMELOS AINDA
cação indígena, em 1997, realizou-se o reestudo da área com a ESPERAM REVISÃO TERRITORIAL
inciusão da sede abandonada da mineração contemplando o pedi-
Atualmente, a Terra Indígena Tenharim do rio Marmelos possui
do dos índios. Entretanto, nesse período, havia o incentivo ao plan-
uma área de 497.521 ha e localiza-se entre os municípios de
tio de grãos que seriam escoados pela hidrovia, que passa pelo rio
Humaitá e Manicoré, no estado do Amazonas. Os atuais limites
Madeira. Pelo fato de as terras estarem localizadas em uma região
não contemplam todos os locais fundamentais para a reprodução
de amplos campos, todo o seu entorno foi tomado por invasores
física e cultural do grupo, Um destes é uma área de caça e pesca
que, imediatamente, derrubaram o cerrado e plantaram arroz, com que fica ao norte, em terras devolutas que são periodicamente inva-
o objetivo de, posteriormente, plantarem soja. A tranquilidade que didas por pescadores e caçadores. O outro localiza-se nas pro-
até então vigorava deu lugar a um tenso trânsito de máquinas e
ximidades de um assentamento do lucra e é uma região de gran-
caminhões pela estrada - conhecida como rodovia do Estanho -
de conflito. Aí encontram-se, segundo os Tenharim, roças e
além da construção de silos para conservação de sementes e o
cemitérios antigos.
surgimento de pequenos vilarejos. Os invasores aguardavam ape-
nas a definição dos limites para romjter e ocupar qualquer espaço
Uma das características dos povos Kagwahiva é o faccionalismo

que não fosse terra indígena. Existe inclusive a possibilidade


que faz com que, na medida em que a população cresça, novas

de ter ocorrido aliciamento de alguns índios para não definir


aldeias sejam fundadas. Em 1994, era uma única, com várias sub-
um limite muito amplo e preservar os campos para os produ- divisões internas e atualmente, além dessa grande aldeia, existem

tores rurais. Até recentemenle essas terras recebiam o incenti- mais duas, em diferentes locais do território. A expansão pode
vo do lucra de Humallá que cedia um título provisório sem propiciar um melhor controle dos limites, mas também um uso
qualquer validade legal.
mais intensivo dos recursos naturais. A Associação criada pelos
Tenharim - Apiten - tem, muito provavelmente, pensado nesses
Com a implementação da produção no local, alguns índios passa-
termos, pois busca alternativas não destrutivas como a
ram a trabalhar para os fazendeiros. Além disso, esses começaram comercialização de castanha e não cogita, pelo menos até o mo-
a incentivar a transferência da população para a Terra indígena
mento, a extração de madeira.
Tenharim do rio Marmelos, que fica nas proximidades.

Mais uma vez os Tenharim do Igarapé Preto padecem uma situa-


TORÃ: CONFLITOCOM OS
ção crítica. Na década de 40, quando dos primeiros contatos, fica-
APURINÃ CONTINUA SEM SOLUÇÃO
ram fragmentados pelo trabalho no seringal, obedecendo a um
patrão. Quando a extração de seringa já não era mais prioridade, Os Torá vivem hoje na região do rio Marmelos, afluente do rio
iniciou-se a mineração, com a invasão de levas de garimpeiros no Madeira, no estado do Amazonas. A população, em torno de 51
território indígena. Posteriormente, chegaram as empresas de mi- pessoas, vive em núcleos constituídos por uma ou duas famíli-
neração instalando-se na terra indígena e levando a população a as. No interior da área existem três aldeias: Fortaleza, Três Bar-

um estado de prisão dentro do próprio território. Para que os ín- racos e São João.
dios não extraíssem artesanalmente a cassiterita, a empresa forne-
No caso da Terra Torá, muitas disputas aconteceram e em todas
cia comida diariamente aos índios, colocados em uma aldeia
elas, a população manteve-se resistente, construindo assim, uma
construída pela empresa.
noção de respeito pela área pretendida que perpassa rádios e regi-

A desagregação social atingiu níveis altíssimos, com alcoolismo e onais. Apesar disso, muitos indivíduos torá foram residir em cida-
prostituição. Alguns Tenharim trabalhavam para a mineração em des como Humaitá e Manicoré e hoje, com a possibilidade de de-
pesquisas de prospecção, já não realizando suas atividades tradi- marcação da área, pretendem voltar.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS / MAOEIHA 473


0 maior problema atualmenle para os Torá é a presença, em suas GARANTIA DAS TERRAS E
terras, dos Apurinã. Essa situação gerou-se a partir da transferên- ALTERNATIVAS ECONÔMICAS
cia desses para a Terra Torá, após um conflito ocorrido nas proxi-
midades da terra dos Pirahã, onde até então viviam. Os povos habitantes da região do curso médio do rio Madeira têm
conseguido seus direitos no que tange aos limites territoriais. En-
Os Apurinã possuem um histórico de desterro. Descendentes de
tretanto, cada vez mais toma-se necessária a busca de garantias de
dois casais, transferidos na década de 20 pelo Serviço de Proteção
sobrevivência que se assente nos limites definidos. A riqueza dos
aos índios (SP1) do rio Punis, para ajudar no contato com os
recursos naturais requer soluções criativas no sentido de preser-
Parintintin, o grupo expandiu-se através do casamento com diver-
var o ambiente ao mesmo tempo em que a população cresce.
sos grupos da região - Tenharim, Pirahã, Parintintin -, e também

com regionais. Em artigo publicado pelo Aconteceu Especial 18, Osjahói, por exemplo, viviam até recentemente junto aos Tenharim

Cartagenes & Lobato relatam que os Torá pediam a ampliação do do rio Marmelos. O crescimento populacional, tanto Tenharim

território e uma discussão para resolver o litígio com os Apurinã. quanto Jahói, fez com que o segundo buscasse ocupar seu territó-

rio tradicional, abandonado devido ao quase desaparecimento


Em 1998, reabzou-se o estudo de ampliação da área, incorporan-
desse povo, Entretanto, agora a questão está muito mais comple-
do as aldeias e castanhais reivindicados pelos Torá. Entretanto,
xa, com uma fazenda no local pretendido pelos índios. Essas cir-
dada a complexidade da situação, foi proposto que houvesse uma
cunstâncias fazem da luta Jahói algo muito mais árduo. Além da
discussão pontual e exclusiva com relação à permanência dos
derrubada de parte da mata nativa, o indivíduo que se diz propri-
Apurinã em terras Torá. 0 conflito permanece até hoje, com o
etário, quando soube do interesse indígena, montou uma serraria
agravante de que os Apurinã têm retirado intensivamente madeira
no interior das terras. Houve, inclusive, um atentado contra as li-

e cipó titica do território. Embora reconheçam serem as terras


deranças jahói, até agora não esclarecido.
pertencentes aos Torá, os Apurinã afirmam que farão negociação
apenas com a presença da Funai, que foi quem os levou para as Os Parintintin que vivem próximos da Transamazônica, por sua
aluais terras que ocupam. vez, tem entrado em conflito com regionais que disputam o uso de

tfti .

A SITUAÇÃO DAS TERRAS


TI TENHARIM DO IGARAPÉ PRETO Costa, se dizendo proprietário de parte do Sepoti. É um grande pro-
É DE POSSE PERMANENTE INDÍGENA prietário em Manicoré e antigo regatão. Apresentou quatro escritu-

ras lavradas no Cartório do 2° Oficio, argumentando que isso carac-


O presidente do Funai aprovou o relatório de reestudo e identifica-
do rio Sepoti como sua propriedade. Os Tenharim disse-
teriza parte
ção da TI Tenharim do Igarapé Preto e o ministro dajustiçajosé Carlos
ram conhecê-lo como um dos indivíduos que mandou funcionários
Dias assinou a Portaria «”559, no dia 7 de outubro de 1999, decla-
retirar castanha do rio Sepoti, e que em algumas ocasiões haviam
rando a terra de posse permanente indígena. A TI Tenharim, com
sido expulsos.
superfície e perímetro aproximados de 88.240 hectares e 174 km,
respectivamente, localizada no município de Manicoré/AM.. deverá Na cidade de Manicoré. o GT realizou um levantamento exaustivo

ser demarcada pela Funai. nos cartórios, e antes mesmo do aparecimento de Valdenor, o cartó-
riojá havia emitido certidão negativa, caracterizando a inexistência
A 11 Tenharim já havia sido declarada de posse permanente indíge-
de ocupantes não-índios no rio Sepoti. As escrituras lavradas em
na, com 79.900 ha. pela Portaria Intemünisleritd n° 535, de 2! de
mas escrituras de
cartório não são títulos de propriedade efetivos,
novembro de 1989 A população Tenharim é de 43 habitantes. (DOU
compra e renda que não foram levadas em consideração nem mes-
14/04/99, 08/10/99)
mo peto cartório que as emitiu ",

José Carlos Dias, ministro da Justiça, assinou portaria n° 296, em 13


TI SEPOTI É APROVADA E CONFIRMADA
de abril de 2000, declaraiulo de posse permanente indígpna aos índios
PELO MINISTRO DA JUSTIÇA tenharim. a área aprovada peta Funai. (1)01, 25/08/99 e 17/04/2000)

O despacho do presidente da Funai n° 44. aprovou relatório de estu-


dos e identificação da TI Sepoti para os índios Tenharim, com a su- Tl TORÁ É DECLARADA DE POSSE
j>erfície de 247.859 ha e 239 km de perímetro, nos municípios de PERMANENTE INDÍGENA
Manicoré e Humaitá, AM. Engloba a Gleba Estirão Grande com 274
Através do Despacho n° 45, o presidente da Funai aprovou os estudos
ha mi município de Humaitá, e a Gleba Rio Sepoti com 247. 585 ha no
e identificação da Tl com 50.600 ha e 1 13 km de perímetro, nos
município de Manicoré. A população da Tl era de 65 Tenharim em 1998.
municípios de Manicoré e Humaitá. A população era de 55 pessoas
Segundo o relatório do GT, "...a terra não possui qualquer tipo inva- quando o GT esteve na área. Através da Portaria n° 293, de 13 de
são por não-índios . Durante a estadia do GT em Manicoré para le- abri! de 2000. o ministro daJustiça. José Carlos Dias, declara de pos-
vantamento fundiário, apresentou-se um indivíduo, Valdenor C. da se permanente indígena a Tl Torá. (DOU, 25/08/99 e 17/04/00)

474 TAPAJÓS /MADEIRA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo
_//£ ISA
um lago. que fica na divisa de suas terras. Para os regionais está cipó e madeira considerada de qualidade. No igarapé Preto não se

fora da área, enquanto para os índios está dentro. sabe até quando os índios resistirão às pressões para explorar
novamente a cassiterila e para plantar soja em suas terras.
Os Pirahã, nesse momento, padecem de constantes invasões de
sua área. Regatões têm aliciado alguns índios para explorar casta- Apesar dos problemas, percebe-se que lodos os povos da região
nha, madeira e cipó no território. Recolhem o que podem carre- estão cientes de que é preciso buscar segurança e auto-suficiên-
gar e na saída entregam cachaça e até mesmo álcool puro para os cia. Todos eles possuem representantes participando de cursos de
índios. Disso resulta que muitas mortes ocorrem, seja por confli- formação de professores e agentes de saúde oferecidos por enti-

tos internos ou pelo consumo excessivo do álcool. dades da sociedade civil que atuam na região. Ao mesmo tempo,
estão buscando participar de fóruns locais e nacionais que deci-
Recememente, os Tenharim do rio Marmelos apreenderam um
dem sobre essas categorias, e consequentemente sobre as ques-
caminhão que retirava areia ilegalmente dentro do território indí-
tões políticas que envolvem os povos indígenas. Professores têm
gena. Após muitas negociações, aceitaram trocar o caminhão por
sido contratados pelas prefeituras e agentes de saúde fazem seus
um carro menor, deixando claro que não permitirão invasões.
estágios nos hospitais, sendo considerados excelentes profissio-
Todavia, em todas as Terras Indígenas da região, percebe-se que é nais. Já é um começo.
premente a busca de alternativas econômicas que não sejam pre-
Atualmente, as assembléias desses povos não se reduzem a enca-
datórias. Nas áreas localizadas na foz do do Marmelos e
minhar as questões que dizem respeito a cada uni deles. São, cada
adjacências, mais afastadas dos centros urbanos - caso das Terras
vez mais, amplos fóruns que congregam representantes de todos
Torá, Mura, Pirahã, Sepoti e alguns grupos Parintintin, a pesca
os grupos acima referidos e que buscam soluções também para
turística e predatória tem reduzido drasticamente os peixes do rio.
problemas coletivos. Assim, esperam estabelecer uma frente mui-
A falta das referidas alternativas econômicas e a presença dos
to mais forte para os inevitáveis embates políticos, (agosto, 1999)
regatões têm estimulado a exploração Intensiva dos recursos natu-
rais. Segundo os próprios índios, é cada vez mais difícil encontrar

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS / MADEIHA 475


MUNDURUKU indígena Munduruku. O levantamento servi rã de
base para o pagamento da indenização para a
do Ouro. Nunca tivemos informações da
Codesup que esta estrada ia passar no meio de
recuperação ambiental da área destruída pelo nossa área; só agora esiamos sabendo sobre
MUNDURUKU PREPARAM-SE garimpo. Em recente inspeção da área pelo Pro- estas estradas quando descobrimos este mapa
PARA CONFLITO COM curador da República, foi confirmada uma gran- pronto. Que benefício esta estrada vai trazer
GARIMPEIROS de devastação ambiental e enormes prejuízos para 0 povo Munduruku? Missão Cururu,

Oitocentos guerreiros pintados para combate e


causados pela exploração da área. O objetivo O 6 .lO. 96 ”. (Mensageiro, jan/fev/97)
agora, segundo Pontes, é o ressarcimento des-
portando armas de fogo reagem contra a inva-
são de 40 garimpeiros da reserva Munduruku,
se prejuízo. O garimpo, recentemente desocu- ... MINISTÉRIO

localizada às margens do Tapajós. O adminis-


pado, já se encontra sob a guarda dos índios. PÚBLICO É ACIONADO
(O Liberal, 30/06/97)
trador da Pimai, Walter Temilino, diz estar sen-
O projeto da rodo-hidrovia do Tapajós, proposta
do “pressionado pelos índios". Segundo ele, os
pela Codesup, levou as lideranças indígenas
guerreiros “vão massacrar” os garimpeiros, que VICE -PREFEITO DE
Munduruku a recorrerem 3 Procuradoria da
são em menor número. JACAREACANGA É MUNDURUKU
República, em Santarém. O projeto prevê uma
No dia 02 de janeiro, ele viajou até o posto in-
Isaías Krixi foi eleito vice-prefeito do município rodovia ligando Alta Floresta (MT) a
dígena Sai Cinza e negociou com os índios o
de Jacareacanga, a sudoeste do Pará. Isaías é Jacareacanga (PA) e a utilização do rio Tapajós
adiamento do ataque até o próximo dia 2 7. Pres-
uma das principais lideranças Munduruku e é como hidrovia, até Santarém. Segundo dados,
sionado pelos índios, Tertulino vem tentando,
o coordenador da Associação Pusuru, que con- dos 480 quilômetros dessa rodovia, 182 km já
sem sucesso, fazer contato com a presidência
grega 86 aldeias distribuídas pela reserva foram concluídos pela Codesup.
da Funai/ Brasília.
Mundurucânia. O prefeito será o empresário do Segundo as bderanças Munduruku, 0 projeto
De acordo com o administrador, o garimpeiro
setor de combustível, Eduardo Azevedo, que desconsidera 0 fato de se tratar de uma terra
Luiz Barbudo,que se intituJa “dono" do garim-
concorreu pelo Partido Socialista Cristão e ob- indígena: a rodovia atravessa a reserva
po Boa Esperança, na lerra dos Munduruku,
teve apoio maciço da comunidade indígena. Munduruku, onde habitam mais de 7 mil índi-
informou de forma bastante indelicada que
Jacareacanga foi emancipada politicamente em os, distribuídos em 87 aldeias.
reconduziria seus homens e maquinário à área,
1991. Nas eleições de 1992, Rauben Queiroz, As lideranças denunciaram também que até ago-
que já havia sido desocupada no último mês de
hmeionário da Funai, foi eleito prefeito e dois ra não houve cumprimento da determinação da
dezembro. (O Liberal, 07/02/96)
Munduruku foram eleitos vereadores: Roberto Justiça Federal para 0 fim da exploração de um
Krixi e Hans Amântio Kabá. Na eleição deste ano, garimpo situado dentro da reserva indígena
JUIZ SUSPENDE ATIVIDADE os dois foram novamente reeleitos. (CPI-SP. Munduruku. O proprietário do garimpo, Luís
GARIMPEIRA NA TI
nov/96) Barbudo permanece na área fazendo explora-
O juiz federai substituto João Luis Nogueira ção de ouro. (O Liberal, 28/04/97)
Matias determinou a suspensão imediata da ati- RODO-HIDROVIA
vidade de exploração de garimpo desenvolvida ENCONTRO AVALIA IMPACTO
na área conhecida por Nova Esperança, às mar- DO TAPAJÓS DA RODO-HIDROVIA
gens do igarapé Massaranduba, município de
Nos dias 24 e 25 de maio. a aldeia da Missão do
Jacareacanga, e estabeleceu multa diária de RS RODO-HIDROVIA PREOCUPA
Cururu foi sede da reunião das bderanças
10 mil pelo descumprimento da ordem de sus-
A Cooperativa do Desenvolvimento, Produção e Munduruku com os diretores da Codesup e au-
pensão da atividade e de R$ 1.000,00 pelo
descumprimento da ordem de desocupação.
Consumo do Sudoeste do Pará Ltda. (Codesup) toridades públicas. O encontro teve 0 objetivo
anunciou uma rodovia de 480 km, dos quais de discutir 0 projeto de construção da rodo-
Matias fixou os prazos máximos de 1 5 dias para
a retirada de todas as pessoas que Já trabalham,
180 km já concluídos, que vai unir Alia Floresta hidrovia do Tapajós. Estiveram presentes 0 pro-
em Mato Grosso e Jacareacanga, no Pará. A ro- curador da República, Febcio Pontes Junior, a
e de 60 dias para a retirada de lodo o
maquinário lá existente, de propriedade de Luiz
dovia atravessa a reserva dos Munduruku. No promotora estadual, Leane Cliermont, a antro-
panfleto de propaganda, distribuído pela póloga Angela Baptista, do Ministério Público
Rodrigues da Silva.

Segundo o juiz, em sua sentença, a permanên-


Codesup, está anunciado um ambicioso projeto Federal eTeresinha Vieira, do Cimi. Da Codesup
de colonização que inclui 938 áreas de 2.500 estavam Herles de Matos. Marcelo Jeanpierre,
cia dos garimpeiros nas áreas tradicionalmen-
ha, 6.000 lotes de 500 ha, 26 agrovilas, 2 cida- Israel Milanês e Ênio Finimundi.
te ocupadas pelos índios acarreta fundado re-
des e 2 reservas agroecológicas e ambientais. Na exposição introdutória realizada pela
ceio de dano irreparável aos silvícolas. A deci-
Ao tomar conhecimento do projeto, 0 Conselho Codesup, foi ressaltado que 0 projeto não Irá
são é resultado de uma Ação Civil Pública pro-
Indígena Munduruku do Alto Tapajós (Cimat) afetar nenhuma reserva indígena existente na
posta pelo MPF. (O Liberal 11/03/97)
divulgou 0 seguinte apelo: “Nós, índios região. Foi revelado ainda que cerca de 62 qui-
Munduruku, denunciamos para as entidades de lômetros da rodovia já foram feitos através da
MINISTÉRIO PÚBLICO
apoio à causa indígena e para as autoridades implantação de projetos agropecuários. O pro-
INICIA AVALIAÇÃO DO
governamentais que, sem saber, recebemos um jeto contaria já com 0 Estudos de Impacto
IMPACTO DO GARIMPO mapa da Codesup, com sede em alta Floresta -
Ambiental e com 0 Relatório de Impacto
O MPF iniciou a avaliação pericial dos danos MT. Lendo este mapa ficamos muito assustados Ambiental (EIA/Rima) produzidos pela Sectam
ambientais causados pela ocupação do garim- porque esta estrada vem de Alta Floresta cor- e Ibama.
po Nova Esperança, de propriedade do garim- laudo toda a nossa reserva e vem outra estrada Isaías Crixí, vice-prefeito do Município de
peiro Luiz Rodrigues da Silva, instalado na área bem do Centro-Oeste, é a BR- 163 ou Rodovia Jacareacanga, afirmou que os Munduruku es-

476 TAPAJÓS / MADEIRA P0VDS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBtENTAL


. )

so Nacional. A ação pretende proteger direitos


de posse e usufruto dos índios Munduruku,
TI MUNDURUKU

que, segundo os autores da ação, as obras da
hidrovia ferem frontalmente direitos constituci-
FUNAI APROVA ESTUDOS...
onais assegurados às comunidades indígenas, à O presidente da Funai assinou despacho apro-
posse permanente sobre suas tetTas tradicionais vando os resultados dos estudos de identifica-
e o usufruto exclusivo das riquezas naturais nela ção da TI Mundurukú com 2.362.000 ha de
existente. O aproveitamento dos recursos superfície e 1.030 km de perímetro, localizada
hídricos de terras indígenas só pode ser efetiva- no município de Jacareacanga/PA. (Erronea-
do mediante autorização do Congresso Nacio- mente a Funai publicou como se ainda fosse o
nal, depois de ouvidas as comunidades indíge- município de Itaituba/PA). (DOO, 04/03/98)
nas afetadas.
O Ministério Público alerta para a descon- QUE ERA ANTIGA
...
sideração no EIA/Rima da hidrovia Teles Pires/ REIVINDICAÇÃO
Tapajós da existência de duas terras indígenas
Munduruku - Praia do Mangue e do índio, lo-
A presença de garimpeiros, das madeireiras e
calizadas próximas
de invasores de terras são os principais pro-
da cidade de Itaituba, no tre-
cho Santarém/|acareacanga da hidrovia. blemas que ameaçam os Munduruku. Eles de-

O embargo da rodovia Teles Pires/Tapajós foi correm, segundo o cacique Isaías Crbá, da fal-

antecedido de outras ações administrativas que


ta de demarcação da reserva: “Eu não sei o que

objetivaram apurar denúncias dos índios a Funai está esperando para fazer isso", diz ele.

Munduruku sobre a construção de uma estrada A luta pela demarcação da reserva dos
Dispostos a combater o projeto clandestina que liga Alta Floresta (MT) a Munduruku dura mais de 50 anos. Em 1945,
os Índios vêetn intromissão na Área. através do decreto 305, o governo do Pará re-
Jacareacanga (PA). 0 projeto da rodovia,
avalizado pela Codesup, com sede em Alta Flo-
servou aos Munduruku uma área de 510 mil
Ião unânimes no pensamento que estão amea- resta, já tem construídos 182 quilômetros de hectares Em junho de 1975 novo relatório da
çados pela execução do projeto: "Tanto faz pas- estrada. O DNER informou que a única rodovia
Funai indicava uma área ocupada inferior àque-
sar fora ou dentro da reserva, vamos ser preju- la prevista pelo decreto .305. insatisfeitos com
cujo traçado passava na Reserva Florestal de
dicados, Queremos o desenvolvimento do mu- Munduruku, a BR-080, foi totalmente abando- os trabalho do GT da Funai, os Munduruku ex-
nicípio sem prejuízo para ninguém", enfatizou pulsaram os técnicos e rejeitaram a delimita-
nado e excluído do Plano Rodoviário de Via-
Isaías. “Não aceitamos a estrada, o benefício é ção.(O Liberal, 13/10/97 ção, alegando que o relatório não previa áreas
só para o branco.
1
'
(O Liberal, 30/05/97) de caça e coleta, e que aldeias indígenas esta-
vam fora dos limites da área.
JUSTIÇA SUSPENDE
EIA/RIMA APONTA Em 1977 a reserva voltou a ser demarcada, sem
OBRAS DA HIDROVIA
trabalho de identificação antropológica. Sua
RISCOS TEMPORÁRIOS
A Justiça suspendeu obras da Hidrovia Tapajós. superfície foi ampliada para 948 mil hectares,
DA RODO-HIDROVIA A decisão do embargo imediato das obras de mas algumas aldeias ainda permaneciam fora
O EWRima da Hidrovia do Tapajós apresenta- dragagem foi decidida pelo juiz federal Edson dos limites.

do em audiência pública em ftaituba foi classi- Messias de Almeida. Tais obras, estimadas em Novo GT da Funai foi criado em 1987, com ob-
ficado de superficial por Graça Azevedo da Sil- R$ 140 milhões, afetam a reserva indígena jetivode identificar e delimitar a área
va, da promotoria do Meio Ambiente e Walter Munduruku e provocarão a destruição de mais Munduruku. Foi proposta a ampliação da área
Azevedo, da Funai. Estiveram presentes na au- de cem cachoeiras no estado do Pará, alagando para 1,9 milhões de hectares. A proposta foi

diência autoridades municipais, estaduais e fe- dezenas de praias ao longo do rio Tapajós. mais uma vez rejeitada pelas lideranças
derais, além de índios Munduruku. O principal Os procuradores da República responsáveis pela Munduruku, que alegavam que as cabeceiras

questionamento dos relatórios apresentados diz ação civil pública que deu início ao processo dos igarapés Watienti, Daidi e Cururu haviam
respeito à omissão no Rima do trecho entre os consideram que a hidrovia irá prejudicar as ficado fora da área,

municípios de Jacareacanga e Teles Pires, as- comunidades locais: “As populações afetadas Ainda uma última ação demarcatória foi efeti-
sim como a correlação entre a hidrovia e o pro- o Esta-
pelas obras não terão beneficio algum e vada em 1993, através do Decreto 22. A Funai
jeto de construção da rodovia entre Alta Flo- do do Pará que sofrerá o impacto ambiental, enviou à região uma nova equipe, coordenada
resta e Jacareacanga, que afetaria a área indí- também não terá benefícios”, afirma o procu- pela antropóloga Patrícia de Mendonça
gena Munduruku. (O Liberal, 17/06/97) rador Felício Pontes Jr., autor da ação. “Os úni- Rodrigues, com o objetivo de '
identificar e
cos beneficiários dessa hidrovia são os empre- delimitar a área de aldeias tradicionais e nas-

MPF EXIGE O EMBARGO sários produtores de grãos no Estado do Mato centes não compreendidas quando do estudo
DA TELES PIRES/TAPAJÓS Grosso." feito em 87”. Na área de ampliação, foi denun-
O juiz estipulou uma multa diária de R$ 10 mil ciada a existência de um garimpo no igarapé
O MPF, através das Procuradorias da República e determinou que a construção da hidrovia passe Massaranduba, de propriedade de Luís Barbu-
de Santarém e Mato Grosso ajuizaram a ação pela avaliação do Congresso Nacional, uma vez do, que havia sido montado depois da interdi-
civil pública com pedido de antecipação de tu- que envolve a questão de direito dos povos in- ção de 1990. Após ter sido desativado este ga-
tela para impedir a implantação da hidrovia dígenas. (Jornal da Tarde, 24/10/97) rimpo de Nova Esperança, a Funai encontrou a
Teles Pires/Tapajós, até autorização do Congres- Mineração Rio Tinto, subsidiária da empresa

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL TAPAJÓS /MADEIRA 477


DTVM, em outro local, conhecido por Barro Outras duas contestações foram encaminhadas citação deste reconhecimento foi feita por
Vermelho, no rio das Tropas. Outras evidênci- à Justiça em dezembro, por Luiz Rodrigues da Raimundo Cruz, cm atendimento a uma das úl-

as de ação de garimpeiros na reserva Silva e João Ivan Bezerra de Ahneida. Juntamente timas manifestações de desejo de seu pai,
Munduruku foram identificadas recentemente com a contestação da Prefeitura Municipal de Laurelino Floriano Cruz, 88 anos, antes de sua
pela Funai na região sudeste da área. (O Libe- Jacareacanga, tais contestações foram conside- morte, ano de 1997. “Seu Laurelino” era
110

ral, 22/3/98) radas improcedentes pelo Ministro da Justiça, muito conhecido na região por seus trabalhos
que considerou que as alegações não tinham de curandeiro. Ele garantia terem sido seus pais
TERRA DISPUTADA “força jurídica para descaracterizar a natureza indígenas, de quem havia herdado os conheci-
indígena das terras em questão". (Despacho mentos de pajelança. (Últimas Notícias/ISA, 06/
Publicado o Resumo do Relatório de Identifi- do Ministro da Justiça, DOU, 11/12/98) 01/99, a partir de O Liberal, 17/12/98)
cação e Delimitação da Terra Indígena
Munduruku no dia 4 de março de 1998, a Pre-
TI COATÁ LARANJAL MORADORES DA FLONA
feitura Municipal de Jacareacanga apresentou

a primeira contestação ao documento, no qne


QUEREM TÍTULO DE TERRA
se refere à área conhecida como “Bico das Tro- FUNAI APROVA REESTUDO As 21 comunidades localizadas na Flona do
pas”. A que a área entre o rio
Prefeitura alega DA TERRA INDÍGENA Tapajós, (incluindo a comunidade de Takuara),
das Tropas e o igarapé dos Mutum está regis- discutiram com autoridades federais a questão
O presidente da Funai, Otacílio Antunes, publi-
trada sob administração do Incra, sendo explo- do impasse na titulação das terras em que vi-
cou Despacho n° 17, de 23 de abril de 1999,
rada há mais de 30 anos por atividades vem. Segundo 0 Sindicato dos Trabalhadores
aprovando 0 relatório de reidentificação da TI
garimpeiras, com a presença de mais de 2.000
Coatá Laranjal, dos Munduruku, com a superfí- Rurais de Santarém, são cerca de 5 mil mora-
moradores que estariam se dedicando à pecu- dores. Estiveram presentes no encontro repre-
cie de 1.121.300 hae 552 km de perímetro, no
Os Munduruku alegam que
ária e à agricultura. sentantes da Procuradoria da República, a De-
município de Borba/AM, que antes fora
os moradores desta área não passam de 200 legacia do Patrimônio da União e a coordena-
identificada e delimitada pela Funai com
agricultores instalados na Reserva Florestal de ção executiva da Flona, que discutiram durante
805.000 de extensão. (DOU, 27/04/99)
Mundururukânia. O rio das Tropas, chamado todo 0 dia com 0 Grupo Gestor da Flona.
na língua munduruku de Jurupari, é onde se Firmou-se mais uma vez que não será permiti-
E O MINISTRO DA
localizam grandes seringais, castanhais e outros da a entrada das madeireiras para a execução
JUSTIÇA DECLARA DE
recursos florestais utilizados pel os índios. ( Carla do Projeto ITTO, enquanto não houver uma so-
do CLWAT e da Associação Indígena Pusuru,
POSSE PERMANENTE lução definitiva com relação ao documento de
publicada no O Mensageiro, set/out/98) Através da Portaria n° 561 assinada pelo minis- concessão e aos limites para as comunidades.
tro da Justiça, José Carlos Dias, foi declarada a Segundo os moradores, a falta de documentos
CONTESTAÇÃO TI Coatã-Laranjal de posse permanente dos ín- do Ibama pode vir a significar no futuro total

dios Munduruku e Sateré- Mawé, confimando a desrespeito de áreas comunitárias por parte
Três contestações se seguiram à publicação do extensão aprovada pela Funai. (DOU, 08/10/99) das madeireiras. (ISA, a partir de O Liberal,
Relatório dc Identificação da TI Munduruku. 17/12/98)
No dia 15 de junho, a Prefeitura de Jacarca-
canga, através de seus advogados e procurado-
FLORESTA NACIONAL
“MISSA INDÍGENA” É
res, entrou com um pedido de impugnação/ D0 TAPAJÓS REALIZADA EM TAKUARA
anulação do referido relatório, sob o argumento
que a T.I. Munduruku está localizada no muni- MORADORES DE TAKUARA Em vez dc vinho na Eucaristia tarubá e caxará
cípio de Jacareacanga, e não Itaituba, como (bebidas fermentadas feitas a partir de mandi-
QUEREM RECONHECIMENTO
consta no Relatório da Funai. A Prefeitura ar- oca) no lugar da evocação dos santos c márti-
gumenta ainda em favor da população não-ín-
COMO MUNDURUKU res
;

da Igreja Católica, a recordação e proteção

dia moradora do município de Jacareacanga, As famílias da comunidade de Takuara, locali- dos deuses e espíritos da floresta. Essa foi a tô-
que reside nos limites da área proposta para zada na margem direita do rio Tapajós, municí- nica da missa indígena realizada na região oes-
ampliação da TI. A contestação apresentada diz pio de Belterra, e inserida na área da Flona do te do Pará e que teve como palco a Comunida-
respeito ã área conhecida como “Bico das Tro- Tapajós, solicitaram da Funai 0 reconhecimen- de de Takuara (município de Belterra), distan-

pas”, localizada entre o rio das Tropas e o to de sua origem indígena Munduruku ou te cerca de 100 km de Santarém, cujos mora-
Igarapé Mutum, que está registrada sob admi- Thpinambarana. São aproximadamente 130 pes- dores são descendentes dos antigos índios
nistração do Incra. soas que vivem em terras de seus ancestrais, de Munduruku. A celebração teve seu ponto alto
Em agosto a TI Munduruku sofreu nova con- quem herdaram os traços culturais. no último domingo, 1 1 quando foi erguido um
,

testação, desta vez encaminhada pelo EMFA à A Funai determinou a execução de um estudo altar às margens do rio Tapajós e, em meio a

Funai. À solicitação de revisão dizia respeito antropológico para confirmar a veracidade desta cantos em nheengatu (língua do tronco tupi),
agora aos limites sul/sudeste da '0 Munduruku, descoberta, “É um fato muito significativo, pois bebidas e rituais indígenas, 0 padre Ademar
que incidiam sobre a base da Serra do Cachim- são famílias que durante mais de 70 anos não Ribeiro (nativo da região) consagrou a cerimônia

bo, onde a Aeronáutica mantém uma Base de se diziam mais indígenas”, afirmou 0 padre so- com a tradicional liturgia da Igreja Católica.
Testes. A contestação foi acolhida pela Funai, ciólogo frei Florêndo Vaz, que vem dando apoio Membros de ONGs nacionais, como 0 GCI (Gru-
que passou a partir dessa data a considerai' a neste processo de reconhecimento. Segundo ele, po de Consciência Indígena), GDA (Grupo de
superfície da TI Munduruku aprovada de nessa .situação estão muitas outras comunida- Defesa da Amazônia) do Conselho Nacional de
,

2.340.360 ha. des vizinhas, no rio Tapajós e Arapiuns. A soli- Seringueiros, e até uma ONG finlandesa estive-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1896/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


«e TAPAJÓS /MADEIRA
-
Tr^rrfTT
V^>Ar^r^F^AsV>vSrâ

MURA
IDENTIFICAÇÃO DAS TERRAS
O trabalho de estudos e identificação das ter-

ras habitadas pelos Mura, no município de


Autazes foi iniciado. Segundo informa a antro-
póloga Ana Flávia Moreira Santos, os Mura es-
tão distribuídos em Borba, Autazes, Careiro,
Manicoré e Itacoatiara. O trabalho mais recen-
te sobre a demarcação de suas terras de que se
tem conhecimento remonta ao SP1.

A antropóloga Marta Amoroso, que está fazen-


do o relatório sobre a situação dos Mura no
município de Borba, adianta que em relação a
indicadores passados, a população Mura apre-
senta alta taxa de crescimento, sendo que a
perspectiva é de que as condições das comuni-
dades melhorem após a demarcação das ter-

| ras. Nesse trabalho de identificação e delimita-


is ção uma equipe composta de antropólogos, en-

Pe Ademar, membro da comunidade, durante celebração da missa que genheiros agrônomos, agrimensores, biólogos,
reiterou uma antiga reivindicação: o reconhecimento da identidade indígena. comandantes de barcos ribeirinhos, canoeiros
estão percorrendo áreas extensas, no interior
da floresta, guiados por satélites e antigos ma-
ram participando da cerimônia. Dezenas de drugada de domingo. Às 8h30 do dia seguinte,
pas, para estabelecer os parâmetros amais.
moradores das comunidades vizinhas a Takuara, o ritual recomeçou, sendo formado um grande
Os tempos são outros para os Mura, uma etnia
como Pinhel e Suruacá, onde igualmente é de- em redor do altar coloca-
círculo pelos nativos
que acumula três séculos de contato com a so-
senvolvido trabalho de reafirmação da identi- do a poucos metros das águas do rio Tapajós.
ciedade nacional, e uma história marcada pelo
dade indígena, também participaram do ritual. “Essa aproximação e respeito para com a natu-
preconceito e discriminação. (A Crítica,
Além de muito peixe, carne, fintas, os nativos reza é fundamental na espiritualidade dos po-
06/04/97)
prepararam cerca de 250 litros de tarubá e vos indígenas da floresta", comentou Horêndo
caxará, servidos aos presentes. Vaz. Por mais de duas horas, a tradicional
O rimai começou no sábado à tarde quando liturgia da Igreja Católica foi celebrada em meio AGILIDADE NAS DEMARCAÇÕES
moradores do local organizaram uma assem- a diversas manifestações indígenas. Na leitura Para 1999 foi previsto a demarcação de seis
bléia e expuseram a todos a luta que travam há do Evangelho, por exemplo, a Bíblia foi levanta- terras indígenas do povo Mura, quatro no mu-
anos para que sejam reconhecidos como povo da aos céus por uma nativa numa atitude de nicípio de Manicoré e duas no município de
indígena, e a partir de então, a Funai deu início respeito e devoção. TVipã, deus indígena, e a
Autazes. Entretanto as demarcações não acon-
à demarcação de suas terras. "A solidariedade Poraquê encantada também foram respeitosa- teceram, gerando insatisfação entre as comu-
de todos vocês que aqui estão presentes pela mente mencionadas no ritual. A nação nidades que há muito tempo lutam para que a
primeira vez é fundamental para nós, para a Munduruku foi lembrada através de um depoi- situação fundiária seja solucionada.
nossa luta", declarou Eurico Floriano Cruz, o mento, em fita gravada, dado pelo seu Laurelino O coordenador geral do CIM, Maurício dos San-
Eurico Caboclo, 59 anos, filho mais velho do meses antes de morrer. tos, explica que o projeto aprovado pelo
já foi
"seu" Laurelino, b'der da comunidade falecido A celebração da fé cristã de modo mais próxi- PPTAL. “Mas a demarcação depende de uma
no ano passado e que começou o processo de mo aos costumes de cada povo é iniciativa da viagem preparatória que deve ser feita por um
resgate da cultura indígena em Takuara. própria Igreja, As liturgias afro têm sido o exem- grupo de técnicos e assessores do PPTAL, Funai
À noite, ao redor de uma fogueira, e com a par- plo mais visível desta prática, “A missa simboli-
e representantes indígenas, e nós estamos es-
ticipação do padre Ademar foram entoados can- za um novo tempo de relacionamento entre Igre-
perando o contato com o PPTAL para definir a
tos indígenas, invocando-se a presença dos es- ja e os povos nativos”, disse o frei Florêncio Vaz,
data". (Jornal da Coiab, dez/99)
píritos dos rios e da Enquanto a batida
floresta. um dos maiores incentivadores do evento. “Foi
surda dos tambores marcava o compasso das também a forma encontrada pela Comunidade
A SAÚDE VAI MAL
danças, era feita a defumação do espaço onde de Takuara de dizer quem é, e que quer ser re-
se realizava a cerimônia, com cascas de várias conhecida como povo indígena”. Esse reconhe- É grave a situação de saúde da população mura
árvores da floresta, lidas como sagradas e res- cimento, segundo ele, é fundamental para que do rio Igapó Àçú. Os Mura viveram nos últimos
ponsáveis para afastar os maus espíritos. a Funai dê início ao processo de demarcação meses o pesadelo da maior epidemia de malá-
Logo em seguida foram apresentadas danças das terras indígenas. Essa solicitação foi feita à ria registrada em sua história, que atingiu 100%
típicas daquele povo indígena, como o do Funai, mas só depois de estudos antropológi- da população aldeada, resultando em três ca-
Gambá, e outras nações silvícolas, como a Dança cos realizados por técnicos do órgão é que po- sos de morte no último ano. A dramática situa-
dos Andirás - com o tarubá e o caxará sendo derá ou não ser expedido o reconhecimento. ção espelha o abandono dos Mura pela Funai,
servido à vontade a todos os presentes até a ma- (Celimldo Carneiro. O Liberal. 18/04/99) que só em meados dos anos 1990, no contexto

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL TAPAJÓS /MADEIRA 479


,

das demarcações, teve algum contato com essa


SATERÉ-MAWÉ VETO Â PESQUISA
população, da qual o órgão de tutela desconhe- DA PETROBRÁS
cia até então o censo e a localização exata.
A notícia de um programa de atendimento de CANDIDATOS SÃO INDICADOS Os Sateré-Mawé rejeitaram uma proposta da
saúde aos Mura, a ser implantado ate o final do POR CONSELHO TRIBAL Petrobrás para permitir a realização da pesqui-

ano 2000 pela Fundação Nacional da Saúde sa de petróleo em suas terras, na região de
Os índios Sateré-Mawé conscientizaram-se de
(Funasa) é, nesse senúdo, alvissareira. A Funasa Mamuru, localizada entre os municípios de Juriti
que precisavam ter representantes próprios nas
vem operando na área por meio do Sub-Distri- (PA) c Barreirinha (AM) no Médio Amazonas.
,

Câmaras de Maués, Barreirinha e Parintins, onde


to Sanitário de Borba, ligado ao Distrito Sanitá- Os responsáveis pela pesquisa sísmica da
estão suas terras. Eles contam hoje com uma
rio de Manaus. O programa prevê o treinamen- Petrobrás explicaram que as lideranças indíge-
população de cerca de 6.000 pessoas distribuí-
to e manutenção nas aldeias de agentes de saú- nas opuseram-se às pesquisas por acharem que
das em 57 aldeias, numa área de 800 mil ha
haveria muita gente de fora circulando na área.
de indígenas e mini-postos de saúde, equipa-
entre estes três municípios. No rio Marau, os
Segundo a Petrobrás, ao tomarem
dos com medicamentos básicos, sistema de tal decisão,
Sateré são 1 .050 eleitores que votam em Maués os índios perderam a oportunidade de ganhar
radiofbnia c meios de transporte para os pri-
c no Andlrá são 800, que votam em Barreirinha.
meiros socorros aos doentes, com condições um bom dinheiro, caso fosse constatada exis-
Em 1992, elegeram 0 primeiro vereador índio tência de petróleo em sua reserva A primeira
também de encaminhar os casos mais graves
em Barreirinha, Messias Pereira Batista (PPB),
para atendimento hospitalar na cidade. Em Nova reunião com as lideranças dos Saieré-Mauwé
3 1 anos, filho do tuxaua Lúcio Batista, da Aldeia
Olinda estará locada uma equipe médica vo-
aconteceu no dia 16 de junho último, e foi acom-
Araticu, no rio Andírã. Messias foi reeleito com panhada pelo chefe de posto da Funai de
lante, composta de um médico, um dentista,
238 votos. “Os Sateré-Mawé mostraram que es-
dois enfermeiros e três auxiliares de enferma- Parintins, que é um Sateré-Mawé.
tão organizados politicamente, pois outro índio
gem, encarregada de ministrar atendimento A decisão oposta ao interesse da estatal foi mo-
conhecido por Geremias também teve 248 vo-
médico e odontológico à população mura tivada pela experiência ruim que os Sateré-Mawé
tos. Ele só não se elegeu portpie 0 seu partido,
e munduruku da região. O repasse das verbas tiveram há alguns anos, com a multinacional
0 PL, não coligou com ninguém”, explica Lúcio
francesa Elf-Equitaine, que, por conta e risco
do Ministério da Saúde para os Sub-Distritos
Ferreira Menezes, 46 anos, Sateré-Mawé, admi-
de Borba e Nova Olinda, para o atendimento da Funai, realizou prospecção nas terras dos
nistrador da Funai em Parintins.
dos Mura e Mundurucu, se dará por intermé- Sateré-Mawé, causando danos ambientais.
Lúcio Menezes assumiu a administração de
dio da Coiab. Processada pelos índios, a multinacional fran-
Parintins no ano passado. Para ele, tanto 0 car-
Resta saber se os recursos vão de fato chegar cesa foi obrigada a pagar indenização por da-
go de administrador que ocupa hoje quanto 0
até os Mura, ou irão se esgotar no atendimento nos ao meio ambiente e ao seu patrimônio cul-
mandato de vereador de Messias em Barrei-
tural e material. A ação judicial, denomi-
da população munduruku, politicamente me-
rinha, não foram conquistas pessoais, mas re-
lhor organizada, e cujas aldeias localizam-se nada Interdito Proibitório, foi conduzida pelos
sultado de uma ação de todos os índios e da
advogados Dalmo de Almeida Dalari Edson
mais próximas da sedes dos distritos sanitári- e
orientação política do Conselho Geral da Tribo
os. (Marta Amoroso/ISA, jan/00) .
de Oliveira. Os advogados relembram que
Sateré Mawé (CGTSM), criado em 1987 para na ocasião, a presença do cacique Juruna na
organizar, orientar e decidir tudo sobre a vida
audiência final foi decisiva para que a multi-
MURA-PIRAHÃ dos Sateré-Mawé. “Os Sateré vêm se organizan-
nacional assumisse 0 pagamento integral das
do politicamente, explica Lúcio, e essa organi-
indenizações. Juruna ameaçou ir à França de-
MALÁRIA AMEAÇA zação passa pelo CGTSM. Foi em janeiro de 92,
nunciar 0 que a empresa havia feilo 11a terra
quando os índios se reuniram em Assembléia
dos Sateré-Mawé, e que não queria pagar a in-
A equipe do Cimi-Norte I informou que a malá- Geral e aclamaram 0 Messias para ser candida-
denização.
ria está ameaçando o povo Mura-Pirahã que vive to a vereador pelos Sateré por Barreirinha. A
A prospecção desastrosa na terra dos Sateré-
ao longo do rio Maici, no município de Humaitá. primeira experiência de Messias foi em 88 quan-
Mawé foi resultado da pobtica dc abertura pro-
Os Mura-Pirahã contam com uma população do foi criada a Coaib e ele foi eleito coordena-
movida pelo governo Geisel, e da forma como a
de 148 pessoas, que vivem de forma nômade, dor”. (A Crítica, 20/10/96)
pesquisa de petróleo foi negociada entre Funai
deslocando-se pela região em pelo menos cin-
Petrobrás e Elf-Equitaine, Segundo os advoga-
co agrupamentos. PREFEITO BISCA APOIO dos, na ocasião a Funai não tinha condições
Até o momento foram detectados 41 casos de
PARA ESTRADA QUE morais de defender os índios, 0 que obrigou que
malária, sendo 24 de tipo falciparum e 17 do
CORTARÁ ÁREA INDÍGENA os próprios índios contratassem com seus recur-
tipo vivax. “Tem muita malária nas regiões, so-
sos os dois advogados (A Crítica, 26/7/98)
bretudo nos rios Marmelo, Mamcoré, LIruapiara O prefeito de Maués, Carlos Esteves, informou
e Maici”, alertou o indigenista João Wanderley ontem que vai procurar os líderes Sateré-Mawé
Theisen. Ele disse que já foi solicitado à FNS para tentar assegurar um acesso rodoviário des-
ECO-ANDIRÁ INVESTE
borrificação a fim de reduzir o número de ca- se município com Manaus. A rodovia ajudaria a CONTRA A TI ANDIRÁ-MARAÚ
sos. (Porantim, mar/97) fortalecer a cultura do guaraná e seria projeta-
O Ipaam (Instituto Ambientai do Amazonas)
da como uma espécie de ramal da “Estrada da
declarou que nenhum agricultor será expulso
Várzea” e teria 0 mínimo impacto ambiental
da área de 70 mil hectares reivindicada pela
possível às terras indígenas, segundo diz. (A
Eco-Andirá Brasil-Holanda, Os produtores es-
Crítica 05/02/97)
,

tão há mais de 20 anos na terra, e sua atividade


é considerada essencial para 0 abastecimento
das cidades mais próximas.

480 TAPAJÓS / MADEIRA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCÍOAMBIENTAL


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7

mim
DISTRITO DE SAÚDE INDÍGENA DE PARINT1NS
Em dezembro de 1999, a Fundação Nacional de las. Esse montante é destinado à implantação de Agentes Indígenas de Saúde locados nesses pólos
Saúde (Punasa) estabeleceu uma parceria com a um projeto de saúde, que visa, entre outros, afor- base foram formados para as ações (supervisa-
Ameríndia Cooperação para a execução das ações mação de Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e o dos a distância ou acompanhados em serviço pelo
de atenção à saúde e formação de recursos hu- fornecimento de equipamento clínico primário, equipe técnico) desse modelo operacional.
manos dentro do processo de implantação do Dis- transportes náuticos, radiofonias e a opera-
cionalização integrada de todas as ações. Todas
DST E AIDS
tritode Saúde Especial Indígena de Parintins. Esse
distrito abrange os povos Sateré-Mawé, os projetos são articuladas às Organizações Indí- Através do Projeto Mttrubi de Prevenção de DST e
Hixkaryana, Wai WaieosZoé. nos municípios de genas Sateré-Mawé. AIDS financiado pelo Ministério da Satíde, foram
Nbamundá, Oriximiná (no Fará) e Maués, Entre suas metas, além de inserir a comunidade capacitados, ao todo, 98 AIS. A capacitação des-
Barreirinba e Parintins (no Amazonas) com uma Sateré-Mawé no processo de assistência à saúde, ses agentes teve como objetivo ensiná-los reco-

população total de 9000 pessoas distribuídas em acrescenta-se o apoio às escolas e professores in- nhecer o quadro clínico das DST e AIDS e pautar
90 aldeias. dígenas, à consolidação da Organização das Mu- os procedimentos e o diagnóstico deUis, assim
As ações compreendidas pelo convênio visam a lheres Indígenas Sateré-Mawé, às ações para auto- como ensiná-los a informar a população Sateré-
formação, acompanhamento e supervisão conti- sustento alimentar e o suporte às organizações Mawé mais vulnerável essas doenças, setisibili-

nuada dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) lo- indígenas de base no processo de autogestão. zando-a para as medidas preventivas. Em seis
cados nas tddeias indígenas, a atenção básica à Alcançadas essas metas em 1997, além de ter dado meses, foram realizado 17 encontros com a popula-
saúde em campo, a consolidação de uma rede in- continuidade até 1999 ao projeto originalfinan- ção que atingiram a audiência de 3694 pessoas.
tegrada e estratificada de saúde, com complexi- ciado desde Espanha, a Ameríndia assinou um
dade crescente e articulada com a rede do SUS, o convênio com o Ministério de Saúde - Programa SAÚDE BUCAL
equipamento e organização de redes de transpor- DST/AIÜS, por indicação das Organizações Indí- Foram formados note agentes indígenas de saú-
te e de comunicação, a consolidação de um siste- genas. para desenvolver atividades de prevenção de bucal locados nos fxílos base.
ma de informação para uma vigilância em saúde a essas doenças e educação para saúde. 0 primeiro diagnóstico de saúde bucalfoi reali-
adeqtuula à realidade e a implantação e funcio- Ainda nesse mesmo ano. a ONG espanhola assi- zado por um cirurgião dentista nas aldeias do
namento de instâncias (Conselhos Locais e nou convênio com a Funai para dar assistência à Marau em 1994. Em 1997, ele se realizou nas al-
Distrital) destinadas a garantir o controle social saúde nas aldeias Sateré-Mawé dos rios Andirá deias do Andirá.
sobre as políticas de saúde. Aicurapá e Marau/Urupadí, assim como 0 processo deformação desses agentes se deu em
Para que o objetivo fosse alcançado, foi feita a Hexkaryanas do rio Nbamundá. Esse acordo expi- três etapas. A últimafoifeita através de uma par-

contratação de enfermeiros e auxiliares de enfer- rou em julho de 1999, tendo consolidado o pro- ceria com a Universidade de Brasília (UnB). Foi
magem, destinados a pontos fixos de ação (Casa cesso de regionalização operacional da área reativado o programa de aplicação deflúor e edu-
de Saúde Indígena e algumas aldeias indígenas Sateré-Mawé. cação para a saúde. Em parceria com a Funai,
de alta densidade populacional) equipes ,
aconteceu oprograma de assistência odontológica
multidisciplinares ( médico-enfermeiro) para vi-
A REGIONALIZAÇÃO em campo.
sitar periodicamente as aldeias e 97 AIS. Também DA ÁREA SATERÉ-MA WÉ
foi contratada uma equipe de administração, fi-
OUTRAS ATIVIDADES
A regionalização começou a serfeita 1995junto à
nanças e logística para operar na sede. coordenação da Organização dos Agentes Indíge- A Ameríndia proporcionou e apoiou a formação
nas Sateré-Mawé (Oasism) e às lideranças tanto de AIS como multiplicadores nas ações de educa-
A EXPERIÊNCIA DA ONG do Marau quanto do Andirá. Ela esteve baseada ção para saúde; implementou um programa de
AMERÍNDIA COM OS SATERÉ-MA WÉ em critérios geográficos e antropológicos e resul- controle de saúde infantil; realizou um curso de
A mais de dez anos, a Ameríndia Cooperação, or- tou em nove sub-regiões operacionais, cada uma ensino de í grau para um grupo de 30 AIS; apoiou
ganização não -governamental espanhola com um pólo base equipado (radiofonia/placa efinanciou ações da Associação das Mulheres In-
(Catalunha), trabalha junto ao povo indígena solar, transporte náutico, balança pediátrica, etc.) dígenas Sateré-Mawé (Amism) e discutiu e fixou
Sateré-Mawé atendendo às solicitações das suas onde, desde então, acontecem todas as ações de estratégias de ação Jmra combater afome na re-
lideranças indígenas referentes à saúde nas aldeias. saúde de assistência tias aldeias, consultas assis- gião, o pior agravo à saúde entre os Sateré-Mawé.
Desde 1992, tem seus recursos financiados por tidas por radiofonia, e referências/contra- referên - (Dra. Cristina Alvarez/Ameríndia Cooperação)

diversas instituições públicas e privadas espanho- cias depacientes entre as aldeias e a cidade. Os

A Funai denunciou ontem formalmente às enti- MADEIRA É APREENDIDA utilizada nas instalações da empresa na Barrei-
dades ambientalistas o presidente da Câmara PRÓXIMA À TERRA INDÍGENA ra do Andirá., onde está sendo implantado o
Municipal de Barreirinha, vereador Claubert Pe- projeto de enriquecimento florestal. A empre-
reira Lopes, como testa de ferro da madeireira Fiscaisdo Ibarna apreenderam 3 mil peças de sa holandesa não tem licença para desen-
Eco-Brasil-Holanda Andirá, responsável pela madeira, entre cedro, açariquara, maçaranduba volver suas atividades, lendo sido embargada
contratação de equipes de mateiros que estão e piquiá, extraídas ilegalmente em área limite pelo ipaam.
extraindo vastos estoques de madeira da re- com a reserva indígena dos Sateré-Maué, no rio A Funai denunciou ainda que poderia estar ha-

serva indígena Sateré-Mawé. (A Crítica, 26 e Andirá, município de Barreirinha/AM Parte da vendo invasão da reserva indígena, o que levou
31/03/99) madeira estava submersa nos rios Ariaú, Tigre, os fiscais a uma operação conjunta, com mili-

Llrumatuba e Mirana, numa estratégia de camu- tares e índios Sateré-Mawé, durante dez dias.

flagem usada para driblar a fiscalização. Os Ainda que a reserva não tenha sido atingida, os
extratores surpreendidos no local disseram que índios ficaram em alerta. 0 administrador da
a madeira fora encomendada pelo vereador Funai em Parintins, o índio Sateré-Maué Lúcio

Claubert Lopes, dc Barreirinha, intermediário Menezes, foi que recebeu as denúncias de que
da empresa Eco Brasil Holanda Andirá, e seria 10 mil toras de açariquara já foram dcmiba-

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS/ MADEIRA 481


)

das. Menezes alertou para o fato que deve ha- ... MAS VOLTA ATRÁS golpe, mas estes se recusaram a comparecer
ver ainda tnadeira escondida na mata. "Nós que- na reunião, “Mesmo assim, João Canarinho se
remos ter certeza que não estão explorando a
Em dois dias de negociações entre os índios auto-indicou como liderança maior da nação
Sateré-Mawé, Hixkariana e o administrador da Sateré-Mawé do Andirá” comentou Lico.
terra dos índios”, disse Menezes. (A Crítica, rio

18/04/99)
Funai em Manaus, Benedito Rangel de Moraes,
Segundo Zeila da Silva Vieira, que faz parte do
indicado pela presidência da Funai para resol- Conselho das Mulheres Sateré-Mawé, a tribo não
ver o impasse criado na regional, prevaleceu a
LÍDERES DENUNCIAM concorda com o retorno de Lúcio Menezes ao
decisão das lideranças indígenas que exigiram
ADMINISTRADOR DA FUNAI comando da Funai em Parintins. “Ele passou
a permanência de Santana no cargo de admi- quatro anos no cargo e não fez nada pelas co-
Lideranças das nações indígenas Sateré-Mawé nistrador da regional de Parintins. (A Crítica,
munidades indígenas da região."
e HLxkariana, localizadas nos municípios de 13/08/99 Os representantes indígenas informaram que o
Andirá e Maraú e Nhamundá no Baixo Amazo- procurador geral Sérgio Lauria deu parecer fa-
nas estão exigindo a destituição do administra- OPERÁRIOS DA vorável à carta denúncia e determinou que fos-
dor da Ftmai do município de Parintins, Lúcio PETROBRÁS PERTO DA TI se insiaurado um inquérito para apurar os fa-
Ferreira Menezes. O administrador é acusado CAUSAM PREOCUPAÇÃO tos. “A Policia Federal deverá ser acionada para
de descaso com a população indígena O coor- investigar o caso de tentativa dc golpe. Temos
denador geral da tribo Sateré-Maué, Obadis A presença de máquinas e equipamentos de que acabar com essa prática de luta pelo poder
Batista Garcia, que diz representar os 6 mil ín- prospecção de petróleo na região do rio dentro da Funai pela qual apenas algumas pes-
dios que vivem em Parintins, afirma que a vida Mamuru, no limite da TI Andirá Marau, deixou soas se beneficiam colocando as lideranças In-
das populações indígenas está insustentável. em estado de alerta os índios da área, que te-
dígenas em conflito. Enquanto a maioria
Lúcio é denunciado como traidor da causa in- mem a invasão da reserva pela empresa contra- dosíndios continuam sem assistência médica
dígena por usar recursos da Funai em benefi- tada da Petrobrás. Os índios levaram suas preo-
e educação”, lamentou lico Paz. (A Crítica ,

cio próprio e de seus parentes. cupações ao administrador Victor Santana, que


20/11/99)
Menezes, em entrevista, afirmou que as dificul- divulgou por meio de emissoras de rádio da ci-

dades enfrentadas pela administração da Funai dade ura comunicado chamando o responsável
PROJETO DE ESTRADA
em Parintins são resultado do corte de verbas pela empresa a prestar esclarecimentos sobre
os limites da área de atuação. “Não queremos
REVOLTA LIDERANÇAS
do Governo Federal. Questionou também a li-
atrapalhar a Petrobrás, mas temos que preser-
INDÍGENAS
derança do grupo que o denunciou. “Isso é bri-
ga pelo poder e eu lamento porque sou Sateré. var a reserva", disse Santana.
As lideranças indígenas dos Sateré-Mawé estão
Eles são meus parentes, mas como não faço A Petrobrás vem realizando pesquisas no rio
em clima de revolta. O motivo é o projeto de
parte de nenhum dos três grupos políticos exis- Mamuru há alguns anos e, nos últimos quatro construção de uma estrada que passará bem no
tentes, estão querendo me derrubar", conclui meses, cerca de cem trabalhadores estão pre-
melo da reserva indígena, já homologada, de
Menezes. (A Crítica, 27/07/99) parando a região para a instalação da sonda de
788.528 ha. Além de não terem sido consulta-
perfuração. A base da empresa está localizada
dos, os índios dizem que a estrada representa-
FUNAI EXONERA próximo à comunidade de Samaúma, perto da rá o extermínio dos Sateré-Mawé.
ADMINISTRADOR... fronteira do Amazonas com o estado do Pará. A estrada, de acordo com os líderes indígenas,
(A Crítica, 09/09/99)
é “um sonho" do prefeito Carlos Esteves, que
Acusado de introduzir maconha entre os índi-
pretende ligar Maués à cidade paraense de
os Sateré-Maué, o indigenista José Victor LIDERANÇAS DENUNCIAM Itaituba. “Isso vai ser a destruição total do nos-
Santana foi exonerado no dia de agosto de 1 999
MANOBRAS PARA MUDANÇA so povo. Pode vir muita coisa ruim por essa
do cargo de administrador provisório da Funai
em Parintins.
DO ADMINISTRADOR estrada, como violência, estupro, bebedeira”,
avalia o coordenador geral da tribo Saíeré-Mawé
Santana havia sido nomeado pelo presidente do Cinco representantes do Conselho Geral das Tri-
do rio Marau, Francisco Alencar.
órgão Márcio Lacerda para substituir Lúcio bos Sateré-Mawé e Hixkariana (CGTSMH) O receio dos índios não é atoa. Eles não enten-
Ferreira Menezes. Victor Santana considerou protocolaram no dia 18 de novembro de 1999
dem que tipo dc desenvolvimento pode vir da
absurda a acusação: “Fiquei surpreso dupla- uma carta denúncia à Procuradoria Geral da
cidade dc Itaituba, que vive problemas sociais
mente. Primeiro por ter si do indicado pelas pró- República revelando uma tentativa de golpe na
sérioscom a decadência do garimpo.
prias lideranças indígenas em assembléia para comunidade indígena de Ponto Alegre.
Os Sateré-Mawé temem ainda que os projetos
assumir o cargo, e depois por ter sido exone- Algumas lideranças indígenas estariam tentan-
de desenvolvimento, como a exportação de
rado em razão de acusações sem provas, sobre do nomear João Canarinho como tuxaua geral
guaraná para a Alemanha, que eles estão crian-
fatos que teriam ocorrido há 1 5 anos”, disse. 0 da tribo para forçar a saída do atual adminis-
do, possa vir abaixo com uma única estrada.
indigenista também questiona a repre- trador regional da Funai em Parintins, Vítor
“Todo o nosso trabalho e cuidado para preser-
sentatMdade de lideranças que teriam invadi- Santana.0 objetivo do golpe seria abrir cami- -
var o meio ambiente pode se acabai ", reforça
do a administração da Funai em Parintins, re- nho para o retorno do antigo adminislrador,
o coordenador. (A Crítica, 10/06/00)
voltados com a sua indicação. Para Santana Lúcio Menezes.
o grupo é ligado à família do ex-administrador, De acordo com o coordenador geral dos pro-
Menezes, e tem interesses pessoais no cargo.
GUARANÁ VAI PARA A EUROPA
fessores sateré-mawé, í.ico Lopes da Paz., os ín-
(A Crítica, 07/08/99) dios se reuniram na última segunda-feira na Os Sateré-Mavvé, que vivem no Amazonas, con-
comunidade de Ponto Alegre. Eles leriam con- seguiram uma produção recorde de guaraná na
vocado os tuxauas da tribo para apoiarem o safra 2000: dez toneladas. São cinco toneladas

482 TAPAJÓS / MADEIRA POVOS INDlGENASNO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


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acima do estimado. Essa safra foi negociada com os índioscom revólver. Carlos Alberto, ao to- Segundo a líder da “tribo urbana”, Zelinda
a organização européia Comércio para o Ter- mar conhecimento da denúncia, disse que tudo Freitas, o buraco onde a fossa está sendo
ceiro Mundo (CTM) da Itália, que apoia proje-
,
não passava dc um mal-entendido e que nunca construída não tem profundidade suficiente
tos comunitários de produção sustentada. O ameaçara os índios. Ele mostrou os documen- para garantir a segurança da comunidade: “Não
Projeto Guaraná, como é conhecido pelas co- tos de sua casa, comprovando que mora no lo- mede mais que quatro metros e quando a chu-
munidades indígenas, foi criado há seis anos, cal há 15 anos e que se trata de duas áreas dife- va cair pode encher a tal ponto de escorrer para
mas só nesse ano conseguiu atingir a meta esti- rentes: “Eu só vou fazer um muro para dividir dentro de nossas casas. As crianças aqui já es-

pulada para a exportação. O objetivo inicial do melhor o meu terreno, não vou nem tocar ne- tão doentes, com diarréia, vômitos e febre e com
CGTSM era exportar, para a Europa, qualro tone- les”, afirmou, essa fossa espalhando mau cheiro, a situação
ladas de guaraná. Até agora, essa meta não havia Na audiência que ocorreu ontem, o delegado pode piorar", afirmou, Ela conta que a obra
sido alcançada, em função da baixa produção. proibiu qualquer ato das partes envolvidas, está causando conflito entre os próprios índi-
Para estimular o plantio, a entidade fez um tra- como corte de plantas ou qualquer construção, os, pois a vizinha branca está pagando aos
balho de conscientização junto às comunida- até que os órgãos competentes que trabalham Sateré para dar continuidade ao serviço: “Até
des, estimulando os produtores para que reser- com as terras urbanas definam a quem perten- nossa matriarca, Tereza Farias, estáafavor dela",
vassem áreas maiores para a plantação de cem as terras. (A Crítica, 16/01/96) completou.
guaraná. Obadias Garcia afirma que o resulta- O grupo foi recebido pelo presidente da Urbam
do foi uma surpresa, até mesmo para os diri- SATERÉ CONQUISTAM ÁREA que embargou a obra e prometeu ir ao local
gentes da CGTSM, que não esperavam um re- EM LITÍGIO NA CIDADE hoje. Ele orientou Fátima Carvalho a fazer o en-
tomo tão imediato. "Durante três anos conse- canamento até o igarapé onde os dejetos de-
cutivos,não tínhamos conseguido cumprir o As 1 5 famílias de Sateré-Mawé poderão perma- vem ser despejados. (A Crítica, 08/02/96)
contrato com o CTM”, diz. “Esse ano, quando necer na área verde entre os conjuntos
residenciais Santos Dumont e Hiléia, onde mo-
fui comprar o guaraná nas comunidades, me sur- GRUPO QUE SE APRESENTA
ram há quinze anos, A garantia foi dada pelo
preendi com a produção, muito além da expecta- NO HOTEL ARIAÚ TOWER
o projeto vem dando certo." presidente da Empresa Municipal de Urbaniza-
tiva. Isso prova que
ção (Urbam) Waldiison Cruz, que visitou on-
DENUNCIA MAUS TRATOS
O quilo do guaraná é exportado a US$ 32. Des- ,

se valor, US$ 8 são destinados para o desenvol- tem o focal após uma audiência das lideranças Quinze índios Sateré-Mawé abandonaram on-

vimento de pesquisas que resultem na melhoria Sateré-Mawé com o prefeito em exercício, tem as vizinhanças do Hotel Ariaú Tower, de
da qualidade do produto e, também, em análi-
Bosco Saraiva. propriedade de Ritta Bernardino, localizado a

ses de mercado. O restante é revertido para as


Os líderes Sateré-Mawé pintaram o corpo, co 55 quilômetros de Manaus, na margem direita
comunidades e investido na ampliação de ter-
locaram colares, cocar, arcos e flechas e ou- do rio Negro, onde ocupavam uma colônia. Pin-
renos de plantio, no estímulo e na manutenção tros adornos, para tomar público e defender o tados para a guerra, os Sateré fizeram uma ma-

das atividades do CGTSM. (Gazeta Mercantil,


direito à moradia. “Nós só queremos ficar em nifestação em frente ao Hotel Mônaco, do mes-

26/07/00)
paz”, disse uma das líderes Sateré, Zelinda mo proprietário. Revoltados com o não cum-
Freitas, referindo-se ao conflito pela proprie- primento de acordo firmado com o empresá-
dade da área onde moram. O prefeito encami- rio, os Sateré alegam que na ocasião que se
SATERÉ-MAWÉ nhou o caso para ser decidido pela Urbam, após transferiram para as proximidades do hotel, o
EM MANAUS a audiência com os índios. empresário garantiu fornecimento de rancho e
O presidente da Urbam embargou a construção medicamentos para as três famílias que mora-
CONFLITO EM DISPUTA do muro pretendido por Carlos Alberto vam na área. Os índios participavam de ativida-
DE TERRA URBANA Burlamaqui e disse que as famílias serão pre- des dirigidas aos turistas do hotel. Na comuni-
servados no local. Ele explicou que o terreno dade indígena, localizada a 20 minutos da sede
Um grupo de Sateré-Mawé residente em faz parte da área verde dos conjuntos Hiléia e do hotel, os índios apresentavam rituais dos
Manaus, vestiu-se com trajes e pinturas adequa- Santos Dumont, e como se tratava de terras de Sateré-Mawé, como a dança datucandeira, uti-
a
dos a uma ocasião de guerra e foram à 4 . dele- domínio do município, não valeria a apresenta- lizada como rito de passagem da criança Sateré
gacia de policia. Pacificamente prestaram queixa ção de documentos de propriedade do terreno para a idade adulta. No ritual, as crianças can-
contra o proprietário do terreno que eles inva- por particulares: “A área foi tomada por inva- tam e dançam durante uma semana com a mão
diram, entre os conjuntos Hiléia e Santos são, tanto de índios e brancos em terras públi- enfiada em luvas, recheadas com formigas
Dumont São ao todo 15 famílias, contando cer- cas, mas que já tiveram aceitação inclusive da tucandeiras.
ca de 40 pessoas. Eles moram em habitações Prefeitura”, disse citando como exemplo algu- À prisão de um índio, acusado injustamente de
improvisadas e sobrevivem do artesanato que mas obras públicas no local. (Â Crítica, roubar uma bateria do hotel, motivou a revol-
fabricam no local. 18/01/96) ta. Os índios querem dinheiro para retornar ao
O administrador da Funai, Raimundo Serejo, bairro de Redenção, zona Centro-Oeste da
disse que o órgão estava acompanhando o caso, Manaus, de onde foram retirados, (d Crítica
SAÚDE AMEAÇADA ,

mas ainda não sabia dos detalhes sobre a situa- 24/09/97)


ção dos índios. “A Funai não tem como argiiir Os Sateré-Mawé que ocupam uma área verde
pelos índios, porque se trata de uma á rea urba- na zona oeste de Manaus voltaram à Urbam para
A VIDA NA CIDADE
na, fora de nossa competência", explica. tentar resolver mais um problema que está impor-
Segundo a líder das mulheres Sateré, Zenílda tunando as 1 5 famílias que moram no local. Dessa Uma média de 500 índios Sateré-Mawé vive
da Silva Ytlacio, o pretenso proprietário, Carlos vez é uma fossa sanitária que está sendo construída hoje na cidade de Manaus, ocupando dois con-
Alberto Souza Burlamaqui, chegou a ameaçar por uma moradora branca, Fátima Carvalho. juntos habitacionais: Santos Dumont e Hiléia.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL TAPAJÓS /MADEIRA 4B3


, O

Originários (k Reserva Andirá Marau, onde a A VENDA DO ARTESANATO KAIABI


etnia soma um número total de 4.000 índios,
A Feira de Artesanato regional da Praça Tenreiro
os Saleré-Mawé migraram para a cidade há 25
anos. Segundo Korum Bené, tuxaua dos Sateré,
Aranha, Centro de Manaus, é o local de venda FUNAI APROVA PROPOSTA
as famílias de Manaus mantém-se com a venda
de artesanato dos Sateré-Mawé que moram na DE REESTUDO E AMPLIAÇÃO
de artesanato para a Funai e para turistas. As
cidade. Zeila da Silva Vieira foi a primeira pes- DA TI KAYABI
soa da aldeia a migrar para a cidade, há 22 anos.
artesãs Sateré formaram a Associação das Mu-
Zeila visita todos os anos a aldeia Ponta Alegre,
Foi publicado em 2.5 de junho de 1999 os re-
lheres Indígenas Saleré-Mawé (AMISM), enti-
no município de Barreirinha, onde nasceu, e sultados do Relatório de Identificação e Deli-
dade responsável pela venda do artesanato. O mitação da Terra Indígena Kayabi, localizada nos
de lá traz material para confeccionar o artesa-
grupo vive em dificuldades na periferia de
nato, cu|a venda é a base de sustentação de seus municípios de Apiacás (MT) e Jacareacanga
Manaus. A procura da escola é um dos princi-
(PA), com a superfície aproximada de 1408.000
parentes.Segundo informações da índia Sateré-
pais motivos da migração para a cidade. Cd Crí-
Mawé, o grupo que vive em Manaus mantém na ha e 900 km de perímetro. Essa terra inclui a
tica, 24/09/97)
cidade o uso da língua nativa, indo à aldeia para TI Caiabi homologada em 1982 com 117.246
participar das festas, (A Crítica, 19/07/98)- ha e a TI Cayabi Gleba Sul com 52.500 ha, in-
terditada em 1990. A população Kayabi,
Munduruku e Apiaká dessa área é de 297 habi-
tantes. (DOU, 25/06/99)

MAIS UMA HIDROVIA NO CAMINHO DOS ÍNDIOS


Comissão Pró-Hidrovia Teles Pires-Tapajós gradados, inviabilizando os usos tradicionais que de grãos do Mato Grosso, que assim viabilizariam
protesta contra redefinição dos limites da as famílias indígenas deles fazem. o escoamento de sua produção para o exterior.
TI Kayabi. Pelo estudo da Funai assinado pelo antropólogo
- Entretanto, segundo informa o ICV,a bidrovia não
Sqjicultores do Mato Grosso abriram nova frente Edison Netto l.asmar, da Divisão de Assuntos está no programa "Avança Brasil", o que de certa

de conflito com populações indígenas da Amazô- Fundiários do órgão indigenista, e publicado no maneira desincumbe o governo federal de
nia. A Comissão Pró-Hidrovia Teles Pires-Tapajós
Diário Oficial da União em 25 dejunho passado -, defendê-la. O ICV informa que a Comissão Pró-

do Rotary International de Alta Floresta (MT), as nascentes do rio Curuzinbo e de seus afluentes Hidrovia argumenta que os impactos ambientais

encaminhou carta-protesto ao presidente da Re- passariam a fazer parte da área a ser demarcada, e sociais trazidos pelo bidrovia em operação se-
pública, Fernando Henrique Cardoso, solicitan- de modo a garantir a sobrevivênciafísica e cultu- rão baixos, mas que para o seu funcionamento
do que 0 governo não aprove a ampliação da Ter- ral dos índios. Segundo informa o ICV, outras áre- pleno está prevista a construção de um dique em
ra Indígena Cayabi, situada na região dos muni- asforam incluídas nesta proposta para eintar pos- uma cachoeira.
cípios e Jacareacanga e Apiacás (sul do PA e norte síveis invasões de garimpeiros e nova contami- Em seu boletim, o ICV considera "grave" ofato de
do MT respectivamente). nação dos rios por mercúrio. os grandes produtores de grãos estarem querendo

A informação foi repassada pelo Instituto Centro A publicação do despacho da Funai abriu um pe- margens dos rios futra plantar soja. “
utilizar as

de Vida (ICV), de Cuiabá (MT). Segundo o ICV, a ríodo de 90 dias fiara que os interesses contraria- Grupo Maggi, maior produtor de soja no Brasil está
comissão alega que "a ampliação da reserva vai dos se manifestassem. Aofim desse período, se as financiando pesadamente pesquisas de cultiva-
inviabilizara implantação da bidrovia por atin- contestações forem consideradas improcedentes, res adequadas para diferentes regiões da Amazô-

gir o ponto considerado idealpara o acesso rodo- o ministro daJustiçaJosé Carlos Dias deverá assi - nia. /Í5 pesquisas vêm sendo realizadas com a

viário ao porto fluvial da bidrovia, no município nar portaria aprovando os novos limites e deter- Fundação Mato Grosso e Empresa Brasileira de
de Apiacás". minando à Funai a realização da demarcação fí- Agropecuária (Embrapa) em sete pólos da região ",
A redefinição dos limites da Terra Indígena Cayabi sica da área. informa a organização não governamental.
é reivindicação antiga dos índios kayabi e (Ultimas Notícias/ISA, 16/11/99)
AMAZÔNIA PARA A SOJA
munduruku que a habitam. Por conta de déca-
das de exploração garimpeiro, os rios que cor- A exemplo da bidrovia Araguaia- Tocantins, a Teles
rem pela área indígena se encontram muito de- Pires-Tapajós éprojeto de interesse dos plantadores

484 TAPAJÓS /MADEIRA POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


siiJZ* Acervo
— //\' I SA

8. SUDESTE DO PARÁ

Xikrin do Cateté

Copyrlghtod r
^Lf?^ Acervo
-V/f ISA
8. SUDESTE DO PARA

— limite interestadual

rodovia implantada

estrada de ferro
TERRAS INDÍGENAS

reconhecidas olicialmente
mais de 22.000 ha

reconhecida oficialmente
• menos de 8.000 ha ou
cidade
sem perímetro conhecido
Unidade em identificação ou a identificar

Area militar INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL/2000


LUJIUJTi

J apresentada em outro capítulo


50 O 50 100 Km

Copyrighletí m:
DO PARÁ/TOCANTINS
Terras Indígenas
Instituto Socioambicntal - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
mapa {n 4, fonte, dala) (ha)

6 Alto Rio Guamá Kreje 922 Fiinai: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU, 279.897 Paragominas PA Requerimento e alvará de pesquisa
Kaopor Dec. a/n de 04/10/93 homologa a demarcação N. Esperança do Piriá PA mineral. Rodovia planejada PA- 108.

Guajá (DOU, 05/10/931. Reg. CRI Nova Esp. do Piriá Santa Luzia do Pará PA
Tembé Urubu Comarca de Vizeu Matr.1.518, Liv. 2-E,
.

Munduruku 18 em 13/09/94: Santa Luzia do Pará Com. de


Ourem Matr. 5.410, Liv. 2-L, II. 79 em 14/09/94;
Faragominas Matr. 4.849, ÜV.2-P, fl. 189 em
17/10/84. Reg. SPU Cart. 07 de 29/07/94,
Port. 1.141 de 10/12/99 constitui CT p/oagto das
indenizações, das benfeitorias de boa-fé
{DOU, 16/12/99).

10 Amanayés Amanayé 200 Funai Marabá: 00 Em Identílicsção/Reserveda/SPI. 261.000 Rondon do Pará PA


Dec. Estadual n. 306 de 21/93/45 {DOE 27/03/45)
com a extensão de 261.000 ha. Port. 640 de
19/06/98 cria GT p/ identificar a TI |DQU, 22/06/98).

11 Anamté Anambé 132 Furtai Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 7.882 Moju PA
Dec. 380 de 24/12/91 homologa demarcação
(DOU, 26/12/91). Reg. CRI Moju, Matr. 4.024,
Liv. AT, 11.124 verso em 20/03/92. Reg. SPU
Cert. 09 em 05/08/94.

193 Mãe Maria Gavião Parkatejê 414 Funai Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 62.488 B. Jesus do PA Carajás. Requerimento e alvará de

Dec. 93.148 de 20/08/86 homologa a demarcação Tocantins pesquisa mineral. Rodovia PA-222,
{DOU, 21/08/861. Reg. CRI Matr. 6587, Liv. 2-Z, ferrovia, Linha de transmissão
01 em 17/07/85. Rag. SPU PA04 Liv. 2,
fl.
cortam a área. Hidrelétrica
fl. 484/485 em 08/09/86. planejada (Marabá).

236 Parakanã Parakanã 498 Funa! Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 351.697 Itupiranga PA Carajás. Requerimento e alvará de
Dec. 248 de 29/10/91 homologa demarcação Jacundá PA pesquisa mineral. Transferidos da
ÍD0U, 30/10/91). Reg. CRI de Itupiranga Com. de Tucurui PA TI Pucuruí inundada pelo lago de
Marabá Matr. 9.681. Liv. 2-AM, fl. 1V/02 em 29/05/87; Tucurui. Rodovia BR-230 no limite.
Jacudanga Com. de Jacundá Matr. 004, Liv. 2-A,
fl. 002. Reg. SPU 02 em 27/10/87.

423 RioTapirapé/Tuere l$ol. do Rio D A Identificar. 0 Sen. José Porfírio PA Isolados.

Tapirapé (Coord. índios Isolados: 88)

295 Sorcrc Surui Aikewara 289 Funai Marabá: 00 Homologada. Reg. CR! e SPU. 26.258 S. Domingos Araguaia PA Carajás. Requerimento de pesquisa
Dec. 88.648/83 homologa a demarcação. mineral. Os índios vão entrar com
Reg. CRI de S. João do Araguaia, Com. Marabá ação para ampliação da TI para
Matr. 4.857, Liv. 2 RG, fl. 01 de 07/03/89. Reg. SPU incluir a área do polígono dos
Cert. 05 em 07/03/89. Port. 1 .038 de -34/1 1/99 cria castanhais.
GT p/realizar novos estudos da TI. {DOU, 9/1 1/99)

306 Temhé Turiwara GG Funai Salem: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.075 Tome Açú PA Rodovias planejadas
Dec. 389 de 24/12/91 homologa demarcação PA-1DB e PA-252.
(DOU. 26/12/91). Reg. CRI Matr. 2.970, üv. 2 em
29/01/92. Rag. SPU Cert. 03 em 15/06/94.

320 Trocará Asurirl do Tocantins 302 Funai Marabá: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 21.722 Tucurui PA Carajás. Requerimento de
Dec. 87.845 de 22/1 1/82 homologa a demarcação pesquisa mineral, Rode via
(DOU, 24/l1/82).Reg. CRI em Baião Matr. 1.060, PA-156 corta a área.
Liv, 2-F, fl. 282 em 22/09/83. Reg. CRI Tucurui
Matr, 3092, Liv 2-N, fl. 269 em 24/C5/90. Oaininiai

Indígena {doação de 14.0480 haJ.Reg. SPU/PA


Cert. 72 em 12/12/83.

565 Turé-Mariquila Tembé 40 Furai Belém: 98 Homologada. Reg. CRI a SPU. 147 Tome Açú PA
Deo. 304 da 29/10/91 homologa demarcação
{DOU, 30/10/911. peg. CRI Matr. 2.964, Liv. RO 2-1

em 16/12/91. Reg. SPU Cert. 01 em 21/06/94.

80 Xlkrin do Cateté Kayspõ 659 Vieira Filho: 99 Homologada. Reg. CRI a SPU. 439.151 Paraupebas PA Carajás. Requerimento e alvará de
Xikrin do Cateté Dec 384 de 24/12/91 homologa demarcação pesquisa mineral. Garimpo não-
(DOU, 26/12/91). Reg. CRI Matr. 98, Uv. 2 RG, indigena intermitente. Hidrelétrica
fl. 98 em 17/08/92 na Comaroa de Parauapebas. planejada (Itacaiunas 1). Isolados.
Reg. SPU Cert. 02 em 21/06/94.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CIOAM8IENTAL SUDESTE DO PARÁ 487


.

DO PARA/XINGU
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra IndTgena Povo PopulaçSo Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (na fonte, data}
, (ha)

18 Apyterewa Parakanã 248 Funai Altamira: 99 Delimitada. 980.000 Altamira PA Carajás. Requerimento e alvará de
Port Min. 267 de 28/05/92 declara de posse S. Félix do Xingu PA pesquisa mineral. Garimpo n 5o-
permanente (ÜDU, 29/05/92). Port Funai 710 de indigena intermitente. Hidrelétrica
30/08/96 cria GT p / estudos e levantamentos planejada (Ipixuna).
complementares na TI |DDU, 03/99/96).

29 Arara Arara 143 Funai Altamira: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 274.010 Altamira PA Requerimento e alvará de pesquisa
Dec. 399 de 24/12/91 homologa demarcação Medicilândia PA mineral. Hidrelétrica planejada
(DOU, 26/12/91). Rag. CRI Altamira (206.862. ha) Uruará PA (Babaquara). Rodovia BR-230 no
Matr. 21 .084, Liv. 2 ACC, fl. 255 em 1 5/07/92. limite. Os Arara que viviam na TI
Reg. CRI Uruará Mair. 103, Liv. 2-A,fl. 103 Arara II, interditada em 04/01/83,
em 06/02/96. Reg. SPU Cert 04 de 22/05/94. foram contatados e transferidos
para a TI Arara.

35 Araweté/lg. Ipixuna Ar&weté 269 Funai Altamira: 00 Homologada. Reg. CRI e SPU. 940.900 Altamira PA Requerimento de pesquisa minara
Oec. do pres. F. H. Cardoso do dia 05/01/96 S. Félix da Xingu PA Hidrelétrica planejada
h.omeloga a demarcação administrativa Se. José Porfírio PA (Babaquara).
(DOU, 08/01/96). Reg. CRI de S, Féfix do Xingu.
Comarca do S. Félix do Xingu (1 75.126 ha}
Matr. 1.485. Liv. 2-H, fl. 76 em 09/02/96. Reg. CRI
de Senador José Porlirio Matr. 522, Liv. 2-C,
fl. 29 em 09/02/9. Reg. CRI Altamira Matr. 21357,
Liv. 2-AAQ, 220 em 04/03/96.
fl. Reg. SPU
Cert. s/n em 20/05/97.

1359 Badjonkore Kayapó 82 GT/Funai: 98 Identificada/Apravoda/Funai- 222.000 S. Félix do Xingu


Kuben Kran Ken Sujeita a Contestação. Cumaru do Norte
Port. Funai 125, cria GT p/ estudas e
identificação da Ti. Despacha do pres. da Funai
aprova estudos de identificação (DOU, 14/04/99).

51 Baú Kayapó Mekragnoti 128 NairTanakfl:94 Delimitada. 1.850.000 Altamira PA Requerimentos alvará de pesquisa
Port. do ministro da Justiça 826 de 11/12/98 mineral. Garimpo não-indígena. A
declara de posse permanente dos área do Exército Gleba Limão
índios (DOU, 14/12/98). incide aproximadamente 6.775 ha
na TI. E a Flana de Altamira in cide
na TI em 1.061 há

26 Cachoeira Seca Arara 57 Funai Altamira: 99 Delimitada. 760.000 Rurépolis PA Requerimento de pesquisa mineral.
do Irlri Port. Min. 26 de 22/01/93 declara de posse Altamira PA Hidrelétricas planeiadas
permanente indígena (DOU, 25/01/93). Uruará PA (Babaquara e Iriri). Lei Municipal
Port. Furtai 428 de 27/04/94 designa antropóloga 338/92 da 25/2/92 cria Distrito Porto
p/estudos antropológicos conclusivos Bannach dentro de Tl.

<D0U, 06/05/341.

75 Capoto/Jarina Kayapó MetiKtlre 577 EPM: 97 Homologada. Reg. CRI e SPU. 634.915 Colide' MT Requerimento de pesquisa mineral.
Dec. s/n de 25/1/91 homologa demarcação Hidrelétrica planejada. Rodovia
acminist. (DOU, 28/1/91). Reg. CRI Luciara BR-Q9Ü no limite. Prodesgro.
Matr. 6.162, Liv. 2, fl. 01/02 em 18/04/86
e Reg. CRI de Colider Matr, 1.790, Llv2 em
7/07/87. Reg. SPU Cart s/n em 28/05/B7.

90 Curuá Xípala-Kuruala 91 Funai Altamira: 99 Delimitada. 19.450 Altamira PA Requerimento e alvará de pesquisa
Port minist. 550 de 16/11/92 declara mineral. Hidrelétrica planejada
de posse permanente (DOU, 17/11/92). (Iriri). Garimpo indígena.

164 Kararaô Kararaô 28 Funai Altamira: 93 Homologada. 330.837 Altamira PA Requerimento da pesquisa mineral.
Decr. s/n dB 14/04/98 homologa a demarcação Hidretátrica planejada
(DOU, 15/04/98). Resolução da Com. de Sindicância (Babaquara). Rodovia
da Funai lista os ocupantes de boa-fó d a TI planejada PA-167.
p/e leito de indenização de benfeitorias
(DOU, 17/11/99). Port. 1.160 cria CT p/realízar
pagto das benfeitorias (DDU, 23/12/99).

173 Kayapó Kuben Kran Ken 2866 Funasa: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 3.284,005 S. Félix do Xingu PA Requerimento e alvará de pesquisa
Kikretum D ac. 316 da 29/1.0/91 homologa demarcação mineral. Garimpo nSo-indigena.
Gorotire (DOU, 30/10/91). Reg. CRI Matr.l8.80/. Liv2.AAD, Reserva Garimpeira do Cumaru.
Kokraimorc fl.129 em 21/12/87. Reg. SPU Cert. 3 em 27/10/87. Hidrelétrica planejada.
Maikarakô
A'Ukre

175 Koetinemo Asurini do Xingu 91 Funai Altamira: 99 Homologada. Reg. CRI. 387.304 Altamira PA Requerimento de pesquisa mineral.
Dec. S/N de 05/01/96 homologa a demarcação Hidrelétrica planejada
(DOU, 08/01/96). Reg. CRI em Altamira (Babaquara). Isolado. Antes
Matr. 22.341, üv 2-AAQ . fl. 197 em 05/02/96. Identificada com 2B8.500 há.

453 Menkragnoti Keyapo 657 NairTanaka:94 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.914.255 Altamira PA Requerimento e alvará de pesquisa
Mekragnoti Dec. s/n de 19/08/93 homologa a demarcação S. Félix do Xingu PA mineral. Isolados Mengra Mrari.
Kayapó (DOU, 20/08/93). Reg. CRI de S. Félix do Xingu
(isolados) (1.432.481 ha) Ma Ir. T.209. üv. 2-F, fl. 195 em 26/8/95;
dB Altamira (3.33S.390 ha) Matr. 22.341, üv. 2-AAQ,
197 em 9/2/96; de Peixoto Azevedc (128.305 ha)
fl.

Liv 2-RG, fl. 01V em 27/09/93: de Matupá, Comarca


de Peixoto Azevedo (17.078 ha) Matr. 1.742,
Uv. 2-RG, fl. 01 em 12/12/93. Reg. SPU MT 26 em
03/05/34. Reg. SPU-PA 05 em 05/07/94.

488 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


/

'3^-JZ^ Acervo
-V/flSA
SUDESTE DO PARA/XINGU
Terras Indígenas (Continuação}
Instituto Socioambientaí - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa {n°, fonte, data} (ha)

813 Panará Panaré 202 ISA: 00 Delimitada. 495X00 Guaranta do Norte MT Prodaagro, requerimento e alvarás
Em demarcação Port.do Ministrada Justiça Alta mira PA de pesquisa mineral
n.667 de 01/1 1/96 declara de posse permanente
indígena (DOU, 04/11/95} Funaífaz contraio p
demarcação física com Três irmãos Engenharia
e Planejamento Imobiliário Ltda. Valor R$ 148.925,70,
vigência um ano a partir de 06/03/98 (00U, 15/03/98)
Foi republicado a mesmo contraio em 13/04/98

232 Paquiçamba Juruna 35 Funai Altamira: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 4.348 Se. José Parfírio PA Requerimento de pesquisa minera!.
Dec. 388 de 24/12/91 homologa demarcação Hidrelétrica planejada (Belo
(DOU, 26/12/91). Reg. CRI Matr. 103. Uv. 2 A, Monte).
108 em 12/11/90. Reg. SPU Cert. 10 em 05/08/94.
íl.

Pu*ro- Baixu Rio Curuá Kayapó PuVo {isolados) 0 A identificar. 0 Altamira PA Isolados.

491 Rio Marure Kayapó Pítuiaro 0 A Identificar. 0 Altamira PA Isolados.


(isolados) (Verswijvor, 1. P.: 801

578 Rio Uberdade Isolados 0 A Identificar. 0 Lu ciara MT Prodeagro. Isolados


Canrdenatfnria de índios isolados da Fun ai: 89 Vila Rica MT
43 Trlnchelre/Bacsjá Asurini do Xingu 382 Fungi Alta mira: 99 Homologada. Reg. CRI. 1.650.939 Se. Josá Porfírio PA Carajás. Requerimento e alvará de
Araweté Dec. s/n de 03/10/96 lomologa a demarcação S. Félix do Xingu PA pesquisa mineral. Garimpo não-
ParakanS (DOU. 04/10/96). Reg. Cftl em Senador J. Porlírio Pacajá PA indígena. Hidrelétrica planejada.
Kararaô Matr. 535, Liv. 2-C.fl. 42, Reg. CRi em Altamira 22.552, Rodovia planejada PA-158.
Xfkrir do Ba cajá Liv. 2-AAQ, fl. 167 em 02/04/976. Reg. CRI em Pacajá isolados. Incfue a Al Bacajá
1.075, Liv. 2-1, fl. 142em 04/05/98. Reg. CRI S. Félix do identificada e demarcada
Xingu, érea 1, Matr. 1.742, Liv. 2-1, 11. 141 em 04/05/98. fisicamente com 19.2128 lia em
Reg, CRI S. Félix do Xingu, area II. Matr. 1.743, Liv. 2-1, 1980.
142 em Q4/Q5/98. Resolução 85 de 11/2/00 considera
fl.

de boa-Fé o ocupante não-índio José F. da Conceição


(DOU, 14/02/001.

380 Xipala Xipaia-Kuruaia 67 Funai Altamira: 99 Em Identificação. 0 Altamira PA Hidrelétrica planejada.


Port. 974 de 15/10/99 cria GT p / estudas de
identificeçãoda TI (DDU, 18/10/9S).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOClOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ 489


Acervo
—// ISA

490 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


-O?* Acervo
_//*C ISA

Os Panará Consolidam o Retorno

Equipe de redação

DE VOLTA ÀS CABECEIRAS DO IRIRI, DEPOIS chegou a Nansepotite em março de 1997, concluindo o retomo,
DE 20 ANOS NO PARQUE DO XINGU, OS PANARÁ da mesma forma que, em 1995, a Funai colocou um avião à dispo-
CONSOLIDAM NOVA ALDEIA E CONSEGUEM sição para fazer o trajeto do posto Araruna até a aldeia nova e

DUAS GRANDES VITÓRIAS: A DEMARCAÇÃO E prestou serviços básicos de assistência à saúde, quando em 1999
essa atividade tornou-se responsabilidade da Fundação Nacional
UMA DECISÃO INÉDITA DA JUSTIÇA FEDERAL
da Saúde (Funasa).
QUE OBRIGA 0 ESTADO A INDENIZÁ-LOS PELAS
MORTES OCORRIDAS APÓS 0 CONTATO, NA Entre 1995 e 2000 ocorreram poucos conflitos fundiários na Ter-

DÉCADA DE 70. O MAIOR DESAFIO AGORA É ra Panará, se comparada com outros casos do mesmo contexto
regional. Antes do retomo dos Panará, a área - terra da União -
ENFRENTAR AS INVASÕES DAS MADEIREIRAS
era ocupada por grileiros, pequenos fazendeiros e um grupo de
QUE PREDAM A REGIÃO
pessoíis articuladas ent torno da Cooperativa do Vale do Rio
No final de 1998, esses ocupantes deixaram a região es-
Ipiranga.
As conquistas dos Panará (Krenhacãrore) nos últimos cinco anos pontaneamente, sem sucesso em seus pleitos judiciais
marcaram a história do indigenismo brasileiro. Os “gigantes” contestatórios e conformados com o reconhecimento oficiai da
Panará, que hoje contam com uma população de cerca de 200 Terra Panará, fazendo cessar os conflitos se faziam notar no perí-
habitantes na aldeia Nansepotite (bacia do rio Peixoto de Azevedo, odo anterior.
norte do Mato Grosso), ofereceram um exemplo de resistência e
força de vontade na luta pelos seus direitos e pelo seu território
O PESADELO DAS MADEIREIRAS
tradicional, para o qual retornaram, a partir de 1994, depois de
Apesar da calmaria relativa em relação aos conflitos com os fazen-
um longo exílio no Parque Indígena do Xingu (PK).
deiros, o problema da extração de mogno na Terra Panará é res-
Ao contato forçado com os brancos, consumado pela Funai em ponsável por boa parte dos distúrbios causados a essa população
1973, quando a rodovia Cuiabá-Santarém já havia cortado seu ter-
nos últimos anos. Até hoje, os Panará têm se mostrado bastante
ritório tradicional, seguiu-se o abandono. Vieram as doenças, as hostis em relação aos madeireiros, interrompendo, em vários
mortes, a transferência para o Xingu e a humilhação do No
exílio.
momentos, as invasões. Nesse ponto, diferem significativamente
início dos anos 90, esse quadro começou a ser revertido com a de seus vizinhos Kayapó, que muitas vezes se aliam a essas empre-
decisão dos Panará em reaver seu território tradicional, a qual con- sas, facilitando a progressão do modelo ilegal e predatório de ex-
tou com o apoio dedicado do Instituto Socíoambiental (ISA), além ploração florestal.
de outras organizações governamentais e não-governamentais.
Em setembro de 1996, os Panará encontraram, a duas horas de
caminhada a nordeste da aldeia, um caminhão, dois tratores e um
O RETORNO CONSUMADO estoque de toras de mogno. Furiosos, quebraram os tratores e
Em 1995, um grupo de 50 Panará deixou o P1X para fundar a nova botaram os peões para correr. Esses disseram trabalhar a mando
aldeia nas cabeceiras do rio Iriri. Depois de um ano e meio de do sr. Fernando Munhoz Garcia, mais conhecido na região como
muito trabalho para construir casas e botar as roças, aconteceu a “Fernandão”, responsável peio assentamento ilegal de pessoas em
volta dos demais. O segundo grupo, composto de 130 pessoas, lotes incidentes nas terras indígenas em troca de mogno e outros

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1396/2000 - INSTITUTO SOCÍOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ 491


^LíZ^Acervo
—!& ISA
serviços. Indignado com a invasão, Aké, chefe panará, esbravejou: ração passou a ser totalmente incidente na Terra Indígena (TI)
"se não houver ação imediata, os Panará matarão os invasores que Panará, sem que o Ibama revisse a licença. Além do mais, a madei-
encontrarem na nossa área”. reira de fato utilizava o plano para “esquentar” um enorme volu-

me de madeira retirada de uma área de mais de 60 mil ha. Infor-


Um sobrevoo reahzado pela Funai, na mesma época, revelou que
mado, o Ibama cancelou imediatamente a licença e prometeu uma
se tratava de uma exploração já bastante antiga, que saía da posse
operação de fiscalização.
de Fernando Munhoz Garcia, atravessando o rio Ipiranga e envol-
vendo uma extensa rede de áreas. Nesse momento, o ISA solicitou Descobriu-se, então, que a empresa era acobertada pelos Kayapó

ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na- da aldeia Kubenkranken, que mantinham estradas que ligavam a

turais Renováveis (Ibama) que realizasse uma expedição para porção sudoeste da TI Mekragnoti com a parte norte da TI Panará,

apreender madeira e máquinas, apresentando à Funai a urgência contígua. Assim, grande parte da madeira extraída da TI Panará

da demarcação. era levada até uma esplanada denominada Maria Bonita, na TI


Mekragnoti, base de operação dos madeireiros. 0 Ibama locali-

Em outubro de 1997, um novo sobrevoo promovido pelo ISA e zou e apreendeu 600 toras de mogno nessa região, encaminhan-
acompanhado pela Administração Regional da Funai de Coiíder, do-as para a Justiça Federal, onde aguardam leilão.

identificou estradas clandestinas, construídas pela empresa ma-


deireira Marcon, de Osmar Ferreira, sediada em Castelo dos So-
DEMARCAÇÃO EM BOA HORA
nhos (PA). Foram avistadas, nas terras Kayapó e Panará, esplanadas
abertas com grande quantidade de madeira sendo escoada em Em 1998, a demarcação física da Terra Indígena Panará
caminhões. 0 agravante era o fato de que o empresário - especia- (identificada pela Funai em 94 e declarada pelo Ministério da Jus-
lista em abrir e fechar empresas para burlar a fiscalização e a apli- tiça, através da Portaria 667 de 1 de novembro de 1996, publicada
cação de multas - havia recebido licença do Ibama para um plano no Diário Oficial da União de 4 de novembro de 1996), com ex-
de manejo de uma área de 6 mil ha, no ano de 1994, um pouco tensão de 488 mil ha, foi financiada por um convênio entre o Pro-
antes da identificação oficial da Terra Panará. Esta área de explo- jeto de Desenvolvimento Agroflorestal de Mato Grosso (Prodeagro)

1999

BÒAS

VILIAS

ANDRÉ

Aldeia Panará de Nansepotite, no Iriri.

4*2 SUOESTE 00 PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


-IJ/ Acervo
í.

— //\C I SA
e a Funai. No entanto, a empresa contratada para realizar essa cas culturais, como a realização, cada vez mais freqiiente, de festas

tarefa, Três Irmãos, de Cuiabá (MT) não possuía qualificação téc-


,
e rimais. Uma vez distantes do contexto multiétnico do Parque In-

nica para assumir um projeto dessa envergadura e acabou deixan- dígena do Xingu, os Panará passaram a experimentar novas formas
do problemas para serem resolvidos pela Funai, como a impreci- de afirmação étnica. Se antes sua participação política se dava na
são da implantação dos pontos geodésicos, de picadas e de mar- condição de minoria subordinada à hegemonia de outros grupos
cos intermediários e a colocação de placas sem respeitar as nor- étnicos, na terra recém-retomada e demarcada, cabem a eles todas
mas técnicas, entre outras coisas. Isso exigiu do órgão indigenista as esferas de decisão política e gestão comunitária. “Hoje, o exer-
a elaboração de um programa especial de vistoria capaz de corri- cício político dos Panará é a sua autogestão. No PBÍ, a relação com
gir as falhas deixadas pela ineficiência do trabalho de demarca- os brancos e com a Funai era mediada por vários grupos. Eles
ção. Enquanto são reparadas essas falhas, os Panará aguardam estavam numa condição de minoridade. Ao se mudar, é a vez de
com ansiedade a homologação, que deve ocorrer ainda em 2000. eles gerirem as relações com o mundo de fora, com a Funai, com o
ISA, com os madeireiros, com os fazendeiros” explica André Villas
,
André Villas Bôas, coordenador do Programa Xingu do ISA, de-
Bôas. A condução política da comunidade voltou, depois de muitos
monstra confiança quanto ao processo de consolidação da demar-
anos, a ser exercida nos moldes da estrutura política tradicional
cação da Terra Indígena Panará: “a retomada pelos Panará das
suas terras foi totalmente absorvida pelo contexto regional. As pes- Desde o primeiro momento de reocupação, o ISA se encarregou
soas não questionam mais a demarcação, apenas solicitam indeni- de prestar serviços de assistência, como saneamento básico, for-

zações para a Funai. A questão da demarcação está praticamente mação de pomar e a continuidade do curso de formação de pro-

resolvida", afirma. fessores indígenas, tal como realizado no PIX. André Villas Bôas

entende que o período de readaptação dos Panará é fundamental


e deve abrir espaço, no futuro, para projetos de alternativas eco-
DE DENTRO PARA FORA
nômicas. “Os Panará estão muito mobilizados para consolidar suas
Desde 1996, os Panará crescem, com altas taxas de incremento condições básicas de subsistência, construindo novas casas e ro-
demográfico, algo que coincide com a revitalização de suas práti- ças. Chegaram agora a um patamar que os permite considerar novas

Na nova aldeia, os Panará retomam suas práticas culturais.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 493


Acervo
-V/flSA
questões para gerar renda, além da comercialização de artesana- Outro problema em aberto é a proteção e a fiscalização da área

to, e enfrentar o gerenciamento do patrimônio natural das terras demarcada. Para tanto, foi instalado um posto de vigilância da Funai
às quais têm direito de usufruto exclusivo”, acrescenta. na região do rio Ipiranga, norte da área, equipado com sistema de
rádio. A porção norte e leste da TI Panará, limite da TI Mekragnoti,

NOVOS DESAFIOS apresenta dificuldades para a fiscalização, uma vez que os Kayapó
da aldeia Kubenkókre continuam compactuando com a explora-
Em 14 de setembro de 2000, os Panará saíram vitoriosos pela ação
ção madeireira na região. Dão cobertura à entrada ilegal das em-
indenizatória movida por advogados do ISA, a pedido deles, con-
presas e controlam as estradas que unem as duas áreas.
tra a União e a Funai pelos danos materiais e morais causados pelo
contato, promovido a partir de 1973, por conta da construção da Tal realidade significa prejuízos imediatos ao patrimônio da TI
Rodovia Cuiabá-Santarém. A 3' Turma do Tribunal Regional Fede- Panará e riscos virtuais, sobretudo no que diz respeito à possibili-

ral de Brasília condenou ambas a pagar 4 mil salários mínimos dade de “sedução” pelas benesses temporárias da exploração pre-
corrigidos (cerca de R$ 1 milhão) aos índios, o que consiste em datória de madeira. Na região, a pressão para que essa alternativa
um fato inédito, de repercussão na história do indigenismo. Pela vigore é grande e, para piorar a situação, a própria Funai se mos-
primeira vez, uma população indígena é ressarcida pelo “pouco tra muitas vezes conivente com a atitude dos Kayapó.
caso” da parte da União e do órgão indigenista.
Entre os Panará, no entanto, a experiência dos últimos cinco anos
Essa decisão tem um aspecto simbólico importante para os Panará. tem dado sinais positivos. Em lugar de ceder à dura realidade que
Além disso, os recursos financeiros que virão, ainda que demo- cerca a sua terra, os Panará têm recobrado forças para entrar em
rem, poderão ser aplicados em projetos que revertam para a um processo de luta para reaver os seus direitos e, assim, abrir
sustentabilidade futura do grupo. caminho para sua autodeterminação, (setembro, 2000)

Teseia Panará (à esquerda), em


Brasília, no dia em que o TRF deu
ganho de causa aos Panará em ação
movida pelos advogados do ISA
(abaixo, à esquerda). Acima, o
volumoso processo Panará chega
ao TRF, no dia do julgamento.

494 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


.

Acervo
//\C ISA

Para Entender o Polêmico


Projeto de Exploração Madeireira
na TI Xikrin do Cateté

isabelie Vidal Gianniní Antropóloga, assessora


dos Xikrin do Cateté

APESAR DOS PRECONCEITOS, DA RESISTÊNCIA tência, das discussões pobticas e jurídicas que envolvem a gestão
DO INDIGENISMO OFICIAL E DA DIFÍCIL RELAÇÃO dos seus recursos naturais.

COM 0 MERCADO, OS XIKRIN DO CATETÉ Sem dúvida, podemos afirmar que houve uma apropriação
INSISTEM NA PROPOSTA PIONEIRA DE conceituai e política dos sub-projetos “comercialização da casta-

MANEJO SUSTENTÁVEL DE MADEIRA E nha-do-pará” e “comercialização de madeira" pelos índios Xikrin

CORTE DE PRIMEIRA PARCELA É INICIADO do Cateté. A execução e implementação da proposta de manejo


florestal transformou-se, com o passar do tempo, em infinitas “ne-
gociações" financeiras, políticas administrativas e comerciais.
São mais dc dez anos de trabalhos para a implantação de um Pla-
no de Manejo Socioambiental na Terra Indígena (TI) Xikrin do Ao longo de nosso trabalho, percebemos, entretanto, algumas difi-

Cateté, envolvendo uma equipe de técnicos do Instituto Socio- culdades. O projeto de castanha é uma atividade que está próxima
ambiental (ISA) e a comunidade indígena, além de eventuais ser- ao que em geral se conceitua como permitido, ao passo que o
viços de terceiros. O “Projeto Xikrin” visa o manejo, exploração e projeto de manejo florestal mexe com os preconceitos e, por ser
comercialização de recursos madeireiros e não-madeireiros, de inovador, também com a estrutura das instituições que não estão
forma sustentável, maximizando a participação e gestão indígena. prontas ou não possuem elementos de análise capazes de dar con-

Pressupõe um complexo processo de articulações interínstitucio- ta da proposta. O projeto exige um posicionamento (e não a omis-
nais, espedalmcnte com órgãos oficiais, além da capacidade dc são) das diferentes instituições envolvidas.

interlocução permanente, por parte da equipe do ISA. com a co- Por outro lado, o acesso ao mercado não é simples: o comprador
munidade indígena, (sobre a região onde está a TI Cateté, ver box). de madeira, por exemplo, não está interessado em participar da

O projeto tem como prioridade a consolidação e o gerenciamento construção de um empreendimento florestal indígena; ele não é
do plano de manejo sustentável dos recursos naturais, gestão um parceiro, quer um produto de boa qualidade, sem questio-
territorial integrada, geração de renda com a comercialização de namentos políticos ou legais e com o carimbo da certificação flo-
dois produtos (madeira e castanha-do-pará), capacitação admi- resta) internacional (FSC)

nistrativa de quadros da organização indígena local (Associação Também devemos considerar que a competição entre um empreen-
Bep-Nói) e a gestão participativa c transparente, por essa Associa- dimento florestal comunitário e empresas madeireiras é desigual,
ção, dos recursos financeiros gerados pelos projetos econômicos.
pois estas já participam do mercado com linhas de crédito específi-

Com o tempo, os trabalhos desenvolvidos foram tendo uma com- cas para investimento e capital de giro. O mercado financeiro não
preensão crescente tanto por parte da comunidade como tem experiência em operar com linhas de crédito que estejam fora
do próprio ISA. Juntos, conseguiram avançar na percepção dos de suas regras tradicionais, como no caso de uma comunidade in-

passos necessários para se realizar uma exploração com planeja- dígena. O que se observa é que financiadores e comerciantes têm
mento, dos pontos-de-vista técnico, político, jurídico e adminis- suas exigências e imposições, criando barreiras e distanciando-se
trativo. Os Xikrin participam ativamente dos inventários florestais, da lógica de um projeto de desenvolvimento sustentável em cons-
do zoneamento, do censo para aproveitamento de madeira, da trução. Salta aos olhos a reação não apenas do órgão indigenisla

busca de financiamento, do planejamento, das atividades oficial, a Funai, mas também a das outras instituições financiadoras,
extrativistas, das discussões sobre definições de áreas de subsis- que vêem neste órgão o aval ou a garantia que o sistema exige.

P0VO5 INDÍGENAS ND BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ (95


A* Acervo
_//Tisa
A£7>1 TAXA DE DESMATAMENTO NA REGIÃO deste contato. Em 1954, lodos os grupos Xikrin (menos os do rio

A região que rodeia a reserva Xikrin, envolvendo os municípios de


Pacajá, os Xikrin do Bacajá) começaram, paulatinamente, a

Tucumã, Xinguara e Paraupebas, apresenta uma alta taxa de retornar ao rio Cateté, constituindo uma aldeia comum.
desmatamento. Após a construção das estradas que cortam a região,
Até 1962, o contato entre os castanheiros e os Xikrin era esporádi-
na década de 70, ocorreu um ciclo de extração de madeiras nobres,
co e ocasional. Logo, porém, a aldeia, bem localizada, transfor-
especialmente mogno e cedro. Esta extração se deu de forma
desordenada, provocando grandes prejuízos à cobertura florestal.
mou-se em pousada (hotel e bordel) e posto de comércio. Em
Em anos seguintes, estas áreas sofreram ação de grandes incêndios,
seguida, os Xikrin iniciaram um processo de resistência a esses
que completaram o desmatamento da floresta para a implantação fatos. Após a criação do posto da Funai, em 1973, os Xikrin vive-

de pastagens. ram novas experiências com o extrativismo da castanha-do-pará.


Em 1975, sob orientação e tutela da Funai, os Xikrin "fizeram a
Atualmente toda esta região encontra-se em situação econômica
bastante crítica, visto que a maioria das serrarias fecharam suas castanha" e não ganharam nada devido ao baixo preço obtido. Na

portas, e restam apenas grandes extensões de pastagens de baixa safra de 1977, com a ajuda do chefe de posto, Fred Spati, conse-
qualidade. A principal atividade na região é a pecuária, que gera um guiram, pela primeira vez e devido à alta dos preços, uma com-
pequeno número de empregos. Outra atividade que ainda apresenta pensação financeira.
alguma importância na região éa atividade madeireira, embora com
peso muito inferior que cinco ou dez anos Para os Xikrin, a extração da castanha é uma atividade-meio e não
atrás. Outras atividades
de importância na geração de empregos são o comércio, os serviços e uma atividade-fim. Faz com que os eles saiam da vida sedentária
as empresas públicas. da aldeia, organizem-se para o trabalho (seja através de grupos de
parentesco ou grupos de categoria de idade), coletem matéria-
Uma exceção a este quadro é a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),
que tem uma grande base montada para exploração de minérios de
prima, cacem e pesquem em cantos de difícil acesso, retomem
ferro, ouro e manganês na região, o Projeto Carajás. Este projeto está
contato com seus rios, corredeiras e cachoeiras, reconheçam seu

localizado no município de Paraupebas, porém se estende até o limi- território, suas trilhas tradicionais, inclusive dentro das áreas de
te leste da área Xikrin. Esla empresa gera um razoável número de posse da Companhia Vale do Rio Doce e da Flona Aquiri/Tapirapé
em/tregos e outros benefícios para o município e região. e, finalmenle, possibilita, entre tantas outras coisas aqui não enu-

meradas, a transmissão deste saber aos mais novos e inexperientes.


Isto é extremamente importante para os Xikrin, e acreditamos que

Apesar de tudo e cada vez mais, os Xikrin se empenham, somam foi neste sentido que eles se dirigiram ao ISA para conseguir apoio

esforços e se mobilizam para o sucesso das atividades envolvendo à retomada das atividades de extrativismo da castanha-do-Pará,

a castanha e a madeira. Bles mostram clareza na percepção das que têm um lugar destacado na história do seu contato com os
negociações políticas e das dificuldades colocadas pelos órgãos brancos.

oficiais e financiadores no reconhecimento de seus direitos de se Nas nossas conversas com os índios, ficou claro que esse apoio
organizar, de explorar de forma planejada os recursos naturais de deveria considerar a importância da mobilização social descrita aci-
seu território e de realizar parcerias de sua escolha. No plano sim- ma e, também, promover a difícil tarefa da suslentabilidade ambiental
bólico, a percepção xikrin desses processos pode ser ‘lida" num e econômica dessa atividade. Para isso, seriam necessários: (1)
dos rituais que realizaram durante o período de implantação do planejamento anual dos castanhais explorados, seguindo critérios
“Projeto" (ver box). quantitativos levantados em inventários prévios, (2) verticalização

Os avanços e as dificuldades enfrentadas pelo Projeto Xikrin po- do projeto e (3) comercialização mais justa para os Xikrin.
dem ser acompanhados a partir de relatos e considerações sobre
No final de 1 993, solicitamos à Sociedade para o Desenvolvimento
suas duas atividades principais: as que envolvem a castanha-do-
Tecno-Ecológico (Ecotec) um estudo para implantação de projeto
pará e o manejo da madeira.
de processamento descentralizado de castanha-do-pará na TI Xikrin
do Catcté. Este estudo foi elaborado com os dados obtidos no le-

A CASTANHA DOS XIKRIN vantamento e análise do potencial dos castanhais na TI, realizado

durante o ano de 1993, por um engenheiro florestal, com a parti-


Entre os Xikrin, a exploração da castanha tem um forte significado cipação e conhecimento dos índios Xikrin. Nesse mesmo ano, qua-
social. No início da década de 50, a ala "progressista” dos índios tro representantes Xikrin visitaram o projeto de beneficiamento da
Xikrin do Catcté - que habitam próximo às cabeceiras do afluente castanha-do-pará dos seringueiros da Reserva Extrativista de Xapuri
do rio Itacaiúnas, região rica em castanhais - desejou o contato (AC) A partir desses estudos e da vontade dos Xikrin
.
em desenvol-
com os brancos e acreditava que dele adviriam transformações ver omesmo projeto, elaboramos um pedido de financiamento ao
vantajosas para o grupo. Estes índios, a essa época dispersos em PD/A. Montamos, em 1996, duas mini-usinas c, após ter fechado o
grupos, trabalhavam para os "arrendatários de castanhais” num planejamento para o treinamento dos Xikrin no processo de
sistema de eterno endividamento. Aos poucos, porém, foram to- beneficiamento da castanha, a pessoa contatada faleceu e não con-
mando consciência dos efeitos negativos e da espoliação advinda seguimos substituí-la a tempo nessa tarefa.

496 SUDESTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
-7/f ISA
O RITUAL SETE DE SETEMBRO Escarificação
dos "jovens
Sele de setembro de 1996 ,
«m ritual especial na aldeia dos índios futebolistas"
aos olhos de
Xikrin do Cateté. Logo ao amanhecer, todos, índios e seus convida-
velhos com
dos, dirigiram-se ao centro da aideia cuja disposição das casas for- coletes da PF:
ma um círculo. Dois mastros, duas bandeiras, uma do Brasil outra incorporação
da Funai. Jovens ra/xizes posicionados em fileiras entoaram o hino de elementos
do mundo
nacional, enquanto dois professores indígenas hasteavam as ban-
dos brancos
deiras.Ao término, o índio pastor leu um parágrafo da bíblia escrita na gramática
na língua Kayapó. Aplausos. Homens, mulheres e crianças das aldei- ritual dos

as üudjê-kô e Putkarot estavam participando. Xikrin do


Cateté.
0 líder Karangré gesticulava, trocava idéias com os mais velhos, ex-

plicava a coreografia. Movimentação, um rápido olhar ao meu redor.


No ngobe, espaço físico situado no centro da aldeia e local de reu-
nião do Conselho dos homens para o desempenho das funções soci-
ais e políticas, estava o velho chefe cerimonial Bemoti. simbolizando

em seu traje de temo e gravata verde, o jtoder de Brasília. Atrás dele,

contrastando, o velho Kenpoti ostentava uma coifa tradicional de


/lenas brancas de gavião. Oshomens das categorias de idaile mebegnêt
( homens maduros ou velhos) e mekramti ( homens com mais de qua- mens entre si através dos ancestrais, relacionam-nos com os dife-
rentes domínios cósmico, sejam eles dos animais, dos vegetais, dos
que personificavam, através de
tro filhos ) dividiam -se entre aqueles

a 1’olícia Federai o Ibama e a Funai. personagens dafrontei-


coletes,
espíritos ou de outras etnias.

ra próxima ao mundo vivido pelos índios Xikrin. Os rapazes, compa- Fim do ritual, os /mis das nominadas oferecem a todos os partici-
nheiros da categoria de idade menonmu (jovens iniciados e que dor- pantes beiju de peixe, caça assada noforno de pedra, banana, batata
mem na casa dos homens), formaram duas filas paralelas, uma das doce, café, Janta e coca -cola.

filas vestia o uniforme azul do time defutehol da aldeia Djudje-Kô e


Mas o ritual não é somente feito do momento "da festa" mas tam-
a outra o uniforme vermelho do time de futebol da aldeia Putkarot.
bém da aquisição da matéria prima necessária para que o indiví-
Começa a dança. Os rapazes vêm caminhando em direção à Casa dos duo, através de sua roupagem, se transforme, se impregne da essên-
Homens e realizando uma coreografia baseada em exercício de trei- cia do outro e some em seu próprio corpo oeueo outro.
namento defutebol. Há uns três meses passara por ali o antropólogo
Para este ritual, os Xikrin levaram />eln menos três anos perseguindo
Fernando Vianrni, ex-jogador profissional de futebol que tinha, a
os seus objetivos. Conseguiram as bandeiras, negociaram paciente-
pedido dos Xikrin, treinado, ensinado e desenvolvido com eles exer-
mente os coletes com agentes do Ibama e da Polícia Federa! (em
cícios de educação física. Aqueles exercícios ganharam um movi-
Marabá), me convenceram a escolher e comprar um terno e uma
mento especial transformando-se numa dança ritual
gravata (em Brasília ), e o Fernando para a confecção de uniformes
Ao chegarem em frente à Casa dos Homens, os dois primeiros dafila, para dois times de futebol. As camisetas com o bordado da Associa-
para se tornarem homens verdadeiramente fortes, têm suas coxas ção Bep-Nói foram feitas em Parauapehas com verba própria. Con-
escarificadas com dente de aruanã pelos mais velhos, passam /mra o seguiram as calças pretas e as camisas branquinhas com o pastor
final da fila, refazem a mesma dança e retomam para que outros evangélico em São Félix do Xingu. Tudo foi pensado, as negociações
dois sejam escarificadas, e assim vão até que todos o tenham sido.
eram feitas de forma a que eles adquirissem as coisas das pessoas
Entre os Xikrin, os rapazes são submetidos a uma grande variedade chaves, não serve qualquer colete mas sim os autênticos, dados /lelos
de provas iniciatórias: a briga contra um ninho de marimbondos, agentes do Ibama e da PF. não serve qualquer temo mas sim um
que simboliza uma aldeia inimiga, corridas e escarificações nas per- comprado em Brasília, na época em que eles foram solicitar apoio
nas para aumentar a agilidade, duelos com espadas pesadas ou jogos do presidente da Funai e do Ibama, dos ministros da Justiça e Meio
competitivos.
Ambiente, e assim por diante. As coisas devem "possuir" a identida-
Descanso, mudança de ato, troca de vestimenta. Os Xikrin ostentam de das pessoas, elas dão conta da dhersidade e do espaço geográfico
cocares de penas de arara, japu, gavião real, colares de itã, braçadei- que elas ocupam. Ao falar de cada uma delas, existe um longo dis-
ras, bandoleiras de algodão. Párias meninas estão sendo ornamen- curso a respeito das negociações e de suas conquistas.
tadas, penugens de papagaio no corpo e de urubu-rei na cabeça-, tra-
0 Ritual é um campo privilegiado para a análise de questões como
zem a face pintada de urucum e a pintura feita de carvão e resina de
processo de conhecimento, tradição, inovação, interpretação, com-
árvore lhes é aplicada na jiarte superior da cabeça. 0 cabelo ao mo- preensão e a expressão do modo Xikrin de vivenciar. pensar sua jiar-
é aplicada afasta as al-
delo Xikrin está raspado e a pintura que lhe
ticipação em um mundo ampliado e em constante e rápida transfor-
mas dos mortos. Passamos para o ato do ritual de ruminação femi-
mação. O ritual é a expressão sintética de conceitos e verdadesfun-
nina Bektvoi
damentais para os Xikrin e a isão que eles têm de si mesmo, de sua
i

Receber um nomefaz parte de um longo processo de socialização do sociedade e do seu universo. Os aspectos essenciais são transmitidos
indivíduo. No decorrer de sua vida, uma pessoa acumula inúmeros de modo claro, explícito, ordenado, mostrando que os Xikrin estão
nomes, transmitidos pela categoria de nominadores e que inclui vá- conscientemente em comando de seu mundo. (I.V.G., originalmcnte
rias posições genealógicas. Os nomes além de relacionarem os ho- publicado na revista Poematropic, Belém: UFPA, n" 2, jul -dez/98)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 • INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÃ 497


Acervo
— //!' I SA
io
ITltOliR assim, os Xikrin se organizaram e realizaram a coleta e tivas de produção de madeira: (1) comercialização bruta ou be-
comercialização da castanha com casca. Na safra de 1997, houve neficiada; (2) exploração própria ou terceirizada, (3) comercia-

uma mobilização quase que total da comunidade, envolvendo (1) lização no mercado brasileiro ou exportação; (4) parcerias na
os aspectos de divisão das áreas de coleta em função das diversas exploração, processamento e comercialização; (5) formas de ges-
categorias de idade e lideranças xikrin; (2) transporte e (3) tão e administração do projeto pelos Xikrin. As decisões tomadas
comercialização, feita basicamente pelos índios, na cidade de a partir dessa discussão serviram de base para a elaboração do
Marabá. No final daquele ano, visando a safra seguinte, enquanto documento “Business Plan: Tisnber Operations on the Indigenous
os índios se mobilizavam para a limpeza dos rios Cateté, Aquiri, Territory of the Xikrins of Cateté", plano de negócios cujas diretri-

Bekware e Cinzento com o objetivo de facilitar o transporte fluvial zes estão sendo seguidas desde março de 1997.
da castanha (a comunidade adquiriu uma embarcação com maior
A partir da posição tomada pelos Xikrin, que desconsideraram a
capacidade de carga), o ISA entrou em contato com dois comuni-
possibilidade, a curto prazo, de verticalização do empreendimen-
tários do Conselho Nacional de Seringueiros, pertencentes à Coo-
to madeireiro, em favor da participação direta da comunidade
perativa de Produtores de Xapuri, com a finalidade de realizarem,
apenas nas atividades florestais, de gerenciamento e fiscalização
na aldeia do Cateté, o treinamento dos Xikrin para o beneficiamento
do projeto, o estudo de viabilidade apontou para a necessidade de
da castanha. Segundo os Xikrin, essa atividade, realizada durante
parceria local na exploração, processamento e comercialização
os meses de janeiro e fevereiro de 1998, foi um sucesso, pois,
da madeira. As negociações para a comercialização da madeira
além de envolver os homens na extração, mobilizou, na etapa de
tiveram início em 1996, com a visita do consultor Igor
beneficiamento, todas as mulheres da aldeia.
Mousastícoshvily às empresas madeireiras da Europa, prosseguin-
Nas safras de 97 e 98, de modo semelhante ao que ocorrera na do com a visita à área Xikrin de um representante da empresa
primeira safra proveitosa para os Xikrin (1977), o mais importan- holandesa Van den Berg BV. Na terceira fase, a empresa enviou seu
te foi o fato de eles terem varado e vasculhado lugares que lhes diretor comercial para verificar as condições de compra/venda de
pertencem desde sempre. madeira oriunda do manejo xikrin.

Durante os anos de 1999 e 2000, com a finalização do projeto de


financiamento do PD/A, não houve, por parte do ISA, continuidade A DUREZA DA MADEIRA
na capacitação para o beneficiamento e no apoio à comercialização
No segundo semestre de 1997, retrocessos nos apoios da Funai e
da castanha. Porém, os Xikrin não deixaram de realizar essa ativi-
do Ibama ao projeto paralisaram as negociações. Com a mudança
dade. A safra de 1999 não foi boa; o preço, muito abaixo do espe-
na presidência da Funai havida naquele momento, seu Departa-
rado. Por outro lado, durante o período de janeiro a março de
mento de Patrimônio Indígena (DPI) fez campanha interna ao ór-
2000, os Xikrin colheram e comercializaram um total de 1.458,3
gão contra a execução do projeto, questionando a seriedade do
hectolitros de castanha obtendo um lucro de KJi 61.248,60 (cota-
ISA e induzindo o novo presidente a duvidar da legalidade da pro-
ção do dólar em 17 de janeiro de 2000: 1U$= R$1,80). Foi uma
posta. Em outubro de 1997, com o objetivo de analisar o "Plano
das melhores safras dos últimos anos.
de Manejo Florestal da Terra Xikrin do Cateté”, foi criado um Gru-
lendo em vista a importância da atividade para os Xikrin, a CVRD po de Trabalho (GT) dentro da Funai, que acabou por ordenar,
solicitou que o ISA formulasse, para os próximos três anos, uma sem emissão de documento oficial, a paralisação das atividades.
proposta de continuidade na capacitação e no acompanhamen-
A equipe do ISA passou a responder a inúmeros questionamentos.
to da extração, beneficiamento e comercialização da castanha-
Esses, a princípio, tinham um caráter de esclarecimento técnico.
do-pará.
Com o passar do tempo, entretanto, a morosidade e ineficiência
do GT em emitir um parecer final demonstrou ter como objetivo a
MANEJO DE MADEIRA inviabilização e a suspensão do projeto. Nesse contexto, os com-
Os Xikrin são pioneiros na experiência com manejo florestal de pradores de madeira holandeses se abstiveram de qualquer com-
recursos madeireiros e isso é resultado de um longo trabalho: dez promisso enquanto a situação legal perante os órgãos competen-
anos de diálogos, intervenções, ação jurídica - impetrada pelo tes não se definisse.

Núcleo de Direitos indígenas (hoje integrado ao ISA) - para proi-


O plano de negócios elaborado apontava, por sua vez, para a ne-
bir a exploração de madeira por terceiros, pesquisa na área flo-
cessidade de um pré-investimento para o projeto. Assim, no início
restal, zoneamento da TI, pareceres jurídicos, influência na pro-
do ano de 1997, iniciamos um diálogo com a CVRD e o Banco
posta de novo Kstatuto das Sociedades Indígenas, criação da asso-
Mundial para o financiamento desse investimento a fundo perdi-
ciação indígena e, por fim. a elaboração de um estudo
do. Acreditávamos que, ainda no final do primeiro semestre de 97,
multidisciplinar sobre aviabilidade econônúcae a sustemabilidade
teríamos fechado todas as negociações e assinado contrato para a
ecológica e social do empreendimento.
execução das atividades na área de gerenciamento - programa de
Munidos desse estudo, pudemos expor e discutir com especialis- manejo, treinamento para exploração em baixo impacto, pesqtúsa
tas de diferentes áreas e representantes xikrin as diversas alterna- do mogno, certificação e marketing. Contudo, as negociações fo-

498 I
SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
Acervo
_/> ISA
ram extremamente difíceis e burocráticas, estendendo-se até o iní- seguimos definir a empresa parceira no benefidamento e

cio do ano de 1998. Com a criação do GT pela Funai, a CVRD, por comercialização da madeira, discutir e amadurecer interesses co-
precaução, recuou e passou a solicitar uma garantia dos órgãos muns de longo prazo, bem como possibilidades de uma certificação
governamentais na aprovação do contrato ISA/CVRD. da cadeia de custódia,

No início de outubro de 1997, os líderes jovens da comunidade do Durante 1999, o empreendimento florestal Xikrin, comparado aos
Cateté, Karangré e Bepkaroti, encaminharam ao presidente da Funai dois anos anteriores, parece ter dado um salto qualitativo no que

uma carta solicitando a presença do mesmo na aldeia, com a fina- se refere à sua implantação. Para a colheita da primeira safra de

lidade de discutirem o projeto. Nunca houve resposta ou presença madeira, foi assinado um termo de acordo de empréstimo de ca-
de um representante do órgão indigenista na área. Num ato de pital de giro entre a CVRD e a Associação Bep-Nói, com a interven-
desrespeito, a Funai simplesmente ignorou a organização dos ín- ção do ISA. Acordos para a contratação dos serviços de certificação
dios xikrin. fnfelizmente, essa atitude do órgão e seu não e pesquisa do mogno e treinamento em exploração de baixo im-

posicionamento levou ao confronto entre os Xikrin e ele. Adverti- pacto foram firmados, diretamente pelo ISA, com as instituições

dos pelo ISA sobre o impasse da situação e cansados de tanta con- Smartwood, Embrapa e Fundação Floresta Tropical (FFT) respec- ,

versa, os índios, no início de 98, desiocaram-se para Carajás e tivamente. Nesse mesmo ano, o empreendimento florestal Xikrin

solicitaram, novamente, a presença do presidente da Funai. E ele ainda conseguiu aprovação de financiamento, por mais três anos,

não compareceu. Através de uma forte mobilização política, que através do Programa Iniciativas Promissoras do Ministério do Meio
culminou na paralisação da rodovia que liga Parauapebas à mina Ambiente - Pró-Manejo.
de Carajás, os Xikrin conquistaram o apoio formal e por escrito do
Os Xikrin ainda não colheram o fruto de dez anos de trabalho.
presidente da Funai.
Podemos dizer que, em 1 999, o único fator limitante para a execu-
ção da exploração de madeira na área de manejo foi a falta de
ÚLTIMOS ACERTOS manutenção da estrada. Por motivos alheios à nossa vontade, ou
seja, devido à contratação indevida, por um processo de licitação
O empreendimento do manejo de madeira está baseado em parce-
elaborado pela CVRD (em que vence o menor preço), de uma
ria entre duas instituições. Uma é a Associação Bep-Nói, que tem a
empresa pouco capacitada para a execução dos serviços, a estra-
responsabilidade das operações relacionadas aos inventários flo-
da não teve condições de trânsito.
restais, extração e monitoramento ambiental A outra é uma em-
presa madeireira com experiência em benefidamento, A decisão de iniciarmos a exploração somente no ano 2000 cau-
comercialização local e credenciada para exportação. Nenhuma sou uma enorme decepção àqueles que percebem o empreendi-

serraria na região tem experiência com certificação florestal e prá- mento florestal como um instrumento de autonomia financeira e

ticas de ‘'bom manejo”, o que, de fato, restringe as possibilidades contra as ações ilegais de madeireiros na Terra indígena. Os Xikrin

de consolidação de parceria, do necessário treinamento em ex- queriam explorar a qualquer preço. Segundo eles, já tínhamos tra-

ploração dc baixo impacto, assim como um investimento a curto e balhado muito e aplicado muitos recursos financeiros neste proje-

médio prazo na serraria, voltado à agregação de valor aos produ- to para desistirmos. Porém, chegamos a um consenso: dar mais

tos e a uma maneira de trabalhar que aumente o aproveitamento um crédito aos que estão trabalhando seriamente para o seu su-
dos resíduos. Mesmo assim, ao longo dos últimos três anos, con- cesso. (abril, 2000)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE D0 PARÁ 499


ztlfr l-n- Acervo
W/'5A
ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS
No "verão " de 2000, os Xikrin puderam Jlnalmenle realizar a explo- porte de produto Jhrestat. De posse das autorizações, e com a madei -

ração madeireira no âmbito do plano de manejo. Após a experiência ra cortada, restava aos Xikrin apenas transportar as toras até a cida -

fracassada de 1999, e em lista das pressões dos índios, a CVRD desti- de de Tucumã, onde serão serradas e comercializadas peta empresa
nou verba necessária para a manutenção da estrada ligando a área Brumila. para tomarem real um novo padrão de empreendimento
de manejo até o município de Tucumã. Com a estrada aberta, as floresta! na região do sul do Pará.
atividades de manejo ganharam ritmo e sistematicidade, tendo sido
Apesar de um atraso imprevisto nas obras de abertura da estrada e
possível explorara área piloto de 1. 400 ha, aprovada pelo Ibama des-
das chuvas que começaram a cair na região, os Xikrin iniciaram o
de 1995, e realizar inventários florestais em unidades de exploração
transporte da madeira no dia 14 de outubro. Até o final do mês havi-
a serem trabalhadas nos próximos anos. Graças a isso, os Xikrin re-
am transportado cerca de 300m’ de mogno.
cobraram confiança na concretização de um projeto iniciado há tan-
tos anos. Os Xikrin ainda não sabem o que fazer com os recursos obtidos da
jirlmeira colheita de seu plano de manejo florestal. Decidiram, no
Em agosto, a associação dos Xikrin, Bep-Nói, assinou contrato com a entanto, festejar com um grande ritual essa importante conquista. A
empresa lirumila Norte Industrial Madeireira Lida. . de Marabá, para festa ocorreu no dia 25 de outubro na aldeia Cateté, e contou com a
que esta realize as atividades de serragem de toras, secagem em estu- presença dos ministros da justiça, do Meio Ambiente, dos presidentes
fa da madeira serrada, embalagem e comercialização da madeira da Fttnai e do ibama.
proveniente da primeira colheita do manejo na área do Cateté.
Os índios sentiram-se muito satisfeitos com a visita das autoridades
Em setembro, realizou-se o corte da madeira na área prevista, tota- e cobraram deles maior apoio para que seu projeto de manejo tenha
lizando. neste primeiro ano do empreendimento. W00 m3 . for oca- continuidade, e para que outros povos indígenas que enfrentam o
sião do corte, os Xikrin receberam a visita de técnicos do Ibama, que problema da extração ilegal de madeira em suas terras jmsam um
verificaram as atividades e emitiram parecer favorável ao manejo, dia celebrar também uma ‘festa ila madeira (Cesar Gordor, antro-

permitindo que o órgão em Belém expedisse as autorizações de trans- pólogo, assessor do Projeto Xikrin, out/00)

Acompanhamento e fiscalização: o líder Bepdjare Xikrin


fiscaliza o trabalho de um motosserrista. Os Xikrin
acompanharam de perto e com muito interesse todas as
atividades do plano de manejo. Sua participação ativa e,
em muitos momentos, enérgica, foi fundamental para
concretizara primeira safra de madeira.

Xikrindançam em volta de um caminhão carregado de toras


de mogno estacionado no centro da aldeia do Cateté, em
importante momento da "Festa da Madeira " IPin kadjy meto rol,
realizada em 25/10/2000, para comemorar o primeiro ano da
colheita de madeira. A cena expressa ritualmente a
apropriação simbólica de todo o processo envolvido
no plano de manejo.

900 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
_//iC ISA

Como a TI Apyterewa Caiu


no Limbo Burocrático

Carlos Fausto Antropólogo do


Museu Nacional/ÜFRJ

DECRETO 1.775 E DESPACHO 17, HERANÇAS sociedade fosse um agregado de indivíduos abstraios, igualmente
JURÍDICAS DO EX-MINISTRO JOBIM, livres em sua capacidade de escolha.

FAVORECERAM INTERESSES PARTICULARES No caso das terras indígenas, a Constituição de 1 988 ao consagrar
E AINDA IMPEDEM REGULARIZAÇÃO DA o direito originário dos índios às suas terras, a sociedade brasilei-

TERRA DOS PARAKANÃ ra contemporânea reconliece que o país não foi simplesmente “des-
coberto" e “povoado”, mas conquistado e reocupado. A regra es-
tabelece uma diferença para contrabalançar uma desigualdade:
Mais de um ano após a assinatura do Decreto 1,775, que modifi-
aquela entre sociedade envolvente (e seus agentes) e povos nati-
cou o procedimento para a demarcação das Terras Indígenas no
vos. O Decreto 1.775, ao contrário, introduz uma igualdade for-
Brasil, é preciso fazer um balanço dc seu significado, Na época, o
ma! para reforçar uma desigualdade de fato. 0 discurso
decreto foi vendido à sociedade como uma necessidade, digamos,
consíitucionalista que legitimava o decreto interverte-sc, assim, em
técnica. Matéria etérea, a qual só os doutores da lei podiam ter
um instrumento anticonstUucional, solapando os princípios éüco-
acesso, e que era neutra do ponto de vista político. O enlão ministro
políticos que fundamentam o art. 231.
Jobim apresentava-o como um instrumento de modernização e ra-
cionalização, cujo intuito era sanear, jurídica e administrativamen-

te, o processo demarcatório. Em tom didático, o jurista explicava à O DESPACHO DE JOBIM


sociedade o caráter inelutável de tal medida. Diante desse saber Essa constatação é feita por alguém que acompanhou de perto o
luminar, os antropólogos, presos a uma visão tão romântica quanto processo e foi, inclusive, um de seus agentes. Como “especialista"
falsa, deveriam se curvar, deixando espaço para o predomínio da
em um dos grupos remetidos ao limbo (os Apyterewa-Parakanã),
razão. 0 embate assim se apresentava, e o tom didático do ministro fui chamado a intervir mais de unia vez, e acabei coordenando um
correspondia ao do missionário benevolente, civiiizador do gentio.
grupo técnico, que realizou estudos complementares sobre a área,
Ao fim do processo, ou da primeira parte dele, o que vemos? Aqui- por determinação do Ministério da Justiça. Junto com o Ministério
lo que se apresentava como um movimento de racionalização Público Federal, elaboramos um projeto para viabilizar a demar-
interverteu-se em seu contrário. Se é possível caracterizar o pro- cação da área, que foi discutido com os Parakanã, com represen-

cesso por uma expressão, esta deveria ser “modernização tantes de ONGs, com membros da Igreja e levado ao Poder Execu-
clientelista". Sob o verniz iluminista escondia-se - e isto a socie- tivo. O ex-ministro Jobim, contudo, preferiu ignorar nossa pro-

dade civil jamais ignorou - uma transferência de poder, que per- posta, deixando claro que, em seu entendimento, o decreto era
mite ao ministro da Justiça e ao Governo como um todo atender às uma espécie de carta branca conferida ao titular da pasta da Justi-
demandas de grupos políticos e interesses privados locais. A tese ça. E ele, de fato, fez uso dessa prerrogativa que atribuíra a si mes-
sobre a necessidade de universalizar as regras constitucionais, das mo, por meio de um despacho publicado no DOU em 8 de abril de
quais as terras indígenas teriam sido incorretamente excluídas, 1997 (Despacho 17) pouco antes de assumir uma vaga no Supre-
,

converteu-se na prática em mais um instrumento clientelista. mo Tribunal Federal.


Essa conversão do universal em particular parece endêmica aos No documento, embora acate nosso relatório técnico no que tange
projetos brasileiros de modernização, pois eles tendem a ignorar à improcedência das contestações e à conformidade do estudo de
as relações de poder preexistentes. A regra é aplicada como se a delimitação original com a Constituição Federal, afirma que, ain-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ 501


e caso, não se estaria impedido dc fazer “ajustes, ditados Tiicumã. Como é possível, então, que uma empresa que cometeu
pelo interesse público”. Assim, determina a alteração dos limites toda sorte de ilegalidades, possa ter direitos reconhecidos sobre
da TI Apyterewa-Parakanã, que deverá levar a sua redução em um uma terra que invadiu e espoliou? Qual a concepção de “interesse
total de, aproximadamente, 160 mil ha, redução qualificada no público” que pode ditar tal decisão? Por que a União abriria mão
despacho como “insignificante”. O mais surpreendente, contudo, de terras de seu domínio e posse indígena em prol de uma empre-
é o reconhecimento de uma área, de quase 40 mil ha, titulada em sa privada, que reconhecidamente infringiu a legislação?

nome da Exportadora Perachi. Contrariando dois laudos antropo- um ato violen-


É preciso qualificar devidamente o fato: trata-se de
lógicos anteriores, o ministro decreta em sua onisciência que a
to de expropriação legitimado por um discurso jurídico e pela
“gleba em questão [...] não é habitada pelos índios, não é utiliza- autoridade de quadros estatais. O Governo, ao invés de cumprir
da pelos mesmos em atividade produtiva, não se mostra impres-
sua função reguladora, equilibrando e disciplinando as relações
cindível à preservação de seus recursos ambientais, nem necessá-
de poder na sociedade, utiliza o direito para promover poderosos
ria a sua reprodução física e culntral. E o que é mais importante,
interesses particulares. É preciso colocar essa violência em pri-
não se revestia desses requisitos constitucionais quando o título
meiro piano. O grande erro na discussão sobre o Decreto 1.775
dominial foi expedido pelo Poder Público [...]".
foi aceitar os termos do problema: ao se fazer abstração da reali-

Não me cabe aqui desmentir tal afirmação. Todos os dados neces- dade socioeconômica sobre a qual se aplicaria, admitiram-se os

sários para esse fim encontram-se no relatório técnico que o gru- eleitos perversos que ele veio a ter. O falo de o despacho sobre a TI
po responsável pelos estudos complementares sobre a TI Apyterewa Apyterewa-Parakanã, assim como outros em seu gênero, ferir os

entregou à Funai em 1996. No mais, se o ministro admite que a princípios constitucionais, não deve nos surpreender, pois tais

delimitação original está em acordo com a Constituição Federai, princípios tundam-se em percepções ético-políticas diversas da-
como é possível que parte do território não o esteja? O todo está quelas que estão na origem do Decreto 1.775.

conforme, mas parte não está? (Em outros tempos, a antropologia


Caberá ccrtamente ao MPF mover tuna ação visando revogar as de-
explicaria tal proposição por meio da noção de pensamento pré-
cisões do ex-ministro. Cabe a nós antropólogos, porém, muito mais.
lógico...). Os problemas com a decisão, porém, não param por aí.
Cabe-nos recolocar os termos da discussão: enquanto profissionais,
Em primeiro lugar, salta aos olhos a desigualdade de tratamento
não podemos aceitar que um ministro, qualquer que seja ele, atri-
dado à Perachi e aos Parakanã, Para que os últimos tivessem suas
bua-se um conhecimento que ele não detém; enquanto cidadãos
terras reconhecidas, exigiram-se dois estudos técnicos detalhados;
comprometidos com uma verdadeira democratização da sociedade
para que a Perachi conseguisse anulá-los, bastou-lhe apresentar
brasileira, devemos resgatar o conteúdo ético que inspira o art. 231
alguns documentos. Ora, não se pode ignorar que a maioria dos
da Constituição Federal; enquanto especiídislas do particular, deve-
títulos na Amazônia, com suas respectivas cadeias dominiais, de-
mos em nome de uma racionalidade uni-
duvidar de discursos que,
vem ser vistos a priori com cautela. Não se pode afirmar, nem
versal, imputam-nos o atraso, para em seguida promovê-lo, (Origi-
infirmar nada sobre eles, antes que sejam objeto de investigação,
nalmente publicado no Boletim da ABA, out/97)
principalmente quando incidem sobre território indígena em tuna
extensão tão grande. Tomar decisões com base apenas cm títulos

ostentados é, no mínimo, ingenuidade. Em segundo lugar, o fato TRÊS ANOS DEPOIS


de não ser tida como indígena na época da titulação original, não
Em tempo: como se poderia esperar, a TI Apyterewa caiu no bmbo
altera em nada o caráter da área. O reconhecimento administrati-
burocrático, de onde não mais saiu. Em 1998, a Funai pediu ao
vo das terras indígenas é um ato secundário, pois o direito origi-
Ministério da Justiça (MJ) reconsideração do Despacho 17, mas
nário dos índios sobre suas terras precede a esse reconhecimen-
este foi reconfirmado em julho de 1999 pelo consultor jurídico do
to. Isto está claramente expresso no art, 231 da Constituição Fede-
MJ. Desde então, nada mais foi feito. O MPF deverá propor uma
ral de 1988, que não é senão a consolidação de um entendimento
ação contra o decreto, que viola o art. 231 da Constituição por
que veio se sedimentando ao longo dos últimos trinta anos.
reconhecer títulos de propriedade em terra indígena (isto para

Por último, é preciso inserir o despacho nas condições sociais e não falar da cadeia dominial fantasma desses títulos) . Contudo, se
políticas reais. A Perachi é tuna grande madeireira com sede em pouco ou nada foi feito para regularizar a situação da TI Apyterewa
Belém, que invadiu os territórios dos Parakanã, Xikrin e Araweté, neste período, muito se fez localmente em termos de irregularida-

explorando ilegalmente mogno na região de 1986 até hoje. Foi de: há um crescente envolvimento de jovens parakanã com madei-
autuada e multada pelo Ibama, processada pelo Núcleo de Direitos reiros, há trabalho escravo em fazendas ünplantadas dentro da
Indígenas e, por diversas vezes, saqueada em ataques dos Parakanã. área, os lotes dos colonos assentados pelo Incra estão sendo re-

Devastou cinco mil ha de floresta virgem no centro do território vendidos e o narcotráfico está em franca operação na região. En-

indígena para formação de pastagens, e construiu mais de cem km fim, um cenário que sintetiza bem os 500 anos de colonização.

de estrada, rasgando a mata, para escoar a madeira até a cidade de (setembro, 2000)

502 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO SRASIL 1536/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
—/Â SÃ
" J
Grafismo .surini do Xingu
Asui
Fonte: Grafismo Indígena, Lux Vida!(org.|, 1992 ACONTECEU
GERAL ruá-Iriri) estão contidas na pseudo-proprieda- isso justificaria imediatamente uma CPI, até
de de Cecílio Almeida. “Por meio de um levan- para obrigar o órgão a agir como é seu dever",
tamento cartorial, expediente adotado por qual- disse. Oliveira disse ainda que o Iterpa esco-
EMPREITEIRO SE DIZ uma pro- como bode
quer cidadão normal que vá adquirir lheu seu patrão expiatório, c que
DONO DE ÁREAS DA UNIÃO... priedade, os técnicos (do Iterpa) descobriram as terras apresentadas pela Rondon Agrope-
O governo õ0 PA duvida da legalidade da docu- que a fazenda não tem registro. “Ela não exis- cuária (empresa do grupo CR Almeida) na re-
mentação das terras que foram compradas pelo te", sentenciou o diretor jurídico do Iterpa, gião de Altamira “há mais de 70 anos são de

empresário Cctílio do Rego Almeida, dono da Carlos Lamarão. A revista informa que “há 12 domínio privado”. (ISA, a partir de O Liberal,
empreiteira CR Almeida, uma das maiores do anos, um sujeito chamado Umbelino José de 06/10/96)
país. A documentação foi apresentada por Oliveira Filho forjouem cartório uma escritura
Almeida para justificar a instalação de um gran- da área, com base num levantamento fundiário FRAUDES FUNDIÁRIAS
feiio pelo Incra. Como os antigos donos. Olivei-
de projeto no sul do Estado, que, segundo o CONTINUAM
empresário, será ecoiógico, Almeida diz que a ra aplicou um truque c declarou-se dono do
primeira atividade econômica do projeto será lugar. Cecílio Almeida foi avisado de que as ter- O Iterpa ingressou na Justiça de Altamira, o

a pesquisa de espécies farmacológicas. Ao mes- ras são irregulares. Mesmo assim, foi em frente maior município do estado, com mais duas
a partir de ações de nulidade e cancelamento de registro
mo tempo, ele adverte que não tolerará invaso- e assinou o contrato". (ISA, Veja,
imobiliário de terras que teriam sido adquiri-
res em suas terras e promete enfrentá-los com 24/04/96)
das de forma irregular por se tratar de áreas
jagunços armados.
Aproveitando a Lei de Patentes, recentemente ... E ENTRA EM CONFRONTO de domínio público. As duas ações envolvem

aprovada pelo Senado, a CR Almeida trará téc- COM INTERPA quase dois milhões de ha. Segundo o procura-
dor do Estado e diretor jurídico do Iterpa, Car-
nicos da Universidade de Xangai, na China, para
O jornal O Liberal publicou, em 6 de outubro losLamarão, “uma onda de fraudes fundiárias
estudar a biodiversidade da região. O governo
de 1 996, entrevista de uma página e meia, sem vem assolando nos últimos tempos o estado do
do PA não rebeceu qualquer especificação so-
fotos, onde o jornalista Evandro de Oliveira Bas- PA, tentando transferir enormes extensões de
bre o projeto. Há cerca de 15 dias, Cecüio do
tos, assessor do projeto de uso múltiplo da terras públicas para particulares".
Rego Almeida - que foi indiciado pela PF por
empreiteira CR Almeida em Altamira, afirma que Uma das ações é contra o Seringal Yucatan, numa
envolvimento com o esquema de extorsão do
a ação judiciai interposta pelo Iterpa “é um fes- área de 1 ,6 milhão de ha, pertencente ãs em-
ex-tesoureiro de Fernando Gollor, Paulo César
lival de desinformação e exibição de burrice presas Agropecuária Fazenda Urubu, de Brasília,
Farias, e apontado como um dos maiores
explícita”. Em
do mega latifúndio, o as-
defesa eà Kramm Assessoria e Engenharia, de Cuiabá.
beneficiários da máfia do Orçamento - esteve
sessor acusou o presidente do Iterpa, Ronaldo A outra é contra o seringal Monte Alegre, de 330
com o governador Afmir Gabriel, fazendo uma
Barata, e o consultor jurídico da instituição de mil ha. Em relação ao Seringal Yucatan, o Iterpa
exposição verbal de seus pianos, “Na ocasião,
tentativa de extorsão, alegando que a ação judi- afirma que não há nenhum título na origem da
pedimos para verificar a documentação dos 4,7
cial foi provocada pela própria CR Almeida a inscrição do imóvel no registro de proprieda-
milhões de ha que ele disse já ter comprado,
fim de afastar a pressão dos “chantagistas” e des. Apenas contratos de arrendamentos para
mas até agora não recebemos nada", disse o
trazer o caso para o terreno da Justiça. O Iterpa exploração de castanhais e seringueiras perten-
presidente do Iterpa, Ronaldo Barata. “Parti-
pediu a anulação do registro da área, com 4,7 centes ao patrimônio público estadual, que não
cularmente, desconfio da autenticidade dessa
milhões de ha, no último dia 30 de agosto em geram direitos de propriedade ou mesmo de
litulação e considero preocupante a existência
ação encaminhada pelo juiz da 1” Vara da posse e não podem ser transferidos a terceiros.
de uma propriedade desse tamanho nas mãos
Comarca de Marabá, José Torquato. (Gazeta Mercantil, 22/10/96)
de uma pessoa", concluiu.
O assessor de imprensa de Cecílio do Rego
No fim de março, em Curitiba, o empresário
Almeida desmente a informação, contida na ação
informou que já linha comprado, com recur- GOVERNO QUER RETOMAR
judicial, de que o Iterpa havia prevenido o em-
sos próprios, 50 mil km !
(aproximadamente 5 PROJETO DE HIDRELÉTRICA
presário para que ele não comprasse as terras.
milhões de ha) e que pretendia adquirir outros
Segundo ele, quem procurou o empresário foi 0 governo deverá licitar em 1999 a concessão
40 mil knr para completar a área prevista do
um casal que negociava terras na região e con- para a construção de um dos mais polêmicos
projeto. A área, que equivale ao estado de SC,
sultou o órgão sobre glebas “que somavam mais empreendimentos hidrelétricos do país: a UHE
fica àsmargens do rio lrirl, se projetando em
de 12 milhões de ha". Oliveira afirmou que esse Cararaô, rebatizada de Belo Monte, projetada
direção à rodovia Cuiabá-Santarém. Almeida
casal repassou a Cecílio Almeida, “depois de um para ser construída no rio Xingu, cujo lago de-
disse que a preservação da floresta é ponlo fun-
minucioso esludo de documentos do cartório verá inundar parte da reserva Kayapó. A cons-
damental no projeto e que pretende, ainda, de-
de Registro de Imóveis de Altamira" a área de trução ficará a cargo da iniciativa privada. A
senvolver programas de ecolurismo. (O Globo.
4,7 milhões de ha" que o empreiteiro diz ser índia Kayapó 'Mra tornou-se, cm 1989, um
09/04/96)
sua propriedade, emblema da resistência dos índios e dos ecolo-
O assessor da CR Aimeida disse que tem “con- gistas à construção da hidrelétrica depois de
... APROPRIA-SE
vicção radical" de que o Iterpa sabe existirem esfregar a lâmina de seu terçado no rosto de
DE ÁREAS INDÍGENAS... no estado cerca de 55 mil títulos falsos de pro- José Antônio Muniz Lopes, então diretor de Pla-
A revista Veja afirma que Cecílio Aimeida com- priedade de terras rurais. “Se o Iterpa existe há nejamento da Eletronorte. A reação contrária
prou uma fazenda podre, com “uma aldeia in- 30 anos e não fez nada para corrigir essa ano- ao projeto levou o Bird a cancelar o financia-
dígena” dentro da área. Na verdade, duas áreas malia, é claro que se tornou no mínimo coni- mento ao projeto.
indígenas já delimitadas pela Ftmai (Baú e vente com ela. Não é possível que entre os pro- De acordo com o projeto original da Eletro-
Curuá) e uma em vias de ser identificada (Cu- dutores rurais do PA existam 55 mil grileiros. norte. Belo Monte deverá custar cerca de US$

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 199612000- INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE D0 PARÁ 5D3


)

7 bilhões, estimativas de 1989. Para lido Sauer,


professor do IEE/USP, os investimentos neces-
sários à construção da usina poderão atingir

US$ 20 milhões. O EIA da hidrelétrica, elabora-


do pela Elctronorte em 1988, detalha que a usi-
na deverá contar com 20 máquinas geradoras,
com 560 MW de potência cada, somando uma
capacidade total de 1 1 mil MW. Mas deverá pro-
porcionar uma geração de energia firme de
somente 4,67 mil MW, devido à drástica redu-
ção do nível do rio Xingu durante a seca. 0 lago
deverá ocupar 1,22 mil km informou Célio
Bergman, também da 1EE.
De acordo com os estudos da Eletronorte, o
volume de água do lago ( 14,6 bilhões de m)
5

deverá inundar a parte mais baixa da cidade de


Altamira, afetando mi! famílias da zona urbana
e 375 da zona rural, A expectativa é de que se-

jam alagados também 35 km da BR-230, além


de 228 de estradas vicinais. Ficarão ainda sob
as águas mil' de ecossistema florestal natural.
Sauer afirma que a usina não é economicamente
viável, já que a energia firme gerada será inferi-
or a 50% da capacidade instalada. A UHE Belo
Monte será o primeiro projeto de geração hi-
dráulica prevista para a região amazônica a ser
licitado para a iniciativa privada. (Gazeta Mer- ... E ENCOMENDA Uberdade) e a vigilância das Tis já existentes.

cantil, 31/03/97) (ver capítulo Desenvolvi- ESTUDO DE VIABILIDADE No que se refere à saúde, almejam-se a melhoria
mento Regional/UHE) da infra-estrutura básica dentro e fora das áre-
Predisposto a apoiar a criação do Instituto
as indígenas, a viabilização de um sistema de
Raoni, o governo francês, através da ONG de
RAONI BUSCA NA transporte que assegure a transferência dos
pesquisa Gret (Paris) constituiu uma equipe
EUROPA APOIO PARA ,

multidisciplinar para avaliar a viabilidade do


doentes para os hospitais da região e investi-

CRIAR INSTITUTO... mentos na formação de agentes indígenas de


empreendimento. Quatro consultores, das áre-
saúde. Quanto à educação, duas são as princi-
O cacique kayapó Raoni começa hoje, em Pa- as da sócio-economia, antropologia, saúde e
pais preocupações: a continuidade da transmis-
um novo giro pela Europa - o outro foi em infra-estrutura, foram encarregados de realizar
ris, são do saber tradicional e da cultura aos mais
89, ao lado de Sting - para arrecadar recursos estudos sobre os aspectos técnicos, institu-
jovens e a formação destes visando tanto a con-
para criar dois complexos, um médico-educa- cionais, econômicos, sociais, culturais e finan-
clusão do segundo grau no sistema escolar for-
cional e outro de pesquisas científicas, na re-
ceiros envolvidos no projeto.
mai quanto a aquisição de habilidades profissi-
serva da tribo, no Xingu. Raoni apareceu on- Entre julho e setembro últimos, a equipe reu-
onais para a gestão de projetos, organizações e
tem no programa de de maior audiência niu informações sobre experiências anteriores
tevê das relações de contato com os não-índios. 0
da França, o Vivement Dimanche, onde falou importantes envolvendo organizações indígenas
Instituto deveria, ainda, identificar e colocar em
sobre o perigo de destruição da Amazônia. No e esteve na região onde Raoni quer instalar o
prática projetos de alternativas econômicas à
dia 9, o índio será recebido pelo presidente fran- Instituto. No momento, os consultores estão re-
exploração florestal, tais como a agricultura e
cês Jacques Chirac e ainda segue para Bélgica, digindo as conclusões do estudo de viabilidade.
a venda de artesanato. (ISA, mai/OO)
Suíça e República Tcheca. (OESP, 01/05/00). A idéia inicial, de Raoni e demais lideranças
kayapó, é construir a sede da entidade no su-
COOPERATIVA INDÍGENA
GOVERNO FRANCÊS deste da TI Mekragnoti, próximo ao rio Liber-
... INAUGURA HOTEL
dade. As atividades da instituição abarcariam
GOSTA DO PROJETO...
mais de 1400 Kayapó, de sete aldeias: Piaraçu, Montar um hotel de selva na Amazônia é um
Ao receber o cacique Raoni, o presidente da Metyktire e Capoto, na TI Capoto/ Jarina; Baú, negocio lucrativo ao ponto de atrair o interes-
França, Jacques Chirac, deverá confirmar o na TI de mesmo nome; Kubenkokre e Pukanu, se das próprias comunidades indígenas. Em
apoio do país ao projeto para a criação de um na TI Mekragnoti; e Kokraimoro, na TI Kayapó. uma ilha do rio Xingu distante cem quilôme-
instituto destinado a assegurar o ccodesen- A proposta das lideranças kayapó é um Institu- tros do município de Altamira, a oeste do esta-
volvimento da reserva dos índios Kayapó no to que atue, principalmente, nos setores da de- do do Pará, a Cooperativa Mista de Produtores
Xingu. Para fundar o instituto, que receberá seu fesa e garantia das terras, saúde, educação e e Extrativistas (Campealla), formada por 1,2 mil
próprio nome, Raoni espera arrecadar US$ 3 alternativas econômicas. índios de nove tribos acaba de inaugurar o Ho-
milhõescom a campanha que ele está empre- No assunto “terra”, projetam-se ações para ga- tel Tataquara. Com um investimento de R$ 70
endendo nesse sentido em países europeus. rantir a regularização da TI Baú, a demarcação mil, financiados com recursos de fundações e
(OESP, 07/05/00 de uma nova área (Bytikrengri, na região do Rio ONGs internacionais, a pousada foi a altemati-

504 J
SUDESTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL
)

va para gerar renda sem grandes impactos para madeireira existente em suas terras. Para isso, que ocupa o cargo de chefe do posto Indígena
o ambiente. enviaram esta semana a Belém um de seus mais da Funai cm Colider (MT) justifica a aproxima-
1

Além de instalações ecologicamente corretas, conhecidos e polêmicos líderes, Paulinho Paia- ção dos índios aos madeireiros. ‘Se a Funai nada
abastecidas por energia solar e com sistemas kan, da aldeia ATkre. Ele vai acompanhar, a faz pelo índio, ele não vai viver de vento. Preci-
de tratamento de efluentes, o hotel também convite dos organizadores, os debates do III sa comer, vestir, comprar remédio", diz Mega-
colabora de tòrma indireta para a preservação Congresso Internacional de Compensado e Ma- ron. Reconhece, no entanto, que os índios são
da floresta. Os lucros da exploração turística deira Tropical e conhecer o que existe de mais enganados pelos madereiros. “Já estive várias
serão utilizados para reforçar a fiscalização nas moderno cm equipamentos e serviços que es- vezes reunidocom meus irmãos caciques mos-
terras indígenas da região, vítimas de constan- tão sendo oferecidos pela II Feira de Máquinas trando o problema. Acho que eles devem co-
tes invasões de madeireiras e garimpeiros. e Produtos do Setor Madeireiro. brar dos madeireiros um preço melhor para
Com 15 quartos distribuídos em duas cabanas “Vim aqui para aprender, aproveitar essa opor- continuar permitindo o corte do mogno nas
de madeira e palha e equipados com duas ca- tunidade para ver a tecnologia que estão usan- reservas", acrescentou. (O Liberal 08/11/98
mas, banheiro c telas dc proteção contra mos- do na exploração de madeira, como estão fa-

quitos, o Tataquara tem como público-alvo os zendo o reflorestamento, o manejo sustentado, ESQUEMA “ESQUENTA”
turistas estrangeiros. Nos cinco ha da ilha, os a comercialização. Quero saber como o índio MADEIRA ILEGAL
visitantes poderão percorrer trilhas abertas em pode trabalhar na floresta sem destruir”, afir-
ma Paulinho A Operação Mogno, desencadeada pelo Ibama,
meio ã mata virgem, passear por rios e sabore- Paiakan. É sua primeira aparição
ar frutas regionais colhidas na hora nas planta- pública depois do processo que respondeu na
em conjunto com a Funai e a PF, produziu um
relatório que mostra o esquema montado para
ções existentes próximas ao botei. Outra atra- Justiça, acusado de estupro.
“esquentar" mogno retirado ilegabnente de ter-
ção, ainda em construção, é uma maloca onde Paulinho Paiakan não vê nenhuma contradição
ras indígenas no Pará e uma relação de madei-
ficarão expostas para venda peças de artesana- entre a antiga imagem de defensor da ecologia
reiras envolvidas.
to indígena. e sua posição atual cm favor da exploração da
Entre as madeireiras autuadas estão pelo me-
A região é rodeada por aldeias indígenas- a mais madeira na reserva Kayapó. “As pessoas falam
nos duas (Exportadora Peracchi Ltda. e Indús-
próxima fica a apenas 40 minutos de lancha - em ecologia, em preservar tudo. Elas vão viver
tria Paraense de Madeiras-Ipama) que, em de-
mas a visitação a esses locais é proibida pela de quê, então? Elas têm que produzir. O que
zembro de 1992, assinaram declaração da As-
própria administração do hotel, que é contrária querem é que o índio preserve pro gringo, que
sociação das Indústrias Exportadoras de Madei-
à banalização da cultura indígena comum em vai viver melhor e não ajuda o índio. E nós, va-
ra do Estado do Pará (Aimcx) garantindo aos
estabelecimentos deste tipo. Isto não significa que mos continuar sofrendo?", pergunta Paiakan.
compradores internacionais que não
os hóspedes deixarão de ter contato com as “Nos últimos 500 anos o homem branco só fez
comercializariam madeira de terras indígenas.
etnias que povoam as reservas no Xingu. Os gui- destruir a natureza e agora está querendo con-
No documento, averbado em cartório por cada
as para os passeios nas trilhas, por exemplo, são vencer o índio de que ele tem que preservar o
uni dos 20 signatários, a Aímex se comprome-
da etnia Wai-Wai. À noite, os visitantes poderão que ainda resta". (Gazeta Mercantil, 05/11/97)
tia a realizar a autofiscalização e excluir da en-
ouvir histórias e lendas contadas por índios.
Entre tis entidades financiadoras do empreen- CONTRABANDO DE MOGNO tidade as empresas que exercessem essa ativi-

dade ilegal.
dimento detaca-se a Fundação Bocly Shop, da LEVA11$ 300 MI POR ANO
Inglaterra, responsável por 50% dos investimen-
A Operação Mogno, durante ação realizada na
Entidades ambientalistas, empresas madeireiras Terra Indígena Mekranotire, em agosto de 1998.
tos. Operadoras de turismo da Suécia e da In-
e o Ibama estimam que cerca de US$ 300 mi- apreendeu farta documentação utilizada para
glaterra já começaram a vender pacotes para o
lhões são apurados anualmcnte com a extração "esquentar” a madeira. Foram 21 Autorizações
Tataquara. Aprovados pela cooperativa, os pa-
clandestina de mogno em áreas indígenas. As de Transporte de Produtos Florestais (ATPF),
cotes preveem grupos com um máximo de seis
populações indígenas envolvidas diretamente em preenchidas como se 0 mogno fosse originário
pessoas e tempo mínimo de permanência de
lais negócios clandestinos dos madeireiros são do Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS)
três dias. Os hóspedes do Tataquara passam
os que menos lucram com a operação. Os 3138/94 da Madeireira Universal, cujo projeto
primeiro por Altamira e, depois, seguem para
Kayapó, Xikrin, Arara e Assurini que permitem localiza-se ao lado da área Mekranotire, e, conto
o hotel, em viagem de três horas subindo as
o corte de uma árvore de mogno recebem por destinatário, a Madeireira Marcou Ltda., locali-
águas escuras do rio Xingu, (Gazeta Mercan-
volta de R$ 50,00. Depois de cortada em toras, zada na cidade de Castelo dos Sonhos (Pa).
til 04/07/00)
a mesma árvore chega a alcançai' R$ 2 1 mil no , As toras de mogno apreendidas no da interior
mercado internacional. Reserva ostentavam numeração sequencial e a

EXPLORAÇÃO Em novembro de 1998, os fiscais do Ibama cons- marca “L”, que identificava 0 seu extrator. Toras
tataram irregularidades em 12 madeireiras da com essa mesma marcação e sequência numé-
DE MADEIRA região. Nenhuma delas conseguiu comprovar a rica foram localizadas no pátio da Madeireira
origem do mogno estocado em seus pátios. Em Marcon e foram também apreendidas.
LÍDER KAIAPÓ VAI A Redenção, os fiscais localizaram 15 mil nr' de Com essas informações, 0 Ibama passou a fisca-
ENCONTRO MADEIREIRO mogno escondido próximo de uma aldeia Kayapó. lizar as madeireiras de São Félix do Xingu,
Os fiscais do Ibama encontraram também nas Tucumã e Redenção (no Pará), identificadas
Os índios Kayapó, considerados um dos gru- madeireiras pianos de manejo falsificado, o que como as principais receptoras da madeira. Foi
pos indígenas que historicamente têm várias levou a presidência do Instituto à certeza que o confirmado que os projetos foram superdimen-
contribuições a dar para a exploração racional mogno fora retirado de terra indígena. sionados, ou seja, não existe volume de mogno
dos recursos naturais da região, resolveram as- Acusando a Funai dc não oferecer alternativas na quantia alegada. A diferença d enxertada com
sumir de vez a exploração da imensa reserva econômicas para os Kayapó, o cacique Megaron, a madeira das reservas indígenas, legalizadas

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 505


através dos documentos e créditos florestais con-
cedidos pelo Ibama. A Instrução Normativa que
paralisa a exploração do mogno nessa região
continua em vigor. ( Pambólicos/ISA , nov/98)

KAYAPÓ/GERAL

BOICOTE Às
ELEIÇÕES MUNICIPAIS
Cerca de 3 mil índios Kayapó de várias áreas do
sul do PA decidiram boicotar as eleições muni-
cipais deste ano, embora estejam aptos a votar.
Só em Redenção, cerca de 1,2 mil índios elei-
tores não compareceram às umas e as princi-
pais lideranças, entre elas Kube-Í e Paíakan, não
se empenharam em deslocar a comunidade para
a cidade, alegando dificuldades financeiras. A
decisão dos índios é uma represália ao atual
prefeito de Redenção, Wagner Fontes, conside-
rado inimigo dos Kayapó. Embora inimputáveis,
os Kayapó têm o direito de votar por terem sido Os Kayapó com o ministro do Meio Ambiente, Sarney P, em Brasília:

alistados na época em que Redenção foi funda- acordo para barrar a exploração madeireira.

da. Como a cidade precisava de um número


mínimo de eleitores para ter Câmara Munici- mais de três meses depois de o Ibama declarar locou em alerta a comunidade indígena e a
pal, os índios foram convidados a participar moratória na exploração e comercialização do Funai. O índio Berê Kaiapó, de 1 8 anos, foi con-
do pleito sem, no entanto, ter qualquer repre- mogno no sul do Pará. taminado pelo vírus HIV e já apresenta sinto-
sentante da comunidade entre os candidatos. O acordo, assinado por 18 Kayapó, pelo minis- mas da doença. O cacique Tapiê, chefe do Pos-
(O Popular, 04/10/96) tros do Meio Ambiente (Samey Filho) e dajus- to indígena da Funai no município confirmou
tiça (Renan Calheiros) e pelos presidentes da que este é o único caso entre os 3.500 Kaiapó
CONVÊNIO COM BODY SHOP Funai (Otacílio Antunes, interino) e do Ibama da região: “Eu não sei nem o que dizer numa
(Eduardo Martins, demissionário) ,
suspende hora dessas, mas isso deixa a gente com medo”,
A Funai, na condição de representante oficial
qualquer negociação entre índios e madeirei- disse o cacique. Ele comentou que o médico
dos índios Kayapó, e a Body Shop Internacional
ros. Ao mesmo tempo, a madeira já abatida e Gerson Buena Filho, diretor do Hospital Indí-
PLC, empresa inglesa, assinaram um convênio
que ainda permanece dentro das terras Kayapó gena de Redenção, pediu à Funai em Brasília

no dia1 de agosto de 1997. 0 objetivo do acor-
terá seu valor avaliado e será comercializada medidas urgentes para evitar pânico entre os
do é o treinamento dos índios Kayapó das al- com autorização do Ibama. Os recursos obti- índios. Segundo o médico, o Ministério da Saú-
deias de A-ükre e Pucany para o autogeren-
dos serão depositados em conta especial admi- de deve mandar uma equipe médica e especia-
damento do contrato de venda de óleo de cas- nistrada pela Funai e utilizados em projetos sus- listas para fazer um estudo da situação de to-
tanha-do-pará com a Body Shop. 0 valor do
tentáveis nas comunidades Kayapó. das as aldeias Kayapó. Um trabalho preventivo
convênio, iniciado-se em agosto de 1997, com Os órgãos federais se comprometem a trocar deve ser feito imediatamente. Berê está toman-
duração de 8 meses, foi de RS 60.460,00. (DOU,
informações e a cooperar tecnicamente entre si do o coquetel de medicamentos para eliminar
28/08/97) para executar as ações previstas no documen- o HIV e reforçando sua alimentação. Ele já teve
to. Cabe-lhes, ainda, dar andamento à imple- várias infecções oportunistas, que têm atacado
GOVERNO E KAYAPÓ mentação de planos de manejo florestal nas áre- seus pulmões. Fez tratamento para pneumonia
ASSINAM ACORDO as Kayapó, a treinar equipes indígenas para clas- e depois para tuberculose. O jovem Kayapó pode
CONTRA MADEIRA ILEGAL sificar e medir madeira e capacitá-los para a ter contraído a moléstia após ter mantido rela-

fiscalização das terras indígenas. 0 prazo de vi- ções sexuais com uma prostituta de Serra Pela-
Um acordo inédito, celebrado entre o governo
gência do acordo é de dois anos, a contar de em
da, Curionópolis. (O Liberal, 28/08/98)
federal e lideranças Kayapó, assinado no últi-
sua publicação no DOU. (Últimas Notícias/ISA,
mo dia 3 de fevereiro, pretende pôr fim à ex-
04/02/99) TUBERCULOSE
ploração predatória de mogno dentro de áreas
indígenas do sul do Pará. Tanto os índios como A tuberculose começa a atingir os índios do sul

a Funai e o Ibama se comprometem a conjugar KAYAPÓ/SAÚDE e sudeste do Pará, principalmenle os Kayapó,


esforços “visando a proteção c o uso racional que já apresentam cerca de 39 doentes em tra-
dos recursos naturais existentes nas terras in- tamento no hospital de Redenção. O hospital
dígenas Kayapó". Tais esforços concentram-se
AIDS ASSUSTA GOROTIRE está sem medicamentos e sem condições de tra-
especificamente sobre a exploração madeirei- Um primeiro caso de Aids entre os Kayapó na tar os doentes. A Funai de Redenção deve mais
ra nas áreas Kayapó. O acordo ocorre pouco aldeia de Gorotire, município de Redenção, co- de R$ 40 mil para fornecedores, e alega não

506 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


ter dinheiro para comprar medicamentos para
TI KAYAPÓ/GERAL VENDA FRAUDULENTA DA TI...
os índios. A verba repassada de Brasília serve
somente para pagar os funcionários do órgão A reserva indígena kaiapó, de 2,459 milhões de
no município. INDENIZAÇÃO A FAZENDEIROS ha, em São Félix do Xingu, foi vendida a uma
0 alto grau de incidência da doença, no entan- É JULGADA IMPROCEDENTE empresa norte-americana por Rí 1 milhão. Den-

to, preocupa os técnicos da Funai. Nas aldeias, tro da área, localizada entre os rios Xingu e Fres-
O juiz Urbano Leal Berquó Julgou improceden-
a desnutrição é grande e as precárias condi- co, estão cinco aldeias, onde vivem cerca de
te uma ação ordinária para indenização, pro-
ções de higiene facilitam o contágio da doen- 2.500 índios. A área foi demarcada e homolo-
posta por Waldír Martins de Moraes e Geraldo
ça. O médico Luís Rogério Miranda afirma ha- gada pela Funai em 1991, mas entrou no negó-
Lucas, contra a União, o Incra e a Funai. Ou
ver risco de contágio entre os Kayapó e infor- cio como se nunca tivesse existido. A escritura
autores pretendiam receber reparação pecuni-
ma que os agentes de saúde estão “tentando pública de compra e venda foi lavrada no dia 9
ária pela áreade 13 mil ha, denominada Fazen-
rastrear as pessoas que podem ser expostas à de setembro do ano passado, enquanto o regis-
da Paraíso do Norte, que foi agregada às terras
íioença. Esposas, filhos, irmãos dos doentes são tro foi feito no dia 10 de fevereiro deste ano. No
Kayapó. Em julho de 1981, os autores da ação
comunicados, para que se possa fazer o exame lugar da terra dos índios, o que aparece no re-
haviam comprado a fazenda de Antonio Alcazas
de prevenção.
gistro de imóveis e na escritura do Cartório de
Martin. Em outubro de 1991, um decreto fede-
O maior problema, segundo o médico, é a re- Notas de São Félix do Xingu são as fazendas
ral homologou a demarcação da TI Kayapó, in-
sistência dos índios a fazer tratamento comple- Carapanã e Santa Margarida, com 3,176 milhões
corporando terras da fazenda.
de ha, supostamente de propriedade do agri-
to. Embora a tuberculose tenha cura, muitos Na sentença, o magistrado afirmou que, pela
cultor paraense Jovelino Nunes Batista. Nessa
índios abandonam o tratamento assim que co- documentação arrolada, prova-se que a área em
meçam a sentir melhoras em seu estado geral. área toda cabe o Estado de Alagoas inteiro e mais
questão já fazia parte da reserva. Além disso,
Deixar de tomai os medicamentos, no entanto,
1 seis cidades do tamanho de Belém. Mesmo exis-
“os proprietários, por serem pessoas esclare-
é um grande erro, e pode mesmo ser fatal. tindo informações da Funai e do Incra, em
cidas, com formação superior, não se pode su-
Quando interrompido o tratamento, o bacilo Brasília, suficientes para impedir qualquer ne-
por que adquiriram fazenda limítrofe com anti-
gócio, a transação foi realizada. E, pior, até agora
transmissor da tuberculose torna-se resistente ga reserva indígena sem saber o risco que cor-
ao remédio, e isso aumenta o perigo de conta- não foi cancelada. Levantamento feito nos ar-
riam”. Ainda segundo o juiz, “se a ocupação ti-

minação. quivos do Incra de Belém e Marabá revelou não


vesse se dado de boa-fé, ou seja, se os autores
existir qualquer título de posse emitido sobre
Além da tuberculose, as doenças sexualmente não tivessem conhecimento ou não pudessem
transmissíveis, inclusive a Aids, também preo-
uma área de terra desse tamanho em todo o
prever a eiva existente quando da aquisição da
Pará.
cupam as autoridades sanitárias. Entre os propriedade, poderia ser arbitrada indeniza-
Kayapó, já foram detectados dois casos de Aids.
Paraíso da grilagem - A facilidade existente
ção”, salienta o juiz federal. (O Popular - Goiâ-
Um programa de prevenção ao vírus transmis- para “esquentar" um registro ou escritura de
nia, 21/04/96)
sor da Aids será implantado até julho deste ano
imóvel em São Félix do Xingu transformaram o
município no paraíso da grilagem de terras no
nas comunidades indígenas do Pará, sobretu-
KAYAPÓ CONTRA sul do Pará. Há cinco anos, levantamento feito
do nas aldeias kayapó. À estratégia da Funai e
PRESIDENTE DA CÂMARA pelo Incra e pelo Iterpa na região constatou que
do Ministério da Saúde será instalar laborató-
a maioria dos registros expedidos pelo cartó-
rios nos postos de saúde nos municípios próxi- Guerreiros Kayapó, em número de 75, ocupa-
rio de NoLts e do Único Ofício daquela cidade
mos às aldeias e em hospitais, para atender ram as ruas de Cumaru do Norte, a 150 km de
somente os índios. (O Liberal, 25/03/99) Redenção (PA), para garantir a realização de eram falsos. Apesar dessa constatação, nenhu-

uma sessão extraordinária na Câmara Munici-


ma. providência foi tomada pelo Tribunal de
Justiça para sanar as irregularidades ou punir
SEDE DA FUNASA É INVADIDA pal convocada para votar o pedido de afasta-

mento do presidente, vereador Divino Lourival os responsáveis. Com a omissão do Poder Judi-
Cera índios Kayapó ocupam desde domingo a Vieira da Cunha, conhecido por “Divino Dentis- ciário c a inércia do Incra para proteger as ter-

sede da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) ras da União Federal na região, a situação no
ta”, Para evitar o que já aconteceu no dia 21,
cm Redenção, no sul do Pará. Eles exigem re-
quando a sessão teve quebra-quebra e tiros, o
município chegou ao fundo do poço. (O Libe-
médios, melhor atendimento médico e melho- rai, 19/12/99)
comando do Batalhão Araguaia enviou à Reden-
rias físicas nos postos de saúde de suas cinco
ção um contingente de oito policiais militares.
aldeias em São Félix do Xingu, e dizem que só Além dos índios e dos correligionários do vere- ... DEVE SER ANULADA
deixarão o prédio quando a direção da Funasa
ador, há um terceiro grupo envolvido na dispu-
em Brasíliauma resposta positiva. Os índi-
der
ta,formado por homens que teriam sido con-
O procurador da República e dos Direitos do
os mantiveram uma antropóloga da Funai e três Cidadão no Pará, Ubiratan Cazetta, determinou
tratados pelo prefeito Ronaldo Aquino Bonfim
funcionários da Funasa como reféns até ante- ontem a abertura de procedimento interno para
e que estariam armados. O presidente da Câ-
ontem. No início do ano, o governo destinou requisitar do cartório de Notas e do Único Ofí-
mara está sendo acusado por crimes adminis-
R$ 2,8 milhões para os postos da área e três cio de São Félix do Xingu, no sul do Estado, a
trativos e falta de decoro parlamentar. Dos nove
parcelas de Rí 500 mil foram liberados.
“O que apresentação de todos os documentos relati-
vereadores, apenas dois apoiam Divino Dentis-
mais deixa os índios revoltados é que não se vos à transação que envolveu a venda de
ta. A presença dos Kayapó foi convocada peio
sabe como esse dinheiro foi usado”, disse o 3.1 76.000 ha de terras à empresa norte-ameri-
vereador Tapiêt, interessado na cassação do
cacique Tokran Kaiapó, administrador da Funai cana 'Workhvide Ecologícal Handling Timber
presidente da Câmara. (O Liberal, 24/08/96)
em Redenção. (OESP, 06/09/00) Corporation Limitada. Dentro da área, negoci-
ada pelo procurador do agricultor paraense
Jovelino Nunes Batista, o engenheiro químico

POVOS INOÍGENAS NO BRASIL 1 936/2000 • INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ 507


)

gaúcho Amir Santos Jobim, estão 2.459.000 ha to de replantio de mogno para exploração sus- Machado, que acusa as empresas madeireiras
da reserva indígena Kaiapó. A venda foi efetua- tentável. No projeto, o replantio começaria pela de derrubar indiscriminadamente a floresta,

da em setembro do ano passado, mas o regis- área da aldeia A’Ukre, da qual Paiakan é líder, e interessadas apenas no lucro. "Quanto aos ín-

tro do imóvel no cartório daquele município se espalharia por toda a reserva Kayapó. (O Li- dios, eles estão sendo aliciados pelas madei-
ocorreu em fevereiro de 99. berai 18/06/96) reiras para permitir a derrubada do mogno",
O cacique lreô Kayapó não gostou de ficar sa- disse o delegado. Em Belém, a chefe substituta
da Divisão Fundiária da Funai, Edna Miranda,
... MAS É ACUSADO DE
bendo que a reserva de seu povo foi negociada
com uma empresa estrangeira: "O que eu que- endossou as palavras do delegado da PF, acres-
NEGOCIAR COM MADEIREIROS
ro é saber quem é que vai ter a coragem de centando que os índios mais jovens andam nos
entrar nas nossas aldeias e tomar posse. Os ín- O delegado Adolfo Machado, da PF de Marabá aviões das empresas e “são levados para farras

dios não vão deixar. Vai ter guerra no Xingu”. A (PA), pediu ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, em boates de São Félix do Xingu”. A falta de
voz do cacique no telefone da Funai de Reden- providências urgentes contra empresas madei- recursos, tanto da PF como da Funai, tem difi-

ção, no sul do Pará, é de alguém muito nervo- reiras que estão extraindo e vendendo ilegal- cultado a realização de um trabalho permanente
so. Uma funcionária do órgão pede o telefone e mente mogno das Ais Kayapó e Apiterewa (ver contra a retirada de mogno das terras indíge-

anuncia que os índios já se comunicaram com TIApyterewa) na região de São


,
Félix do Xingu. nas. “Nós estamos iguais, compartilhando as
todas as aldeias de São Félix, contando a novi- Os índios, segundo denúncia feita por empre- mesmas carências”, explicou Machado. Ele
dade. (O Liberal, 21/12/99 gados das madeireiras à PF, teriam autorizado a anunciou que no próximo dia 17, agentes da
invasão pelas empresas, e, em troca, estariam PF e técnicos da Funai estarão nas duas reser-

recebendo gordas comissões pela venda da vas para "botar um freio na devastação do mog-
KAYAPÓ A UKRE madeira. Um dos acusados de receber dinheiro no”. (Diário do Nordeste, 15/01/97)
das madeireiras é o cacique Paulinho Paiakan.

PAIAKAN QUER EXPLORAÇÃO premiado na Europa e EUA como defensor da


floresta amazônica.
SUSTENTÁVEL DE MOGNO...
“Não é querer defender o cacique Paiakan, mas
Paulinho Paiakan está empenhado em conse- ele é quem tem menos culpa pelo que está acon-

guir um financiamento do Bird para um proje- tecendo na reserva dos índios”, argumentou

PINKEITl, UMA EXPERIÊNCIA EM PESQUISA E CONSERVAÇÃO


Hm 1992, a pedido da comunidade da aldeia palmeiras e enclaves de cerrado e de campos rupes- • Realizar pesquisa básica de qualidade naquela
AVkre, a Fundação Oavid Suzuby do Canadá e a tres, quando ocorrem afloramentos rochosos. Deve que é uma das últimas áreas prístinas do cinturão
Conservation International do Brasil montaram ser mencionado que esjiécies de grande porte, seco da Amazônia Orientai Apesar de ser uma
uma estação de pesquisa científica com o objeti- mesmo aquelas mais propensas à extinção devi- área de alta importância ecológica, por estar no
vo de estudar a mata da região e, desta forma, do a atividades antrópicas, vivem em altas densi- encontro da mata amazônica e dos cerrados, até
auxiliar a comunidade na busca de alternativas dades na Reserva. o momento são poucos os trabalhos já realizados
de uso sustentável de recursos florestais. Na oca- A rara combinação de uma área imensa de ecossis- no local.
uma área de 10 mil lm, onde
sião, foi estabelecida temas prístinos de grande valor biológico, baixís- • Ser um centro de treinamento de profissionais

a comunidade se propôs a não caçar e não retirar simas densidades populacionais e o costume kaya- da área de conservação de biodiversidade. É in-
madeira. Criou-se, assim, o Projeto Pinkeiti. pó de patrulhar e defender seu territóriofaz dessa centivada a realização de trabalhos de pós-gra-
Nessa base de pesquisas, estudantes do Brasil e do Reserva uma área particularmente promissora duação de estudantes de universidades brasilei-
exterior tem desenvolvido pesquisas científicas so- para a conservação de biodiversidade e ideal para ras e estrangeiras.
bre espécies de grande relevância ecológica ou eco- o investimento de recursos de conservação. • Pesquisar a ecologia de espécies florestais de
nômica. Den tre as espécies estudadas figuram o Os objetivos do Projeto Pinkeiti foram formula- importância econômica, relevantes para desen-
mogno, a castanheiro, palmeiras de grande porte dos a partir do reconhecimento da importância volver planos de exploração sustentável que pos-
e espécies animais como cutias e jabutis. dessa Reserva para a conservação dafloresta ama- sam ser aplicados não apenas na Al Kayapó, mas
A base de pesquisas do Pinkeiti está localizada a zônica, da necessidade de se direcionarem esfor- também em outras regiões da Amazônia.
cerca de 20 km da aldeia A Vkre. O acesso à aldeia ços para sua conservação e da falta de conheci- • Implantar projetos de exploração dos recur-
éfeito através de avião, a partir da cidade de Re- mento ecológico básico sobre a região. O projeto sos naturais da Reserva que ajudem as comuni-
denção, localizada a aproximadamente 200 km a apoia-se no princípio de que esforços efetivos de dades indígenas a obter renda suficiente para
leste. Da aldeia, o acesso à base é feito de barco, conservação nessa Reserva devem ser articulados atender às suas necessidades sem depredar tais
pelo rio Riozinho, afluente de segunda ordem do em cooperação com a comunidade indígena, e que recursos ou comprometer os processos normais
rio Xingu. A base de pesquisas conta com acam- a preservação de seus ecossistemas depende do de regeneração da floresta madu ra. Tais proje-
pamento, placas solares, barco, motor de popa e bem estar dessa comunidade, bem como da ma- tos variam desde a implantação de um progra-
cozinheiro. nutenção de sua integridade cultural. Resumida- ma de exploração sustentável de mogno à
Localizada no alto da bacia do Xingu acima de , mente, seus objetivos são: visitação da reserva por pequenos grupos de tu-
muitas corredeiras e cachoeiras, a área permane- • Servir de canal de comunicação entre as comu- ristas.

ceu preservada, entre outras coisas, graças às di- nidades indígenas e o mundo exterior. Para a con- • Canalizar para a Reserva recursos de diversas
ficuldades de navegação nos rios da região. A ve- servação a longo prazo dessa área. é importante que fontes,como de empresas ou ONGs brasileiras e
getação predominante é de floresta aberta mista. a sociedade brasileira e a comunidade internacio- internacionais, para a implantação de projetos
Destaca-se a extrema heterogeneidade de suas nal tenham consciência da importância de sua con- que venham a melhorar a qualidade de vida de
fisionomias,com castanhais cujo dossel chega a servação e mantenham-se informadas sobre seus suas comunidades. (Claudia Baider, Adriano Jero-
30 metros de altura, florestas de cipós, tnatas de problemas e as ameaças que possam vir a sofrer. zolimski e Rodolfo Salm, niai/00)

508 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


CASO PAIAKAN E ALDEIA AUKRE SE
... não podia aceitar isso", disse o advogado, “pois

MOBILIZA EM SUA DEFESA todos sabem que Paiakan fala perfeitamente o


português, tem consciência das leis do país e
CONDENADO A SEIS Reunidos em assembléia permanente, os Kayapó vive como um homem branco quando está na
da aldeia A'Ukre advertiram que não deixarão
ANOS POR ESTUPRO... cidade”. Castro confirma que no caso de
nenhum oficial dejustiça ou policial entrar na
Irekranjtá de fato dificuldade de comunicação,
O cacique Kayapó Paulinho Paiakan e sua mu- aldeia para prender o cacique Paiakan. Comer-
que ela não fala o português. 0 advogado vai

lher Irekran foram condenados pelo Tribunal ciantes e autoridades de Redenção, no sul do
entrar com um recurso junto ao STF argumen-
dejustiça do Pará no processo em que são acu- Pará, temem distúrbios na cidade, provocados
tando a incompetência do Tribunal de Justiça
sados de atentado violento ao pudor contra a pelos índios. Os Kayapó exercem grande influ-
do Estado do Pará para julgar Paiakan e Irekran.
professora primária Sílvia letícia, em 1992. ência na vida econômica e social do municí-
(O Liberal. 24/12/98)
O cacique foi considerado “aculturado" pela 2’ pio. Paiakan voltou a criticar a decisão dajusti-
Cfunara Criminal e condenado a seis anos de ça, afirmando que “os juizes dos brancos são
cadeia na Penitenciária Fernando Guilhon. muito complicados”. FJe disse que bebeu mui-
DECISÃO DO STF
Irekran, considerada pardalmente imputável por to no dia do estupro, mas acusou sua mulher, IMPEDE PRISÃO
estar se adaptando à sociedade branca, foi con- Irekran, pelas agressões físicas e sexuais con- Argumentando que os acusados sofreram cer-
denada a cumprir pena igual em regime semi- tra Sílvia letícia.
ceamento de defesa em julgamento por estu-
aberto, na aldeia de AUkre. O processo correu O presidente da Comissão de Direitos Humanos pro da professora, o presidente do STF, Celso
por seis anos na Justiça. Esta é a primeira vez da OAB o advogado José Carlos Castro, foi acio-
de Mello, concedeu ontem liminar que impede
que a imputabilidade de Paiakan é derrubada nado por Paiakan para defendê-lo na fase de a prisão do cacique Paulinho Paiakan. A liminar
pelajustiça. No fim dos anos 80, ele foi proces- recursos do processo em que foi condenado, suspende a expedição de mando de prisão con-
sado com o cacique Kubeí e o antropólogo ame- em segunda instância, a seis anos de reclusão tra Paiakan e sua mulher.
ricano Darrel Posey. acusados pelo Ministério numa penitenciária estadual. “Sou inocente. Não Celso de Mello aceitou os argumentos dos ad-
da Justiça de denegrir a imagem do Brasil nos violentei a Quem fez isso foi a mi-
Sílvia Letícia.
vogados de Paiakan de que ele e sua mulher
EUA, por terem denunciado em Washington o nha mulher, por ciúmes”. Castro é o mesmo sofreram cerceamento de defesa porque só ti-

descaso do governo com a questão indígena. O advogado que o defendeu em outros processos. veram direito a um advogado de defesa nomea-
processo previa a expulsão dos três do Brasil. Castro estava defendendo Paiakan também nes-
do pela Justiça em Redenção. Em 1994, eles
Apesar de absurda, o que livrou os caciques da te caso envolvendo a professoraLetícia, mas se
foram julgados e absolvidos pelo juiz local, ape-
punição foi o fato de serem tutelados pela Funai. retirou quando a própria Funai sugeriu que a sar de um ter acusado o outro do crime.
A defesa dos Kayapó deverá ser acionada em 15 defesa de Paiakan utilizasse um intérprete para
O casal permanecerá em liberdade, de acordo
dias, quando os advogados devem recorrer, evi- traduzir os depoimentos de Paiakan, reforçan-
com a liminar, até o julgamento pelo STF do
tando a prisão de Paiakan. (JB, 23/12/98) do a tese que o cacique não era aculturado. “Eu pedido de anulação do processo judicial, apre-

sentado pelos advogados Luís Francisco Carva-

IMAGEM
lho Filho e Maurício Araújo. “A nomeação de
um só defensor técnico para acusados que apre-
sentem teses conflitantes compromete o direito

GAUOÉNCIO/FOLHA
de defesa e frustra a eficácia do princípio cons-
titucional no qual ele tem assento, gerando em
conseqüência, irremissível (inevitável) nulida-
de processual”, afirma o presidente do STF. (FS1'.
ANTONIQ

27/01/99)

PEDIDO DE HABEAS CORPUS


Ê NEGADO PELO STF
A primeira turma do STF negou ontem pedido
de habeas corpus em favor do líder kayapó
Paulinho Paiakan, condenado pela Justiça do
Para a seis anos de prisão pelo estupro de uma
estudante na cidade de Redenção, em 1992. O
julgamento derrubou liminar concedida em ja-

neiro pelo então presidente do STF, Celso de


Mello,que impedia a prisão do índio. Um dos
advogados de Paiakan, Luís Francisco Carvalho
Filho, afirmou que está estudando outras medi-
das jurídicas para tentar impedir a prisão. Se-

Paiakan e Irekran, na sessão do júri na Câmara Municipal de Redenção (PA) gundo ele, “o STF negou a Paiakan a condição
que os absolveu, em 1994, por falta de provas. de índio. Essa decisão equivale a uma sentença
de morte, já que ele não conseguirá sobreviver
em uma prisão*'. (PSP, 17/12/99)

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE D0 PARÁ 509


JUSTIÇA NEGA TERCEIRO PEDIDO DE HABEAS CORPUS
Junho de 1992: o Brasil estava repleto de políti- norte-americano The Washington Post, por sua tataraneto de um índio que mora em São Paulo e
cos e ambientalistas do mundo todo reunidos atuação em busca de um modelo ecologicamente é banqueiro ", afirma.
para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio equilibrado na exploração dos recursos florestais Nos pedidos de habeas corpus, eles não entram
Ambiente e Desenvolvimento a ECO-92, sediada
, da Amazônia. no mérito da culpabilidade de Paiakan. mas das
no Rio de Janeiro. Na mesma data, Paulinho A partir de então, uma intrincada rede de wrsões, nulidades que caracterizaram seujulgamento. “0
Paiakan, um Kaiapó que vinha tendo sua ima- controvérsias e troca de advogados marcaram o objetivo é anular o processo para que ele sejajul-
gem veiculada na mídia internacional como processo que culminou na condenação de Benka- gado com um mínimo de 'civilidade' jurídica",
ícone indígena do ecologismo, acaba servindo de roty Kaiapó, ou Paulinho Paiakan, em dezembro diz Carvalho Filho.
mote para outra espécie de campanha, que visa- de 1998, a seis anos de prisão em regime inte- Em novembro de 94. Paiakan e lrekran tinham
va questionar movimentos ambientalistas e de gralmente fechado. Os advogados Luís Francisco sido absolvidos da acusação de estupro e atenta-
defesa dos direitos indígenas. Sob o título de “0 de Carvalho Filho e Maurício de Carvalho Araújo do violento ao pudor, pela ausência de provas
uma matéria na revista Veja relata que
Selvagem ", foram então convidados a entrar no caso e detec- materiais. Ficou provado que lrekran agrediu a
Paiakan teria estuprado umajovem "branca de ", taram uma série de nulidades que, em seu pare- jovem, mas, por ser indígena, elafoi considerada
IB anos, na cidade de Redenção (PA). Posterior- cer. invalidariam o julgamento. inimputávcl. Porém, o Ministério Público recor-
mente, grande parte das cenas de violência des- No último dia 22 de agosto, os advogados tiveram reu e o Tribunal deJustiça do Pará condenou Paia-
critas na reportagem foram desmentidas por lau- seu terceiro pedido de habeas corpus negado. Car- kan a seis anos de prisão em regime integralmente
dos periciais. Na ocasião, ambientalistas e an- valho Filho acredita que essas derrotas devem-se fechado, por ser "acultnrado".
tropólogos presentes na Eco 92 saíram em defesa ao preconceito que existe contra afigura de Paia- Até agora, o mandato de prisão não foi cumpri-
de Paiakan. kan e, de maneira mais ampla, contra índios que do. Atualmente, Paiakan está em A Ukre e recu-
Pouco antes, a imagem do índio esteve estampa- enfrentam situações de conflito em seus estados. sa-se a sair da TI, onde já cumpriu dois anos e

da na capa de outra revista e por razões bem di- Nesses tribunais, Paiakan é considerado "bran- meio da pena de seis anos. Seus advogeulos pre-
versas: Paiakanfoi apontado como "The man who co", já que fala português, dirige automóvel e é tendem entrar com um novo, e último, pedido de
wouldsave tbe world" (“o homem que poderia sal- eleitor. "Mas essesfatores não apagam sua herança fjabeas corpus perante o Supremo Tribunal Fede-
var o mundo") no encarte dominical do jorna! cultural. Ele está sendo tratado como se fosse um ral. (Valéria Macedo, ISA, set/00)

KAYAPÓ KIKRETUM roupa do corpo na lancha de um comprador de KAYAPÓ K0KRAIM0R0


castanha conhecido como Gordo. 0 denunci-
ante acha que, com o fim da extração de ouro e
OCUPANTES DE ILHA NO madeira em suas terras, os índios ficaram na FLAGRADO CONTRATO
RIO FRESCO SÃO EXPULSOS miséria e desesperados. Em Tucumã, a família ILEGAL ENTRE ÍNDIOS
despejada pelos índios recorreu à polícia, mas E MADEIREIROS
índios Kayapó Kikretum invadiram e saquearam foi informada que deveria procurar a promoto-
uma ilha localizada entre as duas margens do ra da cidade, que remeteria o caso à Funai. (ISA,
Ima frente da operação de desarmamento do
rio Fresco, a 80 Km de Tucumã, no dia 22. A a partir de 0 Liberal, 27/03/96) governo federal, estabelecida em São Félix do
denúncia foi feita por telefone, ontem, de Xingu, descobriu a ligação de algumas madei-
Tucumã - para onde fugiu a família de Edvaldo reiras com a extração ilegal de madeira de re-
PF DESATIVA GARIMPOS
Castro de Abreu - por seu genro, Francisco servas indígenas. Numa serraria, os policiais

Ferreira de Almeida. Ele disse que na hora do Garimpeiros que extraíam ouro da reserva federais descobriram um contrato com os ín-

ataque estavam no local Edvaldo e sua família, Kayapó, nas proximidades de Tucumã, começa- dios Kayapó Kokraimoro, que previa o paga-
que ocupam a ilha há sete anos. ram a ser retirados pela PF que pretende mento de R$45,00 por metro cúbico de mog-
A invasão começou com a chegada de uma desativar nove garimpos irregulares da região. no, que pode ser exportado por cerca de
voadeira "lotada de índios" sob o comando do A operação foi comandada pela delegada Silvana R$800,00. A operação federal envolve 610 ho-
Capitão Niti (filho do ex-líder lútu Pombo), cujo Borges, e contou com o apoio de um helicópte- mens, sendo 300 do Exército, 200 da PK 80 da
objetivo aparente era caçar. Logo depois, apa- ro e de um grupo de elite do Comando de Ope- Polícia Militar e 30 da Polícia Civil. [Gazeta
receu um outro grupo de índios exigindo que rações Táticas Especiais da PF. Houve tiros para Mercantil, 15/04/97)
Edvaldo deixasse a ilha. Armados de cartuchei- o alto, mas a retirada foi pacífica. Esta não é a
ras e armas de repetição, os índios começaram primeira vez que os garimpeiros são expulsos
a matar porcos e galinhas, encostando a arma da área. Em fevereiro de 1994, a Justiça Federal
KAYAPÓ KUBENKANKREN
numa criança de sete anos. No domingo, dia havia mandado a retirada de cerca de cem mil
24, os índios voltaram. Segundo Francisco garimpeiros nos garimpos Santídio, Cumaru- FUNAI QUER FAMÍLIA
Ferreira, os prejuízos foram, então, totais: eles Mutum, Filomeno, Rio Bran-
zinho, Batéia 1 e 2, FORA DE FAZENDA
jogaram no rio o que não puderam levar, apos- co, São Francisco e Nhanquim, a maioria próxi-
sando-se de 66 sacas de arroz, quatro carros mos das aldeias Gorotire e Kriketum. (O Libe- A Funai deu prazo de até 1" de fevereiro para
de milho, todas as roupas, dois sacos de feijão, ral, 28/03/96) que o cacique Kayapó Pangrá, da aldeia Kuben-
três sacos de castanha e 40 dúzias de ovos. Ses- kankren, desocupe a fazenda Fortaleza, locali-
senta e seis porcos foram mortos pelos índios, zada no município de São Félix do Xingu. A fa-

segundo Francisco. zenda tem 32 mil ha, e foi invadida há mais de


A família de Francisco, que mora no lado do três anos por Pangrá, sua mulher e filhos. O
rio oposto às terras dos índios, fugiu só com a dono da fazenda, Aloísio Viana, acusa o caci-

510 SUDESTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


que de ler assassinado um de seus emprega- devem se reunir hoje em Pukanu para discutir gociar desde que os reféns permanecessem em
dos, o vaqueiro Sabino, posto fogo cm uma ca- decisões de João Melo consideradas prejudici- Pukanu. À Funai não aceitou a proposta dos
minhonete e destruído benfeitorias, além de um ais aos Kayapó, informou Ruth Kayapó, porta- Kayapó e o impasse continua.
equipamento de rádio amador. Viana afirma tam- voz dos índios. O líder Davi Kayapó disse que forem necessári-
bém que tiavia 4.500 cabeças de gado na fazen- O estopim da bomba Kayapó foi a morte de um os dez anos para que a liminar federal seja
da, c agora só restam 3.100. (CB, 28/01/98) ancião da aldeia Gorotire que, vitimado por revogada, esse é o tempo que os reféns vão ficar
malária, não recebeu assistência médica. As li- retidos na íddeia. Ontem, a pista de pouso do
CONFLITO NA deranças de Gorotire haviam pedido um avião Pukanu amanheceu interditada com troncos de
FAZENDA FORTALEZA para trasladar o doente até um hospital em Re- madeira e tambores de óleo. Segundo as lide-

denção. Mas João Melo não autorizou o frete da ranças, isso foi feito para impedir qualquer ten-
O fazendeiro Aloísio Viana acusou o líder
aeronave. Moirumu Kayapó, o mais velho índio tativa de resgate dos reféns. No final da tarde, a
kayapó Paulinho Paiakan de querer lomar "na
da morreu e o administrador não auto-
aldeia, pista foi liberada para que as equipes jornalísticas
marra" suas terras pura facilitar a venda ilegal
rizou a compra de um caixão para sepultar seu pudessem deixar a área. (O Globo, 15/02/96)
de mogno para as madeireiras dos municípios
corpo. João Melo teria também desautorizado
de Redenção e São Fé] ix do Xingu. A denúncia
que uma criança que quebrou o braço fosse ... E FUNAI LIBERA
foi feita à Polícia Federal de Marabá, sul do Pari
Os Kayapó impediram o empresário de entrar
transportada até Redenção de avião. Segundo o RECURSOS, SOLICITANDO
com 15 homens armados na fazenda Fortaleza,
líder João Pangrá- Kayapó, os Kayapó vão pedir FIM DO CATIVEIRO
a destituição do administrador ao presidente da
que o fazendeiro diz ser sua, O confronto foi
A presidência da Funai autorizou ontem a libe-
Funai, Márcio Santilli. (O Liberal, 12/02/96)
evitado por meio de intervenção da Polícia Fe- ração de R$ 1.4 milhão para saldar as dívidas
deral e da Funai. Segundo a Funai, a fazenda contraídas pelos índios em Redenção. Em men-
em questão está dentro da reserva indígena. O REIVINDICAÇÕES
sagem enviada aos índios, Márcio Santilli soli-
cacique Paulinho Paiakan tomou conhecimen- O Conselho dos Caciques Kayapó reúne-se hoje citou a soltura de João Melo para que ele assi-
to das acusações feitas por Viana, mas limitou- na aldeia Pukanu, onde permanecem como re- ne a documentação necessária à liberação dos
se a dizer que o denunciante não tem moral féns o administrador da Funai mais dois funcio- recursos. Mas isso não foi suficiente para que
para falar mal dos índios. “Ele é invasor das nários do órgão e o delegado da PF, íris João. os índios decidissem por fim ao cativeiro. Eles
nossas terras”. (A farde 16/02/98) ,
Os reféns circulam livremente pela aldeia, mas insistem na suspensão da liminar federal que
sempre acompanhados por guerreiros Kayapó. proíbe a comercialização de mogno e da entra-
TI BADJÔNKÔRE O aeroporto de Redenção teve um dia agitado, da de garimpeiros em suas terras.
É RECONHECIDA com muitos pousos e decolagens de aeronaves O presidente da Funai, Márcio Santilli, informou
Em abril de 1999 a Funai publicou os resulta- que conduzem grupos Kayapó para Pukanu. Os ontem aos Kayapó que o dinheiro obtido com o
dos do Relatório de Identificação e Delimita-
índios apresentaram uma pauta de reivindica- leilão da madeira líegalmente retirada da área
ção da Ti Badjônkôre, dos Kayapó Mebengrokrê ções: o afastamento imediato de João Melo da - apreendida em uma operação da PF com o

(Kubenkrankêng) localizada nos municípios de direção da ADR Redenção, e a revogação da Ibama está sob responsabilidade da Justiça
,

São Félix do Xingu e Cumaru do Norte, estado liminar federal que proíbe a exploração de ouro Federal. Segundo Santilli, os recursos serão li-

do Pará. O processo de reconhecimento da ter- e madeira dentro das terras Kayapó. “Antes desse berados para financiar projetos de longo pra-
ra foi iniciado pela reivindicação dos índios de documento, nosso povo não dependia do go- zo. Ontem mesmo a Funai solicitou que parte

uma faixa territorial, localizada na região sul verno”, disse um dos líderes da aldeia Pukatôty. do dinheiro seja destinado à aquisição de um
do estado do Pará, que liga a TI Kayapó em sua Ele afirmou que a Funai não dá conta de resol- imóvel em Redenção e de equipamentos neces-

porção sul/sudeste até alcançar os limites nor- ver os problemas dos índios e que só a libera- sários ao processamento de castanha, produto

te-nordeste da TI Capoto/Jarina, situada no es- ção do garimpo e do comércio de madeira pode exportado pela aldeia A’Ukre, de Paiakan. (O
tado do Mato Grosso, ocupada pelos Metuktíre reverter a situação. Em Redenção, a sede da Liberal, 16/02/96)

(ou Txukahamãe) . A TI Badjônkôre tem uma Funai permaneceu fechada ontem, com um avi-
superfície de 222.000 ha e 293 Km de períme- so “fechado por falta de pagamento”, colocada MPF PROÍBE COMÉRCIO
provavelmente pelos comerciantes da cidade. (O
tro. A Fazenda Fortaleza está dentro do períme- DE LOTES DENTRO DA TI
tro da terra Badjônkôre. (DOU 14/04/99) Liberai 13/02/96)
O MPF moveu ação contra o Interpa e compra-

JORNALISTAS TAMBÉM dores de lotes que ficam na Ti Menkragnoti. O


KAYAPÓ MEKRAGNOTI VIRAM REFÉNS... juiz federal da 3! Vara, em despacho ainda
interlocutório, já proibiu que esses lotes sejam
Cinco jornalistas que cobriam os acontecimen- transferidos, estabelecendo uma multa diária de
ADMINISTRADOR
tos na aldeia Pukanu, TI Menkragnoti, foram cem reais a quem desobedecer. 0 juiz argumen-
DA FUNAI É RETIDO tomados como reféns por dez horas pelos índi- ta que essa área indígena já está demarcada e,

Indignados com a postura radical do novo ad- os Kayapó. Os cinco homens foram surpreendi- mesmo que não estivesse, ela é reconhecida
ministrador de Redenção João Melo, os Kayapó dos na pista de vôo da reserva e impedidos de como terra de índios desde lei de 1950. A tute-

da aldeia Pukanu atraíram o servidor para uma sair. No Fim da tarde, o presidente da Funai, la antecipada que a procuradoria da República
cilada e o fizeram refém na reserva João Melo Márcio Santilli, entrou em contato com a aldeia requeria tem o saudável objetivo de preservá-la
está retido na reserva desde ontem, 1 1 de feve- propondo aos índios o transporte de todos os da exploração econômica e de evitar mais um

reiro, juntamente com um delegado da PF e reféns até Brasília. A proposta foi rejeitada pe- conflito fundiário que nos envergonharia. (O
outros dois servidores. Lideranças indígenas los índios, que aceitaram ir a Brasília para ne- Liberal, 28/06/96)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ 511


ADEUS BEPGOGOTI
,

Em 16 de novembro último, o líder Megaron Txu- deu as boas-vindas à primeira criança ali nasci- Junina aos Kayapó. Com a morte da esposa,
camtmõe anunciou a morte do cacique Bepgogoti, da - um menino que se chamou Bepgogoti. Bepgogoti se aliou a Kretire. A comunidade ficou
respeitado guerreiro Kayapó. Bepgogoti morreu no A história de Bepgogoti semprefoi peculiar. Órfão isolada até meados dos anos 60, quando missio-
dia 10 de novembro tinha quase cem anos e acu-
,
desde cedo, foi adotado por um influente mem- nários e representantes da Punai tentaram uma
mulava um vasto conhecimento da história e das bro da comunidade, que, anos depois, teve outro aproximação. Anos depois, nova cisão: Kretire e
tradições de seu povo.“Lamentamos muito o fa- filho, Ropni hoje líder de umas das comunidades
. seu grupo se separaram de Bepgogoti, que perma-
lecimento do nosso cacique, pois coube a ele de- Mekragnoti. neceu às margens do Iriri com cerca de 150 índi-
fender os nossos direitos, lutando ao lado de Raoni Durante a infância, Bepgogoti foi treinado pelo os. Kretire, por sua vez, voltou para o Xingu. Du-

e do cantor inglês Sting para demarcar nossas ter- cacique ancião Karanhi para assumira liderança rante mais de 15 anos, a sabedoria e a força mo-
ras. Admiramos muito este homem que, infeliz- dos Mekragnoti. Quase diariamente, ia visitar o ral de Bepgogoti aplacaram confrontos entre os
mente, a doença en velheceu e levou para longe de velho sábio para aprender as canções que todo lí- membros do grupo. Assim, ele ganhoufamae no-
nós", escreveu Megaron. der deve saber, os mitos do seu povo, sua história, vos adeptos, entre des, numerosos vizinhos Kayapó
Segundo ele, Bepgogoti foi um valente guerreiro práticas e táticas de guerra. Assim, à medida que que migraram para a comunidade dispostos a se-
Kayapó; lutou contra os Krenakore (os Panará) e crescia, Bepgogoti reforçava o sentimento de ter gui-lo. Em 1980, esse grupojá somava 300 índios.

contra facções dissidentes do seu próprio grupo. nascido para se tornar um bravo guerreiro, lou- () prestígio de Bepgogoti conquistou novas fron-
“Antes de morrer, pediu três vezes aos seus filhos vado pela sim coragem em desafiar e vencer os teiras. Muito procurado pela mídia, recusava-se
e netos que evitassem brigas e cisões", explicou vizinhos Krenakore. a abandonar sua aldeia para atender convites.
Megaron. “Só queria paz para os índios". Nofinal dos anos 40, novos líderes emergiram en- Corre a história de que ele sentava num tronco
Antes de perder Bepgogoti, os Kayapó viram desa- tre os Mekragnoti: Kretire e Kremoro acabaram in- de árvore e, por rádio, conseguia acalmar fac-

parecer também dois outros guerreiros lendários surgindo a comunidade e dividindo-a em duasfa- ções inimigas e líderes insurgentes distantes mais
- Kretire e Kremoro. Com a morte de Bepgogoti, ago- ções inimigas. Um terceiro grupo optou por se de 200 km. Mesmo velho e doente, continuou par-
ra, as músicas e as rituais nuiis tradicionais dopovo manter neutro, sob a liderança de Bepgogoti. Oano ticipando dos rituais indígenas e treinando no-
Kayapó correm o risco de se calar para sempre. de 1953 marcou as primeiras tentativas de conta- vos lideres. Sua morte representa uma grande
Em fins do século passado, um grupo de 200 dis- to dos Viüas-Boas na área do Parque do Xingu. As perda para os Kayapó: Bepgogoti era o mais velho
sidentes se separou dos Corotífe, a comunidade relações entre as duas facções estavam deteriora- líder Kayapó Mekragnoti vivo e um dos últimos
Kayapó de mais de dois mil índios que vive às mar- das a ponto de Kretire ter decidido instalar nova guerreiros tradicionais. Será lembrado ftela sua
gens do Riozinho, no Pará. Autodenominado aldeia entre os rios Iriri e Curuá. 0 líder Kremoro eloquência, sabedoria e senso de humor. (Gustaaf
Mekragnoti, ele se dirigiu a sudoeste, atravessou e seu grupo, por sua passaram a ser conheci-
vez, Verswijver, antropólogo do Royal Museum of Cen-
o rio Xingu e se instalou num descampado. Logo, dos por Txucarramãe, nome dado pelos índios tral África, Bélgica, nov/96)

KAYAPÓ TOMAM SERVIDORES EXIGEM DINHEIRO


... ... CASO CHEGA AO FIM,
E
FEDERAIS COMO REFÉNS ... PARA LIBERTÁ-LOS... SEM DINHEIRO NEM
Os índios Kayapó da aldeia Puicararanca, em Os índios Kayapó exigem que o governo federal
APREENSÃO DE MADEIRA
São Félix do Xingu, no sul do Pará, mantêm envie o dinheiro arrecadado com um leilão de Os 40 agentes do governo que estiveram reti-
como reféns desde a manhã de onlem 40 agen- mogno extraído ilegalmente de suas terras em dos pelos índios Kayapó dentro de uma
tes da Polícia Federal de Brasília e de Marabá e 1996 para libertar os 40 reféns. “0 Ibama ficou esplanada aberta por madeireiros nas margens
fiscais do Ibama. 0 grupo foi surpreendido e com o dinheiro e não deu nenhuma satisfação do rio Xingu, distante 120 km de São Félix do
cercado pelos Kayapó, que estavam armados de aos índios, que agora estão cobrando", disse o Xingu, no sul do Pará, puderam retomar on-
espingardas e facões, quando fiscalizava a ex- administrador do posto da Funai em Redenção, tem para a base da operação, no aeroporto des-
tração ilegal de mogno na reserva, que tem 2,4 cacique Tokran Kaiapó. Fie disse que os reféns ta cidade. A bordo de dois helicópteros Puma
milhões de ha. estão sendo bem tratados e desmentiu informa- da FAB, o pessoal do Ibama, Polícia Federal e
A ação dos índios ocorreu no mesmo dia em ções sobre supostos maus-tratos. Funai, integrantes da operação destinada a com-
que a PF anunciou o início da Operação Xingu, Em Brasília, as assessorias da Funai, do Ibama bater a exploração ilegal de mogno em territó-

para expulsar vários madeireiros que atuam na e da PF negaram que seus funcionários estejam rio indígena, deixou a reserva sem poder com-
reserva. A entrada de estranhos na área é proi- como reféns dos índios. Não é essa a mensa- pletar seu trabalho: a apreensão de cerca de
bida desde o ano passado pelos índios. Até gem que os Kayapó têm passado por rádio para 2,5 mil m' da madeira tida como uma das mais
mesmo policiais teriam de pedir autorização aos Tokran em Redenção. ”0 pessoal está proibido nobres.
caciques para ingressar no locai. de sair e é por isso que eu e o Megaron (chefe Impedidos pelos índios de procederem a me-
Para negociar a libertação dos reféns, os Kayapó do Posto da Funai em Colíder/ MT) vamos para dição e retenção das toras, sob a alegação de
exigem a presença de representantes do Minis- lá”, disse o cacique. Ele desconversou quando que se tratava de produto de sua propriedade,
tério Público Federal e da Funai. 0 chefe de perguntado se os índios continuam negociando os fiscais do Ibama tiveram de abortar a opera-
posto da Funai em Redenção, cacique Tokran a venda de mogno para madeireiras de Reden- ção nas terras indígenas. 0s índios alegam que
Kayapó, disse que não linha informações sobre ção e São Félix do Xingu: "Desconheço o pro- a madeira está sendo extraída de seu território

a situação dos reféns. "A única coisa que eu sei blema e nunca soube disso”. (Diário do Gran- e que não cabe aos brancos interferir.

é que meu povo ficou muito nervoso com esse deABC, 20/09/00) Embora no território kayapó parecesse haver
pessoal entrando na reserva sem qualquer avi- unanimidade sobre essa postura, outros líde-

so”, disse. (OBSP, 27/09/00) res da mesma tribo reunidos ontem à tarde pela
Funai disseram o que o governo queria ouvir.
Com o cacique Megaron como porta-voz, a re-

512 SUDESTE D0 PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 199S/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


pressão às atividades ilegais das madeireiras na ras portarias da Funai têm, hoje, mais força que KAYAPÓ DEFENDEM-SE
região foi defendida sob o argumento de que a própria Constituição. Para o deputado, na re- DE INVASÕES E EXIGEM
os índios sempre conseguiram sobreviver sem gião da TI Baú, o Incra, por força de um decre- DEMARCAÇÃO
explorar comercialmente os recursos naturais. to de desapropriação, assentou milhares de fa-

A principal queixa dos caciques que o gover- mílias, titulou as terras e a região prosperou. Pintados para a guerra e dispostos a não per-
é
no apreende a madeira retirada das terras in- (ISA. a partir de O liberal, 24/01/97) mitir a invasão de suas terras por garimpeiros,
dígenas e leva a mercadoria a leilão pela Justi- cerca de 280 índios Kayapó da reserva do Baú,

ça, sem que seus verdadeiros donos, os índios, lOBIM AVISA QUE município de Altamira, mantiveram por vários
dias dois reféns e dois aviões da Funai. Os fun-
recebam parte desse dinheiro. “Se esses recur- DECISÃO ESTA PRÓXIMA...
sos retomassem para os índios de alguma for- cionários realizavam inspeção da área, próxi-

ma, a situação seria diferente”, ponderou Em visita a cidades do interior do Pará, Nelson ma ao município de Novo Progresso (PA) quan-

Megaton. (JB, 29/09/00) Jobim garanliu que irá decidir os destinos da TI do foram detidos pelos índios. Os seqüestrados
Baú ainda antes da Semana Saiila. Jobim disse eram Lindolfo Ferreira, funcionário da
não haver necessidade de fazer uma visita à área, mineradora Tamim, c Luiz Carlos Sampaio, qnc
KAYAPÓ MEKRAGNOTI/ conforme estava programado, alegando já ler é funcionário da Funai na região. Os Kayapó
examinado todos os elementos necessários à sua exigem que seja feita a demarcação da área in-
TI BAÚ com sua
decisão. Ele vai se reunir assessoria dígena, que ao longo dos anos vem sendo inva-
jurídica para encerrar a análise da questão e dida por mineradores. (JB, 21/07/98)
DECRETO 1.775 LEVA tomar sua decisão, que “deverá estar dentro da
A REESTUDO DA TI conveniência, da necessidade e obedecendo a TENSÃO
Constituição". (O Liberal, 24/03/97)
Encerrado o prazo de 30 dias estabelecido pelo
Os 1 20 índios Kayapó da TI Baú estão na iminê-
Decreto 1.775 para que o ministro da Justiça,
... E MANDA REDUZIR ncia de um confronto armado com fazendeiros,
Nelson Jobim, decidisse sobre as demarcações moradores e pequenos produtores rurais da
que foram objeto de contestações, o Diário Ofi-
PORÇÃO OESTE DA TI
região. O motivo é a ampliação da reserva, con-
cial de 10 de junho publicou os pareceres so- No forme portaria de 14 de dezembro de 98, assi-
dia 8 de abril, pouco antes de deixar o Mi-
bre as terras contestadas, determinando que a nistério da Justiça para ocupar uma vaga no STF, nada pelo ministro dajustiça, Renan Calheiros,
Funai realize novas diligências a respeito. En-
Nelson Jobim assinou despachos sobre as Tis que aumenta de 890 mil ha para 1,8 milhão de
tre as oito áreas que ficaram na peneira do
cujas demarcações foram obstruídas pelo De- ha a área indígena. (A Critica, 15/01/99)
1.775, está a TI Baú, dos Kayapó. A TI Baú é
creto 1.775. Em relação à TI Baú, o ministro
parte de um polígono de terras contínuas, onde alega, no despacho número que as contes- KAYAPÓ FAZEM
18,
há posseiros e garimpeiros. Não se sabe se sua
tações apresentadas pela prefeitura de Novo 15 TURISTAS REFÉNS...,
inclusão entre as oito áreas passíveis de novos
Progresso e por mineradoras com pedidos de
estudos poderá redundar em redução de seus lavra incidentes na área dos Kayapó não são Cerca de 50 índios guerreiros da etnia Kaiapó
limites. (ISA,jul/96)
procedentes do ponto de vista jurídico. No en- mantêm 15 turistas como reféns na aldeia Baú
tanto, o ministro considerou (pie, apesar da
no município Novo Progresso (sul do Pará) . Dos
DEPUTADO PROTESTA conformidade da proposta antropológica que 15 reféns, dez são de Avaré (SP) e cinco, de
CONTRA DEMARCAÇÃO gerou a atual proposta de limites da área, há Novo Progresso.

necessidade de se promover “ajustes ditados


Segundo o administrador da Funai de Colider
O deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) decla-
(MT), Megaron Txucarramãe, os turistas inva-
rou que a questão indígena no PA assume ta- pelo interesse público em preservar núcleos de
colonização não-indígenas consolidados ou
diram a terra dos índios pelo rio Curuá, quan-
manha gravidade que “nos preocupa sobrema- já

em resguardar situações jurídicas cslabeleddas do iniciavam uma pescaria no local. Os índios


neira, no sentido de mais cedo ou mais tarde
sob a égide do próprio Poder Público, sempre estavam fazendo uma inspeção de rotina no ter-
termos a repetição de um conflito de propor-
que tais adequações não afetem substancialmen- ritório quando encontraram o grupo.
ções maiores ou mais graves do que o de
te a integridade da área indígena". Recomen- Para libertar os turistas, os Kaiapó exigem a
Eldorado de Carajás". Notório militante anti-
dando que “se busque conciliação equidosa presença da Polícia Federal, Funai e imprensa
indígena, o deputado disse que “é preciso
entre os interesses das comunidades indígenas no local. Eles reivindicam a demarcação da área
relembrar que, antes da atual Constituição, ín-
indígena Baú, que tem cerca de 1.850 ha.
dios e não-índios conviviam em harmonia e paz e das não-indígenas", Jobim questiona o
indigenato sobre as lerras situadas a oeste do
“Há 20 anos eles querem a demarcação, mas
naquela área (no caso, a AI Baú) Na nova Cons-
.

rio Curuá. “Essa parle oeste não fora incluída nada aconteceu. Os Kaiapó estão cansados", dis-
tituição dedicamos um Capítulo ao índio, a fim
de preservar seus direitos e sua cultura e ga- em nenhuma das propostas anteriores de iden- se Megaron. Um funcionário daFuuai já está no
tificação e delimitação”, escreve em seu despa- local e agentes da PE devem seguir hoje para a
rantir as condições absolutamente indispensá-
cho, determinando que seja “restabelecida a aldeia. Apesar de estarem pintados para a guer-
veis à sua sobrevivência”,
fronteira oeste original, constante das delimita- ra, Megaron garante que não houve violência
Para o parlamentar, “a Funai, exorbitando de
ções anteriores", o que deve reduzir a TI Baú física contra ninguém do grupo. O administra-
suas atribuições, ampliou desmesuradamente
em 350 mil ha. (DOU, 08/04/97) dor lembra, no entanto, que algumas pessoas
as prerrogativas que a legislação lhe outorgou
de Novo Progresso estariam ameaçando tirar os
para, distorcendo a verdade dos fatos, aumen-
pescadores do local à força. (737! 01/08/00)
tar as áreas indígenas, impossibilitando que os
setores produtivos dispusessem de terras para
trabalhar”. Asdrúbal Bentes considera que me-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCIDAMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 513


... MINISTRO MANDA Líderes
kayapó
DEMARCAR TI...
do Baú
O ministro dajusüça, José Gregori, determinou negociam
coma PF a
à Punaj, em 3 de agosto de 2000, a imediata de-
liberação
marcação administrativa da TI Baú, que fica en-
dos reféns.
tre os municípios de Altamira e Novo Progresso,
no sul do Pará, onde cerca de 50 índios Kaiapó
mantêm 15 turistas como reféns, há sete dias.

A decisão de Gregori foi anunciada após reu-


niãocom o presidente da Funai, Glênio da Costa
A área kaiapó, com superfície aproxi-
Alvarez.

mada de 1 .850.000 ha e perímetro de cerca de


770 km, será demarcada com base na Portaria
645/9 1 do então ministro Jarbas Passarinho.
,

Na gestão de Nélson Jobim no Ministério da Jus-


tiça,o tamanho da TI foi reduzido em 400 mil
ha. Ao assumir o posto, Renan Calheiros revo-
gou a portaria de Jobim e a área voltou ao ta-
manho original. O município de Novo Progres-
so (PA) obteve no Superior Tribunal de Justiça
CONFLITO DE TERRAS
(STJ) liminar suspendendo os efeitos da porta- e cerca de duas famílias. O trabalho de demar-
ria de Calheiros. Por conta da decisão, o Mi- 512 famílias criam gado
cação, determinado pelo ministro José Gregori,
e produzem arroz,
nistério da Justiça se valerá da portaria de Pas- deve começar nos próximos dias. Araújo acre- milho e feijão em área
sarinho para resolver o impasse das terras dos em soluções negociadas para o problema.
dita reivindicada por índios
Kaiapó. Essa era a principal reivindicação dos Uma delas seria indenizar os fazendeiros pelas
líderes da tribo. (OESP, 04/08/00) benfeitorias, J?
0 clima de tensão domina o município de Novo
PARÁ
y it\ém

... E REFÉNS SÃO LIBERTADOS Progresso desde o último dia 4, depois que os
índios Kaiapó libertaram 16 turistas e pescado- AM
Os índios Kaiapó da Reserva Baú libertaram res esportivos, que mantiveram como reféns
ontem os 16 turistas e pescadores esportivos durante setes dias em uma clareira a dez km da
que foram mantidos reféns durante sete dias margem esquerda do rio Curuá. A área, segun- Novo»
em uma clareira a dez km da margem esquer- do os índios, é parte integrante da Reserva Baú. Progresso
da do Rio Curuá. Os barcos e duas caminhone- Para os fazendeiros, a demarcação será desas- Ãrea onde vivem os caiapós - 14/N/DO

tes pertencentes aos pescadores foram devol- trosa. Eles temem perder os 600 mil ha da área 1,2 milhão de hectares
vidos pelos índios. -

onde vivem há mais de dez anos. A Funai afirma Área em litígio ocupada por pequenos
A libertação do grupo só foi possível depois que que os 600 mil ha são parte integrante dos produtores - 600 mil hectares
ÊPQCA

o chefe do posto da Funai em Colider (MT),


cacique Megaron Txucarramãe, leu pelo rádio
1 ,850.000 ha da área total da reserva.
acredito que o ministro da Justiça, o Ministério
“Eu não
B Totalda reserva reclamada pelos
índios - 1,8 milhão de hectares REVISTA

de comunicação com a aldeia o documento as- Público Federal, a Funai e a Polícia Federal quei-
sinado pelo ministro da Justiça, José Gregori, ram transformar a nossa região em palco de mogno, madeira de maior cotação no mercado
determinando à direção da Funai a demarca- conflitos”, argumentou o prefeito Juscelino
internacional, é o verdadeiro motivo da resis-
ção imediata da reserva. Rodrigues. tência de fazendeiros e madeireiros à demar-
“Eu dve de ler e repelir várias vezes o docu- O fazendei ro José Sebold, bastante irritado, disse cação da TI Baú.
mento para que os índios acreditassem”, con- à reportagem que não irá entregar suas terras
“Ninguém tem título de terra do Instituto Naci-
tou Megaron, que viajou pela manhã para a al-
para os índios: “se é paia começar toda uma onal de Colonização e Reforma Agrária (Incra)
deia levando a cópia da portaria assinada pelo
vidaem outro lugar, prefiro morrer aqui. E vou na área e todos são invasores'', disse Felício. O
ministro. (OESP, 05/08/00)
morrer lutando. Até matar, pelo meu direito, eu assentamento do Incra mais próximo - a gleba
mato". O diretor do Sindicato dos Produtores Curuá, onde estão os projetos Nova Fronteira e
PFQUER IMPEDIR REAÇÃO DE Rurais de Novo Progresso, Agamenon Menezes, Santa Júlia - está a cerca de 200 km do local
FAZENDEIROS À DEMARCAÇÃO é taxativo: “nem à força o governo vai tomar o do conflito, a oeste da reserva Baú. (Tribuna
que conquistamos com muito suor e trabalho". da Imprensa, 10/08/00)
O superintendente da Polícia Federal no Pará,
(O Liberal, 08/08/00)
Geraldo Araújo, colocou seus agentes em esta-
do de alerta para entrar em ação a qualquer
FAZENDEIROS FORJARAM
“FAZENDEIROS QUEREM O ESCRITURA DE TERRAS
momento e impedir uma reação armada de fa-
MOGNO”, DIZ PROCURADOR
zendeiros e madeireiros de Novo Progresso A Diretora da Divisão de Cadastro do Incra em
contra a demarcação da TI Baú, da tribo kaiapó. O procurador da República em Belém, Felício Belém, Maria Santana Tavares da Silveira, in-

Na área a ser demarcada existem 250 fazendas Pontes Júnior, afirmou que a exploração de formou que os fazendeiros que ocupam a re-

514 SUDESTE 00 PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


serva Baú deram entrada, há cinco anos, em ... E VAI A DEBATE Kamayurá chamado Kotok, filho do pajéTacumã,
um requerimento no órgão pedindo a vistoria NA CÂMARA FEDERAL afirma que Umoro saiu sozinho para pescar, teve
na área. Eles solicitaram uma declaração do um ataque epilético e morreu afogado.
Incra informando a existência do processo. “Os A Comissão da Amazônia da Câmara vai requisi-
Com a cabeça raspada em sinal de luto, Raoni
fazendeiros não sabiam se o processo seria tar do Ministério da Justiça relatórios e laudos
afirma ter motivos para suspeitar de assassina-
antropológicos da reserva indígena Baú, onde,
aprovado, indeferido ou devolvido. O objetivo to.Primeiro, porque os Kamayurá não avisa-
era apenas obter a declaração.” no início do mês, um grupo de Kayapó seques- ram sobre a morte de seu filho. "Por que os
Com o documento em trou 1 6 pescadores de São Paulo e d o Pará. Aiétn
mãos, os fazendeiros fo- Kamayurá não tentaram encontrar o corpo de
ram ao cartório de um município do Estado de disso, a comissão também exigirá do governo a
Umoro?", pergunta Raoni, Megaron levanta ou-
imediata demarcação da área de 1,85 milhão
Mato Grosso, conseguindo transformar a de- Segundo ele, havia um golpe pro-
tra suspeita.
claração do Incra em escritura pública de ter- de ha. fundo no rosto de Umoro. “Parecia uma
ras. “O que des fizeram foi uma ilegalidade”. E A decisão foi tomaria dia 23 de agosoto, ein en-
flechada ou bala", disse. Na época da morte de
por causa disso que o Incra proibiu qual- contro da comissão que reuniu índios, fazen-
foi Umoro, Raoni teve que apaziguar os Kayapó,
deiros e funcionários da Funai para discutir o
quer chefe de unidade do órgão de expedir cer- que estavam em pé de guerra. No mês de maio,
conflito na Reserva Baú. Os deputados temem
tidão ou declaração sobre processo que esteja Raoni vai fazer uma pajelança no local onde o
tramitando. “Em Novo Progresso novos confrontos entre índios c brancos caso a
está cheio corpo de seu filho foi encontrado para desco-
desses documentos de cartório sem nenhum demarcação da área não seja concretizada.
brir sua causa mortis. “Os pajés vão fumar e
valor legal”, disse Maria Santana. (Tribuna da Na ocasião, o prefeito de Novo Progresso, Jusce-
se descobrirem que a morte foi provocada, vai
Imprensa, 10/08/00) lino Alves Rodrigues (PSDB) acusou a Ftuial de
,
haver vingança", diz Megaron. (FSP, 07/04/%)
ter estimulado os Kayapó a sequestrar os pesca-
dores. Segundo ele, o seqiiestro dos pescadores
DEMARCAÇÃO É SUSPENSA... ... FUNAI DECIDE
foi “um teatro bem feíio pela Funai para que o
O ministro José Augusto Delgado, do Superior governo cedesse a suas pressões pela demarca-
EXUMAR CORPO...
Tribunal de Justiça (STJ), concedeu liminar ção das terras”. Rodrigues afirmou não ser con- A Funai do MT decidiu exumar o corpo de
determinando que o Ministério da Justiça se trário à demarcação, mas propôs que a reserva Umoro, filho de Raoni, para fazer autópsia. A
abstenha de qualquer ato que resulte na demar- comece a ser delimitada a cinco km da margem Funai acha que só assim porá fim às dúvidas do
cação da fração de terras situadas a oeste da do Rio Curuá. A medida, segundo ele, evitaria cacique sobre a morte e afastará o risco de uma
área indígena Baú, no município de Novo Pro- atingir as áreas ocupadas por fazendeiros que guerra entre as tribos do Xingu. (ESP. 09/04/96)
gresso, e na retirada dos trabalhadores rurais hoje estão dentro dos Umiíes da reserva.
que residem. O ... E MEGARON EXPLICA
ali presidente interino da Funai, Dinarte Nobre
A demarcação da área Baú - onde vivem apro- de Madeiro, negou que o seqiiestro dos pesca-
SUAS SUSPEITAS
ximadamente 2 mil famílias não-índias - foi dores lenha sido estimulado por funcionários
determinada pelo despacho 060 do ministro , do órgão. Ele acredita que o governo dará uma "Nós, os Kayapó do MT e do Xingu, vimos muita
da Justiça José Gregori. Com a concessão da solução rápida paia o caso da Reserva Baú. gente que os Kamayurá mataram. Cacique
liminar, o Ministério pode proceder à demar- Madeiro e o diretor de Assuntos Fundiários da Takumã, Kanato, Aritana e Kotok mandaram
cação, mas deverá deixar de fora os 400 mil ha Funai, Paulo Roberto Soares, explicaram aos matar muita gente. Agora, eles mandaram ma-
da parte oeste. Publicado no DOU de 4 de agosto deputados que a área onde fica a reserva Baú lar Umoro sem nenhum motivo. [...] É verdade
de 2000, o decreto de Gregori inclui na área da vem sendo utilizada historicamente pelos índi- a história que Umoro matou duas pessoas. Só
reserva Baú as terras localizadas a oeste. os e que a presença de não-índios é recente. que ele fez isso sem saber o que estava fazendo,
O advogado da Prefeitura de Novo Progresso, (OESPe O Liberal, 24/08/00) por causa do cigarro que o pajé deu para ele

AsdrtSbal Bentes, alega que o ex-ministro da quando estava com crise de epilepsia. Ele pio-

Justiça, Nelson jobim, descaracterizou como rou e não reconhecia as pessoas. Achava que
área indígena a parte oeste da reserva Baú e KAYAPÓ METUKTIRE estava matando bicho. Quando voltou ao nor-
que Crcgori incluiu novamente, sem que hou- mal, ficou muito triste, Raoni achou que Takumã
vesse qualquer laudo ou fato novo que justifi-
MORTE DE UMORO GERA ia curar ele com raízes. Por isso, deixou Umoro
casse a decisão. “O decreto do ministro deve- sob a responsabilidade dos Kamayurá. Takumã,
CRISE ENTRE METUKTIRE
ria provar que a área satisfaz os requisitos cons- Kanato e Sapain são grandes feiticeiros. Eles já
E KAMAYURÁ...,
titucionais”, diz Bentes, devem estar fazendo fei tiço paia os Kayapó .Por
A reserva Baú possui uma população de 1.300 A morte de Umoro, de 30 anos, filho do líder isso, as quem são essas
pessoas têm que saber
índios da etnia Kayapó. A ação da Prefeitura de Raoní, gerou uma crise enlre os índios que vi- pessoas. Takumã está com medo e fica falando
Novo Progressso tem uma explicação econô- vem na região do Xingu. Umoro tinha epilepsia que os Kayapó vão matar todo mundo no Xingu.
mica: a parle oeste é a mais produtiva do mu- e fora acusado de ter matado dois índios de sua Kayapó não vai fazer guerra contra ninguém.
nicípio, com tremendo potencial, principalmen- aldeia, na TI Capoto-Jarina, há quase dois anos. Raoni vai ao local da morte de Umoro para fa-

te para a exploração do ecoturismo. Por isso, Raoni mandou que ele fosse morar no zer pajelança. O espírito de Umoro é que vai

O julgamento do mérito pode demorar alguns PIX, a cerca de 500 km de sua área de origem. falar como e por que ele morreu. Como lêni

meses. Anles disso, o ministro José Gregori vai No último dia 16 de janeiro, Umoro foi encon três Kamayurá envolvidos na morte, ele vai faiar

ter um prazo para prestar as informações, em trado morto em um rio próximo à Base Jacaré, os nomes. Takumã não pode envolver outras tri-
seguida se manifesta o Ministério Público Fe- no Parque do Xingu. Há duas versões para a bos. Eles não podem dizer que não sabem por-
deral e só então sai a decisão final. (O Liberal, morte de Umoro. Raoni e Megaron filiam em fei- que Takumã é grande pajé e grande feiticeiro”.
23/08/00) tiçaria e homicídio. No entanto, um índio (Megaron Txucarramãe, FSP, 03/05/%)

P0VDS INDÍGENAS N0 BRASIL 1096/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 515


.

PAJÉS VÃO A RORAIMA consequência de problemas respiratórios, no foram identificados peio índio da aideia Capo-
lo, que eslava caçando próximo ao locai onde
FAZER RITUAL DA CHUVA... início de junho de 1998, na aldeia Cachoeira/
Metuktire, localizada na TI Capoto/Jarina, re- começou o incêndio e denunciou o caso. A in-
Dois pajés Kayapó viajaram de Mato Grosso para
gião de Colider (MT) formação é do chefe da Funai em Colider,
fazero ritual da chuva na reserva dos úidios
Krumare fez parte da história de resistência dos Megaron Txticarramãe. Na tarde de ontem, ele
Yanomami, em Roraima. A reserva foi atingida
índios Kayapó às arbitrariedades trazidas pelo informou, através de fax enviado ao jornal A
pelo megaincêndio, que chegou a afetar 25% Gazeta, que um fato semelhante aconteceu na
contato com os brancos. À época do contato com
da área do estado. A meteorologia informou na no estado do
os Metuktire - que durante muito tempo foram aldeia Kayapó, Pará, (A Gazeta,
ocasião não haver perspectiva de chuva ao nor-
chamados deTxukahamãe (“gente sem arco”), 27/10/99)
te de Roraima. Os pajés escolheram fazer o ri-
denominação que lhes deram osjuruna (Yudja)
tual da chuva na aldeia do Demini, porque lá
na década de 50, Orlando e Cláudio Villas-
existem montanhas, consideradas fontes de
Bôas convenceram uma parte do povo KAYAPÓ KARARAÔ
energia.
Metuktire, liderada por Raoni ÍRopni) a cons- ,

Os Kayapó saíram de Colider, um povoado de


truir uma aldeia no local denominado Kretire, DOIS BRANCOS
Mato Grosso na divisa com o Pará, situada a
cinco horas de avião de Boas Vista. “Por ques-
localizado ao sul da rodovia BR-080, dentro dos
MORTOS EM CONFLITO
limites previstos pelo governo para o PIX.
tãode fraternidade, os Kayapó querem ajudai- Um conflito entre um grupo dc dez índios
Outra parte dos Metuktire, liderada pelos velhos
osYanomami com esse ritual que eles conhe- Kayapó Kararaô e oito pescadores, no
Kruinare e Kremoro (este, falecido em dezem- rio Iriri,
cem para invocar a chuva”, disse Marcus a cem km de Altamira (PA), deixou peio me-
bro de 95), não concordou com o deslocamen-
Vinícius da Silva, coordenador da Funai de Boa nos dois mortos. O confronto ocorreu quando
to para a região ao sul da estrada, preocupados
Vista. Com nove milhões de lia, a reserva um barco de pescadores navegava a cerca de
em assegurar a posse de seu território tradicio-
Yanomami fica próxima de Apiaú, principal foco três km de uma aldeia Kayapó. Segundo Ademar
nal, ao norte, ameaçado pela abertura da BR-
do incêndio. Q.B, 27/03/98) Soares de Almeida, um dos seis sobreviventes
080. À época, era intenção do governo federal
que a área coberta pelo Parque Indígena do brancos, um grupo de índios armados atacou
... E EXIGEM o barco. “Eles vieram de barco, mandaram en-
Xingu não ultrapassasse a BR-080. Krumare e
RECONHECIMENTO POR Kremoro continuaram habitando aaldeiajarina costar e pegaram uma tarrafa e uma espingar-
SERVIÇOS PRESTADOS e a região denominada de Pitim, próxima à ca- da nossa”, disse Ademar. Um dos pescadores
choeira vou Marlius, recusando-se a abandonar reagiu e os índios começaram a atirar, contou.
Os pajés Kayapó que estiveram em Roraima por
seu território rico em florestas, campos, caça, Ontem, depois de passarem três dias a pé pela
ocasião do megaincêndio, encaminharam um
mel, frutas, remédios e onde estão localizadas mata, os sobreviventes prestaram depoimento
ofício à Presidência da Funai. Nele, consideram-
se os verdadeiros responsáveis pelas chuvas que muitas aldeias antigas. Esta estratégia foi impor- à polícia de Altamira. Segundo o delegado
tante para que obtivessem, na década de 80, a Rodolfo Gonçalves, o corpo de um dos mortos
acabaram com o flagelo que queimou parte das
demarcação desta região, bem como do Capo- não foi encontrado.
matas de Roraima no início do ano. No docu-
mento, assinado por Megaron Txukarramãe e to, local sagrado para os Metuktire. O ataque dos Kayapó provocou revolta entre os
Krumare e outros velhos Metuktire participaram moradores de Altamira, que ameaçaram pôr
dirigido ao então presidente da Fundação,
ativamente da luta pela demarcação do Jarina, fogo na sede local da Funai e no posto dc aten-
Sulivan Silvestre de Oliveira, os dois pajés
em 1977, quando a terra estava invadida por dimento médico dos índios. Houve, ainda, ame-
metyklire, Kukrit e Mantii, exigem um avião
Sêneca e mais Rí 500 mil para a sua manuten- fazendeiros. Em 1979, conseguiram recuperar aça de linchamento de funcionários da Funai.
a área ocupada pela fazenda Agropexin e, em Os índios receberam ordens para não sair tk
ção, como forma de reconhecimento pelos ser-
1984, empreenderam uma nova luta pela de- área de forma alguma, para evitar novos con-
viços prestados à nação. Essa seria, segundo os
marcação do Capoto e de 15 km na margem da com os brancos. A Funai informou tam-
frontos
Kayapó, a melhor maneira do Brasil retribuir o
bem que eles fizeram ao país, ao apagar o in-
estrada BR-080. Em 91, obtiveram definitiva- bém que vai mandar seu Departamento Jurídi-
mente o reconhecimento oficiai sobre esta par- co acompanhar as investigações da polícia so-
cêndio.Na mensagem, as lideranças Kayapó fa-
te de seu território tradicional, quando foi assi- bre incidente. (OESP, 11/01796)
zem menção a recursos do Governo Federal e
do Banco Mundial que teriam sido mandados nada a homologação da Terra Indígena Capoto-
para Roraima com essa finalidade, e que não Jarina, com 634.915 ha. (Maria Cristina Tron- PESCADORES NO MÉDIO IRIRI
tiveram tempo de ser utilizados, “porque nos- careUi/ÍSA, 02/07/98)
Durante o ano de 1998, as invasões de pesca-
sos Wajanga apagaram o fogo”, escreve
dores voltaram a ser o maior problema na TI
Megaron. Um dado empírico a seu favor pare- EXPLOSIVO CAI DE AVIÃO
Kararaô. A avaliação está no Relatório de Vigi-
ce confirmar suas palavras: foi só os índios co- E PROVOCA INCÊNDIO
lância e Proteção das Terras Indígenas/1998,
meçarem a dançar para que a chuva desabasse
Um avião deixou cair, na manhã de 15 de outu- de autoria da Administração Executiva Regio-
dos céus. O presidente da Funai arquivou o ofí-
bro, um objeto explosivo nas terras indígenas nal da Funai de Altamira.
cio de Megaron. (Época, 13/07/98)
de Capoto/jarina, no município de Peixoto de Nas Tis do médio Iriri (além de Kararaô, a Ara-
Azevedo (601 km ao norte de Cuiabá) A explo- ra), o problema não é novo. Vem desde a déca-
MORRE KRUMARE METUKTIRE
.

são não deixou feridos. O objeto caiu em uma da de 80, quando, com o esgotamento do po-
Um dos grandes guerreiros dos Kayapó Melti- área onde estão localizadas duas aldeias, com tencial pesqueiro nas' regiões próximas a
ktire, Krumare foi protagonista da luta de seu aproximadamente 500 indígenas. A explosão Altamira, os pescadores passaram a rumar rio

povo na reconquista de suas terras tradicionais. ocasionou um incêndio florestal, que durou acima. Depois do violento conflito de 1996,
Com cerca de 80 anos, Krumare morreu em quatro dias. Tanto o avião quanto o objeto não entre os Kayapó de Kararaô e pescadores, hou-

516 SUDESTE DD PARÁ P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1996/7000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAI.


TI KARARAÔ: BREVE HISTÓRICO
0 processo de reconhecimento da Tt Kararaô re- Bacajá, apesar da resistência dos índios à mudan- Belém). Ainda na mesma época, foi criaria a Gleba
monta à década de 1970, quando da construção ça. A população já estava reduziila a 23 pessoas, o Mossoró, terra de uso especial do Exército, (De-
0
da Transamazônica (BR -230), através do estabe- que, para a Funai, justificava a remoção compul- creto n 95.859, de 1988), que incidia sobre a
lecimento dos trabalhos da "Frente de Atração de sória. Lim técnico da Fundação chegou a argumen- Reserva Indígena Kararaô. A gleba era utilizada
índios Arredios " ao longo do [lercurso da referida tar que, por estar constituído apenas por uma fa- fiara fins de exercício militar. Em
1993 começa- .

rodovia. Saqueie período, foram contatados os mília, o grujx) eslava arriscado ao incesto. Este ram a aparecer, na imprensa, as primeira denún-
seguintes grufms: Kararaô, Assurini, Parakanã, episódio, profundanwnte equivocado e de fundo que o Exército, através do Comando 51"
cias de
Arara eAraweté, todos habitantes do rio Xingu e etnocêntrico, marcou a história dos Kararaô. emolindo com a exploração ilegal de
BIS, estaria

seus afluentes, na região dos municípios de Em 1979 o antropólogo Gustaff Verswijer enca-
,
mogno na Gleba Mossoró. 0 escândalo, compro-
Altamira. Senador José Porfírio, São Félix e minhou ao órgão indigenista uma carta denun- vado pelo Ibama em 25 de outubro de 1994, en-
a
Parcajá, todos no estado do Pará. ciando as condições a que os Kararaô estavam volvia o comando do 51" BIS e da Brigada da 23
Os Kararaô foram, então, submetidos à lógica da sendo submetidos com as tentativas de remoção Brigada de Infantaria da Selva, o ex-vereador
política públicada época:foram adensados junto da população para outra terra indígena. Manoel Mansour de Jesus Abucater e a madereira
aos Postos Indígenas da Funai, por meio da farta Em 1988, a Funai de Belém informou a existência Banacb.
distribuição de brindes e objetos industrializados. de um garimpo de "ametista ” na Grota da Areia Em 1994, o presidente da República Itamar Fran-
A Reserva Indígena Kararaô foi criada pelo De- Branca, além da presença de famílias de não -ín- co, através do Decreto de 28 de julho, restituiu
creto n° 69 914, de 13 dejulho de 1971, com 2. 727 dios localizadas nas margens do rio Xingu. Na- 57.941 ha aos Kararaô, que estavam sendo objeto
km J (272. 700 ba) e uma população estimada em quele mesmo ano, foram realizados pela Funai os das invasões do Exército. Em 1996, a TI Kararaô
80 pessoas. Em 1974, o presidente da Funai in- primeiros trabalhos de demarcação dos limites da foi encaminhada para demarcação, com recur-
formou. através de ofício, que a Reserva, por TI Kararaô. No ano seguinte, o levantamento sos do PPTAI.. A demarcaçãofoi realizada fwla fir-
motivos surgidos na área, não seria demarcada fundiário realizado pela Funai identificou "oito ma Martop no ano seguinte. (Eduardo Vieira
até posterior deliberação. Na ocasião, o grupo famílias de ocupantes não-índios, alguns com Bames, '
Remato de uma visita a oito Terras Indíge-
a
Kararaô havia sido transferido para as TI do mais de 15 anos na área." (4 Suer/DFU/Funai/ nas na Amazônia Legal”, PPTA1/PP-G7, 97A)8)

ve um breve período de trégua, marcado por POSSEIROS SAO procurador da República Übiratan Caseta en-
debates públicos entre as entidades envolvidas RETIRADOS DA TI caminhou um ofício ao superintendente regio-
no assunto e demais interessados. Agora, os nal do Incra, onde expressava sua apreensão.
Foi iniciada a retirada de 400 posseiros da TI de Segundo a retirada dos trabalhadores da
invasores retomaram suas investidas. ele,
Trincheira, município de Senador José Porfírio, área indígena uma operação custosa, difícil
Para terem acesso a locais de boa pescaria no foi
depois que a Justiça concedeu liminar de reinte-
interior de áreas indígenas, fornecem produ- e que seu sucesso se deveu ao trabalho integra-
gração de posse aos Kayapó. De acordo com o do de diversos segmentos da sociedade e da ad-
tos como bebida alcoólica e, mais recentemen-
procurador da República, übiratan Caseta, a de-
te, maconha aos índios. Em troca desses pro- ministração pública. Para evitar a tensão soci-
cisão de agir contra invasores de terras indíge- diz o documento, seria necessário que se
dutos, há informações de que os pescadores al,

também estão recebendo mulheres indígenas. nas é apenas a primeira de uma série de provi- adotasse efetivamente um conjunto de me-
dências que serão tomadas agora para proteger didas que inclui liberação de créditos à pro-
(ISA, a partir de Relatório da Funai/Altamira,
os 14 mil índios que vivem no Pará. dução, fornecimento de infra-estrutura bási-
jan/99)
Os posseiros encontravam-se assentados na área ca, fornecimento regular de cestas básicas, en-
há dois anos. Caseta anunciou que a próxima quanto são providenciadas novas plantações
KAYAPÓ XIKRIN operação policial será contra invasores das re-
de subsistência.
servas dos Tembé, que vivem em 300 mil ha no A Fazenda Flor da Mata, para onde foram con-
DO BACAJÁ município de Capitão Poço. Lá os posseiros re-
duzidos os posseiros, foi desapropriada pelo
sistem à idéia de sair da reserva, alegando que governo federal para utilização na reforma agrá-
PREFEITO DENUNCIA moram, plantam e caçam há mais de 20 anos ria, após a fiscalização do Ministério do Traba-
ATAQUES DOS ÍNDIOS naquela região. (CB, 27/04/98) lho e Polícia Federal terem constatado que 222

índios Xikrin do Bacajá estão atacando colo- homens, mulheres e crianças viviam em condi-
TENSÃO ENTRE ÍNDIOS ções de trabalho escravo, impedidos de sair do
nos da gleba sudoeste, no município de São
E COLONOS AGRAVA-SE local por seguranças armados. (Gazeta do Povo
Félix do Xingu. A denúncia foi feita pelo prefei-
to de Hicumã, Laudi Witeck, segundo informa- Colonos e os Xikrin estiveram na eminência de 16/11 e O Liberal 18/12/98)
ções do senador Ademir Andrade (PSB-PA), um confronto diante dos impasses no processo
Ontem, o senador enviou um ofício ao ministro de reassentamento das 450 famílias de possei- XIKRIN PROTESTAM
da Justiça, Nelson Jobim, e ao presidente da ros que ocupavam anteriormente a área indíge- CONTRA MUDANÇAS
Funai, Júlio Gaiger, pedindo providências para na. “Não se pode condicionar a liberação das NA POLÍTICA DE SAÚDE
a solução do conflito. De acordo com Ademir verbas do projeto de assentamento das 450 fa-

Andrade, os índios têm saqueado e incendiado mílias à solução da avaliação da Fazenda Flor Primeiro foram os índios Tembés e Kaapor.
residências e agredido os colonos. Segundo da Mata”, afirmava o procurador Federal dos Agora, são os Xikrin da aldeia Bacajá, cm
Witeck. os ataques indígenas estão relaciona- Direitos do Cidadão, Wagner Gonçalves, a res- Altamira, no sudoeste do Estado, que estão
dos com a exploração madeireira na gleba. (0 peito da tensão existente na área do Bacaji Os protestando contra a entrega, pelo governo fe-

Liberal, 09/08/96) colonos ameaçavam retornar à área indígena deral, da assistência médica das nove tribos

caso o impasse não se resolva. Em outubro o da região à Funasa. Os Xikrin preferem que o

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE D0 PARÁ 517


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atendimento médico, vacinas, primeiros socor- A Funasa assumiu a tarefa há dois meses, mas DSEI da FNS em Altamira, para desespero dos
ros e transferência de doentes retorne à Funai. parece que não está dando conta do serviço. O Xikrin, é o único no Brasil ainda sem diretor.

TRINCHEIRA-BACyÁ: RETORNOS E MUDANÇAS


No início de 1999 as duas aldeias da área indíge-
,
aiyóboras (das quais eles utilizaram as sementes falta de conhecimento da língua, de professores
na Trincheira -Bacajá estavam recomjnmdo-se. f>ara plantar em suas próprias roças), demons- qualificados para exercer a educação indígena e
Sua população estava novamente reunida na al- trando curiosidade por outros produtos, que po- tantos outros.
deia do Bacajá, depois de ter ensaiado, dois anos rém nãoforam aproveitados como o tomate. Nes-
,

antes,uma cisão, quando uma fração acompa- sas expedições, reviviam um período de MISSIONÁRIOS PROTESTANTES
nhou o chefe Onça ( Bep-Tok) e construiu uma nomadismo, algumas famílias acampando em Os Xikrin do Bacajápermaneceram todo esse tem-
aldeia próxima ao igarapé Carapanã, a jusante, roças subsequentes, colhendo seus produtos, em po sem maiores contatos com missionários, em-
na outra margem do rio. A aldeia do Trincheira parte consumidos lá mesmo, em parte prepara- bora alguns deles visitem com certa freqüência a
havia sido abandonada um pouco antes da ten- dos para serem levados à aldeia, e caçando, com aldeia dos Xikrin do Cateté, ondehá índios prati-
tativa de cisão, seus membros tendo-se dispersa- bons resultados, já que essa região é menos ex- cantes do protestantismo. Desde que um jovem
do com suas famílias por ou tras aldeias Kayapó, plorada pelos caçadores. do Cateté se estabeleceu no Bacajá, lá casando e
como Baú e Tukanu. iniciando pregações que por muito tempo per-
Eles decidiram, no entanto, retomarafartura que ENTRE GARIMPEIROS E MADEIREIROS maneceram sem grande apelo, começaram as vi-
lhes oferecia a área do Trincbeira-Bacajá, já que Alguns comentários informam também sobre a sitas dos missionários. Quem visita as aldeias é
ruis aldeias nas quais moravam a caça e a pesca situação do garimpo do Manelão, na fronteira da Trapp, missionário do SIL que tem décadas de
eram Venderam todo o gado que cria-
limitadas. área, que tem um histórico de relações amistosas convívio e trabalho evangelizador entre os Kayapó
vam (uma das características da aldeia Trinchei- com os índios, os quais, por muito tempo, recebe- e que muito impressionou os índios por ser um
ra é a criação de gatlo e a monocultura em algu- ram uma espécie de indenização pela exploração velho “de cabelos brancos " que fala a língua
mas roças, como o arroz), pretendendo comprar do ouro. Os Xikrin vão frequentemente visitar o kayapó “como um Kayapó".
novas cabeças e retomar a produção agrícola. São garimpo e avaliar seu funcionamento, fyermane- Os protestantes têm levado quatro jovens a um
incertos os motivos do êxodo, mas vale lembrar cendo algum tempo por lá. No ano passado, esta- sítio em São Félix do Xingu, onde são alfabetiza-
que as relações entre as dmts aldeias nem sempre vam surpresos com o esvaziamento do garimpo dos e iniciados no Novo Testamento, voltando para
sãofáceis (já viveram nunut aldeia única e a situ- em área que já reuniu milhares de pessoas. Uma a aldeia com um exemplar traduzido para o
ação da formação de duas aldeias data de meados das razões para isso, acreditam, seria a disputa kayapó. Os missionáriosfornecem, também, uma
da década de 1980). Embora algumasfamílias di- pelo controle do garimpo, o que leira a violências. enorme quantidade de fitas gravadas com
indam-se até hoje entre as duas aldeias, elas man- Quanto à exploração ilegal de madeira, não haina cânticos religiosos na língua indígena, que po-
têm, às vezes mais agudamente, projetos e estra- notícias de sua retomada durante essa visita. Po- dem ser ouvidas na maior parte das casas. Essa é
tégias políticas diiersos. A venda de madeira, por rém. março não é uma boa época para sabê-lo, já uma estratégia de entrada especialmente bem
exemplo, é um tema recorrente para disputas. que a retirada é realizada na época da seca e a sucedida, já que grande parte da aldeia não é al-
busca das árvores para marcação tem início por fabetizada. Assim, elesfornecem acesso à religião
RETOMANDO TERRAS INVADIDAS volta de abril. Não se conseguiu dar um fim à ex- por meio das fitas e dos cânticos e ainda têm um
Os Xikrin disseram retomado urna fazenda
ter ploração ilegal de madeira, apesar de alguns es- grande apelo aosjovens que são levados para " cur-
construída em sua área. Essa informação me sur- forços da Funai e de tentativas defazerflagrantes sos ” (como eles mesmo os chamam, em portugu-
preendeu - de fato, quando retomei a Altamira, com a Polícia Federal. Em 1997, porém, o traba- ês) em que aprendem a ler e escrever.
constatei que essa conquista não era conltecida lho dos tratores, em várias frentes, já podia ser Essa situação deu nova vida aos cu/tos protes-
por lá. A fazenda ficaria próxima à aldeia, além ouvido da aldeia, o que mostra claramente o quan -
tantes realizados na aldeia, aumentando o nú-
da margem oposta do rio, na direção do igara/w to eles estão se aproximando. Como acontece com mero de pastores, que se revezam na pregação aos
Cara/xinã. Eles chegaram a me convidara ir visitá- freqüência, os índios quase nada recebem em tro- domingos no centro da aldeia. Esses cultos tive-
la, mas, por diversas razões, não conseguimos ar- ca da madeira retirada de seu território e estão ram grande freqüência no período em que estive
ranjar essa visita. Pelo que dizem, a fazenda já sempre devendo. Alas eles não estão ainda plena- lá, especialmente dos jovens, que ouvem em si-

teria urna parte desmaiada e preparada jmra a mente convencidos das consequências que isso lêncio a leitura do Novo Testamento e juntam-se
criação de gado. Para isso. contam com a colabo- pode trazer ao ecossistema, embora tenham per- ao coro quando entoados os cânticos.
ração do Trincheira, que, como já foi dito, tem cebido de algum modo a exploração que sofrem e Quando o jovem pastor vindo do Cateté passou a
experiência com pecuária. Porém, para viabilizar tentem, agora, melhor controlar a situação, man- morar na aldeia, houve, aparentemente, uma
esse projeto, eles pareciam planejar recorrer a uma dando grupos de homensfazer medições e acom- grande curiosidade quanto à religião protestan-
negociação com madeireiros, já que necessitam panhar o trabalfx) dos madeireiros. te. Por muitos anos, só se ouvia ele e um outro
de capita! para a compra do gado e querem con- Essa atividade trouxe, em 1999, um problema jovem que morou por algum tempo no 'Trinchei-
tratar alguém para permanecer na sede dafazen- imprevisto. Descobriu-se que um casal de profes- ra entoar cânticos baixinho e em casa, sem cha-
da cuidando das reses. sores que lecionava na escola desde 1995, contra- mar a atenção dos outros. Resta saber, agora,
A retomada de terras invadidas havia sido reali- tados pela Secretaria do Estado de Educação quanto tempo essa retomada religiosa vai durar,
zada por eles alguns anos antes, na fronteira sul (Seduc) e recém -concursados como professores embora não se deva esquecer que ela acontece,
da Área, quefoi ocupadapor um grupo de possei indígenas, estavam en volvidos com madeireiros e dessa vez, em outros moldes, com um maior nú-
ros. Os Xikrin foram pessoalmente expulsar os deles recebiam pagamentos. Logo após a desco- mero dejovens evangelizados e com os “cursos ",
posseiros e relembravam seu susto e medo. Há berta,ambos foram retirados da área e substituí- que eles tanto têm valorizado. Por outro lado. essa
rumores de que esses teriam comprado lotes em dos.No entanto, por serem contratados pela Seduc, situação nos diz que devemos empreender esfor-
área indígena de um político cm Tucumã. Eles já tudo o que a Funai pode garantir é que eles não çar para viabilizar e redefinir a educação esco-
haviam aberto roças e os Xikrin aproveitavam fiermaneçam nessa área. Um problema assusta- lar no Bacajá, já que essa é uma das portas de
ex/wdições para se certificar da retirada dos pos- dor que vem se somar às dificuldades de estabe-
:
entrada dos missionários protestantes. (Clarice
seiros para colher de suas roças arroz, milho e lecimento de uma escola na área do Bacajá - a Cohn, abr/OO)

518 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


)

Nem a FNS, nem a prefeitura de Altamira, res- quesa, depois de tomar conhecimento da ori- frentes de trabalho silmultâneas: a elaboração

ponsável pelo convênio de municipalização do gem do mogno que havia adquirido, afirmou que do Programa de Manejo Sustentável dos Recur-
atendimento nas aldeias, tomaram até hoje suspenderia a importação de madeiras dessa sos Florestais da Terra indígena Xikrin do
qualquer medida para regularizar a situação, serraria a fim de que ocorresse uma investiga- Cateté, em uma área de 40 mil ha (9% do terri-
(O liberal, 29/10/99) ção. Os repórteres britânicos mostraram as pro- tório Xikrin), e o treinamento das equipes que
vas ao lbama, que se negou a confiscar a ma- farão, nos próximos meses, a exploração sus-
deira. “Se querem atuar como espiões, que o tentável de uma área piloto de 1.4Ó0 ha, já apro-
KAYAPÓ XIKRIN façam em seu próprio país", teria dito um fun- vada pelo lbama e pela Funai.
cionário do lbama aos repórteres. (A Crítica, Serão destinados recursos também para os pro-
DO CATETÉ 16/06/96) cedimentos de certificação dos produtos flores-
tais da área piloto, em conformidade com os
COMISSÃO ACOMPANHARÁ PROJETO DE MANEJO princípios e critérios do Conselho Florestal Mun-
PROJETO DE MANEIO FLORESTAL OBTÉM dial (FSC) e ISO 14.001, além de apoio finan-
FLORESTAI, FINANCIAMENTO... ceiro a pesquisadores da Embrapa, que farão
nessa área o primeiro estudo sistemático da re-
Funai e lbama assinaram a Portaria 574, de 17 A CVRD vai destinar 400 mil dólares de recur-
generação do mogno em território brasileiro.
de abril de 1996, constituindo uma Comissão sos do Japanese Trust Fund, captados através
A parceria dos Xikrin com o ISA tem mais de
de Avaliação e Auditoria, com a finalidade de do Bird, para um programa de uso sustentável
cinco anos e envolve apoio técnico e jurídico à
assessorar as presidências dos dois órgãos no de recursos florestais da área indígena Xikrin
comunidade (Ver artigo de Isabelle Vidal Gia-
acompanhamento da execução do Plano de do Cateté, situada no município de Parauapebas,
nnini neste capítulo). Entre os parceiros do
Manejo Florestal da TI Xikrin do Cateté. O plano no estado do Pará. A coordenação desse proje-
projeto, estão ainda o Programa Norueguês para
em questão resultou dos trabalhos coordenados to, inédito no país, será feita pelo ISA, que pos-
Povos Indígenas - Fafo, a Fundação Ford, o
pela antropóloga ISAbclle Vidal Giannini, do ISA, sui um convênio de cooperação com a Associa-
Imaflora, o PDA/MMA/Banco Mundial, a Rain-
em conjunto com a Associação Bep-Nói de De- ção Bép-Nói, criada pelos Xikrin em 1995 para
forest International, a lcco e a Escola Superior
fesa do Povo Xikrin do Cateté, e foi encaminha- defender seus direitos e interesses.
de Agricultura Luís Queiroz (Esalq/USP). (Ul-
do aos ministérios da Justiça e do Meio Ambien- A cerimónia de assinatura do contrato será dia
timas Notícias/ISA, 02/02/98)
te em junho de 95. A comissão será integrada 4 de fevereiro, às 9h30, na sede do Banco Mun-
por um representante do lbama, Funai. imazon dial, em Brasília. O evento, do qual participarão
... E XIKRIN DENUNCIAM
e ABA. (ISA, a partir de DOU, 18/04/96 os líderes xikrin Karangré, Bepkaroti, Bebdjare,
OPOSIÇÃO DA FUNAI
Katendjô, Bep-Djô e Kropidjô, deve contar com
a presença dos ministros do Meio Ambiente e índios correm o risco de perder recursos doa-
JORNALISTAS BRITÂNICOS
da Amazônia Legal, Gustavo Krause, e da Justi- dos pelo governo japonês, com intermediação do
RASTREIAM RAPINA DE
ça, íris Resende, e dos presidentes da Funai, Bird e da CVRD, para a realização do primeiro
MOGNO NA TI Sulivan Silvestre, e do lbama, Eduardo Martins. plano de manejo florestal sustentável em terras

Jornalistas britânicos, fazendo se passar por O contrato prevê recursos para as atividades de indígenas do Brasil, devido à burocracia da Funai.

consultores de uma indústria madeireira, in- gerenciamento do ISA e o financiamento de duas Em entrevista coletiva à imprensa no dia 19 de
gressaram em áreas de corte de mogno, próxi-
mo de Tucumã, e, utilizando um GPS, conse-
guiram estabelecer que o desmatamento acon-
tecia dentro das terras dos índios Xikrin do
Cateté. A reportagem foi ao ar na série
“Dispatches", exibido no Channel Four, afir-

mando que é “escandaloso" o tráfico de ma-


deiras nobres, que continua afetando a vida de
índios e violando acordos internacionais.
A Aimex, entidade que congrega empresas ma-
deireiras da Amazônia, assinou, há três anos,

um acordo com seus sócios britânicos pelo qual


se comprometem a não comercializar mogno
de áreas protegidas, como as reservas indíge-
nas. Mas o programa mostrou que a madeira
cortada ilegalmente nas terras indígenas por
pequenas empresas é posleriormente adquiri-
da por empresas maiores, filiadas à Aimex. A
madeira é exportada para a Grã-Bretanha.
A reportagem do programa seguiu a rota dos
troncos de mogno extraídos de uma área indí-
gena até uma serraria local, de onde, com do-
cumentação falsa, foram enviados a uma em- Karangré Xikrin assina o convênio com a CVRD, na presença do ministro do Meio Ambiente
presa filiada à Aimex. lima empresa dinamar- Gustavo Krause e do secretário executivo do ISA, João Paulo Capobianco, em Brasília.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE DO PARÁ 518


março, os lideres da comunidade indígena telefone para informar que a posição apresen- nentemente feminina nesta sociedade. Original-
Xikrindo Cateté denunciaram a oposição da tada pelos técnicos não estava aprovada pela mente, o grafismo xikrin é utilizado na pintura
Funai ao projeto. Segundo os índios, a Funai está Funai e que o ISA receberia ainda naquela se- corporal. Destina-se a "vestir” os corpos das
tentando inviabilizar um projeto de manejo sus- mana o posicionamento formal da Funai em próprias mulheres, dos homens e das crianças,

tentável, de baixo impacto ambiental, enquanto relação ao contrato com a CVRD. No entanto, para que todos estes possam se apresentar de
em relação à intensa venda ilegal de
se omite até hoje, já transcorridos 45 dias da assinatura forma adequada na comunidade.
mogno em áreas indígenas vizinhas no Pará. do contrato, esse posicionamento não foi apre- Patrocinado pela Fundação Carajás e pela CVRD,

Em 20 de fevereiro, não tendo ocorrido a mani- sentado, Ao mesmo tempo, chegou aos índios, o projeto consiste na apücação do grafismo em
festação da Funai e já estando atrasado o através de funcionários da Funai,a informação produtos de qualidade voltados para a

cronograma de execução das atividades previs- de que o Plano de Manejo será suspenso. comercialização, mantendo-se fidelidade aos

tas no contrato, o ISA enviou correspondência Considerando a absurda situação presente, a desenhos, cores e proporções originais. 0 ob-

ao presidente da Funai solicitando a sua mani- comunidade indígena Xikrin do Cateté preten- jetivo é múltiplo: divulgar para o público não-

festação. Em resposta, o presidente convidou de deslocar-se para a Vila de Carajás e solicitar indígena a arte gráfica xikrin e estimular esta

reprentantesdo ISA para uma reunião, realizada a presença do presidente da Funai, Sulivan Sil- atividade feminina permanente, gerando renda

em 4 de março, para informar a posição da Funai. vestre de Oliveira, para apresentar a posição e autonomia para as mulheres, além de auxili-

O presidente da Funai abriu a reunião com um definitiva da Funai em relação ao Plano de Ma- ar os Xikrin do Cateté na preservação de sua

pronunciamento favorável ao projeto, mas dela nejo, bem como as providências que pretende cultura e de seu território. (ISA, jun/00)

retirou-se em função de compromisso no Mi- tomar para assegurar as condições de vida dos
nistério dajustiça, solicitando que os represen- índios e a proteção das suas terras frente à pres-

tantes do ISA discutissem com os técnicos do são das madeireiras que deverão voltar a inva-

Departamento de Patrimônio Indígena aspec- di-las com o próximo final do período das chu-

tos do contrato, até o seu retomo para finali- vas na região amazônica. (ISA, 19/03/98)

zação da reunião. Na ausência do presidente,


esses técnicos apresentaram um documento que RODOVIA É BLOQUEADA
não faz referência ao contrato, mas afirma, en- PARA GARANTIR PROJETO
tre muitas outras impropriedades, que qualquer
Cerca de 180 Xikrin do Cateté bloquearam, em
plano de manejo de recursos madeireiros em
25 de março de 1998, a rodovia que liga Paraua-
terra indígena é ilegal.
pebas à área mineral de Carajás e tomaram dois
Ou seja, dois anos após a aprovação do Plano funcionários da Funai como reféns. Os índios
de Manejo por portaria conjunta proposta, subs- exigiam a presença do presidente da Funai para
crita e juridicamente fundamentada pelo pró- negociar a aprovação imediata do contrato que
prio presidente da Funai, técnicos do órgão viabilizaria o Plano de Manejo Florestal em suas Folder do Projeto.
pretendem impedir a sua execução com base terras. Durante o bloqueio, houve conflito
em uma interpretação ridícula e restritiva da com seguranças da CVRD.
legislação vigente. Segundo eles, o Código Flo- A estrada só foi liberada depois que o presi-
restal, no seu artigo 3, que inclui as florestas dente da Funai enviou carta ao cacique
existentes em terras indígenas como áreas de Karangré, um dos líderes da comunidade,
preservação permanente vedaria a possibilida- garantindo que não haveria oposição ao Pla-
de de manejo florestal nessas áreas. No entan- no de Manejo proposto pela Associação Bép-
to, o parágrafo primeiro desse mesmo artigo Nói, que representa os índios, e outra carta,
estabelece que o corte (raso!) de madeira nes- endereçada à Vale do Rio Doce, manifes-
sas áreaspode ocorrer mediante autorização tando-se favorável ao “Contrato de Presta-
do Poder Público em determinadas situações, ção de Serviços” firmado entre a CVRD eo
Alegam os refe-
inclusive para reflorestamenlo. ISA, para a realização do projeto. Os Xikrin
ridos técnicos que não constando do referido conseguiram, ainda, marcar uma reunião,
parágrafo a expressão plano de manejo, que em Brasília, para dia 27, entre o presidente
sequer estava tecnicamente consagrada à épo- da Funai e dez líderes da comunidade, para
ca da promulgação do Código Florestal, este resolver defimtivamente os impasses em re-
seria ilegal. Ou seja, no entendimento deles, lação ao Plano de Manejo. (ultimas Notí-
pode-se fazer corte raso da floresta mesmo sem cias/ISA, 26/03/98)
benefício dos índios, mas manejo sustentável
pelos próprios índios não se pode. Com essa
PROJETO miOPOKTI
distorção da legislação, gente da própria Funai
VALORIZA GRAFISMO
pretende violar o direito do usufruto exclusivo
XIKRIN
do índios sobre as riquezas do solo, dos rios e
dos lagos existentes nas suas terras, reconheci- As mulheres Xikrin do Cateté escolheram
do pela Constituição brasileira. Nhiopokti, a mulher-estrela, figura da mãe
Após a reunião, e não tendo podido retornar a provedora em sua mitologia, para dar nome
ela, o presidente da Funai contatou o ISA por a um projeto de grafismo, atividade emi- trekure participa de oficina do projeto.

S20 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


PANARÁ (OU GOVERNO DEVOLVE ... E EXIGEM DEMARCAÇÃO
TERRA AOS PANARÁ...
KRENAKARORE) Mais de 20 Panará saquearam duas fazendas e
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, acaba de geradores tle energia elétrica do município de
i de novembro de 1996,
assinar a Portaria n°, de Guaratã, MT. As propriedades estão localizadas
PANARÁ DENUNCIAM
que declara de posse permanente dos índios no interior da reserva Panará, que tem mais de
EXTRAÇÃO ILEGAL DE Panará a faixa de terra de cerca de 495 mil ha 50 mil ha. Os Panará exigem a imediata demar-
MADEIRA localizada entre os municípios de Guarantã do cação de suas terras. A Funai, a Polícia Federal
No dia 6 de outubro de 1996, o chefe do Posto Norte e Altamira, nos estados de Mato Grosso e c o Incra conslataram em outubro de 1997 a
Indígena Nansepotiti, Osanam Panará, informou Pará. A decisão de Jobim consagra os esforços presença dc madereiros fazendo exploração ile-

ao ISA, através do rádio, que alguns Panará ha- da comunidade indígena conhecida como gal de madeira na reserva Panará, fato que ha-
viam saído numa expedição para localizar e Krenakarore, que, durante mais de duas déca- via sido denunciado por MegaronTxukaiamãe.
enfrentar invasores na TI Panará. Ele solicitou das, iutou para reaver seu território tradicio- Segundo Megaron, quem está causando o con-
que o fato fosse comunicado aMegaron, admi- nal, ao ser transferida para o Parque do Xingu, flito são dois fazendeiros, conhecidos com o

ADR de Colíder.
nistrador da A saga dos Panará, cuja lenda foi fartamente ex- nome de Fernandão e Paulinho. Assim que sou-
Uma equipe do ISA deslocou-se para as redon- plorada pela mídia, começou nos anos 70, quan- beram que a área havia sido delimitada para
dezas da aldeia, no sentido nordeste, área na do eles experimentaram os frutos do contato ser demarcada para os índios, os fazendeiros

qual os Panará informaram que, no início do com o homem branco. Depois de cultivar sécu- iniciaram a exploração ilegal da madeira

mês, escutaram barulho de maquinaria pesada los de isolamento, com a BR163, seu território Através da Portaria iri 667, de 1“ de novembro
trabalhando. Àquela altura, os Panará decidi- tradicional foi rasgado pelo asfalto. Conhece- de 1996, 0 presidente Fernando Henrique Gtr-
ram verificar o que estava acontecendo. Saíram ram então a doença, a prostituição, a morte, doso delimitou a reserva Panará, medindo 484
da aldeia e encontraram uma estrada aberta quase o extermínio. Transferidos para o Parque ha. (A Gazeta, 22/10/97)

pelos madeireiros, Seguindo pela estrada, en- do Xingu, os “índios gigantes”, como foram ape-
contraram dois tratores e um caminhão, com lidados, iniciaram verdadeira cruzada para vol- DEMORA NA DEMARCAÇÃO
oito a dez homens e várias toras de mogno es- tar para casa. (ISA, 05/11/96) CAUSA CONFLITOS
tocadas. Ao perceberem a aproximação dos ín-
dios, os homens fugiram no caminhão. Os ... QUE RETORNAM AO SEU A demora da demarcação física das terras Pana-
Panará seguiram o caminhão e chegaram ao TERRITÓRIO TRADICIONAL... rá tem causado conflitos no município de

acampamento dos madeireiros, onde prende- Guarantã. Armados com escopetas calibre 12 e
Depois de urn quarto de século e pela primeira revólveres, 50 índios Panará invadiram as
ram um trabalhador, Renato, que os informou fa-

que estavam trabalhando a mando do sr.


vez na história do país, um grupo indígena re- zendas localizadas em sua reserva. Na fazenda
cupera suas terras: os Panará estão de volta ao Ipiranga, os índios mataram animais domésti-
Pernando Munhoz Garcia, vulgo Fernandão,
seu território tradicional, de onde foram retira- cos, envenenaram poços artesianos e jogaram
pública e notoriamente conhecido na região
dos em 1975. Foram nove vôos para levar 57 no lixo alimentos estocados. A mesma prática
como grileiro. Os Panará prenderam duas ar-
crianças e 40 adultos transportados para a nova teria sido adotada nas fazendas Santa Luzia,
mas e alguns utensílios, expulsaram os peões,
aldeia, de nome Nacypotire. Ghapadão e Rela Guarantã Além de dez cabe-
destruíram o acampamento e os dois tratores.
Eles são os últimos a mudar para a nova aldeia, ças de gado, 05 índios teriam quebrado um ge-
Visita ao invasor - No dia 10 de setembro,
erguida por um grupo que ao longo dos últi- rador de energia, roubado ferramentas, col-
Megaron, o chefe Akè e um intérprete foram
mos dois anos construiu casas, plantou roças e chões, fogões e aterrorizado os funcionários das
até a posse de Fernandão c exigiram a retirada
abriu uma pista de pouso para receber a tribo fazendas. Megaron, administrador local da
dos peões c a Interrupção da extração de ma-
toda.Os Panará são agora 178 índios e se sen- Funai, afirma que, de fato, apenas duas fazen-
deira. Fernandão propôs um acordo, oferecen-
tem fortes para comandar o próprio destino. das foram visitadas pelos índios, e que os Panará
do-se para pagar pela retirada da madeira já
A viagem dos últimos 97 índios, que voltaram não têm intenção de matar ninguém, “Eles só
derrubada e pela continuidade da extração. Akè
no fim de semana, foi feita de avião, em nove querem botar para correr os madeireiros, que
rejeitou a proposta e insistiu que a extração pa-
vôos de pouco mais de uma hora, em que cer- estão acabando com tudo na reserva”, diz
rasse, alertando que os Panará estavam dispos-
tosa matar os invasores, se estes continuassem
ca de dez pessoas por vez se apertavam com Megaron.
todos os seus pertences: panelas, armas, remos, Segundo os dirigentes do incra em Mato Gros-
adentrando a área.
utensílios os mais diversos, roupas e bichos de so, as terras onde estão localizadas as fazendas
A equipe do ISA realizou um sobrevôo na re-
estimação. invadidas pelos índios são terras da União. Se-
gião e constatou a existência de uma vasta rede
A pista de pouso divide a nova aldeia. A oeste gundo 0 dirigente do Incra, os fazendeiros po-
de estradas e. ramais, de talvez cem km de ex-
estão as casas dos índios. Do outro lado, ape- dem eslar assentados na região desde 1983,
tensão, saindo da posse do Fernandão, atraves-
nas duas edificações usadas pelos brancos: a entretanto, existe uma lei federal que delimita
sando a área Panará, dando no rio Iriri e atra-
casa do funcionário da Funai e o posto, que como sendo da União as áreas que este-
terra
vessando o rio Ipiranga. Thdo indica que a ex-
ploração, que é antiga e de larga escala, se alas-
abriga uma farmácia e um rádio com o qual os jam próximas das estradas federais. Por outro
índios se comunicam coni o resto do mundo. A lado, 0 Incra já fez a descrição da área e cons-
tra pela área MekragnSti, contígua à área Pana-
fartura da nova aldeia Impressiona e se diferen- tatou que a chamada Gleba Iriri, região onde
rá. (André Villas Bôatt e Stepban Scbwar-
cia do P1X, de onde vieram. (JT, 23/03/97) estão localizadas as fazendas e que faz confron-
tzman, ISA, 11/09/96)
tação com a Reserva Panará, pertence à União.
Resta agora ao Incra fazer a arrecadação da área
e indenizar as benfeitorias existentes nas fazen-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 19S6/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBfENTAL SUDESTE DG PARÁ 021


.

das. Não há interesse por parte do órgão de as- COM A ESTAÇÃO SECA, unanimidade, a União e a Funai a pagar uma
sentar colonos na referida gleba: “É ttma re- VOLTAM OS MADEIREIROS indenização de 4 mil salários mínimos corrigi-
gião muito distante de grandes centros, e um dos (cerca de R$ 1 milhão) ao povo Indígena
Os Panará terão que resistir ao jogo de sedução Panará pelos danos materiais e morais provo-
assentamento sairia muito caro ao Incra", in-

forma o superintendente. (Diário de Cuiabá,


dos madeireiros que, com 0 início da estação cados pelo trágico conlato promovido a partir
seca na Amazônia, voltam a cobiçar suas flores- de fevereiro de 1973, por conta da construção
23/W/97)
tas. Determinados a abrir as portas da TI para da rodovia Cuiahá-Santarém. A decisão confir-
retirar as toras de mogno derrubadas ano passa- ma sentença proferida em outubro de
JUIZ CONDENA GOVERNO do, os madeireiros e seus agentes procuram mi-
1 997 pelo
A INDENIZAR OS PANARÁ juiz Novely Vilanova da Silva Reis, da 7“ Vara da
nar a resistência dos índios através de encontros justiça Federal em Brasília.
Numa decisão histórica, a Justiça condenou pela ddade de Guarantã - onde os índi-
"casuais” na A ação Indenizatória foi movida e acompanha-
primeira vez 0 Governo a reparar 0 genocídio os costumam fazer suas compras - e visitas ines- da pelos advogados do ISA. Participaram do jul-

de índios. Os Panarás ou Krecn-akarore, de peradas às aldeias. André Villas Bôas, indigenista gamento os juízes Saulo José Casali Bahia
Mato Grosso, também conhecidos como índios do ISA que acompanhou a luta desses índios, afir-
(relator) Aníonio Ezequiel e Eusláquio Silveira.
,

gigantes, vão receber indenização de quatro mil ma que uma das táticas dos madeireiros é ir en- O Ministério Público foi representado pela
salários-mínimos por terem sido dizimados por volvendo os Panará em dividas na cidade, de for- procuradora Deborah Duprat,
doenças com gripe e diarréia entre 1973 e 1975 ma a se transformarem em credores dos índios. Esta é a primeira e única decisão do Judiciário
- quando 0 Governo promoveu uma aproxima- A amortização dessa “dívida" virá obviamente sob brasileiro a reconhecer a responsabilidade do
ção apressada e descuidada com a tribo para a forma de madeira de lei, extraída das matas Estado com relação à sua pofítica para os índi-
construir, em sua reserva, a BR-163, que liga situadas dentro da área indígena. os. “A decisão é histórica, pois possibilita, por
Cuiabá a Santarém (PA). Na ocasião, morreram André Villas Bôas informa que, diante do assé- um lado, às populações que se sentirem vio-
175 índios e os 79 sobreviventes foram transfe- dio madeireiro, a comunidade está dividida.
lentadas pelo Estado, reclamarem seus direitos
ridos pela Funai para 0 Parque Indígena do Influenciados pelas prâicas dos Kayapó, alguns por outro lado, põe em alerta as políticas
e,
Xingu, onde nunca se adaptaram. Panará mais pragmáticos repetem 0 argumento públicas desrespeitosas às populações indíge-
A sentença favorável aos índios foi dada pelo dos madeireiros: em vez de deixar a madeira nas", afirmou 0 advogado Carlos Frederico
juiz da 71 Vara Federal de Brasília, Novély apodrecer, porque não vendê-las aos brancos? Marés, que representou 0 povo Panará durante
Vilanova da Silva Reis. Além da indenização por Outros resistem, mas teme-se que a abertura da o julgamento. Cinco representantes do povo
danos morais, a União foi condenada a pagar área para a simples retirada das toras desenca- Panará acompanharam 0 julgamento. (Marco
pensão mensal de dois salários-mínimos para deie um processo sem volta. Aníonio Gonçalves/ISA, 14/09/00)
a família de cada índio morto na ocasião, com A experiência mostra que, uma vez urdidas as
correção monetária e juros. A ação foi movida relações de comércio entre índios e madeirei-

em 1995 com a ajuda do Instituto Socioam- ros, mesmo entre apenas alguns indivíduos, es- PARAKANÃ/TI
bienlal, uma organização não-governamental de tas tendem a se perpetuar - ainda que flagran-
defesa dos índios, e agora deve ser estendida temente ilegais. Ele considera a situação dos
APYTEREWA
para outras tribos indígenas dizimadas no con- Panará como “de difícil solução". “Nesse con-

lato com os brancos. (O Globo, 11/11/97) flito, a atuação da Funai e, principalmente, a do


CPT QUER REDUÇÃO DA TI
Ibama, será fundamental para promover 0 des- A CPT de Tucumã (PA) ligada à , Igreja Católica,

EVENTO NO SESC monte da estrutura de exploração ilegal dos solicitou a redução da TI Apyterewa em cerca
madeireiros, agora, com 0 auxílio da nova Lei de 40% de sua extensão original em cartas en-
HOMENAGEIA POVO PANARÁ
de Crimes Ambientais”, afirma. (Últimas Notí- viadas a Raul Jungmann, ministro de Política
A tribo dos Panará recuperou 0 orgulho de vi-
cias/ISA, 18/06/98) Fundiária, e a Júlio Gaiger, presidente da Funai.
ver e de lutar e está de volta em casa, depois de As cartas, datadas de 27/06/96, foram assina-
quase ter desaparecido do mapa. MAREUI MIRANDA das ainda pelo Sindicato dos Trabalhadores
O fato auspicioso, já celebrado em Nacypotire, VISITA OS PANARÁ Rurais de Tucumã, a Associação Comercial e a
a nova aldeia nas cabeceiras do Rio Iriri, agora Associação Ruralista locais, além de um verea-
será comemorado com uma programação cul- Em dezembro de 1 999, a cantora e pesquisado-
dor do município. A redução atenderia aos in-
ra musical Marlui Miranda esteve na aldeia
tural 110 Sesc Pompéia, em São Paulo, entre os teresse dos posseiros que foram assentados 11 a
antecipando a Semana do
panará, atendendo a convite feito em 1998,
que
dias 6 e 7 de abril, área, e também da Madeireira Peracchi,
com quando os Panará estiveram em São Paulo para
índio. Essa história será contada, a pre- detém títulos de propriedade (nulos) inciden-
sença dos Panará, na programação cultural que
0 lançamento de um livro e de uma exposição
tes sobre a mesma. A CPT reivindica ainda a
0 Instituto Sodoambiental estará realizando em (ver acima ) A visita foi marcada por um inten-
retirada dos garimpeiros, que também ocupam
so intercâmbio musical, que abriu a perspecti-
parceria com 0 Sesc São Paulo e a produtora e ilegalmente a área, e a recuperação da estrada
gravadora Pau-Brasil.
va de um trabalho futuro de registro e divulga-
Morada do Sol, aberta pelas madeireiras quan-
ção do patrimônio musical panará. (André
Fará parte do evento uma homenagem póstuma do iniciaram a extração predatória de mogno
Villas Bôas/ISA, jan/00)
a Cláudio Villas Bôas, sertanista que chefiou a na região. O bispo de Ahamira, d. Erwin
expedição da Funai que consumou 0 contato com Krautler, a cuja jurisdição Ifícumã pertence, não
os Panará, (Últimas Notícias/ISA, 20/12/98)
UNIÃO E FUNAI CONDENADOS
chegou a tomar conhecimento do documento,
A INDENIZAR POVO PANARÁ
que condena.
Em decisão inédita, a 3“ IXirma do Tribunal Re- A TI Apyterewa é uma das oito áreas que têm
gional Federal de Brasília condenou hoje, por seus processos demarcatórios sujeitos a novas

522 SUDESTE DO PARA POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1896/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
—/Ais a A C ONT ECEÜ
diligências por parle da Funai. hido indica que sido feita por um aviãn “cujos instrumentos não de revisão de limites da TI Apyterewa só seria
seus limites serão modificados a sudeste, sub- acusavam a velocidade efetiva da aeronave, cau- procedente se demonstrasse com provas defi-
traindo uma fração da área para o projeto de sando um erro para mais”. Com isso, a identifi- nitivas que a área em questão não é território
assentamento de posseiros, em trecho cação feita c encaminhada pela Funai teria en- indígena e, em conseqiiência disso, que seu re-
desmatado por invasões anteriores. Delimitada globado “uma área que não é indígena”. “0 GT conhecimento pela Lhião apresenta vícios de
por portaria ministerial de 1992, até hoje a que está em campo agora tem por finalidade origem”, diz 0 documento.
área não teve sua demarcação física concluída. exatamente tentar recolocar os limites Região é dos Parakanã - Entre suas conclu-
Na época, havia empresas madeireiras e um cartográficos em consonância com o laudo an- sões, 0 GT afirma que a análise do material do-
foco de garimpo instalados dentro dos limites tropológico", explicou Gaiger. Segundo infor- cumental sobre a ocupação não-indígena do
da área. Posteriormente, estas madeireiras, as- mação do repórter do jornal, a ADR Altamira divisor de águas Xingu-Bacajá - reclamada pe-
sociadas a grileiros de Tbcumã, passaram a in- teria enviado um documento á presidência do los contestadores - atesta que esta ocupação
centivar a invasão da área, vendendo lotes ile- órgão, recomendando que a área fosse dimi- ocorreu após transferência forçada dos índios
galmente. pagos com o comércio da madeira nuída para evitar a possibilidade de confronto. pela Funai, entre 1983 e 84. livre da presença
de lá retirada dos próprios lotes. O objetivo (ISA, a partir de O Liberal, 27/09/96) indígena, empresas madeireiras, posseiros e
era esse mesmo: criar um problema social de colonos,com a colaboração ilegal do Incra,
difícil solução para inviabilizar a demarcação GT CONSIDERA CONTESTAÇÕES passaram a ocupar a região origjnalmente dos
da área. Consta que, na sua extremidade su- DA TI IMPROCEDENTES índios Parakanã, conforme atestam levantamen-
deste, há hoje mais de três mil famílias instala- tos antropológicos e, inclusive, depoimentos de
Através da portaria 710, assinada em 50/08/96,
das. As manifestações que vêm ocorrendo não alguns dos contestadores. Diante disso, 0 GT
o presidente da Funai, Júlio Gaiger, constituiu
expressam qualquer preocupação com uma responsabiliza a Funai, 0 Incra e a União pela
solução razoável para os índios e para a pre-
um GT para realizar estudos e levantamentos
situação de caos fundiário instalado sobre a
complementares visando a demarcação da TI
servação do meio ambiente, voltando-se para parte redamada da TI Apyterewa, e recomenda
uma lógica de loteamenío de grande parte da
Apyterewa, em conformidade com as determi-
“declarar improcedente as contestações para
nações do Decreto 1.775. Sob coordenação do
terra indígena. O que espanta ê que movimen- revisão parcial de limites da TI Apyterewa”, (ISA,
antropólogo Carlos Fausto, do Museu Nacional
tos de caráter popular, como a CPÍ, amem como a partir de Relatório doGTpara estudos com-
do RJ. o grupo contou com a participação de
se fizessem parte da violenta elite local. (Para- plementares sobre a TL Apyterewa, out/96)
bólicas/lSA, jiil/96)
técnicos do Iterpa, Incra, Funai e MPEG e pro-
duziu informações adicionais sobre a situação
SEM DEMARCAÇÃO, AUMENTA
da TI, reunidas em relatório encaminhado ao
COLONOS RECLAMAM ASSÉDIO DE GARIMPEIROS
presidente da Funai em outubro de 96.
SOLUÇÃO PARA A ÁREA As contestações - Segundo informa este rela- Garimpeiros do igarapé São José, que corta as
Os representantes das associações agrícolas de tório, seis contestações foram apresentadas à terras Parakanã, estão cooptando índios para
São Félix do Xingu estão requerendo à Funai a Funai, solicitando a revisão dos limites da TI conseguir garimpar ouro na região. Os índios
urgente demarcação da Ti Apyterewa. Eles ar- Apyterewa: além de algumas pessoas fisicas, o têm contato recente com os brancos e, por isso,
gumentam que o Ministério da Justiça já admi- Governo do Estado do Pará, a Prefeitura Muni- estariam muito suscetíveis âs doenças trazidas
tiu, através da imprensa, ter ocorrido um erro cipal de Tiicmnã, a Exportadora Peracchi, do pelo contato. Durante a permanência dos téc-

de avaliação por parte dos técnicos da Funai setor madeireiro e a Associação dos Agriculto-
, nicos do Cimi nas aldeias, eles atenderam 286
no processo de demarcação, o que obrigará a res Rurais do Vale da Água Suja discordam da casos de doenças entre os índios. Malária, di-
uma revisão da área. Os colonos, preocupados atual proposta para a demarcação da área. O arréia, verminoses, micoses e otites foram os
com a morosidade na solução do problema, GT afirma que as contestações sugerem ter ha- males mais freqiientes. Não havia medicamen-
dizem que há inquietação na área. “Vendo o vido“uma ampliação indevida da área, que pas- tos suficientes no posto da Funai para atender a
tempo passar sem que se vislumbre uma solu- sou a englobar ‘propriedades’ e posses parti- todos os doentes. Peio menos 30% da AI Apyte-
ção, podem esses colonos tomar medidas drás- culares, bem como áreas de jurisdição estadu- rewa já foi invadida por garimpeiros, fazendei-
ticas no intuito de manter os seus direitos”, ai- al". Os argumentos dos contrários afirmam que a ros, posseiros e colonos ávidos pelo mogno ain-

gumenta o presidente da Associação dos Pro- demarcação da TI significou uma ampliação dos da existente na área. (O liberal. 12/01/97)
dutores Rurais do Vale do Cedro. “Lembramos limites da área de 2.668 km 1
para 9-811, 77 km 2 .

em tempo que na região da gleba São Francis- Argumentos falhos - Pelo relatório do GT, esse IBAMA E FUNAI REALIZAM
co e da gleba São José estão localizados assen- argumento não procede por confundir a inter-
AÇÃO CONTRA MADEIREIROS
tamentos do Incra, portanto, merecedores de dição da área, feita em 1987, com a delimita-

atenção”, diz ele. (O Liberal, 23/07/96) ção, baseada cm laudo antropológico, que iden- A Funai e 0 Ihama, com 0 apoio do Cimi e do
tifica a área de ocupação tradicional do grupo Ministério Público, realizaram uma operação,

ERRO CAUSOU AUMENTO indígena, publicada em 1992. Ainda segundo nos dias 24 e 25 de fevereiro de 1997, para coi-
há equívocos quanto ao entendi- bir a extração de mogno na TI Apyterewa. A
DA TI, DIZ GAIGER este relatório,
mento jurídico da questão, em especial da apli- operação ocorre um mês depois dos madeirei-
Reafirmando a disposição da Funai em reduzir cação do art. 2.51 da Constituição, já que 0 re- ros terem enviado um grupo de índios Parakanã
a AI Apyterewa, o presidente do órgão, Júlio conhecimento oficia] das terras indígenas (a à ADR Funai em Altamira com 0 objetivo de ob-
Gaiger disse que um erro de plotagem dos mar- chamada “demarcação”) “é um ato secundá- ter a anuência do órgão para a continuidade da
cos cartográficos causou o aumento nos limi- rio, pois 0 direito originário dos índios sobre exploração, A operação foi autorizada pelo
tes da terra em questão. Segundo Júlio Gaiger, suas terras a precede e não se extingue com Ibama de Brasília depois de sucessivas denún-
isso teria ocorrido pelo fato da plotagem ter este reconhecimento”, explica. “Qualquer pleito cias encaminhadas pelo administrador de

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 19S6/20D0 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL SUDESTE D0 PARÁ 523


MADEIREIRAS ASSUMEM CONTROLE DA TI
Por dez anos, os Apyterewa-Parakanã, grupo in- Levados por madeireiros para São Félix do Xingu, cassez de mogno na região e a moratória no cor-
dígena do PA (Altamira), resistiram à pressão das jovens apyterewa foram convencidos a abrir a te tremobrigando estes grupos a se utilizarem
madeireiras para que vendessem o mogno de suas porção do território ainda não atingida pela ex- de expedientes variados para manterem suas
terras. Não obstante, durante dez anos grandes ploração de madeira. A ADR de Altamira envidou atividades.
madeireiras, como Peracbi. Magincoe Impar, rou- todos os esforços para reverter a situação, mas Consolida-se, assim, um novo estágio no proces-
baram milhares de metros cúbicos de madeira de não encontrou qualquer apoio por parte da di- so de expoliação e destruição do meio ambiente
lei da TI, graças à inoperância e à "omissão fxir- retoria do órgão. 0 avanço foi consumado ape- naquela área. em plena moratória do corte de
ticipante “ de órgãos públicos federais. Cerca de sar das denúncias encaminhadas ao presidente mogno. A ineficiência e incapacidade do gover-
15% do território indígena encontram-se, boje, da Funai, dr. Júlio Gaiger, e ao presidente do nofederal em garantir a preservação e integrida-
invadidos por garimpeiros, fazendeiros e colonos Ibama, dr. Eduardo Martins. Os madeireiros aca- de do território indígena é patente. Sua recorrên-
que adentraram aquelas terras na esteira da ex- bam de tomar conta da TI Apyterewa, descarre- cia leva a concluir que estamos diante de uma
ploração madeireira. A própria Peracbi rasgou a gando grande quantidade de mercadorias trazi- "omissão planejada ”, que se arrasta há dez anos,
floresta, abrindo 5 mil ba de pastagens contínuas das em aeronaves e balsas. Os funcionários da e que serve, sem dúvida, aos propósitos daqueles
no centro do território Parakanã. Por dez anos, Furna foram retirados da área porfalta de segu- que desejam enriquecer às custas do patrimônio
os Apyterewa-Parakanã atacaram, expulsaram, rança. A extração se iniciou no mês de novem- indígena e nacional, através da exploração irra-
saquearam os invasores. Em vão. As autoridades bro, coordenada por Evandro Moreira Peres, que cional e devastadora do meio ambiente. Talvez, a
públicas não demonstraram qualquer interesse representa uma madeireira de São Félix do Xingu. Funai agisse com maior honestidade se entregas-
em cumprir suas obrigações constitucionais: omi- 0 mogno estava sendo puxado até a margem do se, de uma vez por todas, e não a conta -gotas, a

tiram-se e, em alguns momentos, colaboraram rio Xingu, de onde seria escoado em balsas para administração das terras indígenas a um consór-
ativamente para que a invasão se consumasse. Há São Félix e vendido. Não temos ainda informa- cio de míuleireiras e mineradoras. Pois se não é
cerca de dois meses, vem -se denunciando ao Mi- ções sobre a empresa para a qual o sr. Evandro esse seu intento, bem que está parecendo. (Carlos
nistério da Justiça que a situação na região che- trabalha, mas é provável o envolvimento de al- Fausto, dez/96)

gara a um ponto crítico. gum grupo de médio ou grande porte, pois a es-

Altamira, Benigno Pessoas Marques, ao Depar- moradores de São Félix, estes pelos crimes de ficaram caracterizados como de uso indígena e
tamento de Patrimônio Indígena da Funai, na roubo, receptação, dano ao patrimônio público, que, por isso, deverão ser excluídos da TI. Fi-

capital federal. Segundo Benigno, todos os co- formação de quadrilha e ameaça a índios e funci- cam também excluídas “as estradas e vias públi-
municados ao Departamento sobre a rapina onários da Funai; anulada a autorização de funci- cas que atravessam a área indígena, bem como
promovida pelos madeireiros na área Parakanã onamento da Madeireira Ouro Verde; levantado suas respectivas áreas de domínio público” além
ficaram sem resposta. o impacto ambiental causado pela extração ma- do curso do rio Xingu, sem prejuízo da autono-
Segundo o relatório da operação, a ação ocor- deireira na área indígena; avaliado o potencial de mia indígena sobre suas ilhas, ficando "assegu-
reu num momento favorável, quando um grupo aproveitamento sustentável dos recursos naturais rada a livre circulação de pessoas, veículos e
de índios Parakanã esteve em Altamira solici- existentes na reserva, com o apoio de institutos embarcações pelas vias aludidas". O despacho
tando a intervenção da Funai para interromper de pesíjuisa; e agilizado o processo de leilão da determina à Funai que refaça a linha divisória
as atividades dos madeireiros na área. Dois dias madeira apreendida. (ISA, a partir do Relatório sudeste. (ISA, a partir de ÜOU, 08/04/97)
antes da operação, a ADR de Altamira recebeu da Operação na TI Apyterewa, fev/97)
ainda a informação de que os próprios índios MPF gUER FIM DE
haviam apreendido madeiras, máquinas e dez JOBIM PROPÕE LEILÕES DE MADEIRAS
pessoas que ocupavam uma balsa na área. Ain- REDUÇÃO DA TI
da de acordo com o relatório, os madeireiros O fim dos leilões de madeira na região e a apli-

aprisionados foram soltos por um grupo de ín- Antes de deixar o Ministério da Justiça para ocu- cação de ações contra os madeireiros respon-
dios cooptados pelos invasores algumas horas par vaga no STF, Nelson Jobim assinou o Despa- sáveis pela extração ilegal em áreas indígenas
antes da chegada de um dos dois aviões mobili- cho n° 17, que trata das contestações e do reen- são as medidas imediatas que serão solicitadas
zados para a ação. Na ocasião, foram encontra- caminhamento da demarcação da TI Apyterewa. pelo MPF à Justiça, na tentativa de coibir a ex-
das na aldeia Xingu cerca de 70 toras de mog- Pelo despacho, Jobim considerou improceden- tração de madeiras em terras habitadas por
no na beira do rio, já preparadas para serem tes as alegações apresentadas pelos contes- povos indígenas. Estas decisões são os primei-
rebocadas pela balsa. tadores - prefeitura de Tucumã, Exportadora ros resultados da audiência pública, promovi-
Segundo informações obtidas pelos membros da Peracchi, Agrivas e duas pessoas físicas. No en- da pela Procuradoria da República em Santarém
operação, a madeira havia sido extraída a man- tanto, o Despacho acata proposta de redução para discutir sobre a extração ilegal de madei-
do do senhor Leonardo, de Evandro Moreira da pane sudeste da área, apresentada pela ADR ra, principalmente mogno, na reserva
Peres e Crezu Fadu Magalhães, e estaria sendo Funai/Altamira, como meio para mitigar confli- Apyterewa, habitada pelos índios Parakanã.
negociada com a empresa madeireira Ouro Ver- tos entre os Parakanã e fazendeiros, posseiros e “De imediato, vamos fazer a apreensão desta
de, situada próxima ao aeroporto da cidade de outros ocupantes não-indígenas. Para justificar madeira e sua reversão para o patrimônio da
São Félix do Xingu, com intermediação de Wag- essa redução, Jobim alega que o laudo antropo- União. Ou seja, não haverá mais a possibilida-
ner Bemardes de Freitas. No dia 25 de fevereiro, lógico não caracteriza essa área como indígena de de leilões de madeira na região, visto que
a equipe da operação multou o intermediador. O segundo os preceitos constitucionais. todos estavam servindo apenas para esquentar
relatório da operação na TI Apyterewa recomenda Mesmo afirmando que a alegação da Exportado- madeiras extraídas ilegalmente”, disse o pro-
que seja: decretada a prisão dos madeireiros iden- ra Peracchi não procede, Jobim considerou que curador Felício Fontes Júnior. Segundo ele, o
tificados pelos índios bem como de todos os os 39,2 mil ha reclamados pela madeireira não dinheiro das ações de indenização será reser-

524 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


f
"íij? - Acervo
I SA

vado à Funai, em prol dos índios afetados, como do Xingu e Marabá é oriundo das Tis Apyterewa anteriores, a Funai de Altamira mantém deta-
forma de ressarcir os prejuízos causados a eles. e Trindieira/Bacajá. (ISA, a partir de Relató- lhes do plano em sigilo. Calcula, entretanto, que
O debate - A audiência pública reuniu várias rio da Funai/Altamira, jan/99) a operação, com duração de 1 5 dias e custo pre-
autoridades na sala de audiência da Justiça Fe- visto de cerca de R$ 27 mil, envolva 12 agentes
deral no último dia 24. Estiveram presentes pro- FAZENDA DENTRO DA TI federais e um delegado, alem de técnicos do
curadores federais e representantes da Funai, USAVA TRABALHO ESCRAVO próprio órgão indigenista. A Administração Re-
Ibama, Cimi, PF, Receita Federal, OAB e outros da Funai espera que a equipe tenha auto-
gional
Virou confirmação a desconfiança de fiscais do
órgãos envolvidos na discussão dos problemas nomia de ação e determinação em prender to-
dos Parakanã. Benigno Pessoa Marques, admi- Ministério do Trabalho e agentes da Polícia Fe-
dos as pessoas envolvidas, inclusive índios ado-
nistrador regional da Funai em Altamira, fez um deríd que estiveram no sul do Pará há 15 dias,
lescentes e ribeirinhos da região que vêm cola-
relato do problema desses índios com os ma- libertando trabalhadores que viviam em regime borando com os madeireiros e manifestando
deireiros, o que culminou com uma ação con- de escravidão na fazenda Maciel II, em São Félix
oposição aos servidores do órgão. (ISA, a par-
junta, proposta no último mês de fevereiro, pela do Xingu: a fazenda está dentro da reserva dos tir de relatório da Funai/Altamira, mar/00)
Funai, Ministério Público, Ibama, Polícia Civil índios Parakanã e não poderá servir para a re-

e Cimi depois da apreensão de 71 120 forma agrária.


toras e
Na reserva, de 900 inii ha, vivem menos de cem
PRESO PROCURADOR
pranchas de mogno e cedro, além de
índios. Quem descobriu a situação de ilegalida- DE GRILEIRO QUE
motosserras e do máquinário usado na explo-
ração da reserva Apyterewa.
de da fazenda foram técnicos do Incra de VENDEU PARTE DA TI
Aberta a audiência, o debate girou basicamen- Marabá. Não há qualquer registro nos arquivos
do órgão sobre a fazenda, que possui cerca de A Pobcia Federal de Foz de Iguaçu/ PR prendeu
te em torno do desaparelhamento dos órgãos
13 mil ha. no dia 5 de agosto de 2000 Marinho Gomes
federais na região, o que dificulta o combate à
Há cerca de 1 5 dias, na Maciel II, fiscais do Mi- Figueiredo, um dos procuradores de Carlos
exploração e ao comércio ilegal de madeiras
nistério do Trabalho c agentes da Polícia Fede- Medeiros, apontado pelo Ministério do Desen-
na Amazônia. O próprio MPF reconheceu sua
ral libertaram 182 trabalhadores que viviam em volvimento Agrário e pelo governo paraense
omissão em cuidar da defesa dos interesses in-
regime de escravidão. Os peões não tinham car- como o maior grileiro de terras do país. Mari-
dígenas. Os índios foram muito criticados pela
teira assinada, viviam em condições subumanas, nho foi preso ao tenlar vender a pecuaristas do
participação de algumas lideranças na venda
deviam mais em comida ao dono da fazenda do Paraná a fazenda São Sebastião, supostamente
de madeira. A representante do Cimi disse que
que tinham a receber de salário c eram amea- de sua propriedade, localizada dentro da TI
os índios não têm a verdadeira noção do co-
çados de morte caso tentassem deixar o local. Apyterewa, dos índios Parakanã, em S. Félix do
mércio, e que avenda dc madeira simplesmen-
O delegado Hélio Kristian, da Polícia Federal, já Xingu, sul do Pará.
te representa para eles remédios, roupas c ali-
nolificou os fazendeiros Jeová Pimentel e O procurador da República em Foz do Iguaçu,
mentos, suprindo parte de suas carências. A au-
Haroldo Passarinho, supostos donos da Maciel Alexandre Porciúncula, vai pedir ainda hoje a
diência serviu ainda para a identificação dos
U, para depor na sede da PF em Belém, (Últi- prisão preventiva de Marinho. Só depois é que
responsáveis pela exploração ilegal de madei-
mas Notícias/ISA, 13/04/99) o acusado será enviado a Belém. O empresário
ras na TI Apyterewa para o devido proces-
paranaense Aparecido Silva disse ao delegado
samento criminal. (O Liberal, 29/04/97)
AÇÃO DE MADEIREIROS ler lido em um jornal do sul do país que Mari-
nho andava vendendo terras públicas e desfez
MADEIREIROS REQUER PLANO EMERGENCIAL
um negócio quase fechado com o acusado.
CONTINUAM EM AÇÃO Informações recentes dão conta de que os ma- O juiz substituto Francisco Alexandre Ribeiro,
Dentre os problema das invasões de Tis situa- deireiros continuam com seus acampamentos da Vara Única Federal de Marabá, decretou no
das na região de Altamira, o caso mais grave é montados a cerca de 500 metros da aldeia mês passado a indisponibilidade da fazenda São
o da TI Apyterewa. A conclusão é do Relatório Apyterewa, uma das duas que existem na TI. Al- Sebastião, de 4.356 ha, por diversas irregulari-
de Vigilância e Proteção das Terras Indígenas/ guns Parakanã estão trabalhando para os ma- dades, inclusive falsificação de documentos. A
1998, de autoria da Administração Executiva deireiros, recebendo Í0 reais por cada tora re- empresa Samaúma Agropecuária Ltda, de Ma-
Regional da Funai de Altamira. tirada, e ameaçam os funcionários que estão no rinho, teria comprado a fazenda do “fantasma"
De acordo com o relatório, toda a extensão de posto, caso estes passem informações paia a Carlos Medeiros, que responde a 21 processos
Apiterewaestá tomada por madeireiros, que fre- Administração em Altamira. Os índios teriam no Ministério Publico Federal do Pará. Mas em
quentam a aldeia e fornecem bebidas alcoóli- “autorizado” os madeireiros - embora não te- depoimento ontem em Foz de Iguaçu, Marinho
cas, armas e outras mercadorias aos índios. Al- nham competência para tal a realizar a extra-
- Figueiredo afirmou que não conhece Carlos
guns desses são coniventes com a presença dos ção também no território dos Araweté, ao norte Medeiros.
invasores. Os pedidos de prisões preventivas de de suas terras. O responsável direto pelo traba- A fraude dessa negociação ficou escancarada
nove desses madeireiros, por parte da Procu- lho de campo dos madeireiros é Ângelo Lopes depois que os técnicos do incra, Antônio Carlos
radoria Regional da Republica de Marabá, não Pereira, que tem mandado de prisão expedido Santa Brígida e Julineide do Socorro Cordeiro
foram suficientes para alterar a situação. No fi- pelajustiça de Marabá e está foragido há quase de Oliveira, comprovaram que a área foi

nal de 1998, servidores do Ibama e Polícia Fe- um ano. superposta à TI Apyterewa. A ação civil pública
deral estiveram na região, com a “Operação Em consequência do quadro dramático, que já contra Marinho para tomar a fazenda indispo-
Macauã”, e decretaram a proibição da explo- perdura há muitos anos, a Administração da nível foi impetrada pelos procuradores da Re-
ração, transporte e comercialização do mog- Funai/Altamira prepara um Plano Emergendal pública, Sidney Pessoa Madruga, Felício Pontes

no. A quase totalidade do mogno de Fiscalização para a área. Considerando que Júnior, e pela subprocuradora do Ibama na Es-

comercializado na região de lúcumã, São Félix o vazamento de informações prejudicou ações tado, Creonor Santos Aragão.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCI0AMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 525


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Tentando safar-se da prisão em Foz do Iguaçu, curadoria Geral da República. O ministro do os serviços foram contratados pelo prefeito-
Marinho exibiu documentos do TJE do Pará as- Meio Ambiente, José Samey Filho, informou que interventor de Rurópolis/PA, Averaldo Pereira

sinados pela juíza Rosa Portugal, reconhecen- já enviou para o local uma equipe destinada a Lima, e pelo empresário do ramo madeireiro
do a área como de Carlos Medeiros. Ele tam- apurar os fatos. Segundo Samey, a Polícia Fe- Sérgio Rigone, de Paragominas/PA. As informa-
bém mostrou certidão assinada pelo ex-diretor deral também mandou um grupo de agentes ções de Brito foram reunidas num Termo de
de cadastro da Superintendência do Incra em para a área. A denúncia foi encaminhada ao de- Declarações colhido na Delegacia de Polícia
Belém, André Luiz Banhos, afirmando que a área putado pela Federação dos Trabalhadores na Civilde Santarém.
lhe foi vendida por Medeiros. André não tem Agricultura no Estado do Pará (Fetagri) Segun-
. Segundo a Funai de Altamira, os trabalhadores,
competência para assinar o documento, pois o do o ofício do presidente da Fetagri, Aírton que estiveram presos entre 2 1 e 26 de maio de
município de S. Félix do Xingu é subordinado à Faleiro, a terra dos índios Arara, na localidade 1999 por força de um mandado de prisão pre-
Superintendência do Incra de Marabá, que é de Cachoeira Seca, município de Altamira, vem foram soltos, mas serão indiciados cri-
ventiva,

autônoma. sendo alvo de roubo sistemático de madeira. minalmente. O prefeito e o empresário menci-
Ocupantes não-índios serão multados - Na (O Liberal, 17/04/99) onados como contratantes do serviço foram no-
sentença do juiz, ele determina que os réus se tificados e deverão prestar esclarecimentos em
abstenham de ocupar o imóvel lote 6 da gleba OPERAÇÃO SURPREENDE Santarém/PA. (ISA, a partir de informações da
São Sebastião. Ele fixou em R$ 10 mil por dia MADEIREIROS NA TI Fmai/Altamira, mai/99)
de multa a ser paga pelos acusados no caso de
descumprimento da decisão. Ribeiro também Funai e Ibama, em vistoria conjunta realizada MORTE DE ARARA LEVA
determinou a suspensão dos efeitos do plano em março e abril de 1 999, localizaram extrato- PESCADORES À PRISÃO
de manejo florestal sustentado de número 87 1 2/ res de madeira atuando na região do igarapé
Dois Irmãos, dentro da TI Cachoeira Seca. Fo- A morte do índio Karaya Arara, da aldeia Iriri
93, aprovado pela Superintendência do Ibama.
ram destruídos três acampamentos que servi- (TI Cachoeira Seca) notificada em 1 5 de maio,
A “ajuda" do Ibama permite que os supostos ,

am de apoio ao trabalho irregular e apreendi- é mais uma grave consequência da atividade


donos do imóvel retirem madeira da gleba para
das 214 toras de mogno e cedro. O principal pesqueira não-regulamentada na região. A apu-
comercializá-la.
envolvido é José Guilherme Rodrigues dos San- ração do caso pela Polícia Federal levou ao
Toda a ilegalidade na transação com a TI con-
tos, que prestou depoimento na Delegacia de indiciamento de quatro pescadores como sus-
tou com a participação do cartório de S. Féhx
Polícia de Altamira. peitos de homicídio. Frisan da Costa Nunes Fi-
do Xingu, que expediu o registro da área em
A indefinição dos limites físicos da terra indíge- lho, o “Costa”, Vicente Xavier Pereira da Silva,
nome de Carlos Medeiros. O cartório já foi no-
na, ainda não demarcada, foi apresentada pe- o "Biel", Elenilson Santos da Silva e Antônio
tificadodo decreto de indisponiblidade da fa-
los envolvidos como pretexto para sua atuação. Reginaldo da Silva tiveram sua prisão preventi-
zenda. Foi esse mesmo cartório que registrou
Todos os depoimentos prestados por pessoas va declarada e encontram-se detidos na Dele-
em nome da empresa norte-americana Worl-
envolvidas no caso estão de posse do Ibama de gacia de Polícia de Altamira desde 27 de maio.
dwide Ecological Timber Corporation uma área
Brasília. A madeira apreendida será levada para Os pescadores presos estão dentre os mais de
de 3, 1 milhões de ha pertencente à União e onde
vivem cinco grupos de índios Kaiapó. (O libe- em aguardo à decisão judicial.
Altamira, 40 que já figuravam em outro inquérito, na Po-
De acordo com a Funai de Altamira, incursões lícia Federal de Santarém.
ral, 06/08/00)
fluviais de não-índios no interior da TI Cacho- De acordo com relatório da Funai de Altamira
eira Seca são favorecidas pela existência da sobre o caso, o esgotamento do potencial pes-
de 92 km, aberta pela Ma- queiro nas proximidades da cidade de Altamira
ARARA/ “Transiriri”, estrada
deireira Bannach em meados da década de 80, leva os pescadores a se acercarem das terras

TI CACHOEIRA SECA que corta a TI de norte a sul, até a margem es- indígenas, utilizando técnicas (geleiras, redes,

querda do rio Iriri. No período de seca, ela per- sistema de arrastão e mesmo desrespeitando
mite acesso mais rápido, desde Altamira, ao tre- os períodos de desova) que prejudicam a ob-
cho do Iriri que se encontra dentro da TI. (ISA, tenção da alimentação diária das famílias indí-
a partir de relatório da Fiinai/AUamira, abr/99 genas. No mesmo dia em que recebeu a notícia
da morte de Karaya, a Funai foi informada de
ARARA PRENDEM INVASORES outro incidente: uma embarcação conduzida

QUE ABRIAM ESTRADA pelo chefe do Posto Iriri, Afonso Alves da Cruz,
na qual também estavam funcionários do Cimi,
Oito trabalhadores que estavam a cerca de três foi perseguida por pescadores e alvejada por

quilômetros da aldeia Iriri, na TI Cachoeira arma de fogo.


vários disparos de
Seca, foram presos pelos Arara e encaminha- Desencontros - Houve alguns desencontros
dos aos funcionários da Funai em 20 de maio nas informações sobre como Karaya teria
de 1999. José Lopes de Brito, citado em recen- morrido. A comunicação inicial do fato, através
te denúncia de invasão de madeireiros na TI de radiograma do Posto Indígena Iriri, indicou
ROUBO DE MADEIRA Arara, apresentou-se como empreiteiro respon- o afogamento como causa da morte. Conforme
O roubo de madeira nas terras dos índios Ara- sável pelos trabalhadores c justificou a presen- a perícia realizada pela PF, a morte decorreu de
ras, com a possível conivência de funcionários ça da equipe na TI Cachoeira por conta de ser- fortes golpes na região craniana, seguidos de
da Funai e do Ibama, foi denunciado pelo de- viços de abertura de picada visando uma futura hemorragia interna. No dia 26, o sertanista
putado federal Valdir Ganzer (PT-PA) aos Mi- estrada ligando a rodovia Transamazônica à Sidney Possuelo informou ã Funai de Altamira
nistérios do Meio Ambiente e da Justiça e à Pro- margem esquerda do rio Iriri. Segundo Brito, que o responsável pelo Posto Iriri lhe dissera

526 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


que Karaya havia morrido em decorrência de escoado paro o “seu lote", é oriundo de oulros ... PREOCUPAM
enforcamento. Em relatório sobre o caso Karaya, locais, que ficam dentro da Ti. (ISA, a partir de AUTORIDADES...
a Funai de Altamira aponta “postura completa- informações da Funai de Altamira, ago/99)
mente incorreta, negligente e de desrespeito pela O procurador da República Ubiratan Cazetta, o
secretário estadual de Transportes, Haroldo
administração" da parte do chefe do Posto lriri, ... TEM PRISÃO DECRETADA...
que, durante o transcorrer dos acontecimentos, Bezerra, e o presidente da Ação Social, Ronaldo

utilizava se do rádio para comunicar-se com o


O juiz Evaldo de Oliveira Fernandes Filho, da Barata, estarão hoje na aldeia dos Assurini, cm
Cimi e o DSlii, mas não com a sede regional do Justiça Federal em Santarém decretou ontem a Hicurí, para negociar o fim do bloqueio da ro-

órgão indigenista. (ISA, a partir de Relatório prisão preventiva do madeireiro Constante dovia Transcatnetá. Em Brasília, o senador

da Funa/Âltamira,
Trzedak, que está sendo procurado em toda a Ademir Andrade (PSB-PA) também se manifes-
.30/05/00)
região da rodovia Transatnazônica por agentes tou sobre o assunto. Eie enviou, no final da tar-
da Polícia Federal. Trzedak foi acusado de in- de de ontem, fax para o ministro da Justiça,

ARARA/TI ARARA vadir e retirar ilegabnente mogno da aldeia la- Renan Calheiros, para o presidente da Funai,
ranjal, dos índios Arara, no ktn 75 da rodovia Márcio Lacerda, e para o governador do Pará,
Transamazônica, no município de Medidlândia. Almir Gabriel, .solicitando providências urgen
PESCADORES VOLTAM Os Arara estão revoltados com a invasão de suas tes para a desobstrução da PA- 156. (O Liberal,
A INVADIR TI terras. Um grupo deles saiu da aldeia para quei- 23/04/99)
Nas Tis do médio lriri, a invasão de pescadores mar barracos e roças no km 90, ameaçando
entrar em guerra armada contra madeireiros e ... E OBTÊM PROMESSA
é um problema que vem desde a década de 80,
quando o esgotamento do potencial pesqueiro colonos que se negam a sair da área. ( O Libe- DE ATENDIMENTO A
nas regiões próximas a Altamira começou a fa- ral, 28/10 e A Critica, 06/11/99) REIVINDICAÇÕES
zer com que eles rumassem rio acima. Em 1996,
Teve um final feliz a interdição da rodovia
um conflito entre os Kayapó de Kararaô e pes- ... MAS CONTINUA AGINDO Transcamctá pelos Assurini. Os índios, após
cadores resultou na morte de dois destes e na
0 mandado de prisão preventiva do madeireiro exaustivas negociações, liberaram a rodovia.
fuga de outros sete, Agora, após um período de Constante Trzedak ainda não foi cumprido. A Um acordo, intermediado pelo procurador da
trégua marcado por debates públicos entre as
Funai de Altamira já tomou conhecimento de República no Pará, Ubiratan Cazetta, Funai e or-
entidades envolvidas no assunto e demais inte-
que o madeireiro pretende continuar com a ganizações não-governamentais ligadas á cau-
ressados, os invasores retomaram suas
exploração na TI Arara. A Polícia Federal alega sa indígena permitirá o atendimento das rei-
investidas. Para terem acesso a locais de boa
que eie está foragido. Porém, na região, é de vindicações dos Assurini pelo governo do Esta-
pescaria no interior de áreas indígenas, forne-
conhecimento público que Trzedak se encon- do. O governo prometeu recuperar 20 km da
cem produtos como bebida alcoólica e, mais
tra em suas terras, no km 80 da Transamazônica. rodovia, que passam por dentro da reserva in-
recememente, maconha aos índios. Em troca
(ISA, a partir de informação da Funai/Altami- dígena, construir uma ponte sobre o igarapé
desses produtos, há informações de que os pes-
ra, ago/00) Tracoazinho, que dá acesso à aldeia, cavar poço
cadores também estão recebendo mulheres in-
artesiano para fornecer água aos índios. O tre-
dígenas. Em acréscimo, especificainente na TI
cho da estrada também será cercado com ara-
Arara, a Justiça regional concedeu liminar a um ASSURINI DO TROCARÁ me farpado nas duas margens, para evitar inva-
colono instalado no interior do território indí-
sões de madeireiros e caçadores. Os Assurini
gena, permitindo que de permanecesse por lá,
o que leva a imaginar que novas invasões por
ÍNDIOS FECHAM RODOVIA ..., ainda receberão motosserras, terão suas casas
pintadas peio governo e outras benfeitorias. (O
parte de colonos possam acontecer. (ISA, apar- Armados com flechas e espingardas, cerca de
Liberal, 25/04/99)
tir de Relatório da Fumi/Altamira, fev/99) 400 índios Assurini, da aldeia Trocará, estão
bloqueando a Rodovia Transcatnetá (PA-156),
MADEIREIRO EM TI É na altura do km 20, entre os municípios de GAVIÃO PARKATEJÊ
AMPARADO POR LIMINAR... Tucuruí e Cametá. Eles exigem que o governo
do Estado cumpra um acordo firmado há cinco INVASORES NA TI
Irregularidades referentes ;t exploração de ma-
anos, ainda na gestão do governador Jáder
deira no interior da TI Arara foram denuncia- Dezoito agricultores sem-terra fonim presos por
Barbalho (PMDB) Segundo o cacique Francis-
.

das pda ADR/Funai de A denúncia,


Altamira.
co Assurini, este é um acordo amplo e que to-
cerca de 30 índios Gavião Parkatejê enquanto
que consta de ofício encaminhado à procura- mou muitos meses de discussão até ser acerta-
derrubavam árvores, preparando alguns alquei-
doria da República de Belém em 01/08/99, cita res dentro da reserva para o plantio de verão,
do entre a tribo e o governo do estado do Pará.
Constante Trzedak e a madeireira Comabil (In- segundo o delegado Adolfo Machado, chefe da
Entre os diversos benefícios a que os índios te-
dústria e Comércio de Madeiras Biancardi Ltda)
riam
PF de Marabá, a quem os índios entregaram os
direito, estão a proteção do Estado contra
corno responsáveis pela atividade, liminar ju-
qualquer invasão da reserva indígena por fazen-
presos.À invasão foi articulada por um mem-
dicial concedida pelo juiz Daniel Paes Ribeiro, bro do MST de São Geraldo do Araguaia, se-
deiros c madeireiros, além da construção de
da 4a Vara Federal, a Trzedak garante sua pre- gundo informações da PF, em conluio com ma-
escolas, postos de saúde e recuperação da ro-
sença na região. Mas, em visita à área, servido-
dovia, hoje praticamente intrafegável devido aos
deireiros da região, que teriam financiado a in-
res da Funai constataram que não existem ma- vasão. Segundo Machado, além de terras indí-
atoleiros. (CB, 22/04/99)
deiras nas terras consideradas pela liminar genas, o MST estaria invadindo pequenas pro-
como sendo “de propriedade do senhor priedades e intimidando seus proprietários com
Trzedak" e que o produto de sua exploração, ti ros e ameaças. (O Liberal, 30/05/96)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1896/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 527


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PAVIMENTAÇÃO DA porta um pesado fluxo de veículos, inclusive de ria da República de Marabá, visou corrigir a
BR-222 FICA PRONTA transporte de carga e coletivos de linha regular. irregularidade de não se haver realizado o EIA-
Em nenhum momento o governo do estado do Rima para o licenciamento das obras de cons-
0 governo do estado do Pará concluiu a obra Pará negociou a passagem da rodovia pela re- trução e pavimentação da rodovia.
de pavimentação da BR-222, com 221 km de serva indígena. Os Gavião, assim, esperam ansi- A Procuradoria suspendeu, em dezembro de
extensão, que liga Marabá a Dom Eliseu. A ro- osos a indenização devida. Entendem que a exis- 1997, as obras de pavimentação da rodovia, que
dovia foi implantada há 32 anos, no governo de tência da rodovia cortando a área indígena é vinham sendo realizadas pela Setran, argumen-
Jarbas Passarinho, e desde então vem operan- irreversível, e constitui hoje uma importante via tando que as obras eram irregulares, já que afe-
do com tráfego intenso dei .200 veículos diári- de comunicação, tanto para os índios, como tavam uma comunidade indígena. Após as ne-
os, volume que deverá ser aumentado signifi- para os habitantes da região. A estrada garante gociações entre 0 estado do Pará e as lideran-
cativamente com a pavimentação. A obra ficou a rápida ligação da comunidade indígena com ças indígenas, a Setran comprometeu-se a acei-
paralisada de dezembro de 1997 a abril deste os centros mais próximos; auxilia nos casos de tar os termos do laudo antropológico para evi-
ano, por força do embargo promovido pelo MPF, urgências médicas c no escoamento da produ- tar 0 retardamento das obras.
relativo a questões socioambientais, dada a pro- ção de castanha-do-parã c dos frutos regionais.
Os Sumí convivem há 2 6 anos com a rodovia e
ximidade da reserva indígena. À Procuradoria A BR-222, no entanto, produziu grande de-
com os transtornos sociais acarretados pela
da República pediu a implementação de medi- gradação na Ti Mãe Maria, com o corte de 22
mesma. Em 1971, 0 trecho da rodovia
das para minimizar o impacto da rodovia na km na floresta nativa dos Gavião, o que se es-
Transamazônica que vai de Porto da Balsa (ou
reserva indígena, A Secretaria de Estado de tendeu por mais de 100 m de largura. O gover- Porto Jarbas Passarinho) a Marabá foi libera-
Transportes do Pará (Setran) elaborou um Pla- no do estado foi responsável pelos suces-
do. Para além do Pará, abria-se uma via de co-
no de Controle Ambiental, que constou na cons- sivos desma-tamentos executados na TI Mãe
municação com a Belém-Brasília, que ia de
trução de duas passagens sob pontes, próximas Maria Os Gavião relatam que, na época da cons-
Tocantinópolis a Estreito. Apesar de acanhadas,
à entrada da aldeia, via para pedestres em tre- trução da estrada, “...o trator passou der-
as ligações sustentaram, desde sua abertura, um
chos possíveis da rodovia. O acesso à aldeia, de rubando mata, tudinho, tudinho, dava pena!
pesado fluxo de veículos, especialmente trans-
800 metros, foi pavimentado, e pórticos estão Era muito jaboti esmagado, madeira de mogno,
porte de carga e coletivos regulares. Por oca-
sendo afixados, indicando o trecho da estrada lai de maracatiara, cedro ...Morreu muito bi-
sião das obras, São Domingos do Araguaia ser-
que coincide com a Ti Mãe Maria. Também fo- cho, madeira apodreceu, foi chuva, foi sol, nem
viu de acampamento para os 200 empregados
ram instalados redutores de velocidade para fizeram nada ..."
da empresa responsável pelo empreendimento
evitar atropelamentos na entrada de acesso à O relatório antropológico argumenta que a pro-
(Engeplan). Hoje, 0 canteiro de obras produz
aldeia e na área de caça, no Km 25. (O liberal dução da castanha-do-pará foi reduzida em mais
movimento semelhante na sede do município.
20/10/98) de 70% nestes últimos 30 anos, o que significa
Sobre as mudança na década de 1970, os Suruí
que os Gavião deixaram de ganhar anualmente
lembram: Essa aí, a BR-1 53, eles (0 Exérci-
LAUDO ANTROPOLÓGICO o correspondente a 2.000 hectolitros de casta-
to) fizeram de primeiro no facão. Daí. à tarde,
AVALIA IMPACTO DA BR-222 nha. A experiência da comercialização autôno-
tinha as máquinas que chamam moto, moto de
ma da castanha, conduzida pelos Gavião nos
Em novembro de 1998, a procuradoria da Re- serra. Derrubava as árvores. Depois, tinha outra
anos 70, é lembrada para ilustrar possibilida-
pública em Marabá suspendeu as obras de pa- máquina, que deixava pronto. Foi assim que eles
des, apontadas pelos próprios índios, de se ter
vimentação da BR-222, que vinham sendo rea- passaram aqui. Mas eles nunca diziam nada para
um maior controle sobre a comercialização
ninguém. Vinham derrubando tudinho, daqui no
lizadas peia Secretaria de Estado de Transpor-
deste produto. A experiência, que contou com
tes do Pará (Setran), e encomendou um laudo São Geraldo. Depois que a gente prendeu as
a assessoria da antropóloga Iara Ferraz, rever-
antropológico que avaliasse o impacto do em- máquinas, que eles fizeram 0 desmatamento, é
tia um quadro no qual os funcionários da Funai que eles fizeram essa estradinha da aldeia. Para
preendimento sobre avida da Comunidade Ga-
desviavam parte do lucro obtido com a venda
vião Parkatêjê. A elaboração do diagnóstico des- agente, faz de conta que é dinheiro, naquele tem-
da castanha. O relatório antropológico aponta,
po não sabia de nada".
tinava-se a suprir a ausência do EIA-Rima, não
assim, para a viabilidade de um programa de
realizado na época em que a pavimentação da O laudo antropológico apresentou as reivindi-
desenvolvimento autônomo da reserva indíge-
rodovia obteve licenciamento. Os Gavião convi- cações dos Suruí relativas à presença da da BR-
na, baseado na coleta e comercialização da cas-
vem com a rodovia e com os transtornos acar- 153 na TI e encaminhou 0 pedido de indeniza-
tanha e também dos frutos nativos, corno o
retados pela mesma há mais de 30 anos. ção requerido peia Comunidade Indígena Surui
cupuaçu. (Trechos do laudo de Jane Felipe
A ação judicial que suspendeu as obras teve ori- Ãikewara ao Governo do Estado do Pará, em
Beltrão, nov/98)
gem num documento encaminhado pelos Ga- função da abertura e pavimentação da estrada.
vião à Procuradoria da República de Marabá As reivindicações levam em conta que 0 alarga-
em janeiro de 1998, no qual os primeiros rei- SURUÍ AIKEWARA mento e pavimentação da estrada intensificará
vindicavam indenização pela construção da ro- 0 trânsito de veículos na rodovia; que a intensi-
dovia na TI Mãe Maria, no trecho compreendi- ficação do tráfego acarretará aumento de peri-
IMPACTO DA BR- 15 3
do entre os rios Flexeira e Jacundá. gos e de ruídos; que 0 uso da rodovia pelos
É AVALIADO
O laudo partiu de um estudo retroativo, que ava- Suruí é intenso; que 0 gado criado por esses
liou o impacto da rodovia a partir de 1 967. Des- Em dezembro de 1998, foi concluído o laudo índios é forçado a atravessar a estrada para
de então, nada foi feito para resguardar os di- antropológico sobre o impacto da pavimenta- chegar até a aldeia; que 0 trânsito na BR-153,
reitos dos Gavião. Diz o relatório que, durante ção da BR- 153 na Área Indígena Sororó, locali- após a pavimentação, facilitará a entrada e saí-
30 anos, os Gavião têm assistido ao aumento zada no município de São Domingos do da de estranhos na área indígena, que, assim,
crescente do tráfego na rodovia, que hoje com- Araguaia. O estudo, solicitado pela Procurado- estará sob ameaça de invasão e ocupação, bem

528 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMB1ENTAL


’/j7 -Acervo
-JÁ ISA

como de roubo de castanha-do-pará, cupuaçu negociações para o Programa vinham desde o dia 29 de maio. Alguns jornais informam
e animais silvestres; que acidentes e atropela- 1992. Diante da morosidade do processo, Lú- que esse número alcançaria 80 índios e que,
mentos multiplicaram-se após a pavimentação cio Tembé disse que “índio não quer papel, ín- além deles, quatro funcionários da Funai tam-
da rodovia. (Trechos do laudo de Jane Felipe dio quer trator". (O Liberal, 09/11/96) bém são mantidos em cativeiro pelos colo-

Beltrão, dez/98) nos.A medida foi tomada depois que um gru-


PROGRAMA TRAZ po de índios saqueou uma casa comercial da
PRIMEIRAS MELHORIAS vila,ameaçando seus moradores e matando
TEMBÉ/ seus animais. Centenas de outros moradores
A Pará Pigmentos começou a executar os proje-
da região chegaram à Vila Livramento para
TI TURÉ-MARIQUITA tos do Programa Tembé, conforme compromis- engrossar o movimento dos não-índios, que
so assinado com a Funai. Em dezembro, um tra- ocupam irregularmente terras dentro da Ti
MINERADORA tor foi entregue à comunidade indígena junto Alto Rio Guamá. Equipes da PM e da PF tam-
INICIA ATIVIDADES... com 15 lotes de terra. Amostras de sangue e fe- bém estãono local. A confusão aumentou com
zes foram coletadas de cerca de cem índios e en- a chegada de políticos e candidatos da região,
Primeira empresa a explorar o imenso poten-
viadas à LSFPA para checar se houve contamina-
cial da terceira maior jazida de caulim do mun- que se aproveitam da oportunidade para in-
ção da comunidade pelo resíduos químicos lan- suflar os não-índios contra os índios, dificul-
do, a Pará Pigmentos S/A será inaugurada em
çados pela empresa nas águas da TI. Há casos de tando as negociações.
11 de outubro de 1996. A empresa já fez seu
diarréias entre os índios, que já estariam sendo
primeiro embarque - cinco mil toneladas de Ontem, Funai e líderes dos moradores inicia-
medicados, segundo a Funai. Pomares comuni- ram negociações para por fim à confusão, mas
caulim “coating" destinado ao porto de Antu-
tários, com cupuaçu, bacuri e outros frutos já as propostas encaminhadas aos colonos foram
érpia, Bélgica, Mas ainda há uma pendência da
estão sendo cultivados. (O Liberal, 21/02/97) rejeitadas, “Nós queremos que o governo re-
Pará Pigmentos com a Funai e a Associação In-
dígena Tembé de Tomé-Açu (Aitta), que prevê solvaem definitivo o problema que temos há
ressarcimento aos índios pela passagem de um anoscom os índios. Não somos vagabundos,
mineroduto de 180 km por dentro da TI. Caso
TEMBÉ/ somos trabalhadores”, afirmava um dos líde-
o assunto não seja resolvido, os índios amea- TI ALTO RIO GUAMÁ res. Fatigados e assustados, os índios estão sen-

çam adotar represálias. A Pará Pigmentos é uma do mantidos em um barracão junto com os ser-
associação da Caulim da Amazónia S/A (Grupo OCUPANTES DA TI FAZEM No início da noite, o delega-
vidores da Funai.

Caemi) com a CVRD, a Mitsubishi Corporation do da PF manteve contato com o governador


, ÍNDIOS DE REFÉNS
e a International Finance Corporation (IFC), Almir Gabriel, que, ao aceitar receber os colo-

agência financeira do Bird. (Gazeta Mercan- Moradores de Vila Livramento, instalada den- nos, enviou um ônibus para buscá-los. (ISA, a
tro da TI Alto Rio Guamá, mantêm 77 índios partir de FSP e O Liberal, 31/05/96)
til, 04 a 06/10/96)
Tembé, Kaapor e Timbira como reféns desde
... E RESPONSABILIZA-SE
POR PROGRAMA TEMBÉ”
Com a presença do presidente da Funai, Júlio
Gaiger, a empresa Pará Pigmentos assinou o ter-

mo de compromisso 01/96 com o órgão


comprometendo a reali-
indigenista federal, se
zar programas de apoio à comunidade Tembé
de Tomé-Açu, situada na área de influência do
projeto de exploração de caulim da empresa. A
empresa se obriga, assim, a executar ações de
proteção à comunidade indígena num prazo de
cinco anos, como contrapartida pelo desma-
tamento e pela poluição de alguns igarapés que
correm dentro da terra Tembé. O valor a ser
apbcado nesse período, segundo o acordo, é
de R$ 669 mil.
O Programa Tembé, como ficou nomeado, pre-
vê apoio à implantação de produção auto-sus-
tentável, educação, saúde e nutrição. Além de
ter que pagar parte dos salários de dois profes-
sores e dois monitores de saúde, a empresa se
compromete ainda a financiar recursos huma-
nos para a proteção ambiental da área,
melhorias nas condições de saneamento bási-
co e maquinários para a produção agrícola da
comunidade. Os índios contribuirão com a mão-
de-obra necessária à execução do projeto. As Livramento IPAI: Tembé reféns de posseiros,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ 529


ÍNDIOS DEIXAM MADEIRA E MACONHA índios já melhorou e os afetados pela doença
O CATIVEIRO...
Os 1.200 Tembé que vivem na reserva do Alto
estão se recuperando”, disse Thereza. O coor-
denador da Funai na região, Roberto Benigno
Rio Guamá convivem com núl famílias de bran-
Depois de 48 horas, os cerca de 80 índios man- que esteve na aldeia até 19h de sexta-feira (3)
tidos como reféns por colonos de Vila Livramento cos em suas terras. Estes invasores foram esti-
confirmou as informações de Thereza. (Caro-
foram libertados e retornaram imediatamente
mulados a se assentar em terras indígenas pe-
los poderes municipais, em troca de votos. O
Um Chagas, Ultimo Segundo/K!, 04/11/00)
para suas aldeias. Três funcionários da Funai
permanecerão detidos no lugar dos índios até
total descaso da Funai com a situação dos Tembé
foi denunciado em agosto, em Belém, por lide-
ÍNDIOS ESTÃO ASSUSTADOS
que o Ibama, o Incra e a Funai assumam várias
ranças, que acusaram a presença de grandes e Um avião da prefeitura de Altamira (sudoeste
reivindicações dos colonos. “O governo federal
é o responsável pelo problema entre colonos e
pequenos madeireiros há mais de 30 anos, ex- do Pará) já fez dez viagens nos últimos 15 dias
plorando a reserva florestal dos índios. “Essa é para a aldeia Ipixuna, dos Araweté. De avião,
índios, já que vem adiando liá décadas uma so-
a maior causa da revolta dos índios, fomos à foram transferidos os 16 índios infectados por
lução para a questão", afirma o documento. Uma
Justiça, mas ninguém teve força para fazer valer catapora para o hospital municipal da cidade.
reunião está sendo marcada entre as partes, na
nossos direitos", afirmou Muti Tembé. Cerca de O coordenador
sede da Funai em Belém. O documento exige que da Funai na região, Roberto
os índios se comprometam a não mais irem até mil toras de madeira, apreendidas em junho na Benigno disse que os índios estão assustados
área Tembé pelo Ibama, segundo o cacique, com a doença, mas que a equipe médica já con-
Vila Livramento, indenização pelas perdas
provocadas pelo episódio e a agilização das me-
sumiram do órgão. trolou a situação. “Ontem, ainda tive de con-
As queixas dos índios foram ouvidas pela Pro- vencer um jovem a deixar a mãe ser transferida
didas necessárias para que os colonos possam
obter a posse da terra. (O Liberal, 01/06/96)
curadoria da República, em Belém. O procura- para o hospital. Eles têm medo de mandar os
dor Ubiratan Caseia explicou aos índios o anda- parentes para o hospital”, disse Benigno.
mento das ações para retirar os invasores, mas
... E PROMETEM VINGANÇA Chefe do Distrito Sanitário Espcdal Indígena de
os Tembé entendem que tudo só será resolvido Altamira, Maria Thereza Fialho, disse que a si-

Teinbé estão prometendo vingança contra os através de uma ação conjunta da Funai, Polícia tuação nas tribos vizinhas dos Araweté
moradores de Vila Livramento. “Quem entrar na Federal, Ibama, Incra e Polícia Militar. (Paracanâ, Arara e Xicrim do Bacajá) é bem
nossa terra vai morrer, seja pequeno, grande, Os Tembé informaram que a omissão das auto- melhor. “Eles até tiveram contato com o vírus
homem ou mulher", disse o índio Ednaldo ridades tem garantido sucesso a uma indústria da catapora, mas estão mais fortes e bem
Tembé. Todos estão reunidos há alguns dias para promissora levada pelos colonos invasores na alimentados e não adoeceram”, disse.
discutir o que fazer contra a ocupação da resei- área Tembé: a produção de maconha. (0 Libe- Thereza contou ainda que a vacina da catapora
va. Em coletiva dada à imprensa, o porta-voz dos ral 16/08/98) é restrita à rede pública de São Paulo, mas que
Tembé, Valdeci, disse que esperam que o gover- pediu às autoridades federais doses para pre-
no federal tome providências para desintnisar venir novos surtos na tribo. “Na situação atual,
as terras. Mas que, se nada for feito, novos' confli- ARAWETÉ de nada adiantaria a vacina, mas espero que o
tos poderão surgin (O Liberal, 03/06/96) governo se sensibilize com o quadro atual e faça
a compra", disse. (C. Chagas, Ultimo Segun-
CATAPORA MATA 4
PREFEITO INCENTIVA do/IG, 04/11/00)

NOVAS INVASÕES Um recém-nascido, um de 38 e dois araweté


maiores de 60 anos, da aldeia Ipixuna, morre- “MALOCAS, ALIMENTAÇÃO
O acordo fechado entre entidades do governo. ram de catapora nos últimos 15 dias, em PRECÁRIA E FALTA DE
Índios e colonos para pacificar os conditos na Altamira, sudoeste do Pará. Um surto da doen-
HIGIENE’’
TI Alto Rio Guamá está por um fio. O vereador ça atingiu os Araweté e deixou outros 16 índios
Antônio Nildo, do município de Nova Esperan- internados no Hospital Municipal de Altamira. O surto de catapora que atingiu índios Araweté
ça do Píriá, próximo da TI, denunciou à chefe Uma equipe médica da Fundação Nacional da pode contaminar todos os 280 índios da aldeia
da Divisão Fundiária da Funai, em Belém, Re- Saúde (Funasa) já está no Ipixuna e disse que Ipixona (PA),mas a perspectiva é a de que não
gina Célia Fonseca Silva, que o prefeito Ademar no momento a situação está sob controle. ocorram novas mortes por causa da doença, in-
Barros continua incentivando os colonos da re- Segundo a chefe do Distrito Sanitário Especial formou ao Último Segundo o médico Ubiratan
gião a invadir a reserva. Segundo o vereador, o Indígena de Altamira, Maria Thereza Fialho, o Pedrosa Moreira, Coordenador de Saúde indí-
prefeito estaria afirmando que um advogado, grande problema dos Araweté é a desnutrição. gena da Funasa, órgão do Ministério da Saúde.
Delmiro Santos, conseguiria a redução da área O rio onde costumavam pescar está seco e
eles A proliferação da doença se deu porque os ín-
indígena com base no Decreto 1.775, que in- os índios têm se alimentado basicamente do que dios vivem em malocas coletivas - cada uma com
troduz o princípio do contraditório no proces- plantam. “Eles só comem carboidratos, passam 40 a 50 índios - e isso propicia a contamina-
so de demarcação. O Decreto 1.775, no entan- o dia mascando milho batido no pilão. Estavam ção. “A transmissão virai numa situação dessas
to, é inócuo em relação a TI Alto Rio Guamá, já muito fracos", disse. Thereza contou que des- é como um rastilho de pólvora”, disse o médi-
que a mesma foi demarcada e tem registro de- de que souberam do surto, há quinze dias, uma co Ubiratan Moreira. “A catapora é uma doen-
finitivo no SPU. equipe médica (com um médico, um ça boba, mas os índios têm baixa imunidade e
(O Liberal 14/06/96) laboratorista, duas enfermeiras, dois auxiliares são rapidamente contaminados", disse o médi-
de enfermagem e uma cozinheira) está no lo- co,informando que a causa das mortes não é
cal, Ela contou também que tem mandado ali- propriamente a catapora, mas a infecção nas
mentos para lá.“Com o reforço alimentar, a bolhas que se transformam em feridas ou mes-
médica de lá me garantiu que a resistência dos mo a desidratação.

530 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1995/2000 - INSTITUTO socioambíental


.

Segundo o médico, a situação na aldeia Ipixuna ma 0 antropólogo. (Ana Paula Cbineüi, Ulti- imunológica de todas as aldeias indígenas sus-
favorece a doença porque os índios têm alimen- mo Segundo/IG, 06/11/00) cetíveis à doença. Outra atitude imediata do
tação deficiente e higiene precária. A equipe diretor de Saúde indígena da FUNASA, que está
médica está fornecendo alimentos conto arroz, POLÊMICA MÉDICA em Altamira (localizada a 800 km da capita!

feijão, mandioca e a limpeza das bolhas com SOBRE A VACINA paraense), foi encaminhar para as aldeias mais
permanganato das feridas o que evita a infec- infectadas uma equipe de profissionais de sau-
Dois técnicos do Programa Nacional de Imuni- de que iniciaram hoje 0 levantamento
ção. Os casos mais graves foram tratados com
zação, que é ligado ao Ministério da Saúde, che- epidemiológko da doença no oeste do Pará"
antibióticos, (C. íôbo, Ultimo Segundo/IG,
04/11/00)
gam nesta terça-feira aos Araweté. De acordo (Carina Martins & Heloísa Ribeiro Ultimo Se-
com a coordenadora do Programa Nacional de gundo/IG, 07/11/00)
Imunização, Maria de Lurdes Maia, além dos
FUNAI E ANTROPÓLOGO NÃO
ACREDITAM EM DESNUTRIÇÃO técnicos, 300 doses de vacina contra varicela já
QUEM VAI SEGURAR O
deixaram 0 Rio de Janeiro, e também devem
RESCALDO DA CRISE?
Nerci Caetano Ventura, diretor de assistência de chegar hoje à tribo. A tribo receberá também
administração da Funai (órgão do Ministério.da 400 doses de imunoglobulina específica contra “A fase difícil já passou e a situação agora está
Justiça) na região de Altamira, sudoeste do Fará, catapora, que é um anticorpo que pode ser apli- sob controle". Este foi 0 diagnóstico de Benig-
afirma que a dieta dos índios Araweté é equili- cado em indivíduos que já foram contaminados, no Marques, administrador da Funai em
brada. A subnutrição foi apontada pela Funasa e nos quais a vacina não leria mais eficácia. Altamira e ex-chefe de posto na Terra Indígena
- órgão do Ministério da Saúde responsável pela O infectoiogista da Universidade Federal de São Araweté do Igarapé Ipixuna, no sudoeste do
saúde dos índios - como uma das causas da Paulo, Araty da Cruz Tfriba, compara 0 uso de Pará, onde habitam cerca de 280 índios, dos
morte de cinco indígenas infectados por um vacinas num momento de epidemia a uma cor- quais pelo menos 218 foram acometidos pelo
surto de catapora na aldeia. Caetano garante que rida de fórmula 1. “0 vírus que saí na frente surto de varicela - doença de origem virótica

os Araweté comem mesmo em época


proteína, vence a competição. Diferente da vacinação in- popularmente conhecida como catapora - nos
de pouca chuva. “Eles comem carne de jabuti, fantil feita conforme 0 calendário médico, numa últimos 20 dias, segundo dados da Funasa. A
de veado e alguns peixes que ficam no que res- epidemia, a competição entre 0 vírus injetado e doença provocou a morte dc um recém-nasci-
ta de água do igarapé, além da farinha de man- 0 vírus selvagem depende das proporções que do e quatro adultos, causando ainda a
dioca, do milho e outros vegetais", afirma. a doença atingiu. A vacina poderia gerar até internação de 22 Araweté.
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo que novas cataporas mais leves que a convencional", A situação, contudo, ainda estálonge de ser re-
estudou quatro gerações de Araweté e ficou afirma 0 médico. Como 22 dos 280 membros solvida, Restam cinco araweté internados no
quinze anos em contato com a aldeia, avisa que da aldeia Araweté já foram hospitalizados, eie hospital municipal e cerca de 30 na Casa do
eles são muito melhor alimentados que o bra- não vê mais possibilidade de prevenir a expan- índio de Altamira, De acordo com Benigno Mar-
sileiro médio. “Não é todo mundo que pode co- são da doença com a vacina, devido ao caráter ques, a catapora também alastrou-se em ou-
mer carne, peixe e milho”, disse, destacando explosivo da catapora. Segundo Tiriba, se 10% tras aldeias da região (Bacajá, Asuriní do
também que, na época de seca, a pesca fica fa- estão hospitalizados, a cadeia de transmissão Koatineino e Arara). No momento, no Ipixuna,
cilitada porque os peixes se concentram nas la- está em curso e será improvável aluar preven- cerca de 25 araweté ainda estão contaminados
goas formadas no fundo do leito do rio. “Pare- tivamente. A melhor ação, neste caso, seria 0 iso- pela doença.
ce ao menos estranho que os Araweté estives- lamento dos que tunda não foram contaminados. Ontem, uma equipe de sanitaristas do instituto
sem subnutridos. A não ser que os médicos da O Ministério da Saúde, por meio do Comitê Téc- Evandro Chagas, de Belém, colheu amostras de
Funasa tenham chegado quando os homens da nico de Assessoria para Imunizações definiu há sangue de índios no local, vacinou os não con-
tribo já estavam doentes e sem caçar há dias”, três meses que todas as tribos indígenas com taminados e aplicou medicamento para aumen-
disse. surto da doença devem ter toda sua população tar a resistência dos doentes. Além disso, há
0 surto de varicela foi detectado também em vacinada gratuitamente. A vacina deve ser apli- uma equipe de dois médicos e alguns para-
outras tribos, como os Arara, Xicrim e Paracanã. cada em regime de urgência nos cinco primei- médicos da Secretaria Municipal de Saúde pres-
Mas até então nenhum índio havia falecido. O ros dias após a notificação da doença. A FUNASA tando assistência no local.
antropólogo Viveiros de Castro explica que os estará realizando, pela primeira vez no país, uma A Funasa comprometeu-se a vacinar todos os
Xicrim tiveram contato com os brancos há mais intensa vacinação de índios contra a varicela, membros das 12 aldeias da região até, no má-
tempo que os Araweté e já estavam melhor imu- conhecida popularmente por catapora. A medi- ximo. a próxima terça-feira. Além disso, todo
nizados. “O primeiro contato oficiai dos Araweté da foi tomada para conter a evolução da doen- os Araweté receberam doses de imuno-
foi em 1976. Nesse mesmo ano, eles perderam ça em nove comunidades indígenas da região globiüina, substância que contém o anticorpo
quase metade da população por causa de uma de Altamira (PA) da catapora e impede sua manifestação.
epidemia de gripe e de conjuntivite levada por Alem de vacinar os índios que não contraíram a Apurando responsabilidades - Para apurar
um membro da expedição branca", diz. A par- catapora, 0 diretor nacional de Saúde fndigena as mortes dos cinco índios, será aberto um in-
tir de então, foram registradas repetidas epide- da FUNASA, Ubíratan Pedrosa, determinou a quérito policial e outro administrativo. O dire-
mias, principalmente de gripe, que dizimaram aplicação de imunoglobulina nos índios que tor da Funasa, Elbiratã Pedrosa, esteve ontem
várias gerações. Mas nunca foi visto um caso mantiveram contato prolongado com os doen- em Altamira, onde se reuniu com dois Procu-
de catapora entre eles. Há alguns anos, os tes. Para tanto, a FUNASA solicitou ao sistema radores da República e assumiu a responsabi-
Araweté conseguiram crescer até os 270 atuais de saúde pública de Belém (PA) e de Brasília lidade pelo ocorrido. Segundo testemunhou
índios da aldeia, mesmo número de antes do (DF) 0 envio, para 0 DSF.I de Altamira, das do- Tarcísio Feitosa da Silva, do Cimi, 0 chcfc do
contato. “Acho surpreendente essa nova epide- ses de vacina contra a catapora e de DSE1 local não teve a mesma postura e entrou
mia, já que a situação parecia estabilizada”, afir- imunoglobulina necessárias à proteção em atrito com os Procuradores, que também

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SDCIÜAMBIENTAL SUDESTE 00 PARÁ I 531


prometeram apurar a aplicação dos recursos CIMI DIZ QUE SINAIS DE binetes odontológicos” na cidade, já que lá vi-
concedidos pela Funasa no convênio com a EPIDEMIA NÃO FORAM vem 800 indígenas que acabam por transfor-
Prefeitura. De acordo com Benigno Marques, NOTIFICADOS mar Mtamira na “maior aldeia da região". As-
o impacto do surto de catapora nos Araweté foi sim, o convênio entre a Funasa e a Secretaria
mais drástico pela ineficiência do convênio da A equipe do Conselho Indigenista Missionário de Saúde para construir os postos odontológicos
Funasa com a Prefeitura de Altamira, que con- (Cimi) de Altamira (PA), reafirmou a versão de como
teve prioridade o público indígena da ci-

tratou profissionais sem experiência, os quais que a chegada da catapora na aldeia Ipixuna, dade. "No entanto, brancos e índios formam fi-
permitiram que índios doentes retornassem às em julho, é mais um caso de epidemia não noti- las diariamente nesses locais e, na prática, a
comunidades e contaminassem os demais. De ficada pelos auxiliares de enfermagem das aldeias prioridade não funciona”, revela Marcos Anto-
acordo com Tarcísio Feitosa da Silva, a epide- no momento cm que o primeiro caso ocorre. nio Reis, do Cimi,
mia teve início em julho passado, quando um “Os índios gostam de vir à cidade fazer super- "Não é verdade, só depois que concluímos que
Araweté teve catapora e relomou ao Ipixuna mercado, pegar a aposentadoria, visitar paren- a demanda indígena não era alia, decidimos
levando a doença, No caso dos Araweté, diz Be- tes e, na Casa do índio, misturam-se às pessoas atender a população branca. E já estamos dis-
nigno, há o agravante de que eles sempre tive- que ainda não foram completamente curadas”, cutindo uma escala de horários em que só os
ram “baixa resistência”, desde o tempo dos explica Marcos Antonio Reis, membro da equi-
índios serão atendidos”, explica a representan-
primeiros contatos, quando boa parte morreu pe do Cimi/Altamira. Segundo ele, os auxiliares teda Funasa no local.
contaminada por uma epidemia de conj untivite. de enfermagem nunca removem os índios no A construção de poços dagua em três aldeias
O funcionário da Funai também rejeitou todas momento em que identificam os primeiros sin- do Oeste paraense é outra situação denunciada
as justificativas para o surto dadas pelos repre- tomas de uma possível epidemia. pelo Cimi: houve desperdício de verbas, já que
sentantes locais da Funasa, como subnutrição Uma araweté portadora de catapora morreu os poços foram perfurados em locais onde a
peio finai da estação seca, falta de higiene e ontem com complicações generalizadas, por água não é potável, primeira condição para um
número de pessoas por residência coletiva. perda de resistência e, segundo membros do Cimi, bom controle sanitário.
Na mesma direção, Tarcísio Feitosa aponta a por ter desenvolvido também a tuberculose. A Funasa rebate: “os três poços não deram água
má aplicação dos recursos do convênio da O Cimi de Altamira diz estar atento para a situa- de boa qualidade, mas o sistema de infra-estru-
Funasa pela Prefeitura, dando exemplos como ção das 12 aldeias do Oeste paraense. “Quando tura sanitária está começando a ser construído
a compra de gabinetes dentários que ficam na os índios deixam a aldeia e vêm ficar interna- este ano. O Cimi está pegando casos isolados
cidade, enquanto na aldeia o dentista trata os dosnum espaço desconhecido, ffeqiiente-mente para criar confusão, antes dos investimentos
Araweté em um banquinho; disse ainda que as entram em depressão e resistem a tomar os públicos não havia nem enfermeiros nas tribos”.
instalações do posto de saúde no Ipixuna, medicamentos, Tanto que o estado de saúde dos Para Reis, “se a administração do distrito usas-

construído com verba do convênio, são abso- três Araweté ainda internados é grave”, revela se a verba que paga o salário de alguns funcio-
íutamente inapropriadas, de modo que “não dá Marcos Antonio Reis, da equipe do Cimi/ nários e contratasse um engenheiro para estu-
nem pra atar uma rede!". Altamira. dar os melhores locais para instalação dos po-
Na avaliação de Beto Ricardo, antropólogo e Todas as seis mortes até o momento foram en- ços, evitaria desperdício, beneficiando direta-
pesquisador do ISA que esteve com os Araweté tre os Araweté: uma criança recém-nascida e mente os índios. Ilá funcionários ganhando R$
no início da década de 90, de agora em diante, cinco adultos (Iripubai-hi, Araiinha-hi, Mitan- 3 mil reais por mês na Secretaria de Saúde, sem
espera-se que, além do Ministério Público Fe- hi e sen genro e, ontem, Tiai-ln), mas o Cimi nenhuma formação superior”, denuncia Reis.
deral apurar as responsabilidades, o Ministé- garante que o vírus ressurgiu em Túcainã, Caju- A Funasa lembra que os recursos são aplicados
rio da Saúde deve garantir a erradicação da do- eiro, Koalinemo, Apiterewa, Xingu e Bacajá. compra de medicamentos,
prioritariamente na
ença na região. Em razão dos poucos recursos (Heloísa Ribeiro, Ultimo Segundo/IG, pagamento das equipes médicas (um médico,
que sobraram do convênio com a prefeitura 13/11/00) um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem,
nesse finai de exercício, é preciso a liberação cada) e leitos hospitalares. (Heloisa Ribeiro,
de verbas extras para instalar um posto de saú- FUNASA E CIMI DIVERGEM Ultimo Segundo/IG, 14/11/00)
de adequado no Ipixuna e assegurar uma equi- SOBRE APLICAÇÃO DE
pe médica especializada de plantão em Altamira, RECURSOS OITAVA MORTE
com plenas condições de se deslocar para as
Entre janeiro e novembro deste ano foram in- Mais uma Araweté morreu em consequência da
aldeias, caso haja novos casos da doença, até o
vestidos R? 1 milhão e 300 mil reais na área de catapora. Desta vez foi Kamadin-hi, 62, que
final do surto. O pior já passou, mas é preciso
saúde indígena paia as 12 tribos do Oeste do morreu no Hospital Universitário Barros Bar-
que o governo responsabilize-se peio rescaldo
Pará, mas membros da equipe do Cimi de reto, em Belém, onde estava usando respirado-
da crisc. (Valéria Macedo, Notícias Socio-
Altamira entendem que há pelo menos três casos res artificiais, por conta de uma infecção
ambientais/lSA, 09/11/00)
concretos sobre a má utilização desses recursos. pulmonar derivada, segundo o médico Carlos
Primeiro, a Funasa em convênio com o distrito Barreto. Outro Araweté está internado no mes-
de Altamira optou pela construção de três “ga- mo hospital. (A Crítica, 22/11/00)

532 SUDESTE DO PARÁ POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1 336/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIEIMTAL


Acervo
//\V ! SA

9. NORDESTE

CopyWtod mnUniil
Acervo
-//'SÁ
NOROESTE

°
|
44

ATLANTICO

rodovia implantada

capital de Estado

cidade

TERRAS INDÍGENAS
(áreas não representáveis

nesta escala)

^ reconhecida olicialmente

A em
ou a
identificação
identificar

apresentada em
outro capitulo

INSTITUTO SOCIOAMBIENT AL/2000


NORDESTE
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de ZOOU

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
s
Mapa fn . fonte, data I lha)

39 Atikum Atikum 2.743 Fu na sa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 16.299 Carnaubeira da Penha PE Rodovia PE-423 corta a área.
Dec. de 05/01/96 da pres. F.H. Cardoso, homologa
a demarcação administrativa (DOU, 08/01/96).
Reg. CRI de Carneubeira Penha, Comarca de
Floresta Matr. 1.093, Liv2-I,fl. 26 em 18/01/96.
Reg. SPU. Cert. 005 em 27/08/96.

759 Barra Kiriri 32 Funai: 93 Adquirida p/ assentamento dem. 37 Barra BA


Atikum Adquiridos pela Funaiem 1980 aproximadamente
62 ha, parte da Fazenda Passagem. Foram
demarcados em 1991 apenas 37 ha. Área ocupada
pelo grupo Kiriri apenas p/atividades agrícolas.
(Peti, 93). Port. Funai 445 da 08/05/98 determina a
deslocamento de funcionários da Procuradoria
Geral da Funai p/ impetrar ações judiciais e
proceder atos administrativos visando solucionar
questões fundiárias relativas à TI Kiriri de Passagem
(DOU. 11/05/98).

400 Bre|o do Burgo Pankararè 827 Funai: 96 Em demarcação.


Delimitada. 17.700 Nova Glória BA Hidrelétrica construída (lítaparica)
265 de 28/05/92 declara de posse
Port. Min. e planejada (Moxotó s Xingé).
permanente (DDU, 29/05/92). Extrato de contrato Projeto de reassenta mento de
entre Funai e Trapocartx Topografia e Engenharia jusante.
p/ demarcação da Tl |D0U, 30/12/99). Vigência
16/12/99 3 15/12/2000. Valer ft$ 68.297.80.

55 Caiçara/ Xokó 310 Funai: 96 Homologada. Reg. CRI. 4.318 Porto da Folha SE Hidrelétrica planejada (Pao de
Ilha de SSo Pedro Dec.401 de 24/12/91 homologa demarcação Acucar - A Ilha de São
Chesf).
(DOU, 26/12/Dll. Esse aio uniu a Al Caiçara à Jlha Pedro foi doada pelo governo de
de S. Pedro que tem 97 ha. Reg. CRI de Porto da Sergipe â União para uso da Funai
Folha Matr. 4.685, üv. 2-U. fL 14 em 31/08/92 em 1980. Reg. CRI Matr. 1211. Uv.
Doação av. 3.211 em 19/08/85. Port Funai 35 de ZF, fl, 211 em 17/1 Z/79.

21/01/99 prorroga p/18 dias prazo do arl.4 da


Port.1,137de O4/0V99 referente ao pgto de indenização
de benfeitorias de boa-fé (DOU, 25/01/99). Po/t. 161
cria CT p/paglo de indeniz. das benf. de boa-fé
(DOU. 23/12/991.

1355 Córrego João Pereira Tremembé 336 GT/Funai; 99 Em identificação. 3.14Q Itarema CE
Port. 10 de 13/01/99 cria GT p/ identificação
da Tl (O 0U, 15/01/99).

729 Entre Serras Pankararu 0 Em Identificação. 0 Tacaratu PE


Port. Funai 178de 29/03/99 cria GT p/ conclusão
dos trabalhos de levantamento fundiário (DOU, 30/03/99).

100 Fazenda Canta Xukuru-Kariri 1.300 Funai: 96 Dominial Indígena. Reg. CRI. 372 Palmeira cos índios AL Ferrovia RFFSA corta a área.
Reg. Cartório 20o. da GT p/conclusão dos trabalhos
de levantamento fundiário (DOU, 30/03/99).

104 Fulni-Ô Fulni-ô 2.930 Funai: 99 Dominial Indígena. 11.506 Itaiba PE Rodovias BR-423, PE-300 e PE-244
Área correspondente a 427 lotes de 30 ha cada, Águas Belas PE cortam a área.
distribuídos entre as famílias em 1926.

T21 lootirama Tuxá 513 Funasa: 99 Homologed8. 2.019 Ibptirama BA Parte da comunidade transferida
Dec. 379 de 24/12/91 homologa demarcação daTI Rodelas, segunda acordo
(OOU, 26/12/91). Caracterizada como de domínio Chesf/ Funai sobre inundação da
indígena. Port. Funai 406 de 09/06/99 delega área, para áreas adquiridas das
competência ao administrador da ADR de Paulo faz. Morrinhos e Giteros pela
Afonso/BAparo representara Funeí na escritura Chesf.
e doação a ser celebrada entra a Chesf e a União
Federal dos imóveis: Fazendas Morrinhose Outeiro
e de outras áreas de terras integrantes da Tl
(DOU, 11/06/99).

546 Jacaré de Potiguara 592 Funai Homologada. Reg. CRI e SPU. 5.032 Rio Tinto PB
São Domingos João Pessoa: 00 Dec. s/r. de 01/10/93 homologa a demarcação
(DOU, 04/10/93). Reg. CRI de Baía da Traição
Comarca Rio Tinta Matr. 1.325. Llv. 2G/RG. fl. 225
em 17/11/93. Reg. SPU Cert. 01 em 03/01/95.

418 Jiriaancó Jiripancó 1500 Funasa: 99 Em Identificação. 0 Pariconha AL


Port. Funai 1.285 de 25/08/D2 cria GT p/identificar
a área. Chegou a ser identificada com 1.110 ha e
14 km de perímetro. Port. Funai 743 de 10/07/98 Cria
GT p/estudo de Identificação da Tl (00U. 14/07/98).

157 Kambiwá Kambiwá 1.578 Funasa: 99 Homologada. 31.495 Floresta de Inajá PE Rodovia BR-110 corta a érea.
Decreto s/n de 11/12/98 homologa a demarcação ibimirim PE
(DOU, 14/12/931.

550 Kantaruré Kantaruré 244 Funai: SB Delimitada. Em Dem. 1.811 Nova Glória BA Hidrelétrica construída (itaparica).
Port. Min. 245 da 30/03/98 declara de posse
permanente indígena (DOU, 31/03/98). Extrato de
contrato 31/99 entre Funai e Meridional Consultaria
Projetos e Construções Ltda. p/ demarcação da Tl.

Vigência 16/12/99 a 15/12/2000. Valor R$23.894,16


(00U, 30/12/99)

162 Kapinawá Kapinawá 95G Funasa: 99 Homologada. 12.403 Ibimirim Tapa catinga BuiquePE PE PE
Dec. s/n de 1 1/12/98 homalúga a demarcação
(DOU. 14/12/981. Resolução 87 de 11/2/00 considera •

de boa- fé13 ocupantes não indios (ODU, 14/2/00).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1 996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NORDESTE 535


> . / / /

tL 7^ Acervo
—l/£ S A
I

Terras Indígenas (Continuação)


Instituto Socioambientaf - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observaç&es
Mapa (nâ , fonte, data ) (ba)

375 Karapotó Karapotó 79G Funasa: 99 Delimitada. 1,810 S. Sebastião AL


Dec.de 11/8/92 declara de interesse social p/fim
de desapropriação de particulares p/ servir de
habitat aos índios Karapotó, passando a integrar a RI
IDOU, 12/8/92). Port. Funai 687 de 28/07/97 cria GT
p/ realizar levantam, das benfeitorias implanta
das no limite da área (DOU, 30/07/97).

428 Kariri Kariri 0 A Identificar. 0


Conste do Plano de Metas da Funai: $7.

166 Kariri-Xocé Kariri-Xokó 1.433 Funasa: 99 Homologada. 699 Porto Rea! do Colégio AL Rodovia BR-101 e ferrovia RFFSA
Dec. s/n de 04/10/93 homologa a demarcação nu limite.

(DOU, Pon. Funai 744 de 10/07/9B cria GT


05/10/93).
p/ reestudar a TI. (DOU, 14/07/98). Port. Funai 317 cria
GT p / reestudo da identificação da TI (DOU, 13/05/99).

174 Kiriri Kiriri 1.346 Funasa: SB Homologada. Reg. CRI a SPU. 12.300 Ribeira do Pombal BA Port Funai de 30/12/97 cria GT p
Dec. 98828 de 15/01/90 homologe a demarca çãc Quijingue BA constatar a veracidade das
como Colônia Indígena (DOU, 16/01/901. Reg. CRI alegações das ocupações ra TI.
Matr. 2969, Liv. 2-M, 11. 83 em 22/03/90. Reg, SPU Port Funai 284 cria GT p/ efetuar
Cert. 28 em 14/06/96. Port.Funai 85 de 05/03/96 cria pagamento das benfeitorias
GT p/ estudos e levantam/ do uso do solo para os implantadas por ocupantes não-
Kiriri. Instalação de 8 marcos geodésicos. Port. Funai indios na TI, considerados de boa-
449 de 13/6/95 envia funcionai ic p/pgto das benfeitorias fé p/Comissão Permanente de
de boa-fé definidas p/ResoluçSo tie 15/5/96, implantadas Sindicância (DOU, 06/04/98). Port
pelos nâo-indros. Delega competência ao mesmo p Funai 269 de 23/04/99 constitui a
assinar em favor da União, escritura pública de Com. Técnica p/dar continuidade
reconhecimento de domínio que será lavrade p ao pagtos de indenização (DOU,
ocupante; não-ínriins, detentores de domínios 27/04/99). Port. Funai 543 cria CT
incidentes na Al. |DOU, 19/06/96). Realiz. Levantam. p/ dar continuidade ao pagtos
Cadastral das pessoas que requerem o recanhecim. (DOU, 09/07/99)
da ocupação de boa-fè por não terem sido incluídas na
relação de pagto das benfeitorias (DOU, 0T/01/98).

760 Lagoa da Encantada Paiaku 220 Funai Com Restrição de Uso. 1 .075 Aquiraz
João Pessoa: CO Port. Funai 6 de 07/01/99 estabelece restrição aO
direito de ingresso, locomoção e permanência de
pessoas estranhas aos quadros da Funai pelo período
de 6 meses, para fins de estudos o reconhecimento da
TI (DOU, 02/02/99). Pbrt 38 de 31/01/00 determina
deslocamento de técnicos p/ complementar os
estudes da identificação IDOU, 02/02/00).

204 Massacará Kaimbé 634 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 8.020 Euclides da Cunha SA
Dac. 395 da 24/12/91 homologa demarcação
(DOU 26/12/91). Reg. CRI de Euclides da Cunha
Matr. 2813, Liv. 2-H,fl. 577 em 23/12/88. Reg, SPU
Cert. 066 em 16/10/96. Fort. Furai 449 de 13/06/96
envia funcionário p/reavaliar as benfeitorias cadas-
tradas no levantam. Fundiário da AI (DOU. 19/06/96).

2G5 Mata da Cafurna Xukuru-Kariri 455 Funai: 94 Dominial Indígena. Reg. CRI. 117 Palmeira nos índios AL
Port 959/E de 16/07/81. Reg. CRI de Palmeira dos
Índios Matr. 3149, Liv. 2-N, fl. 1 17 am 23/02/31

551 Muriti Kaimbé 0 A Identificar. 0 Euclides da Cunha BA


(Sampaio: 89)

222 Nova Rodelas Tuxá 409 Funasa: 99 Adquirido p/ossentomerlo- 104 Rodelas BA Parte da comunidade transferida
(área urbana) Área adquirida pela Chesf p/reassenta mento da TI Rodelas, segundo acordo
dos Tuxá atingidos pola UHE de Itaparlea (Funai, 90). Chesf,' Funai sobre inundação da
Port. 1.096 de 24/10/97 cria GT p/ proceder eleição de área. Rodovia BA-21G no limite.
nova área para a comunidade indígena Tuxá de Rodelas
(DOU, 14/11/971.

553 Qllio D'Água do Meio Tingui Boto 0 A Identificar. 0 Feira Grande AL


(Sampaio: B9)

555 Pambu Trukã 0 A Identificar. O Curaçá BA Áree de inundação de hidrelétrica


(Sampaio: 89) planejada (UHE do Ibó).

230 Pankararé Pankararé 200 Sampaio: 89 Homologada. Reg. CRI e SPU. 29.597 Glória BA
Dec. s/nde 05/01/96 homologa demarcação
(DOU, 08/0 1/96). Reg. CRI Comarca de Glória
Matr. 5.88B, Liv. 2 AB-RG, fl. 44 em 16/01/96. Reg.
SPU. Cert. 31 em 14/08/96. Port. Funai 291 cria CT
p/ pagto de benfeitoria de boa-fé. (DOU, 02/05/00).

231 Pankararu Pankararu 4.146 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI. 8.10» Petroiândia PE Hidrelétrico construída Htaparica).
Dec. 94603 de 14/07/87 homuluça a demarcação Tacaratu PE Rodovia PE-345 corta a área.
reduzindo a área de acordo com Parecer/GT1 155/87.
Reg. CRI de Petroiândia (8.051 hg) Matr. 1.557, Liv.2-1,

fl. 91 em 18/09/89. Reg. CRI deTaracalú (49 ha) Matr. 666,


Liv. 2-F, fl. 89 em 12/1 D/89. Proc. SPU 10225/97-42.

75T Pitaguary Pitaguari 871 GT/Funai: 99 Identificada/Aprovada/Funai. Sujaita à Contestações. 1.735 Maracanau CE
Despacho do pres.da Funai aprova o$ estudos
de identificação da TI. (DOU 05/07/2000)

53G NORDESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


)

Acervo
//\C I SA
NORDESTE
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. TBrra Indígana Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n°, fonte, data ihal

252 Potiguar* Potiguara 5-901 Funai Homologada. Reg. CRI e SPU. 21.238 Baía daTratçãc PB Rodovia PB-041 corta a
Joâo Pessoa: 00 Dec 267 do 29/10/91 homologa demarcação Rio Tinto PB área. Faixa costeira.
administrativa (DOU, 30/t 0/9 IJ. Reg. CRt de Rio
Tinto, Comarca Rio Tinto Matr. 9GQ, Liv. 2-F, fl. 6S
emlO/06/67. Reg. CRI da Baia da Traição, Comarca
Rio Tinto Matr. 901, Lrv. 2-F, fl. 69 em 10/06/87. Reg.
SPU Cert. 002 em 07/02/95.

Potiguar* de Potiguara 1 082 Funai Em Idantificaçio/Revisão. 5.300 Rio Tinto PB


Monte-Mor João Pessoa: 00 Despacho do ministro da Justiça Renan Calheiros Marcação PB
acata os argumentos dos contesta ntes e desaprova Baia da Traiçao PB
a identificação c delimitação da TI na forma da
proposta da Funai 15.300 hei Determina que a Funai
proceda novos estudos e que seja arquivado o
presente processo por não atender ao disposto no
parágrafo 1 do art. 231 da Constituição Federal
IDOU. 15/07/99). Port. Funei 933 de 06/10/99 designa
antropólogo p/ estudos de identif. da TI (DOU, 09/10/99).
Perl. Funai 13 de 07/01/90 cesigna antropólogo p/
levantam, da campo p/identilicação da TI
|DQU, 12/01/00). Pprt. Funai 250 p/complementar as
ativ. da Port.13. (DOU, 17/04/00).

557 Quixaba Xukuru-Kariri 65 Sampaio: 89 Adquirida p / assentamento. 20 Glória BA Hidrelétricas construídas


Adquirida pela Funai, de posseiro, p/ remoção do (Itapariea e Moxotó).
grupo familiar dos Sátiro vindos da Fazenda Canto.

553 Riacho do Bento Tuxá 708 Funai: 94 Adquirida p/asseníamerto. 4.332 Rodelas BA Hidrelétrica construída (Itapariea)
Adquirida pela Chesf, porém ainda sob sua posse. e planejada. (Ibó). Rodovia BA-210
nos termos do acordo Chest/Funai, rei. Transferência corta a área.
dos Tuxá da área inundada p/ UHc de litaparica
(Sampaio, 89).

560 Sitio Cajazeiras Xukuru-Kariri 0 Sampaio: 89 A identificar 0 lgaci AL


(Sampaio: 89)

761 Ta ba j ara Taba. ara do Cearii 0 A Identificar. 0 Viçosa CE


(Cimi: 931

301 Tapcba Tapeba 2.491 Funasa: 99 Delimitada. 4.658 Caucaia CE Faixa costeira. Rodovia BR 222 no
Porl. Ministerial 967 de 24/09/97 declarou de limite.

posse indígena (DOU, 25/09/97).

314 Tingüi-Bc-tó Tinguí Botó 288 Funasa: 99 Dominial Indígena. Reg. CRI. 122 Feira Grande AL
Port 817/N/83. Reg. CRI Arapiraca Malr. R3-308 e
R3-532,Liv. 2-B, fl. 8V e 232V em 04/09/34. Reg. CRI

G. Poncieno Matr. 2144, Uv. 2-1, fl. 142 em 15/03/89.


Comprada.

561 Tocas Kaimbé Kíriri O Sampaio: 85 A Identificar. 0 Euclides da Cunha BA


(Sampaio: 89)

509 Tremembé de Almolala Tremembé 1.175 Funai Em Identificação/Revisão. 4.900 Itarema CE Faixa costeira.
João Pessoa: CO Port. Funai 1.366 de 04/09/92. Despacho do pres.
da Funai 37 (DOU, 08/07/93). Sub judice.

221 Tru ká Truká 1.333 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 1.592 Cabrobó PE Hidrelétrica de Itapariea. Área de
Dec. s/n. de 05/01/96, homologa a demarcação inundação de hidrelétrica
IDOU. 08/01/96). (DOU. 03/09/96). Reg CRI em plarajada.(lbó). Port. Funai cria GT
Cabrobo Matr. 3,820, Uv. 2-U, fl. 04 em 16/01/95. p/levsntam. fundiário no imóvel de
Reg. SPU Cert. 002 em 20/05/96. Port. Funai 93S da interesse do Instituto de Pesquisa
14/10/98 delega competência ao administrador da Agropecuária de Pernambuco
AOR/Reclfe p/ assinar escritura pública de (IPA) ocupado p/comunidade Truká
reconhecimento de domino em favor da União com vistes a entendimento entre o
que será firmada entre o IPA e a Funai, tendo emprese e a Funai, face a neriida
como cbjetod gleba de terra localizada na Ilha de liminar de 11/01/96 do juiz da 8a.
N.S de Assunção, destinada à posse e usufruto Vara Petrolina/P.E objeto de
exclusivo da comunidade Truká (DOU. 15/10/98). reintegração de posse cnntra a
Port. Funai 1.143 cria CT p/pagto das benfeitorias comunidade Truká. E levantam.
de boa-fé (DOU, 16/12/99|. Port. Funai 65 de 27/01/99 fundiário no lote do imóvel rural
cria GT p / novos estudos e levanramenms de Favela (23,54 ha) de interesse de
identificação da TI IDüU, 29/01/S9). Port. Funei 562 Ezilda Cavalcanti VasconceFos,
de 28/0S/00 cria Com. Técnica p/pagto das localiz. na Ilha de N.S. de
indenizações IDOU. 29/C6/0Q). Assunção

563 Tuxá de Inajá/ Tuxá O Sampaio: 89 Adquirida p/ assantamento. 0 Inajá PE


Fazenda Funil Adquirida pela Chesf p/ reassenta mento dos Tuxá
atingidos pela UHE de Itapariea. (Sampaio,£9)

335 Vargem Alegre Pgnkaru 84 Funasa; 99 Homologada. Reg. CRI. 931 Serra do Ramalho BA
Dec. 247 de 29/10/91 homologa a demarcação como
reserva indígena (DOU, 30/10/91)- Reg. CRI Bom Jesus
da Lapa, Matr.8.205, Uv. R0 2 E, fl. 153 em 11/12/91.

341 Wassu-Cocal Wassu 1.447 Funasa: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 2.75B Joaquim Gomes AL Rodovia BR-101 corta a área.
Dec. 392 de 24/12/91 homologa demarcação
(OOU 26/12/91). Reg. CRI Matr. 855, Liv. 2-G, fl.65
em 2 Z/05/89- Reg. $PU Cert, W2 em 08/06/88-

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL T9S6/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NORDESTE 537


)

NORDESTE
Terras Indígenas (Continuação)
Instituto Socioambiental - Dezembro -de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa (n", fonte, data (ba)

348 Xucuru Xukuru G.363 Funasa:99 DeJimrtada. Demarcação Física. 26.980 Pesqueira PE
Port. Min. 259 cíb 2 R/05/92 declara de posse
permanente [DOU, 29/05/92). Demarcada em 1S95/96.
Despacha dc pres. da Funai - em atendimento à
decisão pela la. Seção do STJ em 28/05/97 nos autos
do Mandado de Segurança impetrado contra o
Despacho 32 09/07/96 do Min. da Justiça, comunica
a abertura do prazo de 90 dias p/que os interessadas
relacionados n/Portaria possam manifestar-se,
apresentando à Funai razões instruídas c/todas as
provas pertinentes {DOU, 13/04/99). Port. Funai 193
üe 30/03/CD Cria GT p/atualização do levantam,
fundiário, cartorial e dos valores das benfeitorias
cfe boa-fé. {DOU. 33/04/00).

564 Xukuru-Kariri Xukuru-Karirí Em Identificação. 0 Palmeira dos índios AL


Port. Funai 0461 cria GT p/ identificação da Al. Engloba
as Tis dominiaisjá demarcadas: Fazenda Canto e Mata
da Cafurna, respectivamente com 372 ha e 117 ha.
Perfazendo umtotaí de 13.020 ha, a 40 km de parimetro.
Port. Funai 636 de 16/07/97 e 689 de 28/07/97 cria GT
p / identificar e delimitar a TI {DOU 21 e 30/07/97). Port.
de 18/11/97 n. 1.187 altera prazo do GT p/realiz. levantam,
fundiário |00U, 21/1 1/97). Port Funai 271 de 27/03/98
criaGT p/complementar o levantamento fundiário
(DOU, 31/03/98).

538 NORDESTE POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL T936/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
ISA

De Ignorados a Reconhecidos:
a "Virada" dos Povos
Indígenas no Ceará

Sylvia Porto Alegre Professora aposentada da


Universidade Federai do Ceará,
doutora em Antropologia pela USP

NAS DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS, OS ÍNDIOS o órgão indigenista para pedir a regularização de suas terras, logo

DO CEARÁ SAÍRAM DO ANONIMATO seguidos pelos Tremembé.

A atual reversão de perspectiva é decorrente de um processo de

Entre os acontecimentos mais marcantes na situação atual dos auto-afirmação ievada a cabo pelos índios e cenirado, sobretudo,

povos indígenas situados no Ceará, destaca-se o reconhecimento na conquista dos direitos territoriais. Inicialmente foram tomadas

jurídico pelo Estado brasileiro das terras pertencentes a quatro iniciativas isoladas, em que os grupos receberam apoio da igreja

grupos étnicos: os Tremembé, os 'lápeba, os Pitaguarí e os Paiakú/ católica e de missionários para encaminhar suas demandas. Aos

Jenipapo-Kanindé. De 1985 a 1999, a Funai identificou e delimi- poucos eles estabeleceram relações com os movimentos indíge-

tou as Terras Indígenas habitadas por esses grupos e agora pro- nas que atuam no plano regional e nacional e passaram a se orga-

grama a identificação das terras de outros quatro: os Kanindé, os nizar em defesa de seus interesses, ganhando experiência e

Potiguara, os Tabajara e os Kalabaça. interagindo com as várias agências e organizações, tanto oficiais

como não-governamentais, com quem hoje mantêm contato ativo.


O que está acontecendo surpreende porque, nesse curto espaço
de tempo, passou-se do total desconhecimento da presença indí-

gena no estado para a constatação de que ídi uma popula-


existe AUTONOMIA INTERNA,
ção de aproximadamente seis mil índios, distribuída em cerca de INTERFACE DO ESQUECIMENTO
dez municípios. Os Tremembé habitam o município de Itarerna,

no litoral noroeste cearense, e ocupam duas áreas: Almofala e Em muitos aspectos, os grupos étnicos identificados no Ceará en-

Córrego João Pereira. Os Tapeba e os Pitaguarí vivem em terras contram-se em situação semelhante a de outros povos indígenas

próximas a Fortaleza, respectivamente nos municípios de Caucaia situados no nordeste do país. Há, no entanto, certas especificidades

e Maracanaú/Pacatuba. Os Paiakíi/jenipapo-Kanindé habitam a que merecem ser destacadas.

Lagoa da Encantada, no município litorâneo de Aquiraz, a leste do


No campo da ação indigenista, a relação de tutela e subordinação
estado. Os demais grupos localizam-se no interior, nas serras e
ao Estado brasileiro é estranha a esses grupos, cujo convívio com
nos sertões dos municípios de Aratuba e Canindé (Kanindé),
a sociedade nacional se deu praticamente sem mediações oficiais
Monsenhor Tabosa (Potiguara, Tabajara) e Poranga (Kalabaça).
atébem recentemente. A ausência de vínculos de dependência é
Os povos indígenas no Ceará percorreram um longo caminho, que uma decorrência histórica da não implantação do SPI e da presen-
vai do suposto “desaparecimento” étnico para a conquista de um ça fraca e tardia da Funai na região. A atuação do órgão indigenista
lugar distinto, tanto ent relação à sociedade nacional como na dis- limita-se a questões de terra e é exercida a distância, pois não
tribuição geral dos povos indígenas no Brasil. Até 15 anos atris, o conta com representação local. As Terras Indígenas no Ceará es-
Ceará constava nos registros oficiais e antropológicos como um tão subordinadas à Administração Regional (ADR) de João Pes-
estado onde não existiam índios. Estes permaneceram no anoni- soa, na Paraíba. Há apenas um posto indígena em todo o estado,
mato por mais de cem anos. Durante o Império, foram dados por instalado na TI Tapeba de Caucaia, mas inoperante. No conjunto,

extintos pelo governo da província. O antigo Serviço dc Proteção pode-se dizer que os índios continuam, em grande medida, “en-
(SPI) ao índio ignorou-os e a Funai só tomou conhecimento de treguei à sua própria sorte”. Na prática, são obrigados a enfrentar

sua existência a partir de 1 985/86, quando os Tapeba procuraram quase sozinhos seus problemas, apesar da participação constante

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 193612000- INSTITUTO SOCiOAMBIENTAL NOROESTE I 539


Acervo
_//£ ISA
de alguns agentes de apoio. Por outro lado, a não interferência foi assegurada apenas em parte e de modo relativo, devido a inva-
dos órgãos indigenistas deixou-lhes uma margem de autonomia sões por não-indfgenas ocorridas em todas as áreas, em períodos
interna de grande significado, no que se refere às formas de orga- diversos. Porém não houve deslocamentos populacionais coleti-

nização social e à capacidade de controle que conseguiram exer- vos forçados. Nenhum dos grupos em questão teve que abandonar
cer sobre o espaço habitado. totalmente suas terras nem foi desalojado ou transferido em blo-

co. Não se coloca no Ceará o problema de restabelecer territórios


No plano interno, o que se constata são grupos em que há uma
rede de relações dc parentesco que é responsável pela coesão
indígenas perdidos, mas apenas o de reconhecer os existentes,
retirando da área os ocupantes indevidos.
grupai e manutenção do vínculo coletivo com a terra. Os censos
demográficos e as genealogias que fizemos junto aos Paiakti/
Jenipapo-Kanindé, Pitaguarí e Tremembé, bem como estudos rea- ORGANIZAÇÃO INDÍGENA E AUTO-ESTIMA
lizados por outros pesquisadores, mostram algumas característi-

cas em comum: há um relativo fechamento dos grupos; as unida- O movimento de organização indígena no Ceará passou por dois
des domésticas são identificadas pela descendência familiar e pela momentos. Iniciado em meados da década de 1980, nos primei-
procedência comum; as famílias nucleares compõem parentelas ros anos limitou-se a ações tímidas e isoladas por parte dos índi-
extensas e o casamento se dá, preferencialmente, entre primos e os, assessorados pela Arquidiocese de Fortaleza, pelo Conselho
primas ou entre tios e sobrinhas, A baixa laxa de mobilidade para Indigenista Missionário (Cimi) e por missionários católicos. Aos

fora da localidade onde nasceram e foram criados, combinada à poucos, formaram-se as primeiras lideranças e ampliou-se o le-

pequena incidência de uniões com não-indígenas, toma frequente que de interlocutores. Buscou-se apoio junto a antropólogos, ju-

o uso de expressões como “aqui é tudo uma família só” ou “a ristas, parlamentares, sindicalistas, ambientalistas, jornalistas e

gente costuma casar na família”, para qualificar os núcleos locais outros setores profissionais receptivos às questões indígenas, den-

mais tradicionais e coesos. É também comum o emprego de clas- tro do estado e em outras áreas do país. Foram criadas as primei-
sificadores “índios velhos", "troncos” e “raízes” para nomear os ras associações indígenas, que hoje são cinco: Conselho Indígena

antepassados, designar a origem indígena e enfatizar a continuida- Tremembé de Almofala (Cita); Associação das Comunidades dos
de dos grupos de descendência, cujas gerações mais jovens costu- índios Tapeba (Acit) Conselho Indígena Pitaguarí (Coípy) Conse-
; ;

mam ser descritas como “ramos” e "brolhos”. lho Indígena de Crateus e Conselho Indígena Kanindé de Aratuba
(Cinera).
A forma de ocupação da terra é um fator inseparável da unidade
grupai. Na maior parte dos grupos estudados, a distribuição das Num segundo momento, os grupos organizaram-se no plano esta-
moradias, a fixação de novos domicílios, a localização das roças, dual para enfrentar, em conjunto, a forte pressão dos interesses

a utilização de recursos naturais, os mutirões de ajuda mútua e as regionais contrários à demarcação das terras. Em 1993, lançaram
diversas atividades em que a família aparece como unidade de pro- a Campanha pela Demarcação das Terras Indígenas no Ceará. Ins-
dução e consumo dependem do uso comunal do espaço habitado talados na movimentada Praça José de Alencar, no centro de For-

e das condições de auto-sustentação. O espaço é vital porque a taleza, os grupos ah permaneceram durante quatro dias em uma
organização social se realiza nele e também porque é no espaço ação conjunta visando obter o reconhecimento oficial e sensibili-

que se expressa o simbolismo, a cognição, a transmissão de co- zar a população para seus problemas. Desde então, o movimento
nhecimentos, a cosmologia... Muitas festas seguem o calendário passou a enfatizar a diversidade étnica e a ressaltar as práticas da
anual das colheitas, há uma farmacopéia tradicional cuja eficácia cultura tradicional, adotando e manipulando publicamente signos

depende de práticas rituais integradas ao ecossistema circundante, de alteridade como o uso de adornos, indumentárias e objetos de
as narrativas orais estão repletas de seres que habitam as matas e índio, exibindo danças e cânticos, vendendo artesanato etc. Apro-
lagoas e assim por diante.A terra representa um elo de ligação priaram-se da linguagem “que os brancos entendem” a respeito
com os antepassados, cuja memória está associada à ocupação de quem são os índios e tornaram-se mais incisivos ao dirigirem-
espacial, seus limites e marcos físicos e sua variação no tempo. se às autoridades e à sociedade nacional.

As terras reivindicadas para demarcação correspondem a parce- Entre 1994 e 1999 foram realizadas cinco Assembléias Indígenas
las dosmesmos espaços em que as etnias identificadas estão fixa- no estado. O primeiro encontro deu-sc no município dc Poranga,
das há pelo menos 300 anos. São terras oriundas dc aldeamentos onde vivem os Kalabaça. O segundo em Maracanaú, nas terras dos
missionários coloniais e da doação de sesmarias feitas aos índios Pitaguarí; o terceiro na lagoa da Encantada, dos Paiakú/|enipapo-
da região no século XVIII. Algumas dessas “terras de aldeias” fo- Kanindé; o quarto em Caucaia, entre os Tapeba e o quinto em
ram regularizadas em nome dos índios que as habitavam, no de- Almofala dos Tremembé. A partir dos encontros anuais, cada gru-
correr do século XIX. Outras continuaram de posse Indígena se- po passou a incorporar, à sua maneira e de modo diferenciado, as

guindo arranjos fundiários específicos que não podem ser abor- idéias de união adotadas por setores do movimento indígena naci-
dados nos limites deste artigo, mas que são de fundamental impor- onal e a noção de que os índios são um só povo. Propagadas pelas
tância para entender a permanência de longo termo no mesmo lideranças e representantes, as propostas do movimento indígena
local. Deve-se ressalvar que a manutenção dos antigos domínios foram assimiladas pelos grupos que assumem uma participação

540 NORDESTE POVDS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SUCI0AM3IHNTA1.


'zLjT^ Acervo
—//iClSA
política mais ativa mas não se pode dizer que tenham chegado às NOVAS BASES DE INTERLOCUÇÃO
esferas mais íntimas da vida quotidiana de todos eles. Alguns gru-
pos mantêm-se tradicionalmente arredios a tudo que diz respeito Nos últimos anos foram intensificadas as reivindicações junto à

ao contato externo, permanecendo distantes desses processos, em Funai, à Justiça Federal e outras esferas de poder estadual e regio-

suas terras, das quais raramente se afastam. nal. Pede-se, inclusive, a instalação de uma Administração Regio-

nal da Funai no Ceará para atender as necessidades da população


Um elemento novo e comum a todos, de grande significado nas
indígena. Há gestões junto à Secretaria de Educação Básica do Es-
mudanças ocorridas, está se dando no plano da auto-estima. Um tado para implementar a formação de professores indígenas e cri-
aspecto a ser destacado é que os acontecimentos dos quais parti-
ar escolas diferenciadas nas áreas. A Fundação Nacional de Saúde
cipam têm obrigado os índios a efetuar novas formulações do
(Funasa) está implantando um Distrito Sanitário Especial Indíge-
mundo e de si mesmos. Os efeitos se fazem sentir tanto na prática
na em Fortaleza, programa a ser ampliado para todo o estado. Tais
interna dos grupos como nas relações que estes estabelecem com
iniciativas são ainda incipientes e não permitem que se possa fazer
a sociedade mais ampla. Para além das reivindicações formula-
uma avaliação de seus resultados. A impressão que se tem é de
das, o que está em jogo é uma reversão mais profunda nas experi-
que estão sendo pensadas dentro dos novos parâmetros que
ências de vida desses povos. A convicção que demonstram ter de
norteiam a ação indigenista mais atualizada e crítica, mas é cedo
seus direitos, de quem são e do lugar que desejam ocupar no Bra-
para dizer até que ponto será respeitada a autonomia e a diversi-
sil contemporâneo são fatores que não podiam ser entrevistos num
dade étnica dos diferentes grupos em presença, sem a imposição
passado recente, nem pelos observadores externos e nem mesmo
de modelos rígidos e a cargo de pessoas mal preparadas.
por eles próprios. Em que pese a demora e os entraves que en-
frentam no atendimento das reivindicações, suas ações mostram a No contexto da situação atual das terras, cabe destacar a atuação
abertura de novas perspectivas na consciência étnica, nem sempre do Ministério Público Federal e da Procuradoria da União no esta-

fáceis de acompanhar e, inclusive, perceber. do do Ceará, cujas intervenções prudentes e eficazes têm sido pau-

1997

POVO

UMA/JOftNAL

CLÁUDIO

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NORDESTE 541


Acervo
_//£ ISA
pelo principio constitucional de que os direitos dos índios ras alencarinas, povoadas de lendas de iracemas e bárbaros
sobre suas terras de ocupação tradicional independem de demar- tapuias os estereótipos ainda têm livre trânsito no senso comum,
,

cações e devem ser assegurados pelos poderes da República. Essa sob a ótica romântica e pessimista do índio “vítima sacrificial'’ da
postura encontra respaldo na legislação referente aos espaços história. Muitos os vêem como se fossem resíduos extemporâneos
ambientais protegidos e unidades de preservação, especialmente de uma identidade perdida, quando não farsantes. São freqüen-
o Decreto n° 24, de 4 de fevereiro de 1991, que regula a obriga- temente desqualificados com o tratamento de “caboclos", termo
ção do Estado de proteger ambientabneme as terras indígenas e ofensivo nos sertões cearenses, onde é acionado para denotar um
seu contorno, para manter as condições ecológicas necessárias à desprezo geralmente seguido de violências e abusos, praticados
sobrevivência física e cultural das populações indígenas. contra os índios desde os tempos coloniais.

No momento, o Ministério Público move uma Ação Civil Pública Nas esferas jurídico-administrativas, a contestação da existência
(Processo n° 95.00,3114-0 contra a União Federal e outros) para histórica dos índios e a recusa ao reconhecimento da identidade

proteção do patrimônio público e resguardo do meio ambiente são argumentos usados pelos atuais ocupantes e interessados em
da TI Tremembé, onde o ex-prefeito de Itarema e outros ocu- se apossar das terras indígenas como principal estratégia para
pantes cercaram lagoas na localidade da Batedeira, provocando bloquear o andamento dos processos de demarcação, impedindo
queimadas e outras agressões ao meio ambiente e ameaçando as inclusive a realização de perícias antropológicas. Os Tapeba aguar-
famílias Tremembé ali residentes, A área foi interditada por meio daram 11 anos até que a Portaria n° 967, de 24 de setembro de
de liminar concedida nos autos da ação, em meio a forte tensão 1997, declarando a Tí Tapeba como território tradicional indíge-

social gerada na área. na fosse assinada pelo ministro da Justiça. Logo em seguida, a Pre-
feitura Municipal de Caucaia impetrou um mandado de segurança
Outra Ação Civil Pública (n° 006/98) foi movida pelo mesmo ói-
no Superior Tribunal de Justiça contestando a portaria declaratória,
gão e pela Funai em defesa da TI Lagoa da Encantada, habitada
alegando vício de procedimento. O mandado foi acatado c a porta-
pelos Paiakú/Jenipapo-Kanindé, contra a empresa M. Dias Branco
ria anulada. Os Tremembé enfrentam na Justiça vários processos a
S.A. Comércio e Indústria e outros interessados do setor imobiliá-
respeito de uma ação movida pela empresa Ducoco Agrícola S.A.,
rio, responsáveis por desmatamentos e início de loteamentos na
instalada na área, suspendendo a demarcação da TI, alegando que
área. Trata-se dc um grupo empresarial que planeja construir um
ah não existem índios, mas somente pessoas que hoje se prestam a
complexo turístico-hoteleiro no município de Aquiraz, intitulado
fantasiar-se de índios.
AquirazResort com incidência na TI. As invasões foram sustadas
,

e seus responsáveis retirados liminarmente da área. Notificado nos Romper com uma correlação de forças secularmente desfavorável
autos da ação, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema) e profundamente desigual não é tarefa fácil. Desconsiderados em
aprovou a concessão de licença de instalação do empreendimento sua identidade e menosprezados em muitas circunstâncias do tra-

turístico, porém com o condicionante de que o projeto deverá ter to diário, a transição para índios sujeitos de direito é a condição
sua área readequada aos contornos da TI Lagoa da Encantada, necessária para, como dizem, serem acreditados. Porém, esta é a
entre ontras medidas de resguardo ambiental a serem tomadas. lace pública da situação concreta de grupos que continuam a exis-
tir porque foram capazes de valer-se da capacidade que demons-

QUANDO tram ter, em seu sistema organízatório, de se relacionar com os


“EXISTIR” ESTÁ
"brancos” e de controlar o espaço habitado, insistindo em perma-
CONDICIONADO A “SER RECONHECIDO” necer nele e preservando as bases internas de sua unidade.
Durante encontro que reuniu cerca de 50 representantes dos po-
O problema da legitimação perante à sociedade nacional não pode
vos indígenas do estado, realizado em Fortaleza entre 5 e 9 de
ser confundido com a afirmação dos índios frente si próprios e à
julho de 1999 os índios
,
encaminharam uma carta de reivindica-
coletividade a que pertencem. Se nos voltamos agora para outras
ções à Funai e outras instituições em que afirmam: “Nós somos
dimensões de suas realidades como a autonomia, o parentesco, as
indígenas, mas não somos acreditados, reconhecidos. Se não so-
formas de ocupação do território, é porque percebemos que essas
mos reconhecidos, nossa terra também não consegue ser livre,
são as instâncias que os índios tomam como relevantes de sua
demarcada”.
condição. Significa dizer que as características que mantiveram e
A questão da legitimidade legal consiste, de fato, no principal obs- continuam a manter vivos os grupos étnicos no Ceará são seme-
táculo ao reconhecimento pleno dos grupos étnicos no Ceará. É lhantes às de muitos outros povos, nas mais diversas regiões do
certo que os índios conseguiram romper o silêncio secular que os país. Vistas desta perspectiva, as viradas da identidade deixam de
cercava. Mas, nas esferas do poder local e das elites dominantes, ser um enigma, por mais que elas nos surpreendam e desafiem
não se livraram do rótulo depreciativo de remanescentes, descen- nossa compreensão e por mais que os interesses antiindígenas in-

dentes de segunda categoria dos índios puros do passado. Em ter- sistam em negar-lhes a existência, (maio, 1999)

542 NORDESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1096/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Os Potiguara de Monte-Mor e
a Luta pelo Reconhecimento
de seu Território

Sidnei Peres Antropólogo e professor da


Universidade Federal Fluminense

OS POTIGUARA PERMANECERAM NO CONTESTAÇÕES


MESMO TERRITÓRIO DESDE A CHEGADA DOS Aprovado o relatório de identificação em 1997 e enviado seu re-
PORTUGUESES NO BRASIL IRONICAMENTE, sultado à Prefeitura do Rio Tinto, foram apresentadas as contesta-
ATI POTIGUARA DE MONTE-MOR FOI A ÚNICA ções (por Rio Vermelho Agropastoril Mercantil S/A, Luismar Melo,
QUE TEVE ACOLHIDA CONTESTAÇÕES DOS Emílio Celso Cavalcanti de Morais, Paulo Fernando Cavalcanti de

OCUPANTES NÃO-ÍNDIOS POR PARTE DO Morais e espólio de Arthur Herman Lundgren). Inicialmente con-

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA QUE, UTILIZANDO-SE sideradas improcedentes pela Funai, em meados de 1999 elas fo-

DOS RECURSOS DO DECRETO 1775, ALEGARAM ram acatadas pelo ministro da Justiça, Renan Calheiros, que pro-
pôs a desaprovação da identificação, o arquivamento do processo
PRECEDÊNCIA NA OCUPAÇÃO DAQUELAS TERRAS
e o retorno dos autos à Funai, para proceder a novos estudos que
excluíssem as propriedades dos contestantes.
A luta dos Potiguara pela retomada das terras que lhes foram usurpa-
das desde o início da colonização obteve, em Os Potiguara de Monte-Mor recorreram então ao Ministério Públi-
1983, seus primeiros
resultados, com a declaração de posse permanente dos 21,238 lm da
co. através da Procuradoria-Geral da República na Paraíba, e

TI Potiguara. Nesse primeiro ato de reconhecimento oficial, entretanto,


impetraram tinta ação civil pública contra a União e os contestantes,
na qual o referido despacho ministerial foi refutado e a Funai foi
as terras do antigo aldeamento e Vik de Monte-Mor foram excluídas,
intimada a providenciar novos estudos de identificação que não
resultando em algo muito distante dos 34320 ha reivindicados pelos

um avanço, com a identificação de excluíssem a área pretendida pelos comestantes. Acatando tal de-
índios. Em 1988, foi possível mais
terminação judicial, o presidente da Fundação, Marcos Lacerda,
mais 4.500 ha, correspondentes à área da TIJacaré de São Domingos,
ainda que uma parcela considerável da população indígena da Paraí-
designou cm outubro de 1999 o antropólogo Sidnei Peres para
realizar os novos estudos de identificação, executados em janeiro
ba continuasse sem o reconhecimento de seu território tradicional.
c abril de 2000. Houve então um acréscimo de 600 ha em relação
Em 1993, algumas lideranças de Jaraguá e Vila Monte-Mor solici-
à extensão proposta na primeira identificação, referente à redu-
taram à Funai novos estudos visando a identificação e delimitação
ção do perímetro que fora reservado para a expansão da cidade
das suas terras, trabalho realizado em 1995 sob a coordenação da de Marcação e à correção do vão existente entre as TI Potiguara e
antropóloga Maria de Fátima Campeio Brito, da Funai/Recife. A
Potiguara de Monte-Mor. Ambas as alterações foram reivindicadas
área identificada abrangia então 5.300 ha, nos quais estavam in-
pelos índios por tratarem-se dc terras consideradas essenciais ao
cluídos os assentamentos indígenas de Lagoa Grande, Nova Brasília
desenvolvimento das suas atividades agrícolas.
e jaraguá, assim como a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres.
Ficaram fora dos limites da TI a cidade de Marcação (sede do
município de mesmo nome, criado em 1994), a Vila Regina e a
A VILA E A SANTA
Vila Monte-Mor. Apesar da presença indígena nestas localidades, Em 1866, o encarregado da medição das terras dos patrimônios
os Potiguara concordaram em excluí-las, após argumentação de indígenas da Paraíba concluiu a demarcação do perímelro da

Maria de Fátima Brito de que isto poderia dificultar a demarcação. Sesmaria de Monte-Mor, delimitando os lotes de 165 índios e dos
Aproximadamente 90% da área identificada está ocupada com plan- arrendatários, estes nominalmente relacionados. Apresentou tam-

tações de cana que suprem as usinas da região. bém o quadro da aldeia de Monte-Mor com 75 posses para índios,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1S36/2000- instituto socioambiental NDRDESTE 543


Acervo
-V/iClSA
não distribuídas. A antiga Sesmaria de Monte-Mor foi loteada e A agricultura potiguara é itinerante e extensiva, caracterizada pela
foram distribuídos títulos avarias famílias potiguara, sendo que os alternância entre curtos períodos de cultivo e longos períodos de

terrenos demarcados não poderiam ser vendidos, devido à condi- pousio (“descanso”) da terra. Todavia, 0 poder de coerção exer-
ção jurídica de órfãos, dos Potiguara. cido pelos seguranças particulares dos canaviais tenta impor um
domínio absoluto - a partir de um suposto e questionável direito
As primeiras décadas do século XX foram marcadas peia gradativa
de propriedade - sobre imensas porções de terra e inviabiliza toda
perda desses títulos pelos índios. Os Potiguara eram forçados a vender
uma lógica produtiva baseada num regime de rotação de terras e
suas terras, cedendo espaço para a atuação da Companhia de Tecidos
na força de trabalho familiar; que exige uma extensão territorial
Rio Tinto. Aos índios restava a alternativa de se empregarem como
bem maior do que aquelas nas quais estão situadas as casas indí-
operários da fábrica, passando a morar em casas alugadas pela Com-
genas. À ocupação predatória implantada pelos usineiros, basea-
panhia. As casas antigas, feitas de taipa e cobertas com palha, foram
da no emprego de fertilizantes e na exploração intensiva do solo,
demolidas. Também na Vila Monte-Mor, onde foi construída uma se-
contrapõe-se nm tipo de agricultura tradicional, alicerçada no uso
gunda fábrica, os índios foram expuisos e tiveram as suas casas de
sustentável dos recursos fundiários.
palha incendiadas. Dupla violência: física e simbólica.

Os índios são proibidos de arrancarem qualquer “pedaço de pau"


Tais arbitrariedades ficaram gravadas na lembrança dos mais ve-
ou levantarem roçados em áreas anteriormente ocupadas por ca-
lhos e são transmitidas através das gerações, nas conversas cotidi-
naviais. São constantes as ameaças de morte, destruição de casas e
anas, constituindo hoje uma parte importante do acervo de histó-
prisões arbitrárias cometidas pelos vigias das usinas e fazendas
rias através das quais a identidade étnica é formulada. Os Potiguara
contra os índios. Também lhes é vedado 0 acesso a insumos estra-
referem-se à época da Companhia de Tecidos Rio Tinto como o
tégicos à subsistência, como os garranchos (madeira) remanes-
Tempo da Amorosa. Frederico Lundgren, tratado como coronel
centes das queimadas, empreendidas após 0 corte da cana, que
pelos índios, impunha um regime de medo e terror implementado
são vendidos às padarias ou - transformados em carvão - para
pelos vigias da empresa para assegurar a manutenção da ordem.
outros estabelecimentos comerciais em Rio Tinto e Marcação.

Outros dois referenciais das narrativas indígenas sobre o passado


As queimadas efetuadas pelos plantadores de cana, por sua vez,
são a Vila Monte-Mor e a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres. Os
são prejudiciais não somente para o meio ambiente, Como não é
índios contam que uma imagem de Nossa Senhora dos Prazeres foi
feito 0 aceiro, o fogo alastra-se pelos tabuleiros, capoeiras e matas
encontrada num toco de podagem. Chamaram os padres e pedi-
porventura existentes nos arredores. Fonte de recursos essenciais
ram para que fosse construída uma igreja para a santa naquele lo-
como a madeira para a construção das casas e a lenha para fazer
cal. Sempre que era transferida para a Igreja de São Pedro e São
carvão, 0 mato é uma área de uso comum do solo e cenário de
Paulo, em Mamanguape, a imagem retomava milagrosamente para
reprodução das relações de parentesco e vizinhança.
a igreja da Vila Monte-Mor. É muito expressiva a insistência dos
Potiguara em manter a igreja dentro da área indígena identificada O rio Mamanguape é outra fonte fundamental de recursos natu-
em 1995. A eia está também associada 0 símbolo máximo da rais para os Potiguara de Monte-Mor e marca 0 limite sui da Terra
indianidade nordestina, 0 Toré. Assim como ocorre nas festas Indígena. O seu estuário é 0 segundo em extensão no estado da
dedicadas aos padroeiros das outras aldeias, a festa de Nossa Senho- Paraíba, englobando uma área de manguezal estimada em seis mil
ra dos Prazeres é um momento de celebração da identidade étnica. ba, área ainda bastante preservada, apesar do desmatamento pro-
Enquanto os Potiguara de Jaraguã participam da festa de Nossa Se- vocado pelas plantações de cana implantadas nos anos 80. Este
nhora dos Prazeres, na Vila Monte-Mor, os de lagoa Grande e Nova complexo ecológico abrange aproximadamente 16.400 ha e tor-

Brasília participam da festa de São Miguel na Vila São Miguel. nou-se Área de Proteção Ambiental (APA) em 1993. Os pescado-
res e catadores indígenas apontam 0 impacto dos canaviais sobre
os manguezais como 0 derramamento da calda da cana no esUi-
-
TEMPO DAS USINAS: ário do Mamanguape - como a principal causa da recente mortan-
DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL dade de caranguejos e peixes. Contrapõem a este tempo de carên-
NO VALE DO MAMANGUAPE cia, no qual só conseguem pegar uma ou duas cordas de caran-
guejo, um outro de fartura, quando a sua produção era de 20 a 25
Os Potiguara da antiga Sesmaria de Monte-Mor - ou Preguiça - estão
cordas. Esta atividade era suficiente para sustentar a família, 0
distribuídos em três comunidades: Jaraguã, Lagoa Grande e Nova
mangue era uma fonte de renda que supria as necessidades de
Brasília, localizadas nos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e
alimentação, vestuário e educação do grupo doméstico.
Marcação. A população indígena abrange aproximadamente dois ter-

ços da população total destes povoados, incluindo-se as famílias for- Os Potiguara se empregam como assalariados nos canaviais, tipo

madas por casamentos interétnicos. Na Vila Monte-Mor moram 48 de atividade que é sazonal, ou seja, intercalada por períodos de
famílias indígenas e na cidade de Marcação, mais de 30. Os não-índios desemprego. Além disso, a disponibilidade desta alternativa eco-
casados com índios correspondem a 16% da população não-indíge- nômica depende da negação da identidade indígena, principalmente
na. A população total equivale a 1.269 pessoas e 271 famílias. no contexto atual, no qual se travam as lutas pela reconquista do

544 NORDESTE (OVOS INDÍGENAS NO BRASIL 199512000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
_//\C I SA
território tradicional. De maneira geral, o quadro das atividades duas condições definem quem é fichado e quem é clandestino. 0
assalariadas não é animador para o trabalhador indígena. Pessoas empreiteiro em Rio Tinto atua dentro da legalidade, ficando para
com idade superior a 35 anos dificilmente encontram um lugar o gato a tarefa de formar uma equipe de clandestinos como pos-
neste mercado de trabalho. Concluídas as atividades nas planta- sibilidade alternativa ou complementar de suprimento dos “bra-
ções de cana, após um período de quatro a sete meses desde o ços" necessários à economia canavieira. Como o pagamento é por
início da safra, há uma maior concentração de esforços na roça e produção, homens e mulheres levam seus filhos pequenos para
na maré. Depois do corte, se o cabrafor bom, pode ser transferi- ajudar na consecução da tarefa encomendada. Nos anos 80, quan-
do para outros serviços: limpa de cana, adubação, agitação do do os canaviais foram implantados, até o início dos anos 90, era
veneno, matar os mato que vem das canas. Mesmo arriscando a comum a utilização de mão de obra clandestina e infantil. Geral-
própria saúde neste contato com agrotóxicos, muitos consideram mente as crianças eram exploradas no corte da cana, mas os ado-
isto melhor do que ficar desempregado. Assim, os índios com mais lescentes acima de 15 anos que já suportavam o peso da bomba de
de 35 anos dedicam-se a roça ou ao mangue, os filhos com idade agrotóxico podiam ir para o veneno, aguar o mato. Muilos indí-

superior aos 18 anos, muitos deles casados, empregam-se nos genas (na faixa dos 18 a 35 anos) que foram fichados recente-
canaviais. Alguns, quando a necessidade e os gatos obrigam, le- mente já têm uma longa história, que para alguns começou quan-
vam os filhos pequenos para ajudar a aumentar um pouco mais os do tinham quatro ou cinco anos, como clandestinos. Mas mesmo
parcos rendimentos obtidos nesta atividade econômica. os que trabalham com carteira assinada não deixam de ter proble-

mas para receber os seus direitos (fundo de garantia, décimo ter-

O recrutamento da mão de obra se dá através de contratos for- ceiro, ferias, PIS, etc.), recorrendo ao advogado do Sindicato dos
mais, nos quais se garante os direitos trabalhistas corresponden- Trabalhadores Rurais em Rio Tinto para não serem lesados pelo
tes, e por meio de compromissos informais, através do gato. Estas empregador, (julbo 2000) ,

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NORDESTE 545


.

Acervo 2' -
'X^f * í
*

/ TnafiHíHi
Fonte. Â
^ftmembé
tradição por trás da criação- Ca rtiíha do povo Ttemembé.
Eyaldo Mendçs Silva, Ivo Sousa, lÍBrla Virgima Monteiro!
Forjaiejg; Seduc, 1998 ^ .....

GERAL MAIS DE 20 MIL ÍNDIOS DE to, pensado sem ouvir as comunidades indíge-
PE SOFREM COM ESTIAGEM nas e ribeirinhas, dificultará a sobrevi vência dos
povos que dependem do Rio.
ÍNDIOS DO CE DISCUTEM Dos 23 mil índios de Pernambuco, quarto estado O Rio São Francisco já passa por graves pro-
LUTA PELA TERRA em população indígena, 21 mil estão no sertão e blemas. Com a construção da Hidrelétrica de
sofrem os efeitos da seca. Eles são das etnias Sobradinho, na Bahia, a nível do Riu foi drasti-
Representantes das comunidades indígenas
Atikum, Fulni-ô, Pankaram, Xuktiru, Kapinawá, camente reduzido em 70%. A vegetação nativa
Tapeba, Tremembé, Pitaguary e Jenipapo-
Truká, Hixá e Kambiwá.
Canindé estarão reunidos de 2 1 a 23 deste mês, acabou, começaram problemas de erosão, a
A Al Atikum, em Floresta (PE), de onde saíram pesca foi praticamente extinta.
na área indígena de Capuã, em Caucaia, para
as famílias que hoje vivem em MS, está entre as
Com o atual nível de água, a transposição po-
avaliai' os trabalhos durante o ano de 1997, pla-
áreas consideradas pela Funai como mais atingi- derá reduzi-lo em mais 70%, segundo informa-
nejar as atividades para este ano e definir as
das pela seca neste ano. 0 administrador regio-
ções do engenheiro de Israel que foi a Ilha de
prioridades do Movimento Indígena Regional.
nal da Funai em PE, José Osório Galvão de Olivei-
Assunção, Cabrobó (PE), para fazer as sonda-
O encontro é promovido pola Articulação dos
ra, disse que há oito meses o governo federal dis- gens de solo. Isto significa que o rio ficara com
Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e
tribui cestas básicas mas em número
na aldeia,
apenas 30% do nível para baixo do ponto de
Espírito Santo (Apoimnc) que também fará vi-
insuficiente. Parte da aldeia vem sendo atendida
sitas nos próximos dias 1 9 e 20 às áreas dos captação da transposição.
com carros-pipa, mas em condições precárias.
índios Tapebas, Pitagiiarís e Gentpapo-Canindés. Já tivemos notícia do exemplo negativo sobre a
Há casos de anemia e verminoses entre os 2.744 transposição do Rio Nilo, no Egito, que trouxe
Segundo Maninha Xticuru Kariri, da Apoinine,
índios da área, segundo Oliveira. A área Atikum todos esses problemas que colocamos aqui e
a bandeira de luta dos povos indígenas conti-
fica na região conhecida como “Polígono da Ma- outros mais. Foram destruídos monumentos
nua sendo a terra. Em Caucaia, os Tapebas ain-
conha”, considerada a maior produtora da dro-
da aguardam que a Funai em João Pessoa (PB) históricos, estátuas, memoriais e templos reli-
ga no país. (FSPeA Tarde, 29/06/98)
- giosos dos povos que habitavam a região.
à qual o Ceará está subordinado administra-
tivamente - providencie a demarcação física dos Outra preocupação que não podemos esque-
ÍNDIOS DO CE QUEREM cer é que uma obra deste porte aumentará, na
4.658 ha de terras pertencentesàtribo. (O Povo.
15/01/98)
ESCRITÓRIO DA FUNAI região, os problemas como a prostituição, o uso
e comércio ilegal de entorpecentes como a
Representantes dos povos indígenas do estado,
maconha, a cocaína e outras drogas que
ÍNDIOS DA BA RECLAMAM que estiveram reunidos de 9 de julho, parti-
5 a
tenta-

mos com esforço eliminar


DO DESCASO COM A SAÚDE cipando do Curso de Formação de lideranças
Diante disso, reivindicamos que este processo
Indígenas no Ceará, elaboraram uma carta de
Reunidos sob as algaro beiras da Baixa das Pe- seja paralisado e que efetivamente seja
reivindicações a ser entregue às autoridades es-
dras, na aldeia Kantaruré, na véspera do Dia do rediscutido, desta vez, envolvendo as comuni-
taduais e federais. Entre as reivindicações está
índio, os caciques José Sátiro (Xukuru-Kariri), dades indígenas e ribeirinhas afetadas que ali
a Criação, por parte da Funai, de uma Adminis-
Manoel Coelho e João Olenário (Kantaruré) tro- habitam”. (Representantes dos Povos Truká.
tração Regional no Ceara, que atenda as neces-
caram considerações sobre a situação dos po- TumbaletM e Ribeirinhos, Brasília, 28/10/99)
sidades da população indígena local. Segundo
vos indígenas do norte da Balda. Afinados num
eles, com unia representação local da Funai,
mesmo discurso, eles concordam que um dos
poderia ser agilizada a demarcação das terras
maiores problemas do momento é a falta de vi-
indígenas. As reivindicações envolvem ainda a
ATIKUM (PE)
sibilidade do uso dos recursos destinados aos
importância de garantir a identidade e diversi-
índios por parte da representação regional da
dade étnica, a organização e recuperação da cul-
FAMÍLIAS FOGEM DA
Funai, em Paulo Afonso. "... o dinheiro chega e
tura desses povos e a necessidade de uma polí- SECA E VÃO PARA MS
vai embora sem o índio saber para onde”, dis-
tica nova para os povos indígenas no Nordeste, Doze famílias Atikum, entre 60 a 80 pessoas,
se José Sátiro.
cm especial no Ceará. í O Povo.. 10/07/99) fugiram da seca no sertão pernambucano para
Preocupado com a situação, o cacique Zezinho,
como é conhecido, considera que a solução está
trabalhar a. 3-400 km da aldeia natal como hós-
na volta dos recursos destinados à saúde indíge- ÍNDIOS E RIBEIRINHOS pedes do povo Terena no Mato Grosso do Sul.

na para a Funai. Hoje, a verba é administrada CONTRA A TRANSPOSIÇÃO Os Atikum, íogo batizados de “terra seca” pe-
pela Fundação Nacional de Saúde - FNS, órgão DO RIO SÃO FRÃNCISCO começaram a chegar na TI Nioaque,
los Terena,
a 185 km de Campo Grande, há cerca de
que os índios repudiam em razão da total
“Nós. representantes (los povos Truká, IVim- 13 anos.
desassistência a questões essenciais, como trata-
mento de água e saneamento básico. Zezinho faz
balalá e ribeirinhos queremos manifestar nossa 0 primeiro do grupo a deixar a aldeia no mu-
opinião de repíídio a respeito da Transposição nicípio de Floresta (PE) foi Aliano José Vicente.
parte do Conselho de Saúde Indígena, mas até
hoje não sabe para onde foram R$ 450 mil anun- do Rio São Francisco, uma vez que seremos Ele ficou sabendo, vagamente, que um primo

ciados pela Fundação em 96, numa reunião em diretamente afeiados pela obra. tinha ido para “o sul” tentar um “lugar mais

Paulo Afonso. Disposto a brigar pela causa, de


Para nós a Transposição vem trazendo prejuí- chovedouro”. Primeiro Vicente trabalhou como

anunciou que só irá na próxima reunião, no mês


zos irreparáveis com a degradação da natureza, no Paraná, mas não gostou e voltou a
bóia-fria
a extinção da mata nativa nas margens do rio, o Pernambuco, onde trabalhou na terra da Serra
de maio, para levar a proposta de retirada dos
recursos da FNS. (A Tarde, 22/04/98)
fim da agricultura de várzea e o assoreamento de Uma por mais três anos. Não conseguindo
do leito do Rio. vencer a seca, partiu para o MS para conhecer
A escassez da pesca c da caça é outro problema a AI Nioaque, hoje com 3.029 ha e 1 12 índi-1 .

que nos preocupa profundamente. Este proje- os Terena.

546 MORDESTE POVOS INDÍGENAS MO BRASIL 1996/21X30 - INSTITUTO S0 CIO AMBIENTAL


,

Vicente conversou com as lideranças e pediu cando vassouras (média de 3.500 por semana) descoberto. Se houver um respaldo jurídico, a
um lugar para ficar. Os Terena discutiram o as- tapetes, chapéus e esteiras de palha de ouricuri; prefeitura tem o maior interesse em saldar essa
sunto em assembléia e o autorizaram a se ins- outra parte planta milho e feijão; 42 são funcio- dívida".

talar na área, um mês depois. Aos poucos, che- nários da Funai, ganhando, em média, 650 re- Durante a negociação, encerrada no início da tar-
garam os 1 1 filhos e a mulher dc Vicente. Aos ais por mês. (Jornal do Commércio, 02/02/97) de de ontem, os Fufni-ô decidiram reduzir o va-

nordestinos, foi destinado um canto cia aldeia lor para R$ 8.480,00, o mesmo pago pela admi-
Água Branca, que passou a ser chamado aldeia OCUPAÇÃO DO CEMITÉRIO nistração anterior. O pagamento deverá ser feito

Cachoeirinha. Sobre a sua nova situação, resu-


EM ÁGUAS BELAS... dentro do prazo de 30 dias. “Este é o menor pre-
me: ‘‘A terra aqui é muito fraca, mas é melhor ço que podemos cobrar. E se não for pago, volta-

do que a melhor terra de lá". (FSP e A Tarde, Aproximadamente cem índios Fulni-ô ocupam remos a fechar o cemitério”, afirmou Jair.
29/06/98) desde ontem o cemitério de Águas Belas. A in- O chefe de posto da Funai no município,
terdição é feita por uma cerca de arame fincada Arnaldo Pereira, disse considerar o arrenda-
DENÚNCIA DE NARCOTRÁFICO na frente do cemitério e reforçada por um gru- mento ilícito. Esteve presente apenas para
po de índios armados com flechas e facões, im- acompanhar as negociações. Segundo eie, “o
A subprocuradora-geral da República Maria pedindo, entre outras coisas, a realização de en- Departamento Jurídico da Funai entrará com
Eliane Menezes de Farias, coordenadora da 6* que a prefeitura pague
terros. Eles reivindicam um pedido de reintegração de posse e não mais
Câmara de Coordenação e Revisão do Ministé- um arrendamento pelo uso do terreno, perten- permitirá os arrendamentos”. (Diário de
rio Público Federal (responsável pelas comu- cente à AI Fulni-ô, no valor de R$ U.900,00 Pernambuco, 09/05/98)
nidades indígenas e minorias), comunicou ao por ano. Segundo o administrador regional da
procurador-geral da República, Geraldo Brin- Funai Otávio Uchôa, a cobrança - caso seja com-
,
FAZENDA EM ÁGUAS
deiro, a ocorrência de tráfico na área indígena provada é
Atikum-Umã, siluada no município de Carnau-
- ilegal.
BELAS É OCUPADA
0s índios também interditaram a torre que ser-
beira da Penha, Pernambuco. Em visla do co- ve à central telefônica e ao sistema repetidor de Cerca de cem Fulni-ô ocuparam a Fazenda Peró,
municado, Geraldo Bríndeiro solicitou ao mi- televisão, mas concordaram em desocupar. 0 em Águas Belas (PE). Os homens, mulheres e
nistro da Justiça que seja feita operação emer- agente da Delegacia de Águas Belas, Carlos crianças acampados na fazenda reivindicam a
gential para a eliminação do narcotráfico na Sampaio Brito, disse que a prefeitura provou que incorporação da propriedade às terras indíge-
área. (Ofício da Procuradoria Geral da Repú- a área não pertence aos Fulni-ô e eles atende- nas demarcadas na localidade. Segundo a Su-
blica n°294, 02/07/99) ram à polícia, desocupando a estação de tele- perintendência da Funai em Recife, a fazenda
comunicações da cidade. não está entre as áreas do corredor de terras

Além do cemitério, o matadouro, afeira.de gado indígenas em Águas Belas.


FULNI-Ô (PE) e um mercado, todos pertencentes à prefeitura, O interesse dos índios pela área se deve à sua
funcionam em terras dos índios. A Funai entra- proximidade ao local onde os Fulni-ô realizam
POVO MANTÉM TRADIÇÕES rá com ação de reintegração de posse dos ter- o ritual secreto do Ouricuri. “Os índios dizem
renos c o prefeito terá de construir outro cemi- que a fazenda fica numa área alta e algumas
Durante nove meses, do fim de maio ao fim de tério. (Diário Popular e Diário de Pernam- pessoas estariam atrapalhando ou bisbilhotan-
fevereiro, os Fulni-ô vivem como brancos pobres buco, 08/05/97) do o ritual”, explicou Esteia Pentes, adminis-
nnm aglomerado de cerca como se
de 800 casas, tradora regional da Funai. A fazenda foi avalia-
fosse um bairro anexo à cidade de Aguas Belas,
... TERMINA DOIS DIAS DEPOIS da em RJ 167.446,00 pelos lécnicos da Funda-
PE. Os outros três meses passam totalmente isola- ção, e o proprietário já teria demonstrado in-
dos no OuricLiri, lugar que consideram sagrado, Depois de manterem o cemitério municipal in- teresse pela venda da área. (Correio Brasi-
onde realizam rituais secretos, aos quais os bran- terditado por dois dias, os Fulni-ô decidiram li- tiense, 04/W/9S)
cos jamais tiveram acesso. O Ouricuri dista cinco berar os portões de acesso. Isso ocorreu de-
km da aldeia. Eles são os únicos a falar uma lín- pois que um grupo de índios foi recebido pelo
gua indígena no Nordeste. diretor financeiro do município, Adalberto KAMBIWÁ (PE)
Quando não estão participando do ritual do Lopes, e pela secretária de Ação Social e pri-
Ouricuri, os Fulni-ô sobrevivem dedicando-se meira-dama, Elayne Jbonatas. Os Fulni-ô foram
FUNAI NEGA IDENTIDADE
ao artesanato, ao arrendamento de parte de suas acompanhados de um representante do Incra e
DE FAMÍLIAS INVASORAS
terras para os brancos e à agricultura de sub- de dois agentes da PE O prefeito não estava na
sistência, principalmente o feijão, que é planta- cidade. De acordo com Adalberto Lopes, a pre- A Funai não reconhece como índios Kambiwá
do num território de 1 1 .500 ha, metade agri- feitura não está se negando a pagar o arrenda- 15 famílias que vêm ocupando uma área do
culturável e o restante rocha e solo impróprio mento, apenas quer que o valor seja revisto. “O projeto de irrigação Maria Tereza, em
para o plantio. prefeito espera um respaldo jurídico para que, Petrolina, PE. Segundo o diretor da Fundação,
Em 1929, o território ocupado pelos Fulni-ô foi mais tarde, o Tribunal de Contas não venha a em Pernambuco, José Osório de Oliveira, não
divididoem lotes de 30 ha, mas, com o cresci- questionar este valor, uma vez que os índios não há registro de saída de pessoas daquela al-
mento das famílias os lotes são insuficientes para podem assinar um recibo”, esclarece. Eie disse deia, distribuída em 27.100 ha dos municípi-
garantir seu sustento. São cerca de 800 famíli- ainda que o prefeito Clodoaldo Bezerra (FFB) os de Inajá, Ibimirim e Floresta, nos últimos
as, cada uma dona de, no máximo, 6,5 ha. Como tinha ido ao Recife negociar com o Incra uma oilo meses.
há famílias com até dez adultos, aos poucos a forma legal de remuneração. Localizado por De acordo com José Osório, um dos primeiros
agricultura é substituída por trabalho na cida- telefone, Clodoaldo confirmou: “Legalmente, o a chegar às terras irrigadas do Maria Tereza se
de. Uma parte dos Fulni-ô faz artesanato, fabri- índio é considerado de menor e não posso ficar identificando como Kambiwá é, na verdade, um

P0V0S INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - instituto socioambiental NORDESTE 547


^LjT^ Acervo ©
-//ISA
ACO NTECEU
ex-funcionário da Funai, Aldeído Claudino de Essa decisão deve pôr fim à intranquilidade dos Recife) para integrar o valor determinado nes-
,

Araújo. “Há cerca de dois anos de entrou no Kantaruré, que aguardavam a portaria ministe- te processo,
Programa de Demissão Voluntária do Governo rial desde 13/05/97, quando o presidente da Líderes indígenas se reuniram à tarde, na Pro-
Federal”, disse. A Funai não sabe a procedên- Funai assinou despacho aprovando os limites curadoria Geral da República, com o procura-
cia das demais pessoas que estão em Petrolina. propostos pelo “Relatório de Identificação e dor dos Direitos do Cidadão, Delson Lyra, re-

“Desconheço de onde são essas famílias. É até Delimitação da Terra Indígena Kantaruré”, de presentantes da Funai, Advogada da União e
negativo para os Kambiwá ter o seu nome rela- autoria dos antropólogos José Augusto laran- Cimi. O procurador deixou claro haver neces-
cionado com invasões de terra”, afirmou José jeiras Sampaio e Sheila dos Santos Brasileiro, sidade de entendimento para que o pagamento
Osúrio. (Jornal do Commércio, 14/08/98) publicado no DOL1 em 16/05/97. Mesmo sem seja efetuado e a posse da terra passe a ser dos
ter sido contestada durante o processo, a TI índios. “O entrave burocrático precisa scr sa-

GRUPO AMEAÇA INVADIR Kantaruré demorou quase um ano para ser de- nado para que o pagamento seja feito. Caso
clarada pelo ministro. (ISA, 02/04/98, a partir contrário, o juiz pode julgar que a terra perten-
RESERVA BIOLÓGICA
do DOU, 16/05/97 e 31/03/98) ce ao proprietário, expulsando os índios daque-
Remanescentes dos índios Pipipâ (grupo inte- la área. À União dispõe de recursos para inde-
grado aos Kambiwá) ameaçam ocupar a Reser nizar também os outros proprietários, cujos
va Biológica de Serra Negra. Eles se reuniram KARAPOTÓ (AL) valores são menores do que os de Luiz Couti-
anteontem numa comunidade rural, nas ime- nho”, argumentou. (Gazeta de Alagoas e OJor-
diações da reserva pertencente á União, para LINHA DE TRANSMISSÃO PASSA nal (AL), 27/09/9?)
discutirem o que chamam de “ocupação DENTRO DE ÁREA INDÍGENA
indevida da área por fazendeiros, que pertence
historicamente aos índios Pipipâ”, além de de- A comunidade indígena Karapoíó firmou um KIRIRI (BA)
cidirem sobre estratégias a serem utilizadas termo de compromisso com a Companhia
para a recuperação da área que inclui a pró- Energética de Alagoas (Ceai) permitindo a pas- CONFLITO VOLTA A MIRANDELA
pria Reserva Biológica. sagem de uma linha de transmissão de 69 KV
ligando os municípios de Penedão e Arapiraca. O conflito entre brancos e índios Kiriri ameaça
A intenção das 194 famílias, distribuídas em
A linha passa dentro da área indígena. O acor- recrudescer. Nove meses depois da desocupa-
cinco comunidades, e representadas pela As-
do, que prevê a proteção da comunidade aos ção do povoado, cerca de 70 das 180 famílias
sociação Pau Ferro Grande dos índios, sediados
impactos advindos da implantação e manuten- de posseiros que deixaram o lugar após mais
a 12 km da reserva, é ocupar de imediato os
1.100 ha da Rebio e permanecer por tempo ção da linha, foi assinado pelo presidente da de um século de ocupação, ameaçam invadir

Ceai, Newton Silva, pelo cacique Juarez de Sou- as terras que antes lhes pertenciam porque o
indeterminado para forçar o Ministério da Jus-
pelo pajé Antonio José Filho e pelo presi- governo federal não indenizou olarias, roças e
tiça e a Funai a tomarem uma posição quanto a za,

dente da Funai, Julio Geiger. (DOU, 28/11/96) residências e nem desapropriou as fazendas
um abaixo assinado encaminhado por eles em
Bananeira e Mata do Couro, onde deveriam es-
abril de 99- No documento, os índios solicitam
COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO tar rea5sentados. Eles afirmam que passam sé-
a demarcação da área, baseada, segundo eles,
rias dificuldades, e que está passando da hora
em documentos que comprovam a ocupação PARA IMPEDIR DESPEJO
de plantar milho, feijão e mandioca, e garan-
histórica das terras por seus ancestrais.
Cerca de 50 índios Karapoíó ocuparam a sede tem que entrarão na reserva Kiriri.
"Esta é a forma que encontramos para chamar a
da Funai, ontem pela manhã, para cobrar o cum- Os índios também vivem o mesmo dilema. Es-
atenção para um problema que algumas autori-
primento da indenização da Fazenda Taboada, tão em alerta em Mirandela, argumentando que
dades insistem em ignorar”, disse Genildo Pipipâ,
em São Sebastião. Eles reclamam que viverão não podem sair para trabalhar nas roças por
um dos líderes. Segundo ele, o grupo se tornou
dissidente dos Kambiwá há um ano e meio, por
tensos, sob ameaças de despejo, enquanto a ter- causa da ameaça da Invasão. Em Mirandela
ra não for indenizada. moram hoje em tomo de mil índios Kiriri, en-
razões culturais e polílicas. Ele garante que seus
Apesar de a área ter sido desapropriada por tre homens, mulheres e crianças. “Não pode-
ancestrais já ocupavam a área em 1802, quando
uma missão dos Capuchinhos chegou à região.” decreto, em 1992, o valor depositado pela União mos deixar nossas mulheres e filhos expostos
para indenizar os quase 30 proprietários foi diante da ameaça de invasão", afirma o caci-
(Jornal do Commércio, 12/10/99)
considerado, pela Justiça Federal, inferior ao que Lázaro. (A Tarde 18/04/96) ,

preço da terra, incluindo as benfeitorias. A União


KANTARURÉ (BA) destinou, na época, apenas RS 560 mil, quando POSSEIROS INVADEM
as terras valem hoje cerca de R$ 2,7 milhões. RESERVA EM MIRANDELA...
Por falta de pagamento, o processo foi extinto,
MINISTRO DECLARA TERRA
mas o governo recorreu para evitar a expulsão Mais de cem ex-moradores de Mirandela de-
Os Kantaruré, descendentes de populações in- dos índios da área. sembarcaram de carros e caminhões proceden-
dígenas que habitavam originalmente o trecho Dos 1.810 hectares ocupados pelos índios, tesde Banzaé e Ribeira do Pontal, ocuparam
médio do rio São Francisco, conquistaram a 1.100 pertencem a um único proprietário, Luiz terras e se instalaram muna casa situada em área

posse definitiva de uma área com 1.695 ha no Coutinho, que ingressou, este ano, na Justiça de reserva, a menos de um quilômetro do po-
município de Nova Glória (BA). A conquista é Federal, com ação de reintegração de posse. voado, garantindo que só sairão quando o go-
resultado da Portaria n” 245, de 30/03/98, as- Apesar de dispor de R$ 1. 169 mil para pagar ao verno pagar as indenizações deles e passar as
sinada pelo ministro da Justiça, íris Rezende, proprietário, a União precisa desistir do agravo terras do reassentamento, como prometeu des-
determinando a demarcação da TI. A Portaria impetrado para disponibilizar os R$ 560 mil do de agosto do ano passado, quando entregaram
foi publicada no DOU do dia 31/03/98. processo extinto (que corre na 5‘ região em suas propriedades aos Kiriri.

548 NOROESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


0 cacique Lázaro e os três conselheiros da tri- famílias de índios que moravam em Gado Ve- jão que eslava soando foi queimado. Do outro
bo não estavam no momento. Tinham ido à sede lhaco tiveram que abandonar suas casas com lado, outra casa foi destruída, mas a família,
da Fanai em Paulo Afonso, mas os índios pro- os posseiros. “Nós não expulsamos eles”, diz que morava no local, escapou. Na aldeia, vári-

metiam resistir a qualquer tentativa de ocupa- o índio Bonifácio, um dos líderes da invasão. as outras casas foram atacadas pelos índios de
ção. “Aqui eles não entram", avisaram. Os pos- “Não respeitam nosso povo”, diz o cacique Ma- Mirandela. (A Tarde, 22/12/96)
seiros demonstravam disposição de não arre- nuel, de Cantagalo.
dar o pé: “Ou o governo decide a questão ou Na região, os de Cantagalo são tidos como ÍNDIOS OCUPAM
vamos marchar para Mirandela”, garantiram. mais pacíficos. O cacique Manoel diz que a
CASAS DE PAU FERRO
A casa-sede da antiga fazenda do ex-prefeito de área tem limites naturais que não podem ser
Pombal, Edval Calazans, estava trancada ejásob ultrapassados ao bel-prazer da outra facção índios da tribo Kiriri ocuparam, ontem, todas
domínio dos índios, mas os posseiros abriram e se mostra disposto a enfrentar a outra tri- as casas do povoado de Pau Ferro, em Banzaê.
as portas e garantiram que vão ficar lá. “Está bo. Ao mesmo tempo dizem que não querem O povoado tinha 40 casas ainda habitadas por
chegando o inverno, é hora de plantar. Há mais guerra. brancos que aguardavam indenização da Fiuiai,

de um ano que não plantamos nada por causa Depois de duas noites na estrada, finalmente Os índios deram um prazo de 24 horas para
dessa confusão, não pagaram nossas indeniza- os índios permitiram que parte dos possei- que as famílias de posseiros deixassem a reser-

ções e não podemos Bear à mercê da sorte. ros entrasse em Gado Velhaco para apanhar va. Não houve violência, apesar de nenhum
Muitos estão passando dificuldades”, afirmou seus pertences. A prefeitura de Banzaê alo- policial federal ou militar ter ido ao local.

José Souza Dantas, que tinha uma casa e uma jou algumas famílias (muitos não arredam o O líder Lázaro viajou a Paulo Afonso para co-
roça e direito à indenização de R$ 17 mil, “uma pé do acampamento à beira da estrada) no municar à Futiai a expulsão dos brancos do
ninharia de dinheiro", mas que até agora não centro de abastecimento da cidade. (Jornal povoado. Os moradores foram abrigados em
recebeu um único centavo. de Brasília, 16/07 e A Tarde, 18/07/96) casas dc parentes e amigos, num local pró-
A possibilidade de novos conflitos é admitida ximo denominado Queimada Grande. A
pelos posseiros. “Não é assim que o governo MORTE PODE prefeita de Banzaê, Jailma Dantas, informou
quer?”, assinalou Celso Geraldo Dantas, 60 anos, ACIRRAR CONFLITO que está providenciando abrigo para 1 1 7 fa-
nascido e criada em Mirandela, lembrando que mílias sem moradia. A decisão de expulsar
A situação continua tensa na reserva indíge-
os posseiros tomada após o índio Osana
“ninguém quer briga”, mas diante da. situação foi

atual estão sendo forçados a tomar esta atitude.


na de Mirandela, onde, em consequência de ter sido baleado por um grupo de brancos
(A Tarde, 19/04/96)
um conflito entre membros da tribo Kiriri, foi
na semana passada.
assassinado o índio Saturnino Bertolino de
As famílias expulsas pelos Kiriri terão que aguar-
Jesus, de 72 anos, e feridos gravemente ou-
... E SÃO EXPULSOS dar o próximo repasse de verbas do Ministério
tros três. O prefeito de Banzaê, José Leal, teme dajustiçapara receberem as indenizações pe-
Um grupo de 200 Kiriri expulsou os 40 morado- que a qualquer momento estoure um conflito los imóveis ocupados. Segundo o administra-
res que haviam reocupado o povoado de Gado maior na região envolvendo as duas facções dor interino da Funai na região Aurino Januário
,

Velhaco, entre Mirandela e Banzaê, nas proximi- Kiriri. O incidente, explicou o prefeito, acon- da Silva, o Ministério ainda deve um repasse de
dades de Ribeira do Pombal, A ocupação dividiu teceu em Lagoa Grande, depois que seguido- R$ 70 mil, referente ao orçamento do ano pas-
as duas facções locais indígenas: os de Cantagalo res do cacique Lázaro atearam fogo em casas sado, “Além disso, só recebemos cerca de Rí
não concordaram com a ocupação. onde vivem índios Kiriri da facção de Manoel. 500 mil este ano, o que é insuficiente para in-
Não houve conflitos durante a ação. Os caci- Em represália, esses índios acabaram atean- denizar todas as famílias que ocupam a reserva
ques explicaram que só querem reaver suas do fogo em casas de seus rivais, gerando o dos Kiriri' disse. (Tribuna da Bahia eA Tar-
,

terras e que não querem guerra. Mesmo assim, conflito. (A Tarde, 17/12/96) de, 16/09/97)
as entradas da cidade estão bloqueadas pelos
índios e os posseiros acampados há alguns qui- LAGOA GRANDE POSSEIROS OCUPAM
lômetros de suas antigas casas.
TEME EMBOSCADA FAZENDA MURITI
Acusações de ambas as partes: este é o clima
na região de Banzaê. A lhinai acusa a prefei- O medo ronda as famílias da aldeia de Lagoa Cerca de 200 famílias de não-índios reocu-
tura de abandonar Mirandela (povoado to- Grande, a maior da tribo dos Kiriri de Cantagalo, param ontem, pela terceira vez, a Fazenda
mado pelos índios no ano passado). A pre- lideradas pelo cacique Manoel Cristóvão Batis- Muriti, que tem uma área de 6.340 ha, no mu-
feituraacusa a Punai de proteger o cacique ta. Coro medo de emboscadas dos irmãos de nicípio de Tucano Essa é uma das cinco fazen-
Lázaro. Os Kiriri de Mirandela dizem que os Mirandela, os índios evitam sair à noite e só das já Estadas pelo Incra,com indicação do
de Cantagalo abandonaram as origens. Estes andam em grupos. As casas mais distantes do Fórum de Entidades que apoiam os Não-Índios
reagem à altura: dizem que o pessoal do mícieo principal da aldeia foram abandonadas, Expulsos das Terras dos Kiriri, onde deverão
Lázaro quer tudo e que “somos índios tam- depois que várias delas foram incendiadas na ser reassentadas 326 (amílias de não-índios.
bém”. Os Kiriri de Mirandela e os índios de semana passada por um grupo de mais de 30 O diretor da Federação dos Trabalhadores na
Cantagalo, na verdade duas facções da mes- Kiriride Mirandela. A casa de João Jesus dos Agricultura no Estado da Bahia (Fetag) entida- ,

mo tribo que se separaram por divergências Reis foi invadida pelos índios vindos de Miran- de que coordena o Fórum, explica que o presi-
ideológicas, juram que não querem briga. dela. João foi morto, crivado de balas ao tentar dente do Incra reconheceu dificuldades de or-
Mas estão armados com flechas e paus para escapar do fogo. Seu sogro, José Amor Francis- dem técnica para atender à demanda, ou seja,
“o caso de ser necessário brigar”. Os de co dos Santos, conseguiu escapar, fugindo cm reassentar as 2,8 mil famílias de não-índios que
Cantagalo afirmam que os Kiriri invadiram meio ao milharal. Da casa, restaram apenas al- somam 8 mil pessoas, mas garantiu que dará
terras de seu território. Isto porque quatro gumas paredes queimadas. Todo o milho e fei- prioridade à questão.

POVOS INDÍGENAS ND BRASIL I9B6/2D0D - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL NORDESTE 543


6 .

De maneira geral, os sem-terra não se confor- ra", disse o agricultor Oswaldo Chaves do Nas- Pelo acordo firmado na reunião no Fórum de
mam com o fato de o governo federai ter ga- cimento, com 62 anos. Elenilda Silva Moraes, Ribeira do Pombal, os índios não vão devolver-
rantido o direito dos índios em detrimento do com 19 anos, conta: “os índios queriam ocupar as áreas reocupadas nos últimos dias e os colo-
deles, o que consideram uma discriminação. a minha casa imediatamente e só deu tempo de nos terão que permanecer onde estão. 0 prazo
A juíza de Tucano, Newcy Gidi, já concedeu a carregar o fogão. dado pelos índios é considerado apertado para
reintegração de posse da Fazenda Muriti e pe- O coronel da PM Aloysio Campos Pilho disse que a Funai consiga os RS 6 milhões necessári-
diu reforço policial ao Batalhão da PM de ontem que os índios não serão retirados das os para resolver o problema. O dinheiro só pode
Alagoinhas parti desocupar a propriedade, mas áreas invadidas. “O governo federal já demar- ser obtido via medida provisória assinada peio
a ordem judicial ainda não foi cumprida. Os cou a área há 1 anos e agora tem de cumprir a presidente ou por suplementação orçamentá-
próprios donos querem a desapropriação, des- promessa de pagar as indenizações aos antigos ria votada pelo Congresso Nacional. A Funai
de que o Incra pague um preço justo. Os sem- moradores”, disse. (FSP, 26/03/98) anunciou a liberação de uma verba emergencial
terra afirmam que não pretendem resistirá ação de R$ 2 milhões para iniciar a indenização dos
policial, mas ameaçam acampar na sede do GOVERNO ESTUDA não-índios. (FSPeA Tarde, 29/03/98)
Incra ou em frente ao batalhão, caso sejam ex-
INTERVENÇÃO EM BANZAÊ
pulsos. (Tribuna da Bahia. 23/09 e A Tarde ,

25/09/97) Os procuradores da República Robério Nunes PANKARARÉ (BA)


dos Anjos Filho e Gcisa de Assis Rodrigues soli-

CONFLITO ENTRE citaram à PGR intervenção federal no municí- FUNAI SUSPENDE


pio de Banzaê. O porta-voz da Presidência da
DEMARCAÇÃO
FACÇÕES GERA MORTE
República, embaixador Sérgio Amaral, afirmou,
Uni confronto entre os Kiriri resultou em um ontem, em Brasília, que o presidente FHC pode- O administrador regional da Funai cm Paulo
morto e vários feridos. Armados com carabi- rá determinar a intervenção federal em Banzaê. Afonso, Sivaldo Barbosa Moreira, recebeu de-
nas e rifles, cerca de ISO índios liderados pelo A decisão depende da conclusão das vistorias terminação do presidente do órgão, Júlio Mar-
cacique Lázaro tentaram invadir as terras do realizadas na região pelos funcionários da Funai cos Gcrmany Geiger, para suspender, até segun-
cacique Manoel, no povoado de Marcação, onde Segundo ele, o ataque dos Kiriri aos povoados da ordem, os trabalhos de demarcação da Área
moram parte das 180 famílias desta facção de Banzaê foi o principal assunto da conversa Pankararé, no município de Glória, listes servi-

Kiriri, que só utilizam arcos e flechas. Na luta que ocorreu ontem entre FHC e o presidente da ços estavam sendo executados pelo Instituto de
para impedir a invasão, o índio Antônio de Je- CNBB, cardeal dom Lucas Moreira Neves. Terras de Alagoas (Itera!) e foram interrompi-
sus Santos morreu baleado e o conselheiro filias Encontram-se ocupados pelos índios os povoa- dos em decorrência da reação de posseiros alt

Jesus da Hora foi baleado no peito. dos de Marcação, Baixa Nova, Baixa da Can- instalados há muitos anos.
Segundo o advogado da Diocese de Paulo Afon- galha, Baixa do Joá, Segredo, Pau Feiro e Araçás, Eles invocaram o acordo celebrado, em 1985,
so, Jairo Monteiro, outros índios ficaram feri- além de Mirandela e Gado Velhaco, os primei- com os índios para evitar que mais de 17.700
dos, mas com menor gravidade. A Diocese ros a serem tomados pelos Kiriri. Se o clima é ha fossem incorporados no território Pankararé.

aguarda com urgênda uma intervenção na área absolutamente normal e tranqüilo nesses últi- O administrador regionai da Funai chegou a
das polidas Federal e Militar, para evitar que mos, em Araçás e Marcação, apesar da aparen- pedir a presença de agentes da PF para garantir
ocorram mais mortes, pois existia a ameaça de te calma, íem-se a impressão de que pode es- a continuidade dos trabalhos de demarcação,
uma nova tentativa de invasão. Ainda segundo tourar uma guerra a qualquer momento. Araçás mas os posseiros reagiram e tiveram o apoio
o advogado, a intenção do cacique Lázaro, que virou a base do cacique Manoel (que faz uma da Igreja, através do bispo Dom Mário Zanetla.
lidera 110 famílias alojadas nos povoados de linha mais pacifista e defende o pagamento das Na próxima semana, o administrador Moreira
Mirandela, Pau Ferro e Gado Velhaco, é se apro- indenizações dos posseiros antes da ocupação irá a Brasília levando o relatório sobre a pen-
priar das benfeitorias realizadas por brancos dos povoados). Marcação é onde o cacique dência. Os posseiros, mesmo com o afastamento
nas terras do cacique Manoel, que compreen- Lázaro (que cansou de esperar as providências da PF, dos funcionários do Iterai e da própria
de os povoados de Araçá, Segredo, Marcação e e vem tentando expulsar os brancos “na raça") Funai, continuam em estado de alerta até que o
Monte”. (A Tarde. 11/02/98) montou seu “quartel general”. Marcação é 0 governo federa] descarte a nova demarcação de
pomo da discórdia entre os dois caciques. (FSP terras em favor de um grupo de índios dissi-

MAIS DE MIL PESSOAS eA Tarde, 27/03/98) dentes. (A Tarde, 12/05/96)

SÃO EXPULSAS
CACIQUES ACEITAM TRÉGUA MP INVESTIGA DESMATAMENTO
A presença de policiais federais, militares e tro-
NO BREJO DO BURGO
pas do Exército na área não inibiu a invasão Os caciques Lázaro c Manoel chegaram a um
ontem dc mais quatro povoados do município acordo com a Funai, no final da tarde de on- A Promotoria dc Justiça da Comarca de Glória
de Banzaê, totalizando 260 casas ocupadas e a tem, e decidiram por uma trégua até o dia 15 instaurou inquérito civil para apurar responsa-
expulsão de mais 1.100 moradores. Cerca de de abril. Até lá as duas facções Kiriri não vão bilidades no desmatamento ocorrido na locali-
2.500 pessoas dc nove povoados já foram ex- promover a retomada de novas áreas ocupadas dade do Brejo do Burgo, onde vive a tribo Pan-
pulsas pelos índios nos últimos cinco dias, se- pelos colonos nem vão entrar em conflito. kararé. A representante do Ministério Publico,
gundo a PM de Banzaê. Manoel aceitou o acordo com Lázaro conquan- Isabel Adelaida de Melo Andrade, informou que
Sem alternativa, os moradores estão deixando to este desocupe o povoado de Marcação. Ele já foi solicitada ao Ibama uma vistoria para com-
suas casas e levando o que podem. Alguns es- diz que seu grupo chegou primeiro ao povoado provar o impacto ambiental que atinge a Reser-
tão destruindo as casas para utilizar tijolos e e aceita negociar, desde que os rivais não quei- va Ecológica do Raso da Catarina. O desma-
madeiras. “Estou começando minha vida ago- ram impor o comando. tamento é uma prática que está devastando a

550 NOROESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SGCI0AMBIENTAL


fauna e a flora da caatinga. A promotora vai
tensificar as ações na Justiça em defesa do am-
in- Os índios planejam derrubar torres de trans-
missão da hidrelétrica de Paulo Afonso que atra-
PANKARARU (SP)
biente. Providências da mesma natureza deve- vessam a aldeia Brejo dos Padres e pretendem
rão ser adotadas para preservar áreas de caa- agir de surpresa. “Vamos ter de deixar a socie-
MIGRAÇÃO PARA
tinga nos municípios de Jeremoabo, Santa dade descontente para conquistar o que é nos-
FAVELA EM SÃO PAULO
Brígida e Pedro Alexandre. so”, comenta o presidente da Associação Indí- Quase um quarto dos 6,5 mil Pankararu, de
No caso do Brejo do Burgo, os danos ambientais gena Pankararu, Frederico Mardonilo de Bar- Pernambuco, está vivendo em quatro favelas de
foram causados pelos índios. Perante a promo- ros Pankararu, “Os Krikati do Maranhão derru- São Paulo. A maior parte (aproximadamente
toria, eles alegaram que, em nenhum momento, baram só duas torres e resolveram o problema 500) dos que migraram mora no Real Parque,
foram advertidos por funcionários da Fitnai e do deles”, compara. Zona Sul, e outros 700 se espalharam pelas fa-
Ibama quanto às consequências do destná- Amanhã faz dez anos que a demarcação das suas velasdo Parque Santa Madalena, Zona Leste,
tamento ou sobre as proibições contidas na le- terras foi homologada pelo presidente José Paraisópolis e Grajati, Zona Sul. O grupo
gislação do meio ambiente. A promotora Isabel Sarney, mas até hoje nenhum posseiro deixou a Pankararu, da família Tuplnambá, situa-se en-
Adelaide não escondeu o seu descontentamento área. (Jornal da Tarde e OESP, 13/07/97) tre os maiores que ainda sobreviveram no país
com a omissão dos dois órgãos federais, que e se concentra na aldeia Brejo dos Padres, uma
mantêm postos na região, Tanto a Fitnai quanto POSSEIROS RECEBEM área demarcada de 8, 1 mil m !
entre os municí-
o Ibama estão na mira da promotora, que vai
INDENIZAÇÕES pios de Petrolândia e Tacaratu, no sul de Per-
apurar todas as denúncias sobre agressões à nambuco, com Bahia e Magoas.
divisa
fauna e ã flora, no Raso da Catarina e instaurai' os Os posseiros que ocupam 38% das áreas indí- Expulsos do local, também ocupado por pos-
inquéritos necessários para apuração de respon- genas dos Pankararu, nas cidades de Tacaram, seiros, os Pankararu começaram a migrar para
sabilidades. (A Tarde, 27/07/97) Petrolândia e Jatobá, estão procurando a Funai, São Paulo a partir da década de 50. O fluxo
no Recife, com a proposta de abandonar as ter- continua intenso nos dias atuais. Diariamente,
ras em troca de indenizações. O dinheiro já foi de dois a três índios,em média, desembarcam
PANKARARU (PE) entregue para 30 posseiros, de um total de 483 na Capital, em busca de trabalho. “Fomos sen-
existentes. Outros 128 procuraram a Fundação. do empurrados para o pé da serra na aldeia,
FUNAI É PRESSIONADA O coordenador da Comissão de Pagamento da onde não há terra boa parti o plantio”, explica
À INDENIZAÇÃO Funai, Petrônio Machado, informou que o paga- Frederico Mardonilo Barros, presidente da
mento já chegou a R$ 258.434,05 e 255 ha fo- Associação SOS Pankararu.
Cerca de 80 funcionários da Funai, em Recife, ram liberados para os índios. De acordo com o Segundo ele, a qualificação dos índios que vi-
foram mantidos como reféns, durante o dia de coordenador, os posseiros, em geral, têm outro vem em São Paulo só se iniciou há um ano. Atu-
ontem, por 42 Pankararu. Os índios também meio de vida, além das terras, e por isso estão almente, 80% deles possuem documento de iden-
bloquearam, com kombis, a avenida João de procurando as indenizações. Um total de 60% dos tidade da Funai, que garante seus direitos em
Barros, onde se localiza a sede do órgão, pro- posseiros reside em suas propriedades. (Diário território nacional. ‘Tivemos que brigar quase
vocando confusão c engarrafamento de trânsi- de Pernambuco, 15 e 16/08/97) dois anos para conseguir isso”, contaFrederico,
to. Pintaram-se com barro branco, em sinal de
que está em São Paulo há 30 anos.
luta, e dançaram o toré. NEGOCIAÇÕES COM A CHESF Os índios que dtegaro à capitai de São Paulo se
Os funcionários, inclusive o administrador re-
transformam em mão-de-obra barata. A maioria
gional da Fnnai em PE, foram liberados depois Os Pankararu e a Companhia Hidrelétrica do
dos homens trabalha na área da construção civil
de sete horas. Os índios querem a liberação de São Francisco (Chesf) estão negociando a assi-
e as mulheres como empregadas domésticas.
R$ 298 mil para indenizarem 33 das 460 famí- natura de um convênio para autorizar a perma-
Apesar de estarem migrando para São Paulo há
lias que ocupam uma área indígena de 8.100
nência da Linha de Transmissão de Energia Elé-
mais de 30 anos, a Associação SOS Pankararu
ha em Petrolândia, no senão, a 430 km de Re- trica Paulo Afonso/Milagres 230 KV, Circuito I,
só foi criada em 1994. Foi a forma encontrada
cife. A área foi demarcada e os posseiros espe- II e flf na Ti Pankararu e o pagamento de inde-
por eles para lutar contra o preconceito e o
ram ser reassentados, pelo Incra, ent outro lo- nização à comunidade indígena. A linha elétri-
desemprego. Hoje, a comunidade se reúne em
Do ca da Chesf foi implantada respectivamente nos
cal. total, 33 famílias preferem receber as uma creche ao íado da favela do Real Parque
indenizações em dinheiro para abandonar a anos de 1964, 1972 e 1978, atravessando uma
todo segundo domingo de cada mês para dis-
área dos Pankararu. área com 9,3 km de extensão e 100 m de largu-
cutir seus problemas e tentar encontrar solu-
Depois de muita negociação, os índios deram um rano interior da T I sem que a mencionada
ções. A SOS Pankararu foi também a responsá-
prazo até o dia 27 para. a Fitnai resolver o proble- empresa tenha cumprido o devido pagamento
vel pela atual qualificação dos índios, que pro-
ma. “Se a resposta não for positiva, mais de 60 de indenização aos índios. Primeiramente as
porcionou a eles uma identidade. (Diário Po-
Pankararu vão a Brasília', prometeu o líder [los partes estão buscando estabelecer um valor
pular, 09/09/96)
índios, Gustavo Pankararu. (Diário do Commér- indenizatório em comum acordo. Caso não che-
guem a um consenso, ambas estão de acordo
cki e Diário de Pernambuco, 22/02/97) CINGAPURA É REJEITADO
que a empresa retirará a linha elétrica daquela
terra. (Paulo Pankararu, Brasília, 08/06/00) É com desgosto que os Pankararu, que vivem
NOVAS AMEAÇAS em favelas na Capitai, aguardam o Projeto
Os índios Pankararu de Petrolândia (PE) ame- Ongaptira. Pelo menos 80 das mais de 100 fa-

açam deixar seis estados do NE sem energia elé- mílias que moram na favela do Reat Parque, Zona
trica, caso 483 famílias de posseiros não sejam Sul, já estão em alojamentos, mas afirmam que
retiradas da área indígena nos próximos 60 dias. foram enganadas e que não desejam os aparla-

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1SSG/2000 INSTITUTO S0C10AMBIENTAL NORDESTE 551


mentos, onde ficarão isoladas e sem espaço para mos até onde vai a responsabilidade da Funai e TÉCNICOS ENVIADOS PARA
manter o pouco da cultura que ainda preservam. onde começa a do Ministério da Saúde". ( OESP, COMPLEMENTAR ESTUDOS
Os que ainda estão nos barracos, temem o dia 13/07/97)
A Portaria da Funai n" 38, de 31/01/2000, de-
em que serão obrigados a deixar a favela e mo-
termina o deslocamento de técnicos para a ter-
rar nos alojamentos, separados de amigos e pa-
rentes. (Diário Popular, 15/12/96) PAYAKÚ (CE) ra Lagoa da Encantada com a finalidade de com-
plementar estudos. (DOU, 02/02/00)

FUNAI NÃO ATUA FUNAI RESTRINGE INGRESSO


COM DESALDEAÜOS NA TI LAGOA DA ENCANTADA
PAYAKÚ, JENIPAPO-KANINDÉ
Os mais de 900 Índios da favela Real Parque Através da Portaria n° 6, a Funai estabelece res- OU CABELUDOS DA ENCANTADA ?
não recebem assistência da Punai, como as ces- trição a direito de ingresso, locomoção e per-
O nome Payakií designa uma etnia numerosa que,
tas básicas que o órgão costuma enviar aos manência de pessoas estranhas aos quadros da
no século XVI, habitava toda a faixa sublitorânea
aldeados, ou atendimento de saúde. “Não está Funai. por seis meses, nos limites da Terra Indí-
dos atuais estados do RN e CE. Hoje, os Payakú
claro para a Funai como assistir índios gena lagoa da Encantada. Esta terra está locali- ainda vivem na mesma região. Habitam a Higoa
des aldeados" disse o diretor de Assistência da zada no município de Aquiraz, estado do Ceará. da Encantada, no município cearense deAquirás.
Funai, em Brasília, Ronaldo lima de Oliveira. A portaria veta a exploração de qualquer recur- Sua população, que em 1982 era de 96 pessoas,
Segundo ele, falta estrutura material para pen- so natural na área, mas permite a continuidade hoje chega a 180. O nome Payakú permaneceu na

sar no problema da favela. "A prioridade são de atividades pastoris e de manutenção de infra- memória dos mais velhos e dos líderes do grupo
os índios aldeados c, mesmo assim, há poucos estrutura. A restrição tem duração de seis me- mas, até ofinal da década de 1980, os índios cos-

recursos para atendê-los", argumenta. “Existe ses para realização de estudos e reconhecimento
tumavam atender apenas pela alcunha de "cabe-
ludos da Encantada modo como eram chama-
”,

um vácuo nessa história toda porque não sabe- da terra indígena. (DOU, 02/02/99)
dos por seus vizinhos não-indígenas. A denomi-
nação Jenipapo-Kanindé, até então desconhecida
indeiidamente aplicada com base
f)or eles, foi-lhes
em pesquisas históricas pouco aprofundadas, con-
fundindo-os com antigos povos vizinhos, quando
o grujw começou a participar dos movimentos
indígenas. (Maria Sylvia Porto Alegre, jul/98)

PITAGUARÍ (CE)

DEMARCAÇÃO E RESPEITO

Os Pitaguari foram ao balneário improvisado às

margens do açude Santo Antonio do Piutguari


para pedir aos visitantes apoio na luta pela de-
marcação de terra e mais respeito. Embora te-

nham construído o reservatório dentro do seu


território, eles sofrem discriminação e precon-
ceito de quem visita o açude. “Isso aqui é nos-
so, do povo Pitaguari, mas as pessoas estão nos
maltratando, ameaçando.
A manifestação, que fechou as celebrações do
Dia do índio, foi marcada por protesto. Do ca-
cique Daniel às mulheres da tribo, todos se quei-
xaram dos maus tratos praticados pelos mora-
dores de Maracanaú e Fortaleza que, semanal-
mente, visitam o açude. O protesto não objetivou
afugentar os visitantes, mas sensibilizá-los para
a necessidade de uma convivência mais harmô-
nica. De acordo com o indigenista Carlos
Alencar Ratls, o preconceito e a discriminação
enfrentada pelos índios vêm da desinformação.
Segundo ele, muitos banhistas sequer sabem que
o açude pertence, de fato, aos Pitaguari: "Os
índios vivem numa situação de miséria porque
vivera aqui nesta terra e não têm direito a ela".

(Diário do Nordeste, 22/04/96)

55Z NOROESTE POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


,

POTIGUARA (PB) Foi constatada in loco a construção de um sintomas da doença, o índio infectado pelo H1V
lotcamento, onde já foi feito desmatamento, foi tratado à base de rezas e raízes, portanto já
posteamento, divisão e venda de lotes. Foi tam- foi encontrado bastante debilitado morrendo
ÍNDIOS TENTAM INVADIR CADEIA
bém verificada a existência de construções de neste mesmo ano”, esclareceu.
Cerca de 100 Potiguara, da aldeia Jacaré de São casas de alvenaria dentro da TI, o que está sen- Para tentar evitar casos casos semelhantes a
Domingos, em Rio Tinto (53 km ao norte de do feito em desacordo com a vontade da popu- FNS, Funai e Secretaria de Saúde do Estado,
João Pessoa), tentaram invadir ontem à tarde a lação indígena. O inquérito também considera estão trabalhando em parceria. Nos meses de
cadeia da cidade para libertar 12 índios pre- que a Funai não concluiu até hoje o processo julho e agosto foram realizados treinamentos
sos. Os índios são acusados de cortar árvores demarcatório que teve início há dois anos, o que com agentes comunitários e professores que
de uma reserva de Mata Atlântica supervisiona- contribui para ferir os direitos indígenas sobre atendem na área indígena da Baía da Traição.
da pelo Ibama. Segundo a polícia e o Ibama, as a área tradicionalmente ocupada pelos (Correio da Paraíba, 15/09/98)
árvores seriam vendidas em serrarias de João Potiguara. (ISA, a partir do Diário da Justiça
Pessoa ou transformadas em carvão. 16/06/97) PREFEITO É POTIGUARA
Eles foram autuados em flagrante. O delegado
O prefeito do município de Baía da Traição, o
de Rio Tinto, Walter Cunha, disse que, durante FUNAI APROVA RELATÓRIO
índio Potiguara Marcos Antônio dos Santos, está
a tentativa de invasão da cadeia, houve um iní-

cio de confronto com os 35 policiais militares,


O presidente da Funai, Júlio Marcos Germany tentando cobrar dos candidatos a governador e

requisitados para reforçar a segurança no lo-


Gaiger, aprovou o relatório circunstanciado de a presidente da República, propostas visando a

cal. Não houve feridos. Segundo Cunha, os ín-


identificação e delimitação da TI Potiguara de melhoria das condições de vida das comunida-

dios recuaram, “porque a PM está armada com Monte-Mor, de ocupação do povo Potiguara, des indígenas. (Correio da Paraíba, 21/09/98)
metralhadoras”. Os índios prometeram só com superfície e perímetro aprovados de 5.300

deixar o local após a liberação dos 12 índios.


ha e 65 km respectivamente, localizada no mu- COMUNIDADE DECIDE
(A Crítica 18/01/96)
,
nicípio de Rio Tinto (PB). O Resumo do relató-
FAZER AUTODEMARCAÇÃO
rio, de autoria dos antropólogos Luiz Fernando
o
PROCURADORIA Machado de Souza e Walter Alves Coutinho O jornal Correio da Paraíba de I de junho
Junior, foi publicado no DOU. (DOU, 11/06/97) informou que os Potiguara da aldeia Jaraguá,
INSTAURA INQUÉRITO
cansados de esperar por uma decisão da Funai,
O Ministério Público Federal, por meio do pro- resolveram realizar a demarcação de 5,3 mil
AIDS FAZ UMA VÍTIMA
curador da República na Paraíba, Antônio Edüio ha de terras por conta própria. As terras reivin-
de Magalhães Teixeira, instaurou Inquérito Ci- Neste ano foi registrado um caso de Aids na al- dicadas pelos índios ficam no município de
vil Público visando apurar conflitos envolvendo deia Potiguara, em Baía da Traição. Clarice Ro- Monte-mor e foram objeto de um relatório de
a TI Potiguara, no município de Rio Tinto, onde cha Pires de Sá, chefe do Núcleo de Controle de delimitação aprovado pela presidência da Funai
fica situada a aldeia Jaraguá. DST e Aids, disse que “por não ter noção dos em junho de 97.

JUSTIÇA CONCEDE LIMINAR QUE BENEFICIA POTIGUARA


Ojuizfederal da I a Vara da Seção da Paraíba aca- que as pretensões dos contestantes nãoforam suji- A Constituição Federal, em seu artigo 251, captu e
tou pedido de liminar que evita a retirada das cientes para descaracterizaras terras indígenas. §§1°, 2° e 4" estabelece que são reconhecidos aos
propriedades particulares dos estudos antropo- Segundo os representantes do Ministério Público, indígenas os direitos originários sobre as terras que
lógicosque visam a demarcação de terras indí- há registro da ocupação dos Potiguara em solo tradicionalmente ocupam, competindo à União
genas ocupadas pelos Potiguara deMonte-Mor, no juiraibano no ano de 1519 no mapa Terra BrasUis,
, demarcá-las, proteger efazer respeitar os seus bens.
estado da Paraíba. A liminar foi encaminhada publicado em Lisboa. Desde a colonização a tri- . Tratando-se de um direito origiruirio pelo indigenato,
pelo Ministério Público Federal em função de des- bo dos Potiguara vem sendo lesada pelo poder prescindem as fxipulações indígenas de títulos de
pacho do ex-ministro daJustiça, Renan Calheiros, público e por particulares que desenvolvem ativi- firopriedade como normalmente se faz com as pos-
excluindo as propriedades particulares dos estu- dades econômicas da região. A situação desta co- ses conquistadas. Além disso, não é admissível qual-
dos, o que diminuiria a extensão ou até munidade indígena agravou-se com a ocupação quer título de posse ou propriedade que venha a con-
inviabilizaria a Terra Indígena. no início deste século pela família Lundgren, que testar terra de ocufxição indígena (art. 236, §6°, CF).
O juiz fundamentou sua decisão na farta docu- empreendeu na região uma fábrica de tecidos. O Acrescenta-se ainda as práticas ilegais imbuídas de
mentação e na verossimilhança das alegações de empresário Frederico Lundgren, com o tempo, foi extrema violência que propiciaram a constituição
dano irreparável ou de difícil refxiração de popu- estendendo suas atividades industriais de Rio Tin- das propriedades dos im/mgnantes deste procedi-
lação indígena alegadas pelo Ministério Público na to para os lados do Rio Preguiça, onde fica a al- mento de demarcação indígena.
ação civil pública proposta. deia Monte-Mor. Por conta dos empreendimentos Por estas práticas ilegais de apropriação de terras
Essa decisão judicial decorre da ação ordinária industriais, muitas casas foram construídas para indígenas e J)elo notório abuso de poder do Ministé-
proposta pelos procuradores da República Antônio dar vazão ao contingente de trabalhadores que rio deJustiça que extrapolou seu âmbito de compe-
Edüio Magíúhães Teixeira e Marcelo Alves Dias Sou- vinham para trabalhar na companhia de tecidos. tência pretnsto no Decreto 1 775/96, é que o Ministé-
za. No teor da ação entenderam
que o Ministério Os títulos de propriedade para as áreas de ocupa- rio Piíblico propôs esta ação contra a União e osfxir-
daJustiça, extrapolando o âmbito de suas atribui- ção industrialforam adquiridos à base da extor- tiadares envohidos (Rio Vermellx) Agropastoril S/A,
ções previstas no Decreto 1775/96, acolheu novas são conjunta das autoridades locais e dos corre- Destilaria Miriri S/A, Luismar Mello, Emílio Caval-
impugnações de proprietários de terras situadas tores de imóveis da região. No ano de 1980, a fa- cante de Morais e o Espólio de Artur Herman
na área indígena. De fato, as impugnações já ti- mília Lundgren transferiu as suas propriedades Lundgren). Felizmente, o juiz federal concedeu a
nljam sido aprecUulas pela Funai, que é o órgão para as empresas Rio Vermel/x) Agropastoril S/A e tutela antecipada, faltando agora a decisão final do
competente para apreciá-las, e rejeitadas, uma vez Destilaria Miriri S/A. processo. (Daniel Strauss/ISA, 09/09/99)

P0V0S INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NORDESTE 553


Segundo o ISA apurou, o relatório que estabe- Com a liminar, todas as casas de veraneio cons- os preferem viver da venda do artesanato e da

lece os limites das terras reivindicadas pelos truídas e ocupadas 11 a Praia do Coqueirinho, no pesca do camarão.
Potiguara foi contestado oficialmente junto à Município de Bala Traição, devem ser imediata- Segundo 0 líder Francisco Rodrigues Teixeira, 0

Punai por três Interessados - os herdeiros da mente desocupadas e lacradas. São mais de 70 cacique Alberto, faz tempo que 0 rio Ceará já

família lundgren e dois usineiros do setor casas construídas e utilizadas 11 a área indígena não abastece a comunidade. “Quem comer um
sucroalcooleiro, que alegam serem proprietá- e os invasores são pessoas da alta sociedade peixe deste rio está arriscado a morrer”. For

rios das áreas. Entretanto, todas as contesta- paraibana. (Antônio Edüio Magalhães Teixeira, causa disso, a opção de sobrevivência passou a
ções foram rejeitadas pela Funai, procurador da República, 22/05/00) ser 0 artesanato e a agricultura. As mulheres fa-
O documento seguiu parao Ministério dajusti- zem colares, anéis, pulseiras, cocares e porangas
ça, para que fosse declarada a posse indígena que são vendidas geralmente aos alunos que vêm
sobre a área e determinada sua demarcação. TABEPA (CE) em excursão conhecer a comunidade indígena
Desde então, nenhuma decisão foi tomada. "A dos Tapebas. (Diário do Nordeste, 01/04/97)
terra é nossa, e já que temos direito, não va- TERRA INDÍGENA É INVADIDA
mos esperar mais e nós mesmos vamos fazer a PARA PREFEITO, TI IMPEDE
Cerca de 100 pessoas invadiram uma área per-
demarcação”, declarou ao jornal o líder CRESCIMENTO DE CAUCAIA
tencente aos índios Tapeba, localizada às mar-
potiguara José Vicente.
A reportagem registra que são 80 as famílias dos
gens do km 8 da BR-222. Os invasores se apos- “A área da reserva indígena impede 0 municí-

Potiguara da aldeia jaraguá, vivendo em situação saram de aproximadamente cinco hectares. A pio de crescer e cria um problema social para
de extrema pobreza. A demarcação das terras, se-
terra já foi toda dividida. Até queimadas já fo- quase 30 mil famílias". A opinião é do prefei-

gundo José Vicente, representaria um novo come- ram feitas com 0 objetivo de limpar 0 terreno. to de Caucaia, José Gerardo Arruda, para quem
ço para a comunidade indígena. Segundo disse De acordo com 0 advogado da Pastoral existe no município somente cerca de 60 a 70
ao jornal, depois da demarcação os Potiguara pla- Indigenlsta da Arquidiocese de Fortaleza, Aécio índios Tapeba. O prefeito diz que a delimita-

nejam fundar uma associação para ajudar na so- Aguiar da Ponte, a ação foi promovida pelo can- ção pela Funai de 4.658 ha de reserva dos

lução de seus problemas. (ISA, 08/06/99)


didato a prefeito de Caucaia pelo PSDB, José Tapeba pode trazer um confronto entre os ín-
Gerardo Arruda. A família dele se diz dona do dios e as famílias que ocupam as terras liá mais
terreno. Mas desde julho de 1993, data da pu- de 50 anos. “Nessa faixa de terra existem hoje
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
blicação no Diário Oficial da União, a área per- casas, igrejas, empresas e indústrias. Muitas
ACEITA CONTESTAÇÕES
tence oficialmente à tribo dos Tapcbas. pessoas têm escritura e chegaram ao local
O ex-ministro da Justiça, Renan Caldeiros, atiles Inconformada, a família entrou com um recur- antes da delimitação", disse ele. (Diário do
de deixar o cargo, assinou despacho, dia 14 de so na Justiça, pedindo a reintregração de pos- Nordeste, 19/04/97)
julho, aceitando contestações à demarcação da se, mas perdeu na primeira tentativa. Em no-

TI Potiguara de Monte-Mor, localizada nos mu- vembro do ano passado, a juíza Germana de INFECÇÃO RESPIRATÓRIA
Oliveira Morais, da 8* Vara, expediu liminar
nicípio de Rio Tinto, Marcação e Baía da Trai- MATA CRIANÇAS
ção, no estado da Paraíba, com base no Decreto garantindo 0 direito dos índios. Até mesmo a
1 .775/96. A determinação, publicada no DOU de ação impetrada junto ao Ministério da Justiça, Desde 0 início do ano até hoje, já morreram
15 de julho (seção I, página 2), manda a Funai contestando a identificação da área como sen- oito crianças Tapeba, em Caucaia. Os óbitos

arquivar 0 processo e proceder novos estudos do indígena, foi considerada improcedente. O foram provocados, em sua maioria, por infec-
com vistas à identificação c delimitação da área ministro Nelson Jobim ainda deu um prazo de ções respiratórias. A informação é da índia
remanescente, excluídas as terras dos 120 dias para que os ocupantes peçam indeni- Francineide Pereira da Silva. As doenças são
contestantes. (ISA, 20/07/99) zação por benfeitorias, agravadas por quadros de subnutrição e falta

A área total do território dos Tapeba é de 4.658 de saneamento. A poluição do rio Ceará, 0 con-
FUNAI DETERMINA ha Nela vivem hoje 500 famílias. “Nós mora- tato com 0 lixo provocado pelas enchentes e a

NOVOS ESTUDOS mos lá há várias gerações. Desde os nossos an- falta de água potável, tomam os menores muito
tepassados”, afirma 0 índio Dourado Tapeba. vulneráveis às doenças. (Diário do Nordeste,
Através da Portaria n° 250, de 13/04/2000, 0 Ele revela, ainda, que José Geraldo já é conhe- 20/04/97)
diretor de Assuntos Fundiários da Funai, Ro- cido na cidade por fazer doações de terras alhei-
que Barros Laraia, enviou um antropólogo e um as:“Toda vez que ele se candidata, tem essa MINISTRO DECLARA TI TAPEBA
engenheiro agrimensor para os estudos de mania de doar tem que não é dele", (Diário DE POSSE PERMANENTE
reidentificação da TI Potiguara de Monte-Mor. de Fortaleza, 01/08/96)
(DOU, 17/04/00) O ministro da Justiça, íris Rezende, julgando
improcedentes as contestações opostas à iden-
ARTESANATO E AGRICULTURA
CASAS DE VERANEIO SUBSTITUEM CARANGUEJO tificação e delimitação da terra indígena locali-
zada no Município de Caucaia (CE), declara de
SERÃO DESOCUPADAS
A captura do caranguejo como fonte de renda da posse permanente dos índios a Terra Indígena
O do Tribunal Regional
juiz Petrúcio Ferreira, comunidade dos índios Tapeba está com seus dias Tapeba, com aproximada de 4.658
superfície
Federal da 5* Região, concedeu liminar contados. Na área, às margens do rio Ceará, onde ba e perímetro também aproximado de 77 5 km. ,

substitutiva em Agravo de. Instrumento interpos- praScamente 44 famílias vivem dapesca e da agri- Caberá à Funai promover a demarcação admi-
to contra decisão denegatória de liminar em cultura, 0 caranguejo não é mais 0 único “ga- nistrativa da TI assim declarada, para posterior
Ação Civil Pública do Ministério Público Fede- nha-pão" dos índios. Com a poluição do rio Ce- homologação pelo presidente da República.
ral em Favor da comunidade indígena Potiguara. ará e 0 desaparecimento do caranguejo, os índi- (DOU, 25/09/97)

NORDESTE POVOS INDÍBENAS NO BRASIL 1936/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


^LSLí- Acervo
-y/iSA
ACONT E C E ü )

PREFEITURA CONSTRÓI O cacique José Saraiva Irmão disse que a decisão trução de uma casa de farinha, motor para irri-

ESTRADA DENTRO DA TI da Funai de só liberar dinheiro para os Wassu gação e o conserto da barragem", ressaltou Sa-
criou um mal-estar entre as comunidades indí- raiva. (Gazeta de Alagoas, 04/08/98)
A construção da estrada Via de Integração, que genas de AI.. Ele afirmou que a intenção dos índi-
irá ligar o distrito de Jurema ao centro de os não é brigar com os Wassu, mas exigir que a
Caucaia, vem gerando polêmica. De acordo com Funai dispense o mesmo tratamento para todas TREMEMBÉ (CE)
informações do chefe de posto da Funai, Fran- as comunidades. (Gazeta de Alagoas. 23/08/97)
cisco Araújo Magalhães, um trecho próximo à
JUSTIÇA NEGA TERRA
BR-020 passará dentro da TI dos Tapeba. Ele
COMUNIDADE QUER
informou que a prefeitura de Caucaia iniciou a No último dia 23 de setembro, a juíza federal da
ALISTAMENTO EM
construção sob a ordem de um mandato de se- a
3 Vara, Germana de Oliveira Moraes, apresentou
FRENTES DE TRABALHO
gurança impetrado pelo MJ, que está julgando sua sentença do processo de demarcação das ter-
o processo de demarcação da área. “Porém, o Um grupo de índios Tingui-Botó, do município ras dos Tremembé no distrito de Almofala
processo ainda não foi julgado. Enquanto isso de Feira Grande, sertão alagoano, esteve ontem (Itarema) A juíza, em sua decisão, afirma que não
.

não acontece, a União, Estado e Município de- na sede da Funai-AL, reivindicando ao adminis- há ocupação tradicional na área, contrariando um
vem preservar o direito dos Tapebas”, ressal- trador do órgão, Luiz Gonzaga, intermediação relatório da Funai de 1993, que registra a existên-
tou. (Diário do Nordeste, 24/07/98) para serem incluídos nas frentes de trabalho que cia dos Tremembé nesta área desde o descobri-

o governo federal está formando nas cidades atin- mento do país e sua resistência no local até os

PF PRENDE EQUIPE DA gidas pela seca. Segundo o cacique Saraiva, as dias atuais, delimitando, assim, uma área indíge-
PREFEITURA DE CAUCAIA frentes de trabalho estão excluindo a comunida- na de 4.900 ha. A juíza considerou a perícia an-

de indígena. “Isso não está certo. índio também tropológica desnecessária e reconheceu a valida-
Seis caminhões, uma pá mecânica e um trator centenários de certas propriedades
está passando necessidade e precisa produzir de dos títulos
esteira foram apreendidos ontem pela Delegacia
para ganhar dinheiro e ter como sustentar a fa- particulares no espaço em questão. Mais uma vez,
Fazendária da PF e 13 homens foram presos, au-
mília”, disse o cacique. a lei esbarra na cerca. “Todo continente brasilei-
tuados em flagrante por crime de devastação, in-
Os índios também reclamaram por ainda não ro poderia vir a ser discriminado na via adminis-
vasão de terras indígenas e extração de minérios
terem recebido uma resposta sobre as reivindi- trativa, para atribuição da sua posse aos índios,
sem autorização do Ibama Eles estavam retiran-
no passado,
cações protocoladas pessoalmente, na sede da sob o argumento de que foram eles,
do ilcgalmente areia da área dos Tapeba. Dos seis
Funai em Brasília e no Ministério da Justiça. os seus ocupantes’', justifica-se Germana Moraes.
caminhões apreendidos, cinco pertencem à Pre-
“Nesse documento, entregue no dia 14 de maio Joyciane Bezerra de Menezes, professorado Cur-
feitura de Caucaia - todos novos, de chapa bran-
por um grupo de pajés e caciques, pedimos am- so de Direito na Universidade de Fortaleza
ca e com a inscrição lateral: “uso exclusivo em
pliação das nossas terras, de 120 ha para mil, (Unifor) e uma das advogadas dos Tremembé,
serviço”. Dos 1,3 presos, seis são motoristas, dois
já que somos 260 pessoas e precisamos, além acredita que a decisão judicial foi precipitada e
operadores de máquinas e cinco ajudantes. (Di-
de plantar, de espaço suficiente para os nossos entrou na última sexta-feira 6, com uma apela-
ário do Nordeste, 19/09/98)
rituais. Pedimos também recursos para cons- ção. “Nesses casos de litígio a sentença deve ser

PÉ DE GUERRA
Os conflitos de terra podem agravar-se na la-
goa dos Tapeba, em Caucaia. Um posseiro, que
já tem uma cerâmica e uma pedreira no local,
tentou cercar uma área maior, chegando a pe-
gar parte da lagoa dos Tapeba. Foi a segunda
vez que os índios flagraram a tentativa de inva-
são. É da lagoa que os índios tiram a sua sub-
sistência. (Diário de fortaleza, OS/03/99)

TINGUI-BOTÓ (AL)

AMEAÇA DE INVASÃO DA FUNAI


Uma comissão de índios Tingui-Botó, de Feira
Grande, se reuniu com o delegado substituto
da Funai-AL, José Heleno de Souza, para reivin-
dicar a liberação imediata de Rí 35 mil para a
comunidade. Eles e mais cinco comunidades
indígenas de Alagoas querem que os recursos
enviados pela Funai de Brasília para os Wassu,
no total de R$ 204 mil, só sejam liberados de-
pois que todas as comunidades indígenas rece-
bam ajuda financeira. Tingui-Botó, à esquerda o cacique Saraiva.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NORDESTE 555


por objeto pericial, mas a juíza atropelou tudo sões e conflitos. Os 4.900 ha que se estendem TRF POSSIBILITA RETOMADA
isso, Essa questão do direito dos índios à terra é da beira da Praia à Passagem Rosa, onde habi- DA DEMARCAÇÃO
muito delicada. O Artigo 23 1 da Constituição en- tam os Tremembé, são disputados por morado-
tende que o direito de propriedade nasce com res da região, ex-administrador do Município e 0 Tribunal Regional Federal (TRF) da 5* Re-
os índios, mas dá uma conceituação vaga do aié mesmo pela Prefeitura. Além da ameaça de gião deu provimento ao recurso interposto pela
ponto de vista jurídico. Somente um antropólo- perder boa parte da área, a tribo assiste a des- Comunidade Indígena Tremembé, juntamente
go, através uma rigorosa pesquisa, pode defi-
de truição do meio ambiente. (O Povo, 08/04/97) com a Funai e a União, com o objetivo de dar
nir o indigenato" explica ela. 0 estudo antropo- prosseguimento ao processo de demarcação da
lógico, segundo Joyciane Bezerra, pode invali- DENÚNCIA CONTRA A Ü11COCO TI Tremembé.
dar os fitulos de propriedade em terras reconhe- Os juízes José Castro Meira (relator), josé Ma-
como indígenas. "0 título não prova nada.
cidas 0 Conselho Indígena Tremembé de Almofala ria de Lucena e Ubaldo Alaíde Cavalcante, da 1“

0 Supremo Tribunal Federal pode anulá-los, (Cita) denuncia que a empresa Ducoco Agríco- lítrma do TRF reformaram a sentença dada pela
como o fez em situação semelhante em Minas la S/A está querendo vender a área em litígio
juíza Germana Moraes, que havia reconhecido
Gerais, no processo de demarcação de terra dos com os índios. A empresa é proprietária da Fa-
a propriedade da terra reivindicada pelos índi-
índios Krenak", afirma, acrescentando que a zenda São Gabriel, mas cercou irregularmente como sendo da Ducoco Agropecuária
ex- os S/A,
pulsão involuntária não cessa o direito de posse Ioda a área em volta, que compreende as terras
autora da ação.
dos primeiros indígenas nas localidades Córrego Prelo. Varjota Assim, o processo de demarcação dos 4.900 ha
habitantes. (0 Povo, 09/11/96)
e Tapera, onde antigamente moravam famílias
identificadoscomo terra indígena deverá ter
Tremembé que foram expulsas do local. (Diá- prosseguimento, com a realização de perícia
MINISTÉRIO PÚBLICO E PF
rio do Nordeste - Fortaleza, 11/05/98)
antropológica na área, que tem como objetivo
TENTAM CONTER INVASÕES
comprovar de forma clara a posse imemorial e
A demarcação da terra indígena Tremembé in- o direito da Comunidade Indígena Tremembé
vade um vasto território de interesses. A não sobre a área em litígio. (Fernando llaptista/
delimitação dessa área vem provocando inva- ISA, 26/03/99)

“COMO ÉQUEA DRA. JUÍZA PODE DIZER QUE ESTA TERRA NÃO É NOSSA, DOS ÍNDIOS TREMEMBÉ?
Nós, Tremembé da Varjota/Tapera da Área Indí-
,
eles que viessem se entender com as famílias mo- Ceará tinham os Tapeba, começando a se organi-
gena de Almofala, em Itarema, estamos muito pre- radoras da Tapera, para ver o que nós dizíamos. zar mas não se sabia de resultado favorável e nós
ocupados com a decisão da Ura. Juíza Processo (...) Mas ninguém veio se entender conosco. (...) tínhamos pressa de segurar nosso terreno.
u
n 93-0021901 -4 Ação Discriminatória, da Em-
- E começaram a cercar o terreno. 0 Doutor Juiz do Acarau, depois de ouvir nossas
presa Ducoco Agrícola S/A, contra a Funai, a União Depois de terminada a cerca, foi que chamaram testemunhas, reconheceu nosso direito e nossa
Federal e outros. A sentença está datada de 23 de os moradores para uma conversa. E essa conversa posse, conforme o Processo 943/84. Nossas teste-
setembro passado e agora está sendo feita a co- foi para pagar as indenizações das nossas planta- munhas confirmaram que essa terra é a Terra do
municação jiara as /mrtes interessadas, inclusive ções. Era um agrado e nós tínhamos que desocu- Aldeamento e que nós nunca tivemos patrão. Nós
a Comunidade Indígena Tremembé de Almofala. par a que é nossa, dos nossos antepassados.
terra podemos dar provas destas verdades porque a
Sobre essa sentença nós temos a dizer que: Nós nos juntamos e fomos atrás dos nossos direi- maioria das pessoas que moravam nesse terreno
Nossos pais sempre nos contaram os limites da tos. Procuramos o vigário de Itarema, Pe. Aristides ainda existem, estão vivas, conhecem esta histó-
nossa terra que era conhecida como a "Terra do Sales. Não conseguimos nada. E perdemos nossas ria. Estão boa parte ainda na Tapera, que eles cha-
Aldeamento". (...) Marciano Correia nasceu em terras, nossas plantações, nossas criações, nossas mam de Vila Ducoco. Estão vivendo uma parte na
1901 e, nessa ocasião, o local era conhecido por casas. Uma parte de nós saiu da terra, do local redondeza (os que foram expulsos e não resisti-

Taperinha. A mata começava desde a beira-praia. que vivia, mas não saímos da nossa terra. Afirma ram) e nós da Varjota e do Córrego Preto conti-
(...) Se vivia mais da caça, da coleta de frutas e tei>e que deixar uma nesga de terra, 18 ha, para 47 nua lá no mesmo lugar.
da pesca no mar, no rio e nas lagoas. No ano de famílias, que ainda hoje residem nesse mesmo (...) Como é que a Dra. Juíza pode dizer que esta

1895, mais ou menos, as dunas cobriram uma local terra não é tradicionalmente ocupada por nós,
boa parte das matas e da praia. Até a igrejinha da Ao todo só na Taperinha nós éramos umas 80 fa- índios Tremembé, se nunca deixamos de morar
Almofalafoi encoberta por essa duna. A barra do mílias dos Tremembé e a parte que saiu foram: lá e se algumas famílias só saíram por sujeição,
rio Aracati- Mirim foi entupida e o rio secou. Nes- sete famílias para morar no Mineiro, uma terra porque foram expulsas e amedrontadas e não
se tempo a agricultura era pouca. Era umafartu- ali. na mesma região, e ainda hoje estão lá; umas puderam suportar o sofrimento?
ra de caça e de peixe. Nossos avós e nossos pais 20 foram para a Batedeira, que é terra do Como ela pode dizer que nós não ocupamos a
viviam livres, sem sujeição de ninguém. Eram co- Aldeamento e ainda hoje estão lá e para o Urubu, nossa terra, que não tem tradição de presença dos
nhecidos na vizinhança e em toda região por ín- do outro lado do rio, foram seis famílias. Tremembé nesse terreno, se a nossa terra foi in-
dios Tremembé. Nas grandes secas eles faziam Das famílias do Córrego Preto, três foram expul- vadida pela empresa Ducoco e que de lá foi ex-
plantações dentro das lagoas, para sobreviver. sas: (...) Nós da Varjota, enfrentamos a Firma, re- pulsa 80famílias Tremembé, só da Tapera? E mais
Nossa cultura era o Torém, a Aranha e a Bulieira. sistimos durante quatro anos. Nossa terrafoi cer- três famílias do Córrego Preto?
Principalmente no tempo do caju que é o tempo cada, nossas plantas foram destruídas. Mas não (...) Nós também temos uma certidão quefoifeita
próprio do nosso ritual. Sempre nossos avós e nos- saímos das nossas moradias. Jyelo Cartório doAcarau de 50 anos para trás. Onde
sos pais eram convidados para a dança do Torém. Procuramos orientação e encontramos apoio na éque tem essa prova de que durante 100 anos nun-
Nos anos 70, uma empresa de coco comprou as Diocese de itapipoca. Demos entrada no pedido ca viveu os Tremembé nesse terreno que hoje está
terras do Aquino e da Miranda, a Fazenda São de usucapião coletivo na Justiça doAcarau. Nós localizada afirma Ducoco? (...) (Conselho Indíge-
Gabriel, que é nossa mzinba. Ela quis comprar a quisemos lutar pela nossa terra como índio, mas na Tremembé de Almofala, 20/10/%, assinado por
Taperinha, mas o Aquino não vendia. Primeiro, não encontramos o caminho para fazer isso. No 12 lideranças Tremembé e editado pelo ISA)

556 NORDESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


'zL-i/.s. Acervo
ISA
~/a\
ACO NTECEU
TRUKÁ(PE) ção, área em litígio reivindicada pelos índios as terras da reserva. Eles fecharam aponte que
Truká, estão inseguras em relação ao futuro. Eles liga a iilia a Cabrobó e ameaçaram derrubar
temem perder suas casas e o acesso à terra da uma torre de alta tensão que leva energia ao
AÇÃO PODE DECIDIR qual tiram o sustento caso os índios a recon- projeto de reassentamento Pedra Branca, em
LITÍGIO DE TERRAS quistem na Justiça. (Diário de Pernambuco, 01 Curaçá, na Bahia, caso o trabalho não conti-
e 05/03/96) nue. O levantamento foi suspenso há duas se-
Uma ação udicial movida há 46 anoa c que ain-
j
manas porque a Fumti-PE não dispõe dos Rí
da não foi julgada pode decidir o litígio de ter-
COMUNIDADE REIVINDICA 10 mil necessários para sua conclusão. O di-
ras entre os índios Truká e não-índios que vi-
POSSE DA ILHA nheiro é para o pagamento de diárias dos fun-
vem na ilha de Assunção, em Cabrobó, sertão
cionários envolvidos, de despesas com combus-
do São Francisco. De acordo com o procura- A Ilha de Assunção, formada pelo rio São Fran- tível e barqueiros, além de diárias de policiais
dor Uairandyr Tenório de Oliveira, que repre- cisco, no município de Cabrobó, no sertão, é o federais. Eles dão proteção à equipe, pois a área
senta o Ministério Público Federal em Petrobna, novo ponto de disputa fundiária cm PE e a par- integra o Polígono da Maconha. A reserva abri-
a localização de uma ação de nulidade de ven- de hoje poderá virar campo de confronto
tir ga cerca de dois mil índios e ocupa 2.150 dos
da impetrada tia Justiça em 1950 pelo SPI é a entre os índios Truká e a polícia, caso a Justiça 6.200 ha da Ilha de Assunção. Os índios reivin-
prova que os Truká buscam para comprovar Federal, com sede em Petrolina, determine a dicam mais 1.900 ha, ocupados por 37 possei-
juridicamente a venda ilegal de parte de suas reintegração de posse de 50 ha de terras ao IPA, ros. (O Liberal, 07/05/99)
terras em 1915. que é vinculado à Secretaria da Agricultura
O responsável pelo ato ilícito seria o então bis- do Estado. NARCOTRÁFICO ATRAPALHA
po de Pesqueira que vendeu parte da ilha ajoão O ontem pelo administrador do
Parente de Sá e Antonio André Cavalcante, en-
alerta foi feito
LEVANTAMENTO FUNDIÁRIO
posto da Funai na cidade de Arcoverde, João
tre outros: “É um registro importante, históri- O narcotráfico é 0 grande empecilho para a
Ferreira, Ele está convivendo diretamente com
co, que pode comprovar o direito indígena às
50 representantes da tribo Truká, que há três conclusão do levantamento fundiário das ter-

terras de Assunção", explica Uairandyr de Oli- dias invadiram a representação indigenista no ras dos índios Truká, em Cabrobó. Segundo 0
veira. De acordo com o procurador da Repú- Sertão de Moxotó. Os índios fizeram a ocupa- delegado de Cabrobó, Varoberto de Souza, os
blica, os índios ocupam a ilha desde o século ção para pressionar a Funai a garantir a posse traficantes não têm interesse na desapropria-
XVII, Neste século, as invasões provocaram su- deles em quatro mi! ha da ilha de Assunção, e ção das terras do arquipélago, onde vivem mais
cessivas perdas do território indígena, que de reivindicar o controle de uma estação experi- de dois mil índios e cerca de 37 posseiros, e
6.000 ha (área total da ilha) loi reduzido aape- mental que o IPA deixou nas terras da tribo. onde, há 20 dias, a Polícia Federal queimou 20
nas 1.650 ha, através do decreto de 1984, de- Segundo o administrador da Funai em Arco- mil pés de maconha. O líder da rebebão dos
marcado dez anos depois. Algumas das cerca verde, esta última questão é mais delicada. Ele Truká, Aflson Truká, confirma a presença de
de mil famfllas Truká deixaram a reserva nos disse que a Justiça reconheceu o direito do IPA traficantes nas ilhas e diz que, além de amea-
últimos anos e moram nos municípios de reaver a estação e prometeu determinar a pos- çar os funcionários da Funai e Incra que reali-
Petrolina e Santa Maria da Boa Vista.
se ainda hoje. Para João Ferreira, “se isso acon- zam 0 levantamento fundiário, os traficantes já
Cansados de depender da Funai para defender tecer, as consequências são imprevisíveis, por- atiraram contra índios e contam com 0 apoio
seus interesses, aproximadamente 300 índios in- que o cacique Ulisses Mendes prometeu reagir de diversos posseiros. Ontem, os Truká que
vadiram e ocuparam, em setembro, áreas fora à determinação judicial”. comandam a rebelião, entraram em acordo
da reserva, no extremo oposto de Assunção. A Ferreira disse que entrou em contato com o IPA, com a administradora regional substituta da
ocupação indígena já rendeuàS* Vara da Justiça ontem, informando da disposição dos índios, mas Funai, Esteia Parnes, e liberaram os agrônomos
Federai, em Petrolina, três ações de reintegra- não recebeu nenhuma resposta. Segundo ele, os Alexandre Didier e Marcos Florentlno Ferraz,
ção de posse, com pedido de liminar, em apenas Truká não querem tomar a propriedade do Esta- que esíavam como reféns do grupo há dois dias,

5 meses. O juiz Rogério de Meneses Fialho do. Pedem apenas o direito de explorar a esta- Os índios também prometeram moderar 0 pro-
Moreira, deferiu os pedidos de liminar, em favor ção em regime de comodato. Isso permitiria que testo, até a retomada do levantamento. (Diário
do hisiiiuto de Pesquisas Agronômicas de Per- eles plantassem lavoura de subsistência e usas- de Pernambuco, 08/05/99)
nambuco (IPA), que mantém uma estação de sem um secador e uma despolpadeira no
pesquisas na ilha, além de fazendeiros. No docu- benelkiamento de arroz que cultivam na área.
mento, Meneses lembra que a reserva indígena, Com relação às reivindicações que os índios fa-
TUXÁ (BA)
reconhecida pela Funai, se hniita aos 1 .650 ha e zem à Funai, o administrador disse que elas já
que os Truká não comprovaram a posse efetiva
estão tramitando em Brasília. Além da posse dos SEDE DA CHESF É OCUPADA
da área ocupada durante a invasão. Rogério quatro mil ha, os Truká pedem financiamento
Meneses explica, também, que a liminar é provi- Inconformados porque a Chesf até hoje não
bancário para investir em melhorias na ilha.
sória e que a ação ainda não foi julgada em cará- implantou o projeto de irrigação em suas ter-
(Diário de Pernambuco, 05/03/97)
ter definitivo, se encontrando em fase de instru- ras,prometido há 1 1 anos, 164 índios Tuxá
ção (recolhimento de provas). ocuparam na madrugada de ontem a sede da
Apesar da tramitação da ação judicial, o procu-
DOIS REFÉNS EM CABROBÓ empresa em Salvador. “Só sairemos daqui quan-
rador Uairandyr de Oliveira aposta e luta pelo índios Truká tomaram dois reféns anteontem, do estiver tudo resolvido”, diz Adelino dos San-

entendimento entre as partes, que garanta lau- na reserva, na Ilha de Assunção, em Cabrobó. dos líderes da tribo, que promete: “se
tos, uin

to o direito histórico dos índias como o direito Estão com eles um funcionário da Funai e um não atenderem a gente, vou mandar buscar o
dos posseiros, fazendeiros e IPA. As 170 famíb- do Os índios querem a retomada do le-
Incra. restante”. (A Tarde, 06/05/97)
as de posseiros que moram na ilha de Assun- vantamento que estava sendo feito para ampliar

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/20Q0 - INSTITUTO S0CI0 AMBIENTAL NORDESTE 557


•zLj/i Acervo
—//£ ISA ACONTECEU
MP DENUNCIA ACORDO MP PREPARA... do e faixas férteis de terra na serra de Orornba,
ENTRE CHESF E FUNAI é 0 berço da família do vice-presidente da Re-
O procurador da República Robério Nunes dos pública, Marco Maciel. O atual prefeito, 0 pedi-
0 procurador da República na BA, Robério dos com ação
Anjos deverá entrar nos próximos dias atra Evandro Maciel Chacon (PFL), é primo do
Anjos, denundou, no início deste mês, que o go- judicial contra a Chesf por descumprimento de segundo mandatário do país.
verno brasileiro tenta mais um acordo lesivo aos convênio para reassentamento dos Tuxá, após a A Prefeitura de Pesqueira entrou na Funai ques-
povos indígenas para privilegiar sua meta de construção da Barragem de itaparica, um pro- tionando a área Xukuru. ‘‘Quero evitar o confli-
privatizações. A Chcsf é acusada pela Procura- blema que se arrasta desde 1 988. Mais grave to. Ambos os lados têm armas. Sou um media-
doria de “cooptar financeiramente” os lúxá, de que isso, segundo denúncias de lideranças in-
dor, por isso fiz a contestação. Não são só os
Ibotirama (BA) ,
com o apoio da Funai, pelo ter- dígenas, foi a ação desagregadora fomentada índios que gostam de terra. Os brancos tam-
mo assinado entre as duas estatais que propõe a pelo Grupo Executivo para Conclusão do Proje- bém gostam e têm vocação. Os índios querem
troca do projeto de reassentamento das 167 fa- to de Assentamento da População da Usina da terra demais”, afirma 0 prefeito. Ele argumenta
mílias Dvxá por indenização era dinheiro. Hidrelétrica de Itaparica (Gerp), ligado à Pre-
que sete mananciais que abastecem Pesqueira
Transferidos de seu território tradicional des- sidência da República. de água estão na área indígena.
de 1986, por força da construção da usina de Os Itoxá moravam no município de Rodelas e ti-
Entre os fazendeiros, há outros parentes de
Itaparica, os Tuxá ainda aguardam seu nham como principal fonte de subsistência a agri- Maciel requerendo a posse das terras. Para eles,
reassentamento em outra área, além de obras cultura desenvolvida na Ilha da Viúva, no rio São não há Índios em Pesqueira hoje. “Eles têm tí-
de engenharia e assistência técnica que permi- Francisco, de onde retiravam grande variedade tulo de eleitor, carteira de motorista, aposenta-
tissem aos índios retomar suas atividades de de frutas e legumes, além de plantar arroz, feijão doria. Todo tipo de documento, eles têm. Me-
agricultura e pecuária. Atualmente, sobrevivem e milho, cujo excedente era vendido nas feiras nos os documentos de terras", diz 0 fazendeiro
com o pagamento, peia Chcsf, de uma verba de locais. Com a inundação, as 90 famílias da filho
Hamilton Didier. Segundo ele, muitos brancos
manutenção temporária no valor de R$ 226,00 se dividiram, indo parte para Ibotirama e o res- viraram índios para lerem acesso à terra. “Eles
mensais. A Procuradoria denuncia também que tante permanecendo oa área do novo município estão estudandoo dialeto, para dizerem que são
os índios estão sendo pressionados a aceitar a de Rodelas. (Ã Tarde 12/06/99)
, índios.Eu dou minha fazenda para você, se você
proposta, e que a indenização em dinheiro re-
achar algum índio lá". Os fazendeiros questio-
presenta mais uma ameaça à integridade cultu- ... E ENTRA COM AÇÃO CIVIL nam, na verdade, se descendentes de Xukuru
ral do povo Tuxá, podendo ser suspensa por PÚBLICA CONTRA A CHESF podem ser considerados índios do jeito que vi-
ação judicial. (Correio Bmsiliense, 03/08/98
vem atualmente. Para eles, são pseudo-índios.
ePorantim, ago/98) O Ministério Público Federal ingressa na data
Isa Maria Pacheco, antropóloga da Funai, diz
de hoje, na Justiça Federal de Salvador, com uma
que 0 órgão não usa língua e traços físicos como
CHESF SE COMPROMETE Ação Civil Pública com pedido de liminar con-
critério para definir um povo indígena, devido
COM REASSENTAMENTO tra a Chesf e a União Pederai, na defesa de direi-
ao grau de miscigenação de várias tribos no
tos dos índios Hixá, que perderam suas terras
Nordeste. “No Nordeste, são poucos os grupos
Os Tuxá, após uma longa reunião realizada on- tradicionais quando do enchimento da Barra-
que mantiveram sua língua, como os Fulni-ô”.
tem, obtiveram a promessa da Cia Hidroelétrica gem de Itaparica, situada na fronteira dos esta-
do São Francisco (Chesf) de que uma área de
Segundo ela, a demarcação seguiu um laudo
dos da Bahia e Pernambuco, em 1986. (A sses-
antropológico. “Acontece que ninguém se con-
6.698 ha será adquirida no município de Ro- soria de Imprensa, 30/06/99)
delas para o reassentamento de 150 famílias.
forma em perder terras para índios. Mas é nos-
sa obrigação reconhecer esses povos”, afirma.
Segundo o procurador regional dos Direitos Hu-
manos da Procuradoria da República, Robério XUKURU (PE) (FSP, 07/04/96)

Nunes Filho, que acompanhou toda a reunião


juntamente com técnicos da Associação Nacio-
FAZENDEIRO É PRESO
TIRECEBE ENXURRADA POR ASSASSINAR
nal de Ação Indigenista áa Bahia (Anai), técni-

cos da Chesf comprometeram-se a estar em Ro-


DE CONTESTAÇÕES PROCURADOR DA FUNAI
delas no próximo dia 18, quando deverá ter iní- Os Xukum, índios qne lutaram na Guerra do O fazendeiro Theopompo de Siqueira Brito So-
cio o processo de aquisição da terra. Ficou ain- Paraguai e que perderam suas terras, sua lín brinho, 39, acusado de assassinar Geraldo
da acordado que as terras não negociáveis se- gua e até características físicas - são hoje os mais Rolim Mota Filho, procurador da Funai e presi-
rão desapropriadas através do decreto federal. atingidos pelo Decreto 1.775, que permite a dente do PSB de Pesqueira, foi preso pela PE
Apesar do acordo de ontem, os Tuxá temem que, contestação das terras indígenas no país. Con- Ele era procurado desde maio de 1995. Rolim
com a proximidade da privatização da Chesf, o tra os Xukuru deram entrada na Funai, 2 7 1 con- foi morto com um tiro de revólver calibre 38.
negócio não se concretize. Por enquanto, a de- testações de suas terras, 26.980 ha demarca- Siqueira teria assassinado Rolim a mando de
cisão do procurador de acionar judiriaimeiite dos em 1991, no município de Pesqueira/PE. fazendeiros descontentes com as demarcações
a Chesf e a Funai foi adiada até a concretização Da área demarcada, os Xukum dominam efeti- de terras dos Xukuru em Pesqueira. Segundo a
do reassentamento. Segundo o presidente da vamente apenas 4.296 ha, onde cultivam basi- polícia, em depoimenio, 0 fazendeiro confes-
Anai-BA, Marco Messeder as desapropriações camente banana, goiaba e tomate. Todo resto é sou 0 crime, mas negou que tenha sido por
para a construção do Lago de Itaparica atingi-
ocupado por fazendeiros, a maioria pecuaristas. questões de terra e sim por desavenças pesso-
ram 7.200 famílias, sendo 90 da Iribo Tbxá que Até 08/04, prazo final para pedir revisão das ais. (FSP, 07/04/96)
hoje, devido ao crescimento demográfico, já são áreas. 0 Sindicato Rural de Pesqueira promete
1 50. (A Tarde, 12/01/99) ampliar 0 número de contestações. Essa região
do agreste pernambucano, com clima semi-ári-

558 NOROESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIDAMBIENTAL


, "

TRAÍDOS” PELO RÁDIO de ameaçar os índios nas eleições municipais de e ônibus nas vias de acesso à aldeia Pedra
96, obrigando-os a votar no candidato a verea- ÍVÁgua, transportando índios de diversas etnias,
Entre as contestações apresentadas contra a área
dor Antônio Pereira (PSB), também Xukuru. O simpatizantes da causa indígena e outros inte-
Xukuru, pelo menos 30 são de Xukuru, segun-
protesto ocorreu na aldeia São José, em frente ressados em participar da cerimônia. As etnias
do o cacique Chicão. Os índios contestaram suas
ao posto da Funai, e contou com a presença do Pankaram, Truká, Fulni-ô e Kapinawá, de PE,
próprias terras levados por uma propaganda
prefeito de Pesqueira, Eutrópio Monteiro ( PSDB) Potiguara, da PB, Xokó. de SE e Xukuni-Kariri
enganosa de uma rádio local que os convidou a
vereadores, dirigentes do PSB e cerca de 400 ín- e Karapotó, de AL, enviaram representantes.
aparecer no Sindicato Rural de Pesqueira com
dios. Além de solicitar apoio às autoridades, os O pajé Xukuru, Pedro Rodrigues Bispo, deu iní-
a “papelada" para que suas terras fossem regu-
Xukuru dançaram o Toré, recorrendo a llipã para cio ao ritual de pajelança às oito horas da ma-
lamentadas.
livrá-los desta chama de calúnias. Ao final do pro- nhã. Quarenta índios de diversas etnias, trajan-
Quem dá este depoimento é Manoel José da Cruz,
testo, foram redigidos documentos pelos chefes do o totá ( traje típico) ,
ajoelharam-se diante do
64 anos, um dos que contestaram a área de dez
das 23 aldeias e um abaixo assinado, que serão caixão, chorando ao som grave e triste das flau-
ha na aldeia chamada de Caetano. Sem saber ler
entregues à Funai, Ministério da Justiça, governo tas de bambu nativo. Um grupo de católicos do
nem escrever, ele afirma que foi ao Sindicato,
do Estado e outras instituições, até mesmo do Movimento de Renovação Carismática que en-
"para ajeitar a papelada e ficar em dia com o
exterior. toava cânticos foi silenciado por algumas índi-
documento”. Seu primo, Alexandre José da Cruz,
As acusações ao cacique Chicão foram feitas atra- as. “Parem com isso e respeitem nosso cacique.
76 anos. também foi levado pela mesma propa-
vés de uma carta sem assinatura, mas com o tim- Ele deve ser enterrado como índio e não como
ganda e parou na porta do Sindicato. “Não con-
bre da Comissão de Justiça e Paz do município, branco", gritava Tania de Souza, pedindo silên-
testei nada. Fiz isso enganado", argumenta.
datada de setembro, que foi enviada ao Ministé- cio para o ritual da pajalança. Dançando o toré
As declarações dos dois índios são contestadas pelo
rio da Justiça e de lá seguiu para a Funai. A carta e tocando as maracás, os índios depositaram o
presidente do Sindicato Rural de Pesqueira,
afirma que “o cacique Chicão criou um grupo de caixão na cova. A viúva Zenilda Maria de Araújo
Fernando Queiroz: “Desconheço esta propagan-
12 pessoas, o quaJ chama de comissão, que de- balbuciava, com emoção: “acode teu filho, mãe
da e os que compareceram ao Sindicato foram
cide todas as ações, inclusive até quem deve mor- natureza. Faz justiça pelo sangue derramado”.
proprietários de terras, que têm suas escrituras e
rer e executar as mortes”. O pároco de Pesquei- Estão correndo em paralelo os inquéritos civil
pagam imposto territorial. Não me consta que se-
ra, pe. Agenor, não soube justificar como a carta e federal, até que seja confirmado se o crime
jam índios". (Diário de Pernambuco, 14/04/%)
partiu do município, já que a Comissão de Justi- está ou não vinculado à questão da luta pela

ça e Paz é ligada à Igreja Católica. demarcação das terras indígenas, condição para
TI É RETIRADA DA
O cacique apontou os fazendeiros instalados no que o processo siga na esfera federal. A Polícia
LISTA DE HOMOLOGAÇÃO da reserva, da cidade e até o depoimento de
interior políticos índi- Civil já registrou 1
2 pessoas.
A terra dos Xukuru, que já está demarcada fisi- os traidores como autores das denúncias. Segun- (Jornal do Commércio e Diário de Pernam-
camente, estava listada com as outras 22 Tis en- do ele, a intenção é emperrar o processo de de- buco, 23/05/98)
caminhadas no último dia 03 de novembro ao marcação das terras, sujando a imagem dos
presidente FHC para assinatura dos decretos de Xukuru. O processo vinha em ritmo normal de
homologação, e foi retirada na última hora. O tramitação, até o surgimento da tal carta de acu- ENTREVISTA COM CHICÃO
motivo foi uma decisão do STJ, impedindo a ho- sações. (Diário de Pernambuco, 28/11/97) Chicão. que saiu de Pesqueira em 1975 para tra-

mologação da demarcação daquela terra, bem balhar em São Patdo, viajou o país como traba-
como a retirada dos ocupantes ilegais. A decisão LÍDER É ASSASSINADO lhador da construção civil. Tendo um dia voltado
a PP para tratamento médico, descobriu que es-
doSTJ foi dada no âmbito de uma Ação Judicial, EM PERNAMBUCO tava com leucemia. Restava-lhe pouco tempo de
chamada de Mandato de Segurança, de autoria
Francisco de Assis Araújo, Chicão Xukuru, foi vida, avisaram os médicos.
de Gileno de Carli.
assassinado na manhã do último dia 20 com Suma entrevista concedida ao Centro de Cultura
A decisão é preocupante, pois representa um Luiz Freire, de PE, revelou que a doença o levou a
quatro tiros quando saía de casa, no município
perigoso precedente. Agora, é necessário que o fazer unut promessa a 1'amaim, Sossa Senhora das
de Pesqueira (PE). A informação foi divulgada
governo federal se empenhe em obter a modifi- Montanhas. "A promessa que eu fiz era que eu ia
pelo Jornal do Brasil.
cação da decisão contrária aos Xukuru. É preci- trabalhar para meus paren tes até a hora de mor-
Segundo o jornal, Chicão Xukuru era presidente
so que o presidente FHC determine à Advocacia rer, enquanto eu tivesse vida". Um mês e pouco
da Associação dos Povos Indígenas do Nordeste depois, estava curado. Era hora de cumprir o pro-
Geral da União que recorra dessa decisão, pe-
dindo sua anulação. Está claro que a decisão foi
e estava à frente de um movimento que visava a metido. E nãofoifácil, desde o início. A comuni-

obtida graças às pressões feitas por políticos do


homologação da TI Xukuru. Apesar de fisicamen- dade Xukuru sobrevivia em apenas 6 ha de terra,
te demarcada, a homologação está obstruída pertencentes ao posto da Funai. Abaixo, alguns
estado de PE, já que a terra Xukuru foi campeã
por uma decisão do Superior Tribunal de Justi- trechos da entrevista:
de contestações, na aplicação do contraditório
ça, dada no âmbito de uma ação judicial ajuiza- "Há uns dez anos, os encantados na pajelança
retroativo, pelo Decreto 1 .775/96 - foram ao todo
falaram que tinha uma pessoa f>ara ser uma li-
da por Gileno de Carli. (ISA, 21/05/98)
272 contestações. (ISA. 20/11/97) derança na área. At, disse para o ftajé que era eu.
"Aí, conversando com um missionário, ele come-
TRIBO DEFENDE CACIQUE CHICÃO É ENTERRADO çou a explicar aos pouquinhos o valor que o ín-

CHICÃO DE CALÚNIAS EM GRUTA NA MATA dio tem, o direito que o índio tem e a obrigação
que o governo tem para com os índios".
Os Xukuru realizaram, ontem, um protesto em Uma multidão estimada em três mil pessoas "Comecei a me interessar {tela demarcação de ter-
apoio ao cacique Chicão e mais 1 2 índios, acu- acompanhou, ontem, o enterro do cacique ra porque, até então, eu achava que o trabalho
sados de serem responsáveis por sete crimes Chicão. Logo nas primeiras horas da manhã, já da gente de cobrar a terra era irregular, era fora
ocorridos na cidade. Chicão também é acusado era grande o movimento de carros, caminhões da lei". (Sem Fronteiras, n° 236, oul/98)

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL NORDESTE 559


) ,

MULHERES INVADEM A XUKURU-KARIRI (AL) Mana Xukuru explicou que atualmente existem

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO conflitos internos entre os Xukuru-Kariri e que a


tribo dividiu-se em três comunidades, com lide-
Na semana passada, cerca de 40 mulheres in-
DISPUTA PELA TERRA ranças diferentes. “Estamos tentando trabalhar
vadiram as dependências da Secretaria de Edu- esses conflitos em nossa tribo, mas é con-
Pequenos proprietários rurais de Palmeira dos difícil
cação de Pesqueira para cobrar o pagamento índios (AL) alertam a Funai para a possibilida- seguir resultados vivendo como favelados”, de-
de salários atrasados em cinco meses. Elas são
de de conflitos armados com índios da aldeia clarou Mana. (Gazela de Alagoas, 29/07/98)
mas responsáveis pela educação de 1040
leigas,
Xukuru-Kariri na região, caso o governo federal
estudantes de 30 escolas da comunidade autorize a desapropriação de mais de 500 pro-
Xukuni. As outras professoras vêm recebendo priedades para a reserva indígena. WASSU (AL)
regularmente, mas elas não, porque o MEC não
João Belo de Almeida, dono dc terras na região,
batia repassado a verba respectiva. (Jornal do
informa que os cerca de cinco mil proprietári- PEDÁGIO NA BR- 101
Commércio, 27/06/98) os estão dispostos a impedir o acesso dos índi-
os às terras cultivadas, mesmo que para isso te- índios Wassu interditaram ontem, das 7 às 17

PROTESTO EM RECIFE nham que promover matança. Revoltado, Belo horas, um trecho da BR- 101 ,
que figa AL a PE, na
garante que os proprietários estão nas terras há altura do mmticípiojoaquim Gomes, onde fia a
Um grupo de 98 índios Xukuru de Pesqueira
mais de 1 50 anos e que não eslão dispostos a
aldeia, a 80 km de Maceió.cobram R$ 1,00
Eles
protestou, ontem, em frente à Assembléia
sairde lá. “Por que a Funai não procura terras de pedágio por cada veículo que passa pelo tre-
Legislativa contra o atraso na conclusão dos in-
que não estejam sendo cultivadas? São cerca de cho interditado. O cacique Severino Anlonio da
quéritos que investigam o assassinato do líder
200 índios contra cinco mil proprietários e não Silva disse que as 364 famílias Wassu estão pas-
Chicão. “Os inquéritos estão atrasados pelo
vamos perder nossos direitos", advertiu. sando fome e o pedágio é uma forma de arreca-
menos dois meses. Não conseguimos informa-
Em cumprimento à Portaria 689/97 da presi- dar dinheiro para comprar comida. O protesto
ções precisas sobre o andamento dos proces-
dência da Funai, a representação do órgão em deve durar 15 dias, até que o governo federal
sos na Justiça, nem aposse de nossa terra. Ain-
Alagoas está concluindo o levantamento libere RS 680 mil para financiar a agricultura de
da sofremos constantes ameaças", relatou José
fundiário da região, que deve ser enviado a subsistência na aldeia. Se o financiamento não
de Santa, um dos líderes da tribo. À cerimônia
Brasília até o final deste ano, para ser analisa- for liberado, o pedágio será reiniciado no fim de
na Assembléia serviu para a entrega de um
do. “já realizamos o levantamento antropológi- agosto, por mais 15 dias.
dossiê. Em seguida, os índios saíram em passe-
co e agora três equipes estão fazendo o O protesto ocorreu pacificamente. Armados de
ata no Centro de Recife, passando pelo Palácio
fundiário”, explica o administrador regional da foices e vestidos a caráter, os índios paravam os
das Princesas, em direção ao Ministério Públi-
Funai, Paulo Fernando da Silva. Ele garantiu que, carros, pediam ajuda e anotavam as placas dos
co. (Jornal do Commércio, 06/09 e Diário de
se forem obrigados a desocupar as terras, os veículos que não contribuíam. Quem queria con-
Pernambuco, 11/09/98
proprietários terão todos os direitos assegura- tribuir. era liberado. Para o cacique Severino, a

dos pelo governo, receberão indenizações dos receptividade das pessoas superou as expectati-
GARANTIA DE VIDA vas e, na primeira hora de pedágio, arrecada-
valores das benfeitorias e deverão ser assenta-
Os índios Xticuru Marcos Luidson de Araújo, dos em outras áreas, (O Jornal -Ai, 14/10/97) ram R? 80,00. “A contribuição é importante, mas
23, filho do cacique Chicão, ejosé Barbosa dos o principal objetivo do pedágio é chamar a aten-
Santos, 52, usando pinturas de guerra, em com- TIROTEIO MARCA ção do governo federal para a situação da tribo”,
panhia da viúva de Chicão, Zenilda Maria de ENTERRO DE PAJÉ disse o cacique. (Diário de Pernambuco

Araújo, 48, forant pedir, ontem, garantia devida 30/07 e 0 Liberal - Belém, 01/08/97)
índios Xukuru-Kariri da Fazenda do Canto troca-
ao governador Jarbas Vasconcelos, Eles tam-
ram tiros ontem, no fim da tarde, durante a ceri-
bém estiveram na OAB denunciando que os as- CRISE EM
AL PREJUDICA
mônia fúnebre do pajé Miguel Celestino da Silva.
sassinos do cacique vêm fazendo ameaças de O CRÉDITO DOS ÍNDIOS
morte à viúva e às lideranças Xucuru. “Eles pen-
O índio Dorgival Ricardo da Silva letiton matar
Manoel Celestino, ex-cacique e sobrinho do pajé Além dos funcionários públicos civis e militares
savam que com a morte do meu marido a luta
sepultado. Manoel revidou os tiros, causando e do comércio de Maceió, que quase quebrou, a
pelas terras terminaria", disse Zenilda. (Jornal
pânico e revolta nos familiares do pajé. crise administrativa em Al fez vítimas também os
do Commércio, 02/06/99)
Segundo os índios, Dorgival Ricardo há dois anos índios Wassu, que deixaram de receber R$ 680
esfaqueou o filho do pajé Miguel Celestino e foi mil porque o governo estadual, devido à
condenado pelajustiça a prestar serviços na Fun- inadimplência, perdeu o crédito junto à União.
dação de Amparo ao Menor, doar uma cesta bá- O dinheiro deveria ter sido liberado em 95, mas
sica por mês aos idosos necessitados e entregar como o governo Suruagy perdeu o controle so-
RS 300,00 ao pajé para despesas com medica- bre as contas públicas, o financiamento foi re-

mentos de seu flUio Mas não vem cum-


agredido. tido. “Não tenho nada a ver com isso. Se o go-
prindo a determinação da Justiça. Os útdios pre- verno do Estado foi irresponsável, problema
tendem cobrar da Funai providências para ex- dele. Cobrem dele”, reagiu o cacique José Seve-
pulsai' Dorgival da aldeia. rino. (Gazeta de Alagoas, 17/08/97)

sso NORDESTE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


J7^ Acervo
'üIs

— //\v I SA
10. ACRE

Copyrlghled malen;
Terras Indígenas
Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF Observações
Mapa |n°, fonte, data I (ha)

7 Alto Rio Punis Kaxinawa 1691 CPI/AC: 99* Homologada. Reg.CRI 263.129 Manuel Urbano AC PMACf. Faixa de fronteira.
Jaminawa Dâc.de 05/01.96 homologa a demarcação. Sta Rosa do Purus AC
Kulina (DOU, 08/C 1/96) Reg.CRI na Comarca de Manuel
Urbano Matr. N. 2.061 Liv. 2-RG, fl 130 em 17/01/96.
Reg CRI de Sena Madureira Matr. 2.U62.
Livro 2-RG, fl 131 em 17/01/96

354 Alto Iara ua cá Isolados 0 Identificada/Aprovada/Funai.Sujeíta a Contestação. 142.600 Feijó AC Faixa de fronteira. Isolados.
Port.Funai cria GT p/ estudas a identif. da TI. Foz do Jordão AC
Despacho do pres.da Funai aprova estudos
deidenliíic. |D0U, 20/04/00)

32 Arara Arara 200 CPI/AC;99 Em Identiíicação/Ravísãc. 27.700 Porto Walter AC Faixa de fronteira.
Igarapé Humaiíá Shawanaua Pqrt. Funai PP/2.747 de 31/07/67 interdita a TI.

0s indios reivindicaram ampliação. Pon.Futiai


n.3l de 26/01/00 cria GTp/ estudos e identificação
de TI (DOU, 28/02/00)

373 Cabeceira do Rio Acre Jaminawa 123 CPI/AC: 99 Homologada. 78.512 Assis Brasil PMACI. Na fronteira, (solados na
Decreta s/n de 14/04/98 homologa cabeceira do rio Acre.
a demarcação (D OU. 15/04/98)

70 Campinas Katukina Pano 318 Lima, 98 Homologada Reg CRI.. 32.683 Ipixuna AM Faixa de fronteira. Rodovia
Katukina Dec. S/n de 12/08/93 homologa a demarcação Tarauacá AC BR-364 corta a área.
_ CRI de Ipixuna (6.762 hál
(DOU, 13/008/93) Rac.
Matr 76 LÍV.2-A 11. 76 em 25/07/95. Reg CRI de
Tarsuacé (25.861 há) Mat.758, Liv. 2-B fl 03
em T 2/01/95. 0F373 ao SPU/DAF em 26/1 1/93

125 Igarapé do Caucho Kaxinawa 310 CPI/AC: 99 Homologada. Reg CRI e SPU. 12.318 Tarauacá AC Faixa de fronteira.
Dec. 278 de 29/10/91 homologa demarcação
(0DU, 30/10/91) Rag. CRI de Tarauacá Mat. 583
LÍV.2-C, 11119 em 12/12/91

1134 Jaminawa/Envira Kulina 40 92 CPI: 99 Delimitada. 82.030 Feijó AC Faixa de fronteira.


Ashaninka 52 Port. Do Ministro da Justiça n. 288 de 13/04/00
declara de posse permanente indígena
(DOU. 17/04/00)

143 Jaminawa do Jaminawa 160 CPI/AC: 99 Homologada. 25.651 Rodrigues Alves AC Faixa de fronteira
Igarapé Preta Decretos/n de 11/12/98 homologa a demarcaç3c
(DOU. 14/12/98)

144 Jaminawa Jaminawa 165 CPI/AC: 99 Homologada. 28.926 Mal.Taumalurgo AC Faixa de fronteira. Faz limite com
Arara do Rio Bagé Arara Shawanaua Decreto s/n de 11/12/98 homologa a demarcação a Res. Extrat. Alto Juruá.
{DOU, 11/12/98) PortFunai n. 664 de 12/08/99 cria
CT p/efetuar pagtos de indenização por benfeitorias
consideradas de boa-fé. (QOU, 16/08/991

746 Kampa do Igarapé Ashaninka 21 Funai: 94 Delimitada. :m Demarcação. 21,800 Tarauacá Faixa de Fronteira.
Primavera Port. Min. n. 454 de 25/0G/98 declara de posse
permanente indígena {DOU, 26/06/98). Contrato
Funai e Asserplan - Engenharia e Consult. 3/
demarcar a TI. Valor RS 243.892,60 Vigência a .

partir de 24/01/09 {DOU, 28/01/00). Resolução n. 92


da Comissão de Sindicância de 16/05/DD considera
de boa fé os 6 ocupantes da TI (DOU, 18/05/90).

158 Kampa do Rio Am&nea Ashaninka 318 Kitaka Mendes: 98 Homologada. Reg. CRI e SPU. 87.205 Mal. Taumaturga AC Faixa de fronteira. Faz limite com o
Dec. s/n, de 23/11/92 homologa a demarcação PN da Serra do Divisor.
(DOU r 24/11/92). Reg. CRI de Marechal Taumaturgo
Matr. 3.764, Uv. 2L/RG, fl. 202 em 29/12/92, Reg. SPU
Cert.008, 23/11/95.

159 Kampa Ashaninka 230 CPI/AC: 99 Homúloqude. 232.795 Feijó AC Faixa de frontBira. Isolados
Isolados do Ria Envira Decreto s/n. de 11/12/98 homologa a demarcação Amauaka.
(DOU, 14/52/98).

168 Katukina/Ksxinawa Kaxinawa 536 CPI/AC: 99 Homologada. Reg. CRI. 23.474 Envira AM Parcialm/ na faixa de fronteira.
Katukina Shanenawa Dec. 283 de 29/10/91 homologa demarcação Feijó AC
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI da Faijó Matr. 439
Uv. 2-C, fl. .93 EM 04/10/89- Reg. CRI Envira
Matn.R-1 -223, Liv.2, fl. 223 em 06/05/97.
84 Kaxinawa da Kaxinawa 95 CPI/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 105 Tarauacá AC Faixe de fronteira. Dois loles
Colônia Vinte e Sete Dec.n.268de 29/10/91 homologa damarcação. demarcados em projeto de
(DOU. 30/10/91. Reg. CRI.de Feijó Matr. 321, colonização do Incra.
Liv. 2- B 141 em 04/09/85. Reg. SPU Cert. 005
em 15/04/96.

1332 Kaxinawa do Kaxinawa 203 CPI/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 7.700 Jordão AC Faixa de fronteira.
Baixo Jordão Port do ministro da Justiça n. 825 de 11/12/98
declara de posse permanente dos índios
(DOU, 14/12/98). Contrate Funai e Asserplan
Engenharia e Cons. p/ demarcar a TI. Vigência a
partir de 24/01/CD (DOU, 28/01/00). Resolução da
Comissão de Sindicância n. 91 de 1 6/05/00 considera
de boa fé 7 ocupantes da TI (DOU, 18/05/00).

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL ACRE 563


/

Terras Indígenas (Continuação)


Instituto Socioambiental - Dezembro de 2000

Ref. Terra Indígena Povo População Situação Jurídica Extensão Município UF ObservaçBes
Mapa (r.°, fonte, data )
(ha)

170 Kaxinawa do Kaxinsws/Ashaninka 259 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 127.383 Fetjó AC Faixa de fronteira.
Rio Humana Dec. 279 de 29/10/ homologa demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI Matr. 313, Liv. 2-B,
fl. 252 em 08/10/86. Reg. SPU/RR-54 em 23/09/87.

171 Kaxinawa do Kaxinawa 920 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 87.293 Foz do Jordão AC Faixa de fronteira.
Rio Jordão Dec. 255 de 29/10/91 homologa demarcação
IDOU, 30/10/91).Reg. CRI de Tarauacá Matr. 332,
Liv. 2-B, fl. .219 em 04/07/88. Reg. SPU/AC-55

em 28/04/88.

172 Kaxinawa Nova Olinda Kaxinawa 150 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI. 27.533 Feíjó AC Faixa de fronteira.
Dec. 294 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU, 30/10/91) Reg. CRI de Feijó Matr. 439,
Liv. 2-C, fl, 105V em 01/08/90. Proc. SPU CT 091

SUAF em 30/04/90.

362 Kaxinawa Kaxinawa 246 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 61.307 Tarauacá AC Sem localização.
Praía do Carapanã Port. mín. 455 do 25/06/98 declara de passa
permanente (DOU, 26/06/981. Contrata Funai e
Asserplan Engenharia e Cônsul, p/demarcar a TI.
Vigência de um ano a partir de 2/01/00 (DOU. 23/01/00).

431 Kaxinawa Ashaninka 425 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 23.840 Mal. Taumaturgo Ne fronteira.
Ashaninka do Rio Breu Kaxinawa Portaria do Min. da Justiça n. 600 de 02/10/96
declara de posse permanente indígena. Contrato
Funai e Asserplan Engenharia e Consultoria p
demarcar a TI. Vigência de um ano a partir de
24/01/C0. (DOU. 23/01/00).

180 Kulina do Kulina 96 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 44.050 Feijó AC Faixe de fronteira.
Igarapé do Pau Portaria Min. da Justiça n. 308 de 16/08/93 declara
de posse permanente indígena {DOU, 17/08/93).
Contrato Funai e Pórtico Engenharia Ltdu p/
demarcação topográfica da TI. Valor RS 88.916,00.
Prazo um ano a paitir de 01/03/00 {DOU. 15/03/00).

182 Kulina do Rio Envira Kulina 235 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 84.365 Feijó AC Faixa de fronieira/lsolados.
Dec. 280 de 29/10/91 homologa demarcação
(DOU, 30/10/91). Reg. CRI de Feijó Matr. 405,
Liv. 2-C em 04/08/88. Reg. SPU Cert. 013 em 1 1/1 2/96.

195 Mamoadate Machinerl 459 576 CPl/AC: 99 Homologada. Reg. CRI e SPU. 313.647 Sena Madureira AC PMACI, Na fronteira/lsolados na
Jantinawa 117 Dec. 254 de 29/10/91 homologa demarcação Assis Brastl AC cabeceira do rio laco. Faz limite
(DOU, 30/1D/91).Reg. CRI de Sena Madureira com a Estação Ecoiógica Rio Acre.
Matr. 1.518 . Liv. 2-E, fl. 143 em 09/04/87. Reg.
CRI Brasiléia Matr. 946 Liv. 2-C fl.167 em 08/10/87.
Reg. S PU/RR 357 em 01/05/87.

224 Nukini Nukini 425 CPl/AC: 99 Homologaca. Reg. CRI e SPU. 27.263 Máncio Lima AC Faixa da fronteira. Requerimento
Oec,4úO de 24/12/91 homologa demarcação de pesquisa mineral. Faz limite
(DOU, 28/12/91). Reg. CRI de Máncio Lima com o PN Serra do Divisor.
Matr. 3.620, Liv. 2-L, fl. 45 em 15/01/92.
Reg. SPU Cert. s/n. em 12/05/97.

253 Poyanawa Poyanawa 403 CPl/AC: 99 Delimitada. Em Demarcação. 20.081 Mâncio Lima AC Faixa de fronteira.
Port. Min. da Justiça n. 67 de 02/03/93 declara
de posse permanente (D 0U, 03/03/93). Contrato
Funai e Asserplan, Engenharia e Consultoria Ltda.
p/ demarcar a TI. Valor RS 24.047,93. Vigência

1 anD a partir de 24.01.00 (DOU, 28/01/00).

269 Rio Greçório Katukina Pano 480 Qayerg: 98 Homologada. Rog. CRI. 92.859 Tarauacá AC Faixa de fronteira.

Yawanawa Dec. 281 de 29/10/91 homologa demarcação


administrativa (DOU, 30/10/91). Reg. CRI de Tarauacá
Matr. 320, Liv. 2-B 11. 142 em 03/09/35. Proc. SPU
CT 346 em 23/1 1/87.

1386 Seringal Kaxinawa 138 CPl/AC: 99 A Identificar. Jordão AC


Independência Terra adquirida pelos índios.

517 Xinana Isol. do ig. Xnane 0 CPl/AC: 99 A Identificar/lnterditada. 1757)00 Feijó Faixa de fronteira/lsolados.
Isol, do ig. Tabocal Port. Funai/PP/3.765de 13/11/87 interdita a área
para estudos e definição. (DOU, 01/12/87).

* CPl/AC; 99 = Terri Valle da Aquino e Marcelo Piedrafita Iglesias.

564 ACRE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Yaminawa de
Assis Brasil.
A Hora e a Vez dos índios
no Governo da Floresta

Marcelo Piedrafita Iglesias Antropólogos que


trabalham com os índios
Txai Terri Valle de Aquino no Acre há muitos anos

UM BALANÇO DA SITUAÇÃO ATUAL GOVERNO DA FLORESTA


DAS TERRAS E POPULAÇÕES INDÍGENAS DO Em outubm de 1998, uma grande novidade marcou a política acreana:
ACRE COM RECOMENDAÇÕES PARA VIABILIZAR a eleição do engenheiro floresta!Jorge Viana, do Partido dos Traba-
A "FLORESTANIA" E A SUSTENTABILIDADE lhadores (PT), para ocupar o executivo estadual no período 1999-
2002. Nessa nova conjuntura, inaugurada peta ascensão ao poder de
DAS TERRAS INDÍGENAS
um governo preocupado com a floresta e as populações tradicionais
que ali vivem, tornou-se possível sonhar com a elaboração e
A população indígena acreana, atualmente estimada em pouco mais implementação de um conjunto de políticas públicas que venha for-
de 9 3 OO pessoas, constitui 1,4% da população do estado. É
. for-
talecer e aprofundar os trabalhos iniciados nas duas últimas déca-

mada por 1 2 diferentes povos falantes de línguas Pano, Aruak e das pelas comunidades indígenas, suas lideranças e organizações de
representação política e pelas entidades não governamentais de apoio
Arawá. Essa estimativa, no entanto, não inclui os integrantes de
aos índios.
diferentes grupos "isolados”, que perambulam ao longo de toda a
fronteira internacional com 0 Peru. As iniciativas do Gotemo da Floresta, nome com 0 qualfoi batizada
a nova administração estadual, devem apoiar 0 avanço dos proces-
Nos últimos 25 anos, foram reconhecidas pelo governo federal 28
sos de regularização das terras indígenas do Acre. dando condições
terras indígenas no Acre. Situadas em 1 1 dos 22 municípios para a vigilância de seus limites, o uso sustentado de suas riquezas e
acreanos, essas terras abrangem hoje 2.167.046 ha ou 14,3% da a preservação dajhresta. Devem também viabilizar a continuação
superfície do estado. Desse total . 1 7 terras, que representam 7 1 ,3% dos processos deformação de professores bilíngües, agentes de saúde
da extensão das terras indígenas existentes no estado, tiveram suas e agroflorestais e outros recursos humanos locais. Em linhas gerais,
demarcações físicas homologadas por decretos presidenciais. Des- essas iniciativas precisam, portanto, garantir a melhoria da quali-
dade de vida dets populações indígenas, no tocante à cidadania, educa-
sas, 1 3 têm concluído seu processo de regularização fundiária,
ção, saiíde, alternativas econômicas, trans/xirte e comunicação.
estando registradas em cartório de imóveis e cadastradas na Se-

cretaria de Patrimônio da União (SPLI). As outras quatro foram

registradas, mas aguardam cadastro na SPU. Seis terras já foram


declaradas por portarias ministeriais. Duas outras se encontram
identificadas, a partir de estudos feitos por grupos técnicos insti-

tuídos pela presidência da Funai na segunda metade dos anos 90.

Já reconhecidas de alguma forma pelo órgão indigenista oficial,

falta identificar e delimitar três terras no estado.

Em 1997, 0 PPTAI. realizou sua primeira ação no estado, com a

demarcação física da Terra Indígena (TI) Cabeceira do Rio Acre.

Manoel Shane Kaxinawa e Josias Mana Pereira


Kaxinawa: participantes do II Curso de Agentes
Agroflorestais Kaxinawa, TI Seringal Independência.

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1936/2000 - INSTITUTO SOCIOANIBIENTAL ACRE 566


^Lj7^ Acervo
//\C I SA
No Vale do Alto Juruã, onde estão concentrados 74% dos índios reivindicada pelos Kaxinawá justificam a constituição de um grupo
acreanos e 89% de suas terras, apesar de também prevista no Pla- técnico para proceder com os estudos necessários ao início do
no Operativo Anual (POA) do PPTAL para 1997, a retomada das reconhecimento oficial desta terra, conforme a sistemática previs-
demarcações acabou acontecendo no ano seguinte, tendo como ta no Decreto 1.775/96.
alvo as terras Jaminawa-Arara do Rio Bagé, Jaminawa do Igarapé
O Governo da Floresta deve procurar participar e influenciar os
Preto e Kampa c “Isolados” do Rio Envira, identificadas desde
rumos do planejamento e da implementação deste conjunto de
meados da década de 80. Essa última foi a única terra a ser con-
ações previstas pelo PPTAL para o Acre, através de parcerias e
testada no estado, sem sucesso, com base na sistemática de regu-
iniciativas conjuntas com a Secretaria Técnica do Projeto, a presi-
larização de terras indígenas introduzida pelo Decreto 1.775/96.
dência e a DAF (Diretoria de Assuntos Fundiários) da Funai, em
A indenização das benfeitorias de boa-fé das famílias de ocupantes
Brasília, e a AER-RBR.
que viriam nas duas primeiras terras foi feita pela Funai, em 1999,
com recursos da contrapartida do governo brasileiro.
NOVAS TERRAS INDÍGENAS
O POA do PPTAL para 1999 previa a demarcação de seis terras
Outro desafio presente é o de encontrar formas legais para o reco-
indígenas em cinco municípios do Vale do Juruá acreano, a saber: nhecimento oficial de novas terras de pretensão indígena que sur-
Poyanawa, Kaxinawá da Praia do Carapanã, Kampa do Igarapé Pri- procedimen-
giram nos últimos anos e não se enquadram no atual
mavera, Kaxinawá do Baixo Rio Jordão, Kaxinawá/Ashaninka tio
to administrativo de regularização, regulamentado pelo mencio-
Rio Breu e Kulina do Igarapé do Pau. Na primeira, o PPTAL, o
nado decreto. Neste contexto, há hoje demandas para a criação de
PNUD e a Associação Agro-Extrativista Poyanawa do Barão e
duas novas terras indígenas no Acre, a saber: Kaxinawá do Serin-
Ipiranga (AAPBI) assinaram contrato de prestação de serviços para
gal Independência, no Município de Jordão, e Jaminawa do Rio
implementar o “Subprojeto de Acompanhamento e de Consolida-
Caeté, no Município de Sena Madureira.
ção da Demarcação Física da Terra Indígena Poyanawa”. Nas de-
mais, o PPTAL disponibilizou recursos para que as comunidades
A primeira é constituída por dois seringais nativos, Independência

façam o acompanhamento dos trabalhados da empresa durante a e Aliamira, com extensão de 14.750 ha, adquiridos pela Associa-
ção dos Seringueiros Kaxinawá do Rio Jordão (ASKARJ) com re-
demarcação suas terras.
cursos do Prêmio de Direitos Humanos da Rccbok, recebido por
Apenas em dezembro de 1999, contudo, aFunai logrou encerrar o seu presidente, Siã Kaxinawá, em 1993- Em março do ano seguin-
-
processo licitatório para a contratação da empresa, a Asserplan te, grupo técnico instituído pela Portaria n° 1 .204/93 visitou estes
Engenharia e Consultoria Ltda., que demarcará as primeiras cinco seringais e realizou os estudos que embasaram o relatório de iden-
terras, trabalho que leve início em fevereiro de 2000. A demarca- tificação e delimitação, entregue à DAF em novembro de 1995.
ção da terra Kulina, a cargo da Pórtico, tem início previsto para
Nos últimos cinco anos, a ASKARJ e as lideranças Kaxinawá têm
abril. No segundo semestre está prevista a indenização das
reivindicado o reconhecimento oficial desses dois seringais como
benfeitorias das famílias de seringueiros que ainda vivem em três
“terra dominial indígena”, conforme previsío na Lei 6.001/73. Esta
destas terras: a Kampa do Igarapé Primavera e as Kaxinawá do
demanda recebeu pareceres favoráveis do Departamento de Iden-
Carapanã e do BaLxo Rio Jordão.
tificação e Delimitação, da DAF. No entanto, dois pareceres da Pro-

Nos próximos anos, a Funai, com recursos do PPTAL, pretende curadoria Geral do órgão indigenista, emitidos em 1996 e 1997,

concluir a demarcação e regularização de outras quatro terras, por considerar que os seringais não constituem terra tradicional-
situadas em três municípios do Alto Juruá: Jaminauá-Envira e mente ocupada pelos Kaxinawá, levantaram obstáculos legais à

Xinanc,em Feijó; Alto Tarauacá, em Jordão; e Arara do Igarapé criação dessa terra indígena. Em dezembro de 1999, a nova dire-

Humaitá, em Porto Walter. Embora constasse como prioridade no toria da DAF determinou que a administração da Funai de Rio Bran-
POA do PPTAL desde 1998, os estudos para a reidenlificação dessa co assessore o presidente da ASKARJ no registro em cartório des-

última foram iniciados pelo grupo técnico Instituído pela Portaria tes dois seringais em nome do povo Kaxinawá, de forma a abrir
n° 031/Pres, de 26 de janeiro de 2000. alternativas efetivas para seu reconhecimento como terra dominial.
Cabe ressaltar que a TI Kaxinawá do Seringal Independência cons-
Em futuras listas de prioridades do PPTAL, é importante a inclusão
ta, desde 1996, de todas as listagens de terras elaboradas pela DAF
da identificação da TI Kaxinawá do Seringal Cürralinho. situada
e pelo PPTAL.
em Feijó, de forma a garantir os direitos das famílias indígenas

que ali moram há décadas que nos últimos anos têm sido alvo de A segunda terra, situada no seringal Boa Vista, no rio Caeté, em
ameaças e violências por parle de pretensos proprietários e da Sena Madureira/AC, é para onde, em 1997, a Administração da
polícia militar local. Demandas neste sentido têm sido feitas desde Funai local levou várias famílias Jaminawa que mendigavam nas

1988 pelas lideranças Kaxinawá, com apoio da Organização dos ruas de Rio Branco. Na época, esta foi a alternativa encontrada

Povos Indígenas do Rio Envira (Oplre) e da própria Administra- para tentar dar a essas famílias meios mais dignos de vida e aten-
ção Executiva Regional da Funai de Rio Branco (AER-RBR). A der às recorrentes cobranças feitas pelo Ministério Público Fede-

tradidonaiidade da ocupação dos seringais que incidem na área ra], por diferentes órgãos do governo esladual, pela imprensa e

566 ACRE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000- INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL


Acervo
//\C I SA
parte da sociedade acreana, que exigiram a imediata retirada dos Em 1988, na foz do igarapé Xinane, na TI Kampa e "Isolados" do
Jaminawa das ruas da capital. Rio Envira, foi instalada a Frente de Contato Envira (FCE), desde
então coordenada pelo sertanistajosé Carlos dos Reis Meirellesjr.
O atual governo do estado pode dar a sua contribuição, estabele-
Apesar da crônica carência de pessoal qualificado e de recursos
cendo parcerias com a Funai, o movimento indígena e a ASKARJ,
financeiros, a FCE tem desenvolvido, nos últimos 12 anos, impor-
para promover processos participativos de demarcação física dos
tante trabalho de vigilância e proteção de parte desta terra e de
limites dessas duas terras e a indenização das benfeitorias de boa
outras que, no Vale do Alto Juruá, constituem territórios tradicio-
fé dos posseiros que ali ainda vivem. A criação destes fatos políti-
nais de vários grupos “isolados".
cos pode justificar o deslanchar dos processos de reconhecimen-
to oficial e de regularização dessas duas terras.
“Isolados" do rio Tarauacá
Estas são formas concretas de marcar a participação do Governo No alto rio Tarauacá, situado no município de Jordão, uma mulher
da Floresta nas conquistas territoriais protagonizadas, nos últimos e sua filha foram mortas pelos “isolados” no seringal São Paulo

25 anos, pelas populações indígenas no estado. Se houver vontade em 1996- No ano seguinte, o seringueiro Domingos Neves foi mor-
política para participar destes processos, através de convênios e to a flechadas no seringal Alegria, no rio Douro, afluente da mar-

outras formas de parceria, o governo estadual poderá assegurar gem direita do Tarauacá, a pouco mais de um dia de viagem da

recursos federais e/ou da cooperação internacional para garantir sede municipal. O acirramento dos conflitos, as ameaças de re-

a regularização fundiária dessas duas terras de pretensão indígena. presálias por parte dos seringueiros e a ampla divulgação dada
aos acontecimentos na imprensa de Rio Branco motivaram, em
março de 1998, a ida à região do chefe do Departamento de índi-

“ISOLADOS” os Isolados (DIT) da Funai, Sydney Possuelo. Em companhia do


sertanista Meirelles, foi realizado sobrevoo de quase 20 horas nas
Ao longo da fronteira internacional Brasil-Peru e de suas proximi-
cabeceiras dos rios Envira, Tarauacá, Humaitá e Jordão. Avistaram
dades, um conjunto de oito terras indígenas contíguas, já reco-
várias malocas e roçados dos “isolados”, estimando sua popula-
nhecidas pelo governo federal, constitui território de moradia e
ção em cerca de 200 índios. No ano seguinte, após incursões por
perambulação de índios “isolados”, conhecidos regionalmente
terra realizadas nas cabeceiras destes rios, o experiente sertanista
como “brabos”. Nas últimas décadas, assim como tem acontecido
Meirelles avaliou esta população em aproximadamente 600 índios.
desde a implantação dos seringais nos altos rios acreanos no iní-

cio deste século, frequentes têm sido os conflitos, inclusive com Atendendo recomendação dos chefes do DII e da FCE, a presidên-
inúmeros casos de morte, envolvendo, de um lado, os “isolados” cia da Funai promulgou a Portaria n° 476 de 2 1 de maio de 1998,
e, de outro, índios Kaxinawá, Ashaninka, Kulina, Manchineri e se- restabelecendo, pelo prazo de três anos, a “restrição ao direito de

ringueiros acreanos. ingresso, locomoção e permanência de pessoas estranhas aos qua-

Vista aérea de malocas


de "isolados" não
identificados na região
do rio Envira, divisa do
Brasil com o Peru.

POVOS INDÍGENAS N0 BRASIL 1996/2000 - INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL ACRE 567


Acervo
//\V I SA
dros tia Funai" na área proposta para o reconhecimento da TI “Isolados” do rio laco
Alto Tarauacá. Na referida portaria foi feito um significativo acrés- Em outubro de 1999, mais de 300 índios, segundo estimativa do
cimo da extensão desta terra, que passou a ter superfície de 1 32.500 sertanista Meirelles, apareceram pouco acima da base da Frente.
ha e perímetro de 259 hm, contra 52,000 ha e 150 km, respecti- Nus, pintados e armados com arcos e flechas, assistiram pacifica-

vamente, que constavam na Porlaria n° 3.764 de 13 de novembro mente a fuga dos integrantes da FCE. Nada roubaram, apenas ma-
de 1987, que interditara a área para “fins de estudo e definição”. taram os cachorros e as criações domésticas. Em reconhecimento
feito dias depois, foram localizados cerca de 45 tapiris que tinham
Em seguida, a presidência da Funai constituiu grupo técnico (GT) servido como locais de acampamento para famílias extensas intei-
pela Portaria n“ 483 de 22 de maio de 1998, para proceder com a ras, homens, mulheres e crianças. Segundo informações presta-
identificação e delimitação dessa 11. Os integrantes do GT estive- das posteriormente peio sertanista da Funai, trata-se de índios "iso-
ram em campo nos meses de junho e julho deste ano, percorren- lados”, conhecidos como Masko, que habitam território peruano
do a pé o rio Douro, de sua foz às cabeceiras, todo o alto curso do e perambulam entre a margem direita do alto rio Purus e as cabe-
rio Tarauacá, de suas cabeceiras até a foz do Douro e o alto rio ceiras do rio laco e do igarapé Abismo, adentrando, no verão, a TI
Murú, visitando todos os seringais incidentes na TI, bem como as Mamoadate para pescar e coletar ovos de tracajá e tartaruga.
colocações então ocupadas e outras que haviam sido recentemen-
"Isolados” do rio Humaitá
te desocupadas por seringueiros regionais, devido aos constantes
No sobrevoo realizado pelos sertanistas da Funai, em fevereiro de
ataques e saques promovidos por índios “isolados”. Foram, então,
1998, nas cabeceiras do rio Humaitá foram localizadas três malocas
preenchidos os laudos de vistoria e avaliação de benfeitorias das
de índios “isolados”. No ano seguinte, estes índios invadiram e
53 famílias de seringueiros acreanos, que ocupavam colocações
roubaram diversos instrumentos de trabalho na aldeia São Luiz,
de vários seringais do rio Douro e do alto Tarauacá.
situada na TI Kaxinawá do Rio Humaitá.
a
No final dc 1998, a 6 Câmara de Coordenação e Revisão da Pro- "Isolados” do Xinane
curadoria Geral da República encaminhou oficio à diretoria da A TI Xinane, com extensão estimada em 175.000 ha, situada na
DAT, solicitando informações a respeito das providências já margem direita do rio Envira, no Município de Feijó, também des-
adotadas para a conclusão dos estudos de identificação e delimita- tinada a grupos “isolados”, foi interditada em 1987 para “fins de
ção dessa terra indígena. Em maio do ano seguinte, a Procurado-
esludo e definição”. Desde então, nenhuma providência foi toma-
ria da República no Estado do Acre enviou oficio à presidência da da pela Funai para a realização dos estudos de identificação e de-
Funai, recomendando que o órgão amasse com urgência para evi- limitação, agora prevista no POA do PPTAL para o ano 2000. É
tar o agravamento dos conflitos e problemas sociais, já em curso importante que o governo estadual faça gestões junto à Secretaria
na região, e tornasse disponíveis os recursos para a indenização Técnica do projeto e diretoria da DAF para garantir o reconheci-
das 53 famílias de ocupantes não-índios. Muitas destas, com medo mento oficial e a regularização desta terra, processo no qual a PCE
de novos conflitos e mortes, haviam abandonado suas colocações poderá prestar relevantes serviços.
e rumado para a sede do Jordão ou para a cidade de Tarauacá.
Das 401 pessoas cadastradas em meados de 1998, apenas 174 Tendo em vista o peso que a existência dos índios “isolados” joga
na questão dos limites internacionais com o Peru, bem como a
continuavam morando ali um ano depois,
importância da manutenção de suas terras, áreas de perambulação

O relatório de identificação e delimitação da TI Alto Tarauacá foi e formas tradicionais dc vida, é desejável que o governo do estado

entregue à D AP, em janeiro de 2000, pelo antropólogo .Antônio estabeleça parceria com o órgão indigenisla oficial, visando forta-

Pereira Neto, coordenador do GT e atual administrador regional lecer as atividades da FCE, dotando-a de infra-estrutura necessária

da Funai de Rio Branco. Esta terra, com extensão de 142.600 ha e e de maiores recursos humanos e financeiros.

perímetro de 239 km, é a primeira a ser destinada exclusivamente


a grupos “isolados”. Está circundada pelas Terras Kaxinawá do PAVIMENTAÇÃO DA BR-364
Rio Jordão, Kampa e Isolados do Rio Envira e Kaxinawá do Rio
Humaitá e, ainda, pela fronteira internacional com o Peru. Ficou clara a disposição inicial tio atual governo de considerar os
índios e suas organizações legítimos atores para participar das dis-
"Isolados” do rio Envira cussões sobre o licenciamento e a pavimentação desta rodovia,

Em maio de 1998, durante os trabalhos de demarcação física da bem como de incorporar suas demandas ao planejamento e exe-

TI Kampa e Isolados do Rio Envira, no município de Feijó, e logo cução de ações preocupadas em conciliar o desenvolvimento do
após o sobrevoo realizado por sobre suas malocas, os “isolados” estado, aproteção do meio ambiente e amelhoria da vida de todos
atacaram a sede da FCE e queimaram todas as suas instalações. Os os acreanos do Alto Juruá. Provas disso foi a realização da audiên-

funcionários da empresa de topografia e da FCE, junto com índios cia pública na cidade de Cruzeiro do Sul, em julho de 1999, e a

Kampa que os acompanhavam na abertura das picadas, tiveram de formação de uma comissão interinstltucional para acompanhar a
ser resgatados por um helicóptero do Exército, após terem sido revisão do EIA/RÍMA anterior, elaborado, três anos antes, no go-

cercados por índios “isolados”. verno de Orleir Cameli. As reuniões que se seguiram, contando

588 ACRE POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 1996/2000 INSTITUTO S0CI0AMBIENTAL


Acervo
_//£ ISA
com a participação ativa da Procuradoria da República no Estado TRANSPORTE E COMUNICAÇÕES
do Acre, resultaram na elaboração e aprovação da minuta do “Ter-
Estes são vetores cruciais para garantir maior autonomia às popu-
mo de Referência para a Revisão do ELA/RIMA Relativo à Pavimen-
lações indígenas, contribuindo nas ações de vigilância e na busca
tação e Operação da BR-364/Componenle Indígena”. Os trabalhos
de melhores formas de inserção nas economias municipais. A co-
de revisão estão sob a coordenação da Fundação de Tecnologia do
municação, por sua vez, é veículo fundamental para o estreitamento
Estado do Acre (Funtac).
das relações entre as comunidades, o movimento indígena regio-
nal e as entidades de apoio que assessoram programas de educa-
DISTRITOS SANITÁRIOS ção, saúde e iniciativas econômicas nas terras indígenas.

ESPECIAIS INDÍGENAS O Governo da Floresta deve priorizar ações que fortaleçam ou im-
Na saúde também ganharam contorno canais institucionalizados, plantem sistemas coletivos de transporte nas aldeias, através da

envolvendo o Ministério da Saúde, a Fundação Nacional de Saúde compra de embarcações motorizadas e veículos terrestres, bem
(Funasa) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazo- como da reforma de barcos e equipamentos já existentes, aliadas

nas (UNI) visando a estruturação e implementação de dois Distri-


,
à formação de recursos humanos locais em cursos básicos de

tos Sanitários Especiais Indígenas no Acre, O primeiro, com sede mecânica. Por outro lado, é primordial a oferta de serviços fluvi-

na capital Rio Branco, tem área de abrangência nos municípios ais públicos de transporte de passageiros e da produção, que li-

acreanos do Vale do Acre e Alto Purus, contemplando ainda os guem com periodicidade regular as aldeias, seringais e sedes de

municípios de Boca do Acre e Pauini, no Amazonas; o segundo, municípios menores às principais sedes municipais.

com sede na cidade de Cruzeiro do Sul, abrange os oito municípi- Há hoje no estado duas redes de radiofonia gerenciadas por orga-
os do Alto juruá acreano. Convênio assinado com a Funasa, em nizações indígenas, a da UNI e a da ASKARJ, implantadas com re-
setembro de 1999, garantiu à UNI, pelo prazo de três anos, o papel cursos do PPTAI/KfW e da Comunidade Econômica Européia, atra-
de gestora do processo de criação e gerenciamento dos dois dis- vés de parcerias com o Programa Amazônia, de Amigos da Terra.
tritos sanitários.
É importante alargar a área de abrangência destas duas redes, de
Os próximos anos serão marcados pelo enorme desafio de viabilizar maneira a possibilitar a ágil circulação de informações entre as
a implantação desses dois distritos, através do estabelecimento de aldeias, as sedes municipais e a capital do estado, mobilizando
formas concretas de parceria entre as comunidades, o movimento lideranças locais, o movimento indígena e as organizações oficiais
indígena, os órgãos governamentais das esferas federal, estadual e e não governamentais de apoio.
municipais e as entidades não-governamentais de apoio.
A instalação de equipamentos de radiofonia cm terras indígenas,
Apesar da existência de um fórum institucionalizado para o enca- ainda não ligadas a essas redes, é iniciativa louvável, que deve vir
minhamento inicial das questões relativas à saúde indígena, neste junto com ações que garantam assistência técnica aos rádios já
primeiro momento sob atribuição direta da Funasa e da UM, é existentes, através de parcerias com a UNI e a ASKARJ,
fundamental que o Governo da Floresta participe desse processo,
A instalação de redes internas em terras indígenas maiores, onde
através da garantia de bom atendimento aos pacientes índios nos
há aldeias espalhadas por diferentes partes do território, é uma
hospitais dos municípios, da regularização e construção dos pos-
estratégia a ser também contemplada, de maneira a potencializar
tos de saúde e, ainda, do apoio a processos continuados de
mobilizações locais com vistas à vigilância territorial, atividades
capacitação dos agentes de saúde c outros recursos humanos locais.
econômicas, reuniões, saúde, educação e representação política.

DESAFIOS DA “FLORE STAN1A”


PRODUÇÃO E SUSTENTAÇÃO
A “florestania" deve ser garantida às populações indígenas e de
Na esfera da produção, devem ser priorizadas programas e linhas
seringueiros e agricultores. Programas de documentação são cada
de ação que, por urn lado, potencializem as atividades econômicas
vez mais necessários nas aldeias e seringais. Importante desafio
tradicionalmente desenvolvidas pelas populações indígenas e, por
tem sido o de adequar à realidade dessas populações e da floresta
outro, abram novas alternativas para o uso sustentável da floresta
as linhas gerais do Projeto Cidadão, valiosa iniciativa reconhecida
e de relacionamento com diferentes nichos de mercado.
em 1998 com o Prêmio de Gestão Pública e Cidadania, da Funda-
ção GetúÜo Vargas. Por outro lado, devem ser viabilizados os ar- Em reunião organizada pela Secretaria de Estado de Produção
ranjos institucionais que permitam o pagamento das aposentado- (Sepro) em agosto de 1999, lideranças indígenas de várias regi-
rias rurais nas sedes municipais mais próximas, garantindo, as- ões apresentaram suas reivindicações a respeito das necessidades
sim, maior oxigenação das economias locais e melhores condi- mais urgentes para apoiar as atividades produtivas já em curso em
ções de vida e saúde para os velhinhos e suas famílias. Hoje, estas suas aldeias. A Sepro, então, elaborou o “Programa Emergencial
aposentadorias representam importante componente da renda de de Desenvolvimento de Comunidades Indígenas para 1999”, vi-

muitas famílias indígenas do estado. sando fortalecer as atividades agrícolas e de pesca, bem como

POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 19911/2000 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL

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