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E MEDIEVAL
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Cursos: Graduação
Disciplina: História da Igreja Antiga e Medieval
Versão: jul/2013
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Temas introdutórios e comunidade primitiva. Constituição e organização da Igre-
ja. Heresias antigas, escritores cristãos e concílios ecumênicos. Perseguições
romanas e aliança com o Estado. Queda de Roma (476). Introdução ao Cris-
tianismo medieval e Cristandade, Feudalismo. Cisma de Oriente. Islamismo e
Cruzadas. Heresias Medievais e Inquisição. Cátaros, valdenses, apocalípticos.
Ciência escolástica e a mística medieval. Movimentos de renovação eclesial
(mendicantes). Transição entre Idade Média e Idade Moderna Idade. Período
pré-luterano.
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1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Você iniciará o estudo de História da Igreja Antiga e Medie-
val, que é uma das disciplinas que compõem os Cursos de Gradu-
ação na modalidade EaD. Teremos satisfação em desenvolver esta
disciplina com você!
10 © História da Igreja Antiga e Medieval
Fundação do Cristianismo
O Cristianismo foi fundado por Jesus Cristo e teve continui-
dade com seus discípulos, com destaque inicial para Pedro, Paulo
e os apóstolos. A fundação ocorreu na Palestina, na época, domi-
nada política e militarmente pelos romanos, que estavam vivendo
o seu apojeu.
Surgiu como seita judaica surgida no século 1º, mas pouco
a pouco houve a ruptura com o Judaísmo. Nos primeiros séculos,
os romanos perseguiram o Cristianismo ocasionando a morte de
milhares de mártires e dificuldades para a expansão cristã.
Idade Média
O período medieval é extenso e vai do século 5º ao 15. É marcado
pela grande influência da Igreja Católica na política, economia e socie-
dade. É o período de maior e mais expressiva influência do Cristianis-
mo na sociedade com o chamado Sistema de Cristandade. Os valores
cristãos permeavam a vida de todos; as verdades eram as verdades da
Igreja; as doutrinas eram as defendidas e propagadas pelo Cristianismo.
Vejamos alguns acontecimentos da cristandade medieval.
Cruzadas
As Cruzadas foram convocadas para reconquistar Jerusalém,
os "lugares santos" resgatar os cristãos que caíram em mãos mu-
çulmanas. A primeira foi convocada pelo Papa Urbano II, no ano
de 1095. Foram um total de nove Cruzadas, a última aconteceu no
ano de 1270. Os cristãos tiveram algumas vitórias, mas não conse-
guiram a reconquista total da região.
Inquisição
A Inquisição é a instituição cristã mais criticada em toda a Histó-
ria da Igreja. Em função do surgimento de algumas heresias medievais
e da crise no mundo feudal, o surgimento das cidades e pré-humanis-
mo e pré-modernismo, a Igreja e o Império tentaram manter as estru-
turas políticas, econômicas e sociais. O Papa Lúcio III e o Imperador
Frederico Barba-Roxa, em 1184 optaram pela excomunhão e punição
aos hereges. Em 1232, a Inquisição passou cometer muitos atos ilíci-
tos, que cresceram quando ela passou a ser dirigida e instrumentali-
zada pelas lideranças políticas medievais e modernas.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
© Caderno de Referência de Conteúdo 17
I- Cristianismo no Império
Crise da Igreja e da Vida Apóstolos, Padres
Romano pagão (séculos I-III) JESUS CRISTO: fonte
Religiosa beneditina Apostólicos, Apócrifos
e origem do
(Cartuxa, Cistercienses)
Perseguições: apologias
Cristianismo
Mendicantes e heresias.
Desejos de Reforma.
Heresias trinitárias, cristológicas
II- Cristianismo no e soteriológicas. Concílios
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de História da Igreja pode ser
uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a
resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se
preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso,
essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos
e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta disciplina convida você a olhar, de forma
mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser
humano. É importante que você se atente às explicações teóricas,
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per-
mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a
ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é,
portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
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2. CONTEÚDOS
• Noções preliminares: historicidade da Igreja e historiografia
eclesiástica.
• O nascimento da Igreja: Mundo Romano e Mundo Judaico.
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4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nossos estudos se iniciam pela exploração de conceitos in-
trodutórios sobre a História da Igreja. Isso significa que você está
convidado a refletir sobre noções preliminares relacionadas à his-
tória da Igreja - definição, método, divisão, fontes, ciências auxilia-
res; à historicidade da Igreja e à historiografia eclesiástica.
Ao longo desta unidade, você será convidado também a res-
ponder às seguintes indagações:
1) Quando e como ocorreu o nascimento da Igreja?
2) Quais são as características fundamentais da Antiguida-
de Cristã e quais são suas fontes e cronologia fundamen-
tal?
3) Como era a comunidade de Jerusalém e como ocorreu a
expansão inicial da Igreja?
4) Como aconteceu a expansão do Cristianismo além dos
limites da Palestina?
Responder a tais questionamentos constituirá, portanto,
nosso primeiro desafio. E o primeiro passo em direção à superação
desse desafio consiste na abordagem do conceito da historicidade
da Igreja, abordagem essa que constitui o próximo tópico deste
material.
5. HISTORICIDADE DA IGREJA
O processo por meio do qual se estabelece a compreensão
e assimilação do conceito da historicidade da Igreja se inicia, fun-
damentalmente, pelo seguinte questionamento: qual a base de
sustentação em que se processa o desenvolvimento histórico da
Igreja?
Com efeito, a história da Igreja tem suas bases na revela-
ção divina, na manifestação das obras de Deus e na encarnação
de Jesus Cristo no mundo, evento no qual se materializa a ação de
Método
A configuração do método que fundamenta a História da Igre-
ja é ditada pelos mesmos princípios que regulam a investigação his-
tórica de modo geral, levando-se em conta as peculiaridades que
emanam da vertente da fé, muito embora estas especificidades não
representem um impedimento na aplicação do rigor metodológico.
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d) religioso: a Igreja é obra divina e obra humana, por isso sua his-
tória precisa ser tratada com base em uma 'perspectiva religiosa',
sem que isso prejudique a vertente científica propriamente dita.
Divisão
A divisão da História da Igreja, que também pode ser enten-
dida como a vida da comunidade cristã ou como o percurso da
Igreja na história, pode ser analisada com base em vários aspectos
e sob diversas perspectivas.
Entre essas perspectivas, destaca-se a que se baseia nas
ideias de Gómez (1987, p. 7), segundo o qual: "A história, como a
vida, não conhece pausas nem censuras, nem saltos no vazio. No
entanto, também na história existem épocas e períodos com ca-
racterísticas muito acentuadas que os diferenciam de outras épo-
cas e períodos".
Informação complementar––––––––––––––––––––––––––––––
É a obra Antiquae, Mediae, Novae Nucleus de Cristóvão Keller (conhecido tam-
bém como Cellarius), publicada em 1675-1676 que inaugura a utilização dessa
proposta de divisão tripartite da história nos manuais.
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Durante a vigência do romantismo, com destaque para Mo-
ehler – Haase, essa divisão também foi, propositalmente, aplicada
à história eclesiástica.
Desde o início do século 20, no entanto, difundiu-se uma di-
visão quadripartida e que comportava as seguintes épocas:
a) Antiga.
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b) Média.
c) Nova ou Moderna.
d) Contemporânea.
A aplicação dessa divisão quadripartida à História da Igreja
gerou a seguinte configuração cronológica:
a) Idade Antiga
1º período (1-313): marcado pela atuação da Igreja no
Império Romano pagão (perseguições dos mártires).
2º período (313-692): marcado pela atuação da Igreja
no Império Romano cristão (oficialização do Cristia-
nismo e dos grandes concílios).
b) Idade Média
1º período (692-1073): marcado pela atuação da Igreja
na formação da Europa (cristandade medieval).
2º período (1073-1303): em que se deu o apogeu do po-
der temporal dos papas (auge da cristandade).
c) Idade Moderna
3º período (1303-1517): marcado pelo clamor pela re-
forma (crise eclesial pré-luterana).
4º período (1517-1648): marcado pelas Reformas Protes-
tante e Católica (renovação e fechamento tridentino).
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
É importante ressaltar que a divisão historiográfica referida no texto principal
não corresponde à divisão da historiografia considerada oficial que data o fim
da Idade Antiga em 476, o da Idade Média em 1453 (ou 1492) e o da Moderna
em 1789. Importa ressaltar também que há quem conside o Concílio Vaticano II
(1962-1965) como um novo marco na divisão da História da Igreja Católica.
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d) Idade Contemporânea
5º período (1648-1789): estendeu-se até a Revolução
Francesa (silêncio eclesial e críticas modernistas).
6º período (período após 1789): marcado pelas revo-
luções sociais (intransigência católica, diálogo com
modernidade e abertura pós-vaticana) (BIHLMEYER-
TUECHLE, 1964, p. 16 - 17).
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Nesse tempo, a Igreja, com as bases lançadas por Jesus e pelos apóstolos,
elaborou as formas fundamentais da própria vida interna (piedade, liturgia, cons-
38 © História da Igreja Antiga e Medieval
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
Três povos se sobressaíam no contexto dessa época: romanos, gregos e judeus.
Como cultura e religião estão numa estreita relação, as características destes
povos irão convergir na expansão e consolidação da religião cristã.
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O ambiente ao qual se refere o texto bíblico mencionado
trata-se do Império Romano, que, à época em questão, dominava
várias regiões, entre elas a Palestina, onde nasceu Jesus Cristo.
Sociedade romana
A sociedade romana era chamada de "cooperativa da felici-
dade", felicidade que pertencia aos mais privilegiados (aristocra-
tas e comerciantes), pois quase um terço da população era formada
por escravos e pobres, excluídos do sistema político-econômico.
A sociedade romana era, portanto, dura para com os fracos.
A economia antiga baseava-se na escravidão, bem como no pre-
domínio masculino – a mulher era considerada inferior, apesar de,
em alguns segmentos, ter conseguido conquistar alguns direitos.
A tendência expansionista do Império Romano, bem como
a preocupação com a integração entre as regiões que eventual-
mente o constituíam, ambos objetos de análise do próximo item,
são elementos que também contribuem para a reflexão em que
consiste essa unidade.
Comunicação
No que diz respeito à integração entre as regiões que consti-
tuíam o Império Romano, observa-se que o império era entrecorta-
do por grandes estradas que levavam o nome dos seus respectivos
construtores, dentre as quais ganhavam relevância as seguintes:
• Via Ápia: que se estendia de Roma a Brindisi.
• Via Aurélia: de Roma a Genova.
• Via Domicia: que se estendia da Itália à Espanha, passan-
do pela Gália.
Como o império expandiu intensamente seus limites na ba-
cia mediterrânea, a navegação desenvolveu-se e o caminho do
mar tornou-se preferível em detrimento das rotas terrestres.
A propósito dessa configuração estrutural, o bispo cristão
Melitão de Sardes (+175) dizia, em síntese, que o Cristianismo e o
Império Romano tinham sido ordenados, pela Providência divina,
um para o outro (GÓMEZ, 1995, p. 18).
Judaísmo
Para compreender o ambiente em que nasceu a Igreja é es-
sencial, também, conhecer a dinâmica do Judaísmo, outra grande
religião muito presente no contexto em questão. E para alcançar
essa compreensão, abordaremos, nesse item do material, elemen-
tos básicos que compõem a história, a dinâmica social e geográfi-
ca, bem como o desenvolvimento da religiosidade judaica que se
desenvolveu em Israel.
Israel está localizada em uma pequena e estreita faixa de ter-
ra entre a África e a Ásia. Trata-se de uma região muito cobiçada
pelas potências antigas, posto que configurava uma área estrategi-
camente muito bem situada.
O povo judeu sofreu com várias invasões e exílios. Em mea-
dos do ano 200 a.C., por exemplo, toda a região foi dominada pelo
Império Selêucida da Síria, quando se iniciou o que foi chamado
de "helenização forçada" da região, que por sua vez gerou uma
resistência muito forte da parte dos Macabeus. Mais tarde, antes
mesmo do nascimento de Cristo, no ano 63 a.C., os romanos domi-
naram a região confiando o governo local aos idumeus Herodes e
Arquelau, líderes regionais nessa época.
Neste ambiente, proliferou o gênero literário apocalíptico,
bem como o desejo de libertação fundamentado na crença da vin-
da do Messias, daí o fortalecimento da expectativa messiânica.
48 © História da Igreja Antiga e Medieval
Fariseus (Separados)
Os Fariseus constituíam o maior grupo na época de Jesus,
composto por uma classe média separada do povo e das elites
sacerdotais. Formavam um grupo bem organizado, que conhecia
profundamente a Lei mosaica, observando-a de modo incansável
e escrupuloso.
Nesse grupo, majoritariamente laical, existiam alguns escri-
bas e poucos sacerdotes.
Na época de Jesus, eles estavam separados do poder políti-
co, personificado em Herodes, antigo aliado deles. Em contrapar-
tida, tinham uma grande influência junto ao povo e isso lhes dava
um grande poder no contexto político, o que se explica, segundo
Morin (1982, p. 111-112), da seguinte maneira:
O segredo de sua influência é conseqüência de dupla oposição. Pri-
meiramente, diante da massa popular, afirmavam sua origem judaica
com uma piedade bastante desenvolvida. A interpretação escrupu-
losa da Lei os levava a uma observância rigorosa do sábado, a um
extremo cuidado com a pureza legal, ao pagamento integral dos dízi-
mos dos mínimos produtos. Com isso, pretendiam impor ao povo em
geral, em toda a sua vida, uma pureza totalmente semelhante àquela
que devia caracterizar o sacerdote oficiante do templo. Os saduceus
não exigiam tanto, pois tinham que manter as distinções. Os fariseus,
mais católicos que o papa, mostravam-se, assim, como exemplo ao
povo. Fascinavam a todos e a todos desprezavam.
Por outro lado, opunham-se à nobreza sacerdotal e leiga na área re-
ligiosa, constituindo-se uma nova casta de intérpretes da Escritura
com espírito renovador. Diante dos que se agarravam apenas ao livro
da Lei, os fariseus escribas combinavam a exegese da Lei escrita com
52 © História da Igreja Antiga e Medieval
Essênios
Os Essênios tratavam-se de grupo formado por judeus que se
articulou no século 2º a.C. Repudiavam o culto do templo e os sa-
crifícios, levando uma vida de rigor ascético, ao estilo dos monges,
com celibato, vida comum, partilha dos bens etc. Não se permi-
tiam a convivência nem com os pecadores do povo judaico e tam-
pouco com os pagãos. Eram extremamente radicais na fidelidade à
Lei, à observância ritual e na pureza da Aliança. Tornaram-se mais
conhecidos após e a propósito da descoberta dos Manuscritos de
Qumrã, no Mar Morto.
Apresentadas as características fundamentais dos principais gru-
pos de judeus palestinenses, abordaremos a seguir a dinâmica do even-
to que ficou conhecido como Diáspora ou Dispersão, mais um elemento
determinante para a compreensão da dinâmica do Judaísmo.
Diáspora/Dispersão
Após e por estímulo do cativeiro assírio (722) e babilônico
(597), o povo judeu dispersou-se pelos países limítrofes, muito
embora também tenham havido emigrações voluntárias.
Os judeus formaram mais de 150 comunidades, mais abertas
ao mundo greco-romano, sendo que muitos dos integrantes dessas
comunidades pertenciam à classe média. Foi nestas comunidades
derivadas da diáspora que os apóstolos e primeiros missionários
iniciaram seu trabalho anunciando a mensagem cristã e foi no in-
terior da dinâmica dessas comunidades que muitos se converte-
ram ao Cristianismo, especialmente os "tementes a Deus", pagãos
simpatizantes do judaísmo que não queriam assumir o judaísmo e
viram no Cristianismo uma proposta semelhante e menos exigente
em alguns aspectos.
Observe que o "monoteísmo" e a ideia de um "Messias" liber-
tador constituem os elementos positivos que o Judaísmo oferece
ao nascente Cristianismo, mas a Igreja encontrou dois obstáculos
profundos e difíceis de superar nesse processo de influência dou-
54 © História da Igreja Antiga e Medieval
8. JESUS CRISTO
Em Jesus de Nazaré está a origem da História da Igreja. A
Igreja apresenta-se a si mesma como fundada por Cristo. Mas Cris-
to existiu realmente? Para responder a esta pergunta, é preciso
remontar às "fontes históricas" da vida de Jesus, que podem ser
divididas em três categorias:
O historiador hebreu Flávio Josefo [...] pelo ano 96, em suas "An-
tiquitates judaicae" XX, 9,1 chama Tiago Menor "irmão de Jesus,
que é chamado o Cristo". Duvidosa, porém, é a autenticidade do
seguinte texto que parece estranho às "Antiquitates" XVIII, 3,3.
"Naquele tempo viveu Jesus, um homem de grande valor [se, con-
tudo, pode ser chamado homem, pois ele era] um realizador de
obras maravilhosas, [um mestre dos homens, que acolhem com
alegria a verdade]. Ele conquistou muitos judeus para sua causa,
mas também muitos pagãos. Ele era [ou pelo menos parecia ser]
o Messias. Quando Pilatos em base a uma acusação movida con-
tra ele pelos nossos homens mais eminentes o condenou a mor-
rer na cruz, aqueles que antes o tinham seguido não se afastaram
dele [pois que ao terceiro dia apareceu-lhes novamente vivo já
que os santos profetas tinham predito dele estas e muitas outras
coisas maravilhosas]. Ainda hoje a gente dos cristãos, que toma o
nome dele não cessou de existir."
As palavras entre colchetes, que interrompem o sentido e se afastam
do estilo de Flávio Josefo, são provavelmente uma nota marginal já
conhecida por Eusébio (H. E. I, 11, 7, 8), mas ainda não por Orígenes;
ou então trata-se de uma manipulação do texto original por obra
de cristãos. Todavia, encontramos ainda em tempos recentíssimos
quem sustente sua autenticidade [...] enquanto outros declaram
todo o trecho interpolado mais tarde por mão cristã é espúria.
As últimas comunicações (5 fragmentos) fornecidas pela versão
paleo-russa (séculos XI-XII) da "Guerra judaica" de Flávio Josefo so-
bre as aspirações de Jesus (Messianismo político) e a sua Paixão,
embora tenham encontrado defensores em R. Eisler e em outros,
são certamente lendárias [...]
São também apócrifas a pretensa relação de Pilatos ao imperador
Tibério sobe a morte e ressurreição de Jesus e a carta de Lentulo
(presumido antecessor de Pilatos) ao Senado sobre a personalida-
de física de Jesus; cfr. Dobschütz ZntW 1902, 29 ss; Christusbilder,
308ss. Uma falsificação recente é a chamada carta de Benan, que
dá notícias sobre Jesus e seus discípulos, a qual, conforme o editor
ou então inventor Ernesto, nobre de Lanitz (1910) teria sido escrita
no ano 83 d.C. pelo médico egípcio Benan; cfr. C. Schmidt e H. Kra-
pow em TU 44, 1,1921.
Nascimento
No ano 526, o monge Dionísio, o Exíguo, fez cálculos para
fixar a data de nascimento de Jesus, e assinalou o ano 753 da
fundação de Roma. Mas, segundo a cronologia moderna, Dioní-
sio equivocou-se em 4 anos. Dessa forma, o nascimento de Cristo
situar-se-ia no ano 749, o que configura um atraso de 4 anos no
calendário ocidental vigente.
Vida pública
Alguns autores modernos como Van Beber, Belser, entre ou-
tros, fundamentando-se no testemunho de determinados Padres
da Igreja, restringem a vida pública de Jesus a um ano de dura-
ção. No entanto, a maioria dos autores inclina-se para dois anos
e meio.
Morte
Como Cristo começou sua atividade pública aos trinta anos
(Lc 3, 23), sua morte teria ocorrido nos anos 32-33, ou, 14 Nisan (1º
mês do ano judaico) de 783 de Roma, isto é, 7 de abril do ano 30.
Pierini (1998, p. 41-43), tratando deste tema, conceitua uma
"cronologia relativa da vida de Cristo" e uma "cronologia absoluta
da vida de Cristo". Na primeira, confrontam-se os quarto evange-
lhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e são colocadas algumas di-
ferenças de disposição e proporção (PIERINI, 1998). A respeito da
mencionada "cronologia absoluta", por sua vez, Pierini (1998, p.
43-45) diz o seguinte:
Todavia, além dos problemas da cronologia relativa existem os da
cronologia absoluta: isto é, trata-se de atribuir a cada etapa da
vida Cristo uma data, segundo um calendário que estabeleça anos,
meses e dias precisos e até, se possível, horas e minutos. Mas as
dificuldades que se encontram são consideráveis, às vezes até in-
superáveis.
A primeira questão refere-se ao ano e ao dia do nascimento de Cris-
to. A esse respeito, Mateus diz que Jesus nasceu "no tempo do rei
Herodes" (MT 2,1), e Lucas, que o evento se verificou durante o cen-
so realizado "enquanto Quirino era governador da Síria" (Lc 2,2). As
58 © História da Igreja Antiga e Medieval
Pode-se afirmar, por isso, com suficiente segurança, que Jesus Cris-
to nasceu entre os anos 8 e 4 a.C., começou a vida pública no ano
27 ou 28, e morreu numa sexta-feira, no dia 7 de abril do ano 30
d.C. Esse quadro cronológico essencial da vida de Jesus pode pa-
recer um tanto pobre, mas é mais do que suficiente para situar o
Verbo encarnado na história dos homens.
Atividade de Cristo
Jesus nasceu, milagrosamente, de acordo com textos ne-
otestamentários, de Maria Virgem em Belém. Até a idade de 30
anos levou uma vida oculta na pequena vila de Nazaré com seus
pais. Depois disso, começou sua atividade de Mestre, ensinando
uma mensagem de paz, amor e respeito; curando muitas pes-
soas de vários males e fazendo muitos milagres. Cristo não se
apresentou como um reformador da religião judaica, e sim como
o instaurador de um novo modo de viver a relação com Deus e
com o próximo.
Informação Complementar––––––––––––––––––––––––––––––
O Cristianismo afirma que "Jesus Cristo" é "Deus". E esta convicção de fé no
Cristo é sustentada pela própria consciência messiânica de Jesus, pelas profe-
cias que se cumprem n'Ele, pelos milagres (especialmente a ressurreição corpó-
rea), pela santidade e pureza de sua vida, pela sabedoria, pela verdade absoluta
de sua doutrina e pela divina sublimidade de sua pessoa.
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Merece a máxima atenção o modo como Jesus proferia sua
fala com perfeita segurança, de ser inatingível para os homens,
que não perde nunca o próprio equilíbrio. O Reino de Deus anun-
ciado por Ele destina-se a todos os homens (universalismo) e não
só aos judeus.
A obra de Jesus volta-se, essencialmente, para a fundação da
Igreja. Jesus acentua, reiteradamente, o aspecto comunitário da
sua religião, o que se pode observar no uso reiterado da primeira
60 © História da Igreja Antiga e Medieval
Separação da sinagoga
Os cristãos eram, desde o princípio, uma comunidade distinta,
mas continuavam observando a Lei mosaica e participavam das ceri-
mônias do Templo. As autoridades judaicas olhavam com bons olhos
e simpatia aquele grupo de "judeus fervorosos"; mas, ao crescer a ex-
pectativa dos povos com os milagres dos apóstolos, a simpatia trans-
formou-se em hostilidade: Pedro e João foram levados ao Sinédrio e
foram pressionados a não pregar, tendo sofrido ameaças caso não se-
guissem essa orientação (At 4, 1-23); todos os apóstolos foram presos
e libertados por intervenção de Gamaliel (At 5, 18-35).
As hostilidades evoluíram para a perseguição sangrenta. Com
efeito, entre os cristãos havia alguns provenientes da seita dos fari-
seus, muito ligados à Lei de Moisés e ao Templo, mas havia também
alguns oriundos da diáspora, que relativizavam os usos e costumes ju-
daicos, sendo que a perseguição em questão se mostrou mais aguda
contra esses indivíduos. Entre estes cristãos "helenistas", sobressaía o
diácono Estevão, primeiro mártir que, ironicamente, não defendia a
abolição da Lei e do Templo por obra de Cristo (At 7, 54-60).
Uma segunda fase de perseguição sangrenta, dirigida contra to-
dos os cristãos, ocorreu durante os anos 42-43 quando Herodes Agripa
mandou assassinar São Tiago, o Maior (At 12, 2). E a mesma sorte esta-
ria reservada a Pedro se, por ventura, um anjo não o tivesse libertado
da prisão (At 12, 7) e ele não tivesse fugido de Jerusalém (At 12, 17).
Primeira expansão do Cristianismo na Palestina
A origem da Igreja na Galileia (situada na região norte da
Samaria e constituída por Nazaré, Seforis, Naim, Corozaim e Mag-
dala) é desconhecida, mas considerando a informação de que a
maioria dos discípulos de Jesus provinha dali, é possível supor que
se deva a algum deles a evangelização da região.
A evangelização da Samaria (norte de Jerusalém), por sua vez,
está ligada à fuga dos cristãos helenistas de Jerusalém depois do martí-
rio de Estevão. Felipe, um dos sete diáconos, trabalhou nesta região.
2) De acordo com o que você estudou até aqui, de que modo as culturas roma-
na e judaica contribuíram para o desenvolvimento do Cristianismo?
76 © História da Igreja Antiga e Medieval
12. CONSIDERAÇÕES
Ao longo do que se expôs nesta unidade, privilegiou-se a
aquisição de noções preliminares sobre a historicidade da Igreja
e a historiografia eclesiástica, as quais são imprescindíveis para a
compreensão da história da Igreja Antiga.
Além disso, estabeleceu-se a reflexão sobre o ambiente em
que nasceu a Igreja; sobre a historicidade e vida de Jesus Cristo;
sobre a comunidade de Jerusalém e sua expansão inicial e sobre a
expansão do Cristianismo para além dos limites da Palestina, bem
como sobre suas principais características.
Na Unidade 2, ampliaremos a perspectiva abordando a orga-
nização do Cristianismo antigo; as heresias e cismas dos três pri-
meiros séculos; os escritores eclesiásticos; os concílios e os Padres
da Igreja.
ARENS, E. Ásia Menor nos tempos de Paulo, Lucas e João. Tradução de João Rezende
Costa. São Paulo: Paulus, 1998.
BIHLMEYER, K.; TUECHLE, H. História da igreja. Tradução de Ebion de Lima. São Paulo:
Paulinas, 1964. v.1.
BOGAZ, A. S.; COUTO, M.A.; HANSEN, J. H. Patrologia : caminhos da tradição cristã. São
Paulo: Paulus, 2008.
BOSCH, J. S. Nascido a tempo. Tradução de Mário Gonçalves. São Paulo: Ave Maria,
1997.
COMBY, J. Para ler a História da igreja. Tradução de Maria Stela Gonçalves-Adail V. Sobral.
São Paulo: Loyola, 1994. v.2.
CESARÉIA, Eusébio de. História eclesiástica. Tradução de Wolfgang Fischer. São Paulo:
Novo Século, 2002.
DEBARROS A. C. Doze homens, uma missão. Curitiba: Luz e Vida, 1999.
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