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História por Ana Aguiar | Revisão por Gabriella
Capítulo 1
O início das minhas férias já estava bem complicado antes de aquela carta chegar,
mas quando minha mãe me mandou verificar a caixa do correio e eu encarei a
primeira carta que alcancei, logo percebi, as pequenas desventuras que tinham
acontecido eram apenas o começo. O endereço de origem da carta era bem claro,
escrito com uma letra demasiado ilegível, mas sem dúvidas eu não tinha me
confundido ao ler aquela palavra. A carta viera de Bolton.
O fato de eu achar que aquela carta não trazia notícias que me agradassem era
simples... Nada que viesse daquele lugar me agradava. A primeira coisa que devem
saber é que meu pai é de Bolton. Nasceu e viveu lá até seus vinte anos, quando
decidiu vir à Londres arriscar a sorte e procurar um emprego. Foi aqui que ele
conheceu a minha mãe e eles começaram a namorar, se casaram e me tiveram. Meu
pai tem três irmãos, e eles ainda continuam morando em Bolton. E o único motivo
pra eu temer essa cidade tem nome e sobrenome e é da família: Danny Jones. Antes
de vocês acharem que ele é um dos meus tios e eu tenho horror a tios, não, não é
isso. Ele é filho de um deles e faz jus às suas origens até demais... Quer dizer, ele não
precisa ser caipira daquele jeito. Conheço muita gente que mora na fazenda e não é
caipira. Ok, não conheço ninguém que mora com vacas e galinhas e é socialmente
normal.
Esse meu horror pelo garoto não é de agora. Ah, não é mesmo. Começou quando eu
nasci, na verdade. Tudo bem, não exatamente quando eu nasci, mas quando eu o
conheci pela primeira vez. Eu tinha três anos e ele o mesmo. Eu era a primeira filha
do meu pai e a família Jones queria conhecer a garotinha. E por coincidência tio
Steve também tinha um filho de três anos e todo mundo estava louco pra juntar as
duas crianças e fazer uma família feliz. Bom, a coisa de juntar as famílias deu certo.
Mas a parte do feliz é que não rolou. Quando alguém é retardado e maléfico, nasce
assim. E sempre vai ser assim. Era o caso de Danny. Eu não sei o que ele viu em
mim, mas no primeiro momento que me olhou já voou pra cima de mim e agarrou
os meus cabelos, puxando com força. Alguém pode me explicar o que eu tinha feito
de errado pro garoto me atacar? Não tinha explicação, ele simplesmente teve
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vontade de iniciar a perseguição e foi com tudo. Ninguém o culpou, ele só tinha três
anos. Mas tudo mudou a partir do momento que nós crescemos e ele continuou me
perseguindo.
A última vez que vi Danny tínhamos quinze anos. Me forçavam anualmente a ir visitar
meus avós e o resto da família Jones. Mas no meu décimo quinto aniversário decidi
que nunca mais voltaria a pôr o pé naquele lugar. Meu cabelo sempre foi comprido,
quase chegava na minha cintura. E eu sempre deixei ele assim, longo e liso natural.
Chegava a ser meu tesouro particular, todo mundo elogiava. Eu tinha clareado as
pontas e ele estava mais lindo do que nunca. Eu estava tendo todo o cuidado do
mundo naquela fazenda pro meu cabelo não sujar ou não prender em nada, e era o
meu aniversário, eu precisava ficar bonita. Acordei um dia depois, já com quinze
anos, e a primeira coisa que eu faço todos os dias de manhã é pentear os cabelos.
Então me levantei e me arrastei com sono até o banheiro. Encarei meu reflexo e
peguei a escova. Quando encarei pela segunda vez, deixei cair a escova e me afastei
assustada da imagem na minha frente. Eu não tinha mais cabelo. Ele estava curto.
PELOS OMBROS. Eu nunca permitiria que alguém cortasse o meu cabelo. Mas é claro
que estando na fazenda da família Jones em Bolton não basta apenas permitir ou
não alguma coisa. Você tem que se defender. Dei o maior berro que pude e abri a
porta do quarto furiosa, e caminhei descontrolada, chutando tudo que vi pela frente,
até o quarto de Danny. Ele estava dormindo. Subi em cima de sua cama e comecei a
estapear a cara dele com tudo. O garoto acordou assustado e logo depois me olhou
e começou a rir. Eu sibilei um “O QUE VOCÊ FEZ COMIGO?” e ele respondeu
simplesmente “aparei o pêlo”. Claro, um ignorante daqueles estava acostumado a
aparar pêlos, então cortar cabelo de gente pra ele dava no mesmo que aparar crista
de cavalo. Mamãe fez de tudo pra tentar me acalmar, e quando voltamos a Londres
ela me levou no cabeleireiro pra fazer um corte moderno. E não ficou ruim,
combinava comigo. Pra falar a verdade eu tenho o cabelo assim até hoje. Nunca mais
deixei ele crescer, talvez fiquei com trauma ou apenas gostei do novo visual, todo
repicado. Mas a raiva foi tão grande daquele abominável menino da roça que eu me
rejeitei a voltar lá.
Mell, pode andar logo com essas cartas? – ouvi minha mãe resmungar de dentro da
casa e parei de encarar a carta na minha mão, voltando pra dentro. Fechei a porta
atrás de mim sem tirar os olhos da carta. Minha mãe me olhou, apreensiva. – O que
houve? É do governo? Vão nos despejar?
BBolton. É de Bolton. – gemi com uma cara de nojo, olhando finalmente pra
minha mãe que fez uma expressão de alívio.
Puxa vida Mell, você me assustou. Deve ser dos seus avós, deixeme ver. – disse ela
pegando a carta das minhas mãos e eu me sentei com os olhos vidrados no nada,
enquanto ela lia. – Hm, você não vai gostar.
Ai não. O que foi? Eu não vou voltar pra lá, já vou avisando.
É, você não vai gostar. Leia. – falou ela me entregando a carta.
Querida Mell,
Faz algum tempo que eu e o seu avô não a vimos, estamos com saudades. Seus
primos e tios também sentem a sua falta. Concordo que o que o seu primo Danny
fez da última vez que você veio à Bolton foi muito indelicado, e faz três anos que ele
foi devidamente castigado. O fato, querida, é que estamos com saudades da nossa
netinha e queremos realmente passar um tempo com ela. Por isso a convidamos
para passar as férias na fazenda com a gente e não aceitamos “não” como resposta.
Afinal você ainda é uma Jones e parte do seu passado está aqui, e não vai ser um
pequeno acontecimento desagradável que vai afastar você da gente. Seu pai ficaria
muito feliz se viesse nos visitar, afinal ele faz isso com certa freqüência, e nunca traz
você. Estaremos lhe esperando neste fim de semana.
Com carinho, sua avó Mollie.
Terminei de ler a carta e a dobrei, me levantando. Minha mãe esperava alguma
reação.
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Sinto muito querida, mas você terá que ir visitar os seus avós. – falou ela quando
percebeu que eu não iria falar nada.
Não vou, não. – disse como se fosse óbvio. – Sinto falta deles, mas eu prometi a
mim que nunca mais voltaria a pôr os pés naquela cidade, não com aquele garoto lá.
Ele atormentou a minha infância inteira. E cortou três quartos do meu cabelo sem
permissão.
Eu sei, querida, seu primo é meio perturbado, mas tenho certeza que ele não faz
mais esse tipo de coisa. Não acredito que um garoto de dezoito anos vá pregar peças
na prima.
Ah, eu acredito. Mãe, eu não vou. Está decidido.
Então explique pro seu pai que você vai rejeitar um pedido de sua avó que está
sentindo falta da neta. – falou minha mãe por fim e me deixou com cara de tacho
parada na sala, saindo e voltando pra cozinha.
Como eu falei no início, minhas férias não estavam sendo das mais belas e adoráveis.
Eu estava na primeira semana, e tinha começado mal. Minha melhor amiga, Alice,
tinha viajado com a família para o Egito e só voltaria na última semana. Douggie,
nosso amigo que andava constantemente com a gente tinha ido pra uma espécie de
acampamento junto com sua irmã e também nossa amiga, Wendy, e os dois
também só voltariam no final das férias. E por fim e mais importante, Brian, meu
melhor amigo, vai fazer um curso de jornalismo nos Estados Unidos na próxima
semana e eu vou ficar completamente sozinha em Londres. Agora esse troço todo de
Bolton era o ingrediente final pro meu desgosto eterno. Ou desgosto de três meses,
tanto faz. Mas eu não iria, estava decidida.
BOA TARDE, PEQUENA! – Levei um susto tão grande que a carta voou das minhas
mãos e eu cai sentada de volta no sofá, soltando um gritinho de horror ao mesmo
tempo.
Brian! Pelo amor de Deus, pra quê fazer isso? E como entrou aqui? – perguntei
encarando o garoto que com um enorme sorriso no rosto (como sempre) se
aproximava de mim.
A porta estava abeta... e eu gosto de marcar presença. – falou ele se atirando ao
meu lado e me puxando pra um abraço diário. Eu já comentei o quanto eu gosto do
e a minha mãe sorriu encantada. Ela tinha uma adoração por Brian inexplicável.
Muito bem querido, qualquer coisa me chamem. – disse ela voltando a subir os
degraus. Brian voltou a me olhar e sorriu, mostrando uma covinha na bochecha
esquerda do rosto. Eu era apaixonada por aquela covinha. Mas logo ficou sério.
O que houve, Mell? – perguntou ele analisando o meu rosto. Odiava o quanto ele
me conhecia.
Nada, estou normal. – menti.
Não está, não. Pode ir falando. O que é isso na sua mão? – perguntou ele
apontando pra carta da minha avó. Eu dei a carta pra ele, que começou a ler. Passou
meio minuto e Brian voltou a me olhar. – Ah, Bolton.
É. Eu não quero voltar, Brian, você sabe porquê.
Olha, acho que o teu primo Danny não vai fazer nada agora que tem dezoito anos,
assim como você.
Ele cortou o meu cabelo quando tinha quatorze anos. Imagina agora, ele vai
arrancar minha roupa e me tacar junto com os porcos. Ew, não quero nem imaginar
o que ele vai fazer comigo se eu voltar.
Bom, não duvido nada de ele arrancar a sua roupa, mas não vai jogar você junto
com os porcos, e sim na própria cama. – falou Brian rindo como se aquilo fosse
normal.
LANGDON! CREDO! Você não tem noção de como aquele garoto é abominável,
nojento, perturbado e... feio. E me odeia.
Duvido ele ser feio! Você é linda e é da família. Bom, mas sempre tem o desprovido
da família. Na minha, por exemplo, sou eu.
Brian, pára de se fazer, você arranca suspiros de todas as garotas que passam por
você. E elas ainda me olham feio quando eu estou junto.
Claro, porque você é mais bonita que elas.
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Ou porque eu estou com você.
Prefiro a minha versão dos fatos.
Tanto faz, o fato é que ele é feio e estranho e eu não quero voltar pra lá.
Sua avó parece sentir sua falta. Pense bem. Vai deixar a sua avó magoada só por
causa do abominável menino da roça?
Se ele não existisse eu até moraria lá, se quer saber.
Acho que você deveria ir. Ainda mais que eu vou viajar semana que vem e você vai
ficar aqui sozinha... Pelo menos estará em outro lugar e com alguém da sua idade.
Brian, eu não considero o Danny alguém que conte para diminuir meu desgosto, e
sim para AUMENTAR.
Eu até iria com você, mas...
ISSO! VEM COMIGO! VOCÊ É UM GÊNIO! Aí você pode me ajudar a me vingar do
Danny e...
... MAS eu vou viajar, esqueceu?
Ah, droga. Ia ser perfeito se você fosse.
Tenho certeza que você vai se divertir ordenhando as vacas sem mim. – falou ele
rindo e eu o olhei com raiva.
Você deveria estar do meu lado, falando mal do meu primo e me ajudando com
argumentos!
Não posso, eu não o conheço. Mas eu acredito que ele já esteja bem crescidinho
pra pregar peças em você. Na real, eu tenho certeza que os princípios dele são outros
agora. Como qualquer outro garoto normal de dezoito anos.
Esqueceu que ele não é um garoto normal e vive isolado da sociedade?
Bolton é uma cidade e ele deve ter os amigos dele, aliás. Nem vai dar bola pra você.
Ou vai dar até demais. É isso que me incomoda.
Você está com CIÚMES do abominável menino da roça? Fala sério. É O DANNY,
MEU PRIMO PODRE.
Não estou com ciúmes, ok? Só que eu não gosto da idéia de você morando na
mesma casa que outro garoto de dezoito anos...
Pra começar, eu nem vou. Vou ficar em Londres esperando você voltar.
Olha Mell, acho que você devia...
Tudo bem Brian, eu decido, a vida é minha. Mas obrigada pela ajuda.
Ah, ok. Me desculpe, eu só estava tentando te ajudar...
É o mesmo que eu te falar pra não ir pros Estados Unidos, entende?
Sim, claro. Desculpe.
Tudo bem.
Enfim, eu só vim aqui pra me despedir, adiantaram minha ida... Eu vou amanhã.
AMANHÃ? MAS... MAS É MUITO CEDO!
É, eu sei. Também acho... Mas não tenho como mudar.
Legal, mais tempo sozinha.
Você sabe que se eu pudesse escolher ficaria mais tempo aqui e te ajudaria com
essa história toda de Bolton.
Eu sei, tudo bem. Eu me viro.
Não se esqueça, faça a escolha certa. Bom, tenho que ir. – disse ele me puxando
para um longo abraço. Nem tinha muito o que fazer, ele ia embora amanhã e eu
tinha que aceitar. Acompanhei ele até a porta e lhe dei um último abraço.
Não se esqueça de me mandar um email pelo menos a cada três dias. Tenho que
me consolar pelo menos com as suas palavras. – falei tentando dar o meu melhor
sorriso.
Não vou me esquecer... Boa sorte com o seu primo podre. – disse ele me dando
um beijo no rosto e eu ri, depois fiquei séria.
Eu não disse que vou.
Tenho certeza que você vai, é uma boa menina e vai fazer o que a sua vovó pediu.
– disse ele num tom engraçado e eu cerrei os olhos meio rindo. – E ah... também
quero receber seus emails me contando de como é trabalhar na roça.
Brian, eu vou ficar em Londres.
Pense bem, não vou mais discutir isso com você. Te vejo em setembro. – ele saiu
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andando pro jardim, pegando a calçada e se afastando.
Pensando bem, Brian parece ter razão. Não posso fugir das minhas origens e da
minha família só por causa de um acontecimento do passado. É injusto com a minha
avó e o meu avô, e acredito que Danny já foi castigado pelo que fez com meu cabelo.
Mas tenho minhas dúvidas de que ele não evoluiu e continua o mesmo ogro
perturbado, como eu disse anteriormente, nasce retardado fica sempre retardado.
Mas só de lembrar as maldades que ele fazia comigo... Era horrível. Não quero passar
por isso de novo. E se meus avós viessem passar um tempo em Londres? Iria ser
bem melhor, e não precisar ficar ao ar livre no meio de bosta de vaca era
reconfortante.
Ah, olá querida. Acabei de ver o Brian aqui na rua. – ouvi meu pai falar ao fechar a
porta. – Ele vai pros Estados Unidos semana que vem, não é? – perguntou ele me
encarando, eu estava de volta atirada no sofá. Ótimo ter que lembrar que Brian iria
me deixar amanhã.
Não... ele vai amanhã.
Ah, vai ficar sozinha?
Não, Marty... Ela não vai ficar sozinha. Mostre pro seu pai a carta, Mell. – falou
minha mãe ao sair da cozinha.
Que carta? – perguntou meu pai me olhando na dúvida. Entreguei a carta e ele
levou um minuto para ler. – Disso eu já sabia. Sua avó e seu avô estão sentindo a
sua falta.
Eu notei.
Bom, sei que você não gosta muito da fazenda e de Bolton... mas terá que ir.
Eu pensei que a vovó e o vovô poderiam passar um tempo aqui em Londres...
Não Mell, nem pensar. Eles estão muito velhos pra viajar tanto tempo, e ficar em
uma casa que não é a deles... Não. Você vai ter que ir.
Não quero olhar pra cara do Danny.
Mell, o Danny está completamente diferente do que você pensa. Se tornou um
rapaz gentil.
Na sua frente. É só eu aparecer lá que ele volta a ser o monstro de sempre.
Você passou muito tempo longe, não pode falar o que não sabe. Ele não é mais o
garotinho mal criado de antes.
Olha papai, o Danny pode até ter se transformado num ser humano normal, mas
eu não quero ficar lá. Não me dou bem com animais e campo. Eu odeio natureza.
Mais um motivo pra você ir, se familiarizar com suas origens. Você vai e está
decidido. Sábado de manhã eu te levo, esteja com as malas feitas para três meses.
TRÊS MESES? PENSEI QUE ERA SÓ UMA SEMANA!
Sua avó vai adorar saber que vai passar todas as férias lá!
Só pode ser alguma brincadeira. Pegadinha? Vamos, Ashton, apareça de onde você
está.
O que temos hoje, Heather querida? – perguntou meu pai para minha mãe,
ignorando meu comentário.
Três meses na fazenda Jones, com meu primo Danny, o abominável menino da roça.
Era o fim da minha vida, eu voltaria careca pra Londres.
Capítulo 2
Acordei naquela manhã de sábado me sentindo disposta até eu me lembrar qual
seria o rumo do dia. Minha expressão se fechou no momento em que eu encarei
minhas malas feitas perto da porta do meu quarto. A viagem até Bolton levava mais
ou menos um dia inteiro de carro, por isso precisávamos sair de Londres de manhã
cedo.
Vamos Mell, não gosto de dirigir à noite. Você toma café no carro, sua mãe
preparou uns muffins pra gente. – falou meu pai ao passar pela porta do meu
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quarto, pegando as minhas malas e descendo. Ele já estava vestido pra roça, com
camisa xadrez e tudo. Isso eu não ia usar. Levei um tempo pra ajeitar meu cabelo do
jeito que eu gostava, depois vesti minha calça jeans, All Star vermelho e uma blusa
branca normal. Peguei meu essencial iPod em cima da mesa, meu celular e meu
notebook (comunicação com o Brian era a base da sobrevivência numa fazenda) e
dei uma última olhada no meu quarto.
Bom, me liguem quando chegarem lá. – disse minha mãe nos observando quando
eu cheguei no primeiro andar.
Tudo bem. Eu volto na segunda, Heather. – falou meu pai dando um beijo na
minha mãe e fazendo um sinal idiota pra sairmos de casa. Dei um beijo e um abraço
na minha mãe.
Se o Danny te incomodar... coisa que eu duvido... não dê bola.
Mãe, como eu não vou dar bola pra uma pessoa que quer arrancar os meus cabelos
enquanto eu durmo?
Eu sei que você vai se virar querida, e ele não vai fazer isso. Mande um beijo na
família Jones por mim.
Tá, tchau. – falei saindo de casa e andando até a caminhonete do meu pai que ele
usava pra viagens longas estacionada na frente de casa.
Bom apetite. – disse meu pai me entregando um saco e uma garrafa térmica. Espiei
dentro e haviam quatro muffins de chocolate ali dentro.
Eu podia voltar segunda com você. – falei ao entrar no carro ao lado do motorista,
onde ele estava sentando. Ele me olhou cerrando os olhos.
Boa tentativa. Vai ficar até o final de agosto, como combinado.
Aposto que vão me forçar a tirar leite de vaca, não vai deixar que façam essa
crueldade comigo, né?
Só tirar o leite da vaca? Você vai ter que fazer muito mais que isso. Na verdade é o
Danny que faz a maioria das coisas, sabe, ele mora com os seus avós. Seu tio
trabalha na cidade ao lado, então só vai nos fins de semana pra lá. Olha que legal,
seu tio Steve me ligou ontem de noite e disse que todos estão esperando por você,
até seus primos.
Ótimo, minha chegada vai ser triunfal. – resmunguei olhando pela janela e percebi
que já estávamos andando. Abri a sacola e comecei a comer.
Se quiser dormir durante a viagem, pode ir pra trás. Confesso que cansa ficar
sentado um dia inteiro.
Tudo bem. – murmurei em resposta enquanto comia meu muffin.
Você lembra daquele restaurante na estrada que você adorava? Vamos almoçar lá!
A comida continua boa.
Ah, legal. – sibilei, sem ânimo. Ele me olhou por um segundo.
Eu sei que você não está muito feliz em ter que sair de Londres... mas garanto a
você que vai ser uma experiência única.
É, vai ser única mesmo. – resmunguei com sarcasmo.
Vai ser uma oportunidade pra você e Danny se entenderem. Estão brigados há três
anos! Deveriam ser amigos, têm a mesma idade.
Pai, entenda, ele perturbou a minha infância e eu vou manter o máximo de
distância desse garoto enquanto estiver na fazenda. E não me peça pra fazer coisas
com ele porque eu não vou.
Ah, pena. Todos os seus outros primos são menores que vocês.
Ele deve ter ficado muito feliz em saber que eu vou ficar três meses lá, vai ter
tempo de sobra pra pregar peças em mim.
Querida, honestamente, você parou no tempo.
O que quer dizer com isso?
Danny não é mais aquele garoto bobo! Já é um adulto, e cuida da fazenda junto
com seus tios e seus avós. Ele é um ótimo garoto agora, e sempre pergunta por
você quando eu vou lá.
Ah é? Aposto que quer saber se conseguiu estragar a minha vida.
Não seja tão dramática. Aposto que vão virar grandes amigos.
Não aposte isso, papai. Você vai perder toda a sua poupança. – falei e ele riu,
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balançando a cabeça em negação.
Quando pegamos a alta estrada eu já estava exausta de ficar dentro do carro. Já
tinha ouvido todas as músicas possíveis do meu iPod. Ao meiodia, paramos no
restaurante que eu sempre comia quando era menor e estava indo para Bolton.
Estávamos sentados na mesa quando meu celular tremeu no bolso da calça.
Acredite se quiser, mas estou dentro de um avião. Califórnia, lá vou eu. Onde está?
xx Brian
Primeiro acontecimento do dia que me deixava um pouco feliz. Brian iria para as
belas praias da Califórnia, infestado de garotas bonitas e eu ia... pra roça.
Eu acredito, depois do que aconteceu, acredito em tudo. Estou na estrada.
xx Mell
Eu não fazia idéia de como Brian estava enviando mensagens de dentro de um avião,
mas com aquele garoto tudo é possível.
Então decidiu ir visitar o menino da roça? Me comunique quando vêlo, quero rir da
sua reação. Quanto tempo vai ficar ordenhando?
xx Brian
Ah, como meu amigo era delicado.
Vai poder saber em primeira mão do meu desespero, não se preocupe. Adivinha? Até
o final de agosto. Ah, não se esqueça de mandar lembranças pras garotas lindas e
loiras que você pegar.
xx Mell
O quê? Eu tinha certeza que Brian iria aproveitar ao máximo sua estadia na
Califórnia.
Wow, vai voltar pra Londres sabendo tudo sobre vida na roça. Uma caipira formada!
Ah Mell, você sabe que eu só tenho olhos pra você. Mas não se preocupe,
transmitirei o recado pra todas elas!
xx Brian
Como se eu não soubesse que ele iria afogar o ganso. Me dá raiva saber que ele vai
se divertir a beça e eu vou ficar presa no meio do mato. Por que eu não fui junto
com ele mesmo? Ah sim, você é muito nova pra atravessar outro continente sozinha,
Mell! Mas mamãe, vou estar com o Brian. Por isso mesmo, dois adolescentes
irresponsáveis! Adorava a confiança que a minha mãe tinha em mim. Mas deixar a
filha sofrer na roça ela deixava.
Que delicado da sua parte. Me mande uma mensagem quando chegar nos EUA, por
favor, se não eu vou ficar angustiada. Aviões me dão medo.
xxMell
Mell, o que tanto você mexe nesse celular? Coma o almoço. – murmurou o meu pai
me encarando.
Brian está no avião mandando SMS’s.
Diga para ele que é perigoso usar aparelhos eletrônicos dentro de um avião.
Brian demorou para responder, eu estava ficando nervosa.
Desculpe a demora, é que apareceu uma aeromoça gostosa e eu fui no banheiro com
ela e... bom o resto você deve imaginar. Não se preocupe, comunicarei todos os
meus passos, ok? Tenho que desligar o celular, acabaram de me dar um mijão. Boa
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viagem, te amo!
xx Brian
Adoro a ironia do Brian, e adoro quando uso a ironia pra falar da ironia do Brian.
Espero que a história da aeromoça seja mentira, tenho ciúmes sim, e daí?
Se essa história da aeromoça for verdade... você está ferrado, Langdon. Boa viagem
pra você, te amo.
xx Mell
Vocês nunca terão idéia de como foi demorado chegar em Bolton. Chegamos na
cidade e o relógio do carro marcava 19:30. Meu pai estava neurótico repetindo sem
parar que perderíamos a janta e atrapalharíamos o ciclo da família. Bolton era
totalmente diferente de Londres. TOTALMENTE. As casas eram simples e o centro da
cidade, por aonde tivemos que passar, era apenas uma avenida. Bom, até chegar na
fazenda levou um tempão.
Pai, falta muito? Eu realmente preciso ir ao banheiro. – murmurei me contorcendo
no banco de trás do carro.
Nada, chegamos. – disse ele e eu rolei pro chão com o baque que o carro deu ao
mudar de estrada asfaltada pra de terra. – Você está bem?
Que belo começo. – resmunguei levantando do chão do carro e sentando no
banco. As palavras “Fazenda Jones” marcavam a entrada do sítio, que eram
iluminadas por luzes. Não sabia que tinha eletricidade na roça. Brincadeira. Eu não
lembrava de como a casa era GRANDE. Quando eu digo grande, é grande mesmo.
Caraca meus avós eram ricos e eu não lembrava. A parte da frente da casa estava
toda iluminada e dava pra ver bastante movimento pelas janelas da sala. Logo vi
minha avó e meu tio Steve aparecerem na porta com largos sorrisos. Meu pai
estacionou o carro e quase teve que me obrigar a descer.
Seja simpática, por favor, eles não te vêem há séculos.
Tudo bem. – resmunguei batendo a porta do carro e meu pai me deu um
empurrãozinho em direção da casa.
Mell! Minha netinha, quanto tempo! – falou a minha avó quando nos aproximamos
do hall, onde tinham algumas cadeiras e uma mesa com um vaso de flores. Ela me
puxou para um longo abraço e depois ficou me encarando com uma expressão de
orgulho. – Você está linda! Nem parece a minha netinha, o que a cidade grande fez
com você? Ah, como eu estava sentindo a sua falta! – falou ela voltando a me
abraçar e depois chegou o tio Steve me apertando e falando as mesmas coisas.
Já deve ter um bocado de namorados essa Mell! – disse uma das minhas tias, irmã
do meu pai, tia Emma. Ela era legal.
Ah, só alguns. – brinquei e todo mundo caiu na gargalhada. Meu avô apareceu e
parecia mais velho do que antes. Bom, isso era óbvio. Tive que ouvir as mesmas
baboseiras pela quinta vez.
Vocês chegaram na hora do jantar! Mollie preparou algo especial pra vocês! – falou
meu avô empolgado. – Entrem, depois descarregam suas bagagens.
Eu e meu pai entramos e aquela barulheira de gente conversando feliz parecia não
ter fim. Quem eu não tinha visto ainda era o abominável. Ainda bem, talvez ele nem
estivesse ali. Eu estava rezando para que ele estivesse em alguma viagem inesperada
ou algo do tipo.
Ah, Jessy, vá avisar Daniel que Mell já chegou. Ele não sai daquele quarto, passa o
dia tocando aquele negócio... – falou minha avó logo depois resmungando.
Ao ouvir aquele nome me deu um treco que eu quase saí correndo de horror. Ok, ele
estava ali mesmo. Fiz uma cara desagradável pro meu pai que conversava animado
com meu tio Steve, e ele fez uma cara de repreensão. Não demorou muito para
Jessy, minha priminha de 10 anos, voltar do segundo andar com um sorriso
empolgado no rosto puxando alguém pela mão. Quando eu vi quem ela puxava, não
pude acreditar que fosse o abominável. Não podia ser. Só podia ser um amigo dele,
mas ele não era. O garoto sendo puxado irradiava um sorriso brincalhão no rosto. Ah
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mim.
Hm, você pegou o meu lugar. – disse Danny em pé ao meu lado e eu olhei
assustada pra cima. Ele segurava um violão.
Ah, desculpa. Pode sentar. – falei me levantando.
Eu estava brincando, pode ficar. – disse ele sentando ao meu lado e eu sentei de
volta, meio nervosa com a aproximação. Ele largou o violão ao seu lado. – Na
verdade, eu costumo sentar aqui todos os dias e tocar, a conversa deles é chata. –
continuou ele e eu soltei uma risadinha nervosa.
Você toca. – falei, olhando pro violão.
Não tem muito o que fazer por aqui. – explicou ele encarando a grama um pouco
mais à frente. – Você... hm... ainda está brava comigo pela última vez?
Ah, não, tudo bem. Você era pequeno.
É que eu notei que você... manteve o meu corte. – disse ele e eu não sei por que,
mas comecei a rir de verdade. Ele riu junto. – Mas é!
Você acha que eu gostei? – perguntei ainda rindo.
Não, mas se você não deixou crescer...
Você, digamos... me fez ver que meu cabelo ficava melhor curto.
Se você não rir eu te conto porque fiz aquela crueldade com você.
Não vou rir. – falei encarando seu rosto pela primeira vez. Ele estava mais lindo do
que nunca, e de perto eu podia ver os seus olhos azuis.
Bom... é que eu te achava muito bonita com os cabelos compridos e aquilo me
deixava nervoso e perturbado, você é a minha prima, e eu achava que era proibido
achar primas bonitas, então tive que fazer alguma coisa. Mas não adiantou muito,
você continuou bonita. Até mais. – falou ele me encarando e eu com certeza estava
vermelha de vergonha.
Não é proibido achar primas bonitas. – murmurei, meio sem jeito.
É, eu só fui perceber isso mais tarde. Depois que você tinha ido embora. Então...
desculpa por ter te incomodado tanto quando éramos crianças.
Tudo bem. – falei nervosa.
Você vai ficar aqui até setembro?
Vou.
Não deve estar gostando disso.
Eu não sou muito fã da natureza, sabe... Mas vou sobreviver. – falei e logo depois
senti meu bolso de trás da calça tremer e começar a tocar Penny Lane, dos Beatles. –
Ah, meu celular. Telefone. – disse, tirando do bolso e olhando pra tela.
Eu sei o que é um celular. – disse Danny com uma cara engraçada. – Viver na
fazenda não é se isolar do mundo.
Ah, tá. Eu sabia que você sabia. Vou atender, com licença. – falei, atendendo o
telefone com uma felicidade inexplicável. – BRIAN!
Oi pequena! Cheguei na Califórnia, estou no quarto da família agora.
Sério? Eu estou em Bolton.
AH! Me conta do seu primo podre. Quero saber, ele já começou a te encher?
Na verdade... – comecei e olhei pro lado, Danny dedilhava inocente alguma coisa no
violão. Levantei e me afastei, me certificando de que ele não podia ouvir. – Na
verdade, ele é o contrário do que eu pensava que fosse. Agora.
Ele é um nerd almofadinha?
Não, Brian... Ele está... lindo. E ele agora é... legal. Estávamos conversando a
pouco, ele é bem engraçado. Me pediu desculpas por tudo que fez.
Então vocês agora vão ser amigos? Ah, isso é bom, Mell. Espera... eu ouvi bem?
Você falou que ele está lindo? Ah não Mell, você não vai me trair né?
Brian! Para de besteira, é o meu primo. Por mais charmoso e perfeito que esteja, é
da minha família. Seria nojento.
Acho bom. Tenho que desligar, já é de madrugada aqui. Tchau!
Tchau! Não esquece dos emails.
Não vou!
Finalizei a ligação e Danny continuava sentado dedilhando o violão. Sentei
novamente ao seu lado.
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Era o seu namorado? – perguntou ele sem parar de dedilhar. – Esse Brian.
Não, não. É meu melhor amigo. Ele está na Califórnia de férias. Por quê? – Danny
queria saber se eu tinha namorado? Não pensem que eu fiquei feliz quando ele
perguntou.
Ah, nada. Curiosidade. Quer ouvir uma música?
Ah, claro. Manda ver.
Bem, eu vi que você gosta de Beatles... pensei que gostaria de ouvir... – disse ele e
começou a tocar Across The Universe.
Não preciso nem dizer que ele tocava bem. E quando ele cantou o primeiro verso
confesso que fiquei um pouco assustada. A voz dele era... perfeita. Eu não imaginava
que o meu primo exabominável tinha uma qualidade, além de ser bonito e cheirar
bem. Não consegui tirar os olhos do rosto dele até o final da música. Fazia um tempo
que eu não ouvia alguém cantar daquele jeito. Tão simples e tão profundo, como se
pra ele aquilo fosse o mesmo que respirar. Eu já sabia do talento da família Jones na
música, boa parte dos meus tios tocava e cantava muito bem. Se eu falar que o meu
pai tinha uma banda vocês acreditam? Bom, é verdade. E pela minha mãe, ele era
muito bom. E eu? Nunca tentei cantar pra falar a verdade, e nunca vou. Morro de
vergonha e tenho quase certeza que a minha voz é um lixo.
Danny terminou a música e me encarou. Eu não sabia o que falar.
Huh... nossa, Danny. Você é muito bom.
Obrigado. – disse ele corando. Que lindo. – Aposto que você é tão boa quanto eu.
Ah, não. Eu não sei cantar nem tocar.
Na verdade você nunca tentou, não é? – perguntou ele me olhando. Como ele
sabia?
É... Mas não preciso tentar pra saber que sou ruim. – falei e ele riu.
Se você quiser se apresentar na quermesse da cidade para arrecadar fundos...
Pára tudo. QUERMESSE? Ah, por que eu estou surpresa? É claro. Toda cidade do
interior inventa uma quermesse. Por mais que eu não tenha certeza sobre O QUE É
uma quermesse, eu imagino. Mas que dá vontade de rir dá, bem típico do Danny.
Fundos pra quê? – perguntei, segurando o riso. Se Brian estivesse junto ele estaria
rolando de rir no chão.
Pra impedir o governo de transformar as fazendas em shoppings e coisas do tipo.
Eles estão querendo fazer isso há anos.
Até a nossa fazenda? – perguntei, agora não achando mais graça.
Sim, tudo. É bem chato, nossos avós estão preocupados. Eles cresceram aqui,
assim como nós. Acho que vovó não agüentaria se soubesse que sua fazenda iria ser
soterrada. – disse Danny agora encarando o chão.
Se eu soubesse disso antes de ouvir dele a história, estaria torcendo para que isso
acontecesse. Mas ao ver a expressão de tristeza no rosto de Danny, desejei que
aquilo tudo se resolvesse, e nada fosse soterrado.
Ah... tudo bem. Tenho certeza que tudo vai dar certo e não vão soterrar nada. –
falei, tentando consolar meu primo. Ele me olhou com um sorriso carinhoso.
Tomara que você tenha razão. – murmurou ele sem graça.
E então... Mary? – perguntei e ele arregalou os olhos corando novamente.
Ah, você ouviu. Ela é a minha melhor amiga. Mas os adultos acham que ter amigos
do sexo oposto é o mesmo que namorar. Não ligue para o que eles dizem.
Tudo bem, Danny. Pode falar, você gosta dela. – falei, rindo. Deixem eu me divertir,
ok?
Não, não. É minha amiga. – disse ele nervoso.
Ah, tudo bem. – concordei irônica.
Acho que você iria gostar dela. – falou ele e eu sorri.
Não, obrigada, Danny. Mas ela deve ser querida e perfeita, e eu não tenho muita
paciência com pessoas assim.
Então estão se entendendo! – ouvi alguém em pé atrás da gente falar um pouco
alto. Olhamos pra cima e tio Fred nos encarava sorrindo. Com aquele bigode dele. –
Lembra da Josey, Mell? – perguntou ele, e veio uma luz iluminando o meu passado.
JOSEY! Era a minha égua...
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Lembro sim, tio Fred.
Danny vem cuidando muito bem dela, que tal andar amanhã? – ofereceu ele, me
encarando freneticamente.
Seria ótimo. – falei, sincera. Pode achar estranho, mas eu gostava de andar a
cavalo.
Leve sua prima amanhã. – disse tio Fred para Danny e ele concordou.
Aquela história de forçarem a gente a fazer coisas junto tinha começado. Tudo bem,
Danny agora era lindo e tudo, mas eu continuo querendo menos contato possível.
Só estou sendo legal, no momento.
Mell, que tal arrumar suas coisas? – perguntou meu pai levantando da cadeira que
estava sentado. – Já está tarde.
Tarde pra você é... 21:30? – falei, olhando meu relógio. Ele me encarou com uma
cara nada boa. – Tudo bem, já estou indo.
Levantei na má vontade, o mundo está careca de saber que eu odeio dormir cedo, e
percebi que Danny ria. Qual é o raio da graça? Ignorei o engraçadinho e entrei pra
dentro de casa.
Querida, suas malas já estão no seu quarto. – falou minha vó saindo da cozinha. –
Quer ajuda?
Não, obrigada, vovó. – disse, subindo as escadas e tentando me lembrar aonde era
o meu quarto. Eram tantas portas, eu não lembrava.
Está procurando o seu quarto? – ouvi uma voz atrás de mim e me virei rápido.
Minha prima Cassey estava parada me encarando. Ela tinha 12 anos e algumas
sardas espalhadas pelo rosto igual à Danny.
Ah, estou. – respondi, tentando entender qual era a dela.
É pra cá, vem. – disse ela dando meia volta e parando em frente a uma porta rosa.
Rosa. Minha porta era rosa. – Não lembra mais?
Ahn... é que faz tempo.
Entendo. Vem, vou te ajudar. – falou ela entrando no quarto. A segui, entrando
também. Após colocar o pé no quarto, lembrei de tudo. Como pude esquecer. O
papel de parede com flores. O armário branco, e a cama bem embaixo da janela.
Havia também uma escrivaninha, nunca usada por mim, claro, eu não estudava nem
nada do tipo quando estava na fazenda.
Você cresceu, da última vez que te vi. – comecei, tentando puxar um assunto,
aliviando o clima tenso entre nós duas.
É, você também. – disse ela, sentando na cama.
Vai ficar aqui durante a semana? – perguntei, com uma ponta de esperança,
esperando ter alguém com quem conversar sem ser o exabominável.
Não, a gente mora em Manchester, esqueceu? Vou voltar amanhã. – disse ela se
referindo ao tio Fred, que era o seu pai, sua mãe e seu irmão menor de 3 anos e
também meu primo, Luke.
Não está de férias?
Estou, mas minha mãe inventou de me colocar num acampamento de férias, tenho
que voltar. – explicou ela, e eu fiz uma expressão de derrota. Mesmo ela sendo bem
menor que eu, iria gostar de conversar com ela. Cassey percebeu minha expressão e
me encarou. – Bem, o Danny fica aqui sempre.
Ah, como se isso fosse a solução de todos os meus problemas.
Você não gosta dele, né? – perguntou Cassey meio rindo.
Não é que eu não goste, mas ele...
Lembro de vocês dois brigando quando eu era menor. Realmente ele era um porre.
Mas não é mais, ele agora está bem mais legal e... bonito. – disse ela e soltou uma
risadinha. Eu estava olhando pro chão e a encarei abismada.
Cassey! – falei, segurando o riso.
É verdade, eu tenho 12 anos, mas eu sei ver quando um garoto é bonito! E parece
que ele já foi fisgado. – disse ela com uma risada engraçada.
Como assim?
Mary. Eu acho que ela sempre foi afim dele, e ele o mesmo.
Não lembro dessa garota.
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Ah, quando eles se conheceram você já tinha ido embora.
Concordei com a cabeça, com uma cara de “que bom pra ele”.
A odeio. – ouvi Cassey murmurar. A olhei. – Tudo bem, ela é querida e canta muito
bem, todos a amam. Mas ela me irrita com aquela aparência angelical querendo ser
boazinha e legal com todo mundo. Blé. Danny quase lambe o chão que ela pisa.
Esqueci como Cassey era parecida comigo.
Você tem ciúmes do Danny! – falei, rindo.
Eu gostaria que ele desse mais atenção pros primos quando aquela senhorita
perfeita está aqui. Quando ela não está, Danny é muito legal comigo.
Quando ela está aqui? – perguntei, já temendo a resposta.
Sim, ela aparece aqui às vezes. Como se alguém tivesse convidado.
Danny não a convida, mas ela aparece?
Sim, ele convida. Mas eu não aprovo. Tudo bem, vamos arrumar suas coisas.
Era bem estranho conversar sobre um primo com outro. Principalmente como se a
gente estivesse falando de um garoto qualquer da escola. Ele era da minha família!
Que doentio. Cassey pegou uma mala minha e colocou em cima da cama.
Suas roupas são lindas. – disse ela ao abrir a mala e tirar uma calça jeans de dentro.
Ah, valeu.
Duvido que vá ter coragem de usar isso aqui. – murmurou ela colocando a calça em
cima da cama e tirando as outras.
Por quê?
Se não quiser rasgar ou sujar, aconselho deixálas no armário e pegar as roupas
que você considera velhas.
Ótimo. – resmunguei, abrindo outra mala.
Não será tão ruim, pode apostar. – disse ela e eu gostaria que aquilo fosse verdade.
Capítulo 3
Tive um sonho bem estranho na minha primeira noite na fazenda. Eu estava sentada
no mesmo lugar da noite anterior, só que era de dia, e Brian apareceu, junto com
Danny. Eles se conheciam. E de repente me perguntaram quem eu preferia. Eu tinha
que escolher entre um dos dois. Fiquei olhando de um para o outro, meio confusa.
Como eu iria escolher entre o meu melhor amigo, do qual eu sempre fui afim, e meu
primo que, bem, era da minha família? Espero que esse sonho não signifique nada,
porque foi bem estranho e eu não lembro quem eu escolhi.
Mell, levante querida. – ouvi a voz de minha avó bem perto, e logo uma claridade
invadir meus olhos fechados. – Você dormiu demais. Abri meus olhos devagar e
encarei o relógio pendurado na parede florida. Oito e meia da manhã. Muito cedo.
Vovó, dormir demais significa acordar tarde. – resmunguei, me virando pro outro
lado.
É tarde. Se acostume, aqui nós acordamos bem cedo.
Percebi. – resmunguei, sentando na cama.
Bem, você perdeu o café da manhã. Mas não se preocupe, eu preparo um pra você.
E seu pai já foi.
JÁ FOI? COMO ASSIM? ELE NEM ME FALOU NADA E...
Calma, Mell. Parece que deu algumas complicações no trabalho e ele teve que voltar
cedo. Mas disse que vai te ligar pra explicar tudo.
Que bom. – resmunguei, irônica. Vovó me olhou rindo. – Que houve? – perguntei,
perdida.
Você é mau humorada de manhã sempre, ou é porque está aqui mesmo?
Que isso vovó, eu adoro vir pra cá. – menti, ficando de pé. – A senhora sabe bem
porque eu não vim nos últimos três anos.
Sei, sim. Ainda bem que você cresceu e percebeu o erro que cometeu.
Não seria... ainda bem que ele cresceu e percebeu o erro que cometeu?
Também. Bom, se vista. Tenho algumas tarefas pra você hoje. Seu pai me fez
prometer que te daria coisas pra você fazer enquanto estiver aqui. Por mim você não
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faria nada, mas eu prefiro seguir as ordens do seu pai.
Obrigada, papai. Além de me abandonar sem me avisar, me faz trabalhar no campo.
Coloque uma roupa que possa sujar. – disse ela, indo pra porta. – Estou te
esperando na cozinha.
Sujar? – falei em tom de desespero. – Vou ter que me jogar na lama e alimentar os
porcos?
Não. – disse ela rindo. – Isso é amanhã. Hoje você fará outra coisa. – continuou ela,
e deixou o quarto. Fiquei encarando a porta com cara de tacho. Até minhas ironias
aqui valiam literalmente. Ouvi um barulho repetitivo vindo do lado de fora e subi na
cama, olhando pela janela. Quase tive um ataque cardíaco. Ver aquilo de manhã cedo
era muito pra mim. Danny estava cortando um grande tronco, provavelmente para
servir como lenha. Lenhador abominável. Mas o que me fez tremer foi o fato de ele
estar apenas de calças. O garoto estava sem camisa, e aparentava ter um irresistível
tanquinho e músculos perfeitos. Droga. Agora eu sei porque a tal de Mary vem aqui.
Ele parou de cortar a lenha e mexeu nos cabelos, recuperando o fôlego. Um cachorro
dormia estirado perto dele. É melhor eu me vestir.
Tinha esquecido que meninas demoravam tanto pra se arrumar. – falou vovó
quando eu entrei na cozinha. Que nada, é que eu estava olhando o meu primo
gostoso sem camisa cortar lenha.
Meu cabelo é complicado quando eu acordo. Fica pra cima. – expliquei sentando na
mesa e me servindo do suco que estava dentro de uma jarra.
Todas vocês falam a mesma coisa! O que vai querer comer, querida? – perguntou
ela secando a última louça.
Não sei, o que a senhora sugere? – perguntei, encarando toda aquela comida em
cima da mesa.
Que tal o meu bolo de chocolate? Fiz agora de manhã.
Parece ótimo. – falei, me servindo de um pedaço. Estava tudo tão calmo e tranqüilo
naquela cozinha, mas parece que Murphy e suas leis idiotas resolveram não dar uma
trégua. Eu estava bebendo meu suco, na paz, e olhei pra porta da cozinha, que dava
direto pra fora da casa. O copo escorregou da minha mão e se partiu no chão, assim
como o suco que começou a escorrer. Minha avó me encarou assustada e Danny
igualmente, da porta da cozinha, ainda sem sua maldita camisa.
Opa. – murmurei, me levantando.
Tudo bem, querida, acontece. Danny, me alcance o jornal no balcão. – disse ela e
Danny, meio rindo, imbecil, pegou o jornal em cima do balcão no meio da cozinha e
entregou para vovó.
Deixa comigo, vovó. – falei, pegando o jornal das mãos dela.
Enrole os cacos de vidro no jornal e coloque fora. – disse ela e eu me abaixei,
começando a juntar os cacos. Porque aquele garoto tinha que aparecer ali sem
roupas atrapalhando minha paz matinal? Eu senti que estava vermelha de vergonha
e resolvi não olhar mais pra cara dele até ele resolver voltar a cortar a droga de lenha
bem longe de mim. Danny passou por mim e abriu uma gaveta embaixo da pia,
procurando alguma coisa. Resmunguei mentalmente em todas as línguas possíveis
quando olhei pra cima e encarei aquelas lindas costas nuas e aquela bunda linda. Sai
fora, Daniel. Pigarreei sem perceber, tentando disfarçar a tensão escrita na minha
cara.
O que quer, Danny? – perguntou vovó. – Você poderia se vestir dentro de casa,
não é?
Oh, obrigada vovó. Leu minha mente.
Eu já vou voltar lá pra fora, só quero uma tesoura. – disse Danny e eu quase voei
nele, qual é o problema de usar uma camisa? EU TENHO HORMÔNIOS, COM
LICENÇA. Vovó lhe entregou a tesoura e ele me encarou no chão. – Quer ajuda?
Não. – resmunguei, sem olhar pra ele. Eu sei, fui grossa. E daí? Agora parece que
em vez de pregar peças em mim ele vai ficar me provocando e me olhando irônico só
porque é gostoso? Me poupe. Ele saiu da cozinha e eu voltei a respirar. – A senhora
tem um pano, vovó?
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Deixa que eu limpo, querida, termine de comer.
Perdi a fome.
O que aconteceu?
Nada, só fiquei sem fome. – murmurei e ela me encarou.
Foi só o Danny entrar aqui que você ficou estranha. Não me venha dizer que ainda
tem birra com ele.
Não tem nada a ver com o Danny. – falei, corando. Ainda bem que ela estava de
costas.
Bom, então se você já terminou, pode começar repintando o galinheiro, o que
acha? O vermelho já está desbotado, ele era tão bonito quando estava colorido. Peça
para o Danny te explicar o que você tem que fazer.
Você não pode me explicar? – perguntei, com uma cara de sofrimento.
Bom dia, Mell! – ouvi tio Steve exclamar, da porta de dentro da cozinha, que dava
para a sala de jantar.
Oi, tio Steve. – respondi, sorrindo. – Hein, vovó? Será que a senhora não pode me
explicar?
Não, querida. Eu tenho que preparar o almoço. Já te falei, o Danny te ajuda.
Tio Steve, não quer me ajudar?
Ajudar em quê? – perguntou ele, pegando um pedaço do bolo em cima da mesa.
A me explicar como se pinta um galinheiro.
Bom, é simples. É só pegar a tinta e passar na madeira. – disse ele e ouvi vovó
rindo.
Não, tio, isso eu sei. Não sei onde estão as coisas...
Sinto muito, se eu pudesse te ajudaria, mas tenho que resolver algumas coisas no
centro. Peça pro Danny, ele entende dessas coisas.
Mas que mania de mandar eu pedir ajuda pro abominável. Essa família deve ter
combinado um complô contra mim.
Vovó, onde está o vovô? – O quê? Eu precisava tentar de todos os jeitos.
Está lá em cima, concertando uma tábua solta. Não vá pedir ajuda pro seu avô, ele
se empolga muito e vai até amanhã com essa história de pintar o galinheiro. – disse
ela se virando pra mim e me empurrando de leve pra porta da cozinha. – Está vendo
aquele rapaz? – perguntou ela, olhando para Danny. Eu assenti, borbulhando de
raiva, já sabia o que iria vir pela frente. – Ele pode te ajudar. Vai. – disse ela, como se
eu fosse alguma retardada mental que precisava olhar pras pessoas pra saber quem
são elas, e me deixou plantada na porta da cozinha, voltando para a pia. Hesitei,
antes de descer o degrau pra fora da casa, e fui o mais devagar possível pela grama
extremamente verde até o abominável, que continuava cortando lenha e continuava
sem camisa. O cachorro que dormia ao seu lado embaixo do sol soltou um latido ao
me ver. Danny logo me olhou, parando o que fazia.
Já se recuperou da tensão na cozinha? – perguntou ele largando o machado e eu
tive vontade de cavar um buraco na grama e me enfiar dentro.
Do que você está falando? Não havia tensão nenhuma.
Hm, sim. Algum problema?
Vovó me mandou pedir, er, ajuda pra você. Ela quer que eu repinte o galinheiro.
Ele assentiu e começou a andar na minha direção, passando reto por mim e
aproximando aquele maldito corpo de mim.
Vem comigo. – murmurou ele ao passar por mim. Eu soltei um suspiro e o segui.
Demos a volta na casa até onde havia uma grande despensa. Danny abriu a porta
com facilidade, como se fizesse aquilo sempre, e eu tenho uma leve impressão que
fazia mesmo, e entrou. Entrei atrás, meio relutante ao ficar numa peça fechada com
meu primo sem camisa. Ele acendeu a luz e começou a revirar em algumas estantes,
sem falar nada. Eu fiquei olhando pros lados meio desconfortável.
Vovó disse se queria mudar a cor do galinheiro? – perguntou ele de repente, me
fazendo acordar da minha transe olhando pro cortador de grama.
Ela disse que era pra pintar de vermelho. – respondi e ele pegou um grande pote
de tinta vermelha, um pincel grande e um avental velho.
Ok, vamos. – disse ele carregando com a maior facilidade aquele estúpido pote de
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tinta, que eu nem com as duas mãos conseguiria carregar. – É claro que você não vai
pintar a parte de dentro, porque obviamente há galinhas lá dentro e você não está
pronta pra dividir o mesmo ambiente que animas que arranham.
Eu o encarei andando ao meu lado. Como se eu fosse muito frágil pra não conseguir
dar conta de um bando de galinhas idiotas. Quem ele pensa que eu sou?
Andamos até o galinheiro, totalmente contra a minha vontade, que ficava bem perto
do chiqueiro e do estábulo, então o cheiro não era muito suportável. Havia uma
cerca separando o vasto campo aberto dos animais, provavelmente para eles não
saírem loucos por aí.
Bom, você começa por esse lado e depois dê a volta por trás. – explicou ele quando
largou a lata de tinta bem a frente de um dos lados do galinheiro. – Espera. – falou
ele e entrou no galinheiro, eu ouvi o barulho desprezível das galinhas ao verem um
humano, e depois ele voltou de lá com uma pequena escada. – Suba aqui pra
alcançar as partes altas, e comece de cima, pra não arruinar a pintura que você já
começou embaixo.
Quanto tempo eu vou demorar, você tem ideia? – perguntei, só por curiosidade.
Depende da velocidade que você pinta. – respondeu ele como se fosse óbvio. – Mas
a média é umas duas horas. É o que eu demorei da última vez.
Ok. – falei, e ele me entregou o pincel e abriu a lata de tinta. Fiz que ia enfiar o
pincel na tinta e começar logo com aquela droga, mas ele me impediu.
Calma. – disse ele, levantando o avental. – Sua roupa vai ficar um lixo se não usar
isso. – continuou, e colocou a parte de cima do avental em mim. Ele colocou em
mim. Isso quer dizer uma aproximação desconfortável entre nós. Depois amarrou a
parte de trás, e em vez de ele ser uma pessoa normal e ir pra trás de mim, já que já
tinha começado, ele quase me abraçou pra fazer aquilo. Eu congelei com aquelas
braços em minha volta, e depois soltei a respiração quando ele se afastou. Qual era o
tipo de problema que ele tinha? Ficar se aproximando de mim sem camisa, aquele
corpo maravilhoso quase encostando no meu. Ele só podia estar de brincadeira.
Boa sorte. – disse ele com um sorriso de canto, e se afastou. Fiquei olhando ele se
afastar, na verdade eu encarei as costas dele, que eram lindas, e observei cada
movimento dele ao colocar a camisa xadrez de volta. Ele olhou pra trás,
provavelmente verificando se eu tinha começado, e eu levei um susto, fazendo o
pincel voar da minha mão. Legal.
Brian deve estar numa bela praia essa hora, secando as meninas que passam por
ele de biquíni, e eu aqui, pintando um galinheiro idiota. – falei, pra galinha que me
encarava. Sim, isso mesmo. Eu estava conversando com uma . A que ponto cheguei.
Ela estava ali, me olhando, chocando no chão, e parecia muito compenetrada nas
minhas desgraças. – Claro, eu não te culpo, afinal não foi você que me fez vir até
aqui. E também não foi você que não deixou eu ir pra Califórnia com ele. Às vezes é
difícil saber se ele sente o mesmo, ele fica fazendo aquelas piadas de que só tem
olhos pra mim, mas como eu vou saber se é sério? – perguntei, parando de pintar a
parede e olhando pra galinha que soltou um cacarejo curto. – É, eu sei. Eu deveria
ter falado pra ele ANTES de ele ir pra lá, imagina se ele encontrar uma garota linda e
começar a namorar e me esquecer? Eu sou uma idiota, faço tudo errado.
Não, você está se saindo bem. – ouvi uma voz responder no lugar da galinha levei
o maior susto. Danny me encarava com um sorrisinho.
Ah, não era disso que eu estava falando. – murmurei, voltando a pintar. Pelo
menos agora ele estava vestido.
Bom, não vou me intrometer na sua conversa com a Bernardete, mas vovó
mandou te avisar que o almoço está pronto.
O encarei sem expressão.
Porque os animais da fazenda têm nomes estranhos? – perguntei e ele riu.
Deve ser tradição. – disse ele e eu soltei uma risada. – Deixa as coisas aí, depois eu
termino pra você. Já está no final mesmo.
Concordei, tirando o avental e largando em cima da escadinha.
Você sabe se aqui tem wireless? – perguntei, estava planejando mandar um email
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para Brian e verificar o meu, ele provavelmente vai mandar alguma coisa hoje sobre
seu primeiro dia na Califórnia.
Tem... o quê? – perguntou Danny, e eu por um momento esqueci que ele era um
lenhador abominável e não sabia nada de tecnologia.
Wireless, pra acessar a internet. – expliquei e ele me olhou sério.
O que você acha? Olha em volta. – disse ele e eu dei uma olhada pros lados.
Ah, não tem. NÃO TEM?
Claro que não, você está no interior do interior. Internet só no centro.
Não pode ser. Três meses sem me comunicar com o Langdon, só pode ser uma
piada.
Se quiser eu te levo no centro pra entrar na internet, relaxa. – disse ele como se
aquilo você a melhor solução pro meu problema.
Fazer o quê. – resmunguei, voltando a encarar a grama enquanto andávamos.
Para. – ouvi ele dizer, parando de andar e me segurando pelo braço. Mas o que é
isso? De repente ele se virou pra mim, encarando o meu rosto. Por um momento eu
achei que aquele abominável ia me beijar, mas ele passou delicadamente a mão na
minha bochecha, limpando algo. – Tinha uma mancha de tinta vermelha. – explicou
ele voltando a andar.
Ah, valeu. – murmurei, corando.
Se quiser, eu te levo pra andar na Josey de tarde, como tio Fred sugeriu.
Não, obrigada, eu me sinto estranha perto de você. Era isso que eu queria dizer, mas
ele estava sendo legal comigo, então eu tive que ser legal também.
Ah claro. Não vou atrapalhar suas... tarefas ou sei lá? – perguntei, e ele negou rindo
Hoje é domingo, tenho uma folga do trabalho pesado.
Tio Steve já tinha voltado do centro, e ria alto dentro da cozinha com tia Emma e
vovô. Tia Emma, como podem perceber, é separada, e meus primos, filhos dela, não
estavam na fazenda. Sorte deles. A mãe de Danny estava na cidade onde ela e o tio
Steve moravam, cidade vizinha.
Crianças! Sentemse, como são meus únicos netos presentes, fiz uma sobremesa
especial. – disse vovó, colocando o prato de arroz na mesa. Legal saber que eu
estava sozinha com Danny naquela fazenda.
Onde estão Cassey e Luke? E o tio Fred e a Lilly? – perguntei, Lilly era a esposa do
tio Fred e mãe de Cassey e Luke.
Levaram as crianças em um parque aquático que abriu na estrada, Cassey
infernizou tanto que tiveram que ir. – explicou tio Steve.
Sentei no mesmo lugar de antes na mesa da sala de jantar, assim como todos os
outros.
Filho, contou pra sua prima da quermesse? – perguntou tio Steve para Danny que
estava sentado na sua frente.
É, eu comentei.
Ele vai tocar. – explicou tio Steve pra mim e eu fiz cara de descoberta. – Danny é
realmente muito bom. Aposto que você também é boa, Mell, está no sangue.
Eu duvido muito, tio Steve. – falei, de imediato.
Pensei que você gostaria de tocar na quermesse também...
Eu tenho pavor de pessoas me olhando. Nem pensar. E eu não sei tocar violão.
Ah, uma pena. Mary vai tocar, não é Danny?
Grr, lá vem eles com essa Mary. Ela deve ser muito perfeita pra ser assunto em todas
as refeições. Não que eu estivesse com ciúmes nem nada, mas pelo que Cassey falou,
ela deve ser irritante.
É, pai. – respondeu Danny meio sem paciência, notase que ele não era o único na
mesa que não gostava de falar nessa Mary. Apesar de os motivos serem diferentes.
Terminamos de comer e eu subi pra tomar banho, estava realmente me sentindo
uma caipira, fedendo a tinta.
Capítulo 4
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Demorei anos pra conseguir ajeitar o meu cabelo, como sempre, e estava
me preparando mentalmente para o passeio a cavalo com o abominável.
Realmente não tinha como escapar. Estava sentada na minha cama
colocando meu All Star surrado e levei um susto ao ouvir aquela voz entrar
no meu quarto.
Tem botas? – perguntou Danny da porta, apoiado no batente.
Eu... er, é, minha mãe me forçou a trazer umas botas. Pra quê? –
perguntei, estranhando a pergunta.
Porque não vai poder andar a cavalo de All Star.
Olha, ele sabia a marca do tênis. Parece que estamos avançando por aqui.
Levantei da cama e tirei do armário umas botas de cowboy, elas eram
lindas, mas eu me sentia idiota dentro delas.
Perfeitas, coloca elas, eu estou lá embaixo. – disse ele e eu percebi que
também usava botas daquele estilo, só que masculinas. Da onde que o meu
primo abominável tinha senso de moda? Herdou de mim, só pode. Coloquei
as botas com dificuldade, nunca tinha usado aquilo, e me levantei. Senti
como se eu fosse ordenhar algum animal. Desci as escadas tensa, só de
saber que em poucos minutos eu ficaria um bom tempo sozinha com o
abominável me dava calafrios. Ele estava parado olhando pro lado de fora
da casa pela janela da sala de estar, e quando ouviu meus passos se virou.
Pronta?
Eu acho que sim. – murmurei, me aproximando dele numa distância
segura.
Bom, então vamos, você vai gostar. – disse ele saindo de casa pela porta
da frente e eu fui atrás. O sol ainda era escaldante no céu, ainda mais que
de manhã, por ser de tarde.
Onde está todo mundo? – perguntei, enquanto nos dirigíamos ao estábulo.
Vovô e vovó estão dormindo, claro, eles são velhos, dormem à tarde. Meu
pai voltou pro centro e tia Emma deve estar no quarto vendo TV ou sei lá.
O que você faz sozinho todos os dias de tarde? – perguntei, eu ficaria
maluca.
Minha habilidade com o violão responde a sua pergunta? – respondeu ele
com outra pergunta, meio rindo e eu ri, concordando.
Chegamos ao estábulo e eu gostaria de repetir que o cheiro era horrível, não
conseguia entender como Danny conseguia cheirar tão bem e viver no meio
daquele nojo todo. E pra falar a verdade, seu perfume estava maravilhoso
no momento, obrigada. Havia uns cinco cavalos, cada um em seu próprio
estábulo, e ele logo foi até o estábulo de Josey.
Olá, Josey, tenho uma surpresa pra você. – disse ele abrindo o portão do
estábulo e puxando Josey com cuidado pra fora. – Lembra da sua dona?
Mell? – perguntou ele, alisando a égua, como se ela fosse responder. Ele
estava tão lindo fazendo carinho nela... se controla. – Vem cá. – continuou
ele, agora pra mim, e eu me aproximei, passando a mão em Josey, que
parecia gostar.
Ela continua linda. – falei, olhando para Josey e me bateu uma leve
saudades dela. Costumava ser minha melhor amiga.
É, dá um trabalhão cuidar dos cinco, mas eu gosto. – disse ele sincero,
encarando Josey e sorriu. Depois se afastou e pegou em um canto uma cela,
colocando com cuidado em Josey. Ele era tão carinhoso... Os animais com
certeza eram bem tratados nas mãos dele. Para, Mell, é o abominável.
Demorou um certo tempo até ele colocar toda a cela e corda para guiar o
cavalo, e enquanto o fazia falava coisas fofas para Josey, e eu não pude
deixar de admirar a cena. Quando terminou, me olhou.
Tudo pronto. – disse ele me olhando. Eu o encarei meio perdida.
Você não vai... colocar a cela no seu cavalo?
Não, só a Josey vai.
Vamos os dois... nela?
Sim. Mell, você achou que iria cavalgar sozinha? Nem deve lembrar como
subir num cavalo. É óbvio que não vai fazer isso sozinha no primeiro dia.
Ah, é. – concordei, confusa.
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Eu teria que andar no mesmo cavalo que o meu primo abominável. Isso quer
dizer sentar atrás dele. Vocês já andaram em um cavalo com outra pessoa?
É bem estranho, nunca tentem. Bom, isso exigiria MUITO contato físico com
Danny, e eu já estava meio que desistindo da ideia.
Vamos. – disse ele e puxando Josey pra fora do estábulo, saiu. Fiquei
parada encarando o nada um tempo, depois saí também. Parei ao lado de
Danny e de Josey. – Lembra como sobe? Primeiro a perna esquerda...
Danny, disso eu lembro. – falei meio rindo e ele riu.
Ah, vai que a cidade grande apagou toda a sua habilidade com cavalos.
É, pode ser. – disse, e subi sem saber como, porque eu realmente não
lembrava, em cima de Josey.
Tudo bem, agora vá pra trás.
Com ela?
Não, Mell, só você. Pra mim servir aí. – falou ele de um jeito engraçado e
eu escorreguei um pouco pra trás. Logo Danny já estava na minha frente,
demorou metade do tempo que eu levei pra subir. Eu estava tensa por estar,
hm, digamos, de pernas abertas e grudada em Danny, porque a cela era
bem apertadinha pra duas pessoas. Tentei procurar apoio atrás de mim. – É
melhor você se segurar em mim, ela balança. – disse Danny e de repente
Josey começou a andar rápido e eu quase voei pra trás, mas o quase me
salvou, porque eu me agarrei em Danny sem pensar duas vezes. Ah, o
perfume dele era tão bom. Eu poderia ficar ali pra sempre. Cala a boca, é o
abominável, ele quase te deixou careca. Ignorando minha consciência,
percebi que Danny tinha aumentado a velocidade com Josey e agora ela
estava cavalgando pra valer, a casa começou a ficar pequena aos poucos,
quanto mais nos afastávamos.
Vamos até o lago, depois você guia. – ouvi ele falar na minha frente e
concordei, mesmo ele não enxergando meu assentimento com a cabeça.
Comecei então a me lembrar do lago... eu ia lá muito quando era menor,
atirar pedrinhas e alimentar os peixes que o habitavam. Realmente o lugar
era lindo, um paraíso particular. Enquanto cavalgávamos, eu esqueci de
praticamente tudo que me incomodava naquele lugar, principalmente o fato
de Danny ser meu primo abominável. Esqueci de Brian com as meninas
lindas na Califórnia, esqueci de Londres, de tudo. A sensação do vento
batendo no meu rosto era maravilhosa, única. Me perdi aproveitando as
maravilhas de cavalgar, e sem perceber, já estávamos no lago. Danny fez
Josey parar e a amarrou na árvore mais próxima.
O que achou? – perguntou ele, depois de me ajudar a descer.
Tinha me esquecido de como era bom andar a cavalo.
É melhor ainda quando se está guiando, você deve lembrar. Vamos um
pouco mais longe e depois voltamos, vou deixar a Josey em suas mãos.
Tem certeza? – perguntei meio receosa, eu não lembrava direito como
guiar um cavalo.
Claro que eu tenho, estarei bem atrás de você. – disse ele e andou até a
beira do lago, sentando na grama. Eu suspirei profundamente e andei até
ele, sentando ao seu lado. – Vínhamos muito aqui. – falou ele, sem tirar os
olhos do vasto lago.
É, eu lembro. – concordei, arrancando uma folha de grama.
Não trocaria isso aqui por nada. Vou pra faculdade ano que vem e saber
que talvez soterrem tudo isso está me deixando horrível. – disse ele e eu o
olhei. Sua expressão era de tristeza. Com razão, era o lugar mais lindo que
eu já tinha estado. Tantas lembranças.
Ninguém vai soterrar a fazenda, Danny. Confie no que eu digo. Eu não sou
crente nem nada, mas com certeza alguém lá em cima não vai deixar que
isso aconteça. – falei, sem tirar os olhos de Danny. Dava pra perceber que
aquele lugar era tudo pra ele. Pela primeira vez ele me olhou e nossos
olhares se encontraram. Tenso.
Espero que você tenha razão. Todas as minhas lembranças estão aqui. E
parte das suas também. Por mais que sejam de mim te infernizando. – disse
ele e eu ri. Estávamos próximos demais, na minha opinião. Mais uma vez eu
estava começando a ficar hipnotizada pelo seu perfume, misturado com o
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cheiro de grama cortada, era maravilhoso. – Às vezes eu gostaria que você
morasse aqui. – falou ele e eu voltei pro planeta Terra, estava realmente
perdida naqueles olhos azuis. Depois processei o que ele disse. O quê?
Por quê? – perguntei, meu estômago estava dando voltas.
Porque ficar sozinho aqui não é fácil.
Você... tem a Mary. – tentei, e ele sorriu, negando com a cabeça.
Não é a mesma coisa. Ela não é você.
Porque deveria ser eu? – continuei, meio perdida. Ele, que antes encarava
a grama, me olhou.
Você me faz sentir que isso tudo é pra sempre. Que um dia eu não vou ter
que deixar a fazenda e ter que ir pra uma cidade desconhecida. Mas você já
deve ter seus amigos e sua vida na cidade, nem deve ligar pra isso. – falou
ele, voltando a encarar a grama.
Danny. – eu falei e ele me olhou, surpreso. – Isso aqui é o que eu mais
tenho de valioso, por mais que nos últimos anos eu não tenha voltado. E na
verdade se você não estivesse aqui... não seria a mesma coisa. –falei, com
dificuldade a última frase. Ele sorriu, ainda me olhando.
Pensei que você me odiasse. – disse ele rindo.
É, às vezes. – assumi e ele riu mais. – Mas mesmo assim você é o meu
primo, e todas as coisas que eu passei com você vão ficar guardadas dentro
de mim, e muitas delas foram maravilhosas.
Sério? – perguntou ele, surpreso pela minha sensibilidade momentânea.
Não me achem estranha, eu estava envolvida com o momento.
Sim, é óbvio. Como eu vou esquecer daquela vez, ali na ponta do lago, que
eu escorreguei e te puxei junto, e a gente caiu na água? – perguntei e ele
sorriu, lembrando provavelmente da cena.
E depois você começou a me culpar. – disse ele e eu concordei rindo.
Como sempre, a culpa era sua. – falei, ainda rindo.
Hey, nem sempre a culpa era minha! – Danny exclamou se defendendo.
Tudo bem, na maioria das vezes a culpa era sua. – Me rendi, e ele cerrou
os olhos. Comecei a rir mais. Eu, euzinha, rindo com DANNY JONES? Aquilo
só podia ser um sonho muito estranho. Ficamos em silêncio e o clima voltou
a ficar tenso.
Er, sua vez de guiar a Josey. – disse ele de repente se levantando, e eu
fiquei o olhando com cara de nada.
Hm, Danny... não sei se é uma boa ideia. – murmurei, me levantando e o
olhando se aproximar de Josey.
Claro que é. Já esqueceu como é a sensação de cavalgar no comando do
cavalo? – perguntou ele sorrindo e eu devolvi um sorriso amarelo. Sim, é
ótimo quando não se tem um primo caipira perturbado atrás de você te
encoxando. Ok, ele não era mais perturbado e agora estava gostoso e
cheirava bem, mas ainda assim eu preferia ignorar essa ideia e deixar
passar. – Vamos lá, Mell. Josey está empolgada e sente a sua falta.
Ok... – concordei meio desconfortável, parando em sua frente.
Vai, sobe. – encorajou ele pegando na minha mão e eu estremeci. Hesitei
por um momento. – Você veio até aqui, o que te deu?
Medo momentâneo. – menti, dando um sorrisinho na tentativa de
convencêlo.
Não precisa se preocupar, eu estarei atrás de você. – disse ele e eu
assenti, subindo meio desajeitada em Josey. Ele subiu logo depois, atrás de
mim, perigosamente perto. Eu realmente não estava me sentindo
confortável no meio das pernas do meu primo. – Eu vou iniciar pra você,
tudo bem? – perguntou ele no pé do me ouvido e senti os pêlos da minha
nuca se arrepiarem. Não sou de ferro.
Uhum. – murmurei em resposta e ele pegou as rédeas de Josey passando
os braços por volta de mim e com um movimento rápido Josey começou a
se movimentar.
Tudo bem, segure. – falou ele, me dando as rédeas e eu segurei sem
habilidade alguma. Londres com certeza foi um dos principais fatores para
fazer eu perder as habilidades no campo. Quando eu era menor apostava
corrida com Danny, cada um no seu cavalo, e agora eu estava ali, parecendo
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uma criança tola aprendendo a andar de bicicleta. Patético. Ou talvez o fato
de ele estar atrás de mim estava me deixando meio desconcertada. Nem
percebi, mas estávamos ganhando velocidade com o passar do tempo. Nos
afastávamos aos poucos do lago, a fazenda ainda tinha um vasta extensão.
Depois de algum tempo cavalgando uniformemente Josey me deu um susto,
e provavelmente em Danny também. A égua parecia ter vontade própria, e
saltava quando bem queria. E foi isso mesmo que aconteceu, de repente
Josey deu um salto fazendo Danny quase voar longe atrás de mim, se
segurando em minha cintura e me dando estabilidade. Quase fiz o animal
parar quando ele tocou minha cintura onde a blusa não cobria minha pele.
Wow. – soltou ele depois de se recuperar do susto. – Você está bem?
Estou. – sibilei, ainda nervosa por Danny continuar tocando minha pele
com suas mãos. Ele pareceu ter percebido que ainda continuava com as
mãos na minha cintura e tirouas rápido, meio desconfortável.
A volta para casa foi totalmente silenciosa, nós dois estávamos tensos em
relação ao último acontecimento. Escurecia cedo na fazenda, quando
chegamos na casa o relógio marcava mais ou menos cinco horas, e o céu já
estava demasiado escuro.
Aí estão meus netos favoritos! – ouvi vovó sibilar quando eu e Danny
entramos em casa. – Onde estavam?
Vovó estava sentada em uma das poltronas da sala fazendo crochê. Ou algo
com agulhas, seja lá o que fosse.
No lago, vovó. – respondeu Danny depois de dar um beijo nela. Ah, ele era
tão carinhoso. Droga, porque ele não podia ter um defeito? Hoje em dia,
CLARO.
Levou Mell para um passeio na Josey?
Levei, não vai demorar muito pra ela começar a cavalgar sozinha de novo!
– falou ele e eu dei um sorrisinho, ainda estava parada na porta.
Mell, quer fazer o favor de entrar em casa? Parece uma estátua parada aí
na porta.
Tecnicamente eu estou dentro de casa. – falei, e Danny soltou uma risada
ao entrar na cozinha. Logo ouvi a voz de tio Steve ao ver o filho.
Querida... – começou vovó e me encarou. Lá vinha coisa. – Como andam
as coisas com Danny?
Bem, porquê? – respondi rápido demais. Aquela pergunta me pegou
desprevenida.
Vocês não se entendiam no passado... Conseguiu perceber que ele mudou?
Sim.
Está responsável, gentil... é um tesouro. E está lindo! Ah eu tenho tantos
netos lindos...
É. Me enganei sobre ele. Quer dizer, agora.
Sabia que vocês iriam se tornar grandes amigos.
Também não é assim.
Pode crer.
O quê?
Nada, vovó.
Esqueci que avós não entendem gírias. Se facilitar nem o Danny entende
gírias. Ok, exagerei.
Vou tomar banho. – disse Danny passando pela sala de estar e subindo as
escadas.
Tudo bem, querido. O que você está fazendo comendo antes do jantar?
Não se preocupe, eu vou comer a comida. – falou ele ao terminar de
comer o que eu identifiquei como um morango.
Eu sei que vai. – concordou vovó sorrindo. – Só estava fazendo meu papel
de avó.
Danny riu e continuou subindo as escadas.
Boa noite, mocinhas!
Tia Emma entrou cheia de sacolas. Não sei do quê, da onde que Bolton tem
lojas?
Boa noite minha filha, o que é isso?
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Ah, nada. Apenas algumas caixas de morango. Danny me pediu pra trazer.
Espero que aquele garoto coma isso, se não eu vou amassar ele e esses
morangos!
Por acaso Danny tinha algum vício em morangos e eu não sabia?
Seu primo é viciado em morangos. – Vovó lendo minha mente. – Aqui
perto não vendem bons morangos, então sua tia trouxe de longe. Pode
comer quando quiser.
Hm, obrigada. Eu vou... pro quarto.
Tudo bem, desça quando eu chamar.
Claro. – concordei e levantei de onde estava sentada, em um dos sofás da
sala e me arrastei (cheia de dores, claro, anos sem andar à cavalo) até a
escada. Incrível como aquela casa estava sempre cheia de gente. Apesar de
as crianças não estarem, os adultos faziam bastante barulho.
O segundo andar da casa estava vazio, se não fosse pelo barulho em algum
dos banheiros. Logo descobri qual dos banheiros estava sendo usado, não
que eu estivesse procurando, mas eu tinha que passar por ele pra chegar no
meu quarto. A porta do banheiro estava entreaberta, e ao passar olhei de
relance algo que eu realmente não gostaria de ter visto. Ou, lá no fundo, lá
no fundo MESMO, gostaria. Danny estava só de toalha, parado no meio do
banheiro, mexendo nos cabelos molhados. Sinceramente, aquele relance de
cena foi uma das melhores da minha vida. Vamos esquecer a vergonha, por
favor. Não resisti e voltei um passo pra trás. Ele continuava se olhando no
espelho, seu corpo ainda estava molhado, e eu fiquei um bom tempo
encarando aquela escultura humana. Eu estava até meio boquiaberta, pra
falar a verdade. Tudo bem, eu já tinha visto ele sem camisa, mas não tinha
visto QUASE SEM ROUPA. Ele tinha entradinhas perfeitas, até as sardas
espalhadas por praticamente todo o peito deixavamno mais gostoso do que
já era. Ele começou a cantarolar alguma música, e eu levei um susto. Se ele
me visse ali eu estava PERDIDA. Mas algo que eu não conseguia identificar
me prendia naquela fresta da porta.
É claro que algo tinha que dar errado. O meu celular começou a tocar. Super
alto. Eu pensei em sair correndo mas não dava, ele já tinha me visto ali
parada. Merda, merda, merda. Danny andou meio rindo, como sempre, até a
porta e a abriu por completo. Eu tirei o celular do bolso de trás da minha
jeans.
Era Brian.
Praga.
Tudo bem, eu era afim dele. Mas o momento não era adequado pro Langdon
me ligar!
Alô? – atendi, meio mauhumorada e nervosa por Danny estar de toalha
parado me encarando.
Mell! Como está?
Estou bem, e você?
Ah, legal. Estou te atrapalhando?
Mais ou menos. – falei entre dentes.
Opa, então deixa. Te ligo amanhã.
Tudo bem. Tchau.
Tchau, na verdade eu só estava afim de ouvir a sua voz.
Ai que fofo. Você não tem ideia de como eu estou com saudades! – Por um
momento esqueci Danny seminu parado me olhando. Brian tinha esse
poder.
Tenho sim. Menos que eu!
Impossível! Ok, tenho que desligar. Te amo, sua praga.
Te amo mais.
Fechei o celular e levei uns cinco segundos pra conseguir olhar pra cara do
Danny.
O que está fazendo no meio do corredor? – perguntou ele com uma cara
irônica logo que eu o olhei no rosto.
Nada, eu estava indo pro meu quarto. – respondi, agora olhando o chão.
Era o Brian? – perguntou ele e eu o olhei meio com raiva. Agora deu pra
fiscalizar quem me ligava?
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Não que seja da sua conta, mas era. – falei, o deixando parado no meio do
corredor e entrando no quarto.
Ele e aqueles morangos idiotas. E aquele corpo irritante. E aquele sorrisinho
de triunfo. O odeio.
Capítulo 5
Estávamos sentados na sala de jantar, nunca em silêncio, claro. Alguém
sempre tinha uma história do dia pra contar. Eu só não havia pegado no
sono ainda, porque estava ocupada mastigando. Ainda não tinha me
adaptado com o horário, e eu tinha realmente cansado durante a tarde.
Querida, se você quiser pode sair da fazenda quando quiser. Digo, ir ao
centro. – falou vovó de repente. Eu a olhei sem expressão. Não costumo
fazer expressões quando estou com sono.
Ah, sim. Se eu soubesse como chegar lá.
Droga, não devia ter dito isso. Já sabia o que viria pela frente.
Danny pode te levar. – sugeriu tio Steve. Danny não levantou a cabeça ao
ouvir seu nome.
Alguém me ensina o caminho e eu vou sozinha.
Sabe dirigir?
Não.
Danny te leva. – decidiu ele e eu desisti. Não sei porque tentava fugir da
sina. Sempre dependeria de Danny naquele lugar, não importa o que eu
fosse fazer. Daqui a pouco Danny vai estar me alimentando e me vestindo.
Vocês estavam falando sério sobre aquela história de eu alimentar os
porcos amanhã? – perguntei, temendo a resposta.
Por mim, não. Mas seu pai faz questão que alguém – A.K.A Danny, só pra
constar – lhe ensine a fazer a maioria das coisas na fazenda. Sim, querida.
Olhei automaticamente para meu tio Steve, mas ele apenas fez uma cara de
“não há nada que se possa fazer” e voltou a comer. ÓTIMO.
Em uma semana você estará acordando com o galo cantando! Cinco da
manhã! – disse meu tio Steve com o máximo de sotaque caipira e eu encarei
o nada, sem saída.
Acordei naquela manhã de segundafeira com a luz do sol batendo no meu
rosto e um cheiro insuportável de terra. Abri os olhos com dificuldade, como
sempre, e vi a silhueta de um ser que não poderia ser a minha avó por cima
de mim, esticado, abrindo minhas janelas. Dei um pulo, me cobrindo com as
cobertas.
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO NO MEU QUARTO? – berrei, encarando um
Danny sujo de terra se esforçando para abrir a janela que ficava em cima de
minha cama. – ESTÁ SUJANDO TUDO, SEU JARDINEIRO CAIPIRA!
Vovó me mandou te acordar, pode ter certeza que por mim eu não estaria
aqui. Tenho muita coisa pra fazer.
Você deixou um rastro de terra no chão! O que está fazendo? Rolando na
terra? – perguntei, quando ele finalmente conseguiu abrir a droga da janela.
Replantando o jardim. Será um favor se você limpar o chão, pelo menos do
seu quarto.
DANNY! DÁ PRA VOCÊ SAIR DAQUI? EU ESTOU HORRÍVEL! Droga. Pára de
falar comigo. – berrei, meio atacada, tapando a cabeça com as cobertas.
Não se preocupe, você continua bonita mesmo depois de acordar. – ouvi
ele falar simplesmente. Corei, sorte que ele não viu. – Se voltar a dormir eu
vou te arrancar daí. Mell, está me ouvindo?
Não. – resmunguei com raiva. Eu não tinha paciência alguma ao acordar. –
Sai daqui, seu abominável.
Você é MUITO dramática. Nunca vi garota mais dramática.
ENTÃO PEÇA PRA MARY LIMPAR O CHÃO!
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Seria bem indelicado da minha parte pedir pra ela limpar o chão do seu
quarto.
Então acorde ela. Aposto que ela vai ser super legal com você e ainda vai
plantar batatas junto.
Tudo bem, chega de palhaçada. – ouvi ele falar, um pouco mais alterado.
De repente as cobertas desapareceram e eu já não estava mais na cama.
ME SOLTAAAAAA!!!!! – gritei com tudo, eu estava praticamente de cabeça
pra baixo no seu colo. Mas que droga esse garoto. – VOVÓÓÓ,
SOCORROOOO!
Vovó não está em casa, saiu com vovô. Estamos sozinhos.
O QUE VOCÊ VAI FAZER?
Te acordar.
DANNY, ME SOLTA. ESTOU FALANDO SÉRIO. EU TE MATO!
Estou na vantagem. – disse ele meio rindo. Grrr. Eu não conseguia ver
muita coisa, apenas o chão e a bunda dele. Sim, eu estava nessa posição.
DANIEL, ESTOU QUASE SEM ROUPAS! SEU TARADO!
Eu realmente não me importo e não tenho interesses pelos quais sua
cabeça deve estar fantasiando agora.
FANTASIANDO? VOCÊ AINDA É HOMEM!
Em menos de um segundo estávamos do lado de fora da casa. O que ele ia
fazer comigo eu não tinha ideia, mas eu estava sentindo que não era nada
bom.
PODE ME SOLTAR AGORA? JÁ ME INFERNIZOU O BASTANTE!
Só mais um pouco.
AAAAAH! VÁ FAZER SUAS TAREFAS DE CAIPIRA E ME DEIXE EM PAZ! EU
NEM QUERIA ESTAR AQUI PRA COMEÇO DE CONVERSA.
Eu sei, por isso mesmo. Você está precisando de um choque de realidade.
– disse ele e me soltou. Senti a grama nos meus pés e por um momento
Danny sumiu.
Onde você está, seu imbecil?
Não tive tempo de imaginar ou ouvir uma resposta, porque a água gelada
quase me matou.
EU SABIA QUE VOCÊ NÃO TINHA MUDADO PORCARIA NENHUMA! CONTINUA
O MESMO PESTE DOS INFERNOS! – gritei com todas as forças, e mesmo
assim ele continuou com a mangueira no meu corpo. Estava sério. O
conjunto que eu estava usando era branco, ele iria pagar por isso.
Aposto que agora você nunca mais vai hesitar e vai levantar quando eu te
chamar. – disse ele simplesmente e desligou a água. Eu fiquei parada o
olhando com raiva por dez segundos. O cachorro da casa participava, latindo
freneticamente.
Seu... OGRO! – gritei, e corri na direção dele planejando estapear sua cara
ou algo do tipo. Mas o problema foi que eu escorreguei quando estava a
meio metro do garoto e dei de cara com ele, de modo que nossos corpos se
chocaram ao ponto de DOER, e fomos parar no chão. – Você continua o
mesmo caipira ridículo de sempre!
E você a mesma patricinha mimada de sempre. – devolveu ele, embaixo
de mim.
Como se você entendesse o que é ser uma patricinha!
Não é difícil, é só olhar pra você.
VOCÊ REALMENTE NÃO SABE COMO TRATAR UMA GAROTA! Devia ser mais
sociável e aprender como!
Você não é uma garota... É a minha prima. É bem diferente.
AAAAAAAAAAAAAH! EU TE ODEIO, SEU SELVAGEM!
Levantei com raiva de cima dele e sai andando sem olhar pra trás.
A propósito... bela lingerie! – gritou ele e eu quase escorreguei.
DEPOIS VEM DIZER QUE NÃO É TARADO! SEU IMBECIL!
Danny ria da minha cara como se aquilo fosse a piada mais engraçada do
mundo. Eu iria lhe mostrar a piada, a se ia.
Entrei na casa molhando e sujando tudo de terra, não estava nem aí. Corri
pro banheiro e entrei embaixo do chuveiro. Que garoto idiota. Ou melhor,
aquilo não era um garoto, era um monstro. Ah, como eu sentia falta de
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Brian, me tratando bem... Por quê? Por que eu? Agora ele devia estar lá com
milhões de loiras lindas em volta dele e eu aqui presa nessa roça com um
caipira que nem sabe como tratar uma moça, da onde ele tirou que pode me
molhar assim, do nada? Ah, ele vai ver uma coisa. Saí do banheiro enrolada
em qualquer toalha que encontrei, e dei de cara com Danny no corredor.
Droga! – berrei, ajeitando melhor a toalha para me tapar o melhor possível
dele. Ele me olhou com aquela cara irônica idiota. – Que foi? Sua besta.
Por que está usando a minha toalha? – perguntou ele me olhando de cima
a baixo. Dei um grito que o fez se encolher.
MAS QUE MERDA! – berrei, entrando no meu quarto e batendo a porta logo
em seguida, na cara dele, que ria. Eu não ia suportar aquilo por mais
nenhum dia. Arranquei a toalha e taquei longe, procurando minhas roupas de
baixo. Antes, corri pra trancar a porta. Só podia ser carma, o que eu fiz pra
merecer isso? A toalha... dele. EEW!
Coloquei um short jeans e qualquer camiseta, não estava com paciência
alguma pra escolher roupa. Saí do quarto e ouvi uma música vindo do
primeiro andar. Duas vozes. Eu já sabia o que viria pela frente, desci as
escadas desejando que não fosse o que eu estava pensando. Imagina se não
era.
A porta da frente estava aberta e na varanda, sentados no mesmo lugar
onde eu conversei com o abominável pela primeira vez, estava o próprio e
uma garota loira. Os dois com violões.
Our song is the slamming screen door,
Sneakin' out late, tapping on your window,
When we're on the phone and you talk real slow,
Cause it's late and your mama don't know,
Our song is the way you laugh,
The first date, man, I didn't kiss her and I should have,
And when I got home... before I said amen,
Asking God if he could play it again.
Que isso! Você dá de dez a zero nele. – rebati, sorrindo para ela. Senti o
sorriso de Danny desaparecer.
Obrigado pela parte que me toca. – resmungou Danny se levantando. Mary
o olhou sem entender e eu sorri.
De nada, quando quiser... – retruquei, sorrindo para ele. Ele semicerrou os
olhos na minha direção.
Ótimo. Vamos Mary, quero te mostrar uma coisa. – falou ele com raiva
puxando a mão da garota e saindo pro jardim. Ela me olhou como se pedisse
desculpas, e eu sorri falsamente para ela. Que garota idiota. Perfeita pro
Danny, ingênua e boazinha. Nem deve perceber o garoto repugnante com
quem fica tocando musiquinhas românticas. Bufei, enraivada, e sentei onde
eles estavam há alguns segundos. Teria que suportar aquele amor todo por
mais três meses. Encarei os violões e peguei um. Fiquei olhando pras cordas
por um momento, tentando lembrar o que Brian havia me ensinado. Comecei
a tocar a primeira música que veio na minha cabeça, acho que perfeita pro
momento.
If I'm a bad person, you don't like me
I guess I'll make my own way
It's a circle a mean cycle
I can't excite you anymore
Where's your gavel? Your jury?
What's my offense this time?
You're not a judge but if you're gonna judge me
Well, sentence me to another life.
Na verdade eu não era ruim, era muito boa. Só não sabia se estava
cantando bem, quem sou eu pra me julgar. Eu poderia ser melhor que
aquela Mary? Não que eu me preocupe com isso. E nossos estilos de música
eram muito diferentes, enquanto eu tocava rock os dois ficavam tocando
essas músicas country nada a ver. Terminei de tocar e levei um susto com
Danny parado na minha frente. Qual era a desse garoto?
Ao contrário de você, não vejo problema nenhum em te falar que você é
ótima.
Onde está Mary?
Está revirando a dispensa, procurando alguma coisa que eu não faço ideia.
Acho que você deveria tocar na quermesse.
Está maluco? Nunca. Minha voz é um lixo.
Lixo? Lixo? Acabei de ouvir a primeira garota que é melhor que a Mary.
Pff, não sou melhor que a Mary. Pare de me elogiar, eu te odeio, você me
molhou.
Danny riu, descontraído. Imbecil.
Desculpe então, você é um lixo.
Melhor assim.
Você é muito estranha.
O olhei séria.
Você jura que é super normal, né? Fala sério você não deve nem saber
mexer num iPhone. Se é que você sabe o que é um.
Pra sua informação, sim, eu sei o que é um iPhone, e não, eu não tenho e
nem sei mexer porque ao contrário de você eu não passo o dia
vagabundeando, eu tenho coisas pra fazer aqui.
VAGABUNDEANDO? Quem você pensa que é pra falar assim de mim?
Com certeza eu sei o que eu não sou. Não sou igual a você que não
respeita as pessoas e se acha melhor que todo mundo.
Eu acabei de elogiar a Mary!
Pra me incomodar.
Você costuma ser convencido assim o tempo inteiro? Quer dizer, sabe
Danny, eu não passo o dia pensando em você.
Bom saber que eu não passo muito tempo nesse seu cérebro de minhoca.
O QUÊ? Eu não acredito que eu ouvi isso de um caipira. Você só pode estar
brincando.
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Esse é o seu problema, não leva nada a sério, sempre me subestimando e
achando que eu não sei nada. O fato de eu ser caipira não me impede de ser
uma boa pessoa.
Claro que não, o problema é que você NÃO É uma boa pessoa, nunca foi e
nunca vai ser! Só eu consigo ver essas suas duas caras?
Meu Deus Mell do que você está falando? Eu sou assim!
É, eu sei. Um ogro.
Você está tentando fazer cena? Porque eu não tenho paciência pra isso!
Vou te mostrar a cena...
Não pude finalizar minha frase, Mary surgiu na nossa frente como se tivesse
aparatado (não duvido nada) e nos encarava com uma expressão assustada.
O que houve? – perguntou ela fingindo um desespero por ver duas pessoas
brigando. Vou dar na cara dela.
Minha prima tem problemas mentais. – respondeu Danny.
Dá pra você falar pro Daniel pra ele crescer? – perguntei para Mary que
agora estava sem expressão no rosto.
Hm, Danny ela pediu pra eu...
Fala pra ela calar a boca.
Tá, Mell ele...
Diz pro Danny que ele é um porco.
Danny você é...
Diz pra ela que...
CHEGA! Qual o problema de vocês dois? Nossa, se acalmem.
Nos encaramos com raiva. Abominável, nem sabe discutir. Idiota, idiota,
idiota. Danny passou reto por mim entrando na casa e Mary foi atrás. Rolei
os olhos e me levantei, me afastando o máximo possível daquelas criaturas
do mato.
Capítulo 6
A brisa fresca acariciava o meu rosto, enquanto a única coisa que eu podia
ouvir era o som dos grilos. Pelo menos a noite nesse lugar é calma. Estava
sentada nas escadas da varanda, com os olhos na escuridão que se iniciava
onde a luz do hall terminava. O cachorro de Danny estava atirado nas
proximidades, um pouco afastado de mim e de vez em quando se mexia
desconfortável por causa dos mosquitos e outros insetos que pousavam nele.
Acho que sei de uma coisa que pode te animar. – ouvi a voz de Danny
invadir a varanda, me tirando dos meus devaneios (lêse resmungos).
Não preciso da sua ajuda pra me animar, estou ótima. – resmunguei, sem
o olhar.
Tem certeza?
Como se você soubesse como animar alguém! Ah, que tal irmos tirar os
ovos da galinha agora? Aposto que isso vai te animar! Danny grunhiu atrás
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de mim e eu sorri.
Então eu vou sozinho, fique aí amargurada.
Me virei devagar para olhálo. Ele estava lindo. Que droga era aquela?
Onde vai?
Ele sorriu, convencido. Odeio ele.
Vou em uma festa.
O encarei por alguns segundos e depois comecei a rir. Não estava me
fazendo, eu realmente achei engraçado, e a intensidade da risada foi
aumentando com o passar dos segundos.
Bom, se você acha tão engraçado então eu vou indo.
Ah, fala sério Danny! Uma festa? Em Bolton? Você está tirando com a
minha cara?
Eu não iria me arrumar só pra tirar com a sua cara, não me prestaria. Mas
pra sua informação Bolton é uma cidade, e não somos os únicos
adolescentes. Eu tenho amigos como você tem os seus, e vou em festas
assim como você vai. São exatamente iguais as suas. Abra sua cabeça
fechada e sedentária pelo menos uma vez na vida.
Eu? Sedentária? Acho que você trocou as coisas por aqui.
Tudo bem, como quiser. Eu vou indo.
Espera! Onde é?
Na casa de um amigo meu.
É longe?
Mais ou menos. Olha Mell, se você for comigo não tem problema, eu vou
cuidar de você.
Há, tá bom. Então prepara a minha lancheira, porque eu vou junto. Espero
que valha a pena. – falei, levantando e passando reto por ele, sentindo
aquele maldito perfume maravilhoso.
Não demore.
Não respondi, subi as escadas correndo. Eu tinha alguma roupa de festa?
Bom, tanto faz, aposto que ninguém se arruma pras festas daqui. Vai todo
mundo vestido de lenhador. De qualquer forma, eu tinha que mostrar minha
diferença, sou uma garota de Londres! Bom, o que eu ia fazer? Eu não tinha
nenhum vestido e todas as minhas roupas eram de diaadia. Foi quando
lembrei do vestido horroroso. Eu já tinha pensado em dar uma transformada
nele, mas não em Bolton, esperaria voltar pra casa para não magoar a
minha tia. Mas não tinha jeito, eu teria que fazer agora. Peguei o vestido
preto de mangas compridas que ia até os meus joelhos, fazendo algumas
medidas superficiais. Eu não tinha muito tempo, Danny ia começar a ter os
ataques ogros dele. Abri a gaveta da escrivaninha, torcendo para que
houvesse uma tesoura ali, e por sorte tinha. Tirei o comprimento do vestido,
cortando uns bons dez dedos. Como ele era junto no corpo, arrisquei cortar
em tomaraquecaia. Se desse errado eu estava ferrada. Mas deu certo,
graças à Deus. Ficou tão bom que eu me orgulhei de ter me dedicado tanto
na faculdade. Eu não estava tão ferrada agora, porque ao menos eu tinha o
sapato. Não sei o que me deu de levar sapato de salto pra roça, mas eu
levei e afinal agora estava sendo útil. Corri pro banheiro e me maquiei o
mais rápido possível, minhas habilidades nesse quesito também facilitaram.
Peguei meu celular e minha carteira de identidade e desci até o primeiro
andar. Danny estava sentado no sofá olhando o nada. Quando me viu
pareceu ter levado um soco na cara. Parece que o caipira também tem seus
probleminhas em resistir à primas. Agora ele ia pagar por toda aquela
palhaçada de me seduzir sem camisa!
Eu... er... como... – gemeu ele me encarando de cima a baixo. Sorri
vitoriosa.
Ser uma garota fútil da cidade tem suas vantagens. Vamos? – falei, e ele
demorou um tempo pra processar a minha frase. Quando percebeu, se
levantou desconcertado. – Ah, leva pra mim. – completei, me aproximando
dele e colocando eu mesma no bolso de trás da sua calça jeans meus
pertences. Senti a tensão no seu corpo com a minha aproximação repentina.
Estávamos a centímetros, eu sorria irônica pra ele. Ajeitei a gola de sua
camisa o provocando e ele engoliu em seco. – Até que você está bonitinho
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hoje.
Dei meia volta e saí da sala. Danny demorou um tempo pra ir atrás de mim.
Naquele momento eu estava agradecendo aos céus pelas minhas curvas,
porque se ele tinha as dele eu também tinha as minhas, muito obrigada.
Entramos na caminhonete, que nem era dele, era do tio Steve, e por um
momento pensei se ele iria beber. Depois ri. Ele nem deve ter bebido álcool
ainda.
Chegamos na casa em questão, na verdade Bolton era até grande para uma
cidade de interior.
Jones! Estávamos guardando uma garrafa pra você. – falou o garoto que
abriu a porta da casa. Estava agitado lá dentro. Será possível? Era mesmo
uma festa? Tocando músicas decentes? O garoto me encarou assustado,
depois olhou para Danny esperando uma explicação.
Minha prima Mell. Mell, esse é o Justin, meu amigo que está dando a festa.
– disse Danny sem ânimo, encarando Justin com certa atenção, por ter se
formado um sorriso esperto nele quando me cumprimentou.
Muito bem vinda a minha festa, Mell. Você não me falou que sua prima era
tão bonita, Danny. – disse Justin, dando espaço para entrarmos. Danny o
encarou sem expressão.
Não passou pela minha cabeça comentar isso com você, Justin. – falou ele
sério.
Nossa! Já vi que você vai ficar guardando o caixão a noite inteira. Bom,
aproveitem. – disse o garoto se afastando.
Mary não está aqui? – perguntei, o fazendo pular repentinamente.
Ahn, quem? Ah, não sei, deve estar. – falou ele sem dar muita
importância. Ele estava fazendo pouco caso da Mary? Ah, o que uma falta de
roupa na prima não faz! Quer beber alguma coisa? Eu não vou beber,
temos que voltar.
Ah, tá brincando? Veio até aqui pra ficar zerado? Vamos Danny, me
acompanha. – falei, o puxando pela mão até onde provavelmente era o bar
improvisado daquela festa. Pedi duas latas de cerveja e entreguei uma à
Danny.
É estranho ver você tão... saliente. – disse ele de repente, ao abrir a
latinha.
O quê? – perguntei rindo.
Assim, bebendo. Você costumava ser mais ingênua.
Eu sou ingênua! O que você pensa que eu faço, Daniel? Saio dando pra
todo mundo?
Não, não foi isso que eu quis...
Ah, eu amo essa música! Vem! – falei, o interrompendo, e o puxando pro
meio da sala, onde já estava apinhado de gente desconhecida. Deduzi que
Danny não saberia dançar, afinal era o Danny. Mas eu estava enganada,
quando começamos a nos mexer ele pareceu experiente. Ou alguém que
fazia isso freqüentemente. Na verdade eu estava numa situaçãoteste,
queria ver como era Danny num ambiente social e como se comportava. Ele
estava evitando me olhar, o que eu julguei como uma forma de resistir, eu
podia sentir sua mão formigando pra me tocar. Quem visse iria pensar
besteiras, afinal éramos primos. E não ia passar disso! Espero eu. Chegou
um momento que, deduzi de uma forma bêbada, Danny não resistiu a
empolgação da voz da Ke$ha e me puxou para perto de si. Olha, estamos
conseguindo alguma coisa! Ele estava quente e suado, não muito diferente
de mim, o lugar era um inferno e toda aquela gente em volta não ajudava.
Fazia um tempo que eu não freqüentava um ambiente assim, nem lembrava
como era bom. Então, voltando ao caso Danny abrindo as asinhas, confesso
que levei um susto quando meu primo me puxou, eu estava distraída
observando um garoto se entupir de vodca. Seu braço deu a volta completa
em minha cintura, só pra deixar clara a distância quase inexistente dos
nossos corpos. Encarei seus olhos a centímetros e sorri, ele fez o mesmo.
Joguei meus braços em volta de seu pescoço, ainda segurando minha quinta
latinha de cerveja. Naquele momento estava visível o meu descontrole de
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guardou de volta no bolso.
Não pergunte. – murmurei, sem o olhar nos olhos. Ele concordou com a
cabeça, também sem me olhar. Ficamos um tempo parados, sem saber o
que fazer. É isso que dá beijar o primo!
Hm, sobre antes... – começou ele, agora me olhando. Sua boca estava
vermelha.
É melhor não comentar. – falei, o olhando. Ele tinha uma mancha
desconhecida na bochecha, então eu estiquei minha mão e limpei com
delicadeza, o deixando um pouco surpreso. Ele segurou a minha mão e me
empurrou devagar contra a parede onde estava encostado. Lá vamos nós de
novo. Agarrei com vontade seus cabelos da nuca e o puxei para perto,
grudando nossos lábios novamente. Parece que a dinâmica estava mudando,
de fato.
eu e o garoto.
Hm, meu nome é Harry. – disse ele se apresentando. Nem perguntei.
Mell. – falei sem o olhar. Ele parou de falar, o que aquele garoto estava
pensando? O olhei de canto do olho e ele estava sorrindo pra mim. Mas que
selvagem, nunca viu uma dama antes? Harry estava aproximando seu rosto
de mim quando fui salva pelo gongo. Danny surgiu do nada na nossa frente,
segurando duas garrafas verdes de cerveja. Nunca fiquei tão aliviada em vê
lo. Danny encarou Harry com uma cara assustadora, e o garoto se levantou
rápido e se afastou. Nossa, Danny deveria ser perigoso pra apenas um olhar
surtir aquele efeito todo. Sentou onde Harry estava antes e me entregou
uma garrafa.
Harry. – murmurou ele, dando um gole na cerveja.
É, ele se apresentou. – concordei, bebendo também. Nunca dei um gole tão
grande na minha vida, deixei a garrafa pela metade. Aquele líquido entrando
rápido me deixou meio fora de órbita e eu deitei minha cabeça no ombro de
Danny, fechando os olhos pra tentar focalizar novamente. Ele me envolveu
pelos ombros com um braço, não preciso nem comentar o calor que estava
naquele lugar. Depois de um minuto assim, bebi mais um gole, já
começando a ficar mole. Mais umas duas garrafas e eu começaria a rir sem
motivo algum. Sou uma pessoa que fica bêbada com muito pouco, o que
dependendo da situação é bom ou não. Vi Steve colocar mais algumas
garrafas em cima da mesa de centro, e lançando um sorriso safado para
Danny que fingiu não ver. Terminei minha garrafa e me inclinei, pegando
outra. Quando voltei pra trás senti a mão de Danny me envolvendo pelo
quadril, hm, danadinho. Hormônios controlando movimentos, minha dedução
mais real. Sua mão não suportou muito tempo parada sobre o tecido do
vestido e escorregou para minha coxa descoberta, me fazendo arrepiar por
inteiro e ter que respirar fundo. Danny estava brincando com fogo, me
provocando, ele sabia que eu não ia resistir, idiota. Bebi loucamente a
cerveja na minha mão, quase a esvaziando novamente. A mão de Danny
estava percorrendo caminhos perigosos agora, escorregando discreta para a
parte inferior da minha coxa. Quem visse aquilo e nos conhecesse teria um
ataque, quanto mais ele escorregava aquela maldita mão, mais eu bebia.
Então ele começou a apertar de leve. Caralho!
Para. – murmurei, ao terminar a segunda garrafa e atirar pro lado do sofá.
Danny não respondeu e nem parou, apenas sorriu provocante. Eu vou matar
esse caipira idiota. Danny aumentou a intensidade dos apertos, e pra falar a
verdade eu era muito guerreira. Um cara apertando a sua coxa pela parte de
dentro e você parada sem fazer nada, por mais que queira? Cara, eu sou
foda. Mas não por muito tempo. Danny percebeu que eu estava resistindo
com vigor e de repente senti seus lábios quentes no meu pescoço. Apelando!
Típico do abominável. Me encolhi por reflexo e ele segurou minha nuca me
impedindo de repetir o movimento. Ele voltou a grudar os lábios no meu
pescoço e agora começava o nível dois: chupões. Danny estava raivoso! Ha
ha ha. Algumas pessoas que passavam nos olhavam intrigados, e
comentavam com quem estivesse com elas. Danny não costumava fazer isso
então, é? Álcool, chupões, massagem na coxa e muito tesão juntos e eu
estava resistindo. Sou boa nisso. Muito boa nisso. Tirando o fato de minha
intimidade estar latejando e eu morder o lábio constantemente, com tanta
força que chegava a sentir o gosto do sangue, eu estava indo muito bem.
Danny parou de repente com os chupões e senti ele subir até minha orelha.
Pare de resistir. – sussurrou ele no meu ouvido, me fazendo arrepiar até o
dedo do pé. – Você já venceu, pega o prêmio.
Tive que rir, Danny estava bom com as palavras sedutoras!
Seu orgulho é maior que tudo, não? – Voltou a sussurrar, ainda estava
apertando entre intervalos a parte inferior da minha coxa. – Se preferir
assim, assumo, você é boa nisso. Melhor que eu.
Boa em quê? – perguntei, virando meu rosto para o dele, estávamos a
milímetros, literalmente, de distância.
Em resistir. – murmurou ele, encarando sem vergonha a minha boca. Sorri
vitoriosa, na verdade eu estava gostando de ouvir tais elogios. Rocei nossos
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lábios o provocando e depois voltei os milímetros anteriores pra trás. Ele
soltou o ar pesadamente. Danny desviou o seu olhar do meu e passeou pelo
meu corpo, me analisando. O que ele estava fazendo? Sua mão que estava
apertando a minha coxa subiu novamente e envolveu minha cintura com
firmeza, e ele voltou a me olhar. A última coisa que fiz foi sorrir antes de
envolver seu pescoço com os braços e grudar nossos lábios finalmente.
Percebi o alívio exalar dele quando nossas línguas se tocaram, homens são
tão fracos. De todas as bocas que eu já beijei, não que tenham sido muitas,
mas enfim, a de Danny era a melhor. Era macia e quentinha, mas era um
calor confortável. Não sei da onde ele aprendeu a fazer todos aqueles
movimentos, mas se não o conhecesse diria que era experiente. A batida da
música nos nossos ouvidos se intensificou, e aquilo me excitou mais ainda,
se é que era possível, e meu corpo se levantou por conta própria, ficando
por cima do de Danny. Minhas pernas estavam uma de cada lado do quadril
dele, o que era muito obsceno pra se fazer com tanta gente olhando, mas
era incontrolável. Danny escorreu sua mão que estava me segurando pela
cintura para a minha bunda e explorou a região com vontade. Danny
pegando na minha bunda, uma coisa que não se ouve todo o dia. Sua mão
desceu um andar e foi parar na minha conhecida coxa. Segurei os cabelos
dele com força e puxei, sabia que aquilo o excitava, não sei porque, mas
recebi essa ordem e deu certo. Danny gemeu com apenas uma leve puxada.
Puxei mais forte, e ele por reflexo ou não subiu a mão novamente mas
agora por dentro do vestido. Danny estava mesmo com a mão na minha
bunda! Que coisa engraçada e excitante, a vida é cheia de surpresas. Eu
estava com uma vontade maluca de tirar a camisa dele mas era inaceitável
no lugar onde estávamos. E isso se comprovou antes de eu fazer isso.
Com licença.
Levamos um tempo pra perceber que era com a gente, por motivos óbvios.
Steve pigarreou do nosso lado e eu levei um susto, saindo de cima de Danny
e puxando meu vestido pra baixo. Encaramos Steve assustados.
Não é nada, só que, hm, temos um quarto sobrando. Vocês já passaram do
nível normal público.
Ah, ok. – murmurou Danny parecendo constrangido agora.
Você não disse que eram primos? – perguntou Steve olhando de mim para
Danny.
Somos. – disse Danny um pouco baixo. Steve nos encarou sério por algum
tempo.
De sangue? – perguntou ele quebrando o clima tenso.
Hã, é. – concordou Danny. Steve levantou as sobrancelhas.
Isso tudo é amor de família? – perguntou ele e não consegui me segurar e
ri. Danny não mudou a expressão. – Relaxa, Jones, quer dizer, isso acontece
muito em Las Vegas. Bom, tenho que cuidar da festa, se quiserem continuar
da onde pararam peço que vão pro quarto.
Tá. – soltou Danny, quase que não ouço.
Você costumava ser comportado. – disse Steve e saiu rindo de perto de
nós. Ficamos sem falar por algum tempo, encarando o nada. Peguei mais
uma cerveja em cima da mesa de centro, já estava quente mas eu nem
estava mais bebendo por prazer e sim pra não ficar sóbria. Não depois
daquela conversa tensa.
Preciso pegar um ar. – falei, levantando do sofá e saindo em direção a
porta da frente, sem largar a cervejinha claro. Saí da casa, vários
adolescentes se encontravam conversando na frente, alguns dentro de seus
carros estacionados fumando e bebendo. Respirei fundo e virei a garrafa
quase cheia, me sentindo uma vagabunda. Senti alguém parar atrás de mim.
Ninguém da nossa família precisa ficar sabendo disso que rolou hoje. –
falou Danny.
Você realmente achou que eu ia chegar e contar pro vovô? Fala sério,
Daniel. – resmunguei, atirando a garrafa de cerveja no mato mais próximo.
– Se eles não ficarem sabendo por outra pessoa, claro.
Vovó não agüentaria.
Eles nem vão entender. O problema são nossos pais.
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Como você acha que nossos avós fizeram todos aqueles filhos? É claro que
eles vão entender.
Virei finalmente para Danny e o encarei com raiva. Porque ele tinha que
piorar a situação? Que droga, faz as coisas e depois fica se lamentando!
Você está é com medo de não ser mais o queridinho da família. Voltar a
ser o demônio de anos atrás.
Não tem nada a ver com isso, Mell. Você por acaso já parou pra pensar?
Somos primos.
Na hora de passar a mão em mim você não pensou nisso, não é? Por
favor, Daniel, não me venha com moralismo e hipocrisia.
Danny não respondeu, apenas encarou o chão.
Eu não imaginei que sentiria isso por você, me desculpe.
Como se isso fosse repentino.
O que quer dizer com isso?
Quero dizer que você só solidificou o que sente por mim hoje. Sempre foi
assim.
Como tem tanta certeza?
Por que homens são transparentes e óbvios.
Você fala como se não sentisse o mesmo.
Eu não sinto o mesmo. Não gosto de você.
Então porque me beijou?
Porque eu estava afim. Olha Danny, realmente temos que ter essa
conversa? De qualquer forma isso nunca mais vai acontecer, então é só a
gente fingir que nunca aconteceu.
Não quero fazer isso.
Silêncio. Eu encarei o chão desconfortável.
Por quê? – perguntei, olhando a grama.
Porque foi bom.
Subi meu olhar devagar até o seu rosto totalmente exposto de sentimentos
presos há anos.
Não vai se repetir.
Você sabe que vai.
O quê? Pára com isso! Droga, Danny. Vamos embora. – falei nervosa,
dando as costas pra ele e começando a me afastar até a caminhonete
estacionada na grama, um pouco afastada. Mas fui impedida, ele segurou o
meu braço. – Me solta.
Danny me olhava como nunca tinha olhado antes, era uma mistura de
súplica e tristeza.
Não faz isso com a gente.
Não tem nenhum a gente.
Não está seguindo o seu coração.
Eu estou bêbada, Danny, estou seguindo a caminhonete. Vamos, por favor.
Me soltei dele e andei até o carro. Danny o destrancou de longe e eu entrei
sem rodeios. Ele entrou do meu lado no motorista.
Me devolve o celular. – falei, encarando o painel do carro. Ele tirou o
celular do bolso e meu deu de volta. – Você está sóbrio?
Sim. – respondeu ele seco. Me encostei cansada no banco, e ele deu a
partida.
Não será surpresa se eu falar que quando chegamos na fazenda eu estava
dormindo pesado, como se não dormisse há dias. Danny estacionou a
caminhonete na frente da casa que só estava iluminada pelas luzes na
varanda. Senti uma mão no meu braço, mas eu achei que fazia parte do
sonho maluco que eu estava tendo então não dei bola.
Mell, vamos entrar. – ouvi Danny distante. Minhas pálpebras não abriam
por mais que eu tentasse. Resmunguei qualquer coisa e virei pro lado
contrário ao dele. Ouvi uma porta ser batida distante e depois uma porta ser
aberta ao meu lado. Era como se eu estivesse anestesiada. Senti o braço de
Danny envolver minhas pernas e meu tronco e não tive força alguma pra
contestar. Me vi o abraçando forte pelo pescoço.
Depois disso só fui retomar os sentidos quando uma superfície macia e
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confortável surgiu embaixo de mim. Meus sapatos saíram dos meus pés sem
esforço, o que deduzi depois como mãos do Danny, e cobertas quentes
foram colocadas em cima de mim. Tudo ficou silencioso e esperei o próximo
barulho, mas não houve nenhum.
Capítulo 7
Silêncio. Paz. Um campo florido. Perfume agradável. Solidão. Alegria. Fadas
coloridas girando em torno de mim.
Sexo, sexo, sexo.
O quê?
Abri os olhos e automaticamente minha cabeça pulsou e uma dor infernal
atingiu meu sistema nervoso, transmitindo para todo o meu corpo aquela
agonia.
Minutos antes de acordar tive meu último flashrelâmpago de uma cena que
eu não sei se realmente aconteceu ou eu fiquei maluca e imaginei tudo. Não
vi seu rosto, mas sabia que era ele pelo perfume. Não sei se é possível
sentir aromas durante sonhos, mas eu consegui. Foi assim a noite inteira.
Perturbador. Imagens pacíficas e sensações tranqüilas, e logo em seguida
um prazer imenso e culpado, quase um crime. Corpos suados tão próximos
que formariam um só se não fossem as leis da física. Gemidos e unhas
arranhando costas. Sussurros. Lábios se roçando e se provocando. Quando o
clímax quase chegava, tudo voltava pro mesmo campo florido e aquela
tranqüilidade.
Foi o sonho mais real que eu já tive em toda a minha vida. E agora,
acordando, não está me parecendo tão sonho assim.
Espere.
Eu estou na fazenda Jones.
Eu fiquei com Danny na última noite.
Com. O. Danny.
É inexplicável a sensação suja que senti no momento em que lembrei de
tudo o que aconteceu entre eu e ele. Deve ser assim que prostitutas se
sentem todas as manhãs.
A diferença é que elas não se apaixonam pelo cliente e ganham pra isso.
Ah, meu Deus.
Isso precisa ser mentira.
Levantei da cama tão rápido que ao sentar o quarto inteiro girou. Eu quero
dizer girou mesmo. Eu estava tremendo.
Estava resolvido. Eu nunca mais iria sair daquele quarto. Ignoraria todas as
minhas necessidades fisiológicas. Elas não eram nada perto da vergonha que
eu estava sentindo. Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Quem visse
iria achar puro drama. Mas não era, eu estava ferrada. Precisava voltar pra
Londres e nunca mais olhar para Danny ou qualquer coisa relacionada à ele.
Respirei fundo e congelei. Eu ainda estava sentindo o perfume dele. Isso não
era sonho. Estava impregnado na minha roupa, por isso senti a noite inteira.
Levantei da cama e me arrastei até a porta, grudando o ouvido na mesma.
Nenhum barulho ou ruído aparente. Abri devagar com os olhos fechados por
instinto e pela luz que atingiu direto as minhas pálpebras fechadas.
Nem sei o que aconteceria se eu olhasse para a cara de Danny naquele
momento. Acho que eu morreria. Bom, Deus me poupou da morte
instantânea porque não havia sinal dele pelos arredores. Entrei no banheiro
e fechei a porta, trancando. Me desfiz daquelas roupas cheirando à homem e
atirei longe, ligando o chuveiro e entrando embaixo da água fria logo em
seguida. É, eu precisava mesmo de algo que me acordasse. Pena que água
gelada também não faz a gente esquecer.
Foi só depois de terminar meu banho nada relaxante, me vestir e fazer
minha higiene que eu fui olhar que horas eram. Duas da tarde. Hm, parece
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que eu tinha me enganado, não era nem início e nem final de dia.
Eu estava evitando ao máximo o momento em que eu teria de descer e olhar
para a minha avó fingindo que estava tudo bem. Mentirosa deslavada! Voltei
pro banheiro e comecei a me maquiar. Minha cara estava indescritível,
nunca estive tão feia em toda a minha vida. Terminei de esconder aquele
horror todo e me preparei mentalmente. Não sei porque mas eu estava meio
que sentindo que levaria algum sermão. Calcei meu All Star preto e desci as
escadas para a sala de estar. Vamos fingir que eu não vi Danny do lado de
fora da casa colocando água na tigela do cachorro ok? Aquilo era muito pra
mim. Andei rápido pra cozinha, sentei na mesa e escondi meu rosto nas
mãos. Deus, por favor, não mande ele pra cá agora.
Primeira e última vez que vocês fazem isso em dia de semana. Não quero
que se repita.
A voz de vovó entrou nos meus ouvidos como um tiro, me fazendo pular da
cadeira. Eu estava tipo uma bombarelógio, a qualquer momento iria
explodir. De vergonha.
Desculpe, vovó. Não foi ideia minha. – gemi, sem a olhar. Eu sabia que ela
estava me encarando mas não tinha coragem de fazer o mesmo.
Danny já me explicou que a ideia foi dele, então vou te poupar as
desculpas. Ele nunca fez isso antes, não sei o que deu.
Levantei o olhar devagar até o rosto dela. Não parecia muito brava.
Aparentemente.
Ele contou... tudo? – perguntei, a dor na minha barriga estava tão forte
que eu estava me segurando pra não me encolher.
Tudo o quê? Que vocês foram à casa de um amigo dele e você bebeu. Se
for isso, sim ele contou. Pelo menos ele não bebeu.
Foi isso que ele disse? Só?
Aonde você quer chegar, mocinha? Há mais alguma coisa?
Não, não. É que eu imaginei que aquele idiota iria inventar alguma história
a meu respeito. – falei rápido, escapando da situação.
Você não tem jeito, não é? Nunca vai gostar do seu primo, vai implicar
com ele pro resto da sua vida.
É, vovó, eu odeio o Danny.
Tenho certeza que isso vai mudar. Enfim, vamos esquecer tudo isso, sei
que são bons netos e nunca mais vão fazer isso de novo. Quer comer
alguma coisa?
Bons netos. Se ela soubesse o que esses netos andaram fazendo... Tenho
horror só de pensar nela descobrindo tudo.
Não estou com muita fome.
Vai almoçar. – concluiu ela como se eu não tivesse falado e se virou de
costas para mim e de frente para o fogão começando a me servir. – Hoje
você vai fazer uma coisa um pouco mais difícil, tudo bem?
Tá. – concordei, eu não era louca de discordar de alguma coisa naquele
momento tenso. E eu já imaginava que iria ter punição.
Precisamos de alguns gravetos e pedaços soltos de lenha, uma frente fria
está pra vir essa semana e estão falando que é coisa séria. Quero que vá
buscar lá perto do lago, onde tem a floresta.
Na floresta? Sozinha?
Você já está bem crescidinha, não acha? Está com medo do quê? E Danny
lhe mostrou aquele dia como cavalgar de novo. Não vai ser tão difícil.
E se uma cobra me engolir?
Não existem anacondas por aqui, Mell. Prefere limpar os cocôs do
chiqueiro?
Não! Prefiro as lenhas.
Então almoce e coloque suas botas. Não vai querer ir até o lago de tênis.
Falando isso ela colocou o prato na minha frente, depois um copo de suco e
me deixou olhando pro nada sozinha. Eu não estava acreditando no que eu
teria de fazer. Só podia ser brincadeira.
Almocei receosa achando que a qualquer minuto Danny entraria pela porta
da cozinha e a gente ficaria se encarando sem saber o que fazer. Mas isso
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não aconteceu, acredito que de tanto que eu mentalizei. Coloquei a louça na
pia e subi para me preparar pro sofrimento. Quando mandam eu colocar
botas é porque o negócio vai ser tenso.
Acho que Danny estava me evitando. Era eu que deveria estar fazendo isso!
E eu estava na verdade. Mas quando os caras nos evitam é porque tem
alguma coisa errada. E eu vou parar de fazer suposições.
Prendi meus cabelos num rabo de cavalo frouxo, calcei minhas botas e
peguei meu celular. Ah, que ótimo. Ele não pega direito no meio do mato.
Ou seja, se eu fosse atacada já era. Pelo menos não teria de encarar Danny
pelo resto da minha vida. Viram, sempre tem um lado bom.
Quando cheguei na sala havia um bilhete em cima do sofá com um graveto
em cima. Deduzi que era pra mim. Que meigo.
“Tive que ir ao mercado, o tempo está fechando e depois não podemos sair
da fazenda. Vá com a Josey até o lago e leve um saco vazio de batatas.
Amarreo na cela da égua. Boa sorte, vovó.”
Legal. Coloquei o bilhete de volta em cima do sofá e saí de dentro da casa.
Realmente o tempo estava fechando. Claro que era pra piorar a minha
situação, eu estava sentindo que ia começar a chover comigo no meio do
nada. Calma Mell, sem desespero. Danny deve fazer isso o tempo todo. A
diferença é que ele é homem e já tem todo o jeito de lenhador. Eu sou uma
donzela delicada em perigo sem força alguma no corpo.
Corri até o estábulo, o vento estava começando a ficar forte. Eu estava com
um pressentimento de que ia dar merda. E o bom é que acho que eu estava
sozinha em casa. Nem o abominável deu as caras. Havia alguns sacos vazios
em um canto, peguei um com um pouco de nojo e me aproximei de Josey.
Oi Josey, pronta pra se ferrar comigo? Espero que sim. – murmurei,
abrindo a porta da divisão dela. – Seja legal comigo porque você sabe que
eu não lembro direito como se faz esse tipo de coisa. – continuei, agora
olhando pros lados e procurando alguma cela. Coloquei em Josey a primeira
que apareceu na minha frente e amarrei o saco de qualquer jeito nela. –
Vamos?
Puxei Josey pra fora do estábulo e, por incrível que pareça, a montei com
habilidade.
Já estávamos nos afastando da casa quando eu pensei em como trazer toda
aquela lenha de volta depois de pegar. Soltei um “puta que pariu” bem alto,
aproveitando que ninguém estava por perto e cavalos não entendem
resmungos. Eu já estava há algum tempo querendo soltar uns palavrões mas
perto da família estava sendo difícil. Era o meu momento, vejam, mais um
ponto positivo nessa furada. Não se engane, Mell, isso é a pior coisa que
você já fez na vida. Depois de ficar com seu primo, claro.
Cheguei na margem do lago com Josey e a amarrei na árvore mais próxima.
Nos lados havia a pequena floresta onde provavelmente eu estava destinada
a pegar a madeira. Que coisa absurda me mandarem pegar lenha. Tudo bem
que eu tinha pecado, mas não era tão grave assim ao ponto desse
sofrimento todo. Ok, foi bem grave e eu merecia aquilo. Engraçado que o
Danny não se ferra, e ele foi o principal culpado do nosso pecado, ele que
ficou me instigando, eu resisti até o último momento. Isso é total e
completamente injusto.
Arranquei o saco de batatas vazio da cela de Josey com certa raiva, bufando
a cada passo em direção a pequena clareira que daria início a trilha por
entre as árvores e todo aquele verde misturado. O vento tinha aumentado e
parecia estar mais forte longe da casa. O céu estava nublado sem nenhum
sinal do sol. Pelo menos um solzinho me alegraria naquele momento de
terror. Mas nem isso. Comecei a bater os dentes e colocar qualquer pedaço
de madeira dentro do saco, queria acabar logo com aquilo. Estava evitando
entrar muito naquele mato, além de ter muita terra, poderia ter cobras.
Nem sei o que eu faria se pegasse uma cobra ao invés de um graveto na
mão. Me atiraria no lago, nunca mais ninguém iria me ver. Essa jornada tem
várias opções de acabar com a minha vida, estou pensando seriamente em
validar uma delas. Quer dizer, minha vida nunca mais seria a mesma depois
de fazer tudo aquilo com o meu primo. Meu primo. Eu ainda não consigo
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acreditar, isso é incesto! Ah meu Deus, fui vítima de incesto. Mas eu não
devo ser a única garota no mundo que beijou o primo, não é? Aposto que até
você já fez isso. Tudo bem, não é assim tão comum. É só a gente não ter
filhos, o resto é como se fosse com qualquer outro garoto. Não que eu esteja
pensando em chegar no nível de fazer filhos com aquele abominável, nunca
mais vou encostar nele. Quem dirá fazer um filho. Preciso parar de pensar
nisso se não vou vomitar. Senti uma gota cair no meu rosto. Ah não, não,
não. Chuva não. Dei um grito xingando o céu, como se isso fosse fazer
aquela gota voltar de onde tinha vindo. Mas no lugar disso, outras
começaram a cair no meu rosto, braços, pernas. Por que eu tinha que vir de
short jeans? Que tipo de pessoa vai pro meio do mato de short? E essa
camisa branca? Eu sou o ser vivo mais estúpido do mundo. Sou mais
estúpida que qualquer formiga aqui presente. E eu nem tinha trazido um
simples casaco. Ah meu pai do céu, me teletransporta pra Londres na
primeira oportunidade. Quero meu sofá londrino. Minha televisão londrina.
Meu cobertor londrino. Odeio Bolton, odeio Manchester.
A chuva aumentou a intensidade, eu já estava toda encharcada, e a terra no
chão com água adivinha no que se forma? Lama!
Tudo bem Mell, uma chuva idiota não vai atrapalhar um simples serviço
desses. Continuei a coletar gravetos como se nada estivesse acontecendo,
fingindo estar acostumada a ir no mato no meio de uma tempestade. Sim,
porque era isso que estava acontecendo. Uma tempestade. Eu sou tão
sortuda. Acho que estava ficando louca. Tudo o que eu conseguia fazer
naquele momento era procurar gravetos afundados na lama. Naquela altura
eu já estava chorando, é óbvio. O saco de batatas estava ficando pesado a
cada novo graveto, meus ombros estavam estourando. O vento e a chuva
estavam fazendo de tudo pra atrapalhar a minha visão, eu estava
provavelmente enxergando tipo 20%. Pior não poderia ficar, eu pensava
comigo mesma. Hoho, tolinha. É claro que poderia ficar pior.
Mell!
Hm, agora eu estou delirando. Ouvindo meu nome ser chamado no meio
dessa confusão lamacenta toda. Deve ser Deus me avisando que estou nos
meus últimos minutos de vida.
Mell, está me ouvindo?
Estou, Deus. Só mais um pouquinho. Quero terminar essa vida completando
meu serviço. Se é pra coletar gravetos, então eu coletarei até a última
lasca.
Opa.
Por que a voz de Deus parece com a do...
Mell! O que você está fazendo? – perguntou Danny um pouco atrás de mim.
É, sempre pode ficar pior. Fingi que não era comigo e continuei pegando os
gravetos do chão. Minhas mãos estavam um nojo, estavam marrons. Adeus
unhas. – ! PARE COM ISSO!
CALA A BOCA! – berrei, me virando pra ele. Danny não estava muito
diferente de mim. Todo molhado, digo. Só que eu tinha a cobertura especial,
a lama, que agora já estava até no meu rosto.
Larga isso agora! Vamos voltar pra casa, você já percebeu que está
embaixo de uma tempestade?
Seu cínico! Droga. – berrei, o olhando com raiva. Eu não acredito que ele
estava pagando de primo protetor. Depois de tudo o que a gente fez.
Cínico? Olha Mell, eu realmente não quero ficar doente, então dá pra você
largar essa sua meleca e me acompanhar?
Ele ofendeu o meu trabalho. Era demais pra mim.
MELECA? EU VOU DAR NA SUA CARA SEU...
Não pude terminar minha bela frase porque Danny se avançou até mim,
arrancou o graveto da minha mão e o saco da outra e atirou longe. Não, ele
não fez isso. Quem ele pensava que era? Sem dó nem piedade o empurrei
pra longe, sujando sua camisa xadrez de lama porque minhas mãos estavam
completamente sujas. Ele me olhou confuso, como se não estivesse
entendendo toda aquela minha raiva. Era inacreditável, ele só podia estar se
fingindo. Porque Danny tinha a irritante mania de se fazer de coitado o
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tempo inteiro? Eu estava me segurando muito pra não meter a mão na cara
dele. Apesar de aquele rosto ser perfeito. Mas isso não é o caso. Fiz a minha
melhor cara de raiva e desprezo e comecei a me afastar dele e sair daquela
clareira nojenta. Claro que eu tinha que escorregar e cair sentada na lama.
Na frente de Danny. Minha moral estava afetada. Era meu fim. Senti a mão
dele me puxando pra cima, e comecei a me debater. Dei um tapa forte em
seu braço, e ele com a maior facilidade me imobilizou. Completamente.
Me solta, seu idiota. – resmunguei, parando de me debater. Danny estava
ofegando pela força que fazia para me deixar presa. Seus olhos
escorregaram para a minha camisa branca agora transparente porque estava
encharcada. Canalha.
Ele ficou mais alguns segundos encarando meu rosto, parecendo estar
decidindo alguma coisa mentalmente. Num rápido segundo ele eliminou o
espaço entre nós dois, me puxando para perto do seu corpo e grudando
nossos lábios.
O que eu mais temia estava acontecendo de novo.
Fiz de tudo pra não participar daquele beijo, eu não iria dar aquele prazer a
ele e me ferrar sozinha depois. Consegui soltar um dos meus braços e o
soquei no peito, mas aquilo não surtiu efeito algum. Ele continuou
pressionando com força minha boca, esperando eu ceder. Eu poderia ficar ali
pra sempre, mas eu não ia ceder. Não era possível a falta de vergonha na
cara daquele garoto. Ele poderia ser mais forte que eu mas não é por isso
que iria vencer aquela estupidez. Se um não quer, dois não fazem, não é?
A chuva forte não estava ajudando em nada. Ele estava começando a ficar
com raiva, porque sua respiração estava ficando mais forte a cada novo
segundo que eu resistia. O problema era dele, ele poderia ter toda a raiva
selvagem do mundo, eu não iria cair naquela porcaria. Mordi o lábio dele
com toda a minha força, e ele gemeu alto, me soltando e colocando a mão
na boca. Venci! Ele tirou a mão da boca e eu encarei seu lábio escorrendo
sangue, completamente vermelho. Agora eu estava com medo. Danny
estava mais selvagem do que nunca, quer dizer, já era o normal dele,
imaginem com a boca cheia de sangue. Comecei a me afastar sem me virar
de costas, a cada passo eu podia enchergar em minha mente a luz no fim do
túnel.
Você é estúpido. – murmurei. Receio que não deveria ter falado nada. Acho
que se eu apenas me virasse e saísse correndo conseguiria chegar até Josey
e voltar pra casa. Mas eu tinha que ferrar tudo e falar alguma coisa.
Danny lambeu o lábio balançando a cabeça em negação e veio pra cima de
mim. Achei que ele ia me puxar de novo. Mas ele fez pior. Pelo menos eu
achei mais violento do que me agarrar e me beijar a força. Ele arrancou fora
a minha camisa. Isso mesmo. Danny ignorou a existência dos meus botões e
puxou minha camisa branca com força, a partindo em duas partes. Ficou me
encarando sério segurando aqueles dois pedaços de pano imundos, e eu não
consegui me mexer e nem falar nada. Não era possível que ele tivesse feito
aquilo.
Dei um tapa forte em seu rosto e ele me puxou pela cintura e me beijou
novamente. Não tinha mais o que fazer. Relaxei meus lábios, Danny pareceu
não entender que eu estava me rendendo então parou de me beijar e me
encarou. Não afastou o rosto nem nada, apenas me encarou. Abri sua
camisa com força como ele tinha feito com a minha e voltei a beijálo com
tudo. Era isso que ele queria? Então era isso que ele iria ter. Sexo selvagem.
Eu já estava de saco cheio daquela palhaçada, iria terminar logo com aquilo.
Até parece que eu estava fazendo aquilo sem nenhuma vontade sexual.
Gosto de me enganar pra fingir ser alguém racional. Que se foda a razão
também.
O abracei pelo pescoço e fechei minhas pernas em torno de sua cintura,
saindo do chão. Danny soltou meu cabelo com força, mas aquilo me excitou
mais ainda, além daquele volume todo por baixo da calça jeans. Com
dificuldade tirei a camisa dele e joguei longe. Soltei o ar pesadamente
quando nossos corpos se encostaram sem nenhum tipo de tecido
atrapalhando. Eu não ia conseguir fazer aquilo sem algum apoio. Parei de
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beijálo e saí de seu colo. Ele me olhou sem entender.
Você realmente quer fazer isso aqui? – perguntei séria.
Está brincando comigo? – perguntou ele de volta com um pouco de raiva. –
Quer desistir agora?
Sabia do que ele estava se referindo. Vamos ser francos, ele estava excitado
e estava louco pra enfiar aquilo em algum lugar antes que...
Sorri e me virei de costas, saindo da clareira e ao mesmo tempo tirando
meu sutiã. Em volta do lago, na árvore onde eu tinha amarrado Josey, um
cavalo preto também estava amarrado. Não demorou muito pra eu sentir
Danny me abraçando por trás e começando a beijar meu pescoço. Cara, eu
ia me sentir uma piranha depois de tudo aquilo. Fodase. Me virei e o
abracei, voltando a beijálo. Minhas mãos desceram até o seu fecho da calça
e eu cheguei a levar um susto. Abri a calça dele e comecei a massagear seu
membro por cima da boxer. Danny gemeu forte entre nossos beijos.
Por favor, eu não tenho muito tempo. – sussurrou ele, e, assim, tirou do
bolso de trás da calça um pacotinho. Fala sério.
Eu não acredito que você carrega isso o tempo todo. – falei meio rindo.
Eu não carrego isso, foi só hoje.
Seu canalha, você estava crente que a gente ia transar!
E eu estava errado? – perguntou ele me encarando com um sorriso
irritante no rosto. – Anda!
Nossa, você não deve fazer isso há anos. – disse rindo e abri o pacote da
camisinha.
Eu faço isso o tempo todo.
Ah, imagino. Com os animais, né? – perguntei rindo e ele rolou os olhos. –
Vamos então, seu filho da mãe.
Coloquei a camisinha no seu membro, Danny estava tão apressado e
arrancou meu short jeans e minha calcinha. Eu puxei o puxei pra grama e
ele caiu em cima de mim. Aproveitou a posição e investiu com toda a força
possível. Eu soltei um gemido alto. Mais um. Estava tão forte e tão bom ao
mesmo tempo que eu comecei a arranhar as costas do garoto pra não berrar
ainda mais alto. Naquele momento eu esqueci que estava na beira de um
lago ao ar livre. Só consegui pensar em prazer.
Prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer
prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer
prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer prazer. Nunca tinha sentido
tanto prazer em toda a minha vida. Era a melhor sensação do mundo, eu
sabia que ele queria aquilo tanto quanto eu, então aproveitamos o máximo
possível até ele gozar e cair exausto do meu lado. Ficamos por um tempo
embaixo da chuva deitados na grama sem falar nada, eu também não teria
coragem de falar alguma coisa. Aquilo foi tão proibido e sujo que eu preferia
evitar ao máximo comentários.
Isso nunca mais vai acontecer. – sussurrei depois de algum tempo.
Você falou a mesma coisa ontem à noite.
Agora é pra valer, seu animal. – resmunguei, colocando de volta a minha
calcinha e o meu short jeans. Meu sutiã estava perto então tratei logo de
colocálo também, estava me sentindo muito mal sem roupas na frente dele
e de dois cavalos. Me levantei e andei até a clareira, pegando do chão sua
camisa xadrez e vestindo. Quando voltei pra beira do lago Danny já estava
de calças e de pé, tentando ajeitar o cabelo.
Quero a minha camisa.
Você rasgou a minha então eu vou usar a sua. E você vai ter que inventar
uma boa desculpa pra vovó quando chegarmos em casa.
Isso é o de menos.
DE MENOS? Isso é o mais importante, seu asno.
Vovó confia em mim, ela vai acreditar em qualquer coisa que eu falar.
Sorte sua que é o neto favorito, não é? – falei, semicerrando os olhos. Ele
sorriu convencido. – Ah Deus, não acredito que eu dei pra você. É tão idiota.
Você adorou.
Só fiz isso, porque você me forçou.
Ah, claro. Percebi a sua má vontade.
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Você é ridículo. Fique aí com essa cara babaca de prazer imenso, coisa que
eu que te dei, que eu vou voltar pra casa.
Oh, Mell você é a deusa do sexo. Muito obrigado.
Vai fazer pouco caso, seu idiota?
Estou brincando.
Sem mim você estaria se masturbando no banheiro agora, abominável.
Eu já agradeci! Mas não quis fazer isso só por prazer.
Ah é, você fez pra ajudar o planeta.
Fiz, porque gosto de você.
O olhei sem saber o que falar. Por que ele tinha que ser tão ridículo e tão
fofo ao mesmo tempo?
Ótimo. – murmurei desviando o olhar e me virei de costas, começando a
caminhar até Josey.
Você nunca vai assumir que gosta de mim também, né?
Eu sabia que ele iria vir com essa.
Não.
Então você gosta mesmo de mim?
Eu te odeio seu abominável, pare de me encher o saco. Eu já dei pra você,
agora pare de besteira.
Por que você fica fingindo essa insensibilidade? Você sabe que é muito
mais do que sexo.
É Danny, é muito mais do que sexo. Satisfeito?
Ele rolou os olhos e passou por mim, montando no cavalo preto.
A única coisa que nos impede é esse seu orgulho besta. Pense antes de
falar esse tipo de coisa.
E, falando isso, ele me deixou parada sozinha, enquanto se afastava
cavalgando no cavalo preto.
Eu, Mell, aprendendo sobre sentimentos com meu primo abominável. Por
que as coisas tem de ser tão estranhas por aqui?
Capítulo 8
Se você já teve a oportunidade de sentir nojo de si mesma deve ter uma
leve ideia do que eu estou sentindo no momento. Leve, porque qualquer
coisa que você tenha feito e tenha causado nojo próprio nem chega perto do
que eu fiz com meu próprio primo. Além de ser nojento, é mórbido e
proibido. E se qualquer pessoa ficar sabendo disso, vai começar a me olhar
estranho pro resto da vida dela, e provavelmente vai parar de manter
qualquer relação comigo e ainda vai espalhar o fato e eu vou perder todos
os meus laços de amizade e de família, principalmente. Vão me forçar a
virar freira, e eu não sou mais virgem, então até as freiras colegas vão me
olhar estranho, eu vou ser, tipo, a aberração do convento. Não tem saída, eu
estou ferrada. Como se eu já não estivesse ferrada o bastante antes de isso
acontecer. Claro que eu tinha que piorar a situação. Beijar o primo não é tão
grave assim, um beijo não significa nada. Agora... transar? Isso sim é
estranho e nãonatural. Oh meu Deus, eu interrompi o ciclo natural da vida,
ainda por cima! Com tantas, TANTAS garotas nesse planeta eu tinha que ser
a escolhida pra sentir atração sexual pelo próprio primo, que típico. Garotas
normais têm problemas com matemática, física, com o namorado QUE
NÃO É DE SANGUE , com amigas, com professores. Eu tenho problemas
porque dei pro meu primo. Será que é pedir muito ser normal, Deus? Estou
me sentindo até pagã me comunicando com Deus por um motivo desses, que
absurdo. Já era, eu vou pro inferno. Ah, mas eu vou arrastar aquele caipira
ridículo junto comigo, disso vocês podem ter certeza.
Depois do acontecimento desagradável na beira do lago, cavalguei de volta
pra casa (nessas alturas eu já era craque no quesito cavalgar,
principalmente, porque Josey devia estar com nojo de mim e não via a hora
de terminar com tudo aquilo). Graças ao bom Deus, que atendeu as minhas
preces, não tinha ninguém em casa, além d’aquelequeeuprefironão
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nomear. Deixei Josey no estábulo e corri sem olhar pra nada a não ser pro
chão, até o banheiro. Se aquelequeeuprefironãonomear estivesse lá
dentro, juro que abria a porta e mandava ele sair. Pensando bem... era
melhor evitar vêlo sem roupas pro resto da minha vida.
Tomei um banho quente e fiz questão de esfregar todas as partes do meu
corpo pra tentar tirar aquela sensação de sujeira de mim, e tentar tirar
aquele perfume. Mas eu duvido muito que eu pare de sentir esse cheiro
mesmo depois de tirálo do meu corpo. Me tranquei no quarto até ser
forçada a sair pra jantar.
Acabei pegando no sono após o banho quente e prefiro não comentar sobre
as cenas que ficaram perfurando os meus sonhos tranqüilos durante aquela
tentativa de descanso. A chuva só facilitou a vontade de pegar no sono, mas
nem a chuva conseguiria apagar as imagens da minha cabeça. E o pior de
tudo, o que eu estava tentando evitar e eliminar da minha mente toda vez
que se manifestava, era que eu queria mais. Talvez fosse só a minha mente
fantasiando o contrário do que eu queria, ou talvez fosse mesmo um
sentimento. Mas eu não queria pensar sobre isso, era melhor esquecer.
Como? Era a pergunta principal.
Estou até achando que lidei bem com a situação. Quer dizer, muitas garotas
se matariam depois de fazer isso. Eu me tranquei no quarto e fiquei me
martirizando. Bela saída.
Acordei com alguém batendo na porta.
Mell?
Primeiro achei que fosse ele, mas depois a voz ficou mais audível e percebi
que era minha avó. Ah, agora eu quero mesmo me matar. Levantei da cama
com uma sensação estranha no corpo inteiro, coisa que eu nunca tinha
sentido antes, e abri a porta.
O que aconteceu, querida? – perguntou vovó, encarando a minha provável
expressão de ressaca. – Você não bebeu de novo, bebeu?
Legal, minha avó achava que eu era alcoólatra. Bom, melhor que
vagabunda.
Não, vovó. Eu só estava com um pouco de dor de cabeça depois de... ir
buscar os gravetos no mato. Me deitei um pouco.
Ela ergueu as sobrancelhas curiosa.
Não vi nenhum graveto em nenhuma parte da casa. Onde os colocou?
Droga.
Eu os coloquei ao lado da dispensa na rua.
Meu coração parou de bater e minha circulação congelou quando eu ouvi a
voz de Danny. Era muito pra minha estrutura mental vêlo tão cedo, depois
daquilo tudo. E por que ele tinha que sempre estar lindo e gostoso?
Ah, que bom querido. Bom, desçam, hoje teremos um jantar com a família
completa!
Por quê? – perguntei meio histérica. Danny me olhou.
Vocês vão saber quando descerem. Até o seu tio Fred voltou de Manchester
com as crianças! Elas estão meio malhumoradas porque além de ter de ir
embora do parque aquático mais cedo, o tempo está feio.
Vovó deixou o corredor resmungando algo como “crianças mimadas” e eu só
tirei os olhos dela quando sua sombra sumiu da parede. Sem o olhar, puxei
a porta. Mas ele colocou a mão e impediu.
Vai me evitar pra sempre agora? – perguntou ele me encarando sério. Eu
estava quase tendo um colapso nervoso. Minha pressão deveria estar baixa,
e eu estava tonta.
Vou. – murmurei, finalmente olhando para seu rosto. Seus olhos estavam
mais azuis do que nunca. Por que ele era tão paradisíaco? Que merda!
Até fazermos tudo de novo.
Olha aqui, Daniel, cala a boca e nunca mais toca nesse assunto de novo
dentro dessa casa ou em qualquer outro lugar do mundo. Eu não estou
brincando.
Ele me encarava com uma mistura de ceticismo e tranqüilidade.
Por que você está tão nervosa? Sabe, sexo não é crime.
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CALA A BOCA! – exclamei meio alto e Danny comprimiu os olhos. – Não se
faça de engraçadinho e bom no assunto pra cima de mim, eu não quero mais
saber de você. Evite chegar perto de mim, a não ser no almoço e na janta, e
nessas horas sente longe e não me olhe.
Ele sorria convencido. Que tipo de retardado mental ele era?
Não me fazer de bom no assunto? O que você quer dizer com isso? Eu sou
bom no assunto. Por isso não precisa se preocupar, da próxima vez a gente
vai ter mais privacidade e conforto. Grama pinica.
Eu não sabia mais o que fazer pra ele parar com aquilo. Na verdade, eu
sabia sim.
Você foi a pior transa que eu já tive na minha vida e é por causa disso que
eu não quero mais nada com você, aprenda a fazer direito antes de tentar
alguma coisa comigo.
Ele semicerrou os olhos com raiva. Pra onde foi aquela confiança toda? Rolei
os olhos e bati a porta em sua cara.
Eu não estava nem um pouco afim de jantar em família depois de falar
aquilo para Danny, até porque eu não queria ver sua cara nunca mais, mas
não teve jeito. Não deu nem dois minutos ouvi berros do primeiro andar me
chamando. Tudo bem, é só fingir que o garoto não existe, simples. Consegui
chegar até aqui na cara de pau, consigo fazer isso.
O barulho na sala de jantar estava alto, como no primeiro dia que cheguei à
fazenda.
Venha querida, já servi o jantar! – disse vovó quando surgi na porta da
sala. Tio Steve, pai de Danny, estava na mesa com sua esposa (ele havia se
casado pela segunda vez, a mulher ao seu lado era madrasta de Danny e
mãe de Jessica, que também estava presente). Tio Fred estava na frente e
seus filhos Cassadee e Luke estavam ao seu lado. Lilly, mãe deles, estava
no lado oposto depois de Jessica. Tia Emma estava ao lado do Tio Fred, e ao
seu lado o próprio Danny, que encarava sério seu prato com sopa. Vovô
estava na ponta da mesa como de costume, e havia dois lugares vagos. Um
na frente de Danny e outro na outra ponta, que era de vovó. Ótimo.
Sente aqui, Mell, nos conte o quê está achando da fazenda depois de anos!
– disse Tio Steve, pai de Danny, me chamando para sentar ao seu lado. Hm,
olá Tio Steve, estou aproveitando muito minha estadia na fazenda,
principalmente pelo fato de o seu filho ter me comido.
Sorri e arrastei a cadeira com a maior demora possível.
Estou achando ótimo. – murmurei com um sorriso forçado. A mesa inteira
me encarava.
Pegue um pouco de sopa, sua avó caprichou! – disse vovô orgulhoso. Eu
concordei e me servi sem vontade. Danny não tinha me olhado uma única
vez.
Estão se entendendo? – perguntou Tia Emma ao lado de Danny, o olhando.
Danny levantou o rosto para a panela na sua frente.
Acredito que sim. – disse ele sem expressão. – Apesar de alguns vestígios
de rejeição do passado, estamos nos dando bem até demais.
Meu pé automaticamente chutou a canela de Danny que me olhou com raiva.
O que quer dizer com isso, querido? – perguntou vovó do outro lado da
mesa, rindo.
Brigamos às vezes. – falei nervosa.
Vamos ao assunto em questão, aposto que os garotos vão adorar! – falou
vovô empolgado, ele era um senhor grisalho alto e cheio de disposição.
Ah sim, já estava até me esquecendo! – disse Tio Steve e todos riram.
Menos eu e Danny. – Daniel, você se lembra do torneio de pólo que acontece
todos os anos em Manchester na mansão dos Sánchez?
Danny fez uma expressão curiosa e depois pareceu se recordar do que o pai
estava falando.
Você participou ano passado, foi até do time do Phillip! Bom, Henry
convidou a nossa família esse ano novamente, e vamos todos passar o fim
de semana lá! Phillip quer você no time dele novamente. Parece que o
torneio desse ano vai ser grande.
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Eu nem ao menos lembro como se joga pólo. – murmurou Danny tirando a
graça de seu pai.
Ah, vamos Daniel, não se faça de tolo. Você era um dos melhores
jogadores. – disse vovô e Danny o olhou sem entender.
Não, vovô, eu era uma droga.
Não se preocupe, Danny, depois que pegar o jeito você lembra de tudo. –
falou Tia Emma em tom de reconforto.
Isso é no fim de semana agora? – perguntei desconfiada.
Sim. – concordou Tio Fred. – Vamos todos, vocês vão adorar.
Será que eu não poderia ficar cuidando da casa? – perguntei, já sabendo a
resposta, mas eu realmente não estava afim de viajar com Danny.
Claro que não, Mell! Você é um dos motivos principais para irmos! –
respondeu tio Steve. Ai meu Deus.
Mell, não complique. – disse vovó da outra ponta da mesa, me encarando
autoritária. Eu me calei.
Danny de repente sorriu, mas não era um sorriso de alegria, era um sorriso
que eu identifiquei como vingança ou algo do gênero.
Pai, será que a Mary pode ir com a gente?
Ele não fez isso.
O olhei incrédula. Ele não correspondeu minha indignação. Não estava
acreditando no golpe baixo que ele estava prestes a por em prática. Danny é
a pessoa mais ridícula que alguém poderia ter como primo.
Ahn, a Mary? – perguntou tio Steve pensando. Não, não, não. É UM FIM DE
SEMANA EM FAMÍLIA! FAMÍLIA! – Se os pais dela concordarem, claro que
pode.
Caro Tio Steve, vá tomar no cu.
Era guerra que Danny queria? Então era guerra que ele iria ter.
Os dias seguintes passaram como incógnitas na minha vida. Danny me
ignorou e provavelmente me reduziu em sua vida como uma pedra, e eu
estava me esforçando ao máximo pra fazer o mesmo, mas o problema é que
eu não tinha armas como ele. Se pelo menos Brian estivesse aqui, Danny
iria ver o que era ciúme. Bom, era óbvio que Mary aceitou ir para
Manchester com a gente, aquela ordinária estava mais louca do que nunca
para ter uma chance de dar pro seu querido Daniel. É, eu iria ter que
aguentar Mary com cara de bem comida durante a viagem inteira, e um
Danny convencido. Aquela porra de fim de semana seria um inferno. Eu só
precisava de uma arma que se igualasse a dele, apenas uma...
A sextafeira amanheceu fria e seca, como um típico inverno inglês, só que
a diferença era que estávamos no VERÃO. Qual é a desse país? Nem um
calorzinho pra amenizar o meu desespero? Parece que aquela semana não
era a minha. Quer dizer, aquelas férias não eram as minhas. Mais uma vez
pensei em Brian na praia com alguma loira bronzeada. Meu estado de
espírito ficou mais negativo do que uma nevasca.
Minhas malas já estavam feitas, assim como a de todos, e só estávamos
esperando tio Steve chegar com a maior caminhonete, porque, claro, agora
havia uma inquilina. E ela já estava àquela hora da manhã na fazenda. Eu já
nem estava mais agüentando os olhares de Danny pra cima de mim, como
quem diz “quem mandou ofender a minha foda?”, e Mary forçando a
meiguice. Mais alguns minutos e eu iria dar uma voadora naquela garota.
Vai ser o fim de semana mais empolgante da minha vida! – disse Mary
sentando ao meu lado na varanda. Todos estavam ali, esperando tio Steve.
A cerração nem havia baixado ainda e eu já estava a ponto de berrar.
É. – murmurei sem a olhar, aquela garota só podia ser retardada se ainda
não tinha se tocado que eu NÃO GOSTAVA dela.
Você sabe que te chamei porque seria um saco ir pra Manchester sozinho.
– falou Danny estendendo a mão para Mary levantar, como um casal feliz.
Eu rolei os olhos e virei o rosto pro lado contrário.
Danny! Sozinho você não estaria nem se quisesse. Além de toda a família
Jones, ainda tem a Mell. Aposto que vocês se divertiriam muito sozinhos.
Com certeza. – murmurei irônica.
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Fiquei sabendo no meio do caminho que Tio Fred e Tia Emma já estavam em
Manchester e fiquei me martirizando pelo fato de que eu poderia ter ido com
eles e evitado aquela porcaria toda. Porque vocês devem imaginar que foi
indescritível o que Danny fez a viagem inteira. Forçar a barra é pouco. E,
pra completar, o dia foi esquentando com o passar das horas, e por mais
que de manhã cedo eu quisesse o calor, agora eu já estava mais pro frio,
pelo menos eu podia me afundar no casaco e fingir que não estava vendo
Danny abraçar Mary pelo ombros do meu lado. Por que raios, aliás, aquele
demônio sentou do meu lado no carro? Eu tinha que arranjar um jeito de
inverter a situação, mas eu ainda não sabia como. A guerra estava
declarada, e eu estava perdendo vergonhosamente. Minha honra estava
sendo pisoteada pelo meu primo caipira. Pelo meu primo caipira que tinha
me comido. Olha, minha vida ultimamente estava uma merda, se me
permitem concluir.
Chegamos em Manchester no final da tarde, o que na verdade não quis dizer
que chegamos realmente, porque até chegarmos na mansão dos tal Sánchez
levou uma hora. Era tipo fora da cidade ou sei lá, claro, Mell, sua burra, pra
ter um campo de pólo tem que ser fora da cidade grande.
Quando me falaram mansão, eu tinha imaginado uma casa grande. Não uma
casa enorme. Eu nunca tinha visto uma casa tão grande em toda a minha
vida, estava começando a suspeitar que a família Sánchez se limpava com
notas de libras, porque pra quem tem aquele tipo de casa, pra começar nem
usa notas de libras, usa cartão, porque não deve comprar nada que seja por
menos de 200 contos.
A mansão era exatamente como nos filmes, uma fonte na frente da casa e a
pequena rua na frente para que as limusines da família parassem para os
integrantes descerem. O legal de tudo é que ninguém me avisou que era
coisa de rico, eu me vesti tipo normal.
Descemos todos dos carros e uma espécie de mordomo nos conduziu pra
dentro da mansão. Não preciso nem falar nos manobristas, indispensáveis
num lugar como aquele. A mansão por dentro parecia um hotel cinco
estrelas, pelo menos isso eu iria desfrutar no meio de tanto desagrado. O
mordomo nos encaminhou até o lugar onde eu deduzi que fosse o salão
principal, que estava cheio de gente. A maioria das pessoas tinha a minha
idade ou mais.
Um homem surgiu na nossa frente com um sorriso enorme, e pra falar a
verdade ele era bem bonito. Se é que eu ainda tenho meus direitos de fazer
esse tipo de análise, eu já sei que nem vou pro céu mais, então digamos que
entregarei pra Deus. Não que isso faça sentido.
David e Steve Jones! – exclamou ele com um sotaque estranho, mas
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bonito. Pelo menos eu gostei. Eles se cumprimentaram com abraços
exagerados e muitas risadas. – Exatamente um ano sem ter o prazer de
hospedar vocês por aqui!
Ah Henry, o prazer é todo nosso, você me conhece. – disse vovô todo na
intimidade e deduzi que eram amigos há bastante tempo, apesar de o
homem ter a idade do tio Steve ou do meu pai.
Esse rapaz é o mesmo Daniel do ano passado? – perguntou o tal de Henry,
ele usava um smoking devidamente cortado e notei o relógio nada barato no
seu pulso que brilhava. Danny sorriu envergonhado. Ah, que meigo. – Mas
como está diferente! Mais bonito, claro! Lembro de você magrinho...
É, eu mudei. – concordou Danny em tom modesto. Hehe eu mudei, sabe,
fiquei mais gostoso.
Henry, quero que conheça minha outra neta, ela está passando as férias
conosco, a Mell. – falou vovô me puxando pro seu lado e eu sorri sem graça.
O homem sorriu daquele jeito de novo, só que foi um pouco mais sedutor do
que antes.
David, você só tem netos bonitos. – disse o homem pegando minha mão e
beijando. – Mell, seja bem vinda e por favor sintase em casa. Você vai
adorar o torneio de pólo, Danny vai jogar, não vai?
Acho que sim. – concordou Danny não muito certo.
Falando nisso... onde está Phillip? Com tantos amigos ele está sempre
sumindo. – falou Henry olhando em volta e procurando o que eu deduzi que
fosse seu filho e amiguinho de Danny. – Phillip! Venha até aqui um
momento.
Quase desmaiei.
Eu não estou brincando, cheguei a sentir minhas pernas vacilarem.
Não, não foi a queda de pressão. Foi o Phillip.
Padre, me has llamado? – perguntou Phillip no que eu deduzi como
espanhol. Além de inumanamente lindo, o garoto ainda falava espanhol. Eu
vou me matar.
Si si, lembra de Danny, certo? – perguntou Henry em inglês novamente, e
Phillip encarou Danny e depois sorriu. Seu sorriso era maravilhoso. Eu
preciso descrever esse garoto, com licença. Phillip tinha os cabelos loiros
como se fosse do sol, e seu rosto era repleto de sardas, assim como Danny,
mas ele era mais bronzeado. Seus olhos eram castanhos.
Danny, quanto tempo! – exclamou Phillip puxando Danny para um abraço.
O seu inglês era igual o do pai, com sotaque.
Um ano. – concordou Danny depois de abraçar o garoto.
Eu estava esperando por você, de verdade! Esse ano vai ser ainda melhor,
quero apresentar uns amigos meus pra você.
Ah, claro.
Filho, esse ano Danny trouxe sua prima Mell para assistir ao campeonato.
– disse Henry e Phillip me olhou. Danny também me olhou. Eu fiquei
vermelha quando Phillip sorriu para mim com explícitas segundas intenções,
depois eu vou pesquisar pra saber se os espanhóis são mais espontâneos
que nós.
Es um placer conocerte. – falou Phillip me dando dois beijos no rosto, senti
sua mão na minha cintura descoberta pela camisa e minha pele quente em
contato com a sua mão fria fez eu me arrepiar. O perfume de Phillip era
maravilhoso, assim como o próprio, e como agora eu estou numa onda de
revolta, vou falar que é melhor que o do idiota do Danny. Falando nele,
preciso ressaltar que me olhava com fúria, não só para mim mas para Phillip
também. Nunca tinha visto o olhar mau de Danny, acabara de descobrir que
era bem pior do que eu imaginava. Onde estava Mary agora? Ela nem ao
menos estava com a gente! Devia ter encontrado algum caipira pra dar em
cima, depois de perceber que Henry a ignorou.
Tenho certeza que você e meu filho vão se dar muito bem, Mell. – disse
Henry e Phillip sorriu de canto. Danny tossiu. – E essa garotinha? Mais uma
Jones pra completar essa linda família? – perguntou Henry se referindo a
Jessica e tio Steve começou a se explicar todo bobo. Phillip chamou eu e
Danny para nos afastarmos.
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Sinto lhe dizer, priminho, mas agora eu também tenho minhas armas. Que a
guerra comece.
Capítulo 9
Enquanto seguíamos Phillip por entre os convidados do evento, Danny
tentava me lançar olhares significativos, o que me dava um prazer enorme
por fingir não perceber. Eu sabia que ele estava tentando me dizer algo
como “Não caia nas garras desse galanteador” ou “Você vai me pagar bem
caro”, mas na verdade eu queria mesmo que ele ficasse com o dobro da
raiva que eu estava tendo desde a sua brilhante ideia de trazer a Mary junto.
Vou apresentar alguns amigos pra vocês. Danny deve lembrar de alguns do
ano passado. – disse Phillip pegando na minha mão para o acompanhar mais
de perto. Os olhos de Danny caíram direto no movimento e senti suas
entranhas se contraírem bem ao meu lado. Ah, como o ciúme é saudável!
Você não precisa falar espanhol se não quiser, não é, Phillip? – perguntou
Danny com um certo tom de raiva, que apenas eu percebi. Phillip o olhou
sorrindo.
Não, meu inglês é bem fluente.
Então pra quê?
Charme. – respondeu ele e depois piscou pra mim, voltando a andar. Olhei
para Danny com uma cara de prazer e glória e ele rolou os olhos. Eu não
estava entendendo muito bem para onde ele estava nos levando, aquela
casa era tipo o labirinto do Minotauro porque não tinha fim. Saímos do
interior por uma espécie de porta de vidro que daria para uma varanda, se a
varanda não fosse um vasto campo com uma arena de pólo no centro. Tudo
bem gente, esse garoto não é rico, é milionário. Quando eu vi todos aqueles
adolescentes reunidos na varanda, que na verdade era uma piscina muito
foda com espreguiçadeiras e algumas mesas, que eu entendi o que estava
rolando. Uma festa jovem do lado de fora. É claro que eles não iriam ficar
posando de filhos perfeitos ao lado dos pais a noite inteira.
Querem beber alguma coisa? – perguntou Phillip parando de andar e nos
encarando.
Não. – respondeu Danny seco.
Sim, o que tem? – perguntei forçando a empolgação. Danny rolou os olhos.
Bom, não é porque nossas famílias estão aqui que precisamos nos
comportar, não é? Peça o que você quiser. – falou ele e fez um sinal para o
garçom. Perguntei o que as pessoas estavam bebendo mais, e ele respondeu
que estavam todos acabando com o champanhe. Foi o que pedi, Phillip me
acompanhou e perguntou mais uma vez para Danny, que negou com a
cabeça sem paciência. Danny é o cúmulo da nãocivilização.
Depois que as bebidas chegaram, ficamos quase uma hora conhecendo os
amigos de Phillip, que pode acreditar, eram muitos. Todos tinham o mesmo
perfil rico e mimado, e é o momento de eu perguntar como Danny não é
assim, porque o garoto conviveu bastante tempo com eles e continua sendo
um bicho do mato. Não sei se isso é algo positivo ou negativo, é pior ser
metido ou selvagem? Depende pra quê não é? Vou parar por aqui. Se é que
vocês me entendem.
Onde está a Mary? – perguntou Danny depois de algum tempo parado ao
meu lado feito um peso morto enquanto eu desfrutava do champanhe e
observava Phillip fazer social com os convidados.
Você realmente acha que eu me importo? – respondi o olhando com
escárnio.
É claro que não. Você não se importa com nada a não ser você mesma. –
resmungou ele e se afastou, indo em direção a grande porta de vidro que
dava para dentro da casa.
Tem que ter uma paciência de monge pra aguentar esse caipira infernal.
Fiquei mais ou menos uma hora observando aquelas pessoas ricas se
comportarem em bando, até ver Phillip vindo novamente em minha direção
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com uma cara engraçada. Não fazia ideia de onde estaria Danny naquele
momento, e eu realmente não estava interessada em saber.
Pra onde foi o Danny? – perguntou Phillip curioso.
Não faço ideia, foi procurar a amiguinha que ele trouxe junto.
Ah, tudo bem. Me desculpe te deixar sozinha tanto tempo, eu não sabia
que Danny tinha saído daqui.
Não tem problema, aquele garoto é um mal educado.
Phillip riu meio sem jeito, provavelmente não querendo falar mal do amigo
comigo. Fodase, não estou nem aí.
Você já sabe onde vão passar a noite?
Ninguém me disse nada...
Ah, acho que os quartos já estão prontos. Tenho certeza que você deve
estar cansada da viagem. Se quiser eu te ajudo a achar o Danny e vocês
podem se arrumar.
Eu vou ter que dormir no mesmo quarto que ele?
Não! – respondeu ele rindo. – Claro que não. Mas acho que aquela Mary
terá de dormir com você. Ou com as garotas. – completou ele olhando em
direção a um bando de garotas com aparência de que acabaram de sair da
caixa. Barbie’s recém compradas.
Pode deixar que eu falo com ela. Vou procurar eles, muito obrigada.
Saí de perto de Phillip antes que ele pudesse dizer alguma coisa ou querer
me acompanhar, porque eu queria muito falar com a Mary sozinha. Entrei de
volta na mansão, a barulheira continuava a mesma desde quando eu saí. Os
adultos estavam todos rindo e bebendo no salão principal, meus tios e meus
avós estavam no meio.
Localizei em um dos sofás Danny, junto com Mary, obviamente, e o resto
dos nossos primos, Luke, Jessica e Cassey.
O que estão fazendo aqui? – perguntei parando na frente deles, sem
entender a reunião familiar sem a minha presença. O que a babaca da Mary
estava fazendo no meu lugar? Aquela família era minha, pelo que eu me
lembro. Danny não olhou pra minha cara. Típico.
Conversando... – respondeu Cassey, a única digna ali. Tudo bem, as
crianças todas eram dignas. Menos aqueles dois.
Estou com sono. – murmurou Luke coçando os olhos.
Vamos ver se já podemos te colocar na cama. – disse Danny pegando o
garoto no colo e se afastando. Que paterno! Não sabia desse lado do
abominável. Fiquei encarando ele se afastar com Luke.
Hm, Mary, Phillip disse pra você dormir com as amigas dele. – falei depois
de sair do transe. Mary me olhou com aquela expressão irritante dela de
surpresa.
Pensei que iríamos dormir juntas!
Quase lhe dei um soco. Mas Cassey e Jessica estavam nos encarando, então
eu evitei o massacre na frente das crianças. Cassey soltou uma risadinha
cheia de intenções, eu sabia que ela estava entendendo a rejeição sobre a
Mary.
Eu estou com gripe, não quero te passar. Vou ter que dormir num quarto
sozinha. Se eu pudesse dormia com você.
Ah! Seria divertido.
Com certeza. Bom, com licença, vou me retirar para os meus aposentos. –
falei e Cassey e Jessica riram.
Andei até onde minha família se encontrava rindo animadamente com os
anfitriões. Agora Lilly nanava Luke, que dormia pesado. Danny participava
distante da conversa.
E então, querem se recolher? – perguntou o senhor Sánchez quando me
aproximei, olhava de Danny para mim.
Acho que sim. – respondi já que Danny não se prestou a abrir a boca. O
senhor Sánchez fez sinal para um dos mordomos que estavam circulando os
convidados.
Mostre para eles onde ficam os quartos de hóspedes.
Sim senhor. – disse o cara e nos olhou como quem diz “me acompanhem
por favor”. Danny me olhou de relance e seguiu o mordomo. Fiz o mesmo.
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Subimos a escadaria gigantesca que dava para o segundo andar em silêncio,
nossos passos ecoando. No final das escadarias, havia dois lados para
escolher. O mordomo seguiu pela esquerda, entrando em um corredor
sofisticado cheio de quadros antigos arrepiantes. Eu estava me sentindo num
filme de terror, não entendo pra que morar numa casa daquele tamanho.
Os senhores desejam quartos próximos? – perguntou o homem sem nos
olhar e sem parar de andar.
O mais longe possível. – resmungou Danny e eu o olhei semicerrando os
olhos. Ridículo.
Bom, então o senhor pode se instalar aqui. – disse o mordomo abrindo do
nada uma porta e revelando um quarto escuro. Danny entrou meio receoso,
acendendo a luz. O mordomo entrou atrás.
Entrei atrás do mordomo, não ia ficar sozinha naquele corredor estranho.
Uma música clássica tocava levemente ao fundo dentro do quarto. Bom,
combinava completamente com a decoração épica. Estávamos dentro de um
filme de época e eu não estava sabendo? Danny ficou encarando o quarto
por um bom tempo em silêncio.
Onde é o banheiro? – perguntou depois de algum tempo.
Por aqui, senhor Jones. – falou o mordomo abrindo a porta central dupla do
quarto, que escondia um banheiro enorme. – O quarto da senhorita e quase
igual, aqui em frente.
Mas você perguntou se... – começou Danny e eu o olhei com raiva.
Acreditem em mim, vocês não vão querer ficar afastados. Bom, daqui a
pouco a camareira trará as roupas de cama e suas malas. Se precisarem de
mim é só apertar nesse dispositivo. – disse ele mostrando um botão dourado
do lado da cama. – Tenham uma boa noite de sono.
Saiu do quarto fechando a porta.
O que esse minhocão quis dizer com “vocês não vão querer ficar
afastados”? – perguntou Danny histérico. Eu o olhei irônica.
Acho que há mais coisas entre essas paredes do que apenas móveis.
Muahahaha. – falei analisando o papel de parede em estilo vitoriano.
Sofisticado e épico demais para o meu gosto.
Muito engraçado. Quer me dar licença? Eu quero ficar sozinho. E essa
música não para nunca?
Danny, quer calar a boca?
O que foi? Sai do meu quarto. O seu é igual!
Quantos anos você tem?
Agora você quer o que de mim?
Por que está sendo tão estúpido?
Danny caminhou com raiva até a porta e a abriu. Eu não estava acreditando
que ele ia me jogar pra fora do quarto. Deixar uma dama indefesa sozinha
nesse lugar assombroso! Sim, eu ainda estava pensando no que aquele
mordomo tinha falado. Estávamos em outra cidade, numa casa totalmente
arrepiante e Danny não podia ter um pingo de solidariedade e deixar eu ficar
um pouquinho com ele? Até o medo passar!
Droga, pare de inventar desculpas.
Encarei o corredor escuro, iluminado apenas com pequenos lustres rústicos
que se projetavam das paredes.
Boa noite. – murmurou ele me empurrando de leve pra fora e batendo a
porta. Caipira ridículo! Esfreguei meus braços quando uma rajada de vento
passou pelo corredor e soltei um gemido, abrindo a porta na minha frente.
Acendi a luz do quarto, e ele era exatamente igual ao de Danny, a única
diferença era a colcha da cama, que agora era vinho. Me joguei no colchão
fofo e coloquei a mão no rosto. Por que mesmo eu tinha vindo nessa droga?
Qual era a vantagem? Cara, quero voltar pra Londres.
Meu Deus, falando em Londres... Brian! Esqueci completamente do garoto
com essa confusão toda de Danny e loucuras. Eu precisava falar com ele.
Era óbvio que eu não ia contar nada, nunca contarei o que eu tive a coragem
de fazer com o meu primo pra ninguém.
Estava entretida nos meus devaneios sobre o que Brian estaria pensando de
mim quando alguém bateu na porta do quarto e eu dei um pulo. Já vi que
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não iria conseguir dormir direito num quarto tão frio e tão tenso. Caminhei
cautelosa e abri a porta, dando de cara com uma camareira velha. Sério, ela
era muito velha.
Com licença senhorita, trouxe a roupa de cama. – disse ela mais para o ar
do que pra mim, e entrou meio me atropelando. Fiquei encarando a mulher
se arrastar até a minha cama quando outra voz me faz pular com mais vigor
e medo agora.
Sua mala, senhorita. – O mordomo de antes estava na porta segurando a
minha mala. Sorri meio falsa e peguei a mala das mãos dele, que fez uma
reverência exagerada e sumiu pelo corredor escuro. Quando me virei dei de
cara com a velhinha me encarando, a cama arrumada. Dei um grito. A velha
se dirigiu pra fora do quarto resmungando alguma coisa que eu não fazia
muita questão de entender. Fechei a porta e tranquei quando ela saiu. Que
gente louca.
Coloquei a mala em cima da cama e a abri, começando a revirar em busca
do meu celular abandonado. Alguém tinha que me atender. Alguém lêse
Brian Langdon. Impaciente, esperei o celular ligar, mas o problema é que
não aconteceu nada. Merda, sem bateria! Típico, bem coisa pra acontecer
comigo quando eu mais preciso no auge do medo e da solidão. E nem
carregador eu tinha.
Olhei em volta do quarto e só fui perceber a televisão de plasma na parede
em frente à cama naquele momento. Dei uma agradecida a Deus e meti a
mão no controle remoto que estava em cima da mesa de cabeceira. Sentei
no pequeno sofá em frente a minha cama e comecei a passar os canais
freneticamente. Por que eu não comi nada durante aquele cocktail besta?
Minha barriga começou a roncar. Deixei na MTV e me esparramei,
começando a assistir meio sem ânimo o clipe de Radar da Britney Spears.
Será que na casa teria algum esquema de pedir comida por telefone? Não,
Ana, você não está num hotel. Está na casa de amigos da família.
Acordei com um toc toc irritante, primeiro achei que era da televisão então
ignorei. Mas o som vinha do lado oposto. Encarei a porta e uma sombra de
pés era visível entre o vão e o chão. Imaginei um fantasma, mas fantasmas
não batem nas portas. Eles entram sem permissão, se não não seriam
fantasmas. Não é essa a vantagem? Levantei e me arrastei sem paciência
alguma até a porta, e a abri.
Phillip? – perguntei com uma expressão de horror, tentando ajeitar meus
cabelos provavelmente sem sucesso algum.
Desculpe te incomodar mas... pensei que você gostaria de participar de
uma pequena after party no meu quarto. Não tem muita gente, só os amigos
mais próximos. É que todo mundo já foi dormir e, bom, está cedo demais
para pensar em dormir.
Ah, eu...
Não pude terminar minha resposta, pois a porta do quarto de Danny se
abriu, revelando o próprio Danny de boxers e uma camiseta. Ele encarou
Phillip confuso, depois semicerrou os olhos pra mim.
Phillip o olhou inocente.
O que está fazendo aqui? – perguntou Danny nada simpático para alguém
que era amigo do garoto desde há algum tempo. Phillip hesitou por um
momento, me olhando como se esperasse que eu fosse salválo da furada.
É, claro.
Eu... vim avisar que amanhã o café é servido as 9h. Não se atrasem. –
disse ele todo embolado e começou a se afastar, indo para o outro lado da
casa, onde eu deduzi que ficavam os quartos dos moradores. Danny esperou
o garoto desaparecer pra me fitar com raiva.
O que pensa que está fazendo? – perguntou ele em tom cobrador. O quê?
Como assim? Não fiz absolutamente nada, seu neurótico.
O que ele estava fazendo aqui? Digo, realmente.
Não é da sua conta! E o que você estava fazendo para sair do seu quarto?
Ele me olhou sem expressão aparente. Idiota, nunca tente me encurralar que
vai acabar no meu lugar!
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Eu ia... pedir emprestado. Meias.
Meias? Cala a boca, Daniel. Vá pensar em uma desculpa de macho e depois
volte aqui. – soltei, fazendo mensão em fechar a porta mas ele a segurou no
último segundo. Eu o olhei indignada, que grossura era aquela? Como
sempre, é claro, Daniel violento. Já estava me acostumando. A porta se
escancarou e eu fui lançada pra trás. Danny entrou no quarto e trancou a
porta atrás de si. Oh não, lá vamos nós de novo.
Sai daqui. Você estava me rejeitando há poucas horas. Vá dormir com a
Mary.
Ele soltou uma risada sarcástica e partiu pra cima de mim, tirando a
camiseta no caminho. Tive apenas alguns segundos de tontura ao olhar para
seu peito nu, e ele já estava me empurrando pra cima da cama. Senti todo o
seu tronco se arrepiar quando minhas mãos frias encostaram nos seus
ombros quentes. Como ele conseguia ser tão quente? E alguém me explique
como uma pele podia ser tão macia? Ainda não tínhamos nos beijado, Danny
estava realmente muito preocupado em me deixar só de sutiã. Feito isso, ele
me olhou sério antes de grudar os lábios nos meus com uma vontade
inexplicável. Nosso beijo foi evoluindo numa proporção gigantesca, como se
estivéssemos há algumas décadas sem o fazer. Como era bom sentir
aqueles lábios quentes e macios novamente, aquele gosto doce que só ele
tinha, aquela sensação de que eu poderia ficar fazendo aquilo pra sempre,
sem problema algum. Respiração e fôlego vinham em segundo plano. Danny
passeava com suas mãos pelo meu tronco, a cada toque eu sentia mais
prazer. Mais vontade de tirar a roupa, pra ser mais clara. Suas mãos foram
parar nos meus peitos e começaram a massageálos de uma forma
irritantemente deliciosa, e aquele tecido estava, de verdade, atrapalhando
um movimento tão bom para ser desperdiçado dessa forma. Comecei a
perceber o volume poderoso por baixo de suas boxers e sorri entre o beijo.
Selvagem. Interrompi nosso beijo e comecei a mordiscar seu pescoço
enquanto direcionava minha mão até seu documento por cima da boxer, o
fazendo resmungar alto. O apalpei de uma forma que eu sabia que o
deixaria no auge da vontade de arrancar fora as boxers. Mas sabia também
que antes disso ele precisava tirar as minhas calças. Eu ainda estava de
calça jeans. Danny arrancou o botão da minha calça, depois eu iria fazer ele
costurar com a língua, mas enfim, ele começou a tirar as minhas calças
devagar, provocando minha pressa. Calças no chão, Danny começou a
apertar o interior das minhas coxas enquanto dava fortes chupões no meu
pescoço.
Hoje sou eu. – murmurou ele no meu ouvido e eu não entendi de primeira.
Só quando senti sua mão entrando dentro da minha calcinha que percebi o
objetivo da provocação. Seu dedo penetrou minha vagina, me fazendo gemer
de prazer súbito. Ele começou a fazer movimentos lentos, aquele caipira
idiota adorava me provocar com a lentidão. Quando percebi estava
arranhando com muita força suas costas enquanto ele se divertia com meu
sofrimento.
Chega. – sussurrei soltando o ar no seu ouvido e ele parou com o
movimento, soltando uma risada sarcástica. Naquela altura eu nem estava
mais preocupada com seus sarcasmos. Ele arrancou de vez minha calcinha e
eu fiz o mesmo com sua boxer.
Droga, o preservativo. – disse ele parando de me beijar. Fechei os olhos
sem acreditar.
Danny, você tem o quê no cérebro?
Dá uma olhada na mesa de cabeceira.
Esse quarto deve ter quinhentos anos. Nem existia preservativo naquela
época. – resmunguei saindo de baixo dele e me arrastando até a gaveta.
Estamos na casa de Phillip. – murmurou ele bem no momento que encostei
em um pacotinho com um relevo redondo. Bingo!
Você está com sorte, priminho. – falei sorrindo, o entregando o
preservativo. Precisa de mais ajuda ou não broxou nem um pouquinho com
essa parada?
Ele me olhou sorrindo de um jeito que eu diria até bonitinho.
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Você está embaixo de mim, nua. Realmente acha que eu vou broxar numa
situação assim?
Eu sorri igualmente, o puxando para um último beijo delicado antes de ele
me penetrar com tudo.
Ah, aquela sensação. Não sei como consegui ficar tanto tempo sem isso,
sério. Mas não dava pra ser com qualquer cara, tinha que ser com ele. Era
apenas a nossa segunda vez, mas parecia que fazíamos isso há muito
tempo. Pode ser por causa do tipo sanguíneo idêntico. Não que eu goste de
lembrar desse fato numa hora dessas.
Awn, Danny... – gemi no seu ouvido enquanto ele investia mais selvagem
do que na primeira vez na beira do rio. Acho que era a base macia que o
deixava mais firme, e não a grama pinicante. Eu não estava muito resistente
daquela vez, porque consegui gozar antes dele. Tudo bem, foram tipo cinco
segundos de diferença. Mas eu me sentia meio perdedora gozando antes.
Danny saiu de dentro de mim – pausa pra ressaltar o quão estranho é falar
isso – e soltou seu corpo pesado em cima do meu, sem se preocupar se eu
sufocaria ou não. Bom, eu estava pouco me importando com isso. Não
falamos nada por um bom tempo, ficamos grudados apenas curtindo o
momento. A MTV ainda estava ligada e tocava Justin Bieber. Super
excitante. Dei um selinho lento em seu pescoço e comecei a fazer carinho
nos cabelos de sua nuca. Não sei da onde tinha surgido aquela liberdade e
aquela falta de vergonha de fazer coisas do tipo casalzinho apaixonado, de
repente tive vontade de ser carinhosa com ele por um momento na minha
vida. Senti suas mãos começarem a alisar minha cintura, fechei os olhos
apenas sentindo seu perfume maravilhoso e o prazer do seu carinho.
Danny levantou a cabeça um tempo depois e me encarou sem dizer nada.
Depois beijou o canto da minha boca calmamente, começando a brincar com
meu lábio inferior. Segurei seus cabelos e intensifiquei o beijo, mas de uma
forma calma, nada de raiva e vontade de fazer rápido. Era a primeira vez
que eu beijava de uma forma... apaixonada. Sempre estávamos fazendo
esse tipo de coisa depois de brigar, então era violento. Dessa vez não,
ficamos um bom tempo apenas nos beijando calmamente.
Depois de ficarmos naquela paixonite fofa, ele saiu de cima de mim e foi pra
baixo das cobertas, me ajudando a fazer o mesmo. Me aconcheguei nos seus
braços, como falam? Em “conchinha”, e peguei no sono sem perceber.
Acordei de repente, parecia que eu tinha entrado em uma hibernação há três
meses e só tinha saído naquele momento. Eu estava em um lugar muito
quente e aconchegante. Olhei em volta e lembrei onde estava, e com quem
tinha passado a noite. Só podia ser um sonho, impossível. Sem brigas? Sem
xingamentos?
Danny estava parado na ponta da cama me encarando só de toalhas. Sorriu
quando eu o olhei.
Bom dia. – murmurou ele levantando as sobrancelhas de uma forma
engraçada. Eu nem sabia como agir, estava com vergonha. Nunca tínhamos
feito algo igual, do tipo sexo com amor e sem discussão. Era estranho.
Oi. – respondi, coçando os olhos para tentar fazer minha visão ficar mais
nítida. A televisão ainda estava ligada, não sei se passou a noite assim, mas
estava no mesmo canal, e passava o clipe da Katy Perry de Thinking Of You.
Com certeza a música ajudava muito pra amenizar o clima amoroso no ar.
Está com fome? De acordo com seu amigo Phillip, o café é servido às 9h.
Faltam dez minutos.
Meu... – comecei, me levantando e enrolando o lençol em volta de mim. –
amigo Phillip. Essa é ótima. Preparado pro pólo?
Na verdade eu nem estava muito afim de jogar. Mas papai vai capar o meu
Danny júnior se eu não participar, então...
Boa sorte, vou voltar a dormir. – murmurei, deitando novamente e me
cobrindo.
Não, Mell... vá se vestir. Eu vou pro meu quarto colocar uma roupa.
Não movi um músculo, não ia ter coragem de encarar a família depois
daquela noite. Muito menos ele em público. Senti mãos afastando os cabelos
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do meu rosto e um beijo no meu pescoço. Fiquei vermelha, graças a Deus
não foi visível.
Você vai ter que aparecer em público alguma hora...
Quem disse que estou com vergonha? – perguntei com o rosto afundado no
travesseiro.
Não precisa dizer, eu percebi né. Sua cara de tensão e suas bochechas
vermelhas revelam alguma coisa.
Está vendo coisas, Danny. Estou muito tranqüila.
Ele riu.
De qualquer forma, fique pronta e desça às 9h.
Cinco segundos depois a porta bateu e eu estava sozinha. Soltei um gemido
de desespero ainda com o rosto afundado no travesseiro.
A mesa do salão de jantar era bem proporcional ao tamanho da casa, ou
seja, gigante. A maioria das pessoas que estavam “hospedadas” na casa dos
Sánchez já se encontrava ali, tomando café e conversando empolgadamente
sobre o torneio de pólo que aconteceria naquele dia. Localizei minha família
e me arrastei até onde eles estavam sentados, inclusive até Danny, que não
parecia nada tenso e envergonhado pelo que tinha acontecido entre a gente.
Sentei ao lado de tio Steve, pai de Danny e de Jessica. Todos me
cumprimentaram e eu sorri sem graça.
Como passou a noite? – perguntou vovó animada. Senti o olhar de Danny
sobre mim, fingi não perceber.
Foi ótimo. – murmurei encarando meu prato vazio. De repente fiquei muito
interessada nos detalhes decorativos do prato. Todos então voltaram a
conversar empolgadamente, os homens sobre não sei o quê da Champion’s
League e Lilly, vovó e tia Emma sobre o bolo delicioso que estavam
comendo. Eu estava me sentindo muito mal enganando todos naquela mesa,
principalmente vovó. Ela teria um troço se imaginasse o que os primos
andavam fazendo. Estava tão tensa quando cheguei que nem percebi Mary
ao lado de Danny rindo de algo que ele contava para Cassey e Jessica. O que
aquela loira aguada ainda estava fazendo naquela casa?
O café da manhã ficou muito mais lento depois que percebi Mary na mesa,
eu queria logo sumir dali e evitar olhar pra cara de santa forçada dela. Pra
piorar, Phillip apareceu do nada.
Só queria avisar que vamos treinar um pouco agora de manhã antes de
começar o campeonato, e também ver os times. Vem comigo, Danny?
Danny o encarou sério por um segundo e depois sorriu.
Claro. – disse Danny e logo depois pediu licença, se afastando com Phillip e
os amigos.
Foi a vez do senhor Sánchez aparecer para alegrar o ambiente mais do que
já estava.
O que acham de sentarmos na piscina e tomarmos um drinque?
Ótima ideia! – exclamou vovô logo se levantando. Eu me levantei, mas por
motivos diferentes.
Senhor Sánchez... me desculpe mas... sabe onde eu poderia acessar a
internet? – perguntei na cara de pau.
Oh, claro. Pode usar o computador de Phillip no escritório, querida.
Agradeci silenciosamente e me afastei daquele lugar barulhento. Bom, eu
teria que deduzir por onde ir até o escritório. Não foi muito difícil, na
verdade. O escritório se localizava em frente a grande sala de estar. Aquela
parte da casa estava incrivelmente silenciosa. Entrei no escritório um pouco
receosa. Ah, se o dono da casa tinha permitido, então não havia problema,
não é? Eu precisava falar com Brian e dar algum sinal de vida, o garoto
devia estar morrendo em Los Angeles, neurótico do jeito que é. Da última
vez que nos falamos eu desliguei em sua cara e deixei no ar a possibilidade
de estar pegando alguém bem no momento. Na verdade eu estava.
Sentei na mesa olhando tudo na minha volta, eles adoravam esportes
mesmo. O escritório estava infestado de medalhas e certificados, tudo
relacionado a esportes. Desde hipismo até golfe. Liguei o Apple que estava
na minha frente, sem prestar muita atenção no movimento. Ainda estava
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encarando as paredes cheias de medalhas. A área de trabalho apareceu na
minha frente e eu soltei o ar relaxada. Quando fui entrar na internet, um
ícone chamou a minha atenção. Fotos. Eu era viciada em bisbilhotar fotos
alheias, eu não iria conseguir ignorar aquele ícone me chamando. E mais: se
era o computador de Phillip, poderia ter alguma foto de Danny do ano
passado. Eu precisava ver. Apertei no ícone me sentindo muito foragida.
Havia milhões de pastas, e apertei na primeira e mais interessante que
surgiu, “Festas”. As fotos estavam todas misturadas, que desorganização!
Esse garoto devia dar milhões de festas, deveria fazer uma pasta pra cada
uma. O que mais tinha era mulher, que novidade. Várias Barbie’s e Polly’s na
piscina dos Sánchez, com roupinhas realmente do tamanho real de bonecas.
Lamentei ao ver uma foto de Phillip lambendo chantilly na barriga de uma
loira de mini saia. Fui passar a foto, mas o rosto da garota me chamou a
atenção. Dei zoom na foto e... Oh meu deus. Era Mary.
Phillip lambia chantilly da barriga de Mary.
Capítulo 10
Não consegui definir se aquilo era uma coisa positiva ou negativa. Digo, saber sobre
o pequeno segredo de Mary. Muitas pessoas gostam de ficar sabendo de fofocas e
fatos que ninguém nunca imaginaria saber, mas eu sinto que sempre quando me
torno responsável por algum segredo desse tipo vai dar algo errado. Ou eu vou
acabar contanto pra pessoa errada e tudo vai se virar contra mim, ou eu vou ficar
com aquela agonia presa na garganta pra sempre. Eu sou assim, não consigo
guardar segredos. Principalmente quando o segredo está relacionado com uma
pessoa que eu tenho muita, muita, muita raiva. Gostaria de ver a cara do caipira se
descobrisse que o objeto dele não é lá toda a perfeição que ele insistia em esfregar
na minha cara. Agora eu entendi porque Mary aceitou rapidinho vir junto, não era
por causa de Danny.
Fechei a pasta de arquivos de Phillip e desliguei novamente o computador. Acabei me
esquecendo do real motivo pelo qual eu estava ali, mas resolveria isso mais tarde,
ligando para Brian ou algo do tipo. Saí da sala cautelosa até demais, estava me
sentindo um pouco foragida. O salão de jantar onde todos tinham tomado café já
estava vazio, então me dirigi pra fora da casa pela porta de vidro que dava para a
piscina. Todas as garotas estavam nas espreguiçadeiras conversando, inclusive Mary,
que já tinha se enturmado. Ou, como acabei de descobrir, já conhecia todas elas.
Não tenho certeza, preciso investigar o passado vagabundo dela ainda. Ela
provavelmente é uma BELA mentirosa, não que seja muito difícil enganar Danny,
mas acredito que eles já estavam nesse amorzinho todo desde as férias passadas e
ela já devia conhecer Phillip. Argh, estou morrendo de vontade de esfregar a cara
dela no asfalto.
Mary fez um sinal para eu me aproximar e eu sorri falsa. Piranha.
Vamos ver os meninos treinarem? – perguntou uma garota ruiva muito branca com
cara de quem dá diariamente. Na verdade, todas tinham a mesma cara de Barbie na
caixa. Todas começaram a soltar risadinhas empolgadas do tipo hihivamosnos
fingirdetolinhas e Mary me encarou. Tudo bem, querida, pode rir junto. Eu sei que
você é desse tipo. Me segurei para não rolar os olhos na cara dela.
Viram o garoto novo que Phillip convidou para jogar? Cara, ele é muito gostoso. –
disse agora uma garota com o cabelo chanel muito loiro. Senti os olhos de Mary
sobre mim por uma fração de segundo. – Seu amiguinho, não é, Mary? Espertinha!
O quê? Não, ele é só meu amigo. Na verdade, ele me trouxe.
Hm, aposto que se eu não estivesse ali com elas Mary iria dizer que estava pegando
Danny. Bem o tipo de gente que oferece a barriga para ser lambida por algum garoto
em público. Não percebi, mas elas já estavam se levantando.
Duvido que você não tenha tirado uma lasquinha! – provocou agora uma garota de
pele morena e cabelos pretos. – Não tem como ter um amigo daqueles.
Mary parece desconfortada por um minuto, depois fez uma cara estranha. Achei que
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ela ia vomitar dentro da piscina.
Eu acho que eu vou... com licença. – falou ela e abriu espaço entre todo mundo e
saiu correndo. Fiquei encarando ela entrar na casa sem entender nada. As meninas se
olharam sem entender.
Pareceu que ela ia mesmo vomitar. Coitadinha, foi muita pressão. Eu quase tive
pena.
Isso me fez lembrar um fato nada agradável que aconteceu na fazenda quando eu e
Danny éramos pequenos. Como sempre, culpa do caipira. Ele sabia que eu sempre
tive nojo de lesma, era o único bicho que eu não suportava. Mas é claro que pontos
fracos nas mãos de Danny Jones são uma arma. Eu tinha ido tomar banho antes de
toda a família sair para o centro da cidade. Entrei no quarto e me vesti. Na hora de
colocar os tênis, quase tive uma parada cardíaca. Havia lesmas dentro do maldito
tênis. Eu não cheguei nem a gritar, só deu tempo de chegar ao banheiro e colocar
tudo pra fora. Era quase possível ler no chão do quarto “Danny Jones passou por
aqui”. Depois disso corri até a sala e comecei a bater no garoto. Toda a família achou
que eu estava conspirando, porque na visão deles eu era a má dos primos. Danny
ficou cheio de beliscões e hematomas roxos por muito tempo. Nunca mais colocou
nada nos meus tênis. Pelo menos tive o prazer de dar uns tapas naquele inferno em
forma de criança.
Segui as garotas, não sei porquê, até o campo onde os meninos estavam treinando.
A arena era revestida por uma cerca de isolamento onde ficavam as pessoas apoiadas
assistindo o jogo. Que aliás já havia começado. Meus olhos caíram automaticamente
no jogador que se destacava de todos, que estava extremamente gostoso dentro
daquele uniforme branco. Bastaram cinco minutos para perceber que Danny não
tinha esquecido porra nenhuma de como se jogava aquilo, porque, sem querer
forçar a barra, mas ele era melhor que Phillip. Que treinava tipo todos os dias. Danny
percebeu minha presença um pouco afastada das Barbie’s histéricas que começaram
a dar gritinhos de alegria quando Danny sorriu de canto para mim. Tentei disfarçar,
sabia que se elas notassem que ele estava discretamente com a atenção em mim já
iriam me rodear e perguntar se transamos freqüentemente.
Na verdade, sim.
Até o intervalo, a cada tacada Danny me olhava de canto para provavelmente ver o
que eu tinha achado da habilidade renascida dele. Se você quiser saber, estou
adorando a visão de Danny dentro daquele uniforme apertado. É incrível como caras
bonitos ficam ainda mais bonitos dentro de uniformes. É tipo uma regra universal,
por que você acha que as mulheres as vezes assistem os namorados jogarem
futebol? Não tem nada a ver com prestigiar, e sim com se deleitar com a visão dos
deuses. Não que eu estivesse fazendo isso naquele momento, mas, digamos que não
era nada mal.
Perdida nos meus devaneios não percebi quando o campo esvaziou e os cavalos
foram postos amarrados num canto, começando a ser tratados por algum
empregado. Danny atravessou o campo, que era bem grande, sob os olhares das
garotas que ainda não tinham parado com os risinhos. Oh senhor, muito obrigada
por não ser tão alienada.
O que achou do meu jogo grotesco? – perguntou Danny se apoiando na cerca de
ferro e tirando as luvas. Levantei as sobrancelhas ligeiramente. “Grotesco”? Danny
adorava a modéstia forçada!
Você só diz isso pra ganhar elogios meus. Foi melhor que Phillip, se quiser saber.
Encaramos juntos Phillip e os amigos se aproximarem das Barbie’s ao nosso lado.
Phillip retribuiu o olhar rapidamente, voltando a dar em cima da Barbie ruiva.
Acho que sou bom com os cavalos, então. Porque no quesito jogo...
Tudo bem Danny, cale a boca. Você é muito bom.
Droga, ele estava tão lindo meio suado com as bochechas vermelhas e os olhos azuis
me encarando embaixo daquele sol agradável da manhã. Ele sorriu levemente e me
roubou um selinho. Não acredito que ele fez isso em público. Dei um tapa no seu
braço.
Danny, eu tenho vontade de te matar! Tá todo mundo olhando!
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Grande coisa, primos se beijam carinhosamente.
A nossa relação não é nada do que você está tentando me convencer.
Ele não pode retrucar pois senti o celular vibrar no bolso de trás da minha jeans.
Só um minuto. – pedi me afastando e ele concordou. Tirei o celular do bolso e
encarei o nome chamando na tela. Senti imediatamente um frio na barriga idêntico
ao que temos quando andamos de montanha russa. Depois de tudo aquilo que tinha
acontecido entre eu e Danny me sentiria meio estranha falando com Brian. Na
verdade eu já estava me sentindo meio estranha só de encarar o nome dele, queria
ver ouvindo a voz.
Alô? – atendi meio receosa, com a sensação de que ele iria descobrir o que eu tinha
feito só de ouvir a minha voz. Não que eu tivesse algum compromisso com Brian,
mas era estranho mentir sobre uma coisa desses pro melhor amigo. Pro melhor
amigo que eu sempre fui apaixonada.
Mell? – respondeu ele e no mesmo momento eu percebi que sim, continuava
completamente apaixonada por ele. E essas coisas são possíveis? Gostar de dois
caras ao mesmo tempo? Bom, se não fosse, eu iria ser a primeira. Porque estava
acontecendo comigo.
Oi Brian. – murmurei com um sorriso discreto no rosto. Era tão bom ouvir uma voz
familiar, não literalmente. Mas é bom ouvir a voz de um amigo depois de algum
tempo sem ver ele. Ainda mais do Brian.
Nossa, quanto tempo! Mentira, foi uma semana, mas pra mim já é demais. Eu
tenho boas e más notícias. Qual quer primeiro?
Fiquei alguns segundos em silêncio pensando. Bom, todo mundo escolhe a má
primeiro. Então vamos lá.
Má. Espero que a boa seja realmente boa.
Bom, a má notícia é que eu estou com suspeita de apendicite.
O quê? Brian, como isso aconteceu?
Simplesmente acontece, não tem como prever. Na verdade não é lá tão grave
assim, só dói pra caramba.
Desde quando? Apendicite não é rápido?
É, eu já ia chegar aí. Ontem eu senti uma dor inexplicável na região do apêndice, fui
até pro hospital. Ligaram pra minha mãe, não que eu tenha pedido, mas a senhora
com quem eu estou morando insistiu e eu liguei. Como você já sabe, minha mãe é
neurótica com esses assuntos que envolvam a minha saúde e risco de vida. Ela me
obrigou a voltar pra Inglaterra.
Como assim? Voltar? Você está na Inglaterra?
Acabei de chegar, estou no aeroporto indo direto pro hospital! Isso não é legal?
Pelos cálculos do médico a dor vai voltar de noite e eu vou ter que retirar o apêndice.
Brian, você só me avisa isso AGORA? Eu vou voltar pra Londres, qual é o hospital?
Mell, não seja boba. É só uma cirurgia. Seu pai nunca iria concordar com isso. Eu
vou ficar bem.
Se eu estivesse no seu lugar o que você faria? Só por curiosidade.
Estaria pegando um trem agora. Mas é diferente, eu sou homem. Homens têm a
obrigação de proteger e ficar do lado das mulheres. Você não precisa, nem pense em
sair de Bolton.
Na verdade eu não estou em Bolton, estou em Manchester. Estamos numa espécie
de torneio particular de Pólo, o Danny está jogando. É uma longa história. Mas
enfim, qual é o seu hospital, Langdon?
Mell, não quero que você venha.
Você sabe que não vai me convencer. Diz logo antes que essa sua dor comece.
Ai meu Deus, eu estou indo pro London Bridge. Seu pai vai me matar.
Brian, cala a boca! Meu pai não é tão cruel.
Ok, te vejo de noite. Acabei de ver a minha mãe perdida.
Se cuida, pelo amor de Deus! Te amo.
Eu também.
Fechei o celular e percebi que estava meio tremendo. Eu fico muito nervosa em
situações que envolvam hospitais e afins. Danny me encarava com uma expressão de
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quem já havia percebido algo de errado. Droga, explicar pro Danny vai ser foda.
O que houve? – perguntou ele pulando a grade de isolamento com uma habilidade
que eu não entendi, porque era meio impossível um ser humano pular aquilo sem
ajuda. Danny era um selvagem de marca maior.
Respirei fundo antes de soltar a novidade.
Bom, acho que você não vai gostar. Vou ter que voltar pra Londres hoje.
Danny de início não teve reação alguma, depois de alguns segundos de tensão ele
franziu o cenho preocupado.
Por quê?
Brian está com apendicite. Ele acabou de chegar da Califórnia, vai se operar de
noite. Ele é o meu melhor amigo, eu não posso deixar ele sozinho numa hora dessas.
Ah, sim. Tudo bem. E depois você volta, não?
Er, se o meu pai me forçar.
Claro. Esqueci que você está com a gente contra a vontade.
Danny, você sabe que não é bem assim.
Se você quisesse mesmo ficar aqui, voltaria amanhã.
Eu não quero brigar com você por causa disso, por favor, não me deixa mais
nervosa. Eu vou falar com o seu pai, com licença.
Falando isso me afastei sem hesitar, o deixando parado olhando pro nada. Eu estava
me sentindo muito culpada por fazer isso com ele, mas era de Brian que estávamos
falando. A pessoa mais importante na minha vida, antes até de mim mesma. Corri
até onde minha família estava sentada, assistindo o treino junto com os anfitriões e
mais algumas pessoas mais velhas desconhecidas. Vovó ia ficar muito triste.
Tio Steve, tem um minuto? – perguntei, interrompendo sua conversa empolgada
com o senhor Sánchez sobre cavalos ou qualquer coisa desse tipo.
Claro, querida. – concordou ele, se levantando e andando até um canto. O
acompanhei.
Aconteceu um imprevisto, você vai ficar muito bravo comigo mas não tem jeito.
Meu melhor amigo ficou com apendicite e eu vou ter que voltar pra Londres, a
cirurgia é hoje de noite. Se o senhor pudesse me levar até a estação de trem, seria
legal.
Oh não, como ele está?
Bem, acabei de falar com ele. Mas a dor vai voltar, sabe como é. Ele está meio que
precisando de mim.
Entendo. Não, com certeza eu te levo até a estação. Você sabe que se eu pudesse
te levaria de carro até Londres, mas iria levar o dobro do tempo e você não ia chegar
a tempo.
Sim, eu sei. Até a estação está ótimo, eu me viro.
Vou ligar pro seu pai pra avisar que você vai voltar. Arrume suas coisas, querida.
Tudo bem, muito obrigada.
Entrei no quarto e comecei a colocar as poucas roupas desarrumadas de volta na
mala, assim como o resto espalhado pelo banheiro. O ambiente estava mais frio que
fora da casa, o que era um pouco assustador porque estávamos no verão. Encarei a
cama de casal e senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto involuntariamente. Estava
com uma sensação estranha, do tipo quando sentimos que não vamos voltar a ver
aquela pessoa por um bom tempo. Podia ser até pra sempre, quem vai saber? Agora
que eu estava me acertando com ele tudo tinha que voltar a dar errado. Não que eu
esperasse que começássemos a namorar e assumir o romance pra família, mas ficar
sem brigar com Danny me deixava bem. Eu me sentia bem. Droga, eu estava tão
confusa! Voltar a ver Brian com certeza iria fazer todos aqueles sentimentos de anos
aflorarem novamente, como sempre. Na verdade eles estavam bem ali, só que um
pouco enterrados pela presença de Danny. Bem, mas o que eu estava pensando? É
óbvio que você não tem nem o direito de ficar em dúvida entre os dois, porque um é
o seu primo. Tudo o que aconteceu iria ser esquecido imediatamente. Foi apenas um
sonho louco e desconfortável, mas ao mesmo tempo muito viciante e intenso. Não
iria ser fácil, não mesmo. Começando pelo fato de carregar o mesmo sobrenome que
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ele. Eu estava condenada eternamente. Não desejaria para ninguém estar na minha
pele.
Terminei de enfiar tudo na mala e caminhei em direção da porta. Alguém bateu antes
de eu encostar no trinco.
Er, precisamos conversar. – disse Danny entrando e fechando a porta. Meu coração
se debateu. Eu tinha uma ponta de esperança de que poderia ir embora sem ter que
me despedir e sofrer mais ainda.
Eu sei.
Na verdade, você não sabe. É uma coisa meio delicada.
Do quê você está falando?
Ele encarou o chão desconfortável. Detectei uma expressão de culpa ou era só
impressão minha? Mais alguns segundos em silêncio.
Você vai me achar a pior pessoa do mundo. Talvez nunca me perdoe. E por mais
que seja apenas uma hipótese, eu já fiz, não tem mais volta.
Eu estava começando a ficar com medo.
Fala logo.
Mary acha que está grávida.
Não entendi de primeira, levei alguns longos segundos para ligar a culpa dele com o
fato em pauta. Comecei a ofegar depois de perceber o que estava acontecendo, e
Danny tentou afagar o meu braço.
Não encosta em mim. – murmurei, o olhando incrédula. – Como pôde?
Foi antes de você chegar na fazenda, tipo um mês antes. Não quero entrar me
detalhes, mas aconteceu. Foi sem pensar.
Danny... você não me contou. Por quê?
Eu sabia que se você ficasse sabendo iria sentir raiva de mim e não se... entregaria,
digamos. Eu realmente gosto de você, não queria te deixar triste.
Ah, sim. Você sabia que se eu descobrisse que você tinha transado com aquela
garota não iria dar pra você. Estava certo, nunca teria feito isso. Esperto da sua
parte, pra alguém que só queria me comer.
Não fala assim, eu gosto de você de verdade, Mell. Eu sempre gostei. Quando eu
percebi que você também poderia estar sentindo o mesmo, foi uma sensação
indescritível. Meu sonho ia se realizar, é meio idiota falar desse jeito mas é a única
forma que eu tenho. Você sempre me odiou, a possibilidade de termos alguma coisa
era nula pra mim. E eu não ia estragar tudo revelando uma coisa que pra mim não
fazia e não faz diferença nenhuma. Não significou nada, perto do que nós passamos.
Não faz diferença nenhuma? Daniel, a garota ESTÁ ESPERANDO UM FILHO SEU!
Você por acaso já parou pra pensar? Já se deu conta da merda que fez?
Já, eu já percebi. Eu vou arcar com as conseqüências, mas eu não quero te perder.
Bom, já perdeu. Na verdade deveria nunca ter tido, por mentir pra mim. As nossas
chances que já eram nulas agora estão negativas. Boa sorte com Mary e com o bebê
de vocês.
Peguei a mala que tinha deixado cair ao ouvir a notícia e comecei a me aproximar da
porta, mas ele me segurou.
Você não pode ir embora assim. Eu vou me matar se me deixar dessa forma.
Danny, me solta. Terminou. – murmurei, com o olhar já meio embaçado pelas
lágrimas se formando nos meus olhos. Além de ele ser o meu primo, agora iria ter
um filho com outra garota. Ele era o cara menos indicado pra mim, em toda a face
da Terra. E eu insistia em sentir aquela irritante vontade de beijálo durante todos os
malditos segundos que passava na companhia dele.
Não, não, não. A gente pode consertar. – disse ele deixando uma lágrima cair. Meu
Deus, Danny estava chorando. Era grave mesmo. Para ambos os lados, percebo
agora.
Aquilo só fez eu sentir mais vontade de chorar ainda, além de minha vida estar uma
completa merda eu provavelmente nunca mais iria ver Danny. Ele ainda segurava o
meu braço antes de me puxar devagar pra perto de si e segurar a minha nuca.
Me desculpe, eu te amo. – murmurou ele entre as lágrimas insistentes, eu já meio
que estava em prantos. Merda, já estava tudo errado mesmo. Me aproximei do rosto
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dele e grudei nossos lábios delicadamente, e aquele foi o beijo mais salgado que eu
já dei em toda a minha vida. A dor dentro de mim era maior que qualquer coisa, a
dor por ver ele chorando e por saber que nada iria dar certo entre a gente. Por saber
que não era pra acontecer, porque não tínhamos nascido um pro outro, porque
naquela vida o máximo que seríamos era primos. O destino estava cruelmente nos
separando, nosso relacionamento que já tinha uma barreira antes, que tinha sido
destruída de mal jeito, estava voltando a se formar. Isso acontece quando não é o
cara certo. Aprendemos esse tipo de coisa ao longo da vida, por mais que a minha
ainda seja curta, já sei que não vai ser com Danny que vou terminar ela.
Entrei no carro de tio Steve, que estava parado na frente da casa. Minha família
estava toda ali esperando pelo último adeus antes de eu voltar pra Londres. Nenhum
deles sabia da gravidez de Mary, apenas eu e Danny. E provavelmente não iriam ficar
sabendo tão cedo. Ou pelo menos até ficar visível.
Tio Steve bateu a porta do passageiro e fez um aceno pra todos antes de entrar do
meu lado. Deu a partida no carro e todos deram uma acenada meio deprimente, mas
a única e última coisa que eu pude ver foi o olhar cheio de culpa e tristeza de Danny.
FIM
Nota da Autora: Oi pioneiras, galaxy defenders, the hell you want. Acabou mimimi :( chorem, mas não por muito
tempo. Como a maioria deve saber, já comecei a escrever Fazenda Jones 2 e já já começo a enviar pro FFOBS, QUE
ESTÁ DE ANIVERSÁRIO, UM ANO, COISA LINDA! PARABÉNS MENINAS, e vocês vão poder enlouquecer com novas
aventuras n. Acho que é isso, espero que tenham gostado da primeira parte, já faz quase dois anos que eu escrevo a
Fazenda, comecei nessa época duas férias atrás, no tédio, então lá por janeiro a gente comemora esse tempão. Sim, eu
fiquei com a fanfic encalhada no computador por um ano antes de postar. Queria agradecer a minha beta Gabee por
sempre me deixar a par do que falam com ela sobre a fic, por ler também, além de ser minha beta, por se prestar a
corrigir meus erros que devem ser cabeludos (ou não, tirei 7,0 em português, vamo galera) e por me apressar a
mandar as atualizações. Porque particularmente eu demoro bastante, sou bem lenta sim, coisa de Jones mesmo. Risos.
Enfim, até a próxima! Obrigada a cada uma de vocês pelos comentários e...
QUASE ESQUECI!!! FAZENDA JONES FOI FIC DO MÊS EM NOVEMBRO! CARAMBA, MUITO OBRIGADA GENTE, A
TODO MUNDO QUE VOTOU!
E VAMOS ENTRAR NUMA NOVA ETAPA: FIC DO ANO. JÁ TO SABENDO QUE FAZENDA JONES TA CONCORRENDO
(com Biology, um crime isso, eu sou fã assídua da Vee) MAS A VIDA É ASSIM ENTÃO VAMOS FAZER MEU ESFORÇO E
O DE VOCÊS VALER A PENA, VAMO GANHA ESSA PARADA!!!!
Acho que é isso.
Ah, estamos no top melhores fics do FFOBS também (pelo menos da última vez que eu olhei). Fiquei tipo wow, sério?
Haha então, valeu gente!
xx
Nota da Beta: Não precisa agradecer, foi um prazer betar essa fic, e você não comete tanto erro assim, eu quase não
tive trabalhando betando FJ pra dizer a verdade. HAHAHA. E me mande logo FJ 2 >( Quero ler a continuaçãaaooo!
Meninas, caso tenha algum erro de português/script/html, podem entrar em contato comigo pelo twitter ou por e
mail, fiquem à vontade. E pelo twitter eu digo como ta o processo de betagem/se já mandei pro site, essas coisas,
então pode seguir, se quiser =D
PELA WEB O QUE É ISSO?
Lifegooroo
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6 comentários
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Maiany oliveira • 3 meses atrás
Ja vo ler a 2 parte
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NessaFontaine • um ano atrás
Perfeita demaaais.. Parte II aí voou euuu.. :)
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Talita Gomes • um ano atrás
linda, linda, linda!
Vou correndo ler a parte 2 ;)
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Ronnie • um ano atrás
MDSSS Q PERFEITOS <3
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luh • um ano atrás
PUTA MERDA EU TO CHORANDO PRA CACETE *
* simplesmente pq eu sou apaixonada por fics que terminam
sem as coisas terem ficado bem, ou seja, um final feliz. AMEI.
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Nabe • um ano atrás
fazenda jones é apenas a melhor fic de todas <3
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fazenda jones é apenas a melhor fic de todas <3
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Manoella • um ano atrás
socorro to infartando com esse fim
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Luara Real • 2 anos atrás
eu não acredito que tá na top fictions, MUITO MERECIDO! fazia
muuuuuuuuuito tempo que eu não via essa fic, li até onde se
encontrava links :( sdds
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Gabriela A. ϟ • 2 anos atrás
Vai pra minha listinha de melhores fics lidas! hahaha sério.
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Keicy Mayalle • 2 anos atrás
Genteeeee eu achei esse link http://coisadejones.webs.com/f...
Eu até começei a ler a continuação ano passado mas por falta de
tempo não terminei , só que tem um problema o site não carrega o link :
(
To mandando esse site pra ver se vcs conseguem pq talvez pode ser
só comigo. eu achei o email da autora no link aqui da fic e mandei um
pra ela espero que ela ainda use e me responda, se eu achar eu
mando pra vcs ! **
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PamyP • 2 anos atrás
Caramba! Adorei muito! Esperando a parte 2!
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Lucia • 2 anos atrás
preciso da parte 2!!! pf alguem posta um link!!
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Lia • 2 anos atrás
GENTE NAO ACHO A 2 DE JEITO NENHUMMMMMM , POR FAVO
MANDEM UM LINK VALIDO
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Maahmina > Lia • 2 anos atrás
Eu tbm to na mesma situação, pelo jeito a autora "abandonou"
a continuação aqui no FFOBS, mas continuou em outro site, só
que esse outro site deu pau. Tbm não consigo nenhum link
valido e to morrendo pra ler a continuação, vou continuar
caçando, caso eu ache algo eu posto aqui, mas ta difícil!
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Leticia_Sparks • 2 anos atrás
Perfeirta!
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Valquiria Strutz • 2 anos atrás
uau eu realmente amei a fic, ela é muito boa.
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Eu amo o Tom • 2 anos atrás
Ahhh In love cm a fic >< amei amei amei
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belbo • 2 anos atrás
to procurando há meses a parte 2 e nao acho!! só tem links que dão
em not found :((
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Mimanda_rav • 2 anos atrás
Povo... Cade o 2????? Surtei agra...
Q isso... Tomara q o filho seja do Philip kkkkkkk
ahhhhh... Continuacao cade vc sua lindo?????
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Giuiara • 2 anos atrás
Quero ler a continuação , onde posso encontrar?
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Sunny • 2 anos atrás
Essa fic sempre vai ser uma das minhas favoritas <3
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le†icia • 2 anos atrás
muito perfeita! amei! li tudo em uma madrudaga, eu procurei no google
a continuação mas só achei o tumblr dela
(http://fazendajones.tumblr.com) e lá tem o twitter dela e pelo twitter eu
achei o favstar dela (favstar.fm/users/fazendajones) que tem os links
da fazenda jones 2 mas todos os links dão not found :( se alguém
souber aonde da pra ler me mande o link por favor
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belbo > le†icia • 2 anos atrás
leticia, se voce conseguir, posta aqui o link :// também nao acho
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Lauraayumi • 2 anos atrás
http://www.fanficobsession.com.br/fictions/f/fazendajones.html 62/63
11/04/2015 ..:: Fazenda Jones por Samantha Foster ::..
Lauraayumi • 2 anos atrás
woooooow! perfeita! alguém pode me passar o blog da autora? quero
ver a continuação! *o* amei a fic!
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DIVANDO . • 2 anos atrás
http://www.fanficobsession.com.br/fictions/f/fazendajones.html 63/63