Em minhas primeiras impressões sobre a escola ressaltarei algumas
questões que me inquietaram a partir dessas observações. A falta de interesse, a forma como alguns colocam seus corpos, por um lado observei uma postura corporal simbolizando certo desdém e até agressividade. Por outro lado, muita apatia. O que me inquietou a respeito de como os estudantes se contrapõem à disciplina que os corpos identificam por parte da instituição escolar. Por mais que muitas alterações tenham sido operadas no seio escolar, a estrutura em si força o engessamento dos corpos e, de certa forma o distanciamento entre professores e estudantes. Os muros, as cores, as cadeiras separadas entre alunos e professor, as grades. Ainda que as relações venham sendo rearranjadas, a estrutura subsiste. Separamos pessoas entre as que possuem conhecimento e as que não possuem no espaço escolar e, depois não gostamos quando os alunos se sentem inseguros ou desmotivados em participar das aulas, expor suas dúvidas e/ou críticas. (Exemplo do que vivi no congresso de monitoria). Minhas reflexões estão baseadas no conceito de panóptico, que diz respeito à como a disciplina institucional conforma a disposição geográfica a fim de gerar a docilização dos corpos. Minha questão é: Ainda que muitas relações venham sendo transformadas no seio escolar, o poder expresso na disposição geográfica dos elementos espaciais ainda são percebidos em sua latente tentativa de submeter os jovens e, separar os sujeitos entre os que possuem e os que não possuem conhecimento. Essa identificação por parte dos estudantes gera nos mesmos vontade de se contrapor à estes sistemas através da apatia e/ou da “falta de atenção”, dispersão etc? A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme a regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade de submetê-los a uma perpétua pirâmide de olhares. É assim que no exército aparecem sistemas de graus que vão, sem interrupção, do general chefe até o ínfimo soldado, como também os sistemas de inspeção, revistas, paradas, desfiles, etc., que permitem que cada indivíduo seja observado permanentemente (FOUCAULT, 2010, p. 106) “1 Cerca: um local protegido e fechado em si mesmo, como o aprisionamento de vagabundos e miseráveis. O autor cita os Colégios, que surgem inspirados no padrão dos conventos, da mesma forma que o internato mostra-se como o regime de educação mais próximo do ideal (FOUCAULT, 2009b, p. 137). A escola, para proteger seu espaço físico, isola-se do exterior, constrói muros altos, delimitando seu local para educadores e educandos como mostra o filme francês “Entre os Muros da Escola”. 2 Quadriculamento: visa identificar cada indivíduo no espaço de clausura é fundamental, situá-lo e não permitir distribuições por grupos, pois “o espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas quanto corpos ou elementos que há a repartir” (FOUCAULT, 2009b, p. 138). São proibidas circulações desordenadas, pois é necessário saber quem está presente e quem está ausente, de forma que seja possível encontrá-los, isto é, um controle e dominação permanente são exercidos sobre os corpos.”
Bibliografia:
O PODER DISCIPLINAR UMA LEITURA EM VIGIAR E PUNIR Noelma Cavalcante de
Sousa∗ Antonio Basílio Novaes Thomaz de Meneses∗∗
FOUCALT, M. Vigiar e punir. Editora Vozes. Petrópolis. 2010.
COLEÇÃO INSURGÊNCIAS DECOLONIAIS, PSICOLOGIA E OS POVOS TRADICIONAIS José Maria Nogueira Neto (Org.) Outras Perspectivas Educacionais e Saberes De(s) Coloniais