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Introdução
Entretanto, avaliar a aprendizagem dos alunos não basta. A educação é um tema extremamente
abrangente e complexo, que se articula com um enorme número de variáveis demográficas,
sociais e econômicas, demandando ainda pesados investimentos e um gerenciamento
consciencioso de recursos que, com frequência, se apresentam escassos ou insuficientes.
Nesse sentido, uma visão mais completa e aprofundada da educação somente é alcançada
através da obtenção e da análise de uma grande diversidade de informações, que costumam se
apresentar na forma de indicadores educacionais.
Indicadores são medidas específicas que têm por objetivo transmitir uma informação referente
a uma dimensão particular e relevante da educação, expressando-se através de números que
sintetizam essa dimensão. Por sua vez, os números que expressam os indicadores são calculados
a partir de uma fórmula pré-definida e com base em dados levantados segundo critérios
específicos e rigorosos, como censos e pesquisas sociais, demográficas, econômicas ou
educacionais.
Neste ponto, cabe fazer uma distinção formal entre indicadores e índices:
Indicador é um valor calculado segundo critérios rígidos e que retrata uma dimensão
específica de interesse (educacional, no nosso caso).
Índice é uma medida que numericamente combina, ou sintetiza, as informações contidas em
dois ou mais indicadores relevantes para um dado objeto em estudo.
o fluxo dos alunos ao longo das diversas séries do Ensino Fundamental, associado às
taxas de aprovação nessas mesmas séries;
o desempenho desses alunos em disciplinas específicas, como Língua Portuguesa e
Matemática.
Pois bem, para tratar dessas diferentes questões, é possível obter indicadores específicos. Nesse
caso, o fluxo de alunos, por exemplo, pode ser expresso através de um indicador que é a taxa
de aprovação, digamos, no 5º ano do Ensino Fundamental numa dada unidade educacional
(como uma escola, um município, um estado ou mesmo o país como um todo).
Por sua vez, seria possível estimar o desempenho desses mesmos alunos por meio de outro
indicador, ou, antes, por dois deles: um poderia ser, digamos, a média de proficiência dos alunos
num teste de Língua Portuguesa, como, por exemplo, na avaliação externa da Prova Brasil, ao
passo que outro indicador poderia ser a média de Matemática desses estudantes obtida na
mesma avaliação.
Com base nesses três indicadores – a taxa de aprovação, a média de Língua Portuguesa e a
média de Matemática –, é possível criar um único índice, que é o IDEB, ou Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica, cujo cálculo combina, numa fórmula matemática, os
resultados de todos esses indicadores (INEP, 2010). Dessa forma, quanto maiores forem a taxa
de aprovação e as médias nas duas disciplinas mencionadas, maior também será o IDEB,
conforme detalhes de cálculo e de interpretação que serão devidamente tratados em partes
posteriores deste curso. Podemos dizer, portanto, que os indicadores são medidas mais “puras”,
ou unidimensionais, de um aspecto relevante da educação, ao passo que os índices são medidas
“combinadas”, ou multidimensionais, relacionados a uma abordagem mais abrangente de um
determinado tema educacional.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep em 2007 e
representa a iniciativa pioneira de reunir, em um só indicador, dois conceitos igualmente
importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas
avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do
Inep a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar
metas de qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados
sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do
Inep, o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios.
(Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/portal-ideb/o-que-e-o-ideb)
1. O contexto sociodemográfico;
2. As condições de oferta;
3. O acesso e a participação na educação;
4. A eficiência e o rendimento escolar;
5. O desempenho escolar;
6. O financiamento e o gasto em educação.
Neste grupo, como seu próprio nome diz, encontram-se os indicadores referentes a
características sociais e demográficas de uma população de interesse, e que são
extremamente relevantes, entre outros aspectos, para a realização de macroanálises
visando a investigar o nível de demanda pela educação existente numa determinada
sociedade. Dois exemplos bastante representativos dessa categoria são os indicadores que
informam:
O Brasil, por ser o quinto país mais populoso do mundo (com cerca de 194 milhões de
habitantes, atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia), e por se constituir
também num país com uma população predominantemente jovem, apresenta, nesses
indicadores, números muito elevados, que colocam quadros extremamente desafiadores
para as autoridades políticas e educacionais resolverem. Não obstante, igualmente se pode
perceber, em anos mais recentes, uma estabilização e, em certos casos, até mesmo um
ligeiro decréscimo, em vários desses números, decorrentes da diminuição das taxas de
fertilidade no país. Outro ponto notável é o fato de que, dadas as grandes disparidades
sociais e demográficas existentes nas diferentes regiões e estados brasileiros, observam-
se consideráveis diferenças geográficas quanto ao tamanho da população a receber
instrução formal em cada um dos níveis de ensino acima especificados.
A taxa de analfabetismo, por sua vez, corresponde ao percentual de pessoas em idade
escolar própria para a alfabetização, ou acima dela, que são consideradas analfabetas.
Embora tal definição seja aparentemente simples, ela, na verdade, encerra uma série de
complicações de ordem conceitual e técnica, referentes, por exemplo, a quais critérios se
devem adotar para se concluir se alguém é, de fato, analfabeto ou não.
Por exemplo, pode-se definir como alfabetizada a pessoa que (1) sabe escrever seu
próprio nome, (2) tenha sido aprovada nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ou
ainda (3) sabe ler e escrever um bilhete simples. Cabe observar que alguém que se
enquadra numa dessas categorias acima não necessariamente se situa nas demais, o que
faz com que a definição de analfabetismo que se venha a adotar pode influenciar
enormemente os valores obtidos para esse indicador.
Outro ponto importante diz respeito ao modo de obtenção dessa informação. Ainda que
se chegue ao consenso, de que alfabetizado é aquele capaz de ler e escrever um bilhete
simples, de que modo se chegará a essa informação acerca das pessoas entrevistadas:
fazendo-as ler e escrever um bilhete simples ou simplesmente perguntando-lhes se
elas são capazes de fazer isso?
Caso esta última opção seja a escolhida (e ela costuma sê-lo, dadas as limitações de tempo
e de recursos financeiros nesse tipo de pesquisa), corre-se o risco de superestimar
consideravelmente o número de pessoas alfabetizadas, devido ao fato de que responder
sim a essa pergunta é, em termos sociais, altamente desejável, em decorrência do enorme
desprestígio de que historicamente padecem os analfabetos no país. Portanto, indefinições
e imprecisões metodológicas são capazes de produzir vieses consideráveis nas taxas de
alfabetização, podendo levar a grandes inconsistências entre as estimativas dessas taxas
ao longo dos anos, ou entre os resultados obtidos por diferentes instituições.
Tal fato é ilustrado pelo gráfico a seguir, que apresenta os percentuais de professores com
formação superior atuando nos Ensinos Fundamental e Médio no Brasil, ao longo dos
últimos anos. Por ele, percebe-se que, em 2011, os graduados no Ensino Superior
correspondem a mais de 60% dos profissionais atuantes nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, a 83,2% nos anos finais e a mais de 90% daqueles que atuam no Ensino
Médio.
Gráfico 2: Percentuais de professores com nível superior atuantes nos Ensinos Fundamental (EF) e
Médio(EM)
100
90
80
70 2011
60 2012
50
2013
40
30 2014
20
10
0
E.F. E.M.
Gráfico 3: Salários de professores (mínimo, após 15 anos de experiência e máximo) no ciclo final
do Ensino Fundamental, segundo uma perspectiva internacional comparada.
Fonte: OCDE (2011).
Os indicadores deste grupo mensuram o grau com que a população em idade escolar vem
sendo atendida pelos diversos sistemas de ensino, e permitem que se observe esse
atendimento segundo critérios variados. Um indicador bastante conhecido dessa categoria
é a taxa de atendimento.
Taxa de atendimento é um indicador que informa, para uma determinada faixa etária da
população em idade escolar, o percentual das pessoas que estão frequentando a escola,
não importando o fato de estarem ou não matriculadas na série própria para a sua
respectiva idade.
Para tratar desse problema sobre a participação do ensino, levando-se em conta uma série
específica e o fato dos alunos estarem ou não nela matriculados segundo a idade certa, há
dois indicadores muito utilizados nas análises educacionais: as taxas de escolarização
líquida e bruta.
O gráfico a seguir mostra essas duas taxas para o Brasil como um todo, para cada ano do
período compreendido entre 2001 e 2011. Por eles, observa-se que, no Ensino
Fundamental, a taxa de escolarização líquida está se aproximando dos 100%, indicando
que, neste caso, o país está conseguindo fazer com que quase todas as suas crianças
estejam matriculadas nas escolas, e na idade certa para as suas respectivas séries. Ao
mesmo tempo, observa-se que, também no Ensino Fundamental, a taxa de escolarização
bruta manteve-se em cerca de 120% ao longo desses anos, indicando o fato de que existe
ainda um contingente considerável de alunos mais velhos que se encontram retidos no
ensino fundamental, estudando, portanto, em séries que, na verdade, já deveriam ter
concluído.
Por outro lado, as taxas líquidas do Ensino Médio, que somente em 2008 e 2009
alcançaram o patamar dos 50%, apontam para um problema sério decorrente dos baixos
níveis de aprovação nessa etapa do ensino. E as taxas brutas de escolarização no Ensino
Médio, que oscilam em torno de 85%, indicam a coexistência e um certo equilíbrio entre
dois fenômenos relevantes: de um lado, as baixas taxas de aprovação; de outro, os níveis
consideráveis de evasão, impedindo que as taxas brutas fiquem excessivamente elevadas.
Fonte: MEC/Inep/DTDIE.
Nota: Exclusive a população rural de RO, AC, AM, RR, PA e AP de 1995 e 2001 a 2003.
A distorção idade-série, por sua vez, possui, naturalmente, uma estreita relação com as
taxas de aprovação. O gráfico a seguir apresenta a evolução dessas taxas ao longo dos
últimos anos, tanto para o Ensino Fundamental como para o Ensino Médio.
Categorias 2003 2004 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Brasil (E.F I) 33,3 31 29,4 22,6 17,6 18,6 18,5 17,8 16,6 15,4 14,1
Brasil (E. M.) 45,9 44,4 42,6 42,5 33,7 34,4 34,5 32,8 31,1 29,5 27,3
Brasil (E.F. II) 40,6 39,3 36,4 34 27,4 28,9 29,6 28,8 28,2 27,9 28,2
Fonte: MEC/INEP http://portal.inep.gov.br/indicadores-educacionais
O nome avaliação “externa” decorre do fato de que, via de regra, quem elabora, aplica e
corrige essas avaliações são agentes externos à própria escola, muitas vezes representados
por centros de avaliação contratados pela administração de sistemas educacionais de nível
nacional, estadual ou municipal. Dessa forma, os agentes avaliadores não possuem, em
geral, uma vinculação direta com as escolas que avaliam, e tal fato garante, ao menos em
tese, um saudável distanciamento e independência dos avaliadores em relação às
instituições avaliadas.
A expressão “larga escala”, ou, como querem alguns, “grande escala”, refere-se ao fato
de que, nesses exames, um enorme número de alunos e/ou escolas são envolvidos no
processo de avaliação, seja através da realização de exames censitários – que cobrem
todas as instituições ou indivíduos que são alvo do processo avaliativo –, seja através da
adoção de procedimentos de amostragem capazes de fazer com que um número mais
restrito de resultados obtidos representem, com margens de erro aceitáveis, toda uma
população, a qual pode abranger contextos muito amplos, chegando eventualmente a
níveis nacionais e internacionais.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foi criado pelo MEC em 1988. A
partir de 1995 incorporou nova metodologia, baseada na Teoria de Resposta ao Item, que
permite a comparabilidade dos dados ao longo do tempo, em série histórica. Também
realizou, em âmbito nacional, a primeira aplicação amostral de testes padronizados em
leitura e resolução de problemas nas séries finais de cada ciclo do Ensino Fundamental
(4ª série/5º ano e 8ª série/9º ano) e 3º ano do Ensino Médio, de todas as unidades da
Federação e redes de ensino público (municipal, estadual, federal) e particular, o que
passou a ser feito a cada dois anos. A partir de 2005, a atenção aos resultados das escolas
obtidos nas avaliações se intensificou. Primeiro com a reestruturação do Saeb pela
Portaria Ministerial nº 931 de 21 de março de 2005, que foi desmembrado em duas
avaliações: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e a Avaliação Nacional
do Rendimento no Ensino Escolar (Anresc), esta última mais conhecida como Prova
Brasil, aplicada de modo censitário em todas as escolas públicas.
Os defensores das avaliações externas argumentam sobre a capacidade que estas têm de
permitir um olhar mais crítico e preciso da realidade educacional, pelo qual as escolas
deixam de ser uma caixa preta para os gestores educacionais e para o público em geral,
passando, dessa forma, a ter que prestar contas do desempenho de seus alunos e, por
conseguinte, do seu próprio desempenho, perante o governo e o povo que a financiam.
Outro aspecto importante, argumenta esse grupo, é o fato de que, com os resultados, é
possível, tanto para os gestores dos sistemas educacionais quanto para os profissionais
mais diretamente envolvidos no dia a dia escolar, diagnosticar os pontos fracos e fortes
da aprendizagem dos alunos, para assim, conceber e implementar estratégias de
aprimoramento educacional que visem a corrigir os pontos fracos e a reforçar ou
disseminar os pontos fortes. Naturalmente, para que tais objetivos sejam alcançados, é
preciso conceber e implementar sistemas avaliativos capazes de fazer com que seus
respectivos instrumentos possuam um grau, no mínimo, razoável, de eficácia e eficiência,
o que implica a resolução apropriada de uma série de problemas conceituais, relacionados
à elaboração das provas, e logísticos, associados à sua respectiva aplicação.
Além disso, também é possível calcular, por exemplo, os gastos per capita em educação,
ou seja, pode-se dividir a quantidade de gastos despendidos pelo número de estudantes
atendidos pelo investimento. Em termos das três principais etapas de escolarização –
fundamental, média e superior – os números em geral mostram que os gastos per capita
aumentam com os níveis, o que é previsível, visto que, quanto mais avançada for a etapa,
mais qualificação se exige do corpo docente, e maior costuma também ser a necessidade
de equipamentos e infraestrutura próprios de cada nível. Além disso, os gastos com o
pessoal docente tendem a ser o fator de maior peso no financiamento da educação, de
modo que isso também explica, em boa parte, os maiores gastos verificados no Ensino
Superior, onde a remuneração dos docentes é, via de regra, consideravelmente maior que
a dos níveis mais baixos de escolaridade.
O gráfico a seguir, informa quanto valem os gastos por estudante no Ensino Superior em
diversos países, quando comparados com o que se gasta em média e per capita no seu
respectivo Ensino Fundamental:
Gráfico 4: Gastos com instituições por estudante em diversos níveis de educação,
para todos os serviços, em relação ao ciclo inicial do E.F.
Notas: Uma razão de 300 em favor da educação superior significa que os gastos com instituições educacionais por
estudante na educação superior são 3 vezes mais altos em comparação aos gastos com instituições educacionais por
estudante de EF1.Uma razão de 50 em favor da Educação Infantil significa que os gastos com instituições educacionais
por estudante na educação infantil são 50% mais baixos em comparação aos gastos com instituições educacionais por
estudante de ensino fundamental 1. Os países estão classificados em ordem descendente de gasto de instituições
educativas por estudante de ensino médio em relação ao EF1.
Fonte: OCDE. Argentina: Instituto de Estadística de la Unesco (Programa Mundial de Indicadores de Educación). Tabla
B1.1a. Para ver notas, consulte Anexo 3 (www.oecd.org/edu/eag.htm).
Pelo gráfico, é possível ver, por exemplo, que o Brasil vive, no Ensino Superior, uma
situação sui generis, pela qual proporcionalmente se gasta, por aluno, muito mais do que
nos países da OCDE. Tal situação, portanto, pode suscitar críticas baseadas também no
fato de que a educação superior é, no Brasil, financiada principalmente com o dinheiro
público, e de principalmente direcionar-se, pela sua própria natureza seletiva, às camadas
mais favorecidas da população.
CONCLUSÕES
Ainda assim há muitos e grandes problemas que restam por serem solucionados. Um dos
mais relevantes diz respeito à qualidade da educação oferecida, e que é um assunto
constantemente tratado pelos indicadores de desempenho que se vêm produzindo
regularmente no país nos últimos anos, através da implementação e do desenvolvimento
de diversos sistemas de avaliação em grande escala.
REFERÊNCIAS
CAED. Boletim de resultados: PROALFA 2008. Juiz de Fora: CAEd, 2009.