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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS


CURSO DE DIREITO

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO

GISELE MÜLLER CALDAS

Itajaí, novembro de 2008


UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS JURÍDICAS - CEJURPS
CURSO DE DIREITO

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO

GISELE MÜLLER CALDAS

Monografia submetida à Universidade


do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Direito.

Orientador: Professora MSc. Marcia Sarubbi Lippmann

Itajaí, novembro de 2008


AGRADECIMENTO

À toda minha família que sempre esteve ao meu


lado me apoiando, ao meu marido que sempre me
incentivou, aos amigos que torcem para meu
sucesso, a colaboração de colegas de curso que
trocaram experiências e saberes, à todos os
professores que contribuíram decisivamente para
minha formação acadêmica, profissional e
pessoal, e em especial à minha Professora
Orientadora Marcia Sarubbi Lippmann.
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho ao meu pai LUIZ CALDAS


SOBRINHO, essa pessoa que é peça
fundamental em minha vida, sinônimo de luta,
coragem e honestidade, um homem forte e
batalhador, que venceu inúmeros obstáculos, e
que muito me ajudou, tornou meu sonho em
realidade, ser Bacharel em Direito é uma
oportunidade que tive na vida e que ele me
proporcionou.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 21 de novembro de 2008

Gisele Müller Caldas


Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale


do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Gisele Müller Caldas, sob o título
Adoção Internacional, foi submetida em 17 de novembro de 2008 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Marcia Sarubbi
Lippmann (orientadora) e MSc. Maria Fernanda Do Amaral Pereira Gugelmin
Girardi (examinadora), e aprovada com a nota ______
(_______________________).

Itajaí, 21 de novembro de 2008

Professora MSc. Marcia Sarubbi Lippmann


Orientador e Presidente da Banca

Professor MSc. Antônio Augusto Lapa


Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CF/1988 Constituição Federal de 1988

ECA/1990 Estatuto Da Criança e do Adolescente de 1990

CEJA Comissão Estadual Judiciária de Adoção

CEJAI Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional

CUIDA Cadastro Único Informatizado de Adoção e Abrigo

§ Parágrafo

ART. Artigo
ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à


compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Adoção

“Ato sinalagmático e solene, pelo qual, obedecidos os requisitos da Lei, alguém


estabelece, geralmente com um estranho, um vínculo fictício de paternidade e
filiação legítimas, de efeitos limitados e sem total desligamento do adotando da
sua família de sangue.”1

Adotando

“Pessoa que, por adoção, é recebida como filho. Diz-se filho adotivo”.2

Adotante

“Pessoa que recebeu outra mediante adoção, como filho”.3

Adoção Internacional

A adoção internacional é o instituto jurídico de ordem pública que concede a uma


criança ou adolescente em estado de abandono a possibilidade de viver em um
novo lar, sendo que esse novo lar será em outro país, e para tanto devem ser
obedecidas as normas do país do adotado e do adotante.

Laudo de Habilitação

“É o documento, expedido pela Comissão Estadual Judiciária de Adoção, que


autoriza o interessado a requerer a adoção”.4

1
CHAVES, Antônio. Adoção. Belo Horizontee: Del Rey, 1994. p.23.
2
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 6. ed. Rev. e atual. São Paulo:
Rideel, 2.004. p.51.
3
GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. p.51.
4
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. São Paulo: Malheiros, 1.995. p 141.
SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................X

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ....................................................................................... 3

EVOLUÇÃO DA ADOÇÃO .................................................................. 3


1.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA ............................................................. 3
1.2 O SURGIMENTO DA ADOÇÃO E SUA EVOLUÇÃO ...................................... 7
1.2.1 O CÓDIGO DE MANU, O BRAHMANISMO E A LEI DAS XII TÁBUAS ........................ 10
1.2.2 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ADOÇÃO: NO IMPÉRIO ROMANO, FRANÇA, GRÉCIA E
NA IDADE MÉDIA...................................................................................................... 12
1.3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE
ADOÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO ................................................................. 16
1.3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ADOÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1.988....................... 23
1.3.2 ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ................................. 24
1.3.3 ADOÇÃO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 ................................................................ 27

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 30

ADOÇÃO INTERNACIONAL............................................................. 30
2.1 A ADOÇÃO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ............................... 30
2.1.1 NA ITÁLIA....................................................................................................... 36
2.1.2 NA FRANÇA ................................................................................................... 37
2.1.3 NA ALEMANHA ............................................................................................... 38
2.1.4 NA SUIÇA....................................................................................................... 38
2.1.5 NA NORUEGA ................................................................................................. 39
2.1.6 NA HOLANDA ................................................................................................. 40
2.1.7 NA ARGENTINA............................................................................................... 40
2.1.8 NO PARAGUAI ................................................................................................ 41
2.1.9 NO URUGUAI .................................................................................................. 43
2.2 CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE A ADOÇÃO ............................. 43
2.2.1 CONVENÇÃO DE HAIA ..................................................................................... 44
2.2.2 CONVENÇÃO DE LA PAZ – CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE CONFLITO DE
LEIS EM MATÉRIA DE ADOÇÃO DE MENORES ............................................................... 47
2.2.3 CONVENÇÃO RELATIVA À PROTEÇÃO E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM
MATÉRIA DE ADOÇÃO INTERNACIONAL ....................................................................... 49

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 51

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO ................ 51


3.1 INTRÓITO ....................................................................................................... 51
3.2 REQUISITOS PESSOAIS DO ADOTANTE ESTRANGEIRO ........................ 54
3.3 REQUISITOS PESSOAIS DO ADOTANDO ................................................... 56
3.4 DO PROCESSO DE ADOÇÃO ....................................................................... 57
3.5 COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO INTERNACIONAL -
CEJAI ................................................................................................................... 62
3.6 ATUAÇÃO DA CEJAI DE SANTA CATARINA.............................................. 72
3.7 LEI JOÃO MATOS ......................................................................................... 75

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 80

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 83

ANEXOS............................................................................................ 85
RESUMO

A presente pesquisa tem o escopo de discorrer acerca da


Adoção Internacional no Direito Brasileiro, suas formalidades, seus
procedimentos, legislações aplicáveis, enfim, considerar os pontos cruciais deste
tema. Eis que se trata de instituto jurídico que concede a um menor a
possibilidade de conviver em novo lar, com nova família, porém esse novo lar
será em outro país, e para a realização do mesmo, devem ser obedecidas as
normas do país do adotado e do adotante. Faz-se um breve retrospecto acerca do
seu surgimento, desde os primórdios da civilização até o presente momento.
Destaca-se o fato de que esse instituto, ganha frequentemente exigências mais
rigorosas para sua efetivação, e as crianças deixadas nos abrigos são as maiores
prejudicadas, pois, o tempo vai passando, e as mesmas não conseguem
colocação em família brasileira, haja visto, que os nacionais são mais exigentes
no perfil dos menores, enquanto que os estrangeiros, além de possuírem, na
grande maioria, situação financeira favorável, também não fazem qualquer
restrição ao fato da criança ter mais idade, ser negra, ou até mesmo, ser soro
positivo. Além de abordar essa problemática, preocupa-se em tratar de
legislações alíenigenas, fazendo algumas comparações, bem como, explanar
sobre algumas Convenções, de suma importância para a difusão desse instituto.
Cuidará de delimir dúvidas acerca dos requisitos do adotante e adotando, e,
explicar como se dá o processo de adoção e a eficiente atução da CEJAI, e suas
funções. Por fim, trata-se da questão que recebe destaque na mídia nacional, a
aprovação da “Lei Nacional da Adoção”.
INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto tratar sobre a


Adoção Internacional no Direito Brasileiro.

O seu objetivo é discorrer acerca do processo de adoção


internacional, os requisitos, além de fazer um breve comparativo com legislações
alienígenas.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de


conceituar adoção e definir sua natureza jurídica, expõe-se um breve histórico
sobre seu surgimento e sua evolução, seguindo-se de um relato a respeito da
adoção na Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna, também dar-se-á enfoque
sobre a evolução da legislação de adoção brasileira, e por fim a adoção sob o
prisma da Constituição de 1.988, Estatuto da Criança e do Adolescente e o
Código Civil de 2.002, vigentes em nosso país e que disciplinam a presente
matéria.

No Capítulo 2, trata-se de Adoção Internacional, após


conceitua-la será realizado breve síntese sobre suas principais características,
além de discorrer sobre esse tipo de Adoção em alguns países, e findar
abordando acerca das Convenções Internacionais sobre a adoção, dentre as
quais a Convenção de Haia, que é tida como uma das mais importantes.

No Capítulo 3, trata-se de Adoção Internacional no Direito


Brasileiro, dispõe sobre requisitos pessoais do adotante estrangeiro e do
adotando, além de discorrer sobre as CEJAI’s e suas funções.

Por fim, aborda a questão procidemental do processo de


Adoção Internacional, e analisa a Lei Nacional da Adoção, Projeto João Matos,
que está em votação, e que é de enorme relevância para a temática em estudo
em nosso país.
2

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as


Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre a Adoção Internacional no Direito Brasileiro.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes


hipóteses:

 A Adoção Internacional encontra-se regulamentada no


Ordenamento Jurídico Brasileiro.

 O ECA é a base jurídica do sistema de normas brasileiro no que


concerne a Adoção Internacional.

 A função principal das CEJAI’s é o controle, a fiscalização dos


processos de adoção de menores brasileiros por estrangeiros,
visando coibir o tráfico internacional de crianças.

Diante desses tópicos, o presente trabalho vislumbrará de


forma simples, o tema da Adoção Internacional, apresentando entendimentos
doutrinários e jurisprudenciais, a fim de contribuir para o estudo deste tema no
Direito Internacional Privado.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase


de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados
o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente
Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as


Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica.
CAPÍTULO 1

EVOLUÇÃO DA ADOÇÃO

1.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Inicialmente, é preciso trazer a baila o conceito desse


instituto, dentre tantos que existem, para então se fazer maiores aprofundamentos
acerca do mesmo.

No pensamento de Antônio Chaves5, temos a seguinte


definição:

Podemos então defini-la como ato sinalagmático e solene, pelo


qual, obedecidos os requisitos da lei, alguém estabelece,
geralmente com um estranho, um vinculo fictício de paternidade e
filiação legítimas, de efeito limitado e sem total desligamento do
adotando da sua família de sangue.

Orlando Gomes6, define :

Adoção é um ato jurídico pelo qual se estabelece,


independentemente do fato natural da procriação, o vínculo da
filiação. Trata-se de ficção legal, que permite a constituição, entre
duas pessoas, do laço de parentesco do primeiro grau na linha
reta.

Ainda acerca da conceituação, temos a citação de Maria


Helena Diniz7:

“adoção vem ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os


requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de

5
CHAVES, Antônio. Adoção. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p.23.
6
GOMES, Orlando.Direito de Família. 7. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1990, p.349.
7
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. São Paulo: Editora
Saraiva, 1995.
4

qualquer relação de parentesco consangüíneo ou afim, um vínculo


fictício de filiação, trazendo para sua família na condição de filho,
pessoa que, geralmente, lhe é estranha.”

O doutrinador Rodrigues8 , define a adoção como um “ato do


adotante pelo qual traz ele, para sua família e na condição de filho, pessoa que
lhe é estranha”, tratando-se de negócio bilateral e solene.

Já na conceituação de Wald9, tem-se a adoção como “uma


ficção jurídica que cria o parentesco civil, sendo, pois, um ato bilateral que gera
laços de paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal relação inexiste
naturalmente”.

São muitas, as definições, contudo há de se permanecer


uma idéia base, segundo a qual a adoção é um ato jurídico, que resulta na
relação de paternidade e filiação legítima, onde além de ser criados os laços de
parentesco, são criados os laços de amor, pois uma vez adotada uma criança por
um casal, o elo de afetividade e parentesco se estende a todos os outros
familiares.

O ato de amor proporcionado pela atitude de adotar um


estranho, mesmo que de forma jurídica, transcende a dor do abandono
proporcionada a esse menor. Os laços de filiação que serão gerados propõem-se
a substituir a ausência dos pais naturais.

Apresenta-se ainda uma conceituação simples e clara, do


ilustre Valdir Sznick10: “A adoção é um simples ato jurídico (contrato, instituição)
que tem por finalidade criar entre duas pessoas relações jurídicas idênticas às
que resultam de uma filiação de sangue.”

Devido a constante evolução das legislações, a identificação


da natureza jurídica do instituto da adoção sofreu importantes mudanças.

8
RODRIGUES, SiIvio. Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1993. v. VI. p. 345.
9
WALD, Arnold, apud LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. São Paulo: Malheiros,
1995, p.14.
10
SZNICK, Valdir. Adoção. 3. ed. São Paulo: Liv. e Ed. Universitária de Direito, 1999. p.65.
5

É sabido que a natureza jurídica da adoção, sempre foi


objeto de divergência entre os doutrinadores. Muitos consideram como contrato,
outros defendem a idéia de ser um ato solene, ou ato unilateral, ou filiação criada
pela Lei, ou ainda instituto de ordem pública. Há também aqueles doutrinadores
que consideram a adoção como de caráter híbrido, isto é, como um misto de
contrato e instituto de ordem pública.

São muitos os juristas que consideram a adoção como um


negócio jurídico de natureza contratual, é nesse sentido que se expõe o
pensamento de Wilson Donizeti Liberati11:

"(...)Entendem eles que o ato é bilateral tendo o seu termo mútuo


consenso das partes, produzindo, a partir daí, os efeitos
pretendidos e acordado com plena eficácia entre as partes. Dentre
eles, destacam-se Eduardo Espínola, Euvaldo Luz, Gomes de
Castro, (...), Téophile Huc."

A corrente institucionalista, define a natureza jurídica da


adoção como instituto de ordem pública, de profundo interesse do Estado, que
teve origem na própria realidade social e não foi criada pela lei em si, mas sim
regulamentada pelo Direito Positivo, em função da realidade existente.

Dentre os juristas dessa corrente, cita-se Arnaldo Marmitt12


que afirma:

"Na adoção sobressai a marcante presença do estado,


estendendo suas asas protetoras ao menor de dezoito anos,
chancelando ou não o ato que tem status de ação de estado, e
que é instituto de ordem pública. Perfaz-se uma integração total
do adotado na família do adotante, arredando definitiva e
irrevogavelmente a família de sangue."

No entendimento de Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda a


adoção deve ser entendida como um ato solene; já Tito Fulgêncio prefere
considerar e lecionar o instituto como a filiação legítima criada pela lei.

11
LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. p. 17/18.
12
MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993, p. 9/10.
6

Wilson Donizeti Liberati13 entende que:

"Com a vigência da Lei 8.069/90, a adoção passa a ser


considerada de maneira diferente. É erigida à categoria de
instituição, tendo como natureza jurídica a constituição de um
vínculo irrevogável de paternidade e filiação, através de sentença
judicial (art. 47). É através da decisão judicial que o vínculo
parental com a família de origem desaparece, surgindo nova
filiação (ou novo vínculo), agora de caráter adotivo, acompanhada
de todos os direitos pertinentes à filiação de sangue."

A adoção no Código Civil de 1916, consiste num ato bilateral


e solene, sendo indispensável a manifestação da vontade do adotante e adotado
e, imprescindível, a forma notorial. É, portanto, um contrato de direito da família.
Entretanto, com a promulgação do Novo Código Civil, esse conceito desaparece.

Apesar de não haver um entendimento pacífico acerca do


tema, Wilson Donizeti Liberati14, concorda com a maioria dos doutrinadores que
definem a natureza jurídica da adoção como de ordem pública:

Assim, não há como discordar desses ilustres professores


quando analisam a adoção como um instituto de ordem pública,
cuja autoridade e importância do interesse juridicamente tutelado
prevalecem sobre a vontade e manifestação dos interessados, vez
que o novo ordenamento legal impõe uma condição de validade
para o ato: a sentença judicial. Nela, o juiz não imporá decisum
apenas homologatório ao acordo das partes, mas atuará como
Poder do Estado. Na realidade, a sentença firmada pelo juiz tem
caráter constitutivo, resolvendo ou não a mudança do vínculo de
paternidade e filiação.

Conclui-se que apesar das divergências dos ilustres mestres


supra citados acerca da natureza, a corrente que defende a linha de raciocínio do
instituto como ato estatal de ordem pública, é a que mais se aproxima dos ideais
do ECA e quiçá do próprio Ordenamento Jurídico.

13
LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. p.18.
14
LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. p. 19-20.
7

1.2 O SURGIMENTO DA ADOÇÃO E SUA EVOLUÇÃO

No início dos tempos a adoção baseava-se num simples


culto de perpetuação. Sua evolução histórica é merecedora de pesquisa para que
se possa demonstrar a passagem da simples forma de perpetuação, para a
regulamentação desse instituto, através de normas jurídicas.

Preliminarmente se faz necessário abordar sobre o


surgimento do instituto da adoção, que tem seu início no Código de Hamurabi (rei
da Babilônia, onde o Código leva seu nome), que é o mais antigo documento que
se tem notícia que trata sobre a adoção, além é claro de inúmeros outros
assuntos. Seu início se deu entre os anos 2283 - 2241 a.C.. Adoção recebia a
nomenclatura de mârûtu, e haviam três espécies, que eram: a) a adoção com
instituição de herdeiro; b) a adoção sem instituição de herdeiro; c) a adoção
provisória, sendo que nas duas primeiras espécies de mârûtu, era obrigatório
educar o adotado.

A prática da adoção na Babilônia, pode ser facilmente


demonstrada através de trechos do referido Código que fazem menção a adoção
e que merecem ser transcritos, como os artigos 185 a 195:

“Art. 185- Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como


filho, este adotado não poderá mais ser reclamado.

Art. 186- Se alguém adota como filho um menino e depois que o


adotou ele se revolta contra seu pai adotivo e sua mãe, este
adotado deverá voltar à sua casa paterna.

Art. 187- O filho (adotado) de um camareiro a serviço da Corte ou


de um sacerdotisa-meretriz não pode mais ser reclamado.

Art. 188- Se o membro de uma corporação operária (operário),


toma para criar um menino e lhe ensina seu ofício, este nãp pode
mais ser reclamado.
8

Art. 189- Se não ensinou a ele o seu ofício, o adotado pode voltar
à sua casa paterna.

Art. 190- Se alguém não considera entre seus filhos um menino


que tomou e criou como filho, o adotado pode voltar à sua casa
paterna.

Art. 191- Se alguém que tomou e criou um menino como seu filho,
põe sua casa e tem filhos e quer renegar o adotado, o filho adotivo
não deve retirar-se de mãos vazias. O pai adotivo deverá dar-lhe
de seus bens um terço da quota de filho e então deverá afastar-
se. Do campo, do pomar e da casa ele não deverá dar-lhe nada.

Art. 192- Se o filho (adotado) de um camareiro ou de uma


sacerdotisa-meretriz disser a seu pai adotivo ou a sua mãe
adotiva: ‘tu não és meu pai ou mina mãe’, dever-se-á corta-lhe a
língua.

Art. 193- Se o filho (adotivo) de um camareiro ou de uma


sacerdotisa-meretriz aspira voltar à sua casa paterna, se afasta do
pai adotivo e da mãe adotiva e volta à sua casa paterna, se lhe
deverão arrancar os olhos.

Art. 194- Se alguém dá seu filho a am-de-leite e o filho morre nas


mãos dela, mas a ama sem ciência do pai e da mãe aleita um
outro menino, dever-se-á convencê-la de que ela sem ciência do
pai ou da mãe aleitou um outro menino e cortar-lhe o seio.

Art. 195- Se um filho espanca seu pai se lhe deverão decepar as


mãos.”

Tendo em vista, a redação dos artigos supra mencionados,


do Código de Hamurabi, percebe-se que os cuidados do pai adotivo para com o
filho adotado, implicaria na dissolução ou não desse laço de afeto.

Assinala Giuseppe Furlani apud Antonio Chaves15 a


respeito dos referidos artigos:

15
CHAVES, Antônio. Adoção. p.48.
9

“Já naqueles tempos recuados o critério fundamental do legislador


era considerar, antes de mais nada, se o adotado podia ou não
ser reclamado pelos pais legítimos, critério que lhe serve para
ordenar cada um dos dispositivos.

Isto demonstra que o problema jurídico mais importante, de


flagrante atualidade, era saber se e quando o filho adotado podia
voltar à casa paterna, isto é, quando os pais legítimos podiam
reclamá-lo do pai adotivo.

Compreende-se pelo cuidado do legislador em determinar quando


isto pode ocorrer que a maior parte das controvérsias jurídicas
decorrentes do instituto da adoção era a devida contestações
surtas de fatos que se encontravam em íntima conexão com esta
circunstância (Alcune Considerazioni sull’ adozione nelle leggi di
Hammurabi. In Studi in onore di Pietro Bonfante, v. 3).

Conclui-se do artigo 185, ser a criação que faz surgir a


indissolubilidade da relação de adoção. Enquanto o pai adotvivo,
não criou o adotado, este pode retornar à casa paterna; mas, uma
vez educado, tendo o adotante despendido dinheiro e zelo, o filho
adotivo não pode, sem mais, deixá-lo e voltar tranquilamente à
sua casa. Estaria lesado aquele princípio da justiça elementar que
estabelece que as prestações recíprocas entre os contratantes
devam ser iguais, correspondentes, princípio que constitui um dos
fulcros do direito babilonense e asssírio”.

É notória a preocupação da legislador à época em


considerar, se o filho adotado podia ou não ser reclamado por seus pais
biológicos. Em síntese, conclui-se através do artigo 185, que a indissolubilidade
da adoção surge com a criação, enquanto o pai adotivo não criou o filho, o
mesmo poderá voltar à casa dos pais biológicos se assim quiser; mas se o
mesmo foi educado, lhe foi ensinado algum tipo de ofício, e se o pai adotivo
despendiu dinheiro e zelo para com o adotado, o filho não mais poderá retornar à
casa dos pais biológicos. Ainda, dispõe que se houvesse ingratidão por parte do
adotando, a adoção consequentemente poderia ser revogada.
10

1.2.1 O código de Manu, o Brahmanismo e a Lei das XII Tábuas

A adoção exercia uma função religiosa, pois era o último


recurso encontrado para que uma família sem filhos não sofresse a desgraça da
extinção e desse continuidade ao culto doméstico. Podendo ser ilustrada tal
afirmação em conformidade com as leis no Código de Manu (livro IX, 10), “aquele
a quem a natureza não deu filhos, pode adotar um para que as cerimônias
fúnebres não cessem”.

À esse respeito tece comentários Wolkemer16: “(...) o dever de


perpetuar o culto doméstico foi a fonte do direito de adoção entre os antigos e
exatamente por esse motivo só era permitida a adoção de quem não tinha filhos”.

Percebe-se que, os fatores de natureza religiosa impuseram


e justificaram a criação da adoção no direito antigo. Tinha sua razão de ser na
necessidade de salvação do lar pela prevenção da extinção de um culto, só se
permitindo a quem não tinha filhos.

Apesar de ser conhecido o instituto da adoção no Egito, na


Caldéia, na Palestina, são raros os antecedentes que existem para determinar
precisamente os requisitos, os efeitos e até mesmo as formalidades exigidas a
essa época.

O Brahmanismo, dos séculos III ou II a.C., sofreu grandes


modificações, que mais tarde converteu-se no Induismo, contudo mesmo tendo
sido decorridos milênios, os indianos permanecem fiéis a crêndices e também a
preconceitos raciais, que fazem da criança um conceito a parte.

Já entre os hebreus, adoção recebia o nome de levirato, e


através da Bíblia, tem-se indicações da sua existência, bem como procedimentos
e finalidade. Podem ser citados os casos de Efraim e Manés, adotados por Jacó;
Moisés por Térmulus, filha do Faraó; Ester, por Mardoqueu; Sara adotando os
filhos de sua serva Agar.

16
WOLKEMER. Antônio Carlos. Fundamentos de História do Direito. Belo Horizonte: Del Rey,
1996. p. 66.
11

Discorrendo sobre este tema, Sznick17, assim se pronuncia:

“Pelos livros bíblicos se podem examinar algumas dessas noções


do instituto: podiam adotar tanto o pai como a mãe, e a adoção só
se dava entre os parentes; os escravos eram considerados como
parte da Família (Esther, II, 7, Ruth, IV, 16).

A mulher estéril poderia adotar os filhos da serva que ela havia


conduzido ao tálamo do seu marido (Gênisis, XVI, 1 e 2: XXX, 1 e
3)”.

Duas eram as formalidades, então, pelas quais se exteriorizava a


adoção:

1º consistia em uma cerimônia em que se pegava a criança e a


colocava sobre os joelhos do adotante; a mulher, realizava essa
cerimônia, colocando a criança contra seu próprio peito.
(Genesis, XXX, 3; L,23; Ruth IV, 16/71).

2º outra maneira, era a de lançar sobre a pessoa do adotado um manto,


cobrindo-o”.

A Lei das XII Tábuas, que antes era privilégio dos nobres,
passou a chegar ao conhecimento do povo, sendo adotada em Roma pelas
centúrias entre os anos 303 e 304. A Tábua quarta da lei trata do pátrio poder e
do casamento, como se observa a seguir:

“1. É permitido ao pai matar o filho que nasce disforme, mediante


o julgamento de cinco vizinhos.

2. O pai terá sobre os filhos nascidos de casamento legítimo o


direito de vida e de morte e o poder de vendê-los.

3. Se o pai vendeu o filho 3 vezes, que esse filho não recaia mais
sob o poder paterno.

17
SZNICK, Valdir. Adoção. p. 08.
12

4. Se um filho póstumo nasceu até o décimo mês após a


dissolução do matrimônio, que esse filho seja reputado legitimo”.

Tem-se nessa quarta Tábua, a descrição fria e até mesmo


cruel, do pátrio poder à época. O exemplo mais taxativo é o disposto no item 1, da
referida Tábua, que permitia ao pai matar o filho, por motivo torpe, como o
julgamento de cinco vizinhos.

1.2.2 Considerações acerca da adoção: no Império Romano, França, Grécia


e na Idade Média

No Império Romano, a adoção também surgiu como forma


de evitar a extinção da família, garantindo assim a posterioridade do nome, e
perpetuando a continuação dos cultos religiosos. Surge então a adoção como
meio jurídico de admitir a entrada e permanência de um estranho no instituto
familiar, na condição de filho legítimo.

Em Roma, havia dois tipos de instituto: a adoção e a ad-


rogatio, pela qual um cidadão romano adotava uma pessoa sui juris, que consistia
de um pater famílias com todas as pessoas a ele subordinadas, assim como o
seu patrimônio; e a adoção propriamente dita, ato relativo a uma criança
submetida ao poder de seu pai, um filho-família. Também havia à época uma
terceira espécie de adoção, contudo era menos conhecida e utilizada, assim
denominada de “adoção testamentária”.

A adrogatio pertencia ao direito público, por isso posuía


formas solenes e o interesse do estado. A ad-rogação passou por quatro fases,
sendo: 1ª) realizada com a aprovação do pontífice, onde se faziam três preguntas:
uma ao adrogante, a segunda ao adrogado, e por fim a terceira, ao povo. Sendo
feito o qustionamento para as três partes, e as mesmas consentirem, tinha-se a
ad-rogação aprovada. (Gaio, I, 9.); 2ª) A segunda fase também se apresentava
diante do povo, contudo agora perante os comícios curiais, seguindo as mesmas
solenidades da fase anterior (Gaio, I, 102); 3ª) Nessa fase, se realizava na
presença de 30 litores, que representavam o povo. (Institutas, 1,11,1.); e 4ª) No
13

Império, já não era mais necessário a presença do povo, e a ad-rogação era dada
por rescrito do princípe. Foi nessa fase, que se permitiu a adrogação de mulheres
e de impúberes.

O nome “adrogação” deriva justamente dos


questionamentos, das perguntas que eram feitas, sendo a pessoa interrogada,
rogado. A adrogação abrangia o próprio adrogante, sua família: filhos e mulher.

A adoção, ou adoptio, contrário a adrogação, era um instituto


de direito privado, e era destinado para quem estivesse sob o pátrio poder.

Figueiredo18, manifesta-se acerca das formas de adoção,


esclarecendo:

“Em Roma o instituto da adoção foi bastante difundido, também


ligado à necessidade de perpetuação do culto doméstico aos
deuses de família. [...] cabe dizer que entre os romanos havia dois
tipos de instituto: a) a adoção, b) a adrogatio. [...]

A sociedade germânica, no baixo império romano (império


bizantino), utilizava o instituto da adoção como meio de devolução
de bens coletivos.

Também entre os povos bárbaros, especialmente entre os


francos, o instituto era corriqueiro, apenas sendo exigido que o
adotante fosse do sexo masculino, sendo que o adotado herdava
normalmente.

No direito hispano-lusitano existia um instituto similar à adoção,


denominado de perfilatio, com marcado caráter patrimonial,
criando laços de família e direitos sucessórios”.

Importante ressaltar certas exigências para a realização


desses dois institutos, sendo uma delas a idade, tanto na adrogatio quanto na
adoptio, exigia-se a idade mínima de 60 anos para o adotante, sendo que o

18
FIGUEIREDO. Luiz Carlos de Barros. Adoção Internacional: a Convenção de Haia e a
normativa brasileira. Curitiba: Juruá. 2002, p.16.
14

mesmo não podia ter filhos naturais e devia ser 18 anos mais velho que o
adotado. Também se requeria o consentimento do interessado, conforme texto
supra citado.

Existiam duas modalidades de adoção, sendo a plena: era


utilizada apenas quando se tratava de ascendente; e a minus plena: para
estranhos, não havia o pátrio poder, porém, dava direitos sucessórios, onde se
exigia a presença do Juiz.

A adoção apresentou duas fases, conforme o Direito romano


antigo, realizava-se por três mancipações sucessivas, seguidas de uma cessio in
jure, ou por uma só mancipação seguida de uma cessio in jure.

Posteriormente, na época do Império de Justiniano,


desapareceram formalidades antes exigíveis: as partes enunciam sua vontade, o
pai declara concordar dar seu filho, o adotante consente em adotar a criança e se
a mesma não se opõe, e lavrada uma ata das declarações a adoção é realizada.
Simplesmente é um ato solene onde se firma o pátrio poder do adotante sobre a
criança adotada.

A adoção entre os francos, se dava através de uma


cerimônia complicada, onde participava a assembléia do povo, e que para
realizar-se tinha que conter os seguintes caracteres: quem desejava adotar não
devia ter filhos, devia ser varão e realizar a transmissão de sua fortuna a um
donatário ou herdeiro, que saia favorecido com as mesmas vantagens de um filho
legítimo.

Também na França havia a existência de um instituto


similar: a afiliação, que pressupunha a existência de filhos próprios,
diferentemente da adoção.

Eram duas classes de afiliação, sendo que a primeira ocorria


quando dois viúvos que contraíam casamento, tendo filhos do primeiro
matrimônio, os incorporavam à mesma categoria e com os mesmos direitosdos
futuros filhos advindos do novo casamento. A segunda fase acontecia quando um
irmão e irmã contraíam enlace com uma irmã e um irmão respetivamente,
15

considerando a efeito por ambas as partes uma renúncia de direitos em favor do


outro em forma recíproca, através do qual os filhos de ambos os casamentos
disfrutavam nas duas famílias idênticos direitos.

O instituto da adoção era conhecido entre os gregos, e a


palavra “adotar” era “epi ta iera agein”, cortando todos os laços do adotado com
sua família biológica, até mesmo sem poder o adotado prestar funerais ao seu pai
natural. Os gregos denominavam adoção de Tésis, fazendo assim a seguinte
distinção: a) tesei niós, para filhos adotivos; e b) fisei niós, para filhos naturais. Em
Atenas, a denominação era poíesis, eispoíses e tesis, e podiam ser adotados
tanto homens quanto mulheres, contudo as mulheres não podiam adotar. Na
Grécia, a adoção se dava através de documentos, e era permitido adotar mesmo
que se tivessem filhos legítimos.

Devida a influência do Sistema Feudal, a adoção foi


considerada contrária aos direitos eventuais dos senhores sobre os feudos, sendo
utilizada somente nos países que seguiam o Direito Romano, na França, antes da
Revolução, a adoção praticamente não existia .

Salienta-se que sendo diminuída a base religiosa que a


sustentava, e que entendia ser a família cristã apenas aquela oriunda do
sacramento matrimonial, o instituto da adoção entrou em fase de desuso, de
declínio, até desaparecer completamente.

Importante frisar que com a Revolução Francesa, porém, a


adoção voltou à pauta e, posteriormente, mesmo que timidamente, o Código de
Napoleão de 1804 incluiu-a em seu corpo.

Desse modo, a legislação francesa influenciou diversas


culturas, inclusive a brasileira. Passemos então a fazer um breve retrospecto da
legislação de adoção no Brasil.
16

1.3 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE


ADOÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

O processo de adoção no Brasil de início sofreu influências


das Ordenações portuguesas , depois chegou a ser objeto do audacioso Projeto
"Teixeira de Freitas" (art. 217); até ser regulado pelo Código Civil de 1916
(CC/1916). Desse modo, a adoção chega em nosso Direito, com as
características do Direito Português, que por sua vez, resistia ao Direito Romano.

A lei pioneira à tratar da adoção no Brasil, foi a de 22 de


setembro de 1.828, que transferia da Mesa do Desembargo do Paço para os
juízes de primeira instância, a competência para expedição da carta de
perfilhamento.

O Código Civil Brasileiro de 1.916, sistematizou a adoção na


sua Parte Especial, no Livro I (Direito de Família), Capítulo V, Título V, em dez
artigos, que iam do 268 ao 278. Em contrapartida, o referido Código ao consagrar
a adoção, o fez com inúmeras condições, que consequentemente dificultavam
uma maior difusão do referido instituto, dentre as quais a possibilidade de adotar
somente aos maiores de cinquenta anos, sem descendentes legítimos ou
legitimados (art. 268), e, ainda, estabelecia como diferença etária dezoito anos
entre adotante e adotado (art. 269).

Posteriormente, adveio a Lei 3.133/57, que deu nova ênfase


ao instituto da adoção, fazendo várias modificações, procurando facilitar sua
abrangência no convívio social.

Ficou da seguinte forma a redação no Código Civil alterada


pela Lei 3.133/57:

“Art. 368- Só os maiores de trinta anos podem adotar.

Parágrafo único– Ninguém pode adotar, sendo casado, senão


decorridos cinco anos após o casamento.
17

Art. 369- O adotante há de ser, pelo menos, 16 anos mais velho


que o adotado.

Art. 370- Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se
forem marido e mulher.

Art. 371- Enquanto não der contas de sua administração, e saldar


o seu alcance, não pode o tutor, ou curador, adotar o pupilo, ou o
curatelado.

Art. 372- Não se pode adotar sem o consentimento do adotado ou


de seu representante legal se for incapaz ou nascituro.

Art. 373- O adotado, quando menor, ou interdito, poderá desligar-


se da adoção no ano imediato ao que cessar a interdição, ou a
menoridade.

Art. 374- Também se dissolve o vínculo da adoção:

quando as duas partes convierem;

ou nos casos em que é admitida a deserdação.

Art. 375- A adoção far-se-á por escritura pública, em que não


admite condição, nem termo.

Art. 376- O parantesco resultante da adoção limita-se ao adotante


e ao adotado; salvo quanto aos impedimentos matrimoniais, a cujo
respeito se observará o disposto no artigo 183, incisos III e V.

Art. 377- Quando o adotante tiver filhos legítimos, legitimados ou


reconhecidos, a relação não envolve a de sucessão hereditária.

Art. 378- Os direitos e devres que resultam do parentesco natural


não se extinguem pela adoção, exceto o pátrio poder que será
transferido do pai natural para o adotivo.”

Sem mais delongas sobre a referida Lei, é importante


ressaltar, a então inovação trazida pelo artigo 2°, que estabeleceu: “No ato da
adoção serão declarados quais os apelidos da família que passará a usar o
18

adotado”. Consagrando assim o instituto da adoção, e reconhecendo Direitos aos


adotados que antes lhe eram negados ou até mesmo esquecidos.

Não se pode esquecer de mencionar o Código Mello


Mattos, pois como no Brasil, não havia uma legislação que se dedicasse na
proteção e amparo à criança, a exemplo de outros países, foi então que em 05 de
janeiro de 1.921, a Lei 4.242 outorgou poderes ao executivo para executar uma
forma especial de serviço: organizar o serviço de assistência e proteção à infância
abandonada e delinquente. Foi quando o Doutor José Candido de Albuquerque
Mello Mattos, então primeiro juiz de menores da América Latina, resolveu unificar
todas as leis esparsas que versavam sobre o assunto, fazendo uma consolidação
das leis de assistência e proteção aos menores, conforme o Decreto n° 17.943 a
12 de outubro de 1.927, passando-se a chamar o Código de Menores- O Código
Mello Mattos.

A promulgação da Lei n° 4.655, de 02 de junho de 1. 965,


que não revogou a Lei n° 3.133/57, dispunha sobre a Legitimidade adotiva, ou
adoção plena, que foi outro importante patamar na evolução do instituto jurídico
da adoção no Brasil.

Houve através da implantação da mesma, uma preocupação


do legislador em resguardar o interesse do adotado, dando igualdade de
condições com os filhos legítimos.

É advinda uma nova fase no instituto da adoção com a


promulgação da Lei n° 6.697 de 10 de outubro de 1.9 79, que revogou
expressamente a Lei n° 4.655/65 (legitimação adotiv a), recebendo a denominação
de Código de Menores.

Foi através do Código de Menores que foram definidas as


duas formas de adoção: adoção simples (Art. 27 e 28) e adoção plena (Art. 29 a
37). Em relação à nomenclatura que regiam os dois tipos de adoção, tinha-se o
seguinte:

Adoção pelo Código Civil, seria a adoção simples;


19

Adoção pelo Código de Menores, seria a adoção simples e plena.

A adoção simples é autorizada pelo Juiz e aplicável aos


casos em que menores estão em situação irregular. Já a segunda forma de
adoção, manteve e oficializou a legitimação adotiva com a denominação de
adoção plena, incluindo algumas alterações.

O artigo 27 do Código de Menores previa o seguinte:

“Art.27- A adoção simples de menor em situação irregular regear-


se-á pela lei civil, observando o disposto neste código.”

Mediante a previsão de tal artigo, fica a indagação, em que


havendo um Código de Menores, sendo a mesma uma Legislação específica para
tratar do assunto, se fizesse necessário remeter em carácter complementar ou
não para o Código Civil.

A adoção simples só era cabível a menor em situação


irregular, ou seja, àquele que se enquadrasse nos requisitos do artigo 2°, dentre
os quais: sendo o mesmo privado de condições essenciais à sua subsistência,
saúde e instrução obrigatória; sendo o menor vítima de maus-tratos ou abusos; o
menor que se encontrasse em ambiente contrário aos bons costumes
assiduamente; ou que fosse privado de representação ou assistência legal, pela
falta eventual dos pais ou responsável.

Na adoção simples, somente concedida a menores de


dezoito anos em situação irregular, tinha sua formalização através do Poder
Judiciário, sendo que o adotado passava a usar os apelidos da família do
adotante, nesse tipo de adoção era dispensada a escritura pública, o pedido era
dirigido ao Juiz, na forma como dispunha o artigo 28 da referida Lei:

Art. 28 - A adoção simples dependerá de autorização Judicial,


devendo o interessado indicar, no requerimento, os apelidos da
família que usará o adotado, os quais, se deferido o pedido,
constarão do alvará e da escritura para averbação no registro de
nascimento do menor.
20

Há nesse instituto, duas determinações fundamentais.


Sendo a primeira, o estágio de convivência com o menor, por um prazo a ser
fixado pela autoridade judiciária. Feito isto, vêm a segunda determinação que é
realizada a partir dos resultados dessa fase e a conveniência da adoção que
seriam objeto de verificação por parte de funcionários do juizado, a não ser pelo
fato do período de convivência tivesse sido realizado no exterior.

O instituto supra citado, é definido pelo Professor Antônio


19
Chaves :

“Adoção simples era o ato solene pelo qual, obedecidos os


requisitos da Lei, alguém estabelecia, com o menor em situação
irregular, um vínculo fictício de paternidade e filiação legítimas, de
efeitos limitados e sem total desligamento do adotando da sua
família de sangue”.

Na adoção simples, ao contrário da denominada plena, o


adotado não passava a ser filho de modo absoluto, visto que alterava-se apenas o
registro civil quanto a mudança dos pais.

O Código de Menores versava sobre a adoção plena nos


artigos 29 a 37 e 109. Sendo que o artigo 29, repetia com palavras diversas o
artigo 352 do Código Civil, quando afirmava que a adoção plena atribui a situação
de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes,
salvo os impedimentos matrimoniais.

O menor adotado plenamente se equipara em tudo com o


filho legítimo, produzindo assim efeitos pessoais e patrimoniais, residindo assim
uma das grandes diferenças entre a adoção simples e a plena.

Com o Código de Menores, permaneceu em vigor a adoção


plena para menores de até sete anos de idade, como se pode verificar no texto do
artigo 30 do referido Código de Menores:

19
CHAVES, Antônio. Adoção. p.60.
21

“Art. 30- Caberá adoção plena de menor, de até sete anos de


idade, que se encontre na situação irregular definida no inciso I,
artigo 2° desta lei, de natureza não-eventual.

Parágrafo único- A adoção plena caberá em favor de menor com


mais de sete anos se, a época em que completou essa idade já
estivesse sob a guarda dos adotantes.”

Em continuação, era assim a redação dos artigos


consignados no Código de Menores:

“Art. 31- A adoção plena será deferida após período mínimo de


um ano de estágio de convivência do menor com os requerentes,
computando-se, para esse efeito, qualquer período de tempo,
desde que a guarda se tenha iniciado antes do menor completar
sete anos e comprovada a conveniência da medida.

Art. 32- Somente poderão requerer adoção plena casais cujo


matrimônio tenha mais de cinco anos e dos quais pelo menos um
dos cônjuges tenha mais de trinta anos.

Parágrafo único- Provadas a esterilidade de um dos cônjuges e a


estabilidade conjugal, será dispensado o prazo.

Art. 33- Autorizar-se-á a adoção plena ao viúvo ou à viúva,


provado que o menor está integrago em seu lar, onde tenha
iniciado estágio de convivência de três ainda em vida do outro
cônjuge.

Art. 34- Aos cônjuges separados judicialemente, havendo


começado o estágio de convivência de três anos na constância da
sociedade conjugal, é lícito requererem adoção plena, se
acordarem sobre a guarda do menor após a separação judicial.

Art. 35- A sentença concessiva da adoção plena terá efeito


constitutivo e será inscrita no registro civil mediante mandado, do
qual não se fornecerá certidão.

Parágrafo 1°- A inscrição consignará o nome dos pai s adotivos


como pais, bem como o nome dos ascendentes.
22

Parágrafo 2°- Os vínculos de filiação e parentesco anteriores


cessam com a inscrição.

Parágrafo 3°- O registro original do menor será can celado por


mandado e será arquivado.

Parágrafo 4°- Nas certidões do registro nenhuma obs ervação


poderá constar sobre a origem do ato.

Parágrafo 5°- A critério da autoridade judiciária, poderá ser


fornecida certidão para salvaguarda de direitos.

Art.36- A sentença conferirá ao menor o nome do adotante e a


pedido deste, poderá determinar a modificação de prenome.

Art. 37- A adoção plena é irrevogável ainda que aos adotantes


venham a nascer filhos, aos quais estão equiparados aos
adotados, com os mesmos direitos e deveres.”20

A principal diferença entre estes dois tipos de adoção


previstas no Código de Menores, era com relação a filiação atribuída aos
adotados, com ou sem qualquer vínculo com o estado anterior.

Em linhas gerais, o Código de Menores de 1.979 pouco


alterou o conteúdo da denominada “legitimação adotiva”, contudo mudou sua
nomenclatura, passando a chamar-se “adoção plena”, e criou a modalidade da
“adoção simples”.

As primeiras adoções internacionais no Brasil remontam a


década de 70, sendo estas disciplinadas pelo Código Civil de 1916, não havendo
distinção entre adotante brasileiro, estrangeiro aqui residente ou o estrangeiro
domiciliado fora do país e as adoções internacionais eram realizadas por
escrituras públicas.

20
Código de Menores. Lei 6.697, de 10 de outubro de 1.979.
23

Atualmente a legislação vigente que se debruça sobre


adoção é a seguinte: Constituição Federal; Estatuto da Criança e do Adolescente
– ECA; Código Civil Brasileiro – C.C.

1.3.1 Considerações sobre a adoção na Constituição de 1.988

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 6.º, ao cuidar


dos direitos sociais, faz referência à maternidade e à infância como direitos
fundamentais de uma pessoa em desenvolvimento. Porém, é no art. 227,
parágrafos 5.º e 6.º, que os princípios bases assecuratórios à criança e ao
adolescente no que tange a adoção são especificados. Tais princípios referem-se,
entre outros, a fiscalização pelo Poder Público das condições para a efetivação da
colocação da criança ou adolescente em família substituta na modalidade da
adoção, objetivando, por conseguinte, entre outros, evitar o tráfico de infanto-
juvenis.

Importante ressaltar o posicionamento de Figueiredo21, que


apresenta um elenco de avanços trazidos pela Constituição de 1988:

“[...] I) constitucionalização formal do Instituto da Adoção; II)


obrigatoriedade da intervenção do Poder Público quando o
adotando foi criança ou adolescente afastando de vez a aplicação
das regras do Código Civil em tais casos; III) previsão de regras
diferenciadas para adoção internacional; IV) igualdade absoluta
entre filhos biológicos e adotivos; V) proibição de qualquer
designação discriminatória relativa à filiação”.

Na Carta Magna, em seu artigo 227, parágrafo 5.º, temos a


seguinte previsão legal: “A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte dos
estrangeiro.”

21
FIGUEIREDO. Luiz Carlos de Barros. Adoção Internacional: a Convenção de Haia e a
normativa brasileira. p.62.
24

As leis que atualmente determinam e regulam esse


parágrafo são o Estatuto da Criança e do Adolescente em seus arts. 39 a 52 e o
Código Civil, arts. 1.618 a 1.629.

Estabelece o artigo 227, §6° da Lei suprema desse p aís: “Os


filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas
à filiação.”

Essa determinação, é de suma importância, pois, fez com


que desaparecesse todo e qualquer vestígio da discriminação entre os filhos, que
antes era muito alimentada pelas próprias legislações, que faziam várias
restrições ao filho adotivo.

1.3.2 Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente

É inegável, que a adoção teve forte impulso no ano de


1.990, com a promulgação da Lei 8.069 de 13 de julho do referido ano, o assim
denominado até os dias atuais de “Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA”.

O Estatuto revogou o Código de Menores, e trouxe consigo


avanços fundamentais no que diz respeito ao instituto da adoção, dentro da
sistemática jurídica do nosso país.

O ECA, direciona a adoção aos problemas sociais


existentes no Brasil, como a questão dos menores desamparados, esquecendo
as idéias de sucessão ou extinção da família, que antes eram primordiais.

Entre os diversos direitos elencados na Lei n.º 8.069/90,


dispõe que a criança ou adolescente tem o direito fundamental de ser criado no
seio de uma família, seja esta natural ou substituta. O ECA, denominou de
“Família Substituta” aquela que pelo nome substituirá a família consangüínea,
onde o menor ingressa sem laços biológicos com os demais, através dos
processos de guarda, tutela e consequentemente adoção, conforme texto do
artigo 28 do referido Estatuto.
25

A adoção disciplinada pelo ECA, é direcionada à crianças e


adolescentes com idade até dezoito anos, exceto quando já estiverem sob a
guarda dos adotantes anteriormente a esta idade, conforme artigo 40 da lei em
discussão.

Também trouxe inovações em relação a possibilidade de


ser adotante independente do estado civil, o maior de vinte e um anos, desde que
não fosse ascendente ou irmão do adotando (Art. 42). Contudo, há a exigência de
que um dos cônjuges ou concubinos tenha, à época do requerimento, no mínimo,
vinte e um anos, além da estabilidade conjugal (Art. 42, §1° e 2°).

No Brasil, é comum um tipo de adoção, que é chamado de


"adoção à brasileira" que consiste em registrar uma criança em nome dos
adotantes, sem o devido processo legal. Apesar da boa intenção e do perdão
judicial, esse ato continua sendo considerado crime e, portanto, não deve ser
estimulado. Registrar filho de terceiro como próprio é crime, previsto no artigo
242, do Código Penal, pena que pode variar de 2 a 6 anos de reclusão. O registro
falso será sempre falso, eis que jamais se convalida com o tempo.

Foi mantida no Estatuto da Criança e do Adolescente, a


diferença entre adotante e adotado de dezesseis anos (Art. 42, §3°). Outra
inovação importante está sacramentada no §4° do mes mo artigo 42, da Lei em
epígrafe, que reconhece a possibilidade da adoção conjunta por pessoas
divorciadas ou separadas judicialmente, desde que acordem sobre a guarda e o
direito de visitas e o mais importante, que a convivência com o adotado tenha se
iniciado ainda na constância da sociedade conjugal, ora desfeita. Percebe-se
assim a preocupação do legislador em se adequar as exigências e situações à
sua época, pois tal enquadramento é muito adequada no mundo em que vivemos.

Outra peculariedade na adoção via Estatuto da Criança e do


Adolescente, é que se faz necessário o consentimento dos pais biológicos ou do
representante legal, sem o qual, o procedimento não será válido. Em
contrapartida, esse mesmo consentimento será dispensável caso os pais tenham
falecido ou decaído do Pátrio Poder, por sentença judicial irrecorrível (Art. 45,
§1°).
26

Em suma, no Estatuto da Criança e do Adolescente, do


artigo 39 ao 52: é determinado todo o procedimento para a adoção de crianças
brasileiras, seja por nacionais ou estrangeiros domiciliados e residentes em
território nacional, haja vista que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5.◦,
assegura a todos os que aqui residem a igualdade perante a lei. Importante
salientar, ainda, que o brasileiro domiciliado e residente no exterior, terá os
mesmos direitos que o nacional que encontra-se em solo pátrio.

A adoção importa o rompimento de todo o vínculo jurídico


entre a criança ou adolescente e sua família biológica, de maneira que a mãe e o
pai biológicos perdem todos os direitos e deveres em relação àquela e vice-versa
(há exceção quando se adota o filho do companheiro ou cônjuge). O registro civil
de nascimento original é cancelado, para a elaboração de outro, onde irá constar
os nomes daqueles que adotaram, podendo-se até alterar o prenome da criança
ou adolescente.

A adoção tem caráter irrevogável, ou seja, aquele vínculo


jurídico com a família biológica jamais se restabelece, ainda que aqueles que
adotaram vierem a falecer.

Por outro lado, a adoção dá à criança ou adolescente


adotado todos os direitos de um filho biológico, inclusive à herança.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90)


estabelece regras e restrições para a adoção, quais sejam:

a idade mínima para se adotar é de 21 anos, sendo irrelevante o


estado civil;

o menor a ser adotado deve ter no máximo 18 anos de idade,


salvo quando já convivia com aqueles que o adotarão, caso em
que a idade limite é de 21 anos;

o adotante (aquele que vai adotar) deve ser pelo menos 16 anos
mais velho que a criança ou adolescente a ser adotado;
27

os ascendentes (avós, bisavós) não podem adotar seus


descendentes; irmãos também não podem;

a adoção depende da concordância, perante o juiz e o promotor


de justiça, dos pais biológicos, salvo quando forem desconhecidos
ou destituídos do pátrio poder (muitas vezes se cumula, no
mesmo processo, o pedido de adoção com o de destituição do
pátrio poder dos pais biológicos, neste caso devendo-se
comprovar que eles não zelaram pelos direitos da criança ou
adolescente envolvido, de acordo com a lei);

tratando-se de adolescente (maior de doze anos), a adoção


depende de seu consentimento expresso;

antes da sentença de adoção, a lei exige que se cumpra um


estágio de convivência entre a criança ou adolescente e os
adotantes, por um prazo fixado pelo juiz, o qual pode ser
dispensado se a criança tiver menos de um ano de idade ou já
estiver na companhia dos adotantes por tempo suficiente.

Enfim, o ECA, introduziu profundas modificações no instituto


da adoção, tendo como alicerçe a proteção integral da criança e do adolescente.
Também apresenta uma maior preocupação com a adoção internacional, ficando
evidente o interesse do legislador nessa proteção, mediante a imposição de
critérios rigorosos, e, que devem ser cumpridos para que os adotados deixem o
Brasil e passem a conviver com família adotante em um país estrangeiro.

1.3.3 Adoção no Código Civil de 2002

Está sendo findada o retrospecto da legislação do instituto


da adoção no Brasil, contudo, é importante destacar a diferença entre a adoção
disciplinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e o instituto da adoção
regido pelo Código Civil de 2002, que trata da Adoção nos arts. 1.618 a 1.629.

Para os doutrinadores, a Lei n.º 8.069/90, não foi revogada


pelo novo ordenamento jurídico que se impõe, devendo esta ser aplicada em tudo
o que não conflitar com o Novo Código Civil.
28

Importante citar como exemplo prático, a maioridade que se


atinge ao completar 18 anos estando-se apto a todos os atos da vida civil, sendo
assim tudo o que se referir a capacidade civil e suas conseqüências, não mais
será observada a regra do Estatuto da Criança e do Adolescente que faz menção
aos 21 anos de idade.

O Código Civil de 2002 deverá ser observado no que tange


a capacidade para adotar (art. 1.618) que baixa a idade do requerente de 30 anos
para 18 anos, conservando-se, a diferença etária entre adotante e adotado em 16
anos, como disposta no ordenamento civil anterior, também absorvida pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente. O fundamento dessa norma está em se
tentar imitar a família biológica o quanto possível.

Uma novidade introduzida no Código Civil, mas desde


sempre utilizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente diz respeito a
necessidade do contraditório na Adoção, com sentença judicial, tornando-a, após
o trânsito em julgado, em regra, irrevogável. Dessa forma, sepulta-se de vez, o
procedimento previsto no Código de 1916 que permitia que Adoção se desse por
escritura pública e, por um breve lapso temporal, após o adotado atingir a
maioridade, fosse revogada.

Rompe-se, ainda, o vínculo familiar com a família de origem,


salvo os impedimentos matrimoniais. O adotado pelo atual Código Civil, terá todos
os direitos alimentícios e sucessórios, assim como os deveres.O Código Civil de
2002 silencia a respeito de adoção por ascendentes e irmãos.

Apesar de haverem dois sistemas diferentes, tratando da


mesma matéria, percebe-se que há a possibilidade de harmonização entre os
dois ordenamentos e, as divergentes interpretações que certamente surgirão, e
serão objeto de pacificação jurisprudencial.

Observa-se que existe um número inimaginável de crianças


desamparadas aguardando que alguém as adote. Só que elas não são, em sua
maioria, bebês recém nascidos, completamente saudáveis, de olhos claros, etc,
simplesmente são crianças. O processo de adoção se parece muito com uma
29

gravidez. Também demora um tempo, e apesar de todos os cuidados, corre-se o


risco de existirem problemas de saúde, comportamento, etc. Quando nasce um
bebê, a família toda precisa de um tempo de adaptação à nova situação. Isso não
é diferente na adoção; portanto, se alguém resolve adotar uma criança, não deve
ter medo de enfrentar esses problemas, porque filho natural também não é
garantia de felicidade plena.

O maior requisito para adotar uma criança, é a


disponibilidade de amar. Ser pai ou mãe, não é só gerar, é antes de tudo, amar.

Uma vez apresentada de forma sucinta e destacada a


evolução da disciplina jurídica da adoção desde os primórdios da civilização, bem
como no Brasil até os dias de hoje, com o intuito de situar o leitor , passa-se a
abordagem do tema central da presente pesquisa, qual seja, Adoção
Internacional.
CAPÍTULO 2

ADOÇÃO INTERNACIONAL

2.1 A ADOÇÃO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

A adoção internacional é o instituto jurídico que concede a


uma criança ou adolescente a chance de viver em um novo lar, com uma nova
família, sendo que esse novo lar será em outro país, e para tanto devem ser
obedecidas as normas do país do adotado e do adotante.

J. Foyer e C. Labrusse-Riou, apud Liberati22 definiram


a adoção internacional como:

“aquela que faz incidir o Direito Internacional Privado, seja


em razão do elemento de estraneidade que se apresenta no
momento da constituição do vínculo (nacionalidade estrangeira de
uma das partes, domicílio ou resistência de uma das partes
no exterior), seja em razão dos efeitos extraterritoriais a produzir”.

Costa23, assim conceitua adoção internacional:

“Instituição jurídica de proteção e integração familiar de crianças e


adolescentes abandonados ou afastados de sua família de
origem, pela qual se estabelece, independentemente do fato
natural da procriação, um vínculo de paternidade e filiação entre
pessoas radicadas em distintos Estados: a pessoa do adotante
com residência habitual em um país e a pessoa do adotado com
residência habitual em outro”.

Deste modo, tem-se que adoção vem a ser o instituto


jurídico por meio do qual se permite criar o vínculo de filiação entre pessoas

22
LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. p. 30.
23
COSTA, Tarcício José Martins. Adoção internacional: um estudo sociojuridico comparativo da
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p.58.
31

originalmente desconhecidas entre si, mas que residam habitualmente no


território do mesmo país; haja vista que a adoção internacional é a tipologia de
adoção, divergindo apenas no fato de que adotado e adotantes possuem
residência habitual em países diferentes.

Importante citar que a Adoção Internacional teve seu marco


após a Segunda Guerra Mundial, quando centenas de crianças alemãs foram
adotadas por soldados norte-americanos e sua famílias.

Devido ao aumento nos últimos anos dessa espécie de


adoção, Valdir Sznick24 justifica, citando um dos motivos:

“Na generosidade do ser humano, que não olha para latitudes


nem clima, muitos atravessam o Atlântico e vêm para a América
em busca daquilo que a natureza lhes negou (além dos dias
ensolarados, de algo que venha preencher a sua vida: uma
criança), e, que, nessa região, o que não falta é criança
abandonada (...)”.

A expressão adoção internacional, foi recepcionada no


Brasil, como instituto jurídico através do Código de Menores. O artigo 20 do
referido diploma legal possuía a seguinte redação:

Art. 20- O estrangeiro residente ou domiciliado fora do país


poderá pleitear colocação familiar somente para fins de adoção
simples e se o adotando brasileiro estiver na situação irregular
não eventual, descrita na alínea “a”, inciso I, do art. 2° desta Lei.

Deste modo vedou a adoção plena para estrangeiros,


possibilitando somente a adoção de menores em situação de desamparo
permanente, ou seja que estivesse em absoluta ausência dos pais biológicos.
Atualmente este dispositivo encontra-se disciplinado na nossa Carta Magna, em
seu artigo 227, § 5° da CFRB/88, conforme já foi ci tado anteriormente.

Em se tratando do sistema de normas que deve incidir sobre


a adoção internacional, prevalecerá a Lei da nacionalidade, quando adotando e

24
SZNICK, Valdir. Adoção. p.461
32

adotante tiverem nacionalidades diferentes, e a legislação reguladora da adoção


for a do adotante. Como acontece nos seguintes países: Alemanha, Portugal,
Grécia, Japão, Coréia e China.

A lei do domicílio determina que, tendo ambos, o mesmo


domicílio, será aplicada a lei local, contudo se o adotando estiver domiciliado em
outro país, sua lei deverá ser observada.

No Brasil, conforme o disposto no artigo 7° da Lei de


Introdução ao Código Civil (LICC), observa-se a lei do domicílio. Em suma, a
capacidade para adotar e os efeitos da adoção deverão ser apreciados pela Lei
do domicílio do adotante, já a capacidade para ser adotado, será regido pela
legislação do domicílio do adotando.

A adoção formulada por estrangeiro residente ou domiciliado


fora do País, dispõe de critérios mais rigorosos e firmes para a procedência da
Adoção Internacional, tentando deste modo evitar o tráfico de crianças. Acerca do
assunto em tela, colhemos o pensamento do ilustre jurista Valdir Sznick25:

"A adoção internacional, ou seja à procura de crianças brasileiras


por estrangeiros vem crescendo muito nos últimos anos. Daí
surgirem. Ao lado dos interessados diretos, várias intermediações,
quer individuais quer até de pessoas jurídicas, através de
agências de intermediação; como, especialmente por parte dos
adotantes, há os bens intencionados nos que fazem a
intermediação; em regra, muitos não só são mal intencionados
(visando lucro e vantagens pessoais com a adoção), mas até
formando verdadeiras quadrilhas para o cometimento de crimes –
já que os lucros são grandes e em moeda estrangeira – como
seqüestro de recém-nascidos na maioria das vezes, nas próprias
maternidades, ou, então, em locais públicos; outros crimes ainda
não são praticados como estelionatos enganando as mães com
possíveis internações ou, ainda, quando adoções escondendo que
as crianças são destinadas ao exterior; falsificação de
documentos, especialmente do menor."

25
SZNICK, Valdir. Adoção. p. 443-444.
33

Não existe mais a divisão em adoção simples ou plena em


nosso ordenamento jurídico, atualmente contamos somente com a adoção, que
gera plenamente todos os seus efeitos, tanto para solteiros e casados, bem como
nacionais e estrangeiros, abolindo qualquer distinção.

“A adoção transnacional exige, para sua concretização, que


as pessoas que integram a relação processual sejam domiciliadas em países
diferentes. Grande parte da legislação alienígena proclama o domicílio do
adotante como fator identificador da adoção por estrangeiros. Entretanto a
CFRB/88 elegeu, no art. 227, §5º, a nacionalidade do adotante”.26

Ademais, conforme justifica a ilustre professora Cláudia


Lima Marques, in RT 692/15, apud Liberati27:

“quem escreve sobre as regras da adoção internacional no


ordenamento jurídico brasileiro já está escrevendo sobre a adoção
em Direito Internacional Privado. A adoção internacional já foi
tema de várias Declarações, Convenções, Tratados Multilaterais.
A finalidade maior deste esforço internacional é criar mecanismos
eficientes para assegurar o bem-estar da criança adotada, assim
como uma situação jurídica estável tanto no seu país de origem,
como no país dos adotantes. Mas, ainda hoje, a segurança
jurídica das crianças adotadas internacionalmente depende, em
muito, das normas internas sobre adoção, de sua prática e do
controle exercido pelo Poder Judiciário do país de origem, assim
como da confiança que estas normas despertam nos países onde
os adotantes estrangeiros têm seu domicílio”.

Conforme preceitua o art. 51 do ECA:

Art. 51- Cuidando-se de pedido de adoção formulado por


estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, observar-se-á o
disposto no art. 31.

§ 1º - O candidato deverá comprovar, mediante documento


expedido pela autoridade competente do respectivo domicílio,
estar devidamente habilitado à adoção, consoante as leis do seu

26
LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. p. 31.
27
LIBERATI, Wilson Liberati. Adoção Internacional. p. 31.
34

país, bem como apresentar estudo psicossocial elaborado por


agência especializada e credenciada no país de origem.

§ 2º - A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento do


Ministério Público, poderá determinar a apresentação do texto
pertinente à legislação estrangeira, acompanhado de prova da
respectiva vigência.

§ 3º - Os documentos em língua estrangeira serão juntados aos


autos, devidamente autenticados pela autoridade consular,
observados os tratados e convenções internacionais, e
acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público
juramentado.

§ 4º - Antes de consumada a adoção não será permitida a saída


do adotando do território nacional.

Em consonância, o artigo 31, da mesma lei, estabelece a


excepcionalidade da adoção por estrangeiro domiciliado no exterior, ao dispor
que: “A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional,
somente admissível na modalidade de adoção”.

Salienta-se, que o disposto no §1° do art. 51, é ti do como


sábia medida, a real comprovação pelo candito, de sua habilitação à adoção em
seu domicílio, devidamente comprovado através de documento expedido pela
autoridade competente, bem como a apresentação de estudo psicossocial
realizado por agência credenciada, tem-se assim, com o disposto nesse parágrafo
uma medida preventiva de complicações durante o processo de adoção
internacional. Já o § 2° do mesmo artigo, exige q ue seja conhecido o texto
pertinente à legislação estrangeira em vigência, devidamente traduzido, por
tradutor juramentado, pois é necessário que se comprove que o adotando que vai
para outro país, não há conflito entre a norma brasileira e a do país que o acolhe.

Pode-se citar como exemplo prático do conflito de normas, a


Itália, que em seu art. 6° da Lei 184, de 04.05.198 3, determina que a idade dos
adotantes deve superar os dezoito anos e, estabele como limite de quarenta anos
a idade do adotado. Não se faz qualquer menção em nosso país, à esse limite
35

superior de idade, sendo assim, seria concedida em nosso país a adoção e,


estaria impedida de ser homologada na Itália, se essa exigência de idade fosse
descumprida.

Visando coibir o tráfico de crianças e adolescentes, o ECA,


apresenta uma medida protetiva, que é exigida no art. 51, § 4°, que não permite
que o adotando saia do território nacional antes que seja consumada a adoção.
Ainda, nesse sentido, complementa o art. 85, que é indispensável a prévia e
expressa autorização judicial para a criança ou adolescente poder sair do nosso
país, acompanhada de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

O art. 52 do ECA, prevê a possibilidade de ser a adoção


internacional condicionada ao estudo de uma Comissão Judiciária de adoção,
asssim dispõe:

Art. 52 - A adoção internacional poderá ser condicionada ao


estudo prévio e análise de uma comissão estadual judiciária de
adoção, que fornecerá o respectivo laudo de habilitação para
instruir o processo competente.

Parágrafo único - Competirá a comissão manter registro


centralizado de interessados estrangeiros em adoção.

O que pode observar é que, além das exigências normais


expressas no disciplinamento legal, para o processamento das adoções, são
necessários outros requisitos que estão dispostos no art. 51 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, considerando-se a adoção no melhor interesse da
criança, esta será deferida.

Estão funcionando regularmente pelos estados brasileiros,


tais comissões estaduais de adoção internacional, que são responsáveis pelo
controle desse tipo de adoção, pelo fornecimento do laudo de habilitação, dentre
outros outros procedimentos cabíveis à essas comissões. Sua criação, nasceu da
necessidade de se impedir desvios da real finalidade da adoção, para tanto, o
legislador criou esses órgãos para auxiliar no pedido e processo formulados por
estrangeiros.
36

Através dos dados levantados por por essas Comissões,


tem-se a estatística de que o país que apresentou o maior número de adotantes é
a Itália com oitocentos e onze adotantes.

Em se tratando do Código Civil de 2002, o mesmo limita-se


a repetir as previsões do Estatuto da Criança e do Adolescente ao tratar da
adoção de crianças e adolescentes, trazendo poucas modificações. Analisando-
se os artigos do ECA, que referem-se a adoção, verifica-se ainda que o legislador
prefere os adotantes nacionais aos estrangeiros, considerando prioritária a
colocação do adotando em família substituta brasileira e a adoção estrangeira
como medida excepcional – de acordo com o artigo 31 do Estatuto da Criança e
do Adolescente.

Conforme a recomendação do XIII Congresso da


Associação Internacional de Magistrados de Menores e Família, realizado em
Turim, Itália, em 16 a 21/09/90, verifica-se “Que seja confirmado o caráter
subsidiário da adoção Internacional, a qual poderá ocorrer somente depois de
esgotados todas as possibilidades de manutenção da criança na própria família
ou em outra família no país de origem”. Tal postura tem por objeto a manutenção
da cultura de origem do adotando, visando a preservação de sua nacionalidade.

2.1.1 Na Itália

A Itália regulamenta o instituto da adoção através da Lei 184


de 04.05.1983.

A referida lei determina que: estrangeiros menores de


quatorze anos podem ser adotados por cidadãos residentes na Itália, bem como
estabelece a obrigatoriedade do consentimento do adotando maior de quatorze
anos, sendo que, acima de doze anos deverá ser ouvido pessoalmente.

Outra peculariedade dessa legislação, está disciplinada no


art. 6°que estabelece: “A idade dos adotantes deve superar de ao menos dezoito
anos e não mais de quarenta anos a idade do adotando”.
37

Em continuidade, os arts. 7° e 8°, determinam que p ara o


menor ser adotado, deverá ser declarado antes, por decisão judicial, em estado
de adotabilidade, geralmente isso ocorre com os menores considerados em
estado de abandono.

Faz restrições, ao permitir que somente pessoas casadas e,


com pelo menos três anos de matrimônio podem adotar; os cônjuges não podem
estar separados. Ainda, exige que os adotantes devem requerer declaração de
idoneidade, ao Tribunal de Menores, para assim poderem pleitear a adoção.

A adoção é averbada no registro de nascimento do adotado,


não se dando, porém, certidão desse fato, conforme preceitua o art. 27 e, é ato
irrevogável. Em se tratando dos efeitos, o adotando adquire a condição de filho
legítimo dos adotantes, sendo rompidos os laços com a família biológica,
ressalvados os impedimentos matrimoniais.

Ao serem escolhidos os adotantes, recebem eles o menor


considerado em estado de adotabilidade, em pré-adoção, pelo prazo de um ano,
podendo ser prorrogado por mais um ano (art. 25). Ainda dispõe o mesmo artigo:
se os cônjuges adotantes já tiverem descendentes legítimos ou legitimados, estes
sendo maiores de quatorze ano, deverão ser ouvidos.

O art. 22, exige que, havendo irmãos em estado de


adotabilidade, devem ser adotados pelo mesmo casal, afim de que não se
separem os irmãos.

2.1.2 Na França

O Código Civil Francês, juntamente com outras leis


estabelecem as condições para o instituto da adoção.

O art. 347 do Código Civil Francês dispõe que podem ser


adotados: “as crianças para as quais o pai e mãe ou o conselho da família
consentiram validamente na adoção; os pupilos do Estado; as crianças
abandonadas na condições prevista no artigo 350”.
38

A adoção plena só será permitida se for em favor de


crianças com menos de quinze anos de idade, sendo que será obrigatório o
consentimento do adotando que tiver mais de treze anos de idade. Já em se
tratando da adoção simples, será permitida qualquer que seja a idade do
adotando, é necessário o consentimento dos maiores de quinze anos.

Exige ainda, que só podem adotar na adoção plena, os


casados há mais de cinco anos, não podendo estar separados de corpos.
Deverão os adotantes ter mais de trinta anos de idade e estabelece como
diferença etária entre adotante e adotando, quinze anos.

Quanto aos efeitos, a adoção plena é irrevogável e o


adotado adquire os mesmos direitos da filiação legítima, sendo extintas as
relações de parentesco com a família biológica. Já a adoção simples é
irrevogável, e o adotado mantém os vínculos de parentesco com a família
biológica.

2.1.3 Na Alemanha

O Código Civil Alemão, o BGB, nos arts. 1741 a 1766,


disciplinam os requisitos referentes à adoção.

Sendo a adoção requerida por um casal, deverá um dos


cônjuges ter completado vinte e cinco anos e outro vinte e um anos, já a adoção
pleiteado por somente um solicitante, este deverá ter vinte e cinco anos de idade.
Contudo, não se faz menção nesse país, referente à idade do adotando.

Também se faz necessário o consentimento do maior de


quatorze anos, bem como o consentimentodos pais biológicos do adotando. À
esse consentimento é feito uma ressalva, o mesmo só será concedido, após o
menor haver completado oito semanas de vida.

2.1.4 Na Suiça

O Código Civil Suiço, trata da matéria nos artigos 264 a 269.


A qual , dispõe em seu artigo 264 que: “uma criança pode ser adotada, se os
39

futuros pais adotivos prestarem cuidados e educação durante pelo menos dois
anos e seja lícito supor, considerando todas as circunstâncias, que a instituição
de dependência do menor adotado em relação aos pais adotivos sirva ao seu
bem-porvir, sem colocar outros filhos dos pais adotivos em posição inferior”.

Exige-se um estágio de convivência de dois anos, para a


concessão da adoção. Sendo que os casais, para adotar, devem terno mínimo
cinco anos de matrimônio, e cada um dos cônjuges deverá ter mais de trinta e
cinco anos de idade, e ainda, deve haver a diferença de dezesseis anos entre
adotante e adotando.

O consentimento dos pais é indispensável e, também a


concordância da criança, se esta já tiver capacidade para manifestar sua vontade.
Neste país, o adotado adquire a condição de filho do adotante.

2.1.5 Na Noruega

Disciplina essa matéria na Noruega, a Resolução 29 do


Parlamento. A qual estabelece que para um cidadão norueguês, domiciliado
naquele país, possa ingressar com um pedido de adoção de uma criança que
reside no exterior, esse cidadão deverá obter o consentimento antecipado do
respectivo Ministério.

A idade mínima exigida para o adotante é de vinte e cinco


anos, havendo casos especiais em que o Ministério concede a aprovação ao
interessado que tenha vinte anos de idade, estabelce também a idade máxima do
adotante de cinquenta anos.

Na Noruega também considera o consentimento dos pais


biológicos indispensável, e o consentimento poderá ser dado dois meses após o
nascimento da criança, assim como ocorre na Alemanha. O adotando maior de
doze anos de idade deverá expor sua manifestação de vontade, se concorda com
a nova família a qual será membro.

A lei Norueguesa dispõe que: “Assim que for aconselhável,


os pais deverão informar a criança adotada a respeito da adoção. Maiores de
40

dezoito anos têm direito de serem informados, quem são seus pais legítimos pelo
Ministério ou pelo Governador do Condado que concedeu a aprovação da
adoção”.

2.1.6 Na Holanda

Na Holanda a Lei 20.046, conhecida como Lei de Adoção


de Menores Estrangeiros, cuida da adoção de crianças estrangeiras pleiteadas
pelos holandeses.

Para o acolhimento do menor estrangeiro ser eficaz é


necessário uma autorização provisória, escrita, do Ministro da Justiça, que é
válida por três anos, podendo ser prorrogada por mais três anos.

O casal que enseja adotar uma criança estrangeira, deverá


formular pedido escrito ao Ministro da Justiça e deverão se submeter a estudo
que será realizado pelo Conselho de Proteção de Menores, para que seja
verificado a capacidade que esse casal tem de sustentar e educar um menor
estrangeiro, também exige, se o casal já possui filhos próprios ou adotivos, que já
os tenham sustentado e educado por um ano.

O menor estrangeiro não pode ter mais de seis anos de


idade, e a diferença de idade entre um dos cônjuges e o menor estrangeiro não
deve ultrapassar quarenta anos, salvo exceções especiais, que justifiquem a
aprovação do pedido.

2.1.7 Na Argentina

Após inúmeras reformas, a Argentina regulamentou a


adoção na Lei n°24.779/97, de 26 de março de 1997. Na realidade, a referida lei ,
incorpora o regime legal adotivo ao Código Civil Argentino.

Essa Lei mantém as duas modalidades de adoção: a


simples e a plena. Sendo que, a plena está situada no Código Civil Argentino, nos
arts. 23 ao 28, tendo as seguintes características: contitui-se vínculo mais forte
que a adoção simples; é irrevogável; exclusão completa com a família biológica e
41

vinculação completa do adotado com os adotantes; sendo esse tipo de adoção


aplicada em regra aos menores sem filiação definida ou abandonados, podendo
haver outras hipóteses.

A diferença de idade, entre o adotante e adotado, é de 18


anos, e a idade mínima para alguém pleitear a adoção é de 30 anos, conforme o
disposto nos arts. 312, 321 e 315 do referido Código.

No que se refere a questão da adoção conferida no


estrangeiro o Código Civil Argentino assim dispõe, conforme tradução de Gatelli
apud Veronese28:

“Art. 339- A situação jurídica, os direitos e deveres do adotante e


adotado entre si, reger-se-ão pela lei do domícilio do adotado ao
tempo da adoção, quando esta houver sido conferida no
estrangeiro.

Art. 340- A adoção concedida no estrangeiro, de conformidade


com a lei do domícilio do adotado, poderá transformar-se no
regime de adoção plena enquanto se reunam os requisitos
estabelecidos neste Código, devendo autorizar dito vínculo e
prestar seu consentimento adotante e adotado. Se este último for
menor de idade deverá intervir o Ministério Público dos Menores.”

A Argentina, necessita de um código específico para a


infância e juventude, contudo o mesmo ainda não existe, e é por isso que a
adoção ocupa seu espaço temporário no Código Civil Argentino.

2.1.8 No Paraguai

No Paraguai, está em vigor o recente “Codigo de la Niñez y


la Adolescencia”, Lei n°1.680/01. A referida lei, consolida a concepção da criança
e do adolescente como sujeitos de direitos , ratificando, a Convenção
Internacional dos Direitos da Criança, de 1989, é o resultado da busca incessante
de várias instituições, organizações e pessoas em melhorar a condição de vida da
população infanto-juvenil paraguaia.
28
VERONESE, Josiane Rose Petry . Adoção Internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e
sociais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004. p.151-153.
42

Contudo o Código da Infância e Adolescência, Lei 1.680/01,


ao tratar da colocação em família substituta, cuida somente da guarda e da tutela,
deixando o instituto da adoção ser disciplinada a cargo da Lei n°1.136/97, a qual
trata somente sobre essa matéria.

A legislação paraguaia determina que: os adotantes deverão


ter no mínimo vinte e cinco anos de idade; diferença etária entre adotante e
adotado de vinte e cinco anos, o adotando não deverá ter mais de cinquenta
anos.

A lei paraguaia veda a adoção por homossexuais, quando


em seu artigo 8° determina expressamente que adoção por duas pessoas poderá
realizar-se em se tratando de cônjuges ou pessoas conviventes de sexo
diferentes em união de no mínimo quatro anos.

Segundo a tradução de Gatelli apud Veronese29, em matéria


de adoção internacional, assim dispõe a lei paraguaia:

“Art. 6°- Poderão adotar as pessoas residentes no estrangeiro,


sempre que reunam os requisitos exigidos por esta lei . Deferir-se-
á a adoção internacional excepcionalmente e na forma subsidiária
da adoção nacional. Priorizar-se-á a adoção por nacionais ou
estrangeiros com radicação definitiva no país em ralação aos
estrangeiros e nacionais residentes no exterior.”

Mediante o disposto no artigo 25, entende-se por adoção


internacional, aquela efetuada por pessoas residentes no exterior a favor de
crianças e adolescentes domiciliados no Paraguai. Esta modalidade de colocação
em família substituta somente poderá efetivar-se com os países que retificaram a
Convenção de Haia sobre Adoção Internacional.

Ainda dispõe que crianças e adolecentes adotados por


estrangeiros gozarão os mesmos direitos que correspondam à adoção realizada
no país de residência dos adotantes (art.26); a adoção de crianças paraguaias a

29
VERONESE, Josiane Rose Petry . Adoção Internacional e Mercosul: aspectos jurídicos e
sociais. p. 161.
43

pessoas residentes no exterior somente poderá ocorrer quando o juiz confirmar a


ausência de familiares nacionais para adotá-lo (art.27).

Conclui-se, ressaltando que a legislação paraguaia inovou


ao definir como adoção internacional aquela realizada por pessoas residentes em
outro país, em favor de crianças e adolescentes que residem no Paraguai, bem
como inovou ao determinar que este tipo de adoção somente é cabível à aqueles
países que ratificaram a Convenção de Haia.

2.1.9 No Uruguai

A adoção internacional nesse país é muita escassa, pois,


além de possuir uma população pequena, possui sentimento extremamente
nacionalista, priorizando as adoções nacionais.

Por intermédio da Lei 16.137/90, o Uruguai aprova a


Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (20.11.1989),
assumindo assim, o compromisso de adequar sua legislação interna aos termos
da Convenção supra citada.

A Lei que regulamenta a adoção no Uruguai é o “Código de


la Niñez y la Adolescencia”, promulgado em 07.09.2004, pela Lei 17.823, que
constitui a primeira etapa da adequação do direito interno aos compromissos
internacionais, assumidos pela República Uruguaia.

O país conta em seu Código, no Capítulo XI, Seção IV, da


referida Lei, com três tipos de adoção, sendo elas: adoção simples, Legitimação
adotiva e adoção internacional, que está regulamentada do artigo 150 a 157.

2.2 CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE A ADOÇÃO

É inegável, que a mudança de crianças de um país para


outro, de uma família ou cultura diferente, gerasse conseqüentemente certos
problemas na esfera jurídica e social, os quais a Organização das Nações Unidas
44

(ONU) tem procurado auxiliar. Do plano internacional, tem-se buscado uma


regulamentação que controle o aumento da procura de crianças para adoção
internacional; em se tratando do plano interno dos países, tem-se procurado obter
melhor adaptação e consequentemente as reformas legislativas que procuram
regular a matéria e dá solução à esse conflito.

Através dessas novas regras, criadas pelas convenções


internacionais e também das legislações nacionais, tem-se obtido resultados
bastante benéficos com a regulamentação da adoção internacional, pois além de
coibir o tráfico de crianças, há legalidade nos processos, maior confiança entre as
Nações e também aos pretendentes à adoção.

Diante das diferenças no que diz respeito às normas locais


referentes à adoção, tem-se a necessidade de se fixar, regras mínimas básicas
iguais, para não se haver um confronto de normas, dos países em que fazem
parte da relação processual. Surge assim a necessidade de uma legislação mais
uniforme.

Essas divergências, de acordo com o que preceituam muitos


doutrinadores, levaram a necessidade de se observar uma Legislação que fosse
adotada pela grande maioria dos países, surgindo assim, os Acordos
Internacionais, Conferências e as Convenções.

2.2.1 Convenção de Haia

A Convenção de Haia, foi realizada em 15 de novembro de


1965, na cidade de Haia (de onde surgiu o nome). Nesse encontro, a
preocupação dos países participantes foi de regular e resolver os conflitos de leis.

Esta Convenção tinha como prioridade disciplinar as


relações de adoção realizadas entre pessoas domiciliadas em países da Europa,
não se imaginava à época que as adoções teriam esse grande movimento por
todo o mundo. Por esse motivo, a referida Convenção, estabeleceu que as regras
sobre jurisdição tratariam sobre a residência habitual do adotante (art. 3°, a1, ‘a”).
45

Contudo poucos países a ratificaram: Áustria, Inglaterra e


Suiça, observando que, nem mesmo o país sede, a Holanda, prontificou-se a
ratificá-la. O texto da Convenção foi recusado por todos os países em
desenvolvimento e por alguns países que reconheciam a nacionalidade como
fundamento da jurisdição.

Nesse diasapão, pontifica Costa30:

“A Convenção de Haia de Direito Internacional Privado Relativa à


Proteção de Crianças e à Colaboração em Matéria de Adoção
Internacional, de 29 de maio de 1993, pode ser considerada a
primeira Convenção verdadeiramente internacional a regular a
adoção, instituto que de há muito ultrapassou as fronteiras
regionais, para tornar-se um fenômeno de efetivo interesse
mundial.”

A Convenção de Haia, também recepcionada por nossa


Legislação pátria, enumera os requisitos da adoção internacional em seu artigo
4º:

“Art. 4°- As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão


ocorrer quando as autoridades competentes do Estado de origem:

a) tiverem determinado que a criança é adotável;

b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente


as possibilidades de colocação da criança em seu Estado de
origem, que uma adoção internacional atende ao interesse
superior da criança;

c) tiverem-se assegurado de:

1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento


se requeira para a adoção hajam sido convenientemente
orientadas e devidamente informadas das conseqüências de seu
consentimento, em particular em relação à manutenção ou à

30
COSTA, Tarcício José Martins. Adoção internacional: um estudo sociojuridico comparativo da
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p.188.
46

ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a


criança e sua família de origem;

2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham


manifestado seu consentimento livremente, na forma legal
prevista, e que este consentimento se tenha manifestado ou
constatado por escrito;

3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante


pagamento ou compensação de qualquer espécie nem tenham
sido revogados, e

4) que o consentimento da mãe, quando exigido, tenha sido


manifestado após o nascimento da criança; e

d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de


maturidade da criança, de:

1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e


devidamente informada sobre as conseqüências de seu
consentimento à adoção, quando este for exigido;

2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as


opiniões da criança;

3) que o consentimento da criança à adoção, quando exigido,


tenha sido dado livremente, na forma legal prevista, e que este
consentimento tenha sido manifestado ou constatado por escrito;

4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante


pagamento ou compensação de qualquer espécie”.

Em relação ao adotando, sua abrangência atinge o menor


de 18 anos, norma esta que foi regularizada pelo ECA, em seu artigo 40.

Na grande maioria dos casos de adoção, o que impulsiona


os casais estrangeiros, é a relização de uma ajuda humanitária, estando mais
abertos a adotar crianças de etnias diferentes das suas, com mais idade, crianças
47

que em nosso país são consideradas inadotáveis, tendo em vista a grande


procura por parte de casais brasileiros de filhos adotivos que estejam dentro dos
requisitos que eles buscam, dentre as quais características físicas semelhantes
às suas.

2.2.2 Convenção de La Paz – Convenção Interamericana sobre conflito de


leis em matéria de adoção de menores

Em 24 de maio de 1984, foi celebrada a Convenção em La


Paz, e aprovada pelo Decreto Legislativo n.60 de 19.06.1996, através de seus 29
artigos aplicou às adoções plenas, legitimação adotiva e formas afins que
equipararam o adotando à condição de filho legítimo. Eis que, ressaltamos alguns
de seus artigos:

Art. 1°- Esta convenção aplica-se à adoção de menores sob as


formas de adoção plena, legitimação adotiva e outras formas afins
que equipararem o adotado à condição de filho cuja filiação esteja
legalmente estabelecida, quando o adotante (ou adotantes) tiver
seu domicílio num Estado-Parte e o adotado sua residência
habitual noutro Estado-Parte.

Art.3°- A lei da residência habitual do menor regerá a


capacidade, consentimento e demais requisitos para ser adotado,
assim como quais são os procedimentos e formalidades
extrínsecas necessárias para a constituição do vínculo.

Art. 4°- A lei do domicílio do adotante (ou adotantes) regerá:

a) A capacidade para ser adotante;

b) Os requisitos de idade e estado civil do adotante;

c) O consentimento do cônjuge do adotante, se for o caso; e,

d) Os demais requisitos para ser adotante.


48

Na hipótese de que os requisitos da lei do adotante (ou


adotantes) sejam manifestamente menos restritos aos assinalados
pela lei da residência habitual do adotado, regerá a lei deste.

Art. 5°- As adoções que se adaptem à presente Convenção


surtirão seus efeitos de pleno direito, nos Estados-Partes, sem
que se possa invocar a exceção de instituição desconhecida.

Art. 9°- Em caso de adoção plena, legitimação adotiva e figuras


afins:

a) As relações entre adotante (ou adotantes) e adotado, inclusive


as alimentares, e as do adotado com a família do adotante (ou
adotantes), reger-se-ão pela mesma lei que rege as relações do
adotante (ou adotantes) com sua família legítima;

b) Os vínculos do adotado com sua família de origem serão


considerados dissolvidos. No entanto, subsistirão os
impedimentos para contrair matrimônio.

Art. 13°- Quando for possível a conversão da adoção simples em


adoção plena ou legitimação adotiva ou instituições afins, a
conversão se regerá, por escolha do autor, pela lei da residência
habitual do adotado, no momento da adoção, ou pela lei do
Estado onde tenha seu domicílio o adotante (ou adotantes) no
momento de pedir-se a conversão. Se o adotado tiver mais de 14
anos de idade será necessário seu consentimento.

Art. 19°- Os termos da presente Convenção e as leis aplicáveis


segundo ela serão interpretados harmonicamente, e em favor da
validade da adoção e em benefício do adotado.

Mesmo tendo os países membros da OEA, lutado para


conseguir o sucesso dessa Convenção, o mesmo não aconteceu, pois o texto
acordado em La Paz, não respondeu ao clamor internacional na solução dos
conflitos, pelo fato de não conseguir abranger os países de adotantes e
adotandos.
49

Assinaram essa Convenção: Bolívia, Brasil, Colômbia,Chile,


Haiti, México, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, contudo foi ratificada
somente pelo México e Colômbia. Trata-se, de uma Convenção regional, pois,
abrange somente os países latino-americanos.

2.2.3 Convenção relativa à proteção e a cooperação internacional em


matéria de adoção internacional

A referida Convenção, foi realizada na cidade de Haia, onde


se estabeleceu como preocupação central quatro prioridades a respeito da
criança em família substituta: a)que para o desenvolvimento harmonioso da
personalidade da criança, a mesma deve crescer em um ambiente familiar,
rodeada de amor, felicidade e compreensão; b) que façam de tudo para que a
criança permaneça com a família de sangue; c) que a adoção internacional possa
garantir uma família para aquela criança que não encontra uma família no seu
país de origem; d) devem ser estabelecidas medidas para garantir que as ações
internacionais tenham como prioridade o interesse maior do bem estar da criança,
bem como prevenir o tráfico ou sequestro de crianças.

Dispõe o artigo 1° da referida Convenção:

“Art. 1 – A presente Convenção tem por objetivo:

estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam


feitas segundo o interesse superior da criança e com respeito aos
direitos fundamentais que lhe reconhece o direito internacional;

instaurar um sistema de cooperação entre os Estados


contratantes que assegure o respeito às mencionadas garantias e,
em consequência, previna o sequestro, a venda ou o tráfico de
crianças;

assegurar o reconhecimento nos Estados contratantes das


adoções realizadas segundo a Convenção.

O texto da Convenção relativa à proteção e à cooperação


internacional em matéria de adoção, concluída em 29 de maio de 1993, foi
50

encaminhado ao Congresso Nacional, nos termos do inciso I do art. 49 da


C.F.R.B/88, através da mensagem 865/93, do Poder Executivo, e no dia 19.4.95,
o Congresso Nacional editou o Decreto Legislativo nº 65/95, publicado no DOU do
dia 28.4.95, o qual foi aprovado o texto da referida Convenção.

O texto ficou muito mais claro em relação a matéria das


adoções internacionais, se comparada com a Convenção Internacional de La Paz,
tendo como enfoque principal garantir o interesse da criança, promovendo a
cooperação entre os Estados contratantes.

Enfim, estabelece em seus quarenta e oito artigos normas


sobre aplicação da Convenção, Requisitos para Adoção Internacional,
Autoridades Centrais e Organismos Credenciados, Requisitos Processuais,
Reconhecimento e efeitos da adoção, disposições finais e Cláusulas finais.

No entanto, estabelece que em se tratando dos requisitos


dos adotantes, competem às autoridades do Estado de acolhida do menor,
assegurar a possibiliadde dessa adoção, bem como a autorização de entrada e
permanência da criança no Estado de acolhida.

Ao cuidar dos efeitos e reconhecimento de uma adoção


concedida por autoridade competente do Estado de origem, afirma o artigo 23 da
referida Convenção, que será esta reconhecida de pleno direito pelos demais
Estados.

A presente Convenção não admite nehuma reserva, sendo


que não só os Estados participantes, mas qualquer Estado poderá aderir à esta
Convenção.

Agora, iniciaremos o estudo do derradeiro Capítulo, no qual


será abordado a Adoção Internacional no Direito Brasileiro.
CAPÍTULO 3

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO DIREITO BRASILEIRO

3.1 INTRÓITO

Inicialmente é necessário frisar que a adoção internacional,


é caracterizada por criar um parentesco civil entre o adotando e seus pais,
gerando vínculos de paternidade e filiação, sendo que adotante e adotado são
domiciliados em países diferentes.

Conforme já foi mencionado anteriormente a adoção


internacional, é instituto de ordem pública, que concede ao adotado em estado de
abandono a possibilidade de viver em um novo lar, em outro país, estando
garantidos o bem-estar as condições para o desenvolvimento e integração do
mesmo no novo ambiente familiar e no país de residência.

Oliveira31, assim se posiciona:

“A adoção internacional é o instituto jurídico de ordem pública que


concede a uma criança ou adolescente em estado de abandono a
possibilidade de viver em um novo lar, em outro país,
assegurados o bem-estar e a educação, desde que obedecidas as
normas do país do adotado e do adotante”.

Importante salientar que a adoção internacional, não é


considerada regra, e , possui caráter excepcional, pois, só será o adotando
colocado em família substituta estrangeira, somente quando não houver nacional
interessado na adoção, não se trata de uma posição discriminatória entre
nacionais e estrangeiros, mas sim de uma maneira de manter a vinculação a
cultura e a nacionalidade da criança ou adolescente.

31
OLIVEIRA, Luiz Andrade. Adoção conceito e fundamentos. Material didático. Disponível em
http://www.loveira.adv.br/material/adocao1.htm. Acesso em 25 de outubro de 2.008.
52

O Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, já se


manifestou à esse respeito:

EMENTA: ADOÇÃO INTERNACIONAL. Pressupostos.


Excepcionalidade – Cabimento mesmo havendo casais nacionais
– A releitura da norma menorista não conduz à interpretação de
que o casal estrangeiro, que preenche os pressupostos legais
deva ser arredado, invariavelmente quando existem pretendentes
nacionais, principalmente quando já desenvolveram forte afeto ao
menor, cujo interesse deve ser preservado. Casos isolados que
abalaram o instituto de adoção internacional, não devem servir
como escusa para frustrar o pedido, sendo injusto obstar que o
infante desfrute de melhor qualidade de vida em país
desenvolvido. Inteligência dos artigos 28, 31 e 198, VII do ECA.
Apelação provida. Decisão unânime” (Apel. Cível n. 594039844 –
8ª Câm. Cível – TJRS – Rel. Des. José Carlos Teixeira Giorgis –
Julgado em 26.05.1994).

Apesar do caráter de excepcionalidade que a lei exige à


Adoção Internacional de crianças nacionais, não há como se obster diante da
aproximação do menor de família estrangeira, muito menos do elo de afetividade
que já se criou entre os mesmos, simplesmente para favorecer uma família
nacional, com o intuito apenas de que se cumpra com rigor, o Estatuto da Criança
e do Adolescente.

Além do que, tal decisão só faria cessar os direitos do


menor, principalmente, no que concerne a melhor qualidade de vida e o abalo
emocional que a criança possivelmente viria a sofrer, haja vista a relação de
carinho já criada com a família estrangeira. E o mais importante, não estariam
ressalvados, o interesse da criança.

Além de possui caráter de excepcionalidade, a adoção


internacional enfrenta outros obstáculos, dentre os quais não se pode deixar de
mencionar, o que mais dificulta o sucesso das adoções está nas características
53

físicas das crianças, que são exigidas pelos adotantes. Difícil relutar, que o desejo
de encontrar uma criança recém-nascida e com características semelhantes às
dos interessados é mais forte que o sentimento que deveria propulcionar a
adoção, que é o sentimento do amor, o desejo de trazer ao seio da família um
novo membro. Por isso, o número de crianças nos abrigos, é cada vez maior,
pois, mesmo estando aptas para a adoção, não se enquadram no perfil dos
interessados, que basicamente é sempre o mesmo, criança recém-nascida, de
cor branca e preferencialmente de olhos claros.

Assim pontifica Maria Helena Diniz32:

“seria mais conveniente [...] que se estabelecessem medidas


eficazes para punir corruptos e traficantes em vez de criar
exigências para sua efetivação, visto que o estrangeiro está mais
preparado psicológica e economicamente para assumir uma
adoção, não fazendo discriminações atinentes à raça, ao sexo, à
idade ou até mesmo à doença ou defeito físico que o menor possa
ter, ao passo que o brasileiro é mais seletivo, pois, em regra,
procura, para adotar, recém-nascido branco e sadio, surgindo
assim, em nosso país, problemas de rejeição social”.

É mister que, havendo tanto estrangeiros como brasileiros


interessados em adotar uma criança, este último gozará de preferência. Mas
como os nacionais são mais criteriosos, ou melhor, são mais exigentes no perfil
das crianças, acabam permanecendo nos abrigos as crianças com idade mais
avançada, sem qualquer esperança de um dia encontrarem uma família brasileira.
Em contrapartida, é notável que os casais estrangeiros interessados na adoção,
não demonstram qualquer preferência por sexo, cor, ou idade da criança.

Enfim, essa é a triste estatística, presente nos abrigos do


nosso país, onde crianças com mais idade, negras, com certas enfermidades, e
até mesmo irmãos, ficam na expectativa de serem adotados por estrangeiros,
visto tamanha discriminação da qual são vítimas.

32
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. p..503.
54

Se faz necessário nesse momento, explanar acerca dos


requisitos pessoais do adotante e adotando.

3.2 REQUISITOS PESSOAIS DO ADOTANTE ESTRANGEIRO

Um dos requisitos mais importantes é esclarecer quem pode


adotar, e para tanto é preciso conferir os dispositivos da legislação sobre a
adoção do país de origem do adotando e adotante. Para o deferimento do pedido
de adoção de uma criança brasileira por um estrangeiro, as duas leis, do Brasil e
do outro país que faz parte da relação processual, deverão ser analisadas, bem
como preenchidos os requisitos exigidos para tal.

No Brasil, o ECA (Lei 8.069/90), em seus artigos 29, 42, e


51, determina que o interessado em adoção, deverá preencher alguns requisitos,
são eles:

- ser maior de vinte e um anos, independente do estado civil;

- se a adoção for realizada por ambos os cônjuges, pelo menos


um deles deverá ter completado vinte um anos de idade;

- comprovar a estabilidade da relação conjugal

- ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho que o adotando;

- estar habilitado à adoção, segundo as leis do seu país;

- apresentar estudo, exame de sanidade mental;

- ter compatibilidade com a adoção e oferecer ambiente familiar


adequado.

Mesmo sendo preenchidos os requisitos pessoais do


adotante exigidos pela lei, (estabilidade conjugal, estar devidamente habilitado,
estudo psicossocial) jamais poderá ser deferida a adoção àquelas pessoas que
55

revelarem incompatibilidade com a natureza do instituto, ou àquelas que não


oferecam o ambiente familiar adequado.

Outro requisito é sobre a condição civil do adotante, onde as


legislações não são unânimes acerca do mesmo. Certas legislações admitem a
adoção somente por pessoas casadas, outras admitem para os solteiros, viúvos
ou companheiros. A grande maioria tem um mesmo ponto em comum quando diz
que duas pessoas somente podem adotar se forem casados, pois, o que se busca
é o bem estar da criança, introduzindo-a numa família.

Em nossa legislação pátria, o ECA não faz restrição a cerca


da legitimidade ativa para a adoção, podendo o adotante ser casado, solteiro,
viúvo, divorciado e concubino. O art. 42 da lei supra citada, estabelece que todos
aqueles que têm mais de 21 anos podem adotar “independente do estado civil”.

Por ter um um limite de idade mínima baixa, que legitimam o


interessado em adotar, muitas críticas foram feitas tendo em vista, não
considerarem 21 anos, a idade correta para estabelecer que a pessoa está apta a
ser pai adotivo.

Nesse sentido, Arnaldo Marmitt apud Liberati33, expõe:

“não precedem as críticas sobre o limite legal, vez que há muitas


pessoas jovens que por fatores diversos são portadores de maior
responsabilidade do que cidadãos mais idosos. Idade e
maturidade não se confundem. Se aos 21 anos a pessoa pode
matrimoniar-se e constituir família, também pode adotar. Se
alguém atinge a sua maioridade aos 21 anos, tornando-se apto a
reger sua pessoa e seus bens, obviamente também terá
habilitação para educar outra pessoa, que resolve adotar. Se a lei
o considera capaz de casar, procriar e cuidar dos seus próprios
filhos, a conclusão lógica é que também o reputa com tal preparo
para fazer o mesmo com o filho adotivo. A plenitude de sua
capacidade civil o credencia e o qualifica in totum para a tarefa,
eis que pressupõe a maturidade desejada. Nem é de temer-se
nada, neste particular, pois se não reunir os requisitos
indispensáveis, será rejeitado, como o é qualquer outro cidadão,

33
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p. 98.
56

com idade superior a 21 anos. A maturidade, o bom senso, o


equilíbrio, haverão de estar presentes tanto no adotante com 21
anos, como no de mais idade.”

Os estrangeiros podem adotar plenamente, contudo contam


com outras exigências que precisam ser atendidas em relação à produção de
provas documentais, diferentemente das provas exigidas nas adoções nacionais.

Também deve ser observado a diferença de idade entre


adotante e adotado, pois essa diferença etária diverge em vários países. No
Brasil, essa diferença está disposta no art. 42, §3º, do ECA, onde dispõe o
seguinte: “o adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o
adotando”.

Outros países fixam um limite diferente entre adotante e


adotado, por exemplo: Argentina:18 anos; Bélgica:15 anos; Venezuela:18 anos;
México: 17 anos, entre outros. Em contrapartida, alguns países não estabelecem
essa diferença de idade, entre os quais, podemos citar: Alemanha, Dinamarca,
Noruega e Suécia.

Outro requisito, que deve ser citado é o consentimento do


cônjuge ou companheiro. A legislação brasileira contemplou, que o cônjuge do
adotante devesse manifestar seu consentimento na adoção, conforme o disposto
no art. 165, inciso I, do ECA.

Assim, dá-se por conclusa a explanação acerca dos


requisitos pessoais do adotante, passando a tratar dos requisitos do adotando.

3.3 REQUISITOS PESSOAIS DO ADOTANDO

O artigo 23 do ECA, dispõe: “A falta ou a carência de


recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do
pátrio poder.”
57

Liberati34, assim comenta acerca do tema:

“É natural que o primeiro pensamento relativo à adoção de


crianças volta-se para aquela família com dificuldades
econômicas, ou seja, que vive na pobreza. Essa certeza de
direcionamento da clientela da adoção já não existe mais. A lei
proíbe a adoção de criança pelo fato de sua família não ter
condições financeiras.”

No Brasil, são crianças aptas a serem adotadas por


estrangeiros: aquelas pessoas de zero a dezoito anos de idade, que estão fora da
proteção do pátrio poder, ou seja, ninguém exerce sobre eles o poder parental.

No mundo inteiro, o estado de abandono é o denominador


comum a todas as crianças adotáveis, além de ser, a conditio sine qua non,
jurídica e social da adoção. A situação ou o estado de abandono da criança, se dá
pelos seguintes motivos: o falecimento dos pais biológicos , e a criança não tem
outros familiares; quando os pais forem destituídos do poder familiar;
odesaparecimento dos pais é outro motivo da verificação do estado de abandono.

Passemos ao enfoque da sistemática do processo de


adoção internacional.

3.4 DO PROCESSO DE ADOÇÃO

A adoção somente será possível ao estrangeiro, se houver


criança disponível, enfim, é preciso que seja verificado o estado de abandono da
criança ou adolescente, a anterior destituição do poder familiar, a impossibilidade
da colocação dessas crianças em lares de seus familiares. Enfim terão que ser
esgotadas todas essas possibilidades, para então, essas crianças serem
cadastradas e relacionadas pela Justiça da Infância como aptas a serem
adotadas.

34
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p. 110.
58

Estando apto para iniciar o processo de adoção, deve o


adotante protocolar seu requerimento perante a Vara da Infância e da Juventude
ou conforme dispõe o artigo 146 do ECA: “perante o Juiz que exerce essa função,
na forma da Lei de Organização Juduciária local”.

Ainda reforça, ao estabelecer em seu artigo 148, III, do ECA,


que “a Justiça da Infância e da Juventude é competente para: (...) conhecer de
pedidos de adoção e seus incidentes”.

Considera-se, a inscrição do interessado na CEJAI como


pré-requisito do processo de adoção. O pedido inicial, do processo de adoção,
deve conter os requisitos exigidos nos artigos 282 do Código de Processo Civil e
165 do Estatuto, além de outros que são específicos da adoção.

Feito o requerimento inicial e preenchidos os requisitos


necessários, o adotante deverá juntar o Laudo de Habilitação, expedido pela
CEJAI, seus documentos de identificação pessoal bem como da criança.

A declaração de concordância dos pais do adotando, será


providenciada pela própria Justiça, perante a autoridade judiciária e o
representante do Ministério Público, conforme o disposto no artigo 166 do
Estatuto. O laudo social, o comprovante do estágio de convivência, será juntado
pelo próprio Juizado.

Nas hipóteses, em que não foram destituídos do poder


familiar e estando em lugar desconhecido, os pais biológicos do adotando serão
citados por edital para fazer parte da ação. Contudo, se presistir a ausência dos
mesmos, o juiz nomeará curador especial para efetuar a proteção de seus
interesses e promover sua defesa.

Haverá procedimento contraditório sempre que houver


resistência de uma das partes. Desse modo, a ação de adoção seguirá o rito
ordinário previsto no Código de Processo Civil, arts. 282 a 475.
59

O procedimento contraditório nas ações de adoção, será


indispensável quando os genitores do adotando: estiverem vivos, na regência do
poder familiar, ou não concordarem com a adoção.

Há que se citar, que para iniciar o estágio de convivência, o


juiz deverá proferir despacho no ato da inicial, e que o mesmo se inicie
imediatamente após o ingresso da ação. Pois, é o momento em que será criada a
relação familiar, baseada em amor, convivência e confiança.

Em contrapartida, o art. 31 do Estatuto, trata como medida


excepcional , a colocação em família substituta estrangeira, sendo somente
admissível na modalidade de adoção. É nítida, a preocupação do legislador
perante a entrega da criança ao adotante antes do término do processo. O art. 33,
§ 1° do Estatuto, também proíbe a concessão da guar da aos estrangeiros ao
dispor: “A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida,
liminar ou incidentalmente , nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de
adoção por estrangeiros.

A proibição contida nos arts. 31 e 33 do Estatuto, bem como


o art. 51, § 4°do mesmo diploma legal, visou apenas a hipótese do adotante sair
do país com a criança, sem a devida conclusão do processo. Liberati35 assim
leciona em sua obra: “Se concedida a guarda ou autorização, esta deverá ter
validade limitada e circunscrita à comarca processante, não tendo valor como
autorização de viagem ou saída da criança do país”.

O eminente magistrado Samuel Alves de Melo Junior, apud


Liberati36 ensina que:

“Não se pode conceber estágio de convivência sem que a criança


ou adolescente fique na companhia dos pretendentes à adoção
pelo prazo fixado, e, consequentemente, sem que os mesmos
detenham a guarda provisória do mesmo.

35
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.150.
36
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.150/151.
60

Paradoxalmente, porém, o Estatuto, ao mesmo tempo em que


torna obrigatória a realização do estágio, especificando, inclusive,
os prazos mínimos no § 1° do art. 33, parece vedar a concessão
de guarda nos casos de adoção por estrangeiro”.

Deverá, o juiz diante desse conflito de normas, de alguma


forma, conceder a guarda e autorizar que a criança fique sob a responsabilidade
do adotante, durante o estágio de convivência, afim de que se conheçam, e criem
vínculos de amor e carinho.

Também faz parte do processo de adoção, o preenchimento


de um requisito fundamental, que o consentimento à pretensão do adotante do
adolescente maior de 12 anos, disposta no § 2° do a rt. 45 do Estatuto. Sem a
observância do referido requisto obrigatório, o processo é eivado de nulidade.

Parte do processo de adoção, a necessidade do estágio de


convivência, está registrado no art. 46 e seus parágrafos. É no parágrafo 2° do
mencionado artigo, que está disposto o prazo para o estágio de convivência em
caso de adoção por estrangeiro residente e domiciliado fora do país, sendo de no
mínimo quinze dias para crianças até dois anos de idade, e de no mínimo trinta
dias quando o adotando tiver acima de dois anos de idade.

O passo seguinte é tarefa incumbida a equipe


interprofissional de técnicos ou auxiliares do juiz, pois, os mesmos desempenham
função de suma importância no acompanhamento e avalição do estágio de
convivência. A manifestação técnica, conduz a decisão judicial, baseada na
relação vivida entre adotante e adotando, durante esse estágio.

Haja vista, a importância da realização desse relatório, que o


art. 167 do Estatuto, estabeleceu:

Art. 167 - A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das


partes ou do Ministério Público, determinará a realização de
estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional,
decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no
caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
61

Importante salientar, que o Laudo social é tido como alicerce


da sentença judicial, através da realização do referido documento, será gerada
uma decisão e parecer.

Por conseguinte no processo de adoção, tem-se a


manifestação do Ministério Público, disciplinada no art. 168 do ECA, que dispõe:
“Apresentado o relatório social ou o laudo precial, e ouvida, sempre que possível,
a criança ou o adolescente, dár-se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo
prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo”.

Por fim, preenchidos todos os requisitos e formalidades, é


findada a ação de adoção, atráves da sentença definitiva, sendo essa atividade
da autoridade judiciária que resolve o conflito de interesses ou homologa a
vontade das partes. Em poucas palavras, a sentença definitiva, definie-se como a
sentença final de primeiro grau, que põe fim ao litígio.

O art. 47 do ECA, é claro ao estabelecer que é através da


sentença judicial que se constitui o vínculo da adoção. Onde depois de ser
proferida a mesma, ficam esgotadas as possibilidades recursais, tornando a
adoção irrevogável, conforme o art. 48 do mesmo diploma legal.

Em nosso país, opera-se a adoção unicamente através de


sentença judicial. Também encontramos citações na legislação alienígena, que
tratam de disposições semelhantes. Podendo citar como exemplo: Espanha,
Itália, Suécia, Chile, Portugal, França, Argentina, etc.

No momento em que a autoridade judiciária prolata a


sentença de adoção opera-se, concomitantemente, a extinção do poder familiar,
sendo esse efeito protegido pelo art. 1635, IV, do Código Civil, que assim dispõe:
“Extingue-se o poder familiar: (...) IV- pela adoção”.

Desse modo, pela destituição, são extintas todas as relações


afetivas com a família biológica, sendo criada, consequentemente por intermédio
da adoção, uma relação familiar nova e definitiva, atribuindo a condição de filho,
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, à criança adotada.
62

Sendo desligados todo e qualquer vínculo com os pais biológicos e parentes,


salvo os impedimentos matrimoniais, conforme artigo 41 do ECA.

Enfim, com a certeza da segurança e da regularidade


processual nas ações de adoção, obtem-se a tão desejada sentença, que põe fim
a espera das crianças, bem como a busca incessante do novo filho. Dá-se início à
uma nova fase na vida de tantas famílias que se realizam com a chegada desse
novo membro familiar.

3.5 COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO INTERNACIONAL -


CEJAI

Com o intuito de delimir os desvios de finalidade da adoção,


a legislação brasileira sofreu importantes modificações para impedir tais abusos,
que resultou na criação de um órgão auxiliar da Justiça.

Sob esse prisma, o ECA, previu a criação de Comissões


Estaduais Judiciárias de Adoção nos Estados brasileiros.

Assim, dispõe o artigo 52 do ECA:

Art. 52. A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo


prévio e análise de uma comissão estadual judiciária de adoção,
que fornecerá o respectivo laudo de habilitação para instruir o
processo competente.

Parágrafo único. Competirá à comissão manter registro


centralizado de interessados estrangeiros em adoção.

Liberati37 leciona a respeito:

“Originariamente, a Comissão tinha como interesse e finalidade


colocar a salvo as crianças disponíveis para a adoção
internacional, como forma de evitar-lhes a negligência, a
discriminação, a exploração , a violência, a crueldade e opressão.

37
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p. 125-126.
63

Além de perseguir os superiores interesses da criança, a


Comissão procura manter intercâmbio com outros órgãos e
instituições internacionais de apoio à adoção. estabelecendo com
elas um sistema de controle e acompanhamento dos casos
apresentados e divulgando suas atividades. Com isso, a
Comissão busca diminuir o tráfico internacional de crianças,
impedindo que os estrangeiros adotem e saiam do país
irregularmente e descumprindo os mandamentos legais.”

As palavras supra mencionadas do ilustre doutrinador


Liberati, ilustram claramente os objetivos e finalidade da criação de tais
Comissões.

Desta feita, a Comissão Estadual Judiciária Internacional


tem como objetivo principal o controle e a fiscalização das adoções internacionais.

Neste país, cada Estado é responsável pela formação e


funcionamento das CEJAIs. O respaldo para sua criação está no Art. 6º da
Convenção sobre Cooperação Internacional e Proteção de Crianças e
Adolescente em Matéria de Adoção Internacional, de Haia.

Temos como Comissão inaugural, a Comissão instalada no


Estado do Paraná, pelo Decreto Judiciário 21/89, amparada pelo disposto no art.
227 da Constituição Federal.

Para que o adotante cadastre-se junto às Autoridades


Centrais dos Estados, é necessário estar representado por organismo
internacional. O Decreto 5.491, de 18 de julho de 2005, regulamenta a atuação
desses organismos estrangeiros e nacionais para atuação na adoção
internacional.

O objetivo principal do decreto acima mencionado é o


credenciamento desses organismos junto a Autoridade Central Administrativa
Federal, através das CEJA´s, que são as Autoridades Centrais dos Estados, os
organismos em questão organismos, deverão, também, ser oriundos de países
que ratificaram a Convenção de Haia, como também, satisfazer os requisitos
elencados no Art. 4º, inciso II, do Decreto 5.491, que são respectivamente: estar
64

devidamente credenciado pela Autoridade Central de seu país de origem e ter


solicitado à Coordenação Geral de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificações,
da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, autorização para
funcionamento no Brasil, para fins de reconhecimento da personalidade jurídica
às organizações estrangeiras, na forma do Decreto nº 4.667, de 4 de setembro de
1942, se organismo estrangeiro; e por derradeiro perseguir unicamente fins não
lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pela Autoridade Central
Administrativa Federal.

Atendendo aos dispositivos pertinentes a sua formalização,


os organismos, uma vez credenciados, deverão cumprir obrigações atinentes a
manutenção de seu funcionamento em território nacional, obrigações estas
previstas no art. 17, do Decreto 5.491/05.

O credenciamento para atuação dos organismos


estrangeiros em território nacional é expedido por portaria da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, atendidas as formalidades específicas, conforme disposto
no Art. 18 referido Decreto.

Assim sendo, as Comissões Estaduais Judiciárias de


Adoção e os organismos internacionais atuam, de forma conjunta, para a
concretização da adoção pelo estrangeiro.

Mesmo sendo, a criação das Comissões, fruto de boa


intenção, contudo, o legislador foi muito falho ao redigir o referido art. 52 do ECA,
pois, ao invés de tornar a Comissão um órgão, cuja função e atividade fossem
obrigatórias, deixou tal a critério dos Estados.

Deste modo, o CEJAI, não é órgão de natureza obrigatória,


pois, conforme o disposto no ECA, “poderá” a adoção internacional ser
condicionada a estudo prévio e análise das condições dos interessados.
65

A respeito, comenta Liberati38, trazendo a baila como deveria


se dar a redação do referido artigo:

“Se o legislador tivesse usado o termo deverá, a situação seria


diferente: toda adoção realizada por estrangeiros teria que,
obrigatoriamente, passar pelo estudo e análise da Comissão. Na
versão atual do art. 52, a conclusão que se tira é que o órgão
pode ou não ser criado no seu âmbito de atuação.”

Apesar da instalação das CEJAI’s ser facultativa, ficando a


critério dos Estados, o ECA, evidencia em seu texto, ser imprescindível sua
atuação para que o processo de adoção seja legítimo.

Tem-se assim, um órgão de existência opcional, que é


vinculado e administrado pelo Poder Judiciário Estadual, os quais são compostos
por agentes com poder de jurisdição e por técnicos, que são responsáveis pela
elaboração de pareceres consultivos e opinativos em relação à habilitação de
estrangeiros.

De suma importância a atuação dos CEJAI’s, e seu


desempenho tem obtido resultados excelentes em relação à preparação do
interessado estrangeiro para a adoção, bem como o estudo prévio das condições
sociais e psicológicas e análise da estabilidade conjugal.

Suas atividades são embasadas nos princípios do Serviço


Social Internacional, o qual tem a preocupação com a proteção das crianças dos
países envolvidos, principalmente em relação, à adoção.

Por exprimir seriedade em seu trabalho, a CEJAI autentica o


procedimento da adoção internacional, avalizando a idoneidade do interessado,
sendo que, após a expedição do certificado, o interessado estará habilitado, ou
seja apto para requer a adoção.

38
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.126.
66

A CEJAI, atua como órgão consultivo, e possuem


profissionais habilitados para atuarem junto aos órgãos competentes e, proferem
pareceres que serão apensados aos autos do processo em tramitação em suas
respectivas Comarcas.

No que concerne à composição das Comissões, Liberati39


acrescenta que:

“A CEJAI, atuando como órgão consultivo, é composta por


desembargadores e juízes de direito, procuradores e promotores
de justiça, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, advogados,
médicos e outros. Os serviços prestados por esses profissionais à
Comissão não são remunerados, porque são considerados de
natureza pública relevante”.

A atividade exercida pelas CEJAIs agilizam o processo de


adoção, pois ao expedirem o laudo de habilitação, são comprovados que estão
satisfeitos os requisitos básicos necessários para o encaminhamento do processo
de adoção internacional.

Marmit40, assim se posiciona:

“Trata-se de órgão de âmbito estadual, que pode ser integrado ou


presidido por juizes de segundo grau, e que será de suma
utilidade nas capitais dos Estados-membros. Compete-lhe
examinar e facilitar os pedidos, imprimindo-lhes eficiência e maior
chance de acerto e de lisura”.

Liberati41, elenca as atribuições das Comissões Estaduais


Judiciárias de Adoção Internacional, sendo elas:

“I – organizar, no âmbito do Estado, cadastros centralizados de: a)


pretendentes estrangeiros domiciliados no Brasil ou no exterior, à
adoção de crianças brasileiras; b) crianças declaradas em

39
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.129.
40
MARMITT, Arnaldo. Adoção. p.144.
41
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.129.
67

situação de risco pessoal ou social, passíveis de adoção, que não


encontrem colocação em lar substituto em nosso País;

II – manter intercâmbio com órgãos e intituições especializadas


internacionais, públicas ou privadas, de reconhecida idoneidade, a
fim de ajustar sistemas de controle e acompanhamento de estágio
de convivência no exterior;

III – trabalhar em conjunto com entidades nacionais, de


reconhecida idoneidade e recomendadas pelo Juiz da Infância e
Juventude da Comarca;

IV – divulgar trabalhos e projetos de adoção, onde sejam


esclarecidas suas finalidades, velando para que o instituto seja
usado somente em função dos interesse dos adotandos;

V – realizar trabalhos junto aos casais cadastrados, visando


favorecer a superação de preconceitos existentes em relação às
crianças adotáveis;

VI – propor às autoridades competentes medidas adequadas,


destinadas a assegurar o perfeito desenvolvimento e devido
processamento das adoções internacionais no Estado, para que
todos possam agir em colaboração, visando prevenir abusos e
distorções quanto ao uso do instituto da adoção internacional;

VII – expedir o Laudo ou Certificado de Habilitação, com validade


em todo o território estadual, aos pretendentes estrangeiros e
nacionais à adoção, que tenham sido acolhidos pela Comissão.”

Como se viu, são muitas as atribuições dos CEJAI’s, e


apesar da instalação das mesmas não serem obrigatórias, todas tem
desempenhado suas funções com magnifica excelência, haja vista que fazem
com que os interessados cumpram com todos os mandamentos legais exigidos
em nosso país.

Dentre as muitas funções da CEJAI, uma é a disposta no


parágrafo único do artigo 52 do ECA, que traz: “competirá a Comissão manter
registro centralizado de interessados estrangeiros em adoção”.
68

Incumbe as Comissões criar e manter registros centralizados


de interessados em adoção, assim como, o registro de crianças e adolescentes
que estejam em condições jurídicas de serem adotados.

O artigo 50 do ECA, foi taxativo ao dispor em seu texto legal


que: “A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um
registro de crianças e adolescentes em condições de de serem adotados e outro
de pessoas interessadas na adoção”.

Em continuidade dispõe o § 1° do art. Supra mencio nado,


que para o deferimento da incrição deverão manifestar-se os técnicos do Juizado
e o Ministério Público. Já o § 2°, do mesmo artigo, tem-se a imposição de
condições para o deferimento da inscrição: a) os interessados deverão satisfazer
os requisitos legais sobre a adoção; b) os interessados deverão ser considerados
pessoas compatíveis com a natureza da adoção e c) oferecer ambiente familiar
adequado.

Tais exigências, elencadas no artigo 50 e seus parágrafos,


destinam-se a todos os interessados em adoção, seja nacional, seja estrangeiro.

Quando se menciona Registro centralizado, deve-se


entender como aquele administrado pela Comissão, que cuidará de reunir todos
aqueles estrangeiros que estão interessados em adotar um criança ou
adolescente naquele Estado, funcionará então, como um elo de ligação, entre
interessados e crianças em estado jurídico de adoção.

Deste modo, todo estrangeiro que demonstrar interesse em


adotar em certo estado deverá inscrever-se junto à Comissão (CEJA), para que
seja possibilitado sua preparação e habilitação para propor ação de adoção.
Importante ressaltar, que muitas vezes inscrição ou registro é confundida com a
própria habilitação, pois, tanto uma quanto a outra são estágios do mesmo
procedimento, que se conclui com a comfirmação ou não do interessado em
proceder à adoção.
69

Dissertando sobre o tema, Maria Josefina Becker, apud


42
Liberati :

“o cadastro a que se refere o caput do artigo 50 do Estatuto da


Criança e do Adolescente é de grande importância, pois, além de
previnir demoras injustificadas na adoção de crianças com sua
situação legal já definida, permite que se proceda intercâmbio de
informações entre comarcas e regiões, bem como entre as
próprias unidades da Federação. Esses dados, preferentemente
informatizados, serão de muita utilidade para viabilizar a
colocação das crianças em condições de ser adotadas no próprio
País, atendendo, assim, ao que determina a Convenção dos
Direitos da Criança em seu artigo 21, b”.

Compete a cada Comissão providenciar de forma adequada,


o cadastro e armazenamento dos documentos enviados para registro, podendo
ser feita na forma de processo individual, ou reunidos em pastas ou fichários,
sistemas de computador, etc.

Caso esteja o candidato representado por uma Agência


Internacional de Adoção, deverá esta, também ter sua pasta com os documentos
de sua Constituição, indicando seus representantes no País e/ou Estado.

Liberati43 dispõe sobre os requisitos da inscrição:

“A inscrição do candidato à Adoção internacional, perante a


Comissão, deverá conter os seguintes requisitos: a)
endereçamento: o pedido deverá ser dirigido ao presidente da
Comissão; b) qualificação do requerente: nome, estado civil,
profissão, endereço; c) fundamentação legal: artigo e lei
correspondente da adoção; d) pedido: o requerimento de inscrição
e habilitação para a adoção de crianças nacionais; e) data e
assinatura”.

Com o requerimento, os interessados estrangeiros deverão


juntar os seguintes documentos:

42
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.132.
43
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.133.
70

- Certidão de casamento ou certidão de nascimento;

- Passaporte;

- Atestado de sanidade física e mental expedido pelo órgão


de vigilância de saúde do país de origem;

- Comprovação de esterilidade ou infertilidade de um dos


cônjuges, se for o caso;

- Atestado de antecedentes criminais;

- Estudo psicossocial elaborado por agência especializada e


credenciada no país de origem;

- Comprovante de habilitação para a adoção de criança


estrangeira, expedida pela autoridade competente do seu
domicílio;

- Fotografia do referente e do lugar onde habita;

- Declaração de rendimentos;

- Declaração de que concorda com os termos da adoção e de que


o seu processamento é gratuito;

- A legislação sobre a adoção do país de orígem acompanhada de


declaração consular de sua vigência;

- Declaração quanto à expectativa do interessado em relação à


características e faixa etária da criança.

Além da relação dos documentos supra citados, que


deverão ser providenciados pelo interessado, a CEJAI determinará que um dos
seus técnicos produza um estudo social, dando seu parecer sobre as condições
sociais referentes à convivência familiar do interessado e suas perspectivas em
relação a adoção.

Conforme dispõe o artigo 50 do ECA, a CEJAI, também tem


a tarefa de implantar e coordenar um registro de crianças ou adolescentes em
71

condição de serem adotados. O registro ou cadastramento de crianças e


adolescentes poderá abranger aqueles institucionalizados e aqueles em situação
de risco pessoal atendidos pelo Juizado da Infância e da Juventude, estando
aptos a viver em um novo contexto familiar.

O cadastro estando em pleno e correto funcionamento, são


mais prováveis as chances de encontrar uma criança para quem enseja adotar.

Essse cadastro é extremamente necessário, pois, além de


unir a parte interessada àquela outra parte que espera por uma nova família, o
cadastro também é de suma importância porque as informações processadas são
necessárias para a criança no futuro, quando a mesma quiser conhecer suas
raízes, e para o adotante, que poderá prevenir suspresas desagradáveis na área
da saúde, no comportamento familiar, e no lado afetivo.

Além dessas tarefas, o CEJAI, desempenha outra função


importante, que é cadastrar as instituições ou agências internacionais que
preparam os interessados para adotar crianças em outros países.

É incumbência da CEJAI, expedir o Laudo de Habilitação,


que é o documento que autoriza a pessoa estrangeira a requerer a adoção. O
Laudo tem uma única forma obrigatória, que é a declaração de aptidão do
candidato à adoção, uma vez que, não possuindo essa fórmula, não terá valor
algum.

O Laudo, obrigatoriamente, tem prazo de validade, podendo


a fixação desse prazo ser de um, dois ou três anos, conforme definição do
Regimento Interno das CEJAI’s.

Assim leciona Liberati44:

“Com o Laudo de Habilitação, o interessado estará apto a


requerer a adoção em qualquer cidade ou Estado. Uma
preocupação crescente entre as Comissões é a discussão sobre a
extensão de validade do documento. Uns entendem que o Laudo

44
LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional. p.141.
72

deve ter valor circunscrito aos limites do território estadual; outros,


que demonstram ser a maioria, querem o Laudo de Habilitação
tenha validade em todo o território nacional”.

Estando com o Laudo em mãos, o interessado está apto


para requerer a adoção, sendo que a adoção só será imediata se houver crianças
disponíveis.

A preocupação em relação a extensão da validade do


Laudo, conforme supra citado pelo ilustre doutrinador Liberati, encontra
solidificação nos princípios das Comissões que são idoneidade, honestidade e
seriedade, portanto, não pode haver impedimento algum de um Estado aceitar
como válido o Laudo expedido por outro, predominando assim, a extensão da
validade do Laudo por todo o território nacional.

O Laudo de Habilitação não é exclusividade da legislação


brasileira. Em outros países existem documentos semelhantes, expedidos por
órgãos da Justiça ou do Governo, que embora possuam denominações
diferentes, possuem a mesma finalidade. Como exemplo: Suécia, Holanda,
Espanha, França, Noruega, Dinamarca, Suiça, Bélgica, Chile, Itália, etc.

Efetuada essa etapa, do Laudo de Habilitação, o interessado


está apto à adotar, contudo, é importante que passemos a fazer um breve estudo
sobre a atuação da CEJAI em nosso Estado de Santa Catarina.

3.6 ATUAÇÃO DA CEJAI DE SANTA CATARINA

Segue abaixo, parte do texto elaborado por Lippmann45 no


que diz respeito ao CEJAI – Comissão Estadual Judiciária de Adoção
Internacional, dando enfâse ao nosso Estado de Santa Catarina.

45
LIPPMANN, Marcia Sarubbi. Professora de Direito Internacional Privado e Mediação e Arbitragem
do Curso de Direito da UNIVALI/ Itajaí. Professora de Direito Internacional Público e Privado no
Curso de Comércio Exterior e Relações Internacional da UNIBES/ Blumenau. Mestre em Ciência
73

A Comissão Estadual de Adoção de Santa Catarina,


localizada na cidade de Florianópolis, tem como atribuições, no que concerne a
adoção internacional: Receber e processar os pedidos de habilitação, formulados
por estrangeiros interessados em adotar no Estado; Elaborar parecer nos
processos de habilitação para adoção internacional; Auxiliar os Juízos da Infância
e da Juventude nos procedimentos relativos à adoção nacional e internacional de
crianças e de adolescentes, bem como no gerenciamento e manutenção do
Cadastro Único Informatizado de Adoção e Abrigo – CUIDA; promover
intercâmbio com comissões similares de outros Estados, organismos e
instituições internacionais relacionados à adoção, bem como elaborar projetos
para captação de recursos à área da infância e da juventude, junto aos mesmos;
definir as diretrizes de atuação, bem como promover seminários e encontros
visando a formação e a capacitação dos servidores na área de adoção; elaborar
estatísticas e relatórios para avaliação das ações das entidades de abrigo;
elaborar material informativo relacionado à área da Infância e da Juventude;
realizar entrevistas de orientação, acerca dos procedimentos necessários à
adoção, com interessados nacionais e estrangeiros; e acompanhar a adaptação
do adotado no exterior, por meio da análise de relatórios e documentos remetidos
pelos setores técnicos.

Atualmente a CEJAI/SC conta com 8 entidades


internacionais cadastradas, provenientes da Espanha, França, Holanda e Itália,
que são as seguintes: BRADOPTA ( Espanha); ADOPTION ET DE PARRANAIGE
DE LA CHARENTE – COMITE DE COGNAC e ADOPTION ET DE
PARRANAIGE DE LA CHARENTE – COMITE DE LILLE ( França);
WERELDKINDEREN - NICWO ( Holanda); e I Cinque Pani, SJAMO, AIBI e CIFA (
Itália).

Cabe ainda ressaltar que a média de adoções nacionais em


Santa Catarina é de 700 (setecentas) crianças , ao passo que a média das
adoções internacionais é de 30 (trinta) crianças. No que concerne ao perfil das
crianças adotadas, tem-se que aquelas que são adotadas por brasileiros, são

Jurídica pela UNIVALI/Brasil e Doutoranda em Direito Ambiental pela Universidade de


Alicante/Espanha.
74

recém nascidos ou crianças de até 3 anos, brancas , saudáveis e sem irmãos, já


aquelas adotadas por estrangeiros,tem idade entre 7 e 14 anos, pardas ou
mulatas, do sexo masculino e grupos de irmãos.

DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE ADOÇÃO INTERNACIONAL NO ESTADO DE SANTA


CATARINA46

Ano Nº de Crianças Adotas por Estrangeiros Nº de Adoções


Nacionais
1994 08 crianças foram adotadas por estrangeiros
1995 17 crianças foram adotadas por estrangeiros
1996 31 crianças foram adotadas por estrangeiros 992
1997 11 crianças foram adotadas por estrangeiros 788
1998 15 crianças foram adotadas por estrangeiros 701
1999 15 crianças foram adotadas por candidatos 520
estrangeiros:Holanda: 7crianças; Dinamarca: 3 crianças;
Espanha: 2 crianças; Itália: 2 crianças; Estados Unidos: 1
criança.
28 crianças foram adotadas por candidatos estrangeiros: 251
Itália: 10 crianças; Holanda: 8 crianças; Espanha: 5 crianças;
2000 França: 5 crianças.

36 crianças foram adotadas por 18 casais estrangeiros: 282


2001 Itália: 24 crianças sendo: 01 grupo de 7 irmãos, 1 grupo de 5
irmãos, 2 grupos de 4 irmãos e 2 grupos de 2 irmãos.
Holanda: 8 crianças sendo: 2 grupos de 3 irmãos e 2
crianças com problemas de saúde. Espanha: 4 crianças
sendo: 1 grupo de 3 irmãos e 1 criança
2002 33 crianças adotadas por candidatos estrangeiros: Holanda: NÃO FOI
3 crianças; Itália 23 crianças; EUA 03 crianças; Bélgica 02 INFORMADO
crianças; Espanha 02 crianças
2003 34 crianças foram adotadas por estrangeiros, sendo: NÃO FOI
Holanda 07; Itália 22; Espanha 01; França 04 INFORMADO
2004 38 crianças foram adotadas por estrangeiros, sendo: NÃO FOI
Holanda: 09 ; França: 12; Itália: 11; Espanha: 06. INFORMADO
2005 38 crianças foram adotadas por estrangeiros, sendo: NÃO FOI
Holanda: 03; França: 12 ; Itália: 19; Espanha: 04. INFORMADO

46
Os Dados Estatísticos sobre adoção internacional no estado de Santa Catarina, constantes no
presente artigo foram fornecidos pela CEJA/SC, mediante consulta.
75

A CEJAI realiza o acompanhamento da convivência das


crianças brasileiras adotadas, por meio de compromisso firmado entre a
CEJAI/SC e o Tribunal de Justiça do país de destino do adotado.

O acompanhamento é realizado pelo período de 2 (dois)


anos e semestralmente, são enviados relatórios, que indicam as condições dos
menores e sua adaptação a comunidade na qual estão inseridos ( idioma, família,
escola), através da juntada de atestados médicos, avaliações escolares e
fotografias.

Passemos enfim, a discorrer sobre a Lei Nacional da


Adoção.

3.7 LEI JOÃO MATOS

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou, mas


precisamente no dia 20 de agosto de 2.008, o projeto da Lei Nacional da Adoção.
A matéria ainda depende de nova apreciação do Senado, haja visto que o texto
foi emendado pelos deputados.

O referido projeto com tramitação iniciada em 2003, tem o


escopo de consolidar a adoção nacional e internacional, num dispositivo único,
dando total atenção às questões e critérios exigidos para ambas as modalidades.

Apensado a ele, tramita o Projeto de Lei nº 6.222 de 2005,


de autoria da Senadora Patrícia Saboya Gomes, que propõe alterações dos
artigos 46 e 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que pretende o aumento
do período de estágio de convivência cumprido em território nacional por
adotante internacional para, um mínimo de 30 (trinta) dias, com o estudo prévio e
a análise da Comissão Estadual Judiciária de Adoção – CEJA.

A Lei Nacional da Adoção, poderá receber o nome: "Lei


Cléber Matos", em homenagem ao filho adotivo do parlamentar catarinense, que
morreu aos 15 anos vítima de um tumor cerebral.
76

Conforme abordado no presente estudo, o referido assunto


só é tratado em alguns dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e Código Civil.

De acordo com o deputado João Matos (PMDB-SC), autor


de proposta, o texto do Senado era pequeno e tratava de poucos dispositivos, e
que a sua proposta institui uma espécie de estatuto para o processo de adoção
no Brasil. "A lei desburocratiza o processo e estabelece regras para a adoção",
explicou.

O projeto aprovado, traz consigo uma série de novidades ao


tratar dos mais diferentes tipos de adoção, pois, cria regras mais duras para a
adoção, dificulta a adoção internacional de crianças brasileiras, menciona a
adoção de crianças indígenas e quilombolas, além dos prazos estabelecidos para
as crianças permanecerem em abrigos à espera de adoção.

Em relação à possibilidade de adoção de crianças por


casais homoafetivos, por acordo de líderes o dispositivo foi retirado do texto.

A referida lei permite a adoção para indivíduos solteiros,


viúvos e divorciados, desde que tenham mais de 18 anos, e que a diferença de
idade entre o adotante e o adotado seja de no mínimo 16 anos. O projeto prevê a
implantação de cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes para
serem adotadas e dos casais interessados na adoção.

A referida lei coloca a possibilidade de adoção de crianças


brasileiras por estrangeiros como a última das possibilidades. Dificulta e muito, a
adoção internacional, pois, a mesma somente seria possível, quando se esgotar
todas as hipóteses da criança ser incluída em uma família brasileira.

A adoção internacional será disciplinada no Capítulo VI, da


Lei em tramitação, que conseqüentemente, está à um passo de ser validada e
trazer modificações importantes para nossa Legislação.

Importante citar, os artigos que tratam da adoção


internacional, no capítulo VI, haja vista que é o que se tem de mais inovador:
77

Art. 10- Para os fins e efeitos desta Lei, considera-se


internacional a adoção sempre que ocorrerem as circunstâncias
previstas no artigo 2º da Convenção de 29 de maio de 1993,
relativa à proteção de crianças e sobre a cooperação em matéria
de adoção internacional, aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 1,
de 14 de janeiro de 1999 e promulgada pelo Decreto n.º 3.087, de
21 de junho de 1999.

§ 1º Será permitida a adoção internacional para pretendentes


oriundos de países que ainda não ratificaram a Convenção
mencionada no caput deste artigo, desde que não haja candidato
interessado domiciliado no Brasil ou em outro país que tenha
ratificado o aludido instrumento multilateral, que haja acordo de
reciprocidade celebrado com o país de origem do adotante e que
sejam cumpridos os demais requisitos estabelecidos nesta Lei.

§ 2º Os princípios previstos no parágrafo anterior são aplicáveis


quando se tratar de adoção por domiciliados no Brasil em relação
a crianças e adolescentes domiciliados em países que ainda não
ratificaram a aludida Convenção.

Art. 11- A colocação de criança brasileira ou que aqui seja


domiciliada, em família substituta que resida em outro país,
somente poderá ser feita na modalidade de adoção.

§ 1º Excepcionalmente a Autoridade Judiciária poderá, através


de decisão motivada, quando se tratar de problema de saúde,
devidamente comprovado, que implique em tratamento médico ou
hospitalar fora do Brasil, conceder guarda provisória, por prazo
determinado, de criança brasileira ou aqui domiciliada, a pessoa
residente em outro país.

§ 2º Não se aplica a regra contida no "caput" deste artigo à


hipótese de tutela, que for decorrência do exercício do Poder
Familiar, prevista no artigo 1729 do Código Civil Brasileiro, ou
decorrente da aplicação do artigo 1731 daquele mesmo Código.

Art. 12- A adoção internacional em hipótese alguma poderá ser


feita sem que os adotantes sejam ouvidos pela Autoridade
Judiciária brasileira e aqui cumpram o Estágio de Convivência que
for determinado.
78

Art. 13- A Autoridade Judiciária somente poderá dar início ao


processo de adoção internacional de criança ou adolescente
brasileiro ou aqui domiciliado, após ter:

a)decidido que a colocação em família substituta é a solução


adequada ao caso concreto;

b)esgotadas as possibilidades de colocação da criança ou


adolescente em família domiciliada no Brasil;

c)obtido, se for o caso, o consentimento dos titulares do Poder


Familiar e estar certo de que eles foram devidamente orientados e
informados das conseqüências de tal manifestação de vontade,
em especial de que a adoção extinguirá o poder que têm sobre o
filho, na forma do que dispõe o artigo 1635, inciso IV, do Código
Civil Brasileiro;

d)constatado, se não for a hipótese da letra anterior e não se


tratar de criança ou adolescente órfão ou filho de pais
desconhecidos, que houve trânsito em julgado da sentença de
destituição do Poder Familiar;

e)se assegurado no caso da colocação for de adolescente, que o


mesmo foi devidamente informado a respeito do encaminhamento
que está sendo dado e tenham os técnicos concluído que ele está
de acordo e preparado para tal medida;

f)verificado que os requisitos necessários, tanto à luz do que


dispõe esta Lei, como da legislação do país de acolhimento estão
preenchidos.

Parágrafo único. O consentimento previsto no item "c" somente


terá valor se for dado após o nascimento da criança.

Art. 14- Quando o Brasil for o país de acolhimento, antes do


início do processo de adoção no país de origem, ou da vinda da
criança ou adolescente, se a adoção tiver que ser processada
aqui:

a) Autoridade Judiciária verificará se os futuros pais adotivos são


adequados, estão aptos e foram devidamente orientados a
respeito da adoção, encaminhando cópia do processo de
79

habilitação à Autoridade Central Estadual, devidamente


sentenciado, para expedição de Certificado de Conformidade;

b) Autoridade Central Estadual expedirá, no prazo de cinco dias,


o Certificado de Conformidade da habilitação para adoção fora do
Brasil, com validade de dois anos, enviando comunicação à
Autoridade Central Administrativa Federal.

Mesmo que tenha visado a proteção da criança e


adolescente, o Deputado João Matos, autor da lei supra mencionada, dificultou
muito a prática da adoção internacional, e, claramente favoreceu a preferência
pela adoção de crianças brasileiras por pais brasileiros.

Por intermédio da presente pesquisa científica, que teve


como objetivo tratar dos ditames acerca da Adoção Internacional, a qual foram
feitas algumas comparações com legislações alienígenas, e, também se
preocupou, em abordar o referido instituto desde o início da civilização até o
presente momento, onde abordamos a Lei Nacional da Adoção, projeto ainda em
votação em nosso país, conclui-se que que a Adoção era antigamente fruto do
desejo de continuação do culto familiar, afim de que não se extingui-se o mesmo.
E atualmente, a adoção continua sendo motivada, em sua maioria, por casais que
não podem ter filhos, e os quais, não buscam simplesmente uma criança carente
de amor, que anseia por conviver em um ambiente familiar, deixando para trás o
ambiente frio dos abrigos e lembranças, muitas vezes amargas, esses casais
buscam crianças recém-nascidas, de cor branca, olhos azuis, que tenham traços,
características físicas semelhantes às suas, deste modo a Adoção continua sendo
fruto de continuação do culto familiar, muitas vezes motivada pelo egoísmo, ao
invés do amor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia teve como objeto tratar sobre a


Adoção Internacional no Direito Brasileiro.

O seu objetivo foi o de discorrer acerca do processo de


adoção internacional, os requisitos, além de fazer um breve comparativo com
legislações alienígenas.

Para tanto, no Capítulo 1, tratou-se de conceituar adoção e


definir sua natureza jurídica, expõe-se um breve histórico sobre seu surgimento e
sua evolução, seguindo-se de um relato a respeito da adoção na Antiguidade,
Idade Média e Idade Moderna, também deu-se enfoque sobre a evolução da
legislação de adoção brasileira, e por fim analisou-se a adoção sob o prisma da
Constituição de 1.988, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil de
2.002, vigentes em nosso país e que disciplinam a presente matéria.

No Capítulo 2, tratou-se da Adoção Internacional, esta foi


conceituada e realizou-se uma breve síntese sobre suas principais
características, além de discorrer sobre esse tipo de Adoção em alguns países, e
findou abordando acerca das Convenções Internacionais sobre a adoção, dentre
as quais a Convenção de Haia, que é tida como uma das mais importantes.

No Capítulo 3, tratou-se da Adoção Internacional no Direito


Brasileiro, dos requisitos pessoais do adotante estrangeiro e do adotando, além
de discorrer sobre as CEJAI’s e suas funções.

Por fim, abordou a questão procidemental do processo de


Adoção Internacional, e analisou a Lei Nacional da Adoção, Projeto João Matos,
que está em votação, e que é de enorme relevância para a temática em estudo
em nosso país.

A presente monografia foi desenvolvida com base em três


hipóteses que foram confirmadas, ao longo deste trabalho, conforme segue.
81

A primeia hipótese restou comprovada, pois, no primeiro


Capítulo, no qual foi feito um retrospecto do instituto da Adoção, comprova-se que
a Adoção Internacional encontra-se regulamentada no Ordenamento Jurídico
Brasileiro, estando esse instituto alicerçado sobre a Constituição Federal, o
Estatuto da Criança e do Adolescente, e, o Código Civil de 2.002.

A segunda hipótese também restou comprovada, pois


aprofundando os estudos, verificou-se que o ECA é a base jurídica do sistema de
normas brasileiro no que concerne a Adoção Internacional.

A terceira hipótese também foi comprovada, pois no


terceiro Capítulo ao proceder a análise do papel desempenhado pelas CEJAI’s,
ficou evidenciado que sua função principal é o controle, a fiscalização dos
processos de adoção de menores brasileiros por estrangeiros, visando coibir o
tráfico internacional de crianças.

Desta forma, conclui-se que a Adoção Internacional, é um


processo de adoção que envolve pessoas que residem em países diversos, e
para a realização desse instituto, devem ser analisadas as leis dos países de
ambas as partes envolvidas, com isso tem-se um processo mais cauteloso, até
mesmo mais rigoroso, no qual sempre haverá a preocupação em resguardar os
interesses do menor, pois, o mesmo terá que se adaptar a uma nova cultura,
costumes, e idioma.

Outra questão de enorme relevância, é o caráter da


excepcionalidade da Adoção Internacional, segundo o qual, devem prevalecer as
adoções pleiteadas por nacionais ante os estrangeiros. Contudo diante do número
de crianças em estado de abandono, é preferível beneficiá-las com uma família,
uma casa, ainda que a mesma seja em outro país, do que deixá-las nessa
incansável espera.

O fato é que nos deparamos com um sistema de normas


com inúmeras exigências para os estrangeiros que desejam adotar uma criança
brasileira, haja visto, que essas barreiras, essas exigências foram criadas para
coibir o tráfico de menores, afim de que não se desvirtue a Adoção Internacional.
82

Contudo o excesso de cuidados com as Adoções


Internacionais, só dificultam e impossibilitam que famílias estrangeiras, com boas
intenções, adotem crianças brasileiras, garantindo-lhes uma família, um lar, além
da possibilidade de viver em um país, na grande maioria, de primeiro mundo, sem
tantas desigualdades sociais. Na grande maioria dos casos, deveria-se levar em
consideração, o interesse do menor de ser adotado por um casal que demonstra
vontade de tê-lo como filho, lhe dedicando amor e carinho, e para tanto, não se
pode fazer essa distinção entre brasileiros e estrangeiros.
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

BRASIL. Código de Menores. Lei 6.697, de 10 de outubro de 1.979. Brasília:


Senado Federal.

BRASIL. Projeto Lei: 1756/2003. Camara dos Deputados. Deputado João Matos
– PMDB/SC. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/155995.pdf.
Acesso em 10 out. 2008.

BRASIL. Corregedoria-Geral da Justiça de Santa Catarina. CEJA. Adoção.


Disponível em: http://cgj.tj.sc.gov.br/ceja/regimento.htm . Acesso em 08 out. 2008.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação Cível. Adoção


Internacional. Excepcionalidade. Relator: José Carlos Teixeira Giorgis. nº
594039844, da 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
do Sul, Bagé, RS. 26 de maio de 1994. Lex: jurisprudência do Tribunal de Justiça
do RS, nº APC 593115819 APC 591059118 APC 592136972, v.9.

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comparativo da legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998.

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Haia e a normativa brasileira. Curitiba: Juruá. 2002.

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WOLKMER. Antônio Carlos. Fundamentos de História do Direito. Belo


Horizonte: Del Rey, 1996.
85

ANEXOS

Modelo de Requerimento

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA


COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO/SANTA CATARINA
(Nome do casal) ______________________________________, ele nascido
(local e data), profissão___________________, ela nascida (local e data),
profissão____________________, residentes (endereço completo), vêm
respeitosamente junto a Vossa Excelência, requerer a habilitação para posterior
adoção de (número de crianças), em condições jurídicas de adoção, com
fundamento no art. 50, § 1º, da Lei 8.069/90, de 30 de julho de 1990.

NESTES TERMOS
PEDE DEFERIMENTO

Local e data
Assinatura de ambos.

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