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Núcleo de Investigações Transdisciplinares-NIT – Departamento de Educação/UEFS

Ano IX – Nº 20 – Mai./Jul. 2011 – Feira de Santana-BA.

SIGNOS EM ROTAÇÃO

[...] A linguagem indica, [...] O homem é o inacaba- experiência da outridade, é


representa; o poema não ex- do, ainda que seja cabal em aqui mesmo a outra vida. A
plica nem representa: apre- sua própria inconclusão; e por poesia não se propõe conso-
senta. Não alude à realidade; isso faz poemas, imagens nas lar o homem da morte, mas
pretende – às vezes o conse- quais se realiza e se acaba, fazer com que ele vislumbre
gue – recriá-la. Portan- que a vida e a morte
to a poesia é um pene- são inseparáveis: são a
trar, um estar ou ser totalidade. Recuperar a
na realidade. vida concreta significa
[...] A imagem não reunir a parelha vida-
explica: convida-nos a morte.
recriá-la e, literalmen- [...] O poema acolhe o
te, a revivê-la. O dizer grito, os trapos vocabu-
do poeta se encarna na lares, a palavra gangre-
comunhão poética. A nada, o murmúrio, o
imagem transmuta o ruído e o sem-sentido:
homem e converte-o não a in-significância.
por sua vez em ima- [...] Se o homem é
gem, isto é, em espaço transcendência, ir mais
onde os contrários se além de si mesmo, o
fundem. A poesia é poema é o signo mais
metamorfose, mudan- puro desse contínuo
ça, operação alquímica, transcender-se, desse
e por isso é limítrofe da permanente imaginar-
magia, da religião e de se. O homem é imagem
outras tentativas para porque se transcende.
transformar o homem [...] Nossa poesia é
e fazer “deste” ou Sancho consciência da separa-
“daquele” esse “outro” que é sem acabar-se nunca de todo. ção e tentativa de reunir o
ele mesmo. [...] A poesia co- Ele mesmo é um poema: é o que foi separado. Poesia:
loca o homem fora de si e, ser sempre em perpétua pos- momentânea reconciliação:
simultaneamente, o faz re- sibilidade de ser completa- ontem, hoje, amanhã; aqui e
gressar a seu ser original: mente e cumprindo-se assim ali; tu, eu, ele, nós. Tudo es-
volta-o para si. O homem é em seu não-acabamento. tá presente: será presença.
sua imagem: ele mesmo e [...] Não me preocupa a ou- Trechos extraídos do livro “Signos
aquele outro. tra vida além, mas só aqui. A em Rotação” de Otavio Paz.
2 FUXICO Nº 20 Maio a julho de 2011

expediente Sumário

Comissão Editorial
Editorial
Danilo Cerqueira Almeida Informes
Fabrícia Maria Bezerra
Miguel Almir L. de Araújo (Coord.) 4ª Feira do Livro - p. 3
Weslley Moreira de Almeida IV Festival de Sanfoneiros de Feira de Santana - p. 3
V SETRANS - p. 3
Valéria Nancí de Macêdo Santana
Greve dos professores das UEBAs - p. 3
Colaboradora 5ª edição do Bando Anunciador - p. 3
Cleudinéte Ferreira dos Santos Souza Exposição de desenhos de Tomé - p. 3
Conselho Editorial Artigos
Dr. Eduardo Oliveira
(UFBA) Carta de um Nobel da Paz a Barack Obama Adolfo Pérez Esquivel - p. 4
Dr. Miguel Almir Lima de Araújo O Amador Susana Meirelles - p. 6
(UEFS) Os sentidos do educar Cleudinéte Ferreira dos Santos Souza página - p. 8
Dr. João Francisco Regis de Morais
Des-aforismos Washington dos Santos Oliveira - p. 11
(UNICAMP)
Drª. Mirela Figueredo Santos União homoafetiva e adoção de crianças por casais
(UEFS) homossexuais: sobrará para quem? Márcio Melo - p. 12
Drª. Sandra Simone Morais Pacheco
Poemas
(UNEB)
Dr. Roberval Alves Pereira Divagações sobre o nada Valéria Nancí - p. 15
(UEFS) Cartões postais Daniela Rocha - p. 15
“Venho por meio destas” Marília Sena - p. 15
Editoração Eletrônica
Pôr do Sol Renato Moss - p. 15
Danilo Cerqueira Almeida
Órum Ronaldo da Paixão - p. 15
Web designer Greve dos professores das UEBAs Miguel Almir - p. 16
Leonardo Nunes da Silva Rima de Menina Wicise Matos - p. 16
Paradoxo Danilo Carvalho - p. 16
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
FEIRA DE SANTANA

Reitor
editorial
José Carlos Barreto de Santana O Jornal Fuxico chega ao nº 20 aos mais profundos sentimentos
Diretor do Departamento de com o seu contínuo intento de da alma humana. No texto “Os
Educação reverberar saberes e incrementar sentidos do educar”, apreciamos a
Marco Antônio Leandro Barzano sabores no mundo dos seus leito- compreensão do fenômeno do e-
res. Ele vem com uma novidade: ducar nas sendas expressivas dos
Coordenador do NIT o sumário, ferramenta que possi- sentimentos e valores na cultura,
Miguel Almir L. de Araújo bilita uma melhor condução na a partir do olhar existencial do ser
leitura do periódico. Além disso, humano. Em “Des-aforismos”, o
Site do NIT: voltamos com as indicações de autor aborda o vicejamento da
ww.uefs.br/nit livros e filmes. sensibilidade para a vida através
No artigo “Carta de um Nobel do diálogo com um poema de Car-
da Paz a Barack Obama”, texto los Drummond de Andrade.
de Adolfo Pérez Esquivel, leremos Nas linhas de “União homoafeti-
Orientações para uma reflexão sobre o poder e a va e adoção de crianças por ca-
envio de artigo responsabilidade do governo es-
tadunidense na recente história,
sais homossexuais: sobrará para
quem?” o autor pondera sobre as
no sentido de agir eticamente pa- diversas formas de concepção da
- Recebemos artigos, poemas e ra garantir a vida do ser humano família, a partir de análises de ca-
imagens com temáticas que se- através da promoção da PAZ. sos relativos ao preconceito na a-
jam relevantes para a humanida- Em “O Amador” Susana Meirel- doção de crianças por casais ho-
de. les reflete sobre a relação amor– mossexuais.
- Texto de até três páginas; es- dor, pautada em obras consagra- O Jornal segue com imagens de
paço simples; fonte times new das como “Fragmentos de um instalação, telas, fotos, desenhos
roman 12; parágrafo com recuo; Discurso Amoroso” de Roland entrelaçando os textos; também,
Barthes e “Dom Casmurro” de com poemas e um cordel, os quais
colocar dados do autor após o
Machado de Assis. Do amor que transpiram uma sensação de estar
título.
provoca a dor. Da dor que trans- no mundo complexa, crítica e cria-
- Enviar o material via e-mail: borda amor: assim é o artigo “O tiva, singrando pela transversali-
jornalfuxico@yahoo.com.br Amador” - uma deliciosa viagem dade da caminhada da vida.
Maio a julho de 2011 FUXICO Nº 20 3

4ª Feira do Livro informes Exposição de desenhos de


Tomé
De 16 a 21 de agosto de
2011, na praça João Barbosa de Entre os dias 20/07 a 01/08
Carvalho (praça do Fórum), acontecerá, na Biblioteca Cen-
acontecerá a 4° Feira do Livro tral da UEFS, uma exposição de
com o tema “Memória e Esque- desenhos do prof. Tomé. Os
cimento: Leituras”. Além das trabalhos traduzem sensibilida-
expressões literárias, o evento de e imaginação criante ao ex-
contará com apresentações mu- pressar as texturas e contornos,
sicais, teatrais e exibição de fil- a plasticidade dos movimentos
mes. que configuram poeticamente
as imagens caracterizadoras
Greve dos professores dos povos sertânicos nas sagas
das UEBAs de seus cotidianos no Sertão e
no mundo. A exposição é orga-
Durante mais de dois meses
nizada pelo NIT-Núcleo de In-
os professores da Universidades
vestigações Transdisciplinares,
estaduais baianas (UEFS, UNEB, do DEDU/UEFS.
UESB e UESC) estiveram em
greve. Na pauta da greve os
professores reivindicaram ao 5ª edição do Bando
governo do estado, sobretudo, Anunciador
o respeito à autonomia univer-
sitária, o descongelamento dos A Universidade Estadual de
salários durante 4 anos e rea- Feira de Santana (UEFS) e o
justes salariais. A labuta do Centro Universitário de Cultura
professorado foi intensa. Mes- e Arte (CUCA) promoveu, no dia
mo diante dos descasos do go- 03 de julho de 2011, às 07 ho-
Tomé
verno, a categoria conseguiu, co- ras, a 5ª edição do Bando
mo fruto das mobilizações, vitó- Anunciador da Festa de Santana
2° Seminário Nacional de
rias expressivas. (padroeira da cidade de Feira de
Educação e Pluralidade Santana). Com concentração e
V SETRANS Sócio-Cultural saída do CUCA, o desfile contou
com personagens folclóricos e foi
Acontece dias 8 e 9 de novem- Acontecerá no campus da animado ao som dos fogos e da
bro de 2011 o V Seminário Trans- UEFS, no período de 18 a 20 de zabumba.
disciplinar da UEFS (V SETRANS), outubro, o 2° Seminário Nacio-
nal de Educação e Pluralidade
com o tema “Paradoxos atuais da IV Festival de Sanfoneiros de
condição humana – continuare- Sócio-Cultural cujo tema é Soci-
edade e Culturas: tempos, espa- Feira de Santana
mos humanos?”.
O V SETRANS terá conferên- ços e sujeitos da educação.
Aconteceu em 26 de maio, no
cias, mesa-redonda e comunica- O evento é direcionado para
Centro de Cultura Amélio Amorim,
ções voltadas às sensações e re- professores e gestores da educa-
a final do IV Festival de Sanfonei-
flexões da humanidade contem- ção Básica, pesquisadores e es-
ros de Feira de Santana. O evento
porânea e suas relações com a tudantes. Faz parte da progra-
foi marcado pela menção honrosa
tecnologia e o mundo virtual. mação deste relato de experiên-
à sanfoneira Lidia do Acordeon e
Ressaltamos que o evento con- cias, comunicação oral, pales-
pelo bicampeonato de Machadinho,
tará com diversas apresentações tras, mesas-redondas. O Semi-
sanfoneiro de apenas 15 anos. O
artísticas, que somarão valor cul- nário está sendo financiado pela
festival reafirma o fortalecimento
tural ao mesmo. As inscrições de FAPESB e realizado pelo CEDE,
do forró na cultura popular nordes-
comunicação acontecerão no mês NETTE e Mestrado de Educação.
tina.
de agosto.

Sugestão de filmes Sugestão de livros

Só dez por cento é mentira - Dir. Pedro Cezar Infância - Graciliano Ramos
Correspondências - Dir. Eugène Green Em alguma parte alguma - Ferreira Gullar
Kafka - Dir. Steven Soderbergh Crise: oportunidade para o crescimento - Leonardo Boff
Patch Adams: O Amor é Contagioso - Dir. Tom Shadyac Amor Líquido - Zigmunt Bauman
4 FUXICO Nº 20 Maio a julho de 2011

artigos
Carta de um Nobel da Paz a Barack Obama*
Por Adolfo Pérez Esquivel
Nobel da Paz (1980)

Estimado Barack, ao dirigir-te fluência em minha vida, o monge


esta carta o faço fraternalmente trapense da Abadia de Getsemani,
para, ao mesmo tempo, expressar- em Kentucky, Tomás Merton, que
te a preocupação e indignação de diz: “a maior necessidade de nos-
ver como a destruição e a morte so tempo é limpar a enorme mas-
semeada em vários países, em sa de lixo mental e emocional
nome da “liberdade e da demo- que entope nossas mentes e
cracia”, duas palavras prostituí- converte toda vida política e
das e esvaziadas de conteúdo, social em uma enfermidade
termina justificando o assassinato de massas. Sem essa lim-
e é festejada como se tratasse de peza doméstica não pode-
um acontecimento desportivo. mos começar a ver. E se
Indignação pela atitude de se- não vemos não podemos
tores da população dos Estados pensar”.
Unidos, de chefes de Estado euro- Você era muito jovem, Barack,
peus e de outros países que saí- durante a guerra do Vietnã e tal-
ram a apoiar o assassinato de Bin vez não lembre a luta do povo
Laden, ordenado por teu governo norteamericano para opor-se à
e tua complacência em nome de guerra. Os mortos, feridos e muti-
uma suposta justiça. Não procura- lados no Vietnã até o dia de hoje
ram detê-lo e julgá-lo pelos crimes sofrem as consequências dessa
supostamente cometidos, o que guerra.
gera maior dúvida: o objetivo foi Tomás Merton dizia, frente a
assassiná-lo. um carimbo do Correio que acaba-
Os mortos não falam e o medo va de chegar, “The U.S. Army, key
do justiçado, que poderia dizer to Peace” (O Exército dos EUA,
coisas inconvenientes para os EU- chave da paz): “Nenhum exército
A, resultou no assassinato e na é chave da paz. Nenhuma nação
tentativa de assegurar que “morto tem a chave de nada que não seja
o cão, terminou a raiva”, sem le- a guerra. O poder não tem nada a
var em conta que não fazem outra ver com paz. Quanto mais os ho-
coisa que incrementá-la. mens aumentam o poder militar,
Quando te outorgaram o Prê- mais violam e destroem a paz”.
mio Nobel da Paz, do qual somos Acompanhei e compartilhei com os
depositários, te enviei uma carta veteranos da guerra do Vietnã, em
que dizia: “Barack, me surpreen- particular Brian Wilson e seus
deu muito que tenham te outorga- Weslley Almeida
companheiros que foram vítimas
do o Nobel da Paz, mas agora que outra guerra contra a Líbia, apoi- dessa guerra e de todas as guer-
o recebeu deve colocá-lo a serviço ada pela OTAM e por uma vergo- ras.
da paz entre os povos; tens toda a nhosa resolução das Nações Uni- A vida tem esse não sei o quê
possibilidade de fazê-lo, de termi- das. Esse alto organismo, ape- do imprevisto e surpreendente fra-
nar as guerras e começar a rever- quenado e sem pensamento pró- grância e beleza que Deus nos deu
ter a situação que viveu teu país e prio, perdeu o rumo e está sub- para toda a humanidade e que de-
o mundo”. metido às veleidades e interesses vemos proteger para deixar às ge-
No entanto, ao invés disso, vo- das potências dominantes. rações futuras uma vida mais jus-
cê incrementou o ódio e traiu os A base fundacional da ONU é a ta e fraterna, reestabelecendo o
princípios assumidos na campanha defesa e promoção da paz e da equilíbrio com a Mãe Terra.
eleitoral frente ao teu povo, como dignidade entre os povos. Seu Se não reagirmos para mudar a
terminar com as guerras no Afe- preâmbulo diz: “Nós os povos do situação atual de soberba suicida
ganistão e no Iraque e fechar as mundo...”, hoje ausentes deste que está arrastando os povos a
prisões em Guantánamo e Abu alto organismo. abismos profundos onde morre a
Graib no Iraque. Não fez nada dis- Quero recordar um místico e esperança, será difícil sair e ver a
so. Pelo contrário, decidiu começar mestre que tem uma grande in- luz; a humanidade merece um
Maio a julho de 2011 FUXICO Nº 20 5

destino melhor. Você sabe que a cidade, no hospital pediátrico e povos quando viola ambos perma-
esperança é como o lótus que no refúgio de crianças que foram nentemente e bloqueia quem não
cresce no barro e floresce em todo vítimas desses “danos colate- compartilha tua ideologia, obrigan-
seu esplendor mostrando sua be- rais”. do-o a suportar teus abusos?
leza. A palavra é esvaziada de valo- Como pode enviar forças milita-
Leopoldo Marechal, esse grande res e conteúdo, razão pela qual res ao Haiti, depois do terremoto
escritor argentino, dizia que: “do chamas o assassinato de “morte” devastador, e não ajuda humani-
labirinto, se sai por cima”. e que, por fim, os EUA tária a esse povo sofrido?
E creio, Barack, que depois de “mataram” Bin Laden. Não trato Como pode falar de liberdade
seguir tua rota errando caminhos, de justificá-lo sob nenhum con- quando massacra povos no Orien-
você se encontra em um labirinto ceito, sou contra todas as formas te Médio e propaga guerras e tor-
sem poder encontrar a saída e te de terrorismo, desde a praticada tura, em conflitos intermináveis
enterra cada vez mais na violên- por esses grupos armados até o que sangram palestinos e israelen-
cia, na incerteza, devorado pelo terrorismo de Estado que o teu ses?
poder da dominação, arrastado país exerce em diversas partes Barack, olha para cima de teu
pelas grandes corporações, pelo do mundo apoiando ditadores, labirinto e poderá encontrar a es-
complexo industrial militar, e acre- impondo bases militares e inter- trela para te guiar, ainda que sai-
dita ter todo o poder e que o mun- venção armada, exercendo a vio- ba que nunca poderá alcançá-la,
do está aos pés dos EUA porque lência para manter-se pelo terror como bem diz Eduardo Galeano.
impõem a força das armas e inva- no eixo do poder mundial. Há um Busca a coerência entre o que diz
de países com total impunidade. É só eixo do mal? Como o chamari- e faz, essa é a única forma de não
uma realidade dolorosa, mas tam- as? perder o rumo. É um desafio da
bém existe a resistência dos povos Será que é por esse motivo vida.
que não claudicam frente aos po- que o povo dos EUA vive com O Nobel da Paz é um instru-
derosos. tanto medo de represálias daque- mento ao serviço dos povos, nun-
As atrocidades cometidas por les que chamam de “eixo do ca para a vaidade pessoal.
teu país no mundo são tão gran- mal”? É simplismo e hipocrisia Te desejo muita força e espe-
des que dariam assunto para mui- querer justificar o injustificável. rança e esperamos que tenha a
ta conversa. Isso é um desafio pa- A Paz é uma dinâmica de vida coragem de corrigir o caminho e
ra os historiadores que deverão nas relações entre as pessoas e encontrar a sabedoria da Paz.
investigar e saber dos comporta- os povos; é um desafio à consci-
mentos, políticas, grandezas e ência da humanidade, seu cami- Buenos Aires, 5 de maio de
mesquinharias que levaram os nho é trabalhoso, cotidiano e por- 2011.
EUA à monocultura das mentes tador de esperança, onde os po-
que não permite ver outras reali- vos são construtores de sua pró- *Texto publicado no Sítio Carta
dades. pria vida e de sua própria histó- Maior
A Bin Laden, suposto autor ide- ria. A Paz não é dada de pre-
ológico do ataque às torres gê- sente, ela se constrói e isso é
meas, o identificam como o Satã o que te falta meu caro, cora-
encarnado que aterrorizava o gem para assumir a responsa-
mundo e a propaganda do teu go- bilidade histórica com teu po-
verno o apontava como “o eixo do vo e a humanidade.
mal”. Isso serviu de pretexto para Não podes viver no labirin-
declarar as guerras desejadas que to do medo e da dominação
o complexo industrial militar ne- daqueles que governam os
cessitava para vender seus produ- EUA, desconhecendo os trata-
tos de morte. dos internacionais, os pactos
Você sabe que investigadores e protocolos, de governos que
do trágico 11 de setembro assina- assinam, mas não ratificam
lam que o atentado teve muito de nada e não cumprem nenhum
“auto golpe”, como o avião contra dos acordos, mas pretendem
o Pentágono e o esvaziamento falar em nome da liberdade e
prévios de escritórios das torres; do direito. Como pode falar de
atentado que deu motivo para de- Paz se não quer assumir ne-
satar a guerra contra o Iraque e o nhum compromisso, a não ser
Afeganistão, argumentando com a com os interesses de teu país?
mentira e a soberba do poder que Como pode falar da liber-
estão fazendo isso para salvar o dade quanto tem na prisão
povo, em nome da “liberdade e pessoas inocentes em Guan-
defesa da democracia”, com o ci- tánamo, nos EUA e nas pri-
nismo de dizer que a morte de sões do Iraque, como a de
mulheres e crianças são “danos Abu Graib e do Afeganistão?
colaterais”. Vivi isso no Iraque, em Como pode falar de direitos
Bagdá, com os bombardeios na humanos e da dignidade dos Danilo Cerqueira
6 FUXICO Nº 20 Maio a julho de 2011

O Amador
Susana Meirelles
Psicóloga e Psicanalista

Apesar das dificuldades da minha história, apesar das perturbações, das dúvidas, dos desesperos, apesar da
vontade de me livrar disso, não paro de afirmar em mim mesmo o amor como um valor; Todos os argumentos
que os sistemas mais diversos empregam para desmistificar, limitar, apagar, enfim depreciar o amor, eu os
escuto, mas me obstino: “sei, bem, mas, contudo” (...) Essa teimosia é o protesto de amor: debaixo do con-
certo de “boas razões” para amar de outro modo, amar melhor, amar sem estar apaixonado etc., uma voz tei-
mosa se faz ouvir que dura um pouco mais de tempo: a voz do intratável apaixonado. (Roland Barthes)¹

Quando alguém não domina numa entrega calculada. Ilude- Quantos minutos gastamos na-
uma técnica, uma arte ou um ofí- se, sim, pois não conquista o quele jogo? Só os relógios do céu
cio chamam-no amador. Ainda amor, já que este, sem cálculo, terão marcado esse tempo infini-
não profissional, é amador. Tam- surpreende em situações e pes- to e breve. A eternidade tem su-
bém, todo aquele que exerce u- soas que ele não prevê. Acredi- as pêndulas; nem por não acabar
ma profissão por gosto, por puro ta precisar ser muito para ter nunca deixa de querer saber a
prazer, é amador. Para o Amador um pouco de amor. duração das felicidades e dos su-
não tem ensaio, não tem acerto O avaliador não crê que ele plícios.²
nem erro, não tem salário nem (nem ninguém) seja o bastante:
cansaço. Por tudo isso, quem a- nunca tão belo ou tão atraente. A pessoa amada se torna em
ma é amador. Busca a si mesmo refletido no tudo original. Única. Por isso, en-
Há, porém, os profissionais. olhar do outro. Sua dor é a de gana-se aquele que acredita na
Profissionais de amor. acreditar que precisa mostrar-se forma perfeita para ser amado. O
O colecionador que enumera perfeito, para ter um pouco de amor não começa nem termina
suas conquistas, imaginando que amor. nas qualidades ou defeitos do
assim encontrará o seu valor. Eles colecionam, calculam, e outro. A escolha amorosa traduz
Sofre pelo que acredita: será que avaliam as dores. Do amor, im- a peculiaridade do desejo e, por
precisa ter tanto para ter um portam-se com as dores: a re- isso, pode-se relacionar com
pouco de amor? jeição, a vulnerabilidade, a des- muitas pessoas, mas amar ape-
O calculador, que, com a liber- valorização. nas uma.
dade medida por quanto pode São ama-dores.
ser declarado, revelado, dá-se O Amador entrega-se, sem Retórica dos namorados. Dá-me
temer. Pode sofrer por um uma comparação exata e poética
telefonema que não che- para dizer o que foram aqueles
ga, pela palavra que não olhos de Capitu. Não me acode
foi dita, pelo mal- imagem capaz de dizer, sem
entendido, pela interpre- quebra da dignidade de estilo, o
tação que foi feita, pelo que foram e me fizeram. Olhos
não esclarecido. Sofre por de ressaca? Vá, de ressaca. É o
seu tempo estar marcado que dá idéia daquela feição no-
no compasso das sístoles va... ³
e diástoles: tempo perdi-
do, tempo recuperado. A idealização, a supervaloriza-
Tempo de encontro, tem- ção da pessoa amada, o senti-
po de desencontro. Ele mento de ter pouco valor e o te-
bem conhece esse com- mor de onde isso irá levar parece
passo. ser a origem da dor do amor.
Alguns Amadores tor-
naram-se imortais através ...Traziam não sei que fluido mis-
da escrita. Talvez o amor terioso e enérgico, uma força que
lhes tenha ultrapassado e arrastava para dentro, como a
seus personagens atra- vaga que se retira da praia, nos
vessam o tempo. Alguns dias de ressaca. Para não ser ar-
cantaram a beleza do a- rastado, agarrei-me às outras
mor, outros as suas do- partes vizinhas, às orelhas, aos
res. E é desse tempo as- braços, aos cabelos espalhados
sim demarcado - tempo pelos ombros; mas tão depressa
da dor e do amor - que buscava as pupilas, a onda que
Machado de Assis fala, do saía delas vinha crescendo, cava
encontro com o amor, na e escura, ameaçando envolver-
Luiz Ramos voz de Dom Casmurro: me, puxar-me e tragar-me 5
Maio a julho de 2011 FUXICO Nº 20 7

O amor, descobrimos sem en- ...Continuei a alisar os cabelos, outro completaria a sua falta.
saio. Surpreende-nos. A sua bus- com muito cuidado, e dividi-os Compara-se com um ideal que
ca ansiosa mais o faz afastar-se, em duas porções iguais, para nunca poderá realizar. Insiste
mas espontâneo, ele se revela compor as duas tranças. Não as que algumas facetas suas não
onde não esperamos. A sua pre- fiz logo, nem assim depressa, podem ser conhecidas nem me-
sença transforma em futilidades como podem supor os cabelei- recem ser amadas. Por isso, a
os problemas do cotidiano. Tudo reiros de ofício, mas devagar, entrega é sentida como um risco,
o que gravita em torno do ser devagarinho, saboreando pelo um empobrecimento de si. Espe-
amado, adquire uma aura de en- tato aqueles fios grossos, que ra do outro o que ele não pode
cantamento. A alegria do encon- eram parte dela. O trabalho era oferecer. As suas conquistas na-
tro torna-se um marco no mapa atrapalhado, às vezes por desa- da preenchem. O ama-dor é fre-
que a partir daí se desenha. E zo, outras de propósito para qüentemente atormentado pelo
sua lembrança, tão intimamente desfazer o feito e refazê-lo. Os medo: de perder ou de perder-se
comemorada, torna-se uma his- dedos roçavam na nuca da pe- no amor. A idealização que cons-
tória frequentemente recontada quena ou nas espáduas vestidas trói a respeito de como deve ser
em seus acasos e encontros, co- de chita, e a sensação era um o amor e a pessoa amada impe-
mo um evento que segue uma deleite. Enfim, os cabelos iam de-o de enxergar que o ser hu-
destinação superior. acabando, por mais que eu os mano que está nesse momento
quisesse intermináveis... 8 ao seu lado é a pessoa perfeita,
Grande foi a sensação do beijo; por revelar quem ele é e por fa-
Capitu ergueu-se, rápida; eu re- zer parte da trama que é forma-
cuei até à parede com uma espé- da no caminho para amar.
cie de vertigem, sem fala, os o- O amador vive o amor que
lhos escuros. Não me atrevi a descobre no espelho que se situa
dizer nada; ainda que quisesse um pouco além do outro. Pois é
faltava-me língua. Preso atordoa- no encontro consigo, na aceita-
do, não achava gesto nem ímpe- ção da suas faltas jamais preen-
to que me descolasse da parede chidas pelo outro, que é possível
e me atirasse a ela com mil pala- descobrir como é amar verdadei-
vras cálidas e mimosas 6 ramente, trançando, diante do
amor, uma felicidade real, junto
Amar, para Roland Barthes, é com suas inevitáveis dores.
“a festa, não dos sentidos, mas Creio que os amadores já
do sentido”. É a felicidade de ter compreenderam o que digo. To-
encontrado alguém que, “por su- davia, para os ama-dores, reco-
cessivos e sempre bem - mendo que leiam devotadamente
sucedidos toques, acaba o qua- a história de Dom Casmurro.
dro da fantasia”, como um joga- Para amar, é preciso ter a co-
dor “cuja sorte se confirma fa- ragem de tornar-se alguém ca-
zendo com que ele pegue na pri- paz de aceitar as próprias faltas,
meira tentativa, o pedacinho que tornando-se uma pessoa não
vem completar o quebra-cabeça completa, mas inteira, como a-
do seu desejo”. 6 quela palavra que une amor e
Danilo Cerqueira
dor: Amador.
E se nada é mais belo do que É preciso saber que viver o
apaixonar-se, do mesmo modo amor é iniciar um caminho lon- Notas
nada parece despertar maior me- go para dentro de si.
do. Amar é uma viagem para ¹ BARTHES, Roland. Fragmentos
dentro de si, e entregar-se ao ...Não pedi ao céu que eles fos- de um Discurso Amoroso, Francis-
encontro é a coragem de ver-se sem tão longos como os da Au- co Alves Editora, São Paulo: 2000.
na sua verdade, como uma cena rora, porque não conhecia ainda 2, 3 e 4
diante do espelho. esta divindade que os velhos ASSIS, Machado - Obras
poetas me apresentaram de- Completas - Dom Casmurro
Capitu deu-me as costas, voltando pois; mas, desejei penteá-los (volume 7), W.M. Jackson Edito-
res, São Paulo: 1955.
-se para o espelhinho. Peguei-lhe por todos os séculos dos sécu-
dos cabelos, colhi-os todos e entrei los, tecer duas tranças que pu- 5 ,7, 8 e 9
ASSIS, Machado. Obras
a alisá-los com um pente, desde a dessem envolver o infinito por Completas - Dom Casmurro
testa até as ultimas pontas, que um número inominável de ve- (volume 7), W.M. Jackson Edito-
lhe desciam à cintura... 7 zes. 9 res, São Paulo: 1955.
O início do amor é o da desco- O ama-dor sai em busca do 6
BARTHES, Roland. Fragmentos de
berta maravilhada das afinida- amor tecendo duas tranças in- um Discurso Amoroso. Francisco
des, das trocas. Ambos querem termináveis: a fantasia do ro- Alves Editora, São Paulo: 2000.
se mostrar um ao outro. mance ideal e a ilusão de que o
8 FUXICO Nº 20 Maio a julho de 2011

Os sentidos do educar
Cleudinéte Ferreira dos Santos Souza
Graduanda em Pedagogia - UEFS

Este texto fomenta


compreender as encru-
zilhadas do fenômeno
do educar, de modo te-
órico e vivido nas sen-
das dos sentidos do e-
ducar como expressão
de sentimentos e emo-
ções, crenças, valores,
intuição, que traz o nos-
so senso de percepção
natural e racional de
diálogo crítico aberto e
de compreensão do e-
ducar como uma inicia-
ção à sensibilidade.
Potencializo neste
diálogo interativo com o
leitor alguns pontos de
reflexão sobre o educar,
uma ação que nasce de
dentro para fora do ser
humano, numa posição Luiz Ramos
não dogmática, mas crítica, em
estado de busca constante de tidos humanos, mediante os ei- informais no fluir do co-existir
respostas. xos estruturantes do Mitopoéti- cotidiano.
Respaldada no conhecimento co, da Razão-Sentido, da Corpo- Educar é compartilhar com o
de que não sou detentora da ver- reidade, da Afetividade e da In- outro os diversos sentidos da
dade, mas como ser humano es- tuição, vislumbra a compreen- nossa co-existência no planeta,
tou inserida nesta teia cultural são e a vivência da inteireza in- interiorizando os múltiplos sabe-
que nos humaniza na busca tensiva do ser-sendo; instala res na complementação do ser-
constante de educar nossos sen- processos de compreensão e de sendo-no-mundo. Uma educação
timentos. vivenciação dos Sentidos que de qualidade se desencadeia
implicam na expressão preg- num rito de iniciação da sensibili-
1 Educar para a sensibilidade nante e anímica de nosso ser dade. Não há sentido em ensinar
andrógino; implica no cuidado só habilidades sem educar a sen-
Nenhum sujeito nasce pronto do ser-sendo como poiesis que sibilidade: O fenômeno do educar
e acabado, e quando se está cui- se borda e se desborda, com “potencializa a busca de sabedo-
dando para que o outro aprenda seu pathos criante, nas in- ria que entrelaça a dignidade e a
é preciso ousar. Mas, antes de tensidades dos feixes das con- beleza” no devir da “policromia
tudo, é preciso ter coragem, de- tingências (ARAÚJO, 2008, p. dos feixes arco-íricos” (ARAÚJO,
sejar ensinar, oportunizar instru- 215, 216). 2008, p. 217) que compõem as
mentos capazes de modificar os imprecisões, as contradições e os
seres aprendentes e ensinantes, O autor compreende o educar enigmas das sagas da existência
sempre estando alerta para os como uma ação que se descorti- e co-existência humana.
perigos dos arranjos na velha es- na nas mais diversas instâncias Educação é essencialmente
trutura educacional. O essencial de nosso estar-sendo-no-mundo um apontar de possibilidades, de
precisa ser evidenciado e aí entra -com-os-outros, desde as esfe- pluralidades, de relações de afe-
a humanização dos saberes. ras mais institucionais e formais tividade humana. Educar é des-
como a Família, a Escola, as I- cortinar o sentir, é questionar, é
O fenômeno do educar como rito grejas, as Associações, as ONGs ensinar a duvidar, é ser modesto
de iniciação ao advento dos Sen- etc., às esferas mais incertas e em saber ajudar, é fazer sonhar,
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descobrir, criar e recriar nosso rios” (GUSDORF Apud, ARAÚJO, inteligência e sentimentos no
próprio mundo; é mobilizar a ca- 2008, p. 86). Ou seja, cumprem processo da construção do saber
pacidade de libertar o espírito. com eficiência seu papel de coletivo e individual.
Não é apenas transferir conheci- transmissores e reprodutores de De acordo com Araújo (1998)
mentos, mas produzir e construir uma pedagogia mecanicista, po- educar é se libertar dos modelos
nossos conhecimentos com os rém, não cuidam da sensibilida- opressores das posturas patriar-
outros atores sociais e educacio- de humana. Cumprem ordens cais e racistas na educação. Edu-
nais. estabelecidas, transmitem ape- ca-se no sentido de construir a
O bom educador desperta nos nas um conteúdo pronto e aca- individualidade humana por in-
seus alunos, através dos seus bado, não valorizam o ser hu- termédio da desconstrução de
conhecimentos, o desejo de ou- mano que sente, pensa e cria. pensamentos e sentires introdu-
sar, criar o novo para que pos- As formas ditatoriais que di- zidos pela sociedade consumista
sam ter dias melhores e vivenci- tam como deve ser o comporta- e opressora. Educar é fazer e-
em seus anseios, suas perspecti- mento do aluno, o que ele deve mergir de dentro de nós desejos,
vas, suas realizações, a partir da ter como conhecimento em rela- paixões e sonhos mais comple-
motivação própria. Durante o ção ao que lhe é imposto, levam xos. O entrelaçamento entre o
compartilhar de saberes o pro- o ambiente escolar a se tornar corpo e a mente na ação de pro-
fessor envolve os alunos na dinâ- uma “jaula de aula”. Precisamos duzir conhecimentos estimula a
mica poética e ética da vida, va- repensar nossas práticas e rea- sensibilidade, a imaginação, o
lorizando-o como indivíduo que prendermos a ensinar transfor- senso intuitivo e com-preensivo
vive em uma sociedade e produz mando o espaço da sala de aula para o entendimento da origem e
ciência, tecnologia e poesia, dan- em espaço de aprendizagens; significado de tudo que existe.
do-lhes igual valor na criação de um lugar prazeroso e produtivo Educar é desenvolver a solida-
um pensamento ao mesmo tem- onde educador e educando se- riedade utilizando-se da ética e a
po racional e imaginário, capaz jam partícipes do processo ensi- igualdade como nosso guia. É
de produzir transformações em no-aprendizagem. trabalhar a ludicidade nas brinca-
seus conhecimentos e no seu Educadores provocam nos deiras e jogos, no prazer das
próprio ser, tendo o cuidado com alunos o desejo de
os valores morais que lapidam aprender, de viver
nosso ser. a aventura da con-
Educar é dar sentido ao nosso quista do saber im-
estar no mundo. Aprendemos pregnado de vários
com a educação indígena que sentires, na sua in-
precisamos dar alimento ao cor- terioridade e exteri-
po, a alma e ao espírito, pois, oridade, na consci-
para eles, sem comida o corpo ência individual e
enfraquece, e sem sentido é a coletiva, nos encon-
alma que se entrega ao vazio da tros de tensões di-
existência. Para os indígenas nâmicas que consti-
não existe formatura, quem vive tuem e sustentam o
o presente está sempre em ser humano. Mais
processo de formação do que nunca, os
(MUNDURUKU, 2000). professores preci-
sam educar os afe-
2 Saberes essenciais no pro- tos no espaço de
cesso educacional vivência escolar. O
educador, ao ter o
Araújo (2008) compreende desejo de exercer
que as salas de aula têm se tor- cada vez melhor a
nado celas de aula, com carteiras profissão pela qual
enfileiradas e um discurso de re- optou, deve estar
lações disciplinares, que na ver- ciente da responsa-
dade só desperta em seus alunos bilidade que carre-
a apatia. Como fala Gusdorf: “a ga, pois não é ape-
maior parte dos professores não nas um mero ins-
são mestres. Dão aulas, se en- trutor, mas aquele
carregam de cursos, honesta- que auxiliará indiví-
mente, como bons funcioná- duos dotados de Danilo Cerqueira
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dos da existência humana;


criando e recriando, inventan-
do e reinventando o educar;
formulando novos conceitos
na construção de saberes a-
través do corpo (MORAIS,
1996, p. 26-30).
Então, como nós, educado-
res, podemos nos organizar
de forma mais adequada, e-
quilibrada e coerente para
fomentar uma educação para
a sensibilidade? Por onde co-
meçar e como continuar? Co-
mo transformar o espaço de
aprendizagem em um espaço
de relação harmoniosa entre
a Razão-Sentido, a Corporei-
dade, a Afetividade e a Intui-
ção no urdir das aprendências
e das co-aprendências que
Weslley Almeida
vicejam o humano? A socieda-
danças, das músicas e brincadei- promover o desenvolvimento da de do futuro depende de nós! Ca-
ras de roda que desafiam a nos- autonomia nos alunos (FREIRE, be a cada um de nós cuidar da
sa mente e os nossos sentidos 1996, p. 25). vida, em seu aspecto pessoal, so-
mais humanos. “A educação do futuro deverá cial e planetário.
O docente precisa ter a consci- ser o ensino primeiro universal,
ência de um olhar plural, a fim centrado na condição huma- Referências
de despertar valores coletivos na.” (MORIN, 2000, p. 21). O ser
como: justiça, paz e equidade na humano deve reconhecer-se em ARAÚJO, Miguel Almir Lima de.
formação de cidadãos protago- sua humanidade comum, e reco- Os sentidos da sensibilidade: su-
nistas das liberdades. A educação nhecer a sua diversidade cultural a fruição no fenômeno do edu-
que se utiliza do uso dos sentidos que é inerente a tudo que é hu- car. Salvador: EDUFBA, 2008.
leva o homem e a mulher à reali- mano. Conhecer o humano é an-
zação em sua pluralidade cultural tes de qualquer coisa, situá-lo no ARAÚJO, Miguel Almir Lima de.
e social deixando os outros se- universo, e não separar-se dele. Educação: o vôo da águia. Feira
rem gente: seres que pensam, de Santana, Ba, 1998, 11 p.
sentem e realizam. Considerações Finais
Freire (1996) entende que o FREIRE, Paulo. Pedagogia da au-
professor deve respeitar os co- Ensinar é lembrar aos outros tonomia: saberes necessários à
nhecimentos prévios dos alunos que eles também sabem. Pensar
prática educativa. Rio de Janei-
dentro do contexto histórico- diferente é lutar por uma educa-
ro, Paz e Terra, 1996.
cultural individual deste e, afirma ção que realmente educa. A sala
que “formar é muito mais do que de aula deve ser o lugar onde
MORAIS, Regis de (org.). Sala
puramente treinar o educando no habitam os pensamentos que
de aula: Que espaço é esse?
desempenho de destrezas”. De- são acionados através dos en-
fende que o professor deve se as- contros que nela acontecem, os Campinas, SP: Papirus, 1996.
sumir como sujeito ético univer- desafios que surgem, os questio-
sal. “Quem ensina aprende ao namentos constantes. MORIN, Edgar. Os sete saberes
ensinar, e quem aprende ensina Sonhamos com educadores e necessários à educação do futu-
ao aprender”. Diz ainda que o e- alunos juntos se relacionando ro. São Paulo, Editora Cortez,
ducador deve ter rigor metódico e culturalmente, vivendo em socie- 2001.
intelectual, ser pesquisador, ser dade, entrelaçados pela grandio-
curioso, buscar assimilar o saber sidade dos sentires, do senti- MUNDURUKU, Daniel. O ban-
de forma crítica e não ingênua; mento de amorosidade fraterna, quete dos deuses: conversa so-
pensar e duvidar de suas certe- compartilhando memórias, com- bre a origem da cultura brasilei-
zas, questionar suas verdades, preendendo suas diferenças, a- ra. São Paulo, Angra, 2000.
ensinar o respeito às diferenças e través dos mais profundos senti-
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Des-aforismos
Washington dos Santos Oliveira
Licenciado em Filosofia (UFBA)

Como num impasse de mágica paz que esmagava a “flor do as- raz-cidade prosaica. E às cuspara-
de um ilusionista cansado da ilu- falto” por não compreender sua das vou regando a flor do asfalto.
são das paredes que o encerram rude beleza e apressava-se, con- A flor do asfalto de Drummond
num palco, e tendo saído do palco vers-indo sozinho em direção à que outrora pisei e que hoje aflora
pra praça, ainda não sabendo di- multidão barulhenta. em minha consciência com outro
reito em qual primeira esquina à Esquecer o silêncio amargura- perfume, se ela pudesse dizer por
esquerda entrar... lanço-me eu a- do do lar-doce-lar de uma vez minha voz um desaforo para os
fobadamente em direção às ruas. por todas e gritar em vivos bra- encastelados poetas e um aforis-
“Lugar de poesia é na calçada!” dos: mo para os transeuntes da primei-
Pisando em titubeantes pala- “Mais luz, mas luz”... debaixo ra esquina, ela diria: “já não é
vras, construo meus passos e vou do sol, aqui e agora! E não na fri- mais tempo de cultivar jardins do-
me criando e me morrendo nos eza do quarto sombrio, como cla- mésticos!”
descaminhos prosaicos, sem elixir mou Goethe nos seus últimos es- Pois bem, é tempo já para dei-
da juventude, e sem fórmula e po- pasmos. xarmos, de algum modo, que essa
ção da eterna poesia. Sem tam- Novas páginas não posso/não flor, plantada por Drummond em
pouco ter a mínima intenção de quero escrever. Contento-me na seus versos, cresça no asfalto e
encontrá-los. contenda de escrevinhar nas en- em nosso peito e que cresçamos e
Confesso: queria eu, de algum trelinhas das brigas homéricas morramos também juntos com e-
modo e apesar de tudo, fazer poe- que os poetas travam com as pa- la. Como ela, rueiros e rudes. Mas,
sia como agia aquele estabanado lavras, mastigando versos de po- sobretudo, sujos de rudimentos de
rapaz que eu mesmo fui. Um ra- emas ensanguentados numa vo- beleza.

Sancho
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União homoafetiva e adoção de crianças por casais


homossexuais: sobrará para quem?
Márcio Melo*
Professor da FACESB e da UNEB(Campus IV)

Todas as pessoas nascem livres e iguais, em dignidade e direitos.


(Trecho do Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Família é quem você escolhe pra viver/ Família é quem você escolhe pra você/ Não precisa ter conta sangu-
ínea/ É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia.
(O Rappa)

Vi recentemente o filme parentes, afins ou naturais (CC. mum, como de qualquer outra
“Sobrou Pra Você” (The Next arts. 1591 e ss., Dec-Lei 32- família. A única diferença que
Best Thing), produção norte- 00/41 e Lei 883/49). Em senti- pude observar é que, até os sete
americana de 2000, dirigida por do restrito abrangeria apenas os anos, o pai do garoto havia omi-
John Schlesinger, com Madonna cônjuges ou conviventes e seus tido para ele o fato dele ser gay,
e Rupert Everett nos papéis prin- filhos (CC. arts 1567 e 1716), para preservar a criança. Não
cipais. É um filme interessante, ou a comunidade formada por podemos esquecer de lembrar
que está mais para o drama do qualquer dos pais e descenden- dos PRINCÍPIOS FUDAMENTAIS
que para a comédia. Vejamos a tes (CF. 226, §§ 3° 4°). Sendo da dignidade da pessoa humana
sinopse. Abbie (Madonna) e Ro- assim, considero que aquela fa- e da solidariedade. Aquela família
bert (Rupert Everett) são amigos mília seria conceituada como observou esses princípios, assim
com muita coisa em comum: jo- sendo uma família no sentido como também os GERAIS – i-
vens, têm uma visão não- amplíssimo. gualdade, liberdade, afetividade,
convencional da vida, inteligen- Os laços familiares encontra- convivência familiar e melhor in-
tes, impulsivos e um terrível azar dos no filme são os melhores teresse da criança. Aqui cabe ou-
no amor. Eles fariam um par per- possíveis, normais, como em tro comentário de Maria Helena
feito, se não houvesse um po- toda família normal. O cotidiano Diniz ao artigo 1.630 do Código
rém: Robert é gay. Um dia, da família era tranquilo, co- Civil, que define como sendo po-
quando muitos coquetéis e der familiar aquele exercido
martinis os levam a um novo pelos entes da família: “Um
nível de intimidade, eles se conjunto de direitos e obriga-
transformam “acidentalmente” ções, quanto à pessoa e bens
em pais. Um novo mundo en- do filho menor não emancipa-
tão se abre para ambos e do, exercido em igualdade de
também para Sam, seu filho, condições por ambos os pais,
que decidem criar como se para que possam desempe-
fossem uma família comum. nhar os encargos que a norma
Quando partimos para o jurídica lhes impõe, tendo em
estudo e uma análise mais a- vista o interesse e a proteção
profundada desse filme, recor- dos filhos.” Nesse sentido,
remos a alguns autores. A au- considero que o princípio da
tora Maria Helena Diniz aponta convivência familiar foi rompi-
três acepções para a palavra do e descumprido no momen-
família, que acabam designan- to em que o pai perdeu o di-
do três sentidos para a sua reito de ver o filho.
compreensão: sentido amplís- Quanto à orientação sexual do
simo, acepção lata e acepção indivíduo ser empecilho para
restrita. No que concerne ao a constituição de uma família,
sentido amplíssimo, abrange- vai depender de qual socieda-
ria todos aqueles que estive- de estamos nos referindo. Pa-
rem ligados pela consangüini- ra aquela família do filme, es-
dade ou pela afinidade (CC. pecificamente, era tranquilo,
art. 1412, § 2° e Lei n. 171- com uma celeuma aqui ou ali,
1/52 art. 241). Na acepção mas o casal e a criança
lata compreenderia os cônju- “tiravam de letra”, até o sur-
ges e seus filhos bem como os Sancho gimento do novo namorado
Maio a julho de 2011 FUXICO Nº 20 13

de Abbie, que era heterossexual. mesmo sexo, com pleno re-


Mas considero que, quando as conhecimento de seus direi-
pessoas se amam de verdade, as tos e sem nenhuma diferen-
diferenças e os preconceitos vão ça perante os outros cida-
aos poucos sendo combatidos e o dãos, já existe em alguns
equilíbrio familiar acaba sendo países. Em dezembro de
reconstituído. Foi isso que o dire- 2007, o Congresso uruguaio
tor tentou sinalizar. aprovou a lei da “união con-
A família do personagem Ro- cubinária”. Com isso, o Uru-
bert é a chamada família guai se tornou o primeiro pa-
“normal”, ou em sentido restrito. ís latino-americano a legali-
O pai dele, a princípio, não acei- zar o matrimônio entre gays.
tava a sua opção sexual. Mas O mesmo também já é uma
com o tempo, no decorrer do fil- realidade na Argentina, país
me, isso também mudou. vizinho ao nosso. E na Cida-
Quanto à família do filme, ela de do México idem. Os paí-
pode ser considerada uma famí- ses pioneiros foram a Dina-
lia, sim. O casal namorou, teve marca, que desde 1989 pas-
um filho, construiu uma casa, foi sou a permitir a união civil a
morar junto, com emprego e es- casais homossexuais, com os
tabilidade financeira. mesmos direitos dos casais
Vendo esse filme, percebo co- heterossexuais. E, em 1993
mo a nossa cultura está muitíssi- e 1994, Noruega e Suécia,
mo atrasada. respectivamente, fizeram o Gabriel Ferreira
Segundo o jurista Paulo Lôbo, mesmo. Na Holanda, parceiros
“a família sofreu profundas mu- homossexuais podem se casar e do a drogas. Ela encerra o relato
danças de função, natureza, adotar desde 2000. Na Bélgica, de vários casos com a seguinte
composição e, consequentemen- o casamento homossexual é ponderação: “Eu poderia literal-
te, de concepção, sobretudo após permitido desde 2003 e a ado- mente dar milhares de exemplos
o advento do Estado social, ao ção por casais homossexuais de pessoas que em público con-
longo do século XX. [...] O mo- desde 2006. No Canadá e na denam os outros, menosprezan-
delo igualitário da família consti- Espanha, o casamento gay é do o comportamento que elas
tucionalizada se contrapõe ao permitido desde 2005. próprias têm”.
modelo autoritário do Código Ci- Por aqui, como não poderia No entanto, o que percebo,
vil anterior. O consenso, a solida- ser diferente, a coisa anda de- como educador, é que o respeito
riedade, o respeito à dignidade vagar, aos trancos e barrancos, às diferenças ganha cada vez
das pessoas que a integram são sem pressa. Por aqui, o exercí- mais força na sociedade. Mas a-
os fundamentos dessa imensa cio de direitos dos gays é nega- inda é preciso muito para acabar
mudança paradigmática que ins- do por questões exclusivamente com o preconceito. Paralelo às
piraram o marco regulatório es- religiosas, como no caso do ca- muitas lutas, correm os esforços
tampado nos arts. 226 a 230 da samento, por exemplo. Enquan- políticos. Uma dessas ações é a
Constituição de 1988”. Nesse to isso ocorrer, não seremos u- aprovação do projeto de lei
sentido, o nosso ordenamento ma sociedade efetivamente de- 5003, de 2001, da deputada fe-
jurídico vem, aos poucos e sem mocrática. Impressiona a quan- deral Iara Bernardi (PT/SP), que
muita pressa, como em quase tidade de pessoas que lutam criminaliza a homofobia em todo
tudo neste imenso País tropical acirradamente para impedir que o país. De 2001 para cá, aumen-
abençoado por Deus, acompa- casais possam viver uma vida tou significativamente o número
nhando essas mudanças. Em re- feliz juntos, porque esta relação de concessão de direitos a casais
cente decisão, a instância máxi- contraria os dogmas da sua fé. homossexuais, tais como patri-
ma, o Supremo Tribunal Federal Lutam para que o Direito impe- moniais e de pensão. Também
(STF), decretou a equiparação ça as pessoas de expressarem há um número maior de juízes
das uniões homoafetivas às uni- seu afeto, seu carinho, seu a- concedendo a adoção, mesmo
ões sexuais homem/mulher, coi- mor. A escritora Debbie Ford, sabendo tratar-se de um casal
sa que os nossos vizinhos do no livro “O Efeito Sombra”, traz homossexual. O maior medo por
Mercosul Uruguai e Argentina já um caso emblemático que acon- parte dos setores mais conserva-
fizeram há alguns anos. Legalizar teceu nos EUA, quando o famo- dores da sociedade é a constitui-
a união homoafetiva é fazer o so pastor Ted Haggard, que fa- ção de família por parte dos ho-
que o jurista Paulo Lôbo bem co- lava fervorosamente contra a mossexuais. Afinal, a família tra-
locou: é valorizar a DIGNIDADE imoralidade e o homossexualis- dicional é o grande bastião dos
DA PESSOA HUMANA! mo, mais adiante foi descoberto políticos conservadores. Aqui ca-
O casamento de pessoas do num relacionamento gay, rega- be trazer a opinião da grande ju-
14 FUXICO Nº 20 Maio a julho de 2011

rista Maria Berenice Dias, especi- gais. Por que não pega um des- casamento heterossexual, inclu-
alista em União Homoafetiva, so- ses para criar?”, declarou Nancy sive para fins de adoção conjun-
bre o tema: “Necessário é enca- Ribeiro, mãe de Cássia, que já ta”. Na verdade, o que conta
rar a realidade sem discrimina- estava separada há 17 anos, em muito é a forma como o casal
ção, pois a homoafetividade não entrevista para a revista Isto É lida com isso. Se a criança ques-
é uma doença nem uma opção Gente, na época do processo. tionar por que a família dela é
livre. Assim, descabe estigmati- Vários artistas assinaram mani- diferente da dos colegas, eles
zar a orientação homossexual de festos a favor de Eugênia. Ela têm que explicar. É preciso que
alguém, já que negar a realidade venceu a ação e criou jurispru- haja diálogo sempre.
não irá solucionar as questões...” dência no país. Com isso, Cás- Agora falta a população deixar
Analisemos um relato de uma sia, Eugênia e Chicão abriram de ser preconceituosa e entender
das melhores amigas da cantora uma pequena janela para que que TODAS as pessoas têm direi-
Cássia Eller: “Cássia vivia ma- várias outras pessoas no Brasil tos. O que está em jogo é a DIG-
chucada. Seus joelhos estavam possam enxergar a própria feli- NIDADE DA PESSOA HUMANA!
sempre esfolados dos tombos cidade. Não sou homossexual, mas estou
que levava no palco. Jogava-se Quanto à adoção de crianças na luta com eles pelos seus direi-
no chão com força e não estava por casais homossexuais é pos- tos, assim como de todas as ou-
sível, sim. O nosso tras minorias: negros, índios etc.
ordenamento jurí-
Penso na mesma direção de um
dico já está sinali-
dos meus ídolos, o líder pacifista
zando positiva-
negro norte-americano Martin
mente nessa dire-
ção, concedendo Luther King Jr. que afirmou certa
adoção para casais vez: "O arco moral do Universo é
homossexuais. O longo, mas ele se inclina em di-
primeiro caso de reção à justiça". Sendo assim,
uma criança ado- concluindo, considero que já che-
tada oficialmente gou a hora de aprovar uma lei
por um casal ho- que permita o casamento dos
mossexual ocorreu homossexuais no Brasil, mesmo
em 2006, em Ca- porque o Direito não pode servir
tanduva, no interi- de cão-de-guarda da intolerância
or de São Paulo. religiosa alheia. Que os casais
Os riscos de crian- homossexuais também possam
ças adotadas por se casar e ser felizes para sem-
casais homossexu- pre, até que a morte – ou o di-
ais apresentarem vórcio – os separe.
problemas psicoló-
Luiz Ramos
gicos são os mes-
Referências
nem aí. Seu filho Francisco Ribei- mos de uma adotada por um
ro Eller, o Chicão, na época com casal heterossexual. Paulo Lôbo
DIAS, Maria Berenice. Manual de
dois anos, dispara: „mãe, você afirma que “diversos estudos de
Direito das Famílias. 4. ed.rev,
está machucado‟. Ela instantane- especialistas têm mostrado o
amente responde: „já te disse, fato de que uma criança criada atual. E ampl. 3.tir. – São Paulo:
não é machucado, é machucada. por pais de mesmo sexo não Ed. Revista dos Tribunais, 2007.
Machucado é homem, machuca- tem impacto negativo em rela-
da é mulher!‟ e o garoto: „mas ção à outra criada por pais he- DINIZ, Maria Helena. Curso de
mulher não namora mulher”, e terossexuais. Ao contrário, con- Direito Civil Brasileiro. Vol. V, Di-
ela prontamente: „claro que mu- sidera-se ser do melhor interes- reito de Família. 20. ed. São Pau-
lher namora mulher. Eu sou mu- se da criança sua adoção regu- lo: Saraiva, 2005.
lher e namoro a Eugênia‟. E esta- lar. Na Alemanha, a Lei de Par-
va feito, sem drama, elaboração ceria Registrada, de 2005, per- FORD, Debbie. O Efeito Sombra /
nem problema. Bastava a verda- mitiu que o parceiro homosse- Deepak Chopra, Debbie Ford,
de”. xual possa adotar o filho bioló- Marianne Williamson; tradução:
O filho de Cássia ficou com a gico do outro. O Canadá foi Alice Klesck. – São Paulo: Lua de
sua “segunda mãe”, Eugênia, mais longe, com a lei de julho Papel, 2010.
mas o processo que envolveu a de 2005 – ao lado de outros pa-
guarda de Chicão mobilizou os íses que enfrentaram o proble- LÔBO, Paulo. Direito civil: famí-
pais de Cássia. O avô do menino ma -, ao admitir o casamento lias. 3.ed. – São Paulo: Saraiva,
pediu na justiça a guarda dele. civil de pessoas do mesmo se- 2010.
“Ele tem 16 filhos extranconju- xo, com os mesmos efeitos do
Maio a julho de 2011 FUXICO Nº 20 15

poemas
Divagações sobre o nada

Perder o nada na visão de quem pensa ter tudo,


É emergir no infinito d‟alma sofrida
E crivar de incertezas tantas vidas

Em prantos, em dores, em dissabores,


Sem caminhos repletos de flores
É empobrecer em desamores

É ser nada diante do tudo


E tudo diante do nada
É o tudo ou nada!

O nada que sempre se lê em poesia


O mesmo nada que já se sabia
Que o nada sempre existia.

Valéria Nancí
Feira de Santana - BA

Cartões postais Juraci Dórea

As palavras se desvendam, Venho por meio destas


Nas incertezas, Descartar minhas palavras mudas
Em que os borrões se alimentam. Confortavelmente castras
Órum
Carteando amor, O meu mórbido silêncio
O desvelo se sustenta, Cura-me as feridas Ir ao encontro do encontro:
Em caligrafia de dor. Num clamor incontestável de pensamentos Ele:
de quinta-feira em azul
Paranoico, Delicadamente, funga-me tuas sílabas estilizado.
E maldito, Sem que teus acentos perfurem Ela:
Sólo te puedo decir adiós. A minha simplória matriz com o branco de sexta-feira
envolvente.
Daniela Rocha Mas algo se impõe
Feira de Santana - BA Faz-se incrustado Ele e ela:
E falo como se não fosse necessário escrever o encontro.
Numa explosão subitamente inconsciente. No tempo onde o vento
guarda o sol
Marília Sena sob as vestes deles.
Salvador - BA
Vento
entre ambos nus.
Ambos:
Pôr do Sol céu em desvestes,
aromas de pele.
O pôr do sol Ele e Ela:
Por si só no lustre dos afagos,
Opõe-se ao óbvio. sob filetes de estrelas,
Por si, Sol! atracados em ambos,
Em Sol menor o firmamento.
Propõe-se sóbrio
O Soul do pó. Ronaldo da Paixão
Feira de Santana - BA
Renato Moss
Renato Moss Feira de Santana - BA
16 FUXICO Nº 20 Maio a julho de 2011

Greve dos professores das UEBAs


Nas macro-estruturas políticas Para lutar contra esses abusos
Predomina o ethos da degradação Tivemos que uma greve deflagrar
Com o reinado de uma razão cínica Mesmo contra as nossas vontades
O primado da demagogia, da corrupção Para ver se passam a nos escutar
Em que os vícios mais asquerosos Assim divulgamos para a sociedade
Envergonham qualquer cidadã/ão. O estado vergonhoso que educação está.

Em nossa Bahia poderia ser diferente O governador corta nossos salários


Mas infelizmente não está sendo não Com a lâmina afiada de sua tirania
As posturas do atual governador JW Até os nossos dez dias trabalhados
Sobretudo no campo da educação Foram também vítimas da vilania
Estão desfigurando nosso estado Parece coisa de uma tal marca gilette
Com tanto desrespeito e enrolação. Parece gente virando mercadoria.

Temos uma Bahia tão alvissareira Acampamos na cama-rá dos deputados


Com tanta generosidade da natureza Denunciando a nossa grave situação Sancho
Com tanta diversidade e vigor cultural E a apatia desses senhores eleitos
Com uma economia de tanta riqueza Nos causou uma tamanha espantação
Com tanta tradição que nos robustece Com tanta indiferença, tanto descaso
E por que na política tanta malvadeza? Com que estes tratam nossa educação.

O festival das tantas propagandas E assim seguimos, urdindo a labuta Paradoxo


Que jorra nos meios de comunicação Na saga do combate permanente
Vendendo uma “Bahia de todos nós” Ousando, caminhando e cantando esse incessante ato de
É uma afronta à nossa população Erguendo o estandarte pertinente construção e
Forjam uma “Bahia de todos os nós” O facho da dignidade e da boniteza reconstrução
Que amarram nossa destinação. Rendando uma história mais decente.
não apenas nos resume,
E esse atual governador que temos Miguel Almir como também,
É formado doutor em Grevologia Entre-lugar - BA
E depois que as-sumiu seus pleitos contraditoriamente,
Fez pós-doutorado em Pelegologia nos define.
Rima de Menina
Cadê a diferença tão anunciada
Cadê a ação plena da democracia? Danilo Carvalho
Foi na flor da mocidade Dias D‟Ávila - BA
Somos o estado mais rico do nordeste Que transcrevi toda verdade
E nossos salários são o segundo pior Foi na forma de menina
Como pode um fato assim acontecer Que escrevi mulher de mim
Qual a lógica do senhor capitão-mor Fiz estrofe, verso, rima
Parece que é a do sucatear a educação Que colhi do meu jardim.
Junto com a sua perversidade maior.
Wicise Matos
A tal mesa de negociação instituída Tucano - BA
Tem sido mais uma de mal gosto piada
Quando se senta, se fala, se promete
Mas esse governo não negocia nada
Parece que ela está sempre suspensa
Ou é um engodo dessa governada.

Um famigerado decreto governamental


Capa a autonomia de nossas instituições
Mutila a vida de nossas universidades
Minimiza infra-estrututra e condições
Para um trabalho melhor qualificado
Cerceia nossas potências e produções.

Congelar os salários por quatro anos


Enquanto os preços de tudo a subir
É nos privar dos mínimos direitos
Nos condenar a penúria de faquir
Usurpar condições mínimas de vida
A nossa dignidade querer destruir. Luiz Ramos

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