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Aluno 2:
Em primeiro lugar, adorei chegar à sala e sentir um clima de vernissage, só faltou um coquetel
para complementar.
Aluno 3:
Gostei muito dos trabalhos! Mas achei que o momento da roda, aberto às discussões, ficou
muito travado. Acredito que tenha sido pela presença da câmera, que acaba inibindo os mais
tímidos, e por incrível que pareça, até os mais falantes se manifestaram pouco.
Aluno 7:
Criar uma aproximação entre o conhecimento do aluno e o conhecimento do professor é
fundamental, pelo menos deveria, para qualquer metodologia do ensino da arte. Contudo, o que
vemos é uma grande preocupação em justificar o ensino das artes visuais nas escolas através
de currículos racionalistas, axiomáticos, eurocêntricos.
Aluno 8:
Meu diário de bordo remonta os principais acontecimentos compreendidos entre os meses de
abril de 2012 e fevereiro de 2013. O diário contêm imagens, desenhos, frases e simbologias que
resumem situações ocorridas não só no campo do estágio, mas também durante as aulas da
faculdade e na minha vida pessoal. (...)
Cada página foi trabalhada e pensada com intimidade e carinho. Pensar sobre esses
acontecimentos faziam parte da criação de cada tema, afinal eu queria mostrar da forma mais
clara possível o que eu passei e o quanto mudei durante esses dias. Por mais que o curso de
Licenciatura não exija uma monografia, o diário de bordo serviu muito bem como tal
instrumento.
Aluno 9:
As questões colocadas, em sua maioria, eram de denúncia ao ensino da arte, da maneira como
é conduzido e pensado nas escolas, e poucos relatavam ou expunham situações positivas do
ensino da arte.
Os trabalhos estavam muito interessantes e me chamou atenção que muitos se preocupavam
com o fato do ensino artístico ser pré-determinado e exercido como as outras disciplinas,
preocupado com o cumprimento de um currículo acadêmico lançando matéria atrás de matéria,
massificando o aluno que, por isso, deixa de vivenciar a arte como experiência, como
construção do pensamento crítico e formação cultural.
Aluno 10:
Achei perturbador ter que elaborar esteticamente uma questão de meu estágio. (...)Talvez a
insegurança tenha vindo relacionada ao próprio estágio, quando comecei a pensar na minha
elaboração, estava pensando também em regências e talvez por isso tenha gasto toda minha
capacidade de ser desinibida, toda minha capacidade crítica nestas e sobrando tão pouco em
minha elaboração e verbalização sobre os trabalhos de meus colegas. O fato que pude perceber
e me deixou mais descontente com essa apresentação foi o de as pessoas não entenderem o
ponto principal de meu trabalho, mas como disse. Talvez a culpa seja minha por não ter
pensado melhor nele, para que a obra falasse por si só. Meu consolo é que nós talvez
interpretemos errado até mesmo as obras e poesias dos mais famosos artistas e poetas!
Aluno 11:
Quando me deparei com a tarefa de criar um diário de bordo, senti que teria dificuldades em
expressar talvez de maneira mais enfática as minhas experiências. Foi quando então visualizei
à distância todo o leque de possibilidades do qual poderia criar, vi elementos separados e
decidi que meu foco seria uni-los, alguns desses elementos seriam as aulas mais marcantes que
tive com a professora A e outros o contato com a escola e com os alunos.
Aluno 3:
Acredito que o que mais mexeu comigo foi o que sempre mexe com todos: a dúvida.(...) onde
cultura e arte se separam e como isso acontece.
Aluno 2:
Foi importante perceber que a busca de uma essência na Arte não era um movimento solitário,
muito pelo contrário, mas que ele faz pouquíssimo sentido. Foi importante observar o quanto as
Belas Artes estão arraigadas no nosso ideário de arte a ponto de não ser cogitado o
questionamento.
Aluno 6:
O que mais me chamou a atenção durante a discussão, foi a necessidade de colocar a foto
apresentada num contexto. Quase ninguém conseguiu explicar o por quê de ser ou não ser arte,
sem colocar um contexto na explicação. E eu concordo com isso, acho que a maioria das
coisas dependem de um contexto. (...) Outra coisa interessante foi quando o professor mostrou
a foto de uma obra de Michelangelo e ninguém hesitou em dizer que era arte, justificando que
fomos ensinados desde novos que aquilo era arte.
Aluno 9:
Antigamente não se discutia o que é Arte, hoje notamos que este assunto ainda gera muitos
questionamentos. Para mim foi muito interessante em ter que me colocar sobre este tema,
podendo reativar memórias e conceitos.
Aluna 14:
(...) o conceito de arte é indefinido, indeterminado, pensando melhor, diversificado, é claro que
tirando o conceito Tradicional. O quanto cada um pensa diferente sobre “o que é arte?”, os
conceitos de “reprodução” e “comercialização” da arte, o conceito de que festa é arte, o
incomodo de que perfurar e colocar objetos pelo corpo é arte, o conceito de que “chocar” e
“sentir” é arte, entre outros, me fizeram refletir sobre diferenças de arte e cultura e nos meus
próprios conceitos já formados.
Aluno 20:
Tem a importância de proporcionar um alargamento das percepções e dos argumentos do
professor sobre o que é arte, ou do que pode ser arte, reconhecendo e incorporando a potencial
diversidade socio-cultural dos alunos junto aos quais irá exercer a sua profissão.
Aluno 13:
A importância dessa dinâmica é conhecer melhor o que os alunos entendem sobre Arte, não
movimentos artísticos ou técnicas, mas sim seus gostos, observações, críticas, ou até mesmo o
seu desprezo pela Arte.
Aluna 3:
Mais importante do que ouvir a concepção do outro, é poder trabalhar na construção do
próprio conceito, tentar se deixar convencer por uma visão diferente da sua, por um olhar que
nunca passou pela sua cabeça.(...) prepara pra enxergar o que pode ser arte pra um futuro
aluno, mesmo que não pareça arte pra nós. Aprender a respeitar isso e inclusive trabalhar
baseado nisso é um dos grandes desafios do ensino de arte na contemporaneidade.
Aluna 15:
Percebi que o conhecimento de mundo individual traz novos olhares que dialogam com os
novos saberes. A arte se revela de forma diferente para cada um, e nós como professores e
especialistas da arte precisamos nos ouvir e trocar nossos conhecimentos.
Aluna 6:
(...) não existe uma definição para arte, existem várias! É isso que torna a discussão sobre a
arte algo tão interessante, a arte é flexível, mutável, ilimitada, ela nos provoca, nos instiga. Ela
não traz respostas, ela nos traz perguntas.
Considerações finais
Em que sentido os dois projetos de pesquisa apresentados contribuem para o
desenvolvimento da perspectiva intercultural crítica na formação de professores/as de
Artes Visuais e Desenho? Compreendo que a ênfase de ambas as pesquisas na
investigação de modos de fazer educação que privilegiem a relação dialógica ampla, na
perspectiva freireana, que envolva a diversidade de sujeitos – individuais e coletivos –
com ênfase no “saber ouvir” e na troca cultural sem a imposição de hierarquias,
discutindo a especificidade de seu objeto de ensino e das linguagens próprias desse
campo do ensino da arte, compõem o conjunto de aspectos que conformam uma
contribuição significativa para promover “saberes e práticas na perspectiva da
afirmação da justiça - social, econômica, cognitiva e cultural -, assim como da
construção de relações igualitárias entre grupos socioculturais e da democratização da
sociedade”, por meio da articulação dos valores da igualdade e da diferença.
Tem nos motivado a preocupação com a hegemônia de uma racionalidade
discursiva e cientificista nos conhecimentos gerados na situação de escolarização, que
conforma uma característica da educação formal que nos parece priorizar a valorização
do desenvolvimento de estruturas cognitivas formais no interior das escolas de ensino
básico. Contra esse sentido, buscamos experimentar outra racionalidade possível à
construção dos conhecimentos e à formação inicial dos professores, legitimando-a por si
mesma e investindo na premissa de que seu desenvolvimento traz o incremento da
capacidade imaginativa, criativa, original, integralizadora e de protagonismo dos
sujeitos.
No campo do currículo, acalentamos uma perspectiva não adultocêntrica que
considere significados, tradições, crenças, valores e importâncias dos/as alunos/as na
relação que estabelecem com o conhecimento. Cremos em possibilidades de construção
coletiva de currículos escolares referenciados culturalmente por aqueles que irão
desenvolvê-lo e isso é de extrema importância para o estabelecimento da ecologia de
saberes na escola (SANTOS, 2003) tendo professores/as e alunos/as como autores do
processo pedagógico que protagonizam, pela via do diálogo.
Destaco que a formação docente aqui defendida “envolve diretamente a relação
entre ser professor e ser pessoa” (LIMA, 2014, p. 412), e acreditamos que as ações
desenvolvidas nos projetos de pesquisa intentam a produção de conhecimento e o
incentivo ao “exercício da autopercepção” pela “atitude intencional de considerar as
crenças e os valores dos formandos como objeto de formação, trazendo-o para o plano
da racionalidade, ou seja, ajudando os formandos a transformá-los em saberes” (LIMA,
2014, p. 412)
É nesse sentido que queremos entender as palavras que Nivea, nossa ex-aluna e
ex-bolsista do projeto Discurso, teses e valores de alunos/as de licenciatura em
Educação Artística da Escola de Belas Artes da UFRJ acerca dos objetos das artes
visuais, nos enviou por e-mail e que reproduzimos abaixo na finalização desse artigo.
DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
Notas:
i
Esse projeto é desdobramento da pesquisa Alunos de Ensino Básico e Artes Visuais na Escola: seus
discursos, valores e orientação ética, entre os anos de 2005/2009 e 2010/2011, coordenada pela
Professora Andrea Penteado, na qual buscou-se ouvir professores de arte e alunos do ensino básico,
público, do Rio de Janeiro, acerca de seu entendimento sobre o que é a arte, com o objetivo de analisar a
possível contribuição dos discentes para a constituição dos currículos dessa disciplina.
ii
Para atingir tal objetivo recorreremos à pesquisa participativa, como proposta por Demo (2004, pg 43),
ao equipará-la às pesquisas práticas:
A pesquisa participativa busca a identificação totalizante entre sujeito e objeto, de tal sorte a eliminar a
característica do objeto. A população pesquisada é motivada a participar da pesquisa como agente ativo,
produzindo conhecimento e intervindo na realidade própria. A pesquisa torna-se instrumento no sentido
de possibilitar à comunidade assumir seu próprio destino. Ao pesquisador que vem de fora cabe
identificar-se ideologicamente com a comunidade (...).
iii
Os grupos focais permitem trabalharmos a coleta de dados de modo contribuitivo para essa pesquisa
que busca o conhecimento dos acordos já que, como coloca Wilkison (apud, BARBOUR, 2009, pg 49),
durante as discussões do grupo focal "um senso coletivo é estabelecido, os significados são negociados, e
as identidades elaboradas pelos processos de interação social entre as pessoas". O estabelecimento de tal
consenso nos remete ao senso comum que estabelece as bases dos acordos a partir dos quais se lançam
novas teses em uma argumentação. Portanto, a coleta de dados através da formação de grupos focais tem
permitido o reconhecimento dos acordos que se firmam entre os sujeitos investigados sobre o ensino da
arte que nos interessa estudar.
iv
Os/as alunos/as apresentaram suas considerações a partir das seguintes perguntas: 1 ) Que importância
tem para o/a futuro/a professor/a de Artes Visuais discutir o que é ou não é arte? 2 ) Que conteúdos e
significados foram importantes para você na atividade realizada no dia 27/05/2014? 3 ) O que você acha
da utilização dessa mesma dinâmica na escola básica para fundamentar um programa de currículo em
artes visuais a partir das experiências, crenças, valores e discursos de um grupo concreto de alunos?
v
No corpo do texto deixamos de apresentar outros dados. Por exemplo, do ponto de vista de como
vivenciaram a dinâmica, muitos depoimentos destacaram a tensão, as dificuldades e o sofrimento de lidar
com visões diferentes e opostas, salientaram, no entanto, a importância desse enfrentamento para a
revisão das bases de princípios e valores que sustentam suas opiniões e visões sobre a arte. Nesse sentido,
acreditamos que o evento proporcionou a reflexão crítica não apenas sobre suas opiniões, mas sobre os
próprios referentes culturais dos/as licenciados/as.
Aluna 1: Esse tipo de atividade é realmente muito importante, porque muitas vezes nós passamos anos
estudando do lado dessas pessoas e nem sabemos o que as inspiram, ou suas opiniões.
Aluna 2: Pra mim foi importante o processo que começou na sala, se estendeu pela volta pra casa e
ainda não terminou. Fico repassando mentalmente as imagens que foram apresentadas e os argumentos
dos colegas, revejo minhas respostas e me questiono sobre elas.
Aluna 3: (...) Por mais que esse debate seja o gerador de conflitos oficial da EBA, tudo que é realmente
importante é um tanto sofrido mesmo. Acredito que muitas visões mostradas no dia 27 eram mais sujeitas
a mudança, mais abertas, enquanto outras estavam mais enraizadas e isso é relativamente fácil de
perceber. Porém, por mais que pareça contraditório, acredito que se esse pensar for estimulado desde a
juventude ele cresça mais seguro, portanto, mais moldável. Quem tem segurança do próprio pensamento
está sempre passível a refletir sobre ele e dessa forma atribuir um pouco do que se escuta em mesas-
redondas como essa. Mesmo que não se mude de idéia instantanemanete, a idéia nunca morre, ela
sempre pode voltar e fazer sentido em outro momento. A reflexão é sempre bem vinda e crescer cercado
por ela é estimulante e edificante principalmente pra autoconfiança intelectual e criativa.
Aluna 4: (...) cada um trazia seu próprio conjunto de valores, alguns com menos certeza e outros tão
convictos que chegavam a se irritar diante das oposições. Foi no mínimo interessante acompanhar esse
acirrado debate, onde cada qual achava simplesmente óbvia sua visão, por vezes a ponto de considerá-la
uma regra, e se surpreendia com outras formas de ver a mesma coisa.
Aluna 5: Foi uma aula bem desgastante, pois tínhamos muitas opiniões distintas, e até absurdas no
conceito de cada um. É um pouco difícil de aceitar opiniões contrárias a um assunto, mas em outros
casos foram muito válidas as novas ideias, os novos conceitos e principalmente as visões do que torna
algo especial, conceitual e artístico. Visões que do meu senso crítico pessoal, com as minhas
experiências vivenciadas anteriormente, eu não teria enxergado.
Aluno 10: Sempre fui “sólido” nas minhas crenças, mas tenho aceitado melhor a pluralidade de ideias e
percebido a importância que isto representa para a construção de uma sociedade melhor.