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CONSTITUIÇÃO DE 1838
- A Lei de 29 de outubro de 1840 restitui o contenciso aos Conselhos de Distrito. , mas não há um
órgão superior para julgar os recursos. Isso porque a lei de 1840 foi feita com base na Lei de 1836 que atribuiu
o contencioso aos tribunais, os quais eram organizados hierarquicamento e tinha o STJ acima de todos para
julgar os recursos.
- código Adm. 1842 - restitui o contencioso a administração publica conselho de distrito e ao Conselho
de Estado a instancia recursal. Costa Cabral, autor do Cod. 1842, idealizou o Conselho de Estado como órgão
diferente do previsto na Const de 1822 e 1826 (mera consulta), agora ele tinha natureza de órgão recursal
como existia na franca e no decreto de mousinho da Silveira.
- houve embate de duas opiniões (nota 44) “os que entendiam que se devia aproveitar o órgão do
Conselho de Estado previsto na Carta Constitucional (artigo107.º), acrescentando-lhe as tarefas de órgão do
contencioso administrativo, e aqueles que entendiam não ser aquele órgão adequado a tais tarefas, devendo
criar-se, ao seu lado, um verdadeiro Supremo Tribunal Administrativo.”
“Os que defendiam esta segunda opinião eram de parecer que a competência contenciosa iria
desvirtuar o órgão constitucional Conselho de Estado, afastando-o da tradição monárquica
portuguesa, de órgão de consulta política. Além disso, entendiam que, sendo órgão consultivo do
monarca e seu Governo em matéria contenciosa administrativa, não poderia contrabalançar, como
seria desejável, a acção da Administração. Finalmente, argumentavam que o Conselho de Estado
constitucionalmente previsto não podia ter competências administrativas, porquanto fora concebido
somente como órgão de consulta política45. Propunham, por isso, a criação de um outro órgão, um
Supremo Tribunal Administrativo.
Os defensores da tese contrária defendiam que a Carta Constitucional não proibia a
atribuição ao Conselho de Estado de competência em matéria de contencioso administrativo, tanto
mais que o artigo 110.º do diploma fundamental expressamente consagrava deverem os conselheiros
ser «ouvidos em todos os negócios graves, e medidas gerais de pública administração».
Acrescentavam que, se se criasse um tribunal ao lado do Conselho de Estado, como órgão de cúpula
do contencioso da Administração, seria o mesmo que criar um «5.º poder político» dentro do Estado,
desequilibrando, consequentemente, os poderes constitucionalmente consagrados. Em último lugar,
avançavam que a solução do tribunal iria aumentar as despesas públicas, seria uma medida «anti-
económica», e, havendo na estrutura estadual um órgão, o Conselho de Estado, capaz de
empreender a tarefa de julgamento do contencioso administrativo, perdia razão de ser a criação de
um tribunal46.”
CONSTITUIÇÃO DE 1911
A partir daqui, a proposta segue um périplo longo, por várias sessões parlamentares: as discussões
são muitas – o consenso obtém-se somente em redor do regresso à «tradição municipalista», na
defesa da descentralização administrativa – e as alterações à proposta também. Na Assembleia
Nacional Constituinte, José Jacinto Nunes advoga a consagração constitucional da atribuição aos
tribunais comuns do contencioso administrativo 94 Mas a Constituição, aprovada em sessão de 21
de Agosto de 1911, limita-se a falar em «tribunais do contencioso» (artigo 66.º, 2.º), fórmula
ambígua que permite leituras contraditórias 95 . Por sua vez, o artigo 85.º da Constituição determina
que o primeiro Congresso da República elabore o Código Administrativo, entre outras leis. Porém,
só em 6 de Junho de 1913 é aprovado o projecto pela Câmara dos Deputados, e nele não obteve
vencimento e extinção do Supremo Tribunal Administrativo e a criação da Secção do Contencioso
Administrativo no âmbito do Supremo Tribunal de Justiça .
É certo que o projecto do Código Administrativo apresentado à Assembleia Nacional Constituinte
em Agosto de 1911 determinava que «as decisões dos tribunais administrativos passadas em
julgado têm força de sentença em todo o território da República» (artigo 225.º) e certo é também
que, na altura, a discussão residiu somente em saber se se manteria o Supremo Tribunal
Administrativo ou se se deveria criar como instância superior do contencioso administrativo uma
secção própria no Supremo Tribunal de Justiça. Por outro lado, o projecto aprovado pela Câmara
dos Deputados e enviado para o Senado mantinha o Supremo Tribunal Administrativo e continha,
por iniciativa do deputado Barbosa de Magalhães, uma norma com o seguinte teor: «Desde que
começar a vigorar este Código, nenhuma decisão do Supremo Tribunal Administrativo dependerá
de homologação do Governo». Mas, na prática, o Supremo Tribunal Administrativo continuava
destituído de competência própria. É NECESSÁRIA A HOMOLOGAÇAO DAS DECISOES DO STA
PELO GOVERNO
osé Alberto dos Reis (Direito Político. Poderes do Estado, Coimbra, 1910, pp.784-785.) advoga também
a atribuição do contencioso da administração ao poder judicial, embora não especifique se tal
traduz a criação de tribunais especiais. «A doutrina inclina-se hoje, acentuadamente, no sentido de
que os órgãos judiciários é que devem desempenhar a função de reintegração dos direitos violados
por actos administrativos. E, com efeito, essa atribuição entra na esfera legítima do poder judicial.
Desde que se trate de interpretação e aplicação de leis e não da simples apreciação de interesses,
só o poder judicial tem competência para decidir. O contencioso administrativo implica um
verdadeiro julgamento, precisamente idêntico ao que implica o contencioso civil, comercial,
fiscal…»108.
- Decreto 9340 de 7 janeiro de 1924 - É neste ambiente teórico e com uma abertura política
favorável à atribuição ao poder judicial do contencioso administrativo, patente desde a proclamação
da República, que, em 1924, pelo Decreto n.º 9340, de 7de Janeiro, são extintas as auditorias
administrativas, criadas pelo Código de 1896, nesta parte ainda em vigor, bem como o Supremo
Tribunal Administrativo112. As competências de julgamento destes órgãos passam para os tribunais
comuns. A justificação para esta transferência de competências não é, porém, prioritariamente de
natureza teórica e sim financeira. O «desejo de obter grande economia para o Estado» é a causa
próxima da reforma aprovada pelo Decreto n.º 9340, de 7 de Janeiro de 1924113.
Razões de índole financeira determinam, assim, a transferência do contencioso administrativo dos
auditores administrativos para os juízes de direito (artigo1.º do Decreto n.º9340) e do Supremo
Tribunal Administrativo para as Relações, comexcepção dos recursos dos actos do Governo e dos
seus membros, nos termos do artigo89.º – três, da Lei de 9 de Setembro de 1908, e do julgamento
dos conflitos de jurisdição, que ficam a pertencer ao Supremo Tribunal de Justiça (artigo4.º do
Decreto n.º9340).
o Decreto n.º11317, de 7 de Dezembro de 1925, a fim de pôr cobro a uma prática, antes frequente, de recusa
de homologação das resoluções do Supremo Tribunal Administrativo, ampliou a competência própria deste
tribunal. A partir de então, só para o julgamento dos «recursos interpostos de actos ou decisões do Poder
Executivo» se exige homologação governamental (artigo8.º). E o diploma prevê, pela primeira vez, a figura
da homologação tácita.
Quando, em 28 de Maio de 1926, se dá o golpe militar que pôs termo à primeira República, logo se
pretendeu restabelecer o Decreto n.º9340, de 7 de Janeiro de 1924, o que veio a acontecer cerca
de três meses depois.
As decisões dos tribunais comuns nem sempre eram bem compreendidas quando se traduziam em
julgamentos contrários ao anteriormente decidido pela Administração. Daí que o Decreto n.º 16455, de 5 de
Fevereiro de 1929, tenha determinado que «as decisões dos tribunais proferidas sobre recursos interpostos
de actos do Poder Executivo» sejam «executadas por despacho do Conselho de Ministros » (artigo 1.º).
Embora se não trate de uma homologação, o que claramente poria em causa o princípio da separação de
poderes, o regime legalmente imposto, condicionando a execução das decisões do poder judicial, e
concretamente do Supremo Tribunal de Justiça, à acção do Conselho de Ministros, desvirtua por completo
o sistema judiciário, criando-lhe uma entorse dificilmente conciliável com a independência e a autoridade
do poder judicial no âmbito de um Estado de Direito.
Com o Decreto n.º 18017, de 28 de Fevereiro de 1930, abre-se um novo e curto período da
organização da justiça administrativa – dura pouco mais de três anos. A justiça administrativa fica
entregue unicamente a três auditorias administrativas, na sede de cada um dos distritos judiciais
(artigo 16.º) e ao Supremo Conselho de Administração Pública, criado junto da Presidência do
Ministério (artigo 8.º). Ao mesmo tempo, para resolver os conflitos de jurisdição entre autoridades
administrativas e judiciais, prevê-se um órgão inominado, de tipo arbitral, que lembra o Tribunal de
Conflitos francês (artigo 8.º, § 2.º), porquanto é formado pelos juízes do Supremo Conselho – cinco
juízes – e por cinco juízes do Supremo Tribunal de Justiça, sorteados para cada processo.
Mas o Decreto n.º19243 não se limita a aprovar os regulamentos. Aproveita para introduzir
alterações naquele diploma, concretamente no que se refere à força executória das decisões do
contencioso administrativo – «os acórdãos em que for, apenas, recorrido qualquer dos Ministros só
se tornam executórios pela sua publicação no Diário do Governo, cabendo ao Ministro competente
promover a sua publicação, oficiosamente ou a requerimento dos interessados» (artigo50.º).
Sempre que a decisão envolva uma prestação de facto por parte da administração, a «execução
será levada a efeito pelo Governo pela forma menos prejudicial à continuação da função pública»
(§1.º); se a execução for por quantia certa, «a sua execução só se levará a efeito quando o Governo,
em Conselho de Ministros, julgar conveniente a sua liquidação» (§2.º). Finalmente, o diploma
estabelece a presunção de que a inexecução das decisões por parte do Governo seja sempre
determinada por impossibilidade (§3.º).
CONSTITUIÇÃO DE 1933
No ano em que é aprovada e entra em vigor a Constituição de 1933, dá-se início a um novo período
de evolução da organização da justiça administrativa em Portugal, através do Decreto para valer
como Lei n.º23185, de 30 de Outubro de 1933, período que se prolonga até às reformas legislativas
que se seguiram à Revolução de 25 de Abril de 1974.
Com efeito, ao contrário do que acontecia com o Supremo Conselho, o Supremo Tribunal
Administrativo é um órgão sem competência consultiva. Todo ele é delineado como um verdadeiro
tribunal, dotado de competência própria, sem que a execução das suas decisões dependa de
homologação ou de qualquer acto ministerial de publicação.
Efectivamente, da autoria de Marcello Caetano, as leis sobre a organização da justiça
administrativa deste período reflectem o seu pensamento. Ora, para este autor, os tribunais
administrativos «participam do exercício da função administrativa como órgãos de revisão da
legalidade dos actos administrativos e da declaração da nulidade dos actos ilegais. Esses tribunais
são órgãos administrativos de actuação jurisdicionalizada, por via de regra sem poder próprio de
execução das suas sentenças, que está reservado aos órgãos da administração activa»165. Por
isso a apreciação da legalidade dos actos administrativos aparece como «uma fiscalização interna
que o Poder administrativo admite sem quebra da sua autoridade», porque «se os actos
administrativos fossem susceptíveis de discussão nos tribunais judiciais, teríamos o Poder Judicial
a intervir na Administração»166. Daí que, para si, os tribunais administrativos e, logo, o Supremo
Tribunal Administrativo, sejam verdadeiros tribunais mas já não órgãos de soberania, como os
tribunais comuns167.
A concepção de Marcello Caetano sofreu, porém, a contestação de Carlos Moreira, Afonso Queiró
e Rui Machete, para quem os tribunais administrativos e, logo, o Supremo Tribunal Administrativo,
seriam tribunais especiais e, simultaneamente, no âmbito da Constituição de 1933, órgãos de
soberania.
Discussao sobre a subjetividade e objetividade dos recursos de anulaçao - Pela via do regime
jurídico da execução das sentenças, Diogo Freitas do Amaral procura introduzir, ainda nos anos
sessenta, momentos subjectivos no sistema de justiça administrativa. Em seu entender, a justiça
administrativa não pode «satisfazer-se com a mera anulação ou declaração de nulidade, que são
puras abstracções jurídicas, antes tem de preocupar-se com a efectiva reintegração da ordem
jurídica violada»172, e esta exige a reconstrução de uma situação hipotética: aquela em que o
recorrente se encontraria se o acto ilegal, anulado pelo tribunal, não tivesse sido praticado 173.
- Inicio da discussao sobre o Decreto de 1974 sobre execucao das decisoes da just administrativa
- A proposta de Diogo Freitas do Amaral continha, porém, elementos de subversão do sistema
jurídico-administrativo em vigor e não foi, na época, adoptada. Ela reclamava, por um lado, que se
não considerasse a lei ao exclusivo serviço da realização dos fins do Estado. Uma vez em vigor,
exigia que a mesma fosse pensada como estando também ao serviço dos particulares passíveis
de serem lesados por actos administrativos ilegais, o que demandava uma conexão íntima entre a
ilegalidade cometida pela Administração e a ofensa das posições jurídico-subjectivas dos
particulares. Por outro lado, obrigava o Governo a ceder naquela que era a garantia última do
sistema jurídico-político, autoritário e antiparlamentar: o regime de execução das sentenças dos
tribunais administrativos. Conservado na sombra, este regime deixava no Governo a última palavra
sobre a execução das sentenças – a forma que pode revestir, caso envolva prestação de facto (§3.º
do artigo77.º do Regulamento do Supremo Tribunal Administrativo), o momento em que deve ter
lugar, sendo por quantia certa (§4.º do artigo77.º do mesmo Regulamento) e, mesmo, a não
execução, que se presumia ser por impossibilidade (§5.º do artigo77.º do citado Regulamento).
CONSTITUIÇÃO DE 1976
1
PORTUGAL. Ministério do Interior. Direcção Geral de Administração Política e Civil. Decreto n. 11.250, de 19 de novembro de
1925. Diário do Govêrno, n. 250, série I. Disponível em: <https://dre.pt/application/file/203730>. Acesso em: 04 agosto 2018.