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: 0 Teoria da tributacao 6tima Rozane Bezerra de Siqueira” Universidade Federal de Pernambuco José Ricardo Nogueira” Universidade Federal de Pernambuco ‘Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa” IPEA SUMARIO (© capitulo apresenta uma introdugio geral ao arcabougo basico e aos principais resultados da teoria da tributacao Gtima, destacando 0 modelo de tributacéo étima de mercadorias de Ramsey e de Diamond € Mirless ¢ 0 modelo de tributacao étima da renda de Mirrlees. Apresenta-se também uma aplicagio ilustrativa de um modelo de tributacao étima de mer- cadorias para o Brasil PALAVRAS-CHAVE, Tributacio 6tima; eficiéncia; eqilidade; modelo de Ramsey; modelo de Diamond e Mirrlecs. INTRODUGAO. Os sistemas tributirios de todos os pafses so essencialmente compostos de instrumentos que introduzem distorcdes na economia, Entre esses instrumentos, 08 mais utilizados sio os tributos sobre a renda e os tributos sobre venda de mercadorias, Tais tributos sao distorcivos porque influenciam o comportamento dos agentes econémicos (vide Capitulo 2). A imposigao de um tributo sobre a renda gera incentivos para que as pessoas modifiquem suas decisdes ‘quanto a participacio no mercado de trabalho ¢ ao ntimero de horas trabalhadas. A tributagao ce mercadorias, por sua vez, distorce as escolhas dos agentes enquanto consumidores, Ts50 gera ineficiéncias e reduz o bem-estar da sociedade em relacao a uma situacao em que a tribu- tacho é no distorciva. Por que, cntio, os governos nao adotam tributos no distorcivos? Para responder a essa pergunta ¢ importante ressaltar que, por definicao, tributos no distorcivos ndo dependem. do‘comportamento dos individuos. Em outras palavras, para que um tributo scja no distor- civo, nao deve existir nada que os individuos possam fazer para alterar 0 montante do tributo que recai sobre cles. Exemplos de tibutos desse tipo so um imposto per capita © qualquer * Professora da Universidade Federal de Pernambuco, cedida & Secretaria de Politica Econdmica, Ministério da Fazenda, © Professor da Universidade Federal de Pernambuco. “ Pesquisidora do IPEA, Rio de Janeiro. 174 —Feovoma no Seton PUnLIco Xo BRASt ELSEVIER imposto baseado em alguma caracteristica inalterdvel dos individuos (tal como a cor dos olhos). © problema € que, como no caso desses exemplos, tributos nao distorcivos que sio tecnicamente viaveis tém conseqiténcias distributivas indesejaveis. Portanto, subjacente A opcio dos governos por tributos distorcivos ha uma preocupacao com questoes distributivas.’ Com efeito, o conflito entre os objetivos de eqilidade e eficiéncia esta no centro de toda questo tributaria, Em particular, o problema de identificar o desenho tributario timo pode ser visto como equivalente ao de identificar a melhor combinagio entre esses objetivos. Mais especificamente, 0 problema tratado pela teoria da tributacdo étima é 0 de caracterizar a estrutura tributéria que permite ao governo arrecadar uma dada receita e alcancar deter- minados objetivos distributivos ao menor custo em termos de perda de eficiéncia. O objetivo deste capitulo é apresentar uma introdugao geral ao arcabouco analitico e principais resultados dessa teoria, assim como ilustrar sua aplicagio empfrica utilizando um modelo numérico para o Brasil capitulo esta estruturado da seguinte forma. A proxima secio descreve a natuneza basica do problema tratado pela teoria da tributagio étima. A terceira seco apresenta uma introdugio geral & teoria da tributacao étima de mercadorias. A quarta segio dedica-se & tcoria da tributagao 6tima da renda. A quinta secdo considera a tributagao étima de mercadorias na presenca de um imposto de renda. A sexta secdo apresenta uma aplicacao ilustrativa da teoria da wibutagio Gtima de mercadorias baseada em dados para o Brasil. Finalmente, a ihima secio tece os comentarios finais. TEORIA DA TRIBUTACAO OTIMA: NATUREZA DO PROBLEMA, Em A Riqueza das Nagies, Adar Smith estabeleceu quatro prineipios gerais que deveriam nortear um sistema tributario timo, a saber:? * Os individuos devem contribuir para a receita do estado na proporcao de suas capacidades de pagamento, ou seja, em proporgio a seus rendimentos, + O tributo a ser pago deve ser certo e nao arbitrério, com o valor a ser pago e a forma do pagamento devendo ser claros ¢ evidentes para o contribuinte. * Todo tributo deve ser arrecadado da maneira mais convenient para 0 contribuinte + Todo tributo deve ser arrecadado de forma que implique o menor custo posstvel para © contribuinte, além do montante arrecadado pelo Estado com o tributo.? AA teoria da tributacao étima se relaciona explicitamente com 0 primeiro e o tiltimo prineipios descritos anteriormente. Seu objetivo € analisar como uma dada receita triburéria pode ser arrecadada pelo governo a um minimo de custo para sociedade, levando em consi- deracao as diferencas existentes entre os indivieluos em termos de capacidade contributiva, O ponto de partida para entender os fundamentos da teoria da tributacio tima sao os dois teoremas fundamentais do bem-estar. O primeiro teorema afirma que todo equilibrio competitivo (vide Capitulo 2) € eficiente no sentido de Pareto, enquanto o segundo tcorema ' Seja essa uma preocupagao gemulna ou apenas ditada pela necessidade de viahilizacio politica, + Essas méximas sobre o sistema tributério ideal podem ser encontradas no Livra Quinto, Capitulo Il, segunda parte, deA Rigueza das Nagtes, caja publicacho original é de 1776, Para edigdes recentes dessa obra, ver Smith (1975), em inglés, ¢ Smith (1985), em portugués. » Esse quarto principio refere-se & minimiragio da perda de peso morto (ou custo irrecuperivel) associnda 20 imposto, Adam Smith jé reconhecia que a imposicio de um imposto ocasiona, em geral, um custo adicional para a sociedad, além do valor do mesmo arrecadado pelo governo. E 0 chamado excesso de gravame, que resulta do fat0 de que o imposto distorce os pregos de mercado dos bens e, assim, fiz com que os niveis eficientes de produgio e consumo nio sejam obtids. TeonA DA ramurscio Ova — 175 diz que toda alocagio eficiente no sentido de Pareto pode ser alcancada através do mecanismo de mercados competitives, dada uma adequada redistribuicio da dotacho de recursos entre os individuos componentes do sistema econémico. Fficiéncia no sentido de Pareto significa que nao é possivel realocar os recursos da economia de forma a aumentar o bem-estar de wm individuo sem reduzir o bem-estar de pelo menos um outro individuo, Essa situagdo caracteriza 0 timo de primeiro melhor, em que a possibilidade de realocagées simmultaneamente vantajosas para todos € esgotada, Para o entendimento da natureza da teoria da tributacao étima, o resultado do segundo teorema é crucial. De acordo com o primeiro teorema, os mercados competitivos geram alocacées eficientes. Entretanto, pode existir uma multiplicidade de pontos eficientes, correspondendo a diferentes distribuigées da dotacao de recursos. O segundo teorema diz que, se por qualquer raz0, uma dada alocagao eficiente nao é considérada como sociakmente |justa, uma outra alocagio eficiente de Pareto pode ser obtida através de mercados competitivos, desde de que se faga uma redistribuicao da dotagao de recursos entre os indlividuos. Entretanto, para se obter o resultado do segundo teorema é necessario que a redi tribuigao de recursos seja “adequada”, no sentido de nao provocar distorgdes nas escolhas dos agentes econdmicos, de forma que as condigées de eficiencia econdmica continuem a ser satisfeitas.* Para tanto, a redistribuigao deve se realizar via impostos e transferéncias do tipo lump sum, que tém 2 propriedade de nao afetar 0 comportamento dos agentes econdmicos. Impostos e transferéncias do tipo Lump ston so montantes fixos de dinheiro que os individuos pagam ou recebem independentemente de suas escolhas. £0 caso, por exemplo, de um imposto ‘per capita, ou de urn imposto baseado em caracterfsticas pessoais inalterdveis, tais como idade, sexo, preferéncias, habitidades etc. No entanto, impostos e transferéncias lump sum capazes de gerar uma distribuigio 6tima da renda nfo sio factiveis, pois a informacgo necessaria sobre caracteristicas individuais relevantes para implementé-los, que devem estar associadas & capacidade contributiva (tal como habilidade),€ privativa dos individuos, que nao terao incentivo para revelé-la ao governo. ‘Isso significa que o imposto tem de ser cobrado com base em elementos que, além de indicar capacidade contributiva, sejam observaveis, tais como renda e consumo, Nesse caso, 0s individuos terdo incentivos para modificar suas ages relativas & obtengio de renda e realizagao de consumo, de forma a minimizar o imposto pago. Como conseqiiéncia, o sistema tributario (vide Capitulo 9) resultante € inevitavelmente diferente do tipo lump sum, ou seja, é distorcivo. Caso nao existisse uma preocupacao com redistribuicdo, os efeitos distorcivos da tributacdo poderiam ser evitados através da imposigdo de um tributo hump sm uniforme consistindo em pagamentos iguais por parte de todos os individuos, independente de suas caracteristicas pessoais. Isso sugere que é a preocupacao com a distribuigao de recursos na sociedade que explica 0 uso de tributos distorcivos. Observa-se, entdo, que ha um conflito bé- sico entre eqitidade e eficiéncia na tributagio, no sentido de que objetivos distributivos s6 podem ser alcancados a um certo custo em termos de eficiéncia econdmica. Assim, a teoria da tributacao dtima trata da caracterizagio da melhor estrutura tributétia em um mundo onde tributos fump stn ndo sao factiveis. Portanto, 0 termo “6timo” nessa teoria deve ser entendido como um dtimo de segundo melhor, ou seja, o melhor resultado possivel dado que impostos distorcivos devem ser inevitavelmente utilizados em razao da impossibilidade de se recorrer a impostos lump sum. Isso significa que a teoria da tributacao étima deve estar inerentemente preocupada com questdes de eqiiidade € eficiéncia, simul- taneamente. “Rosis condighes dizem respeito A igualagio entre as taxas marginals de substituigio, no consumo, entre us taxas ‘marginais de substituigio técnica, na produgéo, € entre a8 taxas marginals de substinicio ¢ a taxa marginal de ‘wansformacto, Ver Varian (1999), Capitulo 28, ¢ Varian (1992), Capitulo 17, para uma discussao do conceito do timo de Pareto e das condigbes que asseguram a sua obtengéo.

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