Neste livro, Charaudeau tenta descrever os fenômenos discursivos, linguageiros, de informação e de comunicação. Inicialmente, o autor apresenta a diferença entre os conceitos de informação e comunicação, sendo o primeiro essencialmente ligado à questão da linguagem, mas que toda linguagem não é transparente, ela se constitui sob uma perspectiva de mundo. O conceito de comunicação é o fenômeno social que se liga a necessidade da humanidade de se relacionar. Charaudeau analisa o conceito de informação sob a perspectiva da linguagem, e que a linguagem articula um sistema de signos e de valores em uma circunstância de comunicação particular. Portanto, a comunicação trata-se do uso da linguagem em ato de discurso que organiza a circulação da fala numa comunidade social. Dessa maneira, pode-se concluir que a informação implica processo de produção de discurso em situação de comunicação (CHARAUDEAU, 2006: 34). É importante compreender que a categoria de mídia, diferentemente, de comunicação e informação, pode ser apreendida como um suporte organizacional que se apropria das ideias de comunicação e informação sob diversas lógicas, econômica, tecnológica e simbólica. Nesse sentido, o trabalho de Charaudeau é mapear a estrutura que perpassa a máquina midiática e seus lugares de construção de sentido. Há três lugares básicos dessa estrutura midiática. O lugar de condição de produção, de recepção e de construção do produto. A primeira instância configura-se em dois outros lugares, o espaço externo- externo que é o espaço que compreende as condições socioeconômicas da máquina midiática enquanto empresa, nessa área podemos analisar as representações e os estudos ligados a base econômica da mídia (operações financeiras, os preços, a difusão, circuito de distribuição); e o espaço externo-interno que se relaciona às condições semiológicas de produção do produto midiático, nesse lugar pode localizar os estudos das representações do que pode ser difundido, a natureza e os interesses das práticas de produção. Na instância de produção encontra-se a lógica dos efeitos esperados, a lógica que organiza todo o esforço de produção. A instância de recepção também se estrutura sob dois eixos: interno-externo e externo-externo. No primeiro eixo interno-externo se localiza o conceito de destinatário ideal (alvo) que é aquele imaginado pela instância de produção como suscetível de perceber os efeitos visados por ela. E no eixo externo-externo encontra-se o público real, aquele que interpreta as mensagens que são dirigidas segundo as próprias condições de interpretação. É nessa região que se localiza os efeitos produzidos. E a instância de construção do produto é o lugar em que todo o discurso se configura em texto segundo certas regras formais, verbais e semiológicas. É nessa área que se encontra a definição de efeitos possíveis, isto é, todo produto midiático está carregado de efeitos possíveis que esse produto pode produzir. Charaudeau propõe esses três lugares de construção do sentido que permite explicar a informação como uma co-intencionalidade que compreende os efeitos visados, possíveis e produzidos. É necessário compreender todo sentido nunca é dado, mas construído pela ação linguageira do homem na sociedade. Nesse sentido, todo sentido é apreendido através da forma e toda forma por sua vez remete a um sentido. Assim, todo ato de linguagem divide-se em duas ações básicas: transformação e transação. O processo de transformação consiste em estrutura o mundo, a realidade e a vida sob certo número de categorias podendo ser elas de nomeação, qualificação, narração, argumentação e modalização. O processo de transação é processo primordial que dá sentido ao processo de transformação, ele se refere à atribuição de um dado sentido que dá conta da relação social. Assim, todo discurso, antes de representar o mundo, representa uma relação (CHARAUDEAU, 2006: 42). O autor também pretende nessa obra investigar que toda ação discursiva se configura dentro de uma construção social do saber, que por sua vez é constituído como resultado do exercício da linguagem. Portanto, observar as categorias do conhecimento é simultaneamente entender a atividade discursiva. O saber dentro dessa orientação teórica é dividido em dois grupos: saberes de conhecimento e saberes de crenças. Os saberes de conhecimento referem-se aos conhecimentos que procedem da racionalização da existência dos seres e dos fenômenos sensíveis do mundo. É a tentativa de tornar o mundo inteligível determinando fronteiras, estabelecer relações, hierarquias e conjuntos. Os saberes de conhecimento apóiam-se em três categorias bases: existencial (objeto em si e suas propriedades), evenemencial (eventos e processos implicados na existência do objeto) e explicativa (finalidade dos acontecimentos). Os saberes de crenças resultam da ação humana de comentar o mundo sob um olhar subjetivo, não há mais a necessidade de inteligibilidade, mas de avaliação e de apreciação. Essas crenças se inscrevem num determinado enunciado para compartilhar julgamentos e assim desenvolver uma relação de cumplicidade entre os sujeitos. As representações nascem nessa relação entre os saberes de conhecimento e dos saberes de crenças, pois elas constroem uma organização do real através de imagens mentais transpostas em discurso que são dadas como se fossem o próprio real. Em resumo, as representações apontam para um desejo social, produzem normas e revelam sistemas de valores (CHARAUDEAU, 2006: 47). Do mesmo modo que a divisão entre os saberes há a divisão entre valor de verdade e efeitos de verdade. O valor de verdade se constrói de modo exterior ao homem, uma instrumentação explicativa elaborada que se pode definir como um conjunto de técnicas de saber dizer, o que pode se configurar como um ‘ser verdadeiro’. E os efeitos de verdade se localizam mais para o lado de acreditar ser verdadeiro. Surge da subjetividade da relação do sujeito com o mundo. Charaudeau explica que os efeitos de verdade ou valor de verdade variam de acordo com quem é o informante de uma determinada informação ou locutor de um discurso e do mesmo modo podemos compreender que a quem informar também determina uma série de condições de como esses efeitos de sentido podem ser construídos. Por exemplo, se o informador é uma notoriedade constitui uma série de efeitos de sentido e de contrato de informação diferentemente se fosse uma mera testemunha ou uma instituição. A informação também vai apresentar modalidades em relação ao discurso no qual se inscreve, ou seja, eles se estruturam a partir do gênero discursivo do qual ele é devedor. A informação só pode ser entendida através de seus efeitos e apreendida através de uma abordagem qualitativa. O discurso informativo mantém relações de aproximação e distanciamento com os discursos propagandístico, demonstrativo e didático, mas que o discurso informativo apresenta uma posição central em comparação com os demais, pois os outros discursos compreendem de algum modo uma parte da atividade informativa. Além dos efeitos produzidos, dos gêneros discursivos, e das instâncias de produção, recepção e do produto, a construção da modalidade informativa vai depender do contrato simbólico que se estabelece, isto é, todo discurso depende das condições especificas da situação de troca. Os parceiros da troca linguageira estão ligados a um acordo prévio que é a referência pela qual a troca simbólica se constitui. Essas condições específicas da troca estão organizadas em duas ordens: dados externos e dados internos. Os dados externos são relacionados às constantes que permanecem estáveis nos atos de linguagem, ela pode ser identificada nas condições de identidade (traços identitários), finalidade (objetivo), propósito (temática) e dispositivo (instância material). Os dados internos são aqueles propriamente do discurso e que permitem responder como dizer. Repartem-se em três espaços de comportamentos linguageiros: espaço de locução (justificar o motivo de tomar a palavra), relação (construir a relação), tematização (domínio do saber). Nenhum ato de comunicação está previamente determinado, apenas uma parte está determinada, pois os agentes dispõem de uma margem de manobra que permite realizar seus projetos de fala. Depois de tentar mapear, hierarquizar e nomear como a informação se desenvolve dentro dos atos discursivos, Charaudeau tenta entender o discurso na lógica da comunicação midiática e de suas instâncias de produção e de recepção. A instância é compreendida como entidade composta de vários tipos de atores. A instância de produção contribui para fabricar uma enunciação aparentemente unitária e homogênea cuja intencionalidade corresponde a um projeto comum que representa a ideologia do organismo de informação. A instância de recepção relaciona-se com a instância de produção de forma desigual e ambígua, pois a relação de troca se desenvolve sem que haja acesso as reações dos receptores, sem o diálogo ou mesmo as suas características. A instância de recepção se desenvolve em duas grandes categorias: destinatário-alvo e o receptor- público; o primeiro é um conjunto impreciso de sujeitos que podem se associar a valores ético-sociais propostos pela instância de produção que por sua vez se subdividem em alvo intelectivo e alvo afetivo. O alvo intelectivo é aquele sujeito capaz de avaliar de modo racional a notícia. O alvo afetivo é aquele que se acredita não avaliar de modo racional, mas sim de modo inconsciente através da ordem emocional. A segunda grande categoria da instância de recepção é do receptor-público é a região que é coberta pela pesquisas e estudos de comportamento do consumidor. No último ponto dessa série de análises feitas por Charaudeau é da finalidade do contrato de comunicação que se acha na tensão entre duas visadas: do fazer saber (informação) e do fazer sentir (captação). Cada uma dessas visadas constitui-se sob uma lógica própria e cada uma tem suas contradições e desafios. A visada de informação que se relaciona ao fazer saber ao cidadão o que aconteceu ou está acontecendo no mundo social. Ela se inscreve no desafio de credibilidade, porque baseiam sua legitimidade no fazer crer que o que é dito é verdadeiro. Assim, engajam-se num jogo de verdade que consiste em responder aos diferentes imaginários sociais que as questionam. A visada de captação é orientada para o busca do maior número de cidadãos consumidores de informação, mas quanto maior for o número a atingir, menos os meios para atingi-los dependem de uma atitude racionalizante. Essa instância está condenada a procurar emocionar seu público, a mobilizar sua afetividade. O contrato de informação midiática está fundamentalmente marcado pela contradição, de fazer saber que deve buscar um grau zero de espetacularização para satisfazer o principio de credibilidade; de fazer sentir que deve escolher a encenação da informação para produzir efeitos de dramatização para captar consumidores.