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A PERSPEGlVA PÓS-COlONIAl objeto de reflexão o que Steven das no incômodo uso do prefixo

Connor chama o " poder em re- "pós", indicativo de uma certa de-
EM HOMI K. BHABA presentação nas linguagens e ima- sorientação com as noções tradi-
gens coloniais" (1992 p.187). O cionais de igualdade/diferença,
de Homi K. 8haba, objetivo desses estudos é analisar passado/presente, inclusão/ exclu-
The /ocafion of eu/fure. os sistemas dominantes de ima- são. Sua intenção é pensar além
gens e linguagens (ocidentalistas, dessas estratégias narrativas e ana-
london, Routledge, 1994,285 p.
sexistas, racistas) que contribuí- lisar os seus espaços de entremeio.
POR IDILVA GERMANO ram para o silenciamento do Ou- São nesses interstícios que são
Professora do Departamento de Psicologia do tro (orientais, mulheres, negros, criadas, por exemplo, as experiên-
Universidode Federal do Ceará e doutorando em nações colonizadas), impedindo- cias de ser nação ("nationess"). A
Sociologia no mesmo instituição. os de se auto definir. partir das marcantes transforma-
Inspirado no Black Skin W7?ite ções contemporâneas (mundiali-
Masks de Frantz Fanon (1952) so- zação, crescente permeabilidade
The Location of Culture de Homi bre a experiência da negritude das fronteiras nacionais, grandes
K. Bhabha reúne uma série de 12 num mundo opressivamente bran- fluxos migratórios, mesclagem
ensaios escritos pelo autor a par- co e nas obras de artistas e intelec- étnico-cultural), o autor pergun-
tir de 1985, nove dos quais publi- tuais da vanguarda contemporâ- ta pelas mudanças que delas po-
cados anteriormente em revistas nea, Bhabha examina o problema dem advir nos modos de repre-
e coletâneas especializadas em lite- da construção da identidade cul- sentação e de fortalecimento po-
ratura e crítica cultural. A obra tural adotando a perspectiva de lítico das populações oprimidas.
constitui-se um esforço de teori- articulação entre as duas esferas Há especificidades que merecem
zação da cultura ocidental a par- tradicionalmente estanques: colo- investigação e teorização. Como
tir da perspectiva pós-colonial, nizador e colonizado. Para o au- ilustração, temos por um lado a
onde a reflexão incide so bre as tor, esses perfis não devem ser racialização da violência urbana
narrativas modernas e suas princi- compreendidos como traços cul- nos conflitos recentes entre corea-
pais categorias, entre as quais des- turais definidos a priori e de for- nos, chicanos e afro-americanos
taca-se a de "nação". O ponto de ma a-histórica. Colonizador e co- nos Estados Unidos, de onde se
vista pós-colonial refere-se à pers- lonizado são construídos num poderiam esperar estratégias de
pectiva de cultura fronteiriça e processo de negociação e troca colaboração e diálogo, já que his-
marginal que os desdobramentos constante de ações culturais que toricamente essas comunidades
contemporâneos do colonialismo produzem um reconhecimento compartilharam situações seme-
originam. Analisando artistas e mútuo e rnutável da diferença lhantes de privação e discrimina-
escritores com aguda sensibilida- cultural. Portanto, há uma ênfase ção social. Por outro lado, na Grã-
de à questão do "transcultural" sobre o caráter performativo e Bretanha, a partir dos efeitos trá-
(Toni Morrison, Nadine Gordi- temporal da produção das diferen- gicos dos Versos Satânicos de Sal-
mer, Derek Walcott, joseph Con- ças étnicas e culturais. Desse mo- mon Rushdie e pondo de lado as
rad), Bhabha observa grande am- do, o espaço de engajamento das diferenças de seus projetos, femi-
bigüidade nas suas expressões de partes - seja no sentido de afilia- nistas negras e irlandesas se uni-
identidade nacional, étnica, sexual ção e consenso ou de antagonis- ram contra o que chamam de "ra-
e cultural. A partir dessas e ou- mo e conflito - é entendido como cialização da religião", o discurso
tras análises, o autor oferece uma um lugar híbrido que produz o dominante mediante o qual o Es-
teoria do hibridismo cultural e da significado cultural. Esse espaço tado representa seus conflitos e lu-
articulação das diferenças sociais, lirninar, observável nas metáforas tas, independente da sua possível
capaz de dar conta dos novos fe- de fronteira (viagem, ponte, esca- natureza secular ou mesmo "se-
nômenos contemporâneos de da, margem) das linguagens ordi- xual". Com efeito, o autor assina-
identificação e política cultural. nárias e na arte contemporânea, la que as categorias teóricas tradi-
Nesse sentido, os ensaios se inse- passam a ser o foco da análise e cionais, marcadas por um cunho
rem entre os estudos de política da proposta teórica do autor. essencialista, escapam a essas pe-
cultural contemporânea desen- Na sua introdução, subintitu- culiaridades, uma vez que
volvidos por autores como Ed- lada" Locations of Culture", Bha-
ward Said, Gayatri Spivak e Terry bha remete para as dificuldades "(...) A articulação social da di-
Eagleton, os quais tomam como atuais da teoria cultural, traduzi- ferença, a partir da perspectiva da

150 Revistode Ciências Sociais v.27 n.l/2 1996


·minoria, é uma complexa e con- to) apenas refletem aquelas divi- de identidade cultural histórica
tÍnua negociação que busca auto- sões geopolíticas e suas esferas de como uma força integradora e
rizar hibridismos culturais que influência. São os interesses da padronizadora, legitimada pelo
emergem em momentos de trans- teoria "Ocidental" necessariamen- Passado original e mantido vivo
formação histórica. (... )Os en- te coniventes com o papel hege- na tradição nacional do Povo."
gajamentos fronteiriços da dife- mônico do ocidente como um (Ibidem p.37). Para Bhabha, o
rença cultural freqüentemente bloco de poder? A linguagem da tempo percebido de forma pós-
podem ser tanto consensuais teoria é meramente uma outra tra- colonial é um tempo disjuntivo,
quanto conflitivos; eles podem ma de poder da elite ocidental não continuista, defasado. Em so-
confundir nossas definições de culturalmente privilegiada a fim ciedades onde coexistem situa-
tradição e modernidade; reali- de produzir um discurso do Ou- ções díspares de ultra-moder-
nham os limites usuais entre o pri- tro que reforça sua própria equa- nidade tecnológica e opressão
vado e o público, alto e baixo; e ção poder-conhecimento?" (Ibi- neo-colonial devidas à divisão
desafiam expectativas normativas dem:21) multinacional do trabalho, a sen-
de desenvolvimento e progresso." sação é de se estar habitando um
(1994:2) Em "The commitment to intervalo de tempo ("time-Iag")
theory", o autor afirma que divi- que provoca atitudes contraditó-
Para Bhabha, as grandes narra- dir a tarefa de crítica social entre rias em relação à modernidade: de
tivas que conectam capitalismo e "teóricos" e "ativistas" obscurece um lado, resistência e conflito; de
classe dirigem os mecanismos da o fato de que ambos representam outro, o desenvolvimento de uma
reprodução social, mas não ofe- formas de discurso político e que condição híbrida que reinscreve
recem em si mesmas uma moldu- a diferença entre eles reside em o imaginário social da moderni-
ra teórica capaz de dar inteligi- suas qualidades operacionais. Um dade. Só quando se compreende
bilidade aos modos de identifica- panfleto de greve tem uma carac- que as proposições culturais são
ção cultural e afiliação política terística expositiva temporaria- construídas nesse espaço contra-
que se formam em torno da sexua- mente presa ao evento; um texto ditório de enunciação é que se po-
lidade, raça, feminismo, do mun- de teoria da ideologia contribui de entender porque as reivindica-
do dos refugiados e migrantes ou no plano das idéias e princípios ções hierárquicas de originalida-
do destino social da AIDS. políticos subjacentes ao direito de de e pureza cultural são insusten-
Bhabha opta por utilizar a des- greve. Não há uma hierarquia ou táveis. A mudança cultural pode
construção derridadiana aliada à mesmo um caráter de "níveis" ser, portanto, investigada nos dis-
psicanálise lacaniana como mé- entre as duas formas: elas são mais cursos híbridos de agentes em situ-
todo de crítica à falsa oposição en- como os lados de uma folha de ação socialliminar, que expressam
tre teoria e prática política. Con- papel. Também entre teoria e po- a vivência de um novo "tipo" de
tra aqueles que acreditam que os lítica, reside um espaço liminar de tempo, um tempo descontínuo de
referenciais e modelos teóricos tensão que produz ambigüidade. tradução e negociação da diferença
europeus são constructos que ne- Esse terceiro espaço é o espaço cultural, não mais apoiado nas cons-
cessariamente omitem a política fronteiriço ocupado pelo sujeito tâncias da tradição nacionalista. Es-
de desigualdades entre o Primei- do enunciado e o sujeito da enun- sas idéias têm um grande impacto
ro e o Terceiro Mundo, o pensa- ciação e que representa tanto as nas formas do debate político so-
dor defende que a crítica não pode condições gerais da linguagem bre a questão colonial, que deve
escolher entre teoria e prática: a quanto a implicação do discurso passar a considerar o dinamismo -
teoria é uma prática narrativa e, numa estratégia performativa e ou a "dialética" - da construção das
portanto, política; não é só repro- institucional específica. Essa pers- identidades nacionais:
dutora, mas também produtora de pectiva de interpretação cultural
realidades. O desafio da crítica tem um efeito de romper com a "O intelectual nativo que iden-
gira em torno das possibilidades lógica de "sincronicidade e evolu- tifica o povo com a cultura nacio-
de superação ideológica da teoria: ção" presentes na tradição de aná- nal verdadeira ficarão desaponta-
lise da cultura que acaba produ- dos. O povo agora é o próprio
"O que exige mais discussão é zindo conceitos unitários e "mo- princípio da "reorganização dia-
se as "novas" linguagens da críti- no líticos". Ela ataca prin- lética" e ele constrói sua cultura
ca teórica (semiótica, pós-estrutu- cipalmente o senso de tem- a partir do texto nacional tradu-
ralista, desconstrutivista e o res- poralidade e, com isso, o "senso zido para formas ocidentais mo-

RESENHAS 151
dernas de tecnologia da informa- substituição (mascarando ausên- principalmente a certeza históri-
ção, linguagem, roupa. O local cia e diferença) e metonímia (que ca e a natureza estabelecida da
político e histórico da enuncia- ao mesmo tempo registra a falta idéia ocidental de nação "corno
ção, agora mudado, transforma os percebida). O fetiche e o estereóti- uma forma obscura e onipresente
significados da herança colonial po, portanto, dariam acesso a urna de viver a localidade da cultura. "
em sinais libertários de um povo identidade derivada tanto do po- (Ibidem p.140) O autor examina
livre do futuro." (Ibidem:38) der e do prazer, quanto da ansie- as complexas estratégias de iden-
dade e da defesa, em suma, con- tificação cultural que funcionam
Em "The Other question: ste- traditória em seu reconhecimen- em nome do "povo" ou da "na-
reotype, discrimination and the to da diferença e repúdio dela. Os ção", tornando-os os sujeitos ima-
discourse of colonialism", Bhabha conflitos prazer/desprazer, domí- nentes de uma série de narrativas
explora o discurso colonial atra- nio/ defesa, conhecimento/ nega- sociais e literárias. Nem categoria
vés de urna análise dos processos ção têm urna relevância crucial sociológica empirica, nem entida-
de subjetivação possibilitados pe- para o discurso colonial: eles fa- de cultural holista, a nação é en-
los seus estereótipos. Parte da zem do discurso estereotipado tendida como "narração" ambí-
idéia de que é necessário evitar mais que urna falsa imagem a ser- gua que produz um contínuo des-
urna posição moralista ou nacio- viço de práticas discriminatórias, lizamento de categorias corno se-
nalista que identifica estereótipos configurando-o corno um texto xualidade, afiliação de classe, pa-
e os elabora num discurso de afir- muito mais ambivalente de pro- ranóia territorial ou diferença cul-
mação da origem e da unidade da jeção e introjeção, um lugar tan- tural.
identidade nacional. Volta sua to de fixidez e quanto de fantasia, As críticas à Bhabha partem
atenção, portanto, para o sistema tanto de culpa, quanto de agressi- principalmente de urna posição
textual que constrói as diferenças vidade. Tanto colonizador quan- "neo-iluminista" (na falta de urna
e os sentidos de "mestiçagern", to colonizado estão presos a esse terminologia mais apropriada)
"impureza" etc. que permitem a tipo de discurso simplificado do que faz urna reflexão geral sobre
circulação e a proliferação da al- Outro que lhes tolhem o reconhe- a capacidade de mobilização po-
teridade racial e cultural. O este- cimento da diferença - reconhe- lítica das estratégias retóricas das
reótipo, principal estratégia dis- cimento esse que permitiria ao teorias "pós". Quando as refle-
cursiva colonial, é um discurso significante "pele/cultura" libe- xões de Bhabha assinalam a fragi-
contraditório para os dois lados, rar-se das fixações das tipologias lidade dos princípios organizado-
tanto para o dominador quanto raciais, das ideologias de domina- res dos movimentos nacionalistas,
para o dominado. Bhabha faz urna ção racial e cultural e teorias da feministas e de negritude etc. (os
leitura psicanalítica do estereóti- degeneração. quais se baseariam em categorias
po colonial em termos de feri- A perspectiva do terceiro espa- estanques que a modernidade oci-
chismo. O estereótipo, corno o ço (e isso me lembra a metáfora dental criou), sua teoria corre o
fetiche sexual, é produzido corno da terceira margem do rio, de Gui- risco de desestimular as tentativas
uma negação ou proibição da di- marães Rosa, bem corno as con- de auto-afirmação que fazem as
ferença. No caso da libido, o re- siderações de Silviano Santiago so- revoltas contra a exclusão e opres-
conhecimento da diferença sexu- bre o lugar "aparentemente vazio" são. A crescente preocupação aca-
al é negado pela fixação num ob- - entre a obediência e a rebelião- dêmica com o fim das grandes
jeto que mascara aquela diferença ocupado pelo intelectual dos tró- narrativas e das utopias iluminis-
e restaura uma presença originá- picos) abre caminhos para a con- tas acaba atrapalhando as lutas
ria. Por sua vez, o estereótipo co- ceptualização de urna cultura in- ernancipatórias que necessitam
lonial expressa urna vacilação es- ternacional (grifo do próprio au- desses ideais moribundos. Mais
trutural entre urna afirmação ar- tor), que não se funda no exo- profundamente, Nelly Richard
caica de similaridade ("Todos os tismo da diversidade cultural, mas adverte para urna nova forma de
homens têm a mesma pele/raça! justamente no seu hibridismo, no colonialismo que se apresenta na
cultura") e a ansiedade associada espaço de negociação do signifi- primazia dos conhecimentos
à falta e à diferença ("Alguns ho- cado cultural. "pós" do Ocidente: "O centro,
mens não têm a mesma pelei A partir dessas premissas, Bha- embora alegue estar em desinte-
raça! cultura"). Assim, no interior bha revela seu projeto intelectu- gração, ainda opera corno centro:
do discurso, o fetiche representa al, que não se limita à questão do apartando de si todas as diver-
um jogo entre a metáfora como nacionalismo, mas que investiga gências ao incorporá-Ias a um sis-

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tema de códigos cujos sentidos ele
continua a administrar, por di-
reito exclusivo, tanto semântica
como territorialmente." (Apud
CONNOR, Steven (1992). Cultu-
ra pós-moderna: introdução às teo-
rias do contemporâneo. São Paulo,
Loyola, :190).
Em resposta a esse tipo de cri-
tica, Bhabha reafirma seu com-
promisso com a teoria, alegando
que faz política, ao escrever aca-
demicamente.
Os trabalhos de Homi Bhabha
têm obtido crescente receptivi-
dade acadêmica que pode ser
constatada pela quantidade de re-
ferências às suas reflexões em te-
ses e ensaios de crítica cultural,
literatura comparada, política cul-
tural e estudos interdisciplinares
das áreas de Humanidades.

RESENHAS 153

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