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Conceito(s) de norma

Uma breve análise sobre a classificação de von Wright

Bruno Calabrich

Sumário
1. A classificação das normas propostas por
von Wright e os elementos da norma prescritiva.
2. A norma prescritiva segundo von Wright e a
conceituação da norma jurídica segundo Kelsen e
Hart. 3. A classificação de von Wright e a ausência
de conceituação geral de “norma”. 4. conclusão.

1. A classificação das normas


proposta por von Wright e os
elementos da norma prescritiva
Entre as várias contribuições do fin-
landês Georg Henrick von Wright para a
filosofia do Direito, sem dúvida merece
destaque a sua classificação das normas,
por alguns já chamada até mesmo de clás-
sica (Cf. LAGIER, 1995, p. 245).
Por ser bastante precisa e completa, a
classificação das normas proposta por G.
H. von Wright (1963), em sua obra Norma e
Ação, é amplamente aceita pelos estudiosos
da ciência do Direito. De fato, a proposta
de von Wright (1963), embora não imune
a críticas, é usada por diversos pensadores
do Direito como mote para a descrição dos
elementos caracterizadores da norma jurí-
dica (e, dentro do abrangente espectro das
normas jurídicas, as normas jurídicas pres-
critivas ou normas-mandato, em especial)
Bruno Calabrich é mestre em Direitos em cotejo com outras espécies de norma.
Fundamentais pela FDV, professor da Escola Von Wright (1963) classifica as normas
Superior do Ministério Público da União e Pro- em seis espécies, sendo três principais e
curador da República em Sergipe. três secundárias.
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As espécies principais são as 1) normas fazer com que o sujeito normativo tenha
definitórias ou determinativas, 2) normas conhecimento da vontade da autoridade
diretivas ou normas técnicas e 3) normas normativa, esta promulga a norma. E para
prescrições. dar efetividade a essa vontade, a autoridade
As normas definitórias ou determinativas normativa acrescenta à norma uma sanção,
são o caso típico das regras dos jogos. Tais que é justamente a ameaça da aplicação
regras determinam quais são as ações de um mal1.
permitidas e quais são as ações proibidas Ao lado dessas, von Wright (1963) con-
dentro de um determinado jogo. Se tais cebe três espécies secundárias de normas:
regras não são seguidas, diz-se que o jogo 1) normas ideais, 2) costumes e 3) normas
não está sendo jogado corretamente ou que morais.
não se está jogando o jogo em questão. No As normas ideais não se referem dire-
futebol, à exceção dos goleiros, nenhum dos tamente a uma ação, mas sim estabelecem
jogadores pode jogar com as mãos (a não um padrão ou modelo ótimo dentro de uma
ser na cobrança de laterais). Tais espécies classe. São dessa espécie as normas que
de regras seriam da mesma natureza das indicam que alguém é um bom professor,
regras de gramática ou de cálculo lógico e um bom marido, um bom jogador de fute-
matemático (alguém que não siga as regras bol. As regras ideais tratam das virtudes
de gramática do português pode até ser características dentro de uma classe.
compreendido, mas certamente não falará As normas ideais aproximam-se tanto
o português correto e, quiçá, falará outro das regras técnicas (tende a ser melhor
idioma). aquele que melhor conhece e realiza a
As diretivas ou normas técnicas são nor- regra técnica, ou seja, os meios adequados
mas que indicam um meio para se alcançar aos fins) quanto das regras determinativas
certo fim. Exemplo típico são as instruções (porque indicam um modelo a ser segui-
de uso de um determinado aparelho ele- do).
trônico ou de um programa de informática Costumes são hábitos repetidos com
(“para abrir um novo arquivo do Word, regularidade na conduta de indivíduos em
pressione ctrl-n”). circunstâncias semelhantes. Distinguem-se
As normas técnicas não se destinam os costumes dos demais hábitos porquanto
a dirigir a vontade do destinatário, mas são aqueles sociais, ou seja, são reiterados
sim a indicar-lhe o caminho (ou o melhor pelos indivíduos como prática verificável
caminho) para obter determinado resulta- dentro de uma comunidade, e não como
do. Assim, são hipotéticas, e dependem da uma prática individual isolada. Em outras
vontade do sujeito para serem realizadas palavras, os costumes distinguem-se dos
no plano fático. outros hábitos por serem compartidos por
Prescrições são normas que se destinam toda a comunidade.
a orientar (dirigir, determinar) a conduta O caráter social do costume lhe imprime
de alguém. Sua característica marcante uma pressão normativa, um caráter de obri-
é a superioridade do sujeito emissor em gatoriedade em vista da crítica e das san-
relação ao destinatário (SANTINO NINO, 1
Tal conceito, evidentemente, não abrange a
2000, p. 66). Tal superioridade pode ser sanção premial. Nada obstante, é possível adequá-lo,
física (pela possibilidade de infligir um mal bastando que se diga que a vontade da autoridade
ao destinatário) ou moral (em sentido am- normativa, que se realiza na conduta do sujeito nor-
plo). Emanam de uma vontade do emissor mativo, será alcançada mediante um benefício, um
prêmio que se o concederá caso este se conduza da
da norma, a quem se denomina autoridade forma querida pela autoridade, e não pela aplicação
normativa. São destinadas a um agente, a de um mal (no caso de o agente portar-se do modo
quem se chama de sujeito normativo. Para não desejado pela autoridade).

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ções da sociedade, que reconhece tal hábito institutos jurídicos, como contratos, testa-
como o único a ser adotado por todos. mentos etc.), normas consuetudinárias (de
Os costumes assemelham-se às pres- premência evidente, sobretudo no Brasil,
crições por terem um caráter obrigatório. onde são expressamente integradas ao
Entretanto, distinguem-se daquelas pelo ordenamento pela Lei de Introdução ao
fato de não emanarem de nenhuma auto- Código Civil), ou ainda, para aqueles que
ridade. Seriam, assim, prescrições anônimas. admitem a existência natural, as normas
Também se distinguem das prescrições por morais (é inescondível a relação entre moral
não exigirem uma promulgação explícita e direito natural).
(escrita), porquanto o conhecimento de sua As normas prescritivas, entretanto,
obrigatoriedade (pelo sujeito normativo) ocupam posição especial no direito, seja
advém da observação de que sua prática é porque a maior parte das normas jurídicas
socialmente aceita e desejada. são prescritivas, seja porque, segundo mui-
Por outro lado, os costumes aproximam- tos, é a própria existência de tais normas
se das regras determinativas, porquanto dentro de um ordenamento que permite
é por meio desses que se diferenciam as qualificá-lo como jurídico.
diversas comunidades. Assim, partindo daquela classificação, o
As normas morais são muito difíceis de filósofo finlandês elenca os elementos que
se identificar e classificar. Podem parecer- caracterizam as prescrições. São elementos
se com o costume (como as normas morais das normas prescritivas: 1) caráter (que
referentes à vida sexual) e com as regras existe em função de algo que se deva, não
determinativas (a promessa pode ser con- deva ou possa ser feito; a dizer, a norma
siderada um instituto, é a regra que quem pode ter caráter de obrigação, proibição ou
promete deve cumprir). permissão; é o operador deôntico da norma);
Na filosofia, há duas grandes concep- 2) conteúdo (o que a norma declara como
ções sobre a moral. Segundo a concepção proibido, obrigatório ou permitido; em
teológica, a norma moral emana da autori- outras palavras, a ação ou atividade sobre
dade divina (Deus), e por isso deve ser cum- a qual recai a obrigação, a permissão e a
prida. Conforme a concepção teleológica, proibição); 3) condição de aplicação (que é a
a norma moral é uma espécie de regra téc- circunstância que cria a oportunidade de
nica, que indica o caminho para obter um realização do conteúdo da norma; as con-
fim, seja esse fim a felicidade do indivíduo dições de aplicação podem ser categóricas
(eudonismo) ou o bem-estar da comunida- ou hipotéticas); 4) autoridade (que é o agente
de (utilitarismo). Dada a dificuldade de se do qual a norma é emitida; sob a análise do
conceituar e classificar as normas morais, elemento da autoridade, as normas podem
são usualmente entendidas como normas ser classificadas em teônomas – provindas
sui generis ou autônomas. de uma divindade – ou positivas – emitidas
A par dessa classificação, von Wright pelo homem – e heterônomas – dirigidas de
(1963) ressalta a importância, para o direito, um agente para outro – e autônomas – ema-
das chamadas normas prescritivas. Sem nadas de um agente para si mesmo); 5) su-
descurar do fato de que, dentro de qualquer jeito normativo (os destinatários da prescri-
sistema jurídico, outras normas há que ção, ou seja, quem deve obedecer – para as
não somente as prescritivas, von Wright normas de caráter obrigatório –, quem pode
salienta que várias dessas seis espécies fazer algo – normas de caráter de permissão
de normas são importantes para o direi- – ou não pode fazer algo – proibição); 6)
to. Dentro do direito, não se pode negar, ocasião (é o espaço e o tempo em que deve
coexistem normas de natureza técnica ou ser atendido o conteúdo da prescrição; é o
normas diretivas, definitórias (dos diversos quando e onde a norma prescritiva incide e

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deve ser cumprida); 7) promulgação (é a sua se comporte do modo desejado. O modelo
manifestação ou expressão, por meio de um de Austin, como se vê, não deixa de fora
sistema simbólico – linguagem – para que os elementos da norma prescritiva (que no
possa ser conhecida e compreendida pelo direito é a norma por natureza, ou típica)
sujeito normativo, da qual é destinatário); verificados por von Wright. Sobressaem do
e, por fim, a sanção (que é a ameaça de um modelo de Austin os elementos do caráter
mal sugerido pela autoridade normativa e do sujeito normativo.
em virtude do eventual descumprimento Kelsen, de modo semelhante, expres-
da prescrição). samente define as normas jurídicas como
Reconhecendo o relevo da análise da prescritivas, no sentido de que estabelecem
norma prescritiva de von Wright, Joseph uma ordem, um mandado. Entretanto, a or-
Raz (1991) inicia seu estudo das normas dem contida na norma jurídica é, segundo
como razão prática destacando a essenciali- Kelsen, uma ordem “despsicologizada”, ou
dade de quatro desses elementos: seja, desvinculada da idéia de vontade do
“... el operador deôntico; el sujeto nor- soberano ou mesmo de qualquer vontade
mativo, es decir, las personas a las que se que a tenha originado. O sentido da norma
exige comportarse de cierta forma; el acto permanece independente da vontade da
normativo, es decir, la acción que se exige autoridade que a emanou.
de ellos, y las condiciones de aplicación, es Para Kelsen, o juízo prescritivo da
decir, las circunstancias en las que se les norma jurídica é um juízo de dever-ser, ou
exige realizar la acción normativa”. seja, não suscetível de verificação como falso
Ainda com o objetivo de ressaltar a im- ou verdadeiro. A norma jurídica estabelece
portância da contribuição de von Wright não uma verdade, mas sim um sentido, uma
para a compreensão da teoria geral do Di- “intenção” de que alguém se comporte de
reito, diga que a interessante contraposição determinada forma.
entre o conceito de norma jurídica entre Não sendo a norma jurídica um man-
H. L. A. Hart e Hans Kelsen ganha novos dado (no sentido declarado por Austin), o
contornos, e muito mais clareza, quando se que distingue a norma jurídica deste é a sua
a estuda à luz da análise dos elementos da validade, que se encontra dentro do próprio
norma prescritiva apresentada pelo jusfiló- ordenamento jurídico, na norma que a
sofo finlandês. fundamenta diretamente (e assim sucessi-
Sem pretender adentrar a profundidade vamente, até a norma fundamental). Além
da discussão acima levantada, façamos disso, o que distingue o direito dos demais
apenas um breve enfoque, ressaltando a sistemas sociais é a coação, realizada pela a
essencialidade do elemento sanção como sanção prevista na norma jurídica.
caracterizador da norma jurídica. Segundo Kelsen, o que caracteriza a
norma jurídica é que se trata de uma norma
2. A norma prescritiva segundo von sancionadora. As normas jurídicas são nor-
Wright e a conceituação da norma mas que prescrevem sanções. Conseqüen-
temente, todas as normas jurídicas podem
jurídica segundo Kelsen e Hart
ser reduzidas numa mesma estrutura, de
John Austin define as normas jurídi- conexão de um ato ilícito a uma sanção.
cas como mandados gerais formulados pelo Ocorre que os ordenamentos jurídicos
soberano aos súditos. Toda norma jurídica, contêm enunciados que não estabelecem
segundo Austin, é uma ordem, ou seja, sanções. Buscando integrar sua teoria e
uma expressão do desejo de que alguém se sanear a aparente contradição, Kelsen afir-
comporte de determinada maneira e a in- ma que tais enunciados não são normas,
tenção de infligir-lhe um mal caso este não mas sim fragmentos de normas (ou normas

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não-independentes), considerando que é pelo critério da pertinência a determinado
necessário que estejam associadas a outras ordenamento jurídico, ou seja, por seu
normas (estas, sim, dotadas de sanção) reconhecimento como válida dentro de um
para que tenham sentido. As normas não- sistema específico.
independentes seriam enunciados necessa-
riamente vinculados a outros que conectam 3. A classificação de von Wright
a conduta proibida à sanção. e a ausência de conceituação
H. L. A. Hart, não se convencendo do
geral de “norma”
argumento de Kelsen, encontra particular
dificuldade de sua teoria no que diz respeito Viu-se que a classificação de von Wright
a normas permissivas, ou seja, normas que e sua análise sobre as normas prescritivas
autorizam uma conduta (e por isso mesmo é admitida por diversos estudiosos como
em nada vinculadas a uma sanção). Assim, deveras abrangente e precisa, no que inte-
Hart classifica as normas jurídicas em pri- ressa para a distinção entre a norma jurídica
márias (que prescrevem que os seres huma- e as outras normas. Entretanto, no que diz
nos realizem ou deixem de realizar certas respeito à sua classificação das normas,
condutas) e secundárias (que introduzem uma crítica que poderia ser formulada é
novas regras à norma primária, extinguem a seguinte: considerando que há, de fato,
ou modificam regras anteriores, determi- seis espécies de normas, o que torna possível
nam seus efeitos ou controlam sua atuação). enquadrá-las dentro uma classificação? O
As regras do primeiro tipo impõem deveres; que têm cada uma dessas espécies em co-
as do segundo impõem direitos ou potesta- mum com as outras, de modo a que se possa
des públicas ou privadas. classificá-las? Afinal, qual o conceito (geral)
A identificação da norma jurídica, o de norma que permitiria esquadrinhá-las
que permite também sua distinção das de- segundo a classificação proposta?
mais espécies de normas, deriva, segundo A crítica não é nova. De fato, em sua obra
Kelsen, de sua validade, que é aferida na fundamental Norma e Ação, von Wright não
norma superior que a fundamenta. Mas, separa um capítulo sequer para conceituar
mais importante que isso, o que distingue norma. Parte o jusfilósofo, já no intróito de
a norma jurídica é seu caráter sancionador. sua exposição, para a distinção daquelas
A par da contribuição de Hart, pode-se di- seis espécies, sem afirmar um conceito que
vergir da última assertiva de Kelsen, para as reuniria. A ausência dessa conceituação
afirmar que geral causou certa perplexidade, a exem-
“... el critério de juridicidad aplicable a plo do que anotaram Carlos Alchourrón e
las normas jurídicas no viene determi- Eugenio Bulygin (1997, p. 17):
nado por su carater sancionador, sino “Como ya hemos tenido la oportunidad
por la idea de validez, es decir, por su de observar, el campo de normativo
pertinencia al ordenamento jurídico. De dista mucho de ser homogéneo y cabe
esta manera se puede reconocer mucho distinguir, en consecuencia, diversos
más cómodamente la multiplicidad de tipos de normas. En el primer capítulo de
estructuras y elementos que presentan Norma y Acción von Wright distingue
las normas que formam parte del orde- seis tipos de normas (...). Los criterios de
namiento jurídico” (PECES-BARBA; classificación de von Wright son desde
FERNADEZ; ASÍS, 2000, p. 165). luego discutibles y cabe adoptar otras
Assim, vista a questão sob a ótica da classificaciones, pero lo que se muestra
classificação de von Wright, as normas claramente es que el termino ‘norma’ es
jurídicas, sendo de regra prescritivas, sumamente ambiguo. Pero aún limitado
distinguir-se-iam das demais normas nuestra atención a las normas de con-

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ducta (prescripciones en la terminologia normas no tienen por qué llamarse ni la
de von Wright) como enunciados que referencia ni incluso el sentido o signifi-
prescriben (es decir, ordenan, prohíben o cado de la correspondiente formulación
permiten) ciertas acciones o actividades normativa’) y que sean enunciaciones
(...) subsiste todavia una ambiguedad, deónticas de enunciados (‘la norma es
tal vez más sutil, pero no por eso menos- algo distinto del hecho de dar a conocer
peligrosa.” a los sujetos normativos su carácter,
A indefinição de von Wright no que contenido y condiciones de aplicación, lo
toca ao conceito de norma parece ter sido cual es un eslabón esencial en el (o parte
também percebida por Carlos Alarcón Ca- del) proceso a través del cual la norma se
brera2, no prólogo da edição mexicana de origina o cobra existencia (ser), pero no
2001 de outro livro de G. H. Von Wright es la norma en sí misma’).”
(2001, p. 9), Normas, Verdad y Lógica: As críticas de Carlos Alarcón Cabrera
“La aportación más conocida (y recono- são em tudo pertinentes. Von Wright não
cida) de von Wright a la lógica deóntica afirma que normas sejam enunciados lin-
y a la teoria de la acción es possiblemente guísticos, nem o nega; não afirma que sejam
Norm and Action (1963), libro además entidades que regulam o comportamento
muy influyente en la teoria y filosofia humano, nem o nega. Dentro das seis
jurídica de las ultimas décadas, pero en espécies de norma por ele identificadas,
el que sin embargo no aclara su opción pode-se amoldar um ou outro conceito, mas
ontológica. Las normas, dirá entonces nenhum daqueles conceitos pode ser apli-
von Wright, no son entidades extralin- cado a todas as espécies, a uma só vez.
guísticas, simples regularidades sociales O professor de Sevilha continua sua
de comportamiento; pero tampoco se crítica, afirmando que von Wright não
desprende de Norm and Action que sean demonstrou, em obras posteriores, ter
entidades linguísticas. Von Wright no mudado sua postura quanto ao conceito de
afirma claramente ni que sean enunciados norma. Com efeito, a posição de von Wright
linguísticos (situados, por consiguiente, a (1983), na obra Razão Prática, é de repúdio à
un nivel sintáctico), ni que sean proposi- “extralinguisticidade” das normas, ao su-
tiones linguísticas (a un nivel semántico), blinhar que a atividade nomotética requer
ni que sean atos de enunciación linguís- o uso da linguagem, exige do legislador o
tica (a un nivel pragmático)”. uso de signos linguísticos para fazer o su-
Asi, además de descartar que las normas jeito normativo conhecer aquilo que se quer
sean entidades extralinguísticas (‘las que se faça ou deixe de fazer. Mas nem por
normas dependen del linguage [...]. Su isso aceita sua “linguisticidade”, conside-
existencia presupone necesaramente el rando que as normas, segundo afirma von
uso del linguage’) von Wright también Wright (1983), não podem ser confundidas
parece negar en Norm and Action que nem com signos linguísticos em si mesmos
sean enunciados deónticos (‘deberemos (sintaticamente), nem com sua referência,
distinguir entre la norma y la formulaci- significado ou sentido (semanticamente),
ón normativa. La formulación normativa nem com sua enunciação ou qualquer outra
es el signo o simbolo (las palabras) usadas forma de materialização (pragmaticamen-
al enunciar (formular) la norma’), que te) (CARBERA, 2001, p. 10).
sean propositiones deónticas (‘es evidente Por outro lado, se não é leviana a crítica
que a algunas normas no se les puede dar à omissão de von Wright quanto ao concei-
el nombre de proposiciones [...]. Las to de norma, não se pode deixar de observar
2
Professor do Departamento de Filosofia do que o próprio von Wright jamais se propôs
Direito da Universidade de Sevilha. a fazê-lo, justamente por entender que não

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havia como reunir todas as espécies de nor- try to create a General Theory of Norms
ma por ele tratadas dentro de uma classe covering the whole field. The theory of
geral. Carlos Santiago Nino (2000, p. 67) norms must be somehow restricted to
lembra exatamente isso ao expor que: its scope.
“El lógico von Wright (Norma y Acción) When constructing a restricted theory of
propone una classificación de las normas norms, however, it is as well to remember
que puede servir adequadamente (...). that the various meanings of ‘norm’ are
Advirte, al comenzar su exposición, que not logically unrelated. The word is not
las que mencionará no son estrictamente ‘ambiguous’ in the ordinary sense. A
subclases de la clase generál de las normas restricted theory of norms runs the risk
– lo que supondría que hay características of being defective if it does not pay due
comunes entre todas que serían relevan- attention to conceptual affinities and
tes para la definición del concepto de logical relationships between the various
norma – sino más bien distintos sentidos parts of the whole field of meaning.”
de la palabra ‘norma’ – que es ambigua A par da impossibilidade da criação
e imprecisa – , aunque estrechamente de uma “teoria geral das normas”, pode-
relacionados entre sí”. se afirmar, então, que a classificação de
Ora, é o próprio von Wright quem von Wright, em verdade, reúne diversos
declara que referidas espécies reúnem-se conceitos de norma; cada espécie de norma,
numa classificação não por estarem abran- segundo sua classificação, corresponde, na
gidas dentro de uma classe maior, geral, verdade, a um conceito particular e, a prin-
porquanto isso pressuporia um conceito cípio, imiscível com os demais conceitos.
geral que não lhe foi possível delinear. A Desse modo, estabelecendo vários conceitos
reunião das diversas espécies de norma (cada um correspondendo a uma espécie),
numa classificação decorreria, assim, não von Wright passa a ocupar-se de identifi-
de um conceito que as abragesse todas, car as relações entre eles, no que cada um
mas sim da relação que se poderia detectar desses conceitos têm de interessante para o
entre cada uma delas. E isso é proclamado reconhecimento da norma jurídica.
categoricamente por von Wright (1963, p.
1) nas primeiras linhas de sua obra-mestra, 4. Conclusão
Norma e Ação:
“The word ‘norm’ in english, and the Embora não imune a críticas, a classi-
corresponding word in other languages, ficação das normas de von Wright repre-
is used in many senses and often with an senta uma significativa contribuição para
unclear meaning. It can hardly be said to a filosofia do Direito. Sua reconhecida e
be a well-stablished term in the English deliberada omissão quanto ao conceito de
philosophic vocabulary. This can be said, norma em nada diminui a importância de
however, of the adjective ‘normative’. sua classificação. Não é por outro motivo
‘Norm’ has several partial synonyms que, juntamente com sua definição analítica
which are good English. ‘Pattern’, de normas prescritivas, continua a servir de
‘standard’, ‘type’ are such words. So are base para as mais variadas teorias sobre a
‘regulatio’, ‘rule’ and ‘law’. Directions natureza da norma jurídica.
of use and prescriptions are perhaps not
often called ‘norms’, but we should not
hesitate to call them ‘normative’. Referências
Since the filed of meaning of ‘norm’ is ALCHOURRÓN, Carlos; BULYGIN, Eugenio. Sobre
not only heterogeneous but has vague la existencia de las normas jurídicas. México: Fonta-
boundaries, it would probably be futile to mara, 1997.

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