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ILUMINAGOES ‘A minha sagera € td desdenhada como 0 ‘aos. © que 0 me vazio em comparagio com ‘asiombro que vos espera? Rimbaud, Ves 7 (© verdadeiro «problema das luminagdes nao € evidente- ‘mente cronolégico, mas semfntico: de que falam estes textos| ‘enigmnaticos? E que querem eles dizer? Sendo especialmente abundante a literatura sobre Rimbaud, nao podemos deixar ‘de a consultar para encontrar uma resposta; e, se bem que a ‘maior parte dos autores se tenha interessado mais pelas via- gens a Inglaterra ou a0 Harar, pelas experiéncias homosse- uais ou de droga do que pelo sentido deste textos, existe todavia um bom nimero de estudos consagrados & interpre= tagho das Jhominagies. Ao los, tenho no entanto a impressio ‘de que, de um modo geral, ficam aquém, ou imediatamente além, do problema real que este conjunto de «poemas em poste coloca, Para stuar a minha propria reagao perante © texto, devo resumir rapidamente as diferentes atitudes que cle suscitou no pasado e explicar por que razio me deixam insatsfeito, 200 | ‘os cENeKos no piscuRso CChamarei critica eohemerista a uma primeira forma de rreagio a0 texto de Rimbaud, que, na minha opinid, no se pode qualificar verdadeiramente como «interpretacio», Evhemere, autor da Antiguidade, lia Homero como uma {onte de ensinamento sobre as pessoas ¢ os higares descritos zna epopeia, como uma narrativa veridica (e no imaginacia); a leitura evhemerista atravessa instantaneamente 0 texto, & procura de indicios sobre um mundo real. Por muito sur preenclente que se, 0 cexto de Rimbaud, que parece muitas vezes tio pouco referencial na sua prépria intencio, foi lide "muitas vezes como uma fonte de informacio sobre a vida do poeta. A coisa & tanto mais arriscada quanto mais essa vida 6 ainda por cima mal conhecida e os textos poéticos sho por vezes a nica fonte de que se dispoe: a biografia € construlda 2 partir da obra, e, contudo, parece explicarse a obra com vida Que se julgue com o exemplo de um dos textos das Ihoninacies mais fices de compreender, Ouorers. Aexpresso ‘esta quente manbi de fevereiro» e a indicagio que o lugar de agio no €0 Sul levaram Antoine Adam a tecero seguinte comentério: «estamos mum pals do Norte, em fevereiro, ¢ a temperatura é generosa. Ora, de 1872 a 1878, a temperatura {i especialmente amena em 1878 (média em Oslo: 0,7 graus). Falase de uma viagem de Rimbaud a Hamburgo na prima: vera de 1878, e essa vaga indicacio, ligeiramente modificada, poderia retacionar-se com o poema Ouoriers. isto, Chadwick acreseenta que poema éde fevereiro de 1873, porque o Ties ‘menciona as inundagdes acontecidas em Londres em janeiro: ora, 0 texto também fala de dgua -deixada pela imundagio do més precedente». Os eritcos provam uma engenhosi- dade digna de Sherlock Holmes, a0 consultarem 0 ealen« rio dos acontecimentos meteorolégicos durante uma dezena de anos: e todavia no tém condigSes para autenticar as suas umanagoes | 267 hipoteses, io pobre é a informacio inicial (mesmo quando sligeiramente modifcadae) Mas o problema nao é evidentemente este, Mesmo que as indicagbes do texto estivessem de acordo com a hist6ria da ‘meteorologia, a passagem de uma a outra seria das mais peri- goss, porque implica a anulagio da dstingio mais elemen- (ar, entre historia e fiegdo e entre documentos e poesia. E se [Rimbaud nfo falasse de uma inundacio real, de um inverno {quente que realmente sucedeu? O facto de podermos colocar cesta questio ea ela respondermos positvamente torna toda a cerudicio de Adam ou Cradwick néo pertinente. Bastava, para ‘o saber lero que o proprio Rimbaud escreveu: «a tua memé- ria es teus sentidos apenas serdo o alimento do teu impulso| criador~ Jeunesse IV), Suponhamos, pois, que 0 texto descreve a vida de Rimbaud. © motivo por que hesito em chamar interpretacio a semelhante constatacio € porque ela €, com rigor, uma con- ‘wibuigio para 0 conhecimento da biografia do poeta: e nao & nada que se pareca com uma explicagio do seu texto. O wsat- nico doutor» de Vagabund visa talver Verlaine, como repe- tiram os melhores comentadores que sucederam a0 préprio| ‘eraine, ea gua sarmpla como um trago de mar» em Ponts € talvez numa descricio do Tamisa, como por exemplo afirma ‘Suzanne Bernard; mas nlo se explicou 0 sentido do texto a0 identificar a origem dos seus elementos. O sentido de cada palavra e de cada frase 6 se determina em relacio as outras palavras, as outras frases do mesmo texto; sinto-me confuso por ter de enunciar tal evidéncia, mas ela parece, contudo, rio existir para os comentadores de Rimbaud. O mesmo acontece quando S. Bernard observa, a propésito de Royaut, ‘outro texto particularmente claro das Musinagdes: 0 texto, no estado atual dos nossos conhecimentos, permanece obs- ‘cutos, Asa observagio parece-me inteiramente marginal 20 we | oscnEn0s no nIscuRSO problema nena descobertafrtita,nenbuma cave bioe {vile tornar texto mais claro (lis, le mo precisa dso, Porque opretexto que almentou a «meméria € os sentidos ho contribu para oextabelecento do sentido, ‘A critica etiolgica representa uma segunda attude perante 0 texto de Rimbaud. Nio se pode ainda neste aso falar verdadeiramente de interpretao: mais do que pro- curaro sentido do text, pergumtamse arabes que leva: ‘am Rimbaud a exprimirse daquele modo. A transparéncn referencia d haar a uma transparénciaovientada para o autor, de que o texto no & 3 bem dizer a expresio, mas de algum modo o moma. Aexplcagio mais corrente€: Rimbaud excreveextesextosincoerentes € porque se enrega as drogas; Rimbaud escreve sob influgncia do haxixe.£ ver dade que alguns poemas como por exemplo Matinde divrse podem dara impresio de sr a descrigto de uma experien- {inde droga, A coisa no é evdente, mas, mesmo que o foe, ‘io acescentaria nada compreensio do testo, Dizeeninos {qe Rimbaud tomava haxixe quando escrevia exe on aquele Poems é uma informa to povco pertinent para iner- Dretago deste texto como a de que esreva na banker, fu com ma camina corde-ose, ou com a jnela aber [No méximo, contribu para uma fisilogia da criagio lite- ritia, A questio que se deve levantar a ler Matindedorese ¢ outtos textos compariveis mio € s€ 0 autor extra 08 n80 “rogado, nas sim: como lr este texto, se do entncinemos 8 procura do sentido? Como reagir perane esta incoerénia ot esta aparente incoeréncia? Surgem igualmente da crca eologica os comentérios aque dizemz se este texto estranho € porque desreve um espe- téoulo de pera ov uns quadro, ona grav, on, como diz Delehayespropésto de lew, Rimbaud ext deitado na era, ‘A beira de um lage oa as plants de pero; Thibaudet, por sLUMINAGOES 1 260 seu lado, imagina em Mystique um caminhante cansado, dei- tado no cho, a olhar para o céu com a cabeca caida, Ainda aqui, a erica contenta-se em identificar (de modo quantas vvezes problematico) a experiéncia que teria levado Rimbaud a excrever este texto nio se pergunta sobre o que ela signi= fica. Semelhante afirmacio pode todavia transformar-se no {quadro da interpretacio, desde que nao se fale do quadro que ‘Rimbaud teria visto, mas daquele que o seu texto pinta, desde aque se fale do efeto (¢ ndo do pretexto) pictural ‘As duas outrasatitudes criticas que eu queria aqui distin- gguirrelevam da interpretagio: consistem em explicar 0 sen: tido ou a organizacdo do texto, Mas fazern-no de uma forma, que parece climinar 0 que as Muminaréestém de mais carac Feristco © portanto esquecem a parte mais importante da sta mensagem. O caso é relativamente simples com a ertica esotérica, Como todo 0 texto obscuro, as Hluminacdestveram rnumerosas interpretagGes esotéicas, que tornam tudo claro: ‘cada elemento do texto, ou pelo menos cada elemento proble- mitico, & substituido por outro, resutante de uma qualquer variante do simbolismo universal, da psicandlise& alquimia Oestranho sfilho do Sole de Vagabunds seria a unidade, ov 0 amor, a pura substincia contida no metal, Estas interpreta- ‘Ges nunca podem ser confirmadas nem infirmadas, dai o seu ‘escasso interese; a isto erescenta-se o facto de traduzirem 0 texto pedago por pedago, sem tomar em consideragio a com= posicio, eo resultado final, perfeitamente claro, nao permite cexplicar a obscuridade inicial: porque motivo Rimbaud se dlivertiria a complicar pensamentos pouco complicados? ‘A quarta e siltima atitude perante o texto de Rimbaud -merecia o nome de critica paradigmdtica. Parte-se aqui do pos- tulado, explicto ou implicit de que a continuidade € des- provida de significagio; de que a tarefa do critica consiste fem aproximar elementos do texto mais ou menos afastados|

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