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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

RESUMO TEÓRICO

Para a Disciplina

FÍSICA EXPERIMENTAL B

Sergio de Aguiar Monsanto

2014
FÍSICA EXPERIMENTAL B

SUMÁRIO
Capítulo Pág
Capítulo 1: Apresentação 01
1.1 – Primeiras Palavras 01
1.2 – Problematizando o Tema 01
Capítulo 2: Técnicas de Laboratório 03
2.1 – Definições Importantes 03
2.2 – Medições de Grandezas Físicas e Avaliação de Incertezas Experimentais 04
2.3 – Tipos de Erro 04
2.4 – Tipos de Medições 06
2.4.1 – Medição Direta 06
2.4.2 – Medição Indireta 07
2.5 – Resultado e Incerteza de uma Medição 07
2.6 – Distribuição Gaussiana 09
2.7 – Avaliação do Tipo A 10
2.7.1 – Média Aritmética 10
2.7.2 – Incerteza Padrão S da Medição 11
2.7.3 – Avaliação do Tipo B 11
2.7.4 – Incerteza Relativa ou Percentual 13
2.8 – Algarismos Significativos 14
2.9 – Arredondamento de Números 15
2.10 – Regra da Propagação da Incerteza 16
2.11 – Comparação entre resultados de medições 18
2.12 – Resumo das Fórmulas 19
2.13 – Resumo de Algumas Definições Básicas 19
2.14 – Algumas Regras Práticas 20
Capítulo 3: Gráficos 21
3.1 – Regras Básicas Para a Construção de Gráficos 21
3.2 – Algumas Definições Utilizadas em Gráficos 22
3.3 – Tipos de Gráficos 23
3.3.1 – Gráfico Linear: Determinação das Escalas 23
3.3.2 ─ Gráfico Monolog ou Dilog 23
3.3.3 – Alguns Tipos de Funções de Ajuste 24
3.3.4 – Função Linear 24
3.3.5 – Critérios Para Traçar a Reta de Ajuste Mais Provável 24
3.3.6 ─ Exemplo de Gráfico Linear 25
3.3. 7 – Funções Exponenciais – Base Neperiana 28
3.3.8 ─ Exemplo 1 de Gráfico Monolog 29
3.3.9 ─ Exemplo 2 de Gráfico Monolog 32
3.3.10 – Funções Exponenciais – Base Decimal 34
3.3.11 ─ Exemplo de Gráfico Dilog 34
Capítulo 4 – Método dos Mínimos Quadrados 36
Capítulo 5 – Conceitos Básicos de Eletricidade 38
5. 1 – Simbologia 38
5.2 – Carga Elétrica 38
5.3 – Lei de Coulomb 38
5.4 – Campo Elétrico 40
5.5 – Diferença de Potencial 41
5.6 – Intensidade e Densidade de Corrente Elétrica 42
5.7 – Corrente Elétrica 42
5.8 – Lei de Ohm 43
5.9 – Lei de Joule 44
5.10 – Potência Elétrica 45
5.11 – Energia Elétrica 45
Capítulo 6 – Formas de Ondas 46
Capítulo 7 – Corrente Alternada 47
7.1 – Sinais Senoidais 47
7.2 – Fase 48
7.3 – Diferença de Fase 48
7.4 – Valor Eficaz ou Valor RMS 49
7.5 – A linha de Alimentação 50
Capítulo 8 – Componentes Básicos de um Circuito 52
8.1 – Circuito Elétrico Simples 53
8.2 – Fontes 53
8.2.1 – Fontes DC 54
8.2.2 – Fontes AC 54
8.3 – Circuitos em Corrente Alternada Alimentados por Gerador de Sinais 55
8.4 – Medindo a Resistência Interna do Gerador de Sinais 55
8.5 – Resistor 56
8.6 – Código de Cores 58
8.7 – Reostatos ou Potenciômetros 58
8.8 – Leis de Kirchoff 59
8.9 – Associação de Resistores 59
8.9.1 – Associação de Resistores em Série 59
8.9.2 – Associação de Resistores em Paralelo 60
8.10 – Capacitor 61
8. 11 – Associação de Capacitores 61
8. 11.1 – Associação de Capacitores em Série 61
8. 11.2 – Associação de Capacitores em Paralelo 62
8.12 – Corrente no Capacitor 62
8.13 – Indutor 63
8.14 – Associação de Indutores 64
8.14.1 – Associação de Indutores em Série 64
8.14.2 – Associação de Indutores em Paralelo 64
8.15 – Auto - Indução 64
8.16 –Indutância Mútua 64
Capítulo 9 – Máxima Transferência de Potência 66
Capítulo 10 – Circuitos Transientes 67
10.1 – Circuito RC – Processo de Carga 67
10.2 – Circuito RC – Processo de Descarga 69
10.3 – Circuito RL – Processo de Carga 71
10.4 – Circuito R L – Processo de Descarga 72
Capítulo 11 – Medidas Elétricas 74
11.1 – Amperímetro 74
11.2 – Voltímetro 75
11.3 – Ohmímetro 75
11.4 – Frequencímetro 75
11.5 – Protoboard – Caixa de Montagens dos Circuitos 76
Capítulo 12 – Circuitos RLC 77
12.1 – Circuitos LC e RLC Sem Fonte de Tensão 77
12.2 – Circuitos RLC em Tensão (e Corrente) Alternada 83
12.3 – Circuitos RLC em Série em Tensão (e Corrente) Alternada 83
12.4 – Um Circuito Resistivo 84
12.5 – Um Circuito Capacitivo 85
12.6 – Um Circuito Indutivo 87
Capítulo 13 – Solução de Circuitos RLC Utilizando Fasores (Números 88
Complexos)
13.1 – Números Complexos 88
13.2 – Fasores 89
13.3 – Solução de Circuitos RLC Utilizando Números Complexos 97
13.4 – Ressonância de um Circuito RLC em Série 99
13.5 – O Fator de Qualidade Q 0 100
13.6 – Ressonância de um Circuito RLC em Paralelo 103
13.7 – Filtros 105
13.7.1 – Função de Transferência e Transmitância 105
13.7.2 – Filtros RC 106
13.7.3 – Filtros RL 111
13.8 – Filtros Ressonantes 113
13.9 – Circuitos Diferenciadores e Integradores 114
13.9.1 – Circuitos RC 115
13.9.2 – Circuito RL 116
13.10 – Circuitos Reais 117
Capítulo 14 – Eletrônica de Semicondutores 118
14.1 – Tipos de Semicondutores 118
14.2 – Semicondutor Tipo n 118
14.3 – Semicondutor Tipo p 119
14.4 – Junções do Tipo pn 119
14.5 – Diodo de Junção pn 120
14.5.1 – Polarização Direta 120
14.5.2 – Polarização Inversa 120
14.5.3 – Curva Característica de um Diodo 121
14.6 – Diodo Zener 121
Capítulo 15 – Transformador 122
Capítulo 16 – Figuras de Lissajus 123
16.1 – Cálculo do Ângulo de Fase 125
17 – Formas de Ondas Complexas – Série de Fourier 126
ANEXO # 1 – Multímetro 128
AN.1.1 – Normas Para a Utilização do Multímetro 128
AN.1.2 – Medidas 128
AN.1.2.1 – Amperímetro 128
AN.1.2.2 – Voltímetro 128
AN.1.2.3 – Ohmímetro 129
ANEXO # 2 – Caixa de Montagens Experimentais 129
Referências Bibliográficas 130
1

CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO

1.1 – PRIMEIRAS PALAVRAS


Prezados alunos, a disciplina FÍSICA EXPERIMENTAL B se propõe apresentar
as diversas técnicas de obtenção de dados experimentais, os tipos de análise e
processamento destes dados que mais se adaptam a cada caso. O livro da
disciplina apresenta alguns tópicos da teoria da Física diretamente relacionados
com as práticas e é suficiente para a sua completa compreensão.
Estes passos iniciais em Física Experimental lhes fornecerão um conjunto de
conhecimentos e atitudes, de modo a formar um senso crítico, que lhes possibilitem
exercer sua profissão com autonomia e confiança.
No desempenho de sua vida profissional, é provável que necessitem utilizar
equipamentos mais modernos e sofisticados, que sejam relacionados com teorias
mais avançadas da Física, ou se utilizem de técnicas de análise mais complexas.
Tenho certeza que esta disciplina lhes permitirá assimilar as novas técnicas
experimentais e de análise bem como as teorias, com mais rapidez, confiança e
aproveitamento.

1.2 – PROBLEMATIZANDO O TEMA


Quando se objetiva a obtenção de dados experimentais, é importante ter
confiabilidade nos resultados numéricos, o que só será possível, com a aplicação de
métodos, técnicas, fundamentação teórica e um trabalho prático consistente.
A análise e o processamento destes dados, quando usados para se justificar
um conjunto de atitudes a serem aplicadas ao Meio Ambiente, para prevenir ou
corrigir os problemas, deve ser criteriosa e transmitir confiabilidade.
Serão tratados tópicos da física teórica que possibilitarão uma melhor
compreensão dessas técnicas experimentais de análise dos resultados das
medições.
Quando se apresenta o resultado de uma medição de uma grandeza física
(que a partir daqui será também chamada mensurando) é fundamental que se
possa afiançar a confiabilidade desse resultado, ou seja, que se possa dar uma
indicação quantitativa dessa confiabilidade. Só com uma representação de
resultados que contenham as incertezas dos mesmos se poderão comparar os
resultados com valores medidos da mesma maneira ou com valores de referência,
fornecidos numa especificação ou numa norma, tabelados ou apresentados por
outros experimentadores, de modo a se decidir sobre o resultado mais preciso para
a grandeza física objeto de estudo.
Serão trabalhados tópicos relacionados com a incerteza de medidas
experimentais e sua propagação em cálculos, para a obtenção de grandezas
derivadas dessas medidas, assim como a representação correta dos resultados em
relação aos algarismos significativos, resultando em confiabilidade dos resultados.
O resultado dos procedimentos de medição deve conter as informações: o valor da
grandeza física, a incerteza da medição e a unidade. Junto com o resultado
corretamente representado, devem também ser citadas as condições de realização
das medidas, as técnicas, montagens experimentais, equipamentos, etc...
No Brasil, o sistema legal de unidades é o Sistema Internacional (SI).
As terminologias empregadas aqui estão de acordo com as normas
metrológicas atualmente em vigência no Brasil, adotadas pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Normatização e qualidade Industrial (INMETRO) e pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Elas são traduções das normas
internacionalmente aceitas e utilizadas.
Serão também apresentadas as teorias e as técnicas para a construção e
análise dos três tipos de gráficos mais utilizados em Física Experimental, mas que
também são utilizados em outras ciências experimentais.
2

A frase abaixo reforça a importância das medidas experimentais.

“Eu frequentemente digo que quando você pode medir aquilo que você está
falando e expressá-lo em números, você conhece alguma coisa sobre aquilo, mas
quando você não pode medir, quando não pode expressá-lo em números, seu
conhecimento é marginal e insatisfatório; pode ser o começo do conhecimento, mas
seus pensamentos quase não avançam nos estágios da ciência, qualquer que seja o
assunto em estudo”
Lord Kelvin
3

CAPÍTULO 2: TÉCNICAS DE LABORATÓRIO


Os resultados de experiências onde são obtidas medições, realizando-se
uma série de cálculos e análises, precisam ter assegurada a sua confiabilidade,
portanto é imprescindível a utilização de algumas técnicas consistentes de
laboratório.
Inicialmente, deve-se formar um vocabulário para facilitar o estudo, a
compreensão e a aplicação destas técnicas.

2.1 ─ DEFINIÇÕES IMPORTANTES


Alguns termos retirados de:
“Vocabulário Internacional de Metrologia: conceitos fundamentais e gerais de
termos associados (VIM 2012)”. Duque de Caxias, RJ : INMETRO, 2012. 94 p.

Grandeza Mensurável - Atributo de um fenômeno, corpo ou substância que pode


ser qualitativamente distinguido e quantitativamente determinado, através de
uma medição.

Grandeza de Base - Grandeza dum subconjunto escolhido, por convenção, de um


dado sistema de grandezas, no qual nenhuma grandeza do subconjunto possa
ser expressa em função das outras.

Grandeza Derivada - Grandeza, num sistema de grandezas, definida em função


das grandezas de base desse sistema.

Dimensão de uma Grandeza - Expressão da dependência duma grandeza em


relação às grandezas de base dum sistema de grandezas, na forma dum produto
de potências de fatores correspondentes às grandezas de base, omitindo-se
qualquer fator numérico.

Valor de uma grandeza - Expressão quantitativa de uma grandeza específica,


geralmente, sob a forma de uma unidade multiplicada por um número.

Medição - Conjunto de operações que tem por objetivo determinar um valor de


uma grandeza. Um resultado de medição é geralmente expresso por:
(um único valor medido uma incerteza de medição).
A medição pressupõe uma descrição da grandeza que seja compatível com
o uso pretendido dum resultado de medição, segundo um procedimento de
medição e com um sistema de medição calibrado e que opera de acordo com o
procedimento de medição especificado, incluindo as condições de medição.

Mensurando - Grandeza específica submetida a uma medição.

Valor Verdadeiro - Valor consistente com a definição de uma dada grandeza


específica. Na Abordagem de Erro para descrever as medições, o valor verdadeiro
de uma grandeza é considerado único e, na prática, impossível de ser conhecido.
O Valor Verdadeiro de uma grandeza é aquele que seria obtido se sua
medição fosse feita de maneira perfeita, e com instrumentos perfeitos. Como
medições perfeitas e instrumentos perfeitos não existem, deve-se
necessariamente associar uma incerteza ao Valor Verdadeiro Convencional de
qualquer medição (mesmo nos casos em que não se tem imprecisões de ordem
subjetiva).
4

Valor Verdadeiro Convencional - Valor atribuído a uma grandeza específica e


aceito, às vezes por convenção, como tendo uma incerteza apropriada para uma
dada finalidade.

Incerteza de Medição - Parâmetro associado ao resultado de uma medição, que


caracteriza a dispersão dos valores que podem ser fundamentalmente atribuídos
ao mensurando.

2.2 ─ MEDIÇÕES DE GRANDEZAS FÍSICAS E AVALIAÇÃO DE


INCERTEZAS EXPERIMENTAIS
Todo o tratamento que será apresentado aqui está baseado na condição em
que o mensurando seja um escalar. Caso o mensurando fosse um vetor, ou seja,
um conjunto de mensurandos relacionados, determinados simultaneamente na
mesma medição, o tratamento requereria a substituição do mensurado escalar e
de sua variância por um mensurando vetorial e por uma matriz covariância.
O objetivo final de uma medição é determinar o valor verdadeiro do
mensurando, ou seja, o valor de um mensurando específico a ser medido. O
valor verdadeiro do mensurando é uma quantidade sempre desconhecida. Isto é,
o resultado da medição do mensurando é somente uma aproximação ou
estimativa do valor verdadeiro do mensurando. Esta característica do valor
verdadeiro está relacionada ao fato que por definição o valor verdadeiro de
qualquer mensurando é o valor que seria obtido de uma medição perfeita.
Mas, como já se sabe é impossível efetuar uma medição perfeita, pois para
que isso fosse possível dever-se-ia empregar, no processo de medição,
observadores e equipamentos perfeitos, que não existem.
Deste modo, o resultado de um processo de medição de um mensurando
não é o seu valor verdadeiro, ou seja, ele está errado - por causa da medição
imperfeita da grandeza realizada.
Define-se como o erro de medição o resultado de uma medição menos o
valor verdadeiro do mensurando. Mas, uma vez que o valor verdadeiro não pode
ser determinado, o erro de medição também é uma quantidade desconhecida. Na
prática, utiliza-se um valor verdadeiro convencional (também denominada
melhor estimativa do valor), para se obter uma estimativa do erro de medição.

2.3 ─ TIPOS DE ERRO


Geralmente, ocorrem erros de vários tipos numa medição. Os diferentes
tipos de erros podem ser classificados em 2 grandes grupos: os erros
sistemáticos e os erros aleatórios (ou estatísticos) [1, 3].
O erro aleatório se origina de variações temporais ou espaciais,
estocásticas ou imprevisíveis (ocorrendo ao acaso), de grandezas de influência.
Os efeitos de tais variações são a causa de variações em observações
repetidas do mensurando. Embora não seja possível compensar o erro aleatório
de um resultado de medição, ele pode geralmente ser reduzido aumentando-se o
número de observações.
O erro sistemático está associado a equipamentos incorretamente
ajustados ou calibrados, ou ao uso de um procedimento de medição incorreto. Os
erros sistemáticos podem e devem ser minimizados, mas assim como o erro
aleatório não pode ser eliminado. Isso pode ser feito observando se os
instrumentos estão corretamente calibrados ou se estão sendo empregados de
maneira correta. Existe um limite para a redução do erro sistemático de uma
5

medição, que está diretamente associado à calibração do instrumento com o qual


se realiza a medição. Esse tipo de erro é conhecido como erro sistemático
residual.
"O limite de erro de calibração de um instrumento de medida pode ser
admitido como sendo a menor divisão ou menor leitura que é
explicitamente indicada pelo instrumento de medida". (recomendação da
"American Standards Association").

Como regra geral admite-se que o erro padrão inerente ao instrumento de


medida seja a metade da menor divisão da escala.
Para o caso em que o observador utiliza de modo incorreto um instrumento
ou se equivoca com a leitura deste instrumento, o resultado do processo de
medição deve ser um valor muito distante do valor verdadeiro do mensurando,
originando um erro muito grande, chamado de erro grosseiro.
Quando se trata da qualidade final de um resultado, do ponto de vista do
erro de medição, ainda existem dois outros conceitos em metrologia que muitas
vezes são confundidos, a exatidão e a precisão:
Exatidão (ou Acurácia) - Conceito qualitativo para descrever quanto o resultado
de uma medição é próximo do valor verdadeiro, ou seja, é o grau de
concordância entre o resultado de uma medição e um valor verdadeiro de um
mensurando;
Precisão - Conceito qualitativo para indicar o grau de concordância entre diversos
resultados experimentais obtidos em condições de repetitividade, ou seja, uma
“boa precisão" significa erro aleatório pequeno de forma que os resultados
apresentem boa repetitividade.
A Figura 2.1 ilustra os conceitos de exatidão e precisão de resultados de
medições para o caso de uma brincadeira de tiro ao alvo, onde o alvo simboliza o
valor verdadeiro da medição.
Como uma consequência da definição formal de erro de medição, o erro é
também uma quantidade indeterminada por natureza, assim como o valor
verdadeiro. Os valores exatos das contribuições ao erro de um resultado de uma
medição não podem ser conhecidos e também são desconhecíveis as incertezas
associadas com esses efeitos aleatórios e sistemáticos que contribuem para o
erro da medição. Ainda bem que todos eles podem ser avaliados.
Deve-se tomar muito cuidado em distinguir os termos “erro” e “incerteza”,
pois, eles não são sinônimos, ao contrário representam conceitos completamente
diferentes; eles não devem ser confundidos um com o outro, nem ser mal
empregados. Porém, mesmo que as incertezas avaliadas sejam pequenas, ainda
não há garantia de que o erro no resultado da medição seja pequeno, pois, um
efeito sistemático pode ter passado despercebido porque não foi reconhecido.
Assim, a incerteza de um resultado de uma medição não é,
necessariamente, uma indicação de quanto o resultado da medição está próximo
do valor verdadeiro do mensurando; ela é simplesmente uma estimativa de
quanto se está próximo do melhor valor que seja consistente com o
conhecimento atualmente disponível.
Deste modo, a determinação da incerteza de medição, quando o processo
de medição foi efetuado em condições satisfatórias (instrumentos calibrados,
efeitos sistemáticos bem identificados etc) é uma boa estimativa de quanto pode
ser o erro associado à medição.
Evidentemente, a incerteza só pode ser obtida e interpretada em termos
probabilísticos [3,5].
6

Figura 2.1: Diferença entre precisão e exatidão, ilustrado por uma brincadeira de
tiro ao alvo.

2.4 ─ TIPOS DE MEDIÇÕES


Os resultados experimentais de medições de grandezas físicas podem ser
classificados de acordo com a natureza de seu processo de medição, de duas
formas:

2.4.1 ─ MEDIÇÃO DIRETA


É aquela obtida diretamente da leitura de um instrumento, como um
comprimento lido com um paquímetro, um tempo medido com um cronômetro, a
massa determinada com uma balança, etc....
7

2.4.2 ─ MEDIÇÃO INDIRETA


É aquela obtida através de um cálculo matemático, que inter-relaciona
mais de um mensurando, determinados por medições diretas.
Por exemplo: a densidade, o volume, a velocidade, ...
Para cada um desses casos existe uma forma padrão de indicar a incerteza
de uma medição.

2.5 ─ RESULTADO E INCERTEZA DE UMA MEDIÇÃO


Toda medição está sujeita a incertezas que podem ser devidas ao processo
de medição, aos equipamentos utilizados, à influência de variáveis que não estão
sendo medidas e, também, ao operador (experimentador). Assim, é de
fundamental importância representar o resultado de uma medição de forma que
outras pessoas o entendam e saibam com que confiança este resultado foi
obtido.
Considerar, por exemplo, uma situação em que se deseja medir o
comprimento de um objeto utilizando-se de uma régua graduada em milímetros,
como apresentada na Figura 2.2. Para isso, diferentes experimentadores
ajustaram, um de cada vez, a régua junto ao objeto e fizeram uma leitura.
Eles repetiram esse procedimento muitas vezes e verificaram que os
valores obtidos, em cada medição, diferem um do outro. Na Figura 2.3,
apresenta-se a distribuição dos resultados dessas medições.
Nessa distribuição, o valor obtido em cada medição está representado na
abscissa, e cada barra vertical representa o número de vezes que este valor foi
encontrado.

Figura 2.2: Régua graduada em milímetros, utilizada para medir o comprimento


de um objeto.

Como pode ser claramente observado na Figura 2.3, os resultados das


medições estão dispersos em torno de um valor médio.
Apesar dos experimentadores poderem afirmar que o comprimento do
objeto está entre 7,4 cm e 8,0 cm, não se tem certeza sobre o valor da fração
adicional no comprimento, devido a uma série de razões:

o objeto pode não ter contornos bem definidos;


há diferenças entre a posição escolhida para efetuar a medição por cada
experimentador, para a marca de zero na régua junto ao objeto;
a régua pode estar deformada etc.

Mas, observa-se que existe um grande número de medidas próximas ao


valor médio e que as medidas mais afastadas desse valor são menos frequentes.
8

Figura 2.3: Distribuição dos resultados das medições do objeto mostrado na


Fig. 2.2, com uma régua graduada em milímetros.

Este comportamento característico das medidas sempre ocorre quando se


efetua uma série de medições de uma grandeza, sendo tal comportamento
inerente ao processo de medição.
Agora o comprimento do mesmo objeto é medido da mesma forma, porém,
utilizando-se de uma régua com graduações de meio centímetro, como mostrado
na Figura 2.4. Neste caso, o valor médio do comprimento, obtido a partir de uma
série de medições, apresenta, aproximadamente, o mesmo valor obtido com a
régua graduada em milímetros. No entanto, verifica-se uma maior dispersão dos
resultados, como mostrado na Figura 2.5. De modo análogo ao observado no
caso anterior, isto é uma característica do processo de medição, onde neste caso,
a maior dispersão é devida, principalmente, ao uso de um instrumento de
medida que possui precisão diferente.

Figura 2.4: Régua graduada a cada meio centímetro, utilizada para medir o
comprimento de um objeto.

O parâmetro associado ao resultado de uma medição, que caracteriza a


dispersão de valores atribuídos à grandeza submetida à medição, é denominado
de incerteza da medição.
9

Figura 2.5: Distribuição dos resultados das medições do objeto mostrado na


Fig. 2.4 com uma régua graduada a cada meio centímetro.

A forma mais comum de se expressar o resultado de uma medição é:

(valor da grandeza incerteza da medição) [unidade] (2.1)

Essa e outras formas comumente utilizadas para a representação de um


resultado de uma medição estão mostradas abaixo:
a) (21,23 0,03) mm
b) 21,23(3) mm
c) 21,23(0,03) mm

As distribuições mostradas nas Figuras 2.3 e 2.5 são exemplos de uma


distribuição normal ou gaussiana [3].

2.6 ─ DISTRIBUIÇÃO GAUSSIANA

1 ( xi x )2
P( x ) exp (2.2)
2 2s

Em que <x> é o valor central ou médio e s é o desvio padrão da média da


distribuição.
Neste tipo de distribuição, aproximadamente 68% dos valores encontram-
se dentro do intervalo de um desvio padrão em torno da média; cerca de 95%
dos valores estão dentro do intervalo de duas vezes o desvio padrão; e cerca de
99,7% dos valores estão dentro de três vezes o desvio padrão. Estes intervalos
são chamados de intervalos de confiança [1,3].
A incerteza de medição, estimada com base no desvio padrão da média de
uma distribuição normal, possui a seguinte interpretação: qualquer medida da
grandeza tem uma probabilidade de 68% de estar dentro do intervalo <x> s.
Na verdade, essa estimativa é confiável quando o número de medições é
muito grande (n>200). Quando n é pequeno, deve-se multiplicar o desvio padrão
10

por um fator de correção conhecido como coeficiente t - Student, cujo valor


depende do número de medições e do intervalo de confiança desejado.
Por questão de simplificação, este tipo de correção não será abordado
nesta disciplina. Como já discutido, a incerteza no resultado de uma medição
caracteriza a dispersão das medidas em torno da média. Essa incerteza é
classificada em duas categorias, de acordo com o método utilizado para estimar o
seu valor:

 Avaliação Tipo A - a incerteza é avaliada por meio de uma análise


estatística da série de medidas;

 Avaliação Tipo B - a incerteza é avaliada por meio de métodos não


estatísticos, por não se dispor de observações repetidas.

Tais considerações são baseadas em padronizações internacionais,


estabelecidas com o intuito de se ter um caráter universal de expressar
resultados de grandezas obtidas por medições diretas ou indiretas.

2.7 ─ AVALIAÇÃO DO TIPO A

Exemplo 2.1 ─ Uma medição foi repetida n vezes, nas mesmas condições,
obtendo-se os seguintes resultados x1, x2, x3, ... , xn. Neste caso, estabeleceu-se
que a melhor estimativa para a medida é dada pela média aritmética <x> dos
valores obtidos.

2.7.1 ─ MÉDIA ARITMÉTICA


O valor médio <x> para n medidas do mensurando x é dado por:
1 n
x xi (2.3)
n
i 1

Exemplo 2.2 ─ Considere-se o exemplo a seguir de uma avaliação Tipo A de


incerteza. Para a determinação da altura (H) de um cilindro foram realizadas
diversas medições desta dimensão utilizando-se um paquímetro com resolução
de 0,02mm. Os valores Hi obtidos para cada medição da altura do cilindro e a
diferença em módulo de cada valor da medição e do valor médio da altura (<H>)
são apresentados na Tabela 2.1.
i
(mm) (mm)
1 8,68 0,01
2 8,64 0,03
3 8,66 0,01
4 8,70 0,03
5 8,66 0,01
6 8,68 0,01
7 8,70 0,03
8 8,64 0,03
= 8,67mm
Tabela 2.1: Medições da Altura de um Cilindro utilizando-se um Paquímetro
11

Neste caso, a altura média <H> do cilindro foi determinada empregando-se


a equação (1.2),

A avaliação Tipo A da incerteza da média dos resultados das medições da


altura do cilindro, u(H), deve ser estimada como o desvio padrão S da média,
u(H) = S.

2.7.2 ─ INCERTEZA PADRÃO S DA MEDIÇÃO


É identificada com o desvio padrão S da média das observações [3], dado
por:
n
1
u( x ) S ( Hi H )2 (2.4)
n (n 1)
i 1

u ( x ) 0,00845154.... mm
e a altura H do cilindro será representada:

H u (H) ( 8,670 ± 0,008 )mm

Conforme será apresentado nas próximas seções, a incerteza de medição


sempre será escrita com um único algarismo significativo, e também serão
descritas as regras de arredondamento de acordo com a norma da ABNT.

2.7.3 ─ AVALIAÇÃO DO TIPO B


Quando o número de medições realizadas não é suficiente, ou em situações
em que não é prático ou, ainda, quando não é possível estimar a incerteza com
base no cálculo estatístico, utiliza-se a avaliação Tipo B. Tal avaliação, baseia-se
normalmente, no bom senso do operador (experimentador) que, a fim de
estabelecer uma incerteza para a medição, deve utilizar toda a informação
disponível, por exemplo: dados de medições anteriores, conhecimento
acumulado sobre os instrumentos e materiais utilizados, especificações do
fabricante e dados de calibração dos instrumentos. Portanto, essa avaliação é
muito subjetiva.
Em alguns casos, essas informações podem permitir ao operador inferir
uma distribuição aproximada para as medidas, cujo desvio padrão aproximado
deve ser usado como uma estimativa para a incerteza padrão da medição.

Exemplo 2.3 ─ Considere-se que um objeto de massa m foi colocado sobre


uma balança mecânica que apresentou uma leitura de 156g. A única informação
disponível sobre a balança é seu “erro máximo = 2g”.
Nesta situação, pode-se efetuar uma avaliação Tipo B para a incerteza
desta medição, ou seja, como a indicação que seu “erro máximo é 2g”, pode-se
estimar que a incerteza desta medição deve ser igual ao “erro máximo” indicado
pelo instrumento. Assim, o resultado desta medição da massa do objeto deve
ser:
m u ( m ) ( 156 ± 2 ) g
12

Exemplo 2.4 ─ Deseja-se determinar através de uma única medição o


diâmetro de um cilindro regular. Para esta finalidade foram empregados os
seguintes instrumentos de medida: régua graduada em milímetros, paquímetro
analógico com menor divisão da escala 0,02mm e um micrômetro analógico com
menor divisão da escala 0,01mm. Os resultados das medições únicas do
diâmetro do cilindro foram: 9mm com a régua; 8,98mm com o paquímetro e
8,99mm com o micrômetro.
Nesta situação, deve-se efetuar uma avaliação Tipo B para a incerteza
destas medições. Para isso, devem-se obter as informações referentes aos
instrumentos de medições e ao processo de leitura destes instrumentos. No caso
da régua graduada em milímetros e do micrômetro analógico, o processo de
medição com tais instrumentos possibilitam a visualização de valores com
resolução de até metade da menor divisão da escala, deste modo pode-se
estimar a incerteza destas medições com régua e micrômetro analógico como
sendo metade da menor divisão da escala. Já para o paquímetro, o processo de
medição com este instrumento possibilita a visualização de valores com resolução
de até a menor divisão da escala, deste modo pode-se estimar a incerteza das
medições com o paquímetro analógico como sendo a menor divisão da escala.
Nesta disciplina será utilizado o seguinte padrão para a estimativa da incerteza
(avaliação Tipo B) de medições com instrumentos analógicos ou mecânicos:
quando não houver outras informações disponíveis pelo fabricante destes
instrumentos, a incerteza deverá ser estimada como sendo metade da menor
divisão da escala (quando for possível esta visualização), e a menor divisão da
escala nos demais casos.
Assim, os resultados destas medições do diâmetro do cilindro devem ser
representados da seguinte forma:

D u (D) ( 9,0 ± 0,5 ) mm - régua graduada em milímetros


D u (D) ( 8,98 ± 0,02 ) mm - paquímetro analógico (menor divisão 0,02mm)
D u (D) ( 8,990 ± 0,005 ) mm -micrômetro analógico (menor divisão 0,01mm)

Exemplo 2.5 ─ Em um estudo de queda livre de um corpo, foi determinado


através de uma única medição o tempo de queda (t) do corpo. Para este fim foi
empregado um cronômetro digital de menor divisão da escala de 0,01s, que pode
ser operado automaticamente por um sistema eletrônico dedicado ou
manualmente por um operador. Os resultados obtidos para o tempo de queda do
corpo (t) foram determinados nos dois modos de operação do cronômetro digital,
cujos valores são:

(a) cronômetro acionado automaticamente t 0 : 04 28


(b) cronômetro acionado manualmente t 0 : 04 56

Os valores 28 e 56 estão em centésimos de segundo.

Para a estimativa da incerteza de medição do tempo de queda livre obtido


com o cronômetro digital acionado automaticamente, deve-se considerar a
avaliação Tipo B, e por se tratar de um instrumento digital, a estimativa da
incerteza deve ser igual à menor divisão da escala do instrumento, quando não
houver outras informações disponíveis pelo fabricante deste instrumento. Deste
modo, a correta representação do resultado desta medição deve ser:
13

t u ( t ) ( 4,28 0,01 ) s - cronômetro digital (menor divisão 0,01s)


operado automaticamente.

Para a estimativa da incerteza de medição do tempo de queda livre obtido


com o cronômetro digital acionado manualmente, deve-se considerar além da
incerteza referente a escala de medição, também o tempo médio de reação do
operador humano. O tempo médio de reação do operador para acionar e desligar
o cronômetro digital manualmente é estimado como sendo 0,2s. Deste modo, a
correta representação do resultado desta medição deve ser:

t u( t ) ( 4,6 0,2 ) s - cronômetro digital (menor divisão 0,01s) operado


manualmente.

Apesar da incerteza de medição do tempo de queda livre obtido com o


cronômetro digital acionado manualmente ter sido estimada como a soma do
tempo de reação do operador com a incerteza referente a escala de medição,
como será apresentado nas seções seguintes, será adotado nesta disciplina que a
incerteza de medição deve ser apresentada com somente um único algarismo
significativo.

Exemplo 2.5 ─ Considere-se que a única informação que um operador tem


sobre uma medição de uma grandeza é que o seu valor se situa entre os limites
x e x+. Neste caso, é aceitável supor que x pode assumir qualquer valor dentro
deste intervalo com igual probabilidade (distribuição retangular [1, 3]).
Assim, o valor mais provável da grandeza deve ser dado por:

(2.5)
e a incerteza padrão u(x), estimada como o desvio padrão dessa distribuição, é
dada por:

(2.6)

O fator decorre da distribuição retangular de probabilidade [1].

2.7.4 ─ INCERTEZA RELATIVA ux(R) OU PERCENTUAL u x(%)


Em Física Experimental é de interesse determinar qual é a fração ou
porcentagem do valor do mensurando que a incerteza de medição representa.
(R)
Pode-se definir a incerteza relativa ( ux ) desta grandeza como sendo a
razão entre a incerteza de medição pelo valor da mesma grandeza, e a incerteza
percentual, como sendo a incerteza relativa multiplicado por 100% .
São números "puros" (adimensionais) que caracterizam a precisão da
medida e calculados com as seguintes equações:

(R ) u ( x)
ux (2.7)
x
14

(%) u ( x)
ux . 100 (2.8)
x

2.8 ─ ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS


O valor de uma grandeza experimental, obtido a partir de cálculos ou
medições, pode ser um número na forma decimal, com muitos algarismos.
Por exemplo:

Algarismo significativo em um número pode ser entendido como cada


algarismo que individualmente tem algum significado, quando o número é escrito
na forma decimal [3].
Os “zeros” à esquerda não possuem nenhum significado quando são
considerados individualmente, ou seja, não são significativos, sendo que o único
significado do “conjunto de zeros” é indicar a posição da vírgula decimal. Assim,
mudando as unidades da grandeza ou utilizado uma potência de 10 como fator
multiplicativo, os “zeros” à esquerda podem ser eliminados.
Em toda medição é de fundamental importância expressar o resultado da
medição com o número correto de algarismos significativos. Para isso, deve ser
considerado que existe uma incerteza associada ao número que representa a
grandeza experimental. Isto significa que todos os algarismos à direita além de
um certo algarismo W são não significativos.
Esta limitação pode ser entendida da seguinte forma: devido à incerteza,
cada um dos algarismos no número tem uma determinada probabilidade de ser o
algarismo verdadeiro.
Geralmente, esta probabilidade está entre 50% e 100% para o primeiro
algarismo não nulo (J) e vai diminuindo para algarismos à direita, até se tornar
muito próximo de 10% para certo algarismo A. Isto é, a probabilidade de que A
seja o algarismo verdadeiro é praticamente a mesma probabilidade para
qualquer outro algarismo, então o algarismo A não pode ter nenhum significado,
porque não transmite nenhuma informação. De modo geral, um algarismo é
significativo quando tem maior probabilidade de ser correto, em relação aos
demais [3].
Assim, para expressar corretamente o resultado de uma medição com o
número de algarismos significativos corretos, devemos seguir as seguintes
regras:
 Os algarismos significativos de uma medição são todos corretos mais um
duvidoso
 O algarismo duvidoso é o que é afetado pela incerteza da medição
 Os zeros, à esquerda do primeiro algarismo não nulo, antes ou depois da
vírgula, não são significativos (eles servem somente para representar a
medida em múltiplos e submúltiplos de unidades)
 Qualquer zero, à direita do primeiro número não nulo, é significativo
 A potência de 10 em um resultado de medição não altera o número de
algarismos significativos
15

Seja, por exemplo, a medição do comprimento do objeto mostrado na


Figura 1.2, em que se utiliza uma régua graduada em milímetros.
Após a realização de várias medições, calcula-se a média dos resultados e
estima-se a incerteza Tipo A por meio do desvio padrão, obtendo-se o resultado
L u ( L) ( 7,6 0,1 ) c m, representado corretamente. Nessa medição, a incerteza
incide sobre o algarismo 6, que é o duvidoso.
Seria incorreto representar esse resultado de medição em qualquer uma
das formas abaixo:

( 7,6385 0,1 ) c m - Como a incerteza é de 1 milímetro, não faz sentido indicar o


resultado com precisão maior que a desse valor, ou seja, os algarismos 3, 8 e 5
não são significativos e não devem ser escritos;

( 7 0,1 ) c m - O algarismo duvidoso deve ser aquele sobre o qual incide a


incerteza, portanto, falta um algarismo significativo no valor principal do
resultado;

( 7,6385 0,1178 ) c m - Nas normas da ABNT, recomenda-se que a incerteza da


medição seja fornecida com, no máximo, dois algarismos significativos. Assim,
mesmo que o processo de cálculo do desvio padrão tenha fornecido o valor
0,1178, a norma recomenda que ele seja escrito como 0,1 ou 0,12.

Apesar da norma da ABNT recomendar que a incerteza da medição seja


fornecida com, no máximo, dois algarismos significativos, nesta disciplina a
incerteza da medição deve ser fornecida com um único algarismo significativo.
É importante observar que o número de algarismos significativos no
resultado é determinado pela incerteza, e não pelo instrumento utilizado. A
incerteza, por sua vez, é inerente ao processo de medição. Por exemplo, se a
régua graduada em milímetros for utilizada na medição do diâmetro de uma
moeda, facilmente se obtém uma incerteza de décimos de milímetros. No
entanto, se a mesma régua ou uma trena graduada em milímetros for
empregada para a determinação do comprimento de um terreno, dificilmente
será obtida uma incerteza menor que um centímetro.
O resultado final de uma medição deve ser sempre indicado com os
algarismos significativos consistentes com a incerteza de medição. No entanto,
para que se evitem erros de arredondamento, todos os cálculos intermediários
(média e desvio padrão) devem sem feitos com todos os algarismos disponíveis.

2.9 ─ ARREDONDAMENTO DE NÚMEROS


No trabalho algébrico para a determinação de grandezas (medições
indiretas) e de incertezas de medições em Física Experimental frequentemente
ocorrem que números devem ser arredondados. Por exemplo, na soma ou
subtração de dois resultados de medições, as mesmas devem ser escritas com o
mesmo número de algarismos significativos. Quando um dos números tem
algarismos significativos excedentes, então estes devem ser eliminados com
arredondamento do número. O arredondamento também deve ser empregado na
eliminação dos algarismos não significativos de um número.
A partir de 1977, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
recomenda que o arredondamento de números decimais devem obedecer a
norma ABNT NBR-5891[4]. De acordo com esta norma, o procedimento de
arredondamento numérico deve seguir os seguintes critérios:
16

Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser


conservado for inferior a 5, o último algarismo a ser conservado
permanecerá sem modificação;

Exemplo 2.6 ─ 1,3333... arredondados à primeira decimal será escrito como 1,3.
Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser
conservado for superior a 5, ou, sendo 5, for seguido de no mínimo um
algarismo diferente de zero, o último algarismo a ser conservado deverá
ser aumentado de uma unidade,

Exemplo 2.7 ─ 1,6666... arredondados à primeira decimal será escrito como 1,7.
Já o número 4,8505 arredondados à primeira decimal será escrito como 4,9.
Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser
conservado for 5 seguido de zeros, dever-se-á arredondar o algarismo a
ser conservado para o algarismo par mais próximo. Consequentemente,
se o último a ser retirado for ímpar, aumentará uma unidade,

Exemplo 2.8 ─ 4,5500... arredondados à primeira decimal será escrito como 4,6.
Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último a ser conservado
for 5 seguido de zeros, se o algarismo a ser conservado for par, ele
permanecerá sem modificação.

Exemplo 2.9 ─ 4,8500... arredondados à primeira decimal será escrito como 4,8.

2.10 ─ REGRA DE PROPAGAÇÃO DA INCERTEZA


Dependendo da grandeza que se deseje determinar em um processo de
medição, nem sempre é possível determiná-la através de uma medição direta, ou
seja, diretamente da leitura de um instrumento ou sistema de medição. Quando
o valor de uma grandeza é determinado por meio de medições de outras
grandezas relacionadas a ela (através de operações matemáticas, fórmulas, etc),
ou seja, através de uma medição indireta, precisamos determinar a incerteza de
medição associada a esta medição indireta, que deve possuir relação com as
incertezas das medições diretas empregadas na determinação do valor da
grandeza obtido indiretamente.
Considere-se uma grandeza Y, que não pode ser medida diretamente, e
que é função f de N outras grandezas x 1 , x 2 ,..., x N , ou seja,
y f ( x 1 , x 2 ,..., x N ) :
Sejam x 1 u ( x 1 ) , x 2 u ( x 2 ) ,..., x N u ( x N ) os resultados das medições e
de suas respectivas incertezas para as grandezas x 1 , x 2 ,..., x N . O resultado
y da medição da grandeza Y é dado por:
y f ( x 1 , x 2 ,..., x N ) :
A incerteza padrão da medição de uma grandeza obtida através de
medições indiretas é chamada incerteza padrão combinada uc e é determinada
por meio da seguinte equação [1]:

n 2
2 f
u c (y) u 2 ( x i) (2.9)
xi
i 1
17

Portanto, a incerteza padrão combinada da variável Y é igual à raiz


quadrada positiva da soma dos quadrados das incertezas das medições das
2
f
outras grandezas, ponderadas pelo termo .
xi
Esse termo avalia o quanto o resultado da medição varia com a mudança
em cada grandeza x i .
A equação (2.9) só é válida quando todas as grandezas de entrada ( x i )
são independentes umas das outras. Para efeito de simplificação, o caso em que
elas são dependentes não será tratado nesta disciplina.
Conforme a dependência da grandeza que se deseja medir com as
grandezas que, de fato, são medidas, a equação para a incerteza padrão
combinada se reduz a formas mais simples, como mostradas na Tabela 1.2.

Tabela 1.2: Equações para a incerteza padrão combinada de algumas funções


Função Incerteza Padrão Combinada
y f ( x , x , ... , x ) u c (y)
1 2 n

y a x1 b x2 ...
(a, b, . . . são u c (y) a 2 u 2 (x 1 ) b 2 u 2 (x 2 ) ....
constantes)
y depende linearmente (2.10)
das outras grandezas
2
u c (y) n u (x i )
pi
y i 1 xi
p1 p2 pn
y a x1 . x2 ... x n
2 2 2
u (x 1 ) u (x 2 ) u (x n )
p1 p2 ... pn
xi xi xn
(2.11)
y a ln (x) u (x)
u c (y) a (2.12)
x
y ae x u c (y) a e x u (x) (2.13)

Exemplo 2.10 ─ Deseja-se medir a densidade de um corpo. Para isso, são


realizadas várias medições da massa m do corpo e de seu volume V pelo método
de imersão, onde foram determinados os valores médios e as incertezas padrão
dessas grandezas, os resultados das medições são:
m u ( m ) ( 145,7 0,6 ) g e V u ( V ) ( 65,34 0,03) cm3
A densidade do corpo é dada por:

m 145,7 g
2,2298745...
V 65,34 cm3

Como as incertezas das medições de massa e de volume afetam o


resultado da medição da densidade?
18

Para responder tal pergunta deve-se determinar a incerteza padrão


combinada u c ( ) da densidade que é dada por:

2 2
uc( ) u 2 (m) u 2 ( V) (2.14)
m V

m 1 m
Como , então: , e
V m V V V2
u ( m) 0,6 g e u (V) 0,03 cm 3

Deste modo, a incerteza padrão combinada para a densidade é:

uc( ) 0,009239635...
e o valor da densidade é escrito:
g
u( ) 2,230 0,009
cm3
2.11 ─ COMPARAÇÃO ENTRE RESULTADOS DE MEDIÇÕES
Em um trabalho de Física Experimental é comum comparar o valor de uma
medição experimental de uma grandeza ( X exp ) com o valor esperado ou de
referência para esta mesma grandeza ( X t eo). A concordância (C) entre os dois
valores será dada por
X e xp X te o
C 1 .100 % (2.15)
X te o

A concordância entre resultados de uma grandeza é um valor percentual, e


quanto mais próximo de 100% for este resultado indica que o valor obtido
através da medição experimental da grandeza maior é mais próximo do valor de
referência.
Exemplo 2.11 ─ Qual é a incerteza associada à medida indireta do volume V
de um cilindro, calculado a partir das medidas diretas de seu diâmetro D e de sua
altura H ?
D2
Como V H , a incerteza do volume será:
4

2 2
u( D ) u( H)
u( V ) V 2
D H

Exemplo 2.12 ─ Qual incerteza de uma grandeza que depende de uma outra
elevada a uma potência? Por exemplo qual é a incerteza no cálculo do volume de
um cubo V L 3 ?
2
u( L )
u( V ) V 3
L
19

2.12 ─ RESUMOS DAS FÓRMULAS:


Fórmulas de propagação de incertezas para funções de uma e duas
variáveis independentes X e Y. As derivadas são calculadas no ponto
x,y x , y . Os coeficientes a , b , M , N são números exatos ou com
erro desprezível. A aplicação da eq. (2.9) fornece:

Função Incerteza Padrão Combinada


Z f X,Y uc Z

Z aX b Y uc Z a2 u2(X) b2 u2(Y) (2.16)

Z a X b Y uc Z a2 u2(X) b2 u2(Y) (2.17)

Z a XM YN uc Z u( X ) 2 u( Y ) 2
(M ) (N ) (2.18)
Z X Y
u (X)
Z a ln ( X ) uc Z a (2.19)
X

u c (Z) a e X u( X )
Z a eX (2.20)

2.13 ─ RESUMO DE ALGUMAS DEFINIÇÕES BÁSICAS

Nome Símbolo e Fórmula


n
1
Média Aritmética X Xi (2.21)
n
i 1
n
pi Gi
Média Ponderada p1 G1 p 2 G2 ... p n G n i 1
G
p1 p2 ... p n n
pi (2.22)
i 1
1
Pesos
pi
u (Gi ) 2 (2.23)
2 1
G (e s t.)
n
Desvio Médio pi (2.24)
i 1
n
1
Desvio Padrão S ( xi x )2
da Média n (n 1)
i 1
(2.25)
20

2.14 ─ ALGUMAS REGRAS PRÁTICAS

Aplicando os conceitos estudados até aqui, é possível obter equações


simplificadas para calcular a incerteza padrão combinada, para usar diretamente
com a calculadora, nas operações simples

A u( A ) B u( B ) (A B) u( A ) 2 u( B ) 2 (2.26)

A u ( A) B u( B ) (A B) u( A ) 2 u( B ) 2 (2.27)

u( A ) 2 u( B ) 2
A u( A ) B u( B ) (A B) (A B) ( ) ( ) (2.28)
A B

A u( A ) A A u( A ) 2 u( B ) 2
( ) ( ) (2.29)
B u( B ) B B A B

u( A )
A u( A ) n An n A n 1 u( A ) An nA n ( ) (2.30)
A
21
CAPÍTULO 3 ─ GRÁFICOS

Ao trabalhar em laboratórios é muito comum obter dados de duas grandezas


relacionadas. Um dos recursos mais importantes para visualizar e interpretar essa
relação é a representação dessas grandezas na forma de gráficos.
Por meio de um gráfico é possível:

 Determinar (estimar) os desvios em cada medida (através do


distanciamento dos pontos experimentais à curva de ajuste mais provável). A
visível falta de alinhamento de alguns pontos sinaliza que um erro grosseiro foi
cometido ao realizar a medida.

 Determinar a dependência funcional de uma grandeza em relação à outra.

 Determinar a expressão matemática que as relaciona (fórmula empírica),


o que permite a interpolação e extrapolação de dados na região de validade da
fórmula.

Ao construir gráficos, utilizando dados experimentais relacionados,


normalmente são colocados os valores da variável dependente y = valores da
função f (x), no eixo vertical, chamado eixo das coordenadas; e os valores da
variável independente x no eixo horizontal, chamado eixo das abscissas. Em cada
eixo deve ser utilizada uma escala adequada para representar os pontos desejados.
Uma vez estabelecidas as escalas dos eixos lançam-se os pontos Pi (xi, yi).

3.1 ─ REGRAS BÁSICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS

Escolher as escalas de modo que o gráfico ocupe o máximo do espaço


disponível. Em gráficos com escalas lineares recomenda-se que dados
representados "ocupem" acima de 75% do comprimento dos eixos.

Escolher o passo de modo que seja fácil fazer a marcação da escala, por
exemplo múltiplos ou submúltiplos de 2 ou 5. Alguns números primos são
péssimos, não usar.

Usar um degrau conveniente, aqui também é aconselhável a utilização de


múltiplos ou submúltiplos de 2 ou 5. Não é necessário usar a mesma escala para
os eixos vertical e horizontal.

Escrever ao longo ou na extremidade dos eixos o nome e a unidade da


grandeza representada.

Os pontos P i ( x i , y i) podem ser marcados com: . Mas


para esta disciplina deve-se utilizar o símbolo +. O tamanho dos símbolos pode
corresponder, quando especificado, aos desvios associados à grandeza
representada. No caso de se conseguir representar os desvios, deve-se utilizar
.

Colocar título, sempre escrito por extenso, caracterizando o que


representa o gráfico.

Pode conter também uma legenda, caracterizando a experiência ou


qualquer outro dado importante para o leitor (como as legendas usadas sob os
gráficos e figuras em livros).
22
Em função da distribuição dos pontos no gráfico é interessante que se
trace uma linha contínua (reta, curva, relação funcional, etc...), que passe o
mais próximo possível de todos os pontos. Não é necessário que a linha passe
exatamente sobre cada ponto. Alguns critérios para determinação dessa curva
são mostrados abaixo.

O número de pontos para traçar uma curva depende do tipo de curva, para
curvas suaves (sem estrutura) ou retas, geralmente 5 a 10 pontos podem ser
suficientes.

As tabelas de dados, as deduções e interpretações feitas a partir de um


gráfico devem ser colocadas juntas ao gráfico (ou anexas, se estiver bem
indicado a qual gráfico correspondem).

3.2 ─ ALGUMAS DEFINIÇÕES UTILIZADAS EM GRÁFICOS

 Escalas: denomina-se escala a qualquer segmento de reta (ou curva),


marcado por pequenos traços (de 2mm) que indiquem os valores ordenados de
uma grandeza.

 Degrau: é a diferença entre os valores da grandeza, escritos ao longo do


eixo, é o intervalo representado por dois traços consecutivos da escala.

 Passo: é a distância (em unidades de comprimento do papel) entre dois


traços consecutivos em uma escala.

O degrau e o passo podem ser:

 Constante: neste caso as escalas são chamadas lineares ou uniformes.

 Variável: neste caso as escalas são chamadas não-lineares.

Exemplos de Escalas em uma dimensão:

Linear:

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 i (A)
Fig. (3.1): Exemplo de escala linear

Passo = 1,5 cm onde a grandeza i é a corrente elétrica em Ampères.

Degrau = 2 A

Não linear:

Fig. (3.2): Exemplo de escala logarítmica

Passo = Variável. onde a grandeza x é a distância em metros.

Degrau = 1m (constante)
23
3.3 ─ TIPOS DE GRÁFICOS
Nesta disciplina serão utilizados três tipos de gráficos:
 Linear: Quando os as escalas dos dois eixos são lineares.
 MonoLog: Quando uma escala é logarítmica e a outra é linear.
 DiLog: Quando as duas escalas são logarítmicas.

Estes três tipos de gráficos são construídos em papéis apropriados,


encontrados em blocos comerciais, sob os nomes: papel milimetrado, papel
monolog, papel dilog.

3.3.1 ─ GRÁFICO LINEAR – Determinação das Escalas


Conforme mencionado, numa escala linear o degrau e o passo são constantes. O
módulo (M) de uma escala pode ser obtido da seguinte forma:

c omprimen t o do eixo L
M (3.1)
maior valor da var iável valor da origem V

V ─ maior valor da grandeza que se deseja representar no eixo menos o valor


efetivamente colocado na origem do gráfico.

L ─ comprimento do eixo (espaço disponível para representá-lo).

3.3.2 ─ GRÁFICO MONOLOG OU DILOG

ESCALA LOGARÍTMICA
O fato de uma das escalas, ou ambas, serem logarítmicas significa: na escala
logarítmica o passo, que é a distância d medida entre dois pontos, em cm do papel,
é proporcional à diferença dos logaritmos desses números. As escalas logarítmicas
se repetem em "décadas" (de 10 em 10), isto acontece devido à propriedade dos
logaritmos:

log 20 = log 10 + log 2 (3.2)

Em folhas vendidas comercialmente em geral o comprimento da década é de


10cm. Mas algumas marcas podem apresentar distorções, com as décadas medindo
valores diferentes de 10cm.
Os valores marcados em uma década serão sempre 10 vezes maiores do que
os valores marcados na década anterior.

DETERMINAÇÃO DA ESCALA

Eixos logarítmicos são divididos em décadas, cujo passo (subdivisão)


corresponde ao logarítmo do número que representa, multiplicado pelo
comprimento da década.

A escala é determinada no início de uma das décadas como sendo 10 n (n é


um no inteiro) multiplicado pela unidade da grandeza que representa
Ex: 10 1 m, 10 - 5 N.

Definido o início da década 10 n as subdivisões seguintes serão:


2x 10 n, 3x 10 n, 4x 10 n, 5x 10 n , ... , 9x 10 n.
24
Uma vez determinada a primeira década (10 cm a partir da origem) as
décadas adjacentes serão definidas por 10 n - 1 (para valores menores que 10
n
) e 10 n + 1 (para valores maiores que 10 n) e assim sucessivamente.
OBS: A origem (ou qualquer década) numa escala logarítmica NUNCA é o
ponto ZERO!! Ele não existe nesta escala. É sempre: 1 x 10 N (N é um
número inteiro ou zero).
3.3.3 ─ ALGUNS TIPOS DE FUNÇÕES DE AJUSTE

A seguir serão apresentados alguns exemplos de como, por meio da


representação gráfica de duas grandezas, pode-se determinar a relação funcional
entre elas. Para tanto, sempre que possível, é interessante representar os pontos
P i ( x i , y i ) de modo que apresentem uma distribuição linear no gráfico.

3.3.4 ─ FUNÇÃO LINEAR

Y (x i ) a x b (3.3)

Quando os pontos experimentais são lançados em um gráfico e a curva que


melhor se ajusta for uma reta, a equação dessa reta é a relação funcional entre a
grandeza y (ordenada) e a grandeza x (abscissa).

Observações:

 A dependência funcional entre as grandezas y e x (linear) é expressa pela


reta média (que pode ser representada pela eq. (3.3).

 A inclinação é o coeficiente angular (constante) dado por


y
a (3.4)
x
 Se a curva é a reta média, seu coeficiente angular representa a média da
constante a, o seu valor médio a .

 No ponto onde a reta intercepta o eixo y (em x = 0), obtém-se o


coeficiente linear da reta como y ( 0 ) b .

 Quando forem representadas grandezas físicas nos eixos, os coeficientes a


e b possuem significado físico, que muitas vezes são os resultados que se deseja
obter.
Assim, a partir da determinação gráfica dos coeficientes a e b, obtém-se a
relação funcional entre as variáveis x e y, na forma da eq. (3.3).

3.3.5 ─ CRITÉRIOS PARA TRAÇAR A RETA DE AJUSTE MAIS


PROVÁVEL

Para determinar a reta que melhor representa os pontos de um gráfico


existem pelo menos dois critérios:

a) O "visual": quando se traça a reta, o mais próxima possível de todos os


pontos experimentais, a partir de critérios "visuais", e a partir daí, os coeficientes
angular e linear, são obtidos.
b) Se os pontos experimentais forem lançados com suas respectivas
incertezas , a incerteza associada ao valor do coeficiente angular calculado
25
pode ser obtido a partir da determinação das inclinações máxima e mínima da reta
(como mostrado abaixo).

Fig. (3.3) – Reta de ajuste mais provável

a má ximo - a mínimo
a= (3.5)
2

Um método simples de estimar a incerteza do coeficiente angular:


O ponto P2, visivelmente fora da reta, indica um provável erro de medida e
deve ser desprezado para efeito de cálculos, inclusive nos cálculos utilizando-se
métodos estatísticos, como o Método dos Mínimos Quadrados.
Sempre que a incerteza do coeficiente angular for indicada deve-se também
indicar qual foi o método utilizado para estimá-la.

Um segundo critério para determinar a melhor curva de ajuste ou a curva


mais provável é o Método dos Mínimos Quadrados!

3.3.6 ─ EXEMPLO DE GRÁFICO LINEAR

Numa experiência com um sistema massa-mola, foram obtidos os valores da


força peso, aplicada à mola na vertical, F, e do alongamento da mola Δx. Medidas
realizadas em São Carlos – SP.
A lei de Hooke, F ( x ) K x , pode ser escrita na forma m g K x . Para
determinar a constante elástica K da mola deve-se construir um gráfico m versus
Δx, com os valores listados na tabela:

n 1 2 3 4 5 6
m (g) 495,00 473,58 454,38 421,82 386,46 350,68
Δx (cm) 40,00 38,57 37,05 34,41 31,50 28,59
n 7 8 9 10 11 12
m (g) 311,14 287,97 254,36 216,31 185,79 157,25
Δx (cm) 25,36 23,49 20,75 17,63 15,15 12,84

Analisando a tabela confirma-se que o papel a ser escolhido é o milimetrado,


pois a equação tem formato linear F ( x ) K x 0 e, além disso, observam-se
26
espaçamentos aproximadamente iguais entre os valores dos pontos experimentais,
tanto na vertical como na horizontal, estes são indícios de formato linear.

a) Construir um gráfico m versus Δx. Com m no eixo menor e na vertical, Δx no


eixo maior e na horizontal. Origem: (12,00 ; 150,00). Tem-se que usar 75%
ou mais de cada eixo. Traçar a reta que melhor se ajuste aos pontos.

b) Obter, através do gráfico, o valor da constante elástica da mola, K =?

Obs: Não podem ser usados pontos da tabela no cálculo de K, devem-se escolher
dois pontos da reta que estejam bem distantes um do outro (formar o maior
triângulo possível).

Cálculo do módulo do eixo vertical: m (g)

18 c mP c mP
Mm 0,051428571 0,05 (3.6)
( 495,00 150,00 ) g g

O módulo de um eixo só pode ser aproximado para um valor menor do que o


c mP
resultado da conta acima, por isso, escolhe-se M m 0,05 . O passo deve ser
g
um múltiplo ou submúltiplo do módulo, com valor entre 1,5 e 2,8 cm do Papel. O
degrau será o valor pelo qual se multiplicou o módulo para se encontrar o passo.
Por exemplo, uma escolha para o eixo m, vertical:

Passo = 2cm do Papel ; Degrau= 40g

Cálculo do módulo do eixo horizontal: Δx (cm)


28 c mP c mP
M x 1,0 (3.7)
( 40,00 12,00 ) c m cm

Uma escolha para o eixo Δx, horizontal:


Passo = 2cm do Papel ; Degrau= 2cm;
Outra escolha poderia ser: Passo = 2,5cm do Papel ; Degrau= 2,5cm.

Tabela para Auxiliar a construção do gráfico: Aqui os valores são em cm do papel


milimetrado, a partir da origem do respectivo eixo no gráfico.

n 1 2 3 4 5 6
(m–150)0,05 17,25 16,18 15,22 13,59 11,82 10,03
(Δx-12)1,0 28,00 26,57 25,05 22,41 19,50 16,59
n 7 8 9 10 11 12
(m–150)0,05 8,06 6,90 5,22 3,32 1,79 0,36
(Δx-12)1,0 13,36 11,49 8,75 5,63 3,15 0,84

Com o gráfico pronto, pode-se traçar uma reta (a melhor reta visual possível
ou pelo MMQ). Por essa reta pode-se obter o coeficiente angular.
O MMQ dá um coeficiente angular
K u( K )
a u (a) (3.8)
g u( g)
27
Depois de pronto, o gráfico deve ser assim:

Fig. (3.4): Exemplo de gráfico linear

Em São Carlos, a 22 o Latitude Sul e a aproximadamente 1000m de Altitude


em relação ao nível do mar, a aceleração gravitacional pode ser considerada como:
cm
g u ( g ) ( 978,5 0,5 )
s2
28
e permite calcular o valor da constante elástica K u (K ) .

b) Se for através da reta visual: Escolher dois pontos da reta que não sejam pontos
da tabela, os quais devem ser marcados com □, calcula-se o coeficiente angular
12,00 c mP
m 0,05 c mP 12,0 g g
a u (a) 13,71428571 (3.9)
( x) 17 ,5 c mP 0,875 c m cm
1,0 c mP
m
mas, K g (3.10)
( x)
logo
cm g g
K u( K ) ( 978,5 0,5 ) x 13419,42875 ( 13131 7 ) 10 3
s2 cm s2
dina
K u( K ) ( 13131 7 ) 10 3 ou ainda
cm
Kg N
K u( K ) ( 13131 7 ) ( 13131 7 )
s2 m

Nesse ponto cada aluno deve cobrir esse exemplo e refazer os passos para
construir o gráfico, calcular o coeficiente angular e a constante elástica.

3.3.7 ─ FUNÇÕES EXPONENCIAIS – BASE NEPERIANA

y (x) D e nx (3.11)

onde D e n são constantes.


Essa é uma dependência funcional (função) muito comum em ciência. Essa
função pode ser linearizada com o uso dos logaritmos naturais. Aplicando o
logaritmo natural na eq. (3.11)

ln y ln D n x (3.12)
Com a mudança de variáveis Y ln y e A ln D

Y A nx
Que é a equação de uma reta.

Portanto, ao se representar ln y no eixo vertical e x no eixo horizontal de um


papel milimetrado, obtém-se uma reta.

Ao se representar y diretamente num eixo logarítmico e x num eixo linear,


em um papel mono-log, também se obterá uma reta, cujo coeficiente linear é ln D
e a inclinação n ou coeficiente angular é

ln y (ln y 2 - ln y1 )
n= . (3.13)
x (x2 - x1 )

Observar que aqui é logaritmo neperiano! Com os valores:

e = 2,718281828 e log e = 0,434294482


29
Quando x = 0, tem-se que: ln D ln y (0)

logo, pode-se afirmar que: D y (0)

Obs: Quando se deseja utilizar o papel Monolog comercial, ou alguns


programas computacionais, deve-se atentar para o fato de que a escala logarítmica
encontra-se na base 10 e não na base (e) dos logaritmos neperianos!

Neste caso, aplicando o logaritmo na base decimal à eq. (3.11) se obtém:

log y log D (n log e ) x (3.14)

e a distribuição dos pontos no gráfico também será uma reta com coeficiente linear

log D log y (0) e cujo coeficiente angular é

log y
( n log e )
x

1 log y
n (3.15)
log e x

3.3.8 ─ EXEMPLO 1 DE GRÁFICO MONOLOG


Um corpo de massa m possui velocidade constante v0 até que, a partir do
instante escolhido como t = 0, desliga-se a força propulsora e o seu movimento
passa a ser dominado por uma força dependente da velocidade, dada por
F b v . A equação de movimento será:
dv
m bv (3.16)
dt
separando as variáveis
dv b
dt integrando
v m
v t
dv b
dt obtém-se
v m
v0 0
b
ln v ln v o t que pode ser escrito como (3.17)
m
b
t
v t voe m (3.18)
Tendo sido obtida, numa experiência deste tipo, a tabela

Ponto 1 2 3 4
v (cm/s) (60,6 0,8) (36,7 0,8) (22,3 0,8) (13,5 0,8)
t(s) (1,0 0,2) (2,0 0,2) (3,0 0,2) (4,0 0,2)
Ponto 5 6 7 8
v (cm/s) (8,2 0,8) (4,9 0,8) (3,1 0,8) (1,8 0,8)
t(s) (5,0 0,2) (6,0 0,2) (7,0 0,2) (8,0 0,2)
Ponto 9 10 11 12
v (cm/s) (1,1 0,8) ( 6,7 0,8 )10-1 ( 4,1 0,8 )10-1 (2,5 0,8)10-1
t(s) (9,0 0,2) (10,0 0,2) (11,0 0,2) (12,0 0,2)
30
a) Construir um gráfico de v versus t, em papel mono-log. Traçar visualmente a
reta.

b
b) Obter o coeficiente angular , indicando os dois pontos utilizados com 
m

c) Obter o coeficiente linear ln v 0

d) Calcular v 0

d) Escrever a equação final, na forma da eq. (3.18).

Solução: a folha monolog disponível possui três décadas e 18cm no eixo


milimetrado. Cálculo do módulo do eixo t

18 c mP c mP
Mt 1,5 (3.19)
(12,0 0,0 ) s

uma escolha: passo = 3 cm P e degrau = 2 segundos

Plotando os valores, obtém-se o gráfico da Fig. (3.5).

Aplicando log aos dois lados da eq. (3.17)

b
lo g v lo g v 0 lo ge t (3.20)
m

onde log v 0 é o coeficiente linear

b
I) O coeficiente angular lo g e pode ser calculado por
m

b log (v2 ) log (v1)


log e (3.21)
m t2 t1
ou
b 1 log 0,35 - log 100
0, 50 s 1
m (log e) 11,33333...

O coeficiente v 0 é obtido diretamente no gráfico e é igual a v ( t 0) , logo

cm
v0 100,00 .
s

E a eq. (3.18) fica

v t 100 e 0, 504011614 t

v t 100 e 0, 50 t (3.22)

Depois de pronto, o gráfico deve ser parecido com


31

Fig.(3.5)-Ex.1
32
3.3.9 ─ EXEMPLO 2 DE GRÁFICO MONOLOG
Numa experiência para determinar a velocidade em função do tempo, de uma
bola que se desloca em um óleo, foram obtidos os pontos mostrados na tabela
abaixo. Sabe-se que a velocidade da bola sofre a ação de uma força de atrito
viscoso que deve diminuir sua velocidade com o tempo. Para determinar a relação
funcional entre a velocidade v e o tempo t pode-se propor uma relação do tipo:

t
t
v v0 e v 0 exp (3.23)

A proposta de uma equação de ajuste do tipo exponencial resulta do fato de


que a distribuição dos pontos num gráfico Monolog é uma reta (ver abaixo).
Aplicando o logaritmo na base 10 à função v(t) vem:

1
log v log v 0 log e t

1
log v log v 0 log e t (3.24)

e – base dos logaritmos naturais.

- tempo característico de amortecimento. É a constante de tempo do


sistema físico.
Tabela de medidas
Ponto 1 2 3 4
v (cm/s) (29,40 0,05) (14,50 0,05) (6,54 0,05) (3,48 0,05)
t(s) (1,00 0,02) (2,00 0,02) (3,00 0,02) (4,00 0,02)
Ponto 5 6 7 8
v (cm/s) (1,71 0,05) (0,84 0,05) (0,41 0,05) (0,20 0,05)
t(s) (5,00 0,02) (6,00 0,02) (7,00 0,02) (8,00 0,02)
Solução: a folha monolog disponível possui três décadas e 18cm no eixo
milimetrado. Cálculo do módulo do eixo t:
18 c mP c mP c mP
Mt 2,25 2 (3.25)
(8,00 0,00 ) s s
uma escolha: passo = 2 cm P e degrau = 1 segundo
A partir do gráfico pode-se obter a constante de tempo de duas maneiras
distintas
1
I) O coeficiente angular log e pode ser calculado por

lo g e lo g ( v 2 ) - lo g ( v 1 ) lo g (1,20) lo g (60,00)
(3.26)
t2 t1 5,50 0,00
5,50 0,00
(log e)
log (1,20) log (60,00)
5,50
( 0,434294482 ) 1,40592203s
- 1,698970004
1,406 s
Depois de pronto, o gráfico deve ser parecido com o da Fig.(3.6)

t
1,406 s t
v v0 e v 0 ex p (3.27)
1,406s
33

Fig.(3.6)-Exemplo 2
34
3.3.10 ─ FUNÇÕES EXPONENCIAIS – BASE DECIMAL

y x Axn (3.27)

onde a e n são constantes. Relações funcionais deste tipo podem ser analisadas
aplicando o logaritmo à eq. (3.27), o que dá

log y log A n log x (3.28)

Assumindo que:

Y log y ; X log x e B log A

obtém-se a equação de uma reta do tipo

Y B nX (3.29)

Assim, lançando os valores de log y no eixo vertical e log x no eixo horizontal,


em um gráfico linear (papel milimetrado) resulta em uma reta, é possível obter o
coeficiente angular n (inclinação) e o coeficiente linear B.
Como no caso anterior (item a), pode-se estabelecer a equação que relaciona
Y e X e, portanto, a relação funcional entre x e y.
Outra opção para a representação dos pontos Pi (xi , yi) é utilizar gráficos com
escalas não lineares, por exemplo, escalas logarítmicas.
Se os pontos experimentais forem lançados diretamente em um papel Di-log
(ou Log-Log), no qual as escalas vertical e horizontal são logarítmicas, também
será obtida uma reta.
Neste gráfico o coeficiente angular n, da eq. (3.29), é obtido da relação

lo g y lo g y 2 lo g y 1
n (3.30)
lo g x lo g x 2 lo g x 1

É importante observar que para o cálculo do coeficiente angular n é


necessário calcular o logaritmo dos valores xi e yi , lidos nos eixos, para os pontos
escolhidos na curva.
Quando log x 0 (para x = 1), tem-se que log y log A , pela eq. (3.29),
logo, y A (para x = 1).

3.3.11 ─ EXEMPLO DE GRÁFICO DILOG

Numa experiência para determinar a intensidade luminosa que incide em uma


foto-célula em função da distância até a fonte de luz foram obtidos os pontos
mostrados na tabela abaixo:

Distância Corrente Elétrica


(cm) (mA)
1,00 50,00
2,00 11,50
5,00 2,00
11,50 0,40
22,40 0,10
35
Sabe-se que a corrente elétrica na foto-célula é proporcional à intensidade
luminosa incidente. Para determinar a relação funcional entre a corrente elétrica I e
a distância da fonte x pode-se propor uma relação do tipo I (x) I 0 x n.
A aplicação do logaritmo à função I (x) resulta em:

log I (x) log I 0 n log x (3.31)

A partir do gráfico obtido pela tabela acima, pode-se obter o coeficiente n,


que é a inclinação da reta, como segue:

I log ( i2 ) log ( i1 ) log (0,10) log (50,00) 2,699


n -2
x log ( x 2 ) log (x1 ) log (22,00) log (1,00) 1,350

O coeficiente I 0 é obtido diretamente no gráfico e é igual a I (x 1) , logo:


I0 50,0 m A .

A relação entre a corrente elétrica na foto-célula I e a distância à fonte


luminosa x é:

I (x) 50 x 2 (3.32)

Fig.(3.6) – Exemplo de Gráfico Dilog


36
CAPÍTULO 4 ─ MÉTODO DOS MÍNIMOS QUADRADOS – MMQ

Este método consiste em determinar os coeficientes da função y(x) para qual a


diferença
i N 2

yi Y( x i ) (4.1)
i 1
é mínima – daí o nome do Método: Mínimos Quadrados.

y x i - é a função proposta como a mais provável para descrever os pontos.

Na eq. (4.1) os x i e y i são as coordenadas dos pontos P i (x i , y i ) e N o


número de pontos.
Para o caso em que os pontos no gráfico apresentem uma distribuição linear,
será assumida a equação
Y (x i ) a x b (4.2)
Através do Método dos Mínimos Quadrados (neste caso também denominado
Regressão Linear, por ter sido assumida uma reta como a curva mais provável)
podem-se determinar os valores de a e b para os quais a função
i N 2
f( a,b ) yi ( axi b) (4.3)
i 1

é mínima. Para se obter os valores de a e b para os quais a eq. (4.1) é mínima


basta resolver as equações (4.4) e (4.5)

i N 2
yi (a xi b) 0 (4.4)
a i 1

e
i N 2
yi (a xi b) 0 (4.5)
b i 1

Derivando essas eqs. (4.4) e (4.5), resultam em:

N N N N N
Nb a xi yi e b xi a x i2 xi yi
i 1 i 1 i 1 i 1 i 1

De onde se pode obter, para o coeficiente angular a e o coeficiente linear b da


reta proposta, as seguintes expressões:

N xi yi xi yi xi xi yi
a (4.6)
2 2 2
N x i xi xi xi

2
yi xi xi yi xi
b y ax (4.7)
2 2
N xi xi
37
onde, x e y são calculados com a eq. (4.5) e x i , y i são as coordenadas dos
pontos Pi. De posse dos valores de a e b pode-se substituí-los na equação de y(x)
proposta. A partir daí, atribuindo valores a x pode-se traçar a reta mais provável,
aquela que melhor descreve a distribuição dos pontos do gráfico.
Ainda através de tratamentos estatísticos dos dados é possível se obter
também os desvios associados de a e b como:

N y
a y (4.8)
2
N ( x i ) ( xi ) 2 ( xi xi )
2

2 2
x i x i
b y (4.9)
2 2 2
N ( x i ) ( x i ) N ( xi xi )
onde
( axi b - yi )2
y (4.10)
(N 2)

Se a melhor reta obrigatoriamente tiver de passar pela origem (b = 0) seu


coeficiente angular a e o respectivo desvio serão dados por:

xi yi 1 a x i yi 2
a e a (4.11)
2
xi N 1 x 2i

Obs: É importante observar que os coeficientes obtidos pelas eqs. (4.6) até (4.11),
somente são válidos para o caso em que a curva mais provável é uma reta!
Para o caso em que a distribuição dos pontos do gráfico não pode ser
descrita por uma reta deve-se assumir outro tipo de função y(x) para
substituir na eq. (4.3).

O MMQ é geralmente o método utilizado para o ajuste de curvas nos


programas computacionais mais comuns, inclusive das calculadoras científicas.
38

CAPÍTULO 5 – CONCEITOS BÁSICOS DE ELETRICIDADE


Neste capítulo, serão discutidos os conceitos essenciais relativos a diferença
de potencial (ddp); intensidade e densidade de corrente; lei de Ohm e lei de Joule;
assim como alguns componentes de circuitos elétricos, como resistências, baterias
ou fontes, capacitores, indutores, transformadores, etc....

5.1 – SIMBOLOGIA

5.2 – CARGA ELÉTRICA


Uma das propriedades fundamentais dos portadores elementares da
eletricidade na matéria, chamados elétrons e prótons, é o valor da sua carga
elétrica, que corresponde aproximadamente a
q  1,603x 10  19 C Coulombs - (C)
Quando duas cargas elétricas, dois elétrons (ou dois prótons ou um elétron e
um próton), estão próximas entre si, existe uma força entre elas dada pela lei de
Coulomb.

5.3 – LEI DE COULOMB


Duas cargas elétricas estáticas, q 1 e q 2 separadas por uma distância r,
sofrem a ação de uma força elétrica mútua, dada por
39

 1 q1 . q2 q1 . q2
F  r̂  K r̂ (5.1)
4 0 r2 r2

Unidades no SI:

 F  = N (Newton )
 q  = C (Coulomb )
 r  = m (metro )
  2
1 9 Nm
K      9,0 x 10
 4   0  C2
C2
  0   8,85 x 10  12
Nm2

onde  0 é a Permissividade Elétrica do Vácuo, é uma constante cujo valor depende


do sistema de unidades utilizado.
Para outros materiais, a permissividade elétrica é dada por:     0 . Onde
K é a Constante Dielétrica do material.
A unidade de carga elétrica, o Coulomb, pode ser definida como a quantidade
de carga que quando colocada a uma distância de um metro de outra carga

idêntica, elas ficarão sujeitas a uma força F  9,0  10 9 N . Esta força é
aproximadamente igual ao peso de um bloco de um milhão de toneladas!
A carga elétrica de 1 Coulomb corresponde à carga de 6,2  10 18 elétrons.
A expressão matemática da Lei de Coulomb é semelhante à da atração
gravitacional, onde um corpo de massa m, situado a uma distância r do centro de
massa do corpo de massa M (no caso, a Terra), pesa

 M. m
P  G r̂ (5.2)
r2

Onde: G é a constante gravitacional


M é a massa da Terra
r é a distância entre os centros de massa da Terra e do corpo.
Da eq. (5.2) pode-se escrever

 M
g G r̂ (5.3)
( R  h )2

Onde g , ou simplesmente g, é uma constante que depende da massa da
Terra (M) e da posição (h) onde ela está sendo determinada. A Terra gera em torno
de si um Campo de Atração Gravitacional, onde um corpo de massa m, situado a
uma altura h acima da superfície média da Terra no local, com raio médio R, fica
sujeito a uma força peso, dada por

Pmg (5.4)

O Campo Gravitacional pode ser descrito pelo Vetor Aceleração da Gravidade, g .
40

5.4 – CAMPO ELÉTRICO


Força elétrica sobre uma carga elétrica estática.
Em uma perfeita analogia com o Campo Gravitacional, pode-se dizer que uma
carga elétrica q, em repouso, gera em torno de si um Campo Elétrico E (campo
vetorial, que depende da posição onde está sendo medido e da carga elétrica
geradora, q) de modo que, se uma carga de prova q 0 , for colocada em um ponto

do espaço onde E está atuando, ela ficará sujeita a uma força de natureza elétrica
 
Fq0 E (5.5)

O Campo Elétrico é descrito pelo vetor intensidade de campo elétrico E .

Unidades no SI:
 

E  
N V
C m
Esta força é a mesma da Lei de Coulomb, só que o conceito de campo elétrico
apresenta a força elétrica de uma forma mais conveniente e facilita muito a solução
e a compreensão de problemas eletrostáticos.
A carga ( q ) , pelo fato de estar situada num campo elétrico, possui uma
energia potencial.
Então, a variação da energia potencial dessa carga quando a sua posição
varia entre dois pontos genéricos A e B será igual ao trabalho mecânico, para
movê-la entre esses pontos, realizado contra o campo elétrico presente.
Desprezando os efeitos de atrito e considerando aceleração nula, tem-se, pela
definição de trabalho, que

Fig. 5.1 Fig. 5.2 Fig. 5.3

b
W  F  co s  ds (5.6)
a  
onde  é o ângulo entre a força F e o sentido do movimento, que é paralelo a ds , o
vetor deslocamento. Assim, pode-se escrever
B
WAB   q  E  co s  ds (5.7)
A

A integral mostrada na eq. (5.7) é a diferença de potencial elétrico, V, entre


os pontos A e B. Ou seja

WAB
V B  VA  VA B   (5.8)
q
41

5.5 – DIFERENÇA DE POTENCIAL


Outra forma (escalar) de descrever o campo elétrico é através do potencial
elétrico.
Uma partícula eletricamente carregada q 0 , situada em um ponto onde exista
um campo elétrico, possui uma energia potencial elétrica, U, bem definida, a menos
de uma constante arbitrária indicando o referencial do sistema (do mesmo modo
que um corpo de massa m, no campo gravitacional, possui energia potencial
mecânica que depende da sua posição). Se esta partícula movimentar-se para
outro ponto, terá então, outro valor de energia potencial elétrica.
A diferença de potencial elétrica (ddp) V existente entre dois pontos em um
campo elétrico, é medida pelo trabalho requerido (ou fornecido), para transferir
uma unidade de carga elétrica de um ponto para outro, dentro do campo elétrico.
A ddp será de 1 Volt, quando um trabalho de 1 Joule for requerido (ou
fornecido) para transportar 1 Coulomb de um ponto para outro, por uma distância
de 1 m entre os pontos.
Unidades no SI
As unidades da diferença de potencial no SI serão expressas em joules por
J
coulomb ( ), que recebe o nome de volt.
C
1J
1 volt 
1C

A ddp (ou tensão) em um circuito elétrico é medida sempre entre dois pontos
distintos deste circuito.
Esta medida é feita com o aparelho chamado voltímetro, que deve ser
conectado em paralelo nestes dois pontos.
Dois elementos elétricos (componentes ou instrumentos) estarão ligados em
paralelo se tiverem ambos os terminais ligados respectivamente em comum. Ver o
cap. 11 desta apostila.
O termo “tensão em um ponto” refere-se à tensão em um ponto em relação a
um ponto comum, chamado terra (GND), cujo potencial é escolhido como sendo
nulo.
A Fig. 5.2 mostra um Voltímetro ligado em paralelo com um resistor (dois
pontos comuns).
Em esquemas de circuitos elétricos, a tensão (ddp) é representada por uma
flecha cujo sentido indica o ponto de maior potencial. Na Fig. 5.2, o ponto 1 tem
potencial elétrico menor do que o ponto 2.
V2  V1  V1 2  V R
Uma carga elétrica positiva q ao atravessar o resistor, do terminal 2 para o
terminal 1, terá sua energia potencial elétrica diminuida de uma quantidade
 U  q V . É como se a carga elétrica descesse um degrau de potencial.
Esta energia elétrica é transformada em outra forma de energia, que depende
do componente. Se for uma resistência, dissipará calor por efeito Joule.
Obs: Será adotado o uso de letras maiúsculas para definir parâmetros
elétricos contínuos (os que são constantes em relação ao tempo), ou valores
instantâneos máximos, de zero a pico ou de pico a pico) e, letras minúsculas
quando são parâmetros elétricos alternados (os variáveis com o tempo).
Exemplo: V  tensão contínua
V 0 P  valor de zero a pico
V P P  valor de pico a pico
v ou v (t )  tensão alternada.
42

5.6 – INTENSIDADE E DENSIDADE DE CORRENTE ELÉTRICA


O movimento de cargas elétricas, provocado pela presença de um campo
elétrico atuando sobre elas, constitui a corrente elétrica, I. Esta é definida como
sendo a quantidade de carga q que atravessa um ponto, ou a área de uma secção
reta, por unidade de tempo
dq
I (5.9)
dt
A teoria microscópica da eletricidade considera que os materiais metálicos
possuem elétrons livres, que podem se mover quando submetidos a um campo
elétrico. Se um fio metálico de seção reta A estiver submetido à ação de um campo
elétrico E , onde n elétrons por unidade de volume se movem sob seu efeito com

velocidade v , então a carga total dq que atravessa a secção reta A será

dq  n e v A d t (5.10)
Então, a corrente elétrica pode ser escrita como
dq
I  nevA (5.11)
dt
C
Unidades no SI: Corrente elétrica é medida em coulombs por segundo ( ),
s
denominada Ampère
1C
1A
1s
Pode-se ver na Fig. 5.3 que o sentido da corrente é oposto ao movimento dos
elétrons, já que estes têm sinal negativo. 
Outra grandeza muito importante é a densidade de corrente, J , definida
como a relação entre a intensidade da corrente, I, e a área, A, da seção transversal
I
J  nev (5.12)
A
a qual é claramente independente da geometria do condutor.

5.7 – CORRENTE ELÉTRICA


Um condutor é um material (normalmente metálico), que contém cargas
livres (geralmente elétrons), que podem ser forçados a se movimentar de um
átomo para os outros.
Ao ser aplicada uma ddp em um condutor, ocorrem os seguintes fenômenos:
i) Surge um campo elétrico
 E (devido

à ddp aplicada
 V) 
ii) Forças elétricas Fe , devidas a E , dadas por Fe  q E , atuam sobre as
cargas livres 
iii) Estas cargas livres se movimentam, devido a Fe , do ponto de maior
potencial elétrico para o ponto de menor potencial elétrico (a ddp V).
Corrente elétrica é o nome dado ao movimento de cargas elétricas através
de um circuito.
Se a carga elétrica for transferida numa razão constante

Coulomb 1C
1 , a corrente elétrica será de 1 Ampère. 1 A 
segundo 1s
Em geral, se a taxa for variável com o tempo
dq
i (t)  (5.13)
dt
A corrente elétrica é definida como sendo positiva se as cargas elétricas
positivas estiverem se movendo em direção ao ponto de menor potencial, este é o
sentido convencional (histórico) da corrente elétrica!
43

Para medir a corrente elétrica em um ponto do circuito, é necessário cortá-lo


neste ponto, para inserir um amperímetro, de modo a se conectar cada ponta de
medida do aparelho a um dos pontos resultantes do corte. Esta é, por definição,
uma ligação em série:

Fig. 5.4
Amperímetro ligado em série com um componente (um ponto comum).
Dois elementos (componentes ou instrumentos) estão ligados em série se
tiverem só um terminal ligado em comum.
Um elemento (ou componente) de um circuito (como R na Fig. 5.4) possui,
geralmente, dois terminais acessíveis.
O movimento de cargas elétricas através dos elementos do circuito está
normalmente associado com a absorção ou geração de energia (Watt).

5.8 – LEI DE OHM


A presença de um campo elétrico exerce uma força elétrica sobre os
portadores de carga (elétrons para um metal condutor), estes portadores estarão
acelerados até serem espalhados (i.e., colidirem) pela estrutura cristalina do
material, fig. 5.5.

Fig. 5.5 Fig. 5.6


Assim, pode-se considerar que cada portador de carga possui  uma velocidade

média  , que cresce linearmente com o campo elétrico E aplicado. Se estes
portadores de carga são elétrons, então

  E (5.14)
onde  é a mobilidade do elétron, que é uma propriedade característica de cada
material ( apresenta valores altos para bons condutores, e valores baixos no para
maus condutores).
  Pode-se escrever a densidade de corrente elétrica como
J  n e E (5.15)

J
O quociente (  ) só depende do material, é a condutividade elétrica 
E

J
    ne  (5.16)
E
Unidades no SI:    
1
m
Os dois primeiros membros da eq. (5.16) constituem a lei de Ohm, que
descreve a relação entre a densidade de corrente e o campo elétrico num material
condutor. A partir dela é possível definir a resistividade do mesmo material, como
44

1
 (5.17)

Unidades no SI:      m
Seja um condutor metálico de comprimento L e de seção reta A,
transportando uma corrente I, a diferença de potencial V entre os extremos do
condutor, Fig. 5.6, será
 L
V  E  n̂ L  I (5.18)
A
A partir da eq. (5.18) pode-se definir a resistência R do condutor, como
L
R (5.19)
A
De acordo com a eq. (5.19), a resistência do fio depende não somente do
material do qual ele é constituído, mas também da área da seção reta e do seu
comprimento. Assim, um fio longo e fino, tem resistência maior que um fio
fabricado com o mesmo material, porém mais grosso e com o mesmo
comprimento. A resistência é medida em ohms, simbolizados pela letra grega .
Resistividade a Coeficiente de Tempe-
Material 20 oC, ( m ) ratura a 20 oC, ( K-1 )
Prata 1,6 x 10 - 8 3,8 x 10 - 3
Cobre 1,7 x 10 - 8 3,9 x 10 - 3
-8
Alumínio 2,8 x 10 3,9 x 10 - 3
Tungstênio 5,5 x 10 - 8 4,5 x 10 - 3
Ferro 10 x 10 - 8 5,0 x 10 - 3
Chumbo 22 x 10 - 8 4,3 x 10 - 3
-8
Mercúrio 96 x 10 0,9 x 10 - 3
Nichrome 100 x 10 - 8 0,4 x 10 - 3
(Ni,Cr,Fe)
Carbono 3500 x 10 - 8 - 0,5 x 10 - 3
Germânio 0,45 - 4,8 x 10 - 2
Silício 640 - 7,5 x 10 - 2
Tabela 5.1: Resistividades e Coeficientes de Temperatura de Alguns Materiais.
A forma usual e mais conhecida, para a lei de Ohm é
V  RI (5.20)
Significa: “Um componente condutor obedece à lei de Ohm quando sua
resistência é independente do valor e da polaridade da ddp aplicada”.
Ou, “Um material condutor obedece à lei de Ohm quando sua resistividade é
independente do valor e da direção do campo elétrico aplicado”.
Da eq. (5. 20) pode-se ver que um ohm é equivalente a um volt (V) por
ampère (A).
1V
1  (5.21)
1A

Fig. 5.7
5.9 – LEI DE JOULE
A energia cinética dos elétrons dentro de um condutor, adquirida em função
do campo elétrico que as acelera, é perdida por dissipação na forma de calor devido
45

aos choques inelásticos entre eles e a rede cristalina. Esta perda de energia
provocará um aumento da temperatura do condutor.
De acordo com as leis de conservação da energia, será preciso realizar
trabalho para fazer uma corrente circular por um condutor com resistência.
A energia necessária para circular uma carga dq através de um condutor
submetido a uma diferença de potencial V, é
dW  V dq (5.22)
dW
ou: d W  V I d t  P IV (5.23)
dt
onde P é a potência elétrica absorvida pelo elemento.

Calibre Diâmetro a 20 oC Área


(número) (mm) A (mm 2)
4 5,189 21,15
6 4,115 13,30
8 3,264 8,366
10 2,588 5,261
12 2,053 3,309
14 1,628 2,081
16 1,291 1,309
18 1,024 0,8235
20 0,8118 0,5176
22 0,6438 0,3255
Tabela 5.2 : Diâmetros e Áreas das Seções Retas de Fios de Cobre Comercializados.

5.10 – POTÊNCIA ELÉTRICA


A potência elétrica fornece a energia convertida em calor por unidade de
tempo. Esta mesma expressão pode ser escrita numa forma alternativa, quando
utilizada a lei de Ohm
P  I2 R (5.24)
este é o enunciado matemático da lei de Joule. Unidades no SI da Potência
joule
[P]= ou ( A 2), que recebe o nome de watt (W).
segundo
1 Joule
1W 
1 segundo
A energia líquida total absorvida pelo elemento será
w (t )   p (t ) dt   v (t ) i (t ) dt (5.25)
 W   J Joule  e  P   W Wat t 
dw( t )
P(t )  (5.26)
dt
5.11 – ENERGIA ELÉTRICA
A energia elétrica é absorvida por um componente do circuito quando uma
quantidade diferencial de carga dq se move através dele no sentido: do terminal 
(positivo) para o terminal – (negativo).
Na Fig. 5.2, do ponto 2 para o ponto 1,
Se d w  v dq  0 , o componente está absorvendo energia.
mas
Se d w  v dq  0 , o componente está fornecendo energia.
Por definição de corrente elétrica,
dq  i dt
logo d w  v i dt (5.27)
46

CAPÍTULO 6 – FORMAS DE ONDAS


De tensão, corrente ou potência.
Uma representação gráfica de v ( t ) ; i ( t ) ou p ( t ) é chamada forma de
onda de tensão, de corrente ou de potência.
Sejam V, I ou P, com amplitudes constantes em relação ao tempo, as
formas de onda serão de tensão contínua VDC, (Direct Current), de corrente
contínua IDC, ou de potência contínua PDC.

Na Fig. 6.1 e Fig. 6.3, V A B  V B  V A representam a ddp entre os pontos A


e B. Considerar V A como referência ( V A = 0), nos circuitos da Fig. 6.1 e Fig. 6.3.

Fig. 6.1 Fig. 6.2


O resistor ligado aos terminais A e B provoca o aparecimento de uma
corrente IDC (de B para A no primeiro exemplo, Fig. 6.1; e de A para B no segundo,
Fig. 6.3).
Na Fig. 6.2 estão as respectivas formas de ondas de v ( t ) e i ( t ) . Observar
na Fig. 6.4, que há uma inversão de polaridade da tensão e, conseqüentemente,
uma inversão no sentido da corrente entre os pontos A e B.

Fig. 6.3 Fig. 6.4

Questão: Como devem ficar as formas de onda de potência para cada caso?
As amplitudes de V e I podem variar com o tempo e ainda assim representar
formas de ondas de tensão, de corrente ou de potência contínuas, chamadas
variáveis ou pulsadas, se não houver inversões nas polaridades das tensões ou
sentidos das correntes. Ver Fig. 6.5 e Fig. 6.6.

Fig. 6.5 Fig. 6.6


47

Se a forma de onda inverte sua polaridade (ou o sentido de I) ela é


alternada.
Em particular, se as inversões forem regulares, as formas de onda são
periódicas.
Uma forma de onda (ou função) é periódica se

f (t)  f (t nt)
onde n é um no inteiro e T é o período.
Para uma função periódica, só um período já é suficiente para definir sua
forma de onda. Ver Fig. 6.7:

Fig.6.7
A forma de onda mais comum em eletricidade é a senoidal, que será
estudada em corrente alternada.

CAPÍTULO 7 – CORRENTE ALTERNADA

7.1 – SINAIS SENOIDAIS


A forma de onda mais simples para representar os sinais de tensão V e
corrente elétrica I como funções que variam com o tempo é a senoidal, na qual a
amplitude varia senoidalmente com o tempo.
Uma idéia de onda senoidal é gerada pela variação da componente vertical
de um vetor rotativo, que gira em sentido anti-horário com velocidade angular
constante , ver Fig. 7.1

Fig. 7.1

Uma revolução completa é chamada ciclo e o intervalo de tempo gasto em


um ciclo é chamado período T.
O no de ciclos por segundo é a frequência f, medidas em Hertz (Hz).
Portanto,
48

1
f  (7.1)
T
Como há 2 radianos em uma revolução completa e ela ocorre em um
tempo T segundos,
2
   2 f (7.2)
T
Se o módulo do vetor for V p , o valor instantâneo em qualquer tempo será:

v ( t )  V p s en  t (7.3)

V p é o valor máximo ou valor de pico da tensão senoidal v ( t ) .

Por analogia, uma corrente senoidal fica


i ( t )  I p s en  t (7.4)

7.2 – FASE
É a parte que representa a fração de um período que se encontra avançada
(ou atrasada) no tempo (ou no ângulo temporal associado,  t ) a partir de uma
referência arbitrária.
No caso de uma variação senoidal simples, a origem é considerada
normalmente como a última passagem pelo valor zero da função, na direção do
negativo para o positivo, ver Fig. 7.2. Se a fase de uma onda senoidal é 1/12 do
período, o que corresponde a 30o a partir da origem, a ordenada (que é o valor da
função naquele ponto) é metade do seu valor máximo.
Se outra fase fosse 1/4 do seu período (ou 90o a partir da origem) a
ordenada teria o seu valor máximo positivo; e assim por diante, para qualquer
outro valor que represente uma fração de T (ou de  t  2  ). De acordo com esta
definição, o ângulo de fase de uma onda é o ângulo a partir do ponto onde a função
possui o valor zero até o ponto tomado como origem de contagem do tempo.
A equação que representa a Fig. 7.2 é a de uma onda senoidal (de corrente
elétrica) com um ângulo de fase 

Fig. 7.2 Fig. 7.3

i ( t )  I p sen (  t   ) (7.5)
O valor da corrente no ponto t  0 é i ( t  0 )  I p sen 
O ângulo  é o ângulo de fase da corrente em relação ao ponto i ( t )  0 ,
tomado como referência.

7.3 – DIFERENÇA DE FASE


Se duas formas de ondas senoidais possuem a mesma frequência e
“passam” pelo zero em tempos diferentes, elas estão fora de fase. O ângulo entre
os dois vetores rotativos que as geram é o ângulo de fase. Na Fig. 7.3, a
49

tensão v1 ( t ) está adiantada da tensão v2 ( t ) , porque passa pelo zero (origem)


primeiro e a diferença de fase é o ângulo .
As equações para v1 ( t ) e v2 ( t ) são

v 1  V p sen (  t   ) e v 2  V p sen  t (7.6)

O ângulo de fase também permite comparar grandezas diferentes, por


exemplo, uma ddp aplicada a um circuito conhecido é

v ( t )  V p s en  t (7.7)
A corrente resultante apresenta um adiantamento em relação à ddp de um
ângulo , obtido a partir da natureza, características e valores dos parâmetros do
circuito (valores de seus componentes), e ela pode ser

i ( t )  Ip sen (  t   ) (7.8)

A Fig. 7.4 ilustra esta situação. A corrente está atrasada de um ângulo  em


relação à tensão. Ou, a tensão está adiantada de um ângulo  em relação à
corrente.
A diferença de fase é a diferença entre os ângulos de fase das duas ondas.

Fig. 7.4

Se, v ( t )  5 ,8 s en (  t  0 o ) e i ( t )  100 s en (  t  45 o ) a diferença

de fase entre v ( t ) e i ( t ) é 0 o  (  45 o )  45 o

7. 4 – VALOR EFICAZ OU VALOR RMS


Geralmente é necessário fazer uma comparação entre uma corrente
alternada (AC) senoidal e uma corrente contínua (DC).
Isto é: o valor efetivo ou valor eficaz de uma corrente elétrica senoidal é
igual ao valor de uma CC que produza a mesma quantidade de calor que a CA no
mesmo resistor.
Para determinar este valor, o efeito de aquecimento de uma corrente
alternada é calculado pelo valor médio da potência dissipada em um ciclo completo.
A potência média é:
50

2
1
T R Ip T
2 2
P   R i dt   s en t dt (7.9)
T T
0 0
e
2 2 2
RIp  t s en 2  t 
T
R Ip T R Ip V p2
P        (7.10)
T  2 4 0 2T 2 2R

Desde que o aquecimento produzido em um resistor por uma DC é igual a R


I 2, o valor efetivo, também chamado eficaz ou rms, (I r m s  root mean square), de
uma corrente alternada senoidal é:

2
Ip R Ip
I r2m s R  ou I rms  (7.11)
2 2
Vpp Vp
Vrms   (7.12)
2 2 2

Notar que
De acordo com as eq. (7.11) e eq. (7.12), o valor efetivo (eficaz, ou rms) de
uma onda senoidal é simplesmente seu valor de pico dividido por raiz quadrada de
dois.

Voltímetros e amperímetros capazes de medir sinais AC, medem sempre os


valores rms!

Assim, na prática, as tensões e correntes em AC são caracterizadas pelos


seus valores eficazes.

7.5 – A LINHA DE ALIMENTAÇÃO


A rede de energia elétrica tem sua produção majoritária em usinas
hidroelétricas, com algumas contribuições de usinas termoelétricas e nucleares. Ela
é distribuída por linhas de transmissão, de voltagem muito alta (desde centenas de
kilovolts a até alguns megavolts), que cruzam todo o país.
As linhas de transmissão trabalham com voltagens tão altas porque a perda
nos cabos é proporcional ao quadrado da corrente e à resistência do cabo e, para
uma dada potência de consumo, diminuir a corrente significa aumentar a voltagem.
As linhas terminam em alguma estação distribuidora, onde a voltagem é
reduzida para algumas dezenas de quilovolts e alimenta redes locais, do tamanho
de uma cidade.
Subestações distribuidoras reduzem a voltagem ainda mais (3 a 11 kV) e
alimentam redes menores, do tamanho de bairros, grandes indústrias ou de um
campus universitário.
Transformadores distribuídos nos bairros reduzem a alta voltagem para
alimentar com a tensão de linha (entre 110 e 220 V eficazes) prédios individuais ou
um conjunto de poucas casas.
Destes transformadores saem geralmente dois ou três fios “vivos” e um fio de
retorno ou “neutro” que é geralmente aterrado perto do transformador.
“Aterrado” significa que o fio neutro é ligado a uma lança condutora que está
enterrada a alguns metros de profundidade na terra, onde a condutividade é alta.
Os fios “vivos” são também chamados “fases”. Em alguns casos (Estados
Unidos, por exemplo) há duas fases de 110 V eficazes e a diferença de potencial
entre elas é de 220 V. Assim, uma casa pode ter 110 V para as tomadas e 220 V
51

para alguns eletrodomésticos que consomem muito, tais como chuveiro elétrico,
fogão elétrico, lavadoras, etc.
Deve-se lembrar sempre que a corrente deve ser baixa, menor do que 40 A;
caso contrário fios de calibre mais grossos terão que ser usados nas instalações.
Em Campinas há duas ou três fases de 127 V, com uma diferença de fase
entre elas de 120º. A diferença de potencial entre dois fios vivos quaisquer é 220 V.
Na Europa e alguns países da América Latina, por exemplo: Argentina - o vivo
é de 220V e a diferença entre dois vivos (que estão defasados em 120º) é de 381V.
Isto barateia o custo das instalações das redes elétricas onde os fios podem ser
mais finos do que em países com linhas de 110 V, mas encarece as instalações
dentro das casas porque é necessário um melhor isolamento e tomar mais cuidado
com a segurança.
Outra diferença é que a frequência das linhas de transmissão nos países com
220V é de 50Hz e nos países com 110V é de 60Hz.
No Brasil a voltagem de linha depende da cidade e até da casa. Em algumas
cidades uma casa pode estar ligada em 220V e outra próxima em 110V.
Em muitas cidades é 127 V com 60 Hz. Nas viagens é importante perguntar
qual é a tensão de linha local antes de ligar o secador de cabelos ou o barbeador
elétrico.
Antes de comprar um aparelho motorizado na Europa, verificar se este não
tem um motor síncrono, que funciona em sincronismo com a frequência da linha,
que na Europa é 50Hz.
Normalmente nos laboratórios de ensino e de pesquisa existe outra lança
aterrada, bem perto do prédio, ligada a um fio chamado “terra” ou terra de
segurança.
A voltagem do “neutro” em relação ao “terra” depende da corrente (ou seja,
do consumo) e da resistência do fio neutro até o ponto onde ele está aterrado, e
não deve ser maior que uns 5 a 10V (mesmo assim, o fio neutro não deve ser
tocado!). Normalmente não passa corrente pelo fio terra. Na tomada do laboratório
tem um vivo, um neutro e um terra.

Fig. 7.5 Fig. 7.6

A Fig. 7.5 é o esquema de uma tomada com ponto de terra. Por convenção o
neutro deve ficar à direita do vivo e o terra embaixo.
Outra convenção, o fio vivo deve ser preto (cor da morte) o neutro branco e o
terra verde. (Estas convenções não são muito respeitadas no Brasil).
A Fig. 7.8 é o esquema da linha de alimentação até o laboratório, onde cada
fase pode alimentar várias tomadas todas ligadas em paralelo.

O gabinete metálico de todo instrumento, eletrodoméstico ou computador


deve estar conectado ao terra, de modo que possa ser tocado com segurança.
52

Alguns instrumentos (como voltímetros, eletrômetros e alguns tipos de


fontes) podem ter entrada ou saída flutuante, que significa que nenhum dos
contatos de entrada ou saída está ligado à terra. Este não é o caso dos
osciloscópios, que sempre medem em relação à terra; por isso, nunca se deve ligar
a entrada do osciloscópio à linha (poder-se-á estar ligando o terra do osciloscópio
ao vivo ou ao neutro, mas só se saberá se o terra foi ligado ao vivo depois de se
ouvir a explosão!).
Portanto, nunca se deve medir na rede com o osciloscópio!
O único modo seguro seria assim (mas não deve ser feito!):
”Na presença do professor: utilizar uma ponta de prova atenuadora de pelo
menos 10x (verificar que a impedância da ponta de prova é alta, maior que 1 M) e
não ligar o terra da ponta de prova (geralmente um conector tipo jacaré) a nenhum
dos pontos da tomada. Assim pelo menos você poderá medir as voltagens (em
relação ao terra do osciloscópio) de cada ponto da tomada e descobrir qual é o vivo
e qual o neutro.
Para medir a diferença de potencial entre vivo e neutro, deve-se utilizar um
osciloscópio de dois canais e subtrair os sinais no osciloscópio. Na presença do
professor: utilizar um osciloscópio de dois canais que tenha modo de soma (ADD) e
de inversão (INVERT); utilizar também duas pontas de prova (mas não ligar os
terras das pontas de prova), uma em cada canal do osciloscópio; ligar uma ponta
(Channel 1) no vivo e a outra (Channel 2) no neutro, e fazer a subtração no
osciloscópio (ou seja, INVERT Channel 2 e colocar o modo vertical em ADD. Se não
entendeu é porque ainda não deve tentar fazer!
Se for medir voltagens de linha, utilizar pontas de prova atenuadoras para
que a senóide caiba na tela do osciloscópio (onde geralmente cabem 80V). Porque,
se a tensão eficaz é de 127V, a Tensão de pico-a-pico é 359.2 Volts!”

Mas é possível ver a forma de onda da rede usando um transformador com


entrada 220V e saída 24V entre os dois vivos, ele terá 12V de cada um dos vivos
(VS1) e (VS2) ao Center Tape. Ligando a ponta de prova CH1 do osciloscópio ao
vivo (VS1) e o seu terra ao CT aparece na tela a onda desejada. Ligando a outra
ponta de prova CH2 ao vivo (VS2) e seu terra junto ao outro terra, no CT, aparece
a segunda onda. Essas duas ondas estão defasadas e pela característica do Center
Tape a defasagem é de 180 o. Será feito assim em aula.

CAPÍTULO 8 – COMPONENTES BÁSICOS DE UM CIRCUITO


Quando uma quantidade de energia elétrica é fornecida a um componente
elétrico passivo, ele pode responder, dependendo do tipo, dos seguintes modos

a) Se a energia é consumida (ou dissipada, em forma de calor por efeito


Joule) o componente é um resistor puro (ou ideal).

b) Se a energia é armazenada (em forma de campo elétrico) o componente é


um capacitor puro (ou ideal).

c) Se a energia é armazenada (em forma de campo magnético) o


componente é um indutor puro (ou ideal).

Em qualquer componente real, os três casos podem ocorrer simultaneamente,


mas com intensidades diferentes, quase sempre um dos casos é predominante.
Nas análises teóricas os componentes são considerados ideais. Nos casos
práticos, onde os efeitos podem influir nas medidas, eles devem ser considerados.
Normalmente, um componente elétrico é definido através do seu
comportamento V versus I (através da sua curva característica – tensão versus
corrente).
53

8.1 – CIRCUITO ELÉTRICO SIMPLES


A Fig. 8.1 mostra um circuito elétrico simples, com dois componentes G e R.

Fig. 8.1 Fig. 8.2 Fig. 8.3

G e R são interligados por fios comuns, representados no esquema por semi-retas,


que unem os pontos de mesmo potencial.
Seguindo as convenções já definidas, nota-se que no interior do componente
G, as cargas são transportadas para o terminal de maior potencial.
O componente G, portanto, fornece energia ao circuito. G é um componente
ativo, chamado gerador (ou fonte de tensão), que produz energia elétrica através
de transformações químicas, mecânicas, térmicas, etc...

8.2 – FONTES
Fontes (ou geradores) são componentes ativos que fornecem energia aos
circuitos elétricos.
Fontes independentes são aquelas para as quais os valores de tensão ou
corrente são dados.
Uma fonte de tensão independente possui uma amplitude de tensão que é
uma função específica do tempo v ( t ) , que é independente de quaisquer ligações
externas!
A corrente i ( t ) fornecida por ela dependerá só das ligações externas, podendo
assumir qualquer valor. Isto significa que, teoricamente, uma fonte de tensão é
capaz de fornecer uma quantidade ilimitada de potência e de energia elétrica para o
resto do circuito.
Uma fonte de tensão real sempre terá uma resistência interna em série
(embora muito pequena) que fará com que a tensão de saída diminua à medida
que a corrente aumente.
Em geral as fontes (DC) usadas nos Laboratórios de Física Experimental,
assim como todas as tomadas de tensão da rede (AC), são consideradas fontes de
tensão.
Uma fonte de corrente independente produz uma corrente especificada
i ( t ) para qualquer ligação externa.
Como a tensão nos seus terminais depende do resto do circuito e pode
assumir qualquer valor, a fonte de corrente também pode fornecer uma quantidade
ilimitada de potência e energia, teoricamente.
Na realidade uma fonte de corrente sempre terá uma resistência interna em
paralelo (embora muito grande) que diminuirá a corrente de saída, à medida que a
tensão exigida for aumentando. Os geradores (ou fontes de tensão) são
representados como na Fig. 8.4.
Exemplos de geradores: pilhas; baterias elétricas; fontes de tensão; tomadas
elétricas; geradores de tensão senoidal ou quadrada, etc...
Na Fig. 8.1, a corrente circula em R do seu terminal ligado ao ponto de
potencial mais alto (1) para o seu terminal de potencial mais baixo (2), cedendo
energia ao componente. R é um receptor, um componente passivo que transforma
a energia elétrica em um outro tipo de energia, dependendo do tipo de componente
que R representa. O receptor R pode ser:
54

-- um motor (transforma a energia elétrica em energia mecânica)


-- um resistor (transforma a energia elétrica em energia térmica)
-- uma bateria (transforma a energia elétrica em energia química e a armazena)

8.2.1 – FONTES DC
As fontes de corrente contínua (DC) ou as baterias, que fornecem ao circuito
uma diferença de potencial, denominada força eletromotriz representado
usualmente pela letra grega  (fem), são componentes básicos de circuitos.
Uma fonte de tensão ideal é uma fonte que mantém sua diferença de
potencial (ddp) igual para qualquer carga R, ou seja, ela possui resistência interna
nula.
Uma fonte de tensão é representada pelo símbolo da Fig. 8.4.

Da mesma maneira, uma fonte de corrente ideal é uma fonte que produz
uma corrente constante independente da carga, ou seja, possui resistência interna
infinita. Uma fonte de corrente é representada pelo símbolo da Fig. 8.5.

Fig. 8.4 Fig. 8.5 Fig. 8.6

Na prática, no entanto, não existem fontes ideiais. Por exemplo, a Fig. 8.6
ilustra o comportamento de uma fonte de tensão de saída de 10V com resistência
interna r i  10 K  (ou seja, 10x103 ohms), que tem as seguintes características
 para resistências de carga R c  1  , R c  10  , R c  100  , este circuito
se comporta como fonte de corrente de 1mA.
 para resistências de carga R c  1 M  , R c  10 M  , R c  100 M  , este
circuito se comporta como fonte de tensão.

Se R c   r i fonte de tensão.
Se R c   r i  fonte de corrente.

8.2.2 – FONTES AC
Uma fonte de Tensão Alternada – que é também uma fonte de Corrente
Alternada – CA (ou AC) – fornece uma onda senoidal.
A voltagem senoidal  ( t ) é caracterizada por sua frequência angular , sua
amplitude de zero a pico  p (que é o valor de zero a pico da voltagem), e a fase
inicial  o
 ( t )   p cos (  t   o ) (8.1)

A amplitude e a fase estarão univocamente definidas quando a amplitude for


positiva e a fase estiver entre -  e .
Os osciloscópios podem medir a amplitude de pico a pico da voltagem,  pp ,
enquanto que os voltímetros medem seu valor eficaz  ef ( ou  r ms )
55

p  pp
 ef   (8.2)
2 2 2

8.3 – CIRCUITOS EM CORRENTE ALTERNADA ALIMENTADOS POR


GERADOR DE SINAIS
A resistência interna R g de um gerador de sinais está associada em série
com a resistência de carga R c em um circuito. Pela lei de Ohm, a corrente total I
no circuito da Fig. 8.3 é dada por:

vg
I  (8.3)
(R g  R )

Quando a resistência de carga aumenta, a corrente no circuito diminui. A


tensão no resistor de carga é dada por:

 Rc 
V  RcI  V  Vg   (8.4)
( R g  R c ) 

Quando a resistência de carga é da ordem da resistência interna do gerador,


R c  R g , a tensão na carga fica:

 Rg  Vg
V Vg    V
 2 R g  2

Quando R c for 10 vezes maior que R g , R c  10 R g a tensão na carga será


aproximadamente 91% da tensão do gerador:

 10 R g  10 
V Vg    V    V g ~ 0,91 V g
 11 R g   11 

Para resistências de carga maiores, a tensão na carga aproxima-se


assintoticamente da tensão ideal da fonte V g . Sendo assim, se a resistência de
carga for muito maior que a resistência interna de uma fonte de tensão, ou
equivalentemente, se a resistência interna de uma fonte for muito menor que a
resistência de carga, a fonte poderá ser considerada uma fonte de tensão
estabilizada. Neste caso, como a diferença entre a tensão de carga e a tensão ideal
é pequena, esta diferença pode ser ignorada na análise do circuito.

8.4 – MEDINDO A RESISTÊNCIA INTERNA DO GERADOR DE SINAIS


A resistência interna R g do gerador de sinais pode afetar o valor do tempo
característico (constante de tempo) em um circuito RL e a constante de
amortecimento em um circuito RLC ao qual está conectado. Pode-se medir o valor
de R g seguindo os passos:
a) Com o osciloscópio, ajustar o gerador de função em circuito aberto para uma
saída de onda senoidal, com um valor de tensão de saída de V p p  4,0V .
b) Ligar o gerador em série a uma resistência de carga R c variável usando um
(potenciômetro), formando um divisor de tensão.
56

c) Conectar o osciloscópio para medir a tensão no potenciômetro. Ajustar o


potenciômetro até que a tensão no mesmo seja igual à metade da tensão no
gerador em circuito aberto, V p o t  2,0V . Neste ponto, a resistência do
potenciômetro R p deve ser igual à resistência interna R g do gerador.
d) Desligar o potenciômetro do circuito e medir sua resistência com um
ohmímetro.

8.5 – RESISTOR
O resistor é um componente elétrico que dissipa energia elétrica,
transformando-a em energia térmica, por efeito Joule.
’’A queda de tensão nos terminais de um resistor é diretamente proporcional
à corrente elétrica que por ele passa.’’
Se V R é proporcional a I,

VR  R I (8.5)

Onde R é uma constante: é a resistência do resistor.


Volt
R   OHM  
Amp ère

A resistência de um resistor é uma propriedade do componente, que causa


uma oposição ao fluxo de corrente. Ela depende do material do qual o resistor é
feito e de suas dimensões. Já foi mostrado que
L
R  (8.6)
A
onde:  = resistividade; L = comprimento; A = área da seção reta do material.

A resistividade é expressa no SI como (m)

   m
Em alguns casos é conveniente usar o recíproco da resistência, definida como
a condutividade 
1
   siemens  (- siemens é unidade do SI) (8.7)

A resistividade depende de vários fatores: pressão, estrutura cristalina,
conteúdo da mistura e temperatura. Destas, aquela de mais fácil manipulação é a
dependência com a temperatura, cuja expressão aproximada é
0
   T  T0  (8.8)
0
onde  é um coeficiente de proporcionalidade, o coeficiente térmico de
resistividade.
Duas expressões de uso constante

  0 1   T  T0  (8.9)
e
R  R 0 1    T  T0   (8.10)
A variação da resistência com a temperatura é útil na construção de termômetros.

O inverso de R é chamado condutância do componente


57

1 I
G   S IEMENS  (8.11)
R V
A
G (8.12)
L
De um modo geral,
v(t )Ri(t ) (6.13)

indica a proporcionalidade entre v e i. As curvas v ( t ) e i ( t ) traçadas em função


do tempo, possuem a mesma forma, diferindo só em amplitude. A Fig. 8.3 mostra
um circuito com um resistor R, valem as equações
2
(V R )
VR  R I PR  VR I  R I 2  (8.14)
R
onde: P R é a potência em Watts que será dissipada em forma de calor por efeito
Joule, aquecendo o resistor R.
Podem-se classificar os resistores em, pelo menos, três tipos, em função da
sua temperatura de trabalho e de sua resistência

1
a) Resistores de baixa potência (de W a alguns Watts), cuja resistência
8
pode variar desde décimos a até centenas de milhares de Ohms, com
temperatura normal de trabalho bem abaixo do ponto de fusão do material do
qual ele é feito. São os resistores comuns, usados em eletricidade e
eletrônica, onde o aquecimento é indesejável.
b) Resistores com resistências muito baixas, cuja temperatura de trabalho é
próxima do ponto de fusão do material do qual ele é feito. Nestes resistores,
um aumento de tensão (ou de corrente) aplicada, causa fusão e o
rompimento do componente. São os fusíveis de proteção de sobre-tensão.
c) Resistores de alta potência e alta temperatura de trabalho, são os
aquecedores, usados em chuveiros, fornos elétricos, etc...
A resistência de valor zero Ohm ( R  0  , ou G   S ) é denominada curto-
circuito e a resistência infinita ( R    , ou G  0 S ) é denominada circuito aberto.

Estes são os casos extremos do valor de R (ou de G).


No primeiro caso, v ( t )  0 V (potencial em um mesmo ponto), enquanto que
no segundo caso, i ( t )  0 A . Ver Fig. 8.9.

Fig. 8.9
Todos os fios de ligações mostrados nos esquemas (ou usados nas
montagens experimentais) devem ser interpretados como curto-circuitos, sem
nenhuma diferença de potencial entre seus extremos.

A medida da resistência de um resistor (o valor medido de R), é feita com o


OHMÍMETRO, (que, se for analógico, deve ser zerado antes de sua utilização). Os
multímetros digitais também permitem calibrações.
58

A leitura da resistência de um resistor (o valor nominal) é feita através de um


Código de Cores que consiste em faixas coloridas colocadas em um dos extremos
do componente.

8.6 – CÓDIGO DE CORES


As duas primeiras faixas correspondem ao primeiro e segundo dígitos, a
terceira corresponde ao número de zeros que deve ser acrescentado aos dois
primeiros dígitos, a última faixa representa a tolerância.

Fig. 8.10 Fig. 8.11

A resistência da Fig. 8.10 possui o valor nominal: R  u ( R )  ( 26  1 ) 10 

Cor 1º Algarismo 2º Algarismo Fator de Tolerância


Multiplicação
Preto - 0 x1 -
Marrom 1 1 x 10 ±1
Vermelho 2 2 x 10 2 ±2
Laranja 3 3 x 10 3
Amarelo 4 4 x 10 4
Verde 5 5 x 10 5
Azul 6 6 x 10 6
Violeta 7 7 -
Cinza 8 8 -
Branco 9 9 -
Ouro - - x 10 - 1 ±5
Prata - - x 10 - 2 ± 10 

8.7 – REOSTATOS OU POTENCIÔMETROS


São resistores cuja resistência elétrica pode ser ajustada através de um
cursor. Estes componentes possuem três terminais, Fig. 8.11.
O valor da resistência, medido entre os terminais externos ( R 1 3 ) é
constante (valor que define o componente, por exemplo: um potenciômetro de
100 corresponde àquele em que R 1 3  100  ).
Os valores das resistências medidos entre o terminal central (o cursor) e um
dos terminais externos ( R 1  2 e R 2  3 ) são variáveis, dependendo da posição do
cursor. Um potenciômetro de R 1 3  X  , com o cursor na posição central, tem

X
R 1- 2  R 2 - 3  ( )
2
59

8.8 – LEIS DE KIRCHOFF


i) A soma das correntes que entram em uma junção (nó) é igual à soma das
correntes que saem desta junção.
Se as correntes que entram na junção são consideradas positivas e aquelas
que a deixam são consideradas negativas, então, esta lei estabelece que

Fig. 8.12 Fig. 8.13

“A soma algébrica de todas as correntes na junção (ou nó) é nula”.

i1  i2  i3  i 4  0 (8.15)

ii) A soma dos aumentos de tensão em um circuito fechado (em uma malha
fechada) é igual à soma das quedas de tensão neste circuito.
Em outras palavras:
“A soma algébrica das d.d.p. em uma malha (um circuito fechado) é zero”.
Convenção de sinais:
- As tensões das fontes são consideradas positivas quando coincidem com o
sentido da corrente. São negativas quando têm sentido oposto ao da
corrente.

- Se um resistor for percorrido no sentido da corrente, a d.d.p. é negativa.


Em caso contrário, é positiva.

- O sentido positivo da fem é do terminal negativo para o positivo, no interior


da fonte.

8.9 – ASSOCIAÇÃO DE RESISTORES


8.9.1 – ASSOCIAÇÃO DE RESISTORES EM SÉRIE
Dois componentes estão em série, quando possuem somente um de seus
terminais ligados em comum.

Na Fig. 8.13, R1, R2, R3 estão ligados em série com a fonte. Não existe
nenhuma junção (ou nó) no circuito, só existe uma malha, então,
i f  i R1  i R2  i R3  i (8.16)

Ou seja: Em um circuito em série (não havendo nenhum nó, uma só malha)


todos os componentes estão sujeitos à mesma corrente elétrica.
Aplicando a Segunda lei de Kirchoff

i1 i2  i3   i4  0 (8.17)

Vf  V R1  V R2  V R3 (8.18)
60

Ou seja, um circuito resistivo em série é um circuito divisor de tensão.


No exemplo da Fig. 8.13, a tensão da fonte Vf está sendo dividida em três
valores
V R1  R 1 i ; V R2  R 2 i ;
V R3  R 3 i (8.19)
Os quais são diretamente proporcionais aos valores das resistências dos
resistores.
Na verdade, com este circuito podem ser obtidos seis valores de tensões
diferentes.
A tensão em um resistor do circuito, (por exemplo R1) é dada por:

 R1 
VR1   V (8.20)
R 1  R 2  R 3  F
 

Pode-se provar que existe um resistor equivalente, com valor,

R eq  R 1  R 2  R 3 (8.21)

que pode substituir o conjunto (R1 , R2 , R3), causando o mesmo efeito térmico.
Observar que: R eq > R i (o resistor equivalente é maior do que qualquer um
daqueles que foram substituídos). Então, ao se colocar um resistor em série em um
circuito, a resistência total aumenta, diminuindo a corrente total.
Nesta situação, este resistor em série é chamado de resistor limitador de
corrente.

Exemplo:
Como ligar uma lâmpada de 6V e 200mA em uma fonte de tensão de 8V?

Fig. 8.14 Fig. 8.15

VR 2V
R   10 
I 0,2 A
O resistor R divide a tensão da fonte (de 8V) em 2V (no resistor) e 6V (na
lâmpada) e limita a corrente em 200mA.
As potências envolvidas no circuito são
Na fonte: PF = VF I = 8V . 0,2A = 1,6W
No resistor: PR = VR I = 2V . 0,2A = 0,4W
Na lâmpada: PL = VL I = 6V . 0,2A = 1,2W

8.9.2 – ASSOCIAÇÃO DE RESISTORES EM PARALELO


Dois componentes estão em paralelo quando possuem dois terminais ligados
em comum.
Na Fig. 8.15, R1, R2 e R3 estão ligados em paralelo com a fonte de tensão.
61

Nota-se que:
V F  V R1  V R 2  V R 3 (8.22)

“Em um circuito em paralelo, todos os componentes estão sujeitos à mesma


tensão”
A corrente I T, fornecida pela fonte divide-se em I R 1 , I R 2 , I R 3 , de modo
que
I T  I R1  I R 2  I R 3 (8.23)

Logo
Um circuito resistivo em paralelo é um circuito divisor de corrente.
No exemplo da Fig. 8.15, I T está sendo dividida em
VF VF VF
I1  ; I2  ; I3  (8.24)
R1 R2 R3

Que são inversamente proporcionais aos valores das resistências dos


resistores.
Existe um resistor equivalente R eq
1 1 1 1
   (8.25)
R eq R1 R2 R3
tal que, ao substituir o conjunto das três, dissipa a mesma potência térmica. Notar
que R eq < R i , i=1,2,3.
O resistor equivalente numa associação em paralelo é menor do que qualquer
um dos resistores substituídos.
Portanto, um resistor colocado em paralelo com outro já ligado a uma fonte,
faz a resistência equivalente diminuir, aumentando a corrente total.

8.10 – CAPACITOR
O capacitor é um componente que armazena energia sob a forma de um
campo elétrico.
O exemplo mais simples consiste de duas placas condutoras paralelas,
separadas por um isolante. Sua principal característica é a capacidade de
armazenar cargas elétricas,
 positivas em uma placa e negativas na outra, criando
um campo elétrico E entre elas. A queda de tensão entre os terminais de um
capacitor é diretamente proporcional à carga depositada em suas placas
V  q ou qC V (8.26)

onde C é a capacitância do capacitor. No SI, C é medido em FARAD (F).


O FARAD é uma unidade muito grande. Os capacitores comerciais são medidos em
1F = 10-6 F (micro farad)
1nF = 10-9 F (nano farad)
1pF = 10-12 F (pico farad)

8.11 – ASSOCIAÇÕES DE CAPACITORES


Usando a expressão de definição do capacitor e as leis de Kirchoff, pode-se
demonstrar que
8.11.1 – ASSOCIAÇÕES DE CAPACITORES EM SÉRIE
Para capacitores ligados em série, existe um único capacitor equivalente cuja
capacidade seja igual a
1 1 1 1
   ...  (8.27)
Ceq C1 C2 Cn
62

8.11.2 – ASSOCIAÇÃO DE CAPACITORES EM PARALELO


Para capacitores ligados em paralelo, existe um único capacitor equivalente
cuja capacidade seja
C e q  C 1  C 2  ...  C n (8.28)

8.12 – CORRENTE NO CAPACITOR


Pela equação de definição q (t)  C v (t) , vem
d q (t ) d v (t )
i (t)  C (8.29)
dt dt
Que mostra um resultado importante, se a corrente for finita, as cargas
elétricas nunca podem ser depositadas instantaneamente nas placas de um
capacitor. Se isto pudesse acontecer, haveria um degrau na curva de tensão vC do
capacitor, e isto exigiria um pulso de corrente infinito na eq. (8.29)!
A eq. (8.29) indica também que a corrente no capacitor é proporcional à
velocidade de alteração da tensão no tempo, a cada instante.
Mas a corrente não depende do valor instantâneo da tensão.
Isto significa, por exemplo, que se a tensão for constante, a corrente será
nula, o que corresponde a um circuito aberto.
Esta propriedade do capacitor é muito usada em eletricidade e em eletrônica,
como bloqueador de corrente contínua.
A tensão num capacitor será
1
vC ( t ) 
C  i ( t ) dt (8.30)

Uma integral indefinida requer o cálculo de uma constante de integração.


Esta constante corresponde à possibilidade de existência prévia de cargas nas
placas do capacitor antes da contagem do tempo para o início das presentes
medidas.
Pode-se definir a tensão no capacitor em termos de integrais definidas,
t 0 t
1 1  

v( t ) 
C  i ( t ) d t 
C  
i ( t ) d t   i ( t ) d t

(8.31)
   0 
onde a integral
0
1
q0 
C i (t) dt (8.32)


está relacionada às cargas já depositadas nas placas do capacitor, em um tempo


remoto, Antes do início da contagem de tempo atual.
Se este termo for nulo (corresponde à constante de integração ser nula ou o
capacitor sem cargas iniciais), vale a equação inicial
t
1
vC ( t ) 
C i (t) dt (8.33)
0

A potência fornecida ao capacitor pode ser escrita


dv
p(t)  v(t) i(t)  v(t) C (8.34)
dt

e a energia total recebida pela capacitância é


63

dv 1
w (t)  p (t) dt  C v (t) dt  C v (t) dv ( t )  C v2 (8.35)
dt 2

Esta é a energia eletrostática que o capacitor armazena em suas placas sob a


forma de um campo elétrico.

8.13 – INDUTOR
O indutor é um componente que armazena energia sob a forma de um campo
magnético.
É um dispositivo formado por uma série de N espiras de um fio condutor,
enroladas em forma de uma bobina.
Uma corrente elétrica i (t), circulando pelas espiras de um indutor produz um
campo magnético B que pode ser avaliado pelo seu fluxo  B - fluxo do campo
magnético.
A indutância do indutor L é definida como
N. B
L  (8.36)
i
A unidade de Fluxo Magnético no SI é Tesla-metro2 /Ampère
 B  T. m 2 (8.37)

No SI, a indutância L é medida em Henry (H).

T. m 2 V. s
1H   (8.38)
A A
Quando a corrente varia, o fluxo do campo magnético
 que permeia e envolve
o indutor também varia. Esta variação no fluxo de B provoca o aparecimento de
uma tensão v L , induzida nas espiras da bobina (Lei de Faraday).
A tensão induzida v L nos terminais de um indutor é proporcional à taxa de
variação da corrente, se a permeabilidade magnética do núcleo da bobina for
constante.
di di
vL (t)  ou vL  L (8.39)
dt dt

A equação que indica a tensão v L não depende do valor de i ( t ) em um


determinado instante, mas sim, da velocidade de alteração da corrente no tempo,
di ( t )
.
dt
Isto significa que se i ( t ) for constante, v L será nulo, o que corresponde a
um curto-circuito. Esta propriedade do indutor é utilizada como bloqueador de
tensão alternada.
A corrente em um indutor será

1
i L( t ) 
L  v (t) dt (8.40)

A potência fornecida ao indutor pode ser escrita como

di ( t )
p(t)  v(t) i(t)  L i(t) (8.41)
dt
64

E a energia total recebida é


di ( t ) 1
w (t)   p ( t ) dt  L i (t) dt  L i (t) di  L i (t)2 (8.42)
dt 2

Esta é a energia
 eletromagnética que o indutor armazena sob a forma de um
campo magnético B

1
w( t )  L i( t )2 (8.43)
2

8.14 – ASSOCIAÇÃO DE INDUTORES


As associações de indutores, tanto em série quanto em paralelo, são válidas
quando eles estão separados por uma grande distância.

8.14.1 – ASSOCIAÇÃO DE INDUTORES EM SÉRIE


Quando indutores estão em SÉRIE e separados por uma grande distância a
indutância equivalente é
L eq  L 1  L 2  ...  L n (8.44)

8.14.2 – ASSOCIAÇÃO DE INDUTORES EM PARALELO


Quando indutores estão em PARALELO e separados por uma grande distância
a indutância equivalente é
1 1 1 1
   ...  (8.45)
Leq L 1 L2 Ln

8.15 – AUTO-INDUÇÃO
Se duas espiras estão próximas uma da outra e uma corrente percorre uma
delas, haverá um fluxo de Campo Magnético  B através da outra espira. Se a
corrente na primeira espira variar no tempo, de acordo com a lei de Faraday, o
fluxo do campo magnético variando no tempo através da segunda espira vai induzir
uma força eletromotriz (fem) nela, chamada força eletromotriz induzida  L .
Um indutor é formado por N espiras – é uma bobina de N espiras – a variação
da corrente nesse indutor faz aparecer uma força eletromotriz induzida pela lei de
Faraday no indutor que, de acordo com a lei de Lenz (que definiu o sinal na lei de
Faraday), será
d B
L   N (8.46)
dt
Isso é a Auto-Indutância, ocorre em um indutor (uma única bobina com N
espiras).

8.16 – INDUTÂNCIA MÚTUA


Quando dois indutores estão muito próximos como nas Figs. 8.16. Uma
corrente constante I 1 no indutor 1 cria um campo magnético B 1 representado por

seu Fluxo de Campo Magnético  B 21 (o fluxo do campo magnético através do


indutor 2 associado com a corrente no indutor 1) que permeia as N 2 espiras do
espaço do indutor 2.
O indutor 2 está ligado a um Galvanômetro muito sensível e não há bateria
ligada a ele.
65

Por definição, a indutância mútua M 2 1 do indutor 2 devido ao indutor 1 é


N 2  B 21
M 21  (8.47)
I1
Comparar a eq. (8.47) com a definição de auto-indutância, eq. (8.46).
A eq. (8.47) pode ser reescrita como

M 21 I 1  N 2  B 21
Se a corrente no primeiro indutor variar no tempo i 1 ( t ) , uma força
eletromotriz induzida pela lei de Faraday aparece no segundo indutor. Esse
processo é chamado Indutância Mútua, para diferenciar do caso em que só um
indutor está presente (fenômeno de auto-indução).

Fig. 8.16-(a) Fig. 8.16-(b)

d i1 d  B 21
M 21  N2 (8.48)
dt dt

O lado direito da eq. (8.48) é a fem definida pela eq. (8.42) que aparece no
indutor 2 devido à variação da corrente no indutor 1.

d i1
 2  M 21 (8.49)
dt

Seguindo o mesmo raciocínio para a Fig. 8.16-(b)


di2
 1  M 12 (8.50)
dt
Considerando que
M 21  M 12  M (8.51)
O que é verdadeiro, mas não é óbvio e nem fácil de provar, então

di2
1  M (8.52)
dt

d i1
2  M (8.53)
dt
A indução é realmente mútua e a unidade para M no SI é H (henry).
66

CAPÍTULO 9 – MÁXIMA TRANSFERÊNCIA DE POTÊNCIA


Uma fonte de tensão ideal é capaz de fornecer uma potência infinita, se
um “curto-circuito” for colocado em seus terminais.
Uma fonte de tensão real não pode fornecer uma potência infinita, porque
existe uma “resistência interna” a ela associada.
Uma fonte de tensão possui uma resistência interna ( r i ) em série, e uma
fonte de corrente possui uma resistência ( r i ) em paralelo.
Para otimizar a utilização destas duas fontes, é necessário pesquisar as
condições de máxima transferência de potência de uma fonte para uma
resistência de carga R.
A Fig. 9.1 mostra um circuito com uma fonte de tensão, de resistência
interna ( r i ) ligada a uma resistência de carga R.

Fig. 9.1
R é variável e r i é constante. A corrente no circuito será

i (9.1)
ri  R
A potência em R é
2 2 R
Pu  R i  (9.2)
 r i  R 2
Para calcular o máximo de Pu , deriva-se Pu em relação a R
dP u
 2
 R  r i 2  2R  r i  R 
dR  ri  R 4
A condição de Máximo de Pu ocorre quando a derivada primeira de Pu é
igual a zero e a derivada segunda, no ponto em que a derivada primeira se
anula, é negativa. Verificar!
Esta condição é satisfeita para R = r i.
A condição para a Máxima transferência de Potência é que:
A resistência de carga R seja igual à resistência interna da fonte r i.
Quando isto ocorre diz-se que o circuito está casado em impedância.
O valor da potência útil máxima, que é o máximo valor que a fonte com
resistência interna r i pode fornecer, em função da energia transmitida E, é
E2
P u  má x   (9.3)
4 ri

A potência total que a fonte fornece é:


E2
Pt  E i  (9.4)
( ri  R )
A potência total será máxima quando R = r i:
E2
P t  má x   (9.5)
2 ri
67

O conceito de casamento de impedância para a máxima transferência de


potência é muito importante em circuitos de comunicação. Os níveis de potência
são usualmente baixos e é muito importante obter a máxima potência possível
independente da eficiência do sistema.
Quando os circuitos estão casados, metade da potência é liberada e a
outra metade é dissipada na resistência interna do gerador.
A eficiência máxima é de somente 50%.
Em circuitos de alta potência onde a energia transmitida E é o mais
importante, o casamento não é usado. Nestes casos, a máxima transferência de
potência não é importante e os sistemas trabalham com a máxima eficiência.

CAPÍTULO 10 – CIRCUITOS TRANSIENTES


10.1 – CIRCUITO RC – PROCESSO DE CARGA
A Fig. 10.1(a) mostra um circuito RC em série, inicialmente com a chave
na posição 2, durante um longo tempo, Fig. 10.1(c), com o capacitor totalmente
descarregado.

Fig. 10.1
Processo de Carga
Em t = 0, coloca-se a chave na posição 1, Fig. 10.1(b), o capacitor
começa a ser carregado, até atingir um valor máximo de carga. Durante a carga,
pela 1ª lei de Kirchhoff, vale a equação
V f  VC  VR (10.1)
onde: VR é a tensão no resistor dada por V R  R i , sendo i a corrente no circuito
Q
VC é a tensão no capacitor, dada pela expressão V C  , sendo Q a carga
C
nas placas do capacitor de capacitância C.
A relação entre i e Q é dada por
dQ
i (10.2)
dt
1
C 
Vf  i dt  R i (10.3)

Diferenciando a eq. (10.3) em relação ao tempo,


i di
R 0 (10.4)
C dt
Cuja solução é
t

RC
iK e (10.5)

a constante K é determinada a partir da eq. (10.5), fazendo t = 0.

Para t = 0  RI 0  Vf ou
68

Vf
I0  (10.6)
R

então,
t
Vf 
RC
i  e (10.7)
R

A eq. (10.7) tem a forma de uma exponencial decrescente e representa a


variação da corrente i ( t ) no período de tempo do processo de carga. As tensões
correspondentes em R e em C, são
t

RC
VR  R i  V f e (10.8)
 t 
 
1 RC
VC 
C  i dt  V f  1 e



(10.9)
 

Substituindo a eq. (10.2) na eq. (10.7)

t
Vf 
dQ RC
 e
dt R
 t
Vf t
t
Vf    t  
 e RC  

integrando, Q
R e RC d t  Q 
R 
 R C   
0   0 
 
t

RC
Q  C Vf ( 1  e ) (10.10)
O produto R C   , tem unidades de tempo e é chamado vida média ou
constante de tempo do circuito RC. No instante t = RC, tem-se

Vf Vf
i e  1  0,367879  36,7879 % de I 0
R R
onde
Vf
I0  .
R

V C  V f ( 1  e  1 )  0,63212 V f  63,212 % de V f

Vf
Em t = 0, a corrente no circuito tem um valor I 0  .
R

Após um tempo t    R C t, ela decai para um valor igual a 36,7879 %


do valor inicial, I 0.

Do mesmo modo, a tensão no capacitor chegou a 63,212 % do seu valor


final, V f .
Em um tempo t > 5 , o circuito estará praticamente no seu estado
permanente.
69

10.2 – CIRCUITO RC – PROCESSO DE DESCARGA

Após um longo tempo com a chave na posição 1, Fig. 10.1 (b), em t = 0


muda-se a chave para a posição 2, Fig. 10.1(c) , iniciando o processo de
descarga do capacitor.
VR  VC  0

t
1 1 dQ dQ Q
C  i dt  Ri  0 C  dQ  R dt
0
dt

RC
0
0

Esta equação diferencial é facilmente integrável, e supondo que durante o


processo de carga houve tempo suficiente para o capacitor se carregar
plenamente, obtém-se a solução
t

RC
Q  C Vf e (10.11)

Derivando a eq. (10.11)

 t 

dQ  1 RC 
 i  CVf   e 
dt  RC 
 

obtém-se a corrente de descarga


t
Vf 
RC
i  e (10.12)
R
O sinal negativo indica que as correntes de carga e de descarga possuem
sentidos opostos. Os transientes das tensões nos componentes serão
t t
 
RC 1 RC
C 
vR  R i   e e vC  i d t  V f e (10.13)
Todos os projetos de circuitos elétricos ou eletrônicos, que sejam
dependentes do tempo, são baseados em circuitos transientes. Com eles podem-
se construir relógios, pisca-piscas, “temporizadores”, sistemas de retardo em
alarmes de carro, etc...
Pode-se definir meia vida, t 1 / 2 , tanto para o processo de carga quanto
para o de descarga, como o tempo gasto para que ocorra
t1 / 2

i 1 i RC 1
 ou seja 1 e  (10.14)
I0 2 I0 2

Aplicando logarítmo natural nos dois últimos membros da eq. (10.14)

t 1 / 2  R C ln 2  0,6931 R C (10.15)

R C  1,4425 t 1 / 2 (10.16)

A eq. (10.16) é uma das maneiras de se obter o valor de  = RC.


Basta obter t 1 / 2 através do gráfico de i (t ) versus t e multiplicar por
1,4425, caso não se conheçam os valores de R e de C.
70

Fig. 10.2: Gráficos dos processos de carga e descarga em circuitos RC em DC.


71

10.3 – CIRCUITO RL – PROCESSO DE CARGA


A Fig. 10.3 (a) mostra um circuito RL em série. Considerar a chave na posição
2, Fig. 10.3 (b), com o indutor totalmente descarregado.

Fig. 10.3
Em t  0 liga-se a chave na posição 1, Fig. 10.3(c).
Usando a 1ª lei de Kirchoff:
d i
Vf  R i  L  0 (10.17)
d t
d i
Vf  R i  L
d t
L di
 d t
Vf  R i
i t
di
L  Vf  R i
  dt
i0 0

em t  0  I 0  0 e os limites de integração ficam,

 Vf  R i 

L
R
n  Vf  R i  i
0
 t n 
 Vf
   R
 L
t
 

L
definindo a constante de tempo indutiva como:   , vem
R
t t
 Vf  R i  t Vf  R i  Ri 
n      e  1e 
 V f
  Vf Vf
 
e,
 t
Vf   
i  t    1  e

 (10.18)
R  
 

 t 
 
VR  t   R i  t   Vf   (10.19)
 1  e 
 
 
di
usando V L  L
d t

t

VL  t   VF e  (10.20)
72

carga descarga

Fig. 10.4: Gráficos de Carga e Descarga em Circuitos RL em DC.

10.4 – CIRCUITO RL – PROCESSO DE DESCARGA


Em t  0 liga-se a chave na posição 2, Fig. 10.9(c). Usando a lei de
Kirchoff

d i
L  R i  0 (10.21)
d t

mas a taxa de variação da corrente no tempo é negativa

d
 0 c om i  0
dt
73

d i
L  R i  0
d t
d i R
  i
d t L
ou
d i R
  d t
i L

integrando vem,

i t
d i R
 i
   L
d t
i0 0

 i 
ln     R t
 i0  L
 

L Vf
então, com   e i0  ,
R R

t
Vf 
i  t   e  (10.22)
R

t

VR  t   Vf e  (10.23)

t

VL  t    Vf e  (10.24)
74

CAPÍTULO 11 – MEDIDAS ELÉTRICAS


Multímetro
0 multímetro é um instrumento que mede várias grandezas elétricas.
A maioria mede corrente, tensão (ddp) e resistência elétrica. Outros, mais
completos (e caros), medem também capacitância, freqüência, condução em
diodos, ganhos de transistores, etc.
Até recentemente, os multímetros usados eram analógicos (de ponteiro), no
entanto, com a redução dos custos dos equipamentos eletrônicos, os multímetros
digitais tornaram-se bastante populares.

Normas Para a Utilização do Multímetro


1) Selecionar o modo de operação

AMPERÍMETRO

VOLTÍMETRO

OHMÍMETRO; ou outra função

2) Selecionar o tipo de sinal a ser medido (caso seja tensão ou corrente)

CONTÍNUA (D.C.) : Direct Courrent

ALTERNADA (A.C.) : Alternate Courrent

Em alguns multímetros ao selecionar o modo de operação, já se está


selecionando o tipo de sinal

Tensão contínua: VDC ou V Corrente contínua: ADC ou A

Tensão alternada: VAC ou V ~ Corrente alternada: AAC ou A ~

3) Efetuar a Medida

11.1 – AMPERÍMETRO

0 amperímetro é utilizado para medir corrente elétrica.


A corrente elétrica é medida em UM PONTO de um circuito e o amperímetro
deve ser conectado em série com o circuito neste ponto. No ponto onde se deseja
determinar a corrente elétrica deve-se, portanto, abrir o circuito e inserir os
conectores.
Desconhecendo-se a ordem de grandeza da intensidade de corrente a ser
medida, deve-se selecionar, inicialmente, a escala menos sensível do aparelho.(Que
corresponde à de maior fundo de escala). Caso não haja resolução suficiente,
aumentar a sensibilidade.

Os cabos são ligados da seguinte maneira:


Um cabo (negativo ou terra) é ligado na entrada COM (comum) e o outro na
entrada mA, ou 10A dependendo da escala selecionada. Fig. 11.1(a).

Como o amperímetro é conectado em serie no circuito, espera-se que sua


resistência interna R in seja desprezível em relação à do circuito. O amperímetro
ideal teria R in  0 .
75

Fig. 11.1
11.2 – VOLTÍMETRO

0 voltímetro é utilizado para medir a diferença de potencial (ddp) ou tensão.


A ddp existente entre dois pontos de um circuito é medida conectando-se o
voltímetro em paralelo com estes dois pontos. Fig. 11.1(b), medindo V R1 .Quando
se fala em potencial, ou tensão, em um ponto de um circuito, o outro ponto a ser
tomado como referência é o ponto terra (ou neutro ou comum).
Desconhecendo-se a ordem de grandeza da tensão a ser medida, deve-se
selecionar a escala menos sensível do aparelho. (Que corresponde à de maior fundo
de escala). Caso não haja resolução suficiente, aumentar a sensibilidade.
Os cabos são ligados da seguinte maneira:
Um cabo (negativo ou terra) é ligado na entrada COM e o outro na entrada V
do instrumento.
O voltímetro é conectado em paralelo com o componente onde se deseja medir
a ddp, espera-se que a sua resistência interna Rin, seja “infinitamente” maior que a
do componente. Desta forma a corrente desviada para o voltímetro é desprezível.

11.3 – OHMÍMETRO

O ohmímetro é utilizado para medir a resistência elétrica de resistores.


O ohmímetro possui uma fonte de tensão DC interna (bateria), que é aplicada
à resistência a ser medida. A ligação é feita diretamente nos terminais do resistor.
Fig. 11.1(c).
Desconhecendo-se a ordem de grandeza da resistência a ser medida, deve-se
selecionar, inicialmente, a escala menos sensível do aparelho, que corresponde à
de maior fundo de escala. Caso não haja resolução suficiente, aumentar a
sensibilidade.
Os cabos são ligados da seguinte maneira
Um cabo é ligado na entrada COM e o outro na entrada do instrumento, que
é a mesma entrada V.
NUNCA fazer medidas de resistências em um circuito, com ele em
funcionamento, ou ligado, pois as tensões presentes nos componentes podem
QUEIMAR o ohmímetro.
O componente do qual se quer determinar a resistência deve ter pelo menos
um terminal desconectado do circuito ao qual está acoplado.

11.4 – FREQUENCÍMETRO

Em alguns experimentos, será utilizado um dos multímetros para medir a


frequência de um sinal alternado. Neste caso, a ligação dos cabos pode ser feita
diretamente nos dois terminais de saída do gerador de tensão alternada utilizado.
Os cabos são ligados da seguinte maneira: Um cabo é ligado na entrada COM
e o outro na entrada Hz do instrumento, que é a mesma entrada V. Deve-se
selecionar, inicialmente, a escala menos sensível do aparelho, que corresponde à
de maior fundo de escala. Caso não haja resolução suficiente, aumentar a
sensibilidade, diminuindo o fundo de escala.
76

11.5 – PROTOBOARD – CAIXA DE MONTAGEM DOS CIRCUITOS

A montagem dos circuitos será sobre essa Protoboard, e em alguns casos, os


circuitos já estão montados no interior dela.
Alguns componentes estão montados em bases com pinos banana, assim
como curtos-circuitos. Além disso, serão utilizados fios com pinos banana para
completar as montagens.
Cada ilha em vermelho é um ponto de mesmo potencial no circuito, os cinco
bornes de cada ilha vermelha estão em curto-circuito.
No circuito Carga do Capacitor, o amperímetro não será utilizado, no seu
lugar deve ser ligado um curto-circuito.
Os dois indutores de 100mH estão em série, pode-se usar um ou os dois em
série, com L s  200mH no total. Em paralelo fica L p  50mH
O Potenciômetro tem resistência total 500.
O Transformador é um Center tape, possui duas saídas vivas e uma saída
central neutra, que deve ser sempre ligada ao ponto terra do circuito.
A ddp entre VS1 e CT é igual à ddp entre VS2 e CT. As duas ondas são
defasadas de 180o, possuem mesmo período e portanto mesma frequência e
também mesma amplitude (em volts).
77

CAPÍTULO 12: CIRCUITOS RLC


12.1 – CIRCUITOS LC E RLC SEM FONTE DE TENSÃO
A Fig. 12.1(a) mostra um circuito que contém um indutor e um capacitor, um
circuito LC sem fonte. Supor que o capacitor está com carga total Q 0 armazenada
e que a diferença de potencial nas suas placas seja V 0 , enquanto a chave S está
inicialmente aberta. No instante t  0 a chave S é fechada e passa a existir uma
corrente no circuito. O capacitor começa a se descarregar através do indutor
criando uma força contra-eletromotriz, Fig. 12.1(b), dada por

di( t )
v L (t)L (12.1)
dt

(a) (b)
Fig. 12.1
Pela Fig. 12. 1(b) os sinais da carga do capacitor e da corrente no circuito LC
satisfazem
dq( t )
i(t) (12.2)
dt

Aplicando a lei das malhas de Kirchoff

di( t ) q(t)
L   0 (12.3)
dt C

Substituindo a eq. (12.2) na eq. (12.3)

d2 q (t) q(t)
L   0 (12.4)
dt 2 C

A eq. (12.4) é semelhante à equação de movimento de um sistema massa-


mola

d 2 x( t )
m  k x(t)  0 (12.5)
dt 2

O comportamento de um circuito LC é semelhante ao de um sistema massa-


mola, a indutância L faz o papel da massa m, a carga Q faz o papel da posição x e o
1
inverso da capacitância , faz o papel da constante de mola k, a corrente i faz o
C
dq( t ) dx (t )
papel da velocidade v, pois i ( t )  e v (t) .
dt dt
Na Mecânica, a massa de um corpo é a medida de sua inércia:
Quanto maior a massa, mais difícil é mudar sua velocidade.
A indutância L pode ser considerada uma medida da inércia de um circuito em
CA – quanto maior a indutância, mais difícil é mudar a corrente do circuito.
78

Dividindo a eq. (12.4) por L

d2 q (t) q(t)
  0 (12.6)
dt 2 LC

d2 q (t) 1
  q(t) (12.7)
dt 2 LC

que é análoga a

d 2 x( t ) k
  x(t)   2 x(t) (12.8)
dt 2 m

onde, por definição,

k
2 (12.9)
m

A solução da eq. (12.8) é um movimento harmônico simples

x ( t )  A c os (  t   ) (12.10)

com frequência angular

k
  (12.11)
m

A é a amplitude,  é a fase, dependem das condições iniciais. A eq. (12.7) fica

d2 q (t)
   2 q(t) (12.12)
dt 2
1
com  0  (12.13)
LC

 0 é a frequência natural de oscilação ou frequência de ressonância. A solução da


eq. (12.12) é a carga armazenada no capacitor

q ( t )  A c os (  t   ) (12.14)

A corrente fica

dq( t )
i(t)     A sen (  t   ) (12.15)
dt

Escolhendo as condições iniciais em t  0 s q ( t  0 )  Q 0 e i ( t  0 )  0 , os


valores de A e F são A  Q 0 e   0 . A carga no capacitor e a corrente são

q ( t )  Q 0 cos  t (12.16)

i ( t )    Q 0 sen  t   I máx sen  t (12.17)

onde I máx   Q 0 .
79

A Fig. 12.2 mostra os gráficos da carga e da corrente em função do tempo. A


carga oscila entre os valores  Q 0 e  Q 0 com uma frequência angular dada pela
eq. (12.13). A corrente oscila entre os valores   Q 0 e   Q 0 com a mesma
o
frequência e está defasada (atrasada) de 90 em relação à carga, a corrente é
máxima quando a carga é nula e a corrente é nula quando a carga é máxima.
Um sistema massa-mola sem atrito tem sua energia total constante e essa
energia assume alternadamente as formas de energia potencial e de energia
cinética. No circuito LC existem a energia elétrica e a energia magnética.
A energia elétrica armazenada no capacitor é

1 1 q2 (t)
Ue  q( t ) v C ( t )  (12.18)
2 2 C

substituindo a eq. (12.16) na eq. (12.18)

2
1 Q0
Ue  co s 2  t (12.19)
2 C
2
Q0
a energia elétrica oscila entre entre 0 e . A energia magnética armazenada no
2C
indutor é
1
Um  L i 2 (t) (12.20)
2

substituindo i ( t ) pela eq. (12.17) e usando a eq. (12.13)


2
1 2 2 2 1 Q0
U m  L  Q 0 s en  t  s en 2  t (12.21)
2 2 C
2
Q0
a energia magnética também oscila entre 0 e . A energia total é a soma das
2C
duas e não varia no tempo, a menos que se coloque uma resistência em série no
circuito. Com capacitor e indutor ideais, vale
2 2 2
1 Q0 1 Q0 1 Q0
U t ot al  U e  U m  co s 2  t  s en 2  t  (12.22)
2 C 2 C 2 C

e ela é igual à energia armazenada inicialmente no capacitor!


A eq. (12.14) mostra que a solução é análoga à do oscilador harmônico
mecânico. Soluções similares a essa fazem parte de um problema fundamental e
muito interessante da física que encontra aplicações em diversas áreas de estudos,
principalmente quando se trata do fenômeno da ressonância. Encontram-se
exemplos cotidianos na acústica, no cálculo de edificações, na sintonização de
frequências (estações) de rádio, aquecimento por micro-ondas etc.
A dinâmica deste circuito é: À medida que a carga q diminui, a energia

armazenada no campo elétrico E do capacitor também diminui. Esta energia é

transferida para o campo magnético B que surge no indutor, devido à corrente i
que nesse instante está crescendo. Assim, o campo elétrico no capacitor diminui,
enquanto o campo magnético no indutor aumenta. Num instante posterior, quando
toda a carga do capacitor tiver desaparecido, o campo elétrico no capacitor será
nulo e a energia que estava armazenada no capacitor terá sido totalmente
80

transferida do capacitor para o indutor, armazenada no campo magnético do


indutor.
A corrente, que neste instante é intensa no indutor, continua a transportar
carga positiva da mesma placa do capacitor para a outra de modo que a placa que
estava carregada positivamente e que chegou a ter carga zero, agora vai se
carregando negativamente enquanto que a outra fica com carga positiva. A energia
retorna ao capacitor enquanto cresce novamente o campo elétrico. Num instante
posterior, no fim desse processo, toda a energia terá sido devolvida ao capacitor.
Retornando à situação inicial, com uma diferença, a polaridade do capacitor está
invertida. O capacitor começa a descarregar novamente, mas com a corrente no
sentido contrário ao anterior. Continuando o processo, o sistema retorna ao estado
inicial, completando um ciclo e tudo vai se repetindo.
Nota-se neste comportamento que a energia é transferida de um elemento do
circuito para o outro, de modo cíclico. Não havendo dissipação de energia, este
processo se repetiria indefinidamente. Isso só seria possível num circuito ideal,
onde a resistência do circuito fosse igual a zero. Num circuito real, supondo que R é
tão pequeno que seu efeito sobre o comportamento do circuito é desprezível, pode-
se obter uma frequência natural de oscilação,  0 . Na prática não se consegue um
circuito LC puro, pois o fio que constitui o indutor possui uma resistência R (mesmo
que pequena) e o circuito será sempre um circuito RLC. Em um circuito LC real as
oscilações não continuam indefinidamente porque sempre existe alguma resistência
presente que retira gradualmente energia dos campos elétrico e magnético e a
dissipa sob a forma de energia térmica. As oscilações, uma vez iniciadas, vão sendo
amortecidas e acabam se extinguindo.
Como o resistor é um elemento dissipativo, a energia eletromagnética total
deixará de ser constante, diminuindo com o tempo, à medida em que ela é
transformada em energia térmica no resistor. Neste caso, a energia eletromagnética
continua sendo dada pela eq. (12.20), mas sua variação no tempo passa a ser dada
por:
dU
  R i2 (12.23)
dt

onde o sinal negativo significa que a energia armazenada diminui com o tempo,
sendo convertida em energia térmica, por efeito Joule, e portanto perdida, P  R I 2 .

Combinando com as eqs. (12.18) e (12.20)

dU d L i2 q2 di q dq
 (  )Li    R i2 (12.24)
dt dt 2 2C dt C dt

O circuito que permite carregar o capacitor e posteriormente acoplá-lo ao


resistor e ao indutor está representado na Fig. 12.2(a).
Conectando a chave na posição 1, deve-se esperar até que o capacitor se
carregue totalmente, passando então a chave para a posição 2 e deixando o circuito
oscilar livremente.
Este processo pode ser feito automaticamente pelo circuito da Fig. 12.10(b).
No caso onde o circuito tem resistência e dissipa a energia, a voltagem em um
capacitor é proporcional à carga armazenada, de acordo com a expressão
81

(a) Fig. 12.2 (b)

q (t)
vC ( t )  (12.25)
C

A voltagem em um indutor é proporcional à variação da corrente no tempo

di
vL ( t )  L (12.26)
dt

A tensão no resistor vR ( t ) é proporcional a i ( t ) , de acordo com a relação

vR ( t )  R i ( t ) (12.27)

A soma de todas as tensões no circuito, (lei de Kirchhoff) deve ser igual a zero
para a chave na posição 2, e v f ( t ) para a posição 1 ( Vf p para t = 0). Então, para a
posição 2, a soma dos fasores é igual a zero

V Lp  V Cp  V Rp  0

e também, a soma das funções

vL  v C  vR  0 (12.28)

substituindo eqs. (12.25), (12.26) e (12.27) na eq. (12.28)

di q
L  Ri0 (12.29)
dt C

usando,

dq di d2 q
i e 
dt dt dt2

vem

d2 q q dq
L  R  0 (12.30)
2 C dt
dt

A solução geral da eq.(12.24) é dada por

R
 t
2L
q( t )  Q e c os (  , t   ) (12.31)

onde
82

1 R
,  ( )2 (12.32)
LC 2L

A eq. (12.24) pode ser descrita como uma função co-senoidal com amplitude
que decresce exponencialmente com o tempo, tal como pode ser visto na Fig. 12.3.
Ou seja, a cada ciclo o sistema “queima” parte de sua própria energia, dissipando
calor por efeito Joule. A frequência ' é menor que a frequência angular natural  0

Fig. 12.3

1
0  (12.33)
LC

e o termo

2L
 (12.34)
R

é o fator de amortecimento do circuito (é a constante de tempo do circuito ou ainda


constante de decaimento). A tensão no capacitor, em qualquer instante t, é dada
por
q( t )
vC ( t )  (12.35)
C
ou
R
Q 2L t
vC ( t )  e c os (  , t   ) (12.36)
C
a corrente é dada por

dq
i (12.37)
dt

R
 t  
2L R , , ,
i( t )  Q e   2 L co s (  t   )   s en (  t   ) (12.38)
 
83

e a tensão em R é dada por vR = R i ou

R
 t  
2L R , , ,
vR (t)  R Q e   2 L co s (  t   )   s en (  t   ) (12.39)
 

12.2 – CIRCUITOS RLC EM TENSÃO (E CORRENTE) ALTERNADA


VOLTAGEM E CORRENTE REAIS
Nos circuitos de corrente alternada, alimentados por um único gerador ideal,
as correntes reais que passam pelos diferentes elementos são senoidais. A corrente
real i ( t ) que passa por um dado elemento de um circuito está relacionada com a
diferença de potencial (ou voltagem) nesse elemento v ( t ) . Tanto i ( t ) como v ( t )
são funções do tempo com a mesma forma que as eqs. (12.40) e (12.41), cada
uma com sua amplitude e fase, mas com a mesma frequência. Sem perda de
generalidade a origem dos tempos pode ser definida de modo que a fase inicial da
corrente seja nula e é a diferença de fase entre a voltagem e a corrente.

i ( t )  I p cos (  t ) (12.40)

v ( t )  V p cos (  t   ) (12.41)

onde é a diferença de fase entre a voltagem e a corrente.

A fase de uma senóide sozinha não tem muito sentido físico. É sempre
possível escolher a origem dos tempos de modo que ela seja zero. Mas a diferença
de fase entre duas senóides não depende dessa escolha.

12.3 – CIRCUITO RLC EM SÉRIE EM TENSÃO (E CORRENTE)


ALTERNADA
O circuito RLC de uma única malha, tal como o da Fig. 12.4, possui uma fonte
de tensão senoidal (fonte AC).

As diferenças de potencial variando no tempo, v R ( t ), v C ( t ) e v L ( t ) , aplicadas


ao resistor, ao capacitor e ao indutor, estão em série e portanto somam-se.  é a
rad
frequência angular de oscilação da fonte AC. (   2  f , em e f em Hertz). A
s
frequência f da voltagem AC de qualquer tomada elétrica no Brasil é f  60 Hz e
rad
  2  ( 60 )  377 .
s

Fig. 12.4
84

Pela teoria, se conhece a resposta de qualquer circuito RLC a uma f.e.m.


aplicada, (não importando quantos elementos ou malhas estejam envolvidas),
pode-se determinar a resposta, ou seja, as correntes geradas, devidas a qualquer
f.e.m. arbitrária aplicada, não importam quão complicadas sejam as formas das
suas ondas. Aqui se está contando com o fato que se pode escrever qualquer forma
ondulatória complexa como sendo a soma de termos seno (e cosseno) separados
numa série de Fourier, e que a elas sempre se pode aplicar o princípio de
superposição. Pode-se determinar a corrente i ( t ) no circuito da Fig. 12.5 em
termos de Vp ,  , R , C e L. Observar que, para as condições supostas na Fig. 12.5,
a corrente é a mesma em todas as partes do circuito (como no caso de correntes
contínuas de uma única malha) e pode-se supor, com segurança, que i ( t ) é

i ( t )  I p cos (  t ) (12.42)

Na eq. (12.42), I p é o valor de pico da amplitude de corrente.

Para expressar i ( t ) e  em termos de V f p ,  , R , C e L, deve-se decompor o


problema, pela Fig. 12.4, em três problemas separados, nos quais R, C e L são
considerados separadamente, ideais e um de cada vez. Começando com R.

12.4 – UM CIRCUITO RESISTIVO


A Fig. 12.5(a) mostra um circuito contendo apenas um elemento resistivo,
alimentado pela fonte AC. Um componente de circuito que só possui resistência é
uma idealização, porque alguma auto-indutância está sempre associada com
qualquer circuito real. Considerando um circuito resistivo ideal, pela lei de Kirchoff
(das malhas) e pela definição de resistência, pode-se escrever a equação de
equilíbrio dinâmico

v f (t) vR (t)

em qualquer resistor vale sempre a lei de Ohm

vR ( t)  V p cos  t  R I p cos  t (12.43)

A partir da definição de resistência pode-se escrever a corrente i R (t ) , como

vR (t ) Vp
i R (t )   c os  t (12.44)
R R

iR ( t )  I p cos  t (12.45)

A comparação das eqs. (12.43) e (12.44) mostra que as quantidades variando


no tempo v R ( t ) e i R ( t ) estão em fase, ou seja, atingem os seus valores
máximos (e os mínimos) ao mesmo tempo.

O ângulo de fase entre v f ( t ) , v R ( t ) e i R ( t ) é zero,   0 .

Como é de se esperar, elas também têm a mesma frequência angular .


85

(a) (b)
Fig. 12.5

A ddp e a corrente em R estão mostradas na Fig. 12.5(b), que são os gráficos


das eqs. (12.43) e (12.45).

12.5 – UM CIRCUITO CAPACITIVO


A Fig. 12.6(a) mostra um circuito contendo apenas um elemento capacitivo,
que é alimentado pela fonte AC. Considerando a corrente pela eq. (12.42), pela lei
de Kirchoff (das malhas) e da definição de capacitância, pode-se escrever o
potencial através do capacitor como na eq. (12.48) e a carga armazenada como na
eq. (12.50), pois em um capacitor a voltagem é proporcional à carga no capacitor,
q( t )
t t
q (t ) 1 Ip
v f (t) v C(t)    i (t' ) d t'  v ( 0 )   co s  t
' d t'  v ( 0 )
C C C
0 0
onde v ( 0 ) é a voltagem no capacitor em t  0 . No caso de corrente alternada,
assumindo que a carga armazenada e a voltagem no capacitor em t  0 são zero,
v ( 0 )  0 . As eqs. (12.46) e (12.47) serão utilizadas em algumas transformações.

  
s en (  t  )  s en  t co s  co s  t s en   co s  t (12.46)
2 2 2

  
co s (  t  )  co s  t co s  s en  t s en   s en  t (12.47)
2 2 2

q (t ) I p Ip 
vC ( t )   s en  t  co s (  t  ) (12.48)
C C C 2


vC ( t )  V p co s (  t  ) (12.49)
2


q C ( t)  C vC ( t )  C V p co s (  t  )  C V p s en  t (12.50)
2


Na Fig. 12.6 (b),    , v C ( t ) e v f ( t ) estão em fase.
2
86


A corrente i C ( t ) está adiantada de rad em relação a v C ( t ) e a v f ( t ) .
2

(a) (b)
Fig. 12.6:

(a) Circuito capacitivo de uma única malha contendo uma fonte AC.

(b) A diferença de potencial aplicada ao capacitor está atrasada, em relação à



corrente, de um quarto de ciclo ( rad  90 o ).
2

Usando a definição de corrente junto com a eq. (12.50), vem:

d q( t ) d  s en  t 
i C t    C Vp (12.51)
dt dt

d q( t )
i C t     C V p co s  t (12.52)
dt

As eqs. (12.42) e (12.52) são iguais. Uma comparação das eqs. (12.50) e
(12.52) mostra que as quantidades variando no tempo v C ( t ) e i C ( t ) não estão
em fase, v C ( t ) está atrasada em relação a i C ( t ) , isto é, à medida que o tempo

passa, v C ( t ) atinge o seu máximo um quarto de ciclo ( rad) depois de i C ( t ) ter
2
atingido o seu respectivo máximo. Ver a Fig. 12.6(b). Ou ainda, que a corrente está

adiantada de rad = 900 em relação à tensão.
2

O ângulo de fase entre v C ( t ) e i C ( t ) nas eqs. (12.50) e (12.52) é de  .
2
Substituindo

1
XC  (12.53)
C

A eq. (12.52) torna-se


87

Vp
iC ( t )  co s  t (12.54)
XC

onde X C é a reatância capacitiva e mede a dificuldade que o capacitor oferece à


passagem da corrente alternada, a sua unidade de medida é o Ohm. A eq. Assim a
corrente i C ( t ) no capacitor fica

i C ( t )  I p cos  t (12.55)

onde I p é a amplitude de i C ( t ) . Pode-se perceber que a amplitude de voltagem


V p , e a amplitude de corrente I C p , estão relacionadas por

V p  I p XC (capacitor) (12.56)
Embora esta relação tenha sido encontrada para o circuito da Fig. 12.6(a), ela
se aplica para qualquer capacitância em qualquer circuito.

12.6 – UM CIRCUITO INDUTIVO


A Fig. 12.7(a) mostra um circuito contendo um indutor e um gerador com uma
fonte AC. Considerando a corrente:

i L (t)  I p cos  t (12.57)

A diferença de potencial através de uma indutância L, na qual a corrente está


diL
variando no tempo à taxa ,é
dt

diL 
v L(t )  L    L I p s en  t   L I p co s(  t  ) (12.58)
dt 2

(a) (b)
Fig. 12.7
Fig. 12.7: (a) Um indutor é conectado com uma fonte AC.
(b) A diferença de potencial aplicada ao indutor está avançada em um

quarto de ciclo ( rad) em relação à corrente.
2
88

Por definição a reatância indutiva do indutor , XL , é


XL   L (12.59)
O valor de XL depende da frequência angular . A unidade no SI é o ohm,
como X C e R. A eq. (12.59) está representado o módulo de XL . A eq. (12.58) fica


v L (t)  X L I p co s (  t  ) (12.60)
2


v L (t)  V p co s (  t  ) (12.61)
2

A comparação das eqs. (12.57) e (12.61) mostra que as quantidades variando


no tempo v L ( t ) e i L ( t ) estão um quarto de ciclo fora de fase. Para uma carga
puramente indutiva, a defasagem entre v L ( t ) e i L ( t ) é de 900.
A tensão no indutor está adiantada em relação à corrente por um quarto de

ciclo ( rad). A Fig. 12.7(b) é um gráfico das eqs. (12.57) e (12.61). v L ( t ) está
2
adiantada em relação a i L ( t ) , isto é, à medida que o tempo passa, v L ( t ) atinge
seu máximo um quarto de ciclo antes de i L ( t ) fazê-lo. A amplitude da voltagem
VL p e a amplitude da corrente I L p estão relacionadas por
V p  Ip XL (indutor) (12.62)

Tabela 12.1

Elemento Voltagem Resistência Angulo de fase Relação


do Real ou  de amplitudes
circuito Reatância

00
Resistor v( t )  R i( t ) R i em fase Vp I p R
R com v R


   90 o  
Capacitor q( t ) 1 2 Ip
v(t ) XC V p I p X C 
C C C i Adiantada C
de v C por 900


  90 o 
Indutor di( t ) X L  L 2 V p I p X L  I p L
v(t )L
L dt i Atrasada
de v L por 900
88

13 – SOLUÇÃO DE CIRCUITOS RLC UTILIZANDO FASORES (NÚMEROS


COMPLEXOS)
AMPLITUDE E FASE NAS CURVAS DE RESPOSTA DE CIRCUITOS EM CA
Em problemas de CA em regime contínuo (ou estacionário), a resposta de
saída tem a mesma frequência da função de entrada e pode diferir em amplitude e
fase.
Em um laboratório, é relativamente fácil medir as relações de amplitude e de
fase, podendo-se representá-las por um número complexo de mesmo módulo e
ângulo. Isto é feito pelo método fasorial de análise de circuitos.

13.1 – NÚMEROS COMPLEXOS


Um número complexo v̂ ( t ) é um número na forma
v̂ ( t )  V p e j (  t   ) (13.1)
V p é o valor de zero a pico da senóide que representa a tensão da fonte,  é
a frequência, é a fase e j é definido como

j 1 (13.2)

A eq. (13.1) possui uma parte real e uma parte complexa, isto pode ser visto
usando a fórmula de Euler

e j (  t   )  cos (  t   )  j s en (  t   ) (13.3)
a parte real de v̂ ( t ) fica


v ( t )  Re v̂ ( t )   Re  V p e j( t  )
 V p co s (  t   ) (13.4)

A eq. (13.4) é um real puro. De uma forma análoga se pode definir uma
corrente complexa, î ( t ) .
A principal vantagem do uso da notação complexa é que se podem transformar
equações diferenciais, comumente encontradas em circuitos, em equações
algébricas ordinárias. Para efetuar as derivadas devem-se usar as simplificações

d d
( e j  t )  j  e j  t ou  j  para derivar uma vez em relação ao tempo
dt dt
basta multiplicar por j 

d2 d2
( e j  t )    2 e j  t ou    2 para a derivada segunda em relação
dt 2 dt 2

ao tempo basta multiplicar por ( j  ) 2    2

d3 j  t 3 j  t d3
(e )   j e ou   j 3 para a derivada terceira em
dt 3 dt 3
relação ao tempo basta multiplicar por ( j  ) 3   j  3
e, assim por diante...

A transformação é feita do domínio do tempo para o domínio da frequência, isto é


feito usando a teoria dos fasores, que transforma as expressões trigonométricas
(equações diferenciais ordinárias de segunda ordem acopladas), normalmente
complicadas, em expressões complexas que se utilizam duma álgebra elementar.
89

13.2 – FASORES

Adaptado do texto de Clovis Goldemberg (com a colaboração da Profa. Denise


Consonni) - O que são os fasores?
Março/2007
1. Porque usar fasores?
A notação fasorial simplifica a resolução de problemas envolvendo funções
senoidais no tempo.

2. O que é um fasor?
Um fasor é um número complexo que representa a magnitude e a fase de
uma senóide.

3. Quem inventou fasores?


O uso de números complexos para resolver problemas em circuitos de
corrente alternada foi apresentado pela primeira vez por Charles Proteus Steinmetz
em um artigo de 1893. Ele nasceu em Breslau, na Alemanha, filho de um
ferroviário. Tornou-se um gênio da ciência apesar de ser um deficiente físico de
nascença e ter perdido a mãe com apenas 1 ano de idade. Assim como seu trabalho
sobre as leis da histerese atraíram a atenção da comunidade científica, suas
atividades políticas na Universidade de Breslau atraíram a polícia política. Foi
forçado a fugir da Alemanha sem conseguir concluir seu trabalho de doutorado.
Trabalhou em inúmeras pesquisas nos Estados Unidos, principalmente na
General Electric Company. A GE havia sido fundada por Thomas Edison que a
dirigiu entre 1876 a 1892.
O período de 1892 a 1923 ficou conhecido como sendo a Era Steinmetz, por
razões óbvias. Publicou um trabalho sobre números complexos que revolucionou a
análise de circuitos AC apesar de terem dito naquela época que ninguém, exceto
Steinmetz, entendia o método.

4. Como se escreve um fasor?


Esta pergunta deve ser decomposta em várias etapas...

4.a. Escrever a tensão no domínio do tempo como uma função cossenoidal com
uma fase determinada.

v ( t )  V p cos (  t   ) (13.5)
onde V p é a amplitude da onda cossenoidal, é sempre  0
rd
 é a frequência angular da onda cossenoidal, medida em
s
 é a fase da onda cossenoidal, medida em rd

4.b. A fórmula de Euler estabelece que

e j   cos   j s en  (13.6)

e a parte real da eq. (13.6) é


cos   Re e j   (13.7)

aplicando a eq. (13.7) na eq. (13.5)

  
v ( t )  V p co s (  t   )  Re V p e j (  t   )  Re V p e j  t e j   (13.8)
90

4.d. O fasor V é dado por

V  V p e j   V p  (13.9)
com
  t  
4.e. Fasores não giram! Isto porque o termo e j  t da Eq. (13.8) é considerado à
parte.

4.f. A representação do fasor V adotada na Eq. (13.9) é denominada polar.
Mas é perfeitamente aceitável uma representação usando números complexos

V  V p ( cos   j s en  ) (13.10)

5. A representação gráfica do fasor da Eq. (13.9) é a Fig. (13.1)

Fig. (13.1)

6. Qual a fase de um fasor?


Não existe uma única resposta a esta pergunta. Como o tempo é relativo
(mais que isto, “tudo é relativo...” e o “big-bang” ocorreu há muito tempo atrás...)
é necessário arbitrar um instante inicial para definir a fase do fasor. Essa origem
dos tempos deve ser a mesma para todos os fasores de um mesmo problema.
Como regra prática adota-se um dos fasores como referência. Ou seja, este
fasor específico tem fase nula. Os outros fasores podem estar “adiantados”,
“atrasados” ou “em fase” em relação à referência de fase estabelecida.

7. Um exemplo de fasor?
Considerar uma corrente

2
i ( t )  5 s en ( 100t  ) (13.11)
3
reescrever esta mesma corrente como uma função cossenoidal

i ( t )  5 co s ( 100t  ) (13.12)
6
reescrever como a parte real de um número complexo

    j ( 100 t   ) 
j ( 100 t  )

i( t )  Re  5 e 6   6 
  5 R e e  (13.13)
   
Para simplificar a notação pode-se deixar de escrever a função Re ....
 
j ( 100 t  ) j
i( t )  5 e 6 5 e j 100 t e 6 (13.14)
Ignorar e j 100t
91


 j
I 5e 6 (13.15)

E finalmente

 
I 5 (13.16)
6

Ou seja, o fasor possui amplitude (ou magnitude, ou módulo) 5 e fase
.
6
8. Como transformar de uma notação fasorial para uma função temporal?
Considerar um fasor

V  V p e j (13.17)

Recolocar o termo e j  t . Nesta etapa existe uma informação absolutamente


necessária, qual o valor de ω? Se a frequência angular não for conhecida, o
problema não tem solução. Sendo ω conhecida


v( t )  Re V p e j  t e j   (13.18)

Agrupando-se os expoentes


v ( t )  Re V p e j(  t   )  (13.19)

E finalmente

v ( t )  V p cos (  t   ) (13.20)

9. Porque usar fasores?


A notação fasorial simplifica a resolução de problemas envolvendo funções
senoidais no tempo (isto já havia sido falado na pergunta no 1). Ao utilizar notação
fasorial torna-se possível transformar as equações diferenciais que representam um
circuito elétrico em equações algébricas. Resolver equações algébricas é muito mais
simples do que resolver equações diferenciais. A seguir, considerar os elementos
passivos do tipo resistor, indutor e capacitor.
10. Resistores
A equação básica no domínio do tempo é dada pela Lei de Ohm
v ( t )  R i( t ) (13.21)
considerar que a tensão v ( t ) é dada por
v ( t )  V p cos (  t   ) (13.22)
que pode ser reescrito como

v( t )  Re V p e j  t e j   (13.23)
A corrente também será dada por uma função cossenoidal que possui uma
fase 

i ( t )  I p ( cos  t   ) (13.24)
e

i( t )  Re I p e j  t e j   (13.25)
agrupando as eqs. (13.21), (13.23) e (13.25)
92


Re V p e j  t e j    R Re I p e j  t e j   (13.26)

que pode ser simplificada eliminando-se a função “real” dos dois lados

V p e jt e j  R I p e jt e j (13.27)

Os dois lados podem ser divididos por e j  t resultando


V p e j  R I p e j (13.28)
Em termos fasoriais
 
V  R I (13.29)
 
onde V  V p  e I  I p  
No caso de resistores as fases  e são iguais, basta comparar as Eqs.
(13.23) e (13.25). Ou seja, a tensão v ( t ) está em fase com a corrente i ( t ) .
A Fig. (13.2) mostra a relação temporal entre tensão v ( t ) e corrente i ( t )
em um resistor ideal, elas estão em fase. O diagrama fasorial na Fig. (13.3).

Fig. (13.2) Fig. (13.3)


11. Indutores
A equação diferencial básica para um indutor ideal é

d  i( t ) 
v( t )  L (13.30)
dt
Considerar que a tensão é dada por

v ( t )  V p cos (  t   ) (13.31)

que pode ser reescrito como


v( t )  Re V p e j  t e j   (13.32)

A corrente também será dada por uma função cossenoidal que possui uma
fase .
93

i ( t )  I p ( cos  t   ) (13.33)
e

i( t )  Re I p e j  t e j   (13.34)

Agrupando as Eqs. (13.30), (13.32) e (13.28)


Re V p e j  t e j   L   
d Re I p e j  t e j   j  L Re  I jt e j 
p e (13.35)
dt

Que pode ser simplificada eliminando-se a função “real” dos dois lados


V p e j  t e j   j L I p e j  t e j   (13.36)

Os dois lados podem ser divididos por e j  t resultando

Vp e j   j L I p e j  (13.37)

Em termos fasoriais
 
V  j L I (13.38)

onde V  V p 

I I p 

A partir da Eq. (13.37) pode-se escrever

o o
V p e j   j  L I p e j    L I p e j 90 e j    L I p e j (   90 ) (13.39)
e
o
V p e j    L I p e j (   90 ) (13.40)

Conclui-se da Eq. (13.36) que


    90o (13.41)

Neste caso as fases da tensão e corrente são diferentes! A tensão está


adiantada de 90 o em relação à corrente. A Fig. 13.4 mostra a relação temporal
entre a tensão v ( t ) e a corrente i ( t ) em um indutor ideal e na Fig. 13.5 o
diagrama fasorial correspondente.

12. Capacitores
A equação diferencial básica para um capacitor ideal é

d  v( t ) 
i( t )  C (13.42)
dt
Considerar que a tensão é dada por

v ( t )  V p cos (  t   ) (13.43)
94

Fig. 13.4 Fig. 13.5

Que pode ser reescrito como


v( t )  Re V p e j  t e j   (13.44)

A corrente também será dada por uma função cossenoidal que possui uma
fase 

i ( t )  I p ( cos  t   ) (13.45)

E também


i( t )  Re I p e j  t e j   (13.46)

Agrupando as Eqs. (13.42), (13.44) e (13.46)


Re I p e j  t e j   C   
d Re V p e j  t e j    
 j  C Re V p e j  t e j  (13.47)
dt
Que pode ser simplificada eliminando-se a função “real” dos dois lados


I p e j t e j  jC Vp e j t e j  (13.48)

Os dois lados podem ser divididos por e j  t resultando

I p e j  jC Vp e j (13.49)
Em termos fasoriais
 
I  jC V (13.50)
e
 1 
V  I (13.51)
jC

onde V  V p 
95

I I p 
A partir da Eq. (13.50) pode-se escrever

o o
I p e j   j  C V p e j    C V p e j 90 e j    C V p e j (   90 ) (13.52)
e
o
I p e j    C V p e j (   90 ) (13.53)

o 1
V p e j (   90 )  I p e j (13.54)
C
Conclui-se da Eq. (13.54) que
  90o   (13.55)
Neste caso as fases da tensão e corrente são diferentes! A tensão está
atrasada de em 90o relação à corrente. A Fig. 13.6 mostra a relação temporal entre
a tensão v ( t ) e a corrente i ( t ) em um capacitor ideal e o diagrama fasorial
correspondente na Fig. 13.7.

Fig. 13.6 Fig. 13.7

13. Impedância
Convém comparar as relações fasoriais obtidas para os elementos resistivos,
indutivos e capacitivos. As equações estão repetidas a seguir para facilitar tal
comparação.
 
V R I (13.56)
 
V  j L I (13.57)
 1 
V  I (13.58)
jC
Pode-se generalizar, definindo uma impedância Z que é dada pela relação
 
entre os fasores V e I

V
Z   (13.59)
I
96

Notar que a impedância NÃO é um fasor. Trata-se de um número complexo


 
que relaciona um fasor de tensão V com um fasor de corrente I .

14. Soma de Fasores


 
Considerar duas tensões representadas pelos fasores V 1 e V 2 . Qual é a
soma destes fasores?
A operação pode ser realizada graficamente tal como mostra a Fig. 13.8

Fig. 13.8

A soma de fasores também pode ser realizada usando coordenadas


retangulares. Observando-se a Fig. 13.8 nota-se que a soma de um fasor também
é um fasor! Uma generalização imediata é que um número qualquer de fasores
podem ser somados, sempre resultando um fasor. Lembrar também que só é
possível somar fasores de mesma frequência!
A soma de fasores também pode ser feita usando coordenadas retangulares

V 1  V p 1 ( cos 1  j s en 1) (13.60)


V 2  V p 2 ( cos 2  j s en 2 ) (13.61)


V T ot al V p 1 ( cos 1  j s en 1)  V p 2 ( cos 2  j s en 2 ) (13.62)

Pela Fig. 13.8 nota-se que a soma de fasores também é um fasor! Só é


possível somar fasores de mesma frequência.
Neste método, um sinal periódico

v ( t )  V p cos (  t   ) (13.63)

onde V p é a amplitude da onda cossenoidal, é sempre  0


rd
 é a frequência angular da onda cossenoidal, medida em
s
 é a fase da onda cossenoidal, medida em rd
^
v ( t ) será representado por um número complexo v ( t ) .

^
v ( t )  Vp e j (  t   ) (13.64)
^
onde v ( t ) representa um fasor, que é proporcional ao valor de V p .
97

13.3 – SOLUÇÃO DE CIRCUITOS RLC UTILIZANDO NÚMEROS


COMPLEXOS
Para o circuito RLC em Série, da Fig. 13.9, para uma tensão alternada
aplicada,
v ( t )  V p cos  t (13.65)

a 1ª Lei de Kirchoff fornece

Fig. 13.9
d2 Q dQ Q
L R   V p c os  t (13.66)
dt 2 dt C

Usando a corrente

dQ
i(t) 
dt
, com Q  i ( t ) dt

A eq. (13.65) pode ser escrita

di 1
L
dt
 Ri 
C  i d t  V p c os t (13.67)

O lado direito da eq. (13.66) é a parte real de V p e j  t , assim, para resolver


a eq. (13.67), deve-se encontrar uma função complexa y que satisfaça à equação

dy 1
L
dt
 Ry 
C 
y d t  V p c os t (13.68)

A parte real da solução, Re  y  , é a corrente i ( t ) procurada.


Supor que a função
y( t ) I p e jt
seja a solução da eq. (13.68). Então

dy y
dt
 jy e y dt  
j
Substituindo na eq. (13.68)
1 Vp
j L y  R y  y  Vp e jt  y
jC Ip
Dividindo por y
1 Vp
j L  R   (13.69)
jC Ip

1 Vp
j( L  )R  (13.70)
C Ip
Usando as definições de reatância capacitiva e reatância indutiva
98

1
XC  (13.71)
C
X L  L (13.72)

na eq.(13.69), vem
Vp
j( X L  X C )  R  (13.73)
Ip
e
Vp
Ip  (13.74)
j( X L  X C )  R

Passando o denominador da eq. (13.74) para a forma polar, Fig. 13.10

Fig. 13.10

j( X L  X C )  R  ( X L  X C ) 2 R 2 e j Ze j (13.75)

Pode-se definir a impedância total para o circuito RLC em série

2
 1 
Z  ( X L  X C ) 2 R 2  R 2    L   (13.76)
 C 

e, pelas Figs. 13.10 tem-se

1
L 
XL  XC C
tg    (13.77)
R R

Pelas eqs. (12.74) e (12.75) vem

Vp Vp
Ip   e  j (13.78)
Ze j Z
então

Vp Vp
y  I p e jt  e  j e jt  e j(  t   ) (13.79)
Z Z

A corrente fica
99

Vp
i ( t )  Re y   c os (  t   ) (13.80)
Z

com
1
Z   R2(L  )2 (13.81)
C

13.4 – RESSONÂNCIA DE UM CIRCUITO RLC EM SÉRIE


Um circuito RLC em série está em ressonância quando a tensão aplicada
v ( t ) e a corrente resultante i ( t ) , estiverem em fase.
Tensão e corrente só estarão em fase em um circuito puramente resistivo!
Em um circuito RLC em série, a ressonância acontece na frequência em que
as reatâncias indutiva e capacitiva se igualam e, portanto, se cancelam.
Chamando  0 de frequência de ressonância, a eq. (13.81), quando
   0 , fica


Z 0   R2( 0 L 
1
0 C
)2  R (13.82)

Porque em    0
1 1
0 L  ou ainda, 2f0 L  (13.83)
0 C 2f0 C

Logo, a frequência de ressonância fica

1 1
0  ou f0  (13.84)
LC 2 LC
A Fig. 13.11 mostra três curvas de ressonância em três circuitos RCL em série
diferindo apenas nos valores de R. Cada pico tem seu máximo de amplitude de
corrente quando

1 (13.85)
0
mas o valor máximo de i ( t ) decresce com o aumento de R, enquanto o pico de
ressonância se alarga com o aumento de R.
A Fig. 13.11 sugere a experiência comum de sintonizar uma estação de
rádio. O que se faz, ao girar o botão, é ajustar a frequência natural  0 de um
circuito interno à frequência  do sinal transmitido pela antena da emissora, até
que a eq. (13.85) seja satisfeita.
Numa área metropolitana, onde é muito grande a incidência de sinais com
frequências não muito diferenciadas, torna-se muito importante aumentar a
agudeza da sintonização - o que significa um fator de qualidade Q 0 com um valor
alto.
O sentido físico das curvas de ressonância na Fig. 13.11 pode ser considerado
através da influência da variação da frequência angular  sobre as reatâncias
indutiva X L e capacitiva X C , iniciando com pequenos valores de , menores que a
frequência natural  0 . Para pequenos valores de , a reatância indutiva é pequena

XL   L (13.86)

e a reatância capacitiva é grande.


100

1
XC  (13.87)
C

Fig. 13.11
Fig. 13.11 - Curvas de ressonância para o circuito RLC. Os valores de L e C são os
mesmos para as 3 curvas e os valores de R são diferentes. As setas horizontais em
cada curva medem sua largura no ponto de meia potência, que determina o fator
de qualidade Q do circuito. Notar que a corrente atinge um máximo, em cada caso,
na ressonância.

Assim, o circuito é principalmente capacitivo e a impedância é dominada por


uma grande X C , que mantém a corrente baixa.
Quando  aumenta, a reatância X C permanece dominante mas decresce
enquanto a reatância X L aumenta.
O decréscimo em X C diminui a impedância, permitindo um aumento na
corrente, como se vê no lado esquerdo da curva de ressonância na Fig. 13.11.

Quando o aumento em X L e o decréscimo em X C faz com que eles atinjam


valores iguais, a corrente alcança um máximo e o circuito está em ressonância,
com    0 .
À medida que  continua a aumentar, a reatância XL torna-se
progressivamente mais dominante sobre a reatância X C . Assim, o aumento da
impedância devido a X L , faz com que a corrente diminua do lado direito da curva
de ressonância da Fig. 13.11.

Em resumo: o lado de baixa frequência angular da curva de ressonância é


dominado pelo reatância do capacitor, pode-se dizer que o circuito é mais
capacitivo; enquanto o lado de alta frequência angular é dominado pela reatância
do indutor, o circuito é mais indutivo; e a ressonância ocorre entre as duas regiões.

13.5 – O FATOR DE QUALIDADE Q 0


O fator de qualidade Q 0 , também chamado fator de mérito, pode ser obtido
experimentalmente, a partir de um gráfico i versus f , ver a Fig. 13.12. Em f 0 a
potência dissipada, P 0 , está em seu valor máximo, já que, neste ponto
101

1 1 1
XL  XC ou, 0L  ou, ( 0 L  )0 e 0 
0 C 0 C LC

Fig. 13.12

Em f 0 a potência dissipada, P 0 , está em seu valor máximo, já que, neste


ponto
1 1 1
XL  XC ou, 0L  ou, ( 0 L  )0 e 0 
0 C 0 C LC

Para a fonte é como se só houvesse R no circuito. Z  R


Existem duas frequências, f 1 e f 2 , uma de cada lado de f 0 , onde as
potências dissipadas, P 1 e P 2 , são iguais à metade de P 0 .

Estas frequências, inferior, f 1 , e superior, f 2 , são denominadas Frequências


de Meia Potência ou Frequências de Corte.

P0 V 12 V 22 V 02 V0
P1  P 2  ou   ou V1  V 2   0,707V 0
2 R R 2R 2

A diferença ( f 2  f 1 ) é conhecida como Largura da Faixa ou Largura da


Banda, PB (Pass Band) ou BW (Band Width), e quanto menor for este valor em
relação a f 0 , mais estreita será a curva de ressonância, e mais seletivo o circuito.
Quem mede este fenômeno é o fator de qualidade, Q 0

0 L 1 f0
Q0    (13.88)
R  0 CR f2  f1

Na Fig. 13.12, i p corresponde a f 0 ; f 1 e f 2 correspondem às frequências


de meia potência, ou frequências de corte.

f 1 é a frequência onde X C  X L  R (13.89)

f 0 é a frequência onde X L  X C (13.90)

f 2 é a frequência onde X L  X C  R (13.91)


102

Assim como a eq. (13.90) permite calcular o valor de f 0 (e  0 ), as eqs.


(13.89) e (13.91) permitem calcular os valores de f 1 (e  1 ) e f 2 (e  2 ).

Há um aumento de tensão no capacitor, em f 0

V C ( f 0 )  X C ( f 0 ) I p máx

mas, neste caso

V p má x
I p má x 
R

portanto

X C ( f 0)
V C ( f 0 )  V p má x ( f 0 )  Q 0 V p má x (13.92)
R

Então, se Q0  1  V C ( f 0 )  V p má x

As Figs. 13.13 mostram os diagramas fasoriais, para f  f 0 ; f  f 0 e f  f 0

Fig. 13.13

Em resumo, na Ressonância em Série


 A Impedância é mínima


Z 0  R
 A Reatância é nula – L em série com C é como um curto-circuito


X 0  0 
 A Corrente é máxima

Vp

I 0  R
I p

 A Potência Transferida ao circuito é máxima


 A Largura de Banda da Ressonância é definida como o intervalo de frequência
dentro do qual a potência P    é maior ou igual à metade do valor máximo
R

L
103

 O Fator de Mérito (Fator de Qualidade) Q do Circuito Ressonante Série


caracteriza a acuidade da curva de ressonância

0L 0
Q0  
R 

13.6 – RESSONÂNCIA DE UM CIRCUITO RLC EM PARALELO

Um circuito RLC em paralelo, como o da Fig. 13.14(a), não apresenta


aplicação prática, pois a reatância capacitiva e a indutiva estarão sempre em
paralelo com uma resistência, que irá limitar o efeito ressonante.

Fig. 13.14
Um circuito RLC em paralelo prático, é o da Fig. 13.14(b), onde R fica em
série com o conjunto LC em paralelo (também conhecido como Circuito Tanque).
Na realidade, para este circuito, R corresponde à resistência interna da fonte. A
corrente é obtida através da impedância total do circuito. Como L e C estão em
paralelo, a impedância equivalente para os dois será

1 1 1
 
ZLC  j XC j XL
ou,
XL.XC   L 
ZLC  j    j   (13.93)
 X C  X L  1   2 L C 

A Impedância Total do Circuiot RLC em Paralelo fica

 L 
ZR  j   (13.94)
1   2 L C 

A Corrente

v( ) V p e j (  t  )
i(  )   (13.95)
Z(  ) 2
 L 
R2   
1   2 L C 

E a fase da impedância Z

L
t g 

R 1  2LC  (13.96)

Análise do comportamento de Z, em função da frequência


104

Para   0: XL  0 e Z 0 (curto-circuito)

Para   : XC  0 e Z 0 (curto-circuito)

Para  0 : XL X C  Z  (circuito aberto)

Para V C L  V p  i t ot al  0 , independente do valor de R

Na frequência de ressonância, valem

1 1
0  ou f0  (13.94)
LC 2 LC

mas  0 é chamada frequência de anti-ressonância, no circuito RLC em paralelo.

Em resumo, na Ressonância em Paralelo


 A Impedância é máxima

Z 0    

 A Reatância é infinita – L em paralelo com C é como um circuito aberto

X 0 
 A Corrente é mínima

I 0 0
 A Potência Transferida ao circuito é mínima

P 0   0

Para   0 ou    , a Potência Dissipada no resistor é máxima, igual a


2
Vp
P 0  
2R
Se   0 toda a corrente passa pelo indutor e, para    ela passa pelo
capacitor

 A Largura de Banda da Anti-Ressonância é definida como o intervalo de


frequência dentro do qual a potência P    é menor ou igual que a metade do
1
valor máximo   ta nq ue 
RC
 O Fator de Mérito (Fator de Qualidade) Q t anque que caracteriza a acuidade da
curva de ressonância do Circuito tanque fica

0
Q t a nque   0 R C 
  t a nque
Observar que
105

1
Q ta nque 
Q s é rie

O circuito RLC em paralelo é, portanto, o oposto do circuito RLC em série.


As Figs. 13.15 mostram as curvas características da Impedância e Corrente
de um circuito RLC em Série Fig. 13.15(a) e em Paralelo Fig. 13.15(b)

(a) (b)
Fig. 13.15

13.7 – FILTROS
Em eletricidade, assim como em qualquer outro ramo das ciências exatas, um
sistema fica bem definido quando são conhecidas as relações entre as funções de
saída (efeitos) e as de entrada (causas).
Em eletricidade e em eletrônica os circuitos são conhecidos como
amplificadores ou atenuadores, quando as variáveis de saída (normalmente v ou i)
são maiores ou menores do que as de entrada, respectivamente.
É deste modo que os circuitos de filtros devem ser analisados, quando a
frequência do sinal de entrada varia, resultando em amplificação ou atenuação.
Os filtros elétricos são muito utilizados em instalações elétricas e
equipamentos eletrônicos, para rejeitar ruídos e para proteger os circuitos dos
equipamentos, de transientes (os picos de tensão e de corrente) induzidos pela
queda de raios durante as tempestades. Um filtro pode ser representado por um
circuito com dois terminais de entrada e dois terminais de saída. Aos terminais de
entrada se aplica uma voltagem v e e nos terminais de saída mede-se uma
voltagem v s que depende da frequência, ver Fig. 13.16.

Fig. 13.16

13.7.1 – FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA E TRANSMITÂNCIA


Todo filtro é caracterizado por uma função de transferência (resposta em
frequência ou resposta espectral) H (  ) . Liga-se um gerador de frequência variável
aos terminais de entrada e medem-se as amplitudes das voltagens de entrada v e ,
de saída v s e a fase relativa entre v e e v s em função da frequência  do gerador.
A função de transferência é
106

v s ( ) v s ( )
H ( )   e j () (13.95)
v e ( ) v e ( )

A função de transferência pode ser definida para frequência   0 como o


quociente entre as voltagens de corrente contínua. Neste caso um indutor atua
como um curto-circuito e um capacitor como um circuito aberto. Como
consequência, H ( 0 ) é real e a fase  ( 0 ) só pode ser 0 ( H ( 0 ) positivo) ou
( H ( 0 ) negativo).
A importância do estudo das propriedades gerais de filtros é que todo circuito
pode ser pensado como um filtro no qual a voltagem de entrada é a do gerador
v ( t ) e a de saída é a voltagem sobre um elemento do circuito. Se o gerador não
é senoidal ainda se pode escrever v ( t ) como uma superposição de funções
harmônicas através da decomposição em série de Fourier (ou através da
transformada de Fourier no caso, pulsos e sinais não periódicos). A voltagem de
saída se obtém multiplicando cada componente de Fourier pela função de
transferência calculada, na frequência correspondente, e somando sobre todas as
frequências.
Na maioria das situações de interesse prático se está mais interessado na
amplitude do que na fase. O quadrado do módulo de H (  ) é definido como
Transmitância ou Resposta em Potência,

2
T( )  H ( ) (13.96)

Geralmente a transmitância é expressa em decibéis

T ( dB )  10 log  H (  )  (13.97)

13.7.2 – FILTROS RC

Um circuito RC em série, alimentado por uma tensão senoidal, tem como


tensão de saída sobre um dos componentes uma tensão senoidal, com amplitude
que depende da frequência da fonte, pode ser atenuada ou não.
Por exemplo, para o filtro RC passa-baixa, Fig. 13.17(a)

1
jC 1
H ( )  
1 1  j R C
R
jC

1
T( )  (13.98)
1  ( R C ) 2

Este filtro possui transmitância máxima T má x  1 para   0 e cai para zero


1
como na medida em que    .
( R C ) 2
1
Para    c  a transmitância cai à metade do seu valor máximo. Este
RC
comportamento é mais fácil de visualizar em um gráfico log-log (também chamado
diagrama de Bode - em memória de Hendrick Bode (1905-1982) pesquisador da
107

Bell Laboratories (USA) e primeiro a utilizar estes diagramas nos anos 1930) como
o da Fig. 13.17(b).
Para    c a resposta do filtro é praticamente plana e a transmitância é
igual a 0 dB.
Para    c a transmitância é
1
T (  c )   3 d B ( 10lo g ( ) )   3,0103...
2
E para    c a transmitância cai a uma taxa de –20dB/dec (decibéis por
década)
 1 
( 10lo g     20 lo g (  )  co nst ant e )
(  R C ) 2 

 c é chamada frequência de corte ou de cotovelo e a faixa de frequências entre 0 e


 c é chamada largura de banda do filtro. Note que no diagrama de Bode a
1
dependência com em alta frequência é muito mais evidente do que no gráfico
2
em escala linear.

Figura 13.17. Filtro RC passa-baixa e Transmitância como função da frequência em


escala linear (a) e logarítmica (b).

A transmitância de outros tipos de filtros, como o passa-alta e passa-faixa


está esquematizada na Figura 13.18. A banda passante de um filtro passa-faixa é
definida como o intervalo de frequências onde a transmitância em dB se mantém
acima de –3 dB (ou seja, acima de 50 % em uma escala linear) em relação ao
máximo.

(a) (b) (c)


Fig. 13.18 – Transmitância de filtros passa-baixa (a), passa-alta (b) e passa-faixa
(c) .
108

O filtro passa-faixa é caracterizado pela frequência central f c , a largura de


dB
banda  f da faixa passante e as taxas em de subida (roll-on) e de
déc ada
descida (roll-off) .

Figura 13.19 - Filtro RC passa-alta e Transmitância como função da frequência em


escala linear (a) e logarítmica (b).

Como os componentes R e C são passivos, o circuito é um atenuador e o


VS
valor máximo de é a unidade.
Ve
Se a corrente no circuito for

i ( t )  I p sen  t (13.99)

as tensões serão

v R ( t )  R I p s en  t (13.100)
e,
1 1 
vC (t) 
C i dt  C Ip sen (  t 
2
) (13.101)

que na forma complexa ficam

v R ( t )  R I p e jt (13.102)

e, v C ( t )   j X C I p e j t (13.103)

e a tensão do gerador é

v e ( t )  v R ( t )  v C ( t )  ( R  j X C ) e jt (13.104)

Para v s ( t )  v R ( t )

v s (t) vR (t) R I p ejt R


   (13.105)
v e (t) v e ( t ) ( R  j X ) e jt R  jXC
C
109

Que em módulo fica

v s vR R 1 1
  
ve 2 2 1
R2  XC XC 1
1 2 C2 R2
R2
Para v s ( t )  v C ( t )

v s (t) v C (t)  j Xp Ip
v e (t)

v e (t)

 
R  j XC Ip

que em módulo fica

v s v C XC 1 1
   (13.106)
v e (t) 2 R2 2 C2 R2
R2  XC
1
2
XC
vs
A análise de ( ), em função de , fica
ve
vC vR
i) Para   0  1 e  0
ve ve
vR vC
ii) Para     1 e  0
ve ve
Entre os valores de , de0 a  Hz, existe um valor especial, que é quando a
frequência,  c , satisfaz a equação
2
c C 2 R 2  1 (13.107)

e, neste caso
vs 1 1
 ou v s  0,707 v e , esta frequência  c  corresponde a
ve 2 RC

1
fc  (13.108)
2 R C

A eq. (13.108) define a frequência de meia potência ou frequência de corte,


onde a potência dissipada em R é exatamente a metade da potência fornecida pelo
gerador.
Em f C vale R  X C e v R  v C

e o ângulo de fase entre v s  v R e v e é igual a .
4
O circuito da Fig. 13.20(a) é chamado Filtro Passa-Alta pois ele atenua as
baixas frequências, deixando passar as altas frequências sem atenuá-las.

O circuito da Fig. 13.20(b) é chamado Filtro Passa-Baixa pois ele atenua as


altas frequências, deixando passar as baixas frequências sem atenuá-las.
110

(a) (b)
Fig. 13.20

OUTRO MODO DE ANALISAR OS FILTROS RC


1
A reatância capacitiva X C  varia com a frequência  e possui como
C
unidade (Ohm), é uma “resistência”.
Os circuitos das Figs. 13.20(a) e 13.20(b) são circuitos divisores de tensão,
onde sempre se tem para qualquer instante t

v e ( , t )  v R ( , t )  v C ( , t )

VC
i) Para 0  ( )1  VR  0
Ve

Para baixas frequências a ddp aplicada ao circuito RC se concentra no


capacitor enquanto que no resistor ela é praticamente zero.
O circuito RC , quando se considera a tensão de saída no capacitor, funciona
como um filtro passa-baixa frequência, ou seja, deixa passar a baixa frequência
sem atenuá-la.

vR
ii) Para   ( )  1  vC  0 .
ve
Para altas frequências a ddp aplicada ao circuito se concentra no resistor
enquanto que, no capacitor, ela é praticamente zero.
O circuito RC , quando se considera a tensão de saída no resistor, funciona
como um filtro passa-alta frequência, ou seja, deixa passar a alta frequência sem
atenuá-la.

Com relação ao ângulo de fase 

i) Tensão de saída no Capacitor


VC
Em baixas frequências: VC  Ve e co s   1 e   0o
Ve
VC
Em altas frequências: VC  0 e co s   0 e   90 o
Ve
Ve 1
Na frequência de corte: VC  e co s  e   45 o
2 2

ii) Tensão de saída no Resistor

VR
Em baixas frequências: VR  0 e co s   0 e   90 o
Ve
111

VR
Em altas frequências: VR  V e e co s   1 e   0o
Ve
Ve 1
Na frequência de corte: VR  e co s   e   45 o
2 2

13.7.3 – FILTROS RL
A reatância indutiva X L   L também varia com a frequência  e possui
como unidades Ohmé uma “resistência”. Os circuitos das Figs. 13.21(a) e
13.21(b) são circuitos divisores de tensão, onde sempre se tem, para qualquer
instante t

v e ( , t )  v R ( , t )  v L ( , t )
vR
i) Para   0  ( )  1  v L  0.
ve
A ddp aplicada ao circuito se concentra no resistor enquanto que no indutor
ela é zero. O circuito RL , quando se considera a tensão de saída no resistor,
funciona como um filtro passa-baixa frequência. Deixa passar a baixa frequência
sem atenuá-la.
vL
ii) Para     ( )  1  vR  0 .
ve
A ddp aplicada ao circuito se concentra no indutor enquanto que, no resistor,
ela é zero. O circuito RL , quando se considera a tensão de saída no indutor,
funciona como um filtro passa-alta frequência. Deixa passar a alta frequência sem
atenuá-la.

(a) (b)
Fig. 13.21
FREQUÊNCIA DE CORTE

Existe uma frequência de corte, na qual a tensão no indutor é igual à tensão


no resistor V R (  c )  V L (  c ) , usando as expressões de VR e VL em  c
V0 R V0

R 2  ( c L )2 R2
1
( c L )2

Chamando  c a frequência de corte e resolvendo a igualdade


R
c  (13.109)
L

ou, usando a relação entre frequência f e frequência angular f 
2
112

R
fc  (13.110)
2 L

Substituindo a expressão de f c em V R (  c )  V L (  c )

V0
VR (  c )  VL (  c )   0,707 V 0 (13.111)
2

As curvas características dos filtros RC e RL são mostradas nas Figs.


13.22(a), 13.22(b), 13.22(c) e 13.22(d)

Fig. 13.22

Os diagramas fasoriais para estes filtros são mostrados nas Figs. 13.23(a),
13.23(b) , 13.23(c) e 13.23(d).
As curvas características de defasagem versus frequência para os filtros RC e
RL são mostradas nas Figs. 13.24(a), 13.23(b) , 13.23(c) e 13.23(d).
Para construir estes dois tipos de gráficos é comum se efetuar uma varredura
em toda a faixa de frequência e o gráfico abrange só os valores das tensões de
saída próximos às respectivas frequências de corte.

Com relação ao ângulo de fase 

i) Tensão de saída no Resistor


VR
Em baixas frequências: VR  Ve e co s   1 e   0o
Ve
VR
Em altas frequências: VR  0 e co s  0 e   90 o
Ve
Ve 1
Na frequência de corte: VR  e co s   e   45 o
2 2
113

Figs. 13.23

Figs. 13.24

ii) Tensão de saída no Indutor

VL
Em baixas frequências: VL  0 e co s   0 e   90 o
Ve
VL
Em altas frequências: VL  Ve e co s   1 e   0o
Ve
Ve 1
Na frequência de corte: VL  e co s   e   45 o
2 2

13.8 – FILTROS RESSONANTES


Os circuitos ressonantes são utilizados principalmente como filtros. Filtros
ressonantes passa-banda são utilizados, por exemplo, em circuitos de sintonia de
114

rádio e televisão para selecionar uma estação transmissora e rejeitar as frequências


dos outros canais vizinhos. Filtros rejeita-banda (também chamados notch filters)
são utilizados em instrumentação científica para rejeitar frequências indesejáveis
como, por exemplo, a frequência de linha (que sempre se acopla aos circuitos
através dos cabos). Um exemplo de filtro rejeita-banda é o circuito tanque Fig.
13.14 com saída no resistor. Para entender rapidamente o que os filtros
ressonantes fazem, é útil imaginar que, na frequência de ressonância, o capacitor e
indutor em série podem ser substituídos por um fio, ou seja, um curto-circuito, e o
capacitor e indutor em paralelo podem ser substituídos por um circuito aberto.

(a) (b)
Fig.13.25

A Fig.13.25 mostra dois filtros ressonantes série com as suas respectivas


curvas de transmitância. Fig.13.25 (a) passa-banda; Fig.13.25 (b) passa-baixa.
O circuito (b) é um amplificador de voltagem se Q > 1.
Quando a saída é no resistor, Fig.13.25 (a), tem-se um filtro passa-banda.
Longe da ressonância a transmitância cai a 20 dB por década.
Quando a saída é no capacitor, Fig.13.25 (b), tem-se um filtro passa-baixa.
Este filtro rejeita melhor as altas frequências do que o filtro RC passa-baixa. Para
uma melhor comparação entre os filtros passa-baixa RLC e o RC, na linha tracejada
da Fig.13.25 (b) representa-se também a transmitância do um filtro RC com a
mesma frequência de corte.
No filtro RLC a transmitância cai com o logaritmo da frequência a uma taxa
de -40 dB/dec, enquanto que no RC a queda é de -20 dB/dec.
No circuito ressonante série, em um faixa estreita de frequências em torno da
ressonância e dependendo do valor de Q, a amplitude da voltagem no capacitor ou
no indutor pode ser maior que a de entrada. Isto é ilustrado pelo pico de
ressonância que aparece na Fig.13.25 (b) no caso Q = 5. Nesse pico a voltagem de
saída é maior que a de entrada. De fato, é fácil mostrar que, na ressonância, a
voltagem no capacitor é Q vezes maior que a de entrada. Pode parecer à primeira
vista que há algo esquisito pois esse circuito é passivo, no entanto apresenta
ganho. Não há nenhum princípio físico violado. Circuitos passivos podem ser
amplificadores de voltagem, embora não de potência.
Na prática, o comportamento de um filtro real se afasta do previsto no modelo
com elementos de circuito ideais devido às indutâncias, capacitâncias e resistências
parasitas presentes nos elementos e circuitos de A.C.

13.9 – CIRCUITOS DIFERENCIADORES E INTEGRADORES


Se a forma de onda, tanto na entrada quanto na saída de um circuito, precisa
ser preservada e o sinal de entrada for complexo, então, a resposta do circuito
precisa ser independente da frequência.
Os filtros passa-alta e passa-baixa são circuitos cujas tensões de saída
dependem da frequência, por isto eles modificam formas de ondas complexas.
115

13.9.1 – CIRCUITOS RC
Uma onda quadrada aplicada em um circuito de filtro RC passa-alta resulta
em uma saída V R ( t ) também quadrada, se e somente se, a frequência
fundamental do sinal de entrada for maior que a frequência de meia potência (ou
de corte) do filtro. Com esta condição satisfeita, todas as frequências formadoras
do sinal quadrado são transmitidas para a saída. Assim a forma de onda da tensão
de saída será, também, quadrada.
É igualmente importante que as relações de fase entre os harmônicos
permaneçam também constantes, ao passarem pelo circuito, se o objetivo é que a
forma de onda deve ser preservada.
Se a frequência fundamental for menor do que a frequência de corte a
composição harmônica das ondas será alterada, mudando a forma de onda de saída
do circuito. Para este caso, se o sinal de entrada for quadrado, a saída (de um filtro
passa-alta) será uma série de pulsos alternados, positivos e negativos.
A Figs. 13.26 mostra uma onda quadrada de período T, V e ( t ) , considerá-la
aplicada a um circuito RC em série.

Fig. 13.26
A tensão de saída em R, V R ( t ) representa um filtro passa-alta.

O circuito RC se torna diferenciador, para a tensão de saída em R, V R ( t ) ,


se a condição
1
 C R  1 ou R C  ou ainda R C  T for satisfeita.

Quando R C  T estes pulsos de saída podem ser considerados como sendo


a DERIVADA do sinal de entrada  Circuito Diferenciador, ver Fig. 13.27.

Fig. 13.27
116

Isto é facilmente obtido na prática e o circuito diferenciador é muito usado


em eletrônica como gerador de pulsos a partir de ondas quadradas.

O circuito RC se torna integrador, para a tensão de saída em C, V C ( t ) , se a


condição
1
 C R  1 ou R C   ou ainda R C  T for satisfeita.

Quando R C  T estes pulsos de saída podem ser considerados como sendo


a INTEGRAL do sinal de entrada  Circuito INTEGRADOR, ver Fig. 13.28. A tensão
de saída, V C ( t ) , será igual à integral da tensão de entrada, V e ( t ) , ver a Fig.
13.28.

Fig. 13.28

13.9.2 – CIRCUITOS RL
Uma onda quadrada aplicada em um circuito de filtro RL passa-alta, resulta
em uma saída v L ( t ) também quadrada, se e somente se, a frequência
fundamental do sinal de entrada for maior que a frequência de meia potência (ou
maior que a frequência de corte) do filtro. Com esta condição satisfeita, todas as
frequências formadoras do sinal quadrado são transmitidas para a saída. Assim a
forma de onda da tensão de saída será, também, quadrada.
É igualmente importante que as relações de fase entre os harmônicos
permaneçam também constantes, ao passarem pelo circuito, se o objetivo é que a
forma de onda deve ser preservada.
Se a frequência fundamental for menor do que a frequência de corte a
composição harmônica das ondas será alterada, mudando a forma de onda de saída
do circuito. Para este caso, se o sinal de entrada for quadrado, a saída (de um filtro
passa-alta) será uma série de pulsos alternados, positivos e negativos.

(a) (b)
Fig. 13.29
Considerar agora a mesma onda quadrada de período T, v e ( t ) , aplicada a
um circuito RL em série.
117

A tensão de saída em L, Fig. 13.29(b), quando em AC, v L ( t ) representa um


filtro passa-alta.
Mas, quando alimentado por onda quadrada, o circuito RL se torna
diferenciador, para a tensão de saída em L, se a condição
L L 1 L
 1 ou  ou ainda se  T for satisfeita.
R R  R
L
Quando   T estes pulsos de saída podem ser considerados como sendo a
R
DERIVADA do sinal de entrada  Circuito Diferenciador, ver Fig. 13.30.

Fig. 13.30

O circuito RL se torna integrador, para a tensão de saída em R, se a condição

L L 1 L
 1 ou  ou ainda se  T for satisfeita.
R R  R

L
Quando   T e uma onda quadrada for aplicada em um filtro RL passa-
R
baixa, a tensão de saída, V R ( t ) , será igual à integral da tensão de entrada,
v e ( t ) , ver a Fig. 13.31.

Fig. 13.31

13.10 – CIRCUITOS REAIS


Em um circuito real, pelo menos o indutor tem uma resistência (a resistência
própria do fio) associada à reatância indutiva. Então, para um indutor real,
Z L  R L  j X L  R L  j L (13.112)

onde R L = resistência do fio do indutor e X L = reatância indutiva


118

(a) (b)
Fig. 13.32

O circuito real seria o da Fig. 13.32(a).

(a) (b)
Fig. 13.33
A resistência do capacitor, normalmente muito pequena, R C  R L , pode
ser desprezada. O diagrama fasorial apresenta o ângulo de fase  L entre i L e
v L C  i R L R L , menor do que 90 º, ver Fig. 13.33(b).
A corrente no indutor i L , pode ser decomposta em

i L cos  L , em fase com v L C

i L sen  L , defasada de - 90 o em relação a v L C

i L cos  L , seria devido a R L

i L sen  L , seria devido a  j X L

Na frequência de ressonância, i C  i L sen  L e i L cos  L = i T

i L é a corrente total que agora circula por R causando uma queda de tensão
vR  R iT e v e  v R  v L C também em f 0 .
118

14 – ELETRÔNICA DE SEMICONDUTORES

14.1 – TIPOS DE SEMOCONDUTORES

Os semicondutores são materiais de propriedades elétricas intermediárias


entre os condutores metálicos e os isolantes. Eles são de enorme interesse
tecnológico e constituem a base para uma ampla variedade de dispositivos
eletrônicos como diodos, transistores, fotocélulas, detectores de partículas e
circuitos integrados, entre outros.
Os semicondutores mais simples são os elementos químicos: silício (Si) e
germânio (Ge). A condutividade elétrica destes materiais é muito menor que a
condutividade da maioria dos metais, mas aumenta muito rapidamente com a
temperatura (condutividade intrínseca). Esta é uma diferença básica em relação
aos metais, para os quais a condutividade diminui com o aumento da temperatura.
Além disso, a presença de certas impurezas, no silício e no germânio, podem
aumentar muito a condutividade, mesmo estando em pequenas concentrações
(condutividade por impurezas).
Por exemplo, o Ge, estando a baixas temperaturas, próximo de – 273o C,
devido à sua estrutura cristalina não tem elétrons livres e nem mesmo elétrons
fracamente ligados. Todos os seus átomos têm quatro elétrons de valência, e na
rede cristalina cada átomo tem quatro vizinhos localizados nos vértices de um
tetraedro regular. Cada elétron de valência participa de uma ligação covalente (i.e.,
elétrons compartilhados) com um dos seus vizinhos imediatos. Dessa maneira,
todos os elétrons de valência estão ligados a átomos específicos e não estão livres
para se mover. A ligação covalente é muito forte, o que torna o cristal um material
isolante, em muito baixas temperaturas o semicondutor intrínseco comporta-se
como um isolante perfeito. Mas, só é necessária uma pequena quantidade de
energia para quebrar uma dessas ligações, 1,1 eV para o Si e de 0,7 eV para o Ge.
Esta energia pode ser fornecida em forma de agitação térmica através do
aumento da temperatura do material semicondutor, por exemplo, para atingir estes
valores basta aquecê-los até a temperatura ambiente. Desta forma, com o aumento
da temperatura mais e mais ligações são quebradas aumentando o número de
elétrons disponíveis para a condução. Os elétrons que faziam parte da ligação
covalente podem se deslocar livremente através da rede cristalina. A ausência
destes elétrons nas ligações é chamada lacuna (ou buracos). A importância das
lacunas (que neste caso são positivas) está em também poderem se mover,
atuando como portadores positivos de eletricidade, contribuindo para o mecanismo
de condução, comparáveis aos elétrons livres. Estes cristais puros, com condutores
de eletricidade (elétrons e lacunas) são chamados semicondutores intrínsecos.
Se ao Ge ou ao Si, intrínseco, forem adicionados alguns átomos de um
elemento contendo três ou cinco elétrons de valência, o resultado será um
semicondutor extrínseco.

14.2 – SEMOCUNDUTOR TIPO N

Átomos de Antimônio, fósforo e Arsênio, de valência 5, ao substituir os de Ge


ou Si na rede cristalina, doam elétrons portadores (negativos), sendo conhecidos
como impurezas doadoras ou do tipo n. O íon doador é representado por um sinal
+, pois, após o átomo de impureza doar um elétron, ele torna-se um íon positivo e
é fixo na rede cristalina. Quatro dos cinco elétrons do átomo doador, participam de
ligações covalentes, e o quinto elétron fracamente ligado através de uma energia
da ordem de 0.01 eV, ficará livre, pois esta baixa energia de ligação permite que,
mesmo em temperaturas muito baixas, este elétron se desprenda da ligação
covalente, ficando livre para se mover (e conduzir) dentro da rede cristalina. Em
119

temperatura ambiente, todos eles estão na banda de condução (elétrons livres).


Este mecanismo de condução é denominado condução por impurezas. Estas
impurezas, que são do tipo doador, são representadas pela letra n. Assim, a
condutividade de um semicondutor do tipo n em temperaturas ordinárias, se deve
principalmente aos elétrons provenientes de impurezas do tipo n.

14.3 – SEMICONDUTOR TIPO P

Por outro lado, ao se adicionar uma impureza com somente três elétrons de
valência, tal como (Al , B , Ga , In ), somente três das ligações covalentes podem
ser preenchidas, a ausência de um elétron na quarta ligação representa uma
lacuna. Tais impurezas, provocam a criação de portadores positivos. Este processo
cria lacunas que podem aceitar elétrons. Estas são as impurezas receptoras ou do
tipo p. Um íon receptor é indicado por um sinal -, pois, após um átomo receber um
elétron, torna-se um íon negativo.
A quantidade de impurezas utilizada normalmente é muito pequena. Por
exemplo, ao adicionar impurezas na proporção de uma parte para 10 8 do material
semicondutor, a condutividade do Ge é multiplicada por um fator de 12 (a 30 0 C).

14.4 – JUNÇÕES DO TIPO PN

Uma propriedade notável da tecnologia dos semicondutores consiste na


possibilidade de se obter elementos com impurezas em proporções diferentes nas
diversas regiões, variando suavemente desde um material do tipo p até chegar a
um material do tipo n. Se impurezas doadoras são introduzidas em um lado de uma
barra de cristal semicondutor, e impurezas receptoras no outro lado, forma-se uma
junção pn. Na região da junção, há uma recombinação de lacunas e elétrons livres,
que se neutralizam após a difusão. Como a região da junção fica sem cargas
móveis, é conhecida como região de depleção, região de carga espacial ou região
de transição, e tem uma espessura média de 0,5 mícrons.
Assim, pode-se obter um lado com excesso e o outro lado com deficiência de
elétrons (lacunas). Estes elétrons tendem a difundir-se na região oposta, onde eles
passam a ser portadores minoritários. Mas, o campo elétrico criado a partir desta
redistribuição eletrônica limita a intensidade desta difusão eletrônica, como
indicado na Fig. 14.1 e Fig. 14.2

Fig. 14.1 Fig. 14.2


Fig. 14.1: Está representando uma matriz de átomos de impureza, distribuídos por
todo o material semicondutor.
Fig. 14.2 : Os elétrons e lacunas na vizinhança de uma junção pn vão se difundir
através dela e se recombinarão.
120

Os íons fixos doadores e receptores geram um campo elétrico E j na região
de depleção, este campo equilibra a difusão e limita a recombinação elétron-lacuna.
Este campo produz também uma barreira de potencial que impede o fluxo de
elétrons vindo do lado n e de lacunas vindo do lado p.

14.5 – DIODO DE JUNÇÃO PN

Acrescentando os contatos metálicos e os eletrodos para as ligações a um


cristal com uma junção pn, obtém-se um diodo de junção pn.
O terminal ligado ao lado n corresponde ao catodo e o terminal ligado ao lado
p, corresponde ao anodo. Os diodos são representados pelo símbolo da Fig. 14.3.
Polarizar um componente, significa aplicar determinados potenciais (positivos
ou negativos) em seus terminais, de modo que ele responda com um
comportamento elétrico específico.

14.5.1 – POLARIZAÇÃO DIRETA

Um diodo estará polarizado diretamente, se o anodo estiver ligado a um


potencial positivo em relação ao catodo,
 por exemplo, por uma bateria. Nesta
situação, o campo elétrico externo E0 , gerado pela bateria, estará em oposição ao

campo elétrico interno E j , gerado na junção como uma consequência da
recombinação. Fig. 14.4.

Fig. 14.3 Fig. 14.4 Fig. 14.5 


Se a ddp da bateria (V) for ajustável, o campo E0 será variável. Se V for
 
aumentando a partir de zero, haverá um valor V C para o qual E0 = E j .
Para esta tensão V C, a região de depleção e a barreira de potencial deixam de
existir, permitindo a difusão dos portadores móveis através da junção.
O valor da ddp externa aplicada ao diodo para que cancele a barreira de
potencial da junção é da ordem de 0,2 V para os diodos de Ge e, 0,6 V para os de
Si. A partir destes valores os diodos começam a conduzir, tornando-se muito bons
condutores de eletricidade. Assim, pode-se ver que uma junção pn é fortemente
direcional nas suas propriedades elétricas, atuando como um dispositivo retificador.

14.5.2 – POLARIZAÇÃO INVERSA

Um diodo estará polarizado inversamente quando o anodo estiver ligado a um


potencial
 negativo em relação ao catodo. Fig. 14.5.Nesta situação o campo externo
E0 , terá o mesmo sentido do campo interno E j , aumentando-o, provocando
consequentemente, um aumento também na região de depleção, e diminuindo a
condutividade da junção. Deste modo o diodo se comportará como um isolante
121

elétrico. Isto significa que o diodo pn é um bom condutor de p para n, mas um mal
condutor de n para p.

14.5.3 – CURVA CARACTERÍSTICA DE UM DIODO

O diodo, como tem polaridade, é um componente unilateral, e não linear.


As curvas de condutância (I versus V), são as características fornecidas pelos
fabricantes, e têm a forma da Fig. 14.6. Observa-se que o Ge começa a conduzir
em aproximadamente 0,2 V, e o Si em 0,6 V, quando polarizados diretamente,
curva do primeiro quadrante.
Quando polarizados inversamente, curva do terceiro quadrante, a corrente é
tão pequena que não está representada.

Fig. 14.8 Fig. 14.6 Fig. 14.7

14.6 – DIODO ZENER

São diodos especiais, por sua alta concentração de impurezas, e que


normalmente são utilizados com polarização inversa.  
Devido à existência do alto campo elétrico ( E0 + E j ) na junção, quando
inversamente polarizado, uma força suficientemente intensa pode ser exercida
sobre um elétron fracamente “ligado” de modo a arrancá-lo de sua ligação
covalente. Assim, novos pares elétrons-lacunas são criados (efeito Zener),
aumentando bastante a corrente reversa, com um potencial de polarização quase
constante.
Estes diodos são utilizados como estabilizadores de tensão, e a curva
característica de condutância é a da Fig. 14.7.
Combinando junções simétricas pnp ou npn se obtém o transistor. O
funcionamento deste dispositivo está baseado no mesmo dos diodos, mas a
existência de uma terceira região permite diferentes aplicações. Por exemplo, os
transistores podem ser utilizados como amplificadores de várias classes.
Como descrito anteriormente, um diodo é formado por uma junção do tipo pn.
Para este dispositivo é possível deduzir uma expressão analítica para a curva
corrente-tensão (I versus V). Esta dedução se baseia no fato de que uma diferença
de potencial aplicada à junção corresponderá a uma certa energia dos elétrons,
com o número de portadores que possuem esta energia dado pela distribuição de
Maxwell-Bolztmann:
 eV 
 KT 
I  I0  e 1  (14.1)
 
 
Obviamente, I 0 será o valor máximo de corrente inversa para um potencial
negativo grande, que é uma constante característica do diodo estudado.
Esta característica do diodo depende fortemente da temperatura, como
mostrado na Fig. 14.8. Com, T1 < T2 < T3.
122

15 – TRANSFORMADOR

O transformador é um componente onde a energia elétrica é transferida dos


terminais de entrada, ligados ao enrolamento primário, para os terminais de saída,
ligados ao enrolamento secundário, por indução magnética.
Não há contato elétrico entre a entrada e a saída.
A relação entre as tensões no primário V e e no secundário V s é diretamente
proporcional ao número de espiras N 1 e N 2 dos respectivos enrolamentos.
Podem-se então, ter transformadores elevadores, isoladores, ou abaixadores
de tensão, se:

V e > V s  elevadores
V e = V s  isoladores
V e < V s  abaixadores

As potências elétricas nos circuitos de entrada e saída são iguais, o que


significa que em um transformador não há perdas e nem ganhos de energia.

Em nosso Lab. de Fís. Exp. será usado um transformador que abaixa a tensão
da rede, de um valor 2 2 0 V r m s para 2 4 V r m s .

O enrolamento secundário deste transformador possui uma tomada central,


CT – center tap, que divide a tensão de saída em duas saídas iguais:

V S 1  12 V r m s e V S 2  12 V r m s

Em relação ao CT, V S 1 e V S 2 estão defasados de 180º.

Fig. 15.1

As tensões de saída V S 1 - CT e V S 2 - CT podem ser utilizadas como fontes


de alimentação para circuitos, como se fossem as tomadas da rede residencial, só
que, ao invés de fornecer V r m s  127 V , elas fornecem V r m s  12 V cada, ou,
V r m s  2 4 V se for utilizada de V S 1  V S 2 .
123

CAPÍTULO 16 - FIGURAS DE LISSAJUS


Nas medidas de ângulos de fase entre dois sinais senoidais, pode-se
usar o osciloscópio, aplicando uma das ondas na entrada Y e a outra na entrada
X, desligando-se a base de tempo (M ou GBT). A figura resultante da composição
dos dois sinais são as figuras de Lissajus. Podem aparecer na tela como uma

reta, uma elipse, ou um círculo, dependendo do ângulo de defasagem.

Fig. 16.1

A Fig. 16.1, mostra as figuras de Lissajus para os ângulos de fase de


0 , 45o e 90º.
o

Considerar no canal 1 do osciloscópio, uma tensão senoidal:


X  X 0 sen  t (16.1)
No canal 2 do osciloscópio, uma tensão senoidal:
Y  Y 0 sen(  t   ) (16.2)
X 0 e Y 0 são as amplitudes dos sinais, ou das tensões de zero a pico.
 é a frequência angular e está relacionada com a frequência f que é
medida pelo multímetro, por   2  f .
1
A frequência f está relacionada com o período T da senóide por f  .
T
 é a diferença de fase entre as duas senóides e é medida em graus ou
radianos.
Neste método a defasagem é medida colocando o controle de tempo por
divisão do osciloscópio na posição X Y .
124

Neste modo de operação, a base de tempo do osciloscópio é desligada e a


figura que aparece na tela é uma composição de duas funções senoidais X e Y ,
ou seja, com uma senóide no CH X e a outra no CH Y.

A figura pode ser prevista matematicamente, eliminando o tempo entre as


equações (16.1) e (16.2).

Para simplificar os cálculos, serão usados x e y definidos por:

X
x  s en  t (16.3)
X0

Y
y  s en (  t   ) (16.4)
Y0

Usando as relações trigonométricas:

sen (  t   )  sen (  t ) c os   sen  c os  t (16.5)

c os  t  1  sen 2  t  1x2 (16.6)

pode-se escrever que:

y  sen (  t   )  x c os   sen  1x2 (16.7)

rearranjando a eq. (16.7) e elevando-a ao quadrado

( y  x c os  ) 2  ( sen  1 x2 )2

que se transforma em:

y 2  x 2 cos 2   2 x y cos   s en 2   x 2 s en 2 

chegando finalmente a:

y 2  x 2  2 x y cos   s en 2 

X Y
substituindo, na equação acima, x por x e y por y
X0 Y0
Y X 2 XY
( )2 ( ) 2 co s   s en 2  (16.8)
Y0 X0 X 0 Y0

A eq. (17.8) é a equação geral de uma elipse.

16.1 - CASOS PARTICULARES


125

Y0
se   0  Y  X  equação da reta no 1o (ou 3º ) quadrante
X0

 Y0
se     Y X  equação da reta no 2 o (ou 4º ) quadrante
X0

 Y X
se    ( )2  ( )2  1  equação da elipse com um eixo
2 Y0 X0
sobre o eixo x ou então, se X 0  Y 0 é a equação do círculo

16.1 - CÁLCULO DO ÂNGULO DE FASE


Supondo a tensão na horizontal

v h  Vp s en  t

e a tensão na vertical

v v  b s en (  t  )

Quando t  0  v h  0 significa que a deflexão horizontal é zero.

A deflexão vertical neste ponto será v v  a  b s en 

a
então, sen   , ou para facilitar as medições
b

2a
  arc sen (16.9)
2b

(a) (b)

Fig. 16.2
126

2a
A relação pode ser determinada diretamente das dimensões da figura
2b
obtida na tela do osciloscópio, contando divisões e subdivisões.

Observar que a figura precisa estar centrada em relação aos eixos vertical
e horizontal da tela do osciloscópio, Figs. 16.2 (a) e (b). Para a Fig. 16.2 (a) fica

2a
  arc sen ( ) (16.10)
2b

Se a figura mostrada na tela for parecida com a Fig. 16.2 (b), deve-se
calcular usando

2a
  180 o  arc sen ( ) (16.11)
2b

17 – FORMAS DE ONDAS COMPLEXAS – SÉRIE DE FOURIER


A maioria dos sinais CA, que apresentam algum interesse prático, não é
uma senóide simples, mas formas de ondas mais complexas. Entretanto, pode-
se, em alguns casos aplicar as análises senoidais, porque uma forma de onda
complexa (periódica) pode ser representada por uma soma de senóides de várias
amplitudes e frequências. Por exemplo, um sinal complexo v  v 1  v 2 , onde
v 1 e v 2 são duas tensões senoidais com amplitude e frequência diferentes,
aplicadas a um circuito, a corrente resultante pode ser determinada calculando as
correntes i 1 e i 2 resultantes das componentes separadamente.

Qualquer forma de onda periódica pode ser representada pela Série de


Fourier, que é o somatório da frequência fundamental (ou frequência mais baixa)
127

Fig. 17.1

com seus harmônicos (múltiplos inteiros da frequência fundamental).


A série de Fourier para uma onda quadrada de tensão de pico igual a V p e
V 2 p , a frequência  é dada por
4 Vp  1 1 1 
  s en  t  s en 3  t  s en 5  t  s en  t  ..... (17.1)
  3 5 7 

Onda quadrada = Somatório da frequência fundamental + harmônicos


ímpares.

Quanto maior o número de termos da série, mais fiel se torna a forma de


onda. Isto significa que os termos de alta frequência são necessários para tornar
a forma de onda realmente quadrada.
Outro exemplo é a forma de onda dente de serra cuja série é

2Vp  1 1 1 
  s en  t   s en 3  t  s en 4  t  ..... (17.2)
  2 s en 2  t 3 4 

Novamente, os termos de alta frequência são necessários para se obter a


forma de onda bem definida. Observar que nestes dois exemplos, as ondas,
quadrada e dente de serra são compostas por um largo espectro de frequências.
Isto significa: Se a forma de onda, tanto na entrada quanto na saída de um
circuito precisar ser preservada e o sinal de entrada for complexo, então, a
resposta do circuito precisa ser independente da frequência.
128

ANEXO # 1 – MULTÍMETRO
AN.1.1 – NORMAS PARA A UTILIZAÇÃO DO MULTÍMETRO
I - Selecionar o Modo de Operação:
Amperímetro - Ligação em Série, é necessário “abrir” o circuito no ponto a ser
medido.
Voltímetro - Ligação em Paralelo.
Ohmímetro - Ligação em Paralelo, sobre o componente ou a parte do circuito
que se deseja conhecer a resistência, com o circuito aberto!

II - Selecionar o Tipo de Sinal a ser Medido ( no caso de tensão ou corrente ):


Contínua - Selecionar DC.
Alternada - Selecionar AC.

AN.1.2 – MEDIDAS
AN.1.2.1 – AMPERÍMETRO
O amperímetro mede corrente elétrica, em um ponto do circuito, deve ser ligado em
série com o componente, neste ponto.
Para realizar a medida de corrente elétrica em um ponto, é preciso “cortar”o circuito
neste ponto e conectar o amperímetro em série (observando as polaridades, se for circuito
em DC, ou observando a indicação do ponto de terra, para os circuitos em AC).
Se, em um circuito, for necessário medir a corrente em vários pontos distintos, é
aconselhável colocar nestes pontos de medidas as chamadas “pontes” (“jump”ou curto-
circuito) que, com sua retirada, facilita a inserção do amperímetro.

Para medir i em um ponto... Usa-se uma ponte... Para inserir o amperímetro.


Fig. AN.1
Desconhecendo-se a ordem de grandeza da intensidade de corrente a ser medida,
deve-se selecionar, inicialmente, a escala menos sensível do aparelho (que corresponde à de
maior fundo de escala). Caso não haja resolução suficiente, ir aumentando a sensibilidade da
escala até conseguir medir.
Como o Amperímetro é conectado em série no circuito, espera-se que sua resistência
interna R in seja desprezível em relação à do circuito. Deste modo, praticamente, toda a
corrente passa pelo amperímetro.

AN.1.2.2 – VOLTÍMETRO
O voltímetro mede tensão elétrica (ddp) entre dois pontos de um circuito. Deve ser
ligado em paralelo nos dois pontos. Para medir a tensão, ligam-se os terminais do voltímetro
em paralelo com os dois pontos (observando as polaridades se o circuito for de CC, ou
observando a indicação do ponto de terra, para os circuitos em AC).

Fig. AN1.2
Quando se tratar de potencial, ou tensão, em um ponto de um circuito, o outro ponto,
tomado como referência deve ser o terra ( neutro ou comum ).
Desconhecendo-se a ordem de grandeza da intensidade de corrente a ser medida,
deve-se selecionar, inicialmente, a escala menos sensível do aparelho (que corresponde à de
maior fundo de escala).
129

Caso não haja resolução suficiente, ir aumentando a sensibilidade da escala até


conseguir medir. Como o Voltímetro é conectado em paralelo no circuito, espera-se que sua
resistência interna R in seja “infinitamente” maior do que a do circuito. Deste modo,
praticamente não haverá passagem de corrente pelo Voltímetro.

AN.1.2.3 – OHMÍMETRO
O Ohmímetro é utilizado para medir resistência elétrica de resistores.
O Ohmímetro possui uma fonte de tensão DC interna ( bateria ), que é aplicada à
resistência a ser medida.
Nunca realizar medidas de resistências em um circuito, com ele em
funcionamento, ou ligado, pois as tensões presentes nos componentes podem danificar
(queimar!) o Ohmímetro. Mesmo com a fonte desligada, é preciso “abrir” o circuito soltando
uma das pernas do resistor. O componente, do qual se deseja determinar a resistência, deve
ter pelo menos um terminal desconectado do circuito ao qual está acoplado, ou será medida
uma resistência equivalente de todo o circuito.

ANEXO # 2 – CAIXA DE MONTAGENS EXPERIMENTAIS (protoboard)


Todos os circuitos elétricos experimentais serão montados em uma caixa universal de
montagens. Esta caixa possui bornes para a conexão dos componentes e instrumentos,
através do uso de “pinos banana”.
Estes bornes estão ligados internamente por fios, ligações indicadas pelas faixas
coloridas, pintadas na face externa da caixa.
Os componentes estão montados em suportes padronizados com pinos banana, que
encaixam perfeitamente nos bornes.
Na caixa de montagens existe um resistor ajustável (potenciômetro) muito usado
como divisor de tensão variável. Os terminais fixos do potenciômetro estão marcados com
os números 1, 2 e 3. O cursor (terminal variável) está marcado com o número 2. A Fig.
AN.2.1 mostra a caixa de montagens.

Fig. AN.2.1 – Caixa de Montagens


A Fig. AN.2.2 mostra como usar a Caixa de Montagens para realizar as medidas:

Para medida de corrente Para medida de tensão.


(a) Fig. AN.2.2 (b)

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