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Baptista Bastos
A separação a que procedeu, entre os portugueses, foi-lhe fatal, desde o princípio. Ficou
famosa a frase “Deixem-nos trabalhar!”, e a foto dele e dos seus colaboradores, em
mangas de camisa, muito atarefados e zelosos. Era primeiro-ministro e logo nos
apercebemos de que, do país e de quem cá vive, ele pouco entendia. No entanto, possuía
uma imagem de gravidade até às orelhas, um penteado à Cary Grant e umas camisas
muito brunidas; tudo isso contava, numa terra onde o respeitinho é muito bonito.
Agradou logo àqueles que, moldados pelo salazarismo, constituíam a zona mais
cinzenta e reaccionária de entre nós. Portugal ainda vivia nas sombras de um passado
nefasto e entre os medos uma revolução interrompida. A Igreja e os senhores da finança
desempenharam, aqui, um papel crucial. A satisfação dessa parte da sociedade rejubilou,
quando ele, numa atitude sórdida, premiou, com reformas opíparas, antigos agentes da
PIDE, e recusou uma pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, um dos impolutos
capitães de Abril.
É preciso relembrar que este homem, tacanho por natureza e educação, nunca tomou a
mais leve atitude contra o fascismo, é o produto típico de um prazo e de uma época
ainda não dissolvidos por completo, e que demonstra extrema dificuldade em adaptar-se
aos tempos outros. Pessoalmente, chego a ter compaixão por esta desgraça ambulante,
que nunca sabe onde meter as mãos, que nunca está à vontade em nenhuma parte, e que
parece não entender coisa alguma.
Mas não pode ficar isento de culpas. A natureza profunda das suas acções a
comportamentos não se associa às características da democracia. A guerrilha
estabelecida contra José Sócrates é um dos episódios mais desacreditantes do seu
mandato; e a utilização do verbo “indicar”, em vez do “indigitar”, quando aludiu a
António Costa, para primeiro-ministro, fornecem o retrato moral do indivíduo e a
dificuldade ostentada para aceitar o inevitável.
O rol das indigências do dr. Cavaco é enorme e nada nele serve de exemplo positivo.
Serviu quem muito bem entendeu, e nunca foi o Presidente de todos os portugueses.
Pelo contrário: fraccionou a sociedade portuguesa, e não teve uma palavra de desagrado
quando assistiu à debandada de jovens portugueses para o estrangeiro, resultado de uma
política velhaca que ele apoia com desfaçatez.