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Sheila Salim
A decodificação trata-se de fenômeno mediante o qual o código penal perde ou vê mitigada sua
função centralizadora das incriminações e, portanto, do sistema penal, por meio da promulgação de
leis penais que lhe são complementares.
1. a primeira função que sempre atribuiu-se aos códigos é cconsequente à sua vocação inata para
instituir princípios gerais.
2. a segunda função dos códigos é referente a certeza e estabilidade jurídica, relativa, enquanto tem
por finalidade concretizar a reductio ad unum no universo das incriminações.
3. Finalmente, além de suas funções tecnicas, o código absorve uma função cultural e político-
ideológica, refletindo os valores políticos, econômicos e ético-sociais dominantes em dada
sociedade, num determinado período histórico, bem como de assegurar e garantir escolhas político-
ideológicas avalizadas pela Constituição da República.
A constante promulgação de leis penais em nosso país, que “deveriam” ser colocadas para satisfazer
às novas exigências de tutela, toma vulto avassalador e tem apresentado como características:
• ausência de critérios para a criminalização com ineficiente técnica de legiferação penal e
correlativo “desperdício de figuras delituosas”, implicando ulterior necessidade – nem
sempre possível e, em regra não realizada – de uma revisão com fins à descriminalização, ou
a uma correção para adequá-las à Constituição, já que não dispomos de uma Corte
Constitucional, que possa realizar rígido controle de constitucionalidade das leis.
• Exagerado e indiscriminado uso simbólico do instrumento penal;
• derrogação à tabua de princípios contidos na “parte geral” do código penal, compreendidos
na expressão, como já acentuado, também os princípios e normas constitucionais.
• Tangível violação das garantias penais e processuais inscritas na Constituições da República.
Não raras vezes, a tal fim, desconhecem-se as reais necessidades de tutela penal como extrema
ratio, para adotar movimentos político-criminais não compatíveis com o Estado Democrático- social
de Direito (laico-pluralista), como o movimento Law e Order.
Até hoje é perceptível a ausência de política criminal tendente a diminuir a dilatação da legislação
complementar.
Por isso, é equivoco pensar que uma provável reforma penal em nosso sistema possa cingir-se, tão
somente, a uma atualização histórica, ético-social, das normas contidas no código penal.
Mesmo se muitos vêem com ceticismo a idéia do retorno ao código como tábua de princípios, com
papel central e com tendência centralizadora do sistema penal, as diversas posições doutrinárias e as
orientações de reforma penal na Itália demonstram ser ainda possível aos códigos realizarem tal
tarefa, sem desconhecer, no entanto, que a peculiaridade de certas matérias impõe tratamento
diferenciado na legislação extra codicem.
Por isso mesmo, registre-se, não se pode acantonar a ideia de que o código seja o centro do sistema
penal, exercendo, como tal, suas reais funções, como se propõe no SCHEMA PAGLIARO, embora
se reconheça a necessidade do binário código-legislação extra codicem.
O mencionado reequilibrio entre código e legislação extra codicem, como enunciado, impõe-se com
as seguintes finalidades:
Para que o sistema penal seja efetivamente dotado de capacidade persuasiva, realizando sua tareja
de prevenção geral (positiva e negativa) e especial;