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ARTIGO

OS PAPEIS SOCIAIS E IDEOLÓGICOS DAS REDES SOCIAIS


NA ERA DA INFORMAÇÃO*

THE SOCIAL AND IDEOLOGICAL ROLES OF SOCIAL NETWORKS


IN THE INFORMATION AGE

LOS ROLES SOCIALES Y IDEOLOGICOS DE LAS REDES SOCIALES


EN LA ERA DE LA INFORMACION

Danielle de Queiroz Soares


Wildoberto Batista Gurgel

Resumo: Análise do papel da internet como elemento para a reorganização da sociedade. Considerando-se
que estamos na era da informação, muitos acreditam que a internet é elemento chave para a reorganização
da sociedade e a promoção do aumento da participação social nas decisões políticas. Concentra-se aqui
a discussão sobre algumas questões centrais relativas ao debate sobre o papel das novas tecnologias da
comunicação nesse fenômeno, bem como suas limitações.
Palavras-chave: Revolução Tecnológica. Ideologias. Emancipação. Capitalismo.

Abstract: Analysis about the role of the Internet as part of the reorganization of society. Considering
that we are in the information age, many people believe that the internet is the key element for the
reorganization of society and the promotion of the increase of social participation in policies decisions.
The discussion about some central issues concerning to the debate on the role of new communication
technologies in this phenomenon, as well as its limitations are presented.
Keywords: Technological Revolution. Ideologies, Emancipation. Capitalism.

Resumen: Análisis acerca del papel de la Internet como parte de reorganización de la sociedad. Teniendo
en cuenta que estamos em la era de la información, muchos creen que el la Internet es la clave para
la reorganización de la sociedad y de la promoción de una mayor participación social en las decisiones
políticas. Se centra la discusión aquí em algunas cuestiones fundamentales relativas al debate sobre el
papel de nuevas tecnologías de comunicación en este fenómeno, así como sus limitaciones.
Palabras clave: Revolución Tecnológica. Ideologías. Emancipación. Capitalismo.

1 INTRODUÇÃO

Recentemente fomos tomados pela notícia recebem apoio de grupos e países que ajuda-
de que alguns acontecimentos dramáticos en- ram a fortalecer o sistema ditatorial vigente
volvendo manifestações públicas e repressão e usam as tecnologias de informação (espe-
militar estavam se desenvolvendo nos países cialmente as redes sociais) para se organiza-
árabes. Espalhando-se a partir da Tunísia, no rem. No tocante ao último ponto, isso chama a
norte da África, com a derrubada do ditador nossa atenção pelo fato de que há alguns anos
Zine El Abidine Ben Ali, em 14 de janeiro de temos investigado os múltiplos usos dessas
2011, uma onda de insurreições juvenis e po- ferramentas, enquanto tecnologias da infor-
pulares despontaram por toda a região atin- mação, na reorganização da sociedade.
gindo o Oriente Médio. Tal movimento tem em O uso dessas tecnologias na condução do
comum alguns pontos que merecem a nossa processo de organização, mobilização e di-
atenção: envolve uma maioria de lideranças vulgação das insurreições apontadas é quase
com menos de trinta anos de idade, lutam óbvio. Tal uso provavelmente começou bem
contra ditadores que estão décadas no poder, antes, mas se tornou mais evidente com o
* Artigo recebido em abril 2011
Aprovado em maio 2011

Cad. Pesq., São Luís, v. 18, n. 2, maio/ago. 2011. 7


Daniele Q. Soares; Wildoberto B. Gurgel

apelo lançado na página We are all Khaled infinidade de atividades que seriam impen-
Said, no Facebook, criada para homenagear a sáveis em outra época.
memória e luta do jovem egípcio Khaled Said, No contexto do capitalismo contemporâ-
espancado até à morte por policiais na cidade neo, o domínio de novas tecnologias inter-
de Alexandria, em 2010. fere diretamente no nível de produtividade
A participação ativa do diretor de marke- obtido pelas pessoas e, portanto, é essencial
ting do Google para o Oriente Médio, Wael para o bom desempenho da maioria das ati-
Ghonim, tanto na construção da página no Fa- vidades – sejam elas econômicas, sociais ou
cebook quanto na veiculação de mensagens políticas – nesse mundo globalizado e com-
conclamando o povo a lutar, via Twitter, antes petitivo. Do mesmo modo, são muitos – so-
e depois de sua prisão no Egito, são outras bretudo entre os amantes da ciência e das
evidências de que a internet estava assumin- novas tecnologias – os que acreditam que a
do um papel preponderante nesses protestos. internet seja o instrumento ideal para ala-
Contudo, diferente do que costumava aconte- vancar a participação social nas decisões po-
cer, os protestos iniciados no mundo virtual não líticas. Tais crenças estão assentadas sobre
ficaram restritos a esse universo. Dessa vez eventos como os acontecidos recentemente
os jovens tomavam as ruas contra os regimes no norte da África e Oriente Médio, mas não
opressores, inicialmente de forma mais pontual são meramente circunstanciais.
(ateando fogo contra o próprio corpo diante Graças à capacidade de interatividade que
dos parlamentos ou em locais públicos, cujas as redes oferecem, hoje já é possível que os
ações eram divulgadas em blogues, sites e mi- cidadãos solicitem informações, expressem
croblogues), depois de forma mais coletiva (a opiniões, fiscalizem as atividades de seus re-
primeira chamada para o protesto na página presentantes e cobrem os resultados prometi-
do Facebook obteve cerca de 90 mil respostas dos por eles sem sair de casa (ou da lanhouse2
dizendo que participariam do protesto contra que frequentam). Tudo isso com uma veloci-
Mubarak na praça Tahir Square, no Cairo, no dade e multiplicidade de olhares que os veícu-
dia 25 de janeiro). los anteriores não conseguiam fornecer. Além
O foco dos protestos tem sido a tortura disso, também é possível organizar redes de
(especialmente a tortura praticada pela ajuda mútua entre comunidades afins, incenti-
polícia), a pobreza (só no Egito, quase a var trocas de saberes e experiências, mobilizar
metade dos 80 milhões de habitantes vive pessoas com interesses comuns em torno das
abaixo ou pouco acima da linha de pobreza, mesmas causas e até mesmo utilizar o recurso
com cerca de dois dólares por dia), a corrup- da colaboração em massa3 para desenhar po-
ção (especialmente a fraude generalizada nas líticas públicas.
últimas eleições) e o desemprego. Em meio Para muitos, o que tem acontecido recen-
a isso, pede-se a queda do atual ditador e temente nos casos citados de lutas contra di-
novas eleições, que no caso do Egito, era a taduras faz parte das possibilidades trazidas
de Hosni Mubarak, há quase trinta anos no pelos avanços nas tecnologias da informação e
poder. A reação dos governantes foi a de, da comunicação. Elas teriam expandido e es-
imediatamente, revidar com a força policial, tariam consolidando, definitivamente, a demo-
usar a propaganda oficial, fazer desacreditar cracia, tornando-a, finalmente, um fenômeno
os protestos e cortar os meios de acesso à de massa. Para outros, esses mesmos avanços
internet, via computadores ou celulares. abrem espaço para uma reorganização revolu-
É verdade que não sabemos ao certo cionária da sociedade e permitem a construção
onde tudo isso vai terminar e como vai ter- de alternativas para além do capitalismo.
minar, mas já sabemos que essa é a pri- Seriam, mesmo, essas novas tecnologias
meira grande onda de protestos organizada tão poderosas? Sem dúvida elas abrem um
via redes sociais com o uso das tecnolo- novo espaço para a luta entre interesses con-
gias de informação, o que de certa forma flitantes: a rede. A dimensão, a velocidade e
já era esperado, afinal vivemos na era da o impacto que as ideias veiculadas via rede
informação1. Em todo o mundo, milhões tomam são verdadeiramente impressionantes.
de computadores interligam pessoas que Se isso vai facilitar – se é que é possível – a
trocam dados, se atualizam com as notícias, conciliação entre as partes divergentes é outra
debatem os mais variados assuntos, fazem história. Aqui, concentramos nossa atenção
compras, pesquisam preços, estudam, se em alguns aspectos peculiares trazidos pela
divertem, trabalham e realizam mais uma popularização da internet: a facilidade como as

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Os Papeis Sociais e Ideológicos das Redes Sociais

ideologias se disseminam e a possibilidade do Admitindo-se, então, que cada indivíduo


desenvolvimento de uma consciência social via perceberá o mundo a partir do ponto de vista
rede. A ideia, é claro, não é esgotar o assunto da classe a qual pertence seria possível pensar
mas apenas refletir um pouco sobre a possibi- na formação de uma consciência coletiva ou,
lidade da emancipação humana no século XXI. por outro lado, imaginar que alguém possa
não desenvolver uma consciência social? Para
2 IDEOLOGIAS EM REDE Konder (2009, p. 183), o apoliticismo não é
uma opção factível:
Segundo Mészáros (2004, p. 57) “[...] A política é uma dimensão da atividade humana. Des-
em nossas sociedades tudo está ‘impregnado de que, com ou sem vontade de fazê-lo, os homens
de ideologia’, quer a percebamos, quer não”. vivem em sociedade, dependem da sociedade para
nascer e sobreviver, não há como ignorar a signifi-
E ele afirma ainda que o poder da ideologia cação política que os comportamentos individuais
não pode ser subestimado pois “[...] afeta inevitavelmente assumem. Tanto as ações quanto as
tanto os que negam a sua existência quanto omissões dos indivíduos repercutem sobre as pesso-
as que os conhecem e com as quais eles lidam.
os que reconhecem abertamente os interesses
e os valores intrínsecos às várias ideologias” A viabilidade de uma consciência coletiva
(MÉSZÁROS, 2004, p. 64). também é uma questão complicada, uma vez
Será, então, que no mundo contemporâ- que não existe um interesse geral, mas inte-
neo teríamos um crescimento das ideologias? resses de classes. A ideia de um pensamento
Justamente no momento de maior avanço da hegemônico4, então, implicaria na imposição
ciência e da técnica, que costumam se apre- do ponto de vista de uma determinada classe
sentar como objetivas e neutras? Antes de sobre as outras. Para Marx e Engels (2007, p.
entrar nessas questões, convém delimitar 72) isso significa:
o que entendemos aqui por ideologia. Para Cada nova classe que passa a ocupar o posto daquela
que dominou antes dela se vê obrigada, para poder
Mészáros (2004, p. 65): encaminhar os fins que persegue, a apresentar seu
A ideologia não é ilusão nem superstição religiosa de próprio interesse como o interesse geral de todos os
indivíduos mal-orientados, mas uma forma específica membros da sociedade – quer dizer, expressando o
de consciência social, materialmente ancorada e sus- mesmo em termos ideais -, a imprimir a suas idéias
tentada. Como tal, não pode ser superada nas socie- a forma da universalidade, a apresentar essas idéias
dades de classe. Sua persistência se deve ao fato de como as únicas racionais e válidas universalmente.
ela ser constituída objetivamente (e constantemen-
te reconstituída) como consciência prática inevitável
Tal raciocínio seria válido para qualquer
das sociedades de classe, relacionada com a articula- sociedade dividida em classes, onde inadverti-
ção de conjuntos de valores e estratégias rivais que damente uma delas assumiria a posição domi-
tentam controlar o metabolismo social em todos os
seus principais aspectos.
nante submetendo as demais a seus valores.
Na sociedade capitalista esse processo é ainda
Tal perspectiva remete a Marx e Engels mais avassalador, pois se dá de forma sutil e
(2007, p. 9) que, no século XIX, já afirmavam: complexa. Segundo Gramsci (2007, p. 271):
“[...] o que os indivíduos são, como seres, As classes dominantes precedentes eram essencial-
depende das condições materiais da sua pro- mente conservadoras, no sentido de que não tendiam
dução”. Assim, eles mesmos concluem mais a a assimilar organicamente as outras classes, ou seja
a ampliar “técnica” e ideologicamente sua esfera de
frente que “[...] a moral, a religião, a metafísi- classe: a concepção de casta fechada.
ca e outras ideologias – bem como as formas A classe burguesa põe-se a si mesmo como um or-
ganismo em movimento, capaz de absorver toda a
de consciência a elas correspondentes – não
sociedade, assimilando-a a seu nível cultural e eco-
são capazes de autonomia, a não ser aparen- nômico; toda a função do Estado é transformada: o
temente”. Na prática, tais afirmações implicam Estado torna-se “educador”.
que, em uma sociedade dividida em classes – O império das ideias de “liberdade” e
com interesses diametralmente opostos como “igualdade” – traços típicos da dominação bur-
é o caso da sociedade capitalista – a consciên- guesa – e o sonho da ascensão social facilitam
cia dos indivíduos vai variar de acordo com a a disseminação dos valores de uma classe e
classe a que pertencerem. Na visão de Marx e permitem que estes se passem por universais.
Engels (2007, p. 53), isso soa assim: Mészáros (1993, p. 89), no entanto, adverte:
A consciência é, portanto, já de antemão um produto [...] em uma época em que, realmente, a distância
social, e o seguirá sendo enquanto existirem seres entre os que ‘têm’ e os que ’não têm’ continua a cres-
humanos. A consciência é, em princípio, naturalmen- cer, e as únicas ‘fusões’ que pudemos testemunhar,
te, consciência do mundo imediato e sensível que nos em escala global, foram os resultados de propostas
rodeia, e consciência dos nexos limitados com outras de encampamento, que produziram monopólios gi-
pessoas e coisas, fora do indivíduo consciente de si gantes, ‘oligopólios’, ‘duopólios’, ‘conglomerados’ e
mesmo. ‘superconglomerados’ – os representantes da supos-

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Daniele Q. Soares; Wildoberto B. Gurgel

ta ‘intelligentsia descomprometida’ continuaram a es- da realidade) não significa que sua consciên-
crever sobre a ‘igualização’, ‘a institucionalização do
conflito’, a ‘convergência’ e assim por diante.
cia real – ou seja, aquilo que realmente pensa
o proletário ou mesmo o proletariado em seu
Parece difícil conseguir encaixar a realida- conjunto – não sofra influências do meio. Isso
de contemporânea, onde os homens parecem porque, nas palavras de Löwy e Naïr (2002, p.
mais desiguais do que nunca, nesse modelo ge- 44), a consciência possível porta contradições
neralizador. O conflito fundamental da socieda- de ordens externas e internas:
de capitalista – aquele que de acordo Mészáros A consciência real pode se distanciar da consciência
(2004, p. 65) “[...] refere-se à própria estru- possível, sofrer influência da ideologia de outras clas-
tura social que proporciona o quadro regulador ses ou então se aproximar delas, sobretudo em situa-
ções de crise. É evidente que a relação entre as duas
das práticas produtivas e distributivas” – per- formas da consciência varia de acordo com as classes
manece o mesmo. Mas, se é assim, como se sociais e no interior delas.
sustenta o discurso dominante? Para Mészáros
Seriam, no entanto, todas essas consi-
(2004, p. 69), ele se vale de um quadro cate-
derações – pensadas para a era do capitalis-
gorial que atenua os conflitos existentes:
mo industrial – válidas na era da informação?
[...] o que se espera das auto-imagens da ideolo-
Podem a ciência e a técnica se apresentar
gia dominante não é o verdadeiro reflexo do mundo
social, com a representação objetiva dos principais como neutras quando são fruto do investimen-
agentes sociais e seus conflitos hegemônicos. Antes to de determinada parcela da sociedade que
de tudo, elas devem fornecer apenas uma explicação
possui interesses bem determinados? A inter-
plausível, a partir da qual se possa projetar a estabi-
lidade da ordem estabelecida. É por isso que a ideo- net, como canal que permite disseminar ideo-
logia dominante tende a produzir um quadro catego- logias em alta velocidade e alcance, funciona
rial que atenua os conflitos existentes e eterniza os
parâmetros estruturais do mundo social estabelecido.
como instrumento de dominação ou é uma fer-
ramenta revolucionária capaz de transformar a
A ruptura com o pensamento dominante consciência social das pessoas?
não é fácil, e certamente não partiria de um Considerando que continuamos vivendo
membro da própria classe dominante. Para em uma sociedade dividida em classes – dos
Goldmann (apud LÖWY; NAÏR, 2002, p. 43), “que têm” e dos que “não têm” como colocou
“o proletariado” (ou a classe dominada) seria a Mészáros (1993, p. 89) – e que os interesses
única classe “[...] cuja consciência tem a pos- dessas classes continuam conflitantes, perma-
sibilidade objetiva de ultrapassar as catego- nece atual a crítica de Marx, Engels, Gramsci,
rias do pensamento burguês”, isso porque seu Mészáros e Goldmann. Entretanto, o aprofun-
ponto de vista “[...] é capaz de conhecer mais damento das contradições do capitalismo, em
objetivamente a realidade social”. Resumindo, sua etapa mais complexa, faz emergirem ins-
a classe dominada seria a única que poderia trumentos potencialmente revolucionários por
romper com a ordem estabelecida, porque é a mais que tenham sido criados para perpetuar o
única que não teria nada a perder. modelo existente. É importante destacar, como
A ordem desses argumentos está condi- bem o colocou Lojkine (2002, p. 21), que “as
cionada à categoria de consciência possível, mutações sócio-técnicas” devem ser “tomadas
que segundo Löwy e Naïr (2002, p. 43), com como potencialidades contraditórias”. Ou seja,
bases nas teorias de Goldmann, é associada tanto podem ser utilizadas para aprofundar o
ao máximo de consciência que uma classe controle do capital sobre a sociedade quanto
pode desenvolver: podem dar margem a novos arranjos.
A expressão ‘consciência possível’ é a tradução A rede é um desses instrumentos. Para en-
de Goldmann para o conceito de Zugerechnetes tender melhor as questões que envolvem seu
Bewusstsein (literalmente, ‘consciência adjudicada’
ou ‘consciência atribuída’), definido por Lukács em universo, convém analisar como ela funciona
História e consciência de classe como a consciência na prática.
que corresponde racionalmente à posição de uma
classe no processo de produção. Goldmann desenvol-
3 A CONSCIÊNCIA POSSÍVEL “DA”
ve e enriquece esse conceito ao demonstrar que ele
constitui o máximo de consciência possível de uma ERA DA INFORMAÇÃO
classe, o limite que sua consciência da realidade não
pode ultrapassar, o horizonte de seu ‘campo de visi- Atualmente, quando a tecnologia dispo-
bilidade’ social.
nível já permite operar educação em massa
Goldmann (apud LÖWY; NAÏR, 2002, p. e a difusão da informação ocorre por inúme-
43) ressalta, no entanto, que o fato da classe ros instrumentos diferentes, o debate sobre a
dominada ser aquela “[...] cuja consciência participação social volta à tona com enorme
possível está mais próxima da verdade” (ou intensidade. Temas como violência, habita-

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Os Papeis Sociais e Ideológicos das Redes Sociais

ção, saúde, educação e outros direitos fun- popular no desenvolvimento de legislações, na


damentais estão constantemente na mídia. definição de novas demandas, na proposição
Será que, finalmente, na era da informação, de soluções alternativas etc. De acordo com
teremos a classe historicamente dominada se Lévy (1999, p. 195) a democracia eletrônica
envolvendo ativamente nas decisões políti- não se restringe ao acesso a pontos de cone-
cas? Será que existe a possibilidade de que xões, mas passa pelo conteúdo vinculado que
eventos recentes, como os acontecidos nos estimula, ou não, à participação democrática
países árabes, se espalhem pelo mundo e tor- na vida cívica:
nem-se uma constante?
É muito cedo para dizer que sim, contudo, A verdadeira democracia eletrônica consiste em en-
observa-se que o uso das tecnologias da infor- corajar, tanto quanto possível – graças às possibilida-
des de comunicação interativa e coletiva oferecidas
mação e da comunicação, com o objetivo de pelo ciberespaço – , a expressão e a elaboração dos
dar maior transparência e agilidade às gestões problemas da cidade pelos próprios cidadãos, a auto-
públicas, vem aumentando em todo o planeta. -organização das comunidades locais, a participação
nas deliberações por parte dos grupos diretamente
De acordo com Castells (2003, p. 114), essa afetados pelas decisões, a transparência das políticas
ferramenta está sendo privilegiada pelos mo- públicas e sua avaliação pelos cidadãos.
vimentos sociais, tanto os de controle quanto [...] as possibilidades técnicas do ciberespaço tor-
nariam facilmente praticáveis formas inéditas de
os de contra-controle sociais: democracia em grande escala etc. Para cortar o mal
Uma vez que a Internet está se tornando um meio pela raiz imediatamente os mal-entendidos sobre a
essencial de comunicação e organização em todas as “democracia eletrônica”, vamos esclarecer novamen-
esferas de atividade, é óbvio que também os movi- te que não se trata de fazer votar instantaneamente
mentos sociais e o processo político a usam, e o fa- uma massa de pessoas separadas quanto a proposi-
rão cada vez mais, como um instrumento privilegiado ções simples que lhes seriam submetidas por algum
para atuar, informar, recrutar, organizar, dominar e demagogo telegênico, mas sim de incitar a colabora-
contradominar. ção coletiva e contínua dos problemas e sua solução
cooperativa, concreta, o mais próximo possível dos
Mesmo em países onde o avanço trazido grupos envolvidos.

pela revolução digital ainda está restrito a


poucos, como no caso do Brasil – uma pes- Por fim, a e-política consistiria no uso das
quisa do Comitê Gestor da Internet (CGI), ferramentas digitais para fazer um novo tipo
referente ao ano de 2009, revelou que 43% de política, dissociada ou à margem do Estado,
da população brasileira, residente em área com o fortalecimento de entidades da socieda-
urbana, nunca utilizou um computador, 51% de civil organizadas em rede.
das pessoas nunca “navegaram” pela rede –, Em um rápido navegar pela Internet é pos-
os governos eletrônicos começam a ser im- sível acessar tanto os sites governamentais
plantados. Isso traz impactos significativos na quanto os das organizações não-governamen-
vida política, que segundo Sorj (2003, p. 48), tais (ONGs), os produzidos por movimentos
podem ser separados em três níveis: e-gover- sociais, os dos segmentos socialmente discri-
nança; e-governo e e-política. minados, aqueles especializados em política
A e-governança diz respeito à utilização da etc. E o espectro ideológico varia da direita à
Internet para aumentar a eficácia, a eficiên- esquerda, passando por sites fascistas e racis-
cia, a qualidade, a transparência e o poder de tas às organizações de extrema-esquerda.
fiscalização das ações e serviços do governo O ciberespaço5, certamente, tornou-se um
e das instituições públicas. Através dela, por local disputado. A pluralidade de ideias e infor-
exemplo, é possível: divulgar todas as ativida- mações circulando livre e democraticamente,
des dos diferentes órgãos do governo (incluin- aliada às facilidades que a tecnologia colocou
do acompanhamento de orçamentos e gastos ao nosso alcance, é, sem dúvida, um fator po-
públicos); melhorar a rapidez, o alcance e a lítico positivo. Nesse universo, há um potencial
qualidade dos serviços prestados; prestar extraordinário para a construção da cidadania
serviços on-line (emissão de certificados, pa- e o fortalecimento da democracia. No entanto,
gamento de contas, declaração de impostos como coloca Castells (2003, p. 114), será que
etc.); realizar leilões eletrônicos, licitações pú- o papel da Internet na expressão de protestos
blicas etc. sociais e conflitos políticos tem sido meramen-
O e-governo inclui o voto eletrônico e te instrumental? Ou pode-se dizer que ocorre
a possibilidade de os cidadãos interagirem no ciberespaço uma mudança nas regras do
com as instituições públicas na regulamenta- jogo que acaba por modificar as formas e ob-
ção de atividades diversas. Dessa forma, por jetivos dos atores políticos? No caso do Egito,
exemplo, é possível considerar a participação poderíamos ainda nos perguntar acerca do

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Daniele Q. Soares; Wildoberto B. Gurgel

papel de uma empresa como o Google na or- fundamental para a reprodução das condições “su-
perestruturais” da dominação burguesa. Além dis-
ganização da mobilização acontecida. Quais so, diferentes estatutos de cidadania terminam por
interesses estão por trás de países como EUA, transformá-la no oposto de si mesma, dilacerando-a
França e Inglaterra para fornecerem acesso em uma hierarquia de privilégios.
a internet naquela região durante os protes- A comunicação mediada por computador
tos? Por que Wael Ghonim foi mobilizado para (inclusive os portáteis), por seu caráter trans-
o Egito dois dias antes de iniciar os protes- nacional, afeta a participação social e exige
tos? Esse movimento é manobrado pelas po- a reconfiguração dos direitos para uma vida
tências capitalistas? Quem são os verdadeiros coletiva no ciberespaço. As megacorporações
atores sociais dos protestos do norte da África atuam para manter e ampliar em uma socie-
e Oriente Médio organizados via redes sociais? dade informacional os poderes que detinham
Em uma analogia histórica, Castells (2003, no capitalismo industrial. Para tanto, precisam
p. 115) compara a constituição do movimento conter a hipercomunicação pública e torná-la
operário na era industrial, que não poderia ser comunicação privadamente controlada, substi-
isolado da fábrica industrial como seu cenário tuindo a ideia de uma cultura livre pela cultura
organizacional, ao momento atual. A Internet, da submissão ou do licenciamento. É preciso
segundo ele, não é apenas um meio de co- lembrar que o ciberespaço não existe desco-
municação mas sim a infraestrutura material lado do mundo material e que a infraestrutura
de uma determinada forma de organização: a lógica e física da maioria das redes está sob o
rede. Assim, os movimentos sociais da era da controle das mesmas pessoas e empresas que
informação seriam, essencialmente, mobiliza- sempre controlaram o capital.
dos em torno de valores culturais e não ge- O problema da participação social, em
ográficos. Muito do entendimento e da forma um cenário de globalização e transnaciona-
como lidamos com os assuntos de natureza lidade, coloca-nos diante da necessidade de
política e social, no entanto, ainda está condi- enfrentarmos a discussão do papel das comu-
cionado por uma visão que tem suas raízes no nicações e das tecnologias da informação nos
espaço público clássico, racionalista, que enfa- processos de mudança e permanência das re-
tiza a possibilidade de reunião dos indivíduos lações sociais. De acordo com Sorj (2003, p.
numa situação de copresença para discutirem 37), não podemos separar o ciberespaço ou
assuntos acerca dos quais concentrem suas telemática das condições materiais nas quais
atenções. As novas mídias digitais, contudo, ele está fundado:
transformaram a organização espacial e tem- A Internet surge num momento em que o capitalismo
poral da vida social, criando novas formas de passava por uma profunda transformação do sistema
produtivo e social, na qual ela funciona como cata-
ação, de interação e de exercício do poder. lisador, acelerador, potencializador e reordenador. É
Em grande parte, as novas tecnologias da importante, contudo, enfatizar que a telemática, per
informação e da comunicação, associadas à si, não é condição suficiente para tais transformações
nem foi sua condição necessária. O esquecimento
globalização da economia, vêm contribuin- da história social recente do capitalismo tem leva-
do para pôr em xeque os valores do Estado- do vários autores a um determinismo tecnológico, à
-nação moderno, modificando a concepção de glamourização da Internet e a uma visão irrealista
das condições sociais dentro das quais a telemática
cidadania vinculada ao exercício de direitos funciona e impacta nas pessoas.
e deveres num território geográfico. A noção
de contrato social perde o sentido para dar Essas condições estão inseridas nas con-
lugar a sociabilidades eletivas. Ao invés dos tradições típicas de nossas sociedades. Não
laços comunitários tradicionais, surgem novas são à parte das outras estruturas, embora
formas do “estar-junto” associadas às mídias. possam evidenciá-las. Morgenthau (2002, p.
De acordo com Almeida (1997, p. 76), essas 187) destaca um aspecto que instiga questio-
formas redesenham e podem enfraquecer a namentos da ordem quando afirma:
noção de cidadania: A humanidade, ao longo de sua história, sempre es-
teve dividida por diferenças drásticas nos padrões
Na medida em que se enfraquece, nos termos já ex- de vida. O que torna distinta a situação presente é
plicitados, o papel do Estado burguês, parecem surgir a maior consciência dessas diferenças por parte de
(muitas vezes em aberta competição com ele) pre- todos os membros da humanidade, tanto os benefi-
tendentes a novos instituintes da cidadania, alguns ciados como os desfavorecidos, graças aos avanços
deles dotados de significativa margem de “extrater- das modernas tecnologias. Essa melhor consciência
ritorialidade” (como é o caso das empresas transna- coincide com a ascendência, em todo mundo, do prin-
cionais) e cada qual reivindicando uma legitimidade cípio de igualdade, tanto de oportunidades como de
específica. Trata-se – como se viu – de um processo condições. Daí as aspirações da parcela dos desfavo-
duplamente contraditório. O questionamento da cida- recidos, no sentido de que seja reduzida a distância
dania significa a problematização de uma categoria entre os ricos e os pobres, - e o desconforto moral

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Os Papeis Sociais e Ideológicos das Redes Sociais

dos ricos diante dessas aspirações. Não seria neces- moção da inclusão digital em larga escala
sário acrescentar que essas aspirações e o decorrente
desconforto moral – nenhum dos dois passíveis de
assume caráter emergencial. Segundo o dis-
ser satisfeito ou atenuado em uma escala mundial curso Rondelli (2003), inclusão digital cor-
– são empregados amplamente como justificações e responde a alfabetização digital: “Inclusão
racionalizações ideológicas para fins políticos espe-
cíficos a serviço dos interesses nacionais concretos.
digital é, dentre outras coisas, alfabetização
digital. Ou seja, é a aprendizagem necessá-
Se, por um lado, parece claro que as tec- ria ao indivíduo para circular e interagir no
nologias da informação e da comunicação, por mundo das mídias digitais como consumidor
si só, não criam revoluções, por outro lado, e como produtor de seus conteúdos e pro-
não se deve cair no mito da neutralidade cien- cessos”. Assim, estar incluído digitalmente
tífica. As técnicas, quando inventadas, sempre significa, antes de tudo, ter acesso às tec-
guardam um pouco das intenções de quem as nologias da informação e da comunicação e
criou. Algumas podem ter seu uso desvirtuado poder adquirir, armazenar, processar e distri-
ou reconfigurado, mas raramente permane- buir informações eletronicamente.
cem neutras. Para Silveira (2005, p. 18), a relação entre
A concentração de poder comunicacio- cidadania, inclusão digital e acesso à informa-
nal, por exemplo, na sociedade da informação ção é basilar:
poderá ser muito maior do que a ocorrida com a Sem dúvida alguma, é possível crer que com a maci-
mídia de massas (imprensa escrita, rádio etc.) ça inclusão das pessoas na sociedade da informação
na sociedade industrial. Para se ter uma ideia, teremos uma explosão das possibilidades de cidada-
nia. E quanto mais cidadãs forem as pessoas, mais
no ano de 2002 mais de 90% dos computadores conscientes serão das necessidades de reinvenção da
pessoais do mundo utilizava o sistema opera- dinâmica social excludente e desigual.
cional de uma única empresa norte-americana,
Considerando quão diferentes são as pos-
a Microsoft. O sistema operacional é o princi-
turas dos países menos desenvolvidos com
pal programa de uma máquina para processar
relação à educação, incentivos à pesquisa, le-
informações. Ele define como a máquina deve
gislação de propriedade intelectual e também
agir, como deve alocar a memória, que tipos
levando em conta as diversas realidades de
de programas podem ou não ser instalados
seus mercados internos – que podem ser mais
nela, entre outras funções. Por dominar a lin-
ou menos propensos a sustentar processos de
guagem básica dos computadores, essa com-
inovação tecnológica – é complicado imagi-
panhia também passou a dominar o mercado
nar que as soluções ou os caminhos a serem
de navegadores web6, uma vez que passou a
adotados rumo à disseminação do progresso
vendê-lo junto com seu sistema operacional,
tecnológico seriam os mesmos para todos ou,
desbancando todos os outros existentes.
pelo menos, semelhantes.
Percebe-se, assim, que o problema de
quem pode participar das decisões na socie- 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
dade, e em que termos, não é apenas uma
questão de âmbito legal e da natureza formal Voltando à nossa reflexão inicial, afinal, a
dos direitos que ela implica. É também uma internet é um instrumento de dominação uti-
questão de capacidades não-políticas dos ci- lizado para disseminar a ideologia burguesa
dadãos derivadas dos recursos sociais e sim- ou é uma ferramenta revolucionária capaz de
bólicos que eles dominam e aos quais possuem transformar a consciência social das pessoas
acesso. Ou seja, todo esse progresso técnico e promover a emancipação humana7? Sem
observado nos últimos anos pode, de acordo dúvida, ela tem se prestado muito a divulgar
com Silveira (2005, p.41), acabar elevando a a ideologia dominante, entretanto, contradito-
desigualdade social ao assegurar um serviço riamente, também possui suas potencialidades
público mais completo e veloz somente para revolucionárias.
segmentos privilegiados da sociedade. A informação, ainda que disfarçada, fil-
O discurso atual, que divide as nações, trada e controlada, circula em volume muito
basicamente, segundo o seu grau de progres- mais significativo do que em qualquer outro
so tecnológico, prega, na ótica de Chesnais período da história. Registros públicos e mais
(1996, p. 37), a necessidade da modernização um amplo espectro de dados estão disponí-
como elemento indispensável à participação no veis on-line, podendo ser acessados por qual-
mundo globalizado. Sabendo-se que é indiscu- quer pessoa a qualquer tempo. É bem verdade
tível a importância da informação no mundo que para ter acesso a esse mundo, como já
em que se vive, fica fácil perceber que a pro- vimos, é preciso estar incluído digitalmente e

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Daniele Q. Soares; Wildoberto B. Gurgel

muitos ainda não estão. Contudo, assim como


aconteceu com a popularização dos telefones NOTAS
celulares, é muito provável que o número de
1. A era da informação é, segundo Castells (1999,
pessoas com acesso à internet cresça cada vez p.67), “[...] um intervalo cuja característica é
mais rápido nos próximos anos. a transformação de nossa ‘cultura material’
Isso não significa que apenas o acesso à pelos mecanismos de um novo paradigma tec-
informação será capaz de mudar a mentali- nológico que se organiza em torno da tecnolo-
gia da informação”.
dade das pessoas e produzir comportamentos
revolucionários. A maioria das propostas em 2. Lanhouse é o estabelecimento no qual é ofe-
recido o uso destes computadores ligados em
pauta para alterar a realidade de exclusão, à
rede para acesso à Internet e programas em
que está condenada grande parte da popula- geral, como os jogos eletrônicos e/ou soluções
ção, o faz dentro dos limites do capitalismo, de escritórios. Em geral, é cobrada uma taxa
na maioria das vezes, inclusive, pensando em dos usuários proporcional ao tempo de uso.
sua expansão. A contradição evidente que se 3. O termo colaboração em massa é a tradu-
coloca entre os interesses do grande capital e ção mais utilizada para a expressão “peering”
da classe trabalhadora permanece intocada e cunhada por Yochai Benkler, professor da uni-
versidade americana de Yale. A colaboração
a dominação de uma classe por outra parece
em massa acontece toda vez que grupos de
pouco ameaçada. pessoas (que podem conter números imensos
Silveira (2005, p. 5) adverte, contudo, que de participantes) se unem, no ambiente virtu-
“[...] ter acesso à tecnologia e abrir as portas al da rede, para produzir bens e serviços que
da informação é o passo inicial. Indispensável, serão distribuídos gratuitamente entre todos
aqueles que tiverem interesse por eles.
mas pequeno.” Afinal, “[...] ter contato com
a informação pode não gerar conhecimento”. 4. De acordo com Gramsci (2007, p. 95) “[...]
o exercício ‘normal’ da hegemonia, no terre-
Não ter esse contato, por outro lado, torna o
no tornado clássico do regime parlamentar,
processo do conhecimento muito mais compli- caracteriza-se pela combinação da força e do
cado. A própria cidadania fica prejudicada. consenso, que se equilibram de modo variado,
A necessidade de promover a inclusão sem que a força suplante em muito o consen-
digital, a despeito das inúmeras discussões que so, mas ao contrário, tentando fazer com que a
força pareça apoiada no consenso da maioria,
possa gerar e até por causa delas, é urgente. expresso pelos chamados órgãos da opinião
Afinal, como bem colocou Almeida (2002, p. pública – jornais e associações –, os quais, por
154), as lutas que a internet pode organizar, isso, em certas situações, são artificialmente
promover e difundir, sejam motivadas por multiplicados”.
causas sociais ou das mais diversas ordens, 5. De acordo com Lévy (1999, p.193): “[...] o ci-
não acontecerão se uma luta anterior as pre- berespaço, conexão dos computadores do pla-
ceder: a luta para democratizar os meios de neta e dispositivo de comunicação ao mesmo
tempo coletivo e interativo, não é uma infra-
comunicação. E, sem essa luta, não há como -estrutura: é uma forma de usar as infra-es-
sair da barbárie nua e crua que o capitalismo truturas existentes e de explorar seus recursos
nos oferece. Nessa perspectiva, as lutas ela- por meio de uma inventividade distribuída e
boradas a partir das tecnologias da informação incessante que é indissociavelmente social e
técnica”.
são retroalimentadas pelas lutas que democra-
tizam o acesso à informação ao mesmo tempo 6. Web – diminutivo de World Wide Web, ou Teia
que as alimentam. do Mundo Inteiro, apelido pelo qual ficou co-
nhecida a Internet.
As insurreições levantadas entre usuários
de redes sociais no norte da África e Oriente 7. De acordo com Marx (2005, p.42) é “[...] so-
mente quando o homem individual real recu-
Médio podem ainda não dar em nada significa-
pera em si o cidadão abstrato” ou seja “[...]
tivo do ponto de vista das transformações polí- quando já não separa de si a força social sob
ticas; podem, no máximo, resultar numa troca a forma de força política, somente então se
de serviçais ao capitalismo globalizado, mas já processa a emancipação humana”.
mostrou ao mundo que o ciberespaço possui
um poder de mobilização muito grande. Caiu
a fantasia de que as redes sociais são apenas REFERÊNCIAS
instrumentos de alienação para adolescentes ALMEIDA, Lúcio F. Corrosões da cidadania:
sem vida social. Certamente os olhos do con- contradições da ideologia nacional na atual
trole e do contra-controle sociais estarão mais fase de internacionalização do capitalismo.
abertos para elas, a partir de agora. Lutas Sociais. São Paulo, n. 1, 1997.

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Os Papeis Sociais e Ideológicos das Redes Sociais

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