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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Ciências Econômicas


Relações Econômicas Internacionais
ECN240 – Tópicos Especiais em Relações Econômicas Internacionais:
História, Política e Desafios Recentes do Processo de Integração Europeu

Análise histórica e considerações contextuais


atuais sobre o Brexit para o Reino Unido e a
União Europeia

Guilherme Rodrigues de Figueiredo

Belo Horizonte - MG, 2018


Sumário
Introdução ................................................................................................................. 3
Histórico geral do Reino Unido na União Europeia .................................................... 3
Aspectos Relevantes para a decisão ........................................................................ 5
Consequências para o Reino Unido e a União Europeia ........................................... 6
Conclusão ................................................................................................................. 8
Anexos ...................................................................................................................... 9
Referências Bibliográficas ............................................................................................................................... 10
Introdução
O termo Brexit é como fica conhecido o processo de saída do Reino
Unido da União Europeia, advento que tem início com o referendo realizado no
dia 23 de junho de 2016, que resultou na posição favorável ao abandono do
bloco. Trata-se da primeira vez que um Estado-membro exerce a decisão de
deixar o bloco desde a criação da Comunidade Econômica Europeia, em 1957,
de forma que os desdobramentos tanto que podem ser considerados como
causas desse advento, quanto os que podem ser considerados como
consequências para o bloco e para o Reino Unido, são incertos e por vezes
conjecturais, mas extremamente relevantes para os mais diversos âmbitos para
ambos a instituição supranacional e os Estados europeus.

Ao formalizar-se uma análise histórica e conjuntural, no entanto, o


evento não representa tanta surpresa quanto se esperaria. Historicamente, o
Reino Unido sempre discordou das recomendações e decisões tomadas pela
maioria desde a Comunidade até a União, e em diversas das temáticas
representou um obstáculo a medidas de maior promoção da integração,
optando por vezes inclusive a não adotar e permanecer à parte da decisão da
maioria. Esses adventos são evidências do permanente questionamento
quanto ao papel da União Europeia e seus benefícios para o Reino Unido
dentro do país, o que é determinante para o resultado positivo do referendo de
2016.

Não obstante, é essencial identificar que existem aspectos específicos


para o contexto atual que são determinantes para a decisão pela alternativa de
retirada do bloco. Esses elementos influenciam diretamente na própria decisão
e nos impactos do Brexit, tanto para o Reino Unido quanto para a União
Europeia, de forma que devem ser considerados os interesses e as
características de ambos para a compreensão dessas dinâmicas.

Histórico geral do Reino Unido na União Europeia


O Reino Unido nunca se mostrou como uma das vozes mais fortes em
termos da integração europeia. O Estado não foi um dos Estados fundadores
tanto da Comunidade Econômica do Carvão e do Aço (CECA), quanto da
Comunidade Econômica Europeia (CEE), no Tratado de Roma em 1957, sendo
aprovada pelos Estados-membro somente em 1973, após duas tentativas de
entrada frustradas com a oposição do General De Gaulle. Ainda assim, os
britânicos ainda realizaram um referendo, no mesmo ano, para determinar
decisão da adoção efetiva ao bloco ou não; àquela época, a decisão pela
adesão foi vitoriosa.

Diferentemente da CECA, que evidenciava um foco claro na integração


específica no setor estratégico pesado, a CEE possuía uma ambição de
integralizar um mercado comum europeu amplo, correspondendo a uma
evolução após o sucesso do esforço de criação de uma instituição
supranacional a partir do Plano Schuman da CECA. Esse aspecto
representava um atrativo importante para a titubeante economia britânica, que
não podia mais se dar ao luxo de permanecer completamente atrelada às suas
pretensões hegemônicas e à parte da crescente força de integração europeia,
com as importantes medidas de recuperação e crescimento adotadas desde a
criação da CECA.

Desde a sua entrada, o Reino Unido se mostrou relutante e desfavorável


à adoção de diversas das recomendações e políticas da Comunidade,
recuando várias vezes em inúmeras negociações e temáticas. Uma importante
personagem nesse contexto foi a eurocética Margaret Thatcher, que era a líder
britânica à época da maioria das negociações, e constantemente discordava
dos termos e travava as negociações por parte do Reino Unido, alegando
principalmente os poucos ganhos reais do Estado britânico com a adesão à
Comunidade, que tinha como carro chefe a Política Agrícola Comum, que, na
visão britânica, pouco os beneficiava.

Com o desconto da contribuição britânica e a eventual saída de


Thatcher, o Reino Unido adere parcialmente ao Sistema Monetário Europeu
(SME), somente para se retirar no início dos anos 1990. O Estado-membro
ainda se recusa a participar tanto da Zona Schengen quanto da Zona do Euro,
optando até mesmo pela manutenção da sua moeda, a libra esterlina. Estes
são eventos emblemáticos, uma vez que provavelmente representam os
maiores projetos a nível europeu em termos de coordenação; a persistente
discordância e eventual isolamento britânico de tais políticas são evidências
imediatas do caráter usualmente cético e negativo do Reino Unido em relação
à União Europeia.

Aspectos Relevantes para a decisão

Quando se analisa os aspectos mais relevantes para a decisão pela


saída do Reino Unido, imediatamente se identifica o papel da atual crise
migratória que se faz presente no contexto europeu. A principal característica
observada durante as campanhas pró-Brexit por parte dos partidos e
movimentos a favor desse resultado foi o caráter expressivamente nacionalista
e conservador acerca do qual se articularam os seus argumentos, em boa
parte das vezes evidenciando a questão migratória como extremamente
negativa para o Reino Unido, por uma série de motivos. Alguns desses
motivos, fundamentados ou não, foram relacionados à alegação de que os
imigrantes e/ou a política de livre movimento causariam desemprego e
acirramento do déficit nas contas públicas; miscigenação, que minaria a
característica do povo britânico, visto que o país era um dos principais destinos
migratórios; ascensão e facilitação do terrorismo, através da ausência do
controle de bordas e do crescimento islâmico radical; entre outros argumentos,
que foram extremamente determinantes para o resultado.

Além do aspecto migratório, pode-se dizer que existe uma descrença


quanto aos benefícios econômicos da permanência no bloco. Como descrito
anteriormente, a desconfiança e ceticismo quanto a esses benefícios são um
fator histórico, desde a própria decisão de entrada do país, e a percepção geral
dos britânicos pareceu a de que esses benefícios não compensam a perda de
autonomia em questões importantes. Em outras palavras, mesmo com a
opinião de instituições e especialistas, os britânicos estão convictos que podem
fazer melhor por si mesmos.

Existe ainda um aspecto importante, relacionado à articulação política


favorável no contexto atual. O primeiro ministro à época da votação era David
Cameron, que acabou perdendo popularidade tanto em relação ao colégio
eleitoral, quanto em relação aos partidos britânicos. A falta de articulação
favorável ainda contou com uma relativa falta de ação dos eleitores
trabalhistas, mais favoráveis à permanência, e uma ação bem coordenada e
ativa de figuras importantes, a exemplo do líder do Partido Independente do
Reino Unido Nigel Farage, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, e o ministro
da justiça Michael Gove.

Consequências para o Reino Unido e a União Europeia

As consequências para o Reino Unido são, de forma geral, custosas e


incertas, para a maioria dos estudiosos. No entanto, pode-se dizer que elas
dependem de como se dará o processo de saída, e o eventual relacionamento
entre as partes posteriormente a isso. As consequências para ambos o Reino
Unido e a União Europeia presentes neste estudo se referem às conclusões do
Global Counsel, uma consultora respeitada do próprio Reino Unido.
Basicamente, as consequências dependem do modelo de saída adotado pelo
Reino Unido, em que, de forma geral, o país deve escolher em um trade-off
entre elementos políticos e econômicos, em que, quanto melhor politicamente
para o Reino Unido, pior em termos econômicos. Os eventuais modelos de
saída se encontram na Figura 1, nos Anexos ao final deste estudo.

Primeiramente, considera-se que os impactos em termos de comércio e


investimento são mais severos no Reino Unido, devido à saída do mercado
comum e redução da atratividade britânica para investimentos. Haveriam ainda
impactos macroeconômicos importantes, possivelmente negativos, ainda que
sejam de difícil medição e predição e, por isso, não foram realizados. As
consequências para a União Europeia também são incertas, ainda que exista
uma lógica de análise para eventuais possibilidades. A saída de um membro
liberal implica em uma maior dificuldade em conter medidas antiliberais no
bloco, o que representa uma mudança na balança de poder interna, sobretudo
no Parlamento e no Conselho. As consequências gerais em termos relativos
diretos para as partes estão contidas na Figura 2 nos Anexos ao final deste
estudo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou que, completado o
processo de saída, a economia britânica encolheria entre 1,5% e 9,5%; no
entanto, existem argumentos que levam em consideração a liberdade
adquirida, por exemplo, de firmar acordos de livre comércio com outros países
do mundo, o que seria benéfico para a economia britânica. Na questão
comercial, a preocupação interna no Reino Unido ainda é grande, uma vez que
os países europeus são os maiores destinos das exportações britânicas e os
fluxos comerciais dependeriam do relacionamento entre as partes pós-Brexit.

Além disso, o sucesso na aprovação do Brexit alimenta uma onda de


conservadorismo e nacionalismo observados não somente no cenário europeu,
mas em âmbito global. Um evento emblemático disso está no próprio Reino
Unido, em que se reacendeu o debate acerca de uma eventual independência
escocesa, até mesmo devido ao fato de que a maioria da população dessa
região votou a favor da permanência na União Europeia. Uma conjectura
possível – ainda que pouco provável – seria um desmembramento do Reino
Unido, se estabelecendo a Escócia independente dos demais.

A saída britânica ainda provoca alguma influência sobre um cenário de


questionamento acerca da União Europeia, no que diz respeito à sua
influência, efetividade e representatividade por parte dos interesses e
demandas dos Estados-membro e dos cidadãos europeus. Por um lado, a
saída inédita de um Estado-membro claramente reduz a credibilidade e poder
de influência da União Europeia, sendo ainda mais expressivo se tratando do
Reino Unido, que possui um poder econômico importante e representava
inclusive uma das maiores contribuições orçamentárias da instituição
supranacional.

Por outro lado, o exemplo britânico pode ser determinante para uma
reversão desse cenário por parte da União Europeia. A quantidade imensurável
de custos para a saída do Reino Unido é um ponto que se coloca a favor da
supranacionalidade, uma vez que se torna muito improvável a adoção dessa
alternativa por parte de outros Estados-membro. A grande interdependência e
a rede de conexões nos mais variados âmbitos observados atualmente são
uma construção extremamente gradual e de longuíssimo prazo, tornando sua
ruptura algo extremamente complexo e custoso. Dessa forma, a alternativa
mais viável parece se tornar a de promoção e ampliação da
supranacionalidade europeia, através da transferência mais expressiva de
competências e poderes para a União Europeia e para o reforço do
compromisso dos Estados em sacrificar parte de sua autonomia em prol de
uma maior efetividade e expressão em termos internacionais.

Conclusão

A saída do Reino Unido da União Europeia é um evento extremamente


emblemático, relevante e até mesmo determinante para ambos os envolvidos.
A saída inédita de um Estado-membro implica em uma série de negociações,
adaptações e desencadeamentos para os envolvidos, que devem ser levados
em consideração e analisados coerentemente para o cenário futuro.

O esforço de integração na União Europeia, iniciado desde a formação da


Comunidade Econômica do Carvão e do Aço, passando pela criação da
Política Agrícola Comum, a formação da Comunidade Econômica, o Ato Único
Europeu, e a formação da União Europeia até os dias de hoje, tem raízes
profundas e sólidas, apesar de passar por um momento de questionamento e
incerteza. A possibilidade de opção pela alternativa da deserção da União
Europeia por parte do Reino Unido sempre foi palpável, sendo certamente o
país em que essa alternativa era mais próxima que qualquer outro. Os esforços
conjuntos principalmente de Alemanha, França, os Benelux e posteriormente
vários outros países europeus se deram, historicamente, mesmo à parte dos
britânicos, o que pode ser um fator positivo para a sobrevivência e
eventualmente a progressão do bloco europeu após o Brexit.

A necessidade de aprimoramento da influência dos países europeus em


um cenário de crise e perda relativa de poder internacionalmente pós-crise de
2008 pode ainda ser um motor a favor da integração europeia. Isoladamente,
os países europeus possuem poder reduzido frente a grandes potências que
figuram no cenário internacional contemporâneo, como o consolidado EUA e
até mesmo a emergente China. Essa questão faz com que haja a necessidade
de coordenação e representação internacional por meio da União Europeia,
que pode representar um poderio econômico, político e especialmente
normativo significativos para a construção da governança global.

Dessa forma, resta aguardar o desencadeamento dos eventos após o


emblemático Brexit, para analisar o eventual impacto na União Europeia. É
complexo e difícil determinar um balanço e afirmar uma posição final positiva
ou negativa para ambos, mediante a todos os argumentos apresentados, bem
como a inúmeras vicissitudes e dinâmicas completamente imprevisíveis na
política de um processo tão complexo quanto este.

Anexos

Figura 1: diferentes modelos para a saída do Reino Unido da União Europeia


Figura 2: impactos relativos diretos entre Reino Unido e União Europeia com o Brexit

Referências Bibliográficas
Global Counsel. (2015). BREXIT: the impact on the UK and the EU. London.

Jonathan Wadsworth, S. D. (2016, Maio). Brexit and the Impact of Immigration on the
UK. The London School of Economics and Political Science.

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